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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Processo: 1.0035.12.000449-0/001
Relator: Des.(a) Aparecida Grossi
Relator do Acordão: Des.(a) Roberto Vasconcellos
Data do Julgamento: 14/06/2018
Data da Publicação: 26/06/2018

EMENTA: AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MORAL E MATERIAL - RESPONSABILIDADE POR ROUBO
OCORRIDO NO ESTABELECIMENTO HOTELEIRO - HÓSPEDE VITIMADO - DEVERES DE CUIDADO E
SEGURANÇA ASSUMIDOS COM O CONTRATO DE HOSPEDAGEM - INEXISTÊNCIA DE FORÇA MAIOR- FALTA
COMPLETA DE VIGILÂNCIA - SUBTRAÇÃO DE VEÍCULO DO USUÁRIO - DANOS MATERIAIS COMPROVADOS -
DANO MORAL IN RE IPSA.
- Nos termos dos arts. 649, parágrafo único, 927, parágrafo único, 932, inciso IV, e 933, do Código Civil, e do art.
14, do Código de Defesa do Consumidor, respondem, objetivamente, os donos de hotéis pelos danos causados aos
seus hóspedes.
- As prestadoras devem garantir aos usuários dos serviços de hotelaria a segurança da integridade física e
patrimonial, por ser inerente ao contrato de hospedagem.
- Verificado que o hóspede foi vitimado em ação criminosa ocorrida no interior do hotel e submetido a grave ameaça
com arma de fogo, a imobilização física e a perda de veículo guardado naquele estabelecimento, à pessoa jurídica
Requerida cabe a reparação do prejuízo material e do dano extrapatrimonial aferível in re ipsa.
- Em razão do recrudescimento da criminalidade, o furto e o roubo, bem como as abordagens para a sua prática, são
fatos previsíveis nas hospedarias e afastam a caracterização de força maior como excludente de responsabilidade
civil, especialmente quando não comprovado, pela Demandada, a existência de sistema e de profissional de vigilância
nas suas dependências por ocasião do assalto.

V.V. APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - HÓSPEDE VÍTIMA DE
ROUBO À MÃO ARMADA NO QUARTO DE HOTEL - FORÇA MAIOR - FATO DE TERCEIRO - INEVITÁVEL -
RESPONSABILIDADE DE INDENIZAR - EXCLUSÃO - SENTENÇA REFORMADA.
Deve-se reformar a sentença que julgou procedentes os pedidos de indenização por danos morais e materiais na
hipótese em que aos empregados do hotel requerido não seria possível evitar o assalto à mão armada perpetrado
contra o autor, cujo fato constitui motivo de força maior, hábil a ensejar o afastamento da responsabilidade objetiva da
requerida.
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0035.12.000449-0/001 - COMARCA DE ARAGUARI - APELANTE(S): HOTEL CALIFÓRNIA -
APELADO(A)(S): PAULO DA SILVA CAMPOS

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 17ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na
conformidade da ata dos julgamentos, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, VENCIDA, EM PARTE, A
RELATORA.

DESA. APARECIDA GROSSI


RELATORA.

DES. ROBERTO SOARES DE VASCONCELLOS PAES


RELATOR PARA O ACÓRDÃO.

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

DESA. APARECIDA GROSSI (RELATORA)

VOTO

Trata-se de recurso de apelação interposto por HOTEL CALIFÓRNIA contra a sentença proferida na ação de
indenização por danos morais e materiais ajuizada por PAULO DA SILVA CAMPOS, que julgou parcialmente
procedentes os pedidos nos seguintes termos:

(...)

Ante o exposto, julgo parcialmente procedentes os pedidos formulados por PAULO DA SILVA CAMPOS em desfavor
de HOTEL CALIFÓRNIA LTDA., de modo a condenar a parte Requerida no pagamento de indenização ao Autor:

I - A título de danos materiais, no valor de R$28.500,00 (vinte e oito mil e quinhentos reais), que deverá sofrer
correção monetária segundo o índice estabelecido pela Corregedoria de Justiça Mineira, a partir da data do
desembolso e juros moratórios no importe de 1% ao mês, contados da data da citação (art. 406, do Código Civil de
2002), vez que devidamente comprovado o dispêndio com o veículo automotor, deixando, por conseguinte, de acolher
o pedido a título de danos patrimoniais quanto aos demais valores reclamados;

II - A título de danos morais, estes que arbitro em R$8.000,00 (oito mil reais). Referida condenação também deverá
sofrer correção monetária segundo o índice estabelecido pela Corregedoria de Justiça Mineira, mas, a partir da data
da sentença (Súmula 362, do STJ) e juros moratórios no importe de 1% ao mês, contados da data da citação (art.
406, do Código Civil de 2002).

Destarte, com fulcro no art. 487, I, do Código de Processo Civil, declaro extinto o presente processo com resolução do
mérito.

Como o autor decaiu de parte mínima do pedido, condeno o réu ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios em favor do patrono da parte autora que, a teor do disposto no art. 85, §3º, I, do Código de Processo
Civil, fixo em 10% sobre o valor consignado à causa.

(...)

Nas razões recursais de fls. 232/245 a requerida alega que na madrugada do dia 09/12/2011 pretensos hóspedes
realizaram um assalto, subtraindo dois computadores e aproximadamente R$2.200,00, tendo sido vítima, assim como
o requerente.

Sustenta que o apelado nada disse a respeito do veículo que alega ter sido roubado, o modelo, o combustível, se
possuía ou não seguro, se era de propriedade sua ou de terceiro, ou se já foi recuperado.

Assevera que o recorrido não mencionou que o recorrente lhe ofereceu toda a assistência após o evento,
ofertando passagens, traslados, alimentação, etc.

Aduz que o apelado não comprovou que estava na posse dos bens mencionados na inicial e omitiu o fato de que
os assaltantes renderam e ameaçaram o recepcionista do hotel para que lhes entregasse a

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chave reserva dos quartos.

Alega que foi configurado caso fortuito, inexistindo dano moral indenizável.

Requer a condenação do apelado por litigância de má-fé e insurge-se contra a concessão dos benefícios da
justiça gratuita para o autor, sob a alegação de não ter feito prova dos requisitos legais.

O apelado apresentou contrarrazões nas fls. 248/251, requerendo a manutenção da sentença.

É o relatório.

JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE

Conheço do recurso, por estarem presentes os pressupostos de admissibilidade, e passo à análise das suas
razões.

PRELIMINARES

Não há preliminares a serem analisadas.

MÉRITO

Extrai-se dos autos que o apelado ajuizou a presente ação alegando ter sido vítima de um assalto na madrugada
do dia 09/12/2011, quando estava hospedado no hotel ora apelante.

Impende assinalar, inicialmente, que o apelante se enquadra no conceito de fornecedor previsto no art. 14 da Lei
nº 8.078/90, "in verbis":

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes
ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I- o modo de seu fornecimento;

II- o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III- a época em que foi fornecido.

