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Tribunal de Justiça do Piauí

PJe - Processo Judicial Eletrônico

13/07/2023

Número: 0801174-81.2021.8.18.0039
Classe: APELAÇÃO CRIMINAL
Órgão julgador colegiado: 2ª Câmara Especializada Criminal
Órgão julgador: Desembargador JOAQUIM DIAS DE SANTANA FILHO
Última distribuição : 19/10/2022
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 0801174-81.2021.8.18.0039
Assuntos: Latrocínio
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
KENNET LUIS MENESES SILVA (APELANTE) BRUNO DE ARAUJO LAGES (ADVOGADO)
PROCURADORIA GERAL DA JUSTICA DO ESTADO DO EDILVO AUGUSTO MOURA REGO DE SANTANA
PIAUI (APELADO) (ADVOGADO)
JOSE RENATO BORGES (APELADO) ILTON LEMOS JUNIOR (ADVOGADO)
MARIA DO CARMO DO NASCIMENTO BORGES (APELADO) ILTON LEMOS JUNIOR (ADVOGADO)
GEORGE REGIS LUSTOSA FLORINDO (TESTEMUNHA)
EMERSON SILVA DE JESUS (TESTEMUNHA)
MARCIO DO NASCIMENTO BORGES (TESTEMUNHA)
ALISSON LANDIN MACEDO (TESTEMUNHA)
ANA LETICIA ARAUJO LAGES (TESTEMUNHA)
MIGUEL CUNHA RABELO FILHO (TESTEMUNHA)
RICAELE VITORIA LIMA CHAVES (TESTEMUNHA)
FRANCISCO THARLES PINHEIRO DIAS (TESTEMUNHA)
IGOR HENRIQUE GONDIM NUNES registrado(a) civilmente
como IGOR HENRIQUE GONDIM NUNES (TESTEMUNHA)
EDUARDO SILVEIRA COSTA (TESTEMUNHA)
TARSÍLIA TORRES (TESTEMUNHA)
CRISTIANO ALVES DE ALENCAR (TESTEMUNHA)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
11338 12/07/2023 09:22 Voto do Magistrado Voto
308
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço dos recursos.

1) Do pedido de absolvição quanto aos delitos do art. 157, § 3º do Código Penal


Brasileiro e art. 244-b do Estatuto da Criança e do Adolescente e do pedido de
desclassificação da conduta do crime imputado do art. 157, § 3º do Código Penal
Brasileiro para o delito previsto no art. 211, caput, do Código Penal.

Como dito, o réu Kennet Luís Meneses Silva requer seja ABSOLVIDO das condutas
dos “art. 157, § 3º do Código Penal Brasileiro e art. 244-B do Estatuto da Criança e do
Adolescente” reconhecendo a violação dos artigos 156 e 386, inciso VII, do Código de
Processo Penal, em conformidade com a inteligência do princípio do in dubio pro reo.
Requer, ainda, que seja reconhecida a violação de lei federal prevista no art. 211,
caput, do Código Penal, consequentemente a DESCLASSIFICAÇÃO da conduta do
crime imputado do art. 157, § 3º do Código Penal Brasileiro para o delito previsto no
art. 211, caput, do Código Penal.
Porém, pelas declarações das testemunhas e declarações do menor na fase
inquisitiva e pelo laudo de Exame Cadavérico (ID 6747878) não restam dúvidas de que
o réu KENNET LUIS MENESES SILVA e o adolescente M C R F, em união de
desígnios, abordaram Marcílio Augusto do Nascimento Borges, com emprego de arma
de branca, para roubá-lo e matá-lo.
Vejamos as declarações das testemunhas arroladas pela acusação, devidamente
transcritas na sentença, as quais corroboram com a identificação da autoria e
comprova a materialidade:

Testemunha Emerson Silva de Jesus:

“este narrou que foi chamado por Kennet para realizar a capina na casa de Miguel,
oportunidade em que ouviu o acusado enviando áudios a uma pessoa de Batalha, e
o conteúdo dizia respeito a um convite para uma festa de família, no qual o réu
insistia para que vítima fosse sozinha e de motocicleta. Além disso, a testemunha
informa que ouviu articulações prévias realizadas por Kennet e Miguel, esclarecendo
que Miguel falou que eles iriam subtrair o dinheiro do ofendido e Kennet acrescentou
que se houvesse alguma resistência por parte da vítima, eles iriam matá-la. A
testemunha destacou que a vítima chegou à casa de Miguel de carro, ocasião em
que Miguel entrou no carro e logo em seguida Kennet os acompanhou atrás de moto,
pedindo para que Emerson (testemunha) o esperasse, pois iria levá-lo para casa.
Esclareceu, por fim, que Kennet retornou junto com Miguel de moto, por volta das 19
horas, e que Miguel estava sujo de sangue e sem camisa. Mais tarde, Emerson
afirma que Kennet o convidou para dormir em sua casa, momento em que o acusado
pediu para que a testemunha não contasse a ninguém o que tinha ouvido ou visto na
casa de Miguel.”

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Testemunha George Regis Lustosa Florindo:

“informou que Marcílio lhe havia enviado mensagens por meio do aplicativo
whatsapp, encaminhando áudios e a foto de Kennet (a fim de identificá-lo como autor
dos áudios)...”

Compulsando os autos, nota-se que as declarações das testemunhas supracitadas


mantêm coerência com os depoimentos que as mesmas prestaram na fase inquisitiva.
Depoimento da testemunha Emerson Silva de Deus na fase inquisitiva, o qual declarou
com riqueza de detalhes os fatos e reafirmou em juízo, conforme depoimento supra:

“QUE na quarta-feira, dia 30/03/2021, por volta das 07:00 horas, seu amigo e
vizinho KENNEDY lhe convidou para capinar em' um sítio chamado SÃO
MIGUEL, próximo do Rio Longá; QUE KENNEDY já fazia esse tipo de trabalha
lá; QUE pelo trabalho, o declarante receberia R$ 50,00; QUE trabalhou até as
11:00 horas, indo para casa almoçar e retornando , ao local por volta das 13:00
horas, onde no turno na tarde limpou a piscina, pois KENNEDY e MIGUEL, filho
dos proprietários do sítio iriam fazer uma "resenha", ou seja, uma pequena festa
privada no período d noite; QUE lembra que por volta das 14:0 horas, enquanto
limpava a parte interna da piscina, ouviu claramente KENNEDY e MIGUEL
conversando entre si e ao mesmo tempo falavam através de mensagens de
audio no celular com um CARA DE BATALHA - PI; QUE kENNEDY era a pessoa
que falava através do celular, sendo que ele pedia para esse cara de Batalha vir
para a resenha de motocicleta e não de carro, pois, assim quando terminasse o
evento, KENNEDY e MIGUEL iriam acompanhar a vítima de volta até Batalha;
QUE KENNEDY também insistia para que o cara de batalha viesse sozinho,
além de trazer dinheiro e bebida alcoólica para a resenha a noite, pois seria uma
festa de família e reservada; QUE lembra bem que KENNEDY insistia para o
cara de Batalha vir de motocicleta, contudo p cara de Batalha não queria vir de
motocicleta, pois dizia "pressentir" algo mim; QUE como estava trabalhando bem
perto de KENNEDY e MIGUEL, pois eles estavam sentados na beira da piscina,
o declarante duvia bem as conversas de áudio tanto enviadas por KENNEDY
quanto as enviadas de volta pelo cara de Batalha; QUE recorda também que ao
mesmo tempo em que conversavam por celular com o cara de Batalha,
KENNEDY e MIGUEL também conversavam entre si e combinavam de roubar o
cara de Batalha, sendo que MIGUEL dizia apenas que queria pegar o dinheiro
dele, contudo, KENNEDY era mais incisivo e dizia que caso o cara de Batalha
reagisse, eles deveriam mata-lo; QUE ' ainda conversando com o cara de
Batalha, lembra• de KENNEDY combinar para se encontrar com o cara de
Batalha na ponte do Rio Longa; QUE continuou trabalhando nas piscina e por
volta das 16:00 horas KENNEDY e MIGUEL foram para o portão do sitio onde
ficaram por lá até por volta das 17:30 horas, quando chegou um carro baixo, cor
preta e vidro fumê; QUE nesse momento MIGUEL entrou dentro do carro e o
veiculo saiu do local e entrou numa estrada de piçarra ao lado do sitio, e vai em
direção ao Rio Longa; QUE Kennedy ficou no local e cerca de 10 min depois ele
adentrou rapidamente na casa de MIGUEL e em seguida saiu na motocicleta
Ronda Biz cor preta em que ele anda; QUE KENNEDY antes de sair pediu para

