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ANEXO IV – SENTENÇA

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PIAUÍ


JECC Teresina Fazenda Pública Anexo I DA COMARCA DE TERESINA
Rua Governador Tibério Nunes, 309, (Zona Sul), Cabral, TERESINA - PI - CEP: 64001-610

PROCESSO Nº: 0800274-46.2020.8.18.0003


CLASSE: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436)
ASSUNTO(S): [Obrigação de Fazer / Não Fazer]
AUTOR: EMERSON JEAN DE ALMEIDA MELO
REU: ESTADO DO PIAUI, FUNDACAO PIAUI PREVIDENCIA

SENTENÇA

Vistos, etc.
Trata-se de Ação proposta por EMERSON JEAN DE ALMEIDA MELO em
face do ESTADO DO PIAUÍ e da FUNDAÇÃO PIAUÍ PREVIDÊNCIA, partes
devidamente qualificadas nos autos do processo em epígrafe.
Dispensado minucioso relatório consoante o art. 38 da Lei 9.099/95.
Decido.
Antes de dar regular prosseguimento ao feito deve o juiz verificar se estão
presentes os pressupostos de constituição e desenvolvimento válido e regular do
processo.
Quanto a preliminar de impugnação à justiça gratuita, entendo que tal análise
será objeto de apreciação do mérito, uma vez que não há a adequação de tal discussão
em sede de preliminar.
O Estado do Piauí alega em preliminar de contestação a ausência de liquidez
do pedido, a ausência de interesse de agir e a prescrição das parcelas anteriores ao
prazo de 05 anos a contar da data do ajuizamento da ação.
Em relação à ausência de liquidez do pedido, o referido argumento não
merece prosperar pois a pretensão autoral se encontra devidamente liquidada na inicial,
que apresenta o valor expresso cobrado de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de
indenização por danos morais e R$ 22.656,27 (vinte e dois mil seiscentos e cinquenta e
seis reais e vinte e sete centavos) relativos aos danos materiais, nos termos do art. 292,
V e VI do CPC/2015.
No que concerne à ausência de índice de correção monetária, o art. 322, §1º
do CPC/2015 dispõe que compreendem-se no principal os juros legais, a correção
monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorários advocatícios.
Assim sendo, não há que se falar em iliquidez do pedido consoante os
critérios definidos no Enunciado nº 04 do FOJEPI, passando este juízo a adotar tal
entendimento.

ENUNCIADO 04 – “A iliquidez do pedido de obrigação de


pagar, quando possível a sua imediata determinação

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(liquidação), gera a sua inépcia por ofensa ao art. 14, § 1º,
inciso III e §2º, da Lei 9.099/95. Considera-se ilíquido o

pedido quando o autor não o define expressamente na inicial


e quando não apresenta elementos suficientes para

verificação de sua exatidão. ” REALIZADO NO I – FOJEPI,


EM SETEMBRO DE 2014.
A preliminar de ausência de interesse de agir não merece ser acolhida pois
em relação à ausência de requerimento administrativo, a Constituição estabelece
expressamente no art. 5º, XXXV que a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito. Trata-se do princípio da inafastabilidade da
jurisdição, no qual estabelece que o cidadão pode se socorrer ao Poder Judiciário caso
sinta que seu direito foi ameaçado ou lesado. Não é necessário que a parte ingresse
primeiro com um processo administrativo para que posteriormente ajuíze uma ação
judicial, sob pena de violação ao princípio retro mencionado. Nesse sentido, vejamos o
que dispõe o seguinte julgado:

EMENTA: APELAÇÃO - AÇÃO DE COBRANÇA - ADICIONAL POR TEMPO DE


SERVIÇO - QUINQUÊNIO - PREVISÃO NA LEI MUNICIPAL Nº 1.435/94 -

DESNECESSIDADE DE REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO PRÉVIO PARA

AJUIZAMENTO DE AÇÃO DE COBRANÇA - RECURSO CONHECIDO E PROVIDO

PARA ANULAR A SENTENÇA FUSTIGADA E DETERMINAR O RETORNO DOS


AUTOS AO JUÍZO DE ORIGEM PARA PROSSEGUIMENTO DO FEITO. 1 – Na

sentença vergastada o Douto Magistrado Singular com fulcro no art. 485, VI, do CPC,

julgou extinto o processo sem resolução do mérito, por ausência de condição da ação,
face as entendimento de que inexiste interesse processual da autora/apelante, uma vez
que a mesma, não comprovou haver formulado prévio requerimento administrativo à

parte requerida/apelado do pedido de pagamento dos valores referentes ao adicional


por tempo de serviço (quinquênios). 2 – A propositura de ação de cobrança de
adicional por tempo de serviço não requer o prévio exaurimento da via

administrativa, visto que tal exigência violaria a norma contida no artigo 5º, inciso
XXXV, da Constituição Federal. 3 – Recurso conhecido e provido para cassar a
sentença rechaçada determinando o retorno dos autos ao Juízo de origem para o

regular prosseguimento do feito.


