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FACULDADE CURITIBANA

GRADUAÇAO EM DIREITO
FRANCISCO PUJOL FILHO

RESUMO DO LIVRO “DOS DELITOS E DAS PENAS””

CURITIBA
2022
FACULDADE CURITIBANA
GRADUAÇAO EM DIREITO
FRANCISCO PUJOL FILHO

RESUMO DO LIVRO “DOS DELITOS E DAS PENAS”

Trabalho realizado para obtenção de nota


parcial na disciplina de Ilicitude e
Culpabilidade do Curso de Direito sob a
orientação do Prof. Dr. Victor Cezar
Rodrigues da Silva Costa

CURITIBA
2022
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1. DOS DELITOS E DAS PENAS

1.1. Introdução

O autor analisa abusos de poder dos séculos anteriores e propõe, que


houvesse distribuição equitativa das vantagens entre todos os membros da
sociedade, pois até aquele momento isso não ocorria, já que na realidade
concentravam-se esses privilégios em poder de poucos, e para mudar isso o autor
cita que apenas as leis poderiam impedir ou por um fim nestes abusos. As leis se
analisadas historicamente mostra que as mesmas nasceram como instrumentos das
paixões da minoria e assim gera uma indignação por parte do autor em relação a
barbárie que os tribunais da época realizavam através das penas em uso e somando-
se a isto uma ausência de críticas sobre estes fatos e sobre os erros acumulados.
Lembrando que este abuso de poder era considerado direito pelos poderosos onde
até hoje as leis não conseguiram mudar a concentração de privilégios por parte dos
mesmos, já que as mesmas não são feitas por observadores da natureza procurando
o bem comum de toda a sociedade. Assim Beccaria propõe e indica princípios gerais
dos delitos, e também, aponta questões que dizem respeito a finalidade da lei, sua
eficácia, influência dos costumes sobre ela, entre outros assuntos (BECCARIA, 2001).

1.2. Origem das penas e direito de punir

O autor fala que a moral e a lei pode proporcionar vantagem durável a uma
sociedade apenas se for fundada em sentimentos indeléveis do coração do homem,
caso contrário encontrara resistência a qual será constrangida a ceder. Ninguém faz
gratuitamente o sacrifício de uma parte de sua liberdade apenas visando o bem
comum. Com o decorrer do tempo os homens sacrificaram parte das suas liberdades
para haver mais segurança onde a lei reuniu esses homens independentes e isolados
formando as sociedades e desta forma com a soberania da sociedade surge o
soberano do povo. A lei mesmo sendo o depósito deste gozo de liberdades não é o
suficiente para evitar o despotismo das mesmas, ai surgem as penas e o objetivo
dessas é impedir que as paixões particulares superem o bem comum. Quando não
houver este fundamento, não haverá justiça e nem poder de direito, é um poder de
fato, porém, usurpado e por este motivo, foram criadas penas contra os infratores das
respectivas leis (BECCARIA, 2001).
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1.3. Consequência desses princípios

A primeira consequência é que as leis estão incumbidas de indicar as penas de


cada delito, e o direito de estabelecer essas leis cabe ao legislador apenas, sendo
assim o magistrado não pode aplicar pena não prevista em lei muito menos pena mais
severa do que a lei determina para determinado delito. A segunda consequência é
que deve haver o intermédio de uma terceira pessoa para tomar a decisão no conflito
do soberano e de um acusado nesse caso essa terceira pessoa é o que seria
imparcial, pois ao soberano não lhe compete o poder de julgar. A terceira
consequência é que a crueldade nos castigos se torna inútil, sendo desta forma odiosa
e injusta, pois não se comprova sua efetividade (BECCARIA, 2001).

