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Administração e Organização dos Serviços Pediátricos e


Neonatais
Administração e organização dos serviços pediátricos e neonatais

SUMÁRIO

A transição do nascimento ....................................................................................................... 3

Cuidados de Enfermagem ao recém nascido ............................................................................ 4

A Sistematização da Assistência, Processo de Enfermagem, Padrões de Reação Humana......... 7

Hospitalização Infantil.............................................................................................................. 9

Assistência à Saúde................................................................................................................ 13

Assistência ao Parto ............................................................................................................... 15

Neonatal................................................................................................................................ 17

Peso do nascimento............................................................................................................... 17

Permanência hospitalar após o parto ..................................................................................... 19

Padrão Alimentar................................................................................................................... 21

Aleitamento Materno ............................................................................................................ 21

Idade e Sexo .......................................................................................................................... 23

Cuidado na UTI Neonatal ....................................................................................................... 26

Cuidados de Enfermagem na redução da incidência de complicações neonatais .................... 28

REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 31

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A transição do nascimento

Imediatamente após o nascimento, o neonato necessita assumir suas funções


vitais que, durante a vida intra-uterina, eram realizadas pela placenta. O nascimento é
considerado uma fase crítica, denominada de período de transição, que exige
adaptações fisiológicas repentinas e cruciais no sistema corporal. Os sistemas
cardiovascular e pulmonar sofrem alterações assim que o cordão é clampeado, e tem
início a respiração. O período de transição fetal para o neonatal representa uma das
fases mais dinâmicas e difíceis do ciclo vital humano que demanda a transformação de
uma condição de completa dependência para outra de auto-suficiência em relação à
oxigenação e nutrição (FERNANDES; KIMURA, 2005).
Cerca de 85 a 90% dos nascimentos, a adaptação do RN ao ambiente intra para
o extrauterino ocorre em um período rápido, de maneira fisiológica, atingindo a
estabilização. Porém, alguns recém-nascidos podem apresentar intercorrências e os
profissionais necessitam estar habilitados para reconhecer precocemente e intervir
nestas situações (BASILE; PINHEIRO; MIYASHITA, 2007).
Para Guyton e Hall (2008), o recém-nascido é composto por especificidades, no
qual podemos destacar a instabilidade dos diversos sistemas de controle hormonais e
neurogênicos. Em parte, isto decorre da imaturidade do desenvolvimento dos
diferentes órgãos corporais e, em parte, do fato de que o método de controle
simplesmente não se ajustarem ao modo de vida totalmente novo.
Para Orlandi e Sabrá (2005) após o nascimento, o recém-nascido necessitará de
cuidados para se recuperar do traumatismo do parto, seja ele concebido em parto
normal ou Cesário.
Os médicos e a equipe de enfermagem devem estar familiarizados com as
medidas exigidas pela criança, sendo necessário o reconhecimento de patologias no
primeiro instante de vida (ORLANDI; SABRÁ, 2005).
É fundamental que haja capacitação técnica dos profissionais que participam do
atendimento imediato ao recém-nascido, além de maior sensibilidade por parte dos
profissionais voltados para uma assistência humanista. Em função do modelo
assistencial no qual os profissionais foram inseridos durante sua formação, muitas
"rotinas" assistenciais, que eram realizadas, pautavam-se no aspecto prático para

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facilitar o "bom andamento do serviço" e influenciavam o conhecimento e a prática


assistencial desses profissionais (NÓBREGA; SILVA, 2008/2009).
A maneira como a parturiente se comporta durante o trabalho de parto depende
das informações recebidas durante o pré-natal e que nem sempre são dadas de forma
adequada ou completa. Tal fato a torna insegura diante de tudo, sendo de grande
importância que a atuação da equipe de enfermagem na sala de parto se dê de forma
humanizada, uma vez que o parto é um processo natural, além de um dos momentos
mais importantes para o binômio mãe-filho.
Neste sentido, Diniz (2005) entende por humanização do parto o conjunto de
recomendações que a Organização Mundial de Saúde adotou: o incentivo ao parto
vaginal; aleitamento materno; alojamento conjunto; à presença de acompanhante; à
redução do excessivo intervencionismo tecnológico no progresso do parto; estimulo às
técnicas mecânicas de alivio a dor (massagens, banhos, deambulação); uso cauteloso de
indução intravenosa (ocitocina); analgesia; abolição da prática de enema e tricotomia,
e faz crítica significativa à excessiva medicalização do parto, sendo apontado como um
dos responsáveis pelas taxas de mortalidade materno-infantil em vários países.
Ainda segundo Diniz (2005) observa-se que, no parto vaginal parece haver maior
facilitação para o estabelecimento da lactação mais precoce e efetiva, uma vez que não
há dor incisional ou o efeito pós-anestésico, como da cesárea. Além do mais, no parto
normal, o primeiro contato mãe-filho ocorre mais precocemente, enquanto que na
cesárea, dificilmente a criança vai até a mãe antes das primeiras seis horas pós-parto,
propiciando a introdução de fórmula láctea ou glicose para o recém-nascido logo no
berçário e, o que é pior, em mamadeira.
Humanizar a parturição é envolver-se com o outro, é lembrar que no momento
do parto está ocorrendo à separação de dois corpos, que até esse momento viveram
juntos, um dentro do outro, em relação de dependência e de intimo contato. Nesse
momento o enfermeiro necessita restaurar a tranquilidade, o equilíbrio, a harmonia
interior, com o cuidado, porque é por ele que exercitamos o encontro do ser profissional
com o ser parturiente, restabelecendo o sentimento de perda e esvaziamento, que a
parturiente vivencia de forma tão intensa e particular (ZAGONEL,1997).
Cuidados de Enfermagem ao recém nascido

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A assistência de enfermagem ao recém-nascido inicia-se com o nascimento do


bebê. A enfermagem juntamente com a equipe médica, que estiver dando assistência
ao trabalho de parto, irá necessitar de recursos físicos, e materiais para uma assistência
eficaz. É indispensável que a equipe tenha a sua disposição uma sala de parto bem
aparelhada, com aspirador, compressas e lençóis esterilizados, material para ligadura
do cordão, fonte de aspiração, sondas, conjunto instrumental destinado ao tratamento
da anoxia neonatal e berço de calor irradiante (ORLANDI; SABRÁ, 2005).
O recém-nascido é um ser vulnerável a infecções e patologias, pois seu sistema
está se adaptando ao novo meio e é exatamente nesta fase que ocorre o maior índice
de mortalidade e morbidade infantil. Para uma assistência de enfermagem efetiva ao
neonato, necessita que a equipe de enfermagem tenha conhecimento da história
familiar, história das gestações prévias e a atual e dos eventos durante o trabalho de
parto (KLIEGMAN, 2004).
Os cuidados ao recém-nascido são divididos em imediatos e gerais. Os cuidados
imediatos são os cuidados que a equipe deve ter ainda na sala de parto para manter a
vida do recém-nascido e evitar futuras sequelas, já os cuidados gerais, são os cuidados
durante o período de neonatal, onde a criança estará se adaptando a vida extra-uterina
(ORLANDI e SABRÁ, 2005).
Segundo Campos e Cardoso (2004), é de suma importância conhecer e estar
atenta à comunicação verbal e não-verbal emitida pelo bebê e pelas próprias
profissionais durante o desenvolvimento do cuidado. A criança recebe influência do
meio ambiente, nos vários contextos que exibem as pessoas e seus gestos, sons e
movimentos, sendo o estímulo importante como eixo para prover seu bom
desempenho, afetivo, cognitivo, psicológico e social.

