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Letícia Feher Lino de Araújo. Nº USP: 14588812. Turma 23.

Título: Leviatã (Capítulos XII, XIV, XV, XVII, XVIII, XIX, XX e XXI.
Autor: Thomas Hobbes.
Dados da Publicação: Trechos selecionados obtidos em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7420134/mod_resource/content/2/HOBBES.%20L
eviata.%20Trechos%20selecionados..pdf

Condição natural da humanidade:


Igualdade: Para Hobbes, os homens são iguais por natureza e, portanto, possuem o mesmo
direito a todas as coisas. Assim, se mais de um homem deseja a mesma coisa
simultaneamente, eles se esforçam para dominar o outro, instalando uma guerra de todos
contra todos. É importante ressaltar que essa guerra não se traduz apenas nas batalhas, mas
também no período de tempo em que elas podem ser travadas. Esse estado ocorre pois não
existe poder comum que imponha a todos respeito; e nele não existe desenvolvimento, visto
que o futuro é incerto.
São citadas três principais causas de discórdia:
Competição, quando os homens querem se tornar senhores uns dos outros, visando
o lucro;
a desconfiança, quando os homens priorizam a própria defesa;
e a glória, quando os homens visam a reputação.
Pactos: Na condição natural da humanidade, não existe a possibilidade de formar pactos
pois não existe poder coercitivo para impor o medo sobre estes,
Medo: Para o autor ele possui duas causas gerais, a religião (descrita como o poder dos
espíritos invisíveis) e o poder dos homens que se pode ofender.

Contratualismo:
O que é o contrato: O contrato é descrito como uma transferência mútua de direitos,
visando um direito que foi reciprocamente transferido ou qualquer outro bem. Alguns
direitos são impossíveis de abandonar ou transferir, como o direito à defesa.
Os sinais de contrato podem ser expressos (sendo as palavras proferidas) ou por inferências
(sendo tudo o que mostra a vontade do contratante).
O autor cita alguns tipos de contratos, como o pacto ou a convenção, que é quando um dos
contratantes entrega o direito contratado com fé que o outro irá cumprir a sua parte no
futuro. A fé ou a observância da promessa é a denominação do ato de confiar que a outra
parte do contrato irá cumprir com a sua parte. Já a doação é uma transferência não mútua
que depende apenas da boa vontade do doador.
Pactos: Antes, na condição natural de natureza, os pactos não podiam ser firmados. Com a
criação de um poder comum acima dos contratantes, que possui força para impor o seu
cumprimento, os pactos não são mais nulos.
Os homens são liberados de seus pactos de duas maneiras: cumprindo-o (pois, ao
cumprir se encerra a obrigação) ou sendo perdoado (pois cessa o interesse do
contratante).
Pactos anteriores anulam pactos posteriores. Não existe possibilidade de transmitir
um direito a alguém e logo transmiti-lo para outro.
Sobre a justiça: Os substantivos justiça ou injustiça, quando aplicada às ações, indicavam
conformidade ou incompatibilidade com a razão e certas ações determinadas
A justiça das ações se divide em
Comutativa: Igualdade do valor dos objetos de um contrato.
Distributiva: É a justiça definida por um árbitro, sendo a distribuição de
benefícios a pessoas de mesmo mérito. Tal justiça tem como base a lei
fundamental de igualdade, e sua violação é caracterizada como prosolepsia.
Motivos que a humanidade precisa do Contrato Social: Nessa seção, Hobbes compara os
homens com animais como formigas e abelhas, que vivem socialmente entre si. Os motivos
são…
Os homens competem entre si pela honra e dignidade.
O homem só encontra felicidade na comparação com os outros, e distinguem o bem
comum e o individual.
Os homens se julgam mais sábios e capacitados que os outros.
Os homens são capazes de ludibriar outros, semeando descontentamento.
Logo, se o acordo entre homens ocorre de maneira artificial, precisa-se de um poder comum
que mantenha em respeito às leis naturais.
Criação do Estado: A população precisa conferir todo o seu poder na figura de um só
homem (ou assembleia de homens) para defendê-los de ameaças estrangeiras e garantir-lhes
segurança.

