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O seguro garantia judicial no novo CPC

O SEGURO GARANTIA JUDICIAL NO NOVO CPC

The judicial insurance guarantee in the New Brazilian Civil Code Procedure
Revista Tributária e de Finanças Públicas | vol. 126/2016 | p. 297 - 353 | Jan - Fev / 2016
DTR\2016\1765

Vinícius De Carvalho Pires Mendonça


Professor de Direito do Seguro e Resseguro da Fundação Getulio Vargas. Autor de artigos sobre Direito do
Seguro e Resseguro publicados em revistas especializadas no Brasil e no exterior. Advogado.
vinicius.mendonca@fgv.br
 
Área do Direito: Civil; Processual

Resumo: Este artigo investigou de que forma o seguro garantia judicial foi regulado pelo Novo Código de
Processo Civil em comparação ao Código de Processo Civil de 1973. Ao seu final, concluiu-se que a principal
modificação introduzida pelo Novo CPC refere-se à equiparação expressa do seguro garantia judicial ao
dinheiro para fins de substituição da penhora de bens do executado. Esta modificação tem por intuito possibilitar
a desoneração dos ativos financeiros das sociedades empresárias submetidas ao processo de execução. Ademais,
também deverá impactar na modificação do posicionamento jurisprudencial até então adotado pelo STJ, o qual
restringia esta espécie de substituição, sob o argumento de que o dinheiro na escala de constrição legal prevalece
sobre os demais bens passíveis de penhora.

 Palavras-chave:  Novo Código de Processo Civil - Lei de Execução Fiscal - Execução - Substituiçãoda
penhora - Seguro garantia judicial - Fiançabancária.

Abstract: This paper analyzed how the judicial guarantee insurance was governed by the New Brazilian Code
of Civil Procedure of 2015 in comparison to the Brazilian Code of Civil Procedure of 1973. By its end, it was
concluded that the main change introduced by the new C.C.P. refers to the express equalization of the judicial
insurance guarantee with the money for replacement of the goods attached. This change is meant to allow the
exemption of the financial assets of business companies subject to enforcement proceedings. In addition, it
should also impact the modification of jurisprudential position previously adopted by the Brazilian Superior
Court of Justice (STJ), which restricted this sort of replacement, arguing that the money in the range of legal
seizure prevails over other goods liable to attachment

 Keywords:  New Brazilian Code of Civil Procedure - Law of Tax Enforcement - Execution - Attachment
replacement - Judicial GuaranteeInsurance - Bank Guarantee

Sumário:  
1 Introdução - 2 O oferecimento do seguro garantia judicial e a substituição da penhora em dinheiro - 3 Atual
panorama jurisprudencial e perspectivas - 4 Conclusão - 5 Referências
 
1 Introdução

O Novo Código de Processo Civil (Lei federal 13.105, de 16.03.2015) foi recentemente promulgado com a
missão de aprimorar o sistema adotado pelo Código de Processo Civil de 1973 (Lei federal 5.869, de
11.01.1973), dentro do qual se encontra o de execução civil, sob a perspectiva da prestação de uma tutela
jurisdicional efetiva, justa e adequada.
     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

O sistema de execução civil tem um objetivo muito claro a ser perseguido por meio do processo: provocar a
atuação do Estado-Juiz a fim de viabilizar a satisfação de um crédito de titularidade do exequente, fundado em
uma obrigação certa, líquida e exigível, não cumprida pelo executado do modo ou dentro do prazo pactuado.

Por isso, afirma-se que o processo de execução é um procedimento de natureza judicial concebido em favor da
satisfação da pretensão violada, a qual é exercida de modo forçado, em razão do poder jurídico conferido pela
lei, mas, não arbitrário, uma vez que submetida ao devido processo legal e às normas processuais específicas
incidentes sobre a matéria.1

Além disso, o sistema de execução civil é permeado por princípios que visam nortear a atuação do Estado-Juiz
na atribuição de conduzir o procedimento executivo o mais eficazmente possível (princípio da maior eficácia da
execução);2 e, ao mesmo tempo, assegurar que o devido processo legal seja realizado da maneira menos onerosa
para o executado (princípio da menor onerosidade para o devedor).3

Nesse contexto, importante relembrar que a Lei federal 11.382, de 06.12.2006, denominada de "Reforma da
Execução" promoveu alterações no CPC/1973 e introduziu de maneira expressa o seguro garantia judicial, a
fim de reduzir os efeitos decorrentes da incidência da penhora sobre o patrimônio do executado (art. 656, § 2.º,
do CPC/1973).

O oferecimento do seguro garantia judicial para fazer frente à pretensão executiva no início da ação de execução
e, posteriormente, à realização do ato de constrição judicial, visando obter a substituição da penhora de bens, foi
bem aceita por parte da jurisprudência brasileira.

Todavia, no âmbito do STJ consolidou-se o entendimento a respeito do seu não cabimento no caso de
substituição da penhora realizada em dinheiro diante da discordância do exequente, sob o argumento de que na
ordem do art. 655 do CPC/1973 este gozava de prevalência sobre qualquer outro bem, admitindo-a apenas em
casos excepcionais.

Nada obstante, considerando que as alternativas de garantia da execução previstas no art. 656, § 2.º, do
CPC/1973 não tinham como intenção violar a ordem legal de constrição de bens, mas, sim, assegurar que ela
pudesse ser realizada de uma maneira menos onerosa para as partes envolvidas no processo e para a sociedade
como um todo, o legislador do Novo CPC optou por reforçar ainda mais a fiança bancária e o seguro garantia
judicial equiparando expressamente estas formas de garantia ao dinheiro (art. 835, § 2.º, do CPC/2015).

Diante disto, torna-se relevante investigar no que consiste esta equiparação sob a perspectiva específica da
proteção conferida pelo seguro garantia judicial, quais os seus limites e efeitos prováveis no que tange à
desoneração dos ativos de sociedades empresárias submetidas ao processo de execução, e, se, efetivamente, ela
possui o condão de modificar o atual panorama jurisprudencial, possibilitando, assim, a redução dos efeitos
prejudiciais relacionados à penhora.

Investigar-se-á ainda a possibilidade de oferecimento do seguro garantia judicial (art. 9.º, II, da Lei federal
6.830/1980) e da aplicação subsidiária da nova regra que equipara este tipo de garantia expressamente ao
dinheiro no processo de execução fiscal (art. 835, § 2.º, do CPC/2015), visando conferir um melhor equilíbrio à
expropriação patrimonial no âmbito do contencioso tributário.

Em razão da especificidade do escopo de investigação, a metodologia empregada neste estudo baseou-se,


preponderantemente, na pesquisa de doutrina e jurisprudência sobre direito processual civil, direito do seguro e
direito tributário brasileiras, e, eventualmente, de doutrina estrangeira.

2 O oferecimento do seguro garantia judicial e a substituição da penhora em dinheiro


Quadro Comparativo
     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

Código de Processo Civil de 1973 Código de Processo Civil de 2015


Rol de bens penhoráveis
CAPÍTULO IV DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CAPÍTULO IV DA EXECUÇÃO POR QUANTIA
CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE CERTA
Seção I Da Penhora, da Avaliação e da Expropriação de (...)
Bens Seção III Da Penhora, do Depósito e da Avaliação
(Redação dada pela Lei 11.382, de 2006). Subseção I Do Objeto da Penhora
(...) Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a
Subseção II Da Citação do Devedor e da Indicação de seguinte ordem:
Bens (Redação dada pela Lei 11.382/2006). I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em
Art. 655. A penhora observará, preferencialmente, a instituição financeira;
seguinte ordem: (Redação dada pela Lei 11.382, de II - títulos da dívida pública da União, dos Estados e do
2006). Distrito Federal com cotação em mercado;
I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em III - títulos e valores mobiliários com cotação em
instituição financeira; (Redação dada pela Lei 11.382, mercado;
de 2006). IV - veículos de via terrestre;
II - veículos de via terrestre; (Redação dada pela Lei V - bens imóveis;
11.382/2006). VI - bens móveis em geral;
III - bens móveis em geral; (Redação dada pela Lei VII - semoventes;
11.382/2006). VIII - navios e aeronaves;
IV - bens imóveis; (Redação dada pela Lei IX - ações e quotas de sociedades simples e
11.382/2006). empresárias;
V - navios e aeronaves; (Redação dada pela Lei X - percentual do faturamento de empresa devedora;
11.382/2006). XI - pedras e metais preciosos;
VI - ações e quotas de sociedades empresárias; XII - direitos aquisitivos derivados de promessa de
(Redação dada pela Lei 11.382/2006). compra e venda e de alienação fiduciária em garantia;
VII - percentual do faturamento de empresa devedora; XIII - outros direitos.
(Redação dada pela Lei 11.382/2006). § 1.º É prioritária a penhora em dinheiro, podendo o
VIII - pedras e metais preciosos; (Redação dada pela juiz, nas demais hipóteses, alterar a ordem prevista no
Lei 11.382/2006). caput de acordo com as circunstâncias do caso concreto.
IX - títulos da dívida pública da União, Estados e § 2.º Para fins de substituição da penhora, equiparam-se
Distrito Federal com cotação em mercado; (Redação a dinheiro a fiança bancária e o seguro garantia judicial,
dada pela Lei 11.382/2006). desde que em valor não inferior ao do débito constante
X - títulos e valores mobiliários com cotação em da inicial, acrescido de trinta por cento.
mercado; (Redação dada pela Lei 11.382/2006).
XI - outros direitos. (Incluído pela Lei 11.382/2006).
(...)
Incidente de substituição de penhora do executado
Art. 668. O executado pode, no prazo de 10 (dez) dias Art. 847. O executado pode, no prazo de 10 (dez) dias
após intimado da penhora, requerer a substituição do contado da intimação da penhora, requerer a
bem penhorado, desde que comprove cabalmente que a substituição do bem penhorado, desde que comprove
substituição não trará prejuízo algum ao exequente e que lhe será menos onerosa e não trará prejuízo ao
será menos onerosa para ele devedor (art. 17, incs. IV e exequente.
VI, e art. 620). (Redação dada pela Lei 11.382/2006). (...)
(...) § 4.º O juiz intimará o exequente para manifestar-se
sobre o requerimento de substituição do bem
     
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penhorado.
Incidente de substituição de penhora das partes
Art. 656. A parte poderá requerer a substituição da Art. 848. As partes poderão requerer a substituição da
penhora: (Redação dada pela Lei 11.382/2006). penhora se:
(...) (...)
§ 2.º A penhora pode ser substituída por fiança bancária Parágrafo único. A penhora pode ser substituída por
ou seguro garantia judicial, em valor não inferior ao do fiança bancária ou por seguro garantia judicial, em
débito constante da inicial, mais 30% (trinta por cento). valor não inferior ao do débito constante da inicial,
(Incluído pela Lei 11.382/2006). acrescido de trinta por cento.
(...) (...)
Art. 657. Ouvida em 3 (três) dias a parte contrária, se os Art. 853. Quando uma das partes requerer alguma das
bens inicialmente penhorados (art. 652) forem medidas previstas nesta Subseção, o juiz ouvirá sempre
substituídos por outros, lavrar-se-á o respectivo termo. a outra, no prazo de 3 (três) dias, antes de decidir.
(Redação dada pela Lei 11.382/2006). Parágrafo único. O juiz decidirá de plano qualquer
Parágrafo único. O juiz decidirá de plano quaisquer questão suscitada.
questões suscitadas. (Redação dada pela Lei
11.382/2006).

2.1 A sistemática da penhora na execução por quantia certa no Novo CPC

No que tange à indicação de bens visando garantir à execução, o Novo CPC promoveu pontuais, mas, sensíveis
alterações que modificam a sistemática disciplinada pelo CPC/1973 (art. 655, I a XI), com o intuito de ajustá-la
ainda mais ao postulado da máxima eficácia do procedimento executivo e com os mais modernos parâmetros de
liquidez e efetividade consonantes à busca da satisfação do crédito.

Na linha da processualística brasileira, o Novo Código de Processo Civil (art. 835, I a XIII) estabeleceu um
catálogo de bens organizado em ordem decrescente de liquidez, ou seja, baseado na sua maior ou menor
facilidade de conversão em dinheiro, com o intuito de viabilizar a satisfação da execução de maneira plena,
proporcional e eficaz.

Com base nas lições de Pontes de Miranda, importante esclarecer que o legislador brasileiro optou pelo critério
da execução por graus ou por ordem, em face do qual a penhora deve ser realizada em obediência à ordem de
bens especificada no art. 835, I a XIII, do Novo CPC (art. 655, I a XI, do CPC/1973).4

Apesar de o Novo CPC ter mantido a designação de que a penhora deverá recair preferencialmente sobre os
bens arrolados nos incs. I a XIII do art. 835, visando privilegiar aqueles que pela sua própria natureza e pela
lógica de mercado passaram a adquirir maior facilidade de negociação, em razão da sua relevância econômica,
modificou a ordem dos seguintes bens: 5 "títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito Federal
com cotação em mercado" (inc. II, do art. 835 do Novo CPC) e "títulos e valores mobiliários com cotação em
mercado"6 (inc. III do art. 835 do Novo CPC), os quais passaram a ocupar posição privilegiada, por serem ativos
dotados de alta capacidade de conversibilidade em dinheiro.

Também merece destaque a introdução de novos incisos a respeito da categoria dos semoventes (inc. VII do art.
835 do Novo CPC), dos "direitos aquisitivos derivados de promessa de compra e venda e de alienação fiduciária
em garantia" (inc. XII do art. 835 do Novo CPC) e dos títulos representativos da participação em sociedades
simples (inc. IX do art. 835 do Novo CPC).

Por fim, merece destaque a modificação da ordem de disposição de liquidez dos ativos representados pelas
"ações7 e quotas de sociedades empresárias" (inc. IX do art. 835 do Novo CPC), em razão das características
inerentes às sociedades constituídas sob capital fechado;8-9 e, da penhora do percentual do "faturamento de
     
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empresa devedora" (inc. X do art. 835 do Novo CPC), haja vista a excepcionalidade da constrição de numerário
utilizado para o desenvolvimento da atividade econômica de sociedades empresárias. 10

Nessa linha, destaca-se que os veículos de via terrestre, os bens imóveis, os bens móveis em geral, os navios e as
aeronaves, e as pedras e os metais preciosos também foram realocados em relação às respectivas posições
ocupadas na antiga gradação legal (incs. IV, V, VI, VIII e XI do art. 835 do Novo CPC).

Em que pese tenha o legislador promovido alterações na ordem do catálogo de ativos passíveis de constrição
judicial, como dito, todavia, trata-se de uma ordem preferencial, cuja disposição, a doutrina e a jurisprudência,
ainda na vigência do art. 655 do CPC/1973, já haviam concluído pela sua natureza relativa em face do caso
concreto e do melhor equilíbrio e adequação da execução visando à satisfação do crédito executado. 11-12

Nada obstante, o legislador entendeu que na nova sistemática processual (art. 835, § 1.º, do Novo CPC), dentre
os ativos listados o dinheiro mereceria primazia dentre os demais, a ponto de não possuir apenas uma natureza
preferencial, mas, sim, prioritária, cuja busca na satisfação do crédito inadimplido deveria gozar de natureza
absoluta, não admitindo, a priori, sua relativização.

Nesse sentido, dispôs no art. 835, § 1.º, do Novo CPC, que a penhora em dinheiro é prioritária, podendo o juiz,
somente nas demais hipóteses legais, alterar a ordem prevista no caput de acordo com as circunstâncias do caso
concreto.

Desse modo, entende-se que o Juiz ao promover a busca de ativos integrantes do patrimônio do executado
deverá conferir primazia, prioridade, na penhora do dinheiro, aliás, como já vinha sendo feito e reconhecido pela
jurisprudência em diversos casos, sob a vigência do art. 655 do CPC/1973.

Nada obstante, a primazia da qual goza o dinheiro na escala de constrição de bens deverá ser ponderada em face
de uma nova regra introduzida pelo legislador, a qual equipara expressamente a fiança bancária e o seguro
garantia judicial ao dinheiro para fins de penhora (art. 835, § 2.º, do CPC/2015).

Importante esclarecer que o § 2.º do art. 835 do CPC/2015 não foi originariamente previsto pelo PLS 166/2010.
A regra a respeito da equiparação expressa da fiança bancária e do seguro garantia judicial ao dinheiro somente
foi introduzida por meio do Substitutivo da Câmara dos Deputados 8.046/2010.

Após a inserção da regra contida no § 2.º do art. 835 por meio do substitutivo, ela foi mantida e incorporou-se
ao texto definitivo do Novo CPC, o que comprova que se trata de uma disposição inovadora, até mesmo, para a
concepção originária de Anteprojeto do Novo CPC.13

Desta forma, o Novo CPC introduziu um dispositivo legal que inovou sensivelmente em relação à sistemática
processual anterior, com o intuito de superar os entraves relacionados ao oferecimento de bens e à substituição
da penhora de numerário em espécie, no que se refere à equiparação expressa da fiança bancária e do seguro
garantia judicial ao dinheiro (art. 835, § 2.º).14

Esta equiparação já vinha sendo sustentada e reivindicada há tempos pela doutrina a fim de viabilizar
plenamente o oferecimento da fiança bancária e do seguro garantia antes do ato de constrição judicial (art. 655,
XI c/c art. 652 e § 1.º ambos, do CPC/1973); e, principalmente, posteriormente, para fins de substituição da
penhora realizada sobre dinheiro, mesmo diante da negativa de aceitação pelo exequente, visando garantir a
execução (art. 656 e § 2.º, e art. 668, caput, do CPC/1973).

Desse modo, de acordo com a sistemática do Novo CPC, o executado poderá oferecer o seguro garantia judicial
em dois momentos processuais distintos: (i) antes da realização da penhora (art. 829, § 2.º, c/c art. 835, XIII,
ambos, do CPC/2015) ou do arresto de bens (art. 830 c/c art. 835, XIII, ambos, do CPC/2015); e, (ii) depois da

     
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efetivação da constrição judicial de bens, por meio do incidente de substituição da penhora, desde que em valor
não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de 30% (trinta por cento) (art. 835, § 2.º c/c arts. 847,
caput, e 848, parágrafo único, do CPC/2015).

Em razão do escopo deste estudo, passar-se-á a partir deste momento, exclusivamente, à análise dos caracteres
técnicos e operacionais do seguro garantia judicial, com o intuito de delimitar as particularidades relacionadas à
comercialização e ao funcionamento deste tipo de garantia securitária.

2.2 Aspectos preliminares sobre o contrato de seguro

O contrato de seguro representa na atualidade o mais importante mecanismo de diluição de riscos disponível no
mercado, verdadeiro sinônimo de força financeira e de segurança econômica voltado para a proteção das
repercussões prejudiciais incidentes sobre interesses individuais e de toda a coletividade. 15

Em meio às transformações provocadas pela Revolução Industrial e pela sociedade do consumo de massa
(séculos XIX-XX), o seguro deu um grande salto - de instrumento de benefício de poucos, passou a funcionar
como recurso em proveito de muitos -, fortalecendo ainda mais a importância deste contrato como instrumento
de garantia no âmbito das relações jurídicas mantidas nas esferas públicas e privadas.

Importante esclarecer que as sociedades empresárias que atuam no mercado segurador somente podem iniciar
suas atividades após autorização da Superintendência de Seguros Privados (Susep), mediante a comprovação do
atendimento de requisitos de constituição baseados em dados de natureza jurídica, atuarial e econômica, a fim
de demonstrarem a sua solvabilidade financeira (art. 36, a, e art. 74 e ss. do Dec.-lei 73/1966).16-17

A verificação do atendimento destes requisitos é a forma pela qual se garante, simultaneamente: a integridade
patrimonial das empresas que atuam neste ramo para fazer frente às obrigações por elas assumidas perante os
seus investidores e perante segurados; e, também, de todo o sistema securitário, com vistas a evitar perdas
quanto à proteção dos interesses de toda a coletividade.

