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17.

Filosofia do Direito
Renan Flumian

1. ÉTICA (B) se as duas são verdadeiras e a segunda não justifica


a primeira.
1.1. Teoria geral (C) se a primeira é verdadeira e a segunda é falsa.
(D) se a primeira é falsa e a segunda é verdadeira.
(E) se as duas são falsas.
(EXAME 2009)

Olhe pro menino De acordo com Miguel Reale, em sua clássica obra Filosofia do
Sem camisa e descalço Direito (SP: Saraiva, 17ª ed., pgs. 291 e ss), a Filosofia do Direito
preocupa-se com três questões: a) lógica do Direito; b) ética
Que chora por comida do Direito; e c) e concretização social e histórica do Direito. Tal
Que te pede um trocado preocupação implica, portanto, em compreender os elementos
ético, lógico e sociocultural, daí porque as duas afirmações são
Olhe pro menino
verdadeiras e a segunda explica a primeira. Avançando um pouco
Que não tem onde morar na divisão tripartida de Miguel Reale, entende-se, a partir dessa
Não tem pra onde ir visão da filosofia do direito, a razão desse autor entender o Direito
a partir de uma Teoria Tridimensional, pela qual o Direito é uma
E não tem onde ficar dialética de complementaridade entre a norma (lei, lógica), o valor
Olhe em seus olhos (ética) e o fato (elemento sócio cultural). O Direito, assim, é uma
Sinta o ódio animal síntese desses três elementos e a correlação entre fato, valor e norma
permite entender o Direito como um sistema aberto, dependente de
A revolta que ele sente outros que o abrangem e circunscrevem.
Gabarito “A”
Da injustiça social

Injustiça Social – Esgoto. In: <http://www.letras.com.br/esgoto/


1.2. Ética na cultura grega antiga
injustica-social>
A música retrata situação que afronta direitos fundamen- (OAB/Exame Unificado - 2019.2) Mas a justiça não é a perfeição
tais, registrados no texto constitucional brasileiro. Esses dos homens?
direitos traduzem-se em
PLATÃO, A República. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1993.
(A) falácias do legislador constituinte.
(B) situações referidas à dignidade humana.
O conceito de justiça é o mais importante da Filosofia do
Direito. Há uma antiga concepção segundo a qual justiça
(C) valores religiosos, de matriz filosófica.
é dar a cada um o que lhe é devido. No entanto, Platão,
(D) regras gerais, sem eficácia plena. em seu livro A República, faz uma crítica a tal concepção.
(E) situações políticas, sem viés jurídico.
Assinale a opção que, conforme o livro citado, melhor
Esses direitos traduzem-se em situações referidas à dignidade humana. explica a razão pela qual Platão realiza essa crítica.
E a dignidade da pessoa humana se traduz na situação de mínimo gozo (A) Platão defende que justiça é apenas uma maneira de
garantido dos direitos pessoais, civis, políticos, judiciais, de subsis- proteger o que é mais conveniente para o mais forte.
tência, econômicos, sociais e culturais. Todavia, a música citada na (B) A justiça não deve ser considerada algo que seja
presente questão expõe uma situação, infelizmente diuturna em nosso entendido como virtude e sabedoria, mas uma decor-
país, em que o gozo dos direitos humanos não é garantido a uma pes-
rência da obediência à lei.
soa, isto é, a dignidade humana é totalmente violentada (“ódio animal”).
Gabarito “B” (C) Essa ideia implicaria fazer bem ao amigo e mal ao
inimigo, mas fazer o mal não produz perfeição, e a
(ENADE) Considere as seguintes afirmações: justiça é uma virtude que produz a perfeição humana.
A Filosofia do Direito preocupa-se com o fundamento (D) Esse é um conceito decorrente exclusivamente da
ético do sistema jurídico, com os problemas lógicos do ideia de troca entre particulares, e, para Platão, o
conceito de Direito e com a concretização dessas exi- conceito de justiça diz respeito à convivência na
gências éticas e lógicas na ordem social e histórica do cidade.
Direito Positivo PORQUE a Filosofia do Direito implica
A resposta correta segundo o pensamento de Platão externado no livro
compreender a experiência jurídica na unidade de seus
“A República” é a “C”, isto porque a concepção de justiça materializada
elementos ético, lógico, social e histórico. no ideal de “dar a cada um o que lhe é devido” não geraria perfeição.
De acordo com as afirmações acima, assinale: Ao contrário, implicaria fazer bem ao amigo e mal ao inimigo, e fazer
(A) se as duas são verdadeiras e a segunda justifica a o mal não produz perfeição.
Gabarito “C”
primeira.

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(Defensor Público/TO – 2013 – CESPE) Com relação ao conceito A: incorreta, pois íson significa isonomia; B: correta, pois hybris signi-
de justiça, assinale a opção correta. fica excesso e desmedida; C: incorreta, pois areté significa virtude; D:
incorreta, pois phronésis significa prudência ética. A phronésis constitui
(A) O vocábulo justiça é empregado, em sentido lato,
a mais alta qualidade moral a se opor a hybris.
como equivalente a organização judiciária. Gabarito “B”
(B) O sentido estrito de justiça está associado ao conjunto
das virtudes que regulam as relações entre os homens. (Ed. Foco 2012) Etimologicamente, a palavra necessidade
(C) De acordo com a doutrina majoritária, caracterizam (ananké) indica os laços de sangue (parentesco, estirpe,
o sentido lato de justiça a alteridade, o débito e a família) que determinam o destino do indivíduo. Este
igualdade. não pode negar a sua origem e o destino que os laços
(D) Consoante a doutrina aristotélica, a justiça comutativa de parentesco lhe impõe. Os deuses antecipam, mas
não podem alterar o curso dos acontecimentos. Qual
caracteriza-se como aquela em que o particular dá a
tragédia grega é construída em torno dessa situação
outro o bem que lhe é devido.
(necessidade-destino)
(E) Na antiguidade clássica, Platão definiu justiça como
(A) Édipo Rei de Sófocles
a vontade constante e perpétua de dar a cada um o
que lhe pertence. (B) Os Persas de Ésquilo
(C) O Ciclope de Eurípides
Justiça, na obra de Aristóteles, pode ser definida como sendo relação (D) As Suplicantes de Ésquilo
bilateral, preferencial e voluntária, em conformidade com a lei e com
o bem comum e que respeita a igualdade. O termo, como já se pode A: correta, pois a tragédia Édipo Rei se desenvolve no contexto citado
perceber, não é unívoco, é ambíguo, porque possui uma pluralidade de na presente questão; B: incorreta, pois essa tragédia retrata a invasão
sentidos, vários significados e acepções. Daí a distinção que Aristóteles persa na Grécia, que ocorreu enquanto Ésquilo ainda vivia, e o destino
realiza entre justiça universal e justiça particular. A primeira (univer- do povo grego; C: incorreta. O Ciclope é um drama satírico em que
sal), também denominada de justiça em sentido lato, define-se como Eurípides relata o encontro de Odisseu com o canibal Polifemo de um
a conduta de acordo com a lei; a segunda (particular) denominada, só olho, a quem enganou e deixou cego ao final para poder fugir; D:
às vezes, de justiça em sentido estrito, define-se como o hábito que incorreta, pois nessa tragédia Ésquilo cuida das ambições individuais.
realiza e respeita a igualdade. A justiça particular, que realiza e respeita
Gabarito “A”

