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Filosofia do Direito
Renan Flumian
Olhe pro menino De acordo com Miguel Reale, em sua clássica obra Filosofia do
Sem camisa e descalço Direito (SP: Saraiva, 17ª ed., pgs. 291 e ss), a Filosofia do Direito
preocupa-se com três questões: a) lógica do Direito; b) ética
Que chora por comida do Direito; e c) e concretização social e histórica do Direito. Tal
Que te pede um trocado preocupação implica, portanto, em compreender os elementos
ético, lógico e sociocultural, daí porque as duas afirmações são
Olhe pro menino
verdadeiras e a segunda explica a primeira. Avançando um pouco
Que não tem onde morar na divisão tripartida de Miguel Reale, entende-se, a partir dessa
Não tem pra onde ir visão da filosofia do direito, a razão desse autor entender o Direito
a partir de uma Teoria Tridimensional, pela qual o Direito é uma
E não tem onde ficar dialética de complementaridade entre a norma (lei, lógica), o valor
Olhe em seus olhos (ética) e o fato (elemento sócio cultural). O Direito, assim, é uma
Sinta o ódio animal síntese desses três elementos e a correlação entre fato, valor e norma
permite entender o Direito como um sistema aberto, dependente de
A revolta que ele sente outros que o abrangem e circunscrevem.
Gabarito “A”
Da injustiça social
(Defensor Público/TO – 2013 – CESPE) Com relação ao conceito A: incorreta, pois íson significa isonomia; B: correta, pois hybris signi-
de justiça, assinale a opção correta. fica excesso e desmedida; C: incorreta, pois areté significa virtude; D:
incorreta, pois phronésis significa prudência ética. A phronésis constitui
(A) O vocábulo justiça é empregado, em sentido lato,
a mais alta qualidade moral a se opor a hybris.
como equivalente a organização judiciária. Gabarito “B”
(B) O sentido estrito de justiça está associado ao conjunto
das virtudes que regulam as relações entre os homens. (Ed. Foco 2012) Etimologicamente, a palavra necessidade
(C) De acordo com a doutrina majoritária, caracterizam (ananké) indica os laços de sangue (parentesco, estirpe,
o sentido lato de justiça a alteridade, o débito e a família) que determinam o destino do indivíduo. Este
igualdade. não pode negar a sua origem e o destino que os laços
(D) Consoante a doutrina aristotélica, a justiça comutativa de parentesco lhe impõe. Os deuses antecipam, mas
não podem alterar o curso dos acontecimentos. Qual
caracteriza-se como aquela em que o particular dá a
tragédia grega é construída em torno dessa situação
outro o bem que lhe é devido.
(necessidade-destino)
(E) Na antiguidade clássica, Platão definiu justiça como
(A) Édipo Rei de Sófocles
a vontade constante e perpétua de dar a cada um o
que lhe pertence. (B) Os Persas de Ésquilo
(C) O Ciclope de Eurípides
Justiça, na obra de Aristóteles, pode ser definida como sendo relação (D) As Suplicantes de Ésquilo
bilateral, preferencial e voluntária, em conformidade com a lei e com
o bem comum e que respeita a igualdade. O termo, como já se pode A: correta, pois a tragédia Édipo Rei se desenvolve no contexto citado
perceber, não é unívoco, é ambíguo, porque possui uma pluralidade de na presente questão; B: incorreta, pois essa tragédia retrata a invasão
sentidos, vários significados e acepções. Daí a distinção que Aristóteles persa na Grécia, que ocorreu enquanto Ésquilo ainda vivia, e o destino
realiza entre justiça universal e justiça particular. A primeira (univer- do povo grego; C: incorreta. O Ciclope é um drama satírico em que
sal), também denominada de justiça em sentido lato, define-se como Eurípides relata o encontro de Odisseu com o canibal Polifemo de um
a conduta de acordo com a lei; a segunda (particular) denominada, só olho, a quem enganou e deixou cego ao final para poder fugir; D:
às vezes, de justiça em sentido estrito, define-se como o hábito que incorreta, pois nessa tragédia Ésquilo cuida das ambições individuais.
