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3º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
Estando em causa uma sequência de actos jurídicos, não integram o processo os factos
jurídicos stricto sensu. Ainda assim, esses meros factos podem produzir efeitos no
processo, mas esses serão sempre efeitos processualizados1 – exige-se ainda assim a
prática de actos jurídicos.
Tudo isto torna relevante o critério de classificação de um acto como processual. Para
que um acto seja visto como processual, não se exige que seja praticado dentro do
processo – há actos praticados fora do processo que têm relevância exclusivamente
processual. Por contrário, há actos integrados nessa sequência que produzem efeitos
tipicamente substantivos, não sendo por isso considerados actos processuais.
Sendo o processo uma sequência ordenada de actos, a nulidade de um deles irá
provavelmente inquinar os actos subsequentes. Decorre do art 195º CPC que a
nulidade de um acto apenas releva se a lei a declarar ou se a irregularidade cometida
possa influenciar no exame ou na decisão em causa. São susceptíveis de gerar nulidade
as situações em que se pratica um acto que a lei não prevê ou situações em que se
omite um acto que a lei impõe. Se estivermos perante a situação em que a lei prevê um
acto que não foi praticado, a consequência será a prática desse acto; se estivermos,
porém, perante a outra hipótese acima referida, então ter-se-á o acto como não
praticado.
2 – Espécies de acções
Decorre do art 10º CPC que existem, no âmbito do Direito Processual Civil, diversas
modalidades de acções:
o Acções declarativas – o autor procura que o tribunal declare a solução para um
determinado caso. Há uma dúvida relativa à existência ou não de determinado
direito.
• De simples apreciação – visa-se obter a declaração da existência ou
inexistência de um direito ou de um facto. A acção vem pôr termo a uma
situação de incerteza, tendo uma função preventiva (previnem-se
litígios). Neste caso, apenas se pede ao tribunal que proceda à tal
declaração, não se pedindo que este vá além disso. Estas decisões não
são, na verdade, exequíveis.
▪ Positivas – autor pretende que o tribunal declare a existência de
um direito ou de um facto;
▪ Negativas – o autor requer que seja declarado que o direito não
existe ou que determinado facto não ocorreu.
• De condenação – pretende-se não só que seja declarada a existência do
direito que está a ser violado, como se pede que quem o violou seja
condenado à realização de uma determinada prestação. Neste caso,
pressupõe-se a violação de um direito. De facto, esta acção de
condenação pressupõe que o tribunal reconheça a existência do direito
em causa, mas esse é um reconhecimento que não tem de ser expresso.
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Por exemplo, se uma das partes morrer durante o processo, apenas se suspende a instância depois de a
morte ser alegada e provada
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Assim sendo, não pode ser dito que a acção de condenação absorve a
acção de simples apreciação: se o autor intenta uma acção de
condenação e esta é julgada improcedente, o reconhecimento do direito
não se verifica; se o autor faz dois pedidos (acção mista → acção de
simples apreciação + acção de condenação) e o tribunal decide não
condenar, pode ainda assim reconhecer aquele direito. A generalidade
destas acções é exequível
• Constitutivas – o autor pretende obter um efeito jurídico novo, que vai
alterar a esfera jurídica do réu, independentemente da sua vontade. Daí
que, na generalidade, esta seja acção utilizada para fazer valer direitos
potestativos. Neste caso, o efeito da sentença não depende da actuação
do réu, pelo que não é requerida a contestação deste.
o Acções executivas – exige-se a realização coerciva das providências destinadas
à efectiva reparação do direito violado. Nestas, é invocada a falta de
cumprimento de uma obrigação expressa na sentença ou constante de
documento (no título executivo).
• Para pagamento de quantia certa
• Para entrega de coisa certa
• Para prestação de facto
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ALÇADAS
art 44º da Lei da Organização do Sistema Judiciário
Primeira Instância 5 000€
Relação 30 000€
Critérios gerais – art 297º CPC
o Se pela ação se pretende obter qualquer quantia certa em dinheiro, é esse o
valor da causa; se pela ação se pretende obter um benefício diverso, o valor da
causa é a quantia em dinheiro equivalente a esse benefício.
o Cumulando-se na mesma ação vários pedidos, o valor é a soma dos valores de
todos eles; quando, como acessório do pedido principal, se pedirem juros,
rendas e rendimentos já vencidos e os que se vencerem durante a pendência
da causa, atende-se somente aos interesses já vencidos.
o No caso de pedidos alternativos2, atende-se unicamente ao pedido de maior
valor e, no caso de pedidos subsidiários3, ao pedido formulado em primeiro
lugar.
