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CURSO DE

ARBITRAGEM
MEDIA(AO · CONCILIA(AO · RESOLU(AO CNJ 125/2010
Diretora Responsavel
MARISA HARMS

Diretora de Opera<;oes de Conteudo


JULIANA MAYUMI ONO

Editores: Aline Darcy Flor de Souza, Andreia Regina Schneider Nunes, Cristiane Gonzalez Basile de Faria, Diego Garcia . -
Mendon�a, Ivie AM. Loureiro Gomes, Luciana Felix eMarcella Pamela da Costa Silva
Assistentes Administrativos Editoriais: Francisca Lucelia Carvalho de Sena e Juliana CamiloMenezes I FRANCISCO JOSE CAHALi
- - - - - -
Produ<;ao, Oualidade Editorial e Revisao
Coordena<;ao
LUCIANA VAZ CAMEIRA

Analistas de Opera<;oes Editoriais: Andre Furtado de Oliveira, BryanMacedo Ferreira, Damares Regina Felicio, Danielle
Rondon Castro deMorais, Felipe Augusto da Costa Souza, Felipe JordaoMagalhaes, Fernanda Teles de Oliveira, Gabriele

CURSO DE
Lais Sant'Anna dos Santos, Juliana Cornacini Ferreira,Maria Eduarda Silva Rocha, MayaraMacioni Pinto, Patricia
Melhado Navarra, Rafaelia Araujo Akiyama, Thiago Cesar Gon<;alves de Souza e Thiago Rodrigo Rangel Vicentini
Estagicirios:GuilhermeMonteiro dos Santos, Larissa Gon�alves deMoura e SthefanyMoreira Barros
Analistas de Oualidade Editorial: Carina Xavier Silva, DanielaMedeiros Gon�alvesMelo, Marcelo Ventura eMaria

ARBITRAGEM
Angelica Leite
Analistas Editoriais:Daniele de Andrade Vintecinco,Maria Cecilia Andrea eMayara Crispim Freitas
Capo: Chrisley Figueiredo
Administrativo e Produ<;ao Grcifica
Coordena<;ao MEDIA(AO • CONCILIA(AO • RESOLU(AO CNJ 125/2010
CAIO HENRIOUE ANDRADE

Analista de Produ<;ao Grcifica: Rafael da Costa Brito

6.a edic;ao

Dados lnternacionais de Cataloga�ao na Publica�ao (CIP)


(Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Cahali, Francisco Jose


Curso de arbitragem: mcdiac;ao: conciliac;ao: resolLI<;:5o CNJ 125/2010 I
Francisco Jose Cahali. -- 6. ed. rev., atual c ampl. -- S5o Paulo: Editora Rcvista
dos Tribunais, 2017.

Bibliografia.
ISBN: 978-85-203-7253-1

1. Arbitragcm (Dircito) - Brasil I. Tftulo.


THOMSON REUTERS
17-02356 CDU-347,918(81)

indices para catalogo sistematico: 1. Brasil: Arbitragem: Proccsso civil 347.918(81) REVISTADOS
TRIBUNAIS'"
ps

CURSO DE ARBITRAGEM

• Mediação • Conciliação
• Resolução CNJ 125/201 O

F~ANCISCO Josi: C\IIALI


6:' edição revista, ampliada e atualizada com o CPC/2015
e Enunci.idos aprovados na I Jorn.ida Prevenção e Soluç;io Extrajudicial de Litígios

-
1:' edição: 2011 - 2.'' edição: 2012 - 3:' edição: 2013 - 4."' edição: 2014 - 5." cdir,:t10: 2015

1m-P-
ro_V_i~-...w--
1NcLu1 VERSÃO
ELETRÓNICA DO LIVRO

CD desta edição [20171


EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS lTDA.
MARISA Ht\RMS
Vi1elrn ,1 t e.~pnns:frd

Rua do Bosque, 820 - Barr<l Funda


Te). 11 3613-8400 - Fax 11 3 61 :{-8450
CEP 01 Bí,-000 - São Paulo, SP, Brasil
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(arls. 101 ,l 11 O dJ l.ci 9.61 O, de 19.02.1998, Lei dos Direitos ,\utorais).

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Impresso nu Brasil 104-20171

Universitário (lextol
Fechamento desta edic,:Jo [23.01 .20171

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g ~ Aos estudantes e aos novos entusiastas destes temas,
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"~~ :.:,·( ,. .., esperando fomentar o estudo da conciliação, mediação e arbitragem,
~ ·-~~
EDtTORA AFU,IAPA
enquanto meios adequados de solução de conflitos destinados
a garantir o acesso à ordem jurídica justa no exercício da cidadania.
ISBN 97H-85-203-7253-1
....

A GRADECIMENTOS

Para o desenvolvimento e finalização da primeira edição desta obra pude con-


tar com o apoio de Andrt'. Luís Monteiro e Daniel Busharsky, e com a acadêmica na
época Anna Clara Silva Cahali Martinho, cuja contribuição na cuidadosa revisão,
cada qual à sua maneira, mostrou-se imprescindível. Aproveitei à época da mais
incensa participação de André, no capítulo relativo à Arbitragem Internacional, e
de Daniel, em boa parte do capítulo destinado à "Arbitragem Temática", ambos em
muito contribuíram com a pesquisa respectiva e com o próprio desenvolvimento das
ideias então apresentadas. Aliás, dois jovens e talentosos advogados, o primeiro Dou-
torando, e o segundo já Doutor pda PUC/SP, professores carismáticos e estudiosos
da arbitragem, cuja rrajcrória acadêmica já vem marcada com proveitosos escudos
publicados em revistas especializadas, ou propagados em aulas, palestras e debates.
Aos três colaboradores, estimados amigos e prima, meus agradecimentos pelas con-
tribuições à primeira edição, criando a partida para as atualizações que se seguiram.
Ainda, não poderia deixar de registrar meu especial agradecimento à prestimosa
equipe do escritório Cahali Advogados, que sabe assimilar, com maestria, meu parcial
afastamento quando fico dedicado à aruali1.ação desta obra.
A PRESENTAÇÃO

Já é voz corrente entre os profissionais do direito a utilidade e até a necessidade


de se encontrar meios mais adequados para a solução dos conflitos, como forma de
se garantir à sociedade o acesso à ordem jurídica justa.
Neste cenário, ganha espaço a conciliação, a mediação e a arbitragem, como
eficientes instrumentos à disposição das partes para enfrentar as inevitáveis desavenças
nas relações sociais.
E tão relevante o tema que a conciliação e a mediação judiciais foram incluídas
como Política Pública a ser observada por todos os órgãos do Poder Judiciário, nos
termos da Resolução 125/201 O do Conselho Nacional de Justiça. Reconhecido o
sucesso da iniciativa o Código de Processo Civil de 2015 definitivamente incorporou
este modelo chamado Tríbuna!Multíportasao sistema processual, ao introduzir como
etapa procedimental a autocomposição, integrando os facilitadores (mediadores e
conciliadores) como auxiliares <la justiça, conferindo ainda maior relevância aos
institutos, inclusive com maiores detalhes de seu regramenro.
Na esfera privada, acompanhando a onda de valorização da autocomposição,
além da intensificação dos debates a respeito em Congressos e Universidades, nota-
-se a concentração de esforços no desenvolvimento da mediação por instituições
particulares, ou profissionais independentes. E dentre as diversas iniciativas anote-se
o movimento para o fortalecimento da cultura da pacificação intitulado Pacto de Me-
diação, lançado cm 11 de novembro de 2014 pelo Centro e Federação das Indústrias
<lo Estado de São Paulo (CI ESP /FI ESP) para consolidação das sol uçóes consensuais de
conflito especialmente no mundo empresarial. Este Pacto de Mediflção, firmado entre
algumas lnsríruições de Ensino, 1 e diversas Entidades representativas de categorias
econômicas da indústria, comércio, prestação de serviços etc., cria o compromisso

1. Na oporrunidadc, fomos honra.dos com a indicação pelo Diretor Prof. Pedro Paulo Manus
para assinar o Pacto de Mediação em nome da bcul<lade de Direito da PUC/SP.
14 1 CURSO OE ARRITRAC.F.M APR.ESEN'IAÇÁO 1 15

dos signatários em prestigiar e incentivar a prática destes mecanismos amistosos de grandes empresas, nas relações entre pessoas jurídicas de direito público, inclusive
gestão de dispmas, de maneira colaborativa e incegrativa. envolvendo matéria tributária, entre sócios, em franquia, em representação comercial,
Para completar a onda de avanços recentes a respeito, foi recém-sancionada a nas relações de consumo, nas relações trabalhistas e, até mesmo para questões de direito
Lei 13.140 de 26 de junho de 2015, qualificada como o Marco Legal da Mediação. de família e sucessões, abre caminho para um horizonte sem limites.
Nda são traçadas regras da mediação judicial e extrajudicial, e ainda, estabelecidos Saudável, em nosso sentir, a díssem í nação da arbitragem, porém de forma dedi-
parâmetros para a autocomposição de conAitos em que for parte pessoa jurídica de cada e responsável, exigindo-se qualificação, habilidades e conhecimento específico
direito público, experiência esta já ames promovida pda Advocacia-Geral da União. sobre este profícuo instrumento, para se prestigiar os seus princípios e valores.
E a propósito da inovação legislativa, o Centro de Estudos Judiciário do Conselho da
Justiça Federal já cuidou de promover intenso debate, através da IJornadasobre "Pre-
Já há algum tempo como professor no curso de pós-graduação da PUC em
venção e Solução Extrajudicial de Litígios", com enunciados incorporados a esta 6.ª Arbitragem e Mediação, oportunidade em que muitas de nossas reflexões sobre o
edição no próprio texto, quando pertinentes, e apresentados na íntegra cm "Anexo 7". assumo foram instigadas ou amadurecidas com a proveitosa participação dos mes-
trandos e doutorandos, recentemente assumimos turma de graduação no Núcleo de
Especificamente com relação à arbitragem, já solidificada a posição do Brasil
Prática Jurídica exatamente nesta disciplina, para habilitar o escudante para a futura
com sua expressiva e proveitosa utilização nas relações comerciais internacionais, e
em conflitos internos envolvendo questões complexas, pelas características técnicas, atuação na área, além de se manter a disciplina optativa na qual se promove o apro-
valores ou peculiaridades da matéria, dirige-se o olhar para a arbitragem mais acessível fundamento do tema.
a todos: a arb.trragem "soc1a '. " .
. I" ou "democranca E foi neste ambiente acadêmico que encontramos espaço para uma obra mais
Nesta perspectiva encontra-se o que passamos a chamar de "segunda geração" didática e sistemática, permitindo desde o prime iro contato com a matéria até o seu
da arbitragem. Um novo tempo, uma nova realidade, novos protagonistas, mas com mais dedicado aprofundamento. Igual sensação tivemos em palestras e aulas com
idêntica eficiência e agilidade no tratamento do conflito. públicos diversos, desde iniciantes até profissionais com reconhecida experiência.
Não terá sido por outro motivo que as mais conceituadas faculdades de direito Assim, pretendemos oferecer com este Curso de Arbitragem um método dife-
do País, atualmente, oferecem como crédito obrigatório ou facultativo a matéria desti- rence de abordagem, procurando inclusive sua adequação, com cerca flexibilidade, à
nada ao estudo da arbitragem (cm geral acompanhada de noções sobre a mediação e a disciplina semestral geralmente oferecida nas faculdades, com divisão dos capítulos
conciliação), para semear nos futuros profissionais a cultura de tratamento adequado exatamente de acordo com a estimativa de aulas que se terá no período letivo.
dos conflitos, cujo presente curso se destina a auxiliar.
Aos alunos, huscamos sistematizar a obra de forma que se renha ideia do con-
Os holofotes focados aos prodigiosos resultados desce pragmático método de junto, e uma evolução natural do conhecimento, visualizando também o conteúdo
solução dos conflitos, porém, atraem indesejados oportunistas.
específico de cada capítulo já no início deste.
Daí, então, também surgirem novos desafios!
E apresenta-se um roteiro de estudos para facilitar a compreensão, reAexão e
Zelar pela idoneidade das instiruições, dos árbitros e dos profissionais envolvidos memorização dos cernas, ou seja, para servir como uma espécie de estudo dirigido.
passa a ser uma preocupação constante.
Também se pretende com o roteiro de escudos oferecer aos professores um resumo
A seu turno, a seriedade dos estudos a respeito da arbitragem assume especial
ou mesmo um esquema de apresentação de suas aulas, como, aliás, tem sido comum
importância. O conhecimento específico da matéria, pelas suas características, é
em cursos de outras disciplinas.
essencial à correra utilização do instrumento e ao incremento desces métodos de
resolução de litígios, que, aliás, pela sua dinâmica, também exige constante aprimo- Para aqueles que pretendem mergulhar nas profundezas das intrincadas questões
ramento in celeccual. sobre arbitragem, por interesse prático ou acadêmico, além do conteúdo direto dos
Nada de aventuras: o que se deseja éo dcsenvolvimentosusrenrávdda arbitragem capítulos, procuramos indicar em noras e em bibliografia recomendada uma fonte a
e dos demais meios adequados de solução de conflitos. mais de pesquisa, inclusive com atualidades.
O terreno é fértil, com espaço para ampliação da latitude de utilização da arbi- Ainda, espera-se com a forma apresentada oferecer aos profissionais uma obra
tragem, normalmente traçada por aqueles envolvidos na teoria e na prática com este em que rapidamente se encontre a solução de dúvidas, material de pesquisa ou in-
seducorexpedience.Aanálisedaarbirragem nos contratos públicos, nas relações entre formação desejada.
16 l CURSO DE ARI\ITRAGF.M

Enfim, entre tantas obras de qualidade sobre arhirragem, apresentamos nossa


reflexão neste Curso, com sistematização e didática próprias, querendo ser útil tanto
aos iniciantes como aos professores e aos profissionais da área.
E a receptividade da primeira, segunda, terceira e quarta edições nos estimula à
revisão continuada da obra, mesmo cm curta periodicidade, com ajustes e atualiza-
ções pertinentes a atender à demanda que se anuncia para o início do semestre letivo.
Já feita na 5.ª edição a inclusão em todos os temas tratados, das modificações SUMÁRIO
introduzidas pela reformada Lei de Arbitragem (Lei 13.129 de 26 de maio de 2015),
pelo Marco Legal da Mediação (Lei 13.140 de 26 de junho de 2015), e pelo Código
de Processo Civil de 2015. Nesta 6. ª edição a atualização é voltada às mais recentes
interpretações e polêmicas a respeito das inovações legislativas, inclusive trazidas AGRADECIMENTOS ................ .................................................................. ..,..... ............ 11
pelos enunciados aprovados na I Jornada sobre "Prevenção e Solução Extrajudicial
de Litígios", promovida pelo CEJ do CJF acima referida (com Comissões especificas APRESENTAÇÃO ........... ......... ... ...... -........................................................... .................. 13
também sobre "Arbitragem" e "Outras formas de solução de conflitos").
Por fim, pela boa aceitação, manteve-se como "Anexo" um Capítulo específico 1. IN'fRODUÇÃO ....................................................................................................... 25
no qual, além da Lei de Arbitragem já consolidada, da Lei de Mediação, e de outras 1.1. Introdução às alternativas adequadas de resolução de disputas....................... 27
Leis pertinentes ao rema, também se oferece comentários pon tuaissobre a reforma da 1.2. Breve histórico.................................. .... ................... ..... ................ ... ...... ....... 33
Lei de Arbitragem, e a transcrição dos artigos do Código de Processo Civil de 2015 1.3. Bibliografia recomendada ... .............. ............ .. .............................................. 40
relacionados direta ou indiretamente à arbitragem, à mediação e à conciliação, com
inserção agora dos Enunciados aprovados na I Jornada sobre "Prevenção e Solução 2. ALTERNATIVAS ADEQUADAS PARA SOLUÇÃO DE DISPUTAS, A R.ES.
Extraj udícial de Li rígios". 125/2010 DOCNJ-TRJBUNALMUfTlPORTASEONOVOMODELO PRO-
FRANCISCO JOSÉ CAHALI CESSUAL INTRODUZIDO PELO CPC/2015 ...................................................... 41
2.1. Introdução ...... ............................................................................................. 4.'.3
2.2. Conciliação, nc:gociaçiio, mediação e arbitragem .... .................. ............. ........ 44
2.3. Outras formas de solução de conAitos .......... ................................................. 51
2.4. Tribunal multiporra.~ ......... ..... .... ...................... ........ .................................... 61
2.5. Do conteúdo da Rcs. CNJ 125/2010 e estrutura proposta............................ 67
2.5. I. A "rede" de tratamento adequado dos conflitos................................ 68
2.5.2. Dos conciliadores e mediadores....................................................... 70
2.6. O novo modelo processual introduzido pelo CPC/2015 ............ ................... 71
2.6.1 . Valoriza.ç:io dos mécodos consensuais de solução de: conflitos no
CPC/201 5 ... ......... .... ......... .......... .... ..... .... ..... ................. ..... .... .... ... 72
2.6.2. Integração do Mediador e <lo Conciliador no Código de Processo
Civil como auxiliares da justiça............. .... ..... .......................... ....... 74
2.6.3. Encaminhamento à mediação ou conciliação como etapa inicial do
processo .... ..... ...... ..... .... ......... .. ... .. ..... .. ... ..... .... ............ ..... ......... .... 77
2.6.4. Particularidades <la Leí 13. 140 de 26 de junho de 2015 quanto :t
mc::<liaçãu judicial ..... ........................................................ ....... ........ 82
2.7. Bihliografia recomendada ..... ...... ............. ................. ......... ......... ..... ............. 83
18 C:URSO DF. ARBITRAGEM SUMÁRIO 19

3. MEDIAÇÃO ............................................................................................................ . 85 6.3. Da auconomia da chíusula com promissória ... ................................................ l 79


3.1.. Introdução ........... ................................................................................. ...... . 87 6.4. Do compromisso arbicral ........................ ................... ........ .... .... ................... 181
3.1.l. A Lei 13.140, <le 26 de junho de 2015 ............................................ 90 6.4.1. Da extinção do compromisso arbitral .......... ........................... ........ . 188

3.2. Princípios norteadores da mediação ....... ...................................................... . 92 6. 5. Dos efeitos da convenção arbitral.. ............................... ................................ . 190

3.3. Técnicas de mediação ...................................................................... ............. 98 6.5.1. Da forma de a.rguição em juíw estatal da existência <la convenção
arbitral ................. ....................................................................... .... 19.~
3.4. A bticu<le (dimensão) da mediação .......................... ..... ......... ................. ..... . 101
6.6. Da convivência enrre a cláusula comprornissúria e a eleição de foro .............. . 195
3.5. A Lei 13.140, de 26 de Junho de 2015 - Suas particularidades ..................... . 106
6.7. Bibliografia recomendada ............................................................................ . 195
3.5.1.. Dos n1ediadores ........................................... .................................. . 106
3.5.2. Do procedimento de me<liaçao privada ...................... .................... . 107 197
7. DOS ÁRBITROS...................................................................................................... .
3.5.3. O início da me<liação priv:i.da ........................................................ .. 109 7. l. Consí<ler:ições iniciais ............................................. .... .... ............. ................ . 199
3.5.4. O desenvolvimento da mediação privada....................................... .. 111 7.2. Quem pode ser árbitro ............ .................. ................................... ............... .. 200
3.5.5. O encerramento da mediação privada ... ........................................ .. 113 7.3. A escolha dos árbitros ............................................................................. ..... . 204
.).6. Bihliografia Recomendada ............................................ ................. ............. .. 115 7.3.1. A escolha dos ,frbitros na arbitragem multípartes ........................... .. 209
7.3.2. Quanto ao número de árbicros ................................. ....................... 212
4. ARBITRAGEM - A LEI 9.307/l996, CARACTERÍSTrCAS E NATUREZA
7.3.3. O presidente do trihuna! arbitral ............ .............................. ........... 212
JURÍDICA .............................................................................................................. . 117
7.3.4. Nomeaç:ío de secretário............................ ....................................... 214
4.1. Arbitragem - Noções gerais e vantagens do instituto ..................................... l 19
7.4. Atributos dos árbitros................................................................................... 215
4.2. A.Lei 9.307/1996 ........................................................... ............................. . 122
7.5. Do impe<limenco e suspeic,:ão d.o ,írbitro ............................................ .......... .. 222
4.2. l. A consritueionali<lade da Lei 9.307/1996 .................. .................... . 125
7.6. Da substítuição do árbitro .................. ......... ..................... .. .......................... 225
4.3. Natureza jurídica da arhítragem ................................................................... . 127
7.7. D:i responsabilidade penal do ,írbitro .......................................................... .. 226
4.4. Bibliografia recomendada ........... ............................................................... .. . 133 7.8. Da responsabilidade civil <lo ,írbitro ............................................................ .. 227
7.9. O ,írbitro wmo juiz de fato e de direito, sua aumrida<le e efeitos da sentença .... .. 229
5. ARBJTRABILIDADE, PRINCÍPIOS DA ARBITRAGEM E ESPÉCrES ............... . 135
7.10. Bibliografia recomendada ................................................................ ........... .. 231
5.1. Arhícrabílidade ........ ................................................ .............. ..................... .. 137
5.2. Princípios Norccadores da Arbitragem ........................................................ .. 140 8. PROCEDIMEN·1·O ARBITRAL ............................................................................ .. 233
5.3. F.sp.:cíes De Arbitragem - Institucional ou Avulsa (Ad Hoc) .... ..................... . 148 8. l. Considcrac,:ões iniciais - as regras do procedimento arbitral .......................... . 235
5.3.1. Arbitragem institucional ........................................... .................... .. 150 8.2. Dos princípios informativos do procedimento arbitral ........... ..................... .. 237
5.3.2. Arbitragem at! hoc ou avulsa .......................................................... .. 152 8.3. Da cronologia do procedimento ................ ...................................... ..... ...... .. 241
5.4. Bibliografia recomendada ................. ........................................................ .... l.53 8.4. A instauração da arbitragem ............ ............................ ................................ .. 242
8.4. 1. A exceção de recusa do(s) ,írbirro{s) ............. .. .................................. 247
6. CONVENÇÃO ARBITRAL .................................................................................... 155 8.4.2. A arguição de vícíos rcbtivos a competência, nulidade, ínvalí<lade,
6.1. Da convenção de arbitrage1n .............. ... ....................................................... . 157 incfic.ícia da convenção ............................. ..... ................................ . 251
6.2. Da cláusula compronlÍssóría ...................................................... .................. . 158 8.4.3. A omissão das parte.\, na primcíra oportunidade de se manifestar,
6.2.1. Cláusula arbitral cheia................................................................... .. 161 quanto à recusa do árbitro e quanco aos vícios da convenção ........... . 254
6.2.2. Cláusula arbitral vazia .................................................................... . 164 8.5. A organização da arbitragem ........................................................................ . 257
6.2.3. Cláusula arbitral patológica ................................................... .......... 171 8.5. l. A falta de assinatura no termo de arbitragem .................................. . 260
6.2.4. Cláusula escalonada ... ... .................................................................. 175 8.6. Bíbliografia recomendada .............................. ............... ... ............................ . 263
20 1 CURSO DEJ\R131TRAGE..vl SlJMÁRIO 1 21

9. PROCEDIMENTO ARBITRAL- li 265 113.1. Documento escrito ....... ............. ............. ........................................ 327
. ···································································
9.1. Introdução ...................... ........ ..... ......... ............. ....... ............ ........ ...... ..... .... 267 11 ..,.2. Relatório, fundamentação e dispositivo .............................. ............. 328
9.2. Do desenvolvimento da arbitragem .... .................................. ......................... 268 11 .3.3. Oata e lugar cm que a sentença é proferida ...................................... 330
9 .2.1. Í'ase postuht<Íria ............... ..... ........................................................ . 268 11 .4. Da comunicação <la sentença ar.bitrai............................................................ 331
9.2.2. Dos atos processuais ...................... ........ ................ ......................... . 270 11.5. Julgamento proferido por tribunal arbitral .................. ............... ............ ....... 331
9.2.3. Da revdia ....................................................................................... . 271 11.6. Pedido de esdarecimen(o............................. ................... .............................. 336
9.2.4. Da c.:onciliaçãu ........... ................................ ................... ... .............. . 273 11.6. 1. Correção de erro material. ..... ...................... ................. .............. ..... 337
9.3. A produção de provas na arhitragcm .............................. ..... .......................... 274 11.6.2. Pedido de esdarecimcnro .............. ......... ................................... ...... 337
9.3.1. Do depoimento das partes .............................................................. . 277 11.6.3. Do pra·Lo para se aditar a sentença ................. ......... ....................... . 338
9.3.2. Do depoimento das testemunhas ................................................... . 278
11.7. Sentença parcial (julgamento por etapas) ......................... ............................. 339
9.3.3. Do depoimento das testemunhas técnicas - expert 111ítnesses ............ . 279
11.8. Efeitos da senrcnça arbitral .......................... .......... ............ ............... ......... ... 342
9.4. Casuísticas no curso do procedimento ................ .............. ........ ................... . 281
11.8.1. Liquidez da sentença condenatória ao pagamento de quantia cena... 343
9.4.1. As de.~pesas com a arbirragem .......................................................... 281
11.8.2. O título executivo........................................................................... 344
9.4.2. A confi<lencialidade na arbitragem ............................. .............. ...... . 284
11.9. Bibliografia recomendada ........ ..... ................ ...... .................. ... ........... ... ...... . 345
9.4.3. A interrupção da prescrição pela iniciativa da arbitragem ................ . 285
9.4.4. A participação do advogado e assistente da parte ....... .............. ........ 288
12. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA ARBITRAL .............. .................................... 347
9.5. Bibliografia recon1end:1<la ............................. .... ................................. .... ..... .. 289
12.1. lntroduç~o ............................................... ... ................... ........ .......... ............ 349
12.2. O conceüdo da sentença e as diversas formas de se exigir o ~r.;u cumprimento ... 350
10. TUTELAS PROVISÓRIAS DE URGÊNCIA E OE EVIDÊNCIA NA ARBITRA-
GEM E COOPERAÇÃO DO PODER JUDICIAR.IO .......................................... .. 291 12.2. 1. Da materialização da sentença arbitral - considerações gerais neces-
10.1. Comidera~;õcs gerais sobre turdas proviscírías de urgência e de evídfocia ...... . s,írias à compreensão da posiç;i.o a<lotada abaixo quanto aos diversos
293
conteúdos possíveis do provimento e forma <le sua efetivação ......... . 352
10.2. Das tutelas provisúrias de urgência na arbitragem ......................................... . 296
12.3. Da didcia da sentença arbitral declaratcíria, comcimriva ou cxecuciva !11to
10.2.1. Tutelas provisórias de urgência a11tece<lentes .................................. .. 296
se11s11 .............................................................................................. ·.... ···· ······ 355
10.2.2. Mcdi<las de urgência no curso da arbitragem ............... ................. .. 304
I 2.4. Da execução da sentenç:i arbitral conden:míria ao pagamenro <lc quantia cerca
10.2.3. Convenção :i.rbirral limitando a apreciação pelo árbitro <le mtebs de
e1n dinheiro ... ............. ..... ......... ................. ......................._..... ...................... . 361
urgência ......................................................................................... . .~06
12.4.1. Praw para cumprimento da sentença ............................ ................. . 363
l 0.3. Tutela provisôria de evi<lência (antecipada) na arbitragem ............................ . 308
I 2.4.2. Polêmica a respcico da multa pelo não cumprimento da sentença.... . 365
l 0.4. Cooperação do Po<ler Judící.írio ................................................................... . 311
10.5. Da carta arbitral - o Código de Processo Civil <le 20 I 5 e a reforma <la Lei de 12.4.3. A citação pessoal tio executado e prosseguimento do processo ......... . .?67
arhi trage1n ................................. ......... ..... .... .......................... ..... ......... ........ . 315 12.4.4. Defesa.... .... ..... ............................................................ ....... ............ . %8
10.6. Bibliogrnha recomendada .......................... .................................... ........ ...... . 319 I 2.5. Oa execução da sentença arbitral impondo obrigação de fúer e não fazer .... .. 376
12.5. L A fixação de pra1.0 para cumprimento da obrigação e multa pela
11. SENTENÇA ARBITRAL int:rcia ............................................................................................ . 377
. ······•································································· 321
11. I. Introdução .................................................................................................. . 32.~ 12.6. Da execução <la sentença arbitral impondo obrigação <le entrega de coisa ..... . 379
11.2. Do prno para ser proferida a sentença arbitral ............................................ .. 324 12.7. Da execução da sentença arbitral co11tra a fazenda pública ........................... .. 380
l l .3. Requi.~itos da scmença arbitral ..................................................................... . 327 12.8. Bibliografia recomendada .... .................................... ......... ......... .... .............. . 380
22 CUHSO DF. ARRITRAGEM SU!\iÁRIO 1 23

l .?. INVALIDAÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL ..................................... ................. 38 l Anexo 2 - Lei de Arbitragem consolidada com a Lei 13.129/2015, destacadas as
l .?. l. Invalidação <la sentença arbitral - um novo olhar ao insticuco........................ mu<lificações com breves comenc:írios ............ .............. ............. ............ ........ 491
383
13.2. Das causas de invalicfação da sentença :irbirral.. ................................ .......... ... Anexo 3 - Lei 13. JliO, Je 26 de junho <lc 20 l 5 - Marco Legal da Mediação .......... .. 519
389
1.'3.3. Do pra1.o para a propositura da ação ............. ............................................... . 397 Aneiw 4- Emenda Regimental 18, de 17 <le Dezembro de 2014, do SuperiorTribunal
de Justiç;i - Alteraç:ío do Regimento lnterno ................................................ . 53.?
13.4. Procedimento e efeito.~ da desconstituição da sentença arbitral ... ................... 398
Anexo 5 - Conciliação e Mediação no Código de Processo Cívil de 2015 .............. .. 537
13.4.1. Sentença que não decide todo o litígio submetido à :irbirragcrn ...... . 401
13.5. Ação declaratória para impugnar jurisdição, procedimento e a ~entença Anexo 6 -Artigos do CPC/2015 rclaciona<los it Arbitragem ................................. . 553
:irbirral ................................................................................................... 403 Anexo 7 - Enunciados da [ Jornada Prevenção e Solução Extrajudicial de Litígios .. . 563
J3.6. Bibliografia recomen<la<la ........ ... ............... ....................... .................. .......... /407
OUTRAS OBRAS DO Au·1·0R ..........................................................."........................... 575
14. ARBJTRAGEMTEMÁTICA 409
····················································································
14.l. [nrrodução ..................................................................................... 411
14.2. Arbitragemnodireitocrabalhisca .................................. ................................ 412
l 4.2. l. Arbitragem nos dissídios coletivos ......................... ............. ............. 412
l 4.2.2. Arbitragem nos dissídios individuais ..................... .......................... 414
14.3. Arbitragem no direito fulimcncar ...... .... ........................... .......... ......... .......... 419
14.4. Arbitragem no dírcito societário.................................................................... 423
14.5. Arbitragem e a administração púhlíca .... ....................................................... 430
14.6. Arbitragem no direito de família ............................. ............................... ....... 434
14.7. Arbitragem no direito das sucessões ......................... ..................................... 4.19
14.8. Bíhliografia recomendada.................................... .............. ........................... 443

15. ARBI'l'RAGEM [N'J.ERNACIONAL....................................................................... 445


15. l. Objeto deste capítulo..................................... ............... ............... ...... ........... 447
l 5.2. Arbitragem doméstica e arbitragem internacional .. .......... ........ ............. ........ 447
15.3. F.scolh:i de Lei aplidvcl ao m~rito da controvérsia......................................... 451
15.4. Humologaçfo de sentença arbitral estrangeira............................................... 4 54
15.4.1. Normativa, objeto e competência............ ............................ ............ 454
15.li.2. Fun<lamencos para denegação.......................................................... 456
15.5. Bibliografia recomendada ....... .................................................. .................... 464

lHBLJOC.RArJA ...................................................................................................... 467

ANEXOS-LEI 9.307/1996, LE[ 13.140/2015, NORMAS E ENUNCIADOS PERTJ-


NENTES À ARRl'J'RAGEM. CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO............................. 477
Anexo 1 - Lei de Arbitragem - Lei 9.307, de 23 de setembro de 1996..................... 479
1.
Introdução
ROTEIRO DE ESTUDOS

1. Panorama do Poder Judiciário brasileiro


2. Introdução aos Mesc
3. Breve histórico sobre arbitragem
4. Estrutura das instituições de Arbi tragem e de Mediação no Brasil e o Conima
5 . Inovações legislativas

1.1. INTRODUÇÃO ÀS ALTERNATIVAS ADEQUADAS DE RESOLUÇÃO


DE DISPUTAS
Arbitragem,conciliaçãoemediaçao - opçõesvaliosas paraasoluçãodeconrrovér-
sias; ou, como usualmente se denominava: meios alternativos de solução de conflitos. 1
É sabida, por experiência ou conhecimento, a crise em nosso sistema judiciário,
decorrente, em boa parte, da morosidade com que tramitam os processos, mesmo
constatado o seu elevado custo.
Pesquisas recentes p romovid as pelo Conselho Nacional de Justiça demonstram,
por exemplo, uma "Taxa de Co ngescionamen to" de 7 1%; 2 ainda, registram a estimativa
do valor médio de cada processo na Justiça Comum é de R$ 1.848,00 por processo
julgado, mas pode chegar a R$ 6.839,00 (no Amapá e em São Paulo o custo médio é
R$ 1.1 26,00).3 E rudo sem falar no extraord infoo número de p rocessos em andamen-
to. Por exemplo, na Justiça Estad ual de São Paulo, supera-se 20 m ilhões defeitos, -te no

l. A nomenclatura usada pela dourrina de língua inglesa é AltemMivc dispwe rewl11tio11 - ADR.
Atualmente j,[ se fafa cm meios ,uleq1111dos parn soluçâo de confücos, cendo cm viSta que se
deve pensar no mémdo mais correto paro a soluçüo do conflito crazido pela parce(s). Também
roLinciramence se apresenta o rema como Mcsc -lvlâos e.-.:tr,tj11tlicinis de sob,riio de iw,jlitoJ.
2. De cada grupo de 100 proccsrns em tramitaç:f o. 71 terminaram o ano de 2009 sem solução,
co nforme demonstrado no relatório "Justiça em Nú meros" de sete mbro de 20 1O, o que reforça
a importância cio compromisso com metas de desempenho, firmado pelos tribunais e pelo Con-
selho Nacionn.l de Justir,;a (CNJ). A avaliar,;ão ;.: de ]os.: Guilherme Vasi Werner, secrcr:li'io-geral
adj unto do CNJ. D isponível em: [http://cnj.jus. br/portal/notícias/9842-congmionamcnto-
-de-proccssos-reforca-cornp romisso-com -011.:ras] . Acc.sso cm: 10.03.2011.
3. Co nfira mais informações cm: [htcp://ulrimainstancia.uol.com.br/conreudo/nocicia/cada+pr
occsso+custa+ r+ l 848+ao+ judiciariu_3 704 .shtml]. Acesso cm: 10.03. 20 l l.
SUMÀRIO 4. Anoce-se. porém, que mais d:i mc1::1dc são execuções fisc.,is. Veja-se, ai11da, que em março de
1.1. • INTAODUÇÃ? ÂS ALTERNATIVAS ADEQUADAS DE RESOLUÇÃO DE DISPUTAS......... 2015 houve dimibuição de 385.000 novos proct.-ssos, sendo perco de 200.000 Cíveis e 43.000
27
no~ Juizados Especiais Cíveis; perco de 1T'i.000 scncenç.1s rcgisc:radas para aqueles, e 54.000
1.2. • BR EVE HISTORICO .................................................................................................................................. 33 p:ira csccs. Disponivcl cm: [hcrp://www.rjsp.jus.br/Sh:.1rcd/l landlt:rs/FilePcLch.ashx?id_nrq ui-
1.3. • BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA...................................................................................................... 40 vo=66645). Acesso em: 14.07.2015.
28 1 CURSO DF:ARBITRAGEM INTRODUÇÃO 1 29

Brasil, entre todas as esferas (federal, Estadual, Disrrital), estima-se aproximadamente Lei de Arbitragem, e a transcrição dos artigos do Código de Processo Civil de 201 5
l 00 milhões de ações em curso." relacionados direta ou indiretamente à arbitragem, à mediação e à conciliação.
Cerco é que, especialmente no âmbito Federal, o maior nümero de processos A seu turno, não apenas no espaço acadêmico, mas também na prática, estes
envolve o próprio Poder Público (Governo Federal, Autarquias etc.), porém, o impacto dois institutos estão em destaque, sendo, como se verá, expressivo o aumento de sua
deste congestionamento é sentido por coda sociedade. utilização.
Daí os esfi.)rços da Comunidade Jurídica e do próprio Governo, em promover Mediação, como um instrumento eficaz para alcançar a solução dos conflitos, e
uma reforma, através de mudanças normativas e de paradigmas, com o objetivo de não apenas do processo, através da busca pelo reequilíbrio e harmonia entre as partes
dar maior eficiência à prestação jurisdicional do Estado'' inclusive implantando defi-
envolvidas, não pela imposição de uma vitória de um em desfavor do outro. Na feliz
nitivamente o chamado Tribunal Multiportas através da Resolução CNJ 125/20 I O,
expressão da Min. Fátima Nancy: é a "justiça doce". 7
e incorporando com o Código de Processo Civil de 2015 a mediação ou conciliação
como etapa inicial do processo. Também neste sentido a recente Lei 13. l 40, de 26 Na verdade, quer nos parecer que as pessoas, de um modo geral, perderam a
de junho de 2015 - Lei de Mediação, confirmando a mediação judicial, além do capacidade de superar as suas adversidades, acomodando-se na entrega de seus litígios
regramento da mediação extrajudicial, e, ainda, introduzindo rcgramenco a respeito para serem resolvidos por um terceiro: a cultura do litígio, bem presente na sociedade
da autocomposição de conflitos em que for parte pessoa jurídica de direito público, contemporânea.
dia~re da consciência de que a Administração Pública, de um modo geral, é parte que Mas pela mediação pretende-se resgatar exatamente a aptidão pessoal dos pro-
muito congestiona o Judiciário.
tagonistas de uma divergência, para, através da adequada comunicação, com esforços
Neste ambience, e exatamente nesta linha de perspectiva, voltamos agora a nossa comuns, se encontrar a melhor forma de restabelecimento do equilíbrio na relação.
atenção ao que há muito já existe - alternativas adequadas de soluç,ío de conflitos-,
Mediação: cerna atual, no Brasil e no mundo.
mas ainda encontra um campo fértil a ser explorado. E dentre os meios apropriados
disponíveis, o maior foco deste" Curso" será para a mediação e a arbitmgem. Sua intimidade com a conciliação e negociação, sua utilização nas diversas áreas
do Direito,8 inclusive Penal-Justifti restaumtiva,')técnicas de aplicação, interdiscipli-
. Aliás, tamanha a evidência desces dois instrumentos privados de resolução de
d1sputasquerecentemcntchouvea revisão ereformadaLeideArbitragem (Lei 13.129 naridade, e experiências em órgãos privados e públicos, além do Judiciário, são cernas
de 26.05.2015), após ampliado debate na comunidade jurídica, e o Marco Le{J'al da sempre à procura do novo; onde se aproveita o amplo conhecimento já existente, sem
Mediação (Lei 13.140, de 26.06.2015), acima referido. t> se deixar saciar, vislumbrados sempre novos horizontes desta ciência.
Diante de rodas estas recentes leis, já se promove o desenvolvimento desce'' Cur- E lembra Fernanda Levy: "A mediação sugere uma mudança de paradigma,
so" a sua mais detalhada análise. Ainda, com o objetivo de facilitar o conhecimento uma nova maneira de interação nos conflitos interpessoais. Traz à tona o desejo das
e verificação das inovações, apresenta-se como "Anexo" um Capítulo específico no pessoas em resolver seus próprios conAitos e realizar suas próprias escolhas. Propõe
qual, além da Lei de Arbitragem já consolidada, da Lei de Mediação, e de outras leis a autodeterminação e autonomia dos mediados. Incentiva o olhar para um plane-
pertinentes ao tema, também se oferece comentários pontuais sobre a reforma da
7. ''Não visualizo outra maneira de incutir na mente humana os benefícios da mediação, a qual
5. CF. Rebtório Justiça 1::m Nfüneros, daborado pelo Conselho Nacional de Justiça - CNJ (ed. me atrevo denominar justíça doei:, senão sua institucionalização nas escolas e universidades,
~O 13): ~xclu ídos os processos cm curso no Supremo T ribu nal .Feder.i.l. Disponível em: [ftp:/ / ahrindo, <lessa forma, uma nova estra.da que todos devemos ajudar a construir e afastando,
lrp.cnJ.J us.br/Juscic.1_cm_Numeros/rebmrio_jn201 4.pdfl, p. 34. Accs.~o cm: 14.07.2015. definitiv:i.mente o misoneísmo, sempre na busca do abrandamento dos conAiros existenciais e
6. Note-se o hercúleo empenho do Conselho Nacional de Justiça em ínvesrigar as causas de sociai.~ por meio do verdadeiro instrumento e agente de transformação - o diálogo conduzido
inadequada prestação jurisdi1.:ional e buscar solw,:ões das mais diversas para melhora do Siscc- pelo mediador-, no lugar da sentença que corta a carne viva." Trecho da palestra proferida peb
ma, atra~é~ das mais v:i.riadas medidas, desde Resoluçõe.ç, ;l(,: a efetiva gestão pessoal a juízos Min. Firima Nancy no l Encontro Nacional de Arbirragem e Mediação, no dia 31.03.2008.
problem;1ucos, passando pelas dccísõe.~ aos procedimentos a ele submc~idos. A seu turno, as Disponível em: [www.medíarsaopaulo.corn.br/J 094/7440 l .hrml]. Acesso em: 10.03.201 1.
reformas do processo cívil (jd conswnadas, e aquelas por vir), <lão conta de que O legislativo 8. Atualmente de expressivo relevo a mediação corporariva, entre sócios, diretores e nas relações
r:i~bém se o~upa com esta questão que, de resto, se contém inclusive no plal)ejamento estra- empresariais como um todo, e mediação nas questões de família.
n:gtco dos ues Poderes retratado no Pacto Republicano. 9. Com recente presrígio do CNJ a respeiro, pela Resolução 225/16, cf: Cap. 3, item 3.4, adiance.
30 CURSO DF. ARBITRAGEM lNTRODUC,:AO 1 31

jamcnco do futuro, que se pretende tranquilo e promissor, deixando as mágoas e os Sadia a experiência internacional, com frutíferos resultados, aliados aos dissabores
rancores no passado". 10 pela vagarosa máquina do Judiciário, esta técnica de solução de conflitos pas.sou a ser
Apontando a relevância e sua perspectiva promissora, e das diversas iniciativas atraente para grandes questões jurídicas de natureza privada. Além disso, a arbitragem
de prestígio aos meios autocompositivos, anote-se a concentração de esforços no apresenta-se como um foro neutro para disputas internacionais.
desenvolvimento e fortalecimento da cultura da pacificação através do movimento Pela só previsão na Legislaçáo Civil a arbitragem já se permitia (are. 851,
intitulado Pacto de Mediação, lançado em 11 de novembro de 2014 pelo Centro e CC/2002;u ares. 1.037 a 1.048, CC/1916), mas veio cm boa hora a Lei 9.307/1996
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP/FLESP) para consolidação com proveitosa regulamentação da matéria.
das soluções consensuais de conflito especialmente no mundo empresarial. Como
A partir de então, a arbitragem nacional passou a ser difundida em nossa reali-
referido na apresentação deste "Curso", este Pacto de Mediação, firmado entre al-
gumas Instituições de Ensino, 11 e diversas Entidades representativas de categorias dade jurídica.
econômicas da indústria, comércio, prestação de serviços etc., cria o compromisso Mesmo que por questões culturais ainda se mostre reservada a sociedade com
de os signatários incentivarem a prática destes mecanismos amistosos de gestão de relação a este Instituto, o Brasil ocupou a liderança na utilização da arbitragem entre
disputas, de maneira colaborativa e integrativa. os países latino-americanos, situando-se cm quarto lugar no mnkingmundial, segundo
Arbitragem: tão antiga quanto a própria humanidade. Nomear-se terceiro para dados da Câmara de Comércio lncemacional. 14
solucionar conflitos. u.
No âmbito das relações internas, embora verificado o crescimento vertiginoso
AI iás, tem-se notícia de arbitragem até na Mitologia grega, quando Zeus nomeou no número de arbitragens domésticas realizadas em alguma.s das mais respeitadas
um árbitro para decidir qual das Deusas mereceria o "pomo de ouro da mais bela"; Câmaras de São Pau1o, ainda há muito a caminhar. Por cultura social e na ciência
veja-se a passagem da Ilíada:
deste profícuo instituto.
"(...) e deixou à mesa um pomo de ouro com a inscrição 'à mais hela'. As deusas
O campo para se semear a arbitragem interna ainda é vastíssimo, principalmente
Hera, Arena e Afrodite disputaram o pomo e o título de mais bela. Para não arranjar
na perspectiva de se popularizar, ou melhor, democratizar a arbitragem.
confusão entre os deuses, Zeus encão ordenou que o príncipe troiano Páris, na época
sen<lo criado como um pastor ali perco, resolvesse a disputa. Para ganhar o título de Ou seja, se o Brasil encontra lugar de destaque nas Arbitragens internacionais,
'mais bela', Atena ofereceu a Páris poder na baralha e sabedoria, Hera riqueza e poder e o instituto merece respeito pelos envolvidos com as grandes questões comerciais
e Afrodite o amor da mulher mais hela <lo mundo. Páris deu o pomo a Afrodite, (internas e internacionais), para aquelas questões de menor significado econômico, e
ganhando assim sua proteção, porém atraindo o ódio das outras duas deusas contra certamente mais corriqueiras nas relações de direito privado, ainda há um horizonte
si e contra Troia." a ser explorado.
Com origem remota, o instituto ficou adormecido durante tempos, e mesmo Advirta-se, porém, gue esse desenvolvimento interno, para questões de menor
agora, no Mundo Moderno encontra-se em amadurecimento, desfrutando no Brasil impacto econômico, exige atenção redobrada, de maneira a se evitar desvios na uci-
de sua sadia e prospectiva adolescência.
lizaçáo do i nstiruco e, por conseguinte, sua desvalorização.
Em razão da globalização da economia - novmnente outras tirem do conhecimento
Saltam aos olhos os proveitosos avanços em tempos recentes: crescente número
influencitmdo o Direito - nas relações comerciais, tornou-se mais manifesta a neces-
de instituições arbitrais independentes ou vinculadas a respeitadas entidades empre-
sidade da arbitragem como meio para solucionar conflitos internacionais. E daí o
Instituto mereceu maior atenção da ciência jurídica. sariais, lançamento pela Ordem dos Advogados do Brasil, através das seccionais do
Distrito Federal e de Goiânia de campanha de divulgação (Arbítmgem: a escolhrt é

10. LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. C11arda dt,jíhos: os ,·o,iflitos 110 exadcio tio poderjitmili(lr.
São Paulo: Atlas, 2008. p. 123. 13. ''.Are. 851. É admitido compromisso, judicial ou extrajudicial, para resolver licígios entre pessoas
11. Na oportunida<le, fomos honrados com a indicação pelo Direror Prof. Pedro Paulo Manus que podem contratar."
para assinar o Pacto de Mediação em nome da Faculdade de l)ireito da PUC/Sl! 14. Brasil lidera uso de arbitragem na América Latina. Retrospectiva 2007 por Amoldo W1ld.
12. HOMERO. Ilíada. ·1rad. Odorico Mendes. Pref:icio de Augusto Magnc. Rio de Janeiro/São Re11ist11 Com11lto1· jurídiw. 28.12.2007. Disponível cm: [wvvv,.conjur.com.hr/2007-<le·L-28/
Paulo/Porco Alegre: W. M. Jackson, 1950. Clássicos Jackson, vol. XXL hrasil_lidcra_uso_arbitragem_amcrica_latina]. Acesso cm: 13.07.2015.
p
32 1 CURSO DE ARBITRAGEM
INTROot:ÇÃO 1 33

1
sutt), ; e publicação também pela Ordem dos Advogados do Brasil, através do Coprcma final de solução <la controvérsia. Eficaz, pois roti neiramcn te as sentenças arbitrais sao
(Colégio de Presidentes das Comissóes de Mediação e Arbitragem das Seccionais e espontaneamente cumpridas.
Entidades Nacionais) e da Comissáo Especial de Mediação, Con<.:iliação e Arbitra-
Pelas duas observações precedentes, já se mostra economicamente vantajosa a
gem do Conselho Federal, em parceria com a CACB (Confederação das Associações
utilização do palco arbitral, embora em um primcíromomento, na maioria das vezes,
Comerciais e Empresariais do Brasil) do "Manual de Arbitragem Para Advogados",
os custos de um procedimento superam aqueles cobrados cm primeira instância na
além de vários eventos, cursos, palestras, congressos etc., fomentando o debate e
justiça estatal.
disseminação do lnscicuto.
Por fim, facultado às partes a escolha de inscicuiçóes arbitrais, e até mesmo, con-
E consolidando a arbitragem, nossos Tribunais, inclusive o STJ, hoje prestigiam
forme as circunstâncias, a indicação de árbitros, naturalmente podem ser buscados
a utilização desce instrumento para solução de conAitos, conferindo, cm diversas
aqueles que melhor conhecimento têm cm determinadas matérias.
oportunidades, eficácia às sentenças arbitrais e respeito às convenções firmadas. Tam-
Assim, por exemplo, para conAitos entre advogados sócios de uma banca de
bém nesta linha <lc valorização dos métodos extrajudiciais de re.soluçáo de disputas,
advocacia, nada melhor, por certo, que a solução seja através de uma Câmara Arbitral
o Centro de Estudos Judiciário do Conselho <la Justiça Federal promoveu entre os
exístencc junto à Ordem dos Advogados, oferecida nas Seccionais de São Paulo e do
dias 22 e 23 de agosro de 2016 imenso debate a respeito do tema, através da JJornada
Rio de Janeiro, na qual, inclusive, a privacidade das relações internas do escritório
Prevenção e Solução Extrajudicial de Lidgios, cujos enunciados são incorporados a
bem como da relação com os próprios clientes é preservada.
esta Ga edição, quando pcrcinenres aos assuntos tratados, e reproduzidos integralmente
em separad o no "A nexo 7" . Enfim, a arbitragem representa, sem dúvida, um excelente instrumento à dis-
posição das partes para resolverem seus conflitos.
Como se verá no decorrer <leste escudo, a arbitragem se mostra como instru-
mento extremamente pragmático, no sentido <le realizar o Direito para a solução das
1.2. BREVE HISTÓRICO
controvérsias de forma célere, eficaz, reservada e, porque não dizer, extremamente
técnica e até, cm certa medida, com custos finais atraentes. Arbitragem é um instituto contemporâneo às relaçües sociais, através do qual
Célere, pois há previsão na Lei para julgamento em seis meses, se outro prazo não as pessoas indicam um terceiro para resolver seus confliros.
for convencionado pelos interessados (art. 23, Lei 9.307 / I 996), I<, embora cm litígios Aliás, para estudiosos <lo rema, 17 a arbitragem em diversas civilizações teria
mais complexos, por iniciativa das partes, seja usual uma arbitragem mais prolongada precedido até mesmo a justiça estatal, e mesmo estruturada esta jurisdição, muitas
para se adequar às exigências do caso concreto. Mas estancando de vez o risco de se vezes por opção das panes buscava-se a solução por pessoa de confiança e respeito
eternizar o procedimento, sempre haverá necessidade de se estabelecer o prazo para do/S envolvidos, corno, por exemplo, uma autoridade rei igio.sa, um reconhecidamente
seu término. E mais, no sistema arbitral, como regra, não há previsão de recursos; a sábio entre a comunidade, ou mesmo um membro da família experiente e idôneo.
decisão é final em uma única instância (por árbitro singular ou por colegiado). Só Enfim, o homem é um sujeito-desejante, 18 inceleccual, racional, conquistador e
por este detalhe, evidenccmentc, já se cem por reduzido substancialmente o prazo dominador, por estruturação psíquica, 19 inscimo de sobrevivência ou mero capricho,

15. Campanha bnçada cm evenro realizado cm 24.09.2009, com o apoio do Governo federal, 17. Leia-se a esse respeito: l\rgollo, Oscar. Anotações hísttÍrÍcas sobre arbitragem, desde os primór-
:1rr:1v~s do Miníst.!río da J11stiça e Secretaria de Reforma do Jmlicífoo, do Minisr~rio Público dios até a atualidade. ln: Pantoja, ·teresa Cristina C. (coord.). P,·dúm 11111 arbitmgc:111. Rio de
do Distrito Pe<leral, da Sccrcraria de Segurança Püblica, do 1hbunal de Jusciça e; <la Secreraria Janeiro: Forcn.~c Univcrsir.íria, 2008; Delgado, José Augusto. Arhitragcm no füasil - Evolução
de Jusriça e D ireitos Humanos, consistente na djscrib11iç:io de cartilhas sohrc arbirragem, e hist<>rica e conccitu:,I. '11: Machado, Rafael Bicca (coord.). A1·bilmgem 110 Rmsil: mp,·ctos jurítlí-
cartazes que foram a fixados em locais de grande circufoç:io do Distrito Federal c; <.k Goi,uii:i, cw ri:l,·1Nllltc's. São Paulo: Quartier Latin, 2008; e Dolinger, Jacob; Tihurcio, Carmen. Dfri:ito
além da divulgados por inrernc:r c; outros mcins ck comunicação. i11tcm11dm111I p1·i1111do: arbimrgem co111en:iaí i11ti:m11cim11d. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.
16. ''.Are. 23. A senti::nça arhirral ser;i proferida no prazo estipulado pch~ parces. Nada tendo .~ido 18. LACAN, Jacques. Livro 10-A angústia (1962-1963). O si:mimfrio. Rio de Janeiro: Jorge 7.ahar
convencionado, o prazo para a ;ipn::senraç:io d:1 sentença é de seis mc::ses, contacio da insritui- E<l., 2005, dentre outras oportunidades em diversos escritos que o autor se refere ao tema.
c;fo da arbitragem ou da substituição do ;irhitro. § l. 0 Os árbitros podedo proferir sentenças 19. Ou, nas palavras de Rodrigo <la Cunha Pereíra: "Pode-se dizer que o '.~ujcíto de dirci10' é
parciais. § 2.0 As partes e os :írbitros, de comum acordo, poderão prorrogar o pra'l.O para pro- tambi.:m um \ujeico de desejo' t:, portanto, um sujeíto-desejante. É este sujeito-desejante que
forir a sentença final.'' (j,í cm su;i nova redação introduzida pela Lei 13.129/2015 - ct texto pratica atos jurídicos, foz e desfa:t nt:gócíos. Se somos sujeitos de desejo. é importante indagar
consolidado e comentários cm /\nexo 1 e Anexo 2 adiante).
o que é o desejo. A fisiologia <lo desejo é estar sempre desejando um algo mais. Desejo ( foha.
34 1 CURSO DEARBITRAGF.M INTRODUÇÃO 1 35

e ainda assim social e civilizado nesta nova Era; e na convivência recíproca, entre verdade, como todos os demais métodos de resolução de conflitos, inclusive o judicial,
próximos ou distantes, está inserido em um complexo de relações sociais, nas quais, um meio adequado para a solução de determinados casos, dadas as características
inevitavelmente, surgem conflitos que precisam ser solucionados. peculiares de cenas disputas.
Conflitos, pois, sempre existiram e se projetam à eternidade; a seu turno, a Já insinuada a sua utilização entre os Deuses do Olimpo, 22 na antiguidade,
maneira de se promover a solução das controvérsias, passa por diversas modificações cerca dt: 3.000 anos antes de Cristo, a arbitragem é citada no direito grego tanto
ao longo da história, e cercamente:: ainda muito pode ser inovada. para a solução de controvérsias entre cidades-Estado (ligas enjitônícas),n como para
Deixada de lado a imposição da vontade pela força (autotutela ou autodefesa- a conflitos privados.2 -+
"lei do mais force"), 2º e afastado o entendimento (autocomposição), a solução do Os gregos tinham à sua disposição, então, os diaítetaí, que eram os árbitros
conflito é entregue ao terceiro por provocação do interessado, para harmonização públicos para litígios privados. 25 E como registra Guido Soares, "os 'juízes arbitrais'
das relações sociais intersubjetivas (heccrocomposição). 21 eram escolhidos pelas partes e poderiam ser tanto um rei, um magistrado, um ho-
E assim aparece a figura de um julgador que poderá integrar a estrutura escacai mem público qualquer; por vezes aparecem instituições religiosas como o Conselho
(Poder Judiciário), ou ser independente do Estado-o árbitro indicado pelas partes, Anfictiônico ou o Oráculo de Delfos". Em seguida, adianta que a "sentença arbitral,
direta ou indiretamente. gravada em muros de templos, em escelas ou no sopé de estátuas, razões por que há
A arbitragem é, pois, uma alternativa na busca de tutela jurisdicional, caracteriza- abundantes informações sobre a prática da arbitragem intermunicipal na Grécia
da como um dos mecanismos extrajudiciais de solução da controvérsia (Mesc), também antiga". 26 O "cidadão idôneo" dos Gregos, ou uma autoridade religiosa (estes espe-
apresentada como "justiça privada". Quando se usa a palavra "alternativa", não há aí cialmente para pessoas próximas) era preferencialmente investido de poderes para
qualquer intenção de diminuir a arhicragem em relação ao Poder Judiciário, como solucionar controvérsias.
se se tratasse de um método menos importante, nem de relegar a jurisdição estatal
para qualquer outro patamar diferente daquele que ela já ocupa. A arbitragem é, na
22. Cf. :teima a passagem transcrita sobre ''o pomo da discórdia", e ainda, Homero. Op. cic. e as
ohras citadas na nota 13, supra.
É assim nossa estrutura psíquica. Somos sujeitos da falta. Ese;i sempre fa.ltando algo para nos 23. A esse respeito, vale a transcrição da seguinte passagem: "No direito grego, os contendores po-
completar, embora, às ve1..es nos iludimos com o nosso idL'lll de completude. Somôs mesmo diam submcccr suas controvérsias a :írhirros privados, e se tem notícia de que a alguns cribunais
de falta e algo em nós sempre fulmrá. Daí a dêfinição dt Lacan: ' Desejo é desejo de desejo'" (ligas cnfitónicas) era reservada competência para dirimir conflitos entre cidades gregas, como
,(Pe.r:cim, Rodrigo da Cunlm. Família, direitos humanos, psican.-Oise e inclusão digira!. Di~-ponível verdadeiros jufaes arbim.is, distintos dos emão chamados árbitros pühlicos" (Furtado, Paulo;
cm: Lwww.roclrigodacunha.com.br/arcigos_pub05.honl] . Acesso em: 10.03.20.1. l). Bulos, Uadi Lammêgo. Lei da A,·hitmgem come1ttlfd,i. 2. e<l. rev. e acuai. São Paulo: Saraiva,
20. Ou, como escreve Aureliano: "Se no ínícío a solução passava obriga.coriamente pela imposição 1998).
da força bruta na correra execuç:to da 'lei do mais forre', na atualidade este tipo de solução de 24. "A arbitragem era já conhecida e praticada na antiguidade, tanto para a solução de conrrovúsias
controvérsia é considerado exemplo de atraso, deficíência de cadter e até crime" (Amorim, no :\mbiro do direito interno como tamhém para a solução de controvérsias entre cid3dcs-Estado
Aureliano Albuquerque. Arbitragem e Potler Judicídrío - O sistema ,rrbitml e o Judicidrio brasi- da Babilónia, cerca de 3.000 anos antes de Cristo'' (CARMONA, Carlos Alherco. A flrbítmgem
leiro. Goiânia: UCG, 2009. p. 19). 110 Código d" Proü·sso Cí11il bmsileim. Dissertação de doutorado, São Paulo, USP, 1990, p. 33).

2l . A rcspcico, minscreve-sc a lição de Ada Pellegrini Grinover, Amó nio Cados de Araujo Cintra 25. Antonio Sodré traz a seguinte informação histórica: "Como exemplo da utilização da arbitragem
c Câadido Rangel Dinamarco: '"Aurorurela' sigoifica a imposição de determinada resolução em conAitos de natureza pública, podemos citar o !ratado firmado entre as cidades-Estado gregas
ao conflito por uma das partes, à ourra, independenre da anui:ncia dem à solução escolhida. Atenas e Esparta, no ano de 445 a.C.. o qual continha uma espécie de cláusula. denominada
As formas pcrccnccnces a essa categoria valem-se do força física parn a sua reali:,;ação, com no atualmcnre de cláusula compromissória expressa''. ''.Acerca da aplicação da arbitragem sobre
caso da 'Vcndctta (aplicação de uma sanção a um infrator por parte do ofendido ou de seus conflitos privados, vale lembrar, como exemplo, que na Acenas de Péricles existiam as cortes
fu.m.iliares)'. A 'aucocomposição', por seu turno, di:,; respcico :IS fon-na,ç de solução de conflitos populares - heliaea - compostas de milhares de cidadãos atenienses, que se suhdividiam cm IO
obtidas a par,cir do consenso emre ns partes. Pertencem a esse grupo a desistência, a submissão tribunais, com 600 cidadã.os em cada. A partir de determinado momento, as cortes passaram a
e a c.ransaçfü) (respectívamenrc, a renúnci:1 à prctens.10, a confonn11ção com a resistência oposta, julgar casos de menor valor pecuniário, somente se antes houvesse uma tentativa de conciliação
e n realização de concessões mú tuas). Por fim. a ' hecerocomposição' abrange os mecanismos entre as panes por um árbitro, escolhido por sorteio, dentre os cidadãos m:iiorcs de 60 anos"
de solução de conflitós de que parricipam terceiros, como a defcs:l de terceiro, a concíliação, a (SODRÉ, Antonio. Curso de direito <1rbúm!. Leme: J. H. Mizuno, 2008. p. 106-107).
mediação, o processo csmcal {judicial) e a arbitmgem" (CJNTRA, Antônio Carlos de Araújo; 26. Soares, Guido Fernando Silva. Arhirragem internacional (inrrodução histórica). ln: FRANÇA,
GlUNOYER, Ada Pellegriní; DINAMARCO, C.indido Rangel. Teorin ~mi do ptocesso. 23. ed. Rubens Limongí (coord.). Enciclopédia Slfmiva de direito: 11erbete. São Paulo: Saraiva, 1978.
São Paulo: Malheiros, 2005. p. 25). vol. 7, p. 377.
36 1 CURSO DE AR13ll'RAGEM INTl{OUU(,:ÃO 1 37

A esse respeito, acrescenta Carmona: "Cada pane pagava uma taxa ao ,í.rbitro, e Reconhecida a arbitragem como instrumento de solução de controvérsias, foi
este, se não conseguisse conciliá-las, pronunciava a sua sentença, solenizada por um no Direito Internacional Público que o Instituto ganhou destaque,11 pois reprcscnra
. ,, ,...
Juramento .-' o meio civilizado para a acomodação dos interesses de Estados em conAito.
Roma 2R tamhém oferecia a arbitragem a seus cidadãos, "considerada um pro- Dentre inúmeros casos, mas para ficar próximo de nossa realidade, basta lembrar
cedimento de base contratual e tratada como um ato de natureza pactícía, nas várias de que a arbitragem foi urilizada para definir nossas fronteiras com a Argentina, Bolí-
fases do direito romano; as partes tinham a liberdade de assinar um compromisso em via, Peru. Nesse sentido, Pedro A. Batista Martins aduz que "as questões de fronreiras
que estipulavam o respeito à decisão <los árbitros e, nos contratos, podiam instituir com a Argentina e a Guiana Britânica foram solucionadas, respectivamente, por
cláusulas compromissórias". 2'> Uma lista de "cidadãos idôneos" compunha ojudícíum laudos datados de 1900 e 1904". Prossegue informando que "a questão do território
privatum, e as partes faziam a indicação do escolhido, não se reconhecendo a este o do Acre com a Bolívia foi satisfatoriamente resolvida no ano de 1909", bem como "as
direito de recusa da atribuição. 10 reclamações mútuas com o Peru, em virtude de problemas surgidos nas localidades
Já na Idade Média, "cm várias partes da Europa Medieval, decretos locais atribu- do Alto Jumá e Alto Purus, foram encerradas por arbitragem em 1910". 3"
íam aos bispos o conhecimento decausas(1ue versassem sobrcconAitosentre parentes E, no caminho traçado pela globalização da economia, a maneira eficaz para
cm matéria de partilha ou de tutela, alargando o âmbito do decreto justinianeu que tornar seguras as relações comerciais internacionais foi depositar confiança na ar-
lhes atribuía competência arbitral obrigatória cm questócs entre clérigos e leigos" .31 bitragem, como já há muito faziam países europeus nas suas relações continentais.
Com a estrutura jurisdicional oferecida pelo Estado em descrédito, inclusive Basca notar a edição, pela Comissão das Nações Unidas para o Direito do Comércio
pelo precário e inadequado sistema normativo de então, a arbitragem teve espaço Internacional, em 1985, de uma lei modelo para oferecer uma referência aos Estados
como útil instrumento à solução de diversos conAitos. 32 na reforma e modernização de suas normas sobre arbitragem comercial, cujas regras
Na sociedade moderna, fortalecidos os Estados, e reorganizados os sistemas jurí- representam consenso mundial sobre os mais importantes pontos da disciplina arbi-
dicos, naturalmente o Poder Judiàírio avocou o respeito e autoridade para a solução tral. Esta proposta é conhecida como Lei Modelo Uncitral e tem sido utilizada como
das controvérsias. Porém mesmo assim, mantendo-se a tradição, a arbitragem foi padrão para a elaboração de diversas legislações nacionais sobre arbiuagem. 1 '
prestigiada, canto com previsão legal em diversos ordenamentos, como também na Aproveitando-se também da experiência positiva da arbitragem nas relações de
sua continuada utilização, com maior ou menor intensidade, cm função de inúmeras Direito Internacional (público e privado), bem como já scdimenrada a confiança no
circunstâncias político-sociais. Instituto, no âmbito do direito interno, em países desenvolvidos a arbitragem passou
a ser utilizada como importante instrumento para solucionar conflitos, inclusive,
27. CARMONA, Carlos Alberto. Op. cic., [>. 34. criando-se, por vezes, tratamento específico para determinadas situações, como
28. Oí1. Joel Dias figueira Júnior: "É no Direito Romano que se encontram as raízes mais profí- arhitragem nas relações de consumo, 36 ou arbitragem testamentária. 37
cuas do insrituco <la arbitragem e ou do compromisso arbilral" (Figueira Jt'tnior. Jod Dias. A
11i-/Jim1gl'l11, juriJdiçíío e c.v:cmçíio. São Paulo: Ed. KI ', 1999. p. 25).
29. SOARES, Cuido I;ernando Silva. Op. cit., p. 377-378. 33. Y1.::ja-se, por exem1>lo, o "Tratado de 'lordesilhas'' que, scgun<lo historiadores, teve a linha
30. PONTES UE MIRANDA. Fr:rncísco Cavakanti. Tmt,uln de din:itn prí,,,1d11. Río de Janeiro: traçada por arbitragem, embora utíliz;ida a rnedi:iç5o como instrumento de pacíficaç:io cncre
13orsoi, 1959. e. 26, p. 344. Portugal e Espanha. para se cheg:tr :, assinatura da convenção.
31. SOARES, Guido Fernando Silva. Op. cít., p. 379. 34. MARTINS, Pedro Antonio Batista. Anot:ições sobre a arbitragem 110 Brasil e o projeto de lei
<lo Sr.:nado 78/92. RePm 77 /25, São Paulo: Ed. RT, j:m.-mar., 1995.
32. A respeito, ct: Sodr<:: ''Para Carlos Alberto Carmona, cinco foram :is principais causas que
ju.~tificaram a ampla utilizaç:ío da arbitragem: i) auso:ncia de leis, ou sua excessiva dure1.:1 e 35. O texto <la Lei Modelo, acualí'l.ado com a emenda de 2006, pode ser encontrado no seguinte
incivili<la<le; íi) folta de garancias jurisdicionais; iíi)variedade de ordenamcn ros; iv) fraqueza endm:ço eletrônico: [hccp://uncitral.org].
dos Estados; e v) conflitos entre Est:ido e Igreja''. "Cuido fcrnando Silva Soares, por sua vez, 36. Com leis específic:is na Espanha (Real Decreto G36, de 03.05.1993), na Argentina (are. 59 da
indica m:s ra-1..óes primordiais p:ir:i o sucesso do jufao arbitral: i) a reiterada pr;ícica arbitral no Lei 24.240/1993 e Decreto 276) e outros país<.::s que adoram um sistema próprio de arbitragem
seio <la Igreja; ii) :1s arbitragens intermunicipais. como uma forma de escapar 1t jurisdição do de consumo.
S:icro lmpc:rio Romano-germânico; e iii) a escrutura socíal estanque e hierarqui1.:1d:1." ''A Idade 37. Cf. Lei de Arbitr:igem espanhola 60/2003, <le 23.12.2003: "Arr. 1O. Arbirraje testamenrario.
Mé<li:t conheceu uma pluralidade <le regulamcntaçôes jurídicas válí<las cm um mesmo espaço T.1mbién ~c::rá v:ílido el arbirraje instituído por dísposícílin tcsc:imcnraria para solucionar di-
territorial, da mesma forma como conviveu com diversos cencros d<.:: emanaç:io normativa" fi.:rcncias entre herederos no forzosos o lcgacarios por cuestiones rclarivas a h <liscribución o
(SODRÉ, Anconio. Op. cít., p. 111). administración de la herencia''. Tradução livre: "Arbitr:igem tesrament,íria. Também sed dlida
F
38 1 CURSO DEARBITRJ\GF.M INTRODUÇÃO 1 39

No Brasil, embora antiga a sua previsão, como nos traz notícia Marco Maciel ao Mas aos poucos a mentalidade foi sendo alterada, tanto que se encontrava na Lei
invocar a Constituição do Império, 38 e as Ordenações do Reino, 19 também o Código 7.244/ 1984;12 que foi substituída pda Lei 9.099/J 995, 43 previsão de juízo arbitral
Comercial de 1850 faz referência ao instituto, 40 mas se encontrava uma desestimu- no âmbito dos juizados especiais. E motivada a iniciativa (aliás, da própria Lei como
lante legislação que exigia a homologação judicial dos laudos arbitrais (are. 1.045, um todo) pela já evidenciada sobrecarga de processos existentes no Poder Judiciário.
CC/ 1916), 41 e, assim, previsível, e mesmo natural à época afastar-se de nossa cultura Também pelo Decreto Legislativo 90/ 1995, foi aprovada a convenção do Panamá
jurídica a arbitragem. ( 1975) sohre arbitragem, aplicável às relações comerciais internacionais, cm modelo
totalmente diverso do previsto pela nossa legislação interna.
a arbitragem instituída por disposição testamcndria para solucionar litfgios entre os herdeiros Neste ambiente, veio, então, a Lei 9.307, de 23.09.1996, conferindo ao instituto
necessários ou legatários para questões relativas à distribuição ou administração da herança".
nova formatação, amai, dinâmica, segura e eficiente, como é de se esperar desta forma
38. Arbirrngem e nvanço institucional. Di.:;poafvd cm: [http://www2.scnado.gov.br/ bdsf/irem/
id/20 11 55] ; especificam.e nte rcporcando0 se ao are. 160 da Consdmiçáo Imperial de 1824,
de solução de conflitos.
escreve: "Prevendo que, nas causas civeis e penais, civilmente inrcn cadas, 'poderão as partes Com fidelidade histórica, e agradável narrativa de Petrônio Muniz, qualificado
nomear juízes ;írbicros', cuj:1s i;entc.:nç:i.s serão 'executadas sem recursos, se assim o convenciona- como o arauto da arbitragem brasileira, o livro "OperaçãoArbiter" traz a detalhada
rem ambas as partes'. E mais, o are. l (íl p rescrevia que 'sern fuze.r constar que se tem intentado
o meio de reconcili:içii.o , não se começará processo algum', na esfe.ra privada". trajetória dos esforços para se alcançar este marco normativo, e se reconhecer a sua
39. Nas Ordenações também se cnconcravam disposições relativas à arbitragem, especificamente nas constitucionalidade, por quem esteve à frente da iniciativa e incensos trabalhos dedi-
Ordenações Filipi11as, de longa vigência no Brasil: Livro III, Titulo l6, § 1.0 E no caso, em q ue cados a esta transformação jurídica e cultural.44
fôr apellado dos Juízes arhirros, e recebida a appcllação, todas as provas, :issi de tcsremuahas,
como de scriprnras, que per ambas as parr~ foram dadas perancc os :rrbirros, forno fé per:tncc os
Juízes da appel.lação assim e tão cumpridamcnn:, como j:í fizernm perante os árb itros, durando efeitos práticos resulcanres de sua atividade" ( Curso IZVIZIIÇIZCW de direito dvil.· direito d.is obrjgaçíies.
o scuJuíz.o. Porém, sem alguma elas partes allcgar mi razão, porque pareça que as testemunhas, CAMBLER, Everaldo Augusro (coord.). São Paulo: Ed. RT, 2001. vol. 2, p. 193). Acompa-
pergunrnd.1$ na fotma devida, os Jub.cs da appellação as mandarão o urra vcr, pcrgwmu· na forma nhando o direito marcrial, também assim a legislação processual ranto de 1939 (arts. l 031 a
acostumada, e de o ucm mane.ira não valerão seu.~ testemunhos perante os Juízes da appcllação. 1.046) como de 197., (arrs. 1.072 a 1.102), hoje revogados pela Lei de Arbitragem de 1996.
E se algumas rcstcmu11 has (3) forem j,i a esre rempo morras, serão seus testemunhos valiosos, 42. Dispunha sobre os Juizados Especiais de Pequenas Causas.
e se lhes dar:í tantn fé, como se fossem pergunrn.das por os mesmos Juízes da appclhção; § 7. 0 43. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais. A Seção VIII, ares. 21 a 26, craca da
E qunndo as pnnes compromecrerem cm rrC1. Juizes árbitros, posto que no compromisso se ''Conciliação e do Juízo Arbitral", assim prevendo no que pertinente: "Arr. 24. Não obcida a
não declare, que cada hum possa ser Jui1.. in nlid11m, se çodos a-ez forem juncos, poderão os conciliação, as parces poderão optar, de comum acordo, pelo juízo arbitral, na forma prevista
dous ddles julgar, segundo nmbos aco rdarem, ainda que o terceira comradjga sua se.ncença: e nesta Lei. § 1. 0 O Juízo arbitral con.síderar-se-,í instaurado, independentcmcme de ccrmo
sendo hum delle.~ absenrc, os dous não poderão sem ellc julg;u. e julgando sem ellc, não valerá de compromisso, com a escolha do arbitro pelas partes. Se este não estiver prcsence, o juiz
sua sentença; cf ainda a respeito, Título 17 e seus par.igrafos. convod-lo-,i dcsignar;í, de imediato, a data para a au<lif:nc:ia de instrução. § 2. 0 O ;írbicro
40. Promulgado pela J.ei 556 de 26.06.1850: am. 245 (arhirragem mercantil), 294 (relarivo a será escolhido dentre os juízes leigos. Art. 25. O árbitro conduúr;í o processo com os mesmos
conflitos entre sócios ou destes com a companhia, inclusive liquidação ou partilha), além de critérios do juiz, na forma dos arrs. 5. 0 e 6. 0 <lesta Lei, podendo decidir por equidade".
regr.as relativas a seguro maritimo (:m. 667, caput e alínea 11 do CCom). Também assim, a 44. O livro de leitura obrigatória, e prazerosa, para se conhecer o momento histórico, cra1. cm seu
Lei 108/ 1837 que rtgulamemou o juízo arbitral para controvérsias rel.i.civas aos contratos de "Prólogo", dentre outras passagens: "Ao relatar-se o aventuroso mutirão nacional, escar-sc-á, na
loeaç.'io de serviços. Dentre oua:ts, nas quais, em derc rmi nadas sirnnções, a arbitragem c.:1·:'l verdade demonstrando aos incréus e às novas gerações de brasileiros, a possibilidade concreta
indusivcobrigarória, derrogada pela.Lei 1.350/1866. Confira-se também o Dec. 3.084/l898 da cidadania ativa e rcspons,ível tomar nas mãos o próprio destino de forma cxicosa. Em outras
que rcgulamenrou a l.ei 221 / 1894 cm.se.usares. 767 a838; o CC/1 916, nos :ms l.037 a l.048; palavras deixarmos a posição de súditos para nos afirmarmos como cidadãos.... a Operação
o Dcc.-lei l .60811939, que insciruiu o Código de Processo Civil, no seu Livro IX, :ms. 1.031 Arbiter desde o seu início visou tão somente a efetivação da arbitragem - uma opção para as
a 1.036; e a Lei 9.30711996 com que a arbitragem volta a ganhar relevância. partes em litígio, sob forma legalmente prescrita•... 'f1t ,e/rima mrio' a Operação Arbiter ao
41. Assim: Are. 1.045 do CC/1916: ''A sentença arbitral s<Í se executar;í, depois de homologada, ultrapassar o cíenrificismo jurídico, transmudou-se em uma ação de subscraco político, enten-
salvo se fo r proferida por ju.it. de pr:imeint ou segunda insc:incia, com arbitro 110111,eado pelas dido este conceito no que de de mais nobre expressa - a possibilidade do aperfeiçoamento
partes". A respeico d:1 ineficiência da sisreimícica revogada, escreve.Everaldo ALLgusto Camblcr: da Democracia Brasileira pela participação direta do cidadão no processo de elaboração de
"O juízo arbitral, referido nos arrigos do Código Civil revogados, não acendia às necessidades Diploma Legal legitimado por amplo e prévio debate a nível nacional entre os interessados....
das atividades econômicas, contendo c.xigências e formalidades sccunddrins para a homologação A Operação Arhiter consticui destarte uma lição de comportamento clvico, de otimismo e de
do laudo, o que dificultava sua aplicação prática, pcOlva pela fulta de disciplina legal para a esperança, e seu relato, um documento fidedigno de que 'o fimero comtl'ói-sc' quando alicerçado
cláusula compromissória, além de não garantir ao árbitro poderes suficientes para a produção de na coragem, na organizaç:io e na limpidez de propósitos". MUNIZ, Pccrônio R.G •. Operação
40 1 CURSO DE ARBITRAG!õM r
O Código Civil de 2002, por sua vez, dedicou singelos três artigos ao tema
(ares. 851 a 853), que em rasa análise em nada interferem no sistema atual sob um
enfoque global, reportando-se no último deles à lei especial.45
Por fim, na atualidade, com alegria se vê a consolidação da arbitragem, merecendo
do próprio Poder Judiciário a confirmação de sua eficácia em diversos precedentes.4<,
Eo reconhecimento de sua utilidade também se pode extrair da própria iniciativa
do Legislador em propor ajustes na Lei, inclusive para expressamente tratar de sua
ucilização pela Administração Pública Direta e Indireta, tal qual na prática em certa
medida já se fazia (Cf. a introdução dos§§ 1° e 2° ao art. 1° da LArb. pela Lei 13.129
de 26.05.2015). Igualmente, pode-se ter como reconhecido o desenvolvimento da
arbitragem ao se notar as previsões a seu respeito no Código de Processo Civil de
2015, como, por exemplo, a "Cana Arbitral"Y E ainda, na onda de estímulo a este
método, aponta-se a reguJamencação de critérios na utilização da arbitragem para
dirimir litígios do setor portuário (Decreto Federal 8.465 de 08.06.2015).
2.
1.3. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
DINAMARCO, Cândido Rangel. A arbitragem rut teoria geral do processo. São Paulo: Malheiros, 2013.
Alternat ivas adequadas
LEMES, Selma Ferreira. A arbitragem e o escudante de direito. R(11ista de Arbitmgem e Mediaçíio. n. 23.
ano VI. São Paulo, out.-dcz. 2009.
MACIEL, Marco. Pronunciamento em comemoração aos I Oanos da Lei 9.307 /96. Revista de Arbitmgem
para sol ução de
e Mediação. n. 9. ano III. São Paulo, abr.-jun. 2006.
MUNIZ, Petrônio R.G. Opm1çiio Arbiter-A história da Lei nº 9.307196 sobre attrhítmgem comercial no
Brasil. 2." ed. Salvador: Assembleia Lcgislaciva do Estado da Bahia, 2016.
disputas, a Res.
VALENÇA FILHO, Clávio de Mello; LEE, João Bosco. Estudo de ttrhitmgem. Curitiba: Juruá, 2008.
125/2010 do CNJ -
Tribunal M ultiportas
e o novo modelo
Atbiter-A história da Lei nº 9.307/96sobre a arbitragem comercial no Brasil. 2.ª ed. Salvador:
Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, 2016.
processual introd uzido
45. Assim: "Ate. 853. Admite-se nos contrato~ a cláusula compromissória, para resolver divergências
mediante juízo arbitral, na forma estabelecida em lei especial".
46. Em pesquisa realizada pela parceria acadêmico-inscicucional entre a Fundação Getulio Vargas
pelo CPC/201 5
e o Comitê Brasileiro de Arbitragem, cujos relatórios podem ser acessado no site deste último
(www.cbar.org.br], constatou-se que, das 678 decisões judiciais analisadas no per<odo entre
1996 e 2008, em apenas 14 delas houve invalidação da sentença arbitral.
47. Cf. Caphulo lO, item 10.3, infra.
p

----------------- ROTEIRO DE ESTUDOS


1. Alternativas adequadas para solução de conflitos
2. Principais diferenças entre negociação, conciliação, mediação e arbitragem
3. Outras formas de resolução de disputas
4. O Tribunal Multiportas
• Ambiente em que foi sugerido
• Objetivo
• Conteúdo 2.1. INTRODUÇÃO
• CPC/2015 e o Marco Legal da Mediação
Primitivamente, os conflitos de interesse eram solucionados por aucocutela ou
4.1. Estrutura proposta na Res. CNJ 125/201 O
autodefesa, que representava a definição da questão litigiosa pela imposição da vontade
• CNJ - planejamento estratégico e comitê gestor do mais forte. Esse método de solução foi superado há anos quando o Estado idea-
• Núcleos em Tribunais lizou o monopólio da jurisdição, impedindo, assim, que as próprias partes fizessem
• Centros Judiciários uso de suas razões, o que, no atual ordenamento brasileiro, é até mesmo capitulado
4.1.1. Setor de cidadania comocnme.
4.2. Conciliadores e mediadores na forma proposta Res. CNI 125/201 O Além da aurorutela, existem meios hcterocompositivos e aurocompositivos de
• Capacitação resolução de litígios. 1 As principais formas heterocomposicivas de solução de conflito
• Cadastro são promovidas através do processo judicial, desenvolvido peranreo Poder Judiciário,
e pelos procedimentos realizados na arbitragem. As principais formas aurocomposi-
• Código de Ética
tivas de solução de conflito são a negociação, a conciliação e a mediação. Esse tema
5. O novo modelo processual introduzido pelo CPC/2015
dos métodos alternativos integra aquilo que se designou de terceim onda renovatória
do direito processual civil, da qual a obra de Mauro Cappelletti e Bryant Ganh é fome
de consulta obrigatória.
No que diz respeito a essa terceira onda renovatória, os autores lecionam que,
além de abranger a reforma dos procedimentos judiciais, a criação de determinados
procedimentos especiais, a mudança dos métodos para a prestação dos serviços judiciais
e a simplificação do direito, também se inclui "a utilização de mecanismos privados
ou informais de solução dos litígios". 2

SUMÁRIO
1. Nas soluções autocompositivas, embora possa participar um terceiro como facilitador da co-
2.1. • 1NTRODUÇÃO ..................................................................,-,.. ,........,_......................-............................... 43
municac,:ão (inclusive com propostas de solução, conforme o caso), o resultado final depende
2.2. •CONCILIAÇÃO.NEGOCIAÇÃO, MEDIAÇÃO EARBITRAGEM .................................................... 44 exclusivamenre da vontade das parres; a aceitação ou recu.~a à composição, est,i no arbítrio do
2.3. • OUTRAS FORMAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS ......................................................................... 51 interessado. Já nos métodos heterocompositivos, a resolução do conflito é imposta por um
61 terceiro, com poderes para tanto (magiscrado, árbitro etc.), daí porque fular-sc cm solução
2.4. • TRIBUNAL MULTIPORTAS ........................... _.......................................................................................
adjudicada; as partes estarão submcridas à decisão preferida pelo terceiro, mesmo se concrária
2.5. • DO CONTEÚDO DARES. CNJ 125/2010 E ESTRUTURA PROPOSTA ..................................... 67 aos seus interesses.
2.6. • O NOVO MODELO PROCESSUAL INTRODUZIDO PELO CPC/2015 ........................................ 71 2. CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso ,z jwtiÇ(l. Trad. Elkn Gracíe Northfleet.
2.7. • BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA ........................................................................................................ 83 Porto Alegre: Fabris, 2002. p. 71.
....

44 [ CURSO OE ARBITRAGEM Al:J'ERNl\TlVAS ADEQlJJ\DAS PARA SOLUÇ,\ O DE ülSl'UTAS, ARES. 125/2010 DO C:-JJ 1 45

Dessa maneira, a oferta de alternativas para a resolução de contendas está in- no sentido de que a posição de uma das partes se con era põe à da ou era, outorgando-se
cluída no objetivo maior de garantir o acesso à Justiça, o que nunca foi exclusividade autoridade ao árbitro para solucionara questão. A decisão do árbitro se impõe às partes,
do Poder Judiciário, mas sim finalidade <lo Estado, que, assim, pode incentivar que tal qual uma sentença judicial; a diferença é que não foi proferida por integrante do
os conflitos sejam resolvidos no âmbito estatal ou fora dele, como, de fato, ocorre cm Poder Judiciário. Neste contexto, consensual será a eleição deste instituto, e de uma
muitos desses métodos privados. série de regras a ele pertinentes, mas a resolução do conflito pelo terceiro se roma
Na variedade destas opções, entre as maneiras aucocomposicivas e hecerocom- obrigatória às partes, mesmo contrariando a sua vontade ou pretensão. A participação
positivas, sob a forma consensual ou adjudicada, certamente os interessados, bem das partes, neste instrumento, volta-se a formular pretensões e fornecer elementos
orientados por seus advogados, deverão encontrar o meio mais adequado para a que contribuam com o árbitro para que este venha a decidir o litígio.
solução de seu conAito. Já na negociação, conciliação e mediação, a solução da divergência é buscada
O próprio Estado passou a oforecer à sociedade ferramentas para encerramento pelos próprios envolvidos, de forma consensual, não imposta. Caminha-se pela trilha
amistoso da controvérsia, com a implantação do chamado "Tribunal Multiportas" da aucocomposiçáo, no espaço da liberdade de escolha e decisão quanto à solução a
através da Res. CNJ 125/20 l O adiante apresentada. ser dada ao conflito. O terceiro, quando aqui comparece, funciona como um inter-
Com resultados proveitosos, não só pelas estatísticas, mas pela positiva inAu- mediário ou facilitador da aproximação e comunicação encre as panes, instigando
ência cultural no sentido de se estimular a pacificação, esta iniciativa lançada pela a reflexão de cada qual sobre o conAito, sua origem e repercussões, para que estas,
Res. CNJ 125 gerou os melhores frutos, a ponto de, definitivamente, conscientizar voluntariamente, cheguem a um consenso ou reequilíbrio da relação.
juristas e o legislador envolvidos com an.formado Código de Processo Cívil, fazendo O restabelecimento do diálogo, muitas vezes perdido cm razão do conflito
com que no Diploma de 2015 a mediação e conciliação tenham especial destaque, instaurado, é trabalhado pelo facilitador, terceiro imparcial, que precisa merecer a
introduzida sistemática pela qual, como regra, estes meios amistosos de solução do aceitação dos envolvidos.
conflito passam a representar uma etapa inicial do processo, como igualmente se verá A participação dos in ceressados no resultado é direta, com poderes para a tomada
ao final desce Capítulo. de decisões, aplÍs passar pela consciencização do conflito e das opções para pacificação.
E também neste sentido, agora até com exagero normativo a respeito do rema, A negociação é rotineiramente utilizada para a contratação (formação da relação
a recente Lei 13.140, ele 26 de junho de 201 5, 1 que ao lado de representar o Marco jurídica) e praticamente incegraa natureza humana. Mas também pode ser aproveitada
Legal da Mediação no Brasil, confirma a importante presença da mediação judicial, para a solução de divergÊncias.
também dispondo a seu respeito.
Pela negociação, as partes tentam resolver suas divergências diretamente. Ne-
Enfim, o conAito existe, e sempre existirá, como inerente ao ser humano. Cabe, gociam com trocas de vantagens, diminuição de perdas, aproveitam oportunidades
então, a análise contemporânea de como superar as divergências da maneira mais e situações de conforto, exercitam a dialética, mas, em última análise, querem uma
apropriada. Neste contexto, além da cutela jurisdicional através da sentença judicial, composição, e para tanto, o resultado deve propiciar ganhos recíprocos, em condições
muitas outras possibilidades são oferecidas, devendo, assim, ser buscado o meio mais
mutuamente aceitáveis e eq uitativas, caso contrário, será rejeitado por uma das partes.
adequado à situação, para se obter os melhores resultados na pacificação social.
Embora se refira à negociação como método exercido pelos próprios interessados,
2.2. CONCILIAÇÃO, NEGOCIAÇÃO, MEDIAÇÃO EARBITRAGEM nada impede que seja promovida por terceiros - os negociadores. Porém, neste caso,
o terceiro não será um facilitador cm benefício <las partes, mas um representante de
Dentre os meios extmjutlíciais de solução d,, conjlítos (Me.se), os mais usuais eco- uma delas, eem nome desta defenderá os seus interesses. Ou seja, o terceiro comparece
nhecidos são: arbitragem, conciliação, negociação e mediação. Vejamos as principais para negociar a melhor solução em favor daquele por quem acua. Aliás, no mundo
diferenças entre estes insticuros. dos negócios, principalmente em grandes corporações, a figura do negociador "pro-
Na arbitragem, enquanto instrumento de heterocomposição, aparece a figura de fissional" cada vez mais ganha destaque.
um terceiro, ou colegiado, com a atribuição dedecidiro litígio que ade foi submetido Diversamente da negociação, os meios da conciliação e mediação pressupõem
pela vontade das partes. Caracteriza-se, assim, ainda como um método adversarial, a intervenção de um terceiro, imparcial, para facilitar a composição entre os interes-
sados. O terceiro aqui comparece para ajudar as partes a encontrar a melhor solução
.3. Cf. em Anexo 3 o rexto integral da Lei 13. l /40/ 1.5. ao conflito .
46 1 CURSO DE ARBITRAGEM ALTERNATIVAS ADEQUADAS l'Alv\ SOLUÇAO DE DISPUTAS, ARES. l25/20l0 DO CNJ 1 47

Embora com passagem obrigatória pela análise do conflito, o foco principal na Os princípios de conduta do conciliador são similares à do mediador, e serão
conciliação é a solução do problema. A meta é alcançar um acordo razoável às partes. apresentados no próximo capítulo.
Como diz Aldemir Buitoni: 4 "O conciliador, seja Juiz ou não, fica na superfície Pela sua natureza, e principalmente por não se investigar, posto que inexistente,
do conflito, sem adentrar nas relações intersubjetivas, nos fatores que desencadearam a inter-relação subjetiva das partes, o desenvolvimento da conciliação mostra-se mais
o litígio, focando mais as vantagens de um acordo onde cada um cede um pouco, para rápido e de menor complexidade em relação à mediação. Outras duas características
sair do problema. Não há preocupação de ir com maior profundidade nas questões fundamentais da conciliação são a celeridade do procedimento - que, muitas das
subjetivas, emocionais, nos fatores que desencadearam o conAico, pois isso demandaria vezes, se resume a uma única sessão - e a desnecessidade de conhecimento profundo
sair da esfera da dogmática jurídica, dos limites objetivos da controvérsia". da relação das partes pelo conciliador.
Este método é mais adequado à solução de conflitos objetivos, nos quais as A indicação da mediação, por sua vez, pressupõe terem as partes em conflito uma
partes não tiveram convivência ou vínculo pessoal anterior, cujo encerramento se relação mais intensa e prolongada, verificando o relacionamento tanto por vínculos
pretende. O conflito é circunstancial, sem perspectiva de gerar ou restabelecer uma pessoais como jurídicos. Ainda, tem pertinência em situações em que será gerada para
relação continuada envolvendo as partes. as partes, na soluçãodoconAito, uma nova relação com direitos e obrigações recíprocas,
e, pois, com uma perspectiva de futura convivência que se espera que seja harmônica.
Exem pios usuais de si mações cm que a conciliação é recomendada são: acíden ces
de trânsito e responsabilidade civil em geral; divergências comerciais entre consumidor Mais se falará no próximo cap ftulo, especialmente ao se apresentarem as técnicas
e fornecedor do produto, entre clientes e prestadores de serviço etc. da mediação, mas para marcar as suas diferenças com a conciliação, anote-se que neste
método haverá uma profünda investigação do terceiro sobre a inter-relação das partes
A conciliação tem, historicamente, intimidade com o Judiciário, verificada
e a origem do conflito. Em consequência desse exame profundo do vínculo havido
sua incidência no curso do processo, por iniciativa do próprio magistrado, diante
entre as part<::s pelo mediador, a mediação costuma representar um procedimento
da determinação legal para se tentar conciliar as partes, com previsão, inclusive, de
mais longo, em que, às vezes, são necessárias diversas sessões de Mediação para que
audiência para esta finalidade. Porém, ganha cada vez mais espaço a utilização deste
as partes consigam restabelecer o diálogo perdido.
meio alternativo de solução de conAito extrajudicialmente, através de profissionais
O foco na mediação é o conflito, e não a solução. Na conciliação percebe-se o
independentes ou instituições próprias.
contrário: o foco é a solução, e não o conflito. E com tratamento às partes, pretende-
O conciliador intervém com o propósito de mostrar às partes as vantagens de -se na mediação o restabelecimento de uma convivência com equilíbrio de posições,
uma composição, esclarecendo sobre os riscos de a demanda ser judicializada. Deve, independenrememe de se chegar a uma composição, embora esta seja naturalmente
porém, criar ambiente propício para serem superadas as animosidades. Como terceiro descjada. 5
imparcial, sua tarefa é incentivar as partes a propor soluções que lhes sejam favorá-
Utiliza-se da mediação para conflitos com marcantes elementos subjetivos,
veis. Mas o conciliador deve ir além para se chegar ao acordo: deve fazer propostas
como nas relações familiares e na dissolução de empresas, sugerindo-se igualmente em
equilibradas e viáveis, exercendo, nolimitcdo razoável, influência no convencimento
omras relações continuadas, como relações de vizinhança, contratos de franquia etc.
dos interessados.
Uma das principais funções do mediador (de acordo com a escola a ser seguida) é
Aliás, a criatividade deve ser um dos principais atributos do conciliador; dele
conduzir as partes ao seu apoderamento, ou seja, à consciencização de seus aros, ações,
espera-se talento na condução das tratativas e na oferta de diversas opções de com-
condutas e de soluções, induzindo-as, também, ao reconhecimento da posição do
posição equilibrada, para as partes escolherem, dentre aquelas propostas, a mais
outro, para que seja ele respeitado cm suas posições e proposições. Evidentemente
atraente à solução do conflito. Destaque-se, portanto, que o conciliador efetivamente
também aqui a criação de um ambiente propício, para superar a animosidade, é uma
faz propostas de composição, objetivando a aceitação pelas partes e a celebração do
acordo. A apresentação de propostas e a finalidade de obter o acordo são, pois, duas
características fundamentais da conciliação. 5. ''Enquanto a conciliação possui uma linguagem bín:íria 'procedente ou improcedenre', 'cul-
p:tdo ou inocente', 'ganhador ou perdedor', 'isco ou :1.quilo', 'fazer o acordo ou perder ainda
mais', a mediação tem linguag,;;m 1crn;íria, busca a terceira dimensão, a vitória de todos,
4. BUITONI, Aldcmir. Medi:i.r e conciliar: :i.s dífw.:nças b;ísic:ts. Jm M11•itmuli, n. 2.707, ano acrescenta e não alterna, representa a conjunção 'e' ao invés do 'ou'." Cf. LEVY, fernan<la
XV, Teresina, nov. 2010, p. 13. Disponível em: [http://jus.uol.eom.hr/revisca/texto/17963). Rocha Lourenço. C1u11-tl,i tle filhos: os conflitos 110 exercício dn pnderfi1milim·. São Paulo: Atlas,
Acesso cm: 09.03.2011. 2008. p. 122 e 123.
48 1 CURSO DE ARBITRAGEM ALTF.RNAIWAS /\DF.QUADAS l'AR,\ sou:ÇÃO DE DISl'lJTAS, ARES. 12<;/2010 DO CN'J 1 49

tarefa relevante. Aliás, pela origem dos conAítos, muito maior o desafio de minimizar cíficar as peculiaridades do con Ai to para encaminhá-las ao meio de solução alternativa
os efeitos do rancor, da mágoa, do ressentimento perversos ao pretendido diálogo mais eficiente. E há espaço para, no desenvolvimento de um modelo, ao se perceber
(fala e escuta), pois aqueles sentimentos podem gerar a má vontade na comunicação que outro será mais adequado, promover-se a mudança ou utilização conjunta das
e na busca de solução consensual. técnicas de ambos os procedimentos, ou mesmo o encaminhamento a outro inter-
O mediador não julga, não intervém nas decisões, tampouco se intromete nas mediário com as qualificações apropriadas ao melhor atendimento dos interessados.
propostas, oferecendo opções. O que faz é a "terapia do vínculo conflitivo"/i sem Por fim, confirma-se, em doutrina e na prtfxis: alcançada a composição, por
apresentar propostas ou sugestões de resolução, pois estas deverão vir dos próprios conciliação e especialmente pela mediação, cada um fez a sua parte para se chegar
mediados, com amadurecimento quanto à relação conflituosa. Como se vê, uma di- ao resultado, e por terem exercido seu poder de decisão, consolida-se a responsabili-
ferença fundamental da mediação em relação à conciliação é que naquela o mediador dade dos protagonistas com a solução dada ao conflito. Todo este envolvimento no
não faz propostas de acordo, mas apenas tenta reaproximar as panes para que elas processo de superação <las divergências promove o comprometimento das panes na
próprias consigam alcançar uma situação consensual de vantagem. eficácia d.o acordo, gerando, assim, naturalmente, o cumprimento espontâneo das
Há distinção entre conciliaçao e mediação principalmente de acordo com a ori- obrigações assumidas.
gem do conflito (objetivo ou subjetivo), a postura do facilitador e as técnicas utilizadas. 7 Daí porque se diz que uma solução consensual geralmente é respeitada e acendida
voluntariamente; já uma solução adjudicada pela sua imposição contrária à vontade
Neste sentido, Warat escreve: "A conciliação e a transação podem, em um primei-
de uma das partes provoca inúmeros recursos e, ainda, quando estes não mais forem
ro momento, parecer com a mediação, mas as diferenças são gritantes. A conciliação
possíveis, leva ao descumpri men co do decidido, a exigir execução com seus incidentes,
e a transação não trabalham o conflito, ignorando-o, e, portanto, não o transformam
tendo como consequência a "erernização" do litígio.
como faz a mediação. O conciliador exerce a função de 'negociador do litígio', redu-
zindo a relação conflituosa a uma mercadoria. O termo de conciliação é um termo de Ainda quanto aos meios não adversariais de solução de conflitos, veremos a seguir
cedência de um litigante ao outro, encerrando-o. Mas o conflito no relacionamento, a proposta de polític,t pública para tratamento adequado das demandas no Judiciário,
na melhor das hipóteses, permanece inalterado, já que a tendência é a de agravar-se estabelecida pela Res. 125, de 29.11.201 O, do Conselho Nacional de Justiça (Res.
devido a uma conciliação que não expressa o encontro das partes com elas mesmas" _1i CNJ 125/2010). E como já se encontra na iniciativa de diversos Tribunais, cria-se
um modelo de mediação e conciliação em juízo.
Aliás, o Código de Processo Civil de 2015, adiante analisado, em seu are. 165
anota:"§ 1. 0 O conciliador, que amará preferencialmente nos casos em que não E a propósito destes meios en<loprocessuais, será apresentado o modelo de tra-
houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo tamento do litígio introduzido pelo Cüdigo de Processo Civil de 2015, considerada
vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as a mediação ou conciliação como etapa inicial do processo, incorporando, assim, a
partes conciliem.§ 2.0 O mediador, que acuará preferencialmente nos casos cm que ideia de tribunal multíportas introduzida pela Res.125/CNJ, fazendo-se a referência,
houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as também nesta oportunidade, ao Marco Legal da Mediação (Lei 13.140 <le 26de junho
questões e os interesses em conAito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento de 2015),() pelo nela comido a respeito da mediação judicial.
da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem bene- Neste momento, então, cahe confrontar estes modelos propostos com a con-
fícios mútuos". ciliação e a mediação enquanto institutos próprios e independentes da estrutura do
Mas no cotidiano, diante de um conAito, pela sua origem (objetivo ou subje- Poder Judiciário.
tivo), ou mesmo pelas características pessoais dos envolvidos, detalhes, abrangência E a atenção maior é relativa à mediação, pois a incidência de conciliação ex-
ou reflexos posteriores, há uma zona cinzenta, e extensa, entre as si mações em que se trajudicial é mínima, sendo, como antes referido, mais aproveitada como instituto
recomenda um ou outro método de solução. Desta forma, o intermediário, o jui7-, o endoprocessual (conciliação judicial). Neste aspecto é curioso observar indiferença
advogado ou aquele que orienta as partes a buscar a solução pacífica deverá saber ídcn- cultural à conciliação extrajudicial, não só pela insign ificance prática, como até mesmo
por ter sido ela ignorada pelo Marco Legal da Mediação (Lei 13.140/2015). 1º
6. BUTTONJ, AJ<lemir. Op. cit.
7. Cf. BRAGA NETO, A<lolfo; SAMPAIO, Lia Rcgin~ Castaldi. O que é Medittçiío de co11jfitns. 9. Cf. cm Anexo 3 o texto integral da Lei 13.140/2015.
São Paulo: Brasiliense, 2007. p. 17-22. 10. Chega-se a questionar em corredores <lc eventos, inclusive, se a conciliação privada não reria
8. WARAT, Luís Alberto. O 11Jicio rio malíat!or. Florian{,polis: Habitus, 2001, p. 80. sido exrinm, ou incorporada apenas à mediação, como um de seus "mo<ldos'' ou ''cscohs".
50 1 CURSO DE AR8l'l'RAGEM ALTERNATIVAS ADEQUADAS PARA SOLUÇÃO DE DISPUTAS, A R.FS. 125/2010 DO CNJ 1 51

Parece não se ter vislumbrado a sua relevância em diversas questões, como no petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência
amplo ambiente das relações de consumo, diversas questões trabalhistas e até em liminar do pedido, o juiz designará audiência de mediação".
algumas relações comerciais. Também nesta modalidade submetida à Res. CNJ 12S/2010, a escolha do
Nota-se, ademais, a oferta em algumas instituições respeitadas do nome "con- profissional que conduzirá os trabalhos fica em parte prejudicada, pois ela é rescrita
ciliação e mediação", mas ramo na cláusula sugerida, como nos regulamentos, o que à indicação (em comum ou não, conforme o caso) daqueles nomes disponíveis no
aparece é apenas mediação. Nesta linha, ao que tudo indica, no ambiente extrajudicial, cadastro dos Tribunais; e na própria disciplina do Código de Processo Civil, se ausente
cerco ou errado, o quanto existe é a entidade, sob a roupagem de mediação, e com consenso na indicação de terceiros, haverá "distribuição entre aqueles cadastrados
mediadores, utilizar, se o caso, da conciliação para solucionar determinado conflito no registro do tribunal, observada a respectiva formação" (are. 168, § 2.0 , parte final,
se esta técnica for mais adequada à questão. CPC/2015). Ainda, a Lei 13.140/2015 é enfática em estabelecer que "Are. 25. Na
Daí porque se questionar (apenas para reflexão), se, definitivamente, não seria mediação judicial, os mediadores não estarão sujeitos à prévia aceitação das partes,
melhor incorporar definitivamente a conciliação como uma das técnicas de mediação, observado o disposto no art. 5. 013 desta Lei".
como fazem alguns países, deixando de ter regras próprias para uma e outra (como Por fim, pela .sua dinâmica na mediação e conciliação em juízo, a disponibilidade
se faz na conciliação/mediação judicial). de tempo aos procedimentos acaba sendo extremamente restrita. Enquanto a prática
Retomando a mediação, a recente Lei 13.140 de 26 de junho de 2015, consi- extrajudicial sugere a realização de várias sessões, perante o Judiciário a perspectiva
derada o marco legal da matéria, contém a mediação judicial, extrajudicial, além da é de se tentar resolver o conflito em uma única sessão, ou em poucas oportunidades.
aucocomposição de conflitos no âmbito da administração pública. Mas cm comum, e de extrema relevância, se têm os princípios, técnicas utilizadas
Embora com o mesmo signo, é totalmente distinta a forma como se instaura uma e os objetivos pretendidos com a aproximação das pessoas em conflito na expectativa
e outra mediação, indicadas na nova Lei também algumas peculiaridades distintas de pacificação das relações sociais.
entre estas modalidades. Poder-se-á, então, falar que a mediação passa aserum gênero, do qual são espécies
A mediação"cldssíca""privada" ou "extrajudicial" é modalidade de autocomposição a mediação extrajudicial, privada, ou cldssica, e a mediação judicial.
voluntária, estabelecida pelos interessados em previsão contratual 1 1ou ao menos provoca-
Sem dúvida, a iniciativa do PoderJudiciário em oferecer este produto, mesmo com
da por um e acolhida pelo outro, através de profissional (ou instituição) por eles escolhido
características próprias, só prestigia os institutos, e inclusive pode servir de estímulo
de comum acordo. Esta mediação será com mais vagar tratada no próximo capítulo.
às partes para, após conhecerem a opção por provocação do magistrado ou por acesso
Já na mediaçãojudicial, incidente nos processos em curso, na forma apresentada à previsão normativa (CPC/2015 e Lei 13.140/2015), buscar os meios alternativos
na Res. CNJ 125/201 O, esta via é instigada pelo juiz, e no Código de Processo Civil
desenvolvidos extrajudicialmente.
de 2015, ela será "automática" no início de praticamente todos os processos, pois o
primeiro aro do magistrado, após o recebimento da petição inicial, será a designação 2.3. OUTRAS FORMAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOSH
da audiência de composição conforme previsto no art. 334, que poderá, todavia,
não ocorrer por conta do previsto no§ 4.o do referido artigo ("A audiência não será Muito menos usuais que os meios acima indicados, merecem referência, ainda
realizada: I - se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na com- que superficiais, outras formas de solução de conflitos. Rara a sua ocorrência, princi-
posição consensual; II - quando não se admitir a autocomposição"). 12 Ou seja, em
uma e outra previsões, a instauração não se faz por iniciativa acordada entre as partes, 13. Relativo o. causas de impedimento e suspeição do mediador; assim: ''.Are. 5.0 Aplicam-se ao
que apenas são agentes passivos na submissão ou procedimento. mediador as mesmas hipóteses lego.is de impedímento e suspeição do juiz".
Mantendo esta orienração de se conduzir as partes à mediação no início do 14. Além dos mecanismos apresentados neste irem, recomenda-se a Leitura de Fernanda Rocha
processo judicial, a nova Lei de Mediação (Lei 13.140) indica em seu art. 27: "Se a Lourenço Lcvy, fome inclusive de muita.~ das informações ahaixo, em obra na qual se apre-
senmm outros meios privados para resolução de controvérsias, como o re11t-a-j11dge (também
deno minado de pri/J/lte j11dgi11g), e, bttseb,1/l ,zrbimuirm (rambém con hecid o por last nffer ou
11. Inclusive com a ucilização cada vez maior de "cLíusula escalonada", :.inalisatla no Capímlo 6, pend11/11m rtrbitmtio11), o high-li!w 1trbitr1t1i<J11 (ou bntcketed f/rbitratitm) . (Cl,hmil11s actt/0111,-
item 6.2.4. dns -A M,u/i((çáo comrrcird 11fJ tontexto d111u-bitmgi:m. Sar:1i v:1: 20 13, p. 11 8-120). AJi:ís, até
12. Adiante se oferecem mais det:i.lhes a respeito, como a forma de cada parte manifestar o desinteresse mesmo o j;í conhecido entre nós ''Omhudsman (do sueco, cepresentanre do povo), ínstituco
na audiência, e a obrigatoriedade desta etapa se uma ddas não oferecer objeçfo à audi~ncia. criado com o objetivo de oferecer um canal de comunicação imparcial e independente para
52 1 CURSO DE ARBITRAGEM
ALTERNATlVAS AOF.QUADAS PARA SOLUÇÃO DE DISPUTAS, ARES. 125/2010 DO CNJ 1 53

paimente entre nós, mas co.m boas perspectivas de serem adequadas para dece;:rminadas Pela avaliação de terceiro neutro (Early Neutra! Evaluation - ENE ou Neutral
circunstâncias podemos apresen tar, também para se pretender superar controvérsias Evaiuation), as partes, de comum acordo, indicam um terceiro imparcial, com conhe;:-
os seguintes instrumentos: rniní-trial, avaliaçiio de terceiro neutro, dispute board, cimentoespedfico na matéria objeto da controvérsia (geralmente de natureza técnica),
adjudicação e design de sistema de disputtts. Ainda, merece registro o meio específico para avaliação das posições em rápido procedimento, apresentando um prognóstico a
desenvolvido para dispucas de nome de domínio através do Sistema Administrativo respeito <las chances de êxito de cada qual. Também não é vinculante, e tem por objetivo
de Conflitos de Internet-SACI. a revisão pdos interessados de suas posições, servindo as conclusóes do expertnomeado
Como características comuns, em todos estes mecanismos privados de resolução (geralmente manifestadas apenas oralmente) como base para a solução consensual do
de controvérsia, temos a manifestação de vontade dos interessados cm submeter a conflito. 17 O terceiro, no caso, de um modo geral, tem atuação mais avaliativa, no sen-
tido de indicar provável resultado de uma ou ou era argumentação, mas sem apresentar
questão a um terceiro (ou comitê) para apresentar a solução que entende adequada,
a sua "decisão" ou conclusão a respeito de qual seria a solução adequada para o conflito.
mas sem caráter vinculativo (ao menos ddinitivo), ou seja, permite-se ao inconfor-
mado lcvaro conflito adiante em busca de uma decisão adjudicada. São inscrumencos A perspectiva é que a pessoa escolhida seja especialista na matéria, porém falra-
de grande valia para a aproximação das panes e conscienrização de seus direiros, -lhe habilidade ou capacitação para ser um facilitador, daí porque a sua avaliação é
facilitando também o entendimento do conflito diretamente pelos envolvidos, ou adequada para se ter, a partir daí, elementos úteis aos outros meios de composição
através de novos facilitadores. (negociação, conciliação e mediação), não sendo, pois, considerada uma ferramenta
A adoção destas ferramentas, independe de previsão na lei, e, como tal, acomo- isolada para a solução do conflito. 111
dain-se ao nosso sistema jurídico. Também dispensam em geral maior regulameí1 ração, Temos ainda o dispute board, através do qual forma-se um comitê de especialistas
pois pressupõe a converg~m:ia de von rade para se buscar a solução mais adequada ao independentes para acompanhar a execução de um contrato de longa duração ou de
conflito; l'> vejamos suas peculiaridades: execução diferida. 19 O conselho cria-se geralmente no início do contrato, e se mantém
Mini-triai rcpresenca um sistema pelo qual as partes elegem cada qual seu repre-
senta me, e estes indicam, em conjunto, o terceiro neutro para a análise de posições, o litígio em curso, o jui'.l. sugere um 111i11i-tri,lÍ e se as partes o aceitam, segue-si.:: o procedimen-
após o que se buscam soluções consensuais para as questões propostas. Os represen- to de aprcsenca.çlo sum;íria das alcgJ.çóes e o juiz sugere uma decísfo não vinculante e que
tantes defendem os interesses das partes que a indicaram, mas com ponderação para se permanecerá confidencial. Caso as partes a accicem ou cheguem a outro acordo, o caso esd
resolvído, caso comr:írio, o processo retoma seu curso perante o poder judici:írio, sendo que
obter a resolução do conflito com a interferência do terceiro neuno que se manifesta o juiz que amou no míni-tril(/ não ser,í o mesmo que dará contínuidade ao processo", como
a respeito da conclusão que entende adequada. Nesta dinâmica, especialmente com esclarece Fernanda Rocha Lourenço Levy; acrescentando: "O miní-ti-i11íé um meio mais r;ípido
a "decisão" do terceiro n eutro, respeitado por todos, tanto assim que convidado para e menos cusroso qur:: o processo judicial e a arbitragem. Possihilita ainda a manutenção das
participar do procedimemo, espera-se a aproximação das partes com o objerivo final relações e, caso as negociações não avancem rumo ao acordo, serve ainda como oporrunida<le
de se alcarlçar o acordo. A "decisão" do terceiro neutro não tem efeito vinculan ce, mas para a ohcenç5.o de dados que auxiliarão na avaliação mais realística do caso. Emhora seja um
meio apto à negociação, o mini-rrial ainda mantém a lógica adversaria! e nesse quesito, pode
se faz na expectativa de ser ao me;:nos persuasiva aos envolvidos. u;
ficar cm desvanragem em relação ;1 mediação" ( Cldumlr,s esc,tlm111d11s -A medi11çiio rnmerci,tl
no co11texro da 11rbitrngem. Saraiva: 2013, p. 121).
o rcccbimenco de reclamações sobre os ~.::rvi ços públicos mal pn::stados, estendido ao setor 17. Este mecanismo, inclusive, pode vir previsto cm Regulamentos de lmrituições de Mediação
privado", é trazido como ferramenr:1 acom()daç~o de intc;resscs, na medida cm que "di:mte e Arhicragem, oferecido como expediente prévio ao respectivo procedimento, a exemplo do
da reclamação re:tli1.ada, toma a,~ providências cabíveis para esclarecê-la e investig;í-la com a contido nas regras d:i. American Arbitration Association (AAA) (cf. [http://www.adr.org/aaa/
finalidade de propor acordos ou de encaminhá-la às providências cabíveis, pois cm geral, não faces/servíces/dispureavoidancescrvices/earlyneucralevaluation J. Acesso em: 13.07.2015).
possui poderes de punição." (p. 128). 18. Cf. a respeito, Marco Antônio Garcia Lopes Lorencini, '"Sistema Mulciporcas': Opções para
15. Ou como se regisrrou no Enunciado 8 l <la I Jornada Prevenção e Solução Extrajudicial de traramenco de conflitos de forma adequada", !11: Negocittçiio, Medí,tfiio e Arhitr,t_l!,em - Cimo
Litígios: "A concillaçfü>, a arbi tragem e a mediação, previst:1s cm lei, não excluem ouua.s form as Bâsirn J>llrtl programas de gn:uluaç,fo em Direito. Coordenadores Carlos Alherco Salles, Marco
de resolução de cou fücos que decorram da auwnomin privada, desde que o objcn> scji,1. lícito Antônio Lopes Lorencini e Paulo Eduardo Alves da Silva. Editora Gcn - Método: .S:ío Paulo,
e as partes sej(trn cnpaze::s."; a I Jo rnnda foi promovida entre 22 e 23 de agosto de 20 16 pelo 2013, p. <-í5. para quem: "Esse método é indicado principalmente nos casos em que grassa
Centro de Esrndos Judiciário do Conselho da Justiça federal. Cf. em "Anexo 7" o texto integral force polêmica em torno de um elemento de prova, ou, ainda, quando uma das parte.~ tem
dos enunciados aprovados. uma expectativa exagerada de sua posição na disputa".
16. E.m. referência indica o exewtive mini-triai, mais utiliz..,do, sendo também conhecido o judiei,,! 19. Acolhido na prárica doméstica, como adiante se verá, o dispute borird recebeu prestígio na I
mí11i-trittl, "procedimento híbrido que ocorre dentro do juízo escacai. Nessa hipótese, estando Jornada Prevenção e Solução Extrajudicial de Litígios, promovida entre 22 e 23 de agosto de
ALTERNATIVAS AOF.QUADAS PARA SOLU(,:ÃO DE DISPUTAS, ARES. 125/2010 DO CN) 1 55
54 1 CURSO DE ARBITRAGEM

entre nós por exigência do Banco Mundial ao financiar obras da Linha 4 -Amarela
durante todo o período da relação contratual. Além de reuniões rotineiras para v½r:incação
do metrô de São Paulo. H E pela pertinência temática, esta alternativa é oferecida pela
do desenvolvimento do conmno, o comitê pode ser provocado por qualquer das partes
20
quando surgirem conflitos (ai iás, naturais em vínculos prolongados) . Assim, o comicê Câmara de Mediação e Arbitragem do Instituto de Engenharia, merecendo inclusive
pode avaliar e apreciar controvérsias em mornen tos distintos, apresenc~do as conclusõ~ regulamento próprio.15
queencendercorretas,massemprecomaperspectiva~epreservarore:ac1~namencosad10 Há muito já utilizada em países do Reino Unido e incipiente em nossa academia
ena:e os envolvidos, para a continuidade no cumprU11ento das obngaçoes pactuadas. e prática, com origem também para solução de conflitos decorrentes de contratos
As decisões do comitê, sem efeito vinculante, são manifestadas através de reco- na construção civil, há a chamada adjudicação. Reconhecida a expressiva intimidade
mendações, e geralmente há.o compromisso das partes em. segutr o quanto estabelecido estrutural com os disputes boards, ou seja, voltado o método a encontrar uma solução
(dispitte revieiv board). Em algumas situações, se assim pacruado, as partes ficam s~- imediata à "crise de posições" por terceiro especialista escolhido pelas partes, em
jeiras às conclusões na continuidade d a execução do contrato, faculra1a a provocaçao caráter provisório, tem com particularidades: é promovida por um único escolhido,
de soluçáo adjud.icada para revisão do quanro recomendado; ou se}ª• cumpre-se.ª não por comitê ou painel, impactando diretamente na redução expressiva do custo e
determinação do comitê, no prossegu.imento da relação, mas permite-se o encami- na celeridade acentuada, e geralmente é convocado apenas para enfrentar o proble-
21
nhamento do conflito à jurisdição estatal ou arbitral (dispute adjudication board). ma cristalizado, sem acompanhamento periódico da obra, embora dela tenha, por
Na multiplicidade de variáveis a respeito desta ferramenta, encontram-se vezes, prévio conhecimento das peculiaridades. Porém enfrenta as mesmas barreiras
diversas formas de procedimento, inclus.ive em relação à abrangência e vincul~ção quanto à eficácia da cláusula e da respectiva decisão tomada pelo adjudicador. Aliás,
das decisões, como também para se prever perdas e danos àquele que descumprir as embora o nome seja sugestivo de decisão imposta (obrigatória// adjudicada), aso-
- "-- lução apresentada pelo adjudicador sempre é possível de revisão em procedimento
recomen daçoes.
23
Extrema.mente aprop6ado para grandes obras de engenharia e de infraestrutura,
de nato sucessivo prolongado no rempo, foi consolidada a utilização dos disputes boan:ls in.~erção da respectiva cláusula t:ontratual, é rccomend,ívd para os contratos de construção ou
de obras <le ínfraescrurura, como mecanismo voltado para a prevenção de litígios e redução dos
custos correlatos, permitindo a imedíaca resolução de conflitos surgidos no curso da execução
2016 pelo Centro de Esrudos Judiciário do Conselho da Justiça Federal, com 3_ cn.~ndados dos contracos".
aprovados a seu respeiro na Comissão de "Omras formas de s~ll ução _ de confl itos , se~do
24. Como nos dá notícia Rui de Arruda Camargo. Comitê de so'1tçíio tlc co11trovr!rú11S: nova
o prim'eiro deles, embma sem qualqucr repercussão diante do quanto Já se tem na reoria e
modalidade de solução para conflitos em obras. Publicado cm 4 de setemhro de 2012.
experiência sobre o prove.itoso modelo, assim redigido ''EmU1ciado 49: Os Co°:irês de Reso -
[h cc p: / /www.ie.org. br /site/ noticias/ exibe/ íd_scssao/7 0/ íd_col u n isra/ 3/ id_ notícia/ 69 8 8/
lução de Dispurns (Dispu.tc Bo,mis) são método de solução consensual de conAito, na fo~·ma
Comit%C3%AA-de-solu1YoC3%A7ºA)C3%A3o-de-controv%C3%A9rsias---Nova-modali-
prcvisca n.o § 3º do ;~rt. 3" do Códígc, de Processo Civil Brasileiro'' e os outros rep rodu1.1dos
dade-de-solu%C3%A7%C3%A3o-para-conflitos-em-obras] (acesso em 13.07.2015), para
em oponunid<1de própiria abaixo. quem: "ao lado <lo Contraro, a documentação técnica que define a obra cais como o Projeto,
20. Ou, como diz Ciaudia Elisi,bere Schwerv. Cahali: "Os disp1,tcs resol11tio1t h1Jnrds são comitês ou
as Normas Técnicas, as Especificações de Produtos e de Serviços e o Método Construtivo
consc:lhos r.é cnicos instiruídos, (;J11 geral, poroc:1Sião da celebraç.'ío do contrato para acompanhar
e cancos outros, assumem a mesma posição do Contrato qu.anco a sua imponânda. Geral-
a sua execução com ~l finalidade de resolver conAims e evitar que se cransfo1:mem em l!tlgios
mente, problemas causados por essa complexa documentação acabam gerando conflitos que
e pi:ejudiqucm o cumprimenco das obrigações conr.racuais. Traca-se de meio alrern ac1vo de
cerrarnencc dcságuam em gascos algumas vezes elevados e não pr~-viscos a serem cobertos
soluç.'io de conAi°co muiro uriliiado na coosrrw;ão civil e nos concracos de longo prai.o ou de
pelas partes em conjunto ou índívídualmente, conforme o caso. Não é raro ocorrer ques-
execução cüferida" ( O Germcimncm/J de Process1Js .f11díd11is em b11mi da cjetívitll1de d11 presMçiio
tionamentos entre os contratances durante o desenrolar <le uma obra. Esses litígios poderão
jurisdicio,ud. Ed irora Gaieca Jurídica. Brasília: 2013. p. 82) .
surgir motivados por vários farores, como: conflitos de projeto, divergência encre documentos
21 . Neste sentido, o Enunciado 76 da I Jornada Prevenção e Solução K"crnjudicial de Lidgios aci-
técnicos, surgimento de sícuaçócs não previstas em contrato, mudanças de projeto durante a
ma referida; assim: "As decisões proferida_~ por um Comic.: de Resolução de Disputas (Displlte
obra e muitas outras situações que não puderam ser previstas. Amalmcnrc, para minimizar
Br1nit{), quando os contrararnes tiverem acordado pela sua adoção obrigatória, vinculai:11 as
os problema.$ de custo com longos processos judiciais, atraso no cronograma, desgaste entre
parres aú seu cumprimento até que o Poder Judiciário ou o juízo arbitral_ compccence e1:'.11tah1
parceiros, está sendo praticada uma nova forma de micigação dessas divergências pela no-
nova decisão ou a confirmem, c.1so veob,un a ser provocados pela p,1rcc inconformada . .
meação de um Comitê de Solução de Controvérsias, também conhecido por Diíptite Review
22. GILBERTO JOSt. VAZ. "Breves ,onsidernçõcs sobre os disputz- honrds no Dirciro brasileiro"
Board - DRB.''.
Re11ist.fl t!e Arbitragem e M11dirzçii<>, RT, São Paulo, v. 1O, .jul. 20.06. P· 1.65.
25. Cf. [hnp://ie.org.br/camara/cma_tcxcos.php?íd_sessao="21 &id_texto= 18&lnk= l], acessado
23. E ,isslm reconhecido pela l Jornada Prevenção e Solução Extraj udici::ú de Litígios acima referida:
em 26.03.2013.
"Enunciadn 80: A utilização d.os Comirês de Reso lução de Disputas (Dispure :Boards), com:\
56 1 CURSO DEARRITRAGEM ALTERNATIVAS ADEQUADAS PARA SOLUÇÃO DE DISPUTAS, ARES. 125/2010 DO CNJ 1 57

arbitral ou processo judicial, respeitados os prazos específicos para oposição à decisão 3054", utilizada para ressarcir de forma justa e rápida os familiares das vítimas do
e iniciativa da ação. 26 trágico acidente com o voo TAM 3054 ocorrido em 17 de julho de 2007 em que 199
Também como forma de solução de discórdias, encontramos o sistema de manejo pessoas vieram a falecer. 29
de conflitos, ou design de sistema de disputas (DSD), através do qual desenvolve-se uma Também como forma de solução administrativa de controvérsia, comi nspiração
estrutura específica a um caso concreto de questões complexas envolvendo múltiplas em modelos existentes em outros países, em decorrência da criatividade saudável dos
partes ou grupos de pessoas em diversas posições. envolvidos no seguimento específico de nomes de domínio/º criou-se também no
Consideradas as necessidades peculiares do conflito, com a perspectiva de se Brasil o SistemaAdministrativo de Conflitos de lnternet-SACJ-Adm. Este procedimento
emprestar maior eficiência a esta alternativa, promove-se a gestão da controvérsia, foi estabelecido pelo nosso Comitê Gestor de lnrernec-CGI, para administração do
geralmente de proporções subjetivas significativas, através de fases, como análise do Registro.br, e está implantado com regras próprias desde 2010. 31
conflito e verificação dos instrumentos disponíveis para sua resolução, organização As soluções podem ser buscadas através de instituições parceiras credenciadas,
para maior participação dos envolvidos, identificação dos papéis e posições, cons- com estrutura e regulamento próprio para esta finalidade. 32
trução de caminhos e alternativas para tomadas de decisões, até se chegar a soluções De atribuição restrita, limitada a determinar a manutenção do registro, sua
consensuais, tudo acompanhado por facilitadores experientes.
transferência ou o seu cancelamento, a solução é administrativa, proferida por
Em sua dinâmica, trabalha-se com a mudança de cultura dos protagonistas da especialista(s), na forma estabelecida pela instituição credenciada.
relação para melhor lidarem com o con Rico; promove-se a administração interna das
diferenças, com avaliação da forma mais adequada de encaminhamento das questões,
analisados, denrre outros, casos de vírimas <le choque de trens da CPTM e de loceamemo
utilizando-se da negociação direira, conciliação e outras técnicas, inclusive media-
irregular.
ção, valendo-se rambém da organização de grupos para avaliação questões pontuais,
29. A respeito, recomenda-se a leirur:i de Diego F;tleck, lntrndução ao "D,•sig,1 de Sisctma de
diante da variedade de situações circunstanciais etc, tudo com o objetivo comum de Disputa: Câm.trn de lndt:nizac,.'iio 3054'', RBA - R1://Ístil Bmsileim ti,· Arbitmgem n. 23, J ul-
acomodar os interesses de todos. -Set/2009, Publicação conjuncn 108 e CBAr. $:io Paulo: 2009, p. 7. E pc:los ócimos resultados,
Neste contexto, através do diálogo, pretende-se a construção de uma resolução a pedido do Governador do Estado, este procedimento foi ucilizado como parâmccro para a~
negociações desenvolvidas pela Defensoria Pública de São Paulo no caso do acidente de metrô
conjunta a ser adotada com a presença das diversas pessoas envolvidas. O "consenso
ocorrido no mesmo ano, obtendo-se, igualmente, índice elevado de acordo com as vítimas.
não significa unanimidade, mas um acordo, baseado em interesses e realizado com "A Defensoria Pública amou cm cerca de 60% das pessoas acingidas pelo acidencc nas obras
boa-fé, com o qual todos possam conviver".27 do mctrô. 61 casos resultaram cm acordos (32 com inquilinos, 28 com propric1;irios e um
Pelas suas características, pode ínclusive envolver í nteresses públicos, 28 e desper- com familiares de vícima fatal), beneficiando, ao rodo, 145 pes.~oas (127 adultos e 18 crian-
tou maior destaque após a sua exitosa experiência através da "Câmara de Indenização ças). Os acordos extrajudiciais foram fechados entre 24 de janeiro e 23 de agosto de 2007 em
sessões de conciliação na Secretaria de Justiça. As indenizações ahrangeram danos materi:iis e
danos morais'' (cf. [hrrp://www.prcmioinnovare.com.br/pracicas/indenízacocs-extrajudiciais-
26. Para se conhecer mais deste modelo, indica-se a leitura <lo artigo específico desenvolvido com -relacionadas-ao-acídenrc-<lo-mccro-cm-sao-paulo-2546/ j, acessado em 26.06.2013).
cuidadosa pesquisa, apresentando origem, características e particuhridades do inscituto no 30. Desenvolvidos pela Internet Corpomtion For AJJigned Narne ,md Numbers - ICANN, com a
direito estrangeiro, muito bem elaborado por Marcelo Alencar Bocelho de Mesquira, que inicia implementação em 1999 <la denominada Uniform DiJ_pute Rmilution Poíiq- UDRP acolhidas
seu texco destacando: "quando falamos em adjudicação no sccor da construção referimo-nos as recomendações da Organização Mundial da Propriedade lntelecru..-tl - ONPI (WIPO- World
à solução de cerco conflito por um terceiro imparcial, de forma rápida e provisória, cendo as Inrelleccual Propercy Organizacion). Cf., a respeito, Carlos Eduardo Neves de Carvalho, ''An:í-
partes de obedecer a sua decisão até que, pela via :ubitral ou cm um processo jud icial, chegue-se líse comparativa de resolução de conAicos de nomes de domínio: Sistema brasileiro e UORP",
a ourra conclusão". MESQUITA, Marcelo Alencar Botelho de. Adjudicação de conAicos na Re11íst11 ARPJ - Associação Brasileira da Propriedade Inrclcccual, n. 123, mar./abr. 2013, p. 3,
construção. 111: MARCONDES, fernando (org.). 1i:mm de Dfreito dtr Co11stmçiio. São Paulo: e na mesma revista, Karen Cristina Moron Berri Mendes e Kelli Angelíni Neves, "Solução de
Píni, 2015. conflitos de Internet para domínios no '.br"', p. 63.
27. fernan<la Rocha Loul'cnço Lcvy ( Cldmullls emrlo1111das -A Medí,1çíío comel'ci11l no contexto d,1. 31. Cf. [htcp://registro.br/dominio/saci-adm.html), acc::ssado cm 26.06.2013.
tlrbitrtrgem. Saraiva: 2013, p. 126). 32. Arualmence, a Câmara de Comércio Brasíl-Canad;i - CCBC [www.ccbc.org.brl, a World
28. o: Série Pensando o Oi reiro n. 38/2011, do Projeto desenvolvido pela Secrcraria de Assuntos Intcllcccual Property Organi1..acion - WJPO [www.wipo.int/amc/pt) -aqui designada OMPl
Lcgi~larivos do Ministério de Jusciça - SAL, em parceria com a Escola dt: Direíro de São Paulo - Ocgani7.ação Mundial da Propriedade lntcleccual, e a Associação Brasileira da Propriedade
da Fundação Getúlio V.'lrgas. Disponível cm [http://parcicipacao.mj.gov.br/pensandoodíreito/ Incclcc1ual -ABP( [www.abpi.org.br] são credenciadas; cf. [hnp://rcgiscro.br/dominio/lisca-
wp-concent/uploads/2012/ 1l/38Pcnsando_Oireiro.pdf], acessado em 26.06.2013, onde foram -saci-adm.hunl] para verificação das novas entidades credenciadas.
58 1 CURSO DE ARBITRAGEM ALTERNATIVAS ADEQUAüAS PARA SOLU<,:ÃO DE O!SPUTAS, A llliS. 125/201 O DO CNJ 1 59

Aquele que se diz titular do nome de domínio, ou a pessoa que se sinta prejudi- entre os arts. 32 e 40. E em disposições finais comidas no Capítulo III, também faz
cada com a utilização indevida do nome por outro, tem legítimidade parai nstaurar o referências pertinentes ao tema.
procedimento. Feito o contraditório, cumpridas as etapas concentradas, pragmáticas A Lei crata da criação de câmaras de prevenção e resolução de conflitos pela
e céleres, haverá a análise do conflito. Uma vez pronunciada a decisão, a parte que se União, Estados, Distrito Federal e Municípios, estabelecendo critérios e regras gerais
sentir prejudicada poderá ingressar com ação para discutir a questão; porém, se não de atuação, procedimento e matéria a ser submetida a este sistema. Traz interessantís-
o fizer em 15 (quinze) dias úteis contados da ciência da decisão, o NIC.br implemen- sima e ousada inovação ao admitir de ofício ou mediante provocação, procedimento
rará a alteração decidida administrativamente, transferindo o nome de domínio ao de mediação coletiva de conflitos relacionados à presraçao de serviços públicos. Prevê
reclamante ou simplesmente cancelando o existente se o caso. 33 a suspensão da prescrição pela instauração de procedimento administrativo para a
E seu maior destaque é a agilidade na obtenção e implantação de decisões, sendo resolução consensual de conflitos. Apresenta também regras gerais da transação por
certo que, por parrirde instituições credenciadas junto ao Comitê Gestor de Internet, adesão mesmo se pendente processo judicial sobre o conflito. Ainda, recomenda e
com solução proferida por conhecedores da matéria, cercamente as conclusões serão craz as diretrizes para a resolução administrativa de controvérsias entre órgãos ou
respeitadas, ou ao menos persuasivas na hipótese de eventual questionamento em entidades de direito público que integram a Administração Pública Federal através
sede judicial ou arbitral, inibindo, em cerca medida, a propositura de ações despidas da Advocacia-Geral da União. 1àmbém merece anotar que a Lei, embora com res-
de sólidos fundamentos contrários à decisão administrativa. 34 trições, trata inclusive de composição extrajudicial relativa a tributos administrados
Por fim, quanto a alternativas para resolver concrovérsia, embora não seja solução pela Secretaria da Recci ta Federal. 35
"privada", mas "perante Autoridade Pública", porém externa ao Poder Judiciário (e Diante das novas Leis (CPC/2015 ou Marco Legal da Mediação) a solução
por esta razão aqui trazida), anote-se o avanço contido no Código de Processo Civil consensual de conflitos perante a Administração Pública foi valorizada na l Jornada
de 2015 ao estabelecer que "Art. 174. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Prevenção e Solução Exrraj udicial de Litígios, com diversas proposições acolhidas para
Municípios criarão câmaras de mediação e conciliação, com atribuições relacionadas estimular esta prática, até mesmo em matéria tributária, como, por exemplo, Enun-
à solução consensual de conflitos no âmbito administrativo, tais como: I - dirimir ciados 18, 19, 25, 31, 32, 36, 37, 53, 54, 60,62,69, 71, 74, 82, 85e87, merecendo
conflitos envolvendo órgãos e entidades da administração pública; II - avaliar a destaque o "84. O Poder Público - inclusive o Poder Judiciário - e a sociedade civil
admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, por meio de conciliação, no deverão estimular a criação, no âmbito das procuradorias municipais e estaduais, de
âmbito da administração pública; III - promover, quando couber, a celebração de centros de solução de conflitos, voltados à solução de litígios entre a Administração
termo de ajustamento de conduta". Pública e os cidadãos, como, por exemplo, a Central de Negociação da Procuradoria-
Mais detalhado e abrangente que o Código de Processo Civil, a nova Lei de -Geral da União". 30
Mediação, também traz regramento específico de solução autocompositiva para os E as inovações legislativas (qualquer delas - CPC/2015 ou Marco Legal da
Conflitos em que for parte Pessoa Jurídica de Direito Público. Dedica-se o Capítulo Mediação), reconhecem o acerto da iniciativa neste sentido promovida em 2007
II para esta matéria, com a Seção !-Disposições Comuns, e Seção II- Dos Conflitos pela Advocacia-Geral da União pela criação em sua estrutura, da Câmara de Conci-
Envolvendo a Administração Pública Federal Direta, suas Autarquias e Fundações, liação e Arbitragem da Administração Federal -CCAF, com a intenção de prevenir
e reduzir o número de litígios judiciais que envolvam a União, suas autarquias,
33. Regulamento do SACI, Art. 22: "Se a decisão proferida no procedimento do SACI-Adm fundações, empresas públicas federais, e posteriormente ampliada sua atuação para
determinar que o nome de domínio objeto do conflito seja cran.~ferido ao Reclamante ou seja buscar a resolução, em alguns casos de controvérsia entre a Administração Pública
cancelado, o NlC.hr aguardará o decurso do prazo <le 15 (quinze) di:1s úteis conrados da data
em que foi comunicado pela insriruição credenciada da decis:ío, implementando-a cm seguida.
Parágrafo único: Se qualquer das Partes comprovar que ingressou com ação judicial ou processo 35. Cf. adiante, em ''Anexo 3", o texto integral da Lei 13.140, de 26 de junho de 2015. O rema é,
arbícr:t.l no período mencionado no ,·,ipm deste artigo, o NIC.br n:ío implementará a decisão sem dúvida, riquíssimo, apresentando campo fértil para i>rofícua reflexão e prática. Mas nos
proferida no procedimento e aguacdad determinação ju<licia.l ou do processo arbitral." restritos limites desce "Curso'', deixa-se de aprofundar os seus escudos, limirando-.~e a chamar
34. Para se saber mais a respeiro, recomenda-se a consulta ao primoroso livro "Nomes de domínio a atenção sobre esr:1 peculiar forma de se solucionar conflitos em ambienrc externo ao Poder
na Internet-Aplicação do si.~tema administrativo de conflitos'' (São Paulo: Ed. Novatec, 2015), Judiei.frio, envolvendo a administração pública, com seus diversos personagens que, como se
fruto da dissertação de Mestrado apresentada na PUC/SP por sua Aurora Kelli Angclini Neves, sabe, é a campc:ã c::m processos judiciais pendentes.
no qual, através de densa pe.~quisa, experiência profissional e substancial hagagem acadêmica, 36. Promovida entre 22 e 23 de agosto de 2016 pelo Centro de Estudos Judiciário do Consdho
apresenta-se análise completa desca matéria. da Justiça Federal. Cf. cm "Anexo 7" o texto integral dos enunciados aprovados.
60 1 CURSO DE ARBITRAGEM ALTERNATIVAS ADEQUADAS PARA SOLUÇÃO OE DISPUTAS. A RF.S. 125/2010 DO CNJ 1 61

Federal e entre estes e a Administração Pública dos Estados, Distrito Federal e a solução de conflitos de massa (Enunciado 82); e (h) até mesmo relativos ao estímulo
Munidpios.n à transação tributária (Enunciado 53).
Embora tenha se falado neste sistema em arbitragem na nomenclatura adotada, Cabe agora aos operadores do Direito a imersão nesta realidade, e também
cabe o registro de que não se trata de arbitragem propriamente dica, tal qual apresen- pensando nas novas gerações, "é fundamental a atualização das matrizes curriculares
tada neste" Curso" com base na Lei 9 .307/ 1996. Aliás, a Cartilha da Câmara, referida dos cursos de direito, bem como a criação de programas de formação continuada
na nota acima, faz expressamente esta ressalva. Representa, na verdade, uma forma aos docentes do ensino superior jurídico, com ênfase na temática da prevenção e
alternativa de resolver conflitos fora do Judiciário, e da arbitragem (institucional ou solução extrajudicial de litígios e na busca pelo consenso" (Enunciado 66); e mais:
"adhoc"), com características próprias, promovida "íntemacorporís" em controvérsias "Recomenda-se o desenvolvimento de programas de fomento de habilidades para o
envolvendo interesse apenas de entes Públicos específicos, com solução proposta por diálogo e para a gestão de conflitos nas escolas, como elemento formativo-educativo,
meio de parecer da Consultoria-Geral da União. 38 objetivando estimular a formação de pessoas com maior competência para o diálogo,
Como se vê, caminha-se para muito além de mediação e conciliação para aso- a negociação de diferenças e a gestão de controvérsias" (Enunciado 27). 39
lução amistosa de conflitos, existindo uma variedade de instrumentos, sem limites,
disponíveis com um objetivo comum: pacificação das relações jurídicas. 2.4. TRIBUNAL MULTIPORTAS
Estamos, sem dúvida, em um novo momento do Direito na qual ele também se Por iniciativa transformadora do professor Kazuo Watanabe, acolhida pelo
ocupa em estimular a acomodação consensual dos interesses das pessoas, indepen- Conselho Consultivo do Departamento de PesquisaJudiciária, do qual honrosamente
dentemente da previ.são dos mecanismos de repressão à lesão, reservados à jurisdição integramos, 40 o Conselho Nacional de Justiça aprovou a Res. 125, de 29.11.2010,-1 1
com soluções impostas às partes. sobre a "PolíticaJudiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesse
Neste novo horizonte, é sugestivo o resultado da I Jornada Prevenção e Solução no âmbito do Poder Judiciário", elaborada com a participação cuidadosa da Ora. Va-
Extrajudicial de Litígios na qual, pela Comissão de "Outras Formas de Solução de léria Lagrasta,-+2 profunda conhecedora da teoria e da prática destes meios amistosos
Conflitos", foram aprovados 39 Enunciados (Cf. em Anexo 7 a relação completa das
proposições acolhidas), com recomendações, dentre oucras: (a) de utilização da pla- 39. Também próximo ao tema: "Propõe-se a implementação da cultura de resolução de conflitos
taforma www.consumidor.gov.br para solução de conAitos de consumo (Enunciado por meio da mediação, como política pública, nos diversos ~egmentos do sistema educacio-
50); (6) para solução consensual nos casos de superendividamento ou insolvência de nal, visando auxiliar na resolução extrajudicial de conflitos de qualquer natureza, ucilizando
forma a preservar o mínimo existencial e a dignidade da pessoa humana (Enunciado mediadores externos ou capacitando alunos e professores para atuarem como facilitadores de
di,ílogo na resolução e prevenção dos conflitos surgidos nesses ambientes" (Enunciado 28).
51 ); (c) para estimular transação por adesão quando houver precedente judicial de
40. À época, camhém integravam o Conselho Consultivo os seguintes professores: Armando Manuel
observância obrigatória (Enunciado 54); (d) para estimular a implantação, inclusive da Rocha Castelar Pinheiro, Carlos Augusto Lopes da Costa, Elizabech Sussekind, Everardo
na Administração Pública, de ouvidorias (Enunciado 56 e 87); (e) relativa a conci- Maciel, Kazuo Watanabe, Luiz Jorge Werneck Vianna, Maria 'lereza Aina Sadek e Vladimir
liação judicial, inclusive por adesão, no bojo de Incidente de resolução de Demandas Passos de Freitas.
Repetitivas (Enunciado 63); (f) para utilização de meios consensuais como política 41. Veja a íntegra da Res. CNJ 125/201 O nos sites: lwww.cahaJi.adv.br (esp,tço actTdêmico)] ou
pública nos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), na área de vulnera- [www.cnj.jus.hr], ambos acessados em: 04.06.2013.
bilidade social (Enunciado 65); (g) para estímulo uso de plataforma tecnológica para 42. Cf. LUCHIARI, Valéría Ferioli Lagrasra. Comenr,irios da Resolução n. 125, do Conselho
Nacional de Justiça, de 29 de novembro de 201 O. ln: GROSMAN, Claudia Frankel; MAN-
DELBAUM, Helena Gurfinkcl (orgs.). Mediação no J11dicidrio: teoritt na prática e prática na
37. Collfira-se a respeito a "cartilha" elaborada para esclarecimentos sohre esse tipo de arbirragem teoria. São Paulo: Primavera, 201 1: "Assim, seguindo essa diretriz e tendo por base proposta
em lwww.agu.gov.br/page/conteoc/detail/id_conteudo/217576]. Acesso em: 03.01.2016. E encaminhada pelo professor Kazuo Waranabe, o ministro Cezar Pduso nomeou um grupo de
há notícia de que nos últimos anos a CCAF realizou mais de 170 conciliações em pendências trabalho no Conselho Nacional de Justiça, do qual fo. parte, que ficou responsável por elabo-
patrimoniais, tribut.irias, orçamentárias, embientais e agdrias, com homologação dos acordos rar minura de resolução para instituir a política pública de tratamento adequado de conAiros
após 800 reuniões realizadas em todo o território nacional ([www.agu.gov.br/page/conccnr/ no Brasil. E, cm 29 de novembro de 201 O, foi baixada a Re.~. 125, do Conselho Nacional de
dctail/id_conteudo/3095 75]. Acesso em 02.06.2015) Justiça, publicada em 1.0 de dezemb ro de 2010, que instituiu a Política Judiciária Nacional
38. Apenas cm .~irnações excepcionais, e seguindo procedimento complexo, é que se ted um de tratamento adequado de conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário. A política
parecer vinculante, aprovado pelo Presidente da República, aos órgãos e entidades envolvidas p(tblic.1 acima mencionada cem por ohjecivo a utilização dos meios alternativos de solução de
(exclusivamente da Administração Federal); cf. a respeito, are. 40 e seguintes <la LC 73/93. ccmfliros, principalmcme da conciliação no âmbito do Poder Judiciário e sob a fiscal.ização
62 1 CURSO OE ARBITRAGEM ALTERNATIVAS ADEQUADAS !'ARA SOLUÇÃO DE DISPUTAS, ARES. 125/2010 DO CNJ 1 63

de resolução de controvérsias. Esta Resolução mereceu ajustes, já incorporados nos A perspectiva sob a qual foi traçada a Resolução leva em conta o fato de ser
comentários abaixo, através das Emendas n. l, de 31.01.2013, en. 2, de08.03.2016:13 atribuída ao Poder Judiciário a função de garantir o acesso à justiça, como prestador
Sem dt'tvida alguma, só a crise do PoderJ udiciárío decorrente do excessivo número de serviço público essencial à sociedade, indispensável à cidadania, necessário à soli-
de processos pendentes, além da ocorrência cada vez maior de demandas repetitivas, dificação da democracia e imprescindível ao Estado de Direito.
já se mostra em si baseante para se buscar alcernativas com maior eficácia à solução de Neste contexto, cabe ao próprio Judiciário a tarefa de implantar, e aos seus
problemas jurídicos. Porém, nota-se ainda um aumento da própria litigiosidade na cuidados gerenciar, os meios alternativos de solução de conflitos, chamando para si a
sociedade, com intensa judicialização dos conflitos. responsabilidade de garantir o acesso de todos à ordem jurídica, de formas diversas do
Assim, nas pertinentes palavras do Prof. Kazuo Wacanabe: "O objetivo primor- contencioso propriamente dito, para assim cumprir com o seu propósito: distribuir
dial que se busca com a instituição de semelhante política pública é a solução mais a justiça.
adequada dos conflitos de interesses, pela participação decisiva de ambas as partes na Em outras palavras: "O principio do acesso à justiça, inscrito no inciso XXXV do
busca do resultado que satisfaça seus interesses, o que preservará o relacionamento art. 5. 0 da CF, não assegura apenas o acesso formal aos órgãos judiciários, e sim um
delas, propiciando a justiça coexistencial. A redução do volume de serviços do Judi- acesso qualificado que propicie aos indivíduos o acesso à ordemjurídicajusta, no sentido
ciário é mera consequência desse importante resultado social".44 de que cabe a todos que tenham qualquer problema jurídico, não necessariamente
E, desta forma, prestigia-se a conciliação e a mediação não apenas como ins- um conflito de interesses, uma atenção por parte do Poder Público, em especial do
trumento de pacificação da sociedade, mas também como "filtro" para os processos Poder Judiciário. Assim, cabe ao Judiciário não somente organizar os serviços que
judiciais."-> são prestados por meio de processos judiciais, como rambém aqueles que socorram
os cidadãos de modo mais abrangente, de solução por vezes de simples problemas
jurídicos, como a obtenção de documentos essenciais para o exercício da cidadania, e
desre, e, em última análise, a mudança de menraJidade dos operadores do direito e das próprias até mesmo de simples palavras de orientação jurídica. Mas é, certamente, na solução
partes, com a ohtenção do escopo magno <la jurisdição que é a pacificação social, sendo apenas
dos conflitos de interesses que reside a sua função primordial, e para desempenhá-la
consequincia.~ indiretas desta, mas de suma relevância, a diminuição do número de processos
e o afastamento da morosidade do Judiciário" (p. 304). cabe-lhe organizar não apenas os serviços processuais co mo também, e com grande
4]. Veja a íntegra da Res. CNJ 125/2010 em sua versão original,, e a íntegra da Emenda 1/2013 ênfase, os serviços de solução dos conflitos pelos mecanismos alternativos à solução
nos sites: (W\vw.cahali.adv.br (espaço ali1dêmico)) ou [www.cnj.jus.br], ambos acessados cm: adjudicada por meio de sentença, em especial dos meios consensuais, isto é, da me-
04.06.2013; e veja-se o texto da Emenda 2/2016 em (http://www.cnj.jus.br/files/conreudo/ diação e da conciliação". 4(i
arquivo/201 (í/03/d I fldc59093024aha0e7lc04cl fc4dbe.pdf} e a versão consolidada da Res.
CNJ 125/201 O com a incorporação das emendas em (http://cnj.jus.br/images/atos_nor- Ou, como registrou o ministro Cezar Peluso em seu discurso de posse como
macivos/resolucao/resolucao_125_29112010_11032016150808.pdf) ambos acessados em: Presidente do STF: "O mecanismo judicial, hoje disponível para dar-lhes resposta,
12.01.2017. é a vdha solução adjudicada, que se dá mediante produção de sentenças e, em cujo
44. WATANABE, Kazuo. Cultura da sentença e cultura da pacificação. ln: MORAES, Maurício seio, sob influxo de uma arraigada cultura de dilação, proliferam os recursos inúteis
Zanoide; YARSHELL, Fl:ívio Luiz. (coords.). Estudos em homenagem it professora Ad11 Pr:llegrilú e as execuções extremamente morosas e, não raro, ineficazes. É tempo, pois, de, sem
Grínove,·. São Paulo: DPJ, 2005. p. 684-690. prejuízo doutras medidas, incorporar ao sistema os chamados meios alternativos de
45. Várias são as proveitosas experiências de implantação de setor de conciliação em diversos
resolução de conflitos, que, como inscrumenral próprio, sob rigorosa disciplina, dire-
Tribunais, muitas delas, inclusive, já antigas. Merecem referência, dentre outras, as seguintes
iniciativas no Estado de São Paulo: Prov. 743/2004, cria o Setor de Conciliação em Segundo ção e controle do Poder Judiciário, sejam oferecidos aos cidadãos como mecanismos
Grau; Prov. 893/2005, obriga a instalação, em cada fórum, do Setor de Conciliação em Primeiro facultativos de exercício da função constitucional de resolver conflitos. Noutras
Grau; Prov. CSM 953/2005, autoriza e disciplina a criação, instalação e funcionamento do
"Setor de Conciliação ou de Mediação" nas Comarcas e Foros do Estado; Projeto de Mediação
da Vara da Infancía e Juventude de Gu:uulhos/SP (Parceria Unimesp/FIG), cuja finalidade ç desde 200(í, envolvendo todos os Tribunais brasileiros, cujos resultados são encorajadores:
realizar e escudar os resultados de Mediação em casos de conlHtos familiares e atos infracionais veja-se que na mais reccme iniciativa (2011) foram realizadas 80,5% das audiências marcadas
de menor gravidade. Os programas de administração alrernativa de conflitos, executados pelo (aproximadamente 350.000 audiências) e formalizados acordos em 48,3% delas. O TJBA
Poder Judiciário e tamhém por ONGs, prcdomínam nas classes populares (com 79, 1%) e continua sendo o líder no número de acordos realizados, uma vez. mais seguido pelo TJGO
entre aqueles que cêm haixa ou nenhuma escolaridade (56,7%)- [www.pnud.org.br/Noticia. (tal qual em 2010) - disponível cm: [www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z./acesso-a-juscica/
aspx?id="327l," acesso em 26.06.2012. De todos os movimentos, o maior deles é a "Semana conciliaca.o/.~emana-nacional-de-conciliacao]; acesso em: 18.06.2012.
Nacional da Conciliação", campanha organizada anualmente pelo Conselho Nacional de Justiça, 46. WATANABE. Kazuo. Op. cit.,p. 684-690.
64 1 CURSO DF. ARBITRAGEM AlTF.RN/fflVAS ADEQUAOAS PARA SOLUÇÃO OE DISPUTAS, A RF.S. 125/2010 DO CN_I 1 65

palavras, é preciso institucionalizar, no plano nacional, esses meios como remédios e qualificadas instituições e profissionais independentes oferecem e continuarão a
jurisdicionais faculcarivos, postos alternativamente à disposição dos jurisdicionados, oferecer estes serviços com exceJência. Mas agora, como política pública, impõe-se
e de cuja adoção o desafogo dos órgãos judicanres e a maior celeridade dos processos, ao Poder Judiciário disponibilizar ao jurisdicionado o que se chamou de "tratamento
que já serão avanços muito por festejar, represenrarão merosubproduro de u~a trans- adequado da demanda" por meio da conciliação e da mediação judiciais.
formação social ainda mais importante, a qual está na mudança de mentalidade em Aliás, incentivada a mediação e a conciliação judiciais por meio desta iniciativa,
decorrência da participação decisiva das próprias partes na construção de resultado cujos rcsul tados cercamente são exi rosos, provoca-se também o desenvolvimento destes
que, pacificando, satisfaça seus inreresses":H meios adequados de solução de conRitos no âmbito privado, pois, em última análise,
Consolidou-se no Brasil, então, com a Res. 125/201 Oa implantação do chamado estar-se-á valorizando a cultura da composição, a cultura da pacificação.
Tribunal Multiporttts, sistema pdo qual o Estado coloca à disposição da sociedade Ao longo dos tempos, por inúmeros fatores, implementou-se a chamada "cul-
alternativas variadas para se buscar a solução mais adequada de controvérsias, espe-
tura do lícígio", pela qual recorrer ao Judiciário foi considerada a principal maneira
cialmence valorizados os mecanismos de pacificação (meios consensuais), e não mais
de acomodação dos conRitos de interesse. E assim, as pessoas, de um modo geral,
rescrita a oferta ao processo clássico de decisão imposta pela sentença judicial. Cada
perderam a capacidade de, por si sós, ou com o auxílio de terceiros, superar suas
uma das opções (mediação, conciliação, orientação, a própria ação judicial conren-
adversidades para resolver seus problemas de forma amigável ou negociada. Passou
ciosa etc.), representa uma "porca", a ser utilizada de acordo com a conveniência do
a existir a terceirização do conflito, entregando-se ao Judiciário o poder da solução,
interessado, na perspectiva de se ter a maneira mais apropriada de administração e
que poderia ser alcançada por meios alternativos e diretos.
resolução do conflico.·1H
A mudança desta cultura, provocada pela política pública proposta, aliada aos
Cabe notar que não se desprezou o quanto já se tinha, e é muito, de conciliação
inúmeros estudos a respeito e sua prática cada vez mais difundida, nos âmbitos público
e/ou mediação extrajudicial, buscadas diretamente pelos interessados. 49 Diversas
e, principalmente, privado, exerce influência direta na própria sociedade.
Aqueles envolvidos com o tratamento adequado do conflito são formadores
47. Documento de Posse na Presidência do STI-", Min. Antonio Cezar Pduso, c~·rimônia re:ilizada de opinião, e, como tal, interferem positivamente na mudança de conduta das pes-
cm 23.04.2010, p. 9-10. Disponível em: [wv.'W.stf.jus.br/::irquivo/cmshloticiaNociciaScf/ane-
xo/discursoPeluso.pdf]. Acesso em:13.07.2015. Cf também neste sencído, V.'lléria LJ.grasta, soas. Igualmente os beneficiados com a solução amistosa da controvérsia dividem
assim escrevendo: "E não se quer, com isso, diminuir a imporcâncía do Poder Judiciário, dos sua experiência positiva, e assim tornam mais frequente a utilização, por opção,
magistrados e de suns se.nre.nç_as. Pelo conrr:i.rio, o que se dcs~j:i ~ contribuir parn ~ melhorada destes instrumentos. Ainda, o ensino jurídico focado nesta realidade decisivamente
prcsrnç.'io jurisdicional, reservando-se aos juízes e 1t solução :id1u_d 1cada as causas ma.1s complex~, contribui para formar profissionais alinhados (ou comprometidos) com esta nova
as quc vcrsnm sobre direitos indisponíveis, ou aquelas n:1s quais ::i.s_parres, apesar de poder, ~ao cultura.
querem se submeter a outro tipo de solução que não a sc_mença. Em outras pa~avras, os ~eto-
dos alternativos de solução de conflitos não podem ser vistos apena.~ como meios ou metodos Resgatar o diálogo, desenvolvera escuta, facilitara comunicação e todo o mais que
praticados fora do Poder Judici;írio, como s~gere o adjeci:o 'alternativo''. uri_li:tad? ~ara qual!ficf- se explora na ciência dos meios alternativos de solução de conflitos são extremamente
-los, mas devem ser vístos também como importantes 111.~trumentos, a d1spos1çao do propno
proveitosos para preservar ou restabeleceroequilfbriodosvínculos pessoais e jurídicos.
Poder Judiciário, para a rcalí1.ação do príncípío constitucional do acesso à Justiça, havendo uma
complementaridade entre a soluçio adjudicada, típica do Poder Judiciário, e as soluções não O prognóstico, então, com a difusão da "cultura da pacificação" sugere a melhor
adjudicadas" (LUCHIARl, \1;1léri:J. Feriolí Lagrasca, op. cit., p. 315-316), e acrescenta cn:1 ?~tra inter-relação social, a integração positiva na convivência mesmo diante de divergên-
passagem: "Desta forma, a Rcs. 125 do CNJ estabelece uma nova ím;1gem do Poder Ju<l1uano: cias, a consciencização do indispensável respeito ao próximo, com a mais adequada
de prestador de serviços, que acende aos anseios da comunidade" (idem, p. 305).
organização da sociedade perante os conflitos que lhes são increntes.
48. O Sistema Mulciportas oferecido pelo Estado tem origem no modelo nom:-amerkan~ "1'.111/ridoor
co11rtroo111", pelo qual o Judiciário, em última an,ilise, deve ser o gestor do conflito: m_d'.cando o O caminho foi bem traçado, e a prática contribuiu para o desenvolvimento des-
meio mais adequado para a sua solução, mesmo que não .~eja através da sentença Jt1d1aaJ. Cf. a tes institutos - conciliação, mediação, com a adequada orientação e utilização desces
respeito, Marco Amônio Garcia Lopes Lorencini, "Sistema Multi portas": Opções para tratamento instrumentos. E esta preocupação também era visível na política pública proposta.
de conffícos de forma adequada", ln: Negociação, Mediação e Arbitragem - Curso Básico para
progr:unas de graduação cm Direito. Coordenadores Carlos Alberto Salles, Marco A.neônio Lopes
Lorencíni e Paulo Eduardo Alves da Silva. Editora Gen - Método: São Paulo, 2013, p. 73. extrajudiciais vinculadas a órgãos instítucíonais ou realizadas por profissionais independentes"
49. Neste particular, no Projeto de Novo Código de Processo Cívil, adiante an:il_isado, consc_a e~- (are. 153 da versão aprovada pelo Senado Federal e 176 da versão mais recente da Câmara dos
pr<.:ssamente: "As disposiçf>es desta Seção não excluem outra.~ formas de conc1l1ação e Med1açao Depurados até a revisão deste texto), reforçando, pois, o quanto aqui se afirma.
66 l CURSO DE ARBITRAGEM ALTERNATIVAS ADEQUADAS PARA SOLUÇÃO DE DISPUTAS, ARES. 125/2010 DO CNJ 1 67

