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Universidade de São Paulo – Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

Aluno: Fabio do Carmo Ferreira Filho – 12519230 (NUSP)


Turma: 196/ 23

Trabalho de Teoria Geral do Estado - Professora Maria Paula Dallari Bucci.


Fichamento do livro “Leviatã” de Hobbes.
Capítulos XIII, XIV, XV, XVII, XVIII, XIX, XX e XXI.

Dados do Texto:
Título: Leviatã ou Matéria, Palavra e Poder de um Governo Eclesiástico e Civil.
Autor: Thomas Hobbes.
Dados de Publicação: Publicado em abril de 1651 na Inglaterra.

Tese do autor:

Para o estabelecimento da paz e para a busca do bem comum, rejeitando, assim, a


condição de guerra, os homens devem realizar um contrato social normativo de
transferência mutua de direitos. Para que o pacto seja efetivo deve-se formar um poder
comum soberano (Estado) com poder de espada.

Subteses do autor:

1. Condição natural da humanidade e a condição de guerra.

Todos os homens são iguais em questão de corpo e espírito e, embora haja algumas
diferenças entre eles, estas são insuficientes para que qualquer homem clame por um
benefício natural exclusivo.
Derivada desta igualdade de capacidade surge a igualdade da esperança de atingir
seus objetivos pessoais.
Quando dois homens desejarem o mesmo fim, sendo impossível que ambos possam
desfrutar deste ao mesmo tempo, eles se tornarão inimigos. Essa inimizade cria um
clima de desconfiança entre os homens.
Na natureza do homem é possível encontrar três principais “causas de discórdia”. A
primeira é a competição, que leva o homem a atacar o outro visando o lucro; a segunda
é a segurança, que leva o homem a atacar o outro visando defender-se; a terceira é a
glória, que leva o homem a atacar outro visando a construção e manutenção de sua
reputação.
Caso os homens passem a conviver sem um poder comum capaz de regular as relações
sociais, controlando, assim, a desconfiança que há entre os homens, eles se
encontrarão em uma condição que se chama guerra, uma guerra de “todos os homens
contra todos os homens”.
Nessa condição de guerra, nada pode ser injusto ou mal, pois “onde não há poder
comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça”. Os homens, então, apelando a
razão, chegam a acordo estabelecendo normas: as “leis de paz” ou “leis da natureza”.

2. Contratualismo

Todo homem é livre para usar o seu próprio poder da maneira que mais lhe aprouver,
sem nenhuma limitação e impedimento externo. Porém, essa liberdade irrestrita acaba
por “respingar” no direito a vida de outros homens, perpetuando o medo e, por
consequência, a condição de guerra de todos contra todos.
Para alcançar a paz e proteger a vida, respeitando, assim a primeira e fundamental lei
da natureza, cada homem renuncia do direito a todas as coisas para que haja,
finalmente, segurança de viver.
Ao renunciar de seus direitos e liberdades infinitas, os homens esperam que todos os
outros abdiquem, também, destes. Ou seja, esperam que ocorra uma transferência
mútua de direitos. Quando este pacto é firmado e os direitos são efetivamente
transferidos, há o estabelecimento de um contrato.
Porém, esse contrato, se baseado apenas em palavras, não possui força alguma, assim,
nenhum homem se sentiria realmente obrigado a cumprir seus pactos. Por isso o
Estado deve usar poder de espada para que todos os homens sejam levados, pelo medo
de punição por parte desse poder comum, a respeitar os pactos celebrados.
Resumindo: Os homens, sem Estado, encontram-se em condição de guerra, incapazes
de alcançar a paz. Então, abrem mão de parte da sua liberdade, esperando que todos
os homens façam a mesma coisa simultaneamente, para que seja estabelecida a paz e
a preservação da vida. Esse pacto coletivo de transferência de direitos e liberdades é
o contrato. A efetividade desse contrato deve ser assegurada pelo Estado
(soberano).
3. As Leis Naturais.