Leis de natureza (lex naturalis):


Direitos de natureza (jus naturale): É a liberdade de cada homem usar seu próprio poder a
sua maneira.
Neste contexto, liberdade significa a ausência de impedimentos externos.
Um homem livre é aquele que não é impedido de fazer as suas vontades, desde que
tenha capacidade para tal.
O medo e a liberdade, e o medo e a obrigação são compatíveis.
Leis de natureza: Regras gerais estabelecidas pela razão que proíbem ao homem tudo aquilo
que pode ocasionar a morte ou até mesmo, privá-lo dos meios necessários para preservar a
vida.
A famosa citação “Os pactos sem a espada, não passam de palavras, sem força para dar
qualquer segurança a ninguém” (“Covenants, without the sword, are but words, and of no
strength to secure a man at all”) se refere ao fato que as leis de natureza, na ausência do
poder comum que impõe o respeito a elas, são naturalmente contrárias às paixões humanas.
São elas:
Primeira lei de natureza: Procurar a paz e segui-la.
É chamada de lei fundamental, sendo a base de todas as leis de natureza e o
princípio norteador da organização da sociedade por Hobbes.
Os homens tendem à paz pelo medo de morrer e o desejo de viver uma vida
confortável.
Segunda lei de natureza: Os homens devem renunciar o seu direito a todas as coisas e
contentar-se com a mesma liberdade que os restantes.
Só deve ocorrer se todos os indivíduos concordam em renunciar a sua total
liberdade, senão este se tornará alvo dos demais.
Enquanto todos não renunciarem seus direitos, a guerra permanece.
Terceira lei de natureza: que os homens cumpram os pactos que celebrarem.
Essa lei é fonte e a origem da justiça, pois esta consiste no cumprimento de pactos
válidos (a sua validade é conferida pela instituição do poder civil que obriga os
homens a cumpri-los).
Sem pactos, a humanidade continua no estado de guerra de todos contra todos.
Para sobreviver em um estado de natureza, era necessário formar pactos de aliança
em prol da própria sobrevivência. Assim, quem os quebrava contava apenas com
seu poder individual. Para o autor, esses indivíduos não deveriam ser aceitos pela
sociedade, os condenando a perecer.
Quarta lei de natureza: Quem recebeu benefício de outros homens deve se esforçar para
que o doador não se arrependa da própria boa vontade.
O desrespeito a essa lei é considerada como ingratidão.
Quinta lei de natureza: Chamada de complacência, rege que cada um se esforce para
acomodar-se aos outros.
Deverão ser abandonados ou expulsos da sociedade aqueles que não se esforçarem
para se adequarem e não puderem ser corrigidos por causa de suas paixões. O autor
dá um exemplo de sujeitos que possam se esforçar para acumular bens maiores que
o necessário para sua conservação, e assim causando desigualdade. Por fim, tal
desigualdade causaria uma guerra civil em que esse indivíduo é totalmente culpado
por.
Os que respeitam essa lei são chamados de “sociáveis”; aqueles que não a respeitam
são “obstinados”, “insociáveis”, “refratários” ou “intratáveis”.
Sexta lei de natureza: Como garantia do tempo futuro se perdoem as ofensas passadas.
Perdão é uma garantia de paz, portanto tal regra está de acordo com a lei
fundamental.
Sétima lei de natureza: Que na vingança os homens não olhem a importância do mal
passado, mas só a importância do bem futuro.
A 7º Lei proíbe castigos que não tenham como intenção a correção ou fazer um
exemplo para o resto dos homens.
Oitava lei de natureza: Que ninguém declare ódio ou desprezo pelos outros de qualquer
maneira.
O desrespeito a esta lei é conhecido como “contumélia”.
Nona lei de natureza: Que cada homem reconheça os outros como seus iguais.
O desrespeito a esse preceito é o orgulho.
Nesse quesito, Hobbes se difere de Aristóteles ao discordar que a liderança está
reservada para uma parcela da sociedade que seja mais sábia por natureza. O autor
inglês acredita que “senhor e servo foram criados pelo consentimento do homem”,
mais uma vez afirmando os preceitos de igualdade.
Décima lei de natureza: Que ninguém pretenda reservar para si qualquer direito que não
possa ser reservado para outros.
Quem respeita essa lei é considerado “modesto”; quem a não respeita, “arrogante”.
Décima primeira lei de natureza: Que as coisas que podem ser divididas sejam gozadas em
comum; se a quantidade da coisa o permitir, sem limite; caso o contrário,
proporcionalmente ao número daqueles que a ela têm direito.
Décima segunda lei de natureza: Que o direito absoluto, ou então a primeira posse sejam
determinados por soterio.
Existem dois modos de escolha do soberano:
Sorteio arbitrário: Os competidores concordam sobre a escolha.
Natural: Ou a primogenitura, ou a primeira apropriação. Assim como a
soberania, as coisas que não podem ser divididas devem pertencer ao
primeiro possuidor.
Décima terceira lei de natureza: Que a todos aqueles que servem de mediadores da paz,
seja concedido salvo-conduto.
Décima quarta lei de natureza: Que aqueles com controvérsias sejam julgados por um
árbitro, sendo as duas partes do conflito obrigadas a submeterem-se a sua sentença.
Hobbes explica que existem dois tipos de conflito:
Questão de fato: Controvérsia sobre se tal ação foi ou não praticada.
Questão de direito: Se ações praticadas estão de acordo com a lei.
Décima quinta lei de natureza: Não pode ser aceito árbitro se ele tirar proveito da vitória de
alguma das partes.