Enfim, a Resolução represemou um marco na trajetóriadasalternarivasoferecidas dúvida a pouca técnica ao se lançar duas leis com conteúdo próximo, que até mesmo
pelo judiciário para a solução de controvérsia, com sólidos e consistenres alicerces traz problemas de interpretação e harmonização, se supera facilmente pelo muito de
propostos na Pol!tica Pzí.blica de tratamento adequado dos conflitos de interesses. positivo encontrado na essência de ambas as normas: a confirmação e prestígio do
E embora com certo ceticismo de alguns, inclusive com posições críticas radicais Tribunal Multiportas.
de que a mediação não poderia em hipótese alguma ser oferecida dentro do Judi~i~rio, Por questões didáticas, optamos neste" Curso"em manter o q uamo se apresen cou
a experiência foi reconhecidamente exitosa, alcançando-se plenamente os obJet1vos 3
até a 4 edição sobre o conteúdo e Res. C NJ 125/201 O. E não po( apego ou merecida
propostos. referência histórica, mas porque foi renovada a sua eficácia após a vigência das novas
Neste novo ambiente, bem germinada, crescida e com os melhores frutos a Leis referidas, com as necessárias adequações contidas na Emenda n. 2, de 08.03.2016,
semente do TribtmaLMultiportas plantada pela Res. CNJ 125, em campo fértil pois pois houve refe~ência expressa à organização estratégica do modelo (entre proposta
bem cuidado por todos os envolvidos (CNJ, Tribunais, mediadores, conciliadores de estrutura e diversos outros detalhes) por normas do Conselho Nacional de Justiça
judiciais, e de um modo geral os gestores do sistema e pessoas que o integra~) veio (arrs. 165 e 167, CPC/2015 e ares. 11 e 24, Lei 13.140/15).
o passo seguinte cm homenagem aos meios consensuais de solução de conflitos: o Em seguida, falaremos das principais inovações do Código de Processo Civil
Código de Processo Civil de 2015. de 201 5 e do Marco Legal da Mediação (no quanto relativo à Mediação judicial),
Assim, confirmada a utilidade do sistema criado pela Res. CNJ 125, e das apontando alguns eventuais pontos de atrito, e as adequações promovidas na Res.
diversas iniciativas de promoção da autocomposição, o novo Diploma Processual, CNJ 1!5/20 I O pelo Conselho Nacional de Justiça, na amplitude de sua atribuição
reconhecendo os expressivos benefícios trazidos à estrutura do Judiciário e à própria a respe1ro, até mesmo indicada nas leis, e com a comperência que tem demonstrado
sociedade, prestigia na essência, a ideia do Tribunal Multiportas. ser portador a respeiw deste tema.
Como adiante se verá, a tentativa de compos ição através da Mcdiaçao ou Enfim, pelos seus benefícios para a sociedade e para o próprio Poder Judiciário,
conciliação passa a ser, como regra, uma etapa inicial do processo. E em diversas o TribunaLMultiportas representa uma incontestável evolução, com sua confirmação
passagens 50 o Código prestigia a aucocomposição, inclusive logo no seu início ao pelas leis de 2015, cabendo também ao Conselho Nacional de Justiça, d iante das
tratar das normas fundamentas do processo civil, prevendo no are. 3.0 , que "§2.0 O inovações legislativas, no quanto a ele atribuído, atualizar sempre o planejamento
Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos" e "§3.0 A estratégico sobre a conciliação e mediação judiciais.
conciliação, a mediação e oucros métodos de solução consensual de conflitos deverão
ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério 2.5. DO CONTEÚDO DARES. CNJ 125/2010 E ESTRUTURA PROPOSTA
Público, inclusive no curso do processo judicial ''.
Pelas considerações apresentadas na Resolução, foi ressaltado que a eficiência
Nasequência, veio a Lei 13.140/2015-MarcoLegalda.Mediação,queda mesma
operacional, o acesso ao sistema de Justiça e a responsabilidade social são objetivos
forma craz previsão expressa a respeito da Mediação judicial, 51 e reconhece os cen rros
estratégicos do Poder Judiciário, sendo que o direito ao acesso à justiça, previsto no
judiciários de solução consensual de conAiros criados pela Resolução, inclusive para 0
art. 5. , XXXV, da CF/ 198 8, implica acesso à ordem j urfdica j usra. Também se destaca
atuação pré-processual.
que a conciliação e a mediação são instrumentos efetivos de pacificação social, solução
A bem da verdade, a duplicidade normativa de 2015 foi demasiada, não se e prevenção de litígios, além de representarem útil expediente para a diminuição da
podendo poupar críticas ao legislador por deixar de, sabendo dos projetos então em excessiva judicialização dos conflitos, reduzindo, por consequência, a quantidade de
andamen ro, desenvolver rextos com uns, harmônicos e in reri igados quando necessário. recursos e de execuções de sentenças.
Conhecemos as dificuldades em se cer uma boa lei (no aspecto técnico jurídico), Daí a necessidade de se consolidar uma política permanente de incentivo e
diante de um complexo processo legislativo influenciado pela política e vaidade, prin- aperfeiçoamento dos mecanismos consensuais de solução de controvérsias.
cipalmente dos pais e daqueles participantes ativos da gesração dos projetos; mas sem
E bem se notou a necessidade de estímulo, apoio, difusão e aprimoramento das
práticas já adotadas pelos tribunais, com preocupação maior: organizar e uniformizar
50. Cf em "Anexo 5" a transcrição dos diversos artigos do Código de Proccs.,o Civil de 20 l 5 os _p roc~dim<:n tos e servi~s de conciliação e mediaç.ã o perante o Poder Judiciário, para
relativos direta ou indiretamente à Mediação e conciliação. evitar d1spandades de orientações e práticas, bem como para assegurar a adequada
S1. Cf cm "Anexo 3'' o texto integral da Lei. execução destas iniciativas.
68 1 CURSO OE ARBITRAGEM ALTERNATIVAS ADEQUADAS PARA SüLUÇÃO OE DISPUTAS, A RF.S. 125/2010 DO C.NJ 1 69

Neste quadro, para a efetivação da política pública de tratamento adequado dos ?s integrantes da rede. Ainda, a cada Tribunal, por intermédio de seu Núcleo, caberá
conflitos no âmbito do Judiciário, nos termos da Resolução, criou-se uma rede insti- mstalar os Centros]udicidrios de Solução de Conflitos e Cidadania, promovendo, dire-
tucional entre os seus órgãos e parceiros, sob o planejamento estratégico do Conselho tam~nte ou por convênios, capacitação, treinamento, atualização, cursos e seminários
Nacional de Justiça, e com regras bem definidas para implantação e funcionamento pertmences ao programa (are. 7. 0 )_ 5.1
dos Centros judicitirios de Solução de Conflitos e Cidadania, especialmente quanto aos
Por fim, agora como órgão operacional, deverão ser criados os CentrosJudiciários
protagonistas deste cenário: os conciliadores e os mediadores. de Solução de Conflitos e Cidadania, unidades destacadas da atual estrutura dos Tribu-
Vejamos mais detalhadamente a estrutura proposta, com indicação, quando n_ais,_ ~esponsáveis pela_administração dos procedimentos de conciliação e mediação,
pertinente, dos artigos da Resolução em análise. v1ab1ltzando as respectivas sessões que neles, preferencialmente, deverão se realizar, 54
com os detalhes de sua organização pteviscos na Resolução (arrs. 8. 0 e 9.º). 55 É facul-
2.5.1. A "rede" de tratamento adequado dos conflitos tativa a atuação nos Centros de membros do Ministério Público, defensores públicos,
Crja-sc wna rerle integrada por todos os órgãos do Poder Judiciário, por enti- procuradores e/ou advogados (art. 11), certamente condicionada à demanda, objeto
dades públicas e privadas parceiras, por w1iversidades e por instituições de ensino, e outras características dos conflitos.
comprornerida com a implementação da política pública (art. 5.0 ) . Lembre-se, neste momento, que estas unidades devem atender não apenas a
O Conselho Nacional de Justiça apresenta-se como órgão de planejamento demanda de conciliação e de mediação em processos pendentes, mas também lhes
estratégico, de auxílio, de incentivo52 e especialmente de uniformização do progra- compete dar atendimento pré-processual aos conflitos (are. 1O).
ma para sua implantação e funcionamento, fixando as diretrizes a serem observadas Considerando que diversos programas já estavam em funcionamento quando
(are. 6. 0 ). Também lhe cabe, neste contexto, a revisão da Resolução, para ajustes ou da edição da Resolução, permite-se aos Tribunais dar continuidade a eles devendo
adequações pela dinâmica da implanração da política pública, como promovido adaptá-los ao regramento agora estabelecido.% '
acravésdaEmendan. 1, de31.01.2013 e da Emenda n. 2,de08.03.2016, esra última Ainda guanto ao conteúdo da Resolução, merece especial anotação o fato de se
pela qual se fez a adequação da Resolução às inovações legislativas de 2015 {CPC e propor o atendimento à comunidade através dos Centros (arts. 8.º e 10), que, aliás,
Lei de Mediação). como do próprio nome consta, são destinados à soluç-ãtJ de conflitos e cidadania.
E na amplitude de suas atribuições, já estabelece, na própria Resolução, o con- . E a amplicudesugeridano § 1. 0 do art. 1. 0 da Resolução para este Setor de Cida-
teüdo programático para capacitação pa(a servidores, mediadores, conciliadores e dania contempla a prestação de "atendimento e orientação ao cidadão". 57
demais facilitadores da soluçáo consensual de controvérsia (arr. 6. 0 , II e Anexo I). . Por fim, na recente adequação da Resolução pela Emenda 2/2016, anote-se a
Ainda, manterá Comítê Gestor de Concilitição (art. 17) para controle da implan- ~nt~odução d~~ctalh,a~ento dos "Fóruns de Coordenadores de Núcleos", com pro-
tação deste projeto, centralizando no Departamento de Pesquisa Judiciária - DPJ Jeçao ~e reumoes propnas de acordo com o segmento da justiça, para propostas de
os dados esracíscicos das atividades dos Tribunais (ares. 13 e 14), já criado o Portai da enunc1:do"s, encami_nhamenco de ~i~etriz.cs erc. (arts. 12-A e 12-B), e de parâmetro
conciliação, com as informações pertinentes ao desenvolvimento do projeto, inclusive p_a~a as Camaras Privadas de Conciliação e Mediação", atuarem nos processos judi-
compartilhando "boas práticas", ações, artigos, pesquisas e outros escudos (art. 15). ciais, na forma prevista no art. 164 do CPC/2015 (arrs. 12-C, 12-D, 12-E e 12-F).
Também para a gestão do programa, criam-se os Núcleos Permanentes de Métodos
Consensuais de Solução de Conflitos, em cada Tribunal, e de observância obrigatória, 53. H,i referência, inclusive, ao estímulo de programas relacionados a Mediação comunidría,
compostos por magistrados da aciva ou aposentados e servidores. Como órgáo para desde que os centros comunitários não se confundam com os Centros previstos na Resolução
implantação e gerenciamento do programa no respectivo Tribunal , compete-lhe (arr. 7. 0 , 2. 0 ).
também o planejamento local para iniciativa, desenvolvimento e aperfeiçoamento 54. Só excepcionalmente .is sessúes de conciliaç;io e Mediaçio processuais serão reali1.adas nos
das ações voltadas ao cumprimento da política e suas metas, interagindo com rodos próprios Juízos, Juizados ou V.,ras, 11:1.~ condições previstas no § t. 0 do are. 8.º da Rcs. CNJ
125/2010 (cf. ainda, are. 12).
55. A Resolução impôe a instalação dos Centros nos locais 2 (dois) Juízos, Juizados ou V.,ras com
52. Devendo atuar perante os entes públicos e até mc.~mo junco a grandes litig-,.mtes de modo a competência para reali1.ar audiência, prevê a utíli:i:ação de Centro itinemme, e outros detalhes
estimular a autocomposição nas demand:1s que envolvam macérias sedimentadas pela jurispru- de organização e funcionamento.
dência (art. 6. 0 , Vlfl), e criar Sistema de Mediação e Coneiliaç<i.o Digiul ou a distância para 56. Cf. artigo 16, valendo esta regra tanto para os Núcleos como para os Centros.
atuação pré-processual (art. 6. n, X). 57. Com previsão também no art. 8. 0 , j:í considerada a nova redaç:ío trazida pela Emenda 2/2016.
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70 1 CURSO DEARBffRAGEM ALTERNATIVAS ADEQUADAS PARA.SOLUÇÃO DE DISPUTAS, ARES. 125/2010 DOCNJ 1 71

Espera-seque bons vemos soprem a favor de uma rotai acolhida pela comunidade . • São ~rincípi?s fundament~is ?~
atuação dos conciliadores e mediadores (Cf.
jurídica em geral, e em especial pelos próprios Tribunais, para que sejam alcançados os ainda, Cap1culo 3, item 3.2 - Pnnc1p1os norteadores da mediação, adiante: confi.-
visionários objetivos idealizados por todos aqueles que, por inspiração e transpiração, dencialidade5'>, decisão informada, competência, imparcialidade, independência
criaram um modelo de pacificação a ser oferecido pelo Judiciário. 58 autonomia e respeito à ordem pública e às leis vigentes, em poderamenco60 e validação.6;
• São apresentadas regras de procedimento para que haja o envolvimento das
2.5.2. Dos conciliadores e mediadores partes com~ iniciativa, buscando não só melhores resultados na pacificação, como 0
Quanto aos conciliadores e mediadores, a Resolução é incisiva ao exigir capacita- compromeumen to ao even mal acordo. Assim, o procedimen co deve ser desenvolvido
ção por meio de cursos específicos com conteúdo programático detalhadamente por com informações sobre os métodos de trabalho, preservada a autonomia da vontade
ela estabelecido (are. 12 e Anexo 1), sujeitando-os, tal como os demais facilitadores sem induç~o a acordo ou tomadas de decisões. Ainda, quando alcançado o acordo:
do entendimento entre as partes, ao Código de Ética estabelecido pelo Conselho deve s~r feno o chamado_ "teste de realidade" 62 , certificando-se o pacificador que os
(Anexo III). envolvidos renham perfeita compreensão do resultado, objetivando o comprometi-
mento com o seu cumprimento (Anexo III, are. 2.0 , caput e seus incisos).
Além do programa pontual, foi estabelecida a capacitação através de cursos nos
moldes dos conteúdos programáticos aprovados pelo Comitê Gestor do Movimento • Os mediadores e conciliadores, quando nesta posição, devem estar totalmente
pda Conciliação; e assim o treinamento deve seguir as diretrizes indicadas além de de~vinc~lados de sua profissão de origem, esclarecendo às partes que, se necessária a
estágio supervisionado obrigatório. Ainda, exige-se que o treinamento seja conduzido onemaçao ou o aconselhamento de qualquer área do conhecimento, poderá ser con-
por instrutor certificado e autorizado pelos Núcleos, na forma por estes estabelecidas vocado para outra sessão o profissional respectivo, desde que com o consentimento
de todos os envolvidos (Anexo III, art. 2.o, IV).
(Anexo I).
Excepcionalmente, os acuais mediadores e conciliadores poderão ser dispensados • Haverá impedimento absoluto do facilicadorem prestar serviços profissionais,
do curso de capacitação, porém deles será exigido curso de treinamento e aperfeiço- de qualquer natureza, aos envolvidos em processos de conciliação/mediação sob sua
amento na forma prevista na Resolução (Anexo I e§ 1.0 do art. 12). condução (Anexo III, art. 7.0 ).
O curso de capacitação, obrigatório para a admissão do mediador e conciliador Ao encerrar, anote-se que tanto o Código de Processo Civil de 2015 como a Lei
nos Centros, poderá ser promovido diretamente pelos Tribunais, ou por entidades da mediação63 apresentam também regramento da atuação destes facilitadores, com
parceiras (are. 12), porém sempre respeitada a forma prevista no Anexo I. pr!ncípios, caracceríst!ca~, capacitação e impedimentos similares aos apresentados
acima, mas com pecuhandades a serem referidas adiante.
Os conciliadores e mediadores capacitados, após a respectiva certificação,
serão cadastrados junco ao Núcleo Permanente do respectivo Tribunal, ao qual
2.6. O NOVO MODELO PROCESSUAL INTRODUZ(DO PELO CPC/2015
cabe regulamentar o processo de inscrição e de desligamento destes colaboradores
(art. 7.0 , VII). Como inicialmente referido, o Legislador em 2015 confirmou o sucesso da
Também a reciclagem periódica é prevista, tudo para a excelência do tratamento mediação e da conciliação no ambiente judicial, tanto que incorporou no novo
adequado dos conflitos por meio desres meios ai cerna ti vos de solução de controvérsias.
Aos conciliadores e mediadores, sujeitos aos mesmos motivos de impedimento e 59. Cf. Lei 13.140/2015 que, em seus ares. 30 e 31 passa a regrar com mais detalhes a confiden-
suspeição dos juízes (are. 7.o, § 6. 0 e Anexo Ili, are. 5. 0 ), serão fornecidos os padrões de cialidadt:, inclusive as exceções (Capítulo 03, item 3.2, adiante).
comportamento ético e posturas exioidas no desempenho de suas funções, submetendo 60. "Dever de t:stimular os inreress:tdos a aprenderem a melhor resolver seus conflitos futuros em
estes fadlicadores ao "Código de ifri.ca." contido no Anexo IH, do qual se destacam função da experiência de justiça vivenciada na autocomposição" (Anexo IH, are. 1.º, VII da
Res.CNJ 125).
alguns aspectos relevantes, além da obrigação de agirem com lisura e respeito: 61. "Dever de estimular os interessados perceberem-se reciprocamenre como serem humanos
merecedores de atenção e respeiro" (Anexo III, are. I. 0 , VJII da Res.CNJ 125).
58. No Escado de São Paulo, já se encontram inst1.lados mais de 180 CEJ USCs- Centros judiciários 62. Nomencla~ura co_nh~cída e u.~ilizada na versão original da Resolução 125, mas que pela Emenda
de Soluçií'O dt Conflitos e Cidat!m1i11 em Primeira lnstâucin, sendo 9 deles na capical, e os demais 1/2013 fo1 subsrnu1da por Compreensão quanto à conciliação e il Mediação" (Anexo III,
em cid:ides do interior. A lista complcra dos CEJUSCs, com os com seus rcspecrcvos endereços, are. 2. 0 , V da Res.125/CNJ).
pode ser consultada no seguinte link: [http://www.rjsp.jus.br/Download/Conciliacao/Nucleo/ 63. Lei 13.140 de 26 de junho de 2015, analisada com mais vagar no Capítulo 03 adiante. Cf. 0
Enderecos_Cejusc. pdf]. texto na íntegra da Lei cm "Anexo 3".
72 1 CURSO DE ARBITRAGEM A.J.:l'ERNATIVAS ADF.QUADAS PARA SOLUÇÃO DE DIS!'Ul i\S, ARES. 125/2010 00 CNJ 1 73

Código de Processo Civil estes métodos, e ainda rrarou da mediação judicial na Lei qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio de conciliadores
13.140/2015 (Marco Legal da Mediação). e m ediadores judiciais".
Realmente, o Código já em seu início, ao cuidar das normas fund amentais d o Em especial nas ações de família se repete (certamente com a ideia de enfatizar
processo civil, destaca a importância das soluções consensuais de conflito, ao estabe- a utilização desces instrumentos) a necessidade de se empreender esforços para aso-
lecer ao Estado a sua promoção, cabendo aos juízes, advogados, defensores públicos lução consensual d a controvérsia, "devendo o juiz. dispor do auxílio de profissionais
e membros do Ministério Público estimular a conciliação e a Mediação, inclusive de outras áreas de conhecimento para a mediação e conciliação", permitida a "sus-
no curso do processo (art. 3.0 , §§ 2. 0 e 3.0 ). De outra p arte, aco lhendo a culcura da pensão do processo enquanto os litigantes se submetem a mediação extrajudicial ou
pacificação, anota o dever de todos os sujeitos do processo cm cooperar entre si para a atcn~imento multidisciplinar" (art. 694 caput e parágrafo único). A propósito, o
a melhor e m ais rápida solução do c.:onflico (arr. 6.0 ). Enunciado 78 da I Jornada referida, recomenda "aos juízes das varas de fam ília dos
Mas não foi só com palavras iniciais isoladas, de recomendação, mas também tr~bunais o~de já renha~ _sido implan cadas as oficinas de parenraiidade que as partes
se obse rva a transformação da mentalidade do Código na mudança da estrutura do sepm co1~V:1da~as a p~rtm~ar das referidas oficinas, antes da citação nos processos de
processo, e na valorização da mediaçáoeconciliaçáo, por diversosaspeccos perceptíveis guarda, v1s1taçao e alienaçao parental, como forma de fomentar o diálogo e prevenir
pela a nálise sistemática da Lei, inclusive com regime jurídico próprio aos institutos litígios". 65
de favorecimento à autocomposição. .Da mesma forma incen tivadora da pacificação, se direciona o Código nos litígios
Para facilitar, em '':Anexo 5" deste" Curso" são transcritos codos os artigos que, colenvos pela posse de imóvel, quando prevê que se a turbação ou esbulho afirmado
direta ou indiretamente, estão relacionados à mediação e à conciliação judicial. E tiver ocorrido há mais de ano e dia, p reviamente à apreciação do pedido de concessão
deles se extrai o que segue: de liminar, deverá ser realizada audiência de mediação (art. 565).66
De outra parte, é concedido ao oficial de justiça a atribuição de, por ocasião da
2.6. 7. Valorização dos métodos consensuai.s de solução de conflitos no realização de diligência, certificar, em mandado, proposta de autocomposição apre-
CPC/201 5 sentada por ~ualquer das partes, oportunidade em que será dada vista para a outra
Além <los artigos referidos acima, o prestígio à autocomposição se encontra cm parte se mamfes tar em 5 (cinco) dias, entendendo-se o silêncio como recusa (art. 154,
diversas regras e aspectos do C ódigo.
vr e parágrafo ún ico).
. . Evidencia-se, 1:estas situações acima apresentadas, a simpatia do Código aos
Confirma-se a criaçao de uma esrru tura própria dentro do Poder Judiciàrio
mst1mcos de favorecunenro à autocomposição.
para o ofereci mcnro às parrcs da medi.ação e da conciliação. Ainda inova em relação
ao que boje se cem, ao expressamente admitir o cadastro não só de mediadores como . _ E o bjetivamente se ~econhece na Lei o próprio esforço das partes para a compo-
conciliadores, mas também de câmaras privadas 64 (art. 167) . Especificamente sobre s1çao, ao se csrabdecer a dispensa do pagamento de custas processuais remanescentes,
o convênio com as Câmaras Privadas, a Emenda 2/201 6 introduziu na Resolução se houver, no caso de transação cdeb rada antes da sentença (are. 90, §3. 0 , CPC/2015;
Res. CNJ 125/20 10 Seção própria tratando do rema (arrs. 12-C. 12-D, 12-E e 12-F), art. 29, Lei 13.140/2015).

Existem disposições específicas sobre cadastro, requisitos e detalhes próprios da A sentença homologacória do acordo (j udicial ou extrajudicial), naturalmente
estrutura proposta (§§ do art. 167). E definitivamente a norma integra o mediador constitui título executivo judiciai (art. 515). E enfatiza o Código neste artigo que
e o conciliador, na forma adiante indicada. "§ 2º A aucocomp osição judicial pode envolver sujeito estranho ao p rocesso e versar
sobre '.·e!~ção jurídica que não tenha sido deduzida em juízo". Pode parecer lógica
Coloca-se, como se verá, a mediação ou a conciliação como etapa inicial do pro-
a poss1bd1dade, e des necessária a previsão, porém em diversas oportunidades já nos
cesso. E mesmo na audiência de instrução, deverá o juiz novame nte tentar conciliar
deparamos com juízes refratátios (mesmo sem fundamento jurídico) a pedidos das
as partes, indcpendencemcnre de terem sido antes empregados outros métodos de
solução consensual do conflico (are. 359). Tudo porque dentre os poderes e respon-
sabilidades do juiz, previstos no are. 139, vem expresso o dever de "V - promover, a 65. Cf. cm "Anexo 7" <> texto integral dos enunciados aprovados.
66. Com d~ral~es, com~ ~ parri~i~ação do Ministério Público e cvencualmencc até de órgãos
rcsponsave1s por pohnca agrana ou polírica urbana. Tamb6xi determ ina-se a audiência de
64. Quanto a estas câm;tras privadas credenciadas, h:í previsão, inclusive, de fixação pelos tribunais ~kd_iaç~o .~e, deferida a liminar, não river sido executada no pra1.0 de um ano a contar da
de percencual de audiências a serem por elas realizadas sem remuneração {:m. 169, §2."). d 1sr11hu1ç:io da ação.
74 1 CURSO DEARBITRAGEM Afl'F.RNATIVAS ADEQUADAS PARA SOLUÇÃO DE DISPUTAS, ARES. 125/2010 0 0 CNJ 1 75

partes de homologação de acordo com ampliação subjetiva ou objetiva da lide. Daí a legislação pertinente e a regulamentação do tribunal" (§ 1. 0 ; também assjm o§ 5. o
porque entendemos saudável a previsão. do art. 7.0 da Res. CNJ 125/201 O); e aceita a inscrição de câmaras privadas, a elas
Existem, como já noticiados, programas nos Tribunais de estímulo à composição, rambém é imposta a responsabilidade social de acendimento a processos em que foi
como "Semana da Conciliação", "Conciliar é Legal" etc., alguns patrocinados pelo deferida a gratuidade da justiça, como contrapartida ao seu credenciamento, fixado
CNJ, com ampla divulgação e proveitosos resultados. Reconhecendo a importância o percentual de audiências não remuneradas pelo Tribunal(§ 2. 0 ).
da iniciativa, o Código estabelece a suspensão dos praws do processo submetido ao Também a respeito, a Lei 13.140/ 15 estabelece: ''.Are. 13. A remuneração devida
programa durante os respectivos trabalhos (parágrafo único do art. 221). aos mediadores judiciais será fixada pelos tribunais e cus reada pelas partes, (...)" o bser-
vado o direito à gratuidade aos necessitados, prevista no§ 2. 0 do are. 4. 0 desta Lei. 6'>
2.6.2. Integração do Mediador e do Conciliador no Código de Processo E a Res. CNJ 125/201 O, no inciso VJII do are. 7. 0 outorga aos Núcleos dos tribunais
Civil como auxiliares da justiça a regulamentação da remuneração de mediadores e conciliadores.
Sem dúvida alguma, a maior demonstração de integração destes facilitadores ao Como já ances referido, feita a distinção entre a atuação do conciliador e do
sistema processual e estrutura do Poder]udiciário, consiste na expressa inclusão dos mediador (art. 165, §§ 2.0 e 3. 0 - embora possível de críticas já decantadas entre co-
mediadores e conciliadores judiciais como auxiliares da justiça, ao lado do escrivão, mentaristas e profissionais envolvidos com o tema) os métodos são flexibilizados, na
chefe de secretaria, oficial de justiça, perito, depositário, administrador, intérprete, medida em que"§ 3. 0 Admite-se a aplicação de técnicas negociais, com o objetivo de
tradutor, pan:idor etc. E a eles são é dedicada toda uma Seção neste Capítulo, entre proporcionar ambiente favorável à autocomposição" (art. 166, § 3. 0 ). Neste mesmo
os ares. 165 a l.75. 67 sentido, pode-se exrrair o contido na Lei 13.140/2015, aliás na qual sequer foi feita
Tem impacto esta previsão, pois assumem bônus e ônus, estes, por exemplo, referência à conciliação, no§ 1. 0 do are. 4. 0 : "O mediador conduzirá o procedimento
rambém representados pelo impedimento e suspeição dos facilitadores, pelos mes- de comunicação entre as partes, buscando o entendimento e o consenso e facilitando
mos motivos atribuídos aos juízes (art. l·Í8, II; e no mesmo sentido, arr. 5. 0 da Lei a resolução do conflito". Há referência também em ambas as normas a princípios,
13.140/2015). confidencialidade e livre escolha dos interessados (CPC/2015, are. 166 caput, e seus
O Código mancém próxima a organização prevista na Res. CNJ 125, quanto, parágrafos; Lei 13.140/2015, art. 2.0 ), a serem melhor abordados no próximo capítulo,
inclusive ao cadastro (inclusão e exclusão, acrescentando que poderá ser precedido de pois idênticos à mediação extrajudicial.
concurso público), capacitação, com a i11ovação já referida no que se refereàaceicação Por fim, entrn-se em questão delicada, consistente em restrições imposta ao
de câmaras privadas. Admire-se ainda a criação de quadro próprio de conciJjadores facilitador, em relação às partes que atendeu e em face de terceiros.
e mediadores, a ser preenchido por concurso público de provas e tfcuJos (are. 167, Por primeiro, e até aqui é tranquilo, anote-se a impossibilidade do facilitador
§ 6.0 ), como já se faz isoladamente em alguns Tribunais. depor como testemunha em processo onde se discuce o litígio por ele acompanhado.
Específicamente sobre a capacitação, o Código remete aos parâmetros definidos Esta restrição já se extrai da sua obrigação de sigilo ou confidencialidade, podendo-se
pelo Cons_elho Nacional de Jusciça (§ 1. 0 do arr. 167 - atualmente comidos na Res. avocar o impedimento do inc. III do§ 2. 0 do art. 447 (por ter assistido as partes),
CNJ 125, e seus ajustes). Já a Lei 13.140/2015 é mais rigorosa, ao exigir também a facultada a recusa ao depoimento pelo inc. II do are. 448 (fatos que deva guardar si-
graduação há pelo menos dois anos.1,8 gilo). Eo §2.0 do art. 166 é expresso no sentido de que "Em razão do dever de sigilo,
Prevista a remuneração (art. 169 caput), também se permite expressamente que inerente às suas funções, o conciliador e o mediador, assim como os membros de suas
"A Mediação e a conciliação podem ser realizadas como trabalho voluntário, observada equipes, não poderão divulgar ou depor acerca de facas ou elementos oriundos da
conciliação ou da mediação".
67. Cf. em "Anexo 5" a transcrição dos diversos artigos do Código de Processo Cívil de 2015
relativos direta ou indiretamente à mediação e conciliação. 69. Dii o § 2. 0 do are. 4. 0 da Lei 13.1 40/2015: "§ 2° Aos necessitados sed assegurada a gra-
68. Assim: "Arr. J 1. Poderá atuar como mediador judicial a pessoa e:tpaz., graduada há pelo menos tuidade da rncdiação". De outra parte, não há definição,. a respeito da remuneração das
dois anos em curso de ensino 5upcrior de instituição reconhecida pelo Mimsrério da Educação dlmar.is privadas cadastradas, mas vem expresso no §2.0 do art. 169 que, cm benefício dos
e que renha obtido capacitação em escola ou instituição de formação de mediadores, reconhe- necessitados, "§ 2° Os tribunais determinarão o percentual de audiências não remuneradas
cida pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados - Enfam ou pelos que deverão ser suportadas pela.~ câmaras privadas de conciliação e mediação, com o fim
tribunais, observados os requisitos mínimos estabelecidos pelo Conselho Nacional de }LL~tiça de arender aos processos cm que deferida gratuidade da justiça, como contrapartida de seu
em conjunto com o Ministério da Justiça". credenciarnenro".
r
AlTERNATIVAS ADEQUADAS PARA SOLUÇÃO OE DISPUTAS, ARES. 125/2010 DO CNJ 1 77
76 1 CURSO OE ARBITRAGEM

Neste aspecto, tambémenfáticaediretaanovaLeí 13. 140/2015: "Are. 7.0 0 me- Isco porque a Lei de Mediação não mais faz referência a esta restrição, já des-
diador não poderá amar como árbitro nem funcionar como testemunha em processos pertando entre os envolvidos com o tema o debate se esta Lei, mais nova e específica,
70
judiciais ou arbitrais pertinentes a conflito cm que tenha atuado como mediador" , (embora com vigência programada para antes do Código de Processo Civil), teria
revogado a nova legislação processual agora já em vigor.
O segundo aspecto a ser analisado é a restrição prevista no§ 5° do are. 167: "Os
conciliadores e mediadores judiciais cadastrados na forma do caput, se advogados, es- Realmente, esta revogação de regras quando ainda em vacância a Lei poderia
tarão impedidos de exercer a advocacia nos juízos em que desempenhem suas funções". ocorrer, até para correções ou ajustes em diplomas da magnitude de um Código.

Esta previsão, desde a inclusão da ideia nos projetos iniciais e emendas, gerou Porém, para nós, ao menos neste aspecto aqui avaliado, não houve a revogação.
calorosos debaces 71 , e a redação ao final aprnvada foi mais acanhada, e não tão abran- A omissão da Lei de Mediação não deve ser considerada como incompatível
gente como se chegou a sugerir (extensivo o impedimento aos Ii mices da compecência com a previsão do Código. E ainda, mais especial é o Código neste particular, pois a
territorial do trihuna!, vedado inclusive integrar escritório de advocacia na área). ele cabe organizar ou idealizar a estrutura da mediação/conciliação endoprocessual.
Resta porém identificar o que seja o "juízo" previsto na norma, pois assim pode Assim, não vislumbramos pelas regras contidas no are. 2.o da LINDB funda-
ser considerado o juízo da tal vara cível/familia, ou de forma ampliada, juíw estadual, mento para revogação da restrição, permitindo-se a convivência em harmonia das
juízo federal, juízo cível, juízo de tal ou qual comarca etc., pela polissemia do termo. normas para esta questão.
Temos para nós que, tratando-se de regra restritiva de direitos, a interpretação Por fim, outro impedimenco ao facilitador judicial é a restrição pelo prazo de 1
deve ser contida ao máximo, e assim, limitado o impedimento à menor extensão (um) ano, contado do término da última audiência em que atuaram, para assessorar,
que se puder conferir. E para esta análise, .será necessária a verificação de como será a representar ou patrocinar qualquer das partes (art. 172, com idêntica previsão no
organização dos trabalhos de mediação e conciliação. Se alocados facilitadores para art.6. 0 daLei 13.140/2015).
atendimento de uns ou alguns juízos específicos, só em relação a estes haverá a r~str~ção. Para nós, este impedimento se refere exclusivamente à atuação em outras questões
Depende, repita-se, de como será a estrutura a ser criada, mas sempre com a 1dc1a de que não aquelas que renham relação com os faros ou elementos contidos na concilia-
impor o impedimento da maneira menos extensiva possível. ção ou mediação acompanhada pelo facilitador, pois para estas, o impedimento deve
Ainda neste aspecto, ressalte-se que não se desconhece o eventual abuso do ser absoluto e definitivo (para sempre), considerando que o facilitador teve acesso a
profissional, como por exemplo, na utilização deste expediente para captação .de informações, fragilidades e vários outros elementos da intimidade daquele conflito
clientes, porém não se libera esta inadequada conduta, pois interpretação restrinva específico.
acima convive com o.s demais meios de punição ao advogado inescrupuloso, como Anote-se que na Res. CNJ J25/201 O acima analisada, já revista pela entrada
previstos no Estatuto da Ordem. em vigor das novas leis, há o impedimento nesta linha, vedada a prestação de servi-
Mas agora a discussão cem o urro viés, não mais pelo debate da adequação de seu ços profissionais, de qualquer natureza, aos envolvidos em processos de conciliação/
conteúdo, pois positivado, mas direciona-se a análise da subsistência ou não desta mediação sob condução do facilitador (art. 7.0 do Anexo UI-Código de Ética).
restrição diante da Lei 13. J40/ l 5 - Marco Legal da Mediação.
2.6.3. Encaminhamento à mediação ou conciliação como etapa inicial do
70. Cf. mais a rcspcico, ao tratarmos da confidem:úzlid11de, no Capítulo 3, item 3.2 Princípios
processo
norceadores da mediação, :1di:1mc. Rompendo com o sistemaadver.sariaF1 do Diploma de 1973, o Código de Proces-
7 1. Ou, como escrcwmos na 4• cdiç."io d<.'sca obra: "1cma complexo, a merecer redobr:idn atenção, so Civil de 2015, com modelo já introduzido em outros países, abraça calorosamente
pois s<:, de um l:ido, n proposta~ cfi01Z para inibir a indeví.da captaç:ío de dicnr~ que é prati~da.
por alguns de reprovável conduta, de outro a.caba por afosrnr excdcnces e declic:ulos pro6ss10- a ideia de se conduzir as partes à pacificação, ao estabelecer audiência de conciliação
miis que sabem muico bem agi r com posrura escorreica, cxcrc::endo ad~~c.1cia lndepen~eirn:, .ª º ou de mediação como etapa inicial no procedimento comum, iniciando-se o prazo
mesmo rcmpo cm ll ue reservam parte de seu.tempo à mediação e concifü1çiio (~omum mclu~1ve
em ~.íre,.,s diversas da aruação do escricório), muitas vc1,e..ç acé como volunrános, por ac reduar
ne$ces instrumentos como forma de pacificação social" (Capítulo 3, icem 3.5). E na oportu- 72. No sentido de pressupor a conduta beligerante das partes, polarizadas em suas rígidas posições
apresentadas, contraposto ao sistema de cooperação. Anore-se que a palavra tem significado
nidade c:imbém se fe?. o registro e a merecid;1 crícici à versão inicial do anteprojeto aprovado
diverso no campo das provas e sua organização no novo processo civil, onde representa certo
pefa Comissão, no qual se prcvisa a ''reserva Jc mercado" par~ advogados, pois nccC$Sári:i na
benefício às pa(tcs cm oposição :io sistema inquisitorial.
propt)Sm a inscriçio na OAB para :uuaçao como mediador judicinl.
r All'E.RNAl'IVAS ADEQUADAS PARA SOLUÇÃO DE DISPUTAS, ARES. 125/2010 DO CNJ 1 79
78 1 CURSO DE ARBITRAGEM

para contestação apenas depois de superada esta fase; vejamos a indicação do art. 334 Em harmonia, com a regra, o are. 250 estabelece a citação do réu também para
com alguns outros detalhes que são auroexplicativos: comparecimento à audiência, se for o caso, e não para contestação de pronto, e nesta
"Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso deverá estar, tal qual o autor, acompanhado de advogado ou de defensor público. n
de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de con~iliação ~u Algumas considerações a respeito desta inovação comportam registro:
de Mediação com antecedência mínima de 30 (trinca) dias, devendo ser cttado o reu Merecedora de efusivos aplausos a iniciativa, já sustentamos em oportunidades
com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência. anteriores que a alteração poderia ter sido até mais corajosa, admitindo a instauração
§ l .º O conciliador ou mediador, onde houver, atuará necessariamente na do processo sem os fundamentos fáticos e jurídicos da pretensão, mas apenas com
audiência de conciliação ou de mediação, observando o disposto neste Código, bem referência ao objeto do conAito, e conteúdo genérico do pedido (como se faz, em
como as disposições da lei de organização judiciária. regra, na instauração de procedimento arbitral), pois de um lado poupa-se o autor
§ 2. o Poderá haver mais de uma sessão destinada à conciliação e à mediação, não dos ônus de detalhamento de uma petição inicial completa, diante da perspectiva de
podendo exceder a 2 (dois) meses da data de realização da primeira sessão, desde que uma composição, e de outro, poupa-se o réu do desgosto de ler a versão dos fatos, às
necessárias à composição das partes. vezes com fortes coloridos, e do afirmado direito, que podem provocar nele (como
§ 3.º A intimação do autor para a audiência será feita na pessoa de seu advogado. usual em questões de familia), o ímpeto de se defender para resgatar a sua verdade;
§ 4. 0 A audiência não será realizada: ou seja, esta situação pode provocar a espiral do conflito. Ademais, até mostra-se em
I - se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na com posição parte contrário à igualdade das partes, o alargamento do prazo para a defesa, pois só
se iniciará após as sessões de tentativa de composição (art. 335, 1).
consensual;
II - quando não se admitir a aucocomposição. A audiência não se realiza quando não se admi cir aurocomposição, mas lembre-se
que mesmo em ações relativas a direito indisponível, como a investigação de pater-
§ 5.0 O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse naautocomposi-
nidade, pode haver reconhecimento do pedido pelo réu ou acordo parcial, relativo a
ção, e O réu deverá fazê-lo, por petição, apresentada com 1O(dez) dias de antecedência,
realização espontânea de exame de DNA etc.; daí a redobrada atenção para se conferir
contados da data da audiência.
a maior abrangência possível à expectativa de composição, inclusive se parcial. E com
§ 6. 0 Havendo litisconsórcio, o desinteresse na realização da audiência deve ser
mais valia, assim, a previsão contida no are. 3. 0 da Lei 13.140/2015: "Art. 3° Pode ser
manifestado por todos os litisconsorces.
objeto de mediação o conAito que verse sobre direitos disponíveis ou sobre direitos
§?.ºA audiência de conciliação ou de mediação pode realizar-se por meio
indisponíveis que admitam transação. § 1° A Mediação pode versar sobre todo o con-
eletrônico, nos termos da lei. Aito ou parte dele.§ 2° O consenso das partes envolvendo direitos indisponíveis, mas
§ 8.º O não comparecimento injustificado do aucor ou do réu à audiência de transigíveis, deve ser homologado em juízo, exigida a oi tiva do Ministério Público."
conciliação é considerado aro acencacório à dignidade da justiça e será sancionado
Também se ambas as partes expressamente, manifestarem desinteresse na compo-
com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da
sição (o autor na inicial, e o réu por petição - § 5. 0 acima), não se realiza a audiência.
causa, revertida em favor da União ou do Estado.
E retoma-se este ponto para deixar bem claro que não bastará a posição de um; neces-
§ 9.º As panes devem estar acompanhadas por seus advogados ou defensores
sário o desinteresse de ambos; ou seja, o .~ó desinteresse do réu, por exemplo, impõe
públicos. a realização desta etapa. Interessante neste particular, e adequado para a dinâmica e
§ l O. A parte poderáconstimir representante, por meio de procuração específica, celeridade do processo, o Enunciado 29 da I Jornada acima referida, indicando em
com poderes para negociar e transigir. caso espedfico a possibilidade de se dispensar a audiência por solicitação de apenas
§ 11. Aautocomposição obtida será reduzida a termo e homologada por sentença. uma parte; assim: "Caso qualquer das partes comprove a realização de mediação ou
§ 12. A pauta das audiências de conciliação ou de mediação será organizada de conciliação antecedente à propositura da demanda, o magistrado poderá dispensar
modo a respeitar o intervalo mínimo de 20 (vinte) minutos entre o início de uma e
o início da seguinte." 73. E neste sentido, rambém a Lei 13.140/ l 5: "Are. 26. As pam:s dt'.Verão ser assistidas por advo-
Anote-se a reiteração desta etapa pela Lei 13.140/15: "are. 27. Se a petição ini- gados ou defensores públicos, ressalvadas as hipóteses previstas nas Leis nos 9.099, de 26 de
cial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do setembro de 1995, e 10.259, de 12 de julho de 2001. Parágrafo único. Aos que comprovarem
pedido, o juiz designará audiência de mediação". insuficiência de recursos será assegmada assistência pda Defensoria Públic;i''.
--- 80 1 CURSO DE ARBITRAGEM ALTERNATIVAS ADEQUADAS PARA SOLUÇÃO DE DISPUTAS, ARES. 12S/20!0 DO CNJ 1 81

a audiência inicial de mediação ou conciliação, desde que tenha tratado da questão Como questão para reflexão, fica a seguinte indagação: as partes, já no negócio
objeto da ação e renha sido conduzida por mediador ou conciliador capacitado". 74 processual a que se refere o are. 190 do CPC/2015 77 podem de com um acordo afastar
A iniciativa de se determinar a audiência como etapa inicial do processo não esta etapa do procedimento neste instrumento próprio anterior? Em uma primeira
reria valia se inexistente punição ao ausente: e assim, correto considerar a falta da análise, pela abrangência desejada e vinculação esperada deste negócio jurídico, há
parte como aro atentatório a dignidade da justiça, inclusive com imposição de multa de se lhe dar esta prevalência ao procedimento previsto no Código, pois fruto da
de 2% sobre a vantagem econômica pretendida, ou sobre o valor da causa, revertida vontade manifestada pelas partes (evidentemente se preenchidos seus requisitos).
em favor da União ou do Estado(§ 8.0 ). Neste contexto, uma vez comprovada a existência de cláusula prévia estabelecendo
a não realização desta audiência, o procedimento deverá seguir diretamente para a
Faculta-se, como elemento de redução do impacto do rigor legal em se exigir o
comparecimento na audiência, a participação da parte por procurador, com poderes contestação.
especiais (e não apenas adjudicia), conforme a previsão no§ 10. As sessões de conciliação ou mediação podem ser repetidas, mas com prazo
Neste quadro, preserva-se a vontade da parte em submeter-se ou não à mediação limite para se realizar(§ 2.°). Anote-se, porém, que nas questões de família, não há
(ou conciliação), reforçando o Princípio da autonomia da vontade expressamente rescrição temporal para as sessões, com suspensão do processo, "sem prejuízo de pro-
aplicado à estes institutos (Cf. Capítulo 03, itens 3.2 abaixo) 75 mas como política vidências jurisdicionais para evitar o perecimento do direito" (are. 696). Ainda, a Lei
legislativa, e acertada em nosso ver orientação, o comparecimento a esta etapa é 13.140/2015 flexibiliza este prazo ao per mi rir seja ele prorrogado por requerimento
obrigatório, na forma acima, com as sanções estabelecidas. Vale dizer, não se impõe conjunto das partes (art. 28)7ii que, na amplitude do art. 313, Ido CPC/2015 também
submeter-se à mediação/conciliação, o que iria contrariar normas e a própria natureza pode ser solicirado. 7()
dos institutos, mas obriga-se a parte, nas condições previstas, à participação nesta Em tese, a ser cercamente organizado em cada Tribunal, e de acordo com a estru-
etapa do processo. tura local do juízo, deverá haveruma triagem prévia para se encaminhara processo logo
Na Argentina (como em outros sistemas), há um modelo de Mediação prévia no início a um conciliadorou a um mediador, de acordo com as características da causa,
(anterior ao processo) obrigarória.76 O ponto a favor destacado neste país vizinho mediante sorteio do facilitador dentre aqueles cadastrados. Acordando previamente
foi que sem esta providência não haveria a consciencização da população quanto ao as partes sobre a escolha de um nome comum, este prevalecerá, independentemente
instituto. O ponto negativo, é que o princípio da autonomia da vontade deve ser de estar cadastrado no tribunal (are. 168,80 prevista cm seu §3.0 também a designação,
cuidado com muita atenção, sob pena de se perder as características do inscicuco e quando recomendável, de mais de um mediador ou conciliador).ª'
seus resultados serem futuramente questionados.
77. Assim: "Are. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam aurocomposição, é liciro
74. Cf. em "Anexo 7" o texto inregral dos enunciados aprovados. às parces plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo 11s especifi-
cidades da causa e convencionar sobre os seus ônus. podcre.~, faculdades e <leveres processuais,
75. No qual se fuz referência aos artigos percinentes.
antes ou durante o processo. Par.ígrafo (mico. De ofício ou a requerimento, o jui:t controlará a
76. A Mediação na Argentina é resulrado da lei 24.57?,/ 1995, que instituiu a mediação prévia validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplícação somente nos casos de
obrigarória na Província de Buenos Aires. Advém dela a condição da ação. Sem mediação nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre
prévia, não se pode ajuizar ação judicial, salvo cm casns de ações penais, trabalhistas e relativas
cm manifesta situação de vulnerabilidade".
a família.Já na ação de execução e despejo ela é optativa. O procedimento se instaura a partir
78. "Arr. 28. O procedimento de mediação judicial deverá .~er concluído em até sessenta dias,
<lo preenchimento de um formulário, com o pedido do caso e o sorteio do mediador. Como
concados da primeira sessão, salvo quando as partes, de comum acordo, requererem sua pror-
forma de incentivar a mediação, a parte cicada e ausente pagará as custas da mediação. O não
rog;ição".
pagamento da multa faz a inscrição do valor na dívida ativa. O acordo sed. título executivo
equiparado ao judicial. Se for necessária a execução da transação, a parte inadimplence pagará 79. "Are.., 13. Suspende-se o processo: (... ) Il - pela convenção da.s partes;"
multa no valor de duas ve1.es o valor dos honorários do mediador. Óbvio que, caso não haja 80. E com idc:ncica previsão o art. 4. 0 da. Lei 13.140/2015: "O mediador será designado pelo tribunal
acordo, as panes podem ajuizar ação judicial. Algumas questões inreressanccs: (a) o mediador ou escolhido pel:is panes", acrescentando o are. 25: "Na mediação judicial, os mediadores n:ío
não pode assessorar parte alguma durante um ano após seu desligamento do quadro de me- estarão sujeitos à prévia aceitação das partes, observado o disposto no art. 5.0 desca Lei".
diadores do tribunal; (b) o prazo de realização do processo de mediação é de 60 dias; e (c) os 81. Neste sentido também o are. 15 da Lei 13.140/2015: "Are. 15. A requerimento das partes
pra1.0s estão suspensos. Para aprofundar o tema: BASÍLIO, Ana Tereza Palhares; MUNlZ, ou do mediador, e com anuência daquelas, poder:ío ser admitidos muros mediadores para
Joaquim de Paiva. Projeto de Lei de Mediação obrigatória e a husca da pacificação social. funcionarem no mesmo procedimento, quando isso for recomendável em razão da natureza e
RArb 13/38. da complexidade do conHito".
--- 1 83
82 1 CURSO DE ARBITRAGEM AITERNATIVAS ADEQUADAS !'ARA.SOLUÇÃO DE DISPUTAS, ARES. 125/20!0 DO CNJ

Compatibilizando as previsões do Código com o previsto na versão original da ser recusado por qualquer delas" (parágrafo único do are. 5.0 ), cal como se exige do
Res. CNJ 125/2010, a respeito de onde deverá ser realizada a audiência (no Juízo árbitro (LArb., art. 14, §1.0 ) .
ou nos Centros [CEJUSCs - geralmente em local diverso do Fórum ao rnenos em São A seu turno, estabelece a Lei em seu are. 16: "A.inda que haja processo arbitrai
Paulo}), a Emenda n.2/20 16 estabelece que "as sessões de conciliação e mediação pré- ou judicial em curso, as partes poderão submeter-se à mediação, hipótese em que
-processual deverão ser realizadas nos Centros, podendo as sessões de conciliação e requererão 82 ao juiz ou árbitro a suspensão do processo por prazo suficiente para a
mediação judiciais, excepcionalmente, serem realizadas nos próprios Juízos, Juizados solução consensual do lítÍgÍo. § 1. 0 É irrecorrível a decisão que suspende o processo
ou Varas designadas, desde que o sejam por conciliadores ou mediadores cadastrados nos termos requeridos de comum acordo pelas partes. 2.0 A suspensão do processo
pelo tribunal (inciso VII do are. 7.0 ) e supervisionados pelo Juiz Coordenador do não obsta a concessão de medidas de urgência pelo juiz ou pelo árbitro". Este dispo-
Centro (are. 9.0 )" (art. 8.0 , § 1. 0 ); e ainda refere-se à utilização de Centros itinerantes sitivo tem rendimento principalmente para os processos em curso, quando de sua
(§ 3. 0 do art. 8°), referindo-se a Resolução às situações em que deverão ser instalados vigência, pelo modelo anterior à mediação como etapa inicial da ação, e confere ao
os Centros pelos Tribunais (diversos parágrafos do are. 8.0 ) . juiz uma causa específica de suspensão do processo. O que se estabelece, evidente-
Temos convicção de que a iniciativa do Código com este novo modelo de processo mente, já pode ser alcançado independente da previsão, mas não deixa de ser um
é alvissareira, e aproveitando os bons resultados do que já muito se tem a respeito das prestígio à mediação.
experiências judiciais voltadas ao incentivo da composição, cercamente se fortalece
De um modo geral, como já se disse, entendemos inexistir incompatibilidade
a cultura da pacificação, extremamente saudável e proveitosa para as relações sociais.
entre as Leis, não obstante a cena crítica à duplicidade normativa se deve direcionar.
Aos céticos com a inovação, recomenda-se a leitura do mito das cavernas, e a Pelo bom-senso e critérios de ponderação se encontram meios saudáveis para susten-
reflexão sobre abandonar a cultura do litígio, e as relações sociais advsersariais, para tar a convivência harmônica entre as inovações, pois o objetivo de ambas~ comum:
se conhecer um sistema de cooperação em benefício de todos, no qual cada um é prestigiar os meios consensuais de solução de conflitos.
considerado parte importante e ativa para a solução positiva de um problema, ainda
que não lhe tenha dado causa. 2.7. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

2. 6.4. Particularidades da Lei 13. 140 de 26 de junho de 2015 quanto à SALLES, Carlos Alberto; LORENCJNI, Marco Antonio Lopes; SILVA, Paulo Eduardo Alves da. Nego-
mediação judicial ciação, Medirrçiio e Arbímriem - Curso Básico pm-a pl'Ogmmas de grad1u1ç,10 mt Direito. São Paulo:
Ed. Gcn-Método, 2013.
Como já referido em outras oportunidades, a Lei 12.140/2015 é "lei nova" em BUZZI, Marco Aurclio Gastaldi. Movimento pcb conciliação- Um breve histórico. ln: GRINOVER,
relação ao Código de 2015, embora entre em vigor antes do regramento processual. Ada Pdlcgrini; PELUSO, Antonio Cczar; RICHA, Morgana de Almeida (coords.). Co11ciliaçiio e
Ainda, quanto à mediação privada é especial, mas no quanto estabelecido a respeito da Mediação: esrrutumçíío drr políticr1 j,ulidááa naâo1111!. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
mediação judicial, o ambiente próprio para tanto é realmente a legislação codificada CALMON, Eliana. Conciliaçfo Judicial na Justiça Federal. ln: GRINOVER, Ada Pcllcgrini; PELUSO.
que traz uma sistematização completa a respeito. Antonio Cezar; RJCHA, Morgan a de Almeida (coords.). Co11cílíaçiio e Mediação: estrutumçiío da
políticajudicidritl m1cio1111I. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
De qualquer forma, para a mediação judicial as previsões são compatíveis, e
possíveis de harmonização. Apontam-se, porém, algumas outras peculiaridades da CALMON, Pccrônio. Fmult,menros d,t mediação e da concili11pio. 2. cd. Rio de J:mciro: Forense, 2013.
Lei, além daquelas acima tratadas. GABBAY, Daniela Monteiro. Negociai,:ão. /n: GRINOVER, Ada Pellcgrini; PELUSO, Antonio Cezar;
RlCHA, Morgana de Almeida (coords.). Co11cili11çiio e M,·diaçáo: estrt1t11mçiiod11 polítimjudicí1fría
O mediador e aqueles que assessoram no procedimento, quando do exercício
1111áo1111I. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
de suas funções ou em razão delas, são equiparados a servidor público, para os efeitos
_ _ _ . Medittçiio ó-judiciário no Brasil,: 110s F.UA. Coleção MASC. São Paulo: Gazeta Jurídica, 2013.
da legislação penal (arr. 8.0); sem dúvida um importante aspecto para se envolver
a atuação com a responsabilidade esperada em razão das características, conteúdo e
relevância da atuação. 82. A respeito. cf. Enunciado 44 da l Jornada acima referida; assim: ''Havendo processo judicial
em curso, a escolha de mediador ou câmara privada ou pública de concíliaç:ío e mediação deve
Passa a ter previsão expressa para o dever de revelação, ames da aceitação da observar o pcticionamenco individual ou conjunto das partes, cm qualquer tempo ou grau
função, de "qualquer fato ou circunstância que possa suscitar dúvida justificada em de jurisdição, respeitado o contraditório". Cf. em ''.Anexo 7" o texto integral dos enunciados
relação à sua imparcialidade para mediar o conflito, oportunidade em que poderá aprovados.
84 1 CURSO DEARRITRAGEM

LAGRASTANETO,Cactano.Aconciliaçãojudicial-Avanços,retroccssoseespcranç:i../11:GRINOVER,
Ada Pellcgrini; PELUSO, Amonio Co:,.ar; RICHA, Morgana <lc Almeida (coords.). Co11cilí11çíín e
MedÍllçlÍo: estrt1t11mçíio da polític,1 judiddría 1u1ciowTÍ. Rio de Janeiro: Forense, 201 1.
LUClilARI, Valeria fcrioli Lagrasta. Resolução n. 125 do Conselho Nacional de Justiça: origem,
parâmetros e diretri1,cs para implantação com:reta, Ili: GRlNOVER, Ada Pcllegrini; PELUSO,
Antonio Ce·tar; RICHA, Morgan a de Almeida (coords.). Co11ciliflç1io e Mcdíflçáo: estruttmtçiio d,t
polítíc11 j11dicidrí11 ,u1címuTÍ. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
PACHÁ, Andréa Maciel. Movimento pela conciliação - O foco na sociedade. b1: GRINOVER, Ada
Pcllegrini; PELUSO, Antonio Cczar; RICHA, Morgana de Almeida (coords.). ConciliaçlÍo e Me-
díilçíio: es11·11t11mçíio da politfrajudicúiria 11aâo111IÍ. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
SZTAJN, Rachel. Noras sobre conciliação e Administração Pública. ln: CAHALI, Francisco, José;
RODOVALHO, Thiago e FREIRE, Thiago (coords.). Al'bítmgem -Fstutlos sobnt a Lei 13. 129,
de 26-5-20 J5. São P;1ulo: Saraiva, 2016.
WATANABE, l(;w.uo. Polítiw Jniblic,l do P0tkr/11dici,frio N,1âm11rlpant tr,ctmnemo ndeqt(l(do dos conj(itos
de: i11terem:s. /11: GRINOYER, Ada Pellegriní; PELUSO, Antonio Cezar; RICHA, Morgana de
Almeida (coords.). Co11cíli11çíío e Metli11ç,10: estrutumçiín d(l polítim judicídría 11t/cio11fll. Rio de
Janeiro: forense, 2011.

3.
Mediação
ROTEIRO DE ESTUDOS

t. Introdução
A Lei 13.140, de 26 de junho de 201 S
2. Princípios norteadores da mediação
• Autonomia da vontade das partes
• Imparcialidade
• Independência
• Credibilidade 3.1. INTRODUÇÃO
• Competência
A mediação é um dos instrumentos de pacificação de natureza aucocomposiciva
• Confidencialidade e voluntária, no qual um terceiro, imparcial, acua como facilitador do processo de
• Diligência retomada do diálogo entre as partes, 1 antes ou depois de instaurado o conRíto. 2
• Acolhimento das emoções dos mediados Ou, comoseapresenca na recente Lei 13.140, de 26de junho de 2015, "considera-
3. Técnicas de mediação -se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório,
• Modelo de Harvard que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver
• Modelo transformativo soluções consensuais para a controvérsia" (art. 1.0 , parágrafo único). 1
• Modelo circular-narrativo Como visco anteriormente, a mediação é indicada para as situações em que existe
4. A dimensão da mediação um vínculo jurídico ou pessoal continuado entre os envolvidos no conflito,... ensejando,
• Mediação familiar assim, a necessidade de se investigar os elementos subjetivos que levaram ao estado
de divergências. Ela visa, assim, a prevenção ou correção dos pontos de divergência
• Mediação empresa ria I ou corporativa
decorrcn tcs da interação e organização humana. Daí porque deve o mediador dedicar
• lustiça restaurativa
mais tempo aos mediados, para melhor auxiliá-los nas questões controvertidas.
• Mediação escolar

1. Ou, rnmo diz Fernanda T.,rtuce: ''A mediação consiste na atividade de facilitar a comunicação
entre a.~ parte.~ para propiciar que estas pr<>prías possam, visualizando melhor os meandros da
situação controvertida, protagoni·tar uma solução consensual. A proposca da técnica é l)l'0por·
cionar um outro ângulo de an:ílise aos envolvidos: em vez de continuarem as partes cnfocan<lo
suas posições, a mediação propicia que elas voltem sua atenção pam os verdadeiros interesses
envolvidos" (TARTUCE, Fernanda. /vledittçiio nos L'o>if{ítos â11ís. Rio <le Janeiro: Forense; São
Paulo: Método, 2008. p. 208).
2. Vale anorar, o que dispõe o Código de Étic1 para Mediadores, do Coníma a respeito da media-
SUMÁRIO ção: ·'A mediação transcende à solução da comrovi:r.sía, dispondo-se a transformar um contexto
3. 1. • II\ITRODUÇÂO................................................... .........................-.............--..................................·-······· 87 a<lversaríal em colaborativo. É um processo confidencial e voluimirio, onde a rcsponsabílid:ide
3.2. • PRII\ICÍPIOS NORTEADORES DA MEDIAÇÃO................................................................................ 92 das decisf>es cabe às partes envolvidas. Difere da negociação, da conciliação e da arbitragem,
constituindo-se cm urna ;1lccrnacíva ao litígio e tamb1:m um meio p:ira resolvê-lo". Disponível
3.3. • TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO .................................................................................................................... 98 em: [www.conima.org.br]; acesso em 08/07/2015.
3.4. • A LATITUDE (DIMENSÃO) DA MEDIAÇÃO...................................................................................... 101 3. Cf. cm "Anexo 3'' o texto integral da Lei 13.140/2015. E, quanro à definição de mediação,
3.5. • A LEI l 3.140, DE 26 DE JUNHO DE 2015 - SUAS PARTI CU LARI DADES............................ 106 adotou-se em parte a proposta de antigo PL 4.82711998, da Deputada Zulai1: Cobra.
3.6. • BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA........................................................................................................ 115 4. Deve-se rerà menceque a mediaç:fo também serve no momcnro anterior ao conHito csr3.r instaurado.
88 1 CURSO DE AR~ITRAGEM MEf)]AÇÃO 1 89

E diante deste contexto, ao mediador cabe criar um ambiente propício à comuni- Pode soar estranho, até mesmo às partes, em um primeiro momento, submeter-se
cação entre os mediados, de forma que, aos poucos, emoções, mágoas, ressentimentos, à mediação para, no final, consumido tempo e recursos, ainda ser necessário a solução
frustrações ou outros sentimentos sejam superados para facilitar a escuta e respeito adjudicada (por arbitragem ou processo judicial). Mas para os profissionais da área,
à posição do outro. 5 e para aqueles que se submeteram ao procedimento, há o reconhecimento do efeito
Enquanto meio não adversaríal/' todo o processo se desenvolve na expectativa posi rivo da mediação, na inter-relação e na forma como o conflito será a partir de então
de se ter a cooperação entre os envolvidos para se chegar a um resultado positivo. conduzido. O "tratamento" gera no mínimo a conscientização das posições, a redução
do desgaste emocional, o arrefecimento da animosidade, e o respeito às divergências.
Porém, como bem lembram Adolfo BragaNeto e Lia Regi na Castaldi Sampaio,
Este resultado, mesmo sem impacto imediato à decisão do litígio, cria até a expectativa
a mediação "não visa pura e simp.lesmen te ao acordo, mas a atingir a satisfação dos
de cumprimento espontâneo da solução que, voluntariamente, não foi exicosa, mas
interesses e das necessidades do envolvidos nos conflít0 (...). E um de seus objetivos
resultou da intervenção do terceiro/mediador. Ademais, pda mudança de postura
é estimular o diálogo cooperativo entre elas para que alcancem a solução das con-
frente ao conflito, as portas da autocomposição estarão sempre mais abertas, talvez
trovérsias em que estão envolvidas. Com esse método pacífico tenta-se propiciar
momentos de criatividade para que as partes possam analisar qual seria a melhor aguardando apenas o amadurecimento dos envolvidos que, por vezes, só o tempo traz.
opção cm face da relação existente, geradora da controvérsia. Nesse sentido, como Em países de cultura menos contenciosa, como China e Japão, o simples ajuiza-
salienta Christopher W. Moore, o acordo passaaseraconsequêncialógica, resuJcante men to de ação judicial pode ser considerado uma vergonha, caso não se tenha tentado
de um bom trabalho de cooperação realizado ao longo de todo o procedimento, e um acordo antes. Na China, em especial, se tem notícia da mediação há 4.000 anos,
não sua premissa básica". 7 com 10 milhões de mediadores, número muito maior do que os 110.000advogados.tJ
Mais importante, assim, resgatar a qualidade da comunicação e da relação entre O mediador é um facilitador; um coordenador dos trabalhos, instigando as partes
os envolvidos do que simplesmente chegar a um acordo.A a desenvolver a dialética e comunicação, permitindo falar sobre aquilo que não vinha
sendo dica, e fornecendo-lhes elementos para reconhecer valores relevantes à análise da
relação. Como terceiro imparcial, não sugestiona, pda corrente da mediação passiva,
S. A respeito, bem escreve h:rnanda Levy: "A mediação é conduzida por um terceiro, denominado
'mediador' que tem por objetivo auxiliar as partes em conAito a chegarem, por si só, ao enten- a tomada de decisões, ainda que tenha a percepção da melhor solução ao conAito.
<limenco e à transformação do conAico. Assim, o mediador não julga nem do pouco concilia as Neste processo, o mediador deve ter sensibilidade para identificar a origem real
parccs, tarefas do .írbicro e <lo conciliador respectivamente'' (LEVY, fernanda Rocha Lourenço. do conflito e capacidade para levar as partes a esta percepção, para que o novo olhar
Ctt(lrda de filhos: os conflitos no exacíd() do poderfàmili11r. São Paulo: Atlas, 2008. p. 122); e facilite a compreensão da controvérsia, e assim contribua para a escolha de soluções,
como salienta Aldemir Buitoni: "A mediação ama em todos os níveis, é um procedimento
ligado a uma visão sensorial da vida e não a lógica da razão" (BUITONI, A1<lemir. Mediar e ou, ao menos, para mudança de comportamento.
conciliar: as diferenças básicas. Jm Niwigrmdi, n. 2707, p. 15, ano XV, Teresina, 29.11.201 O. Tarefa difícil, na medida em que cada pessoa, pela sua personalidade, reage de
Disponível em: lhttp://jus.uol.corn.br/rcvista/texto/17%3]. Acesso cm: 04.06.2011); Lem- forma diversa a situações indesejadas, incômodos, frustrações e a lesões a seus direi-
bramos, ainda, as palavras de Maria Nazareth Serpa sobre a função do facilitador: "O papel tos. Daí porque, às vezes, o perfil psicológico dos envolvidos deve ser investigado, e
do interventor é ajudar na comunicação através da ncucralizaçfo de emoções, formação de
opções e negociação de acordos" (SERPA, Maria de Nazareth. Teoritt e prdtica de mediaçiio rf,, repercute na maneira como será conduzida a mediação.
conflitos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1999. p. 90). A mediação ganhou respeito e espaço nos últimos tempos, e seus proveitosos
6. No sentido de pressupor a condma beligerante das parccs, polarizadas em suas rígidas posições resultados passaram a ser reconhecidos não só pela acomodação de interesses alcançada
apresentadas, contraposto ao .sistema de cooperação. Anote-se que a palavra rcm significado como potencial resultado de seu desenvolvimento, como também, e especialmente,
diverso no campo das provas e sua organização no novo processo civil, onde representa l.:erco
benefício às p:uces em oposição ao sistema inquisitorial.
7. BRAGA NETO, Adolfo; SAMPAIO, I .ia Regína Castaldí. O que é mcdíaçifo de conflitos. São doura. (VILELA, Sandra Regina. Meios alcernativos de resolução de conflitos - arbitragem,
Paulo: Brasiliense, 2007. p. 19-20. mediação. Disponível em: [www.pailegal.net/mcdiation.asp?rvTextold=" l 09399610962k)."
8. Neste sentido, cf. Fernanda Tartuce: "Um primeiro objetivo importante na mediação é permitir Acesso em: 14.01.2007). Percebe-se, assim, que, antes de cogitar a extinção do confüto como
que as partes possam voltar a entabular uma wmunicaçfo eficiente, com intuito de discutir objetivo primordial, deve o mediador procurar suprir as deficiências de comunicação entre os
os pontos relevantes da controvérsia e encontrar uma saída consensual para o impasse. Sendo sujeitos. Afinal, a ideia é permitir que eles próprios possam superar o impasse, transformando
a finalidade da mediação a responsabilização dos protagonistas, é fundamental fazer deles o conflito cm uma oportunidade de crescimento e em uma mudança de atitude". TARTUCE,
sujeitos capazes de elaborar, por si mesmos acordos dur:ivcís. Dessa forma, o grande trunfo da Fernanda. Op cit., p. 222.
mediação é restaurar o di:ílogo e a comunicação, propiciando o alcance da pacificação dura- 9. KOVACH, Kimberlee K. Medí11tion i11 a nut shell. Se. Paul: Thomson West, 2003. p. 16.
MEDIAÇÃO 1 91
90 1 CURSO DE ARBITRAGEM

pelo benefício de melhorar a condura das partes, inspirando o sentimento de pacifi- nasceu na Comissão de Reforma do Código de Processo Civil de 1999, tornado público
cação das relações sociais, até mesmo se frustrada a composição. o texto em 2000, tem maior foco na mediação chamada paraprocessual, inclusive
sugerida a sua tentativa como obrigatória. 12 Após audiência pública promovida em
Sua valorização extrapolou os ambientes de sua prática, e ganhou o merecido
l 7.09.2003, pela Secretaria da Reforma do Judiciário para discuriro tema, foi criada
espaço na academia, na produção científica, eventos e, de um modo geral, em todos
uma comissão mista que propôs uma "versão consensuada" abrangendo as sugestões
os lugares em que de alguma forma o conflito é analisado ou tratado.
anteriores, apresentada no Senado como substitutivo ao Projeto de Lei 4.827 / 1998
Neste aspecto, acreditamos que, embora se refira à mediação judicial, a Res. CNJ (adotado o PLC 94/2002), da Deputada Zulaiê Cobra, então já aprovado na casa de
125/201 O, já antes comentada, foi decisiva para impulsionar a mediação privada. origem. Em 2006, com algumas alterações, foi aprovado o relatório final da Comissão
As vantagens da mediação como economia de tempo, confidencialidade, fa- de Constituição e Justiça, acolhido pelo Plenário do Senado, retornando, então, para
cilitação para a compreensão dos sentimentos e emoções como parte do processo, a Câmara para a respectiva aprovação. 13
flexibilidade do procedimento e perspectiva de se evitar novos conflitos passaram a
Recentemente, mais importante, pela unificação por ele realizada, foi o PL
ser mais buscadas e exploradas.
51712011 do Senado Federal.
Ainda na esfera privada, acompanhando a onda de valorização da autocompo-
Além deste projeto então em curso, foram apresentados ao Senado dois ante-
sição, além da intensificação dos debates a respeito em Congressos e Universidades,
projetos a respeito, embora coro especificidades (um deles voltado à mediação pri-
nora-se a concentração de esforços no desenvolvimento da mediação por instituições
vada, outro abrangendo também a mediação pública). Com os trâmites pertinentes,
particulares, ou profissionais independentes. lmporrantes entidades até então con-
encerraram-se os trabalhos resultando em um único projeto, contemplando a mediação
centradas na arbitragem, passaram a desenvolver internamente a mediação, criando
privada, a mediação no Judiciário e a mediação envolvendo o Poder Público. Sendo
ou reformulando seus regulamentos, inclusive, por vezes, elaborando listas próprias
sua origem o PLS 517/2011, à sua tramitação, em conjunto, foram reunidos o PLS
de profissionais, para oferecer também este produto.
405/2013 e o PLS 434/2013.
E dentre as diversas iniciativas, anote-se o movimento para o fortalecimento da
cultura da pacificação intitulado Pacto de Mediação, lançado em 11 de novembro de A redação final do PL 51712011, aprovada pelo Senado Federal, unificava tam-
2014 pelo Centro e Federação das Indúscrias do Estado de São Paulo (CIESP /FIESP) bém os projetos de 2013, e foi encaminhada à Câmara dos Deputados onde recebeu
para consolidação das soluções consensuais de conflito especialmente no mundo em- o número PL 7.169/2014, e após aprovação com alterações, retornou ao Senado.
presarial. Este Pacto de Mediação, como já antes referido na introdução desta obra, Finalmente, acolhidas em parte as sugestões, feitos ajustes necessários, chegou-
firmado entre algumas Instituições de Ensino, 10 e diversas Entidades representativas -se à aprovação final do texto, sancionado pela Presidência sem qualquer veto,
de categorias econômicas da indústria, comércio, prestação de serviços etc., cria o transformando-se na Lei 13.140/2015 a ser analisada as suas particularidades em
compromisso dos signatários em prestigiar e incentivar a prática destes mecanismos
amistosos de gestão de disputas, de maneira colaborativa e integrativa. Na1.arerh, dentre outros - cf. SANTOS, Lia Justiniano dos. A introdução da mediação no
E como ápice desta valorização, chegou-se ao quanto há algum tempo alguns Judiciário paulista através do Setor de Conciliação do Tribunal de Justiça do Estado de São
profissionais da área buscavam: o Marco Legal da Mediação, através da recente Lei Paulo. Revista do Advogfldo, ano XXVI, n. 87, p. 139, São Paulo: AASP, ser. 2006.
12. Elaborado por uma comissão formada pela Escola Nacíonal de Magistratura e pelo lnsricuto
13.140, de 26 de junho de 2015.
Brasileiro de Direito Processual e submetido a debates públicos cm Brasília e São Paulo,
através de audiências e seminários que contaram com a participação da Seccional da OAB, cf.
3.1.1. Alei 13.140,de26dejunhode2015
SANTOS, Lia Justiniano dos. Op. cit., p. 140.
A ideia de se estabelecer em lei a mediação não é nova. A primeira iniciativa foi 13. Cf. ~obre: os aspectos rdevanres de> Projeto na forma aprovada, 9.uc Lia Regina Cascaldi.Sampaio
apresentada pela Depurada Zulaiê Cobra, através do Projeto de Lei 4.82711998, na e Adolfo Braga Nero indicam: ( 1) o bjetivo do legislador: descongestionar os Tribunais; (2) a
definição de mediação parnproccssunl; (3) ex.dusão da área penal; (4) critério de definição sobre
Câmara dos Depurados. 11 A segunda proposta, agora através de anteprojeto apenas,
as modalidades de mediação; {5) subscrição pelas partes, por advogJdos e pelo mediador do
"Termo de Mediação"; (6) definição do mediador: sua formação e sua seleção; (7) mediador
10. Na oportunidade, fomos honrados com a indicação pelo Diretor Prof. Pedro Paulo Manus judicial, .~eu registro e sua fiscalização; (8) mediador extrajudicial, seu registro e sua fiscalização;
para assinar o Pacto de Mediação em nome da Faculdade de Direito da PUC/SP. (9) comedia.dor, seu registro e sua fiscalização; (l O) mediação prévia; (11) mediação incidencal;
11. Da elaboração e rccfaç.,'ío do projeto parciciparnm o atual Presidencc do STF, Min. Antonio ( 12) alterações do Código de Processo Civil; ( 13) disposições finais {BRAGA NETO, Adolfo;
Cczar Peluso, o advogado Luís Antunes Caetano e a psicanalista e mediadora Eliana Riberti SA!vf PAIO, Lia Regina Casraldi. Op. cit., p. 122-136).
92 1 CüH.S0 DE ARBITRAGEM MEDIAÇÃO 1 93

separado (icem 3.5 abaixo, e Capitulo 02, icem 2.6.4, acima), e cujo cexco integral este método, passa pela escolha comum do(s) mediador(es), pela decisão sobre os
consta do Anexo 3. assuntos a serem abordados, pela administração do proccdimcnco, conferindo-lhe
Como já referido anteriormente, há pontos de intimidade entre esta Lei e o maior ou menor intensidade, e se encerra no momento desejado pelos mediados. Os
Código de Processo Civil, mesmo sendo aquele voltado à mediação judicial, e este à inreressados são, pois, senhores da sorte (do destino) da mediação, e assim, passam a
extrajudicial, pois tanto um como outro passeiam em alguns detalhes, pelas duas fer- ser os gestores de seu próprio futuro.
ramentas. Aliás, o diploma processual é expresso cm determinar a aplicação do quanto A escolha voluntária. das partes em se submeter à mediação foj positivada como
nele previsto à mediação extrajudicial (are. 175, parágrafo único do CPC/2015), 14 princípio na Lei 13.140/2015, cm seu art. 2. 0 , V; porém, como se verá no "procedi-
e, por sua vez, a Lei 13.140/2015 traz disposições comuns e também exclusivas da mento de mediação" adiante tratado (nas "particularidades da lei"), a liberdade não
mediação judicial e extrajudicial. afasta a responsabilidade, e a escolha traz compromissos. 18
Neste Capítulo, volta-se a atenção à mediação priva.da., extrajudicial, mas as E igualmente, na mediação judicial, como visto, a ausência da parte na primeira
características, princípios, modelos e técnicas são comuns a ambos (salvo raríssimos audiência designada para ranto também traz consequências (Capítulo 2, item 2.6.3).
pontos a serem devidamente apontados), e serão a.baixo apresenta.dos. lmp,zrcíalídtzde: este princípio, agora contido na Lei 13.140/2015 (are. 2.º, I),
Já se fará no corpo do capírulo a indicação dos artigos da Lei quando pcrtínen tes; e também no Código de Processo Civil (art. 166), se impõe ao mediador que, como
e, ao final, indicam-se algumas de suas particularidades até então não referidas, pois terceiro facilita.dor, deve cuidar para que seus valores pessoais não venham a interferir
agora legem habemus, criando um microssistema próprio para a mediação. na condução do procedimento, em especial quanto à avaliação do comportamento
das partes. Também a ele é defeso dar qualquer sinal de preferência a uma das partes,
3.2. PRINCÍPIOS NORTEADORES DA MEDIAÇÃO e assim, deve ter uma conduta isenta, preservando o equilíbrio de poder entre os
Adotamos aqui a sistematização oferecida com peculiar ela.reza e objetividade media.dos.
por Adolfo Braga Neto e Lia Regina Castaldí Sampaio, na obra O que é mediação de Independência: o mediador não deve ter qualquer vínculo anterior com uma das
conflitos, 15 ao indicarem os seguintes princípios nortea.dores da mediação que, sem partes, e/ou com os valores/ideias ligadas àquela mediação. Para tanto, obriga-se a
maior rigor técnico, e salvo pequenos ajustes para adaptação às suas peculiaridades, revelar as circunstâncias que eventualmente colocariam em dúvida esta independên-
também se aplicam à conciliação como antes referido. cia. E assim fará duranre todo o procedimento, prestando informações que possam,
Há coincidfocia, também, desra indicação com o que veio a ser agora positivado, aos olhos das panes, gerar desconfiança. Entendemos, porém, que, cientes as partes
tanto pela Lei 13. 140/2015 (are. 2.o), 16 como pelo Código de Processo Civil de2015 das circunstâncias envolvendo o mediador e as possíveis repercussões, nada impede
(are. 166), 17 e assim, a propósito destas inovações legislativas, se farão as observações que o escolham ou aceitem. Neste campo vige o princípio da autonomia da vontade,
pertinentes. possibilitando a aceitação da situação em caráter excepcional. E como facilitador,
Autonomia da vontade das partes: o processo de mediação tem caráter voluntário pela sua habilidade, apenas favorecerá o diálogo, sendo que a solução dependerá
na sua mais completa dimensão: parte da opção dos mediados a se submeterem a exclusivamente <la evolução dos mediados. Desta forma, a atuação do mediador não
compromete (nem deve inrerferir, como já salientado) o elemento volitivo da decisão
adotada pelas partes quando da composição. 19
14. ''.Art. 175. As disposições desta Seção não excluem outras formas de conciliação e mediação
extrajudiciais vinculadas a órgãos ínsticucionaís ou reali:tadas por incermédio de profissionais
independentes, que poderão ser regulamentadas por lei específica. Parágrafo único. Os dispo- l8. Como previsto no art. 2. 0 , § 1.0 : "Na hipótese de existir previsão contratual de cl:íusula de
sicivos desta Seção aplicam-se. no que couber, às câmaras privadas de conciliação e mediação", mediação, as partes deverão comparecer à primeira reunião de mediação", mas acrescenta a lei
contido na seçfo descinada aos mediadores e conciliadores judiciais. no§ 2. 0 que:"§ 2°. Níngu~m será obrigado a permanecer em proccdimenfo de medíação.''
15. BRAGA NETO. Adolfo; SAMPAIO, Lia Regina Casialdi. Op. cit., p. 34-43. 19. Questão interessante seria saber se quem atua de forma livre consegue ser imparcial. Consi-
16. "Art. 2°. A mediação será orientada pelos seguinres prindpios: 1- imparcialidade do mediador; deramos que justamente a índependêncía ~ '-J.lle traz a imparcialidade, ou seja, quem acua de
II - isonomia entre as parces; IJI - oralidade; IV - informalidade; V - autonomia da vontade forma desvinculada à parte ou às ideias trazidas oa mediação, cercamente será imparcial. Nesse
das partes; Vl - husca do consenso; VU - confidencialidade; Vlll - boa-fé." sentido, Humberto Dalla 13ernardina de Pinho, em ohra conjunta, escreve: ''Entendemos que o
17. "Are. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da conceiro de imparcialidade, utili:tado pelo legislador pátrio no Projeto de Lei em comento (PL
imparúalidade, da autonomia da voncade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade 4.82711998), deve abarcar o de neucralidade, por serem conceitos intimamence relacionados
e da decisão ínformada." e que, não raro, se encontram previstos conjunramente em legislações alienígenas ao tratar da
MEDlAÇÃO 1 95
94 1 CURSO OEAR131TRAGF.M

Especificamente sobre este aspecto, tanto o Código de Processo Civil como a Lei situações em que há ofensa à ordem pública ou aos bons costumes é que este princípio
13.140/2015 fazem expressa referência a situações de impedimento do mediador (cf. vinha sendo flexibilizado.
Capítulo 2, item 2.6.2, acima) e, em especial, destaca-se a inovação da Lei 13.140/2015 E a respeito, a Lei 13.140/2015 positiva a matéria, não só ao incluir a confiden-
na previsão do dever de revelação; assim: "qualquer faro ou circunstância que possa cialidade como princípio da mediação (are. 2. 0 , VII), como também por dedicar uma
suscitar dúvida justificada em relação à sua imparcialidade para mediar o conflito, seção específica e detalhada sobre ao tema; assim:
oportunidade em que poderá ser recusado por qualquer delas" (are. 5. 0 , parágrafo "Seção IV - Da Confidencialidade e suas Exceções
único), tal como se exige do árbitro (LArb., art. 14, §1. 0 ). E a legislação processual An. 30. Toda e qualquer informação relativa ao procedimento de mediação será
também indica a independência como princípio (art. 166). confidencial em relação a terceiros, não podendo ser revelada sequer em processo
Credibilidade: as partes elegem a mediação para facilitar a autocomposição por arbitral ou judicial salvo se as partes expressamente decidirem de forma diversa ou
acreditarem neste instrumento. E ao mediador cabe susten car esta confiança, inclusive quando sua divulgação for exigida por lei ou necessária para cumprimento de acordo
chamando para si a credibilidade para os mediados terem liberdade e transparência obtido pela mediação.
na sua postura durante o desenvolver do procedimento. § 1°. O dever de confidencialidade aplica-se ao mediador, às partes, a seus pre-
Competência: a tarefa do facilitador, já dissemos, é de significativa complexidade, postos, advogados, assessores técnicos e a outras pessoas de sua confiança que tenham,
tal qual o conflito a ele submetido. Pode envolver uma série de relações em diversas direta ou indiretamente, participado do procedimento de mediação, alcançando:
áreas do conhecimento. Também as peculiaridades do conflito e dos próprios litigantes I - declaração, opinião, sugestão, promessa ou proposta formulada por uma
inter ferem no encaminhamento a ser dado. Neste contexto, o mediador só deve acuar parte à outra na busca de entendimento para o conflito;
quando convicto de suas qualidades, em condições de acender as expectativas, ques- 11- reconhecimento de fato por qualquer das partes no curso do procedimento
tionamentos e preocupações dos mediados, devendo, inclusive, declinar da atuação
20
de mediação;
se sua percepção de inaptidão se der no curso do procedimento.
111- manifestação de aceitação de proposta de acordo apresentada pelo mediador;
Confidencialidade: de extrema relevância para que as partes sintam-se confortá-
IV - documento preparado unicamente para os fins do procedimento de me-
veis no desenvolvimento da mediação é o absoluto sigilo do quanto nele se apresenta,
diação.
em sua maior abrangência, ou seja, informações, faros, relatos, situações, propostas,
documentos etc. Ao mediador é vedado testemunhar ou prestar qualquer tipo de § 2°. A prova apresentada em desacordo com o disposto neste artigo não será
informação sobre o procedimento e seu conteúdo, salvo autorização das partes. Neste admitida em processo arbitral ou judicial.
sentido o are. 229, I, do CC/200221 e o art. 154 do CP, 22 que tratam os dois primeiros § 3°. Não está abrigada pela regra de confidencialidade a informação relativa à
sobre o segredo profissional e o último sobre a violação deste segredo. Apenas em ocorrência de crime de ação pt'tblica.
§ 4°. A regra da confidencialidade não afasta o dever de as pessoas discrimina-
conduta dos mediadores(...). A neutralidade consiste no dever de o mediador n:ío influenciar das no caput prestarem informações à administração tributária após o termo final da
as parccs a adorar uma solução, ainda que•esra lhe pareça mais razoávd ou equ:inime, conforme mediação, aplicando-se aos seus servidores a obrigação de manterem sigilo das infor-
prevê o item 6.16.2, do referido Code ,l'Étique, e se coaduna cspecialmeme com a figura do mações compartilhadas nos termos do are. 198 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de
mediador p:issivo, it qual se filiou o legislador pátrio no are. 2. 0 do Projeto de .Lei em Comento" 1966- Código Tributário Nacional.
(Do registro de mediadores e da fiscalização e controle da atividade de mediação. ln: _ __
Art. 31. Será confidencial a informação prestada por uma parte em sessão privada,
(coord.). Op. cit. p. 122-145.
20. O mediador deve ter aptidão para o conflito a ser mediado. Ora, se estivermos à frcnce de um não podendo o mediador revelá-la às demais, exceto se expressamente autorizado."
conflito societ;írio, será úlido, por exemplo, o mediador entender da matéria e seus princípios, Um pouco mais contida foi a previsão no Código de Processo Civil, mas igual-
por exemplo. mente firme, quanto à confidencialidade (cf art 166 caput e§§ 1.0 e 2. 0 ). 23
21. "Art. 229. Ninguém pode ser obrigado a depor sobre faco: I - a cujo respeito, por esrndo ou
profissão, deva guardar segredo; (...)."
22. "Art. 154. Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, 23. "Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos príndpios da independência, da
miniscério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem: Pena - detenção, imparcialídade, <la autonomia da vontade, <la confidencialidade, da oralidade, da informalidade
e da decisão informada.§ l 0 • A confidencialidade estende-se a rodas as informações produzidas
de crês meses a um ano, ou multa."
96 1 CURSO DE ARBITRAGEM MEDIAC,:ÁO 1 97

Como já referido, na amplitude da confidencialidade, o mediador não pode psicoterapêutica, mas como elemento de identificação da origem e extensão do confü to
ser chamado a depor como testemunha, sendo vedada a sua atuação também como pelos próprios mediados, facilitando o reconhecimento e respeito aos sentimentos
árbírro.H E evidentemente, também de maneira informal, ao mediador é vedado um do outro em face do conAito. 2 7
transmitir infol'mações ou suas impressões ao juiz da causa. 2::; Este último princípio reserva-se à mediação, na medida em que na conciliação o
Diligência: O facilitador para o desempenho de sua tarefa precisa estar sempre foco é o conflito em perspectiva objetiva e pontual, e a mera é a composição vantajosa
aremo à forma como deve conduzir a mediação, especialmente quando às regras e para as partes envolvidas. Jáos demais princípios têm aplicação também na conciliação,
ferramentas utilizadas, prestando constantemente as informações aos mediados. preservadas apenas as suas peculiaridades, e assim promovidos necessários ajustes.
Ainda, a cada instante, compete-lhe observar cuidadosamente o feedback (a reação Por outro lado, anotem-se outros princípios indicado na Lei 13.140/2015:
aos estímulos) dos mediados, com olhar acento à evolução na aproximação, pois um A Isonomia entre as partes, em uma análise no quanto se pretende neste" Curso':
descuido pode gerar uma comunicação inapropriada cujo efeito é nocivo não apenas representa o tratamento por igual das panes, decorrente da imparcialidade, e sua
à mediação, mas à própria inter-relação das partes, alimentando a litigiosidade.2<• violação compromete o desc::nvolvimemo dos trabalhos de mediação.
Acolhimento das emoções dos mediados: no pressuposto de que o mediador irá A boa-fé é indicativo de conduta a orientar qualquer relação humana, e como
mergulhar nas profundezas de um conflito, investigando as relações subjetivas que cal seria desnecessária a referência; porém, a redundância, por certo, tem sua função
ensejaram as divergências, importante elemento a ser reconhecido é a emoção dos pedagógica.
mediados. As emoções motivam as ações, interferem na razão, transformam sensações, E a buscado consenso, oralidade e informalidade, são princípios a serem aplicados
provocam atenção seletiva, e, dentre outros impactos no pensamento, na linguagem, no procedimento de mediação, como técnicas dos trahalhos, de forma ase desenvolver
na expressão e na conduta, também influenciam as percepções. a facilitação da maneira mais ágil, direta e acessível ao.s envolvidos.
Veja-se, por exemplo, que a emoção do momento em um conflito doméstico, O Código de Processo Civil, por sua vez, ainda acrescenta a decisão informada
produz interpretação de todo um contexto pelo protagonista, diversa daquela a ser como princípio (art. 166), consistente no direito que as partes têm de receber todas
dada por outra pessoa, ou mesmo pelo outro envolvido, de acordo com o seu perfil e as informações necessárias a respeito do conteúdo da composição que se estiver
com todo o histórico anterior na relação entre eles. construindo. 1B
Eassi m, a compreensão deste sentimento cem especial importância no tratamento Por fim, valem alguns comentários sobre os princípios estudados, levando-se
do conflito para a busca de uma adequada solução que passa, jnevitavdmente, pela em consideração a conciliação e mediação em juízo, na forma prevista na Res. CNJ
comunicação. Note-se que o objetivo não é trabalhar com a emoção com finalidade 125/20 JOcom a adequação ao estabelecido no Código de Processo Civil. Estes prin-
cípios, por vezes, não serão observados, ao menos na extensão esperada.
no curso do procedimento, cujo teor n:io poderá ser utilizado para fim diverso daquele previsto
por expressa deliberação das partes. § 2°. Em razão do dever de sigilo. incrente ils suas funções, 27. Neste sentido, pertinente trazer as pond1.::rações de Adolfo Braga Neto e Lia Regina Casraldi
o conciliador e o mediador, assim como os membros de .mas equipes, não poderão divulgar Sampaio: "O mediador deve trabalhar para que, no transcorrer do processo de mediação,
ou depor acerca de fatos ou elementos oriundos da conciliação ou da mediação". os mediados evoluam a fim de reconhecer a legitimidade das emoções do outro. Isso não
24. Cf. o quanro a respeito falamos e indicação dos artigos pertinentes, no Capítulo 2, icem 2.6.2, significa concordar ou apreciar, mas trara-se de reconhecer o direito de cada um de ter senti-
acima. mentos espedficos". E, adiante:"(...) a estratégia do mediador dever:í escar permanencemence
25. Cf. camhém, neste scnrido, Enunciado 46 da l Jornada Prevenção e Solução Extrajudicial de centrada no acolhimento das emoções exteriorizadas ou naquelas que não o foram e estão
Litígio.~, promovida entre 22 e 23 de agosto de 2016 pelo Centro de Escudos Judiciário do sendo sentidas internamente pelos media<los. Neste último aspecto é dever do mediador
Conselho da Justiça Federal; assim: "Os mediadores e conciliadores devem respeitar os padrões promover a sua exrernalização, mediante um :imbíence acolhedor e cooperativo, para que
éticos de confidencialidade na mediação e conciliação, n:ío levando aos magistrados dos seus sejam ohjetivadas, propiciando com isso que a outra parte escute e posteriormente reflita
respectivos feitos o conteúdo das sessões, com exceção dos termos de acordo, adesão, desistência sobre os senrimenros manifestados". (BRAGA NETO, Adolfo; SAMPAIO, Lia Regina
e solicitação de encaminhamentos, para fins de ofícios". Cf. em "Anexo 7" o texco integral dos Castaldí. Op. cit., p. 40-41 ).
enunciados aprovados. 28. O Enunciado 41 da 1Jornada Prevenção e Solução Excrajudicial de Litígios, promovida entre
26. Nesse sentido vale observar as regras sobre me<liação <lo Conima, que entende por diligência 22 e 23 de agosto de 2016 pelo Cenrro de Estudos Judiciário <lo Conselho da Justiça federal;
"cuidado e prudência para a observância da regularidade, assegurando a qualidade do proces- confirmou o quanto escrevemos; assim: "AJém dos princípios j,í elencados no are. 2. 0 da Lei
so e cuidando ativamente de todos os seus princípios fundamentais". Disponível em: [www. 13.140/201 5, a mediação também deverá ser orientada pelo Princípio da Decisão Informada.''
conima.org.hr). Acesso cm: 13.07.2015. Ct cm "Anexo 7" o texto integral dos enunciados aprovados.
98 1 CURSO DE ARBITRAGEM MEDIAÇÃO 1 99

Os litigantes nestes casos judiciais, poderão ser conduzidos à mediação o~ partes e seja capacitada para fazer mediação, independentemente de integrar qualquer
conciliação ~em se; por sua iniciaciva, embora mo tivadament~ P?ssa°: rect~sar: u~t- tipo de conselho, entidade de classe ou associação, ou nele inscrever-se", referindo-se
füa ão desces inscrumen cos. A auconomja da vontade acaba l~~t~ada a ~~ettaçao o a exigências mínimas de qualificação e curso apenas para o mediador judicial (are. 11;
ç d' om "m dos facilitadores cadasrrados. A cred161l1dade e irrelevante, cf. a respeito, capítulo 2, item 2.6.2., acima).
proce 1meoco, c . ..._ · · · · 1 f,
pois não se elegeram volunéariameme o procedimento e, prmc1pa mente, con orme Aliás, sugere-se 120 horas mínimas de aulas teóricas, seguida de 50 horas de
o caso, o próprio mediador. .. . estágio supervisionado, 10 pouco diference, pois, da proposta contida na Rcs. CNJ
Ainda, temos preocupação em relação ao tem~º-~os fucilirndores (assim e~cen- 125/2010 (na versão atualizada). 31
dido O conciliador ou O mediador) que será dispomb1lv..ado às. partes _pelo prog1ama Nas linhas deste curso, pretende-se apenas apontar superficialmente as técnicas
· d' 'al podendo não ser adequado às necessidades do co1úl1ro, pois, ao que ~~do disponíveis para o desenvolvimento da mediação, propiciando um primeiro contato
Jll ICI , . · d
· d' a ral como hoje ocorre com a mawna das propostas e cone 1aç J , . ,
u· ão 'udtCJal com o tema, a ser desenvolvido durante o curso de capacitação com a carga horária
~nbs~~;am-se restrições na duração e na quantidade de sessões: ora, sabe-se da conve- sugerida acima.
niência, por ve1.es, de vários encontros, em longo ,P_e rfodo, d.e acompanha~enco, para Modelo de Harvard: este modelo decorre do método utilizado para negociação
o amadurecimento dos envolvidos, e esta tranquiltdade, ut1l ao desenvolvunento dos cooperativa. O mediador, enquanto facilitador do diálogo, procura separar as pessoas
trabalhos, está comprometida na proposta apresentada. .. . .. do problema. Distingue a posição, do interesse das partes, centrando o foco neste
De qualquer forma, como já se disse., a iniciativa de se ter um fa~1htador ;ud1c1al último. Estimula-se a avaliação objetiva da siruação, buscando soluções criativas em
é merecedora de aplauso, e até mesmo pode con~ri~uir fara que, d iante deu;~ e~~ benefício mútuo. Todavia, como não se diferencia conciliação e mediação no sistema
periência posiriva em jwzo, mas consideradas as lim 1raçoes: o resultad~ dadme . '. ªÇ~ norte-americano, e considerando ainda que este modelo aproxima-se da conciliação
ou conciliação seja a procura, de comum acordo, de profissional ou enttda e priva a em nosso sistema jurídico, para alguns doutrinadores, esta técnica não seria aplicável
para segtür no encaminhamenco dos trabalhos, suspendendo o processo. . à mediação desenvolvida em nosso sistema. 32
Sob outra perspectiva, mas também como prindpi_o de condut:, deve o °:edJa~o.r Modelo Transformativo: Neste modelo, a meta será a transformação das pessoas
abster-se de emitir juízo de valor em relação ao c?nfliro ou sol_uçoes em d1scussao: no sentido de conscientização e respeito da posição do outro. E, assim, haverá uma
Mesmo sendo advogado, psicólogo, assistente social, ou profis~10nal da área em q_ue alteração natural da qualidade das relações interpessoais. O mediador estimuJa a
0
conflito ocorreu, na qualidade de mediador lhe é vedado _o r~mar sobre questoes participação ativa das partes, reconstruindo interprcraçóes que contemplem seus
de seu conheci men ta profissional específico diverso da mediaçao.. valores, pontos de vista e condutas. Neste contexto, a composição passa a ser apenas
E boa parte das previsões acima encontra-se no ~ódigo de~oca proposto P~º uma possibilidade, e não o objetivo principal do processo, verificado o modelo no
e · a_ Conselho Nacionttl das fnstitu.ições ele Mediação eArbztmgem, em sal urar mínimo com proveitosa finalidade pedagógica. 33
in~;:;iva, embora sem caráter normativo, de criar parâmetros de conduta a serem
29
observados pelos mediadores. 30. Proposta de carga horária apresenrada por Lia Regina Castaldi Sampaio e Adolfo Braga Nero,
"com base na experiência prática a<ly_uírida em mais de onze anos de atividade na capacitação
3.3. TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO de me<liadores no Brasil, na Argentina, em Portugal, cm Angola, na Alemanha e cm Cabo
Verde", recomendando tambi:m durante o estágio supervisionado, a elaboração de "relatórios
A mediação não deve ser feica sem a capacitaç~o do faci lirndor. Por m~s que
específicos para uma rdkxão acerca do que foi objcro de análise e estudo na reunião de me-
.dadc e talento como negociador ou gestor de conflitos, a
uma pessoa cerrh a habill
. 'A • d' d • , diação e o esrahelecimcnto de estratégias para as reuniões futuras". (BRAGA NETO, Adolfo;
mediação exige esrudoespecífico, técnicas, expenenc1~, econ~:ªº~e ap 1e~1 12~ o P_a ra SAMPAIO, Lia Regina Castaldi. Op. cit., p. 91-92).
aprimoramento do conhecimento. Repica-se, a capacitação e mdispensavel a coo era 3 t. Cf. Capitulo 2, item 2.4, acima.
utilização deste valioso inscmmen to. , 32. Cf. a respeito FISHER, Roger; URY, Wíllian; PATTON, Bruce. Como chegar ao sim? Ricardo
De sua parte, a Lei 13.140/2015 reforça esta ideia; assim: "Art. 9°. Podera fun- Vasques Vieira (trad.). Rio de Janeiro: Solomon Editores, 2014, responsáveis pelo desenvolvi-
mento deste modelo.
cionar como mediador extrajudicial q ualquer pessoa capaz que tenha a confiança das
33. Veja o y_ue Rafael Mendonça diz a respeito: "Nesse caminho, de administração do conflito, a
mediação apresenta um escopo psicopedagógico (ou educacional, pois pedagógico remete
29. A íntegra do Código de l:tica sugerido pode .~er consulcada no Jite: [www.conima.org.br] . à inf.tncia), pois, leva o ser humano a aprender a ser pane da humanidade, ou seja, aprender a
Acesso em: 14.07.2015. lidar diretamente consigo e com o outro. A complexidade humana não poderia ser compre-
100 1 CURSO DE ARBITRAGEM MED!AC,:ÁO 1 101

Modelo circular-narrativo: a comunicação, neste modelo, é o elemento funda- Por fim, segue uma síntese da atuação do mediador no processo de mediação:
mental. Provoca-se nas partes a análise do conflito, identificando as diferentes versões (a) contato com os interessados, explicando o instituto, suas vantagens e desvan-
para o mesmo aspecto, daí a ideia de circular, no sentido de gravitar em torno de um tagens; (b) identificação das questões, baseando-se na técnica do loopíng, ou seja,
ponto, porém com olhares distintos. Cada narração provoca reações e reflexões na outra questões circulares reflexivas; (c) reflexão sobre o exposto entre as partes; (d) identi-
parte, cujo objetivo é transformar a história conflitiva em uma história colaborativa. ficação e sugestão, sem vinculação, pelas partes de possíveis soluções para o conflito
Na medida em que se valoriza a comunicação, pode-se construir uma versão comum (brainstorming); e (e) lavratura do termo final.
34
para se conferir maiores resultados no processo de mediação.
3.4. A LATITUDE (DIMENSÃO) DA MEDIAÇÃO
Bem esclarecendo o exercício desta técnica,Juliana Demarch i escreve: "Para além
das perguntas abertas, e a fim de aproximar as partes e conduzi-las a um ambiente Lembrando que o proveito da mediação projeta-se muito além da solução de um
cooperativo, devem ser formuladas perguntas circulares e reflexivas. As perguntas litígio paraencerraruma demanda (judicial ou arbitral), o instituto cem aplicação para
circulares, dirigidas a uma das partes, na verdade envolvem a ambas e fazem com que tratamento de diversos conflitos, mesmo que deles não decorra, por questões variadas,
um dos participantes fale de si enquanto pensa estar se referindo ao outro. Convém um processo (judicial ou arbitral). Em outras palavras, aproveita-seda mediação para
exemplificar: 'O que o senhor pensa que seu sócio fez e nunca lhe contou?', 'O que a pacificação de conflitos mesmo que eles não tenham a perspectiva de chegar às portas
senhora pensa que seu marido esperava do casamento e nunca lhe disse?' Estas per- do Judiciário, corno, por exemplo, quando se fala em justiça restaurativa, ou mesmo
guntas, na verdade, fazem com que as partes revelem suas fantasias, suas ilusões, o que mediação escolar.
imaginaram ser o pensamento ou anseio da outra, e acabam por facilitar o diálogo Tema amplo, que foge aos contidos limites deste" Curso': apenasse apresenta para
na medida em que são afastadas estas interferências, concentrando-se as partes no instigar no estudante questões variadas em que a mediação pode e deve ser utilizada:
conAito real, e não no que elas imaginavam que fosse. As perguntas reflexivas, por sua
• Mediação familiar: sem dúvida, para estes litígios, a melhor indicação é a
vez, estimulam as panes a se colocarem no lugar da outra, avaliando melhor as cir-
mediação, pois na maioria dos casos falta a escuta, a comunicação, e sentimentos
cunstâncias e condições que as levaram a agir da forma como agiram: 'O que o senhor
negativos (como rancor, mágoa e frustrações), podem comprometer o diálogo. 16
faria se estivesse no lugar de seu sócio?', 'Que reação o senhor teria se sua mulher o
Ainda, além da enorme carga de subjetividade na relação pretérita, mesmo com o
tratasse dessa maneira?', 'Se o senhor estivesse no lugar de seu vizinho, como agiria?'" 35
rompimento do vínculo jurídico entre as partes, quando o debate envolve filhos co-
muns, a relaça.o deverá ser continuada, a exigir um restabelecimento do equilíbrio e
endi<la dissociada dos elementos que a constituem: 'todo desenvolvimenro vcrdadeiramemc respeito às posições. Nestas situações, inclusive, recomenda-se a comediação, 37 e/ou
humano, significa o <lescnvolvimento do conjunto das autonomias individuais, da.~ participações
comunidrias e do sentimento de pertencer à espécie humana' (MORIN, Edgar. Os sete saberes
necessdrios à educaçlio do fi,tum. p. 55). Da{, a mediação, em cerco sentido, é o pr6prio trabalho ('O senhor foi à reunião da úlcima semana?'), o u tLin.da, para dar significado a expressões vagas
de aprendizagem <la administração (reconscrutíva) dos desejos. 'O trabalho simbólico sobre .i utilizadas pelas partes ('O que significa <.:omporram<:mo ruim para o senhor?') (GRJNOVER,
administração (reconstrutiva) de nossos conAitos é, em si mesmo, transformador' (WARAT, Luís Ada Pcllegríni et ai. Mediaçiio I' gamcimncnto do pmceíso: revoluçtio na pn-sraçíio jmistlícíoual.
Alberto. Ecologia, psicanálise e mediação. ln: _ _ _ (org). Em nome do flC01-do: a mct!ilfçiio 110 Gt1ifl prriti,·o para ,t imt11h1çíio do setol' de co11cilit1çíio e Mi-dí11çiio. São Paulo: Adas, 2008. p. 60.)
direito. p..'36.)". MENDONÇA, Rafael. (Tmm)Modemidfldi> e Medittçlio de Conflitm: pensando 36. Nas precisas palavras de Eduardo Oliveira Leite: "Os vínculos afetivos - para cicar o mais
pamdigmm, dwm:, 1: seus ú1ços com um método de resoíuçíio de conflitos. Florianópolis: Habitus, vi.~ívcl nos litígios familiares - são muito fortes e tendem a direcionar a disputa a posturas
2006. Cf. ainda seus principai.~ ideali'ladores: BUSH, Robert A. Baruch; FOLGER, Joseph P. radicais, conduzindo as partes a agirem sem o equilíbrio suficiente, de modo a construir uma
'f.'he promise of medimion: the tra11sfor111r1tive app,·oach to ,miflict. Ed. rev. São Francisco, CA, solução duradoura para o futuro e não tendente a .~oluções momentâneas ou passageiras. O
EU/\: Jossey-Bass, 2005. p<>s-ruptura é longo e sempre de difícil elaboração'' (p. 117); e ainda: "A mediação familiar,
34. Cf. a respeito COOB, Sara. Una perspectiva narrativa cn medíacíón. ln: Nuev,1s tlireccio,m conforme j,í exuberancemenre comprovado pela experiência mundial mais moderna, contribuí
em medi11cirín. fOLGER, Joseph e JONF.S, Tricia S. (coord). Paidós. Mediación n. 7. Buenos para melhorar e agilizar a jusriça familiar, possibilitando uma maior celeridade, efidcia das
Aires, 1997. decisões judiciais e sua permanência pós-ruptura'' (p. l 40) (LEfTE, Eduardo Vieira er ai. A
35. Ainda, esclarece a autora: "As perguntas iniciais devem ser formuladas de forma 11herta, ou seja, mediação nos processos de família ou um meio de reduzir o litígio cm favor do consenso. ln:
solicicando-se às partes que falem sobre determinado tema ('Como é seu filho'. 'Como funciona LEITE, E. Gnmdes temm d,, r1t11a!ithule: m·hitmgem, mediaçilo e coucííitrção. Rio de Janeiro:
sua empresa?', 'fale sobre o senhor, como é o seu dia a dia?'). Oesse modo, as partes possibilitam Forense, 2007. p. 105).
ao mediador, e a elas próprias, tuna maior percepção <la relação discutida." (...) "Pergunc:isJixhr,dtts, .'37. Fala-se em comediação quando mais de um mediador atua no processo. A vantagem, fora a
por fim, devem ser ucili1..adas para esclarecer questões pontuais, pois ensejam respostas breves proveitosa interdisciplinaridade, é que o comediador tem a missão de não deixar o processo
102 1 CURSO DF. ARBITRAGEM MEDIAÇÃO 1 103

equipe multidisciplinar com o objetivo de atender as diversas questões satélites do Em algumas situações, cão profícuo é o resultado da mediação quanto ao restabe-
conflito. Nesta mediação, busca-se com maior atenção romper com a ideia de culpa, lecimento da comunicação, que a convivência das partes passa a ser sadia o suficiente
com a análise do certo e errado, procurando programar novo padrão de conduta, para dispensar a intervenção jurisdicional, ou até restabelece a relação afetiva.
com a consciemização das responsabilidades de cada um, não só pelo passado, mas • Mediação empresarial ou corporativa: bem próximo às questões de família,
principalmente pelo fucuro. 11l cambém aqui o histórico de inter-relação entre os envolvidos justifica a mediação,
Veja-se situação em que bem se destaca a utilidade da mediação em confronto que, igualmente, pode projetar um restabelecimento de convivência harmônica para o
com o mero acordo quanto ao litígio aparente e superficial. Na composição em uma futuro. Atualmente, existem instituições especializadas na mediação empresarial, para,
ação de investigação de paternidade, não se quer apenas a submissão do investigado com es~e instrumento, preservar a relação entre os sócios, antes mesmo de se deflagrar
ao exame de DNA, com o reconhecimento do vínculo se positivo o resultado (lidgio o conflito, mas quando já surgiram alguns sinais de divergência. Neste contexto, a
aparente, objetivo e pontual). Em todo o contexto quer-se mais: o estabelecimento, mediação tem a importante função de prevenir litígios, e não de solucioná-los. Agora,
dentro do possível, de uma relação paterno-filial completa, ou seja, no aspecto afetivo i~staurada a controvérsia entre sócios, ou entre grupos empresariais coligados, a me-
e de responsabilidades recíprocas; é preciso que as partes compreendam e se cons- d1açãoencontraespaço para a pacificação do conflito e, especialmente, para encontrar
cientizem da nova realidade, com a extensa e complexa relação jurídica que se cria. soluções com benefícios recíprocos, desviando-se das soluções adjudicadas que, pela
Para sugestionar o réu à realização espontânea à prova pericial, basca a conciliação. demora, custo e circunstâncias podem comprometer definitivamente o negócio.
Agora, para projetar uma relação saudável entre as partes, recomenda-se a mediação E este tema - mediação empresarial, ganhou expressiva repercussão após o lan-
caso os envolvidos não tenham esta consciência no momento da instauração do çamento do chamado Pacto de Mediação, acima referido, pelo compromisso dos
desentendimento, ou estejam bloqueados emocionalmente pelo nocivo impacto signatár~os em prestigiar e estimular utilização dos instrumentos amistosos de gestão
do conflito. de conflitos, adotando postura colaborativa e integrativa na busca de superação das
diferenças.
fragmentado e unidimensional, ampliando a visfo das partes. Recomenda-se que o comedia- • Justiça restaurativa: em alguns casos, consideradas diversas circunstâncias,
dor renha c.~pecialídade diference daquela do mediador. A desvantagem é o aumento do custo diante de atos infracionais praticados por adolescentes, sugere-se a aproximação entre
e um possível confüro de ego entre os mediadores se não competentes. A Lei de Mediação a vítima, o ofensor e, se pertinente, com outras pessoas, como familiares, membros
Familiar da Comunidade Autônoma de Castilla y Leon disciplina a comediaç5.o, deixando-a da comunidade envolvida na situação etc., acompanhada por um facilitador, para
obrigatória no caso de menores, inclusive determina a participação de psiquiatra, psicólogo ou
assistente social como comediador, se o mediador não tiver esta formação. Vale, ainda, citar rodos participarem na solução das questões envolvendo a conduta, inclusive quanto à
Humberw Dalla (op. cíc.), sobre o conceito de comediação: "Entende-se por comediação aplicação de medidas socioeducativas e reinserção social.39 Esta experiência contribui,
o fato de o processo de mediação vir a ser condu:údo por ao menos dois mediadores, cujas inclusive, segundo se constata, para a redução da reincidência:'º
formações profissionais sejam distintas. Por seu turno, saliente-se que a expressão 'formação
profissional' aqui adotada é ampla, a fim de abranger não só aqueles indivíduos que, de fato,
possuam formação distinta, como também aqueles indivíduos que, muito embora provenham 39. Cf. a respeiro: MELO, Eduardo Re:tende. A experiência em justiça rcscauratíva no Brasil: um
da mc::sma área do saber humano. tenham especiali<lades diversas. Ex: neurologista e psiquiatra. novo paradigma que avança na infância e na juvenrude. Revist11 d0Ad11ogt1do, n. 87, p. 125-128,
Esse concdco, a t1osso juízo, acende à 11ttio eHendi do instituto da comediação, que é permitir ano XXVI, São Pa.ulo: MSP, ser. 2006. Cf., ainda: MELO, Eduardo Rezende. et ai Justiça
uma visão mais abrangente e não fragmentária do conAito que se está a mediar. resraurariva e seus desafios histórico-culturais: Um ensaio crítico sobre os fundamentos ético-
38. Neste sentido, coloca Fabíola Luciana Tei.xeirn Orlando Soma, em arcigo q ue bem apres,.mca a -filosóficos da justiça restauraciva em contraposição à justiça retributiva. ln: SLAKMON, C.;
relcvll.ncia de m11 procedimento interdisciplinar n::is qucsróes de familia: "Arravés da mediação, De Vitto, R.; PINTO, R. Gomes. Justiça mt11urativa. Brasília: Ministério daJusriça e Programa
vê-se uma posrura de responsabilidade pelo projero d~ focuro qu..: vai nortear a vicia dttquclos das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2005. p. 53-78.
pc.:ssoas vinculadas por relações de afero e: familiares. (...) A ucili1.(lçâ() desce paradigma, cspe- 40. Cf. também estudos sohre a mediação penal para crimes de menor gravidade, como furto,
cialmenrc, no direiro de família, provoca o formlecimt:nco e um:i mai,or possibilidade das parccs estelionato, apropriação indébita e crimes de trânsiro cujo objetivo é restaurar as relações enrre
rransformarem positivamente as siru,;1ç.ões de crise, medi:Jnte a priorização de uma filosofia as pessoas, e das pessoas com as instituições e com a comunidade: SICA. Leonardo. J11stiç,1
inreromunicaciva que preconiz,t a coparricipação responsável. Assim, os envolvidos se rornam mtaurativa e mediação pelllil - O 110110 modelo de justiça criminttl e de gestiio do Crime. Rio de
protagonisms elas decisões :issum idas, adquirindo habilidades para gerir suas próprias difei:enças" Janeiro: Lumen Juris, 2007. E noticiando experiência enrre nós, cf. lssler, Daniel e PENIDO,
(SOUZA, Fabíola Luciana Tcixc:ir:i O rlando. Mediação inrcrdiscipli nar: diteiro de fu.mília e Egberto de Almeida, A Justiça restaurativa nas Comarcas de São Paulo e Guarulho.s, /11: BRAGA
psican.ilise. ln: GUERRA, Luh. (coord.). Temas contemparàm:os do direito - Homet111gcm 110 NETO, Adolfo; SALES, Li lia Maia de Morais (organizadores). Aspectos 11t11t1is wbre a mediação
biccnterufrio do Suprem() Triburutl frdcml. Brasília: Guerra Ed.., 201 J. p. 163-170)·. e outros métodos t·xtrtr e judícittis de moluçíío de conflitos. São Paulo: Edirora GZ, 2012. p. 229.
104 CURSO DE ARBITRAGEM MEDIAÇÃO 1 1 05

Ainda sobre o tema, em excelente trabalho a respeito, Ulf Christian Eiras Por outro lado, também com a mediação pretende-se melhorar a qualidade da
Nordenstahl traz estatísticas de resultados verificados na Argentina, modelos e convivência entre todos os envolvidos neste contexto: alunos, pais, professores, gestores
procedimentos, al ém de profundo esrud.o sobre a ma téria, destacand o a mediação e funcionários. Sendo a escola um espaço de diferenças, com potenciais conflitos em
penal e conflitos co munitários, casos de família e " la mediación penal juve nil", diversos setores, a integração e o comprometimento com o projeto educacional são
escrevendo sobre esta: "No existe ninguna duda de q ue la mediació n , en u n m arco de extrema importância.
de justicia resraurativa, resulta una posibilidad más que intcresantc, por no decir • Mediação na Administração P1iblíca e mediação co!etivaH: como visto no Ca-
imprescindíble, a rener en cuenra ai momen to de construir un sistem a de adminis- pítulo anterior (Capítulo 2, irem 2.3, acima), a Lei 13.140/2015, a par da prática já
cració n de justicia para los jóvenes e adolescentes a quienes se les atribuya la comisión existente, e em pleno funcionamento a CCA F-Câmara de Conciliação e Arbitragem
de actos que encuadrcn en infraccioncs a la no rma penal. Es q ue teniendo en cuen ta daAdmíniscraçãoFederal,crianormasespedficasparaaautocomposiçãodeconfliros
la finalidad socioeducativa de la pena (una de las características fundamentales cm que for parte pessoa jurídica de direito público (arts. 32a40, e43a 45), inclusive
del sistema penal juvenil), los llamados Métodos Alternativos de Rcsolución de com interessante norma destinada a mediação coletiva; assim: ''Parágrafo único. A
ConAitos (RAC) aportan precisamente las hcrramientas apropiadas para que esa Advocacia Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Município.~,
función se desarrolle con mayor plenimd, propcndiendo así a una solución que onde houver, poderá instaurar, de ofício ou mediante provocação, procedimento de
facilite la auto-composición de las partes, la responsabilización del joven por sus mediação coletiva de conAitos relacionados à prestação de serviços públicos" (art. 33,
actos, la revinculación social y la reparación <lei dafi.o, a la vez que permita evitar la parágrafo único).-H Desta forma, não se poderia de aqui também se referir a esta
dimensão, embora, tecnicamente se possa mais aproximá-la à conciliação do que à
estigmarización u la revictimización" .~ 1
mediação propriamente dita.
E valorizando a iniciativa, o Conselho Nacional de Justiça editou a Resolução
225 de 31.05.2016,sobre a "Política Nacional de Justiça Restauraciva", identificando Por fim, como já vem sendo mais incensamente debatido, pode-se falar também
cm mediação trttbalhista, ·15 mediação ambiental, te, mediação comunitdria, -1 7 mediação
o mérodo, criando parâmetros para sua implantação e recomendando a sua prática.
• Mediação escolar: o objetivo aqui é de preservar a integridade fisica, moral e
43. A rcspcico confüa-sc Enunciado 40 da I Jornada referida acima; :mim: "40 Nas mediações de
psicológica dos alunos, diante de conAitos corriqueiros, porém por vezes complexos
conflíms coletivos envolvendo polícicas públicas, judicializado.~ ou não, deverá ser permitida
e extremamente nocivos, que rotineiramente ocorrem em escolas. Ainda, a mediação a participação de todos os potencialmente interessados, dentre eles: (í) entes públicos (Poder
pode detectar graves problemas entre os escudantes, envolvendo o uso de drogas, Executivo ou Legislativo) com competências relativas il matéria envolvida no conflito; (íí)
2
bullying, assédio, abuso sexual (inclusive domésticos ou envolvendo terceiros).~ c.::ntes priva<los e grupos sociais diretamente afetados; (iii)Minísrúio Público; (iv) Defensoria
Aliás, na semana em que escrevemos estas linhas, soube-se de exemplar resultado da Pública, quando houver interesse de vulncdveis; e (v) entidades do terceiro seror reprcsencativas
que acuem na macéria afeta ao conflito". Cf. em ''Anexo 7" o texto integral dos enunciados
mediação escolar em Franca, interior de São Paulo, em que se evitam, em média, dois
aprovados.
casos por semana de envolvimento de jovens com drogas. 44. Cf. Capítulo 2, item 2.3 no qual se faz referência a enunciados da l Jornada Prevenção e Solução
Extrajudicial de Licígios, relativos a solução consensual de conflitos peranre a Administração
41. NORDENSTAHL, UlfChristi:m Eiras. Mediació11 penal- De la prdctica 11 /11 teorí11. 2. ed. Pública para estímulo desca prática.
Buenos Aires: Librerí::t Histórica, 201 O (Colección Visión Compartida). p. 139. Também 45. Inclusive, referida na Lei 13. 140/ 1915. Porém, para rccomc.::n<lar norma específica; assim: ''A
merece recomendação o primoroso estudo a respeito desenvolvido por Carlos Eduardo mediação nas relações <le trabalho ser.\ regulada por lei própria" (arr. 42, par,ígrafo único).
de Vasconcelos (Mediação d,· Co11j{itos e Prdtic11s Restaurativas. 5. ed. São Paulo: Mécodo, 4<-í. Cf. a respeico, enunciado 33 da I Jornada referida; assim: "É rccomend:ível a criação de d.-
2016). mara de mediação a fim de possibilitar a abertura do di:ílogo, íncentivan<lo e promoven<lo,
42. A respcico confira-se enunciado da I Jornada Prevenção e Solução Extrajudicial de Litígios; nos termos da lei, a regulari1~1ção das acividadcs sujeitas ao licenciamento ambiental que estão
assim: "52. O Poder Público e a sociedade cívil incentivarão a facilitação <lc diálogo dentro funcionando de Forma irregular, ou seja, incentivar e promover o chamado 'licenciamento de
do âmbito escolar, por meio de políticas públicas ou parcerias pt'1blico-privadas que fomen- tegularÍ:l.ação' ou 'licenciamento corretivo"'; e em "Anex.o To texto integral dos enunciados
tem o diálogo sobre quc::stõcs recorrentes, raís como: bullying, agressividade, mensalidade aprovados.
escolar e até atos infracionais. Tal incentivo pode ser feito por oferecimento da prálica de 47. Cf. enunciados da I Jornada referida; assim: ''57. As comunidades têm :mconomia para esco-
círculos rcstautativos ou outrn pníáca restaurativa similar, como p reve nção e solução dos lher o modelo próprio de mediação comunic:íria, não devendo se submeter a padronizações
conAítos escolares.'', promovida entre 22 e 23 de agosto de 2016 pelo Centro de Escudos ou modelos únicos''; e ''8<-i.O Poder Púhlico promoverá a capaciraçfo massiva cm técnicas de
Judici;írio do Conselho da Justiça federal. C( em ''Anexo 7'' o rex.to integral dos enunciados gestão de conflitos comunitários para policiais milicarcs e guardas municipais.''; e cm "Anexo
aprovados. 7" o rexro integral dos enunciados aprovados.
106 1 CURSO DE ARBITRAGF.M MEDIAÇÃO 1 107

na recuperação judicial extrajudicial falência e superendividamento 48 e mediação no are. 5.0 ) e impõe-se ao escolhido o dever de revelação (parágrafo único), tal qual se
terceiro setor. 49 exige do árbitro na arbitragem (LArb., are. 14, § 1.0 ) autorizando, a partir de então,
a recusa por qualquer das partes.
3.5. A LEI 13.140, DE 26 DE JUNHO DE 2015 - SUAS PARTICULARIDADES~º Por seu turno, e também aplicável à mediação extrajudicial, há expressa previ-
são impedindo o mediador de atuar como árbitro, ou depor como testemunha (Lei
A Lei 13.140/2015 dedica o seu Capítulo l à Mediação, o Capítulo II à com-
12.140/2015, arr. 7.0 ) , com restrição por um ano, a partir da última reunião, de
posição de conflitos cm que for pane pessoa jurídica de direito público, e o Capítulo
assessorar, representar ou patrocinar qualquer das panes (art. 6.0 ). Repita-se, quanto
lll para disposições finais. Divide o primeiro Capítulo em disposições gerais (seção
I), disposições sobre os mediadores (seção II), procedimento de mediação (seção lll) a esta última questão, nossa posição antes referida no sentido de que, para o litígio
por ele administrado, haverá impedimento definitivo, valendo a regra para outras
e, por último, sobre confidencialidade e suas exceções (seção IV).
questões envolvendo as partes (Cf. Capítulo 2, item 2.6.2, acima).
Tanto na parte destinada aos mediadores, como na voltada ao procedimento,
traz algumas disposições comuns, e outras direcionadas, separadamente, à mediação E com impacto relevante, anote-se a equiparação do mediador, para efeitos da
extrajudicial e judicial. Ainda, nas disposições finais, voltam as considerações sobre legislação penal, a servidor publico quando no exercício de suas funções ou em razão
mediação. delas (art. 8.0 ).
Quanto às disposições gerais, a inovação foi a identificação (positivada) do que Por fim, exclusivamente aos mediadores extrajudiciais, temos a seguinte regra:
podeserobjeto da mediação: direitos disponíveis ou indisponíveis que admitam tran- qualquer pessoa, independentemente de sua formação de origem, e de participação
sação; e, ampliando o conteúdo da composição, confere a possibilidade de consenso em alguma entidade de classe, conselho ou associação, pode ser mediador, 51 desde que
envolvendo direitos indisponíveis, mas transigíveis, condicionado à homologação em renha a confiança das partes, determinando a Lei, ainda, a sua capacitação (arr. 9. 0 ),
juízo, com participação do Ministério Público. Nada de novo em relação à prática, mas sem que se imponha padrão para canto (horas mínimas etc., como se faz na
apenas posítivação do quanto já se faz. mediação judicial para a qual, inclusive, se exige graduação há mais de dois anos em
Quanto aos demais aspectos, cm especial no que se refere à figura dos mediadores ensino superior, como visto).
e ao procedimento da mediação, efetivamente há novidades; vejamos:
3.5.2. Do procedimento de mediação privada
3. 5. 1. Dos mediadores
Só a previsão destas regras, sem dúvida, representa uma das mais expressivas
A lei trata de qualidades e da atuação deste profissional. inovações introduzidas pela Lei 13.140/2015.
Por primeiro, temos regras comuns à mediação judicial e extrajudicial: E deixe-se de início anotado que não se quer, com esta novidade, dizer que
Especificamente para preservar a imparcialidade e a independência, aplicam-se estará engessado o instituto (ou processualizada a matéria), pela definição de pro-
ao mediador as mesmas causas de impedimento e suspeição do juiz (Lei 13.140/2015, cedimento, quando, como se sabe, a atuação do profissional, ou das entidades com
oferta de mediação, são marcadas em roda a sua história, exatameme pela liberdade
no procedimento.
48. Cf. a respeico, enunciado 45 da I Jo rnad:.i referida; assim: ''A mediação e conciliação são com·
parJvcis com a recuperação judicial, a cxcrnjuclicial e a falência do empr<:s,\rio e d:1 sociedade Fique claro, então, o registro de que, em relação ao procedimento propriamente
empresári:1, bem como em casos de supcrcndiviclamcnro, obscrvad::is as re~rriçõcs legais"; e em dito, as previsões devem ser entendidas mais como regras de orientação, com caráter
"Anexo 7" o texto integral dos enunciados aprovados. sugestivo, e para facilitar a fruição dos acontecimentos, do que impositivas a forma-
49. E a respeito, já nos davam notícia BRAGA NETO, Adolfo; SAMPAIO, Lia Regina Castaldi. lidades preestabelecidas.
Op. cir., p. 95. Em recente estudo, aliás, ressalta o Autor que a medir1ç1l11 crnnuniuirin "con-
cribui para a criação de espaços de diálogo em que as pessoas aprescnr:im suas diferenças e Neste particular, a análise sistemática do Código de Processo Civil com a Lei
redesenham de maneira participativa, dinâmica e pacífica seus respectivos papéis na sociedade. 13.140/20 l 5 permite, em nosso entender, esta conclusão, pois "§ 4. 0 A mediação
Permite também estabelecer canais fucílíta<lores da articulação política, institucional e social" e a conciliação serão regidas conforme a livre autonomia dos interessados, inclu-
(BRAGA NETO, Adolfo. A mediação de conflicos no contexcu comunitário. ln: BRAGA
NETO, Adolfo; SALES, Lilía Maia de Morais (org.). Aspectos at1111ís sobre 1t medí11çiío e outros
métodos extrtt ejudiciais de resolução de l'onjiitos cic., p. 24). 51. Em confirmação a esta orientação, veio o Enunciado 83 da 1Jornada referida, transcrito no
50. Cf. cm "Anexo 3", o texto integral da Lei 13.140/2015. "Anexo 7".
,.,
108 1 CUH,SO OF. ARBITRACEM
MEDIAÇÃO 1 109

sive no que diz respeito à definição das regras procedimentais" (arr. 166, § 4.°, do 3.5.3. O início da mediação privada
CPC/20 15), sendo que "as disposições desta Seção não excluem outras formas de
conciliação e mediação extrajudiciais vinculadas a órgãos institucionais ou realizadas A mc~iação pode ter origem em contrato ou em iniciativa direta de qualquer
por intermédio de profissionais independentes, que poderão ser regulamentadas por elas partes, independentemente de prévia composição a respeito.
lei específica" (are. 175, do CPC/2015), sendo esta Lei 13.140/2015 específica, pelo Prevista em contrato, há proposta do seguinte conteúdo para a cláusula de
que "os dispositivos desta Seção aplicam-se, no que couber, às câmaras privadas de mediação:
conciliação e mediação" (art. 175, parágrafo t.'tnico, do CPC/2015). "Are. 22. A previsão contratual de mediação deverá comer, no mínimo:
E, assim, com ponderação entre as normas, bom-senso, e atenta à realidade I - prazo ~fnimo e máximo para a realização da primeira reunião de mediação,
de um instituto que há anos cresce com liberdade, de um modo geral (salvo pre- contado a partJr da data de recebimento do convite;
visões específicas, como a relativa à prescrição adiante indicada, dentre outras), a II - local da primeira reunião de mediação;
mediação privada deverá se desenvolver com parâmetros no quanto previsto na
IH - critérios de escolha do mediador ou equipe de mediação;
Lei em exame, mas sem que detalhes procedimentais venham a contaminar a sua
eficácia e eficiência. -~V - penal'.dade cm caso de não comparecimento da parte convidada à primeira
reurnao de mediação.
Inclusive, em nosso sentir, a previsão legal de que "nos litígios decorrentes de
contratos comerciais ou societários que náo contenham cláusula de mediação, o me- § l º· A previsão contratual pode substituir a especificação <los itens acima enu-
diador extrajudicial somente cobrará por seus serviços caso as partes decidam assinar merados pela ind icação de regulamento, publicado por instituição idônea prestadora
o termo inicial de mediação e permanecer, volunrariamence, no procedimento de de serviços de mediação, no qual constem critérios claros para a escolha do.mediador
mediação'' (Lei 13. 140/2015, arr. 22, § 3.0 ) foi além do quanto lhe competia. O ra,se e realização da primeira reunião de mediação,( ... )".
alguém pretende investir na tentativa de mediação sem convenção prévia com a outra _Mas na Rexibilidade antes referida, para omissão da cláusula a respeito do quanto
parte, poderá sim fazê-lo, assumindo os custos daí decorrentes, tratados diretamente prev1sro no are. 22 e seu§ 1.0 , o§ 2. 0 , na sequência, oferece a solução:
com o profissional. A este, por certo, não se pode impor trabalhar graciosamente. O "§ 2°. Não havendo previsão contratual completa, deverão ser observados os
máximo que se pode vislumbrar, evidenremen te, é afastar q ualq ucr responsab i[idade seguinces critérios para a realização da primeira reunião de mediação:
ao convidado (outra parte) pelos custos, mas àquele q ue teve a iniciativa, cabe, sim,
o pagamento dos honorários acercados. I - prazo mínimo de dez dias úteis e prazo máximo de três meses, contados a
partir do recebimento do convire;
Pensar de forma diversa afasta o profissional da contratação de risco na situação
prevista, em desfavor da mediação sem convenção, quando a experiência sinaliza II-local adequado a uma reunião que possa envolver informações confidenciais;
que esta é uma iniciativa com bons resultados. E assim, para se preservar esta boa . IH - lista de ~inco nomes, informações de contato e referências profissionais de
prática, o custo deve ser honrado pda parte interessada na instauração da mediação, mediado~es capac1~ados; a pa rte convidada poderá escolher, expressamente, qualquer
com o risco daí decorrente (com as devidas cautelas na contratação para pagamentos um dos cmco mediadores e, caso a parte convidada não se manifeste, considerar-se-á
por etapas) . aceito o primeiro nome da lista;
Ainda, deslocada a previsão de gratuidade da mediação aos necessitados, contida IV-o não comparecimento da parte convidada à primeira reunião de mediação
no§ 2.0 do are. 4.0 , da Lei J3.140/2015 em seção destinada a "disposições comuns" . acarretará a assunção por parte desta de cinquenta por cento das custas e honorários
Entenda-se esta norma como garantia de mediação judicird gratuita, não mediação su~umbenciais caso venha a ser vencedora em procedimento arbitral ou judicial pos-
prívadrt, pois às panes, de acordo com a Lei, caberão os custos da mediação, conforme tcnor, que envolva o escopo da mediação para a qual foi convidada{, ,.). "
o arr. 13, no qual se ressalva expressamente o disposto neste§ 2. 0 em questão. Inclu- Veja-se com atenção que, para valorizar a cláusula de mediação, e como antes
sive, na mediação judicial promovida por câmaras privadas, existirão cocas gratuitas falamos no sentido de se ter o exercício da vontade com responsabilidade, em ambas
para esta situação (art. 169, § 2. 0 , do CPC/2015). as situações (previsão ou omissão na convenção) há sanção pelo não comparecimento
O u seja, em hipótese alguma, em uma e outra situação acima tratada, pode-se da parte convidada à primeira reunião.
impor ao profissional deito para atuar em mediação privada, o trabalho sem a justa _ Observe-se a ~o~d,~ração entre "ninguém será obrigado a permanecer cm pro-
remuneração. cedimento de med1açao (are. 2. 0 , § 2. 0 ), com as consequências acima apresentadas,
,...
11 Ü I CURSO DE ARBITRAGEM MEDIAÇÃO 1 111

"na hipótese de existir previsão contratual de cláusula de mediação, as partes deverão A seu turno, prevendo a cláusula, ou regulamento de entidade eleita pela partes,
comparecer à primeira reunião de mediação" (art. 2.0 , § 1. 0 ). prazos e detalhes diversos do acima indicado, estes é que deverão prevalecer, sendo
Ainda, reforçando a responsabilidade das partes ao firmarem cláusula de media- assim, a previsão do artigo cm exame é supletiva à eventual convenção.
ção (ou mesmo cláusula escalonada),51 estabelece a lei que: "Are. 23. Se, em previsão Outra questao importante refere-se à escolha do mediador. Se previstos na
contratual de cláusula de mediação, as partes se comprometerem a não iniciar pro- convenção ou no regulamento os respectivos critérios, estes naturalmente deverão
cedimento arbitral ou processo judicial durante certo prazo ou até o implemento de ser observados. Mas omissa a convenção a respeito, ou mesmo se inexistente cláusula
determinada condição, o árbitro ou o juiz suspenderá o curso da arbitragem ou da prévia, algumas observações são pertinentes.
ação pelo prazo previamente acordado ou até o implemento dessa condição. Parágrafo Tratando-se de convenção omissa, a sugestão legal é de indicação de cinco nomes,
único. O disposto no caput não se aplica às medidas de urgência cm que o acesso ao prevalecendo, no silêncio, o primeiro da lista. Embora direcionada à mediação com
Poder Judiciário seja necessário para evitar o perecimento de direito". previsão contratual, esta regra pode ser aplicada à iniciativa apresentada por uma parte
Diante desta regra, a cláusula deixa de ser meramente de cortesia, e passa a ter, à outra na situação de convite direto, sem prC:-via convenção.
em cerca medida, efeito vinculante às partes. Pela lei, há necessidade de se constar na O arr. 22 leva a uma ideia de que a parte estaria vinculada a um dos nomes in-
cláusuJa o óbice à iniciativa da ação por prazo nela estipulado ou sob determinada dicados, acolhendo tacitamente o primeiro da lista diante do silêncio.
condição. Porém, considerando que o mediador deve ser pessoa de confiança da parte, e
Não se chega ao ponto de extinguir a ação, como se faz na arbitragem quando por ela escolhido (are. 4. 0 ) , se inexistente prévia contratação a respeito da definição
existente convenção (are. 485, VII,doCPC/2015)/3 mas jáéumaboasoluçãoimpor do facilitador, o convidado não ficará adscrito à lista oferecida, podendo interagir com
a sua suspensão do processo. a outra pane para buscar otltros nomes, até encontrar uma pessoa em comum. E no
Poderia ter si<lo mais avançada a Lei, estabelecendo a suspensão do processo/ máximo, o que do convidado se pode "exigir" é o comparecimento à primeira reunião,
procedimento independentemente da previsão contratual neste sentido, mas pela mas não aceitação de seus termos, dos nomes ou do primeiro deles, pois, conciliando
só existência da cláusula de mediação (ou escalonada med-arb). Mas mesmo ausente a liberdade de escolha com a autonomia de permanecer ou afastar-se da mediação, a
a determinação de suspensão nestes casos, ao julgador (árbitro ou magistrado), é ele nãos<:: pode impor, contra a sua vontade, o desenvolvimento da mediação.
facultado assim proceder, sendo inclusive, conforme o caso, conveniente que o faça Agora, se previamente convencionados os critérios de escolha do mediador
cm benefício da própria composição, naamplitudedaregracontida no are. 3.0 , § 3.0 , (inclusive por indicação de instituição específica para esta finalidade), daí sim deverá
do CPC/2015.'H ser analisado o quanto previsto a respeito, inclusive diante do óbice à propositura da
Com ou sem convenção: "Arr. 21. O convite para iniciar o procedimento de ação ou início da arbitragem previsto no art. 23 acima transcrito.
mediação extrajudicial poderá ser feito por qualquer meio de comunicação e deverá Por fim, anote-se que a mediação pode ser provocada índcpcndencemcntc da
estipular o escopo proposto para a negociação, a data e o local da primeira reunião. existência de processo judicial ou procedimento arbitral em curso, reclamando,
Parágrafo único. O convite formulado por uma parte à outra considerar-se-á rejeitado evidentemente, a vontade comum das partes a respeito; e nesta hipótese caberá aos
se não for respondido em até trinta dias da data de seu recebimento". interessados requerer ao juiz ou árbitro a suspensão da ação por prazo suficiente para
Veja-se que há flexibilidade legal para, mesmo inexistente prévia convenção a solução consensual do lirígio (arr. 16).
entre as partes a respeito de como instaurar a mediação, ela poderá ser provocada pdo
convite previsto neste are. 21. 3.5.4. O desenvolvimento da mediação privada
Superada a etapa de escolha do mediador, inicia-se o procedimento propria-
52. Cf. Capítulo 3, icem 3.2, adiante. mente dito.
53. Cf. ainda, Capítulo 6, ítcrn 6.5, adíanre. Pelo art. 17, "considera-se insticuídaa mt:diação na data para a qual for marcada
54. E neste sentido, o Enunciado 21 da l Jornada acima referida; assím: "É faculr.ado ao magis- a primeira reunião de mediação". Já na primeira reunia.o, e toda vez que julgar ne·
trado, em colaboração com as partes, suspender o processo judícíal enquanto 1; realizada a
mediação, conforme o are. 313, II, do Cú<ligo de Processo Civil, salvo se houver previsão
contratual de d.íusula de mediação com termo ou condição, situação em que o processo condição, nos termos do are. 23 da Lei n.13.140/2015.''; e cm "Anexo 7" o ccxco integral dos
dcver:í permanecer suspenso pelo prazo previamente acordado ou at~ o implemento d;.1. enunciados aprovados.
112 1 CURSO DEARBJTRAGF.M MWTAÇÃO 1 11 3

cessário, "o mediador deverá alertar as partes acerca das regras de confidencialidade Sob outro aspecto relativo ao procedimento, anote-se a previsão expressa de
aplicáveis ao procedimento" (are. 14). confidencialidade, tratada deralhadamence nos ares. 30 e 31, e comen cada acima
Traz a Lei outros aspectos relativos ao desenvolvimento da mediação: (irem 3.2), e no capítulo anterior (Capítulo 02, itens 2.5.2 e 2.6.2).

Uma vez iniciada a mediação, "as reuniões posteriores com a presença das partes E ao :finalizar as observações neste tópico, para cá se chama a previsão contida
somencepoderãosermarcadascomasuaanuência" (art. 18). E, "no desempenho da sua cm disposições finais, auroexplicativa:
55
função, o mediador poderá reunir-se com as panes, em co njunto ouseparadamente, "Are. 46. A mediação poderá ser feita pela internet ou por outro meio de comu-
bem como solicitar das partes as informações que entender necessárias para facilirar nicação que permita a transação à distância, desde que as partes estejam de acordo.
o entendimento entre aquelas" (are. 19). Parágrafo único. É facultado à parte domiciliada no exterior submeter-se à
No encaminhamento dos trabalhos, "o mediador conduzirá o procedimento de mediação segundo as regras estabelecidas nesta Lei".
comunicação entre as partes, buscando o entendimento e o consenso e facilitando a
resolução do conflito" (art. 4.o, § 1.0 ) . 3.5.5. O encerramento da mediação privada
Ainda, "A requerimento das partes ou do mediador, com anuência daquelas,
Estabelece a Lei que "o procedimento de mediação será encenado com a lavra-
poderão ser admitidos outros mediadores para funcionarem no mesmo procedimento,
cura do seu termo final, quando for celebrado acordo ou quando não se justificarem
quando isso for recomendável em razão da natureza e da complexidade do conflito"
novos esforços para a obtenção de consenso, seja por declaração do mediador nesse
(art. 15).56
senrido ou por manifestação de qualquer das partes" (arr. 20).
Faculta-se às partes serem assistidas por advogados ou defensores públicos; mas
Finalizado por acordo, o termo "constitui título executivo extrajudicial"; mas se
para se manter o equilíbrio e isonomia, comparecendo à reunião uma das partes com
advogado ou defensor, o mediador deverá suspender o procedimento até que todas homologado judicialmente por iniciativa das partes, transforma-se em título executivo
estejam devidamente assistidas (are. 1Oe seu parágrafo único). 57 judicial (parágrafo único do art. 20, e, também, quanto ao efeito da homologação,
are. 515, II e III, do CPC/2015).
Além dos detalhes procedimentais acima, que devem ser sempre flexibilizados, e
representam em boa parte, a prática já desenvolvida na mediação privada nos últimos E sob este aspecto, importante resgatar a previsão contida no§ 2° do are. 3.0 da
tempos, temos uma inovação de extraordinária relevância: a instauração da mediação Lei: "O consenso das partes envolvendo direitos indisponíveis, mas transigíveis, deve
suspende a prescrição. ser homologado em juízo, exigida a oi tiva do Ministério Público".
Neste sentido, estabelece o parágrafo único do arr. 17: "Enquanto transcorrer Vale dizer, na conjugação destas regras, observado o objeto da mediação (are. 3.0 ),
o procedimento de mediação, ficará suspenso o prazo prescricional". Note-se, pela o acordo envolvendo direito indisponível, se não levado à homologação quando tran-
análise sistemática desta regra, que a prescrição estará suspensa desde a primeira sigível, é excluído do rol dos títulos executivos, embora, evidencemence, dele se possa
reunião, tida como o momento da instituição da mediação (are. 17, caput). Sem dú- extrair, para alguma finalidade, a manifestação de consenso em determinado sentido.
vida, um relevante avanço, pois em muitas situações, <::xaramente cm razão do prazo Até a entrada em vigor das Leis de 2015, já se considerava o acordo instrumentali-
prescricional, instaurava-se a ação, provocando-se, em razão do quanto nela contido, zado entre as partes, com a natureza de transação, prevista no art. 840 do CC/2002.59 E
a inflamação do conflito, extremamente nociva à composição.::;8
sendo particular o instrumento, poderia ser considerado título executivo extrajudicial
se pelas particularidades preenchesse os requisitos legais para tanto previstos na época
55. Sendo confidenciais as informações presca<las cm sessão privada, conforme o arr. 31 da Lei; (are. 585, II, do CPC/1973). 6º
assim: "Are. 31. Será confidencial a informação prestada por uma parcc em sess:ío privada, não
po<lendo o mediador revelá-la às demais, exceto se expressamente autorizado''.
56. Cf. o quanco se disse a respeito de come<lia.ção na nota de rodapé 37 ,tâmtt. 59. "Are. 840. É lícico aos interessados prevenirem ou terminarem o licígio mediante concessões
57. Embora csca regra não esteja na seção ''pro<:edimcnm", por falha to.:cnica-legisbtíva, a este esd mútuas."
relacionada, e assim aqui é tratada. 60. "Are. 585. São títulos executivos extrajudiciais: (...) Ir - a escritura pública ou outro docu-
58. Mesmo admitido o protesto judicial ínccrrupcivo da prescrição, na praxe este não é um expe- mcnro público assinado pelo devedor; n documento partic11/a,- rtJsi11(ttln pelo c/ell(!dn,· e pnr dutts
diente comum, sendo mais usual a pro positura da ação quando o pra7.0 se aproxima. E daí os testemunhas; o instrumento de transação referendado pdo Ministério Público, pela Oefonsoría
méritos da previsão. Púhlica ou pelos ad11ogttd1Js dos transatorcs" (grifos nossos).
'f'
114 1 CURSO DE ARBITRAGEM MEDIAÇÃO 1 11 5

O Código de Processo Civil de 2015 é um pouco mais abrangente que a legislação Em qualquer caso, antes ou depois das novas leis, anote-se que a depender de
processual de 1973, pois acrescen ta a força executiva ao inscrumenco de transação seu conteúdo, será necessária escritura pública para formalização da transação, como,
referendado não só pelo Ministério Público, Defensoria Pública, Advocacia Pública ou por exemplo, para transferência de imóveis.
advogados dos transa tores, como também "por conci Iiador ou mediador credenciado Por fim, se por iniciativa das partes a transação for levada à homologação no
por tribunal" (are. 784, IV), além da escritura pública assinada pelo devedor. Nestes judiciário, a respectiva sentença representa título executivo judicial (are. 515, II, do
casos, com a ampliação anotada em relação ao referendo do facilitador cadastrado, CPC/2015).
há dispensa de duas testemunhas. E esta situação tem valia principalmente naqueles
casos de mediação ou conciliação pré-processual, mas no ambiente do Tribunal 3.6. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
Multiportas, previsto na Res.125/CNJ. 61
SALLES, C1rJos Albcrco; WRENCINI, Marco Antonio Lopes; SILVA, Paulo Eduardo Alves da. Nego-
Já a Lei 13. 140/15, com vigência anterior ao Código de Processo Civil esta- CÍflffÍO, Mediação e Arbítmgr.m - C11rso Bdsico p11m program({S de gmduaç:(ío em Direito. São Paulo:
belece, como visco, que "O termo final de mediação, na hipótese de celebração de Ed. Gcn-Mérodo, 2013.
acordo, constitui tírulo ex:ecu rivo extrajudicial"; vale dizer, não há, pelo nela contido, LEVY, Fernanda Rocha Lourcnco. CILíwul.tu esc(tÍow1túrs-A mediar,ío comercialno i-011tt'Xtodalfrbirmgem.
necessidade do credenciamento por tribunal para que o conciliador ou mediador, São Paulo: Saraiva, 2013.
referendando o acordo, lhe emprestem força executiva. BRAGA NETO, Adolfo. Aspecros relevantes sobre mediação de conflitos. Revütrl de Arbitmgem e Me-
diaçiio. n. 15. ano lV. São Paulo, out.-dez. 2007.
Ou seja, em três momentos: ames da entrada em vigor das leis de 2015, o acordo
FISCHER, Roger; PAITON, Bruce; URY, WiHiam. Cumo c-hegn,. ttn sim. Rio de Janeiro: Imago, 1994.
extrajudicial por instrumento particular necessita duas testemunhas ou assinatura
de advogado para ter força executiva (título extrajudicial). Com a Lei de Mediação, GRINOVER, Ada Pclcgrini. Conciliação e mediação judiciais no projeto do novo Código de Processo
Civil.111: GRINOVER,Ada Pdkgrini; PELUSO, Antonio Cczar; RICHA, Morgana d~Almci-
se formalizado o procedimento com celebração de termo .final no qual se contém o da (coord.). Co11cili,1çiio e medit1çiio: estmttmrç:iío da politim j11dici,í1ifl 1111cio1Jdl Rio de Janeiro:
acordo, confere-se ao instrumento particular ("termo final ") a força executiva (título Foreme, 2011.
extrajudicial). E por .fim, nas si mações previstas no novo Código, para conciliação ou GRECCO,Aiméc; eoutros.Justíçarest1111mtiv11 mwçiio-prdtim e reflexões. São Paulo: Dash Editora, 2014.
mediação judicial, o instrumento particular referendado por facilitador cadastrado VASCONCELOS, Carlos Edu:i.rdo. Mediaçlio de Co11jlitos e Prdticm Rest,111mJíum. São Paulo: Editora
no tribunal também será considerado título executivo extrajudicial. Método, 5• cd, 201 6.
Conciliando os novos dispositivos agora em vigor, firmado o acordo por con-
ciliador ou mediador cadastrado, será ele considerado título executivo extrajudicial.
Celebrado termo final de mediação na formada Lei 13.140/15, com a celebração de
acordo, há dispensa de ser o mediador cadastrado, sendo igualmente considerado o
instrumemo título executivo extrajudicial.
A previsão do Código abrange a mediação ou conciliação judicial (pré-processual
ou no curso do processo, porém sein homologação pelo juiz da causa). A previsão da
Lei de Mediação tem utilidade na mediação extrajudicial, ou naquelas em que, mesmo
judiciais, o mediador não seja cadastrado (como se permite pelo are. 168, §1. 0 , do
CPC/2015); nestes casos, o "termo final" da mediação comendo o acordo é que será
tido como título executivo extrajudicial.
Não se pode dizer que o Código de Processo C ivil está revogado, pois as hipó-
teses que nele se contém permanecerão íntegras; mas a Lei de Mediação amplia o rol
dos títulos considerados executivos extrajudiciais, para também se contemplar nesta
categoria o "termo final" da mediação nela especificado.

61 . Cf. Capítulo 02 r1cim11.