Cuidados Imediatos
A primeira atenção que o enfermeiro deve tomar ao nascimento da criança é o
estabelecimento da respiração, pois quando o cordão umbilical é pinçado, a placenta é
desativada, órgão que até então em meio uterino tinha a função de hematose (troca
gasosa). Já na vida extra-uterina, os pulmões tomam esta função, e nos primeiros trinta
segundos de vida deve ocorrer à primeira respiração normalmente seguida de choro em
crianças saudáveis. Caso isso não aconteça, a equipe tem que estar habilitada a

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identificar o problema e logo intervir com manobras cardiorrespiratórias, até a criança


estabelecer os movimentos respiratórios (ORLANDI; SABRÁ, 2005).
Conforme Queenan (1993) uma vez fora do útero, todavia, a criança torna-se
sujeita a fatores extremos que provocam e, por sua vez, regulam as manobras de
adaptação necessárias para manter a estabilidade térmica. Essas manobras invocam o
conceito de conforto térmico máximo, é definida como a temperatura ambiente, em
que o metabolismo, tal como refletido pelo consumo de oxigênio, é mínimo, porém
suficiente para manter a temperatura corporal. Reduzir a temperatura ambiental abaixo
dessa zona causará uma elevação no metabolismo, assim como o fará a elevação da
temperatura acima dela.
A escala de Apgar é um instrumento de rastreamento inicial, que deve ser
aplicado para uma avaliação do lactente imediatamente após o parto. Reflete a
condição do bebê depois da tensão do trabalho de parto e do parto, e permite uma
avaliação daquelas funções essenciais à vida e que precisam começar imediatamente
para que se processe a adaptação a vida extra-uterina. A contagem de Apgar é realizada
no primeiro e quinto minuto, encontrando valores menores que seis. Este método deve
ser repetido entre cinco e dez minutos, até que se estabilize o organismo do recém-
nascido (MONTENEGRO; FILHO, 2008).
Para Orlandi e Sabrá (2005), após o restabelecimento respiratório, a equipe deve
realizar a limpeza facial do recém-nascido com gazes estéreis e a desobstrução das suas
vias oro nasais e se caso não houver banimento de mecônio durante o parto deve-se
desobstruir o canal anal utilizando sondas de borracha flexível que evita ferimentos das
mucosas.
Na sala de parto a equipe deve ter a sua disposição um berço de calor irradiante
para onde a criança deve ser conduzida logo depois do desmembramento da placenta
onde todos os procedimentos realizados no recém-nascido serão sobre o berço onde
terá manutenção de temperatura. A criança tem que manter a temperatura axilar por
volta de 36 a 37ºC, caso isso não ocorra à temperatura do recém-nascido baixa faz com
que o organismo tenha um maior consumo de oxigênio (O2), levando a uma hipóxia
ocasionando uma acidose, ou seja, diminuição do pH sanguíneo (GERK, 2006).
Conforme KLIEGMAN (2004), quando o recém-nascido nasce em boas condições,
os procedimentos são:

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1. Secagem do líquido amniótico com campo estéril, previamente aquecido,


sob fonte de calor radiante para prevenção da perda do calor.
2. Posicionamento do bebê em decúbito dorsal com leve extensão do
pescoço para facilitar a entrada de ar.
3. Aspiração cuidadosa das vias aéreas começando-se pela boca para evitar
aspiração de secreções pela traqueia e pulmões e reflexo vagal com consequente
bradicardia.
4. Se o recém-nascido não respira faz-se estimulação tátil na sola do pé ou
fricção nas costas.
5. Avaliação da respiração, cor e frequência cardíaca.
6. Clampeamento "definitivo" do cordão.
7. Colocação do bebê junto à mãe para início da amamentação.

A Sistematização da Assistência, Processo de Enfermagem, Padrões de Reação


Humana

A humanização da assistência ao parto implica principalmente que a atuação do


profissional respeite os aspectos de sua fisiologia, não intervenha desnecessariamente,
reconheça os aspectos sociais e culturais do parto e do nascimento, promova a saúde e
ofereça o suporte emocional necessário à mulher e sua família, facilitando a formação
dos laços afetivos familiares e o vínculo mãebebê (DIAS, 2005).
O enfermeiro como um profissional de saúde tem a função e a oportunidade de
desempenhar ações assistenciais e educativas no seu local de trabalho, com o objetivo
de contribuir para uma assistência mais direcionada e eficaz.
A enfermagem tem procurado estabelecer seus objetivos, lidando com spectos
existenciais do impacto da enfermidade ou das situações de vida sobre os indivíduos e
familiares, fazendo disso seu foco de ação. A assistência sistematizada é orientada para
satisfazer as necessidades humanas básicas afetadas pelo processo saúde-doença ou
por situações de vida. A Sistematização da Assistência de Enfermagem visa auxiliar as
pessoas a alcançarem equilíbrio harmônico através da promoção do autoconhecimento,
auto-cura, autocontrole, auto-respeito e a terem um entendimento do significado dos
acontecimentos que estão fazendo parte de sua vida (AVELINO, 2003).

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A Sistematização da Assistência de Enfermagem – SAE é reconhecida pelos


profissionais de enfermagem como marco a ser institucionalizado nos serviços de saúde.
O Conselho Federal de Enfermagem, através da Resolução COFEN nº 272/2002, dispõe
sobre a SAE nas instituições de saúde no Brasil e determina que sua implementação
deva ocorrer em todas as instituições de saúde, tanto públicas quanto privadas.
Conforme Daniel (1979) a sistematização deverá ser registrada formalmente no
prontuário do cliente e deve conter o histórico de enfermagem, exame físico,
diagnóstico, prescrição e evolução de enfermagem.
Esse método visa prestar uma assistência integral ao paciente de forma
planejada, organizada e com registros de todas as ações realizadas pela enfermeira. No
caso específico da sala de parto, tem a finalidade de oferecer ao recém-nascido, ações
de enfermagem de forma organizada e sequencial.
O método utilizado na prática clínica para sistematizar a assistência de
enfermagem é o processo de enfermagem e de acordo com Daniel (1979), este é um
método de tomada de decisões de forma deliberada que se apoia nos passos do método
científico.
No Brasil, o modelo mais conhecido e seguido para a implantação do processo
de enfermagem que dinamiza as ações sistematizadas e interrelacionadas, visando à
assistência do ser humano foi proposto por Horta em 1979, o qual contém as seguintes
fases conforme a autora supracitada:
a) Histórico de enfermagem - roteiro sistematizado para o levantamento de
dados do ser humano que torna possível a identificação de seus problemas,
convenientemente analisados e avaliados, leva ao segundo passo;
b) Diagnóstico de enfermagem - identificação das necessidades do ser
humano que precisa do atendimento e a determinação pela enfermeira do grau de
dependência deste atendimento em natureza e extensão.
c) Plano assistencial - determinação global da assistência de enfermagem
que o ser humano deve receber diante do diagnóstico estabelecido, sendo este
sistematizado (orientação, ajuda e execução de cuidados a fazer).
d) Prescrição de enfermagem - implementação do plano assistencial diário,
que coordena a ação da equipe de enfermagem na execução dos cuidados ao

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atendimento das necessidades básicas e específicas do ser humano, cuidado e avaliado


sempre.
e) Evolução de enfermagem - relato diário verificando-se a evolução é
possível avaliar a resposta do ser humano à assistência de enfermagem implementada.
f) Prognóstico de enfermagem - estimativa da capacidade do ser humano
em atender suas necessidades básicas.

