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960/2013-4
RELATÓRIO
“INTRODUÇÃO
1. Cuidam os autos de consulta formulada pelo Ministro de Estado das Relações
Exteriores (MRE) acerca da possibilidade de dispensa de parecer jurídico para contratações
administrativas de valor inferior a US$ 150.000,00 a serem efetuadas pelas repartições brasileiras
no exterior.
CONSULTA
2. O Tribunal de Contas da União (TCU), no Acórdão 574/2012-TCU-Plenário,
determinou ao MRE efetuar alterações no Guia de Administração dos Postos (GAP), inclusive no
que se refere a licitações e contratos.
3. O ministério informa que efetuou as devidas alterações e pretende incluir cláusula de
que, no exterior, o parecer jurídico seja dispensável no caso de contratações administrativas de valor
inferior a US$ 150.000,00.
4. A inclusão desse dispositivo foi submetida, junto com as demais alterações
propostas, à Consultoria Jurídica (Conjur) do órgão pelo Secretário Geral do MRE, por intermédio
de despacho do Memo CMQR/07, datado de 6 de março de 2013, que exarou o Parecer
Conjur/CGDA/364/2013, de 8 agosto de 2013.
5. A Conjur/MRE se pronunciou no mencionado parecer, no sentido de não haver
amparo legal para a dispensa de análise jurídica, no qual se manifestou (peça 1, p. 4-6):
Chama-se atenção ao disposto no subitem 12.4.4 do GAP 2011. Tal dispositivo tem
também o condão de afastar a análise da CONJUR para contratos no valor inferior a US$
150.000,00 (cento e cinquenta mil dólares), o que contraria flagrantemente o disposto no art. 38, VI
e parágrafo único, da Lei 8.666/93, bem como o art. 11, VI, da Lei Complementar 73/1993. É fato
nos trâmites burocráticos deste Ministério que somente o que é submetido a SERE é remetido a
análise da CONJUR.
6. Entretanto, dada a relevância da matéria e o interesse da administração na limitação
do parecer de advogados, recomendou que o assunto fosse submetido a este Tribunal.
7. Por meio da Nota Técnica 1/CLI/2013, de 29 de agosto de 2013, a Coordenação
Geral de Licitações do MRE efetuou a análise da matéria, concluindo pela pertinência da proposta
com base nos argumentos a seguir apresentados (peça 1, p. 6-9):
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EXAME DE ADMISSIBILIDADE
8. A presente consulta deve ser conhecida, vez que formulada por autoridade com
legitimidade e versa acerca da aplicabilidade, em tese, de dispositivos legais e regulamentares
concernentes à matéria de competência deste Tribunal, de modo que se encontram satisfeitos os
requisitos de admissibilidade previstos no art. 264, inc. VI, §§ 1º e 2º, e art. 265 do Regimento
Interno.
EXAME TÉCNICO
9. O inc. VI e parágrafo único do art. 38 da Lei 8.666/93 dispõem sobre a exigência de
parecer jurídico emitido sobre os processos licitatórios e no exame prévio e aprovação pela
assessoria jurídica das minutas de editais de licitação e de contratos.
Art. 38. O procedimento da licitação será iniciado com a abertura de processo
administrativo, devidamente autuado, protocolado e numerado, contendo a autorização respectiva, a
indicação sucinta de seu objeto e do recurso próprio para a despesa, e ao qual serão juntados
oportunamente:
...
VI – pareceres técnicos ou jurídicos emitidos sobre a licitação, dispensa ou inexigibilidade;
...
Parágrafo único. As minutas de editais de licitação, bem como as dos contratos, acordos,
convênios ou ajustes devem ser previamente examinadas e aprovadas por assessoria jurídica da
Administração.
10. Dessa forma, a consulta resulta na análise pelo TCU da possibilidade de
harmonização, em contratos efetuados por postos no exterior, do disposto no art. 38 com os termos
do art. 123, ambos da Lei 8.666/93, acerca da exigência de parecer jurídico.
11. O disposto no art. 123 referido possibilitou que o TCU determinasse ao ministério a
sua regulamentação, levando em contas as peculiaridades dos processos de licitação e contratação
realizados por seus postos no exterior e obedecendo aos princípios gerais que regem esses
processos.