a igualdade, é promovida de duas maneiras. Uma maneira é a que


se manifesta na igualdade que consiste na distribuição proporcional 1.2.1. Sócrates
geométrica (igualar o desigual) de bens e outras vantagens entre os
cidadãos da polis, a esta se dá o nome de justiça distributiva. A outra Com Sócrates, o pensamento desloca-se
(Ed. Foco 2012)
maneira é a que se manifesta na igualdade que desempenha um papel da contemplação da natureza para a contemplação do
corretivo nas transações entre os cidadãos, a esta se dá o nome de homem na sua subjetividade. Sócrates dialoga, não há
justiça retificadora ou comutativa que consiste numa proporcionalidade ensinamento de dogmas. Assim, é possível ao homem
aritmética (igual). A justiça universal, que é a conduta conforme a
redescobrir as virtudes que existem em si mesmo
lei, abrange, de certo modo, todas as demais virtudes, quando estas
(“Conhece-te a ti mesmo”). Qual o nome que leva essa
estiverem prescritas em lei. Com efeito, é normalmente por intermédio
investigação metódica subjetiva criada por Sócrates
da lei que se realiza o bem comum. Nesse sentido, diz Aristóteles que
nas disposições que tomam sobre todos os assuntos, as leis têm em (A) ética
mira a vantagem comum. Nesse sentido, o hábito de respeitar a lei (B) dialética
faz do homem respeitador da lei um homem justo. Por fim, devemos (C) jusnaturalismo
destacar que Platão (filosofia metafísica) não construiu um conceito (D) maiêutica
fechado de justiça.
Gabarito “D”
O nome dessa investigação metódica subjetiva criada por Sócrates
é maiêutica.
Qual das expressões abaixo enuncia o con-
(Ed. Foco 2012) Gabarito “D”
ceito antigo de justiça (diké).
(A) dura lex, sed lex
1.2.2. Aristóteles
(B) perseguir o próprio desejo sempre
(C) dar a cada um o que é seu (OAB/Exame Unificado – 2016.2) A partir da leitura de Aristóteles
(Ética a Nicômaco), assinale a alternativa que corresponde
(D) in dubio pro reo
à classificação de justiça constante do texto:
A expressão que enuncia o conceito antigo de justiça é a contida na “... uma espécie é a que se manifesta nas distribuições
assertiva “C”. de honras, de dinheiro ou das outras coisas que são
Gabarito “C”
divididas entre aqueles que têm parte na constituição
(pois aí é possível receber um quinhão igual ou desigual
A ideia de justiça, na cultura grega, adquire
(Ed. Foco 2012)
ao de um outro)...”
a concepção forte de igualdade. Justiça é, portanto, igual-
(A) Justiça Natural.
dade e retidão (diké). Por sua vez, qual o termo utilizado
para expressar o excesso e a desmedida (B) Justiça Comutativa.
(A) íson (C) Justiça Corretiva.

(B) hybris (D) Justiça Distributiva.

(C) areté Os gregos são os artífices dos conceitos de isonomia e de justiça


(D) phronésis distributiva. A isonomia implica a igualdade dos cidadãos, por mais

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diferentes que sejam em função de sua aparência, de sua origem, virtudes. Nesse sentido, a noção aristotélica de justiça tem algo a
da classe ou da função. A justiça distributiva é a que se manifesta na ver com a antiga noção de diké.
igualdade material, que consiste na distribuição proporcional geométrica
Gabarito “B”

(igualar os desiguais) de bens e de outras vantagens entre os cidadãos


da polis. Na construção da isonomia, é preciso igualar as diferenças, (Ed. Foco 2012) Aristóteles, numa conhecida passagem da
o que pressupõe uma igualdade que consista em tratar desigualmente Retórica, estabelece a sua clássica distinção dicotômica
os desiguais. Hoje, o princípio da igualdade (isonomia) constitui o entre lei particular e lei comum. Lei particular, diz ele, é
alicerce sobre o qual se constrói os direitos da pessoa portadora de aquela que cada povo dá a si mesmo, podendo as normas
deficiência. Aristóteles também cuidou da ideia de justiça comutativa e dessa lei particular serem escritas ou não escritas. Já Lei
essa diz respeito à igualdade em sentido formal, tendo por pressuposto comum é aquela de acordo com:
a igualdade entre as pessoas.
Gabarito “D” (A) o justo
(B) a natureza
(OAB/Exame Unificado – 2013.2) Considere a seguinte afirmação (C) a vontade do povo
de Aristóteles: (D) a sabedoria dos sábios
“Temos pois definido o justo e o injusto. Após distingui-
-los assim um do outro, é evidente que a ação justa é A assertiva que completa corretamente a questão é a “B”.
Gabarito “B”
intermediária entre o agir injustamente e o ser vítima
da injustiça; pois um deles é ter demais e o outro é ter (Ed. Foco 2012) Aristóteles faz distinção entre justiça univer-
demasiado pouco.” sal e justiça particular. A primeira (universal), também
denominada de justiça em sentido lato, define-se como
(Aristóteles. Ética a Nicômaco. Coleção Os Pensadores. São
Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 329.)
a conduta de acordo com a lei; a segunda (particular)
denominada, às vezes, de justiça em sentido estrito,
De efeito, é correto concluir que para Aristóteles a justiça define-se como o hábito que realiza e respeita a igual-
deve sempre ser entendida como dade. A justiça particular, segundo Aristóteles, pode ser
(A) produto da legalidade, pois o homem probo é o realizada de duas formas, quais são elas :
homem justo. (A) justiça distributiva e justiça natural
(B) espécie de meio termo. (B) justiça retificadora ou comutativa e justiça natural
(C) relação de igualdade aritmética. (C) justiça distributiva e justiça retificadora ou comutativa
(D) ação natural imutável. (D) justiça natural e justiça mediana
Segundo Aristóteles, a virtude não é uma coisa natural no ser Uma forma de promover a justiça particular é mediante a distribuição
humano, mas um hábito adquirido ou uma disposição permanente. proporcional geométrica (igualar o desigual) de bens e outras vantagens
A ética orienta o homem para a aquisição dos hábitos virtuosos que
entre os cidadãos da polis, a esta se dá o nome de justiça distributiva.
o encaminham no sentido da perfeição. Virtude, portanto, é ação,
A outra maneira é mediante uma correção das transações entre os
atividade da vontade que delibera, isto é, examina várias possibi-
cidadãos, a esta se dá o nome de justiça retificadora ou comutativa
lidades possíveis e escolhe. O ato de escolher passa a ser um ato
que consiste numa proporcionalidade aritmética (igual).
racional e voluntário próprio do cidadão ético e político. Portanto, Gabarito “C”
a virtude se desenvolve na polis; ou seja, no encontro dos homens
enquanto cidadãos. Por isso, os fins racionais de uma escolha têm 1.2.3. Estoicismo
sempre em vista um bem, que é o bem comum. A partir dessa
ideia, Aristóteles defende que virtude é uma disposição para agir
de um modo deliberado, consistindo numa mediania relativa ao ser
A ética estoica é subdivida em duas: uma
(Ed. Foco 2012)