Hospitalização Infantil

O atendimento da criança no período neonatal, o qual compreende os primeiros


28 dias de vida, é um desafio especial para a equipe de saúde por tratar-se de uma época
de intensa adaptação fisiológica e de grande vulnerabilidade, o que o diferencia das
outras faixas etárias pediátricas. Apesar da evolução da assistência materno-infantil com
expansão dos recursos e novas tecnologias, muitos recém-nascidos continuam
apresentando doenças já conhecidas e, muitas vezes, evitáveis.
A ocorrência de doenças e a mortalidade no período neonatal constituem um
dos principais problemas de saúde pública no mundo. As proporções das doenças são
assim estimadas: 4 a 7 milhões de casos de asfixia, 20 milhões de baixo peso ao nascer
e 30 milhões de infecções bacterianas. Contudo, a carência dos dados em países em
desenvolvimento torna difícil o conhecimento da magnitude do problema.
O contexto em que a morbidade neonatal ocorre é complexo e resulta da
interação de múltiplos fatores os quais podem agir desde antes da gestação. Em países
em desenvolvimento, o baixo poder aquisitivo, a deficiência de nutrientes, a maior
susceptibilidade a infecções, além do trabalho excessivo e a exposição a substâncias
tóxicas como tabaco, álcool e drogas põem em risco a saúde materna e criam condições
ideais para a permanência das altas taxas de morbimortalidade do neonato. Muitos
desses fatores têm sido estudados em relação à incidência e mortalidade no período
neonatal, que em vários países constitui o principal componente da mortalidade infantil.
No entanto, para que medidas específicas sejam adotadas, visando reduzir a gravidade
dos casos, é necessário conhecer, entre outras causas, os motivos que levam à admissão
hospitalar do recém-nascido.

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Os padrões de morbimortalidade na população humana estão em constante


modificação. Observam-se mudanças na incidência e prevalência das doenças, bem
como das principais causas de morte. Os indicadores de mortalidade, sozinhos, não
informam adequadamente sobre a situação de saúde de uma comunidade, faz-se
premente uma maior utilização dos dados de morbidade. Sob a perspectiva
epidemiológica, essas informações fornecem subsídios para avaliação e melhoria da
assistência à saúde.
Dentre as fontes de informações sobre morbidade de uma população, estão os
registros médicos hospitalares. Ainda que existam críticas ao uso das estatísticas
hospitalares por seu caráter seletivo e parcial, são dados fundamentais que, quando
analisados em conjunto às informações de outros serviços os quais compõem o sistema
de assistência à saúde, refletem as condições de vida e saúde da população, além de
permitirem a avaliação da estrutura dos serviços de saúde e da política médico-
assistencial.
No entanto, as taxas de hospitalização são muito variáveis, comparando-se
diversas populações e diferentes regiões geográficas. Mesmo em sistemas de saúde com
capacidade tecnológica semelhante, as taxas podem diferir bastante, mostrando-se
reflexo de situações sociais e econômicas diferentes. Diversos estudos têm sido
realizados no mundo no sentido de entender o porquê dessas discrepâncias. Na infância,
dentre os fatores relacionados à maior taxa de hospitalização, figuram: pobreza, baixa
escolaridade dos pais, menor acesso ao atendimento ambulatorial, baixa resolutividade
de consultas, crianças do sexo masculino e com baixo peso ao nascer.
O estudo da hospitalização permite avaliar não somente a proporção de
pacientes como morbidade severa, mas também a disponibilidade e o acesso aos
serviços de saúde. Em 2003, o Ministério da Saúde, no Seminário da Política Nacional
de Atenção Integral às Urgências relatou a necessidade de acompanhamento da
situação das urgências devido à flutuação contínua da demanda e das atividades nessas
unidades. Para isso, defendeu a implantação de um conjunto de indicadores com a
finalidade de realizar investigação avaliativa dos serviços e compará-los entre si,
concluindo que esses podem estar relacionados à demanda ou à qualidade do serviço.
Entre os indicadores de qualidade, encontra-se a proporção de internações a qual mede
o número de pacientes necessitados de internação hospitalar em relação ao total de

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pacientes atendidos no Serviço de Urgência. Esse indicador possibilita obter informação


sobre a gravidade das urgências atendidas, a capacidade resolutiva e a complexidade do
serviço de urgência.
No período neonatal, semelhante às outras idades, diferentes taxas de
hospitalização são apresentadas na literatura. Fatores como o local do estudo, as
características da população e a metodologia utilizada na análise desse dado,
contribuem para essas diferenças. Os serviços de emergência constituem uma
importante via de ingresso para admissão hospitalar e pesquisas realizadas nessas
unidades descreveram taxas de hospitalização que variaram de 10% a 33%. Em países
desenvolvidos, como os Estados Unidos, um estudo realizado no período de 1989 a
1995, identificou 2.094 consultas de neonatos na unidade de urgência e uma taxa de
admissão de 10%19. Resultados semelhantes foram encontrados no Canadá por Kennedy
et al, em 1998, ao analisarem os atendimentos de 142 recém-nascidos observaram 11%
de admissões20. No entanto, nesse mesmo país, outra pesquisa observou que, dos 559
neonatos atendidos, 33% necessitaram de hospitalização21. Já na Espanha, nos anos de
2000 e 2003, dois estudos revisaram 309 e 1481 consultas e identificaram
respectivamente 17% e 26% de admissões.
Apesar do elevado número de publicações a respeito de hospitalização no
período neonatal, são poucas as pesquisas que enfocam essa abordagem em países em
desenvolvimento. No Uruguai, por exemplo, em 2003, um estudo transversal analisou
943 consultas e identificou que 29% das crianças foram hospitalizadas 23. Esses dados
trazem subsídios para o planejamento, implementação e monitoramento dos
programas de saúde uma vez que permitem avaliar, de forma direta ou indireta, a
qualidade dos serviços de assistência maternoinfantil, o sistema de transporte de
urgência de um determinado lugar e a disponibilidade de acesso, por parte da
população, aos serviços com menor complexidade.
Pela dificuldade de obtenção de dados em relação à hospitalização de neonatos
atendidos no setor de emergência no Brasil, essa revisão apresentou dados de
hospitalização em geral. Em 2005, de acordo com o sistema de informação do Ministério
da Saúde, 11.429.133 brasileiros foram hospitalizados, 13% das admissões hospitalares
no SUS eram crianças menores de cinco anos e as afecções do neonato foram
responsáveis por 12% dessas internações.

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A figura apresenta um modelo conceitual simplificado dos fatores associados à


hospitalização dos recém-nascidos. Nesse modelo, agrupam-se as variáveis de interesse
em blocos ou níveis e constrói-se uma cadeia causal em que fatores, como os
socioeconômicos, são considerados variáveis distais e influenciam direta ou
indiretamente os grupos proximais, exceto sexo e idade. Os modelos conceituais têm
sido utilizados com o objetivo de estabelecer uma melhor compreensão dos
determinantes sociais e biológicos do processo saúde-doença e as inter-relações que
podem levar a um desfecho desfavorável à saúde da criança.

FATORES SOCIOECONÔMICOS E
DEMOGRÁFICOS
Educação dos pais
Renda Familiar
Coabitação com o pai
Tamanho da Família
Idade Materna
Região de Procedência

ASSISTÊNCIA À SAÚDE PADRÃO ALIMENTAR


Aleitamento materno

PRÉ-NATAL NATAL NEONATAL


Permanência hospitalar Sexo
Acesso e qualidade Assistência ao parto
após o parto Idade
Peso do nascimento
Idade gestacional

HOSPITALIZAÇÃO DO RECÉM-NASCIDO

Figura. Modelo conceitual dos fatores associados à hospitalização do recém-


nascido.

