Você está na página 1de 69

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 

Direito Penal I 
Duarte Canau 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Índice:  
1. Direito Penal e a sua Ciência Jurídico Estadual ……………………………………………... ...2  
1.1. O Poder Punitivo do Estado……………………………………………………………………..……………………...2  
1.2. Dignidade Penal ……………………………………………………………………………………………………………...5  
1.3. Necessidade de Tutela Penal 
…………………………………………………………………................................6 
1.4. Conceito Material de Crime …………………………………………………………………………………………….7  
2. Criminologia ………………………………………………………………………………………...12 
2.1.  Crime  como  Acontecimento  Individual 
…………………………………………………………………………..12 
2.2.  O  crime  como  um  acontecimento  social 
………………………………………………………………………....16 
2.3. ​Crime como um fenómeno significativo e 
comunicacional……………………………………………...18 
​ 3. Fins das Penas e Medidas de Segurança …………………………………………………...…...20 
3.1. Teorias Monistas ……………………………………………………………..…………………………………....….21 
3.1.1. Teorias Absolutas ( pena como instrumento de retribuição) ……………………………………..21 

3.1.2.  Teorias  relativas  (  a  pena  como  instrumento  de  prevenção) 


………………………………………….....22  

3.1.3.​ Retroactive Justice​ ..……………………………………………………………………………………………………..23  

3.2. Teorias Mistas ……………………………………………………………………………………………………………….23 

3.3. Medidas de Segurança .…………………………………………………………………………………………………...27 

4. Princípios Direito Penal …………………………………………………………………………….....29 

4.1.Princípio da Culpa ………………​……………………………………………………………………...​…………...29 

4.2. Princípio da Necessidade da Pena .​.​ ..……………………………………………………………………………....30  

4.3. Princípio da Igualdade Penal... .​ ……………………………………………………………………………​31 


4.4. Princípio da Humanidade ..​ .​ ………………………………………………………………………………....31 


4.5. Princípio da Legalidade ..​ .​ ………………………………………………………………………………………..31 

5. Aplicação da Lei no Tempo ….….….….….….….….….….….….….….….….……………..….….….….….43 

6. Aplicação da Lei no Espaço …….….….….….….….….….….….….….….….…..….….….….….….…. 51 

1. Direito Penal e a sua Ciência no Sistema Jurídico Estadual 


 
Direito  Penal  →  ​conjunto  de  normas  jurídicas  que  ligam  certos  comportamentos  humanos, 
crimes  ,  a  determinadas  consequências  jurídicas,  como  a  pena  (  aplicada  aquele  que  atua  com 
culpa) ou as medidas de segurança ( aplicadas consoante a perigosidade​1​); 
 
O professor F
​ igueiredo Dias f​az uma distinção entre: 
- Direito  Penal  Subjetivo:  ​resultante  da  competência  soberana  do  Estado em considerar 
como crimes certos comportamentos humanos e ligar-lhe sanções específicas); 
- Direito Penal Objetivo:​expressão do poder punitivo do Estado;  
 
1.1.O Poder Punitivo do Estado 
 
➥​John Locke 
Vê  o  ​poder  político  como  o  “  direito  de  fazer  leis,  aplicando  a  pena  de  morte,  ou  qualquer  pena 
mesmo  severa  a  fim  de  regulamentar  e  de  preservar  a  propriedade  assim  como de empregar à força 
da comunidade para execução de tais leis” . 
 
Estado  de  Natureza  de  Locke  →  Estado  de  igualdade  e  reciprocidade  entre  todos  os  homens. 
Ainda que se trate de 1 estado de liberdade não é 1 estado de permissividade, o homem não desfruta 
da liberdade de destruir a sua própria pessoa, qualquer criatura na sua posse. 
 
O  direito  que  se  sobrepõe  a  todos  é  o  direito  à  vida,  cad  1  é  obrigado  não apenas a conservar a sua 
própria vida como a “conservação do restante da humanidade”. 

1
​ Numa posição vista como mais positivista, 1 mero conjunto de normas era aceitar uma definição em que num 
sistema positivo injusto considerar-se-iam crimes certas situações e atribuir-se-iam sanções criminais;  


   
Cabe  assim  a  cada 1 assegurar a “execução” da lei da natureza, ou seja cada 1 tem de estar habilitado 
a punir os transgressores. 
Mas  com  que  autoridade  pode  1  princípe  punir/  matar  1  estrangeiro  que  tenha  cometido  1 crime 
em  seu  país?  As  suas  leis  são  expressivas  da  vontade  promulgada  pelo  poder  legislativo,  não  se 
aplicam a 1 estrangeiro, a autoridade legislativa não teria poder sobre ele. 
 
O  magistrado  a  quem foi conferido o direito comum de punir em virtude de suas próprias funções, 
poderá perdoar a punição e até infrações, se estiver em causa o bem público. 
Não  é  contudo  razoável  que  1  homem  seja  o  seu  próprio  juíz do seu direito natural, 1 homem que 
infringe  1  direito  de  vida  de  1 irmão será rápido para não se condenar pelo crime que cometeu, por 
isso Deus instituiu 1 o governo, para controlar a parcialidade e violência dos homens.  
 
O  grande  objetivo  dos  homens  é  desfrutar  da  sua  propriedade,  a  1ª  lei  a  passar  será  o 
estabelecimento  do  poder  legislativo  (  sendo  obrigatório  o  consentimento  da  sociedade),  devendo 
se reger pela preservação da sociedade. 
 
 
Poder legislativo: 
1- n
​ ão é exercido de maneira absolutamente arbit´raira sobre as pessoas ( deve permanecer 
circunscrito dentro dos limites concedidos ao Governo); 
2- o​ legislativo não pode usar 1 poder de governar por decretos arbitrários improvisados, fazer com 
que as pessoas governassem arbitrariamente infringiria o risco de se encontrarem num Estado pior 
que o de Natureza. 
3-​O poder supremo não pode tirar de nenhum homem qualquer parte da sua propriedade sem o 
seu próprio consentimento. OS homens são proprietários de todos os direitos que a lei da 
comunidade social lhes dá, não tendo ninguém o direito de os privar dos mesmos. 
4- O
​ poder legislativo não pode transferir para quaisqueres mãos o poder de legislar, ele apenas 
detém 1 poder que o povo lhe delegou. 
 
A  perspetiva  de  Locke  é  muito  mais  liberal,  e  não  garante  a  proteção  dos direitos coletivos como a 
segurança  pública,  que  para  ele  que  não  faria  sentido.  Locke  é  então  assim defensor a proteção de 
direitos  civis  próprios  e  não  de  direitos  gerais, sendo apenas os direitos próprios aqueles que devem 
ser protegidos.  
 
➥​Jean - Jacques​​Rousseau: 


Vê  a  Associação  dos  indivíduos no Estado como aquilo que permite o seu desenvolvimento através 
da  vontade  coletiva  que  permite  a  realização  da  igualdade  .  O  interesse  coletivo  é  condição  de 
realização dos indivíduos. 
A  ideia  passada  nos  seus  texto  é  a  de  que  reger  1  multidão  é  completamente  diferente  de  legislar 
sobre  1  sociedade,  passa  a  ideia  de  que  o  Estado  não pode privar o indivíduo da sua liberdade civil, 
ainda que esta seja diferente da restante população. 
A  dimensão  supra  individual  de  Rousseau  poderia  incriminar  comportamentos  como  os  do  art. 
292º  CP  (​Condução  de  veículo  em  estado  de  embriaguez  ou  sob  a  influência  de  estupefacientes  ou 
substâncias psicotrópicas​). 
 
 
➥ I​ mmanuel Kant:  
Vê  o  princípio  universal  do  direito  como,  qualquer  ação  é  justa  se  for  capaz  de  coexistirem  a 
liberdade de todos de acordo com 1 lei universal. 
A  lei  universal  do  direito,  qual  seja,  age  externamente  do  que  o livre uso do arbítrio possa coexistir 
com a liberdade de todos de acordo com 1 lei universal. 
Tudo o que é injusto é 1 obstáculo à liberdade de acordo com as leis universais. 
 
Só há 1 direito inato →​ liberdade​( a independência de ser constrangido pela escolha alheia); 
 
Uma  das  divisões  de  que  Kant  fala  em  relação  à  liberdade  é  de  que: cada 1 está autorizado a fazer a 
outros  qualquer  coisa  que  em  si mesmo não reduza o que é deles enquanto não quiserem aceitá-la - 
isto  inclui  coisas  insinceras  ou  que  podem  ser  vistas  como  falsas  (  veriloquium  aut 
falsiloquium​).  
 
Se  a  moral  é  a  moral de todos, intrínseca a todas isto tem imensas consequências no pensamento de 
Kant  ,  jurídico-penal.  Se  alguém  está  a  matar  1  pessoa  é  como  se  estivesse  a  matar  a  si  mesmo- 
pensmaento  sobre  a  retribuição.  O  dano  que  é ocasionado pelo agente da prática do crime deve ser 
retribuído ao infrator, ou seja sendo retribuído o crime ( lógica da Lei de Talião - “olho por olho”). 
 
Em  função  da  Teoria  de  Justiça  que  nos  sirva  de  base  nós  podemos  chegar a conclusões diferentes 
do  poder  punitivo  do  Estado.  Kant  reconhece  os  direitos  individuais  mas  atribui  também  grande 
importância  à  vontade  do  Estado,  portanto  toda  a  lógica de Kant está associada ao poder e à forma 
de intervenção do Estado. 
 
➥​ John Rawls:  
Expressa  a  ideia  de  justiça  como  equidade, sendo esta a forma de justiça correta e faz também apelo 
à sua hipótese do “​ véu da ignorância”  


(  imaginar-nos-íamos  como  nós  mesmo  mas  antes  de  nascer,  sem  saber  em  que  circunstâncias 
vamos  nascer,  em  que  país,  em  que  situação  social).  Se  não  soubéssemos  nada  sobre  o  local  onde 
íamos  nascer  em  que  sociedade  nos  sentimos  confortáveis  em  nascer?Na  posição  original  nós 
decidimos em prol do desejo, daquilo que mais queremos ou idealizamos.  
 
Os  princípios  da  justiça  são  os  de  liberdade  ​(  máximo  de  direitos  a  cada  um  para  todos  termos  o 
máximo  de  direitos)  e  ​diferença  (  as  diferenças  das  pessoas  são  legítimas,  mas  na redistribuição da 
riqueza só se justificam quando beneficiam os mais fracos). 
Toda  a  sua  construção  assenta  no  individualismo,  não  nas  instituições  (  como  as  comunidades 
distintas).  É  no  indivíduo  em  concreto  que  Rawls  assenta  todo  o  seu  pensamento.  No  véus  da 
ignorância o indivíduo vai escolher as organização da sua sociedade. 
 
A  construção  de  Rawls  não  tem  espaço  à  proteção  de  animais,  ele  não  lhes  reconhece  proteção. 
Rawls  não  reconhece  proteção  também  às  pessoas  com  deficiência  ou  para  as  mulheres  com 
gravidez não planeada. 
 
➥M​ artha Nussbaum:  
Para  Nussbaum  há  uma  visão  de  justiça  que  nos  leva  além  da  doutrina  do  contrato  social,  a  sua 
visão  tem  algumas  aproximações  à  de  Rawls,  mas  pode  ser vista como 1 extensão da mesma que dá 
resposta  a  novos  problemas.  Nussbaum  diz  que  temos  de  olhar  para  o  contexto  e  para  as 
capacidades diferenciadas dos indivíduos, não podemos ter o véu , preciso olhar para ​ difrença.  
 
Nussbaum  fala  então  na  “  capabilities  approach”  que  toma  em  conta garantias humanas básicas 
que  devem  ser  asseguradas  pelos  governos  com  o  mínimo  respeito  pela  dignidade  humana. 
Nussbaum  faz  1  lista  de  “  capabilities”  entrais  argumentando  que  tais  devem  ser  respeitadas  para 
cada forma de vida humana. 
 
Como  a:  vida,  integridade  física,  saúde,  liberdade  de  expressão,  liberdade  racional,  liberdade  de 
afiliação, à crítica; respeito pela vida animal, divertimento. 
 
Para  Nussbaum  vida  sem  essas  “capabilities”  será uma vida que não é vista como digna, no entanto 
não  escusa  o  facto  de  as  diferentes  nações  poderem  ter  visões  completamente  diferentes  das 
capabilities,  não  sendo  razão  para  deixar  de  as  assegurar.  Por  isso  pela  visão  de  Nussbaum  seria 
lógico chegar à conclusão de incriminação como o crime do artigo 387º CP. 
 
1.2. Dignidade Penal  
 


O  conceito  Material  de  crime  não  poderá  ser  deduzido  das  ideias  vigentes  a  se  em  quaquer  ordem 
extra-jurídica  e  extra-penal,  mas  tinha  de  ser  encontrado  no  horizonte  de  compreensão  imposto/ 
permitido  pela  própria  função  que  ao  direito  penal  se  adscreve.  O  conceito  material  de crime vem 
assim  a  resultar  da  função  atribuída  ao  direito  penal  de tutela subsidiária de bens jurídicos dotados 
de dignidade penal ( ou seja cuja lesão se revela digna necessitada de pena).  
 
Bem  jurídico  ​→  expressão  de  um  interesse,  da  pessoa  da  comunidade,  na  manutenção/ 
integridade  de  um  certo  estado,  objeto  ou  bem  em  si  mesmo  socialmente  relevante  e  por  isso 
juridicamente reconhecido como valioso.  
 
O bem jurídico tem de obedecer às seguintes condições: 
- conteúdo  material  ​(  uma  certa  “corporalização”  para  que  possa  arvorar-se  em  indicador 
útil  do  conceito  material  de  crime  -  não  bastando  por  isso  que  se  identifique  com  os 
preceitos penais cuja essência pretende traduzir);  
- padrão  crítico  (  normas  constituídas ou a constituir, porque só assim pode ter a pretensão 
de se arvorar em critério legitimador do processo de criminalização e de descriminalização);  
- político-criminalmente  orientado  (  nesta  medida  intra-sistemático  relativamente  ao 
sistema social e mais, concretamente ao sistema jurídico-constitucional); 
 
É  com  esta  acepção  que  os  bens  jurídicos  protegidos  pelo  direito  penal  devem  considerar-se 
concretizações  dos  valores  constitucionais  expressa/  implicitamente  ligados  aos  direitos  e  deveres 
fundamentais  e  à  ordenação  social,  política  e  económica.  É  por  esta  via  que  os  bens  jurídicos  se 
transformam em bens jurídicos com ​dignidade jurídico-penal​.  
 
Da concepção que vê na tutela de bens jurídico-penais a específica função do direito penal e assim o 
elemento  constitutivo  mais  relevante  .  As  puras  violações morais não conformam como tais a lesão 
de  um  autêntico  bem  jurídico  e  não  podem  por  isso  integrar  o  conceito  material  de  crime.  Do 
mesmo  modo  não  conformam  bens  jurídicos  proposições  (  ou  imposições  de  fins)  meramente 
ideológicas  (  ex:  pôr  em  causa  a  pureza  da  raça),  são  condutas  que  não  podem  legitimamente 
constituir  objeto  de  criminalização.  Ainda  aqui,  os  pretensos  “bens  jurídicos”  perderam  a  sua 
função crítica para se tornarem em fórmulas interpretativas dos tipos legais de crime respetivos.  
O  objeto  de  criminalização  não  deve  ainda  constituir  por  igual  motivo,  a  violação  de  valores  de 
mera  ordenação,  subordinados  a  uma  certa  política  estatal  e  por  isso  de  entorno  claramente 
jurídico- administrativo.  
 
1.3. Necessidade de Tutela Penal 
O  conceito  material  de  crime  ´essencialmente  constituído  pela  noção  de  bem  jurídico  dotado  de 
dignidade  penal,  mas  que  a  esta  noção  de  bem  jurídico  dotado  de  dignidade  penal,  mas  que  a esta 


noção  tem  de  acrescer  ainda  um  qualquer  outro  critério  que  torne  criminalização  legítima.  Este 
critério  adicional  é  -  18º.2  CRP-  o  da  necessidade  de  tutela  penal  .  A  violação  de  um  bem 
jurídico-penal  não  basta  por  si  para  desencadear  a  intervenção,  antes  se  requerendo  que  esta  seja 
absolutamente indispensável à livre realização de cada um na comunidade. 
A  limitação  da  intervenção  penal derivaria do princípio jurídico da proporcionalidade ( em sentido 
amplo).  Uma  vez  que  o  direito  penal  utiliza,  com  o  arsenal  das  suas  sanções  específicas  os  meios 
mais  onerosos  para  os  direitos  e  as  liberdades da política social, em particular da política social, em 
particular  da  política  jurídica  não-penal  não  se  revelem  insuficientes.  Quando  assim não aconteça, 
aquela  intervenção  pode  e  deve  ser  acusada  de  contrariedade  ao  princípio  da  proporcionalidade, 
sob a precisa forma de violação dos ​princípios da subsidiariedade​e da ​proibição de excesso.   
ex:  ​Quando  se  determina  a  intervenção  penal  para  proteção  de  bens  jurídicos  que  já  são 
suficientemente tutelados pela intervenção dos meios civis ou sanções administrativas.  
 
Neste  sentido  se  pode  e  deve  afirmar,  que  a  função  precípua  do  direito  penal  reside  na  tutela 
subsidiária​( de ultima​ ratio​) ​de bens jurídico-penais.  
 
1.4. Conceito Material do Crime  
Para  o  professor  Figueiredo  Dias​,  a  autonomização  do  conceito  material  de  crime,  ao  conceito 
formal de crime constitui uma necessidade sentida desde os tempos de Cesare Beccaria.  
 
Existe  uma  divergência  estritamente  jurídica  do  conceito  material  de  crime  assenta  no  objeto  da 
infração criminal:  
 
➥​ Ludwig Feuerbach: 
Partindo  de  uma  perspetiva  contratualista,  qualquer  violação  de  certos  direitos  subjetivos  só 
justificará  a  intervenção  penal  onde  os  direitos  humanos  básicos,  que  o  contrato  social  visa 
assegurar, foram violados. 
 
➥​Daniel Birnbaum: 
A  violação  de  certos  bens  jurídicos  de  1  estrutura  estatal  cuja  referência  legitimadora  do  Direito 
Penal  é  a  comunidade  e os seus valores . A infração criminal é definida pela lesão objetiva de valores 
da comunidade. O Direito vincula-se a elementos objetivos e procura a fundamentação da proteção 
jurídica que merecem certos bens nos fins do Estado. 
 
➥K
​ arl Binding: 
Bem jurídico serão os valores ou condições de vida da comunidade jurídica, tal como definidos pelo 
legislador. 
 


➥​ Franz Von Liszt: 
Define  o  bem  jurídico  como  interesse  humano  vital,  expressão  das  condições  básicas  da  vida  em 
comunidade. É o conceito legitimador do Direito Penal descomprometido com a norma legal. 
 
O  bem  jurídico  não  apenas  política  mas  com  uma  normatividade  científica,  situa-se  na  estrutura 
social,i  independentemente  da  instância  política  ou  da  decisão  política,  os  critérios  que  tornam 
necessária a incriminação de determinadas condutas e a proteção de certos bens.  
 