(TJ-TO-AC: 00324171820198270000, Relator: JACQUELINE ADORNO DE LA CRUZ

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BARBOSA)
No tocante à preliminar de prescrição, entendo que não merece ser acolhida
pois as verbas que o autor entende ser devidas não são anteriores ao prazo de 05
(cinco) anos a contar da data do ajuizamento da presente ação. Assim, não há que se
falar em prescrição da pretensão autoral, nos termos do art. 1º do Decreto nº
20.910/1932.
Assim, rejeito as preliminares suscitadas pelo Estado do Piauí.
Superadas as preliminares, passo a análise do mérito.
A parte autora alega, em síntese, que é Delegado Polícia Civil, que o
Requerido não vem pagando a Gratificação Natalina e o Adicional de Férias no valor
correspondente à integralidade da remuneração, conforme determina o Código de
Vencimentos da Polícia Militar do Piauí.
A parte autora pretende com a presente demanda, em síntese, a
condenação do Requerido no pagamento de R$ 22.656,27 (vinte e dois mil seiscentos e
cinquenta e seis reais e vinte e sete centavos), referentes a valores não pagos a título
de Gratificação Natalina e Adicional de férias nos últimos cinco anos e que seja
determinado ao Requerido que passe a pagar o Adicional de Férias e a Gratificação
Natalina com base na remuneração integral e a condenação do Estado do Piauí no
pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de indenização por danos morais.
Vejamos os parágrafos quarto e oitavo do art. 39 e o art. 144, IV e §9º, todos
da Constituição Federal de 1988:
[...]
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os
Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão
remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela
única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional,
abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie
remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art.
37, X e XI.
[...]
§ 8º A remuneração dos servidores públicos organizados em
carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º.

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e


responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
através dos seguintes órgãos:
[...]
IV - polícias civis.
[...]
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos
órgãos relacionados neste artigo será fixada na forma do § 4º

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do art. 39.
Vale trazer à colação o disposto na Lei Complementar nº 55/2005 que institui
o regime de subsidio para os Delegados de Polícia de Carreira do Estado do Piauí e dá
outras providencias:
Art. 1º Os Delegados de Polícia de carreira ativos e inativos do
Estado do Piauí bem como os seus pensionistas serão
remunerados pelo regime de subsídio, fixado em parcela
única, nos termos desta Lei.

§ 1º Observada a situação pessoal de cada Delegado de carreira


ou pensionista quando da entrada em vigor desta Lei, o subsídio
compreende e absorve as seguintes verbas remuneratórias que
atualmente sejam percebidas:

I - vencimento;

II - gratificação de risco de vida;

III - adicional por tempo de serviço.

§ 2º A percepção do subsídio não exclui o pagamento, na


forma da legislação aplicável, das seguintes verbas:

I - o décimo terceiro salário;

II - adicional de férias;

III - adicional noturno;

IV - gratificação pelo exercício de cargo em comissão;

V - gratificação incorporada pelo exercício de cargo em comissão;

VI - adicional de magistério policial;

VII - verbas de natureza indenizatória.

§ 3º O subsídio, a gratificação pelo exercício de cargo ou função


de direção, chefia e assessoramento, a gratificação natalina, o
adicional de férias e as indenizações do Delegado de Polícia de
carreira do Estado são disciplinados, no que couber, pelo
Estatuto dos Servidores Civis do Estado e pela Lei
Complementar 33, de 15 de agosto de 2003.

§ 4º Ressalvados os valores correspondentes a indenizações,


adicional de férias e 13° salário, a soma do subsídio com as
demais vantagens não poderá exceder o teto previsto pelo inciso
XI, do artigo 37 da Constituição Federal, na redação dada pela
Emenda Constitucional n° 41, de 19-12-2003.

