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ACÓRDÃO Nº 1374/2006- TCU - PLENÁRIO

1. Processo: TC – 009.204/2003-6
2. Grupo II - Classe I – Pedido de reexame
3. Entidade: Petróleo Brasileiro S/A
4. Embargante: Petróleo Brasileiro S/A
5. Relator: Ministro Benjamin Zymler
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro Benjamin Zymler
6. Representante do Ministério Público: não atuou
7. Unidade Técnica: não atuou
8. Advogados constituídos nos autos: Eduardo Valiante de Rezende (OAB/RJ 114.485) e Rodrigo Mello
da Motta Lima (OAB/RJ 122.090)

9. Acórdão:

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de embargos de declaração em pedido de reexame,


ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, com fulcro no
art. 34 da Lei n.º 8.443/1992 em:
9.1. conhecer dos presentes embargos de declaração opostos contra o Acórdão n.º 854/2006-
Plenário para, no mérito, acolhê-los parcialmente;
9.2. conceder provimento parcial ao pedido de reexame interposto contra o Acórdão n.º 1.602/2004-
Plenário para alterar a redação do subitem 9.1.2., que passará a ser a seguinte:
“9.1.2. exima-se de incluir, nos próximos editais de licitação para contratação de serviços de
duração continuada, cláusula de reajuste, em observância ao disposto no art. 9º do Decreto n.º
2.271/1997, c/c Resolução n.º 10 do Conselho de Coordenação das Empresas Estatais, de 8.10.1996, e
Instrução Normativa n.º 18/1997 do Ministério da Administração e Reforma do Estado, fazendo constar
do instrumento convocatório expressa previsão de realização de repactuação com base nas variações
dos custos do serviço a ser contratado, observado o prazo mínimo de um ano, a contar da proposta ou do
orçamento, conforme disposto no edital;”
9.3. dar ciência desta deliberação ao recorrente.

10. Ata nº 32/2006 - Plenário


11. Data da Sessão: 9/8/2006 - Ordinária
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-1374-32/06-P
13. Especificação do quórum:
13.1. Ministros presentes: Adylson Motta (Presidente), Marcos Vinicios Vilaça, Valmir Campelo, Walton
Alencar Rodrigues, Guilherme Palmeira, Ubiratan Aguiar, Benjamin Zymler (Relator) e Augusto Nardes.
13.2. Auditor convocado: Augusto Sherman Cavalcanti.
13.3. Auditor presente: Marcos Bemquerer Costa.

ADYLSON MOTTA BENJAMIN ZYMLER


Presidente Relator
Fui presente:

LUCAS ROCHA FURTADO


Procurador-Geral
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC-009.204/2003-6

GRUPO II - CLASSE I – Plenário


TC – 009.204/2003-6
Natureza: Embargos de Declaração
Entidade: Petróleo Brasileiro S/A
Embargante: Petróleo Brasileiro S/A
Advogados constituídos nos autos: Eduardo Valiante de
Rezende (OAB/RJ 114.485) e Rodrigo Mello da Motta Lima
(OAB/RJ 122.090)
Sumário: LICITAÇÕES E CONTRATOS.
AUDITORIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
EM PEDIDO DE REEXAME CONTRA
ACÓRDÃO QUE DETERMINOU A
OBSERVÂNCIA DE NORMAS LEGAIS
RELATIVAS À LICITAÇÃO PÚBLICA.
CONHECIMENTO. EFEITOS INFRINGENTES.
PROVIMENTO PARCIAL AO PEDIDO DE
REEXAME.
1. As empresas estatais também devem adotar a
sistemática de repactuação dos contratos de
prestação de serviço de duração continuada, em
detrimento da sistemática de adoção de índices
gerais de preço para reajustamento periódico,
conforme estabelecido na Resolução n.º 10/1996 do
CCE c/c a IN Mare n.º 18/1997.