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que o declarante o aguardasse, pois ele iria retornar para levar o declarante para
casa; QUE em seguida KENNEDY seguiu o mesmo caminho do carro e entrou
na estrada vicinal em direção ao rio; QUE ficou esperando no local e por volta
das 19:00 horas KENNEDY já chegou no local em sua motocicleta trazendo
MIGUEL na garupa, vindo não pelo estrada vicinal por onde foram, mas sim pelo
rodovia estadual que dá acesso a zona urbana de Barras - Pi; QUE lembra que
MIGUEL estava sem camisa e sujo de sangue e que tinha um corte no braço,
próximo do cotovelo; QUE a bermuda também estava suja de sangue; QUE
KENNEDY não estava sujo de sangue ou com ferimentos; QUE logo que chegou
MIGUEL foi tomar banho no chuveiro do lado de fora da casa, pois a mãe dele
estava dentro do imóvel e ele não queria ser visto naquele estado; QUE lembra
ainda que KENNEDY e MIGUEL retiraram três litros de bebida alcoólica de
dentro do bagageiro da motocicleta; QUE não lembra quais eram as bebidas,
mas as garrafas eram duas de cor azul e uma branca; QUE em seguida
KENNEDY saiu novamente dizendo que iria pegar uma muda de roupa na casa
dele para MIGUEL usar; QUE após KENNEDY voltar ele pediu para o declarante
ir na motocicleta buscar a irmã dele chamada BRUNA em sem sua casa, ao
passo que o declarante foi imediatamente; QUE ao chegar na casa de
KENNEDY, j declarante não quis mais voltar para o sítio apenas entregou a
motocicleta para BRUNA, que saiu em direção ao local; QUE então começou a
chover e o declarante ficou em cada, sendo que era por volta das 19:30 horas
QUE por volta das 20:00 horas KENNEDY apareceu na casa do declarante e o
chamou para ir comer um pizza no sítio, contudo o declarante não foi, mas sua
mãe não deixou; QUE diante da recusa da mãe do declarante, KENNEDY
também desistiu de ir par o sítio e convidou o declarante para ir agsistir um filme
e dormir na casa dele; QUE como são vizinhos e a mãe de KENNEDY estava no
local, o declarante aceitou e foi para a casa de KENNEDY, Onde o declarante
dormiu em uma rede na sala e KENNEDY dormiu no seu quarto com a mãe dele;
QUE antes do dormir, KENNEDY pediu para o declarante não contar nada para
ninguém sobre o que teria ouvido ou visto no sitio São Miguel; QUE no dia
seguinte, após acordar, o declarante foi para sua casa, QUE neste dia, se . ;
espalhou na cidade a noticia de que um corpo havia sido encontrado próximo do
rio Longa com perfurações de faca; QUE ao ver fotos do Crime, identificou o
carro encontrado próximo ao corpo do rio como sendo o mesmo carro preto que
viu chegando a tarcte do dia anterior no sitio SÃO MIGUEL, de modo que na
mesma hora teve certeza que o corpo se tratava do "cara de Batalha" com quem
KENNEDY e MIGUEL conversaram por telefone e marcaram o encontro; QUE
após o fato não viu mais KENNEDY ou MIGUEL nem teve qualquer contato com
eles.”

Depoimento da testemunha George Regis Lustosa Florindo na fase inquisitiva, o qual


declarou com riqueza de detalhes os fatos e reafirmou em juízo, conforme depoimento
supra:

“QUE o MARCILIO conversava com frequência com o depoente por meio de


aplicativo de mensagens de celular Whatsapp; QUE o MARCILIO tinha o costume de
dizer ao depoente os locais que ia e com ia como forma de precaução, se caso
acontecesse alguma coisa com ele; QUE no dia na segunda-feira (29/03/2021),
MARCILIO enviou mensagem para o depoente dizendo que um rapaz de Barras-PI
tinha convidado ele para ir para uma resenha da família na cidade de Barras-PI no

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dia 30/03/2021 e MARICILIO relatou estar receoso de ir; QUE MARCILIO enviou ao
depoente uma fotografia do rapaz com o qual iria se encontrar em Barras-PI e
áudios que ele havia lhe enviado; QUE depois MARCILIO somente enviou
mensagem no dia 30/03/2021 às 15:48h e visualizou a aplicação por último às
16:45h; QUE MARCILIO era homossexual e mantinha relacionamentos esporádicos
em outras cidades diversas de Batalha-PI; QUE MARCILIO conversava com esse
rapaz de Barras-PI indicado na fotografia desde de outubro de 2020; QUE o
depoente não conhece o referido rapaz de Barras-PI”

Observa-se que, tanto na fase inquisitiva quanto em juízo, a testemunha Emerson


Silva de Jesus já havia relatado que ouviu quando Kennet falava coma vítima pelo
celular, chamando-a para ir para a residência de motocicleta.
A citada testemunha afirmou, ainda, que ouviu quando o réu Kennet Luís falou para o
adolescente Miguel que roubaria a vítima Marcílio e que se este oferecesse resistência
iria matá-lo.
Emerson declarou também que Kennet insistia para a vítima ir ao seu encontro de
motocicleta.
Destaca-se, ainda, que Emerson declarou que viu quando Kennet e Miguel voltaram
para a casa após crime e afirmou que Miguel estava sujo de sangue e com um
machucado no braço.
Importante depoimento a corroborar com as declarações de Emerson, é o da
testemunha supracitada George Regis Lustosa Florindo, amigo da vítima, o qual
declarou na fase inquisitiva e reafirmou em juízo que a vítima estava com receio de ser
roubada por Kennet e que, por meio de mensagem de whatsapp, disse que não iria ao
encontro do réu de motocicleta, mas sim de carro, pois estava pressentindo algo ruim.
George declarou, também, que a vítima havia lhe informado o nome de Kennet e lhe
mandado foto do mesmo, a fim de que o réu pudesse ser identificado caso ocorresse
algo.
Ressalta-se, ainda, que durante o cumprimento de busca e apreensão na
residência do menor Miguel foi localizada, dentro de um dos cômodos, a mochila
da vítima, que foi reconhecida pelo seu desta, Márcio do Nascimento Borges,
conforme se depreende do Relatório de Missão (6747879, pág. 16), o que,
somado ao interesse do réu pela motocicleta da vítima (fato relatado pela
testemunha Emerson), demonstra o dolo em subtrair coisa alheia móvel da
vítima, a caracterizar o latrocínio, tendo em vista a morte da vítima.
A testemunha Eduardo Silveira Costa, agente de polícia, confirmou em juízo,
ainda, que o próprio Kennet indicou ainda onde estaria a camisa da vítima e que
o irmão desta havia identificado a vestimenta (mídia de ID 6748014).
Como se vê pelos depoimentos supracitados, não restam dúvidas de que o réu Kennet
Luís Meneses Silva foi um dos autores do crime de latrocínio, vez que junto com o
menor, abordou a vítima para roubá-la, de forma que a agrediu, desferindo golpes de
arma branca, causando-lhe a morte.
A alegação da defesa, no sentido de que o réu não foi o autor dos golpes que atingiu a
vítima, não merecer prospera, posto que, ainda que não tivesse golpeado a vítima com

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uma arma branca, se associou previamente ao menor para o cometimento do roubo
com emprego de violência e grave ameaça, de forma que responde pelo latrocínio,
pois a morte da vítima era previsível, inclusive tendo em vista que o réu atraiu a vítima
para roubá-la e, inclusive afirmou anteriormente que a mataria caso apresentasse
resistência, conforme declarações da testemunha Emerson.
Nesse sentido, vejamos o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, inclusive
invocando a teoria monista ou unitária:

1) PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO.


