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SENTENÇA
Vistos, etc.
Trata-se de Ação proposta por EMERSON JEAN DE ALMEIDA MELO em
face do ESTADO DO PIAUÍ e da FUNDAÇÃO PIAUÍ PREVIDÊNCIA, partes
devidamente qualificadas nos autos do processo em epígrafe.
Dispensado minucioso relatório consoante o art. 38 da Lei 9.099/95.
Decido.
Antes de dar regular prosseguimento ao feito deve o juiz verificar se estão
presentes os pressupostos de constituição e desenvolvimento válido e regular do
processo.
Quanto a preliminar de impugnação à justiça gratuita, entendo que tal análise
será objeto de apreciação do mérito, uma vez que não há a adequação de tal discussão
em sede de preliminar.
O Estado do Piauí alega em preliminar de contestação a ausência de liquidez
do pedido, a ausência de interesse de agir e a prescrição das parcelas anteriores ao
prazo de 05 anos a contar da data do ajuizamento da ação.
Em relação à ausência de liquidez do pedido, o referido argumento não
merece prosperar pois a pretensão autoral se encontra devidamente liquidada na inicial,
que apresenta o valor expresso cobrado de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de
indenização por danos morais e R$ 22.656,27 (vinte e dois mil seiscentos e cinquenta e
seis reais e vinte e sete centavos) relativos aos danos materiais, nos termos do art. 292,
V e VI do CPC/2015.
No que concerne à ausência de índice de correção monetária, o art. 322, §1º
do CPC/2015 dispõe que compreendem-se no principal os juros legais, a correção
monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorários advocatícios.
Assim sendo, não há que se falar em iliquidez do pedido consoante os
critérios definidos no Enunciado nº 04 do FOJEPI, passando este juízo a adotar tal
entendimento.
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(liquidação), gera a sua inépcia por ofensa ao art. 14, § 1º,
inciso III e §2º, da Lei 9.099/95. Considera-se ilíquido o
sentença vergastada o Douto Magistrado Singular com fulcro no art. 485, VI, do CPC,
julgou extinto o processo sem resolução do mérito, por ausência de condição da ação,
face as entendimento de que inexiste interesse processual da autora/apelante, uma vez
que a mesma, não comprovou haver formulado prévio requerimento administrativo à
administrativa, visto que tal exigência violaria a norma contida no artigo 5º, inciso
XXXV, da Constituição Federal. 3 – Recurso conhecido e provido para cassar a
sentença rechaçada determinando o retorno dos autos ao Juízo de origem para o
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BARBOSA)
No tocante à preliminar de prescrição, entendo que não merece ser acolhida
pois as verbas que o autor entende ser devidas não são anteriores ao prazo de 05
(cinco) anos a contar da data do ajuizamento da presente ação. Assim, não há que se
falar em prescrição da pretensão autoral, nos termos do art. 1º do Decreto nº
20.910/1932.
Assim, rejeito as preliminares suscitadas pelo Estado do Piauí.
Superadas as preliminares, passo a análise do mérito.
A parte autora alega, em síntese, que é Delegado Polícia Civil, que o
Requerido não vem pagando a Gratificação Natalina e o Adicional de Férias no valor
correspondente à integralidade da remuneração, conforme determina o Código de
Vencimentos da Polícia Militar do Piauí.
A parte autora pretende com a presente demanda, em síntese, a
condenação do Requerido no pagamento de R$ 22.656,27 (vinte e dois mil seiscentos e
cinquenta e seis reais e vinte e sete centavos), referentes a valores não pagos a título
de Gratificação Natalina e Adicional de férias nos últimos cinco anos e que seja
determinado ao Requerido que passe a pagar o Adicional de Férias e a Gratificação
Natalina com base na remuneração integral e a condenação do Estado do Piauí no
pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de indenização por danos morais.
Vejamos os parágrafos quarto e oitavo do art. 39 e o art. 144, IV e §9º, todos
da Constituição Federal de 1988:
[...]
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os
Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão
remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela
única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional,
abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie
remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art.