realiza e respeita a igualdade. A justiça particular, que realiza e respeita
Gabarito “A”
diferentes que sejam em função de sua aparência, de sua origem, virtudes. Nesse sentido, a noção aristotélica de justiça tem algo a
da classe ou da função. A justiça distributiva é a que se manifesta na ver com a antiga noção de diké.
igualdade material, que consiste na distribuição proporcional geométrica
Gabarito “B”
humano, racionalmente determinada e tal como seria determinada identifica-se com o honestum, consiste na retidão da
pelo homem prudente, dotado de sabedoria prática. A ação virtuosa vontade (recta ratio), na firmeza moral, na convicção
consiste em um ato feito por e com virtude, isto é, numa escolha inabalável e no caráter incorruptível; e a outra consiste
preferencial (proairesis) proveniente de uma deliberação racional no cumprimento das ações conforme as tendências
(bouleusis), que depende do ser humano e que ele pode realizar. O naturais que todo homem possui, como a tendência à
homem delibera à respeito do preferível e não do necessário, isto conservação da vida e à sociabilidade ou na escolha de
é, daquilo que está em seu poder. A mediania ou medida relativa coisas e condutas tidas como úteis, convenientes, prefe-
que caracteriza a virtude é o justo meio, entendido como equilíbrio ríveis ou desejáveis relativas à vida prática ou cotidiana.
ou moderação entre dois extremos (excesso e escassez). A justiça Consoante a ordem apresentada, quais são os institutos
(vontade racional) é o cálculo moderador que encontra o justo definidos na questão ?
meio entre dois extremos. A ética aparece, assim, como a ciência
(A) moral absoluta e moral do dever reto
da moderação e do equilíbrio, isto é, da prudência ou phronesis.
Hybris é, conforme especificado pelos antigos, a falta de medida, a (B) moral dos deveres médios e moral do dever reto
origem do vício por excesso ou por escassez. Em outras palavras, (C) moral do dever reto e moral dos deveres médios
pode-se dizer que em Aristóteles, a justiça corresponde ao controle (D) moral absoluta e moral dos deveres médios
da hybris, tanto no excesso quanto na escassez. Coragem (virtude),
por exemplo, é o justo meio entre a temeridade (excesso) e a covar- Conforme a sequência apresentada na questão, a ética estoica é dividida
dia (escassez), amor (virtude) é o justo meio entre a possessão em: a) moral do dever reto; e b) moral dos deveres médios.
(excesso) e a indiferença (escassez) e assim em relação a todas as
Gabarito “C”
B. Autonomia e Heteronomia: Essa distinção também implica em (D) Todas as formas de desigualdade consistem num fato
separar direito e moral. Autonomia é a qualidade que a vontade tem objetivo, devendo ser compreendidas e toleradas, pois
de dar leis a si mesma. A vontade moral é por excelência uma vontade elas geram o progresso humano e produzem mais bens
autônoma. Heteronomia é quando a vontade é determinada por outra do que males.
vontade. A vontade jurídica (estatal) é por excelência uma vontade
heterônoma. Pode-se dizer que quando a pessoa age conforme a sua Para Rousseau, as desigualdades naturais são aceitáveis, mas as
vontade, encontra-se no terreno da moralidade (autonomia); quando desigualdades morais não o são, pois consistem em privilégios de
age em obediência à lei do Estado, encontra-se no terreno da legalidade uns sobre os outros.
Gabarito “C”
(heteronomia).
