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FERNANDA MAGNI BERTHIER
ANOTAÇÕES DE AULA: CRIMINOLOGIA I
FERNANDA MAGNI BERTHIER – 2018/1
Criminologia
É a área do conhecimento que estuda e investiga as causas do comportamento criminoso e também as
posturas dos agentes que trabalham no sistema de justiça criminal. Pode ser considerada, portanto, como uma
ciência empírica (baseada na observação e na experiência) e interdisciplinar.
DIVISÃO
MACRO MICRO
• Instituições sociais; • Individualização: o problema é o
• Contextos/ culturas inseridas. criminoso.
ESCOLA CLÁSSICA
⇒ Considera que o delito encontra sua explicação propriamente como ente juridicamente qualificado, possuidor
de uma estrutura real e de um significado jurídico autônomo, ou seja, que surge da livre vontade de um sujeito;
⇒ Bases: contratualista e utilitarista;
⇒ Crime como fenômeno natural consequente do livre arbítrio;
⇒ Punição humanizada proporcional ao delito = defesa social.
• Livro tinha por função criticar o sistema penal da época pois era muito severo e, como ele era humanista e
presava pela razão, acreditava que as punições na época eram muito severas e não se preocupavam em
mensurar os graus;
• Tem como legado para o direito a formulação pragmática dos pressupostos para uma teoria jurídica do delito
e da pena, assim como do processo, no quadro de uma concepção liberal do estado de direito, baseada no
princípio utilitarista da maior felicidade para o maior número, e sobre as ideias do contrato social e da divisão
dos poderes;
• Para ele, as características físicas dos indivíduos são irrelevantes para a identificação do infrator.
• Utilitarismo: a utilidade comum é a base da justiça humana e emerge da necessidade de manter unidos os
interesses particulares, superando a colisão e a oposição entre eles, o que caracteriza o hipotético estado de
natureza;
• Contrato Social: está na base do Estado e das leis; sua função, que deriva da necessidade de defender a
coexistência dos interesses individualizados no estado civil, constitui também o limite lógico de todo legítimo
sacrifício da liberdade individual mediante a ação do Estado e, em particular, do exercício do poder punitivo
pelo próprio Estado;
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FERNANDA MAGNI BERTHIER
• Nascimento das penas: quando um homem tenta usurpar o poder de cada particular em busca de uma
realização ou satisfação particular, ele está se sobrepondo ao contrato social e, portanto, violando-o. Portanto,
as leis devem sufocar o despotismo que levaria a sociedade ao caos;
“As leis foram as condições que agruparam os homens, no início independentes e isolados, à superfície da terra. “
• Consequência desses princípios: no Brasil, um juiz só poderá aplicar uma sanção se esta estiver de acordo com
as leis vigentes, retirando, assim, a punição arbitrária.
“O magistrado é parte dessa sociedade, não pode, com justiça, aplicar a outro
partícipe dessa sociedade uma pena que não esteja estabelecida em lei.”
• Interpretação da lei: É necessária a imparcialidade dos juízes na hora de interpretar o caso que deve ser feito
sob a luz da jurisdição atual.
“Advém, ainda, dos princípios firmados precedentes, que os julgadores dos crimes não possam
ter o direito de interpretar as leis penais, pela própria razão de não serem legisladores”
• Obscuridade da lei: se o juiz não pode interpretar, é preciso que a lei seja clara. Todas as leis devem ser
publicadas como forma de todos os cidadãos terem acesso e conhecimento delas.
“Enquanto o texto das leis não for um livro familiar, como um catecismo, enquanto elas forem redigidas em língua
morta e não conhecida do povo, e enquanto forem, de maneira solene, mantidas como oráculos misteriosos, o
cidadão que não puder aquilatar por si próprio as consequências que devem ter os atos que pratica sobre sua
liberdade e sobre seus bens estará dependendo de um pequeno número de homens que são depositários e
intérpretes das leis”
• Prisão: critica os magistrados e a falta de humanidade, já que, muitas vezes, elas são feitas de maneira arbitrária
por parte dos órgãos superiores, não respeitando as leis. É preciso ter provas exatas;
“(...) a lei deve estabelecer, de maneira fixa, por que indícios de delito um acusado pode ser preso e submetido a
interrogatório”
• Tortura: tem grande repulsa pelo ato de torturar alguém para obter a verdade. Considera que a posição do
inocente é pior que a do culpado.
