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CRIMINOLOGIA

Fernanda Magni Berthier


Professora Vanessa
2018/1
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FERNANDA MAGNI BERTHIER
SUMÁRIO

ESCOLA CLÁSSICA ................................................................................................................................................... 3


CESARE DE BACCARIA – “DOS DELITOS E DAS PENAS” ............................................................................................................. 3
ESCOLA POSITIVA ITALIANA.................................................................................................................................... 5
CESARE LOMBROSO...................................................................................................................................................... 5
ENRICO FERRI ............................................................................................................................................................... 5
RAFFAELE GAROFALO ................................................................................................................................................... 5
TEORIAS PSICANALÍTICAS ....................................................................................................................................... 6
SIGMUND FREUD .......................................................................................................................................................... 6
THEODOR REIK ............................................................................................................................................................. 6
ALEXSANDER E STAUB .................................................................................................................................................. 7
TEORIAS SOCIOLÓGICAS ......................................................................................................................................... 7
EMILE DURKHEIM – “ESTRUTURAL-FUNCIONALISTA” .......................................................................................................... 7
ROBERT MERTON – “ DESVIO DA ANOMIA” ................................................................................................................. 7
EDWIN SUTHERLAND – “ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL” .................................................................................................. 8
ALBERT COHEN – “SUBCULTURAS CRIMINAIS” ............................................................................................................. 8
DAVID MATZA – “TÉCNICAS DE NEUTRALIZAÇÃO” ....................................................................................................... 8
PARADIGMA DA REAÇÃO SOCIAL ........................................................................................................................... 9
TEORIA DO ETIQUETAMENTO (LABELLING APPROACH) ............................................................................................... 9
SOCIOLOGIA DO CONFLITO ....................................................................................................................................11
RALF DAHRENDORF .................................................................................................................................................... 11
GEORG SIMMEL .......................................................................................................................................................... 12
CRIMINOLOGIA CRÍTICA ........................................................................................................................................12

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FERNANDA MAGNI BERTHIER
ANOTAÇÕES DE AULA: CRIMINOLOGIA I
FERNANDA MAGNI BERTHIER – 2018/1

Criminologia
É a área do conhecimento que estuda e investiga as causas do comportamento criminoso e também as
posturas dos agentes que trabalham no sistema de justiça criminal. Pode ser considerada, portanto, como uma
ciência empírica (baseada na observação e na experiência) e interdisciplinar.

DIVISÃO
MACRO MICRO
• Instituições sociais; • Individualização: o problema é o
• Contextos/ culturas inseridas. criminoso.

ESCOLA CLÁSSICA

⇒ Considera que o delito encontra sua explicação propriamente como ente juridicamente qualificado, possuidor
de uma estrutura real e de um significado jurídico autônomo, ou seja, que surge da livre vontade de um sujeito;
⇒ Bases: contratualista e utilitarista;
⇒ Crime como fenômeno natural consequente do livre arbítrio;
⇒ Punição humanizada proporcional ao delito = defesa social.

CESARE DE BACCARIA – “DOS DELITOS E DAS PENAS”

• Livro tinha por função criticar o sistema penal da época pois era muito severo e, como ele era humanista e
presava pela razão, acreditava que as punições na época eram muito severas e não se preocupavam em
mensurar os graus;
• Tem como legado para o direito a formulação pragmática dos pressupostos para uma teoria jurídica do delito
e da pena, assim como do processo, no quadro de uma concepção liberal do estado de direito, baseada no
princípio utilitarista da maior felicidade para o maior número, e sobre as ideias do contrato social e da divisão
dos poderes;
• Para ele, as características físicas dos indivíduos são irrelevantes para a identificação do infrator.
• Utilitarismo: a utilidade comum é a base da justiça humana e emerge da necessidade de manter unidos os
interesses particulares, superando a colisão e a oposição entre eles, o que caracteriza o hipotético estado de
natureza;

• Contrato Social: está na base do Estado e das leis; sua função, que deriva da necessidade de defender a
coexistência dos interesses individualizados no estado civil, constitui também o limite lógico de todo legítimo
sacrifício da liberdade individual mediante a ação do Estado e, em particular, do exercício do poder punitivo
pelo próprio Estado;
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FERNANDA MAGNI BERTHIER
• Nascimento das penas: quando um homem tenta usurpar o poder de cada particular em busca de uma
realização ou satisfação particular, ele está se sobrepondo ao contrato social e, portanto, violando-o. Portanto,
as leis devem sufocar o despotismo que levaria a sociedade ao caos;

“As leis foram as condições que agruparam os homens, no início independentes e isolados, à superfície da terra. “

• Consequência desses princípios: no Brasil, um juiz só poderá aplicar uma sanção se esta estiver de acordo com
as leis vigentes, retirando, assim, a punição arbitrária.