4.
Arbitragem - A
Lei 9.307 /19 96,
característi cas e
natureza jurídica
ROTEIRO DE ESTUDOS

·1 . A Arbitragem no l3rasi 1
• A Lei 9.307/1996
• Constitucionalidade da Lei
2. Características
• Celeridade
• Conhecimento específico da matéria objeto <lo conflito
• Maior informalidade - atenção ao conflito 4.1. ARBITRAGEM - NOÇÕES GERAIS E VANTAGENS DO
• Julgamento em instância única INSTITUTO
• Cumprimcnlo esponlâneo
A arbitragem, ao lado <la jurisdição estatal, representa uma forma hererocom-
3. Natureza jurídica posiriva de solução de conflitos. As partes capazes, de comum acordo, diante de um
• Teoria privativisla ou contra!uJlíslzi litígio, ou por meio de uma convenção, escabckccm que um cer<.:eíro, ou colegiado,
• Teoria publicisla ou jurisdicionalista ted poderes para solucionar a conrrovérsia, sem a intervenção estatal, sendo que a
• Teoria íntermcdí5ria ou mist,1 decisão terá a mesma dicácia que uma sentença judicial.
• Teoria autônom<1
Daí porque se falar em mecanismo privado de resolução de litígios, ou meio
alrernarivo 1 de solução deconrrovérsia, ou, ainda, método extrajuc.licíal de solução de
conflitos (Mcsc). 2 E na busca da melhor alternativa às partes, em sua essência temos
na arbitragem o modelo mais adequado para diversas sicuações, como cm conAitos
complexos, envolvendo aprofundamento em matérias específicas, e exigindo estrutura
e tratamento mai.s dedicado, difíceis de serem obtidos no Poder Judiciário pelas suas
características e colossal volume de crabalho.
Assim, fala-se hoje da arbitragem (e também da mediação privada) como meio
ad,·quado tÍe resolução de dúputa.
A decisão dada pelo árbitro impõe-se às panes, e por esta razao a solução é ad-
judicada, e não consensual, como se pretende na c:oncílíação e na mediação, e dela.~
pode ser exigido o cumprimento, porém a execução forçada se fará perante o Poder

1. Refere-se a altcrn,1civo tendo como p:ir:irnccro a jurisdiçfo escacai, 111:is niío como subscin,co
SUMÁRIO
de um sísrem:i jurídico cap:iz de desvencilhar-se do ordenamento, pois na arbitragem apl ica-sc
4.1. • ARBITRAGEM - NOÇÕES GERAIS EVANTAGENS DO INSTITUTO ......................................... 119
o direito m:tn::rial e processual, alc.:m dos princípios gerais e a Conscimiçfo Fcder:il, ou sej:i, é
4.2. •ALEI 9.307/1996 ..............................................................................,...................................................... 122 uma altcrnar.iva :1 jusríç1 escacai, m:is seguindo regras jmídícas pal'a o julgamcnro.
4.3. • NATUREZA JURÍDICA DA ARBITRAGEM ........................................................................................ 127 2. A origem da cxpresslo, como visto, é da lfngua inglcsa: /Ilta11mi,1,· Dispwr: R,·.roltttio11 -
4.4. • BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA ...................................................................................................... .. 133 ADR.
f'
12 Ó I CURSO UF. ARBITRAGEM ARBJTRAGEM - /\ LEI 9.307/1996, CARAC'J'ERÍS'l'ICAS E NATURF.7.A JURÍDICA 1 121

Judiciário, sendo a sentença arbitral considerada u m tírulo executivo judicial (art. 31 facultado, e na perspectiva de terem os deito.e; se dedicado imensamente ao estudo e
da Lei 9.307/19961 eart. 515, VII, d o CPC/2015~). solução do conflito, não se justifica pensar em instância recursai. 7
Uma das mais reconhecidas vantagens d a Arbitragem é a possibilidade, cm Ainda, pode-se apontar a flcxi bil idade do procedimento na arbitragem como um
certa medida, de escolha do julgador, dencrc as pessoas que mais inspiram confiança dos ponc?s positivos desce m étodo. O p rocedimenro arbitral, realmente, é pragmático.
à partes, considerados o con hcci men to específico sobre a matéria, experiência, idade, Com efc1to, pela sua abrangência a toda e q ualquer situação, as regras estabelecidas n o
condura erc. Observe-se porém que a de.fi nição do árbitro ou colegiado, bem como as C ódigo de Processo Civil, e procedímen tos carrorários no Judiciário, geram a necessi-
regras de impedimento dos ju lgadores são temas mais co mplexos, a serem analisados dade d~ prática de uma série de atos, protocolos, providências, cumprindo inúmeras
oporru namcnte. fonnahdades, até para segurança do jurisdícionado. Já n a arbitragem, o foco maior
Realmente, é um importante atrativo deste método a possibilidade d e se entregar é a solução da matéria de fu ndo, e, assim, há m aior informalidade nas providências
para se alcançar o o bjetivo: solucionar a controvérsia.
o litígio a quem tem conhecim ento específico da m atéria objeto da controvérsia, ou
seja, terá maior tecnicidade para apreciar a matéria, principalmente para questões , N ot:-se falar aqui e~ i:nenor rigor quanto ao procedimento e, em especial, quanto
pouco usuais na rotina dos tribunais. as formalidades para a pratica d os atos, mas em mom ento algum h averá transigência
quanto aos direitos das partes.
Também se pode aponrar como benefício do procedimento arbitral a sua rapidez,
principalmenrcaose comarcomo paradigma o processo judicial. Enquanro a "taxa de . E m uito se perceberá do que superficialmente aqui se faz referência quando,
congestionamen ro" de nossos cribu nais aponta um prazo demasiadamente longo para ad1anrc, for analisado o procedimen to arbitral. 11
o trânsito em julgado de umasencença judicial,5a Lei deArbitragemestabelecc que o Ai_nda, aponta-se como vantagem n a arbitragem o cumprimento espontâneo
procedimento arbitral deva encerrar em seis m eses após a instituição da arbitragem, da~d~c1sóes. No pressuposto ~e q ue os interessados elegeram o julgador por vontade
embora as partes, árbitro e os regulamentos das câmaras arbitrais possam dispor de propna, pela confia nça e considerando ser de conhecedor da matéria, a experiência
forma diversa. demonstra q ue as partes respeitam a sentença arbitral, e a ela se submetem volun-
cariamente. Em outras palavras, as panes estão comp rometidas em aceitar com o
Certamente, para questões extremamente complexas, com cumultuada instru-
imperativo a sentença arbitral por eles encomendada.
ção ou inúmeros incidentes, pode o procedimento vir a ser mais demorado. Porém ,
estimativas feiras entre as instituições de arbitragem dem onstram que, na m édia, H á ainda oportunidade para referên cia a duas outras vantagens da arbitragem.
mesmo para arbitragens com certa d ificuldade, o prazo de solução é pouco superior a A p rimeira, quanto à confidencialidade. Embora n ão se tenha na Lei de Arbi-
um ano. De qualquer fo rma, sempre haverá necessidade de fixação do termo final da tragem a exigên cia de procedi men to arbitral confi dencial ou sigiloso, geralmenre não
arbitragem (por lei ou pelas partes), afastando o risco de se eternizar o p rocedímenro.6 só a convenção arbitral dispõe so bre esta reserva de publicidade, como também os
E u m dos motivos consiste n o faro de que o julgamento arbi tral se faz em ins- regulamentos das principais câmaras de arbitragem (arbitragem institucional) esta-
9
tância única, ou seja, sem a possibilidade de recu rsos. Querend o, as partes p odem belecem esta regra, salvo se o procedim ento envolver a ad ministração pública. to A
estabelecer um julgamento colegiado, m as este acompanha o procedimento desde vantagem é nítida. Tanro as parres quanto o objeto confüruoso não serão divulgados,
seu início, e não em instância recursal. Ademais, no pressuposto de que as partes
escolheram as pessoas mais habilitadas para o exame daquela questão, como lhe é 7. Uma even_tual inscân~ia recu rsai (possívi:I 011 tl-se de ser p1tct1111dfl, como se verá), pode acabar
send~ mu1co cusrosa a~ partes (cm tempo e valores), sem qu:ilqucr necessidade aparente, na
med,cb em que se admctc, como visto, desde o início do procedimento a escolha de cole!!iado
0
3. "Art. 31. A sentença :ubim1I produ1., enrre as parrcs, e seus sucessores, os mesmos efeitos da arbitral. '

sentença p roferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo c:ondenarória, constitui cúulo 8. Cf Capítulos 8 e 9.
execucivo." 9. Nest~ sentido, de?tre º,~ rros a scr~m oporcun~men~e ~p resentados, o ar r. 17 .4 do Regulamento
4. "Art. 515. São titulo~ cxccucivos judiciais, cujo cumprimenro dar-se-á de ncordo com os arrigos da C:imara da C1c:sp: O proccd ,menco arbm;tl e rigorosamente sigiloso, sendo vedado aos
previstos nescc: T írulo: ( ...) Vil - a sentença arb itral;( ...)." memhr~s da Câmara, aos árbitros e :is próprias partes divulgar quaisquer ínformaçóe~ com
5. Cf. Capítulo l, irem 1.1 acima. ele relacionadas, a q ue ten ham acesso em dccorr~ncia de ofício ou de particípação no referido
6. No momento oporruno, qu:indo tratar mos da sencenç:i arhi tral, será analisado o grave efeito procedimento''.
do 11:io cumprimcnw <lo pr:11,0 csr:ibelecido para a finali'laçio do procedimenco. 10. LArb., are. 2.0 , § 3. 0 com a redação dada pela Lei 13.1 29/201 5.
ARl3!TRAGF.M -A LEI 9.307/1996, CARACTERÍSTICAS E NATUREZA JURÍDlCA 1 12 3
122 1 C:URSO DE ARBITRAGEM

evitando-se, por exemplo, ferir a imagem da empresa, a divulgação de segredos in- Comparada com legislações avançadas, corno a da Espanha e a de outros países
dustriais ou o quantum da demanda. da Europa, para a nossa realidade, a Lei não deixa a desejar, principalmente porque
O segundo benefício provável desce método é econômico-financeiro. Em um naquele continente a cultura da arbitragem já estava incorporada ao Oireito. 15
primeiro momento, os valores para se instaurar um procedimento arbitral poderiam A principal inovação, com relação ao regramento anterior, foi conferir à juris-
desen corajar o uso do insúcuto, mas o resultado final, medido a partir do custo- dição arbitral a independência que merece, dispensando a homologação pelo Poder
-benefício (por exemplo, a própria confidencialidade, tecnicidade do árbitro ou Judiciário da sentença arbitral (exigida à época pelo arr. 1.045 do CC/1916). E para
a insegu.rança das decisões judiciais), bem como, e especialmente, a celeridade na as sentenças estrangeiras, bastará homologação do próprio laudo pelo SuperiorTribu-
obtenção do resulcado, podem levar a outra conclusão quando comparado a um nal de Justiça (art. 3 5 da Lei 9 .307/ 1996, conforme se verá no Capítulo l 5 adiante),
processo na justiça estatal. Aliás, só em pensar no julgamento em instância única,
dispensando para o reconhecimento a homologação no Judiciário de origem, como
sem os ônus decorrentes da demora e das despesas para se sustentar o processo com
até então se exigia. 16
diversos recursos, já se pode reconhecer a vantagem aqui referida.
Contudo, nem todos os litígios podem ser resolvidos pela arbitragem. A Lei Também a Lei de Arbitragem superou outro grande obstáculo, até então exis-
9 .307/ 1996, como se espera de todos os ordenamentos, estabelece limites ao objeto tente, ao conceder força vinculante à cláusula compromissária.
da arbitragem, de acordo com a qualidade das partes envolvidas ou pela matéria em Como se verá, as partes podem, já no contrato, prever a utilização da arbitragem
questão, como detalhadamente se verá cm momento oportuno. para futuros, embora incertos e eventuais, conflitos. No passado, para que se instaurasse
arbitragem, fazia-se necessária a composição das partes a respeito quando já instaurado
4.2. A LEl 9.307/1996 o litígio, mesmo firmada previamente a cláusula. Caso contrário, diante da recusa por
A Lei 9.307, de 23.09.1996 (LArb.), sistematizou a arbitragem no Brasil ao qualquer das partes ao meio extrajudicial, este restaria prejudicado, prosseguindo-se
transitar entre o direito material e o direito processual relativos ao instituto. o litígio na jurisdição estatal, reservado apenas ao que se sentisse lesado pela quebra
Com nove capítulos e 46 artigos, 11 normatiza as relações jurídicas possíveis do acordo neste particular pleitear perdas e danos. li
de se submeter à arbitragem, especifica regras gerais de procedimento, trata, dentre
oucros, dos requisitos, forma, conteúdo ,e efeitos da convenção e da sentença, das
15. Aliá.~, a comissão de redação do projeto foi buscar subsídios, dentre outros, na Lei Modelo
arríbuiçóes e atuação do árbitro, das causas de invalidação da sentença, e homologação
sohre a Arbirrngem Comercial da Uncitral, e na legislação 1:spanhol:i de endío, cf. LEMES.
de sentença estrangeira. Sclma Ma.ri:i Ferreira. Princípios e origens da lei de arbitragem. Reuisttulo Advogado 51/32-.'35.
12
Como qualquer norma, a Lei 9.307 / 1996 pode conter algumas impt'.rfeições, 16. Como esclarece Carmona: "Por fim, a disciplina do reconhecimento e execução do laudo
mas, sem dúvida alguma, seu mérito merece ser enaltecido, destacando-se a iniciativa cm:rngciro foz.ia-se absolucarnence imprescindível para que o Brasil pude~se i11rcgr:ir-sc tão
transformadora de Petrônio R.G. Muniz, como articulador e estrategista líder da wmpler:imence quanco possível ao concerro das nações, já que àquela alcur:i (tnício dos anos 90)
"OperaçáoArbiter' 13 e que encontrou no Senador Marco Maciel o incansável defen- não havia mos ain da.ratificado a Conven ção dt: Nova lorq ue de 1958 e só havíamos ratificado a
Convenção do Panamá de 1975 poucos meses antes da edição da Lei de Arhirragem. Colocou-
sor parlamentar do anteprojeto encomendado aos Professores Selma Maria Ferreira
-se um basta no 'sisrema da dupla homolog.1ção' até então vigente no Brasil, segundo o qual
Lemes, Carlos Alberto Carmona e Pedro Antonio Batista Martins. 1-+ poderia ser reconhecido o laudo arbitral estrangeiro se tivesse sido previamente homologado
pelo órgão judiâal do lugar em que tivesse sido proferido" (CARMO NA, Carlos Alberto.
t 1. Já ajustada a referência à reforma da Lei 9.307 /96 trazida pela recente Lei 13.l29/2015. Arhitmgem e p,-ocesso. São Paulo: Atlas, 2009. p. 12).
l 2. Algumas imprco::isõcs, mas n5.o todas, adequadas na recente reforma tra?.ida pela Lei
17. Nesre sentido, Carmona: "(. ..) o Código de Processo Cívil não permitia a i11staurnção do
13.129/2015, como se verá no transcorrer dos próximos Capítulos. Remete-se tamb1:m à juízo arbitral a não ser na presença do compromisso arbirml, único instrumento a autorizar :i
lei cura para as breves considerações a respeito das modificações introduzidas por esta nova Lei exceção de que tratava o arr. 301, IX, do Estatuto de:: Processo, em sua versão original (cf. RT
cm ''Anexo 2" deste "Curso".
61 5/67-70). Nesta esteira, entendiam os tribunais pátrios que o desrespeito à cláusula arbicral
não permitia a execuç.'io específica da obrigação, resolvendo-se o inadimplemento em perdas e
13. C f. MUNIZ, !>errônio R.G., em seu Livro Operação Arbiter -A história da Lei nº 9.307/96
danos, reconhecidamencc de difícil liquidação. Em outras palavras, a dou trina e a jurisprud~ncia
sobre a :1rbicrngem comercial no Brasil (2.• ed. Salvador: Assembleia Legislativa do Escado da
Bahia, 20 16), na quaJ se fuz com galhardia a apresentação do tormentoso caminho percorrido pr:iticrunenre transformaram o pacto de contmhmdo (cláusula compromiss6ria) em verdadeiro
para a aprovação da Lei de Arbitragem, por narrativa de agradável leitura.
pttcmm 11tl(Ítmi, contribuin do par:i. que os agcnrcs do comércio (especialmonre os agentes do
con1ércio internacional) aba ndona.~scm a escoilla da solução arbirml de controvérsias no Brnsil''
14. Integrantes do Grupo de Trabalho constituído para a elaboração <lo anteprojeto da Lei da
(CARMONA, Carlos Alberto. Op. cit., p. 4-5).
Arbitragem.
124 1 CURSO OE ARBIT RAG EM ARBITRAGEM -A LEI 9.307/19'){,, CARACTERÍSTICAS E NAT URE7.A JURfnrcA 1 125

Acualmcnte, existindo cláusula arbitral, p reenchidos evidente me nte seus re- Felizmente, na linha do quanto advertimos em edição anterior desce "Curso",
quisitos, a sua prese nça no insrrumcnco contratual vincula as parces, impedindo que o Proj~to manteve a essência e estrutura da Lei arual, corrigindo algumas falha.~ e
qualquer delas ven ha a recusar a sua submissão ao juízo arbitral. 111 Vale dize r, havení., aperfeiçoando alguns dos pontos mais sensíveis, se m m udança substancial que, se
por vontade das partes manifestada na convenção de arbitragem, a exclusão prévia e tivesse ocorrido, cerramenre causaria uma indesejável insegurança e incertezas, tudo
irreuacável (w1ilate ralmence) ~t jurisdição estatal . Esce é o efeito mgativo da cláusula que não se queria no estágio a tual do sisrcma arbitral brasileiro.
com pro missória, na medida em que afas ta o Poder Judiciário da aprcciaçãodocon8ico, Assim, a reforma rrouxe proveito à norma de regência (Lei 9.307/1996), refor-
como se verá, com vagar, no C apítulo 6,irem 6.5-Dosefoiros da Convenção Arbitral. çando a sua utilidade e profícuos resultados. Sem dúvida, um ou outro detalhe ain da
Tanco a necessidade de homologação como a fragilidade da cláusula diante da poderia ser adequado, mas nada que comprometa a eficiência do instituto.
recusa de qualquer das partes em se submet er à solução extrajudicial retiravam da _Desta form~, m~ntcm-se a trilhade_consolidação do Brasil como um país em que
arbitragem alguns d e seus principais atributos: rapidez, eficiência e eficácia. a a_rbma~em c_st~ m uito bem desenvolvida e amparada pelo sistema jurídico e pelos
Daí porque, como marco em nossa histôria, definitivamente a arbitragem pela 1i·1bunrus. Sol1d1fi ca-se nossa reputação in ternacional como país arhitrationfi·iendly.
Lei 9.30711996 prestigia a libe rdade das partes e m buscar a tutela para seus confü-
cos fora da jurisdição esraral, rompendo com o monopólio do Estado para dirimir 4.2. l . A constitucionalidade da Lei 9.307/ 7996
controvérsias ao admirir "jurisd ição privada" com cotai independência e eficácia, n a
Logo n o início de vigência da Lei de Arbitragem brasileira, em incidente no
linha traçada pelas legislações mais avançadas.
process? de homologação de_umasenrença arbitral estrangeira proferida na Espanha
A Lei mereceu prestígio internacional e pelos nossos Tribunais, inclusive Su- de n. SE 5.206/ES, o STF fo1 p rovocado a se manifestar sobre a constitucionalidade
periores. da norma, em razão da garantia de acesso à Justiça prevista no arr. 5.0 , XX.XV, da
Crescente a atenção à arbitragem, foi constituída no Sen ado Federal uma Co- CF/1988. 21
missão de Especialistas com a finalidade de elabo raran reprojeto de Lei deArbitragem Em exte nso e substancioso acórdão, 22 por maioria d e votos (7 a 4), prevaleceu
e M ediação (para reforma da Lei atual e consolidação de projetos cm tramitação a o entendimento de que a opção voluntária das p anes ao procedimento arbitral não
respeito destas matérias).
E após os debates pe1t ine ntes, indusive com audiências públicas 1C) e manifes- 0
2 1. Art. 5. , XXXV, CF/ 1988: "A lei não eltd ui r<i da apreciaçiio do Poder Judiciá rio lesão o u ameaça
tações de djversos serores, foi sancionada a Lei 13.129 de 26.05.201 5 valorizando a direito".
a a rbitragem, já incorporadas neste" Curso" as inovações trazidas, com destacados 22. Com a seguinte ementa, no q ue pertinente: "l . Sentença t:Str.inge ira: l:iudo arbitral que dirímíu
comentários a respeito. 2° conflito entre d u:1s sociedades comerciais sohrc direitos inque~tionavclmcntc disponíveis - a
existê:ncia e o montante de crédicos a título de comissão por represenraçiio comerciaJ de cm-
p rcs~ brasileira ~o exterior: compro misso firmado pda requerida que, neste proce5so, presta
\ 8 . Com esta modificação, natural mente veio à wna a quesrtio de di reito ínccrremporal, consistente :inur.:ncia ao pedido de homologação: ausi::ncia de chancela, na origem, de aucoridadc judiciá ria
em saber a respeito da incidência da nova norma aos contratos em curso. Proveitoso nota r o ou ó rgfo público equivalente: homologaç:ío negada pelo Presidente do S'J'f, nos termos da
prestígio dado à Lei de Arbi tragem, enconrran<lo-se diverso, acàr<l áos vinculando as partes jurispru?Éncia da C orte, _e ntão d_o ininanre:_ agravo regimenta! a que se d:í provim ento, por
;t arbítr:igem, mesmo firmada a cláusula an ccriormenre /1 sua vigência. Nesta linha, por nús un:m_im1dade, tendo em vista a edição postenor da Lei 9.307, de 23 .09.1996, que dispõe sob re
também ado cada, confira-se o segui nte acórdão da Corre fapecial do STJ: ''A Lei de Arbitr:igem a arbmagem, para que, homologado o laudo, valha no Bras il como título executivo judicial. 2.
brasilc::irn tem incid1:ncia imediata aos con tratos q ue contenham chíusula arb itral, ai nda qut: J .audo arhitral: homologaçfo: Lei da Arbicragem: controle incidenral de constitucionalidade
.hrma<los anceriormence à sua edição" (STJ, SEC 894/VY, Corte Especial, j. 20.08.2008, Min. e o PªJ:~l do STF. A consticucion:.tli<ladr.: da primeira das inovações <la Lei da Arbitragem - a
Nancy Andrighi, DJ 09. 10.2008). E, firme a jurisprud~ncia, foi rec~m edít:1da a Súmub 485 pom~ilida~e ~e. execução específica de compromisso arbitral - n5o constitui, na espécie,
do STJ, assim: "A Lei de Arbitr:igcm aplica-se aos contratos qnc contenham chíusula arbitral, qu es tao prci ud1c1al da homo logação dn laudo estrangeiro; a essa interessa ape nas, como p re-
aind:i que celebrados antes da su:1 edição". míssa, a t.:lttÍnção, no direito interno, <la homologação judicial do laudo (arts. 18 e 31), e sua
19. N:is qu,ti.~ inclusive civcmos partici pação apresenran<lo sugestões à Comissão, algumas deh~ coi:seque ntr.: dispensa, na origem, como requísico <le reconheci mcn co, no Brasil, de sentença
acolhida.~ pelo antep rojeto; cf a respeito [wwwl2.senado.gov.br/noticias/mate rias/2013/08/26/ arb1rral cscrange1ra (are. 35) . A complcra as.~imilaçiio, no d ireito interno, da decisão arbitral ,1
lei-<le-arbicragem-especdisras-qucrem-clarez.a-sobre-tcmas], e [www.c:i.hali.a<lv.br) , em "No- decisão judicial, pela no:a Lei de Arb_itra~em, já basearia, a rigor, para aucociz.·tr a homologação,
no Brasd, do laudo arb1tr.al es trangeiro, mdependemementc.· de sua prévia homologação p ela
tícias~, de 03.09.2013.
Jus~~ça do país de origc::m. Ainda que não seja c.-s.~enciaJ à soluç;ío <lo caso concrcro, não pode
20. Cf, também, breves consideraçócs a respeito das modificações tta:t,id:i.s pela Lr.:i 13.129/2015
o 1 nbun_al -: <lado o se u JJªl?el de)t'.arda <la Constituição' - se furtar a enfrentar o problema
cm "Anexo 2~ deste "Curso". de consntuc1onal1da<le suscitado 1nc1dentemenre (v.g., MS 20.505, N l!ri).
ARBITRAGEM - A LEI 9.307/1996, CARACTEIÚST!CAS E NATUREZA JURÍDICA 1 12 7
126 1 CURSO DE ARBITRAGEM

ofende o princípio constitucional da inafastabilidade da tutela jurisdicional pelo Sobrevivendo com vigor a suspeita de inconstitucionalidade,25 a partir de 2002 a ar-
Poder Judiciário. bitragem tomou fôlego e passou aseramplamenceesrudada e praticada em nosso ambiente
jurídico. Basta, para se confirmar esta afirmação, a constatação da expressiva produção
Isco porque, em última análise, a lei não impõe a utilização da arbitragem, man-
científica gerada desde então, bem como do significativo número de instituições arbitrais
tendo íntegro aos interessados o acesso à jurisdição estatal, porém, como expressão da
e procedimentos por elas praticados nos últimos anos. E a própria reforma da Lei, bem
vontade e liberdade de contratar, nas questões relativas a direitos patrimoniais dispo-
como a inclusão de algumas peculiaridades relativas à arbí tragem no Código de Processo
níveis, permite que seja eleito o palco arbitral para a solução de conflito (potencial,
Civil de 2015 demonstram26 a atenção legislativa ao desenvolvimento do Instituto.
latente ou já manifestado).
Mas esmiuçar e destrinchar a arbitragem ainda são desafios, na busca do rendi-
Por outro lado, não se exclui do Poder Judiciário a lesão a direito das partes,
pois se a convenção arbitral, ou mesmo a sentença proferida na arbitragem, contiver mento que dela se pode extrair em sua plenitude.
vícios indicados na Lei, caberá ação própria de invalidação, ou mesmo em defesa da
execução, como em momento oportuno se tratará. Ou seja, verificada a violação ao
4.3. NATUREZA JURÍDICA DA ARBITRAGEM
direito, cabe o exame da questão pelo Judiciário, porém, se instaurada e desenvolvi- A discussão a respeito da natureza jurídica da arbitragem é antiga, e provocou a
da a arbitragem de acordo com os requisitos legais, a mera irresignação do vencido reflexão atenta de estudiosos de escol. Porém, a nova formatação dada a este instituto
não é causa para se vulnerar a decisão, cujos efeitos são os mesmos de uma sentença pela Lei 9.307/1996 resolveu, segundo a maioria expressiva de aurores, a polêmica
judicial, pois por livre opção escolheram as panes o método extrajudicial de solução até então existente.
do conflito, e a ele, pdo sistema normativo, devem se submeter.
São basicamente quatro as teorias a respeito: privatista (contracual), jurisdicío-
Por fim, cabe refletir se na sociedade contemporânea, diante de sua dinâmica, nalista (publicista), intermediária ou mista (contracual-publícisra) e a autônoma.
convém aos seus próprios membros o fortalecimenco do dogma da exclusividade
A teoria privatista,27 também chamada por alguns como contratualista, vê na
do Estado no exercício da função jurisdicional e da indelegabilidade da jurisdição.
arbitragem apenas um negócio jurídico; entende que a arbitragem representa, na
Questionando esses paradigmas seculares, Arruda Alvim, na mais nova edição de
seu Mamutl de direito processwtl civil, afirma: "O que se preconiza acualmence é
que o Estado não é o único - e, algumas vezes, sequer é o mais adequado - ente 25. Anote-se, porém, posição no sentido da inconstitucionalidade da lei, manifestada por João
Roberto Egydio Piza Fontes e Ffüio da Costa Azevedo, assim: "Sc1tdo a jurisdição manifesr:tç:il)
vocacionado para esta função, que pode muito bem ser exercida por particulares,
da soberania, portanto, monopólio do Esmdo por excelência, é lógico que o reconheci m<:nro da
algumas vezes com resultados mais proveitosos do que aqueles obtidos no âmbito arbitragem como atividade jurisdicional está. cm commdição com esse monopólio; afinal, com
do Judiciário". 13 E prossegue, com base cm boa doutrina: "A propósito do 'mito' a nova Lei de Arbitragem pretendesse nada mais, nada menos do que a priyaci1.ação da justiça,
da indelegabilidade da jurisdição, Joel Dias FigueiraJr. assinala a importância de se rraz.endo à tona uma inconcebível e arentacória forma de exercício da jurisdição por agentes
refletir este princípio, que não pode ser erigido à condição de dogma, em detrimento prív:i,dos, r,csul mndo dai a sua flagrante inconscirucionalidadc, por violação do princípio do
Esradc> democrárico dc.clire.LtO, consagrado no an. 1.0 de nossa Consriruição e regra mestra de
dos objetivos da jurisdição e da interação entre os Estados". 24 nosso sistema jurídico: 'A República Federativa do Brasil, formada pel:i união indissolúvel dos
Estados e Munidpios e do Dimito Peclcral, consrirui-.~c em Estado Dcmocclrico de Oi reiro e
3. Lei de Arbitragem (Lei 9 .307/ 1996): constimcionalídadc, cm tese, do juíro arbitral; discussão tem como fundamentos:( ...)' (an. 1.0 , CF/1988). (...) Destartc, ressaltamos ainda que a Lei
incidental da constitucionalidade de vários dos tópicos da nova lei, especialmente acerca da de Arbitragem implica a insriruição de uma instància jurisdicional fom das previstas n:1 Cons-
compatibilidade, ou não, entre a execução judicial específica para a solução de foturos conflitos timição, o que foz exsmgir mais uma inconstitucionalidade em face da Aagra.nre violação do
da cláusula compromíssória e a garantia constitucional da universalidade da jurisdição do Poder princ(pio da proibição do jufao ou tribunal de exceção, previsto no are. 5.0 , XXXVII, da CI:,
Judiciário (Cf, art. 5. 0 , XXXV). ConstimcionaJidadt: declarada pelo plenário, considerando o o qual prevê que 'não haverá jttízo ou cribunaJ de exceção'" (f-ONTES, João Rôbcrto Egydio
Tribunal, por maioria de votos, que a manifestação de vontade da parte na chíusula compro- Piza; AZEVEDO, Fábio da Costa. A Lei de Arbitragem analisada à luz. dos princípios gerais
missória, quando da celebração do contrato, e a permissão legal dada ao juiz. para que substitua do Direito. Re11úta do lmútttto cleAd1,omcifl do Estado de StÍo Pttulo 4187).
a vontade da parte recakicrancc cm firmar o compromisso não ofendem o art. 5.0, XXXV, da 26. Cf. em "Anexos" deste "C11rso", além de breves considerações pon ruais a respeí to das modifica-
CF. (...)" (SE 5206 AgR, Pleno, j. 12.12.2001, rd. Min. Scpúlveda Pertcnct:, D] 30.04.2004). ções trazidas pela Lt:i 13.129/2015, os artigos do CPC/15 relacionados, direta ou indiretamt:nct:
23. ARRUDA ALVIM NETTO, José Manoel dt:. Mamuil de direito procesmal civil. 14. ed. São à arbitragem.
Paulo: Ed. KI; 2011. p. 197. 27. Explicando a ct:oria contrarualista, Josi; Crecella Neto: ''A primt:íra vertente [contratualista) vis-
lumbra no instituto nature:ta jurídica de oh,·ígaçiio criada por co11tmro, rendo por consequências
24. Idem, p. 198.
128 1 CURSO DE ARBITRAGEM ARBITRAGEM -A LEI 9.307/1996, CARAC:TERfSTICAS E NATUREZA JURÍDICA l 129

essência, cão somente a extensão do acordo firmado entre as partes. A atribuição ao Masaindahojesustentamqueaautonomiadavoncadeenvolvetodaaarbitragem,
árbitro para decidir nada mais seria do que o cumprimento do contratado, ou seja, a na fase antecedente pelo contrato, e na fase consequente, no limite do que foi con-
outorga ao terceiro da autoridade de escolha da forma como um contrato será adim- tratado, por meio da solução de eventual conflito emergente do negócio pelo árbitro
plido, ou a autoridade para solucionar o impasse pela contratação das partes neste eleím pdos contratantes. A causa é o contrato, e a arbitragem é o efeito. E o laudo
sentido. Por lhe serem exdufdos os poderes de execução e imposiçáo do decidido, arbitral se impõe às panes em vinudeda obrigatoriedade característica dos contratos.
sua investidura se limita à solução por indicação ou delegação das partes, mas sem A teoria publicista ou jurisdicionalista confere à arbitragem a na cureza jurisdicio-
natureza jurisdicional, privativa do Estado cm sua plenitude. O vínculo criado entre 33
nal. Eassim se entende por considerar que o Estado, por meio de disposições legais,
o árbitro e a parte é meramente contratual. outorga poderes ao juiz e ao árbitro para resolver conflitos de interesses. Os árbitros,
No passado, quando a sentença arbitral só se aperfeiçoava com a chancela do assim, são verdadeiros juízes, pois lhes é atribuída a autoridade para resolver o litígio:
Estado através da homologação do laudo, muito fácil era sustentar a natureza contra- "Aos árbitros, os juízes dos casos, seria reconhecida uma jurisdição extraordinária e
tual da arbitragem. li\ Porém, com o advento da Lei 9.307/1996, a sentença arbitral de caráter público". 3t
passou a ser rículo executivo judicial (are. 3 l da Lei 9.307/199619 e ª:t: 475-N., IV, Já a teoria intermediária ou mista15 agrega os fundamentos de uma e outra das
do CPC/ 1973) ,:m dispensando a prévia homologação como antes se ex1g1a. E ma1s, os cearias anteriores, para concluir que, mesmo pautada no negócio jurídico realizado
ares. 1831 e 13, §6.0 , 32 da referidaLeiconforemao árbitro ostatuseatributos de um juiz. entre as partes, e sendo dele decorrente, não se pode desenvolver a arbitragem fora de
Assim, os principais argumentos da teoria contratualista perderam espaço para um sistema jurídico, pois este método de solução de conflitos submete-se à ordem
os fundamentos da teoria jurisdicional da arbitragem, adotada aparentemente pela legal existente, embora não controlada inteiramente por esse sisrema. J 6
Lei 9.307/1996. Por fim, pela teoria autônoma identifica-se na arbitragem um sistema de solução
de conflitos totalmente desvinculado de qualquer sistema jurídico existente. E pelas
todas as derivadas do pa<:to em geral. Fundamenram esse ponro de vista, em resumo, com os suas características, esta teoria cem importância nos procedimentos de arbitragem
segui1m·s argumenros: a) inexistirá arbicragem sem conve~ção de arbicra~em; h) abas~ <la arbi- internacional, nos quais há certa independência à ordem local de uma ou outra parte.
tragem e: o consenso entre as p:uces, enqu~nto que a jurisd11:;1o cslata! ~~ 1~sere no '.m, 1111per'.111"
Verifica-se aqui o extremo do princípio da autonomia privada, na medida em que,
estatal, imposto a todos; c) o ,írbitro não csd vinculado ao Poder Jud1c1:mo; e d) o JU1zo_ arbmal
não confere obrigatoriedade de cumprimento ao laudo arbural, que deve ser voluntariamente.::
obedecido pela parte vencida; em caso de rccalcitrància, necess,íria se fará a intervenç::io do 33. Sobre a teoria jurisdícion:il, vejam-se comentários de Ha.roldo Vcrçosa: "A teoria j11risdicíom1/
Poder Judiciário" (CRETELLA NETO, José. Ctmo de 11rhitmge111. Rio de Janeiro: forense, entende a arbicragcm como forma de exercício da.função jurisdicional , uma. vez que os árbitros
2004. p. 14). E complementando, a coaucora da Lei de Arbitragem, Sclma Lemes, explica essa recebem das parces o podcc de decidi r o liágio a eles aprcscntndo, aplicando a norma ao caso
teoria como: "Contratual, no sentido de que nasce de uma wnvenção firmada pelas p:utes e concreto e, assim, emitindo decisão obrigatória e vLnculaciva (atribuição <los efeitos da sentença
os poderes dos :írhitros derivam dessa autorização'' (LEMES, Selma Maria Ferreira. A1·bitmgr:111 judicial ao laudo arhirral). Além disso, o procedimemo arhitral substitui a jurisdição escacai
wt fldmi11ístmçiío p1íblictt. São Paulo: Quartier Latin, 2007. p. 60). no que range ao mérito da discussão travada da arbitragem" (VERÇOSA, Haroldo Malheiros
28. Mas mesmo antes da Lei de Arbitragem, vozes como a de Carmona já sustentavam com sólidos Duclerc. Aspectw dtt flrbim,gmt ímtítucinn1rl - 12 finos tia lei 9,30711996. São Paulo: Malheiros,
argumentos a natureza jurisdicional da arbitragem (CARMONA, Carlos Alherto. Arbitragem 2008. p. 242).
e jurisdição). Re/>m 58/.33-40. 34. BASÍLIO, Ana 'fereza Palhares; FONTES, André R. C. Notas introdutórias sobre a natureza
29. "Art. 31. A senrença arbitral produz, entre as pattes, e seus sucessores, os mesmos efeitos da jurídica da arbitragem. RArb 14/51.
sentença proferida pelos órgãos do Poder Judíciário e, sendo condcn:u<Íria, conMitui título 35. José Crecdla Neto explica o conc:eico dá teoria mista, acrescentando que dois fumosos arbin-a-
.
C.::XCCll(IVO. "
liscas franceses :tdcfcnclcm: "A doutrina moderna vê na arbitragem instiruto misto, .wi generis,
30. Previsão c.~ra mantida no CPC/2015; assim: "Are. 515. São títulos executivos judiciais, cujo pois ;ibriga aspcccn ,·ontmturt! e ramb<!m jm·ísdicio1lll4 que coexistem, posição defendída por
cumprimento dar-se-:í de acordo com os artigos previstos neste Título: (...) Yll - a sentença Pierre L:ilivc e Philippe Foucha.rd'' (CRéTELLA NETO, José. O p. cir., p. 15).
arbitral; (...).'' 36. Cf. GUERREIRO, Luiz Fernando. Arhitragcm e jurisdição: premissa à homologação de
31. ''Are. 18. O árbitro é juiz de faro e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeira a recurso sentença arbitral estrangeira. Rel'ro 159/9, trazendo CARNELUTTI. hancesco. !11stitra;io11i
ou a homologação pelo Poder Judici:írio.'' del p1·ocesso d11ile irttlitmo. 5. eú. Roma: Foro Italiano, 1956. p. 120. Cf. CA RNELUTTI,
32. "Are. 13. Pode ser :írbirro qualquer pessoa capaz e que renha a confiança das partes. (...) § 6. 0 Francesco. Sistema dei diritto procesmale civile. Padova: Cedam, 1939. vol. 1, 2 e 3, p. 527-528;
No desempenho de sua função, o :írhitro devení proceder com imparcialidade, independência, RUBlNO-SAMMARTANO, Mauro. li dirittn detl'a,bitntlo (interno). 2. ed. Padova: Cedam,
compctêncio., diligênüa e discrição.'' 1994. p. 28.
ARBITRAGEM -A LEI 9.307/1996, CARACTER!ST!CAS E NATUREZA JURÍDICA 1 13 l
130 1 CURSO DE ARBITRAGEM

diante da liberdade de contratar, as partes subtraem a arbitragem de oucros orden~- A Lei 9.307/_1996, como ~nces referido, outorga poderes ao árbitro para, em
mentos, tratando-a como soberana. Cria-se, por esta teoria, uma jurisdição própria, certos :ªs~s, s?~uc1onar o _confl1to através de sentença com eficácia e força de título
37
independente e diversa da jurisdição que integra um sistema jurídico. executivo Jud1c1al, conferindo-lhe a qualidade de "juiz de fato e de direito" em sua
larga dimensão, inclusive quanto a atribuições e responsabilidades, retirando-lhe
A adoção d e uma ou ouera teoria deve passar, necessariamente, pela iden:cificação
apenas alguns poderes (coertio e executio)Y
do que sejajurisdição.38 Retomada a ideia de jurisdição na conc~pção sugerida _por
Mon cesq uieu ao propor a separação dos três pode~es d o Esta1o L1ber~ - E~ecut1vo, . A jurisdiçã?, então, _impõe-se, quer seja ela exercida pelo Estado, quer na
Legislativo e Judiciário - , independentes e harmônicos eo tre si, ter-se-a por v1?culad~ arbmagem. Assim: o árbitro estará investido de jurisdição ao caso que lhe for
institu to ao Estado, como ex.pressão do seu poder-dever de reconhecer e aplicar a le1 apresentado pelos mteressados. E sua decisão obriga as panes mesmo diante de
0 39
no caso concreto, exigindo coercitivameme a obediência a suas ~ec_is~es. ~? dogma soluç_ã~ contrá~ia_ aos interesses ou expectativas. O árbitro exerce, sem dúvida, ação
do monopólio estatal da jurisdição. A jurisdição será poder, acnbu1çao e atmdade do cognmva na at1v1dade julgadora, no sentido de reconhecer e aplicar o direito ao
10
Esrado, para, por intermédio do Judiciário, aplicar o ordenamento ao caso concreto. · caso concreto. Os argumencos trazidos pelas partes são avaliados de acordo com
E assim, seria afastada a natureza jurisdicional da arbitragem, pois sua organiz~ção todo o con_te~to probató~io, e, com base nestes elementos, analisadas as questões de
não integra O Estado, ao co ncrário, pertence ao sistema privado de solução de conA1tos. fa~o e de direito, obedecidas as regras de direito material e processual, promove-se
o Julgamento do lirígio, tal qual se faz no Judiciário, ensejando em uma e outra
Por outro lado, ao se considerar a jurisdição como o poder de solucionar a con-
hipótese a coisa julgada.
trovérsia independente da q ualidade (pública ou privada) do agente que irá exercer
esta acribtüção, é inegável a natureza jurisdicional da arbitragem:+' . O que se co~tém no julgamento torna-se obrigatório e vinculante às panes,
impondo a submissão ao comando contido na decisão. Apesar de sua efetivação,
conforme o caso, se buscar perante o Judiciário, a obrigatoriedade existe às partes;
Cf. GUERREIRO, Lui¼ Fernando. Op. cit., p. 9, trazendo DOLLNGER, ]acob;_T lBURC'.0'
37. Carmen. Direito internacional privndo-Arbitmgem comercirtl im-r.rnaciomzl. R.10 de ~ane1ro: apenas se transfere a execução da obrigação descumprida.
. e cf. também DAY1D René. Lilrbitrtwl! dans /e cormnl!n:e 111tcm11-
Renovar, 2003 . P. 96.-97 , , , · , " . ':"' jurisdição, em tese, enquanto autoridade abstrata de dizer odireito (jurisdíctío,
tio11al. Paris: Económica, 1. 98 l. p. 20-23. ;us dtc~re), é conferida ao Estado (a ser manifestada pelos magistrados) e também
38. Cf., a respeito, CaLnon de Passos, Pfilª _quem a j~isdição é ''.n c~tl'ed·ga,dpe~o Estado-j~i;é ~a
presrnção jurisdicional reclamada, vale dizer, a.aplicação au.t~nrat1va ~ 1re1co que na_~ P. c_1c excepcionalmente aos particulares (pelo modelo arbitral na forma estabelecida em
· -'d' " (CA.LMON DE PASSOS José Joaquim. Ct1menmrtos rco úJd1go de Processo C1v1l. Rto nosso sistema jurídico); a Lei prevê (e assim cria o poder), estabelece regras, requisitos
lllCI Ili . · • · 1 B b'1 "O
de Janeiro: Forense, 1988. vol. 1li -Ans. .270 a 33 1, p. 2); e ai_nda, Cclso_Agríco a ar : • e condições para a jurisdição privada ser exercida, ou seja, a jurisdição, em tese, é
Código [de Processo C.ivi1J admite a e~stência de u~ a jw·!s~ição co1~cenc1osa e ~ma volu~ca- atribuída pelo ordenamento.
ria (...). A jurisdição contenciosa, ou. s1mplesmeme iurisdiçao (...) cem po~ fi~ali~ade apl.tcnr
ns aludidas nom,as gerais aos casos concretos que são levados à sua aprcc1açao e Ju.lgan:'ento O que fazem as partes é eleger uma ou mais pessoas, direta ou indiretamente, 43
(...) todavia, nã,o compreende apenas a funçao de d cid.ir ~l~ o direito e'.n ~m detcrmm:do como previsto na Lei de Arbitragem, para esta atribuição - decidir a controvérsia,
7
caso, m;.is abrange tam bém a atividade de mrnar_cfe t_1vo o ~1r~to reconhecido (BARBI, Cdso
no_ pressu~osto de que_ a jurisdição arbitral já terá sido previamente outorgada. É da

Agrícola. Comenttlrins Código de Processo Ciinl. Rio de pnerro: Forense, 1983. vol. 1- Arrs.
~e1, tambem, que ~enva o poder de julgar; as partes desafiam a jurisdição quando
1.0 a 153, p. 15-16). .
39. CARNEIRO, Achos Gusmão. }t1risdiçíio t C'Omperencill. 12. ed. São P,tu.lo: S:ua1va, 2002. mstauram o procedimento.
p. 3-6, 11.
40. CINTRA, GRINOVER e DINAMARCO. Teoria geral do prowso. São P~ulo; E!. RT, ~~~i
e o escara!
· F juscifica
· a sua análise à luz do Direíto Processual Constítucíonal" (LEMES , Sema I
P· 83; GRINOVER, Ada Pellcgrini. Os pri1,icípíos comtítuciomtis e o Código ue rrocesso zvi ·
Maraa errc1rn. Arbitmgem nll... cic., p. 61).
São Paulo: José Busharsky Ed., 1975. p. 77 e ss. 42. Coertio representa o poder do Escado de .sujeitar o objeto do litígio e as parces às determinações
41. Cf., a respeito, Sei ma Lemes: " Uma quarta nacme-ia jurídica vem sc~1do dpropug~a~~-p~r
de ~:ordo com as normas legais; executio representa o poder de executar ou fa:ter executar a
Cândido Rangd Dinamarco para defini-la em atenção à função do árb1t~?,· e fª':';flll'IS 1c,o-
dec1~ao, promo:endo, se for o caso, transformações no mundo empírico para cfecivar o comando
nal, partindo do pressuposto que 'embom cú: mí~ 1l _ex';!"fª :ºm o esco~/J J1(rld,c1J·. de fl~ ar ~
11
conodo na decisão, como, por exemplo, expropriando bens para pagamenro de dívida.
vo11t11de da lei, na con11e.rgênáa em t(lrtl/J rÍ(, l'Scopo socud pacificador '.t!~lde~dgv mmto ,mus.f!7rtt
a aproxim11r a 11rbitrr1gmz tÍII j urisdição i:st,unf [Mn,a _1J1·a rlo pr~cesso:1111l. Sao Pa~I~:. Malhei_ros,
43. No cas~ de indicação de insricuição arbitral, a quem, pelo regulamento, conforme O caso,
2003. p. 28-29I.Observa Dinamarco que a expressiva aprox1maçao emrc o p1ocesso arbmal competmí a escolha do(s) árbitro(s); cf. Capítulo 7, icem 7.3, adiante.
13 2 1 CURSO DF. ARBITRAGEM ARBITRAGEM - A LEI 9 ..~07/19'>6, CARACfERÍSTICAS E NATUR EZA JURÍU ICA 1 13 3

Da{ser inegável a natureza jurisdicional da arbitragem. -1-1 par,res: iivremen ~e, escolhem submeter o li rígio ao árbi cro. Desta forma, quem atribui
E o Código de Processo Civil prestigia esta posição, pois em seu art. 3. 0 ao arbmo a aurondade para a solução da controvérsiasáo as próprias partes em conflito.
refere-se à inafastabilidade da "apreciação jurisdicional" para ameaça ou lesão ao A o rigem da arbitragem é contrattwl, pois as partes, no exercício da autonom ia
di reito, crazendo em seu§ 1 .o a expressa referência de que "é permitida a arbitra- da vontade, resolvem subtrair do Judiciário a solução do conflito de interesses,
gem, na fo rma da lei"; ou seja, a utilização do caminho construído pela arbitragem cncrega~do a rarefa ao particular. A origem da jurisdição estaral está no direito
garante a apreciação jurisdicional do conflito previsto n o cttput. E mais, no arr. 42 po~estatrvo d~ q_ualquer pessoa em provocar o Judiciário diante de uma afirmada
introduzido na nova legislação cm Livro II dedicado à "Função Jurisdicional", no lcsao a seus d1_ret~os: ~uere~d~ ou não o outro em face de quem se exerce a ação.
"Título III- Da C ompetência Interna", "Capítulo I -Da Competência", "Seção ~o Estado, a JllrtS~rç_ao _es~ta d1sro.nível pela vontade de cada um; na arbitragem,
! - Disp osições Gerais", também se confirma esta orientação, ao estabelecer que d1f~rente~ente, a Jumd1çao esta disponível apenas àqueles que de comum acordo
assim deliberam.
"As causas cíveis serão processadas e d ecididas pelo juiz nos limites de sua com-
petência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na form a da lei" . . ~j~tr!sdiçã~ est~tal é atributo doEsrado, e de livre acesso a qualquer interessado.
Desta feita, nos parece definitivamen te superada qualquer dúvida a respeito da A JUnsd1çao arbmal e outorgada por lei in abstracto, e atribuída inconcreto ao árbitro
natureza jurisdicional d a arbitragem. pelas _partes que a~sim quiseram'. E esta vo ntade pode ser exercida ames mesmo do
c~n~1to, como clausula prcvennva para a hipótese de vir a ocorrer alguma lesão a
Diferem, naturalmente, jurisdição estacai e arbitral na medida em que na pri-
direito, como se observa na prática corrente.
meira, oferecida pelo Estado, está à disposição de qualquer interessado, e uma vez
provocada, exige submissão daquele cm face de quem é apresentada. Na segunda, a.~ N o ex~ro _instante em que as partes, na convenção arbitral, 45 cuja origem é
~01~tr~t~al, .indicam a f~r~ pretendida para a solução do conflito, já se desperta a
JUnsd1çao, incrente ao instituto da arbitragem por força da Lei 9 .307/ 1996, a ser
44. Neste scncido, José Crcrelb Neto: "Parece-nos evidente que o :irbitro exerce verdadeira jurisdi- provocada quando da instauração do proccdimenco.
ção, e o foz por indicação das partes - com respaldo na lei, que valida a coovenç.'fo -, de forma
que, :to permitir a legislação que se instaure o juízo arbitral, consagra a maior participação do Diante destas col_o~açõcs, e pelo m uito que já fundamentou expressiva dou trina,
povo na administração <laJusciça, scin dúvida princípio democrdcico, claramente caracterizador acompanhamos a pos1çao que confere à arbitragem a natureza jurisdicional.
do Estado de Direito" (CRETELLA NETO, José. Op. cic., p. 15). Em sentido divergente,
Jonnrh:rn Barro:. Vim entende qu<.: "a justificativa do carácer jurisdicional da arhirragcm por Note-seq~1esó considerando a arbitragem como jurisdição équese poderá expJi-
el:1 ter sido colocada no rol dos rfrulos execuLivos judiciais (:m. 475-N, ]V, cio C PC [ 1973], ca~·a rc~ra contida no parágrafo único do are. 8. 0 da Lei 9.307/1996, consagrando 0
combinado com o seu ine. VI quando se rr;icnr de sentença arbicral estrangeira) não é um pnncfp10 kompetenz-kompetenz, como adiante se verá, 46 pois, se prevalecesse a nacure:ta
argumento concludente, pois o faro de possuir regime jurídico executório de scncença judi- co'.1~r~tua1, seria inviável ao árbitro examinar e afastar ou não a sua competência para
cial não significa que possua a mesma n~uun:w jurídk:1. l,..) esrn ideia de arbirrngem como o lmg10 a ele submetido.
csrruwr.i de resolução de conflitos não jurisdicional fa1. com que, ao menos. rrc.s elementos
a8orem e potencializem seu uso. Neste senrido, o uso <la arbirragcm como íorm:i autoriwda/
deJegada de jurisd ição inregml acaba limiwndo-a cm seu objeto, adap rnbilidade e produção 4.4. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
de resultado mais facilmente accir.lvcl pdns parres". O aucor aponra para os seguintes dc-
mencos que surgem da n:io jurisdição d:i arbicragcm: (i) a alr:i capacidade de cscabilizaç.ío das ALMEI?A, Carolin<.:Sampaio; Rl~~IRO, M,ircia Carla Pereira. A impordncia da dáusulacompromis-
expcctacivas normaàvas cm funç;io do.s expcctarivas cogn itivas, visto que não há o isolamenr.o soria n_os ~onrratos empre~r1:11s como forralecim<.:nro <las relações negociais. R,wí,t,: deA1·hímtgt·m
t! Mulurpro. n. 28. ano V1JI. São Paulo, jan.-mar.2011.
que existe no centro do sistema normativo; (ii) a e1pacidade da arbitragem de não se vincubr
diremmence a uma ordem jurídica, isolando-se das pressões do sisrcma pol(cico nacional; e CARMONA, C.1r!o~ Al~rto~Aarbiuagem como m~ioadcguadode rcsoluç;íodelic/gios. /11:GRlNOVER,
(iii) tl 01pncidnd1: de a decisão nrbirral fuzcr pane, :10 mesmo cempo, de v;irios sisccmns jurídicos Ada Pcl~egrin ,; PEL~ SO, Antonio CL~lar; RlCHA, Morgana de Almeida (eoords.). Co11cilí,1çíio e
discincos. Concluindo que "a união do s1:gu11do e do terceiro elementos cicados, a arbirrngem medtllfttli: ,·stmt1m1ç,10 dtl polítiw judíâtiri,t 11(/CÍ01//rl. Rio de Janeiro: Forense:, 2011.
pode selecionar um conjunco de regras desvinculado de ordens jurídicas, 1:specialmcnrc 1101,
DTNAMARCO, Cândido Rangel. A ,trbitmgem na teoritz geml do pmce,-ro, São Paulo: Malheiros, 20 I 3.
c:asos das arbitragens i11rern:1cio11nis, cin que a esrrurur:i arbicrnl é replicada em vá_rios siscc-
mas jurfdicos (nacionais ou inrernacionnis), aos quais cada uma das porres envolvidas ncsrc.:
procedimento se vincula" (FILK.ELSTEIN, Cláudio; VTTA, Jonach::m; CASADO FILHO, 45. Cf. Capítulo 6 adiante, no qual serão dt:ralhadas :i.~ csp1:cies de convença-o arbºcr 1 -1 •
• 1 · 1 a , a s.u)Cr.
Napoleão (coorcls.). Arbrtmgem i11tcmfldo111il: U11idroi1, C!SG e Direitl) hmsileiro. São Paulo: e1ausu a comprom1ssórin e compromisso arbitral.
Quarticr Latin, 2010. p. 54-55). 46. Cf. Capítulo 5, item 5.2, adiante.
134 1 CURSO OE ARBITRAGEM

• ·o R G 011m1ríi0Arbita-A históri1ldt1 Lei nº 9.307196sobre,it1rbitragem comacúd IUI


MUNlz Petrmu . .. i r d B h' 2016
' 'f 2 ed Salvador· Assembleia Legislativ:i. <lo Escada a a ia,
B111st .
• • • • ' • • 6 o 4 l 4 2 d- Lei de Arbitragem
. , NlOR J ·1Dhs Da consticucionahdadedos ans. .0. 7. ' e a
HGUEIRAJU ' oc_ d. ; e b'l'd dc docontroleJ·urisdicion:1l.Re11istfldepmcesso.n.91.ano
(9 .307/%).Aq uescao a. marasca 11 a .
XXlll. São Paulo: Ed. RT, jul.-m. 1998.

5.
Arbitrabilidade, princípios
da arbitragem e espécies
f

ROTEIRO DE ESTUDOS

1. Arbitrabilidadc
• Suhjetiva
• Objetiva
2. Princípios nortcadores da arbitragem
• Autonomia privada (aulonomia da vonlêlde)
• Kompetcnz-kompctenz
• Devido processo legal 5.1. ARBITRABILIDADE
3. Espécies de arbitragem A arbitrabilidade é a condição essencial para que um determinado conAito seja
• Avulsa ou ad hoc submetido à arbitragem, e vem previsto já no are. 1.0 da Lei Especial: "As pessoas
• Institucional capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a
direitos p,urímoníms disponíveis" (grifos nossos).
Existe, pois, um filtro dos litígios que poderão ser encaminhados ao juízo arbitral.
A arbirrabilidade será su~jetiva ou o~jetivtt, conforme se refira aos sujeitos ou ao
objeto do conAito, ambas as sicuações tratadas no artigo citado.
A capacidade das panes ao firmarem a convenção é conditío síne qua 1101z para
a utilização da arbitragem - ilrbitmbilidade subjetivtZ. Capacidade, como se sabe, é
a aptidão da pessoa para ser titular de um direito, e vem genericamente estabelecida
pelo are. l .0 do CC/2002. •
Mas a titularidade do direito d ifcredeseu exercício. Para o exercício dos direitos,
a lei estabelece restrições, em razão da idade, da inaptidão para exprimir vontade, <lc
vícios, e ainda da prodigalidade, conforme previsão nos ares. 3. 0 e 4. 0 do CC/2002. ~
Nestas hipóteses de incapacidade relativa ou absoluca, o exercício do direito estará
condicionado à assistência ou representação, conforme o caso, dos pais, tutores e
curadores.
Sob outra ótica, mesmo sendo entes despersonalizados, massa falida, espólio e
condomínios (<lc edifícios), podem ser partes cm procedimentos arbitrais, pois têm
capacidade de contratar, e assím, de ser parte e de estar em juízo.

1. "Arr. 1." Toda pessoa t! capaz <le <lirc.:itos e deveres na ordem civíl. ''
2. ''Are. 3.0 Sfio absoluramc.:nn.:: ill(;apa,,l:S de exercer pessoalmente os atos <la vida civil os menores
SUMÁRIO de 16 (dezesseis) anos. Art. 4.o S:io incapazes, relativamente a certos atos ou :t maneir:i de os
5.1. • ARBlTRABILIDADE .................................................................................................................................. 137
exercer: 1- os maiores de 16 (Je,,csscis) e menores de 18 (dezoito) anos; II-os ~brios habiruais
5.2. • PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ARBITRAGEM ....................................................................... .. 140
e os viciados em tóxico; Ili - attueks que, por causa transitória ou permam:nte, 11iio puderem
5.3. • ESPÉCIES DE ARBITRAGEM - INSTITUCIONAL OU AVULSA {AO HOC, ............................... 148 exprimir sua vontade; lV - os pródigos. Padgrafo único. A capacidade <los indígenas scd
153 regulada por legislação especial..,
5.4. • BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA ..................................................................................................... ..
138 1 CURSO DE ARBITRAGEM ARBITRAl3fLIDADE. PRINCÍPIOS DA ARBITRAGEM E ESPÉCIES 1 139

Em qualquer das sicuações acima (limitação de exercício ou entes despersonali- pessoa (modificação da capacidade, como interdição, dissolução do casamento, reco-
zados), a ressalva à utilização da arbitragem não se encontra na capacidade de firmar nhecimento ou desconstituição da filiação, atributos do poder familiar, como guarda
a convenção, pois podem contratar se assistidos ou representados (e conforme o e regulamentação de visitas), ficam excluídos da arbitragem. Mas eventuais impactos
caso com autorização judicial). A restrição à instituição do juízo arbitral decorre da patrimoniais destes direitos, como também do direito penal, conforme o caso, são
indisponibilidade do direito que se vê nestas situações. arbitráveis (por exemplo, apuração do dano ex delicto, e partilha de bens na separação
Assim, a convenção arbitral envolvendo menor relativamente incapaz, mesmo ou no divórcio - a respeito deste, inclusive, confira-se Capítulo 14, item 14.6 adiante).
assistido pelos pais, tem restrição, pois os direitos em questão são indisponíveis. E Quanto aos direitos patrimoniais, exige-se também que sejam disponíveis. Adis-
mesmo no caso de contratos que envolvam a mera administração, embora permitidos ponibilidade do direito se refere à possibilidade de seu titular ceder, deforma gratuita ou
sem autorização judicial aos incapazes assistidos ou representados, o óbice à utilização onerosa, estes direitos sem qualquer rescrição. Logo, necessário terem as partes o poder
da arbitragem surge em razão da necessária participação do Ministério Público no de autorregulamencação dos interesses submetidos à arbitragem, podendo dispor sobre
processo (art. 178, II, do CPC/2015 3). 4 eles pelas mais diversas formas dos negócios jurídicos; são, pois, interesses individuais,
Por sua vez, os entes despersonalizados, para dispor de direitos, necessitam de passíveis de negociação, ou seja, podem ser livremente exercidos pda parte.
permissão. Assim, o espólio, com autorização judicial ao inventariante, pode celebrar Já se viu acima que direitos patrimoniais de incapazes são indisponíveis, como
convenção arbitral, tal qual o condomínio, pelo síndico com a autorização da assem- também aqueles envolvendo bens fora do comércio e a grande maioria dos direitos
bleia de condôminos. A permissão, nestes casos, é um requisito essencial, ensejando públicos, quando a Administração trata de direitos fundamenrais da sociedade. Igual-
sua falta à invalidade da convenção arbitral.'> mente, direitos sobre os quais não se pode transacionar (como se referia no passado
Para atender à arbitrabilidade objetiva, exige-se que o objeto do litígio diga res- o Código de Processo Civil ao tratar da arbitragem, no are. 1.072 - revogado) são
peito a um direito patrimonial disponível, como diz a literalidade da norma. indisponíveis.
Direitos não patrimoniais, pois, de plano são excluídos do juízo arbitral. E assim, Em um primeiro momento, estas referências bastam para demonstrar que nem
os direitos da personalidade6 (direito à vida, a honra, a imagem, ao nome), o estado da todos os litígios podem ser levados à arbitragem.
Mas a análise mais aprofundada da arbitrabilidade dará, na prática, a dimensão
3. "Art. 178. O Miniscério Público será intimado par:i., no prazo de 30 (trinca) dias, intervir da arbitragem, e, muito além da que se teve na primeira década de vigência da lei,
como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas cm lei ou na Constituição Federal e nos
sua utilidade como instrumento para a solução de conflitos em diversas áreas hoje é
processos <fUe envolvam:( ...) li -interesse de incapaz( .. .)".
4. Em sentido apan.:mememe diverso, Luiz.Antonio Scavonc Junior escreve: ''O que se quer afirmar,
uma realidade.
diferenremente do que pensam alguns autores, é que as pessoas podem ser representadas ou Atualmente, enrão, busca-se espaço para a arbitragem "social", ou "democrática",
assistidas na convenção de arbirragem, desde que respeitados os limites decom:ntcs da matéria, não mais voltada a conflitos internacionais ou envolvendo grandes demandas, mas
que deve versas sobre direitos patrimoniais disponíveis. A~sim, com respeito às posições em
beneficiando um número muito maior de interessados.
sentido contdrio, nada ohsra que, circunscritos aos limites de mera administração impostos à
representação, tuccla e curatela, os país, tutores ou curadores possam representar ou assistir os Chamamos esta nova fase de segunda geraç,io da arbitragem doméstica, aprovei-
incapazes, firmando cl:íusubs ou compromissos arbitrais, que versem sobre direitos patrimo- tando o amadurecimento, solidez, respeitabilidade, seriedade, eficiência e bagagem
niais disponíveis desses mesmos incapa:tcs" (SCAVONE JUNIOR, Luiz Anronio. M1111w1l de científica alcançada pela primeira gem.fíio.
m·bitmgem. 3. cd. rev., acuai. e ampl. São Paulo: Ed. RT, 2010. p. 20-21).
5. No Capítulo 14, sohre "Arbitragem Tem,itica'' faremos a intersecção entre o instituto da arbi-
tragem e alguns temas de grande importância no cenário nacional e internacional, tais como jurisprudência, pelo (cor do que consta do Enunciado n. 4 do CJF/STJ da 1jornada de Direito
arbitragem e falência, arbitragem testamentária; .irbitragem no direito <le família ~·te. Citiil, aqui transcrito, reconhecem a disponibilidade relativa dos direitos da personalidade. A
6. A respeito dos direitos da personalidade, veja-se o que diz Flávio Tarruce: "Conforme consta rírnlo de exemplo, podem ser citados os casos lflle envolvem a cessão onerosa dos direitos pa-
no próprio art. 1 1 do CC, os direitos da personalidade são intransmissíveis, não cabendo, por trimoniais decorrentes da imagem, que n:ío po<le ser permanente. Tamhém ilustrando, cite-se a
n::gra, cessão de cais direitos, seja de forma gratuita ou onerosa. Oal porque não podem ser cessão patrimonial dos direitos do autor, segundo o art. 28 da Lei 9.610/1998, pelo qual 'cabe
objero de alienação (direitos inalienáveis), de cessão de crédito ou débito (direiros incessíveis), ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou cientifica'.
<le transação (inrransacíonáveis) ou de compromisso de arbitragem. No último caso, consta A cessão gratuita também é possível, como no caso de cessão de partes do corpo, desde que
previsão expressa no arr. 852 do CC em vigor, que veda o compromisso para a soluç:ío de para fins científicos ou altruísticos (arr. 14 do CC)" (TARTUCE, Flávio. Direito civil. 7. ed.
questões que não renham car:-íter estritamente patrimonial. Porém, tanto doutrina quanto Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método. 2011. vol. 1. p. 177).
ARRlTRARll.lDADF., PRINCÍPIOS 0A ARBITRAGEM E ESPfCIES 1 141
140 CURSO DEARIIIT!v\GEM

E assim, para aprofundar este relevante cerna, praticamente envolvendo a A autonomia privada no direito contratual concede às pessoas o poder de es-
tabelecer livremente de acordo com o sistema normativo, através de declaração de
latitude da arbicrabilidade, voltaremos a tratar do assumo adiante, no capítulo
vontade, como melhor lhes convier, a disciplina de seus interesses, gerando os efeitos
destinado à "arbitragem tcm:hica" (Capftulo 14, adiante), no qual será examinada
reconhecidos e rucelados no ordenamento jurídico, com opção, dente ourros aspectos,
a possibilidade de se levar à arbitragem questões envolvendo o direito do trabalho,
de contratar, ou deixar de contratar e negociar o concet'tdo do contrato.
o direito patrimonial de família, a partilha no direito sucessório, a falência etc.,
além da arbitragem societária com suas particularidades e em contratos com a Característica do negócio jurídico, representa, nas palavras de Vicente Ráo,
administração pública, estas últimas com modificações recentes introduzidas pela "o poder de autorregulamencação ou aucodisciplina dos interesses próprios (ou, em
Lei 13.129/2015 (Reforma da Lei de Arbitragem), que teve como uma de suas me- certo sentido, dos interesses representados)", dele resultando "a função disposiciva e
lhores qualidades, explicitar situações através das quais doutrina e jurisprudência a estrutura preceptiva, dos atos jurfdicos: nos atos unilaterais, como nos bilaterais, os
já se orientavam, mas alguma incerteza ainda existia, exatamente pela ausência de agences ou partes ditam e podem ditar, dentro dos acenados limites, as regras a que
7 se hão de subordinar as relações a que dão vida" .9
dispositivos expressos a respcito.
Preenchidos os pressupostos para sua escolha (capacidade de contratar a rcspei to
5.2. PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ARBITRAGEM de direito patrimonial disponível), é prestigiada a vontade das partes na arbitragem
cm seu grau máximo: começa com a liberdade para a indicação da arbitragem como
Como todos os institutos, a arbitragem submete-se a princípios próprios, além
forma de solução do litígio; e, prossegue, com a faculdade de indicarem todas as ques-
daqueles gerais do direito. Vejamos: tões que gravitam cm torno desta opção. Assim, estabelecem quem e quantos será(ão)
Autonomia privada (autonomia tia vontade):H a ucilização da arbitragem tem o(s) árbitro(s), de forma direta ou indireta, e como será desenvolvido o procedimento
caráter voluntário; t: a expressão da liberdade de escolha das partes. É fundamental arbitral (por exemplo, relativamente a prazos, locais para a prática dos atos, eventual
vontade dos interessados em estabelecer este método de solução do conflito. restrição para apreciação de medidas de urgência ou cutelas antecipadas sem ouvir a
parte contrária etc.).
7. Cf. breves considerações a respeito das modificações 1razitlas pela Lei 13.129/2015 cm "Anexo Até mesmo as regras de direito que serão aplicadas podem ser definidas pelas
2" desce "Curso''. partes, podendo convencionar que a arbitragem se dará por equidade, ou "se realize
8. A respeito ela distinção cnrrc autonomiiul" uomnde de ,wto,,omirt prillfuln, Vicemc R:lo c:scrcvc:
com base nos príndpios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras interna-
"Acr:wés cios :uos jurídicos, os agentes disciplinam os seus interesses (morais ou materiais),
atuan<lo sua vontade au.tônoma. A autonomia da vontade, por assim se exercer e desenvolver, cionais do comércio" (are. 2.0 , §§ 1.0 e 2. 0 , da Lei 9.307/1996), com limites a serem
na ordem privad:i, auronon1ia privada nm,bérn sé denomina. Há, porém, quem entenda que oportunamente tratados. 10
:is expressões 111am10111ia d1111(mt11de e 111tto11omi11 pri11arlt1 são sinônimas apenas apa.renremt·nte,
E na imensidade desta liberdade de opções, as partes, desde que de comum acor-
rra.du1..indo, na rc:ilidade, conccicos diversos: os que as confw,dcm, dfa Luigi .Fcrri (Nozion i
giuridka dl auconomia privam, Srudi i1101/(Jl'I! di f.imu:csco ./\i/asrim:o, 19'59, vol. IV/ 1 19 e ss.) s:10 do, podem modificaroquanco antes estabelecido. Assim, por exemplo, se inicialmente
p:inid:lrios do 'dogma dá von_cadc', são, isco é, os que juJgam ser ;1 vontade real ou psicológic:1 previu-se um colegiado arbitral, verificado o conflito apenas cm uma pequena parte
a t.iusa ou raiz dos efcims jm1dicos, cm contr:me com os que apontam como faros geradores do contrato, os interessados podem rever a posição inicial, e encaminhar, de comum
destes efeitos n lei, ou a dccla raç.'io de vont:tck cm1sidc.rnc6 como faro objetivo. Mus, segundo acordo, este conflito rescrito a árbitro único, ou mesmo indicar instituição arbitral
nosso modo de cnccnder, quando vemos na vontade autónoma, que na ordem privada se: exerce,
diversa daquela inicialmente prevista.
um clcmcnrn csscncia.l dos arns produtores de efoit0s jurídkos, não excluímos o valor, nem a
nece.~si.dnde d~ declaração, nem deixamos de considc::rJr que, cm pnndpio, :1 força produtora
de rais efeitos se cnconcrn n:i vontade dic.12. e atuamc, de conformidade com ordenamemo sob_ as sanções por este or<lenamenro estabelecidas, padecendo maiores ou menores limítaçücs,
jurídico. O problema cki prcclom/nio ou 11ão prcdontínio da vontade re:il ou subjctivn s()brc mais graves ou menos graves cominaçóes, segundo a relação de que se trace'' (RÁO, Vicente.
:1 vonwdc objetivamente dcclar:'ld:i é problcm:i distinto, que ao c1.r:tce.r autônomo da vonr:idc
Ato j11rídh·o: noç,fo, presJl(postos, i:le111e11tos esscilâflfr e ,1citÍem,IÍs: n p1·oh/enm dn conflito enti·e os
só por via reflexa diz respeito. Nem se destruiria o supo.sco 'dogma da vonmde' substiruindo-ô elementos 11oliti11os e tl dedt1mf1ÍO. 4. ed.São Pnulo: Ed. RT, 1997. p. 48-49). ·
pelo 'dog(na da declaração', ou pela força amante da lei: e.~cc pr()blcma é por demais complexo
9. Idem, p. 49-50.
e cx.ccdc os limites de quaisquer afirmações tnccg6ricas e simplistas., num sentido (lu noutro.
10. Por exemplo, tratando-se de procedimento que envolva a adminiscração pública, a arbícragcm
Observe-se, ainda, que a :iuconomin da vonrndc não exerce, apenas, dentro do campo delimi-
sc:d sempre <ledirciro, e: respeícad o princípio da publicidade.: (LArb., are. 2. 0 , § 3.0 , introduzido
rndo pela lei, nem se aplica tão sú aos concracos inominados, pois melhor se qunlifiw-i como
expressão de um poder criador que attl::i de conformidade com o ordenamento jurídico, ou pela Lei 13.129/2015).
142 1 CURSO DE ARBITRAGEM ARBITRABILIDADE. l'RINCÍl'IOS DA ARBITRAGEM E ESPfClES 1 143

Assim, a autonomia aqui confirma o poder das partes de modeJar, em conjunto, Kompetenz-Kompetenz: originário do direito alemão, este princípio, exclusivo
toda a arbitragem, desde sua eleição e seu início, até a sua conclusão, passando pelo da arbitragem, foi adotado pelo parágrafo único do are. 8. 0 da Lei 9 .307/ 1996, ao
seu conteúdo. E assim, este princípio é da essência deste instituto. estabelecer: "Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as
questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do
Advirta-se, porém, o prestígio da autonomia das partes, mas exercida necessaria-
contrato que contenha a cláusula compromissária".
mente em conjunto, ou seja, de comum acordo entre os interessados, não admitida
a imposição da vontade de um ao outro. Tratado como o princípio da competência-competência, seu acolhimento
significa dizer que, com primazia, atribui-se ao árbitro a capacidade para analisar
Apesar disto, merece registro a existência, em sistemas jurídicos estrangeiros, de
sua própria competência, ou seja, apreciar, por primeiro, a viabilidade de ser por ele
matérias que devem ser obrigatoriamente submetidas ao juízo arbitral. Em Portugal,
julgado o conflito, pela inexistência de vício na convenção ou no contrato.
por exemplo, há previsão na Constituição (art. 211 ), de "tribunais arbitrais", levando
os doutrinadores a sustentar que estes órgãos integram o sistema judicial. E assim, Estaregraédefundamentalimportânciaaoinsrirutodaarbitragem,namcdidaem
estão em funcionamento quatro destes tribunais para julgamento de causas específicas, que, se ao Judiciário coubesse decidir, em primeiro lugar, sobre a validade da cláusula, a
instauração do procedimento arbitral restaria postergada por longo período, e, por vezes,
como ligadas aos achados no fundo do mar.
apenas com o intuito protelatório de uma das partes cm esquivar-se do cumprimento
Também em Costa Rica existe a "arbitragem obrigatória para questões ligadas da convenção. O princípio, desta maneira, fortalece o instituto, e prestigia a opção
à previdência social (demandas entre o Instituto Nacional de Seguros e o segurado a das partes por esta forma de solução de conflitos, e afasta, em certa medida, o risco de
respeito do contrato de seguro) e para cerras questões oriundas de admissão ou recusa desestímulo à contratação da arbitragem, em razão de potencial obstáculo prévio a
de herdeiro em uma sociedade de responsabilidade limitada, entre outras" . 11 surgir no Judiciário diante da convenção, por maliciosa manobra de uma das partes.
Anote-se, porém, para quem for dedicar-se ao estudo da questão que, embora Na amplitude esperada da norma, o exame da arbi trabilidade exigida pelo art. I .0
se refira a "arbitragem", mais próximos estes sistemas a um juizado especializado, e da Lei igual mente se oferece primeiro ao árbitro, na exata medida em que será inválida
calvez assim devam ser trarados. De qualquer forma, representam exceção cada vez a convenção contrária aos requisitos deste artigo (arbitrabilidade subjetiva e objetiva,
mais remota nos países que desenvolvem a arbitragem. vistas no Capítulo 5, irem 5.1 supra). 14
E mesmo no Brasil já tivemos arbitragem obrigatória, em matéria comercial, Também assim, qualquer controvérsia a respeito da abrangência da convenção
abolida pelo Dcc. 3.900, de 26.07.1867. 12 de arbitragem, da extensão de seus efeitos e dos próprios poderes e atribuições do
É, assim, atualmente em nosso sistema, a autonomia privada que dá liberdade julgador para decidir a questão que lhe foi submetida se contém na jurisdição dele-
e força ao instituto da arbitragem. u gada ao árbitro por esta previsão do parágrafo único do art. 8. 0 da Lei 9 .307/ 1996. 15

11. CARMONA, Carlos Albeno. A,·bítm!(em c p,·olWO. São Paulo: Adas, 2009. p. 54. IH, e 23) ( ...)'' (apud BENEDETTI JUNIOR, Lidio Francisco. Da co11vençiio de "rbítmgi:111 l'
12. Cf., a respeito, Arnoldo W.ild: "O Código Comercial, de 1850, estabeleceu a arbitragem como seus efeitos. Disponível cm: [http://jus2.uol.eom.hr/doutrina/texro.asp?id="3951]. Acesso cm:
meio de solução obrigatório para diversos conAitos de car;ítcr comercial, entre eles o conflito en- 13.0c-í.2011.
tre s<Ício de uma sociedade comercial. No entanto, cm 1866 a arbitragem obrigatória foi abolida 1/4. O Superior Tribunal de Justiça confirma este princípio Kompctenz-Konrpetenz, e assim valoriza a
pela Lei 1.350, permanecendo cm vigor somente a arbitragem voluntária. O Dcc.3.900/ 1867, arhitragem, como se observa em n:cenrc e substancioso ac6rdão, no qual se colaciona doutrina
por sua vez, estabeleceu que a cl:tusub com promissória teria natureza de promeSS(I de co1/lratar, cdiver.ms precedentes <la Com:, relatado pdo Min. Moura Ribeiro, consignado na ementa: "4.
não sendo permitida a execução específica <lesta" (\VAI .D, Arnoldo. Maturidade e originalidade As questões rela.cionadas ;\ existência de cl:íusula compromissória v;ílida paro. fundamentar a
da arbitragem no direito brasileiro. /11: VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclcrc. Aspectm ti,, instauração do Juízo arbitral deve ser resolvido, com primazia, por de, e não pelo Poder Judi-
arhítmgem imtit11âo11al- 12 1111m da Lei 9.30711996. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 242) ciário. 5. O STJ tem orientação no sentido de que nos termos <lo art. 8. 0 , padgrafo único, da
13. Neste sentido, Sdma l.emes: "Princípio da Autonomia da Vontade é a mola propulsora da arbi- Lei de Arbitragem a alegação de nulidade da cláusula. arbitral, bem como, do conwuo que a
tragem em todos os seus quadrantes, desde a faculdade de as partes cm um negócio envolvem.lo contém, deve ser submetida, em primeiro lugar, à decisão do próprio árbitro, sendo prematura
direitos patrimoniais disponívei.~ disporem quanro a csr:i via opcional de conAitos (art. 1.0 ) , a aprecíaç:ío pelo Poder Judiciário. Precedentes.'' STJ, REsp. 1.602.696-PI (2015/0238596-1 ),
at~ como ser:í desenvolvido o procedimento arbitral, no que pcrrine à forma de indicação dos 3.~ Turma, v.u., j. 09.08.2016, no qual fomos honrados com a colação de passagens contidas
árbitros (art. 13), seja m;ucrial ou formal, desde que não viole os bons costumes e a ordem neste item da 2.ª edição deste ''Curso".
pública (art. 2.0, §§ 1° e 2°); se a decisão scní de direito ou por equidade (art. 2. 0 ) ; eleger a 15. Cf. a respeito, com detalhada an,ilisc d,1 matéria, pertinente acórdão relatado pelo Dcs. Roberto Mac
arbitragem institucional (art. 5.0 ) ; prazo para o árbitro proferir a scnrença arbitral (ares. 11, Cracken em que se conhrma, pela exata exegese do princípio em an,ílise, a atribuição ao :írhitro de
ARBITRABILIOAOE, PRINCÍPIOS OA ARBITRAGEM E ESPÉCJl!S 1 145
144 CURSO DE ARBITRACEM

Falou-se repetidas vezes da análise primeira pelo árbitro, pois ern momento Em situações especiais, como nos casos em que a instauração do procedimento
oportuno, após a sentença arbitral, a matéria poderá ser submetida ao exame do Judi- arbitral se fará por indicação do juízo estatal em cumprimencodacláusula compromis-
ciário, se o vício da convenção resultar cm alguma das hipóteses previstas no are. 32, sóri~ :~z_ía (are. 7.0 daLci 9.3~7/1996), 19 aconvençãoseráprcviamentcanalisada pelo
l, da Lei de Arbitragem (causas de invalidação da sentença arbitral). Ou seja, não se Jud1c1ano, de forma superficial, tal como também acontece quando uma das partes
exclui o juízo estatal, e nem se poderia, do exame da "existência, validade e eficácia ingressa com a ação no juízo estacai e a outra parte invoca a existência de convenção
da cláusula", mas esta apreciação se fará, se o caso, após a sentença arbitral pela atual de arbitragem com o objerivo de se extinguir o processo, sem resolver o de mérito
(are. 485, VII c/c art. 337, X, do CPC/2015). Verificada, primafocie, gritante vício
e aplaudida sistemática proposta. 16
7 na cláusula ou no próprio contrato, objetivamente apurado, cem sido admitido o seu
Neste sentido, o§ 2.0 do arr. 20 da Lei de Arbitragem, cujo caput1 estabelece
reconhecimento judicial nesta oportunidade.
o momento para os vícios da convenção serem arguidos pela parte: "Não sendo aco-
Como exceção à regra, a análise é circunstancial, ou seja, dependerá do quanto
lhida a arguição, terá normal prosseguimento a arbitragem, sem prejuízo de vir a ser
apresentado na hipótese submetida a exame. O relevante é saber que, diante de
examinada a decisão pdo órgão do Poder Judiciário competente, quando da eventual
uma anomalia evidente, detectada primo ictu oculi, há que se admitir a avaliação
propositura da demanda de que trata o arr. 33 desta Lei".
prévia (ou concomitante) do vício pelo Judiciário, permitindo-se-lhe, se o caso,
Existindo convenção de arbitragem, então, no JufzoArbítral é que as questões rela- seguir à apreciação do mérito do conflito, se reconhecer incidenralmence a inva-
tivas à existência, validade e eficácia da cláusula serão primeiramente apreciadas. Se uma lidade da previsão.
das partes, contrariando esra previsão, provocar o Judiciário para apreciação do conflito,
Como bem coloca Cândido Rangel Dinamarca, "o poder de apreciação pelos
cabe à outra alegar a c..-xistência de convença.o de arbitragem cm preliminar de conces-
árbitros não chega ao pomo de subtrair radicalmente aos juízes togados a competência
cação, como se verá adiante, devendo ser, nest<:: caso, extinto o processo, sem resolução
para avaliar os casos em que náo se possa sequer haver dúvida séria e razoável sobre
de mérito (Capítulo 6, icem 6.5 adiante; arr. 485, VH c/c art. 337, X, do CPC/2015).
a cláusula (dupla ínterpretaç-ão), suas dimensões, suas ressalvas, sob pena de abrir
E prestigiando o Princípio Competência-Competência, o novo Código de escâncaras à indiscriminada subtração dos litígios à apreciação pelo juiz natural. "211
Processo Civil esrabdece a extinção do processo, sem resolução do mérito também
Como já escrevemos em parecer sobre a matéria, reclama-se algum esforço para
"quando o juízo arbitral reconhecer sua competência" (arr. 485, VII, doCPC/2015)
se saber qual o limite e a extensão dessa reserva em que se constitui o art. 8. 0 , pará-
evitando a concomitância de ações com a mesma qu<::stão incidente, e discussão sobre
grafo único, da Lei 9.307 / 1996, mas o discrimen parece ser o bom senso. Se, por um
qual das decisões deva prevalecer. 18 lado, a arbitragem não pode ser desprestigiada com a utilização do Judiciário como
instrumento para contaminar a sua dinâmica, de outro lado nJo se pode ficar refém
decidir i11ch.1sive sobre os efeitos subjetivos da cláusula compromis_~ória, estabek:ce11do qm::m devem do Juízo Arbitral cm casos cuja solução neste ambiente está, sem dúvida, totalmente
ser as parres no procedimento, com :is seguintes passagens cm sua ement:1: "Ex.ceçfo a<> princípio comprometida por vícios insuperáveis.
do livre acesso i1 justiça ou da inafu.srabílidade da jurisdição. Questões relativas :1 existência, validade
e efidcia da convenção th arbitragem e do conrraco que pos.~ui a cl;iusula wmpromissúria, hem Polêmica e atual a questão, cm recente pronunciamento do TJSP a matéria foi
como daqueles que serão :i.tingidos ela sentença arbicral que se enconir.im sob a apreciação discri- largamente debatida, e restou concluída por maioria devotos, a demonstrar a sua com-
cionária do :írbitro. Regra do Kompctenz- Kompetmz. fundo internacional que firma termo que plexidade (Agln 0304979-49.2011.8.26.0000, 6.ª Câm. Dir. Priv., j. 19.04.2012).
previ:1 exrress:unenr<.: ser :itlitivo de contraco qm: avançou l solução de conHíto por arbitragem. (...)
Cláusula compromissória :.ive11ç:1d:1 regularmenre. Arbitragem que produziu seus efeitos nos limites
pr<>prios e per:uuc aqueles qu<.: se enwmr:un envolvidos com o dirciro disponível controvertido." de sua respcctíva jurís<liçfo ("comper1::ncia"), concluindo-se no jul1,ramenco deste precedente
debatida (TJSI~ Apclac;:i.o Cível 0214068.16.2010.8.26.0100, 2a. Câmara de Dir~ico Privado, v.u., esp:cífico, além dos deb:i.tc~ a respeito do cabimento do in<:idcnte, pelo prosse1,'l.limenro do pro-
j. 16.10.2012 - Fundos Ma!linPatccrson vs. VRG Linhas Mrc.1s S/A). cedimento arbmal cm demmenro <lo processo ju<licí:i.l (STJ, CC 111.230/l)f (2010/0058736-
16. Cf. STJ, REsp. 1.278.852-MC. Rc::l. Min. Luis Felipe Salom1o. 4." Turma, j. 21.05.2013. 6),_ rei. Min. Nancy An<lrighi, 2.ª Scç:ío, m.v., j.08.05.2013). Embor:i. este precedente mais se
17. ''Are. 20. A p:irre que pretender arguir questões relativas i, compcr~·ncía, suspeição ou impc<li- refira ao conHiro entre liminarcs contidas cm mc::did:is de urgc::ncia requeridas, tem a mesma
mcnro do ~hbitro ou dos ;írbitros, bem como nulidade, invalidade ou incfidcia d:1 convençfo essência do quanro aqui tratado: a definição de qu:11 juíw ced jurisdição p:i.ra prosseguir no
conhecimento e julgamento da maréria, prevalecendo o :1rbicr:1l se afirm:i.r :1 sua "compet.3ncia".
de :irbicragem, deverá F..w'.:-lo na primcir:1 oportunidade que tiver de se manifestar, após a
19. C[ Capítulo 6, item 6.2.2, a<liance.
instiruiç:ío d:i. arbitragem.''
18. A inovação.: percinence, pois j;-í se reve inclusive incidente de Co11Aito de Compet1::ncia junco 20. Recomenda-se a leitur:i. do quanto desenvolvido pelo Professor a respeito do rema no item 28
ao Superior 'fi-ibunal de Jusciça cm razii.o da afirmação por ambos os Juíws (arhicral e judicial) (p. 93-97) tle seu livro A arbitragem na ieorin gemi do pn)l'(:Jso. Slo P:i.ulo: Malheiros, 2013.
146 1 CURSO DE ARBITRAGEM ARfllTRAlll!.lDADE. PRINcfPIOS DA ARBITRAGEM E ESPÉCIES 1 14 7

No caso específico, o E. Desembargador relacor PauloAlcides admiriu a tutela segundo a qual: "Nos termos do artigo 8. 0 , parágrafo único, da Lei de Arbitragem a
inibitória no Judiciário brasileiro, para obstar ou limitar a acuação do juízo arbiual alegação d~ nulidade da cláusula arbitral instituída cm Acordo Judicial homologado
instaurado em Londres, diante da alegada gravidade do contexto apresentado aliado e, bem assim, do contrato que a contém, deve ser submetida, cm primeiro lugar, à
à afirmada nulidade evidente (ou até inexistência) da convenção arbi rral, e foi seguido decisão do próprio árbitro, inad missível a judicialização prematura pela via oblíqua
pelo 3. 0 julgador. 22
do retorno ao Juízo.", encontrando-se inclusive decisões monocráticac; com idên rica
Pelo igualmente bem fundam cncado voto vencido do E. Desembargador e posiç~o, conh~cendo e dando provimento ao Recurso Especial, proferidas pelo Minis-
Professor Alexandre Lazzaríni, entendeu-se, pelas circunscâncias fornecidas, caracce- uo Ricardo VilJas Bôas Cueva, para quem "a jurisprudência desta Corte encontra-se
rísticas do negócio e qualidade dos contratantes, não se evidenciar vício na convenção, consolidada no mesmo rumo da tese defendida nas razões do especial, no senrido d e
merecendo prestígio, enrão, o princípio da competência-competência, reservada a q ue a alegação de nulidade da cláusula arbitral insricuída em acordo judicial h omo-
revisão pelo Judiciário em momento oporrw10. logado deve ser submetida, em primeiro Jugar, à decisão do próprio juízo arbitral. " 13
Saber se está ou não configurada a situação teratológica neste caso apontado é Previsto o princípio no parágrafo único do art. 8.o, note-se a confirmação do
matéria reservada ao livreconvencimenro mocivado dosJLLlgadores, que, aUás, muito estabelecido no caput-. "A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato
bem fundamentaram suas conclusões no precedente referido. Nesta oporrunidadc, em que estiver inserta, de tal sorte que a nulidade deste não implica, necessariamente,
o imporcame é destacar a relevância da matéria, e firmar a tese de que, em caráter ~ n~li~:de da_cláusula compromíssória". Significa dizer que a escolha das partes pela
excepcional, quando assi rn q uai iiicada a hipótese pd as circunstânc_ias...ap:esen :adas, Junsd1çao arbmal demonstra a opção destas cm ter a avaliação neste Juízo da existência,
admite-se a quebra da primazia do J ufzoArbirral para conhecer da ex1srenc1a, validade eficácia e validade de rodo o instrumento.
e eficácia da convenção.
~ode parecer estranho, e sem sentido, dar ao juízo acbitral a competência para
Mas em regra, como visco, o princípio Kompetenz-Komp etenz traz um efeito nc- apreciar a sua competência. Veja-se que, nesta tarefa, pode o árbitro, ao reconhecer a
gnti110, ao afastar do Judiciário o exame da exisrência, validade e efi~cia da conven~o existência de vício na convenção, cxti nguir o p rocedimento registrando a inviabilidade
antes do ju(zo arb itral, preservada, porém, para m omento p osterior, e nas restm as da instauração da arbitragem. Ora, se não é possível a arbitragem, como o árbitro tem
cond ições previstas na Lei (are. 32), a reapreciação a qm:stão. poderes para julgar esta questão e assim decidir?
E neste sentido, recente acórdão do Superior Tribunal de Justiça, relatado pelo . Na verdade, embora se traduza com o p rincípio da competêncía-competêncía, e
Ministro Lu_is Pelipe Salomão, no qual se consignou: ''2. A cláusula com promissória as.sim se refira a doutrina ao identificar esta regra, como ames referido, se contém
'cheia', ou seja, aquela que conrém, como elememo mínimo a eleição do órgão con- ne~te ~rincípi_o a essência da jurisdição que, in abstracto, é inerente ao árbitro, pois se
vencional de solução de conflitos, tem o condão de afastar a competência estacai para ~tn_bu~ ~ ele, m concrecto,? p oder de avaliar o litígio a ele submetido e concluir p ela
apreciara questão rclaciva à vaJidadedacláusulaarbitral na fase ini:ial do proced_i~en~o 10v1abil1dade de sua apreciação no seu próprio juízo arbitral, ou seja, diz o árbitro que
(parágrafo único do are. 8.0 , e/e o art. 20 da LArb). 3. D e faro, e certa a coex1stenc1a a m atéria não é arbitrável, e assim, impossível de ser por de apreciada. D esta forma, a
das competências dos juízos arbitral e rogado relativamcnre às questões increnres à regra confirma uma vez mais a opção legislativa de outorgac j urísdição ao juízo arbitrai.
cxisr~ncia, vaJidade, extensão e eficácia da convenção de arbitragem. Em verdade -
Neste caminho a doutrina, à qual nos filiamos, d iz que o princípio da compe-
excluindo-se a hipótese de cláusula compromissória patológica ("em brnnco") - , o
tência-competência deveria ser da "jurisdição-jurisdição". O árbitro tem competência
q ue se nota é u ma alternância de competência enrre os referidos órgãos, porquanto a
p~ra avaliar a po_ssi?ili_d~de de o lití~io ser submetido à sua jurisdição ou não,2"'1 haja
ostentam em momenros procedimentais disámos, ou seja, a possibi !idade de atuação
vista a narureza ;unsd1c1onal da arbmagem, conforme completa Daniel Bushacsky:
do Poder Judiciário é possível cão somen te após a prolação da sentença arbitral, nos
termos dos arts. 32, I e 33 da Lei de Arbicrngem." 11 confi rmando orientação já anres
manifestada, d entre outros, em precedente relatado pelo Ministro Sidnei Beneri , 22. STJ, Rfap 1.302.900/MG, 3.• T., v.u., j. 09. 10.20 12; cf. ainda, do mesmo Relator: REsp
1.279.194-MG, l.288.251'MG, REsp 1311 .597/MG e REsp 1.327.820/MG.
23. STJ, REsp 1.283 .388/MG e REsp J.283.388/MG, 3." T., ambos decididos em j. 22.10.2012.
21. STJ, R.F.sp 1.278.852/MC, 4.' T, j. 21.05.201:3, v.u., con,rando eh ementa: "An,llisc da 24. O~ c~mo di-t Cin?i~o Rangel Din;im:irco: ''é ;i competência do próprio irbitro para em
validade de chíusula compromissória 'cheia'. Competência exclusiva do Juízo convencional n.t pnme1r? luga~ d_ec1d1r sob~~ a concreta exisc~ncia da jurisdição arbitral, sempre que a arbi-
fuse inicial do procedimento arbicnl. Possihilidade de exame pelo Judici:írío somente após a tragem J,I escep msraurada (A flrbitmgem 1111 tc'oriri gC'ml do processo. São Paulo: Malheiros,
sentença arbitral ( ... ) Precedentes da Terceira Turma do STJ. 5. Recurso especial provido". 201 3. p. 94).
148 1 CURSO DE ARBITRAGEM ARl31THABI LIDADE, PRINCÍPIOS DA ARBITRAGEM E ESl'ÉCI ES 1 149

"Aqui um parênteses: detim o árb.icro comle~ência p~~ d~cidir sobre sua jurisdiç~o gestão das etapas e trâmites da arbitragem. A instituição não julga o conAito, embora
e não, como vulgarmente tratado, co mpetenc1a para dm m~r s?b~e ~ua competê':_aa. renha atribuições, muitas vezes, para resolver algumas questões periféricas, apenas
O rigor técnico assim impõe, pois a arbitragem afasta a JUrtsd1çao es~acal e nao a administra o procedimento.
competência de um órgão do ~róprio poder_J~tdiciário. T r~ca-s~ de analisar qu~ d.as Os árbitros não se confundem com a Instituição, embora na maioria das ve-
duas jurisdições-escac-a.l ouarb1rral - esrá legmmadaa ~prec1are Julgaraco~crovers:ª· zes sejam eleitos por ela ou pelos interessados dentre aqueles relacionados em sua
Nesse particular, merece aplauso a Lei de Arbitragem mglesa, de 1996, cuJa redaçao lista de árbitros. Não são delas "funcionários", e, na independência característica
• 15
I • )')

dos ares. 30 a 32 emprega o termo com esse ngor tecnico . de sua atividade, exercerão a atribuição que lhe for conferida para cada caso espe-
Devido processo legal: enquanto jurisdição, a arb,ir.ragem deveo_bede~erao princípio cífico. Assim, a jurisdição é exclusiva do árbitro, cabendo à instituição as funções
do devido p1'ocesso legal, em decorrência do qual, vanos outros prmdp1os se se?u~, de "secretaria".
como os inseridos no próprio corpo da Lei deArbirragem, que são o do contrad1tóno, Comparando-se com a estrutura do Poder Judiciário, apenas para facilitar
igualdade das partes, imparcialidade do árbitro e livre convencimento (art. 21, § 2.º, a compreensão, a instituição exerce as atividades cartorárias, de gerenciamento
da Lei 9.307/1996). do procedimento, preparação do expediente necessário para provocar e receber
Porém, apenas por razões didáticas, deixamos para apresen rar estes prindp i.os no as providências das partes e para realização de audiências, diligências e atos ins-
capítulo desúnado ao procedimento arbitral, pois naquele momento é que deverão trumentais etc.
ser observadas estas regras. Na arbitragem adhoc, ou avulsa, é feita diretamente a indicação do árbitro, sendo
ele totalmente independente e desví nculado de qualquer instituição para a arbitragem
5.3. ESPÉCIES DE ARBITRAGEM- INSTITUCIONAL OU AVULSA
a que foi nomeado. E, assim, caberá ao árbitro, ou à estrutura por ele criada, o cui-
(AD HOC) dado com o desenvolvimento do procedimento em todos os seus detalhes, inclusive
Na diversidade peculiar do juízo arbitral, a arbitragem pode se dese~volver instrumentais. As funções "carcorárias" nele ou em sua estrutura pessoal criada são
através de duas maneiras cotalmenre distintas: arbitragem institucional ou arbmagem centralizadas também.
ad hoc, também chamada de avulsa. Embora possa parecer estranho, para determinadas questões, pelo objeto
A origem, requisiros, princípios e características d a arbirra?em estão prese_nres (exclusivamente de direito) ou partes envolvidas (maior proximidade), vai bem
em uma e outra espécie. Também a acribtúção ao árbicro ou áxb1tros para apreciar o a arbitragem avulsa. Seria como um parecer jurídico, encomendado a um expert
conflito é idêntica. A diferença entre estas espécies reside na escolha pelas parces de indicado por amhas as partes, ou um "parecer técnico", como avaliação ou iden-
uma instituição aparelhada para adminismu o procedimento ou de um ái·bitro (ou
colegiado) para diretamente conduzir a arbitragem. como atividade tipicamente estatal, r:rz.ão pela qual as instituições constituídas para o seu
Na arbitragem institucional indica-se a instituição, geralmente nom,ina~a c~mo exercício não estão autorizadas à utilização das Armas e demais signos da Repúbfü:a Fe<lerativa
"Câmara", "Centro", ou até, impropriamente, "Tribunal", 26 a quem sera atr1bu1da a do Brasil (art. 13, § 1.0 , CF c/c o art. 26 da Lei 5.700/1971 )" (Conselho Nacional de Justiça;
rei. Conselheiro Douglas Alencar Rodrigues; Pedido de Providências n. 533; 25.03.2010).
Ademais, o uso indevido das Armas e demais signos da República confundem a população,
25. BUSHATSKY, Daniel. Relação entre falência e arbitragem: jurisprudência estadual comentada. principalmente <las classes sociais menos favorecidas, induzindo-os a erro, e desprestigiando
Jm NavígtfJ1di. n. 2843. ano XVI. Teresina, abr. 2011. Disponível cm: [lmp://jus.uol.com.br/ o instituto da arbitragem. Observe-se a respeito, cambém, ementa do Tribunal Regional do
revista/rexco/18900). Acesso em: 14.06.2011. Trabalho:«(. ..) 3. Tribunal de Arbitragem. Pessoa jurídica de direito privado. Pr:ítica homolo-
26. Ri:ssaltando a inadequação do nome Tribunal ArbirraJ para instituições, conÍ,ra-sc a recoo~cn- gatória de acordos cm rescísões trabalhistas. Ofende o sentimento comunit,írio a conduta de
dação dú Conselho Nacional <le Justiça, no f>edido de Providêncbs n. 533, com a se?u1.11 rc quem expõe, Íntencíonalmence, aparência de oficialidade que sabe não ter. fludc o sentimento
cmcnt:1: "Consulta. Tribunais Arbit.r'.1.i~. Lei 9.307/1996. Utifo.ação da.~ Armas da Rtpublicn. do cidadão comum que confia na conduta "oficial'' e a ela se sujeita. Esta é a lesão moral sofrida

fmpossibili-dade L..:gal. As entidades jurídicas co11.stiruídas para o e.xerdcio função ~rbimtl, neste caso: a violação do sentimento de confiança pela condum do tribunal réu que utili:wu-se
enquan to insumições dpicas de dircirn prh•:tdo {Lei 9.307/1996), n5.o se 111serem, d1r~ta óU da aparência da oficialidade. Já não importa se a situação do réu foi lícita ou não. Importa é
indiremmcme, encre os órgãos da-soberan.ia do Esrnd o. Ainda q ue íigurc como alrcrnauva no que se aproveitou indevidamente da imagem do Judici.írio para imprimir credibilidade aos
~isrcma oficial de resolução de disputas, a :irbitragem - excrcir.tda por s~1jcicos estr:inho~ às seus próprios atos, induzindo empregados à folsa crença cm autoridade. Toda a comunidade
hos.tcs do Poder Judiciário (que se submecem as regras próprias de invesqdura) e apcn.as .ins- licou exposta a esta conduta e daí a existência do dano moral coletivo" (TRT 1O.ª R., RO
tituem mediante o concurso de vontades dos atores envolvidos no cooffüo - não se <1ual1Í,ca 00395-2003-005-10-00-9, rei. Juíza Elkc Doris Jusr, DJU 07.05.2004).
ARB!TRABILIDADE, PRINC:Íl'IOS DA ARBITRAGF.M E ESPÉCIES 1 151
150 1 CURSO DF. ARBITRAGEM

tificação de um problema específico (origem de vazamento, apuração de falha em seja um daqueles integrantes da relação. 30 E ainda, algumas câmaras têm procedimento
um serviço e até o evaluation de uma empresa etc.), entregue em conjunto pelos de escolha do árbitro pelo seu presidente, secretário ou conselho, e não pelas partes.31
interessados a um especialista, porém, com efeito vinculante aos envolvidos (ao O que não se pode é elaborar convenção arbitral contraditória com o regulamento
constituir o resultado um título executivo judicial), quando respeitados os requi- da câmara escolhida. Daí a importância de se conhecer e estudar o regulamento da
sitos e características da arbitragem. instituição para verificar aquela que mais se adapta às perspectivas dos interessados.
A parte pode se sentir perfeitamente confortável em acolher a regra de escolha do
Mas, sem dúvida, poucas, poucas mesmo são as arbitragens avulsas, e o seu
número de árbitros pela instituição, ou pode preferir ter a prerrogativa de optar por
sucesso depende muito da adequada assessoria jurídica dos advogados das partes,
árbitro único, quando, então, determinadas instituições não poderão ser deitas na
inclusive com relação à análise de sua viabilidade e formalização. convenção. Esta questão certamente passa pela escolha da instituição.
Com igual importância a análise da estimativa de custos da arbitragem nas di-
5.3. 1. Arbitragem institucional
versas instituições. Cada câmara cem autonomia para apresentar a sua rabeia de custas
Na arbitragem institucional, também chamada arbitragem administrada, a por procedimento, geralmente estimado de acordo com o valor da causa e conside-
solução da controvérsia se encomenda a uma instituição de arbitragem , por expressa rando, ainda, atos praticados (audiências, diligências etc.). Também haverá previsão,
vont~de das partes, ou por decisão judicial nas hipóteses em que assim se permite no regulamento, da responsabilidade pelo seu pagamento (por ambas as partes ou
(are. 7. 0 da Lei 9.307/1996, adiante analisado) . apenas por uma delas, inclusive com eventual previsão de reembolso pelo vencido).
Esta instituição cuidará dos trâmites procedimentais para se realizar a arbi- O valor das custas destina-se à prestação de serviços na condução do procedimen-
tragem. Com.o ances referido, rrara-se, basicamente, de atribuição cartortí.ria, a ser to, e pode variar muito de acordo com uma ou outra instituição. Não se confunde,
desempenhada com a finalidade de dar ao(s) árbitro(s) e às partes as condi.ções para e é independente, do valor dos honorários do(s) árbitro(s), igualmente variável, mas
o desenvolvimento e conclusão da arbitragem. geralmente com estimativa possível de ser obtida.
Cada instituição, com cocal independência, terá suas regras previstas em seu re- Além de cuidar da tramitação do processo, e, se o caso, indicar o(s) árbitro(s), a
gulamento, e nde serão estabelecidas as formalidades, erapas, providências, trâmites, instituição também exerce outras relevantes atribuições, dependendo, logicamente,
e demais previsões procedimentais para ai nscauração, organização e desenvolvimento da estrutura e previsão em seu regulamento, dentre elas, como, por exemplo, resolver
omissões e dúvidas no procedimento, e apreciar incidente de impugnação ou remoção
da arbitragem. 27
de árbitros, através de seu Presidente, comitê ou conselho instituído para este fim. 32
A instituição, pessoa jurídica autônoma (sob as diversas formas previstas em
nosso ordenamenco/8 cais como associações ou sociedade empresárias), ou estrutura Por fim, registre-se a existência no Brasil, desde 1997, do Conima - Conselho
destacada dentro de uma pessoa jurídica/-') pode ter uma relação de mediadores e Nacional das Instituições de Mediação eArbitragem, entidade cujo objetivo é congregar
e representar entidades de mediação e arbitragem, visando o aprimoramento de sua
árbitros, dentre os quais a parte fará a escolha, ou admitir a indicação de terceiros.
atuação, bem como o desenvolvimento dos métodos extrajudiciais de solução de
Por vezes, na formação de um painel arbitral, o regulamento permite a indicação de
~on~m~1érsias, valorizando a qualidade e ética das atividades desempenhadas pelas
á rbia·os externos pelas partes, porém aponta q ue o presidente do "Tribunal Arbitral"
mst1m1ções.

27. Podem as parte:. no presrígio 11 autonomia da vontade, adapcar, segundo seus interesses, a~
0
n:gras propostas pela instituição. A respeito da arbitragem ínscirucional, veja-se o art. 5. da Lei 30. Anore-se a inovação legislativa na reforma da Lei cra1.cndo polêmico dispositivo pelo qual ''As
9 .307 / 1996: "Reportando-se as partes, na cl:íusula com promissória, à.~ regras dc algum órgão partes, ~e c~m~m acordo, poderão afastar a aplicação de dispositivo do rcgulamcnrn do órgão
arbitral ou entidade espcci:i.lizada, a arbitragem será inscimída e processada com tais regras, arbmal msucuc1onal ou cnt1dade cspeciali1.ada que li mice a escolha do ,irbicro único, coárbicro
ou presidente do tribunal à respccciva !isca de árbitros, autori1.ado o controle da escolha pelos
podendo, igualmente, as partes estabelecer na própria cláusula, ou cm outro documenro, a
órgãos competentes da instituição" (LArh., are. 1.,. § 4. 0 , incrodu1.ido pela Lei 13.129/2015),
forma convencionada para a ínsticuição da arbicragcm".
tema este a ser oportunamente tratado (Capículo 7, item 7.3, e cm "Anexo 2'' adianrc).
28. Como a Camarcom (Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem de Belo Horizonte), a
Camarb (Câmara de Arbitragem Empresarial- Brasil), o Caesp (Conselho Arhitral do Estado 31. Cf. Capítulo 7, item 7.3 adiante.
de São Paulo), e o Cebramar dentre ot1cras instituições. 32. Ainda, para ilustrar, cf. regulamemo da CCI - pelo qual há previsão expressa de instituição
29. Como o CAM-CCBC - Centro de Arbim.gem e Mediação da Câmara de Comércio Br:isil- pela Câmara de árbitro para apreciação de medidas urgcnces, como se verá ao ser<.:m analisadas,
cm capítulo pníprio, as medidas cautelares no juí1.o arbicral.
-Cana<l,\, e a CBMAE - Câmara Brasileira de Mediação e Arbitragem Empresarial.
152 1 CURSO DE ARBITRAGEM J\RFl!TRABfL!DAüE, PRINCfrros DA ARBITRAGEM E ESPÉC!F,S 1 153

Dentre ourras atribuições e atividades, o Conima promove a oriencação aos seus e~ profissional de :xtrema confiança d as panes, com aptidão e experiência para
filiados nas mais diversas áreas, propondo C ódigo de Ética para árbio-os, mediadores tao específica atuaçao, além de uma adequada delimitação pelas partes de critérios
e insticuições, além de promover e patrocinar eventos, relacionar filiados, manter e par~metros na convenção arbitral, tudo para se preservar a eficiência validade e
"Ouvidoria Geral", divulgar a "Cartilha Arbitragem" desenvolvida pdo Ministério eficác1a da solução arbitral. '
da Justiça, a "Cartilha OAB/SC", a "Cartilha Boas Práticas" e gerenciar o projeto
"Selo Amizade". 33 5.4. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

5 .3.2. Arbitragem ad hoc ou avulsa FONSEC~, ~odcigo Garcia da. O princípio ~on:ipctência·competéncia na arbitragem. Uma perspectiva
bras1lc1r:i. Revuttt de Al·b1tmge111 e Medi11ç110. n. 9. ano lTJ. São Paulo, abr.·jun. 2006.
Na aJbirragcm ad hoc, ou avulsa, não há intervenção da instiruição ou entidade TfBU~Cl_O, Carmcn. O princípio <la kompetenz·kompetenz revisto pelo Supremo Tribunal Federal de
especializada. O árbitro será a única figura des ce procedimento, ficando aos seus cui- Jusnça alemão (/mnde~gcriclmhofi. ln: ~EMES. Selma Ferreira; CARMONA, Carlos Alberto;
dados, a partir da acei cação de sua nomeação, codo o desenvolvimento da arbi cragem. MA_~TJNS. Pedro Batista (coord.).Arb,.tragem: esnidoscm homenagem ao Prof. Guido Fernando
da Silva Soares. São Paulo: Adas, 2007.
Nada impede seja pelo árbicro criada uma equipe ou estrutu ra para a prática de
atos instrumentais à reafüação da arbitragem, mas cudo será sob a sua responsabili-
dade direta.
Ao árbitro caberá, assim, além do exercício da jurisdição, a administração do
procedimento.
Em especial, ao irbicro competirá estabelecer as regras acerca do proccdimcmo,
respeitado, porém, o que civersidc> csci.pulado pelas partes na convenção arbitral (dáu~
sula e ou compromisso, conforme o caso; cf arrs. 5.0 , 11 e 2 1 da Lei 9.307/ l 996). E
na admin isuação do respeccivo procedimento, incidentes, lacunas e demais questões
relativas ao regular andamcnco da arbitragem são solucionadas pelo próprio árbitro.
Permitida maior Aexibiüdadc earé iJ1formalidade, o ideal é, porém,seguirparâmeuos
preestabelecidos, para se conferir segurança ao procedimento, e preservar os direitos
das panes e os princípios da arbitragem.
Nada impede que a arbitragem ttd hoc se desenvolva, também, perante um
colegiado. Nesca hipótese, tudo o quanto se disse com relação às arribuições do
árbitro, estende-se ao painel arbitral. Porém, é indispensável que se ccnl1am regras
próprias e bem delineadas para a formação do colegiado, pois só a partir de enrão,
com a aceitação dos árbitros ao encargo, se rerá instaurada a arbitragem, e delegadas
as atribuições a eles inerentes.
A opção por este modelo pode trazer uma redução de custos, porém, como
referido, haverá necessidade de uma escolha do árbitro muito bem feita, recaindo

33. O Selo Amigo da Mediação e Arbitragem é uma iniciativa que vi"3 à divulgação e o desenvolvi·
mento da Medíaçiío e Arbitragem no Brasil de forma ética e responsável. A empresa que adota o
Selo Amigo da Mediação e Arbitragem atesta e apoia a utilização dos métodos alternativos parn
a solução de conflitos por acreditar na necessidade e eficácia desses instrumentos. Cf. (www.
conima.org.br]. Acesso cm: 05.01.2017. A Espanha também possui seu selo de arbitragem,
sendo importante método de divulgação do instituto e um diferencial para as empresas que o
adotam .
...

6.
Convenção arbitral
ROTEIRO DE ESTUDOS

1. Considerações iniciais sobre a convenção de arbitragem


2. Da cláusula compromissóría
• Requisito (forma)-art. 4.º
0
• Cláusula arbitral cheia - art. 5.
• Cláusula arbitral vazia (em branco)
• Procedimento para instauração da arbitragem - arts. 6.º e 7 .º
• Cláusula escalonada (Med-Arb; DB-Arb) 6.1. DA CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM
• Cláusula patológica A convenção de arbitragem é a matriz desce método de solução de conflito.
0
3. Autonomia da cláusula compromissória -art. 8. Ou seja, é a forma pela qual as partes exercem a sua opção pela jurisdição arbitral. E
4. Do compromisso arbitral - art. 9.º represenra o espaço da liberdade, o lugar para as partes contratarem livremente (nos
• Requisitos obrigatórios - art. 1O limites da lei) a arbitragem e seus detalhes.
• Requisitos facultativos- art. 11 Bem delineada a convenção, há expectativa de um caminhar tranquilo para a
• Extinção do compromisso - art. 12 solução do conflito. Porém, se vícios ou falhas vierem a existir nesta fase, compromete-
S. Efeitos da convenção arbitral -se a saúde da arbitragem, exigindo um tratamento de menor ou maior complexidade,
• Efeitos positivos podendo até mesmo obstar sua utilização.
• Efeitos negativos - art. 337, X e§§ S.º e 6.º e/e art. 485, Vil, do CPC/2015
Em nossa legislação, há expressa referência à convenção, como o gênero do
qual são espécies a cldusula compromissóría e o compromisso arbitral (art. 3.0 da Lei
9.307/1996). 1
A cldusula compromissória é a previsão em contrato de que evencuais conflitos
dele emergentes serão resolvidos pela arbitragem. Tem caráter preventivo, na medi-
da em que as partes estão na expectativa de contratar e honrar seus compromissos
contratuais, porém desde então deixam previsto que eventual conflito decorrente do
contrato deverá ser resolvido por arbitragem, não pelo Judiciário. 2

1. Difere, pois, de outros ordenamentos, como o espanhol, em que não se faz a distinção, na
norma, <la d,íusula ou compromísso, tendo cm vista a histórica familiaridade com o instituto
SUMÁRIO e as característícas de uma ou outra forma de se eleger a arbitragem - neste país as partes se
6.1. • DA CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM.................................................................................................. 157 comprometem a resolver seus conflitos através do couvênin arbitral. Por oucro lado, frança e
6.2. • DA CLÁ.USULA COMPROMISSÓRIA........................................_........................................................ 158 Itália adotam a divisão entre cláusula e compromisso, como o Brasil.
6.3. • DA AUTONOMIA DA CLÁ.USULA COMPROMISSÓRIA............................................................... 179 2. Anocc-se que a jurisdição arbitral é limitada à tutela de conhecimento e, conforme as circunstân-
cias, ao reconhecimento e deferimento de tutelas de urgência, sendo excluídos da arbitragem os
6.4. • DO COMPROMISSO ARBITRAL......................................................................................................... 181 processos ou atos coercitivos ou de execução e cumprimento de sentença; assim, por exemplo,
6.5. • DOS EFEITOS DA CONVEMÇÃO ARBITRAL..................................................................................... 190 mesmo comida no contrato cláusula compromissória, se o descumprimento ensejar execução
6.6. • DA CONVIVÊNCIA ENTRE A CLÁ.USULA COMPROMISSÓR IA EA ELEIÇÃO DE FORO... 195 por tírulo extrajudicial, como para pagamento do valor, esta se dad exclusivamente perante o
6.7. • BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA........................................................................................................ 195 Judiciário.
CONVENÇÃO ARBITRAL 1 1 59
158 1 Cl!RSO DE ARBITRAGEM

escrito, podendo estar inserca no próprio contrato ou em documento apartado que


Já o compromisso arbitralé o instrumento firmado pelas partes por meio do qual,
a ele se refira"(§ 1. 0 ).
diante de um confüto manifesto, já deflagrado entre os envolvidos, faz-se a opção por
direcionar ao juízo arbitral a jurisdição para solucionar a questão. Vinculada a cláusula compromissóriaa um contrato, automaticamente o objeto
Nesse caminho, a Corte Especial do STJ já assim decidi u: a diferença encre as da arbitragem será, no máximo, o quanto se contém no negócio jurídico a que ela se
duas formas de ajuste consiste no faro de que, enquanto o compromisso arbio;al se adere, podendo, as partes restringir a abrangência do juízo arbitral a parte ou a certas
desci na asubmecerao juízo arbitral uma comrovérsia concreta já surgida entre as par- e determinadas questões.
tes, a cláusula compromissóri;i objetiva submeter a processo arbi rral apenas questões Salvo a previsão expressa para a cláusula inserta em contrato de adesão, com
indeterminadas e futuras, que possam surgu· no decorrer da execução do contrato requisitos próprios a serem analisados em separado,3 a formalidade exigida restringe-
(STJ, Corte Especial, SEC 1.210/GB, j. 20.06.2007, Mio. Fernando Gonçalves, D] -se à celebração por escrito. Permitida a sua previsão em documentos distintos, não
06.08.2007). necessariamente no próprio contrato, verifica-se a possibilidade da chamada "com-
São, pois, dois.momentos discincos, com circunstâncias e caracter.ísricas próprias. promissária pluridocumental, fruto da ruptura da unidade do ato". 4
Enquanto a previsãodacláusulacompromissória se fazem contrato, ouemdocun:iento
Uma vez escrita a cláusula, sua aceitação pode ser verbal, tácita ou presumida,
próprio a ele reportado, cujo cumpru11enco se espera das partes, no compromisso o
em situações peculiares,' pois, mantendo as características contratuais, sua confir-
litígio já está presente, e diante dele as partes resolvem buscar a solução arbitral para
pteservaros d ireicosqueencendem lesados. A cláusula pressupõe o vínculo contratual. mação, em regra, será igualmente expressa, e rotineiramente no próprio instrumento
Já o compromisso pode referir-se a relação conflituosa com origem em negócio ou representativo do negócio jurídico realizado.
em fam jurídico, sem cer sido necessariamente cogitada a arbitragem previamente ao Admite-se a cláusula por troca de correspondências entre as partes ou fac-
nascimento do conflito. Fora isto, o compromisso arbitral exige requisitos próprios -símile, e, acolhendo os avanços da informática, também deverá ser aceita a
e a Lei de Arbitragem sugere também elementos facultativos, como se vê, respectiva- contratação por meio eletrônico, embora ainda se tenha certa dificuldade para se
mente, nos arts. 10 e 11 adiante analisados. estabelecer os efeitos jllrídicos das relações daí originadas, principalmente com
Conforme o que se contém na cláusula com promissória, verificado o con.füco, relação à segurança quanto à autenticidade da manifestação de vontade expressa
podem surgir duas situações distintas: (a) ser prontamente instaurado o procedi- nestas comunicações.
mento arbitral, ou, (h) ser necessária a formalização de um compromisso arbitral
0 Interessante, neste particular, a expressa permissão na legislação espanhola do
(diretamente entre as partes ou através de procedimento judicial próprio - arts. 6.
"convênio arbitral" celebrado por troca de cartas, telegramas, telex, fax ou outros
e 7.0 da Lei 9.307 /1996). Dependerá do quanto na cláusula se contenha, como será
adiante tratado.
Sob outra perspectiva, o compromisso pode ou não ser precedido de cláusula 3. Para o qual há previsão de que "a cláusula compromiss6ria s6 terá efidcia se o aderente. tomar
ai niciariva de instituir a arbitragem ou concordar, expressamcnrc, com a sua i.nsricui.ç:fo, desde
compromissária, conforme o caso, e, ainda, poderá ser judicial ou extrajudicial, que por cscrico em documemo anexo ou em negrito, com a assinacura ou visto ~specialmence
como se verá. para essa cláusuh"; e, a respeito, houve frustrada iniciaciv:1 de aprimoramemo da regra, com
Ainda, na convenção arbitral (por compromisso ou cláusula), pode se eleger inovações aprovadas pelo Congresso, mas vetadas por descuido na sanção (Cf. Capírulo 1-4,
canto a arbitragem institucional como a arbitragem ad hoc, tudo de acordo com a adiance e ''.Anexo 2").
4. NANNI, Giovanni Etrore. Cláusula compromíssôrin como negócio jurídico: an,ilisc de sua
vontade das partes. existência, validade e eficácia. ln: LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore; MARTINS,
Vejamos, agora, separadamente e com mais detalhes a cláusula compromissória Femando Rodrigues (coord.). 7ímlfls l'l!levar1t1ts tÚJ direito civiho11temporll11co: reflexões sobre os 1O
e o compromisso arbitral. anos <Í" Código Civil. São Paulo: Adas, no prelo, ao colaci<rnar Antonio Maria Lorca Navarrete,
Comem,zrios n ln. w,cva l q d,: Arbitmje 60/2003, de 23 de didonhre, p. 107.
5. Cf., a respeito, Giovanni Ettore Nanni, referindo-se a diversas formas de eelcbr:içáo e aceitação
6.2. DA CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA
da cláusula compromissória, dentre elas o compomimcnto concludente (NANNl, Giovanni
A cláusula com promissória, como diz a Lei, "é a convenção através da qual as Ettore. Cláusula com promissória... cit.). Aliás, rccomenda-~e a leitura desce artigo, pois traz. o
Professor minudence escudo sobre a existêncía, validade e efidcia da cláusula compromissória,
partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os lirígios que
com a seriedade que caracteriza seus escritos.
possam vir a surgir relativamente a cal contrato" (art. 4.0 ), e "deve ser estipulada por
160 1 CURSO DE ARBITRAGEM CONVENÇÃO ARBITRAL 1 1 61

meios de telecomunicação, e se considera existente até mesmo se a sua existência for vidências previstas nos arts. 6. 0 e 7. 0 da Lei, exigindo a celebração do compromisso
afirmada por uma parte e não negada pela outra.(; arbitral, inclusive, se necessário, através da instauração de ação judicial própria.
Se o negócio jurídico, pela sua nacureza, reclamar formalidade própria, nada
impede que seja válida a cláusula se observado o seu requisito legal - forma escrita 6.2. 1. Cláusula arbitral cheia
-, ficando vulnerável o contrato quanto ao seu conteúdo principal. Daí a aplicação
Assim considera-se aquela disposição contratual na qual concen bam os elementos
da autonomia da cláusula arbitral prevista no arr. 8.° da Lei de Arbitragem (adiante
previstos no are. 5. 0 da Lei: 8 indicação de arbitragem institucional, sendo inaugurada a
tratada), ou seja, a disposição arbitral pode ser válida, pois expressa a convenção, a
arbitragem segundo as regras da entidade eleita, ou especificação na cláusula da forma
ensejar a renúncia à jurisdição estatal. Mas pode ocorrer de no próprio juízo arbitral
como será promovida a instituição da arbitragem, principalmente no que se refere à
se reconhecer a invalidade do contrato, por inobservância da forma prescrita em lei
nomeação de árbitros para que se viabilize a instalação do juízo arbitral.
(por exemplo, quando se exigir escritura pública imprescindível para a disposição de
direitos reais imobiliários); presente a cláusula compromissóría, será o árbitro, pela De uma forma objetiva: será considerada cheia a cláusula que contempla o quanto
jurisdição a ele outorgada, o competente para julgar a nulidade do contrato. necessário para se dar início à arbitragem (are. 19 da Lei 9 .307/ 1996).
Classifica-se a cláusula arbitral, pdo seu conteúdo, como "cheia" ou "vazia", Indicando as partes a instituição para administrar a arbitragem, nada mais será
com idênticos efeitos - ensejar a solução do conA.i ro pela arbitragem, porém seguindo necessário prever, pois o regulamento da entidade certamente contém todas as regras
caminhos distintos. e providências a serem adoradas pelas partes ao pretenderem instaurar a arbitragem
É de suma importância esta identificação, pois, em se tratando de cláusula diante do conflito decantado. Aliás, é comum a sugestão pelas próprias instituições
compromissória cheia, a instauração do procedimento arbitral é direta, na forma de modelos de cláusula a serem incluídas nos contratos, inclusive disponibilizando a
paccuada,7 e diante de uma cláusula vazia, o início da arbitragem demanda as pro- redação nos respectivos sites ou material de divulgação. 9
Mas podem as partes ir além, ou seja, aproveitar a liberdade de contratar para
6. Ley 60/2003: Artículo 9. forma y concenido dei convenio arbicral. 1. EI convenio arbitral, que estabelecer diversas outras regras relativas à organização e ao desenvolvimento da
podr,i ador)(ar b forma de cláusula incorporada a un contrato o de .icuerdo independicnte, ~e- arbitragem.
ber,i ex presar la voluntad de las panes de someter a arbitraje todas o algunas de las conrrovers1as
que hayan surgido o puedan surgir respecco de una determinada relación jurídica, concracrual o
no contraccual. 2. Si el convenio arbitral est:í conrcnido en un concraco de adhesíón, la validez dos <:omenrários ao acórdão feicos por Arnoldo W.'lld e Ana Gerdau de Rorja (RArb 32, ano
de dicho convenio y su inrerprccación se regirán por lo dispuesto en las normas aplicables a ese IX, jan.-mar. 2012, p. 343 - Jurispmdt':ncía Comentada Nacional).
ripo de contraco. 3. EI convenio arbitral debcd constar por escrito, en un documento firmado 8. Are. 5.0 Reporcando-se as partes, na cláusula compromissüria, às regras de algum órgio arbitral
por las panes o en un incercambio de cartas, telegramas, télcx, fax u ocros medios de releco- institucional ou cntid:ide espccializa<la, a arbitragem sed ínsticuída e processada de acordo
municación que dejen constancia dei acuerdo. Se consíderar:í cumplido este requisito cuando com tais regras, podendo, igu:ilmcnce, as partes estabelecer na própria cláusula, ou em outro
d convenio arbicral conste y sea accesiblc para su uherior consulta en soporte elecrrónico, <locumenco, a forma convencionada para a inscicuíção da arbitragem.
óptico o de orro ripo. 4. Se considerará incorporado ai acuerdo entre las partes el convenio 9. Seguem exemplos de cláusula com promissória e:m:údos do sir.e, cm junho dt:.20 12, do Centro de
arbitral que conste en un documento ai que és tas se hayan remi tido en rnalquiera de h~ formas Arbim1gem e Mediação d,, C5mara dc Comércio B.rasil-C:111:id:.í [www:ccbc.org.br/a rhirragem.
escablecidas en cl :iparcado anterior. 5. Se considemrá que hay convenio arbitral cuando en un asp?subcncegoria="modclos" de clausulas]: "1- Cldusuln Padrão: "Qualquer lirígio origin:lrio
inrercambio de escritos de demanda y contescación su exisrencía sea afirmada por una parte do presente coatrato, inclusive quanto 1t Sllíl incerprer:;ição ou c;:xecução, ser~ definiciv:unenre
y no negada por la orra. 6. Cu:mdo d arbicraje fucrc internacional, el convenio arbitral será resolvido por arbitragem, administrada pelo Cencro de Arbitragem e Mediação da Câmara de
v:ílido y la co.ntrovcrsia será susceprible de arbítraje si cumplen los requisitos establccídos por Comércio Brasil-Canadá ("CAM/CCBC''), de acordo com o seu Regulamento, constirnindo-
las normas jurídic:1$ elegidas por las partes para regir cl convenio arbitral, o por las normas -se o cribunal arbicr:il de Itmrltrês] árhitros, indicados na forma do <:irado Regulamenco".
jurídicas aplicables ai fondo de b. controversia, o por d derecho espafiol. ll - Cldwu!lf Deta!h11dt1: 1 - Qualquer dispura oriunda desce contrato ou com ele relacionada
7. Em relevante pronunciamento do TJ PR, ao acolher emhargos infringentes, esca macéria foi será definitivamente resolvida por arbitragem. l. I A arbitragem ser.í administrada pelo Cen-
largamente debatida, com citação de diversos precedences, firmando-se a tese de que a exis- tro de Arbirr:igcm e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá ("CAM/CCBC") e
rc?n<:ia no contraco de cláusula compromissória "cheia'' é suficiente para se levar o conflito :1 obedecerá às normas estabelecidas no .~eu Regulamento, cujas disposições integram o presente
arbicragem, sem necessidade de prévio compromisso arbirr:il; e especificidades da convenção contrato. 1.2 O tribunal arbitral será conscicuí<lo por [umltrésJ árbitros, indicados na forma
de arbitragem podem ser definidas por meio de "ata de missão", ou termo de arbitragem (E] prevista no Regulamcnco do CAM/CCBC. 1.3 A arbitragem terá sede em [Cid"de, Estttdo).
428.067-1 / 10, 17." Câm. Civ., j. 07.12.20 I 1 ([tiquira vs. lnepar), recomendando-se a lcicur:i 1.4 O procedimento arbitral sed conduzido em [idiomtl]. J .5 [Lei ttpfictive4".
162 1 CURSO DF. ARBITRAGEM CONVENÇÃO ARBITRAL 1 1 63

Neste concexco, desde então, podem estabelecer a quantidade de árhirros'.;e~- Também podem as partes estabelecer por cláusula compromissária a arbitragem
pre em número ímpar, e requisitos para a sua indicação (por exem~lo, expen~nc~a adhoc, igualmenceconsiderada cheia. Indispensável, porém, nesta hipótese ao menos
mínima na matéria, qualificação acadêmica, participação cm d~termmada ass~c1açao a especificação dos critérios para a instauração do procedimento, para viabilizar o
ou entidade etc.), regras específicas para a forma como determinados aros serao pra- início da arbitragem. Para tanto, faz-se necessário o detalhamento dos mecanismos
ticados no curso do procedimento, restrições à autoridade do árbitro (por exemplo, para a nomeação do árbitro, pois, sem esta previsão, e diante do desacordo entre as
limitação ou exclusão das tutelas de urgência da jurisdição arbitral), e outros detalhes panes, não se formará a relação, e, pois, não se terá a jurisdição arbitral imediata (e
pertinentes ao desenvolvimento da arbitragem. assim, se considerará vazia a cláusula). 12 Regulamentada a indicação do árbitro, ou
Ainda, podem os contracantes estabelecer (a) a sed e e o local de desenvolvi~1ento colegiado, este estará investido nas suas atribuições jurisdicionais tão logo manifestada
dos atos procedimentais, (b) a escolha da lei aplicável, permitida a opção pe~o Julga- a aceitação do encargo (art. 19 da Lei 9.307/1996).
mento com base na equidade, (c) o prazo pa.raa apresentação da sentença arbmal, (d)
Enfim, diante de um conflito relativo a um contrato no qual consta a cláusula
a línguaaser u rilí:zada no procedimento, ese forem duaslínguas, quaJ p1~alt:cer~e,m
compromissória cheia, a instauração do procedimento arbitral é direta, sem neces-
caso de düvida, (e) se rodos os conflitos d ecorrentes daquele contraco serao resolvidos
pela arbitragem, dividindo, por exemplo, por mac~ia e v~or, (~) a responsabili~~de sidade da passagem pelo Judiciário, 11 e será feita de acordo com as regras previstas
pelo pagamento das despesas com o procedi meato, mclus1ve es~puland? :1o noran,os pelas partes, diretamente, ou de forma indireta, ao indicarem instituição arbitral com
dos árbitros, tudo estabelecido na Lei (are. 11), como de faculta uva prev1sao tambem regulamento próprio.
para o compromisso arbitral, como adiante se verá, mas não apenas a ele restrito. Por fim, embora complexa a questão, pertinente nesta oportunidade apresentar
Enfim, este é O espaço da liberdade, e os contratantes devem estar. acentos à~ breve referência à possibilidade de extensão da cláusula compromissária a partes não
inclusões de rudo quanto fo r pertinente à adequada fluidez do procedimento e a signatárias, como, por exemplo, nos seguintes casos: (i) em grupo de empresas, (ii) con-
apropriada valorização da qualidade do julgamenco, para bem preparar o solo no q~ tratos principal e acessório, (iii) inrerveniência no contrato de fiança, (iv) estipulação
se cultivará a arbitragem, objetivado os seus melh~res frutos. E':º~º a c~nvençao
arbitral é feita no momento da contratação, ou sep, de convergenc1a de mteresscs
12. Neste sentido, cf. TJSP, Ap. 2630094/5-00, j. I 4.12.2006, com a st:guinrc ementa: "Arbítragc::m
para a realização do negócio, espera-se a colaboração mútua das partes para se ter o - Cláusula compromissória esrnbelc::cida em contrato de seguro c::mpresarial para resolução de
mais adequado modelo ao objeto do comrato. conflitos decorrentes da interpretação dos termo.~ e condiçõc::s <la ap<Ílíce, hem como evolução,
Importante, porém, que estas previsões sejam harmônicas ao regul~~enro ~a ajuste e liquidação de qualquer sinistro, o que inclui a discussão quanro à subsunção do fato
concreto aos danos cobertos - Necc::ssidade de instituição <la arbitragem, valendo a sc::ntença
instituição eleita; 10 caso contrário, estar-se-á diante de uma clá11s11.lrt pt1tologica, CUJ O
como compromisso arbitral, nostcrmosdoart. 7. 0 • ~ 7. 0 , da Lei 9.307/1996- Não provimen-
tratamento pode tumultuar a arbitragem, como adiante se verá. to"; extraindo-se a seguinte passagem do voto do rei. Des. f.nio Zuli:mí: ''(...) Assim, não resta
Melhor, sem dúvida, a indicação de uma instituição arbitral, com previsáo, se dúvida de que as partes optaram pela arbitragem lcláusula vazia ou em branco] para a solução
11 dos litígios dccorrenrcs do contrato de:: seguro em questão''. A cláusula arbitral cm anfüse estava
necessário, apenas de poucos detalhes pela peculiaridade do caso.
assim rc::<ligida: "Fica expressamente convencionado que, caso surja qualquer controvérsia ou
divergência quanto à interpretação <los termos e condições da presente apólice, assim como na
lo. A boa prática sugere ao advogado - em geral, é elt: quem fará este trabalho - ~laborar a cl:í.luh~tdlb evolução, ajuste e/ou liquidação dt: qualquer sinistro, estas deverão ser submetidas à decisão
dt: arbitragem após estudo detalhado do regulamento <la Câmara de Arbttragcm esco 1, a, de um ',írbitro comum' que o sc::gurado e a seguradora nomearão conjuntamente'', ou seja,
pois eventual conrrndiç~o c::ntre ~ redigido na chíusula e:: o re~.ulame~to p~~t: gerar~ uma _clrm- faltou a previsão para a nomeação de árbitro no caso dt: conAíto entre as partes a respeito da
sulft pntnlógir11 e potencial quemonamento pela parte sobre qual d1~pos1çao vale. A mmha, indicação de árbitro único, inviabilizando o início imediato da :ubitragcm, mas preservando
fundamentada na autonomia da vonradt:, ou a do regulamento da câmara?". este método de solução, a ser prc::cedido da ação própria do are. 7. 0 , com as providências do
11. Neste sem ido, preciso comentário <le Eleonora Coelho Pítomho: "A.~~im, no caso de opç~o pela art. 6. 0 , ambos da Lei de Arbitragem.
arbitragem institucional, é recomc::ndável que o advogado adote clausula modelo de c~maras 13. Cf. neste sentido recente e substancioso acórdão, no qual se colaciona doutrina e diversos
arbitrais (checando sempre a cxistt:ncia, a idoneidade t: a adequação ~a câmara e~colh1da) e, precc::denres da Corte, relatado pelo Min. Moura Ribeiro, consignado na ementa: "6. Cuidando-
ainda, que faça constar o número de árbitros, a sede e a língua da arbmagen~, assim como as -se dt: cláusula compromíssória cheia, na qual foi eleito o órgão convencional de solução de
<lisposiçót:s acerca de medidas cautelares" (PITOMBO, Eleonora M. Baguwa Leal_ Coelho. conHíto, deve haver a instauração do Juízo arbitral dirt:tamente, sem passagc::m necessária pelo
Relevância do advogado para a arbitragem. Revista dn Ad11og11do. n. 87. ano XXVI. S.10 Paulo, J_udíciárío" (.STJ, REsp. 1.602.696- PI (2015/0238596-1), 3." T., v.u., j. 09.08.2016, no qual
fomos honrados com a colação de passagens contidas neste icem da 2.• edição deste "Curso".
sct. 2006, p. 46).
164 1 CURSO DE ARBITRAGEM CONVENÇÃO ARBITRAL 1 165

cm favor de terceiro, ( v) sub-rogação no contrato de seguro, (vi) novação, (vii) cessão Importante repetir que mesmo diante de uma cláusula com promissória vazia já
14
da posição contratual, (viii) desconsideração da personalidade j~'ríd~ca etc. • há pelas partes a renúncia à jurisdição escacai quanto à matéria objeto do contrato, e
Para a ~tmpliação dos efeitos da cláusula, diz.Arnoldo Wald : Ha de ser acend ido esta iniciativa vincula os contratantes.
um dos seguintes requisitos: a) a sociedade cem que ter desempenhado um pa~el Apenas não se terá a instauração imediata da arbitragem, pois, pelas caracte-
ativo nas negociações das quais decorreu o acordo no q uai ~onsca a cláusula co~p1 o- rísticas da cláusula, esta se mostra inviável diante da falta dos elementos necessário.s
missória; b) a sociedade deve estar envolvida, aci.va ou passiv::1._m.ente, na execuça.o_ do para canto. Ou seja, a cláusula em branco cem como consequência a inviabilidade da
contrato no qual consta a cláusula compromissória; e e) asocred_ade tem querer sido pronta provocação do juízo arbitral.
, . . íd' ,. I':)
representada, efetiva ou implicitamente, no negocio JUr 1co . . . E a Lei traz a solução: para estes casos, necessária se fará a celebração pelas partes
No mesmo sentido a jurisprudência da Câmara de Comércio lnternac1onal de um compromisso arbitral.
_ CCI, no caso Dow Chernícal (CCI 4131, confirmado pela Corre de Apelaç~o
Este compromisso será buscado primeiramence por provocação extrajudicial da
francesa), que decenn inou: "(...) a cláusula c~mpromissória expr~ssamente aceita
parte interessada à outra, objetivando o ajuste consensual. Frustrada esta iniciativa,
por determinadas socied ades do grupo deve vincular as outras ~~c1~dades que, em
por desacordo ou simples omissão do convocado, abre-se à parte o direito de propor
virtude do papel que civeran1 na conclusão, na execução ou na res1hçao dos contratos
ação específica para este fim.
contendo as referidas cláusulas e d e acordo com a vontade comum de todas as Pª:res
do procedimenro, aparentam ter sido verdadeiras pa_rr.~ nos concraros, ou terem s1~? Vejamos, assim, estas duas etapas com suas peculiaridades:
consideravelmeme envolvidas pelos mesmos e pelos lIng10s que del~s pode~n.resuJta, · Para a convocação extrajudicial, diz a Lei:
Chama a atenção uma particularidade do caso: as empresas não sr.gnatánas fora m as Are. 6.0 Não havendo acordo prévio sobre a forma de instituir a arbitragem, a
partes que queriam participar da arbitragem. . . , . parte interessada manifestará à outra parte sua intenção de dar início à arbitragem,
Desta forma, em alguns casos, mesmo a sociedade não tendo sido_ s1gnatana por via postal ou por outro meio qualquer de comunicação, mediante comprovação
da cláusula de arbitragem, ela estará vinculada à arbitragem pelo envolvimento no de recebimento, convocando-a para, cm dia, hora e local certos, firmar o compro-
conflito gerado por determinado negócio/empreendimento. misso arbitral.
Parágrafo único. Não comparecendo a parte convocada ou, comparecendo,
6.2.2. Cláusula arbitral vazia
recusar-se a firmar o compromisso arbitral, poderá a outra parte propor a demanda
Também chamada de cláusula em branco, como o próprio nome sugere, a de que trata o art. 7. 0 desta Lei, perante o órgão do Poder Judiciário a que, origina-
previsão da arbitragem desca fo rma,craz um~ lacuna quanto à_ ~orm a _de i.nst~uração riamente, cocaria o julgamento da causa.
do procedimento arbitral, que deverasersupnda por~omprom1sso arb1tr~ qu~do ~o
A forma da notificação à outra pane, como indicado no texto, é livre, ou seja,
surgimento do co n8iro, celebrado pelas p artes drreramente, o u po r mcerm.édw
pode ser promovida por qualquer meio, exigindo-se, porém, a comprovação do re-
do Judiciário. cebimento.Admite-se, assim, a utilização de meio decrônico, embora com este não
se tenha a segurança quanco ao recebimento.
14. Cf. a respeito, pertínencc acórdão relatado pelo Des. Roberto Mac C8r2a~k0en10e0m2q~•~: m:ué~a
foi amplamente debatida (TJSP, Apelação Cível 0214068.16.2010 .. 11 ; • , •• , amara e Ao convocado, por sua vez, cabem as seguintes opções: comparecer e firmar o
. · p nva
D 1rctto · d o, v.u., J. . t 6 . ] O. 2')
, 12 - Fundos Madinpam:rson vs. VRG Linhas Aereas S/ A),
. compromi.sso proposto, com os detalhes que ajustarem; comparecer, porém recusar
com as seguintes passagens em sua ementa: "Fundo internacional que fir~a rermo q~e previa a assinatura do compromisso, ou simplesmente não comparecer.
expressamente ser adícivo de contrato que:: avançou a soluçiio .de confino por arb:tragem.
Tentativa de utilizar-se do Poder Judiciário para se afastar <la arhmagem e de seus efc1ms. Im- Na primeira situação, cudo se resolve, e projeta-se a instauração do juízo arbitral
possibilidade. Conduta que configura ofensa ao princípio <lo venire contrtt fi!ctum proP_rmm .... nos limites do ajustado no compromisso firmado entre as partes, com base nos arts. 1O
Cláusula compromíssória avençada regularmente. Arbitra~cm que pro~u~1u s~us ef~1tos nos e 11 da Lei de Arbitragem (por exemplo, com nomeação de árbitro e aceitação deste
limites próprios e perante aqueles que se encontr:1.m envolvidos com o d1mto d1sponivel con-
no próprio instrumento, ou indicação de instituição para administrar o procedimento
trovertido.".
sob suas regras, ou, quem sabe, com detalhadas e pensadas regras para o desenvolvi-
15. WALD, Arnoldo. A arbitragem, os grupos societários e os conjunto0s0d4e con3c;a5to9s conexos.
Revísfll de Arbitrt1gern e Medíftçíio. n. 2. ano I. São Paulo, maio-ago. 2 , P· · • · mento da arbitragem).
166 1 CURSO OE ARBITRAGEM

Na segunda hipótese, dispensa a análise ou debate do conteúdo da insurgência


1 CONVENÇÃO ARBITRAL

Assim , como a irregularidade n a convocação e comprovação do receb. ,


1 167

do convocado com o compromisso proposto. A recusa relativa à instituição da ar-


ao promo;ente prejudica, pois não se terá consumado o compromisso . i;en;olhso
bitragem ou referente aos detalhes do compromisso, como indicação de instituição pode enseJara carência da - r, , e am a .dara a
etc., representa direito potesracivo nesta oporcunidadc. E a ausên cia do convocado . . açao utura, certamente devem ser redobrado d
para esta prov1dênc1a ser perfeita. s os cur a os
ao evento marcado (terceira situação) , igualmente, reAece a intenção de rejeitar o
com promisso proposto, sem necessidade de qualquer justificativa p ara tanto. Fir~ar comr_omiss?, por cerco, não é imprescindível à instituição da arbirra-
Se infrutífera a realização do compromisso, e independemememe de seu mo- ~em, po~em este 01 o m eio pelo qual encontrou a lei para diante da dá u1 .
s1stemat1zar as providências tendentes à efetiva submissão d~ confl1"to . ~s ab~azaJ 1a,
tivo, restará à parte promover a ação específica para obter o resultado que se buscava _ . . ao JU1zo ar 1tr .
D aí, entao, existmd o consenso entre as partes mesmo d " d
extraj udicia1men te. · d · d . , 1anre e uma cláusula
vaz1a,na a1mpe equeseJam decomumacord
A demonstração do efetivo recebimento da convocação é condição para a b J .d . . , . o, conremporaneamenre ao conflito
instauração do processo judicial, e sua ausência leva à carência da ação por falta de esta e ec1 os os cnténos para a msralaça- 0 do J"túzo b' al Ass. b , ,
·é · d J ar itr · lffi astara consenso
nos crlt nos e esco ha do árbitro seguido d . _ d .' .
.interesse de agir. . . . , a ace1taçao estes ou a mdicaçao .
d e mst1tu1ção arbitral para se viabilizar O ac , I f; 'd . conJ unta
Nesse caminho, escreve José C retella Nero: na cláusula. Lembre-se ai . _ esso a P ara orma e Julgamento desejada
.d d d , b" , nda, a prev1sao lega l pai-a, em momento o po rtuno 1·á sob a
"O Poder Judiciário somente poderá ser acionado, no caso do artigo em tela, au ron a e o ar itro ser compleme da lá l '
quando uma das partes provar que convocou a outra e esta não acendeu à convocação § 1.0,18 e 21 da Lei 9.307/1996). nta a e usu a no quanto necessário (arrs. 19,
ou se recusou a firmar o compromisso, extrajudicialmente. Se o interessado o fizer, Neste contexto só mesmo -
desa tenderá um dos requisitos da ação (interesse de tlgi1~, e o juiz extinguirá o processo . . ., . se nao encontrarem as parres outros meios de ultra-
passar esta fase 1n1c1al de arburagem vinculante po ré . d . .,
sem apreciar o mérito, nos term os do arr. 267, VI, do CPC/1973. 16 A açáo de que é que se faz necessário bu . ' m am ª com acesso uw 1avel,
trata o art. 7. 0 ( ••• ) serve meramente para trazer a outra parte para comparecer em scar o comproffilSso através da convocação extrajudicial.
juízo, e não para julgar o mérito".17 A b. Quamo à aç~o para se obter o compromisso, estabelece o art. 7.º da Lei de

16. Are. 485, VI, do CPC/201 5


q~a~r;;~~~:-~~:i:~~= de detalhes, dispensando, assim, maiores esclarecimentos

17. CRETELLA NETO, José. Commr,Jrios it L,i de Arbitmgt·m bmsilrim. Rio dt Janeiro: Forense, Art. 7 .º Existindo cláusula com · , · h
instituição da arb· d pro~1ssona e . avendo resistência quanto à
2004, p. 65. Cf., ainda, observações de Carlos Alberto Carmona: "Qu:uno ao meio de co- Hragem, po erá a p arte Interessada requerer . - d
municaç:'io, não csc:íu descnrmdos o fac-~ím ile (qut comporta demonsrração - embora ainda parte para comparecer em juízo a fim de 1 . a c1taça o a outra
não complcc:uncnre segura - de envio e recepção) e o telegrama com nviso de rccebimcnro. audiência especial para tal fim. avrar-se o comprom1sso, designando o juiz
Não determinando a Lei que a comunicação seja cscrim, pode-se cogic:ir da uriliz:1ção de via
clerrônic:1 (e-mail), preocup:rndo-se, porém o incercss:ido de munir-se de prova do rccebi mcnro com §~.ºO autor indicará, ~om precisão, o objeto da arbitragem, instruindo o pedido
da mensagem pelo dcscina1.lrio, já que, na hipórcse de frac.1ssar a rcnmiiv:i e ser necessário o o ocumenco que contiver a cláusula compromissória.
recurso 1l via judicial, caberá ao inrcrcssado (no ciso, o autor da dt:manda de que rracao are. 7. 0 )
dcmonstrnr que procurou valid:imt:nre insiaurar a arbitr.tgcm arravés do mecaui~mo previsto ·1· ~ 2.0 Comparecendo as partes à audiência, o J'uiz tentará prev1·amente a
CL 1açao ace . d I" { · N- b ' , con-
no arcigo em quescüo, sob pena de ver decrerad:i :1 carência da ação por fulm de inreresse de ccleb - ~ca o ir g10. ao o rendo sucesso, tentará o juiz conduzir as partes à
agir. A demonscr:iç:io pelo mnor dt: que ccnmu efccivamcnce fo1.cr instaurar o juízo arbicral raçao, e comum acordo, do compromisso arbitral.
anres de procurar o auxilio do Poder Judiciário é eícriv:uncnre da maior importância, pois o
. . § 3.º Não concordando as partes sobre os termos do compromisso dec·d· ,
exercício d:i atividade jurisdic~onnl - ensina Cândido R:ingel Dina.marco - n:io ocorre sem
um 'pondedvcl cusro social'. Desta fum1:1, espera-se que ames de recorrer à tutela escacai, o
JUIZ, após ouvir o réu, sobre seu conteúdo na própria aud"" . ' I 1ra o
• 1enc1a ou no prazo de dez
imercssado procure obter a prcsr:ição do conrrautnre inadimplemc través ela :icuação regular
e naturnl dos mecanismos legais colocados à sua disposição. N:1 hipótese estudada, não rendo "'R 1 ·
. a can( o inccrcsse processual se a via juri~dicional n'ío for. <li
o autor demonstrado que concirou o réu, sem rc.~ulrado, :i esrabclccer os par:imerros para a se o mesmo resultado pud. _, d .. '. • in spcnsável, como, por c.'ccmplo
:1rbi1ragem, não csmrá carncrc.rizad:,1 a necessidade de invo1.":l.f-se tuccla jurisdicional esrnral. er ser ,ucança o por meio de um n , . . 1'd. '
do Judici,irio" (CARMONA C 1 , Alb A b· cgocio Jllr 1coscm a participação
Resumindo a questão à su:1 expressão mais simples, Vicemc Grcco Filho pondera que para p. 143- 144). . ar os cno. r ,rmgm, e processo. São Paulo: Atlas, 2009.
aferir-se a cxiscêncí:i de interesse processual deve-se responder afirmativ:1meme a esta qucstiío:
18. Já com a nova redação incrodU7.ida pela L . 13 129/2
para obrer o que pretende, necessita o autor da providência jurisdiciom1J piei ceada?" E conclui: em Anexo l e Anexo 2 adianr~. e1 .. O15 - c( texto consolidado e comencários
CO:-.JVENÇAO i\R\31TRAl. 169
1 68 1 CURSO UE AIU\ITRAGF..,__1

dias, respeitadas as disposições da cláusula com promissória e acendendo ao disposto d~ vontade ou superando o impa.sse, formando a composição de um to<lo que irá
viabilizar a arbitragem.
nos am. 1Oe 21, § 2. 0 , e.lesta l ,ei.
§ 4.º Scaclfosula compromiss<íria nada dispuser sobre a nomeaçã? d~.í.rb'.u?s,
Diversamente <lo quanto se disse sobre a conduta do requerido na convocação
caberá ao juiz,, ouvidas as partes, estacuir a respeito, podendo nomear arbitro muco excraju<licial, aqui é o ambiente para o réu trazer toda e qualquer Írrcsignação cm
face da proposta do autor. Ou seja, toda a matéria relativa à sua discordância com o
para a solução do litígio.
compromisso pretendido deve ser aqui apresentada.
§ 5.o A ausência do autor, sem justo motivo, à au<líênciades'.gnada para a lavr~t~1ra
Assim, podem-se alegar vícios ou irregularidades na convocação, inadequação
<lo compromisso arbitral, imporcad a exti nçáo do processo sem Julgamento de mcm~.
das providências ac.lora<las, faros impeditivos, modificativos e extintivos do direito do
§ 6.º Não comparecendo o réu à audiência, cabcráao ~uiz, ~u.vido oaucor, esratun
autor, e todo o mais relativo àorganízaçãodaarbitragem, além, édaro, de preliminares
a respeÍlo dn conteúdo do cornpromisso, nomeando árbmo unteo. . processuais ou questões prejudiciais.
§ 7,0 A sentença que julgar proci..:dentc o pedido valed como compromisso
O desacordo, ainda, pode ser total ou parcial, por exemplo, rescrito ao número
arbitral. dt: ,írbitros, responsabilidade pelas despesa.s do procedimento, escolha da sede ou
Ainda estabelece O § l.º, IV do art. 1.012 do CPC/2015 <.Jue o recurso de ape- local de seu desrnvolvimenco, prazos, idioma a ser adorado, indicação de instituição
1
lação interposto em face da sentença não terá efeir~ suspensiv~: " de tal so'.·te ~.:'e,~ arbitral etc. A defesa é, portanto, ampla.
instauração do procedimento arbitral tal qual previsto na d.ec1sao po<le desde ia se, Extremamente rckvantc serem trazidos os fundamentos detalhados da impug-
promovida, 20 ou seja, a sentença cem eficácia imediata. nação, pois, formado o contraditório, ao ser ouvido o autor,21 caberá ao juiz Jeci<lir,
A ação do are. 7. o <la Lei de regência, transcrito acima, busca a execução especí- resolvendo as divergcncias.
fica da chiusula com promissória vazia, para se viabilizar a uti_lizai;ão da arbitragem na E pela narnreza da curda neste caso -constitutiva-, os elementos trazidos pela
solução do conflito instaurado, em acendiment.o ao qu.e fo1 pac:uado _e,:ue_<~S ~on- deti.:.sa quanto à organização da arbitragem podem ser acolhidos no julgamenco, sem
tracantes, diance <le rcsi.stência ou impasses surgidos na mstauraçao do )lllZO a1 bmal. necessidade <le apresi..:ntação de pedido contraposto ou reconvenção, no pressuposto
Nesra ação, diante da omissão do réu ou divergências entre as partes qu.in_co aos de que o réu tenha concor<la<lo com a instirníção da arbitragem, mas rejeita os termos
contornos da arbitragem, ao juiz é dado o poder de preencher as lacunas da clausula propostos.
no <1uanco baste para se instituir a arbitragem. Ali,is, note-se, neste parcicular, que o artigo a<.:ima transcrito fala em citação do
A cutela jurisdicional reclamada neste caso é rn:cessiíria, mas restrita t:to ~o~nente rúi para comparecer à audiência a fim de lavrar-se o compromisso, e não citação para
à obtenção do compromis.so arbitral, çxc\uí<la a apreciação, nesta ,sede 1ud'.c1al, do apre.~entar contestação. Daí a perspectiva de se ter uma participação contributiva do
conflito instaurado entre as partes quanto à matéria de fundo, ~ore1n nada un~~d~, réu para a adequada elaboração <lo wmpromisso. Ou seja, pretende a lei contar com
nem poderia existir óbice para tanto, a conciliação quanto ao obJeto de co<lo o litig10 a colaboração do demandado para viabilizar, <la melhor maneira possível, a instau-
(cf § 2.0 acima). ração do procnlimcnto arbitral. Mas o direito <le <lcfc:sa, enquanto apresentação de
Daí por que se pode falar em jurisdição estatal integra tiva,. e <liz-s~ incegr~civa, contestação ao pc<li<lo cm toda e qualquer extensão, não po<le ser mutilado.
pois a sentença completa o qua~co f~ta na clá~sul~ para aperfe_1çoar a 111~ta·lª:ªº ~o O procedimento proposto é célere, valorizada a tentativa de conciliai;ão, e
juízo arbicraJ.21 A sentença, assim, rncegra-se a clausula, suprmdo a mamfcscaçao prestigiada a oralidade. Porém, se as circunstâncias exigirem, a celeridade perde es-
pa<;o ao alargamcmo dos debates, para completa e pormenorizada identificação das
1<)_ 'An. 1.012. A apd:ição rcd cf~ito suspcnsívo. § 1. 0 i\11'.n~ tk ~utras hipóteses pn:vistas em lc'., divergências, admitindo-se inclusive, se necessário, com ampliação <la fase inscrucória
começa a produ,,ir efeitos ime<liat:11ne11n: após a sua pul~,lic:iç:io a senrença que:( ... ) IV -- iulg,i para contemplar oitiva Je testemunhas, prova pericial etc., embora na<la a respeito
se fale no artigo em exame.
P rocedente o pedido de instituição de :irhuragcm; (. ..). · · · -'bTd d· <la senrc:nça ·ubitr:,I,
.
:w. A lei espanhola vai a!..:111, estabelecendo, ne~te caso, a 11re(.or11 1 J a e , · , ·
conforme o are. 1) da I .ei Cí0/200?,, especialmente seu inciso 7. .
22. Embora omissa a lcí a rcspeíro, coufonm: as circunsdncias, diante de novos elementos tr:v.idos
2 lniegrar segundo O <licion:írio Houaiss, significa "incluir(-sc)_ um elemento nu1~ conJud,~~o,
' um iodo coerente; incorporar (-sr.::}, ·integra 1·11.ar( -s~.) ·uma e~p resa
1. forman<lo pelo r~u, muíro al<:m da mcr:1 dc.:fosa :tos ;irgumcntos apresenmdos na açfto, c.:m prcs1ígío ao
·: tiue mtcgra
,,. irc-
princípio do conrradit1írio, fo1.-se 11ecc.:ss.írio, e.: atJ útil, ao julgamenro, ouvir o amor a respeito.
rentes ramos de atividades> «1 arquiterura integrava-se perfeitamente a paisagem ·
CONVEN(,:i\O ARBlTRAL 1 1 71
1 70 1 CüRSO DF. AR,Bl'IRAGEM

