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Mário Caetano
Janeiro 2018
Este livro deve ser citado da seguinte maneira:
Caetano, M., 2018. Teoria de Deteção Remota, [e-book]. NOVA Information Management School
(NOVA IMS), Universidade Nova de Lisboa.
Índice
Índice ...................................................................................................................................................... 1
Acrónimos e abreviaturas ........................................................................................................................ 2
1. Introdução ........................................................................................................................................... 9
1.1. Definições ................................................................................................................................................... 9
1.2. Os benefícios socioeconómicos da deteção remota ...................................................................................... 9
1.3. Objectivos e estrutura do livro .................................................................................................................... 14
1.4. Bibliografia em deteção remota e recursos na Internet ................................................................................ 16
2. Fundamentos de deteção remota....................................................................................................... 21
2.1. Componentes de um sistema de deteção remota ....................................................................................... 21
2.2. Fontes de energia e princípios da radiação................................................................................................. 22
2.4. Interações da radiação solar com elementos da superfície terrestre ............................................................ 29
2.5. Gravação da energia pelo sensor ............................................................................................................... 35
Acrónimos e abreviaturas
3MI Multi-viewing Multi-channel Multi-polarization Imager
HS Hyperspectral
MONO Monochromatic
MR Microwave Radiometer
ND Número Digital
P Panchromatic
PAN Panchromatic
RA Radar Altimeter
RE RedEdge
SAR Synthetic Aperture Radar
TM Thematic Mapper
XS Multiespectral
Deteção remota é, por definição, um termo muito geral e pode incluir processos como a visão
humana, fotografia, radar e sismologia. Contudo, o termo deteção remota é normalmente
associado a sistemas baseados em energia electromagnética, e que registam informação sobre
a Terra com sensores montados em aviões ou satélites. Nesse sentido, deteção remota já foi
definida como “a ciência de aquisição, processamento e interpretação de imagens adquiridas por
aviões ou satélites que gravam a interação entre a matéria e a energia electromagnética” (Sabins,
1987).
O termo deteção remota tem vindo a ser progressivamente substituído por observação da Terra
e para muitos autores e instituições têm o mesmo significado. Também a observação da Terra
pode incluir sistemas montados em satélites (e aí há quem prefira utilizar uma designação mais
explicita, i.e. observação da Terra por satélite) ou sistemas in situ, que incluem observações
montadas em plataformas aerotransportadas mas também oceânicas e terrestres (e.g., estações
meteorológicas, sensores de monitorização da qualidade do ar). Muitas autores e instituições
(e.g., Agência Espacial Europeia) utilizam o termo observação da Terra para se referiram
exclusivamente à aquisição de informação por sensores montados em satélites que orbitam a
Terra.
Este livro assenta essencialmente na deteção remota por satélite, excluindo-se assim outras
formas de deteção remota para caracterização da superfície terrestre como por exemplo a
fotografia aérea (câmaras fotográficas montadas em aviões) ou sensores digitais instalados em
aviões. Por uma questão de simplificação, neste curso os termos deteção remota e observação
da Terra são utilizados exclusivamente para observações por satélite (i.e., imagens de satélite).
A expansão das missões de satélites de observação da Terra têm um impacto em toda a cadeia
de valor, desde o fabrico dos satélites até ao fornecimento de dados e serviços de valor
acrescentado para um número crescente de utilizadores. Por isso mesmo, a observação da Terra
tem contribuído significativamente para o impacto do sector espacial na sociedade moderna, não
só pela sua importância na resposta a desafios societais como a monitorização ambiental, gestão
de recursos naturais ou alterações climáticas, mas também pelo seu forte contributo para o
crescimento económico e criação de emprego (OECD, 2011).
As principais razões que justificam o grande interesse pela observação da Terra são as seguintes:
• baixo custo das imagens, quando comparado com trabalho de campo ou fotografia aérea;
• aquisição de dados em áreas mais inacessíveis ou inóspitas;
• disponibilidade em formato digital;
As imagens de satélite já são adquiridas em formato digital, podendo por isso ser
processadas por computador. A fotografia aérea tradicional não é adquirida em formato
digital e a sua incorporação num computador requer conversão de formatos, o que é bastante
dispendioso.