Imperativo registrar que o regime regulatório e supervisor ao qual estão submetidas as sociedades seguradoras -
Sistema Nacional de Seguros Privados (SNSP) (Dec.-lei 73, de 21.11.1966) - possui similaridades com o
Sistema Financeiro Nacional (SFN) (Lei federal 4.595, de 31.12.1964), com vistas a preservar a solvabilidade
financeira e reduzir os impactos relacionados a eventuais insolvências dos seus respectivos agentes de
mercado.18-19

Ademais, importante esclarecer que as sociedades seguradoras têm por prática firmar contratos de resseguro
com vistas a potencializar a capacidade de absorção de novos riscos e compartilhar com outras sociedades
empresárias os eventuais prejuízos relacionados às obrigações assumidas no desenvolvimento de sua atividade
econômica.20

Marcelo Mansur Haddad leciona que o contrato de resseguro apresenta as seguintes funções: (i) mercadológica,
propicia a preservação da solvabilidade do sistema securitário; (ii) gerencial, reduz o impacto de flutuações do
aumento do índice da verificação dos sinistros; (iii) financeira, fortalece a análise patrimonial das sociedades
seguradoras para fazerem frente aos riscos assumidos no mercado; e, (iv) educativa, possibilita o
desenvolvimento de novos produtos securitários.21

Por sua vez, as sociedades resseguradoras habitualmente celebram contratos de retrocessão por meio dos quais
também ampliam a sua capacidade técnica para fazer frente às obrigações assumidas perante as companhias
seguradoras, possibilitando, assim, a manutenção da higidez financeira de todo o sistema ressecuritário. 22

No plano legal, importante registrar que o seguro garantia foi introduzido pela primeira vez, de forma expressa,

     
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no ordenamento jurídico brasileiro, pelo Dec.-lei 73, de 21.11.1966 (arts. 3.º, 4.º e 20, d, e e f), que instituiu o
Sistema Nacional de Seguros Privados (SNSP) e regulou as operações de seguro e resseguro no mercado
nacional.23

Posteriormente, o seguro garantia foi expressamente inserido e admitido como meio idôneo de garantia para fins
de cumprimento das obrigações assumidas por participantes de licitações e de contratos firmados com a
Administração Pública no âmbito federal (Dec.-lei 200, de 25.02.1967; 24 Dec.-lei 2.300, de 21.11.1986;25 Lei
federal 8.666, de 21.06.1993;26 Lei federal 11.079, de 30.12.2004;27 Lei federal 11.284, de 02.03.2006);28 e,
inclusive, nas operações cobertas pelo Fundo de Garantia para a Construção Naval - FGCN (Lei federal 11.786,
de 25.09.2008).29

Diante dos benefícios conferidos pelo Sistema Nacional de Seguros Privados (SNSP), o legislador brasileiro
passou a admitir a possibilidade de oferecimento, e, também, expressamente, a possibilidade de substituição da
penhora de bens pelo seguro garantia judicial, com o intuito de reduzir os efeitos prejudiciais causados pela
imobilização de ativos no âmbito do processo de execução civil (art. 656, § 2.º, do CPC/1973; e, arts. 835, § 2.º,
848, parágrafo único, do CPC/2015) e no processo de execução fiscal (art. 7.º, II; art. 9.º, II, e § 3.º; art. 15, I;
art. 16, II, todos, da Lei de Execução Fiscal).

Mas, pergunta-se: como e sob quais condições o seguro garantia judicial tem sido regulado pela Susep? E quais
são as particularidades técnicas relacionadas a este tipo de cobertura com vistas a possibilitar a materialização
do crédito no processo de execução?

2.3 O seguro garantia (Circular Susep 477/2013)

Inicialmente, importante esclarecer que o seguro garantia judicial é espécie do gênero seguro garantia. No
âmbito legal, por se tratar de um seguro de danos, o seguro garantia é regulado pelo Código Civil (arts. 757-
788), haja vista a inexistência de lei específica sobre a matéria; e, no âmbito infralegal é regulado pela Circular
Susep 477, de 30.12.2013,30 que tem por fim dispor sobre os requisitos técnico-atuariais e as condições
padronizadas necessárias para a comercialização deste tipo de cobertura no mercado.

De acordo com o art. 2.º da Circular Susep 477/2013, o seguro garantia "tem por objetivo garantir o fiel
cumprimento das obrigações assumidas pelo tomador perante o segurado". 31 A abrangência da proteção deste
seguro é subdividida de acordo com a seguinte classificação:
Seguro Garantia
Ramo Cobertura
Seguro Garantia Setor Público Seguro garantia do licitante (abrange a participação em
(art. 4.º da Circular Susep 477/2013) licitações)

Seguro garantia de obras e serviços públicos (abrange o contrato principal firmado com ente público, cujo
objeto seja a execução de obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, concessões ou permissões no
âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios).

Seguro garantia de parcelamento administrativo fiscal (abrange a responsabilidade patrimonial em função de


processos administrativos, parcelamentos administrativos de créditos fiscais, inscritos ou não em dívida ativa, e
de regulamentos administrativos).

Seguro garantia judicial (abrange a responsabilidade patrimonial em função de processos judiciais e inclusive
execuções fiscais).
Seguro Garantia Setor Privado Seguro garantia privado (abrange o contrato principal

     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

(art. 5.º da Circular Susep 477/2013) firmado com ente privado, que não se amolde às
hipóteses previstas para as espécies de seguro garantia
setor público).

Na sistemática do seguro garantia, o tomador é o devedor das obrigações por ele assumidas perante o segurado
(art. 6.º, II, da Circular Susep 477/2013). No setor público, como regra, o segurado é a Administração Pública,
ou, o Poder Concedente; e, no setor privado, o segurado é o credor das obrigações assumidas pelo tomador no
contrato principal (art. 6.º, § 1.º, II, e § 2.º, II, da Circular Susep 477/2013).

Torna-se válido registrar que o escopo de proteção do seguro garantia setor público também abrange os valores
relativos ao pagamento de multas e de indenizações, decorrentes do inadimplemento das obrigações assumidas,
previstos em legislação específica (art. 4.º, parágrafo único, da Circular Susep 477/2013).

A Susep admite ainda a comercialização de diversas modalidades de coberturas de seguro garantia, de maneira
isolada ou até mesmo conjugadamente, dependendo da compatibilidade das modalidades contratadas.

Com base na classificação acima, dentre as principais modalidades comercializadas no ramo seguro garantia
setor público, podem ser citadas: o seguro garantia do licitante, o seguro garantia para construção,
fornecimento ou prestação de serviços, o seguro garantia judicial, o seguro garantia judicial para execução
fiscal, o seguro garantia parcelamento administrativo fiscal, o seguro garantia administrativo de créditos
tributários, dentre outras; e, por fim, a cobertura adicional consistente no seguro garantia de ações trabalhistas
e previdenciárias, todas reguladas por condições contratuais especiais (Anexo I da Circular Susep 477/2013).

Dentre as modalidades mencionadas, torna-se válido compreender no que consiste o seguro garantia judicial, a
fim de conhecer o seu objeto, agentes e os limites da proteção securitária, como instrumento hábil a garantir a
satisfação do crédito executado.

2.3.1 O seguro garantia judicial

O seguro garantia judicial pode ser definido como o contrato pelo qual o segurador, mediante o recebimento de
um prêmio, garante o cumprimento das obrigações concernentes à responsabilidade patrimonial do executado-
tomador, assumidas por força de lei ou de contrato, em benefício do exequente-segurado, cujo adimplemento é
objeto de litígio no âmbito judicial.

No seguro garantia judicial, o executado (tomador) é o responsável patrimonial pelas obrigações assumidas
perante o exequente (segurado) (art. 6.º, II, da Circular Susep 477/2013). Assim, no caso da execução civil o
segurado será o credor da obrigação pecuniária discutida pelo tomador em juízo.

Em relação à responsabilidade financeira pela contratação do seguro, importante destacar que compete ao
tomador-executado o pagamento do prêmio à seguradora durante o prazo de vigência da apólice.34

Além disso, a apólice permanecerá vigente, irradiando todos os seus efeitos jurídicos, ainda que o tomador não
pague a contraprestação devida nas datas estipuladas nas condições gerais do contrato (art. 11, caput, e § 1.º, da
Circular Susep 477/2013).

Deste modo, mesmo diante do inadimplemento da contraprestação devida pela garantia contratada, o segurado-
exequente não sofrerá qualquer prejuízo, como, por exemplo, o relativo à suspensão da cobertura ou à rescisão
do contrato, haja vista a finalidade específica desta cobertura voltada para servir de proteção ao terceiro,
ressalvados os casos previstos em lei e nas condições gerais e especiais do contrato. 35

É válido esclarecer que a vigência da apólice do seguro garantia judicial deverá levar em conta o prazo
necessário para o cumprimento da ordem judicial expropriatória do patrimônio do executado, cujas alterações
     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

poderão ser feitas mediante endosso para adaptação do prazo de duração da cobertura (art. 8.º, II, e §§ 1.º e 2.º,
da Circular 477/2013).

No que tange à renovação da apólice, compete à sociedade seguradora notificar o segurado e o tomador com no
mínimo 90 (noventa) dias antes do término da vigência do contrato informando sobre a possibilidade da sua
recondução. O comunicado a respeito da impossibilidade de renovação da apólice somente poderá ocorrer
diante das seguintes hipóteses:

(i) inexistência de risco a ser coberto pela perda do objeto do contrato de seguro garantia (exemplo: declaração
judicial da prescrição ou da decadência do crédito postulado; reconhecimento da pretensão autoral mediante o
depósito judicial em dinheiro do valor controvertido pelo executado); ou,

(ii) perda de direito pelo segurado, nas hipóteses previstas em lei e nas condições gerais e especiais do contrato
(Item 4, Modalidade VI, Anexo I da Circular Susep 477/2013).36

Diante da não verificação de alguma das hipóteses acima especificadas, a renovação da apólice será automática,
uma vez que a vigência da garantia está vinculada ao tempo necessário para a extinção do processo de execução.

Mas, como e sob quais condições deverá ser realizado o pagamento da obrigação pecuniária objeto da garantia
assumida pela sociedade seguradora? Conforme a Circular Susep 477/2013 (Item 5, Modalidade VI, Anexo I), a
efetivação do pagamento do capital segurado somente ocorrerá após a verificação dos seguintes procedimentos:

(i) expectativa de sinistro, consistente no trânsito em julgado do provimento jurisdicional que reconheça a
procedência da pretensão executiva ou diante da realização de acordo judicial previamente autorizado pela
sociedade seguradora, cuja obrigação de pagamento será assumida pelo tomador;

(ii) reclamação do sinistro, consistente na intimação judicial da sociedade seguradora para o pagamento do
valor da pretensão executiva reconhecida como devida por provimento jurisdicional transitado em julgado;

(iii) caracterização do sinistro, consistente no inadimplemento por parte do executado, após intimação do juízo
competente, do valor da pretensão executiva reconhecida como devida pelo provimento jurisdicional transitado
em julgado.

Portanto, o pagamento do capital segurado deverá ser feito pela sociedade seguradora após a verificação destas
três etapas procedimentais e a intimação judicial expedida pelo Juízo competente, dentro do prazo previsto em
contrato (Item 6, Modalidade VI, Anexo I da Circular Susep 477/2013).

Importante destacar ainda que o tomador-executado apenas poderá contratar uma apólice de seguro garantia
para cobrir cada interesse segurável, salvo na hipótese de contratação de apólices complementares, que visem
cobrir proporcionalmente o risco não totalmente abrangido pela primeira garantia securitária (art. 15 da Circular
Susep 477/2013).

Deste modo, por se tratar o seguro garantia de uma espécie de seguro de danos é vedado o sobresseguro, ou
seja, a contratação de mais de um seguro sobre o mesmo interesse segurável totalmente coberto pelo anterior,
com o intuito de evitar o enriquecimento ilícito do beneficiário da garantia, haja vista a necessidade de
observância do pressuposto da correlação lógica entre o valor do dano e o valor da cobertura contratada. 37

Nada obstante, constatada a existência de duas ou mais formas de garantias prestadas em prol do mesmo
segurado, caberá à seguradora responder proporcionalmente com os demais garantidores em relação ao prejuízo
verificado (art. 14 da Circular Susep 477/2013).

Por fim, a extinção do seguro garantia dar-se-á nas seguintes hipóteses: (i) realização do objeto do contrato

     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

garantido reconhecida pelo segurado (por termo, declaração ou devolução da apólice); (ii) ajuste entre
segurado e seguradora; (iii) esgotamento por pagamento do valor contratado a título de garantia; (iv) extinção
do contrato principal ou da obrigação em relação aos quais se vincula a garantia contratada; ou, (v) término
de vigência da apólice, salvo se houver disposição em sentido contrário nas condições do contrato (art. 16, I a V,
da Circular Susep 477/2013).

Percebe-se, assim, que a substituição de um bem penhorado pelo seguro garantia judicial no processo de
execução tem uma múltipla funcionalidade, pois:

(i) desonera o executado da penhora sobre bem que lhe seja mais útil durante o curso do processo de execução
(exemplo: a imobilização de soma financeira capaz de acarretar risco de paralisação das atividades de uma
sociedade empresária, abalo de crédito e confiança do mercado, gerando a sua respectiva falência);

(ii) garante o exequente que a soma pretendida por meio do processo de execução será paga, mediante a
realização do aviso do sinistro dirigido à sociedade seguradora quando da ocorrência do fato autorizador do
pagamento do capital segurado, nos limites da garantia contratada; e, por fim,

(iii) garante ao Juízo a adequação e a equivalência do bem substituto, o desincumbido de determinar novas
providências judiciais assecuratórias visando localizar outro bem que satisfaça a pretensão executiva, e,
assegurando, ao final da execução, o seu cumprimento visando à extinção do processo.

Portanto, inúmeros são os benefícios gerados pela possibilidade de se admitir no processo de execução o
oferecimento e a substituição de um bem penhorado pelo seguro garantia judicial, crédito considerado de
procedência idônea, cujo pagamento é garantido por uma série de pressupostos técnicos e atuariais exigidos pelo
órgão regulador do mercado (Susep).38

2.4 Os sentidos do termo equiparação

Como destacado, com o intuito de aprimorar ainda mais o sistema executivo, o Novo Código de Processo Civil
além de manter a regra sobre a possibilidade de oferecimento do seguro garantia judicial, foi ainda mais longe,
pois tratou, para fins de substituição da penhora, de equiparar de forma expressa o seguro garantia judicial ao
dinheiro, desde que em valor não inferior ao executado devidamente acrescido de 30% (art. 835, § 2.º, do
CPC/2015).39

Mas, afinal, o que significa equiparar? Fazendo uso da interpretação literal ou sintática, em busca do
significado gramatical da expressão na língua portuguesa, de acordo com o Dicionário Michaelis, o verbo
"equiparar", cuja origem vem do latim aequiparare, tem o significado de "(...) 1.Atribuir o mesmo valor, igualar
comparando, tornar igual: (...).vpr 2.Comparar-se, igualar-se.Vtd (...)".40

No mesmo sentido o Dicionário Aurélio, para o qual, o verbo "equiparar" tem o significado de: "(...) 1.
Comparar (pessoas ou coisas), considerando-as iguais; pôr em paralelo, igualar: O professor equiparou os dois
alunos. 2. Conceder paridade a: equiparar funcionários. (...) 6. Comparar-se, igualando-se".41

Posto que para fins gramaticais equiparar significa conferir o mesmo valor, igualar, considerar duas pessoas ou
coisas como iguais, qual seria o significado do termo equiparação para fins jurídicos?

De acordo com as lições do Prof. Tércio Sampaio Ferraz Júnior, o legislador quando pretende por meio do ofício
legislativo igualar duas coisas ou pessoas parte necessariamente do pressuposto de que elas são diferentes entre
si, ou seja, apresentam dessemelhanças essenciais ou secundárias.42

Diante de tal constatação, a equiparação se realiza por meio de uma técnica material de assimilação, pela qual
partindo-se do pressuposto da existência da diferença entre dois objetos, duas relações ou dois sujeitos, estes
     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

passam a ser considerados, por exercício da competência legislativa, responsável pela produção de uma norma
legal, iguais para fins de direito.

Nessa linha, pode-se concluir que a equiparação realizada por meio da técnica legislativa tem por intuito
precípuo conferir um tratamento jurídico semelhante a um objeto, a uma relação ou a um sujeito, possibilitando
extrair um melhor rendimento do sistema jurídico com o intuito de evitar contradições ou antinomias sobre uma
determinada matéria.

Considerando-se que a fiança bancária e o seguro garantia judicial são instrumentos criados com a finalidade de
garantir o cumprimento de obrigações cuja prestação é representada primordialmente por pecúnia, numerário,
valor em espécie, no âmbito da execução, tem-se nítida uma similitude de afinidades que capacita o legislador a
aproximá-las por meio da técnica de assimilação por equiparação ao dinheiro.43-44

Tem-se, como se percebe, uma assimilação dos efeitos gerados pela coisa, pessoa ou relação jurídica com a qual
se pretende estabelecer um liame de identificação, a fim de que os seus respectivos efeitos jurídicos sejam
aplicados ao paradigma por equalização, haja vista a necessidade de que sejam reputadas como iguais para
determinados fins jurídicos.45

Como dito, esta equiparação não é feita aleatoriamente, tem por objetivo precípuo otimizar os resultados obtidos
com a utilização do sistema de execução, ou seja, possibilitar a melhor alocação possível dos recursos
disponíveis no mercado para a garantia e satisfação do crédito exigido judicialmente.46

Diante disso, pode-se afirmar dentro do contexto do sistema de execução que a fiança bancária e o seguro
garantia judicial equivalem a dinheiro para fins de indicação de bens e de penhora na execução, ou seja,
produzem os mesmos efeitos jurídicos que dinheiro para fins de garantia do juízo visando assegurar a satisfação
do crédito exigido por meio da tutela jurisdicional (art. 835, § 2.º, do CPC/2015).

Desse modo, considerando-se que o legislador equiparou expressamente a fiança bancária e o seguro garantia
judicial ao dinheiro, isto é, que não existe diferença para fins de garantia do juízo, não há margem para que o
exequente discuta a sua aceitação, ressalvados os casos de insuficiência ou inadequação da garantia, como será
visto no próximo item, uma vez que se trata de um direito conferido pela lei ao executado.

2.5 Os incidentes de substituição de penhora no Novo CPC

Com base nesta compreensão, poderá o executado valer-se do incidente contido no art. 847, caput, c/c art. 835,
§ 2.º, do Novo CPC para fins de substituição de qualquer bem penhorado na escala de gradação prevista no art.
835, inclusive, a substituição de dinheiro pelo seguro garantia judicial, visto que iguais, equivalentes, para fins
de penhora.47

Neste caso, o executado deverá manifestar de maneira expressa o seu interesse na substituição do bem
penhorado, no prazo de 10 (dez) dias contados da intimação da penhora (art. 847, caput, do CPC/2015),
apresentando a apólice do seguro garantia ao Juiz e os motivos do seu convencimento, lastreados nos seguintes
pressupostos:

(i) idoneidade da garantia oferecida, caracterizada pela adequação do bem substituto em face da pretensão
executiva;

(ii) caracterização da menor onerosidade para o executado, representada pela demonstração de que a
substituição do bem penhorado pela garantia ofertada implicará em benefício para o devedor no que toca à
gestão das atividades econômicas por ele realizadas; e,

(iii) inexistência de prejuízo para o exequente, evidenciada pela capacidade da garantia oferecida satisfazer de
     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

maneira adequada, plena e eficaz a pretensão executiva objetivada com a constrição do bem substituído.