Trata-se de embargos de declaração opostos pela Petrobrás S/A contra o Acórdão n.º
854/2006 – Plenário. Essa deliberação conheceu de pedido de reexame interposto pela empresa contra os
termos do Acórdão n.º 1.602/2004-Plenário, mas manteve inalterado este acórdão.
Nesta oportunidade, o interessado busca conferir efeitos modificativos à peça recursal para
alterar não só a decisão embargada como também a decisão original.
Dessa forma, o embargante busca a alteração do subitem 9.1.2 do Acórdão n.º 1.602/2004-
Plenário , que estipulou:
“9.1.2. estipule, nos contratos que envolvam contratação intensiva de mão-de-obra, índices
de reajuste que expressem as alterações salariais das categorias pertinentes;”
Em apertada síntese, alega o embargante que o Tribunal não apontou qual índice deveria ser
adotado em lugar do IGP-DI utilizado no contrato. Ressalta, ainda, que os contratos envolvem diversas
categorias de mão-de-obra, com dissídios, convenções e acordos coletivos distintos, inclusive em âmbito
regional. Assim sendo, não haveria um índice de reajuste único geral capaz de ajustar linearmente o
contrato em toda sua propositura e objeto. Segundo o embargante, os índices aplicáveis a cada uma das
categorias carecem de regularidade e certeza de divulgação, o que os tornaria inaptos para utilização em
contrato.
Alega o embargante, ainda, que a determinação questionada impede a empresa de negociar
índices que lhe sejam mais favoráveis e que os índices apurados nas relações trabalhistas “não possuem
como cerne o reflexo da variação monetária da moeda contratual, podendo posicionar-se acima ou
abaixo da inflação”.
É o relatório.