C. Imperativo Categórico e Imperativo Hipotético: Categóricos são os
imperativos que prescrevem uma ação boa por si mesma, por exemplo: (OAB/Exame Unificado – 2017.2) ...só a vontade geral pode dirigir
“Você não deve mentir”, e chamam-se assim porque são declarados por as forças do Estado de acordo com a finalidade de suas
meio de um juízo categórico. Hipotéticos são aqueles que prescrevem instituições, que é o bem comum...
uma ação boa para alcançar um certo fim, por exemplo: “Se você quer
evitar ser condenado por falsidade, você não deve mentir”, e chamam-se Jean-Jacques Rousseau
assim porque são declarados por meio de um juízo hipotético. A ideia de vontade geral, apresentada por Rousseau
Pelos preceitos acima, vemos que a resposta B é a correta. em seu livro Do Contrato Social, foi fundamental para
Gabarito “B”
o amadurecimento do conceito moderno de lei e de
democracia.
Na obra Metafísica dos costumes, Kant faz
(Ed. Foco 2012)
algumas distinções entre moral e direito. Uma delas é Assinale a opção que melhor expressa essa ideia con-
mediante a autonomia e heteronomia. Assinale a alter- forme concebida por Rousseau no livro citado.
nativa incorreta. (A) A soma das vontades particulares.
(A) autonomia é a qualidade que a vontade tem de dar (B) A vontade de todos.
leis a si mesma (C) O interesse particular do soberano, após o contrato
(B) heteronomia é quando a vontade é determinada por social.
outra vontade (D) O interesse em comum ou o substrato em comum das
(C) a vontade jurídica (estatal) é por excelência uma diferenças.
vontade heterônoma
(D) a vontade moral é por excelência uma vontade hete- A ideia de vontade geral para Rousseau se cristaliza no interesse em
comum ou no substrato em comum das diferenças. A vontade geral
rônoma
é aquela que dá voz aos interesses que cada pessoa tem em comum
A única assertiva incorreta é a “D” (devendo ser assinalada), pois a com todas as demais, de modo que, ao ser atendido um interesse seu,
vontade moral é por excelência uma vontade autônoma. Pode-se dizer também estarão sendo atendidos os interesses de todas as pessoas.1
Gabarito “D”
que quando a pessoa age conforme a sua vontade, encontra-se no
terreno da moralidade (autonomia); quando age em obediência à lei do 1.4.3. Utilitarismo
Estado, encontra-se no terreno da legalidade (heteronomia).
Gabarito “D”
les que estão sob a jurisdição desses magistrados. Questão bastante controvertida. Das características dispostas nas asser-
Apenas o duplo grau de jurisdição pode proteger a tivas, a única que, de fato, diz respeito ao utilitarismo é o consequencia-
sociedade desta tirania. lismo. O utilitarismo é uma doutrina consequencialista, pois defende
(C) Os governantes eleitos impõem sobre o povo suas que com o aumento do prazer e a diminuição da dor (chegando a sua
eliminação), a felicidade humana estaria garantida (cunho hedonista).
vontades e essa forma de opressão é a única tirania Gabarito Nosso “Anulada”/Gabarito Oficial “A”
da maioria contra a qual se deve buscar a proteção na
vida social, o que é feito por meio da desobediência (Ed. Foco 2013) Assinale a assertiva incorreta acerca da ética
civil.
utilitarista.