Tratando-se de relação de consumo, a responsabilidade imposta no art. 14 do CDC, pelo fato do serviço, é
objetiva, independente de culpa, baseando-se no defeito, dano e nexo causal entre o dano ao consumidor e o defeito
do serviço prestado, só não sendo responsabilizado o fornecedor do serviço quando o defeito inexiste ou se houver
culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

No presente caso, com o objetivo de esclarecer melhor como ocorreu o roubo descrito na inicial, transcrevo o
relato que consta do boletim de ocorrência de fls. 16/18, segundo o qual, por volta das 03:30h o apelado estava
hospedado no hotel, juntamente com seu amigo Denis Henrique Caim Coimbra Melo, quando entraram dois homens
em seu quarto, um deles armado com um revólver, dando voz de assalto, que exigiram da vítima dinheiro, carteira e
chave do veículo, que amordaçaram e amarraram as vítimas com uma fita larga cor marrom; que então pegou a
chave do veículo que estava estacionado dentro do estacionamento do referido hotel; que além do veículo foram
levados documentos, cartões de crédito, talão de cheques; (...) que ficou sabendo que estavam hospedados em um
quarto do lado e que antes de assaltarem as vítimas, amarraram e amordaçaram o recepcionista, levando duas CPU
do hotel, além de dinheiro.

Cumpre salientar que o art. 932, IV, do Código Civil preceitua o seguinte:

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São também responsáveis pela reparação civil:

IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de
educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos.

Por sua vez, o art. 933 do mesmo diploma legal dispõe:

Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte,
responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.

Arnaldo Rizzardo apresenta as seguintes considerações sobre a responsabilidade dos donos de hotéis, de
estabelecimentos de albergue e de ensino:

Havendo o pagamento, ou configurando-se o internamento oneroso, configura-se a responsabilidade objetiva. Do


contrário, impende que se prove a culpa.

(...)

Pode-se excepcionar a responsabilidade objetiva se decorrente o dano de caso fortuito ou força maior. São exemplos
o roubo ou o ataque à mão armada, a intempérie anormal acompanhada de tufão, os tremores de terra, o surto de
uma doença contagiosa, a invasão de marginais e delinquentes, o romper de uma guerra. O art. 393 (art. 1.058 do
Código pretérito) afasta a responsabilidade, como se extrai de seu texto: "O devedor não responde pelos prejuízos
resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado." O art. 933
não tem o alcance de impor responsabilidade mesmo que verificado o caso fortuito ou força maior, eis que a
inexistência de culpa não se esgota apenas nessas duas causas de isenção. (Responsabilidade civil. 6ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2013, p. 114/115) (G.n.)

Urge destacar que o art. 393 do Código Civil preceitua o seguinte:


O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver
por eles responsabilizado.

Parágrafo único: O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar
ou impedir.

A respeito do dispositivo sobredito, Hamid Charaf Bdine Jr., na obra de coordenação do Ministro Cezar Peluso,
leciona:

(...)

A característica mais importante dessas excludentes é a inevitabilidade, isto é, a impossibilidade de serem evitadas
pelas forças humanas. Os requisitos para a configuração do caso fortuito ou da força maior são os seguintes: o fato
deve ser necessário e não determinado por culpa do devedor; o fato deve ser superveniente e inevitável; o fato deve
ser irresistível - fora do alcance do poder humano. (...) (Código civil comentado: doutrina e jurisprudência.
Coordenador Cezar Peluso. 3ª ed. rev. e atual. São Paulo: Manole, 2009, p. 395)

Verifica-se que a responsabilidade objetiva é afastada se o dano decorrer de caso fortuito ou força maior, o que se
configurou na hipótese em exame.

Cumpre aduzir que no caso vertente, entendo que o roubo praticado pelos meliantes que estavam hospedados no
hotel constitui acontecimento imprevisível e inevitável, inclusive pelo fato de a própria apelante ter confirmado que ao
menos um deles portava arma de fogo, o que impossibilitaria a reação do preposto da recorrente, sem risco de morte.

Observa-se que o apelado afirmou que no dia anterior ao assalto uma camareira encontrou quatro armas de
calibre 38 no quarto dos assaltantes, e informou ao dono do hotel. Contudo, a referida alegação

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não foi devidamente comprovada.

Urge frisar que, não tendo sido comprovado que os prepostos do apelante agiram de forma negligente, facilitando
a ação dos criminosos, não há que se falar em responsabilização do apelante por ação de terceiros que, portando
arma de fogo, subtraíram bens dos hóspedes e do próprio hotel.

Destarte, considerando que o lamentável ocorrido se caracteriza como fortuito externo, sem relação com a
prestação de serviços, deve ser afastada a responsabilidade do recorrente pelo pagamento de indenização por danos
morais e materiais ao apelado.

Nesse sentido já decidiram os tribunais pátrios:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - indenização por DANOS MORAIS E MATERIAIS - ROUBO DE VEÍCULO EM HOTEL
- RESPONSABILIDADE OBJETIVA - FORTUITO EXTERNO - ACONTECIMENTO IMPREVISÍVEL E INEVITÁVEL -
IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS INICIAIS - RECURSO PROVIDO.
Para que se condene alguém ao pagamento de indenização por dano moral, é preciso que se configurem os
pressupostos ou requisitos da responsabilidade civil, que são o dano, a culpa do agente, em caso de
responsabilização subjetiva e o nexo de causalidade entre a atuação deste e o prejuízo.
Por existir entre as partes manifesta relação de consumo, aplica-se à hipótese dos autos o preceito constante do art.
14, da Lei n. 8.078/90.
Nessa linha, sendo objetiva a responsabilidade do réu, prescindindo da comprovação de culpa, entende-se que
somente não responderá a sociedade empresária nas hipóteses em que o evento danoso se der em virtude de culpa
exclusiva da vítima, caso fortuito externo ou força maior.
O contexto probatório dos autos é claro em demonstrar a ocorrência de fortuito externo - roubo praticado pelos
bandidos que invadiram o hotel - capaz de romper o nexo causal, afastar a ilicitude da conduta do réu e, via de
consequência, a sua responsabilidade pelos danos narrados na exordial.
A entrada de assaltantes armados no estabelecimento do requerido constitui acontecimento imprevisível e inevitável.
A toda evidência, tendo em vista que os criminosos se encontravam armados, não havia meios de se impedir a
realização do roubo, sem risco às vidas dos prepostos do réu.
É importante, consignar que, em caso análogo, o Superior Tribunal de Justiça, já se manifestou no sentido de que a
responsabilidade de hotéis por roubos ocorridos à mão armada, no interior de seus estabelecimentos, apenas restaria
caracterizada caso fique comprovado que seus prepostos agiram com culpa, facilitando a ação dos criminosos.
Recurso provido.
V.V. APELAÇÃO CÍVEL- INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERI AIS- ROUBO DE VEÍCULO EM HOTEL-
RESPONSABILIDADE OBJETIVA- DEVER DE GUARDA- FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO- INDENIZAÇÃO
DEVIDA
- Nos termos do artigo 14 do CDC, o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,
pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
- Assumindo o prestador de serviços a responsabilidade pela guarda de veículo do consumidor em local seguro,
assim não procedendo, responde pelos danos ocasionados, decorrentes do furto do veículo, que poderia ter sido
evitado se não tivesse sido negligente na prestação de seus serviços, tendo ocorrido a violação dos deveres anexos
do contrato, a quebra da fidúcia e violação à boa fé objetiva, que geram o dever de indenizar. (TJMG - Apelação
Cível 1.0024.08.256144-0/001, Relator(a): Des.(a) Eduardo Mariné da Cunha , 17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
09/02/2012, publicação da súmula em 16/02/2012) (G.n.)

