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Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo

PJe - Processo Judicial Eletrônico

22/06/2023

Número: 5004672-28.2023.8.08.0012
Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Órgão julgador: Cariacica - Comarca da Capital - 2º Juizado Especial Cível
Última distribuição : 03/04/2023
Valor da causa: R$ 44.000,00
Assuntos: Indenização por Dano Moral, Indenização por Dano Material, Indenização por Dano Moral
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MARCIA ADRIANA PEREIRA PIUMBINI DAVILA DARCY JOSE FASOLO DAVILA (ADVOGADO)
(REQUERENTE)
DARCY JOSE FASOLO DAVILA (REQUERENTE) DARCY JOSE FASOLO DAVILA (ADVOGADO)
HOTEL URBANO VIAGENS E TURISMO S. A. (REQUERIDO) OTAVIO SIMOES BRISSANT (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
26822 21/06/2023 14:34 Sentença Sentença
555
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PODER JUDICIÁRIO
Juízo de Cariacica - Comarca da Capital - 2º Juizado Especial Cível
Rua São João Batista, 1000, FÓRUM DR. AMÉRICO RIBEIRO COELHO, Alto Laje, CARIACICA - ES - CEP: 29151-230
Telefone:(27) 32465687
PROCESSO Nº 5004672-28.2023.8.08.0012
PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436)
REQUERENTE: MARCIA ADRIANA PEREIRA PIUMBINI DAVILA, DARCY JOSE FASOLO
DAVILA

REQUERIDO: HOTEL URBANO VIAGENS E TURISMO S. A.

Advogado do(a) REQUERENTE: DARCY JOSE FASOLO DAVILA - ES9603


Advogado do(a) REQUERENTE: DARCY JOSE FASOLO DAVILA - ES9603

Advogado do(a) REQUERIDO: OTAVIO SIMOES BRISSANT - RJ146066

PROJETO DE SENTENÇAAutos inspecionados.


Trata-se de ação de obrigação de fazer c/c indenizatória ajuizada por Marcia Adriana Pereira Piumbini
Davila e Darcy José Fasolo Davila em face de Hurb Technologies S.A.
Dispensado o relatório nos termos do art. 38 da Lei nº 9.099/95, passo a decidir.
À partida, rejeito a preliminar de ausência de interesse processual, pois, a despeito da solicitação de
obrigação de fazer, verifico que a pretensão autoral é, também, de reparação indenizatória, evidenciando a
utilidade e necessidade do provimento jurisdicional para a resolução da lide. Passo ao exame do mérito.
Afirmam as autoras, em síntese, que contrataram com a ré um pacote de viagem com destino a Lisboa e
Porto, sob o voucher nº 8442433, no qual inclui o fornecimento do serviço de passagem aérea de ida e
volta com saída de São Paulo para Lisboa ou Porto, pacote de 04 diárias em Lisboa e Porto, com quarto
duplo ou triplo, no valor de R$ 4.102,80. Com a aprovação do pagamento, as autoras realizaram o
agendamento do formulário, obedecendo as regras do pacote de viagem, e informaram três opções de
datas de ida, quais sejam, 25/05/2023, 13/06/2023 e 21/11/2023, o que seria confirmado pela ré em até 45
dias antes da data mais próxima sugerida.
Ocorre que, com a proximidade da viagem, e sem qualquer informação sobre os voos, as autoras
entraram em contato com a ré e receberam como justificativa a falta de disponibilidade promocional para o
período sugerido. Diante disso, busca o cumprimento da obrigação de fazer e indenização por danos
morais
A ré, por sua vez, defende que não houve qualquer falha na prestação do serviço, por se tratar de pacote
com data flexível, o que depende de disponibilidade, de modo que, os pedidos seriam improcedentes.
Pois bem.
A relação jurídica é de natureza consumerista, devendo ser analisada sob a ótica da Lei nº 8.078/90
(Código de Defesa do Consumidor), pois as autoras e a ré se apresentam como consumidora final (art. 2º)
e fornecedora de serviços (art. 3º), respectivamente.
Nesse passo, tenho que cabia à ré comprovar o cumprimento das obrigações assumidas, relacionadas
aos serviços englobados pelo pacote turístico contratado, ou, eventualmente, algum fortuito externo que
impedisse o adimplemento contratual, na forma do art. 373, inc. II, do CPC, sob pena das autoras poderem
exigir o cumprimento forçado, nos termos do art. 35, inc. I, do CDC.
No caso dos autos, o cumprimento da obrigação assumida pela ré se deu somente em cumprimento à
decisão que antecipou os efeitos da tutela (id. 23567953).
A parte ré permitiu que as autoras sugerissem três datas de seu interesse para efetuar a viagem, mas
condicionou a prestação do serviço à disponibilidade de tarifário promocional. É certo, por um lado, que a
ré permitiu que a parte autora “sugerisse” três datas para a viagem, conforme se observa de id.
23558404.
Por outro lado, tal cláusula contratual, embora clara em seu teor, submete o consumidor a um fator de
indeterminação. Com efeito, como a ré, em verdade, apenas fornece um período no qual a viagem será
marcada, deixa seus consumidores totalmente submetidos ao seu arbítrio, sem qualquer possibilidade