humano, racionalmente determinada e tal como seria determinada identifica-se com o honestum, consiste na retidão da
pelo homem prudente, dotado de sabedoria prática. A ação virtuosa vontade (recta ratio), na firmeza moral, na convicção
consiste em um ato feito por e com virtude, isto é, numa escolha inabalável e no caráter incorruptível; e a outra consiste
preferencial (proairesis) proveniente de uma deliberação racional no cumprimento das ações conforme as tendências
(bouleusis), que depende do ser humano e que ele pode realizar. O naturais que todo homem possui, como a tendência à
homem delibera à respeito do preferível e não do necessário, isto conservação da vida e à sociabilidade ou na escolha de
é, daquilo que está em seu poder. A mediania ou medida relativa coisas e condutas tidas como úteis, convenientes, prefe-
que caracteriza a virtude é o justo meio, entendido como equilíbrio ríveis ou desejáveis relativas à vida prática ou cotidiana.
ou moderação entre dois extremos (excesso e escassez). A justiça Consoante a ordem apresentada, quais são os institutos
(vontade racional) é o cálculo moderador que encontra o justo definidos na questão ?
meio entre dois extremos. A ética aparece, assim, como a ciência
(A) moral absoluta e moral do dever reto
da moderação e do equilíbrio, isto é, da prudência ou phronesis.
Hybris é, conforme especificado pelos antigos, a falta de medida, a (B) moral dos deveres médios e moral do dever reto
origem do vício por excesso ou por escassez. Em outras palavras, (C) moral do dever reto e moral dos deveres médios
pode-se dizer que em Aristóteles, a justiça corresponde ao controle (D) moral absoluta e moral dos deveres médios
da hybris, tanto no excesso quanto na escassez. Coragem (virtude),
por exemplo, é o justo meio entre a temeridade (excesso) e a covar- Conforme a sequência apresentada na questão, a ética estoica é dividida
dia (escassez), amor (virtude) é o justo meio entre a possessão em: a) moral do dever reto; e b) moral dos deveres médios.
(excesso) e a indiferença (escassez) e assim em relação a todas as
Gabarito “C”

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1.3. Ética medieval iguais e plenamente cooperantes se eles possuem


dignidade.
1.3.1. Tomás de Aquino (C) como valor jurídico que se atribui às pessoas como
(Ed. Foco 2013) Qual a definição de Tomás de Aquino para característica de sua condição de sujeitos de direitos.
lei eterna: (D) como algo que está acima de todo o preço, pois
(A) é a expressão da razão divina, que governa todo o quando uma coisa tem um preço pode-se pôr em vez
universo, de ninguém conhecida inteiramente em dela qualquer outra como equivalente; mas quando
si, mas da qual o homem pode obter conhecimento uma coisa está acima de todo o preço, e portanto não
parcial através de suas manifestações permite equivalência, então ela tem dignidade.
(B) é a lei revelada, ou seja, a expressão da lei eterna (ex.: A assertiva que traz corretamente o conceito de dignidade trabalhado
Sagradas Escrituras) por Kant na sua obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes é a
(C) é a lei que pode ser conhecida pelo homem por meio “D”. Nesse livro Kant trabalha as diferenças entre direito e moral, dentre
da razão, consiste, por exemplo, em fazer o bem e as diferenças apontadas, merecem ser destacadas: a) a que decorre da
evitar o mal, conservar a vida, educar a prole, parti- diferença entre moralidade e legalidade; b) a que decorre da diferença
cipação na vida social etc. entre autonomia e heteronomia; e c) a que decorre da diferença entre
(D) é a lei humana (lei positiva) que determina imperativo categórico e imperativo hipotético.
Gabarito “D”

A definição tomasiana de lei eterna encontra-se dada na assertiva A. A


(OAB/Exame Unificado – 2013.1) “Manter os próprios com-
assertiva B traz a definição de lei divina e a C de lei natural. Por último,
a assertiva D traz a definição de lei escrita. promissos não constitui dever de virtude, mas dever de
Gabarito “A” direito, a cujo cumprimento pode-se ser forçado. Mas
prossegue sendo uma ação virtuosa (uma demonstração
1.3.2. Agostinho de virtude) fazê-lo mesmo quando nenhuma coerção
possa ser aplicada. A doutrina do direito e a doutrina da
Assinale a alternativa incorreta em relação
(Ed. Foco 2012) virtude não são, consequentemente, distinguidas tanto
ao Querer e Poder. por seus diferentes deveres, como pela diferença em sua
(A) a filosofia grega não chega a elaborar a noção de liber- legislação, a qual relaciona um motivo ou outro com a lei”.
dade subjetiva (livre arbítrio), portanto, a autonomia Pelo trecho acima podemos inferir que Kant estabelece
da vontade é algo estranho à cultura greco-romana. uma relação entre o direito e a moral. A esse respeito,
Nessa cultura, liberdade pressupõe status (prestígio) assinale a afirmativa correta.
e está conectado à ação política, ser livre é participar (A) O direito e a moral são idênticos, tanto na forma como
da polis ou viver em conformidade com a natureza, no conteúdo prescritivo. Assim, toda ação contrária
não se trata, pois, de algo que se passa no interior da à moralidade das normas jurídicas é também uma
subjetividade. violação da ordem jurídica.
(B) o deslocamento da liberdade para o interior da sub-
(B) A conduta moral refere-se à vontade interna do sujeito,
jetividade inicia-se, portanto, com Paulo de Tarso, e enquanto o direito é imposto por uma ação exterior
solidifica-se na Idade Média com a separação entre e se concretiza no seu cumprimento, ainda que as
querer e poder. Com os filósofos medievais o querer razões da obediência do sujeito não sejam morais.
passa a ser considerado, na sua intimidade, como (C) A coerção, tanto no direito quanto na moral, é um
uma espécie de optar, mas não necessariamente de
elemento determinante. É na possibilidade de impor-
realizar (quero, mas não posso).
-se pela força, independentemente da vontade, que
(C) Santo Agostinho foi um dos primeiros a sublinhar a
o direito e a moral regulam a liberdade.
noção de que querer é ser livre. Se a vontade quer, (D) Direito e moral são absolutamente distintos. Conse-
diz ele, é ela que quer, tendo podido não querer.
quentemente, cumprir a lei, ainda que espontanea-
(D) Para Santo Agostinho o homem não tinha a possibili-
mente, não é demonstração de virtude moral.
dade de querer alguma coisa, pois sua única possibi-
lidade é respeitar e ser guiado pelo poder divino. Em sua obra Metafísica dos Costumes, Kant trata das diferenças entre
direito e moral, geralmente considerado como problema preliminar
A única assertiva que traz informação incorreta é a “D” (devendo ser da filosofia do direito. Dentre as diferenças apontadas, merecem ser
assinalada). destacadas: a) a que decorre da diferença entre moralidade e legalidade;
Gabarito “D”
b) a que decorre da diferença entre autonomia e heteronomia; e c) a que
1.4. Ética moderna decorre da diferença entre imperativo categórico e imperativo hipotético.
A. Moralidade e Legalidade: Essa diferença diz respeito aos motivos da
1.4.1. Kant ação e toma como base a noção de boa vontade. Boa vontade é aquela
que não está determinada por atitude alguma e por cálculo interessado
(OAB/Exame Unificado – 2016.1) Segundo o filósofo Immanuel
algum, mas somente pelo respeito ao dever. Assim, tem-se moralidade
Kant, em sua obra Fundamentação da Metafísica dos quando a ação é cumprida por dever, ou seja, a legislação moral é aquela
Costumes, a ideia de dignidade humana é entendida que não admite que uma ação possa ser cumprida segundo inclina-
(A) como qualidade própria de todo ser vivo que é capaz ção ou interesse. Tem-se legalidade quando a ação é cumprida em
de sentir dor e prazer, isto é, característica de todo ser conformidade ao dever, mas segundo alguma inclinação ou interesse.
senciente. Kant dá o exemplo do comerciante que não abusa do cliente ingênuo:
(B) quando membros de uma mesma espécie podem Se ele age assim, não porque este seja seu dever, mas porque seja de
seu próprio interesse, a sua ação não é moral.
ser considerados como equivalentes e, portanto,