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - HOSPEDAGEM -


Autores vítimas de roubo, com emprego de arma de fogo, no quarto que ocupavam nas dependências do réu - Fato
que não poderia ser evitado - Caracterizada excludente da responsabilidade objetiva, nos moldes do artigo 650 do
Código Civil ou do artigo 14, §3º, do Código de Defesa do Consumidor - Sentença mantida - RECURSO NÃO
PROVIDO. (TJSP; Apelação 9001033-28.2008.8.26.0506; Relator (a): Renato Rangel Desinano; Órgão Julgador: 11ª
Câmara de Direito Privado; Foro de Ribeirão Preto - 9ª. Vara Cível; Data do Julgamento: 21/08/2015; Data de
Registro: 21/08/2015) (G.n.)

Ementa: RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.


RESPONSABILIDADE CIVIL DO HOTEL DEMANDADO NÃO CONFIGURADA. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA
DO PEDIDO MANTIDA.
No caso concreto, conforme se depreende da conjuntura fática considerada incontroversa, o assalto à mão armada de
que foram vítimas os demandantes, os funcionários do hotel demandado e o próprio hotel demandado, malgrado
tenha sido extremamente lamentável e traumático a todos os que dele participaram
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como vítimas, considera-se fora do alcance do poder de segurança que o estabelecimento poderia ordinariamente
oferecer como serviço secundário à hospedagem propriamente dita, circunstância na qual correto o reconhecimento
da ocorrência do fato necessário e da culpa exclusiva de terceiros, tanto na forma do artigo 393 do CC quanto na
forma do artigo 14, § 3º, inciso II, do CDC, para o fim de afastar a respectiva responsabilização civil por conta do
rompimento do nexo de causalidade. RECURSO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70072079379, Décima Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Catarina Rita Krieger Martins, Julgado em 30/03/2017) (G.n.)

IMPROCEDÊNCIA, DANO MATERIAL, DANO MORAL, ASSALTO, SUBTRAÇÃO, JÓIA, INTERIOR, HOTEL,
IMPOSSIBILIDADE, EXPOSIÇÃO, VENDA, PRODUTO, INOCORRÊNCIA, DEPÓSITO, BEM, GERÊNCIA, FORÇA
MAIOR. VOTO VENCIDO: PROCEDÊNCIA, CONDENAÇÃO, RÉU, DANO MORAL, RESPONSABILIDADE CIVIL.
DIREITO CIVIL. REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS E MATERIAIS. HÓSPEDE VÍTIMA DE ROUBO À MÃO
ARMADA NAS DEPENDÊNCIAS DE HOTEL. FORÇA MAIOR. FATO DE TERCEIRO. INEVITABILIDADE.
RESPONSABILIDADE DE INDENIZAR. EXCLUSÃO.
I - Não tendo sido possível aos empregados da empresa demandada evitar o assalto à mão armada perpetrado contra
o autor, cujo fato constitui motivo de força maior, somado ao fato de que o hóspede não cuidar de depositar os objetos
subtraídos no cofre do hotel, não é lícito responsabilizar a ré pelo evento danoso.
II - Negou-se provimento. Maioria. Vencido o relator.
(TJDFT. Acórdão n.234082, 20030110297863APC, Relator: JOSÉ DE AQUINO PERPÉTUO, Relator Designado:
JOSÉ DIVINO DE OLIVEIRA, Revisor: JOSÉ DIVINO, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 12/09/2005, Publicado no
DJU SEÇÃO 3: 12/01/2006. Pág.: 62)

De outro norte, com relação ao pedido de condenação do apelado nas penas por litigância de má-fé não assiste
razão ao apelante, diante da ausência de prova das hipóteses previstas no art. 80 e 81 do CPC.

Por fim, não há se falar em afastamento dos benefícios da justiça gratuita concedidos ao autor/apelado, pois ele
comprovou a alegada hipossuficiência financeira.

Com tais considerações, DOU PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO, para julgar improcedentes os pedidos
iniciais.

Redistribuo os ônus sucumbenciais para condenar o autor ao pagamento das custas processuais, inclusive as
recursais e dos honorários advocatícios, que arbitro em 12% (doze por cento) sobre o valor da causa, nos termos dos
§§2º e 11 do art. 85 do CPC.

Suspendo a exigibilidade das referidas verbas, nos termos do §3º do art. 98 do CPC.

DES. ROBERTO SOARES DE VASCONCELLOS PAES (RELATOR PARA O ACÓRDÃO)

VOTO

Com a devida vênia, tenho entendimento diverso do manifestado no r. Voto da Eminente Desembargadora
Relatora, ao concluir pela improcedência dos pedidos iniciais, acompanhando S. Exa. apenas quanto à rejeição das
pretensões recursais de revogação da gratuidade da justiça concedida ao Apelado e de sua condenação por litigância
de má-fé.
Inicialmente, registro que, por envolver o litígio Contrato de Prestação de Serviços, há relação de consumo, sendo
aplicável o regramento que se contém no Código de Defesa do Consumidor.
Emolduradas as figuras de consumidor e prestador na relação estabelecida pelos litigantes (arts. 2º e 3º, da Lei
nº 8.078/90), há que se considerar que, com fundamento na Teoria do Risco do Empreendimento, aquele que se
disponha a exercer qualquer atividade no mercado de consumo deverá suportar os ônus decorrentes dos vícios ou
falhas verificados na sua consecução.
A prova produzida demonstrou o ilícito relatado na Inicial, pelo qual responde, objetivamente, a prestadora de
serviços de hotelaria.
Observo que, além de os documentos que instruem o pedido inicial terem comprovado os fatos desencadeadores
da propositura da Ação, tanto na Defesa de fls. 71/82-TJ, quanto no presente Recurso, são admitidas a ocorrência do
assalto que vitimou o Apelado, no interior do "Hotel Califórnia", com o roubo do seu veículo, e a prática do delito por
criminosos que foram admitidos como hóspedes daquele estabelecimento:

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"Excelência, de fato o Hotel Califórnia/Apelante foi assaltado na data aludida, de fato os assaltantes se hospedaram
como se fossem quaisquer hóspedes, a Recorrente também foi vítima sendo que lhe subtraíram duas CPUs
(computadores) e aproximadamente R$2.200,00 em espécie.
O recorrido estava hospedado no hotel e reclamou ter sido vítima e que, em suas palavras, alguns de seus itens
foram roubados e que seu veículo fora subtraído. [...].".