Art. 2º Os valores dos subsídios dos Delegados de Polícia de


carreira do Estado são fixados no Anexo Único desta Lei a partir

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das datas nele especificadas.

Parágrafo Único O valor do subsídio poderá ser revisto através de


Lei Ordinária.

Art. 3º A partir da vigência desta Lei não se aplicam aos


Delegados de Polícia os arts. 41, I e II ; 42 e 43, todos, da Lei
Complementar 37, de 09 de março de 2004 ¿ Estatuto da Polícia
Civil do Estado do Piauí.

Parágrafo Único Atendidos os requisitos do art. 43 do Estatuto da


Polícia Civil do Estado do Piauí, fica assegurado aos Delegados
de Polícia de carreira a percepção da gratificação por curso de
polícia civil referente aos cursos concluídos com aproveitamento
até 31/12/2005 e no valor vigente nesta data.

Art. 4º Nenhuma redução da remuneração percebida legalmente


poderá resultar da aplicação desta Lei, assegurada ao Delegado
de Polícia de carreira a percepção da diferença como vantagem
pessoal nominalmente identificada.

Art. 5º Aos Delegados de Polícia de carreira ativos, inativos e aos


seus pensionistas que tenham conseguido judicialmente isonomia,
igualdade vencimental ou qualquer vantagem remuneratória não
se aplica o regime de subsídio, a não ser que haja renúncia ao
direito assegurado pelas decisões judiciais respectivas no prazo
de cento e oitenta dias, contados da vigência desta Lei.

Art. 6º Os valores fixados nesta lei para os subsídios dos


Delegados de Polícia de carreira do Estado admitem o acréscimo
decorrente da revisão a que alude o art. 37, X da Constituição
Federal.

Art. 7º Revogam-se as disposições em contrário.

Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação,


produzindo efeitos financeiros nas datas previstas no Anexo
Único.

Ademais, o art. 39, §4º da Constituição Federal não é incompatível com


pagamento de terço de férias pois o regime de subsídio é incompatível apenas com o
pagamento de outras parcelas remuneratórias de natureza mensal, o que não é o caso
das férias, que são verbas pagas a todos os trabalhadores e servidores, com
periodicidade anual. Além disso, o art. 39, § 3º dispõe que os servidores públicos
gozam de terço de férias, não sendo vedado o seu pagamento de forma cumulada com
o subsídio.

Nesse sentido, vejamos o seguinte julgado do Supremo Tribunal


Federal:
Ementa: Recurso Extraordinário. Repercussão Geral. Ação direta

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de inconstitucionalidade estadual. Parâmetro de controle. Regime
de subsídio. Verba de representação, 13º salário e terço
constitucional de férias. 1. Tribunais de Justiça podem exercer
controle abstrato de constitucionalidade de leis municipais
utilizando como parâmetro normas da Constituição Federal, desde
que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos Estados.
Precedentes. 2. O regime de subsídio é incompatível com
outras parcelas remuneratórias de natureza mensal, o que
não é o caso do décimo terceiro salário e do terço
constitucional de férias, pagos a todos os trabalhadores e
servidores com periodicidade anual. 3. A “verba de
representação” impugnada tem natureza remuneratória,
independentemente de a lei municipal atribuir-lhe nominalmente
natureza indenizatória. Como consequência, não é compatível
com o regime constitucional de subsídio. 4. Recurso parcialmente
provido.
(RE 650898, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em
01/02/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-187 DIVULG 23-08-
2017 PUBLIC 24-08-2017)

No que diz respeito à Gratificação Natalina e ao Adicional de Férias a LC


13/94 estabelece o seguinte:
Art. 55º Além do vencimento e das indenizações previstas nesta
Lei complementar, serão deferidos aos servidores públicos as
seguintes gratificações e adicionais:
[...]
II - Gratificação natalina;
[...]
XI - Adicional de Férias;
[...]
Art. 57º A gratificação natalina corresponde a 1/12 (um doze avos)
da remuneração a que o servidor fizer jus do mês de dezembro,
por mês de exercício.
[...]
Art. 67º Independentemente de solicitação, será pago ao servidor
por ocasião das férias, um adicional correspondente a 1/3 (um
terço) da remuneração do período de férias.
[...]
Consoante se observa, o cálculo da gratificação natalina e do adicional de
férias tem por base a remuneração, que, conforme estabelece a lei estadual (LC13/94),