Em face disto, o Juiz deverá determinar a intimação do exequente para que se manifeste no prazo de 03 (três)
dias (art. 847, § 4.º c/c art. 853 do CPC/2015), e, caso este não apresente alegação devidamente fundamentada
da insuficiência ou da não adequação da garantia, como, por exemplo: cobertura inferior ao do valor exigido
por lei ou não previsão quanto à possibilidade de renovação da apólice para cobrir o lapso estimado de
duração do processo, caberá ao Juiz deferir a substituição por tratar-se de regra admitida pela legislação
processual civil.48

Desse modo, o deferimento do pedido de substituição da penhora sobre dinheiro pelo seguro garantia judicial
deverá ser obrigatório nos casos em que a recusa do exequente for injustificada, diante da idoneidade, da menor
onerosidade e da inexistência de prejuízo para a execução.

Admite-se, ainda, a qualquer tempo, a instauração do incidente por meio do pedido de substituição formulado
por qualquer das partes (art. 848, e parágrafo único, do Novo CPC), ou até mesmo que ele seja formalizado em
conjunto, manifestando-se expressamente o interesse na substituição da garantia e comprovando-se os motivos
que conduzem as partes a postularem a modificação da penhora, a fim de se adequar o escopo da constrição
judicial de bens em face da pretensão executiva.

A possibilidade de utilização do seguro de garantia judicial para a diluição das repercussões negativas incidentes
sobre as operações empresariais contribui ainda para a diminuição do custo do crédito, uma vez que assegura o
cumprimento de dívidas contraídas pelo executado, e, ainda, proporciona maior segurança jurídica para o
exequente, haja vista que não sofrerá o risco de ter o seu direito questionado por terceiros, no caso, por exemplo,
da penhora sobre um bem a respeito do qual exista litígio sobre a sua posse ou propriedade.

Conforme se depreende do art. 17 da Circular Susep 477/2013, a aceitação de uma proposta de seguro garantia
judicial é submetida a uma rigorosa análise técnica realizada pela sociedade seguradora, visando aferir a
capacidade econômica, financeira e patrimonial do tomador-executado para quitar a obrigação discutida em
juízo.

Deste modo, a companhia seguradora poderá exigir uma série de informações consideradas relevantes do ponto
de vista econômico e financeiro (relatórios, informações bancárias, análise de histórico mercadológico,
métodos de controle e gerenciamento de riscos adotados na gestão da empresa, dentre outros) a fim de assumir
as possíveis repercussões prejudiciais relacionadas ao risco que incide sobre o legítimo interesse segurável.

É possível constatar, assim, os benefícios gerados pela contratação dessa espécie de cobertura, uma vez que a
análise de crédito é realizada pela seguradora e o risco de inadimplemento do contrato de contragarantia será
pulverizado em grupos segurados constituídos com base em fortes preceitos de ordem técnica adotados pelas
companhias seguradoras sob a fiscalização da Susep.

Constata-se, portanto, que a opção do legislador está em consonância a uma economia de mercado cada vez
mais competitiva, na qual a disponibilidade de recursos financeiros dotados de alta liquidez são imprescindíveis
para a manutenção das atividades econômicas desenvolvidas por sociedades empresárias, sob pena de
estrangulamento da capacidade de adquirir insumos para a consecução dos seus fins sociais, quitar seus
compromissos vitais junto a fornecedores e permitir ainda o pagamento das obrigações trabalhistas dos seus
respectivos funcionários e o recolhimento dos tributos devidos aos entes estatais.49

Diante do conteúdo dos arts. 835, § 2.º, e 848, parágrafo único, do Novo CPC, afasta-se, definitivamente, o
entendimento a respeito da rejeição da substituição da penhora de numerário em espécie por fiança bancária e
pelo seguro garantia judicial sob o argumento de contrariarem a ordem de classificação legal da penhora e de
serem prejudiciais para o executado, haja vista que na nova sistemática processual possuem a mesma
     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

equivalência do dinheiro.50

Percebe-se que antes apenas havia regra admitindo a substituição da penhora do dinheiro pelo seguro garantia
judicial (art. 656, § 2.º, do CPC/1973; art. 848, parágrafo único, do CPC/2015). Com o advento do CPC/2015,
introduz-se nova regra que possibilita afirmar que a fiança bancária e o seguro garantia judicial produzem os
mesmos efeitos jurídicos do dinheiro para fins de penhora (art. 835, § 2.º), inexistindo a possibilidade da sua
recusa, salvo, como dito, nos casos de insuficiência ou inadequação da garantia. 51

Levando-se em consideração a inter-relação do seguro garantia judicial com a satisfação de obrigações de


natureza tributária de interesse da Fazenda Pública, entende-se oportuno a partir deste ponto discorrer em breves
notas como a Lei de Execução Fiscal prevê a aplicação do seguro garantia judicial e a possibilidade de aplicação
subsidiária das regras do Novo CPC a este procedimento judicial especial.52

2.6 A possibilidade de oferecimento do seguro garantia judicial na Lei de Execução Fiscal

Na sistemática originária da Lei de Execução Fiscal (Lei federal 6.830, de 22.09.1980), somente admitia-se a
garantia da execução por meio do depósito em dinheiro ou por meio do oferecimento de fiança bancária (arts.
7.º, II, e 9.º, I e II), ou por meio da realização da penhora de outros bens (art. 9.º, III e IV).53-54

Com base nisto, parte da jurisprudência negava sistematicamente a possibilidade de oferecimento do seguro
garantia judicial fundado no permissivo legal do art. 656, § 2.º, do CPC/1973, sob o argumento de que a ação
de execução fiscal era regida por lei especial.

A Lei federal 13.043, de 13.11.2014, que alterou a redação do art. 9.º, II, da Lei de Execução Fiscal, foi
promulgada com o intuito de modificar esse entendimento restritivo, autorizando de maneira expressa o
oferecimento do seguro garantia judicial para fins de penhora em ação de execução fiscal.

Deste modo, o Juiz ao deferir o processamento da inicial da ação de execução fiscal passou a facultar ao
executado o depósito em dinheiro ou o oferecimento de fiança bancária ou seguro garantia judicial, a fim de
garantir o juízo (art. 7.º, II, da LEF).

A Lei federal 13.043/2014 também estabeleceu que a "garantia da execução, por meio de depósito em dinheiro,
fiança bancária ou seguro garantia, produz os mesmos efeitos da penhora" (art. 9.º, § 3.º, da LEF).55

Ademais, a lei especial também previu que compete ao Juiz deferir em qualquer fase do processo o pedido de
substituição do bem penhorado por dinheiro, fiança bancária ou seguro garantia judicial (art. 15, I, da LEF), o
que denota a equivalência entre tais bens.56

Nada obstante, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) antes do advento da Lei federal
13.043/2014 e do CPC de 2015 consolidou-se no sentido de que a fiança bancária não possui o mesmo status do
dinheiro para fins de substituição de penhora.

O entendimento restritivo do STJ a respeito da impossibilidade de substituição de dinheiro por fiança bancária e
seguro judicial em execução fiscal parece ter sido influenciado pelo raciocínio de que para fins de deferimento
do pedido de suspensão da exigibilidade tributária em medida cautelar somente o dinheiro teria a capacidade de
impedir a cobrança do crédito fiscal, com base no art. 151 do CTN.57

Importante esclarecer que a exigência do depósito em dinheiro estava amparada na previsão taxativa do art. 151
do CTN, o qual não previa expressamente outras hipóteses de bens passíveis de caução para fins de
processamento da medida cautelar, especificamente, no que tange à suspensão da exigibilidade tributária. 58-59

Não sem razão que no voto do REsp 1.123.669/RS, cujo relator foi o Min. Luiz Fux, 1.ª Seção (j. 09.12.2009,

     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

DJe 01.02.2010), restou consignado que a finalidade da medida cautelar é a de apenas viabilizar a obtenção de
certidão positiva com efeito de negativa ou a suspensão da exigibilidade tributária, e, não, propriamente,
adentrar na discussão sobre a procedência ou improcedência do crédito fiscal exigido cujo âmbito extrapolaria
os contornos limitados deste tipo de ação.60

Em que pese os limites de aplicabilidade deste raciocínio, tal entendimento parece ter sido replicado, sem
maiores ponderações, para fins de consideração da aceitação de garantia no âmbito do processo de execução
judicial, restringindo indevidamente o campo de oferecimento e de substituição de bens em relação à penhora de
dinheiro no âmbito fiscal.61

Todavia, a vinculação da garantia exclusivamente ao depósito em dinheiro na ação de execução fiscal, com a
devida vênia, é equivocada, pois a propositura da ação executiva pressupõe, como corolário lógico do seu
ajuizamento, a precedência do lançamento e da constituição do crédito tributário, ou seja, não se pretende mais
obter a suspensão da exigibilidade tributária (art. 151 do CTN), mas, sim, discutir de maneira verticalizada a
procedência do crédito fiscal já constituído e passível de execução (art. 9.º da LEF). 62

Não sem motivo, aliás, que a própria Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, por meio da Portaria PGFN 164,
de 27.02.2014, admite o oferecimento e a aceitação tanto do seguro garantia judicial para execução fiscal
quanto do seguro garantia parcelamento administrativo fiscal para débitos inscritos em dívida ativa da União
(DAU) e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).63

Portanto, injustificável alçar o dinheiro a patamar insuperável para fins de garantia do juízo em execução fiscal
diante da existência de outros meios equiparados por lei como adequados para fins de garantia da pretensão
executiva, impondo-se gravame desnecessário ao contribuinte para fins do exercício do direito a si conferido
pelo legislador (art. 7.º, II; art. 9.º, II, e § 3.º; art. 15, I; art. 16, II, todos, da LEF).64

Importante esclarecer que a alegação de que apenas o dinheiro cessa a cobrança de atualização monetária e de
juros de mora amparada na interpretação literal do § 4.º do art. 9.º da LEF não modifica tal entendimento, isto
porque se a lei equipara expressamente a fiança bancária e o seguro garantia judicial ao dinheiro, isto é, se
equivalentes para fins de substituição de penhora, logo, eles produzirão os mesmos efeitos jurídicos. 65

Ademais, é preciso considerar que o seguro garantia é contratado para fins de adimplemento do valor da
execução e dos respectivos consectários legais, assim, tem-se que os encargos derivados da não realização do
depósito judicial em dinheiro também poderão ser objeto de cobertura, caso exista expressa previsão contratual
nesse sentido.

Não sem motivo, aliás, que o legislador estabeleceu a possibilidade de substituição da penhora pelo seguro
garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do crédito executado, acrescido de 30% (trinta por cento),
para o pagamento de correção monetária, juros, multas, indenizações e honorários advocatícios previstos em lei
(art. 4.º da Circular Susep 477/2013).66

Torna-se necessário compreender que a realização do depósito em dinheiro é um estímulo conferido pela lei ao
executado no sentido de beneficiá-lo com a eventual cessação da cobrança de correção monetária e de juros, e,
não, um impeditivo que o proíba de oferecer qualquer outro bem que satisfaça de maneira plena a pretensão
executiva.

Ademais, a fiança bancária e o seguro judicial têm por função precípua prestar garantia cuja conversibilidade em
dinheiro é automática a partir da constatação do fato gerador do pagamento da importância segurada em
consonância às condições gerais do contrato, logo, devem ser considerados como dinheiro para fins de
execução.

     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

A jurisprudência do STJ que até então não admitia o oferecimento de seguro garantia judicial para fins de
garantia do juízo em processo de execução fiscal, modificou recentemente o seu entendimento e passou a
admiti-la em julgado da lavra do ministro Herman Benjamin (REsp 1.508.171, j. 17.03.2015, DJe 06.04.2015),
em face da alteração da redação do art. 9.º, II, da LEF, pela Lei federal 13.043/2014.

Todavia, ainda não há manifestação a respeito da possibilidade de substituição da penhora sobre dinheiro pelo
seguro garantia judicial posteriormente à edição da Lei federal 13.043/2014, mesmo diante da interpretação de
que o seguro garantia judicial possui natureza equivalente a do numerário em espécie para fins de garantia do
Juízo (arts. 9.º, § 3.º, e 15, I, da LEF).

Em assim sendo, constata-se que a vedação à substituição do dinheiro pela fiança bancária e pelo seguro
garantia judicial conduz, manifestamente, a uma ineficiente alocação de recursos, uma vez que força a
sociedade empresária dotada da capacidade de adquirir tais garantias no mercado a contratar empréstimos com
um custo muito maior, a fim de cumprir outras obrigações que seriam honradas com o numerário penhorado,
prejudicando a consecução de outros interesses relevantes protegidos pela ordem jurídica.67

Nessa linha, importante destacar que os contratos de seguros são considerados atualmente fundamentais para a
diminuição dos custos da transação, uma vez que destinados a reduzir o escopo da incidência de eventuais
comportamentos prejudiciais em relação ao cumprimento de vínculos obrigacionais firmados livremente ou por
força de lei, do qual é exemplo o seguro garantia judicial.68

2.6.1 Os critérios da aplicação subsidiária do Novo CPC à LEF

Mas, ainda que os arts. 9.º, § 3.º, e 15, I, da LEF, não tenham veiculado expressamente tal desígnio, pergunta-se:
poderia ser aplicada a razão da equiparação contida no art. 835, § 2.º, do Novo CPC, para fins de substituição da
penhora sobre dinheiro pela fiança bancária ou pelo seguro garantia judicial na execução fiscal?

A resposta é sim, por dois motivos. Primeiro, porque as regras introduzidas pela Lei federal 13.043/2014 e pelo
CPC/2015 (art. 835, § 2.º) possuem a manifesta intenção de promover a máxima eficácia da execução com a
menor onerosidade para o executado, aprimorando as bases do sistema de penhora judicial e conferindo-lhe
uma maior adequação e proporcionalidade em face dos meios de garantia disponíveis para a satisfação do
crédito do exequente.69

Trata-se de uma nítida modificação valorativa dos efeitos normativos da sistemática da penhora realizada tanto
no âmbito da lei geral aplicável ao processo de execução civil quanto no plano da lei específica que regula o
processo de execução fiscal, como forma de possibilitar que a constrição de bens seja realizada de uma maneira
proporcional, razoável e eficaz, reduzindo-se os efeitos do caráter prejudicial da invasão patrimonial diante da
existência de alternativa capaz de satisfazer plena e adequadamente os interesses do exequente sem que isso lhe
cause prejuízos.

Esta modificação possui fundamentos jurídicos, econômicos e sociais extremamente relevantes, os quais devem
ser impositivamente considerados pelo Juiz, principalmente, quando diante da possibilidade de imobilização de
capital necessário para o desenvolvimento de atividades econômicas vitais para a manutenção de uma empresa. 70

Ademais, porque se aplicam à Lei de Execução Fiscal, subsidiariamente, as normas contidas no Código de
Processo Civil (art. 1.º da LEF), logo, considerando-se a inexistência de regra específica que vede tal
possibilidade, plenamente aplicável o dispositivo legal que admite a equiparação expressa da fiança bancária e
do seguro garantia judicial ao dinheiro para efeitos de penhora visando promover a integração da regulação
normativa sobre a matéria de modo mais favorável ao executado.71

A introdução da regra contida no art. 835, § 2.º, do Novo CPC, tem o potencial de gerar um efeito dúplice:

     
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regular de maneira ampla toda e qualquer espécie de penhora submetida à execução civil bem como viabilizar
a integração da legislação específica por norma que tem por intuito aprimorar a eficácia da penhora,
imprimindo uma maior coerência lógica do sistema jurídico executivo, em face da inexistência de prejuízo para
o exequente (art. 771 do CPC/2015).

Torna-se relevante registrar que o próprio STJ tem admitido a possibilidade de aplicação subsidiária das regras
gerais contidas no Código de Processo Civil à Lei de Execução Fiscal, constatada a inexistência de dispositivo
em sentido contrário na lei especial e/ou diante de norma geral posterior mais benéfica, como, por exemplo, é
o caso dos arts. 835, § 2.º, e 847, caput, e 848, parágrafo único, do Novo CPC, ora em análise.

Nesse sentido, exemplificativamente, apresentam-se os seguintes acórdãos uniformizadores de jurisprudência


editados no âmbito da Corte Especial e da 1.ª Seção (1.ª e 2.ª Turmas de Direito Público reunidas) do STJ,
inclusive, por meio da técnica de julgamento de recursos repetitivos, que admitiram a aplicação subsidiária do
CPC à LEF:

(i) possibilidade de oferecimento de novos embargos à execução fiscal, ainda que nas hipóteses de reforço ou de
substituição de penhora, para discutir os aspectos formais do novo ato constritivo, exegese do art. 745, II, do
CPC/1973 (REsp 1.116.287/SP, Corte Especial, j. 02.12.2009, rel. Min. Luiz Fux, DJe 04.02.2010);72

(ii) possibilidade de realização de penhora "on-line" em ação de execução fiscal, independentemente do


exaurimento de diligências extrajudiciais pelo exequente, em razão do advento da Lei federal 11.382/2006 que
passou a admitir tal possibilidade no âmbito da ação de execução civil, exegese dos arts. 655 e 655-A do
CPC/1973 (REsp 1.184.765/PA, 1.ª Seção, j. 24.11.2010, rel. Min. Luiz Fux, DJe 03.12.2010);73

(iii) possibilidade de concessão de efeito suspensivo aos embargos à execução fiscal quando demonstrada a
relevância dos seus fundamentos, risco de grave dano de difícil ou incerta reparação, desde que previamente
garantido o Juízo, exegese do art. 739-A, § 1.º, do CPC/1973 (REsp 1.272.827/PE, 1.ª Seção, j. 22.05.2013, rel.
Min. Mauro Campbell Marques, DJe 31.05.2013).74

Denota-se, portanto, que o STJ tem admitido a utilização da interpretação sistemática e da teoria do diálogo
das fontes para fins de aplicação das regras gerais do Código de Processo Civil de maneira subsidiária à Lei de
Execução Fiscal, nos casos em que não existir incompatibilidade da lei processual geral com a específica e de
norma posterior mais benéfica, com o intuito de lhe imprimir uma maior efetividade do ponto de vista
processual.

Veja-se que também por meio da interpretação histórica a evolução do sistema de execução visando propiciar a
máxima efetividade com o equilíbrio dos meios expropriatórios adotados é nítida, não podendo ser
desconsiderada pelo interprete: (i) o legislador insere expressamente o seguro garantia judicial no sistema
processual (art. 656, § 2.º, do CPC/1973, com a redação dada pela Lei federal 11.382/2006) (ii) o legislador
passa a admitir expressamente o uso do seguro garantia judicial na ação de execução fiscal (art. 9.º, II, §§ 3.º e
4.º, e do art. 15, I, da LEF, com a redação dada pela Lei federal 11.043/2014); e, por fim, (iii) o legislador
equipara expressamente o seguro garantia judicial ao dinheiro para fins de substituição de penhora no
processo de execução (art. 835, § 2.º, da Lei federal 13.105/2015, Novo CPC).

Como se percebe, vem o legislador do Novo Código de Processo Civil e da Lei de Execução Fiscal em
momento oportuno fortalecer o instrumento do seguro garantia judicial com o intuito de reduzir os efeitos
deletérios da constrição judicial sobre bens do devedor, maximizando os recursos financeiros disponíveis para
garantir a penhora e possibilitando a liberação de numerário necessário para a realização das atividades
econômicas cotidianas de sociedades empresárias.

3 Atual panorama jurisprudencial e perspectivas


     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

Conforme exposto anteriormente, a análise a respeito da aceitação do seguro garantia judicial como bem
passível de garantir o juízo ou de substituir a penhora no âmbito das execuções civis e fiscais suscitou o
desenvolvimento de duas correntes jurisprudenciais: (i) a primeira, favorável ao oferecimento e à substituição da
penhora pelo seguro garantia judicial, inclusive, em relação à constrição de dinheiro; (ii) a segunda,
desfavorável à aceitação da substituição da penhora em dinheiro pelo seguro garantia judicial, sob o argumento
de ferir a gradação legal, e pela ausência de expressa previsão legal na LEF, admitindo-a apenas
excepcionalmente em face do caso concreto e diante da concordância do exequente.