Ficou evidenciada a falta de diligência da Apelante, ao não adotar medidas adequadas para salvaguardar a
integridade dos usuários dos seus serviços.
Não se pode ignorar que os estabelecimentos hoteleiros devem prover mecanismos imprescindíveis à segurança
dos seus hóspedes, por ser inerente aos serviços prestados, de modo a evitar ocorrências da espécie tratada nos
autos. E basta ter havido situações graves, como a verificada em detrimento do Recorrido, para que não se possa
admitir que tenha havido a atuação suficiente da Apelante.
Aliás, nos autos, nem sequer foi alegado ou demonstrado que, no dia dos fatos, existia profissional ou aparato
eficiente de segurança no estabelecimento hoteleiro.
A falta de diligências efetivas contra incidentes da natureza tratada, em caso de execução de serviços expostos a
riscos, exclui a invocação excludente de responsabilidade por parte do prestador.
Não subsiste, também, o entendimento de que o assalto se enquadraria como fato indutivo de força maior, a
estabelecer causa excludente de responsabilidade civil.
Isso porque constitui risco peculiar à natureza das atividades que desempenham os Hotéis, cujos resultados
devem ser por eles suportados.
Enfatizo que, por força do recrudescimento da criminalidade, o furto e o roubo, bem como as abordagens para a
sua prática, são fatos previsíveis nas Hospedarias e, por isso, afastam a caracterização de força maior como
excludente da responsabilidade civil, notadamente quando o estabelecimento não é dotado de sistemas efetivos de
segurança.
Incide, como referido, a Teoria do Risco do Empreendimento, que afasta a exclusão da responsabilidade do
prestador de serviços, por ser própria ao negócio explorado e às operações que o integram, caracterizando a situação
narrada o chamado fortuito interno, que não comporta o rompimento do nexo de causalidade entre a atividade
exercida pelo prestador e o evento danoso.
A respeito do tema, SERGIO CAVALIERI FILHO esclarece:
"Pela teoria do risco do empreendimento, todo aquele que se disponha a exercer alguma atividade no mercado de
consumo tem o dever de responder pelos eventuais vícios ou defeitos dos bens e serviços fornecidos,
independentemente de culpa. Este dever é imanente ao dever de obediência às normas técnicas e de segurança,
bem como aos critérios de lealdade, quer perante os bens e serviços ofertados, quer perante os destinatários dessas
ofertas. A responsabilidade decorrente do simples fato de dispor-se alguém a realizar atividade de produzir, estocar,
distribuir e comercializar produtos ou executar determinados serviços. O fornecedor passa a ser o garante dos
produtos e serviços que oferece no mercado de consumo, respondendo pela qualidade e segurança dos mesmos."
("Programa de Responsabilidade Civil". 11ª ed. - São Paulo: Atlas, 2014, p. 544).

LUIZ ANTONIO RIZZATTO NUNES adverte:


"O que acontece é que o CDC, dando continuidade, de forma coerente, à normatização do princípio da
vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo, preferiu que toda a carga econômica advinda do defeito
recaísse sobre o prestador do serviço. Se a hipótese é de caso fortuito ou de força maior e em função disso o
consumidor sofre acidente de consumo, o mal há de ser remediado pelo prestador do serviço. Na verdade o
fundamento dessa ampla responsabilização é, em primeiro lugar, o princípio garantido na Carta Magna da liberdade
de empreendimento, que acarreta direito legítimo ao lucro e responsabilidade integral pelo risco assumido. E a Lei n.
8.078, em decorrência desse princípio, estabeleceu o sistema de responsabilidade civil objetiva, conforme já visto.
Portanto, trata-se apenas de questão de risco do empreendimento. Aquele que exerce a livre atividade econômica
assume esse risco integral." ("Curso de Direito do Consumidor". São Paulo: Saraiva, 2004, pp.301/302).

Reitero que, em se tratando de pessoas jurídicas prestadoras de serviços, é objetiva a sua responsabilidade pela
falha no cumprimento das suas obrigações, por força do art. 14, caput, do Código de Defesa do Consumidor:
"Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes
ou inadequadas sobre sua fruição e riscos [...].".

A responsabilidade objetiva se configura independentemente da culpa, como leciona CARLOS ROBERTO


GONÇALVES (Responsabilidade Civil", 8ª ed., São Paulo: Saraiva, 2003, pp. 21/22:

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"Nos casos de responsabilidade objetiva, não se exige prova de culpa do agente para que seja obrigado a reparar o
dano. Em alguns, ela é presumida pela lei. Em outros, é de todo prescindível, porque a responsabilidade se funda no
risco (objetiva propriamente dita ou pura).
Quando a culpa é presumida, inverte-se o ônus da prova. O autor da ação só precisa provar a ação ou omissão e o
dano resultante da conduta do réu, porque sua culpa já é presumida. Trata-se, portanto, de classificação baseada no
ônus da prova. É objetiva porque dispensa a vítima do referido ônus. Mas, como se baseia em culpa presumida,
denomina-se objetiva imprópria ou impura. É o caso, por exemplo, previsto no art. 936 do CC, que presume a culpa
do dono do animal que venha a causar dano a outrem. Mas faculta-lhe a prova das excludentes ali mencionadas, com
inversão do ônus probandi. Se o réu não provar a existência de alguma excludente, será considerado culpado, pois
sua culpa é presumida.
Há casos em que se prescinde totalmente da prova da culpa. São as hipóteses de responsabilidade
independentemente de culpa. Basta que haja relação de causalidade entre a ação e o dano.".

Adiciono, com destaques, que, na prestação de serviços de hotelaria, quando verificados danos causados a
hóspede, devem ser observadas, também, as disposições dos arts. 649, parágrafo único, 927, parágrafo único, 932,
inciso IV, e 933, do Código Civil, verbis:
"Art. 649. Aos depósitos previstos no artigo antecedente é equiparado o das bagagens dos viajantes ou hóspedes nas
hospedarias onde estiverem.
Parágrafo único. Os hospedeiros responderão como depositários, assim como pelos furtos e roubos que perpetrarem
as pessoas empregadas ou admitidas nos seus estabelecimentos." (Destaquei).

"Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem." (Destaquei).

"Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:


[...]
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de
educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; [...]." (Destaquei).

"Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte,
responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos." (Destaquei).

Em comentários ao art. 649, parágrafo único, do Código Civil, GUSTAVO TEPEDINO, HELOÍSA HELENA
BARBOZA e MARIA ELINA BODIN DE MORAES ensinam:
"[...]
A responsabilidade dos hospedeiros é mais forte porque remunerado o depósito (v. art. 651 do CC), decorrendo sua
responsabilidade do próprio risco do negócio. Assim, a responsabilidade dos hospedeiros abrange também atos de
terceiros, sejam empregados ou pessoas admitidas, a qualquer título, nas casas de hospedagem, salvo se
introduzidas no estabelecimento pelo próprio hóspede.
[...]
Atualmente, a hospedagem, em qualquer das suas modalidades, configura relação de consumo, sendo a
responsabilidade do hospedeiro, própria ou por ato de terceiro, como fornecedor de serviços, regida pelas normas do
CDC. Assim, o anteriormente tormentoso debate sobre a possibilidade de exclusão da responsabilidade do
hospedeiro encontra-se superado, em virtude do disposto no art. 51, do CDC, que tornou inválida qualquer
estipulação de não indenizar, quer contratual, quer por disposições unilaterais, como cartazes ou avisos. "("Código
Civil Interpretado conforme a Constituição da República". V. II. Rio de Janeiro: Renovar, 2012, pp. 413/414).