“O magistrado é parte dessa sociedade, não pode, com justiça, aplicar a outro
partícipe dessa sociedade uma pena que não esteja estabelecida em lei.”

• Interpretação da lei: É necessária a imparcialidade dos juízes na hora de interpretar o caso que deve ser feito
sob a luz da jurisdição atual.

“Advém, ainda, dos princípios firmados precedentes, que os julgadores dos crimes não possam
ter o direito de interpretar as leis penais, pela própria razão de não serem legisladores”

o Premissa maior = lei;


o Premissa menor = fato;
o Consequência: absolve ou condena.

• Obscuridade da lei: se o juiz não pode interpretar, é preciso que a lei seja clara. Todas as leis devem ser
publicadas como forma de todos os cidadãos terem acesso e conhecimento delas.

“Enquanto o texto das leis não for um livro familiar, como um catecismo, enquanto elas forem redigidas em língua
morta e não conhecida do povo, e enquanto forem, de maneira solene, mantidas como oráculos misteriosos, o
cidadão que não puder aquilatar por si próprio as consequências que devem ter os atos que pratica sobre sua
liberdade e sobre seus bens estará dependendo de um pequeno número de homens que são depositários e
intérpretes das leis”

• Prisão: critica os magistrados e a falta de humanidade, já que, muitas vezes, elas são feitas de maneira arbitrária
por parte dos órgãos superiores, não respeitando as leis. É preciso ter provas exatas;

“(...) a lei deve estabelecer, de maneira fixa, por que indícios de delito um acusado pode ser preso e submetido a
interrogatório”

• Tortura: tem grande repulsa pelo ato de torturar alguém para obter a verdade. Considera que a posição do
inocente é pior que a do culpado.

“é monstruoso e absurdo exigir que um homem acuse a si mesmo, e procurar fazer nascer a verdade por meio dos
tormentos, como se essa verdade estivesse nos músculos e nas fibras do infeliz"

• Moderação das penas: evitar novos males. Acreditava que a pena não deveria ter caráter de punição, e, sim, de
sanção para os que agissem contra a lei. O criminoso não pode ficar submetido ao arbítrio do julgador (este
deve apenas julgar a universalidade). A punição deve retribuir o mau de forma proporcional ao mal causado
pelo crime pois, caso contrário, segundo o utilitarismo, seria irracional. Defesa social:

“As penas que ultrapassam a necessidade de conservar o depósito da saúde pública são injustas por sua
natureza; e, tanto mais injustas são as penas, quanto mais sagrada e inviolável é a segurança, e maior a
liberdade que o soberano dá aos seus súditos.”

• Pena de morte: não se apoia em nenhum direito. Na lógica do contrato social – que é o fundamento do direito
de punir – é impensável que os indivíduos espontaneamente coloquem no depósito público não só uma parte
da própria liberdade, mas a própria existência;
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“A soberania e as leis nada mais são do que a soma das pequenas partes de liberdade que cada qual cedeu á
sociedade. Representam a vontade geral, que resulta da reunião das vontades individuais. Mas quem já pensou
em dar a outros homens o direito de lhes tirar a existência? Será o caso de supor que, por sacrificar uma parte
ínfima de sua liberdade, cada indivíduo tenha desejado arriscar a própria, o bem mais precioso de todos? “

• Crimes de Lesa-Majestade (ferir o poder do soberano):


o Considerado grande crime;
o Critica a ignorância de não interpretar o que é dito aplicado em virtude da opinião divergente;

ESCOLA POSITIVA ITALIANA

⇒ Considera que o delito encontra sua explicação, também, como ente jurídico, mas o direito que qualifica este
fato humano não deve isolar a ação do indivíduo da totalidade natural e social, ou seja, o meio em que o sujeito
se insere e suas características psicológicas têm interferência no seu comportamento.
⇒ Bases: biológica (Lombroso), psicológica (Garofalo), social (Ferri) e curativa;
⇒ Crime como fenômeno anormal. Não acredita que o delito é fruto unicamente da livre vontade do sujeito;
⇒ Punição reeducativa e curativa = defesa social. Duração tendencialmente indeterminada da pena, já que o
critério seria a melhoria e a reeducação do delinquente para voltar a viver em sociedade.