(D) A sociedade, quando faz as vezes do tirano, pratica
(A) defende que com o aumento do prazer e a diminui-
uma tirania mais temível do que muitas espécies de
opressão política, pois penetra nos detalhes da vida e ção da dor (chegando a sua eliminação), a felicidade
escraviza a alma. Por isso é necessária a proteção contra humana estaria garantida
a tirania da opinião e do sentimento dominantes. (B) o princípio da utilidade é o parâmetro para julgamento
da conduta individual e coletiva
A única assertiva que traz corretamente a ideia de tirania e a maneira de (C) a utilidade permitiria encontrar a fórmula que pro-
combatê-la, conforme a teoria desenvolvida por Mill, é a “D”. Essa tirania porcione a maior quantidade de felicidade ao maior
é destacada como tirania das massas, tirania da maioria ou ditadura da número de integrantes da sociedade
maioria, onde minorias são constantemente massacradas em razão de
(D) a ética utilitarista é uma doutrina não consequencia-
uma maioria eleitoral. É o surgimento de uma ditadura dentro de um
regime democrático, que funciona com base em decisões tomadas
lista
por maioria absoluta sem os necessários instrumentos de proteção
A única assertiva incorreta é a D (devendo ser assinalada), porque a
das minorias (freio à vontade da maioria). RF
Gabarito “D” ética utilitarista é altamente consequencialista. Tanto é assim que o
princípio da utilidade é o parâmetro para julgamento da conduta indi-
(OAB/Exame Unificado – 2014.2) O filósofo inglês Jeremy Ben-
vidual e coletiva. E afirma que a utilidade permitiria encontrar a fórmula
que proporcione a maior quantidade de felicidade ao maior número de
tham, em seu livro “Uma introdução aos princípios da
integrantes da sociedade. Segundo Bentham, o legislador não deve focar
moral e da legislação”, defendeu o princípio da utilidade
na felicidade de cada qual, mas sim de garantir um estado de bem-estar
como fundamento para a Moral e para o Direito. Para esse social (utilidade geral que garanta a felicidade da maioria). Na prática,
autor, o princípio da utilidade é aquele que toma corpo via estímulo e desestímulo de condutas que possam ou
(A) estabelece que a moral e a lei devem ser obedecidas não contribuir para o aumento de felicidade.
Gabarito “D”
porque são úteis à coexistência humana na vida em
sociedade.
(B) aprova ou desaprova qualquer ação, segundo a ten-
O Utilitarismo é um movimento fortemente
(Ed. Foco 2013)
influenciado pelo (a):
dência que tem a aumentar ou diminuir a felicidade
das pessoas cujos interesses estão em jogo. (A) escolástica
(C) demonstra que o direito natural é superior ao direito (B) pensamento aristotélico
positivo, pois, ao longo do tempo, revelou-se mais (C) iluminismo francês
útil à tarefa de regular a convivência humana. (D) teoria da igualdade de John Rawls
(D) afirma que a liberdade humana é o bem maior a ser
protegido tanto pela moral quanto pelo direito, pois O Utilitarismo recebeu forte influência do iluminismo francês.
Gabarito “C”
são a liberdade de pensamento e a ação que permitem
às pessoas tornarem algo útil. 1.5. Ética contemporânea
O utilitarismo é um movimento fortemente influenciado pelo Iluminismo
francês e que teve em Bentham o seu grande expoente. É uma doutrina (OAB/Exame Unificado – 2013.2) Boa parte da doutrina jusfilosó-
consequencialista. Assim, a ética utilitarista defende que com o aumento fica contemporânea associa a ideia de Direito ao conceito
do prazer e a diminuição da dor (chegando a sua eliminação), a feli- de razão prática ou sabedoria prática.
cidade humana estaria garantida (cunho hedonista). E o princípio da Assinale a alternativa que apresenta o conceito correto
utilidade é o parâmetro para julgamento da conduta individual e coletiva,
de razão prática.
permitindo, dessa forma, encontrar a fórmula que proporcione a maior
quantidade de felicidade ao maior número de integrantes da sociedade. (A) Uma forma de conhecimento científico (episteme)
Gabarito “B”
capaz de distinguir entre o verdadeiro e o falso.
(B) Uma técnica (techne) capaz de produzir resultados
O utilitarismo é uma filosofia
(OAB/Exame Unificado – 2013.3)
universalmente corretos e desejados.
moderna que conquistou muitos adeptos nos séculos XIX (C) A manifestação de uma opinião (doxa) qualificada ou
e XX, inclusive no pensamento jurídico. As principais
ponto de vista específico de um agente diante de um
características do utilitarismo são:
tema específico.
