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Boletim de Serviço Eletrônico em 23/04/2021

MINISTÉRIO DA ECONOMIA
Conselho de Recursos do Sistema Nacional de Seguros Privados, de Previdência Privada Aberta e de Capitalização

278ª Sessão
Processo nº 15414.609782/2016-28

RECORRENTE: ASSOCIAÇÃO DOS TRANSPORTADORES RODOVIÁRIOS DE FRANCISCO


BELTRÃO- ATB
RECORRIDA: SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS - SUSEP
RELATOR: VIVIEN LYS PORTO FERREIRA DA SILVA
ADVOGADO: RODRIGO PARIZOTTO BANDEIRA (OAB/PR 37.936)

EMENTA: RECURSO ADMINISTRATIVO. Representação. Sociedade civil de natureza


associativa. Mercado marginal. Atuação como sociedade seguradora sem a devida
autorização legal. Entidade com características de mútuo associativo. Recurso conhecido e
desprovido.
PENALIDADE ORIGINAL: Multa R$3.000.000,00
BASE NORMATIVA: parágrafo único do artigo 757 do Código Civil c/c artigos 24 e 113 do Decreto-Lei No. 73/66

ACÓRDÃO CRSNSP 6977/2021


Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, decidem os membros do Conselho de Recursos do Sistema Nacional de Seguros Privados, de
Previdência Privada Aberta e de Capitalização conhecer do recurso de Associação dos Transportadores Rodoviários de Francisco Beltrão- ATB e por maioria negar-
lhe provimento, vencida a Conselheira Carmen Diva Beltrão Monteiro, que votou pelo provimento do recurso.
Participaram do julgamento os Conselheiros Robson Carlos dos Santos Braga, Washington Luis Bezerra da Silva, Carmen Diva Beltrão Monteiro,
José Antônio Maia Piñeiro, Thompson da Gama Moret Santos, Neival Rodrigues Freitas, Vivien Lys Porto Ferreira da Silva, Ronaldo Guimarães Gallo, e Beatriz de
Moura Campos Mello Almada. Presidiu o Conselheiro Washington Luis Bezerra da Silva, Vice-Presidente, haja vista a vacância da Presidência, conforme art. 6o,
§1o, do RICRSNSP. Declarou-se impedido o Conselheiro Irapuã Gonçalves de Lima Beltrão. Atuou o Procurador da Fazenda Nacional José Eduardo de Araújo
Duarte.

Sessão por videoconferência em 28 de janeiro de 2021.

Documento assinado eletronicamente


WASHINGTON LUIS BEZERRA DA SILVA
Vice-Presidente do CRSNSP

Documento assinado eletronicamente por Washington Luis Bezerra da Silva, Conselheiro(a), em 07/03/2021, às 15:25, conforme horário oficial de Brasília, com
fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

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MINISTÉRIO DA ECONOMIA
Conselho de Recursos do Sistema Nacional de Seguros Privados, de Previdência Privada Aberta e de Capitalização

Recurso CRSNSP
Processo nº 15414.609782/2016-28

RECORRENTE: ASSOCIAÇAO DOS TRANSPORTES RODOVIÁRIOS DE FRANCISCO BELTRAO – ATB.


RECORRIDA: SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS - SUSEP

RELATORA: Vivien Lys Porto Ferreira da Silva

Modalidade(s) de Julgamento: ( )Virtual ( )Videoconferência ( ) Presencial

RELATÓRIO

Trata-se de denúncia que originou a REPRESENTAÇÃO SUSEP/DIFIS/CGFIS/COESP nº 178/12 lavrada em face da ASSOCIAÇAO DOS TRANSPORTES
RODOVIÃRIOS DE FRANCISCO BELTRAO – ATB. Por ter atuado como seguradora sem a devida autorização legal, infringindo o parágrafo único do artigo 757
do Código Civil e aos artigos 24 e 113 do Decreto-lei nº 73/1966, estando sujeita à penalidade prevista nos artigos 8º e 9º da Resolução nº 60/2001, mantida no
artigo 2º, inciso III e no artigo 17 da Resolução CNSP nº 243/2011, combinados com o artigo 113 do Decreto-lei nº 73/1966.