INADEQUAÇÃO. LATROCÍNIO E ROUBO MAJORADO. LATROCÍNIO. CRIME
COMPLEXO. CONSUMAÇÃO. DESPICIENDA A INVERSÃO EFETIVA DA
POSSE. PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA. ATENUANTE.
IMPOSSIBILIDADE DE DIMINUIÇÃO ALÉM DO MÍNIMO LEGAL. SÚMULA
231/STJ. CONTINUIDADE DELITIVA ENTRE ROUBO E LATROCÍNIO.
IMPOSSIBILIDADE. WRIT NÃO CONHECIDO.

1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de


que não cabe habeas corpus substitutivo de recurso próprio, impondo-se o não
conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de flagrante
ilegalidade no ato judicial impugnado.

2. O latrocínio é crime complexo, formado pela união dos crimes de roubo e


homicídio, realizados em conexão consequencial ou teleológica e com animus
necandi. Estes crimes perdem a autonomia quando compõem o crime complexo
de latrocínio, cuja consumação exige a execução da totalidade do tipo.

3. Em tese, para haver a consumação do crime complexo, necessitar-se-ia ,a


consumação da subtração e da morte, contudo os bens jurídicos patrimônio e
vida não possuem igual valoração, havendo prevalência deste último, conquanto
o latrocínio seja classificado como crime patrimonial. Por conseguinte, nos
termos da Súmula 610 do STF, o fator determinante para a consumação do
latrocínio é a ocorrência do resultado morte, sendo despicienda a efetiva
inversão da posse do bem, como se observou no caso concreto.

4. Em atendimento à teoria monista ou unitária adotada pelo Código Penal,


apesar do réu não ter praticado a violência elementar do crime de
latrocínio, conforme o entendimento consagrado por este Superior Tribunal
de Justiça, havendo prévia convergência de vontades para a prática de tal
delito, a utilização de violência ou grave ameaça, necessárias à sua
consumação, comunica-se ao coautor, mesmo não sendo ele o executor
direto do gravame. Ademais, alterar a conclusão das instâncias ordinárias
acerca da relevância causal do paciente na intentada criminosa implicaria
revolvimento fático probatório, o que é vedado nesta estreita via.

5. Em observância ao disposto na Súmula 231/STJ, a incidência da circunstância


atenuante não pode conduzir à reclusão da pena abaixo do mínimo legal. Como
a pena base foi fixada no mínimo legal, não se mostra viável a redução da pena
aquém do da pena mínima em abstrato do tipo penal.

6. O crime continuado é benefício penal, modalidade de concurso de crimes,


que, por ficção legal, consagra unidade incindível entre os crimes parcelares que

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o formam, para fins específicos de aplicação da pena. Para a sua aplicação, a
norma extraída do art. 71, caput, do Código Penal exige, concomitantemente,
três requisitos objetivos: I) pluralidade de condutas; II) pluralidade de crime da
mesma espécie ; III) e condições semelhantes de tempo lugar, maneira de
execução e outras semelhantes (conexão temporal, espacial, modal e
ocasional).

7. Adotando a teoria objetivo-subjetiva ou mista, a doutrina e jurisprudência


inferiram implicitamente da norma um requisito outro de ordem subjetiva, que é a
unidade de desígnios na prática dos crimes em continuidade delitiva, exigindo-
se, pois, que haja um liame entre os crimes, apto a evidenciar de imediato terem
sido os crimes subsequentes continuação do primeiro, isto é, os crimes
parcelares devem resultar de um plano previamente elaborado pelo agente.

8. No caso dos crimes de roubo majorado e latrocínio, sequer é necessário


avaliar o requisito subjetivo supracitado ou o lapso temporal entre os crimes,
porquanto não há adimplemento do requisito objetivo da pluralidade de crimes
da mesma espécie. São assim considerados aqueles crimes tipificados no
mesmo dispositivo legal, consumados ou tentada, na forma simples, privilegiada
ou tentada, e além disso, devem tutelar os mesmos bens jurídicos, tendo, pois, a
mesma estrutura jurídica. Perceba que o roubo tutela o patrimônio e a
integridade física (violência) ou o patrimônio e a liberdade individual (grave
ameaça); por outro lado, o latrocínio, o patrimônio e a vida.

9. Habeas corpus não conhecido.

(HC 449.110/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em


02/06/2020, DJe 10/06/2020).

2) HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. LATROCÍNIO


TENTADO. DOSIMETRIA. GRAU DE DIMINUIÇÃO DA PENA. ITER CRIMINIS
PERCORRIDO PELO AGENTE. COAUTOR. PAPEL RELEVANTE NA
EMPREITADA CRIMINOSA. TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO. ALTERAÇÃO
DO JULGADO. IMPOSSIBILIDADE. WRIT NÃO CONHECIDO.

I - A Terceira Seção desta Corte, seguindo entendimento firmado pela Primeira


Turma do col. Pretório Excelso, firmou orientação no sentido de não admitir a
impetração de habeas corpus em substituição ao recurso adequado, situação
que implica o não conhecimento da impetração, ressalvados casos excepcionais
em que, configurada flagrante ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal,
seja possível a concessão da ordem de ofício.

II - O Código Penal, em seu art. 14, II, adotou a teoria objetiva quanto à
punibilidade da tentativa, pois, malgrado semelhança subjetiva com o crime
consumado, diferencia a pena aplicável ao agente doloso de acordo com o
perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Nessa perspectiva, a jurisprudência
desta Corte adota critério de diminuição do crime tentado de forma inversamente
proporcional à aproximação do resultado representado: quanto maior o iter
criminis percorrido pelo agente, menor será a fração da causa de diminuição.

III - No caso em apreço, a Corte local aplicou a redução pela tentativa em 1/3
(um terço), tendo em vista o iter criminis percorrido pelo agente. Neste contexto,

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não se vislumbra ilegalidade perpetrada a ser reparada.

IV - Ademais, a Corte de origem destacou que a paciente teve papel


relevante na empreitada criminosa, sendo considerada coautora do delito e
não mera partícipe.

V - Assinale-se que, "no caso de crime cometido mediante o emprego de


arma de fogo, por se tratar de circunstância objetiva, a majorante se
entende a todos os agentes envolvidos no delito, sejam coautores ou
partícipes, porquanto o Código Penal filiou-se à teoria monista ou unitária
no que tange ao concurso de pessoas (Código Penal, art. 29)" (RHC n.
64.809/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Ribeiro Dantas, DJe 23/11/2015, grifei).

VI - Portanto, o acolhimento do inconformismo, segundo as alegações


vertidas nas razões da impetração, demanda o revolvimento do acervo
fático-probatório dos autos, situação vedada na via estreita do habeas
corpus.

Habeas corpus não conhecido.

(HC 532.021/ES, Rel. Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO


(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PE), QUINTA TURMA, julgado em
05/12/2019, DJe 13/12/2019).

3) AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


LATROCÍNIO TENTADO. DESCLASSIFICAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.
REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO.SÚMULA 7/STJ. PARTICIPAÇÃO DE
ME NO R IMPO RT ÂNCI A. AUSÊNCIA DE PREQ UESTIO NAM EN T O.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 282 DO STF. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO.