12. Assim, o TCU corroborou o entendimento que essas licitações e contratações não
necessitavam ficar adstritas às disposições da Lei 8.666/93, podendo ser adaptadas à realidade dos
procedimentos e legislações dos países onde estão sediados os postos.
13. Marçal Justen Filho, ao comentar o referido art. 123 da Lei 8.666/91 aduziu:
Seria desaconselhável, senão inviável, sujeitar as repartições sediadas no exterior ao
cumprimento estrito da Lei nº 8.666/93. Deverão adotar soluções compatíveis com as
peculiaridades locais. No entanto, os princípios fundamentais do direito das licitações deverão ser
atendidos. Ainda, quando possa ser questionável que, em tais casos, a licitação vise atender o
princípio da isonomia, elevar-se-á acima de tudo o princípio da seleção da melhor contratação, a ser
firmada com particular idôneo (in Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, 12ª
edição, 2008, Editora Dialética, São Paulo, p. 875).
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Do que ressai do teor do referido documento, tem-se que a única modalidade de licitação
adotada por essas comissões é o convite, utilizado quando as compras de bens e contratações de
serviços no exterior excederem os valores de US$ 100,000.00 (cem mil dólares) para as obtenções
operacionais e de US$ 10,000.00 (dez mil dólares) para as obtenções de caráter administrativo.
serviços já definidos no GAP, conforme pode ser verificado na tabela constante no item 24 desta
instrução.
41. Em razão disso, também se entende como razoável o valor proposto para limite para
dispensa de análise jurídica nos processos de contração a serem efetuados pelos postos no exterior.
CONCLUSÃO
42. Diante do exposto, conclui-se que esta consulta deve ser conhecida por atender aos
requisitos de admissibilidade previstos no art. 264, inc. VI, §§ 1º e 2º, e art. 265 do Regimento
Interno.
43. Conclui-se, também, não haver óbice legal para que o MRE estabeleça o valor limite
de US$ 150,000.00 para dispensa da análise e aprovação das minutas de editais de licitação e
contratos por assessoria jurídica da administração e por contratados locais, ressalvados os casos
referentes à locação de imóveis.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
45. Ante todo o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:
a) conhecer da presente consulta, vez que se encontram satisfeitos os requisitos de
admissibilidade previstos no art. 264, inc. VI, §§ 1º e 2º, e art. 265 do Regimento Interno;
b) nos termos do art. 1º, inc. XVII, da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992, responder ao
consulente que:
b.1) de acordo com o art. 123 da Lei 8.666/93 e com os princípios da celeridade, da
racionalização processual e da eficiência, é possível ao Ministério das Relações Exteriores, em
razão das suas peculiaridades institucionais, a dispensa do emissão dos pareceres jurídicas previstos
no inc. VI do art. 38 da Lei 8.666/93 nas licitações e contratações de bens e serviços efetuadas pelos
postos no exterior cujo valor seja inferior a US$ 150,000.00, excetuados os contratos de locação de
imóveis; e
c) encaminhar cópia desta instrução ao Consulente; e
d) arquivar o presente.”
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VOTO
Em exame consulta formulada pelo Ministro de Estado, interino, das Relações Exteriores,
Dr. Eduardo Santos, acerca da viabilidade jurídica de incluir, na nova versão do Guia de Administração de
Postos, regra que dispense a exigência de parecer jurídico nas contratações de valor inferior a US$
150.000,00, exceto as que envolvem locação de imóveis.
2. A consulta merece ser conhecida, uma vez preenchidos os requisitos de admissibilidade
pertinentes à espécie (arts. 264 e 265 do Regimento Interno/TCU).
3. Quanto ao mérito, registro, desde já, minha anuência à análise feita pela unidade técnica,
que abordou com propriedade os diversos aspectos relacionados à matéria tratada na consulta.
4. O art. 123 da Lei 8.666/93 estabelece que nas licitações e contratações administrativas, as
unidades sediadas no exterior “observarão as peculiaridades locais e os princípios básicos desta Lei, na
forma de regulamentação específica”.
5. Fica claro que não é exigível das unidades situadas no exterior que cumpram a
integralidade da Lei 8.666/93. E nem esta exigência seria possível, até em função dos arts. 8º e 9º da Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (antes chamada de Lei de Introdução ao Código Civil),
segundo os quais os bens e as obrigações são regulados pela lei dos países em que estiverem situados.