CESARE LOMBROSO

• Causas biológicas do crime;


• Obra importante: “O Homem Delinquente”;
• Influência principal do darwinismo e da frenologia;
o Sobrevivência dos mais aptos: aqueles que conseguem viver melhor em sociedade. Criminosos mais
violentos eram espécies mais primitivas humanas que, por um acidente na seleção natural, haviam
sobrevivido e vivem entre nós.
§ Criminoso nato = teoria fisionomista, determinismo biológico.
o Tamanho e peso do crânio relacionado com a inteligência do indivíduo:
HOMEM NORMAL > HOMEM DELINQUENTE > MULHER NORMAL > MULHER DELINQUENTE

ENRICO FERRI

• Causas sociológicas do crime;


• Categorias de delinquentes: nato (nascimento), louco (características biológicas), habitual (influência do meio),
ocasional (pratica o crime dependendo do contexto) e passional (movido por emoção – exemplos: ciúmes,
traição, busca de vingança).

RAFFAELE GAROFALO

• Causas psicológicas do crime;


• Temibilidade: internação e manicômios judiciários para afastar indivíduos perigosos para a sociedade.
Desenvolve, assim, a noção de periculosidade, base para a aplicação de determinadas medidas de segurança;
• Delito Natural: alguns são comuns a qualquer sociedade.
• Delito Relativo: a cultura define as ações como delituosas ou não. Exemplo: adultério Índia X Brasil.

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TEORIAS PSICANALÍTICAS

SIGMUND FREUD

• Mente humana com compartimentos:

ID
•Instintos (involuntários);
•Relacionados com a natureza humana de lutar pela sua sobrevivência;
•Exemplo: fugir em uma situação de risco.
EGO
•"EU consciente", tudo o que passa pela razão.

SUPEREGO
•Se desenvolve a partir das normas sociais que são estabelecidas ao
indivíduo;
•Comportamento moldado;
•Repressão dos desejos -> ficam depositados no inconsciente ("lixeira"),
que não é acessível ao nosso ego pela memória racional. Poderia-se
acessá-los a partir da interpretação dos sonhos, da hipnose ou da
palavra.

A repressão de instintos delituosos pela ação do superego não destrói esses instintos, mas deixa que estes se depositem
no inconsciente. Assim, eles são acompanhados por um sentimento de culpa, de tendência a confessar. Com o delito,
há a confissão da agressividade por sentimento de culpa inconsciente.

• Personalidades:

NEURÓTICA PSICÓTICA BORDERLINE

•Reprimido pelas •Vive em um mundo •Personalidade fronteiriça


normas sociais; paralelo; entre a neurótica e a psicótica;
•Normalmente sofre, •Histórico "louco"; •Relacionada aos maus-tratos
já que não tem um •Normalmente não sofre. na infância;
refúgio na loucura •Grande manipulador;

• Pena: não tem função de eliminar ou circunscrever a criminalidade, mas corresponde a mecanismos
psicológicos em face dos quais o desvio criminalizado aparece como necessário e ineliminável da sociedade.

THEODOR REIK

• Dupla função da pena:


1. Satisfação da necessidade de punição que impele a uma ação proibida;
2. Satisfação da necessidade de punição da sociedade que com ele se identifica (inconscientemente):
§ Ex: Eu tenho filhos e me arrependo disso, mas nunca causaria nenhum mal a eles. Em um caso
como o Nardoni, em que o pai mata a filha, como ele ousou fazer isso se eu, que também me
arrependo, renuncio sempre meus sentimentos?

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§ Autoflagelação: o que mais condenamos nos outros pode ser algo que nos identificamos, mas
reprimimos em nós mesmos. Assim, indivíduos que reprimem seus instintos violentos pelo
superego ficam inconformados quando uma 3a pessoa não o faz.