I- "Em atendimento à teoria monista ou unitária adotada pelo Código Penal,


apesar do réu não ter praticado a violência elementar do crime de
latrocínio, conforme o entendimento consagrado por este Superior Tribunal
de Justiça, havendo prévia convergência de vontades para a prática de tal
delito, a utilização de violência ou grave ameaça, necessárias à sua
consumação, comunica-se ao coautor, mesmo não sendo ele o executor
direto do gravame" (HC n. 449.110/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Ribeiro
Dantas, DJe de 10/06/2020) II -Ademais, a Corte a quo, em decisão
devidamente motivada, entendeu que ficou comprovada nos autos a
prática do delito de latrocínio tentado, assim rever tal conclusão, a fim de
possibilitar a desclassificação da conduta, importa revolvimento de matéria
fático-probatória, vedado em recurso especial, segundo óbice da Súmula
7/STJ.

III - Com relação a tese de participação de menor importância, da forma como


posta no apelo nobre, não foi objeto de debate pelo Colegiado a quo, o que
inviabiliza o conhecimento do pedido em sede de recurso especial, devido à
ausência de prequestionamento, a teor do óbice contido na Súmula 282 do
Supremo Tribunal Federal.

Agravo regimental desprovido.

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(AgRg no AREsp 2010805/SP, Rel. Ministro JESUÍNO RISSATO
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJDFT), QUINTA TURMA, julgado em
08/03/2022, DJe 17/03/2022).

Ademais, embora o réu Kennet atribua a prática delitiva ao adolescente M C R F e o


menor, por outro lado, afirme que quem matou a vítima foi citado réu, pelas
declarações dos mesmos, é certo que ambos estavam no local do crime com a vítima
dentro do carro.
Vale destacar, inclusive, que o réu teve atuação relevante na conduta delitiva desde o
momento da abordagem, não se tratando de mero partícipe, mas sim de coautor.
Assim, por tudo exposto, resta comprovado que o réu Kennet Luís Meneses Silva foi o
autor do crime de latrocínio, bem como de corrupção de menores, tendo em vista que
o delito foi previamente arquitetado pelo réu para que fosse praticado com o
adolescente M C R F.
Quanto ao crime de corrupção de menores, previsto no ECA, art. 244, verifica-se que
se trata de delito formal, bastando a comprovação da participação do inimputável em
prática delituosa na companhia de maior de 18 anos, sendo irrelevante o grau prévio
de corrupção, pois cada nova prática criminosa, na qual é inserido, contribui para
aumentar sua degradação.
Prescindível, portanto, a comprovação de que o adolescente tenha sido efetivamente
corrompido, bastando a prova de sua participação na atividade delituosa e a
comprovação da sua idade.
Nos termos do enunciado de Súmula nº 500 do Superior Tribunal de Justiça, “a
configuração do crime do art. 244-B do Estatuto da Criança e do Adolescente
independe da prova da efetiva corrupção do menor, por se tratar de delito formal.”
Em que pese os argumentos defensivos, ainda que o adolescente possua outros
antecedentes infracionais, resta configurado o crime de corrupção de menores,
porquanto o bem jurídico tutelado pela norma visa, sobretudo, a impedir que o maior
imputável induza ou facilite a inserção ou a manutenção do menor na esfera criminal,
nestes termos, a jurisprudência, in verbis:

HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO E CORRUPÇÃO DE


MENORES (ARTS. 157, § 2o., I E II DO CPB E ART. 1o. DA LEI 2.252/54).
CORRUPÇÃO DE MENORES. CRIME FORMAL. INDIFERENÇA DO
COMETIMENTO ANTERIOR DE ATO INFRACIONAL. IMPOSSIBILIDADE
DA ABSOLVIÇÃO. RECONHECIMENTO DO CONCURSO FORMAL
ENTRE O ROUBO E A CORRUPÇÃO DE MENORES. PARECER DO MPF
PELA DENEGAÇÃO DA ORDEM. ORDEM, PORÉM, PARCIALMENTE
CONCEDIDA, APENAS PARA RECONHECER A EXISTÊNCIA DE
CONCURSO FORMAL ENTRE OS CRIMES DE ROUBO E CORRUPÇÃO
DE MENORES.

1. O crime tipificado no art. 1o. da Lei 2.252/54 é formal, ou seja, a sua


caracterização independe de prova da efetiva e posterior corrupção do
menor, sendo suficiente a comprovação da participação do inimputável em

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prática delituosa na companhia de maior de 18 anos.

2. Caracterizado está o crime de corrupção de menores, ainda que o menor


possua antecedentes infracionais, tendo em vista que a norma do art. 1o. da
Lei 2.252/54 visa também impedir a permanência do menor no mundo do
crime.

3. Constatando-se uma só ação para a prática de dois crimes, é de se


reconhecer o concurso formal entre os delitos de roubo e corrupção de
menores. Precedentes.

4. Parecer ministerial pela denegação da ordem. 5. Ordem parcialmente


concedida, apenas para reconhecer a existência de concurso formal entre os
delitos de roubo e corrupção de menores. (Superior Tribunal de Justiça STJ
- HABEAS CORPUS: HC 144181 DF 2009/0152925-1. T5 - QUINTA
TURMA. 29 de Outubro de 2009. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA
FILHO) (grifo)

HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO E CORRUPÇÃO DE


MENORES. CORRUPÇÃO DE MENORES. CRIME FORMAL.
INDIFERENÇA DO COMETIMENTO ANTERIOR DE ATO INFRACIONAL.
IMPOSSIBILIDADE DA ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE REDUÇÃO
DA PENA ABAIXO DO MÍNIMO LEGAL. INTELIGÊNCIA DO ENUNCIADO
231 DA SÚMULA DESTE STJ. PARECER DO MPF PELA DENEGAÇÃO
DO WRIT. ORDEM DENEGADA. 1. O crime tipificado no art. 1o. da Lei
2.252/54 é formal, ou seja, a sua caracterização independe de prova da
efetiva e posterior corrupção do menor, sendo suficiente a comprovação da
participação do inimputável em prática delituosa na companhia de maior de
18 anos. 2. Caracterizado está o crime de corrupção de menores, ainda que
o menor possua antecedentes infracionais, tendo em vista que a norma do
art. 1o. da Lei 2.252/54 visa também impedir a permanência do menor no
mundo do crime. 3. É entendimento pacífico nesta Corte, tanto que
consolidado no enunciado 231 de sua Súmula, que a incidência da
circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena-base abaixo
do mínimo legal. 4. Ordem denegada, em conformidade com o parecer
ministerial. (Superior Tribunal de Justiça STJ - HABEAS CORPUS: HC
165087 DF 2010/0044019-7 - T5 - QUINTA TURMA - DJe 18/10/2010 - 21
de Setembro de 2010 - Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO) (grifo)

Dessa maneira, ficou demonstrado a prática do delito de corrupção de menores, visto


que se trata de crime formal, pouco importando se o adolescente já possuía
antecedentes infracionais.
Desse modo, não há que se falar em absolvição ou desclassificação da conduta do
réu para o delito do artigo 211 do Código Penal, vez que resta comprovado que o réu
foi autor do delito de latrocínio, bem como do delito de corrupção de menores, e
também em razão da comprovada materialidade pelo laudo cadavérico que comprova
a morte violenta da vítima com lesões provocadas por instrumento perfurocortante
(Laudo Cadavérico de ID 6747878, pág. 5/6.

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Por fim, ressalta-se, que, diferentemente do alegado pelo recorrente, não houve
ofensa aos artigos 156 e 386 do Código de Processo Penal, posto que os delitos foram
exaustivamente comprovados, não havendo falar em absolvição.

2) DA DOSIMETRIA.