Critérios especiais – art 298º e seguintes CPC
o Nas ações de despejo, o valor é o da renda de dois anos e meio, acrescido do
valor das rendas em dívida ou do valor da indemnização requerida, consoante
o que for superior.
o Nos processos referentes a contratos de locação financeira, o valor é a soma das
prestações em dívida até ao fim do contrato, acrescido dos juros moratórios
vencidos.
o Nas ações de alimentos definitivos e nas de contribuição para despesas
domésticas, o valor é o quíntuplo da anuidade correspondente ao pedido.
o Nas ações de prestação de contas, o valor é o da receita bruta ou o da despesa
apresentada, se lhe for superior.
O art 303º CPC trata do valor da acção sobre o estado das pessoas ou sobre interesses
imateriais ou difusos.
o Estado das pessoas – incluem-se as acções de divórcio, de separação judicial de
pessoas e bens, de anulação do casamento, de investigação da parentalidade, de
impugnação da parentalidade, de interdição e inabilitação, etc. – o valor é
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Art 553º CPC
3
Art 554º CPC
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sempre 30.000.001€ (alçada da Relação + 0.01€, para que seja sempre admissível
o recurso);
o Interesses imateriais ou difusos – interesses imateriais são interesses não
patrimoniais, p.e. acções em que se pretende a inibição ou limitação ao exercício
das responsabilidades parentais; interesses difusos são aqueles que respeitam a
pessoas não individualmente determinadas. São interesses cuja titularidade
pertence a todos e cada um dos membros de um determinado grupo.
O momento da fixação do valor é tratado no art 299º CPC – a regra é a de que, para a
fixação do valor da causa, se deve considerar o momento em que a acção é proposta.
A esta regra sobrepõem-se duas excepções:
o Casos em que há pedido reconvencional
o Casos em que é requerida intervenção principal
4 – Pressupostos processuais
Para que o Tribunal possa apreciar o mérito da causa, é necessário que estejam
verificados os chamados pressupostos processuais – conjunto de requisitos de ordem
técnica necessários ao regular desenvolvimento da instância, permitindo que esta
culmine numa sentença que resolva, efectivamente, o litígio em análise. Os
pressupostos processuais representam, assim, condições prévias ao conhecimento do
mérito da causa.
O desrespeito pelos pressupostos processuais, então, impede o juiz de se pronunciar
sobre o mérito da causa – será assim proferida uma decisão de forma, que põe termo
ao processo e resulta na absolvição do réu da instância (art 278º, nº 1 CPC). A violação
dos pressupostos processuais tem como consequência regular a ocorrência de
excepções dilatórias. Note-se que a absolvição do réu da instância apenas deve ter
lugar quando, de todo em todo, não é possível suprir o vício originado pela violação de
certo pressuposto.
Os pressupostos processuais respeitam:
o Às partes
• Personalidade judiciária
• Capacidade judiciária,
• Legitimidade,
• Patrocínio judiciário obrigatório
• Interesse em agir
o Ao Tribunal
• Competências internacional e interna
o Ao objecto da causa
• Aptidão da petição inicial
• Não verificação da litispendência e do caso julgado.
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Ao contrário do que acontece com os princípios gerais de direito civil, hoje plenamente
aceites pela Doutrina, os princípios processuais estão ainda em aperfeiçoamento.
Resulta essencialmente do último pós-guerra a necessidade de constitucionalizar as
garantias processuais, desprezadas até então pelos sistemas autoritários. Tem para isso
sido uma ajuda relevante a jurisprudência que o Tribunal Europeu dos Direitos do
Homem tem publicitado relativamente à aplicação dos arts 6º e 14º CEDH.
Entre os princípios gerais do processo civil, há princípios que têm dignidade
constitucional e outros que apenas se encontram em legislação ordinária.
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DIREITO DE DEFESA
Associando-se o autor ao direito de acção, ao réu associamos o direito de defesa: direito
ao conhecimento efectivo do processo instaurado e concessão de um prazo
suficientemente amplo para apresentar contestação.