No Parecer exarado pela Coordenação Técnica de Especializadas (COESP) SUSEP/DIFIS/CGFIS/COESP nº 109/11 (pg. 44 a 48 do pdf) sobre a atividade praticada
pela ATB foi identificada com o material acostado aos autos as 3 características básicas da atividade de seguros (previdência, incerteza e mutualismo). Ademais, há
configuração dos quatro elementos essenciais típicos dos contratos de seguros, como a garantia, o interesse, o prêmio, e o risco, identificados no Instrumento de
Contrato Particular de Seguro constante às fls. 20 a 23 dos autos (pg. 23 a 26 do pdf).

De forma mais específica, foram identificados também os seguintes elementos típicos do Seguro de Automóveis, identificados no Contrato, constante às fls. 22 e 23:

Elementos típicos do Seguro de


Identificação
Automóveis

Franquia Item 2, folha 22

será formada uma comissão para vistoriar e


periciar o veículo na entrada como
Vistoria de Inspeção de Risco
segurado e também para avaliar os
acidentes... (item 6, folha 23)

será formada uma comissão para vistoriar e


periciar o veículo na entrada como
Vistoria de Sinistro
segurado e também para avaliar os
acidentes... (item 6, folha 23)

em caso de perda total, o salvado ficará


Salvados
para a associação (item 1, folha 22)

Outros elementos Identificação

Riscos Cobertos Itens 1 e 2, folha 22

Riscos Excluídos Item 3, folha 22

Obrigações do Segurado Artigo 7º do Estatuto, folha 10

Na conclusão, o referido Parecer identificou fortes elementos que a ATB realiza operação de seguros, envolvendo cobertura securitária, utilizando, inclusive,
expressões, como por exemplo, seguro, sinistro, franquia, cobertura, em seu Estatuto (fls. 03 a 18), no seu Contrato Particular de Seguro (fls. 20 a 23), e na Ata da
Assembleia Geral Extraordinária (fls. 38 a 45).

Às fls. 156 houve despacho para apensar o processo nº 15414.001745/2012-43 no processo nº 15414.003581/2009-93 em razão de ambos referirem-se à mesma
infração, renumerando para o processo nº 15414.002363/2012-37.

Nos termos dos pareceres SUSEP/DIFIS/CGFIS/COESP nº 109/11 de 27.12.2011 e SUSEP/DIRAT/CGPRO/COSEB/DISAR nº 53/12 de 02.02.2012 e do despacho
SUSEP/DIRAT/CGRAT/CORAT/DIRES de fls. 148, restou incontroverso que a ATB, através de seu Grupo dos Transportes Rodoviários em Responsabilidade
Solidária (contrato de adesão de fls. 105/108) desenvolve atividade de características tipicamente securitárias, sem a devida autorização da SUSEP.

Diante dessa constatação, a penalidade prevista para tal atuação equivale à importância segurada, estimada em R$ 8.602.907,00, de acordo com a Relação de Sócios
da ATB (fl. 73) que traz o nome dos sócios e identificação de 46 veículos cobertos com as respectivas placas e seu valor pela tabela FIPE, base da cobertura.

Em 31 de julho de 2012, a ATB foi intimada por edital, devidamente publicado no Diário Oficinal da União nº 147, Seção 3, e apresentou sua defesa administrativa
em 27.08.2012 em 13 (treze) laudas (págs. 125 a 137 do pdf) anexando documentos às págs. 138 a 139, alegando, em síntese:

I – preliminarmente, a inexistência de requisitos legais e a data da denúncia, bem como a falta de qualificação completa com endereço que fosse passível da
identificação do denunciante (arts. 95 e 96 da Res. CNSP n. 243/2011), já que o denunciante indicado como Mário Antonio da Silva jamais foi Associado, sendo
desconhecido da Associação, requerendo assim a nulidade da denúncia;