1.4. Da Interpretação das leis

Os juízes não podem ter o direito de interpretar as leis pois não são
legisladores, já que essas leis emprestam sua força da necessidade de orientar os
interesses particulares para o bem geral. E quem seria o interprete da lei? Beccaria
cita como sendo o soberano o legitimo interprete da lei, já que o papel do juiz é apenas
de analisar se o homem praticou ou não ato contrário as leis. Mas para Beccaria a um
risco muito grande quando os magistrados utilizam o espírito das leis em vez das letras
das leis, pois com isso podem ocorrer muitas consequências após suas decisões.
Baseando-se no espirito das leis as decisões se tornam subjetivas, pois cada homem
tem uma opinião e pode haver paixões decidindo e julgando, onde pode haver
frequente mudança de ideias de um tribunal para outro, enquanto a letra da lei é fixa
e literal assim garante que o delito será julgado e punido da mesma maneira em dois
tribunais diferentes, desta forma havendo a mesma justiça. Seguindo a lei penal o
homem gozara com segurança de sua liberdade e dos seus bens, somando-se a isto
poderá desviar-se da prática criminosa ao identificá-la conforme o texto da lei, e
também e estará protegido de abusos de tiranos entre outros (BECCARIA, 2001).

1.5. Da Obscuridade das Leis

A obscuridade das leis é um mal tanto quanto a sua interpretação arbitraria, já


que a obscuridade da lei deixa o domínio da mesma nas mãos de um pequeno grupo
de homens assim o autor cita que traduzindo os códigos legais e tornando a lei
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conhecida do povo haverá menos delitos, pois o conhecimento e a certeza das penas
freiem as paixões, que levam ao cometimento destes mesmos delitos. Se não haver
disseminação do conhecimento legal não haverá uma forma fixa de governo na
sociedade e como consequência disto não terá força de um corpo político mas apenas
força dos que compõem esse corpo. Essa disseminação é feita através da imprensa,
que faz do público o depositário das leis e assim como foi feito na Europa para deixar
o estado de barbárie, onde na nobreza e no clero o povo encontrava verdadeiros
opressores e tiranos (BECCARIA, 2001).

1.6. Da Prisão

Outorga-se aos magistrados a autonomia de fazer as leis, mas também dar-se


o direito discricionário para os mesmo prender os cidadãos. Apesar deste habito
imposto aos magistrados o certo seria apenas a lei determinar o caso em que a prisão
deveria ser empregada ao cidadão. O autor cita que “As leis e os usos de um povo
estão sempre atrasados vários séculos em relação aos progressos atuais (...)”, pois o
mesmo afirma que há alguns erros grotescos na justiça criminal, pois na mesma é
vista como força e poder e não como justiça, devido que nas prisões há detentos
inocentes (suspeitos) e criminosos convictos; entre outros sem qualquer critério de
razoabilidade (BECCARIA, 2001).

1.7. Dos indícios do delito e da forma dos julgamentos

Para se comprovar os indícios do delito são necessárias provas e há dois tipos


de provas: as dependentes que se apoiam todas entre si e que desta forma se tornam
frágeis já que destruindo a única prova que parece certa derruba todas as outras, e
as que independem uma das outras e por não dependerem tornam o fato cada vez
mais coeso para o magistrado julgar. Há também, há outros dois grupos as perfeitas
e imperfeitas onde a primeira não existe possibilidade de inocentar o acusado já a
segunda mantém a possibilidade de inocência. Quando as leis são claras e precisas,
assim como as provas fica mais fácil para o juiz a constatação dos fatos. Já em relação
ao julgamento o melhor de fato é ser feito por iguais de ambos os lados tanto do
acusado quanto do ofendido não ocorrendo desta forma sentimentos de desigualdade,
onde o julgamento e a exposição de provas deve ser público e obter legitimidade
(BECCARIA, 2001).
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1.8. Das Testemunhas