ALEXSANDER E STAUB

• Reação institucional: policiais tem a mesma personalidade dos criminosos, não o sendo em função de
contingências das suas vidas. Há, por isso, tantos casos de agentes de segurança cometendo atos de violência
porque, na verdade, escolheram essa profissão pela autoflagelação.
• Bode expiatório: projeção da sombra do superego do homem (tendências criminosas) a um terceiro (o
acusado).

TEORIAS SOCIOLÓGICAS

EMILE DURKHEIM – “ESTRUTURAL-FUNCIONALISTA”

• Questiona a dualidade: (princípio do bem e do mal) o que é incorreto varia de sociedade para sociedade.
• Teoria Estrutural-Funcionalista da Anomia e da Criminalidade:
1. As causas do desvio não devem ser pesquisadas nem em fatores bioantropológicos e naturais, nem em
uma situação patológica da estrutura social.
2. O desvio é um fator natural de toda estrutura social.
3. Somente quando são ultrapassados determinados limites, o fenômeno do desvio é negativo para a
existência e para o desenvolvimento da estrutura social, seguindo-se um estado de desorganização, no
qual todo o sistema de regras de conduta perde valor, enquanto um novo sistema ainda não se afirmou
(anomia).
⇒ Portanto, dentro de seus limites funcionais, o comportamento desviante é um fator necessário
e útil para o equilíbrio e o desenvolvimento sociocultural.
• Desvio: fenômeno natural nas sociedades, só é nocivo quando ultrapassa certos limites;
• Anomia: estado de desorganização interna do sujeito;
• Suicídio: decorre de um estado anterior de anomia. Motivação nos momentos de depressão econômica
(frustração) e nos de expansão imprevista (grande e rápido sucesso = crise de equilíbrio);
• Aspectos positivos do delito:
o Provoca e estimula a reação social, mantendo vivo o sentimento coletivo;
o Gera a reação reguladora das autoridades;
o Promove ideal de transformação e de evolução na sociedade;
o Antecipa uma moral futura: reafirmação de valores.

ROBERT MERTON – “ DESVIO DA ANOMIA”

• Cultura: “conjunto de representações axiológicas comuns, que regulam o comportamento dos membros de
uma sociedade ou de um grupo”;
• Estrutura social: “conjunto das relações sociais, nas quais os membros de uma sociedade ou de um grupo
estão diferentemente inseridos”;
• Anomia: “aquela crise da estrutura cultural, que se verifica especialmente quando ocorre uma forte
discrepância entre normas e fins culturais, por um lado, e as possibilidades socialmente estruturadas de agir
em conformidade com aquelas, por outro lado”;
• Delito: forma de adequação social em face da incompatibilidade entre fins sociais (metas culturais) e meios
legais (legítimos);

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• Teoria do Desvio da Anomia: modelos de adequação social:

MODELO FINS MEIOS DESCRIÇÃO

Conformismo + + Busca fins sociais na medida da possibilidade.

Ritualismo - + Não adere aos fins.

Inovação + - Adere aos fins por meio do crime típico.

Apatia - - Nega tudo.


- - Nega fins e afirma novos fins, nega meios e
Rebelião + + afirma novos meios.

• Crítica: crimes do colarinho branco? Considera-se que a teoria de Merton só se aplica aos pobres.

EDWIN SUTHERLAND – “ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL”

• Delito: proveniente de aprendizados pela associação direta ou indireta com os “desviados”;


• Criminalidade aprendida: se aprende (fins e técnicas) conforme contatos específicos aos quais está exposto o
sujeito, no seu ambiente social e profissional;
• Cifra Obscura: grande quantidade de crimes não solucionados e existência de um significativo número de
infrações penais desconhecidas “oficialmente”;
• Crimes do Colarinho Branco: fins sociais dessas elites do poder econômico e político não são os mesmos do
restante da população (carro, casa própria X carrão, mansão), assim, no modelo de inovação, eles não podem
utilizar os mesmos meios. Como uma pessoa adquire os valores do meio em que ela se insere, um meio
criminoso irá criar novos criminosos (exemplo: tráfico do morro, corrupção estatal).