• velocidade do processamento dos dados;
Esta vantagem está relacionada com o formato digital das imagens. O automatismo
associado com muitas técnicas de processamento digital de imagens permite uma análise e
uma resposta rápidas.
• periodicidade de aquisição de dados;
Os satélites são concebidos para aquisição periódica de imagens de uma mesma área com
condições semelhantes de observação. Por exemplo, o satélite Landsat-7 ETM+ adquire
imagens de uma mesma área de 16 em 16 dias. Esta vantagem tem, por exemplo, sido
utilizada na monitorização de áreas sujeitas a secas ou cheias, já que permite a comparação
de imagens antes e depois do evento. Por outro lado, esta periodicidade conhecida permite,
ao contrário do trabalho de campo e da fotografia aérea, aquisição de dados sem um
planeamento prévio. Por exemplo, podemos comprar uma imagem de satélite de 1980 da
área de Lisboa para fazer a cartografia do uso de solo nesse ano, sem que tenha sido
Desde o lançamento do primeiro satélite de observação da Terra na década de 70, vários grupos
de investigação têm vindo a desenvolver metodologias para extração de informação a partir de
imagens de satélite em várias áreas de aplicação, como as apresentadas na Tabela 1.
O Copernicus tem como principal objetivo a disponibilização de serviços que permitam o acesso
atempado a dados e informação fiáveis relativos ao ambiente e segurança. O programa inclui
duas componentes relacionadas com a aquisição de dados (i.e. componentes in situ e espaço)
que alimentam a terceira componente (i.e. os serviços) para produção de informação nas
seguintes áreas: terra, emergências, meio marinho, atmosfera, segurança e alterações climáticas
(Caetano, 2011). O Copernicus tem um conjunto de satélites dedicados, i.e. Sentinels, que serão
descritos no capítulo sobre satélites e sensores de observação da Terra deste manual.
Meteorologia
Modelação climática a diferentes escalas
Análise de massas nebulosas e sua evolução
Previsão de desastres naturais de origem meteorológica
Agricultura e Florestas
Cartografia de espécies vegetais
Avaliação do estado da vegetação
Determinação da biomassa
Estatísticas agrícolas
Caracterização biométrica de povoamentos florestais
Cartografia de risco de incêndio
Geologia
Cartografia de unidades geológicas principais
Revisão de mapas geológicos
Guia de reconhecimento de superfícies minerais
Recursos Hídricos
Determinação do limite, área e volume de superfícies aquáticas
Cartografia de inundações
Determinação da área e limite de zonas geladas
Avaliação de rupturas glaciares
Avaliação de modelos de sedimentação
Determinação da profundidade da água
Delimitação de campos irrigados
Inventário de lagos
Determinação de zonas com alterações hidrológicas
Meio Ambiente
Cartografia e controle da poluição da água
Determinação da poluição do ar e seus efeitos
Caracterização dos efeitos dos desastres naturais
Controle ambiental das atividades humanas (e.g., eutrofização da água)
Monitorização de incêndios florestais e dos seus efeitos
Avaliação de modelos de escorrimento superficial e erosão
O Copernicus não é o primeiro programa operacional com base em imagens de satélite na União
Europeia ou nos seus Estados Membros, mas é o primeiro sistema integrado de resposta a
desafios societais e traz grandes vantagens em termos de benefícios de investimento realizado.
Com efeito, de acordo com um estudo do Instituto Europeu para a Política do Espaço e divulgado
no início de 2011, estima-se que os benefícios socioeconómicos do Copernicus sejam cerca de
dez vezes superiores ao investimento (Giannopapa, 2011).
pré-processamento;
• transformação de bandas;
• extração de informação das imagens;
• tratamento pós-classificação;
• avaliação da qualidade dos mapas produzidos.
Este livro poderia designar-se por Deteção Remota e Processamento Digital de Imagem. Com
efeito, numa perspectiva mais purista a designação de deteção remota inclui apenas as
componentes mais dedicadas à aquisição de imagens (i.e. fundamentos de deteção remota e
satélites e sensores de observação da Terra), excluindo assim a componente dedicada a
metodologias e algoritmos para converter os dados recolhidos pelos sensores em informação (i.e.
extração de informação por processamento digital de imagem). No entanto, seguiu-se a tendência
internacional de utilizar apenas, ainda que de uma forma abusiva e generalista, a designação de
deteção remota.