~videntem~nte, a Ít~pu.gnação do requerido se a estimativa fugir ao razoável. E, de


Advirta-se, nesta oportwud.ade, q ue ampla a defesa é limitada ao objeto d a
igual 1:11anc1ra, ~ ausencia d~ ª.ucor na audiência, provocando a extinção do processo,
ação-preenchi?uento dos reqiúsitos partt a i1tSta1tmfáOdo j1dzo arbitral eforma geral de
tambem auronza a sua tradicional condenação em sucumbência.
orgmtiztLçáo.Assim, tal qual a matéria d e fundo contida no conflito, também questões
relativas à existência, validade e excensão da cláusula serão reservadas, cm regra, para a1 Embora
. . , doucri11a d,·... C armona!:; d.1anrc <l os
com .severa crítica da aurorizac.h
apreciação pelo árbitro, em respeito ao já referido princípio kompdenz-lwmpeteuz. ~ aborrec1mencos e dissabores da chí.usula· vazia• nor
r - . , e r·epi·ra-se e' circunstancia
vezes · · l
A sentençade p.rocedência daaçãovalerácomo compromissoarbirral, naaroplitu- em raz~o da complc~i<la<le maior ou menor do contrato, multiplicidade de qucstõe;
dedo que ncla contiver. Mas a inscauraçãoefetivado procedime nto arbitral depe nderá c.:1:vo_lv1das, expccta~1va d~ cum_primenro em sua maior ou menor cxtensií.o, ou por
d e novas providências, dependendo do quanto decidido. Assim, ao se indicar árbitro, d1ve1sos outros motivos (1nclus1ve de avaliaçií.o de risco e custos, enorme ou mínimo
n ecessária é a sua aceiração, a ser buscada peln in cercssa<lo. E optando a decisão pela tempo de e~ccu?·ão d~s ~brigaçõc~ ~ssumidas etc.), para não se prejudicar O próprio
arbitragem institucional, caberá :1 parte provocar o início do proced imento de acordo contrato
_ . _ pdas d1vergcnc1as
. negociais
.. entre as- partes, quanto
, ,a es·t·,l c 1·',tusuJa, a d.1spos1-·
com o respecti.v o regulamenro. . 111complera atmge a sua unlida<le e finalidade de ao menos st1b rra11
çao · · d o Jud'1c1ano
·, ·
Ao se o ptar pela a rbitragem ad hoc, recomenda-se ao juiz obter a aceitação do o Julgamento do contrato.
árbitro escolhido, viabiliza ndo que sejam adoradas as p rovidências imediatas ao início Ainda, as partes terão ~t~a~d? <lo conflito a oportunidade de resolver este impasse,
efetivo da arbitragem já aos cuidados do eleito. E, por cerro, deverá constar na sentença e apen~s- se frustr~da cst~ 1111c1at1va, mostrar-se-á necessária a propositura da ação.
c ritérios para a subscrcuiçáo do árbitro, evitando-se a necessidade <le nova ação com Ade~ats, t~esmo mdesepdo o processo, pelas suas características procedimentais e
0
este objetivo, que se faz na forma do a rt. 7.0 cm exame, por força do previsto no§ 2. rcsrnro ob1etn, a tendência<: de se ter um dpi<lo pronunciamento.
do are. 16 da Lei d e Arbicragem .H Enfim, o ~1cl~,or, por~erro, é firmarcontratocom cláusula compromissóriacheia,
li·arando-se de procedimento contencioso, nesta fase processual aplica-se o
ma.~ sen,d_? esta u~v1avd ou '. n con veniencc naquele momento diante das pecttlia ri<lades
princípio dasucw;nbêncía previsto no are. 85. § 8. 0 , do CPC/2015. Evidentemcnte,
do ncgoc10, a clausula vazia pode acender muito bem às perspectivas das partes.
porém, pela caracterísrica de ação de acercamenro, com o objetivo de se preencher a
lacuna da dfosula, o bservadas as posições e elementos trazidos por ambas as partes,
6.2.3. Cláusula arbitral patológica
caberá ao julgador valer-se do bom-senso na condenação aos honorários e reembolso
de custas. Po de até deixar de condenar, o u estabelecer sucumbência recíproca, n:ser- . , E~p~ra-se ~o ~on:eúdo de uma :hiusula arbitral o modelo ideal para a perfeita
vando a imposição tradiciona l ao "vencido" , apenas nas siwaçóes em q uc:: se evidenciar mst,tui~ç~o, 01 gan,zaçao e descnvolv1mcnco da arbitragem, com rodos os elementos
inadequada conduta ou injus ci.ficad a res.iscênóa <lo réu ao comprom isso proposto. :pcc~lianc.~ades perrinenres ao objeto do contrato. Dcvcdscr clara, precisa e ajustada
Aliás, os parâmetros tradicionais da condenação em sucumbência já se apresen- ,ls pe1spect1vas das partes, para atender adequadamente ao eventual conAito. Bem
tarão comprometidos nesta ação, pois vinc ul adosaovalorda causa. E este certamente
é inesci1rnível no sentido literal da palavra, além de não guardar correspondência com Z5. ''.làl ~ít~i:iç~w - em. tudo e po•: cudo desastrosa - somente ocorrcr;Í c1n c;aso de inabilidade dos
qualquer das hi póteses do art. 292 do CPC/2015. Será equivocado considerar o valor c~nu_-it.1n.rcs ao 1ed1g1n::1n a cbusula compromissóri:i, Prevendo as vicissitudes pelas quais pode-
do contrato (inc. Il) , pois não éeleobjero da ação, mas apenas e tão somente a cláusula r~'.º. P·15~~ 1, as partes ~levt'.(11 _dcs~c.l~go e~col~er a melhor forma dt: co11stirnir o tribunal arbitral
com promissória nele inse rida (ou a ele reportada). Desta forma, na i.nexistên cia de 1.ua ª ~cn~ual~<la<lc dr.: su1g1r lmg10, d1scut111do os respectivos detalhes :111tcs de instaurar-se a
:;nm~ _~-~e nao tomarem cst:1 providc:ncia, rcdígindo clfosub çomplc.:m. e bem escrurn r:Hh,
previsão legal e i m possibilidade de m ensuração de acordo com o significado eco nômi- .pera s~ pelo _m:nos (!UC os contratantes tc:nham o cuidado d,... r.:srabclcccr o mecanisnio i,
co, o valor da causa deve ser indicado por prnde n te arbJtrio do requeren re, fac ui cada, •·.• :. • 1• do •ubmo (,0 li (fo, s ª'·.'11 1rros,
nome·1ç10 · ) o (1uc pot1c J e
r:izcr com que se:: supere a inrerYençáo J. udi- te
F ai,'·' ( . e ,que
c;i.u , rrata. , o are. 7' ·0 ' ( (·· ARM()NA
. . , C··''·Ios AIL11erto. A,.b1t>ilf!/'111
· · p. 156).
c;,mi'l'sstJ, cit.,
· - 1d,1_escla1ecc o :mcor que o lcg1.~lador franc0s, anrcven<lo os problemas que a ckíuwh v·,-/i·i
23. Confira-s..:, por~m. o quanro se di~se 110 C,1pírulo 5, in;m 5.2, a pro púsito de situ:1çür.:s cxccp- pn(1e cnar : ,_ o Pt ou por so luç:10 - rad.ica1, qual seja considerar nub a cláusula que (lc1· '"e ,j,·, ' •110-
··
d onais, . ' olf :.11·lHtio
1nç·1r . (,ou os ar, b.111'0~) ou de1xt'. de c:stipular :1 forma de nomeação dcsre(s) (cit·n,do ·' ' ,. 0
24. Arr. 16. § 2.'1 Nada dispondo a convcnç:io de arhíuagcm e não Ghcg,mdo as pa:rccs a u m acordo a,t., 1,H3 , - , ~1°doCúdig)d
. · . '( e P·,~cesso e·1v1"lfrances ') . (',om id<!ntica crítica, embora rr:r,.cndo .
sobre a 1'1omeação do Jrbitro a ser SLtbstinúdo, proced ed a pan:e ínreressada da fo rma previsra
3 e j SC 1> comun~
argumci\tos 1 , • , , ' 'SCAVONE
•.[ e diversos , JUNIOR ' LLIIZ
· ;i.11totll0.
" · J\,f1lll1Ur{ t/e 1/rbitl'fl(!/'lll.
no are. 7. 0 desta Lei, a menos que a.~ partes re n ham declarado, c::xpressamcnre, na convenção , · (,. ,10 au o: fa. Kl, 2009. p. 75. -
"" · ·: • '·· , .• , ,,,... ~ ,., , r,\
'172 1 CL, RSO DF.Allllli'nACLM CON \.'ENÇAO ARBITRAL 1 ·17.1

redigida, a chíusula agrega valores à arbirrngem, somando vantagens ao procc:<limento. vontade das partes em afasrar a jurisdição c:statal.~" Fala-se princípio da salvação da
Mas nem semp re é assim. convenção arbitral, da preservação da arbirragem, do favor arbitral.
Existem cMusulas com reclação conrr.iditlíria, íncongrucnr.e, confusa, ambígua o u Assi m, cliíusulas cuja patologia náo permita extrai r a C(Tte7.'1 de terem os co11tra-
de difícil inrcrpreraç;io. A imprecisão pode com prometer a ccrrc;,.a q uanro à vontade r:.1nces clciro a arbinagt:m para );olucionar a controvérsia, cm nosso sentir, devem ser
das partes, e enseja dihculdade na sua efctivaçâo. invalidadas, ou interpretadas como prc.:servado o acesso ao Judiàiri o por iniciar iva
Ainda, a c.lisposição pode conter erros, impropriedades ou folhas capazes dc: de qnalqucrdas panes (pdo juiz csraral, ao ter rnmo não exíste1ue a ctiusula, ou pelo
afe tar ,l sua próp ria efic,ícia, e até impedir a realizaçáo do projetado inicialmcnre árbitro na autoridade que lhe confere a Lei - par.ígrafo t'inico do art. 8. 0 ). Em ou eras
pelos con tratan tc.:s. palavras, pda su:1 rclcv{lllcia, a renüncia ~1 jurisdição estatal d eve ser interpretada
São as chamadas cl:iusulas patológic:as/1' docnres, dekiruosas, e como tal repre- escritamente (art. 114 do CC/2002) , e com extremo rigor. Atl'. po rque o dcsenvolvi-
sentam, sem <lLtvida, pedras no caminho, criando imprevistas dificuldades a serern mcnro da arbitragem nestas siruaçõcs pode ser totalmente inúcíl, na medida cm que
ultrapassadas. Desta forma, contaminam a regularidade da arbitragem pelos c.:nrraves a sentença e.srnr,i exposta :1 invalidação, podcndo-sc invoca r inclusive a Consrimição
surgidos, e podem até impedir a detiva implcmentaç;10 do juíz.o arbitral. federal com qU<.:stão dt.: ordem pública, esrabdecido no inciso XXXV do art. 5.°
Como exemplo temos as sc.:guintes siruações: indicação de instituição arbi tral díl Cl-< / 1988.·\" Nesta linha de raciocín io, para se subtrair do Judíàirio o litígio, h.í
incxisrentc ( v.g. , Cihrn, ra de Arhirragem 1nsticuci onal , ou Cen rrn dcArbitragcm da necessidade de segurança quanto ~1 vontade das partes.
USP); indefinição na indic.:ação da instituição (v.g., ·1 i·ibunal Arbitral Estadual no
Paran;í); d <1vida quanro ao nú mero de ;írbirros (v.g., sed resolvida por :,rbírragern,
:!8. C:o,n :ilgumas co1H:l11.~f.><:s c::m p:11-re di,·c rsas do quanto a -~t:guir .se tfo., cm r:1,J n de pcculi:1-
através d.i nomcaçáo de ,.írbitro ou ;í rhicros pelas panes); indicaçto do regul.i rncnro rid,1dcs de r.;,1tb siwaç:io que:: n:io compormm :111Jli~t: pdo rt·striw :1111hi..:111 c.: ,ft:.~rt: "(.i,Ho",
de lun.1 insrirnição, porém para ser admi ni.srrada por entidade diversa, com regras indic:1-·sc para leitura o :migo de Sdm:1 Mnri:1 l.en1<:s ''/\ inrerp rt:t;u,;:io da cLíusul:1cnmpromis-
conmirias àquelas previstas, ou ati mc.:smo para ser desenvolvidíl por ,írhiLro <1nico, . :1 luz dü prin cípio do (:/cirn i'lril'', merL·ccndo trazer ;i scgui11tl'
.,ôri:1 <
11a~sa11t·m:
b
"Nc::.~s;1 r,1r,:-F:i
impossibilirandoa milização de algumas previsôcs/' cbusu la compromissória que .: f.:111:1d ;111:ílisc ar.;111~1d:1 p:ir:i pcrq uirir :1 rc:il vont:ldl' e inrc11ção das p.irtt·s qu:1ndo dc~c1:11n
:1 arhitrar;,:m, poi,, co, 110 ,: s:ihid11, :1 :1rbir, a~cm sô existe cm dt·coJT~nt:i:t d:1 ,·nn1:1,k da.,
preveja procedimeoro diverso e contraditório ao da instirn ic,:ão escolhida etc., tudo
pant:, (princípio da :rnltrn omi;1 d:i \'<'J1H:1dc). Nc.,rc mister i11tl'rprcr:11i1·0 allor;, o dcnomin:1-
sem contar com dáusulas que ponham cm dúvida a própria opçiío das partes a cstc do p rincípio <lo d <:i10 útil d:1 d:íu,u la compromis.~tíria. qut· consisrt· c111 dar a in1crpn:r:iç.io
método de solução de conAito (v.g., as partes <:legcrn o Íoro ele São Paulo para as 111:1i.~ constnrúm:a possín:l ú d:í11su h, a fim de que possa prosperar e i11sti1uir :1 :1rbirr:1~cm.
questões decorrentes do contrato a serc.:m dirimidas por arbicragcm judicial, ou, l~Sl'L' prin6pio decorre dC> ari. 11 2 do C<idigo Civi l cm vigor, 'nas tkclara~:õt:s dt: vonr:1de .,e
ainda, os rnnfliros serão reso lvidos por arbitragem dos ju izados especiais de peque- :ll'tnder:Ín1:ti$ a ÍJllClHj;lll 11c;b C<ln.rnhsr:rnci:td:l Jo (JUC ao scnriJo litc;ra( tb ling11:1gcm'" (jul.
200(,. D1spo11Í\'cl c111: lwww.m11ndojuridiw.adv.hr!. Accsrn t:m: jun. ~011). N:t do11rrin:1 e
nas cau~as).
jurisprudéni.;ia inrt:rn.iôo11:1i.,, 1:11corno rcircrad:rn1e1rn: firm ado no :1n1l>iw d:t Cor,c lnrcrn:1-·
Dianre de situações como estas, os esfo rços devem ser conccnuados para salvar cio11al dt· Arb itragc111 d a C:,m:1r:i de Comc'rcio lnttrnacional - CCI , ~1 mcsnw cnrrndimcnto
a arbirragem, qu.rndo assim seja possível, e desde que a d<1vid.a não reca ia sobre a ,: pcr(ilhado i1 wot:a11do-sc, muiras v~y1.c~, o ar e. 1.1 57 do C<Ídigo Ci\'d f'r:1nc..:s, <JIIC guarda
sc.:111dh:u1ç.:1 t:0 111 o :11·1. UI do CCo hr:isilciro e qu e, indubir:11·elinc11 rc, homc:11:1gci:1 o hom ..
-S<: I\St>: '·Qua11do 11111;1 cl,í11s11l:1 t: ~uscccívcl de doi.~ sentidos, drvcll1os d:11· prcfcr~nCÍ;\ ;tquclc
:26. l·:111 l ')7-i, 1órcdcric Eist:111:1111111111 dcno111i11m1 d.111.k'i 1,,1thol11giq11,·, khíusul:t, d,>c111cs) a, àíu$11h~ q ue pos.,:1 produzir um 1:fcim 1íri l. cm lugar daquck· qm· n:t0 pos..~a pn><lmir ncnlrnm''. 'O
dcf<.·iu,osas, impL-rfoi w.~ ou i11complt·1:1s. quc ptla au,.:-ncia de <:lc1rn.:11i:os 111í11i mos Slm:itam prmdpio do d~:i to (11 il ,·c::111 st:ndo adorado pela jurisprud~nàt l>r:1silcir:1 :w t:s:irar dcci.,f1c.:,
diliculd:itk~ :,n dc.~c11voh-i mc1llo harmoniost>d:1 arbi1r:1gL·m, conforn,c nos d:io nodcia l\:dro que cn11\';llida1n l' n:i1er:1r:1m os cfrirns de cl:tusula., con1pr(l111issó1·i:1s omiss:1.~, l:1cúnic:1s ou
,\.'bnins e Jos~: M:1ri:1 C.arca (ll<:f!,'.,·ii,·,- mim· ;trhit1;,:1,Çcl!I. S:fo l':wlo: 1:11·. 200'.!. p. 189). coucradiníri:,~. dc.:1.:rminando que a.~ macc:ria.~ st·j:tm rt·solvidas na snlc :trhitral. Enfim, ir\\'O·
27. Lxc111plo rnai~ dâssico n:crarado po r.Jost Emílio J\:unt:, Pinto: "Cl:iusul:1(] Ue prcv~ a t:scolha d:ts c:tr t1 princípio do cl"i:i10 t'nil par:i inccrprct:tr c:Liusula r.;on1promiss<i ri:1 com :1noinali:1, que
rcgr:1s de arbi tragt·m d:1C:á111:1ra <lc Com1:rt:io lnrcrnacional, s,:diada cm Paris, :1 CCI. 111:is p:1r:, na dourrin,, ji,rídic:i dc11om in:1-s,:: genericamente dr.: d:í11sula pawl,ígic:1 n11 doL' IHt', rl'vda-sc
~<:n.:m nplicadas po r instituiç'io brasileira. 1\ patologia, n<.-ssc.: c:1so, <'Sl:í no f..no ti<: essas rcgr:is t~r.tp~uric.1 sadia e: clic:1;,~ seja no processo .1rbitral como 110 jud ici;irir:. i\ssim. d..:pc·nJcn<lo da
de 1:1 r:rndc lm:stígio intL-rnacional e h:1,rantc rnnsolid:1d:1s cc,-.:m sido di::sc nvol vid:,s p:11':t 11:1 .u: s1_1'.1:1i;:io, 11:io .,t: jusrinc:1 recome ndar rratamtnto cirürgit:o p:tr:1 1H:g:1r-lhc v:1lid:1dc e: cfcico".
esrrurura lÍnic:i da CC:I e que: não t:11co1icra ~irnibr 110 Brasil. A inadcq11ação d:1s 1egr:1., C,(,l ª U .,ai11d:1,Jos,: F.mílio N1111e., Pinco. A escolha pela :1rbiu;1gclll t: :1 g:1ranri:1 de .,1.1:1 instituição.
t:s1rurur:i d:1s e;imar.,s lnasilc.:i ra~ é;, c:1u,~1 da pacok,gia. E 111u ims pod..:m st'r ;1.~ l.'011,n111ê·1 1t·i:is N,.,.,s,,1 do :ltl1•og;u/11. n. 87. ano :\:\V!. .São Paulo, sc.:r. 2006, p. 87.
advt:1'$:lS dcss:1 pawlngi:( (Cl:íusu bs :irbirrais pacol(ígicas - Esse mal tc:m cura . ./11s \ 'igil,l!lrih//J. 29. Arr. _5.'.' ' fodos s:ín iguais perante a lei, sem dis cin~:iio lk qualquer n:ir11rcz:1, g:ir:tntindo-sc.: aos
nov. 2001-i. D ispo" ívd em: 1http://j11s,·i.rn,n/arcigos/2'í21 1. Acesso t:lll: 0'.'>.()6.:201 1). brasrk-1r(ls e :10., c.,rr;rngciros rcsidcn tt·s no País :t i11 viol:1bilid:1dc do dir.:irn :'t ,·i(b, :, liberdade,
17 4 1 CURSO DE ARBITRAGEM
f CONVENÇÃO ARBITRAL 1 1 75

Agora, extraída da cláusula a convicção dos contratantes pela arbitragem, embora 6.2.4. Cláusula escalonada
com anomalia, deve ser buscado o rendimento máximo da escolha feita, interpretando-
-se a cláusula d e tal forma a acomodar a vontade das partes, e as respectivas diferenças, Aparecendo cada vez com maior frequência, inclusive com modelos oferecidos
à luz dos princípios da arbitragem, tanto no juízo arbitral como no Judiciário. por diversos órgãos arbitrais, encontra-se a chamada c!dusula escalonada, consistente
na previsão pela convenção de dois (ou até mais) métodos de solução de conflitos a
E a terapia será d esenvolvida conforme os sintomas.
serem exercidos na forma convencionada.
Sendo possível instaurar-se o procedimento arbitral, de acordo com a interpreta-
O mais usual atualmente é a previsão expressa de busca pela solução da con-
ção da dáusula, entrega-se ao árbitro a total autonomia para encontrar a melhor sol u-
trovérsia por meio de mediação ou conciliação previamente à arbitragem (cldusu!a
ção às dúvidas e contradições, na amplitude ao princípio competência-competência.
Assim, poderá o árbitro definir sobre a formação de colegiado, estabelecer as regras med-arb), ou em fase própria durante o procedimento, com suspensão d este (c!du-
sula arb-med).32
a serem observadas, e a forma de organização da arbitragem, tudo, aliás, como no
silêncio das partes já lhe seria atribuído (art. 21 da Lei 9.307/1996), sendo pertinente, Considerada a mediação, neste particular, como m ecanismo que pode integrar
parém, antes de qualquerdecisão, buscar o consenso das partes a ser instrumentalizado procedimentos multi.-etapas, Fernanda Levy assim identifica a cláusula escalonada:
através de adendo à convença.o (art. 19, § 1.0 , 30 da Lei 9.307/1996). "estipulações contratuais que preveem fuses sucessivas que contemplam os m ecanismos
Por outro lado, comprometida a própria instauração do juíz.o arbitral (p. ex., mediação e arbitragem para a solução de controvérsias" .33
indicação de instituição inexistente), deve-se preservar a intenção das partes quanto Esta cláusula mostra-se pertinente em especial nos contratos de execução conti-
à utilização deste método de solução de conflito, e buscar a sua efetivação através da nuada (conflitos em contrato de franquia, representação comercial), de longa duração
celebração de compromisso, pelo procedimento previsto na Lei de Arbitragem para e significativa complexidade (grandes obras na construção civil e infraestrutura,
as cláusulas vazias (arts. 6. 0 e 7. 0 ). inclusive promovidas com parceria público-privada).
Em qualquer situação, porém, cabe amiúde mergulhar profundamente na pes- E cem seu atrativo exatamente porque as partes, mesmo diante de alguma contro-
quisa da real intenção das partes, que, aliás, é imperativo na interpretação dos negócios vérsia surgida no curso da execução do contrato, ainda terão um período prolongado
jurídicos em geral (are. 112 do CC/2002 - p revalência da intenção sobre a forma de convivência, sendo de todo recomendável, assim, buscarsoluções consensuais para
escrita), observada a boa-fé (boa-fé objetiva, proibindo, inclusive, comportamento as diferenças havidas. Ainda, muitas vezes o contrato envolve parcerias e subcontra-
contraditório), e os usos e costumes (art. 113 do CC/2002). Assim, as circunstâncias tações que podem ser abaladas pelas desavenças levadas a julgamento, com o risco de
que gravitaram em torno da contratação, bem com o questões periféricas ao contrato, comprometer até mesmo rodo o empreendimento, não só pela demora na solução
além da qualidade das partes, objeto do negócio, condições estabelecidas, influência do (pequena cm se trarando de arbitragem), mas também pelos naturais desconfortos
conteúdo econômico-financeiro quando das cratacivas, equi líbrio entre os envolvidos na relação trazidos pelo conflito.
etc. , passam a ter papel rdevante na análise do julgador, com o objetivo de corrigir a
A previsão, em regra, recomenda a submissão das partes à conciliação ou media-
cláusula para tornar funcional e proveitosa a arbitragem, mais próximo possível ao
ção prévia, porém algumas cláusulas indicam a necessidade (obrigação) de tentativa
quanto se supõe ter sido a vontade dos contratames.31

32. Como escreve Fernanda 1arruce, após trazer à colação lições do Prof Kazuo W:ttanabc: "A
11 igualdade, à segurança e à propriedade, no.~ termos seguintes:(...) XXXV - a lei não excluirá incl usão de d.íusula contratual de mediação prévia e necessária revela a busCJ. de uma saída
da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; (...).
conjunta como fase precedente à instauração do litígio, o que enseja interesse crescente sobre
30. Já com a nova redação inuodu1.ida pela Lei 13.129/201 S- cf. texto consolidado e comentários o panorama das técnicas compositivas n:ío conccneíosas" (TARTUCE, Fernanda. Medinçiio
em Anexo 1 e Anexo 2 adiante. 11 01 co11fli10; cilJÍ!. Rio de Janeiro: forense; São Paulo: Mérodo, 2008. p. 270).

3 1. Nesse c:1mi11ho, José Emilio Nunes P.inco: "Busca-se resg.irar, m1 cl:fosul:1. v:nia ou n:1 cl:(usula 33. Fernanda Rocha Lourenço Levy, CMm11fas emlÍoll(tdas -A mediaçiio comercial no contexto d(l
parológica, a verdadeira imençlio das partes ao celcbr:ir a d:lusuln compromissória, ainda que flrbitmgem. Saraiva: 2013, p. 200; acrescentando: "Esse escalonamento pode ocorrer de duas
isso seja diílcil e a rnrefa por demais complexa", rnz:io pela qual, "sendo a cl:iusul:i compro- maneiras: pela P:cvisão inicial de mediação e caso ela res te infrudfera no sentido de obtenção
missória de natureia concraru:.il, o a.rt. 422 do Código C ivil se aplicn inrcgmlmeme" (PINTO, do acordo, connnua-se a gestão do conflito com a arbitragem (cláusula arbitral escalonada
José Emilic, Nw1es. A cl:lusul:t compromiss(,ria à luz do Código Civil. Jus Ntwigand,. n. 5 18, med-a~b)_ ou no sentido inverso, iniciado o procedimento arbitral, ele é suspenso para que
.mo IX. Teresina, de-,H2004. Dispc,nível cm: [http://jus.uol.eom.br/revisca/rexro/6025]. Acesso a m~dm?1o se desenvolva, para em seguida ser retomado para a homologação do 3COrdo ou
em: 04.06.2011). con nnu1d3de do procedimen to arbitral (cláusula arh-med)".
176 1 CURSO OE ARBITRAGEM
t
CONVENÇÃO ARBI'l'RAL 1 1 77

de autocomposição, como requisito à instauração do procedimento arbitral, ou seja, . E con~luiu à época. a Professora: "Pelos motivos expostos, independentemente
como condição para que a arbitragem seja iniciada. d~ lc~ que a 11:1po~ha expressan:~cn_ce, defendemos a ideia de que a convenção de m e-
Uma vez indicada como necessária a mediação prévia por vontade das partes d1açao po~~~ 1~fe1t~ pr~ssu~1s vmculanres, pois a vontade das partes cm submeter
expressa na convenção, surge a questáo: poderá a parte provocar diretamente a a c~n trov<: st~ a ~ed taça~ pr~1amen te a qualquer solução adjudicada, cm nosso caso,
instauração da arbitragem, ou esta iniciativa estará vedada pela cláusula? Polêmica arb1cral, nao s1g111fica renuncia abstrata à apreciação jur:isdicional da controvérsia mas
a questão, inclusive além de nossas fronteiras ,3~ parece que no cen.-irio atual onde sim, a ~ pressão livre e informada da vontade das partes cm compor suas controvérsias
se busca prestigiar cada vez mais os meios amisrosos de solução de confütos (v.g., a por meio de um n:iec:inismo prévio con~ensual. Assim, a cláusula de mediação, seja
previsão coneida na Res. CNJ 125/201 O, e o Código de Processo Civil, analisados, no paccuad~ de maneira 1.solada ou estabelecida como condição prévia à arbitragem, deve
Capítulo 2), a tendência seria considerar impedido o acesso à arbitragem enquanto ser r~~~ltada, sob pena de restar como uma simples recomendação ou lembrança d a
não cumprida a etapa volunrariamenre eleita pelas partes. poss1bt!_1dade de uma sol~ção consensuada e mais, ser uma barreira que acabará por
Esta conclusão foi alcançada em primoroso estudo sobre a mediação comer- conduz1r as partes a conflitos "parasitas" e indesejáveis.''. 30
cial no contexto da arbit ragem feito por Fernanda Levy em sua tese de Doutorado Atenta a esta. questão, a recente Lei de Mediação (Lei 13.140/2015), analisada
na PUC/SP, no qual se contém completa pesquisa desenvolvida, escrevendo, após no Capítulo 03 ~cima, Jessalra_já : m seu art. 2. 0 § 1. 0 : "Na hipótese de existir previsão
análise inclusive do debate estrangeiro a respeito: "Acreditamos que a convenção de contratual de clausula de med1açao, as partes deverão comparecer à primeira reunião
mediação prévia possui efeito vinculativo positivo, dirigido às partes que devem levar de mediação".
a controvérsia à mediação, honrando o p reviamen ce paccuado, e nega rivo, dirigido ao E com_regras específicas mais importantes, prevê as consequtncias da ausência:
Estado, incluindo-se a esfera arbitral, impedindo o árbitro de instaurar a arbitragem, ~e esta?elec1da no conrraco, como sugerido no art. 22, IV, haverá a imposição da
quando da existência de uma cláusula de mediação prévia à arbitragem... ", quando penalt~ad: ~;11 ca~o de não co,mparecimento da parte convidada à primeira reunião
antes já afirmava: "Realmente, parece ser essa a tendência nacional e estrangeira, e de mcdiaçao , a~s1m, cabem a~ partes, consensualmente, convencionarem O que
nesse sentido ousamos afirmar que já é possível atribuir esses efeitos à cláusula de me- e?tenderem pernnente a respett?, ou ele~erem instituição de mediação que assim
diação independentemente de legislação que lhe confira esses atributos e justificamos d1~p_?nha_em seu regulamento. Ainda, omissa a convenção (ou regulamento da insti-
nossa afirmação... ''.35 cu,çao eleita), sendo cláusula de mediação simples ou med-arb, mesmo assim a ausência
tem consequê~cias, pre~ist~ no§ 2: 0 , IV do mesmo art. 22 "o não comparecimento
34. Cf., a rcspeiro, Selma Maria Ferreira Lemes, assim e.~crevendo: "Sa.licnte-sc que esta questão
da parte c_onv1dada a pmne1ra reumão de mediação acarretará a assunção por parte
j,í foi objeto <le demandas judiciais no exterior, regiscrando-se que a jurisprudência se inclina desta de cmquenra por cenco das custas e honorários sucumbenciais caso venha a ser
no sentido de entender que a chíusula escalonada cem cfricos contratuais, vale dizer, se não venc:dora em procedimento arbitral ou judicia[ posterior, que envolva O escopo da
for observada a mediação pn:via, nenhuma consequênci:i além do simples inadimplemento mediação para a qual foi convidada".
comrarual que se resolve por perdas e danos advir,t Mas camb~m h:í jurisprudo:ncia que con-
sidera que esta cláusub tem efeitos processuais e impede o árbitro ou o Judiciário de conhecer
Ma; não ésó: tam?é1::1 estabelece a nova Lei que: "Are. 23. Se, em previsão contra-
a quesrão litigiosa, remetendo as po.rces à mediação ou conciliação pr<!YÍas. Na juri~prudê:ncia rua~ de clausulade~ed,_a?1o, as partes se comprometerem a não iniciar procedimento
francesa regisrra-sc precedente cm que csra questão levou 1Oanos. percorrendo v,írías ins tân- arb1t~a~ou p~oc~sso ;ud1~1a.ldurance certo prazo ou até o implemento de determinada
cias judiciais, até que, exausta, a parce submeteu-se à conciliação prévia que esripufara como con~1çao, o arbmo ou o JLUZ ~uspenderá o curso da arbitragem ou da ação pelo prazo
condição :1 demanda judicial, para cm seguida, finalmenre, ver o mérito da questão poder ser previamente acordado ou ate o 1mplemento dessa condição".
julgado" (LEMES, Sdma Maria Í'erreira. Cláusula escalon:ida, mediação e arbi tragem. Rc,,isltl
Rcmltffdo. vol. 10, jan. 2005 , p. 42). Co~ ~ inovação legislativa, seguiu-se, como deveria, a tendência de se impor
35. Fernanda Rocha Lourenço Levy, Clrí11s11lm esat!muulm - A rm•di,1ç,1rJ comercittl 110 co!llcxto dd responsab1l1dade e c~eitos à cláusula de mediação (ou cláusula med-arb) que deixa,
,zrbitm,«em. Saraiv:i: 201 3, p. 278 e 273 . Neste cmhalho, após apresentar um novo olhar sobre assim, de ser mera CÍtlusu/,a de cortesi,i (salvo se as partes assim desejarem).
o conAico e os meios de sua solução, a aurora com pllreza <le detalhes rrata das cláusulas de
Op:ou-se, p~rém, não pela extinção do processo, tal qual se tem em relação à
cortesia, <le mediação privada e escalonadas (mcd-arb, e m·b-med), com suas características,
peculiaridades e cernas relevantes, como a redação d:i cláusula, dur:ição da fuse de mediação, o
convençao de arbmagem (até porque nesta há a exclusão da jurisdição estatal), mas
p:ipd dos ncucros (medi:idor e árbitro), vantagens e desvantagens da previsão etc., muito além
de enfrentar a poli:mica a respeito do dcico vinculante da previsão, reRecindo , ainda, sobre os .~G. Fen~anda R~ch~ Lourenço Lcvy, Cl,í1md,1s esc,do1111das - A 111t:dinriio comcrcinl no contt'xto d,t
aportes <la mediação comercial no processo arbitral. flr!Jtti~tgl'm. Saraiva: 201.~. p. 296.
178 1 CURSO UEARlllTRAC F:vt
CONVF.NÇAO ARBITRAL 1 1 79

por se impo r uma penalidade pecuniá ria especifi ca, se o urra não tive r sido convencio- con_duzida ~~r C omitê especialmente constituído, sendo que p rejudicado este pro-
nada pelas partes, e ainda, além desta sanção, havendo previsão concrarual pró pria, ccd1menro, qualque r das partes poderá submeter a controvérsia ao juízo arbitral ou
o árbitro o u o juiz suspe nderá o curso do p roced ime nro na fo rma acordada (art. 23 ao Judiciário, confonne o caso".39
da Lei 13. 140/2015).
Advirra-s~ que há distinção encre esta previsão de mediação ou conciliação prévía
Em certa medida, pode-se co n fi rmar a posicivação do" l'ftito 11inculante" ou "vin- e aguda tentativa de composição pro movida pelo árbitro por conra <lo p revisto no
culaçíio" da clá usula de mediação, no sentido de que seu desrcspeiro gera consequê ncias. 0
§ 4. do are. 21 da Lei de Arbitragem (cf., arespciro, Capítulo 9, adiante) .
Mas lembre-se de que a exigê ncia é de pa rticipação na primeira re união (como in-
A p1:evisão na clá usula escalonada direciona as partes ao procedimencoespedfico
dicado na norma), pois "ningué m será obrigado a perma necer em procedimen to de
deste meio de solução a migável d() conRiro, coralmenre dive rso, e independeme da
mediação" (arr. 2.0 , § 2 .°, daLci 13.140/2015).
instauração da arbitragem. Já a inicia tiva do ,írbitro em buscar a composição se faz.
Sob outro aspecto, se antes pudesse have r cerca te nsão ou ansiedade da pane como fase ou incidente na arbitragem aparelhada. A seu turno , o terceiro facilitador
com a prescrição da ação, a ins tigá-la a abando nar a iniciativa da m ediação, com a da mediação/conciliação pdas características de sua atuação (inclw,ive desejada ca-
vigên cia da Lei de Mediação esra preocupação desapa rece, pois a suspensão do prazo pa~itaçã.~ específica, corno já muito se disse a respeito, deve ser o utra pessoa que não
prescricional no curso do procedimento de mediação passou a ser previsrano parágrafo o fururo Julgador). N este particular, a Lei 13.1 40/2015 estabclc::cc ex pressamente a
único do arr. 17 da Lei 13.1 40/2015.37 restrição ao mediador para atuar como árbitro, confirmando o quanto, de certo modo,
.Ainda, registre-se que mesmo neste contexto de valorização do compromisso respeitadas instituições de arbitragem j,i p reviam a respeito em seus regulamen tos.-111
com a d áusula de mediação, para evenmais wtelas provisórias d e urgência, cerca mente Além das cláusulas "med-arb"rm ''arb-11u•d ': tam bém se qu alifi ca como "escalon a-
estarão abertas as porcas do Jud iciário pa ra garant ir eventual direico d a parte, corn j u- da", a disposição que estabeleça a resolução dcconflítos por "dispute boarâ', facultada
risd ição nos limites da medida pre tendida, c<>rnose admire previa me n tea inscauração em seguida a provocação do juízo arbit ra! pelo descontente com a solução alcançada
da arbin·agem e m qualq ue r siruação; o u ainda,se perrinenceecom tempo para tanto , por aqueles métodos (Ctrí11s11/a ''BD-arb"). Como visto (C ap. 02, item 2.3 supra) ,
ra mbé m se poderá reque rera preservação do direito no juízo arbitral (cf. Capíuilo 1O, o resultado <lo cmnitê pode a té se r vincu lante, <le aco rdo co m o contratado, mas, na
adiante) . Neste sentido, quan do previsra a suspensão do processo jud icial e a rbitral essência provisório , é possível a revisão do litígio na arbitragem e m que se pretende
pelo art. 23, ta mbém se faz a ressalva: "Parágrafo único. O disposco no caput não se um julgamento definitivo pelo interessado (insatisfeito com aquela solução) , inclusive
aplica às medidas de urgência em que o acesso ao Poder Judiciá rio 18 seja necessário contrário àquele anterior.
para evirar o p erecimento de direito". E assim, csmÚJ1Mrla ser~i a cláusula em q ue se cstaheleçam dois ou m aís meios
Na p rát ica., os resultados positivos da cláusula escalonada, também chamadas de solução de conflims dentre os diver~os disponíveis'11 a serem exercidos na forma e
Clti.11s11lll "wed-1,r//' ou "arb-inl'd", já são percebidos, embo ra ainda sc mostre im por- etapa.~ ajustad as pdas parn:s.
tante a divulgação d a cultura deste expediente, cm especial aos advogados chamados à
c.:onsulcoría ao c()ntrato e it controvérsia, que ainda apresentam, por vezes, resistt':ncia 6.3. DA AUTONOMIA DA CLÁUSULA COM PROMISSÓRIA
a este modelo d e solução d o co nflito .
Co mo já vimos, a clá usula compromissó ria pode estar estipulada no contraro, o u
Por curiosidade, aponta mos o contrato ''PPP" de concessão administrativa para cm documenro separado, a ele reportado. Em qualquer situação, da não é acessória,
preparação do Mineirãoà C opa de 2014, no qual há indicaçao expressa para solução mas autô noma cm relação ao negócio jurídi co, nos termos do are. 8.° da Lei de Arb i-
a migável de co ntrovérsias, d iretam en te e ntre as partes, ou através de m ediação a ser

-~9. No Capítul~ Xlll- Da soluç:in de ConHiros. Disponível t:fll: [hnp://portalcransp::irencia.gov.


37. "!\rt. 17. Considera-se instiruí<l,1a mediação nJ data para a qual for m:uc:1da a primeira reu· br/copa20l 4 ). Bu~car em Cid:idcs / Belo Ho rizonte. Ace!il>o cm: 15.06.20 13
nião de mediação. P:1dgrafo único. Enqu., 11 10 cran~co rrcr o pmced imcnco de mcdiaçiio, ficad
wspenso o rra1.o prescricional.''
40. ? ~c:gulamenco <lo ( ~AF.SP, por exemplo, considera h111dada :'l wspciç:ío de parcialidade do
arb itro que nvcr paruc1p:1do como mediador ou com:ili:1dor d:1s p:1rccs, s:ilvo se exprcs~;,mente os
38. f-ab.-sc J11diciár10, mas, se já se c:sciver inslituído proccclimcnto arbitral, mesmo suspenso, e lmg:mces csrabdcccrcm o co ntdrio, conforme:: o item 46, e, wmh..:m as.~ im esr::ibdcce o Centro
inclusive considc r:,das 011tra~ casuísticas a serem a nalisndas no Cnpículo I O, adi:111cc, deve-se de: Arbit ragem <la Cúrn,ira Amcric:tna de Comércio de S:io Paulo - AMC:HAtv1 e o Cenc rc, de
entender a rcgr:i no seMido de que, se com jurisdição no momento. ao .irbitro podcr:Í ser Arhitragcr11 e Mediação d:1 CCI3C.
requerida a tutela provis,íria de urgC::ncia. 4 l. Cf. (C,phulo 02. item 2.3 sup ra).
t
CONVENÇÃO ARBITRAL 1 181
"180 CURSO LW ARl.llTRAGEM

tragem . Em outras p,tlavras, mesmo omisso o inscru.tnenco, mas po-r forçada previsão Evidcnremencc que em determinadas situações a causa de invalidação verificada
legal, a Lnvalidade de oucras chiusulas, ou n:1esmo de todo o contrato, não contamina podecomprometerambas as relações, como, por exemplo, a falsidade do instrumento,
a cláusula a.i:-bia·al que, preenchidos seus requisitos, permanece válida e eficaz:
11 ou outros vícios de consentimento e relativos;, capacidade das partes.+1
Assim, quando se estabelece a clfosula arbítral relativa a um contrato, na verdade Sobre a extensão da amonomia da cláusula arbitral, Carmona traz questão in-
criam-se duas relações jurídicas: o negócio contratado e a arbitragem, esta última reressan re, propondo adeguada solução:
independente, porém restrita it vontade das partes em submeter aquda primeira à Trata-se de saber se, resilido o conrrato c;m que se insere a cláusula com promis-
mtda arbítral. sória, sem qualquer menção especial àquela convenção, subsistiria a competência
do ,-írbitro para soluc.:ionar litígio que envolva as partes e que verse sobre o contrato
Com car;J.ccerísticas e exigên cias próprias, o objeto do co ntrato principal (por
dcsf~íto. A a~conomia anur~ciada kva à conclusão de que a vontade das panes no
exemplo, a franquia, a compra e ve11da, a prescação de serviço etc.) será analisado e
sentido de <l1ssolver por mutuo acordo a relação jurídica principal não as desliga
cumprido. Se houver algum vício ou irregularidade, de acordo com a sua gravidade,
da relação objeto da chiusula compromíssóría (independente daquela outra). Em
o contrato pode ser invalidado. Porém, perfeita a chiusula com promissória, esta per-
c~nsequê~ci~~ sur?ida con_tr~~érsia decorrente do contrato resilido (ou questão que
manece ímegra, como resultado do desejo dos contratantes em submeter o conflito,
diga respeito a validade, cficacta e extc:nsão da resili<;ão), tocar;Í ao ,írbitro - e não ao
inclusive com relação aos defeitos do contrato, ao juízo arbitral.
juiz togado - dirimir o litígio (vide, no mesmo sentido, as observaçóes de Macrhicu
Desta forma, quem irú avaliar e decidir sobre a validade do concraw (quanto de Boisséson, Le droitfr,i11ç,ús ele léirbitmg,, iuteme t.:t i1ttematiouaf. Paris: CLN J olv
ao seu objeto principal) é o .í.rbitro, cal qual preconizado no padgrafo único deste Édicions, 1990, p. 77):1'
art. 8.° cm exame.'u
Pode acontecer, pore:xc.:mplo, de exigira kí forma própria ao objeto principal do 6.4. DO COMPROMISSO ARBITRAL
contrato, como escrimra pública (para a transfc:rência d.e direitos reais imobiliáríos),
O compro1_nisso arbitral, como referido, é a convenção através da qual as partes
porém con rrararn as parres por inscrumenro particular, com.cláusula com promissória.
submetem à arbmagem um litígio já inaugurado.
Neste contexto . o vício d.e forma quanto ;1 compra e venda não vulnera a disposição
Pode ser judicial, celebrado por termo nosaucos, perante o juízo ou tribunal onde
arbitral, e cabed ao :übítro o julgamento quanro ~t invalidade.: do contrato.
cem cu1:50 a demanda, ou extrajudicial, promovido através de instrumenro público
Eo contr;írio também é possível: afastar-se o juízo arbitral pela indisponibilidade ou pamcular, sendo, nesta última forma, necessariamente por documento escrito, e
do objeto ou por qualquer outro vício na chíusula, mas, pelas circunw'lncias, após com <luas testemunhas (art. 9. 0 , c,tput e§§ 1.0 e 2.°, da Lei 9.307 /1996).4i1
ser declinada a jurisdição arbítral, chega-se ao reconhecimento, agora judicial, <la
Quando realizado no curso do processo judicial, segue a forma do eermo previsto
validade d.o nc.:gócio jurídico principal (por exemplo, quando se trata de arbitragem
no are. 209do_CPC/2015, sendo necess,íria a assinatura das partes e dos respectivos
em contrato de consumo sem observ{mcia da forma prescrita em kí).
patronos. Advirta-se que o advogado só poderá firmar o compromisso cm nome das
partes se lhe tivcrc;m sído outorgados poderes especiais e específicos para tanto.
42. Nem:~<.:mido,José Cn::1elb ;--J<.;10: "btipubc,:;io scmdh:rntc ( encontr:1da na J.cy espanhoh, que
Com o compromisso, extingue-se o processo sem resolução <le mérito (art. 48 5,
ra:i que a nulidade d<.: um <:oncrato n;io implicar:i, nccessariamen.-c, na nulidade da clfosula
0

compromissória nele inscrr;t (::irt. 5.0, §. 8.••). T.·\lnb(m a ki italiana dispó<.: que a \ ::ilidad<.' da Y:I, ~o ~PC/201 5). Subtrai-se do Judiciário a análise do mérito, oucorgando às partes
d:íusub comprnmissóri:1 deve.: ser avali;1dn de modo ;1urúnomo em rcla.ç1o ao contrato ao qnal a Junsd1ção privada e poder <lec.:isc.'>rio ao árbitro.
se rdi.:rc (arr. 808 do C.º,dicc.:). F. a. lei belga c:~tipub que 'la consraration de la nullit~ du connac
n'rntrainc pas de plcin dmil l;1 nullicé de la conve11cio11 d'arhicragc qu'il wntienc' (a.rt. 1.697,
§. 2.'', do Codc) . Por fim, a lei nlcrn5 dispôc que: o juíw arhicr:,1 pode.: decidir quanto i1 sua 44. Ct:, a respeiro, Rodrigo Almeida Mag:db:ícs . .1lr/,im1gi:111 i: a1111•,·11çíio ,ll'himtl. Rdo Hori,.onre:
próp ria compcténcia, hem como quanto i, cxiscéncia ou Yalidade <la convu,ç:io tk ::irbi rragc::m; M:rnd:unentos, 2006. p. 238. ·
no conr.exto, 'a cLíusula arbitral deve ser consideracb amônoma cm rebç.:io !is ou1rns estipula· 45. CARMONA, Carlos Alberro. /lrhitmp,c:m e pr,Jl·csso, ót., p. 174.
çües do contr:1co' (arl. 1.040. (1) do 7..PO)'' (CRl:TELL/\ NETO, Jos~. Crn11m1,í1·io.1 ,1. !.c:i tli: 4 ú, Are: 9.0 O compromisso arbitral~ a convenção at rav~s d:1 q11:tl as p:1m:s submetem um lir.ígio it
Arhitl'llgm1 B,mil,·im. Rio de Janeiro: Fon.:nse, p. 71 ). a rbltl':ig~m d~ uma ou mais pt:,soas. podc.:ndo serjudici::il ou cxtr:ijudicd. § 1. O compromisso
0

43. Art. 8. 0 , pa.r:igrafo único: C :1b~r:I ao drbi tro decidir de ofício, ou por provocaçfo d:is panes, arG1tral Judicial cdcbrar-sc-:í por t<.:trno 1JOS autos, perante o juím c>t1 rribun:11, onde cem curso
a.s q ucsrões acerca da cxist~ncin, val idade e efidcia da convcnçfo de a.rbi1ragem e do C<)nrr;llO a d_emanda. ~ 2. 0 O comprorni~so arbitral ..:xtrajudici:il ~crú celebrado por cscriro p::ircicubr,
assinado por duas n:sc..:munhas, ou por inscrumcnm pt'thlico.
que con re nh:i a cláusula co mpromiss6 ria.
182 1 CURSO DF. ARl31TRAGF.M CONVENÇÃO ARl3lTRAl. 1 183

Conforme o estado do processo, por exemplo, se após a instrução ou mesmo Are. 10. Constará, obrigatoriamente, do compromisso arbitral:
no tribunal, surge a questão: os atos praticados, especialmente as provas produzidas, J - o nome, profissão, estado civil e domicílio das partes;
podem ser aproveitados? A resposta é afirmativa: podem, mas a critério exclusivo do II- o nome, profissão e domicílio do árbitro, ou dos árbitros, ou, se for o caso,
árbitro. Vale di7..er, o árbitro terá autoridade para receber e aproveitar, com o valor que a identificação da entidade à qual as partes delegaram a indicação de árbitros;
julgar pertinente, tudo o quanto passou no processo judicial e a ele foi encaminhado,
Ili- a matéria que será objeto da arbitragem; e
porém lhe é facultado abrir rocalmen te a fase instrutória, inclusive renovando oi tiva de
testemunhas, depoimentos, prova pericial etc. Isto porque, como veremos no capítulo IV - o lugar em que será proferida a sentença arbicraJf'> - que não corresponde
destinado ao árbitro, ele deverá ter independência (dos faros) para julgar a controvérsia. necessariamente ao local de desenvolvimento da arbitragem, como adiante se verá.

O compromisso, judicial ou extrajudicial, representa negócio jurídico-11 com Especificamente com relação a indicação dos árbitros, pode ser feito no compro-
forma prescrita em lei, e, pois, com requisitos próprios. Assim, além das formalida- misso, desde logo, mesmo se encomendada a arbitragema uma instituição. Porém, neste
caso, é recomendadoquea instituição deita aceite o procedimento com árbitros estranhos
des acima indicadas, o art. l Oda Lei de Arbitragem traz exigências específicas para a
ao seu quadro. O comum, nestas situações, é a instauração de colegiado arbitral, sendo
validade do compromisso arbitral, a saber: 48
que os árbitros escolhidos pelas partes, no compromisso, definem qual será o terceiro, e
presidente do painel, dencreaqueles integrantes da instituição indicada. E, na divergência
47. Carlos Alberto Carmc>na, ap6s nprescnrar :is divergências a respeiro da narunna jurídiai do quanto à escolha, esta caberá à instituição. Fala-se cm "recomendado" quando se refere
compromisso (concr:m, de di.reico privado, contrato processual, concraco complex.o e compos-
to) , e sua semelhança com a crnnsaçfío, col:icionando posições dt: civi liscas e proccssualistas,
à aceitação pela instituição eleita do árbitro <::stranho a seus quadros, pois como se verá,
conclui: "O compromisso é o negócio jurídico processual através do qual os inren~ssados cm a reforma da Lei de Arbitragem (Lei 13.129/2015), traz polêmico dispositivo pelo quaJ
resolver wn lirígio, que verse sobre direitos di.sponívcis, deferem a srn\ solução a terceiros, com "as partes, de comum acordo, poderão afastar a aplicação de dispositivo do regulamento
caráter vinculativo, afastando a ju.risdição csmml, org,tnizando o modo ntrnvés <lo qual dover:i do órgão arbitral instirucionaJ ou entidade especializada que limite a escolha do árbitro
se processar o juízo arbitral'' (CARMONA, Carlos Al berto. Arbítmgem e processo, cit., p. 189- único, coárbitro ou presidente do tribunal à respectiva lista de árbitros, autorizado o
-190). Nesta linha também Luis fernando Guer~·ero, referindo-se;\ ímpossibili<lade de se negar
a natureza de m:g6cit, jurídico processual da convenção, pois é nítido que o fim do acordo controle da escolha pelos órgãos competentes da instituição (...)" {nova redação do§ 4. 0
cclcbrndo entre as partes é a soluçáo de litígio, do motfo nela estabelecido (CUERRERO, Luís do art. 13 da LArb.), cuja análise será apresentada em momento oportuno. 50
Fernando. Co1111mrií1> rltr m-hitmgem e processo 11tbim1J. São Patdo: Adas, 2009. p. 12.). Mas Por outro lado, quando há indicação direta do :irbitro, prudente a enumeração
bem pontua Giovanni fütore Nnnni (NAN N I, Giovan ni Ercore. C lfosuht com,promiss6ria...
de outros em substituição ao primeiro escolhido, para a hipótese de impedimento,
cir.). "Porém, entende-se que é dcspiciendo o designativo pro.essual na gênese d.i cláusula
compromissória. Ela é um pa.cco de direlro material, cm que a sua verccnce proc,-ssual surge recusa ou qualquer outro fator que impeça a participação do eleito, 51 evitando, as-
cm momento posre.rior, 11 0 àmbito de sua cfrc:á,cia, fora, por.ramo, de sua natutcr.a jurldim. sim, que seja vulnerado por esta circunstância o compromisso arbitral. Aliás, canto
Aliás, dependendo elo caso concreto, se não é deflagrada ncnhu.ma controvérsia, ela nem sequer quanto possível, recomenda-se, nestas situações, que seja o compromisso também
se implemenca". Temos pua nós que a convenção arbitral caracteriza-se, cm um pri.meiro assinado pelos árbitros indicados, manifestando estes já nesta oportunidade a acei-
momenco, como negócio jurídico de direito material, mas se houver previsão cambém de
organiw~o processual, e no quanto comido a este respeim (v.g., prazos, forma para a pr.icica
tação do encargo, e, assim, considera-se desde então instituída a arbitragem {arr. 19
dos aros e intimações etc.), pode-se csccnder à convenção a aarurcza processual; ou seja, a da Lei 9.307/1996).
previsão li mi-cada a prever, com efeito vincuhnce, a suhmissão do litlgio (aru:il ou potencial),
quali6cn a convenção como negócio jurídico de direito material; porém, prevendo as partes,
forma para sua <lesignaç.ío (arr. 1.448 do Codc)" - CRETELLA NETO, Jos1:. Coment,frios it
como lhes é facul,tado, disposições processuais (ou procedimentais) , se rcrá uma ampliação do
Lú de Arbitragem bmsileim. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 78.
conteúdo d:t convenção, e a.~sim bem se lhe atribui também a qualificação proce.~sual. Nesca
última hipótese, e apenas nela, somam-se elem'ei1 cos httc rogê11cos no mesmo negócio ju rídico, 49. No Capítulo 15, adiante, falar-se-á especificamente do local onde foi proferida a senrenç::t
justificando adjetiv:i-lo como processual. arbitral, pelos impacros que se tem desta questão especialmente para efeito de identificação
do pronunciamento, como nacional ou estrangeiro.
48. José C recella Neco fuz inccrcssance observação a rc::spcito dos requisitos do compromisso no
dirt:ito cscrangeiro: "A lei argentina aprc::senca exigências Sl'mdbanres às da lei brasileira, mas exige 50. Cf. Capítulo 7, irem 7.3, adiante, e hreves considerações a respeito das modificações trazidas
qLlC o cemp.romisso deverá, também, incluir a estipulação ele uma muirn, a qual deverá scr p:tg:t
pela Lei 13.129/2015 em "Anexo 2'' desre ''Curso''.
pdn 1xtrtc que deixar de praticar os aros necessários para cumprir com o estabelecido (:m. 740, 51. Mai:~ a respeito se fular.í no Capítulo 7, adianre. Por~m, desde j;1 se aponta a opção <la Lei de
4, dó CPN) . Já a lci francesa apresenta menos exigências do que :1 br.isileira: o compromisso Arbmagem por dispensar a necessidade da indicação de subsrituto, como fo"lia o are. 1.074
dever:í conter apenas o objeto do litígio e a designação <lo ,írbitro (ou dos ,írbitros), ou prever do CPC/1973 por ela revogado.
., 84 1 CURSO IX ,\Rll lTRAG F.M
CONVF.N(,:ÁO AR IHTR!II. 1 1 8.5

Quanto à matéria objeto daarbicragem, relevante nocar que, na lati rud e da au- mcnto ob r:igarcírio n a análise <la validade do comprom isso. Em suma, sendo possível
tonomia da von rade, podem as partes Iimitar o q uanto será t ratado no procedi men ro. apurar-se a vontade dn5 partes, deve-se prestigiar o pacro mesmo diante de even tual
E o quanto excluído do objeto definido pelas parccs, seguirá no Judiáírio. Pode-se, irregularidade cm seu conteúdo. 1.cm hre-se, ademais, a opormo idade dada pelo are. 19
por exemplo, cm confüto envolvendo diversas questões relativas a uma obra, como da Lei de Arbitragem para serem expliciradas questões da convenção, qua ndo, então,
p razo, responsabilidade, cu mprim ento de diversas o br igações e tc., rcs-:rvar para a falhas poderão ser supridas, dando o rumo ao procedimento.
arbitragem matérias cçcn icas, como a mcdiçfo e qualidade de materiais, mantendo-se
Além dos n.:tJuisitos obrigatórios, traz a Lei o conteúdo facultativo do compro-
no J udiei.frio os demais aspectos. misso; e pelo que nele se contém, podem as partes organizar, com maior ou me nor
Ainda q uanto ao objeco da a rb itragem, sua ind icação pode ser feira de forma amplirudc, a maneira como se desenvolverá a arbitragem. Ali.í.~, como referido, tais
genérica e abrangente (por exemplo, todos os conflitos decorrentes do comraco elemen tos podem igualme nte consta r da cláusula co m promissória e, desta forma,
firmado encre as partes, ou do fato ocorrido em cal dara envolven do as parces). Vale melhor teria sido a lei se referir à convenção arbitral, e não apenas ao compromisso.
dizer que diversamente <lo q uanto se extraia do sisrcma anterior à Lei deArbicragem, Mas nada que prej udique a sua interpretação extensiva. Vejam os o que diz a norma:
fic.:a dispensada a especificação deta lhada, precisa, com pleta e exaurie nre do li tígio Art. 11 . Poder:cÍ, ainda, o compromisso arh irral conte r:
no comp romisso. N ecessário apenas que sejam fornecidos os elementos do conflico
1- o local, 011 locais, rmde Sl' desC1J11olverd a 1irbitm<Te1,1 ·
suficientes para a identificação pelo árbitro do objeto da sua jurisd ição, para respeitar ó '

os seus limites. 'J'i·a ra-se aqui <la especificação, pelas pan es, <lo local onde os atos relativos à arbi-
rragem serão praticados, princ.:ipalmencc se d iversos de onde sení proferida a sente nça.
Em mome nto apropriado, quando da insr.alação da arbitragem, as partes deverão
especificar seus pedidos e divergências. Se d i'.tvida houver, verificada a necessidade Exemplo q ue bem identifica esta faci lidade oferecida its partes é a possibilidade
de "explicitar q uestão disposca na convença.o de a rb itragem, será elaborado, junca- de se colher a prova oral, ou acompanhar a prnva pericial, no local dos fotos quando
mente com as partes, adendo firmado por todos, que passará a fazer parte inregrante diverso da instituição a rbitral o nde se processa a arbit ragem. Assim, deslocam-se o
da convenção'' (are. 19, § 1.0 , da Lei 9 .307/1 9% ). E se co nflito houver a respeiro árbitro (ou árbitros) e o pessoal de apoio àquela localidade (inclusive, se for o caso,
da ex.censão do compromisso, cabe ao árbitro a decisão, na amplirude <lo seu poder fora do território nacio nal) , facilitando, desta forma, a produção da prova, a ser
previsto no parágrafo único do a re. 8.0 da Lei (princípio da Koiup<:tmz-Kompetunz já acom panhada d iretamente pelo julgador.
visw anterio rmente). Este é, sem d{1vida aJguma, refl exo da flexibil idade e do pragmatismo do pro-
Estes são requisitos essenciais, e afal ta de qualquer deles, nos termos dos arrs. 104, cedimento a rbitral, e, além de lhe emprestar celeridade e dinamismo, cenamencc
lll, e J 66, IV, do C C/2002, enseja a nu lidade do compro misso. contribui para o melhor aproveitamento da instrução cm benefício da correta solução
da controvt5rsia.
Advirta-se sobre o nccess,irio c uidado pa ra não se con fundir o requisito na sua
essência com os seus detalhes. Assim, de um modo geral, considera-se obrigatória a 11 - a autoriZtlçíi.o pam tjltl' o drbitro 011 os drbítrosj 11.{<!/1.t'7Jl por eq11id,tclc-, se assim
identificação das partes, do ,írbitro o u insticuição a rbitra l e elementos para respectiva for co1Jlll'JJcio,zado peltrs partes; ·
localização , e não se ren ha por essenciais todas aquelas minúcias previstas na lei. 1V- a iudicnçfw d,z lâ wu:irm.a.f 01t dm regms corpor,UiMs rzplicdvds à drbítrcigem,
Por óbvio, a profissão da p,ureou o domicílio do árbitro devem ser t ratado.~ como qumulo assim com,e!lciontlrem as partl'J;
simples irregularidades, sem macula r a validad e do compromisso. Estas faculdades - julgamento por equidade e opção pela lei apl icável - serão
Já a identificação do estado civil dependerá das circunstâncias do caso. Se a ma- tratadas cm separado, ao ser estudada a arbi tragem internacional, pois nelas são mais
téria for relativa a direíro real imobili.irio, por exemplo, indispensável a participação pertinentes estas previsões.
do cônj uge (are. 73 do CPC/2015; cf., ai nda, arr. 1.647 do CC/2002), e, assi~'.ª II1- o pmw p,tm rtpresentaçií.o da smtmç,i arhitnz4·
om issão pode comprometer a validade do compromisso. Porém, se para a ma cena . No silêncio das partes a respeito deste ponto, a sentença arbitral dever;í ser pro-
em discussão for totaL11ente irrelevante o estado civil das parces, csca o missão pode fe ri~a no prazo de seis meses comados <la inscicuição d a arbitrage m (ou substituição
ser co nsiderada fal ha sem ma iores consequências. do arb1rro-art. 23 da Lei 9.307/1996).
Enfim, o bom-senso e a atenção à es.,ência dos requisitos recomendam que seja O corre que, se, d e um lado, para confl ícos mais sim ples o praw legal é adequado,
afostach a inr.erpreração literal do d ispositivo, para se valori1.ar a fi nalidade do ele- para aquelas q uestões co m maior complexidade, a demandar mais detal hada inscru-
186 1 CURSO DF. ARBITRAGEM CONVENÇÃOARBITRAL 1 187

ção, ou diante da própria dificuldade da matéria (envolvendo vários pormenores ou que o valor assumido para tanto. E certamenre, na avaliação do negócio, em especial
muJciplicidade de detalhes técnicos ou, ainda, demandando a análise de legislação na apuração do preço contratado, todos estes elementos são relevantes.
específica de utilização po uco usual, con hecimentos científicos próprios incomuns Três exemplos destacam-se, na prática, pela possibilidade de pagamento dos
etc.), certamente será adequada a prorrogação do prazo previsto em lei. honorários e das despesas com a arbitragem que possam ficar exclusivamente com
Aliás, esta flexibilidade não contraria a celeridade esperada do procedimento uma das partes e que serão aprofundados no capítulo denominado ''.Arbitragens
arbitral, pois ao lado desta preocupação há, também, e com igual valor, a atenção à Temáticas": (i) a arbitragem no direito societário, em que o sócio minoritário pode
mais profunda e exauriente análise do conflito posto em julgamento, a consumir, não concordar com o procedimento arbicral, mas concorda na derrogação da jusciça
conforme o caso, tempo diverso do previsto na Lei. privada; (ii) aacbicragem, quando possível, no direicodo consumidor, que, pcla possível
As partes devem estar atentas sobre este ponto, e, como melhores conhecedoras hipomificiência do consumidor, a empresa pode se responsabilizar pelo pagamento
dos honorários e despesas; e (iii) na arbitragem no direito do trabalho, não admitida
da extensão do conflito e suas complexidades, devem cuidar para estabelecer o prazo
por diversos precedentes do TST no momento de elaboração desta obra, mas que já
adequado.
foi muito utilizada, devendo o pagamento ser feito pelo empregador.
Por outro lado, o destino do procedimento pode mudar o rumo da arbitragem.
Ao se poder o mais, nada impede que apenas parte das despesas, como, por
Assim, incidentes não previstos, dificuldade na produção de provas, como reali- exemplo, com perícias ou diligências específicas, seja exclusiva de uma das partes,
zação de perícia com longa duração, acabam por prejudicar o cumprimento do prazo. facultada, ainda, a participação equitaciva ou diferenciada entre as partes de rodo o
E neste contexto, caberá às partes, no curso do procedimento, alterar o anteriormente custo da arbitragem, independencemente de seu resultado, e rudo como estímulo à
ajustado, desde que de comum acordo. utilização deste método.
O importante é ter a certeza de um rermo final para a sentença, com o cuidado Neste sentido, diz Carlos Alberto Carmona: "Seja como for, em sede de arbitra-
para não prejudicar a qualidade da arbirragem, diference, pois, do quanto se vê em gem, não havendo preocupações políticas de acesso à justiça, mas sim preocupação
processo judicial. E o desrespeito desre prazo, como se verá, leva à excinção do com- prática de tornar razoáveis, para todos os litigantes, os custos da demanda, têm as
promisso arbitral, após cerras providências (arr. 12, m, da Lei 9.307/1996), com o partes mais este mecanismo in teressame, que traz mais uma vantagem em comparação
objetivo de afastar o rísco de eternização do procedi menro arbitral. com o processo estatal".52
Prestigiando a autonomia da vontade, as partes podem estabelecer modelo di- Sobre outra perspectiva, é imporran te ressaltar que muitas das instituições
verso para a contagem do prazo, como, por exemplo, estabelecer o seu termo inicial e arbitrais trazem em seu regulamento previsão expressa para esta responsabilidade
o encerramento da instrução. Ainda, ao encomendarem as partes a arbitragem a uma pelas despesas do procedimento, e assim, optando as partes pela instituição, automa-
instituição, pode ocorrer de esta prever em seu regulamento prazo ou termo diverso ticamente estarão acolhendo o que por ela for estabelecido, salvo se expressamente
da Lei, ou mesmo a autonomia do árbitro (ou colegiado) para prorrogar o prazo legal, estabelecerem o contrário.
quando houver necessidade para tanto, o que ocorre, frise-se, com frequência. Ainda neste tema de despesas da arbitragem, surge o problema da omissão, pelas
V - a declaração da responsabilidadepelo pagamento dos honorários e das despesas partes e pela instituição, quando for o caso, a respeito da responsabilidade por estas
com a arbitragem; verbas. Diante desta situação, caberá ao árbitro decidir a questão, podendo valer-se
com~ parâmetro, mas não como regra a ser necessariamente observada, do quanto
Uma vez mais aparece a liberdade contratual das partes ao elegerem a arbitra-
previsto no § 2.0 do are. 82 c/c 85 do CPC /2015. Mas as circunstâncias do conflito
gem, agora para permitir até mesmo a negociação a respeito das conhecidas "verbas
e do procedimento podem influenciar na decisão.
de sucumbêncià'.
Por fim, faculta a lei constar no compromisso:
Esta flexibilidade, em cercas situações, pode ser determinante para que as partes
venham a escolher esta ou aquela inscicuição arbitral, ou mesmo aceirar este mécodo
VI - afixação dos honordrios do drbitro, ou dos árbitros.
de solução de conflitos. Veja-se, por exemplo, se um dos contratantes, pelos custos, Pardgrafo único. Fixando as partes os honorários do árbitro, ou dos árbitros, no
preferir a solução judicial, o oucro pode assumir este ônus com exclusividade, e sem compromisso arbitral este constituird título executivo extrajudicial; não havendo tal
direito a reembolso no caso de êxito, pois para ele, quem sabe, mais vale a celeridade
e o conheci mento específico da matéria pelos árbitros de determinada instituição do 52. CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e promso, cic., p. 21 4.
188 1 CURSO l)l'. /\RI\ITR/\C;EM
CO:--JVENÇ,\ 0 ARRITRAl. 1 189

estipulaç!fo, o drbitro reque1·l'l'tí. ao ó1giio do />odff.fudiciário que seria competente p,t.ra A regra é prescrvar-sc a arbitragem, prevendo a lei (e regulamentos de insticui-
ju~~fl1; origíw1ri111nmtc, a c,lt/S/1 que osj,,:x'(' por sentença. ç<>es), formas de substituição do árbitro até mesmo (Juando as partes estiverem em
desacordo. Mas desde que convencionado, esta substituição pode .ser rejeitada. E
A hxação da remuneração do ~übitro t' de extrema importância, pois, em razão
baseará assim constar expressamente na convenção, dispensada qualquer justificativa.
dela, poderá o escolhido aceitar ou recusar o encargo. Ese houverdispo.síção, em tese,
de o ,írbitro atuar de forma gratuita, assim deveni constar expressamente no compro- fsto porque a indicação do :irbicro, em determinadas situações, pode ter sido o
misso, em termo de arbitragem, ou qualquer outro documento com a aceitação <lo motivo determinante para a escolha da arbitragem. A confiança, valorização do co-
árbitro desta circunstância, pois, caso conmírio, poder,Í exigir sua remuneração por nhecimento específico e qualidades do deito, por vezes, são atributos personalíssimos,
arbitramento judicial. e, assim, a falta do escolhido retira a razão c.le ser utilizado este método de julgamento.
Na prática, elegendo as partes uma arbi.tragem institucional, esta q uescão torna- A extinção do compromisso nesta hipútese de fiddic.lade ao árbitro escolhido
-st apenas h ipotécica, pois as instituições possuem, e a maioria delas inclusive <l ivulga pode ocorrer em dois momentos. O primeiro, antes mesmo da instauração da arbi-
amplamente:, a sua rabeia de custas e honorários dos árbitros. Assim, o problema, na tragem, e o segundo, após oi nício do procedi rnenco, porém por causa su pcrvenien te,
prática, po<lcd. surgir apenas na arbitragem t1d hoc. contc)rtne indicado nos incisos l e II acima transcritos.
Por outro lado, pode acontecer de, na arbitragem administrada, não se ter ônus E a extinção depois de instaurado o procedimento arbitral pode ensejar uma
com os honorários dos Jrbitros ls partes, porque a insticuição, como um órgão de situação ímpar, de perecimento do compromisso sem que se renha um pronun-
classe, ou entidade profissional, pode oferecer este serviço gratuitamente aos seus ciamento arbitral a respeito, diante <la falta (por exemplo, por morte) exatamente
membros, assumindo, porón, os respectivos custos. daquele que teria a autoridade para tanto. De forma inusitada, o processo deixaria
de rcr decisão, sequer a respeito de sua extinção, mas tal fato não obsta a extinção
6.4. 7. Da extinção do compromisso arbitral do compromisso por força da lei, autorizando, assim, o ingresso no Judiciário pelo
interessado, sem necessidade de adotar qualquer outra providência relativa ao
Prestigiada a sua natureza contratual, por vontade das partes, pode-se extinguir
procedimento arbitral.
o compromisso antes mesmo de instaurada a arbitragem, tanto em razão de transação
Embora a redação do inci.so II possa gerar interpretação diversa, como regra,
quanto ao objeto do conAico, como para devolver ao juíw estatal o conhecimento da
a recusa ao substituto deve constar obrigatoriamente da convenção arbitral, e não
matéria. Sendo, porém, judicial o compromisso, uma vez, que sua existência ensejou
ser manifestada em momento posterior, quando da falta superveniente, como a
a extinção d.o processo sem julgamento do mérito, outro deveníser proposto, caso as
literalidade do texto sugere. Isto porque se a escolha inicial não teve previamente
partes resolvam romper conjuntamente o pacto.
a pessoalidade como fator intransponível, tal qual sugere a redação do inciso I
De outra pane, o c11<.:erramento, por sentença, do procedimento arbitral com
("desde que as partes tenham declarado ... "), a substituição segue a regra geral, no
ou .sem arnilise da matéria de fundo igualmente extingue o compromi.sso. sentido de ser possível para preservar o julgamento pelo juízo arbitral. Isto porque
Ainda, a Lei de Arbitragem estabelece causas específicas para a extinção do se afere da clfosula arbitral o efeito positivo, ou seja, as partes concordaram com
compromisso (e aqui também se pode tratar igualmente a cláusula compromíssória, a derrogação da jurisdição estatal, assentindo cm um julgamento por um árbitro,
inrerpretando-se a norma corno direcionada à convenção arbitral, em qualquer <le na jurisdição privada.
suas modalidades), vejamos: Em qualquer das situações acima, mesmo inicialmente prevista a exclusívi<ladt'.
Are. 12. Extingue-se o compromisso arbitral: do árbitro, quando verificada a sua falta, para preservar a arbitragem se assim dese-
I - escusando-se qualquer dos ,írbicros, antes de aceitar a nomeação, desde que jarem ;Lç partes em conjunto, nada obsta a indicação ou acolhimento de sub.stiruto.
as partes tenham declarado, expressamente, não aceitar substituto; Desta forma, prossegue-se como se não houvesse a restrição. Veda-se a imposição,
11- falecendo ou ficando impossibilitado de dar seu voto algum dos ~rbitros, mas prestigia-se a liberdade de alteração consensual do acordado.
desde que as partes declarem, expressamente, não aceitar substituto; e Ou era causa específica de extinção do compromisso (da convenção) éo termino
1íl - tendo expirado o praw a que se refere o are. 11, irn.:iso III, desde que a do prazo (legal ou convencional) para ser proferida a sentença arbitral. Esta é uma
parte interessada tenha notificado o árbitro, ou o presidente <la tribunal arbitral. gara1uia legal de celeridade da arbitragem, afastando o risco de prolongamento in-
concedendo-lhe o prazo de <lezdias para a prolação e apresentação da sentençaarbirral. definido do procedimento.
·190 C UllSO oi: ARAIT!l/1C. EM CONVENC,:Ao ARBITRAL ·191

É tão relevante à nossa Lei esta questão que acé mesmo se prevê a invalidação da 21 justiça privada, não mais podendo arrepend er-se ou reverter a questáo, unilate-
senccnçaarbirral quando proferida fora do prazo, se atendido o disposto nesce art. 12, ralmente, à jurisdição ordinária".'.i" E a legicirnic.lade desta escolha vem referendada
IH (arr. 32, VII, da Lei 9.307/1996). cxprcs.samcnce pelo C<Ídígo de Proc.;esso Civil de 201 5 ao estabelecer que é prescrw do
O interesse no desenvolvimento da arbiuagem, porém , é das partes, que por vezes às partes o direito d e instituir juí,.o arbitral, na forma d a lei (art. 42), quando antes
estão mais atentas à qualidade do julgamento do que à celeridade <lo procedimento. (are. 3. 0 , § 1. 0 ) já fc,. referência à admissibilidade da arbitragem para "apreciação
Desta fo rma, caberá ~ts partes a provocação ao árbitro para respeitar o p raw, e, se jurisdicional" da ameaça ou lesão a direiro.
nada fi7.erem , nenhum <:feiro ao procedimento terá a ampliação, mesmo demasiada, Por sua vez, o efeito negativo é dirigido ao Estado, pois impede o juiz estatal <le
do praw. analisar o mérito da controvérsia submetida à arbitragem; refere-se, pois, ao afasta-
O critério adotado pelo legislador é ge neroso, pois a notificação d o árbitro se mento da jurisdição do Estado para apreciar a matéria o bj eto da convenção.
faní apenas quando já vencido o período inicialmente previsto, e no momento que Porém, pela prestigiada auronomia privada, nada impede que as partes, de co-
qualqur.:r das partes assim desejar. D esta forma, além do prazo decon-ence da inércia mwn acordo, mod in quem ou até mesmo revoguem pura e sim p lesmeme a convenção,
dos envolvidos em instar o árbitro, esce ainda terá mais 1O dias para a prolação da restabelecendo , assim, o status quo rmte, ou seja, de livre acesso ao juíw escacai.
sentença. Sua dc:;ídia, porém, po<le gerar responsabilidade civil pela demora. Quanto ao efeito positivo, en tão, fica m as partes sujeitas à arbitragem para a
Extinta a convenção, por qualquer do.s fundamentos, restabelece-se ~ts partes o solução do conflito quando .firmarem a convenção. E a maneira de se instaurar a
acesso ao Judíc.:iário para cncaminharo conflito, porém nada impede que, de comum arbirragem dcpended da sua espécie (rui hoc ou institucional;, e rudo se ved ao se
acordo e a qualqur.:r momento, renove-se a eleição da arbitragem para a solução da apresentar o procedimento arbitral.
conmwérsia. Também a origem da opção tem relevância neste momento, pois haverá en-
caminhamento diverso .se eleita a arbitragem por comp romisso ou por cláusula
6.5. DOS EFEITOS DA CONVEN ÇÃO ARBITRAL co111prom issória, embora ambas se contenham no gênero con venção arbitral e sejam
A existência de convenção arbitral excluí a apreciação d o conAico pelo Poder igualmente vinculantes, como j;l antes sinalizado.
Judiciário EsracaP.l cm decorrência da vonrade manifestada pelas partes, desde que Pela sua imperatividade, a recusa de uma das partes em se submeter à arbitragem
p reench idos os seus requjsitos e que seja admitida a utilização deste método no caso tem consequência diversa, dependendo das circunstâncias.
concreto (11rhitmbilidrtdes o~jetiva e subjetiva ances analisadas). E assim, a convenção Se firmado o comp romisso, o u estabelecido judicialmente, a instauração do
vincula as partes e se impõe aos contratantes, mes mo contra a vo nrade unilateral de procedimento arbitral se for:icomo nele dererminado, ou na forma prevista pela insti-
algum deles, autorizando, conforme o caso, a instàlação imediara do juí1.o arbitral. tuição arbirral então defini e.la. Cumpridos os respectivos procedimentos, o solicitado
São os efeiws positivo e negativo da con venção arbitral, como dois l,ulos d,i será convocado, e, se contumaz, terá o ônus do proccdímento de seguir à s ua revelia
1Ju:sma moedt1. até a sencença arbitral q ue, por lei, considera-se título excrnti vo judicial.
O efeito positivo é dirigido às partes, que deverão submeter seus conflitos à Se a opção pela arbitragem tiver origem em clfosula com promissória, depender.i
jurisd ição privada, conforme explica Pedro BariscaMarcins: "Ao firmarem a cláu.sula de seu conteúdo.
com promissória, os contrar.ances concordam com a submissão de cvcncual conflito
(a) Tratando-se de dtiusuia vrtzitt, segue-se o procedimento dos ares. 6. 0 e 7 .o
acima analisados, para a obtenção do compro misso, seguindo-se, a partir de então,
53. Cí. acim,1, no Capítulo 4, item 4.'.!. I , discuss:ío ha\'Ía no passado :i r1:...;peito da consLicuciona- o quanco p revisto a este.
lidade da Lei de Arbíu·agem, cm Função ...-xat:i.mcncc da tese da inafoHahilidadc d:1 jurisdição
...-scatal. Por ccrm, si:! defei tos cxisti r1,:m mi convcnçfo, co nfonrn; a sua g r:i.vidad c, ig ualrncnn: a
(b) Tratando-sede ddttsul,i d)(:Ín., a instauração do procedi mento arbitral se dará
qocstfo po<lcd ser apn:ci::i<l:t e decidida pdo Judici,írio cm momen to pl'<',prio, e ::t cs(c respeito de acordo com o nela estabelecido. O importante aqui é ressaltar a d esnecessidade de
confira-se o Capítulo 13 :1diantc, sobre :1 invalidação da scmcnça arbitr:tl. Cf., ai nda, S :J, qualquer intervenção ou cooperação e.lo Poder Judiciário para se instaurar a arbitragem.
REsp 606.34'.'>/RS, j. 07.05.2007, rei. Min. João O távio de Noronha, D} 08.06.2007, ai:s1111
co nsignando: "A partir d o ins(anLc cm que, no conce::x ro de um inst rumc.:llto con tratual. .is
partes envolvidas cslipulem a cláusula com promissória, cstad definitivamt:llrc impos L:i. como 54. MARTINS, Pedro An tonio lhcisca. Convenção de arbim1gc111. Asp,,,·to, Ji111rl,1mc11t,tis ri,, Lá
oh rigalcíria :t vi::t extr:1judicial par:\ .~olut;:io dos litígios envolvendo o ~j uste''. dt· Arbi.tmgm1. Rio de J,uH:iro: Forense, 1999, p. 207.
·192 CURSO DE ARHITRAC EM CONVEN(Í\0 ARBITRAL 193

As providências específicas (de ordem prática para se provocar o início do pro- 6.5. 1. Da forma de arguição em juízo estatal da existência da convençiio
cesso) serão analisadas, adiante, quando do esrndo do Procedimento Arbitral. arbitral
Nc.sta oportunidade, merece ênfase o foto de que, diante de d1íuml,1 cheia, ou A alegação da existência <la convenção <le arbitragem se fa7, em preliminar de
compromisso indt-peudmte (não aquele do arr. 7.0 da L<:i, que já é re.sulcado de pro- contestação (:11:t. 337, X, do CPC/2015), ve<la<lo o seu conhecimento de ofício pelo
vocação judicial), é dispensada a passagem pelo Judiciário, ainda que rescrita a uma jui7, (arr. 337, ~ 5. 0 , do CPC/2015). E novamente avocando a vontade das partes, o
determinada providência (como celebração de compromisso no caso de ddusuftc Código de Processo Civil de 2015 trouxe regra cxpres.sa de que"§ 6. 0 A ausência de
1'({Zitl), autorizando as partes, nos termos do contido na disposição, o ace.sso direto alegctçâo da existência de convenção de arbitragem, na forma prevista neste Capítulo,
ao juízo arbitral. implica aceitação da jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral" (arr. 337, § 6.o,
.~cm correspondente na legislação revogada). 16
E em especial assim se re.ssalra quanto ;t cldusu/11 chei,1, pois esta foi uma das mais
significativas e brilhantes alterações da J.eí em confronto com o sisrema anrerior. O momento previsto no Código (preliminar de conte.stação) repre.~enta o prazo
prcclusivo para a alegação. Nada impede, porém, que se apresente a objeção ao juízo
Rompendo-se com o passado, quando a chtusula era considerada um pl!cto de
e~rncal anrecipadamenrc à resposta, através de petição simples, com esta finalidade
compromittemlo, ou ptZcto de contmhemlo, e, como cal, criava mera obrigação de fazer exclusiva, até previamente à audiência do art. 334 do CPC/2015 (mediação/conci-
cujo cumpri menco, uma vez resistida a instauração da arbitragem, exigia-se judicial- liação), podendo o juiz aprec.:iar a matéria ([Ue, sem dt.'1vid.a, é prejudicial ao prosse-
mente, ou resolvia-se por perdas e danos, agora esta convenção cem força vinculante, guimento <lo processo.
produzindo desde logo seu deito de subtrair do Judiciário a apreciação da matéria
Esta "petitío simplex", como cal, sem forma~ previsão legal, não pode ensejar
nela contida. A obrigação assumida pelas partes é de instaurar a arbitragem, na forma a prcclusão (consumativa) quanto ao direito de defesa na extensão do arr. 337 do
prevista em lei para as hipóteses distintas (clfosula cheia ou va?.ia). CPC/2015 (inclusive quanto à própria preliminar de existência de convenção arbi-
Em face desta mudança, anota-se aqui uma questão cransitúria como são rodas tral), mas convém seja feita a ressalva neste sentido. De igual maneira, não se terá a
aqudas atingidas pelo direito intenemporal: aplica-se a Lei de 1996 às chíusulas suspensão <lo processo (e <los prazos de audiência/defesa), salvo se deferido pedido
firmadas anceriormente à sua vigência? Apús adequado debate, através d.e diversos expresso neste sentido, e naturalmente com porra contradirório a respeito.
precedentes firmou-se o entend.imenro pela incidência imediata <la lei mesmo aos A arguiçao assim oferecida representa adequada estratégia processual não só
contratos cm curso, restando hoje superada praticamente a questão pela idade da lei. para preservar a parte dos custos mais elevados inerentes à preparação d.-. contestação
Confira-se, neste sentido, decisão do STJ, proferida pela Corte especial, que completa, corno também para poupar o réu de expor suas teses de defesa em processo
pacificou°'' a questão: "A Lei <le Arbitragem brasileira tc::m incid0ncía imediara aos judicial fadado ;1 extinção, permitindo que o autor delas tenha conhecimento antes
da apresentação das alegações inicias na arbitragem (sede própria para a an:íli.sc do
contratos que contenham chí.usula arbitral, ainda <JUe firmados anteriormente à
conflito).
sua edição. Precedentes da Corte Especial'' (STJ, SEC 894/UY, Corte Especial, j.
20.08.2008, Min. Nancy Andrighí). E, firme a jurisprudência, foi editada em 2012 Advirta-se, porém 9ue embora a conclusão acima também tenha sido adorada
a Súmula 485 do STJ, assim: "A Lei de Arbitragem aplica-se aos contratos que con- como Enunciado 5 da I Jornada Prevenção e Solução Extrajudicial de Licígios,'> 7 já se
~evc ~1otícia de decisão judicial não c.:onhecendo da arguição prematura, a pretexto de
tenham clfosula arbitral, ainda que celebrados antes da sua edição".
tnex,stêuciacú:previsão legal, exigindo a alegação em preliminar de con restação que, ao
Pelo efeito negarivo d.a convcnçãoarbirral, temosa renúncia das partes à jurisdição final, foi acolhi.da... sem dúvida, onerosa à:, partes e ao Judiciário além de incfi.cien te
estatal para os conAitos decorrentes da matc:ria objeto da convenção. a solução adotada.
E assim, o Código de Processo Civil estabelece a extinção do processo sem a
resoluçao de mérito, pela convenção de arbitragem (arr. 485, VI 1, do CPC/2015).
56. Partiu,larmcnte, cemos c.:rc:i reserva a esra "remíncia t;Ít:Íra": para nús, o correm seria sú :1dmitir
;t revogação prévia, cxprcssn, e de comum acordo nacuralmenrc, para se permitir o ingresso ela

55. O STJ estava indeciso qu:1n10 :t incidi::rn;i:1 imediata da Lei de: Arbitragt:m para as cLínsulas açã0 _e~, j,tf~o es~aral, e assim, verificada 9ualquer modalidade: de convenção, o juiz pe1deria
arhitr:tis t:dehr:idas antes da promulgac;.fo da lei - cf., em sc.:nrido rnntr;írio, uma d:is decis~cs ele ofício cxtmgw.r o processo. Porém, não foi cst:.t n opção do legislador.
proferidas 110 REsp 238.174/SP, Min. Antonio de l\idua Ribeiro, e no Rbp 7 l 2.566/RJ, 1'vfui. 5l. Promovida cnrre 22 e 23 de agosto de 2016 pelo Centro do Escudos JudiciáJio do Consel.ho
N:incy Andrighi. da Justiça Federal. Cf. em "A.nexo 7" o rc:xro inregr:11 dos enunciados aprovados.
194 1 CCRSO DE .~RBITRAGL:~1
C:ONYEN<,:ÃOARI\ITRJ\L 1 195

Acolh ida a argu·i ção de existência da convenção de arbitragem, apresentada 6.6. DA C~NVIVÊNCIA ENTRE A CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA E A
e m perição simples ou em preliminar ele contestação, o processo, como referido ELEIÇAO DE FORO
acima, será extinto sem resolução de mérito (art. 485, VII, do CPC/2015). A seu . A cláusula comprom_issória obriga as partes a direcionar conflitos ao Juízo
rumo, rejeitada a alegação, o processo rerá seu curso regular, e a decisão respectiva, A~~icral, a~ p~sso que a ele1ç~o do foro identifica a competência territorial do Juízo
pela natureza ínterlocutória, desafia agravo de instrumento (art. 1.015, III, do Esraral pata . . ,natar
. dos conflitos emergentes do contrato , qti and o e:t·1rec1ona
· d os ao
CPC/2015). Po d er Ju d 1etano.
Com sistemá.tica diversa em relação ao Código revogado, as hipóteses de cabi- Embora pareçaconAitantcaescolhadasoluçãoarbitral, ao mesmo tempo em que
mento de agravo de instrumento são restritas àquelas situações especifica.das agora se define o foro competente para processar eventual demanda decorrente do contrato
no art. 1.015 do CPC/20 15, e a inclusão da decisão que verse sobre ''IH-rejeição da e°: um mcsm~ C_?ntrato podem conviver cm harmonia a cláusula com promissória~
alegação de convenção de arbitragem" foi uma das conqlÚStas do Gmpo de Pesquisa clausula de ele1çao de foro.
emArbitmgem - GPA, criado no programa de pós-graduação da PUC-SP, em decor- lsro porq~1e a convenção ª:bitr:l pode se~· restrita a uma ou algumas questões do
rência de proposta de aperfeiçoamento do projeto original, acolhida inccgralmentc contrato, e assim, para as demais, nao abrangidas pela arbitragem deita, prevalecerá
a escolha do foro.
na versão final aprovada. ::,t\
, . Adem~is, cm de_rermina~as si~uações, mesmo diante da cláusula compromis-
Por fim, como registro histórico, anote-se que na. interpretação do Código de
Processo Civil de 1973, encontrava-se agitada polêmica qmtnto à possibilidade d e o
sona, ou -aredem funçao
· . . .dela, mdus1ve
' · era· neccss1·dad e d e
para a sua efetividade , hav
50 provocaçao o Jud1c1ano.
juiz conhecer de ofício da existência de cláusula arbitrai . Já sustentávamos à época,
com detali1ada fundamentação até a 5.nedição des[e "Curso" , a imprecisão do cex:to Assin:'' com~ ~r~ta<lo cm op~rr~n ida~es ~róprias, para a ação prevista nos arrs. 6.o
e 7. 0 da Lei ~e Ar bmagem, rela_t1va a efet1vaçao da cláusula vazia, para a execução da
legal, mas que não afasrava, na sua exata exegese, oi mpedimcnto à extinção do pro-
sentença ~rbmal, para cv~nruats açõe.s de invalidação da cláusula ou mesmo da sen-
cesso sem provocação da parte. tença
·b· ··arbitral,
l e para medidas
, de urgência
. ' anteriores à insta · - d o proced'11nenro
· uraçao
E confirmando o acerto desta posição por nós adotada, o Código de Processo a1 Itia , competente sera o foro eleito pelas partes.
Civil de 20 l 5, como visro, corrigiu a falha na redação comida na legislação revogada, Ou_seja, o Poder Judicí~rio, em diversas hipóteses, poderá ser chamado a se
sendo ainda incisivo ao considerar renunciada a convenção se não invocada pelo réu pronunc1~r em questões relacionadas à arbitragem, periféricas ou mesmo centrais
(art. 337, X,§§ 5. 0 e 6. 0 ). e tne.~tas
· dsituações
d prevalecerá
, . a eleição de foro · A seu turno , va'l.,d a a c l'ausu Ja, e na
·'
P c'.mu e e sua ~fi,cacra, ~ solução de mérito dos conAiros decorrentes do contrato
sera reservada ao JUIZO arbitral.ºº
58. Proposta apresentada cm conjunro com a Comissão de Arbitragem e a Procuradoria-Cera! da
OAB-RJ. O Grupo de Pe~quis::i cm Arbitr::tg(;m - GPA <la PUC/SP é liderado por este Auror, 6.7. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
e mais a seu respeito cf. C:ip, 1O, item l O.'.,. e cm especial a nora de md::ip1: n. 43.
59. Dizia o texto. no pcrrim:nre: "Are.301. Compete-lhe, porém, antes de diswcír o mérito, alegar: ARRUDA ALVIM, JoS1: Manoel de. Clfos11la wmpromímíría e compromisso arhirral- r.foicos. Rl't'istri
(...) IX - convenç:ío de arbitr:igcm; (... ) § 4.0 Com exce~::io do compromisso arbitral, o juiz d,: Proffsm. n. 101. ano XXVI. S5o P~ulo: Ed. RT, jan.-mar. 2001.
conhecer;, de ofício da m:\l~ría enumerada neste :migo.". Alguns autores, rcfcrí<los :ué a 5."
ediç5.o dc.:sce "Curn/', e1m:ndiam que reri:i. havido uma imprecisão no C.ídigo de Processo Cívil
.60. Ncstescntido,TJPR, Agln892851-8- 7.•CâmarnCívcl vu 1·14()87012 ·I D D ·
de.: l 973 ao ser alcerado arenas o inciso IX pda J.eí de Arhirragcm. E assim. canto ;1 cLíusub Krn p · · { • · ., · · ·- , re . . es. cmse
como o compromisso - csp~cícs da convençl o - ficari.i.m .::-cluídos da aprcciaç;to cspondnea
cl .· ~er creua, rn RT_927(983 com :iscgui.ncc emen ca: "Arbicmgem - Contrata_ Cláusula de
e:çao de_foro que ~ao~ mcoi~pacívcl com a convens--ão de nrbicrngem, rambém prevista na
do juiz, comporr:indo amílisc apenas se provocada pelo réu; scría a renúncia trieira, porém de
avcn,~ - li'.rerprecaç,:o s_iscc1náttca do acordado que direciona p;i.r:i a solução precípua da lide
amhas as p:uces, ao juí1.0 arbicral; oucros .~uscenravarn int::-íscír equívoco ou lapso na lei, justi-
ficando que como resu!t;i.do do forralccimen10 da d;iusula compmmiss,íría, elevada ,1 categori~
Jt
0 1·0 ª.r~i_t~al: po~sab!lit~uido, apena~ posreriormenre, ins,1cisfeica as panes, a sua verificação
pe oJudicma~: descac:md~-sc ~ scgu1.nce passagem: ''o STJ sufraga o enrend imenro de ue a
das objeçõr.::s processuais, apen:1s ela poderia ensejar a c)(tinç:io do processo de oficio pelo j11í1., cláu.-;u! a dc_el~1çao de foro nao é 111comparívcl com o jufzo arbitral, pois o âmbito de abran lncia
e assim, apenas ao compromisso se:: dava oportunidade :is partes par:i., no sil2ncío, concorda· pode ser dtsamo, haven.do necessidade de :uuaç.10 do Poder Judiciário por cxh I g
C01 • - d , d'ru d · • .-.mpo, para a
rcm racir:1mentc com sua n;vogaçf10. Na jurisprudencia, embora por vezes não se perceba do ~ cessao e rne I as e_urgê11~1a; execução da sentença arbitral; a insrn.uraçiio da arbitragem
acórdão claro conhecimento sobr~· a distinção qui.: J,;í enrre compromisso e cláusula, t:unbc:m ~ and~ uma das pa.n:e~ na~ a ace1ra,dc fo1;ma amigável (REsp 90481.3/PR, 3.• T ·. 20.10.2011
iel. Man . .Nancy Andrighr, Dje 28.02.2012)". •l ,,
se nora va a divergência.
196 1 CURSO DE ARHIT RAC F.M

BARBI FJI.Hü, Cd~o. C ump ri men to judiei;,! de d:iusu la wmpromissória na l.ci 9.107/'.)6 e ou tras
í111crvençües do .Judici;(rio na arbitragem pri vada. Ri:1•i,1,1 do., Tril1f111,1ir. n. 749. :1110 LXXXVll.
.São P:mlo: E.d. ln~ m:,r. 1')'.)8.
BRAGI-IE.TTA, Ad1i rn:1. C hiusu b com prom issc\ria - au l·os.rníiciênóa da chíusub chei a. R,:1•ist,1tios
'/i-i/Jf/lJr/ÍS. n. 800. V. 91 . São Paulo: Ed. 1n; jun. ~002.

FICHT N ER, Jo$t: ,\nwnin; MO NTF.l RO, Andn: Lttí.~ . A co11vc11çlo de arb itragem co mo cxct:çJ.o
proc<:.~s ua l: impossi bilidack de ct111heci lllc nw e:.\· o.ffiâo. ·1~·111,1.1 d,· ,11·bitli1g,:111: pril/l,'Ínt .<ài,-. Rio
de Jant:Íro: Rc11ovar, 201 O.
_ _ _ ._ _ _. A inst::tu r:,çlo cnmpulsàri:1 da arhicragcm a parci r da cl;i usu b co mprom i~s<iria v:1zfo.
Trm,tult· ,1rbi1mg,·111: pri11u:Í1;1 série. Rio de JJncim: Renovar. 201 O.
flNKl'.ISl'l;.[N,.\~a ria Eug~nia. Arbirragcm ccontrarosdenúnicvs inccrnacionai,. bi: FIN KELSTF.fN ,
Cl.íudio; Vil}\, Jon;uhan íl.; CASADO FJI.HO . N :ipolcio ícoord.). 1ldúmtgt:111 i111i:m t1âo11,tf:
[l11idrni1. Ci~<.[ ,·di,'l'ito lmrsi/ám. Sii.o Paulo: Qu:1rcicr Luin , 201 O.
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MJ\RTJNS, Pedro lh tisca. Ckíusula co m pro m issória. /J1 · MART lNS, Pedro lhtisc.t; LEMF.S, Selma
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M A/.l,ON F.Tl"O. Narlialia. i\ di scussão Clll mrno dos tcrc(~rosna ;1rbicr.,~ m r.::t modaniz:1çfo da l ,ó de
i\ rbicragcm b r:tsile ira. /11: CAI IAI.l. h :i.ncisco,.Josc:; RODO VAU !O, Thi:,go e l;RE!RE,Tbiago
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jul.-S<.:t. :!0 09.
_ _ _ . Os tcr.-cim.,· <'111 rd,1ç,ío ,1, u1111•c11çiio d<' 11r/,i11.1gr:111: l'1:11/;lli1,,1 ri,· sisti:111111i~.;1ç,7o .,oh ,1 p,:rsf'r:cti1•,1 d(/
direito f'ri11,ul" hfü.<i/.-iro. D issertação dc Mes1r:1do, S:ío ]l;1ulo, J>UC.20 1O.

7.
Dos árbitros
ROTEIRO DE ESTUDOS

1. Consider.ições iniciais solm.-'. a in1porl[1nci,, do ,írhitro no juízo arbitral


1. Quem pode !-er ,hhitro - ,Ht. 13
J. A escol h.:1 cio árbitro
• F.i5c~s e pmccdimentos
• Número de ,írbitros - .1rt. 1:\, § 1 .''
• l'rcsídente e Secret,íl'io·· ,ll'I·. 1:l, §~ 4.º E> S."
• Arbitrilgcm Multipart<,~5 7.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
4. Atributos do ,írbitro - arl. 1 1, § 6." O ,übítro representa o patrimônio inrdecrual da arbitragem, e assim lhe em-
• Imparcialidades presta o maior valor agregado. Já se <li.sse, e é significativa a afirmação: "tanto vale o
• lndependênci.i árbitro, canto vale a arbitragem". 1 Em nosso sentir, mais relevante a atenção das panes
• Competência ao ,í.rbino do que à própria câmara arbitral, pois suas qualidades podem ocultar a
• Dilig<~ncia eventual ineficiência da entidade, mas ao contdrio, suas deficiências, dificilmente
serão superadas pelas virtudes da instimição.
• Discriçzio
• Código de <''.licd Realmente, além da celeridade e pragmatismo do procedimento, husca-searravé,
:i. Do impedim<,'.nlo e suspeiç~o do ,ühitro larts. '144 e \ .:IS do (YC/20! 5 e art. 14 <leste método de solução de conflito a expl'rÚsc do árbitro, para se obter a melhor e
e§ l .'', da Lei 9.307119%) mais adequada anáfüc da matéria cm discussão. 2
• Dever de r1,'. veb<)'ío - ,)rt·. 1,1, l:i ·1.º A confiança no talento, arribucos pessoais e incelecruais, dedicação, e conheci-
(>. Da subslitui<Jlo do ,írbilro - arls. 16 e ·12. 1<·~ li mcntocspccíficodo,írbícrosobrco objeto <lo conAito, têm impacro direto na segurança
do sistema, lembrando ser única (por um Jrbicro ou colegiado arbirral), cm regra, a
7. R0.sponsabilidade penill {art. 17) e civi Ido ,írbitro
insrància de julgamento arbitral.
8. Árbitro - juiz de'"'º<:.' dt! direito art. 1a
9. o import.:inle papel do advogado 11,l arbilrdw.'m
1. ·Tannn:11:inon e.,r connue: I.a cp1:1licé ele l'arhirr:1ge <l.:pcnd d':1rhorcl de b ciualité <lcs :1rhirres
('"bnc vaur l'arbirn:, tant v:mc Lirbicrage')". r.J TERCIER. Pierre. Rob cr ddis de l'arbicragc
imtimcionnel. R.:1 1i;t,1. rk Arbitmgc:111 1• 1'1.:di,,çJ.o, nümero especial cm comcmoraç:io aos l O
SUMÁRIO
799 anos d:1 l .ci 9.307/%. vol. 9. p. 21. S:io Paulo. abr.-j11n. 2006.
7.1. • CONSIDERAÇÕES INICIAIS ......................................................................._...................................... ...
7.2. • QUEM PODE SER ARBITRO ........................... ...................................................................................... 200
'}
Vale aponc:ir que: Sdma Lemes acenra para a possihilida.de da. figura do drbitm arhi1nulor: ··o
204 ':írhitro arbicrador' ou :1111ig,ívd co1npositor e:; aquclr.: que r.kvc dccidir a controvérsia c ditar
7.3. • A ESCOLHA DOS ÁRBITROS ................................................................................................................ a sentença ~nhicr:11 obedecendo '.t 1,rudénci:1 e :t cciuidadc e 1üo escad obrigado a gu:ud:u cm
7.4. • ATRIBUTOS DOS ÁRBITROS............................................ ................................................................... 215
seus proccdimenws e na sua scnccm;a oucras regras além daqudas que as partes cxprc·s.~aram no
7.5. • DO IMPEDIMENTO ESUSPEIÇÃO DO ÁRBITRO ........................................................... ............... 222 :uo consrirlllivo de: comprnmisso (arrs. 223 elo C.OT e 636 do CPC) e. se esr:1s nada r.iveram
225 expressado, <levedo :icinar ~s regras c;srahclccir.b~ no Código de: Processo Civil (:1rc. (;:F e segs.).
7.6. • DA SUBSTITUIÇÃO DO ÁRBITRO ........................................................................................ ............ .
226 Neste sc11tido, dtvr.:111 ouvir os interessados. agregar ao processo os ins1rumcn1os qur.: :1prtst:1ne1n
7.7. • DA RESPONSABILIDADE PENAL DO ÁRBITRO .............................................................................
e praticar as diligê:ncias necessária.< par:i conhecimento do feito; enfim, dar guarida an devido
7.8. • DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ÁRBITRO ................................................................................ 227
pro..:csso legal. O ':irbirro arbitrador· pod<.:: julgar s<.::111 atemar para os proccdimcmos c prazos
7.9. • O ÁRBITRO COMO JUIZ DE FATO E DE DIREITO, SUA AUTORIDADE E EFEITOS DA e formas previsr:is n:1 legisbç:io prnc.:essual e nfo csc:i obrigado a aplicar as regras ele Oireim
SENTENÇA .................................................................................................................................................
229 Ma1r.:rial ;io decidir" (LEMES, Selma. Ad,itmgpn 11,1 ,rr/111i11istrt1ç,ío J11íblfrt1 - h111rl,w11:mos
231 j111·ídia1., 1! <Jiâ1.:11,:h1 ,·1·fl/((i111i,:,i. São P;wlo: Q11:1r1ier l .:uin, 2007, p. 246.247).
710. • BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA ........................................................................................................
DOS ÁRBITROS 2Ü1
200 1 CURSO DE ARI\ITRACl.M 1
Ainda, a exig0ncia da capacidade plena de exercício <le direitos mostra-seco-
Tratando-se <lc arbitragem inscítucional, em que a indicação do julgador por
erente com a responsabilidade civil e penal que se impõe ao ,irbitro (are. 17 da Lei 1
. · almeiite)
vezes (eexcepc1on . é c.e·
te i ca ·p eloóro'âoou
t>'
JJelos envolvidos dentre, os•conscances
.
9.307/ 1966, adiante analisado).
:t
de lista preestabelecida pela entidade, ainda assim se mantém rclcvanc1a da credi-
bilidade das parte~ no árbitro, porém de fo rma indireta; ou scp'. ao se encomendar Também cm função da atividade pcrsonal íssima desempenhada pelo árbitro, no
a arbitragem a uma determ inada instimição, confia-s~ nas qualidades do corpo de exercício da jurisdição, necessariamente a indicação se fad na pe.s.soa natural (pessoa
árbitros, e daí também a relevância de se escolher a enn<ladc que apresente o melhor física), inaceitável a eleição de pessoa jurídica:'
perfil para a an,í.lise do conflito. . A instituição, quando a ela encomendada a arbitragem, ama, quando o caso,
E, por polêmica inovação introduzida na Lei d.e Arbitragem ~ela_L~1:3.129 como órgão delegado pelas partes para a indicaçao do julgador, mas não como órgão
de 26.05.2015, como se verá (icem 7.3, adiante), até mesmo nas rnstmuçoes que jurisdicional. ainda que através de seu representante. Haverá, direta ou indiretamente,
' · "lisras. 11cechad
posswarn .
...'"'c" de
.
á rbitros, para prestigiar a necessidade•• de
_
confiança
.. . .
das a escolha de uma pessoa física, a qm:m scr<í atribuída a qualidade de árbitro, com as
partes no árbi.tro, será faculrado, de comu1:1 acordo,_a.F:star a resmçao, p~t,l 1_n~c::- acribuições <.: responsabilidades inerentes à jurisdição a ser exercida, e independentes
ção de profissional estranho à relação, mediante avaltaçao da escolha pela 111stttu1çao da instituição que prestad serviços meramente cartoriais.
(art. 13, § 4. 0 , na novel redação). A especialidade do árbitro, por sua vez, pode ser em qualquer área do conhe-
Ainda necessário advertir que .í.rbitro não é profissão, mas simac;ão. O nomea- cimento, incxístindo "reserva de mercado" aos advogados ou bacharéis cm direito.>
do estará in~esrido da qualidade de árhiuo, ou seja, ocupad esta p~sição, ª~:na~ no
decorrer do procedimento; ou, como insistentemente se afirma: ninguém e arbttro; 4. Es.,e é o entendimento majorit;írio, cf. CÂMARA, Alexandre Freit:1s. ilrbitmgw, . .1. ed. Rio
e sim está .irbitro. i de Janeiro: I .11111en Juris, 2002.p. 44; GUILHERME, Lui·L Fernando do Vale: de Almeida.
Diversamente de um jui7. cogado, a ju risdição do árbitro, e~ q~1al_a~o col~gi~do Arbitn1gm1. São Paulo: Quarcier LHin, 2003. p. l O1; CARMONA, Cario~ Alberto. A.rhitmgo11
,: pron:sm. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.p. 229. Em sentido rnnrdrio, Pedro Ratista Martins,
arbitral (pa.i nel ou rribunal) é ccinporária, não permanente. A Jt1nsdiçao do arbm? reconhecendo, porém, que a função scr:i., cm (d rima an:ílise, desempenhada por pessoa física
é rescri ta ao procedimento no qual fo i investido. Nasce e desaparece com o proce~~ (MAK 1'INS, Pedro A lhtisra. N11rmr1s e pri11dpios ,1plil'd11â,- dO)' ,írbitros. ilsp,:ctos fi111rlt1m,·11-
mento, não transcende a este. Novo procc<limenco, entre as mesmas partes, e_ qu1ça tllis ri,, lá de ,11·hirmg,·111. Rio de Janeiro: Foren~e, 1999. p. 291 ), e c:unhém ressahando quc
relativamente ao mesmo contrato, reclama nova investidura, com as formalidades o representante legal da empresa, enquanto t:tl, pratil:ar:í os :ttos na arbícr:igem, confira-se o
que di1. Sl:avo11c, ..:0111 :ts seguintes p:i.,~sagcns ao se referir à exigência kgal apenas de ·'pessoa
daí decorrentes. c.::1p:u.": '·Ora, é ccdiço que as pt:ssoas podem ~cr naturais ou jurídicas. Assim, é evidente que.:
pessoa jurídica também e: pessoa, docada, igualmcnrc, de perso11alidade jurídil:a ttue, alíjs, é
7.2. QUEM PODE SER ÁRBITRO distín1;1 d:iquda atribuída aos seus membros.( ...) Nes.~a medida a pessoa jurídica produ~.i r,\
a sentença arhicral devidamcme represenwd:1, posto que 'obrigam a pessoa jurídica os atos
Diz a lei que "pode ser ;írbicro qualquer pessoa capaz e que renha a confiança
dos ad,ninistradores, exercidos nos limites de seus poderes ddinídos 110 :110 l:onstirurívo'
<las partes." (art. 13). . . (art. 47 do CC). ( ... ) Pode ser da co11fia11~:a das partes uma pe~soa jurídica espccializ:id:1 cm
Entenda-se aqui a capacidade como sendo de exercício e não de rn~landadc dc1erininada matéria.( ...) Não nos convence, porranrn, :1 afirmaçiio sc;gundo a qual, cm raôo
de direitos (diferentemente do quanto se disse a respeito de contratar a ar~1u:agem) '. de a atividade jurísdicio11al ser personalíssima. o julgamenrn somente podcri:1 ser reiro por
pessoa nacu ral. Não se pode olvidar que a qualidade de pcl'sonalíssima <l:i :ttiví<ladc a1bic1al,
assim, incapazes pela.idad eou condi.ção (ares. 3.0, 4.0e5. 0 do C,C/2002!, sao m~pcos
como se cos1u1ua sustentar para impedir o desempenho da ti.rnção por pessoa j11rídica, dewi-rt·
para assum ir esca tarefa. Aliás, a atribuição é perso~alíssima, e d1an ce da:nca~acidade do superbrivo de 'pesso:11', que encontra su:1 origem no brim perso1111Í,·, ou seja, rel:irivo ou
absoluta, por exemplo, q uem pra rica.ria os a~os sena~ ~epresemante, n~ªº o m ular do perrcncc.;1w:. :1 pt'ssoa ou relativo a uma s<Í pcsso:i e, aré, o sígnilicado de individual ou parti·
direito, afastando complecamemc a pessoalidade eiogida para a acuaçao. cular, que sfo característic;as ym· não se divorciam <la cxist~ncia ou da personalid:ide jurídica
da pessoa jurídica. Ora, se esta pode ser ri rular, inch,sivt:, de direi cus da personalíd:1de (are. 52
. \ ~. I" <lo CC), inalien,ívcis, imprescindíveis e irrenuncdYeis, pode, evídenrcmcnte, dcscn1pcnhar
:\. Afüís, d,cgou-se 30 :1huso de so ofcn.:ci<la por instituiçôes inidôm;a~ ~~~~~-;\1e Jt'.IZ/ r )~~::~~ arividades reputadas rnmo personalíssimas" (SCAVONE JUNIOR, Lui.. Antonio. A,/,11111,TÍ
e O CN], quando provocado pdo Consdho h.:deral da 01\R, em -~... ·- reg;i.mou O ·i() de t1rhim1.~1:111, cir., p. 85-8(,).
ilegais as carreiras funcionais de ,írhitros, <letcrmi11:1nd() o enc:1m1nh:1mcnro da st 1
qu~ · º'
5. Discord;wdo <lesta orientação, cf. Paulo Fernandes Silvc:ir:1: ''Como conscqu~:nc;ia inevir:ível
Minist~rio Público Federal para apuração e puniç:fo dos envolvidos. Cf., a respeito, o Coit1rna,
da li1ni1açiio impostJ ao :írbirrn leigo para acuar na :1rhitr:1gem, isto é, coni t:ornpetência
pcl<> Jit,· fwww.conima.or~.br1.
202 1 CURSO DEARBl'l'RAGEM DOS ARl31TROS 1 203

Por certo, a maestria em ciências jurídicas é a rotina da arbitragem, direcionando a jurídico, poderá aconselhar-se ou pedir parecer récnico de algum p rofissional jurídico
verificação da habilidade do árbitro na matéria objeto da demanda. de sua confiança, sem que haja necessidade de as partes nomearem assistentes técnicos,
Porém, em determinadas situações, quer-se o conhecimento técnico cm outras porquanto já têm a p rerrogativa dese fazerem acompanhar por advogados, assim como
matérias, como engenharia, contabíl idade, administração, metrologia, medicina, in- desnecessária será a apresentação de quesitos, uma vez que as man ifestações das partes
formática etc., e, desta forma, o árbitro poderá ser um profissional assim qualificado. 6 dispensam esse ripo de formalidade específica e própria". 7
É evidente que também deverá ter intimidade com a arbitragem; caso contrário, o "A indicação do árbitro poderá recair, indiscriminadamente, em nacional ou
procedimento dificilmente se desenvolverá, ou estará exposto a vícios. Nestas situações, estrangeiro, aferindo-se a sua capacidade civil segundo seu estatuto pessoal", conforme
recomenda-se a formação de colegiado arbitral em que pelo menos um dos árbitros acertadamente registra Yussef Cahali.8
tenha formação jurídica e ainda expertiseou prática em arbitragem, proporcionando, Aliás, a Lei Modelo da Uncicral assim sugere em seu are. 11.1: "Ninguém pode-
assim, o progresso sadio do procedimento. É o chamado painel híbrido. rá, em razão da sua nacionalidade, ser impedido de exercer funções de ,í.rbitro, salvo
Painéis híbridos, compostos, então, com pessoas de diversas áreas do conheci- convenção cm contrário das partes".
mento, têm se mostrado extremamente úteis cm diversas situações, com proveitosos Poderá apenas, conforme o caso, se desconhecer o idioma nacional, ser necessário
resultados na análise de conflitos específicos, mas de toda a conveniência que apre- apoio para leitura ou tradução de documentos, para oi tiva de testemunhas, para acom-
sidência fique aos cuidados de quem tem intimidade com as questões jurídicas da panhamento de reuniões e audiências e até mesmo para produção de deliberações e
arbitragem, pelas tarefas atribuídas ao presidente do colegiado, a ser adiante indicadas. decisões, mas nada impeditivo da sua atuação. Aliás, nossa Lei permite seja a sentença
A respeito de a conveniência da indicação do árbitro ser feita a quem tenha for- proferida em idioma estrangeiro, ou em mais de uma língua (comum na análise de
mação jurídica, <::m razão das decisões jurídicas a serem tomadas na arbitragem, Paulo contratos internacionais), além da escolha do território onde será proferida (art. l O,
Hoffman escreve: "Se a lei não excluí, tampouco obriga que o árbitro tenha formação IV) e desenvolvida (art. 11, I), e o direito aplicável (ares. 2.0 e 11, IV).~
jurídica, resulta que para ser árbitro basca ter capacidade e confiança das partes, para Por expressa restrição Constitucional, o juiz togado está proibido de amar como
ser resguardada a equidistância, a imparcialidade e a justiça na decisão. Esquece-se, árbitro (are. 95, parágrafo único, I. CF/ 1988), 10 sob pena de perder o cargo (art. 26, II,
quando se afirma que o árbitro pode não ter conhecimento jurídico, que durante o
procedimento decisões com conteúdo jurídico precisam ser tomadas. ln teressan te, sem
7. HOFFMAN, Paulo. Arbitragem: algumas düvidas processuais pdticas quando o juíw escacai
dúvida, que o árbitro tenha sua especialidade na matéria que será objeto de discussão,
é chamado a intervir. ln: JOBIM, Eduardo; MACHADO, R:i.facl Bicca. Arbitmge111 110 Rmsil
porém o conhecimento jurídico, quase na totalidade dos casos práticos, ainda que se - ,1spcctos jurídicw e re/e1,,z11m. São Paulo: Quartier Latin, 2008. p. 31 5.
permita a decisão por equidade, é indispensável. Por tudo isso, independentemente da 8. Em sua clássica obra sobre o E,tmrrm dn Emw1gei1v, acrescentando que este <:ntcndimenco não é
boa intenção da lei, entendemos ser de rodo conveniente que, se o árbitro for único, contrariado pelo are. 17 da lei relativo à equipara<;ão do ,írbicro ao funcionário público, pois se
deverá ter conhecimento jurídico, somente se pensando em divisão de especialidades craca de "equipara<;ão para efeitos da legislação penal", verificadas as restrições aos estrangeiros
para a ocupação dt:tíva de cargos e funções públicas (indicadas pelo Auror às fk 384); ou .~eja,
quando três ou mais forem os árbitros. Porém, se único for e não tiver conhecimento
para a apuração <la responsabilidade do ;(rbicro h:í a equiparação, mas nãos<: tem resrrição para
o exercício da atividade, pois definitivamente não é cargo ou funçfo pública (CAHALJ, Yussef
rescrita ao julgamento el\cepcíonal por equidade, o procedimento da arbitragem, de modo Said. ESflttrrt111/11 J;sm111geiro. 2. ed. Silo Paulo: Ed. RT, 201 O. p. 369-384).
geral, ser;í condm.ído por advogados, já que o julgamento, com observância das n::gras de 9. Neste sentido, CARMONA, op. cit., p. 202. SCAVONF., op. cit., p. 87; em posição contrária,
direito, i:.;onsrirui a forma usual e natural :i.dotada na legíshçfo arbitral brasileira. Nesse passo, Alexandre feitas Câmara (Arhi1mg1:111 - Lei 11. 9.307196. Rio de Janeiro: Lumen Jurís, 1997.
po<l<:-s<: di:ter que a lei que insti{Uiu os juizados especiais (Lei 9.099/1995) andou mais de p. 37), füulo furtado (j11ízn 11rhitral. Salvador: Nova Alvorada, 1995. p. 66) e Jos~ Carlos
acordo wm o paradigma americano, no que roca à arbitragem judicial, ao consignar tiue "o Barbosa Moreira (La nuov:i. lcgge hr:isiliana sull'arbitraco. Ri11íst11 tlell'Arbitmt(I. fase. 1, 1997,
.írbitro ser;í escolhido dc:ncrc os juízc.~ leigos" (art. 24, § 2. 0 ), sendo que os juízes l<:igos, de p. 1• 18, <:.~p. p. 7), todos sob o argumento de que o ,írbicro que não se el\prcsse cm nosso
acordo com essa lei, são, obrigatoriamente, ,ul11og11rlos com 111,rís de cí11co anos de e:>.perir:11cirz idioma sed incapaz <lc aprcs<:ntar sua decisfo por escrito. Hamilton d<! Moraes e Barros, soh
(:irt. 7. 0 , c11p11t)" (Silveira, Paulo Fernandes. Tríb11111t! tlrbitml-No11tl pona de tlcesso il justíçfl. a égide do Código <le Proççsso Civil de 1973, defendeu a necessidade de o ;írbitro estrangeiro
Curitiba: Juru;í, 2006. p. 95). conhecer a língua nacional (Cnme11tdrios ,io Código de Procmn Ci1Jil. Rio de Janeiro: Forense,
6. A pdtica demonstra que someme sed nomeado círhitro quem possuí e·spertise em alguma 1977. vol. IX, p. 493).
;írea do conhecimento, isto é inclusive uma das vantagens da arbitragem, porém nada obsta a 10. Are. 95, parágrafo único, da CF/J 988: Aos jufaes é vedado: I - exercer, ainda que cm dispo-
indicação de pessoa ''sem expcrtise'', mas de confiança das panes. nibilidade, outro c:irgo ou função, salvo uma <le magistério;( ...).
204 1 CURSO DE ARBITRAGEM DOS ÁRRITROS 1 205

a, Loman), I L salvo se aposentado, 12 pois haveria o desvio de sua finalidade precípua: as situações, mas são, em geral, percorridas três fases: a indicação, a nomeação e a
exercer a judicatura. aceitação. Conforme o caso promove-se a nomeação diretamente (pela inscicuição ou
pelas partes se assim restou convencionado). Ficará pendente nesta hipótese apenas
O analfabeto é capaz, u mas sua indicação mostra-se apenas hipotética, pois
a aceitação pelo escolhido.
dificilmente acenderá a expectativa de ser um expatem determinado assunto. Se em
tese assim for eleito, necessário será o apoio na lei cura e escrita pertinentes ao desen- Lembre-se, por exemplo, que a convergência de vontades quanto ao(s) eleiro(s)
de plano resolve a questão da indicação; assim, se já constar(em) o(s) escolhido(s) no
volvimento da arbitragem, tal qual se faz quando o árbitro é estrangeiro. t-1
próprio compromisso ou cláusula, não haverá expediente de indicação, mas nome-
ação direta já realizada (no pressuposto de ter sido debatida e acordada previamente
7.3. A ESCOLHA DOS ÁRBITROS
à convenção).
Como já sinalizado em outras oporcunidades, a escolha dos árbitros dependerá As partes podem, ainda, estabelecer previamente, e cm conjunto, o processo
da forma como as partes estabeleceram a origem da arbitragem (cláusula ou compro- de escolha dos árbitros (art. 13, § 3. 0 ) , por exemplo, para indicação dentre uma
misso), e qual espécie foi adotada (institucional ou avulsa). Veremos separadamente !isca por eles preparada, e/ou os crittrios para a indicação, definindo, por exemplo,
requisitos para a nomeação, como titulação acadêmica, experiência comprovada em
11. Are. 2(-Í, [, 11, d:i. Lei Orgânic:i. d:i. M:i.gistr:i.cur:i. N:i.cíon:il - Lom:i.n: O magistrado vitalício
determinado setor, idade, profissão, participação em determinada associação erc.;
somente perder:i o cargo: (... ) Ir - em procedimento administrativo p:i.r:i a perda do cargo nas advirta-se, porém, a necessidade de indicação objetiva de atributos do árbitro nesta
hípáceses seguinres: 11) exercício, aind:i. que em disponihilid:tde, de qualquer outra função, salvo especificação, pois conceitos vagos, como "reconhecida idoneidade", "notável saher",
um c:i.rgo de magi.~r.:rio superior, púhlico ou particular; (... ). "conceituado profissional", mais confundem <lo que contribuem para o aperfeiço-
12. Ali:ís, Carmona f.11. alus;i.o :i. csc:i. questão n:i. pdtic:i. norrc-amcric:i.n:i., desc:i.c:i.ndo que lá "alguns amento da nomeação, podendo, inclusive, formar uma cláusula patológica, como
juízes :i.posenr:i.dos (cercamente os mais c:i.p:i.cirndos, que rcr:i.o ohcido dcsc:i.que :i.o cempo crn
vimos no capítulo anterior_
que faziam parte do Poder Judiciário) pode1·:1.0 convercer-se cm excelentes :írbicros, espccíal-
mencc porque, livres da hurocr:i.ci:i. escacai, estarão :i.pcos :i. decidir com presrez:1 e descmb:u:i.ço" Encomendada a arbitragem a uma instituição (por cláusula cheia ou compro-
(CARMONA, C:i.rlos Alberto. Arhitmge111 e processo, cic., p. 231 ). misso), cercamente o respectivo regulamento estabelece o procedimento de escolha
13. A respeito d:i. c:tpacídade do an:i.lfohc:co, Y:i.léria Mari:i. S:i.nc' Ann:i. ohscrv:i. que ":i. lei cxprcs- do árbitro único ou colegiado. Em geral, diante do desacordo das partes, sendo árbitro
s:i.menre não restringe :i. :i.rhicrngem aos analfahecos, como fa1.i:i. a lei :interior (:ire. 1.079 do único, este será escolhido pela entidade arbitral. Sendo colegiado arbitral, cada parte
CPC (l 973J); rendo cm visr:i. que ficari:i. sem condições de cumprir ;1 fin:ilidadc principal do
indicará o seu nome de confiança, e os eleitos escolhem de comum acordo o terceiro_
compromisso que é a ebhor:1ção d:i. sentença, poderíamos entender que a ki c:iciramcntc os
reconhece como incapacitados, todavia o p:i.r:igrafo único do are. 2<-i é expresso: A Sl'ilfCllftt Havendo controvérsia, a entidade resolve e promove a indicação.
11rhitml scr,í msiwulll pelo hhitm ou por rodos os ,frhitms. Ct1herti 110 prl'side111e 1./0 tribm111l 111·hitml Raríssimas instituições (no Brasil ou no exterior) restringem a acuaçao sob sua
1111 hipfíte;e de um 011 a('{uns dos ,irhitms 11íio poder ou 11íifl qlfe1tr {ISÚnar tl seme11ç11. cenijimr 111!
gescãoapenasàquelesqueconscam de sua relação de árbitros. A chamada "lista fechada"
fato. Entendemos, por conseguinte, que o termo não poder c:i.mhém pode :i.colher o an:i.lfohcco.
permite à Enrida<le o controle, cm certa medida, da qualidade das decisões, pois nela
Conmdo, mesmo sendo um expat no a.~sunco, infelizmcncc o an:i.lfohcco ccr:í diliculd:i.dcs
de se inteirar de rodo o procedimento rendo em visc:i. ser o mesmo todo escrico, inchtsivc a integram aqueles profissionais que previamente foram reconhecidos por um órgão
decisfo final" (S:i.nt' anna, Yaléria M:i.ria. A1·bitmgem - Conwwírios 11 Lei 11. 'J.307 de 23-'J-%. (geralmente Conselho) da instituição pelos seus méritos, sendo periódica também
São Paulo: Edipro. p. 43). a revisão para manutenção ou alteração de nomes; e acompanha-se a dinâmica dos
14. Ern:i.ne Fiddis dos Santos e Alexandre ( :ãmar:i.(Arhitmgem. 3. ed. Rio de J:i.neiro: Lumen Juris, árbitros no procedimento arbitral, uma vez que estes ficam sob os cuidados da Enti-
2002. p. 46) não admitem, entendendo que o analfahero nfo esc:í apto :i. produzir :i. .~encença dade. Desta forma, esra opção de "lista fechada" reria algum sentido e razão de existir.
arbicr:i.l por lhe falcar o manejo do vernáculo. Já Antonio ( :orrê:.a(A,·hítrf~'{elll 110 t!freito hmsílcím.
Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 80)e Welher 13arral(A m·bitmgem e ffllS mitos. Floriancípolis: Com mais frequência, e mostrando-se como a melhor opção entre os usuários da
OAB/SC, 2000. p. 2.3-24) :i.dmitem a nomeaç5o de árhicro an:i.lfahero, sustentando que cm aribtragem, encontram-se Câmaras em que o presidente do painel ou árbitro único
algum:is situ:i.ções essas pessoas podem possuir conhecimentos técnicos impnrcantcs, como é deve ser um dos integrantes da lista (sendo comum mesmo a estas, abrir exceções
o caso de um:i. arbítr:i.gcm envolvendo a disput:i. :i.cerca de cri:i.s de :i.nimais por c:i.mponeses. se justificada e/ou analisada a indicação por presidente/conselho/diretoria ou outro
C:i.rlos Alberto Carmom (A1·hit11('l/lll e p1·0Cl'sso, cít., p. 202), mudando de opinião, passou :i.
órgão da Instituição). E assim, a indicação de coárbitros, geralmente, é livre às partes
tolerar :i. nomc:i.çfo de árbitro an:i.lfabeco j:i que o Código de Processo Civil não mais o proíbe.
Reforça t:i.l entendimento :i. circunstância de que o Código Civil tamhém não cax:i. o an:i.lfaheco (embora algumas também façam certas exigências, como apresentação de currículo
de incapaz (:i.m. 3.0 e 4. 0 do CC/2002). e sua verificação).
206 1 CURSO OE ARBITRAGEM DOSARlHTROS 1 207

Embora menos comum, também existem instituições sem lista de árbitros, Caso permaneça o conflito, agora unicamente entre as partes, limitando a op-
podendo-se referir no ambiente internacional a 2 (duas) Câmaras das mais con- ção entre seguir-se a arbitragem ad hocou sob a forma institucional, uma vez que os
ceicuadas: ICC (lnternational Chamber of Commerce) e LCIA (London Courc of árbitros, pelo contexto, já foram eleitos, em nosso sentir, caberá ao judiciário resolver
lnternational Arbítration). a questão, exclusivamente neste limite, como se cláusula vazia houvesse, ou seja, na
Este tema (lista fechada/aberta de árbitros) foi um dos que mais despertou po- forma do art. 7. 0 da Lei. Assim, se terá o pior: a questão será judicializada.
lêmica durante os trabalhos da Comissão do Senado formada para a elaboração do Soh outra ótica, indicado o "controle da escolha" pela instituição, pode parecer
anteprojeto de Reforma da Lei de Arbitragem, polarizadas as posições entre aqueles pouca a alteração, mas não é, na medida em que a vontade das panes afasta a regra
defensores da total autonomia das Câmaras para preverem o que lhes aprouver nos restrita (objetiva) do regulamento, e a lei abre caminho para se provocar um órgão
respectivos regulamentos, e outros, em sentido contrário, sustentando a necessidade da instituição (conselho, por exemplo) pontuando a escolha das partes. Este órgão,
de certa interferência nas Instituições, para obrigá-las a aceitar árbitros outros que assim, terá a obrigação de se manifestar sobre a indicação, para apresentar aceitação
não aqueles constantes de sua lista. ou restrição justificada, mediante avaliação do caso específico.
Ao hnal,assim passouaseraredaçãodo§4.0 doart. 13daLArb., coma alteração Considerando que a maioria das principais Câmaras já acolhia a indicação de
introduzida pela Lei 13.129 de 26.05.2015: "Art. 13 .... § 4. 0 As panes, de comum coárbitros pelas partes, mesmo não sendo da lista, mediante uma verificação na forma
acordo, poderão afastar a aplicação de dispositivo do regulamento do órgáo arbitral prevista no Regulamento, 16 bem como a postura geralmente colaborativa dos "players"
institucional ou entidade especializada que limite a escolha do árbitro único, coárbi- da arbitragem (especialmente os advogados e profissionais potencialmente lembrados
tro ou presidente do tribunal à respectiva lista de árbitros, autorizado o controle da para acuar como árbitros) temos convicção de que o debate será mais acadêmico do
escolha pelos órgãos competentes da instituição... ". que prático. Ademais, as instituições que adoram listas, atualmente possuem na relação
Cenamente muito ainda se debated a respeito, na.o só quanto à essência da um razoável número de nomes, extremamente qualificados, em condições de atender
previsão, como também a propósito de como seria o "controle da escolha" pela câ- a expectativa das partes (e demais coárbitros indicados por elas), sem vir a ter a neces-
mara, especialmente quanto ao efeito da respectiva decisão. Por exemplo, recusada sidade, por qualquer circunstância, de se aproveitar de outras indicações das partes.
a escolha no controle exercido pelo órgão competente da instituição, promove-se Aliás, em uma arbitragem "ad hoc", na qual tivemos a oportunidade de acompa-
nova indicação, indefinidamente, até que algum árbitro seja aceito, ou manter-se-á nhar, curiosamente, a exigência expressa contida na cláusula arbitral para a indicação
o(s) escolhido(s), transformando-se o procedimento em arbitragem "ad hoc" (cf. de árbitro era que o eleito integrasse a lista desta ou daquela Instituição, pois este
Capítulo 5, icem 5.3.2. Arbitragem tZdhocou avulsa), substituindo o quanto previsto fato conferia certa credibilidade ao profüsional, evitando assim escolha totalmente
na convenção a respeito. Sob este aspecto, entendemos que não se poderá impor à despropositada por qualquer das partes.
Instituição, contra suas regras e em oposição à decisão do "órgão competente", por Ou seja, a relação de nomes oferecida pelas instituições, em geral, contempla
mais imprópria que eventualmente seja a conclusão, a obrigação de administrar o profissionais reconhecidos no ambiente jurídico, afastando naturalmente razões de sua
procedimen co; não teria propósito a intervenção na intimidade da entidade e delibe- rejeição prematura pelas partes. Daí porque, como rotina, acredita-se que a previsão
rações com fundamentação ligada à estratégia e valores interna corporis. legal não venha a ser utilizada com frequência.
Desta feita, no embace final entre a vontade das partes e a decisão contrária da
Jnstituição, deve-se ter por afastada a administração do procedimento pda entidade IG. Em recente pesquisa desenvolvida no Projeto IH do Grupo tk A·HJIIÍStt <:lll Arhitmgem - GPA
escolhida, seguindo-se a arbitragem tld hoc, ou administrada por outra instituição a da PUC/SP, detectou-se na consulta :i 25 Câmaras N:icionais, que 4 ddas n;io cem lisc:i de
ser escolhida pelas partes. 15 :irbírros, 10 possuem lista totalmcnte aberta, ou seja, sugestiva, e apenas 6 delas exigem que
o presidente do painel (ou árbitro úniw) seja integrante da relação, e ;1inda assim a maioria
admite exceções. Ou seja, o problema <lc::cJntado na Comissão e tra·,.ido it norm;1 (; acadêmico,
15. E este resultado se ted r:i.o só pela comunicação da n:cus;1 à adminiscração do procedimento, e não prático. O Gmpo tle Pesquisa cm llrbitmgc111 - CPA criado no programa de pós-graduaç:i.o
por delíbcraçfo <la Instituição; vale dizer que, cm nosso sentir, ncio cabe ação (no sentido de da PUC/SP rE liderado por este Autor, e o Projeto III, desenvolvido no 2° semestre de 2016,
que deva .ser rejeitada a recusa il indicação, evidentemente) ou qualquer iniciativa que envolva foi acompanhado pelos seguintes pesquisadores: Andr1: F. Albuquerque, Ciro R:111gel Azevedo,
a lnstituiç:io em procedimento judicial buscando rever sua decisão ou precendendo-lhe impor Gustavo Perez 1:i.vares, Helena Bimonti, Isadorn Urcl, Letícia Ferreira Couto, M:ircos Serra
a gcstfo <lo procedimento. Netco fíoravanti, Vivian Gersclc::r Zakman, Vivianc Rosolia Teodoro.
208 1 CURSO DF. ARBll"H.AGEM DOS ÁRBITROS 1 209

, ~or outro lado, podemos afirmar que para as partes, ao invés de contrariar os origem em cláusula arbitral expressa neste sentido, as disposi.ções deverão conter
~a1~1~s1mos regula~entos ~encu~mente rígidos e criar impasse com a Instituição já no os critérios de escolha do árbitro, ou já a sua nomeação, sob pena de se submeter à
m1c10 do proccd11nenco (mclus1vc com polêmica cuja conclusão e:: incerta no que se definição judicial, como cláusula vazia.
ref~re ao embate final en~re a posição da parte e do "órgão competente"), certamente À exceção da nomeação pelo juiz no procedimento previsto no art. 7. 0 da Lei, nas
sera melh?r prever a arbmagem em instituição que cm seu regulamento já permita várias si ruações retratadas há en volvimcnro das partes na escolha do árbitro, de forma
.
a escolha independentemente do nome constar de sua eventual lista (e cantas bo ~ menos acentuada, quando delegada a nomeação à insciruição, e com total intensidade
ex1st~,m com,~st~ característica; a!iás, a maioria delas), ou até mesmo prever a arbitra- quando se faz a nomeação direta, nestes casos não só prestigiando a autonomia da
gem ad hoc (duetamente ou diante da recusa do "órgão competente"), pois tanto vontade, como enaltecendo a importância desta figura no quadro arbitral.
em ~m~ como em o~t~·a s_icuação não se enfrentará o embaraço a respeito da questão,
nocivo a esperada dmam1ca de um procedimento arbitral. 7.3. 1. A escolha dos árbitros na arbitragem multipartes
. :e.nha-se p1~esentc, inclusive, gue se inicia no Brasil o que já há em outros países:
Interessanre 111 questão que pode surgir é a relativa à indicação do árbitro nos
escmonos e cm São Paulo ate:: mesmo um Tabelionato de Notas, aparelhados exata-
procedimentos multipartes (aqueles em que em um dos polos da relação jurídica ou
mente_ p~ra prestar serviços de apoio a arbitragens ''ad hoc" (secretaria, salas, estrutura
em ambos h á.mais de uma parte) com solução acanhada (ou até inócua como se verá),
e admm1stração de procedimento).
prevista na nova redação ao§ 4. 0 do are. 13 da LArb. 1"
. De qual~1_1er forma, a alteração proposta, com todas as críticas que a propósito
Ao se ter acordo entre as partes, tudo se resolve, mas, verificado o conflito, surge
existem, presng~a a vonra~edas partes na escolha do nome que tenha a maior confiança,
o problen-ia de como se dará a indicação para aquele polo na demanda, formado por
faro e?e esse~c1al na ar_b1:ragem, como expressamente previsto no caput do are. 13
mais de uma parte. E a preocupação também se volta à igualdade detraramen to emre
da Ler. A ~pçao da com1ssao elaboradora do anteprojeto, mantida no Congresso, foi
as partes, pois se um dos polos exerce o direito de indicar seu árbitro, sei,-ia i.nadequa-
nest~ senndo, e lembremos dos debates imensos a respeito, inclusive nas audiências
do que o outro, pela discordância entre as partes, ficasse privado desta prerrogativa,
púbh~as, ,u~a dela~ da qua! parricipamos. 17 Tnexistence violação à Constituição, ou
impondo-lhe a aceitação da escolha da instituição ou mesmo do juízo.
ao~ Pn'.1c1p1os gerais da arbitragem, mas ao contrário, feita a preservação da autono-
mia pr;va~a da parte no pr~cedimemo na ponderação entre os Princípios, a opção O ideal é que esra questão seja prevista na convenção, ou no regulamento <la
agora e ~c1, e espera-se que movação não altere ou abale o quanto hoje se pratica na instituição deita; caso contrário, sem dúvida ensejará um conflito pré-arbitral cuja
boa arbmagem. solução pode reclamar até a intervenção do Poder Judiciário.
, . Com ou sem modificação legislativa, mesmo delegada à entidade à escolha do Em recente pesquisa desenvolvida no Projeto II do Grupo de Pesquisa emArbitm-
arbmo, fica preservado o direito das partes de estabelecer critérios para a sua indicação gem- GPA da PUC/SP foram obtidas informações de algumas Instituições a respeito
20
como acima referido. ' desce tema, e assim escrevemos cm artigo específico de análise dos resultados:
Diancc de uma cláusula vazia, ou nas si cuações em que este cratamenco é adorado
para ~láusulas patológicas, será necessária, como visto, a instauração do procedimento l 8. Anote-se a correta distinção lembrada por Leonardo de faria Reraldo: "Pode-se <ldinir rtr·
prevista nos ares. 6. 0 e 7. 0 da Lei de Arbitragem para se obter o compromisso arbitral bítmgc111 compll'Xll como g61ero do qual são espc::cics a arbitmgem 11mltip11rte e a m·bitmgcm
11111ítico11tr11tu,il. Quando se tem mais de um contraro entre as mesmas partes ou nio, e sem
no qual'. e_nc~o, ~~brigatória a indicação do árbitro, ou árbitros, (espontaneamente 0 ~
que a convenção de arbitragem seja a mesma para todos eles (ou, pelo menos, compalívcl),
por dec1sao Jud1c1al, conforme o caso) ou a delegação desta escolha a uma i nstiruição fala-se em arbitragem mulciconuarual; já quando houver um co1Hraro com várias partes,
arbitral (arr. 10, 1). então estaremos diante de arbitragem muhipane.'' BERALDO, Leonardo de Faria, Curso de
Na arb_irragem ad hoc n~cida de compromisso é indispensável a já nomeação A,·hitmgem: 11,1s termos da Lei 9.307/96. .São Paulo: Atla.s, 2014, p. 115.
do(s) escolh1do(s) como refendo (are. 1O, I); se, porém, a escolha desta espécie tiver 19. Assim: ''nos casos de impasse e arbitragem multiparce, deved ser observado o que dispuser o
regulamento aplidvd".
20. O Gmpo d,, Pesguim em Arhitmge111 - GPA criado no programa de p<Ís-graduação da PUC/SP é
17. Com parcici\1ação, inclusiv~, apresentando sugestões :1 Comi.~s:i.o, algumas dehs acolhi<las liderado por esre Auror, c o Projeto II foi acompanhado pelos seguintes pesquisadores: Helena
pelo_ anteproJcco; ~f.- a respeuo lwww 12.senado.gov.br/noticias/m:,terias/2013/08/26/lei-<le- Bimonti, lsadora Urd, Marcos Serra Necco Fioravanri, Najla Lopes Cintra, Pedro Guílhardi,
-arb1tragem-cspec1ahstas-querem-clarc:za-sohre-temas], e [www.eaha1i.adv.brJ, em "Notícias", Vivian Gerscler Z:tlcman, Viviane Rosolia 'leodoro. Cf. a respeito: CAHALI, hanüsco Josc:.
de 03.09.20 l.'3. Árbitro de emergência e arhitragem muhipartes - Considerações gerais e resultado da pesquisa
21 Ü I CURSO DE ARBITRAGEM DOS ÁRBITROS 1 211

"Como é de se notar na pesquisa realizada pelo GPA-PUC-SP, das 27 (vime e dissenso, e não da outra ( única ou com unanimidade na indicação), representa ofensa
sete) Instituições Nacionais consultadas, 14 (cacon.e) possuem em seu regulamento ao tratamento igualitário entre os envolvidos no procedimento.
previsão específica para indicação de árbitro nos casos de arbitragem multiparces, ou Leonardo de Faria Beraldo, aponta precedente estrangeiro a respeito, cirando o
seja, praticamente metade delas. caso Dutco, envolvendo as sociedades BKMI e Siemens, em uma arbitragem ocorrida
Destas 14 (catorze) com previsão a respeito, a quase totalidade (13 delas) traz a ern Oubai, anotando que o Judiciário francês anulou a sentença arbitral por entender
regra de indicação pela Instituição para ambas as partes, e nenhuma respondeu que a que houve violação ao princípio da igualdade das partes em indicarárbi a·os, considerada
Instituição indicará o árbitro apenas para a que não entrou em consenso. a matéria de ordem pública. Também indica precedente do Judiciário paulista neste
No ambiente internacional, rodas as 7 (sete) instituições consultadas possuem sentido, relativo à arbitragem envolvendo o Banco Santander de um lado, e Paranapa-
previsão para a indicação deárbitroquando houverdissenso na arbitragem mulcipanes. nema e BTG de outro (Proc. n. 0002163-90.2013.8.26.0100- 18.ª Vara CíveP). 13
Dentre estas, 6 (seis) optam pela solução de indicação dos árbitros pela Instituição Mesmo com estes precedentes, mantemos nossa posição pelos fundamentos aci-
para ambas as partes, e em apenas 1 (uma) delas a escolha será feita exclusivamente ma apresentados, ao menos equanto inexistente previsão a respeito, como se verifica
para a parte que não entrou em consenso. na legislação espanhola. 24 A igualdade das partes significa conceder a elas as mesmas
Desta fei ca, note-se a maior preocupação das insti tuiçõcs internacionais a respeito oportunidades e direitos, mas se por qualquer motivo alheio à iniciativa de uma, a outra
do tema, embora se constate nas instituições nacionais mais renomadas a igual atenção. não exercer a faculdade que lhe é concedida, aquda primeira não pode ser prejudicada.
A seu turno, a solução usual adotada pela quase totalidade das instituições, quan- Na falta de previsão legal, o ideal, como se disse, é haver a previsão na convenção
do previsto o impasse na arbitragem mulciparres, é indicação pela lnsticuição de todos ou no regulamento, e, neste particular, merece prestígio o novo Regulamento do CAM/
os árbitros das partes, e não apenas daquele polo em que se instaurou a divergência.". CCBC, no qual há previsão expressa de nomeação pelo seu Presidente de todos os
membros do tribunal arbitral, caso não se tenha consenso sobre a forma de indicação
No silêncio da convenção e do regulamento, pata nós a escolha daquela parte
de árbitro por qualquer das partes, quando múltiplas (art. 4.16), evitando-se, assim,
única, ou de comum acordo, deve ser respeitada, e, quanto às partes discordantes,
a situação acima referida.:.>. 5
deverá se ter como não indicado o árbitro, com as consequências daí decorrentes
(em geral, nomeação pela instituição) -vale dizer, a indicação exige a unanimidade A opção eleita pelo CAM/CCBC, certamente, é adequada, mas repica-se que,
das partes integrantes de um dos polos, inadmicida, em nosso sentir, a prevalência da na ausência de previsão das panes ou do regulamento, a privação da escolha deve ser
posição da maioria (salvo se expressamente prevista a hipótese pelos concratantcs); apenas àqueles que não chegaram ao consenso na nomeação do árbitro.
e a discordância, então, deve ser tratada como não tendo sido exercido o direito de
indicação. ~1 Pode parecer "injusto" por colocar as partes em posição de aparente desi- 22. Previamente à procedência parcial do pedido de anulação, foi deferid:i. liminar tle suspensão
gualdade (enquanto uma escolhe, a outra não), mas a privação da escolha deve recair da efidci:i <la sentença que, em sede;; agravo de ínstrnmento, foi confirmada pdo TJSP (AI
apenas naqueles que não souberam contratar adequadamente, ou não conseguiram 003G343-44.2013.8.26.0000, 11.0 Cim., rei. Des. Gilberto dos Santos, j. 02.05.2013). O
Tribunal, pela natureza do recurso, 11Jo se a.profundou na rcsc, mas manteve a decisão de
solucionar amigavelmente o conflito entre si; desta forma para situações distintas
primeiro grau.
(uma parte sem conflito, e a outra com divergências na escolha), aplicam-se também
23. 13ERALDO, Leonardo de faria, Curso de A1·bitmgc111... , cit., p. 122.
regras distintas, uma não podendo ser prejudicada pela outra. 24. Cf. art. 15, 2, b, parte final: "En caso de pluralí<la<l <le;; dcmand:uues o de demandados, éstos
Ma.~ devem-se registrar orientações e decisões exatamente em sencido contrário, nombrar.ín un :írhitro y aqudlos otro. Si los demandantes o los deman<l:u..los no se pusicran
entendendo que a indicação pela instituição apenas do árbitro daquelas partes cm de acuerdo sobre el ;frbítro y_ue ks corresponde nombrar, todos los árbitros sedn designados
por cl tribunal competente a petición de cualquiera de las parces''.
25. A respeito, escreve Frederico Jos1: Straube: "Not:i<lamentc, a regra geral cria desíguald:1des
do grupo de pesquisa em arbítragcm da PUC-SP- Projeto ll - 2° Semestre de 2015. Revista nos tasos cm que h:1 mais de dois polos contrapostos na rdaçfo processual, pois permite que
de Mediação e Arbitragem, ano XIII, n. 51, São Paulo, out.-dez. 2016, onde o n::sultado da o Requerente faça a indicação de seu árbitro, enquanto compele todas as partes requeridas a
pesquisa ramb1:m foi publicado. entrar cm acordo quanto :t sua escolha. Na renrativ;1 de manter a igualdade;; cm uma arbitra-
21. Esta soluç:i.o pode ser adotada pela pr<>pria ínstiruição, pois ao que se tem conhecimento, cm gem muhiparcc, a solução adotada delega à instituição, na pessoa <le seu Presidcnce, todas as
todos os regulamentos há previsão gen.:rica de como serão resolvidos os casos omisso~. Assim, indicações, inclusive: a nomeação do Presidente;; do tribunal arbitral'' (STRAUBE, Frederico
esta soluç:ío pode ser adorada pela lnscicuição na abrangencia de sua possibilidade de resolver Josti. Uma primeira análise do novo Regulamento do CAM/CCBC. Re1JÍStft de Arhimrgem e
impasse díante da omissão do regulamento. Medi11çíio, n..,2, ano IX, São Paulo, jan.-mar. 2012, p. 236).
...
21 2 1 CURSO DE ARBITRAGEM DOS ÁRBITROS 1 2 13