Quanto ao conhecimento efectivo do processo, exige-se que no acto de citação sejam
transmitidos ao réu todos os elementos essenciais:
o Duplicado da petição inicial e cópias dos eventuais documentos que a
acompanhem;
o Identificação do tribunal e da secção onde decorre o processo;
o Expressa indicação de citação;
o Prazo dentro do qual poderá apresentar contestação;
o Obrigação do patrocínio judiciário
A falta destes elementos resulta na nulidade do acto. Note-se que a citação é hoje
normalmente feita por carta registada com aviso de recepção, tendo-se dispensado o
contacto pessoal. A citação de pessoas singulares é tratada nos arts 225º e seguintes
CPC.
Quanto à audiência prévia – decorrência lógica do direito de defesa – esta só a título
excepcional pode ser dispensada. Tal acontece, por exemplo, na situação de
procedimentos cautelares, na qual exige uma tomada de decisão rápida para proteger
o direito do autor.
O acesso aos tribunais não pode ser posto em causa por entraves económicos. Assim,
é possível à parte que careça de meios económicos para o pagamento das custas, que
solicite apoio judiciário. Este consiste na dispensa, total ou parcial, da taxa de justiça
(art 530º CPC) e do pagamento de outros encargos. O apoio será concedido pelos
serviços da segurança social. Note-se que, hoje em dia, a falta de pagamento da taxa é
fundamento para a recusa da petição inicial (salvo se estivermos de facto perante um
caso de apoio judiciário).
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cabe ao juiz levar a cabo todas as diligências necessárias para apurar a verdade e uma
justa composição do litígio, suprir a falta de pressupostos processuais cuja sanação
seja possível, determinar a prática dos actos necessários à regularização da instância,
adoptar a tramitação processual adequada às especificidades do processo, (…).
Na prática, o princípio do dispositivo mantém-se no que toca aos pontos essenciais, de
modo a que a intervenção do juiz não deixe de se distanciar das partes. Ainda assim, às
partes é sempre atribuída a responsabilização pelo êxito das posições que defendem
no processo.
d) Princípio da cooperação
Está definido no art 7º CPC, significando que, na condução e intervenção no processo,
devem os magistrados, os mandatários judiciais e as próprias partes cooperar entre si,
com o objectivo último de obter uma justa composição do litígio. Este dever de
cooperação, no entanto, não é absoluto. O mesmo encontra-se limitado pelas
realidades previstas no art 417º, nº 3 CPC – art 7º, nº 3. Assim, a recusa pode ser
legítima, inclusive com fundamento constitucional – art 32º, nº 8 CRP.
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Note-se que o dever de cooperação não diz respeito apenas às partes envolvidas no
processo, mas sim a todas as pessoas – todos temos o dever de prestar a nossa
colaboração. Assim, também o juiz está envolvido por este dever, podendo o tribunal
requisitar informações, pareceres técnicos, plantas, fotografias, desenhos, objectos ou
outros materiais necessários ao esclarecimento da verdade.
Do princípio da cooperação/colaboração decorrem diversos corolários:
o Dever de utilização dos poderes inquisitórios que o CPC define (art 411º CPC);
o Proibição das decisões surpresa;
o Dever de auxílio (art 7º, nº 4 CPC).
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função do valor da causa. Estes não têm competência executiva, não podendo o valor
da causa exceder os 15.000€. Ainda assim, a competência dos julgados de paz é uma
competência alternativa em relação aos tribunais judiciais – mesmo nos casos em que
o valor da causa não ultrapassa os 15.000€, o tribunal poderá ser competente, mas essa
competência poderá também pertencer ao tribunal judiciário.
O art 109º CPC trata da problemática dos conflitos de competências. É neste contexto
que surge referência aos tribunais de conflitos, constitucionalmente consagrados (art
209º, nº 3 CRP). Podemos ter:
o Conflitos de jurisdição (art 109º, nº 1 CPC) – conflitos entre ordens jurisdicionais
(tribunais judiciários x tribunais administrativos e fiscais)
o Conflitos de competência (art 109º, nº 2 CPC) – conflitos entre tribunais da
mesma ordem jurisdicional
A resolução dos conflitos de jurisdição é dada pelo Tribunal dos conflitos (este não é um
tribunal com espaço físico, sendo constituído por conselheiros do STA e do STJ); a
resolução dos conflitos de competência decorre do art 110º, nº 2 CPC4 – o conflito é
resolvido pelo presidente do tribunal de menor categoria que exerça jurisdição sobre
as autoridades em conflito.