Primeira lei: Essa lei determina a procura pela paz e pela manutenção desta.
Segunda lei: Essa lei determina a transferência de direitos e liberdades para o
estabelecimento de um contrato. Este contrato faz com que a liberdade do uso do
poder do próprio homem cause danos a vida do outro.
Terceira lei: Essa lei determina que os homens devem cumprir os votos que
celebrarem. Sem essa lei os pactos perderiam todos o seu valor e os homens
permaneceriam em condição de guerra. Dessa lei surge o conceito de justiça, porque,
antes de celebrado um pacto o homem tem direito a todas as coisas e, portanto, nada
é injusto, mas, depois, da celebração do pacto, rompê-lo é injusto; esta é a definição
de injustiça: o rompimento de um pacto celebrado.
Quarta lei: Essa lei determina que o beneficiado por uma doação de outro homem
deve agir de forma a não frustrar o doador. Sem essa lei não há confiança entre os
homens. Aquele que descumpre essa lei é chamado ingrato.
Quinta lei: Essa lei determina que todos os homens devem se adaptar dentro do corpo
social, abrindo, assim, mão de seus desejos supérfluos. Aqueles que cumprem essa lei
são chamados sociáveis; os que não são chamados insociáveis.
Sexta lei: Essa lei determina que deve haver perdão de ofensas passadas, aos
arrependidos, para que a paz futura possa ser alcançada,
Sétima lei: Essa lei determina que os homens ao se vingar (retribuir o mal com o mal)
os homens considerem o bem futuro em detrimento da ofensa passada. Essa lei é
uma consequência da lei anterior.
Oitava lei: Essa lei determina que nenhum homem deve declarar ódio ou desprezo
pelo outro. O descumprimento dessa lei se chama contumélia.
Nona lei: Essa lei determina que todos os homens devem considerar-se iguais em si.
O descumprimento dessa lei se chama orgulho.
Décima lei: Essa lei determina que nenhum home pode exigir para si aquilo que não
permite que seja, também, reservado a outro. Descumprir essa lei é, também, negar a
igualdade dos homens. Aquele que cumpre essa lei é chamado modesto; aquele que
não é chamado arrogante.
Décima primeira lei: Essa lei determina que aquele homem que for escolhido juiz
deve tratar ambas as partes equitativamente.
Décima segunda lei: Essa lei determina que a cada homem deve caber aquilo que lhe
pertence. O descumprimento dessa se chama prosopolepsía.
Décima terceira lei: Essa lei determina que todas as coisas que não podem ser
divididas sejam usadas em comum, sem distribuição desigual. Caso não seja possível
fazê-lo, deve-se determinar a possa desta coisa por meio de sorteio (arbitrário ou
natural).
Décima quarta lei: Essa lei determina que todo mediador deve ter salvo-conduto.
Décima quinta lei: Essa lei determina que caso haja controvérsias entre duas partes
um árbitro deve ser acionado e estas devem se submeter a ele. Este árbitro deve ser
imparcial e não deve tirar proveito (suborno) de nenhuma decisão.
Essas leis podem resumidas pela máxima “faz aos outros o que gostarias que te
fizessem a ti”.

4. Fim último e causa final do Estado.

Os homens buscam uma vida mais satisfeita e segura, ou seja, sair da condição de
guerra que existe quando não há poder comum capaz de forçá-los, por meio do medo,
ao cumprimento dos pactos celebrados e das leis naturais.
Os homens, diferentemente dos animais (abelhas e formigas), precisam deste poder
comum, pois: os homens estão envolvidos em competições de honra e dignidade de
forma permanente; para os homens há diferenciação entre bem comum e bem
individual; os homens possuem razão; os homens possuem o poder do falar e enganar
por meio deste ato; os homens são capazes de distinguir injúria e dano; os homens
não conseguem atingir um acordo de maneira natural, apenas mediante pacto.
Portanto, a única forma de defender os homens da desconfiança e da condição de
guerra é por meio da instituição de um poder comum. Para estabelecer esse poder
comum deve-se conferir toda força poder a um homem ou assembleia de homens.
Todos os homens decidem por ceder e transferir o direito de governar-se a si mesmo
ao soberano. Esta passa a representar todos os homens. Essa união de todo o povo em
uma pessoa se chama Estado, grande Leviatã ou Deus Mortal.