A propósitodaquesrão,aLei 13.129/201 S introduzao§4. 0 doarc. 13da LArb.a Anote-se que a previsão legal de aplicação do regulamento para solução da questão
previsão de que a respeito: "deverá serobservttdooquedispusero regulamentoaplictivet'. é supletiva a eventuais critérios de escolha do presidente pelas partes na convenção,
Com a devida vc'.'.nia, como já falamos em edição anterior a respeito do então observado, ainda, o quanto acima se disse a respeito da inovação legislativa a respeito
projeto, totalmente inútil a proposta, pois se não houver impasse, ou se prevista a da rescrição à escolha do presidente à lista da instituição (item 7.3).
solução no regulamento aplicável, é evidencequeestará superada a questão, indepen- Pode parecer um problema a inexistência de previsão a respeito no regulamento,
dentemente de previsão na lei a respeito. po.rém não é, na medida em que sempre há nos regulamentos a indicação da forma de
Parece cer passado despercebido nos trabalhos que o problema, como acima solução deste impasse, ou no mínimo a previsão genérica do modo para solução dos
referido, ocorre exatamente diante da falca de previsão no regulamento. E, assim, casos omissos (e en cão a definição estaria con rida nesta regra de omissão, encontrando
perdeu-se a oportunidade de se trazer uma boa solução à questão, dentre as possíveis aqui o caminho para solução).
antes indicadas. Também não represencará maior dificuldade real a solução indicada na reforma
Por fim, anote-se que mais a respeito da indicação dos árbitros, inclusive com apenas para arbitragem institucional, e não para arbitragem "ad hoc" (cf. Capítulo
alguns detalhes procedimentais a respeito, se verá no Capítulo 8, item 8.4 - Da ins- 5, irem 5.3.2), na medida em que inexistente "regulamento aplicável", pois nos mais
tauração da arbitragem. raros modelos de arbitragens avulsas, geralmente para sua viabilidade já são definidas
as regras de instauração do procedimento, nas quais, se bem orientada a redação da
7.J.2. Quanto ao número de árbitros convenção, esta questão estará contida. E se nada a respeito se falar, aplica-se o pre-
visto no§ 2. 0 deste mesmo are. 13, segundo o qual, inexistindo acordo, "requererão
Limitando em certa medida a autonomia da vontade, estabelece a lei que a no-
as partes ao órgão do Poder Judiciário a que tocaria, originariamente, o julgamento
meação dos árbitros será sempre em número ímpar (art. 13, § 1. 0 ). E assim faz acer-
da causa a nomeação do árbitro, aplicável, no que couber, o procedimento previsto
tadamente, pois o colegiado em número par poderia ensejar empate, inviabilizando,
objetivamente, a solução <lo conflito - o propósito do juízo arbitral. no art. 7 .° desta Lei".
A escolha do presidente do painel tem relevância, pois sendo vários os árbitros,
Reforçando esta rescrição, logo no § 2. 0 do referido artigo, fica estabelecida
''a decisão será tomada por maioria. Se não houver acordo majoritário, prevalecerá
a presunção absoluta de que delegaram aos nomeados, quando em número par, a
o voto do presidente do tribunal arbitral (are. 24, § 1.0 , Lei 9.307/1996)". Embora
indicação de mais um árbitro. E inexistente acordo entre os nomeados, "requererão
as partes ao órgão do Poder Judiciário a que tocaria, originariamente, o julgamento contida no capítulo da lei destinado à sentença arbitral, esta regra vale para todas as
decisões proferidas durante o procedimento; por exemplo, se no colegiado cada qual
da causa, a nomeação do árhitro, aplicável, no que couber, o procedimento previsto
no are. 7.0 desta Lei". E enquanto incompleto o colegiado, não se terá por instituída sugerir um perito, diante do impasse prevalecerá a indicação do presidente.
a arbitragem. Ainda ao presidente são atribuídos, geralmente, pelas partes ou regulamento,
Ao se considerar os valores de honorários acrescidos na proporção direta do nú- poderes para organização e desenvolvimento da arbitragem, com definição de
mero de árbitros, o colegiado, quando assim eleito pelas partes, se faz rotineiramente etapas, prazos, providências, datas de audiência, elaboração de relatório <las deci-
com três participantes, sendo raríssimos painéis com cinco ou mais integrantes. sões, nomeação, se o caso, de secretário, encaminhamento da sentença às partes
(art. 29 da Lei 9.30711996) etc. Tamhém ao presidente cabe certificar a eventual
7.3.3. O presidente do tribunal arbitral falta de assinacura dos outros árbitros na sentença (art. 26, parágrafo único, da
Lei 9.307/1996).
Quando feita a opção por painel arbitral, superada a fase de impugnação dos
Com mais tarefas e responsabilidades, algumas insticuições já estabelecem a
êtrbitros eleitos pelas panes, estes coárbitros, de comum acordo, escolhem o presidente.
remuneração mais elevada ao presidente, porém se os honorários forem pelo regime
Se houver impasse, deve-se observar o quanto a respeito estahelece o regulamento da
de horas trabalhadas, como muitas vezes se faz, aucomaticamentea maior atividade do
instituição escolhida, deacordocomamo<lificação incroduzidapdaLei 13.129/2015
ao§ 4. 0 da LArb. 26
consenso, scd designado presidente:: o mais idoso". A ~,rcvis:io cinha como pressuposto que o
colegiado era elcico inregralmentc pela~ partes, e sem maioria quanto a escolha do preskknrc::;
26. Cf. redação na nora 17 :icima. A redação original deste§ 4. 0 dizia que ''4. 0 Sendo nomeados porém, o que ocorre é a indicação por cada pane, de um co,írhir.ro, e estes escolhem o tcrcc::iro
v:irios árbitros, estes, por maioria, elegerão o presidente do tribunal arbitral. Não havendo presidente, e desta forma, esvazia-se a hipótese prcvisra na norma revogada.
214 1 CURSO DE ARl31TRACEM DOS ÁR13ll'ROS 1 21 5

presidente lhe trará arem une ração compatí vd, em relação à even cual menor ati vidadc 7.4. ATRIBUTOS DOS ÁRBITROS
dos coárbitros, comando desnecessária, então, a indicação de valor diferenciado. En- Os predicados que se espera dos árbitros vêm previstos na própria Lei: "No
fim, as Instituições que façam as suas opções a respeito, de acordo com a casuística de desempenho de sua função, o árbitro deverá proceder com imparcialidade, indepen-
sua tabela de honorários, e aos árbitros, estará sempre facultada a recusa na indicação dência, competência, diligência e discrição" (art. 13, § 6. 0 ).
caso descontente com a forma de remuneração estabelecida pela Câmara.
Antes de simples referência, estas qualidades do árbitro, com maior ou menor
7.3.4. Nomeação de secretário relevo, representam princípios informadores da base de sustentação do sistema arhicral
enquanto instrumento adequado à solução de conAicos, através de um terceiro apto a
O secretário terá atribuições administrativas, de registro e arquivamento de to- exercer a jurisdição. São inerentes a qualquer julgador, mas pertinente a sua indicação
dos os atos procedimentais, preparação e organização de documentos, elaboração de expressa na lei enquanto conduta desejada.
atas de reuniões ou audiências, bem como cuidará da intimação das partes e demais E alguns destes atributos não têm mero caráter pedagógico, e seu desrespeito
atividades de instrumentais para o desenvolvimento da arbitragem. Não cem função pode gerar sérias consequências. Mais grave é a parcialidade, p ois se considera causa
jurisdicional, mas burocrática, com a finalidade de auxiliar os trabalhos. pará invalidação da sentença.arbitral (a.rt. 32, VTII, ele are. 21 , § 2. 0 ). A falra de in-
Tal figura tem pertinência na arbitragem ad hoc, pois naquelas encomendadas dependência enseja a recusa do árbitro (ares. 14 e 15). E a quebra da discrição pode
a uma instituição, estes serviços são oferecidos diretamente pelo órgão, embora nada ensejar responsabilidade civil do indiscreto.
impeça tenha o procedimento administrado um secretário específico nomeado. Mesmo sem previsão pontual, mas contido na amplitude da diligência indi-
Permite a lei sua indicação pelo árbitro, ou presidente do painel, se este assim cada na lei, deve o árbitro ter disponibilidade de tempo. Faz-se esta anotação pois
julgar necessário (are. 13, § 5. 0 ) , ou seja, independente de previsão anterior comum atualmente, na atuação nesta área, temos deparado com indesejáveis situações em
entre as partes. Seu custo será <le responsabilidade das partes, e se não houver consenso, que árbitros extremamente conceituados e talentosos acabam por assumir inúmeros
nem anterior previsão, deverá ser estabelecido pelo árbitro (ou tribunal), 27 integrando procedimentos e, assim, comprometem o desempenho, especialmente quanto à
as despesas da arbitragem, tal qual honorários periciais, diligências etc. celeridade na condução dos processos.
Aliás, tão preocupante é esta questão que algumas instituições solicitam seja
O ideal será constar da convenção, ou do termo de arbitragem a utilização ou
declarada pelo árbitro indicado a sua disponibilidade de tempo para assumir a
não do secretário, e respectivos valores para seus serviços, devendo, ainda, os critérios
arbitragem,211 prestando esta informação às partes.
para sua designação.
Mesmo ausente previsão no regulamento, é dever do advogado das partes, ou
A mesma regra permite recair a nomeação em um dos árbitros, quando instau-
delas por si mesmas, questionarem o árbitro sobre sua disponibilidade de tempo,
rado o painel, porém, cercamente inadequada centralizar numa só pessoa a dupla
especialidade e eventuais impedimentos profissionais para assumir o procedimento
função, para não confundir atribuições, poderes e competência. Agora, na diversi-
arbitral para o qual será convidado.
dade de siruaçóes possíveis principalmente na arhicragem ad hoc, pode ocorrer do
Já tratamos antes das qualidades indicadas na Lei, pois id€nticas àquelas exigidas
próprio árbitro único ou aré mesmo o presidente, avocar estas atribuições e conduzir
do mediador e do conciliador; assim, remete-se o leitor ao quanto lá se disse a respeito.
integralmente sob os seus cuidados com o regular desenvolvimento da arbitragem,
quando pouco complexas e de reduzido número de providências, sem sequer fazer Porém, algumas outras observações merecem ser feiras:
referência à figura do secretário. Imparcialidade
Além da previsão neste capítulo destinado ao árbitro, a imparcialidade também
27. Registre-se posíçfo diversa de Carlos Alberto Carmona, para quem, na falra de consenso encrc é referida como um dos princfpios do procedimento arbitral (art. 21, § 2. 0 ), e, pela
as partes, "deverá o secretário dirigir-se ao juiz rogado para que seja fixado por sentença o importância, o seu descumprimento autoriza a invalidação da sentença (cf. are. 32,
valo~ de sua remuneração'' (CARMONA, Carlos Alhcrto. Op. cir., p. 238). Parece-nos que VIII, adiante analisado).
a orientação de Carmona somente dever ser utilizada se esgotada pelo secretário os meios
para obter a fixação de seus honodrios no próprio procedimento arbitral, daí sim, rcscar:í
apenas a via judicial, para a qual, inclusive, deve .~er demonstrada a iniciativa frusnada na 28. Cf., a respeito, arts. 4.6 e 4.7 do Regulamento do CAM-CCtlC, onde se prevê o preenchimento
sede arbí trai própria. pelos árbitros indicados de "Questionfoo de Conflitos de Interesse e Disponibilidade'',
21 6 1 CURSO UE ARBITRAGEM DOS ÁRIJJTROS l 21 7
Imparcialidade significa a isenção do árbitro em relação às partes, e a total falta curso dos trabalhos, cm especial também na fase instrutória, a imparcialidade deve
de inrerc.sse no resultado do conAico. ~·i Impõe ao julgador não ter preferências ou ser observada. Assim, por exemplo, mostram-se inadequados contatos e trocas de
favorecimentos a um dos interessados, mantendo-se em posição equidistante ao.s informações sobre o procedimento, acendimentos exclusivos sobre a causa etc.
envolvidos. f:, portanto, um estado de espírito do árbitro, não ligado a questões E se por qualquer motivo ou circunstância, no curso da arbitragem, a imparcia-
faticas, mas sim psicológi<.:as (subjetivas), da característica da parte com que ele mais
lidade restar comprometida, deverá o árbitro deixar o procedimento, autorizando,
se identifique, por exemplo. ainda, a outra parte a provocar o afastamento tão logo perceba a situação (por causa
Também deve o nomeado estar despido de diferenças ou preconceitos em relação superveniente), pois a parcialidade vicia <lc tal modo a arbitragem que leva à sua
a uma das partes que possam influenciar suas decisões, pois tais .sentimentos podem
invalidade, como referido.
igualmente comprometer sua imparcialidade, e aqui seria a parci,t.lidtide hwersa, ou
Para testara imparcialidade, ou o grau <lc envolvimento das partes, amai mente
.seja, capaz <le prejudicar uma das partes.
existem propostas de Código de Ética em diversas entidades arbitrais, corno adiante
Aferida sob a perspectiva subjetiva, a imparcialidade se exterioriza na conduta
será analisado, apresentando recommdrzções à conduta dos árbitros.
do árbitro durante o procedimento, e espc<.:ialmente na cornada de decisões, embora,
muitas vezes, a postura tendenciosa seja presumida pelas circunstúncias ou compor- Mas o bom senso, sem dúvi<la, tem grande valia neste momento.
tamentos anteriores envolvendo as partes. Por fim, diferencia-se da imparcialidade a neutralidade. O árbitro, como todos,
Desconhecendo os litigantes, a imparcialidade é praticamente incrente às ativi- possui valores, posiçóes ideológicas, convicções sobre dctenninadas matérias por vezes
dades de um julgador consciente <le sua posição. Porém, quando o árbi cro é indicado inclusive tornadas púhlícas. 10 E estes elementos, por certo, nacuralmencc infiuc:nciam
exclu.sivamence por uma das partes, diretamente ou pelo respectivo advogado, a situ- a cornada de decisões. E impossível exigir-se a neucralidade. 31
ação mostra-se muito mais delicada, pois o contexto, por si só, sugeriria uma posição Ou, como bem destaca Selma Lemes: "Uma questão importante que .se coloca
tendenciosa cm favor daquele que promoveu a indicação. Daí a extrema atenção que
quando se analisa a figura do árbitro é saber se existe árbitro neutro, se o conceito
deve ter o árbitro para não sucumbir a esta perspectiva.
de imparcialidade e neutralidade são sinônimos. Efetivamente não são, pois não
A imparcialidade se impõe independentemente de ter sido o árbitro nomeado por existe árbitro neutro, assim como também não existe juiz neutro. Neutralidade não
uma das partes. Árbitro não é um ,1ssístente técnico ou defensor dos interesses daquele se confunde com imparcialidade. Não existe ser humano neutro; não somos robôs,
que lhe indicou. É um terceiro isento (não neutro, como adiante se verá), convocado
autômatos. O ser humano é fruto do meio em que vive, de suas convicções religiosas,
para julgar a causa de acordo com seu livre convencimento. A confiança depositada
sociais, políticas etc., e é por elas inAuenciado. Portanto, não existe pessoa neutra;
no árbitro não atribui ao litigante o domínio, controle ou qualquer interferência na
obviamente, não existe árbitro neutro. A neutralidade pressupõe a indiferença, o que
convicção do indicado. Este deve ser livre para decidir com entender correto, inde-
é algo difícil de ser concebido. Ser imparcial é resolver a controvérsia de acordo com
pendentemente de quem venha a ser contrariado.
o seu livre convencimento (are. 2 l, § 2.o, da Lei 9.307/1996), de acordo com o seu
Neste sentido, cabe aos advogados da arbitragem a correta orientação ao.s clientes
modo de entender e fixar .suas convicções sobre o assunto". 32
para não confundirem a posição do árbitro indicado, e ddc esperarem o quanto ele
não pode oferecer.
30. Quanw ao assunco vale pequena rdlex:lo: pode o :írbicro decidir cuncrário a tese doutrin:íria
Aliás, muitos sustentam até a impropriedade do árbitro "da parte", entendendo
de sua autoria píihlica e notória? Sim! Não obsrancc ser de extrema import1ncia o escudo pelo
ser mais adequada, para prestigiar a imparcialidade, a indicação apenas cm conjunto advogado da pmiç;io doutrin;iri:i <lo possível ,írbitro para a indicação, o ,írbitru deve ser imparcial
ou por delegação à instituição reconhecida como idônea pela sua lista de experts. (escado de cspíriro) e in<lepen<lente (liberdade e amonomia para julgar) não se vinculando a
A escorrei ta conduta deve predominar em rodo o procedimento, e não apenas posições anteriormente a<loca<las.
31. Em arhicragens internacionais, por ser mais difícil o concrule, deve-se atcnrnr a circunst:'.incias
quando da aceitação da nomeação ou no julgamento final, de tal sorte que, se no
que poderiam ahalqr a neucralidadc do ;írhicro, levando-o, ínfofrtmi::ntc a parcialidade, cais
como: (a) políticas sociJis e/ou econômicas; (h) pressões da mídia; e (e) prcssôcs da aucorídade
29. Cf. Josc: Crctdb New, a rcspeiru <la i1np:ircialidade do ;irhitro: "lsru significa que nfo devcd pública.
ter ttualquer inccn::ssc no resulrac.lo <lo licígio, cxcero o de solucio11:í-lo segundo o eslÍpub.do 32. LEMES, Selma María Ferri::íra. Árhitm. P,-í11cípios d,1 imlepemlênci11 i: d1i imp,n-cialid11de. São
pdas p:irces" (CRETEI .LA NETO, Jos~. Comi:11t1irios •.. , cit., p. 90). Paulo: LTr, 2001. p. 63.
21 8 1 CURSO OE 1\RBITRAGEM üOS ARHITROS 1 2 19

lntlependência Diligêncí,i
Muito próxima à imparcialidade, pois o resultado de sua falta compromett:: a Ao se considerar a obrigação de resultado do árbitro - proferir sentençll no pmzo
isenção do ,í.rbitro no julgamento, a independência é aferida sob critérios objetivos: legal ott convencionado, o árbitro assume o gerenciamento do procedimento, ou seja, a
inexistência de qualquer relação de sujeição ou vínculo de natureza econômica, pro- responsabilidade pela condução do processo de modo a serem pracicados atos úteis à
fissional, moral, social, afetiva com as partes. 33 finalização, preservados os princípios e direitos das parres.33
O objetivo também é preservar o livre convencimento do árbitro, esperando Assim, a postura do árbitro é proativa, com iniciativa de promover ou determi-
seja ele apto a exercer a tarefa sem inAuência de elementos externos potencialmente nar providências pragmáticas, de busca dos melhores elementos de convicção e de
comprometedores de sua autonomia. As relações interpessoais dos envolvidos na arbi- efetividade do direito das partes.
tragem não podem perturbara liberdade de decidir segundo a convicção. E igualmente O .í.rbicro, neste contexto, afasta-se da inércia das partes, cabendo-lhe a busca tia
a avaliação desta qualidade se faz cm face de ambas as partes, independentemente de verd11de, ampliando, a seu critério, o espaço da prova, intervindo diretamente neste
quem promoveu a indicação do árbitro. .~cntido, explorando e esmiuçando os elementos apresentados pelas partes, e buscando
Porranto, a independência deve preservar a autonomia e a liberc.la<le do árbitro outros, se e quando pcnin<:ntcs, com o objetivo de melhor resulrado na instrução.
para julgar. Daí, por cerro, a ncccssic.lade de dedicação mais intensa (em tempo e qual idade)
Competência ao estudo do litígio, inclusive com prévia preparação para o acompanhamento das
provas (oral. documental, pericial ccc.).
Um dos prin<.:ipais elementos de propaganda da arbitragem é, sem dúvida, a
maestria do ~frbitro, identificac.la como competência, assim considerada a capacidade Bem informado de tudo o quanto nos autos se contém, a participação ativa
técnica, sabedoria, aptidão, conhecimento específico, domínio teórico ou prático aparece também no planejamento na condução e desenvolvimento do processo,
cabendo ao árbitro refletir sobre as etapas e oportunidade para os aros, esrabdcccndo
sobre um assunto, especialidade ou familiaridade com a matúia, experiência etc.,
o seu ritmo, na expectativa de aumentar o proveito e rendimento das providências
tudo para se obterem decisões de primeiríssima qualidade. 31 ·
determinadas e praticadas, sempre respeitando o procedimento descrito no regula-
Daí porque, como visto, podem as partes, na convenção, até mesmo estabele-
mento da câmara escolhida.
cer critérios para a escolha do árbitro com base cm elementos identificadores de sua
Neste contexto, "a flexibilidade do procedimento e a diligência caminham
competência (p. ex., titulação acadêmica, tempo de amação na área, publicação de
juntas", como escreve Sdma Lemes. ,e, Respeitado o devido processo legal (art. 21,
livros) na busca da excelência na avaliação <lo conflito.
§ 2. 0 , da Lei 9.307 /1996), faculta-se ao árbitro conduzir o procedimento como en-
Convém esclarecer que no juízo arbitral, tal qual no processo estatal, tem per- tender mais adequado, permitindo, por exemplo, inverter a ordem e.las provas (ouvir
tinência, conforme o caso, a realização de perícia técnica. Quer se dizer, pois, que a primeiramente as testemunhas para só após produzir prova pericial e documental, já
capacidade e conhccímcn to e.lo árbitro não supre esta prova. São parámccros diversos. com foco mais definido, colhendo novos depoimentos posteriormente se entender
Um julga, o outro faz a constatação técnica de um fato. Espera-se, porém, do esco- necessário à perfeita compreensão dos fatos). Não está adstrito, pois, à ordem, regras
lhido, pela sua intimidade com a matéria, a maior percepção dos faros, privilegiada e ônus previstos no sistema processual civil. 37
compreensão dos acontecimentos, conferindo-lhe melhores condições de avaliar o
resultado da prova pericial produzida, inclusive pela potencial dialética entre perito
35. Neste caminho, o an. VII, ilcm 2, do Cüdigo de Ética do Conimo.: "VII - O ,írbítro freme
e assistentes técnicos das partes. ao proci::ssu: 2. Condu~.ir o procedimento com justiça e dilígt:ncio.".
36. LEMES, Sdma ferreira. O p,tpl'Í do drhitm. Disponível em: [www.sdmakmcs.com.br]. Acesso
33. N:is palavras de José Cretella Neto, a indepcndc:ncia t[Uc:: diz,cr que o :írbitro "n:to deve estar cm: 13.07.2015.
subordino.do a nenhuma das partes, seja por rda<;ão empregatício., societ.íria, político. ou de 37. Confira-se José Cretclb Neto, para quem dílig.:ncio. "significa que o :írbitro deve zebr para
t1ual9uer outra ordem'' (CRETELLA NETO, Jus~. Crmu:m,irios... , cit., p. 90). que os proccdimcnros sejam rigorosamente scguídos, inclusive c.:iu:11110 aos prarns; além disso,
34. V.1lc lcmbl'ar que a Lei de Arbítro.gem somente detc::rmina ,írbicro capo.1. e de confiança das panes compromete-se a estudar com afinco a causa, para entender mdhur as nuances. Note-se que,
(«rr. 13). Assim, recomenda-se que o :írbitru renha a cornpc1~ncia técnica para julgo.r :l(]Udt: pelo foto de a arbitmg~·m n:ío admitir recurso, aceita-se com muito mcnor tolel'úncia o erro do
conflito, mas nada impede a indíco.çãu de ,írbicru sem rnís atribucos, mas de plena confianç~ Jrbicro, ao concr.írio do processo judícíal, no qual, quando o juiz comcle o erro, 1>ode a parte
das panes. inconformada reenviar a quest:io para que sejo. novamente apreciada pela ínstànci:i superior. T:mto
220 1 CURSODF.AR131TRAGEM DOS ÁRBITROS 1 221

Aliás, o verdadeiro .significado da "identidade física do juiz" aqui se mostra Código de ética dos árbitros
presente, pois a substituição do árbitro t: remota, diversamente da rotina na troca de Inexiste em nosso sistema, norma jurídica estabelecendo um Código de Ética aos
juízes rogados, por promoção ou remoção, não sendo raras as hipóteses em que em árbitros. Porém, atentos à necessária identificação de condutas esperadas dos árbitros,
um mesmo processo, diversos magistrados acompanham a instrução, vindo a decisão
0 Couirna- Conselho Nacionlll dtis instituições de Mediação e Arbitmgern,w e diversas
a ser proferida ainda por outro, com base no conteúdo dos autos, sem colheita da instituições arbitrais seguindo os parâmetros propostos por aquele, estabeleceram seus
prova aos seus cuidados. respectivos Códigos de Érica, com oriencaçãode comportamento, e, conforme o caso,
Igualmente, rambém faz parte do dever de diligência o cuidado do árbitro em só regras para verificação do grau de envolvimento enrre os protagonistas da arbitragem
aceitarprocedimencosarbirraisnovosse tiver tempo paraacorreca instrução deles, bem (partes, advogados e árbitros). 40
como zelar pelos custos da arbitragem, ccncando, se;; possível, não onerá-las de maneira Sendo universal a preocupação, a lntematioiuzl Bar Assoáation -JBA, cm 2004
injustificada (por exemplo: ouviras tesccmunhasem mesmo período e/ou sendo o árbitro elaborou, com a ajuda de 19 especialistas de 14 países diferentes, um !BA - Guia
natural de São Paulo e as imí.mems testemunhas naturais do R.io de Janeiro, deslocar-se sobre Conflítos de Interesses na Arbitragem lntenwcionrt! com proveitosas orientações
para a cidade fluminense, ao invés do contrário, se assim for mais econômico). sobre questões envolvendo a conduta do árbitro. E mesmo voltado o guitl àquela
Por fim, atenta-se que a desenvoltura do árbitro na condução do processo, ao arbitragem, cem grande valia para os procedimentos domésticos, cspc:cíalmcnte pela
lado de sua expertise na matéria de fundo, são fatores de prestígio, e valorizam seu didática apresentação de suas diretrizes, veja-se:
nome quando oferecido para escolha das partes. Sugere a classificação de rol de circunstâncias, não ta.,-xativo, em três categorias,
Discrição de acordo com a respectiva gravidade: vermelha, laranja e verde, com impacto no
A confidencialidade, embora seja um dos atrativos desre método de solução de afasramenco do árbitro ou no dever de revelar para avaliação dos interessados. 41
conflito, pois oferece às partes um local reservado para disputa de seus interesses pre- Na red list, são clencadas siruações que impediriam a aceitação ou manutenção
servando sua imagem ou informações preciosas de seus negócios, não é c.leterminada do encargo (non-waivable), como ser o indicado conselheiro, diretor, gerente ou
em lei, e, para ser obtida, depende da vonrade das partes expressa na convenção ou na membro do conselho de administração de uma das partes diretamente ou por meio
indicação deenridadearbiual com índicaçãodesigiloemseu regulamento (ea maioria de suas coligadas. Mesmo neste grupo, existem restrições sujeitas à renúncia da parte
assim estabelece). E assim previsto, muito mais se obriga o árbitro do que à discrição. interessada, desde que delas tenham plena ciência; são as waívable red líst, apontando
Porém, mesmo sem confidencialidade, o árbitro deve ser discreto quanto a tudo a situação de o árbitro ter prestado consultoria à parte ou sua coligada, com eventual
que soube pela sua atuação no procedimento, impondo-lhe abster-se de propagar envolvimento prévio no caso, ou pertencer ao escritório de advocacia responsável pela
ou mesmo comentar os fatos, provas, detalhes, particularidades e intimidades do assessoria dos envolvidos. Vale dizer, prcscnre a circunstância comida nesta relação,
procedimento. caberá ao interessado, a seu critfrio, renunciar ao afastamento do árbitro.
Ou seja, confidencialidade não se confunde com discrição. A primeira impõe o Na orangt' list, são apresentadas situações específicas que, aos olhos das partes,
cocal silêncio sobre o procedimento, inclusive nome dos envolvidos. Já por discreto, podem suscitar dúvidas justificáveis quanto à imparcialidade ou independência do
entende-se o comportamento reservado do árbitro de evirar comentários sobre os árbitro, impondo assim ao árbitro o dever de divulgar a existência desces fatos. E nas
conflitos a ele suhmetidos, mancendo-sc comcd ido, com reserva ou prudência quanto hipóteses retratadas, ficará implícita a aceitação do indicado se, após tal divulgação,
a informações obtidas. não for apresentada obje<rão cm tempo hábil. Extensa a lista, pode-se exemplificar
Por outra Mica, é dever do árbitro a discrição até mesmo pelo dever de sigilo pro- com a acuação do indicado, ou seu escritório, em favor de uma das partes ou suas
fissional, pelas informações confidenciais a que tem acesso durante o procedimenro.38
Iguala-se o efeito, entretanto, da violação desces deveres: impor ao faltoso inde- 39. J;í antes referido no item 5.3.1, Capítulo 5.
nização por perdas e danos. 40. Cf:, al1:m do Càdigo de F.tica p.-oposto pelo Coníma [www.conima.org.br], o ofen:ci<lo pelo
CAE.SP [www.c:1e.~p.org.brl e o mais detalhado aprc;scntado pdo CAM-CCtlC [www.ccbc.
org.br].
a fund:unemai,;ão da sentença judicial quanto o teor do dccis,1111 si::rvcm como excdcnre fonte de 41. Cf. a Íntegra das "Diretrizes da IRA relativas a Conflitos de Interesses em Arbitragem Inter-
fundamentos para alicerçar o rccursd' (CRETELLA NETO, Josi. ComellllÍrios... cic., p. 91). nacional", aprovadas em 22.05.2004 pdo Conselho da l11t(c/'//1ttíu1url Bf/r /1swdtrtiu11 - JBA.
38. Nesre sentido o art. 448, Il, do CPC/201 5 (eh. assim o are. 229, I. do CC/2002) e o are. 154 do CP. Disponível em: [www.ibancr.orgJ.
222 1 CURSO OF. ARBITRAGEM DüSÁRBITROS 1 223

coligadas nos três anos anteriores; atuação atual inexpressiva do escritório do indicado Desta forma, pela proximidade com as partes, advogados, ou envolvimento com
cm favor ou contra uma das partes, sem, contudo, envolvimento direto do árbitro. 0
confliro, o árbitro, tal qual o juiz, espontaneamente, ou provocado pelos interessados,
Participação societária direra ou indireta em uma das partes. não poderá atuar no procedimento.
Por fim, agreen /istapresenca situações nas quais, objetivamente, inexiste conflito Mas a restrição de atuação é alargada, pois também representa obstáculo à in-
de interesses aparente ou efetivo, dispensando o dever de revelação, recorrendo-se vestidura do árbitro, ou seu afastamento, a violação aos acima referidos atributos de
para tanto ao princípio da razoabilidade. Estão relacionados, como exemplo, con- independência e imparcialidade (art. 14, § 1. 0 , da Lei 9.30711996), na amplitude
tatos anteriores do indicado com a parte ou seu advogado, acuação do árbitro com 0 tratada pela doutrina a respeito, amparada em boa parte pelos códigos de érica gerais
advogado da parte em outro paind arbitral; filiação do indicado à mesma entidade e de instituições, reconhecidos como diretrizes de conduta esperada dos árbitros,
de classe ou organização social de uma das partes, e divulgação anterior, pelo árbitro, podendo, ai.nda, se ter previsão específica nos rcgulamenros. 43 Aliás, até mesmo a
de sua opinião geral sobre questão relacionada à matéria de fundo da arbitrao-em, convenção arbitral pode trazer regras ou critérios reservados à nomeação. Estas situ-
0
publicada cm revista jurídica ou palestra pública. ações são tratadas como causas de recusa por suspeição no juízo arbitral.
Vale dizer, então, que não apenas as causas de limitação de atuação previstas do
7.5. DO IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO DO ÁRBITRO código processual, como também outras próprias do sistema arbitral, mais abrangente,
Sobre a rubrica de impedimento, o art. 14 da Lei de Arbitragem estabelece a estabelecem reservas à nomeação do árbitro.
aplicação das regras de impedimento e suspeição dos juízes, previstas no Código de Assim, a recusa, ou espontânea desvinculação, se verifica por ser o árbitro im-
Processo Civil de 2015 em seus arts. 144 e 145, 42 para obstar a nomeaçao ou manu- pedido (are. 14, caput, retratando causas de impedimento e suspeição <lo juiz), ou
tenção do árbitro. suspeito (art. 14, § 1. 0 , reportando-se à quebra de imparcialidade ou de indepen-
dência), distinção esta, porém, que nenhuma consequência prática traz, apenas serve
para identificação das hipóteses, pois em qualquer situação o resultado é o mesmo:
42. ''.Are. 144. H,í impedimento do juii, s<.:ndo-lhc:: vedado exercer suas funções no processo: I -
em que intervdo como mandar;irio da parrc::, oficiou como perito, funcionou como membro vulnerar a indicação do árbitro.
do Minisu:río Püblico ou prcscou dcpoimc::nto como restemunha; II - de que:: conheceu cm Com solução diferente da adotada pelo Código de Processo Civil, no juízo arbitral
outro grau de jurisdição, tendo proferido dc::císão; lll - quando nele estiver postubndo, como pode haver aceitação do árbitro com restrições, até mesmo no caso de impedimento
defensor público, advogado ou membro do Ministério Púhlico, seu cônjuge ou companheiro,
absoluto previsto no art. 134 do diploma processual. Porém, para tanto, necessário
~u qu~lquer parente, consanguíneo ou afim, cm linha reta ou colareral, até o cercc::iro grau,
mclus1vc; IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou
o conhecimento da parte sobre as causas de recusa e a sua anuência com a nomeação
paremc, consanguíneo ou afim, cm linha reta ou cohceral, até o terceiro grau, inclusive; V do indicado, cudo em sintonia com o princípio da autonomia da vontade.
- quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no Aliás, paucada a arbitragem na confiança, algumas vezes esta se encontra exata-
processo: VI- quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer <las partes;
mente em pessoas próxima (amigos comuns, ou até parentes dos envolvidos ou seus
Vil - em que ligure como pane insrituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou
decorrente de contrato de prescaç:io de serviços; Vlll - c::m que figure como parte cliente do advogados). Daí a possibilidade de consenso na nomeação de pessoas com qualquer
c_scricório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em desces vínculos. Protege a Lei a parte de ser obrigada a submeter o seu conflito ao
linha reta ou colateral, até o terceiro gr:iu, inclusive, mesmo que parrocinado por advogado
<le oucro escritório; IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado. § 1_o Na
hipótese do inciso Ili, o impedimemo só se verifica quando o defensor público, o advogado ou linha reta at1: o terceiro grau, inclusive; IV - interessado no julgamento do processo cm favor
de: qualquc::r das panes. § 1.0 Poderá o juiz. dc::darar-se suspcico por motivo de:: foro íncimo,
o m.e1~1br~ do 1'1inistério Público já inrcgrnva o processo ames do início da atividade judicancc
sem necessidade de: declarar suas razf>es. ~ 2.° Ser;i ilegítima a alegação de suspeição quando:
do JUIZ. § 2.º E vedada a criaçfo de foco superve11ienc1.: a fim de caracterizar impedimenro
I - houver sido provocada por quem a alega; li - a parte que a alega houver praticado ato que
do juiz. § 3.0 O impedimento previsto no inciso III tamb1:m se verifica no caso de mandaco
~on_f~rido a membro de escritório de advocaci;1 que tenha c::m seus quadros advog.1do que signifique manifesta acc::iração do arguido."
1nd1v1dualmente ostente a condição nele prevista, mesmo que não intervenha dirc(;imcnte no 43. O Regulamento do CAESP. por exemplo, considera fundada a suspeição <lc:: parcialidade do
procc::sso. Are. 145. H;í suspei<;fo do juiz: l - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ;írbicro que tiver participa.do como m1.:diatlor ou conciliador das partes, salvo se expressamente
ou <le seus advogados; 11 - que rcceher prc.~entes de pessoas que riverem imcresse na causa os litigantes cstabelecc::rem o contrário, conforme icem 46, 1.:, como assim também estabelece o
antes ou dc::pois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da Centro <le Arbitragem da Cím"1mAmeriatn1l de Cnmércio de Síio P1111/o -AMLrfAJvf, conforme
causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio; Ili - quando qualquer das item 6.1 do seu Estacuro, e, com idê:ntica restrição, o Centro de Arbitragc::m e Mediação da
partes for sua credora ou devedora, de seu cíinjuge ou companheiro ou de parentes desces, em Câmara <le Comércio Brasil-Canadá, nos termos do icem 5.2.(k) de seu rc::gulamento.
224 1 CURSO 0F 1\RBl'J'Rt\GEM DOS ÁRBITROS 1 225

árbitro quando sem confiança ndc cm razao das causas de impedimento e suspeição Da rl'Cu.stt
constatadas, mas lhe confere a liberdade de a<.:eitar a nomeação, ao se sentir segura
Criado o quadro de impedimentos ou de causas a sugerir suspeitas quanto à
para tanto.
imparcialidade e independência do árbitro, conferem-se instrumentos às panes para
Importante, neste contexto, o conhecimento pelas panes dos eventuais pontos rejeitar a indicação, tudo com o objetivo de prestigiar ao m:iximo a necessária confiança
vulneráveis do árbitro, <laí o chamado dever dl' revelação.
Jos litigances no juízo arbitral.
Deva tle re11el11ção
Assim, os ares. 14, 15 e 20 da I ,ei de Arbitragem estabelecem critérios e procedi-
A transparência do árbitro indicado não é apenas figurativa. Vem previsto na ki mentos para o exercício da recusa ao árbitro. Quanto à forma e efeitos, .serão tratados
o dever de revelar "qualquer fato que denote dúvida justificada quanto à sua impar- adiante, no estudo do pro<.:cdimcnto arbitral.
cialidade e independência" (are. I 4, § I .0 , da Lei 9.307/ 1996), conhecido na doutrina
americana como a obrigação de Full Disclosure (revelação total). Nesta oportunidade apenas se faz o alercadeque o árbitro indicado pela própria
parte, ou em conjunto, deve ser por ela direta e previamente investigado e avaliado, e
Muito mais do que as causas de impedimento e suspeição previstas no Código
assim, dcs<.:abi<la a recusa deste após a sua nomeação. Evidentemente, conduca posterior
de Processo Civil, cabe ao indicado expor abertamente acontecimentos pessoais e
ou fatos anteriores só depois descobertos autorizam a impugnação. De outro lado,
profissionais envolvendo a.s partes e o conflito, que aos olhos dos in rcressados pos.sam
o(s) árbitro(s) nomeado(s) pela Instituição e pela outra parte, cumprido o dever de
gerar alguma dúvida quanto à imparcialidade e independência.
revelação, sujeitam-se à recusa por quem não participou da indicação (art. 14, § 2. 0 ,
A amplitude da expressãodií1,idajustificada, enquanto conceito vago, dá margem
da Lei 9.30711996)/' desde que manifestada na oportunidade correta, caso contrário,
a uma extensa zona cinzenta. Mas diante da ambiguidade do texto, aliás, adequada
pode-se considerar aceita a es<.:0l ha.
às circunstâncias, o <lesprendimenco nas informações sed sempre salutar. O objetivo
da regra~ nobre: oferecer à.s partes o mais amplo conforto e segurança na aceitaçao
do árbitro.
7.6. DA SUBSTITUIÇÃO DO ÁRBITRO

Já se fez acima, a refcrtncia a códigos de conduta dos árbitros, então apontando Indicado e/ou nomeado poderá o árbitro escusar-se e assim negar a aceitação.
situações onde, pela maior ou menor gravidade dos fato.~, a confiança da parte no Aliás, o eleito é totalmente livre para assumir ou não o encargo, independentemente
indicado ficará comprometida. E exatamente para o interessado aquilatar estas cir- dt qualquer razão, dispensada inclusive a apresentação de justificativa. Até então,
cunstâncias se mostra necessário o dever de revelação. inexistente qualquer vínculo entre o::; envolvidos.
Para tanto, inclusive, algumas instituições colhem do árbitro indicado informa- Aceito o encargo, é possível ter o acolhimento da recusa oposta por uma ou ambas
ções cm formuUrio próprio, <.:om perguntas direcionadas e questionamentos gerai.~, as partes, afastando o escolhido. Ainda, e.spontancamenre ao eleito é facultado deixar
para nortear a avaliação.·1-1 Em um primeiro momento, os elementos fornecidos são a investidura. Nesta hipótese, pertinente justificar a conduca, pois conforme o estágio
avaliados pelo órgão, e, superada esta etapa, no rodo ou cm parte, as informações são do procedimento, este ato pode ensejar indenização por perdas e danos.
disponibilizadas aos interessados para ponderação e definição quanto à aceicaçao da
Ainda, excepcionalmente, pode o árbitro, no curso do procedimento, vir a ser
indicação.
impossibilitado de exercer a função (por doença ou até morre).
Ainda, a obrigação de transparência se prolonga por todo o procedimento, e
assim, se por fato superveniente à indicação, nomeação e aceitação da investidura o Em rodas estas situações, a arbitragem ficará acéfala, exigindo a substituição do
árbitro vier a se envolver em circunstância apta a gerar desconfiança, deve pron camen te julgador (are. 16 da Lei 9.307 /l 996):Hi
comunicar às partes. Da mesma forma deve-se proceder com relação a fatos an rigos,
mas cujo conhecimemo ou lembrança só agora depois veio ao árbitro. E tudo, se não 45. "§ 2. 0 O :írbicrosomcnte po<led ser recu.sado por motivo ocorrido :1pós sua nomea~:iio. l'o<led,
revelado, e se vier a ser decantado, pode comprometer o procedimento. enrrccanto, ser recusado por motivo anterior :1 sua nomeação, quando: a) não for nomeado,
diretamente, pela parte; ou b) o motivo para a recusa do árbitro for conhecido postc::riormente
à sua nomeação.''
44. Cf:, a re.~peito, ares. li.6 e 4.7 do Regulamento do CAM-CCBC, já citados, onde se prcv~ o 46. "Arr. 16. Se o :írhicro escusar-se anres <la aceitação da nomeação, ou, após :i aceitação, vier a
preenchimenro pelos :irhírros ín<lica<los de "Questionário de ConAitos de Interesse e üispo- falecer, tornar-.~e impossibilitado para o exercício da função, ou for recusado, assumir;Í seu
nibilida<le". lugar o suhstituto indicado no compromisso, se houver.''
226 1 CURSO DEl\RRITRI\Cl::\1 00S i\RlllTROS 1 227

ingressa no contexto, se houver, o suplenre indicado no compromisso (o§ 1.0 Ainda, correta a interpretação feira por Alexandre Câmara, no sentido <leque
do art. 13 faculta a sua nomeação, confirmada pelo caput do art. 16) ,tt e este, tal qual cambémo árbitro, como tal, podeservícimade delitos praticados contra funcionários
o árbitro primitivo, submete-se às mesmas exigências e contingências para assumir e públicos, como, por exemplo, corrupção ativa e desobediência, respectivamente tipi-
1
seguir no exercício da função. ficadas nos am. 333 e 330 do CP.'1' Por fim, o árbitro também terá as garantias legais
,1 favor do funcion,í.rio público no exercício de sua funçao, que vedam, por exemplo,
O problema surge, c::ntrecanto, quando inexistence suhsricuto na convenção.
Nesta hipótes<.:, aplica-se o mesmo procedimento da indicação, nomeação e 0 desacato, conforme tipifica o are. 331 do cr.·,o
aceitação <lo árbitro inicial, ou seja, se confiada a arbitragem a uma entidade arbitral,
7.8. DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ÁRBITRO
seguem-se as suas regras. Inexistente previsão, necessitando a escolha de anuência
comum, ou sendo atl hoc o procedimento sem consenso entre as partes, a solução Omite a lei quanto ;1 responsabilidade civil do árbitro, embora faça uma super-
da<la pela Lei de Arhirragem foi encaminhar os intc::ressados ao procedimento pre- ficial referência em seu are. 14, do gual extraem alguns autores a sua previsão.
visto no art. 7.° já antes analisado (pedido judicial de formalização do compromisso
Mas a in cerprecação sistcm,irica da Lei e a própria essi:ncia da atuação do árbitro
e nomeação de ,irbitro).~R levam à conclusão segura quanto à sua responsabilidade.
Ingressando o substituco, lhe t facultada, naturalmente, a repetição de atos
O tema é interessantíssimo, e foi muiro bem tratado por Fernanda Rocha Lou-
processuais que entender pertinente, como colhc::ita de provas, depoimentos etc. e
renço LevyY Em linhas gerais, há responsabilidade do ,írbicro sob duas perspectivas:
passa a fluir novo prazo para a sentença arbitral.
uma enquanto "juiz de fato de direito" (are. 18 da Lei 9.30711996); outra, enquanto
Por fim, advirta-se, como é inerente à liberdade de opção: nas hipóteses em que
prestador <le serviço vinculado aos compromissos assumidos perante as partes.
a fidúcia no ,hbitro é ahsolura, e cambtm base única para a escolha deste método
de solução <le conflito, as partes podem, desde a convenção, ou no termo inicial de E, "levando em conta os deveres atribuídos aos árbitros e que seu eventual des-
arbitragem, declarar, expressamente, não aceitar substicuco, extinguindo-se então o cumprimento pode gerar danos às partes envolvidas, não resta dúvida de que além
juízo arbitral na falta <lo eleito, como, aliás, já antes mencionado (am. 12, I e II, e do i'imbiro da responsabilidade criminal, ao qual os árbitros estão legalmente sujeitos
(art. 17 da l ,ei 9 .307/ 1996), também respondem civilmente pelos danos que causarem
16, § 2.°, <la Lei 9.307/1996).
em razão de sua má atuação" .c, 2
7.7. DA RESPONSABILIDADE PENAL DO ÁRBITRO E~quanco julgador, responde pdos erro1Y:s in procedl'!ldo, ou seja, por vícios de
prot;ed11nenco capazes de acarretar a invalidação <la sentença. Mas mesmo aqui, h,i
Conferindo expressiva seriedade à tarefa exercida, e cm cena medida até maior
necessidade de apuração de dolo ou culpa grave, cal qual se pode apurar em face de
garantia às partes, o art. 17 da Lei de Arbitragem equipara o árbitro, no exercício de
um juiz togado. 51
suas funções ou cm razão delas, aos funcion:írios públicos para os efeitos da legislação
penal. E as.~im deve ser, conforme escreve Joel Dias Figueira Jt.'mior, "porque o árbitro
A perspectiva, aqui, é de proteger as panes de crimes contra a administração exerce verdadeira jurisdição privada gue lhe é conferida no microssistema da Lei
pública, como concussão, corrupção e prevaricação, tipificados nos arrs. 316, 317 e 9.30711996, agindo como juiz de fato e de direito (are. 18), rrarando-.~e de garantia
319 do CE
49. ~ÀMA RA, _Alexandre Freitas. Arhitmg.:m, Lâ 9.307/96. Sfo Paulo: I .umen Juris, 1997. p. 49.

47. Melhor seria a n:gra dc.m: artigo, acima transcrita, referir-se apenas ao substiwrn "indicado 50. Are. .'BI. Dc::sacatar funcionário público no exercício da funç:io ou cm rnzão dela: Pena de
detenção, de seis meses a dois anos, ou multa."
pelas parn:s", pois 11:10 s<> no compromis.~o, como tamb~rn na cl:íusula compromissória e :tt~
mesmo no termo inicial de arhitrage1n (are. 19) as partes podem nomear substicucos. 51. LEVY, Fcmand:1. Da rc::sponsabilídade civil <los :írbítrn.~ e:: da.~ instituições arbiuai.~. fll: N F.RY,
Rosa Maria d<.: Andrade; OONNINNI, Rogério (org.). Rc:spoust1hiliel,1dt: df!iÍ - Fs111dos c:111
48. C( §§ 1.0 e 2. 0 do acima referido an. l 6: ''§ 1.0 Nfo havendo substituto indicado par:1 v
t-lrbitro, aplicar-sc-:io as n:gras do órg;io arbitral institucional ou emidadc c::speciali,.:td.1. se :is
homew~<{c·111"ºProf' N11i Gemido Ct111,11go Vi,111.t. S:ío Paulo: Ed. Rl~ 2009. f). 172-18.'3.
52. FlCUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. A ,11-bitmgc111.j11risdiçrw e cxemç,7o. 2. cd. S:-to Paulo: F.d. RT.
partes as tiverem invoca<lo 11:1 conve11ç:10 de arbin:igem. § 2. 0 Na<la dispon<lo a convcnç:io d~·
arbitragem e não chcgan<lo as partes a um :i.c.ordo .,ohrc a nomeação do árbitro a ser suhsüruído,
1999.p.178. .
procedcd a parre inten::ss;1da da forma ptc::vista no are. 7. 0 desta l.ci, a menos que as partes 53. ~f a ~·espeíto, completo csru<lv fé::ico por Nanni, Giovanni Ecrore. A r,·spons,1bilidt1dc ch,i! do
tenham declarado, exprt:ssamcnte, na convenção de arbitragem, 11~0 aceirar substituto". jliu. Siio Paulo: M,1x Li111011ad, l 9~)9.
228 1 CURSO OF. ARBITRAGEM DOS ÁRRTTROS 1 229

que confere ao jurisdicíonado maior segurança e coo fiabilidade no tocante à prática Enquanto prestadora de serviço, responde pelas práticas adoradas cal qual qual-
dos atos jurisdicionados". 54 quer ouua pessoa jurídica desta natureza. Assim, as irreguJaridades em suas atividades
Por sua vez, "ancorada na seara da responsabilidade civil contratual dos árbitros, trazem responsabilidade independente da atuação do árbí tro, por exemplo, se o próprio
temos que sua responsabilidade é subjetiva, em razão do inadimplemento, por culpa órgão arbitral quebrar a confidencialidade expressamente concrarada (por previsão
ou dolo, das obrigações assumidas com as partes que lhes ocasionara danos. Não há em seu regulamento em razão do qual foi procurada).
presunção de culpa ou uma conduta de risco que inclua sua atividade no âmbito da A problemática, porém, direciona-se no sentido de aferir a responsabilidade da
responsabilidade objeriva".55 entidade pela má conduta do árbitro.
Cabe registro, quanto a uma sítuação específica dentre eventuais outras distan- Neste particular, a tendência cada vez mais presenreé nosencido de fazer-se cons-
ciando as duas perspectivas inicialmente apontadas: se extinto o juízo arbitral por rar, nos regulamentos, a cocal isenção de responsabilidade das instituições,57 inclusive
inércia do árbitro em proferir a sentença no prazo (legal ou convencional), após ser ressaltando ser o vínculo das partes estabelecido exclusivamente com os árbitros.
provocado para tanto, evidencia-se a responsabilidade cívil pelos danos causados. Mas, em nosso sentir, embora eficazes para a maioria das situações, estas ex-
A obrigação é de resultado: proferir sentença nos termos da convenção. Mas clusões previstas no regulamento não bastam para eximir, em qualquer hipótese,
a qualidade da decisão, de caráter marcadamente subjetivo, escapa da verifica- a responsabilidade das entidades que deverá ser apurada, com extrema atenção, de
ção posterior para efeito de responsabilidade civil. Ou, como registra Fernanda acordo com cada caso. Veja-se, por exemplo, situação peculiar em que a instituição
Levy: "Os árbitros, assim como os juízes togados, respondem pelos errores in só permite a atuação de sua rescrita lista de árbitros, em confronto com outra na qual
procedendo e não pelos errores in judicando, pois eles têm como obrigação proferir o julgador faltoso foi escolhido pelas partes. Enfim, muitos aspectos merecem aten-
uma sentença de acordo com o procedimento escolhido pelas partes e pautada ção, e a análise extrapola os li mices deste "Curso", apenas se fazendo o registro para
no princípio do devido processo legal, mas a falta de qualidade da sentença em despertar a atenção do leitor.
termos de conteúdo não dá azo à indenização". 51; Devem assumir as partes, diante Por fim, anote-se a expressa previ.são da legislação espanhola (Ley 60/2003) a
de uma sentença com poucos méritos, a sua responsabilidade pela inadequada este respeito:
escolha do árbitro. "Artículo 21. Respon.sabilidad de los ,irbirros y de las insticuciones arbitrales.
Mas muito bem coloca a Professora cm conclusão: "A experiência demonstra 1. La aceptación obliga a los árbitros y, en su caso, a la instirución arbitral, a cumplir
que o mundo da arbitragem abarca, como regra, árbitros que possuem as <Jualidades fielmente el encargo, incurriendo, si no lo hicieren, en responsabil idad por los danos y
acima apontadas (referindo-se aos atributos do árbitro acima tratados) e ainda de perj ui cios que causaren por mala fc, tcmeridad o dolo. En los arbicrajes encomendados
grand<:: experiência e notório saber. Raros são os casos de responsabilização de árbitros a una instirución, el perjudicado tendrá acción direcra conrra la misma, con inde-
por má conduta na gestão do conAito". pendencia de las accioncs de resarcimienco que asistan a aqu<::lla contra los árbitros."
Outras observações, ainda que rápidas, merecem ser apresentadas:
Tratando-se de painel arbitral, a todos se aplicam, solidariamente, as regras 7.9. O ÁRBITRO COMO JUIZ DE FATO E DE DIREITO, SUA AUTORIDADE
acima. Porém, se possível atribuir-se a responsabilidade exclusiva do presidente do E EFEITOS DA SENTENÇA
colegiado por ato exclusivo, e dcf<::ituoso (erro in procedendo), afastam-se os demais Diz o are. 18 da Lei de Arbitragem: "O árbitro é juiz de faro e de direito, e a sen-
da indenização. E também se um deles for vencido, mas a posição da maioria ensejar tença que proferir não fica sujeita a recurso ou a homologação pelo PoderJudiciário".
a invalidação da sentença, por ex<::mplo, também por vício procedimental, apenas
Já mais evoluída, entre n<Ís, a cultura da arbirragem, desenvolvida a doutrina e
estes respondem pelos prejuízos que deram causa.
prática do instituto em sua nova roupagem introduzida pela lei de 1996, conhecidos
Ainda, inevitável a discussão a respeito da responsabilidade, solidária ou isolada, seus princípios, valores, estrutura e efeiros, perde-se o impacto deste are. 18.
da instituição arbitral.

57. Cf. o art. 10.7 <lo Regulamento do Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara <le Comc:r-
54. FIGUEIRA JÚNIOR, Jod Dias. Op. cit., p. 205. cio Brasil-Canad;í; o art. 7.1 das Regras do Centro de Arbicragem da Câmara Americana de
55. LEVY, remanda. Da rc.sponsabílídadc civil dos árbitros c das insrirníçócs arbitrai.~, cíc. Com1:rcío de São Paulo; e o arr. 88 do Regulamento do Conselho Arbitral do Estado de São
56. Idem, p. 180. Paulo.
230 1 CURSO DEARB!TRAGL:M 00S ARL~ITROS 1 231

Port'.m, ao se lembrar do sistema anterior, em que a lei exigia a homologação decisões pr<::fcrid~s: .,~ De alguma eventual utilidade essa previs:ío, por exemplo, se
judicial também do laudo nacíonal, e dúvidas existiam quanto à exrensão das atribui- estabelecer a poss1b1l1dade de recurso para um colegiado ampliado em face de deci.sôes
ções do árbitro, até diante do impasse em se reconhecer sua jurisdição, compreende-se não unânimes, e com base no voto vencido (similar aos emhargos infringentes na
concepção anterior à reforma deste recurso).
melhor o dispositivo.
O árbicro reconhece osfacos que lhe são apresentados, e aplica o direito. Exerce E a sentença, proferida por árbitro t'mico ou colegiado, é considerada título exe-
juri.sdiçao plena quanco à cognição do conflito. E assim, desempenha suas atribuições cutivo judicial, independentemente de homologação (art. 515, VII, do CPC/2015; cf.
cambém, art. 18 da Lei 9.30711996 e Capítulo 12 adiante), diversamente do quanto
tal qual um juiz togado.
previa o revogado (pela LArb.) are. 1.097 do CPC/ 1973.
Muiroscomencaristasda lei, por conta destearrigo referem-se ao poder do árbitro,
à semelhança do magistrado, mas o juiz, e apenas ele entre os dois, integra um Poder
7.10. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
do Estado - Poderjudicíário.
ALVES, Rafael hancisco. A imparcialidade do,irbítro no<lircico brasileiro: autonomia privad:1ou dcvi<lo
A investidura do árbitro está direcionada à atividade típica de processo de co-
processo legal? R,,11ist,1 d,, Arhítmgpn e lvledi,rflÍO. n. 7. ano II. Súo Paulo, out.-dcz. 2005.
nhecimento, carecendo de poderes para implementar, de maneira forçada, no mundo
CARMONA, C:ulos /\lbcrco. Árbitros e juízes: guerra ou paz? Tu: M/\RTINS, Pedro Batista; LEMES,
real, as suas decisões. Estas providências serão adotadas perante o Judiciário, através Sei ma Ferreíra; CARMO NA, Carlos Alhe no (coord.). /1Jpatosfi11ul111nmta is dti lâ de ,1r/,im11;,:m.
58
de cumprimento de decisões, sentença ou execução, como adiante se vcrá. Rio de Janeiro: Forense, 1999. '
Daí mais adequado, em nosso sentir, falar na autoridade do árbitro, no sentido COSTA. Nil1011 Cúar Ancunc::s da. Poden:sdo,i,-bitm. S:io Paulo: Ed. tn; 2002.
de superioridade para acuar e decidir, mas não cm poder, pois ausente no juí1.0 arhi- DUARTEJUNIOR, Luiz Périssi, GUIMARÃES, Virgínia Santos Pereira. Os limites da rcsponsabilidadc
cral os elementos q ue promovem a efetivação da jurisdição: a coertio e a executio. Tais civil do :írbitro por erro i11j11r.lic,111do - um paralelo necessário. Rt'l'Í.fta do Arlvog,tdo 11. f J.'J-Arbi-
flitgm,. Ano XXXITl. p. 111. abril.2013.
poderes são increntes à atividade dos juízes togados.''"
FERRAZ JUN !OR, ·rereio S:i.mpaio. Suspeição e impedimento em arbitragem: sobre o dever de revelar
Limitada, assim, a atribuição conferida pela lei ao árbitro. O impe,.íwn para na Lei 9.30711996. R1111ist1r dt· Arbítmgc:111 e Medi,tçiío. n. 28. ano VIII. S:to Paulo, ja11.-mar.2011.
interferir diretamente no mundo empírico, através de constrição ou outros atos LEMES, Sei ma Fcn-cira. Árbitro. O padrfo de conduta ideal. Disponível cm: [ www.sdmalemes.com.br/
coercitivos é rescrito ao juízo estacai. arcigos/arrigo_juri33.pdf]. Acesso em: 13.07.2015.
Por outro lado, considerada a liberdade outorgada às partes quanto à definição MARCONDES, Fernando. Arhitragcm cm ass111110s dc construçfo: a ..:xperi.:ncia dos painéis misros.
do objeto da arbicragem, decomu m acordo pode-se restringir ainda mais a autoridade Rc·11ist11 de .il1·bim1g,'m t· A-fedit1ç1ío. n.. 19. ano V. São Paulo, ouc.-dcz. 200/l.
doá.rbirro, por exemplo, e como severa, para dele excluira possibilidade de apreciação NANNI, Giovanni fator<.:. A n·spo11J1tbi/ir/ll(/ai11iltlo juiz. São Paulo: Max Limonad, 1999.
de pedidos cautelares ou de cutela antecipada."º Ao aceitar a investidura, o árbitro PINTO, Jos(: Emílio Nunes. Recusa e impugnação de árhitro. Ri·11ist,1 de /lrhitmgcm,: Afcdirrçiio. n. 15.
adere, e assim, se submete, ao quanto convencionado pelos interessados. ano IV. São Paulo, om.-dcz. 2007,

O julgamento do árbitro, por sua vez, não se sujeita, em regra, a recurso: decide-se
em instância única. Querendo as partes u m pronunciamento colegiado, devem assiro
estabelecer na convenção, sendo, porém, por aJgumas inscitu ições arbi trais, considerada
como regra a formação do painel arbitrai para solução dos conllicos a ela encam inhad.os.
Embora extremamente incomum, não se pode descartar a possibilidade de as
partes convencionarem a revisão, também no juízo arbitral, de rodas ou algumas

58. Além do cumprimento de scntençt, por exemplo, para pagamenro de quantia certa i.::tc., tJm·
bém atos como condução cocrcítiva de n:stcmunh:1s, e constriçõcs <lccorrentcs de wtel:is <lc
urgência ddcrídas, devem ser efetivados pelo Judiciário, não pelo juíw ;ubitral.
MARTINS, Pedro A. 13atisw. Apo1J1t11111111tos sobre a lá de arbirmgm1. Rio di.:: Janeiro: Forense, 6 1· Cf., a respeito, NANNI, Giovanni Eccore. Recurso arbitral: rcAcxõcs. /11: GUILHERME, Luiz
59.
2008. 1>. 307. Fernando do Vale de Almc.:ida (org.). Aspc.-tos p,,íticns 1!t1 ilrbitnt(tl!III. São Paulo: Quarcier latin,
2006. p. 161-188. ,
60. Cf. Capítulo I O, :1di:1.11te.
8.
Procedimento arbitral
ROTEIRO DE ESTUDOS

1. Consid0.rc1çôes iniciais sobre o procedimento arbitral - ar\. 2·1 (:' § l ."


2. Princípios iníormativos do pron'.dimento ;1rbitral ,H"l. 2·1, S l ."
1. CronologiJ do procedi1rn:inlo - Fouch.:nd, Cai l lard <! Goldman
• Fase 1- lnstaur,~ç:ío da arhitrc1g0.rn
• ri\SC li - Org,Hli/i1Ç~O da arbilragpn,
• F;,se Ili - Desr:~nvolvimi::~ntn ela arbitragen1 (prúximo C1pítulo Procedimento
Arbitr,1I Ili 8.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS-AS REGRAS DO PROCEDIMENTO
4. Fase 1- lnslaur,,c,:Jo cb arbitragt'.111 ARBITRAL
• Elapa prelimin;u-
Uma das carac.:terístícas, e por certo atrativo, da arbírragem é exatamente a
• Nomc,1(/10/êiceitac,:;'io dos ,írbitros - ,11"1. ·19
flexihílidade do procedimento. Há liberdade <las partes em cstabelec.:er as regras de
• l~ecus;1 dn(s) árbitros - êirls. ·14, § 1.º, 1.í ~~ :~< l desenvolvimento da arbitragem ou adotar aquelas esrnbdecidas por uma instituição
5. Fase li - Organizac.;Jo da ,1rbitragc111 - ,1rt. ·1~l, ~ 1." arbitral, através de sua eleição para administrar o conAiro.
A meta é a sentença, com qualidade e rapidez. 1 Daí os esforços para rcdu·úr a
burocracia, evitar trâmites ineficientes, expedientes protelatórios ou inúteis, buscan-
do um procedimento prag1mítico, no sentido de obter o melhor resultado <los aros
pralÍcados.
Mas esta liberdade é vigiada, pois est,í presente na arbitragem o respeito ao
princípio geral do <levido processo legal, pelo <jttal, como se ved, impôern-sc regras
de prcscrvaçao do direito ao contradicúrio, igualdade, imparcialidade <lo ,irbicro e
seu livre convencimento.
Disciplinar o procedimento, como referido, pode ser feito <liretarnence pelas
partes, cm diversas situações (compromisso, d:íusula ou, mesmo jJ durante a arbi-
tragem, através de termos conjuntos), ou pela indicação da entidade arbitral, cujo
regulamento conted as regras a serem observadas (ans. 21 2 e 5. 0 da Lei 9.307 /1996).

1. A rc.,pc.:iw da r.:cleridadc da :1rbi11,1gcn1, 1:kat W:1ltc:r Rcchsrcincr :icenadamenre aponta p:1r:1 o


foco de: que ;'niio se.: podl" (·squer.:er, no cncanm, que o ,irbirro é jui1. de foto e.: dt: <lireiro e que
SUMÁRIO a seriedade do proccdimcmn :1rbi1r;1[ dcve prcdomin:u cm rt:l:1r,::io ao princípio d:1 cdçridade.
8. l. • CONSIDERAÇÕES INICIAIS - AS REGRAS DO PROCEDIMENTO ARBITRAL ...................... 235 So111cnrc assilll a arbitragem C(>t1s(it11ir:i 11111a vc1·dadcira alccrn:Hiva para a justiça escacai"
8.2. • DOS PRINCÍPIOS INFORMATIVOS DO PROCEDIMENTO ARBITRAL.. ................................... 237 (RECl I.STUN ER. lk:ll W:tltcr. ,lrbim1p;cm p1·iiwl1 i11tc:r11,1,:io11,1/ 1111 Biwi! rl,.pois d,1 ,un·rt
241 Lâ().307, &:5.0'J.1996·- 'f.:ori,upr,itic,t. Siio Paulo: Ed. Rl~ 2001).
8.3. • DA CRONOLOGIA DO PROCEDIMENTO .......................................................................................... ')

242 "An. 21 . .A. :1rhi1 rag(:111 ol>cder.:ed :to proccdimc1110 cstahdcr.:ido pelas panes na com-enç:io de
8.4. • A INSTAUHAÇÀO D/\ ARBITRAGEM .................................................................................... ............
arbicr:igcm. qu<:' podcd repnr1a r-st: :1s regras de um úrgfo a rbitral in~ritucional 011 entidade
8.5. • A ORGANIZAÇÃO DA ARBITRAGEM .......................................................................... ..................... 256
cspc:ci:ilizacb, for.:ultando-se, ainda, i1s partes ddt·gar ao pníprio :írhirro, ou a CC11nara Arbicr:il,
fl.6. • BI BLIOGRAílA RECOMENDADA ........................................................................................................ 262 rcgubr o prnccdimcnrn.''
236 1 CURSO DE i\Rl31TRA(;EM PROCEDIMENTO ARl3ITRAL 1 2 37

As entidades arbitrais possuem regras b,isicas do procedimento, mas mesmo nas da ausência de regras legais, há certa uniformidade, na prática, quanto ao desenvol-
arbitragens instirncionais há margem para alguma interferência das partes quanto vimento da arbicragem:1
ao modo de proceder sohre diversos aspecros, dependendo, evidentemente, de cada E, c.:om pequena interferência da norma, a moldura na qual <levem se conter as
regulamento. iniciativas das partes, :frbitros e instituições consiste no respeito ao devido processo
legal, com princípios informativos comidos no arr. 21, § 2.0 , da Lei de Arbitragem.
Assim, por exemplo, através de compromisso ou cláusula com promissória, as
partes podem estabelecer c.:rítéríos ou exigtncias para nomeação de :frbitro, limitar a 8.2. DOS PRINCÍPIOS INFORMATIVOS DO PROCEDIMENTO
sua autoridade (p. ex., dele excluindo a jurisdição sobre medidas cautdares), alterar ARBITRAL
o termo legal para ser proferida a sentença, fixar prazos, a forma para a prática de atos
Diz o§ 2.° do are. 21 da Lei de Arbitragem: "Serão, sempre, respeitados no
processuais, o modo de intimação etc. 3
procedimento arbitral os princípios do contraditório, da igualdade das partes, da
Na arbitragem ad hoc, uma das dific.:ul<lades é exatamente a especificação do írnparcialidade do árbítro e de seu livre convencimento".
procedimento. O aspecto mais relevante nesta modalidade de arbitragem consiste Contidos na amplitude que se espera do devido processo legal (are. 5. 0 , LV,
na definição do árbitro, ou de critérios <le sua escolha, e da forma de instauração do CF/1988),'> exercida a jurisdição na arbitragem para a solução justa de um conflito, nem
procedimento. Jsco porque, instituída a arbitragem e aceita a nomeação <lo árbitro mesmo seria necess:irio ter a Lei chamado os princípios do contraditório e igualdade
ou de todos os integrantes do painel, no quanto faltar de regras convencionadas pelas das partes para aplicação no procedimento arbitral. Mas mal não faz seu destaque na
partes, caberá ao ,irbitro, ou tribunal, discipliná-las (are. 21, § 1.0 , da Lei 9.30711996). norma específica, pelo contrário, reforça a sua presença no processo arbitral.
Assim, as partes convencionam o quanto quiserem a respeito do procedimento, de- E a incidência destes princípios se faz em roda a arbitragem, não apenas nesta
legando ao julgador, por força da lei, a autoridade para a complementação das regras fase mais voltada ao desenvolvimento dos aros. Vale dizer, então, que mesmo an-
nccess,irias para a efetividade do procedimento. tes de instituída a arbitragem com a acciração do árbitro, mas ainda naquela fase
prdiminar para efotivação do juízo arbitral (nocificaçõcs, provocação da entidade
Importante, repetimos, é a definição prévia de como se fada instituição da etc.)," mesmo omissa a Lei de Regência neste aspecto, aplicam-se igualmente estes
arbitragem (até a aceitação do árbitro), pois, a partir de então, tudo flui pelo próprio princípios.
sistema. A seu turno, na forma estabelecida pela lei, o contraditório, igualdade, impar-
Embora constatada a diversidade de situações, cada qual com características cial idade e livre convencimento, têm sua í ncidência cogente, e, como tal, não podem
próprias quanto à disciplina do procedimento (pelas partes, pelo árbitro, pela ins- ser afastados pelas partes, mesmo diante da marcante autonomia da vontade existente
tituição arbitral, pelas partes<: árbítros, ou ainda pelas partes e instituição), e apesar na arbitragem. Desta forma, se por<lesconhecimento, descuido ou mesmo submissão
de um à imposição d.o outro estas gm,mtias de um devido processo legal vierem a ser
vulncradas, até mesmo na convenção arbitral, ou posteriormente, cabe a qualquer
Esclarece lrineu .Screnger: "fare artigo 1radu1. de: maneira adequada o tratamenro a respeito
das opções possívcis no estabelecimento das com·ençõcs de arhirragem. Rcal1m:nrc, a maioria
dos sistemas arbitrais vigentes n:conllCl:x uma grande liberdade n:t determinaçio cbs regras 4. Neste rema, recomc;n<la-sc a leícura de Luiz O lavo Rapt ísta, tiue, aproveitando de sua sabedoria
de procc:dimento. Admite-se mesmo recurso a regras tr;1nsacionais resultantes de an:íliscs do e brga cxperi~ncia cm arbitr:igem, com clare1.a e objcrivida<lr.: apresenta "Notas Pdtícas" hem
direito comparado ou da obsc;rva<;fo de jurisprndencia arbitral. Tem-.~e, inclusive, acatado criadas e de.~c.:nvolvidas p:tra a orientação de quem prercnde exn<.:i::r a arbitragem (BAPT!STA.
combinar as disposiçües de diversas lei.~ ou mesmo abster-se <le determinar com :mtecipaç;io Luiz Olavo. Arhim1gm1 w111crci1t! e intemflCÍmwL São Paulo: Lc.::x Magisccr, 2011).
regras ou dificuldades procedíment:iis que encontrarem il medida que as mesmas surgirem. Vale 5. Cf. intercs.~ani:c dccis:io sobre.:: o procedimento escolhido entre as parrt·s e o devido processo
dizer que a colocaçào da 1>resenrc disposição lcva ;t wndusão de que se reconhece, iis partes legal, em que o Tribunal de Justiça de São Paulo deix:1 claro t1ue não h:í ofensa ao princípio
e subsídiariatm:nte aos :írbitros, tuna grande liberdade nesse domínio'' (STRENCER. lrinctt. con~citucional a submissão :is regras da inscirniçfo, profcríd:i no TJS[~ ApCiv 1048762-0/2,
Gm,,·m,íri()s ,i lá hiuúlâ,~t dr: ,1rbim1ge111. Sfo Paulo: Ed. l.Tr, 1998. p. 121). 31." C:im. Civ., j. 29.04.2008, rei. Oes. Francisco Casconi.
3. Ocvem as partes, encrecanro, cuidar para 11ão redigirem tantos detalhes que levem :1 ser vulner::i<l:i. 6. Daí por que o regi.çcro, ao se estudar o procedimento do are. 6.<> e a ação do are. 7. 0 d:i Lei de
a convenção, ou mesmo considerada parológica a cUusula compromissária, por incocrí:ncias, Arbitragem, de que no processo assim insraur:ido indispens;ívcl garantir ao n::u o direito ao
ou mesmo cocal inviabilidade de cfcLÍl'aç;io do quanto estabelecido. contraditório; cf., :i respeito, Capítulo 6, item 6.2.2.
218 1 CUitSOlllARI\ITRA(;EM J>ROCF.DIMENTO ARI\ITRAL 1 2J9

momento a correção do rumo da arbirragem, pelo próprio ,írbitro, tornando sem nalidadc~ o que for feito com prejuízo dessa tríplice participação e da detividade da
efeito o quanto estabelecido em conwírio à lei. cí2ncia dos atos dos outros sujeitos processuais ... " ...
E tão relevante~ esta garantia de um procedimento adequado que sua amilisc ·famhém na amplitude deste princípio está o direito~tampla ddesa, no sentido de
comporta dupla verificação: no próprio juízo arbitral, e, uma vez proferida a senten- se permitir ;1~ partes a produção das provas pertinentes à dcmonsrração de suas razões.
ça, perante o Judicdrio arravó; <le ação de invalidação, prevista expressamente como Desta forma, as questões relevantes ao julgamento do conflito devem ser,
causa, dentre outras, o dcsreiipeito "aos princípios de que trata o arr. 21, § 2.°, desta necess,íria e pn;viamenrc, debatidas pelas partes, impondo ao Jrbitro, inclusive,
Lei" (arr. 32, VIII, da Lei 9.307/1996). provocara discussão a cémesmo sobre aqueles pontos sobre os quais po<leriaconhe-
Espc<.:ificamente com rclaç;ío :1 imparcialidade do ,írhitroeseu livn:c.:onvencirnen- cer de ofício, garantind o, assim, o con tradí tório ütil a interferir no convencimento
co, por ser a conhança no julgador o alicerce do juízo arbitral, a falta destes atributos do julgador.
pode levar ao seu impedimento na arbitragem (am. 13, 14 e 15 da Lei 9.307/ 1996), J\ igwr.lrl,ade /4,s ptli'tl!S, por sua vez, manifesta-se pelo uaramcn ro i<li:ntíco a ser
que, se mesmo assim com ele se desenvolver, conduz a sentença a vício específico: propiciado pelo .irbi rro ao.s envolví<los, em especial quanto ~\s faculdades para a prfoca
proferida por "quem não poderia.ser árbitro" (an. 32, II, da Lei 9.307 /1996); ou seja, de atos, quer sejam eles relacionados a manifestações cm geral, inclusive relativos :t
com base cm dois dispositivos, pode ser buscada a invali<laçlo da decisão proforida indicação e impugnaçiío <le árbitros, ou à produção de provas.
sem isenção. Esrn é uma perspectiva processual e objeriva <la igualdade das partes-conceder-Lhes
Lembrando noções certamente j,í conhecidas, pois apresentadas no início da
11smcsmasoportunúlarles. E assim se considera ao contratarem esponcaneamencea opção
formação acadêmica, quanJodocscudodosprincípio.sdo processo civil, v,Hidos neste pelo juíw arbitral, j,í se pressu pon d o ter sido avaliado pelos signad.rios o equilíbrio
aspecto para o proced.imcnro arhi trai, temos: o con tradicúrio, a igualdade das partes, na relação. As.sim, ficam afastados evenruais privilégios que a legislação processual
a imparcialidade e o livre convencimento. concede a den.:rmina<la.s partes por desigualdades oncológicas (por exemplo, prazo
O co11tnulitrírio representa a possibilidade de informação e de reação sobre diferenciado, advogado dativo crc.). H'
questões relevantes ;10 julgamenro da causa, garantida a apresentação das respectivas
provas a seu respeito.
Integra, assim, o direito ao contradirúrio, a preservação às partes da oportuni-
dade de levar ao juízo as suas razôes, bem como a manifestação contr.í.ria :ts raz6cs 8. E acr.:scs:nran1os: c lllaculado d..: vício :1 ensejar a :1ç;Io de i1walid:1ção de sentença arbitral com
apresentadas pelo advers;írío. Daí a necessidade de se garantir o acesso aos litigantes, fundamento 110 an. 32, Vlll, da Lei ele Arhicr:1ge111 (cf :1di:1nce Capítulo 13, irem U.2),
por meio de intimação, a mdo o quanto fi.)r trazido ao procedimento, com o cuida<lo li, A ,trbitmgc·111 llll trori,1 g,·r,tl do pmn·.w!. S:io Paulo: .f\blhcims, 2013. p. 2(,.
de se okreccr prazo razo,ivd :1 manifesc,tção. 7 10. N..:.,rc scntido. C:irlns AI berro C:wmona hem elucida a que.sriio, lembrando qui.; no procc~so
csr;1tal, "(I "'l"i/íbrio {!,ts j>tll"l<".1' 11,ío ,: ri r,;f!:m. e a participação no processo não~ voh111dri:t.
A respeito do contr,tdi tório, provei rosas são as palavras d.e Cand.id.o Rangel Di- m:is sim nbriga1,íri:1. Se no processo judicial a intervenção esrac:1I e: 11ecess:íria para cquilibrar
namarco, com a aurorí<lade que lhe perrencc pela qualidade <le ser um dos m;iiorcs panes oncologicamentc clcsigu:iis, no processo arbit ral esra inrnvt·nç:io pod<.:: ,o
conl<,rca-
processualislas de nossos tem po.s, a quem rendemos nossa admiração pessoal e prons- vdnwncc disp.:ns:1da. Assim, enquanto a paridade de armas e: uma inquict:tç;io para o juiz
sional: "sabido que essa garantia se resolve na oferta de oportunidades parapar1icip,tr, togado - :1 ponro de a 1.t·i <) .OlJlJ/] lJ95 ter dcrerm inado que, comparcccndo urna d:1.~ p:11'1 e~
acompanh:icl:i de sc:11 :1dvog::ido, caberá ::io Estado proporcionar rcprcsc11la\:;10 1,:cnie:1 p:1 r:t
rndo quanto for feiro com visra a Aexibilizar o procedimenro arbitral, tornando-o
o adversjrio -, o :írbirro não deved preocupar-se com o tcma, t·sra11do 11:1 esfera de dis-
adcrcnre às peculiaridades do caso e promovendo a celeridade, deve ser frito de modo ponibilidade d:is partes nomear ou n:io advogados, p<•is prt:ssupó(·-sc que o~ li1ig;uJCcs. :10
a não colher às partes a efetiva oportunidade para panicipar do processo - p,micipar escolherem :1 vi:1 :irhicr:11, esrej:1111 hem informados sobre suas ~>o8sibilidadcs e diliculd:tdes,
palindo, p,ll"ticipar pr01ianJo, p,-r.l'ficip,lr alcgrmdo. Sed maculado de inconstirncio- :tt<: porque c:lcgeram livrcmcncr o procedimenw qu.: prt·1e11dia111 ver aplic;1do :1 .~oluç:ín d:1
comrovc: rsia. D:1 mesma forma, néío haver:í preocupação com amplia\:iio dc praw p,ir:t um
dos li1 iganrcs (como récnic:1 de nivela1m:nco entre partes dcsiguais), dispcns:1 clc c:111çiks.
i·eduç:io de vc:rb:1 honodria para csre ou aquele lirigantc, o quc rcvch desde logo que.
figurando o Escado (cm sua forma auürquica ou nas V<.'St<.:s di." c111prc.,:1 pública, p:ir:t fica r
nos cxc111plo~ mais facriveis) como parrc cm juíio arhicr:il, 11:i<• podc r:i invocar q11:1lq11cr cl:is
7. ltnport.inre prc~crvar ('Stc din.:ito; p,m:m, se a partes~· utifo.:t d:1 faculdade ou pc rmanecc in.:rtc, prnrog:11iv:1s de que goza no processo esc:iral" (CAR:vlONJ\, C;irlos J\lhcno. ,fr/,irnrg,-m e
é irrdev;JJHC. pr11c:c.1so. S:-10 Paulo: Arl:is, 200'). p. 2')Ci).
PllOCl'DIMEl\'l'O ARBITRAI. 1 241
240 1 CURSO l>l'. ARL\ITRACErv1

neste mo1ncnto, o prestigioso avanço do quanto previsto no Código de Processo


Quanto ;1 imp,ircialidark, muíto já se falou a respeito quando an;ilisados os
Civil de 2015 a respeito do tema, confrrín<lo maior versatili<l;i<le à instrução do
atributos esperados do .í.rbitro. 11 E a renovação da imparcialidade neste momento
cm <1ue se uata do procedimento arbitral demonstra a preocupação exagerada, mas processo, inclusive como decorr~ncia da possível rc;iliz.açáo d.e negócio processual
(are. 190 e ss., do CPC/201 .5), e d.o chamado saueanu•nto compartilhado (are. 357,
correta do lcgislaJor quanto ao quesito.
Note-se, nesta opormnidade, que a imparcialidade se impôe ao árbitro não d.o CJ>C/201.5).
apenas <1uanto à an,ílisc da matéria de fundo (o conflito propriamente dito) a ser Por seu turno, a liberdade de avaliação <la prova convive cm harmonia com a
promovida na scnrcnça, mas igualmente quanto ~1 condução <lo procedimento. E :wtonomia das partes em estabelecer regras próprias, na convenção arbitral, relativa-
assim, também para o recd,imcnto d,1s alegações e para o dcferimenco da pnítica dos mente ;io ônus da prova, tema cuja an:Hise ser.í mais derida adiante.
aws, especialmente durante a instrução do frito, deve o ,írhicro agir cnm isenção, até
para não direcionar o julgamento. Assim, a g;iramia da imparcialidade st: exige a todo 8.3. DA CRONOLOGIA DO PROCEDIMENTO
instante cm que o ârbitro atua. Adota-se, 11a aprescntac;ão <lesta mactria, a cronologia do procedimento sugerida
Por derradeiro, cra'l, a ki como princípio informativo do procedimento arbi- por Fouchard, GaillardcGoldman, peladidéÍttca formulad.eaprcscnta~·ão, facilitando,
tral o fi1,n cmwmci1m:nto. · f'ambém aqui se reporta ao (]Uanrn se <lisse a respeito <la e muito, a compreensão de como se realiza, de fato, a arbicragcm.
11

independência do árhicro, 1 ~ pois deve o julgador ter condições plenas ele conduzir o
São crês momentos distintos para se efetivar a arbitragem no aspecto procedí-
procedimento e julgar sem inAu2ncia de elemencos externos potencialmente com-
prometedores de sua autonomia e imparcialidade. mcnral:
O livre convencimento representa a liberdade do julgador cm avaliar e valorar a fase l- Ínscamação da arbitragem;
prova para a conclusão final Jescu julg;imento quanto :tsolução a ser dada ao conAico. Fa.~e li -Organização da arbitragem;
M;is também concém o juízo de escolha no deferimento, dcccrminac;ão e oportunidade bsc lll - Desenvolvimento da arbitragem.
de produção de cais ou <1uais provas necess:üias àquele procedimento.
Na perspectiva de que v;írias são as possibilidades de se convencionar a u til izacão
Assim, cal qual todos os princípios acima, o lívreconvencimemo édiná1nirn, e se do juízo arbitral (clfosubs cheia ou vazia, compromissos extrajudicial ou judi<.:i;,I),
foi, presente cm wclaa gcstfo do procedimento, e nãoapen;i.s quando da sentença final.
O convencimento é .subjetivo, representa a convicção íntima sobre a vcnfade
13. Quanto ao procedimento. c:m,bén, mcrccc regisuo o ,:nlcnclimcnto de l\:dro /\. Ihtista Mar-
de um faco apresentado através d.as provas produzid;is. E esta é uma prerrogativa do rins, par:, quem :1 arbitragem se divid..: cm trê.s fases: (i) hsc pn:-arhicral, (ii) fase :ubitial e (iii)
.í.rbino: julgar segundo a sua convicção. fa~c pós-arbitr:11. Assim, o autor n<>s explica que "a fasç pré-arbitral s.: inicia C<>lll a assinatura
Mesmo não previsto no anigo em exame, o livre convencimento dcvcd .ser da conveJ1c,:;10 de :1rbicr;1gcm, rnas s,: mancém dormcn(<: :ué o surgimento d,, conflito. Eb s<·
proloJl!:,';:I alt: :1 :iccita~·fo da 11on1caç~o clo.s ;írbiuos. Deve-se cncender qm: :\ KeicaÇlo pd(>S
motivado, pois a fundamentação representa requisito obrigatório da sencenc;a arbitral
.írbirros da Cunç;io não p6t· ran,n :1 fosc pré-arLiicr;1I. pnis esta ~omc.:mc s<.: completa com a
(art. 26, II, d;i Lei 9.307 /1996). E e.: nacural cal ;isserciv,t, pois no ambícme do devi- dc:1iva Ull1lirm:1çfo dos ;(rhirros, ap<>.~ submetido<• 'l\:l'lllO de lndept·ndênóa :,s dcman<lames.
do processo legal não tem espaço o livre arbítrio. Os atos jurisdicionais, por maior A11 rcs dcss:1 conlirmaç::ío, dos ;írlii I ros podem :Hé u;r aceito, mas ainda 1i:i<> lc,r:1111 con finnados.
liberdade que se outorgue ao julgador, são vinculados ,l acender ;1 justa expectativa E pndc. mesmo, nem vir a sn rnnlirm:Klos, caso haja algum fow que.: dcn<lll: d1'1\·icla ju.stificada
das partes na aplicação do direito. E, assim, a fundamentação possibilita o controle quanro :1 s11:1 im p:ircialidadc <.: i11dcpcndi:·ncia". N:1J,'1J,· {{rhi1r,1/; .. !nsticuíd:i :, a,·hi rr:1gcm. l: d<•s
:írbitros, e snmcnt<.: dele.,. :1 jurisdi<,:iio pra resolver a dispnra definid:, no 'fi:rmo de Arhitr:1gr;;i11 .
da legalidade das decisões. O procc<limcnro cstahclccido pebs partcs devr.:r;i ser seguido e a scnte11~:a pronunciada no p1·;v.o
l)o que se libera o ,írbitro, diFerenremcnrc do quanto ocorre no processo civil, pré-lixado". Por li 111, aj,'tsc· p<Í.<-,1rhi1r,d se vcrilir.:a qu:111do. "esgntada :1 juri.~diç;'\o arhi trai, c<>ln
é a sua restrição aos crin..:t·ios menos flexíveis da oporrunidad.e para n.:<1uerimen- a_1m,_laç:io d:1 sentença tinal c eventual decisão c111 sede de embargos arhilr:1is. c1hc :, parte 11;10
v1ror1osa cumprir o julgado. (:xccl'O .,e· a Sl'ntcni;.::t for pn.,sívcl de :1</to de 1nil i(hdc (anulabilid:tdc'l
ro d.e provas, dr distribuição do respectivo ônus e etapas d.e sua prod.uc,:ão, pois
por inlraç:io a uma das hipú1.;~cs .:ontcmpbdas 1u1 :1rr. j2 da Lei 9.307/1 '.)9(i'' (MARTINS,
aqui não se tem aplicação dirern das regras processuais; merece anotação, porém, Pedro J\. Batista. As trú, fas<.:s eh :1rbícragcm. R11-isr,1 do 1ldrngt1rfo. a110 XXVI, .,cr. 2006, p. 88).
J\111d:1 a> c.~pl'ÍCO das fasc.:s do proccdi mcncu :irbilral, recomenda-se a k:i t1Jr;1 de 1)1 NAM1\ RCO.
CCrndido Rangel. ,-J .trhitm_~,:m 11a 1rnri,1 gmd rio pm,·,·.;so. S:io Paulo: ,v!alhcíros, 201 ;'\. ltt:111 34.
11. o: C:apí111lo 7, irem 7/Í. p. 110.112.
12. Cf'. Capírnlo 7.
242 1 CURSO DEARl31TRA{iEM PROC:EDIMENTO ARl:\J'L'RJ\I. 1 243

também variadas são as formas de se provocar o início da arhitragem, método previa- Mas, de um modo geral, teremos a etapa p,-elimhwr, de notícia do conflito à ourra
mente deito pelas partes para solucionar o conflito. Permite-se desde manifestação parte com o requerimenro de arbitragem a seu respeito. Em seguida, vem a etapa de
encaminhada por qualquer meio de comunicação, até citação em processo judicial i1tdíctlçíí.o, nonu:açiúJ e1tCl'itação do árbitro. Neste último momen ro, aceita a investidu-
específico para esse fim, passando pelas notificações próprias estabelecidas em regu- ra pelo nomeado, ocorrerá a instituição da arbitragem (art. 19 da Lei 9.307 /1996),
lamentos de cámaras arbitrais. conferindo-se jurisdição ao árbitro, mas ainda provisúria, pois submetida à exceção
de recusa do nomeado e impugnações quanco a vícios da convenção, incidentes que
Assim, a partida para a materialização do procedimento pode se verificar por
na sequência são apreciados como derradeira etapa, para, então, quando superados,
diversas maneiras, de acordo com as peculiaridades de cada situação. São percorridas
e segundo o que a respeito se decidiu, seguir-se à fase subsequente de organi1.ação da
etapas preliminares com providências pré-processuais, extrajudiciais, judiciais ou
arbitragem.
de acordo com o regulamento da instituição arbitral deita, se for o caso, já todas
relacionadas à instauração do juízo arbitral, mas algumas ainda prévias à jurisdição (a) A etapa preliminar
propriamente dita do(s) árbitro(s). Consiste na provocação da o urra parte sobre o conflito, com a intenção de instau-
Superada a primeira fase, com a instituição da arbitragem, exatamente pela rar a arbitragem, e a tomada de providências para a indicação e nomeação do árbitro
ausência de regras legais preestabelecidas ao progresso da arbitragem, e prestigiada a quando for o caso. São, pois, praticados atos preparatórios da efetiva materialização
autonomia da vontade das partes, respeitada a autoridade do árbitro ou atendido o do procedimento arbitral cm sentido escrito.
regulamentodaentidade,háoimporcantemomencodeorganizaçãodoprocedimenco, Com origem no compromisso, extrajudicial ou judicial, inclusive aquele decor-
no qual se estabelecem quais, como e quando os atos serão praticados, fixa-se o objeto rente da ação prevista no art. 7. 0 da Lei <le Arhitragem, j,i se terá, como requisito
do conflito, e assim se faz a "estabilização da demanda". obrigatório (art. 10, II, da Lei 9.307/1996), a espécie da arbitragem: institucional
E no último estágio <lesta realização efetiva da arbitragem promove-se o desen- ou avulsa (11d hoc).
volvimento do procedimento propriamente dito, com a prática dos atos postulatórios, Sendo avulsa, indispensá.vel a indicação do(s) árbicro(s) (art. 1O, II, da Lei
instrutórios e decis<>rios, sob a autoridade do árbitro, mas com a cooperação, cm 9.307 / 1996). E assim, a ele(s) deve ser dirigido o pedido de início da arbitragem,
algumas hipóteses isoladas, do Poder Judiciário. para então, aceito o encargo, e assim considerada instituída a arbitragem (are. 19 da
Resolvido o conflito, através da sentença arbitral (após excepcional pedido Lei 9.307/1996), seguirem-se as regras preestabelecidas, ou pelo próprio árbitro (ou
de esclarecimento similar aos embargos de declaração, regulado no art. 30 da Lei painel) determinadas (art. 21, § 1.0 , da Lei 9.30711996), para a convocação do adver-
9.30711996), esgota-se a jurisdição arbitral, e os meios coercitivos para o seu cum- sário para assinarura de termo de arbitragem, a ele facultando a defesa, ainda restrita
primento, se necessários, se farão perante o Poder Judiciário. nesta oportunidade, na maioria das vezes, aos incidentes de nomeação do árbitro e
arguição de vícios da convençâo.
Com esta rápida introdução, vamos analisar cada uma das fases, com seus inci-
dentes e particularidades, mas lembrando que todas elas já se referem à arbitragem, e '!ratando-se de arbitragem institucioutll, deve-se observar o que diz o regulamento.
assim, mesmo se algum ato for realizado fora do juízo arbi rral, se fazem com o império E assim, nestas regras, imperativas às partes ao encomendarem a arbitragem a uma
do sistema normativo deste método de solução dt: controvérsia. entidade arbitral (ou por decisão na açáo prevista no are. 7.° referido) cercamente se
encontram as providências pertinentes para se iniciar o procedimento.
8.4. A INSTAURAÇÃO DA ARBITRAGEM Como padrão, deverá o interessado apresencar o requerimento da arbitragem,
noticiando o conffico, comprovando a existência de cláusula arbitral ou compromis-
Como já se disse, a variedade das formas como se faz a opção pela arbitragem 11
so, indicando ou pedindo a nomeação d.e árbitro único (conforme o rcgulamento
para solucionar um conflito gera uma diversidade de maneiras pelas quais se promove
e convenção), ou o seu eleito para formação de painel arbitral, se for o caso. Neste
o inkio do procedimento em sentido amplo, ou seja, enquanto atos praticados com
o objetivo de se levar o conflito ao palco arbitral.
14. Imporrance observar, a modificação do§ 4. 0 do an. 13 da LArb., introdl17.ida pela Lei
Os primeíros p,tssos são dados extrajudicialmente, judicialmente ou perante.: a
13.129/2015 no sentido de permitir, me<liant1.: certo controle da i11stín1iç:to, a prevalí:ncia
instituição arbitral, segundo suas regras, tudo conforme cada caso, de acordo com a da vontade das pam:s <.:m dccrimenm do rr.::gularncnco a re.~p<:ito da limimção da escolha de
origem (cláusulas cheia e vazia, compromissos extrajudicial ou judicial) e espécie de árbitro, coárhicro ou presidente do tribunal ;1 rcspcctiv:1 lisra, conforme anotado no Capítulo
arbitragem (institucional ou ad hoc). 7, ic~·m 7.3.
244 1 CURSO OE ARBITRAGEM PROCEDIMENTO ARBITRAL 1 245

momento, apenas idemifica-se o objeto do conflito, com rápida e superficial refe- rocaría o julgamento da causa" (parágrafo único do art. 6. 0 referido), para se obter o
rência às razões da alegada lesão a um direito, sem ainda detalhar o fundamento da compromisso arbitral.
pretensão. Formula-se o pedido e atribui-se o valor respectivo, mas tudo ainda em Desta forma, as providências preliminares serão direcionadas à obtenção do
uma fase preliminar. compromisso arbitraJ, por consenso ou imposição judicial. A partir de emão, alcan-
A instituição arbitral fará a nomeação do árbitro (eleito pela parte ou pela ins- çado O compromisso, segue-se o quanto se disse acima a respeito da instauração do
tituição escolhido, conforme o caso), dele colhendo a aceitação, conferindo-lhe a procedimento arbitral nele pautado.
jurisdição, e, assim, instituindo a arbitragem (are. 19 da Lei 9.307 /l 996). Pode-senocarquc, curiosamente, os atos prep:u:atórios ao juízo arbitral realizados
A partir daí, a comunicação da iniciativa ao adversário se faz segundo o regula- nesra etapa preliminar para provocar a sua instauração são, por vezes, providenciados
mento, geral mente para convocá-lo para assinatura de termo de audiência, facultando- de forma particular (por via postalou por outro meio qualquer de comunicação- arr. 6.0
-1 he a defesa, também, em regra, ainda restrita aos incidentes de recusa do árbitro da Lei 9.307 /J 996), e judicial (atravt:s da citação da ação prevista no arr. 7 .O da Lei
nomeado e arguição de vícios da convenção. em esrndo). Ainda, conforme a situação, sem formalidade específica (solicitação diri-
Sendo prevista a formação de painel arbitral, a parte solicitada (requerida) será oida ao árbitro potencial) , ou com a forma prevista em um regulamento de enridade
o
chamada para a indicação do árbitro de sua escolha, para que este, em conjunto arbitral. E tudo sem ainda se inaugurar a jurisdição arbitral.
com aquele indicado pelo solicitante (requerente), faça a escolha do presidente do De qualquer forma, sendo o caminho percorrido para se materializar o juízo,
colegiado. 15 desde então, já nesra etapa preliminar, aplicam-se as regras e princípios do sistema
Sob outra perspectiva, se a arbitragem for eleita pelas partes em cláusula cornpro- arbitral, e assim, tudo é tratado como procedimento arbitral em sentido amplo.
rnissóri,e, primeiro deve-se identificar seu con teú<lo. Por sua vez, tratando-se de cláusula Sob outro enfoque, mas no mesmo sentido do acima exposto quanto às provi-
cheia, nela se contendo a forma de instituir a arbitragem, esta deverá ser seguida. dências preliminares peculiares da arbitragem, com o objetivo de bem fixar as diver-
Indicando as partes, desde então, a instituição escolhida para administrar a ar- sas possibilidades de partida para o juízo arbitral. temos: arbitragem institucional,
bitragem, a materialização do procedimento se fará tal qual na instauração do juízo arbitragem com origem em cláusula vazia e arbitragem ad hoc:
precedido de compromisso no qual se estabeleceu entidade arbitral, como acima • A arbitragem institucional decorrente de compromisso ou de cláusula cheia
apresentado. Se indicado(s) o(s) árbitro(s), adota-se o procedimento previsto acima será instaurada segundo as regras previstas no regulamento da entidade eleita.
para a hipótesedeatbitragem adhocderivada de compromisso, respeitadas as previsões • A arbitragem decorrente de cláusula vazia rc::clama providências prévias ten-
comidas na convenção. dentes à obtenção de compromisso arbitral.
Já para as hipóteses de ddttsuia vazia, ou c!tiusu!a patológica, quando a esta é em- • Deoucra parte, aarbitragemtZdhocdecorrentedecompromisso, ou de cláusula
prestado o mesmo tratamento daquela, necessárias serão providências preparatórias quando esta contém a indicação do árbitro, dar-se-á como acordado pelas partes ou
à efetiva instauração do juízo arbitral, pois até então só se terá o consenso quanto à mediante solicitação dirigida ao julgador eleito para que este, com sua aceitação da
exclusão do Judiciário para a apreciação do conRito. investidura que lhe foi outorgada, promova a convocação do adversário. 16
Nesta situação, o interessado deverá promover sua iniciativa, primeiro extraju-
dicialmente, ral qual previsto no art. 6. 0 da Lei de Arbitragem, já analisado, ou seja, 16. Liliana Bcrconi explica o modo como se d:-í a arbitragem 11d hoc no Mercosuk "AI ser cl
"manifestará à outra parte sua intenção de dar início à arbitragem, por via postal ou arbitrage un método :ígíl aplicablc a las controvcrsias em ,mancos comcrciales, en muchos
por outro meio qualquer de comunicação, mediante comprovação de recebimento, de estos esquemas se lo ha elegido como método para superar la.~ disputas. En este caso es
importante recordar que d arbitragc - ai que comúnmente se lo denomina como un mécodo
convocando-a para, em dia, hora e local certos, firmar o compromisso arbitral", e altcrnacivo se solución de las conrrovérsias - pasa a ser en cscos esquemas uno <le los métodos
diante da recusa ou omissão do convocado, deverá ser proposta "a demanda de que posiblcs para lograr superar un \irígio dencro de esto espacio integra.do, que por lo general
trata o art. 7. 0 desta Lei, perante o órgão do Poder Judiciário a que, originariamente, es acompaíiado por alg{m outro método que lo complementa. En los espa<:ios integrados,
los particulares sólo se encontrarán legitimados para actuar dentro de esse espacio jurídico
ampliado si los Estados han decidido ocorgale ral lc.::gitimación. En el caso <lei Mcrcosur, e!
15. Sobre a maneira de solucionar os conflitos decorrenres <la eleição do presidente do cribunal proccdimienco establccí<lo para cl reclamo de particulares (Capítulo XI dei Protocolo de
arbícral, cf. o quanto se disse no Capítulo 7, icem 7.3.2, supra. Olivos) continúa com la legitimación indirecta que ocorgaba el Protocolo de Brasilia, ai
246 j CURSO DE ARBITRAGEM
PROCEDIMENTOARBlTRAL l 247
Especificamente q uanco à indicação/ nomeação do árbitro, em resumo, cambérn Enquanto não aceita a investidura,. pelo árbit~o único ou p~t;.t,od~s ~s ~ ~,mea~os,
a forma é circunstancial, dependendo de ser a arbitragem avulsa ou institucional
~ considera instituído o J. uíz.o arbitral, ou seJa, nao se cera JUnsd1çao arbitral
11ao se
· da do quanto se contém na convenção e, se o caso, no regulamcnro da instituição
am ,e ropnamente dica.
arbitral. · P Acláusula cheia, o compromisso ou mesmo a sentença judicial na ação própria
Por vezes a escolha é direta pela parte, mas pode ser também pela instituição insticuição de arbitragem (arr. 7. 0 da Lei 9.307/ 1996) não são suficientes para
eleita, ou ainda pelo juiz, na hipótese de lá se terem as providências para a instauração fª':aurar, por si sós, o juízo arbitral, até entáo considerado apenas potencial, sendo
ins fi 'das . ,. d dimento.
da arbitragem. · necessárias as providências preliminares acima re en para o 1ruoo o proce
E questões inreressanres surgem, como a indicação do árbitro nos procedimentos A seu turno, ausente previsão legal para a formalização da aceitação (inexiste
multipartes (aqueles em que em um dos polos da relação jurídica ou em ambos há · e'ncia de assina cura de termo depossedo árbitro), sua verificação é circunstancial.
~g ' .
mais de uma parte). Encomendada a arbitragem a uma instituição, esta cerram eo te cancera procedime n-
Como visto com mais vagar no Capítulo 7, irem 7 .3 - A escolha dos árbitros, as s próprios para a instrumentalização da aceitação, com a expressa aceitação pelo
:ameado da invesridura a eleouoorgada. i 1.1 Omisso o regramento da entidade arbitral,
partes podem estabelecer o critério de indicação nestas situações, ou acolher o previsto
no regulamento a respeico. Mas o misso o regulamento parece que a melhor solução é nada se referindo à convenção, ou se promovida a arbitragem ad hoc, devem as partes
considerar como não escolhido o coárbitro por aquela parte composta por grupo de cuidar para que seja documentada a aceitação do árbitro e o início da arbitragem,
pessoas (multiparte). E como lá referido, perdeu legislador uma ótima oportunidade para encão poderem exigir seus efeiros (responsabilidade do árbitro pela condução
de resolver a questão nestas hipóteses de impasse e omissão a respeito no regramento do processo e prazo para ser proferida a sentença).
das partes ou da instituição 17• Mesmo sem documento próprio, "a aceitação do encargo prova-se por rodos
(6) Da aceitação do(s) árbirro(s) os meios admitidos em direito, e pode ser inclusive tácita: o árbitro que dá início
A etapa preli minar de instauração da arbitragem, como referido, tem seu êxiro aos procedimentos, mesmo sem ter declarado aceitar a nomeação , acaba por atestar
na aceitação do árbitro indicado ou nomeado. Com esta aceitação, tem-se a investi- implicitamente sua concordância"_Lo
dura do eleito na jurisdição relativa àquele conflito. E assim se considera instituída Ainda nesta fase de instauração da arbitragem, prevista na cronologia do pro-
a arbitragem, nos termos do are. 19 da Lei de Arbitragem, in verbis: "Considera-se cedimento aqui desenvolvida, mesmo inicialmente instaurada a arbit~agem, dc~e~
instituída a arbitragem quando aceita a nomeação pelo árbitro, se for único, ou por ser discutidas e superadas questões relativas à exceção de recusa do árbmo e argu1çao
todos, se forem vários". de vícios na convenção arbitral; assim, até que estes incidentes sejam resolvidos, a
Impo rran te este momento, pois a partir dele se coo ta o prazo para ser proferida a investidura é provisória. Vejamos os procedimentos respectivos:
sentença arbitral (art. 23 da Lei 9.307/1 996). Também relevanceesradara, pois com
a aceitação, passa o árbitro a ter jurisdição sobre medidas de urgência pretendidas 8.4. 1. A exceção de recusa do(s) árbitro(s)
pelas partes (quando não lhe for excluída esta atribuição, cf. Capítulo I Oadiante), e
Indicado pela instituição, ou mesmo pela outra parte, o árbitro deve ser isento
inclusive afastando, desde então, a jurisdição estara! para processamento de cautelares
e descomprometido, e, assim, deve inspirar confiança de todos os envolvidos, e não
antecedentes. tx
apenas daquele que o elegeu.

expres:u que los particulares <leber:in presentar sus reclamos ance la Sección Nacional dei
Grupo de Mercado Cumún dd Estado Parce donde tengan su residcncia habimal o fo sede 19. No Centro de Arbicr:igem e Mediação da CCBC, por exemplo, firma? á~bi1ro "r:rm? ~c
de sus negocios" (BER:fON(, Lilíana. Lt111dos m·bitmles me! Mercosur. Buenos Aires-Madrid: indcpcndénci:í' no qunl se coucém a acciraçffo da nomeação e se rerá !Jor msmufdo e: inicia< o
Ciudad Argentina, 2006. p. 10 1). 0 procedimenro arbirral (cf. :1rrs. 7. l. ele 4. J4 do Regulam~aco); J3 scgu?~º o :uc. _2~ do
Rcguktmenro do CAESP. 0 termo de independência é forn~altzado na Au~cnc1a Prcl1~11nar
17. Cf. ainda, CAHALT, f-rancisco José. Árbirro de emergência e arbitrngem multiparces- Con-
para Assin:mira d<> Termo ele Arbitragem (APA]er) e rc::m a lunçiio sccundán :Lde formn.h,A1r a
siderações gerais e resultado da pesquisa do grupo de pesquisa cm arbírragem da PUC-SP
- Projeto II - 2° Semestre de 2015. Rr:vistfz de Mediaçiio e Arbizmgr:m, ano XHI. n. S 1, S5o accic.1ção dos :írhiu os.
20. Cf. CARMONA, Carlos Alberto. Arbitrrrgcm r: procmo,cic., p. 279, traiendo a posição de
Paulo, out.-dez. 20 J6.
Patrício Aylwin Azocar, f:l j11icio arbimlÍ. .Santiago: Falias de: Mcs, 1982. P· 395-396.
18. STJ, EDCI. no REsp n. 1.297.974, 3." T., j. 28.12.2012, v.u., rei. Mín. Nancy Andrighi.
248 1 CURSO DF. I\RBITRAC:F.M l'ROCEDIMLNTO ARBITRAL 1 249

O árbitro, previamente à aceitação da investidura, como já visto, tem o dever de rienco ou regras previstas pelas partes, onde, também, serão identificados prazos,
revelar tudo o quanto possa gerar dúvida justificada a respeito de sua imparcialidade
Jai . l 1 .
pois ausente prevL~ão ega a respeito. . , . .
e independ€ncia (art. 14, § 1.0 , da Lei 9.307/1996). Como visto, é mais abrangente Importante, sim,éconceder-seaoportumdadede recusaao(s) arhmo(s), em p~a~o
a apuração de isenção do julgador, pois não limitada, embora aqui contida, às causas , 1 i:ia p.rimeira ohorttmidtide para se manifestar (pontualmente ou sobre vanas
de impedimento e suspeição previstas no Código de Processo Civil (art. 14 da Lei
razoãve , r d. ('
ões conformeocaso). Eaforma,seporcxceçãoououtroexpe tente 1mpugna-
9.307/1996; ans. 144 e 145 do CPC/20) 5). quesr , ., . . . _ d , b' , d - · 24
r- 'ncirlmte de remoção,-2 pedido de subsmu1çao o ar itro,-3 ec1araçao escnra,
ç.to, t . ,d d · • ·
A parte - ciente da aceitação do árbitro, não importa se com ou sem revela- petição d.e recusa25 etc.), pouc-0 importa, pois relevante~ o comeu o a m~urgencta.
ções, mas entendendo existir, pelos fatos que tem conhecimento, causa de recusa Ainda de se notar que a causa para recusa pode vir a ocorrer posteriormente,
- apresentará, então, a exceção, com suas razões e provas pertinentes (arr. 15 da Lei ' após a instauração da arbitragem chegar ao conhecimento das partes. Nestas
9.307/ l 996). E "deverá fazê-lo na primeira oportunidade que tiver de se manifestar, ou S0 d d 'b'
siruaçócs, a qualquer momento poderá ser apresentada a exceção e recu.sa o ar 1tro.
após a insricuição da arbitragem" (are. 20 da Lei 9.307/1996). Ou seja, por motivo superveniente, a todo instante cabe impugnação ~o Julgador para
A exceção de recusa de umárbicrocabca qualquer das partes, mas por cerco não preservar a sua independência e imparcialidade até o final do pr~cedtme~co.
àquela que fez a sua indicação, pois, neste caso, evidentemente, se houver dúvida
De outra parte, também a qualquer momento cab~ ao á.rb1tro declmar ~e s~a
quanto à sua atuação, bastará não indicá-lo, escolhendo outro.
investidura, verificadas as causas de impedimento e suspeição. Faculta-se a renuncia,
Mas mesmo o eleito pela pane pode por ela ser impugnado, quando os motivos da inclusive, por questões de foro íntimo, dispensando, assim, a apresentação de detalhes
recusa forem posteriores à sua nomeação, ou só após tiver conhecimento destes fatos.
sobre as razões de sua decisão.
(a) O momento para apresentação da exceção
Retomando o momento da primeira manifesração <las parccs, também nesta
Diz a Lei de Arbitragem que a exceção deve ser apresentada na "primeira opor- oportunidade devem ser arguidos eventuais desat~nd í mentos de requisitos pr~prios à
tunidade que tiver de se manifestar" (are. 20). nomeação do árbitro, previstos na convenção. Assim, por exemplo, ~e convenc~~nado
Desta forma, a oportunidade para arguição será depois de noticiada a instauração como qualidade do árbitro, a sua titulação acadêmi~a cm detennmada matena, ou
da arbirrngern, já promovida a nomeação e aceitação do árbitro. sua formação universitária em certa área <lo conhec1mento, as partes devem, neste
Porém, na diversidade de circunstâncias, variadas situações acontecem, depen- momento, apontar o vício e requerer que seja corrigida a nomeação.
dendo de diversos fatores (regras eleitas ou regulamentos de instituições). (b) Direcionamento e decisão a respeito da exceção de recusa
Assim, tratando-se de pai ncl arbitral, em que um árbitro é eleito pelo solicitante,
Pela previsão legal, a exceção se dirige ao próprio árbitro, o~ ao presidente do
outro pelo solicitado, a impugnação a este, excepcionalmente, pode ocorrer antes
tribunal arbitral, com as razões e provas perrinences (art. 15 da Le1 9.30711996).
mesmo <la instituição da arhitragem (pois esta só se daria após a escolha e aceitação
2
do presidente). Já a recusa ao presidente, por qualquer das partes, será depois de ins- Neste sentido, para decidir a questão o árbitro, ou o colegiado, ~ já ?e~e _estar
ticuído o juízo arbitral, pois então completa a formação do painel arbitral (tribunal) investido da jurisdição, com a sua aceitação da nomeação e completa msu~mç~o ~a
com a aceitação deste. arbitragem (art. 19 da Lei 9.307 /1996), daí porque a partir d~ste_momento - mstt~tuido
Também alguns regulamentos noticiam as partes exatamente para se manifesta- 0 juízo arbitml-é que se apresenta a exceção de recusa (ou incidente de remoçao).

rem sobre a indicação e/ou nomeação do árbitro, oportunidade cm que a recusa deverá
ser apresentada. 21 Outros estabelecem a convocação das partes exclusivamente para 22. Referido pelo Regulamento do C'.AM-CCBC.
a assinarura do termo de arbitragem, e neste se fixa prazo para a arguição de recusa. 23. Referido no art. 8. ldo Regulamento do Centro de Arbitragem <la Amcham.
Pode ocorrer, então, certa desordem no momenco de apresentação da recusa, 24. Referido no art. 11.1 do Regulamento da Corte Internacional de Arbírragem da CCI.
admitindo-se, por vezes, a impugnação do árbitro antes mesmo de instituída a ar- 25. Referido no art. J 5 do Regulamento do 1ribunal de Mediação, Conciliação e Arbitragem da
bitragem, diversamente, pois, do previsto na norma, mas cudo de acordo com regu- Comissão das Sociedades de Advogados OAB/SP.
26. Embora diga a lei que a t:-'<<:eç:io sed encaminhada ao presidente do tri bunal, ~ d ec~ão a

21. Cf: arr. 50 do Regulamento do CAESP; are. 11.2 do Regulamento da CCI; e arrs. 14 e 15 do
rcspeiro será colegiada, e tomada por ummimidade 0~1 maioria d~ vocos, como sao ro a~ :s
decisões inrcdocut6rhl$ p roferidas pdo Tribtmal, salvo coovcnç.'io diversa das panes ou prev1sao
órgão de arbitragem da OAB/SP. contrária cm regulamento.
-
2 50 1 CURSO DE ARBITRAGEM i'ROCED!MENTOARBffRAL 1 251

Permite-se, porém, estabelecer outro critério para o julgamento da exceção de Apenas na remoca hipótese de terem as partes instituído a arbitragem íntuitu
recusa do árbitro. Assim, por exemplo, admite-se a instauração de um comitê27 ou .personae, deixando previamente expresso não aceitar asubsrit uição do árbitro, é que
comissão especifica para este fim, iR ou ainda atribuindo-se ao próprio órgão que ad- 0
jufao arbitral será exrimo (art. 16, § 2.0 , da Lei 9.307/1996), sem prejuízo d e os
ministra a arbitragem a autoridade para a apreciação do incideote, 29 delegando-se a interessados, diame do ocorrido, promoverem a modificação da convenção para
decisão nestas situações, em nosso sentir corretamente, a outro árbitro ou órgão que preservar a utilização deste método de solução do conflito.
não aquele em face de quem se apresentou a recusa. 30 Rejeitada a arguição, "terá normal prosseguimento a arbitragem, sem prejuízo
Sendo necessário, instaura-se o conrradi tório também neste incidente, ind usive de vir a ser examinada a decisão pelo órgão do Poder Judiciário competente, quando
com manifestação do árbitro em face de quem a exceção foi apresentada, facultada a da eventual propositura da demanda de que trata o are. 33 desta Lei" (art. 20, § 2.0 ,
produção de qualquer prova (inclusive oi tiva de testemunhas etc.), tudo sem perder
da Lei 9.307/1996).
de vista a agilidade e rapidez com que a questão deve ser superada.
Inexistindo previsão legal de recurso no procedimento arbitral, o inconformismo
É pertinente, em nosso sentir, a suspensão das atividades jurisdicionais do ár-
da parte diante de justa motivação, em seu entender, para vulnerar a imparcialidade e
bitro, ou do colegiado, enquanto pendente de julgamento o incidente, evitando-se
eventuais vícios e nulidades. independência do árbitro, alegadas ao se apresentar a recusa, pode ser renovado apenas
em ação própria de invalidação da sentença arbitral (pressuposto, pois, o encerramento
(c) Efeitos da decisão a respeito da recusa ao árbitro
da arbitragem), pois a decisão será nula se "emanou de quem não podia ser árbitro", ou
Acolhida a impugnação, o árbitro será substituído por seu suplente, se houver
se "forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2.0 " (imparcialidade e
(are. 15, parágrafo único, c/carts. 16 e 20, § 1.0 , da Lei 9.307/1996). Na ausência de
livre convencimento), conforme previsto no are. 33, II e VIH, da Lei de Arbitragem.
subsricuco, segue-se a sua indicação ou nomeação como se fez para o árbitro originário,
agora afastado, como ames jáse analisou (arr. 16, §§ 1. 0 e 2. 0 , da Lei 9.307/1996). 31 Daí o extremo rigor com que deve proceder o julgador do incidente, merecendo
E tudo se repete, ou seja, abre-se nova oportunidade para indicação, nomeação, a rejeição do pedido detalhada motivação, para se preservar o quanto possível o juízo
aceitação e incidente de recusa ao novo convocado. arbitral de fucuro e eventual ataque por esta questão perante o Judiciário.
Permitido o incidente a qualquer momento, por fato superveniente, como visto, Note-se, ainda, que a ação se propõe apenas quando do término da arbitragem,
ao substituto é facultado determinar a repetição de atos processuais ou de provas, para pois direcionada à invalidação da sentença, sendo inapropriada, como regra, a ini-
formar o seu livre convencimento. ciativa da parte em provocar o Judiciário no curso da arbitragem, mesmo através de
cutela cautelar ou antecipacória de resultado futuro. 32
27. Regulamento do CAM.CCBC, icem 5.4; item 11.3 do Regulamento <la Corre Incernacional
de Arbitragem - CCI.
8.4.2. A arguição de vícios relativos a competência, nulidade, invalidade,
28. Regulamento do CAESP; irem IS do Regulamento do Tribunal de Mediação, Conciliação e
Arbicragem da Comissão das Sociedades de Advogados OAB/SP. ineficácia da convenção
29. Regulamento do Cenrro de Arbitragem C/im11.m Arnerüm1a de Comércio de Síio Paulo -
AMCHAM7.3 e 7.4; itens 11.2 e 11.3 do regulamento da Corre lncernacional de Arbitracrcm
O are. 20 da Lei também estabelece que na, primeira oportunidade, deverá a
- CCI; irem 4.8 do regulamcnco da SP Arbitral - Câmara de Arbitragem Empresarial de"são parte arguir "questões relativas à competência" e "nulidade, invalidade ou ineficácia
Paulo. da convenção de arbitragem".
30. Em recente pesqui.~a desenvolvida no Projeto III do Gmpo de Pesquis,z em A1·bitragem - GPA da
PUC/SP, exatamente sobre a previsão em instituições para julgamento da impugnação de árbitro,
detectou-se na consulta a 22 Câmaras Nacionais que a maioria delas direciona ao Presidente 32. Por curiosidade, mas sem juízo de avaliação quanto ~ adequaçáo da solução, anota-se o previsto
da Instituição (3), ou Diretor ou Conselho Diretor (6), a Comitê (4) ou a ourros órgãos (v.g. n a Lei de Arbitragem Volumária de Ponugal, 110 sentido de que: "Se a ckscimiçiio do árbitro
Conselho Consultivo) a decisão de impugnação. Também no ambiente internacional, embora recusado não puder ser o brida segundo o processo convencionado pelas partes ou nos cermos
redu:údo o nümero de Câmaras consultadas, quase a cocalidadc também delega a oucro órgâo do disposto no n. 0 2 <lo p(csente arügo, a parte que recusa o árbitro pode, no prazo de 15
(a própria instiruição, etc.), diverso do próprio árbitro ou colegiado impugnado, a decisão a dias após Lhe re r sido comunicada a decisão qu e rejeira a recusa, pedir ao tribunal escadm1J
respeito. E mais a respcico deste Projeto IH do GPA-PUC/SP, e seus pesquisadores, cf. Cap. 7, compccenrc que come uma dt.,dsão sobre a técusa, sendo aquela insusccpcivd de recurso. N:t
irem 7.3, nota de rodapé n. 16. pendénc.ia desse pedido, o tribunal arbitral, incluindo o árbitro recusado, pode prosseguir o
31. Cf. Capítulo 7, icem 7.6. processo arbitral e proferir scnrença" (Lei 63/2011 , are. 14°, 3.).
252 1 CURSO DE ARBITRAGEM PROCEDIMENTO ARBl'l'RAL l 253
De pouca precisão técnica o art. 20 em exame, pois refere-se a "competência", Reconhecido o vício, e pouco importa se dai decorre a invalidade ou ineficácia
sem especificar a lei o que nesta se contém;33 ainda, confunde o vício da convenção da convenção, "serão as partes remetidas ao órgão do Poder Judiciário competente
com seu efeito,3 ~ e, por fim, faz-se omisso quanto à amplitude com que se podem para julgar a causa" (art. 20, § 1.0 , da Lei 9.307/1996). Quer-se dizer, por esta regra,
verificar os defeitos da convenção. que se extingue o juízo arbitral sem resolução do conflito (sentença terminativa).
A interpretação sistemática da Lei, então, sugere que, considerado o princípio E caberá ao interessado, de acordo com o seu interesse e conveniência, buscar a
kompetenz-kompetenz, já analisado, todas "as questões acerca da existência, validade e cucela jurisdicional perante o Estado. Incogicável adotar o árbitro, ou tribunal arbitral,
eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compro- qualquer medida de encaminhamento do processo ao Judiciário. Esta providência é
missória" (arr. 8.0 , parágrafo único, da Lei 9.307/1996) devem ser invocadas pelas exclusiva das partes, e se faz por meio do exercício do direito de ação.
partes nesta oporrunidade35 e decididos pelo árbitro ou Tribunal arbitral. Rejeitada a arguição de defeito na convenção, cal qual ocorre quanto ao desaco-
Por outro lado, também neste momento deve ser trazida eventual questão lhimento da exceção de recusa do árbitro, prossegue-se na arbitragem sem prejuízo
relacionada à formação do juízo arbitral. Por exemplo, se dúvida houver quanto à de se invocar o vício em ação de invalidação de sentença arbitral (are. 20, § 2.0 , c/c
instalação de painel ou fixação de árbitro único, diante de eventual imprecisão da ares. 32 e 33 da Lei 9 .307/ 1996).
convenção, nesta oportunidade deve ser solucionada, pois, instruída a arbitragem Quanto aos efeitos da decisão, nesta situação de alegada falta de competência
sem esta arguição, ter-se-á por aceita a forma instaurada.36 ou vício na convenção, cabem, ainda, algumas ponderações.
(a) Dos efeitos da decisão a respeito dos vícios da convenção Pelo sistema legal criado, como já estudado, o árbitro por primeiro tem a juris-
dição para avaliar a sua própria competência sobre a matéria que lhe é apresentada.
Referindo-se a questões de ordem pública, seu juízo positivo, ou seja, reconhecendo
33. Diversamchrc do co.nceico e e.xrensão do insriruco da "compótência" no processo civil, aq ui a a jurisdição sobre o confli co, pode ser revisto pelo Poder Judiciário apenas após ser
rcfu-~n~ia a cs~a "compctênci:~". si! fuz pa1:1 comcmpl.1.1• :i veriJ:icação da 11rbi1mbilid,rdc s11bjcti11tl
~ º!JJt'/11,a, e amda par~ a :'u~alise de vfc10s da co11Vt: nção, mi qual aprescnrado no paràgrnfo
proferida a sentença 37 (sem prejttízo, evi.dentemente, de eventual revisão no próprio
LUuco d? a~r. 8.0 da ~1, _na 1nterph:cnçã~ que U1e concede :i dout rina a respeito (princípio da juízo arbia-al), e, nesta oporcunidade, pode-se concluir pela invalidação de todo o
con:pcccncm-co~1p~tcnCJ:t - :f,a respe1co, Capítulo 5, irem 5.2, supra). Não se quer aqu.i prncedimento, excluindo, então, do palco arbitral a autoridade sobre a matéria,
av::i!rar a compcc..:ncia no scnrido processunl, c:impouco no sentido leigo ele ''c:ipacidade", Oll rescrva.ndo-a ao conh.ecimenco excl usivo do juízo estatal. E assim, ao Judiciário caberá
apcidã.o para o 111 istcr, pois a consequência da incompctC:ncia seni:i cxtí nç5o cio juízo :irbicral, a última palavra quanto ao juízo positivo da competência do árbitro.
remetendo as partes ao Poder Judicidrio (§ 2." do artigo cm an.ílise).
34. Ora, a invalidade ciu incficicia são efeitos cleamcnn.:s de vícios diversos, por sua v~., invalidade,
O inverso, porém, não se verifica, merecendo solução totalmente oposta.
~ o gênero da qua l :l rmlidadc e a amdabilid:'lclcsão ás espécies. Em verdade, dever~ ser alegado Se o árbitro declinar de sua jurisdição no caso, por falta de arbitrabilidade da
o víciô da coa:vc.~ção, e c~táo inclicado o cfeico jurídico que em razão do vício se prcrendc, questão, ou mesmo se considerar existente algum vício a ensejar a invalidade ou inefi-
como na seqacncrn se vera.
cácia da convenção, às partes restará o acesso ao Poder Judiciário. Mas neste, a decisão
35. Melhor teria sido, enrão, dizer a lei que a parte deve arguir nesta oportunidade a matéria contida
no parágrafo único do are. 8. 0 •
arbitral não pode ser revista ou modificada, ou seja, ao juiz estatal não cabe analisar
36. Nesca oportunidade já se ccrá, Chl regra, instituído a arbi tragem como acima visco, e c;1ber:i
se aquela decisão terá sido acertada ou equivocada. Simplesmente deve prosseguir na
ao árbitro (o u colegiado arbia-al) a decisão. Anote-se, porém, diferenciad a p revi$âO con rid.a solução do conflito. Em outras palavras, independentemente da convicção pessoal do
no novo Rcgufo menro do CAM-CCBC, pelo qual, "ances de constituído o 'Tribunal .Arbirrnl, magistrado, inviável a determinação de retorno das partes ao juízo arbitral. A decisão
o Presidenre do CAM/CCBC examinará objeções sobre a existência, validade ou eficácia da do árbitro, cerra ou errada, é definitiva. 38
~nvenção d~,arbitragem que possam ser resolv idas de pronto, independencememe da produ-
çao de provas (are. 4.5), com a precisa observação d.e Frederico José Straube ao comentar este
dispositivo: "A referida possibilidade tem abrangência muito reduzida, e de nenhuma forma 37. Anote-se o quanrc>já se disse a respeico dos "Efeitos da convenção arbitral" (Capítulo 6, icem
b~sca su~rii~(r os poderes concedidos ao árbitro para avaliar sua própria jurisdição, como bem 6.5, acima), e também sobre a abrangC:nci:1 do Princípio competência-competência, indusíve
dita o pnnc1p10 da /,:ompmmz -1,:mnpi:tenz. Concudo, sua inclusão se demonstrava cada vez mais quanto à nova previsão contida no Código d.e Processo Civil no sentido de impor a extínção
necessária, concedendo legitimidade à an:ílisc prim11 facic realizad a pelo Presidente do CAM./ do processo judicial sem resolução do mérito "quando o juízo arbitral reconhecer sua compe-
CCBC sempre que solicitada pelas parres" (Uma primeira nn;ilise do novo Regulamento do tência" (are. 485, VII, do CPC/2015; Capítulo 5, ítemS.2, acima).
CAM/CCBC, l?e11i.rttt dt· Arbih11gcm e Mcdi,tçáo. ano TX, 11 . 32, São Paulo, jan.-mar. 2012, 38. Recomendam-se, para reAexão, recentes decisões relativas a conAito de competência entre
p. 239). câmaras arbitrais, ou encre juízo arbitral e estatal, que provocaram debate entre os esrudíosos
254 1 CURSO DF. ARf\lTRAGEM
PROCEDIMENTO J\RBITRAL l 255
8.4.3. A omissão das partes, na primeira oportunidade de se manifestar, nidade de manifestação (are. 20 da Lei 9 .307/1996). Aquesrão aserenfrenradaéa
seguinte: deixando a parte, por descuido ou opção, de apresentara recusa ao árbitro,
quanto à recusa do árbitro e quanto aos vícios da convenção ou de arguir defeitos da co nvenção, con valjda o ju.ízo arbitral, independentemen-
te do vício, impedindo que venha a ser invocada a matéria posteriormente? O u,
Estabelece a lei o momento para a arguição destas questões: primeira oportu-
com poucas palavras, utilizando conceito processual conhecido: haverá preclusíío
nestas hipóteses?
~,o,bre arbitra~e'.11: STJ, ~C l 1?._260-SP, rei. Min. Nancy Andrighi, com a seguinte ementa:
I r~cessual c1v1I. Conflito positivo de competência. Câmaras de arbitragem. Compromisso Contém a regra elementos heterogêneos, cada qual com características próprias,
arbmal. Interpretação de ch(usula de contrato de compra e venda. Incidente a ser dirimido e assim, deve-se promover a análise separada de uma ou outra situações previstas em
no jufao de primeiro grau. lncompet.;ncia do STJ. Are. 105, III, alínea d, da CF. Conflito não
conjunto na norma.
conhecido. 1. Em se tratando da interprccaç:io de cláusula de compromisso arbitral constante
de conrrato de compra e venda, o conAico de competência supostamente ocorrido entre (a) Quanto à exceção de recusa do árbitro
câmaras de arbitragem deve ser dirimido no Juízo de primeiro grau, por envolver incidente Considerando, como já visto, que às partes é dado o direito de aceitara investidura
que não se insere na competência do Superior Tribunal de Jusriça, conforme os pressupostos
de árbitro mesmo diante de eventuais elementos objetivos a ensejar seu impedimento
e alcan~e ~.º art. l 05, _I, alínea ti, da Constituição Federal. 2. ConAico de competência não
conhe~1do ; e STJ, CC 111.230, no qual se encontram as seguintes passagens da decisão mo- e suspeição, pois mais valerá a confiança na honestidade e honradez do escolhido, a
1:ocránca do Mi11. Aldir Passarinho Junior: ''Oe acordo com o are. 105, ], d, da Constituição falta de impugnação, no momento apropriado, leva à presunção de que foi acolhida
fed~ral, cab~ ao ~TJ processar e julgar originariamente: 'os conflitos de competência enrre
pela parte a nomeação, renunciando ao direito de invocar este incidente.
qu:usy_~er t:1buna1.~, ressalvad~ o dis~osto 110 are. 102, 1, o, bem como entre tribunal e juízes
a ele nau vinculados e entre Juízes vinculados a trihunais diversos'. Não se pode pretender E assim, restará vedada a arguição posterior no juízo arbitral ou estatal,w soh
que tal r:dação pressuponha que os órgãos judicantcs referidos no Texto Magno perten~:am pena de se criar verdadeira insegurança jurídica: a parte somente arguirá recusa do
necessariamente ao Poder Judici,írio, seja porque lides como a exposta permaneceriam no 40
vácuo ou .sujeitas à jurisdiçío dupl~ e eventualmente conflitante, como supostamente aqui árbitro se a decisão não lhe for favorávcl.
ocor~c::, sep porque o ~scopo da Lei de Arbitragem restaria esvaziado se os contratantes y_ue Não significa, porém, e esta assertiva é de extrema importância, que o árbitro
~de~~~sem a cal _mod~lidade na solução das co.ntrovérsias rc::solvessem se utilizar do processo estará livre para julgar com parcialidade.
iud1c1al. Tambem nao pode estender o co11cc1to de conAiro de atribuições inserido na letra
g do. ~cnci?11ado dispositivo constitucional para considerar que: a expressão 'autoridades Apenas quer se considerar inviável a arguição da recusa posteriormeme, para
adm1n1strat1vas' comprc::enda entes não Judici;frios. Acresça-se que eventual declaraçfo de fixação da jurisdição, tendo em vista a faculdade da parte em ace.íraro árbit ro mesmo
!ncompccéncia por este Tribunal negaria às partes a definição do órgão respons.ível pelo objecivamence impedido ou suspeito. Também incogicávd a invalidação, com base
iulgamenco, sem oferecer o instrumento para a pacificação do embace de ínrerc::ssc::s. De fato,
o Juí-w suscitado proferiu decisão liminar determinando o inventário de bens da suscitante no irnped imento do árbitro não invocado no momento apropriado (arr. 32, II, da Lei
e outra (e-STJ, As. 148- I 51), objeto de irresignaçlo via agravo de instrumento ao Tribunal, 9.307 / 1996),41 pois, se assim não fosse, o jul.gador "impeclido" estaria, ao contrário,
cuja decisão, proferida pelo relator a quem distribuído o recurso, declarou a incompetência constrangido a julgar em favor exatamente desta parte, sob pena de expor sua decisão
da Corcc Arbttral, senão reafirmada a possibilidade, estabelecida na cláusula 23.8 do ajuste,
d~º. P~d~r Judici,írio prestar a jurisdição quanto 'a medida cautelar ou qualy_uer outro remé- à nulidade.
dio JUridtco que n5.o possa ser obtido segundo a lc::i de arbitragem hrasíleira' (e-STJ, A. 242).
lsso porque são complementares a.~ funções de ambos os entes julgadores, acuando no limite 39. Lembre-se que para fatos posteriores, ou cujo conhecimento se deu após ínstituída a arbitragem,
de s~as compett3ncias, conforme previsto pelas partes 110 contrato. Como J ccdiço, ao Juízo o momento para a impugnação fica automaticamente prorrogado.
Arhm~l falta a coerção escacai para o cumprimenro de seus julgados, tanto que formam título 40. Não se prc::rcndc, aqui, convalidar nulidade, mas considerar ausente o vício, na medida em que
ex~c~ttvo exatamente pa~a q~c à parte refradria, que concordou em se submeter ao julgamento, às partes 1: dado o direito de confiar no árbitro mesmo se objetivamente existir impedimento.
scp imposta, perante a iusuça comum, a prestação a que foi condenada. Portanto, não está E assim, o ;frbitro tacitamente:: aceito poderá, sim, ser árbitro. Quem não pode ser árbitro,
entre ~uas funções pro~1over a execução de suas decisões. Todavia, o arrolamento previsto para efeito de nulidade, é aquele cuja condição foi devidamente impugnada, rejeitada por de::
no ar~1?0 855'. ~o ~ódigo de Processo Civil, não constitui medida preparatória de cadter próprio, mas, não convencida a pane, permite-se levar ::i.o Judiciário o reexame da questão, ou
coerc1uvo a ex1g1r seJa necessariamente prestada perante o Poder Judici,írio, comportando, na seja, rever se realmenre o nomeado pode ou não ser árbitro contrariando a vontade da parte.
hi~ócesc de exisc1:ncia de cl:íusub. arbitral, o seu deferimenro, eventualmente, pelo próprio
4l. O Código de Processo Civil italiano, cm seu art. 829, estipula como motivo de nulidade da
Tnbu~al Arbmal, bem como o seu processamento. Ante o exposto, defiro o pedido liminar
sentença arbitral o n:io seguimento da Lei ou da Convenção Arbitral, porém a nulidade deve
exclusivamente, por ora, para sobresrar o andamento da cautelar de arrolamento de bens até
final julgamemo desce conflito". ser arguida no procedimento arhicral.
-
256 1 CURSO OEARHITRAGF.M PROC:ED! M ENTO A RlllTR/1 L 1 257

Contudo, independente do i ocidente de recusa, no pressuposto de que a isenção 8.5. A ORGANIZAÇÃO DA ARBITRAGEM
e o livre convencimento do árbitro são princípios a ser rigorosamente observados,
Ultrapassados os incidentes relativos à fixação da juris<li<,:ão arbitral, e à nome-
.~eu desrespeito, por si só, é considerado causa autônoma para se invocar a ação de
ação <lo árbitro (ou tribunal), parte-se para uma nova etapa dentro da cronologia do
invalidação da sentença arbitral (arr. 32, VUI, da Lei 9.307 / I 996).
procedimento: tt mgmúzação da arbítmgcm.
Desta forma, pode-se reconhecer a preclusão do direito de arguir a recusa, porém Pode acontecer, no entanto, que os incidentes acima referidos sejam contem-
a omissão <1uanro à instauração do incidente no momento apropriado nãoconramina porâneos ou posteriores ao momento em que se faz. a organização da arbitragem, se
o direito de a parte de buscar um julgamento isento e imparcial. e.~cabdecida, por exemplo, a partir daí, a primeira oportunidade de manifestação.
Ainda, uma última observação quanto ao silêncio das partes, no momento Mas, aqui nesta apresentação da cronologia, mais importante do que as datas é
inicial próprio para incidentes de nomeação do árbitro: se não arguida a recusa tam- identificar e conhecer o conteúdo da fase em que se está: ínstmmiçíío ou organização
bém quanto ao desatcndimento <le requisitos convencionados para a investidura do dri m·bitmgem.
julgador (p. ex., como citado acima, exigência de titulação acadêmica), considera-se Í'rise-se: o critério é circunstancial, não temporal.
superada a irregularidade. Assim, ter-se-,i por tacitamente aceita em definitivo a no- Pois bem, embora não previsto na Lei, muitos regulamentos estabelecem uma
meação, cm detrimento do quanto antes ajustado, impedindo que venha a ser alegada primeira audiência, ou reunião, entre os interessados e o ,irhitro para a assinatura de
a irregularidade no futuro, quer no juízo arbitral, 9uer cm sede de ação anulacória <le um tamo de flrbitmgem, ou ata de missão. A inspiração desta providência, pelo que se
sentença arbicral. 42 noticia, vem das regras de arbitragem da CCl, nas quais se prevê a realização do tenns
(h) Quanto aos vícios da convenção ofrefi:renceH muito mais detalhado e abrangente do quanto se cem por aqui.
Existindo vícios na convenção, com ou sem arguição, por se revc:stirem, cm Voltado à 01-grwizrzçáo da arbitragem/' este instrumento tem tripia finalidade:
explicitar a convenção arbitral, fixar o objeto da arbitragem e estabelecer o cronograma
princípio, de exigências consideradas de ordem pt.'tblica, escapam da disponibilidade
provisório da arbitragem. O termo de arbitragem pode conter uma, outra ou todas
das partes, impedindo o seu saneamento pela omissão.
as questôes:H,
Assim, enquanto nulo, o aro não se convalida, e mesmo omissa a parte, o vício
contamina todo o procedimento, e compromete, inclusive, a sentença arbitral que
44. Fxprcssão inglesa traduúda para o portugw:s como "aca de miss;io", como informa Carlos
estará exposta à invalidação nos termos dos ares. 32 e 33 da Lei de Arbitragem. Alhcno Carmona (tlrbitmgcm e pl'ofessn,cir., p. 280). O ari. 18 do Regulamento <la Corte
lnn:rnacion:tl de Arbitragem da CCI esr:ihelece o procedimenro e o contd1do <la ata <le mis-
Vale observar, porém, 9ue o ataque à sentença arbitral tem prazo, aliás bem
s:io, documt'.nto pelo qual se fixa a missão do Tribunal Arbitral e se cscabclccc o cronograma
reduzido, de 90 dias, após o qual, pela decadência;13 não se poderá mais impugnar provis1írio para o dcsenvolvimenro <la arbitragem. Para a elaboração deste documento, as partes
o decidido com fundamento nestes arrs. 32 e 33 referidos, muito embora, como se s:io convidadas ;1 participar com sua presença pessoal ou por meio de troca de docnmenros.
Característica prüpria da arbitr:1gem a<lmíníscrada pela C( :t é a suhmissão pelo Tribunal <le~ta ata
verá adiante (no Capítulo 13 adiante, destinado à invalidação da sentença arbitral), de missão :t Corte, par;t a rcspcctiva aprovação, tal como rnmhém se foz com a sentença arbitral.
encontra-se remédio excepcional para impugnar o procedimento arbitral quando Cf., a respeito, lwww.iccwbo.org/uploa<ledhlcs/Court/Arhitration/other/ruks_arb_bra;,;Ílí:m.
reconhecida a "inexistência'' da jurisdição. pdf], acesso, pela última vc~., cm 09.05.2011.
45. Ou como diz Leonardo de Faria Bcral<lo: 'Trata-se dc ínstrumento, sem previsiio legal, quc
possui relevante fun<;ão ordenadora no procedimento arbitral, uma ve1, que ~ nele que as
42. Neste sencido, Carmona elucida: "O direito icaliauo ~ mais preciso sobre o ponm, arrolando fXU-tes poderão, por exemplo, adaprar, alrerar ou prever a,~ regras do regulamento aplidveis ao
o are. 829 do Coe/ia: di Prnci-dum Ci11ií,·, como motivo de nulidade do laudo, o foco de niio caso concreto, observando-se as particnbri<l:i<les neccss;Írías, tais como forma de indicação de
terem sido nomeados os ,irbitros ele acordo com o previsro na Lei (o u de acordo com o disposro ;Írhí lto e o prazo para ::i prática de atos prnccssuais." BERALOO, Leonardo de Faria, Cuno d,·
pelas partes na convençâo arbitral), desde que a nulidade tcnba sido deduzida no juízo arbi· Arhimtgcm... , cic., p. 285.
tral. A fulra de alcgaçfü> preliminar, portamo, sana o evemual vkio, impedindo sua posterior 46. Sclma Lemes observa: "O TOA (Termo de /\rbitragem), como mencionado, é instrumento
alegnção. A mesma cond usão - upesar da falta do rexto exprttsso - serve para a, Lei brasileira" processual organizador da arbitragem, que fornece às parres e aos árbitros a oportunidade de
(CARMONA, Carlc,s Alberto. Arbitmg1m1 e ptocesso, cit., p. 284) . acordarem a respeito do procedimenco, dos praws, <los <loi;;umemos e, principalmente, para
43. CE Capímlo 13, item 13.3 e Capítulo 12, item 12.4.4. idcnrilicar e delimitar a matéria objeto da arbitragem, que reperwte no mister dos :írhinos,
258 l CURSO DE ARBITRAGEM PROCEDIMENTO ARBITRAL 1 259

(a) No que se refere à convenção, o termo de arbitragem é importante para cença parcial, a maneira como serão praticados os atos processuais (v.g., protocolo
esclarecer dúvidas ou sanar irregularidades e falhas que naquela eventualmente se eletrônico), e forma de comunicação das decisões às partes (v.g., correio eletrônico),
contenha. E, para tanto, há previsão legal: "Instituída a arbitragem e entendendo o se diverso do previsto no regulamento (mas por este permitidas estas adequações a
árbitro ou o tribunal arbitral que há necessidade de explicitar questão disposta na critério das partes).
convenção de arbitragem, será elaborado, juntamente com as partes, adendo firmado (e) por fim, pode e deve constar do termo de arbitragem o cronograma provisório
por todos, que passará a fazer parte integrante da convenção de arbitragem" (art. 19, que se pretende seguir na condução da arbitragem. Por meio dele fixam-se prazos e
§ 1.0 , 47 da Lei 9.307/1996). etapas a serem observados por todos os envolvidos na arbitragem (partes, árbitros,
Este adendo, então, complementa a convenção, inclusive, se for o caso, quanto peritos etc.). Especificamente quanto a prazos, temos adotado como regra, seguindo
aos poderes conferidos ao árbitro, quanto à abrangência e extensão da arbitragem, 0 exemplo de muitos, a indicação específica do termo inicial e final para a p rática do
além de dispor sobre eventuais pontos relevantes àquele procedimento, conforme as ato, e não do prazo propriamente dito para sua realização.19
circunstâncias (p. ex., sede, lei aplicável, local de desenvolvimento da arbitragem etc.). Esta faculdade de se estabelecer previamente o roteiro da arbitragem a ser se-
O objetivo, enfim, é evitar que as falhas acidentais da convenção venham apre- guido confere ao procedimento significativa praticidade, e representa, na verdade, a
judicar ou tumultuar o desenvolvimento da arbitragem. Pelo seu propósito, é nítido autonomia de se p romover o gerenciam ento do procedimento de acordo com as suas
seu caráter saneador. E embora de inegável utilidade prática, e evidente pertinência, peculiaridades, promovend o-se os atos na sua exata medida para atender às necessi-
este adendo é facultativo. dades da demanda específi ca. so
(b) quanto ao objeto da arbitragem, neste instrumento se faz. a identificação das E seus resultados positivos foram cão reconhecidos pelos Processualistas que
partes, seus representantes e advogados, árbitros, local onde será proferida a sentença, fiz.eram incluir no Código de Processo Civil instrumentos de gestão do processo,
local onde os aros serão praticados (se distinto do anterior), lei aplicável, ou autori-
zação para julgamento por equidade, idioma em que será conduz.ida a arbitragem, 49. Pelo Regulamento da CCI, acima citado, este cronograma provisório deverá sempre ser feito
identificação precisa do objeto do litígio (as questões controvertidas), com detalhes durante ou logo após a ata de missão (item 18.4); ramhém na CMA da CIESP/FJESP, a
de sua extensão, valor, responsabilidade pelo pagamento das custas, honorários dos calendarização se faz em ''.Ara de Reunião" separada do "Termo de Arbitragem". Já no CAM/
CCBC o calendário é um dos itens do "Termo de Arbitragem".
peritos e dos árbitros, dentre outros pontos relevantes que se entender pertinentes.48
SO. Embora voltada a análise ao processo judicial, recomenda-se a leitura de primoroso escudo a
Também aqui devem ser especificadas peculiaridades procedimentais próprias do
respeito do gerenciamenro do processo, feito por Claudía Elisahere Schwerz Cahali no qual
respectivo litígio, como poderes do árbitro, a impossibilidade de ser proferida sen- se contém substancial pesquisa a respeito do rema, inclusive após análise do cenário jurídico
estrangeiro, resultado de sua tese com a qual obteve do tículo de Doutora pela PUC/SP. A
autora explora com maestria as vantagens, requisitos, princípios, técnicas, limites, parâmetros
garantindo que a sentença arbitral decida nos limites do pedido" (LEMES. Selma Maria Ferreira.
e situações específicas, para se praticar de forma útil o gerenciamento do processo, instituto
Convenção de arbitragem e termo de arbitragem. Características, efeitos e funções. Revista do
que assim identifica: "Entende-se por gerenciamento de processos o conjunto de medidas e
Advog11do. n. 87. ano XXV]. set. 2006. p. 94-99).
de práticas aplicáveis à condução do processo pelo juiz, voltado para a concretização de um
47. Já em sua nova redação introduzida pela Lei 13.129/2015-cf. texto consolidado e comentários processo célere e efetivo, observado o devido processo legal. A gestão do processo busca conferir
em Anexo I e Anexo 2 adiante. racionalização à atividade jurisdicional. O gerenciamento de processos judiciais contempla
48. Adorou-se aqui, como parâmetro, a previsão contida no Regulamento do CAM-CCBC, três vetores principais: l) a possibilidade de o juiz adaptar o procedimento às peculiaridades
are. 4.18. Também detalhada a ata de missão sugerida pela Corte fncernacional de Arbitragem do direito material; 2) a adoção de boas técnicas na prestação jurisdicional que compreende
da CCI, no are. 18, item 1: " ... Este documento deverá conter, entre outros, os seguinte.~ por- o planejamento, a organização, a condução da marcha processual e o conhecimento pelo juiz
menores: a) o nome ou denominação completo e as qualificações das partes; b) os endereços da causa das questões relevantes do processo e da identificação da demanda conforme a sua
das partes para os quais poderão ser validamente enviadas as notificações e comunicações complexidade; 3) a utilização incensa dos meios alternativos de resolução de conflitos. É um
necessárias no decurso da arbitragem; c) um resumo das pretensões das partes e dos seus pedi- instituto complexo que busca desenvolver maior cooperação entre todos os sujeitos do processo,
dos, e, na medida do possível, uma indicação das quantias reclamadas ou reconvencionadas; entre juiz e as partes e os advogados, e as partes e seus procuradores entre si, na medida em que
d) a menos que o Tribunal Arbitral considere i.nadc::quado, uma relação dos pontos litigiosos a todos o.s envolvidos tem (ou deveriam ter) pelo menos um propósito em comum: a rápida e
serem resolvidos; e) o nome completo, as quafüica~;ões e os endereços dos árbitros; f) o local da adequada solução da disputa judicial.'' Lendo esta passagem, verifica-se tudo o que se quer na
arbitragem; e g) os pormenores da~ regras processuais aplicáveis e, se for o caso, a referência _a~s arbitragem, e se pode exercer com partida no termo de arbitragem, momento especial para se
poderes conferidos a.o Tribunal Arbitral para atuar como amiahle compositeur ou para decidir promover a organização do procedimento arbitral." (O Gerenciamento de Processos judiciais em
ex aequo et bono". Cf. site acima indicado na nota 34. busca da efetividade da prestaçii() jurisdicional. Brasília. Editora Gazeta Jurídica: 2013. p. 28).
260 1 CURSO Dl". ARIIITl{,\CEM l'ROCFJ HMEI\ 1ü AllBITRAl. 261

como a previsão para celebração pelas partçs de saJU:mneuto comparti!IJ11do (art. 357 regras procedimentais por ele estabelecidas (quando não previstas tm regulamenro),
do CPC/2015), e de negrJcio p1·omsual (arr. 190 e ss., do CPC/2015), inclusive, neste na falta de consenso entre as partes.
úl rimo, prevista a possibilidade dt o juiz e as partes fixarem "calendário para a prática De omra parte, diante <la pluralidade de seu conteúdo, como acima referido,
dos atos processuais, quando for o caso" (art. 191 e sçus §§, do CPC/2015).O ~ro- cada qual deve ser analisado separadamente quanto à ausência <le assinatura de uma
nograma, como referido, t: provisório, de tal forma que contingências podem afetar ou ambas as partes.
a sua subsistência, possuindo o árbitro, naturalmente, autoridade para promover as Nesta fase, como se viu, o árbitro j,i possui jurisdição plena'" sobre rodas as
adaptações pertinentes. questões envolvendo o conflito. Ao árbitro cabe apreciar a sua própria competência,
Conveniente, em nosso sentir, (JUe a atrz de missão ou termo de m·bitmgem mais e assim, a extensão <los poderes que lhe foram outorgados pela cláusula, <lecídindo
se aproxime do modelo sugerido pela CCI, ou .seja, contemple o maior conteúdo sobre sua abrang~ncia. Tem, ainda, autoridade para <li.sciplinar o procedimento, na
possívd relativamente aos aspectos próprios da arbitragem a que se refere e sua orga- falta de.: estipulação ou con.senso entre os envolvidos. E tu<lo o quanto decidir, então,
nização (cronograma). impõe-se às partes.
Advirta-seque especilicamen te na arbitragem tztl h()c, este momento é de ex crema Diante desta situação, recusando-se uma da partes, ou ambas, assinatura do :t
importância, pois inexistentes regras previamenceestabelecidas (salvo se programadas cenno, rndo o que nele se contém pode ser objeto de decisão <lo árbitro, como ordl'm
previamente pelas partes). Aquisçrão fixados peloárbicroos procedimentos bali1.adores proa:ssual. Assim, não importa o nomç, mas o foco é que as deliberações, enquanto
da arbitragem, noexerdciodaauroridadegue lheéomorgada peloart. 21, § l .O,daLei. cais, consensuais ou por determinação <lo árbitro, passam a ser imperativas.
Embora com significativa libçrdade :ts partes para negociarem o quanto pertinen- Apenas se foz uma observação quanto ao "adendo" previsco no§ l .0 <lo art. l 9 da
te no termo <lc arbitragem, é evidente que não.se podení nele violar normas cogentes e Lei <le Arbitragem. 1 '· Enquanto cal, ou seja, "adendo", e com expressa previsão, neces-
princípios estruturantes <la arbitragem como, por exemplo, do contraditório, ampla sário ser,í observar os seus requisitos, dentre eles a elaboração conjunta com a.~ parre.s.
defesa e igualdade das partes. Nesce sentido, o aden<lo do artigo em exame exige, obrigatoriamence, o con-
Este, então, é o momento de "estabilização da demanda", prosseguindo-se, senso retratado pela assinatura conjunta, até porque ''passará a fozer pane integrante
após, para a fase de desenvolvimento da arbitragem, na qual são praticados os atos da convenção de arbitragem", pressupondo a volundria aceitação. A recusa à sua
processuais propriamente ditos envolvendo o litígio, e não o procedimento. a.~sinatura torna invâlido o ato.; 1
Mas, repira-se, o árbitro temauroridade ecompetcncia para decidir sobre as dú-
8 ..5. 7. A (alta de assinatura no termo de arbitragem vidas, lacunas ou falhas da convenção, emprestando-lhe a interpreraçãoqueentender
l-H certa indefinição, em nosso direito, pela ausência normativa, diversidade de mais adequada, respeitados, evidentememe, seus limites.
tratamento pelas cnti<lades arbitrais, soma<la ao pouco aprofundamento dos comen-
taristas do assunto, <lo que repre.senta o termo de arbitragem. 5 l. A respeito d:1 jurisdi\ão rotai do ;írbitro a p:mir dcsla fa~l' do procedimento arhi1r:1l, Pedro 1\.
Bacist;1 Man i ns 110s c.::nsi na: ''.Segundo a sísrem:ít ic:1 da 'Lci Marco Maciel', a imcrvenç:io do
Aliás, como rçferido, por veZ,eS é natado como ata de missão, adaptando-se
Jlldiciârio se :1comoda cm momenro que ancecc:de /\ conllnna<;ão dos :irbi rros ou :1p(Ís :1 probção
nomenclatura estrangeira, mas sem importar a seus requisitos e extensão. d:1 decisão pelos ;írbi1 ros. Com efeito, a lrmg,t 111tm11.> cslatal n:io deve alc:inç:ir :1 fose :Hbitr:il,
fato é que, no início do procedimento, neste momento aqui identificado como cm que o ,írhítro t: se11l1or d:i funçfo que exerce, exceto Sl'. solicitada pelo julgador privado.
de organização da arbitragem, costuma-se promover um instrumento com o objetivo A :itua<;ão do juiw ordin,írio dcvc se fozcr prc.~cnre, dur;111le o transcurso da arbitragem, por
forç:1 de solicicaç:io do painc.:I arbitral e par:i com ele cooperar na imposiçfo das medidas de
de preparar o processo para a fase de seu desenvolv imento, na qual serão concentrados din:iw'' (MARTINS, Pedro A. Batista. As tr~·s foscs da arbitragem. Hi:1ústt1 tio Ad1.'()g11tlo, :1110
os esforços no debate, instrução e solução <la matéria de fundo, superando questões XXVI, p. 90, scc. 2006).
periféricas que podem causar rurbul2ncias no andamento do feito. 52. J:í cm Slia nov:i red:1çfo in1 roduzida pda Lei 13.129/2015 -d: 1cxro consolidado e comcnc:irio.s
cm Anexo 1 e Anexo 2 :1dia1lle.
Vem agora a questão da recusa de uma das partes em assinar o instrumento.
53. Ou, como diz Carlos Alberto Carmona: "Para que haja qualquer a cerco válido (que passnrá a
Ao se consi<krar, como .se faz na doutrina, facultativa a .sua celebração, já se F.w:r parce integrante da convcnc;âo de arh itmgem, como explicitamente 1m:11cio11a o parágr:1fo
percebe que a arbitragem seguir,i indepen<lenrcmente desce termo, respeitando-se, único do artigo cm foco} rorna_-se necessária a parcicipnçio das panes c dos ::írbicros" (CAR-
nesta situação, os limites da convenção, na interpretação dada pelo árbitro, corn as MONA, Carlos Alberco. 1Jrbitr,1gem e prúcl!Sso,cic., p. 28 1).
262 1 CURSO OE ARBITRAGEM PROCEOIMP.NTO ARBITRAL 1 263

Enfim, tudo dependerá de corno se identifica o "termo de arbitragem" ou a "ata ·oócuas, na medida em que o ditado regulamento assegura, em qualquer hipótese,
de missão". o conrrad'Jtono
J ' ' "55
.
Ao se considerar este instrumento, tal qual fazemos, corno destinado à organiza- Desta forma, em conclusão, o adendo da lei pode integrar o termo, e assim, se pela
ção da arbitragem, na amplitude acima referida, com diverso conteúdo, poderá conter iden ri ficação do regulamento ou do árbitro este termo é mais abrangente e Jeprese.11 ta
deliberações conjuntas ou decisões do árbitro, aliás, como se verifica em qualquer a deliberação , consensual das partes, ou decidida pelo julgador com a autoridade que
ata de audiência. Uie é própria, sobre questões relacionadas à competência e procedimento, presente
56
estará o seu caráter impositivo independente da assinatura das partes.
O "adendo" da lei pode ser incluído no instrumento, mas este não se limita
necessariamente, àquele. Constado no termo o "adendo", na amplitude referida n~
8.6. B1BLIOGRAFIA RECOMENDADA
norma, indispensável o consenso. Se, porém, ausente a assinatura de uma das partes,
não terá como "adendo", mas como decisão do árbitro, no exercício da jurisdição, 0 ALBANESl, Christian; FERRIS, José Ricardo; GREENBERG, Simon. Consolidação. integração,
pedidos cruzados (cross claims), arbicragem mulciparce e mulciconrratual: a recente experiência
que no termo se contém a respeito, e tudo o mais relativo às outras questões (regras na Câmara de Comércio Internacional (CCI). Re11ist11 de Arbitragem e Mediação, n. 28, ano Vlll,
de procedimento e organização geral da arbitragem). 54 São Paulo, jan.-mar. 2011.
Sob outra perspectiva, ainda, deve ser considerado o quanto previsto em re- BAPTISTA, Luiz O lavo. Arbitragem: aspeccos práticos. Revista Brasileira de Arbitragem. edição especial de
gulamentos de entidades arbitrais a respeito. Isto porque, encomendando a partes a lançamento, n. O. Porco Alegre: Síntese; Curitiba: Comitê Brasileiro de Arbitragem, jul.-out. 2003.

arbí~ragem a uma instituição, aderem às suas regras, submetendo-se ao quanto nelas BAPTISTA, Luiz Olavo. Arbitragem comercíal e intemadional. São Paulo: Lex Magister, 2011.
previsto. BASSO, Mariste!a. Mico e realidade do procedimento arbitral atual li. ln: CAHALI, Francisco, José;
RODOVALHO. Thiago e FREIRE, Thiago (coords). Arbitragem- Estudos sobre a Lei 13.129,
Neste particular, faz-se referência ao Regulamento do Centro de Arbitragem e de 26-5-2015. São Paulo: Saraiva, 2016.
Mediação da CCBC, no qual há previsão de elaboração de "termo de arbitragem", BERALDO, Lt'.onardo de Faria. Curso de Arbitragem Nos Termos da lei nº 9.307/96 - Iª edição - 2014:
com conteúdo diverso do "adendo" da lei em comento, e direcionado, sim, à estabili- Edicora Atlas S.A, São Paulo.
zação da demanda na forma acima retratada (are. 4.18). E também se estabelece que GUERRERO, Luís Fernando. Convenção de arbitragem e processo arbitral. São Paulo: Arlas, 2009.
"a ausência de qualquer das partes regularmente convocadas para a reunião inicial ou PUCCl.Adriaoa Noemi; AZEVEDO NETO, Mauro Cunha. Introdução ao procedimento arbitral. ln:
sua recusa em firmar o Termo de Arbitragem não impedirão o normal seguimento MAIA NETO, Francisco: FIGUEIREDO, Flavio Fernado de (coord.). Perlcim em arbitragem.
São Paulo: Leu d, 20 I 2.
da arbitragem" (art. 4.19). Avaliada pelo Judiciário disposição similar contida no
SILVA, Eduardo Silva da. Regras arbitrais brasileiras: a fase dos regulamencos. ln: CAHALI, Francisco,
regulamento anterior, foi confirmada a sua adequação; assim: "Não se vislumbra José; RODOVALHO, Thiago e FREIRE, Thiago. Arbitragem - Estudos sobre a Lei 13.129. de
nulidade da cláusula 5.9 do Regulamento da Câmara, na parte em que dispôs que a 26-5-2015. São Paulo: Saraiva, 20 I 6.
ausência de assinatura de qualquer das partes (o termo de arbitragem) não impedirá MEDEIROS NETO, Elias Marques de. A efetividade do processo, rcformllS processwtis, o projeto de um
o regular processamento da arbitragem (As. 750). Essa assinatura, assim como a novo Código de Processo Civil e a arbitragem: a terceira onda de transformação da doutrina de Mau1·0
não indicação voluntária dos árbitros, que, no caso, não ocorreu, são circunstâncias Ct,ppellettí e Brytmt Garth. ln: CAHALI, Francisco, José; RODOVALHO, Thiago e FREIRE,
Thiago (coords.).Arbitmgem- Escudossobrea Lei 13.129, de 26-5-2015. São Paulo: Saraiva, 2016.

