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FACULDADE VIDAL DE LIMOEIRO – FAVILI

Credenciada pela Portaria do MEC nº 1100 de 27 de novembro de 2015

CURSO DE DIREITO

DISCIPLINA: TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO E INTRODUÇÃO À


LÓGICA
ALUNA: SOLANGE MARIA LOURENÇO VIDAL
RESENHA CRÍTICA:
FILME O MILAGRE NA SELA 7, E A CORRELAÇÃO COM A VIOLAÇÃO DO
PRINCÍPIO DO DIREITO AO CONTRADITÓRIA E A AMPLA DEFESA.

ORIENTADOR: André Brayner

LIMOEIRO DO NORTE – CE, Setembro de 2022.


RESENHA CRÍTICA DO FILME: O MILAGRE NA CELA 7.

Em Inglês: Miracle in Cell No. 7. Em português: Milagre na Cela 7. Produção e Direção:


Mehmet Ada Öztekin. País de Origem: Turquia. Ano de lançamento: 2019.

ANÁLISE DO FILME

O filme Milagre na Cela 7, narra a história de um homem simples, cuidador de ovelhas,


que mora somente com sua mãe e sua filha. Com a filha ele possui uma relação bem singular;
pois em muitos momentos do filme, o diretor deixa claro que a relação de pai e filha, é mais
comparada a uma relação de irmãos. Ao observar e comparar situações da realidade do processo
penal e os princípios do direito; é constatado através de referências bibliográficas que alguns
erros na justiça foram infringidos, pois é evidenciado em cenas que mostram que Memo, o
personagem principal do filme, possui uma deficiência cognitiva, que faz com que seu
comportamento seja tão inocente quanto os de sua filha Ova, e, no entanto, não poderia ser
condenado da forma que foi. O drama começa quando o pastor de ovelhas ingenuamente estava
brincando com a filha de um militar, e a mesma acaba sofrendo um acidente caindo de um alto
penhasco, e nesse acidente a menina veio a óbito. Todos que estavam no local, embora não
quisessem acreditar que Memo tivesse algo a ver com o incidente, acabam sendo levados pela
impetuosidade do general, pai da menina; pois, além dele ser uma autoridade, as pessoas
também olham o pastor de ovelhas com desconfiança, devido a sua maneira diferente de ser.

Na prisão, Memo insiste em repetir que não fez nada com a menina; repetindo sempre
a frase que o gigante caolho viu que ele não teve culpa. Todas as falas dele, só faz com que seus
colegas de cela, e os carcereiros confirmem a sua insanidade. No entanto, a frase que ele repetia,
nada mais era do que uma forma que ele idealizou de sua filha identificar que alguém teria visto
que ele era inocente no acidente da filha do general. No decorrer do tempo, e ao ver o amor que
o pobre pastor de ovelhas tinha por sua filha. Os colegas de cela, mesmo sem provas, sem
nenhum vestígio de que ele estaria falando a verdade; aqueles homens de coração duro e
verdadeiros criminosos, passaram a acreditar em sua inocência e criam diversas situações para
que Memo pudesse ver a sua filha, nem que fosse por uma última vez.

Já que o coração duro do general, pai da menina que caiu do penhasco, não teve
compaixão em voltar atrás; mesmo sabendo da inocência de Memo, e com um senso falso de
justiça, torna-se injusto mais uma vez e assassina a única testemunha que poderia salvar o réu
de ser acusado injustamente. O milagre de fazer o general assumir que errou não aconteceu. Já
com os colegas de cela de Memo; os colegas da Cela Sete, o milagre acontece de onde todos
menos esperavam.

INDICAÇÃO DO FILME: O filme tem uma excelente mensagem de reflexão e pode ser
indicado a todo o público e com as mais diversas finalidades.

FRASE CENTRAL: Caso o réu não possuísse problemas psíquicos aparentes; seria retirado
dele o direito da ampla defesa?

PALAVRAS-CHAVE: violação; preconceito; poder.

METODOLOGIA:

 Pesquisa bibliográfica,
 Anotações,
 Correlação do filme com as realidades dos princípios do direito.

OBJETIVO: Usar de um fato acontecido mesmo que na ficção, para fazer o estudo do caso.