VOTO
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC-009.204/2003-6

Recebo os presentes presentes embargos, uma vez atendidos os requisitos do art. 34 da Lei n.º
8.443/1992.
No mérito, assiste parcialmente razão ao recorrente. De fato, as decisões proferidas, seja o
Acórdão n.º 1.602/2004-Plenário ou o Acórdão n.º 854/2006-Plenário, proferido em sede de reexame e
que manteve inalterado o primeiro acórdão citado, não apontaram qual índice deveria ser utilizado pela
empresa.
Essa indicação não seria necessária, caso houvesse um índice de ampla utilização que
atendesse às peculiaridades do contrato.
O embargante logrou demonstrar que não existe índice setorial que atenda ao disposto no
inciso XI do art. 40 da Lei n.º 8.666/1993. Essa norma estipula que:
“Art. 40. O edital conterá no preâmbulo o número de ordem em série anual, o nome da
repartição interessada e de seu setor, a modalidade, o regime de execução e o tipo da licitação, a
menção de que será regida por esta Lei, o local, dia e hora para recebimento da documentação e
proposta, bem como para início da abertura dos envelopes, e indicará, obrigatoriamente, o seguinte:
......................................................................................................................................................
XI - critério de reajuste, que deverá retratar a variação efetiva do custo de produção,
admitida a adoção de índices específicos ou setoriais, desde a data prevista para apresentação da
proposta, ou do orçamento a que essa proposta se referir, até a data do adimplemento de cada parcela;”
(Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
De outro lado, a Lei n.º 10.192/2001, que instituiu o Plano Real veda apenas a inclusão de
cláusula de reajuste ou correção monetária nos contratos com duração inferior a um ano, conforme se
depreende das disposições a seguir transcritas:
“Art. 2o É admitida estipulação de correção monetária ou de reajuste por índices de preços
gerais, setoriais ou que reflitam a variação dos custos de produção ou dos insumos utilizados nos
contratos de prazo de duração igual ou superior a um ano.
§ 1o É nula de pleno direito qualquer estipulação de reajuste ou correção monetária de
periodicidade inferior a um ano.
§ 2o Em caso de revisão contratual, o termo inicial do período de correção monetária ou
reajuste, ou de nova revisão, será a data em que a anterior revisão tiver ocorrido.
§ 3o Ressalvado o disposto no § 7o do art. 28 da Lei no 9.069, de 29 de junho de 1995, e no
parágrafo seguinte, são nulos de pleno direito quaisquer expedientes que, na apuração do índice de
reajuste, produzam efeitos financeiros equivalentes aos de reajuste de periodicidade inferior à anual.
§ 4o Nos contratos de prazo de duração igual ou superior a três anos, cujo objeto seja a
produção de bens para entrega futura ou a aquisição de bens ou direitos a eles relativos, as partes
poderão pactuar a atualização das obrigações, a cada período de um ano, contado a partir da
contratação, e no seu vencimento final, considerada a periodicidade de pagamento das prestações, e
abatidos os pagamentos, atualizados da mesma forma, efetuados no período.
§ 5o O disposto no parágrafo anterior aplica-se aos contratos celebrados a partir de 28 de
outubro de 1995 até 11 de outubro de 1997.(Vide Medida Provisória nº 2.223, de 4.9.2001)
§ 6o O prazo a que alude o parágrafo anterior poderá ser prorrogado mediante ato do Poder
Executivo.(Vide Medida Provisória nº 2.223, de 4.9.2001)
Art. 3o Os contratos em que seja parte órgão ou entidade da Administração Pública direta ou
indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, serão reajustados ou corrigidos
monetariamente de acordo com as disposições desta Lei, e, no que com ela não conflitarem, da Lei no
8.666, de 21 de junho de 1993.
§ 1o A periodicidade anual nos contratos de que trata o caput deste artigo será contada a
partir da data limite para apresentação da proposta ou do orçamento a que essa se referir.
§ 2o O Poder Executivo regulamentará o disposto neste artigo.”
A regulamentação do art. 3º da Lei n.º 10.192/2001 (lei resultante da conversão da MP 2.074-
72 e medidas provisórias anteriores), foi feito por meio do Decreto n.º 2.271/1997, que trata da
terceirização, pela Administração Pública, de atividades acessórias. No que tange especificamente ao
reajustamento dos contrários, o legislador infra-legal optou pela introdução da sistemática de
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repactuações periódicas dos contratos de serviço de duração continuada (art. 5º), em detrimento da
adoção prévia de índices de preços gerais, numa tentativa evidente de desindexar parte dos contratos
celebrados pela Administração da inflação passada.
A diferença entre repactuação e reajuste é que este é automático e deve ser realizado
periodicamente, mediante a simples aplicação de um índice de preço, que deve, dentro do possível,
refletir os custos setoriais. Naquela, embora haja periodicidade anual, não há automatismo, pois é
necessária a demonstração da variação dos custos do serviço.
Todavia, o Decreto n.º 2.271/1997 não afeta os contratos celebrados pelas empresas estatais,
já que o decreto em comento aplica-se exclusivamente à Administração pública direta, autárquica e
fundacional. Por essa razão, tanto o Acórdão n.º 1.602/2004 como o Acórdão n.º 854/2006, ambos do
Pleno, trataram dos critérios para adoção de índices de reajuste contratual, vedados para o restante da
Administração.
De mencionar, porém, que o art. 9º dessa norma estipula:
“Art . 9º As contratações visando à prestação de serviços, efetuadas por empresas públicas,
sociedades de economia mista e demais empresas controladas direta ou indiretamente pela União, serão
disciplinadas por resoluções do Conselho de Coordenação das Empresas Estatais - CCE.”
Ocorre que, antes mesmo da edição do Decreto n.º 2.271/1997, o Presidente do Conselho de
Coordenação das Empresas Estatais (CCE) já havia expedido a Resolução n.º 10, de 8.10.1996, que
também vedava a adoção de índices de reajustes - ou seja, de cláusulas de indexação - para os contratos
de prestação de serviços continuados, nos seguintes termos:
“O PRESIDENTE DO CONSELHO DE COORDENAÇÃO E CONTROLE DAS EMPRESAS
ESTATAIS - CCE, em reunião realizada em 08 de outubro de 1996 e considerando o disposto no art.30
da Medida Provisória n°.1499-31, de 02 de outubro de 1996,
RESOLVE:
Art. 1º Vedar a inclusão, nos contratos de prestação de serviços, de cláusulas de indexação a
qualquer titulo.
Art. 2º Estabelecer que, nos processos de licitações, bem assim nos atos de dispensa e de
inegibilidade, para prestação de serviços, as propostas deverão ser apresentadas em moeda corrente
nacional.
Art. 3º Estabelecer que, nos casos de contratos com vigência superior a um ano ou quando
haja cláusula de prorrogação, a repactuação de preços deverá ter, como parâmetros básicos, a
qualidade e os preços vigentes no mercado para prestação desses serviços e, quando couber, as
orientações expedidas pelo Ministério da Administração e Reforma do Estado.
Parágrafo único. A renovação dos contratos em vigor, na data de publicação desta
Resolução, será efetuada nos termos determinados pela presente Resolução.
Por conseguinte, às estatais também é vedada a estipulação de cláusula de reajuste nos
contratos de prestação de serviço de duração continuada. Desse modo, devem as empresas repactuar os
valores contratados se houver variação nos custos dos serviços. Vale dizer que o contrato não deve
definir, a priori, nenhuma forma de reajuste ou de repactuação. As alterações dos valores contratados
serão objeto de negociação entre as partes. Para tanto, devem ser considerados os diversos itens que
afetam a composição dos custos dos serviços prestados. Uma vez que os contratos dessa natureza são
intensivos em mão-de-obra, as variações dos custos devem refletir, necessariamente, os aumentos
concedidos às diversas categorias de trabalhadores envolvidos.
Quanto à periodicidade da revisão contratual, de registrar que o art. 3º da resolução transcrita
remete às orientações emanadas pelo antigo Ministério da Administração e Reforma do Estado. Este, por
sua vez, publicou a IN n.º 18/1997, que assim dispôs:
“O MINISTRO DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO FEDERAL E REFORMA DO ESTADO,
no uso de suas atribuições e considerando o disposto no Decreto nº 2.271, de 07 de julho de 1997,
resolve:
Expedir a presente Instrução Normativa (IN), visando disciplinar a contratação de serviços a
serem executados de forma indireta e contínua, celebrados por órgãos ou entidades integrantes do
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Sistema de Serviços Gerais - SISG.