➥​ Niklas Luhmann: 
Parte  da  análise  das  sociedades  humanas  como  sistemas  sociais.  A  sociedade  não  é  um  puro 
fenômeno político e é um sistema social, desempenhando determinadas funções.  
O  Direito  é  a  estrutura  da  sociedade  que  regula  e  assegura  a  institucionalização  de  relações 
constantes  entre  ações,  cuja  função  é  selecionar  as  expectativas  de  ação  aceites  geralmente  para 
serem institucionalizadas. 
Toda  a  conduta  desviada  em  relação  à  norma  surge  como  frustração  das  expectativas  de 
comportamento asseguradas juridicamente.  
 
➥G
​ unther Jakobs: 
Do  ponto  de  vista  de  que  o  Direito  Penal  deve  manter  padrões  de  ação  que  organizam  as 
expectativas  sociais  sobre  o  comportamento  alheio.  O  Direito  Penal  tem  uma  função  de 
estabilização  contrafática  das  expectativas  geradas  pela violação de uma norma incriminadora. Para 
jakobs  o  crime  é  o  dano  social  objetivo  sendo  o  pretexto  afirmação  de  modelos  de ação. O Direito 
Penal tem uma função de controlo social ( protege a vigência da norma).  
 
➥C
​ laus Roxin: 
Defende  o  papel  do  bem  jurídico  como limite de intervenção penal, admitindo no que diz respeito 
à  preservação  do  interesse  vital  de  gerações  futuras  e no que se refere à proteção da biodiversidade - 
um conceito de bem jurídico entendido como parâmetro crítico da legislação. 
 
Para Roxin deve recorrer-se aos 3 degraus da proteção de Bens Jurídicos: 
- atender ao que deve ser protegido; 
- a quem deve proteger-se; 
- contra o que deve ser protegido; 
 
Roxin dá alguns exemplos do significado prático de bem jurídico:  
i)  Punição  de  atos  homossexuais:  ​esta  conduta  quando  consentida  e  tendo  lugar  na  esfera 
privada,  não  afeta  a  liberdade  de  desenvolvimento  de  ninguém nem perturba de nenhuma forma a 


liberdade  de  convivência  entre  as  pessoas.  Neste  caso  o  conceito  de  bem  jurídico  levaria  a que não 
se puna estes comportamentos; 
ii)  Posse  de  estupefacientes:  não  havendo  qualquer  dano  para  outros  ,  seria algo que poderia ser 
descriminalizado com a conceção de bem jurídico;  
iii)  Doações  de  órgãos:  ​não  havendo  ofensividade  para  outrem  cumpre os fins socialmente úteis, 
pelo que a criminalização carece de uma legitimação conferida pela proteção de bens jurídicos;  
iv)  Incesto:  mesmo  punido  no  Dirieto  alemão,  sendo  que os irmãos estão livres de coação estariam 
aqui  ausentes  de  qualquer  dano  para  o  desenvolvimento  da  personalidade,  de  modo  a  que  o 
principío da proteção dos bens jurídicos demanda impunidade desta conduta; 
v)  Negação  de  acontecimentos  históricos:  nas  situações  em  que  não  se  chega  a  existir  qualquer 
agitação  ou  discirminação  e  esteja  apenas  em  causa  a  discussão  de  factos históricos, deve negar-se a 
lesão  de  um  bem  jurídico.  A  liberdade  de  expressão  compreende  também  manifestações  de 
pensamento equivocadas.  
 
Algumas da diretrizes que concretizam o princípio do bem jurídico: 
1. As  leis  penais  arbitrárias  que  sejam  contrárias  a  direitos  a  direitos  fundamentais,  não 
protegem quaisquer bens jurídicos; 
2. Comportamentos reprováveis não fundamentam por si só a lesão de um bem jurídico; 
3. A ofensa à Dignidade da Pessoa Humana não lesa o bem jurídico; 
4. Apenas  uma  ameaça  real  pode  corresponder  a  algo  que  mereça  a  proteção  de  um  bem 
jurídico-penal; 
5. A  autolesão  corresponde  a algo que não põe em causa  qualquer bem jurídico se for feita de 
forma consciente e responsável;  
6. As crenças não são bens jurídicos; 
 
Para  Roxin  a  pertença  da  conduta  ao  núcleo  duro  da  esfera  privada  da  pessoa  pressupõe,  em 
primeiro  lugar,  a  falta  de  uma  lesão  de  bens  jurídicos  alheios.  A  inconstitucionalidade  de  uma 
criminalização  de  condutas  que  não  ofendem  bens  jurídicos  também  pode  depreender-se  de 
princípios  constitucionais  distintos  da  dignidade humana. O princípio do bem, jurídico possui um 
relevante  significado  político-criminal  mesmo  quando  a  sua  não  observância  não  resulte  em 
inconstitucionalidade. 
 
➥​ Gunter Stratenwerth :  
O  fundamento  da  punição  não  é  ofensa  a  determinados  bens  jurídicos  mas  a  não  observância  de 
normas  de  conduta  fundamentais,  consensualmente  aceites  pela  sociedade.  O  critério  decisivo  da 
incriminação  é  o  reconhecimento  social e legislativo sobre o caráter necessário de uma determinada 
norma para evitar a prática de um comportamento não desejado.  


A  função  liberal da ideia de bem jurídico consiste também em proteger a minoria contra o domínio 
da  maioria.  A  opinião  pública  sobre  a  aprovação  ou  reprovação  de  determinadas  condutas  não 
ofensivas de bens jurídicos é mutável e suscetível de manipulação.  
 
 
➥​ Figueiredo Dias: 
A  tarefa  do  direito  penal  é  a  preservação  das  condições  fundamentais  da  mais  livre  realização 
possível da personalidade de cada homem na comunidade. 
O  bem  jurídico  não é um conceito fechado e apto à subsunção, bem se compreende que, apesar de 
toda  a  evolução  e  progresso  verificados,  continuem  hoje  a  discutir-se  várias questões relativas à sua 
sua concreta verificação, como saber se protegem autênticos bens jurídicos algumas incriminações. 
 
Para o professor F
​ igueiredo Dias​a Teoria do Bem Jurídico, tem como funções: 
1- Função imanente​( orientação para o intérprete); 
2- Função transcendente​( orientação crítica); 
3-  Função  intrasistemática  (  orientação  para  o  legislador,  que  deve  ser  político-criminalmente 
orientado);  
 
➥​ Maria Fernanda Palma :  
O  conceito  de  bem  jurídico  tem  por  objeto  de  proteção  da  norma  uma  substancialidade  real  e 
social  (  tem  ter  um  objeto  lesionavél,  com  certa  substancialidade  em  termos  de  vida  social  e 
corresponde a algo mais que um interesse privado ou subjetivo).  
O bem jurídico tem que ser configurado como interesse intersubjetivo ( corresponde a necessidades 
mais  do  que  do  sujeito).  O  cerne  do  objeto  tem  que  ter  uma  substância  real  e  correspondem  a 
realidades que têm existência no mundo real e são lesionavéis.  
Para  Maria  Fernanda  Palma  certa  ideia  de  substancialidade  é  sobretudo  a  uma ideia de presente na 
propriedade  da  coisa.  A  ideia  de  bem  jurídico  é  uma  ideia  liberal  e em que há um certo caráter real 
em todos os interesses valores.  
Uma  dimensão  de  pessoa  (  ex  desenvolvimento  de  personalidade)  pode ser um interesse suficiente 
relevante  para  legitimar  incriminações  que,  em  última  análise,  têm  apenas  uma  vaga  referência  a 
bens jurídicos no sentido tradicional. 
O  conceito  pode  ser  equívoco pelo que a pertinência da sua utilização deve limitar-se a ser conceito 
exploratório  de  critérios  limitadores das normas incriminadoras, o que permite reconhecer algumas 
características de que depende a legitimidade das mesmas.  
 
O  conceito  material  de  crime  prende-se  com  a  ideia  de  saber  qual  a  legitimidade  de  se  incriminar 
certa  conduta.  Para  a  ​professora  Maria  Fernanda  Palma  há  vários  patamares,  ou  seja,  não 

10 
basta  haver  um  bem  jurídico  e  temos  de  perceber  se  essa  incriminação  é  válida  consoante  os 
princípios jurídico-constitucionais.  
 
Assim para a professora Maria Fernanda Palma há que atender às 4 etapas : 
1-  ​Temos  de  olhar  para  o  Bem  jurídico  como critério limitador das normas penais incriminadoras, 
relação  com  o  Estado  de  Direito  Democrático,  numa  lógica  da  preservação  da  subjetividade  e  do 
reconhecimento dos interesses essenciais; 
 
2 -​Temos de olhar para os princípios: 
i)​Princípio da legalidade (​ nullum crimen sine lege​) - 29º.1 e 3 CRP; 
ii)  Princípio  da  Culpa  (  a conduta incriminada deve possuir ressonância ética negativa) - 1+13+27 
CRP e 40º.2 +71º +72º CP ; 
iii)  ​Princípio  da  necessidade  da  pena  ​(  a  incriminação  há  de  ser  indispensável  para  promover  a 
defesa de bens jurídicos essenciais) - 18º.2 CRP;  
iv)  Princípio  da  Igualdade  Penal  (  entre  a  gravidade  do  ilícito  e  da  pena  e  também  sustenta  a 
mediação da pena pela culpa) - 13º CRP;  
 
3-​Princípios do Direito Penal e o argumento criminológico; 
 
4-​Interpretação do 40º CP; 
 
A dignidade punitiva tem assim uma dimensão: 
(-)  negativa:  ​pois  a  incriminação  não  pode  ser,  ela  própria,  um  modo  de  coartar  um  direito 
fundamental; 
(+)  positiva:  ​a  incriminação tem de se dirigir à proteção de bens jurídicos essenciais, respeitantes às 
condições de liberdade da pessoa e funcionamento do Estado de Direito​2​;  
 
 
➥M
​ anfred Heinrich: 
Vê  3  níveis  da  proteção  de  bens  jurídicos  ,  quando  estamos  perante  norma  penal  de 
constitucionalidade duvidosa teremos de analisar: 
1-​O que deve ser protegido com a incriminação ? 
2​- Quem deve ser protegido com a incriminação ? 
3- C
​ ontra que deve ser protegido a incriminação ? 
 
➥ Gunter Stratenwerth: 
2
​Para M
​ aria Fernanda Palma​a legitimidade do poder punitivo decorrente do Estado de Direito apela à utilização 
do Direito Penal para proteger os bens essenciais à existência da sociedade, definidos pela sua substancialidade 
valorativa e pela sua experiência interindividual. 

11 
O  fundamento  da  punição  não  é  a  ofensa a determinados bens jurídicos, mas a não observância de 
normas fundamentais, consensualmente aceites pela sociedade.  
O  critério  decisivo  da  incriminação  é  o  reconhecimento  social  e  legislativo  sobre  o  caráter 
necessário de uma determinada norma para evitar a prática de um comportamento não desejado.  
A  função  liberal  da  ideia  de  bem  jurídico  consiste  precisamente  também  em  proteger  a  minoria 
contra  o  domínio  da  maioria.  A  opinião  pública  sobre  a  aprovação/  reprovação  de  determinadas 
condutas não ofensivas de bens jurídicos e mutável e suscetível de manipulação.  
 
2. Criminologia  
2.1. Crime como Acontecimento Individual  
➥ Cesare Lombroso:  
Para  ​Lombroso​,  o  crime  era  um  fenômeno  biológico.  E  não um ente jurídico, como afirmavam os 
clássicos.  Sendo  assim,  o  criminoso  era  um  ser  atávico,  um  selvagem  que  já  nasce  delinquente. 
Utilizando  o  método  empírico-indutivo  ou  indutivo-experimental,  o  positivismo  criminal  de 
Lombroso  buscava  através  da  análise  dos  fatos,  explicar  o  crime  sob  um  viés  científico.  Em  suma, 
concebia  o  criminoso  como  um  indivíduo  distinto dos demais, um subtipo humano. Dessa forma, 
fundamentava  o  direito  de  castigar,  não  como  meio  e  finalidade  de  punir  o  agente  que  praticou  o 
ato  delituoso,  mas  sim,  com  o  propósito  de  conservar  a  sociedade,  combatendo  assim  a 
criminalidade. 

Lombroso  relacionava  o  delinquente  nato  ao  atavismo.  Logo,  características  físicas  e  morais 
poderiam  ser  observadas  nesse  indivíduo.  De  acordo  com  essa  atribuição,  o  delinquente  nato 
possuía  uma  série  de  estigmas  degenerativos  comportamentais,  psicológicos  e  sociais  que  o 
reportavam  ao  comportamento  semelhante  de  certos  animais,  plantas  e  a  tribos  primitivas 
selvagens.  Inter-relacionava  o  atavismo  à  loucura  moral  e  à  epilepsia,  afirmando  que  o  criminoso 
nato,  que  não  logrou  êxito  em  sua  evolução,  tal  qual  uma  criança  ou a um louco moral, que ainda 
necessita  de  uma  abertura  ao  mundo  dos  valores.  Mencionava,  ainda,  que  a hereditariedade é uma 
das  grandes  causas  da  criminalidade,  realçando  a  importância  de  seu  conhecimento  e  relevância. 
Além do criminoso “nato”, Lombroso distinguia 5 tipos de criminosos:- 

- delinquente moral; 
- epilético; 
- louco; 
- ocasional;  
- passional; 

12 
Cesare  Lombroso  nunca  afirmou  que  todos  os  criminosos  eram  natos,  mas  que  o  “verdadeiro” 
delinquente,  era  nato.  Sustentava  que,  tendo  em  vista  a  sua  natureza,  a  aplicação  de  uma  pena  era 
ineficaz.  Em  síntese,  o  delinquente  nato  era  considerado  um  doente.  Isso  porque  nascia  assim, 
razão  pela  qual  não  deveria  o  mesmo  ser  encarcerado.  Desse  modo,  sustentava  que  o  criminoso 
deveria  ser  segregado  da  sociedade,  antes  mesmo  de  se  ter  cometido  o  delito,  tendo  em  vista  a  sua 
característica  de  criminalidade  imutável.  No  campo  da  política  criminal,  a  recomendação  de 
segregação  deste  indivíduo  do meio social, antes mesmo do cometimento de um crime, funcionaria 
como meio de defesa social. 

➥ Cesare Beccaria: 
O  Estado  ,  para  ​Beccaria​,  tinha  que  respeitar o contrato social – todos os cidadãos cedem parte de 
seu  direito  para  o  Estado.  Logo,  o  Estado  ,  detentor  desse  direito,  deve  proteger  o  bem  da 
coletividade.  Beccaria  foi  muito  mais  influenciado  pela  ideia  de  “contrato”  de  Locke  do  que 
Rousseau.  Aliás  há  quem  diga  que  Beccaria,  não  citou  Rousseau  por  causa  da  perseguição  que 
Rousseau sofria. 
Uma  das  grandes teses de Beccaria era a separação das principais instituições do Estado moderno da 
Igreja. Para ele: 
 
1)​Igreja é igreja , Estado é estado – Não há que misturar religião e Estado. 
 
2) ​Crime é crime, pecado é pecado. – Não há que misturar religião e direito penal. 
 
Alias  era  um  grande  critico  da  intervenção  da  religião  no  Estado  e  na  metodologia  do  ensino 
imposto  pela  igreja  católica.  Com  um  modelo  educacional  caracterizado  pelo  próprio  pensador 
como  “fanático”,  Beccaria  foi  contra  os  métodos  autoritários  de  ensino,  criticando  a  postura 
inflexível e dogmática de seus professores, classificando estas como inúteis. 
 
As  obras  de  Beccaria  eram  vistas  como  uma  forma  de  protesto.  Ele  sustentou  um  modelo político 
criminal  com  ideias  iluministas  pautados  nos  Direitos  humanos  .  Beccaria  divide  sua  obra  da 
seguinte forma: 
 
1)​Critica o sistema – Crítica essa a mais contundente do séc. XVIII 
 
2)  ​Traz  ideias:  Os  famosos  princípios,  lógicas  abstratas  que  deveriam  nortear  o  direito  penal:  Os 
princípios  da  legalidade,  da  proporcionalidade  ,  ...  –  No sentido principiológico, foi imbatível. Foi 
o maior expoente do direito penal e do direito processual penal até hoje. 
 

13 
3)  Para  ele  não  bastava  criar  um  sistema  legal  perfeito.  Havia  de  se  criar  também  um  plano 
preventivo:  iluminação  das  ruas,  leis  melhores elaboradas com publicidade e de fácil compreensão , 
a  execução  da  pena  não  poderia  mais  ser  corrupta  deixando  livres  os  amigos  do  rei,  o  homem 
deveria  temer  as  leis  e  não  outros  homens,  o  Estado  teria  que  respeitar  mais  a  dignidade  dos  seus 
cidadãos. 
 
4)  Estabelece/  propõe  penas  mais  suaves:  Não  concordava  com  violação  dos  direitos  das  pessoas. 
Previa o fim da tortura, da pena da morte;  
 
A  obra  de  Beccaria  pode  ser  considerado  como  o  maior  propulsor  do  humanitarismo  de  todos  os 
tempos.  Prevalecia  à  época  o  instinto  de  vingança.  O  poder  público  era  visto  como  um  Supremo 
vingador. Os juízes duros de coração eram verdadeiros carrascos togados. 
 
Apesar  de  todo  o  choque  que  houve  do  lançamento  de  sua  obra,  no  século  seguinte,  quase  a 
totalidade  dos  sistemas  aboliram  a  pena  de  morte  e  extinguiram  os  castigos  cruéis  permeados  de 
resquícios de perversidade . Os países que não aboliram, diminuíram drasticamente os casos em que 
eram aplicados. 
 
Outra  tese  de  Beccaria  também  teve  grande  influência:  a  igualdade  dos  criminosos  responsáveis 
pelo  mesmo  crime.  Deveriam  lhe  ser  computadas  as  mesmas  penas.  Segundo  Beccaria  “  que sejam 
aplicáveis  as  mesmas  penas  as  pessoas  das  mais  alta  categoria  e  o  último  dos  cidadãos,  desde  que 
hajam  cometido  o  mesmo  delito”.  Nunca  se  proclamará  mais  corajosamente  a  igualdade  entre 
classes. Beccaria também repudiava a tortura. 
 