EXEMPLO: conflito entre o Tribunal de Sintra e o Tribunal de Oeiras – é resolvido pelo Presidente do
Tribunal da Relação de Lisboa
Conflito entre Tribunal de Sintra e o Tribunal de Valongo – é resolvido pelo Presidente do Supremo
Tribunal de Justiça
Um dos elementos integrantes do Tribunal é, como se sabe, o juiz. Os juízes gozam, no
exercício da sua função, de certas garantias (art 216º CRP):
o Independência
o Imparcialidade
o Inamovibilidade – os juízes não podem ser transferidos fora dos casos
previstos na lei
o Irresponsabilidade – os juízes não são responsáveis pelos prejuízos resultantes
das suas decisões. Note-se, no entanto, que tal não impede que o juiz seja
responsabilizado, quer a título disciplinar, quer a título criminal e civil.
A propósito vem o estudo de uma situação de responsabilidade civil pelo exercício da
actividade jurisdicional. Antes de mais, uma situação destas exige, no âmbito do Direito
nacional, a revogação da decisão danosa. No entanto, tal exigência não é feita no seio
do Direito europeu, pelo que temos dois regimes distintos para regular a mesma
situação. Note-se que, num caso de responsabilidade civil pelo exercício da actividade
jurisdicional, que é demandado é o Estado (e não o juiz). Ainda assim, pode acontecer
que o Estado depois ganhe direito de regresso perante o juiz.
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Novidade introduzida pela reforma de 2013
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o Regras gerais – arts 80º e seguintes CPC. Do art 80º, nº 1 CPC resulta que, regra
geral, é competente o tribunal do domicílio do réu. Se o réu for uma pessoa
colectiva, a referência será o local da respectiva sede (nº 2). Se o réu for o
Estado, então o tribunal competente será o do domicílio do autor. Já se a acção
é proposta contra vários réus há que aferir: se os réus têm todos eles domicílios
diferentes, situação na qual cabe ao autor escolher o tribunal; se há uma
maioria de réus com domicílio no mesmo local, será o desse local o tribunal
competente.
o Regras especiais – arts 70º e seguintes CPC.
As partes podem acordar quanto ao tribunal competente (tanto em relação à
competência interna, como em relação à competência internacional). Essa escolha
apenas é aceite com base no critério territorial e, ainda assim, com certas limitações
(art 95º, nº 1, parte final CPC).
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matérias fiscais ou administrativas. Esta parte final do art 1º, nº 1 resulta da decisão do
Tribunal de Justiça perante uma querela entre a Alemanha e a Grécia sobre danos
causados no final da Segunda Guerra Mundial. Note-se, ainda, que este regulamento
não prejudica a vigência de alguns outros, presentes no art 73º.
Os preceitos do regulamento devem ser interpretados autonomamente, ou seja, de
forma independente da concepção interna que vigora nos vários Estados. Daí resulta
também a necessidade de o art 2º estabelecer a definição de alguns conceitos, para
efeitos do presente regulamento.
Analisado o âmbito de aplicação do diploma, pergunta-se: afinal, quando é que se
aplica este regulamento? A resposta é dada pelos arts 4º e seguintes. Do art 6º, nº 1
resulta que este só se aplica quando o demandado tiver domicílio noutro Estado-
Membro. Caso não o tenha, o regulamento apenas será aplicável nos casos
expressamente previstos. O domicílio do demandado é, por isso, fundamental. Para a
determinação do domicílio há que ter em conta os arts 62º e 63º. O art 62º remete para
a lei interna, que em Portugal corresponderá ao art 82º CPC. Sabe-se já que algumas
regras de competência internacional podem ter uma dupla funcionalidade, ao
estabelecer não só o tribunal competente a nível internacional, mas também o tribunal
competente na ordem interna. No entanto, caso tal não aconteça e se determine que a
competência é de facto dos tribunais portugueses, será depois necessário identificar,
dentro desses, qual o tribunal efectivamente competente. Isso será feito com base nos
arts 70º e seguintes CPC.