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B. Autonomia e Heteronomia: Essa distinção também implica em (D) Todas as formas de desigualdade consistem num fato
separar direito e moral. Autonomia é a qualidade que a vontade tem objetivo, devendo ser compreendidas e toleradas, pois
de dar leis a si mesma. A vontade moral é por excelência uma vontade elas geram o progresso humano e produzem mais bens
autônoma. Heteronomia é quando a vontade é determinada por outra do que males.
vontade. A vontade jurídica (estatal) é por excelência uma vontade
heterônoma. Pode-se dizer que quando a pessoa age conforme a sua Para Rousseau, as desigualdades naturais são aceitáveis, mas as
vontade, encontra-se no terreno da moralidade (autonomia); quando desigualdades morais não o são, pois consistem em privilégios de
age em obediência à lei do Estado, encontra-se no terreno da legalidade uns sobre os outros.
Gabarito “C”
(heteronomia).
C. Imperativo Categórico e Imperativo Hipotético: Categóricos são os
imperativos que prescrevem uma ação boa por si mesma, por exemplo: (OAB/Exame Unificado – 2017.2) ...só a vontade geral pode dirigir
“Você não deve mentir”, e chamam-se assim porque são declarados por as forças do Estado de acordo com a finalidade de suas
meio de um juízo categórico. Hipotéticos são aqueles que prescrevem instituições, que é o bem comum...
uma ação boa para alcançar um certo fim, por exemplo: “Se você quer
evitar ser condenado por falsidade, você não deve mentir”, e chamam-se Jean-Jacques Rousseau
assim porque são declarados por meio de um juízo hipotético. A ideia de vontade geral, apresentada por Rousseau
Pelos preceitos acima, vemos que a resposta B é a correta. em seu livro Do Contrato Social, foi fundamental para
Gabarito “B”
o amadurecimento do conceito moderno de lei e de
democracia.
Na obra Metafísica dos costumes, Kant faz
(Ed. Foco 2012)
algumas distinções entre moral e direito. Uma delas é Assinale a opção que melhor expressa essa ideia con-
mediante a autonomia e heteronomia. Assinale a alter- forme concebida por Rousseau no livro citado.
nativa incorreta. (A) A soma das vontades particulares.
(A) autonomia é a qualidade que a vontade tem de dar (B) A vontade de todos.
leis a si mesma (C) O interesse particular do soberano, após o contrato
(B) heteronomia é quando a vontade é determinada por social.
outra vontade (D) O interesse em comum ou o substrato em comum das
(C) a vontade jurídica (estatal) é por excelência uma diferenças.
vontade heterônoma
(D) a vontade moral é por excelência uma vontade hete- A ideia de vontade geral para Rousseau se cristaliza no interesse em
comum ou no substrato em comum das diferenças. A vontade geral
rônoma
é aquela que dá voz aos interesses que cada pessoa tem em comum
A única assertiva incorreta é a “D” (devendo ser assinalada), pois a com todas as demais, de modo que, ao ser atendido um interesse seu,
vontade moral é por excelência uma vontade autônoma. Pode-se dizer também estarão sendo atendidos os interesses de todas as pessoas.1
Gabarito “D”
que quando a pessoa age conforme a sua vontade, encontra-se no
terreno da moralidade (autonomia); quando age em obediência à lei do 1.4.3. Utilitarismo
Estado, encontra-se no terreno da legalidade (heteronomia).
Gabarito “D”

(OAB/Exame Unificado – 2016.3) Há um limite para a interferên-


1.4.2. Rousseau cia legítima da opinião coletiva sobre a independência
Concebo, na espécie humana,
(OAB/Exame Unificado - 2018.3) individual, e encontrar esse limite, guardando-o de inva-
dois tipos de desigualdade: uma que chamo de natural ou sões, é tão indispensável à boa condição dos negócios
física, por ser estabelecida pela natureza e que consiste na humanos como a proteção contra o despotismo político.
diferença das idades, da saúde, das forças do corpo e das John Stuart Mill
qualidades do espírito e da alma; a outra, que se pode cha- A consciência jurídica deve levar em conta o delicado
mar de desigualdade moral ou política, porque depende balanço entre a liberdade individual e o governo das
de uma espécie de convenção e que é estabelecida ou, leis. No livro A Liberdade. Utilitarismo, John Stuart Mill
pelo menos, autorizada pelo consentimento dos homens. sustenta que um dos maiores problemas da vida civil é
a tirania das maiorias.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso Sobre a Origem e os
Fundamentos da Desigualdade entre os Homens. Coleção Os Conforme a obra citada, assinale a opção que expressa
Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978. corretamente a maneira como esse autor entende o que
Levando em consideração o trecho acima, assinale a seja tirania e a forma de proteção necessária.
afirmativa que apresenta a perspectiva de Rousseau sobre (A) A tirania resulta do poder do povo como autogoverno
como se coloca o problema da desigualdade. porque o povo não é esclarecido para fazer suas
(A) As desigualdades naturais são a causa das desigual- escolhas. A proteção contra essa tirania é delegar o
dades morais, uma vez que as diferenças naturais se governo aos mais capacitados, como uma espécie de
projetam na vida política. governo por meritocracia.
(B) A deliberação de juízes ao imporem suas concepções
(B) As desigualdades naturais são inaceitáveis; por isso, o
homem funda a sociedade civil por meio do contrato de certo e errado sobre as causas que julgam, produz
social. a mais poderosa tirania, pois subjuga a vontade daque-
(C) As desigualdades naturais são aceitáveis, mas as
1. Morena Pinto, Marcio. A noção de vontade geral e seu papel
desigualdades morais não o são, pois consistem em
no pensamento político de Jean-Jacques Rousseau. Cadernos
privilégios de uns sobre os outros. de Ética e Filosofia Política 7, 2/2005, da Revista USP.