No artigo jurídico "A responsabilidade objetiva no novo Código Civil", SÍLVIO DE SALVO VENOSA doutrina:
"Para a caracterização do dever de indenizar devem estar presentes os requisitos clássicos: ação ou omissão
voluntária, relação de causalidade ou nexo causal, dano e, finalmente, culpa. No tocante especificamente à culpa,
lembramos que a tendência jurisprudencial cada vez mais marcante é de alargar seu conceito. Surgiu, daí, a noção de
culpa presumida, sob o prisma do dever genérico de não prejudicar. Esse fundamento fez também nascer a teoria da
responsabilidade objetiva, presente na lei em várias oportunidades, que desconsidera a culpabilidade, ainda que não
se confunda a culpa presumida com a responsabilidade objetiva.
Daí por que a insuficiência da fundamentação da teoria da culpabilidade levou à criação da teoria do risco, com vários
matizes, a qual sustenta que o sujeito é responsável por riscos ou perigos que sua atuação

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

promove, ainda que coloque toda diligência para evitar o dano. Trata-se da denominada teoria do risco criado e do
risco benefício. O sujeito obtém vantagens ou benefícios e, em razão dessa atividade deve indenizar os danos que
ocasiona. Em síntese, cuida-se da responsabilidade sem culpa em inúmeras situações nas quais sua comprovação
inviabilizaria a indenização para a parte presumivelmente mais vulnerável. A legislação dos acidentes do trabalho é o
exemplo marcante que imediatamente aflora como exemplo.
Neste aspecto há importante inovação no novo Código Civil, presente no parágrafo único do artigo 927. Por esse
dispositivo, a responsabilidade objetiva aplica-se, além dos casos descritos em lei, também "quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem". Por esse
dispositivo o magistrado poderá definir como objetiva, ou seja, independente de culpa, a responsabilidade do
causador do dano no caso concreto. Esse alargamento da noção de responsabilidade constitui, na verdade, a maior
inovação do novo código em matéria de responsabilidade e requererá, sem dúvida, um cuidado extremo da nova
jurisprudência. Nesse preceito há, inclusive implicações de caráter processual que devem ser dirimidas, mormente se
a responsabilidade objetiva é definida somente no processo já em curso.
A legislação do consumidor é exemplo mais recente de responsabilidade objetiva no ordenamento. Portanto, o âmbito
da responsabilidade sem culpa aumenta significativamente em vários segmentos dos fatos sociais. Nesse diapasão,
acentuam-se, no direito ocidental, os aspectos de causalidade e reparação do dano, em detrimento da imputabilidade
e culpabilidade de seu causador. Daí porque, por exemplo, o novo código estampa a responsabilidade do incapaz; a
possibilidade de seu patrimônio responder por danos por ele causados, ainda que de forma mitigada (artigo 928)."
(Artigo Jurídico disponível no sítio eletrônico http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI916,11049-
A+responsabilidade+objetiva+no+novo+Codigo+Civil- Destaquei).

Ainda, quanto à regra do art. 932, do Código Civil, GUSTAVO TEPEDINO adverte que ela representou um salto
na evolução doutrinária e jurisprudencial, para considerar objetivas todas as hipóteses que descreve, conforme
estabelecido, de forma expressa, no art. 933, acrescentando:
"Os pais, tutores, empregadores e demais pessoas apontadas no art. 932 não podem mais se eximir do dever de
indenizar demonstrando a ausência de omissão no seu dever de guarda. A responsabilidade por fato de terceiro
passa a adquirir um papel de garantia à vítima." (Ob. cit., pp. 831 e 832).

Assim, a responsabilidade civil da Recorrente, além de objetiva, assenta-se na sua inércia em atender à evidente
necessidade de dotação do seu estabelecimento com serviços e equipamentos de proteção dos seus hóspedes
contra ações criminosas.
Em causas análogas, os seguintes Julgados dos Tribunais:
"AGRAVO INTERNO EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO INDENIZATÓRIA - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE
NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO. INSURGÊNCIA DA RÉ.
1. Não se configura a violação ao art. 535 do CPC/73, quando o Tribunal local pronuncia-se de forma fundamentada
sobre as questões postas para análise, ainda que contrariamente aos interesses da parte recorrente.
2. "A responsabilidade do hotel por roubo à mão armada no interior do estabelecimento somente se caracteriza caso
fique comprovado que agiu com culpa, facilitando a ação dos criminosos ou omitindo-se de impedi-la" (REsp
841.090/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/10/2006, DJ 12/02/2007, p. 261), o
que significa, por outro lado, que é possível afastar a excludente de responsabilidade (fato de terceiro) quando
constatada culpa do prestador de serviço.
2.1 Entendimento adotado pelo Tribunal de origem, no sentido da responsabilização do estabelecimento hoteleiro por
ter havido negligência de sua parte, não destoa da jurisprudência pacífica desta Corte, de modo a se impor a rejeição
da pretensão recursal veiculada neste apelo extremo, inclusive em relação à alegada divergência jurisprudencial, nos
termos da Súmula 83 do STJ. [...]."(STJ - AgInt. no REsp. nº 1.383.600/MG, Relator o Ministro MARCO BUZZI,
Acórdão publicado no DJe de 27/04/2017 - Destaquei).

"RESPONSABILIDADE CIVIL. HOTEL. ROUBO NO ESTACIONAMENTO. DEVER DE VIGILÂNCIA E GUARDA.


EXCLUDENTE DE FORÇA MAIOR NÃO CARACTERIZADA.
- Empresa que não toma precauções mínimas tendentes a evitar ocorrências de tal natureza. Falta ao dever de
vigilância e guarda.
Recurso especial não conhecido."(STJ - REsp. nº 227.014/GO, Relator o Ministro BARROS MONTEIRO, Acórdão
publicado no DJ de 25/03/2002).

"AÇÃO INDENIZATÓRIA - HOSPEDAGEM - SUBTRAÇÃO DE ALIANÇA NO INTERIOR DA HABITAÇÃO -


CONTRATO DE DEPÓSITO - INTELIGÊNCIA DO ART. 649, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO CIVIL - RELAÇÃO
DE CONSUMO - APLICAÇÃO AINDA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA - ART. 14 DA LEI 8.078/90. DANO

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

MATERIAL E MORAL - RECONHECIMENTO - VALORES - ABRANDAMENTO - PERTINÊNCIA - ATENÇÃO AOS


PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. APELO DA RÉ PARCIALMENTE PROVIDO E
RECURSO ADESIVO DO AUTOR NÃO PROVIDO."(TJSP - Apelação nº 1083970-81.2014.8.26.0100, Relator o
Desembargador TAVARES DE ALMEIDA, Acórdão publicado em 11/08/2017 - Destaquei).