37, X e XI.
[...]
§ 8º A remuneração dos servidores públicos organizados em
carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º.
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do art. 39.
Vale trazer à colação o disposto na Lei Complementar nº 55/2005 que institui
o regime de subsidio para os Delegados de Polícia de Carreira do Estado do Piauí e dá
outras providencias:
Art. 1º Os Delegados de Polícia de carreira ativos e inativos do
Estado do Piauí bem como os seus pensionistas serão
remunerados pelo regime de subsídio, fixado em parcela
única, nos termos desta Lei.
I - vencimento;
II - adicional de férias;
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das datas nele especificadas.
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de inconstitucionalidade estadual. Parâmetro de controle. Regime
de subsídio. Verba de representação, 13º salário e terço
constitucional de férias. 1. Tribunais de Justiça podem exercer
controle abstrato de constitucionalidade de leis municipais
utilizando como parâmetro normas da Constituição Federal, desde
que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos Estados.
Precedentes. 2. O regime de subsídio é incompatível com
outras parcelas remuneratórias de natureza mensal, o que
não é o caso do décimo terceiro salário e do terço
constitucional de férias, pagos a todos os trabalhadores e
servidores com periodicidade anual. 3. A “verba de
representação” impugnada tem natureza remuneratória,
independentemente de a lei municipal atribuir-lhe nominalmente
natureza indenizatória. Como consequência, não é compatível
com o regime constitucional de subsídio. 4. Recurso parcialmente
provido.
(RE 650898, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em
01/02/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-187 DIVULG 23-08-
2017 PUBLIC 24-08-2017)
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é composta pelo vencimento, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes (art.
41).
Vejamos o seguinte julgado do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do
Piauí:
APELAÇÃO CÍVEL. REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO DE
COBRANÇA DE DIFERENÇA DO 13º SALÁRIO E 1/3 DE
FÉRIAS. PAGAMENTO A MENOR. INCIDÊNCIA DECÁLCULO
SOBRE REMUNERAÇÃO INTEGRAL DO SERVIDORE NÃO
SOBRE O SALÁRIO BASE. ART. 7º, VIII, DA CF/88
.PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. RECURSO IMPROVIDO.
SENTENÇA MANTIDA. 1. O inciso VIII do art. 7º da
Constituição Federal é claro quando diz que o 13º salários
será pago com base na remuneração integral do trabalhador.
Assim, não será calculado com referência apenas ao salário
base, devendo-se levar em consideração os adicionais
incidentes. 2. Recursos conhecidos e improvidos. 3. Sentença
mantida. (TJPI| Apelação Cível Nº 2015.0001.000500-1 | Relator:
Des. Fernando Lopes e Silva Neto | 4ª Câmara Especializada
Cível | Data de Julgamento: 03/05/2016)
Consoante se observa, o cálculo da gratificação natalina e do adicional de
férias tem por base a remuneração integral, nos termos do art. 1º, §3º da Lei
Complementar Estadual nº 107/2008, que estabelece que deve seguir o disposto no
Estatuto dos Servidores Civis do Estado do Piauí (arts.55 e 57 da LC 13/94).
Dessa forma, entende-se que assiste razão à parte autora no presente caso,
de modo que o adicional de férias e a gratificação natalina deve ser calculada com base
na remuneração integral da parte autora.
Passa-se, assim, a apuração dos valores retroativos devidos.
No que se refere à gratificação natalina, tem-se que é devido a diferença no
valor de R$ 2.526,64 para o ano de 2015; R$ 2.445,98 para o ano de 2016; R$
3.124,48 para o ano de 2017; R$ 3.250,56 para o ano de 2018 e R$ 3.250,56 para o
ano de 2019.
Quanto ao adicional de férias, apura-se que é devido uma diferença de R$
752,42 para o ano de 2015; R$ 814,69 para o ano de 2016; R$ 910,71 para o ano de
2017 e R$ 1.082,76 para o ano de 2019.