A confiança que se deposita em uma testemunha deve ser medida pelo


interesse que ela tem em dizer ou não a verdade; deve-se, portanto, ceder à
testemunha maior ou menor confiança, na proporção do ódio ou da amizade que tem
ao acusado e de outras relações mais ou menos estreitas que ambos mantenham.
Pois houve abusos diversas vezes cometidos, como considerar nulos os testemunhos
de condenados e de mulheres. Arrolar testemunhas pode parecer adiar um processo,
entretanto, procrastinações são necessárias, pois, assim o povo entende que
julgamentos são feitos formalmente e não pelo interesse individual e desta forma
também não há o arbítrio do juiz. Há necessidade de que não seja apenas uma
testemunha já que é dada maior importância às testemunhas quanto mais atrozes os
crimes. Enfim, os depoimentos das testemunhas devem ser quase nulos, quando se
trata de algumas palavras das quais se quer fazer um crime; porque o tom, os gestos
e tudo o que precede ou segue as diferentes idéias que os homens ligam a suas
palavras, alteram e modificam de tal modo os discursos que é quase impossível repeti-
los com exatidão (BECCARIA, 2001).

1.9. Das acusações secretas

Para Beccaria, as acusações secretas seriam um abuso consagrado em vários


governos pela fraqueza de sua constituição. Esse costume faria dos cidadãos falsos
e pérfidos; viveriam uns como delatores e traidores dos outros. O autor mostra a
injustiça deste instituto: “Quem poderá defender-se da calúnia, quando esta se arma
com o escudo mais sólido da tirania: o sigilo?” O autor condena todos os argumentos
a favor das penas secretas, e coloca-se como defensor de julgamentos e penas
públicas (BECCARIA, 2001).

1.10. Dos interrogatórios sugestivos

Conforme Beccaria o único interrogatório deve ser sobre a forma do


cometimento do crime e de suas circunstâncias e quem por algum motivo se negar a
responder o interrogatório ao magistrado deve sofrer pena pesada estabelecida por
leis, pois o silencio do acusado é uma ofensa para a justiça. As confissões e os
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interrogatórios não são necessários quando provas comprovam a autoria do crime


(BECCARIA, 2001).

1.11. Dos Juramentos

O juramento é uma contradição entre leis e sentimentos naturais, não há como


exigir de um acusado que diga a verdade, quando seu interesse é esconder verdade.
O juramento não e mais que uma simples formalidade sem consequências, o que os
torna inúteis pois esse juramento não dá garantias que o acusado ira dizer a verdade
(BECCARIA, 2001).

1.12. Da tortura

Os governos da época usavam a tortura como ferramenta para conseguir


confissões dos suspeitos de crimes mesmo esse método sendo uma barbárie. A
tortura demonstra o direito da força, pois inflige pena ao cidadão mesmo não sabendo
se é inocente ou culpado. Poderia haver crime certo onde o acusado deve ser punido
pela lei fixa, se crime incerto deve ser inocentado. A prática da tortura assemelha-se
ao ordálio, usado no direito divino, mas com uma diferença que o foco daquela é a
confissão, enquanto desta as marcas eram provas do crime. O método da tortura faz
o inocente fraco confessar crimes se tornando culpado e o culpado vigoroso que
resiste a tortura não, o tornando desta forma inocente e gerando um resultado trágico,
pois aquele está numa situação desfavorável enquanto este está numa situação
favorável. Conforme o autor a tortura pode ter origem religiosa, até pelo ato da
confissão (BECCARIA, 2001).

1.13. Da duração do processo e da sua prescrição

Beccaria cita “Cabe tão-somente às leis determinar o tempo que se deve utilizar
para a investigação das provas do crime, e o que se deve conceder ao acusado para
que se defenda.” Para crimes hediondos não deve haver qualquer prescrição em favor
do culpado, ou melhor falando deve-se diminuir a duração da instrução e do processo
e prolongar o tempo de prescrição, já os crimes de menor gravidade deve-se aumentar
o tempo de instrução do processo e diminuir o tempo de prescrição do mesmo,
concluído a prescrição está ligada a gravidade do delito (BECCARIA, 2001).
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1.14. Dos crimes iniciados; dos cúmplices; da impunidade