Em relação à primeira linha jurisprudencial entende-se ser ela mais consentânea à intenção do legislador ao
dispor mecanismos alternativos de penhora para conferir ainda mais eficácia ao sistema de execução e, ao
mesmo tempo, reduzir os efeitos prejudiciais da constrição de ativos financeiros utilizados no desenvolvimento
de atividades empresariais.

Nesse sentido, o TJSP, no AgIn 2183187-89.2014.8.26.0000, 13.ª Câm. de Direito Público, cujo relator foi o
Des. Spoladore Dominguez (j. 24.06.2015 e DJ 25.06.2015), decidiu que restou superada a dúvida a respeito da
possibilidade de oferecimento do seguro garantia judicial na execução fiscal: "pois a superveniente Lei federal
13.043, de 13.11.2014 deu nova redação ao inc. II do art. 9.º da Lei 6.830/1980, incluindo-o".

O Des. Dominguez registrou ainda que o prazo de vigência do seguro: "não impede a sua aceitação, pois além
de passível a renovação da apólice, tem a Fazenda Pública, em qualquer fase do processo, direito à substituição
dos bens penhorados por outros, independentemente da ordem enumerada no art. 11, bem como reforço da
penhora insuficiente, nos exatos termos do art. 15 da LEF".

No AgIn 2057802-97.2015.8.26.0000, 18.ª Câm. de Direito Privado, cujo relator foi o Des. Roque Antonio
Mesquita de Oliveira (j. 17.06.2015 e DJ 20.06.2015), o TJSP decidiu que não obstante a preferência do
dinheiro na ordem de constrição judicial (art. 655 do CPC/1973): "o § 2.º do art. 656 do mesmo codex permite
que a parte substitua a penhora 'por fiança bancária ou seguro garantia judicial, em valor não inferior ao do
débito constante da inicial, mais 30% (trinta por cento)'".

O Des. Mesquita de Oliveira consignou ainda que a utilização do incidente de substituição de penhora, por meio
do oferecimento de apólice de seguro garantia judicial: "é procedimento hábil a garantir o Juízo", inexistindo
qualquer "óbice ao recebimento e apreciação da impugnação ao cumprimento de sentença".

Por fim, no AgIn 2105941-80.2015.8.26.0000 (j. 18.06.2015 e DJ 20.06.2015), cujo relator foi o Des. Torres de
Carvalho, o TJSP decidiu pela possibilidade de substituição da penhora em dinheiro pelo seguro garantia
judicial nos autos de execução fiscal em razão da modificação introduzida pela Lei federal 13.043/2014,
considerando que a "jurisprudência vem alargando as hipóteses de garantia da execução, aplicando por extensão
as normas da lei processual [CPC] (...). Nesses termos, não há razão para não admitir o seguro garantia na
execução fiscal, pois assemelhado à fiança bancária e previsto no art. 656, § 2.º, do CPC".75

No mesmo sentido, o TJPR, no AgIn 1158297-3, 11.ª Câm. Civ., cujo relator foi o Des. Gamaliel Seme Scaff (j.
16.07.2014 e data da publicação: 30.07.2014), decidiu que a ordem preferencial do art. 655 do CPC/1973 pode
ser relativizada "em face do princípio da menor onerosidade ao devedor, ainda mais quando permitido pelo
próprio art. 656, § 2.º, CPC a substituição da penhora por carta fiança ou seguro garantia judicial no valor do
débito executado acrescido de 30% (trinta por cento)".

No AgIn 1097425-3, 3.ª Câm. Civ., cuja relatora foi a Des. Themis Furquim Cortes (j. 05.11.2013 e publicação
em: 13.11.2013), o TJPR decidiu que se trata de um direito do executado o oferecimento do seguro garantia
judicial em observância à compatibilização dos princípios da satisfação do credor e da menor onerosidade ao
devedor.

     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

A Des. Themis Cortes ainda consignou que: "na hipótese dos autos, o seguro garantia judicial oferecido
representa garantia idônea revestida de liquidez e firmada em valor superior ao executado, inexistindo prejuízo
ao agravado ou qualquer óbice quanto a sua aceitação".76

O TJRS, na ApCiv 70065360349, 22.ªCâm. Civ., cuja relatora foi a Des. Marilene Bonzanini (j. 06.07.2015 e
DJ09.07.2015), decidiu pela possibilidade de oferecimento antecipado do seguro garantia judicial a fim de
garantir o juízo antes mesmo do ajuizamento da ação de execução, em razão da alteração introduzida pela Lei
Federal 13.043/2014.

No AgIn 70063748784, 2.ª Câm. Civ., cujo relator foi o Des. Ricardo Torres Hermann (j. 06.05.2015), o TJRS
decidiu que "O § 2.º do art. 656 do CPC, incluído pela Lei 11.382/2006, estabeleceu nova modalidade decaução
regulada pela Superintendência de Seguros Privados - Susep, podendo a penhora ser substituída
porsegurogarantiajudicial, em valor não inferior ao do débito constante da inicial, mais 30% (trinta por cento)".

O Des. Torres Hermann consignou ainda que a Lei de Execução Fiscal (art. 9.º, II e § 3.º), após a alteração
realizada pela Lei Federal 11.043/2014, "permite que o executado ofereça fiança bancária ousegurogarantia,
sendo que agarantia oferecida por meio de fiança bancária ousegurogarantia, produz os mesmos efeitos da
penhora". Deste modo, "Demonstrada a suficiência do valor dosegurogarantiapara o débito executado, não há se
falar em recusa da parte exequente, devendo ser aceita a nomeação paragarantiado juízo".77

O TRF-1.ª Reg., no AgIn0000631-85.2014.4.01.0000/PA, 7.ªT., cujo relator foi o Des. Luciano Tolentino
Amaral (j. 18.03.2014, DJ 31.03.2014), decidiu que, com base no art. 656, § 2.º, do CPC/1973 c/c art. 9.º, I, II e
§ 3.º, da LEF, é possível concluir pela possibilidade de substituição da penhora por seguro garantia judicial, uma
vez que "como a fiança bancária possui paridade com o depósito em dinheiro (art. 9.º, I, II e § 3.º, da LEF),
logo, o seguro garantia judicial equipara-se a dinheiro".78

O Des. Amaral consignou ainda ser possível a substituição da penhora de ativos financeiros pelo seguro garantia
judicial em execução fiscal, isto porque "a observância da ordem de penhora ou arresto de bens (art. 11 da Lei
6.830/1980) deve harmonizar-se com o princípio do 'meio menos gravoso ao devedor', bem como adequar-se à
realidade fática de cada hipótese (existência de outros bens passíveis de penhora) e não é exaustiva (apenas
enunciativa!) nem absoluta".

No Agravo Regimental no AgIn0006155-97.2013.4.01.0000/MG, 7.ªTurma, cujo relator foi o Des. Reynaldo


Fonseca (DJ 19.07.2013), o TRF-1.ª Reg. decidiu com base na regra do art. 656, § 2.º, do CPC/1973 que
possível a substituição da penhora por fiança bancária ou por seguro garantia judicial, deste modo como "a
fiança bancária tem paridade com o depósito em dinheiro (art. 9.º, I, II e § 3.º, da Lei 6.830/1980), reconhecida
pelo STJ (MC 13.590/RJ), também assim ocorre com o 'seguro garantia judicial'", sendo a recusa do exequente
ilegítima.

No AgIn0076443-07.2012.4.01.0000/DF, 8.ªT., cuja relatora foi a Des. Maria do Carmo Cardoso (DJ
17.05.2013), o TRF-1.ª Região decidiu que: "O princípio da execução menos onerosa para o devedor,
consagrado no art. 620 do CPC, deve ser observado pelo juiz, pois não se trata de mera faculdade judicial, mas
de um preceito cogente (...)".79

A Des. Cardoso registrou ainda que: "Sendo o valor da apólice seguro-garantia suficiente para garantir a
execução, com prazo de três anos de vigência, podendo ser renovado com simples comunicação junto à
Seguradora, possível, portanto, a sua utilização para assegurar o débito".

O TRF-4.ª Reg., no AgIn0001811-21.2015.404.0000, 2.ªT., cuja relatora foi a Des. Cláudia Maria Dadico (DJ
20.07.2015), decidiu que: "O art. 15, I, da LEF permite que a substituição da penhora possa ser feita, sem
anuência da parte contrária, quando o bem oferecido se tratar de dinheiro ou fiança bancária, ou seguro
     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

garantia", uma vez que o art. 9.º, II, da LEF, com a redação dada pela Lei federal 13.043/2014, permite
expressamente ao executado oferecê-las para fins de garantia da execução.

No AgIn5007909-34.2015.404.0000, 3.ªT., cujo relator foi o Des. Fernando Quadros da Silva (j. 03.06.2015), o
TRF-4.ª Reg. decidiu pela possibilidade de: "apresentação de Seguro Garantia pela executada, nos autos de
execuçãofiscal, a fim de suprir as exigências formuladas pelo fisco, ademais, demonstra sua boa-fé, sendo a
apólice instrumento hábil a garantir a execuçãofiscal, tendo-se em conta a teoria do adimplemento substancial,
que vem sendo aceita pela jurisprudência pátria em favor do devedor".

No AgIn5011407-41.2015.404.0000, 1.ªT., cujo relator foi o Des. Jorge Antonio Maurique (j. 29.05.2015), o
TRF-4.ª Reg. decidiu que: "1. O seguro garantia judicial foi introduzido na processualística brasileira por meio
da Lei 11.382/2006, que acrescentou o § 2.º ao art. 656 do CPC. Ainda que o seguro garantia não esteja
expressamente previsto na Lei 6.830/1980, essa modalidade de garantia aplica-se perfeitamente às execuções
fiscais, que têm no CPC sua fonte subsidiária (art. 1.º)".

O Des. Maurique registrou ainda que: "2. O seguro garantia judicial representa garantia análoga à fiança
bancária, a qual pode ser oferecida em substituição à penhora independentemente da concordância da Fazenda
Pública (art. 15, I)".

Por fim, nos EDcl em AC5003632-55.2010.404.7208/SC, 3.ªT., cujo relator foi o Des. Antônio Carlos Eduardo
Thompson Flores Lenz (j. 30.10.2014), o TRF-4.ª Reg. decidiu pela possibilidade de substituição de dinheiro
pelo seguro garantia judicial, uma vez que: "bem evidenciando a verossimilhança do direito alegado, a boa-fé
inerente ao moderno processo civil cooperativo e a intenção única e exclusiva de afastar eventuais abusos na
constituição do crédito pelo Poder Público, sem manobras protelatórias".

No âmbito do STJ, todavia, a substituição da penhora cujo objeto é dinheiro pelo seguro garantia judicial não
tem encontrado posicionamento favorável, baseado no entendimento de que: (i) a sua admissibilidade não
encontrava amparo na Lei de Execução Fiscal; 80 (ii) a legislação processual civil conferiu primazia, valor
máximo e insubstituível, à penhora de dinheiro na escala de bens passíveis de objeto de constrição judicial; 81 e,
de que (iii) é permitido à Fazenda Pública recusar o bem oferecido pelo executado que não obedece a gradação
legal.82

Logo, segundo o STJ, considerando que a lei conferiu ao exequente o poder de escolha dentre quais bens do
executado recairia a penhora, em sendo dinheiro, não seria possível cogitar da sua substituição pelo seguro
garantia, cuja forma de operacionalização não asseguraria ao exequente a mesma facilidade e disponibilidade
conferida pela constrição de pecúnia diretamente bloqueada de contas bancárias e investimentos financeiros do
executado.

Deste modo, apenas excepcionalmente, diante de situações em que manifestamente comprovada a necessidade
de substituição e da manifestação de concordância do exequente, poderia se cogitar da aceitação de outra
garantia como a fiança bancária ou o seguro garantia judicial no lugar do dinheiro.

Em que pese o posicionamento consolidado da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, entende-se que a
equiparação conferida pelo art. 9.º, II, da LEF, e pelo art. 835, § 2.º, do Novo CPC, e cada vez mais o
aprimoramento da forma de operacionalização do seguro garantia, uma modalidade contratual securitária
regulada pela Susep e voltada especificamente para a proteção dos interesses do segurado-exequente, poderão
modificar este cenário com a perspectiva de admissão da substituição da penhora em dinheiro pelo seguro
garantia, independente da anuência do exequente.

Assim, nos casos em que provado pelo executado que a indisponibilidade financeira gerará mais custos e
prejuízos do que a substituição, ainda que o exequente recuse o pedido de substituição, caberá ao Juiz ponderar
     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

os aspectos circunstanciais existentes, a fim de aquilatar a melhor opção para o caso concreto. 83

Na ponderação dos interesses a ser realizada no curso do processo executivo é sabido que o princípio do menor
gravame ao executado, aliado a outros de influência sistêmica como o relativo ao princípio da preservação da
empresa, obrigam o Juiz a considerar todas as circunstâncias envolvidas no caso concreto.84

Principalmente, quando possível assegurar plenamente os interesses do exequente mediante a substituição da


penhora por bem com o mesmo valor creditício reconhecido por lei para fins de garantia (art. 835, § 2.º, do
CPC/2015) e simultaneamente preservar a manutenção das atividades empresariais do executado, as quais
repercutem não apenas na esfera dos seus interesses privados, mas, também, nos interesses sociais como o de
trabalhadores, fornecedores, parceiros comerciais, consumidores e do próprio fisco no que tange ao interesse
subjacente à arrecadação dos tributos incidentes sobre operações econômicas do executado.

Imperativo dizer que a incidência do princípio da preservação da empresa, no sentido de viabilizar a


continuidade das atividades empresariais, é um fator de interesse não só do empresário, mas, sim, de toda a
coletividade.

De acordo com Thomaz Henrique de Andrade Pereira, o princípio da preservação da empresa deve ser
compreendido como "um mandamento de otimização constitucional - enquanto derivado da função social dos
meios de produção" (ar. 170, III, da CF/1988, e arts. 47 e 75 da Lei federal 11.101/2005), destinado a "viabilizar
a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte
produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores", como fator de "estímulo à atividade
econômica".85

Como dito anteriormente, já em possível sinalização da modificação da jurisprudência, o STJ ao analisar o tema
sob a perspectiva da Lei de Execução Fiscal (art. 9.º, II) recentemente alterada pela Lei federal 13.043/2014, no
REsp 1.508.171/SP, cujo relator foi o Min. Herman Benjamin (j. 17.03.2015, DJe 06.04.2015), posicionou-se
favoravelmente à admissão do seguro garantia judicial para fins de garantia de ação de execução fiscal.

Esta, portanto, deverá ser a tendência do STJ nos próximos julgados que versarem sobre o oferecimento de
seguro garantia judicial, conferindo-se, assim, uma nova possibilidade para fins de desoneração do patrimônio
financeiro constrito para fins de garantia do Juízo e da satisfação de crédito no âmbito do processo de execução,
em louvável opção adotada pelo legislador.

Entende-se que a modificação trazida pelo Novo CPC também poderá repercutir favoravelmente no que se
refere à construção de linha jurisprudencial que passe a admitir a substituição da penhora sobre dinheiro pela
fiança bancária e pelo seguro garantia judicial, independente da anuência do exequente, bastando a
demonstração da idoneidade da garantia, a caracterização da menor onerosidade para o executado e a
inexistência de prejuízo para o detentor do crédito, como forma de desonerar de maneira proporcionalmente
adequada o executado e assegurar ao mesmo tempo a satisfação plena da pretensão executiva.

Nesse sentido, relevante destacar o voto proferido pela Min. Nancy Andrighi, do STJ, no REsp 1.116.647 (j.
15.03.2011, DJe 25.03.2011), a respeito da possibilidade de oferecimento de fiança bancária mesmo antes do
advento da Lei Federal 11.382/2006, porquanto assinalou que compete ao Juiz proceder com precaução diante
do caso concreto, sob pena de inviabilizar o direito de defesa ou o desempenho da atividade econômica do
executado.

A Min. Andrighi reconheceu que mesmo diante do recrudescimento do sistema de execução civil no que tange à
atuação do Estado-Juiz na busca da realização do interesse do exequente em razão do advento das Leis federais
11.232/2005, 11.280/2006 e 11.386/2006, "não é possível rejeitar o oferecimento de fiança bancária para
garantia de execução meramente com fundamento em que há numerário disponível em conta corrente para
     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

penhora".

Ao final, concluiu ainda que: "a paralisação de recursos, em conta corrente, superiores a R$ 1.000.000,00 gera
severos prejuízos a qualquer empresa que atue em ambiente competitivo", em razão do que autorizou o
oferecimento de fiança bancária para fins de garantia do Juízo desde que observados os requisitos do art. 656, §
2.º, do CPC/1973.

Em face das alterações introduzidas pelo Novo CPC (arts. 835, § 2.º, 848, parágrafo único, do Novo CPC), os
fundamentos apresentados no lapidar voto da Min. Andrighi ganham ainda mais força no sentido de robustecer a
tese ora sustentada neste artigo a respeito da possibilidade de substituição de penhora sobre dinheiro por outros
meios de garantias a ele equiparados por força de expressa disposição legal.

4 Conclusão

De acordo com as lições de Cândido Rangel Dinamarco, o processualista na atualidade vê o seu papel de
construtor de técnica se transformar na de um verdadeiro crítico da vida dos direitos, haja vista a necessidade de
se buscar o desenvolvimento de soluções jurídicas que visem à produção do efetivo resultado almejado pela
utilização da via jurisdicional como meio de solução adequada dos conflitos vividos em sociedade. 86

Nesse sentido, torna-se importante relembrar que o processo não funciona apenas como um instrumento voltado
para a preservação dos interesses do exequente, mas, também, deve servir de meio eficiente, proporcional,
equilibrado e adequado, para a preservação dos interesses do executado, com base nas garantias constitucionais
que lhes são inerentes no âmbito do sistema processual (princípio do devido processo legal, art. 5.º, LIV, da
CF/1988).87

Se por um lado vigora o interesse na obtenção de uma tutela jurisdicional executiva célere por meio da atuação
do Estado-Juiz na função de substituto das partes visando à satisfação de um direito violado, de outro lado
vigora o interesse de que o devido processo legal assegure todo o instrumental necessário para a realização da
ampla defesa e do contraditório (art. 5.º, LV, da CF/1988) visando que esta atividade ocorra do modo menos
gravoso ao executado (art. 620 do CPC/1973; art. 805 do CPC/2015).88

É de se dizer que no processo, a celeridade e a efetividade não interessam apenas ao autor da execução, mas,
também, devidamente ponderadas pelos princípios da proporcionalidade e razoabilidade dizem respeito ao
executado, o qual se vê constrangido em sua esfera jurídico-patrimonial aos inconvenientes de participar de um
processo cuja solução, em face da morosidade do Poder Judiciário, submete-se a um longo prazo, sem previsão
a respeito de qual será o resultado da sua conclusão (princípio da duração razoável do processo, art. 5.º,
LXXVIII, da CF/1988).

No que tange ao processo de execução, o Novo Código de Processo Civil ao manter e ampliar o espectro de
cabimento da fiança bancária e do seguro garantia judicial para fins oferecimento e de substituição da penhora
de bens (arts. 835, § 2.º, e art. 848, parágrafo único, CPC/2015), dentro dos quais se encontra o dinheiro,
aprimora ainda mais o sistema executivo, diminuindo o impacto prejudicial e negativo decorrente da
imobilização de ativos necessários para o desenvolvimento de atividades operacionais básicas de pequenas,
médias e grandes empresas submetidas ao trâmite do processo judicial.

Ademais, importante relembrar que o Superior Tribunal de Justiça tem admitido a aplicação das regras do
Código de Processo Civil subsidiariamente à Lei de Execução Fiscal, por meio da interpretação sistemática, e,
inclusive, admitindo a utilização da teoria do diálogo das fontes, visando preservar a coerência do sistema
normativo.