INTRODUÇÃO

Diante de tais fatos, poderíamos afirmar que em outras circunstâncias, onde o réu não
possuísse problemas psíquicos aparentes; seria retirado dele o direito da ampla defesa? Esse é
o ponto de partida do presente estudo. Para essa análise foi utilizado método de pesquisa
bibliográfica, e a partir de anotações, foi realizada uma correlação do filme com as realidades
dos princípios do direito.

Existe uma violação dos direitos do personagem protagonista, por conta de que não
ficam claro de que forma ele foi julgado, e como foi acusado. Dar-se a entender que foi gerado
um flagrante; porém, não foi realizado um perito para avaliar o que de fato aconteceu com a
menina, filha do general. Até então o estado (O poder judiciário Turco), não deu o direito do
contraditório ao réu. A ampla defesa também foi violada já que, se quer o réu foi ouvido, isso
também fere o princípio de ampla defesa.

Tudo isso se intensifica, quando o general por conta de sua dor pela morte da filha,
resolve simplesmente dar o caso como encerrado. Colocando o protagonista como bode
expiatório, levando a culpa de algo que simplesmente foi um trágico acidente. Caracterizando
assim também, um abuso de poder.

O diretor do filme consegue passar a mensagem que quer com suas cenas com fundos
musicais em tons melancólicos, deixando o público a esperar o que seria de fato o tal milagre
citado na temática do filme. Com isso, consegue segurar o público até o final da trama. Vale
ressaltar que mesmo o filme não sendo baseado nas leis do nosso país, e não sendo baseado em
fatos reais, podemos dizer que situações complexas como essas, não estão isentas de acontecer.

DIREITO AO CONTRADITÓRIA E A AMPLA DEFESA.

Levando em conta que as leis Turcas diferem das leis brasileiras. Mas, levando em conta
também que qualquer ser humano está assegurado por conta dos direitos humanos, que neste
caso seriam infringidos caso a realidade do filme fosse na atualidade. Pois, a Turquia também
é um dos países que já aboliram a pena de morte.

“A abolição da pena de morte, excepto em tempo de


guerra, foi aprovada por 256 parlamentares, contra 162,
tendo sido substituída pela prisão perpétua sem
possibilidade de apelo. Esta medida poderá salvar do líder
rebelde curdo, Abdullah Ocalan, condenado à pena
capital. ” (Correio da Manhã, 2002).
No Brasil a pena de morte foi extinta, e pode-se afirmar que na atualidade seria um
grande retrocesso, caso nossas leis ainda aderissem a tal prática.

“Completam-se neste mês 140 anos da execução da última


pena de morte no Brasil. O governo imperial aprovou em
1835 uma lei dedicada a punir exemplarmente os negros
que matavam seus senhores, mas dom Pedro II decidiu
abandoná-la em 1876. (WESTIN; Ricardo, 2016) Fonte:
Agência Senado.”
Digamos que a situação do filme fosse real, e acontecesse no âmbito do poder judiciário
brasileiro e amparado por nossas leis. A situação do réu, é evidente que ele não possuía
condições psíquicas para a sua autodefesa. O que não tira dele o direito a uma defensoria
pública, que pudesse explanar toda a situação em tempo hábil que a defesa tivesse chance de
colocar todo o contraditório em pauta.

A lei deixa clara que todos somos iguais, temos direitos iguais. Devemos ser julgados
de forma igualitária, independente de raça, cor, religião; ou no caso do Memo (personagem do
filme), com alguma deficiência cognitiva.
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal; ”. (JUSBRASIL, 2022)

Como citado acima, o princípio do devido processo legal, ampara a todo ser humano.
Esse princípio é a matriz de outros princípios que dão direito ao cidadão e não o isenta de ter
um bom julgamento, onde o estado apenas poderá punir de forma limitada e foi um meio que a
justiça encontrou de resolver conflitos de forma a respeitar todo um processo dentro da
legalidade de que o estado garanta que a lei está sendo aplicada de forma correta e trabalhando
dentro da individualidade de cada caso.
“A constituição federal de 1988 sobre o direito do
contraditório e da ampla defesa diz que: “5º, LV, da
CF/88, dispositivo constitucional que garante que “aos
litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
” (CRIMINAIS; Canais Ciências, 2022)

IMPUTABILIDADE PENAL

O filme evidencia que a prisão e a punição de pena de morte de Memo foi somente uma
forma de desabafo do general pela perca de sua filha de forma precoce. O preconceito com um
indivíduo que apresenta distúrbios de suas faculdades mentais, fez com que o protagonista se
tornasse alvo fácil para o general descarregar essa dor. Já que perante a sociedade da época, de
imediato, todos o veriam como culpado.
O que dificulta a situação, é a falta de ciência que o réu tem, de não ter a possibilidade
de reagir, justamente por não ter a consciência dos fatos e a habilidade de contestar com a
mesma coerência em que teria uma pessoa que não tivesse as limitações que ele tem.