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Assistência à Saúde - Pré-Natal

A importância da assistência pré-natal sobre a saúde da gestante e seu concepto


é aceita pela grande maioria dos autores. Estudos têm demonstrado que uma política
de cuidados pré-natais bem executada leva à minimização de taxas de mortalidade e
morbidade perinatal, bem como os índices de partos prematuros. Uma assistência
adequada, segundo recomendações de organismos oficiais de saúde, deve ter início
precoce, ter cobertura universal, ser realizada de forma periódica, estar integrada com
as demais ações preventivas e curativas e deve ser observado um número mínimo de
consultas.
A maioria dos programas de atenção pré-natal é originada de modelos
desenvolvidos em países ocidentais, nas primeiras décadas do século passado. Uma
parcela significativa desses programas tem calendário e conteúdo similares, mas
diferem quanto ao tipo de profissionais envolvidos, às práticas recomendadas e
realizadas, além de diferentes taxas de adesão de mulheres. Vários autores têm
realizado debates sobre os modelos de pré-natal, discutindo principalmente as bases
científicas sobre as quais se construíram e os resultados sobre a saúde materna e do
recém-nascido. Além disso, vários estudos analisaram a associação entre precária
assistência pré-natal e ocorrência de desfechos negativos da gravidez como baixo peso,
prematuridade e aumento da mortalidade perinatal.
Na cidade de Winnipeg, Canadá, um estudo populacional com 13.349 mulheres
encontrou associação entre baixo peso ao nascer e a inadequada realização de pré-
natal, concluindo que essa ocorrência faz parte de um complexo de fatores. Entre esses,
há a situação socioeconômica desfavorável, as mulheres sem companheiro e o
tabagismo durante a gestação.
Outra pesquisa realizada na cidade de Pelotas – RS, em 1993, estudou 5.304
nascimentos e constatou que 95% das mulheres realizaram pré-natal, sendo que 82,7%
receberam atenção considerada adequada. A ausência ao pré-natal foi observada entre
as mulheres mais pobres, na maioria adolescentes ou com idade acima de 40 anos.
Nessas a incidência de recém-nascidos com baixo peso foi 2,5 vezes maior, e a
mortalidade perinatal três vezes maior quando comparada aos neonatos de mulheres
que realizaram cinco ou mais consultas.

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Também no Rio Grande do Sul, Morais et al, em estudo com 648 recém-nascidos
entre 28 e 40 semanas de idade gestacional, encontraram associação significante entre
o aumento do número de visitas pré-natais e de cuidados precoces com o decréscimo
dos nascimentos prematuros e de neonatos com baixo peso. No entanto, esse artigo
apresentou um viés metodológico por não controlar pelos possíveis fatores de
confundimento, como condições socioeconômicas, má nutrição e tabagismo.
Já nos países desenvolvidos, alguns autores têm verificado o risco de readmissão
do recém-nascido associada à deficiente utilização dos serviços de assistência pré-natal.
No Canadá, um estudo retrospectivo, analisando 559 recém-nascidos que
compareceram ao serviço de emergência observou que, entre as variáveis maternas, a
inadequada assistência pré-natal apresentou associação significante com a
hospitalização na primeira semana de vida.
Atualmente a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a realização de,
pelo menos, quatro consultas pré-natais para mulheres que não apresentam evidências
de complicações relacionadas à gestação e uma consulta na primeira semana após o
parto. O modelo proposto foi baseado em um estudo multicêntrico feito na Argentina,
Cuba, Arábia Saudita e Tailândia, no período de 1996 a 1998 e incluiu um total de 24.678
mulheres. Nesse estudo, 26 clínicas adotaram o modelo ocidental de controle pré-natal
com uma mediana de doze consultas (uma consulta até os primeiros 6 meses de
gestação, seguida de consultas a cada 2 ou 3 semanas nos dois meses seguintes e, em
seguida, uma vez por semana até o parto), e 27 clínicas adotaram o novo modelo
proposto com uma mediana de 5 consultas. Os resultados mostraram diferenças
mínimas entre os grupos em relação à morbimortalidade materna e neonatal. A OMS
realizou também uma revisão sistemática que incluiu sete estudos clínicos aleatórios de
comparação entre o modelo ocidental e o modelo baseado em um número reduzido de
consultas. Nesses estudos, participaram 57.418 mulheres, e observou-se uma
frequência semelhante de baixo peso assim como mortalidade perinatal entre as
crianças nos dois modelos.
No Brasil, a assistência pré-natal tem apresentado importantes diferenciais em
numerosos aspectos os quais vão do acesso ao número de consultas, exames
laboratoriais solicitados, da realização de atividades educativas, da periodicidade e de
profissionais de saúde envolvidos em sua realização. Assim, tendo em vista a redução

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da morbidade e mortalidade materna e perinatal, o Ministério da Saúde (MS) propôs


um modelo nacional com a finalidade de normatizar as ações assistenciais e instituiu o
Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento (PHPN) através da Portaria nº.
569 do MS, em 1º de junho de 200054,59. Em linhas gerais o PHPN, recomenda a adoção
dos seguintes procedimentos: seis consultas, no mínimo, para cada mulher durante a
gestação; uma consulta no puerpério, até quarenta dias após o parto; realização de
exames laboratoriais; imunização; classificação continuada de risco gestacional e
atividades educativas.

Natal

Assistência ao Parto

Um dos fatores que pode contribuir para a redução das taxas de hospitalização
no período neonatal é a adequada assistência ao parto. O acesso em tempo oportuno
aos serviços de saúde, a garantia de acolhida imediata da gestante, o monitoramento
do trabalho de parto e a prevenção de partos operatórios desnecessários são diretrizes
que trazem benefícios à saúde da mulher e da criança e reduzem o risco de morbidade
e mortalidade.
Uma revisão realizada por Victora mostrou que mais de 90% de todos os partos
no Brasil acontecem em hospitais, variando entre 81,9% no Norte e 97,4% no Sul.
Observou também que equipes treinadas, compostas por médicos e enfermeiras, são
responsáveis por 87,7% de todos os partos, variando entre 75% no Norte e 96,4% no
Centro-Oeste. No entanto, não encontrou indicadores da atenção ao recém-nascido em
nível nacional ou regional. Identificou ainda que o coeficiente de cesarianas no Brasil é
um dos mais elevados do mundo, alcançando 36,4% do total de partos; o coeficiente é
mais baixo no Nordeste (20,4%) e Norte (25,5%), mas representa quase a metade do
total de partos nas demais regiões.
O parto operatório, em gestações de alto risco, é procedimento importante que,
em determinadas indicações, contribui para a redução da morbimortalidade materno-
infantil. No entanto, a realização de cesarianas desnecessárias, observada
principalmente no seguimento mais favorecido da população, pode contribuir para a

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ocorrência de iatrogenias como prematuridade, baixo peso ao nascer e outras doenças


associadas à cesárea indicada antes do termo. A Organização Mundial da Saúde (OMS)
recomenda que, para atender às indicações médicas de parto cirúrgico seria necessária
uma incidência de cesariana em torno de 15%.
Nesse contexto, há carência de estudos que observam o risco para a readmissão
hospitalar de crianças de acordo com o tipo de parto. Uma pesquisa realizada na Arábia
Saudita acompanhou 1.892 crianças durante o primeiro ano de vida e observou a
ocorrência de consultas no serviço de emergência e admissão hospitalar. Essa análise
encontrou associação significante entre parto operatório e o aumento do número de
admissões. No Brasil, uma pesquisa realizada por Moura et al verificou que cerca de 60%
dos 111 recém-nascidos de termo, com peso adequado os quais necessitaram de
reinternação, nasceram de parto cesáreo. Contudo, nesses estudos, não se verificou a
indicação do parto operatório.
O índice de Apgar destaca-se entre os indicadores que avaliam a vitalidade do
recém-nascido (RN) e indiretamente a assistência ao parto. Recente publicação do
Committee on Fetus and Newborn - American Academy of Pediatrics em conjunto com
o Committee on Obstetric Practice - American College of Obstetricians and
Gynecologists confirma que o índice de Apgar é uma importante ferramenta para
avaliação do neonato.
Moster et al, ao analisarem o índice de Apgar, no quinto minuto de vida, de
235.165 crianças nascidas a termo e com peso ao igual ou maior que 2500g, observaram
forte associação entre baixa pontuação e morte ou ocorrência de paralisia cerebral
Achados semelhantes foram observados numa pesquisa realizada em Dallas, Texas, com
145.627 crianças, produtos de gestação única, sem malformações, nascidas com idade
gestacional mínima de 26 semanas. Os autores analisaram o Apgar e o valor do pH
sanguíneo da artéria umbilical para avaliar qual desses era melhor indicador para o
prognóstico de morte durante os primeiros 28 dias de vida. Os resultados encontrados
mostraram ser o índice de Apgar um melhor indicador para avaliar a sobrevivência
neonatal do que o pH da artéria umbilical.
No entanto, na literatura, há carência de estudos que utilizem o índice de Apgar
como fator associado à rehospitalização durante o período neonatal. Contudo, um
estudo de coorte de base populacional realizado em Ohio, Estados Unidos, com 102.678