O seguinte livro é uma boa referência do ponto de vista teórico, tendo também uma parte dedicada
às principais aplicações de deteção remota:
• Warner, T., M. Nellis e G. Foody (Eds.), 2009. The SAGE Handbook of Remote Sensing.
London: SAGE Publications Ltd.
Existem também muitos livros que se dedicam a aplicações específicas de deteção remota, como
por exemplo:
• Giri, C. (Ed.), 2012. Remote Sensing of Land Use and Land Cover: Principles and
Applications. CRC Press.
• Weng, Q. (Ed.), 2011. Advances in Environmental Remote Sensing: Sensors, Algorithms, and
Applications.CRC Press.
• Rashed, T. and C. Jürgens (Eds), 2010. Remote Sensing of Urban and Suburban Areas.
New York: Springer.
• Nayak, S. and S. Zlatanova (Eds.), 2008. Remote Sensing and GIS Technologies for
Monitoring and Prediction of Disasters, New York: Springer.
• Chuvieco, E. (Ed.), 2008. Earth observation of global change. New York: Springer.
• Jensen, J., 2006. Remote sensing of the environment: an earth resource perspective, 2ª
Edição. New Jersey: Prentice Hall.
Principles of Remote Sensing do Centre for Remote Imaging, Sensing and Processing,
National University of Singapore
(http://www.crisp.nus.edu.sg/~research/tutorial/rsmain.htm)
• Aerial Photography and Remote Sensing da University of
Colorado
(http://www.colorado.edu/geography/gcraft/notes/remote/remote_f.html)
• Basics of Remote Sensing from Satellite da National Oceanic and Atmospheric
Administration (NOAA)
(http://www.orbit.nesdis.noaa.gov/smcd/opdb/tutorial/intro.html)
• Remote Sensing: an online tutorial da University of Ohio
(http://dynamo.phy.ohiou.edu/tutorial/tutorial_files/frame.htm)
• ESA Tutorials da European Space Agency (ESA)
(http://www.esa.int/SPECIALS/Eduspace_EN/)
Revistas
As principais revistas sobre deteção remota e processamento digital de imagens de satélite são:
• Canadian Journal of Remote Sensing
• Earth Observation Magazine (EOM)
• Earth Observations Quarterly (EOQ)
• International Journal of Remote Sensing
• ISPRS Journal of Photogrammetry and Remote Sensing
• Photogrammetric Engineering and Remote Sensing (PE&RS)
• Remote Sensing of Environment
Recursos
Existe atualmente uma série de recursos disponíveis na Internet relacionados com informação
geográfica e com imagens de satélite, de onde se destacam os seguintes:
• Earth Resources Observation and Science (EROS)
• ESA: observing the Earth
• Eurimage - Earth Observation Products and Services in Europe
• Copernicus program – Europe’s eys on Earth
• GeoGratis
• ImageNet: Spatial Data Search Engine
Por último, refiram-se as principais associações profissionais relacionadas com deteção remota
e processamento digital de imagens de satélite:
• American Society for Photogrammetry and Remote Sensing (ASPRS)
• Canadian Remote Sensing Society
• Geoscience and Remote Sensing Society
• Institute of Electrical and Electronic Engineers (IEEE)
• International Society for Photogrammetry and Remote Sensing (ISPRS)
• The Remote Sensing and Photogrammetry Society
Bibliografia
Caetano, M., 2011. O Sistema de Monitorização Global do Ambiente e Segurança (GMES): ponto
de situação, desafios e oportunidades. Cartografia e Geodesia 2011, em publicação.
Giannopapa, C., 2011. The Socio-Economic benefits of GMES. A Synthesis Derived from a
Comprehensive Analysis of Previous Results, Focusing on Disaster Management.
European Space Policy Institute (ESPI) Report 39. Disponível
em http://www.espi.or.at/images/stories/dokumente/studies/ESP_Report_39.pdf. Data
de acesso: 15.12.2011.