I) Latrocínio:

Como dito, o apelante requer o redimensionamento da pena-base, aplicando-se o


mínimo legalmente previsto, por entender que todas as circunstâncias judiciais lhes
são inteiramente favoráveis ao recorrente.
Verifica-se que o magistrado a quo considerou 03 (três) circunstâncias desfavoráveis
ao réu, quais sejam, a culpabilidade; circunstâncias do crime e as consequências.
A culpabilidade foi considerada exacerbada, pois o magistrado de piso entendeu que
“o acusado agiu com plena consciência em busca do resultado criminoso, de forma
planejada, em progressão criminosa, sendo bastante reprovável o seu comportamento,
demonstrando crueldade exacerbada, constando no laudo de ID 16058014 -Fl. 5, que
foram realizadas mais de 50 (cinquenta) perfurações na vítima”.
Aqui não há o que se retificar, vez que a prática de delito de latrocínio com o emprego
de vários golpes de arma branca (mais de 50 perfurações na vítima), demonstra a
extrema crueldade com que o réu e o adolescente praticaram o delito, o que foge à
normalidade típica.
Nesse sentido:

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


LATROCÍNIO NA FORMA TENTADA. DOSIMETRIA DA PENA.
REPRIMENDA BÁSICA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. FUNDAMENTAÇÃO
IDÔNEA. QUANTUM DE AUMENTO DA PENA-BASE. ALEGADA
DESPROPORCIONALIDADE. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA.
FRAÇÃO DE 1/6 (UM SEXTO) DE AUMENTO POR CADA VETOR
JUDICIAL DESFAVORÁVEL. PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE.
REVISÃO DA FRAÇÃO APLICADA PELA TENTATIVA. IMPOSSIBILIDADE.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/STJ.

1. A dosimetria da pena está inserida no âmbito de discricionariedade


regrada do julgador, estando atrelada às particularidades fáticas do caso
concreto e subjetivas dos agentes, elementos que somente podem ser
revistos por esta Corte em situações excepcionais, quando malferida alguma
regra de direito.

2. No caso, o acórdão recorrido se firmou em fundamentos suficientes


e idôneos para exasperar a pena-base, valorando negativamente a
culpabilidade e as circunstâncias do delito. Com efeito, a Corte

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estadual apontou elementos concretos aptos a justificar a exasperação
da pena-base em razão dessas circunstâncias judiciais, sobretudo
diante do alto desvalor de sua conduta e de uma maior gravidade, pois
"a vítima foi atingida por, pelo menos, três golpes de arma branca
(faca), o que, à evidência, gera maior repulsa, ficando, segundo o laudo
de exame de corpo de delitos, com lesões em diversas regiões do
corpo (paraesternal direita, axilar média, região espondiléia, lombar alta
direita, ombro esquerdo, joelho direito e região torácica lateral direita),
gerando-lhe franco risco de morte, em razão de um pneumotórax, com
necessidade de drenagem torácica, por conta da perda da função
pulmonar, chegando, inclusive, a ficar sete dias hospitalizada" (e-STJ
fl. 175), e, "para ter acesso ao interior da residência da vítima, o réu
teve que escalar um muro, segundo laudo técnico pericial, de 2,30m de
altura, o que, por si só, já demonstra um esforço incomum, além de
arrombar a porta principal da residência. Além disso, os fatos
ocorreram por volta das 5h00 da manhã, ou seja, ainda de madrugada,
sendo o ofendido colhido enquanto ainda estava deitado na cama, fato
que, sem dúvidas, reduziu consideravelmente sua capacidade
defensiva" (e-STJ fl. 176).

3. No tocante à alegação de que "o Douto magistrado de piso utilizou-se do


critério matemático no momento da fixação da pena-base do recorrente" (e-
STJ fl. 203), verifica-se que essa tese não foi discutida pelo acórdão
recorrido, inexistindo o requisito do prequestionamento. Incidência das
Súmulas n. 282 e 356/STF.

4. Outrossim, anote-se que a jurisprudência desta Corte Superior de Justiça


é firmada no sentido de que é proporcional a fração de 1/6 (um sexto) para
cada vetorial negativa considerada no cálculo da pena-base. Precedentes.

5. Nos termos da jurisprudência deste Tribunal Superior, "a avaliação do iter


criminis percorrido pelo agravante, para que seja aplicado o grau máximo da
fração pela tentativa, enseja o revolvimento de fatos e provas, vedado no
recurso especial, conforme Súmula n. 7 do STJ" (AgRg no REsp n.
1.480.639/DF, relator Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, DJe
13/6/2016).

6. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no AREsp n. 1.403.710/TO, relator Ministro Antonio Saldanha


Palheiro, Sexta Turma, julgado em 26/2/2019, DJe de 13/3/2019.).

Assim, mantenho a valoração negativa da culpabilidade.


As circunstâncias do crime foram valoradas pelo juiz sentenciante, tendo em vista que
o delito foi cometido mediante o concurso de pessoas, com emprego de arma branca,
em local ermo, onde a vigilância e o aparato de segurança pública é reduzido.
Não há dúvidas de que o emprego de arma branca e o concurso de agentes são
circunstâncias do crime que demonstram a maior gravidade do delito de latrocínio e
devem ser valoradas negativamente, pois são recursos que provocam maior temor, de
forma a impossibilitar a defesa da vítima.

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Sobre o tema, vejamos o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO.


LATROCÍNIOS TENTADOS. DOSIMETRIA. PENA-BASE EXASPERADA.
CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME. DISPARO DE ARMA DE FOGO EM VIA
PÚBLICA. CONCURSO DE AGENTES. ELEMENTOS IDÔNEOS. WRIT NÃO
CONHECIDO.

I - A Terceira Seção desta Corte, seguindo entendimento firmado pela Primeira


Turma do col. Pretório Excelso, firmou orientação no sentido de não admitir a
impetração de habeas corpus em substituição ao recurso adequado, situação
que implica o não conhecimento da impetração, ressalvados casos excepcionais
em que, configurada flagrante ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal,
seja possível a concessão da ordem de ofício.

II - Cumpre asseverar que a via do writ somente se mostra adequada para a


análise da dosimetria da pena se não for necessária uma análise aprofundada
do conjunto probatório e caso se trate de flagrante ilegalidade. Vale dizer, o
entendimento deste Tribunal firmou-se no sentido de que a "dosimetria da pena
insere-se dentro de um juízo de discricionariedade do julgador, atrelado às
particularidades fáticas do caso concreto e subjetivas do agente, somente
passível de revisão por esta Corte no caso de inobservância dos parâmetros
legais ou de flagrante desproporcionalidade" (HC n. 400.119/RJ, Quinta Turma,
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe de 1º/8/2017).

III - Quanto às circunstâncias do crime, a jurisprudência do STJ admite o


desvalor do aludido vetor em razão da execução de disparos em via pública.
Precedentes.

IV - De mais a mais, verifica-se que a prática delitiva por meio de concurso


de agentes pode ser elemento apto a justificar a exasperação da pena-base
do crime de latrocínio. Precedentes.

Habeas corpus não conhecido.

(HC 536.480/RJ, Rel. Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO


(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PE), QUINTA TURMA, julgado em
19/11/2019, DJe 26/11/2019).

Dessa forma, mantenho a valoração negativa das circunstâncias do crime.


Por fim, o magistrado de piso valorou negativamente as consequências do crime,
tendo em vista o abalo psicológico do abalo psicológico deixado na família da vítima,
principalmente nos pais, pessoas idosas.
Todavia, o abalo psicológico dos familiares da vítima já é uma consequência
decorrente da prática do tipo penal do art. 153, II do Código Penal (delito de latrocínio),
razão pela qual deve-se excluir a valoração negativa desta circunstância.
Assim, reconheço a neutralidade da circunstância judicial relativa às
consequências.

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Passo a dosimetria da pena.
Como é sabido o crime de latrocínio (art. 157, § 3º, II do CP) tem pena em abstrato de
reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.
Portanto, verificando que existe apenas (02) duas circunstâncias judiciais
desfavoráveis ao apelante, aplico o aumento de 1/6 sobre a diferença entre a pena
máxima e mínima para cada circunstância, fixando a pena-base em 23 (vinte e três)
anos e 04 (quatro) meses de reclusão.

2ª Fase: Das Circunstâncias Agravantes e Atenuantes.

In casu, se verifica a atenuante da menoridade relativa.