➥ Hans Eysenck: 
o enquadrava-se nas teorias psicodinâmicas e comportamentais; 
o a  herança  genética  condiciona  diferenças  no  sistema  nervoso  cortical  e  autonómico,  o  que 
poria  em  causa,  em  última  análise,  a  capacidade  de  aprender  com  os  estímulos  exteriores;  as 
mutações  genéticas  hereditárias  levariam  os  indivíduos  alvo  a  não  serem  capazes  de  absorver  as 
normas sociais; 
o As  dimensões  de  personalidade  teriam  variações  de  intensidade  e  articulação  nos 
indivíduos,  levando  a  estímulos  sociais  serem  entendidos  de  forma  diferente  e  havendo  menos 
controlo  do  comportamento.  As  características  dos  indivíduos:  introvertidos;  neuróticos; 
psicóticos  –  combinação  expulsiva,  que  levaria  a  comportamentos  de  impulsividade  e  à  prática  de 
crimes;  
o A  sua  crítica  incide  sobre  a  sua  concepção  determinista  e  o  seu  reducionismo 
metodológico; 
 

14 
➥ Piaget: 
o Comportamentos  antissociais  estariam  relacionados  com  a  incapacidade  de  atingir  os 
estádios superiores dos níveis de desenvolvimento moral da personalidade  
Prática do crime está associada àqueles que ainda não passaram da primeira fase 
o Crítica  fala  de  uma  abstrata  escolha  de  princípios  morais por parte de Piaget, e não de uma 
ética de cuidados; 
 
➥ Kohlberg: 
Apresenta 6 estádios de desenvolvimento moral, organizados em 3 níveis:  
- o pré-convencional;  
- o convencional; 
-   pós-convencional  –  a  evolução  entre  os  estádios  funciona  por  esta  ordem,  não  sendo 
possível  passar  do  1º  para  o  último.  (2)  associam  a  criminalidade  à  incapacidade  de  atingir 
os  estádios  superior  de  desenvolvimento  moral  (dificuldade  de  apreensão  dos  princípios 
universais) 
 
➥ Gottfredson e Hirschi: 
o  ​a  prática  de  crimes  resulta  da  falta  de  autocontrolo  (o  crime  providencia  uma  gratificação 
imediata, permitindo aceder a momentos de adrenalina, excitação e risco); 
o ​causas da falta de autocontrolo:  
- falta de disciplina; 
- supervisão e afeto na infância; 
- a família/ambiente familiar são a causa da prática de crimes; 
 
➥ Gibbs: 
i)  ​Baseia-se  na  ideia  de  escolha  racional:  o  crime  é  o  produto  de  uma  decisão  útil  para  o  próprio 
indivíduo; 
ii)  Baseia-se  também  utilitarismo  hedonista  e  adequa-se  (de  acordo  com  ​Maria  Fernanda 
Palma  ​)  aos  critérios  e  fórmulas  do  Direito  Penal,  às  políticas  penais  preventivas  e  à  atuação 
tradicional dos sistemas penais retributivos e preventivos. 
 
➥ Fonagy: 
o Desenvolveu a Teoria da Mentalização: 
Foca-se  no  Homem  Criminoso.  Ideia  de  que,  se  alguém  tiver  como  cuidador  na  sua  primeira 
infância  alguém  que  tenha  comportamentos  criminosos/violentos,  a  pessoa  vai  encarar  esses 
comportamentos  violentos  como  padrão,  usando  mais  tarde  esse  mesmo  padrão  para  conduzir  a 
sua vida na idade adulta 

15 
A  ideia  de  que  o  outro  é  o  nosso  espelho,  sendo  através  disto  que  se  começa  a  conhecer  a  própria 
pessoa, “começando a perceber a reação que os outros têm em relação a mim” 
Ideia  do  ​caretaker​:  se  mãe  (p.e.)  for  violenta,  não  permite  à  criança  que  comece  a  desenvolver  os 
seus próprios pensamentos – porque só assim é que se perceber as ações dos outros  
o Alternativas  é  a  pessoa  assumir  o  modelo  do  ​caretaker  ​–  e  por  isso  se  diz  que  relações 
violentas potenciam que mais tarde as crianças (agora adultas) se tornem violentas 
Porque não conseguem criar a sua própria mente – daí se chamar teoria da mentalização 
o Esta  teoria  é  relevante  para  o  direito  penal,  uma  vez  que  há  parte  do  direito  penal  (os  fins 
das penas) que valoriza esta teoria 
Quando se vai decidir qual a pena a aplicar, resolve-se primeiro o que se pretende com a pena 
 
Sabendo-se  a  teoria  de  Fonagy,  e se se achar que a pessoa cumpre os critérios desta, talvez se aplique 
pena  suspensa  e  não  efetiva,  porque  se  for  preso  não  vai  “aprender”  nada,  vai  sair  e  continuar  na 
mesma 
● Prevenção Especial (reinserção social do indivíduo) 
 
2.2. O crime como um acontecimento social  
Radica  o  crime  na  deficiência da socialização dos indivíduos – acentua os padrões sociais de relação 
entre o indivíduo e os grupos sociais ou a própria estrutura social na gênese do crime 
• Há  alteração  de  um  padrão  de  comportamento  tido  como  normal  –  perspetiva  do  crime 
como fenômeno social 
• Crime não parte das características dos indivíduos mas sim do contexto social 
 
➥ Durkheim: 
o Crime enquanto expressão do funcionamento normal de todas as sociedades; 
- Seria  útil/funcional,  na  medida  em  que  permitiria  sinalizar  quais  as  regras  dominantes  e 
necessárias (se não houvesse crime, as pessoas não sabiam que havia regra);  
o Linha  de  pensamento  que  entende  o  crime  como  um  puro  facto  social  e  o  analisa  como 
uma função social e não como uma projeção da experiência subjetiva;  
o Olha  para  o  crime  de forma cínica e abstraindo da questão moral – insere-se numa linha do 
funcionalismo em que o delinquente tem um papel fundamental na sociedade; 
o Anomia:  fenómenos  de  indiferença  às  normas,  suscitados pela organização das sociedades, 
nomeadamente  pela  divisão  do  trabalho  social,  em  que  a  raiz  dos  comportamentos  anti-sociais 
assenta na natureza das estruturas sociais; 
 
➥ Mead: 
o Crime é resultado de uma interação da sociedade com a pessoa 

16 
o Comportamentos  sociais são resultado da interação entre a sociedade e o indivíduo, em que 
a  sociedade  determina  a  construção  das  conceções  de si mesmo (self) e a construção de significados 
(interacionismo simbólico) 
o Construção  de  si  mesmo  é  determinada,  não  pela  sociedade,  mas  pela  interação  da  pessoa 
com a sociedade 
- Realidade  social  está  em  construção  e  não  é  100%  objetiva  ​–  é  sempre  simbólica  e 
representativa da interação social com os indivíduos 
- Pessoas  agem  com  base  nos  significados  dados  às  coisas  e  a  interpretação  desses 
significados depende da situação social do indivíduo, 
o Compreensão  dos  fenómenos de interação e de resposta do indivíduo ao meio – subjacente 
a  teorias  da  aprendizagem  dos  comportamentos  criminosos  e  à  construção de si e da personalidade 
delinquente 
- Abre caminho às possibilidades de reconstrução de si mesmo; 
 
➥ Sutherland : 
o Crime  pressupõe  fenómenos  de  aprendizagem  por  contacto,  pela  associação  diferencial, 
com  padrões  de  comportamento  criminosos  e  não  criminosos,  envolvendo  todos  os  mecanismos 
presentes em todo o tipo de aprendizagem 
o Crime  explica-se  pela  intensidade,  frequência  e  precocidade  de  certos  contactos  sociais  – e 
não pela expressão de necessidades, valores, nem pelo meio social ou por deficiências do indivíduo 
o Estabelece a Teoria da Determinação do Comportamento Criminoso em 9 aspetos: 
- Comportamento criminoso é aprendido; 
- É aprendido por interação com outras pessoas num processo de comunicação; 
- Aprendizagem faz-se por contacto dentro de grupos íntimos e pessoais; 
Esta inclui técnicas, motivos e atitudes 
- Orientação  específica  dos  motivos  depende  dos  códigos  legais  como  favoráveis  ou  não  à 
infração 
- Pessoa  torna-se  delinquente  em  consequência  do prevalecimento das posições favoráveis às 
infrações 
- Associações  diferenciais  podem  variar  em  frequência,  duração,  prioridade  e  intensidade, 
sendo as mais decisivas as mais precoces 
- Comportamento  criminoso  envolve  todos  os  elementos  de  aprendizagem  (não  é  simples 
imitação) 
- Conquanto comportamento criminoso seja expressão de necessidades e valores gerais, não é 
explicado  por  eles  –  porque  estes  presidem  a  todo  o  comportamento  social,  criminoso  e 
não criminoso 
o White Collar Crimes;  

17 
- Demonstram  que  o  comportamento  anti-social  não  se  restringe  às classes mais baixas, nem 
se determina pela pobreza 
- Tem, ao invés, a ver com padrões comportamentais desenvolvidos pelos grupos sociais 
o Comportamento  criminoso  é  aprendido  com  a  interação  entre  pessoas,  num  processo  de 
comunicação – aprende-se a ser criminoso, e todos o podem ser 
o Teoria da Associação Diferencial 
Crime é fenómeno associativo (tendo a ver com contactos) 
o Complexo Pessoa – Situação 
A  criminalidade  é  aprendizagem  de  modelos de conduta, compreendendo tanto as técnicas 
como a orientação, racionalizações e conceções que conformam a conduta delinquente 
2.3. O Crime como um fenómeno significativo e comunicacional: 
➥ Cohen: 
- o  crime  resulta  de  conflitos  de  valores,  que  levam  a  que  as  pautas  dominantes,  naquela 
sociedade,  de  valores  sejam  substituídas  por  outras,  que  levariam  a  criar  as  subculturas 
delinquentes;  
➥ Merton: 
o Crime e a explicação do comportamento criminoso residem nas deficiências da estrutura social; 
o Agente seria vítima da estrutura sócio-cultural; 
o Este explica o crime pelo desfasamento entre as metas sociais gerais e as vias para as alcançar 
- Causa  do  comportamento  criminoso  seria  a  distorção referida entre a promoção de valores 
como a ascensão social e a efetiva escassez de meios legítimos para a atingir; 
- Esse desfasamento geraria indiferença aos valores e mecanismos de adaptação individual; 
 
o Há crime pois não há sintonia entre os meios institucionais e as metas sociais 
o Há um mecanismo de interação social que não leva à prática de crimes 
- Conformação:​congruência entre as metas culturais e os meios institucionais; 
o Identifica quatro mecanismos de interação social que levam à prática de crimes 
- Inovação: ​metas institucionais seriam prosseguidas por meios não institucionais 
- Ritualismo:​faltam metas culturais, mas segue-se formalmente os meios institucionais 
- Apatia:​faltam metas culturais e ação institucional 
- Rebelião:  ​agentes  não  se  conformam  com  as  metas  culturais  e  obviamente  também  não 
pautam o seu comportamento pelos meios institucionais 
o Comportamentos  desviantes  associados  à  inovação  ou  à  rebelião  –  infração  das  normas 
seria adaptativa a uma disfunção da estrutura social; 
o Apatia e ritualismo seriam perigosos para a desintegração social;  
o Rebelião enquadra comportamentos revolucionários como o terrorismo;  
o Comportamento desviante tinha função latente mas não era indispensável ou útil; 
 

18 
- Natureza  do  comportamento  desviaste  permitia  conceber  alternativas  de  adaptação  ou 
mesmo uma modificação das condições estruturais no sentido de adequar os fins culturais e 
os meios institucionais 
o Condicionamento social pelo meio seria elevado – “Self-fulfilling prophecies” 
- Situações  em  que  a  definição  pelo  grupo  de  predições  acerca  de  um  indivíduo,  embora 
falsas,  poderiam  levar  a  que  o  indivíduo  se  adaptasse  a  esse  papel  e  viesse  a  realizar 
exatamente as referidas profecias, adaptando-se à “verdade social” sobre ele 
➥ Sellin: 
o  ​analisa  os  conflitos  de  culturas,  externos  e  internos,  mostrando  que  os  conflitos  não  são  de 
culturas mas de normas de condutas diversas, afetando sobretudo os que se encontram em processo 
de transição de culturas. 
 
➥ Becker:  
o Perspetiva do crime como processo social 
o Labelling Approach 
- Crime é resultado de factos sociológicos que advêm de um processo de seleção social 
- Perspetiva dos estigmas – estudo dos processos de etiquetagem  
- Surge  da  herança  de  ​Mead​,  em  que  os  comportamentos  sociais  seriam  o  produto  de 
configuração  por  uma  interação  simbólica  dos  significados  sociais  e  da  contração  da 
realidade 
- Não  explica  o  sentido  e  função  social  do  comportamento  delinquente  e  da  sua  génese,  e 
preocupa-se  com  os  processos  de  seleção  social  desses  comportamentos  e  a  arbitrariedade 
dos mesmos 
- Labelling  Approach  ​veio  reconhecer  que  o  crime  seria  expressão  de  um  processo 
subjetivo-social  de  estigmatização  dos  delinquentes  e  de  seleção  de  verdadeiras  carreiras 
criminosas 
o Becker  ​diz  que  a  déviance  não  é  qualidade  interna  dos  factos  sociais,  mas  antes  o produto 
dos  grupos  sociais  que  criam  as  regras  cuja  violação  a  suscita  e  que  aplicam  com  sucesso 
(estigmatização) a qualificação de déviant aos que violam as normas 
- O  que  se  tem  de  estudar  não  são  as  causas  do  crime,  mas  sim  como  é  que  certos  grupos 
sociais atribuem a característica de se ser criminoso 
É  pura  criação  social,  sendo  que  o  que  distingue  o  criminoso  do  Homem  normal  é  ser  rotulado 
como delinquente 
 
➥ Goffman:  
- constroem  a  sua  teoria  através  do  acontecimento  teatral  –  as  pessoas  encaram  os  papéis 
como atores e adaptam a forma de estar e o vestuário em virtude desses papéis ; 
- os criminosos são atores; 

19 
 
➥ Lemert: 
- o  crime  não  é  uma  qualidade  interna  dos  factos  sociais,  mas  o  produto  dos  grupos  sociais 
que  criam  as  regras,  cuja  violação  as  suscita,  e  que  aplicam  com  sucesso  a  qualificação  de 
criminosos aqueles que violam as normas; 
- criam-se  as  self  full  feeling  prophecies​:  a  estigmatização  torna  os  comportamentos  em 
crimes e torna quem os pratica em criminosos; 
-   rejeita  o  determinismo  biológico  no  que respeita ao consumo de droga: vem afirmar que o 
consumo  de  droga  é  um  comportamento  socialmente  apreendido  e  que  a  linguagem  tem 
um  papel  absolutamente  central  nos  processos  de  etiquetagem  e  de  qualificação  de 
comportamento.  
- a  utilização  de  certa  linguagem  leva  à  qualificação  dos  comportamentos  como  crime,  pelo 
que o criminoso fica r​ otulado,​sendo difícil regressar ao modo convencional 
 
➥ Braithwaite: 
-   críticas  ao  sistema  judicial:  ​é  um  fracasso,  porque:  as  penas  nem  sempre são justas, não 
conseguem  corrigir  o  comportamento  “desviante”,  as  condições  das  prisões  são  más  e  os 
criminosos de colarinho branco têm condições especiais; 
- tese da​reintegrative shaming​:​uma forma de ultrapassagem a etiquetagem; 
- introduz  os  processos  restaurativos:  o  autor  é  confrontado  com  a  vítima,  os  familiares 
da  vítima  e  os  seus  próprios  familiares;  nestes  processos,  quer  por  mediação,  quer  por 
conferências  de  grupos,  levam  ao  confronto,  à  assunção  de  responsabilidade  e  à 
possibilidade da reparação do próprio indivíduo; 
- associação  à  vergonha:  ​o  indivíduo  sente-a  quando  é  confrontado  com  estes  objetivos, o 
que conduz à possibilidade de reintegração pelos seus pares; 
- problema:​ficam de fora os crimes sem vítima; 
 
3. Fins das Penas e Medidas de Segurança 
A  questão  dos fins das penas constitui a questão do destino do direito penal e do seu paradigma. As 
respostas  dadas  ao  longo  de  muitos  séculos  ao  problema  dos  fins  das  penas  reconduzem-se  a  2 
teorias. 

A aplicação das penas tem como pressupostos específicos: 

- T
​ ipicidade:​tipicidade do crime (previsão em lei – princípio da legalidade); 
- Ilicitude:​não verificação de nenhuma das causas de exclusão da ilicitude; 
- Perigosidade:  depende  da  culpa  (art.  40º  do  Código  Penal),  que  corresponde  a  um  juízo 
de censura da conduta do agente. 

20 
3.1. Teorias Monistas  

3.1.1. Teorias Absolutas ( pena como instrumento de retribuição)  

Para  este  grupo  de  teorias  a  essência  da  pena  criminal  reside  na  retribuição,  expiação,  reparação  / 
compensação  do  mal  e  do  crime.  Se  apesar  de  ser  assim,  a  pena  pode  assumir  efeitos  reflexos  ou 
laterais  socialmente  relevantes  (  intimidação  da  generalidade  das  pessoas).  Uma  tal  essência  e 
natureza  é  função  exclusiva  do  facto  que  se  cometeu,  é  a  justa  paga  do  mal  que  com  o  crime  se 
realizou,  é  o  justo  equivalente  do  dano  do  facto e da culpa do agente.Por isso a medida concreta da 
pena  com  que  deve  ser  punido  um  certo  agente  por  um  determinado  acto  que  não  pode  ser 
encontrada  em  função  de  outros  pontos  de vista que não sejam os de correspondência entre pena e 
o facto.  

A  discussão acerca do fundamento das teorias absolutas da retribuição centrou-se durante longo do 
tempo  sobre  a  forma  como  deveria  ser  determinada  a  compensação ou igualação a operar entre “ o 
mal  do  crime”  e  o  mal  da  pena”.  Ultrapassado  o  período  do  talião  acabou  generalizadamente  por 
reconhecer-se  que  a  pretendida  igualação  não  podia  ser  fática,  mas  tinha  forçosamente  de  ser 
normativa.  

Para  ​Figueiredo  Dias  a  doutrina  da  retribuição  deve  ser  recusada  ainda  pela  sua  inadequação  à 
legitimação,  fundamentação  e  ao  sentido  da  intervenção  penal.  Estas  podem  apenas  resultar  da 
necessidade,  que  ao  Estado  incumbe  satisfazer,  de  proporcionar  as  condições  de  existência 
comunitária, assegurando a cada pessoa o espaço possível de realização livre da sua personalidade.  

➥ Kant:  
i)  ​Baseia-se na lei de talião​: todo aquele que furta torna a propriedade de todos os demais insegura 
e,  portanto,  priva  a  si  mesmo  da  segurança  em  qualquer  propriedade  possível.  (  ​exemplo: 
assassino, todo o assassino deverá ser executado).  
ii)  A  ​pena  é  um  imperativo  categórico:  os  deveres  éticos  justificam-se  a  si  mesmos  e  não  têm 
qualquer  fim  exterior.  As  consequências desta concepção para a legitimidade do poder punitivo do 
Estado  são  vastas:  para  se  viver  em  segurança  e  paz,  as  pessoas  aceitam  os  crimes  como  males 
necessários,  mas  também  assumem  que  quem  os  pratica  deve  sofrer  as  consequências (sempre que 
há  crime,  para  Kant,  há  pena  –  todos  aceitam  e  concordam  com  o  contrário  originário,  pelo  que 
compreendem estas consequências);  
iii)  As  penas  não  são aplicadas” para que”: ​isto será instrumentalizar o homem à prossecução de 
um crime; as penas são aplicadas porque se cometeu um crime; 
 

21 
➥ Hegel:  
i)  crítica  Kant:  no  contrato  original,  ninguém  aceitaria  que  o  assassinato  tivesse  como 
consequência  a  execução, pois que ninguém pode dispor da sua vida. Rejeita, assim, a ideia que esta 
base da construção de Kant: o imperativo categórico como o fundamenti oara o cumpriemento dos 
deveres e , consequentemente, para a aplicação das penas.  
ii)  Constrói  uma  teoria  da  pena  de  forma  lógica:  o  crime  é  a  negação  do  direito;  a  pena  é  a 
negação do crime; logo, a pena reafirma o direito; 
iii)  Maior  pragmatismo:  rejeitando  o  imperativo  categórico,  considera  que  a  pena  é  válida 
porque se pratica um crime, mantendo-se assim a ​retribuição na base da sua construção. 
iv)  não  há  um  entendimento  moral  da  pena,  ​a  qual  deve  pertencer  exclusivamente  à 
racionalidade do Estado; 
 
3.1.2. Teorias relativas ( a pena como instrumento de prevenção) 
Estas  teorias  reconhecem  que  a  pena  traduz  um  mal  para  quem  sofre.  Mas,  como  instrumento 
político-  criminal  destinado  a  atuar no mundo, não pode a pea bastar-se com essa característica, em 
si  mesma  destituída  do  sentido  cial-positivo:  para  se  justificar tem de usar desse mal para alcançar a 
finalidade precípua de toda a política criminal, a prevenção ou profilaxia criminal.  