54. Discordamos, pois, em certa medida de Carmona, pois o autor considera o adendo como
instrumento "que os brasileiros soem denominar cermo de arbitragem" (CARMONA, Carlos
Alberto. Arbitragem e processo, cit., p. 282); e com esse raciocínio, "conclui-se, portanro,
que se uma das parres não comparecer à audiência designada exclusivamence para firmar o
ter~o, não há morivo. para redi~ir a peça; da mesma forma, se uma das partes permanecer
alheia ao processo arbnral (revelia), não será lavrado termo de arbitragem" (idem, p. 281).
Como, para nós, o rermo acima detalhado é muito mais abrangente que o adendo legal
eventualmente nele concido, a assinatura d.a parte não retira deste instrumento a sua utilidade
e pertinência, tampouco sua natureza ímposiciva, na medida em que nele contém decisões 55. TJSP, ApCiv 296.036-4/4, 7." Câm. Dir. Priv., j. 13.11.2003, rei. Des. Sousa Lima.
do árbirr? a serem respeitadas e relativamente à organização da arbitragem (quanto a objero 56. Seu conteúdo não será, porém, repica-se, do adendo consensual previsto na lei, mas, sim, de
e procedimento). decisão a respeito das questões nele contidas.
9.
Procedi mento
arbitral - li
ROTEIRO DE ESTUDOS

1. Do dcs<~11volvi1rn; 11t·o d;1 ,1rhitr~1gt-:rn


• Fase post11l,1t<í1·i,1- ,ileg21~/H~s inic i~ú:-
• i\l()S] H(ln''SSll él ÍS

• R~·vE·lia - nrl. V, :L" s


• lPnt,11iva d1.-· c1.m cili;1ç;fw .irl. ~ 1, 4." (e/ e ;1rl". } fü s
LA produ<;.:io dl0: prova~ na arl.>i1r;igern - i..,~c in~1rutória - ;irl. 2.~
• Consi r.k-m HJiC:! s gerai~ 9.1. INTRODUÇÃO
• D1·!poi111cnto cbs part(-:s Rdlcríndo sobre a melhor dícHrica cm apresentar o procedimento ,trbilral, na
• Oitiva de~ 1·1·:Sl~rnu11l1;1'.:> :.11npliwde que o tema sugere, optamos por oferecer seu esrudo em drios e.ipítulos,
• Tt=~stfmn111h,~s 1éc-11ic:.,c, - E.' .\pí:·rl witne,.,es com o objetivo de facilitar a sua compreensflo.
• ,'vt1.-:rnl'1ri ais Superadas as etapas preliminares, e d;i chamada "estabilização da demanda",
3. (:.1~11ístic.;;1s 111:, cur~o do procf!di111e1110 segue-se para o desenvolvimento da arbilragem. Aqui serão vistasas regras de processo
• Qm·~têin pn-:iudic ial n°:l:-11iv;1 a rlin!;ito indispc,níwl - :.irl. 2 5 propriamen te dito, cm suas fases: poscubtcíri:t e ínsrru ró ria, para, ern separado, na rar
• i\'.:> de~I J8 SHS CO lll ;t él rbi tí.18f~ITl - ;,1rts. 2 7 <: '13, ~ 7.' ' da sc11renç1 arbitral.
• J\ cnn fiçl c,;nc ia I idade n,.1 ~11h iI r:-1gt~m liunb~m serão exami11ada11 casuísticas processuais, como conciliaçlo, revelia,
participaçfo de advogado no procedimento, efeitos da cirnçJo na prescrição etc.
• 11111-:rrup(~ào da p1·1.-:scril~:.10
• P;11tic ip,.u:;ô1.1 cio advns:;1do (:! ch5ÍSlt::nl e d~t p;,rte Colllo visro, com ou sem o tr:rmo ri,· ttrhimigem 011 ttta ri,? missíí.o, a arbirragem
prossegue rcgulam,cnre para seu desígnio: solução do conff ico, com a pdlicados aros,
pdo :trbirro (ou lribunal), e pelas p:1.nes.
Lembrando sempre da a11s{'.11ci,t de lei parn ordenar o desenvolvimento da ar-
bitr,1gcm, suas regras seráo buscadas em diversas fontes: na vonLadc da:; panes; no
regub111ento da insrirui~·fto arbicral indicada par,1 a administra<riio do procedimcn ro;
na ata de miss:fo, se houver; e na decís5o do ,írbírro, com aulOridade para disciplinar
cm car,írer .supletivo, a.s lacunas ;i re!-peito.
Convém deixa r dara a inexi.sr~ncia de qualquer previsão legal para se adour,
subsidi.1ria111enre, as regras comidas no Ccídigo de Proct:sso Civil, 1 permirindo-.se o
aproveiramcmo destas apenas se as partes de comum acordo assim desejarem, e se
manifrsrarem de forn1,1 expressa.

SUMÁRIO
267 1. 1':L·,rc ~c111id<>, Carl<>~ ;\lhen:o Carmona (C!\RM< )N/\, c:,ufos Allicno. 1h·hím1gcm ,·tmc,.J:,-o. S:io
9.1. • 1~.JTRODUÇÃO .....-........................................................ .__ ......................................................................... Paulo: :\tias, 200~). p. 2 '.J~.2_9.~), trazc11do posiç:io divcrg(.·lltL' d;_; Hu,nhc.:rro Thc.:odoro .Jú11ic.ir
9.2. • DO Dí:SENVOLVIMENTO DA ARl31TRAGcM ................................................................................... 268
(.'l l lt:ODORO JLJN [()R, Humberto. J\ :1rhi1 r:1gc111 como mc.:i<> de sol11ç:10 d(; conlr<>vúsins.
9.3. • A PRODUÇÃO Dí. PROVAS NA ARBITKAGEM .............................................................................. 274 R,·h·im, Sím,:s,: d,: Oi1-ú10 (,'j;:if e· />ro,:~·;mal Ci11i!. n. 1, 110\·.-dcz. 1.999), pa ra quem. p<>r fê,n;.1
281 do an. 272, pal',ÍgraÍ(> ,',nico, do C:l'C, dc.:vni:1m ser aplic:l(hs, supk:1iv.1rn.:11te, as regras gcr:1is
9.4. • CASlJiSTICAS ~JO CURSO DO PROCEDIMENTO ...........................................................................
9.5. • BIBLIOGRAFIA RECOME~JDAD/\ ...........................- ..........................................................................
289 do prnt:l:din,cnlo ordin:irio na arhirragcrn cnnfcm11c notícia<> ,nHol'.
268 1 CURSO l)E ARBITRAGEM PROCEDIMENTO ARBITRAL- li 1 269

E para disciplinar o procedimento (como também se faz para a escolha da Sabendo o solicitado do conAíto e sua extensão, também ele deverá apresentar
entidade arbitral), devem ser consideradas as características de cada conrrovérsía, a as suas ",tlegações iniciais", já e m defesa de seus in teresses. E mais, admite-se nesta
qualidade das partes, valor envolvido, grau de especificidade da matéria, necessidade oportunidade seja oferecido por ele. c~m bém p~dido contraposto (com con teúdo_ ~a
ou dispensa de mais alargada instrução etc. conhecida reconvençáo do processo civil). O u seJa, marque-se com destaque: o sol1c1-
tado pode fazer pedido no procedimento arbit ral já em seu início ,·' o que resulta em
Mas, mesmo diante da multiplicidade de opções, pode-se apresentar um modelo
usual para o procedimento. Vejamos: dara celeridade para a solução daquele conflito.
Na maioria das vezes esta perspectiva de o solicitado apresentar pedido se faz
9.2. DO DESENVOLVIMENTO DA ARBITRAGEM constar do próprio termo de arbitragem ou ata de missão, e desde então, pois, já se terá
ampliado o objeto da arbitragem; terá sido, assim, feita a fi>.;ação dos pontos c01mover-
Para o sadio desenvolvimento da arbitragem, devem ser observadas a fiise postu- tidos na fase preliminar, para melhor direcionar o procedimento. Pode, porém, pelo
!titória, a fase instrutória e a fi,se decisória, 2 excluindo-se do juí1.0 arbitral, em regra, a reo-ulamento o u convenção, ser rcstrira a opo rnmidacle de pedido pelo solicirado,
etapa para se exigir o cumprimento da sentença, por faltar ao árbitro a coertioeexecutio. exigindo-se, por exemplo, q ue renha co nstado expressamente no termo inicial, sob
pena de não n1ais se admitir a ampliação da lide.
9.2.1. Fase postulatória
Com base no c:stabelecimento prévio quanto à organização da arbitragem (no
Até agora, ressalvado sempre a convenção, regulamento ou decisão em contrá- cronograma provisório), o prazo será fixado, não necessariamente cm dias corridos,
rio, apenas foi identificado o conflito, com a delimitação do objeto da arbitragem e mas, como é usual, através da indicação do termo final (até o dia til~, e geralmente é
apresentação de pedido ainda abrangente, com o respectivo valor estimado, e tudo comum às partes.
de forma concisa e objetiva. Mesmo propondo a instituição arbitral prazo certo cm seu regulamento, 5 pode
Necessárias, então, as chamadas "alegações iniciais", nas quais o solicitante apre- ser estabelecido lapso temporal diverso, de acordo com as circunstâncias. E nestas
senta, detalhadamente, a fundamentação pertinente à sustentação de seus alegados alegações iniciais, devem m partes desde logo produzir a prova documental.
direitos e específica os respectivos pedidos. 3 Com as alegações iniciais, de ambas as partes, indicadas suas pretensões, abre-se
a oportunidade para o contraditório, defendendo-se cada qual sobre as alegações do
outro ("contestação"). E aqui, novamente, perrinentesefazajuntadadedocumenros
2 . H:i, tamb..:m, oporcuni<lade para apreciação de n11.:didas de urgência, caurdares ou como rutela
:rnrccipa<la, a ser comentado em scpara<lo, pebs suas peculíaridadcs. contrapostos às alegações da outra parte. Na sequência, se necessário manifestações
3. Arno!d~ W~ld atent;1 para~ possibilidade de litisconsórcío na arbirragcm: "A formação <lo lícis- "cruzadas" entre as partes, estas podem ser determinadas ou aucorizadas (seriam as
consorc10 nao pode; ser banida do campo <lo íuízo arbitral, visto que ali, tanto como 110 processo réplicas, tréplicas etc.), até iniciar-se a instrução.
comum, poder:io esrar cm jogo simaçócs cm que a lei exige a ohscrvf111cia <lo cúmulo subjetivo.
Após a instrução, a ser adiante analisada, as partes apresentam seus memoriais,
Basra ress:i.ltar os frequentes neg<Ícios plurissuhjetivos e, principalmente, os completos negociais
formado~ por cessão de <lireítos ou pelos contratos conexos (ou complexos). É bom lembrar orais, no encerramento da audiência (o que é raríssimo), ou por escrito, simultanea-
que o lmswnsürcio ncc1.:ss,írio é re9uisico <le validade e elid.cia da prestação jurisdicional, mente, no prazo assinalado, sendo este último procedimento mais comum.
envolvcn~o, pois, questão <le ordem pública. (...) Como a arbirragcni repousa nos vínculos
contratuais entre as partes e entre estas e o ,írbítrn, seus liames não se manifestam senão entre
os contratantes. A legitimidade de parte para o procedimento arbírral, por isw, só se esrabele1.:e 4. E na maioria das vezes esta perspectiva j:í se faz consrar do próprio cermo <le arbitragem ou
enrr~ ~s sujeito~ contratuais. A ünica via de legitimação, ativa ou passiva, para quem queira arn de missão, desde então, pois, jJ se amplíando o objeto da arbitragem. Pode, porém, pelo
p~mc1par ou sep chamado a participar da arbitragem condiciona-se :i própria convenção ar- reguhmemo, ser rescrita a apresenraçfo de pe<li<lo pelo solicitado, deixan<lo, inclusive, para
b'.tral., Pouc? !~porta, porranco, seja ncccss;Írio ou facultativo o litisconsórcio. Sua formação outro momento processual.
so sera ad1mss1vcl, de forma cogence, entre os que celebraram a convenção arbitral. Assim, se 5. O Regulamento da CCBC: (Cenrro de Arbícragem e Mediação da Ci.mern de Com~rcio
rodos os que devem ser lirisconsortes são ;1derentes à convcnç.io arhitr~I, rudo se desenvolver.í Brasil-Canad;í) propóe o prazo <le 30 dias da <lata da reunião p.ira ::1.~sinatura do Termo de
namr:i~mentc ~~nero ~a ~orça concracual'' (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Arbitragem Arbitragem, caso as partes sílen1.:iem a respeito, e nada sej:.i definido pelo Tribunal Arbicral
e terceiros - L1t1sconsorc10 fora tlo pacto arbitral: outras intervenções de rerceiros. Revist11 de (are. 7.2); o regulamento da Camarb (Câmara de Arhirr:igem Empresarial - Brasil) propõe
Direito B,111cdtío, tio Mermdo ele Cipitais e d1uh-hirmgm1, .1110 IV, n. 14, p. 378-379, São Paulo, sete dias (are. 5.2); cinco dias, no regulamento da CAESP (Conselho Arbirral do brado de
Ed. RT, ouc.-de'l. 2001 ). Sfo Paulo) (are. 20).
2 70 1 CURSO DE ARBITRAGEM
PROCEDIM ENTO ARBITRAL - li 1 2 71

9.2.2. Dos atos processuais


irnporcància desce documento), praticamente não serão necessárias decisões inter-
Pelas partes, suas manifestações são escritas, acompanhadas de documentos se mediárias, tudo se faz nas audiências, previamente já designadas.
maiores exigências formais ou burocráticas,6 admite-se, quando assim convencio~ad: M as surgindo qualquer incidente, o árbitro (ou tribunal) é imediatamente
ou regul~memado pela ~ntidade, o peticionamento eletrônico, mantendo virtual todo provocado a se posicionar.
o procedunemo (como Já se faz no processo judicial).'
Evidente, pois, a praticidade do procedimento, tornando a arbitragem célere
Em meio ff~íco, costuma-se exigir que sejam apresentadas tantas cópias quantos e pragmática, no sentido de oferecer facilidad e para a prática dos atos, mas com efi-
f~rem os ~nvolv1dos no procedimento - assim , por exemplo, com solicitante e soli- cientes resultados.
citado, pamel de três árbitros, serão protocoladas cinco cópias integrais das petições
(alegações e documentos), além do respectivo prorocolo.is 9.2.3. Da revelia
As intimações ou comunicaçóes são feitas geralmente por envio ao esctítório do
advoga~o ~tr~vés de carta regisr~a~a ou entrega pessoal (courrier), viável ainda O envio A revelia, no processo civil, representa a situação objetiva em que o réu deixa
de fac-s1mde, mensagem eletronica etc. to de apresentar defesa. O faro em si, ausência de conccscação, é isolado. Porém, faz a
lei processual sua ligação ao campo das provas, estabelecendo o Código os efeitos da
As decisõ~s interiocutó~ias do árbitro são designadas, geralmente, por ordem
revelia:presumem-se verdadeiros os fatos alegados pelo aucor (are. 344 do CPC/2015).
pm~es~uaf. E se instaurado rnbunal, estas decisões devem ser colegiadas, tomadas por
ma~ona, cal qual se faz para a sentença arbitral (are. 24, § I .º, da Lei 9.307/1996 e Grave mesmo, então, não é a revelia, mas seus efeitos impostos na lei processual.
mais se falará a respeito de eventuais divergências enrre os árbitros oportunamente). Na falta de semelhante punição à revelia prevista na Lei de Arbitragem, pode-
Rar~s são despachos de expediente, pois o procedimento flui espontaneamente, -se afirmar que no juízo arbitral, mesmo diante da ausência de d efesa no momento
cm especial quando bem administrado na secretariado órgão arbitral. Se estabelecido oportuno - revelia, a parte poderá acompanhar o procedimento, produzir provas,
cron~grama provisório, em um mais completo termo de arbitragem (inclusive com apresentar manifestações e buscar a preservação de seu alegado direito, com base em
especificação das provas a serem produzidas e regras para sua realização, por isto a sua versão dos faros.
Aliás, mesmo no sistema do Código d e Processo Civil, há previsão de situações
nas quais a revelia não induz. os efeitos mencionados no art. 344, impondo a especi-
6. Por exemplo, margens, nomes específicos p:1ra as petições, documentos originais ou au tenticados ficação de provas pelo autor (art. 348 do CPC/2015), 11 e desta forma, caberá ao juiz
cm;.
avaliar a pertinência da ampliação da instrução probatória.
7. No feito jl_1~icial, a Lei l l.280/2006 tratou da questão, :10 alterar o art. J54 do CPC/1973
p:ira permtnr o processo e peticionamento eletrônicos. No CPC/2015, a maréria vem bem Assim, a revelia, cal qual se conhece no processo civil, no procedimento arbitral,
mais det:1l~1~da,_ inc~u~ive com previsão de oferta gratui ta pelo Poder Judiciá rio de equipamen- por si só não impede seja preservado o livre convencimento racional, ou seja, subsistirá
tos n~_ces~;mos a pratica dos atos processuais, e de acessibilidade a ser garantida il pessoa com o julgamento com base na valoração das p rovas a serem produzidas.
defic1enc1a, tudo nos arrs. 193 a 199 contidos na Seçiio destinada :'i "Pdtica Elerrônica de Aro ·
l' rocessua1s
. ", no Cap1tu
· 1o "Da ['Orm:1 dos Atos Proce.',suais". s Por outro lado, também, por revelia na linguagem coloquial. emende-se sim-
8. Cf. Re~amenro do <?AM/CCBC, arr. 6.3; já o CAESP sohcim duas vias exclusivas para a plesmente a inércia ou ausência da parte.
sccrcuma (arr. 12}, assm~ como no Ccncm 13rasilciro de Mediação e Arbirragem, no are. 1.5; E parece ter sido este o sencido do termo utilizado no§ 3. 0 do are. 22 da Lei de
Regulamento da SP-Arb1tr.1I hrr. 6.6); Rcgulamemo da AMCHAM (3rt. J 4.2).
Arbitragem: "A revelia da parte não impedirá que seja proferida a sentença arbitral".
9 . Ali,ís, sobre a validade da urilizaç.."io deste meio, j:í se pronunciou o TJSP, 11a Ap. 1.048.762-
"0-2, 31 ·ª C:im · Cív,, J., 29·04 .2 0,0 81
v.u., re. D es. Franc1sco
· Cascom,· com a seguinte ementa: Da(, por cerro, mal colocada a previsão, pois em artigo destinado às provas. Sem
Contrato. Cláusula compromissó ría cheia. Indicação do Tribunal Arhitral e incidência de seu d<1vida estaria mais bem localizada a regra como parágrafo do dispositivo atinente ao
r~gulamento. Comunicação dos aros por mc::io de fac-s ímile. Previsão. Nulidade. Nií.o caracrc- procedimento arbitral (art. 21).
m.açã?. Prévio conhecimento. Reguhridade formal do procedimento arbitral. Os contratantes
se ?bn~1 ~cc.i tar as norma.~ procedimcmais previstas no regulamento da entidade arhitral
clc1ta. l~r~l'.gencia dos arrs._ 5. 0 c 21 da Lei 9.30711996. Não configurnda qualquer ofensa ao
conrrndttorio e /t ampla ddl.'Sa. Recurso desprovido". 11. "A rc. 348. Se o réu n:io contesr:ir a açio, o jui1., verificando :i. inocorrtncia do cfoiro da rc:vdia
previsto 110 art. 344, ordena d que o autor especifique as provas que prcrenda produzir, se ai nda
10. Cf. Regulamento do CAESP, are. 11, e do CAM/CCBC, art. 6.2.
não :is tiver indicado."
-
2 72 1 CUR.SO DE ARBITRA<.; EM PROCED!MENl'OARBITRAL-ll 1 273

De qualquer forma, a melhor exegese da disposição, fei ca a análise sistemática da 9.2.4. Da conciliação
Lei, é no sentido de que a inércia da parte não obsta o desenvolvímen to da arbitragem.
Nos termos do§ 4. 0 do an.21 da Lei de Arbitragem: "Competirá ao árbitro
A preservação do juízo arbitral, mesmo diante da revelia, tem sua razão de ser. tribunal arbitral, no início do procedimento, tentar a conciliação das partes,
Por diversas oportunidades a ré agora ressai tou-se a importância de tudo na arbitragem ou ao d L .,,
licando-se, no que couber, o are. 28 esta e1 .
ser feiro de comum acordo, e espontaneamente.
ap Cuida-se especificamente de tentativa de conciliação, não mediação, cujos traços
A própria lei, em várias passagens, refere-se à participação da parte em atos especí- distintivos já foram antes analisados.
ficos (indicação de árbitros, impugnação ao nomeado, arguição de vício na convenção),
Nada impede, en trecan ro, que em cláusula escalonada (cada vez mais usual), por
e os regulamentos ampliam este rol, indicando, por exemplo, o acompanhamento da . , b' 12
regra da prcSpria entidade arbitral, por su~estão das partes ou do prÓpno ar ttro,
audiência inicial. Em algumas destas si mações, inclusive, espera-se a presença a eivada
promova-se a ined~aç~o através de procedimento específico, e daí acompanhada de
pane com o objetivo de contribuir para o alinhamento do procedimento (p. ex., na
mediador, não do arbmo.
organização da arbitragem, oportunidade em que eventuais lacunas ou falhas podem
ser supridas consensualmente, no interesse comum dos envolvidos). Já entre nós prestigiada a cultura da conc!liação, c~rtame~re nã? se limitará o
, b' rro à ten cativa de acordo no início do procedunento. E claro e 1mpenoso que a rodo
Assim, o adequado sentido desta referência à revelia, como sendo irrelevante ar 1 d · d.
· rance lhe é facultado buscar a composição das partes, díspon o-se a mterme 1ar as
ao prosseguimento da arbitragem, é direcionado a preservar o juízo arbitral, mesmo ms . rodo o proced'1menro arb'1trai . n
trata tivas em audiência. A conciliação, então, permeia
diante da contumaz ausência da parte, embora, definitivamente, não seja esta a postura
esperada dos envolvidos. Obtido acordo, quanto ao mérito ou apenas relativamente à desistência da
pretensão, o árbitro (ou tribunal) profere sentença arbitr~ homologatória (are. 28
Cabe, ainda, esclarecer que a revelia neste aspecto poderá ser de qualquer das
da Lei 9.307/1996). 14 Sem dúvida, o acordo pode ser parcial, homologand~-se por
partes, não só em razão da possibilidade do pedido contraposto a ser formulado pelo
sentença, nesta situação, apenas o quanto ajustado consensualmente, prosseguindo-se
solicitado (e assim reclamar defesa do solici cante), como cam bém porque a ausência do
no procedimento para a solução do conflito pcndente. 15
autor pode se verificar no momento seguinte à instauração do procedimento arbitral,
até mesmo faltando ao termo de arbitragem. Tal conduta, enrrecanco, não impede o A norma é imperativa: caberá ao árbitro tentar a conciliação, e, assim, Scavone consi-
prosseguimento da arbitragem provocada por ele. dera a iniciativa obrigatória, sob pena de ensejar a "nulidade do procedimento arbitral". 16

Enfim, distingue-se revelia na arbitragem e no processo judicial; neste último,


o termo refere-se à falta de contestação pelo réu, com efeitos próprios, se o caso; na 12. Cf. Regulamento do CAESP, art. 33, destacando que tal sugestão pode ser dada "a qualquer
arbitragem, a revelia representa deixar-se de praticar aros durante o procedimento momento".
(não indica árbitro, ausência de defesa, falta na audiência, omissão na produção de 13. Anote-se que em procedimento por nós conduzido como Presidente do Pain~l,_ por nossa ~r~.~
voc.1.ção, inclusive convocando as partes para ranto, chegou-se a uma compos1çao ~mre apos J,t
provas etc.) e para qualquer das panes (solicitante/solicitado); na arbitragem, então,
cransconida longa etapa do procedimento, até mesmo co~ detalhada instrução. E ~s,.m, p~demos
terá mais relevância a contumácia, não a revelia propriamente dita. confirmar que, na prática, é saudável a iniciativa de aproximação d~s partes pel,? ~rbm~ n~o ape-
Por outro lado, deve-se reconhecer a pequena probabilidade de o interessado nas 110 início do procedimento. Cf. neste sentido, Leonardo de Fana B~raldo: nao esta o arbitro
abandonar a arbitragem, pois este método de solução do conflito foi por ele vo- limitado à tentativa de conciliação apena~ na foe inicial do proceso arbmal, pod~nd~, a qualq~_er
insunce, de ofício ou por requerimento, intimar a.s partes a compan.'Cerem em au~1enc1a ou reumao
lun tariamence projetado. Aliás, realmente causaria surpresa ver alguém firmar o
com esta finalidade." BERALDO, Leonardo de Faria, Ctmn de Arbitragem... , c1t., P· 293.
compromisso e ser revel na arbitragem. Possível de se cogitar, embora na expectativa 14. ''Are. 28. Se::, no decurso da arbitragem, as partes chegarem a acordo quanto ao litígio, o ábr?itrf
de ser incomum, a ausência do réu quando originada a arbitragem por cláusula com- ou O tribunal arbitral poderá, a pedido das parres, declarar tal fato mediante sentença ar ma ,
promissória e, então, quem sabe a ausência venha desde as providências preliminares que conter.\ os requisitos do are. 26 desta Lei." .
previstas para a cláusula vazia. 1S. Pela peculiaridade da situação, e havendo conse~so das partes, eviden~:mcnte descon~J1:ra·se
a restrição à "sentença parcial" (are. 32, V, da Lei 9.307 / l 996), que, alias, como se ver~, Ja ve~
Mas a omissão da parte, mesmo contumaz, não abala a validade e eficácia plena
sendo moderada, e a regra segundo a qual, proferida a sentença, "di-se por fi~d.a a arbitragem
do procedimento e da sentença arbitral a ser proferida, sendo, pois, inclusive à luz do (are. 29 da Lei 9.307/1996), pois ainda pendente de solução parte do confftco.
princípio do contraditório, como já se disse, imperativa a convocação do interessado, 16. Acrescenrando: " ... desde que a parte que precenda alegar o vício cenh~ se ins~~gido n;
mas facultativa a participação. primeira oportunidade que civer para falar, nos termos do art. 20 da Lei de Ar magem
27 4 1 CURSO DE 1\Rl\[Tll:\CErv1 l'll0<.:11>l:--1ENT01\HlllTR,il.-l l 1 275

Maisau.:rrada, porém, cm nosso sentir, éaconclu.sãodeCarmona, no sentido de necc.ss:írias, medianre requerimento das partes 011 de ofício".;:: Confirma-se um dos
<1ue deve ser interprerada a norm,t "corno mera sugestão ao ,frbitro, que pode seglli-la principais atributos do <frbirro: a dilig/!ncia no tlcsonpcnho de su,isfímçõi:s (art. 13,
ou não, de acordo com o <Jue julgar convenieme". 17 ~ 6.º, da Lei 9307/1 <)96). 1')
Não se esqueça, porém, que, por ;m1.:swnptio homilli.r, n.1 persuasão racional que
9.3. A PRODUÇÃO DE PROVAS NA ARBITRAGEM pcnnt.:ia a aruação d o ,írbi{ro na d.escobena da ve rdade, a conduta das panes quanto;\
Primeiramente, se fa7, rderênciaà diferente menralidade na arbitragema rcspeiro iniciatiw da produçao da prova é valorizada, pois, a usenrcs elemcmos de convicç;ío, é
da produção de prov,ts. natural que se desconsidere o ftto,em desfavor de quem o alegou, mas nãoodnnonstrou.

Pela nossa expcril:ncia do comencioso, acabamos por considerar que a iilíciathw Aínda, a arívidade do :írbitro neste particular acaba sendo compleme11tar à
1hr pmd11çír.o de pro1 1tt compete ;1 <Jucm pretende ser vitorioso na ação, co1n menor iniciativa das partes, e voltada a investigar o quanto lhe parecer útil e relevante para
significado, para proveitosa arnação no processo, a.~ d.iscltssões acad~micas sobre a influenciar o seu julgamento. Assim, não arna o ,irbitro cm favor da parte, na defesa
distribuição do onus da prova (arr. 373 do CPC/20 l 5). do.~ interesses de quem argui um fato, mas impulsiona o quanto ncccss,írio para a
construção de um ccn,irio Gitico nccess,írio, segundo o seu critério, a esuuwrar o
Esra ideia se apresenta cm sua plenitude na arbitragem, poí.s ausente na lei critérios
para imperativos a um ou a outro, sohrca obrigação dcdemonslraros fatos rdevantes, convencimento racional. ~0
aptos ai nflue1 ,eia r o desri no da controvérsia. Em poucas palavras, mas com rek:van te V1k a convenção ou o regulamento do órgJo arbitral quanto :1 ordem e despesas
resultado: não h,í distribuição legal do ímus da prova no procedimento arbitral. neccss;írias para a realização das provas, diante do silêncio do legislador. E, diante
do impasse, ou falta de previsão, cahe ao :irbitro (ou tribunal), na amplitude de sua
Neste sentido, a contríbuição da parte para instruir a causa t: de seu total inte-
resse, cahcndo-lhe a mais compleu participaç;w possível na indicação de provas, com jurí.~cliçfo decidir a respeito.
o foco na rcvebção da ocorrência dos fatos, não scí como pelo interessado alegado, Como regra lógica, cabe a quem solicita a diligência, ancccip;n as despesas ne-
mas umhém na versão que lhe convém (ou 11;1 demonstração de sua ínocorréncia), cess,írias à sua realizaçiío, co1110 veremos adiante.
mesmo se alegado pelo advers,írio.
E mais, o próprio ,írbitro tem alargada, de dircir.o e de fato, a sua aurorid,tdc 18. Embora :1ssi111 camhém st· tt·nh:, pro.:visrn 110 Código de l'mccs.,o Civil. :itual ou e1n ,·aciuici:1
na conduçiio do proccdirnenw, cabendo-lhe interferir ativamente na ínsrruçlo da (:ut. :370 do CPC/2015), e111 r:r,.:in d:1 di.mibuii:;;10 do ónus d:1 prova (:lrt. ::P:3 eh> Cl'C/201 :;1,
o qut: se vé-, 11:1 praxis, t': o 111:1gis11":1dn passivo, :t<:onrndado ;1 in ici:11:iv.1 da parte pa r:t rt;qucrer
causa, para consolidar o seu Iivrcconvencimentosobre os foros, neccss;Üio ~, ade<111ada
t,1l <>li q11:1l providé·nci:t, f>ri11cip:1l111c11tc nos conHiws rel:aivos :1 dirciro pacrirnonial di~[.IOllÍ\'cl.
solução do conflito. Por sua iniciativa, podem ser investigados fatos para descoberta /\(i:ís, derennina-sc its p;1ncs a ·'cspccific:1ção de f>rovas··. :rnics :iré de se fixar os pontos <:011-
da verdade. 1rovcrridos, e em muitas si1u:1c;üe~, irnpropri:tnKIHC, o julgadnr c.~pc ra um lapso ou lkscuido
d;1 parte para, .,cm maior<:., diliculd:idc·s inerr.:ntcs :1 pns11:1s:in raci(>11ctl, desacolhei· 1:1) 01, qual
No gerenciamcn rodo proccdi men to, tarn hém no c:i m podas provas, a conduta alcgaçío f)Or bita de pr(l\":l. Ddinitivamcncc, n;io e:: t:s1:1 :\ condura que st· cspt·ra do :írhirro,
do ,írbicro (ou painel) é proatíva, 110 senr.ído de determinar o quanto nccess:írío, cuja diligt:ncia rq11°t:scn1:1 11m de .~cus principais :1trihu1fü.
pertinente e útil a i11struir a causa, nos expressos tcmios do arr. 22, c,r.p111, da l ,ei de 19. Cf.. :t tcspeito. Capí111lo 7. item 7A. füpr:t.
Arbilragem: '' Poderá o ,írbi troou o lríhu11al arbitral romar o depoimeJJto das panes, ~O. ívlc-rcccn1 rdt:1ú,ô:1 o.~ escbrccimcntos oti:rccidos por Pedro A. l\:\Cista l\1artills sohro.: :1 :1d111issibi-
ouvir testemunhas c delermínar a realização de perícias ou outras provas <1ue julgar lidadc d:1 prov;1: "R<:gis1 rc-sc ciuc edo ;irl>itro o poder de :1d111 itir <>li nát> as prov;1s req11crid:1s pelas
pane,. E ncio .,cr.io admitida.,, 110.:ccss.1ria11>e11L<:, 1od:1s :is provas solicitadas. "Ctl n:io :1c:1rrcc::1, com(>
pc11s;1111 e sugcr,:m :1lg1111., :1dvogado., e111 arbi1r:1gc'lll, ,·iol:iç:w ao tkvido processo lcg:11 e, consc-
(SCAVO~EJlJNIOR, l..ui1. ,\monio. J\fanual de :11hi11:1gcm. <¾. r.:d. rev .. atual. e :unpl. S:ío que111c111cnrc-, :1 :11111l:1ç:ío da fmura dcci~fo arhi1 r:1I". E cnmpl<.'ta o <:oarno1· lh l .ci cic Arbitr;1gr.:1n:
Paulo: Ed. RT 2010. p. 112.j. "'Ali:is, o h:íhim de se peticionar neste,; sentido, como meio dt· incimida.,-ão. nfo h:í de pn1d1r1.ir
17. l\klhor seria. di1. o :1111or :1Ccrtad:tn1ente, .,e :t Lei '·dccl:1r:1sse .,cr rn:on1r.:nd:iv<f. :1 re111ariv:i ([u:1lq11c1· cfciro 11:1 pc~so:1 do jrhicro c,;xpnicmc. Ao contdri<>, soad (:on10 cerra i111:tturid:1d,: e
de uinciliaç:ío, de q11:1lquer lc>r111:1 c.insidt·ra i11,1ceir:ívd con.,id1crar 1,ulo o prnee:din1en10 descleg."111cia do :tdvogado. visto ()UC ,:s1t· sc111prc rc111, e· ted, :1 sua disposi<;:io. o caminho da ;u;fo
dia11tt· da omi.,são do :írhi1 ro, pois "att: n1t·smo 110 âmbito judici:1I :1 doutrilla t· jurispru,knci:1 ele nulid:1dc cm .,edc arbitrai. E, pa r:1 t:11, n~o prccis:1 se valer dt· t~Cll Í(:;1s de 'guerrilha pr<•et·~su;1I'
r.:11c:11ninhar:1m-~c no .~cnrido de :111orar t[ut· a foi ca de rcnr:aiv:1 de collciliaç;io :1 que se rcfen: 11a bttsc1. n:io raro infantil, de are11u.>ri·1.:tr o .írhirro'' (,\-IAl~Tl:"-JS, l\:dro Anmnio Lhi-i~1a. 1':tllO·
,, an. 488 do CJ>C nfo pode lcv;ir :1 a11ulaç.fio do prc>CL'.,s11· lC/\RMON/\, C:1rlos /\[hcrw. l":1mica sobre as provas na arbitragc1,,. !,,: JOBI 1\1. ~idu:mlo; J\11\CHADO. lbfol 1.3icc:1 (coonl.).
.-lrhi11,1g,1J1 ... , cit.. p. :SO:S). _;Jrhih,('<cm ,,o lfo1sil-- lJspfcfosjuridico, 1·,:lmo11<·.i. S;10 Paulo: Quanicr l.:1ri11, 2008. p. 3.tl).
2 76 1 CURSO DE ARBITRAGEM PROCEDIMENTO ARBITRAL- li 1 2 77

A seu rumo, quan co à ordem, também permeado pelo bom senso, ao julgador será 9.3. 1. Do depoimento das partes
permitido, encão, avaliar e estabelecer a cronologia da instrução, buscando aproveitar
Nas sicuações em que se discutem fatos, e não apenas teses jurídicas, e principal-
o máximo do rendimento nas etapas a serem cumpridas, de forma a não ser necessária
mente se as partes tiverem participado, direta ou indiretamente, dos acontecimentos,
a repetição de um aro após a realização de outra diligência, ou, ao contrário, para evitar
0 depoimento pessoal será de extrema relevância no campo das provas.
que seja inútil uma providência, em razão de prova posterior realizada.
Além de proveitosos esclarecimentos a respeito de circunstâncias envolvendo a
Assim, por exemplo, nada impede seja determinada a produção de prova oral
questão, o depoimento da parte tem especial importância, pois através dele se busca
partilhada, ou seja, primeiramente sobre determinados fatos, e de quanto deles re-
eventual confissão real (não ficca, pois estranha esra à arbitragem), ou seja, a revelação
sultar, promove-se, então, a prova pericial, para, após, novamente retomar-se a oi tiva
pela parte de fatos desfavoráveis à sua argumentação.
de testemunhas e depoimentos.
Quando o litígio se trava entre pessoas jurídicas, para ser útil, o depoimento deve
Também exemplificando, muitas vezes a juncada de um documen coou expedição
ser feiro por aquele envolvido ou conhecedor dos fatos. Assim, a própria lei faculta
de ofício só se mostra pertinente após a prova oral, sendo esta, quem sabe, precedida
à parte "designar quem as represente" no procedimento arbitral (arr. 21, § 3.0 , da
de informações técnicas a serem trazidas aos autos por variadas formas.
Lei 9.307/1996), mesmo sendo pessoa diversa do "representante legal" previsto no
Ainda, e esta providência muitas vezes é de grande valia, permite-se convocar as contrato social ou estatutos.
partes para novos depoimentos após a oi tiva das testemunhas ou realização de outras
Despido de formalismo, o árbitro, ou qualquer inregrance do tribunal, e até
provas, pois fatos reJevantes, a merecer outros esclarecimentos além dos prestados
mesmo os advogados (inclusive da própria parte) podem fazer perguntas diretas ao
anteriormente, podem ter surgidos no caminhar da instrução.
depoente. Permite-se, ainda, um "debate" duranreodepoimenco, como, por exemplo,
Nesta flexibilidade, admire-se, por fim das exemplificações, seja apreciada a franquear-se outra vez a palavra ao advogado do adversário, após novos esclarecimentos
pertinência da prova de forma diluída no procedimento, e não concentrada em um solicitados pelo árbitro, seguido de perguntas elucidativas do respectivo procurador
único despacho, como acontece no processo estatal- are. 357 do CPC/2015. da própria parte. Enfim, pode ser dinâmica a oiriva, mas não desordenada ou circense,
E sempre, em qualquer das situações acima retratadas, devem ser respeitados cabendo ao julgador conduzir o ato e impor os limites a eventuais abusos.
os princípios do procedimento arbitral (contraditório, igualdade das partes, ampla Melhor será o depoimento presencial, "tomado em local, dia e hora previamente
defesa etc.). comunicados" (art. 22, § 1.0 , da Lei 9.307/1996); mas nada impede, diante da im-
Enfim, na "batutà' do árbitro (ou tribunal), com a competência e diligência possibilidade de assim se proceder, seja colhido o depoimento a distância, pelas outras
esperada de sua atuação (are. 13, § 6. 0 , da Lei 9.307 / l 996), está a fixação da estratégia diversas formas de comunicação existentes na atualidade, como videoconferência,
na construção do quadro probatório. O julgador é o maestro da fase instrutória. 11 E teleconfcrência, inclusive utilizando-se dos avanços da informática nesta seara. 22
assim preferimos falar em autoridade para a condução da instrução, e não poder, como O depoimento, na forma prevista no§ 1.0 acima eirado será "reduzido a termo,
na doutrina se faz referência, para ressaltar o sentido de atribuição como responsa- assinado pelo depoente, ou a seu rogo, e pelos árbitros". Porém cem sido comum a
bilidade, não de força como o termo poder pode ser indevidamente interpretado. colheita da prova oral por gravação de toda a audiência, acompanhada ou não de
Como já referido, a prova documental deve acompanhar as alegações iniciais e estenotipia, com posterior transcrição, expediente este que torna mais dinâmica e
defesa, sendo que a comprovação da existência da cláusula ou compromisso, obvia- completa a colheita da prova, ao se captar tudo quanto neste momento realmente
mente, faz-se antes mesmo do início da arbitragem, no momento das providências foi dito ou debatido. Nestas situações, as assinaturas pertinentes se farão em termo
preliminares para a sua instauração, pois esta depende do que naqueles instrumentos próprio, com a informação do procedimento adorado.
estiver previsto. E qual será a consequência da recusa ao depoimento? A Lei de Arbitragem
Vejamos as outras provas: traz solução diversa da confissão ficta prevista no processo civil (art. 385, § 1. 0 , do
CPC/2015, are. 343, §§ 1. 0 ) : "Em caso de desacendimenco, sem justa causa, da
convocação para prestar depoimento pessoal, o árbitro ou o tribunal arbitral levará
21. Para maior aprofundamenro sohre o cema, recomenda-se a leitura de BERALDO, Leonardo
de faria, Curso de Arbitragem... , cic., Capículo IV - Procedimento Arbitral, item 21, p. 313 e
seguintes, por tratar bem, e com percinences detalhes os "Poderes instrutórios do ;írbitro e a 22. Meios estes já usuais na arbitragem, e que passaram a ser tambim previstos no Có<ligo de
reoria geral das provas na arhicragem" e diversas provas cm espécie na arbirragem. Processo Civil de 2015 (art. 385, § 3.0 ).
278 1 CURSO DE ARBITRAGEM PROCEDIMF.NTO ARBITRAL - II 1 2 79

em consideração o comportamento da parte faltosa, ao proferir sua sentença(... )" autoridade judiciária que conduza a testemunha renitente, comprovando a existência
(art. 22, § 2. 0 , da Lei 9.307/1996). da convenção de arbitragem".
Não se cogita, também, em condução coercitiva. A conduta da parte, faltado Há, pois, obrigatoriedade da participação da testemunha indicada pelas partes,
ao depoimento, nele se omitindo a respeito das questões apresentadas, ou ainda res- sob pena de condução coercitiva, a ser promovida através da cooperação do Poder
pondendo com evasivas, será avaliada no conjunto probatório (não isoladamente), e, Judiciário.
todos os elementos obtidos serão devidamente valorizados, fazendo parte das razões Evidente que esta drástica medida, inclusive consumindo tempo da arbitragem,
ao convencimento.
deve ser ao máximo evitada, competindo, por exemplo, à parte que arrolou a testemu-
Com este cenário, a convocação da parte para depoimento pessoal se faz pela nha concentrar esforços para seu comparecimento,26 cuidando diretamente, quando
decisão (Ordem Processual) a respeito comunicada ao advogado, sem maiores necessário, de seu deslocamento etc.
formalidades, 23 sendo comum constar da decisão que o advogado fica responsável por Ao árbitro (ou tribunal), caberá avaliar em que medida este depoimento tem
trazer seu cliente ao depoimento. Se necessário, e se expressamente requerido, pode-se
significativa ou até fundamental relevância ao destino da causa.
promover a convocação mediante cana (com aviso de recebimento), ou forma similar,
prevista no regulamento da Instituição ou no termo de arbitragem para esta finalidade. O procedimento para condução coercitiva será visto adiante (Capítulo 1O, item
IO. 4), mas advirta-se que só é viável para encaminhar a testemunha à audiência rea-
9.3.2. Do depoimento das testemunhas lizada na mesma comarca onde se encontra. A recusa da testemunha em deslocar-se
de sua cidade é considerada legítima.
Aceita esta prova, é usual na arbitragem, inclusive considerado o esperado
A seu turno, não há, desta forma "carta precatórià' para a produção da prova
comportamento colaborativo das partes e seus advogados, o comparecimento das
oral, ou seja, não se transfere a oi tiva para outro juízo (arbitral ou estatal).
testemunhas independentemente de intimação. Caso esta venha a ser necessária, o
regulamento da Instituição ou o termo de arbitragem costumam prever a convocação O que pode ser feito (e muitas vezes acontece) é a instauração da audiência no local
da pessoa arrolada mediante carta (com aviso de recebimento), ou forma similar. Pode onde as partes e testem unhas se encontram, diverso daquele onde se situa a instituição
ser qualquer meio idôneo de comunicação, com comprovação da fidelidade de sua arbitral ou onde será proferida a sentença. Deslocam-se para lá os árbitros e toda a
entrega. E assim também se faz na arbitragem ad hoc, por impulso do árbitro ou do estrutura de apoio. Aliás, já se viu que podem as partes, na convenção, estabelecer o
presidente do tribunal. Neste aspecto, anote-se a evenmalmence proveitosa inovação "local, ou locais, onde se desenvolverá a arbitragem" (are. 11, I, da Lei 9.307 /1996).
do Código de Processo Civil de 2015 no art. 45 5 pela qual: "Cabe ao advogado da par- Esta é a dinâmica do juízo arbitral. Mas tudo tem um custo (financeiro, pessoal, e de
te informar ou intimar a testemunha por ele arrolada do dia, da hora e do local da tempo para a providência), e a utilidade de todo este esforço para a oiciva da testemu-
audiência designada, dispensando-se a intimação do juízo". 24 nha deve ser avaliado pelo árbitro.
Quanto à forma de inquirição, identifica-se a oitiva da testemunha ao depoi- Também não se exclui a possibilidade de sua oitiva pelos outros meios de co-
mento da pane, sendo as mesmas, também, as observações quanto ao termo a ser municação já antes referidos.
escrito e assinado (are. 22, § 1.0 , da Lei 9.307 / 1996). Assim, rodo este contexto será analisado, e até debatido, para se encontrar a
A peculiaridade aqui se refere à ausência injustificada da testemunha, quando melhor solução a respeito a ser adotada pelo condutor da instrução.
devidamente convocada. 25 Diz a lei, a respeito: "Se a ausência for de testemunha, nas
mesmas circunstâncias, poderá o árbitro ou o presidente do tribunal arbitral requerer à 9.3.3. Do depoimento das testemunhas técnicas - expert witnesses
A testemunha, tradicionalmente, colabora com o processo relatando fatos que
23. Como não há a pena de confissão, não se justifica a previsão comida no CPC de inrimação presenciou ou ouviu. Este é o seu papel no campo das provas. Avaliar situações, emitir
pessoal para tanto. opinião sobre os fatos, ou apresentar conclusões são alheias à sua função.
24. Acrescentando os par,ígrafos do artigo referido outros detalhes, como a forma de comunicação Porém, asex:igências contemporâneas de pragmatismo na instrução do processo
(carm registrada com aviso de recebimento), procedimento para informação ao juízo do quanto
(resultado útil da prova), aproveitando-se da experiência internacional, levaram à
promovido, e situações cm que a intimação será feita pela via judicial.
25. Por qualquer meio idôneo de comunicação, porém, com elementos para se confirmar de
maneira inequívoca, o seu recebimenco pelo dcstinat,írio, como acima visto. 26, Com participação colaborativa que se espera das partes no procedimento arbitral.
230 [ ClJRSO IX. ,\RIIITll;\CEi\\
l'llUCl'l)llvll:.l\:'lü AllHITl~Al. - li l ~8 \

utiliz.ação, entre nós, de d(.poim1:ntos tlcnicos, identificados como cxpat ulilncsscs, até 0
conflito. Mas rão profícuos foram os debates entre os técnicos envolvidos corno prn-
mesmo no processo civil, ao arrepio de .stw omíss:io a r<.:speito (nus a inslruçiio sempre grru.na (nas duas pontas)<.: o terceiro indcpcndcnteconvídado, todos compron,cridos
é ampla, por to<los os meios, e 1úo taxativa, rcstrira, aos instrumentos nominados com a busca de soluções, que o problema foi, então, resolvido com providé11cias que
na lcgislaçilo). dcs mesmos enconrraram para superar as dificuldades imediatas. E frrn10s poupados,
ncsre conrcxro, de apreciar a liminar.
A testemunha récn ica, cxararncnreao conmírio d.t tradicional, é convocada para
emitir opinião com base no seu conhecimento técnico sobr<.: determinado assunro. Embora neste caso, então, não se renha utilizado do depoimento ti:míco, fücíl é
O resultado é sirnílar ;1 perícia, porélll sem o formalismo e complexidade de um. perceber o quão üril é: a djscussão direta e_vcrbal com quem tem l':,,.pertiseem determi-
laudo pericial. Aids, seria corno convocar o perito para esclarecirne1Ho em audi~ncia nado assunto, prc.~randooespecialisra, inform:1c,:ões necessârias~1 pcrfeiracomprcensao
(arrs. 477, § 3.°e 361, I,do CPC/2015}, sem, conrndo, rcrsido por de apresentado o da 1n.1téría.
laudo e dispensadas as burocdtic1s formalicfodes da lei processual (p. ex., apresentação
por escriw de pergunLas com antcced~'.ncia etc.). 9.4_ CASUÍSTICAS NO CURSO DO PROCEDIMENTO
O objeto da prova ser.i pontual, e mais direcionado ao fornecimento, pelo 9. 4.1. i\s despesas com a arbitrarw1n
c:,\pcrt. de informações técnicas sobre <111c:,;tõcs rclevanles ,lO julg.uneruo da causa.
Ncst<.: sc11ri<lo, l,tlvcz nada saibam sobre o conHiro, nem tampouco sobre faros A respeito das cusras e despesas do procedíme11to, lamb~m prevalece a con-
r1..'.lacionados ao procc:sso. Porém, muito tell\ a contribuir quanto a determinado venção e o regulamemo da entidade para quem se encomcndoll a arbiuagem. Na
assunto de seu profundo conhcci111ento imporrantc para a correta illterprctação falca de previsão em um ou ourro inslrumento, "a sentença arbitral decidini sobre a
dos ;írbi rros. responsabilidade das partes(... )" ac<:'.rca destas verbas (arr. 27 da l,ci 9.30711996).
Exemplos da utilidade desta prova se enconLram cm conHítos cnvolvrndo Hasicam<.:nte, são investimentos de tres ordens se que foz na arhilragem insti-
peculiaridade.s de métodos de produção, krrarrn.:nr,1s de í11forn1,ítica, sisr<.:ma ope- tucional: (a) custas da enridade (tax,l de administras:iío do procedimento), rabchda,
racional, h111cio11ar11e11co de equíparnenrn.s, logística industrial, particularidades de com pagamento mensal ou t.'mico," 7 cm <1uanria fixa ou va1iívd. de acordo com o
metodología ccd ida, dcrnl hc.s da I rti Iizac;iio de i:Jwu,-hmu transferidos á pane (franquia), valor dado ao conflito, ou ern percentual sobre este, parn se: fizer freme i,s despesas
conhecimento de operações mercantis complexas, abrangendo v,íria!i etapas e diversos administrativas ordín,írías de expediente da dmara; (b) despesas, dentre ou eras, com
conrrar:1dos, utiliz;l(;ão adequJ.da de u~cnologia de informação etc. (a í111agin,1Çto é <lilígi:11cias, rcuníúes, audiências, dcslocame11to, entregas dcdocurncnto.s, traduções,
bem mais restrita do que a re;ilicladc; assim, os casos submetido.s '.1 arbitr,tgem podem rcprodw:;õe.s especiais de documemos, gravações, c<1uípa111e1uos espcdficos d<.: tele-
apresernar diversas situações em que a prova por rn<.:io <lc <.kpoirnenco t~cnico scní conferéncia, além de gastos específicos com perícia, ,1valiaçóes, vistorias etc., .tpuradas
perrínc11te e muito prnveiLOsa). segundo a documemação perrincme; e (c) honodrios do(s) .irbitro(s).
E a expressão verbal (príncípio da oralidade), acompanhada da dialétíca pcrmí- Na arbitragem ,itl l)(Jc, embora extremamente casuístico, cosrnma-se ter apenas
tida cm audiC:: ncia arbiHal, contribuí, e muito, para se enriquecer o conhecimento da os gastos referidos nas letras (b) e (cJ <lo parJgrafo anterior, acrescentando-se no prí-
questão por LOdos os envolvidos. meíro, por vezes, as despesas com secrcdrio(a). :t:
Recenten1ente no a1llhíente arbitral, na qualidade de,írbítro, coordenamos urna A taxa de manutenção (custm), poder.í ser de responsabilidade do solící tante,
cxpericncia m.uiro bem st1ccdid:i. 1;,xtrernamente debJtida na fase inicial, por conta mas a tendencia das convençôcs <.: regulamentos é no sentido de que o paga.mcnro.
de lurcla cautelar req ucrida, questões técnicas envolvendo o ti rncionau 1<.:n to de dcrer- inicial ou mensal, será por ambas as panes, cm proporções idt:nticas (metade para
111 Ín;tdo sisre111a de i11for111,ítica desenvolvido para a pane, convocamos os advogados ca<la uma).
para uma reunião prévia, por diversas ques[Ücs, inclusive melhor compreens;io dos
pedidos liminares. Nesta reunião, percebemos (árbirros e advogados) , o qutu,to -~e
27. Por ('XClnplo: a Sf> /\l'bitr:tl cxig<.: pagarnt:11to 1ln(cn da ~,:1x:1 dl' Adn1inistr;u,:;lo. 1u, aro da cclc-
desconhecia <la maréria, prej udicando alé mesmo a formulação e apreciaçfio do pedído, bra\::io do ·rcrn,o de Arbitragem: a (:a,n;irh exige q111: .:ada uma das partes dcpo~i11: 50% da
considerando não se saber, ao certo, o que seria possível e útil (no aspecto técnico) 'H,xa de Aclmi11isrr;1çfo no aro d<' n·ldn:ar;fo do comprnmis.so arhirral: a CCI cxiµ;c o pagamento
para adequação do p roduto fornecido. As.sim. por consenso, resolveu-se convocar d,· lll1l adi:1111amcnro, n::ío rccmhokivd, por c1d:1 RL'<Jllcriment<> apres<::1n,1do nos tc:rmos do
os técnicos das duas panes (quem desenvolveu o produto e o seu dest inatário). :Foi Regul:uncnro.
chamado também para a reunião, um expe'l't, de conl!ança dos árbitros, para elucidar 28. l\:rwnagcm cl:1 :1rbicragL·m sobre,, ttual j;í f:,lamos rintL"l'Ío rmt·ntc, <:f Capí11do 7, item 7.:Lt
PROCP.DIMENTO AlWITRAL-ll 1 283
282 1 CURSO DF. i\lUllTRAGllM

.· s do árbitro espera-se tenham sido previstos na conv-en-


De oucra parte, as despesas experimencadas na condução da arbiaagem podem t')uanro aos l1onorá110
~
, . . N
dos previamente à aceitação d a tnvesndura. o s1 e nc10
·r ·
ser reembolsadas pelas partes, após, então, terem sido pagas. Porém, concede a Lei regulamento, ou eram , t
ÇÍͺ• no A •e. al de consenso seu arbitramento será judicial (art. l 1, paragra o
ao árbitro (ou cribunal), e.xpressamence, a possibilidade de "determinar às partes 0 . 1 c;ausenc1a nn ,
tO r ai, 6)
ad ia ntamento de verbas parn despesas e d iligências que julgar necessárias" (are. 13 'nico, da Lei 9.307/199 · . . . .. . ,n
§ 7.0 , da Lei 9.307/ l 996). Esta situação é ma.is comum na arbitragem ad hoc, ou' u d . estabelecidos por etapas (fase 1111e1al, aud1enc1a, sentença), porei
Po em ser · f: 1 d · - mo
diante de valores mais expressivos (p. ex., com perícia). ~ honorários fixados por horas trabalhadas. A a ta e qmraçao no -
ornnns sao os .
Algumas Câmaras estabelecem em seu regu lamcn ro valores de acordo com tabela e , cordado auroriza a renúncia pelo árbmo.
111en t0 a h , · ·d
própria, ou a serem arbitrados no início do procedimen to, geralmente com p revisão Inexistindo qualquer previsão quanto à forma de paga_menco, o~ o~oranos ~
de adi.anrarnenco pelas partes de cusras e despesas. . ro dev1ºdos a penas ao final do procedimento, pois a antec1paçao de paga
'rbttr0 Sera · d d
Problema prático a ser enfrentado quanto aos encargos da arbirragcm (d etermi- a . dº ,..,,da é prevista na lei apenas para ad1antamento e espcsas.
mento in i..,. , . . .
nado o adiantamento, solicitado o reembolso, ou relativo à taxa de administração),
Quanto aos honoranos a v
, . d ocarícios 33 diversamente da sucumbencia prevista
, , . . -
consiste na defin ição das consequências pelo seu inadimplcmenco. . ·1 ( 85 doCPC/2015) não se faz menção expressa a sua impos1çao
processo c1v1 art. • eA • , "

Geralmen re, as insri tuições arbitrais estabelecem o sobresramenco do andamento no , .do Po rém este custo, sem dúvida, inccgra a abrangente rerere11c1a as custdas
d a a rbitragem pelo não pagamento de seus encargos. 2\' ao vcnct · ' 1 - H ou regulamento a
des sas" com a arbitragem. Desta forma, sa vo convcnçao -
Porém, pode acontecer, e é comu m, que a outra parte (não a "devedora") , tenha e pc, ,· d árbitro também estabelecer na sentença a condenaçao
· maraemcoo trano, eve o d "dº
a iniciaciva deadianrarescasdcspesas com o objetivo de levar adiante o procedimento. ca ento da verba honorária em favor do vencedor. Podendo ec1 ir co~o e~-
Neste caso, serão estes valores ajuscados e compensados no final, q uando da defini ção ao pagam d I d . culado dos critérios impostos pela leg1slaçao
ndermais adequa o, cocan1ence esvm . 1
da responsabilidade definitiva sobre e.sres encargos. 30 te l(. ºdA · sobre o proveicocconômicodo vencedor),embora possam e es
processua 10c1 enc1a . _
Mais d elicada a situação de ser a verba cuja a ntecipação se pretende, de interesse . . de parâmetro a ser ponderado na deliberaçao.
e xclusivo de uma das partes, para a reafüação de uma diligência ou produção de uma servu
. d, ºida a este r·cspeito convém se aça a me usao es
f · l .- d ta questão ,
Para evitar uv · ' 1
prova. Neste ca.~o o adversário cercamente não se prontificará a pagar. Diante deste . - o u termo <le arbitragem, se cm outro local (regu amen to o ~
quadro, pode o árbitro: (a) d ispensar a provid ência, prej udicando o resulrad o que se na ata d e m1ssao , . rr b, ,d nscar are
~ o) a matéria não tiver sido especificada. iam cm, se n a a co_
pre tende ria, em desfavor do negligente; (b) renunciar à investidura, ao considerar conrvença , . d ped ido próprio na fase p osculatória neste senndo (pelo
ind ispensável a providê ncia para formação de sua convicção. 31 cnrao, tem os apresenta o . ndeniucória dos pre-
so \icitante ou como fJretensão contraposta), com natureza i
Ainda qunnco às despesas da arbitragem, convém deixar claro inexistir previsão . , . t dos M as tudo apenas 1Jara evi· tar co n tratempos de percurso,
para este j LLÍZO de grn.mídade dajustiça pelai ncapacidade financeira da parte, nos moldes Ju1zos expcrime n a . • r b1 d -o
. . - d oridade do árbitro para esta e ece( a con enaça
pois remos a conv1cça~ . a aur
previsros no Código de Processo C ivil de 2015 (ares. 98 e ss., com revogação parcial
tam bém à verba honorana. , . .
da Lei 1.060/1 950 a res peito) . O benefício previsto na norma processual se exerce
uanto à Iicígância de má-fé, pode h aver a sua con denação de oficio ou ad~ed_1do
exclusivamente perante o juízo estatal. Nada impede, porém, que a convenção, a enci- Q . , · iro um debate aca em1co.
dade arbitral, ou árbitro (no procedimento ad hol), por piet,ttis causa ou por interesse das artes. Cautelosa a previsão , porem mais se tem a respc . ..
N a Prácica pelas características da arbicragem e d os personagens que dela ~d aJ nc1 pam,
comercial (estratégico) em a render ao potencial adversário ou mesmo à demanda, renha ' 6 ~ d ba desta natureza (ao venci o ou v-en-
a iniciativa <lc reduzir as custas, parcelar o débito o u m esmo ise ntar o seu pagam ento.n remotíssima será, cercamente, a xaçao e ver d d )
ccd or, pois . se 1' m po - e pela conduta , não pelo resultado da eman a .

29. C f. Tabela de C ustas t H onodrios an exa ao Rcgubme nto do Centro dt: Conciliação t: Arbi-
tragem da Ciim:tr:t de Comércio Argcn tino-Brasili?ira. 3. Apenas qu:mdo a parte se nz.er aco'.~1pan~ar de advogado, p<lis a presença deste não ..! obrigarória
30. Por exemplo, art. 6.6 <lo Rcgulamcnro da C AMARB. no procedimento arbitral, como Jª se disse. . 'd
·1dequild:l. cendo cm vista o expressivo conteu o eco-
31 . Cf., a respeiro, CARMONA, Carlos Alberto. Arb itragem... , cit., p. 248. 34 J , d mos e se mostrou )em • 1 ' l. · - l
. ·: n~s cdpara . ' . .F sula arb itral limi tando a comh: nação a cvenrua impos1çao t.e
32. Esta qut:Hão merece especial ate nção quando esmmos à frente de arbi tragem no di reito d o 11om 1co o contiaro, co m e ª .u . d· fi ,..1 m base no valor t:m discussão. M:us
consumidor. ou mesmo no direito socitcirio, como vtremos no capfrulo destinado ;1arbitragem verba honorári:1, evitando, assim, desproposita ,\ ':-1,...o co h ' rºos de seu advogado
comuns são as cláusulas nas quais· ca<l·,t par te ..~rc·\r·•
, ~ co m os. onora 1 • •
tem l tic:i.
284 1 CURSO DE ARBITRAGEM PROCED!MENTOARBITRAL- li l 285
Ora, se as partes confiam no sistema arbitral e especialmente no árbitro a quem Sobre o tratamento da confidencialidade quando levada a arbitragem ao juízo
outorgaram voluntariamente a jurisdição sobre o conflito, é difícil imaginar que estatal, em ambiente de reforma do Código de Processo Civil, o Grupo de Pesquisa em
venham ase portar indevidamente no procedimento. Mas, enfim, se houver compor- Arbitragem - G PA, criado no programa de pós-graduação da PUC-SP, 37 fez proposta
tamento temerário, provocador de tumulto, abusos, prática de atos flagrantemente de aperfeiçoamento do projeto original,311 acolhida integralmente na versão final
protelatórios para congestionar ou onerar o procedimento, postergando seu término, aprovada, para assim constar:
tudo maliciosamente promovido por vezes exclusivamente para prejudicar o adver-
''.Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de
sário, a conduta pode e deve ser punida como lirigância de má-fé.
justiça os processos: I - em que o exija o interesse público ou social; II -que versem
9.4.2. A confidencialidade na arbitragem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação,
alimentos e guarda de crianças e adolescentes; III-em que constem dados protegidos
O sigilo no procedimento é, sem dúvida, atraente característica da arbitragem,
pelo direito constitucional à intimidade; IV - que versem sobre arbitragem, inclusive
pois através dele, preservam-se a imagem das partes, intimidades de seus negócios,
sobre cumprimento de carta arbitral, desde que II corifz'dencialidade estipultida na arbi-
know-how, segredo industrial, dentre outras informações relevantes de caráter estra-
tégico ou comercial decorrentes da atividade empresarial. tragem seja comprovada perante ojuízo" (destaque nosso).
Porém, convém deixar claro que o sigilo no procedimento não está previsto em lei. Note-se, pela combinação das duas normas agora introduzidas (reforma da Lei
de Arbitragem e Código de Processo Civil de 2015), que está preservada a publicidade
Comum, sim, constar expressamente a confidencialidade no regulamento das en-
tidades arbitrais, 35 mas esta reserva repita-se, não é decorrente de imposição normativa. do processo envolvendo o poder público quando tiver sido parte no juízo arbitral,
pois nestes casos a confidencialidade já foi afastada na própria arbitragem e, assim,
Assim, querendo as partes sigilo no procedimento, devem eleger instituição
faltará requisito necessário para se requerer o segredo de justiça no processo judicial.
cujo regulamento contenha esta previsão, ou estabelecer a restrição à publicidade na
convenção arbitral (cláusula ou compromisso).
9.4.3. A interrupção da prescrição pela iniciativa da arbitragem
Convém lembrar que, mesmo ausente a previsão de confidencialidade, há dispo-
sição legal expressa impondo a discrição do árbitro (art. 13, § 6. 0 , da Lei 9 .307/ 1996) A interrupção da prescrição, quando causada por iniciativa da parte em provo-
sobre o qual já se falou anteriormente. car a tutela de seus direitos, tem sua previsão pautada no modelo judicial clássico de
Por outro lado, cresce no Brasil a utilização do juízo arbitral envolvendo entidades solução de conflitos, e assim, vinculada ao "despacho do juiz, mesmo incompetente,
públicas, nos quais, ao contrário das relações privadas, a confidencialidade já era, no que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei pro-
mínimo, indesejada36 pela esperada transparência dos aros para controle natural da cessual" (art. 202 do CC/2002), retroagindo a interrupção à data da propositura da
gestão dos interesses p(tblicos. Neste sentido, mais saudável sempre foi afastar-se do ação (are. 240, § 1.0 , do CPC/2015). 39
sigilo, mantendo apenas a obrigatoriedade da discrição do árbitro.
Nesta linha, as respeitadas Instituições de Arbitragem disponíveis para conflitos 37. Proposra apresenmda cm conjunto com a Comissão de Arbitragem e a Procuradoria-Geral da
envolvendo o Poder Pt'tblico já indicavam cm seus regulamentos a publicidade destes 0AB-RJ. O Grupo de Pesquisa em Arbitragem - GPA da PUC/SP é liderado por este Auror,
procedimentos. e a seu respeito cf. Cap. 1O, item 10.5, e cm especial a nota de rodapé o. 43.
38. A respeito da qual escreveu à época Donaldo Armelin: "Essa sugestão é pertinente e adimple
Valorizando a arbitragem envolvendo a Administração Pública, a reformada Lei uma das características básicas da arbitragem, que é a de manter o sigilo a respeito da matéria
de Arbitragem (Lei 13.129 de 26 de maio de 2015) trouxe previsões próprias a respeito objeto de sua atuação, o que seria esgarçado se escancarado na carta arhicral o objeto da arbi-
(conforme adiante se verá- Capitulo 14, item 14.5), e também assim fez incluir no tragem" (ARMELIN, DonaJdo. Arbitragem e o novo Código de Processo Civil. RArb 28/ 13 l ).
arr. 2.0 da norma de regência:"§ 3.0 A arbitragem que envolva a administração pública 39. Embora se conheça a larga discussão a respeito da interrupção da prescrição pela iniciativa da
será sempre de direito e respeitará o princípio da publicidade". demanda (por exemplo, sua antecipação à distribuição da ação e o confronto da lei processual
com a lei civil, verificados detalhes diversos em uma e outra norma, aparentemente mais
harmônico o modelo adotado pelo Oídigo de Processo Civil de 2015), deixa-se de trazer esrc
35. Cf., a respeito dentre outras, CAM/CCBC, CAESP, TMCA-CSA-0AB-SP. debate ncsra sede, limitando-se a remerer o leitor ao compleco estudo da matéria feito por
36. Para não se falar até em necessária publicidade dos aros envolvendo o poder público, conforme Yussef Said CahaJi, na atualização de sua clássica obra sobre o rema: CAHALI, Yussef Said.
as circunstâncias. Prescrição e decadência. 2. ed. rev. e arual. São Paulo: Ed. RT. 2012.
PROCEDIMENTO ARBITRAL- li 1 2 87
286 1 CURSO DEARB!l'RAGEM

Neste sentido, apontando alguns dos momentos de interrupção da prescrição,


Refere-se a lei a expedientes inexistentes no juízo arbitral. Mas só por isso seria
escreve Yussef C ahaü: "No compromisso arbicral judicial prevalece a inrerrupção
inviável a interrupção da prescrição pela instauração do juíw arbitral? Não, certa-
da pres.crição ocorrida na demanda em cmso onde aquele fo i convencionado. Na
mente não. Pela sua natureza jurisdicional, cal qual o processo estatal, a perseguição
cláusula compromissória, interrompe-se a prescrição com a mani festaçáo da o utra
de direitos por este método, sem dúvida, também interrompe a prescrição.
parte interessada, por via postal ou por o urro meio qualquer de comunicação, de sua
E assim, a reforma da Lei de Arbitragem trazida pela Lei 13.129 de 26 de maio
intenção de dar início à arbitragem (art. 6. 0 , eirado). Assinado pelas partes o com-
de 2015, introduziu a seguinte regra no§ 2.0 ao art. 19: "A instituição da arbitragem
promisso arbitral, cem o autor como interrnmpido o prazo da prescrição da sua ação
interrompe a prescrição, retroagindo à data do requerimento de sua instauração, ainda
contra o réu, porque a assinatura desse compromisso, pelo autor e pelo réu, equivale
que extinta a arbitragem por ausência de jurisdição".
à propositura de uma demanda em juízo" .43
A dificuldade sobre o tema reside, porém, na identificação de qual será o ato ou
Ou seja, na diversidade de formas para provocação do Juízo Arbitral, decorrente
instante em que se terá por interrompido o prazo prescricional.
da multiplicidade de situações contidas na amplitude da convenção (cláusula cheia/
Para nós, deverá ser considerada como ato in terrupcivo da prescrição a inequívoca vazia, compromisso), como referido acima, também vários devem ser os atos que
iniciativa em provocar o início da arbitragem. Ou seja, no exaro instante em que a
interrompem a prescrição.
parte, comprovadamente, demonstra seu propósito de materializar o juízo arbitral, 40
Com menor atenção a todo este contexto, veio a nova previsão introduz.ida pela
deve-se atribuir ao fato a força interruptiva da prescrição.
reforma da Lei de Arbitragem, conforme inicialmente indicado.
E na diversidade de formas para se dar início a arbitragem, peculiar do sistema
arbitral, qualquer delas deve ser aceita. Assim, desde aquela correspondência enviada Positiva, sem dúvida, a iniciativa, porém delasedeveráexcrair, na melhor exegese,
ao adversário, convocando-o para firmar o compromisso (art. 6.0 da Lei 9 .307/ 1996), que por "requerimento de instauração da arbitragem", se entende toda e qualquer
até o protocolo da solicitação de instauração de procedimento arbitral apresentado iniciacivade se levar o conflito ao jLúzo arbitral, ainda que através de notificação para
na entidade eleita pelas partes (ou seja, antes mesmo da aceitação do árbitro, ou
41 se firmar compromisso, prevista no are. 6.0 da Lei, ou acé, em dadas circunstâncias,
da assinatura de ata de missão/termo de arbitragem), passando pela só assinatura de asó assinatura do compromisso arbitral, pois, conforme o caso, estes atos serão con-
compromisso arbitral e ainda pela provocação do árbitro de acordo com a convenção, siderados como o ponto de partida necessário para a instauração da arbitragem (cf.
são atos aptos ao fim aqui tratado, pois demonstram a perseguição, pelo interessado, Capítulo 6, icem 6.2.2. Procedimento para instauração da arbitragem - ares. 6. 0 e
da cutela jurisdicional de seus afirmados direitos, na forma prevista no sistema jurí- 7.0 , e Capítulo 8, item 8.4. Fase I - Da instauração da arbitragem).
dico próprio. 42 Ainda, anote~se a adequada referência à interrupção "ainda que extinta a ar-
bitragem por ausência de jurisdição".'14 Como já analisado, pelo princípio compe-
40. Cf. a respeito, as divmas possibilidades no Capítulo 8 supra, item 8.4 - A instauração da
arbitragem. o Poder .Judiciário medianre o aj uizamenro da peciçã0 inici:d . .É naquele momént0 inicial
4 l. Com posição em pane diference, mtlS na cssênci:1 admitindo a interrupção da prescrição peb que o su_jci co rompe :i inércia e j,í não se considera um dormicns descuidado do rcsguard.o
i.nici.\tiva da parrc em instaunir a arbicr:igem, escreve Scavone Junior: uAssim, a inrcrrupção da de seu direico. A parrirdaí vários atos deverão ser real.izado~, e rnnco tempo poderá decorrer
prescrição nn arbicr.àgem, no nosso enrendimcmo, se d:1rá com a aceitação do arbitro que rerá acé quando realmente a demando venha a ser proposrn pcrance os :lrbitros, sendo ilegítlmo
cf<::iro rerroarivo à data da provocação da parrc p:tra que aceite o mistér, aplicando-se, também, sujci~Lr aquc.lc que já saiu d:i inércia às i.nce.m:·l:i.s de faros e situações complctamcnre fora
por analogia, a reoria da cxpediç.'io, de resto tradkiomJ ena-e nós nos concracos" (SCAVONE de seu cona·ol.e" (A :irbirragem na eco.ria geral do processo. São Paulo: M:ilhcirns, 2013,
JUNIOR, Luís Antonio. Op. cic., p. 116). p. 142-143).
42. T.1mbém na amplitude por 116s considerada quanto ao momento da imcrrupção da prescri- 43. CAHALI, Yussef Said. Prescrição e decadência cit., p. 139-140, trazendo à colação CAR-
ção, e um dos mais recemes livros de qualidade sobre arbitragem escreve Cândido Rangel PENTER, L Da prescrição. /ti: LACERDA, Paulo de. Manual de direito civil bmsileiro. Rio
Din.amarco: '' Propõe-se di:1nre disso, que uma boa ad:ipcação daquelas regras do Cé>digo dt Janeiro: Ed. Jaciarho R. Santos, 19 19. vol. IV, p. 369. Cí. ainda, TJRS, Apdação Cível
de Processo Civil à :irbicragem consisr:1 cm fixar na comunJcação fcit:i por urna dns parrcs li. 70045060670, 17.-' Câmara Cívcl, j. 20.10.20 11, v.u., rei. Des. Elaine Han..heim Macedo,
outra, nos cermos do are. 6° da Lei de Arbitragem, o momento ao qual retroagimo os efeitos na qual consigna-se a "interrupção da concagem do lapso prescricional quando do ingresso
da notí.fieáçâo feira ao réu no processo arbicraJ (aplicação adaptada do arr. 219, § L. 0 , do do plciro perante a Corte Arbittal", aplicando ao caso a previsão contida no are. 202, VI do
CPC ll 973 - correspondencc ao arr. 24 0, § 1. 11, do C PC/2015 1. Aquela primeira iniciaciva Código Civil; in RJTJRGS 283/343.
~ uma indisoutivel manifescação de irresignação cm face de um.a siluação jurídica n:i.o de-
44. V. redação dada ao § 2. 0 do are. 19 da Lei de Arbitragem pela Lei 13.129/2015.
sejada, equivalendo para esse efeiro, mucatis murandis, à iniciativa de um processo perante
288 1 CURSO DE ARBITRAGEM PROCEDIMENTO ARBITRAL- li 1 289

tência-competência (Capítulo 5, item 5.2, acima), poderá no Juízo Arbitral vir a ser 9.5. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
reconhecido vício na convenção (inexistência, ineficácia, ou invalidade, como dentre
ARMELIN, Donaldo. Prescrição e arbicragem. Revista de Arbitragem e Mediflçáo. n. 15. ano lY. São
vários outros exemplos, não se tratar de matéria possível de se submeter à arbitra- Paulo, ouc.-dez. 2007.
gem, pelo objeto ou pelas partes-LArb., parágrafo único do art. 8.0 ), que impede o AZEVEDO NETO, Mauro Cunha. A interrupção da prescrição arbitral face às alternções propostas no
julgamento do conflito; e assim, caberá ao interessado buscar a tutela jurisdicional Projero de Lei n. 406/2013. ln: CAHALI, Francisco, José; RODOVALHO, Thiago e FREIRE,
no Judiciário. Nesta situação, confere-se eficácia àquela interrupção da prescrição Thiago (coords.).Arbitr11gem- Est11dossobreaLeí 13.129, de 26.05.2015. São Paulo: Saraiva, 2016.
operada no juízo arbitral. BAPTISTA, Luiz Olavo. Arbitragem comercial e intermzcional. São Paulo: lex Magistcr, 2011.
BERALDO, Leonardo de Faria. Gmo De Arbitragem Nos Tennos Da Lei n.9.30711996. l. Ed. São Paulo:
9.4.4. A participação do advogado e assistente da parte Aclas,2014.
CRETELLA NETO, José. Quão sigilosa é a arbitragem? Revista de Arbítmgem e Mediação. n. 25. ano
O advogado no procedimento arbitral, embora de extrema relevância e utilidade, VII. São Paulo, abr.-jun. 2010.
não é necessário. 45 A Lei faculta sua participação, não obriga que as partes tenham DJNAMARCO, Cândido Rangel. A arbitmgem na teoria geral do processo. São Paulo: Malheiros, 2013.
advogado constituído. Esta conclusão decorre do§ 3.0 do are. 21 da Lei deArbirragem, GUERRERO, Luís Fernando. Convenção de arbitragem e processo nrhítral. São Paulo: Atlas, 2009.
ao consignar que as "partes poderão postular por intermédio de advogado". MAIA NETO, Francisco; FIGUEIREDO, Flavio Fernando de (coord.). Perícias em arbitragem. São
Pode-se afirmar, porém, ser remoca a arbitragem sem advogado, pois já, desde a Paulo: Leud, 2012.
convenção, certamente se contou com a participação deste profissional, afinal dificil- PINTO, José Emílio Nunes. A confidencialidade na arbitragem. Revista de Arbitragem e Mediação, n. 6,
mente alguém irá conhecer e escolher este método de solução de conflito sem prévia ano li, São Paulo, jul.-set. 2005.
orientação de um advogado. Importante salientar a importância do advogado para _ _ _. Anotações práticas sobre a produção de prova na arbitragem. Revista Brasileira de Arhím,gem,
n. 25, ano IV, Porto Alegre, Síntese; Curitiba, Comitê Brasileiro deArbicragcm, jan.-fcv.-mar. 2010.
contribuir com o bom desenvolvimento da arbitragem, sem deixar, evidentemente,
PITOMBO, Eleonora M. Bagueira Leal Coelho. Relevância do advogado para a arbitragem. Revista do
de defender os interesses de seu constituinte.
Advogado, n. 87, ano XXVI, São Paulo, sec. 2006.
Ainda, alguns isolados regulamentos referem-se à necessidade de vir a parte PUCCl,Adriana Noemi; AZEVEDO NETO, Mauro Cunha. [ncrodução ao procedimento arbimJ. ln:
acompanhada de advogado, especialmente se o adversário tiver constituído o seu MAIA NETO, Francisco; FIGUEIREDO, Flavio Fernando de (coord.). Per/das em arbitragem.
procurador, e, diante da sua falta por indicação do interessado, a própria instituição São Paulo: Leud, 2012.
fará a nomeação de um dativo. SILVA, Eduardo Silva da. Regras arbitrais brasileiras: a fase dos regulamentos. ln: CAHALI, Francisco,
José; RODOVALHO, Thiago e FREIRE, Thiago. Arbitragem-Estudos sobre a Lei 13.129, de
Também no procedimento arbitral, pela literalidade do referido§ 3.0 , as partes 2605.2015. São Paulo: Saraiva, 2016.
podem "designar quem as represente ou assista no procedimento".
Com já dissemos, por vezes sequer o árbitro cem formação jurídica, podendo,
por exemplo, ser um engenheiro, em razão do objeto da demanda. Daf, obviamen-
te, de grande valia que a parte também tenha em seu apoio um técnico da área de
conhecimento específica da matéria em discussão. Não se reduz a participação deste
à de um assistente técnico indicado para acompanhar uma perícia. O indicado para
assistir a parte, neste caso, acompanhando todo o procedimento, pode, inclusive,
formular perguntas para as testemunhas ou às partes quando de seus depoimentos,
e debater sobre a pertinência de provas etc. - enfim, atua nas condições similares
às da parte.
Bem utilizado este expediente, cercamente só trará benefícios ao procedimento.

45. Neste sentido CARMONA (Arbitragem... , cit., p. 299); e SCAVONE JUNIOR (op. cic.,
p. 113), em sentido contrário.
10.
Tutelas provisórias de
urgência e de evidência
na arbitragem
e Cooperação
do Poder Judiciário
ROTEIRO DE ESTUDOS

1. Introdução às Tulelas Provisóri,1s


2. Tulelas provisórbs de urgência n;i arbitragem
• Tutcbs provisórias ele urgência .:mtcceclentes
• Tutelas provisória<; de urgência no curso da arbitragem
• Limil.:iç.:\o contida n.:i convenção
3. Tutela de evidência (antecipacbi na arhítr.:igt•m
• Possibilidade sem autori.:u1çâo? 10.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE TUTELAS PROVISÓRIAS DE
• Limitação contídJ na conven\~o
URGÊNCIA E DE EVIDÊNCIA
4. Cooperação do Poder Judici,-írio Encontram-se disponíveis na legislação processual civil mcdiJas provisóri;Lc; para
• Convivência do juízo estatal com o juízo arhitr.:il garantia do resultado futuro do processo ou para, simpksmcntc, amecipar a tuLela
• lnform.:i~·ões e providôncías solicitadas .10 juiz togado final requerida quando atendidos os pressuposLos legais.
• o Código de Processo Cívil de 2015 <:~ a reforma da Lei de Arbitragem Pelo Código de Processo Civil revogado (CPC/1973), não obstante os ajustes
- caria ,irhítml que se fizeram ao longo do tempo, havia certa fulha na sistematização das chamadas
"medidas cautelares", e "rntelas ancccipadas", em certa medida coincidindo ou apro-
ximando requisitos, fun<lamcnros e efeitos. Esabidaaexisttncia c.lcumazon11dnzl'nta
entre os dois instrumentos, tanro cm relação à providência em si requerida e/ou de-
ferida, como também relativamente aos seus requisitos, admitia-se a fungibilidade
entre eles (regressiva ou progressiva) 1; vale c.li1.cr, mesmo tendo sido requerido um
provimento, por folha, engano, pouca técnica ou diverso entendimento do reque-
rente, permitia-se o <ldcrimcnto de outro que se mostrasse maís adequado à cutela
do direito questionado. E na prática, embora vedada a antecipação <lc tutela através
de ação cautelar, esta por vez.es vinha deferida.
Com a expectativa de melhorar o tratamento <lestas providências, o Código
de Processo Civil de 2015 propõe nova estrucura sobre a matéria, tratando aquelas
providências como ''tutelas provis<írias".
E classíhca as tutelas de acordo com a causa <la pretensão provisória: quando
SUMÁRIO o direito da parte encontra-se a reclamar 11.1gf!1tcia ou mostra eviclêncitZ,, apontados
10.1. • CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE TUTELAS PROVISÓRIAS DE URGÊNCIA E DE EVI- requisitos e características próprias para as respectivas providt:ncias.
DÊNCIA..................................................................................................................................................... 293
10.2. • DAS TUTELAS PROVISÓRIAS DE URGÊNCIA NA ARBITRAGEM .......................................... 296
10.3. • TUTELA PROVISÓRIA DE EVIDÊNCIA (ANTECIPADA) NA ARBITRAGEM ......................... . 308
1. Por previsão expressa havia a po.,sihilidadc de ddcrimento de medida camcLtr 911:,ndo rc;qucrida
10.4. • COOPERAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO ........................................................................................ 311
rurda :11uccip:Hla (arr. 273, § 7. 0 , do CPC/ 1971), 9ualilic:1da wmo .fi111gi.bilid11de rc:gn-ssim,
10.5. • DA CARTA ARBITRAL - O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 EAR EFORMA DA 1cndo a Doutrina e Jui-isprud.:ncia eaminhado para admiti r a possihilid:1dc de dd<.:rimcnro
LEI DE ARBITRAGEM ........................................................................................................................... 315 de rmcb alllccipada, cm .~im:1çiíes cxt:t:pcionais, rncs1110 quando requerida a medida caurclar,
10.6. • BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA...................................................................................................... 319 iJcncificada esta situação como fi111gibilirlrule pmgrmi/!11.
2 94 1 CURSO OE ARBITRAGEM TUTELAS PROVISÓRIAS DE URG!NC1A E DE EVID~NCIA NA ARBITRAGEM 1 2 95

Em apertadíssima síntese, com superficiais e rápidas referências, direcionadas Na tutela provisória de evidência, a medida a ser buscada será de natureza anteci-
apenas para situar o leitor na inovação, passamos a ter a seguinte classificação: patória do resulrado futurn, e independen ceda demonstração do perigo na demora do
processo; indicadas (e ampl.iadas em relação ao previsto no CPC/1973) as hip6teses
de seu cabimento (art. 311 do CPC/2015).3
antecedente cautelar Identificadas ambas as tutelas como provisórias, aspirando ao pronunciamento
definitivo sobre o litígio em sentença futura, 4 reúne-se em um mesmo "Livro" tanto
urgência ou ou
as medidas buscadas com base na necessária urgência do provimento (a ser garantido
Tutelas provisórias incidente antecipada por cautelar ou anrecipação do resultado), como pautados na evidência do direito
invocado (cujo resultado será antecipar no todo ou em parte a tutela).
Grosso modo, agrupam-se as medidas em razão do ponto comum entre elas,
evidencia - incidente - antecipada
consistente na provisoriedade (are. 296 do CPC/2015), classificando-as pela causa do
pecüdo ( urgência ou evidência), e não pela natureza da cutela pretendida (meramente
Pelo novo regime, como visto, o gênero destas medidas passa a chamar tutelas cautelar ou antecipatória de resultado futuro).
provisórias (Livro V - Da Tutela Provisória, Título I - Das Disposições Gerais - Dentre outras particularidades, destaca-se a estabilização da tutela de urgência
arts. 294a311), do qual são espécies a tute/,a de urgência e a tutela de evidência. Sob antecipada, quandoantecedenre(art. 304doCPC/2015),eaapresentação nos mesmos
outra perspectiva, tutela provisória, é o nome da ação (do processo), cujo objeto em autos desta, se não estabilizada a medida, de confirmação do pedido de tutela final
um primeiro momento será o pedido de medida (tutela) específica, com fundamen- em 15 (quinze) dias, ou em outro prazo maior que o juiz fixar, mediante aditamento
to na urgência ou na evidência. Com cognição sumária, sempre há a verificação da da petição inicial, complementação dos argumentos, e juntada de novos documentos
probabilidade do direito. (are. 303, § 1.0 , do CPC/2015). Da mesma forma, para a tutela de urgência cautelar
antecedente, vem previsto o oferecimento do pedido principal nos próprios autos,
E a provisoriedade decorre da necessidade de se buscar a tutela definitiva, em
também mediante aditamento contendo a causa de pedir e dispensado o recolhimento
processo unificado, ressalvada a inovação que se verá a respeito da estabilização da
de novas custas, a ser exercido no prazo de 30 (trinca) dias (are. 308 do CPC/2015).5
medida de urgência antecedente antecipada possível de ocorrência em situação específica
Anote-se ainda que a inovação legislativa sugere restrição ao deferimento da
prevista na norma.
medida pela irreversibilidade da decisão apenas quando tratar-se de tutela de urgência
Tal qual no sistema de 1973, mas com peculiaridades novas a serem adiante de natureza antecipada. 6
apontadas, a tutela provisória de urgência, poderá ser antecedente ou incidente ao pro-
cesso considerado principal, na qual a tutela definitiva (mérito do litígio) estará sendo
3. Assim: ''.Are. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração
discutida. Por sua vez, a tutela de evidência será sempre incidente. de perigo de dano ou de risco ao resultado úril do processo, quando: [ - ficar caracterizado o
Na tutela provisória de urgência, ainda, poderá ser requerida medida cautelar, abuso do direito de defesa ou o manifesto prop6sito protelatório da parte; II - as alegações de
ou antecipada, cada qual com características próprias, mas sempre no pressuposto fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamenro
de casos repetitivos ou em súmula vinculante; III - se tratar de pedido reipersecurório fundado
de estarem presentes o famus boni iuris e o periculum in mora; estes são essenciais ao
em prova documental adequada do contrato de dep6sito, caso em que será decretada a ordem
cabimento da tutela de urgência (art. 300 do CPC/2015). 2 de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa; IV - a petição inicial for instruída
com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não
oponha prova capaz de gerar dúvida razoável. Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e
2. Assim: "Arr. 300 - A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que eviden-
III, o juiz poderá decidir liminarmente."
ciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil. do processo.
§ 1° Para a concessão da tutela de urgéncia, o juii pode, conforme o c:1so, cx_igir C'lUÇáo real
4. Ressalvada, como se verá, a estabi/i?.ação da medída em situação específica possível de ocorrer
na tutela provisória tk urgência antecedente antecipada.
ou 6dejussó.ria idónea para ressarcir os danos que a o urra pane possa vir a sofrer, podendo n
caução ser dispensada se a parte econo m icanieme hipossu.ficicnu: não puder oferecê-la. § 2° A 5. Dispensado o pagamento de custas também quando a tutela provisória for requerida em cardter
caceia d.e ~1 rgência pode :;er conccdida liminarmente ou após j ustificaçno prévia. § 3° A ru cela de incidental (an. 295 do CPC/2015).
urgência de naturcz.'l ameei pada não senl conccd ida quando ho uvcr perigo de irrevcrsibi.lid:ide 6. Quando tal restrição no regime do CPC/ 1973 estendia-se também à tutela antecipada (art. 273,
dos efeitos da decisão." § 2. 0 , do CPC/1973). E ainda pertinente a observação feita na 4.a edição deste "Curso" quan-
T lJTEl.i\S PllOV IS( JRl1\S l)l'. l.JRC CNC:IA l'. l >l" l'Vl!)(:.KCIA r-:J\ i\RBITRAC El\1 1 297
296 1 CURSO DE1\1lB!'l'llACEt\1

Por fi m, merece registro ter sido abandonada a cipificação de cautelares contida Mas l<.>1nbre-sequeo Jud iáírio terá sua acuaçáo, neste e,1so, limirnda~1apreciaçfo
na legislação de 73, então com ritos, pressupostos e caraccerfsricas pró prias, adotada da tutela de.: urgência, impedida a análise do m0 rito da causa."
a referência genérica a algumas delas (are. 301), forcalecendo o poder gerai rlc c~uteln Se antes a matéria foi merecedora de certa düvida, embora sempre fome a nossa
ao au rorizru: o juiz a "decerm ina r as medidas que considerar adequadas para efetivação posição a respeito desde a edição inaugural d~tc "G,rso", a orientação romou bom
da cu cela p rovisória" (are. 297 do CPC/2015) . ru mo_ co'.n precedente do SuperiorTribu nal de Jusciça no qual a rclatüra, Min. Nancy
O escudo das cautelares e da cutela antecipada j:i desafiava a dou trina processual, Andngh1, reconhece o acesso ao ju<lici.irio nesta si mação peculiar, mesmo existente
com diversos e proveitosos trabalhos a respeico, ese mostrava de grande utilidade pela a convenção de arhitragem , sem afronta ao seu d eito vinculanre.'i Esta decisão fo i
vari,i.vel jurisprudência dían ceda enorme casuística. Com a inovação, cercamente mais seguida por outros julgados no mesmo sentido.
se provocará o rico debate sobre este fascinante tema. .E acolhendo c.:xatamente a orientação predo minan te, a Lei 13.1 29/20 15 (rcforn1,1
Mas, nescaoporcunidade, apresenca-seesra rápida passagem apcnas parasesimar da LArb.), fez. incrodmir regra própria a respeito na Lei de 1996, criando capítulo
o lc i cor no novo sistema, di recíonadas as considerações segui nres ~l a tiálisc destas t1ttr:ÍJ1s específi co a respeito; assim:
pro1,isórids no cemirio arbitral. ''CAPÍT ULO IV-A DAS TUTE LAS CAUTELARES E D F. URG ÊN CIA
Arr. 22-A. J\n tcs de insriruída a arbitragem, as partes poderão recorrer ao Poder
10.2. DAS TUTELAS PROVISÓRIAS DE URG~NCIA NA ARBITRAGEM Judiciário para a concessão de medida cautelar ou de urgência.
As cutelas provisórias de u rgência podem ser antecedentes ou incidentes no Par,ígrafo ünirn. Cessa a efic.icia da medida caurebr ou de urg(:ncia se a parte
processo, vejamos separadamente cada tuna das sitllaçõcs: interessada não requerer a inst itu ição da arb itragem no prazo de 30 (trinta) dias,
contado da dara de.: detivaçao da respectiva decisão.
10. 2. 1. Tucclas provisórias de urgência antecedentes
Arr. 22-B. In.sricu(d;i a arbitragem, caberá aos ;írbitros manter, modihc 1r ou
C omo jJ visto , pode ocorrer cena demora na instim ição do juíw arbitral, na revogar a medida cautelar ou ck urgência concedida pelo Poder Judici,trio.
formado art. 19 da Lei de Arbitragem brasileira, e calvez. aqui, então, maior pertinência Parágrafo único. Estando j ;,Í instituída a arbitragem, a mcdida caurclar ou de
rerá a tutela provisória de urg2ncia ancecedente. urgência sed requerida diretamente aos :~rbicros. ''
Nestas sirnaçóes, enquanto não insraurado o procedimento arbicral, diante do A bem da verdade, era desncccssá ria a refómtll nes te particular, mas não dei xa de
risco de pereci menco do d ireito, a medida cautelar deve ser_b u~c..~d~ no ] t'.d iciário.1:á, ter algu ma utilidade, não só pdo cadtcr pcdagógico, mas para imped ir que a dúvida
sem dúvida, mas por questão óbvia, uma exceção à regra de 1unsd1çaoarbmal exclusiva viesse a ser lcvamada por algum desconhecedor ela doutrina e jurisprudênci;i.
em razão da convenção. Traca-se de uma adaptação ao quanto já se tt.:m a rcspeico no
Por descompasso interno do Lcgíslador, infclizrne11tc usual, a reforma inrro-
próprio ju_clici~trio, ao neste se reconhecer que, em casos de ~trg~ncia, di.~pcnsa-se a
<luzida , mes mo posterior à pronmlgaçao do C c'>digo de Processo Civil de 2015,
observância, num primeiro mo mento, das regras de com petencta.
<lcseo_n sidcra ai novação ne.src:: conrída, e acima rcfrri<la, pois o respcctivo projeto era
Ora, enquanto não insticuído o juízo arbitral a quero possa a parte requerer as antenor à aprovação do Cúdigo.
providências urgences, para preservação de seus direitos eexcrcíc~o-~l~n~,do acesso à
ordem jurídica, será feito o pedido de tutela perante o Poder Jud1C1ano, assegurado
como garantia conscicuciomtl em favo r de todos, em caso de violação ou ameaça de br;~silc:irn. R,•,.isl,l 'fi·i111cw·,d rlc Vi,âto (,'i1-il. rnl. 35. jul. -scc. 2008) l º 1:11nh1:m j;í u11 if·(>r111c a
Jun,-~p:·11dc:,i1:i:1, m~·i:cccn'.fo dcsraqm:, dcnrrc '.'urros:· f'J RJ, Ap( :iv 2003.001. 1(,879; ·1"_JS r~ Agln
violação de dirciro". 7 3_~.:i.8\1(,_--,JtOO;_ IJMC , Agln 2.0000.0(! .."I_0'i~:B-'i/000; º!JS!~ ,\gln 38.-i.896-4/4-00, t>.•
C.1111. D 1r. 1 nv., J. 03.05.2005. rd. íks. Scrgw Colllcs.
8. N~stl:~l.'ntido, rccc11tl:acúrdão rda1:1do pela Min. /',;;i ncy Andrighi, 110 ,\g.Rc 11:1 MC 19.226-MS,
do oponrnda :i rcsrrição à irreversibilidade da decisão: "lsso se justificn em 1111.ão d.i narure~.a
J• ..'.1 .0(,.2012, :t·• T., nl.\'.,.
provisória dessas medida.~, m:tS e.xcepcion:tlmencc, di:1nre de conflito de valores fundomcncn~S,
9. Rll~r)
- . 1--. ·J•P, ..'r74/PJ
: " . :,·, -, (l(.>--·1 c), .,_; e:1 escacam(>·~
. · ·1·urma, v.11., J·· 1-· 1 oa
j
cm<:nra: ·,/\rh1rragcm.

cm que t~ro a decisão conccssiv:i quanto :1 decisão dcnegacóri:i podem se cornar irreversíve~s, º

a douuinn admite a :;uper:ição dessa regra cm prol do principio da efetividade do processo · Mc_d_i~a Cmm:lar. Compcccncia. Jui1.o Arbitral nãn consriruído. '.?.. N:1 p<:ndcnci;1 da conscicuiç.·fo
do Irilh11 1;tl ,\rbitr:d, ,,dmit<:·st: que a parw se ~(>Co rra do Podt·r J11dic.:icirio, or iurcrmúlio de
7. ARMELI N, Donaldo. Jurisprudência comcmada. Revista de A,·bítrngem,: Mi:tliafii<>. n. 6. _iul.-sct.
n~rdid:1 de narn ro.a c:imcLu, par:, :1.~scgur:ir t> rc.;~11l1adn {1til tb a rhirr:1gL·m". C f: 1~rnh~111. STJ,
2005, p. 226. Nesrcscncido, também, [mnquila a doutrina (cf., a respeito, amores colacion~do~
- • º • 1 1 t • l,. .f .• ...1;...ln,. u ..nl"nf"P( 00 0rôCCSS0 arbJtf3 C,onfltro de Co,npc1C::nci:1 11 1.:!30/DE 2:' Scc;ão, Rei. l'vlin. :--Ja1>cr Andrighi, 1n.v., j. 08.05.13.
298 1 CURSO DEARBITRAGEM TUTELAS PROVISÓRIAS DE URG~NCIA E DE EVIDÊNCIA NA ARBITRAGEM 1 299

E assim, a reforma da Lei de Arbitragem entrou em vigor "velha'' quanto à novel Tenha-se presente, por oportuno, que a contagem do prazo se fará por dias úteis, e
disciplina das medidas de urgência. não corridos (are. 219 do CPC/2015).
Mas, no quanto cabe de superficialidade neste "Curso", com restrito ambiente Para acomodação do novo modelo à realidade da arbi cragem, deve-se considerar
para mais complexas teses jurídicas, a conciliação das regras (CPC/2015 e LArb. re- cumprido qualquer dos prazos no exato momento em que a parte tomar a iniciativa
formada) é simples: basta substituir a referência a "medida cautelar ou de urgência", de iniciar a arbitragem, dependendo da casuística quanto à sua forma, acima referida.
por "tutela provisória de urgência". 10 Ou seja, para efeito de acendimento do prazo, considera-se a iniciativa da parte em
Definida a jurisdição estatal neste momento pré-arbitral, surgem os seguintes provocar o início da arbitragem, por quaisquer de suas formas possíveis. Assim, até
aspectos a serem observados: mesmo o encaminhamento de co.rrespondênciaconvocando o adversário para assinar
compromisso (art. 6. 0 da Lei 9.307 / 1996) é suficiente para atender a exigência legal
Na tutela provisória antecedente, há necessidade da indicação da "lide e seu 0

fundamento" (art. 305 do CPC/2015) ou "do pedido de tutela final, com a exposição (desde que oportuno tempore instaurada a arbitragem). Em outros termos, tal como se
da lide" e do "direito que se busca realizar" (are. 303 do CPC/2015). Representa, na faz para considerar interrompida a prescrição, 12 deve a parte adotar as providências
verdade, a referência ao objeto (fundamento e pedido) da tutela definitiva. pertinentes à in stamaçãodo juízo arbitral, levada em conraadiversidadedesituações
possíveis de acordo com a convenção e o regulamento de arbitragem escolhido.
Por fidelidade à convenção de arbitragem, devem ser indicados para atendimento
deste requisito, a existência da cláusula ou compromisso, e o quanto será apresentado Neste contexto, surge uma situação peculiar, mas totalmente solucionável por
na arbitragem. utilização lógica do instrumento provisório antecedente em confronto com a reserva
O ponto a merecer maior atenção, consiste na verificação do prazo para a apre- jurisdicional da arbitragem para as questões a ela voluntariamente submetidas.
sentação do pedido principal. Excepcionada a regra do modelo sugerido pelo novo Código, a tutela provi-
O Código de Processo Civil de 2015, como suscintamen te já referido, traz como sória de urgência antecedente, terá vida própria por algum tempo, com seus autos
inovação a apresentação do pedido principal de cutela definitiva nos próprios autos exclusivos. Momentaneamente, não será um apêndice dos autos em que se discute
da cutela de urgência provisória, quer seja antecipada (art. 303), quer seja cautelar a tutela definitiva.
(art. 305), inexistindo agora a então chamada "ação principal" que deveria ser proposta Será mantida a tutela provisória de urgência antecedente em processo indepen-
em 30 dias (are. 806 do CPC/ 1973). Ou seja, não mais se terão dois "processos" (ainda dente, não apenas até o implemento do prazo para a iniciativa da arbitragem, mas
que apensados), mas apenas um, concentrados todos atos nos mesmos autos (agora enquanto estiver pendente de formação o juízo arbitral, para, só quando instituída a
ainda em ambiente eletrônico). Em outras palavras, o que se tinha de ação autônoma arbitragem (LArb., art. 19) aos seus cuidados ser entregue a matéria de urgência para
("ação cautelar"), independente, com começo, meio e fim próprios, antecedente ao conhecimento e deliberação, inclusive facultado aos árbitros modificar ou revogar a
"processo principal'', deixa de existir. medida concedida pelo Poder Judiciário (LArb., are. 22-B).
O avançado modelo fala em aditamento das razões para contemplar o pedido de Os autos da tutela de urgência preparatória, terão rumo diverso daquele usual
tutela final. ou apresentação de pedido principal, com outros documentos se o caso, previsto nas suas regras de regência; não se fará unificação; inexistirá o aditamento,
tudo nos mesmos autos, inclusive sem novo recolhimento de custas (arts. 303, §1.0 , ou complementação para neles se abranger o pedido final de mérito (com o mais a
I e 308 do CPC/2015). Há, pode-se dizer, um processo de continência da tutela defi- ele pertinente), pois a tutela definitiva é direcionada, com procedimento próprio, ao
nitiva em relação à provisória, em que este passa a ser integralmente contido naquele. juízo arbitral. Desta forma, ao invés de ser incorporado pela lide principal, os autos
Ainda, estabelece prazo diverso para esta providência, a depender da tutela pro- (do processo eletrônico) permanecem independentes.
visória pretendida: se antecedente antecipada, o prazo éde 15 dias (art. 303, § 1.0 , I, do E assim se faz sem mácula ao sistema, mas como situação inerente à duplicidade
CPC/2015); 11 se antecedente cautelar, o prazo é de 30 dias (are. 308 do CPC/2015). de jurisdição, a ser exercida cada qual em momento próprio, com a subsistência da
tutela provisória de urgência antecedente no juízo estatal, sem qualquer acréscimo
10. C f. adia nte, em "Anexo~", especificamente em "Anexo 2", o texto consolidado da Lei de Arbi- relativo à tutela definitiva, até o deslocamento da matéria ao juízo arbitral.
tragem, apancadas as revogações, inclusões e alceraçõe.~ trazidas pela Lei 13.129 de 26.05.2015
com destaques próprios, indicada também a versão original para confrontação.
11. Admitida a fixação, inclusive, de prazo maior pelo juiz. 12. Cf. Capítulo 9, icem 9.4.2, supra.
300 1 CURSO DE ARBITRAGEM TUTELAS PROVISÓRIAS DE URG~NCTA E DE EVID~NCIA NA ARBITRAGEM 1 301

Instaurado o juízo arbitral (LArb., art. 19), a jurisdiçãosobreoconflitopassaaser ou recomposta nova instância arbitral com a investidura da jurisdição em outro(s)
do árbitro, e, assim, a ele deve ser encaminhada, também, a questão objeto do pedido árbiuo(s). Ao se restabelecer o curso da arbitragem, a esta se devolve a análise da
de tutela provisória envolvendo o litígio. O juiz estatal perde, neste instante, a juris- rnedida eventualmente deferida no Judiciário.
dição, e as decisões a respeito passam a ser de exclusiva responsabilidade do árbitro. t 3 Como próprio da arbitragem institucional, muito depende, ainda, do regula-
A tutela de urgência, se deferida, prevalece. Porém, ao árbitro (ou tribunal mento da instituição encomendada para administrar a arbitragem. 15 Assim, além da
arbitral) é facultada, até mesmo de ofício, a reapreciação da medida, mantendo, revo- costumeira previsão confirmando a possibilidade de se requerer medidas de urgência
gando ou alterando a decisão. Neste sentido, o art. 22-B da LArb. acima transcrito. 14 antecedentes perante o Judiciário sem que tal providência signifique renúncia à arbi-
tragem, pode, ainda, e por certo excepcionalmente, existir regramento específico para
Também se já revista a cutela em sede de tribunal estatal (no julgamento de agravo de
um "proced imento cautelar pré-arbitral", destinado a resolver questões emergenciais,
instrumento ou liminar deste recurso), mantendo ou reformando decisão original
anteriores à instituição do juízo arbitral, como ocorre na Corte Internacional de Ar-
de primeiro grau, tem o juízo arbitral a autoridade para novo exame da medida, pois
bitragem da CCI, inclusive com regulamento próprio para estas medidas, 16 sendo,
a ele, agora, é outorgada a jurisdição plena sobre a matéria.
neste caso, indispensável, também, que as partes renham convencionado a adoção
Tudo quanto se expôs também vale para as situações em que, por algum mo- deste expediente. Nesta situação, então, as tutelas urgentes já serão submetidas à
tivo, venha a ser desfeito provisoriamente o juízo privado (falecimento do árbitro, instituição para processamento em modelo criado para esta finalidade.
renúncia ou acolhimento de recusa apresentada pelas partes), enquanto não instituída Em recente pesquisa desenvolvida no Projeto II do Grupo de Pesquisa emArbitra-
gem- G PA da PUC/SP foram obtidas informações de algumas Instituições a respeito
13. Neste senrido, recente acórdão do STJ, no qual a relatora, Min. Nancy Andrighi, com a deste tema, e assim escrevemos em artigo específico de análise dos resultados: 17
perspicácia que lhe é peculiar, apresenta solução prática à questão, determinando o envio do
"No ambiente internacional, a oferta de Árbitro de Emergência bem se incorpo-
próprio processo ao cenário arbitral, desracando-se do voto: "Nessa situação, superadas as
circunstâncias temporárias que justificavam a intervenção contingencial do Poder Judiciário, e rou no regramento em arbitragem institucional. E assim foi verificado na pesquisa do
considerando que a celebração do compromisso arbitral implica, como regra, a derrogação da GPA-PUC-SP, pela qual, das 7 (sete) Câmaras consultadas, todas elas comtemplam
jurisdição estatal, é razoável que os autos sejam prontamente encaminhados ao juízo arbitral, esta previsão.
para que este assuma o processamento da ação e, se for o caso, reaprecie a tutela conferida,
Na prática doméstica, em nosso Curso de Arbitragem, observamos que este
mantendo, alterando ou revogando a respectiva decisão'' (REsp l.297.974/RJ, j. 12.06.2012).
14. A respeito, cf. FrCHTNER, José Antonio; MONTEIRO, André Luís. Medidas urgentes no
procedimento não conta com a simpatia dos arbitralistas em geral, tampouco das
processo arbitral brasileiro, cit., p. 43-73, colacionando rrabalho específico sobre o tema, escrito partes, até porque a decisão liminar proferida pelo "árbitro provisório" em caso de
por Carlos Augusro da Silveira Lobo e Rafael de Moura Rangel Ney, que, com base em Fouchard,
Gaillard e Goldman, escrevem: "A natureza precária das medidas acaurelatórias permite aos
15. Cf. CAHALI, Francisco José. Medidas de urgência na arbitragem e o novo Regulamento do
árbitros rever decisões judiciais, sendo cerco que, na hipótese de se instaurar um conflito encre
as medidas decretadas pelo Judiciário e as que o rribunal arbitral entender cabíveis, prevalecerá
CAMICCBC. Revista de Arbitragem e Mediarão. n. 33, 2012.
o entendimento dos árbitros, pois somente eles detêm jurisdição para deliberar sobre o mérito 16. Estabelecendo seu are. 1.0 : "O presente Regulamento estabelece um procedimento denominado
da causa" (LOBO, Carlos Augusro da Silveira; NEY, Rafael de Moura Rangel.Revogação da 'procedimenco cautelar pré-arbitral', que prevê a nomeação imediata de uma pessoa ('Terceiro
medida liminar judicial pelo juízo arbitral. ln: Almeida, Ricardo Ramalho (coord.). Arbitra- Ordenador'), investida de poderes para ordenar determinadas medidas antes que seja provocado
gem interna e internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 256); em sentido contrário, os o tribunal arbitral ou estatal competente para decidir o mérito da controvérsia (a 'Jurisdição
primeiros nomeados indicam Luiz Roberto Ayoub, que diz: "Pode haver a possibilidade de Competente')" (tradução livre), cf. [www.cbar.org. br/PD F/ru1es_pre_arbitral_portuguesc.pdfl.
o compromisso não ter estipulado o Tribunal ou árbitro comperente para dirimir o conflito; Acesso cm: 26.06.2015; também assim, a Câmara de Arbitragem do Comércio - BM&F-
neste ca.so, há uma exceção à regra, onde, uma vez concedida a liminar pelo órgão-juiz, esta -BOVESPA, no are. 5.1. l de seu regulamento, prevê árbitro de apoio para decidir medida de
prevalecerá, mesmo que a posteriori haja a instituição do procedimento, esre não tem o poder urgência.
de <lesconstiruir uma medida que fora concedida antes mesmo da nomeação do árbitro ou 17. Cf. a respeito: CAHALJ, Francisco José. Arbitro de emergência e arbitragem multipartes -
Tribunal, fruto do que a doutrina chama de compromisso em branco, só podendo mudar esta Considerações gerais e resultado da pesquisa do grupo de pesquisa em arbitragem da PUC-SP
decisão se a sentença arbitral estipular o contrário" (AYOUB, Luiz Roberto. Arbitragem: o - Projeto II - 2° Semestre de 2015. Revista de Mediação e Arbitragem, ano XIII, n. 51, São
acmo à justiça e a efetividade do processo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. p. 80-84). Na Paulo, out.-dez. 2016, item 2. A oferta pelas Instituições arbitrais de "Arbitro de Emergên-
jurisprudência, encontra-se acórdão do TJMG determinando a "remessa dos autos ao árbitro cia", onde o resultado da pesquisa também foi publicado. Mais a respeito deste Projeto II do
para manutenção ou não da tutela concedida" (Ag l.0480.06.083392-2/001/Patos de Minas, GPA-PUC/SP, inclusive com o nome dos pesquisadores, cf. Cap. 7, icem 7.3, e em especial a
12.3 Câm. Civ., j. 14.02.2007, rei. Des. Domingos Coelho, DJMG 03.03.2007). nota de rodapé n. 18.
302 1 CURSO OE ARBITRAGEM TUTELAS PROVISÓRIAS DE URGP.NCIA E OE EVIDÊNCIA NA ARBITRAGEM 1 303

descumprimento reclama como regra a cooperação do Poder Judiciário, a provocar Considerando que são em regra provisórias as medidas na forma apresentada
demora talvez comprometedora do direito. Em casos de urgência, então, tem sido (tutelas provisórias de urgência), sendo incisivo e fora de dúvida a sua incorporação
18
considerada a melhor opção, dirigir-se diretamente ao Poder Judiciário. pelo pedido definitivo, que se ausente leva à extinção do processo sem resolução do
E a pesquisa realizada pelo GPA-PUC/SP confirmou a pouca adesão à iniciativa mérito, e ainda, a impossibilidade de deferimento se irreversível a providência, quer
ao apurar que das 22 (vinte e duas) instituições consultadas, apenas 5 (cinco) delas nos parecer20 que será sim possível o deferimento de tutela de urgência antecipada
(19%) oferecem alguma forma de solução emergencial de conflito. antecedente (provisória e reversível). Na ponderação entre valores e regras, voltada a
previsão processual exdusivamen te a assegurar o direi to da parte, excepcionalmente, a
Como principais características deste expediente, temos Câmaras com corpo
urgência se sobrepõe (sempre momentaneamente), à reserva de jurisdição do árbitro;
permanente de árbitros de emergência, ou com possibilidade, em uma delas, de apre-
porém, na utilização deste instrumento, a medida ernergencial deverá no quanto
ciação do pedido cautelar pelo Presidente da Instituição. Também é mais comum a
mais possível lim irar-se à tutela cautelar, evitando-se ao m,iximo, com extraordinário
vedação ao árbitro de urgência para atuar na arbitragem futura entre as partes sobre
cuidado, a antecipação da tutela em nome da urgência.
a matéria de fundo.".
Por fim, ainda outra questão certamente mais tensa refere-se à previsão no Código
Quanto à casuística da tutela de urgência preparatória à arbitragem, remos que
de estabilização da tutela antecipada concedida na tutela provisória de urgência ante-
anotar uma questão capaz de gerar debate mais tenso e acalorado: até a 4a edição
cedente, prevista no are. 304. 21 Em síntese, se não interposto Agravo de Instrumento
deste "Curso", foi com segurança afirmado que, no modelo de então, não se admitia em face da decisão concessiva da tutela provisória de urgência antecedente antecipada,
ao juízo escacai a análise e deferimento de tutela antecipada, sendo esta reservada ao a medida coma-se estável, dispensado o aditamento, promovendo-se a extinção do
juízo arbitral 19 , facultada apenas a análise de medidas cautelares. processo. Anote-se que o prazo próprio para defesa, seria apenas após a audiência,
Na nova disciplina, remexida a estrutura destes instrumentos na categoria de posterior ao aditamento relativo à tutela final. Mas nada disso ocorrerá (aditamento,
tutela provisória, incorporou-se nas medidas de urgência preparatórias também as cu- defesa etc.), pela não interposição do recurso, com a consequente "estabilização" da
telas antecipadas, com fundamento intransponível na verificação do risco da demora, medida. Resolve-se a crise no direito desta forma inovadora. Se as partes estiverem
além da expectativa de bom direito. satisfeitas com a estabilização, basta permanecerem inertes. Caso contrário qualquer
Desta forma, se antes separadas a tutela antecipada (incidente) e a tutela caute- das partes terá o praw de 2 (dois) anos para rever, reformar ou invalidar a decisão
lar (antecedente e incidente), agora as duas medidas (não ação, mas o conteúdo da (tutela antecipada esrabilizada) através de ação própria para este fim(§ 2.0 ).
decisão) integram a categoria de tutelas provisórias de urgência, como duas formas de E aqui entra a arbitragem: tratando-se de iniciativa específica para retomar a
assegurar o resultado útiJ da sencençafu.rura. São ambos provimentos de concretização questão de mérito, seguindo-se no processo como um rodo, se existente convenção
da segurança que se quer para a eficácia do processo. arbitral, a ação deve ser proposta no juízo arbitral; ou seja, a ação referida, diante da

18. Acrescente-se: não só por descumprimento, mas por vezes, até porque a decisão liminar pro- 20. O rescrito ambiente deste "Curso" impede a maior reflexão e desenvolvimento do raciocínio
ferida pelo «árbitro provisório'', diante do comando nela contido, .reclama a cooperação do para uma posição segura a respeito, mas sem dúvida o quanro colocado abre inclusive a opor-
Poder Judiciário, os advogados militantes na área tem preferido deixar esta cutela aos cuidados tunidade para o maior debate a respeito.
do Juíro Estatal. 21. Assim: ''.Are. 304. A tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303, torna-se estável se da
19. As.~im: "E assim, especificamente nesta situação, não caberá ao juiz togado deferir tutela decisão que a conceder não for interposto o respectivo recurso.§ 1.0 No caso previsto no capw·,
antecipada, a pretexto da proclamada ''fungibilidade das medida~", p~is a~mcipar a ~utela s6 o processo será exrinro. § 2. 0 Qualquer das partes poderá demandar a outra com o intuito de
cabe a quem cem jurisdição para apreciar a matéria de fundo. Ou seJa, nao se permne nesta rever, reformar ou invalidar a tutela anrecipada esrabilizada nos termos do caput.§ 3.0 A tutela
situação a "fungibilidade progressiva": e em nota de rodapé a respeito: "Admitindo apc1•1as 3 antecipada conservar,i seus efeitos enquanto não revista, reformada ou invalidada por decisão
fimgibilidade regmsí11a (deferir-se medida camclar em pedido de antecipação de tutela pelo JUÍZO de mérito proferida na ação de que trata o§ 2. 0 • § 4. 0 Qualquer das partes pode.r:i r.equerer o
arbitral), mas não a fimgíhilídade progressiva (análise dt cu rela antecípada cm
sede caucdar pelo desarquivamenco dos autos em que foi concedida a medida, para instruir a petição inicial da
juiz estatal), cf. AMORIM, Aureliano Albuquerque. hbitmgm1 e Poditrjudi~·~~rio - O siJtemd ação a que se refere o§ 2o, prevemo o juízo em que a tutela antecipada foi concedida. § S. 0
arbítral e o judicidrio bmsileiro. Goiânia: UCG, 2 009. p. 107, para quem sera 1mpossívcl, sob O direito de rever, reformar ou invalidar a curda antecipada, previsto no § 2. 0 deste artigo,
·
pena de violar-se a norma proced1mentaJ, ·
reconhecer · rogaél o para conce~sa·o da
po dcrcs ao J·Luz extingue-se após 2 (dois) anos, contados da ciência da decisão que extinguiu o processo, nos
·
tutela antecipada em sede de pedido simplesmente caure1os. A mcervençno - JU · d'1a:· J no sisceinll. termos do § 1.0 • § 6. 0 A decisão que concede a tutela não furá coisa julgada. mas a cscabilida de
arbitra! é mínima, ou seja, apenas quando a lei o permitir de forma ex-pressa, o que não é 0 dos respectivos efeitos só ser;í afusrad,t po r decisão que a revir, reformar ou invalidar, pi:oferida
=o em comento"'. em ação ajuizada por uma das partes, nos termos do§ 2. 0 d.este artigo."
304 1 CURSO DE ARBITRAGEM TUTELAS PROYlSÓRIAS DE URGfNCIA E DE EVIDf.NClA NA ARBITRAGEM 1 3 05

inércia das partes inclusive quanto à alegação de existência de cláusula ou compro- Neste ambiente de evolução também da prática arbitral, veio a reforma de 2015,
misso a ensejar a imprópria estabilização da medida será a instauração da arbitragem, acima indicada, e introduziu, como visto, disposição expressa na Lei de Arbitragem
oportunidade em que a tutela antes deferida será revista. E assim, como a revisão se faz autorizando o requerimento de "medida cautelar ou de urgêncià' diretamente aos
por decisão de mérito(§ 3.0 ), em procedimento de cognição completa, fica excluída árbitros (parágrafo único do are. 22-B).
a jurisdição estatal em razão da convenção de arbitragem. Mas poupamos o legislador de renovadas censuras por, como visto, ter se pautado
A sentença arbitral, desta maneira, reforma, mantém ou modifica em parte aquela no ultrapassado regime jurídico (CPC/1973), e neste momento, apresentarmos o
tutela, e o quanto mais vier a ser apresentado, e agora sim em caráter definitivo, com quanto de útil se tem na Lei reformada.
eficácia de "coisa j ulgadà'.
Instaurado o juíw arbitral, a requerimento das partes, podem ser avaliadas me-
didas de urgência (cautelares ou antecipadas) para se garantir o resultado útil da arbi-
10.2.2. Medidas de urgência no curso da arbitragem
tragem. Cabe ao árbitro a autoridade sobre a questão, independentemente da omissão
O juízoarbicral cem total autoridade para apreciar e deferir medidas de urgência a respeito na convenção de arbitragem, pois contida esta atribuição na jurisdição que
no curso da arbitragem. A jurisdição do árbitro (ou painel) é completa para o conhe- lhe é outorgada pelas partes, 23 além de vir prevista agora, expressamente, esta possibi-
cimento de todas as questões relativas ao conflito. Lembre-se apenas da ausência de lidade. Também o árbitro avalia a providência mais adequada e extensão da medida.
poder coercitivo ou de poderes de execução das medidas, estes privativos do Judiciário.
Deferida a medida, se necessário para seu cumprimento a interferência do
Se não atendida espontaneamente a determinação arbitral, ou sendo impossível o
Judiciário, com providências coercitivas, estas devem ser solicitadas ao juízo estatal
cumprimento espontâneo, deverá ser solicitada a cooperação do juízo estatal para a
competente, em ambiente de cooperação jurisdicional, através de carta arbitral
efetivação forçada das medidas determinadas pelo árbitro. Enfim, possui o árbitro o
(are. 237, IV, do CPC/2015 e LArb. reformada, are. 22-C, dentre outros dispositivos
ius cognitio, mas falta-lhe o ius imperium para realizar na prática suas decisões.
abaixo analisados). 24
Em polêmico dispositivo, estabelecia a Lei de Arbitragem em sua versão original
que, "havendo necessidade de medidas coercitivas ou cautelares, os árbitros poderão E o próprio árbitro se dirige ao J udicíário, com solicitação para serem adotadas as
solicitá-las ao órgão do Poder Judiciário que seria, originariamente, competente para providências pertinentes (por exem pio, busca e apreensão de mercadoria, arrolamento
julgar a causà' (are. 22, § 4. 0 atualmente revogado). de bens com indicação de depositário etc.).
Inúmeras críticas couberam a esta regra, não só pela sua imprópria localização O árbitro, então, na amplitude de sua jurisdição, conhece da matéria e decide a
(em artigo destinado às provas orais da arbitragem), como também pela ambígua tutela de urgência, solicitando ao Poder Judiciário, quando necessário, o seu cumpri-
redação. Mas doutrina e jurisprudência superaram a falha do legislador de então, mento. E se diz sempre se necessdrio, pois, pela variada casuística, a medida cautelar
conferindo à regra a extensão esperada. 22
de medidas urgences, cujo objeto, dada sua nacureza instrumental ou de continência, nunca
22. Cf., a respeito, mais aprofundado estudo feito por Fíchtner e Monteiro (Medidas urgentes será mais abrangente do que a lide principal, a ser resolvida na sentença arbitral. Trara-se de
no processo arbitral brasileiro, cit., p. 43-73), trazendo a referência aos autores favoráveis à mera aplicação da regra de que pode o mais pode o menos (cuít lícet quod est plus, iicet utique
posição aqui assumida (dentre outros, Pedro Batista Martins, Carlos Alberto Carmona, Nil- q11od est minus)" (FICHTNER e Monteiro, Medidas urgentes no processo arbitral brasileiro,
ton César Antunes da Costa) e anotando a posição contrária de Paulo Furtado e Uadi Bulos cit., p. 53). Cf., ainda, YARSHELL, Flávio Luiz. Brevíssimas notas a respeito da produção
(FURTADO, Paulo; Bulos, Uadi. lei da Arbitragem comentada. São Paulo: Saraiva, 1997. antecipada de prova na arbitragem. Revista de Arbitragem e Mediação. n. 14, 2007. p. 52.
p. 93), escrevendo: "Destaca-se, desde já, que o Brasil está entre os países que permirem aos 23. Neste sentido, Flávio Luiz Yarshell (op. cit., p. 53). Também assim o PLS 406/2013 ao sugerir
árbitros a decretação de medidas urgentes no processo arbitral, o que não ocorre, por exemplo, parágrafo úníco ao Art. 22-B acima eirado com a seguinte redação: "Estando já instituída a
na Itália e na Argentina, em que há em suas legislações internas regras expressas proibindo os arbitragem, as medidas cautelares ou de urgência serão requeridas diretamente aos árbitros".
árbitros de concederem essas medidas provisórias (vide, nesse sentido, o are. 818 do Código Situação diversa, porém, será a vedação na convenção de deferimento de tutela cautelar pelo
de Processo Civil italiano e o art. 753 do Código de J'rocesso Civil e Comercial da Argenti· árbitro, conforme será adiante analisado.
na)" (FICHTNER e Monteiro, Medidas urgenres no processo arbitral brasileiro, cit., p. 52). 24. Com diz Pedro Batista Martins: "É neste particular que se fraciona a jurisdição arbitral sem,
E ainda: "Na medida em que cabe ao árbitro decidir todo o mériro do litígío, não há razão concudo, anulá-la, por lhe faltar o componente da coertio privativo do Estado" (MARTINS,
lógica para negar-lhe o poder para conhecer e decretar medidas urgentes no curso do processo Pedro Batista. Da ausência de poderes coercitivos e cautelares do árbitro.ln: CARMONA,
arbitral. Em outras palavras, se as partes conferem ao árbitro o poder de processar e julgar o Carlos Alberto; lv1ARTINS, Pedro Batista; LEMES, Selma Maria Ferreira (coord.). Aspectos
conAito de interesses em sua inteireza, não há razão legal ou lógica para proibi-lo de conhecer fandamentaís da lei de Arbitragem. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 361).
306 1 CL:RSO DL\llBll'RACEM TU'J'Fl.AS l'llO\'ISÚ RI/\S L)I'. L:RC Í'. \lCIA E DE EVIL)l'.NCIA C\1/\ ARHITRACl'..v! 1 307

pode ser cumprida espontancamen ce pela parte (por exemplo, enrrega da mercadoria, Esta rescrição pode ser total ou condicional, por ex.em pio, a pn_'.via (e indispen-
abstenção da pdtica do aro na forma determinada etc.),~·, s<'> se provocando o Judi- sável) manifesração da parte contrária (evitando, nesra hjpótese, apenas a liminar
ciário quando indispcns~ivcl a sua força coercitiva para o cumprimento da me<lida. inaudittt ,iltera parte) . AJiás, como regra, e prestigiando o contradirócio previsco no
are. 21, § 2.0 da Lei d.eArbicragem, não devesercleferid.aqualquer medida sem opor-
A aLUação do juízo estatal, nesta hipótese, é resnira à efetivação da tutela deter- cunidade de defesa, ainda que assim se permita no regulamento. E em nosso sentir
minada. Não lhe cabe, assim, avaliar a sua pertinência ou adequação, ou seja, não só cxccpcionalmcntc, em situaçóes extraordinariamente peculiares pda casuística é
reexamina a questão, apenas promove a realização da medida. que ,l medida po<led ser determinada sem co ntraditório.
Nocursodaarhirragem, instiruí<la a jurisdiçãodo.frbitro (ou painel), ao Ju<lichfrio Ddirnitada a jurisdição pela convenção ou termo de arbitragc1n, o ,írbitro deve
será vedado o conhecimento deaçãocautdara respeito do litígio. Nesta siruação, j:i apa- sc.~ubmetcdts restrições, cm respeito à vontade manifestada pelas partes, refletida na
relhada a jurisdição arbitral, cabe a alegação <le existência da convenção de arbitragem limitação dos poderes a ele outorgados.
para provocar a extinção do processo sem resolução do mérito (ares. 337, X c/c 485, Mas escad aberto, nesta hipótese, o acesso ao Poder Judici:írio? Entendemos que
VII, do CPC/2015). Ar~ mesmo se já proposta a me<li<la, mas ainda não apreciada, sim. A convenção, como qualquer di!)posição conuarnal, não tem força para retirar do
ficar,í. prejudicado o pedido se instituída a arbitragem, devendo o requerimento ser lesado o acesso:, jurisdição, e assim, diancc de convcn~iío impedindo a anéílise de nltela de
promovido agora perante o juíw arbitral, como incidente, não mais amcccdentc. urgência no juí'l.,o arbitral, devolve-se ao juízo estacai a jurisdição para a matéria, rcsrrira,
Excepcionalmente, porém, po<le acontecer de o ,übirro estar indisponível no evidentemente,aesccpronunciamento,cventualmenrenecess,írio;1efetividadedase;:ntcn-
instante em <1uese mostra necess.íríaa tutda<le urgfaicia (por exemplo, em decorrência ça arbitral. E cambl'.m assim se diz se a resrri~ão vier consignada no termo de arbitragem.
de recesso <la insti ruição, ou ausência rcrnpor;íria por viagem ou rraramcn rn médi<.:0). Neste sentido, a conclusão de hchner e Monteiro: "Diamc disso, a .solução aven-
Neste caso, não se po<le negar acesso ao Judiciiírio pelo interessado, para preservar tada, e ora proposta, é que os limites da convenção dcarhirragem sejam, evidenremenre,
seus direitos sob risco Jc perecimcnro. Mas tão logo acessível o árbitro, a ele deve ser obedecidos pelo juízoarbirral, abstcndo-seeste<ledecrcrar medidas urgentes no âmbito
encaminhada a qu.:stão, com autoridade parn reavalíar o quanto decidido, cal qual no processo arbitral, caso haja expressa proibição na convenção <learbirragcm. Isco não
ocorre para qualquer rnccla de urgência antecedenre. impede, por óbvio, que as partes, mesmo em curso a arbitragem, requeiram e11tJo as
medidas urgentes diretamenre ao Poder .Judiáirio, corno forma de assegurar, assim, a
10.2.3. Convenção arbitrélf fimitando a apreciação pelo 2írbitro cfp tutelas efetiva e célere tutela dos inn:rcsses dos jurisdicionadns. Os ,frbirros e as parres dewriio
ele urgênciél observar a tutela de urgência deferida, d..; natureza provisória, att'. que possa ela ser
substituída pelo provimento definitivo consistemc na sentença arbitral".!,
Na amplitude da libcr<lade das panes quanto ao conteúdo da convenção, e em
Conmdo, autores sustentam ser "absolucamente nula'' a conven~·ão restritiva deste
especial no que se refere à <lehnição de regras próprias a serem utilizadas no procedi- poder do:írl>itro, por violar direito ao livre acesso i, jurisdição, autorizando assim o ,írbi troa
memoarbirral, admire-se restringir os poderes do árbirroquanrn a tutelas de urg.'.:ncia. ~,. decidir sobre a meda de urgência ignorando ,,esubelecído pda.s partes?; outrosenr.cndem
que, dianrcda exclusão da possibilida<lc<le turelaacau tclatória, restaria ao in rcrcssadoapenas
2';. Ou, cnmn hem colocaSJrgio fü:rn,udcs: "Mnirns \'C7.Cs, h:i.sta :10 juíw dccn.:tar 11m~ prnvid.:·ncia conformar-se com a fi.1turasenten~d, em prestígio ao princípio da auronomiada vontade. 2''
para que, d<ícil, a parte ;1 <.:umpra" (BFRMlJOES, Scrgio. Medidas w,-rótiv;1s e c:n1tda1·cs no
procc.sso arbitral. ln: MAR'l'IJ\.'S. [\:dro A. lhcisra; CARCEZ, Jos,: l\.fari:1 Rossani (i.:oord.).
R,ft,'.\'Ú<'i Jolm: t1rÚill;rge111. S:io Pa,ilo: 1Tr. 2002, p. 281 ). pan.:.~" (CAI-IALI, hancisco Jos.:. ,\.frdidas de:: urgênci:1 na :irbitrag,·111 <.: o novo R<.'gulan1(·1110
26. C[ o qu:into cs<.:rc·vrn1(1s a rc.~po.:íto do novo Rcgulam,·nlO do CAM/CCBC: "A liberdad,; <k do CAM/CCHC ót. RaiJt,r. de: ,l>·/Ji11;1g,·111 e Mcr/i,1ç,ío. 11. 33.2012).
escolha, nos limirt·s da lc::i, ,: scn1 dtí\'ida um dos principais atrativos d:1 ,1rbítragt'111. Polkin '27. l;lCHT'.'JER e lvlONTEIRO, Medidas urgentes 110 processo arbirral br;1.~ileiro, cit.. p. 67.
as parrcs, s,·gundo sua c.:011vcnié11ci:1 e/ou c.~rratégia c:onn;rcial. di.~ciplin:ir qucstücs rdcv,u11cs Ta111l>.:m n<::ste sc11tido, Yarshc:11. Hivio l .ui1.. Op. cir.,p. :i3.
quanro a eventual conAico, dcnrre das as relativas :1s medidas d<: urg~ncía na :u:birmgcm, 28. FIG lJF.lRi\ JUNIOR, Joel Dias. /li·him1gtm,j11risdiçíi11cc.\'1:,'IIÇilll. 2. nl. Siio P:11110: Ed. 1n; 199(),
provimentos estes cujo impacto na seara f.ícica, pelas suas caraccerísticas, é inrnnrcsnlvcl. (...) p. 22,i-'22'.'>; COS"l't\, 1'ilwn Cc:sar Anrnnc.~ da. /loda,·s rio ,ír/Jitm. S:i.o Paulo: Ld. 1n: 2002.
Desra forma , por convenção das parres, pode ser retirada da jurisdic,iio arbirrn.l a aucoridadc p. 111; ROSA, Jos~ C:irlos. /1.1/crlirf,1,. <'d111,·/,11n e ,1r/,im1g,·m. São Paulo: Opcr;1 Noma, 2006.
para apreciar e decn:rar medidas caucchues, coercidvas e ancc,ipató ri:is. C:iso assim se cenha p. l 04; CAll!vtONA, Carlos Alhc:rto. Ar/,im1g,·111 ,.· pmsnw. S:ío Paulo: ,\rbs, 2009. p. 203).
pacmado, as medidas de urg.::ncia, evidenciados seus requisitos mesmo no cu rso da arbitragem, 29. AYOlJB. l.ui,. Rolx: rto. Up. rit .. p. 80-8,í; l.em<:s. Sd111a 1\1:iria F.::rn:ira. Co1n·cn<yfo de arbi-
.deveóo ser direcionadas ao Poder Judiciário, em situação em que haverá a convivé·J1cia dos tragem e: ccnno de arbin·,,gc::m. Car:icterísticas, cCcíro.~ e funçi.ics. R,Tis1,1 rio Ad1:ogdd11. n. 87.
juíw.~ arbir(al e escara!, cad:i qu:1.l com parecia linücada de jurisdição para a cu tela do dil'cito das ano XXVI. sct. 2006.
308 1 CURSO DE ARBITRAGEM TUTELAS PROVISÓRIAS DE URGÊNCIA E DE EVJDeNCIA NA ARBITRAGEM 1 309

10.3. TUTELA PROVISÓRIA DE EVIDÊNCIA (ANTECIPADA) NA Em matéria procedimental, na arbitragem podem ser utilizados os melhores
ARBITRAGEM instrumentos disponíveis para o mais eficaz tratamento do conflito durante o pro-
cedimento. E como já antes referido, a arbitragem integra um sistema jurisdicional
Diversamente das medidas de urgência, cujo intento é, em regra, preservar 0
abrangente, no qual mecanismos e ferramentas úteis para a melhor tutela dos direi tos
resultado útil do processo diante necessariamente do risco da demora, a tutela de
evidência, (qualificada como antecipada no revogado CPC/1973) cem por objetivo das partes devem ser aproveitados.
precipitar, no todo ou em parte, o provimento futuro. Embora provisória, pois de- Assim, este instituto - tutela de evidência -é sem dúvida um útil incremento à
finitiva só a sentença (após os recursos cabíveis, quando judicial), a eficácia da tutela cutela jurisdicional na arbitragem.:-1 2
de evidência é idêntica ao provimento definitivo. Distinguem-se, pois, uma e outro E mais, deferido ao juízo arbitral a jurisdição plena sobre o litígio, não há como
quanto ao momento e transitoriedade. negar-lhe o pronunciamento incidente e provisório sobre todo o quanto se mostrar
Com relação aos requisitos, como inicialmente referido, são indiferentes ao pertinente no curso do procedimento, inclusive antecipando o resultado útil buscado.
risco da demora no julgamento definitivo (tutela de urgência); tem igual pertinência Aliás, permite-se até mesmo a sentença parcial de mérito (LArb., are. 23, § 1. 0 ),33 mais
a antecipação de tutela, por exemplo, diante do abuso de direito, manifesto propósito adequada nestas hipóteses, como logo mais se verá.
protelatório, fragilidade da resposta diante de prova documental contida na inicial, Ainda, para o deferimento da tutela de evidência, não se restringe o árbitro às
ou incontrovérsia no pedido, e daí sua nomeação no Código de Processo Civil de sicuaçóes previstas na lei processual (art. 311 do CPC/2015), pois a regra tem aplica-
2015 como tutela de evidência. ção na arbitragem cm sua essência, não em sua literalidade. E daí porque, também,
Ainda traçando sua distinção com as medidas de urgência, no aqui pertinente, inexistente risco ao resultado t'lril do procedimento (reservado às tutelas de urgência
a cutela de evidência será sempre incidente, jamais antecedente (arrs. 294 c/c 311 do acima tratadas), impõe-se preservar o contraditório, ou seja, mostra-se descabida a
CPC/2015). Ora, representa exatamente trazer ao presente a tutela no futuro desejada, e decisão inaudita altera parte.
assim se requer nos autos onde o provimento definitivo é buscado, não em separado deste. Volta-se, neste momento, à questão da previsão desta tutela na convenção. Omissos
Nesta situação, de plano jáse conclui pela impossibilidade de cutela de evidência a cláusula compromissória, o compromisso arbitral, o termo de arbitragem (ou ata de
no juízo escacai preparatória ao juízo arbitral. 30 Sendo exclusiva do árbitro a jurisdição missão) e o regulamento da câmara arbitral escolhida, mesmo assim nada impede que
sobre o litígio, só a ele caberá, se e quando possível, a análise de tutela de evidência. 31 seja solicitada e deferida a tutela antecipada na arbitragem pelo quanto acima exposto.
No exato instante em que as partes optaram por encaminhar o conflito ao juízo Se, porém, houver rescrição total ou parcial na convenção (impedindo a medida)
arbitral, a solução, em definitivo ou antecipada, a este pertence, inadmitindo-se, aqui, os limites estabelecidos devem ser respeitados?' Neste particular, anote-se ademais
fracionamento da jurisdição, pois o provimento é o mesmo (distingue-se, como refe-
rido, quanto ao momento e transitoriedade, mas no mesmo processo/ procedimento), 32. Admitindo a tutela antecipada então prevista no CPC/ 1973, escrevem r:ICHTNER e MON-
e inexiste urgência a se autorizar a provocação do juízo estatal; assim, será reservada TEJRO. Medidas urgentes no processo arbitral brasileiro, cit., p. 60, trazendo Alexandre
a análise desta cutela, por opção das panes, à arbitragem. Freitas Câmara e Jod Dias Figueira Júnior; ainda, nestt'. sentido, SCAVONE. Op. cit., p. 134;
COSTA, Nilron César Antunes da. Poderes do hbitro. São Paulo: Ed. RT, 2002. p. 1 l O. Em
Mas sem previsão legal, e afastada a incidência supletiva do Código de Processo sentido concrário, MAGALHÃES, José Carlos de. A tutela antecipada no proce.~so arbitral.
Civil, mesmo assim admite-se o pedido de tutela de evidência (antecipada) inciden- &vút,z de Arbitmgem e Medi11çiío. n. 4, p. 13, para quem, se não autori-1.ado na convenção,
talmente na arbitragem? será vedado ao árbitro apreciar tutela antccípada, "por falta de jurisdição, como ocorria com o
juiz, antes da alteração d:1 lei processual". Aliás, enquanto vigente o§ 4. 0 do are. 22, sustentava
Donaldo Armelin aré mesmo a previsão implícita de cabimento da tutela ancecipada comida
30. Neste sentido, SCAVONE JUNIOR, Luiz Antonio. Ma11ual de arbítmgem. 4. cd. rev., atual neste dispositivo, hoje revogado pela reforma de 2015, escrevendo o professor que, embora o
e ampl. São Paulo: Ed. RI; 2010. p. 134. rexto "contemple apenas medidas coercitivas ou cautelares, evidencia-se que o legislador, i11
31. Ao Poder Judici~lrio cscar.i vedado o deforimenro desta medjda, ainda que em aplicação dn teoria msu, cuidou do todo ao se reportar apenas às espécies" (ARMEUN, Donaldo. J misprudência
da fungibilidade cm açi\o cautelar preparató ria 0:1 vigt!ncia cesidual do Cüdigo de Prncesso C ivil comentada. Revista de Arbitragem e Medíação. n. 6, jul.-sct. 2005, p. 225).
de 1973; ou seja, afusca-se neste regime, como escrevemos na 4." edição desce " Cimr,", afimgibi- 33. Cf. :1 respeito, Capítulo 11, item... , abaixo.
lidade progreJJiva. Anott'.-S<:, porém, o questionamento que se pode ter a respeito com o Código 34. Aliás, não raras as convenções arbitrais que, para evitar surpresas no curso do procedimento,
de 2015 em razão <la nova disciplina da tutela provisória, como acima visto (item 10.2. 1). impõem restrição à antecipação de tutela.
31 Ü I CURSO DE ARBITRAGEM TUTELAS PROVISÓRIAS DE URG~NC!A E DE EVJD~NCIA NA ARBITRAGEM 1 311

que, diversamente do quanro afirmado com relação às medidas de urgência, aqui 10.4, COOPERAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO
nã~ c~be~-á o acesso ao Judiciário para reclamar a tutela de evidência, pois despido
de Junsdição sobre o mérito da causa, e inexistente a medida desvinculada da ação A convivência entre a jurisdição estatal e a arbitral sempre foi e continuará
principal. No juízo estatal, poderá, sim, exatamente diante de eventualpericulum in sendo fundamental ao desenvolvimento da arbitragem. Esse regime de cooperação
mora (com aquele mesmo fundamento fático que se levaria à arbitragem, mas contida ou apoio aparece sob diversas formas, desde a ação para instituição da arbitragem
pela convenção a sua análise), ser apresentado pedido de cutela provisória de urgência acravés de compromisso arbitral (em razão de cláusula compromiss6ria vazia -
para garantir o resultado útil da sentença arbitral. are.?.º da Lei 9.307/1996), até o processo de invalidação de sentença arbitral
Deferida a tutela antecipada no juízo arbitral, se descumprida a determinação (interferência de controle e supervisão, não de apoio à arbitragem), passando pela
pela parte, a efetivação da medida, no que couber, "observará as normas referentes ao indicação de árbitro substituto, homologação de sentença arbitral esrran.geira,
cumprimento provis~rio da sentençà' (art. 297, parágrafo único, do CPC/2015), execução da sentença arbitral, e pela cooperação do Poder Judiciário ao desenvol-
no caso sentença arbitral. Porém, conforme o provimento determinado, para sua vimento da arbitragem.
concretização, cal qual se faz para efetivação de medidas de urgência, poderá o árbitro Assim, juízo estatal pode atuar ames, no curso ou depois do juízo arbitral. É
solicitar a cooperação do PoderJudiciário quando necessárias providências coercitivas desta cooperação durante o procedimento que agora se ocupa:
ou executórias através de carta arbitral, adiante analisada. O critério é circunstancial,
O are. 22 da Lei de Arbitragem estabelece a colaboração do Judiciário ao juízo
e dependerá do quanto comido no provimento ameei pado determinado pelo árbitro.
arbitral para condução coercitiva de testemunha renitente(§ 2.0 ).
Por fim, anote-se que a polêmica a respeito da tutela de evidência quando já
Ainda, com a reforma de 2015, ficou em parte expressa na Lei (are. 22-B e seu
existente prova exauriente a respeito do direito invocado perde espaço diante da
possibilidade, cada vez mais difundida, e agora prevista na Lei (are. 23, § 1. 0 ), de se parágrafo único), a possibilidade de se ter tutelas provisórias de urgência cautelares
proferir sentença parcial.35 ptoferidas pelo árbitro ou a·ibunal.
Ora, superado, aos poucos, o preconceito que às vezes existia em relação à sentença Como já se sabe, por repetidas vezes referido, se necessária a efetivação da medida
parcial pela então ausência de previsão legal específica a respeito, sem dúvida alguma coercitiva, esta necessariamente se dará pelo judiciário, escapando esta providência
o julgamento definitivo da parcela do confüto sobre o qual mostra-se ímperrinence aos limites de atuação do juízo arbitral (Cf. Cap. 7, item 7.9 supra).
a ampliação da instrução (necessária esta, porém, para outras questões contidas na Mesmo omissa a lei, advirta-se que outras providências, embora raras, po-
arbitragem), permitindo a sua imediata, cocal e definitiva eficácia, é muito melhor dem ser solicitadas por um ao outro, como aquelas meramente informativas ou de
e mais adequado do que um julgamento provisório através de tutela de transit6ría expediente para prática de atos com determinado fim, a um certo e identificado
evidência (antecipada). magistrado. E considerando o paralelo de jurisdições, deve-se aproveitar, no que
E assim, pode-se afirmar que o debate a respeito da tutela de evidência na arbi- couber, o quanto se tem a respeito de comunicação entre juízos integrantes do
tragem, é mais acadêmico do que prático, em especial pela sua nova roupagem intro- Poder Judiciário, pois, da mesma forma, quando diversa a competência territorial
duzida na legislação processual de 2015, em razão da qual se ampliam as hipóteses de ou funcional (inclusive em relação à matéria federal ou estadual, cível ou penal
cabimento, porém afastado o pericuium in mora como causa. etc.), há intercâmbio entre magistrados para acender aos jurisdicionados na plena
Inclusive, diante de pedido incontroverso, a questão já se supera no início da realização da tutela pretendida.
arbitragem, pois será decan cada em uma boa fixação dos pontos controvertidos feita na
. Ocorre que, mesmo entre estes órgãos do Poder Judiciário, há cerra indefinição,
fase de organização da arbitragem (termo de arbitragem ou ata de missão). 36 E assim,
inclusive na exegese da sistematização proposta pelo Código de Processo Civil de
sequer haverá necessidade de apreciação de tutela de evidência, pois, em definitivo,
já haverá pronunciamento a respeito da pretensão não impugnada.
fO 15 (am. 67 e ss. - relativos à cooperação nacional). Vejam-se as variáveis contidas
Rº pedido de cooperação, para as quais não se exige forma específica; mas ao mesmo
t~.m_po se faz remissão às cartas de ordem, precatória e arbitral, com requisitos e for-
35. Cf., a respeito, Capítulo 11, item 11.7, adiante; cf.. ainda, WALD, Amoldo. A validade da
malidades próprias; assim:
sentença arbitral parcial nas arbitragens submetidas ao regime da CCI. RDB 17.
36. Cf., inclusive, exemplo referido no Capfrulo 8, item 8.5, quanto à antecipada rescisão de "Are. 68. Os juízos poderão formular entre si pedido de cooperação para prática
contrato. de qualquer ato processual.
312 1 CURSODEARBITRAGEM TUTELAS PROVJSÓRlAS DE URGf.NCIA E DE EV!Df.NCIA NA ARBITRAGEM 1 313

Are. 69. O pedido de cooperação jurisdicional deve ser prontamente atendido, juízo a que~ ~or disLTibuído o pedi~o, ~e acordo e?~·re~ras d ~ ~rganização interna,
37
prescinde de forma específica e pode ser executado como: conduz a pranca de atos para a efenvaçao das proV1.denc1.as sol1otadas.
1- auxílio direto; A forma como se faz a cooperação entre o juízo arbitral e o juízo estatal depen-
derá também do conteúdo da solicitação: informações, providências diretas a serem
II- reunião ou apensamento de processos;
promo~idas pelo juízo destinatário, ou prática de atos processuais sob a jurisdição
lll - prestação de informações; do magiso·ado.
IV - aros concertados entre os juízes cooperantes. Para informações, bastará, em nosso sentir, um oficíi38 do árbitro, ou do presi-
§ 1.0 As cartas de ordem, precatória e arbitral seguirão o regime previsto neste dente do tribunal arbitral, encaminhado ao magistrado ou relator do processo (recurso
Código. ou ação originária em segundo grau). Por meio dele, por exemplo, pode-se requerer
§ 2.º Os aros concertados entre os juízes cooperantes poderão consistir, além de informações sobre o conteúdo ou andamento do processo, e eventuais decisões nele
outros, no estabelecimento de procedimento para: contidas (como a respeito de: manutenção ou. reforma de liminar cuja competência
seja do juízo esta.cal; efetivação ou nao de depósito como garantia de liminar deferida
I - a prática de citação, intimação ou notificação de ato;
na justiça estacai; andamento da ação discutindo questão prejudicial relativa a direito
lI - a obtenção e apresentação de provas e a coleta de depoimentos; indisponível; cumprimento d_e medida coercitiva ou cautelar solicitada em procedi-
lll - a efetivação de cutela provisória; mento próprio). Também por meio dde devem ser prestadas informações pelo jufao
IV - a efetivação de medidas e providências para recuperação e preservação de arbitral (v.g., informando a instituição da arbitragem, avocando a respectiva jurisdição,
empresas; se foro caso, sobre medidas cautelares, comunicando a revogação desta para eventuais
V - a facilitação de habilitação de créditos na falência e na recuperação judicial; providências, ou atendendo a solicitações e apresentando documentos em resposta a
requerimentos feitos por esta àquele).
VI- a centrali7.ação de processos repetitivos;
Também para a prática de determinado aro pelo próprio magistrado (ou seu
VII - a execução de decisão jurisdicional.
respectivo cartório), pode-se utilizar de oficio simples. Assim, para solicitar a li.beração
§ 3. 0 O pedido de cooperação judiciária pode ser realizado entre órgãos jurisdi- (expedição de guia de levantamento ou alvará) rela[ivamence a depósit0 no próprio
cionais de diferentes ramos do Poder Judiciário." juízo feito como garantiaexigida para lin.-ú n arames deferida em cautelar antecedente
Embora não se possa dizer que a matéria veio a ser totalmente definida e solu- (jásolucionado, por exemplo, o conflito por semença arbitral cumprida espontanea-
cionada, sem dúvida alguma o capítulo criado, destinado à Cooperação Nacional, mente) ou mesmo para levantarnenro da constrição determinada (quando necessária
merece aplausos e créditos, especialmente por ressaltar o "dever de recíproca coopera- a intervenção judicial de quem estabeleceu a medida).
ção" entre rodos os órgãos do Poder Judiciário, seus magistrados e servidores (art. 67 Em qualquer destas situações, há um destinatário cerco: o juízo desta ou daquela
doCPC/2015). vara ou tribunal. E raras são as hipóteses de necessidade de providências, como antes
E maior reverência se faz ao Código por ter acolhido a carta arbitral, adiante referido, pois em geral a parte interessada tem condições de promover diretamente
analisada, neste ambiente de cooperação, integrando o juízo arbitral no espaço ocu- a diligência; mas se faz a observação para anotar que a cooperação entre os juízos vai
pado pdos órgãos do Poder Judiciário. além do contido nos§ 2.0 do are. 22 da Lei de Arbitragem.
Em geral, e no quanto pertinente neste escudo, são expedidos ofícios, quando
se espera uma providência do próprio magistrado destinatário, em si bastante, sem 37. A indefinição já vinha do Código de I 973, pela acanhada previsão de:: comunicação de atos
envolver qualquer outro além de seu respectivo cartório (informativa ou de expediente; contida nos arts. 200 e ss. do CPC/ 1973, e a rotina direcionava a o rientação na forma apre-
sentada. Anote-se o mais abrangente tratamento da matéria, através da introdução criativa e
ou como referido na lei, para "auxílio direto" ou "prestação de infoi:n:1ação" -art. 69, I
adequada de capítulo no Código destinado à cooperação nacional, sendo alguns dos artigos
e III, do CPC/2015), e carta, quando se solicitam prov.idências a serem adotadas sob
acima reproduzidos.
a jurisdição do destinatário (incerto), consistente em aros mais complexos a serem 38. Assim definido no Dicionário Houaiss: "Comunicação adotada no serviço público entre au-
promovidos, como citação, colheita de provas, e etetivação de cutela provisória. Na toridades da mesma categoria, ou de autoridades a p:miculares, ou de inferiores a superiores
primeira situação, o juízo destinatário certo e identificado no pedido, pratica o ato hierárquicos, caracterizada por obedecer a certa fórmula epistolar e pelo formaco do papel
(diretamente ou por seu próprio expediente administrativo), na segunda situação, 0 (formato ofício)".
--
31 4 1 CURSO DE ARBITRAGEM TUTELAS PROV!SÚRIAS DE URGÊNCIA E DF EVIDnNClA NA ARBITRAGEM l 31 5
Para outras providências a serem solicitadas ao juízo estatal, cujo atendimento dicionado; sendo que esta relação deve ser frutífera, "com os olhos voltados para a
porém, dependerá de liv re distribuição do pedido dé cooperação para idenúficaçã~ ealização da justiça" : 1º
de quem será o magistrado com auroridade para supervisio nar a prática do a.ro, é r Advirca-se, porém, ser dado ao magistrado recusar o cum~rimenro de m~d~das
adequada a utilização de "carta arbitral", a baixo apresentada, a exemplo do que se faz 'foscamente ilegais, terarológicas, contrárias à ordem pública, ou sem a mm1ma
(,( ., . ))
iuani . - , . ·t, . d
com carta precacona . ooso:aça~o de sua legit imidade. Contudo, esta prerroganva nao e pnv1 eg10 o
dem b . . ,
E neste modelo se incluem as providências previstas no referido arr. 22: medida apoio ao jtLÍZO arbitral, mostrando-se pertinente tam ém na interação entre JUtzos
11
coercitiva probatória(§ 2. 0 ), e outras medidas cautelares ou coercitivas decorrentes e~carais (v.g., are. 267 do CPC/20 15).'
de turela de urgência deferidas no juízo arbitral (art. 22-B e seu parágrafo).
10.s. DA CARTA ARBITRAL - O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015
Especificamente com relação à condução coercitiva da testemunha renitente
E A REFORMA DA LEI DE ARBITRAGEM
anote-se a sua viabilidade apenas se a audiência arbitral ocorrer no local onde reside'
a pessoa, pois não se pode obrigar alguém ao deslocamento diverso de sua moradia. Diversamente do quanto apontavam alguns, defensores da informalidade
Por sua vez, a solici cação de apoio para as outras medidas, de natureza acaucelat<'>ria pleta, até a 4.ª edição desce "Curso" fsustentamos a co nveniência de que fossem
con1 · · d' -
ou coercitiva, também por meio de "carta'', dc.,-ve especificar qual a providência a ser stabelecidas regras no sistema processual civil para a cooperação encre a 3uns 1çao
adotada. E assim, aos cuidados do juiz estatal, será determinado o seu cumprimento :seara! e a arbitral. O ideal, assim, seria a regulamentação, preferencialmenceflexível,
para, por exemplo, arrolamento, bloqueio, constrição, busca e apreensão, entrega ou evitando burocracias desnecessárias, desencontros e embaraços na comunicação entre
transferência de bens (e mercadorias). 0 juízo arbitral e juízo estatal.