Esse aspecto já foi reconhecido pelo Tribunal nos Acórdãos 1.126/2009 e 2.177/2011, ambos do Plenário.
No voto condutor do primeiro, inclusive, o Relator do processo, Ex mo Ministro Benjamin Zymler,
assinalou que não é obrigatória a adoção das modalidades licitatórias e dos respectivos limites,
estabelecidos nos arts. 22 a 24 da Lei 8.666/93.
6. Feitas essas considerações, a análise que deve ser feita é se a regra pretendida pelo MRE,
de somente exigir o parecer jurídico para as contratações acima de US$ 150.000,00 e para as locações de
imóveis, fere algum princípio da Lei 8.666/93 e/ou carece de razoabilidade. Entendo que diversos dos
argumentos trazidos na Nota Técnica 01/CLI/2013 (anexa à consulta) e na instrução da
SecexDesenvolvimento evidenciam que não há colisão com qualquer princípio da Lei de Licitações e que
a regra até está em consonância com alguns princípios que devem reger a atuação da administração
pública, como os da eficiência e da economicidade.
7. Dentro do país, até em função do princípio da supremacia do interesse público, a
administração tem uma série de “poderes” no âmbito de suas contratações, que não estão presentes nas
contratações feitas no exterior. Há ainda que se considerar a detalhada e extensa normatização relacionada
às contratações públicas no Brasil. Assim, a regra estabelecida no art. 38, inciso VI, da Lei 8.666/93,
relativa à exigência de parecer jurídico nas licitações de um forma geral, é muito mais consentânea com a
realidade das contratações feitas no Brasil pela administração pública.
8. Há que se considerar, também, os custos e as dificuldades operacionais para concretização
da regra do art. 38, parágrafo único, para todas as contratações no exterior. Como elas devem seguir as
legislações próprias de cada país, seria quase que inviável, sob o ponto de vista técnico, que o exame das
minutas fosse feita centralizadamente pela Consultoria Jurídica do MRE no Brasil, além do aumento da
“burocracia” para o exame dos processos, que implica em menor eficiência. A outra possibilidade, de
terceirização dessas análises em cada país, certamente representaria custo elevado.
9. Quanto ao limite fixado para a exigência do parecer jurídico – US$ 150.000,00, apesar de o
MRE não ter apresentado os critérios que nortearam a fixação desse valor, não me parece que ele escape
da razoabilidade. A simples comparação desse valor com os limites fixados na Lei 8.666/93 para as
distintas modalidades de licitação deve ser feita com certa cautela, levando-se em conta que a Lei
8.666/93 é uma legislação nacional, aplicável para as contratações feitas por órgãos federais com
volumosos orçamentos, mas também para municípios pobres, que gerem valores modestos.
10. Conforme mencionado no item 5 deste voto, o Tribunal já reconheceu que as contratações
no exterior não precisam seguir as modalidades licitatórias previstas na Lei 8.666/93 e seus respectivos
limites. A unidade técnica informa que o Guia de Administração de Postos, atualmente vigente, estabelece
como limites para a realização de convites e tomadas de preços, respectivamente, os valores de US$
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75.000,00 e US$ 750.000,00 (para obras e serviços de engenharia) e US$ 40.000,00 e US$ 325.000,00
(para compras e serviços). Assim, o limite de US$ 150.000,00 abarca a faixa de convite e parte da de
tomada de preços, o que parece razoável. Os pareceres jurídicos serão obrigatórios nas contratações de
maior monta, em geral mais complexas. Como apontado pela SecexDesenvolvimento, nas contratações de
valor inferior a US$ 150.000,00, o parecer jurídico simplesmente não será mais obrigatório, mas o gestor
que quiser utilizar desse mecanismo poderá fazê-lo.
11. Assim, concordo com a unidade técnica quanto à resposta afirmativa à consulta realizada,
sugerindo apenas uma pequena modificação de redação no texto proposto. Deverá ser respondido ao
MRE que:
“em consonância com o art. 123 da Lei 8.666/93 e com os princípios da eficiência e
economicidade, considerando as peculiaridades institucionais do MRE, é viável juridicamente o
estabelecimento de regra que dispense a obrigatoriedade da emissão de parecer jurídico nas
licitações e contratações de bens e serviços efetuadas pelos postos no exterior, cujos valores sejam
inferiores a US$ 150.000,00, excetuadas as contratações para locação de imóveis”.