Pena como instrumento de prevenção geral: 

O  denominador  comum  das  doutrinas  da  prevenção  geral  radica  na  cooperação  da  pena  como 
instrumento  político-criminal  destinado  a  atuar sobre a generalidade dos membros da comunidade 
afastando-os  da  prática  de  crimes  através  da  ameaça  penal  estatuída  pela  lei,  da  realidade  da  sua 
aplicação  e  da  efetividade  da  sua  execução.  A  pena  pode  ser  concebida  como  forma  estatalmente 
acolhida  da  intimidação  cujo  receio  conduzirá  mais  pessoas  a  cometerem  factos  puníveis:  fala-se 
então a este propósito da : 

- prevenção  geral  negativa  (  intimidação):    a  pena  pode  ser  concebida  por  outra  parte 
como  forma  de  que  o  Estado se serve para manter e reforçar a confiança da comunidade na 
validade e na força de vigência das suas normas de tutela de bens jurídicos; 
- prevenção  geral  positiva  (  integração):  a  pena  existirá  para  levar  os  cidadãos  a  confiar  na 
normas e no sistema 

O art. 40º do CP visa a proteção dos bens jurídicos - promove uma atuação preventiva;  

Pena como instrumento de prevenção especial/ individual: 

22 
A  pena  é  um  instrumento  de atuação preventiva sobre a pessoa do delinquente com o fim de evitar 
que, no futuro ele cometa novos crime.  

- prevenção  especial  negativa:  “  correção”  dos  delinquentes  só  poderia  dirigir-se  à  sua 
intimidação  individual:  a  pena  visaria  atemorizar  o  delinquente  até  um  ponto  em  que  ele 
não  repetiria  no  futuro  a  prática  de  crimes.  Enquanto  para  outros  a  prevenção  especial  e 
alcançar  um  efeito  de  pura  defesa  social  através  da  separação/  segregação  do  delinquente, 
assim procurando atingir-se a neutralização da sua perigosidade social;  
- prevenção  especial  positiva:  aqueles  que  pretendem  dar  à  prevenção  individual  a 
finalidade  de alcançar a reforma interior do delinquente ao que se pode designar de emenda 
do  criminoso;.  Esta  mesma  solução  respeita  o  ar.  18º.2  CRP  pois  habilitando  o  gente  na 
sociedade , este tornar-se-á então um cumpridor do Direito;  

➥ Platão + Protágoras  
- a punição servirá para ensinar; 
- não  se  deve  acrescentar  um  mal  àquilo  que  já  estará  mal,  devendo sempre querer o bem. A 
pena retributiva produzirá no futuro uma l e não um bem. 
- Dever-se-á reabilitar para que possa haver um bem no futuro;  
 
3.1.3. Retroactive Justice​3 

Será o processo através do qual a vítima ofensor e quando apropriado, outros indivíduos/ membros 
da  comunidade  afetados  pela  prática  de  um  crime,  participam  e  decidem  conjuntamente  como 
lidar com os seus efeitos auxiliados por um 3º imparcial.  

A  finalidade  da  pena  pode ser a de operar a possível concertação entre o agente e a vítima através da 


reparação  dos  danos  -  não  apenas  necessariamente  patrimoniais,  mas  também  morais  -  causados 
pelo  crime.  Haverá  portanto  diálogo  entre a vítima, opressor e a comunidade afetada , com o crime 
a gerar práticas de responsabilização e reparação.  

3.2. Teorias Mistas  

A  s  teorias  mistas  ou  unificadoras  procuram  combinar,  sob  diversos  pontos  de  vista,  algumas  ou 
todas as doutrinas monistas (ou seja, as teorias absolutas e as teorias relativas).  

3
​Esta figura de mediação não existe em Portugal 

23 
Entre estas: 

  i)  Pena  retributiva  no  seio  da  qual  procura  dar-se  realização  a  pontos  de  vista  de 
prevenção,  geral  e  especial  :  ​está  presente  a  concepção  de  pena  como  retribuição  da  culpa  e, 
subsidiariamente,  como  instrumento  de  intimidação  da  generalidade  e,  na  medida  do  possível,  de 
ressocialização social. 

-   ​Teoria  da  diacrónica  dos  fins  da  pena:  ​no  momento  da  ameaça  abstrata,  a  pena  seria 
instrumento  de  prevenção  geral;  no  momento  da  aplicação,  seria  instrumento  de 
retribuição; no momento da execução teria como finalidade a prevenção especial.  
- Figueiredo  Dias:  ​coloca,  novamente,  no  centro  a  retribuição  da  pena,  que  deve  ser 
rejeitada  enquanto  finalidade  da  pena;  fica-se  sem  se  saber  qual  o  ponto  de  partida  para  o 
fundamento e a legitimação da intervenção penal  

ii)  Teorias  da  prevenção integral: a combinação apenas pode ocorrer ao nível da prevenção geral 


e especial, recusando-se qualquer concepção retributiva; 

- Figueiredo  Dias:  ​concluem,  uma  vez  que  excluem  as  conceções  retributivas,  a  recusa  do 
pensamento  da  culpa  e  do  seu  princípio  como  um  limite  à  pena  –  procuram  substituí-la 
pela  perigosidade  ou  pelo  princípio  da  proporcionalidade;  entende  que  a  ​culpa  é 
pressuposto e limite inultrapassável da medida da pena​; 

➥R
​ oxin:  

Pena tem finalidades preventivas e serve fins racionais, dividindo a sua concepção em 2 planos; 

- abstrato:​pena serve fins de prevenção geral e visa a tutela de bens jurídicos; 


- concreto de aplicação: prevenção geral e prevenção especial; 

A  culpa  será  pressupostos  e  limite  inultrapassável  da  pena,  mas  pode  ser  fixada  pena  abaixo  do 
limite da culpa se isso for necessário para a prevenção especial. 

A  medida  da  culpa  não  é  dada por ponto exato da escala penal e tem de haver pena com base numa 


moldura  de  culpa.  Os  limites  de  prevenção  geral mínima têm de ser satisfeitos. O fim da prevenção 

24 
geral  da  punição  apenas  se  pode  conseguir  na  culpa  individual.  Na  execução  específica  da  pena 
atende-se a critérios de prevenção especial positiva. 

A  pena  não  poderá  ultrapassar  a medida a culpa, que não serve para fundamentar o poder penal do 


Estado mas sim para o limitar. A culpa constitui um meio de manter dentro dos limites aceitáveis os 
interesses da coletividade face à liberdade individual. 

Roxin  justifica  a  pena  pois  cada  membro  da  comunidade  tem  de  responder  pelos  seus  atos  na 
medida da sua culpa, para a salvaguarda dessa comunidade.  

➥F
​ igueiredo Dias:  

→  As  penas  só  podem  ter  natureza  preventiva:  seja  de  forma  geral,  positiva  ou  negativa,  seja  de 
forma especial, positiva ou negativa.  

i)  solução  que  melhor  se  coaduna  com  o  Estado  de  Direito  Democrático:  a  pena  deve  prevenir  a 
prática  de  crimes  futuros,  já  que  é  esse  o  desiderato  da  submissão  ao  poder punitivo do Estado (os 
cidadãos cedem a sua liberdade, a fim de se garantir a sua segurança em sociedade); 

ii)  Devem,  a  prevenção  especial  e  a  prevenção  geral,  conciliar-se  da  melhor  forma  possível  e 
coexistir. 

→  1º  momento:  prevenção  geral  positiva  ou  de  integração:  o  fundamento  deve  ser  a  tutela 
necessária  dos  bens  jurídico-penais  no caso concreto, por forma a garantir a tutela da confiança e as 
expectativas da comunidade na manutenção da vigência da norma violada. 

i) Objetivo:​restabelecimento da paz jurídica comunitária posta em causa pelo crime; 

ii)  Garantia  do  princípio  da  necessidade  da  pena  (  18º.2  CRP):  ​se  a  pena  não  for  necessária 
para garantir a tutela de bens jurídico penais, não seria aplicada; 

iii)  Prevenção  geral  negativa:  ​pode  surgir  enquanto  efeito  lateral  da  necessidade  de  tutela  dos 
bens jurídicos; 

25 
→  2º  momento:  prevenção  especial  positiva  ou  de  socialização:  é  as  finalidades  de  prevenção 
especial positiva que vão determinar a medida da pena; 

  -  ​medida  da  necessidade  de  socialização  do  agente  ​é  o  critério  decisivo  das  exigências  de 
prevenção  especial:  só  é  aplicado  no  caso  do  agente  carecer  de  socialização;  caso  não  careça  dessa 
socialização,  a  pena  terá  uma  natureza  de  advertência  (descer  até  perto  do  limite  mínimo  da 
prevenção).  

→ Complemento das teorias retributivas:  

- princípio da culpa:​a função da culpa no sistema punitivo é prevenir o ​excesso;  


- a  culpa  assim  concebida  ​não  é  fundamento  da  pena​,  mas  é  um  pressuposto  necessário  e 
um limite inultrapassável;  

➥​ Maria Fernanda Palma:  

Para  a  professora  o  que  está  em  discussão  não  seriam  as  finalidades  reais  das  penas  mas  sim  as 
finalidades ideais das mesmas ( em termos éticos e morais), desconsiderando-se a verdadeira  

- As  penas  têm  sempre  como  finalidade  punir:  apresentam  sempre  uma  finalidade 
retributiva;  essa  retribuição,  num  Estado de Direito Democrático, tem de ser racionalizada, 
através  de  dois  princípios  (o  princípio  da  dignidade  da  pessoa  humana  que  origina  o 
princípio  da  culpa  –  artigo  1º  da  CRP;  o  princípio  da  necessidade  da pena, artigo 18º.2 da 
CRP). Conclui que a pena retributiva, só é legítima, se necessária preventivamente. 

  i)  O  problema  dos  fins  das  penas  deve  ser  colocado  como  problema  do  fundamento  de 
legitimidade  das  penas  estatais  em  face  da  legitimidade  do  poder  punitivo  do  Estado  e  não  como 
mera  escolha  de  modelos  ideologicamente  suportados  ou  puros  modelos  normativos  assentes  em 
construções gerais sobre os fins dos seres humanos. 

- Dúvida  que  a  pena  apenas  possa  prosseguir finalidades preventivas: se é verdade que 


no  artigo  40º  se  fala  em  prevenção,  os  artigos  anterior  centram-se  em  quando  se  efetiva  a 
responsabilidade jurídico-penal – logo, s​ ó a culpa pode ser o fundamento da pena.  

26 
→  1º  momento  (princípio  da  culpa)​:  a  moldura  concreta  da  pena  é  definida  em  função  da 
culpa. 

i)  A  moldura  concreta  da  pena  difere  da  moldura  abstracta da pena (moldura tipificada na 


norma pelo legislador).  

ii)  A  culpa  define  a  necessidade  da pena (artigo 40º. 2 CP): a medida da culpa é sempre um 


limite  inultrapassável  da  medida  da  pena,  pelo  que  as  exigências  de  prevenção  não  podem 
nunca  ultrapassar  a  medida  máxima  da  culpa;  a  culpa  define  a  necessidade  da  pena,  pelo 
que,  em  caso  de  esta  estipular  uma  desnecessidade  de  punição,  as  razões  de  prevenção  não 
podem justificar a aplicação da pena.  

→  2º  momento  (medida  concreta  da  pena):  a  medida  concreta  da  pena  é  definida  em 
função das necessidades de prevenção geral e de prevenção especial.  

- Especial ênfase à prevenção especial positiva: deve ser o princípio orientador. 


-   Crítica  a prevenção geral positiva: entende que, se levada às últimas consequências, 
pode  consubstanciar  uma  instrumentalização  do  indivíduo  (violação  do 
princípio da dignidade da pessoa humana); 

Espécies de Penas: 

- principais: podem ser aplicadas independentemente de quaisquer outras; 

i) pessoas singulares:​pena de prisão/ multa; 

ii) pessoas coletivas:​pena de multa;  

- alternativas:​quando previstas no mesmo tipo “Ou”; 


- acessórias:  ​só  podem  ser  aplicadas  conjuntamente  com  uma  pena  principal  (  não  têm 
efeito automático - 30º .4 + 65º.1 CRP); 

i) pessoas singulares:​66º e ss; 152º,2 ,4,5 e 6; 246º e 346º; 

ii) pessoas coletivas:​90º -A e ss;  

27 
- Substitutivas  /  de  substituição​4​:  só  podem  ser  aplicadas  na  sentença  condenatória  em 
substituição  da execução da pena principal: multa, permanência na habitação, proibição do 
exercício  da  profissão,  função  ou  atividade,  suspensão  da  execução  da  pena  de  prisão, 
prestação de trabalho a favor da comunidade e admoestação;  

3.4. Medidas de Segurança 

Têm como pressupostos principais: 

- facto típico e ilícito; 


- perigosidade;   

A indispensabilidade das medidas de segurança faz-se logo sentir a 2 níveis: 

- devido  aos  agentes  inimputáveis  (  aqueles  que  cometem  um  facto-típico  ilícito  mas  são 
inimputáveis por exemplo um menor esquizofrénico);  
- mesmo  que  o  facto  tenha  sido  praticado por um imputável pode suceder que os princípios 
que  presidem  à  culpa  e  por  via  desta  ao  limite  máximo  da  medida  da  pena  se  revelem 
insuficientes  para  ocorrer  a  uma  ​especial  perigosidade  resultante  das  particulares 
circunstâncias do facto / personalidade do agente;  
-  

ESQUEMA: 

4
​Em 2017 foi revogada a prisão por dias livres e o regime de semidetenção;  

28 
 

4. Princípios Direito Penal  

Princípios  ​→  ideias  gerais  cujo  papel  é  permitir  que  a  constante  regulamentação  normativa 
produzida  num  sistema  jurídico  respeite  uma  determinada  racionalidade,  assim  como  assegurar  o 
controlo da efetivação prática do sistema.  

Estes são: 

- a racionalidade inerente a um conjunto de normas/ objetivos do sistema; 


- a estrutura e os valores principais do sistema ( o esqueleto do Direito Penal); 
- o ponto de apoio e sustento de qualquer raciocínio jurídico-penal;  
- o  Direito  Penal  e  os  seus  preceitos  legais  apresentam  uma  subordinação  a  princípios  do 
Direito Penal; 

4.1.Princípio da Culpa 

29 
Este  princípio  corresponde  à  censurabilidade  de  alguém  por  um facto por ela praticado. Este 
decorre  da  Dignidade  da  Pessoa  Humana e do Direito à Liberdade ( 1º + 27º CRP),sendo indicado 
como fator de determinação da pea ( 40º.2 + 71º+72º CP). 

Concepções para este princípio: 

1) Fundamento  da  Pena  (  desvalor  ético-  social  derivado  da  prática  de  certos 
comportamentos  tenha  função  de  legitimar  a  realização  dos  fins  do  Estado,  como  a 
proteção de bens jurídicos que informam as expectativas dominantes da sociedade).  
- Fernanda  Palma:  ​o  Direito  Penal  é  também  legitimado  por  ter  comandos  e  proibições 
que  conduzam  à  aplicação  e  realização  de  ideias  culturais  de  justiça,  que  informarão  as 
expectativas dominantes da sociedade. A pena não serve apenas para proteger bens jurídicos 
mas  também  para  realizar  uma  ideia  de  justiça  que  não  pode  ser  desligada  do  conceito  de 
culpa;  
- Suum  cuique  tribuere:  ultrapassa o papel restritivo considerando que a democracia exige 
a  igual  consideração  pelos  interesses  e  a  subjetividade  de  cada  um  -  a  cada  um  o  que  lhe  é 
devido, na base da justiça);  

2)  Fator  de  Determinação  da  Medida  da  Pena  ​(  possibilidade de chegar a comparações 
entre comportamentos de agentes através da referência à ideia de culpa); 

3)  Princípio  da  Responsabilidade  Subjetiva    (  limitação  da  responsabilidade  penal  ao 
âmbito  do  domínio  da  vontade  humana,  que  terá  como  pressuposto  a  liberdade  e  ação 
causal);  

- só  há  ​responsabilidade  subjetiva e não objetiva ( pelo risco) ​→ coaduna com o 


147º CP+ 18 CRP; 
- não  haverá  resposta  do  Direito  Penal  para  condutas  fora  do  controlo  dos 
agentes  ​(  liberdade  de  agir  em  que  há  condições para os agentes se motivarem pela 
norma e respetivas consequências);  

4.2. Princípio da Necessidade da Pena (​intervenção mínima do Estado em matéria Penal)   


subprincípios: 
➛ proporcionalidade ​( certa relação quantitativa entre bens e valores diferentes a serem 
ponderados); 
➛adequação​( utilizar-se-á o meio mais apto/ adequado para se atingir certo fim);  

30 
Ao criminalizar um comportamento teremos de aferir se no Ordenamento Jurídico há algum outro 
mecanismo jurídico que tutela o bem jurídico de forma igualmente eficaz que o Direito Penal e não 
seja tão lesivo para o agressor​ ( 18º.2 CRP).  
➛ intervenção penal é a​ ultima​ratio d
​e intervenção do Estado; 
➛na determinação da r​ esponsabilidade penal​, são assinaláveis 2 aspetos: conformação do 
conteúdo de certos conceitos valorativos; critérios dos quais depende a responsabilização penal e 
influência na medida da pena;   

Surge como: 
➛​reação​contra a utilização discricionária das penas pelo poder político ao serviço de quaisquer 
fins ; 
➛​ideia primitiva de contrato social ​( subordinação racional dos fins políticos à realização da 
pessoa em sociedade);   

Legitimidade da incriminação surge devido à: 


➜ carência de proteção penal do bem jurídico: ​tratar-se-á de um mero valor moral sem 
expressão de um bem jurídico determinado; 
➜falta de alternativas à penalização da conduta:​não se afirmará quando os meios penais não 
forem absolutamente indispensáveis existindo outros meios sociais capazes de evitar determinados 
comportamento; 
➜ eficácia concreta da incriminação: D
​ ireito Penal não evita a prática de certas condutas e 
chega a ter um papel criminógeno;  

4.3. Princípio da Igualdade Penal  

Proveniente do artigo 13º da CRP este princípio orienta as soluções do sistema penal. À igualdade 
está subjaz uma ideia de proporcionalidade entre a gravidade do ilícito e da pena bem como e a 
igualdade que sustenta a medição da pena pela culpa. Assim uma necessidade de punir igual 
justificará penas idênticas. O princípio da igualdade proíbe tipos penais discriminatórios, mas 
também factos menos graves não podem ter uma punição superior a factos mais graves pois isto 
violaria o princípio da igualdade.  

