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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – FACULDADE DE DIREITO

Departamento de Direito do Estado - Cadeira de Teoria Geral do Estado I

Aluna: Nathália Fernandes Gonçalves Machado│Número USP: 5451674│Turma: 195/23

FICHAMENTO: LEVIATÃ, THOMAS HOBBES

1. Dados do texto:

1.1 Título

Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de uma República Eclesiástica e Civil

1.2 Autor

Thomas Hobbes (1588-1679) foi um filósofo e teórico político inglês, considerado um


dos principais teóricos do contratualismo.

1.3 Dados da publicação

Publicado em 1651, o Leviatã é considerado o principal livro do autor. A obra é dividida


em 4 partes, quais sejam: I) Do homem; II) Do Estado; III) Do Estado cristão e IV) Do reino
das trevas.

O presente fichamento é realizado com base nos capítulos XIII a XV (pertencentes à


parte I) e capítulos XVII a XXI (pertencentes à parte II), da Editora Nova Cultural,
disponibilizados através do seguinte link, na plataforma Moodle - USP:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/6885721/mod_resource/content/2/HOBBES.%20Lev
iata.%20Trechos%20selecionados..pdf

2. Tese do autor

O Estado é um homem artificial, criado por meio de um pacto social entre todos e cada
um dos outros, para que os representem a fim de sair do estado de natureza, no qual não existem
limitações de poderes e, portanto, há a guerra de todos contra todos. Com o pacto social, os
homens cedem sua liberdade em troca de um poder soberano que mantenha a paz e a proteção.

3. Subteses do autor

3.1. Primeira Parte │ Do homem

3.1.1. Capítulo XIII - Da condição natural da humanidade relativamente à sua felicidade e


miséria

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- Por natureza, todos os homens são iguais entre si. Mesmo que possa haver diferenças entre os
homens no que diz respeito à força física ou ao intelecto, quando ambas as forças são
consideradas em conjunto, a diferença entre os homens não é significante. Portanto, se dois
indivíduos desejam a mesma coisa, eles se tornam inimigos e se esforçam para destruir ou
subjugar um ao outro, o que resulta na guerra de todos contra todos.

- São três as principais causas da discórdia entre os homens: a competição (que visa o lucro), a
desconfiança (para garantir a segurança) e a glória (para manutenção da reputação).

- O estado da guerra persiste enquanto os homens não vivem sob um poder comum capaz de
mantê-los submissos. Este estado consiste não apenas na batalha, mas no lapso temporal no
qual a disposição para a batalha é perceptível e iminente. Neste tempo, existe um constante
temor da morte violenta e os homens vivem de maneira solitária, sórdida, embrutecida e curta.

- Neste estado de natureza, não existem leis, tendo em vista que não pode haver lei sem prévia
determinação da(s) pessoa(s) competente(s) a fazê-las. E onde não há lei, não há injustiça. Desta
forma, a justiça e a injustiça só fazem sentido aos homens que vivem em sociedade e, durante
a guerra de todos contra todos, os homens utilizam todos os meios possíveis para se protegerem
e se defenderem. No estado de natureza, também não há propriedade.

- O homem busca a paz através de suas paixões (medo da morte, desejo de vida confortável e
esperança de consegui-la através de seu trabalho) e da razão (normas de paz acordadas entre os
homens, também chamadas de leis de natureza).

3.1.2. Capítulo XIV - Da primeira e segunda leis naturais, e dos contratos

- O direito de natureza (jus naturale) consiste na liberdade que cada homem tem de preservar
sua vida, utilizando-se de tudo que julgar adequado. Entende-se liberdade como ausência de
impedimentos externos.

- A lei de natureza (lex naturalis) determina a proibição de que um homem destrua sua vida ou
se prive de meios necessários para preservá-la.

- Regra geral da razão: “Todo homem deve esforçar-se pela paz, na medida em que tenha
esperança de consegui-la, e caso não a consiga pode procurar e usar todas as ajudas e vantagens
da guerra”.

- Primeira lei de natureza: Todo homem deve esforçar-se pela paz.