Resumo das leis de natureza: “Faz aos outros o que gostariam que te fizessem a ti”.
Essas leis são imutáveis e eternas, e a ciência por trás dessas leis é a filosofia moral.

Estado:
● A formação do estado se dá quando a sociedade em estado de natureza transfere os
seus direitos a um homem (ou assembleia de homens, que possa reduzir as diversas
vontades a apenas uma mediante voto) para obter mais segurança. Assim, se estes
lhe dão o direito de governar, também lhe dão outros direitos como recolher
impostos, por exemplo.
○ Todos devem submeter suas vontades à vontade do representante, visto que
representa a unidade de todos.
○ O portador de todo o poder é o soberano, enquanto os outros são os súditos.
Poder coercitivo: O Estado é capaz de obrigar sua população a cumprir os pactos firmados
entre eles pelo medo que algum castigo seja aplicado.
Justiça: A definição clássica de justiça é “dar a cada um o que é seu”. Para Hobbes, essa
frase também se refere ao direito à propriedade, que não ocorre sem o Estado. E assim, sem
propriedade não existe justiça.
Indivisibilidade: A grande autoridade é indivisível e atribuída ao soberano. Segundo
Hobbes, “um reino dividido em si mesmo não pode manter-se”, pois causaria discordâncias
e, logo, guerras civis.
Diferenças entre diversas espécies de governos: Podem existir apenas três tipos de governo,
pois o representante é necessariamente um homem ou mais de um, e em caso de
assembleia, de todos ou de uma parte.
Monarquia: Representação feita por um só homem. É chamada de tirania por
aqueles que se desagradam.
Na monarquia a pessoa do povo também é pessoa natural, e por isso o
interesse pessoal é o mesmo que o interesse público (o que não é
considerado como algo negativo).
A riqueza, honra e poder de um monarca é relacionada à riqueza, honra e
poder de seus súditos.
As resoluções de um monarca só estão sujeitas à natureza humana, visto que
é impossível discordar de si mesmo.
Pode ocorrer do monarca ter um “adulador favorito” e privilegiá-lo; ou que a
monarquia seja herdada por uma criança. Assim, o governo deverá passar
para outro homem ou assembleia (o que, caso não tenha sido escolhido um
tutor pelo monarca antecedente, poderia ocasionar competição entre os
elegíveis).
Direito de sucessão: A escolha do sucessor é sempre deixada pela vontade
do monarca atual, de modo que os homens não se vejam desamparados sem
soberano e, assim, retornar ao estado de guerra. Pode ser regido pelo
testamento ou pelo costume.
Democracia ou Governo Popular: Representação feita por assembleia composta de
todos. É chamada de anarquia por aqueles que se desagradam.
Aristocracia: Representação feita por uma assembleia formada por apenas uma
parte da população. É chamada de oligarquia por aqueles que se desagradam.
Tipos de domínio:
Domínio paterno: Como no Estado por aquisição, ocorre por geração.
Na sociedade tradicional, o domínio familiar pertence ao pai; mas em
condição de natureza, pertence à mãe.
Aquele que tem domínio sobre um filho, tem domínio sobre tudo que o filho
pertence.
Domínio despótico: É adquirido por conquista militar, ocorre quando o amo se
sujeita ao senhor.
Como o pacto não foi firmado de maneira consensual, escravos ou cativos
possuem o poder de, sem injustiça, destruir suas cadeias ou matar seu
senhor. Portanto, não é só a vitória que confere poder, mas o pacto
celebrado.
Da mesma maneira que no domínio paterno o pai é senhor de tudo que o
filho possui, o senhor possui todos os bens de seu servo.

