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Lei de Entorpecentes
LEI DE ENTORPECENTES
Dando continuidade à análise da lei antidrogas, este bloco será iniciado com o estudo
sobre o crime que a doutrina chama de tráfico de maquinário.
Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título,
possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qual-
quer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autori-
zação ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar.
Obs.: é preciso ter cuidado, pois se a pessoa estiver diante de algo que não seja utilizado
para tal finalidade; por exemplo, o homem foi encontrado com um pente de cabelo,
que ele utiliza para separar cocaína, ou com uma lâmina de barbear. Observa-se que
esses itens não são utilizados para fabricar, preparar, produzir ou transformar, mas
sim para separar a droga, então não é esse instrumento destinado a essas finalida-
des. É preciso conectar esses aparelhos com a finalidade que eles tem.
Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois
mil) dias-multa.
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Exemplo: quando a pessoa tiver, por exemplo, uma balança de precisão, maquinários que
sejam utilizados para o próprio tráfico, então esses aparelhos são um meio necessário. Neste
caso, o 33 absorve o 34, no princípio da consunção, no qual o crime-fim absorve o crime meio.
Mas não é sempre que isso vai acontecer, porque há duas jurisprudências do STJ.
Em dois precedentes de 2013, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) discutiu se o art. 34 da
Lei de Drogas era ou não absorvido pelo art. 33. Foram expostas duas conclusões:
I – A prática do crime previsto no art. 33, caput, da Lei de Drogas absorve o delito capitulado no
art. 34 da mesma lei, desde que não fique caracterizada a existência de contextos autônomos
e coexistentes aptos a vulnerar o bem jurídico tutelado de forma distinta. Assim, responderá
apenas pelo crime do art. 33 (sem concurso com o art. 34), o agente que, além de preparar para
venda certa quantidade de drogas ilícitas em sua residência, mantiver, no mesmo local, uma balan-
ça de precisão e um alicate de unha utilizados na preparação das substâncias. Isso porque,
na situação em análise, não há autonomia necessária a embasar a condenação em ambos os tipos
penais simultaneamente, sob pena de “bis in idem”. STJ. 5ª Turma. REsp 1196334-PR, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/9/2013 (Info 531).
Exemplo: se a pessoa tem um laboratório, não apenas uma balança de precisão, neste
caso, como ele tem um contexto autônomo, ele responderá pelo 33 e pelo 34.
II – Responderá pelo crime de tráfico de drogas (art. 33) em concurso com o art. 34 o agente
que, além de ter em depósito certa quantidade de drogas ilícitas em sua residência para fins de
mercancia, possuir, no mesmo local e em grande escala, objetos maquinário e utensílios que
constituam laboratório utilizado para a produção, preparo, fabricação e transformação de
drogas ilícitas em grandes quantidades. Não se pode aplicar o princípio da consunção porque
nesse caso existe autonomia de condutas e os objetos encontrados não seriam meios necessários
nem constituíam fase normal de execução daquele delito de tráfico de drogas, possuindo lesividade
autônoma para violar o bem jurídico. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 303213-SP, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 8/10/2013 (Info 531).
DIRETO DO CONCURSO
1. (CESPE/PC-SE/DELEGADO DE POLÍCIA/2018) Situação hipotética: Em um mesmo
contexto fático, um cidadão foi preso em flagrante por manter em depósito grande variedade
de drogas, entre elas, cocaína, maconha, haxixe e crack, todas para fins de mercancia.
Foram apreendidos também maquinários para o preparo de drogas, entre eles, uma balança
digital e uma serra portátil. Assertiva: Nessa situação, afastada a existência de contextos
autônomos entre as condutas delitivas, o crime será único.
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Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não,
qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei.
Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e du-
zentos) dias-multa.
Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Obs.: se o indivíduo tiver, por exemplo, três pessoas associadas para traficância, se tem uma
finalidade específica, não se enquadrando no Código Penal, mas na lei antidrogas.
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Obs.: é indispensável que essa associação para o tráfico efetivamente pratique os crimes do
art. 33, caput, §1º, e 34, para se ter uma consumação de um crime de associação para
o tráfico? Não, porque a prática do art. 33, caput, §1º, e 34, é uma especial finalidade,
é o especial fim do agir. O crime se consuma no momento em que há a associação
dessas pessoas com um certo vínculo de estabilidade, com essa finalidade. Por mais
que esses crimes ainda não tenham sido praticados, se a associação tiver sido consti-
tuída com esse caráter de permanência e de estabilidade, já consumou o crime do art.
