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Professora dá dicas para tornar a redação jurídica mais


atraente e persuasiva
⋮ 15/09/2015

Questão de estilo

Autor

João Ozorio de Melo

é correspondente da revista Consultor Jurídico nos Estados Unidos.

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15 de setembro de 2015, 11h13

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Advocacia

A professora de redação jurídica da Faculdade de Direito da Universidade de Louisville, em Kentucky,


ensina que uma petição bem construída e sem erros gramaticais já é um fator importante de persuasão.
No entanto, o autor pode ser mais convincente, se seu estilo for mais atraente para os leitores, quase
sempre juízes.

Ela dá 10 dicas para o advogado tornar sua redação mais atraente e persuasiva:

1. Prefira verbos mais incisivos. Embora a redação jurídica não dê muito espaço para verbos mais
eloquentes, use a forma verbal mais forte, normalmente verbos simples, para um determinado contexto.
Por exemplo, em vez de “chegar a uma conclusão”, prefira “concluir”.

Em vez de: O juiz chegou à conclusão de que o réu estava mentindo.


Prefira: O juiz concluiu que o réu mentiu.

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2. Evite a substantivação dos verbos. O verbo exprime ação e, quando ele está “embutido” em um
substantivo, perde força. Assim, em vez “dar uma sugestão”, prefira “sugerir” — tal como, em vez de
“chegar à conclusão”, prefira “concluir”.

Em vez de: O juiz apresentou a sugestão de que o advogado conduzisse uma investigação sobre os
fatos.
Prefira: O juiz sugeriu ao advogado investigar os fatos.

3. Verbos são melhores que adjetivos e advérbios. Adjetivos e advérbios devem ser evitados. De
uma maneira geral, sugerem que é um quebra-galho na falta de um bom argumento ou uma boa
informação.

Em vez de: O promotor declarou, vigorosamente, que a conduta do réu era inapropriada.
Prefira: O promotor protestou contra a conduta do réu.

4. Prefira o específico, em vez do geral; e o concreto, em vez do abstrato. Palavras específicas e


concretas criam impressões sensoriais. É mais fácil para o leitor visualizar uma “faca afiada” do que um
“instrumento cortante possivelmente mortal”.

2/5
Em vez de: O advogado argumentou que os cidadãos devem respeitar os símbolos emblemáticos da
nação.
Prefira: O advogado argumentou que os cidadãos devem respeitar a bandeira.

5. Evite frases sem substância. Frases como “a este ponto no tempo”, “considerar a (deliberar sobre)
questão sobre se…”, o fato de que…”. Elas entulham sua redação. E a enfraquecem.

Em vez de: O júri considerou a questão sobre se o réu era ou não culpado.
Prefira: O júri deliberou sobre a culpa ou inocência do réu.

Em vez de: O candidato deve explicar o fato de ele ter votado em favor do aumento de impostos.
Prefira: O candidato deve explicar seu voto a favor do aumento de impostos.

6. Seja direto. Identifique o autor, se houver, e seja específico sobre o que ele fez.

Em vez de: Análises dos fatos levaram à conclusão de que o ultraje deveria ser avaliado na totalidade
das circunstâncias factuais… (Quem analisou os fatos? O que foi ultrajante? A sentença não esclarece.)
Prefira: O juiz examinou todas as circunstâncias para decidir se o comportamento do réu foi ultrajante.

7. Evite uso exagerado de preposições, em sequências de frases. Isso confunde o leitor.


Em vez de: O demandante não conseguiu provar que o supervisor sabia das atividades danosas do
gerente contra ele de uma maneira que a empresa poderia ter tomado alguma atitude.
Prefira: O demandante não conseguiu provar que o supervisor sabia que o gerente o prejudicou de uma
maneira que a empresa poderia evitar.