Ante o exposto, voto no sentido de que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto a
este Plenário.
AROLDO CEDRAZ
Relator
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VOTO REVISOR
Solicitei vistas dos presentes autos na Sessão Plenária de 19/03/2014, por entender que a matéria
merecia uma análise mais aprofundada, tendo em vista as disposições normativas traçadas no atual
Estatuto de Licitações e Contratos.
2. Pela importância da matéria, e tendo em vista a possibilidade de abrir precedentes para que
outros órgãos atuem seguindo o posicionamento do TCU consignado na presente consulta, entendo
oportuno deixar consignadas as minhas considerações acerca desta Consulta formulada pelo Ministério
das Relações Exteriores (MRE) e que diz respeito à possibilidade de dispensa da emissão de parecer
jurídico em contratações administrativas de valor inferior a US$ 150.000,00, exceto aquelas que
envolvem locação de imóveis.
3. O Ministro-Relator, ao analisar se a pretensão do MRE acima referenciada feria algum
princípio da Lei nº 8.666/93 e/ou carecia de razoabilidade, tomou por base a disposição contida no artigo
123 da Lei nº 8.666/93, que estabelece que nas licitações e contratações administrativas, as unidades
sediadas no exterior observarão as peculiaridades locais e os princípios básicos da Lei de Licitações, de
conformidade com a regulamentação específica. Reforça que o Tribunal já reconheceu que as
contratações no exterior não precisam seguir as modalidades licitatórias previstas na Lei 8.666/93 e seus
respectivos limites. Leva em consideração, ademais, critérios de eficiência e necessidade de redução da
burocracia nos processos de aquisição realizados no exterior.
4. Diante das ponderadas análises referenciadas no parágrafo supra, desde logo, esclareço
que mesmo com a flexibilização dada pela própria Lei nº 8.666/93 para as contratações no exterior, há
que se ter em conta critérios de razoabilidade para que a dispensa do parecer jurídico possa ser plausível
em contratações ditas de pequeno valor. Esses parâmetros são, justamente, os limites percentuais
estabelecidos pela mesma Lei para aquisições consideradas de pequena monta.
5. A meu ver, a pretensão do MRE passa, necessariamente, pela análise dos seguintes
dispositivos legais, abaixo:
“II - para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do limite previsto na alínea
"a", do inciso II do artigo anterior e para alienações, nos casos previstos nesta Lei, desde que não
se refiram a parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser
realizada de uma só vez; (Redação dada pela Lei nº 9.648, de 1998).”
● Art. 23, inciso II, alínea “a” - estabelece as modalidades de licitações e os limites de valor para o
uso de cada uma delas.
II - para compras e serviços não referidos no inciso anterior: (Redação dada pela Lei nº 9.648, de
1998)
a) convite - até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais); (Redação dada pela Lei nº 9.648, de 1998).”
● Vê-se, então, que para compras e serviços, as contratações de pequeno valor são limitadas a
10% de R$ 80.000,00, o que nos leva ao valor de R$ 8.000,00 reais.
estabelecido no inciso II do art. 24 da Lei nº 8.666/93, para chegar ao limite para compras de pequeno
valor, tem-se que:
● Para convite: pequeno valor seria 10% de US$ 40.000,00, o que equivale a US$ 4.000,00.
7. Ocorre que nas contratações de valor inferior a US$ 150.000,00, em relação às quais o
MRE solicita dispensa de parecer jurídico, esse limite é, em muito, superior ao parâmetro de US$
4.000,00, colocado no parágrafo anterior.
8. Demais disso, ao transformar US$ 150.000,00 para reais, tem-se R$ 348.000,00 [US$
150.000,00 x 2,32 (dólar comercial em 24/03/14)]. Ou seja, segundo os parâmetros brasileiros para
convite e tomada de preços e do próprio Guia de Administração de Postos, o valor em reais está dentro do
limite de tomada de preços e não mais do de Convite, o qual é tomado como base para o estabelecimento
de limite para as compras de pequeno valor.