Os tendencialmente factos menos graves não podem ter uma punição superior a factos mais graves, 
pois isto violaria o princípio da igualdade. O princípio da igualdade tem relevância na delimitação 
negativa das incriminações e legítima em certos casos o conteúdo de normas incriminadoras mas 
não prevalece sobre o princípio da necessidade da pena.  

31 
4.4. Princípio da Humanidade 

Esta  expressa  a  ideia  de  responsabilidade  social  pela  delinquência  e  disposição  de  respeitar  e 
recuperar  a  pessoa  delinquente  e  justificará  por  isso  a rejeiçãode penas atentatórias do repseito pela 
pessoa  humana  comopor  exemplo  a  pena  de  morte.  Este  é  também  a  expressão  do  princípio  da 
Dignidade  da  Pessoa  Humana  ,  o  criminoso  tem uma compressão dos seus direitos civis e políticos 
mas não deixa de ser pessoa.  

Este  condicionará  inevitavelmente  a  legitimação  das  normas  incriminadoras  em  termos  de 
proporcionalidade  e  adequação  de  penas.  Interferem  na  legitimação  de normas incriminadoras em 
que estejam em causa padrões mínimos de consideração pelos outros.  

4.5. Princípio da Legalidade  

➜Proposição  fundamental  do  sistema  penal 


Os  tribunais  estão  vinculados  a  não  aplicar  sanções  penais  sem  lei  anterior  que  as  preveja  (​nulla 
poena  sine  lege​)  e  não  aplicar  as  sanções  penais  previstas  sem  que  se  realizem  determinados 
pressupostos,  No  caso  das  medidas  des  segurança,  reveladora  de  perigosidade  criminal  (  será  a 
máxima ​nullum crimen sine lege -​29º.1 e 3 CRP + 1º CP). 

Ou  seja  a  solução  do  caso  concreto está totalmente vinculada a um modelo legal, a uma articulação 


já  feita  pelo  legislador  entre  um  determinado  caso,  semelhante  ao  verificado  em  concreto,  e  uma 
solução  para ele prevista.  O princípio da legalidade é também a exigência de vinculação total do ato 
de  aplicação  de  uma  sanção,  no  caso  concreto  a  uma decisão já tomada previamente com um certo 
grau de concretização, pelo legislador. 

Os aspetos fundamentais deste princípio serão portanto: 


➜ nullum crimen sine lege​( define os pressupostos do comportamento criminoso cabendo 
apenas ao legislador). Cabe a um típico específico de lei: 
- ​scripta ​(escrita)​:por lei da AR ou DL autorizado; 
- certa​: definição do comportamento criminoso tem de ser precisa e clara para que quando se 
criminalize um comportamento, ele esteja especificamente previsto - 29º.3 CRP); 
- praevia​( prévia) :​lei penal tem de ser anterior ao facto criminoso e estar em vigor quando o 
facto é praticado;  

32 
➜ nullum poena sine lege (​pena tem de estar definida por lei para um crime , também definido 
por lei) 
- só pode haver pena se o caso concreto corresponder ao caso abstrato previsto pelo legislador; 
- não poderá haver aplicação analógica (1º.3 CP + 29º.1 e 3 CP), deve ser compreendida num 
sentido mais profundo do que a proibição da utilziação de reciociníos analóigicos c​ ontra reo​ na 
operação de decidir. Não permitindo a analogia, o princípio da legalidade pode resultar em que: 
- fixação rígida às palavras da lei; 
- condicionamento à letra da lei que por vezes será vaga e simbólica, não existindo uma verdadeira 
igualdade material; 

A aplicação da lei resulta de um processo lógico dirigido à descoberta do sentido da lei por exemplo 
à delimitação dos valores positivos e negativos que explicam a incriminação de um determinado 
comportamento. Este princípio relacionar-se-á com Estado de Direito Democrático na medida em 
que o mesmo é o fundamento para que haja garantias especiais de segurança, certeza e confiança, 
isto para evitar a arbitrariedade na aplicação do Direito,sendo o legislador quem define quais serão 
os bens jurídicos a defender pela sociedade.   

● As fontes do Direito Penal: 

o  ​Dos  arts.  29º CRP e 1-3º CP resulta que os modos de revelação do direito penal (= as suas fontes) 


são estritamente vinculados no nosso sistema jurídico 

Princípio  geral  é  o  de  que  só  a  lei  pode  ser  fonte  de  direito  penal  –  estabelecendo-se  uma  reserva 
relativa de competência da AR no art. 165º/1/c) CRP; 

● Assim,  só  a  AR  ou  o  Gov  munido  de  indispensável  autorização  legislativa,  sob  pena  de 
inconstitucionalidade orgânica dos DL que aprovar, têm competência em matéria penal 

o Este princípio só é afastado pelo art. 29º/2 CRP – que admite a legitimidade da punição nos 
limites da lei interna, das ações e omissões que no momento da sua prática sejam consideradas 
criminosas segundo os princípios gerais do DIP comumente reconhecidos. 

33 
Esta  exceção​5  significa  que  o  costume  internacional  também  pode  ser  fonte  de  direito  penal:  a 
convicção  generalizada  na  sociedade  internacional  sobre  o  carácter  criminoso  de  certas  condutas  é 
bastante para que, nos limites da lei interna, uma conduta seja punida sem lei prévia à sua prática  

● Formulação, âmbito e fundamento do princípio da legalidade  

o ​A conformação constitucional mais explícita do direito penal deriva do princípio da legalidade 

O seu conteúdo essencial traduz-se em que não pode haver crime, nem pena, que não resultem de 
uma lei prévia, escrita, estrita e certa 

o ​Dos arts. 29º CRP e 1º-3º CP resulta que as instâncias de criação e aplicação do direito penal têm 
o seguinte regime: 

- Só a lei pode, em princípio, ser fonte de direito penal, prevendo-se uma reserva relativa de 
competência da AR (art. 165º/1/c) CRP); 
- O próprio conteúdo das normas penais terá de revelar um elevado grau de determinação na 
descrição das condutas incriminadas e das suas consequências (art. 29º/1 e 3 CRP); 

Há um condicionamento do intérprete da lei penal a quem está vedada a analogia e, eventualmente, 


a própria interpretação extensiva de normas incriminadoras (arts. 29º/1 e 2 CRP e 1º/3 CP). 

Está consagrada a proibição de retroatividade das normas penais (arts. 29º/1 e 3 CRP e 1º/1 CP) 

Consagra-se o princípio da retroatividade das leis penais de conteúdo mais favorável ao arguido 
(arts. 29º/4 CRP e 1º/2 e 4 CP) 

o ​O princípio da legalidade é uma decorrência do EDD, integrando-se no elenco dos direitos, 


liberdades e garantias fundamentais;  

- Expressão da autolimitação do Estado perante os cidadãos e da sua função primordial de 


proteção da pessoa; 
- Exprime o modo constitucional de realização da máxima segurança individual; 

5
Figueiredo Dias​não considera como exceção pois o próprio DIP reconhece o princípio da legalidade como 
princípio geral do direito penal 

34 
● Sendo manifestação da separação dos poderes e da democracia igualitária; 

o Ideia central deste princípio é a garantia de segurança dos indivíduos frente ao Estado, através do 
controlo da criação e aplicação do direito penal pelos órgãos de representação democrática.  

E um tal controlo democrático da lei penal é o meio mais adequado racionalmente para a 
concretização da igual dignidade da pessoa humana.  

São estas ideias que explicam a extensão do princípio e a sua aplicação à previsão dos crimes, e não 
só à cominação das penas 

● A proteção das expectativas individuais e a indicação do ilícito criminal acresce à garantia 


de só ser punido com pena prevista em lei anterior à prática do facto . 

● Reserva de lei 

o​Comando para o legislador tem de obedecer a certos critérios a elaboração das leis 

O fundamento do princípio da legalidade impõe que as normas penais que ampliem a incriminação 
sejam  aprovadas  pelo  Parlamento  (AR)  ou,  pelo  menos,  pelo  Gov  mediante  delegação  de 
competências 

- Legislador  tem  de  obedecer  a  um  critério  quanto às fontes – há matérias que são reserva da 


AR; 
- Quando  o  Governo  tem  autorização,  não  pode  extravasar  o  âmbito  dessa  autorização, 
tendo de haver concretas diretrizes para o Governo; 

● Autorização tem de ser explícita e inequívoca, descrevendo o conteúdo 

o​Art. 165º/1/e) CRP 

35 
- Âmbito de reserva são as normas penais: penas + medidas de segurança (e respetivos 
pressupostos); 

o​E quanto à descriminalização: 

Esta também se enquadra na definição de crimes (​ad contrarium​)  

É contemplada na reserva de lei – entendimento do TC de que se trata de relevância social, por isso 
deve haver expressão democrática 

- Maria Fernanda Palma ​– se Gov pudesse fazer a descriminalização a seu belo prazer, 
então a definição de crime ficaria nas mãos dele; 
● A definição de crime abrange a definição pela positiva e pela negativa: 
- Jurisprudência: d ​escriminalização é da reserva de lei devido à segurança jurídica e 
separação de poderes; 

o​Circunstâncias agravantes: 

- Estas definem o concreto facto criminoso, sendo abrangidas pelo art. 165º/1/c) CRP 
● Sucede no caso das circunstâncias modificativas, que alteram o tipo fundamental, 
suscitando nova medida legal da pena;  
● As razões justificativas da reserva de lei (segurança jurídica e o princípio democrático) 
favorecem a aplicação do art. 165º/1/c) CRP a todas as circunstâncias agravantes  

o Circunstâncias atenuantes: 

- Circunstâncias atenuantes da responsabilidade podem alterar a delimitação dos direitos do 


cidadão em si 
● Assim, no que respeita às causas de justificação do facto ou de exclusão da ilicitude, a 
liberdade criada pela permissão de certas condutas diminuirá a liberdade de todos os que se 
pretendem opor às mesmas ; 

Há atenuantes que, ao permitirem certas condutas, que em geral são proibidas, abrem uma 
exceção, de modo que a sua previsão afeta as expectativas gerais e diminui a liberdade e a segurança 
dos cidadãos. 

36 
Causa de exclusão da ilicitude : 

● Há justificação, havendo prevalência de uma valor sobre outro; 


● Há critério valorativo que torna aquele comportamento proibido em permitido; 

Causas de exclusão da culpa:  

● Afastam a censurabilidade do agente pela prática de certo facto; 

o ​Maria Fernanda Palma​– critérios de valoração da responsabilidade (o que significa a culpa 


ou a sua ausência) não podem estar desvinculados de um certo controlo da reserva  

o Essa valoração da responsabilidade não deve estar sujeita a reserva? 

- Tem de existir o mínimo de expressão legal, ponto de apoio legal, nessas normas, portanto elas 
estão sujeitas à reserva; 

-As causas de exclusão com base em circunstâncias invocadas têm de ter um ponto de apoio legal 

Nas circunstâncias atenuantes da responsabilidade penal é desnecessária a reserva de lei: 

● A tipicidade das atenuantes gerais resulta da fórmula genérica do art. 72º CP, e tais 
circunstâncias, influindo apenas na determinação da pena, não são suscetíveis de promover 
uma restrição indireta dos direitos das vítimas de crimes 
● Questão deve ser resolvida pela análise da natureza da própria circunstância atenuante; 

● Reserva de lei e tipicidade – normas penais em branco 

o  ​Do  respeito  pela  reserva  de  lei  decorre  o  princípio  da  determinação  das  normas  penais 
incriminadoras; 

37 
De  acordo  com  este  princípio,  todos  os  pressupostos  da  incriminação  e  da  responsabilidade  penal 
têm de estar descritos na lei, não sendo admitidas as leis penais em branco 

o  ​Normas  penais  têm  de  ser  descrições  de  figuras  ou  tipos,  isto  é,  determinações  do  conteúdo  de 
certas  imagens  sociais  relativamente  concretas  de  comportamentos  humanos, que prefiguram com 
exatidão o âmbito do proibido e a respectiva consequência (sanção) 

o  Princípio  da  determinação  das  normas  penais  implica  o  máximo  preenchimento  possível  das 
figuras através de verdadeiros conceitos de espécie; 

o  ​Este  princípio  justifica  o  desmembramento  do  ilícito  criminal  através  das  várias  figuras  de 
infrações criminais – os tipos legais de crime; 

Nenhum  comportamento  humano  pode  ser considerado criminoso se não corresponder a um tipo 


legal de crime, descrito com precisão por um preceito legal  

A tipicidade é exatamente essa exigência de adequação do facto a um tipo legal de crime 

● Destinatário da norma tem de saber qual o comportamento que é proibido 

o  ​Hoje em dia, o juiz deve decidir se um certo facto corresponderá ao “tipo de ilícito” (conjunto de 
elementos  que  constituem  o  comportamento  proibido  e  cuja  verificação suscita o ilícito criminal), 
que constitui a essência da norma incriminadora( e​ x:​conceito de veneno); 

o  A  violação  dos  princípios  da  determinação  e  da  tipicidade  não  se  dá  logo  que  o legislador utiliza 
conceitos  menos  precisos  ou  que  o  intérprete  excede  um  sentido  puramente  lógico-formal  das 
palavras 

Tal  violação  dá-se  quando  a  possibilidade  de  compreensão  e  controlo do desvalor expresso no tipo 


legal de crime deixa de existir 

Violação  da  reserva  de  lei  começa  onde  a  linguagem  normativa  permitir  a  total  manipulação  do 
conceito para fins incontroláveis  

o ​Uma decorrência da reserva de lei é a proibição das normas penais em branco 

38 
➥​Figueiredo  Dias:  ​normas  penais  em  branco  são  aquelas  que  culminam  numa  pena  por 
comportamentos  que  não  descrevem,  mas  se  alcançam  através  de  uma  remissão  da  norma  penal 
para leis, regulamentos ou inclusivamente atos administrativos 

● Parte sancionatória é que tem de estar sujeita a reserva de lei 

➥  Fernanda  Palma:  normas  que  estabelecem  o  conteúdo  da  sua  previsão  ou  da  sua  estatuição 
por remissão para outras normas constantes de leis hierarquicamente inferiores 

● Como  acontecerá  nos  casos  de  leis  penais  que  remetem  para  regulamentos (ou leis do Gov 
sem  autorização  legislativa)  a  definição  de  elementos  de  que  resulte  o  comportamento 
incriminado ou a pena aplicável 

•  Conceção  abrangente  ​– em que norma em branco é toda aquela em que a definição da “área de 


proteção” é feita, total ou parcialmente, por norma diferente da norma que contém a ameaça penal 

o  Em  que  medida  é  que  uma  norma  penal  que  não  define  todo  o  seu  conteúdo,  remetendo  para 
uma outra, viola o princípio da reserva de lei? 

A  remissão  de  uma  norma  para  outras  não  é,  em  si mesma, obstáculo ao respeito pelo princípio da 
legalidade 

● O  que  pode  desrespeitar  este  princípio  é  o  esvaziamento  de  conteúdo  preceptivo  e  a 


atribuição  da  competência  para  definir  o comportamento proibido a leis hierarquicamente 
inferiores ou, até, aos atos administrativos  

Importa distinguir, atendendo ao “critério do proibido”: 

● Situações  em  que  o  núcleo  do  comportamento  proibido  pela  norma  depende  totalmente 
da  norma  para  a qual se remete, não sendo previsível para os destinatários sem essa norma o 
que deles se espera 

o  ​São  inconstitucionais  pois  violam  o  princípio  da  legalidade  (na  aceção  da  reserva  de  lei)  e 
conflituam com a separação de poderes  

39 
● Situações  em  que  a  remissão  é  puramente  um  critério  técnico,  não  estando  o  objeto  da 
norma  remissiva,  o  interesse  fundamental  protegido,  dependente  do  conteúdo  concreto 
desse critério 

o    Efeito  de  regulação  da  norma  incriminadora,  que  não  depende  do  conteúdo  da  norma  para  a 
qual se remete; 

o  Neste  caso  se  encontram  aquelas  normas  em  que  o  cerne  da  proibição  (e,  por  isso,  do ilícito) se 
centra  manifestamente  num  efeito  pretendido  ou  num  interesse  fundadamente  prosseguido,  não 
dependendo  do  critério  técnico  (em  si  mesmo  variável  em  função  de  novos  conhecimentos)  o 
sentido essencial do comportamento contrário ao Direito; 

o   A  distinção  entre  normas  remissivas  que  violam  a  reserva de lei e as que são com ela compatíveis 


depende de saber se a função da norma penal é estabelecer direta e materialmente a fronteira entre o 
proibido  e  o  permitido,  ou  apenas  sinalizar que um certo efeito material dependente da obediência 
à  regulação  legal  devido  à  natureza  ou  grau  de  risco  da  atividade  é  o  conteúdo  fundamental  da 
proibição ; 

Na  ​norma  penal  em  branco​,  o  crime  não  é  totalmente  definido  pela  AR,  o  que  viola  o  art. 165º 
CRP.  A  norma  penal  em  branco  levanta  também  um  problema  quanto à tipicidade, uma vez que, 
de acordo com o art. 29º/3 CRP, a definição do comportamento criminoso tem de ser expressa 

● Quando  há  cisão  pode  estar  em  causa  o  carácter  certo  da  lei,  o  que  deixa  o  destinatário 
insuficientemente orientado quanto ao comportamento que deve tomar  

A  norma  penal em branco será compatível com o princípio da legalidade se os critérios essenciais de 
ilicitude estiverem na norma penal em branco e não na norma complementar 

● Aquilo  que  é  a  essência  do  desvalor  tem de estar na norma penal, de tal forma que a norma 


complementadora  não  venha  criar  nenhum critério de ilicitude, vindo apenas concretizar o 
critério que já constava da norma penal em branco 

Assim,  para  a  norma  penal  em  branco  não  ser  inconstitucional,  têm  de  estar  verificados  três 
requisitos: 

40 
● Estar claro qual é o bem jurídico protegido 
● Estar claro qual o desvalor da ação, ou seja, qual o comportamento que se pretende proibir 
● Estar  claro  qual  o  desvalor  do  resultado,  isto  é,  qual  o  resultado  que  se  pretende  evitar  e 
qual a sanção 

Se isto resultar da norma penal, então temos uma norma penal em branco constitucional: 

o  Art.  277º  CP  é  considerado,  por  alguns  autores,  como  norma  penal  em  branco  e,  devido  a  tal, 
inconstitucional  

➥Fernanda  Palma:   não  entende  assim,  pode  ser  norma  formalmente  penal  em  branco  por ser 
remissiva,  mas  o  que  se  pretende  com  este  tipo  de  normas  é  que  certas  atividades  perigosas  devem 
ver respeitadas as normas técnicas vigentes; 

● O cerne do proibido é o cumprimento de certas normas técnicas 

Este  artigo  não  é  norma  penal  em  branco, pois o proibido está explícito (que é a violação da norma 


técnica) – não sendo a norma técnica que tem o conteúdo do proibido ; 

o  Taipa  de  Carvalho:    há  casos  em  que  a  remissão  não  interfere  com  a  previsibilidade  e  com  a 
segurança  jurídicas,  mas  apenas  cumpre  o papel de orientar o intérprete segundo critérios objetivos 
quanto à verificação do comportamento proibido. 