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recém-nascidos a termo, com o objetivo de determinar o impacto da redução da


permanência na maternidade nas taxas de rehospitalização, observou entre outros
fatores o valor do escore de Apgar. Os autores concluíram que neonatos com um baixo
índice de Apgar no quinto minuto tinham uma maior probabilidade de readmissão
hospitalar entre 7 a 14 dias após a alta da maternidade.

Neonatal

Peso do nascimento

As condições de saúde de recém-nascidos podem ser analisadas segundo vários


parâmetros, entre eles o peso ao nascer é considerado um dos indicadores mais úteis
para avaliar a qualidade da assistência pré-natal, as perspectivas de sobrevivência
infantil e a saúde da criança no primeiro ano de vida. Esse indicador é o resultado de um
processo complexo para o qual concorrem inúmeros fatores de origem biológica e
social. São encontrados diversos estudos sobre fatores determinantes do peso ao
nascer, como o sexo do recém-nascido, sua etnia, o peso e a estatura dos pais, a idade,
a situação socioeconômica e a escolaridade materna, os nascimentos múltiplos, a
duração da gestação, a paridade, o intervalo interpartal, os cuidados pré-natais e a
morbidade materna durante a gravidez. Portanto, o estudo do peso ao nascer, pode
mostrar evidências da atuação de fatores de natureza diversa sobre o potencial genético
individual, sendo sua distribuição diferente e específica para populações distintas, em
função, principalmente, das condições de vida, podendo ser considerado um bom
indicador de qualidade de vida. Há evidências de uma forte associação entre o baixo
peso ao nascer (< 2500g) e a morbimortalidade neonatal e infantil, levando a
Organização Mundial de Saúde a identificá-lo como o fator isolado mais importante na
sobrevivência infantil.
As crianças com baixo peso ao nascer (BPN), formam um grupo heterogêneo que
compreende os recém-nascidos a termo com peso baixo para a idade gestacional assim
como os prematuros pequenos ou adequados para a idade gestacional (PIG ou AIG).
Cada um desses grupos difere quanto à etiologia, evolução, sequelas, morbidade e
mortalidade. Os problemas mais frequentes apresentados quando o bebê nasce a termo

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com baixo peso são asfixia, aspiração de mecônio e malformações congênitas. Já o


prematuro, AIG ou PIG, é mais susceptível à síndrome do desconforto respiratório do
recém-nascido, crises de apneia, hiperbilirrubinemia, distúrbios metabólicos e
hemorragia intraventricular. Os dois grupos apresentam maior susceptibilidade à
hipotermia, a infecções e à hospitalização.
Um estudo de coorte realizado na Califórnia, Estados Unidos, com o objetivo de
avaliar se a menor permanência hospitalar após o nascimento aumenta o risco de
readmissão nos primeiros 28 dias de vida, concluiu ser o peso no nascimento o fator
mais fortemente associado. Os neonatos com um peso inferior a 2500g tinham um risco
de readmissão 53% maior do que os recém-nascidos com peso normal. Achados
semelhantes foram observados em Michigan, num estudo de caso controle, onde
verificaram uma maior taxa de readmissão nos neonatos com peso inferior a 3000g.
Uma pesquisa realizada na Arábia Saudita acompanhou 1.892 crianças durante
o primeiro ano de vida e observou a ocorrência de consultas no serviço de urgência e
hospitalização. Essa análise encontrou associação significante entre o baixo peso e o
aumento do número de admissões, sendo as doenças respiratórias, neurológicas e
infecciosas as causas mais documentadas. Resultados semelhantes foram encontrados
em Cuba, quando os autores, ao compararem 55 crianças nascidas com baixo peso com
um mesmo número de crianças com peso ao nascimento superior a 2500g, encontraram
maior número de consultas e hospitalizações no primeiro grupo devido, principalmente,
a processos infecciosos e à anemia.
Estudos realizados em diferentes cidades brasileiras também têm observado a
associação entre baixo peso ao nascer e internação hospitalar de crianças. No município
de Embu, São Paulo, com o objetivo de identificar os fatores associados à hospitalização
de crianças menores de cinco anos, realizou-se um estudo transversal cuja amostra
totalizou 893 crianças. Sessenta e cinco crianças foram hospitalizadas e o peso ao nascer
inferior a 2500g mostrou associação significante com a internação. Na cidade de Pelotas,
11.000 crianças foram acompanhadas em duas coortes e, entre os fatores associados
com as internações hospitalares em menores de um ano, estava também o baixo peso
ao nascer.

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Permanência hospitalar após o parto


Em 1950, a alta após o parto ocorria em torno do sexto dia. O declínio da
permanência hospitalar tem sido relatado nos Estados Unidos a partir de 1970, de uma
média de 3,9 dias para 2,0 dias em 1993 (partos vaginais) e 7,9 dias para 3,9 dias (partos
operatórios).
A menor permanência na maternidade após o nascimento não complicado tem
algumas vantagens, como economia para os serviços hospitalares e menor risco de
infecções iatrogênicas. Já as potenciais desvantagens têm relação com questões sociais,
como menor oportunidade de ensinar aos pais sobre aleitamento materno, cuidados
com o recém-nascido e com a saúde materna, orientação sobre o planejamento familiar
e vigilância clínica da díade mãe-filho pela incapacidade de detectar problemas que só
surgem após 24-72 horas de vida.
Vários estudos têm examinado o efeito da alta precoce da maternidade (definida
como alta até 48 horas após o nascimento) na readmissão do recém-nascido, no entanto
os resultados têm sido conflitantes.
O estudo realizado por Lee et al, com 920.554 crianças nascidas em Ontário, com
peso maior ou igual a 2500g, verificou fatores associados à readmissão nos primeiros 15
dias de vida. Assim, ao mensurar o tempo de permanência hospitalar, a taxa de
readmissão e os tipos de diagnóstico, chegou à conclusão de que: com o decréscimo da
permanência hospitalar de 4,5 para 2,7 dias, houve um aumento da taxa de readmissão
de 12,9 para 20,7%, principalmente por icterícia e desidratação.
Estudo do tipo caso controle realizado em Washington, com 2.029 recém-
nascidos hospitalizados no primeiro mês de vida e 8.657 recém-nascidos sem história
de hospitalização, concluiu que, após ajustar a análise por fatores de confundimento, a
alta da maternidade com menos de 30 horas de nascimento aumentava o risco de
readmissão nos primeiros 28 dias de vida em 22%.
Por outro lado, esse mesmo resultado não foi observado em pesquisa realizada
por Soskolne et al ao compararem 117 recém-nascidos readmitidos no hospital com até
três semanas de vida, durante o período de um ano, com o grupo controle que consistiu
de 147 crianças, nascidas no mesmo período e que não foram readmitidas. Os autores
chegaram à conclusão de que a alta hospitalar até 48 horas parece não contribuir com
a readmissão dos recém-nascidos.

