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SENTENÇA
I- RELATÓRIO
Narra o Impetrante, em síntese, que é servidora pública municipal, ocupante do cargo de Agente
Administrativo, lotada na Secretaria Municipal de Educação do Município de Estância, desde 07 de
janeiro de 2009 e que é casada com Marcos Flaviano Matos Soares, e tem uma filha.
Afirma que a família sempre residiu em Estancia-se, no entanto, seu esposo passou a residir no
Estado do Rio de Janeiro, em virtude de ter sido aprovado em concurso público para o cargo de
Analista de Tecnologia da Informação da Empresa Pública Federal DATAPREV.
Diante desse fato, a impetrante aduz que resolveu gozar das licenças que já tinha direito. Assim, gozou
licença prêmio de três meses no período de 28/12/2016 a 27/03/2017e licença para tratar de interesses
particular, pelo período de 08/09/2017 a 09/09/2019.
Relata que, antes de finalizar a última licença, em 26/07/2019, requereu Licença sem Remuneração por
motivo de Afastamento do Cônjuge, com fulcro na Lei Complementar n. 16/2007- Estatuto dos
Servidores Públicos Municipais, contudo, o mesmo foi indeferido sob alegação de que a servidora não
se enquadra nos requisitos legais para a concessão da licença pretendida, visto que o afastamento
do cônjuge se deu em virtude de provimento originário, fundamentando sua decisão no art. 84 § 2º
da Lei Federal 8.112/90.
Requer a concessão da segurança reclamada para liminarmente ter deferida a licença sem
Remuneração por Motivo de Afastamento do Cônjuge.
Juntou documentos.
Assinado eletronicamente por TATIANY NASCIMENTO CHAGAS DE ALBUQUERQUE, Juiz(a) de 2ª Vara Civel de Estância,
em 14/02/2020 às 18:05:28, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
Conferência em www.tjse.jus.br/portal/servicos/judiciais/autenticacao-de-documentos. Número de Consulta: 2020000353637-19. fl: 1/5
Manifestação Municipal adunada em 18/12/2019 alegando a ausência de direito líquido e certo. Alega
que, no caso em comento, o esposo da servidora realizou o concurso público para cargo de provimento
originário no Município de Rio de Janeiro/RJ, ou seja, não houve deslocamento.
Conforme certidão do dia 04/02/2020, transcorreu o prazo de 10 dias sem que houvesse manifestação da
autoridade coatora, apesar de devidamente intimada em 05/11/2019.
Manifestação da impetrante em 10/02/2020. Alega que o direito pretendido pela impetrante trata de
direito público subjetivo, sendo já concedido pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe em
sede de Agravo de Instrumento n. 201900831925.
É o relatório.
DECIDO
Cuida-se de Mandado Segurança impetrado contra ato de autoridade pública que negou pedido de Licença
sem Remuneração para Acompanhamento do Cônjuge.
De partida, importa trazer à baila algumas digressões sobre a via eleita pela ora requerente.
O Mandado de Segurança é garantia prevista expressamente no art. 5º, inciso LXIX , da Constituição
Federal, e tem seu processamento disciplinado pela Lei nº 12.016 /2009.
Na via mandamental, o direito líquido e certo que se almeja proteger e a ilegalidade ou abusividade que
pretende ver afastada do ordenamento jurídico devem estar plenamente demonstrados de plano. Destaco,
in verbis:
Art. 5º (…) LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.
O direito líquido e certo a que alude a Constituição, portanto, é aquele que se mostra inequívoco,
concreto, comprovado de plano, sem necessidade de dilação probatória. Na lição do mestre Hely Lopes
Meirelles, em sua obra MANDADO DE SEGURANÇA, Ação Popular, Ação Civil Pública, Mandado de
Injunção, Habeas Data , 14ª Edição, 1992, pág. 25:
"...o direito invocado, para ser amparável por mandado de segurança, há de vir expresso em norma legal e
trazer em si todos os requisitos e condições de sua aplicação ao impetrante: se sua existência for
duvidosa; se sua extensão ainda não estiver delimitada; se seu exercício depender de situações e fatos
ainda indeterminados, não rende ensejo à segurança, embora possa ser defendido por outros meios
judiciais."
Feitas as considerações precedentes, passo à análise da existência do direito líquido e certo pretendido
pela impetrante.
Analisando os fatos narrados na peça exordial, vejo que o impetrante pretende ter reconhecido seu
suposto direito de gozar de licença sem Remuneração por motivo de Afastamento do Cônjuge, com
fulcro na Lei Complementar n. 16/2007- Estatuto dos Servidores Públicos Municipais.
Assinado eletronicamente por TATIANY NASCIMENTO CHAGAS DE ALBUQUERQUE, Juiz(a) de 2ª Vara Civel de Estância,
em 14/02/2020 às 18:05:28, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
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Vejo ainda que pleito fora indeferido administrativamente pela autoridade coatora, nos termos do
doc. De fls. 17/22 do processo materializado.