Em todas as hipótesesacima-cartaou oficio-, deve-se demonstrar a legitimidade E assim se disse por diversos motivos: uniformidade do procedimento cm juízo
da solicitação, comprovando-se, desta forma, a existência de convenção arbitral, a estacai, e, como as providências são processuais no Judiciário, esta razão tem relevância
instituição da arbitragem e a decisão pertinente à providencia. tal qual toda norma relativa a processo civil em geral; segurança na prática dos atos
em favor das partes na efetivação da cu cela jurisdicional, evitando-se que ven~a~ a
A seu turno, cabe ao Judiciário, no exercício de seu poder de império, promover,
ser exigidas dos atores da arbitragem (partes e árbitros) fo~mas, protocolo~, providen-
direta ou sob sua autoridade, o cumprimento das providências solicitadas. Sua posição, cias ou documentos diversos, a critério pessoal do magistrado, congesnonando ou
neste momento, é de cooperação com o juízo arbitral. mesmo inviahilizando a realização, oportuno tempore, da medida; ainda, confere-se
Significa dizer que o juízo estatal, em rese, não reexamina, aprecia ou avalia o segurança ao próprio juízo estacai, para se preservar d~ medida~ cuja autenticidade
conteúdo da decisão arbitral, mas apenas concede-lhe efetividade. Assim, por exemplo, ou legitimidade sejam duvidosas, sem afrontar a autondade arbmal.
a pertinência da oi tiva da testemunha ou as razões de sua recusa ao comparecimento Como a comunicação é destinada exatamente à prática de atos processuais no
cm juízo arbitral são questões estranhas ao conhecimento do magistrado. Da mesma juízo estara! (e não no arbitral), entendeu-se pertinente, como qualquer outro ~to
forma, se mais adequada esta ou aquela medida de urgência, e mesmo o mérito da desta natureza, 0 seu regramcnto, principalmente no momento em que se con~olida
tutela em questão (como preenchimento de seus requisitos etc.), são igualmente a utilização da arbitragem para diversas questões, de maior ou menor complexidade.
alheios ao objeto de apreciação pelo juiz togado.
Daf por que nosso apoio à iniciativa do Grupo de Pesquisa emArbitragem-GPA,
A jurisdição, então, é partilhada, e não comparti!h,ida. São funções complemen- criado no programa de pós-graduação da PUC-SP, 42 em apresentar proposta de aper-
tares, e não concorrences. 39 A um juízo caberá a decisão; ao outro, a efetivação do
decidido. Tudo sem hierarquia ou subordinação, pois são tarefas distintas decorrentes
40. Idem, p. 361.
dos poderes e atribuições de cada qual no nosso sistema jurídico.
41. "Art. 267. O juiz rccusar,í ct11nprimentQ :i carro 1nec::1Mia ou ar~i~ral, <lev?lve ndo-a com
Nesta convivência, pertinentes são as observações de Pedro Batista Martins decisão motivada q~1ando: I - a carta não estiver révcst1da dos cequ1.mos legais; íl - fulrnr ao
quanto à necessidade de integração das duas justiç,1s, na tutela do direito do juris- juiz compccl:ncio. em nw.ão da matéria ou da hierarqui:t; 111 -o jui1. tíver dúvida -acerca de sua
autenticidade.".
42. O Grupo de Pesquísa cm Arbitragem - GPA é liderado por escc Auror e ~oorde nado pelos
39. MARTINS, Pedro Batísra. Da ausência de poderes coercítívos e cautdares do ,ítbícro, cit., mestrandos Valcría Calíndez e André Luís Monrciro. Além <lo líder e dos doas coordenadores,
p. 370. particíparam desse primeiro pmjero de;: pesquisa os acadêmicos Daníel Bushatsky (sccredrio),
31 6 1 CURSO DE ARBIT RACl~M
TUTELAS PROY LSÓ RJAS OE URGQNCIA F. OE EVlüQNCIA NA ARl3LTRAGEM 1 31 7

feiçoamento ao então Projeto de novo C ódigo de Processo Civil em conjunto com a II _ 0 inteiro teor da petição, do despacho judicial e do instrumen to do mandato
Co missão de Arbi rragem e a Procuradoria-G era! da OAB-RJ,43 para a criação do que conferido ao advogado; . . .
nomeamos de carta arbitral. III - a menção do ato processual que lhe consmm o obJeto;
E foi enorme a satisfação em ver acolhida a proposta, com a importante inclusão IV - o encerramento com a assinatura do juit..
da carta arbitral no ambiente de cooperação entre os ó rgãos do Poder Judiciário, para
( ...)
constar no Livro ll - Dri função Ju,risrlicional, Titulo .!l1 - Da Competêncill Interna,
§ 3_o A carta arbitral atenderá, no que co uber, aos requisitos a que se refere~ o
Capitulo ll- Da Coopemçfio Nacional, co nforme acima transcrito (arts. 68 e 69).14
ctl ut e será instruída com a convenção d e arbitragem e coro as provas da nomeaçao
As esp ecificidades da carta arbitral, acolhidas na essên cia as sugestões propostas, . ~ da C'.runçao
dopárbi tro e de sua ace1taçao ""
.
estão previstas nos seguintes artigos:
Enquanto projeto de lei, mas jámerecendo prestígio de especialistas, a sugestão
(Da Comunicação dos atos processuais)
foi assim analisada pelo Prof. Donaldo Armelin: "Novidade que vem ao encontr_o
''.Art. 237. Será expedida carta: dos legítimos interesses dos arbitraristas. lnstitui-s~, co ~ ela, um veículo de comunt-
I - de ordem, pelo tribunal, na h ipótese d o § 2.0 do art. 236; cação entre os órgãos d a jurisdição estatal e da arbmal, implementando uma lacuna
II- rogatória, para que ó rgão jurisdicional estrangeiro pratique ato de coopera- · " 45
existente a respeito .
ção jurídica internacional, relativo a p rocesso em curso perante órgão da jurisdição Ainda cm andamento o Projeto de novo Código de Processo C ivil, mas reconhe-
brasileiro; cendo a total pertinência e oportunidade d a "Carta A rbitral", ~ q~t~ muito nos or?ulha
III - precatória, para que ó rgão jurisdicional brasileiro p ratique ou determine ermos participad o diret amente de sua crítiçiío, co nforme m1c1almente refen d o, a
por t . ·d · e: •
o cumprimento, na área de sua competência territorial, de ato relativo a p edido de roposta de reforma da Lei de Arbitragem acolheu mtegralmente a 1 eia e_rez con~ca1
cooperação judiciária fo rmulado pot órgão jurisdicional de com petência tertitorial ~ criação d e "Capítulo IV-B Da Carta Arbitral" , introduz_ido com o ~eguinte amgo:
diversa; "Art. 22-C. O árbicro ou o tribunal arbitral poderá expedH carta arbttral, p ara que o
1V - arbitral, para que o órgíio do Poder/ 11.dicidrio pmtiqueott determi1tc o cumpri- órgao jurisdicional nacional pratique ou determi~e o cu~ prime?t~, na área de su_a
rnemo, na ,írea de sua competência territorial, de ato objeco de ped ido de cooperação competência territorial, de ato solicitado pelo árbit~o. ~aragrafo urnco. No cumpri-
judiciária fo rmulado por juízo arbi tral, inclusive os q ue importem efetivação de mento da carta arbitral será observado o segredo de Jusuça, d esde que comp rovada a
41
tutela provisória. confidencialidade estipulada na arbitragem". ;
Parágrafo único (... )" Por falta até então de uma, vieram d uas leis a disciplin ar o procedimento espe-
"Are. 260. São requisitos da carta de ordem, precatória e rogatória: cífico para o cumprimento de providências de apoio ~o P~der J~diciário decorrcnt~~
I - a indicação d os juízes de origem e de cumprimen to do aro; de decisões possíveis de serem proferidas no juízo arbitral, mdus1ve no que se r~f:re ~s
tutelas provisórias. Mas não se afastam as demais formas de coo pe~ação e ~on v1ven~1a
entre os juízos antes referidas, como expedição de o.fí~io ou pedido de mformaçao,
Antonio Ca rlos Nachií Correin Filho, Pl:ívia Gomes, Glcdson Marques de Campos, Júlia
Schledorn de C:unargo, Juliana Cristina Gardenal, Maithe Lopc-.i, Priscib Cancparo, Renac:i dependendo do q uanto será objeto ou conteúdo solicitado.
P:1ccol:i Mcsquira, Shirlcy Gralf, Toais Matallo Cordeiro e Welder Q ueirO'.i dos S:mros. E com previsão em duas leis, resta a verificação de convivência das regras:
43. Cuja reprcscnraç:io e pnrricipnção couberam ao Dr. Joaquim de Paiv:i Muniz, ao Dr, Leonardo O Código é mais detalhado, esta belecendo os requisitos d a ca.rcaarbitral (art. 260)
Corrd e :10 Dr. Ronaldo Cramcr.
e sendo a legislação processual adequada para prever.ª fo:ma e co nteúdo d os atos a
44. A proposta encam inh:ida originalmcnce ceve :1 seguinte redação: "Arr. 54. Os pedjdos de
coop,:ração jurisdicional devem ser pronr:unence :1ccntüdos, prescindem de fo rma espcdlica serem praticados no Poder Judiciário, a previsão subsiste integralmente.
e podem ser cxecucados como: 1- auxílio direto; 11 - reunião ou apcns:1menco de processo;
111 - prc.çtação de informações; IV - aros cooccrr:tdos entre os juízes cooper:mtc.~. § I.º As
45, ARMELIN , Donaldo, Arbitragem e O novo Código de Processo Civil. RArb 28/13 ~ ·d b'
e mas de ordem e prcc:.irári:ts segui(áo o regime previsto neste Código. § 2.0 A c:irca arbicr:tl
. ,
46 . Cf, ad iantc:, cm "A nexos" especifi camente em ''Anexo 2'' , o texto con~olida<lo da Lei e Ar 1-
seguirá o regime previsto neste Código, arendcr:i no que couber, aos requisitos do arr. 2 16 e • d 6 5 201 5
será insrruída com :i convcnç:io de arbitragem, com a prova da nomeação do árbicro e com :i cragcm, apontadas as revogaçõ~, inclusões e aJremçõe., _rr:izidas pela Lei 13.12: e 2 ,O · .
prov~ da aceitação da função polo rlrbicro". com destaques próprios, lndknda camhém a versão ongmal para confronmçao.
31 8 1 CURSO DE ARBJTRAGEM TUTELAS PROVISÓRIAS DE URGt.NCIA E DF. EVIL)t-NCIA NA ARRITRAGEM 1 319

De outra parte, a respeito do conteúdo carta arbitral, a regra processual é mais E acentos a' nov1'dade, na I Jornada Prevenção e Solução. Extrajudicial
d , de Lití-
ilustrativa na referência à solicitaçáo de "ato objeto de pedido de cooperação", coe- . ~s a rovou-se enu nciado assim redigido: "3. A carc:a arb mal Pº, era se_r pr~ces-
gios '. p . pelo 01
da d1Jetamence , .ga- 0 .do Poder J udiciário do foro onde se dara a efet1vaçao da
rente aqui com o modelo desenhado para esta cooperação, acima visto, esclarecendo
sa d . - ,,
medida ou cc1sao .
a extensão inclusive a providências "que import<::m efetivação de tutela provisória".
Mas sem dúvida, a abrangência referida se contém na genérica indicação na Lei de
Arbitragem reformada a "ato solicitado pelo árbitro". 10.6. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
Quanto ao segredo de justiça contido no parágrafo único do art. 22-C da Lei de MARAL, PauloOsrernack. O n:gimerúts mcditlnule 111-gmcuwo • · processotlrbitm· li.' , n.· CAHALl d
: . Francisco bre a
Arbitragem reformada, também não há incompatibilidade, mas conformidade com. A José; RODOVALHO, Thiago e FR.EI~E, ".'1cxandre (COORDS). Arb1Mtge111-facu osso
Lei 13.129, c\c 26-5-2015. Siío !nulo: Snmiv11, 2016. . .
a previsão contida no art. l 89, IV, do CPC/2015, sendo este mais abrangente para
· C ..,
ARMELIN, Donaldo. C:iucelar pré-arbmal - orne.nt..utos ~o g n _. · A 1 990 09
. . 370532-0. . Re1mmdeA,·b1-
todos os processos que versem sobre arbitragem.47
mrgem e Mt"dittç,ío. n. 26. ano Vll. São Paulo, Jul~set. -O IO. .
Enfim, duas normas, com previsões gêmeas, que, embora reconhecidas parti- COSTA, Marina Mendes. Os poderes do cribu~al arbic1:~ para decretar medidas cautelares. Re1mt1l de
cularidades, convivem em harmonia. Arbitl'llgcm e Mediflçiio. n. 28. ano Vlll. Sao Paulo, pn.-mar.2011. . . .
A única, porém real e significativa vantagem desta duplicidade de normas é o . A · MONTEIRO André Luís. Medidas urgentes no processo arb1craJ brasileiro.
FICHTNER,Jose nconi0 ; ' . 008
efeito pedagógico que nela se contém, de forma a permitir tanto àqueles que concen- •
R,•111st11

, runestmf ae
7'. • J D· ·pi'to Civil n 35 v 9 Rio de J:meíro: Renovar, iu!.-set. 2
n• • · · · · · . ~
trem seus estudos apenas na Lei de Arbitragem, como àqueles mais envolvidos com. MAGALHÁES,JoséCarlosde. A cu cela anlccipada no processo arbitral. Re11ístadeArbitmgem e Med111ç110.
o processo cívil (e por vezes desconhecedores da Lei especial), a ciência deste novo e 11 • 4. ano II. São Paulo, jan.-mar. 2005. . .
útil expediente. EIRO Sér io Luiz de Almeida. Breve reflexão sobre o craramcnro das cu celas de urgência na ª.r~ma-
RJB ' g d · A ·. n 406/20J3eosvctoresqucdelesec;xcracmpãra ~ex 1bsl 17.aro
gcm de acor o com o nrcproicro · ,alh T I · F · é AI '
Com a inovação, passou a existir a carta arbitral no âmbito da cooperação ju-
risdicional.
nopólio do ius i'mpcrium do Estado ln: Caha.li, Francisco José; Rodo, o, · mgo e :cir , 6-
:~dre (coords). A1·bitmgem-Esrudossobrca.Lei 13.129, de26-5-2015. São Paulç>:Sa.ra1va, 2 0 1 .
Cria-se, como visto, uma estrutura formal para a comunicação através da cana
arbitral quando pertinente este expediente, e desta forma é facilitado o entrosamen-
to entre ambas as jurisdições, na medida em que uma saberá como solicitar e ou era
como receber as solicitações, evitando desencontro de posições a respeito, nocivas,
certamente, à efetividade pretendida na tutela dos interesses da parte.
É fundamental esse mecanismo formal, de maneira a superar entraves burocráti-
cos antes rotineiros, como a alegação às vezes manifestada pelos setores de distribuição
dos tribunais escacais de que aquele tipo de solicitação - feita pelo árbitro ao Poder
Judiciário - não estava prevista no sistema, razão pela qual não seria possível recebê-la.
Foi importante também estabelecer esse mecanismo em norma federal, evitando-se,
assim, a regulamentação por cada tribunal em cada um dos Estados, o que certamente
levaria à diversidade de tratamentos e, não raro, à estipulação de exigências despro-
porcionais para o recebimento do pedido de solicitação.
O que se espera, a partir de agora, é que todos os envolvidos, imbuídos exclusiva-
mente no sentimento de colaborar com o desenvolvimento da arbitragem, dediquem-
-se a melhor aplicação dos mencionados dispositivos pelo Poder Judiciário. O que
deve nortear a prática é a intenção de colaborar para o desenvolvimento da arbitragem.

47. A n:speiro da confidencialidade, inclusive afastada quando a arhicragem envolver a administração 48 promov1'da enm: 22 e 23 de agosco de 2016 pelo Centro de Estudos
. Judiciário
d do Conselho
pública, cf. o Capítulo.14 icem 14.5 acima. · Federa]. Cf· em "Anexo 7" o cexco integral dos enunciados aprova os.
· d a Jusuça
11.
Sentença arbitral
ROTEIRO DE ESTUDOS

1. Considerações iniciais e conteúdo da sentença arbitral


2. Requisitos e formalidades da sentença arbitral
• Prazo - art. 23 (tb. arts. 1 l, Ili; 12, Ili; e 32, VI)
• Documento escrito-art. 24, com relatório/fundamentação/disposítivo-art. 26,
1, li, Ili (tb. arts. 27 e 28}
• Data, local - art. 26, IV, e assinatura - art. 26, parágrafo único
• Comunicação - art. 29
11.1. INTRODUÇÃO
3. Sentençaproferidaportribunal arbitral (arts. 24, §§ 1.ºe 2.º; e26, parágrafo único)
4. Sentença parcial -art. 23, § 1.º e 33, § 1.º A sentença arbitral é o pronunciamento do árbitro ou do tribunal arbitral para
5. Pedido de esclarecimento-art. 30
encerrar o procedimento. É o ápice do procedimento, pelo qual se realiza a prestação
jurisdicional buscada pelas partes.
6. Efeitos da sentença
Tal qual a sentença judicial, pode decidir o litígio quanto à matéria de fundo,
• Fim da arbitragem - art. 29
ou apenas concluir pelo não cabimento da arbitragem, ao menos naquele instante,
• Efeitos imediatos - art. 31
inclusive, dentre outros motivos, até mesmo por faltar ao caso arbitrabilidade objetiva
• Liquidez da sentença condenatória ou subjetiva. Nestes casos, aos interessados restará o acesso ao Judiciário para análise
• Título executivo - art. 31; e art. 515, Vil, do CPC/2015 do mérito da controvérsia.
Ou seja, a sentença arbitral poderá ser definitiva, decidindo o conflito 1 (por
exemplo, condenando ao pagamento da multa pelo descumprimento contratual),
ou meramente terminativa, pela qual o procedimento se encerra, mas a controvérsia
persiste, e pode ser levada ao juízo estatal2 (por exemplo, reconhecida na arbitragem
a nulidade da convenção, e, assim, o interessado deve apresentar sua pretensão pe-
rante o Poder Judiciário; e anote-se nesta hipótese que a instauração da arbitragem
interrompe a prescrição, conforme are. 19, § 2. 0 , da Lei 9 .307/ 1996, 3 de acordo com
a inovação introduzida pela Lei 13.129/2015).
Julgando o mérito, a sentença poderá ser condenatória, constitutiva ou decla-
ratória, conceitos estes já conhecidos, relativos à tutela jurisdicional outorgada de
SUMÁRIO acordo com a pretensão das partes e a solução dada ao caso.
11.1. • INTRODUÇÃO......................................................................................................................................... 323 Em qualquer das situações, a sentença arbitral decidirá, como já visco, sobre a
11.2. • DO PRAZO PARA SER PROFERIDA ASENTENÇA ARBITRAL................................................. 324 responsabilidade pelas custas e despesas com arbitragem, podendo estabelecer, inclu-
11.3. • REQUISITOS DA SENTENÇA ARBITRAL......................................................................................... 327 sive, verba decorrente de licigância de má-fé (art. 27 da Lei 9.307 / 1996). 4
11.4. • DA COMUNICAÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL......................................................................... 331
11.5. • JULGAMENTO PROFERIDO POR TRIBUNAL ARBITRAL.......................................................... 331
1. Conteúdo material.
11.6. • PEDI DO DE ESCLARECIMENTO...................................................................................................... 336
2. Similar à extinfiiO do processo sem resolução do mlrito (an. 485 do CPC/2015).
11. 7. • SENTENÇA PARCIAL (JULGAMENTO POR ETAPAS).................................................................. 339
3. Assim: "A instituição da arbitragem interrompe a prescrição, retroagindo à data do requerimcnco
11.8. • EFEITOS DA SENTENÇA ARBITRAL.................................................................................................. 342 de sua instauração, ainda que extinta a arbitragem por ausência de jurisdição" (g.n.).
11.9. • BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA...................................................................................................... 345 4. Cf. Capítulo 9, item 9.4.2, supra.
324 1 CURSO DE ARBITRAGEM SENTENÇAARB!TRA!. 1 325

Também a sentença poderá ser meramente homologatória de acordo alcançado outro termo inicial, inclusive ao elegerem instituição arbitral que, em seu regulamen-
pelas partes e levado a conhecimento do árbitro (art. 28 da Lei 9.307/1996), mas to, adota regra diversa da lei, como, por exemplo, considerando o prazo a partir das
mesmo nesta situação o pronunciamento deve preencher os requisitos obrigatórios , fi. nats.
alegaçoes · LO
(are. 26 da Lei 9.307/1996). 5 Realmente, quando se projeta no procedimento a necessidade de ampla e
No sistema anterior à Lei 9 .307/ 1996, falava-se em ltwdo arbitral, como ainda complexa instrução probatória (inclusive por meio de prova pericial), é natural que
hoje algumas legislações estrangeiras se referem a este pronunciamcnto.6 Mais ade- de pronto as partes já se manifestem a respeito da maior duração da arbitragem. Ao
quada, porém, a terminologia acuai, para marcar a nova sistemática introduzida pela contrário, se de menor complexidade a matéria, ou com prova produzida de imediato,
lei, conferindo a força de título executivo judicial à sentença arbitral, 7 independente pode-se inclusive reduzir o prazo legal, optando por uma arbitragem expedita, como
de homologação ou exame pelo Judiciário, como antes se fazia. E mais: deixa-se dara a proposta por alguns regulamentos de instituição arbitral. 11
a jurisdição exercida na arbitragem, inclusive confirmada pelo Código de Processo Legal ou convencional, o prazo pode ser alterado no curso do procedimento,
Civil de 2015 (are. 3. 0 , § 1.0 ). e a qualquer momento, por vontade das partes, ao perceberem a necessidade de sua
Mais importante, porém, que a terminologia adotada é o significado deste prorrogação. 12 Indispensável, para canto, o consenso de rodos os interessados, salvo
pronunciamento, que, em tudo e por tudo, equivale à sentença judicial. Assim, em se, como sempre, diversa a previsão em convenção ou regulamento. u
linguagem corriqueira, inexiste erro imperdoável falar-se em laudo arbitml, como,
A substituição do árbitro, por sua vez, faz restaurar o prazo primitivo, passando
aliás, a própria Lei de 1996 na sua versão anterior à reforma de 2015, em uma passa-
a ser a sua aceitação o marco inicial da contagem, se com termo na instituição da
gem, assim se referia à sentença arbitral (are. 33, § 2. 0 , 11).8
arbitragem.
11.2. DO PRAZO PARA SER PROFERIDA A SENTENÇA ARBITRAL fmporcantenotaro impacto deste prazo na arbitragem, pois se fosse "impróprio",
como é para a sentença judicial (e há previsão, em certos casos, para ser proferida),
A finalização do procedimento arbitral tem data conhecida, por definição das e desprovido de qualquer repercussão prática, de nada adiantaria ocupar-se com a
partes (na convenção arbitral, no termo de arbitragem ou ainda no regulamento da questão.
câmara eleita), ou por disposição legal fixando o prazo de seis meses para ser proferida
a sentença ar birrai (are. 23 da Lei 9 .307/ 1996).,, Significa dizer que a solução do litígio
10. Centro de Arbitragem e Mediaçlo da CCBC, art. 10.1; Regulamento da CCI, are. 24.1; Regu-
na arbitragem tem prazo máximo (e curro) para ser alcançada.
lamento da CMA (Câmara de Mediação e Arbitragem de São Paulo), art. 13. l; Regulamento
O prazo legal conta-se da instituição da arbitragem (aceitação da investidura da SP-Arbitral, art. 9.1.
pelo árbitro ou árbicros-arr. 19 da Lei 9.307 /1996), facultado às panes estabelecer 11. Embora nio seja propriamente uma arbitragem, com estrutura e regulamento próprios para
solução de controvérsias sobre registro do domínio ".br", de acordo com o Sistema Admi-
nistrativo de Confliros de lnternec Relativos a Nomes de Domínios de Primeiro Nível ".br"
S. Evi<lcnremente com adequações, pois dispensada fundamenração além <la referência ao acordo, (SAC!-Adm e confim-se ,rutís ll respeito no C1tpít11lo 2, item 2.3, acima), o CAM-CCBC estima,
e <füpositívo restrito e pontual ao acolhimento do quanto estaheleci<lo pelas partes, liberado o encerramento do procedimento no pra7.0 de 90 (noventa) dias. C( [www.ccbc.org.br/ccrd.
o árbitro, por óbvio, de resolver ,1s questões q11e 1hr: fomm mbmetid11s, limitando-se a ratificar o asp). Acesso em: maio 2011.
quanro deliberado consensualmente a respeito do conAico. 12. Art. 23, 2.0, da Lei de Arbicragem, com ajustes cosméticos de redação introduzidos pela Lei
6. V.g., Espanha, Peru, Uruguai e lrália. 13.129/2015, transcrito na noca 9 acima, sem alteração da essência da previsão, sendo a altera-
7. V.g., França, Bélgica e México. ção, em realidade, decorrente da necessidade de renumeração de parágrafos, pois promovida a
8. "Art. 33. A parte interessada po<ler.í pleitear ao órgão do Poder Judiciário compecentc a decre- inclusão do§ 1° (verdadeira inovação por incluir a possibilidade expressa <le sentença parcial),
tação da nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos nesta Lei. (...} § 2.0 A sentença que levando-se ao§ 2.0 o então comido em parágrafo único.
julgar procedente o pedido: (...} II - decerminará que o :írhitro ou o tribunal arbitral profira 13. Por exemplo, do Centro de Arbitragem e Mediação da CCBC outorgando ao presidente do
novo l11udo, nas demais hipóteses" (grifo nosso), alterada a redação de todo o art. 33, pela Lei tribunal arbitral a prerrogativa de dilatar por até 30 dias o prazo para ser proferida a sentença
13.129/2015, como se verá no Capítulo 13, icem 1.l3, abaixo. (art. 10.1.1.), e da CCI. permitindo a prorrogação por iniciativa da própria corte ou a pedido
9. "Are. 2.'3. A sentença arbitral ser.\ proferida no prazo estipulado pelas parces. Nada tendo sido dos árbitros (are. 24, 2). Neste particular, interessante a solução <la<la pda Lei espanhola: salvo
convencionado, o prazo para a apresentação da sentença é de seis meses, contado da instituição convenção cm contr:irio, o prazo de seis meses (contados da contestação) poderá ser prorrogado
da arbitragem ou da substituição do árbitro.( ...)§ 2. As partes e os.irbirros, de comum acordo, pelos ,írbirros por um período não superior a dois meses, mediante decisão fundamentada
poderão prorrogar o prazo para proferir a sentença final.'' (arr. 37, 2).
326 1 CURSO DE ARBll'RAGEM SENTENC,:AARBITRAL 1 327 l
A lei, neste aspecto, é severa: a sentença arbitral proferida fora do prazo será nul Com estas observações quanto ao prazo final da arbitragem, com pouca impor-
(art. 32, Vl!, d_a Lei 9.307/1996), porém, para tanto, deve ser "respeitado o disposc: tii,cia a forma de contagem do período m~ns~I (divers? qu~ é da Auência do ~razo
no art. 12, mc1so III, desta Lei", ou seja, cabe à parte interessada notificar o árbitro dias), e, ainda, igualmente de menor s1gn1ficado d1scum quando_se cons1d~ra
6111
ou presidente do tribunal arbitral, "concedendo-lhe o prazo de 10 (dez) dias par; rolacada a decisão, pois para cumprimen to do prazo legal de tolerância de 10 dias,
prolação e apresentação da sentença arbitral''. p
diz a k.i que deve ne le ocorrer a ((apresentaçao
- da sentença ar b.mal" .
Gravíssimo o efeito do julgamento extemporâneo, porém este rigor se ameniza
pela inércia das partes em provocar o julgamento mediante comunicação ao juízo 11.3. REQUISITOS DA SENTENÇA ARBITRAL
arbitral específica para este fim. 14 O art. 26 da Lei 9 .307/ 1996 estabelece:
A lei, impropriamente, só se refere a esta comunicação prévia para impedir a Art. 26. São requisitos obrigatórios 15 da sentença arbitral:
"extinção do compromisso arbitral", pois a esta regra se reporta o artigo no qual se
1- o relatório, que conterá os nomes das partes e um resumo do litígio;
prevê a nulidade da sentença (art. 32, VII, c/c art. 12 da Lei 9.307/ l 996). Em outras
palavras, pela literalidade da norma, a exigência da prévia comunicação só seria para II - os fundamentos da decisão, onde serão analisadas as questões de fato e de
o caso de prazo instituído pelo compromisso arbitral, e não para aqueles estabelecidos direito, mencionando-se, expressamente, se os árbitros julgaram por equidade;
pela cláusula, ou mesmo para o prazo legal. III - o dispositivo, em que os árbitros resolverão as questões que lhes forem
No encanto, em nosso sentir, a lei disse menos do quanto queria. Em uma análise submetidas e estabelecerão o prazo para o cumprimento da decisão, se for o caso; e
sistemática da norma, vale o princípio da provocação pelo interessado para obter 0 IV - a data e o lugar em que foi proferida.
cumprimento do prazo, sem o qual não se pode vulnerar a sentença arbitral tardia. Parágrafo único. A sentença arbitral será assinada pelo árbitro ou por todos os
Primeiro, porque se prestigia a vontade das partes, como é comum na arbitragem, de árbitros. Caberá ao presidente do tribunal arbitral, na hipótese de um ou alguns dos
tal sorte que, se satisfeitos os interessados com o caminhar do procedimento, não seria árbitros não poder ou não querer assinar a sentença, certificar tal fato.
adequado uma decisão precipitada, às vezes por poucos dias, apenas para cumprir Mas também outra exigência faz a lei, a ser vista previamente:
o prazo, deixado, assim, adequadamente nas mãos destes o poder para provocar o
encerramento da arbitragem. A seu turno, como em relação a diversas outras ques- 71.3.1. Documento escrito
tões, o quanto se tem para o compromisso também se terá para a cláusula arbitral,
guardadas as suas particularidades, tanto é que também esta se extinguirá, tal qual o Por expressa previsão, "a decisão do árbitro ou dos árbitros será expressa em
compromisso, pela inércia do árbitro após devidamente provocado. Ainda, seria no documento escrito'' (art. 24 da Lei 9.307/1996). Admite-se todo o procedimento
mínimo inadequado deixar a critério da parte passar o prazo para, segundo o resultado oral, mas a sentença deve ser escrita e documentada, rejeitando-se outros meios (p.
da sentença, se em seu desfavor (e sempre haverá um "vencido" ao menos em parte), ex., gravação em áudio e vídeo), ainda que comprovem a conclusão do árbitro.
invocar o vício; melhor seria, neste caso, sequer ser, então, proferida a sentença. Tratando-se de requisito de forma, seu desrespeito gera a nulidade da sentença.
Enfim, o bom-senso e a razoabilidade na interpretação das regras recomendam Emboraoart. 32 da Lei de Arbitragem refira-se apenas à invalidação quando ausentes
seja necessária a prévia comunicação, em qualquer situação (prazo legal ou conven- os requisitos de seu are. 26, a seguir analisados, neste último está implícito, pela maneira
cional, previsto em compromisso ou cláusula, ou seja, na Convenção Arbitral), como apresentada, o expresso no are. 24 - documento escrito-, pois se refere à indicação da
requisito indispensável à drástica medida de invalidação da sentença arbitral. data, local e, principalmente, assinatura dos árbitros na sentença.
Nas mãos dos interessados a iniciativa de provocar a solução da arbitragem, após A seu turno, como já antes referido, cumpre-se o requisito mesmo diante de sen-
o prazo legal ou convencional, sem dúvida se terá uma urilidadeenorme para impedir tença proferida em língua estrangeira, se assim convencionarem as partes, dispensada
a eternização imotivada do procedimento. a utilização do vernáculo, reclamando, porém, a sua tradução caso seja necessário
exigir judicialmente o seu cumprimento em território nacional.
14. Como se verá, esra comunicação representa conditilJSine qua non para se pretender a invalidação
da sentença arbitral, e só pode ser invocado o v{cio por quem provocou a comunicação, não 15. Anote-se a nova apresentação da matéria pelo novo Código de Processo Civil ao se referir, mais
pela outra parre (cf. Capítulo 13, adiante). corretamente, a "elementos essenciais da sentença" judicial (are. 489).
3 28 1 CURSO DE ARBITRAGEM SENTENÇA ARBITRAL l 329
11.3.2. Relatório, fundamentação e dispositivo Ainda, anote-se que na arbitragem por equidade, quando assim autorizado pelas
partes, maior atenção deverá ter o árbitro ao informar seus elementos de convicção
O modelo adotado peJo legislador para a sentença arbitral é o mesmo da sentença ara, no caso em exame, encontrar a solução que lhe pareceu mais justa, devendo ser
judicial (cf. art. 489 do CPC/2015 16), fortalecendo esta equiparação a identidade de ·~prcssamente indicada na convenção arbitral ou no termo de arbitragem a utilização
ambas quanto à eficácia jurídica deste pronunciamento jurisdicional. E ainda, reforça desca forma de resolução do conflito.
a necessidade de se oferecer ao jurisdicionado uma satisfação do quanto avaliado e
Por fim, chega-se à conclusão quanto à solução adotada pelo árbitro para resolver
decidido.
0
litígio, e assim se fixa a decisão acolhendo ou rejeitando, no todo ou em parte, os
Neste quadro, tudo o quanto se tem na doutrina e jurisprudência a respeito da pedidos formulados pelas partes (lembrando a possibilidade, já escudada, de pedido
sentença judicial aqui se aplica, com poucas particularidades.
contraposto).
A respeito do relatório, acrescente-se a conveniência de nele se identificar o litígio Dispositivo, então, é a parte da sentença pcJa qual se resolve, pontualmente, o
tal qual apresentado na convenção ou na ata de missão (termo de arbitragem). 17 Isto objeto da arbitragem. Neste momento, todos os pedidos devem ser analisados, e, à
porque, como já visto, as partes podem moldurar o conflito, excluídas algumas ques-
luz da fundamentação, decididos.
tões da jurisdição arbitral (por exemplo, submetendo tal ou qual previsão contratual
à arbitragem, mas não rodas as potenciais divergências possíveis de ocorrer quanto ao Frise-se: o dispositivo é a congruência entre os pedidos das partes e o decido pelo
contrato). Também no relatório devem ser pontuados os pedidos formulados pelas árbitro ou painel arbitral, mas não há obrigatoriedade dos julgadores de esmiuçarem
partes, dando a exata dimensão da arbitragem. E tudo para a verificação da submissão cada ponto decidido.
do juízo aos limites do convencionado, e confrontação analítica do quanto pedido e E o acolhimento dos pedidos passa não só pela aplicação do direito ao caso con-
decidido, apurando-se a adequação da sentença quanto a estes aspectos. creto, como também pela sua pertinência em relação à própria convenção. Ou seja,
A propósito da fundamentação, mantém a norma a necessidade de motivação mesmo com razão uma das partes quanto a seu pleito, se excluído da abrangência da
das decisões jurisdicionais - modelo histórico em nosso sistema jurídico. 18 Aqui há arbitragem, o pedido não poderá ser acolhido, sob pena de invalidação da sentença
a subsunção dos fatos à norma ou ao equilíbrio da justiça proclamado pelo julgador (are. 32, IV, da Lei 9.307 /1996).
(quando se fizer a arbitragem por equidade). O árbitro, neste momento, oferece aos A seu rumo, sobressaem aqui potenciais vícios já conhecidos da sentença ju-
destinatários da arbitragem a racionalidade de sua convicção em um ou outro sentido, dicial verificáveis igualmente no laudo arbitral: decisão ultra, citra ou extra petita.
desde sua leitura do quadro fático até as razões pelas quais, em seu entender, autorizam Cabe ao árbitro decidir os pedidos, tais quais formulados pelas partes. Nem mais,
a solução adotada por tê-la como a mais adequada ao caso concreto. nem menos, tampouco concedendo tutela diversa do que foi pleiteada, e rudo,
E não só para cumprir a determinação legal, mas também de grande valia uma ainda, com parâmetro delineado na convenção arbitral. Enfim, a decisão deve
bem delineada fundamentação até mesmo para, perante as partes e seus respectivos correspondência ao pedido, limitada ainda ao convencionado pelas partes. 19 E tudo
advogados, mostrar a importância e acerto na escolha do árbitro, valorizando a con- sob pena de invalidação da sentença, como se verá com detalhes ao ser tratado o
fiança que lhe foi depositada. cerna (Capítulo 13).
Ademais, é a partir de urna decisão fundamentada que as partes podem conferir
eventual vício na sentença, que possa ensejar pedido de esclarecimentos. É, portanto, 19. A Lei Modelo Uncicral trata da decisão ultra, citra ou extra pnita, em seu are. 34 (2) (a)
uma garantia às partes. (iii), bem como a Convenção de Nova forque refcrc-sc a estes pmnunciamcmos no an. V,
( 1) (e). Ambos os regramemos são claros m) scncído de que ô árbitro não ·pode decidir fora
dos parámerros traç:tdos na Convenção Arbitral. Por sua vez, José Emilio Nunes Pinto, em
16. Como visco acima, anote-se a nova apresentação da macéria pelo Código de Processo Civil ao exccknu: :irrigo inticubdo "Senccnça a.rbicral i11fm pctiM. extra pt•tita ou 11/tm p,·tit,t", explica
se referir, mais correcameme, a "elementos essenciais da sentença" judicial. que é mu ico imporrn.11ce que se conscare que os rexros mencionados, c.1.cla um deles com uma
17. Aliás, o Código de Processo Civil inovando neste particular a legislação processual anterior, destinação cspccífic:1, convergem no pomo de preservar o que de são conrcn ha a sentença ar-
inclui a apYesentação do caso no quanto deve conter o rclarório (are. 489, I). hicral. Porcanrn, a regra é rcsgarnr o que haja de bom .em cad:1 sencenç;1 :irbirral, segregando-o
18. Anote-se a possibilidade, na Lei espanhola, de dispensa de fundamentação no laudo arbitral dn p:irre concami11ada pelo vício de consentimemo (Iri: JOBIM, Eduardo; Mnch:ido, Rafei
desde que assim convencionado encre as partes {are. 37, 4), sendo que este mesmo dispositivo Bicca (coord.). Arbitragem 110 Brasil - Aspectos jurldii:fJs rel-e11n11tes. Sãe PauJo: Quarticr L:itio,
libera a motivação, também, da sentença homologatória de acordo. 2008. p. 260).
330 1 CURSO DE ARBITRAGEM SENTENÇA ARBITRAL 1 3 31

11.3.3. Data e lugar em que a sentença é proferida 11.4. DA COMUNICAÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL

O dia lançado na decisão põe termo à contagem do prazo (legal ou convencio- Por força do disposto no are. 29 da Lei de Arbitragem, deverá "o árbitro, ou o
nal) para ser proferida a sentença arbitral, mas de pouco impacto, pois só se terá por presidente do tribunal arbitral, enviar cópia da decisão às partes, por via postal ou
comprometida a decisão mediante a provocação da parte, depois de vencido o lapso por outro meio qualquer de comunicação, mediante comprovação de recebimento,
temporal. ou ainda, entregando-a diretamente às partes, mediante recibo".
Deve ser apontada a data em que se conclui a decisão (individual ou colegiada). Por primeiro, note-se referira lei à comunicação dasencença às partes, e não aos
Ora, sendo documento escrito (art. 24 da Lei 9.307/1996), indica-se o dia em que seus procuradores, porém, a praxís informa como rotina a convenção das partes (ao
foi concluída a sua redação, ou seja, estabelecida, definitivamente, a solução dada ao menos na ata de missão ou termo de arbitragem, se antes na cláusula ou compromisso
conflito. Mas nada impede que seja indicada a data da assinatura. nada se falar a respeito), quanto à entrega da decisão aos advogados constituídos, com
Tratando-se de tribunal arbitral, diante da moderna e dinâmica comunicação, poderes para ramo.
possível de ser feita por diversos meios, desde um simples telefonema ou troca de De outra parte, fala-se no envio de cópia, porém, mais comum tem sido a entrega
mensagens eletrônicas até videoconferência, não se exige a presença física dos árbi- de originais da sentença, promovida em cantas vias quanto as partes, além daquela
tros no momento da decisão final (salvo convenção das partes prevendo a reunião ou destinada aos arquivos do procedimento.
audiência para este fim), diversamente do que ocorre no julgamento colegiado pelos Ainda, nas arbitragens institucionais, também pode ocorrer o encaminhamento
tribunais estaduais. Mesmo assim, entendemos ser pertinente a indicação da data em da decisão pela secretaria do órgão (não pelo árbitro ou presidente do tribunal), que
que o presidente do tribunal lavrar a conclusão alcançada pela maioria, resolvendo o por vezes « convoca» as partes, ou seus advogados, para renrar
. a sentença em sua sede.
litígio por meio da sentença escrita com todo o contexto que ensejou o julgamento
Mais importante de tudo, porém, é a comprovação certeira da data da comu-
colegiado, submetendo, então, o instrumento para conferência e assinatura de rodos, 20
nicação, pois a partir dela se terá início o prazo decadencial para eventual ação de
pois concederá, com este ato, transparência ao fim do procedimento. Ou seja, na
invalidação da sentença arbitral, além de se considerar o termo inicial, também, do
falta de reunião, será o dia em que o presidente consolidar as posições para definição
lapso temporal para interposição do pedido de esclarecimento, adiante analisado.
da conclusão. Mas, pelas considerações acima apresentadas, sem relevância eventual
polêmica a respeito da data em que deve ser tida como proferida a sentença.
11.5. JULGAMENTO PROFERIDO POR TRIBUNAL ARBITRAL
Maior atenção se deve ter, porém, quanto ao local indicado na decisão, pois
este identifica se a sentença é nacional ou estrangeira (are. 34, parágrafo único, da Tratando-se de tribunal arbitral, a Lei de Arbitragem estabelece que "a decisão
Lei 9.307/1996), evitando-se, ou não, a homologação da sentença arbitral no STJ, será tomada por maioria. Se não houver acordo majoritário, prevalecerá o voto do
como estudaremos no próximo capítulo. Neste contexto, deverá ser apontado o lugar presidente do tribunal arbitral" (are. 24, § 1. 0 ). O resultado será também uma sentença
previsto na convenção (e, em regra, a sede da arbitragem e onde se promoveu direta arbitral, porém decorrente de decisão colegiada.
ou indiretamente a reunião do colegiado para deliberação final), independentemente O painel pode ser composto por três, cinco ou mais árbitros, sempre em número
de o instrumento vir a ser posteriormente assinado onde quer que no momento se ímpar por expressa previsão legal (art. 13, §§ l. 0 e2. 0 , da Lei 9.307/1996). Enquanto
encontrem os árbitros (quando de nacionalidades distintas). Aliás, tratando-se de não completo o número ímpar, não se instaura a arbitragem. Neste contexto, impos-
arbitragem envolvendo julgadores residentes em países diversos, proveitosa a fixação, sível ocorrer empate na votação, e prevalecerá, sempre, a posição majoritária.
na convenção, de que será considerado tal ou qual local para a sentença, independen- Assim, por exemplo, se dois árbitros acolhem o pedido do solicitante, e o outro
temente de os árbitros lá se reunirem fisicamente para ranto. não, prevalece aquela decisão, ou, se a maioria condena ao pagamento de multa con-
tratual, este será o resultado do julgamento.
20. A.norc·se posição cm sencido conuário de Carlos Alberco Cnrmona (Arbitrag,-,11 eprocesso, cit., A divergência acima é qualitativa, e de fácil solução: predomina a posição majo-
p. 372), cnrendendo que adam deve ser aquela em que a decisão foi romadn, e não cscrlrn,
ritária como decisiva. Da mesma forma quando dois dos árbitros fixam a condenação
considerando, enrão, por e~emplo, o dia em que os árbitros fo laram ~obre suas p<>siçócs e a
decisão foi acordada verbalmente, o que gera, em nosso sentir, um subjetivismo enorme quanto em R$ 50.000,00, e o outro em R$ 40.000,00, o desacordo quantitativo também se
à data em que a decisão foi tomada. resolve pela maioria, prevalecendo, assim, aquele primeiro valor.
332 1 CURSO DE ARBITRAGEM SENTENÇAARBITRAL 1 333

Problema maior, contudo, a ser enfrentado refere-se à divergência quantitativa, Temos para nós, porém, que no juízo arbitral, por expressa previsão legal, dife-
com posições distintas sem que qualquer delas se identifique com a outra, ou seja, rentemente do quanto se vê no Código de Processo Civil, nos casos de impasse onde
cada julgador estabelece um valor diverso para a mesma condenação (fixação em inexista acordo majoritário, deve prevalecer o voto do presidente do tribunal. Assim,
R$ 40.000,00, R$ 50.000,00 e R$ 1.000.000,00 pelos árbitros respectivos). condenando o primeiro árbitro ao valor "X", o segundo, ao valor "Y", prevalecerá a
Carmona, em sua prestigiada obra, ampara-se nas lições de Barbosa Moreira quantia "Z" determinada pelo voto do presidente. 23
e de Paulo Cesar Pinheiro Carneiro para refletir sobre a questão; e, após identificar Cabe, entretanto, ao presidente, no exercício desta posição, utilizar de extrema
os dois critérios de solução da divergência quantitativa, conclui pela prevalência do sabedoria para encontrara equilíbrio na condenação, mais do que pura e simplesmente
critério da continência. Por meio deste será verificado qual o valor contido no núme- impor com prepotência e arrogância a sua posição, apenas pelo sabor da prerrogativa
ro de pronunciamentos suficientes para compor a maioria, rejeitando o critério da que lhe é conferida. Ou seja, espera-se do presidente, nesta função, a condução do
média aritmética (apurado pela soma dos valores apontados dividido pelo número julgamento com temperança, prudência e moderação, para, no desempenho da sua
de julgadores)Y autoridade, encontrar o justo e mais adequado em favor dos jurisdicionados. Antes
Este problema pode ocorrer em qualquer julgamento colegiado, inclusive nos de sentir-se soberano, com poder maior em relação aos demais, deve investir-se de
tribunais escamais, sendo que cada qual encontra uma solução, como noticiado pelo modéstia intelectual, para conscientizar-se do pesado fardo que carrega, pois lhe
referido professor, indicando a divergência entre os Tribunais de Justiça do Rio de foi atribuída uma responsabilidade, não um privilégio, de encontrar a decisão mais
Janeiro e de São Paulo. 22 condizente com a situação.
O presidente foi escolhido por seus pares, consideradas, em especial, suas qua-
21. Assim: "Muiras vezes, porém, a maioria prevista na lei não é tão fucilmente identificável, o lidades. E em diversos aspectos é a figura de grande relevância no desenvolvimento
que ocorrerá quando houver divergência quantitativa entre os julgadores: todos entendem
do procedimento arbitral; este é mais um múnus de sua posição. E assim, a ele cabe
que o primeiro litigante foi o causador do acidente e deve indenizar o segundo litigante, mas
cada um dos árbitros estima valor diverso para a indenização. Nesse caso, qual será a decisão a sensibilidade e responsabilidade pela escolha da melhor solução ao caso em exame,
final? A resposta deve ser dada depois de analisar as maneiras mais simples de proceder para devendo despir-se da tentadora imposição de sua convicção pessoal pela pretensa
resolver as diferenças decorrentes de divergência quantitativa. Valho-me aqui da lição de Bar- superioridade.
bosa Moreira [MOREIRA, 2007/581, que aponta dois critérios para solucionar o impasse:
o primeiro, denominado sisrema da continência, 'consiste em verificar quaJ das quantidades
fixadas nos diferences votos se acha contida no menor número de pronunciamentos suficientes bunal de Justiça de São -Paulo (art. 262, § .1.0 , l). A m.c.:u aviso, deve prevalecer o critério
para compor a maioria'; o segundo, denominado sistema de média aritmética, 'consiste em da concinênci:i, que parece propiciar uma solução mais m.,.otlvcl para o dilem,1 ger:tdo pela
somar as várias quantidades e dividir o total pelo número de votantes'. Adotado o primeiro siruação apreciada" (CARNEIRO, PaLtlo Ccsar Pinheiro. Op. cit., p. 360). Anocc-se que :'I
critério, segue-se este sistema: os voros seriam dispostos em ordem de grandeza decrescente, previsão do Rcgimenm l nrorno deTJSP de2013, está nos arts.138 e 139; assím: ''An . 138.
de acordo com os valores indicados, partindo-se daquele que indicou a maior quantidade, até Quando, na votação de questão indccomponfvel ou de questões distintas, se formarem
que se reúna um número de votos superior à metade do total, prevalecendo então o montante correntes divergentes, sem que se alcance a maioria exigida, prevalecerá a média dos votos
fixado no último dos votos necessários para atingir-se esse n(1mero. O exemplo fornecido por ou o voro inccrmc<l.üírio. "Arc.139. Se os votos de rodos os julgadores forem divergentes
Paulo Cesar Pinheiro Carneiro [CARNEIRO, 1996/149) é elucidativo: o primeiro árbirro quanro aconclusao, o presidence, cindindo o julgame11.ro, submeterá a matéria por inteiro
fixa a indenização em R$ 1.000.000,00; o segundo, em R$ 50.000,00 e o terceiro, em R$ à nova votaçio. § 1.0 Tr:ttando-sc de dercrminaç:1o do valor o u quan cidade, o resulrado do
40.000,00; a indenização será fixada em R$ 50.000,00, pois o primeiro árbitro, ao estipulara julgamcnro scr:í i.:..~presso pelo quocíemc da divisão dos diversos v:tlorcs ou quantidades
indenização no valor de R$ 1.000.000,00, está implicitamente reconhecendo que o quantum homogi:ncas, pelo número de juízes voranrcs"; e veja-se no TJRJ: ''Arc.84 . Se a impossi-
não poderá ser inferior a R$ 50.000,00, restando isolado o terceiro árbitro, que preconizava bi lidade de apurar-se a maioria for devida a divergência qualitativa, o Presidente por.! cm
valor inferior àquele. Se no mesmo exemplo fosse adotado o siscema da média aritmética, vomçác,, primeiro, 02 (duas) quaisquer dencrc as soluções sufragad,'ls, sobre as qLtnis tédic,
o resultado do julgamen.co seria diforenre: somados os votos e dividido o monranre obtido de manifestar-se obrigawriamcnte todos os votances, eliminando-se a que obciver 01c11oi·
pelo número de julgadores (no exemplo, três), fixar-se-ia o quantum da inden izaç..'io em R$ número de votos; em seguida, serão submetidos ;:i nova vocação a solução remanescente
363.333,33" (CARNEIRO, Paulo Cesar Pinheiro. Aspectos processuais da nova Lei de Ar- e ourrn das primitivamente su frag:tdas, procedendo-se de igual modo; e assim sucessiva-
bitragem. ln: CASELLA, Paulo Borba (coord.). Arbitragem: a nova lei brasileira (9.307196) e mente até que cedas se hajam submetido a votação. Será vencedora a solução que obtiver
a praxe internacional. São Paulo: LTr, 1996. p. 359). a preferência na última votação".
22. "Pelo sistema da continência optou o Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Rio 23. Neste sentido, SCAVONE JUNIOR, Luiz Anronio. Manual de arbitragem. 4. ed. rev., acuai.
de Janeiro (art. 84); pelo sistema da média aritmética optou o Regimento Interno do Tri- e ampl. São Paulo: Ed. RT, 20 l O. p. 156.
SENTENÇA ARBITRAL 1 335
334 1 CURSO DE ARBITRAGEM

Muitos falam aqui em "voto de minerva", 24 expressão urilizada para representar prevalência sobre os demais, atribuído ao presidente, por esta sua qualidade, exatamen-
um voto de desempate. 25 Porém, como visco, não haveri empate propriamente dito, te para r~solver aquescão. Desta forma, como referido, seu julgamento prevalece sobre
os demais se por estes não alcançada a maioria; aliás, como literalmente consta na lei.
no sentido ilustrado pela mitologia grega, ern que aparece número idên tico em uma
e oucra posições, pois esta simação se resolve pelo voto simples do terceiro árbitro (ou Para esta conclusão, somos também influenciados pelo direito espanhol, que,
quinto etc.), neste ou naquele senti.do. Oi m passe decorre da conscacação de posições aliás, possui regra semelhante (are. 35, 1); 26 e a respeito, inclusive, há na doutrina
diversas em número ímpar (três ou cinco soluções, sem que qualquer delas en contre referência a esta situação, uma verdadeira atribuição de faculdade decisória, ou seja,
maioria mesmo com o voto simples do presidente). Não se elege uma ou outra con- cem o presidente esta prerrogativa, e deve exercê-la, pela investidura desta qualidade
clusão entre as duas oferecidas pelos demais julgadores por considerá-la a melhor, que lhe foi outorgada consensualmente. 27
como fez Minerva, mas na situação retratada na lei aparece uma terceira opinião, Advirta-se apenas que este critério é supletivo, ou seja, utilizado apenas no silêncio
prevalecendo sobre as demais, que não alcançaram a maioria. da convenção (ou do Regulamento na arbitragem encomendada a uma instituição),
pois cabe às partes escolher a forma de solucionar impasse desta ordem, utilizando
Melhor, assim, identificar o voto como de qualidade, não de desempate. É a
um dos critérios referidos ou outros,21~ ou, ainda, estabelecendo que, no caso, será
qualidade do voto pelo status de presidente.
ampliado o painel com a expectativa de se obter maioria.
Neste contexto, para afastar o non liquet, estabelece a Lei de Arbitragem, por sua
Por outro lado, diante de um tribunal arbitral, todas as decisões são tomadas por
opção, o voto de qualidade, que representa tecnicamente o voto com maior valor, ou
este critério, inclusive aquelas relativas à instrução e à análise de cutelas cautelares,
antecipadas etc., consignadas pelas também chamadas ordens processuais. Assim, por
24. ''O cem10 se refere ao episódio da mirologia grega cm que a deusa Palas Acená (Acena) (que exemplo, acolhida prova pericial por unanimidade, mas divergindo o colegiado quanto
corresponde à deusa rom:u,a Minerva) preside o julglnlento de Orcsces. f.m:, vingando a morte ao perito a ser indicado, cada qual apresentando um profissional diferente, prevalecerá
do pai, Agamemnon, hnvi,a macado sua mãe, Cli·temncsrra e o ;un:rnte, Egisr_o, ~esponsáveis
pelo assassinato de Agamemnon, logo após esce haver retomado d::i guerra de rro1a. Segundo
o escolhido pelo presidente, diante da ausência de maioria quanto a outto nome.
a cr:tdiç.'io, aquele que comcre~-se. um crime conna o próprio genos era pu11ido oom a morte Anote-se, por fim, que todos os árbitros devem assinar a sentença, e, "na hipótese
pelas Eríniru;, seres dcmoni:tcos para as quais o macric(dio era o mltis gr.ave e imperdoável de de um ou alguns dos árbitros não poder ou não querer assinar a sentença", caberá
todos os crimes. Sabendo do castigo que o t:Sperava, Orestt:.5 apelou para o deus Apolo, e este
ao presidente do tribunal arbitral certificar o fato (arr. 26, parágrafo único, da Lei
decidiu advogar cm favor daquele, levando o julgamento para o Areópago. As Ednias foram
as acusadoras e Acena p.residh.1 o julgamemo. A voca~o, num júri formada por 12 {clozc)·cida- 9.30711996), e assim levar adiante a conclusão do procedimento, com a comuni-
d:ios atenienses, te rminou empamda. Arena, cncã.o, pmfe.riu sua scnce.nça decisiva, dccht.rando
Orestes inocente. Como mencionado por Engels, considera-se, a parcir de Bachofen, que este
26. "1. Cuando haya más de un árbitro, toda decisión se adoptará por mayorín, salvo que las partes
episódio renha reprcscnc:i.do, na mitologia, a m:msição histórica do m_:miarcado primitivo
hubicren dispue.~to otra cosa. Si no hubiere mayoría, la decisión será tomada por el presidente".
p:1r-1o patriarcado'', segurn:1o a ent:iclopédia livre Wikipédi:1, consultada em maio de 20 11 (cf:
27. Cf., a respeito, Silvia Barona Vilar (Comentarios a la Ley de Arbitmje: Ley 60/2003, de 23 de
(hrrp:1/pr.wikipcdia.org/wiki/Voco_dc_Mi.nerva]).
d~ciembre. Madri: Civira..~, 2004. p. 1152), trazendo o seguinte exemplo: em um painel de
25. H,l prcvi~-ão similar de um "voto de qualidade'' em fovor do Presidente do Supremo Tribunal
cmco memhros em que existem três posições, duas delas com dois votos, e a terceira do presi-
Fedem! para definir o jul~tménto quando o empate surge exatamente de: seu vorn simples (nu
dente com apenas o seu voto. A atribuição da faculdade deciJóría ao presidente é a que modela
pressuposto excepcional de número par de Ministros vomnces no caso, cf. RlS'TF, ttre: 13: "São
a resolução arhicraJ.
atribuições do Presidcme: (...) IX - proferir voto de qualidade 11;1s decisões do Plenáno, parn ns
quais o Rcgimcnro lnterno n1o prevejasolüçno diversa, quando o empate na vocação decorra de: 28. Carlos AJherto Carmona ainda apresenra outros expedientes traz.idos por Barbosa Moreira
ausência de Minimo cm virtude de: 11) impedimento ou suspeição; b) vaga ou licença médi01 para resolver o impasse: "O primeíro deles obrigaria os juízes adeptos das soluções menos
superior n 30 (trinu) dias, 91.1ando seja w·gente a matéria e não se pos~11 convocar o Ministrn sufragada.~ a aderir a uma das duas correntes mais numerosas, a fim de que alguma destas se
licencjado". Embora seja referido como "voto de qualidade", trata-se mesmo de um "voco de ton_1e majorirária {tal critério, é fácil perceber, não será útil para painéis composros por três
,írbmos, composição mais usual dos tribunais arbitrais); o segundo determinaria a convocação
minerv:i'', pois t:$colhc uma ou oucr:1 posição das decli.na~ts por seus pnres, com o objetivo de
de outros juízes para participar do julgamento, 'em número basrante para propiciar o desenlace';
desempate ne.~rc caso, com a diferença (e talvcrd,ti rer-se qualificado o voto de outrn fo rma)
e o terceiro mandaria 'proceder a nova votação entre duas das soluções confliranres, excluindo·
d.: j,I icr se manifc:smdo anreriormente. Na verdade não é propriamc:ncc 1111to de 91111/i~lttde, ~as
-se a que for vencida, e depois a uma terceira votação, entre a solução vencedora e qualquer
di reito a.dupla voraçfo, e assim, um st,ttus tle qunlíd11tlê c.:m re::laçio aos seus p:ircs. -Aliás, cuno-
~:uncnce, j:í ~e viu nesta Corte o '\,oco de qualidade" do Presidente, conmfrio ao \IOCO simples das ~ucrn;s, repetindo-se o procedimento sucessivamente, até que só restem duas soluções, das
quais sera adotada, como pronunciamento do órgão, a que reunir maior número de sufrágios'"
ante.~ dcdin:ido, para prevalecer a posição concníria, então, 11.quela que o próprio Presidc.nre,
(CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo, cit., p. 360-361).
votando sem este status, adotou.
336 1 CURSO DE ARBITRAGEM
SENTENÇA ARBITRAL 1 33 7

cação das partes quanto à decisão considerada colegiada, sob pena de, se não o fizer, pedido, e "mediante a comunicação à outra parte"; vejamos suas particular.idades
eternizar o procedimento. sucintamente, pois pela proximidade com os Embargos de Declaração, o quanto
já se tem a respeito deste recurso na doutrina é proveitoso para estes expedientes da
Declaração de voto vencido
arbitragem.
É facultado, e não obrigatório, ao árbitro vencido declarar as razões de sua
divergência (are. 24, § 2. 0 ). Tratando-sede julgamento em instância única, nenhum 11.6.1. Correção de erro material
reflexo à arbitragem terá a consignação do voto. Aliás, nem mesmo se faz necessária
a identificação de qual dos árbitros terá sido o voto isolado. Existente evidente equívoco na decisão, decorrente de indicação errônea de no-
mes, números, informações técnicas extraídas da perícia, ou mesmo erro de cálculos,
Para ressalvar sua posição, por qualquer motivo, ainda que simplesmente para
cabe o pedido de sua correção. São falhas perceptíveis por qualquer homo medius, e o
tornar conhecidos os elementos de sua convicção, pode o árbitro declarar em separado
consignado claramente não corresponde à intenção do julgador, por todo o contexto
o seu voto. Admire-se, ainda, fazer a ressalva de seu entendimento no próprio corpo
apresentado na sentença (por vezes até indican do d ocwnento com a informação corre-
da sentença, no texto corrido, em capítulo separado, ou até mesmo em observação
ta, mas trocados números ou nomes). Daí t ratar desce vfcio como inexatidão material.
acrescentada por simples nora de rodapé. Inexiste rigor na maneira como o dissidente
poderá, querendo, apontar a divergência. O prazo para o pedido de ratificação é de cinco dias, porém, o defeito não con-
tamina a decisão, e pode ser, a qualquer momento, corrigido, acé mesmo de ofício.
Por o urro lado, pode existir, excepcionalmente, porvoncade das partes, previsão
Enquanto ainda pendente o juízo arbitral, p. ex., para resposta a pedido de esclareci-
para recurso arbitral próprio diante da divergência, com as características dos conhe-
mento de uma das partes, ou promovendo-se providências relativas à concretização
cidos "embargos infringentes", para que o colegiado seja ampliado, convocando-se
dois novos integrantes para confirmarem a maioria ou prestigiarem a divergência. 29 do decidido, por petitio simplex, pode ser requerida a adequação.
Necessária será, então, nesta situação, a declaração do voto divergente, para confron- Encerrada a jurisdição arbitral, a correção pode ser promovida quando da
tação das posições pelo novo painel. execução ou cumprimento da sentença, e então, se dará no juízo estacai, pois nesta
oportunidade ele é quem deterá a jurisdição sobre a sentença (para cumpri-la). Como
11.6. PEDIDO DE ESCLARECIMENTO a correção, em hipótese alguma, altera o julgado, é razoável admitir sua efetivação pelo
juízo que no momento estiver exercendo a jurisdição no caso concreto.
Como já se disse, inexiste previsão legal para recurso na arbitragem. Contudo,
prevê a lei o chamado de "pedido de esclarecimenco", expediente próximo aos co- 11. 6.2. Pedido de esclarecimento
nhecidos Embargos de Declaração, para correção de erro material e ainda para sanar
"obscuridade, dúvida ou contradição da sentença arbitral", ou se pronunciar o juízo Com características dos embargos de declaração, cabe o pedido de esclarecimento
"sobre ponto omitido a respeito do qual devia manifesrar-se a decisão" (art. 30, I e para sanar omissão, dúvida, 31 obscuridade ou contradição da sentença arbitral.
II, da Lei 9 .307/ 1996). Obscura é a decisão imprecisa, de difícil ou impossível compreensão; contra-
São, pois, duas situações distintas, tratadas no mesmo artigo, com prazo de 5 ditória quando o julgado contém afirmações ou fundamentos inconciliáveis entre
(cinco) dias, salvo se outro prazo for acordado entre as partes, 30 para a apresentação do si ou que levem a resultado diverso do alcançado; gera dúvida o julgado que parece

29. Temos simpaci:i a csrc: r<:curso, seguindo aqui à.oricncação de P:íblo Nusdco (Embargos infri11- trazem previsão diversa deste praw (por exemplo, o Regulamento do CAM/CCBC, art. 10.6
genccs na arbicrngcm? /11: VERÇOSA, Haroldo (org.) . llspecl:riJd,t mhitrngem instit'llcionaL. São prevendo o prazo de 15 dias para apresencação de pedido de esclarecimenco).
P:1uloi Malheiros, 2008. p. 45-52j. Em sentido contrário, CARMO NA. Arbitragem e pnge.1so, 31. Note-se ter mancido a Lei de Arbitragem de 1996 a referência à dúvida, como fundamento
cit., p. 361; cf., ainda, NAN NI, Ginvanni Ettorc. Recurso arbitral: r.cAcxões.111: GUILHERME, deste expedience, mesmo já excluída esta hipócese dos embargos de declaração na legislação
Luiz Fernando do Vale de Almeidri (org.). llspectos práticos da arbitragem. São P:iulo: Q uarricr processual pela reforma de 1994 (Lei 8.950/1994). Este contexto decorreu, porém, do foto de
Latin, 2006. p. 161-188. escar em tramitação o projeto da Lei de Arbitragem quando verificada a alteração processual,
30. Art. 30, tnp11t, da Lei de ArbiLragem em su:i nova redação tm"t,ida pe.la Lei 13.1 29/20 15, que comprometendo a fidelidade que se quis, íniciaJmente, à legislação processual vigcnce à época.
incrodU1.iu :l expressa possibilidride das partes convenci.onarem pmzo djverso. Viilid:i a inova• De forma alguma, porém, pretende-se susremar a pertinência da dúvida como fundamento
',,iÍO, para não se rer d(1vida quamo :1 flexibilidade deste prazo de inici;ttivn de manifesrnção dn do pedido de esclarecimento, pela sua inconsistente idencificação isolada. Prestigia-se, nescc
p:me frente :t sentença. Mas assim j:1 se perm i~ia, mnro que alguns regulamcn ros de Câmaras aspecto, a crícica feita pela doutrina a respeito desta qucscão, que ensejou a revisão de 1984.
338 1 CURSO DE ARBITRAGEM SF.NTENÇAARBITRAL 1 339

ambíguo ao leicor pela motivação ou conclusão apresentada; por fim, omissa a decisão estabelece o praz.o de 1O (dez) dias, salvo se outro tiver sido acordado entre as partes
que silencia a respeito de importante fundamento ou faro provado que influencia, (art. 30, parágrafo único, da Lei de Arbitragem). 34
decisivamente, no resultado da ação. 32
Excepcionalmente, e raríssimas si cuações têm origem na omissão, pode acontecer 11.7. SENTENÇA PARCIAL (JULGAMENTO POR ETAPAS)
que o julgamento desce pedido de esclarecimento tenha cardter infringente, ou seja, Pela literalidade da Lei de Arbitragem em sua versão original, existia um dogma
modifique a decisão. de que a sentença não po~eria ser parcial~ ou fr~c~on~fa, pois ~e i?cluía con:io c~usa
Exemplo usual na doutrina, e identificado na jurisprudência, é a omissão em de invalidação o pronunciamento que nao dec1d1sse todo o lit(g10 submendo a ar-
julgado favorável ao autor sobre a alegação pelo réu de ocorrência da prescrição que, bitragem" (are. 32, V, revogado pela Lei 13.129/2015).
se acolhida, leva à improcedência da ação. Ocorre, porém, que a modificação da cultura e da própria legislação processual
Em respeito ao princípio do conrradicório, se risco háde modificação do julga- uanto a esta questão - sentença parcial- influenciou, também, positivamente o
do, pelos fundamentos apresentados no pedido de esdarecímenro, ou mesmo pelo ~rocedimenco arbitral, pois tudo de bom e útil que naquela se introduz, neste pode
que nele expressamente se requer, necessário permitir a manifestação da outra parte, ser aprove.icado.
concedendo-lhe oportunidade para tanto, indo além, pois, da mera "comunicação"
Nesta quadra, o preconceito ao julgamento fracionado cedeu espaço à utilidade
prevista no referido are. 30 da Lei de Arbitragem.
e expressiva pertinência (temporal e 611,anceira) de se solucionar, no curso do proce-
Processado o pedido (com a manifestação da parte contrária, se for o caso), "O dimento, questões de fundo, de impacto direto à perfeita decisão de outras questões
árbitro ou o tribunal arbitral decidirá no prazo de 1O(dez) dias ou em prazo acordado que daquela decorrem.
com as partes, aditará a semença arbitral e notificará as panes na forma do are. 29"
Exemplificando: por intuição, sabe-se que é melhor apreciar a responsabil_ídade
(are. 30, parágrafo único, da Lei 9.307/1996).31
(culpa) por um descumprimento do contrato previamente à apuração dos preJuízos
Tratando-se de um complemento à sentença, começa daí a contagem do prazo dele decorrentes. Igual mente mais lógico será previamente reconhecer a culpa por um
decadencial para a eventual ação de invalidação da sentença arbitral, independente- evento danoso para, na sequência, verificar a extensão do prejuízo; ou ainda, melhor
mente, no caso, da rejeição do pedido de esclarecimento ou expediente de correção identificar, entre diversas parcelas variáveis (e ilíquidas em razão de vários elementos,
de erro material (art. 33, § 1.0 , da Lei 9.307/1996, em sua adequada exegese). como base de cálculo etc.), as que serão devidas, na análise do mérito da questão, para
Por fim, por meio desce expediente contido no are. 30 em exame, pode-se pro- só então se mensurar o valor daquelas que são objeto da condenação. Enfim, nestes
vocar o árbitro (ou tribunal) para com pie me mação da decisão quando even tualmence casos, parece razoável a produção de provas para decisão do quantum debeaturapenas
ausente na sentença algum dos requisitos previstos no are. 26 da Lei de Arbitragem após pronunciamento e identificação do an debeatur, pois aquele decorre do contorno
(relatório, fundamentação, dispositivo, assinatura, data e local em que foi proferida), que a este for dado pela decisão. Daí, também, por ~esenvolvimento lógico do p~o~e-
sanando, assim, eventual vício que pode, em tese, gerar a invalidação da sentença dimenco, indica-se como mais razoável o reconhecimento desde logo da prescnçao/
arbitral (arr. 32, III, da Lei 9.30711996). decadência de parcelas, ou de alguns dos pedidos, prosseguindo o procedimento para
o quanto mais dependente de outros elementos para julgamento.
71.6.3. Do prazo para se aditar a sentença
Para as primeiras si mações narradas (à exceção do reconhecimento de prescri-
Mantida a preocupação com a celeridade da arbitragem, cal como se faz em ção ou decadência), no processo judicial, como se sabe, a solução é simples: pode-
relação à sentença, para a qual há prazo para ser proferida, conforme acima analisado -se julgar condenando o réu ao pagamento, com os contornos da sua obrigação,
(icem 11.2), também para o aditamento decorrente do pedido de esclarecimento a lei
34. Com :i redação dad:i etla reforma de 201 5, pois aré ent-ão não se fuzi:'l :i rcss:ilva à voncadc das
32. Com mais aprofundada análise sobrt;: a contradição e ohscurid.adc e, especialmente, omissão do part<.:s.; cf. :idhinte, cm ''Anexo 2", as nlrcr.ições inrroduzid:is pel:i Lei 13.129/20 15. Válida a
julgado, cE MEDINA, José Miguel Garcia; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recursos e açõe, aruali7,ação, mas n:1 inccrpremçã.o sistem:lrica d:1 Lei, se p:1r_a :i sentença pionei.ca li.;.í fucu.l~a~e
atttônomm de imp11gru1çiio. São Paulo: E<l. RT, 2008. Coleção Processo Cívil Moderno, n. 2. dns parr.es na alteraç:fo do pra20, ou até possibilidade, conl·orme o reguJamcnco, de o propno
33. Com a redação dada pela Lei 13.129/2015 para, acolhendo o quanto já usualmente se previa :lrbicro. cm cerras simações, :ilterar o prazo, como acima visco. e presdgianclo a :iuconomi:1eh
em diversos regulamentos de arbitragem, permitir o ajuste do pra7.0 para a nova sentença poI vontade, já não havia espaço para se enrcnder de forma diversa, mesmo antes ausente previsão
acordo entre as partes. a respeito.
340 1 CURSO DE ARBITRAGEM SENTENÇA ARl3!TRAI. 1 341

apurando-se o respectivo valor em liquidação. Na arbitragem é diferente, pois , Enfim, assim já se fazia na rotina dos julgamentos arbitrais, não obstante a lite-
,! , / .. • I . . . so
se tera um '!t~t11w _executzv~ se a e e Já esn,ve~ agregado o valor cerco da condenação ralidade da Lei em sua versão original inicialmente referida.
(como se ve1á adiante no item 11.8. l Lzqwclcz da seflt't:nffl arbit,-11! concLenató.ria ao
1 Para se evitar polêmica ou probl.cmas no procedimento, aptos a autorizar possí-
pagamento ttt! qurmt:ia certa) .
is tcntacivas de vulnerar o julgado, e assim causar pernicioso incômodo a Lu11a das
. , . A solução encontrada, então, conduz, realmente, a se admitir o julgamento do ~rces, em vez de proferir sentença parcial, as decisões tomadas a respeito d as parcel.tts
lzttgto_por etap,ts. E cada ~ez mais já se via na pr~tica a utilização desta técnica, cujos ~o rnériro, tratadas como ettljHlS do julgamento, vinham por vezes feiras por meio de
proveitosos resultados sao por rodos reconhecidos, pda economia financeira e de ordem processual, e confirmadas na sentença final. Pela essência do pronunciamento,
tempo.
foram q ucsróes superadas por meio de verdadci ra sentença parcial (em sua essência),
Ora'. prom~ver-se complexa prova (pericial ou de outra ordem) para dela nada até se chegar à sentença final, completa com o valor da condenação.
se apr~v~ttar, pois no fina~ se conclui~ pela inexistência de violação ao contrato, é, Mas já nas edições anteriores apontamos a total simpatia à possibilidade de se
sem duvida, um desperdício, como assim também será a longa instrução para arbitra-
proferir sentença pnrciaL,J6 desde q ue motivada~ sua pertinência, e p~·cservada a suh-
mento de valor e, quem sabe, auditoria e análise conrábil, para, no final, reconhecer-se
siscência da jurisdição arbicral para o completo Julgamento do conflito.
a prescrição de várias diferenças pretendida.~ ou de inexistência de responsabilidad
pelo solicitado valor. e A seu turno, um pensar mais generoso autorizava extrair tranquilamente da
reserva legal contida no então art. 32, V, 37 referido (decisão de todo o litígio submetido
Daí a pertinência, pelo pragmatismo, do julgamento fracionado, mesmo cm
;,. arbitmgem) que ajttrisdição arbitral, antes de seu encerramento, deve solucionar
relação a questões de fundo. Situação prática foi por nós recentemente vivenciada na
rodo o conAiro, mas não necessariamente em um único pronunciamento, admitidas
qualidade de presidente de tribunal arbitral em uma arbitragem na qual se discutiu
etapas se entender mais eficiente, econômico, lógico e adequado; e, principalmente,
a ~esponsab_ilidad~ e in~enização por rompimento de longo contrato de represema-
se as partes assim concordassem.38 Aliás, já se encontrava em praticamente todos os
çao comercial, CUJO obJeto era a invalidação de vários aditamentos contratuais com
regulamentos de arbitragem das instituições mais utilizadas a previsão expressa de
impac_to na redução das comissões recebidas, além do pedido de J / 12 de indeni~ação
acrescido dos reflexos das indevidas reduções. Uma perícia quanto a esta questão é autorização para se proferir sentença parcial.
extremamente morosa, e cara. Então, por indicação uniforme do colegiado, acolhida E veja-se mais: a sanção à época imposta na lei era a invalidação da sentença
pelas partes, definiu-se que primeiro seria decidido sobre a legalidade ou não das proferida sem solução de rodo o litígio submetido à arbitragem (arr. 32, V, da Lei
alterações do contrato, e ainda sobre eventual prescrição, para só encão, delineado 0 9 .307/ 1996 cm sua redação original); porém, neste caso, determinava-se o retorno ao
objeto da condenação (an debeatur), seguir-se à perícia na moldura estabelecida pelo juízo arbitral para que fosse proferido novopronunciamemocomplcco(arc. 33, § l .º,
tribunal (quantum deberltutJ. 15
que eventual apuração de valores depcndcr;í. do cnci::rramenco <lo negócio, após o que poderão
35. ~ rmona traz o_ucro intcrcssance ~x.emplo de !uJgamunto por ccap:1s: "Ourtn situação cm que ser quantificados os dibitos e itlcntific:i.dos bens a restituir ou a recomprar" (CARMONA,
a scntCJ1ça paraal podcr:i ser cog1ca~fo pdos Julgadores cli1, rcspeico n demand:is envolvendo Carlos Alberto. Arbirmgem e prQmso, cit., p. 395-396).
fr:1nqucador e Írnnqu~1do. em que é muito comum<) pleito de rescisão do conrraro de franquia, 36. P:tra aprofundamento sobre o tema, recomenda-se a leítura de Arnoldo W.'lld, no artigo A
cumubdo com o pedido de pag:tmcnco de rQyr1/1ies e dt:volução de prndums. O c:ilcuk, de r:iis validade <la sentença arbitral p:trcial nas atbitragcns submetidas ao regime da CCI, publicado
valores (percentuais rnbrc prnducos vendidos) e a (demiliCJçã.o das mercadorias 11:io vcndidns na JWB 17. Mais recente, confüa-se Cândido Ran~cl Oinamarco ao escrever: "Não sendo a
9,ue devcr:'io ser 1:csdt~fda.~ :10 franque:idor (quando houvei: consignação) o u que devcdo ser senccnça ar birrai qualificada como mo que põe termo 110 p1-ocesso (como era no sistema do C<Ídígo
recompradas (~e isso tiver sido convencionado), dc-Pcnde, porém, do término do concraco de de Processo Civil anterior à Reforma - supr:t. N.65), não h:í qualquer impropriedade concei-
fr:rnqui!. Corno ~e vê, se não houver :l possibilid:1dc de proferir scnnmça pareia.! que resolva tu:11 ou terminológica em admicir-se nu processo por :i.rbinagem a prolação de duas sentenças,
á quesr:10 ~a res':sõ.o _ (ou não) do Cônrrnco de Ímnquia, não poderão os :frbitros proferir sen- uma p11rdal e outra ji11((/ - o que não .~cria possível naquele antigo sistema do processo civil
tença hqL'.1~:t. Nao é 1ncornW11, por_ranco, na espécie que descrevo, que us :lrbitros julguem a comum, porque não se concebe que em um s<Í processo convivam dois :1ros que Ih..: pw1•.rscm
~aus.a de~1dindo ape11as sobre a rescisão connmual, limjtando-s_c a fix~r :is bases para a fmu.ra fim" (A rirbitmgmi 1u1 tcoríti gemi do prQcesso. Sfo Paulo: Malheiros, 2013. p. 176).
liqmd~ça? d~ s.1mtenç~ (se as p:ims não se acordarem sobre valores), rud_o a preceder c:vcntu,ll 37. Revog:i.do, como visto, pela Lei 13.129/2015.
execuçao Judicial (ret'tms, cumprimcnro) da scnccnça ~-bitrai. Em resumo, os :írbicros não po- 38. Registre-se que fatiamcnto do múim possui íntima relaç:'io com o princípio basilar <la arbitra-
derão -se nao usarem a t~cnica da sentença pai·cinl - proferir scnteuça líquida n;i espécie, eis gem: ''autonomia da vontade".
342 1 CURSO DE ARBITRAGEM SENTENÇA ARBITRAI. 1 343

incs. I c/cII, da Lei 9.307/1996 em sua versão original), 30 ou seja, em última análise outras a ela relacionadas. Enfim, deixa de existir procedimento, árbitro, jurisdição,
o qlle sempre se quis foi p_reservar o direito da parte ~l tu cela jurisdicional complet; ::ribuição ou função do árbitro, juízo arbitral, e tudo o mais.
no ambiente arb.icral. Se esta, por sentença parcial , river sido ao final alcançada, por A situação é diversa daquela em que o juiz, com a sentença, cumpre e acaba o
ramas etapas quanto necessárias, nada haveria a se reprovar. ofício jurisdicional (arr. 494 do CPC/20 l_ 5), poi,s ~ juízo estatal é per~~nente, e
Convencendo-se dos benefícios da sentença parcial, e do acerco em se ter previsão sernpre estará lá à disposiçã0 da_par~e, por .m:ermedt? ~~sce ou daquele JU~Z. O que
legal a respeito, a reforma da Lei de Arbitragem promovida pela Lei 13.129/2015 e tiis com a regra processual fo1 remar do JUIZ a poss1b1lidade de qualquer mterven-
introduz o§ 1.º ao art. 23 da LArb., com a seguinte redação: "Os árbitros poderão ~; na decisão. Mas a jurisd_ição esrará lá, inclusive para eventual cumprimento ou
proferir sentenças parciais",10 e ind usive a esta se refere ao prever mais detalhadamente
execução da sen cença.
o praw para invalidação de sentença.41 Ainda, foi revogado o referido inc. V do art. 32
da Lei, inicialmente referido, modificando a sistemácíca para o caso de, ao final do Já na arbitragem, a sentença encerra, como visto, a própria jurisdição arbitral, e
procedimento, ainda restarem pedidos não apreciados. 42 ssim, não se terá a quem encaminhar qualquer solicitação ou expediente posterior,
:essalvadas as providências de praxe relacionadas à garantia de eficácia da decisão
Resta ultrapassada, assim, qualquer resistência que ainda existe à sentença parcial.
(comunicação às partes, ou a terceiros quando pertinente)Y
O j ulgamenco em etapas pode realmente trazer inúmeros benefícios ao procedi-
mento, e até por vezes pode facilitar a composição. E pela previsão legal inovada, até Como se verá no próximo capítulo (Cumprimento de sentença arbitra~, em al-
mesmo se mostrará desnecessária a usual anuência prévia das partes para o julgamento umas situações a sentença é suficiente para produzir todos os efeitos nela contidos;
fracionado, em convenção, ata de missão ou termo de arbitragem. ~mbém, por vezes, far-se-á necessário o concurso do PoderJudiciário para materializar
Enfim, o litígio será por inteiro apreciado, mas cada questão de fundo a seu tempo 0 preceito, o que se fará de variadas formas, conforme cada caso específico.

e hora (por chamadas sentenças parciais), inclusive com decisão posterior integrariva E daí estabelecem as leis especial e processual que a sentença arbitral condena-
da anterior, até o completo pronunciamento sobre todo o conflito, encerrando a tória constitui título executivo judicial (are. 31 da Lei 9.30711996 e art. 515, VII,
atividade do juízo arbitral. E tudo com respeito ao prazo legal ou convencional para do CPC/2015), possibilitando ao interessado inclusive a constituição de hipoteca
término da jurisdição. Sem dúvida, a esperada dinâmica do procedimento arbitral judiciária (art. 495 doCPC/2015); e mesmo não sendo condenatória, "produz, entre
valoriza esta orientação. as parres e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do
Poder Judiciário" (art. 31 da Lei 9.30711996).
11.8. EFEITOS DA SENTENÇA ARBITRAL
Também, como eficácia natural da sentença arbitral que contenha condenação
Superada a dedicada resposta ao pedido de esclarecimento, e inexistente, ou ultra- líquida, qualificada como título executivojudicial, por também integrar a categoria am-
passada a etapa de sentença parcial, com o julgamento de todos os pedidos, "proferida pla de "documentos de dívida", permite-se o seu protesto no tabelionato competente.44
a sentença arbitral, dá-se por finda a arbitragem" (are. 29 da Lei 9.307/ 1996). Significa
Vejamos, ainda, algumas peculiaridades da sentença arbitral:
dizer que se encerra, com a sentença, a investidura dos árbitros. E mais, termina a
própria jurisdição, não mais se podendo falar em juízo arbitral para aquela questão 11.8.1. Liquidez da sentença condenatória ao pagamento de quantia certa

39. Cf. adiancc, em "Anexos", especificamencc no "Anexo I '', o texto consolidado da Lei de Arbi-
A sentença arbitral condenatória, para ser levada ao cumprimento, deve ser
tragem, apancadas as revogações, inclusões e alterações trazidas pela Lei 13. 129 de 26.05.2015 líquida, admitindo-se na instauração do processo judicial respectivo apenas a apre-
com destaques próprios, indicada também no "Anexo 2" a versão original para confrontação sentação de atualização ou apuração de juros e taxas antes esrabelecidos, por simples
com rápidas considerações. Cf. ainda, Capítulo 13 adiante a respeito.
cálculo ari tmécico, providências totalmente diversas da conhecida liquidação do título.
40. Merece anoc:u q ue a Lei csp:U1holn exprcss:unente prcv<1 o julgamenco fracionado, pcrrnirido
ao :.\rbicr.o decidir a co11tro11énia em 11111 só laudo ou em 1111uos l1111dos p11,.â11is q111mro co11sidac
11ecesstlti/l.r, sn/110 rttwdo cm crmtrrírio das partes (Lei 60/2003, art: 37, l ; mul11ç1iQ /iun:). 43. Mais a respeito se falaní ao ser analisado o cumprimento da sentença quando (des)consticuriva
41. Nova redação ao§ I .º do are. 33. Cf. a respeito do prazo para invalidação o Cap(rulo 13, icem e executiva lato unsu, cf. Capítulo 12.
13.3. 44. Neste sentido, cf. SOUZA, Eduardo Pacheco Ribeiro de. Noçõesfondamenrais de direito registrai
42. Inserção de§ 4. 0 ao art. 33. Cf. a respeiro desta inovação o Capítulo 13, icem 13.3. e notarial. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 261.
344 1 CURSO OF. ARBl'lRACEM SENTENÇAARBTTRJ\L 1 345

Podem as partes, por expressa manifestação de vontade, excluir da arbitragem a juncada da reprodução integral do procedimento, e burocracias, como reconhecimento
apuração do quantum debeatur. Nesta hipótese, a liquidação se faria no juízo escacai, de firma do(s) árbitro(s).
por meio de processo próprio de identificação do valor devido. Porém, será péssima a Não deveria, mas pode acontecer de ter sido apresentada apenas uma via da
opção, e a ela apenas se refere como possibilidade teórica, pois, na prática, a celeridade nrença, e naturalmente esta permanecerá arquivada na instituição arbitral. ~6 Neste
e demais qualidades do procedimen coarbicraJ avocam para este Juízo, evidentemente, s~ 0 a cópia encaminhada à parte terá o mesmo valor que o original. Pode, inclusive,
a completa solução do litígio. cas , · l
ser certificada a sua autenticidade, como das demais cópias do proced1menro, pe o
Assim, a apuração do valor devido deve ser feita na arbitragem, independente- órgão arbitral. Desnecessária, assim, a autenticação notarial.
mente, inclusive, de o pedido ter sido genérico, para viabilizar a constituição do título Diante do silêncio normativo quanto à exigência do original, então, pode ser
exequendo. Sendo ilíquida a sentença, será inexequível. · nstruído o pedido judicial com cópia simples. E se dúvida houver com relação à sua
Neste particular - liquidação de sentença-, houve significativa, e proveitosa, ~utencicidade, deve ser provocada (e demonstrada!) pela parte interessada, e não pelo
mudança processual. Rompendo com o tormentoso procedimento anterior, em que Juiz ao receber o instrumento.
se iniciava verdadeirarnence uma nova demanda, com citação, sentença, recurso etc., Contudo, para evitar transtornos decorrentes de exigências dos originais, ain?a
a liquidação passa a ser mera fase antecedente do cumprimento da sentença, para que infundadas, mas aptas a congestionar o processo, o ideal é a ~p_resen ração das vias
agregar ao decidido um elemento faltante: o valor cerco da condenação. E seguindo originais, e, para tanto, também, será excelente se, na~alta de prev1sao no regu~amemo,
além do quanto antes previsto (arr. 475-E e F, ele art. 272 do CPC/1973), mas com as partes estabelecerem cm convenção ou at~ de mLSsã,o (ou termo de arbmagem)
idêntica perspectiva de agilidade, a novel legislação de 2015 até mesmo para a liqui- esta obrigação do árbitro em fornecer tantas vias ~a sentença quant~s.forcm as partes'.
dação "quando houver necessidade de alegar e provar fato novo" (por artigos), embora embora ral providência, mesmo sem prévia previsão, possa ser soltc1tada, e deva ate
adotado o procedimento comum, estabelece a dispensa de citação pessoal, conforme ser adotada espontaneamente pelo julgador.
o are. 511 c/c 509, II, do CPC/2015.
Na arbitragem, porém, a questão é um pouco mais delicada. Isco porque a sen- 11.9. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
tença encerra a jurisdição, inexistindo previsão legal desta nova fase. Daí a adequada ARMELIN, Oonaldo. Noras sobre sencença parcial e :1rhicragem. Rc:11ísta d,• Arbitmgem e Metli"çíín. ano
solução introduzida pela reforma de 2015, ao admitir expressamente a possibilidade V. n. 18. São Paulo: Ed. RT, jul.-m. 2008.
de sentença arhitral, acolhendo náo só a prática já então comum, como o modelo AYOUB, Luiz Robcrco; PELLEGRINO, Antônio Pc<lro. A sentença parcial. Rt11isw de A1·bitmgm1 e
de outros paíse.~. Assim, o que se terá no procedimento é o julgamento por etapas, Merliflçiin. ano VI. n. 22. São Paulo, jul.-m. 2009.
acima visto (icem 11.7), sendo a antecedente estabelecendo condenação ilíquida, e a BAPTISTA, LuizOlavo. Correção e csclarecímcntodesentenças arbitrais. Re11íst11 Bmsileimdt A,·bi~rn~em.
posterior promovendo a liquidação, quando necessária. ano Vl. n. 26. Porco Alegre: Síntese; Curitiba: Comit1: Brasileiro de Arbicrngcm, abr.-ma10-Jun.
2010.
11.8.2. O título executivo flCHTNER,JoséAntonio; MONTElRO,André Luís. Scnccnça parcial de mérito na arbitragem. Temm
de 11rbitrngr.111: primeira série. Rio de Janeiro: Renovar, 201 O.
A sentença, como referido acima, será necessariamente proferida por meio de
l~ONSECA, Rodrigo Garcia <la. RcAcxões sobre a sentença arbitral. Re11ism de A,·hitmgem e Medi11çiio.
documento escrito, e, por rotina, encaminham-se vias originais às panes (díreramence ano li. n. 6. São Paulo, jul.-sec. 2005.
ou por intermédio de seus respectivos advogados).
GlUSTl, Gilberto; MARQUES, Ricardo Dalmanso. Semcnç:1s arbitrais parciais: uma análise prática.
Desta forma, o título será exaramente o instrumento original da sentença. E Re11ista de Arbilmgem e Mtdinríin. ano VIL n. 26. São Paulo, jul.-set. 201 O.
para instrumentalizar a petição inicial de instauração da demanda executiva perante
o Poder Judiciário, como se faz na carttt arbitral, devem ser, também, comprovadas a 46. Yale aqui a observação de Carmona: ''As dificuldades que poderão surgir na arbitragem ad hot·
convenção arbitral, a nomeação e a aceitação dos árbitros, 45 bem como outros docu- são maiores, j;í que, dissolvido o tribunal arbitral, não haverá mais traço do procedimento, _;1
mentos que as partes entenderem pertinentes. Dispensa-se, pois, em nosso sentir, a não ser yue os aucos, documentando os atos praticados (e o original do laudo),.fiqucm <lcpos1-
cados em mãos de um dos árbi a;os, não havendo, pon:m, previsão legal a respeito. Por cautela,
devem as partes, ao prever arbitragem não administrada por órgão arbicral, dispor a respeiro,
45. Tal qual se estahdccc par:i. a inscrução d:i. ''cana arbitral" previsca no Código de Processo Civil estabcle<.:endo quem manterá a guarda de rodo o maccrial produzido durance o procedimento
de 2015, cm seu art. 260, § 3.o, rderida no Capitulo I O, itcrn 10.4, supra. arbitral" (CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragms e processo, cic., p. 365).
3 46 l CURSO DE ARBITRAGEM

JÚDICE, José Miguel. Reflexões sobre a construção de um bom laudo arbitral. &visra de Arbitraga
Mediação. ano VIII. n. 3 t. São Paulo, out.-dez. 201 J. 111 t

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___ . A arbitragem e o mito da sentença parcial. ln: LEMES, Selma Ferreira; CARMONA, Carlos
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12.
Cumprimento da
sentença arbitral
ROTEIRO DE ESTUDos
1· Cumprimento espontâneo
2. Eficácia da sentença arbitral com conteúdo:
• Declaratório
• Constitutivo e desconstitutivo
• Executivo lato sensu
• Condenatório -título executivo
3. Sentença condenatór'
• _ 'ª
ao pagamento de quantia certa em dinheiro
• 1nstauraçao da execução - citação do vencido
Prazo para cumprimento da sentença 12.1. INTRODUÇÃO
• A incidência da multa processual Por codo o seu histórico, e cm especial pela proximidade que há cncre os proca-
• Defesadoexecutado-prazoeconteúdo· LArb gonistas da arbitragem-os árbitros são escolhidos pelas partes-, a tendência natural
4. Sentença impondoobrigaçãodef ~ ' ., art.33,§§1.º e3.º-decadência
• _ azer e nao ,azer é O cumprimento espontâneo das decisões arbirrais. Ora, é intuitivo que se submeta
lnstauraçao da execução- citação do vencido
0 vencido à posição de quem foi por ele próprio eleito para resolver uma questão
• Prazo para cumprimento e imposição de multa e.xaramencc pela confiança e credibilidade na sua capacidade de encontrar a mdhor
• Defesa do executado
solução para o conflito.
• Conversão em perdas e danos
Aa.rbirragcm, assim, sem dúvida, oferece muitas vantagens, dentre das agilidade
5. :entença im_!)ondo obrigação de entregar coisa
no procedimento e qual idade das decisões (normalmente proferidas por reconhecidos
lnstauraçao da execução - citação do vencido
• Prazo para cumprimento especialistas na matéria, que puderam se dedicar imensamente ao caso a eles subme-
• Defesa do executado tido), mas cobra seu preço: exige lealdade, boa-fé e respeico, cujo reflexo se dará, no
• Busca e apreensão ou imissão na posse final, pela obediência à autoridade desta jurisdição.
• Outras medidas Como muitos no ambiente empresarial se conhecem (principalmente no
6. Execução de sentença arbitral contra a Fazenda Pública clube dos envolvidos em comércio exterior), pode-se dizer que o d escumprimento
de uma decisão arbitral gera, no mínimo, um desagradável constrangimento, cuja
SUMÁRIO consequência imediata é a desconfiança por parte dos demais players do mercado
12.1. • INTRODUÇÃO. ............. . em estabelecer futuras relações comerciais com essa parte resisi:cnce. Nesta li nha de
· · • ~R~~~~~i~.?. DA SE
12 2
. As. o.ivEFlsAs FO.RMAs·oE SE ExiGiR. 0··;iü. cüM~-
NTENÇA E 349 causar desconforto ao inadimplence, o Regulamento do Centro de Arbitragem da
CCBC permite a divulgação do desrespeito à decisão "a omras instituições arbi.crais
12.3· •~~!F~1g~f~~tENTEN.ÇA.ARsiii;.:L DECLA.RAróiiA·...êa·N ·srirüri'v÷õ·ü..ExEcü~- 350
e às câmaras de comércio ou entidades análogas, no País ou no exterior" (are. 11.2).
12.4. • DA EXECUÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL..CÕN . ...................................................... . ............ 355 Dito de oucra forma, a rebeldia do vencido traz nocivo impacto à sua própria
QUANTIA CERTA EM DINHEIRO DENATORIA AO PAGAMENTO DE imagem, capaz de comprometer sua honradez entre seus pares e, por co nsequência,
12.5.• ~tzi~~CUÇÃO. DA_ SENTENÇA AR's°iii;;,i·i•M
,PON·o·o·OBR IGAÇAo·o·E·FAZER•E,NÃÕ. 361
vulnerar a credibilidade para novos negócios. Como não se quer contaminar a ar-
376 bitragem com as perversas sequelas da dcsobedifulcia às sentenças, busca.e-se excluir
12.6. • ~~1~1EcuçÃo_ DA _SENTENÇA ARBrrn÷c·iM.PÕN.º º OBR IGAciõ..o.Ê.. E.NTR.EGA..oE· deste espaço aqueles cuja insubordinação decorre da má índole ou espírito emulacório.
12.7. • DA EXECUÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL.CONTRA AFAzÊN.DA-·P··;. ............. ................. 379 Além das partes, por certo, também a postma do advogado, orientando o cliente,
12.8. • BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA UBLICA ..................... 380 sem d escuidar da defesa de seus direitos, terá virmosa influência para preservar a
....................................
... ············································ 380 autoridade da sentença arbitral.
350 1 cun.so DE ARBITRAGEM
CUMPRIMENTO DA SENTENÇ'.A ARBITRAL 1 3 51

. Paralelamcnre ao efei to m oral negativo à ínsubordi - .


capncho se faz inadímplente rambe' . naçao do vencido que p Não se pretende aqui, neste espaço rescrito, agiras reses ou atiçar a celeuma
. , m existem o utros elem t Or
porat1vas, para induzir ao cumprimento da senren Tc en os, como sanções COr~ respeito das diversas class.i6cações (e respectiva repercussão) a prop6sico do pro-
imposta p ela BM F-Bovespa à aruaça-o dça. orne-se, por exemplo, rescrir-;;o '1. =nco contido na sencença3 (e também cm ouo·as decisões judiciais, como nas
desob edecer a decisões de sua Câm no merca o de vai b'I·, · .,.,, v1ni..,..,
J A b. ores mo t tanos d e quen-. celas provisórias). Se nem mesmo os processual iscas se entendem completamenrc
ara ae ~ ztragem do Mercado ...
~esmo assim, talvez se façam n ecessárias medid- . .. ~ re:spciro, seria muito querer enfrentar nestas poucas linhas qualquer embate sobre
cu~ prunento dasenrença, e ausenre acoertioou ci,;ecutio: ~ª':
se l~por ou exigir o

estepa 1p1canre assunto.
i

serao buscadas no Poder Judiciário M - , d o J~1warbma.l, estas curdas E mais, o Cód igo de 20 l5 também trouxe alterações a serem lapidadas para
.
b a1izar l · as nao se po créÍ no JUÍ al " ,
a egado excesso de execuça- 0 d. e. zo estat ' a aculo de
, mo 1ncar o ceordas b' aJ :1,dequ(tda aplicação. Com aparente simplificação da disciplina, a exegese do regra-
- Ihe apenas fazer cumprir a decisão se d 1· . enrença ar icr . lncurnbe-
P , m exce er os im1res do compromisso" , menco cercamente trará bons debaces. Várias devem ser as casuísticas e detalhe no
. or oportuno , também há de se reconhecer f; . d . . . procedimento in troduzido. Neste momento, porém, é feira apenas a referência à
em s1 bastante para irradiar efeitos " a o, ça a sen ccnça arb1 tral
Lei9.307l1996) e . enrrea~pa rccseseussucessores" (are. 3J d, nova Lei no quanto pertinente à compreensão geral desta etapa do litígio, quando
, ~, conrorme as c1rcunscânc1as, ter cficác· 6 .· . a solucionado na arbitragem.
n o mundo emptr1co e provocar a transformação do dia ~r pu_a para interferir
da natureza do provímem o. esta o as co1sas. Dependerá O importan te, assim, nesta oportunidade, é saber como a sentença arbitral se
realiza no mundo em pírico, ou seja, de que maneira a cu tela jurisdicional derivada do
12.2. oc , juízo arbitral se materializa. E tudo depen derá do quanto nela se contém .
EXI G~i~E~icJOc~/~!~7~~~~6 EAS DIVERSAS FORMAS DE SE Na prática, vale pensar como seria dada a eficácia concreta em favor das partes
àsencença judicial: p or interm édio d o procedimento previsto para cumprimento de
A sentença arbia-al "tem os mesmos efeitos da senr . .
do Poder Judiciário'' (arr. 3 l da Lei 9 307/ 1996) ença pro fenda pelos órgãos sentença, ou de forma diversa, como a adjudicação compulsória, descon stituição d e
eficácia narural ergo omnes. Apcnasse~ond ' ~· com~ cal, na mesma medida, terá uma relação jurídica, ordem de desocupação de imóvel etc.
jutl.ici11t apto a ense1·ar o cum . ( enatona, q ual1fica-se como tlttr.Lo executi,110 Advirta-se, neste mo mento, e uma vez mais, ser excluída da arbitragem parcela
pnmenro ou exccuç fc d )
(are. 31 da Lei 9.307/1996; art. 515, Vll, do CPC~~O~r5ça ) a perante o juízo estatal importante da jurisdição: a coertio e a executio, e assim, se necessária a imposição destes
.
Si gni6ca dizer
·-
que nem sempre se instaura na ·u. .
.
.
pmnento de Sl!Ntmra com árul .· . d d . J SrJÇa cscaral o pedido de cum- 3. Vcj:1-sc, por exemplo, encontrar n:i doucrina :iutores indicando :i scnrença que impõe obrig:iç:io
fc r· ' o 01 igLOa o o JUÍZO arbirral M· b,
con ormeoconceúdodaturelajurisdicionald fc .d ·.. asram em,porvezes, de fazer e não fazer como 1n.u1damem:il. que não mais seria resrri1a 11 ordem do judiciário a um
sua efetivação apenas se pede a cooperação<d J ~'
~~ (~efin 1nvaou provisór.ia), para ente plíblico, e :undn, definindo como condcn:icórias rodas as que impõem :ilguma obrigação
ao vencido, inclusive aquela enr:io classific.,da como executiva !flto senm.
outros meios ames referidos, 2 sem a arelhar o u ,c1arn~, a~~vés de carra arbitral ou
mento de sentença condenara' . p o processo Jud1c1al n ecessário ao imple- 4. Cr., a rcspeiro, amplo e provei roso esrudo feico pelo Prof. C:íssio Scarpinclb. llueno (BUENO,
na. C:íssio Scarpinella. Curso sistem1111z.tdo de dift'ito prommfll rluil. 4. cd. São P:iulo: Saraiva, 20 11.
Guardada a devida conexão com o edido . p. 292-322), no qual, além de quescion:u as dassificaçõe~ "crinária" e "quinária", :iprcscncaclas
pode im por ao vencido a obrig _ d P ' º. comand.o contido na senrença pela doutrina tradicional, muico bem expõe o Professor craca.r-se de categorias mais propria-
· · · açao e pagar q uanna certa a b · - d
coisa cerca ou incerra e ainda as ob . - d f. . , • o ngaçao e enrregar mence lig:i.dns aos efeitos da prest:tçiío da rutela jurisdicional do que às ações ou scarcnças, e
pode ser de natureza dec.laratória nga~es . e azer ou de nao fazer; também , a tutela então :iprcsenca, n:i sua "8.5.6. Apreciação critica: propost:t de uma nova classificação da turefa
< , consaru c1va executiva Útt d jurisdicion:il por seus efeitos", distinguindo ::ipenns duas classes: t11re/11s i11tn11wtiuas, e 111ti:las
(
com maior ou menor abrangência ' . o sensu ou man amencal m111siti1111s, sendo as primeir:is assim ch::imadas "porque não prccis:im dc atividade jurisdicional
. , .
d ourrrnana nestas categonas segund 0 Ih d .
a respeito). ' a esco a a posição complcmcnrn.r, basmndo por si só, isto t, outorgando, por si só, o bem da vid:i que se veio pedir
do Esrado-Juiz, correspondem às cu relas dedm11tórifls e co11sti111ti11m; j:i as cuccl:is rr:insiciva~, ":10
conmírio das que compõem a classe anterior, rccl::unarn arividadc jurisdicionaJ complc.mcnrar,
1. TJSP, AI 0200047-10.20 I 1.8.26.0000 6 0 • • • •
não bastam por si sós", e correspondem ~ tutelas contic11tlttlri11s, a,·c-utiu,1 e m,11ulmnmftll, e
rei. Dcs. Percival Nogueira. , . Camara de D1re1co Pnvado, j. 22.03.2012, v.u.,
nssjm, criam o chamado "título executivo judici:il'', ~aucori7-'lndo sejam prarictdos dcccaninados
2. Cf. Capítulo 10, icem 10.4, acima. :uos jurisdicionais com vist:is à satisfação mari:rinL daquele direito tal qua.l reconhecido" {idem,
p.312-3 13).
CUMPRIMENTO DA SENT ENÇA ARBITRAI. 1 353
352 1 CURSO Dl!.ARBlTRAGEM

1 uer situação-imposição de obrigação de pagar, dar, fazer e não faz.er,_ ~á


aros coercicivos ou execut6rios para a satisfação material do provimento deferid
Em qub~ q 1con denatória considerada úcu1o executivo judicial, apto a perrnmr
indispensável a participação do Poder Judiciário. o, a ar 1tra ' 'd · e lhe
sencenÇo ao po d er Jud 'icia' rio diante da resistência do venci o em cum pnr O qu
A participação do Estado-Juiz, quando n ecessária, se fará de d iversas Forrn oaces S
. b' 1
tal qual se verifica na eferivação de uma sentença judicial, podendo ser por meio:: . . osto pelo JUÍZO ar ma . .
cumprimento, execução o u direramente por ordem do juízo. São, porém, cécni~ foi uri.p condenação contida na senten ça arb~t:al, _então, é an~lisada en:1 sentid o
de transformação da tu cela do plano teórico para o plano real. Vejamos estas divei·sas 1A_ 1.rop ostçao
· - de u ma obrigação cuJ·a ex1gencia de cumpnmenco .
exige poder
· d
situações. aillP?. Impertinente para tanto a aplicação de qualquer das teonas a respeito as
coerc1nvo.
sificaçóes das sentenças. . . • .
72. 2 . 7. Da materialização da sentença arbitral - considerações gerais elas . 1· ç~ao do comando contido no p rovimento, d iante da res1stcnc1a
E a matena 1za . - d « - d
necessárias à compreensão da posição adotada abaixo quanto .do será (salvo exceção ad iante indicada) por meto de açao e . ~xecuçao e
aos diversos conteúdos possíveis do provimento e forma de sva dovenc1 'b.tral" provocada por petição inicial, inclusive com os reqws1tos, no que
efetivação sentença ar 1 '
ber do art. 319 d o C PC/2015.
Considera-se título cxecucivo judicial a sentença arbirral condenatória. A ex.- cou ; atando-se de nova ação, para a triangularização processual (autor-exequen :e,
pressão se1ttença condenrttória, aqui representa qualquer provirnenco arbitral cujo . . -executado), necessária, evidentemente, a citação pessoal do ~evedor (e nao
conteúdo conrenhaa imposição do vencido de uma obrigação, em sentido abrangente, JUt?., r~u do advoaado constituído na arbitragem), pois sem esta nao se cornp\eca

contemplando, pois, as obrigações de pagar, dar, fazer e não fazer. na pess~a ·111pcdii1do a prática da atividade jurisd icional complementar buscada
0 processo, t
Ou seja, a referência da Lei à sentença arbitral condenatória, destina-se a identi- nesta ação. · · d' · 1
ficar o conceúdo da cutela cujo cu mp rimenro forçado , se necessário, se fará perante Al.' no ressuposto de que estamos diante de um título execut1v~ JU l~ta,
o Poder Judiciário. Não se quis referir à classificação da sentença {mandamental ou ias
t ,do ppor sentença arb itral condenatória (no senrido amplo aqui cons1de-
represen a . 1 · - bém por
condenatória, por exemplo) . . r,a ção d o processo J. udicial respecnvo rec ama a c1raçao cam -
rado) a maugu , . d . 51 5 K l o do
Neste sentido, com respeito às reses defendidas pelos processualiscas quanto à . - 1 al contida no parágrafo umco o ,trt. ai t. ,~ . '
força da expressa prev1sao eg
classificação das sen tenças, cada qual com sólidos fundamencos a aucorizar a opção CPC/201 5.6 .
por uma ou outra posição ao sabor da escolha, para se buscar o cumprimen co de uma C ompletada a relação processual na ação de execu~ã~ de sentença,attt~al: afo!n:_~
sentença arbitral, pouco impo rta se a obrigação de fazer e não fazer é mandamencal . . t'1sfaç<io do provimento contido na dec1sao dependera a o n gaçao
d e se ex1g1r asa "'
ou conden atória. 5 Também irrelevante tratar como cumprimento, ou execução. imposta (pagar quantia certa, fazer, não fazer e dar). .
Assim verificada o estabelecido na condenação (em sennd o am plo como ~e
5. A tutela m:rndamenrnl, para pane da dmmina, representa uma ordem judicial "cujo descum- d' e) o cu~ rim ento forçado da sentença se dará, conforme o caso, por _q~~ta
primcnro por quem a receba pode caracccrizar desobediência :t aucoridade esracaJ, possível tss ' . l . P Fazenda Pública 7 o u serão desencadeadas as prov1denc1as
de s:rnções, indusive de car:(ccr penal (o are. 330 do CP tipifica o crime de desobediência)" certa m e usive contra a ,
(WAMBIER, Lui~ Rodrigues; ALMEIDA. Flávio Rtna10 Correi:i de; TALAM1Nl. Eduardo, coer~itivas estabelecidas para dar coisa, fazer ou não fazer.
C11rs(I ,w,mç,11/o tle prnmso civil 8. cd. São Paulo: Ecl. KI: 2006. vol. 1, p. 142); idenrinca-sc
nesta categoria, então, a scncença proferida em mandado di.: segurança, e, pois, rot:tlmenre - - - -- -~ " p ui . Ed RT 2008) e José Manoel Arruda Alvim Netto, ~ara _quem_ "a
estran ha ao cenário arbirra.l {:idcmais, mosc:ra-se como exercício do cfpico poder de império Crw:. Execuçao. Sao a o. . • d d olvimcnto no direi to brasileiro, inclusive
mandamentalidade veio a comportar gran e esen~ 461" (ARRUDA ALVlM
do Esc:ido-Juiz). Porém, p:ir.i outros dourrin;idores, :i curcl~ 111andamental é o rcsulmdo de
1 islacivo, do que são exemplos, entre outros, o d,spos~o no art. :- aulo· Ed RT., 2008.
qualquer ação na qual se obtém pelá sentença uma ordem direm p:ir:i alguém ter clcrerminada ~TTO , José Manoel. Manual de direito proceJsual c1v1I. 12. ed. S.w p . .
conduta, sob pena de mulm ou ou eras sanções; se, com esrn feição, ter-se-á integrando ;1 c:i-
rcgoria dt rucda m:mdamcnraJ, na essência, a condcnaçiío ?! obrigação de fazer ou n:ío fo.cr, vol. 2 P· 653). , · d · · ' 1para
'. . , "A 51 5 ,e I o. Nos casos dos incisos VI a IX, o devedo r sera cita o n~ J.~11.0 cd1ve •
que, de acordo com a novasistcmlirica processual vigente a p.i rtir de 2006, nu coriza o manejo 6 . = sim: rt. ,~ · · . .d ~ de 15 {quinz.e) dtas , sen o que o
o cumprimento da sentença ou _para a ltqu1 açao no pra2 o
de cumprimento da scntenç:t pelo procedimento previsto nos ans. 475-1 de 46 1 e 461-A.
Entende ser mandamcnlal :1 senrcnça que impõe uma obrigt1ção espi.:dfica de fazer e não in c VII refere-se à sentença arbitral. . 4 .
7. Cf.· a respeito de arbitragem nos contratos com a administração pública o Capítulo 1 , item
fazer Dinamarco (DINAMARCO, Cándido Rangel. Ew:cução ci11il. 4. cd. ampl. São Paulo:
Ma.lhciros, 1994); cf., ainda, Marinoai (MARINON I, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio 14.5 adiante.
354 1 CURSO DE ARBITRAGEM CUMPRIMENTO DA SENTENÇA ARBITRAL 1 355

Dito de outra forma, a ação de execução de senrença arbiual inaugura o proce .. . i.-a diante da resistência do vencido em cumprir o que lhe foi estabelecido, o
judicial necessário para transformação no mundo real do estado das coisas, no caso ~so oróltl .<> do deve provocar o Poder Ju d.. , . por meio
1c1ano . de açao- de execi,,..ça-o at;
,J , ,.,.ev•ç·
se,••.. ,. 1~·
. ceressa . . 6
sentenças ar~ícrais impondo a ~b~igação de: pagaJ' determinado v~or, fazer, não raZ:: '°b· . t com base no tíruloexecutivojudicialfonnado (art. 3 l da Lei 9.307/1 99 e/e
at: ,tra , · ~ . d
ou dar, consideradas condenatortas no senndo amplo e para o efeuo estabelecido ti are, 515, VII, do CPC/2015).1racando-se de pro~~sso u:au;ura .o neste momento,
leis (are. 31 da Lei 9.307/1996; art. 515, VII, do CPC/2015-rirulo executivo judicialr :ra ativitlttd.eJurisdicional compfement-ar, necessaria a c1caçao pessoal do executado.
. . . Instaurada a ~ela.ção processual na a ão de execução de sentença arbitral, será pii da a relação processual, os aros subsequentes serão adorados de acordo com
7
mJC1ada uma sequencia de atos processuais previstos no Código Processual, depen-
forma . _ . . ~ . .
conteúdo da obngaçao cuJa sansfaçao se precen,de, seguindo as regras processuais
, .

dendo da forma aí prevista para se impor o cumprimento da obrigação estabelecida O


e,~pedficas para cad. a espec1e
, . de con denaçao.
. - lO . .
no juízo arbitral (pagar, fazer, não fazer e dar). E assim, no guecha mamos de ação deexecuçiio de sentença arbitral, 1naugw-ando
E assim, a legislação processual estabelece a maneira de se impor à efetivação da acesso à jurisdjção estatal, se fará o pertin.e ntc para a _materí.alização ~o decidido
0
sentença arbitral (cumprimento da sentença), em processo novo que, como tal, será, ~execução, cumprimemo, providências cone.idas nos art1~os acima refendas ecc.):.
em nosso sentir, de execução de sentença arbitral, cujo objeto é exigir coercitivamence Excepcionalmente, quando o provimento forexecuc1vo lrttosenstt, desnecessano
a condenação fixada, nos termos das regras específicas para cada espécie de cumpri-
aparelhar-se a execução de sentença arbitrai; porém, des~r0vido o juízo arbirral ~e coer-
mento, de acordo com o conteúdo condenatório da decisão. 8
dcividade, a força necessária pan se alcançar o cwnpnmento da sentença se fará por
Ocorre, porém, que existem provimentos qualificados pela doutrina como meio dé pedido de cooperação ao Poder Judiciário (carta arbitral-LA.rb. reformada
executivos lato sensu, para os quais o cumprimento forçado do comando contido na art. 22-C e art. 237, N, do CPC/2015) .
11
sentença se fuz, em razão do Direito Positivo, de uma forma específica e direta, como
Com estes esclarecimentos preliminares, vejamos agora mais detalhes do quanto
adiante se verá.
acima se quis dizer.
Nestes casos, também irrelevante discutir se a sentença executiva lato sensu
representa categoria autônoma ou se esta se contém na condenatória. Este debate 12.3. DA EFICÁCIA DA SENTENÇA ARBITRAL DECLARATÓRIA,
tem pertinência para discutir classificação da sentença, mas não para direcionar o CONSTITUTIVA OU EXECUTIVA LATO SENSU
cumprimento do provimento arbitral.
Isco porque a materialização da sentença cuja tutela seja executiva lato sensu, Na sentença declaratória, como o próprio nome sugere, há mera declaração de
considerada categoria autônoma ou contida como espécie do gênero condenatório, se um direito solucionando a dúvida que terá sido sobre ele instaurada; e, assim, será
faz da forma específica prevista na lei, como se verá, e não por meio de um "processo" pronunciada a existência ou inexistência de uma relação jurídica entre as partes.
ou fase própria, em que se desenvolvem diversos atos processuais. Situações comuns são aquelas em que se obtém a nulidade de uma cláusula
E pela sua característica, contendo em si uma força executiva, em nosso sentir, contratual ou mesmo de rodo o contrato, por um dos vícios reconhecidos no direito.
não se mostra necessária a instauração de uma ação de execução de sentença arbitral, Aliás, nesta classe, inclui-se também a invalidação da própria convenção arbitral, na
mas a realização do seu comando se faz por meio de pedido de cooperação ao Poder aplicação do princípio da lwmpetenz-kompetenz. Ou, em concraparrida, reconhece-se,
Judiciário instrumentalizado pela carta arbitral,9 como adiante se falará. e assim se declara, a perfeição de uma relação jurídica, como, por exemplo, de um
Enfim, e objetivamente: acordo de quoristas impugnado por um dos sócios.
Sentença arbitral condenatória, em sentido amplo, na adequada exec,ese do A sentença arbitral, neste contexto, será em si bastante para vincular as partes.
are. 31 da Lei de Arbitragem, é aquela que contém a imposição ao vencido uma de O comando declaratório nela contido se realiza automaticamente, nem necessidade
12
obrigação (pagar, dar, fazer ou não fazer). Desprovido o juízo arbitral de força co- de qualquer nova providência, ou de outra "atividade jurisdicional complementar" .

8. Na estrutura do CPC/2015, v. as normas previstas nos ares. 523, 524, VIII, 525, 497, 499, 10. Na estrutura do CPC/2015, v. as normas previstas nos ares. 523,524, VJII, 525,497,499,
500, 536, caput e§ 1.0 , 537, caput e§ 1.0 , 538, § 3.0 , 498,536, § 2. 0 , 538, caput e§ 3.0 , 534, 500,536, caput e§ l.º, 537, cap11te § 1.0 , 538, § 3.0 , 498,536, § 2. 0 , 538, caput e§ 3.º.
535e910. 11. Cf. Capítulo 10, item 10.4, acima. .
9. Cf. Capículo 10, icem 10.4, acima. 12. Adotando-se a fefü expressão ucilizada pelo Prof. Cás.~io Scarpinella Bueno na obra cnada.
356 1 CURSO DE ARBITRAGEM CUMPRIMENTO DA SENTENÇA ARBITRAL 1 357

Às partes, então, impõe-se a solução do conflito dada pdo árbitro (ou Tribunal em si mesmo para tornar útil o comando contido no pronunciamento, cudo estará
Arbitral) e passam elas a agir com base no status jurídico declarado na sentença. Con- resolvido com a só comunicação da sentença às partes. Mas se necessária a práti-
siderado nulo o contrato pelo julgamento arbitral, o instrumento não mais se opõe ca de atos materiais complementares, estes podem ser promovidos diretamente
aos contratantes e, assim, deles não se poderá exigir o cumprimento; de é retirado pelo árbitro, dispensada a intervenção judicial para obtenção do resultado útil
do mundo jurídico. De igual maneira se faz em rdação à cláusula com promissória, desejado pela natureza da cutela, pois aqui não se tratará de atividade coercitiva,
por exemplo, invalidada nesta sede arbitral: será tida como não escrita, desnecessário mas informativa.
qualquer outro ato para canto.
Assim, declarado nulo um compromisso particular de venda e compra que tenha
Situação idêntica a esta quanto à eficácia da sentença teremos com relação ao sido registrado no álbum imobiliário caberá a expedição de "carta de sentença" para
provimento arbitral constitutivo. Por intermédio dele, inaugura-se uma nova situação seu cancelamento, a ser expedido pelo próprio árbitro, objetivando a materialização
jurídica entre as partes, na forma determinada (criação, extinção ou modificação da da tutela deferida.
relação jurídica preexistente). Asencença estabelece o status jurídico que passa a reger
lmporcance observar, neste particular, o procedimento arbitral cujo objeto
a relação entre as partes.
(pedido) seja suprir a manifestação de vontade não emitida pela parte, por exem-
São exemplos de provimentos constitutivos: o resultado acolhendo a ação re-
plo, para outorga de escritura de venda e compra. Embora possa parecer que a
visionai de aluguel, renovatória da locação; a rescisão de um acordo de quotistas ou
sentença contenha a imposição de obrigação de fazer, em verdade, conforme seu
de um contrato (não o eventual impacto patrimonial daí decorrente, como multa,
conteúdo (e dependerá de como for decidida a questão) a sentença pode produzir
indenização etc.).
os efeitos da declaração não emitida (are. 501 do CPC/2015), ou do contrato
Enfim, cm ambas as si tuaçõcs narradas {tutela declaratória ou cu tela constitutiva),
que seria firmado e assim .será constitutiva, 13 dispensando ação de execução de
o provimento será em si bastante para se realizar entre as panes, sem necessidade de
sentença arbitrai.
outro aco ou providência, podendo entre os envolvidos ser exigido reciprocamente
eventual cumprimento da obrigação, se o caso, na forma decidida. Da mesma forma se fará com a adjudicação do imóvel, quando assim decidido,
buscadas como resultado a efetivação e a publicidade necessária da transferência
Assim, se passar a ser inadimplenteo inquilino, a execução do aluguel se fará com
imobiliária contida na sentença.
base no contrato inovado pela sentença arbitral, ou seja, com o valor novo arbitrado
em ação revisionai ou renovacória processada no juízo arbitral. Igualmente, prorro-
gado o contrato por arbitragem, descabe a denúncia vazia enquanto não vencido o 13. Cf. Luiz Rodrigues Wambier, Flávio Renato Correia de Almeida e Eduardo Tabmini,
novo termo estabelecido. Desfeito pela arbitragem o acordo de quotista, ou declarado assim escrevendo: "Parece mai.~ adequado reconhecer, como fa7. grande parcc da doucrina,
sua natureza de sentença constitutiva. É provimento que cria um novo estado jurídico,
nulo, o exercício dos direitos de voto dos sócios será realizado nos termos da situação
idealmente, independentemente de providências pdticas. Não se impõe uma prestação
jurídica anterior ao ajuste questionado. Ainda, considerada inválida uma cláusula para o réu - que é o que caracteriza as sentenças condenatória.~ e executivas latn se11su -.
de não concorrência, a parte vencedora está livre para exercer a atividade desejada; mas, sim uma sujeição. O réu simplesmente suportará os efeitos jurídicos advindos da
declarado nulo ou rescindido o contrato particular de venda e compra, o titular do sentença, nem tendo como oferecer-lhes resistência física ou material (ver distinção entre
domínio, se já na posse do bem, está prontamente liberado para ceder a plenitude de execução e sentença constitutiva, no capítulo 1). N:ío se nega, com i.~so, que o conteúdo
originário do dever do réu era uma prestaçfo (praticar a conduta consistente na emissão
seus direitos a terceiros. Enfim, nestas situações retratadas, nada mais precisará ser da declaração de vontade). Mas, com o inadimplemento, surgiu-lhe dever derivado de
feito fora do plano teórico para garantir na prática a eficácia do provimento arbitral. cunho potestativo (submeter-se a um novo estado jurídico). Passam a existir dois direitos
O quanto até agora se diz é a regra e comporta exceção. concorrentes, fenômeno amplamente conhecido, pelo qual, cumprido um deles, o outro
se extingue. Assim, se o réu, espontaneamente, antes do trânsito em julgado da sentença,
Mesmo eficaz de imediato aos envolvidos diretamente (contratantes), em dada emitir a declaração de vont:i.dc, fica prejudicada a produção de efeitos que se teria com
situação, de acordo com as suas particularidades, excepcionalmente pode acontecer a sentença pela mera razão de estes já terem sido atingidos. Deixe-se de lado a polêmica
de o provimento deferido reclamar alguma providência "externa" à própria vontade domrin:íria e ressalte-se o que h:í de essencial e é por quase todos reconhecido: não se trata
das partes, por vezes para dar a necessária publicidade ao ato. de processo de execução, de modo que lhe e: escr:i.nha tod:i. a disciplina que vem sendo até
aqui examin:i.<la" (WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de;
Se o mero reconhecimento do direi ro, e a declaração ou (des)conscicuição da TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil. 9. ed. rev. acuai. e ampl. São
relação jurídica for suficiente às necessidade do caso em concreto, ou seja, basear Paulo: Ed. RT, 2006/2007. vol. 2, p. 308-309).
CUMPRIMENTO DA SENTENÇA ARBITRAL 1 359
358 1 CURSO DE ARBITRAGEM

Daí porque ter sido acolhido enunciado na I Jornada Prevenção e Solução Ex-
Significa dizer que, peranceo regisuo de imóveis, a semen~aarbirral t~eficácia
trajudicial de Litígios, segundo o qual "9. A sentença arbitral é hábil para inscrição,
idêntica à sentença judicial, inclusive quando transfere doroímo, e o expediente a ser
14 arquivamento, anotação, averbação ou registro em 6rgãos de registros públicos,
uciJizado será similar àquele disponível ao julzo estacal.
independentemente de manifestação do Poder Judiciário". Lt!
Neste sentido, veja-se correta decisão da l .ª Vara de ~egistros Público~ ~e Sao
Paulo, com a segui me emema: "Juízo arbicr~l. Di~isão ~m1~~vel de c_o ~~omm10 pro Por sua vez, a sentença classificada como executiva lato sensu contém em po-
indiviso. Extinção. Carta de sentença. Qualificaçao reg1strana. Poss1bi11dade. ITBI. tencial a determinação de ato sub-rogatório da vontade da parte hesitante no seu
15 cumprimento espontâneo. Porém, não por meio de processo ou fase própria, como
Título. lnstrumenco público x privado".
se faz para as sentenças condenatórias e/ou mandamentais 19 em geral (are. 513 c/c
Colhe-se desta decisão: "Assim, da mesma forma que um formal de partilha; a
ares. 497 e 498 e art. a 538, § 3°, do CPC/2015 - respectivamente fazer e não fazer,
carta de adjudicação expedida em processo expropriatório; a carta de arrematação; a
carcadesentençaexpedidaem processo de separação judicial o u umacarcadeseocença entrega de coisa, e pagamento de dinheiro), mas diretamente; e daí sua qualificação
já como executiva por si só, prescindindo de novas e diversas atividades jurisdicionais
em processo de divisão, a 'carta de sentenç~ expedi~ª pe~o jufr.? arb~~:al, tem fo rça
para acessar o fólio real, conquistando a devida qual rficaçao regtscrána . complementares, daquelas próprias das condenações referidas nas quais vários atos são
praticados. Será uma providência específica, prevista na lei, a ser determinada pelo
Com o mesmo raciocínio, pod,mi. ser e.xpedido ofício pelo árbitro a qualquer
juiz para a materialização do provimento.
ó rgão público de registro de propriedade de bens móveis, como por exemplo, Detran,
• d 16 Descumprida a sentença, por ordem própria do juiz com força para tanto, se
quando não bastar a apresentação de sentença pela parte interessa a.
Nestes casos, repita-se, não há coerção ou execução forç.ada, mas apenas comu- realiza a determinação nela contida. Há implícita autoriza.ção para executar (autoe-
nicação, o u formalização para se alterara estado de uma relaçãoj u rfdica, não possível xecutividade), ou melhor, para impor a transformação no mundo dos fatos para se
17 obrer o resultado prático objeto do provimento contido na decisão, pois a lei assim
de obtenção pela in iciativa direta das parres.
determina, ou seja, a lei própria de regência da matéria de fundo, expressamente
estabelece esta consequência diante da resistência do vencido.
':º
14. Cf., a rc::spcíco, Eduardo Pacheco Souza: "Com efeito, ?ã~ há co~o ne~~ o ing'.-esso ~ólí? real ddas
E, nesta categoria, encontram-se as ações cujo pedido seja a reintegração de
sentenças arbitrais que decidam questões referentes a dire1cos pammornais relativos a 1move1~. Ten o
e produzindo os mesmos efeitos da sentença judicial, ~ão_ ~ode s~r vedado o acesso ao r~gistro ~as posse e despejo.
sentenças arbitra.is"(...) "Equiparada à carta de sentença Jud1c1al, elita a ~ta de sent~~ça :t'b1tr~, ass1~
como aquela e todo e qualquer tftulo apresentado a registro (cm ~cnudo ~ato),}uJe1ra a qual1~caçao
Percebe-se destes provimentos, sem dúvida, uma condenação em sentido amplo,
registrai. Vale a advertência de Álvaro Pinto de Arruda, ao se refenr_à qualifica'.?? d?s títulos: ~?dos na medida em que se impõe pela sentença uma determinada conduta ao vencido (en-
eles estão sujeitos à obediência aos mesmoo prindpíos e ao cum~r'. mento de 1dent1~s cautela.~ (...)
"Merecendo O átulo (carta de sentença arbitral) qualificação posmva, o ato será prattcado, cabendo
ressaltar que ao registrados não se permite ingressar no mérito da ~são ~bi~~ quando do exame"· do autor. Mas na prática, diante de eventual resistência do destinatário da "ordem" arbitral,
Aind.1 , diz O autor: "O título a ser apresentado ao serviço de registro de 1move1s deve ser a carta de deixa o juízo arbitral inerte, pois lhe fulta a coercitividade. Assim, se houver, definitivamente,
sentença, pois os demais dculos judiciais (formais d.e parálha, certidões e mandados) não P?de~ s~r a recusa ao cumprimento, poderá ser buscada a cooperação do Poder Judiciário, antes, na
1 amplitude da exegese do are. 22, § 4. 0 (revogado pela Lei 13.129/2015), agora através de carta
expedidos pelos árbitros. Não têm os ,irbítros poder para: extrair i:nandad~s, que são or~ens Jud1~ a.1s;
certidões, que são atos administrativos, ou seja, emanam do serviço p~h(ico; ou for~a1s de parnlh~ arbitral, na forma a seguir apresentada para as outras categorias diversas do cltmprimento de
que decorrem de inventário judicial" (SOUZA, Eduardo Pacheco Ribeiro de. Noçoesfimdamentais m!tença. Ai~d_a, e será circunstancial, dependendo da situação, a resistência de um órgão pú-
blico ao dec1d1do pelo juíio arbitral pode até ensejar a impetração de Mandado de Segurança.
tÚ direiro registml e notarial São Paulo: Saraiva, 201 l. p. 263-265). .
Confi~am-se, a respeit?, i?úmcr~s decisões sobre liberação de FGTS no Julzo Arbitral, quando
J5. Procedimento Administrativo de Dúvida Regiscral n. 000.05.032549-3, São Paulo, J·
se ~eali:iava com frequenc1a a arbmagem trabalhista, hoje obstada por decisõe~ do TST (veja-se
06.06.2005. adiante Capírulo 14 -Arbitragem Temática); confiram-se, dentre outros no STJ, os seguintes
16. Veja-se, por exempln, que perante a Junca ~omercial, i.:m rcse, deve _ser coJ1Sideracla s~~ficícntt>)' precedentes: REsp 777.906/BA, REsp 778.154/BA, REsp 756.501/BA, REsp 707.765/BA,
a çntrcga, pelo i_meressado da sentença arbitral (e documem~s pcmn~ntes ~o proce_duu:11tO REsp 707043/BA, REsp 635156/BA. REsp 676436/BA, REsp 637055/BA, REsp 635156/
na qual se decidiu ~tlgumn questão relativn ao contraco soctal (mod1ficaçao/ínvahdaça? de BA. RE.sp 706942/BA e REsp 676346/BA.
31
cláusula, de a.Iteração etc.). M:i:.~ não se vé óbice para o próprio árbitro (ou Tribunal), ~6a:tr
18. Promovida entre 22 e 23 de agosto de 2016 pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho
Junta com a finalidade de sei: observado o quanto decidido a respeito do conrrarn ~oc1al.
da Justiça Feder-ai. Cf em "Anexo 7" o texto integral dos enunciado~ aprovados.
17. Como diversas questões em arbícragem, o cumprimento de uma senten~a a~bn_ral, nes~a
19. Conforme a posição doutrinária que se adore.
oir11~rfo "n~o condenatória", é matéria muito nova, e aqui se apresenta a pr1me1ra unprcssao
--- 360 1 CURSO DE ARBITRAGEM CUMPRIMENTO DA SENTENÇA ARBITRAL 1 361

tregar o imóvel). 20 Porém, e muito importante: a forma de se exigir o cumprimento Oiro de outra forma, não se leva ao judiciário uma sentença enquanto título
forçado pela resistência do vencido se faz de acordo com a lei específica - ou seja, de el{ccutivo judicial, para instauração de uma relação jurídica processual na qual uma
forma direta: mandado de desocupação ou de reintegração, inclusive com o apoio série de atos processuais será desencadeada de acordo com a necessidade e conteúdo
policial, se necessário, e não pelas providências previstas nos artigos da legislação da obrigação descumprida.
processual ames referida (cumprimento de sentença). Quando a lei assim estabelece, a imposição do cumprimento de um provimen-
Pela natureza da tutela já se contém a aptidão de interferir diretamente no mun- to executivo lato sensu, se faz na forma prevista no Direito Positivo que lhe deu esta
do empírico, mas, sem dúvida, a "força" necessária para tanto é exclusiva do Poder característica, com uma providência específica decorrente da resistência do vencido;
Judiciário. Nesta medida, os atos de apoio para realização da tutela serão manejados desocupação forçada ou reintegração na posse, inclusive com força policial. E des-
perante o Juízo estatal. provido o árbitro da necessária coercitividade, a força para se impor o efeito inerente
à sen rença busca-se na cooperação do Judici.ário através da carta arb itrai.
E o pedido de cooperação do juízo estacai, neste caso já se poderia fazer com
base na amplitude do§ 4.0 do are. 22 (revogado pela Lei 13.129/2015) da Lei de 12.4. DA EXECUÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL CONDENATÓRIAAO
Arbitragem e não por meio de processo próprio de execução ou cumprimenco para se PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA EM DINHEIRO
alcançar o resultado, até porque não se terá um "título executivo". Com a reformada
Lei de Arbitragem, e pelo Código de Processo Civil, como visco, há a introdução da Tratando-sede sentença judicial condenatória, promove-se o seu cumprimento
carta arbitral para se efetivar o provimento em questão. em uma nova fase processual, pela qual, feita a atualização por meio de cálculo arit-
mético, o credor requer a intimação do devedor, na pessoa de seu advogado, para o
Dito de outra forma, como o juízo arbitral não cem poder de efetivar na prá-
rcspectívo pagamento, instruindo o pedido com a memória discriminada da conta
tica, por exemplo, a desocupação ou reintegração de um imóvel, para realizar a sua
(ares. 509 e 524 do CPC/2015).
sentença com este conteúdo (para a qual também não cabem as técnicas previstas
Porém, decidido o conAito no juízo arbitral, o pedido de cumprimento da sen-
nos artigos relativos ao cumprimento ou execução de sentença com base em título
tença deve ser manejado por intermédio da instauração de um novo processo, e não
executivo judicial), o árbitro solicita ao juiz togado que promova os atos materiais
apenas em jizse processu,tl, perante o juízo escacai; ou seja, de posse da sentença arbitral
de efetivação da ordem, tal qual se faz no cumprimento de cutelas de urgência ou
condenatória de obrigação de pagarquantiacerca, necessária a iniciativa do exequente
cautelares (intervenção judicial com atos de apoio à arbitragem).
para inaugurar uma nova relação processual (exequence, executado e juiz togado), di-
Nestes casos, haverá, sim, uma atívídadejurisdícíonttÍ complementar, provocada versa daquela havida na arbitragem (requerente, requerido e árbitro), bem como exige
pelo árbitro, no âmbito de suas atribuições, mas realizada pelo juízo estatal no regi- a citação - não se trata de mera intimação- do executado para integrar o processo.
me de cooperação (carta arbitral). As providências materiais para o resultado útil, na Como processo novo perante o Poder Judiciário, a "petição inicial" deverá
prática, do comando comido na sentença se farão por solicitação arbitral, mas sob a conter os requisitos que lhes são pnípríos, bem como deverá estar acompanhada
autoridade judicial. · do título executivo e dos documentos comprobatórios de sua legalidade,"' além do
Não será, repica-se, um novo processo, agora judicial, de cumprimento de demonstrativo do débito atualizado. E deverá ser promovida esta execução perante o
sentença condenatóri,t em geral, cuja forma de instauração se verá adiante, e no juízo que seria competente para a ação de conhecimento originária (art. 5 J6, JII, do
qual se desencadeia uma série de medidas coercitivas, mas sim a materialização CPC/2015, com a opção prevista em seu parágrafo único:!1).
direta da sentença executiva lato sensu, por carta arbitral, cuja narnreza e caracte-
rísticas, dispensam a formação do procedimento próprio de execução de sentença 21. Cf. a respeito, Capítulo 11, item 11.7 supra.
arbitral considerada título judicial. Embora o resultado seja o mesmo, concretizar 22. Assi.m: "P;ir:igr:ifo único. Nas hipóreses dos incisos Il e Ili, o exequente podertl oprnr pel0
o comando contido na sentença arbitral, a técnica de sujeição do vencido, mas juízo do arual domiciliu do execur:ido, pelo juí1,o do l()ca] Oll(je se cncoatrcm os bens sujeitos
desobediente, é totalmente diverso. à execução ou pelo juízo do local onde dcvn st:r executnda n obrigJção de fazer oudt não fozcr,
c:isos em que a reméSsa do~ auros do proc<!sso sed solkimda :ro jufw de origem". Embora à
luz da legislação processual revogada. e cm matéria crabalhisra, vale a rt:furência para. reflexão
20. Daí por que, como referido, alguns aurores rejeitam o reconhecimento desta t:ategoría da ao seguinte precedente: "Conciliação firmada pemme Câmara Arbin:tl. Nacur<!'1A1 de título
senrença como autônoma, cra.ra.ndo-a simplesmente como condenatória, porém com forma t:xecmivo. Execução na Jus.tiça do Trabalho. A Emenda Constitucional 45/20'04, ao alterar o
diferenciada para se promover o seu cumprimento forçado. are. l 14 da CF, ampliou a competencia material da Justiça obn::íra, possihilicando o ajui1.amenco
362 1 CURSO DE ARBITRAGEM
CUMPRIMENTO DA SENTENÇA AR131TRAJ. 1 3 63

Distribtúda a petição inicial e eirado o devedor, a execução da sentença arbitral Verificam-se, porém, particularidades: A primeira se refere à consequência de
segue o procedimento escaruído no diploma processual civil, notadamen te em relaça.o ter sido estabelecido pelo árbitro prazo para cumprimento d a condenação diverso
~1 Buência do p razo para cumprimento espontâneo-a partir da ciência pclacicação-e daquele con tido n o are. 523 do CPC/2015 (15 dias). A segunda é relativa à influência
à incidência da multa, em caso de descumprimento. da eventual multa fixada na própria sentença arbitral para o seu cumprimento, em
Nesse sentido, veja-se recente precedente da Corte Especial do SuperiorTribunal razão do que a respeito também trata o artigo referido da lei processual. A terceira se
de Jusri.ça cm julgamento de recurso repetitivo, noticiado em J 5.07.2015, no q ual se relaciona com a eventual possibilidade de intimação do executado para cumprir a
fixou a seguinte tese: "No âmbi co do cumprimento de sen tença arbitral condenatória sentença na pessoa do advogado que o patrocinou na arbitragem.
de prestação pecuniária, a mu lta de 10% (dez por cento) do artigo 475-J do C PC Para quaisquer destas questões, deve-se ter presente que a Lei de Arbitragem é
deverá incidir se o executado não proceder ao pagamento espon râneo no prazo de 15 anterior à reforma processual que introduziu estas novidades na fase d e ct1mprimento
(quinze) dias contados da juntada do mandado de citação devidamence cumprido da sentença (inclusive as comidas no C PC/ 1973 por modificações mais recentes, in-
aos autos (em caso de título executivo contendo quanria l!quida) ou da intimação do t~oduz_idas pela Lei 11.232/2005) e, assim, o que na lei se continha guardava perfeica
devedor, na pessoa de seu advogado, mediante publicação na imprensa oficial (em s1mecna co m o processo de execução de então. Daí porque agora se buscar a interpre-
havendo prévia liquidação da obrigação certi fi cada pelo juízo arbirral)". 23 tação mais harmônica entre a inovações p rocessuais e a Lei de Arbitragem, tanto na.~
Dessa fo rma, em resumo, a fase inicial do cumprirnenco da sentença arbitral observações acima e como naquelas adiante tratadas, todas resultantes exatamente
que conde11a em obrigação de pagar quantia certa requer (a) a iniciativa do credor da modificação legislativa de 2005 .
("exequente") para inaugurar a rdação processual executiva, perante o Poder Judici-
12. 4.1. Prazo para cumprimento da sentença
ário; e (b) a citação do devedor ("executado") para, no praw de quinze dias, cumprir
volwrnuiamenre a sen tença arbirral, sob pena de iocidênciada multa de dez por cento Pela Lei de Arbitragem (art. 26, Ill), o árbitro poderá fixar prazo para o cumpri-
sobre o valor exequendo (e também honorários de advogado de 10% pelo arr. 523, mento _d a decisão; a seu turno, a legislação p rocessual concede o prazo de 15 d ias para
§ 1. 0 , do CPC/2015). Em caso de não atendimento do comando sentenciai a que foi cumpnmemo dacondenação sem encargos (art. 523 do CPC/2015). Pois bem, para o
citado,seráexpedidomandadodcpcnhoracavaliação(art. 523, § 3.o,doCPC/201 5). cumprimcnto da decisão, sem as sanções processuais previstas para a fase de execução,
considera-se o prazo estabelecido na sentença arbitral ou no C ódigo de Processo C ivil ?
de :tç.'io exccuciva de títulos eX'lrnjudidais ~tlém daqueles cxpressamcnce previstos no :m. 876 da Entendemos que são prazos distintos, e ambos devem ser observados, convivendo
CLT. N:io h~ mais que se falar que o a.rt. 876 celcrisc:t :tprcscnrn rol lax:ttivo (m,merus cl111ms). em harmonia. Pelas características do procedimento arbitral, dentre elas celeridade e
Quanto :teste tema. prevalece :t aplicaç.'io subsidi:í.ri:1 do CPC, que: dispõe que a semcnç:i arbitral expectativa de cumprim ento espontâneo, ao lad o de então, em 1996, ser norma com
consticui tíwlo exccurivo (a.rcs. 475-N, !V, e 585, VIII [do CPC/ 1973, correspondemcs aos
:ms. 515. VII e 784, Xll, do CPC/20151). Se o cxequenre não quesúon:i a v:ilidade da avença ~ro_veitosas previsões seguind o modelos internacionais, previu-se a possibilidade d o
rcalii:tda pcranrc a Càm:trn Arbitral nem suscim qun.lqu..:r vício de consentimento, cem <lire1to arburo estabelecer o prazo para cumprimento da condenação, até porque, por vezes,
legítimo de preLcnder :1 execttç.'io dcslc rímlo cxccucivo n:,. Justiça cio Trabalho, seara compecente pela sua complexidade ou vulto, a pronta exigência poderá ser toralmenre despro-
p:ira processar e julgar m:m:ria peranencc à rcl:ição de emprego (arl. 877-A da CLT)" (TRT-2. • positada. Assi m, o prazo d e colcrâncía, por lei deixado ao criterioso bo m-senso do
Rcg., RO 00 J 1620093 1902003/SP, 4." ·1.:, j. 17. 1 1.2009, v.11., rei. Dt-s. Sergio Winnik).
árbitro, representa um benefício destinado ao vencido, H quiçá até para viabilizar o
23. Rfap. 1. 102.460/Rj, Corte Espcci:1.l, Rei. Min. Marco Buzzi, j.l7.06.1015, v.u.; cf. lhctp://ww,v. c1unprimento espontâneo.
sLj.jus.br/si1es/STJ/dcfault/pc_BR/notici:is/notici:1s/Mulc:1-por-1i%C3%A3o-p:1.game1iro-de-
-conden:1%C3%A7%C3%A.3o-cm-l 5~dias-r:1rnb%C3%A9111-sc-aplica-em-senten%C3%A7:i-
-arhitr:11l: Acesso em: 17.07.2015. E as5im também já se manifosrav:t Rodrigo G:1rci:1 da 24. Em precedentes principalmente de primeiro grau e escritos, encontra-se a tese de concessão
Fonseca, para quem "Ainda que iniciada mediante cicnçõo, :1. partir d:1. imcgraçú.o dC> réu no de parcelamento da dívida prevista para a ext:cução de cítulo e;: xrrajudicial c:imbém :io cumpri-
fe ito, se.d esta cxec;-ução cm rudo e por tudo assemelhada à execução (ou cumprimento) de mento da sentença, por considerar aq uela regra de aplicação .subsidiária a este procedimento.
sentença judicial, não havendo motivo para se pretender aplicar qualqul'.r ou1ra modificaç.'io de H ~i, pois, neste caso, pra'l.O de "tolcrânci:1'' para viabilizar o cumprimento d:1 obrignção. Ponlm,
procedimento. Assim, confonm: oarr. 475-J do CPC [de 1973], incroduziclo pela mcncionad:t nosso.sTribun:iis têm sido menos benevolentes com o devedor. T:imbém cm no~~a vivência no
pela Lei 11.232/2005, correra prazo de quinze dias para pagamento, sob pcn:i de mu.lra de contencioso de família, j.í tivemos a oportunidade de ver decisão em execução de alimentos
10%, a penhora de bens podcr-.í ser feira mediante indicnç.'io pelo credor, e assim por diante" nus quais o julgador afasra :1 defesa do devedo r, por~m. pd:is circunsrfrncias, acolhe a proposca
(Ponseca, Rodrigo Garci:1.. Da :irbicr:igem e reforma processual da execução. Re11ittJ1 de llrbi- de ~ag:imcnco parcelado por ele oferecida (ou seja, com prazo deferido para cumprimento da
. · · --·· · ~ ,••1:,.,..,,. n 1& ""º IV São Paulo: Ed. RT, jul.-ser. 2007. p. 43). obng:ição), mesmo sem previs:io leg:il. E só se d..:scumprido o pagamento na form:i esrabclc-
364 1 CURSO DE ARBITRAGEM CUMPRIMENTO DA SENTENÇA ARBITRAL 1 365

Sem o decurso deste prazo, a sentença é, ainda, inexequível. O título, embora sentença não deve ser considerada como termo inicial do período para atendimento
"judicial", não poderá ser exigido até o dies rermini para atendimento espontâneo da condenação sem sanção pecuniária.26
da condenação. E assim, prematura a sua execução, se promovida durante o período
estabelecido, pois por direito reconhecido na sentença, o devedor poderá aproveitar J2.4.2. Polêmica a respeito da multa pelo não cumprimento da sentença
de todo o tempo previsto para promover o cumprimento da obrigação. Proposta a No que diz respeito à segunda particularidade da execução de sentença arbitral,
execução antes do dies ad quem, esta haverá de ser rejeitada de ofício, imediatamente cumpre desvendar se o árbitro pode estabelecer, na sentença, multa em caso de seu
ou por provocação do executado até mesmo por simples petição, sem qualquer outra descumprimento e, se assim o fizer, qual a influência dessa determinação sobre a
formalidade. Oiro de oucra forma, o título ainda é inexigívd e, como tal, ficará com- multa de que trata a legislação processual (art. 523, § 1.0 , do CPC/2015, incluída
prometida a iniciativa de se requerer judicialmente o seu cumprimento, justificando-se neste também a responsabilidade por honorários de 10%). Prevalece a multa fixada na
a imediara extinção do processo.
sentença arbitral ou a aquela do diploma processual? Há cumulação das duas multas?
Transcorrido o prazo para se honrar a obrigação prevista na sentença arbitral,
Segundo nosso pensamento, em determinadas circunstâncias e em caráter
nasce ao credor a prerrogativa de provocar a jurisdição estatal para satisfação de seu
excepcional (adiante analisadas), pode o árbitro impor ao vencido mulca para a
direito (novamente se antes já assim fez e à época restou frustrado o pedido pela
hipótese de inadimplemento do comando contido na sentença. Utilizando o mesmo
inexigíbilidade do título). Seguindo o are. 515, § 1. 0 , do CPC/2015, o devedor será
raciocínio apresentado quanto ao prazo para cumprimento da condenação, para
eirado para a execução. E agora, formada a relação processual, terá o executado 15 dias
nós, são multas distintas e, desta forma, possível a dupla incidência, cada qual em
para o cumprimento da obrigação, sob pena de lhe ser imposta a sanção processual
uma circunstância.
prevista no are. are. 523 e sell § 1. 0 , do CPC/2015.
A multa eventualmcn te estabelecida na arbitragem se comerá na decisão e, assim,
Haverá, pois, um novo prazo. Este benefício, agora, é processual, independente
integrará a condenação. Fará parte do título executivo, na forma e condições então
do quanto se decidiu na sentença. E ultrapassado o período, a lei impõe a sanção,
estabelecidas. Seria como a multa prevista em um contraco para o caso de inadim-
cerra e única, sem margem ao julgador para qualquer modificação.
plemento; também aqui se contém no "título" e deverá ser objeto da condenação.
São prazos distintos, para diferentes situações, com consequências diversas. E Ainda, sua imposição é facultativa (salvo se de outra forma constar em contrato) e
desta forma, ambas as previsões convivem. O vencido terá o prazo estabelecido na acé excepcional. E assim, o título judicial é "intocável" neste particular e como cal
sentença arbitral para cumprimento espontâneo da condenação, sob pena de, não o pode ser exigido.
fazendo, autorizara execução forçada. Provocada a jurisdição estatal, o devedor, citado,
Já a multa prevista para o não cumprimento da sentença no prazo legal não faz
terá IS dias para pagar a dívida (e não mais espontaneamente, pois na verdade já se
parte da condenação, como obrigação acessória (e a termo), nem tampouco integra
está em fase de jurisdição coercitiva). Permanecendo inerte, ou criando embaraços,
o cículo executivo. É imposta por lei e, assim, deve ser exigida de ofício pelo Juiz, in-
além de se expor ao ius imperium e aos aros coercitivos para satisfação do débito,
dependentemente do que no título executivo se con rém. A sua imposição a posteriori,
ainda responde pela multa legal. 25
nesta fase jLtdicial instaurada, é obrigatória ao juiz da execução. 27
Por fim, advirta-se que a multa só incide após o prazo de quinze dias da citação
do executado no processo de cumprimento de sentença. Lembre-se que o prazo, pela
nova legislação, conta-se em dias úteis (art. 219 do CPC/20 IS). A comunicação da 26. Ainda, na vigência do Código de 1973, confira-se a polêmica a respeito do termo inicial de
incidência da mulca decorrente do incumprimento de sentença judicial, sustentando alguns
considerá-lo automático. Nossa posição é no sentido <le ser indispensável a intimação do
cida, haveria o prosseguimento da execução com a ~anção maior: prisão do devedor. Assim, devedor, na pe.~soa do advogado, para a incidência da sanção processual, adotando a cese no
este henefício ao vencido prcvisco na Lei de Arbitragem, e em outras normas, como adiante momenro predominante no STJ (REsp 940.274/MS. Corte Especial, j.07.04.201 O, Min. João
se verá, por vezes se concede até mesmo sem Lei, mas pelas circunstâncias. Otávio de Noronha, D} 31.05.2010). E nesra linha, pda redação do are. 523 do Código de
25. Em sentido contrário, Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenharr defendem que ''o 20 l S. parece esrar clara a incidência da multa apenas quando decorrido o prazo da intimação.
prazo de quinze dias para o cumprimento voluntário da sentença, estipulado no art. 475-J, não Se assim é para o cumprimenro da sentença judicial, por iguais razões, lá expostas, também
se aplica à sentença arbitral", pois "conforme estabelece o arr. 26, 111, da Lei de Arbitragem, será para o cumprimenro da sentença arbitral.
cabe aos árbitros estabelecer o prazo cm que a sentença arbitral deve ser cumpüda, nfio prcv:1- 27. Como diz Rodrigo Garcia da fonseca, se referindo à multa do are. 475-J em questão: "A multa,
lecendo, assim, o prazo legal de quinze dias" (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHAR'J: por sinal, foi estabelecida por lei, e in<lepende de pedido da parte ou disposição na sentença
Sérgio Cruz. Execução. São Paulo: Ed. RT, 2008. p. 417). excquenda" (FONSECA, Rodrigo Garcia. Op. cit., p. 43).
366 1 CURSO DE ARBITRAGEM CUMPRIMENTO DA SENTENÇA ARBITRAL 1 367