A intenção de um crime deve ser castigado, mas de forma mais branda, por se
tratar da vontade de cometer um crime e não um crime consumado, pois desta forma
a punição detém a pessoa que iniciou ou teve a intenção de cometer o crime, e desta
forma não completando-o. A crimes que são realizados com cumplices, onde há
tribunais que oferecem impunidade para cúmplice que trair seus colegas, considerado
uma covardia do legislativo e, logo, do soberano, mas que pode funcionar na
elucidação de um crime. A esperança da impunidade para o cumplice que trai pode
prevenir grandes crimes e reanimar o povo sempre apavorado quando vê grandes
crimes cometidos sem conhecer os culpados, e propõe que seja feita lei geral para
isto, ao invés de declaração especial num caso particular (BECCARIA, 2001).

1.15. Da moderação das penas

Conforme o autor o objetivo dos castigos é de impedir o culpado de nocivo à


sociedade, e desta forma afastar a mesma do caminho do crime, ou seja, a função da
pena é utilitarista. Historicamente, verifica-se que nos países onde as penas foram
mais cruéis, também foram os lugares onde cometeu-se maior número de crimes
hediondos. Nota-se que para surtir efeito, o mal causado pela pena deve superar o
bem retirado pelo crime, assim acrescentando a crueldade das penas tem dois
resultados: é difícil estabelecer proporção entre delito e pena, pois sempre haverá
superação do limite humano; os tormentos mais terríveis podem provocar impunidade.
Finalizando o autor cita que o rigor das penas deve estar de acordo com o atual estado
do país (BECCARIA, 2001).

1.16. Da pena de morte

A pena de morte além de não baseada em direito algum, nunca pôs fim aos
delitos, pelo contrário é apenas erroneamente considerada necessária contra o
cidadão infrator. A pena de morte possui menos resultados que a pena perpetua, já
que este castigo pode afastar o cidadão de qualquer crime. O arrependimento fácil e
de ultima hora é a única coisa que a pena de morte pode proporcionar enquanto a
perpetuidade da pena pode dar uma reflexão dos males praticados por parte do
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indivíduo. Concluindo nenhum homem tem direito de ceifar a vida de outro


(BECCARIA, 2001).

1.17. Do banimento e as confiscações

E justo e existe razoes mais fortes para banir da sociedade um indivíduo


acusado de um crime pela primeira vez, do que um estrangeiro ou um indivíduo
reincidente? No momento de se banir um indivíduo da sociedade o cidadão estará
morto e restará apenas o homem. Com este banimento é discutido se deve ser feita
confiscação de bens, pois a perda dos bens é uma pena maior que o exílio. Porém, a
confiscação reduz o indivíduo a indigência e com isso gera o desespero e isto pode
fazer de um inocente se tornar um criminoso (BECCARIA, 2001).

1.18. Da infâmia

A infâmia é um sinal de desaprovação publica que priva o culpado da


consideração e da confiança que a sociedade depositava no indivíduo. Não é uma
pena que decorre das leis, mas do povo, a mesma deve ser rara e não deve recair
sobre muitas pessoas, para não abalar o poder da opinião pública e sua própria força.
(BECCARIA, 2001).

1.19. Da publicidade e da presteza das penas

A pena será mais justa e mais útil para a sociedade quando mais rápida for sua
aplicação e mais de perto acompanhar o crime. Um cidadão só deve ser detido e ficar
na cadeia até a instrução do processo e o prisioneiro mais antigo tem prioridade de
ser jugado primeiro. O processo possui contrastes entre eles: a demora do magistrado
e a pressa do acusado, onde as ideias de crime e punição são retardadas e desunidas
quando a retardo do processo e desta pena em relação ao crime (BECCARIA, 2001).

1.20. Que castigo deve ser inevitável – das graças

A perspectiva de um castigo moderado, mas inevitável, causará sempre uma


impressão mais forte do que o vago temor de um suplício terrível, em relação ao qual
se apresenta alguma esperança de impunidade. O castigo deve ser inevitável, mas
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não é a severidade da pena que traz o temor, mas sim a certeza da punição. O direito
de punir não pertence a nenhum cidadão, mas sim as leis, e por esse motivo o direito
de conceder graça e sem dúvida a mais bela prerrogativa do trono e o mais precioso
atributo do poder do soberano, lembrando que a graça é um benefício em razão
mesmo das da atrocidade das penas e os absurdos das leis em relação aos indivíduos
infratores (BECCARIA, 2001).