(A) convencionalismo, consequencialismo e antifunda- (D) A capacidade de bem deliberar (phronesis) a respeito
cionalismo. de bens ou questões humanas.
(B) consequencialismo, transcendentalismo e fundacio-
nalismo. A única questão que traz informação correta acerca da razão prática é a
(C) convencionalismo, materialismo e fatalismo. “D”. Os argumentos podem ser teóricos (premissa descritiva e conclusão
descritiva) ou práticos. O prático pode ser normativo (ao menos uma
(D) mecanicismo, fatalismo e antifundacionalismo.
premissa normativa e a conclusão é uma norma – proibido, permitido
e facultativo), e, assim, imanar uma prescrição (o Direito funciona na (D) Rawls cria o conceito de véu da ignorância para
maior parte do tempo assim). Portanto, sempre que se tentar inferir uma garantir a imparcialidade
prescrição (normativa) de uma premissa apenas fática, tem-se a falácia
naturalista. Cabe elucidar que a maioria das teorias de razão prática na atu- A assertiva incorreta é a B (devendo ser assinalada), porque Rawls
alidade são de orientação kantiana. A razão prática tem a ver com a ação, se posiciona claramente no campo da ética normativa, assim não se
enquanto a teórica com o conhecimento. A ação não é de mera conduta preocupa em descrever o modo como as pessoas pensam e agem.
(psicológica, biológica), a ação tem a ver com a justificação da conduta. Seu objetivo é prescrever como as pessoas devem pensar e agir. Em
Existem três concepções gerais (denotativas) sobre razão prática: como outras palavras, o objetivo principal da ética normativa é formular
razão instrumental: orientada aos fins; como razão normativa: orientada normas válidas de conduta e de avaliação de caráter. Por outro lado,
à normas; e como razão valorativa: orientada à valores. a metaética tem um papel explicativo e não prescritivo, pois busca o
Gabarito “D”
conhecimento das regras e das proposições éticas.
Gabarito “B”
1.5.1. John Rawls
1.5.2. Habermas
(FGV – 2013)O pensador norte-americano John Rawls
(1921-2002) contribuiu para a reformulação do pensa-
(Ed. Foco 2013) Assinale a assertiva incorreta acerca da teoria
mento moral contemporâneo, ao pretender ampliar o
conceito e o papel da justiça. da justiça de Habermas:
(A) a ética habermasiana está centrada na ideia de inte-
Nesse sentido, seu modelo de justiça
ração pelo discurso
(A) é igualitarista, identificando a justiça com a igualdade
(B) sua ética não tenta definir o conteúdo dos valores, mas
econômica, a ser conquistada por meio da planifica-
apenas descrever a formação racional da vontade
ção e estatização da economia.
(C) segundo Habermas, a ação estratégica é orientada ao
(B) se baseia em uma concepção metafísica e apriorística
êxito
de Bem, que obriga a pessoa a se orientar eticamente
(D) segundo Habermas, a ação comunicativa é orientada
através de imperativos categóricos que comandam o
sentido individual de suas ações. ao êxito
(C) é utilitarista, pois concebe uma sociedade justa quando A assertiva incorreta é a “D” (devendo ser assinalada) porque a ação
suas organizações são instituídas de forma a alcançar a comunicativa visa à compreensão intersubjetiva.
maior soma de satisfação para o conjunto de indivíduos. Gabarito “D”
social como composto por elementos diferentes e o jurista Tercio Sampaio Ferraz Júnior desenvolve uma
conflitantes, mas orientado por princípios, entre os análise que o conduz a concluir que o problema central
quais, o da liberdade. da Ciência do Direito é a decidibilidade. Assim, ao
envolver uma questão de decidibilidade, essa Ciência
Como bem estatui Manuel Atienza, a teoria de justiça de Rawls busca manifesta-se, para o autor, como pensamento
superar o intuicionismo e o utilitarismo, assim busca inspiração na (A) tecnocrata.
filosofia kantiana e constrói uma nova versão da teoria do contrato
(B) teleológico.
social. A teoria de justiça de Rawls tem por objetivo garantir a liberdade
individual (via tolerância) e a igualdade econômica e social. A equidade (C) fenomenológico.