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Resultados semelhantes foram observados num estudo realizado no Reino


Unido, quando os autores, ao analisarem os dados de recém-nascidos que receberam
alta da maternidade com menos de 48 horas, não encontraram, na análise multivariada,
a associação entre a menor permanência na maternidade com um aumento do risco de
readmissão.
Um estudo de coorte retrospectivo, realizado na Califórnia, ao analisar 1.214.545
registros de nascimentos e readmissões de todos os RN saudáveis, nascidos de parto
vaginal, também não encontrou associação com a menor permanência hospitalar e o
risco de readmissão.
Os efeitos pouco conclusivos e talvez adversos que a alta precoce da
maternidade pode causar determinaram a instituição de uma Lei Federal nos Estados
Unidos a partir de 1998, proibindo permanência hospitalar menor que 48 horas para
parto vaginal e menor que 96 horas para parto cesárea. Para avaliar o impacto da lei, foi
realizado na Califórnia um estudo que analisou 662.753 recém-nascidos a termo, com
peso normal ao nascimento e de gravidez única, durante um período de dez anos. Após
a instituição da lei observou-se um declínio na readmissão por infecção, icterícia e
problemas respiratórios, mas não se observou impacto significativo na mortalidade
infantil.
No Brasil, não existe um consenso oficial sobre o tempo de permanência
hospitalar pós-parto, havendo referência na portaria número 1016 do Ministério da
Saúde, publicada no Diário Oficial da União número 167, de 1º de setembro de 1993:
“As altas não deverão ser dadas antes de 48 horas, considerando o alto teor educativo
inerente ao sistema de Alojamento Conjunto e ser esse período importante na detecção
de patologias neonatais”.
Pesquisa realizada em Campinas-SP, com o objetivo de conhecer a frequência
relativa, causas e características das reintegrações no período neonatal de crianças
nascidas a termo, com peso de nascimento ≥ 2500g e sem complicações no período pós-
parto, revelou um tempo de permanência hospitalar após o nascimento entre 24 e 48
horas em 59,6% dos 176 recém-nascidos hospitalizados.
O Departamento de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, alerta
para os perigos e desvantagens de uma permanência hospitalar inferior a 48 horas e a
necessidade de cumprimento dos critérios mínimos para que ela ocorra, e recomenda:

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alta hospitalar de RN de termo, estável, sem intercorrências, após 48 horas de vida e


retorno ambulatorial 48 a 72 horas após a alta, para avaliação das condições de
amamentação, detecção de icterícia e de outras possíveis intercorrências. A extensão
da estadia deverá ser baseada em características únicas de cada binômio mãe-filho,
incluindo a saúde da mãe, saúde e estabilidade do RN, habilidade e confiança da mãe
para cuidar de si e de seu RN, o adequado suporte em casa e o acesso a seguimento
qualificado. Todos os esforços devem ser feitos para que mãe e RN tenham a alta
hospitalar juntos. Dessa forma, concluem que os profissionais prestadores da assistência
médica devem decidir, em concordância com a família, sobre o momento adequado da
alta.

Padrão Alimentar

Aleitamento Materno

O aleitamento materno é um dos fatores mais importantes para a promoção da


saúde neonatal e da criança, proporcionando adequado crescimento e
desenvolvimento. Além disso, muitos problemas de saúde no período neonatal podem
ser evitados ou reduzidos pela amamentação e, entre eles, estão a hipotermia, a
hipoglicemia e as doenças infecciosas. O leite humano confere, assim, um efeito
protetor significante contra a mortalidade infantil.
Em países desenvolvidos, constatou-se, em alguns estudos, a associação entre
hospitalização no período neonatal e o tipo de alimentação oferecido à criança. Tyler et
al, ao observarem as crianças em aleitamento materno exclusivo que necessitaram de
hospitalização, concluíram que muitas não apresentavam doenças graves e, na maioria
das vezes, os problemas apresentados eram solucionados com melhoria na técnica de
amamentação, fator potencialmente resolvido com adequada instrução materna
durante o pré-natal e seguimento no período pós-parto.
Uma meta-análise foi realizada por Bachrach et al sobre o efeito protetor do leite
materno em relação ao risco de hospitalização por doenças respiratórias, em países
desenvolvidos, com crianças bem nutridas e vivendo em boas condições sanitárias. Os
autores concluíram que, após o controle por possíveis fatores de confusão como

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escolaridade materna, ocupação dos pais e tabagismo materno, as crianças que eram
alimentadas com leite materno exclusivo por quatro meses ou mais tinham uma
redução do risco de hospitalização por doenças respiratórias em comparação com as
não amamentadas.
Um estudo de coorte realizado na Espanha que acompanhou 1.385 crianças do
nascimento ao primeiro ano de vida também verificou a associação do tempo de
aleitamento materno exclusivo, o peso ao nascimento, a condição socioeconômica dos
pais, a idade materna, o tipo de parto com as admissões hospitalares por infecção. Além
disso, a análise multivariada mostrou o leite materno como fator de proteção para o
risco de admissão hospitalar por infecção. Os pesquisadores concluíram, portanto, que
leite materno exclusivo por quatro meses ou mais evitaria 56% dos internamentos
hospitalares em crianças até o primeiro ano de vida.
No Reino Unido, um estudo de base populacional também observou o efeito
protetor do aleitamento materno em relação à hospitalização por diarréia ou infecção
do trato respiratório inferior nos primeiros meses após o nascimento. Foram
acompanhadas 15.890 crianças saudáveis, nascidas a termo e verificou-se que a taxa de
hospitalização até as crianças atingirem a idade de oito meses foi de 12%, sendo 1,1%
por diarreia e 3,2% por infecção respiratória. Cerca de 70% das crianças receberam leite
materno e entre estes 34% foram alimentadas ao seio por pelo menos 4 meses e 1,2%
recebeu leite materno exclusivo por no mínimo 6 meses. Os autores concluíram que
mesmo após o ajuste por possíveis fatores de confusão, o aleitamento materno,
particularmente quando exclusivo e prolongado, protege contra a hospitalização e
recomendaram o seu uso em todos os níveis da população, considerando inclusive seu
potencial benefício para a saúde pública.
Macedo et al realizaram um estudo de caso controle com crianças menores de
um ano de idade na cidade de Pelotas-RS com o objetivo de avaliar os fatores de risco
para hospitalização por doença respiratória aguda em 652 crianças hospitalizadas e 152
controles. Em relação ao aleitamento materno, mesmo após ajuste para fatores de
confusão, observou-se associação do tipo dose resposta, com tendência linear
significativa a aumento das hospitalizações por doença respiratória aguda à medida que
o tempo de amamentação diminuía.

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Idade e Sexo

A idade e o sexo são importantes fatores biológicos que interferem no processo


saúde-doença em uma população. No entanto, por não serem influenciados pelas
variáveis proximais ou distais, foram posicionados ao lado no modelo conceitual de
determinação da hospitalização neonatal.
Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde, em 2005, embora um bom
início de vida se reporte a um período anterior, é imediatamente antes, durante e nas
primeiras horas a seguir ao nascimento em que a vida comporta maiores riscos. Os
recém-nascidos continuam a ser bastante vulneráveis durante a primeira semana de
vida, após a qual as suas hipóteses de sobrevivência aumentam significativamente.
Algumas pesquisas também concordam com a maior vulnerabilidade do recém-
nascido na primeira semana de vida, época em que ocorrem maiores mudanças
fisiológicas no neonato. Na cidade de Washington, Liu et al, ao realizarem um estudo do
tipo caso controle e examinarem 2.029 recém-nascidos hospitalizados no primeiro mês
de vida, identificaram um maior risco de readmissão nos primeiros sete dias de vida.
Ainda nos Estados Unidos, um estudo de caso-controle aninhado numa coorte,
observou que 54% dos 210 recém-nascidos que necessitaram de readmissão hospitalar
estavam na primeira semana de vida. Outra pesquisa, realizada no Brasil por Moura et
al, com 176 crianças, com peso de nascimento ≥ 2500g que necessitaram de readmissão
hospitalar no período neonatal, observou que 61,4% da reintegração também ocorreu
na primeira semana de vida. E, de acordo com os dados disponíveis no Sistema de
Informação do Ministério da Saúde, 90% das internações hospitalares (SUS) por
afecções originadas no período perinatal ocorrem entre zero e seis dias de vida.
Nesse Sistema, dados relacionados ao sexo estão disponíveis para a faixa etária
menor de um ano, verificando-se que 56% das crianças hospitalizadas no ano de 2005
eram do sexo masculino. O mesmo resultado foi observado em pesquisa realizada na
Arábia Saudita ao investigar a ocorrência de consultas no serviço de emergência e
admissão hospitalar com 1892 crianças do nascimento ao primeiro ano de vida. Os
meninos tiveram uma associação significantemente maior de atendimentos e
admissões do que as meninas. No Brasil, estudo realizado na cidade de Pelotas-RS, ao