1.21. Dos asilos

O asilo na ótica do autor e uma permuta de criminosos entre nações, onde há


pouca diferença entre impunidade e asilo pois este serve de abrigo contra a ação das
leis. Segundo o autor um crime deve ser castigado somente no país em que foi
cometido o crime (BECCARIA, 2001).

1.22. Do uso de pôr a cabeça a prêmio

O autor cita alguns argumentos para rebater o uso de pôr a cabeça a prêmio
do indivíduo entre esses argumentos cita que há uma fragilidade da nação que precisa
de ajuda de outrem para se defender, pois essa nação não tem força. Com esse
método de punição para punir e até mesmo prevenir um crime gera cem outros crimes
e como uma de suas consequências afasta a política da moral um critério tão
importante para a vida em sociedade (BECCARIA, 2001).

1.23. Que as penas devem ser proporcionais aos delitos

Deve-se haver uma proporção entre os delitos e as penas, pois meio utilizado
pela legislação para prevenir o crime deve ser mais forte à medida que o crime é mais
danoso ao bem público. Se não houver essa proporção não se fará diferença entre os
crimes mais leves dos crimes mais graves. Desta forma o legislador deve agir com
sabedoria onde estabelecerá divisões para que não se aplique os menores castigos
aos maiores crimes e vice-versa. (BECCARIA, 2001).
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1.24. Da medida dos delitos

A verdadeira medida dos delitos é o prejuízo causado à sociedade. A grandeza


do crime não depende da intenção de quem o comete, como erroneamente já julgaram
alguns, pois muitas vezes com a melhor das intenções, um cidadão faz a sociedade
os maiores males, ao passo que um outro lhe presta grandes serviços com a vontade
de prejudicar a mesma (BECCARIA, 2001).

1.25. Divisão dos delitos

Há crimes que tendem diretamente a destruição da sociedade ou dos que a


representam, outros atingem o cidadão na sua vida, nos seus bens ou em sua honra,
e outros são contrários ao que a lei prescreve ou proíbe. Cada cidadão pode fazer
aquilo que a lei não proíbe, lembrando que os cidadãos mudam de valores conforme
o tempo passa e surgem novas circunstancias, desta forma gerando uma nova divisão
dos delitos de tempos em tempos (BECCARIA, 2001).

1.26. Dos crimes de lesa-majestade

Os crimes de lesa majestade foram postos na classe dos grandes crimes


porque são danosos à sociedade, e se encaixaram nesse conceito inúmeros delitos.
Toda espécie de delito e nociva a sociedade, mas nem todos tem efeito imediato de
destruir, é necessário julgar as ações morais por seus efeitos positivos levando-se em
consideração o tempo e o lugar onde os mesmos ocorrem (BECCARIA, 2001).

1.27. Dos atentados contra a segurança dos particulares e sobretudo das


violências

Os atentados contra a segurança dos particulares é um crime que não se pode


deixar de punir com as penas mais graves, já que essa segurança é o fim de todas as
sociedades humanas. Entre esses crimes existem os atentados contra existência,
contra honra e contra propriedade, por exemplo os primeiros são punidos com penas
corporais. Beccaria fala que mesmo as violências realizadas por parte da nobreza e
dos juízes, os mesmos devem ter as mesmas penas que um indivíduo comum da
sociedade, pois os castigos devem ser os mesmos independentemente da posição
social, pois estes se medem pelo dano causado a sociedade, e não pela sensibilidade
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do culpado, já que em tese o nobre pela sua posição social teria uma maior
sensibilidade ao castigo do que o homem simples (BECCARIA, 2001).