“é monstruoso e absurdo exigir que um homem acuse a si mesmo, e procurar fazer nascer a verdade por meio dos
tormentos, como se essa verdade estivesse nos músculos e nas fibras do infeliz"
• Moderação das penas: evitar novos males. Acreditava que a pena não deveria ter caráter de punição, e, sim, de
sanção para os que agissem contra a lei. O criminoso não pode ficar submetido ao arbítrio do julgador (este
deve apenas julgar a universalidade). A punição deve retribuir o mau de forma proporcional ao mal causado
pelo crime pois, caso contrário, segundo o utilitarismo, seria irracional. Defesa social:
“As penas que ultrapassam a necessidade de conservar o depósito da saúde pública são injustas por sua
natureza; e, tanto mais injustas são as penas, quanto mais sagrada e inviolável é a segurança, e maior a
liberdade que o soberano dá aos seus súditos.”
• Pena de morte: não se apoia em nenhum direito. Na lógica do contrato social – que é o fundamento do direito
de punir – é impensável que os indivíduos espontaneamente coloquem no depósito público não só uma parte
da própria liberdade, mas a própria existência;
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“A soberania e as leis nada mais são do que a soma das pequenas partes de liberdade que cada qual cedeu á
sociedade. Representam a vontade geral, que resulta da reunião das vontades individuais. Mas quem já pensou
em dar a outros homens o direito de lhes tirar a existência? Será o caso de supor que, por sacrificar uma parte
ínfima de sua liberdade, cada indivíduo tenha desejado arriscar a própria, o bem mais precioso de todos? “
⇒ Considera que o delito encontra sua explicação, também, como ente jurídico, mas o direito que qualifica este
fato humano não deve isolar a ação do indivíduo da totalidade natural e social, ou seja, o meio em que o sujeito
se insere e suas características psicológicas têm interferência no seu comportamento.
⇒ Bases: biológica (Lombroso), psicológica (Garofalo), social (Ferri) e curativa;
⇒ Crime como fenômeno anormal. Não acredita que o delito é fruto unicamente da livre vontade do sujeito;
⇒ Punição reeducativa e curativa = defesa social. Duração tendencialmente indeterminada da pena, já que o
critério seria a melhoria e a reeducação do delinquente para voltar a viver em sociedade.
CESARE LOMBROSO
ENRICO FERRI
RAFFAELE GAROFALO
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TEORIAS PSICANALÍTICAS
SIGMUND FREUD
ID
•Instintos (involuntários);
•Relacionados com a natureza humana de lutar pela sua sobrevivência;
•Exemplo: fugir em uma situação de risco.
EGO
•"EU consciente", tudo o que passa pela razão.
SUPEREGO
•Se desenvolve a partir das normas sociais que são estabelecidas ao
indivíduo;
•Comportamento moldado;
•Repressão dos desejos -> ficam depositados no inconsciente ("lixeira"),
que não é acessível ao nosso ego pela memória racional. Poderia-se
acessá-los a partir da interpretação dos sonhos, da hipnose ou da
palavra.
A repressão de instintos delituosos pela ação do superego não destrói esses instintos, mas deixa que estes se depositem
no inconsciente. Assim, eles são acompanhados por um sentimento de culpa, de tendência a confessar. Com o delito,
há a confissão da agressividade por sentimento de culpa inconsciente.
• Personalidades:
• Pena: não tem função de eliminar ou circunscrever a criminalidade, mas corresponde a mecanismos
psicológicos em face dos quais o desvio criminalizado aparece como necessário e ineliminável da sociedade.
THEODOR REIK
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§ Autoflagelação: o que mais condenamos nos outros pode ser algo que nos identificamos, mas
reprimimos em nós mesmos. Assim, indivíduos que reprimem seus instintos violentos pelo
superego ficam inconformados quando uma 3a pessoa não o faz.
ALEXSANDER E STAUB
• Reação institucional: policiais tem a mesma personalidade dos criminosos, não o sendo em função de
contingências das suas vidas. Há, por isso, tantos casos de agentes de segurança cometendo atos de violência
porque, na verdade, escolheram essa profissão pela autoflagelação.
• Bode expiatório: projeção da sombra do superego do homem (tendências criminosas) a um terceiro (o
acusado).
TEORIAS SOCIOLÓGICAS
• Questiona a dualidade: (princípio do bem e do mal) o que é incorreto varia de sociedade para sociedade.
• Teoria Estrutural-Funcionalista da Anomia e da Criminalidade:
1. As causas do desvio não devem ser pesquisadas nem em fatores bioantropológicos e naturais, nem em
uma situação patológica da estrutura social.