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- Segunda lei de natureza: Concordar em abandonar seu direito sobre todas as coisas, na mesma
medida que os outros homens renunciarem ao seu direito sobre as mesmas coisas, de modo a
haver o mesmo grau de liberdade entre todos os homens. Em outras palavras, e segundo o
Evangelho: “Faz aos outros o que queres que te façam a ti”.

- Existem duas formas de renunciar a um direito: renunciando a ele ou transferindo-o para


alguém, sendo em ambos os casos ato voluntário, não podendo ser desfeito (o que seria
injustiça).

- O abandono do direito é feito por declaração ou expressão da vontade, por meio de palavras
e/ou ações, que vinculam o homem por meio do medo de eventuais consequências da ruptura
do acordado.

- Existem direitos intransferíveis e irrenunciáveis, entre os quais: direito a resistir a ataques


contra sua vida, direito a resistir a ferimentos, cadeias e cárcere, direito a segurança e meios de
preservação de sua vida.

- A transferência mútua de direitos chama-se contrato. Os sinais do contrato podem ser


expressos ou por inferência. Há transferência do direito mesmo quando as palavras são do
tempo futuro. A transferência do direito deve ser acompanhada das condições de usufruir do
mesmo. Quando há transferência do direito de governar soberanamente a um homem, deve-se
transferir também os meios por quais fazê-lo, como a possibilidade de tributação e nomeação
de funcionários.

- Em estado de natureza, havendo suspeita entre as partes, o contrato torna-se nulo. Já em um


Estado civil, por haver poder coercitivo ao cumprimento do acordo, a validade do contrato é
mantida e obriga-se o cumprimento pelas partes, a não ser em casos em que fato gerador do
medo se observe apenas depois de celebrado o pacto (chama-se pacto o contrato no qual uma
parte entrega o bem contratado e recebe por ele em momento posterior previamente
determinado). Os pactos são válidos, quando não houver lei que os proíbam. Os homens ficam
liberados de seus pactos quando os cumprem ou quando são perdoados.

3.1.3. Capítulo XV – Das outras leis de natureza

- Terceira lei de natureza: Os homens são obrigados a cumprirem os pactos que celebrarem.

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Trata-se da fonte e origem da justiça, uma vez que sem a anterior transferência de direito,
todos os homens tinham direito a tudo, o que consistia no estado de natureza. Além disso, a
injustiça consiste no não cumprimento de um pacto. E justiça refere-se a tudo aquilo que não é
injusto.

O Estado surge, em oposição ao estado de natureza, como um poder coercitivo que obriga os
homens a manterem os contratos celebrados por meio do medo da punição decorrente da quebra
do acordo, de modo a garantir a validade dos pactos. A partir da existência do Estado, passa-se
a ter a ideia de propriedade.

- Quarta lei de natureza: Quem recebe alguma dádiva por meio da gratidão, deve ser esforçar
para que o doador não tenha motivo de arrependimento, uma vez que a promessa é voluntária
e não configura obrigação.

- Quinta lei de natureza: Os homens devem ser complacentes e se esforçarem para uma
convivência harmoniosa na sociedade.

- Sexta lei de natureza: Para garantir a paz futura, deve-se perdoar erros passados a quem
demonstrar arrependimento e desejo de perdão.

- Sétima lei de natureza: Castigos devem ser aplicados apenas com a finalidade de correção do
ofensor ou como exemplo aos demais, de forma a garantir a paz futura e não ser utilizada como
meros atos de vingança.

- Oitava lei de natureza: Proibição de declaração de ódio a outrem, por meio de atos, palavras,
atitudes ou gestos.

- Nona lei de natureza: Todos os homens são iguais, por natureza.

- Décima lei de natureza: Em tempos de paz, os homens devem possuir os mesmos direitos, não
sendo possível a ninguém dispor de direitos que não sejam disponíveis a qualquer outro homem.

- Décima primeira lei de natureza: O juiz deve ser imparcial em um julgamento.

- Décima segunda lei de natureza: Distribuição equitativa das coisas, de forma que as coisas
que não podem ser divididas sejam gozadas em comum, se possível, ou, alternativamente,
divididas proporcionalmente entre os que a ela têm direito.

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- Décima terceira lei de natureza: O salvo-conduto deve ser concedido a todos que servem como
mediadores para a paz.