Embora o juiz de piso não tenha considerado a atenuante da confissão espontânea,
verifica-se que o réu, mesmo negando que foi o autor do delito, confessou que estava
no local do crime, bem como que segurou a vítima.
Dessa forma, ainda que se trate de confissão parcial ou até mesmo qualificada (aquela
em que o acusado alega alguma excludente de ilicitude), há que se considerar a
confissão.
Nesse sentido:

1) AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE


ENTORPECENTES. D OSIMETRIA. PLEITO DE APLICAÇÃO DA
ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA. POSSIBIIDADE.
CONFISSÃO EXTRAJUDICIAL ATESTADA NOS AUTOS. PLEITO DE
RECONHECIMENTO DA REDUTORA DO TRÁFICO PRIVILEGIADO.
IMPOSSIBILIDADE. CIRCUNSTÂNCIAS CONCRETAS DO DELITO.
REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO VEDADO. REGIME PRISIONAL
FECHADO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
NEGATIVAS. QUANTIDADE DE DROGAS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
NÃO EVIDENCIADO. AGRAVO REGIMENTAL PARCIALMENTE PROVIDO.

I - A parte que se considerar agravada por decisão de relator, à exceção do


indeferimento de liminar em procedimento de habeas corpus e recurso
ordinário em habeas corpus, poderá requerer, dentro de cinco dias, a
apresentação do feito em mesa relativo à matéria penal em geral, para que a
Corte Especial, a Seção ou a Turma sobre ela se pronuncie, confirmando-a
ou reformando-a.

II - O réu fará jus à atenuante do art. 65, III, 'd', do CP quando houver
admitido a autoria do crime perante a autoridade, independentemente
de a confissão ser utilizada pelo juiz como um dos fundamentos da
sentença condenatória, e mesmo que seja ela parcial, qualificada,
extrajudicial ou retratada (REsp n. 1.972.098/SC, Quinta Turma, Rel.
Min. Ribeiro Dantas, DJe de 20/6/2022).

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III - O parágrafo 4º, do art. 33, da Lei n. 11.343/06, dispõe que as penas do
crime de tráfico de drogas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços,
vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente
seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades
criminosas, nem integre organização criminosa.

IV - Na espécie, houve fundamentação concreta e idônea para o


afastamento do tráfico privilegiado, lastreada, não apenas na apreensão de
exorbitante quantidade de drogas (672kg de maconha, além de outros tipos
de entorpecentes, em quantidades pequenas - 17g de cocaína e 8g de
crack), mas nas dema is circunstâncias da apreensão das drogas e da
prisão em flagrante do paciente, em especial a utilização de imóvel
especificamente para o depósito das drogas ilícitas, bem como a apreensão
de diversos materiais para embalar drogas, como frascos, sacos, rolos
plásticos e uma faca com resquício de maconha, elementos aptos a justificar
o afastamento da redutora do art. 33, parágrafo 4º, da Lei n. 11.343/06, pois
demostram que o paciente se dedicava às atividades criminosas.

Qualquer incursão que escape a moldura fática ora apresentada,


demandaria inegável revolvimento fático-probatório, não condizente com os
estreitos lindes deste átrio processual, ação constitucional de rito célere e de
cognição sumária.

V - Quanto ao regime inicial prisional, não há ilegalidade na fixação do


regime fechado, ante as circunstâncias judiciais desfavoráveis ao agravante
(672kg de maconha, além de outros tipos de entorpecentes, em quantidades
pequenas - 17g de cocaína e 8g de crack), em consonância com o
entendimento desta Corte, ex vi do art. 33, parágrafo 2º, c, e parágrafo 3º,
do Código Penal, e art. 42 da Lei n. 11.343/06.

Agravo regimental parcialmente provido.

(AgRg no HC n. 773.427/MG, relator Ministro Messod Azulay Neto, Quinta


Turma, julgado em 24/4/2023, DJe de 3/5/2023.).

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. FUNDAMENTOS DA DECISÃO QUE NÃO ADMITIU O
APELO NOBRE. NÃO IMPUGNAÇÃO. SÚMULA 182/STJ. INCIDÊNCIA.
AGRAVO NÃO PROVIDO. COMPENSAÇÃO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO
COM A AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA. CONCESSÃO DE HABEAS
CORPUS DE OFÍCIO.

1. A ausência de impugnação específica aos fundamentos da decisão que não


admite o recurso especial impede o conhecimento do agravo, nos termos do que
dispõe a Súmula 182/STJ: "É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de
atacar especificamente os fundamentos da decisão agravada".

2. Todavia, nos termos da jurisprudência pacificada nesta Corte Superior, uma


vez constatada a existência de ilegalidade patente, é possível corrigi-la por meio
da concessão de habeas corpus de ofício, nos termos do art. 654, § 2º, do CPP.

3. Ao contrário do que afirmou o acórdão recorrido, o réu confessou, ainda que


de modo parcial, o cometimento do delito, o que ocorreu, inclusive, na presença

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de seu defensor.

4. Ressalte-se que, de acordo com a Súmula 545/STJ, a atenuante da


confissão espontânea deve ser reconhecida, ainda que tenha sido parcial
ou qualificada, seja ela judicial ou extrajudicial, e mesmo que o réu venha
dela se retratar, como ocorrido no caso em análise.

5. Agravo regimental desprovido. Concessão de habeas corpus, de ofício, a fim


de compensar a atenuante da confissão com a agravante da reincidência, na
segunda fase da dosimetria, reduzir a pena definitiva e fixar o regime inicial
semiaberto.

(AgRg no AREsp n. 2.275.153/RJ, relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma,


julgado em 23/3/2023, DJe de 28/3/2023.).

Mas, por outro lado, o juiz de piso reconheceu uma agravante, tendo em vista “o
recurso utilizado dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima, que segundo o
exame cadavérico, morreu em decorrência de múltiplas perfurações, constatando-se,
ainda, imobilização da vítima e morte violenta”.
Ocorre que as múltiplas perfurações na vítima já foram utilizadas na primeira fase para
configurar a elevada culpabilidade, tendo em vista o meio cruel, razão pela qual não se
deve utilizar nessa fase.
Porém, a imobilização da vítima pelo réu, fato comprovado tanto pelas declarações do
réu quanto pelo depoimento menor infrator na fase inquisitiva, demonstra que a vítima
foi imobilizada por Kennet no carro, o que facilitou que fosse esfaqueada.
Assim, não restam dúvidas de que houve recurso que impossibilitou a defesa da
vítima, qual seja, a imobilização.
Portanto, mantenho a agravante do art. 61, II do Código Penal (recurso que
impossibilitou a defesa da vítima).
Assim, há uma agravante genérica (art. 61, II do CP) e a presença de duas atenuantes
preponderantes, referentes à menoridade relativa (art. 65, I do CP) e a confissão.
Desse modo, aplico a redução de 1/6 relativa a confissão e a redução de 1/12
referente atenuante da menoridade relativa, tendo em vista a compensação parcial
desta com agravante do recurso que impossibilitou a defesa da vítima, resultando em
uma redução total de 3/12 (1/4).
Porém, tendo em vista que a atenuante não pode reduzir a pena na segunda fase
para aquém do mínimo, conforme entendimento consolidado do Superior Tribunal de
Justiça (súmula 231), mantenho a pena, nessa fase, no mínimo legal de 20 (vinte)
anos de reclusão.

3ª fase:

Tendo em vista que não há causas de aumento ou diminuição, estabeleço a pena

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definitiva em 20 (vinte) anos de reclusão quanto ao delito do art. 157, § 3º, II do Código
Penal.
Mantendo a proporção, fixo a pena de multa em 10 (dez) dias-multa, sendo cada dia
no valor mínimo legal.

II) Corrupção de Menores:

1ª fase:
Verifica-se que o magistrado a quo não considerou, para o delito de corrupção de
menores, nenhuma circunstância judicial desfavorável ao réu.

2ª fase
In casu, se verifica as atenuantes da menoridade relativa e da confissão, conforme
consignado acima.
Porém, tendo em vista que a atenuante não pode reduzir a pena na segunda fase
para aquém do mínimo, conforme entendimento consolidado do Superior Tribunal de
Justiça (súmula 231), mantenho a pena, nessa fase, no mínimo legal de 01 (um) ano
de reclusão.