2. O desvio é um fator natural de toda estrutura social.
3. Somente quando são ultrapassados determinados limites, o fenômeno do desvio é negativo para a
existência e para o desenvolvimento da estrutura social, seguindo-se um estado de desorganização, no
qual todo o sistema de regras de conduta perde valor, enquanto um novo sistema ainda não se afirmou
(anomia).
⇒ Portanto, dentro de seus limites funcionais, o comportamento desviante é um fator necessário
e útil para o equilíbrio e o desenvolvimento sociocultural.
• Desvio: fenômeno natural nas sociedades, só é nocivo quando ultrapassa certos limites;
• Anomia: estado de desorganização interna do sujeito;
• Suicídio: decorre de um estado anterior de anomia. Motivação nos momentos de depressão econômica
(frustração) e nos de expansão imprevista (grande e rápido sucesso = crise de equilíbrio);
• Aspectos positivos do delito:
o Provoca e estimula a reação social, mantendo vivo o sentimento coletivo;
o Gera a reação reguladora das autoridades;
o Promove ideal de transformação e de evolução na sociedade;
o Antecipa uma moral futura: reafirmação de valores.
• Cultura: “conjunto de representações axiológicas comuns, que regulam o comportamento dos membros de
uma sociedade ou de um grupo”;
• Estrutura social: “conjunto das relações sociais, nas quais os membros de uma sociedade ou de um grupo
estão diferentemente inseridos”;
• Anomia: “aquela crise da estrutura cultural, que se verifica especialmente quando ocorre uma forte
discrepância entre normas e fins culturais, por um lado, e as possibilidades socialmente estruturadas de agir
em conformidade com aquelas, por outro lado”;
• Delito: forma de adequação social em face da incompatibilidade entre fins sociais (metas culturais) e meios
legais (legítimos);
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• Teoria do Desvio da Anomia: modelos de adequação social:
• Crítica: crimes do colarinho branco? Considera-se que a teoria de Merton só se aplica aos pobres.
• Pesquisa sobre o comportamento criminoso dos bandos juvenis, que aderem aos valores e ao código de
conduta do grupo desviante em detrimento dos valores hegemônicos socialmente;
• Acredita que não existe um único sistema de valores que permita individualizar a conduta criminal como
desviante e reflexo das escolhas individuais feitas, pois cada subcultura possui seus próprios valores;
• Autoafirmação: se reúnem em grupos com comportamentos violentos. Construção de novos fins sociais por
parte de um grupo que não se vê inserido dentro da sociedade (adaptação);
• Elementos: não utilitarismo (ações não visam a um fim útil), malvadeza (contra quem não tem capacidade de
se defender, covardia), negativismo (valores ruins).
• Questiona a Teoria das Subculturas Criminais: afirma que não existe a oposição de valores referida por aquela
teoria, os infratores reconhecem a ordem social dominante
• Técnicas: criadas pelo indivíduo delinquente para se defender das reprovações da própria consciência e das
demais, e para neutralizar a eficácia do controle social sobre a própria motivação do comportamento:
o Exclusão da responsabilidade (culpa as circunstâncias ou os demais indivíduos);
o Negação da ilicitude (interpreta as ações somente como proibidas, mas não como imorais);
o Negação da vitimização (vítima merece o tratamento que recebeu);
o Apelo dos valores próprios (fidelidade, solidariedade ao grupo que pertence);
o Crítica aos agentes de controle (polícia e “cidadãos do bem” são hipócritas).
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PARADIGMA DA REAÇÃO SOCIAL
• Teorias anteriores mostram que, pelo menos dentro de certo limites, a adesão a valores, normas e definições
e o uso de técnicas que motivam e tornam possível um comportamento criminoso, são um fenômeno não
diferente do que se encontra no caso do comportamento conforme à lei.
• Inauguração de outra forma de análise: ao contrário de procurar o problema no criminoso, se busca encontra-
lo no sistema criminal: não se pode compreender a criminalidade se não se estuda a ação do sistema penal.
• Se ocupa principalmente com as reações das instâncias oficiais de controle social, consideradas na sua função
constitutiva em face da criminalidade. Sob este ponto de vista, tem estudado o efeito estigmatizante da
atividade da polícia, dos órgãos de acusação pública e dos juízes.
• Bases:
o Interacionismo Simbólico (Erving Goffman, George Mead):
§ A sociedade é constituída por uma infinidade de interações concretas entre indivíduos, aos
quais um processo de tipificação confere um significado que se afasta das situações concretas
e continua a estender-se através da linguagem.
§ Interagimos, observamos e classificamos.