Critérios de aferição de competência
Da conjugação dos arts 4º, nº 1 e 5º, nº 1 resulta que o demandado pode sê-lo sempre
em tribunal do seu Estado Membro. Poderá por vezes, se se aplicar uma das “regras
enunciadas nas secções 2 a 7”, ser demandado noutro Estado Membro. O que temos
é, portanto, uma concorrência entre regra geral e regra especial, e não uma alternativa
como seria expectável.
o Matéria contratual (nº1) – se não estivermos perante uma situação de compra
e venda ou prestação de serviços (as situações mais comuns, presentes no art
7º, nº 1, al b)), então aplicar-se-á o disposto na alínea a), resolvendo-se o
problema com recurso ao Direito Internacional Privado. Tal é o que resulta da
aplicação da alínea c).
o Matéria extracontratual (nº2) – esta dá desde logo lugar a grande quantidade
de jurisprudência, havendo neste âmbito situações de difícil resolução. Por
exemplo, um caso de difamação pela internet é um caso no qual não é certo
onde ocorreu o facto danoso. Nesta situação, se a acção é proposta no tribunal
do domicílio do demandado, pode ser pedida indemnização por todos os danos
sofridos. O mesmo acontece se a acção for proposta no domicílio do
demandante. No entanto, se nenhuma dessas se verificar, então só poderá ser
pedida indemnização pelos danos sofridos nesse Estado-Membro.
Outro aspecto relevante é o das medidas provisórias e cautelares, presente no art 35º.
A solução é a seguinte: é sempre possível requerer num Estado-membro a aplicação
de medidas provisórias, desde que essas estejam previstas no respectivo direito
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interno, mesmo que, para a acção principal, os tribunais nacionais não sejam
competentes. No entanto, se essas medidas forem requeridas perante outro tribunal
que não o competente, essas não serão reconhecidas pelos restantes Estados-
membros, sendo-o apenas pelo Estado onde a providência é requerida.
Em matéria contratual, o regulamento protege a parte contratual mais fraca. Tal é a
realidade presente em matéria de seguros (arts 11º e 12º), de consumo (art 18º, nº 1)
e de trabalho (art 21º).
Competência exclusiva
A competência exclusiva dos tribunais de um Estado Membro, independentemente do
domicílio das partes, é tratada no art 24º, que constitui excepção perante o art 6º/1.
1. Matéria de direitos reais sobre imóveis e arrendamentos de imóveis (estando a
seguir prevista a situação característica dos arrendamentos para férias);
2. Matéria de validade da constituição, nulidade ou dissolução de sociedades ou
outras pessoas colectivas (não havendo aqui lugar à aplicação do art 63º);
3. Inscrições e registos públicos
4. Matéria de registo ou validade de patentes, marcas, desenhos ou modelos
5. Execuções de decisões – o tribunal onde estiver pendente a acção é
exclusivamente competente para a executar, não estando com isto o
regulamento a determinar o tribunal competente.
Pactos de jurisdição
A possibilidade de as partes convencionarem acerca do tribunal competente é dada
pelo art 25º, por via dos chamados pactos de jurisdição. Estes têm efeito atributivo,
visto que atribuem competência a determinado tribunal, competência essa que será
exclusiva. O regime do art 25º é aplicável sempre que se haja designado um Tribunal
de um Estado-Membro, independentemente do domicílio das partes. Pergunta-se: se
o domicílio é irrelevante, é este artigo aplicável se dois portugueses atribuírem
competência a um tribunal português? Depende de se as partes estão, ou não, a retirar
competência a outro tribunal.
o Se sim – o regime é aplicável;
o Se não – então o regime não se aplica, porque nada se altera a nível de
competência internacional
Este regime tem de ser articulado com o da Convenção sobre os Acordos de Eleição do
Foro, concluída em Haia, em 30 de junho de 2005.
Para que produzam efeitos, é necessário que os pactos de jurisdição não violem o
disposto nos arts 15º, 19º e 23º. Estes dispõem sobre a validade dos pactos de
jurisdição no âmbito de matérias da tutela da parte mais fraca (como visto, seguros,
consumo e trabalho). Sendo os pactos de jurisdição eles próprios negócios, a sua
validade substantiva tem sempre de ser avaliada consoante o direito interno. Quanto
às exigências formais, o regulamento apresenta uma solução muito liberal:
o Forma escrita ou verbal com confirmação escrita;
o De acordo com os usos que as partes tenham estabelecido entre si;
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“falsa ou quase litispendência” (p.e. uma acção de divórcio proposta por um cônjuge e
uma acção de separação proposta pelo outro em tribunal distinto).