.......................................................................................................................................................
7. DA REPACTUAÇÃO DOS CONTRATOS
7.1. Será permitida a repactuação do contrato, desde que seja observado o interregno
mínimo de um ano, a contar da data da proposta, ou da data do orçamento a que a proposta se referir,
ou da data da última repactuação;
7.2. Será adotada como data do orçamento a que a proposta se referir, a data do acordo,
convenção, dissídio coletivo de trabalho ou equivalente, que estipular o salário vigente à época da
apresentação da proposta, vedada a inclusão, por ocasião da repactuação, de antecipações e de
benefícios não previstos originariamente.
7.3. A repactuação será precedida de demonstração analítica do aumento dos custos, de
acordo com a Planilha de Custos e Formação de Preços referida no subitem 1.1.5.”

Assim sendo, deve a Petrobrás observar o prazo mínimo de um ano a contar, inicialmente, da
proposta ou da data do orçamento a que a proposta se referir. Para tanto, deve haver prévia previsão no
instrumento convocatório, de modo que o licitante formule sua proposta com base em parâmetros pré-
definidos. De lembrar que a repactuação não se confunde com o reequilíbrio econômico-financeiro, nos
termos da alínea “d” do inciso II do art. 65 da Lei n.º 8.666/1993 (fato imprevisível ou previsível, mas de
conseqüências incalculáveis, fato do príncipe, caso fortuito ou força maior). Esse tema foi exaustivamente
abordado no voto condutor do Acórdão n.º 1.563/2004, relatado pelo eminente Ministro-Substituto
Augusto Sherman Cavalcanti, razão pela qual dispensa exame mais profundo.
Tal orientação, contudo, não deve alterar os contratos já em vigor, sob pena de violar o
princípio da segurança jurídica. Além disso, não há nada que indique que a adoção do IGP-DI como
critério de reajuste esteja onerando excessivamente a estatal. Contudo, os próximos editais de licitação
devem ser elaborados sob o pálio da Resolução n.º 10/1996 do CCE e da IN n.º 18/1997 do Mare, bem
assim do Acórdão n.º 1.563/2004.
Registro que os Acórdãos do Pleno de n.º 1.602/2004 e 854/2006 não consideraram, em seus
fundamentos, a existência da Resolução n.º 10/1996 do CCE, razão pela qual cuidou-se das cláusulas de
reajuste, tal como previsto na Lei n.º 8.666/1993, e não da repactuação, prevista na norma infra-legal.
Dessarte, concedo efeitos infringentes aos presentes embargos, para alterar o Acórdão n.º
854/2006-Plenário, de molde a dar provimento parcial ao pedido de reexame interposto contra o Acórdão
n.º 1.602/2004 e alterar a redação do subitem 9.1.2 deste último Acórdão.
Ante o exposto, VOTO por que o Tribunal adote o Acórdão que ora submeto à apreciação
deste Plenário.

TCU, Sala das Sessões, em 9 de agosto de 2006.

BENJAMIN ZYMLER
Relator

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