35. Então não é indispensável que os crimes de tráfico sejam praticados.
Obs.: se não há esse dolo de estabilidade e permanência, se é algo meramente eventual,
tem-se um concurso de pessoas, no máximo um concurso de pessoas para a prática
de crimes de tráfico, e não um crime autônomo de associação criminosa. Por isso que
o que diferencia os dois é esse dolo, elemento subjetivo relacionado à estabilidade e
à permanência.
Obs.: o art. 33 não absorve o art. 35, e vice-versa. Existe a possibilidade de o sujeito respon-
der pelos dois artigos, porque tem bens jurídicos diversos sendo afetados, condutas
autônomas, de um lado a conduta do tráfico, e do outro lado a conduta de se associar
para traficar, são condutas com elementos subjetivos autônomos, existe a possibilida-
de de concurso, não há a consunção.
• Caderno 131, Tese 27 (STJ) – Para a configuração do crime de associação para o trá-
fico de drogas, previsto no art. 35 da Lei n. 11.343/2006, é irrelevante apreensão de
drogas na posse direta do agente (se você tiver elementos probatórios que demons-
trem a formação deste vínculo, desta associação, com dolo de permanência e estabili-
dade, se tem consumado o 35, já que é um crime formal).
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2. (CESPE/CÂMARA DOS DEPUTADOS/ANALISTA LEGISLATIVO /CONSULTOR LEGIS-
LATIVO ÁREA V/2014) O delito de associação para o tráfico é considerado crime hediondo
na legislação penal brasileira.
O requisito normativo indispensável não é a prática de crimes, tanto é que pode nem ter
praticado crime de tráfico. O requisito indispensável é a associação com a ideia, com o
vínculo, o dolo de estabilidade e permanência.
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática
reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei (crime de financiamento ou custeio).
Obs.: enquanto no caput, do art. 35, está escrito “reiteradamente ou não”; no parágrafo único
está escrito “prática reiterada”, então se é uma associação para o financiamento ou
custeio, essa prática deve ser reiterada, não eventual.
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Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e §
1º, e 34 desta Lei.
Qual é a diferença entre financiar e custear? O indivíduo pode financiar a atividade, mas
não obter resultado diretamente dela, é como se fosse um resultado financeiro. Por exemplo,
quando a pessoa empresta dinheiro e obtém um valor maior do que o que ela emprestou, ou
quando ela faz uma aplicação financeira, de R$ 1000 e recebe depois R$ 1.200, então o finan-
ciamento tem mais a ver com o retorno financeiro. Já o custeio é um retorno da própria droga,
é o resultado de uma própria conduta de tráfico que vai gerar em virtude daquele momento,
daquele tráfico especificamente.
Por exemplo, no financiamento, se o indivíduo emprestou R$ 10 mil para um traficante,
esperando que ele pagasse depois de um tempo R$ 15 mil, não há interesse se ele vendeu
ou não a droga. No custeio, é o indivíduo que emprestou o dinheiro é que decide custear a
droga e, com a venda dessa droga, ele exige uma quantidade. Então, de um lado é o resultado
financeiro, do outro é o resultado da exploração do próprio tráfico.
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000
(quatro mil) dias-multa.
• Financiamento x Custeio.
• Exceção pluralista à teoria monista (em tese, financiar ou custear, faria o indivíduo
responder por participação no crime de tráfico, todo mundo respondendo pelo mesmo
crime. Mas na exceção pluralista, o legislador colocou um dispositivo autônomo, a figura
de financiar ou custear, que seria considerado participação no concurso de pessoas).
• Estabilidade e Reiteração (porque se for algo meramente eventual, o indivíduo respon-
derá a título de concurso de pessoas, pelo art. 33).
• Financiamento Esporádico – art. 33 c/c art. 40, VII (o agente financiar ou custear a prá-
tica do crime) (em uma das majorantes do art. 40, que pode aumentar de 1/6 a 2/3 é o
de o agente financiar ou custear a prática do crime).
• Autofinanciamento – art. 33 c/c art. 40, VII.