→ Interpretação da Lei Penal: Proibição da Analogia 

● O  art.  1º/3  CP  proíbe  a  analogia  quanto  às  normas  de  que  resulta  a  qualificação  do  facto 
como  crime,  a  definição de um estado de perigosidade e a determinação da pena ou medida 
de segurança correspondentes; 

41 
o  ​Em  causa  está  a  hipótese  da  analogia  legis  ser  igual  à  aplicação  de  uma  regra  jurídica  a  um caso 
concreto  não  regulado  pela  lei  através  de  um  argumento  de  semelhança  substancial  com  os  casos 
regulados  

● Fundamento  desta  proibição  reside  na  exclusividade  da  competência  da  AR  (ou  do  Gov) 
na formulação de normas incriminadoras  

o  Se  os  tribunais  pudessem  utilizar  a  analogia,  formulariam  normas  incriminadoras  que  deixariam 
de ser objeto de controlo democrático 

o  ​A  seleção  da  conduta  incriminada  é  uma  decisão  legislativa  inimitável  pelo  julgador  através  do 
recurso à analogia  

● Proibição da analogia ≠ Proibição de raciocínios análogos na aplicação da lei penal  

o  ​Figueiredo  Dias  –  o  texto  legal  torna-se  carente  de  interpretação,  oferecendo as palavras que o 


compõem,  segundo  o  seu  sentido comum e literal, uma pluralidade de significações dentro do qual 
o aplicador da lei pode mover-se e pode optar sem ultrapassar os limites legítimos da interpretação 

Fora deste quadro, o aplicador já se encontra no domínio da analogia proibida 

Decisivo  será,  assim,  por  um  lado,  que  a  interpretação seja teleologicamente comandada, isto é, em 


definitivo  determinada  à  luz  do  fim  almejado  pela  norma;  por  outro  lado,  que  ela  seja 
funcionalmente justificada, adequada à função que o conceito assume no sistema 

o O que é interpretação extensiva? 

Operação  mediante  a  qual  se  retira  uma  norma  do  preceito  da  lei  –  nessa  operação  tem  de  se 
garantir que não se ultrapassa o sentido que o legislador quis dar à norma . 

A  interpretação  extensiva  baseia-se  na  possibilidade  de  referir  um  certo  caso  não  expressamente 
considerado na letra da lei ao seu pensamento 

● Taipa  de  Carvalho  –  a  determinação  do  sentido  e  alcance  do  texto  legal,  em  que  se 
materializa a norma, depende da finalidade/teleologia desta 

42 
o  ​O  intérprete-aplicador  deve  procurar  descobrir  o  pensamento  legislativo,  isto  é,  qual  é  a 
finalidade  e  o  âmbito  normativo  da  lei:  as  situações  fácticas  ou  os  casos  concretos  abrangidos  pela 
norma jurídica; 

o Distinção entre analogia e interpretação 

Analogia  –  aplica-se  uma  norma  jurídica  a  uma  situação  ou  conduta  que  não  se  encontra 
abrangida por nenhum dos possíveis sentidos do texto legal 

Interpretação  –  nesta,  mesmo  que  extensiva,  a  decisão  jurídica  é  ainda  a  concretização  de  um 
sentido normativo que o teor literal comporta  

● É  processo  que  consiste  em  alargar  o  sentido  do  texto  legal  com  o  objetivo  de  o  coincidir 
com a finalidade da norma jurídica  

Quando  o  legislador  tenha  apenas  exprimido  imperfeitamente  a  intenção  de regular o caso, haverá 


interpretação extensiva 

  ➥Maria  Fernanda  Palma:  a  interpretação  extensiva  não  tem,  em  si  mesma,  força  suficiente 
para  resolver  o  problema  da  fronteira  da  interpretação  permitida,  devendo procurar-se um critério 
fundamentado na racionalidade da proibição da analogia e desligado destas categorias tradicionais; 

o​O art. 1º/3 CP não proíbe, expressamente, a interpretação extensiva 

  E,  por  outro  lado,  não  se  poderá  inferir  da  proibição  da  analogia  in  malem  partem  pelo  art.  1º/3 
CP a permissão da interpretação extensiva, através de raciocínio a contrario 

A  interpretação  extensiva  não  é  necessariamente  proibida  ou  permitida  em  direito  penal,  tudo 
dependendo  da enunciação de outros critérios, derivados diretamente da ideia de segurança jurídica 
inerente  ao  princípio  da  legalidade,  e  reconduzível,  em  última  instância,  ao  princípio  do  Estado 
Democrático de Direito. 

5. Aplicação da Lei no Tempo 

43 
Respeitará  sempre  o  princípio  da  legalidade  e  o  princípio  ​nulla  poena,  nullum  crimen  sine  lege 
praevia. 

● Retroatividade​→ lei atual a factos anteriores  


● Ultra-atividade​→ lei aplica-se depois de estar revogada  

● Começar-se-á pelo ​Momento da Prática do facto  

o​Critério do art. ​3º CP 

-   Diz-se  que  se  determina  pelo  momento  em  que  o  agente  actuou  e  não  pelo  momento  do 
resultado, devido à segurança jurídica e à garantia do princípio da culpa. 
- O que se consegue controlar é o comportamento – resultado é aleatório; 
- É  no  momento  em  que  se  atua  que  se  tem  condições  para  confrontar  o  comportamento 
criminoso com a lei, porque o resultado não depende do criminoso 

o Crimes instantâneos: ​que se consumam num momento específico no tempo 

Não quer dizer que a atuação tenha sido num só momento – podem ser de execução faseada. 

o Crimes permanentes​: quando, durante certo tempo, se realiza uma conduta criminosa 

- Estão permanentemente a ser executados ou consumados; 


- São  uma  decisão  de  ilicitude  que  permanece  pela  decisão  constante  do  criminoso  (exp: 
condução sob efeito de álcool); 

o  Crimes  continuados:  pluralidade  de  crimes  que  são  tratados  como  se fossem apenas um – arts. 
30º.2 e 3º CP. 

Todos  foram  praticados  no  mesmo  contexto  em  que  o  agente  estava  a  vivenciar  uma  situação  em 
que havia qualquer coisa na realidade externa que o puxava para a prática do crime. 

44 
 

o​ O
​ que se aplica é a lei do momento da prática do facto, o que significa que é aplicável L1; 

o​ L
​ eis penais posteriores desfavoráveis não se aplicam retroativamente; 

- Impede-se  um  possível  poder  arbitrário  do  Estado  devido  à  segurança  jurídica  e  ao 

princípio  da  culpa  –  é-se  censurado  pelos  factos  que  se  cometem  no  momento  em  que  se 
sabia o que a lei dizia sobre isso; 

o​ A
​ plica-se L2 por causa do princípio da retroatividade da lei penal posterior mais favorável; 

o​ F
​ undamento é o princípio da necessidade e da igualdade; 

- O  princípio  geral  da  não  retroatividade  das  leis  assume  no direito penal a natureza de uma 


proibição  constitucional  de  irretroatividade  das  normas  penais  que  criem  ou  agravem  a 
responsabilidade penal 

o​ F
​ undamentos (para normas incriminadoras) 

- Princípio  da  culpa:  possibilidade  de  uma  conduta  ser  retroativamente  incriminada 

contraria  uma  responsabilidade  penal  fundamentada  na  livre  determinação  do  agente  pela 
norma jurídica; 
- Princípio da segurança jurídica:  ​Tal possibilidade levaria ainda a destruir a garantia das 

expectativas dos cidadãos quanto ao que é proibido; 

o​ Q
​ uanto às sanções criminais 

- Retroatividade afetará sobretudo a segurança, permitindo abusos de poder, pela alteração, a 
todo o tempo possível, das espécies e limites das sanções; 

45 
· Proibição da retroatividade corresponde, assim, à garantia de que o exercício do poder punitivo 

seja  exercido  de  acordo  com critérios e limites conhecidos antecipadamente e não alteráveis por 


força de um interesse particular ou para resolver um caso concreto antes não previsto 

→ Crimes Públicos, Semipúblicos e Particulares 

o​ C
​ rimes Públicos – c
​ompetência do Ministério Público para iniciar ação penal; 

o C
​ rimes Semipúblicos – competência do Ministério Público para iniciar ação penal depende da 

queixa do ofendido; 

o C
​ rimes  Particulares  –  além  da  queixa,  tem  de  haver  uma  atuação  particular  –  quem  tem  a 

iniciativa  e  dirige  a  ação  penal  é  o  ofendido,  sendo  que  são  crimes  menos  graves,  associados  à 
privacidade do próprio ofendido; 

- De Semipúblicos a Público (agravamento) 

o R
​ ejeita-se  a  aplicação  imediata  da  lei,  de  modo  que  o  facto  criminoso  cometido  no  passado, 

contra o qual não foi deduzida queixa, não pode vir a ser objeto de processo penal; 

o​ A
​ plicação pura e simples da lei antiga; 

- De Público a Semipúblico 

o E
​ m  sentido  material  há  uma  espécie  de  descriminalização,  pois  há  relativização  do  crime,  não 

havendo interesse imediato do Estado de instaurar a ação; 

- Parece que a lei semipública é mais favorável; 

o R
​ azões  de atender aos direitos da própria vítima, pelo que se tem de reiniciar o tempo para que a 

vítima possa fazer queixa (​MFP​); 

  

·​ Aplicação retroativa da lei penal mais favorável 


o​ F
​ undamentos: 

- Princípio da Igualdade; 
- Princípio da Necessidade da Pena 

o Lógica  do  art.  2º/2  CP  impõe  que  a  revogação  da  norma  incriminadora  tenha  como 

consequência a extinção da pena ou do procedimento criminal, sem quaisquer limitações. 

46 
o​ A
​ rt. 29º/4 CRP. 

→  ​Maria  Fernanda  Palma​:  a  aplicação  da  lei  penal  de  conteúdo  mais  favorável  impõe  que  se 
determine, em concreto, o regime mais favorável para o arguido. 

- Uma  lei  posterior  que  agrave  a  medida  legal  da  pena  poderá,  ainda  assim,  permitir  a 
aplicação de uma pena inferior ao agente e deverá, nesse caso, ser aplicada retroativamente 

o ​A retroatividade ​in mellius pressupõe uma verdadeira sucessão de leis no tempo = que as normas 
penais sucessivas possam fundamentar a decisão dos mesmos casos, embora de forma diversa 

- Para  que  se  possa  falar  em  sucessão  de  leis,  o  que  não  pode  estar  em  causa  é uma alteração 
da  essência  da  conduta  humana  referente,  nem  que  a  lei  posterior  vise  a  proteção  de  bens 
jurídicos diversos da anterior 
- A  delimitação  da  verdadeira  sucessão  de  leis  é  pressuposto  essencial  da  resolução  dos 
problemas  de  substituição  da  punição  de  certos  factos  no  âmbito  penal  pelo  seu 
sancionamento através do direito de mera ordenação social 

Tem que se ver se houve: 


o​ A
​ lteração do regime punitivo:​
art. 2º/4 CP 

- Implicaria  a  substituição  de  uma  forma  mais  grave  de  responsabilidade  por  outra  menos 
grave e a correspondente substituição da pena por coima 

o​ F
​ enómeno de desincriminação – art. 2º/2 CP 

- A  conversão  dos  crimes  em  contraordenações  implicaria  a  extinção  de  qualquer 


responsabilidade  criminal,  de  modo  que  o  desaparecimento  da  incriminação 


corresponderia a uma extinção de toda e qualquer responsabilidade pelo facto passad; 
- Maria  Fernanda  Palma​:  é incorreto defender a extinção em absoluto da responsabilidade 

jurídica  em  tais situações, quando não existir uma explícita e coerente vontade legislativa de 


toda a responsabilidade pelos factos passados; 

o ​Por  outro  lado,  nestas  situações  existe  um  comportamento  humano  referente  essencialmente 
idêntico, que assegura a unidade do facto e a continuidade normativa; 

- A  sucessão  de  leis  que  originam  a  conversão  do  crime  público  em  semipúblico  é  uma 
verdadeira sucessão de leis penais para efeitos da aplicação dos arts. 2º/2 e 2º/4 CP? 

47 
➜ S​ endo  justificada  a  retroatividade  ​in  mellius  pela  igualdade  na  aplicação  da  pena  e  pela 
necessidade  da  mesma,  o  âmbito do conceito de lei penal é aferido por essa ​ratio legis​, de modo que 
as alterações do direito de queixa não estão necessariamente contempladas. 

➜  A  exigência  de  exercício  de  direito  de  queixa  para  o  desencadeamento  do  processo  penal  não 
significa  diretamente  a  diminuição  da  necessidade  de  punir  relativamente  à  fase  anterior,  nem 
pretende  necessariamente  favorecer  a  posição  do  autor  do  crime,  embora  esses  efeitos  possam  ser 
reflexamente produzidos. 

➜ P
​ or  estes  motivos  se  impõe  uma  única  posição  jurídica  para  estes  casos:  a  atribuição  de 

oportunidade  de  exercício do direito de queixa (devido aos princípios da igualdade e da necessidade 


da pena). 

o ​Justifica-se,  simultaneamente,  a  aplicação  imediata  da  lei  nova  e  a  proteção  do  exercício  de 
direito de queixa 

➤​​Leis temporárias e de emergência: 

o​ N
​ ão são abrangidas pela retroatividade da lei penal de conteúdo mais favorável – art. 2º/3 CP; 

o​ N
​ ão há uma sucessão de leis penais em sentido próprio; 

➥ F
​ igueiredo  Dias:  ​
leis  temporárias  são  aquelas  que  são  editadas  pelo  legislador para um tempo 
determinado. 

- Razão  para  o  afastamento  do  princípio  da  aplicação  retroativa  da  lei  penal mais favorável 

reside  em  que  a  modificação  legal  se  operou  em  função  não  de  uma  alteração da conceção 
legislativa,  mas  unicamente  de  uma  alteração  das  circunstâncias  fácticas  que  deram  base  à 
lei 

➤ Razões de prevenção geral (positiva) persistem 

o ​ Taipa  de  Carvalho:  lei  penal  temporária  é  aquela  que,  visando  prevenir  a  prática  de 
determinadas  condutas  numa  situação  de  emergência  ou  de  anormalidade  social,  se  destina  a 
vigorar  apenas  durante  essa  situação  de  emergência,  pré-determinando  ela  própria  a  data  de 
cessação da sua vigência. 

- Nestas  não  há  alteração  da  concepção  político-criminal,  mas  apenas  uma  alteração  da 
situação fática, isto é, da situação social 
- A  valoração  jurídico-penal  das  condutas, praticadas durante a vigência das leis temporárias, 
mantém-se,  e  por  isso  se  compreende  político-criminalmente  e 

48 
jurídico-constitucionalmente  que,  apesar  de  a  lei  já  não  estar  em  vigor,  que  a  conduta, 
praticada durante a sua vigência, deve e continue a ser punível 

➤​​Lei penal inconstitucional: 

o P
​ ode  uma  lei inconstitucional ser, ainda assim, aplicável por ser mais favorável, de acordo com o 

art. 29º/4 CRP, ou outra norma constitucional? 

➥​ R
​ ui Pereira 

- Lei penal inconstitucional é inválida e, por isso, não pode produzir efeitos 
-   Art.  282º  CRP:  declaração  de  inconstitucionalidade  produz  efeitos  desde  a  entrada  em 
vigor  de  norma  declarada  inconstitucional  e  determina  a  repristinação  das  normas  que  ela 
haja revogado; 
- Deixa de haver sucessão de leis no tempo 
- Repristinação da norma revogada, embora menos favorável, torna-se inevitável; 
- Se  já  tiver  sido  aplicada  a  lei  mais  favorável,  nos  termos  do  art.  282º/1  CRP, preserva-se o 

caso julgado; 
- Exceção  para  situações  em  que  a  lei  penal  inconstitucional  aplicável  for  menos  favorável, 
pelo que se levanta o caso julgado para repristinação da lei penal revogada mais favorável 

→ ​ ​Solução com 2 problemas : 

- Não abrange situações em que a pessoa conhece que aquilo é inconstitucional; 


o​ S​ e pessoa souber, não pode beneficiar do art. 17º CP 

- Situações  em  que  a  lei  penal  favorável  é  atenuadora  não  pode  aplicar-se  o  art.  17º  CP, 

porque aqui ele tem consciência de ilicitude, mas é punido com pena mais alta 

➥​ J​ orge Miranda 

- Não  se  pode  interpretar  rigidamente  o  art.  282º  CRP  em  conjugação  com  outros critérios 
constitucionais como o do art. 29º.4 CRP; 
- Defende  que  a  lei  penal  posterior  inconstitucional  deve  ser  aplicada,  porque  foi  ela  que 
orientou  o  comportamento  do  agente  e  o  Estado  vinculou  através  dela  o  comportamento 
dos destinatários; 

Fundamentos: 

- Prevalência do princípio da igualdade e do princípio do Estado de Direito; 

49 
- Existe  no  art.  282º  CRP  uma  lacuna,  na  medida  em  que,  configurando  a  não salvaguarda 

do  caso  julgado  nos  casos  de  lei  penal inconstitucional menos favorável, dando prevalência 


ao  princípio  da  lei  mais  favorável,  não  tem  em  conta  a  situação  inversa,  de  lei 
inconstitucional mais favorável; 

➥​ M
​ aria Fernanda Palma: 

- Prefere  a  posição  de  Jorge  Miranda​, porque não recorre a uma verificação fictícia de erro 


sobre  a  ilicitude  e  a  um  mero  expediente  de  recurso  ao  art.  17º  CP  para  deixar  de  punir  o 
agente pela lei mais severa; 
- No  caso  do  art.  17º  CP  não  ser  aplicável,  restaria  apenas  atenuar  a  pena  de  acordo  com  a 
medida da lei inconstitucional mais favorável; 
- Invoca o princípio da autovinculação do Estado de Direito que produz; 

➤​​Leis Intermédias: 

o​ É
​ aplicável o princípio da aplicação da lei mais favorável; 

o ​São leis que entraram em vigor posteriormente à prática do facto mas já não vigoravam ao tempo 
da apreciação judicial deste; 

o ​Justifica-se porque, com a vigência a lei mais favorável intermédia, o agente ganhou uma posição 
jurídica que deve ficar a coberto da proibição de retroatividade da lei mais grave anterior; 

➤​ ​ ​Crimes permanentes: 

o​ É
​ crime em que se verifica a manutenção de um estado de ilicitude por decisão do arguido 

exemplo: s​equestro, condução sob efeito de álcool 

o C
​ ritério:  ​
aplica-se  a  lei  nova,  juízo  mais  atual  sobre  a  necessidade punitiva, quando, após a sua 
entrada  em  vigor,  todos  os  seus  pressupostos  estejam  preenchidos,  de  tal  forma  que  não  seja 
necessário ir ao passado buscar factos; 

→ Caso contrário, aplica-se a lei antiga.  

o Q
​ uando  a  lei mais recente é desfavorável, temos de exigir que todos os seus pressupostos estejam 

preenchidos na entrada em vigor, porque não se pode ir ao passado buscar coisas; 

o S​ e tiver havido diminuição de pena, ou seja, se a lei recente for mais favorável, aí aplica-se sempre 
a lei nova ; 

➤ Contraordenações: 

50 
 

   

   

➥​Taipa de Carvalho: 

A lei contraordenacional, como a penal, aplica-se para o futuro. 

