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Seção criminal
Em Agosto de 2014, o paciente foi preso em virtude da suposta prática do crime previsto
no artigo 33, caput, cc. artigo 35, caput da Lei 11.343/06. Após manifestação ministerial, o Juízo
decretou a prisão preventiva do paciente, nos seguintes termos:
“Vistos 1 - Trata-se de pedido de prisão preventiva formulada pelo Ministério Público em desfavor
de Marciel Willy Veiga de Oliveira e Matheus Gonçalves Maciel, agora acusados da prática dos crimes de
tráfico de drogas e de associação para o tráfico ilícito de entorpecentes. Acolho o pedido. Estão presentes
os motivos que autorizam a custódia cautelar, já que provada a materialidade delituosa dos fatos e existirem
indícios suficientes de participação de ambos na prática delitiva, em especial o teor das degravações de
filmagens realizadas no curso das investigações e a própria delação feita pelos comparsas que, na
oportunidade da ação policial, foram presos em flagrante. O crime a eles imputado é grave. Intimamente
ligado ao tráfico de entorpecente, equiparado a hediondo, também serve como motor do aumento da
criminalidade na sociedade. A resposta estatal, no caso, dever ser pronta e eficaz e a prisão preventiva, no
caso, mostra-se necessária também para a preservação da ordem pública e garantia de instrução do
processo e da futura e eventual aplicação da lei penal. A ordem pública recomenda a medida, eis que, em
poder dos acusados. Além disso, os autos não evidenciam que os réus possuam sério compromisso com o
distrito da culpa, o que indica que a prisão poderá auxiliar na agilidade do procedimento sem que se ponha
em risco a instrução do processo. Expeçam-se mandados de prisão. 2 Fls. 113, itens 2, e e 4 Defiro,
expedindo-se o necessário. Uma vez cumprido, atenda-se o disposto no Art. 55 da Lei nº 11.343/06 em
relação a Marciel e Willy. Desde já, cumpra-se a providencia em relação aos demais acusados. Sem
prejuízo, oficie-se à OAB para a indicação de Defensores para os acusados, que serão intimados a ofertar a
defesa inicial caso não sejam constituídos defensores no prazo assinalado no mandado. Int.”
Assim, a única prova que tem contra o paciente nos autos é a suposta delação dos outros
co-réus em seus depoimentos na delegacia, afirmando que o paciente era o dono da “boca” e que
este comercializa drogas no local.
E foi apenas essa prova que o levou à condenação, a suposta delação dos outros co-réus,
sendo que o paciente não comercializa drogas, não necessita até porque recebe pensão por
morte do INSS e também trabalha como polidor de veículos auferindo renda suficiente para uma
vida digna, sendo primário e com bons antecedentes conforme documentos em anexo.
Essas provas, colhidas na delegacia sem o crivo do contraditório, que são as únicas contra
o paciente, são muito fracas para ensejar um decreto condenatório, pois no direito penal aonde
impera a verdade real, uma simples duvida deve ser o bastante para ensejar a absolvição, de
acordo com o principio “in dúbio pró réu”.
Além disso, o fato de existir provas o bastante para condenar os outros réus, não quer
dizer que existam provas contra o paciente, pois seu envolvimento nos autos se dá apenas pelo
depoimento dos outros prestados na delegacia que foram encontrados com drogas e afirmaram
em sede policial que estavam ali traficando.
Uma condenação que leva em consideração apenas o depoimento de dois criminosos que
confessaram o crime na delegacia pode levar a um erro judiciário sem precedentes, pois um
inocente pode estar sendo condenado apenas pelo depoimento de dois criminosos, e não é isso o
necessário para uma condenação, é necessário que apareça a verdade dos fatos, baseada em
todas as provas colhidas nos autos, e não apenas em dois depoimentos como aconteceu nos
presentes autos.
As provas colhidas na delegacia que foi o depoimento dos outros co-réus foi a única prova
ensejadora da condenação do paciente, foram indícios colhidos na delegacia que não se
concretizaram durante a instrução.
Julio Fabbrini Mirabete em sua obra “ Código De Processo Penal Interpretado”, Ed. Atlas,
sobre o art. 4º leciona:
“ ...4.5 Valor probatório.O inquérito policial tem valor informativo para a instauração
da competente ação penal, como instrução provisória, de caráter inquisitivo, que é.Não se pode,
por isso, fundamentar uma decisão condenatória apoiada exclusivamente no Inquérito Policial, o
que contraria o principio constitucional do contraditório”.