Deste modo, considerando que as regras que disciplinam o oferecimento e a substituição da penhora pelo seguro

     
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garantia judicial no Novo CPC (arts. 835, § 2.º, e art. 848, parágrafo único) viabilizam a satisfação da execução
de maneira proporcionalmente adequada e sem qualquer prejuízo para o exequente, são compatíveis com a lei
especial e mais benéficas para o funcionamento do sistema de execução especial, logo, plenamente aplicáveis ao
processo de execução fiscal.

Como visto, a disponibilização de mecanismos alternativos para fins de garantia do Juízo e da satisfação da
pretensão executiva são imprescindíveis para que a prestação da tutela jurisdicional executiva possa ser
realizada sem prejuízo da continuidade da realização de atividades empresariais necessárias para a manutenção
do fluxo de circulação de riquezas econômicas.89

Tais mecanismos de garantia se encontram em plena harmonia com a Constituição Federal da República de
1988, e são fundamentais para a realização plena dos valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa (arts. 1.º,
IV, e 170, parágrafo único, da CF/1988), do desenvolvimento nacional, da redução das desigualdades sociais e
para a promoção do bem de todos (arts. 3.º, II, III e IV, e 170, VII, da CF/1988), assegurando-se ainda a
preservação do direito de propriedade (art. 5.º, XXII, e 170, II, da CF/1988) atributo inerente ao sistema
capitalista que norteia o modelo econômico nacional.

Nesse contexto, o seguro garantia judicial é um instrumento idôneo para fins de amparo do Juízo e de satisfação
do crédito executado expressamente admitido por lei (arts. 835, § 2.º, e 848, parágrafo único, do CPC/2015),
cujos riscos inerentes à cobertura por ele oferecida são pulverizados em uma grande massa constituída pela
arrecadação de prêmios pagos pelos membros que integram o grupo segurado destinatário das benesses
conferidas pela proteção securitária.

Trata-se, indubitavelmente, do melhor e mais adequado mecanismo de diluição e compartilhamento dos riscos
financeiros inerentes à execução de uma pretensão de natureza judicial disponível no mercado. 90

Igualmente, o cumprimento do objeto do seguro garantia judicial é garantido por uma série de pressupostos
atuariais impostos e fiscalizados pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), com o intuito de manter a
solvabilidade do mercado e garantir o cumprimento das obrigações assumidas perante os segurados.

Além disso, torna-se importante relembrar que o seguro garantia judicial também costuma ser operacionalizado
por meio da contratação de resseguro visando ampliar ainda mais o espectro de pulverização de riscos
assumidos pelas sociedades seguradoras e robustecer a capacidade de solvabilidade para o cumprimento de
obrigações por elas contraídas no mercado securitário.91

Portanto, o advento de novas regras sobre equiparação da fiança bancária e do seguro garantia judicial ao
dinheiro (art. 9.º, II e § 3.º, da LEF; arts. 835, § 2.º, e 848, parágrafo único, do CPC/2015) e a possibilidade de
utilização destas espécies de garantias para fins de oferecimento e substituição de bens penhorados com o intuito
de reduzir os efeitos negativos da constrição judicial sobre a realização das atividades econômicas do
empresário devem ser recebidas com grande satisfação pelo jurisdicionado e com a expectativa de que o Poder
Judiciário possa aplicá-las em função da construção de um novo sistema executivo, mais equilibrado, justo,
proporcional e adequado, para fins da realização da pretensão executiva em consonância à preservação dos
interesses das partes envolvidas no processo e de toda a sociedade.

5 Referências

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RT, 2015.

Avraham, Ronen. The law and economics of Insurance Law. A Primer. Connecticut Insurance Law Journal. vol.
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[http://insurancejournal.org/wp-content/uploads/2013/04/8-Avraham.pdf]. Acesso em: 20.06.2015.

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______, ______. Código de Processo Civil (2015). Lei Federal 11.103, de 06.03.2015. Brasília: Senado Federal,
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1 Marcato, Antônio Carlos (coord.). Código de Processo Civil interpretado. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p.
2.118-2.119.
 
2 CPC/1973: "Art. 612. Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal
(art. 751, III), realiza-se a execução no interesse do credor, que adquire, pela penhora, o direito de preferência
sobre os bens penhorados". CPC/2015: "Art. 797. Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem
lugar o concurso universal, realiza-se a execução no interesse do exequente que adquire, pela penhora, o direito

     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

de preferência sobre os bens penhorados".


 
3 CPC/1973: "Art. 620. Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se
faça pelo modo menos gravoso para o devedor." CPC/2015: "Art. 805. Quando por vários meios o exequente
puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado. Parágrafo
único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais
eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados".
 
4 Pontes de Miranda, Francisco C. Comentários ao Código de Processo Civil, t. X: arts. 612-735. Rio de
Janeiro: Forense, 1976. p. 225-226.
 
5 Arruda Alvim Wambier, Teresa (coord.). Breves comentários ao Novo Código de Processo Civil. São Paulo:
Ed. RT, 2015. p. 1.928-1.929.
 
6 Fábio Ulhoa Coelho conceitua os valores mobiliários como os: "(...) instrumentos de captação de recursos,
para o financiamento da empresa, explorada pela sociedade anônima que os emite, e representam, para quem os
subscreve ou adquire, uma alternativa de investimento. A lei lista os principais tipos de valores mobiliários, que
são a ação, as partes beneficiárias, as debêntures, os bônus de subscrição, e os respectivos cupões e certificados
de depósito (LCVM, art. 2.º)" (Coelho, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 10. ed. São Paulo: Saraiva,
2010. vol. 2. Direito de empresa. p. 140-161).
 
7 Fábio Ulhoa Coelho apresenta o seguinte conceito para ação: "A ação é o valor mobiliário representativo de
uma parcela do capital social da sociedade anônima emissora que atribui ao seu titular a condição de sócio
desta". Acrescenta ainda que: "Em razão de representar a ação um investimento de extrema complexidade, a
definição do quanto ela vale é uma das questões mais relevantes do direito societário. Dependendo do contexto
em que é necessário atribuir valor à participação societária, isto é, em função dos objetivos da avaliação, a ação
poderá ter, e normalmente tem, valores diferentes" (Coelho, Fábio Ulhoa. Idem, p. 83).
 
8 Manoel de Queiroz Pereira Calças ensina que o traço determinante, estabelecido no plano doutrinário, para a
definição da característica personalista ou capitalista das sociedades simples e empresárias, vincula-se à
existência de liberdade ou de vedação contratual para o ingresso de terceiros por meio da aquisição de
participação societária (Calças, Manoel de Queiroz Pereira. Sociedade limitada no novo Código Civil. São
Paulo: Atlas, 2003. p. 26-29).
 
9 O STJ consolidou entendimento a respeito da possibilidade de penhora de quotas de sociedade empresária
ainda que o seu contrato social possua cláusula proibitiva da admissão de terceiro como sócio. Nesse sentido: (i)
REsp 522.820/SP, cujo relator foi o Min. Antonio Carlos Ferreira (j. 22.10.2013 e DJe 05.03.2014), para o qual:
"A respeito da affectio societatis, abordada nas instâncias ordinárias, os efeitos da adjudicação relativamente à
composição da sociedade deverão ser resolvidos entre os adjudicantes e os atuais sócios à luz das cláusulas do
contrato social ou, na pior das hipóteses, mediante dissolução, parcial ou integral, da sociedade para que o
credor transforme as quotas adquiridas judicialmente em pecúnia ou em outros bens de seu interesse"; (ii) REsp
317.651/AM, cujo relator foi o Min. Jorge Scatezzini (j. 05.10.2004 e DJ 22.11.2004), para o qual: "A previsão
contratual de proibição à livre alienação das cotas de sociedade de responsabilidade limitada não impede a
penhora de tais cotas para garantir o pagamento de dívida pessoal de sócio. Isto porque, referida penhora não
encontra vedação legal e nem afronta o princípio da affectio societatis, já que não enseja, necessariamente, a
inclusão de novo sócio. Ademais, o devedor responde por suas obrigações com todos os seus bens presentes e
futuros, nos termos do art. 591 do CPC". A respeito das regras aplicáveis sobre a penhora das quotas ou das
ações de sociedades personificadas confira o art. 861 do CPC/2015.
     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

 
10 A possibilidade de penhora sobre o faturamento da sociedade empresária também tem sido admitida pelo
STJ, desde que preenchidos os pressupostos relativos à excepcionalidade da medida: inexistência de outros bens
penhoráveis e inexistência de prejuízo para a continuidade das atividades empresariais. Nesse sentido, os
seguintes acórdãos: (i) AgRg no AREsp 595.361/SP, cujo relator foi o Min. Ricardo Villas Boas Cueva, 3.ª T. (j.
18.06.2015, DJe 06.08.2015), para o qual: "2. Este Superior Tribunal entende não ferir o princípio da menor
onerosidade na execução, observadas as cautelas legais, a penhora sobre o faturamento da empresa"; (ii) EDcl
no AREsp 676.713/SC, cujo relator foi o Min. João Otávio de Noronha, 3.ª T. (j. 02.06.2015, DJe 09.06.2015),
para o qual: "1. É possível a penhora sobre o faturamento bruto da empresa de forma excepcional, o que deve
ser avaliado pelo magistrado à luz das circunstâncias fáticas apresentadas no curso da execução e desde que tal
constrição não afete o funcionamento da empresa. Incidência da Súmula 83/STJ". A respeito das regras
aplicáveis à penhora de empresa e de outros estabelecimentos confira os arts. 862 ao 865 do CPC/2015.
 
11 Súmula 417 do STJ: "Na execução civil, a penhora de dinheiro na ordem de nomeação de bens não tem
caráter absoluto" (Decisão: 03.03.2010 e DJe: 11.03.2010).
 
12 Wambier, Luiz Rodrigues; Correia de Almeida, Flávio Renato. Talamini, Eduardo. Curso avançado de
processo civil. 10. ed. São Paulo: Ed. RT, 2008. vol. 2: execução. p. 206.
 
13 Brasil. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Senado Federal. Código de Processo Civil (2015). Texto
integral comparativo final do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. Congresso Nacional. Senado
Federal. Câmara dos Deputados, Presidência, 2015. Disponível em:
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camara]. Acesso em: 15.06.2015.
 
14 Neves, Daniel Amorim Assunção. Manual de direito processual civil. 7. ed. São Paulo: Método, 2015. p.
1.197-1.198.
 
15 Mendonça, Vinícius de Carvalho P. Curso de Direito do Seguro e Resseguro. Rio de Janeiro: Fundação
Getulio Vargas, 2015. p. 10-13.
 
16 Idem, p. 18-21.
 
17 Dec.-lei 73/1966: "Art. 84. Para garantia de tôdas as suas obrigações, as Sociedades Seguradoras constituirão
reservas técnicas, fundos especiais e provisões, de conformidade com os critérios fixados pelo CNSP [Conselho
Nacional de Seguros Privados], além das reservas e fundos determinados em leis especiais"; "Art. 109. Os
Diretores, administradores, gerentes e fiscais das Sociedades Seguradoras responderão solidàriamente com a
mesma pelos prejuízos causados a terceiros, inclusive aos seus acionistas, em conseqüência do descumprimento
de leis, normas e instruções referentes as operações de seguro, cosseguro, resseguro ou retrosseção, e em
especial, pela falta de constituição das reservas obrigatórias"; "Art. 110. Constitui crime contra a economia
popular, punível de acôrdo com a legislação respectiva, a ação ou omissão, pessoal ou coletiva, de que decorra a
insuficiência das reservas e de sua cobertura, vinculadas à garantia das obrigações das Sociedades Seguradoras".
 
18 A respeito da responsabilidade civil relacionada ao desenvolvimento da atividade bancária, confira por todos:
Waisberg, Ivo. Responsabilidade civil dos administradores de bancos comerciais: regimes especiais de
intervenção, liquidação extrajudicial e Regime de Administração Especial Temporária - Raet. São Paulo: Ed.
RT, 2002.
 
     
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19 Sobre as atribuições desenvolvidas pelo Banco Central na função de órgão regulador e fiscalizador do
mercado financeiro, cf.: Mendonça, Vinícius de C. P. A responsabilidade civil do Banco Central. Revista de
Direito Bancário e do Mercado de Capitais. São Paulo: Ed. RT, 2012, p. 47-96.
 
20 No âmbito legal o Dec.-lei 73, de 21.11.1966, e a LC 126, de 15.01.2007, disciplinam a forma como as
operações de seguro, cosseguro, resseguro e retrocessão deverão ser realizadas, como meio de pulverização dos
riscos e do fortalecimento do mercado segurador.
 
21 Haddad, Marcelo Mansur. O resseguro internacional. Rio de Janeiro: Funenseg, 2003. p. 19-21.
 
22 Torna-se válido explicar que a LC 126/2007 foi responsável pela abertura do mercado ressegurador
brasileiro, cujo monopólio operacional e regulatório era detido pelo Instituto de Resseguros do Brasil - IRB,
possibilitando assim uma maior dinâmica e fortalecimento do sistema ressegurador, haja vista a ampliação das
bases de contratação de coberturas ressecuritárias pelas seguradoras com atividades no Brasil.
 
23 Dec.-lei 73/1966: "Art. 3.º Consideram-se operações de seguros privados os seguros de coisas, pessoas, bens,
responsabilidades, obrigações, direitos e garantias"; "Art. 20. Sem prejuízo do disposto em leis especiais, são
obrigatórios os seguros de: (...) d) bens dados em garantia de empréstimos ou financiamentos de instituições
financeiras pública; e) garantia do cumprimento das obrigações do incorporador e construtor de imóveis; f)
garantia do pagamento a cargo de mutuário da construção civil, inclusive obrigação imobiliária".
 
24 Dec.-lei 200/1967: "Art. 135. Será facultativa, a critério da autoridade competente, a exigência de prestação
de garantia por parte dos licitantes segundo as seguintes modalidades:I - Caução em dinheiro, em títulos da
dívida pública ou fidejussória.II - Fiança bancária.III - Seguro-garantia".
 
25 Dec.-lei 2.300/1986: "Art. 46. A critério da autoridade competente, em cada caso, poderá ser exigida
prestação de garantia nas contratações de obras, serviços e compras. § 1.º. Caberá ao contratado optar por uma
das seguintes modalidades: 1. Caução em dinheiro, em títulos da dívida pública da União ou fidejussória; 2.
Fiança bancária; 3. Seguro-garantia".
 
26 Lei federal 8.666/1993: "Art. 6.º Para os fins desta Lei, considera-se: (...) VI - Seguro-Garantia - o seguro
que garante o fiel cumprimento das obrigações assumidas por empresas em licitações e contratos". "Art. 56. A
critério da autoridade competente, em cada caso, e desde que prevista no instrumento convocatório, poderá ser
exigida prestação de garantia nas contratações de obras, serviços e compras. § 1.º Caberá ao contratado optar
por uma das seguintes modalidades de garantia:(Redação dada pela Lei 8.883/1994) I - caução em dinheiro ou
em títulos da dívida pública, devendo estes ter sido emitidos sob a forma escritural, mediante registro em
sistema centralizado de liquidação e de custódia autorizado pelo Banco Central do Brasil e avaliados pelos seus
valores econômicos, conforme definido pelo Ministério da Fazenda;(Redação dada pela Lei 11.079/2004) II -
seguro-garantia;(Redação dada pela Lei 8.883/1994) III - fiança bancária.(Redação dada pela Lei 8.883, de
08.06.1994)". "Art. 71. O contratado é responsável pelos encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e
comerciais resultantes da execução do contrato. (...) § 2.º A Administração poderá exigir, também, seguro para
garantia de pessoas e bens, devendo essa exigência constar do edital da licitação ou do convite".
 
27 Lei federal 11.079/2004: "Art. 8.º.As obrigações pecuniárias contraídas pela Administração Pública em
contrato de parceria público-privada poderão ser garantidas mediante: (...) III - contratação de seguro-garantia
com as companhias seguradoras que não sejam controladas pelo Poder Público; (...) V - garantias prestadas por
fundo garantidor ou empresa estatal criada para essa finalidade; VI - outros mecanismos admitidos em lei".
 
     
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28 Lei federal 11.284/2006: "Art. 21. As garantias previstas no inc. XIII do art. 20 [edital de licitação para fins
de concessão florestal] desta Lei: I - incluirão a cobertura de eventuais danos causados ao meio ambiente, ao
erário e a terceiros; II - poderão incluir, nos termos de regulamento, a cobertura do desempenho do
concessionário em termos de produção florestal. § 1.º. O poder concedente exigirá garantias suficientes e
compatíveis com os ônus e riscos envolvidos nos contratos de concessão florestal. § 2.º. São modalidades de
garantia: I - caução em dinheiro; II - títulos da dívida pública emitidos sob a forma escritural, mediante registro
em sistema centralizado de liquidação e de custódia autorizado pelo Banco Central do Brasil, e avaliados pelos
seus valores econômicos, conforme definido pelo Ministério da Fazenda; III - seguro-garantia; IV - fiança
bancária; V - outras admitidas em lei".
 
29 Lei federal 11.786/2008: "Art. 9.ºNas operações garantidas pelo FGCN [Fundo de Garantia para a
Construção Naval], exceto para as embarcações destinadas às atividades de micro e pequeno empresário do
setor pesqueiro e de transporte aquaviário interno de passageiro, poderá ser exigida, cumulativamente ou não, a
constituição das seguintes contragarantias por aquele Fundo, sem prejuízo de outras:(caput do artigo com
redação dada pela Lei 12.058, de 13.10.2009) I - penhor da totalidade das ações de emissão do estaleiro
construtor; II - alienação fiduciária ou hipoteca da embarcação objeto do financiamento; III - fiança dos
acionistas controladores do estaleiro construtor; IV - celebração de contrato de comodato das instalações
industriais em que a embarcação será construída, bem como das máquinas e equipamentos necessários para sua
construção; V - seguro garantia com cobertura mínima de 10% (dez por cento) do valor do crédito concedido,
para os objetivos tratados nos incs. I a IV do § 2.º do art. 4.º desta Lei;(inciso com redação dada pela Lei 12.058,
de 13.10.2009); VI - seguro garantia com cobertura mínima de 3% (três por cento) do valor do crédito
concedido, para os objetivos tratados no inc. V do § 2.º do art. 4.º desta Lei.(inciso acrescido pela MedProv 462,
de 14.05.2009,convertida na Lei 12.058, de 13.10.2009)".
 
30 A Circular Susep 477/2013, revogou a Circular Susep 232, de 03.06.2003, que também regulava a
comercialização do seguro garantia no mercado nacional.
 
31 Segundo Gladimir Polletto, o contrato de fiança consiste na fonte jurídica responsável pelo desenvolvimento
das bases do seguro garantia. Nessa linha, as primeiras atividades de garantia prestadas por sociedades
seguradoras foram realizadas na forma de fianças, e, posteriormente, em razão do desenvolvimento das
modernas técnicas atuariais passaram a adquirir a forma e a operacionalidade inerente a este tipo de cobertura
securitária (Poletto, Gladimir Adriani. O seguro garantia. Em busca de sua natureza jurídica. Rio de Janeiro:
Funenseg, 2003. p. 03-11).Daí se afirmar, por exemplo, a respeito da identificação e da similitude dessas
espécies de garantias, as quais costumam ser amplamente admitidas e disponibilizadas nas legislações
brasileiras sobre licitações e contratos firmados com a Administração Pública no âmbito federal, conforme
anteriormente demonstrado. E, mais atualmente, também passaram a ser expressamente permitidas como meio
jurídico e financeiramente eficaz de desoneração de ativos no âmbito das execuções civil e fiscal.

 
33 Circular Susep 477/2013: "Art. 6.º Para fins desta Circular definem-se: (...) § 2.º Especificamente para o
Seguro Garantia: Segurado - Setor Privado definem-se: I - Contrato Principal: o documento contratual, seus
aditivos e anexos, que especificam as obrigações e direitos do segurado e do tomador".
 