Euroconsult. 2010. Satellite-based Earth observation: market prospects to 2019. 3rd ed.,
Brochure, [Online]. França: Euroconsult. Disponível em
Horler, D., e J. Barber. 1981. Plants and the daylight spectrum. Principles of remote sensing of
plants, Ed. H. Smith, 43-63. London: Academic press.
Sabins, F..Jr. 1987. Remote Sensing Principles and Interpretation, 2nd ed. New York: Remote
Sensing Enterprises, Inc.
UE, 2010. Regulamento (UE) n.º 911/2010 do Parlamento Europeu e do Conselho relativo ao
Programa Europeu de Monitorização da Terra (GMES) e suas Operações Iniciais
(20112013), Jornal Oficial da União Europeia, JO L 276 de 20.10.2010, p. 1.
UE, 2008. Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia, Jornal Oficial da União Europeia,
JO C 115 de 09.05.2008, p. 47.
A distância entre dois picos sucessivos de uma onda electromagnética designa-se por
comprimento de onda, o qual é quantificado em unidades de comprimento, e.g. metro (m),
centímetro (cm, 10-2 m), micrómetro ( m, 10-6 m), namómetro (nm, 10-9 m). O número de picos
que passam num determinado ponto por unidade de tempo designa-se por frequência. A
frequência é normalmente medida em Hertz (Hz). Um Hz equivale a um ciclo por segundo.
c (2.1)
onde:
c é a velocidade da luz (3 x 108 m.s-1);
é o comprimento de onda;
é a frequência.
Uma vez que a velocidade da luz (c) é constante (3 x 10 8 m.s-1), a frequência e o comprimento de
onda para uma determinada onda estão inversamente relacionados. Apesar de tanto o
comprimento de onda como a frequência poderem ser utilizados para caracterizar a radiação
electromagnética, em deteção remota normalmente utiliza-se o comprimento de onda e as
unidades mais utilizadas para o quantificar são os micrómetros ( m) ou namómetros (nm). No
caso da radiação micro-ondas é mais frequente utilizar a frequência (em Hz) para distinguir as
diferentes zonas do espectro electromagnético.
Rádio > 30 cm
A principal fonte de energia natural em deteção remota é o sol. O sol emite radiação praticamente
em todos os comprimentos de onda da energia electromagnética, mas 99% da radiação emitida
pertence às regiões do ultravioleta, visível e infravermelho.
Refira-se que qualquer matéria com uma temperatura superior ao zero absoluto (0 K ou –273
C) emite continuamente radiação electromagnética. Assim, também a Terra é uma fonte de
energia natural que pode ser detectada por sensores. A quantidade de energia emitida por um
determinado objecto depende, entre outras coisas, da sua temperatura, tal como expresso pela
Lei de Stefan-Boltzman. A temperatura ambiente da Terra tem um valor aproximado de 300 K
Os sensores que captam a radiação naturalmente disponível (radiação solar reflectida pela
superfície da Terra e/ou atmosfera e radiação emitida pela Terra) são designados por sensores
passivos. Por outro lado, os sensores ativos têm a sua própria fonte de energia que é enviada
para o alvo e que, depois de interagir com este, é captada pelo sensor. Um exemplo de sensor
ativo é o SAR (Synthetic Aperture Radar) que opera na região das micro-ondas.
Na Tabela 2.1, a zona do infravermelho foi dividida em três zonas: infravermelho próximo, médio
e longo. No entanto, também pode ser dividido em infravermelho refectivo (0.7 – 3 m) e
infravermelho térmico (ou emitido) (3 – 100 m). A zona do infravermelho refectivo é usada em
deteção remota de uma forma semelhante à da zona do visível. A zona do infravermelho térmico
corresponde essencialmente à radiação que é emitida pela Terra. As regiões do infravermelho
térmico mais utilizadas são as seguintes: de 3 a 5 m e de 8 a 14 m. Alguns autores preferem
utilizar a designação de infravermelho de onda curta para a região 1.3 a 3 m e de infravermelho
de onda média para a região de 3 a 5 (ou 6) m, que pertencem ambos à região do infravermelho
médio como apresentado na Tabela 2.1.