REGULAMENTO 4/2009 – MATÉRIA DE OBRIGAÇÕES ALIMENTARES
O regulamento 4/2009 trata, de relevante para a disciplina em estudo, de matéria de
prestação de alimentos. Fora isso, encontram-se aqui também disposições relativas à
lei aplicável, ao acesso à justiça e à cooperação internacional. À semelhança do
anterior, este regulamento não é também plenamente aplicável na Dinamarca.
O art 1º, nº 1 trata do âmbito de aplicação material do Diploma. Mais, para efeitos
deste regulamento, o conceito de “prestação de alimentos” deve ser visto como um
conceito autónomo (independente das concepções vigentes em cada Estado-Membro).
O Tribunal de Justiça veio já esclarecer que, para esse efeito, o conceito pode englobar
qualquer prestação global, entregue por um ex-cônjuge a outro. Ainda no contexto do
âmbito de aplicação releva o disposto no considerando 15. Deste resulta que o
regulamento tem aplicação universal – este é aplicável mesmo que o demandado
tenha residência num Estado terceiro. A consequência desta aplicação universal é a
inaplicabilidade de qualquer regime interno que exista para esta matéria. Também
este regulamento se articula com convenções internacionais.
Critérios de determinação da competência
O primeiro artigo neste âmbito é o art 3º. As alíneas a) e b) mostram-se inequívocas;
as alíneas c) e d) são casos de extensão da competência. Segue-se o art 4º, que consagra
a possibilidade de as partes celebrarem pactos de jurisdição (“escolha do foro por
opção das partes”). Já o respectivo nº 3 consagra uma regra de protecção da parte
contratual mais fraca.
O regulamento é aplicável independentemente do domicílio do demandado, do que
decorre que o artigo 4º também se aplica quando derrogada a competência dos
tribunais de Estado terceiro. O art 5º regula a possibilidade de existirem pactos tácitos.
Releva a referência ao art 7º, que trata de situações de competência por necessidade.
Nestas, a competência pertencia a um Estado terceiro, mas admite-se ainda assim que
a acção seja proposta em tribunal de um Estado-Membro.
O controlo da competência, determina o art 10º, é feito pelo próprio tribunal de forma
oficiosa.
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Diferem das condições da acção. “A acção tem condições quando tem viabilidade à luz do direito
substantivo, isto é, quando contém os requisitos necessários à sua procedência, à obtenção de uma
decisão favorável ao autor”
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2 – Personalidade judiciária
Podemos definir o conceito de parte como aquele que requer (autor), ou contra quem
algo é requerido (réu). As partes devem ficar logo identificadas na petição inicial – art
552º, nº 1, al a) CPC. O autor e o réu são as chamadas partes principais. À parte dessas,
outras pessoas podem intervir no processo, seja ao seu lado, seja em substituição das
mesmas (arts 263º ou 351º CPC). Podemos ainda falar em partes acessórias, sendo
essas todas as que assumam no processo uma posição subordinada. É o caso do
assistente (art 326º CPC).
“A personalidade judiciária consiste na susceptibilidade de ser parte” – art 11º, nº 1 CPC.
Esta não se identifica plenamente com a personalidade jurídica, uma vez que pode
haver personalidade judiciária sem essa – é o caso da herança jacente ou de
patrimónios autónomos semelhantes. Assim sendo, têm personalidade judiciária, para
além daqueles que têm personalidade jurídica, as entidades referidas nos arts 12º e 13º
CPC.
A falta de personalidade judiciária é, regra geral, insanável. Daí decorre que a sua falta
deve resultar em absolvição do réu da instância, por aplicação do art 278º, nº 1, al c)
CPC. No entanto, o art 14º CPC comporta uma excepção relativa à falta de personalidade
judiciária das sucursais, filiais, delegações ou representações.
A falta de personalidade judiciária não sanada constitui uma excepção dilatória – art
577º, al c) CPC – pelo que é de conhecimento oficioso.
3 – Capacidade judiciária
A personalidade judiciária, por si só, não é suficiente. Exige-se também que a parte
tenha “susceptibilidade de estar, por si, em juízo” (art 15º CPC). Do nº 2 decorre que a
capacidade judiciária tem por base e por medida a capacidade do exercício de direitos,
pelo que tem plena capacidade judiciária aquele que goza de total capacidade de
exercício de direitos.
Regra geral, pessoas singulares e colectivas têm plena capacidade de exercício. Ainda
assim, há casos de limitação ou de total inexistência dessa capacidade (p.e. menores e
interditos).