Assinado eletronicamente por: ADEMAR JOAO BERMOND - 21/06/2023 14:34:42 Num. 26822555 - Pág. 1
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Número do documento: 23062114344181000000025722884
razoável de previsibilidade.
Além disso, ao subordinar sua adimplência a fatores aparentemente contingentes, a ré procura não se
responsabilizar pela disponibilidade de tarifário promocional, mas sim a terceiros não partícipes da
negociação. A propósito, os problemas causados aos fornecedores com as datas flexíveis de viagem
fizeram com que a SENACON suspendesse temporariamente a venda de novos pacotes com datas
flexíveis da empresa ré (https://www.migalhas.com.br/quentes/387403/senacon-suspende-venda-de-
pacotes-de-viagens-flexiveis-da-hurb-no-pais).
Descabe, no entanto, o pedido de indenização por danos morais. As autoras fundamentam o pedido
indenizatório, basicamente, na alegação de descumprimento contratual e na angústia vivenciada em razão
da incerteza no cumprimento da oferta dentro das datas propostas quando da aquisição do pacote.
Malgrado a conduta da ré deixe a viagem de seus consumidores ao seu arbítrio, os autores tinham
conhecimento que o modelo de negócio entabulado entre as partes é vendido abaixo do preço usual
justamente em razão da pactuação de datas flexíveis, sendo esta indefinição das datas compensada pelo
preço atrativo dos pacotes.
A rigor, do ponto de vista puramente contratual, sem qualquer juízo de valor feito através da ótica
consumerista, nem sequer há que se falar em descumprimento contratual, haja vista que datas são
somente sugeridas pelos consumidores e a viagem poderia ser remarcada até julho de 2023. A propósito:
PRESTAÇÃO DESERVIÇOS TURISMO - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C.INDENIZATÓRIA
PRETENSÃO DE COMPELIR A RÉ A REALIZARRESERVAS NAS DATAS PRETENDIDAS PELOS
AUTORES IMPERTINÊNCIAARGUIÇÃO DA PARTE AUTORA NO SENTIDO DE QUE HOUVE FALHA
NAPRESTAÇÃO DO SERVIÇOS INCONSISTÊNCIA - AUTORES QUECONTRATARAM PACOTE DE
VIAGEM COM DATAS FLEXÍVEIS, MEDIANTEPAGAMENTO DE PREÇO INFERIOR, ESTANDO
SUJEITOS ÀCONFIRMAÇÃO DE DISPONIBILIDADE DAS RESERVAS PELA REQUERIDA- AUSÊNCIA
DE ATO ILÍCITO - DANOS MORAIS AFASTADOSSENTENÇA REFORMADA - RECURSO DA
REQUERIDA PROVIDO. Considerando-se que o contrato previa a existência de regras
diferenciadas, ante à modalidade contratada (flexível), de modo que, ao adquirir pacote de viagem
promocional (com data aberta), a parte autora assumiu o risco de se adaptar a possíveis
modificações, inclusive, a data de ida, e que dos elementos existentes não se conclui que a
empresa requerida agiu em afronta aos termos do contrato, não se vislumbrando, neste contexto,
falha na prestação do serviço ou ato ilícito que tenha causado danos aos autores, inexistindo o
dever indenizatório, de rigor o reconhecimento da improcedência da demanda. (TJSP; Apelação Cível
1102790-70.2022.8.26.0100; Relator (a): Paulo Ayrosa; Órgão Julgador: 31ª Câmara de Direito Privado;
Foro Central Cível - 18ª Vara Cível; Data do Julgamento: 18/04/2023; Data de Registro: 18/04/2023)
Reitere-se, portanto, que a angústia alegadamente vivenciada no período que antecedeu a viagem não é
passível de indenização, já que, a rigor, a parte autora tinha conhecimento da possibilidade de
remarcação/variação das datas de viagem.
Ante o exposto, confirmando a tutela deferida na decisão de id. 23567953, julgo parcialmente
procedentes os pedidos iniciais para determinar que a ré cumpra integralmente o contrato celebrado, com
prestação do serviço de viagem nos termos em que estipulados.
Com isso, resolvo meritoriamente o processo, na forma do art. 487, inc. I, do CPC.
Sem custas e honorários advocatícios (art. 55 da Lei nº 9.099/95).
Publique-se. Registre-se. Intime-se.
Transitada em julgado, arquive-se com as cautelas de estilo.
Submeto à apreciação do projeto de sentença ao MM. Juiz de Direito para homologação, nos termos do
art. 40 da Lei nº 9.099/95.
YASMIN PIMENTA DA COSTA
Juíza Leiga

SENTENÇAVistos e etc.
O projeto de sentença elaborado pelo Juiz Leigo atende aos requisitos formais e seus fundamentos estão
em conformidade com a conclusão. Posto isso, HOMOLOGO O PROJETO DE SENTENÇA, nos termos
do art. 40 da Lei nº 9.099/95.
Cariacica/ES, na data de inserção no sistema.

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Número do documento: 23062114344181000000025722884
ADEMAR JOÃO BERMONDJuiz de Direitoassinado eletronicamente

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