9. Dessa maneira, no meu sentir, não é razoável considerar que para compras e serviços até
US$ 150.000,00 (R$ 348.000,00), possa ser dispensável a emissão de Parecer Jurídico, pois o valor está
muito acima do valor tomado como referência para pequenas compras no exterior, qual seja: US$
4.000,00.
10. Nesse contexto, é importante ter em conta que a Advocacia Geral da União publicou, no
D.O.U. de 27/02/2014, a Orientação Normativa 46, de 26/02/2014, que estabelece que somente em duas
hipóteses é obrigatória a manifestação jurídica nas contratações de pequeno valor fundadas no artigo 24,
inciso I ou II da Lei nº 8.666/93: quando não houver minuta de contrato padronizada; quando o
administrador houver suscitado dúvida jurídica sobre essa contratação.
11. A Orientação Normativa 46 é clara ao permitir a dispensa de Parecer Jurídico, mas só o faz
nas contratações consideradas de pequeno valor, dentre as quais está aquela que aqui estamos a nos ater,
que é a referente a compras e serviços colocada no inciso II dos artigos 23 e 24 da Lei nº 8.666/93.
12. É importante que se diga que a Orientação Normativa 46 gera efeitos para todos os órgãos
jurídicos enumerados nos artigos 2º e 17 da Lei Complementar 73/1993, dentre os quais estão as
Consultorias Jurídicas dos Ministérios, aí incluída, é claro, a do Ministério das Relações Exteriores.
13. Em sendo assim, com a devida vênia, segundo entendo, não vejo como adequada uma
resposta positiva à consulta formulada, no sentido de que seja possível a dispensa de emissão de parecer
jurídico nas licitações e contratações de bens e serviços efetuadas pelos postos no exterior, cujos valores
sejam inferiores a US$ 150.000,00.
14. Assim me posiciono porque no cenário jurídico pátrio, apesar de haver espaço permissivo
para a adoção de maior flexibilidade nas compras no exterior, para o alcance de maior eficiência e
efetividade nas contratações, não se pode fugir de parâmetros percentuais e de princípios estabelecidos
pela própria Lei de Licitações (art.123) e pela Constituição Federal de 1988 (art. 37, caput), dentre os
quais cito o da igualdade.
15. Não é possível que para compras no exterior use-se o parâmetro de R$ 348.000,00 (US$
150.000,00) para dispensa de parecer jurídico, enquanto que para compras no Brasil esse parâmetro seja
de R$ 8.000,00. Note-se que essa situação não se harmoniza com qualquer critério de proporcionalidade e
razoabilidade, além de ir de encontro ao princípio da igualdade, guardadas as devidas proporções com as
particularidades das aquisições de bens e serviços no exterior.
“9.1 conhecer da presente consulta, uma vez presentes os requisitos de admissibilidade pertinentes;
9.2 responder ao consulente, nos termos do art. 1º, inciso XVII, da Lei 8.433/92, que, em consonância
com o artigo 123 da Lei 8.666/93 e com os princípios da eficiência e economicidade e considerando
as peculiaridades institucionais do MRE, é possível o estabelecimento de regras para a dispensa de
emissão de parecer jurídico nas contratações de bens e serviços efetuadas pelos postos do MRE no
exterior, possibilidade que também poderá ser estendida, em nome dos princípios da igualdade e da
eficiência, às áreas de saúde, educação, ciência e tecnologia e as missões militares no exterior, o que
requer a ação das respectivas pastas ministeriais no sentido de emitir normativos internos que
contemplem a essencialidade de determinadas aquisições de bens e serviços, tais como: equipamentos
de caráter de emergência, materiais médicos e medicamentos, para a área de saúde; material didático
e execução de pequenos serviços de reparo e manutenção em sala de aula, para a área de educação;
insumos para trabalhos de pesquisa científica e funcionamento de laboratórios, para a área de ciência
e tecnologia;
9.3 encaminhar cópia deste Acórdão, bem como do Relatório e Voto que o fundamentam, ao
consulente;
9.4 arquivar os autos.