ALBERT COHEN – “SUBCULTURAS CRIMINAIS”

• Pesquisa sobre o comportamento criminoso dos bandos juvenis, que aderem aos valores e ao código de
conduta do grupo desviante em detrimento dos valores hegemônicos socialmente;
• Acredita que não existe um único sistema de valores que permita individualizar a conduta criminal como
desviante e reflexo das escolhas individuais feitas, pois cada subcultura possui seus próprios valores;
• Autoafirmação: se reúnem em grupos com comportamentos violentos. Construção de novos fins sociais por
parte de um grupo que não se vê inserido dentro da sociedade (adaptação);
• Elementos: não utilitarismo (ações não visam a um fim útil), malvadeza (contra quem não tem capacidade de
se defender, covardia), negativismo (valores ruins).

DAVID MATZA – “TÉCNICAS DE NEUTRALIZAÇÃO”

• Questiona a Teoria das Subculturas Criminais: afirma que não existe a oposição de valores referida por aquela
teoria, os infratores reconhecem a ordem social dominante
• Técnicas: criadas pelo indivíduo delinquente para se defender das reprovações da própria consciência e das
demais, e para neutralizar a eficácia do controle social sobre a própria motivação do comportamento:
o Exclusão da responsabilidade (culpa as circunstâncias ou os demais indivíduos);
o Negação da ilicitude (interpreta as ações somente como proibidas, mas não como imorais);
o Negação da vitimização (vítima merece o tratamento que recebeu);
o Apelo dos valores próprios (fidelidade, solidariedade ao grupo que pertence);
o Crítica aos agentes de controle (polícia e “cidadãos do bem” são hipócritas).
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FERNANDA MAGNI BERTHIER
PARADIGMA DA REAÇÃO SOCIAL

• Teorias anteriores mostram que, pelo menos dentro de certo limites, a adesão a valores, normas e definições
e o uso de técnicas que motivam e tornam possível um comportamento criminoso, são um fenômeno não
diferente do que se encontra no caso do comportamento conforme à lei.
• Inauguração de outra forma de análise: ao contrário de procurar o problema no criminoso, se busca encontra-
lo no sistema criminal: não se pode compreender a criminalidade se não se estuda a ação do sistema penal.

REFLEXO NOS FALTA DE


DESIGUALDADE DE
AGENTES DO NEUTRALIDADE
TRATAMENTO
SISTEMA DOS AGENTES
• Troca-se a pergunta “como alguém se torna criminoso? “ por “quem é definido como criminoso?”.

TEORIA DO ETIQUETAMENTO (LABELLING APPROACH)

• Se ocupa principalmente com as reações das instâncias oficiais de controle social, consideradas na sua função
constitutiva em face da criminalidade. Sob este ponto de vista, tem estudado o efeito estigmatizante da
atividade da polícia, dos órgãos de acusação pública e dos juízes.
• Bases:
o Interacionismo Simbólico (Erving Goffman, George Mead):
§ A sociedade é constituída por uma infinidade de interações concretas entre indivíduos, aos
quais um processo de tipificação confere um significado que se afasta das situações concretas
e continua a estender-se através da linguagem.
§ Interagimos, observamos e classificamos.
§ Lógica Binária: positivo X negativo
⇒ Depende das referências interpretativas do indivíduo (história de vida, inconsciente);
⇒ Sempre que classificamos como negativo, estamos estigmatizando. Todos sofrem/
fazem isso.
§ Quando a etiqueta é colocada por uma autoridade, com poder, é extremamente grave.
⇒ Exemplo: a morte de inocentes por policiais que os consideraram criminoso.
§ Não somos neutros, mas sim, frutos da construção que recebemos (ideologias).
§ Imparcialidade: afastamento formal do caso.
⇒ Seres humanos não são neutros, mas, como precisam julgar, é necessário o uso de
mecanismos de controle.
⇒ Exemplo: não é permitido um juiz julgar casos envolvendo seus familiares, (ini)amigos.
o Etnomedologia (Alfred Schutz):
§ A sociedade não é uma realidade que se possa conhecer sobre o plano objetivo, mas o produto
de uma “construção social”, obtida graças a um processo de definição e de tipificação por parte
de indivíduos e de grupos diversos.
§ Rótulo estabelecido pelo legislador sobre casos que deveriam ser crimes.
o Estudar a realidade social (por exemplo, o desvio), significa, essencialmente, estudar estes processos,
partindo dos que são aplicados a simples comportamentos e chegando até as construções mais
complexas, como a própria concepção de ordem social.
• Direções de estudo:
o Níveis de criminalização:
§ Efeito da aplicação da etiqueta de “criminoso”(ou também de “doente mental”) sobre a pessoa
em que se aplica a etiqueta.
§ Problema da definição e da constituição do desvio como qualidade atribuída a
comportamentos e a indivíduos. Estudo dos que detém o poder de definir alguém como
criminoso na sociedade (agências de controle social).
§ Criminalização terciária: rótulo de “ex-presidiário”.
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• Lemert:
o Tipos de desvio:

DESVIO PRIMÁRIO
“Como surge o comportamento Relaciona-se a um contexto de fatores
desviante?" sociais, culturais e psicológicos.