E, ainda
Doutrina:
Jurisprudência:
“ Os indícios, por mais veementes que sejam, não bastam para alicerçar um juízo
condenatório.” RT 450/380
“ Não pode haver condenação sem prova plena de crime e de sua autoria.Indícios,
ainda que veementes, desautorizam-na” RT 184/89
“ Sem a certeza total da autoria e da culpabilidade, não pode o juiz criminal proferir
uma condenação”
RT 568/316
Os depoimentos colhidos na delegacia não podem alicerçar uma condenação, pois muitos
dos acusados não afirmaram em juízo o que foi dito na delegacia.
Além disso, a questão do escrivão de policia consignar frases ou palavras não ditas, dos
“declarantes”, e até dos “interrogandos”, é fato comum e tira a confiabililidade dos depoimentos
prestados na delegacia
“... O fato muito comum de escrivães de policia perguntarem aos declarantes o que
sabem, e depois verterem o que ouviram com suas próprias palavras (desobedecendo à sabia
regra do art. 215, do CPP) é responsável principal pela constante decepção que esta prova causa
aos profissionais da justiça criminal; no inquérito, vozes uníssonas, uma versão que emerge
nítida; em juízo, retificações, corrigendas, esclarecimentos, que são naturalmente maiores e mais
freqüentes na razão direta da pouca instrução e baixa condição social dos depoentes.Este
comportamento a que nos referimos pode até mesmo, e ironicamente, tornar imprestável (pela
suspeita de conluio) uma prova que, se colhida naturalmente, sem a preocupação uniformizante
do escrivão, seria apta à demonstração pretendida.
A delação não pode ser um ato processual isolado do contexto probatório, mas deve sim,
concordar com os demais indícios. ... MITTERMAYER dá lhe valor, mas, além de exigir que esteja
ela arrimada em outras provas, entende ser imprescindível a realização da acareação.
Entre nós, o Egrégio Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, vem entendendo
reiteradamente, que: “ A clássica chamada de co-réu, implica da própria responsabilidade.Por
conseguinte, o primeiro elemento necessário para que ela seja verdadeira é que a confissão
também o seja: em segundo lugar que não tenha a inspira-la razões de ódio e em terceiro lugar
que não mascare o escopo oculto de atenuar a responsabilidade de quem quer que seja” RT
419/295...”
Não contem validade jurídica a sentença condenatória que tem como único embasamento
a delação de co-réu, que não substancia prova isenta, demonstrativa da verdade substancial, sob
pena de ofensa ao principio constitucional do contraditório e ampla defesa.(art. 5º, LV).Habeas
corpus concedido.
Assim espera os apelantes, que esse Egrégio Tribunal reforme a respeitável decisão de 1º
instancia.Absolvendo-os, com fulcro no art. 386, inciso VI por não existir prova suficiente para a
condenação, ou também com base no art. 386, inciso IV por não existir prova de ter o réu
concorrido para a infração penal.
A medida excepcional deve apoiar-se em fatos concretos que a embasem, não apenas em
hipóteses ou conjecturas. É nula quando há falta de fundamentação concreta de sua necessidade
cautelar.
O mesmo raciocínio vale, aliás, para a argumentação de que invoca a gravidade abstrata
do crime de tráfico de drogas, razão pela qual, inclusive, a orientação jurisprudencial unânime dos
Tribunais Superiores nega a idoneidade da fundamentação de uma prisão pautada na gravidade
do delito ou no clamor público, equivoco no qual incidiu a autoridade coatora.
Acrescente-se que não há qualquer elemento nos autos sobre a necessidade da custódia
cautelar em razão da conveniência da instrução criminal.
Portanto, requer o impetrante a concessão da medida liminar, com base no artigo 660,
parágrafo segundo do Código de Processo Penal, para que seja revogada a prisão preventiva do
paciente, com a conseqüente expedição do alvará de soltura.
a) seja processado o pedido e anexo na forma da lei e regimento interno desta Corte, e
concedida a ordem ora impetrada, expedindo-se, em conseqüência, o competente alvará de
soltura;
Nestes Termos,
Pede e Espera Deferimento.
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Marcelo de Almeida Silva
OAB/SP 337.654