§ Lógica Binária: positivo X negativo
⇒ Depende das referências interpretativas do indivíduo (história de vida, inconsciente);
⇒ Sempre que classificamos como negativo, estamos estigmatizando. Todos sofrem/
fazem isso.
§ Quando a etiqueta é colocada por uma autoridade, com poder, é extremamente grave.
⇒ Exemplo: a morte de inocentes por policiais que os consideraram criminoso.
§ Não somos neutros, mas sim, frutos da construção que recebemos (ideologias).
§ Imparcialidade: afastamento formal do caso.
⇒ Seres humanos não são neutros, mas, como precisam julgar, é necessário o uso de
mecanismos de controle.
⇒ Exemplo: não é permitido um juiz julgar casos envolvendo seus familiares, (ini)amigos.
o Etnomedologia (Alfred Schutz):
§ A sociedade não é uma realidade que se possa conhecer sobre o plano objetivo, mas o produto
de uma “construção social”, obtida graças a um processo de definição e de tipificação por parte
de indivíduos e de grupos diversos.
§ Rótulo estabelecido pelo legislador sobre casos que deveriam ser crimes.
o Estudar a realidade social (por exemplo, o desvio), significa, essencialmente, estudar estes processos,
partindo dos que são aplicados a simples comportamentos e chegando até as construções mais
complexas, como a própria concepção de ordem social.
• Direções de estudo:
o Níveis de criminalização:
§ Efeito da aplicação da etiqueta de “criminoso”(ou também de “doente mental”) sobre a pessoa
em que se aplica a etiqueta.
§ Problema da definição e da constituição do desvio como qualidade atribuída a
comportamentos e a indivíduos. Estudo dos que detém o poder de definir alguém como
criminoso na sociedade (agências de controle social).
§ Criminalização terciária: rótulo de “ex-presidiário”.
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• Lemert:
o Tipos de desvio:
DESVIO PRIMÁRIO
“Como surge o comportamento Relaciona-se a um contexto de fatores
desviante?" sociais, culturais e psicológicos.
DESVIO SECUNDÁRIO
“Como os atos desviantes são ligados Rótulo de criminoso fica no indivíduo mesmo após o
cumprimento de sua pena, determinando, na maioria
simbolicamente? Quais consequências efetivas
dos casos, a consolidação da identidade desviante do
desta ligação para os desvios sucessivos por parte condenado e seu ingresso em uma verdadeira e própria
da pessoa?" carreira criminosa.
SOCIOLOGIA DO CONFLITO
• Elemento do conflito como princípio explicativo fundamental dos processos de criminalização, entendidos
como processos de definição e de atribuição do status de criminoso.
• Negam os princípios do interesse social e do delito natural:
o Motivos:
§ Interesses que estão na base da formação e da aplicação do direito penal são os interesses
daqueles grupos que têm o poder de influir sobre os processos de criminalização – os
interesses protegidos pelo direito penal não são os interesses comuns a todos cidadãos.
§ A criminalidade, em seu conjunto, é uma realidade social criada através do processo de
criminalização.
o Dimensão da política: a referência à proteção de determinados arranjos políticos e econômicos, ao
conflito entre grupos sociais não é exclusiva de um pequeno número de delitos “artificiais”
RALF DAHRENDORF
CONFLITO MUDANÇA
SOCIAL SOCIAL
DOMÍNIO
POLÍTICO
• Todos querem estar no poder, para defender e privilegiar os seus interesses sobre os demais. O poder
econômico depende do poder político para estabelecer o seu domínio na sociedade por meio da coação.
o Exemplo: empresários: Para se defenderem, ou se candidatam, ou patrocinam campanhas daqueles
que possam fazer isso por eles. Grandes empresas patrocinam toda a oposição e a situação, para que,
independentemente de quem ganhar, deva favores e busque medidas que as privilegiem.
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GEORG SIMMEL
• Funcionalidade do conflito:
o Movimentam a sociedade, permitindo que certas transformações importantes aconteçam.
§ O retrocesso também faz parte do processo de amadurecimento político.
• Tipos de conflito:
Realísticos Não-Realísticos
-Lutas empreendidas para que se -Lutas empreendidas que
atinjam determinados objetivos, simplesmente extravasam uma
louváveis ou não (retrocessos); situação, necessidade de descarregar
-São meios para alcançar certos fins uma tensão agressiva;
que se deseja; -Sem causa ideal;
-Causa ideal -São fins em si mesmos;
-Exemplo: protestos de 2013, em -Exemplo: depredação de
busca de melhorias. patrimônio público.
CRIMINOLOGIA CRÍTICA