A professora ainda tenta explicar que ele tem suas limitações e não consegue se defender
de forma justa, aplicando e apresentando sua versão dos fatos por justamente não possuir essa
linguagem objetiva como qualquer outro teria. Isso é a ampla defesa que não é dada ao
personagem, por ele mesmo também não saber como se defender do turbilhão de problemas
que iria enfrentar.

Perante a lei não teria como acusar Memo, pois ele é inimputável por suas faculdades
mentais. O ser inimputável psicologicamente, é o ser que independente de idade, a justiça teria
que avaliar com um psiquiatra se ele teria consciência do que fazia. Claro, no caso de Memo,
ele não teria cometido o crime da qual estava sendo acusado. No entanto, para a lei, isso nem
se quer importaria, se cometeu ou não o crime. Uma vez que atestado psicologicamente
inimputável, cairia qualquer sentido de culpa.

“Pelo critério psicológico, a lei enumera os aspectos da


atividade psíquica cuja deficiência torna o indivíduo
inimputável (falta de inteligência ou vontade normais ou
estado psíquicos equivalente), sem referência às causas
patológicas desta deficiência. Basta a demonstração de
que o agente não tinha capacidade de entender e de
querer, sob o plano estritamente psicológico, para se
admitir a inimputabilidade. ” (DOTTI, 2005, p. 412.)
No caso de Memo, ao passar por um médico, poderia ser também atestado que ele
apenas possuía um retardo mental, aparentar uma idade inferior à que ele de fato tem. E o
médico dizer que ele sim, mesmo com o retardo mental, dificuldades cognitivas, ainda assim
ele poderia ser atestado parcialmente com inimputabilidade.

CONCLUSÃO

O diretor consegue despertar a ira de quem assisti ao filme, digamos que ele consegue
passar a crítica social da impunidade, da injustiça, dos casos omissos que ainda desfavorecem
as classes minoritárias. No entanto, vem a análise inicial: Caso o réu não possuísse problemas
psíquicos aparentes. Seria retirado dele o direito da ampla defesa?

Acontece muitas vezes que a justiça, seus membros envolvidos tem os seus conceitos e
preconceitos que são imbuídos ao ser humano. A conduta dos profissionais envolvidos nada
mais é do que o reflexo da diversidade da personalidade humana. Embora seus avanços,
podemos considerar que a justiça ainda é falha e com modelos arcaicos que podem ou não
favorecer ou desfavorecer acusados, sendo eles culpados ou não.

Tudo depende das atitudes das pessoas que estão por traz dos processos. Os casos na
justiça, os processos judiciais, são singulares e antes de tudo, para que a máquina da justiça
funcione de forma mais eficaz, além de preconceitos a serem deixados de lado; deve-se também
criar mecanismos de auto avaliação dentro de departamentos do poder judiciário que regulem,
preparem e fiscalizem os profissionais envolvidos para que a justiça ganhe de fato o sentido
real do nome justiça.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CRIMINAIS, Canais Ciências. Os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa.


2022. Disponível em: <https://canalcienciascriminais.com.br/os-principios-constitucionais-do-
contraditorio-e-da-ampla-defesa/>>. Acessado em: 22/09/2022.

DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense,
2005, p. 412.

JUSBRASIL. Artigo 5 da Constituição Federal de 1988. 2022. Disponível em: <<


https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constituicao-federal-de-1988>>.
Acessado em: 22/09/2022.

MANHÃ, Correio. Pena de morte abolida na Turquia. Mundo, 2002. Disponível em:
<<https://www.cmjornal.pt/mundo/detalhe/pena-de-morte-abolida-na-turquia. Acessado em:
22/09/2022.>>

WESTIN; Ricardo. Fonte: Agência Senado. Há 140 anos, a última pena de morte do Brasil.
Senado Notícias, 2016. Disponível em:
<<https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/04/04/ha-140-anos-a-ultima-pena-de-
morte-do-brasil>>. Acessado em: 21/09/2022.

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