32 Circular Susep 477/2013: "Art. 6.º Para fins desta Circular definem-se: (...) § 1.º Especificamente para o
Seguro Garantia: Segurado - Setor Público definem-se: I - Contrato Principal: todo e qualquer ajuste entre
órgãos ou entidades da Administração Pública (segurado) e particulares (tomadores), em que haja um acordo de
vontades para a formação de vínculo e a estipulação de obrigações recíprocas, seja qual for a denominação
utilizada".
     
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34 O prêmio para a técnica securitária corresponde ao valor da contraprestação devida pelo segurado ao
segurador a título de contratação da cobertura do seguro. Por outro lado, denomina-se capital segurado ou
importância segurada o valor pago pelo segurador a título de verificação do fato gerador da garantia que visa
beneficiar o segurado ou terceiro com a proteção securitária contratada.
 
35 A Circular Susep 477/2013 confere à sociedade seguradora a possibilidade de executar o contrato de
contragarantia em face do tomador-executado visando à cobrança do prêmio inadimplido conforme estipulado
na apólice (art. 11, § 2.º), sem qualquer interferência para o segurado (art. 21). Entende-se relevante destacar
ainda que é vedada a cobrança de franquias, participações obrigatórias do segurado ou a estipulação de prazo de
carência do seguro garantia, isto é, verificado o fato gerador da obrigação de pagar, deverá a sociedade
seguradora providenciar, dentro do prazo estipulado e mediante as condições contratuais elencadas, o
pagamento da importância contratada ao exequente, como forma de extinguir a execução (art. 10 da Circular
Susep 477/2013).
 
36 De acordo com o Item 11, Anexo I, Condições Gerais, da Circular Susep 377/2013, são hipóteses de perda de
direitos: "I - Casos fortuitos ou de força maior, nos termos do Código Civil Brasileiro; II - Descumprimento das
obrigações do tomador decorrente de atos ou fatos de responsabilidade do segurado; III - Alteração das
obrigações contratuais garantidas por esta apólice, que tenham sido acordadas entre segurado e tomador, sem
prévia anuência da seguradora; IV - Atos ilícitos dolosos ou por culpa grave equiparável ao dolo praticados pelo
segurado, pelo beneficiário ou pelo representante, de um ou de outro; V - O segurado não cumprir integralmente
quaisquer obrigações previstas no contrato de seguro; VI - Se o segurado ou seu representante legal fizer
declarações inexatas ou omitir de má-fé circunstâncias de seu conhecimento que configurem agravação de risco
de inadimplência do tomador ou que possam influenciar na aceitação da proposta; VII - Se o segurado agravar
intencionalmente o risco".
 
37 Mendonça, Vinícius de Carvalho P. Curso de Direito do Seguro e Resseguro. Rio de Janeiro: Fundação
Getulio Vargas, 2015. p. 31.
 
38 Importante esclarecer que o seguro garantia judicial para execução fiscal possui condições especiais de
comercialização. A primeira particularidade se refere ao próprio objeto da cobertura, destinado a garantir o
cumprimento de obrigações discutidas no âmbito de execuções fiscais (Item 1, Modalidade VII, Anexo I da
Circular Susep 477/2013), no qual o exequente (segurado) é o titular do crédito fiscal objeto de cobrança
judicial por meio do procedimento de execução movido em face do executado (tomador) (Item 2, Modalidade
VII, Anexo I da Circular Susep 477/2013).Diferentemente do que ocorre em relação ao seguro analisado no
subitem 2.3.1., no seguro garantia judicial de execução fiscal, por força da Lei federal 6.830/1980 (LEF), a
seguradora poderá se ver forçada a cumprir o objeto do contrato ainda que não tenha ocorrido o trânsito em
julgado do provimento jurisdicional, como, no caso, por exemplo, da não atribuição de efeito suspensivo aos
embargos à execução ou ao recurso de apelação interposto pelo tomador-executado (Subitem 1.2, Modalidade
VII, Anexo I da Circular Susep 477/2013).
A renovação deste tipo de cobertura observa as mesmas regras estabelecidas para o seguro garantia judicial de
execução civil, acrescendo-se como causas de não renovação da apólice a extinção do seu objeto e a
substituição da garantia por outra, como, por exemplo, quando o executado optar pelo parcelamento
administrativo do crédito fiscal (Item 7, Modalidade VII, Anexo I da Circular Susep 477/2013).

Em relação à efetivação do pagamento do capital segurado, no seguro garantia de execução fiscal, apenas duas
etapas deverão ser observadas (Item 5, Modalidade VII, Anexo I da Circular Susep 477/2013): (i) reclamação

     
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do sinistro, consistente na intimação judicial expedida pela autoridade competente dirigida à sociedade
seguradora para o pagamento do valor da ação de execução fiscal, nos termos do art. 19 da LEF; (ii)
caracterização do sinistro, representada pelo não pagamento do valor da ação de execução fiscal pelo
executado, objeto de intimação expedida pelo juízo competente.

Após a verificação das etapas acima descritas, a sociedade seguradora deverá realizar o depósito judicial do
valor do capital segurado no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de não o fazendo, contra ela prosseguir a
execução nos próprios autos do processo de execução fiscal no qual prestada a garantia, nos termos do art. 19
da LEF (Item 6, Modalidade VII, Anexo I da Circular Susep 477/2013).

Conclui-se, portanto, que em face da relevância do crédito fiscal, o regime regulatório do seguro garantia de
execução fiscal é ainda mais rigoroso, podendo ser determinado pelo Juiz o depósito judicial correspondente ao
valor da obrigação fiscal ainda que não ocorrido o trânsito em julgado do provimento jurisdicional sobre a
procedência da pretensão executiva.

 
39 Bueno, Cássio Scarpinela. Novo Código de Processo Civil anotado. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 517.
 
40 Dicionário Michaelis On-line. Disponível em: [http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?
lingua="portugues-portugues&palavra=equiparar]." Acesso: 21 mai. 2015].
 
41 Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Nova Fronteira. p.
545.
 
42 Ferraz Júnior, Tercio Sampaio. Equiparação - CTN, Art. 51. Cadernos de Direito Tributário e Finanças
Públicas. ano 07. n. 28. p. 109-114. São Paulo: Ed. RT, jul.-set. 1999.
 
43 Segundo o Dicionário Michaelis, o vocábulo dinheiro tem origem etimológica na palavra latina denariu, o
qual significa: "1.Moeda corrente.2.Valor representativo de qualquer quantia. 3.Nome comum a todas as
moedas.4.Numerário, quantia, soma.5.Todo e qualquer valor comercial (cheques, letras, notas de banco etc.)
(...)". Disponível em: [http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua="portugues-
portugues&palavra=dinheiro]." Acesso em: 17.06.2015.
 
44 De acordo com o Novo Dicionário Aurélio, o vocábulo dinheiro, cuja origem também se atribui ao latim
denarius, significa: "1. Mercadoria (geralmente representada por cédulas e moedas) que tem curso oficial, e cujo
valor é estabelecido como o equivalente que permite a troca por outra(s) mercadoria(s), de cujo valor
comparativo é a medida. [Cf. moeda (3) e papel-moeda.]. 2. P. ext. Tudo o que representa dinheiro (1), ou nele
pode ser convertido (cheques, títulos, ações, mercadorias negociáveis etc.) (...). 4. V. moeda corrente (...). 5.
Moeda (4) (...). 6. Recursos financeiros (...)" (Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua
portuguesa. Vocábulo: equiparar. São Paulo: Nova Fronteira, p. 476-477).
 
45 É importante esclarecer que segundo as lições do Prof. Tércio Sampaio Ferraz Júnior a equiparação é a
técnica de assimilação utilizada para equalizar duas coisas separadas por diferenças meramente secundárias,
cuja essência é a mesma. Enquanto a ficção jurídica é a técnica de assimilação empregada para aproximar por
criação artificial duas coisas separadas por diferenças essenciais. Deste modo, do ponto de vista técnico, a
aproximação disciplinada no art. 835, § 2.º, do CPC/2015, na verdade, não seria apropriadamente uma
aproximação por equiparação, mas, sim, uma aproximação por ficção jurídica. Segundo Ferraz Júnior: "Em
síntese, a equiparação afirma uma igualdade, desprezando desigualdades secundárias, enquanto a ficção afirma

     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

uma desigualdade essencial, procedendo, não obstante, a uma igualação" (Ferraz Júnior, Tercio Sampaio.
Equiparação - CTN, Art. 51. Cadernos de Direito Tributário e Finanças Públicas. ano 07. n. 28. p. 109-114. São
Paulo: Ed. RT, jul.-set. de 1999).
 
46 De acordo com as lições de Paula A. Forgioni, a alocação eficiente de recursos é considerada um dos
fundamentos da teoria sobre Direito e Economia (Law & Economics), uma vez que: "(i) Dada a escassez de
recursos em face das necessidades humanas, sua alocação mais eficiente gerará o incremento do bem-estar e do
fluxo de relações econômicas. (ii) A alocação mais eficiente, por sua vez, é identificada com o chamado ótimo
paretiano, segundo o qual uma sociedade não se encontra em situação ótima se houver pelo menos uma
modificação capaz de melhorar a posição de alguém, sem prejudicar a de outrem (...) Note-se que para alguns
teóricos da AED, como Calabresi, o teste de Pareto não passaria de um guia jurídico, econômico e
jurieconômico, servindo ao aprimoramento da sociedade, na medida em que visa a estabelecer situação fática
em que todos se encontrem na melhor posição possível" (Forgioni, Paula Andrea. Análise econômica do direito
(AED). Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. vol. 139. p. 244-245. São Paulo:
Malheiros, jul.-set. 2005).
 
47 Arruda Alvim Wambier, Teresa (coord.). Breves comentários ao Novo Código de Processo Civil. São Paulo:
Ed. RT, 2015. p. 1.928-1.931.
 
48 Marinoni, Luiz Guilherme. Arenhart, Sérgio Cruz. Curso de processo civil: execução. São Paulo: Ed. RT,
2008. vol. 3, p. 268-270.
 
49 Didier Júnior, Fredie et al. Curso de direito processual civil. Execução. Salvador: JusPodivm, 2009. vol. 5, p.
599-602.
 
50 "Processual civil. Execução. Substituição de penhora. Em dinheiro por seguro garantia judicial.
Impossibilidade. Princípio da satisfação do credor. 1. A preterição da ordem estabelecida no art. 655 do CPC só
pode ser admitida quando comprovada não somente a manifesta vantagem para o executado, mas também a
ausência de prejuízo para o exequente. 2. No caso dos autos a executada ostenta grande capacidade financeira,
não sendo prejudicada pela imobilização do valor penhorado. Por outro lado, o seguro garantia judicial ofertado
em substituição não garante o exequente tanto quanto a penhora em dinheiro, até porque, além da natural
dificuldade processual de satisfação de garantia, dadas as possibilidades recursais, no caso concreto, o seguro
garantia está submetido a validade determinada, após o transito em julgado, o que fatalmente se exaurirá no
decorrer da previsível recorribilidade. 3. Uma vez realizada a penhora em dinheiro, não cabe a sua substituição
por fiança bancária de prazo determinado para após o transito em julgado, de complexa e incerta realização
tendo em vista, o princípio da satisfação do credor. Precedentes. 4. - Recurso Especial provido" (REsp
1.168.543/RJ, 3.ª T., j. 05.03.2013, rel. Min. Sidnei Beneti, DJe 13.03.2013).
 
51 Arruda Alvim Wambier, Teresa (coord.). Breves comentários ao Novo Código de Processo Civil. São Paulo:
Ed. RT, 2015. p. 1.943-1.949.
 
52 Fernando da Fonseca Gajardoni afirma que o processo de execução pode ser subdividido em três categorias
de procedimentos de acordo com a finalidade objetivada com a realização da tutela jurisdicional executiva: (i)
os procedimentos comuns, os quais abrangem a execução para entrega de coisa (arts. 621 a 631 do CPC/1973;
arts. 806 a 813 do CPC/2015), a execução de obrigação de fazer e não fazer (arts. 632 a 645 CPC/1973; arts.
814 a 823 do CPC/2015) e a execução por quantia certa contra devedor solvente (arts. 646 a 729 CPC/1973;
arts. 824 a 909 do CPC/2015); (ii) os procedimentos especiais previstos pelo CPC, os quais abrangem a
execução contra a Fazenda Pública (arts. 730 e 731 do CPC/1973; art. 909 do CPC/2015), a execução de
     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

alimentos (arts. 732 a 735 do CPC/1973; arts. 911 a 913 do CPC/2015), e a execução por quantia contra devedor
insolvente (arts. 646 a 729 e 748 a 786-A do CPC/1973; art. 1.052 do CPC/2015); e, (iii) os procedimentos
especiais executivos previstos pela legislação especial, os quais abrangem a execução fiscal (Lei federal
6.830/1980) e a execução da hipoteca (Dec.-lei 70/1966 e Lei federal 5.741/1971) (Gajardoni, Fernando da
Fonseca. Procedimentos, déficit procedimental e flexibilização procedimental no novo CPC. Revista de
Informação Legislativa. ano 48. n. 190. t. I. p. 164-165. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições
Técnicas, abr.-jun. 2011).
 
53 A certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e
dos Municípios, é considerada título executivo extrajudicial hábil a instruir o processo de execução (art. 585,
VII, do CPC/1973; e, art. 784, IX, do CPC/2015).
 
54 Lei de Execução Fiscal: "Art. 10. Não ocorrendo o pagamento, nem a garantia da execução de que trata o art.
9.º, a penhora poderá recair em qualquer bem do executado, exceto os que a lei declare absolutamente
impenhoráveis"; "Art. 11. A penhora ou arresto de bens obedecerá à seguinte ordem: I - dinheiro; II - título da
dívida pública, bem como título de crédito, que tenham cotação em bolsa; III - pedras e metais preciosos; IV -
imóveis; V - navios e aeronaves; VI - veículos; VII - móveis ou semoventes; e VIII - direitos e ações".
 
55 Lei de Execução Fiscal: "Art. 16. O executado oferecerá embargos, no prazo de 30 (trinta) dias, contados:
(...) II - da juntada da prova da fiança bancária ou do seguro garantia".
 
56 Torna-se relevante esclarecer que a jurisprudência do STJ já se manifestou favoravelmente à substituição da
penhora sobre dinheiro pela fiança bancária, por considerar, mesmo antes do advento do art. 835, § 2.º, do Novo
CPC, que esta forma de garantia possuía o mesmo status do dinheiro (art. 15 da LEF). Nesse sentido, os
seguintes precedentes jurisprudenciais sobre a matéria: (i) "Tributário e processual civil. Execução fiscal.
Garantia. Fiança bancária. Penhora sobre faturamento. 1. A penhora sobre faturamento da empresa só deverá ser
admitida quando não houver outro meio para satisfação do credor, já que o art. 620 do CPC determina que a
execução seja processada da maneira menos gravosa ao executado. Precedentes de ambas as Turmas de Direito
Público e da Corte Especial. 2. "O art. 15, I, da Lei 6.830/1980 confere à fiança bancária o mesmo status do
depósito em dinheiro, para efeitos de substituição de penhora, sendo, portanto, instrumento suficiente para
garantia do executivo fiscal" (REsp 660.288/RJ). 3. Recurso especial provido" (REsp 849.757/RJ, 2.ª T., j.
07.11.2006, rel. Min. Castro Meira, DJ 20.11.2006, p. 295); (ii) "Tributário. Execução fiscal. Arrematação
embargada. Substituição do pagamento em dinheiro por fiança bancária. Aplicação analógica do art. 15, I da Lei
6.830/1980. Possibilidade. 1. "O art. 15, I, da Lei 6.830/1980 confere à fiança bancária o mesmo status do
depósito em dinheiro, para efeitos de substituição de penhora, sendo, portanto, instrumento suficiente para
garantia do executivo fiscal". (REsp 660.288/RJ, rel. Min. Eliana Calmon, DJU 10.10.2005). 2. Somente a
Fazenda Pública ou o executado poderão requerer a substituição da penhora, mas nunca o depositário (art. 15, I,
da LEF). 3. Possuindo o mesmo status que o dinheiro, quando embargada a arrematação, sem imissão na posse
do bem, deve-se permitir que a fiança bancária possa substituir a exigência do depósito em dinheiro, por
aplicação analógica do art. 15, I da LEF. 4. Recurso especial improvido" (REsp 643.097/RS, 2.ª T., j.
04.04.2006, rel. Min. Castro Meira, DJ 18.04.2006, p. 190); (iii) "Processual civil - Execução fiscal - Penhora
sobre faturamento - Excepcionalidade - Substituição por fiança bancária - Cabimento. 1. O art. 15, I, da Lei
6.830/1980 confere à fiança bancária o mesmo status do depósito em dinheiro, para efeitos de substituição de
penhora, sendo, portanto, instrumento suficiente para garantia do executivo fiscal. 2. A penhora sobre o
faturamento da empresa somente é admissível em hipóteses excepcionais, quando não há outros meios para
garantia da dívida, em razão do que dispõe o art. 620 do CPC, pelo qual a execução deve se dar da forma menos
gravosa para o devedor. Precedentes. 3. Recurso especial provido" (REsp 660.288/RJ, 2.ª T., j. 13.09.2005, rel.
Min. Eliana Calmon, DJ 10.10.2005, p. 311); (iv) "Processual civil. Medida cautelar. Penhora sobre o
     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

faturamento da empresa. Substituição idônea. Art. 620 do CPC. - A penhora sobre o faturamento da empresa
somente deverá ocorrer em hipóteses excepcionais, quando não existir substituição idônea, em atenção ao
princípio insculpido no art. 620 do CPC, pelo qual a execução deve ser feita do modo menos gravoso para o
executado. - Na hipótese em comento, tendo o executado oferecido à penhora carta de fiança, não tem
cabimento a constrição incidir sobre o faturamento da empresa. - Verificada a conjugação dos pressupostos
básicos para a concessão da cautela. - Medida Cautelar procedente" (MC 2.775/RJ, 1.ª T., j. 02.05.2002, rel.
Min. Francisco Falcão, DJ 16.09.2002, p. 137).
 
57 "Tributário. Recurso especial representativo de controvérsia. Art. 543-C do CPC. Caução e expedição da
CPD-EN. Possibilidade. Suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Art. 151 do CTN. Inexistência de
equiparação da fiança bancária ao depósito do montante integral do tributo devido para fins de suspensão da
exigibilidade. Súmula 112/STJ. Violação ao art. 535, II, do CPC, não configurada. Multa. Art. 538 do CPC.
Exclusão. 1. A fiança bancária não é equiparável ao depósito integral do débito exequendo para fins de
suspensão da exigibilidade do crédito tributário, ante a taxatividade do art. 151 do CTN e o teor do Enunciado
Sumular 112 desta Corte, cujos precedentes são de clareza hialina: (...) 3. Deveras, a suspensão da exigibilidade
do crédito tributário (que implica óbice à prática de quaisquer atos executivos) encontra-se taxativamente
prevista no art. 151 do CTN, sendo certo que a prestação de caução, mediante o oferecimento de fiança
bancária, ainda que no montante integral do valor devido, não ostenta o efeito de suspender a exigibilidade do
crédito tributário, mas apenas de garantir o débito exequendo, em equiparação ou antecipação à penhora, com o
escopo precípuo de viabilizar a expedição de Certidão Positiva com Efeitos de Negativa e a oposição de
embargos (...) 12. Recurso especial parcialmente provido, apenas para afastar a multa imposta com base no art.
538, § único do CPC. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Res. STJ 08/2008" (REsp
1.156.668/DF, 1.ª Seção, j. 24.11.2010, rel. Min. Luiz Fux, DJe 10.12.2010).
 
58 Súmula 112 do STJ: "O deposito somente suspende a exigibilidade do credito tributario se for integral e em
dinheiro" (Decisão: 25.10.1994 e DJ 03.11.1994).
 