1.28. Das injúrias

As injurias pessoais devem ser punidas pela infâmia, onde a punição tem força
vinda da opinião pública e está evita os males que não podem ser evitados pela lei. A
injúria tem como fundamento a honra, que é algo complexo, composto tanto de ideias
complexas como de ideias simples, pois o sentimento que nos liga a honra não é outra
coisa senão uma volta momentânea ao estado de natureza (BECCARIA, 2001).

1.29. Dos duelos

O duelo é um costume fundado numa espécie de honra, mais cara aos homens
do que a própria vida. O cidadão que recusa um duelo vê-se preso do desprezo dos
seus concidadãos entre outras consequências vexatórias. O autor defende que quem
incitou o duelo deve ser castigado, enquanto o outro participante não, por, apenas,
defender sua honra. Lembrando que a grande maioria dos duelos ocorriam entre os
homens grandes (BECCARIA, 2001).

1.30. Do roubo

O autor cita que roubo com violência e o sem violência são duas coisas
diferentes, onde um deveria ser punido com pena pecuniária ou na impossibilidade de
aplicação dessa pena, era permitida a escravidão temporária para que o mesmo
pudesse sanar o dano cometido. Já o roubo com violência além da escravidão se
somaria a isso as penas corporais. (BECCARIA, 2001).

1.31. Do contrabando

O contrabando ofende o soberano e à sociedade, mas não deve haver infâmia,


pois não afeta o suficiente o povo para indignação do mesmo. A vantagem do
contrabando é proporcional ao número de direitos existentes, lembrando que os
homens só se arriscam na proporção do lucro que o êxito do crime possa proporciona-
lhes (BECCARIA, 2001).
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1.32. Das falências

Ha diferença entre a falência por ação de má-fé e de boa-fé, onde a primeira


deve ser punida com penas equivalentes ao de um falsário já a do segundo deve-se
dar a oportunidade do mesmo conseguir salvar o seu negócio e com isso sanar as
dividas junto aos seus credores, e para isso o autor sugere que os comerciantes
felizes formem um banco e desta forma socorram o comerciante infeliz, pois deste
modo, previnem-se as falências por fraude, e recuperam-se a economia dos homens
de boa-fé (BECCARIA, 2001).

1.33. Dos crimes que perturbam a tranquilidade pública

Primeiramente os cidadãos devem saber o que precisam fazer para serem


culpados, e o que necessitam evitar para serem inocentes. E os magistrados, devem
agir conforme as leis conhecidas e familiares para todos os cidadãos, caso isso não
ocorra abre assim a porta da tirania. O magistrado deve ocupar a sua vigilância e seu
poder de polícia para evitar a perigosa fermentação das paixões populares
(BECCARIA, 2001).

1.34. Da ociosidade

Há na sociedade pessoas que sendo ociosas não inúteis para a sociedade, pois
não dão a mesma nem trabalho nem riquezas e por este motivo não se admite
ociosidade por parte do governo. Não confundir a ociosidade acima citada com aquela
que e fruto das riquezas adquiridas pela indústria pois esta diferentemente daquela é
uma ociosidade que é aceitável e pode ser vantajosa, dando maior liberdade e riqueza
ao cidadão, mas não podemos esquecer que só a lei pode definir a espécie de
ociosidade punível (BECCARIA, 2001).

1.35. Do suicídio

Por mais que seja um crime Beccaria acredita que não é um delito que deve
ser punido pelo homem, mas sim por Deus já que na opinião dele Deus e o único que
pode punir alguém após a morte. O autor cita que se tivesse uma lei que pune o
suicídio ela seria totalmente inútil e injusta (BECCARIA, 2001).
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1.36. De alguns delitos difíceis de serem constatados

De alguns delitos difíceis de serem constatados estão: o adultério, a pederastia


e o infanticídio, apesar de frequentes é difícil provar, pois o adultério é produzido pelo
abuso de uma necessidade constante comum a todos os mortais anterior a sociedade,
enquanto os outros delitos citados acima tendem mais ou menos a destruição do pacto
social, já que são antes o efeito das paixões do momento do que das necessidades
da natureza. O legislador em relação ao adultério fica bem mais fácil preveni-lo quando
ainda não foi cometido do que reprimi-lo quando já se estabeleceu. A pederastia é um
desvio das paixões do homem escravizado pela sociedade. O infanticídio é o resultado
quase inevitável da cruel alternativa em que se acha uma infeliz que só cedeu por
fraqueza ou que sucumbiu sob os esforços da violência. As leis não possuem os
melhores meios para prevenir estes delitos citados acima (BECCARIA, 2001).