- Décima quarta lei de natureza: As controvérsias de direito devem ser decididas por meio do
julgamento de um árbitro.

- As leis da natureza são imutáveis e eternas e servem para preservar as sociedades, por meio
da manutenção da paz.

3.2. Segunda Parte │ Do Estado

3.2.1. Capítulo XVII – Das causas, geração e definição de um Estado

- O Estado força os homens, por medo do castigo, a cumprir com seus pactos e a respeitar as
leis naturais, fazendo com que eles saiam do estado natural de guerra, e garantindo a
persistência da vida humana. As leis da natureza são contrárias as paixões naturais do homem
e “os pactos sem espada não passam de palavras”, de modo que esse papel coercitivo do temor
é fundamental para a convivência saudável entre os homens em uma sociedade civil.

- A segurança, defesa e proteção não podem ser garantidas por um pequeno número de homens,
tampouco por uma multidão na qual cada homem age de acordo com seu juízo pessoal ou que
fosse governada por um critério único por um período limitado.

- Alguns animais, chamados sociáveis, vivem em sociedade sem necessidade do poder


coercitivo, no entanto apresentam diversas diferenças com a sociedade humana, as quais
impedem que o homem viva da mesma maneira. Entre elas é possível incluir: a) a constante
competição entre os homens pela honra e dignidade que leva ao ódio e à inveja e, finalmente,
ao estado de guerra; b) o homem se sente feliz apenas quando se sente superior a outros homens,
de forma a promoverem o bem individual em detrimento do bem comum; c) não são raros os
homens que se julgam mais sábios e mais aptos a governar os outros, o que os leva a tentativas
diversas de tomada do poder, resultando no caos e na guerra civil; d) os homens possuem o
dom da oratória, podendo confundir e influenciar seus companheiros e perturbar a paz entre os
homens; e) os homens, por entenderem as diferenças entre injúria e dano, são capazes de
ofender seus semelhantes; f) o acordo entre os homens é artificial e surge através de um pacto
e, portanto, é necessário um poder coercitivo que os obrigue a cumprir com o pacto.

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- Para garantir a segurança e a paz, deve-se conferir toda força e poder a um homem, ou a uma
assembleia de homens que possa representar a vontade comum. Esta ideia extrapola a ideia de
consentimento, tratando-se de uma unidade de todos os homens na pessoa do soberano. Assim,
a multidão se reúne em uma pessoa artificial chamada Estado, Leviatã ou Deus Mortal, que se
encontra abaixo do Deus Imortal e é responsável por manter o estado de paz e a defesa comum.

- O poder soberano pode ser adquirido de duas maneiras: por instituição ou por aquisição.

3.2.2. Capítulo XVIII – Dos direitos dos soberanos por instituição

- Chama-se poder soberano por instituição ao que é resultado da submissão voluntária da


multidão, por meio de um pacto, a um homem - ou uma assembleia de homens – que a
representará e tomará decisões com a finalidade da paz e proteção.

- Todos, sem exceção, se tornam súditos desse poder soberano instituído, independente de terem
votado a favor ou contra ele.

- As decisões e atos do homem – ou assembleia de homens – portador do poder são como


decisões e atos de todos e cada um dos seus súditos, não sendo possível ao soberano cometer
injúrias ou injustiças. O soberano não pode ser morto ou punido por nenhum de seus súditos.
Cabe ao homem – ou assembleia de homens – soberano: a) julgar os meios para paz e defesa e
atuar das maneiras necessárias para garanti-las; b) regular os conhecimentos e doutrinas que
devem ser passados aos súditos; c) estabelecimento das propriedades de cada homem; d)
autoridade judicial para julgar todas as controvérsias; e) entrar em guerra ou celebrar paz com
outros Estados; f) nomeação de servidores para compor a administração do Estado; g) distribuir
recompensas e punições aos súditos.

- Os direitos do soberano são incomunicáveis e inseparáveis.

- O poder e a honra do soberano devem ser maiores do que a de todos os seus súditos.

3.2.3. Capítulo XIX – Das diversas espécies de governos por instituição, e da sucessão do poder
soberano

- Existem três espécies de governo:

a) monarquia – quando o representante é um só homem;

b) democracia – quando o representante é uma assembleia de todos os homens;


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c) aristocracia – quando o representante é uma assembleia formada por uma parte dos homens.