"DIREITO DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS HOTÉIS E ASSEMELHADOS. RISCO DA


ATIVIDADE EMPRESARIAL. HOSPEDAGEM. ASSALTO DENTRO DO ESTABELECIMENTO. DANO MORAL.
VALOR DA INDENIZAÇÃO. 1 - Na forma do art. 46 da Lei 9.099/1995, a ementa serve de acórdão. Recurso próprio,
regular e tempestivo. 2 - Responsabilidade civil. Na forma do art. 927, parágrafo único c/c art. 932, inciso IV do Código
Civil, respondem civilmente os donos de hotéis e assemelhados pelos danos causados aos seus hóspedes. 3 -
Excludente de responsabilidade. Em face do dever de segurança inerente à atividade, não se exclui a
responsabilidade por roubo sob o argumento de ser ato de terceiro. 4 - Dano moral. Cabível a reparação por dano
moral em razão da violação da integridade física pela ameaça à própria vida do consumidor, decorrente de roubo no
interior de estabelecimento hoteleiro e assemelhado. 5 - Valor da indenização. Não se mostra excessivo o valor de
R$4.000,00 a título de reparação por danos morais, pois adequado às circunstâncias do fato, à extensão do dano e a
servir ao propósito pedagógico da condenação. 6 - Recurso conhecido, mas não provido. Custas processuais pelos
recorrentes vencidos. Sem honorários advocatícios, face à ausência de contrarrazões."(TJDF - Apelação nº
20150610055905, Relator AISTON HENRIQUE DE SOUSA, Acórdão publicado no DJ de 24/09/2015 - Destaquei).

"Apelação cível. Ação indenizatória por danos morais e materiais. Assalto com emprego de arma de fogo em
dependências de hotel. Teoria do risco integral. Falha na prestação do serviço - dever de zelar pela segurança dos
hóspedes e de seus pertences. Excludentes de ilicitude não caracterizadas. Danos materiais - diárias não usufruídas.
Prejuízos morais fixados em R$ 21.720,00, observadas as peculiaridades da hipótese - passamento da amiga em
companhia de quem ocupava o aposento. Honorária bem arbitrada em R$ 1.500,00 - art. 20, § 4º, do Código de
Processo Civil. Sentença de procedência preservada. Recurso improvido."(TJSP - Apelação nº 1001733-
67.2014.8.26.0624; Relator o Desembargador TERCIO PIRES, Acórdão publicado em 21/09/2015 - Destaquei).

"PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS E MATERIAIS - Hospedagem em pousada


situada no litoral do Estado de São Paulo - Roubo de pertences dos hóspedes dentro das dependências do
estabelecimento - Invasão da pousada por indivíduos armados, que renderam a recepcionista durante a noite e a
obrigaram a ir até os apartamentos dos hóspedes para proceder ao roubo - Inexistência de guarda, vigia ou qualquer
sistema de vigilância na pousada - Não caracterização de força maior ou caso fortuito, visto que o risco faz parte das
atividades do réu e não pode ser transferido ao consumidor - Previsibilidade da ocorrência de furto ou roubo em
estabelecimentos de hospedagem nos dias atuais - Responsabilidade objetiva do prestador de serviço, nos moldes do
art. 14 do Código de Defesa do Consumidor Aplicação do art. 642 do CC, que trata da responsabilidade do
hospedeiro - Inexistência de qualquer excludente hábil a afastar tal responsabilização - Indenização por danos
materiais devida, para ressarcir os autores dos prejuízos advindos da subtração de seus pertences, tais como,
máquinas fotográficas, telefones celulares, óculos de sol e dinheiro em espécie Bens relacionados no boletim de
ocorrência juntado aos autos Comprovação dos valores relativos a cada bem por meio de notas fiscais Indenização
por danos materiais devida no montante de R$ 3.760,90, a ser corrigido monetariamente pela Tabela Prática do
Tribunal de Justiça desde o evento danoso, acrescido de juros moratórios de 1% ao mês desde aquela data. DANOS
MORAIS ASSALTO A POUSADA EM QUE ESTAVAM HOSPEDADOS OS AUTORES - Ocorrência de abalo psíquico
-físico decorrente dos transtornos causados aos autores, posto que foram surpreendidos a noite, quando já se
encontravam no apartamento, por bandidos armados que roubaram seus pertences Configuração do dano moral -
Indenização devida - Valor fixado em R$ 8.000,00 a título de reparação, para cada um dos autores, levando-se em
conta as condições das vítimas e do réu - Caráter coibitivo da condenação, a fim de se reprimir novas condutas
assemelhadas Correção monetária Dano moral Incidência a partir do arbitramento, com base na Súmula 362, do C.
STJ Recurso provido, para o fim de julgar a ação procedente, condenando-se o réu a indenizar os autores por danos
morais, no montante de R$ 8.000,00 para cada um, corrigido a partir deste V. Acórdão, acrescido de juros moratórios
de 1% ao mês após a citação, condenando-o ainda a indenização por danos materiais de R$ 3.760,90, corrigido
monetariamente e acrescido de juros de mora, além das custas, despesas processuais e honorários advocatícios de
15% sobre o valor da condenação."(TJSP - Apelação nº 0003644-59.2010.8.26.0564, Relator o Desembargador
CARLOS NUNES, Acórdão publicado em 02/05/2013 - Destaquei).

"HOTEL - VEÍCULO - ROUBO A MÃO ARMADA - RESPONSABILIDADE - FATO IMPREVISÍVEL OU INEVITÁVEL -


NÃO CARACTERIZAÇÃO.
- Responde pelo roubo de veículo, ainda que a mão armada, o hotel que assume o compromisso de

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

guardá-lo em estacionamento fechado e seguro e não o faz, pois, nessa hipótese, não se pode falar em fato
imprevisível ou inevitável. [...]." (TJMG - Embargos Infringentes nº 1.0024.08.256144-0/003, Relator o
Desembargador EVANDRO LOPES DA COSTA TEIXEIRA, Acórdão publicado no DJ de 04/09/2012).

"Ação de indenização por danos materiais e morais - Assalto a mão armada a hóspedes de hotel - Culpa do
estabelecimento hoteleiro - Caracterizada - O assalto a mão armada, ocorrido no interior do hotel decorreu de conduta
negligente do réu, que não cuidou da segurança de seus hóspedes - Prejuízos materiais demonstrados - Dano Moral
caracterizado - Procedência da ação mantida."(TJSP - Apelação nº 992080441520 SP, Relator o Desembargador
CRISTIANO FERREIRA LEITE, Acórdão publicado em 28/04/2010 - Destaquei).

No que concerne à indenização por dano material assegurada na r. Sentença, observo que ficou suficientemente
comprovada a subtração do veículo adquirido pelo Recorrido, que se encontrava guardado no estacionamento da
Apelante, a teor do Boletim de Ocorrência da Polícia Militar, juntado à fl. 18-TJ, e da Nota Fiscal de Compra acostada
à fl. 22-TJ.
A respeito, é oportuno reproduzir o entendimento contido no Enunciado de Súmula 130, do Eg. Superior Tribunal de
Justiça:
"A EMPRESA RESPONDE, PERANTE O CLIENTE, PELA REPARAÇÃO DE DANO OU FURTO DE VEICULO
OCORRIDO EM SEU ESTACIONAMENTO.".