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é composta pelo vencimento, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes (art.
41).
Vejamos o seguinte julgado do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do
Piauí:
APELAÇÃO CÍVEL. REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO DE
COBRANÇA DE DIFERENÇA DO 13º SALÁRIO E 1/3 DE
FÉRIAS. PAGAMENTO A MENOR. INCIDÊNCIA DECÁLCULO
SOBRE REMUNERAÇÃO INTEGRAL DO SERVIDORE NÃO
SOBRE O SALÁRIO BASE. ART. 7º, VIII, DA CF/88
.PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. RECURSO IMPROVIDO.
SENTENÇA MANTIDA. 1. O inciso VIII do art. 7º da
Constituição Federal é claro quando diz que o 13º salários
será pago com base na remuneração integral do trabalhador.
Assim, não será calculado com referência apenas ao salário
base, devendo-se levar em consideração os adicionais
incidentes. 2. Recursos conhecidos e improvidos. 3. Sentença
mantida. (TJPI| Apelação Cível Nº 2015.0001.000500-1 | Relator:
Des. Fernando Lopes e Silva Neto | 4ª Câmara Especializada
Cível | Data de Julgamento: 03/05/2016)
Consoante se observa, o cálculo da gratificação natalina e do adicional de
férias tem por base a remuneração integral, nos termos do art. 1º, §3º da Lei
Complementar Estadual nº 107/2008, que estabelece que deve seguir o disposto no
Estatuto dos Servidores Civis do Estado do Piauí (arts.55 e 57 da LC 13/94).
Dessa forma, entende-se que assiste razão à parte autora no presente caso,
de modo que o adicional de férias e a gratificação natalina deve ser calculada com base
na remuneração integral da parte autora.
Passa-se, assim, a apuração dos valores retroativos devidos.
No que se refere à gratificação natalina, tem-se que é devido a diferença no
valor de R$ 2.526,64 para o ano de 2015; R$ 2.445,98 para o ano de 2016; R$
3.124,48 para o ano de 2017; R$ 3.250,56 para o ano de 2018 e R$ 3.250,56 para o
ano de 2019.
Quanto ao adicional de férias, apura-se que é devido uma diferença de R$
752,42 para o ano de 2015; R$ 814,69 para o ano de 2016; R$ 910,71 para o ano de
2017 e R$ 1.082,76 para o ano de 2019.
Dessa forma, verifica-se que o valor total devido a título de diferenças de
gratificação natalina e de adicional de férias do período de 2015 a 2019 é de R$
18.158,80 (dezoito mil, cento e cinquenta e oito reais e oitenta centavos), que devem
ser acrescidos de juros e correção monetária na forma da lei.
Passo à análise do pedido de indenização por danos morais.
A Constituição Federal de 1988 dispõe expressamente sobre a
responsabilidade da Administração Pública por danos que seus agentes, atuando nessa
qualidade causem a terceiros. Vejamos:

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Art. 37. A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte:
[…]
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de
direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos
danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos
de dolo ou culpa.

Para a configuração da responsabilização civil do Estado, prevista no art. 37,


§6º da Constituição Federal, se faz necessária a prova da ação estatal, ou seja, de ato,
administrativo ou material, de produzido por agente público no exercício de sua função
ou em razão dela.
O ordenamento jurídico pátrio adotou a Responsabilidade Objetiva do Estado
(e entes da administração indireta) em relação aos danos que os seus agentes, nesta
condição, causarem, conforme o art. 37, §6º da Constituição Federal. Insto significa que
o lesado está dispensado de comprovar o elemento subjetivo, ou seja, a culpa latu
sensu, restando ao seu cargo apenas as provas referentes à existência de dano e nexo
de causalidade.
Por ter adotado a teoria do risco administrativo, o Ordenamento pátrio
permite ao Estado (administração pública em geral), eximir-se da responsabilidade caso
comprove força maior ou culpa exclusiva da vítima, ou seja, elementos que rompem o
nexo de causalidade entre o ato estatal e o dano, conforme doutrina majoritária. Por
todos, Celso Antônio Bandeira de Mello[1]:
“no caso de responsabilidade objetiva, o Estado só
se exime de responder se faltar o nexo de causalidade
entre o seu comportamento comissivo e o dano”
Maria Sylvia di Pietro[2] assim também se manifesta, quando nos ensina
que: “sendo a existência do nexo de causalidade o fundamento da responsabilidade
civil do Estado, este deixará de existir ou incidir de forma atenuada quando o serviço
público não for a causa do dano ou quando estiver aliado a outras circunstâncias”.
Desta forma cabe ao autor comprovar somente a ocorrência do dano e o
nexo de causalidade entre o dato e a ação estatal.
O Enunciado nº 159 da III Jornada de Direito Civil dispõe que o dano moral,
assim compreendido todo o dano extrapatrimonial, não se caracteriza quando há mero
aborrecimento inerente a prejuízo material.
Quanto ao dano moral, a professora Dra. Teresa Ancona Lopez, no seu livro
o Dano Estético (3ª ed. Pág. 23), faz uma ampla análise do que seria o dano moral,
para, em seguida conceituá-lo:
Etimologicamente, dano vem de demere, que