3ª fase
Tendo em vista que não há causas de aumento ou diminuição, estabeleço a pena
definitiva em 01 (um) ano de reclusão para o delito de corrupção de menores (art. 244-
B do ECA.
Dessa forma, não há o que se retificar na pena imposta em decorrência do delito de
corrupção de menores, tendo em vista que o juiz sentenciante já aplicou no mínimo
legal.
Por fim, ressalta-se que, tendo em vista o quantum das penas aplicadas, o regime
inicial fechado, fixado na sentença, deve ser mantido, conforme estabelece o art. 33, §
2º, a do Código Penal.

3) Do pedido de isenção ao pagamento das custas processuais diante da


impossibilidade de cumprimento por falta de recursos financeiros do recorrente.

Pede o recorrente seja revista a condenação das custas processuais diante de sua
impossibilidade de cumprimento por falta de recursos financeiros.
Quanto ao pedido de isenção ao pagamento das custas processuais, por ser assistido

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pela Defensoria Pública e ser beneficiário da Justiça Gratuita, não pode ser acatada,
tendo em vista, que o réu beneficiário da assistência judiciária gratuita, pode ser
condenado ao pagamento das custas processuais, nos termos do artigo 804 do
Código de Processo Penal, ficando, todavia, seu pagamento sobrestado, enquanto
perdurar o seu estado de pobreza, pelo prazo de cinco anos, quando então a
obrigação estará prescrita, conforme determinação inserta no artigo 12 da Lei nº
1.060/50. Ademais, a isenção do pagamento é matéria de execução penal, quando,
efetivamente, deverá ser avaliada a miserabilidade do beneficiário da justiça gratuita.

Art. 804, do CPP

Art. 804. A sentença ou o acórdão, que julgar a ação, qualquer incidente ou recurso,
condenará nas custas o vencido.

Veja o entendimento deste Egrégio Tribunal de Justiça. Decisão in verbis:

PENAL E PROCESSUAL PENAL - APELAÇÃO CRIMINAL – ROUBO


MAJORADO (ART. 157, §2º, I E II, DO CP) – PARTICIPAÇÃO DE MENOR
IMPORTÂNCIA – EXCLUSÃO DA MAJORANTE – EXASPERAÇÃO DA
PENA NO PATAMAR MÍNIMO – REDIMENSIONAMENTO DA PENA-BASE
– CUSTAS PROCESSUAIS – RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO – DECISÃO UNÂNIME. 1. No caso dos autos, o apelante agiu em
nítida comunhão de desígnios com o outro autor, distribuindo-se tarefas
distintas e relevantes para a prática criminosa, tanto que ambos se
encontravam presentes durante a ação. 2. O apelante conduzia a moto,
permaneceu sempre próximo ao comparsa, com o fim de lhe dar cobertura e
facilitar a fuga, anuindo, desde o início, à empreitada delituosa. Constata-se,
pois, que sua participação foi decisiva para a consumação do delito, o que
afasta o reconhecimento da participação de menor importância. 3. Com o
advento da Lei nº 13.654/2018, foi alterado o art. 157 do Código Penal,
restringindo a possibilidade de aumento da pena às hipóteses em que o
delito é praticado mediante emprego de arma de fogo. 4. In casu, o
comparsa do apelante fez uso de arma de fogo para a prática do delito,
circunstância que permanece como majorante do tipo penal, não havendo,
pois, que falar na sua exclusão. 5. Afastadas duas circunstâncias judiciais,
impõe-se o redimensionamento da pena-base e da multa. 6. Embora a pena
tenha sido fixada em patamar que permite o início de cumprimento no
regime semiaberto, existem duas circunstâncias judiciais desfavoráveis, o
que justifica a manutenção do regime inicial mais gravoso. 7. Impossível
falar em isenção da condenação ao pagamento de custas processuais,
nos termos do art. 804 do CPP. Precedentes. 8. Recurso conhecido e
parcialmente provido. Decisão unânime. (TJPI | Apelação Criminal Nº
2016.0001.008760-5 | Relator: Des. Pedro de Alcântara Macêdo | 1ª Câmara
Especializada Criminal Data de Julgamento: 13/02/2019) grifei.

A jurisprudência do STJ já está pacificada no sentido de que, mesmo sendo o réu

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beneficiário da assistência judiciária gratuita, deve ser condenado ao pagamento das
custas processuais nos termos do art. 804 do Código de Processo Penal. Vejam-se os
precedentes:

PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


ASSISTÊNCIA JUDICIAL GRATUITA. COMPETÊNCIA. JUÍZO DA EXECUÇÃO.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO

1. De acordo com a jurisprudência desta Corte, o momento de se aferir a


situação do condenado para eventual suspensão da exigibilidade do
pagamento das custas processuais é a fase de execução e, por tal razão,
"nos termos do art. 804 do Código de Processo Penal, mesmo que
beneficiário da justiça gratuita, o vencido deverá ser condenado nas custas
processuais" (AgRg no AREsp n. 394.701/MG, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI, SEXTA TURMA, DJe 4/9/2014).

2. O patrocínio da causa pela Defensoria Pública não importa, automaticamente,


na concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita, sendo
indispensável, para tal finalidade, o preenchimento dos requisitos previstos em
lei.

3. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no REsp 1732121/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,


julgado em 19/06/2018, DJe 28/06/2018). (Sem grifo no original).

PENAL. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. ARMA DESMUNICIADA. CRIME


DE PERIGO ABSTRATO. PAGAMENTO DE CUSTAS PROCESSUAIS.
BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA. CONDENAÇÃO. ART. 804 DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. APLICAÇÃO DA SÚMULA 83/STJ.
PRECEDENTES. AGRAVO DESPROVIDO.

I - A Eg. Quinta Turma desta Corte possui jurisprudência no sentido de que o


porte ilegal de arma de fogo é crime de perigo abstrato, de modo que, para
caracterização da tipicidade da conduta elencada no art. 14 da Lei 10.826/03,
basta, tão somente, o porte de arma de uso permitido sem a devida autorização
da autoridade competente e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, sendo despiciendo o fato de a arma se encontrar desmuniciada.
Precedentes.

II - Esta Corte possui jurisprudência no sentido de que, mesmo sendo o réu


beneficiário da assistência judiciária gratuita, deve ser condenado ao
pagamento das custas processuais nos termos do art. 804 do Código de
Processo Penal, ficando seu pagamento sobrestado enquanto perdurar o
seu estado de pobreza, pelo prazo de cinco anos. Precedentes.

III - Nos termos da Súmula 83 desta Corte, "Não se conhece do recurso especial
pela divergência, quando a orientação do tribunal se firmou no mesmo sentido
da decisão recorrida.”

IV - Agravo interno desprovido. (AgRg no AREsp 23.804/DF, Rel. Ministro

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GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 26/06/2012, DJe 01/08/2012).
(Sem grifo no original).

Portanto, indefiro o pedido de isenção da custas.

4) Do pedido para recorrer em liberdade:

Verifica-se que pedido do réu para recorrer em liberdade não merece prosperar, pois,
na sentença condenatória, o juiz a quo fundamentou devidamente a necessidade de
manutenção da prisão preventiva do apelante nos seguintes e exatos termos: “o
modus operandi da ação criminosa atesta a gravidade concreta na prática delitiva, com
um planejamento da ação, uso de arma branca, acrescido pelo fato de a vítima ter sua
vida ceifada sem nenhuma oportunidade de defesa, de forma ignóbil”.
O juiz de piso acrescentou, ainda, que:

“o conceito de ordem pública alberga a necessidade de restabelecer o estado de


paz social e assegurar a credibilidade da Justiça perante à sociedade. O crime
em tela, por sua gravidade em concreto, como bem delineado, demandam uma
repreensão maior, como forma de recuperar a confiança nas instituições.
Necessária, pois, a sua segregação cautelar, por esse motivo, a fim de ser
resguardada a ordem pública”.