Foi demonstrado, também, o valor do bem por ocasião do fato, uma vez que a sua aquisição, pelo Apelado,
ocorreu na mesma data do roubo (08/12/2011), conforme o mencionado documento fiscal (fl. 22-TJ).
Quanto à reparação por dano extrapatrimonial, evidentemente que, tendo sido vitimado em roubo, na condição de
usuário dos serviços da Recorrente, quando se encontrava nas suas dependências, além de submetido a grave
ameaça com arma de fogo, a imobilização física e a perda de bem de valor considerável, tais situações acarretaram
lesão anímica ao Recorrido.
A perturbação moral decorre dos próprios fatos, que, indiscutivelmente, são geradores de padecimento íntimo,
sendo dispensável a prova da amargura, por advir das regras de experiência comum (CPC, art. 375).
É reiterada a orientação no sentido de que:
"Não há falar em prova do dano moral, mas, sim, na prova do fato que gerou a dor, o sofrimento, sentimentos íntimos
que o ensejam. Provado assim o fato, impõe-se a condenação, sob pena de violação ao art. 334 do Código de
Processo Civil." (REsp nº 86.271/SP, relator o Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, Acórdão publicado
no DJ de 09/12/1997).

CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA adverte que "o fundamento da reparabilidade pelo dano moral está em que, a
par do patrimônio em sentido técnico, o indivíduo é titular de direitos integrantes de sua personalidade, não podendo
conformar-se a ordem jurídica em que sejam impunemente atingidos." (Op. cit., p. 54).
A respeito da matéria, é oportuna a transcrição de elucidativo trecho de artigo publicado por PAULO LÔBO:
"A interação entre danos morais e direitos da personalidade é tão estreita que se deve indagar da possibilidade da
existência daqueles fora do âmbito destes. Ambos sofreram a resistência de grande parte da doutrina em considerá-
los objetos autônomos do direito. Ambos obtiveram reconhecimento expresso na Constituição brasileira de 1988, que
os tratou em conjunto, principalmente no inciso X do artigo 5, que assim dispõe:
"X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;"
[...]
Os direitos da personalidade, nas vicissitudes por que passaram, sempre esbarraram na dificuldade de se encontrar
um mecanismo viável de tutela jurídica, quando da ocorrência da lesão. Ante os fundamentos patrimonialistas que
determinaram a concepção do direito subjetivo, nos dois últimos séculos, os direitos de personalidade restaram
alheios à dogmática civilística. A recepção dos danos morais foi o elo que faltava, pois constituem a sanção adequada
ao descumprimento do dever absoluto de abstenção.
Do mesmo modo, os danos morais se ressentiam de parâmetros materiais seguros, para sua aplicação, propiciando a
crítica mais dura que sempre receberam de serem deixados ao arbítrio judicial e à verificação de um fator psicológico
de aferição problemática: a dor moral.
[...]
De modo mais amplo, os direitos de personalidade oferecem um conjunto de situações definidas pelo sistema jurídico,
inatas à pessoa, cuja lesão faz incidir diretamente a pretensão aos danos morais, de modo objetivo e controlável, sem
qualquer necessidade de recurso à existência da dor ou do prejuízo. A

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

responsabilidade opera-se pelo simples fato da violação (damnu in re ipsa); assim, verificada a lesão a direito da
personalidade, surge a necessidade de reparação do dano moral, não sendo necessária a prova do prejuízo,
bastando o nexo de causalidade. [...]." ("Danos morais e direitos da personalidade". Jus Navigandi, Teresina, Ano 8, n.
119, 31 out. 2003. Disponível em: http://jus.com.br/revista/texto/4445. Acesso em: 22 out. 2014).

Sobre o tema, decidiu o Col. Superior Tribunal de Justiça:


"RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS EM RAZÃO DE ROUBO SOFRIDO EM
ESTACIONAMENTO DE SUPERMERCADO - PROCEDÊNCIA DA PRETENSÃO - FORÇA MAIOR OU CASO
FORTUITO - NÃO RECONHECIMENTO - CONDUTA OMISSIVA E NEGLIGENTE DO ESTABELECIMENTO
COMERCIAL - VERIFICAÇÃO - DEVER DE PROPICIAR A SEUS CLIENTES INTEGRAL SEGURANÇA EM ÁREA
DE SEU DOMÍNIO - APLICAÇÃO DO DIREITO À ESPÉCIE - POSSIBILIDADE, IN CASU - DANO MORAL -
COMPROVAÇÃO - DESNECESSIDADE - "DAMNUM IN RE IPSA", NA ESPÉCIE - FIXAÇÃO DO QUANTUM -
OBSERVÂNCIA DOS PARÂMETROS DA RAZOABILIDADE - RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
I - É dever de estabelecimentos como shoppings centers e hipermercados zelar pela segurança de seu ambiente, de
modo que não se há falar em força maior para eximi-los da responsabilidade civil decorrente de assaltos violentos aos
consumidores;
II - Afastado o fundamento jurídico do acórdão a quo, cumpre a esta Corte Superior julgar a causa, aplicando, se
necessário, o direito à espécie;
III - Por se estar diante da figura do "damnum in re ipsa", ou seja, a configuração do dano está ínsita à própria eclosão
do fato pernicioso, despicienda a comprovação do dano.
IV - A fixação da indenização por dano moral deve revestir-se de caráter indenizatório e sancionatório, adstrito ao
princípio da razoabilidade e, de outro lado, há de servir como meio propedêutico ao agente causador do dano;
V - Recurso Especial conhecido e provido."(REsp. nº 582.047/RS, Relator o Ministro MASSAMI UYEDA, Acórdão
publicado no DJe de 04/08/2009 - Destaquei).