- Estas formas de governo, quando há descontentamento do povo, são chamadas,


respectivamente, tirania, anarquia e oligarquia.

- Há uma defesa da monarquia como melhor forma para manutenção da paz, uma vez que: a)
os interesses pessoais do soberano coincidem com os interesses públicos, ao contrário de
governos feitos por assembleia onde paixões humanas dos governantes podem levar a decisões
que não sejam as melhores ao bem comum; b) o monarca pode receber conselhos dos súditos
mais indicados em cada situação e com a possibilidade de sigilo enquanto nas assembleias são
admitidos conselhos apenas de pessoas previamente autorizadas; c) a ausência de membros da
assembleia na ocasião da votação pode levar a resultados diferentes do esperado, caso todos
estivessem presentes, o que não tem como ocorrer quando a decisão é feita por um único
homem; d) não há como ter discordância na decisão de um monarca, enquanto na assembleia
esses embates podem levar ao caos; e) questão da sucessão, na qual a maior dificuldade ocorre
na monarquia e deve respeitar vontade escrita ou demonstrada pelo soberano, inclusive com
base nos costumes.

3.2.4. Capítulo XX – Do domínio paterno e despótico

- Em um Estado por aquisição, o poder é obtido por meio da força, de modo que a submissão a
um soberano é feita por medo dele.

- Os direitos e consequências do poder são os mesmos no caso de poder instituído ou adquirido.

- O domínio pode ser adquirido de duas formas:

a) por geração (paterno), trata-se do domínio que o pai, na maioria dos casos, tem sobre os
filhos, netos etc.;

b) por conquista (despótico) é conquistado por vitória militar e conferido através de um pacto
entre o vencedor e seu servo em troca da garantia da vida e liberdade de seu corpo.

- O poder soberano, embora possa-se imaginar consequências maléficas de sua existência, é


necessário e bem-vindo, uma vez que a consequência de sua não existência é ainda pior: a
guerra eterna de todos contra todos.

3.2.5. Capítulo XXI – Da liberdade dos súditos

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- Liberdade deve ser entendida com ausência de oposição. “Um homem livre é aquele que,
naquelas coisas que graças a sua força e engenho é capaz de fazer, não é impedido de fazer o
que tem vontade de fazer.”

- A liberdade é compatível com o medo e com a necessidade.

- O Estado é um homem artificial criado pelo homem para a manutenção do estado de paz. As
leis civis são cadeias artificiais que os homens criaram por meio de pactos mútuos em vista ao
bem comum. Os homens têm liberdade de fazer tudo aquilo que não é proibido em lei, de acordo
com a razão de cada um e que seja mais favorável a seu interesse.

- A liberdade do súdito não limita o poder soberano, pois só existe liberdade nas coisas sobre
as quais o soberano não legislou e, portanto, permitiu que fossem escolhidas por cada homem.
Também não se limita o poder soberano sobre a vida e a morte.

- Existe liberdade dos súditos, mesmo se o soberano ordenar o contrário, na recusa em: a) se
matarem, ferirem ou mutilarem; b) confessar crime; c) matar a outra pessoa, a não ser que a
recusa prejudique o fim comum de proteção e paz.

- A obrigação de um súdito para com o soberano dura enquanto este for capaz de garantir sua
proteção e a manutenção da paz.

4. Conclusões do autor

Na natureza, vive-se em constante estado de guerra de todos contra todos, uma vez que
cada homem age de acordo com as suas vontades e desejos, subjugando seus vizinhos para
alcançar seus objetivos pessoais. Para evitar esse estado caótico, é necessário que exista um
poder coercitivo que mantenha os homens em respeito uns para com os outros por meio do
medo da punição advinda do não cumprimento das leis e pactos firmados. Desta forma, o poder
soberano, na forma do Estado, ao limitar e controlar os poderes e liberdades de seus súditos,
age como um garantidor da paz e proteção entre os homens. São três as formas de governo:
monarquia, democracia e aristocracia, sendo o primeiro deles o mais capacitado na garantia do
bem comum, uma vez que, neste caso, o interesse público coincide com o interesse do monarca.

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