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significava tirar, apoucar, diminuir. Portanto, a idéia de dano surge
das modificações do estado de bem-estar da pessoa, que vem em
seguida, à diminuição, ou perda de qualquer dos seus bens
originários ou derivados extrapatrimoniais ou patrimoniais.
(...)
Portanto, a definição de dano moral deveria ser dada
em contraposição a dano material, sendo este o que lesa bens
apreciáveis pecuniariamente, e aquele, ao contrário, o prejuízo a
bens ou valores que não tem conteúdo econômico.
Vivenciado o prejuízo moral, este merece reparo. Acerca do tema, leciona
Maria Helena Diniz:
A reparação do dano moral cumpre, portanto, uma
função de justiça corretiva ou sinalagmática, por conjugar, de uma
só vez, a natureza satisfatória da indenização do dano moral para
o lesado, tendo em vista o bem jurídico danificado, sua posição
social, a repercussão do agravo em sua vida privada e social e a
natureza penal da reparação para o causador do dano, atendendo
à sua situação econômica, a sua intenção de lesar (dolo ou culpa),
a sua imputabilidade, etc. (Indenização por Dano Moral, in Revista
Jurídica, CONSULEX, ano 1 - nº 3, 1997)
No caso em apreço, para que haja a configuração da indenização pelo dano
pleiteado, há a necessidade de haver a prática de ato ilícito praticado pela ré.
É imperioso enfatizar o ônus do Requerente em comprovar os fatos
constitutivos de seu direito para que o Estado requerido pudesse apresentar defesa e
todos os documentos que tenha posse para a solução da lide, buscando a satisfação
da atividade jurisdicional, entregando o direito ao seu titular, nos termos do art. 9º da
Lei nº 12.153/2009.
Assim não restou demonstrado o nexo de causalidade entre o dano sofrido
pela parte autora e a suposta atitude comissiva/omissiva da Administração Pública,
nem tão pouco a existência de ato ilícito praticado pelo Estado do Piauí.
Quanto ao pedido de justiça gratuita, verifica-se que a autora deixou de
comprovar que percebe remuneração compatível com a situação de hipossuficiência,
conforme o critério estabelecido na Resolução Nº 026/2012 – CSDP da Defensoria
Pública do Estado do Piauí, que estabelece o limite de remuneração líquida de até três
salários-mínimos, devendo ser indeferido tal pedido.
Ante o exposto, rejeito as preliminares suscitadas pelo Estado do Piauí na
forma da fundamentação ante exposta e JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE os
pedidos do autor para a condenar o Estado do Piauí no pagamento de R$ 18.158,80
(dezoito mil cento e cinquenta e oito reais e oitenta centavos), acrescido de juros e
correção monetária na forma da lei, referentes diferenças de Gratificação Natalina e
Adicional de férias do período de 2015 a 2019, bem como determino ao Requerido que
passe a pagar o Adicional de Férias e a Gratificação Natalina com base na
remuneração integral da parte autora e JULGO TOTALMENTE IMPROCEDENTE, nos

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termos do art. 487, I do Código de Processo Civil o pedido de indenização por danos
morais.
Indefiro o pedido de justiça gratuita.
Sem Custas e Honorários, a teor dos arts. 54 e 55 da Lei nº 9.099/95.
P.R.I.
Teresina/PI, 20 de agosto de 2020.

Dra. Maria Célia Lima Lúcio


Juíza de Direito

[1] Curso de Direito Administrativo. 22ª Ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2007
[2] Direito Administrativo. 27ª Ed. São Paulo: Atlas, 2008

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