Pois bem.
A licença por Motivo de Afastamento do Cônjuge encontra respaldo legal na Lei Complementar
nº16/2007, no Capítulo VI que trata das Licenças, especificamente nos artigos 119 e 141:
Art. 141- Poderá ser concedida licença ao servidor efetivo para acompanhar cônjuge ou
companheiro, servidor ou militar, que for deslocado para exercer suas atividades fora do
Município.
Parágrafo único- A licença será sem remuneração e não ultrapassará o prazo de 48 (quarenta e
oito) meses.
A licença por motivo de afastamento do cônjuge está amparada pelo princípio constitucional da proteção
da unidade familiar e tem previsão no art. 84, da Lei 8.112/90:
Art. 84. Poderá ser concedida licença ao servidor para acompanhar cônjuge ou companheiro
que foi deslocado para outro ponto do território nacional, para o exterior ou para o exercício
de mandato eletivo dos Poderes Executivo e Legislativo.
Neste contexto, destaca-se uma diferenciação entre a licença estipulada no §1º, art. 84 e aquela disposta
no §2º do art. 84, ambas oriundas na Lei 8112/90. Com relação à primeira, contempla a hipótese de
licença do servidor por motivo de afastamento do seu cônjuge ou companheiro, que sequer precisa
ser servidor público.
Isto posto, vejo que, quanto às normas que regem a matéria, a Lei Complementar nº16/2007 não
disciplina expressamente a possibilidade de concessão de licença sem remuneração para
acompanhamento de cônjuge, apenas trata de afastamento de cônjuge servidor público ou militar,
também disciplinada pelo art. 84, 2º do art. 84 da Lei 8112/90.
Dessa forma, seguindo precedente do STJ e em reforma do entendimento anterior, deve ser aplicada a
norma geral dos servidores públicos civis federais referente à licença em questão, em atenção à proteção
especial atribuída pela Lei Maior à família.
Nesse sentido:
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em 14/02/2020 às 18:05:28, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
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MANDADO DE SEGURANÇA. BOMBEIRO MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. LICENÇA
PARA ACOMPANHAR CÔNJUGE. AUSÊNCIA DE PREVISÃO NO ESTATUTO MILITAR
PRÓPRIO. LEI 8.112/90. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA. POSSIBILIDADE. PROTEÇÃO À
FAMÍLIA ASSEGURADA CONSTITUCIONALMENTE. 1. O Estatuto do Corpo de Bombeiros
Militar do Distrito Federal não disciplina expressamente a possibilidade de concessão de licença sem
remuneração para acompanhamento de cônjuge que foi transferido ex officio para local diverso de onde
exercia suas atribuições. 2. O Estatuto dos Militares das Forças Armadas (Lei n. 6.880/80), a qual o
Recorrente busca aplicação subsidiária, é anterior à Constituição Federal, que disciplina, em seu art. 226,
a família como base da sociedade, atribuindo-lhe especial proteção do Estado, cabendo a este último a
competência de desenvolver políticas que salvaguardem esse instituto. 3. Dessa forma, impõe-se a
aplicação da norma geral dos servidores públicos referente à licença em questão, como medida necessária
à concretização da proteção especial atribuída pela Carta Magna à família. 4. Recurso voluntário e
Reexame Necessário conhecidos e desprovidos. (TJ-DF 07151420720188070000 DF
0715142-07.2018.8.07.0000, Relator: GETÚLIO DE MORAES OLIVEIRA, Data de Julgamento:
30/01/2019, 7ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 18/02/2019 . Pág.: Sem Página
Cadastrada.)
Ademais, ressalta-se que a concessão de licença vindicada pela impetrante não importará em ônus ao
Poder Público, vez que, como se disse, se dará sem vencimentos.
Assim, restando provado o afastamento do cônjuge da autora, conforme documento de fls. 08/11 do
processo materializado, bem como observando-se o posicionamento firmado pelo Superior Tribunal
de Justiça, no sentido de que a licença para acompanhar cônjuge, sem remuneração, é um direito
assegurado ao servidor público, e, ainda, que a Constituição Federal, no art. 226, determina que a
família deve merecer especial proteção do Estado, entendo que a segurança deve ser concedida.
III- DISPOSITIVO
Assinado eletronicamente por TATIANY NASCIMENTO CHAGAS DE ALBUQUERQUE, Juiz(a) de 2ª Vara Civel de Estância,
em 14/02/2020 às 18:05:28, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
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Diante do exposto, CONCEDO a SEGURANÇA pretendida para determinar à autoridade coatora
que conceda à impetrante licença sem remuneração para acompanhar o cônjuge com fulcro no
art. 84, §1º da Lei 8.112/90, com efeitos retroativos a 09/09/2019.
Assinado eletronicamente por TATIANY NASCIMENTO CHAGAS DE ALBUQUERQUE, Juiz(a) de 2ª Vara Civel de Estância,
em 14/02/2020 às 18:05:28, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
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