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les que estão sob a jurisdição desses magistrados. Questão bastante controvertida. Das características dispostas nas asser-
Apenas o duplo grau de jurisdição pode proteger a tivas, a única que, de fato, diz respeito ao utilitarismo é o consequencia-
sociedade desta tirania. lismo. O utilitarismo é uma doutrina consequencialista, pois defende
(C) Os governantes eleitos impõem sobre o povo suas que com o aumento do prazer e a diminuição da dor (chegando a sua
eliminação), a felicidade humana estaria garantida (cunho hedonista).
vontades e essa forma de opressão é a única tirania Gabarito Nosso “Anulada”/Gabarito Oficial “A”
da maioria contra a qual se deve buscar a proteção na
vida social, o que é feito por meio da desobediência (Ed. Foco 2013) Assinale a assertiva incorreta acerca da ética
civil.
utilitarista.
(D) A sociedade, quando faz as vezes do tirano, pratica
(A) defende que com o aumento do prazer e a diminui-
uma tirania mais temível do que muitas espécies de
opressão política, pois penetra nos detalhes da vida e ção da dor (chegando a sua eliminação), a felicidade
escraviza a alma. Por isso é necessária a proteção contra humana estaria garantida
a tirania da opinião e do sentimento dominantes. (B) o princípio da utilidade é o parâmetro para julgamento
da conduta individual e coletiva
A única assertiva que traz corretamente a ideia de tirania e a maneira de (C) a utilidade permitiria encontrar a fórmula que pro-
combatê-la, conforme a teoria desenvolvida por Mill, é a “D”. Essa tirania porcione a maior quantidade de felicidade ao maior
é destacada como tirania das massas, tirania da maioria ou ditadura da número de integrantes da sociedade
maioria, onde minorias são constantemente massacradas em razão de
(D) a ética utilitarista é uma doutrina não consequencia-
uma maioria eleitoral. É o surgimento de uma ditadura dentro de um
regime democrático, que funciona com base em decisões tomadas
lista
por maioria absoluta sem os necessários instrumentos de proteção
A única assertiva incorreta é a D (devendo ser assinalada), porque a
das minorias (freio à vontade da maioria). RF
Gabarito “D” ética utilitarista é altamente consequencialista. Tanto é assim que o
princípio da utilidade é o parâmetro para julgamento da conduta indi-
(OAB/Exame Unificado – 2014.2) O filósofo inglês Jeremy Ben-
vidual e coletiva. E afirma que a utilidade permitiria encontrar a fórmula
que proporcione a maior quantidade de felicidade ao maior número de
tham, em seu livro “Uma introdução aos princípios da
integrantes da sociedade. Segundo Bentham, o legislador não deve focar
moral e da legislação”, defendeu o princípio da utilidade
na felicidade de cada qual, mas sim de garantir um estado de bem-estar
como fundamento para a Moral e para o Direito. Para esse social (utilidade geral que garanta a felicidade da maioria). Na prática,
autor, o princípio da utilidade é aquele que toma corpo via estímulo e desestímulo de condutas que possam ou
(A) estabelece que a moral e a lei devem ser obedecidas não contribuir para o aumento de felicidade.
Gabarito “D”
porque são úteis à coexistência humana na vida em
sociedade.
(B) aprova ou desaprova qualquer ação, segundo a ten-
O Utilitarismo é um movimento fortemente
(Ed. Foco 2013)
influenciado pelo (a):
dência que tem a aumentar ou diminuir a felicidade
das pessoas cujos interesses estão em jogo. (A) escolástica
(C) demonstra que o direito natural é superior ao direito (B) pensamento aristotélico
positivo, pois, ao longo do tempo, revelou-se mais (C) iluminismo francês
útil à tarefa de regular a convivência humana. (D) teoria da igualdade de John Rawls
(D) afirma que a liberdade humana é o bem maior a ser
protegido tanto pela moral quanto pelo direito, pois O Utilitarismo recebeu forte influência do iluminismo francês.
Gabarito “C”
são a liberdade de pensamento e a ação que permitem
às pessoas tornarem algo útil. 1.5. Ética contemporânea
O utilitarismo é um movimento fortemente influenciado pelo Iluminismo
francês e que teve em Bentham o seu grande expoente. É uma doutrina (OAB/Exame Unificado – 2013.2) Boa parte da doutrina jusfilosó-
consequencialista. Assim, a ética utilitarista defende que com o aumento fica contemporânea associa a ideia de Direito ao conceito
do prazer e a diminuição da dor (chegando a sua eliminação), a feli- de razão prática ou sabedoria prática.
cidade humana estaria garantida (cunho hedonista). E o princípio da Assinale a alternativa que apresenta o conceito correto
utilidade é o parâmetro para julgamento da conduta individual e coletiva,
de razão prática.
permitindo, dessa forma, encontrar a fórmula que proporcione a maior
quantidade de felicidade ao maior número de integrantes da sociedade. (A) Uma forma de conhecimento científico (episteme)
Gabarito “B”
capaz de distinguir entre o verdadeiro e o falso.
(B) Uma técnica (techne) capaz de produzir resultados
O utilitarismo é uma filosofia
(OAB/Exame Unificado – 2013.3)
universalmente corretos e desejados.
moderna que conquistou muitos adeptos nos séculos XIX (C) A manifestação de uma opinião (doxa) qualificada ou
e XX, inclusive no pensamento jurídico. As principais
ponto de vista específico de um agente diante de um
características do utilitarismo são:
tema específico.
(A) convencionalismo, consequencialismo e antifunda- (D) A capacidade de bem deliberar (phronesis) a respeito
cionalismo. de bens ou questões humanas.
(B) consequencialismo, transcendentalismo e fundacio-
nalismo. A única questão que traz informação correta acerca da razão prática é a
(C) convencionalismo, materialismo e fatalismo. “D”. Os argumentos podem ser teóricos (premissa descritiva e conclusão
descritiva) ou práticos. O prático pode ser normativo (ao menos uma
(D) mecanicismo, fatalismo e antifundacionalismo.
premissa normativa e a conclusão é uma norma – proibido, permitido

COMO PASSAR OAB 16ED.indb 1120 27/03/2020 11:32:18


17. Filosofia do Direito 1121

e facultativo), e, assim, imanar uma prescrição (o Direito funciona na (D) Rawls cria o conceito de véu da ignorância para
maior parte do tempo assim). Portanto, sempre que se tentar inferir uma garantir a imparcialidade
prescrição (normativa) de uma premissa apenas fática, tem-se a falácia
naturalista. Cabe elucidar que a maioria das teorias de razão prática na atu- A assertiva incorreta é a B (devendo ser assinalada), porque Rawls
alidade são de orientação kantiana. A razão prática tem a ver com a ação, se posiciona claramente no campo da ética normativa, assim não se
enquanto a teórica com o conhecimento. A ação não é de mera conduta preocupa em descrever o modo como as pessoas pensam e agem.
(psicológica, biológica), a ação tem a ver com a justificação da conduta. Seu objetivo é prescrever como as pessoas devem pensar e agir. Em
Existem três concepções gerais (denotativas) sobre razão prática: como outras palavras, o objetivo principal da ética normativa é formular
razão instrumental: orientada aos fins; como razão normativa: orientada normas válidas de conduta e de avaliação de caráter. Por outro lado,
à normas; e como razão valorativa: orientada à valores. a metaética tem um papel explicativo e não prescritivo, pois busca o
Gabarito “D”
conhecimento das regras e das proposições éticas.
Gabarito “B”
1.5.1. John Rawls
1.5.2. Habermas
(FGV – 2013)O pensador norte-americano John Rawls
(1921-2002) contribuiu para a reformulação do pensa-
(Ed. Foco 2013) Assinale a assertiva incorreta acerca da teoria
mento moral contemporâneo, ao pretender ampliar o
conceito e o papel da justiça. da justiça de Habermas:
(A) a ética habermasiana está centrada na ideia de inte-
Nesse sentido, seu modelo de justiça
ração pelo discurso
(A) é igualitarista, identificando a justiça com a igualdade
(B) sua ética não tenta definir o conteúdo dos valores, mas
econômica, a ser conquistada por meio da planifica-
apenas descrever a formação racional da vontade
ção e estatização da economia.
(C) segundo Habermas, a ação estratégica é orientada ao
(B) se baseia em uma concepção metafísica e apriorística
êxito
de Bem, que obriga a pessoa a se orientar eticamente
(D) segundo Habermas, a ação comunicativa é orientada
através de imperativos categóricos que comandam o
sentido individual de suas ações. ao êxito
(C) é utilitarista, pois concebe uma sociedade justa quando A assertiva incorreta é a “D” (devendo ser assinalada) porque a ação
suas organizações são instituídas de forma a alcançar a comunicativa visa à compreensão intersubjetiva.
maior soma de satisfação para o conjunto de indivíduos. Gabarito “D”