II – ainda em sede de preliminar, a ATB alegou nulidade da sua citação através da publicação do Edital no Diário Oficial da União, vez que, segundo tese da
defesa, a ATB possui endereço certo e fixo e ainda não foram esgotadas todas as possibilidades para citação/intimação;
III – no mérito, sustentou: (a) a falta de competência da SUSEP para imposição de multa em face da ATB; (b) os dispositivos legais infringidos (art. 757, CC e 24 e
113 do Decreto-lei nº 73/1966) não se aplicam à ATB, pois ela é uma Associação sem fins lucrativos e, não uma seguradora; (c) a dosimetria da multa é exorbitante
e sem parâmetro legal; (d) quando há algum prejuízo decorrente de acidente automobilístico de algum dos seus associados, a ATB efetua uma contribuição e não
cobertura de seguro; (e) da não aplicação do Código de Defesa do Consumidor (CDC), pois não existe uma relação de consumo, mas sim de Associados; (f) da
inexistência de publicidade e oferta pela n;

IV – na conclusão a ATB requereu: (i) a improcedência do presente auto de representação, ante a insubsistência do mesmo, em razão do não preenchimento dos
requisitos legais, falta de identificação do denunciante; nulidade da citação-intimação, falta de competência da SUSEP para imposição de multa em face da
Associação; (ii) nulidade da multa aplicada, por falta de proas e fundamentos a embasar a suposta cobertura; (iii) a produção de todas as provas admitidas em
direito, principalmente o depoimento pessoal do denunciante.

Em 25 de janeiro de 2013 foi determinada nova intimação da ATB, uma vez que foram trazidos aos autos novos documentos, quais sejam fls. 01 a 06 do
SUSEP/DIFIS/CGFIS/COESP nº 109/11 a fim de que a ATB pudesse complementar sua defesa, se assim o desejasse. No entanto, a ATB não apresentou nenhum
complemento, como constatado à fl. 144.

Em 17 de maio de 2018, foi proferido o PARECER SUSEP/DIFIS/CGJUL/COAIP nº 436/2013 (págs. 160 a 165 do pdf) o qual adotou integralmente o Parecer
CGFIS/COESP de fls. 129 a 138, opinando pela subsistência da presente Representação.

Em 28 de junho de 2013, foi proferido Parecer da Procuraria Federal da SUSEP (págs. 170 – 171 do pdf) opinando pela caracterização da atividade securitária nos
negócios desenvolvidos pela ATB, e determinando o prosseguimento do efeito com a remessa dos autos à CGJUL.

A CGJUL lavrou o TERMO DE JULGAMENTO SUSEP/DIFIS/CGJUL/CJUL1 nº 722/2013 (pg. 174 do pdf), julgando subsistente a Representação lavrada em
face de ASSOCIAÇAO DOS TRANSPORTES RODOVIÃRIOS DE FRANCISCO BELTRAO – ATB, aplicando a penalidade de multa no valor de R$
8.602.907,00 por atuar como sociedade seguradora sem a devida autorização legal, infringindo o parágrafo único do artigo 757 do Código Civil e os artigos 24 e 113
do Decreto-lei nº 73/66. Referida decisão foi confirmada pelo voto do Diretor de Fiscalização (págs. 175-176 do pdf).

Em 30 de maio de 2014, o D. Procurador Federal Irapuã Gonçalves de Lima Beltrão cientificou que oficiou o setor responsável da Advocacia Geral da União para
que ajuizasse a ação civil pública correspondente.

Em 01 de junho de 2015, o PARECER/SUSEP/DIFIS nº 1/2015, ao discorrer sobre a possibilidade da aplicação de multas pela SUSEP ao mercado não autorizado,
destaca que a atuação do Mercado Marginal caracteriza ainda indícios da prática de crime que se amolda ao previsto no artigo 16 da Lei nº 7.492/1986. Quanto à
fixação do valor da multa, o entendimento foi no sentido de que “realizar operação de seguro sem a devida autorização (art. 113) é praticar uma infração às normas
referentes às atividades de seguro (art. 108), uma vez que a necessidade de autorização de funcionamento está prevista na própria norma (art. 74) e ainda no Código
Civil (art. 757, parágrafo único)”.

