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RESUMO – PALESTRA – SÉRGIO ARENHART

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E EXECUÇÃO

Não houve tantas alterações pelo CPC de 2015 no campo do cumprimento de sentença
e execução, em razão das reformas recentes, sendo que muitas disposições anteriores
foram renovadas.
A importância do cumprimento de sentença e da execução se reflete nos problemas
para a efetividade do processo civil brasileiro. Um dos indicadores desse problema na
efetividade são as taxas de congestionamento no Poder Judiciário e a própria
quantidade de obras escritas sobre o tema, o que demonstra a sua complexidade
procedimental.
Tal problema vem desde o Código de 1973, no qual o réu era citado para pagar a dívida
em um curto espaço de tempo ou para oferecer bens à penhora, com a possibilidade de
discutir a dívida, o que acabava por configurar, neste último caso, em um direito de
paralisar a execução até a decisão final de embargos à execução.
Essa situação tornava vantajoso - inclusive para as pessoas que tinham plena
consciência de que eram devedora - a submissão ao processo de execução e o
oferecimento à penhora de bem a sua escolha. O procedimento concedia uma vantagem
para os devedores contumazes se sujeitarem à execução, pois esta trabalhava contra
o credor e em favor da ampla defesa do devedor. Ainda quanto à sistemática do CPC
de 73, é de se destacar que a execução era um novo processo iniciado após o
encerramento do processo de conhecimento que reconhecia o crédito por meio de
sentença condenatória.
Em 2005 e 2006, ocorreram alterações legislativas no CPC de 1973, que introduziram
a dualidade de tratar de forma diferente a execução de títulos judiciais e a execução de
títulos extrajudiciais. A justificativa para tal distinção decorria do fato de os títulos
judiciais representarem um ato de autoridade do estado jurisdição enquanto que os
títulos extrajudiciais decorriam de um ato negocial.
A execução de títulos judiciais passava-se a ser chamada de cumprimento de sentença.
Nesse passo, a alteração trouxe a ideia de que títulos judiciais mereciam uma força
maior do que títulos extrajudiciais.
Outra novidade dessas alterações foi trabalhar com a ideia de que o devedor que não
tem razão não deve preferir se submeter ao processo de execução e deve sempre optar
por cumprir a prestação. Nesse sentido, foi prevista uma multa nos títulos judiciais para
o réu que optasse em prosseguir na execução de título judicial (cumprimento de
sentença); já nos títulos extrajudiciais foi prevista uma vantagem (redução de despesas,
honorários e parcelamento da dívida) para o réu que cumprisse espontaneamente a
prestação.
Além disso, a execução dos títulos judiciais passou a ser sincrética, isto é, no mesmo
processo de formação do título, tornando-se a execução uma fase de um único
processo. Todavia, tal unificação ainda não é completa (mesmo no CPC de 2015),
conforme se observa na diferença entre a sistemática de cumprimento da obrigação de
fazer – em que o juiz impõe o meio coercitivo de ofício, fixando multa e a graduando –
e a sistemática de cumprimento de obrigação de pagar (prestação pecuniária) – o credor
deve provocar a fase do cumprimento de sentença, não podendo o juízo atuar de ofício.
Tal distinção remonta ainda à ideia de uma sentença que não é auto executável,
dependendo sempre da provocação de alguém (perspectiva clássica).
Outra inovação foi a extinção do feito suspensivo automático da apresentação da defesa
pelo executado (o que foi mantido no CPC de 2015), dependendo eventual suspensão
da apreciação do caso concreto pelo juiz. Assim, o modelo foi concebido para a
execução prosseguir a despeito da apresentação de defesa do executado; no entanto,
na prática os juízos executórios vêm suspendendo o trâmite sem o exame concreto de
cada caso. Além disso, a paralisação da execução, quando ocorre, em regra, não é
total, devendo ser modulada a partir da impugnação do executado (ex. réu alega
somente a ilegalidade da penhora de determinado bem. O juiz não deve paralisar a
execução em face dos demais bens, por força da duração razoável do processo).
No Código de 1973, a regra geral era de que o bem penhorado era mantido na posse
do devedor, o que o estimulava a realizar de atos de resistência à execução; na reforma
de 2005, a regra é que o bem penhorado não fica com o devedor, devendo este ser
desapossado do bem uma vez realizada a penhora. Esse regra foi trazida para o CPC
de 2015, sendo que apenas se incluiu outras hipóteses em que o devedor pode ficar
com os bens.
Atualmente, continua a sistemática de aplicar a multa dissuasória desde logo para que
o devedor não queira prosseguir na execução, o que foi estendido para o cumprimento
provisório de decisões.
Enfim, a reforma permitiu que o devedor ou sofresse multa (títulos judiciais) ou perdesse
vantagem (títulos extrajudiciais) em caso de insistência na execução, que fosse
desapossado desde logo do bem penhorado, que as suas defesas não paralisassem a
execução e que fosse permitida desde logo que o credor recebesse o bem penhorado
como forma de pagamento (adjudicação).
Para o Professor Sérgio Arenhart, a regra do art. 139 (inciso IV) é revolucionária,
pois, ao estabelecer os poderes do juiz, diz que este pode aplicar para o cumprimento,
para a efetivação de suas decisões judiciais, inclusive para decisões que imponham
prestação pecuniária, qualquer medida de indução ou sub-rogação.
Ocorre que, a depender de sua interpretação, esta regra pode equiparar a maneira como
nós realizamos decisões que imponham um fazer, não fazer e entrega de coisa com
decisões de prestação pecuniária, de modo que todas essas formas de efetivação de
tutela jurisdicional passam a ser atreladas aquela ideia de império, passam a ser
impostas de ofício pelo juiz (como é o regime norma da execução de prestação de fazer,
não fazer e entrega de coisa), passam a permitir a tutela não por um meio típico (que é
conhecida para execução pecuniária – responsabilização patrimonial).
A ideia é permitir que prevaleça de uma atipicidade dos meios de satisfação para a
prestação pecuniária da mesma forma que a atipicidade dos meio de satisfação
prevalecem para obrigações de fazer, de não fazer e de entrega de coisa. Tal dispositivo
não apenas coloca no mesmo status as obrigações de prestação pecuniária e as
obrigações de fazer, de não fazer e de entregar coisa, mas também abre para o Poder
Judiciário um leque de possibilidades para todas as prestações pecuniárias, de modo
que o juiz pode indicar para o caso concreto qual é o instrumento mais adequado para
realização daquela prestação, seja de fazer, de não fazer, de entregar coisa ou
prestação pecuniária.
O meio executivo expropriação patrimonial passa a ser um meio para obtenção do
cumprimento da prestação pecuniária, mas não apenas o único meio, valendo qualquer
tipo de prestação. Desse modo, a regras do código novo para a prestação alimentícia
perdem praticamente o seu valor, pois o juiz não está adstrito aos instrumentos
previstos, podendo, inclusive, inventar uma técnica, desde que seja constitucional (nas
palavras do professor). Isso coloca o Brasil na vanguarda, permite ao juiz uma
maleabilidade na criação de um procedimento para efetivação de suas decisões e
coloca muito além dessas discussões clássicas, do panorama clássico a respeito da
efetividade da execução tradicional.

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