Ou, alternativamente:
9.1 conhecer da presente consulta, uma vez presentes os requisitos de admissibilidade pertinentes;
9.2 responder ao consulente, nos termos do art. 1º, inciso XVII, da Lei 8.433/92, que, em consonância
com o artigo 123 da Lei 8.666/93, nas contratações de bens e serviços efetuadas pelos postos do MRE
no exterior, a dispensa de parecer jurídico é da competência da Autoridade Ministerial, que estabelece
as peculiaridades de cada local no exterior para fins de fixar valores em relação aos quais caberá a
dispensa desse parecer, sendo as motivações dos atos devidamente analisadas por esta Corte de
Contas nos processos de contas que lhe forem submetidos à apreciação;
9.3 encaminhar cópia deste Acórdão, bem como do Relatório e Voto que o fundamentam, ao
consulente;
9.4 arquivar os autos.”
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 26 de março de 2014.
RAIMUNDO CARREIRO
Revisor
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VOTO COMPLEMENTAR
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 030.960/2013-4
“nos termos do art. 1º, inciso XVII, da Lei 8.433/92, que, em consonância com o artigo
123 da Lei 8.666/93, nas contratações de bens e serviços efetuadas pelos postos do MRE no
exterior, a dispensa de parecer jurídico é da competência da Autoridade Ministerial, que estabelece
as peculiaridades de cada local no exterior para fins de fixar valores em relação aos quais caberá a
dispensa desse parecer, sendo as motivações dos atos analisadas por esta Corte de Contas nos
processos de contas que lhe forem submetidos à apreciação.”
Peço vênias mais uma vez ao Ministro Raimundo Carreiro por entender que esse não é o
melhor encaminhamento para a matéria. Não está o Tribunal a fixar um limite, mas apenas a avaliar se a
fixação do limite proposto pelo MRE, que deverá constar no seu Guia de Administração de Postos e servir
de balizamento para todos os postos no exterior, está de acordo com o ordenamento jurídico vigente. Por
todos os argumentos utilizados em meu voto original, neste voto complementar, bem como pela unidade
técnica, entendo que sim.
A proposta do Exmo Revisor de responder ao consulente que cabe ao MRE fixar esses
limites, caso a caso, para cada posto, me parece geraria uma complexidade operacional substancial, pois
exigiria do Ministério o estabelecimento de regras distintas para cada um dos seus inúmeros postos no
exterior, não permitindo a desejável uniformização de orientação, mediante a inserção de uma regra única
no Guia de Administração de Postos, norma que disciplina as aquisições feitas pelas embaixadas,
consulados e representações no exterior.
Além disso, responder ao consulente que este Tribunal analisará cada caso concreto que lhe
seja submetido, proporciona também uma insegurança jurídica para o órgão jurisdicionado, que ficará
sempre na incerteza se o órgão de controle considerará cada um dos limites fixados como pertinentes.
Essa situação não me parece desejável.
Diante do exposto, mantenho a posição que trouxe ao Plenário desde a primeira vez que o
processo foi submetido a este Plenário, incorporando a sugestão pontual apresentada pelo Ministro
Sherman nesta sessão, de responder positivamente à consulta feita pelo MRE, nos seguintes termos:
“em consonância com o art. 123 da Lei 8.666/93 e com os princípios da eficiência e
economicidade, considerando as peculiaridades institucionais do MRE, é viável juridicamente,
desde que tecnicamente motivada, o estabelecimento de regra que dispense a obrigatoriedade da
emissão de parecer jurídico nas licitações e contratações de bens e serviços efetuadas pelos postos
no exterior, cujos valores sejam inferiores a US$ 150.000,00, excetuadas as contratações para
locação de imóveis”.
AROLDO CEDRAZ
Relator
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VOTO COMPLEMENTAR
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O que defendo em meu voto é que o Tribunal não privilegie um setor e esqueça de outros que têm
tanta importância quanto o da consulta. Não vejo como descartada, é claro, a possibilidade de extensão do
entendimento às demais esferas da Administração Pública Federal.
Destarte, mantenho as considerações que submeti a este Colegiado no Voto Revisor, acrescentando
que, diante das ponderações que aqui foram postas, cabe a extensão da possibilidade de tornar mais
flexível o estabelecimento de regras para dispensa de parecer jurídico às áreas de saúde, educação, ciência
e tecnologia, missões militares no exterior, tratadas neste Voto Complementar, de forma a garantir a
concretização do Princípio da Igualdade (art. 5º, caput da CF/88) e da Eficiência Administrativa,
insculpido no art. 37, caput, da CF/88.