Relativamente à fixação do quantum indenizatório, MARIA HELENA DINIZ esclarece que, na avaliação do dano
moral, o órgão judicante deverá estabelecer uma reparação equitativa, baseada na culpa do agente, na extensão do
prejuízo causado e na capacidade econômica do responsável. Acrescenta que, na reparação do dano moral, o Juiz
determina por equidade, levando em conta as circunstâncias de cada caso, o quantum da indenização devida, que
deverá corresponder à lesão e não ser equivalente, por ser impossível tal equivalência. Salienta que a reparação
pecuniária do dano moral é um misto de pena e satisfação compensatória, não se podendo negar sua função: 1-
penal, constituindo uma sanção imposta ao ofensor; e 2- compensatória, sendo uma satisfação que atenue a ofensa
causada, proporcionando uma vantagem ao ofendido, que poderá, com a soma de dinheiro recebida, procurar atender
às satisfações materiais ou ideais que repute convenientes, diminuindo assim, em parte, seu sofrimento. Conclui que
fácil é denotar que o dinheiro não terá na reparação do dano moral uma função de equivalência própria do
ressarcimento do dano patrimonial, mas um caráter, concomitantemente, satisfatório para a vítima e lesados e
punitivo para o lesante, sob uma perspectiva funcional. (Entrevista publicada na "Revista Literária de Direito", número
09, Janeiro/Fevereiro de 1996, pp. 7/14).
Da Doutrina de CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA consta que na reparação do dano moral estão conjugados dois
motivos ou duas concausas: I) punição ao infrator pelo fato de haver ofendido um bem jurídico da vítima, posto que
imaterial; II) pôr nas mãos do ofendido uma soma que não é o "pretium doloris", porém o meio de lhe oferecer a
oportunidade de conseguir uma satisfação de qualquer espécie, seja de ordem intelectual ou moral, seja mesmo de
cunho material, o que pode ser obtido "no fato" de saber que esta soma em dinheiro pode amenizar a amargura da
ofensa ("Da Responsabilidade Civil", 5ª Edição, Forense: Rio, 1994, pp. 317 e 318).
CARLOS ALBERTO BITTAR também ensina que, na fixação do "quantum" devido, a título de dano moral, deve o
julgador atentar para: a) as condições das partes; b) a gravidade da lesão e sua repercussão; e c) as circunstâncias
fáticas. Ressalta que lhe parece de bom alvitre analisar-se primeiro: a) a repercussão na esfera do lesado; depois, b)
o potencial econômico-social do lesante; e c) as circunstâncias do caso, para finalmente se definir o valor da
indenização, alcançando-se, assim, os resultados próprios: compensação a um e sancionamento a outro ("Reparação
Civil por Danos Morais: A Fixação do Valor da Indenização", Revista de Jurisprudência dos Tribunais de Alçada Civil
de São Paulo, v. 147, set./out. 1994, p. 11).
No caso, o Recorrido, como visto, foi exposto aos efeitos nocivos da conduta negligente da Apelante, que
afetaram, de forma inexorável, o seu patrimônio moral.
Por sua vez, a Recorrente possui aparente capacidade material para suportar a condenação.
Repito que as condições da vítima, especialmente quanto à repercussão do ilícito em seu patrimônio de valores
ideais, interferem diretamente na análise da extensão do dano extrapatrimonial, porquanto, associadas aos outros
elementos do processo, revelam o grau de violação do direito personalíssimo do

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

lesado, uma vez que não há como desconsiderar que os critérios de direito podem se revestir de flexibilidade para dar
a cada um o que lhe é devido.
Da mesma forma, o exame da condição econômica do lesante é imprescindível para a fixação da reparação
pecuniária, de modo a tornar eficazes as suas funções punitiva e dissuasora.
RIZZATTO NUNES assinala:
"Evidente que quanto mais poder econômico tiver o ofensor, menos ele sentirá o efeito da indenização que terá de
pagar. E, claro, se for o contrário, isto é, se o ofensor não tiver poder econômico algum, o quantum indenizatório será
até mesmo inexeqüível (o que não significa que não se deve fixá-lo).
De modo que é importante lançar um olhar sobre a capacidade econômica do responsável pelo dano. Quanto mais
poderoso ele for, mas se justifica a elevação da quantia a ser fixada. Sendo que o inverso é verdadeiro."("Curso de
Direito do Consumidor". 2ª. ed. São Paulo: Saraiva, p. 314).

A observância das condições enunciadas não significa a adoção de mecanismo exclusivo de distinção, segundo o
status econômico ou social dos litigantes, mas a consideração do binômio necessidade/possibilidade, de modo a que
haja um equilíbrio na fixação do valor reparatório que sirva, a um só tempo, de compensação ao ofendido e de
desestímulo ao ofensor.
Enfim, no arbitramento da indenização devem ser considerados os fatores precipuamente utilizados pelos
Tribunais, com destaque para o Col. Superior Tribunal de Justiça, consistentes na gravidade da violação ou extensão
do dano, observada a repercussão do ato lesivo na esfera pessoal da vítima, na culpabilidade e na capacidade
econômica do ofensor, nas funções de punição e desestímulo e na razoabilidade.
Na situação examinada, observados os critérios de proporcionalidade e razoabilidade em sintonia com os fatos e
as suas repercussões, considero adequada a indenização fixada na r. Sentença, em R$ 8.000,00 (oito mil reais).
Trata-se de imposição que possibilita que o Apelado obtenha uma satisfação reparatória do agravo moral sofrido e
que consubstancia medida pedagógica à Recorrente, para que proceda à revisão dos seus procedimentos
operacionais e de segurança dos clientes.
Nesse sentido:
"RESPONSABILIDADE CIVIL. Ação de Indenização por danos morais e materiais. Roubo no estacionamento da
agência bancária. Insurgência contra sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos, concedendo apenas
indenização por danos materiais em valor equivalente à quantia sacada. Reforma parcial. 1. Ilegitimidade passiva do
banco réu. Impossibilidade. Responsabilidade solidária entre o estacionamento e a agência bancária. Precedentes do
STJ. Preliminar afastada. 2. Responsabilidade civil. Roubo que não configura hipótese excludente de
responsabilidade. Previsibilidade do evento conhecido como "saidinha de banco". Incidência da teoria do risco da
atividade. Deveres de cautela não observados. Responsabilidade objetiva, nos termos do art. 14 do CDC. Pedido do
banco apelante não acolhido. 4. Danos materiais. Condenação do banco a pagar quantia equivalente à sacada.
Manutenção. Comprovado o fato e o dano pelo boletim de ocorrência e pelo comprovante de saque. Pedido do banco
apelante não acolhido. 5. Danos morais. Ocorrência. Temor significativo da cliente ao ser abordada por assaltante
armado. Arbitramento do valor deve observar a proporcionalidade, razoabilidade, o grau de culpa, a extensão do dano
e a condição financeira das partes. Fixação em R$ 8.000,00, com juros e correção monetária nos termos das Súmulas
do STJ 54 e 362. Pedido da autora acolhido. 6. Sucumbência. Manutenção. Autora não decaiu em nenhum de seus
pedidos. Ônus a ser suportado integralmente pelo banco réu. Recurso do demandado não provido e recurso da autora
provido."(TJSP - Apelação nº 0031149-46.2012.8.26.0114, Relator o Desembargador CARLOS ALBERTO DE
SALLES, Acórdão publicado em 28/01/2015 - Destaquei).

Com essas considerações, renovando vênia à Eminente Desembargadora Relatora e divergindo, em parte, do r.
Voto proferido por S. Exa., NEGO PROVIMENTO AO RECURSO para manter, integralmente, a r. Sentença.
Imponho à Apelante as custas recursais e, nos termos do art. 85, §11, do Código de Processo Civil, majoro os
honorários advocatícios de sucumbência para 12% (doze por cento) sobre o valor atualizado da causa.

DES. LUCIANO PINTO


Acompanho a divergência, estabelecida pelo voto do 1º vogal, cujas razões adoto.

DES. EVANDRO LOPES DA COSTA TEIXEIRA


Pedindo vênia à eminente Relatora, acompanho a divergência inaugurada pelo não menos eminente Primeiro
Vogal.

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

DES. AMAURI PINTO FERREIRA


Peço vênia a e. Relatora em seu judicioso voto, para acompanhar a divergência inaugurada pelo e. 1º vogal.

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO, VENCIDA, EM PARTE, A RELATORA."

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