As principais zonas do espectro electromagnético utilizadas em deteção remota são: (1) visível
(400-700 nm), que inclui o azul, verde e vermelho, (2) infravermelho próximo (700-1300 nm) , e
(3) infravermelho médio (1300-2600 nm). A região das micro-ondas é a região do espectro
electromagnético que mais recentemente começou a ser explorada em deteção remota. Os
comprimentos de onda mais curtos desta região tem propriedades semelhantes ao infravermelho
Q h (2.2)
onde
Q é a energia de um quantum, Joules (J); H é
a constante de Plank (6.626 x 10 -34 J. s-1); é
a frequência.
hc
Q (2.3)
A quantidade de energia que chega ao sensor tem que ser suficientemente grande para permitir
identificar o elemento ou caracterizar o seu estado. A quantidade de energia depende da área da
superfície da Terra que a está a reflectir ou emitir. Assim, e por exemplo, um sensor que capte
infravermelho térmico tem que receber energia de uma área maior do que um que capte radiação
da zona do infravermelho médio, pois este último tem um comprimento de onda menor e portanto
tem mais energia do que o infravermelho térmico.
A dispersão de Rayleigh ocorre quando a radiação interage com partículas cujo diâmetro é muito
menor que seu o comprimento de onda, sendo provocada, por exemplo, por moléculas de azoto
e oxigénio, assim como por pequenas partículas de pó. A dispersão de Rayleigh é inversamente
proporcional à quarta potência do comprimento de onda. Assim, radiações com pequenos
comprimentos de onda são muito mais afectadas por este tipo de dispersão do que as com
grandes comprimentos de onda. Este tipo de dispersão, sendo o principal tipo de dispersão
existente na atmosfera superior, é o grande responsável pela “neblina” existente nas imagens, a
qual diminui o seu contraste.
A dispersão de Mie ocorre quando a radiação interage com partículas cujo diâmetro é semelhante
seu ao comprimento de onda, sendo provocada sobretudo por vapor de água, partículas de poeira
e pólen. A dispersão de Mie tende a afectar radiação com comprimentos de onda maiores do que
a afectada pela dispersão de Rayleigh. Ocorre sobretudo na parte inferior da atmosfera onde
partículas maiores são mais abundantes. É menos importante que a dispersão de Rayleigh, mas
pode ser importante em céus com alguma neblina e nuvens.
A dispersão não seletiva ocorre quando a radiação interage com partículas cujo diâmetro é
bastante superior ao comprimento de onda da radiação, como por exemplo gotas de água e
grandes partículas de pó. Assim, este tipo de dispersão afecta de forma semelhante vários tipos
de comprimento de onda.
A absorção atmosférica resulta numa perda efetiva de energia para os constituintes atmosféricos
(absorção de energia). Os principais absorventes são: vapor de água, dióxido de carbono e
ozono. O ozono absorve a radiação ultravioleta do sol que é nociva para a maior parte dos seres
vivos. Sem a proteção da camada de ozono, a nossa pele queimar-se-ia quando exposta à
radiação solar. O dióxido de carbono é um dos principais gases de efeito de estufa, uma vez que
tende a absorver o infravermelho associado ao aquecimento térmico, fazendo com que este calor
Teoria de Deteção Remota; Mário Caetano; 2018 27
fique retido na atmosfera. O vapor de água da atmosfera absorve uma grande parte da radiação
na zona do infravermelho de grande comprimento de onda e na zona dos micro-ondas de menor
comprimento de onda (entre 1 mm e 22mm). A presença de vapor de água na atmosfera inferior
varia muito de local para local e com a altura do ano. Por exemplo, as massas de ar sobre o
deserto têm pouco vapor de água para absorver energia, enquanto que massas de ar sobre o
trópicos têm grandes concentrações de vapor de água (i.e., humidade elevada).
O conhecimento das janelas atmosféricas é de extrema importância em deteção remota, pois esta
é impossível em zonas do espectro que sejam seriamente afectadas pela dispersão e/ou
absorção. Por outro lado a deteção remota também deve ser feita em comprimentos de onda
onde a radiação solar tenha uma elevada energia. Uma análise da Fig. 2.4 revela que a região
do visível e parte do infravermelho são boas regiões para a deteção remota.
