Você está na página 1de 3

RE 1.116.949 ED (Tema 1.

041)
Abertura de encomendas, sem autorização de juiz, diante de
fortes suspeitas da prática de crime

Relator
Fatos
Ministro Edson Fachin
Votação
Trata-se de recurso (embargos de declaração) em que se pretende
Unânime esclarecer decisão do STF em recurso extraordinário com repercussão
Voto que prevaleceu
geral (Tema 1.041), na qual se que analisou se é válida, no processo
Ministro Edson Fachin penal, a prova obtida com a abertura de encomenda pelos Correios, nos
casos em que há fortes suspeitas de prática de crimes.
Órgão julgador
Tribunal Pleno
No caso, um policial militar foi condenado pelo crime de “tráfico de
Data do julgamento drogas cometido por militar em serviço” (art. 290, § 1º, do Código Penal
30/11/2023
Militar). Segundo a denúncia, ele postou uma caixa pelo serviço de envio
Formato de correspondência da Polícia Militar. O objeto foi considerado suspeito
Presencial pelos servidores públicos responsáveis pela triagem, que abriram a
encomenda e identificaram que se tratava de ácido gama-
hidroxibutírico e cetamina, substâncias de controle especial cujo envio
é proibido pela legislação. O policial militar defende que o material
recolhido não poderia ser usado como prova, já que a Constituição
protege o sigilo das correspondências (art. 5º, XII).

Questões jurídicas

Em quais hipóteses a pessoa pode ser condenada por crime com base
em prova obtida por meio de abertura de encomendas, feita sem
autorização do juiz?

Fundamentos da decisão

1. A Constituição prevê que “é inviolável o sigilo da correspondência


e das comunicações telegráficas” (art. 5º, XII). Essa garantia deve ser
equilibrada com o interesse do poder público de reprimir condutas
criminosas. Assim, as provas obtidas com a abertura de cartas, telegramas ou pacotes só podem ser usadas
para a demonstrar que uma pessoa cometeu um crime nas hipóteses previstas na Lei nº 6.538/1978 ou se o
procedimento for autorizado por um juiz. Nos presídios, contudo, há regra diferente: as cartas, os telegramas e
os pacotes podem ser abertos sem autorização judicial, desde que haja fortes suspeitas de que estão sendo
usados para a prática de crimes.

2. A garantia constitucional de que as correspondências não podem ser violadas protege a transmissão
de informações entre pessoas. Essa lógica não se aplica às mercadorias e encomendas, que podem ser abertas
para a obtenção de provas, sem a necessidade de autorização do juiz, quando houver fortes suspeitas da
prática de crimes. Apesar disso, para preservar os direitos constitucionais de defesa do acusado (art. 5º, LIV e
LV), os atos praticados pelos agentes públicos devem ser registrados em documentos, para que
posteriormente possam ser fiscalizados por juízes ou outras autoridades.

Votação e julgamento

Decisão unânime

Voto que prevaleceu: Ministro Edson Fachin (relator)

Voto(s) divergente(s): Não há

Resultado do julgamento

Por unanimidade, o colegiado definiu que é válida a abertura de encomenda postada nos Correios
por funcionários da empresa, desde que haja indícios fundamentados da prática de atividade ilícita.
Nesse caso, é necessário formalizar as providências adotadas para permitir o posterior controle
administrativo ou judicial.

Nos presídios, também é válida a abertura de correspondência quando houver indícios


fundamentados da prática de atividades ilícitas.

No julgamento, o STF esclareceu o alcance da tese em que os ministros definiram como ilícita a
prova obtida, sem autorização judicial ou fora das hipóteses legais, mediante abertura de carta,
telegrama, pacote ou meio análogo.
Tese de julgamento:

“1. Sem autorização judicial ou fora das hipóteses legais, é ilícita a prova obtida mediante abertura
de carta, telegrama, pacote ou meio análogo, salvo se ocorrida em estabelecimento penitenciário,
quando houver fundados indícios da prática de atividades ilícitas.

2. Em relação à abertura de encomendas postadas nos Correios, a prova somente será lícita quando
houver fundados indícios da prática de atividades ilícitas, formalizando-se as providências adotadas
para fins de controle administrativo ou judicial.”

Classe e Número: RE 1.116.949 ED (Tema 1.041 da Repercussão Geral)

Agenda 2030 da ONU

Versão: V1_30nov_20h33

Você também pode gostar