Dessa forma, verifica-se que o valor total devido a título de diferenças de
gratificação natalina e de adicional de férias do período de 2015 a 2019 é de R$
18.158,80 (dezoito mil, cento e cinquenta e oito reais e oitenta centavos), que devem
ser acrescidos de juros e correção monetária na forma da lei.
Passo à análise do pedido de indenização por danos morais.
A Constituição Federal de 1988 dispõe expressamente sobre a
responsabilidade da Administração Pública por danos que seus agentes, atuando nessa
qualidade causem a terceiros. Vejamos:
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Art. 37. A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte:
[…]
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de
direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos
danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos
de dolo ou culpa.
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significava tirar, apoucar, diminuir. Portanto, a idéia de dano surge
das modificações do estado de bem-estar da pessoa, que vem em
seguida, à diminuição, ou perda de qualquer dos seus bens
originários ou derivados extrapatrimoniais ou patrimoniais.
(...)
Portanto, a definição de dano moral deveria ser dada
em contraposição a dano material, sendo este o que lesa bens
apreciáveis pecuniariamente, e aquele, ao contrário, o prejuízo a
bens ou valores que não tem conteúdo econômico.
Vivenciado o prejuízo moral, este merece reparo. Acerca do tema, leciona
Maria Helena Diniz:
A reparação do dano moral cumpre, portanto, uma
função de justiça corretiva ou sinalagmática, por conjugar, de uma
só vez, a natureza satisfatória da indenização do dano moral para
o lesado, tendo em vista o bem jurídico danificado, sua posição
social, a repercussão do agravo em sua vida privada e social e a
natureza penal da reparação para o causador do dano, atendendo
à sua situação econômica, a sua intenção de lesar (dolo ou culpa),
a sua imputabilidade, etc. (Indenização por Dano Moral, in Revista
Jurídica, CONSULEX, ano 1 - nº 3, 1997)
No caso em apreço, para que haja a configuração da indenização pelo dano
pleiteado, há a necessidade de haver a prática de ato ilícito praticado pela ré.
É imperioso enfatizar o ônus do Requerente em comprovar os fatos
constitutivos de seu direito para que o Estado requerido pudesse apresentar defesa e
todos os documentos que tenha posse para a solução da lide, buscando a satisfação
da atividade jurisdicional, entregando o direito ao seu titular, nos termos do art. 9º da
Lei nº 12.153/2009.
Assim não restou demonstrado o nexo de causalidade entre o dano sofrido
pela parte autora e a suposta atitude comissiva/omissiva da Administração Pública,
nem tão pouco a existência de ato ilícito praticado pelo Estado do Piauí.
Quanto ao pedido de justiça gratuita, verifica-se que a autora deixou de
comprovar que percebe remuneração compatível com a situação de hipossuficiência,
conforme o critério estabelecido na Resolução Nº 026/2012 – CSDP da Defensoria
Pública do Estado do Piauí, que estabelece o limite de remuneração líquida de até três
salários-mínimos, devendo ser indeferido tal pedido.
Ante o exposto, rejeito as preliminares suscitadas pelo Estado do Piauí na
forma da fundamentação ante exposta e JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE os
pedidos do autor para a condenar o Estado do Piauí no pagamento de R$ 18.158,80
(dezoito mil cento e cinquenta e oito reais e oitenta centavos), acrescido de juros e
correção monetária na forma da lei, referentes diferenças de Gratificação Natalina e
Adicional de férias do período de 2015 a 2019, bem como determino ao Requerido que
passe a pagar o Adicional de Férias e a Gratificação Natalina com base na
remuneração integral da parte autora e JULGO TOTALMENTE IMPROCEDENTE, nos
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termos do art. 487, I do Código de Processo Civil o pedido de indenização por danos
morais.
Indefiro o pedido de justiça gratuita.
Sem Custas e Honorários, a teor dos arts. 54 e 55 da Lei nº 9.099/95.
P.R.I.
Teresina/PI, 20 de agosto de 2020.
[1] Curso de Direito Administrativo. 22ª Ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2007
[2] Direito Administrativo. 27ª Ed. São Paulo: Atlas, 2008
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