DESVIO SECUNDÁRIO
“Como os atos desviantes são ligados Rótulo de criminoso fica no indivíduo mesmo após o
cumprimento de sua pena, determinando, na maioria
simbolicamente? Quais consequências efetivas
dos casos, a consolidação da identidade desviante do
desta ligação para os desvios sucessivos por parte condenado e seu ingresso em uma verdadeira e própria
da pessoa?" carreira criminosa.

• Definição do senso comum:


o Para desencadear a reação social, o comportamento deve ser capaz de perturbar a percepção habitual,
ou seja, deve ser percebido como o oposto do comportamento “normal”, e a normalidade é
representada por um comportamento predeterminado pelas próprias estruturas, segundo certos
modelos de comportamento, e corresponde ao papel e à posição de quem atua.
o Possibilidades:
§ Comportamento infringe a rotina, distanciando-se dos modelos de normas estabelecidas;
§ Autor que, se quisesse, poderia ter agido de outra forma (de acordo com as normas);
§ Autor que sabia o que estava fazendo.
• Teoria de Thomas:
o Se algumas ações são definidas como reais, elas serão reais nas suas consequências (efeito da etiqueta);
o Ao etiquetar alguém como criminoso, rotulando-o, ele vai acabar assumindo uma conduta criminosa.
o Exemplo: criança é adjetivada como incapaz, internaliza o adjetivo e se autoboicota.
• Recepção Alemã do “Labelling Approach”:
o Negação do princípio de igualdade:
§ Cifra dourada da criminalidade (colarinho branco):
⇒ Escassa medida em que ela é perseguida, ou escapa completamente, nas suas formas
mais refinadas, das malhas sempre muito largas da lei.
⇒ Fatores de natureza social: prestígio dos infratores, escasso efeito estigmatizante das
sanções, ausência de estereótipo que oriente as agências oficiais na perseguição, ...
⇒ Fatores de natureza jurídico-formal: competência de comissões especiais, ao lado da
competência de órgãos ordinários, para certas formas de infração, em certas
sociedades.
⇒ Fatores de natureza econômica: possibilidade de recorrer a advogados de renomado
prestígio, pressões sobre denunciantes, ...
§ Cifra negra da criminalidade (crimes comuns):
⇒ Muito menos escassa do que a cifra dourada.
⇒ Escassa incidência social das sanções correspondentes (especialmente econômicas) e
baixo prestígio social dos autores das infrações.
§ Conclusões:
⇒ Sistema é seletivo: distorção das teorias da criminalidade, sugerindo um quadro falso
de sua distribuição por grupos sociais – estereótipos da criminalidade.
⇒ A criminalidade não é um comportamento de uma restrita minoria, mas, na verdade,
o comportamento de largos estratos, ou da maioria dos membros da nossa sociedade.
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o Análise das “Meta-Regras”:
§ Regras (regras gerais) X Meta-Regras (regras sobre interpretação e aplicação das regras gerais.
§ As meta-regras, seguidas, conscientemente ou não, pelas instâncias oficiais do direito, e
correspondentes às regras que determinam a definição de desvio e de criminalidade no sentido
comum, estão ligadas a leis, mecanismos e estruturas objetivas da sociedade, baseados sobre
relações de poder e de propriedade entre grupos e sobre relações sociais de produção.
o Macrossociologia: Seleção da População Criminosa: a criminalidade não existe na natureza, mas é uma
realidade construída socialmente através de processos de definição e de interação. Nesse sentido, a
criminalidade é uma das “realidades sociais”.