O sujeito financia sua própria prática criminosa. Nesse caso, não é possível responder
pelo 36 (financiando a prática de outrem); existe a possibilidade de responder pelo 33
com a causa de aumento de pena do art. 40, que é financiar ou custear a prática do crime.
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Obs.: se a pessoa financia ou custeia apenas uma vez, algo esporádico, responderá pelo art.
33, mas se tem estabilidade e permanência desse custeio e financiamento, responde-
rá pelo art. 36.
Obs.: não tem como fazer a pessoa responder pelo art. 36 com essa causa de aumento,
porque seria bis in idem, porque o financiamento ou custeio já faz parte do próprio tipo
penal do art. 36. Então se a pessoa for responder pelo 36, a majorante não será colo-
cada, mas se for um financiamento esporádico, a pessoa responderá pelo 33 (crime
de tráfico) com a majorante, que, nessa conduta de traficância, passa por financiando
ou custeando, então será o 33 em conjunto com a majorante do art.40.
Caderno 131, Tese 30 (STJ) – O crime de financiar ou custear o tráfico ilícito de drogas
(art. 36 da Lei n. 11.343/2006) é delito autônomo aplicável ao agente que não tem partici-
pação direta na execução do tráfico, limitando-se a fornecer os recursos necessários para
subsidiar as infrações a que se referem os art. 33, caput e § 1º, e art. 34 da Lei de Drogas.
Caderno 131, Tese 17 (STJ) – O agente que atua diretamente na traficância e que
também financia ou custeia a aquisição de drogas deve responder pelo crime previsto no
art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006 com a incidência da causa de aumento de pena pre-
vista no art. 40, VII, da Lei n. 11.343/2006, afastando-se, por conseguinte, a conduta autô-
noma prevista no art. 36 da referida legislação.
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Não, pois ele praticará o crime de tráfico majorado com a majorante do art. 40, por isso a
questão está errada.
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Art. 37. Colaborar, COMO INFORMANTE, com grupo, organização ou associação destinados à
prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos)
dias-multa.
Obs.: se o agente está informando, mas ele já faz parte da própria organização, ele não irá
responder pelo art. 37, mas pelo 35. Então é necessário que essa conduta seja algo
desvinculado da própria associação para o tráfico, se ele tiver alguma posição dentro
dessa associação não vai responder pelo crime do art. 37.
Caderno 131, Tese 31 (STJ) - O crime de colaboração com o tráfico, art. 37 da Lei n.
11.343/2006, é um tipo penal subsidiário em relação aos delitos dos arts. 33 e 35 da
referida lei e tem como destinatário o agente que colabora como informante, de forma espo-
rádica, eventual, sem vínculo efetivo, para o êxito da atividade de grupo, de associação ou
de organização criminosa destinados à prática de qualquer dos delitos previstos nos arts. 33,
caput e § 1º, e 34 da Lei de Drogas.
É possível que alguém seja condenado pelo art. 35 e, ao mesmo tempo, pelo art. 37, da
Lei de Drogas em concurso material, sob o argumento de que o réu era associado ao grupo
criminoso e que, além disso, atuava também como “olheiro”? NÃO. Segundo decidiu o STJ,
nesse caso, ele deverá responder apenas pelo crime do art. 35 (sem concurso material
com o art. 37). Considerar que o informante possa ser punido duplamente (pela associação e
pela colaboração com a própria associação da qual faça parte), contraria o princípio da subsi-
diariedade e revela indevido bis in idem, punindo-se, de forma extremamente severa, aquele
que exerce função que não pode ser entendida como a mais relevante na divisão de tarefas
do mundo do tráfico. STJ. 5ª Turma. HC 224849-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado
em 11/6/2013 (Info 527).
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Se ele simplesmente colabora como informante, essa conduta estará tipificada no art. 37.
Muito cuidado com isso! O primeiro problema é que não é qualquer dos crimes, porque
o próprio tipo penal fala arts. 33, caput e § 1º, e 34. Outro problema é essa situação da
colaboração permanente e estável, porque se for assim, ele responderá provavelmente pelo
art. 35, e não pelo art. 37, e é por isso que a questão está errada.
GABARITO
1. C
2. E
3. E
4. E
5. E
6. E
�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Diego Fontes.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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