é garantida pelo véu da ignorância na posição original, momento em (D) tecnológico.
que serão definidas as estruturas institucionais da sociedade, ou seja, (E) demonstrativo.
o “contrato social pactuado”. A escolha dos direitos e deveres é feita
totalmente com base na igualdade inicial, que impossibilita a definição Para Tercio, trata-se de um pensamento tecnológico. “Reconhecemos,
de princípios que vise privilegiar a condição particular de alguém (garan- é verdade, que correntes há e houve que praticaram uma espécie de
tindo a neutralidade das pessoas pactuantes). Para uma compreensão sociologismo jurídico, com a expressa intenção de fazer da ciência
melhor do dito, cabe esclarecer que véu da ignorância quer dizer que jurídica uma ciência social, empírica nos moldes das ciências do
quem está na posição original não pode saber a posição que ocupará comportamento (Sociologia, Psicologia). Mas não é a elas que nos
na sociedade, seu status social, sua sorte na distribuição de dotes reportamos neste capítulo. Mantemos, por isso, a ideia diretriz que
naturais (inteligência, força física), a situação econômica e política, comanda nossa exposição, qual seja, de que o pensamento jurídico
o nível de civilização e cultura etc. É uma teoria de justiça processual é um pensamento tecnológico específico, voltado para o problema da
que para funcionar, segundo Rawls, as pessoas devem ter direito ao decidibilidade normativa de conflitos. Nestes termos, o modelo empírico
mais amplo sistema de liberdades básicas. Por fim, é pluralista porque deve ser entendido não como descrição do direito como realidade social,
forjada pelas próprias pessoas via contrato social. mas como investigação dos instrumentos jurídicos de e para controle
Gabarito “E”
do comportamento. Não se trata de saber se o direito é um sistema
de controle, mas, assumindo-se que ele o seja, como devemos fazer
(Ed. Foco 2013) Assinale a assertiva incorreta acerca da teoria
para exercer este controle. Neste sentido, a ciência jurídica se revela
da justiça de John Rawls: não como teoria sobre a decisão mas como teoria para a obtenção de
(A) Ralws se posiciona no campo da ética normativa decisão. Mas uma vez se acentua o seu caráter criptonormativo2”.
Gabarito “D”
(B) Ralws se posiciona no campo da metaética
(C) a posição original de Rawls é uma situação hipotética
que permitirá a criação dos princípios de justiça por 2. FERRAZ JR, Tercio Sampaio. A Ciência do Direito. 2. ed. São
consenso Paulo: Atlas, 2010. p. 87-88.
2. QUESTÕES COMBINADAS E OUTROS A: incorreta. Quem desenvolveu a teoria do mínimo ético foi Georg
TEMAS Jellinek; B: incorreta, pois Kelsen não desenvolveu a teoria da bilate-
ralidade atributiva. No Brasil, essa teoria foi muito bem desenvolvida
(OAB/Exame Unificado – 2016.3) De acordo com o contratua- pelo jurista Miguel Reale. “Pelos estudos que temos desenvolvido
lismo proposto por Thomas Hobbes em sua obra Leviatã, sobre a matéria pensamos que há bilateralidade atributiva quando
o contrato social só é possível em função de uma lei da duas ou mais pessoas se relacionam segundo uma proporção objetiva
natureza que expresse, segundo o autor, a própria ideia que as autoriza a pretender ou a fazer garantidamente algo. Quando
de justiça. um fato social apresente esse tipo de relacionamento dizemos que
ele é jurídico. Onde não existe proporção no pretender, no fazer ou no
Assinale a opção que, segundo o autor na obra em refe-
exigir não há Direito, como inexiste este se não houver garantia espe-
rência, apresenta esta lei da natureza. cífica para tais atos. Bilateralidade atributiva é, pois, uma proporção
(A) Tratar igualmente os iguais e desigualmente os desi- intersubjetiva, em função da qual os sujeitos de uma relação ficam
guais. autorizados a pretender, exigir, ou a fazer, garantidamente, algo3”; C:
(B) Dar a cada um o que é seu. correta, pois, de fato, Thomasius fez a citada distinção na assertiva;
(C) Que os homens cumpram os pactos que celebrem. D: incorreta, pois a assertiva não correlaciona um pensamento de
Hobbes. Na obra de Hobbes, Estado e Direito surgem simultanea-
(D) Fazer o bem e evitar o mal.