1.37. De uma espécie particular de crime

O autor cita o delito ao qual a punição inundou a Europa de sangue humano.


Onde os lugares públicos ficavam cobertos de destroços e cinzas humanas. Os
cidadãos corriam como se fossem ver um espetáculo mas na verdade iam contemplar
a morte dos seus irmãos elevados na fogueira devido ao fanatismo religioso. Trata
aqui da Inquisição, ou Tribunal do Santo Ofício. Lembrando que apenas religiões com
fundamentos pouco estáveis recorrem à força (BECCARIA, 2001).

1.38. De algumas fontes gerais de erros e de injustiças na legislação

Uma das fontes gerais de erros e de injustiças é a falsa ideia de utilidade, onde
se dá mais prioridade as necessidades particulares em vez das necessidades
públicas. Um exemplo típico é que podem considerar-se igualmente como contrárias
ao fim de utilidade as leis que proíbem o porte de armas, pois só desarmam o cidadão
pacífico, ao passo que deixam o ferro nas mãos do celerado, bastante acostumado a
violar as convenções mais sagradas para respeitar as que são apenas arbitrárias.
Lembrando que muitas vezes essas leis não são feitas pelos legisladores para
prevenir delitos mas sim pelo simples sentimento de medo. Há, entre o estado de
sociedade e o estado de natureza, a diferença de que o homem selvagem só faz mal
a outrem quando nisso descobre alguma vantagem para si, ao passo que o homem
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social é às vezes levado, por leis viciosas, a prejudicar sem nenhum proveito
(BECCARIA, 2001).

1.39. Do espírito de família

O espirito de família é outra fonte de injustiças na legislação, já que este é um


espirito de minúcia limitado pelos mais insignificantes pormenores, ao passo que o
espírito público, ligado aos princípios gerais, vê os fatos com visão segura, sendo
assim sabe tirar deles consequências úteis ao bem da maioria. Essa oposição entre
as leis fundamentais dos Estados políticos e as leis de família, é fonte de muitas outras
contradições entre a moral pública e a moral particular, onde a primeira anima a
coragem e o espírito da liberdade, já a segunda só inspira a submissão e o medo
(BECCARIA, 2001).

1.40. Do espírito do fisco

Houve um tempo que todas as penas eram pecuniárias. A preocupação do juiz


era em conseguir confissão do acusado para benefício do fisco; buscava-se, assim,
um culpado no réu, e não a verdade, pois com isso aumentavam-se as “riquezas” e o
“patrimônio” do príncipe. (BECCARIA, 2001).

1.41. Dos meios de prevenir crimes

É preferível prevenir os delitos do que puni-los, porém os meios que até hoje
se empregam são em geral insuficientes ou contrários ao fim que se propõem. A
melhor maneira de prevenir os delitos seria a formulação de simples e claras desta
forma as mesmas não favoreçam nenhuma classe particular e que protejam
igualmente cada membro da sociedade. Outro meio mais seguro, mas ao mesmo
tempo mais difícil de tornar os homens menos inclinados a praticar crimes, é
aperfeiçoar a educação (BECCARIA, 2001).

1.42. Conclusão

A pena deve ser essencialmente pública, pronta, necessária, a menor das


penas aplicáveis nas circunstâncias dadas, proporcionada ao delito e determinada
pela lei. (BECCARIA, 2001).
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REFERENCIAS

BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas: São Paulo: Martin Claret, 2001.

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