Tabela 2.2 Principais regiões do espectro electromagnético utilizadas em deteção remota. Fonte: Jensen (2004) e
Jensen (2006)
Região Gama de Fonte de radiação Propriedade da superfície
comprimentos de onda
1.4 – 1.8 m
2 – 2.5 m
10 – 14 m
A radiação solar ao incidir sobre os objetos e fenómenos existentes à superfície da Terra pode
ser absorvida, reflectida, ou transmitida, em função das propriedades dos materiais que os
compõem e das características da radiação incidente (Fig. 2.5). Aplicando o Princípio de
Conservação de Energia, pode-se escrever:
Figura 2.5 Interações entre energia electromagnética e um elemento de superfície da Terra. Fonte: NOAA (2002).
Em deteção remota, estamos sobretudo interessados na radiação reflectida pelos elementos, pois
é esta que chega ao sensor e que é convertida em números digitais. Os objetos também podem
ser classificados tendo como base a geometria da energia reflectida. Nos extremos, podemos
classificar os objetos como refletores especulares e refletores difusos (Fig. 2.6).
As reflexões difusas tem informação espectral na “cor” da superfície refletiva, enquanto que os
refletores especulares não. Assim, em deteção remota estamos sobretudo interessados na
quantificação da reflexão difusa dos diferentes elementos
)
( ) Er ( (2.5)
E( )
Reflectância (%)
60 Solo
50
40
30
20 Vegetação
10
Água
0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2 2.4 2.6
Comprimento de onda ( m)
Figura 2.7 Refletância dos principais elementos da superfície terrestre, i.e., água, vegetação e solo. Adaptado de
Richards (1986).
A água caracteriza-se por refletir muito pouco da radiação da energia electromagnética, sobretudo
na parte do infravermelho. Quer isto dizer que a identificação de corpos de água numa imagem
de satélite é feita mais facilmente em zonas do infravermelho do que no visível. Contudo a
caracterização de corpos de água deve ser feita sobretudo na parte do visível. A refletância de
um corpo de água é bastante afectada pelos materiais nela existentes. Por exemplo, um aumento
Teoria de Deteção Remota; Mário Caetano; 2018 32
de concentração de clorofila é acompanhado por um aumento de refletância no verde e uma
diminuição no azul. Esta relação pode ser utilizada para monitorizar a presença de algas em
corpos de água. Por outro lado, para uma determinada região geográfica, água com elevada
concentração de sedimentos resultantes da erosão dos solos, tem uma maior refletância no
visível do que água sem sedimentos.
A curva da refletância espectral da vegetação apresenta valores baixos nas regiões do vermelho
e do azul do espectro visível e um pico na região do verde. Este comportamento deve-se à
absorção de radiação azul e vermelha pela clorofila e outros pigmentos (Fig. 2.8). Plantas em
stress podem ter uma menor produção de clorofila, conduzindo a uma menor absorção de azul e
vermelho. Muitas vezes, a refletância na zona do vermelho aumenta tanto que fica ao nível do
verde, fazendo com que as plantas se tornem amareladas (combinação de verde e vermelho).
A partir dos 1.35 m, a transmitância das folhas diminui drasticamente e a radiação é sobretudo
reflectida e absorvida. A refletância passa então a ser essencialmente controlada pelo teor de
água no interior dos tecidos vegetais. Observam-se depressões na curva de refletância nos 1.4,
1.9 e 2.7 m, as quais se devem ao facto de a água existente nas folhas absorver fortemente a
radiação nestes comprimentos de onda.
Padrões espectrais
Na secção anterior fez-se a caracterização dos principais elementos da superfície terrestre,
tendo-se chegado à conclusão que eles são espectralmente separáveis. No entanto, também se
concluiu que a separabilidade pode ser possível numa determinada zona do espectro e não
noutra. Por exemplo, água e vegetação podem ter características espectrais semelhantes na
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zona do visível, e bastante diferentes no infravermelho próximo. Assim, para separar estes tipos
de elementos numa imagem é melhor usar o infravermelho do que qualquer zona do visível.