Mas diante da questão se a quantia da multa pode ou não ser superior a R$ 1.000.000,00 (hum milhão de reais), sendo o “teto” do artigo 108, inciso IV do Decreto-
lei nº 73/66 aplicável ou não ao mercado não autorizado, o referido PARECER/SUSEP/DIFIS nº 1/2015 recomendou as seguintes medidas: (i) suspensão do
processo administrativo por até 90 dias para que a SUSEP pudesse avaliar a aplicação do limite de multa aplicável ao mercado não autorizado; (ii) juntar em cada
processo listado no Anexo I o Termo de julgamento; (iii) encaminhar os autos à CGJUL, com o objetivo de elaborar minuta de alteração da Resolução CNSP nº
243/2011; e (iv) que a autarquia envide esforços junto ao CONEF para que o tema seguro seja abordado intensivamente com o intuito de esclarecer o consumidor
sobre o risco em adquirir seguro de entidade não autorizada. Tais recomendações foram aprovadas, por unanimidade, em reunião ordinária realizada em 03 de junho
de 2015 pelo Conselho Diretor da SUSEP.

Em 27 de agosto de 2015, a Procuradoria Federal emitiu PARECER nº 00023/2015/SCONSULT/PFSUSEP/PGF/AGU manifestando entendimento pela
impossibilidade de afastar a incidência do artigo 113 do Decreto-lei nº 73/66, pois viola o ordenamento jurídico vigente e consequentemente o princípio da
legalidade, sendo vedado ao administrador público dispor sobre matéria determinada pela constituição como reservada para lei (CF, artigo 37).

Em 02/09/2015, o Conselho Diretor determinou a criação do Grupo de Trabalho, por meio da Portaria SUSEP nº 6.362/2015, com a finalidade de elaborar proposta
de Anteprojeto de Lei para alterar o artigo 113 do Decreto-lei nº 73/66. O referido grupo apresentou essa proposta às fls. 199/202 cujo conteúdo foi analisado pela
Procuradoria Federal/SUSEP às fls. 198/198v.

Em 26/11/2015 foi publicada a Lei nº 13/195/2015, alterando a redação dos artigos 108 e 113 do Decreto-Lei nº 73/66. De acordo com a nova redação dada ao art.
113 do referido Decreto-Lei, as pessoas naturais ou jurídicas que realizarem operações de seguro, cosseguro ou resseguro sem a devida autorização estão sujeitas às
penalidades administrativas previstas no art. 108, aplicadas pelo órgão fiscalizador de seguros, aumentadas até o triplo. Dessa forma, tendo em vista que o artigo
108, inciso IV do Decreto-lei nº 73/66 limita a aplicação de multa aos entes do mercado supervisionado a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), o valor máximo a
ser aplicado ao mercado não autorizado será de R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais).

Diante da edição da referida Lei, em 28 de janeiro de 2016, o Conselho Diretor da SUSEP proferiu voto pela confirmação da decisão da CGJUL de fls. 156 pela
subsistência da representação lavrada em face da ASSOCIAÇAO DOS TRANSPORTADORES RODOVIÁRIOS DE FRANCISCO BELTRAO – ATB, por infração
ao disposto no parágrafo único do artigo 757 do Código Civil c/c os artigos 24 e 113 do Decreto-Lei nº 73/66, aplicando a pena de multa prevista nos artigos 8 e 9 da
Resolução CNSP nº 60/2001 no valor de R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais), tendo em vista o limite definido no caput do artigo 113 do Decreto-lei nº 73/66,
alterado pela Lei nº 13.195/2015.

A ATB foi devidamente intimada do Julgamento acima em 05 de abril de 2016 e interpôs “recurso com pedido de efeito suspensivo com a juntada de novos
elementos de prova e pedido de reconsideração” em 05 de maio de 2016 (fls.233/247 e pg. 258 a 272 do pdf).
No referido recurso, a ATB, na qualidade Recorrente, pediu que o recurso fosse recebido no efeito suspensivo e apresentou suas razões recursais, requerendo, em
síntese: (i) a decretação da prescrição, com base no caput e/ou no parágrafo 1º do artigo 16 da resolução CNSP nº 243/2011; (ii) a reconsideração da reforma da
decisão a fim de que seja decretada a insubsistência da autuação; (iii) a improcedência da presente representação; (iv) a nulidade da multa aplicada, ante a falta de
provas/fundamentos a embasar a “suporta cobertura”. Caso não sejam aceitos os pedidos supra citados, pelo princípio da eventualidade, requer a conversão da multa
por uma advertência e, ainda sucessivamente multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) – sic.