(D) defende as assimetrias econômicas e sociais, na


1.5.3. Tercio Sampaio Ferraz Júnior
medida em que recusa o argumento de ser vantajoso
amparar os menos favorecidos.
(E) é pluralista, no sentido de compreender o universo (Defensor Público/SP – 2012 – FCC) Na obra A Ciência do Direito,

social como composto por elementos diferentes e o jurista Tercio Sampaio Ferraz Júnior desenvolve uma
conflitantes, mas orientado por princípios, entre os análise que o conduz a concluir que o problema central
quais, o da liberdade. da Ciência do Direito é a decidibilidade. Assim, ao
envolver uma questão de decidibilidade, essa Ciência
Como bem estatui Manuel Atienza, a teoria de justiça de Rawls busca manifesta-se, para o autor, como pensamento
superar o intuicionismo e o utilitarismo, assim busca inspiração na (A) tecnocrata.
filosofia kantiana e constrói uma nova versão da teoria do contrato
(B) teleológico.
social. A teoria de justiça de Rawls tem por objetivo garantir a liberdade
individual (via tolerância) e a igualdade econômica e social. A equidade (C) fenomenológico.
é garantida pelo véu da ignorância na posição original, momento em (D) tecnológico.
que serão definidas as estruturas institucionais da sociedade, ou seja, (E) demonstrativo.
o “contrato social pactuado”. A escolha dos direitos e deveres é feita
totalmente com base na igualdade inicial, que impossibilita a definição Para Tercio, trata-se de um pensamento tecnológico. “Reconhecemos,
de princípios que vise privilegiar a condição particular de alguém (garan- é verdade, que correntes há e houve que praticaram uma espécie de
tindo a neutralidade das pessoas pactuantes). Para uma compreensão sociologismo jurídico, com a expressa intenção de fazer da ciência
melhor do dito, cabe esclarecer que véu da ignorância quer dizer que jurídica uma ciência social, empírica nos moldes das ciências do
quem está na posição original não pode saber a posição que ocupará comportamento (Sociologia, Psicologia). Mas não é a elas que nos
na sociedade, seu status social, sua sorte na distribuição de dotes reportamos neste capítulo. Mantemos, por isso, a ideia diretriz que
naturais (inteligência, força física), a situação econômica e política, comanda nossa exposição, qual seja, de que o pensamento jurídico
o nível de civilização e cultura etc. É uma teoria de justiça processual é um pensamento tecnológico específico, voltado para o problema da
que para funcionar, segundo Rawls, as pessoas devem ter direito ao decidibilidade normativa de conflitos. Nestes termos, o modelo empírico
mais amplo sistema de liberdades básicas. Por fim, é pluralista porque deve ser entendido não como descrição do direito como realidade social,
forjada pelas próprias pessoas via contrato social. mas como investigação dos instrumentos jurídicos de e para controle
Gabarito “E”
do comportamento. Não se trata de saber se o direito é um sistema
de controle, mas, assumindo-se que ele o seja, como devemos fazer
(Ed. Foco 2013) Assinale a assertiva incorreta acerca da teoria
para exercer este controle. Neste sentido, a ciência jurídica se revela
da justiça de John Rawls: não como teoria sobre a decisão mas como teoria para a obtenção de
(A) Ralws se posiciona no campo da ética normativa decisão. Mas uma vez se acentua o seu caráter criptonormativo2”.
Gabarito “D”
(B) Ralws se posiciona no campo da metaética
(C) a posição original de Rawls é uma situação hipotética
que permitirá a criação dos princípios de justiça por 2. FERRAZ JR, Tercio Sampaio. A Ciência do Direito. 2. ed. São
consenso Paulo: Atlas, 2010. p. 87-88.

COMO PASSAR OAB 16ED.indb 1121 27/03/2020 11:32:19


1122 Renan Flumian

“A Ciência do Direito (...),


(Defensor Público/SP – 2012 – FCC) 1.5.5. Karl Larenz
se de um lado quebra o elo entre jurisprudência e
procedimento dogmático fundado na autoridade dos
(OAB/Exame Unificado – 2015.3) Segundo o jusfilósofo alemão
textos romanos, não rompe, de outro, com o caráter
Karl Larenz, os textos jurídicos são problematizáveis
dogmático, que tentou aperfeiçoar, ao dar-lhe a quali-
porque estão redigidos em linguagem corrente ou em
dade de sistema, que se constrói a partir de premissas
linguagem especializada, mas que, de todo modo,
cuja validade repousa na sua generalidade racional. A
contêm expressões que apresentam uma margem de
teoria jurídica passa a ser um construído sistemático da
variabilidade de significação. Nesse sentido, assinale a
razão e, em nome da própria razão, um instrumento de
opção que exprime o pensamento desse autor acerca da
crítica da realidade”.
ideia de interpretação da lei.
Esta caracterização, realizada por Tercio Sampaio Ferraz (A) Deve-se aceitar que os textos jurídicos apenas care-
Júnior, em sua obra A Ciência do Direito, evoca elementos
cem de interpretação quando surgem particularmente
essenciais do
como obscuros, pouco claros ou contraditórios.
(A) jusnaturalismo moderno. (B) Interpretar um texto significa alcançar o único sentido
(B) historicismo. possível de uma norma conforme a intenção que a
(C) realismo crítico. ela foi dada pelo legislador.
(D) positivismo jurídico. (C) Os textos jurídicos, em princípio, são suscetíveis e
(E) humanismo renascentista. carecem de interpretação porque toda linguagem é
passível de adequação a cada situação.
O fragmento disposto na questão cuida de considerações feitas por (D) A interpretação dada por uma autoridade judicial
Tercio Sampaio Ferraz Júnior acerca do jusnaturalismo moderno.
a uma lei é uma conclusão logicamente vinculante
Segundo Luiz Recassem Xirxes, o grande objetivo do jusnatu-
que, por isso mesmo, deve ser repetida sempre que a
ralismo foi aproximar o direito posto (normatizado) do ideal de
mesma lei for aplicada.
justiça. Mas cabe asseverar que existem diferentes perspectivas
de jusnaturalismo ao longo da história e o jusnaturalismo moderno Segundo o citado autor, interpretar um texto significa ter que esco-
é apenas uma delas. Essa vertente do jusnaturalismo apareceu no lher entre as possíveis interpretações. Isso porque sempre existem
final do século XVI e início do XVII e teve como seu maior expoente múltiplos significados em um texto, e a interpretação demanda um
Samuel Pufendorf. ato decisório do intérprete, de escolha entre as opções apresenta-
Gabarito “A”
das. E a justificativa pela escolha será dada pela fundamentação
1.5.4. Gustav Radbruch apresentada. Dessa forma, tem-se uma relação dialética entre
interpretação e aplicação dos textos jurídicos ao caso concreto. O
intérprete deve adequar a regra – de necessária generalidade – ao
(OAB/Exame Unificado – 2014.2) O jusfilósofo alemão Gustav caso concreto – de sabida singularidade. Por todo o dito, pode-se
Radbruch, após a II Guerra Mundial, escreve, como afirmar que a assertiva “C” é a correta, afinal, os textos jurídicos
circular dirigida aos seus alunos de Heidelberg, seu são suscetíveis e dependem da interpretação para se adequarem à
texto “Cinco Minutos de Filosofia do Direito”, na qual particularidades do caso concreto.
Gabarito “C”
afirma: “Esta concepção da lei e sua validade, a que
chamamos Positivismo, foi a que deixou sem defesa o 1.5.6. Norberto Bobbio
povo e os juristas contra as leis mais arbitrárias, mais
cruéis e mais criminosas.” De acordo com a fórmula
de Radbruch, Costuma-se dizer que o orde-
(OAB/Exame Unificado - 2019.2)