Só se aplica para o futuro e, portanto, pelo art. 2º/2 CP há descriminalização e não se aplica L1, e 
pelo regime das contraordenações e coimas, não se aplica L2 

➥​Figueiredo Dias + Fernanda Palma: 

L2 aplica-se porque há continuidade entre estes dois ilícitos e é mais favorável, logo, aplica-se lei 
posterior mais favorável. 

Figueiredo Dias​fala num argumento de igualdade. 

● Ideia que L2 vem descriminalizar é artificial, vem só atenuar a necessidade punitiva 

o ​Vem dizer, como o art. 2º/4 CP, que é necessário punir menos (basta contraordenação) 

● Há continuidade da necessidade punitiva, embora mais baixa, que justifica que se aplique o 
art. 2º/4 CP; 

o ​Taipa de Carvalho​descriminaliza a situação de A; o que vem a seguir é apanhado com 1.1 de 
taxa e era punido a título de contraordenação. 

Figueiredo Dias​diz que viola o princípio da igualdade: 

● Crimes de perigo abstrato e perigo concreto 

51 
o Perigo Concreto – ​além da ação perigosa, faz parte de um evento de perigo 

- Crime só se verifica de forma consumada; 


- Exige-se prova de probabilidade 

o Perigo Abstrato – ​perigo é motivo da incriminação – não é necessário evento de perigo  

o De Concreto a Abstrato –​agrava-se: há condutas que não caberiam e passam a caber 

o De Abstrato a Concreto  

- Efeito atenuante ; 
- Deve ser arquivado; 

6. Aplicação da Lei no Espaço 

➤ Universalidade da Lei Penal: 

A  necessidade  de  coexistência  espacial  de  diversas  ordens  jurídicas,  uma  limitação  natural  a  um 
desenvolvimento  absoluto  dos  princípios  que  no  Direito  Penal  de  um  Estado  a  territorialidade 
tende  a  ser  o  critério  básico  da  validade  espacial  da  lei  penal,  condicionado  a  apetência  para  a 
universalidade. 

O  Direito  Penal  de  um  Estado  protege  valores  universais  para  além  dos  limites  do  território  e  dos 
vínculos  nacionais,  cooperando  com  outras  ordens  jurídicas  e  intervindo  onde  os  critérios  de 
validade espacial de outras ordens jurídicas não permitam uma tutela eficaz de certos bens jurídicos.  

➥  Fernanda  Palma  :  ​No  Estado  Direito  Democrático,  a  soberania  deve  ser  vista  com  uma 
justificação,  não  só  em  termos  de  afirmação  de  uma  nacionalidade,  mas  sim  uma  soberania 
justificada pela participação universal da participação na defesa dos Direito Humanos.  

- Princípio da Territorialidade: 

52 
A  aplicação  do  Direito  Penal  portugês  no  espaço  é  o  princípio  da  territorialidade  da  prática  do 
facto  (  4º  CP).  O  estado  aplicará  o  seu  Direito  Penal  a  todos  factos  penalmente  relevantes  que 
tenham  ocorrido  no  seu  território,  com  indiferença  por  quem  ou  contra  quem  foram  tais  factos 
cometidos. 

➥  Figueiredo  Dias​:  é  o  princípio  basilar  de  aplicação  da  lei  penal  no  espaço  devido  a  1  dupla 
ordem de motivos: 

i) razões de índole interna​( razões próprias de direito penal e política criminal): 

- é  na  sede  do  delito  que  se  fazem  sentir  as  necessidades  de  punição  e  de  cumprimento  das 
suas finalidades, nomeadamente de prevenção positiva; 
- comunidade  onde  o  facto  teve  lugar  que  se  vê  a  paz  jurídica  as  ser  perturbada  e  que  exige 
por  isso  que  a  sua  confiança  no  ordenamento  jurídico  e  as  suas expectativas na vigência da 
norma sejam estabilizadas através da punição; 
- o  lugar  do  facto  é  também  aquele  onde  melhor  se  pode  investigá-lo  e  fazer  a  sua  prova  e 
onde existem mais fundadas expectativa de se poder obter uma decisão judicial justa;  

ii) razões de índole externa ​( razões próprias de direito internacional e política estadual): 

- princípio  da  nacionalidade  como  base  do  sistema  de  aplicação  da  lei  penal  no  espaço  é  o 
que facilita a harmonia internacional; 
- se  aplicação  espacial  da  lei  penal  for  demarcada  por  fronteiras  e  a generalidade dos Estados 
aceitar  este  princípio  está  então  descoberto  o  melhor  caminho  para  que  não  se  gerem 
conflitos internacionais ; 

A  aplicação da lei penal penal por força da territorialidade depende do que se entende por território 
portugês e do que se considere praticar um facto em Portugal: 

- território  portugês  será  o espaço definido como tal pela CRP no 5º.1 e 2 , pela lei incluindo 


o espaço terrestre, marítimo e aéreo;  
- critério do Pavilhão ( 4º.b CP)  

➥​Figueiredo  Dias:  ​este  critério  justifica-se  pela  consideração  tradicional  de  que  aquelas  navios e 
aeronaves são ainda ( não faticamente) para efeitos normativos território potugês.  

53 
O art. 7º CP define o que se entende por facto praticado em território português.  

➥​Figueiredo  Dias:  ​o  legislador  não  optou  pelo  critério  da  conduta  em  desfavor  do  resultado 
(como  no  tempo  do  delito) no que toca ao lugar da prática do facto, e cumulou os dois critérios no 
sentido daquilo que doutrinariamente corre como solução mista ou plurilateral. 

- o  legislador  penal  recorre  à  teoria  da  ubiquidade​,  segundo  a  qual  basta  que  um  dos  dois 
elementos  essenciais  do  tipo  objetivo  (ação  e  resultado)  se  tenha  verificado  em  território 
português  para  que  a lei penal portuguesa se possa aplicar, como emanação da soberania do 
Estado  português  através  do  seu  poder  punitivo,  alcançando-se  um  vasto  âmbito  de 
aplicação da lei penal portuguesa; 
- o  critério  do  art.  7º  regula  em  geral  o  ​locus  delicti​,  determinando  igualmente  qual  o  país 
estrangeiro  em  que  se  praticou o crime ou em que o crime foi também praticado segundo a 
lei portuguesa. 

A  lei  portuguesa  não  poderá  ser  aplicada  apesar  de  se  ter  produzido  um  resultado  típico  em 
território  português,  quando,  por  força  do  critério  de  aplicação no tempo, o facto não seja punível 
por não estar previsto em lei anterior à realização da ação em território estrangeiro.  

Os  critérios  dos  arts.  2º  e  3º  do  CP,  derivados  diretamente  do  art.  29º.1  CRP,  aplicam-se,  assim, 
independentemente  do  ​princípio  da  ubiquidade  que  apenas  pretende  estabelecer  o  âmbito  de 
validade  espacial  da  lei  penal  portuguesa.  A  aplicação  da  lei  penal  portuguesa  nos  termos  dos  arts. 
4º  e  7º  do  CP  não  dispensa  a  observância  de  todos  os  princípios  a  que  a  mesma  se  subordina 
(aplicação no tempo, proibição da analogia, etc.)​6​.  

Quanto  ao  caso  de  tentativa,  dispõe  o  7º.2  CP  A  doutrina  penal  tem  entendido  que  a  tentativa  é 
um  crime  de  perigo  concreto  que  os  crimes  de perigo concreto são crimes de resultado, tem todo o 
sentido  que  caiba  no art. 7º CP a mera possibilidade da ocorrência do resultado no nosso território, 
isto  é,  o  perigo  concreto  de  uma  tal  ocorrência,  quando  toda  a  ação  criminosa  se  desenrola  no 
estrangeiro.  

A  mera  ocorrência  de  lesão  do  bem  jurídico  sem  que  o  resultado  típico  se  verifique  em 
Portugal permite considerar praticado em território português o facto? 

6
Para o art. 7º bastará com a tentativa inacabada, mas não já com a prática de atos preparatórios não puníveis (arts. 21º 
e 22º CP), para a definição do lugar da prática do facto.  

54 
O  art.  7º  só  poderia  abranger  o  dano através de uma analogia incriminadora proibida pelo art. 1º/3 
CP?  A  resposta  será  negativa,  na  medida  em  que  o  dano  nunca  é  uma  lesão  ideal  do  bem  jurídico 
totalmente desligada de um certo evento contraponível e imputável à ação típica.  

- Princípio da defesa dos interesses nacionais: 

Princípio  da  defesa  dos  interesses  nacionais,  segundo  o  qual  o  Estado  exerce  o  seu  poder  punitivo 
relativamente  a  factos  dirigidos  contra  os seus interesses nacionais específicos, sem consideração do 
autor que os cometeu ou do lugar em que foram cometidos. 

A  territorialidade  da  lei  penal  não  permite  estabelecer  exaustivamente  uma  conexão  entre  o  poder 
punitivo  e  a  defesa  de  bens  jurídicos  essenciais  à  preservação  de  certas  condições  essenciais  da 
organização  e  da  segurança da sociedade, sempre que ocorram lesões de bens exteriores ao território 
português,  mas  que  façam  perigar  as  condições  referidas.  O  art.  5º/1  a)  CP,  indica  um  elenco  de 
normas que correspondem a essas possibilidades mais frequentes. 

- Principio da Universidade da Aplicação da Lei Penal Portuguesa: 

Este  princípio  manda  o  Estado  punir  todos  os  factos  contra  os  quais  se  deva  lutar  a nível mundial 
ou  que  internacionalmente  ele  tenha assumido a obrigação de punir, com indiferença pelo lugar da 
comissão, pela nacionalidade do agente ou pela pessoa da vítima (5º.1. CP).  

➥​Figueiredo Dias:  o princípio da universalidade visa permitir a aplicação da lei penal portuguesa 
a  factos  cometidos  no  estrangeiro  que  atentam  contra  bens  jurídicos  carecidos  de  proteção 
internacional  ou  que,  de  todo  o  modo,  o  Estado  português  se  obrigou  internacionalmente  a 
proteger. 

O  Direito Penal português aplica-se a tais crimes praticados tanto em Portugal como no estrangeiro 
“desde  que  o  agente  seja  encontrado  em  território nacional e não possa ser extraditado ou entregue 
em  execução  de  mandado  de  detenção  europeu  ou  de  outro  instrumento  de  cooperação 
internacional que vincule o Estado português”​7​. 

7
​Os crimes contra a humanidade, apesar de não integrarem a previsão da alínea c) do art. 5º CP, seguem um critério 
universalista igualmente nos termos da Lei nº 31/2004, de 22 de julho,  

55 
A  universalidade  de  certas  infrações  pressupõe  uma  transnacionalidade  das instâncias punitivas ou 
pelo  menos  uma  cooperação  convencionada  entre  os  Estados  na  repressão  de  tais  formas  de 
infração. 

A  questão  que  se  coloca  é  saber  até  onde a validade espacial das leis internas pode e deve ir sem que 


o  princípio  da  cooperação  entre  as  ordens  jurídicas  inerentes  se  adultere,  potenciando  a 
conflitualidade entre os Estados.  

O  princípio  geral  numa  concepção  cosmopolita  de  soberania  será  necessariamente  o  de  uma 
soberania  justificada  pela  própria  função  internacional  humanista  e  humanitária  do  Estado  de 
Direito  democrático,  no  sentido  cooperativo  com  os  outros  Estado  que se orientem pelos mesmos 
desígnios.  Ainda  como  extensão  deste  mesmo  princípio,  surge  o  art.  5º.d  C  trata-se  de  uma 
extensão  do  âmbito  da  lei  penal  portuguesa  justificada  pela  política internacional em que Portugal 
participa  destinada  a  conceder  uma  especial  proteção  aos  menores  em  face  da  criminalidade 
internacional. 

- Princípio da Nacionalidade:  

➜  pune  todos  os  factos  penalmente  relevantes  praticados  pelos  seus  nacionais,  com  indiferença 
pelo lugar onde eles foram praticados e por aquelas pessoas contra quem o foram ( 5º.1.e CP); 

➥​Figueiredo Dias: ​surge como princípio da personalidade ativa: o agente é um português. 

Figueiredo Dias em relação ao art. 5º.1.e CP : 

i. Agentes encontrados em Portugal:  

● Esta condição explica-se:  


- Quanto  ao  princípio  da  personalidade  ativa,  por  ser  nela  que  se  concretiza  a  razão  que  lhe 
dá fundamento: a não extradição de nacionais;  
- Quanto  ao  princípio  da  personalidade  passiva,  por  nele  se  tratar  de  uma  extensão  do 
princípio da nacionalidade justificada por razões de índole muito especial. 

ii. Que o facto seja também punível pela legislação do lugar em que tiver sido praticado  

56 
● Esta  é  a  condição  materialmente  mais  importante  de  aplicação  do  princípio  da 
nacionalidade e que mais claramente o converte em princípio subsidiário; 
● Não  é  em  regra  razoável  estar  a  submeter  ao  poder  punitivo  alguém  que  praticou  o  facto 
num  lugar  onde  ele  não  é  considerado  penalmente  relevante  e  onde, por isso, não se fazem 
sentir  quaisquer  exigências  preventivas.  Pelo  menos  no  que  tange  o  princípio  da 
personalidade  ativa.  Já  considerando  o  fundamento  da  personalidade  passiva,  a  exigência 
torna-se  menos  clara,  uma  vez  que  o  que  aí  está  em  causa  é  um  propósito  de  proteção  de 
interesses especificamente nacionais.  

iii.  Que  o  facto  constitua  crime  que  admita  extradição  e  esta  não  possa  ser  concedida. 
Quem não extradita, julga. 

● Trata-se  aqui  claramente  de  uma  reafirmação  da  concepção  do  legislador segundo a qual o 
princípio  da  territorialidade  deve  não  apenas  no  conspecto  nacional,  mas  internacional, 
constituir  o  princípio-base,  e  o  princípio  da  nacionalidade o complemento. Se a extradição 
fosse  jurídica  e  faticamente  possível,  ela  deveria  ser  concedida  e  o  princípio pessoal deveria 
regredir; 

O princípio da nacionalidade justifica-se devido à: 

i)  nacionalidade  ativa:    pelo  vínculo  dos  cidadãos  portugueses  à  soberania  punitiva  do  seu 
próprio Estado; 

ii)  nacionalidade  passiva:  pelo  dever  de  o Estado português conceder proteção aos bens jurídicos 


de que os cidadãos portugueses sejam titulares, ainda que no estrangeiro;   

•  O  princípio  da  nacionalidade  ativa  dá  expressão  ao  princípio  da  não  extradição  de  nacionais 
consagrado no art. 33º CRP;  

•  A  proibição  da  extradição  de  nacionais,  na  ordem  internacional,  só  pode ser o dever de o Estado 
português  assegurar  a  perseguição  penal  ou  o  julgamento  dos  factos  criminosos  praticados  pelos 
cidadãos portugueses no estrangeiro; 

• os requisitos cumulativos do 5º.1.e limitam influência do poder punitivo do Estado:  

57 
i)  a  aplicação  da  lei  penal  portuguesa  pressupõe  um  mínimo  de  respeito  pelas  expectativas  dos 
agentes  envolvidos  e  pelo  sentido  de  desvalor  (de  ilícito)  das  suas  condutas  no  estrangeiro,  bem 
como  pela  igualdade  entre  aqueles  agentes  e  os  estrangeiros  que  a  lei  penal  portuguesa  não  possa 
abranger.  Os  agentes  terão  de  ser  puníveis  pela  legislação  do  lugar  em  que  os  factos  foram 
praticados; 

ii)  os  agentes  terão  de  ser  encontrados  em  território  português  e  não  poderão  ser  extraditados  ou 
entregues  a  outro  título incluindo os casos em que essa situação dependa de uma decisão do Estado 
português.  

A  lógica  imanente  ao  princípio  bastar-se-ia,  em  rigor,  com  a  tipicidade  e  a  ilicitude  dos  factos  no 
território  estrangeiro,  ​por  exemplo  , com a sua contrariedade objetiva à ordem jurídica estrangeira, 
pois  só  estas  categorias  fundamentaram  expectativas  quanto  à  irrelevância  do  facto,  ao  seu  não 
desvalor.  

Uma  aplicação  da  lei  penal  portuguesa  de  que  ocorresse  uma  punibilidade  de  factos  não  puníveis 
em  concreto  no  estrangeiro  (devido  a  certas  condições  do  agente,  como  a  idade) redundaria numa 
violação  do  princípio  da  aplicação  da  lei  penal  estrangeira  mais  favorável,  expresso  (ainda  que 
restritamente e referido às situações do art. 6º.1), no art. 6º.2 CP.  

➥​Fernanda  Palma:  ​a  melhor  interpretação  do  art.  5º/1/e/ii  CP,  imporá  que  a  lei  penal 
portuguesa  seja  aplicável, por força do princípio da nacionalidade conjugado com o da aplicação da 
lei  penal  estrangeira  mais  favorável,  somente  nos  casos  em  que o facto seja em concreto punível no 
país estrangeiro.  

- o  art  6º.1  CP  impõe  a  aplicação  da  lei  penal  estrangeira  mais  favorável  nos  casos  em  que o 
agente  foi  julgado  no  estrangeiro  (e  se  subtraiu  à  condenação)  ou  não  foi  julgado  no 
estrangeiro  impõe,  por  maioria  de  razão,  que  onde  o  agente  nem  pudesse  ter  sido  julgado 
no  estrangeiro  (por  força  de  uma  condição  de procedibilidade) ou em que, se fosse julgado 
nunca poderia ter sido condenado (em virtude de causa de exclusão de culpa, por exemplo), 
nem sequer deva ser submetido à aplicabilidade da lei penal portuguesa. 

Em  relação  ao  artigo  5º.1.b  CP  ,  este  teria  coo objetivo cottemplar cimesmcomo por exemplo seria 


o  de  Aborto,  que  seria  um  intresse  da  sociedade  portuguesa,  pois  como  em  qualquer  outro  crime 
que  são  afetados.  A  vida  intra-uterina  de  “futuro  cidadão  portugês”  é  assim  um  bem  jurídico cuja 
tutela  penal  se  tem  que  justificar  por  um  interesse  objetivo  da  sociedade.  Não  há,  qualquer 

58 
necessidade  de  recorrer  à analogia, entre o conceito de feto e o de cidadão português, na medida em 
que  é  possível  através  de  interpretação  sistematicamente  justificada  referir  o  sujeito  passivo  do 
crime a toda a sociedade, isto é, a todos os portugueses.  

No  entanto  sendo  a  alínea  b  do  artigo  5º  CP  um  corolário  da  alínea  e  ,  o  elemento  sistemático  da 
interpretação  de  uma  norma  que  consagraria  um  alargamento  excepcional  do  princípio  da 
nacionalidade  não  poderá  integrar  interesses  gerais  e  coletivos  portugueses  sem  ultrapassar  o 
sentido possível das palavras.  