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acompanhar 11.000 crianças durante o primeiro ano de vida, também verificou um


percentual significantemente maior de hospitalização entre os meninos.

OS CUIDADOS DE ENFERMAGEM COM OS RECÉM-NASCIDOS NA UTI

A Neonatologia, apesar de ser uma área especializada do conhecimento, ainda é


uma ciência nova e relativamente emergente em nosso país, que vem passando por
muitas transformações. Com o advento de novas tecnologias, trouxe um universo mais
amplo à assistência, possibilitando maior sobrevida dos recém-nascidos (COSTA;
PADILHA; MONTECELLI, 2010).
Segundo Oliveira; Rodrigues (2010), a neonatologia é considerada tendo seu
início com o obstetra francês Pierre Budin, que estendeu sua preocupação com os
recém-nascidos além das salas de parto. Budin criou um ambulatório de puericultura no
Hospital Charité, em Paris, no ano de 1892, e foi o responsável pelo desenvolvimento
dos princípios e métodos que passaram a formar a base da medicina neonatal.
Para a assistência aos recém-nascidos (RNs), essas mudanças atingiram também
a finalidade do trabalho nas unidades neonatais, que não se dá só na perspectiva da sua
racionalidade e na recuperação do corpo anátomo-fisiológico do RN, mas passa a
preocupar-se com os desafios enfrentados pelos profissionais de Enfermagem. Na
prática, os serviços mostram um discurso que sinaliza para o cuidado neonatal, mas, a
efetivação da assistência é dificultada pela escassez de recursos, filosofia de trabalho
implantada, falta de sensibilização e instrumentalização dos profissionais de saúde, para
dar conta das novas necessidades que se colocam no processo de trabalho, bem como
a ausência de reflexões críticas acerca dos paradigmas que têm embasado a atenção à
saúde, na perspectiva da transformação (GAIVA; SCOCHI, 2011).
Ainda com relação ao cuidado de enfermagem na UTI Soares; Santos; Gasparino
(2010) relatam quem estudos têm sido realizados enfatizando a importância da
participação dos enfermeiros nas Unidades de Terapia Intensivas Neonatais UTINs
(Unidades de Terapia Intensivas Neonatais) para a promoção do crescimento e
desenvolvimento físico e emocional do prematuro e o estabelecimento do vínculo com
a família.

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As intervenções desses profissionais devem ser realizadas por meio de


fornecimento de informações realistas, coerentes e ditas de maneira que estes
consigam compreender o real estado de saúde do RN e sintam-se personagens ativos
no estabelecimento do tratamento e aprendizagem dos cuidados específicos que o RN
passa a necessitar após a alta (KAYNA, et al., 2010).
Para o emprego da tecnologia, Sá Neto e Rodrigues (2010) retrataram em seu
estudo que em relação ao desenvolvimento tecnológico e científico, houve maior
incidência de iatrogenia, definida como evento indesejável, de natureza danosa ou
prejudicial ao paciente, consequente ou não de falha do profissional envolvido na
assistência, do qual foi destacado o uso de tratamento medicamentoso, resultando em
efeitos indesejáveis e lesões neurológicas; a terapia com oxigênio, causando cegueira
no RN; o uso indiscriminado de antibióticos, levando a uma queda da defesa do
organismo contra as infecções; a punção venosa de repetição, causando estímulos
dolorosos; as manipulações excessivas, trazendo complicações para o desenvolvimento
do RN; e o ambiente ruidoso, ocasionando alterações fisiológicas e comportamentais da
criança.
Entende-se que compartilhar saberes, poderes e espaço, não é uma tarefa
simples e depende não só de um discurso, mas da mudança de valores e atitudes, tanto
dos pais como da equipe. Os trabalhos analisados enfocam a necessidade de uma
abordagem no atendimento e que os profissionais precisam agir com sensibilidade,
disponibilidade para escuta e possibilitar o diálogo com a família do RN. (SOUZA et al,
2010).
Assim, o presente levantamento bibliográfico tem como objeto de estudo: os
cuidados de enfermagem com os recém-nascidos na UTI; como objetivo geral: Analisar
a literatura cientifica sobre os cuidados dos profissionais de Enfermagem com recém-
nascidos na unidade de terapia intensiva neonatal; e os objetivos específicos: Identificar
os cuidados de enfermagem com os recém-nascidos na unidade de terapia intensiva
neonatal e descrever os cuidados de enfermagem na redução de complicações
neonatais.
Este estudo justifica-se pela necessidade de fundamentar os desafios
enfrentados pelos profissionais de Enfermagem nos cuidados com os RN’s sob a

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assistência intensiva e contribuir com a melhora da qualidade do cuidado prestado


durante o período de internação na referida unidade.

Cuidado na UTI Neonatal

O profissional da enfermagem seja em qual for sua ocupação por si só já traz


consigo uma gama de responsabilidade no que se refere à execução e prestação da
assistência no cuidado para com os pacientes. Assim, na assistência na Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal sua responsabilidade é dobrada se levarmos em
consideração que nesse ambiente hospitalar existe paciente em risco eminente de
óbitos, bem como de complicações como infecções.
Para Klock; Erdmann (2012) os profissionais da enfermagem que dispensam
cuidados a recém-nascidos na UTI neonatal a cada dia têm buscado ainda mais
conhecimentos que tragam ganhos para o campo teórico-cientifico, o que demonstra o
interesse dos mesmos em ofertar melhores condições de vida ao RN que necessita de
cuidados intensivos.
O referido autor relata inda que para conduzir as práticas do cuidado ao recém-
nascido na UTI tende-se adotado no cotidiano, intervenções assistenciais que têm como
finalidade uma melhor condução dessa prática, onde este método é denominado de
Gerenciamento do cuidado na UTIN. Esse gerenciamento vislumbra atender as
necessidades e demandas que facilitem a promoção de uma melhor assistência por
parte da enfermagem ao recém-nascido.
De acordo com Aguiar et al (2012) o cuidado do profissional da enfermagem no
que se refere ao recém-nascido na UTI deve esta pautado na promoção da saúde. No
entanto em seu estudo com enfermeiros que atuam na UTIN ele observou que a maioria
dos profissionais da enfermagem descreve que a prática do cuidado com o RN está
concentrada com mais atenção em situações que exijam a utilização de equipamentos,
onde o foco principal é a doença e sua cura por consequência.
Se levarmos em consideração o modelo assistencial de décadas remotas e
correlacionar com a afirmação citada anteriormente, entendemos que o modelo
mecanicista ainda é muito eminente nos cuidados da enfermagem.