5. Os direitos do soberano.

Primeiro direito: Esse direito diz que nenhum homem pode romper seu pacto com o
soberano sem permissão, seja para celebrar um novo pacto com outro, seja para
simplesmente renunciar à soberania deste.
Segundo direito: Esse direito diz que o soberano não estabelece pacto com todos os
homens individualmente, mas que é tornado soberano mediante “um pacto celebrado
entre cada um e cada um”.
Terceiro direito: Esse direito diz que o quando a maioria escolher um soberano por
meio de votação, aqueles que discordam (a minoria) passar a consentir com a decisão.
Quarto direito: Esse direito diz que nenhum ato do soberano pode ser considerado
injusto, pois cada indivíduo é autor dos atos de seu soberano (representante).
Consequentemente, o soberano não pode ser punido por seus atos.
Quinto direito: Esse direito diz que o soberano não pode ser justamente punido por
seus súditos.
Sexto direito: Esse direito diz que o soberano deve decidir quais doutrinas e opiniões
são válidas ou proibidas, podendo, até mesmo, proibir a circulação e publicação de
livros. O soberano deve fazer isso para afastar do corpo social doutrinas que
contrariem a paz.
Sétimo direito: Essa lei diz que o soberano tem poder para prescrever as regras,
enunciando deveres, direitos e limites, e, dessa forma, estabelecer a existência da
propriedade. As regras da propriedade são as leis civis, as leis de cada Estado em
particular.
Nono direito: Esse direito diz que o soberano deve decidir quando, como e com quem
fazer guerra e quando, como e com quem estabelecer relações de paz. Todas as
decisões devem ser tomadas visando o bem comum.
Décimo direito: Esse direito diz que o soberano pode escolher funcionários públicos
que considerar mais adequados para seu propósito.
Décimo primeiro direito: Esse direito diz que o soberano pode recompensar ou punir
qualquer súdito de acordo com a lei. Caso não haja lei, o soberano deve agir de acordo
com aquilo que considerar mais proveitoso para o Estado.
Décimo segundo direito: Esse direito diz que soberano pode conceder títulos de
honra para seus súditos.

6. Espécies de governo e suas diferenças.

A diferença entre os tipos de governo tem ligação com o tipo de soberano. Aquele
governo em que o soberano é um só homem, chama-se monarquia; aquele em que o
poder pertence a uma assembleia de todos, chama-se democracia; aquele em que o
poder pertence a uma assembleia apenas de uma parte dos homens, chama-se
aristocracia.
Alguns outros nomes de governo, como tirania e oligarquia, não representam outros
tipos de governo, mas, uma forma pejorativa de tratar aquelas espécies já comentadas.
A tirania é um termo usado por aqueles que desaprovam a monarquia; a oligarquia é
um termo usado por aqueles que desaprovam a aristocracia; a anarquia é um termo
usado por aqueles que desaprovam a democracia.
Mesmo que só existam três formas de governo (monarquia, democracia e
aristocracia), pode-se observar que existem outras formas de governo que acabam
derivando das citadas anteriormente. Por exemplo: As monarquias eletivas, o monarca
é eleito e permanece com poderes limitados no poder por um determinado intervalo
de tempo.
Há, entre as espécies de governo, diferenças baseadas na capacidade de garantir a paz
e a segurança de seu povo. As diferenças são estas:
Primeiro lugar: Na monarquia o interesse público e o privado (do soberano) estão
intimamente unidos, pois a prosperidade do povo é, também, a prosperidade do
monarca. Nos sistemas de assembleia, os interesses pessoais dos membros não são,
necessariamente, alinhados com o interesse público, pois a prosperidade desses
homens não depende da prosperidade pública. Nestes sistemas há espaço maior para
corruptos e ambiciosos.
Segundo lugar: Na monarquia o soberano recebe conselhos daqueles que ele próprio
julga útil, apontando para o bem comum. Nos sistemas de assembleia, os homens
ouvidos, em sua maioria, buscam a aquisição de riquezas.
Terceiro lugar: Na monarquia o soberano está sujeito a uma única inconstância, a
sua natureza humana. Nos sistemas de assembleia, além da própria natureza humana,
o corpo de membros está sujeito a inconstância do número.
Quarto lugar: Na monarquia o soberano não pode, logicamente, discordar de si
mesmo. Nos sistemas de assembleia, a discordância, por inveja, interessa ou
divergência de ideias, é uma possibilidade real. Dependendo do grau de discordância,
pode ser gerada uma guerra civil.
Quinto lugar: Na monarquia o soberano pode beneficiar de forma ilícita um súdito
favorito. Nos sistemas de assembleia, também há possibilidade de que haja imoral
favorecimento de certos súditos, porém, nesse sistema, por mais homens terem poder,
mais pessoas podem ser beneficiadas por mero favoritismo.
Sexto lugar: Na monarquia pode ocorrer o inconveniente da soberania ser herdada
por uma criança, mas esse problema pode ser contornado com facilidade caso sejam
tomadas suficientes precauções, como, por exemplo, a escolha de um tutor. Nos
sistemas de assembleia, a soberania se encontra em um constante governo pertencente
a uma criança, pois, da mesma forma que uma criança aceita, sem julgamentos, os
conselhos que lhe dão, uma assembleia deve aceitar o conselho da maioria (sendo ele
bom ou mau), não existindo abertura para discordância.
7. A questão da sucessão.