Como as características espectrais dos elementos podem permitir identificar o tipo de elemento
e/ou a sua condição, estas características têm sido designadas na literatura por assinatura
espectral. O termo assinatura pressupõe um padrão que é absoluto e único. Contudo, não é isto
que se passa no mundo real já que a resposta espectral de um determinado elemento pode variar
bastante, dependendo quer de condições intrínsecas quer extrínsecas ao próprio elemento. Esta
variabilidade espectral pode conduzir a problemas na identificação de elementos, mas também é
a razão pela qual podemos usar características espectrais para distinguir a condição de um
determinado elemento. Por exemplo, pode-se utilizar imagens de satélite para identificar
vegetação sujeita a um determinado stress. Assim, é mais correto utilizar o termo padrão
espectral em vez de assinatura espectral.
Cada pixel corresponde a uma área do terreno, e os pixels de uma determinada imagem tem
sempre a mesma dimensão. O valor de um pixel numa determinada banda é designado por
1
O termo pixel resulta da junção com um x, das duas primeiras letras das palavras picture element.
Teoria de Deteção Remota; Mário Caetano; 2018 35
número digital (ND) (Fig. 2.9). O ND é a conversão da radiância que chega ao sensor numa gama
de valores positivos, e.g., 0 a 255.
Figura 2.9 Uma imagem é composta por pixels. Em cada pixel é retido um número digital (ND) que traduz a radiação
reflectida pela área do terreno correspondente. Fonte CCRS (2007)
As imagens de satélite são, na maioria das vezes, adquiridas em formato digital. O termo imagem
refere-se, na verdade, a um conjunto de imagens, uma por cada banda do sensor.
De uma forma geral, o termo imagem utiliza-se para qualquer representação pictórica,
independentemente do comprimento de onda e do instrumento utilizado para detectar e gravar a
energia electromagnética. Uma fotografia refere-se especificamente a imagens que foram
detectadas e gravadas por um filme fotográfico. As fotografias são normalmente gravadas no
comprimento de onda de 0.3 a 0.9 m, ou seja visível e infravermelho próximo. Assim, todas as
fotografias são imagens, mas nem todas as imagens são fotografias. Refira-se que as fotografias
aéreas a preto e branco quando obtidas por uma máquina fotográfica tradicional podem depois
ser digitalizadas num scanner, onde se opta por um pixel com uma determinada dimensão. Em
cada pixel será registado um número digital que traduz o nível do cinzento da fotografia original.
A digitalização das fotografias permite, por exemplo, uma fotointerpretação em ecrã de
computador.
Bibliografia
CCRS, 2007. Remote Sensing Tutorials. Canadian Centre for Remote Sensing. Disponível em:
http://www.nrcan.gc.ca/earth-sciences/geography-
boundary/remotesensing/fundamentals/1430. Data de consulta: 08.12.2002
LBL, 2002. Ernest Orlando Lawrence Berkeley National Laboratory. Disponível em:
http://www.lbl.gov. Data de consulta: 10.09.2002.
Jensen, J., 2006. Remote sensing of the environment: an earth resource perspective, 2ª Edição.
New Jersey: Prentice Hall.
Jensen, J.R., 2004. Introductory Digital Image Processing: a Remote Sensing Perspective, 3ª
Edição. New Jersey: Prentice-Hall.
Jensen, J.R., 1983. Biophysical remote sensing. Annals of the Association of American
Geographers 73: 111-132.
Lillesand, T. M., e R. W. Kiefer, 1994. Remote Sensing and Image Interpretation, 3ª Edição.
New york: John Wiley & Sons.
Lillesand, T.M., Kiefer, R.W. and Chipman, J.W., 2008. Remote Sensing and Image
Interpretation, 6ª Edição. New York: John Wiley & Sons.
NOAA, 2012. Remote Sensing Tutorial. National Oceanic and Atmospheric Administration, Coastal
Services Center. Disponível em: http://www.csc.noaa.gov. Data de consulta:
08.12.2012
Richards, J. A, 1986. Remote sensing digital image analysis. Berlin, Germany: Springer-Verlag