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Dentro do cuidado ao RN Pereira et al (2013) descreve que a manipulação é uma


estratégia do cuidado desenvolvimental, um aspecto essencial durante vários
procedimentos que são realizados com o RN na UTI, e pode ser definida como as
intervenções físicas realizadas no paciente com fins de monitoramento e terapêutica.
No entanto, o referido autor relata que durante os cuidados assistenciais
oferecidos ao RN na UTI deve-se ter cuidado na manipulação do mesmo sem
necessidade e de forma demasiado, pois alguns estudos realizados no Brasil foram
constatados que os ruídos ocasionados pela manipulação dos RNs repercutem em
modificações comportamentais e estresse. Assim, considerando-se o cuidado
desenvolvimental ao RN, é notável a preocupação com o excesso de manipulação a este
segmento populacional em unidades neonatais.
De acordo com Gomes; Nascimento (2013) com o avanço tecnológico e o
constante desenvolvimento técnico-científico, houve uma modificação do perfil das
crianças internadas, demandando dos profissionais de enfermagem nas áreas neonatal
e pediátrica, cuidados mais complexos e procedimentos invasivos para a garantia da
sobrevivência desta clientela.
Dentre os grandes avanços tecnológicos observados no campo da saúde,
destaca-se o cateter venoso central que exige dos enfermeiros conhecimentos técnicos
em relação a sua manipulação e manutenção, a fim de evitar as complicações e
proporcionar uma assistência de qualidade, contribuindo para a diminuição do tempo
de internação e dos custos hospitalares (GOMES; NASCIMENTO, 2013).
Segundo Duarte et al (2013) o cuidado ao RN na UTI Neonatal deve ser de forma
integral, ou seja, não somente com a equipe multiprofissional, a família também em
especial a mãe deve ser inserida nesse processo assistencial do cuidado diário e
continuo com fins de manter o vínculo materno, e ao mesmo tempo ajudar no quadro
do processo doença/saúde e recuperação do RN sem maiores danos.
De acordo com Melo; Souza; Paula (2013) a humanização do atendimento em
saúde tornou-se relevante no contexto atual, uma vez que a atenção e o cuidado
embasados em princípios como integralidade da assistência, equidade, participação do
usuário, dentre outros, demandam a revisão da prática cotidiana em saúde.
Dessa forma no que se refere ao atendimento humanizado na UTIN o referido
autor aponta o Método Canguru como um programa que vem despertando interesse de

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profissionais envolvidos com a assistência neonatal. Sua implantação e implementação


conta com toda uma organização de recursos.
Na concepção de Favero; Mazza; Lacerda (2012) a Teoria do Cuidado
Transpessoal, onde existi a necessidade do outro para existir, se faz necessário que o
profissional da enfermagem reflita acerca do cuidado oferecido ao RN na UTI, bem como
com seus familiares, de maneira que, ambos sejam cuidados de forma transversal,
dando ênfase à mãe em virtude de a mesma ser presença diária e continua na Unidade
de Terapia Neonatal (UTIN).
Portanto, se tomamos o contexto do cuidado ao recém-nascido na UTI, objeto
deste estudo, a assistência não deve se limitar apenas à finalidade de prolongamento
da vida, mas considerar também a necessidade de construção e de fortalecimento do
vínculo entre recém-nascido, família e profissionais de saúde. Esse tem sido um esforço
que pode ser identificado nas atuais políticas e programas que se destinam à saúde
materna e infantil.

Cuidados de Enfermagem na redução da incidência de complicações neonatais


Garantir a segurança dos pacientes é fundamental para oferecer uma assistência
de saúde e de enfermagem de qualidade. No entanto, se por um lado as intervenções
de cuidados de saúde buscam melhorar a assistência prestada, por outro lado, a
combinação de processos, tecnologias e recursos humanos relacionados com o cuidado
à saúde pode se tornar um fator de risco para o surgimento de erros e complicações.
De acordo com Gomes; Nascimento (2013) dentre os muitos cuidados que o
profissional da enfermagem deve ter na UTI Neonatal, é na inserção do Cateter Venoso
Central (CVC), pois se evidenciou por meio de estudos que os maiores índices de
infecções da corrente sanguínea, mau posicionamento do cateter e pneumotórax, são
complicações frequentes em RNS submetidos a esse procedimento.
O referido autor relata ainda que a escolha do cateter venoso central por ser
uma tecnologia indispensável à sobrevivência dos recém-nascidos e de crianças
internadas em estado crítico nas UTIs torna-se indispensável à busca constante e
aperfeiçoamento do conhecimento não somente sobre a inserção do Cateter Venoso
Central, bem como outros procedimentos que o profissional da enfermagem seja
responsável para se evitar futuras complicações neonatais.

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Segundo Duarte et al (2013) durante sua estadia na UTI neonatal o RN é


submetido há muitos procedimentos, em sua grande maioria complexos e que podem
trazer consigo uma gama de complicações. Dentre esses procedimentos está à inserção
do PICC (Cateteres Centrais de Inserção Periférica), que são amplamente utilizados em
unidades neonatais quando as crianças necessitam de uma linha venosa por tempo
prolongado.
O referido autor relata que dentre as complicações pela inserção do PICC estão:
obstrução do cateter, flebite mecânica, migração, formação de trombos, sangramento,
fratura do cateter, extravasamento, perfuração cardíaca ou do vaso, flebites infecciosas,
infecção do sítio de inserção e infecção sanguínea. Assim, para se evitar essas
complicações o profissional da enfermagem deve deter conhecimento técnico cientifico
para escolher o melhor local para inserção, as técnicas corretas, manejo do cateter de
forma higiênica, bem como sua retirada no intervalo de tempo adequado.
Para Pacheco et al (2012) outro procedimento no qual os RNs da UTIN são
submetidos é a punção venosa, que é considerado uma das práticas mais difíceis de
realizar no neonato e este é um dos procedimentos mais executados pela equipe de
enfermagem. Com isso, torna-se um desafio cada vez maior para esses profissionais
minimizarem a dor e o sofrimento do RN submetido a tal procedimento. Pois a não
mensuração da dor durante os procedimentos gera do RN problemas como estresse e
agitação dependendo de seu estado fisiológico.
Assim, para reduzir a dor do RN durante a punção venosa Pacheco (2012) aponta
que “a utilização da sucção não nutritiva estimula a autorregulação do neonato e das
fibras sensoriais que irão competir com os impulsos nociceptivos das fibras dolorosas
ascendentes diminuindo, desta forma, a percepção dolorosa”.
Nunes et al (2012) descreve outro cuidado importante que o profissional de
enfermagem deve ter para evitar complicações pós-assistência que é na administração
de pressão positiva contínua nas vias aéreas através do CPAP nasal, pois tem sido
utilizada no tratamento de doenças respiratórias neonatais como meio de prover
suporte ventilatório nos RN pré-termo, produzindo adequada troca gasosa, decréscimo
das complicações induzidas pela ventilação mecânica invasiva e redução da displasia
broncopulmonar.

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O referido autor relata que durante esse procedimento deve-se ter cuidado pois
apesar das muitas vantagens esse dispositivo acarreta lesões nas narinas causando
desconforto e desfigura mento nasal. Dentre os cuidados estão: o uso de proteção nasal
com hidrocoloide; pronga nasal para proteção do septo e da columela nasal. Esses
cuidados devem ser tomados antes da inserção do dispositivo, cabendo ressaltar ainda
que o hidrocoloide somente protege a pele da escoriação, mas não previne a necrose
por pressão.
Baseando em tudo que foi exposto na categoria aqui descrita entendemos o
quanto é importante que o profissional tenha conhecimento prévio das melhores
evidências para sua prática profissional, pois apesar de se estar utilizando os melhores
dispositivos sempre se deve ter conhecimento das desvantagens e complicações que
sua utilização pode acarretar no paciente, no caso o RN que esta albergada na UTIN.

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