8. Divida uma sentença longa em sentenças pequenas. Não há proibição contra sentenças longas. E
elas podem até ser eficazes. Porém, elas podem criar dois problemas. Você pode perder o controle da
sintaxe em uma sentença longa. E uma sentença longa pode minimizar uma informação importante, que
você gostaria de enfatizar.

Em vez de: O réu merece uma longa pena por seu crime, que foi particularmente grave, porque ele
abusou de uma criança, usando uma arma em seu ato, o que é considerado uma circunstância
agravante.
Prefira: O réu merece uma longa pena por seu crime. Foi um crime particularmente grave, porque ele
abusou de uma criança. Além disso, ele usou uma arma, o que é uma circunstância agravante.

9. Alterne entre tamanhos de sentenças e as formas de iniciá-las. É outra opção. O parágrafo


seguinte, escrito pelo advogado John Harlan, é um exemplo disso:

Aos olhos da lei, não há nesse país uma classe superior, dominante ou governante de cidadãos. Não há
castas aqui. Nossa Constituição é daltônica, não conhece, nem tolera classes entre cidadãos. Em
respeito aos direitos civis, todos são iguais perante a lei. O mais humilde é tão bom quanto o mais
poderoso. A lei vê o homem como um homem e não deve considerar seu status social ou sua cor,
quando seus direitos civis devem ser garantidos pela Carta Magna. Por isso, é lastimável que esse
tribunal superior, o intérprete final da Constituição, tenha concluído que o estado tenha competência
para regulamentar a satisfação dos cidadãos, somente com base em suas raças.

3/5
A menor sentença destaca o fato de que não há castas no país. A maior sentença desenvolve uma
espécie de “clima”, para chegar à palavra-chave: raças.

10. Evite palavras como “claramente”, “obviamente” e “muito”. Palavras desse tipo são sedutoras,
porque parecem enfáticas. Mas, alguns juízes já disseram que, quando veem essas palavras em
petições, assumem que o advogado não tem uma boa sustentação para seu argumento e, portanto,
tentam disfarçar isso com esses tipos de palavras. Qual a diferença, em termos processuais, entre “com
raiva” e “com muita raiva”?

Em vez de: A testemunha estava com muita raiva…


Prefira: A testemunha estava exasperada (ou furiosa)…

Autores
João Ozorio de Melo

é correspondente da revista Consultor Jurídico nos Estados Unidos.

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Achei excelente o texto. Um dos trabalhos do advogado é justamente a persuasão. Sua


ferramenta: o texto. Se essas dicas aumentam a persuasão do advogado, porque não utilizá-las.
Mesmo para um juiz. Ainda que aceitemos todas as teses interpretativistas, ainda assim o texto do
juiz deve cumprir essa função prática comunicativa - não deve apenas decidir com base no direito,
mas também convencer seus leitores de que se trata da decisão correta. O primeiro elemento da
decisão (decidir com base no direito) fica no campo das teses interpretativistas. Desconsiderar o
segundo elemento é negar o papel sociológico do juiz. O problema, entendo eu, é esquecer do
primeiro, que é mais primordial do que o segundo. Mas o segundo também tem certa importância.
Na prática, de que vale uma decisão correta que não convence ninguém?

Uma peça deve ser clara, simples, concisa e objetiva, tudo isso obviamente sem perder ou
diminuir a profundidade do conteúdo, o que nem sempre é algo simples e muitas vezes chega a
ser mais difícil do que fazer uma peça totalmente retórica.Todo o resto é perfumaria.

Ao comentar que «Prevejo taquicardia... do Lênio Streck ao ler esta notícia», o leitor Oswaldo
Gonçalves de Castro Neto (Advogado Assalariado - Criminal), deixou-me rindo sozinho - e
assustando os circunstantes (hehe!), pois aprendo muito com o fulgurosíssimo Dr. Lênio Streck
(mesmo sendo-lhe crítico pela forma com que escreve - que muitas vezes poderia ser mais
objetiva - ressalvando que digo isto sem nenhuma maldade, pois Dr. Lênio tem minha admiração e
respeito).

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