59 Código Tributário Nacional: "Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:I - moratória; II - o
depósito do seu montante integral; III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do
processo tributário administrativo; IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança; V - a
concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial;(Incluído pela LCP
104/2001); VI - o parcelamento.(Incluído pela LCP 104/2001). Parágrafo único. O disposto neste artigo não
dispensa o cumprimento das obrigações assessórios dependentes da obrigação principal cujo crédito seja
suspenso, ou dela consequentes".
 
60 "Processual civil e tributário. Recurso especial representativo de controvérsia. Art. 543-C do CPC. Ação
cautelar para assegurar a expedição de certidão positiva com efeitos de negativa. Possibilidade. Insuficiência da
caução. Impossibilidade. 1. O contribuinte pode, após o vencimento da sua obrigação e antes da execução,
garantir o juízo de forma antecipada, para o fim de obter certidão positiva com efeito de negativa. (...) 2. Dispõe
o art. 206 do CTN que: "tem os mesmos efeitos previstos no artigo anterior a certidão de que conste a existência
de créditos não vencidos, em curso de cobrança executiva em que tenha sido efetivada a penhora, ou cuja
exigibilidade esteja suspensa." A caução oferecida pelo contribuinte, antes da propositura da execução fiscal é
equiparável à penhora antecipada e viabiliza a certidão pretendida, desde que prestada em valor suficiente à
garantia do juízo. 3. É viável a antecipação dos efeitos que seriam obtidos com a penhora no executivo fiscal,
através de caução de eficácia semelhante. A percorrer-se entendimento diverso, o contribuinte que contra si
tenha ajuizada ação de execução fiscal ostenta condição mais favorável do que aquele contra o qual o Fisco não
se voltou judicialmente ainda. 4. Deveras, não pode ser imputado ao contribuinte solvente, isto é, aquele em
condições de oferecer bens suficientes à garantia da dívida, prejuízo pela demora do Fisco em ajuizar a
     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

execução fiscal para a cobrança do débito tributário. Raciocínio inverso implicaria em que o contribuinte que
contra si tenha ajuizada ação de execução fiscal ostenta condição mais favorável do que aquele contra o qual o
Fisco ainda não se voltou judicialmente. (...). 6. Outrossim, instigada a Fazenda pela caução oferecida, pode ela
iniciar a execução, convertendo-se a garantia prestada por iniciativa do contribuinte na famigerada penhora que
autoriza a expedição da certidão. (...) 9. (...) 'Sem razão a autora. Os objetos da ação cautelar e da ação ordinária
em questão são diferentes. Na ação cautelar a demanda limita-se à possibilidade ou não de oferecer bens em
caução de dívida tributária para fins de obtenção de CND, não se adentrando a discussão do débito em si, já que
tal desbordaria dos limites do procedimento cautelar. Ademais, há que se observar que a sentença corretamente
julgou extinto o presente feito, sem julgamento de mérito, em relação ao pedido que ultrapassou os limites
objetivos de conhecimento da causa próprios do procedimento cautelar'. 10. Recurso Especial parcialmente
conhecido e, nesta parte, desprovido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Res. STJ
08/2008" (REsp 1.123.669/RS, 1.ª Seção, j. 09.12.2009, rel. Min. Luiz Fux, DJe 01.02.2010).
 
61 "Processual civil. Embargos de divergência. Execução fiscal. Substituição da penhora de dinheiro por fiança
bancária. Inteligência dos arts. 9.º, §§ 3.º, e 4.º, e 15, I, da Lei 6.830/1980. 1. Admite-se o presente recurso,
porquanto adequadamente demonstrada a divergência atual das Turmas que compõem a Seção de Direito
Público do STJ a respeito da pretendida equiparação do dinheiro à fiança bancária, para fins de substituição de
garantia prestada em Execução Fiscal, independentemente da anuência da Fazenda Pública. (...). 3. O processo
executivo pode ser garantido por diversas formas, mas isso não autoriza a conclusão de que os bens que as
representam sejam equivalentes entre si. 4. Por esse motivo, a legislação determina que somente o depósito em
dinheiro 'faz cessar a responsabilidade pela atualização monetária e juros de mora' (art. 9.º, § 4.º, da Lei
6.830/1980) e, no montante integral, viabiliza a suspensão da exigibilidade do crédito tributário (art. 151, II, do
CTN). 5. Nota-se, portanto, que, por falta de amparo legal, a fiança bancária, conquanto instrumento legítimo a
garantir o juízo, não possui especificamente os mesmos efeitos jurídicos do depósito em dinheiro. 6. O fato de o
art. 15, I, da LEF prever a possibilidade de substituição da penhora por depósito ou fiança bancária significa
apenas que o bem constrito é passível de substituição por um ou por outro. Não se pode, a partir da redação do
mencionado dispositivo legal, afirmar genericamente que o dinheiro e a fiança bancária apresentam o mesmo
status. (...). 8. Em conclusão, verifica-se que, regra geral, quando o juízo estiver garantido por meio de depósito
em dinheiro, ou ocorrer penhora sobre ele, inexiste direito subjetivo de obter, sem anuência da Fazenda Pública,
a sua substituição por fiança bancária. 9. De modo a conciliar o dissídio entre a Primeira e a Segunda Turmas,
admite-se, em caráter excepcional, a substituição de um (dinheiro) por outro (fiança bancária), mas somente
quando estiver comprovada de forma irrefutável, perante a autoridade judicial, a necessidade de aplicação do
princípio da menor onerosidade (art. 620 do CPC), situação inexistente nos autos. 10. Embargos de Divergência
não providos" (EREsp 1.077.039/RJ, 1.ª Seção, j. 09.02.2011, rel. Min. Mauro Campbell Marques, rel. p/
acórdão Min. Herman Benjamin, DJe 12.04.2011).
 
62 Paulsen, Leandro. Direito Tributário. Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da
jurisprudência. 17. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015. p. 835.
 
63 A Portaria PGFN 164, de 27.02.2014, que regulamenta o oferecimento e a aceitação do seguro garantia
judicial para execução fiscal e o seguro garantia para parcelamento administrativo fiscal no âmbito da apuração
administrativa ou judicial dos créditos fiscais devidos à União Federal, revogou a Portaria PGFN 1.153, de
13.08.2009, que também tratava da matéria.De acordo com a Portaria PGFN 164/2014, compreende-se
segurado a União, cuja representação será realizada pela PGFN, e como tomador o devedor das obrigações
fiscais com a responsabilidade de prestar a garantia (art. 2.º, VI e XI).
Dentre as principais condições para aceitação do seguro garantia judicial para execução fiscal, a PGFN exige
que a cobertura seja prestada por seguradora idônea e devidamente autorizada a funcionar no mercado interno.

     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

Dentre as principais cláusulas contratuais obrigatórias, além das já previstas pela Circular Susep 477/2013, cita-
se as seguintes: (i) o valor segurado deverá corresponder ao do crédito executado com os encargos e acréscimos
legais, o qual deverá ser devidamente atualizado pelos índices legais aplicáveis aos créditos inscritos na dívida
ativa da União; e, (ii) prazo de vigência de no mínimo dois anos da apólice (art. 3.º, I e III, e VI, a, da Portaria
PGFN 164/2014).

Importante registrar que a PGFN dispensa o acréscimo de 30% (trinta por cento) do valor executado previsto no
art. 656, § 2.º, do CPC/1973 (art. 835, § 2.º, do CPC/2015) (art. 3.º, § 3.º, da Portaria PGFN 164/2014) e exige
que no momento do oferecimento da garantia em juízo, o executado apresente a apólice ou cópia da apólice
digital, comprovação do registro e certidão de regularidade da seguradora perante a Susep (art. 4.º da Portaria
PGFN 164/2014).

Todavia, importante ressaltar que a Portaria PGFN 164/2014 trata-se de ato meramente administrativocujos
efeitos restringem-se à esfera da estrutura da Fazenda Pública, não vinculando o Poder Judiciário, o qual tem
total liberdade para decidir conforme a lei e as particularidades inerentes ao caso concreto.

 
64 Nessa linha, veja-se que a legislação brasileira admite inclusive a satisfação do crédito tributário por meio de
outros bens que possuam valor em moeda, equiparados ao dinheiro, dos quais pode se citar, como exemplos, a
hipótese de pagamento de tributo federal por meio de títulos da dívida pública emitidos pelo Tesouro Nacional:
(i) Letras do Tesouro Nacional (LTN); (ii) Letras Financeiras do Tesouro (LFT); (iii) Notas do Tesouro Nacional
(NTN), a partir do seu vencimento e verificado o inadimplemento da União Federal (arts. 2.º e 6.º da Lei federal
10.179, de 06.02.2001); e, também, o pagamento por meio de Títulos da Dívida Agrária (TDA), os quais
poderiam servir como caução para garantia de contratos firmados com a União, como fiança em geral e,
inclusive, como depósito em dinheiro em execuções judiciais e administrativas (art. 105, § 1.º, c, d e f, da Lei
Federal 4.504, de 30.11.1964). Destaca-se que os títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito
Federal com cotação em mercado são considerados bens passíveis de penhora pela legislação processual (art.
655, IX, do CPC/1973; art. 835, II, do CPC/2015; e, art. 11, II, da LEF). Por fim, válido mencionar que a LC
104, de 10.01.2001, também inseriu a possibilidade de extinção do crédito tributário por meio da dação em
pagamento em bens imóveis (art. 156, XI, do CTN).
 
65 CTN: "Art. 3.º. Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa
exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa
plenamente vinculada". Em face dos meios de garantia e de pagamento citados na nota de rodapé anterior,
entende-se que a interpretação de que o crédito tributário deve ser satisfeito exclusivamente por dinheiro não
mais prevalece, face à existência de expressa previsão legal que autoriza, por exemplo, o uso da dação em
pagamento em bens imóveis (art. 156, XI, do CTN).
 
66 Circular Susep 477/2013: "Art. 4.º. Define-se Seguro Garantia: Segurado - Setor Público o seguro que
objetiva garantir o fiel cumprimento das obrigações (...) assumidas em função de: I - processos administrativos;
II - processos judiciais, inclusive execuções fiscais; III - parcelamentos administrativos de créditos fiscais,
inscritos ou não em dívida ativa; IV - regulamentos administrativos.Parágrafo único. Encontram-se também
garantidos por este seguro os valores devidos ao segurado, tais como multas e indenizações, oriundos do
inadimplemento das obrigações assumidas pelo tomador, previstos em legislação específica, para cada caso".

 
67 No plano de uma relação jurídico-obrigacional estabelecida em razão de um vínculo contratual ou legal, a
melhor alocação de recursos está fundada na razão de que se dentre várias opções existentes, uma delas

     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

possibilita que as partes se situem numa posição economicamente melhor do que a anterior, no caso a
substituição da penhora de dinheiro pelo oferecimento de fiança bancária ou de seguro garantia judicial durante
o curso do processo de execução (art. 835, § 2.º, do CPC/2015), esta deveria ser a decisão adotada pelo Juiz ao
analisar o caso concreto, por se tratar da opção mais eficiente do ponto de vista da análise econômica do
direito.A partir desta compreensão, pode-se concluir que a decisão que indefere a substituição da penhora por
garantia financeira idônea incide manifestamente numa ineficiente alocação de recursos, uma vez que dentre as
melhores alternativas possíveis, escolhe a pior do ponto de vista social-econômico, ferindo, inclusive, não só a
regra processual específica (art. 835, § 2.º, do CPC/2015), mas, também, outros preceitos jurídicos de maior
envergadura no sistema jurídico, revelando sob este prisma, inclusive, a sua inconstitucionalidade (art. 170, III,
da CF/1988).

 
68 Rone Avraham explica que o seguro permite que as partes contratantes se concentrem nos tópicos relevantes
das negociações entabuladas e transfiram a análise do risco de descumprimento da avença para a companhia
seguradora a qual é dotada de uma maior capacidade de cobrir as consequências prejudiciais de comportamentos
contratualmente indesejáveis. Ademais, a existência de um seguro reduz os custos de litígios e contribui para a
facilitação na celebração de novos negócios no âmbito comercial (Avraham, Ronen. The law and economics of
Insurance Law. A Primer. Connecticut Insurance Law Journal. vol. 19.1. p. 29-112. University of Connecticut
School of Law. 2012. Disponível em: [http://insurancejournal.org/wp-content/uploads/2013/04/8-Avraham.pdf].
Acesso em: 20.06.2015).
 
69 CPC/2015: "Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que
se faça pelo modo menos gravoso para o executado.Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida
executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção
dos atos executivos já determinados".

 
70 Ivo Waisberg afirma que o Poder Judiciário possui um papel fundamental na ponderação de interesses
visando à aplicação da lei em conformidade com o melhor resultado que se possa esperar da atividade
jurisdicional. Nesse sentido, explica que: "(...) a decisão judicial tem efeito no comportamento social e, portanto,
tem consequências econômicas. Mais que isso, tem ela influência no próprio processo de decisão econômica, o
que assume incomparável relevância no mundo capitalista globalizado. A consequência que a decisão trará ao
futuro, do ponto de vista econômico e social, não pode deixar de ser um elemento a ser considerado pelo Juiz
em sua decisão" (Waisberg, Ivo. Direito e economia. In: Wald, Arnoldo; Fonseca, Rodrigo Garcia da (coords.). A
empresa no terceiro milênio : aspectos jurídicos. São Paulo: Juarez de Oliveira Ed., 2005. p. 651-653).
 
71 Lei de Execução Fiscal: "Art. 1.º - A execução judicial para cobrança da Dívida Ativa da União, dos Estados,
do Distrito Federal, dos Municípios e respectivas autarquias será regida por esta Lei e, subsidiariamente, pelo
Código de Processo Civil".
 
72 "Processo civil. Recurso especial representativo de controvérsia. Art. 543-C do CPC. Processo judicial
tributário. Embargos do executado. Execução fiscal. Penhora do faturamento da empresa após a ocorrência de
leilão negativo do bem anteriormente penhorado. Novos embargos. Possibilidade. Discussão adstrita aos
aspectos formais da penhora. Art. 538, parágrafo único, do CPC. Exclusão da multa imposta. Súmula 98/STJ.
(...) 2. É admissível o ajuizamento de novos embargos de devedor, ainda que nas hipóteses de reforço ou
substituição da penhora, quando a discussão adstringir-se aos aspectos formais do novo ato constritivo (...).4. A
aplicação subsidiária do Código de Processo Civil (conjugada à inexistência de normatização em contrário na
lex specialis) autoriza a aplicação da aludida exegese aos embargos de devedor, intentados no âmbito da
     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

execução fiscal, os quais se dirigem contra a penhora de 20% (vinte por cento) do faturamento da empresa, que
se realizou após resultarem negativos os leilões sobre o bem anteriormente penhorado, não se mantendo,
portanto, a constrição inicialmente efetivada. (...) 6. Consequentemente, não se revelam intempestivos os
embargos de devedor ajuizados no trintídio que sucedeu a intimação da penhora de 20% (vinte por cento) sobre
o faturamento da empresa, medida constritiva excepcional, cuja aplicação reclama o atendimento aos requisitos
da (i) comprovação de inexistência de outros bens passíveis de penhora, (ii) nomeação de administrador (ao qual
incumbirá a presentação das formas de administração e pagamento) e (iii) fixação de percentual que não
inviabilize a atividade econômica empresarial. 7. (...) 9. Recurso especial provido para que, uma vez
ultrapassado o requisito da intempestividade, o Juízo Singular prossiga na apreciação dos embargos do devedor
que se dirigem contra a penhora do faturamento da empresa, devendo ser excluída a multa por embargos
procrastinatórios. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C, do CPC, e da Res. STJ 08/2008" (REsp
1.116.287/SP, Corte Especial, j. 02.12.2009, rel. Mn. Luiz Fux, DJe 04.02.2010).
 
73 "Recurso especial representativo de controvérsia. Art. 543-C, do CPC. Processo judicial tributário. Execução
fiscal. Penhora eletrônica. Sistema Bacen-Jud. Esgotamento das vias ordinárias para a localização de bens
passíveis de penhora. Art. 11 da lei 6.830/1980. Art. 185-A do CTN. Código de processo civil. Inovação
introduzida pela Lei 11.382/2006. Arts. 655, I, e 655-A, do CPC. Interpretação sistemática das leis. Teoria do
diálogo das fontes. Aplicação imediata da lei de índole processual. 1. A utilização do sistema Bacen-Jud, no
período posterior à vacatio legis da Lei 11.382/2006 (21.01.2007), prescinde do exaurimento de diligências
extrajudiciais, por parte do exequente, a fim de se autorizar o bloqueio eletrônico de depósitos ou aplicações
financeiras (...). 2. A execução judicial para a cobrança da Dívida Ativa da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Municípios e respectivas autarquias é regida pela Lei 6.830/1980 e, subsidiariamente, pelo Código
de Processo Civil. 3. A Lei 6.830/1980, em seu art. 9.º, determina que, em garantia da execução, o executado
poderá, entre outros, nomear bens à penhora, observada a ordem prevista no art. 11, na qual o "dinheiro" exsurge
com primazia. 4. Por seu turno, o art. 655, do CPC, em sua redação primitiva, dispunha que incumbia ao
devedor, ao fazer a nomeação de bens, observar a ordem de penhora, cujo inc. I fazia referência genérica a
"dinheiro". (...) 6. Deveras, antes da vigência da Lei 11.382/2006, encontravam-se consolidados, no Superior
Tribunal de Justiça, os entendimentos jurisprudenciais no sentido da relativização da ordem legal de penhora
prevista nos arts. 11 da Lei de Execução Fiscal, e 655 do CPC (...), e de que o bloqueio eletrônico de depósitos
ou aplicações financeiras (mediante a expedição de ofício à Receita Federal e ao Bacen) pressupunha o
esgotamento, pelo exequente, de todos os meios de obtenção de informações sobre o executado e seus bens e
que as diligências restassem infrutíferas (...).8. Nada obstante, a partir da vigência da Lei 11.382/2006, os
depósitos e as aplicações em instituições financeiras passaram a ser considerados bens preferenciais na ordem da
penhora, equiparando-se a dinheiro em espécie (art. 655, I, do CPC), tornando-se prescindível o exaurimento de
diligências extrajudiciais a fim de se autorizar a penhora on-line (art. 655-A do CPC). 9. A antinomia aparente
entre o art. 185-A, do CTN (que cuida da decretação de indisponibilidade de bens e direitos do devedor
executado) e os arts. 655 e 655-A, do CPC (penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira) é superada
com a aplicação da Teoria pós-moderna do Diálogo das Fontes, idealizada pelo alemão Erik Jayme e aplicada,
no Brasil, pela primeira vez, por Cláudia Lima Marques, a fim de preservar a coexistência entre o Código de
Defesa do Consumidor e o novo Código Civil. 10. Com efeito, consoante a Teoria do Diálogo das Fontes, as
normas gerais mais benéficas supervenientes preferem à norma especial (concebida para conferir tratamento
privilegiado a determinada categoria), a fim de preservar a coerência do sistema normativo. 11. Deveras, a ratio
essendi do art. 185-A, do CTN, é erigir hipótese de privilégio do crédito tributário, não se revelando coerente
"colocar o credor privado em situação melhor que o credor público, principalmente no que diz respeito à
cobrança do crédito tributário, que deriva do dever fundamental de pagar tributos (arts. 145 e ss. da CF/1988)"
(REsp 1.074.228/MG, 2.ª T., j. 07.10.2008, rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 05.11.2008). 12. Assim, a
interpretação sistemática dos arts. 185-A do CTN, com os arts. 11 da Lei 6.830/1980 e 655 e 655-A, do CPC,
autoriza a penhora eletrônica de depósitos ou aplicações financeiras independentemente do exaurimento de
     
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diligências extrajudiciais por parte do exequente. 13. À luz da regra de direito intertemporal que preconiza a
aplicação imediata da lei nova de índole processual, infere-se a existência de dois regimes normativos no que
concerne à penhora eletrônica de dinheiro em depósito ou aplicação financeira: (i) período anterior à égide da
Lei 11.382, de 06.12.2006 (que obedeceu a vacatio legis de 45 dias após a publicação), no qual a utilização do
Sistema Bacen-Jud pressupunha a demonstração de que o exequente não lograra êxito em suas tentativas de
obter as informações sobre o executado e seus bens; e (ii) período posterior à vacatio legis da Lei 11.382/2006
(21.01.2007), a partir do qual se revela prescindível o exaurimento de diligências extrajudiciais a fim de se
autorizar a penhora eletrônica de depósitos ou aplicações financeiras. (...)" (REsp 1.184.765/PA, 1.ª Seção, j.
24.11.2010, rel. Min. Luiz Fux, DJe 03.12.2010).
 
