Você está na página 1de 4

Universidade Federal do Espírito Santo

Dsiciplina Direito Processual Penal II


Professor Sérgio Ricardo de Souza
Aluno: Marcelo Alves Godinho

PAPER – O Caso dos Irmãos Naves.


O caso dos irmãos Naves pode ser considerado um dos maiores erros do judiciário brasileiro.
O valor da prova é um objeto muito importante na fase de cognição, até o exercício final no
cumprimento da sentença.
O ano é 1937 e Getúlio Vargas estava no poder desde 1930. A 10 de novembro de 1937. Getúlio
inicia o Golpe de Estado Novo a pretexto de combater uma suposta ameaça comunista.
Em nome do slogan da Lei e da Ordem promovido pelo estado ditador, nenhum crime poderia ficar
sem solução.
O filme conta a história dos irmãos Naves e sua família, em que foram suspeitos de um crime de
latrocínio contra um dos irmãos, Benedito Naves.
Na época, a Constituição era a de 1937, conhecida como Constituição polaca, pois era baseada nos
princípios poloneses da época, com um cunho de ditadura muito forte.
O fato aconteceu na cidade de Araguari, no Estado de Minas Gerais no ano de 1937, em pleno
regime ditatorial do Estado Novo.
Após várias buscas o corpo nunca apareceu. E o primeiro delegado do caso, que tinha como
profissão farmacêutico, durante os depoimentos foi decretada a prisão de toda família.
Diante da inexistência da prova direta do crime, foi destinado o caso a um outro delegado, dessa fez
um capitão pertencente à Polícia Militar do Estado de Minas Gerais.
Com uma atitude mais astéria e violenta,os irmãos junto com a mãe foram submetidos a várias
torturas na prisão. Entre confissões obtidas por meio de tortura, o caso foi levado a julgamento pelo
tribunal do Juri. Os irmãos foram absolvidos no ano seguinte. Mas inconformado, a promotoria
recorreu da decisão, e o julgamento foi anulado. No ano seguinte em novo julgamento, or irmãos
Naves foram novamente inocentados. Houve novo recurso, e finalmente em novo julgamento, os
irmãos Naves foram condenados a 25 anos de prisão.
Com atenuante por bom comportamento, cumpriram em média 6 anos na prisão, até que finalmente
a vítima Sebastião Naves, foi encontrado vivo na casa do pai, em outra cidade próxima.
Diante de tal fato, e lavando a injustiça cometida contra eles, foi reconhecido pelo Estado o grave
erro cometido no processo judicial, recebendo a mãe dos irmãos Naves inclusive uma carta da
mulher do presidente Juscelino Kubitschek a honraria de mãe do ano, pelo Estado brasileiro, carta
essa presente e exposta em seu túmulo até os dias de hoje.
Diante dos fatos, vemos como as coisas mudaram no modus operandi do processo penal brasileiro.
Sob a luz de um Estado Ditador, vimos como não havia a soberania do tribunal do Juri.
Como também depois da Constituição de 1988 a soberania do tribunal do Juri é um papel essencial
à democracia, bem como ter a luz dos direitos humanos sempre à frente das investigações e
inquéritos policiais.
Nenhuma prova pode ser obtida mediante tortura, é um papel essencial à democracia.
Outro conceito importante, é que a imputação de culpa não deve partir da culpa para a prova, e sim
da prova para a culpa.
A luz desse entendimento nossa atual Constituição um dos seus preceitos fundamentais enaltece é
que ninguém seja considerado culpado, sem o devido processo legal e direito ao contraditório e
ampla defesa.
A dignidade humana também deve nortear os rumos do processo penal.
Nosso código de processo atual no Art. 158:

Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de


delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Sob esse entendimento é claro que em caso de crime de morte, a prova presente de um corpo, gera
diante das circunstâncias de prova a materialidade direta de um crime. Cabendo à investigação
determinar a autoria desse crime com os elementos de custódia coletados na cena do crime.
A ligação de culpa entre o fato e o acusado, deve se basear nas provas. Havendo confissão sem
provas contundentes, nossa legislação evolui de certa maneira para que injustiças como essa do
irmão Naves, em que a dúvida da materialidade da ocorrência de um crime de fato sempre esteve
presente, não venham a ocorrer.
É claro que também em crimes, onde não aparece um corpo, e há um indício e presunção de que
realmente houve um assassinato ou morte, diante de uma ação dolosa ou culposa, não se deve
exaurir a culpabilidade do agente suspeito do ato criminoso.
O valor da prova deve caminhar lado a lado com a cognição e lógica dos fatos. O exemplo podemos
traçar de um mecânico de aeronave, que provada a sua negligência na manutenção de uma aeronave
bimotor de um cliente, essa aeronave veio a desaparecer no mar, e o corpo do piloto nunca mais ser
encontrado.
Houve uma presunção de morte, causada por uma ação culposa, ou dolosa, claro, a depender da
investigação e da intenção do agente.
Nesse caso, o valor da prova vai ter maior peso na imputação da responsabilidade e aplicação da
dosimetria da pena do que o aparecimento da prova do crime, que no caso a presença do corpo da
vítima. Podendo assim haver uma imputação indireta do crime ao agente causador do mesmo.
Mas no caso do aparecimento de um corpo, e as provas não estabelecem uma conexão contundente
do acusado com o crime?
A luz do Art 158, ainda estamos será diante de um fato de acusação indireta. Acredito que não. A luz
do artigo Art. 197 do CPP:

“O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos


de prova, e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas
do processo, verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou
concordância.”

Acreditamos que não há acusação, se as provas não estabelecem um nexo de culpa entre o agente e
o crime.
No art 197, se estivesse vigente na época do caso dos irmãos Naves, e fosse respeitado a lei, jamais
tamanha injustiça teria ocorrida. Pois o valor da confissão deve estar conexo com o valor também
das provas; entendo assim, que não basta a simples confissão sem o valor real e concreto da prova.
Será também que se houver a não confissão, e as provas são contundentes na condenação do
acusado?
Sobre isso nossa jurisprudência, pela pesquisa que fiz tendem a absolvição, como exemplos abaixo:
Diante desse pequeno resumo acredito, que a Constituição de 1988 trouxe uma evolução no
tratamento das garantias democráticas e humanas, e que o Estado brasileiro, está em uma constante
evolução, apesar de muito considerarem a passos lentos, na busca de um estado de direito justo para
todos.

Você também pode gostar