Sem capacidade judiciária, só se pode estar em juízo por via de representantes legais.
A incapacidade é suprida pelo poder paternal e, subsidiariamente,
pela tutela (arts 124º e 1921º CC). O dever paternal, na constância
do matrimónio, deve exercer-se de comum acordo (art 1901º). Na
MENORES
falta de acordo, vigora o art 18º, nº 2 CPC. Nas acções propostas
contra o menor, ambos os progenitores devem ser citados – art
16º, nº 3 CPC.
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4 – Legitimidade processual
Ao contrário da personalidade e da capacidade, qualidades das partes genericamente
exigidas, a legitimidade consiste na posição das partes numa determinada acção. A
parte tem legitimidade com autor se for ela quem juridicamente pode fazer valer a
pretensão perante o réu; o réu terá legitimidade como parte se for ele quem
juridicamente se pode opor à pretensão do autor, por ser aquele cuja esfera jurídica é
diretamente atingida pela possibilidade de a acção proceder.
Do art 30º, nº 1 CPC resulta que “o autor é parte legítima quando tem interesse directo
em demandar; o réu é parte legítima quando tem interesse directo em contradizer”. O
critério utilizado é, portanto, o critério do interesse directo – interesses que se
repercutem diretamente na esfera jurídico-patrimonial de quem está a litigar. Note-se
que, para situações de interesse difuso, vigora o disposto no art 31º CPC. Como afirmou
Alberto dos Reis, ainda na vigência do CPC de 1939, “não basta [para efeitos do actual
art 30º CPC] que a decisão da causa seja susceptível de afectar, por via de repercussão
ou por via reflexa, uma relação jurídica de que a pessoa é titular. (…) é necessário que
[as partes] sejam os sujeitos da própria relação litigiosa”. O interesse que permite a
análise da legitimidade é o interesse como apresentado no art 30º, nº 3 CPC e não o
interesse do nº 2. Pode então dizer-se que são titulares do interesse, para efeitos de
aferição da legitimidade, os “sujeitos da relação controvertida, tal como configurada
pelo autor”.
Este número 3, inscrito no Código na Reforma de 1995/1996, permitiu pôr fim à
discussão que até aí se havia desenvolvido. Na prática, a questão era a de saber se a
legitimidade das partes se deveria aferir com base na situação processual descrita pelo
autor na petição inicial ou, ao invés disso, se a “relação controvertida” a que aludia o
artigo era aquela que seria como tal considerada pelo juiz, após audição das partes.
A querela teve início com um caso do Tribunal da Relação de Lisboa de 1918. O mesmo
desenrolou-se à volta de um contrato de compra e venda de 60 toneladas de chumbo,
que o vendedor não entregou na totalidade. Posto isso, o comprador demandou um
comerciante português, considerando-o vendedor. O réu, em oposição, alegou que era
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perante ambos os cônjuges (litisconsórcio necessário legal). Aí, a lei distingue entre
legitimidade activa (propostas por ambos) e legitimidade passiva (perante ambos).
Diferente do litisconsórcio é a coligação, onde há não só várias partes, mas também
várias relações jurídicas materiais em litígio. Poderá ocorrer quando a causa de pedir
for a mesma ou quando os pedidos estejam ligados entre si, seja por razões de
prejudicialidade (decisão de um pode influenciar a dos demais) ou de dependência (o
conhecimento de um dos pedidos só pode ocorrer se for dada procedência a outro). A
coligação é tratada nos arts 36º e seguintes CPC.
Sendo a legitimidade “essencial para que o tribunal se pronuncie sobre o mérito da
causa”, é então necessário verificar o que sucede quando a mesma não se verifica. Se
se verificar um dos casos já referidos (casos em que as pessoas identificadas pelo autor
não são as que estão efectividade em juízo), tem de haver uma consequência.
Constituindo a ilegitimidade uma excepção dilatória (arts 576º e 577º, al e) CPC), obriga
o art 278º, nº 1, al d) CPC a que se absolva o réu da instância.
Já no caso de legitimidade plural, a mesma pode faltar, como dito, nos casos de
litisconsórcio necessário. No entanto, permite o art 261º CPC que novas partes se
juntem a juízo, pelo que é possível sanar a ausência de algum dos interessados e,
consequentemente, a situação de ilegitimidade. O artigo remete para os arts 316º e
seguintes, que regulam a intervenção provocada – tem de ser através de intervenção
provocada porque não podemos ficar dependentes da vontade das pessoas para se
juntarem ao juízo.