Soberania:
Maneiras de adquirir o poder soberano:
Estado por aquisição: Naturalmente, como ocorre nas famílias com pais e filhos.
Estado Político ou Estado por Instituição: Quando os homens concordam
submeterem-se a um homem ou assembleia de homens em troca de segurança.
Direitos do soberano: São intransferíveis, inseparáveis e essenciais ao soberano.
Primeiro direito: A soberania é única, e os seus súditos não podem fazer pacto com
outro. A quebra deste pacto é injusta.
Segundo direito: A soberania surge quando os homens se unem entre si, pois o
soberano não poderia firmar pacto com todos.
Terceiro direito: Todos devem aceitar as decisões do soberano, mesmo se não
votaram em favor do soberano vigente.
Quarto direito: Os súditos também são autores dos atos e decisões do soberano,
portanto não sendo possível que o soberano seja acusado de injúria ou injustiça
(pois praticar esses atos contra si mesmo é impossível).
Quinto direito: O objetivo do Soberano é garantir a paz e a defesa.
Sexto direito: O soberano é juiz de o que é contrário ou favorável à paz.
Sétimo direito: O soberano dá origem ao direito civil no Estado criando a existência
de propriedades.
Oitavo direito: É autoridade judicial, garantindo que nenhum dos lados seja
beneficiado de maneira injusta.
Nono direito: O soberano é o general dos exércitos, e decide sobre eles.
Décimo direito: O soberano pode escolher seus funcionários públicos.
Décimo primeiro direito: O soberano pode aplicar recompensas ou punições para
qualquer súdito.
Décimo segundo direito: O soberano pode conceder títulos de honra.

Conclusões: Antes, os homens permaneciam no chamado Estado de Natureza, onde não


existia poder comum, e consequentemente, normas ou pactos. Assim, em estado de total
igualdade onde todos possuem os mesmos direitos a todas as coisas, se instalava a guerra de
todos contra todos. Priorizando a paz e a segurança, os homens se juntam e transferem os
seus poderes e direitos para um só homem ou uma assembleia de homens. Assim então
surge o Estado. Seu soberano possui direitos que são intransferíveis, inseparáveis e
essenciais, e deve ir de acordo com as leis da natureza (que foram concebidas pela razão,
priorizando a preservação da vida).

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