(A) embora as leis injustas sejam válidas e devam ser


namento jurídico regula a própria produção normativa.
Existem normas de comportamento ao lado de normas
obedecidas, as leis extremamente injustas perderão
de estrutura... elas não regulam um comportamento, mas
a validade e o próprio caráter de jurídicas, sendo,
o modo de regular um comportamento...
portanto, dispensada sua obediência.
(B) apenas a lei justa pode ser considerada jurídica, pois BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. São
a lei injusta não será direito. Paulo: Polis; Brasília EdUnB, 1989.
(C) o direito é o mínimo ético de uma sociedade, de forma A atuação de um advogado deve se dar com base no
que qualquer lei injusta não será direito. ordenamento jurídico. Por isso, não basta conhecer as
(D) o direito natural é uma concepção superior ao leis; é preciso compreender o conceito e o funcionamento
positivismo jurídico; por isso, a justiça deve sempre do ordenamento. Bobbio, em seu livro Teoria do Orde-
prevalecer sobre a segurança. namento Jurídico, afirma que a unidade do ordenamento
jurídico é assegurada por suas fontes.
A fórmula de Radbruch cria uma escala que irá determinar a validade Assinale a opção que indica o fato que, para esse autor,
das leis. Primeiro, é preciso verificar se todos os requisitos formais interessa notar para uma teoria geral do ordenamento
forma respeitados. Se sim, tem-se hipoteticamente leis válidas. Depois jurídico, em relação às fontes do Direito.
cabe perscrutar sobre a justiça que emana dessas leis, se forem injustas
(A) No mesmo momento em que se reconhece existirem
continuam válidas, mas se forem extremamente injustas aí já perdem
a validade. Percebe-se que a teoria de Radbruch defende a segurança atos ou fatos dos quais se faz depender a produção de
jurídica enquanto valor para o funcionamento da sociedade, mas em normas jurídicas, reconhece-se que o ordenamento
situações extremas ele relativiza o formalismo para cumprir (ou não jurídico, além de regular o comportamento das
atrapalhar) com o ideal de justiça do Direito. pessoas, regula também o modo pelo qual se devem
produzir as regras.
Gabarito “A”

COMO PASSAR OAB 16ED.indb 1122 27/03/2020 11:32:19


17. Filosofia do Direito 1123

(B) As fontes do Direito definem o ordenamento jurí- 1.5.8. Herbert Hart


dico como um complexo de normas de compor-
tamento referidas a uma dada sociedade e a um Uma das mais importantes
(OAB/Exame Unificado - 2019.1)
dado momento histórico, de forma que garante a questões para a Filosofia do Direito diz respeito ao
vinculação entre interesse social e comportamento procedimento que define uma norma jurídica como
normatizado. sendo válida.
(C) Como forma de institucionalização do direito posi- Para o jusfilósofo Herbert Hart, em O Conceito de Direito,
tivo, as fontes do Direito definem o ordenamento o fundamento de validade do Direito baseia-se na exis-
jurídico exclusivamente em relação ao processo tência de uma regra de reconhecimento, sem a qual não
formal de sua criação, sem levar em conta os ele- seria possível a existência de ordenamentos jurídicos.
mentos morais que poderiam definir uma norma Segundo Hart, assinale a opção que define regra de
como justa ou injusta. reconhecimento.
(D) As normas, uma vez definidas como jurídicas, são
(A) Regra que exige que os seres humanos pratiquem ou
associadas num conjunto específico, chamado de
se abstenham de praticar certos atos, quer queiram
direito positivo. Esse direito positivo é o que comu-
quer não.
mente chamamos de ordenamento jurídico. Portanto,
(B) Regra que estabelece critérios segundo os quais uma
a fonte do Direito que institui o Direito como orde-
namento é a norma, anteriormente definida como sociedade considera válida a existência de suas pró-
prias normas jurídicas.
jurídica.
(C) Regra que impõe deveres a todos aqueles que são
A assertiva correta conforme o pensamento de Bobbio articulado no reconhecidos como cidadãos sob a tutela do Estado.
livro Teoria do Ordenamento Jurídico é a “A”. Kelsen distingue entre (D) Regra que reconhece grupos excluídos e minorias
os ordenamentos normativos dois tipos de sistemas, um que chama sociais como detentores de direitos fundamentais.
estático (as normas estão relacionadas entre si no que se refere ao
seu conteúdo) e outro dinâmico (as normas que o compõem derivam Para Herbert Hart, regra de reconhecimento é aquela que estabelece
umas das outras através de sucessivas delegações de poder, isto é, critérios segundo os quais uma sociedade considera válida a existência
através da autoridade). de suas próprias normas jurídicas.
Gabarito “A” Gabarito “B”