5 – Patrocínio judiciário
O patrocínio judiciário é a representação das partes por profissionais do foro
(advogados, advogados estagiários ou solicitadores) na condução e orientação técnico.
A constituição de advogado é, em certos casos, obrigatória – art 40º CPC. Diferente do
patrocínio judiciário é a assistência técnica aos advogados prevista pelo art 50º CPC. O
patrocínio judiciário só representa um pressuposto processual quando é obrigatório, o
que apenas se verifica nos casos descritos no art 40º CPC.
Os poderes de representação em juízo são conferidos ao advogado – mandatário – pela
parte – mandante – ou por meio de mandato judicial (arts 43º e seguintes CPC).
A sanação da falta de constituição de advogado está prevista no art 41º CPC. Sanado
que não seja o vício dentro do prazo imposto, o juiz decretará a absolvição do réu da
instância. Note-se, no entanto, que tal apenas vale para a falta de representação do
lado do autor. Quanto ao réu, a falta de representação apenas ditará a falta de efeito
da defesa6.
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Cabe ao autor assegurar a verificação dos pressupostos processuais. No entanto, não faria sentido que
competisse ao autor garantir a legítima representação do réu – não está no interesse do autor que o réu
ganhe a causa. O autor não tem de garantir essa representação porque a mesma não representa um
pressuposto processual, mas sim um pressuposto do acto processual – sem ela, apenas a defesa do réu
fica sem efeito, não sendo afectado todo o processo.
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6 – Interesse processual
O interesse processual deve ser considerado um pressuposto processual, ainda que tal
não seja expressamente referido no CPC. O mesmo consiste na indispensabilidade de
o autor recorrer a juízo para satisfazer a sua pretensão, sendo que o autor apenas tem
interesse em agir quando não dispõe de quaisquer outros modos de realizar aquela
pretensão – seja porque já esgotou todos os outros, seja porque não há efectivamente
mais nenhum.
Uma acção em que não haja interesse processual é uma acção inútil7, servindo este
pressuposto precisamente para evitar que estas cheguem aos tribunais. Defende
Manuel de Andrade que o interesse processual deve ser considerado pressuposto
processual por duas razões:
o A instauração de uma acção inútil causa prejuízos e incómodos injustificados;
o A justiça só deve funcionar quando haja motivos para tal.
Apesar de, em primeira linha, o pressuposto em causa seja aferido tendo em conta a
figura do autor, a verdade é que, depois da proposta, pode também o demandado ter
interesse em que a acção prossiga8. Assim sendo, a lei tutela os seus interesses,
fazendo depender a desistência da instância da aceitação do réu, se requerida depois
de ter sido feita contestação (art 286º, nº 1 CPC). Já a desistência do pedido, por
favorável ao réu, é livre.
Nas acções constitutivas apenas existe interesse processual quando o direito
potestativo correspondente não é daqueles que possa ser exercido por simples
declaração de vontade do respectivo titular (p.e. acção de divórcio). Mais difícil é
analisar o interesse processual no caso de acções de simples apreciação, uma vez que
não houve sequer, ainda, violação do direito. Estas fundam-se numa dúvida ou
incerteza acerca da existência, ou não, de um direito ou de um facto. Assim sendo, essa
dúvida tem de ser objectiva – fundamentada em factos concretos. Já a gravidade da
dúvida dependerá do prejuízo, material ou moral, que a situação de incerteza pode
gerar. Exige-se, então, objectividade e gravidade da situação de incerteza.
A falta de um pressuposto processual gera uma excepção dilatória. Apesar de este
pressuposto não ser expressamente considerado como tal pelo legislador, a verdade é
que o preceito que trata das excepções dilatórias abre a possibilidade de haver outras,
para além das que daí decorrem (“são dilatórias, entre outas, as excepções seguintes”).
Aí poderá então ser integrada a consequência da falta de interesse processual, sendo
assim esta uma excepção dilatória inominada.
7
P.e. a acção de condenação a exigir o pagamento de rendas quando essas estão todas pagas, ou a
instauração de uma acção declarativa de condenação quando o autor já dispõe de um título executivo.
8
Nomeadamente para ver esclarecida, de uma vez por todas, aquela situação. Aceitando a desistência da
instância, isso leva à extinção da instância, o que permite ao autor apresentar nova petição
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