➥  Fernanda  Palma:  ​a  alínea  b)  por  interpretação,  dever-se-á  restringir apenas a vítimas pessoais 


que  estão abrangidas.  Esta restrição na interpretação do sentido possível das palavras corresponde à 
ideia dos limites da interpretação permitida em dois passos:  

- sentido possível das palavras; 


- essência do proibido. 

Assim, deverá haver uma invocação da essência do proibido invocando o elemento sistemático.  

Já  o  5º.1.g  CP  estende  o  princípio  da  nacionalidade,  tanto  ativa  como  passiva,  às  pessoas  coletivas 
com  sede  em  território  português.  Esta  norma  tem  de  ser  articulada  com  o  art.  11º  CP,  que 
estabelece os casos e pressupostos da responsabilidade penal das pessoas coletivas. 

Restrições  à  aplicação  da  lei  penal  portuguesa  por  força  da  aplicação  mais  favorável  do 
direito estrangeiro: 

O  art.  6º.2  CP  consagra  igualmente  uma  restrição  à  aplicação  da  lei  penal  portuguesa  menos 
favorável,  nos  casos  em  que  ela  seja  aplicável  por  força  dos  princípios  da  universalidade  e  da 
nacionalidade,  isto  é,  quando  não  estejam  em causa os princípios da territorialidade e da defesa dos 
interesses nacionais (art. 6º.1 e 3 CP) e segundo o disposto no final do mesmo artigo​8​. 

8
r​ estrição  é  excluída,  nos  casos  de  terrorismo  (art.  8º.2,  relativamente  aos  crimes  de  organização  terrorista  e  de 
terrorismo  previstos  nos  arts. 2º e 4º da Lei nº 52/2003) e nos crimes de violação do Direito Internacional Humanitário 
previstos  na  Lei  nº31/2004,  nos  termos  do  art.  5º/2.  Dada  a  gravidade  dos  crimes  e  o  facto  de  o  Estado  Português  se 
assumir  como  representante  da  comunidade  internacional  de  modo  proativo  e  não  meramente  para cobrir lacunas de 
punibilidade, não se justifica a aplicação da lei estrangeira mais favorável nestes casos 

59 
Essa  restrição  consiste na exigência de nesses casos ser aplicada a lei do país em que o facto tiver sido 
praticado  sempre  que  aquela  for  concretamente  mais  favorável  ao  agente  (  6º.2  CP).A  restrição 
`aplicação  da  lei  portuguesa  justifica-se  devido  à  conjugação  da  subsidiariedade  do  exercício  do 
poder  punitivo  do  Estado  portugês, tal como o princípio da culpa, igualdade e necessidade da pena 
( 1º +13º.1, +18º.2+29º.1 CRP). 

O  Estado  Português  punirá  porque  outro  Estado  não  pode  punir,  mas  não  deixa  de  conceber  a 
punição,  de  acordo  com  os  seus  próprios  princípios  constitucionais.  A  punição  em  termos  mais 
graves,  não  garantiria  uma  adequação  da  consciência  da  ilicitude  do  agente  ao  desvalor  da  ação é a 
gravidade do ilícito. 

- resultará  do  6º.1  e  2  que  as  situações  contempladas  naquele  outro  preceito  não  deverá  ser 
incluída; 
- o  art.  6º  pressupõe  que  o  facto  seja  punível  em  país  estrangeiro,  enquanto a alínea a) ou b) 
do  art.  5º.1  CP  baseiam-se  ,  exatamente,  em  o  facto  não  ser  punível  no território em que é 
praticado nem em abstrato nem em concreto ou ser menos gravemente punível; 

Princípio n
​ on bis in idem: 

Expresso  no  artigo  6º.1  CP,  será  um  condicionamento  geral  da  aplicabilidade  da  lei  penal 
portuguesa , segundo o qual ninguém pode ser julgado pela prática do mesmo crime ( 29º.5 CRP).  

- o  pressuposto  da  efetivação dos princípios da nacionalidade e da universalidade será o facto 


de  o  agente,  encontrado  em  Portugal,  não  ter  sido  julgado  no  país  da  prática  do  facto/ 
ter-se subtraído ao cumprimento total ou parcial da condenação; 
- traduz  a  ideia  segundo  a  qual  o  critério  da  territorialidade  deve  constituir  efetivamente  o 
princípio prioritário e todos os outros princípios serão supletivos; 
-   nos casos em que haja efetivamente lugar à aplicação da lei penal portuguesa que a lei penal 
estrangeira  mais  favorável  se  imponha,  a  pena  aplicável  será  convertida  numa  pena 
correspondente  no  sistema  penal  português  ou,  se  a  correspondência  não  for  possível,  na 
pena que estiver prevista para o facto;  

Havendo  cumprimento  parcial  da  condenação/  cumprimento  da  pena  no  estrangeiro  não  deverá 
impedir  o  julgamento  em  Portugal  pela  prática  dos  mesmo  crimes  com  vista  o  cumprimento  da 
pena?  

60 
O pressuposto da resposta estará no próprio 29º.5 CRP.  

➥​Gomes  Canotilho  +  Vital  Moreira:  apenas  o  âmbito  literal  da  proibição  constitucional 
distinguindo  o  duplo  julgamento  da  dupla  penalização  e  concluindo  que,  embora  só  o  primeiro 
seja  vedado  expressamente  pela  CRP,  o  segundo  é  abrangido  pelas  finalidades  da  proibição 
constitucional.  Ora,  essas  finalidades  não  podem  ser  totalmente  esclarecidas  apenas  pelo  sentido 
histórico  do  princípio (dimensão de defesa contra o Estado e de obrigação do Estado à definição no 
caso  julgado  material),  mas  terão  de  ser  compreendidas  na  conexão  desta  proibição  constitucional 
com  a  ideia  de  Estado  de  Direito  (princípio  de  limitação  do  poder  do  Estado  pelo  seu  Direito  – 
objetividade e confiança) e com o princípio da necessidade da intervenção penal. 

Tanto  a  repetição  do  julgamento  pelo  mesmo  crime,  de  que  se  foi  absolvido/  condenado  a  certa 
pena,  como a repetição da punição do agente já condenado e punido constituem claras negações do 
valor  geral  do  processo  penal  e  do  direito  do  arguido  a  que  o  Estado  se  vincule  ao  desfecho  do 
processo penal que desencadeou.   

O  poder  punitivo  do  Estado  português  terá  que  se  justificar  pela  estrita  necessidade  de  intervir 
(julgar  e punir), nos termos do art. 18º/2 CRP. De um modo geral, a necessidade de intervenção do 
poder  punitivo  quando  uma  pessoa  for  julgada  e  absolvida  no estrangeiro ou já aí cumpriu a pena, 
não  existe.  Apenas  quando  a  intervenção  penal  se  justifica  pela  proteção  de  interesses  nacionais  é 
legítima a renovada intervenção punitiva do Estado português. 

Este princípio surgiu portanto como um dupla emanação de ideias fundamentais:  

- vinculação do poder punitivo do Estado de Direito pelo desfecho do processo penal; 


- princípio da necessidade da intervenção penal;  

➥  Fernanda  Palma:  a  expressão  “julgado  pelo  mesmo  crime”  é  conferido  essencialmente  pelos 
conceitos  de  processo  penal  e  de  julgamento  na  ordem  jurídica  portuguesa,  de  modo  que  um 
“julgamento”  sem  quaisquer  garantias  de independência e imparcialidade do tribunal não pode em 
rigor impor a aplicação do princípio non bis in idem; 

Teremos assim uma resposta: 

61 
- moderada​:  os  efeitos  (negativos)  das  sentenças  estrangeiras previstos no art. 6º/1 CP são a 
máxima  expressão  possível e exigível pela CRP. Tal resposta limita o âmbito internacional a 
julgamentos absolutórios ou em em que houve cumprimento da condenação; 
- mais  radical  (  6º.1  CP in fine):  devido à incompatibilidade com o 29º.5 CRP devido a em 
caso  de  subtração  ao  cumprimento  da  pena  se  viesse  a  renovar  em  Portugal  o  julgamento 
pelo  mesmo  crime.  Essa  inconstitucionalidade  da  parte  final  do  6º.1  CP  seria  sempre 
evitada  pela  interpretação do preceito no sentido que o novo julgamento se limitaria a rever 
e confirmar a sentença estrangeira à luz da lei penal mais favorável.  

O  at. 6º.2 CP prevê ainda um sistema de conversão da pena aplicável a que corresponder no sistema 
portugês,  o  que  se  irá  referir  não  só  `a  aplicação  do  Direito  Penal  estrangeiro  em  sentença  de 
tribunais  portugueses  como  também  à  revisão  e  à  confirmação  de  sentença  penal  estrangeiros  nos 
tribunais portugueses. A conversão decorre do princípio de: 

- praticabilidade:​só a pena correspondente é necessária;  


- necessidade  da pena e ​non bis in idem​: pena aplicável nunca poderá pela conversão vir a 
impor  uma  espécie  de  segunda  punição  (  ou  em  qualquer  punição  mais  gravosa  do agente 
que se subtrai total/ parcialmente da execução da pena);  

Cooperação Judiciária Internacional: 

➛Extradição:  instituto  em  que  se  articula a soberania punitiva de diversos Estados ( a cooperação 


entre vários estados colocará problemas relevantes quanto aos limites da lei penal no espaço);  

Em  Portugal  há  contudo  de  atender  a  alguns  princípios  que  terão  implicações  relativamente  à 
aplicação da extradição em Portugal: 

1. Princípio da Não Extradição de Nacionais:  

Limitado  apenas  por  convenções  internacionais  nos  casos  de  terrorismo  e  criminalidade 
organizada,  em  condições de reciprocidade, na condição de a ordem jurídica do Estado requisitante 
consagrar  as  garantias  de  um  processo  justo  e  equitativo,  ou  seja  das  garantias  fundamnetais  da 
indepdneência dos tribnais dos direitos de defesa e recurso ( 32º CRP);  

62 
➜ 33º CRP - princípio comum a todos os Estados ​9 

2. Principío  da  Não  Extradição  por  crimes,  que  corresponderão  a  pena  de  morte  ou 
lessão irreversível à integridade Física ( 33º.6 CRP + 6º.e 144/99);  

➛  será  um  princípio  que  não  admitirá  qualquer  flexibilidade  na  sua  interpretação  de  que  resulte 
uma  possibilidade  de  o  Estado Português se bastar com uma garantia política concreta de quais tais 
penas não se aplicarão;  

➛  ​de  acordo  com  o  Acórdão  do  TC  nº1/2001,  ,  ​a  interpretação  consistente  com  a  CRP  é  a  de 
que  esta  garantia  corresponde  a  uma  espécie  de  alteração  da  ordem  jurídica  do  Estado  requerente 
em  concreto,  vinculativa  em  termos  jurídicos  dos  tribunais  e  do  próprio  poder  político,  uma 
vinculação  jurídica  no  sentido  essencial  do  Estado  de Direito e da correspondente interpretação de 
poderes; 

- 6º.1. f Lei nº144/99 terá paralelo na CRP; 


- Estado  requisitante  tem  de,  de acordo com a sua ordem jurídica, vinculars-se juridicamente 
que,  para  aquele  caso  em  concreto  não  haverá  pena  de  morte  –  não  basta  uma  vinculação 
politica  ou  diplomática,  tem  que  haver  uma  alteração  da  ordem  jurídica  daquele  Estado 
concreto para que, naquele caso, não se aplique a pena de morte; 

3.   Princípio  da  restrição  da  extradição  por  crimes  a  que  corresponda  pena/  medida 
de  segurança  privativa  /  restritiva  da  liberdade  com  caráter  perpétuo/  de  duração 
indefinida 

➛ 3​3º 4 CRP + 6º.1.f Lei 144/99;  

- O Ac. do TC 474/95 , especificou que em matéria de infrações a que corresponda pena de 
prisão  perpétua  no  Direito  do  Estado  requisitante,  a  CRP  flexibilizou  a  exigência  de 
garantias do Estado que requeira a extradição, não exigindo tal como na pena de morte uma 
autêntica  alteração  da  ordem  jurídica  em  concreto,  mas  apenas  uma  vinculação 
convencional no plano do Direito Internacional do Estado requisitante; 

9
​Tem como excepção os casos do 33º.4,5 e 6 

63 
- Para  que  haja  prisão  perpétua  (  33º.4  CP)  têm  de  haver garantias de Direito Internacional, 
numa determinada convenção que prevê as garantias de que a pena não será executada  

➥​Fernanda  Palma:  ​deve ser entendido para não violar a CRP (art. 33º/6), no sentido de que há 


vinculação  jurídica  dos  Tribunais  ex-ante,  antes  de  ser  concedida  a  extradição.  Tem  que  haver 
alteração jurídica interna, de modo vinculativo e irreversível para os Tribunais; 

Critérios Legais: 

A  lei  nº  144/99  estabelece critérios gerais relativos à cooperação judiciária internacional em matéria 


penal aplicáveis tanto à: 

- extradição passiva​( Estado português é solicitado); 


- extradição ativa (​Estado protuguês é requisitante);  

A  lei  também  prevê,  para  além  dos  requisitos  gerais  da  extradição,  requisitos  concretos  de 
inadmissibilidade  da  extradição  e  outras  razões  apenas  invocáveis  facultativamente  pelo  Estado 
português: 

●   A  reciprocidade  está  prevista  no  art.  4º  como  critério  geral,  embora  não  obste,  no  caso de 
não  se verificar, à cooperação se razões de política criminal várias o aconselharem, tais como 
a prevenção geral, a prevenção especial e a própria proteção de cidadãos portugueses; 
● A  especialidade  prevista  no  art.  16º  é  uma  garantia  e  uma  condição  da  validade  da 
extradição; 

A lei ainda determina outros requisitos como:  

- facto ter sido cometido em território português (art. 32º/1.a DL 144/99);  


- facto  de  o  crime  ser  da  competência  do  tribunal  requisitante  e  ser  punível  pela  lei 
portuguesa  e  pela  lei  do  Estado  requisitante  com pena não inferior a um ano de prisão (art. 
31º/2  DL  144/99)  /  crime  não  ter  uma  determina  natureza  como,  para  além  da já referida 
natureza política, a natureza militar (art. 7º/1 b); 

64 
Outra  causa  de  inadmissibilidade  da  extradição  é  a  extinção  da  responsabilidade  penal  do 
extraditando  por  extinção  do  procedimento  criminal  em  Portugal ou noutro Estado em que tenha 
sido instaurado o procedimento criminal pelo mesmo facto (art. 8º).  

A  Lei  nº  144/99  prevê  ainda  situações  de  recusa  facultativa  de  extradição,  como  a  reduzida 
importância  da  infração  (art.  10º), outros critérios atinentes de política criminal (art. 18º) ou ainda, 
os  casos  de  cidadãos  nacionais  em  que,  sendo  possível  a  extradição,  nos  termos  de  convenção 
internacional,  de  certos  crimes  como  o  de  terrorismo  ou  de  criminalidade  organizada,  o  Estado 
Português decida não o fazer, o que resulta do art. 32º/2 da Lei nº 144/99. 

Mandato de Detenção Europeu:  

Previsto  na  Lei  Nº  65/2003, de 23 de agosto, baseia-se numa racionalidade da União em matéria de 


justiça  e  segurança.  Constitui  hoje  o  principal  instrumento  de  cooperação  judiciária  na  UE.  Ele 
permite  a  detenção  e  entrega  por  um  Estado  a  outro  Estado  de  pessoas  procuradas  para  efeitos  de 
procedimento  criminal  ou  cumprimento  de  pena  (incluindo  cidadãos  nacionais),  com  base  num 
princípio de reconhecimento mútuo. 

Relativamente  a  um  vasto  catálogo  de  crimes  graves,  este  instrumento  de  cooperação  dispensa  a 
verificação  da  dupla  incriminação  (pelo  Estado  de  emissão  e  pelo  Estado  de  execução  do 
mandado)​10​.  O  mandado  de  detenção  europeu  pressupõe  o  reconhecimento  mútuo  de  decisões 
judiciais,  que  assenta  na  confiança  recíproca  e  na  tendencial  harmonização  dos  Direitos  dos 
Estados. 

Regime Geral:  

- 33º CRP tem excepções, mas também é limitado pelo 33º.4 e 6; 

Há conjunto de crimes relativamente aos quais se dispensa a dupla incriminação.  

Catálogo de crimes no ​art. 2º/2 da Lei.  

- Portugal não pode recusar e tem de entregar o cidadão. 

10
​inclui, entre muitos outros, a organização criminosa, o terrorismo, o homicídio, o tráfico de pessoas, drogas, armas e 
viaturas, a exploração sexual de crianças, a corrupção e o branqueamento (art. 2º/2). 

65 
2º.3 Lei 65/2003 –
​ exige uma incriminação pela lei portuguesa; 

- Fora  dos  casos  do  catálogo,  Portugal  só  pode  cumprir  o  mandado  se  para  aqueles  factos 
corresponder uma punição pela lei penal portuguesa. 
- A
​ rt. 11º e​stabelece as causas de ​recusa obrigatória​– não têm nenhuma flexibilização; 
- Art. 12º​estabelece as causas de ​recusa facultativa; 

➜Art.  2º/3  é  parcialmente  contraditório  com  o  art.  12º/1/a  –  têm  os  mesmos  problemas  e  há 
contradição sistemática direta. O último diz que Portugal não deve, mas pode entregar 

Como se resolve esta contradição?  

1.  Verificar  se  alguma  delas  está  em  contradição  com  a  Decisão-Quadro:  art.  2º/3  lei  corresponde 
art. 2º/4 Decisão-Quadro. 

➥​Fernanda  Palma​:  a  nossa  lei  não  viola  a  Decisão-Quadro,  embora  a  nossa  lei  tenha 
transformado  o  “poder”  numa  restrição.  Nossa  lei  dá  uma  decisão  no  âmbito  possível  da 
Decisão-Quadro  que  é  mais  restrita,  mas  também  mais  garantística,  mas  nada  disso  viola  a 
Decisão-Quadro. 

● O  art.  2º/3  parece  ter,  de  ponto  de  vista  sistemático,  alguma  superioridade  –  mas  isso  é 
apenas formalmente; 
●   Dizer  que  este artigo é compatível com Decisão-Quadro e está mais de acordo com a CRP 
leva  a  que  se  faça  interpretação  ab  rogante  do art. 12º (porque se está a ler “deve” onde está 
escrito  “pode”)  que  é  justificada  pelo  princípio  da  necessidade  da  pena, maior proteção do 
direito à liberdade e outros valores constitucionais; 
●   Esta  ab-rogação  não é contraditória com os princípios da lei penal. Mas levanta, na mesma, 
problemas.  Se  não  se  poder  entregar,  terá  de  se  julgar.  Mas  é  possível  julgar?  Art.  6º  CP 
resolve se é possível julgar.  

Que lei se aplica?  

A  lei  estrangeira  não  é  mais  favorável  e  na  lei  portuguesa  não  é  crime,  logo,  pelo  princípio  da 
legalidade,  não  é  possível  punir.  Se  for  contraordenação  ainda  pode  dar  resposta  punitiva,  mas  se 
não, não pode responder 

66 
 

67 
 

68 

Você também pode gostar