Assim, a redação do item 9.2 do Acórdão que proponho é seguinte:
“responder ao consulente, nos termos do art. 1º, inciso XVII, da Lei 8.443/92, que, em
consonância com o artigo 123 da Lei 8.666/93 e com os princípios da eficiência e economicidade
e considerando as peculiaridades institucionais do MRE, é possível o estabelecimento de regras
para a dispensa de emissão de parecer jurídico nas contratações de bens e serviços efetuadas pelos
postos do MRE no exterior, possibilidade que também poderá ser estendida, em nome dos
princípios da igualdade e da eficiência, às áreas de saúde, educação, ciência e tecnologia e as
missões militares no exterior, o que requer a ação das respectivas pastas ministeriais no sentido de
emitir normativos internos que contemplem a essencialidade de determinadas aquisições de bens e
serviços, tais como: equipamentos de caráter de emergência, materiais médicos e medicamentos,
para a área de saúde; material didático e execução de pequenos serviços de reparo e manutenção
em sala de aula, para a área de educação; insumos para trabalhos de pesquisa científica e
funcionamento de laboratórios, para a área de ciência e tecnologia.”
II
Caso o Tribunal assim não entenda, expresso compreensão alternativa no sentido de que não cabe
ao TCU a fixação de valor para a dispensa de Parecer Jurídico para compras e serviços no exterior, pois se
trata de uma competência da autoridade ministerial estabelecer quais as peculiaridades de cada local no
exterior para fins de fixar valores em relação aos quais caberá a dispensa desse parecer, pois vejo que
esses valores podem variar significativamente de um país para outro.
Em sendo assim, caso seja acolhido esse entendimento alternativo, cabe conhecer da consulta para
responder ao consulente que:
“nos termos do art. 1º, inciso XVII, da Lei 8.443/92, que, em consonância com o artigo 123 da Lei
8.666/93, nas contratações de bens e serviços efetuadas pelos postos do MRE no exterior, a dispensa de
parecer jurídico é da competência da Autoridade Ministerial, que estabelece as peculiaridades de cada
local no exterior para fins de fixar valores em relação aos quais caberá a dispensa desse parecer, sendo as
motivações dos atos analisadas por esta Corte de Contas nos processos de contas que lhe forem
submetidos à apreciação.”
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 8 de outubro de 2014.
RAIMUNDO CARREIRO
Relator
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 030.960/2013-4
1. Processo nº TC 030.960/2013-4.
2. Grupo I – Classe III – Consulta
3. Interessado: Eduardo Santos, Ministro de Estado, interino, das Relações Exteriores
4. Órgão: Ministério das Relações Exteriores.
5. Relator: Ministro Aroldo Cedraz.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo do Desenvolvimento Econômico
(SecexDesenvolvimento).
8. Advogado constituído nos autos: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que cuidam de consulta formulada pelo
Ministro de Estado, interino, das Relações Exteriores acerca da viabilidade jurídica de incluir, na nova
versão do Guia de Administração de Postos, regra que dispense a exigência de parecer jurídico nas
contratações de valor inferior a US$ 150.000,00, exceto as que envolvem locação de imóveis.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do
Plenário, diante das razões expostas pelo Relator, em:
9.1 conhecer da presente consulta, uma vez presentes os requisitos de admissibilidade
pertinentes;
9.2 responder ao consulente, nos termos do art. 1º, inciso XVII, da Lei 8.433/92, que em
consonância com o art. 123 da Lei 8.666/93 e com os princípios da eficiência e economicidade,
considerando as peculiaridades institucionais do MRE, é viável juridicamente, desde que tecnicamente
motivada, o estabelecimento de regra que dispense a obrigatoriedade da emissão de parecer jurídico nas
licitações e contratações de bens e serviços efetuadas pelos postos no exterior, cujos valores sejam
inferiores a US$ 150.000,00, excetuadas as contratações para locação de imóveis;
9.3 encaminhar cópia deste acórdão, bem como do relatório e voto que o fundamentam, ao
consulente;
9.4 arquivar os autos.
(Assinado Eletronicamente)
PAULO SOARES BUGARIN
Procurador-Geral
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