SOCIOLOGIA DO CONFLITO

• Elemento do conflito como princípio explicativo fundamental dos processos de criminalização, entendidos
como processos de definição e de atribuição do status de criminoso.
• Negam os princípios do interesse social e do delito natural:
o Motivos:
§ Interesses que estão na base da formação e da aplicação do direito penal são os interesses
daqueles grupos que têm o poder de influir sobre os processos de criminalização – os
interesses protegidos pelo direito penal não são os interesses comuns a todos cidadãos.
§ A criminalidade, em seu conjunto, é uma realidade social criada através do processo de
criminalização.
o Dimensão da política: a referência à proteção de determinados arranjos políticos e econômicos, ao
conflito entre grupos sociais não é exclusiva de um pequeno número de delitos “artificiais”

RALF DAHRENDORF

• Modelo sociológico do conflito:


o Todo o conflito é pensado a partir de uma ação política;
o Toda a sociedade se organiza em torno do conflito, não do consenso. Mudanças e conflitos não são um
desvio do sistema “normal” e equilibrado, mas características normais e universais de toda sociedade.

CONFLITO MUDANÇA
SOCIAL SOCIAL

DOMÍNIO
POLÍTICO

• Todos querem estar no poder, para defender e privilegiar os seus interesses sobre os demais. O poder
econômico depende do poder político para estabelecer o seu domínio na sociedade por meio da coação.
o Exemplo: empresários: Para se defenderem, ou se candidatam, ou patrocinam campanhas daqueles
que possam fazer isso por eles. Grandes empresas patrocinam toda a oposição e a situação, para que,
independentemente de quem ganhar, deva favores e busque medidas que as privilegiem.

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GEORG SIMMEL

• Funcionalidade do conflito:
o Movimentam a sociedade, permitindo que certas transformações importantes aconteçam.
§ O retrocesso também faz parte do processo de amadurecimento político.
• Tipos de conflito:

Realísticos Não-Realísticos
-Lutas empreendidas para que se -Lutas empreendidas que
atinjam determinados objetivos, simplesmente extravasam uma
louváveis ou não (retrocessos); situação, necessidade de descarregar
-São meios para alcançar certos fins uma tensão agressiva;
que se deseja; -Sem causa ideal;
-Causa ideal -São fins em si mesmos;
-Exemplo: protestos de 2013, em -Exemplo: depredação de
busca de melhorias. patrimônio público.

• Natureza política da criminalidade: decorre de um processo de criminalização de condutas.

CRIMINOLOGIA CRÍTICA

• Principais expoentes: Alessandro Baratta e Massimo Pavarini.


• Passagem de uma criminologia liberal para uma criminologia crítica.
o Deslocamento do enfoque teórico do autor para as condições subjetivas, estruturais e funcionais que
estão na origem dos fenômenos do desvio.
o Deslocamento do interesse cognoscitivo das causas do desvio criminal para os mecanismos sociais e
institucionais através dos quais é construída a realidade social do desvio.
o Superação do paradigma etiológico, que era o paradigma fundamental de uma ciência entendida,
naturalisticamente, como teoria das causas da criminalidade.
o Criminalidade não é mais uma qualidade ontológica de
determinados comportamentos e de determinados indivíduos,
mas se revela, principalmente, como um status atribuído a
determinados indivíduos mediante uma dupla seleção:
§ Bens protegidos penalmente e comportamentos ofensivos
desses bens;
§ Seleção dos indivíduos estigmatizados entre todos os
indivíduos que realizam infrações a normas penalmente
sancionadas.
• Igualdade Formal X Desigualdade Penal: criminalidade é distribuída desigualmente conforme a hierarquia dos
interesses fixados no sistema econômico e conforme a desigualdade social e racial entre os indivíduos. As
maiores chances de ser selecionado para fazer parte da “população criminosa” estão concentradas nos níveis
mais baixos da escala social (subproletariado e grupos marginais), visto que, segundo a criminologia positivista
e boa parte da criminologia liberal contemporânea, fatores como posição precária no mercado de trabalho e
defeitos na socialização escolar e familiar são vistos como causas da criminalidade.
• Função da pena: manutenção do sistema capitalista pela repressão de alguns tipos de crime ou pela simples
intimidação das massas, para que se mantenham nos seus lugares. Consolidação de uma carreira criminosa e
reprodução da realidade social.
o Reprimimos furto, roubo e tráfico de drogas, em detrimento a crises mais importantes, como homicídio
e abuso sexual. Todos eles visam ao lucro sem trabalho formal, não sendo aceitos para o capitalismo.
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