74 "Processual civil. Tributário. Recurso representativo da controvérsia. Art. 543-C, do CPC. Aplicabilidade do
art. 739-A, § 1.º, do CPC às execuções fiscais. Necessidade de garantia da execução e análise do juiz a respeito
da relevância da argumentação (fumus boni juris) e da ocorrência de grave dano de difícil ou incerta reparação
(periculum in mora) para a concessão de efeito suspensivo aos embargos do devedor opostos em execução
fiscal. 1. A previsão no ordenamento jurídico pátrio da regra geral de atribuição de efeito suspensivo aos
embargos do devedor somente ocorreu com o advento da Lei 8.953, de 13.12.1994, que promoveu a reforma do
Processo de Execução do Código de Processo Civil de 1973 (Lei 5.869, de 11.01.1973 - CPC/1973), nele
incluindo o § 1.º do art. 739, e o inc. I do art. 791. 2. Antes dessa reforma, e inclusive na vigência do Dec.-lei
960, de 17.12.1938, que disciplinava a cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública em todo o território
nacional, e do Código de Processo Civil de 1939 (Dec.-lei 1.608/1939), nenhuma lei previa expressamente a
atribuição, em regra, de efeitos suspensivos aos embargos do devedor, somente admitindo-os excepcionalmente.
Em razão disso, o efeito suspensivo derivava de construção doutrinária que, posteriormente, quando
suficientemente amadurecida, culminou no projeto que foi convertido na citada Lei 8.953/1994, conforme o
evidencia sua Exposição de Motivos - Mensagem 237, de 07.05.1993, DOU de 12.04.1994, Seção II, p. 1696.
(...) 5. Desse modo, tanto a Lei 6.830/1980 - LEF quanto o art. 53, § 4.º da Lei 8.212/1991 não fizeram a opção
por um ou outro regime, isto é, são compatíveis com a atribuição de efeito suspensivo ou não aos embargos do
devedor. Por essa razão, não se incompatibilizam com o art. 739-A do CPC/1973 (introduzido pela Lei
11.382/2006) que condiciona a atribuição de efeitos suspensivos aos embargos do devedor ao cumprimento de
três requisitos: apresentação de garantia; verificação pelo juiz da relevância da fundamentação (fumus boni
juris) e perigo de dano irreparável ou de difícil reparação (periculum in mora). (...) 7. Muito embora por
fundamentos variados - ora fazendo uso da interpretação sistemática da LEF e do CPC/1973, ora trilhando o
inovador caminho da teoria do "Diálogo das Fontes", ora utilizando-se de interpretação histórica dos
dispositivos (o que se faz agora) - essa conclusão tem sido a alcançada pela jurisprudência predominante (...). 8.
Superada a linha jurisprudencial em sentido contrário inaugurada pelo REsp 1.178.883 - MG, 1.ª T., j.
20.10.2011, rel. Min. Teori Albino Zavascki, e seguida pelo AgRg no REsp 1.283.416/AL, 1.ª T., j. 02.02.2012,
rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho; e pelo REsp 1.291.923/PR, 1.ª T., j. 01.12.2011, rel. Min. Benedito
Gonçalves. 9. Recurso especial provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC, e da Res. STJ
8/2008" (REsp 1.272.827/PE, 1.ª Seção, j. 22.05.2013, rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 31.05.2013).
 
75 O TJSP consolidou jurisprudência dominante no sentido da aceitação do oferecimento e substituição da
penhora por seguro garantia judicial: (i) AgIn 2181547-51.2014.8.26.0000, 15.ª Câmara de Direito Público, j.
23.06.2015, rel. Des. Erbetta Filho, DJ 14.07.2015; (ii) AgIn 2046787-34.2015.8.26.0000, 5.ª Câmara de Direito
Público, j. 19.06.2015, rel. Des. Fermino Magnani Filho, DJ 20.06.2015; (iii) AgIn 2138096-73.2014.8.26.0000,
12.ª Câmara de Direito Público, j. 11.06.2015, rel. Des. J. M. Ribeiro de Paula, DJ 11.06.2015; (iv) AgIn
2071230-49.2015.8.26.0000, 10.ª Câmara de Direito Público, j. 01.06.2015, rel. Des. Marcelo Semer, DJ
03.06.2015; (v) AgIn 207169-62.2013.8.26.0000, 1.ª Câmara de Direito Público, j. 01.07.2014, rel. Des. Luís
Francisco Aguilar Cortez; (vi) AgIn 2037397-74.2014.8.26.0000, 6.ª Câmara de Direito Público, j. 20.06.2014,
rel. Des. Reinaldo Miluzzi; (vii) AgIn 0157207-48.2012.8.26.0000, j. 04.09.2013, rel. Des. William Marinho;
     
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(viii) AgIn 0340055.71.2010.8.26.0000, j. 22.09.2010, rel. Des. Edson Ferreira da Silva.


 
76 O TJPR consolidou jurisprudência dominante no sentido da aceitação do oferecimento e substituição da
penhora por seguro garantia judicial: (AgIn 1350902-1, 1.ª Câm. Civ., rel. Des. Rubens Oliveira Fontoura (j.
09.06.2015 e DJ 06.07.2015); (ii) AgIn 1349841-6, 2.ª Câm. Civ., rel. Des. Silvio Dias (j. 02.06.2015 e DJ
17.06.2015).
 
77 O TJRS também consolidou jurisprudência dominante a respeito da possibilidade de oferecimento ou de
substituição de penhora em dinheiro pela apresentação do seguro garantia judicial: (i) AgIn 70064772718, 22.ª
Câm. Civ., rel. Des. Carlos Eduardo Zietlow Duro (j. 28.05.2015); (ii) AgIn 70063937460, 1.ª Câm. Civ., rel.
Des. Sergio Luiz Grassi Beck (j. 23.04.2015); (iii) AgIn 70063843494, 2.ª Câm. Civ., rel. Des. João Barcelos
deSouza Junior (j. 27.03.2015); (iv) AgIn 70061624086, 20.ª Câm. Civ., rel. Des. Carlos Cini Marchionatti (j.
17.12.2014); (v) AgIn 70062331723, 18.ª Câm. Civ., j. 11.12.2014, rel. Des. João Moreno Pomar ).
 
78 Nesse sentido, o seguinte precedente do STJ: "Processual Civil - Medida cautelar - Efeito suspensivo ao
recurso especial - Execução fiscal - Penhora on-line - Excepcionalidade - Substituição por fiança bancária -
Cabimento - Liminar deferida. 1. Nos termos das Súmulas 634 e 635 do STF, não se concede medida cautelar
para dar efeito suspensivo a recurso especial que ainda não foi objeto de juízo de admissibilidade no Tribunal de
origem. 2. Excepcionalmente, presentes o "fumus boni iuris" e o "periculum in mora", esta Corte aceita a
competência para julgar medida cautelar, antes do juízo de admissibilidade do recurso especial. 3. A inércia da
devedora não justifica a 'penhora on-line' de vultosa quantia, antes de realizadas as diligências para buscar bens
penhoráveis, nos termos do art. 185-A do CTN. Precedentes. 4. 'O art. 15, I, da Lei 6.830/1980 confere à fiança
bancária o mesmo status do depósito em dinheiro, para efeitos de substituição de penhora, sendo, portanto,
instrumento suficiente para garantia do executivo fiscal' (REsp 660.288/RJ, 2.ª T., j. 13.9.2005, rel. Min. Eliana
Calmon, DJ 10.10.2005.) 5. In casu, a executada oferece garantia de fiança bancária em valor superior ao
montante do crédito fazendário. Medida liminar concedida para atribuir efeito suspensivo ao recurso especial até
seu julgamento por esta Corte Superior, sem prejuízo do juízo de admissibilidade do Tribunal a quo" (MC
13.590/RJ, 2.ª T., j. 06.12.2007, rel. Min. Humberto Martins, DJ 11.12.2007).
 
79 O STJ tem admitido a concessão de efeito suspensivo em recurso especial nos casos de risco para as
atividades da empresa envolvendo a rejeição da substituição da penhora em dinheiro pelo oferecimento de
fiança bancária e de seguro garantia judicial: "1. Em hipóteses excepcionais, é cabível o deferimento da medida
cautelar por esta Corte antes de firmado o juízo de admissibilidade na origem, especialmente quando, na origem,
foi indeferido pedido idêntico ao argumento de usurpação da competência dos Tribunais Superiores sobre o
tema de mérito: recusa do credor ao oferecimento de fiança bancária em favor do bloqueio de ativos financeiros.
2. (...). 4. Se é certo que a execução é processada com o objetivo de garantir os interesses da parte credora (art.
612 do CPC), não se pode descurar da figura do devedor e, de modo peremptório, objetar garantia por este
oferecida em prol da liquidez que o dinheiro oferece. 5. A ponderação dos elementos da causa é imprescindível,
pena de determinação de medida que pode trazer repercussões significativas à atividade empresarial antes
mesmo de exaurido o devido processo legal. Argumento de que a prevalência da penhora on-line não pode ser
absoluta, sobretudo nas espécies que não se referem propriamente à substituição de dinheiro por fiança bancária.
6. No caso dos autos, após a incorporação das empresas, o que foi determinante para a inclusão da pessoa
jurídica insurgente no polo passivo da execução fiscal, apresentou-se Carta de Fiança Bancária a fim de garantir
o juízo para oferecimento de defesa em execução que ultrapassa a quantia de 26 milhões de reais. O magistrado
de piso aceitou a garantia ofertada, afastando os vícios levantados pelo Fisco, ao passo que a Corte regional,
embora tenha entendido que foram observadas as condições estabelecidas nas normas vigentes, reputou-a
insuficiente por desatendida a ordem de preferência e porque a fiança bancária não é instrumento que conduz à
suspensão da exigibilidade do crédito tributário. 11. Periculum in mora configurado pela determinação de
     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

cumprimento do acórdão impugnado, podendo levar à penhora de valor superior a R$ 26.000.000,00 (vinte e
seis milhões de reais), o que representa parcela significativa do orçamento despendido mensalmente pela
sociedade empresária com pessoal e com terceiros na consecução do contrato social. 12. Agravo regimental a
que se nega provimento" (AgRg no AgRg na MC 22.986/RJ, 2.ª T., j. 02.09.2014, rel. Min. Og Fernandes, DJe
10.09.2014).
 
80 O STJ havia consolidado jurisprudência dominante no sentido da não aceitabilidade do seguro garantia
judicial sob o fundamento de inexistência de expressa previsão legal a respeito da admissão desta espécie de
bem: (i) AgRg no REsp 1.467.458/SP, 2.ª T., j. 23.09.2014, rel. Min. Og Fernandes, DJe 06.10.2014, para o
qual: "Embora admita a Lei de Execução Fiscal a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil (conforme
estabelece o art. 1.º), em atenção à especialidade daquela, deve-se prestigiar o disposto no art. 9.º da Lei
6.830/1980, à vista das maiores garantias ao crédito público"; (ii) AgRg no REsp 1.423.411/SP, 2.ª T., j.
05.06.2014, rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 11.06.2014, para o qual: "1. A orientação consolidada das
Turmas que integram a Primeira Seção do STJ é no sentido que não é possível a utilização do 'seguro garantia
judicial' como caução à execução fiscal, por ausência de norma legal específica, não havendo previsão do
instituto entre as modalidades previstas no art. 9.º da Lei 6.830/1980"; (iii) AgRg no REsp 1.434.142/SP, 1.ª T.,
j. 11.03.2014, rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe 20.03.2014, para o qual: "1. A jurisprudência deste STJ é firme
no sentido da impossibilidade de uso da garantia ofertada, vez que não prevista do rol do art. 9.º da Lei
6.830/1980. Assim, em face do princípio da especialidade, não pode o seguro-garantia ser objeto de indicação
pelo devedor para assegurar execução fiscal"; (iv) AgRg no REsp 1.394.408/SP, 1.ª T., j. 17.10.2013, rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, DJe 05.11.2013, para o qual: "1. O entendimento das Turmas da 1.ª Seção é no
sentido de rechaçar o uso do seguro garantia como caução à Execução Fiscal, por ausência de norma legal
disciplinadora do instituto, não estando esta modalidade dentre as previstas no art. 9.º da Lei 6.830/1980 (AgRg
no REsp 1.201.075/RJ, rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe 09.08.2011)".
 
81 Nesse sentido, colacionam-se os seguintes julgados do STJ proferidos antes do advento da Lei federal
13.043/2014 e do CPC de 2015: (i) AgRg no REsp 1.391.082/SE, 3.ª T., j. 24.09.2013, rel. Min. Sidnei Beneti,
DJe 08.10.2013, para o qual: "1. A jurisprudência desta Corte tem consignado que uma vez realizada a penhora
em dinheiro, não cabe a sua substituição por seguro garantia ou fiança bancária tendo em vista, especialmente, o
princípio da satisfação do credor"; (ii) REsp 1.168.543/RJ, 3.ª T., j. 05.03.2013, rel. Min. Sidnei Beneti, DJe
13.03.2013, para o qual: "2. - No caso dos autos a executada ostenta grande capacidade financeira, não sendo
prejudicada pela imobilização do valor penhorado. Por outro lado, o seguro garantia judicial ofertado em
substituição não garante o exequente tanto quanto a penhora em dinheiro, até porque, além da natural
dificuldade processual de satisfação de garantia, dadas as possibilidades recursais, no caso concreto, o seguro
garantia está submetido a validade determinada, após o transito em julgado, o que fatalmente se exaurirá no
decorrer da previsível recorribilidade"; (iii) AgRg no AREsp 213.678/SE, 2.ª T., j. 16.10.2012, rel. Min. Mauro
Campbell Marques, DJe 24.10.2012, para o qual: "1. Garantida a execução fiscal por meio de depósito em
dinheiro, a substituição por seguro garantia judicial só é possível com a anuência da Fazenda Pública"; (iv) EDcl
no AgRg no REsp 1.274.750/SP, 2.ª T., j. 05.06.2012, rel. Min. Herman Benjamin, DJe 26.06.2012, para o qual:
"1. O STJ possui entendimento no sentido de que o seguro garantia judicial, assim como a fiança bancária, não é
equiparável ao depósito em dinheiro para fins de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, nos termos do
art. 151 do CTN"; (v) REsp 1.049.760/RJ, 1.ª T., j. 01.06.2010, rel. Min. Luiz Fux, DJe 17.06.2010, para o qual:
"5. O novel dispositivo [art. 656, § 2.º, do CPC/1973] não afasta a jurisprudência sedimentada nesta Corte,
notadamente porque a execução se opera em prol do exequente e visa a recolocar o credor no estágio de
satisfatividade que se encontrava antes do inadimplemento. Por conseguinte, o princípio da economicidade não
pode superar o da maior utilidade da execução para o credor, propiciando que a execução se realize por meios
ineficientes à solução do crédito exequendo".
 
     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

82 Nesse sentido apresentam-se os seguintes julgados que fundamentaram este entendimento jurisprudencial no
âmbito do STJ: (i) REsp 1.337.790/PR, 1.ª Seção, j. 12.06.2013, rel. Min. Herman Benjamin, DJe 07.10.2013,
para o qual: "1. Cinge-se a controvérsia principal a definir se a parte executada, ainda que não apresente
elementos concretos que justifiquem a incidência do princípio da menor onerosidade (art. 620 do CPC), possui
direito subjetivo à aceitação do bem por ela nomeado à penhora em Execução Fiscal, em desacordo com a
ordem estabelecida nos arts. 11 da Lei 6.830/1980 e 655 do CPC. (...) 4. A 1.ª Seção do STJ, em julgamento de
recurso repetitivo, concluiu pela possibilidade de a Fazenda Pública recusar a substituição do bem penhorado
por precatório (REsp 1.090.898/SP, rel. Min. Castro Meira, DJe 31.08.2009). No mencionado precedente,
encontra-se como fundamento decisório a necessidade de preservar a ordem legal conforme instituído nos arts.
11 da Lei 6.830/1980 e 655 do CPC. (...) 7. Em suma: em princípio, nos termos do art. 9.º, III, da Lei
6.830/1980, cumpre ao executado nomear bens à penhora, observada a ordem legal. É dele o ônus de comprovar
a imperiosa necessidade de afastá-la, e, para que essa providência seja adotada, mostra-se insuficiente a mera
invocação genérica do art. 620 do CPC (...)" (REsp 1.337.790/PR, 1.ª Seção, j. 12.06.2013, rel. Min. Herman
Benjamin, DJe 07.10.2013); (ii) REsp 1.090.898/SP, 1.ª Seção, j. 12.08.2009, rel. Min. Castro Meira, DJe
31.08.2009, para o qual: "3. Nos termos do art. 15, I, da Lei 6.830/1980, é autorizada ao executado, em qualquer
fase do processo e independentemente da aquiescência da Fazenda Pública, tão somente a substituição dos bens
penhorados por depósito em dinheiro ou fiança bancária. 4. Não se equiparando o precatório a dinheiro ou
fiança bancária, mas a direito de crédito, pode o Fazenda Pública recusar a substituição por quaisquer das causas
previstas no art. 656 do CPC ou nos arts. 11 e 15 da LEF".
 
83 Wambier, Luiz Rodrigues. Correia de Almeida, Flávio Renato. Talamini, Eduardo. Curso avançado de
processo civil. 10. ed. São Paulo: Ed. RT, 2008. vol. 2: execução, p. 206-208.
 
84 Bueno, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil. Tutela jurisdicional executiva.
São Paulo: Saraiva, 2008. vol. 3, p. 229-230.
 
85 Pereira, Thomaz Henrique Junqueira de Andrade. Princípios do direito falimentar e recuperacional
brasileiro. Dissertação de mestrado. São Paulo: 2009, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, p. 53-61.
 
86 Dinamarco, Cândido Rangel. A reforma do Código de Processo Civil. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1996. p.
03.
 
87 Wambier, Luiz Rodrigues. Correia de Almeida, Flávio Renato. Talamini, Eduardo. Curso avançado de
processo civil. 10. ed. São Paulo: Ed. RT, 2008. vol. 2: execução. p. 155-156.
 
88 Marinoni, Luiz Guilherme. Arenhart, Sérgio Cruz. Curso de processo civil: execução. São Paulo: Ed. RT,
2008. vol. 3, p. 265.
 
89 Theodoro Júnior, Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p.
101-102.
 
90 Mendonça, Vinícius de Carvalho P. Curso de Direito do Seguro e Resseguro. Rio de Janeiro: Fundação
Getulio Vargas, 2015. p. 12; 30.
 
91 Paulo Piza explica que o resseguro é o meio tecnicamente adequado para "homogeneizar e limitar as
responsabilidades" assumidas pelas sociedades seguradoras no exercício da atividade empresária, "normalizando
o comportamento de suas carteiras de riscos" e garantindo-lhes a segurança financeira necessária para o
funcionamento do sistema segurador (Piza, Paulo Luiz de Toledo. Contrato de resseguro: tipologia, formação e
     
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O seguro garantia judicial no novo CPC

direito. São Paulo: Manuais Técnicos de Seguro Ed., 2002. p. 80-91).

     
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