1.5.7. Hans Kelsen 1.5.9. Hannah Arendt


(OAB/Exame Unificado - 2018.3) Algo mais fundamental do que
(OAB/Exame Unificado - 2019.1) Isso pressupõe que a norma de
a liberdade e a justiça, que são os direitos dos cidadãos,
justiça e a norma do direito positivo sejam consideradas
está em jogo quando deixa de ser natural que um homem
como simultaneamente válidas. Tal, porém, não é possí- pertença à comunidade em que nasceu...
vel, se as duas normas estão em contradição, quer dizer,
entram em conflito uma com a outra. Nesse caso apenas ARENDT, Hannah. As origens do Totalitarismo. São Paulo:
uma pode ser considerada como válida. Cia das Letras, 2012.
A situação atual dos refugiados no mundo provoca uma
Hans Kelsen reflexão jusfilosófica no sentido do que já havia pensado
Sobre a relação entre validade e justiça da norma, o Hannah Arendt, logo após a II Guerra Mundial, em sua
jusfilósofo Hans Kelsen, em seu livro O Problema da obra As Origens do Totalitarismo. Nela, a autora sustenta
Justiça, sustenta o princípio do positivismo jurídico, que o mais fundamental de todos os direitos humanos é o
para afirmar que direito a ter direitos, o que não ocorre com os apátridas.
(A) a validade de uma norma do direito positivo é inde- Segundo a obra em referência, assinale a opção que
pendente da validade de uma norma de justiça. apresenta a razão pela qual o homem perde sua qualidade
(B) o direito possui uma textura aberta que confere, ao essencial de homem e sua própria dignidade.
intérprete, a possibilidade de buscar um equilíbrio (A) Ser privado de direitos subjetivos específicos previstos
entre interesses conflitantes. no ordenamento jurídico pátrio.
(C) o valor de justiça do ato normativo define a validade (B) Viver sob um regime de tirania que viola a liberdade
formal da norma; por isso valor moral e valor jurídico de crença e limita a liberdade de expressão.
se confundem no direito positivo. (C) Cumprir pena de privação da liberdade, quando exe-
(D) a validade de uma norma jurídica se refere à sua cutada em penitenciárias sob condições desumanas.
dimensão normativa positiva, à sua dimensão axio- (D) Deixar de pertencer a uma comunidade organizada,
lógica, e também, à sua dimensão fática. disposta e capaz de garantir quaisquer direitos.
Segundo Kelsen, a validade de uma norma do direito positivo é inde- A assertiva correta conforme o pensamento de Hannah Arendt é a “D”,
pendente da validade de uma norma de justiça. No livro O problema porque o homem perde sua qualidade essencial de homem e sua própria
da justiça, Kelsen tenta definir uma realidade jurídica com uma meto- dignidade quando deixar de pertencer a uma comunidade organizada,
dologia única, cristalina e objetiva, capaz de separar o valor jurídico disposta e capaz de garantir quaisquer direitos. Que retrata bem o caso
do valor de justiça. e o drama atual dos refugiados espalhados pelo mundo.
Gabarito “A” Gabarito “D”

COMO PASSAR OAB 16ED.indb 1123 27/03/2020 11:32:19


1124 Renan Flumian

2. QUESTÕES COMBINADAS E OUTROS A: incorreta. Quem desenvolveu a teoria do mínimo ético foi Georg
TEMAS Jellinek; B: incorreta, pois Kelsen não desenvolveu a teoria da bilate-
ralidade atributiva. No Brasil, essa teoria foi muito bem desenvolvida
(OAB/Exame Unificado – 2016.3) De acordo com o contratua- pelo jurista Miguel Reale. “Pelos estudos que temos desenvolvido
lismo proposto por Thomas Hobbes em sua obra Leviatã, sobre a matéria pensamos que há bilateralidade atributiva quando
o contrato social só é possível em função de uma lei da duas ou mais pessoas se relacionam segundo uma proporção objetiva
natureza que expresse, segundo o autor, a própria ideia que as autoriza a pretender ou a fazer garantidamente algo. Quando
de justiça. um fato social apresente esse tipo de relacionamento dizemos que
ele é jurídico. Onde não existe proporção no pretender, no fazer ou no
Assinale a opção que, segundo o autor na obra em refe-
exigir não há Direito, como inexiste este se não houver garantia espe-
rência, apresenta esta lei da natureza. cífica para tais atos. Bilateralidade atributiva é, pois, uma proporção
(A) Tratar igualmente os iguais e desigualmente os desi- intersubjetiva, em função da qual os sujeitos de uma relação ficam
guais. autorizados a pretender, exigir, ou a fazer, garantidamente, algo3”; C:
(B) Dar a cada um o que é seu. correta, pois, de fato, Thomasius fez a citada distinção na assertiva;
(C) Que os homens cumpram os pactos que celebrem. D: incorreta, pois a assertiva não correlaciona um pensamento de
Hobbes. Na obra de Hobbes, Estado e Direito surgem simultanea-
(D) Fazer o bem e evitar o mal.
mente, e seus fundamentos repousam no pacto social firmado entre
os homens. Para que haja corpo político, diz Hobbes, é preciso que
A lei da natureza que garantiria o funcionamento do contrato social
as vontades de todos sejam depositadas numa única vontade. Essa
proposto por Hobbes é a seguinte máxima: “que os homens cumpram
vontade é denominada soberania, cujo detentor é chamado de sobe-
os pactos que celebrem”.
Gabarito “C” rano, e dele se diz que possui poder soberano. Todos os restantes
são súditos. Soberania é, assim, uma vontade suprema que se coloca
(Defensor Público/RO – 2012 – CESPE) Considerando os conceitos acima das vontades individuais. O poder soberano, em Hobbes, possui
de direito e de moral, assinale a opção correta à luz da as seguintes características: a) absoluto: não tolera restrições nem
filosofia do direito. condicionamentos; b) indivisível: o soberano tem todo o poder ou
não tem poder nenhum; c) perpétuo: quem tem o poder soberano o
(A) Kant desenvolveu a teoria do mínimo ético, segundo tem para sempre. Uma vez constituído o Estado, a vontade soberana
a qual o direito representa todo o conteúdo moral passa a ser a única fonte do Direito. As leis expressam a vontade do
obrigatório para que a sociedade possa sobreviver soberano, e a validade da lei repousa no fato de ser a expressão dessa
minimamente. vontade. As leis positivas são para os súditos comandos que devem
(B) Hans Kelsen formulou a teoria da bilateralidade ser obedecidos absolutamente, enquanto as leis naturais são para o
atributiva, asseverando que a moral não se distingue soberano apenas regras de prudência. Para justificar teoricamente a
do direito, mas o complementa por meio da bilatera- sua concepção, Hobbes afirma que no Estado de natureza a condição
lidade ou intersubjetividade. do homem é a de guerra de todos contra todos, em que cada um é
(C) Christian Thomasius propôs a distinção entre o direito governado por sua própria vontade. O homem é o lobo do próprio
homem. Segundo ele, enquanto perdurar esse estado não haverá
e a moral, sob a inspiração pufendorfiana, com base
segurança de viver. Daí a ideia de que o homem não é livre no estado
na ideia de coação. de natureza, ele se torna livre no estado civil. A liberdade passa a
(D) Thomas Hobbes desenvolveu a teoria da atributi- ser uma realidade quando se completa a passagem do estado de
vidade, segundo a qual direito e moral estão inter- natureza para o Estado Leviatã. Liberdade passa a ser, desse modo,
-relacionados, tendo ambos origem no direito natural. a conformação com a ordem jurídica estatal, um padrão objetivo
(E) Max Scheler preconizava uma espécie de moral pura, produzido pelo Estado; E: incorreta. Max Scheler nunca preconizou
condição para a existência de um comportamento a dita moral pura, pelo contrário, ele criticava o pensamento como
que, guiado pelo direito e pela ética, não muda apreensão intelectual-racional.
Gabarito “C”
segundo as circunstâncias.

3. REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 25. ed. São


Paulo: Saraiva, 2001. p. 47-48.

COMO PASSAR OAB 16ED.indb 1124 27/03/2020 11:32:19


Anotações

COMO PASSAR OAB 16ED.indb 1125 27/03/2020 11:32:19


COMO PASSAR OAB 16ED.indb 1126 27/03/2020 11:32:19
COMO PASSAR OAB 16ED.indb 1127 27/03/2020 11:32:19
COMO PASSAR OAB 16ED.indb 1128 27/03/2020 11:32:19

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