(...)

Dadas as circunstâncias do caso concreto, a violência com a qual a vítima


foi fatalmente atingida, à traição, e com recurso que dificultou ou tornou
impossível a defesa do ofendido, bem como o meio extremamente cruel
empregado para alcançar o resultado morte, tendo em vista que consta no
laudo cadavérico (ID 16058014 -Fl. 5) que a vítima sofreu mais de 50
(cinquenta) perfurações. Além do envolvimento de um adolescente e a
repercussão que o fato gerou nesta comarca, robustecem a necessidade
da manutenção do cárcere.”

Sobre a gravidade concreta do latrocínio perpetrado em concurso de agentes e com o


emprego de arma branca, em concurso de agentes e consequente necessidade da
prisão preventiva como forma de preservar a ordem pública, vejamos o entendimento
do Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS CORPUS. PRISÃO


PREVENTIVA. LATROCÍNIO. EXCESSO DE PRAZO PARA A PROLAÇÃO DE
SENTENÇA. INSTRUÇÃO CRIMINAL ENCERRADA. SÚMULA N. 52 DO STJ.
CUSTÓDIA PROVISÓRIA FUNDAMENTADA NA GRAVIDADE CONCRETA DO

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DELITO. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.

1. Os prazos processuais previstos na legislação pátria devem ser computados


de maneira global e o reconhecimento do excesso deve-se pautar sempre pelos
critérios da razoabilidade e da proporcionalidade (art. 5º, LXXVIII, da
Constituição da República), considerando cada caso e suas particularidades.

2. A tese de que haveria excesso de prazo está superada, tendo em vista a


notícia de que a instrução criminal foi encerrada, com o início da apresentação
de alegações finais pelas partes.

Entendimento consolidado na Súmula n. 52 deste Superior Tribunal.

3. A custódia cautelar do agravante está fundamentada na gravidade


concreta do delito - duplo latrocínio praticado com arma branca e em
concurso de agentes -, cujas circunstâncias justificam a manutenção da
cautela extrema.

4. Agravo regimental não provido.

(AgRg no RHC n. 161.760/CE, relator Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta


Turma, julgado em 24/5/2022, DJe de 30/5/2022.).

Destarte, não restam dúvidas quanto à necessidade de manutenção da prisão


preventiva, tendo em vista que o modus operandi, consubstanciado no latrocínio,
previamente planejado, com emprego de arma branca e em concurso de agentes, com
aplicação de vários golpes de arma branca (mais de 50 perfurações na vítima)
demonstra não só a gravidade da conduta delituosa como também a periculosidade do
réu apelante.
Ressalta-se, ainda, que o delito foi cometido com abuso de confiança, posto que a
vítima foi enganada pelo réu e o menor, os quais marcaram um encontro com a
mesma, já com o intuito de roubá-la e até mesmo matá-la.
Ademais, o réu permaneceu preso durante a instrução e assim deve ser mantido após
a condenação, conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça.
Vejamos:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. OPERAÇÃO AREPA.


TRÁFICO INTERNACIONAL DE ENTORPECENTES. SENTENÇA
SUPERVENIENTE. MANTIDOS OS FUNDAMENTOS DA SEGREGAÇÃO.
REVOGAÇÃO DA CUSTÓDIA. IMPOSSIBILIDADE. FUNDAMENTAÇÃO
IDÔNEA. PERICULOSIDADE DO AGENTE. ELEVADA QUANTIDADE DE
DROGA APREENDIDA. NECESSIDADE DE GARANTIR A ORDEM PÚBLICA.
RÉU QUE PERMANECEU PRESO DURANTE A INSTRUÇÃO DO PROCESSO.
CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS. IRRELEVÂNCIA. MEDIDAS
CAUTELARES ALTERNATIVAS. INSUFICIÊNCIA. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. RECURSO DESPROVIDO.

1. Em vista da natureza excepcional da prisão preventiva, somente se verifica a

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possibilidade da sua imposição quando evidenciado, de forma fundamentada e
com base em dados concretos, o preenchimento dos pressupostos e requisitos
previstos no art. 312 do Código de Processo Penal - CPP. Deve, ainda, ser
mantida a prisão antecipada apenas quando não for possível a aplicação de
medida cautelar diversa, nos termos previstos no art. 319 do CPP.

2. A prisão preventiva foi adequadamente motivada, tendo sido demonstrada


pelas instâncias ordinárias, com base em elementos extraídos dos autos, a
gravidade concreta da conduta e a periculosidade do recorrente, evidenciadas
pela comprovação de envolvimento do recorrente com o tráfico internacional de
drogas, além da apreensão de substanciosa quantidade de entorpecentes em
seu poder (200kg de cocaína).

3. Nesse contexto, forçoso concluir que a prisão processual está devidamente


fundamentada na garantia da ordem pública, não havendo falar, portanto, em
existência de evidente flagrante ilegalidade capaz de justificar a sua revogação e
tampouco em aplicação de medida cautelar alternativa.

4. Tendo o recorrente permanecido preso durante toda a instrução


processual, não deve ser permitido recorrer em liberdade, especialmente
porque, inalteradas as circunstâncias que justificaram a custódia, não se
mostra adequada a soltura dele depois da condenação em Juízo de
primeiro grau.

5. É entendimento do Superior Tribunal de Justiça - STJ que as condições


favoráveis do recorrente, por si sós, não impedem a manutenção da prisão
cautelar quando devidamente fundamentada.

6. Inaplicável medida cautelar alternativa quando as circunstâncias evidenciam


que as providências menos gravosas seriam insuficientes para a manutenção da
ordem pública.

7. Recurso ordinário desprovido.

(RHC 115.670/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA,


julgado em 15/10/2019, DJe 21/10/2019).

Assim, indefiro o pedido, de forma que mantenho a prisão preventiva decreta


pelo juízo de piso.
Dispositivo
Isso posto, em consonância com o parecer da Procuradoria-Geral de Justiça, VOTO
pelo PARCIAL PROVIMENTO do presente recurso de apelação criminal, de forma a
estabelecer a pena definitiva de 20 (vinte) anos de reclusão mais 10 (dez) dias-multa
no valor mínimo legal para o delito de latrocínio (art. 157, § 3º do CP), mantendo-se
incólumes os demais termos da sentença condenatória.
É como voto.
Como consta da ata de julgamento, a decisão foi a seguinte: na Sessão
Ordinária do Plenário Virtual, realizada no período de 12 a 19 de junho de 2023,
da Egrégia 2ª CÂMARA ESPECIALIZADA CRIMINAL, presidida pelo Exmo. Sr.

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Des. Joaquim Dias de Santana Filho, ao apreciar o processo em epígrafe, foi
proferida a seguinte decisão: “Acordam os componentes da Egrégia 2ª Câmara
Especializada Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, à
unanimidade, em consonância com o parecer da Procuradoria-Geral de Justiça,
VOTAR pelo PARCIAL PROVIMENTO do presente recurso de apelação criminal,
de forma a estabelecer a pena definitiva de 20 (vinte) anos de reclusão mais 10
(dez) dias-multa no valor mínimo legal para o delito de latrocínio (art. 157, § 3º do
CP), mantendo-se incólumes os demais termos da sentença condenatória, na
forma do voto do(a) Relator(a).” Participaram do julgamento os Excelentíssimos
Desembargadores, Exma. Sra. Desa. Eulália Maria Ribeiro Gonçalves Nascimento
Pinheiro, Exmo. Sr. Des. Joaquim Dias de Santana Filho e Exmo. Sr. Des. Erivan
José da Silva Lopes.
Ausência justificada: não houve.
Impedimento/Suspeição: não houve.
Acompanhou a sessão, o Exmo. Sr. Dr. Aristides Silva Pinheiro - Procurador de
Justiça.
PLENÁRIO VIRTUAL DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
PIAUÍ, Teresina/PI, data registrada no sistema.

Des. Joaquim Dias de Santana Filho


Relator

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