A CJUL1 verificou a tempestividade do recurso (pg. 306 do pdf). Quanto ao mérito, não vislumbrou razões que justificassem a revisão da decisão SUSEP, na medida
em que todos os argumentos trazidos pela recorrente já foram analisados pela COAIP, determinando, assim, a remessa dos autos para este E. Conselho.

O recurso foi autuado perante este Conselho no dia 08 de dezembro de 2017, prosseguindo-se com o sorteio na 258ª Sessão realizada no dia 09 de maio de 2019, e o
envio dos autos à Conselheira Relatora, Juliana Ribeiro Barreto Paes, conforme despacho de 13 de maio de 2019 (Doc. SEI 2326358).

Posteriormente, o processo foi redistribuído para a signatária do presente Relatório, conforme despacho de 28 de agosto de 2020 (Doc. SEI 10193156).

É o relatório que encaminho à Secretária-Executiva do CRSNSP para as providências cabíveis, no prazo previsto no art. 15, inc. I, alínea ‘a’, do Regimento Interno
deste Conselho.

Vivien Lys Porto Ferreira da Silva – Conselheira Relatora.

Documento assinado eletronicamente por Vivien Lys Porto Ferreira da Silva, Conselheiro(a), em 11/01/2021, às 13:22, conforme horário oficial de Brasília, com
fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

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MINISTÉRIO DA ECONOMIA
Conselho de Recursos do Sistema Nacional de Seguros Privados, de Previdência Privada Aberta e de Capitalização

Recurso CRSNSP
Processo nº 15414.609782/2016-28

RECORRENTE: ASSOCIAÇÃO DOS TRANSPORTADORES RODOVIÁRIOS DE FRANCISCO BELTRÃO-


ATB(XX.217.XXX/XXXX-70)
RECORRIDA: SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS - SUSEP

RELATOR: VIVIEN LYS PORTO FERREIRA DA SILVA

EMENTA: RECURSO ADMINISTRATIVO. Representação. Sociedade civil de natureza associativa.


Mercado marginal. Atuação como sociedade seguradora sem a devida autorização legal. Entidade com
características de mútuo associativo. Recurso conhecido e desprovido.

VOTO DA RELATORA

I – DA ADMISSIBILIDADE

Preliminarmente, informo (i) não ter verificado qualquer óbice quanto à admissibilidade do recurso contido no Doc. SEI 00383361, tampouco questões prejudiciais,
de modo que ele deve ser conhecido; e, (ii) no presente caso, a controvérsia jurídica necessitou da apreciação e manifestação escrita da d. Procuradoria Geral da
Fazenda Nacional (DOC. SEI nº 1946432).

O Recurso voluntário apresentado em 08 de dezembro de 2017 é tempestivo como já atestado no documento SEI 0208784, sendo imperioso conhecer do Recurso.

II – DO MÉRITO

Trata-se recurso interposto (fls. 233/247), pela ASSOCIAÇÃO DOS TRANSPORTADORES RODOVIÁRIOS DE FRANCISCO BELTRÃO - ATB, em
virtude da decisão que a condenou por ter atuado como seguradora sem a devida autorização legal, aplicando a penalidade de multa prevista nos artigos 8º e 9º, da
Resolução CNSP 60/2001; artigo 2º, inciso III, e artigo 17, da Resolução CNSP 243/2011; e ainda artigo 113, do Decreto-Lei nº 73/1966, no importe inicialmente
apontado de R$ 8.602.907,00 e posteriormente reduzida. para o seu valor limite de R$ 3.000.000,00, em razão da nova redação do artigo 113 do Decreto-Lei nº
73/1966, alterado pela Lei nº 13.195/2015, como consta à fl. 206.

Quanto aos argumentos recursais de que (i) o objeto em discussão não se tratava verdadeiramente de um contrato de seguro; e (ii) o de que a ATB nem mesmo
deveria ser tratada como uma seguradora; tal retórica é sofista e não merecem prosperar.