mente, e seus fundamentos repousam no pacto social firmado entre
os homens. Para que haja corpo político, diz Hobbes, é preciso que
A lei da natureza que garantiria o funcionamento do contrato social
as vontades de todos sejam depositadas numa única vontade. Essa
proposto por Hobbes é a seguinte máxima: “que os homens cumpram
vontade é denominada soberania, cujo detentor é chamado de sobe-
os pactos que celebrem”.
Gabarito “C” rano, e dele se diz que possui poder soberano. Todos os restantes
são súditos. Soberania é, assim, uma vontade suprema que se coloca
(Defensor Público/RO – 2012 – CESPE) Considerando os conceitos acima das vontades individuais. O poder soberano, em Hobbes, possui
de direito e de moral, assinale a opção correta à luz da as seguintes características: a) absoluto: não tolera restrições nem
filosofia do direito. condicionamentos; b) indivisível: o soberano tem todo o poder ou
não tem poder nenhum; c) perpétuo: quem tem o poder soberano o
(A) Kant desenvolveu a teoria do mínimo ético, segundo tem para sempre. Uma vez constituído o Estado, a vontade soberana
a qual o direito representa todo o conteúdo moral passa a ser a única fonte do Direito. As leis expressam a vontade do
obrigatório para que a sociedade possa sobreviver soberano, e a validade da lei repousa no fato de ser a expressão dessa
minimamente. vontade. As leis positivas são para os súditos comandos que devem
(B) Hans Kelsen formulou a teoria da bilateralidade ser obedecidos absolutamente, enquanto as leis naturais são para o
atributiva, asseverando que a moral não se distingue soberano apenas regras de prudência. Para justificar teoricamente a
do direito, mas o complementa por meio da bilatera- sua concepção, Hobbes afirma que no Estado de natureza a condição
lidade ou intersubjetividade. do homem é a de guerra de todos contra todos, em que cada um é
(C) Christian Thomasius propôs a distinção entre o direito governado por sua própria vontade. O homem é o lobo do próprio
homem. Segundo ele, enquanto perdurar esse estado não haverá
e a moral, sob a inspiração pufendorfiana, com base
segurança de viver. Daí a ideia de que o homem não é livre no estado
na ideia de coação. de natureza, ele se torna livre no estado civil. A liberdade passa a
(D) Thomas Hobbes desenvolveu a teoria da atributi- ser uma realidade quando se completa a passagem do estado de
vidade, segundo a qual direito e moral estão inter- natureza para o Estado Leviatã. Liberdade passa a ser, desse modo,
-relacionados, tendo ambos origem no direito natural. a conformação com a ordem jurídica estatal, um padrão objetivo
(E) Max Scheler preconizava uma espécie de moral pura, produzido pelo Estado; E: incorreta. Max Scheler nunca preconizou
condição para a existência de um comportamento a dita moral pura, pelo contrário, ele criticava o pensamento como
que, guiado pelo direito e pela ética, não muda apreensão intelectual-racional.
Gabarito “C”
segundo as circunstâncias.