O monarca, afim de definir quem seria o sucessor da soberania, poderia escrever um


testamento em que apontasse diretamente para o homem que seria alvo do direito da
sucessão.
Caso não houvesse testamentos, seria levado em conta o costume como guia para
definir o sucessor. Portanto, se uma sociedade tem o costume de que o poder seja
entregue a mulher mais nova da família, por exemplo, ao não deixar um testamento,
o monarca sinaliza que concorda com o costume e que a sucessão deve partir dele.
Caso não houvesse testamentos e nem costumes, o sucessor deveria ser o filho,
preferencialmente o filho homem, do soberano. Leva-se em consideração a máxima
de que os homens naturalmente tendem a favorecer seus filhos.
Caso não houvesse testamentos, costumes e nem filhos, o sucessor deveria ser algum
parente, pois “mais um irmão do que um estranho”.

8. A questão do domínio.

O domínio pode ser adquirido de duas maneiras distintas. São elas:


O direito de domínio por geração: É o direito que os pais tem sobre seus filhos
(chama-se paterno). Esse direito não é proveniente da geração, mas do consentimento
do filho. Determina-se que, em caso de abstenção dos pais, o domínio pertence a quem
alimento a criança, que a preservou a vida.
O direito de domínio por conquista (ou vitória militar): É o direito de um senhor
sobre seu servo, de um vencedor sobre o seu vencido.
Esses tipos de domínio são diferentes da soberania por instituição, pois, nesta, os
homens não se submetem aos monarcas por temê-los diretamente, mas por medo uns
dos outros.

Conclusão do autor:

Todos os homens, no início, viviam sem regra, com liberdade irrestrita e em uma
constante condição de guerra. Os homens temiam os outros homens, pois todos
representavam uma ameaça real, não havia paz, apenas conflito.
Visando romper com sua condição natural e alcançar, finalmente, a paz, os homens
estabeleceram um contrato social de transferência mútua de direitos, um pacto de
submissão consentido.
Para que esse contrato fosse efetivo, foi criado um poder comum normativo capaz de
regular as interações sociais. Esse poder comum é representado pelo Estado forte
(soberano) ao qual é conferido todo o poder de ação. O Estado se faz necessário, pois os
homens naturalmente tendem a suas paixões e, portanto, tenderiam a descumprir o pacto
estabelecido, retornando, assim, a condição de guerra de todos contra todos; para evitar
que isso aconteça o Estado opera através do poder da espada, do domínio e do medo da
punição, para garantir que os homens cumpram com seus pactos e respeitem as leis da
natureza.

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