Com efeito, vislumbro a materialidade da infração nos presentes autos e de sua gravidade, refutando os argumentos elencados na peça recursal nos termos expostos
abaixo.

Preliminarmente, cumpre destacar que, muito embora tenha sido supostamente arquivado o aludido Inquérito Policial, tal fato apenas se traduz no efeito de não ser
tratada a infração como crime na seara penal. Esse entendimento certamente não obsta que seja mantida a sanção exarada nestes autos, pois, por mais evidente que
seja, cabível a reiteração: a associação cometeu uma infração e esta deve ser diligentemente reparada. A infração aplicada nos presentes autos é decorrente do
Poder de Polícia previsto no artigo.21, inc. VIII, da CF/88, em consonância com o Decreto-Lei n. 73/66.

A Associação ATB, através do seu Grupo dos Transportadores Rodoviários em Responsabilidade Solidária (contrato de adesão – fls. 105/108) utiliza o termo
Contrato Particular de seguro para qualificar o acordo com seus associados, cujo instrumento também reveste-se, ilicitamente, da natureza jurídica do contrato de
seguro, conforme elementos abaixo extraídos dos autos:

Características e
elementos essenciais Depoimento do Presidente da ATB
Prova documental nos autos
do contrato de (fl.59 dos autos físicos)
seguro

“... se acontecesse um sinistro, com o


associado, o restante dos Fl. 23. Os recursos captados são aplicados para fazer frente aos riscos a que estão sujeitos o patrimônio de
Previdência/Riscos
associados... “
futuros
A ATB destina-se a proteger os associados contra a ocorrência dos sinistros (riscos).

“... pulverização do prejuízo dos


Incerteza A ATB destina-se a proteger os participantes contra possíveis danos (Estatuto, fl. 10).
sócios decorrente de sinistros...”

“.... decidiram formar um grupo para


Mutualismo
pulverizar danos dos associados ...”

“.... durante o período de 25 meses,


os sócios contribuíram apenas seis
Prêmio meses...” (a isenção dos pagamentos Contrato particular (fl.23) contém descrição de prêmio.
ocorreu por ausência de sinistros –
fls. 87/93.)

“... dano coberto é apenas ao veículo


do associado”. Contrato Particular de Seguro (fl. 22): bem do associado coberto por perda total por roubo, incêndio e acid
Garantia
mecânico, pago conforme valor tabela FIPE.
“... indeniza a lataria...”

Sinistro Fl. 23 – faz menção expressa do termo, conforme definição da Resolução CNSP 117/2004.

Interesse Esse elemento está configurado no Estatuto da ATB à fl. 10, no item (b) do objeto.

Além das características acima, também foram identificados os elementos típicos dos contratos de seguro de automóveis no Contrato constante às fls. 22 e 23 dos
autos físicos.

Por conseguinte como apurado pela instância administrativa, observa-se que a atividade da Recorrente revela-se típica operação de seguro, por ter como objetivo o
reestabelecimento da condição anterior ao fato/dano (fl. 118). Com efeito, os contratos firmados pela entidade com seus “associados” apresentam elementos como
mutualismo, risco, segurado, prêmio, indenização e sinistro.

Destarte, da análise dos documentos arrolados na instrução processual – estatuto social, contrato de adesão e depoimento do presente da ATB prestado no inquérito
policial – resta cristalino que a Associação comercializa contrato de seguro, atividade típica que depende de Autorização da SUSEP. Assim, a Associação
infringiu os arts. 24, 78 e 113 do Decreto-Lei n. 73/66 c/c arts. 8º e 9º da Resolução CNSP n. 60/01, uma vez que não possui autorização da SUSEP e que não está
obedecendo aos requisitos legais supra mencionados.

IV – DA CONCLUSAO

Por tudo quanto foi exposto, Voto pelo conhecimento do Recurso interposto e nego provimento, pelos fatos e fundamentos contidos no processo, mantendo a
multa de R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais) imposta no presente processo.

É como voto.

Vivien Lys Porto Ferreira da Silva – Conselheira Relatora


Documento assinado eletronicamente por Vivien Lys Porto Ferreira da Silva, Conselheiro(a), em 28/01/2021, às 16:01, conforme horário oficial de Brasília, com
fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

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