Uma sanção resulta da condenação pelo árbitro, nos limites de sua jurisdição parece haver, sim, por equívoco do árbitro, identidade de sanção (no pressuposto
que lhe foi outorgada para a fase de coohecimcnto. A outra é cogente ao juiz escacai, de que inexistiu autorização na convenção para cal condenação), e apenas uma vez
no exercício de sua jurisdição com força coercitiva nesta situação. deverá incidir o percentual, pois, aparentemente, na sentença arbitral se quis unica-
mente confirmar a incidência da sanção processual (quem sabe para evitar a isenção
Embora o fato gerador de uma e de outra multa, em última análise, seja comum:
decorrente da interpretação de alguns quanto à inaplicabilidade da multa no caso de
a inércia do vencido em cumprir a sentença arbitral, para a primeira causa de sanção,
execução de sentença arbitral), embora, como dito acima, entendemos que ao árbi cro
sua incidência, e exigibilidade, se deve à falta de cumprimento espontâneo no prazo
é vedado dispor sobre a sanção processual decorrente da execução forçada, por faltar-
estabelecido pdo árbitro.Já a segw1da pena (processual), se impõe por cer o vencido,
-se jurisdição para tanto. 3íl
além de deixar de cumprir em tempo a obrigação, ensejar a execução forçada, na
qual, mesmo com nova opo rtunidade, opta porsesubmeteràsprovidêocias judiciais
28 12.4.3. A citação pessoal do executado e prosseguimento do processo
inclusive com intervenção em seu pacrimônio.
Na verdade, o debate de maior complexidade sobre a multa é outro, qual seja: no Não se pode, na execução da sentença arbitral, intimar-se o devedor para honrar
âmbico de sua atividade jurisdicional (limitada à convenção de arbitragem), existe a a obrigação estabelecida na sentença condenatória na pessoa de seu advogado, como
possibil idade d e o árbitro impor multa para o caso de descum primemo da obrigação?· se faz no cumprimento de sentença judicial. A citação deve ser pessoal do executado.
E assim se q Ltestiona, pois ao juízo arbitral, despid.o dos poderes de execução forçada Primeiramente, o patrono que representou o executado na arbitragem não
(privativa do juízo estatal), cercamente 111ão cabe impor punjção processual decorrente possuí, só por esta qualidade, poderes de representação na execução perante o Poder
do prosseguimento do cumprimento d a sentença, atribuição esta exclusiva do juiz Judiciário, pois se trata de nova relação processual, a exigir nova outorga de mandato.
escacai, e, assim, só lhe competirá tratar d.a sanção autônoma a constar da sentença O mandato outorgado ao advogado para patrocinar a parte na arbitragem se
arbitral se as partes convencionaram desta forma. 29 Registre-se, porém, que uma vez esgota com o término da arbitragem, salvo eventual disposição expressa em con rrário.11
prevista a multa na execução forçada e no limite que entendeu o legislador razoável E aquele mandato, pelas restrições a ele inerentes, por si só, e se nada específico exiscir,
(10%), caberá ao árbitro acuar com extrema prudência, ponderação e razoabilidade não outorga poderes para além da atuação no procedimento arbitral.
na fixação de outra multa, quando assim possível (v.g., previsão na convenção), pois
Além disso, como se trata de relação processual originada perante o juízo estatal
esta sanção deve ser instrumento útil para se estimular o cumprimento espontâneo
- e não, simplesmente, de continuidade do mesmo processo, em nova fase como é
da obrigação, e não um perverso e injusto meio de onerar excessivamente o devedor.
Sob outra perspectiva, se a sentença arbitral simplesmente fixar a "multa de 10%
30. Nesta linha, para se evitar dúvidas de inrerpretação nocivas a ambas as partes, e como temos
sobre o valor da condenação caso não cumprida a obrigação no prazo de 15 dias",
feito em diversas situações, convém se tenha clareza na sentença arbitral a respeito desta questão
e, assim, nesta fazer constar, expressamente, por exemplo, que, dianre do não cumprimento,
28. Neste sentido, cf. Lui:t Anronio Scavone Junior: ''Conclui-se que, além da cláusula penal ''a rnulra devida será aquela prevista para a execução forçada e nas condições estahelecidas na
de nacureza macerial e independentemenre dela, surge a vertente chíusula penal processual, norma processual (art. 523, § 1.0 , <lo CPC/2015)", ou, "para o caso de ser necessária a execução
com exclusivo caráter inibitório, de reforço da sentença. Posta assim a questão. em resumo, a forçada, incide exclusivamente a multa prevista na legislação processual''. E, se e quando possível
multa de dez por cento pela inexecução das senrenças líquidas é instiruco análogo às asrreintes, outra mulra, caberá ao ;\rbicro a devida distinção entre ambas. Em outras palavras, permitidas
cumprindo função de reforço sentenciai que cumula com a cláusula penal porventura exiscente em situações específicas a dupla incidência da sanção (uma prevista na convenção arbitral ou
na obrigação sem que se trate de hís in idem'' (SCAVONE JUNIOR, Luiz Antonio. Op. cit., termo de arbicragem, para ser fixada na sentença, e outra a ser estabelecida na execução, por
força da lei processual), cabe ao árbírro especifi<.:ar, em sua decisão, se a mulra por ele imposta
p. 150).
na condenação é diversa daquela própria do cumprimento da sentença ou se apenas esta última
29. Por exemplo, na convenção arbitral, ou no termo de arbitragem, pode constar a faculdade ao
incidirá (apenas confirmando, nesta hipótese, a oportuna aplicação da sanção processual em
árbitro dé, pelas ci rcu.nstância:s, .:stabelecer multa ao vencido se niio cumprir espo nc:1111.'a11_1cnre
a co ndenação. o mesmo oco rrendo com aco rdo homologado pelo árbirm elev:ido à qu.:tl1dacle exame pelo juízo estatal).
de r.ítulo executivo judicial. Esca sanç:io, assim , incide )ndepcn <lcnce da mu i.ta processual pre- 31. A procuração outorgada ao advogado no procedimento arbitral precisaria ter poderes expressos
vista par:io cumprimento da se.ncença (p revistas no arr. 475-J do CPC/1973, ou no art. 523, e específicos para o pacrono receber citação na execução judicial, sendo o mandato genérico
§ 1.0 , do CPC/2015. A seu turno, mesmo quc oucorgados podcrcs pelas pam::s ao árbitro p~ra (para acuar em processos e procedimentos cm fuvor do cliente) insuficiente para na pessoa do
001 advogado se realizar o chamamento inicial do executado quando se rratac de cumprimento
cracar desta pw1ição exclusiva da fusc de exccuç.:'io, a cli.~posição contratual não se presta ao
desejado, po r Faltar ao árbitro :1 jurisdição para rn nco (ausente nrbirn1.bilidad.e objedv:i. quanco de sentença arbicraJ. Exiscindo poderes especiais, também não seria intimação na pessoa do
advogado, mas cítaçíio na pessoa do procurador habilitado para tanto.
à matéria).
368 1 CURSO OE ARBITRAGEM CUMPRIMENTO DA SENTENÇA ARBITRAL 1 369 l
para o cumprimento da sentença judicial-, faz-se necessária, pela própria lei instru- CPC/2015); e sua apresentação não impede o prosseguimento dos atos pertinentes
mental (are. 515, § 1. 0 , do CPC/2015), a citação pessoal do executado, como forma ao cumprimento da sentença, sendo excepcional o deferimento pelo juiz de efeito
de integrá-lo à relação processual executiva.32 A ausência de citação pessoal ou a sua suspensivo (are. 525, § 6. 0 , do CPC/2015).
substitujção por intimação na pessoa do advogado inquina o processo de execução A principal questão no que diz respeito à defesa na execução da sentença arbi-
da sentença arbitral de manifesta invalidade e, quiçá, inexistência. rral é a sua relação com a ação de invalidação (ação esta a ser analisada no próximo
Caso o executado, uma vez regularmente citado, cumpra espontaneamente Capítulo). Isso porque o§ 3. 0 do art. 33 da Lei de Arbitragem (com a reforma de
o julgado, seja por meio particular, seja nos autos judiciais, o juiz julgará extinto o 2015) dispõe que "A declaração de nulidade da sentença arbitral também poderá ser
processo e declarará a satisfação do direito de crédito. Caso contrário, segue-se para arguida mediante impugnação, conforme o are. 475-L e seguintes da Lei n. 5.869,
penhora e avaliação, no valor excquendo acrescido da multa de 10%, mais eventuais de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), se houver execução judicial".
consectários legais. Na forma do diploma processual, com detalhes de procedimento A seu turno, com o Código de Processo Civil de 2015, expressamente, em seu
diversos entre o atual e o novo Código, o executado poderá oferecer impugnação ao are. 1.061, confere outra redação ao are. 33 da Lei de Arbitragem, para assim constar:
cumprimento de sen rença (cf. especialmente o are. 5 2 5 do CPC/201 5, estabelecendo "3.º A decretação da nulidade da sentença arbitral também poderá ser requerida na
o prazo de 15 dias a transcorrer automaticamente após o prazo do are. 523). impugnação ao cumprimento da sentença, nos termos dos arts. 525 e seguintes do
Com exceção de algumas considerações a respeito da defesa, o que será objeto Código de Processo Civil, se houver execução judicial".
de exame no próximo item, daqui em diante não há diferença significativa entre a O CPC foi sancionado antes, mas entrará em vigor após a reforma da Lei de
execução da sentença judicial que condena em obrigação de pagar quantia cena e Arbitragem, a qual foi sancionada depois e terá plena vigência a parcirdo final de julho
a execução da sentença arbitral de mesma natureza. de 2015. No caso específico, diferentemente do que acontece em relação ao Marco
Legal da Mediação (Cf. Capítulo 03), qualquer debate a respeito de qual redação
12.4.4. Defesa deva prevalecer é infértil, pois o conteúdo de qualquer uma delas é o mesmo, não
obstante a impropriedade da redação de ambas. A Lei de Arbitragem reformada traz,
Lembrando que existem algumas diferenças entre o previsto na legislação atual e
erroneamente, a referência ao CPC/ 1973; já o novo CPC tem de errado a referência
futura, importante é que, evidentemente, em ambas confirma-se o natural direito de
à "decretação da nulidade", quando a sistemática proposta pela nova Lei 13.129/2015
defesa do executado ("devedor"), através de impugnação ao cumprimento da sentença.
refere-se a "declaração de nulidade", conforme previsto na nova redação do caput do
A impugnação somente poderá versar sobre: "l - falta ou nulidade da citação are. 33.
se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia; II - ilegitimidade de parte; Em nosso entender, a lei posterior, e especial, é a 13.129/2015, devendo ser
III- inexequibilidade do rículo ou inexigibilidade da obrigação; IV -penhora incorrera considerada para efeito de verificação a data da publicação, após ter sido sanciona.da,
ou avaliação errônea; V - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; e não a data de entrada em vigor. Desta forma, o are. 33 deve ter a redação desta lei,
VI - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; VII - qualquer causa não aquela proposta (e agora revogada) pelo Código de Processo Civil de 2015.
modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação,
Porém, evidentemente, com a entrada em vigor do novo Código de Processo
transação ou prescrição, desde que supervenientes à sentença." (are. 525, § 1.0 , do
Civil, o§ 3.0 doart. 33 da Lei de Arbitragem deve ser lido da seguinte forma: a decla-
ração da nulidade da sentença arbitraltambém poderá ser arguida mediante impugnação
32. Cf., a respeito, o seguinte preccdcncc, pela interessante e correta solução dada: ''.Agravo de ao cumprimento da sentença, se houver execução judicial. Mas repita-se, pela exegese
[nstrumenco. Ensino Particular. Sentença Arbitral. Ausência de Citação. Intimação. Rito. l6gica de qualquer das regras o resultado é o mesmo.
(. Por se estar a tratar de título executivo judicial, a execução de sentença arbitral se faz nos
termos do cumprimento de sentença por exegese do art. 475-N, IV, do CPC (1973]. Deve São hipóteses de invalidação da sentença arbitral, como será visto detalhadamente
haver, no entanto, a prévia citação do executado para compor o polo passivo da demanda. II. no próximo Capítulo, as previstas no are. 32 da Lei Especial (já com as modificações
Ausente a citação formal, mas havendo a intimação pessoal do executado para participar da introduzidas pela 13.129/2015), assim: "É nula a sentença arbitral se: 1- for nula a
lide, pagando ou depositando o valor do débito, não há fular cm nulidade do feito por exegese convenção de arbitragem; II- emanou de quem não podia ser árbitro; III- não con-
do are. 214 <lo CPC (1973). máxime se o oficial de jusriça, cm cumprimento da diligência,
esteve na residência do devedor logrando êxito em penhorar bens e depositando-os em mãos
tiver os requisitos doarr. 26 desta Lei; IV -foi: proferida fora dos limites da convenção
do próprio agravado. Agravo de instrumento provido" (TJRS, Agln 70030072425, 6." Câm. de arbitragem; V - (revogado); VI - com provado que foi proferida por prevaricação,
Civ., j. 10.09.2009, rei. Des. Liege Puricelli Pires). concussão ou corrupção passiva; VII-proferida fora do prazo, respeitado o disposto
370 1 CURSO DE ARBITRAGEM CUMPRIMENTO DA SENTENÇA ARBITRAL 1 3 71

no art. 12, inciso III, desta Lei; e VIII - forem desrespeitados os princípios de que E mais, sem previsão legal, mas também por interpretação sistemática, nacural-
crata o are. 21, § 2. 0 , desta Lei". A partir desses fundamentos, cumpre ao interessado rnente vícios processuais desta fase, como defeito na represen taça.o processual, ausência
ajuizar a ação de invalidação dasentençaarbitral, que, na formado§ 1.0 do art. 33 da de assinatura na petição etc., e todas as demais questões que podem ser conhecidas de
Lei 9 .307/ 1996, "deverá ser proposta no prazo de até noventa dias após o recebimento ofício pelo juiz, também podem ser invocados nesta oportunidade. 36
da notificação da respectiva sentença, parcial ou final, ou da decisão do pedido de
esdarecimen to". {1973), sob pena de retirar-se do executado a arguição de nulidade do titulo executivo,
Considerando, pois, essas possibilidades no que range ao ataque à sentença faculdade que não foi suprimida ou li mirada pelas recentes modificações legislativas" (TJSP,
arbitral, as dúvidas, basicamente, são as seguintes: (a) é possível utilizar as duas vias Agln l 117010400, 34.a Câm., 7. 0 Grupo (Ext. 2. 0 TAC), j. 01.08.2007, rei. Des. [rineu
para investida contra a sentença arbitral (ação de invalidação e impugnação ao cum- Pedrotti). E na doutrina, Felipe Scripes Wladeck escreve: "Seria anti-isonômico, absoluta-
mente despropositado, reputar que, cm razão das alterações recentemente introduzidas no
primento)? (b) Há cumulação de fundamentos encre a ação de invalidação (are. 32 ordenamenro pela Lei 11.232/2005, o Poder Público teria se tornado o exclusivo detentor
da Lei 9.307 / 1996) e a impugnação ao cumprimento da sentença (art. 525, § 1. 0 do, da faculdade de deduzir o pleito anulatório de sentenças arbitrais em sede de execução.
CPC/2015)? (c) A fluência in a/bis do prazo decadencial de noventa dias para anular Com efeiro, a impugnação disciplinada no art. 475-L do CPC [1973) exerce exatamente
a sentença arbitral (are. 33, § 1. 0 da Lei 9.307/1996) interfere nos fundamentos a a mesma função dos embargos de que trata o art. 741 do CPC [ 1973) - o simples cotejo
serem utilizados na defesa na sua execução? dos dispositivos permite cal ilação. Portanto, conclui-se que a anulação da sentença arbitral
também pode ser pleiteada por meio da impugnação (na forma dos arrs. 475-M do CPC
Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenharc defendem que "na impug- [1973) e seguintes), na pendência ou não do prazo do§ 1.0 do are. 33" (WLADECK, Felipe
nação, além das matérias previstas no are. 475-L do CPC/ 1973 [art. 525, § 1.0 , do Scripes. O pleito de anulação da sentença arbitral nacional em sede de execução. Revista
CPC/2015], o executado poderá alegar a nulidade da sentença arbitral" ,33 utilizando-se de Arbitragem e Mediação. n. 16, jan.-mar. 2008, p. 98); cf., ainda, VALENÇA FILHO,
Clávio de Melo. Sentença arbitral e juízo de execuções. Revista do Advogado. n. 87. ano
de quaisquer das hipóteses do are. 32 da Lei deArbítragem. 34
XXVI. São Paulo, set. 2006. p. 40; ZAVASCKI, Teori Albino. Defesas do executado. ln:
Acompanhando esta posição, a maioria da doutrina admite que o vencido na RENAULT, Sérgio; BOTTrNI, Pierpaolo (coord.). A nova execução de títulos judiciais. São
arbitragem utilize as duas vias para questionar a nulidade da sentença arbitral: ação de Paulo: Saraiva, 2006. p. 147. Em sentido contrário, Paulo Salvador Frontini escreve: "Assim,
invalidação ou impugnação ao cumprimento da sentença arbitral, cumulando nesta a remissão constante da Lei de Arbitragem, que remete o devedor ao are. 741, não faz mais
os fundamentos daquela. Esse parece ser, realmente, o melhor entendimento. Ou sentido, pois este preceito é de interesse exclusivo da Fazenda Pública, quando executada.
( ... ) O teor da impugnação está rescrito às seis hipóteses previstas nos respectivos incisos (1
seja, a matéria passível de ser invocada na "impugnação" ao cumprimento da sentença a VI) do are. 475-L do CPC [ 1973). (...) Mas, na brevidade destas linhas, parece-nos que
não se limita à contida no an. art. 525, § 1.0 , do CPC/2015, podendo ser trazido, a ampliação do objeto da impugnação é contrária aos objcrivos da reforma processual, que
por este instrumento processual no caso de execução de sentença arbitral, também o visou, dentre outras preocupações, valorizar o título executivo judicial, inclusive a sentença
quanto previsto no art. 32 da Lei de Arbitragem. 35 arbitral. Afinal, se o devedor se considera ao abrigo das hipóteses que aurorizam o ajuiza-
menco de ação de nulidade de sentença arbitral, deve fa7.ê-lo; deve tomar a iniciativa de
postular em juízo, como autor, a invalidade da sentença arbitral, ao invés de se quedar na
33. MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução. São Paulo: Ed. RT, 2008. espera do ingresso do credor em juízo, com a ação de cumprimenro de sentença arbitral"
p. 416-417. (FRONTINI, Paulo Salvador. Arbitragem e execução da senrença arbitral: Apontamentos
34. Cf., também assim, Frcdie Didier J r. considera que, "a despeiro da omissão legislativa, porém, sobre os reflexos da Lei n. 11.232/2005 no âmbito do cumprimento forçado da sentença
na execução de sentença arbitral é cabível a alegação das matérias constantes do art. 32 da Lei arbitral. Revistll do Advogtrdo. n. 87. ano XXVI, set. 2006, p. 8).
Federal 9.307 / I 996, o que torna peculiarmcnce mais ampla a cognição judicial na execução 36. Ncsre sentido, dentre vários autores, Araken de Assis: ''Sem nenhuma ofensa ao seu caráter
deste titulo judicial" (DIDIER JR., Fredie; Cunha, Leonardo José Carneiro da; BRAGA, sumário a impugnação do are. 475-L compreenderá quaisquer questões passíveis de conheci-
Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processutll civil. Salvador: JusPodivm, 2009. mento ex officio pelo juiz" (ASSIS, Araken. Cumprimento da sentença. Rio de Janeiro: Forense,
p. 165). 2005. p. 319), trazido por Valença Filho, que acrescenta: "Qualquer questão possível de ser
35. Também neste sentido: "Sentença arbírral. Execução por título judicial. Impugnação. conhecida, de ofício, pelo juiz estara! não invocada nos próprios autos da execução ou, se in-
Abrangência. As disposições do § 3. 0 , do art. 33 da Lei 9.307 / l 996 não foram revogadas vocada, que não tenha sido examinada e decidida por necessidade de dilação probatória, pode
pela Lei 11.232/2005, que deu nova redação ao are. 741 do CPC [1973) e reacomodou a e deve ser reapresentada ao juiz estatal de primeira instância no momenro dos embargos ou da
execução por título judicial como uma 'fase' no Livro l - Processo de Conhecimento do impugnação, agora com a possibilidade de ampla produção probatória. Logo se vê a perfeita
mesmo esracuco. Compatibilizadas as regras anterior e atual, tem-se que eventual nulidade comparibilídade entre a natureza sumária hori1.0nral da cognição em sede de embargos e a
da sentença arbitral que antes podia ser oposta "medianre ação de embargos do devedor", amplitude da produção probatória permitida" (VALENÇA fILHO, Clávio de Melo. Senrença
agora pode ser discutida por meio de "impugnação" na forma do are. 475-L do CPC arbitral e juízo de execuções. Revista do Advogadq. n. 87. ano XXVI. scc. 2006. p. 40).
372 l CURSO DEARRITRAGEM
CUMl'RIMENTO [)A SENTEN(,:A ARl3!THAL 1 373

Pois bem, mas e se no curso da ação própria de invalidação, sobrevier o pedido por exemplo, quando na impugnação também se levantem outras questões relativas
de cumprimento de sentença, caberá sua impugnação com o conteúdo também do a csra fase).
art. 32 da Lei Especial citado? Porém, os caminhos são indicados na lei e não excludentes um do ourro, aliás,
A questão gera polêmica, mas, na essência, não é privativa ou reservada à in- cada qual com procedimentos e características próprias. Enquanto não se definir em
validação da sentença arbitral em ação própria ou em arguição em impugnação ao norma futura como proceder nestas situações (p. ex., estabelecer que um dos meios
cumpdmenco dasencença. De há m uito, discute-se na doutrina e na jurisprudência irá excluir o outro), ao interessado aconselhamos a utilização dos dois expedirntcs,
evenmal configuração de litispendência ou co11tinência enn:e ação de invalidação deixando ao Judiciário resolver se ambos seguirão ou qual deles prevalecerá, impe-
da sentença, açfo rescisória ou mesmo declaratória de inexistência e invalidade de dindo, assim, que por uma eventual divergência do julgador com a tese de defesa, o
título execucivo, com os embargos à execução, judicial ou exuajudicial, ou. com a dirciro à análise da matéria de fundo (vício do título) venha a ser prejudicado ou se
rorne inútil pela sua efetivação irreversível no mundo fático:10
impugnação ao cumprimento da sentença.
Pela sua seriedade com o trato do Direito Processual Civil, por todos, vale citar as A questão se torna mais complexa, contudo, quando examinada a influência do
lições da Profa.TeresaArrudaAlvim Wambicr: 37 "Tem-se decidido pela desnecessidade decurso do prazo decadencial de noventa dias para ajuizar a ação de invalidação em
de o devedor opor embargos à execução, quando já em curso ação de conhecimento relação às matérias alegáveis no curso da execuçáo.
anterior, cm que se discute o débito", e, após indicar precedentes do STJ, prossegue: Entendemos que os fundamentos previstos no an. 32 da Lei 9.307/1996 so-
"O STJ confirma que o fato de existir qualquer ação anterior sobre o crédito, proposta mente poderão ser utilizados na impugnação ao cumprimento de sentença se esta for
pelo devedor, não impede o ajuizamento da ação de execução daqltelc mesmo crédi- apresentada dentro do referido prazo decadencial de noventa dias. 41 Ultrapassado este
ro, pelo credor. No encanto,.o STJ admire que, na medida cm que se estenda a ação
declararória anterior como substitutiva dos embargos à excrnção, porque idênticas, lícito alirmar que o objero de ambas é o mesmo, quando menos sob a ótica do hem da vida
poder-se-á atribui r a cal ação o cfe.íto de suspender a ex:ecuç.10, após.ter sido realizada que se pretende tutelar", hem como: "Essa correspondência é exata quanto aos fundamenros e
a penhora", bem coroo que "o STJ cem entendido que, naqueles casos em que já quanto ao objeto, pois pelas duas medidas o que se busca é rigorosamente o mesmo resultado,
isco é, a tutela do mesmo hem jurídico. Portanto, nessa medida, não h;i apenas conexão entre
existia ação anterior proposta pelo devedor, não é necessário q ue o devedor, Luna vez
as duas referidas demandas. O que h;-í rigorosamente é situação de litispend~ncia, que impede
eirado na ação de execução proposta pelo credor, oponha embargos ~t execução. Aliás, que tais matérias, porque j:i resolvi<lJ.S na ação anubtlíria, sejam reapreciadas cm embargos.
rigorosamente, não só não é necessário, como seria vedado pelo sistema, por se tratar, Os ensinamentos anteriormente cobcionados confirmam, com brgue;t,a, essa conclusão: o
38
quase que invariavelmente, de lirispendêncía" . que se quer por ambas as vias é o mesmo rcsulmdo, ex:itamentc pelos mesmos fundamentos''
(GRINOVER, Ada Pellcgrini. Arbitragem, execução, ação para reconhecer a invalidade da
Assim, rodo o quanto debatido para as demais situaçóes em que se discute, por
arbitragem, embargos :i. execução, identidade. Rt:t!Ííltl ti,· Prol"i'JJO. vol. 146. São Paulo: Ed. Rt:
diversas vias, o mesmo título executivo, vale aqui para o confronto da ação de inva- abr. 2007. p. 271).
lida~ão da sentença arbitral com a impugnação ao cumprimento de sentença ou os 40. E, como escrevemos no ensaio j:í eirado: '"No plano acadêmico, sugerimos transformar a ação
embargos com idêntico conteúdo. Em nosso entender, apenas para registro, e sem própria cm embargos/impugnação, quando possível, por mera comunicação na execuçfo
maiores digressões e compromissos com a referência, haverá tecnicamente litispen- aparelhada, obedecendo as regras <la prcvcnç:io para direcionar o processo a um üníco juí,:o
dência3'' ou continência (se o objeto de uma medida for mais amplo que o da oucra, (adaptando-se a partir de então ao respecrivo procedimento). Assim se procedendo, cerra mente,
se prestigia o príncípio da economia procc.~sual. E mesmo se j;í no Trihuna! a aç;ío, at1ui sem
pensar cm reunião, deve ser emprestada (1 ação o efeito de embargos/impugnação, como se tal
37. Citada por Oscavo Cordeiro Corri:a Netto e Ada Pdlcgrini Grinover, /\ relação entre a execução fosse, ou seja, corno se a impugnação ou embargos estivesse cm segundo grau, submt:tcndo
da sentença arbícr:il, os embargos ou impugnaçfo e :1 ação de ::anulação de scnten<;a arbitral. o juíw à sentença, como se por ele: rivcs.~e sido proferida. E, evidentemente, rudo o quanto
R,·visttt tio /11stit1110 t!e Atl11ogfldos tle S,fo Awlo. n. 23. ano XII. jan.-íun. 2009. I'· 264. conhecido de líminar, medidas anteci~)auírias ou de urgí:ncia para suspender a execução seria
38. Cf. rambém, a respeito. Ada Pellegrini G rinover e Oscavo Cordeiro C nrré:1 Nem>, que en- possível no juízo da ação".
frentam a quesrfio cspeó í-i.ca m t.nte no que se refere à execução da sentença atbi rml (A relação 41. Neste sentido, Amoldo Wald, escrevendo anteriormente à vig1:11cia da Lei 11.232/2005,
enrre a ex.c cução ela sentença arbi.cr:l.l..., cic., p. 264). cncendL'u que "a aplicação do ar!. 7/il do CPC (1973] (leia-se, hoje, arr. 475-L do diploma
39. Neste sencido, Ad~ Pellcgrini Grinovcr: "A esse rec:spcico e co rn o visrn, ambas as vias proces- processu:il) deveria ser mitigada, adaptando-o de maneira adequada para a arbitragem'', i.~ro é,
suais ci:m natu reza de açiio de co nh ecimento e, portanto, desencadeiam prncesso cendencc ''a inccrpreraçfo da ld não deveria permitir à parte executada, que não pleiteou a anulação da
a pro.lação de sentença de mésico. Mais ainda, ambas têm por escopo, em (ilrima anil ise, o sentença arbitral no momento oportuno, suscitar em sua defesa que permitiriam a anulação da
reconhcci rm!nto de óbice à efecivnção <ln sencençn arbicc::1I. Nessa medida, portamo, parece sentença". O autor sugeriu, de ÍiJ<' ji:rcnda, que "os embargos do devedor {leia-s<:, acualmence,
CUM PRJMENTO DA SENTENÇA ARBITRAL 1 3 75
3 74 1 CURSO DE ARHITRAGEM

por Serpa Lopes, d ividindo as exceções em d uas: "as cxisten res por si mesmas e as
prazo, nã~ poderá o executado alegar quaisquer desses fundamentos na impugna ão
fundadas nwn determinado direito. Na primeira categoria, não se trata de fazer valer
ao cumpnmemo de sencença. 12 ç
u in direito efetivo, rnas tão só de garan tir uma dada posição jLtrídica contra o ataque
~em d úvida, o ~r~zo é decadencial e, como tal , a inércia d e seu titular leva ao injusto d e outrem; nas exceções da segunda categoria, ao contrário, não se cuida da 44
perecimento
· ·ddeste
· d1re1to.
· . . N ão apenas o seu exercício' mas o propno
, . d irctto
' . resta manutenção d e uma si mação jurídica, senão de fazer valer um determinado direito" .
compro meti o, •111v1ab1hzando
. a sua alegar5
r-- 0 em qualquer O u rra circun
• stancia
• • se Mas cudo restou superado, po is, pelo Código Civil de 2002, "prescrita a pretensão de
opera d a a d ecad cnc1a na forma da Lei. ' direi to rnacerial que poderia ser exercida por meio de ação, toda a d efesa que se poderia
~ara a prescrição , lembra Yussef Cahali que se aplicava o brocardo quae tem- deduzir contra essa p retensão também estará prescrita, como decorre do art. 190: 'A
45
poralra sunt, tt.~ agend1m1, perpetua sunt ttd excipiendum (o q ue é temporário, em se exceção p rescreve no mesmo p razo cm que a pretensão' ."
trarando de açoes, é perpétuo no cocante às exceçóes),43 e traz o autor a ressalva feita Sem maiores d ivagações sobre ser ou não a imp ugnação ao cumprimento da
sentença (como era a ação de Embargos) uma "exceção" de direito material, o fato é
im_pugnaç_ão ao cum prime~ro da sentença) n.ão deveriam poder ser utilizados nos mesmos que, ago ra por Lei, p rescrita a ação, a. matéria prescrita não mais poderá ser ven tilada
ca.:;os prevtsros para a anulaçao da sentença", r:izão pcl:t qual ai , - . em outra oportunidade, ainda que po r meio de outros instrumentos, como defesa ou
sentença deveria ser unicamente cabível " . mpug?açao .ª~ cumpnmcnco da
'1· . . .d d d nos c.,sos de ,ncompecência. do Juiz da execução d exceção. Este mesmo raciocínio, em bora o referido are. 190 esteja nas "disposições
L cgm m1 a e as parces na execução ou quand0 cJ •
arbitral d · f, ' · d f:
' n e excessiva ou e aro posccrior :1 sentença
' e gerais" sobre prescrição, com maior razão se aplica à decadência, pela qual perece o
' quedp0 _, en a a etar a execução" (WALD, Arnoldo. Os mc1os1·1lflicinis c' 'ir p 55 56) -
eomungan o .ucssa ·· - e renovand o seu cotendimenco anterior Carlos...Alberto
. pos1çao, , ·• · C - · próprio direito, e não apenas o seu exercício.
na enten e o , " 1 · 1 d
• . d h. Jc que o cgis a or reservou ao cmh:u-ganre a possib1lidade de ale r toei: ' ' :.trmo- Aliás, co mo também traz Yussef C ahali, "quanto à decadência, Tedeschi considera
marenas relanvas ao araquc dos rítulos executivos J' udiciais nada mai•· r, i . bga IS as
que não lhe seria aplicável a regra quru: temporís ttgendum, perpetua ad excipientlttm,1
tal hipóre.çe d'd · , · • •· er· o cm argance cm
• per i o, por inercia, o direiru de levar ao conhecimento do . . •
uma das matérias enumeradas no are. 32 d L ·i" .· '6 1_uiz togado qualquer pois, tendo a decadência um termo fixo, nela não comportaria, ingenere, aplicação" . º
de noventa dias para requerer a invalidaJ: dca ;e~,:~e;~1;~ ;:~q~e, ~cpo1s ~e ~coado o prai.o Por ourro lado, mesmo exercitável como "defesa", na medida cm que contra ataca
mesma.~ limfraçócs i . • • en remara o impugnante as
MONA e, 1. ·16mpostt1S ::i_o execumdo que ataca a sentença judicial condenatória" (CAR- a execução fo rçada, a im pugnação , tal q ual são os embargos, repita-se tem natureza
'.•tr os A eno. Arlntmgcm... , cir., p. 430-43 l). juríd ica de ação e como tal deve ser tratada.
42. Em senndo conu:írio à nossa posiç:ío f J 1 0 . F' . Assim , se para a ação de invalidação o prazo decadencial é de 90 dias, pouco
pro mulgação da Lei 11 232/2005 .' , ~. oc i: s tgneira Jr., que, escrevendo antes da
d d' · . . , mSCcnrava que mesmo se decorrido em hranco O pr:r
e nolv~n~ d~a~ para o !l.JUWtmcnto da ação declaratória de nulidade o mesmo res I dzo importa se instrumentalizada por procedimento próprio (ação autônoma) ou por
ture ae JUm. 1.cional) poderá
([leia- - ' ser . o b~1'd o atmvés d a .intcrpos1ção . •
dos embargos . do devedo
u ta or impugnação ao cumprimento da sentença. Vale di1.er: a ação, no sentido de d ireito
. s ' hoie'. i~p~gnaçao ao cumpnmenro de senrenç.1)" (FIGUEIRA J ÚNJ .. à invalidação da sentença, é única e perece em 90 d ias; o que muda é a variedade de
Arb1tmgcm, ; wwbçiíll e exempío. 2. ed. São Paulo: Ed . RT 1999 "/7 1) T:O Rb, Joe.l D~as.
Fernando. GaJ . ' ardoni
. defend e "a namre1.;1 também rescisória P· ~ · ação
' da · presente am incidenr:11
ém assim, instrumentos colocados à d isposição da parte, em razão das circunstâncias em que a
47
violação a este direito se apresenta (com o u sem execução cm cu rso).
.d .csconsr1tut1v·1
d d' [11npugnação
. ªº cumprtmenrn. , sem, contudo, necessidade de obed"• ·
· ] •
ao piazo · 1 eca enc1al de 90 dias'' (CAJARDONl ' Fc rnan do d :i Fonsec:;1 Aspectos ~icneia d Aliás, como visto, discute-se a p rópria ocorrência de licispendência ou con-
men~~1s t ~ _processo arbitral. RePro 106/21 2.); Ouva! Vi:1n11:1: "A Lei 3()7/l 9% ~ - a-
um isposmvo que ttmpfitt a margem do controle 1·udici:i.l co-cec1·nd . .
9 . . 1 c1d1ou
tinência, quand o exercida a pretensão de invalidação da sentença arbitral de duas
op 'd d d · · ' n.1, o a parre rn reressa a a maneiras, o que evidencia ainda mais tratar-se de um ú nico d ireito, com um único
orrund 1 a e e argdu!r a nulidade da senttmça arbicr.11, ainda que tenha deixado deco rrer
odevedor~
Fcli e .
O
e noventa 1·,s par·\
prazo (VIANNA J
1 •Lpro
. Or a ~espcw •va ação, o q ue fa r.í através de embargos do
• u~~ . er e Arb1tr,1~m. Rio de Janeiro: Adcoas, 1998. . 222); e
44. Idem, p. 4 \.
d , . P S~ tpes W ladec~: E qu_e, rclauvamcrnc at)S provimentos arbitrais conde1~rórios o
i: Jc~~o O pr:11.0 prev•Sco no§ l.<> do art. 33 não inviabiliza o juízo rr:sc,dens, mas a ci~as 45. Ldem, ibidem.
int~n::s: a~~e se o pre~endadpedlaf~ia principal (da ,wão nnuforória), rescando ao conce~t 11:e 46 . Idem, p. 42.
47. E ncsrc sentido o Enunciado 1O da 1 Jornada Prevenção e Solução Extrajudicial de Litígios,
o mecamsmo e e e.sa cm exccuç.'ío cm
in procedendo arrolados no arr. 32'' (WLADEC•K F
~Clltt:nça arbitral nacional em sede de execução. Rev:;,~~t' ~r;rs.
~t . d l•
~;p~ e a cg:ir q~:ilqucr dos ermm
o pie~~~~ :1~1ulaç.'i.o da
promovida entre 22 e 23 de :,gosto de 20 i 6 pelo Ccncro <le Escudos Judiciários do Conselho
da Justiça Fe<l.eral; assim: "O pedido de declaraç.'io de nulidade da sentença :trbirral formulado
pn.-mar. 2008. p. 99-105). ,rrngt'm t: t'f< u1ç,10. vol. 16. em impugnação ao cumprimento da sencença <leve ser apresencado no prazo do art ..'33 da Lei
9 .307 / 1996". Cf. em ''Anexo 7'' o texco integral dos enunciados aprovados.
43. CAHALI. YussefSaid. Prescrição... , cít., P· 39-40.
3 76 1 CURSO DE ARBITRAGEM CUMPRIMENTO DA SENTENÇA ARBITRAL l 3 77
prazo. E, desta forma, mesmo permitido a provocação do Poder Judiciário para pre- 12.s.1. A fixação de prazo para cumprimento da obrigação e multa pela
servar o direito à invalidação da sentença arbitral por instrumentos distintos, uma inércia
vez consumada a decadência na forma prevista para a ação própria e autônoma (90 Ao árbitro caberá a fixação do prazo para cumprimento voluntário da obrigação
dias), para quaisquer das outras variadas e circunstanciais alternativas igualmente se como se pode extrair do art. 26, III, da Lei de Arbitragem, pelo qual "são requisitos
terá por verificada a decadência. qs obrigatórios da sentença arbitral:(... ) III-o dispositivo, em que os árbitros resolverão
as questões que lhes forem submetidas e estabelecerão o prazo para o cumprimento
12.5. DA EXECUÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL IMPONDO
da decisão, se for o caso".
OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER
Em o urras palavras, a Lei 9 .30711996 expressamente atribui ao árbitro o poder de
Tal qual se faz em relação à condenação por quantia cerca, inaugura-se um estabelecer na sentença arbitral- previsão que se estende às decisões liminares quando
processo judicial próprio, consistente em ação de execução de sentença arbitral, cujo viável o deferimento da medida no palco arbitral"9 o prazo para o cumprimento do
objetivo será a imposição ao cumprimento das obrigações estabelecidas ao vencido, decisum pelo devedor. 50
com petição inicial, citação etc. O prazo tem significado não apenas para se autorizar, uma vez descumprido,
Com algumas proveitosas mudanças no procedimento, inclusive quanto à as demais medidas coercitivas previstas no art. 536, § 1.0 , do CPC/2015 em exame,
versatilidade de medidas a serem determinadas pelo juiz, merecedoras de escudo em como também para, diante da inércia do vencido, exigir-se a multa coercitiva.
ambiente próprio de processo civil, não neste" Curso", o Código de 2015 disciplina
E quanto a esta multa, cabem alguns esclarecimentos:
o cumprimento que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer
A Lei de Arbitragem não estabelece, como faz com relação ao prazo no art. 26,
nos arrs. 536 e ss., mantendo, no quanto aqui interessa a citação e direito de impug-
lII, acima reproduzido, a fixação de multa na sentença para cumprimento da obri-
nação da sentença, uma vez que o§ 4. 0 do are. 536 avoca a aplicação do art. 525,
gação pelo vencido.
acima analisado.
Porém, a multa pode constar do próprio contrato objeto da arbitragem e, como
Em relação ao procedimento, ressalvada as peculiaridades próprias quanto à
forma de materialização da condenação, o cumprimento da sentença condenatória de tal, ser objeto do pedido, e também pode ser fixada de ofício, em razão da previsão
contida no art. 537 do CPC/2015; assim: "A multa independe de requerimento da
obrigação de fazerou não fazer agora.se assemelha àquela condenatória de quantia certa.
parte e poderá ser aplicada na fase de conhecimento, em tutela provisória ou na sen-
A citação do devedor, previsra em lei e necessária à regularização da relação pro-
tença, ou na fase de execução, desde que seja suficiente e compatível com a obrigação
cessual, também tem por finalidade conceder ao vencido a oportunidade de cumprir
e que se determine prazo razoável para cumprimento do preceito".
espontaneamente a obrigação, previamente às medidas processuais coercitivas que
Pelo contido nestas regras, a jurisdição para a fixação da multa cabe ao árbitro,
serão adotadas.
pois se refere a decisões proferidas na fase de conhecimento (especificamente na sen-
Ou seja, tal qual na condenação por quantia cena, aquela comunicação da
tença); assim, leia-se, também, "O árbitro poderá(...)".
sentença arbitral não é em si bastante para consumar o prazo de cumprimento
do preceito com imposição das sanções previstas na lei (multa ou outras). Deve Porém, se não estabelecida a multa na sentença arbitral, quando submetido o
ser citado o executado (seria intimado se a sentença fosse judicial), para honrar a pedido de efetivação da tutela específica à autoridade do juiz estatal (cumprimento
obrigação e, diante de sua inércia, intervém o Estado com medidas coercitivas para da sentença ou mesmo cumprimento de tutela provisória), caberá a este fazer cumprir
alcançar o resultado. a determinação na forma como entender mais eficaz, fixando a multa que entender

48. Anote-se, porém, que ao se admicir, na análise sobre as causas da invalidação previstas no are. 32 , 49. Cf. Capítulo I Osupra.
da Lei de Arbicragem, a possibilidade de se estar diante de uma verdadeira nulidade absoluta 50. ~specificamente quanto ao prazo de cumprimento pelo vencido, entendemos que, como
ou mesmo inexistência, ao aucorizar a ação declaratória imprescritível (querela nul!itatis i11,~· visto, cabe ao árbitro a sua fixação, m~ se omisso, e não solicitado esclarecimento (art. 30
nabilis), como se verá adiancc, igualmente haverá de se permicir o ataque à sentença por meto da Lei 9.307/1996), parece-se correto pressupor-se ter sido a condenação para atendimento
da impugnação, independente, nestes casos, do transcurso in a/bis <lo prazo de 90 dias. Cf. 9 "imediato". Neste sentido, cf. SCAVONE JUNIOR, Luiz Antonio, Manual de arbitragem.
respeito Capítulo 13 infra. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Ed. RT, 2009. p. 153, especialmente nota 20.
3 78 1 CURSO DE ARBITRAGEM CUMPRIMENTO DA SENTENÇA ARBITRAL 1 3 79

pertinente, pelo permissivo comido no§ 1.0 do art. 536 do CPC/2015,51 ou seja,,por suficiente a compelir o devedor a cumprir o julgado. Afaste-se a hipótese de caber aos
expressa previsão legal ter-se-á um segundo momento, ou nova oportunidade para árbitros essa majoração, pois nesse momento de execução da sentença a arbitragem
se estabelecer as multa, com o objetivo de se provocar o cumprimento da obrigação. já terá findado e, com ela, encerrada estará a jurisdição dos árbitros.
Agora, sob outra perspectiva, questão interessante consiste na verificação da E nem se diga, ademais, que essa modificação pelo Poder Judiciário seria impos-
possibilidade, ou não, do juiz estatal rever o valore periodicidade da multa fixada pelo sível, pois essa conclusão significaria um decréscimo da força persuasiva e executiva
árbitro pelo quanto previsto no art. 537 e seus parágrafos do CPC/2015. 52 da sentença arbitral se comparada à da sentença judicial, o que não encontra respaldo
Observe-se, aqui, que não se trata propriamente de modificação da sentença na lei. Explica-se: na hipótese de uma multa estabelecida na sentença judicial não
arbitral pelo Estado na fase de seu cumprimento - algo de todo inadmissível-, mas apresentar a devida força coercitiva, o juiz da "execução" poderá aumentar-lhe o
sim de adaptação do valor da multa às circunstâncias verificadas após a prolação da valor e, desta forma, perseguir o cumprimento da forma mais efetiva possível. Caso
sentença arbitral. Isso significa, em termos práticos, que o juízo estacai não poderá, se entendesse pela impossibilidade de o juiz da execução alterar o valor da multa
por exemplo, excluir a multa fixada na sentença arbitral por discordar de sua aplica- fixada pelos árbitros na sentença arbitral, isso significaria uma diminuição da força
ção, como se a sua atuação correspondesse a um juízo de rejulgamento, o que não é da sentença arbitral, pois se a multa estabelecida em sede arbitral fosse insuficiente
para coagir o executado, essa insuficiência perduraria eternamente, o que afronta o
e nem poderia ser.
princípio da efetividade do processo.
O Poder Judiciário, na hipótese em questão, apenas pode aumentar ou reduzir
o valor da multa com base em faros posteriores à prolação da sentença arbitral, con- Enfim, esta regra processual de revisão de ofício da multa fixada para forçar o
jugando para tanto o princípio da efetividade da execução com o princípio do menor devedor a cumprir a obrigação é direcionada à "fase coercitiva" em que se pretende a
sacrifício do executado, razão pela q uai essa explicação deverá constar da fundamen ca- efetivação da sentença que condena a fazer ou não fazer, "fase" esta privativa do Poder
ção da deósão j udicíal, sob pena de n ui idade da decisão tomada pelo juízo togado. Essa Judiciário. A atuação do árbitro vai até a sentença; a partir de então, cabe ao Estado
possibilidade é fundamental para que, por exemplo, o juizresponsável pela efetivação as providências para se alcançar no mundo fático o resultado desejado; ou seja, cabe
da decisão aumente o valor da multa coercitiva, caso a medida não tenha se mostrado privativamente ao juiz estatal forçar a transformação do comando sencencial em
realidade.

51. Assim: "Are. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação 12.6. DA EXECUÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL IMPONDO
de fazer ou de não fazer, o juiz. poderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela
específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas
OBRIGAÇÃO DE ENTREGA DE COISA
necessárias à satisfação do exequence. § 1.0 Para atender ao disposro no caput, o juiz poderá
Em relação à efetivação forçada da condenação à obrigação de dar, o art. 498
determinar, entre outras medidas, a imposição de mulra, a bu.~ca e apreensão, a remoção de
pessoas e coisas, o desfuzimento de obras e o impedimenro de atividade nociva, podendo, caso
do Código de 2015, estabelece, no caput-. "Na ação que tenha por objeto a entrega
necessário, requisitar o auxílio de força policial.»; e merece anotação também os seguintes pará- de coisa, o juiz, ao conceder a cutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da
grnfos desce :ircigm "§ 2. 0 O m:indado de busca e;tprccnsao de pessoas e coisa~ será cumprido · obrigação". O juiz referido é aquele da fase de conhecimento, e então também a regra
por 2 (dois) oficiais de justiça, observando-se o disposto no :irt. 846, §§ 1.0 a 4.0 , se houver se dirige ao árbitro, em harmonia com o comido no inc. III do are. 26 da Lei de Arbi-
necessidade <lc arrombamento. § 3. 0 O execucado incidirá nas penas de lirigància de mi -fe
tragem, valendo neste momento o quanto se disse acima a respeito deste dispositivo.
quando injustificadamente descumprir a ordem judicial, sem prejuízo de sua responsabilização
por crime de desobediência." O parágrafo único do mencionado are. 498 do CPC/2015, por sua vez, dispõe
52. A~sim: "§ 1.0 O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a periodicidade que, "Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e pela quantidade,
da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que: I - se tornou insuficiente ou excessiva; II -o o autor individualizá-la-á na petição inicial, se lhe couber a escolha, ou, se a escolha
obrigado demonstrou cumprimenco parcial super,vcnicncc da obrigação ou justa c;ius~ p:ira o
couber ao réu, este a entregará individualizada, no prazo fixado pelo juiz", prazo este
desettmp ri.menm. § 2. 0 O yalor da multa ser;I devido ao 1:xcqucnce. § 3. 0 A decisilo que fixa
a rnulm é passível de cumprimenco provisório, devendo ser depositada em juízo, permirido o a ser estabelecido, então, na sentença, judicial ou arbitral.
levan ra.mcnco do valor após o t rânsico em julgado da sentença favorável à parcc ou na p endência Tal como se faz em relação às demais sentenças condenatórias (no sentido amplo,
do agravo fundado nos incisos ri ou III do art. J.042. § 4. 0 A multa será devida desde o dia em acima analisado, ou seja, impositivas de qualquer obrigação ao vencido), também
que se configurar o descumprimento da decisão e incidirá enquanto não for cumprida a decisão
que a tiver cominad.o. § 5.0 O disposto neste arcigo aplica-se, no q ue couber, ao ctLmprimenco
aqui se mostra indispensável a instauração de processo próprio, com base em título
de sentença que reconheça deveres de fazer e de não fazer de narureza não obrigacional." executivo judicial com origem no laudo arbitral.
3 80 1 CURSO DE ARRITRAGEM

O executado será eirado para o cumprimento da obrigação no prazo e forma


estabelecidos. E, sob a autoridade do juízo estara!, já com processo em curso, "Não
cwnprida a obrigação de ena·egar no prazo escahelecido na sentença, será expedido
mandado de busca e apreensão ou de im issão na posse, confo rme se muar de coisa
móvel ou imóvel" (art. 538 do CPC/2015).
Por fi m, por expressa previsão legal, aplica-se à obrigação para entrega de coisa
o previsto para o cumprimento de obrigação de fazer e não fazer (art. 538, § 3.0 , do
CPC/2015), e, assim, tudo o quanto acima se disse aproveita-se para este procedi-
mento. Igualmente, embora sem p revisão , também aqui valem as observações feitas
a respeito da defesa do executado.

12.7. DA EXECUÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL CONTRA A FAZENDA


PÚBLICA

Como se verá no Capfculo 14, adiar, ce, admice-se a possibilidade de en ces públicos
se submeterem à arbitragem. E a origem do tfrulo, se judicial o u arbitral, neste caso,
não aJrera o procedimento da efetividade de sentença condenatória da Fazenda Pública.
Superand o a d iversidade de proced imento prcvisra na legislação revogada, ao
unificar a forma de exigibilidade de sencençacondenarória a quantia cerca, o Código de
Processo C ivil de 201 5 estabelece também contra a Fazenda Pública o procedjmemo
de cumprimento de sencença no are. 534; assim : "No cumprimento de sentença que
impuser à Fazenda Pública o dever de pagar quantia certa, o excquence apresencará
demonstrativo discriminado e atualizado do crédiro contendo: (... ).", com ressalva
expressa de que a multa prevista no arr. 523 conrraelanão se aplica (§ 2.0 ) . Tratando-se
de sentença arbitral, tal qual acima visto, a provocação do judiciário se faz mccüan re
petição inicial etc., criando um processo judicial próprio para esta finalidade.
Com prazo estendido (30 dias), a Fazenda tem o direito de impugnar o pedido
de cumprimento (não m ais se fala em embargos), em siruação parelha à do particular,
oportunidade em que poderá alegar as causas de invalidação de sentença arbitra l,
13.
desde que observado o prazo e fundan1enros (ares. 32 e 33 da Lei de Arbirrage.n1),
aproveitando-se aqui tudo o quanto acima dito a respeiro (irem 12.4.4) .

Invalidação da
Em sendo a sentença condenatória a obrigação de fazer, de não fazer, ou de
entregar coisa, não há diferença no tratamento da Fazenda Públ ica em relação aos
particulares, seguindo-se o quanto disposto nos arts. 536 e ss.

12.8. BIBLIO GRAFIA RECOMENDADA


GlUSTI, Gilbcno. As garantias de cumprimento da sen rença :uhi rral. R,·11Íslfl tioAd11og11dn li. 1 I 9-Ar-
sentença arbitral
bitmgem. Ano XX:Xlll. p. 43 . ab r. 2013.
VALENÇA FILHO, Chlvio de Melo. Sentença arbitral e juízo de execuções. Re11istri dn Ad1mg11do. n. 87.
p. 36-45. São Paulo, sct. 2006.
ROTEIRO DE ESTUDOS
1. A cxc1t.1 iden1iíic,1c,;5o do instituto
2 · Causas para a invalicl.:ic.;iio da s<.'ntençél ilrbitr,1I (arl. 12 da Lei 9. l07/"l 996)
• 1- nulidade d,1 convençJo de <1rbiIr,1gçm;
• li - profericfa por quem n,'io podic1 ser ;,írbitro;
• lfl - c1usêncía dos requisitos do mt. 26 dest.:i Lf:i;
• IV-proferida íora dos limites da convt•n<;ão <fo c1rbitragf'm·
• VI - proferida por prevarica<,:.:\o, concuss,'io ou corrup~~'ío ~~assi v.:i;
13.1. INVALIDAÇÃO DA SENTEN ÇA ARBITRAL - UM NOVO O LHAR
• Vl~ - proferida íora do pr,1zo, respeitado o disposto no art. 12, inc iso Il i d . AO INSTITUTO
l.ei; e , esta

• Vlff - o fensa aos princípios de que tr,lla o ,1rr. 11 , ~ 2 .", <fosta Lei. Em nosso ver, encom ra-se em alguns dos escudos sobre arbi tragem quanto ao
'.L Procedimento e eíeíros (,1rl. :n d,1 Lei 9.307/1996} rema ''nulidade" da sentença arbitral uma amHisc: equivoatda, em razão da qual se
• Prazo dcc;1dencic1I - 90 cli.:is (;irr. :u, ~ l .", d,1 l.t.•i 'U07/l 9%) apn.:scnca inadequadamente o tratamenro jurídico da patologia do laudo final.
• Ação ordin,í ria no órg.'iu com1x•tenle do Poder Jucliciário íart 3·1 s 1 ° d L · Isto se diz, pois se costuma confundir a imwlíd,r.çãodasmtença com a iiwalidrição
9.J07/19%) · · · , -:, · , a e1 rios uegóciosjurídicos cm geral, e ainda, por vezes, quer se assemelhar a classificação e
• Efeitos dél sente nç,1 (art. :n, § 2 .'', da Lei 9. I07ll 9%) os efeitos <los vícios do aro jurídico reconhecidos no direito civil com aqueles identi-
• Arguiçi\o em impugnac,·5o ao cumprimento da sentenra (art . .13 § 3 ° J L ·
ficados no processo civil. Este cen~í.rio é h istórico e induzido pela prcípria literalidade
9.J07/19%} " ·, · , e rl e1 dos artigos da l ,ci de Arbitragem (ans. 32 e 33) .
• lmpugnac,;,'io de scnlt•nc,-a que n,"io dec iclf' lodo o lil'ígio submetido~ arbitragem Com efeito, definitivamente, a técnica não <.: o melhor atribuco <lestes artigos;
(.ir!. .lJ, § 4.", d,11.ci 9 .307/'l Y%) aliás, veja-se: a sentença é mda; a parte pode requerer a declamçiío da nulidade que, se
4. Aç.:io dcck1ratôri;i pélra impugn,)r procedimento e sent<~nc,:a arhilral procedewe () per/ido, rleclnnmí a nulidade? Da( porque se faz uma proposta ele "lei cura"
destes arcigos, e assim, buscar-se-á a melhor exegese diante da deficiência de sua reda-
ção. E reconhecidos os adequados avanços trazidos na rcforma apresentada pela Le i
13.129/2015, anote-se tt:r perdido o legislador a o porrunidade de melhor adequar
a sisrem,irica vigente.
Apresentamos, encão, a nossa perspectiva de amilise da descomtituição da sen-
tença arbitral:
N ão se podem baralhar nulidades civis com nulidades processuais; tam pouco
SUMÁRIO assimilar os efeitos de uma pela outra. 1
13.1. • INVALIDAÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL - UM NOVO OLHAR AO INSTITUTO 383
13.2. • DAS CAUSAS DE INVALIDAÇÃO DA SENTENCA ARBITRAL
389 1. F.m primoro.~o estudo sohre N11/id,ir.lcr rio f'rt!CC'Jso 1: d,1. st·11tmpt, :1 Prof. Tercs:1 Arruda Alvi111
13.3. • DO PRAZO PARA A PROPOSITURA DA AÇÃO,......................... :..........................-...............:::::
397 Wamhier, com a maestria q ue lhe,: carancristica, esgota o assunm, e dd:t rctiranios alguma~
13.4. • PR~CEDI MENTO ~ EFEITOS DA DESCONSTITU IÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL........... 398
passagens pertinentes à reflexão do quanto aqui referido: ··Efccivamcn te, 'pur séculos o direito de
13.5. • AÇAO DECLARATORIA PARA IMPUGNAR JURISDIÇÃO PROCEDIMENTO E A $EN Í()rm:t foi confL1ndido com o <li reiro de fun do', e o processo era classificado, no direito privado ,
como 'mero c::lpítulo do direito civil'. Ass im. cada ramo do direi 10 , aos pot1cos, hisroricamcnn;,
TENÇA ARBITRAL. .........................................................................•.....................................................- 403 se f"oi desgarra ndo <lo mais ancião dos direitos. De l:tr.o, cml.io r:1, com dc.:íto, haja wm1111híic,
13.6. • BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA. ...
. ............................................................................ 407 dt: rll'igc11s, :t ceoria das nulidade$ elaborada no plano do direito civil mío po& ser tmmpl,111t,1d1t
3 84 1 CURSO DE AIU31TRAGEM
INVALIDAÇAO DA SENTENÇA ARBITRAL 1 385

As nulidades pensadas pelos civilistas, e contidas nos arts. 166, 167 e I 71 da l · A invalidade da sentença arbitral submete-se ao prazo decaden~ial previsto em
.. , ~ b J l • d
c1v1 , saoa so utasou reativas, sen o que as primeiras são insanáveis, inclusive diante:
Qi
. (90 dias- art. 33, § 1. 0 , da Lei 9.307/1996). Esó mesmo a parte mreressada tem
da vontade das partes, e também são imunes à decadência e à prescrição (arr. 169 d 1~ -
CC/2002). As nulidades processuais, embora também se apresentem como abso~ 1egicírnidade para propor a açao. l ,. b ~
f.j nela, marcado o regime j w·ídico processua para a matena, outras o servaçoes
lucas e ~elacivas, têm critérios próprios para identificação do vício em uma ou outra
devem ser feiras: ... ,.,.._.
c~tegor'.a \esqueçam neste momento a referência ao Código Civil!) , e, como regra,
sao sanave1s, por vontade das partes ou outro motivo legal, inclusive pela predusão e
o árbitro éjuiz de fato ededireico (art. 18 da Lei 9.30711996), exerce jurisdição
·m profere sentença arbitral com natureza definitiva, sujeita à imutabiJ idade
pela decadência. Mesmos nomes, mas institutos distintos, com muitas semelhanças e, ass1 , d · di ·al 2
na essência, mas também diferenças na origem e nos efeitos. ' decorrente da coisa julgada material,. tal c?mo ocorre no ~aso a sentença Ju c1 .
Com os mesmos efeitos da se~tença Judic1~l (an._31 da Lei 9;307/1996)'. a s~nt~n~a
Quando a Lei d.e Arbitragem diz, em seu are. 32, que "é nula a sentença arbi- birrai é considerada pela le1 processual, mdus1ve, como mulo execuuvo Jud1c1al
tral", será equivocado tratar desta nulidade pelo regime jurídico do di reito material 7arc. 515, VII, do CP~ /2015).Ambo~osyronunciamencossão, sem dúvida, parelhos
impondo-se aplicar o sistema processual a respeito do vício e seus d ei tos. ' e com idêntica eficác1a no plano do d1re1co.
Diference, porém, quanto à causa em si da primeira hipótese de nulidade: "nula Por tudo, e em tudo, sentenças arbitrais e judiciais assemelham-se na essência.
a convenção". Enquanto negócio jurídico, seu defeito submete-se às categorias civis Se assim é, o regime jurídico para desconstituição de uma e outra é o mesmo, cada
e não processuais. M as proferida a sentença, esra "substitui" a conv.enção, e o quanr~ qual, porém, com seus próprios (às vezes comuns) fundamentos (causas) para tanto.
nela se concém, de tal fo rma que se não atacado o pronunciamento a tempo, even cuaJ
Sob este olhar, diverso do de vários comentaristas da Lei, temos uma identidade
víci_o da convenção pode subsistis para outras sin1ações, mas no objero da sentença
da ação do art. 33 em exame (invalidação da sentença arbitral) com a ação rescisória,
arbmal, sucumbe à impugnação na forma prevista paratanco, podendo o julgamento
inclusive alcan çar a imutabilidade. e não com ação declaratória de nulidade para correção de vício do ato jurídico.
Dito de outra forma: a tutela jurisdicional para atacar sentença arbitral, quan-
Ou seja, a invalidade de sentença é matéria que deve ser analisada com as lentes do qualificada como nula pela lei, considerados os vícios tipificados na norma, tem
do direito processual civil; por sua vez, a nulidade da co nvenção (causa legal para natureza desconsritutiva. Sentença arbitral viciada, nula ou anulável (na linguagem
aquela) se apura com base nos elementos do direico civil (direito material). processual), desconstimí-se, não se declara a nulidade (ou d~crera a nulida~e como
Esta distinção traz importantes efeitos: dizia a lei na versão original).3 E em momento oportuno adiante, falar-se-a sobre a

pam o campo do _direito público, pura e simplesmente, sem jirofundas :;idaptações. Deve, 2. Ou, como escreve Donaldo Armelin: ''O trânsito cm julgado de qualquer decisão, seja ela
po rtanto, n ccessarmmcn ce baver ada ptações das regr::is do direito civil, qu ando se ;is aplicam a judicial ou arbitral, dá-se quando ocorre a sua irrccorribilida1e, .im.p~cando a imucabi(idade
out ros ramos do direito, q ue atendem :tos pccLLLiares fenô men os .jurídicos de cada área. Angcl panprocessual do decídido. As situações assemelham-se na 1umd1çao escaca! e na privada.
Perm in Garro te [Los IJl:tos jurídicos pl'Ot·esrtle_.r. Er1,;dios de 1111/idndes pJ·ocmd,·s. Buenos Aires: Realmente, tanto em uma como em outra, à escabilidade das decisões serve o valor segurança
l;·fam murabi, 1980. p. 49J al ude à opinião de Palácio no sentido de q ue rodos os vlcios tio nto jurídica e, como caJ, deve ser prestigiada pelos rcspecrivos sistemas jurídicos" (ARJvlELIN,
pror.e.rmnlsiio co11vn.!id1lut·is, e recusa inregra.lmcm e que se recorra ao Código C ivil. Conconi-u,1os Donaldo. Notas sobre a ação rescisória em matéria arbitral. Revista de Arbítragem e Mediação.
in reiramcn re com a Forma co mo vê, eirado p rofossor, as: nu lidades do processo. D iscordamos, n. 1. ano 1. jan.-abr. 2004. p. 12).
todavia, quan do, no mes mo rexw eirado por Garrote, assevera Pnl:icio qLLc, po r serem snndvt•is 3. Ou. como escreve Teresa Arruda Alvim Wambier: "Para que se atinja uma sentença nula,
(= em endáveis) rodos os vícios do processo, seriam rodos eles :r nulabilida<les (ou nu lidades como é a sentença de mérito proferida por juízo incompetente, ou seja, em face da ausência
relarivas). A 110.rso l'tr. o c,mitt:r de sruutbilidnde, 110 dimto pâhlico, 11íio si: fig" 11 âmmst/Jndrt r.li: de um pressuposto processual de validade (= competência absoluta), é necessária uma .ação
se tratar, necessariamente, de nuiid11de reltttívn. Ao .con rr:írio, no processo, sana-se are! mesmo a descomtit11tiva. Isco porque os aros do Poder Público ficam acobertados por uma espécJ~ ~e
ine.xisrência jurídica (v., por exemplo, are. 37, pru;ágmfo único, do CPC). A vinculação cnrre a 'mamo protetor', que, no caso dos atos do juiz, é a coisa julgada, q~1e deve, para que se.at•.nia
sanabilidade e a nulidade relativa só ocorre no direito privado, segundo a visão que p·ropomos, a sentença nula (que terá, todavia, transicado cm julgado), necessanamente ser desconstztu:'da,
como adiance se verá, com mais vagar. Mas, como j.l se disse, não se pode assimilar o si.m:ma para que, indireta e medíacamente, o vício seja atingido (o vício de nulidade absol~ta). Ve-se,
das n.ulid.,~cs processuais ao ~as_ nulidades civis [Procurar subsídios no direito civil, que é pois, nessa circunstância, mais uma diferença nitidamence percepcível entre o regime de nu-
o mais antigo dos ramos do d1re1co, é uma esp écie de vício dos pressuposros (Alvim Neno, lidades no direito processual civil e no direito civil, pois, nesce ramo do direito, nulidades ~ão
2007/109).)" (WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do processo e da sentença. 6. ed. declaradas como tal e anulabilidades são desconscicuídas'' (WAMBIER, Teresa Arruda Alvim,
São Paulo: Ed. RT, 2007. p. 142-146 e 153).
op. cic., p. 157).
386 1 C URSO OE: ARBITRA(; liM
IN VALIDAÇÃO DA SEN TENÇA ARBITRAL 1 387

ação declaTatória de inexistência, cuja causa é diversa daquela enunciada no art. 3


agora em exame. 2 Aliás, talvez tenha havido apenas preconceito do legislador (de 1996 e de
2015) em emparelhar a ação à rescisória (embora esta mais restrita, pois apenas para
Os vícios legais (~rt. 3~ da Lei 9 .307/ 1996) são de ordem material e processual; sentença de méciro, e o rom pimento da sentença arbitral nas hipóteses legais pode
conforme ~ caso, relativos a sentença (enquanto instrumento jurídico), ao procedi- atingir, conforme o caso, também sentenças terminati11as), mas a ideia deve ser esta:
~ento e ate mesmo ,ante~ior a este (no caso da convenção) . Existem, pois, elementos desconstituiçíio da sentença arbitral tem seu cabim ento nas hipóteses previstas no
3
internos e externos a arbmagem que p odem ensejar O rompimento do laudo. are. 32 em comento, e só neles (extremamente abrangentes como se verá). A tutela
Desta forma, à exceção do inciso I, impróprio p rocurar encaixar os demais incisos não é declnmtóritt de mdidnde (como trai.id o pela reforma de 201 5 em substituição
do arr. ~2 em exame - causas de desconstituiçíio da sentença arbitral- nas categoria à decretação de nulidade enrão prevista), mas descomtitutiva pelo vício de nulidad e
dos defeitos dos atos jurídicos (ares 166 167 e 171 do C C/2OO2) D e s (processual) que na sentença se contém.
fi · · ' - a mesma 10rma
a g ura-se inadequado falar-se em vício relativo ou absoluto na forma que vem send~ Em recente escrico sobre a matéria, confortou-nos ver que Cândido Rangel
em geral apresentada. A regra contém hipóteses legais para se atacar O julgamento. p0 Dinamarco ta.m bém reconhece como desconstitutiva esta ação; assim: "A demanda de
qualque: delas, cabe a ~çáo. P~u~o importa se algumas dessas causas estão contidas; sua anulação tem natureza claramente constitutiva negativa, porque a pronúncia de
o utras nao em categonas do drreito civil. 4 sua procedência cem por efeicoa im planraçáo de umasiruação jurídica nova mediante
a eliminação da sentença impugnada do m undo jurídico". 7
b · Nesta linha, confirma-se a conclusão · acima·· a ação para descons•·:tu
•• ,zr· a sentença
~r mal tem prazo decadencial de 90 dias p_a~ ser proposta, exclusivamente pela parre Por esta razão, neste particular, em nosso entender, a reforma da Lei de.Arbitragem,
interessada. "':'p~s ~ste p razo, torna-sedefinmvamente imutável, tal qual a coisa julgada data vênia, deu passos para trás. Aqueles que dela participaram não se aperceberam da
da sentença Jud1e1al após o prazo para a propositura da ação rescisória. confusão que hoje se tem a respeito, e quanto ao instituto em si, apenas trocaram "de-
~~vir~a-se, porém, co11:o se verá, _si_tuações rerarológicas e excepcionais, em que, cretação" por "dedaração"/ 1 confirmando uma vez mais a confusão entre as nulidades
por via indireta, pode-se remar a eficacra da sencença arbitral em razão de nulidad do sistema jurídico. Mas repita-se: encerrado o procedimento por sentença, a eventual
ab!oluta da c?~wen ão ~u~ a ?rigino u, como igualmente, já se sabe, pode ocorrer :
7 exclusão de seus efeitos se faz por desconstiruição, não por declaração ou decretação.
açao declaratona de 1nex1steoc1a até mesmo de sen tença judicial, mesmo já consum d 0 Evidentemente a declaração o u decretação se contém na desconstituição, m as
0 prazo para a ação rescisória. ª a ação de invalidação do art. 33 em exame vai além de declarar ou decretar o vício,
E ainda, também_se aplica à sentença arbitral de aprovação da transação entre pois cm razão deste defeito, "q uebra" a sentença, rompe sua imutabilidade, desfaz a
as P:rtes (art. 28 da \ei 9:307/1996) , em nosso sentir, a tutela prevista no arr. 966, relação jurídica dela emergente, retira os poderes e efeitos do título, até então com
§ 4. , do CPC/2O15, pois o acordo pode ser rescindido6 ''como os acos jurídicos plena eficácia.
geral,_n_os termos da lei civil", e sua quebra compromete naturalmente O ato ho~ : A ação tem cabimento em situações restritas, reservadas exclusivamente àque-
logatono daí decorrente. las circunstâncias identificadas de fo rma taxaciva, ou, como se diz na doutrina, em
Enfim, colocamos a aç~o prevista para o rompimento da senrença arbitral
numerus clausus. 9 Aliás, não podem as partes ampliar o rol das causas de nulidade da
na quadra processual. _O leg,islador elegeu d eterminados vícios como suficien tes
p ~ra gera~ 0 reco~hec1menco de sua invalidade a ser manejado através de remé- 7 . .A 1tl'l1t1mgmi ntt lt:oria gemi do procmo. São Paulo: Malheiros, 20 13. p. 236. recomenda-se
dw, es~eci.fico: ~çao com natureza desconstitutiva, prevista no art. 33 d a Lei de
regcnc1a d a ar bitragem .
também a leitura dos itens 92 e scguinres a respeito <la invalidação de sentença arbirral.
8. A nova redação proposta ao art. 33 e seu§ 1.0 , reproduziu-se nestes disposirivos, no a.~pCClO cm
que~t:io, o texto original substituindo-se a palavra "decretaç.'io" por "declar:tç:io'". Cf. adiante, cm
"Anexos'", especificnmeore no "'Anexo 2", o rexro consolidado da Lei de Arbicrngcm, apontad:is
4. Co'.11º ~ Código de Processo Civil contém hipóteses legais para a ação mcísória. a.s revogações, inclusões e :tlte,.,1.çõcs crazidns pelo Lei 13.129 ele 26.05.20 15 com destaques
5. Assim· Os aros de dispos·,.,-o
1 1 d d' · · d próprios, indicada também a versão origi1,al pat·n confronraçlio.
d ' Y' e irenos, praaca os pelas parces ou por omros parricipanres
O
d p~c~o e ho_mol~g~dos. pelo juízo, bem como os :1Cos homolobrarórios praric:idos no curso 9. Como, aliás, muito bem diz.Donaldo Armelin: "Tal como sucede com a nç.'io rescisória, a anula-
a execuçao, e~cao SUJe1ros a anulação, nos termos da lei". tória esci vinculadn a cerras hipóteses de cabimento, especificadas em numtrus clmm,s no :u-r. 32
6. Tam.bém imprópria a ref:rênci~, po!s, ao contrário de como se fez na Lei de Arbitragem, aqui da Lei 9.307/ l 996. Ou seja, é umn nção de :lmbiro restrito de cabimento, cuja admissibilida.de
tecnicamen te temos a açao de 1nval1dação, e não re.-cisória. e:<igc um prévio exnme de sua subsunção à hipórese lego! autorizadora de seu. ajuiiamemo"
(ARMELIN, Donaldo. Notas sobre a ação rescisória em matéria arbitral, cir., irem 11). Ne.~re
388 1 CURSODEARBITRAGEM INVALIDAÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL 1 389

sentença elencadas, tampouco renunciar previamente à incidência dos arrs. 32 e 33 Por fim, de forma alguma se pode utilizar deste expediente para se rediscutir a
da Lei de Arbitragem, considerados cogentes, pelo que neles se contém, a despeito inacériade fundo decidi.da. O inconformismo do vencido coma solução jurídica dada
da maior autonomia da vontade em sede arbitral. aO
conlfüo pelo árbitro {ou tribunal arbitral) não é causa de ação de invalidação de
Ainda, a nulidade convalesce pelo decur!>o do prazo, em homenagem à segurança sentença arbitral, ou seja, t1rror i.n judicrmdo é matéria estranha à desconsticuição do
das relações jurídicas. Quer-se, por Lei, a estabilização da decisão arbitral em curto •u]oaclo pela forma prevista na Lei de A rbirragem e o Poder Judiciário não é instância
J b •
espaço. Os vícios em si que fundamentam a ação podem, conforme o caso, encontrar revisora ou rectLrsa.l da semença arbrcraL
ambiente na legislação civil para sua identificação, mas a sentença será nula, sempre
na dicção exclusivamente processual, se qualquer das hipóteses se verificarem, con- 13.2. DAS CAUSAS DE INVALIDAÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL
dicionada à propositura oportuno tempore da ação, sob pena de, com a exaustão do
Diz a Lei de Arbitragem:
prazo, imunizar-se o julgado.
Art. 32. É nula a sentença arbitral se:
Em conclusão: melhor será reconhecer o sistema de rompimento da sentença
arbitral ~omo sendo assim: "A sentença arbitral poderá ser desconscinúda se ... " em 1-for nula a convenção de arbitragem;
vez de "E nula a sentença arbitral se... ", para evitar confusão dos intérpretes. E, em II- emanou de quem não podia ser árbitro;
complemento, a ação (de desconstituição) será proposta pela parte interessada no órgão III - não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei;
do PoderJudiciário competente, no prazo de até90 dias do recebimento da notificação da
IV - for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem;
sentença, parcial ou final, ou da decisão do pedido de esclarecimentos.
V -(revogado); 11
A reconhecida semelhança entre sentença arbitral e judicial não permite, porém,
admitir àquela submeter-se à ação rescisória, privativa desta. O legislador identifica a VI - comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção
patologia de cada qual e a ação própria para sua desconstiruição. 10 passiva;
E a reservada à sentença arbitral tem prazo exíguo, exatamente prestigiando a VII- proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso III, desta
celeridade da jurisdição privada e a expectativa de rapidamente se encontrar a esta- Lei; e
bilização da solução imposta à causa. VIU-forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2.0 , desta Lei.
Vejamos separadamente cada uma das causas.
sentido, também Carlos Alherco Carmona (CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo, /- for nula a convenção de arbitragem:
cic., p. 399) e Luiz Antonio Scavone Junior (SCAVONE JUNIOR, Luiz Antonio. Manu,d de
arbitmgem, cit., p. 162). Em sencido contrário, José Cretella Neto (CRETELLA NETO, José. De pronto, observa-se a adequada correção do dispositivo introduzida pela Lei
Curso de arbitragem. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 121 ),porém traz o autor leitura diversa 13.129/2015 ao substituir a referência à nulidade do compromisso, por nulidade da
da aqui apresentada, no sentido de que "a sentença arbitral é espécie, de que o negócio jurídico convenção de arbitragem. 12
é gênero" e assim, poderia padecer dos mesmos v{cios dos atos jurídicos em geral tipificados no
Código Civil. Registre-se, por oportuno, que também se enconcra na douttina a inclusão de
Em edições anteriores deste "Curso", apontávamos a impropriedade da redação
mai.~ uma hipótese de invalidação, consistente na violação pela sentença de ordem pública, sob o original deste inciso, bem como consignávamos a sua exata exegese. 13 E atemo a esta
argumenco de que, se o pronunciamento assim proferido impede a homologação (art. 39, H, Lei questão, a reforma de 2015 corrigiu a redação deste inc. 1.
9.307/1996), por igual deve autorizar a invalidação da sentença; porém, o enfrenramenro desta
questão escapa dos limites pretendidos neste curso, pelo que apenas se faz o registro da quescão.
10. Neste sentido, Donaldo Armelin: "Portanto, não parece aceitável a admissibilidade de ação 1 L Revogada a previsão pela Lei 13.129/2015, pois introduzida siscemátíca própria para a solução
rescisória para complementar o quadro de ações judiciais estabelecido para o ataque da sentença desce vício quanto contido na sentença arbitral, conforme icem 13.4.1 abaixo.
arbitral já imutável. Este é suficiente para propiciar o reexame da macéria decidida pela via arbitral 12. Cf. adiante, em "Anexos", especificamente em "Anexo 2", o texto consolidado da Lei de Arbi-
e, como sucede com a ação rescisória, não objetiva o julgamento de decisões injustas, mas sim tragem, apontadas as revog-ações, inclusões e alterações trazidas pela Lei 13.129 de 26.05.2015
daquelas que se encartem na.s hipóteses do are. 32 da Lei 9.307/1996" (ARMELIN, Donaldo. com destaques próprios, indiaida também a versiio original para confrontação.
Notas sobre a ação rescisória em matéria arbitral, cit., p. 13). Também assim o Enunciado I da 13. .Embora se co nheça a hermenêutica do sentido de imerp recnr rcsrrimm emc no rma impositiva
l Jornada Prevenção e Solução Extrajudicial de Litígios, promovida entre 22 e 23 de agosto de de sanção - aqu.i gravíssima có nsis tentc. nn inv:tlidaç.ío da sentença-, é p:iccnre rer havido
2016 pelo Centro de Estudos Judiciário do Conselho da Justiça Federal: "A sentença arbitral não erro do legislador na indicação do inscrumenro a ser avaliado. Disse o legislado r menos do
está sujeita à ação rescisória". Cf. em "Anexo 7" o texto integral dos enunciados aprovados. guc pretend ia: leia-se no ccxco convenção arbitral, e não apenas compromisso. [Este é wn dos
390 1 CURSO DF. ARRITRAGF.M INVALIDAÇÃO DA SENTENÇA ARB!l'RAL 1 391

A convenção arbitral é um negócio jurídico, resultante da autonomia privada Em qualquer dos casos, verificado o vício na convenção, apura.do de acordo com
(,zutonomia da vontade das partes) a afastar o conflito da jurisdição estatal, e, assim, 0direito material (em especial a Lei de Arbitragem e o Código Civil), há fundamento
deve ser tratada como tal- negócio jurídico. para <lesconscicuição da sentença arbitral.
Quer-se aqui dizer que esta causa de desconsrituição da sentença arbitral deve Observe-se ainda que, quando o vício da convenção (negócio jurídico) for con-
ser analisada sob as luzes do direito material. A patologia, então, é buscada de acordo siderado pelo direito material como sendo de nulidade absoluta, será desnecessária
com os defeitos do ato jurídico previstos no Código Civil. a sua prévia arguição durante a arbitragem, pois, sendo de ordem pública, escapa da
E assim, será nula a convenção quando: 1- celebrada por pessoa absolutamente disponibilidade das partes, impedindo o seu saneamento durante o procedimento.
incapaz; II - for ilícito, impossível ou indeterminado o seu objeto; lJJ - o motivo Assim, enquanto nulo, o ato não se convalida, e mesmo omissa a parte até a sentença,
determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV -não revestira forma prescrita o vício contamina toda a arbitragem, e compromete, inclusive, a decisão que estará
em lei; V - for preterida alguma solenidade que a lei considera essencial para a sua exposta à invalidação nos termos dos arts. 32 e 33 da Lei Especial.
validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VH - a lei taxativamente a Por outro lado, se o vício da convenção for considerado pelo direto material
declarar nula, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção (are. 166 do CC/2002); como sendo relativo, sua arguição deve ser feita no momento oportuno (p. ex., are. 20
e também se verificada a simulação (are. 167 do CC/2002).
da Lei 9.307/1996), sob pena de impedir que venha a ser invocado como causa de
Também, por certo, vícios do negócio jurídico previstos em legislação material invalidação da sentença.
específica igualmente serão considerados para verificação da ocorrência desta causa
No entanto, repita-se, mesmo sendo o caso de nulidade absoluta, o rompimen-
de desconstituição da sentença; mas tudo se encampa no próprio Código Civil, pela
to do julgado com base nesta causa específica por meio do ajuízamento da ação de
abrangência dos incisos acima referidos, ao se reportarem a rodo ordenamento jurídico
desconsticuição da sentença deverá obedecer ao prazo cerco e decadencial de 90 dias.
material. A seu turno, deve ser verificado, aí n<la, se as partes, na convenção, fizeram a
escolha de outra lei aplicável naarbirragem, hipótese em que igualmente os requisitos Ultrapassado o prazo, não mais caberá a ação de desconscicuição da sentença
evencualmence nesta previstos serão observados. arbitral com fundamento nos ares. 32, I, e 33 da Lei de Arbitragem (mesmo se veri-
Pela previsão contida nos incisos V e VH do are. 166 do CC/2002 acima transcritos, ficado vício de nulidade absoluta no compromisso), pois a nulidade da sentença -
devem ser obedecidos os requisitos exigidos na Lei de Arbitragem tanto para a celebra- patologia processual-sucumbe à inércia. Porém, como adiante se verá, reconhecemos
çáo do compromisso arbitral, como para a contratação da cláusula compromissória. a possibilidade de ação própria para declarar a inexistência da decisão ou da própria
jurisdição arbitral.
Assim, os elementos necessários à convenção arbitral devem estar presentes. 1'1 Da
mesma forma, considera-se comprometida a convenção se verificada a incapacidade das O que se observa, realmen ce, é a diversidade na forma de impugnação da sentença
partes, ou quando o objeto daarbicragem versar sobre matéria de direito indisponível, arbitral pelo vício de nulidade da convenção: pode ser atacado o julgamento através
pois nestes casos faltará o requisito da arbítrabilidade subjetiva e objetiva (are. 1.° da da ação do art. 33 da Lei de Arbitragem, ou em impugnação ao cumprimento judicial
Lei 9.307/1996), 15 embora nestas situações se possa reconhecer, excepcionalmente, da sentença. arbitral condenatória (art. 33, § 3.0 , da Lei 9.307 /1996), ou, ainda, por
a inexistência do juízo arbitral, como adiante se verá. efeito reflexo da ação declaratória de nulidade.
Na adequada exegese do inciso I em exame estão contidos, como visto, os de-
problemas de se separar na lei os insrrumencos ckíw11/11 e compromisso, sendo que países com feitos da convenção elencados no are. 20 da Lei de Arbitragem (nulidade, invalidade
maior cultura arhitral, como a Espanha, tr;1tam de ambos sern distinção quanto aos efoiros. ou ineficácia da convenção), e a este deve ser agregado o parágrafo único do an. 8.o,
referindo-se, simplesmente, ao convênio flrbitml (Lei 60/2003, em especial are. 9. 0 )]. E esta conferindo ao árbitro a jurisdição para decidir "as questões acerca da existência, va-
conclusão, além de evidente, resulta da interpretação sisremática da própria Lei de Arbirra-
gem. Isco porque seu are. 20, ao tratar do momenco de arguição de "nulidade, invalidade ou
lidade e eficácia da convenção".
ineficácia da convenção de arbitragem", estabelece expressamente que, rejeitada a queixa, o Queremos dizer, então, que também as causas de nulidade relativas ou anulabi-
procedimento ted seu seguimento normal, ''sem prejuízo de vir a ser examinada a decisão pelo lidades previstas canto na legislação civil como na especial, com relação à convenção
órgão do Poder Judiciário competente, quando da eventual proposirura da demanda de que
de arbitragem, também autorizam a ação de desconsticuição da sentença arbitral.
trata o :m. 33 desta Lei'' (art. 20, § 2. 0 , da lei 9.30711996).
14. C[ a respeito dos requisitos da convenção arbitral no Capítulo 6, supra. Advirta-se, porém, que, conforme a patologia, se assim for admitido no orde-
15. C[ a respeito Capítulo 5, supra. namento para o respectivo defeito, nada impede seja sanado o vício pelas partes no
392 1 CURSO VEARllfTRAG.l!.M INVALIDAÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL 1 393

Juízo arbitral, a qualquer momento, em especial quando instituída a arbitragem, para Ausente algum destes elementos, a sentença poderá ser desconsri tuída por vício
se preservar o procedimento, e respectiva sentença. deforma.
II - emanou de quem não podia ser árbitro; ~enha-se, porém, o indispensável bom-senso e razoabilidade para a identificação
Já se analisou o necessário para a atuação do árbitro. E permite a Lei que seja do vícto como sendo apto a ensejar tão severa repercussão, que é a desconsticuição
desconstituída a sentença proferida por quem não poderia assumir a investidura. d~ ~encença. Neste sentido: ~ais se deve valorizar a questão de fundo subjacente ao
Para relembrar esse ponto, cumpre dizer que a incapacidade civil obsta a ativi- vicio de forma do que a obJetlva constatação de sua ocorrência.
dade jurisdicional. Da mesma forma, também não pode ser nomeado árbitro pessoa Assim sendo, faz-se necessária a demonstração pelo interessado da relevância
jurídica, no pressuposto de que a atribuição jurisdicional é pcrsonalíssima. 111 na identificação do vício para determinado fim específico, apontando O prejuízo
Por sua vez, o art. 14 da Lei de Arbitragem prevê serem impedidas de funcio- decorrente do defeito de forma.
nar como árbitros as pessoas que tenham com as partes ou com o ücígio alguma das Por exemplo, se houver dúvida quanto à nacionalidade da sentença pela omissão
relações que caracterizam impedimento ou suspeição de juízes (ares. 144 e 14,5 do do local em que foi proferida e esta não puder se extrair de outros elementos contidos
CPC/2015), Além dessas causas, também não podem funcionar como árbitros aqueles no pr~ópri? laudo (rel~tório: fundamentação etc.), ainda assim, apenas se apontado
que tenham com as partes alguma relação que cause a elas alguma desconfiança em na açao o mteresse na 1dent1ficação do local, por este ou aquele motivo, referindo-se
relação à sua independência e à sua imparcialidade e que não renha sido revelada no às consequência_s de uma ou outra si mação, é que se terá pertinência a invalidação da
cempo oportuno e aceita pelas partes (dever de revelação dos árbitros). sentença. Ou, dito de outra forma, não se desconstitui a sentença se do alegado vício
Ainda, a convenção arbitral pode estabelecer certos requisitos para a nomeação não houver prejuízo à parte.
do árbitro, como, por exemplo, integrar determinada classe profissional, possuir . Em rel.ação ao conteúdo da sentença, a ausência do relatório pode, em tese, carac-
certos títulos acadêmicos ou qualificações específicas. Nestes casos, aqueles cujo perfil ~enza~ a n u!1d.ade da s~n tença, porém, se apresentado de forma concisa, suficiente para
não se enquadra nos elememos identificados pelas partes não podem ser árbitros, na 1denaficaçao do conflito, cem-se por superada a exigência legal, salvo se demonstrado
acepção sugerida neste inciso II. que a insuficiência de elementos nesta parte do julgado comprometeu o resultado final.
Contudo, a recusa ao árbirro "impedido" ou sem a qualificação desejada na Mais preocupante, sem dúvida, a ausência de fundamentação, até porque a
convenção pelas panes deve ser previamente manifestada, no momento oportuno exigência de motivaçãoseconcém inclusive na Constituição Federal, como elemento
(arts. 14, 15 e 20 da Lei 9 .307/ 1996). indispensável à jurisdição. Neste particular, necessário constar na sentença os fun-
Mas, como já se disse (Capítulo 8), se não apresentada a recusa, e, pois, superado dame~cos pelos quais o julgador entenda suficientes para decidir desta ou daquela
o vício, mesmo assim subsiste ao árbitro o dever de conduzir a arbitragem com total mane1ra. Não se reclama gue sejam rebatidos pelo árbitro todos os argumentos apre-
imparcialidade, sob pena de incorrer em outra causa específica de desconstiruição sentados pelas partes no curso do procedimento. A sentença não é um instr.umen to de
da sentença arbitral, prevista no inciso V111 do art. 32 da Lei de Regência, adiante defesa e repúdio aos fundamentos apresentados por quaisquer das partes, mas ambiente
analisado. para que o julgador identifique de maneira clara e precisa a motivação de sua decisão,
III- não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei; ao reconhecer os fatos e o direito que entende aplicável ao conflito sob seu exame. A
~~menração, assim, pode ser ponrual e objetiva, desde que suficientemente precisa
O are. 26 da Lei de Arbitragem estabelece os requisitos obrigatórios da scntençfl
a JUsc1ficar as razões de decidir. Lembre-se não se prestar a ação de desconsticuição da
arbilral: relatório, fundamentação, dispositivo, assinatura, dara e local em que foi semen? ~rb itral à revisão da sentença, mas sim à sua invalidação por descuroprimemo
proferida, sendo pertinen re ai ncl usão, nestas exigências, da forma escrita (are. 24 da
de requ1S1to legal, aqui identificado pela ausência de fundamentação.
Lei 9.307/1996), tudo como já antes analisado. 17 Sem dúvida, melhor será a apre-
sentação de pedido de esclarecimento, para sanar a falta de qualquer destes requisitos, . Por fim, quanto ao vício no dispositivo,se faltar nasenrençaa decisão sobre o con-
como já referido, embora não se tenha previsão pontual para tanto. fluo, possfvelserásuainvalidação. Espccificamcmcquanro à parte decisória, também se
~n.eccssária, além de sua existl!ncia, a correspondênciaàconvenção arbitral eao próprio
lit1gio submetido à arbitragem, como adiante se verá (inciso IV do artigo em exame).
16. Cf. Capítulo 7, item 7.2, supra. · . Apesar de não ser reqttisico para a propositura da ação de invalidação da sentença
17. Capítulo 11, supra. arbitral a préviaapresencaçãode pedido de esclarecimentos {art. 30 da Lei 9.307/1996),
394 1 CURSO DE ARBITRAGl:.M INVALIDAÇÃO DA SF.NTENÇA ARBITRAL 1 395

parece-nos que esses "embargos arbirrais" representam a melhor forma de sanar estes Igualmente, vedado na convenção o julgamento por equidade, mesmo nas
vícios da sentença, especialmente quanto à omissão a respeito da fundamentação e hipóteses em que a lei material eventualmente autoriza tal método, o árbitro estará
do próprio acolhimento ou rejeição de pcdjdos. adstrito à vontade das partes, e assim, caso a sentença venha a decidir O conflito
IV -forproferid,, fam dos liinites da convenção de arbitragem; fundamentando-se na equidade, será nula, na forma prevista no inciso em exame.
Aconvenç,fo de arbitragem (dáusulaou compromisso) desenha a molduraden- Po_r ou,tro !~do, pode acontecer de, na sentença, não se decidir todo o litígio
rro da q ual a jurisd ição arbitral sed desenvolvida . No quanro ultrapassado os limites submec1do a arbmagem. Neste caso, não se estará propriamente fora dos limites,
da convençáo, a sentença será recortada e desconsrituída. E para aquele pedido com mas aquém da convenção e pedidos. Para esta patologia, antes indicada como causa
apreciação fa 1rance no julgamen co, haverá de ser complemen cada a sentença. própria de invalidação (no revogado inc. V desce artigo), a reforma de 2015 trouxe
outra sisccmácica, a ser analisada adiante (item 13.4. 1).
As hipóteses, aqui, são mais acadêmicas, pois na prática cudo flui bem, e assim se
espera, na arbitragem. Mas figure-se a hipótese das partes terem admi tido definição V! - comprovado quefoi proferidaporprevaricação, concussão ou corrupçãopassiva;
do n.11 rlebeatur na arbitragem, reservando a apuração do 1ua11.tmn tlebeatm· ao juízo ldenti~ca ~ Lei de Arbi tra~em, neste ~nciso, três deli tos passíveis de serem prati-
escara!, ou ainda, tenham limirado a incidência de encargos e multas, ou mesmo a cados p~los arbm?s, nesta qualidade, equiparados a funci onários públicos, inclusive
responsabilidade pelas cuscas e despesas da arbitragem. Caso a conden:ição venha a para efeitos da legLSktçíio penal (arr. 17 da Lei 9.307/1996): prevaricação, concussão
impor estas obrigações, há causa para a ação de desconstiruição. e corrupção, tipificados, respectivamente, nos arrs. 3 I 9, 316 e 317 do CP. 2º Em
O vícioconsisceem seproFer.ir uma decisão 1tftrapetita, e cal q ual se faz.em relação quaisquer das h~póteses, por interesse pessoal ou por alguma vantagem para si ou
à sentença judicial, apenas a parcela contaminada pelo vicio deve ser comprometida, para outrem, o Julgador atrasa a sentença o u direciona seu julgamento a uma das
preservando-se a parte sadia do julgamenco. 111 H averá, então, invalidação apenas partes. E tal qual o pronunciamento assim proferido por um Juiz. togado (art. 485,
parcial da sentença.
Também se inclui na patologia prevista neste inciso a sentença extra petita, ou a qualificação determinada pelas partes, o quarto inciso garante que a forma de escolha do
seja, impondo condenação cujo objeto ~diverso daquele conri~o naco'.wc~1ção. Nestes julgador_deverá se~ui r ~ métod~ escolhido pelos contendentes. Assim, se ficar consignado na
co_n".'ençao que serao t res os árbmos, não podení o órgão arbitral (em caso de arbitragem ad-
casos, a desconsciruiçáo da sentença anngc codo o seu conteudo decisório.
m1~_1strada) alt~ra~ a reg~a; s~ fic~.r c~migna~o que o presi~ence do painel sera escolhido pelo
Sob ouLra pecspectiva, estabelece a convenção, além do objero do confl ico, o presidente do orgao arbitral msttcuc1onal, nao pode a enudade delegar a escolha aos árbitros
procedimento a ser adotado para a sua solução. E igualmente, este deverá ser seguido nome~dos pelas pa_rtcs; se estiver consignado que os árbitros indicados pelas partes escolherão
sob pena de comprometer a arbitragem. o presidente do painel entre os profi~ionaís constan tes de uma determinada lista de árbitcos
da entidade, não poder.ta escolha recair sobre alguém q ue não in tegre tal lista" (CARMONA,
Veja-sea hipócese deteremas parresde6nidoexpressamenteo númerodc~rbio-os Carlos Alberto. Arbitragem e procmo, cit., p. 406-407).
e a forma de escolha do presidente, para formação de tribunal. O desenvolvimento 20. Os crimes referidos estão ass im ti pificados no Código Penal: Prevaricação -Arr. 319. Recardar
da arbitragem e a sentença proferida ao arrepio do quanto estabelecido na convenção o~ deixar d~ pratic~r, indevidamente, ato de ofício, ou p raticá-lo contra disposição expressa de
devem ser invalidados. t 9 lei, para sansfo1.cr interesse ou senrimenro pessoal : Pena - detenção, de três meses a um ano
e multa. Concussão - Ar e. 31 6. Exigir para si ou para outrem, d ireta ou indiretamente, ainda
que fora da função, ou antes de assu mi-la, m as em razão dela, vantagem indevida: Pena - re-
18. Cf., neste sc.mrido, STJ, REsp 84.847/SP, 3."T, rei. Min. Ari Pa.rgcndlcr, DJ20.09.1t>99, no clusão, de dois a o_ito anos_e mu!ta. § 1.0 Se o funcionário exige tributo ou conrri buiç.'ío social
qual se consignou: "O rcconbccimcnro do julgamento 11/tnr pi:titfl não implica. n anulação da que sabe ou devem. saher indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório
senrença; seu cfciro é o de diminar o excesso d:i conden:1ç:io"; e, m:11s recente. STJ, EDd ~o ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de três a oito anos, e m ulta. § 2.0 Se 0
AgRg no Agln 262.329-S. 6." T., j. 17.11.2005, v.u., rei. Min. H élio Qti.'lgli:1 Ba.rbosa, assim funcion,írio desvia, em proveito p róprio ou de outrem, o que recebeu indevida~en te para
emcnr:ido: "Configura-se 11lhr1 pnit11 a dcci:.ão que ulrr:ipas.~a os li mices traçados pcl:.1s ~:U:r~ e recolher aos ~o'.rcs p úhlicos: Pena - recl usão, d e dois a doze anos, e mulra. Corrupção pnssiv,i-
concede objcco diverso do discutido nos aucos, decidindo além do pedido expresso na 1mci:.1l. An.317. Solicitar ou receber, para si ou para o utrem, di reta ou indiretamente, ainda que fora
A decisão u!tm pi:ritn, ao contrário da e.wm pi:titr,, niio é mtlu. Ao invés de Sl'r anulada, deve da fun ção, ou antes, de assumi- la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar pro messa
ser redu1.1da aos limites <lo pedido~ (RT849/220); e, ainda, STJ, AgRg no REsp 753.397/SP. de tal vantagem: Pena - reclusão, de dois a doze anos e multa. § 1.0 A pena é aumentada de
2.• T., j. 28.08.2007, rd. Min. Jo5o Otávio de Noronha, DJ 14.09.2007. l/3, se, cm consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de pra.ricar
19. Ncscc sentido, Carmonn: " Por Am, o dispositivo enfocado rambêm abrange a hipóces<: de: qu_alque r ato _de ofício ou o pratica infri ngindo dever funcional.§ 2 .0 Se o funcio ná rio pratica,
0
nomeação de árbitros de modo diverso daquele determinado na convenção de atbicrngcm. dei~a depra_t1car ou retarda o ato de oficio, com infração de dever funcional, cedendo a pedido
. b' 1
,,,,..,nf1n in..-iso do nrr. 32 garante que não poder.i ser nomea do ar 1rro aquc e que na ~o cenha ou 1nfluenc1a de outrem: Pena - detenção, três meses a um ano, ou multa.
396 1 CURSO DEARBITRAGF.M INVALI DAÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL 1 397

I, do CPC/1 973-art. 966, I, do CPC/2015), a sentença estará comprometida pela notifi~~çã~ (art. 12, III, da Lei 9.307/1996). E assim, a parte inerte estará despida
objetiva e macroscópica parcialidade detectada a posteríori. zi de legmmtdade para a ação anulatória, pois não manifesto u seu interesse na forma
E aproveitando-se do paralelo feito com a sentença judicial, deve-se prestigiar a exigida em lei, ou seja, não cumpriu o requisito essencial para a ação: prévia notifi-
jurisprudência que dispensa para a propositura da ação d esconstituciva a prévia con- cação; e tudo condicionado à fluência in a/bis do prazo legal de tolerância - 1Odias.
denação do julgador em um dos crimes indicados na norma. A prova pode ser feita VIII-forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2. 0, desta Lei.
na própria ação, cujo resultado independe da solução do processo criminal. Ainda,
Como último vício tipificado no artigo em escudo a impor a nuUdade da sentença
o vício cometido por quem votou vencido não concamina a semcnça, se a posição
arbitral, estabelece a Lei a violação "aos princípios do contraditório, da igualdade das
adotada não interferiu na conclusão final alcançada pela maioria e cornada definiciva. 22
partes, da imparcialidade do árbitro e de seu livre convencimento" (art. 21, § 2. o, da
VII - proferidafora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso Jfl desta Lei; Lei 9.307/1996), tudo, como visto, comido na regra maior do devido processo legal,
A finalização do procedimento arbitral tem rempo certo, p or definição das a ser observado na arbitragem.
panes (na co nvenç.f o arbitral, no termo de arbitragem ou no regulamento da câmara Muito já se disse a respeito ao ser analisado o procedimento arbirral.23 Nesta
arbitral escolliida), o u por disposição legal fixando o prazo de 6 (seis) meses para ser oportunidade, convém ressaltar a questão da imparcialidade. Com efeito, diante da
proferida a sentença (art. 23 da Lei 9.307 /1996). 23 suspeita de potencial julgamento tendencioso, pode a parte apresentar exceção de
O descumprimento do prazo expõe a sentença à invalidação. Porém, para se recusa do árbitro apontando os motivos de sua desconfiança. Naquele momento, pelas
impor esta rigorosa consequência, indispensável se faz a prévia notificação do árbitro cir';1n~tâncias, a recu~ pode ser rejeitada. Porém , tal fato, como cambérn a própria
(ou presidente do rribunal arbitral) para ser proferida a decisão no prazo de l O dias. ausenc1a de oportuna impugnação do eleito, não retira do árbitro a obrigação de ser
O art. 12,111, indicado no inciso em exame, refere-se à necessária notificação imparcial.
prévia para ex tinção do comp romisso arbitral pela intempestiv idade da sentença, e, Neste contexto, verificada, a posteriori, a parcialidade com a qual o árbitro con-
ainda, reporta-se ao prazo definido pelas partes no compromisso . duziu o_pr~cedimento, e a se~tença proferida, caberá ao lesado, querendo, provocar
No entanto, disse a lei menos do que queria (ou deveria), e a interpretação a reavahaçao da conduta do Julgador através da ação do are. 33 da Lei 9.307/1996,
sistemática da Lei sugere que a invalidação da senrença, nesta hipótese, seja necessa- como também assim se lhe p ermite diante de qualquer ofensa ao devido processo legal.
riamente precedida da notificação, quer tenha sido fixado o prazo da arbitragem em
convenção (cláusula, compromisso, termo ou regulamento), quer incida, no silêncio 13.3. DO PRAZO PARAA PROPOSITURA DA AÇÃO
das partes, o prazo legal (art. 23 da Lei 9.307 /1996).
A seu turno, correto o entendimento de que somente o notificante poderá, que-
~os expressos termos ~o § 1. 0 1º
are. 33 da Lei de Arbitragem, a ação para
romptmenro da sentença arbitral considerada nula pelos motivos comidos no are. 32
rendo, propor a açãodesconsriturivada sentença proferida fora do prazo (e cercamente acima~nalisado "deverá ser proposra no pr3.7...o de até noventa dias após o recebimento
só irá pretender se a decisão lhe foi desfavorável). A outra parte, inerte até então, estará da nonficação da respectiva sentença, parcial ou final, ou da decisão do pedido de
impedida de, por este fundamento, pretender a invalidação da sentença. l 4 Com efeito, esclarecimentos''.
confere a lei à parte interessada na extinção do compromisso a necessária iniciativa da
Tra~a-s~ de pra~ decadencial, inclusive considerada a natureza do provimento:
desconsttcut1va; e, assim, não se suspende nem se interrompe.
2 1. Ntstc sentido, cf. ARMELIN, Donaldo. A ação declaratória em matéria arbitral. Revista dt
Arbim1ge111 e Aferlwpío. n. 9. :1110 LX, abr.-,un. 2006, p. l 16-1 17.
. _ O p~azo é_curto_, sem dúvida, mas se justifica pela celeridade esperada da juris-
diçao arbitral, mdustve para se alcança.r a estabilização da sentença, em prestígio à
22. Cf. a respeito d:i repercussão dcsres vícios no que se refere à ação rescisória, o casal Ncry, cm
segurança das relações sociais.
seu Código de Pr()~·1•ssn Ci11il 1·11111t:11t11tl11, n:l :111:llisc do art. 585 , 1, do dip.10111;1processu:tl (N E~Y
JUNI O R, Nelson; NERY, Ros:i Maria de Andrade. Cod;go de Prouno G 11il m111e11111do r /egu- . . . E sua Auência se faz em separado para cada parte, na medida em que o termo
Íttçiio e.wr,w,1g11111e. 1O. cd. São Paulo: Ed. RT, 2008).
~lc~aJ é a respectiva no tilicação da sentença, possível, então, de se realizar em datas
23. Art. 23. A senccnç:., arbimtl scr.í proferida no prnzo estipulado pelas p:mcs. Nada rendo sido distintas aos interessados.
convc11cionado, o pr:izo pMa :i <lprcscn cação da scn rcnça é de seis meses, com ado da instituição
da arbi tragem ou da substituição do .irbicro.
24. Cf. neste sentido, CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo, cir., p. 409. 2
5. Cf. Capítulo 8, supra, tspecificamtnre icem 8.2.
398 1 CURSO DEARBlTRAGEM INVALIDAÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL 1 399

Ainda, em havendo sentença parcial no curso do procedimento (Cf. Capítulo 11, § 3.0 A declaração de nulidade da sentença arbitral também poderá ser arguida
item 11.7), de sua notificação inicia-se o prazo para a respectiva ação de invalidação mediante impugnação, conforme o arr. 475-L e seguintes da Lei 5.869, de 11 de
pelo vício que nela eventualmente se contenha, independentemente de seguir-se o janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), se houver execução judicial". (Ou,
procedimento para sentença "final". 26 como introduzido pelo Código de Processo Civil:"§ 3.0 A decretação da nulidade
Pode acontecer, porém, de o vício debatido em face da sentença parcial con- da sentença arbitral também poderá ser requerida na impugnação ao cumprimento
taminar também a sentença final (p. ex., nulidade da convenção), e certamente o da sentença, nos termos dos ares. 525 e seguintes do Código de Processo Civil, se
houver execução judicial"). 29
julgamento arbitral se dará antes do estatal, reclamando até, em tese, a iniciativa de
nova ação de invalidação, quando da sentença "final", pela mesma causa. Todo este art. 33 (caput e parágrafos) foi modificado pela reforma de 2015; po-
rém, manteve-se a essência do instituto, com relação à forma e prazos de impugnação
Embora possível de maior debate a questão, anotamos que, mesmo diante de uma
da sentença por vicio especificado no are. 32. 30
aparente duplicidade de impugnação, evidentemente indesejada no sistema jurídico,
en rendemos que a faJ ta de irresignação tempestiva em face da sentença parcial tornará Por opção do legislador, indicou-se o procedimento comum para a ação de des-
a decisão definitivamente imutável, não mais passível de revisão. constituição da sentença arbitral (ares. 318 e ss., do CPC/2015), a ser direcionada,
quando se tratar de arbitragem com sede fixada no Brasil, ao órgão de primeiro grau
Por oportuno, lembre-se de que, em nosso sentir, até mesmo a impugnação da
do Poder Judiciário que seria com perente para julgar originariamente a causa. Pela sua
sentença condenatória quando em fase de cumprimento judicial, com o conteúdo do
natureza, devem ser partes da ação todos aqueles que assim figuraram no procedimento
art. 32 em análise, submete-se ao reduzido prazo de 90 dias, como já antes analisado. 27
arbitral; "os árbitros ou instituições arbitrais não possuem legitimidade para figurar
no polo passivo da ação prevista no are. 33, caput, e§ 4. 0 , da Lei 9.307/1996.".Jl
13.4. PROCEDIMENTO E EFEITOS DA DESCONSTITUIÇÃO DA
Diante de sentença arbitral estrangeira, deverá ser observada a legislação pro-
SENTENÇA ARBITRAL
cessual aplicável por convenção das partes. O objeto de nosso estudo aqui é apenas a
A Lei de Arbitragem assim estabelece: ação de desconstituição de sentença arbitral local.
"Art. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário com- Julgado procedente o pedido contido na ação, será desconsrimída no todo ou em
petente a declaração de nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos nesta Lei. parte a sentença arbitral, invalidando-se parcial ou totalmente o próprio procedimento,
§ l.º A demanda para a declaração de nulidade da sentença arbitral, parcial ou e ainda, conforme o caso, ficará comprometida até mesmo a opção pela jurisdição
final, seguirá as regras do procedimento comum, previstas na Lei 5.869, de 11 de arbitral. O resultado é circunstancial, dependendo da causa que lhe deu origem.
janeiro de 1973 (Código de Processo Civil),28 e deverá ser proposta no prazo de até Assim, por expressa previsão da lei, para cumprimento dos requisitos da senten-
90 (noventa) dias após o recebimento da notificação da respectiva sentença, parcial ça (arr. 26 da Lei 9.307 /1996), ou para adequação, em alguns casos, aos limites da
ou final, ou da decisão do pedido de esclarecimentos.
§ 2. 0 A sentença que julgar procedente o pedido declarará a nulidade da sentença 29. A invalidação de sentença arbitral através de impugnação ao cumprimento judicial da sentença
arbitral, nos casos do art. 32, e determinará, se for o caso, que o árbitro ou o tribunal é tratada no Capítulo 12, irem 12.4.4, para o qual se remete a leitura, ali anorada inclusive a
exaca interpretação desta regra para prevalência da nova sistemática processual de 2015, diante
profira nova sentença arbitral.
da revogação do Código de Processo Civil de 1973, citado na Lei de Regência reformada.
Anote-se, ainda, ser totalmente infértil a discussão a respeito de qual dos dois dispositivos
26. Se dúvida ou controvérsia acadêmica existissem no passado, com a modificação introduzida devem prevalecer: o incrodu:iido pela Lei 13.129/15, ou pelo Código de 2015, pois a exegese
pela reforma de 2015 esta questão mereceu a devida arenção e ajuste, optando o legislador de qualquer deles é idêntica, embora com sutil divergência redacional.
por fazer constar, expressamente, o termo inicial da conragem do prazo para impugnação da 30. Cf. adiante, em ''.Anexos'', especificamente no ''.Anexo 2", o texto consolidado da Lei de Arbi-
sentença parcial, conforme previsto na parte final da nova redação dada ao art. 33, § l.O. Cf. tragem, apontadas as revogações, inclusões e alterações trazidas pela Lei 13. 129 de 26.05.2015
adiante, em "Anexo.(, especificamente no ''Anexo 2", o texto consolidado da Lei de Arbitragem, com destaques próprios, indicada também a versão original para confrontação.
apontadas as revogações, inclusões e alterações trazidas pela Lei 13.129 de 26.05.2015 com 31. E'' ...• no cumprimento de sentença arbitral e cm tutelas de urgencia", cf. Enunciado 7 da I
destaques próprios, indicada também a versão original para confrontação. Jornada Prevenção e Solução Extrajudicial de Lirígios, promovida entre 22 e 23 de agosco de
27. Cf. Capítulo 12, icem 12.4.4. 2016 pelo Cemro de Esmdos Judiciário do Conselho da Justiça Federal. Cf. em "Anexo T' o
28. leia-se procedimento comum previsto nos ares. 318 e seguintes da Lei 13. 105/15 (CPC/2015). texto integral dos enunciados aprovados.
....

400 1 CURSO l)i'. i\RBITRA(;EM INVM.llMÇÃO DA SENTF.N(i\ AllBITIZAl. 1 401

convenção <le arbitragem, determina-se: ao ,í.rbitro, ou ao tribunal arbitral, que seja cumulação de pedidos ou por hipótese até reconvenção (se preenchidos,cvidcntemcntc,
proferida nova sentença (are. 33, § 2.0 e/e are. 32, 111, IV, da Lei 9.307 / 19%). Nesta os requisitos canto para um como para omra ampliação do objeto do litígio).
sicuação, excepcionalmente, até mesmo poderão ser retomadas etapas anteriores ao Por fim, é de se observar que a propositura da ação dedesconstimição da sentença
julgamento, como instrução, rcali1.ação de perícia etc., quan<lo necess,irio para a arbitral, tal qu.rl a apresentação de impugnação com este conteúdo {já antes analisa-
conformação da scn tença. da), por si só não obsta o prosseguimento <lo cumprimento judicial da condenação
Tratando-sede sentença cujotlecimm ultrapassa em parte a convenção (julgamen- nda prevista, tampouco i mpe<le efeitos declaratórios ou constinnivos estabelecidos.
to ult1,t pelitti), entendemos que, neste caso específico, bastará ao juízo estatal, como Porém, como ocorre em qualquer litígio, nada imp<..·dc que seja requerida tu cela pro-
acima referido, Jesconsticuira parceconcamina<la <lo pronunciamento, prescimli<lode visória (<le urgência ou de evidência) para su.spenderos efeitos da decí~ão atacada, se
outrasentençaarbitral para que a parcdasadiadadecisãovenha a produzir seus efeitos. preenchidos os pressupostos legais para talllo.11
Em ourros casos indicados na lei (art. 33, § 2. 0 c/c art. 32, I, II, VI, VII, VIII, 13.4. 1. Senlença que não decide todo o litígio submetido à arbitragem
<la Lei 9.30711996), o resultado é variado, mas, em linhas gerais, sed restabelecida
a situação jurídica anterior ao momemo em que foi detectado o vício, seguindo-si.' a A sentença proferida com este vício é tida como cit.rd petitti, e possuindo as par-
partir de então na tutela do direito da pane; assim: ces o direito )1 tutela exaurienre sobre o conflito levado ;1 arbitragem, o julgamento
Desconstituíd.a a sentença por nulidade total da convenção, ou por sua extinção incompleto evid.eruemence representa patologia :i ser sanada.
(incisos I e:: Vl f), ficará afastada, definitivamente, a jurisdição arbitral, embora nada Pela Lei 9 .307/ 1996, cm .sua versão original, o vício vinha tratado no inc. V
impeça que venham as panes hrmar nova convenção para levar o conflito ~1 arbitra- do are. 32J4 como causa prúpria, tipificada, de invalidação <la sentençt. E realmente,
gem, se assim desejarem e cumpridas as exigências legais (salvo, evidentemente:, se parecia c:xagerada punição, na medida cm que: se pode, sem qualquer dificuldade,
verificada a ausência de arbítrabilidade objetiva ou subjetiva ao caso). não deixar contaminar a parte boa do julgamento pela parte ddcirnosa (o quanto
omisso). Desta forma, já se mostrava possívd manter íntegros os pedidos apreciados,
Por sua vez, se a causa <la desconstituição atingir apenas uma etapa <lo procedi-
retornando-se à arbitragem apenas parn a complementação. E assim, a "invalidação",
mento, este poded ser resgatado desde então. Assim, afastado o <írbitro impedido,
st:ria propriamente apenas relativa ao encerramento da arbitragem.
viável ser:í o reinício do procedimento, com o cumprimento das exígências perti-
nentes para nomeação <lc seu substituto. Desrespeitado o contraditório, impõe-se a Com esta correta perspectiva a Lei 13.129/201 5 tra1. sistemática própria para
sua observância, invalidando os atos posteriores, mas preservado o quanto até então resolver a falta de julgamento de pedidos formulados na arbitragem, como se trata d
se caminhou. adiante, mas antes, é importante a identificação do vício; vejamos:
Importante notar que nas hipóteses acima deexdusãodo juízo arbitral, até mesmo A delimitação do litígio é foica no momc:nto inicial da arbitragem por ambas
quando afastada por inteiro a jurisdição arbitral sobre a matéria, haved julgamento as panes, ou seja, cal qual se foz na petição inicial apresentada cm juízo Estatal, o
pelo Judici,irio <lo conflito propriamente dito submetido ;1 arbitragem (matéria de solicitante formula suas pretensões no prazo previsto no regulamento ou no termo
fundo). Na oportunidade da apreciação da ação desconstinniva da sentença arbitral,
diversamente <lo quanto pode oconer no resultado de uma ação rescisória (onde se 3:1. i\li:b, a apur:tçfo d(l vÍÔ(l e cm cspccí:11 dos 1cquisico~ para :1 cutela provisória (de nrg<'.:ncia
permite, além dojufzo rescindente, o juízo rescisâríoou 1'l'1 isdrio), não haveníjulgamento
1 ou de c::vid2nc.iai men;cc cxtrcmn rigor, corno se cem verificado na pd ric;a, no pres.~u110sto,
cc:namclltt'., de l]UC a scnccnç;1 :irhítral, tal qual a judici:il, se prcvakcc d:1 prcs11nç:í1l e cxpcc-
pelo Judici,írio em substícuição ;t decisão rompida. 3~
c:niva dc ter sido pcrfcic:1. A respei10 da ancrcipaçfo de cuccla, conhr;1-sc acúrdfo do Ti-ilmnal
E assim, em regra, acolhida a ação, no caso de cxcl usão do juízo arbitrai, deve d ser de Justiç1 de São Paulo, com a seguinte cmcnca: ''Medida caucdar ;111rccipa1úria da ação de
do interessado a iniciativa de provocar a nova jurisdição estatal, se o caso (quan<lo não nulidade dc sc1ncnç1 arhirr:1I. Prcccns;io de suspensão de ~cus d<.:itos S(lh o fundamento de
reromadaaarbitragem), para rurcladcscusdireitos. Efala-seem regra, pois por conveni- rnspei~:ão do ,irbirro, p,1rci:ilid:1de, desrespeito ao concraditôrio, alt'.:111 de Ollll':ts irregularidade.~.
Dc.~eabi1m:nto por ser impossível a separaç,ío, de ancemfo, de um juí,.o de proh:ihili<l:ide de
ência, pertinência ou estr:négia, de acordo com o contexto ficico, po<ler:í., em tese, haver
~ue o r.:omporta111cmo do :írhirrn uhr:ipassou as fronrr.::iras da legislação" (TJSI~ Agln 474.700-
4/2-00, 10." Cun. Oir. Priv., j. 30.01.2007, v. u., rei. Dcs. · frsta Marchi).
32. Cf'. C:1rlos Alberco Carmona (Arhír.mgc://1 c pml'<';so, e.ir., p. 424), com nockia de que s(llução 3( Cf. adiante, cm "Anexos·', cspecinc:imcntt no "Anexo 2", o n:xw consolidado d:1 Lei de Arbi-
divcrs,l é :1doc:1<la pela lcgisl:1çfo icaliana, na qual o julgamc11l0 da ação impugnando a scnrcnç:1 tragem, :1pomad:1s as rcvog:1çiícs, inclusüe.~ e alcera~:ócs tra:f.idas pcl:1 I .ci 13.129 de 2.(,.05.20 l '.i
arbi I rnl se faz cm duas foscs, uma de anubção, outra <le rc1.:.x;1mc, .~e for o c:1fü, d,1 co1Hrov.:rsi:1. coni destalJm:s próprios. indicada cambém a versão original para confrom:1çci.o.
402 1 CURSO DE. ARBITRAC;EM INVAI.JDA(_:Ãü DA SENTENÇA ARRITRJ\L 1 403

de arbitragem (ata de missão).1àmbém o solicitado (réu) pode ampliar o objeto da Em nosso entender, nesta primeira e açodada análise da regra, deverá ser man-
arbitragem para contemplar seus pedidos (no prazo que, igualmente, estiver previsto tido o árbitro (colegiado), sem qualquer otltra formalidade (além evidentemente
no regulamento, ou no termo de arbitragem). E assim, asencençadeve necessariamente das questões administrativas da Instituição se o caso), com o restabelecimento do
decidir toda a matéria apresentada pelas partes. Mas é evidente que se o acolhimento procedimento, antes encerrado, para prosseguimento direcionado à apreciação dos
ou rejeição de um pedido prejudica a análise de outro, estará implícito o julgamento pedidos pendentes (devidamente identificados na esfera judicial).
desce, dispensada a referência expressa a cada um dos requerimentos. As vantagens de se retomar o procedimento arbitral de onde parou, para com-
Questão importante, e já antes analisada, refere-se à possibilidade de se proferir plernencação, sã.o várias. Por exemplo, aproveitam-se, no quanto possível, os atos
sentença arbitral parcial, em razão do previsto neste inciso. E já afirmamos a posição praticados e devolve-se a matéria para apreciação daqueles que [iveram o conraro com
favorável à pertinência de julgamento do conflito pm· etapas em diversas situações, 0 conflito (e n ão o decidiu complccamence), evitando o eno rme custo de repetição

mesmo antes da previsão expressa na lei a este respeito. 35 E nestes casos, a análise da de providências, e até o risco de decisões contraditórias, caso fossem trazidos novos
eventual ausência de decisão sobre tal ou qual pedido, deverá ser feita apenas quando árbitros.
da sentença referida como final (e não parcial). Aliás, recomenda-se ao árbitro (ou No juízo estatal, o conhecimento da matéria será restrito à confrontação objetiva
colegiado), deixar expresso na decisão a sua qualidade de julgamento parcial, e acé, se entre os pedidos e a sentença arbitral, apurando-se eventual descompasso. Não se am-
possível, com indicação do quanto deverá ser apreciado na nova etapa. plia o objeto da lide judicial ~ts questões de fundo apresentada na arbitragem, que serão
Assim, exige-se a solução de rodo o conflito submetido à arbitragem previamente retomadas pelo juízo arbitral primitivo, e no qual todos os acos já praticados podem ser
ao encerramento do juízo arbitral com a sentença final. Desde que se prossiga no aproveitados, no quanto pertinente, para a respectiva complemenração da sentença.
procedimento para an:Üise de novas etapas, a sentença parcial, atualmente prevista É uma situação nova criada na reforma de 2015, e certamente muito ainda se
de forma expressa, não pode ser considerada como citra petita. cerá para construir a respeito, mas em geral é confortável a posição adotada, pois ra-
Apenas quando do pronunciamento derradeiro, e consequente extinção da ríssima é a ocorrência do vício previsto neste dispositivo, até em razão do cabimento
jurisdição, deve ser constatada a apreciação de todo o litígio submetido à arbitragem. de pedido de esclarccímen to para sanar esta irregularidade.
Nesta verificação, se omissa a sentença a respeito de algum pedido das partes,
13.5. AÇÃO DECLARATÓRIA PARA IMPUGNAR JURISDIÇÃO,
o ideal é a apresentação de pedido de esclarecimento (Capítulo 11, item 11.6). Se
PROCEDIMENTO E A SENTENÇA ARBITRAL
ainda permanecer omisso o pronunciamento a respeito de pretensões, ou se não for
apresentado pedido de esclarecimento, o vício expõe a sentença à impugnação. Como visco, a "nulidade" referida no art. 32 da Lei Especial cem natureza
A solução vem prevista no§ 4.° ao an. 33 da LArb., introduzido na reforma de processual, e, como cal, sucumbe à exaustão do prazo para a propositura da ação de
2015, assim: "A parte interessada poderá ingressar em juízo para requerer a prolação de.~consticuição, ensejando a estabilização da sentença arbitral.
de sentença arbitral complementar, se o árbitro não decidir rodos os pedidos subme- Existem circunstâncias, porém, que o bom-senso já destaca a inviabilidade de
tidos à arbitragem". subsistência da sentença edo próprio procedimento arbitral (p. ex., envolvendo inca-
Criativa a inovação, pois não se invalida a sentença (não se declara a nulidade, paz, ou direito indisponível), diante da gravidade do vício, e então se busca a solução
como diz a lei), mas se adota a providência judicial com a questão efetiva a ser tutelada: para corrigir a situação teratológica.
a complementação do julgado para apreciação de pedido não contido na sentença. A sistematização apresentada pela escassa doutrina a respeito ainda merece
A "impugnação" se faz perante o judiciário, aliás, confirmando a nossa orientação amadurecimento, principalmente por se confundir, como antes referido, os vícios
no sentido <le ter a ação semelhanças com a ação rescisória, pelo objetivo de afastar do are. 32 da Lei com aqueles defeitos do negócio jurídico.
a imutabilidade da sentença. É uma nova ação, própria e autônoma, mas prestigia De qualquer forma, encontram-se subsídios para retirar do cenário a sentença
a prevalência do juízo arbitral para a apreciação do pedido, na medida cm que, pela arbitrai quando roralmen te com prometida, mesmo ultrapassado o prazo decadencial
literalidade do texto, se acolhida a pretensão (e, pois, se verificado o vício), deverá ser de 90 dias, através da ação declaratória.
proferida "sentença arbitral complementar". Em nosso sentir, a ação declaratória, neste caso, tem como expectativa reconhe-
cer, sempre, a ineficáciti do procedimento arbitral, ou, mais propriamente, a íneficácitl
35. C[ a respciro o ítem 11.7 do Capítulo 11, supra. da juristlíção arhitral.
404 1 CURSO DE ARBITRAGEM INVALIDAÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL 1 405

Seu fundamento, este sim, poderá ser nulidade absoluta, ineficdcia ou inexistência A arbitragem cem sua origem, necessariamente, na vontade das partes manifesta-
da convenção (cláusula ou compromisso), ou da própria instauração do procedimento da na convenção (cláusula ou compromisso). Anui idade absol uca desta, sua ineficácia
arbitral (p. ex:., imposto contra a vontade e sem a participação da parte). ou mesmo sua inexistência (no aspecto jurídico, e não material), implicam, então, na
Dito de outra forma, a ação declaratória não será de nulidade da sentença, mas ausência de jurisdição do árbitro relativamente à questão que lhe foi impropriamente
sim, com fundamento na nulidade ou inexistência preexistente, a iniciativa terá direcionada. 38 Ora, para se subtrair do Poder Judiciário a apreciação de determinado
como objetivo o reconhecimento de inexistência do procedimento, ou da própria conflito, imprescindível a regularidade da convenção; a arbitragem representa exce-
ção à prestação jurisdicional do Estado, e, como cal, faz-se rigoroso controle sobre o
jurisdição arbitral.
preenchimento dos requisitos para afastar o litígio da jurisdição estatal.
Advirta-se que a "inexistência" aqui no plano jurídico difere da repercussão
prática do aro que contém o vício, e daí a necessidade de sua declaração por ação Sobre outra perspectiva, diz a lei, com norma evidentemente de ordem pública,
específica para este fim, ou através de impugnação própria cm defesa. Significa que a arbitragem só tem lugar nos litígios envolvendo pessoas capazes e relativas a
dizer que, para o Direito, um aro inexistente visivelmente existe, e até pode direito patrimonial disponível.
impactar o ordenamento jurídico com aparente produção de efeitos. Assim, a Com efeito, inadmissível retirar do PoderJudiciário controvérsia relativa a direi-
"inexistência" é o rótulo que se confere ao instituto, não é a "ausência", "vazio" tos indisponíveis. Neste cenário, se eventualmente submetida à arbitragem questão
ou "não existência" da situação, ou do instrumento ou mesmo dos reflexos e im- desta na cu reza, todo o procedimento será tido por ineficaz, cal como a própria senten-
pactos do negócio jurídico. Em outras palavras, trata-se de inexistência jurídica ça. Ora, se pelo ordenamento jurídico é vedada a jurisdição arbitral neste caso, tudo
e não de inexistência fá rica. E dai melhor qualificar o fato como "ineficácia", o que materialmente se produziu em seguida à convenção viciada será considerado
como se faz modernamente. como se não tivesse havido.
Isto porque a "sentença declarada inexistente" materialmente existirá, mas pelo A convenção - matriz da arbitragem-, sem aptidão para produzir efeitos ju-
vício, retira-se a sua eficácia jurídica, cal como os atos praticados pelo advogado sem rídicos, contamina a jurisdição arbitral dela então emergente, pois até mesmo este
procuraç.ão nos autos, igualmente serão vistos e até palpáveis quando instrumentali- efeito -instauração do procedimento- será tido como inexistente no plano jurídico.
zados, mas alei, neste caso, os considera "ineficazes" (are. 104, § 2. 0 , do CPC/2015).36 O árbitro (ou tribunal), desprovido de jurisdição pelo ordenamento - pressu-
E até um casamento qualificado como inexistente, como o celebrado por quem não posto para a sua atuação como juiz de foto e de direito-, terá feito apenas instrumentos
é autoridade, pode, evenmalmente, ser representado por uma certidão cuja retirada sem impacto no plano jurídico. E, assim, caberá a ação declaratória de ineficácia (ou
do mundo jurídico reclama ação ou tutela jurisdicional própria. inexistência) da sentença arbitral e do próprio procedimento. Enfim, romper a con-
Nesta linha, a doutrina e a jurisprudência, após calorosos debates e profundas venção pela inarbitrabilidade implica desconsiderar seus aparentes reflexos, dentre
reflexões, admitem, em situações excepcionais, a ação declaratória de inexistência eles a própria jurisdição arbitral de lá decorrente. 39
de uma sentença judícial,37 como, por exemplo, nas situações em que o processo se
desenvolveu sem a citação da parte, e, por consequência, sem a sua participação, ou 38. E como hem observa Donaldo Armelin: "Realmente, observado relativo paralelismo com o
ainda quando proferida a sentença por quem não é juiz. conceito de sentença ínexístente n:i. domrína e na jurisprudência do processo civil, a nulidade
do compromisso, implicando a ausência de jurisdição arbitral, faz desaparecer o poder de
Realmen te, a teoria da inexistência da sentença judicial, melhor qualificada
dizer o díreito no c:1s0 concreto, assemelhando-se à figura da sentença inexistenre à mingua
como ineficácia do provimento jurisdicional, encontra espaço para ter sua incidência de jurisdição de seu prolator, juiz de direito" (ARMELlN, DonaJ<lo. A ação declaratória em
também na q uadra arbitral. E a prática na verificação dos vícios que na arbi uagem matéria arbitral, ci e., p. 1 16-1 I 7).
podem ocorrer igualmente favorece a aplicaçao do regime jurídico da inexisrênciaà 39. Neste sentido, Carmona refere-se à jurisprudência italiana, colacionando Carmine Punzi (Ar-
sentença arbitral. birrato, Enciclopéditr giurídicfl, Roma: Isrituco della Enciclop(:dia Italiana Fondata da Giovanni
Treccani, 1988, vol. ll, p. 1-46, esp. p. 29), para quem "este problema deve-se colocar em
geral para todos os casos de inexistência do compromisso ou da cláusula compromissória, que
36. Anote-se que o art. 37, parágrafo único, do CPC/ 1973 falava em serem havidos como "in~ dão vida a uma hipótese de verdadeira e própria usurpação de poder por parte dos árbitros da
0
xistentcs" os atos não ratificados no prazo pelo advogado, melhor adequada a situaçao pe potestns dcddendi reservada ao juiz togado pela qual se afirma, exatamente, a inaplicabilidade
Códígo de 2015 à ineficdcia rel,1tivamente àquele em cujo nome o aro foi praticado. do princípio da absorção dos motivos de nulidade em motivos de gravame e com a ulterior
37. Cf., a respeito, o completo estudo feiro por Teresa Arruda Alvi m \Vambier, Nulíd,1des do pttJ&dflJ consequência da possibilidade de ser arguido o defeito dos pressupostos fundamentais do juízo
e da sentença, antes citado. arbitral" (CARMONA, Carlos Alberto. Arbitmgem e proasso, cit., p. 399).
406 1 CURSO DE ARBITRAGEM
TNVALIDAÇ.ÃO DASENTENÇAARBITRAL 1 407

. D~ mesma forma, se verificada a nulidade absoluta do com romi


v1sra a s1n:i~l~ção nele contida (art. 167 do CC/2002) ara urili p - sso, ce_ndo e111 abrangência das irregularidades do are. 32 da Lei de Arbitragem tipificadas co mo
nt1
fundamenco - do arngo
para a açao . segumce. (art. 33) .
com fins ilicttos, a j urisdição arbitral e respect· . p d za.ç~o d a arb1tragelll
. fi e· . ,
como me cai 111ex1scente). Ora rompida pcl ·1· . d
1va sentença, evera ser rec h .
on ec1cfa Desta. forma, no curso do prazo de 90 dias, a melhor opção será a apresentação
_r .
1cvou ao cre1co . , · . a 1 1c1cu e a causa-com, -
- mstaumriio do . , b. . t enç1to-que da ação de dcsconsciruição na forma prevista na lei, mesmo que fundamenrada em
• ,.. pt1zo ar ztm -, este se q uebra con . d
aque1e vícw e definitivamente estará co . . .d , . tanuna o Por nocivos aipazes de ensejar a ação dedaracó ria. Para canto, pode-se afastar o "rigor
no plano jurídíco. ..a mp1omet1 o em sua efi cácia, ou existência
\~cnico" na anáJise da natureza do vício para se autorizar o conhecimento e acolh.i-
Como se sabe, esca ação d eclaratória não e.se, di . da ~ncnro do pedido dedesconscicuição, mesmo diante de wna situação d e ineficácia ou
de 90 dias da Lei de Arbitra em - ª con , cwna ao prazo decadencia] inexistência, pois o resultado úti I será o mesmo: retira,· do cenário jurídico a smten.ça
po. Ainda, pode ser i.nvocad~ p; /:i~r~::~; ~~o:ra _ser p~op~s~a ~qualquer te.rn~ contami1111da. De oucra parte, exaurido o prazo decadencial, daí sim a ação de invali-
cumprimento da sentença arbitral eventualmen'c~~ns: ve ana_~es e '.n:1pugnação ao dação (agora inviável), definicivamenre, sede espaço à ação declaratória.
a sua decretação de ofício pelo juízo que evenrualm , ura~, admmndo~se ainda Por fi m, em co nclusão deste irem, bem poncua a matéria o Prof. DonaJdo
(por_excn:_PIO, em pedido de cooperação, mas cerra;i;:et;~~si:::e:i:rsso a decisão Armelin: "A ação declaratória co m a sua imunidade a prescrições, decadência ou
em sm1açoes de macroscópica inexistência). mbra apenas predusões, que a caracteriza é o instrumento adequado para o reconhecimenro da
• . Conrudo, sem dúvida, as causas de reconhecimento d . fi , . . inexistência das sencenças arbitrais, a ela equi parada a impugnação, com carga de-
tencia) de uma sentença arbitral (vícios de maior .d d ) a mbe, cac1a~(ou inexis- claratória relacivamente à inexistência do título executivo judicial correspondente à
grav1 a e ram em esrao contidas scnrença arbicral. Contudo o seu manejo deve ser reservado àquelas situações que,
efetivamente, comportam o recon hecimento da inexistência d a sentença arbitral,
40. DonaldoA rmelin: "Não cuida a u:i 9.307/ 1996 de uma fi , . reduzi ndo-se ao mínimo as hipóteses em que sua nulidade seja co nvolada cm figuras
pode ocorrer com maior facilid:ide no pmcess b. ·, ~ p:irolog1C1 do processo civil, que de inexistência. Com isso manter-se-á o necessário cônus de segurança jurídica, que
do processo para fins ilícitos no J>la1l d . ~ d:t~ ~tr:i. E o que ocorre no cnso ue urifo..ação
' 0 e 1w·1s 1ç-10 e.mual Ne ·, · · li · deve emergir da tutela arbitral". 42
o1Ji.undo os propó~iros subalternos d N . 1 • . . ~ ·e o JUIZ pro cnrá senrença
as p:irres. a te a arbitral na qlL'. I • •
·
mcrente ao proccml judiei-d bem co .I , , l 111ex1src a pu bl'1c,dade .
de atos processuais nada impede · • mo, sa vo casos específicos1 o:; J>raz 1 · 13.6. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
q . • . \Os egars para a pdcic;i
. . ' · ue se s1mu1e uma :irbu.mgem .
misso a.rb1rrn.l a rc~pciro de lití . . , na qua 1exista um compro-
g10 meramente aparente e umas nt b' 1 CAMARGO, Júlia Schledorn de. A ação anulatória com base na viola<,--ão à ordem pública. ln: CAHALI,
Clu11plicidnde de :írbirro e~colhido elas )ar~ . ' . • e ença ar ltra ' resulrantc da
obter uma dL'Cisão com a rmur~b·1· pi de I es co111v~nres. fudo obviamcnrc com cscc1po de Francisco José; RODOVALHO, Thiago e FREIRE, Alexandre (coords). Arbitragem - Estudos
•• 1 IL a 1ncrcnrc à co1s · 1 d J -Li] ' sobre a Lei 13.129, de 26-5-2015. São Paulo: Saraiva, 2016.
vanragen.~ ilícitas cm dccrimL·nco de rcrcc·. A ªbJt~ ga a, i,w tr:1ndo a.~ parres :i obter

111srrumei1tos adequados p~~ _c._s· r
11 os.
. • cstcs· o viamenre o sisrcma · · ·c1·1co assegura
1ur1 FONSECA, Rodrigo Garcia da; WALD, Arnoldo. O mandado de segurança. e a arbicragcm. Revistll de
' ...., .ua: ar os pre1u1zos jurfdí li d
umn sentença arhicral simulada É d· . l .. c?s que tesa venham cm razão de Arbitrngem e Medinçiio. ano IV n. 13. São Paulo: Ed. RT, abr.-jun. 2007.
prejudicado investir contra ; d~cisiocaseb~l~~rgarlheg1fic1m1d~de para o rerceiro juridícumcnre GUERRERO, Luis FerMndo. Ensaio sobre a lógica do :irt. 33 da lei de Arbirragem. A ação anulatória
• '
aels mro a uma ação declaratória de 1·d 1
r irrw que e or lesiva Toda ·
. , via, se fi c:ir e.sse terceiro e a efetivação das sentenças arbitrais. ln: CAHALI, Francisco, José; RODOVALHO, Thiago e
d ecreração de nulidade da scnrcn,..L arbirral nu l ac e, no prazo exíguo outor d '
_ . · . ga o:, parte ptlra obter a FREIRE,Thiago.Arbítmgm1-Escudossobrea Lei 13.129, dc26-5-2015. S:io Paulo: Saraiva, 2016.
. ,. , 11ao tera e1e como cxcrcirar O • d. . D
a arbirragem não enseja a publicidade da re:i1· - d seu rrc1to. ever:is,
restar inacessível ao terceiro ~nquanto n- s~a . rza":30, e modo que o seu rcsulmdo podem
,~ , aovtc:ra scr ac,o d 1 · ld
Impende, portamo o ieconh . d ·. na a pc os s1111u a ores cm seu prejuízo. 42. ARMELIN, Donaldo. A ação declaratória em matéria arbitral, cir., p. 119. Também merece
' ec1memo e ser a ,trlmraoem simul:id . . .
sua dec1:tração a qualquer tempo Co 1151.d. d b • a mcx1srenre, enscpndo a
registro e recomendação de leitura, a posição neste sentido de Leonardo de Faria Beraldo,
• · d
e s1mu1a a e, consequentemente nula . 1. .· cran o-se que :i
• convenriio d b'
,.. e ar rrrngcm, nesse c.1so,
, evic cnci:i-se que ·1 scnccnç·i b. 1 , · · com mais deralhada distinção entre inexistência e ineficácia da sentença arbitral em seus es-
portanco,cssa incxistc:nciapoderáse d I d _, ' · • ar irm sem mex1sre11re e, critos; assim escrevendo como síntense de suas ideias: "A forma pela qual a parte prejudicada
d' r ec am a a quwquer momen1o em · - d
me i:in t: ~açã~ dedamrória para tssc fim ajuizada'' (ARMfü IN , lo resm~oes e prazo~, deve buscar a curda jurisdicional, em caso de se deparar com sentença arbitral inexistente ou
4 cm ~1::rccna arbmal, cit., P· 11 8-11 9). . , Donaldo. A açno declnrntóna inefica7., é por meio da ação declaratória de inexistência ou de ineficácia de sentença arbitral,
1. Cf., item 12.4.4 do Capítulo l 2, supn e m111bém n. . . . denominada de querela mdli111tis i1unn11bilis por uns [Donaldo Armdin] e de llctio nuílitntis
o pJeim de a1mlaç.ío da senccnça arbitr 1• . ~. cscc sednr1do, f-c::lrpc Scnpes W lndeck, -~obre por outros [Eduardo Talamini]. Assim, se o vício estiver no plano da existência, ajuizar-se-á
.
Scnpes. O I a nac1onw em se e de execuriío (WLAD•~cK F 1·
p cito de anulação da senrenM b. l . ,.. ,:. • e ipe ação declaratória de inexistência de sentença arbitral; por outro lado, se o defeito for no plano
Ar bumgmz e MedÍ!tfii<J. vol. 16, jan.-mal'.,-2008,
. ar 11:r.1 n::icron:il cm sede d . ,
p. 98). •
- n ·
e cxccuçao. ne111srt1 de da eficácia, ingresar-se-á com ação declara.tória de inefic:ícia de sentença arbirral." BERALDO,
Leonardo de Faria, Curso de Arbitragem... , cit., p. 477.
408 1 C.URSO DE AR LIITRAGEM

MEDINA, José Miguel Garcia; WAMBIER, T...-resa Arruda Alvi m. Rcrnrs11, e ações (IT1tô110111r1J de irnp11g-
11,1çiio. São Paulo: Ed. RT, 2008. Coleção Pmccsso Civil Moderno, n. 2.
NASSER, Paulo Magalhães. Aponrnmentossobreo desenvolvimento da arbi tr:1gcm comcrüal e o controle
de legalidade das sentenças arbitrais por meio de açiio anular,',cia e impugnação aocumprimemo de
scnt...-nça. ln: CAHALI, Fr:mcís<.:o José; RODOVAJ..HO, Thiagoc FREIRE, Alexandre (coord.~).
Arbítrttgm1- Estudos sobre a Lei 13. 129, de 26-5-201 5. São Paulo: Ed . Saraiva, 201 6.
ROSA, Pérsio Thoma1. Ferreir:i. Breves consider:ições sobre as modific:ições ao are. 33 ("projetado"), da
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(coords). Arbim1gem - Escudos sobre a Lei 13. 129, de 26-5-20 15. São Paulo: Ed. Saraiva, 20 16.
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YARSHELL, Fhívio Lui'l.. Açfo anulatóría de julgamento arbítral e ação rescisória. R,:visttt d,: Arbím1gm1
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WALD, Arnoldo. Descahimenco do mandado de segurança conrra dc<.:isfo do tribunal arbitr:11- Co-
ment:lrios ao Agln 990. 10.284 19 l-0. Rt:/JÍ!trt dt-Athih~tgt·m ,. lv!t:rli11çlfo. ano VII. n. 26. São Paulo,
jul.-scr. 20 10.

14.

Arbitragem temática
-

_ _ _ _ _ _ _ ROTEIRO DE ESTUDOS

1. Introdução à arbitr.:igem teméÍtica


• Revisiio da arbitr.:ibilidade subjttiva e objetiv.:i
2. Arbi trc1gcm e o direito do rrabc1lho
• Dissídios coletivos
• Dissídios individuais
3. Arbitragem no direito falimcntc1r
4. Arbitragem no direito socict,frio
14.1. INTRODUÇÃO
5. Arbitragem e il Administr,,çãu PC,blica
6. Arbi tragem no direi to de famíli.:1 Após estudarmos os principais atrativos da arbitragem, seus fundamentos, pro-
7. Arbi tr<1gem no direilo das sucessões cedimento, eficácia da sentença e possibilidades de anulação, neste capítulo fàremos
• Sucessiio legí1ima uma inter-relação do inst ituto com alguns outros ramos do direito, para atestar sua
poss ibilidade em matérias em que a disponibilidade do direito ou a capacidade das
• Sucess5o leslé1mcntJri;1
partes nem sempre é de fáci l compreensão do intérprete.
Vale recordar, para o bom entendimento deste capírulo, o quanto comentado
sobre os arrs. 1.0 e 2. 0 dal..ei deArbitragem. O primeiro porque é nele queenconcrarnos
a resposta de quem (arbirrabilidadesubjetiva) e qual conAito (arbitrabilidadeobjetiva)
pode ser submetido à arbitragem, principalmente apôs a inserção dos§§ l .0 e 2.° no
rd'crido are. 1.0 da LArb. pela Lei 13.129/2015, a serem analísados cm momento
oportuno (item 14.5).
J,í o are. 2. 0
da Lei d e Regência é claro em prestigiar a autonomia <la vontade e
estabelecer os limircsdaarbitragem guando a Administração .Pública estiver envolvida.
Assim, o que for comb inado entre as partes, deve ser respeita.do, se não ferir, em regra
o arr. 1. 0 da l .ei e o devido processo legal. Outros dois pontos rnuiros discutidos e com
completa relação com os artigos supracitados são sobre (i) o acesso à justiça, garantia
constitucional, imposta pelo art. 5. 0 , XX.XV, da C F/1988, ' diante <la derrogação
pela arbitragem da jurisdição estatal, como já observado no Capítulo 4 supra e (ii) a
SUMÁRIO confidencialidade no julgamento (Cf Capícu lo 9, item 9 .4.3, supra), que aprcsema
exceção nos casos cm que a Admin istração Pública seja parte.
14.1 . • INTRODUÇÃO ............................................ ............................................................................................ 411
14.2. • ARBITRAGEM NO DIREITO TRABALHISTA........................................... . ...................................... Feira esta breve introdução, analisaremos agora a possibilidade ou n ão de ar-
412
14.3 • ARBITRAGEM NO DIREITO FALIMENTAR bi tragem nas seguintes áreas de concentração do direito, lembrando-se sempre do
.........................................., ................ ...................
~
419
14.4. • ARBITRAGEM NO DIREITO SOCIETÁRIO objeto do conflico {dispon ibilidade do objeto), capacidade das partes, autonomia
423
14.5. • ARBITRAGEM EA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.......................................................................... 430
14.6. • ARBITRAGEM NO DIREITO DE FAMÍLIA ...................... . 1. Art. 5.0 Todos são iguais perante a lei, sem disdJ1ç:io de qualquer narnrcl:l, garantindo-se aos
434
14.7. • ARBITRAGEM NO DIREITO DAS SUCESSÕES ... ....................................................................... brasileiros e ao~ estrangeiros residt:ntcs no País a inviolabilidade do direito à vida, à libcrd:1dc,
439 à igu:i.ldade, à scgurançn e :1proprít:dadt:, nos termos st:guinces: (.. .) XX.XV - a lei não (;xcluir.í
14 8. • BIBLIOGRAFIA RECOM EN DADA ..................................................................................................
443 da apl·cciaç.'io cio Poder JuwcHrio lesão ou t1mcaçn a direito; (...).
412 1 CURSO DE ARBITRAGEM ARBITRAGEMTEMATICA 1 413

da vonrade e livre acesso à justiça: arbirragem no direito do -rrabafüo, arbitragem n


0
É neste caminho a redação dada pela EC 45/2004, alterando o art. 114, em
CÜreito falimenrar, arbitragem do dire.ito societário, arbitragem no direito público ecial 0 § 2.0 : ''.Are. 114. CompeceàJu.sciçado Trabalho processar e julgar:(...)§ 1.0
arbitragem no dire.iro de família e sucessões. 'e ;fusrrada a negociação cole~iva, as par~es pod~rão ~leger árb,itros. § 2.0 ~ecusando-se
!quer das panes à negociação coleava ou a arbitragem, e facultado as mesmas, de
14.2. ARBITRAGEM NO DIREITO TRABALHISTA qua . . d d J .
num acordo, ajuizar dissídio colecivo de natureza econôm1ca, po en o a usnça
~:Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção
A arbitragem no direito trabalhistaz divide-se em duas vertentes. 3 A primeira
ao rrabalho, bem como as convencionadas anteriormente".
nos dissídios coletivos, amplamente aceita pela doutrina e jurisprudência, ainda mais
pela expressa previsão constitucional. Neste caminho, questões entre sindicatos e empresas poderão ser solucionadas
por arbitragem, inclusive com árbitro decidindo pela redução salarial ou a redução
A segunda, nos dissídios individuais, os quais hoje, para a jurisprudência do-
da jornada de trabalho.
minante, não podem ser solucionados por arbitragem, por serem de interesse social,
A própria Lei 7.783/1989, que dispõe sobre o exercício do direito de greve, ob-
com entendimentos, inclusive, de que ofenderia a ordem pública a utilização deste
método adequado de solução de conflitos. serva em seus arts. 3.04 e 7.0 , 5 que as relações obrigacionais durante a greve poderão
ser regidas por laudo arbitral.
Abaixo analisaremos as duas vertentes, defendendo a possibilidade de arbitragem
Mareio Yoshida,6 a respeito, escreve: "A previsão constitucional está voltada para
no direito individual, não obstante a maciça jurisprudência em sentido contrário.
a solução de conflitos coletivos de trabalho, vale dizer, dos dissídios col~civos entre
14.2.1. Arbitragem nos dissídios coletivos sindicatos patronais e de empregados, ou entre estes e empresas, que habitualmente
são j ui gados pelos Tribunais Regionais do Trabalho. Os dissídios coletivos visam à
É patente a possibilidade de utilização de arbitragem nas negociações coletivas, criação de normas complementares sobre as condições de n_abalho e ~ fix~ção de
sendo inclusive o instituto recomendado pela Constituição Federal ames de se levar reajusres salariais quer por ocasião das daras bases das cate~on~ trofiss1ona1s, quer
o conflito ao Poder Judiciário. por motivo de greve, proferindo decisões de natureza constttuttva .
A jurisprudência também acompanha esra orientação: "A arbitragem é proce-
2. Segundo Pedro A. Batista Martins, "foi na Nova Zdàntlia, no ano de J 894, onde surgiu a diment0 incompatível com o direito incüvidual do uabalho, estando reservada, l'lO
primeira legislação admitindo a utíli1.aç.lio da arbitragem para fins de solução das controvérsias universo trabalhista, apenas para os conHicoscoletivos (§ 2 .0 doarr.114da CF/1988).
oriundas das r.clações laborais'', Explica o auror que rambém não se craca de um mecanismo tão E assjm é porque no conflito coletivo o empregado está devidamente representado
recente no Brasil: "Informa Luiz Roberto de Rezende Puech que o Dec. 1.037, de 05.01.1907, por seu sindicato de classe, de modo a compensar a hipossu6ciência típica da relação
criou mec:::inismos para resolver disputas trabalhistas mediante a conciliação e arbicragem, esta
exercida pelos sindicatos. Em 1932, o Dec. 22.132 insrituiu a arbitragem fucultaciva e, cm
de em prego, proporcionando LLm eq uílíbrio entre as partes".;
certos casos, até mesmo de caráter compulsório. Segundo assinalado por H. H. Barbagelata, Vale lembrar que, por diferences óticas, a arbitragem nos conflitos coletivos é
à época, 'a Justiça do lrabalho levou baseante longe o sistema e, segundo o que rem sido fre- positiva:8 (a) para os patrões, pois viabiliza um instrumento de paz industrial que os
quentemente acentuado, esse sistema conseguiu melhorar as condições de trabalho"' (Martins,
Pedro A. Batista. O Poder Judiciário e a arbitragem - Quatro anos da Lei 9.307/1996 (l.ª
parte). Revista de Direito Bancário, do Mercado de Ctipít{IÍS t' da Arbitmgem. n. 9. ano m. jul.- 4. "Are. 3.° Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via arbitral, é
-set. 2000. p. 236-237). faou1tada a cessaç:io coleriva do rr:1balho."
3. Não se pode falar cm arbitragem no direito do trabalho sem lembrar a experiência norcc- 5. "Arr. 7_0 Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em greve suspende o
-americana. No direito trabalhista norte-americano a arbitragem possui grande expressão, uma conrram de trabalho, devendo as relaçõt!S obrigacionais, durante o período, ser regidas pelo
vez que é um sistema no qual não há incidência de qualquer esfera judicial ou administrativa acordo, convcnçlio, laudo arbitral ou decisão da Justiça do 1i·ab:ilho.''
paTa a soluç.i.o de conflitos colecivos de trabalho, e inexiste, indusive, qualquer óbice para sua 6. YOSHIDA, Mareio. ln: Garce·L, José Maria Rossani; Pucci, Adriana Nocmi (coord.). A arbi-
u_rilização nos conAicos individuais. No direito colcrivo, primcinmcnte, tenra-se uma nego· tragem na era rltt globaliutçlío. Rio de Janeiro: Forense, 1997. p. 90.
eiação cnm: os empregado res e os sindicatos (gri,·v,mcc procedrm:) que, restando infrurífom, 7. TRT-2.ª Reg., ROMS, Proc. 02731.2009.065.02.00-0, 4.ª T., j. 18.11.2004, rei. Juiz Paulo
ocasionará na utilização da arbitragem. Esta é, portanto, a última esfera de resolução da lide, Sérgio Jakucis.
sendo utilizada canto para a solução de conflitos indiv.iduaís quanto coletivos, mas sempre 8. Gcorgenor de Sous:1 Franco Filho, convencido d:.ls vantagem do i1)s'riwto d:i arbi trngc::m,
pautada em direitos e condições de trabalho já procfamados nas convenções coletivas, nunca consignou: "Arravés do solução arbitral.d.os conHicos trabalhistas poderá se rer condições d_c
se esquecendo da força dos sindicatos naquele país. encontrar a almejada convivência real menrc pacílic:i entre os fato res da prodüçíio, a parns
ARBITRAGEMTEMÁT!CA 1 415
414 1 CURSO DE ARBITRAGEM

faz P:_Odll2~r mai~; (b) para os emprega~º!• uma vez que agiliza, com recnJcidad téría, pois inexiste previsão expressa a respeito, como estabelecido para os dissídios
.,1:i . d 10
soluçao dos confüros de trabalho, permwndo wn sentimento de J. ustiça 1,a e, a ,oleti'V'OS, acima trata os.
icra1, poss1'b'I'
ai··b·d' 11tan.do o recomo produàvo aos posros de trabalho·,.e, p)e 1·fi·1n
sencen
(e) a~a Os defensores da arbitragem trabalhista, por outro lado, frisam que a Constitui-
sin zcatos, porque ena abenura para o incremento da negociação coletiva, Je b Ps ., federal não autorizou expressamente arbi cragem no direito cível ou comercial,
· · 1 b' · J m rando 0
que seu pr1nc1pa o Jeuvo é a o.efesa dos empregados ou empregadores. por exemplo, e nao
Ç3. e' por isco que naqueles ramos nao
- e' poss1ve
' 1arb'magem. IJ
0
r

_Dúvida não deve existir, pois, sobre a possibilidade de arbitragem nos dissícli Ainda, observa-se que a própria Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é
co~:nv~s; e vale reforçar que nestes confütos não se pode alegar evenrual hi es- dara no sentido de que, nos casos omissos, o direito processual comum será fonte
fic1e11c1a do trabalhad.orou indisponibilidade dos direicos pois nítido a pi~e:o~s~t· 12
· · · l da posst'biliºd ad e de uso deste instituto. ' :v:isao subsidiária do direi to processual do trabalho, conforme estabelece o art. 769 da CLT.
consmuc10na

14.2.2. Arbitragem nos dissídios individuais Jõ. A jmisprudênda majoriolria segue este c:'lminho, dcstaCltndo-se, dentre ourros: Agravo de
insrru.mc.nro. Rccmso de revisra. Arbitragem. 1naplicnbilidadc da Lei 9.307/ 1996 nos confli ros
~ decisões que n~gam a possibilidade de arbitragem nos conflitos individuais individuais de trabalho. Embora o are. 31 d:1 Lei 9.307/1996 disponha que a scnrença arbitral
produz, entre as partes e seus succssoi:cs, os mesmos efciros da sentença proferida pelos órgãos
t~ab~lh1~ras ~ega':1, ~astc~menre, que estes conffi tos possuem uma verdadeira gama de do Poder Judiciário e, sendo condeDat6ria, c;onscitui círnlo cxcctlcivo, entendo-a inaplicável ao
dtre~tos md1spomve1s, po1ssão de caráter social (de ordem pública), acima, portamo contrato individual de trabalho. Gom efeito, o instituto da arbitragem, em princípio, não se
dos interesses meramente subjetivos das partes. 9 ' coaduna com as normas imperacivas do clircico individual do trabalho, pois par.te da premissa,
Obse1:7am-se, ai~1da,_referências de que não há equivalência de poder entre as quase nunca identificada na.~ relações laborais, de que empregado e empregador negoci:un
livremente as cláusulas que i:t:gem o contrato individunJ de crabalho. Nesse semido, a posição
parte~: a fn~ita subordmaçao que caracteriza a relação empregatícia, bem como com d.e desigualdade (jurídlca e econômica) exisrenrc entre empregado e empregador no conrraco
o carater alimentar das verbas trabalhistas. de tr:.ib:uho cllf:icuhasobremancirrt que o prindpio da livre manifestação ela vonrnde d.is panes
0
. A doutrina_di~cu~e, ~o.r sua vez, se a omissão legislativa quanto à possibilidade de se foça observado. Como rcjôrço J,, tese, u,úe destacar q11e o ttrl. JJ.tf d11 CF, em seus§§ 1. e 2. "·
arbmagem no direito md1v1dual do rrabalho foi proposital ou não. Os que d fc d 1tl11tle 1t possihilid,ule tia m·bitmgm1 na 11sftm du direito coÚ!tivo tio trt1bt1Lho, 111uh1 mencionando
que l · - , l . e en em 11c1:rc,1 do direito i11di1Jitl11t1I tio trabalho. Agravo de i nscmmcnro a que se nega provimento. (grifos
a e1 nao contem pa avras inúteis acreditam que não é possível arbitragem nesta nossos) (AIRR-4 L540-56.2005.5,02.0039, 6.•T, rei. Min. Hor:icio Raymundo de Senna Pires,
DEJT26.06.2009). V:ue complementar com adoucdr1a, nas palavras de Antonio Umberm de
Souza.Júnior.: "( ...) se reve o consticuinre o zelo de mencionar a possibiJjda.de ele insticuição de
de que c~pital e trabalho, em comum acordo, atribuam a um terceiro, privado, indepen- arbitragem (mesmo assim, repica-se.:, facultativa) apenas para os conflitos colcrivos, não parece
dente e isento, a busc~ dos remédios para sarar seus desentendimentos. É forma válida lógico que a omissão rcfertnrc aos dissídios individuais renha sido proposical, exclui ado-os de
p:1ra se ~bcer a com~os~ção das divergências cnrre ns categorias econômica e profissional e cal hipótese alcernaciva? Como a lei não contém p:1lavras inúrcis (.. .)" (Arbiuagcm operá!'ia.
a ªP?rfoiçoar a dJ:mbwç.'io da ~iqueza. Não é mecanismo urópico. Ao concdrio, com sua Nova alrernaciva para a Justiça do Trabalho? Tese aprcsencacla no Congrt:sso Nacional de Ma-
boa tmplcmenca.çao e o conhcc1menco acurado de SLtos cécn.icas, poder.í ser a fórmula q
se bu ··cn a e . 1· . . • uc gistrados do Trabalho -Conamat/ 1997, fortaleza, p. 9).
· .. ~ • P ra º. P~.~rei~o eacenc 1m~1to enc~·c os parceiro:: sociais" (Franco Fil ho, Georgcnor. 11. \file, ne.,tc ponto, conferir cmrevisca do minisrro do Ts·r, Pedro Paulo Manus, nosill' Consultor
d~ Sousa. A 111bttmgw1 e 111 couft1tos coleh11os de tr11b1,/h(J 1111 Bmsil. São t>aulo· ·1J"r l ººO
p. 74). · · ~. ' ;,;, · Jurídico, aos 24.04.2011, sobre a possibilidade de arbitrnge::m no direito do trabalho indlvidual:
"Sim. A Lei de Arbirragem 11ão proíbe aplicação n conflicqs trab-alhiscas. Se não é proib.iclo
9. Recurso ordinário. Arbitragem. Direitos Indisponíveis [naplicabilid:1dc Pa. d · ·- e nem obrigacório, é permicído, E o que é permitido não é proibido. Tsso é lógica jurídica.
do litígio à arbitra<> m - d t·d· .. ' _ · · . _eco e SUJcrçao
. . , . . ,:,e ºª? P~ e ser, va 1 ,\mente, unltzado em relaçall a d1re1tos trahalhistas Agora, se o conselho .trbimtl obriir,i, não é arbicrnl. A mnioria dos minisuos daqui acha que
md1spomve1s
rcc.l .. ou 1rrenunwtveis.
d' T.1.I :1jum: não pode ser tomado como óbic.e à aprcc1,1ç.10 ..·. - de :irbirragem só é possível p,ua conAicos colerivos. Mas se vier às minhas mãos urna :ubirragem,
· .imacona
(TRT 'J ,1 R
cm que se 1scurcm, entre ouuos . cernas· • verb·1s
" salar1·~1·s
~
e, porta
. o to , ·md'1spon1·ve1s
· e não ficar provado qualquer vício concra a man ifestação de vonc,1de, no minha opiniáo, é
E· R--. eg., A~. 20040655053, l." T.: )· 18.11.2004, rcl. Juiz Plínio Bolívar de Almeida). válida" lDisponfvd cm: [hctp:www.conjur.eom.br/20 l l-abr-24/emrevisca-pcdro-paulo-m::mus-
. b ccurso de revista da reclamante· Arbitragem ' · liransaç-ao
• · Aleance no d.1re1to · 1n · d'1v1·dua l d0 -mi nistro-tribu nal-superior-rnbalho?utm_source= '' twi(tcrfoed&.Lttm_mcdiu m=twirrcr]."
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Acesso em: 13.07.2015).
º'. 1~_nd?s ~~ - rel~çao de trabalho c~<mvnda pe.r:mr~ o j_Mízo arbitral u:ío é com parível com 0 12. Arr. 769. Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito
?'ruto i~d" '.dual do crab:tlh~, considerando-se a s1gn ihcativ:tgama de direitos indisponíveis e processual do trabalho, exceto naquilo cm que for incompatível com as normas deste Título.
irrenuncttlveis e o dcsequ1H~.t10 cnrre as parces dt:corrente da hipossuliciêDCia clpi.ca da relação
~e emprego. Recurso ~e revista conhecido e pmvido (RR 17 14-00-67.2008.5.03.0075, s.nT., Neste sentido, Cláudio Armando Couce de Menezes: "a ausência de previsão conscicucíonal
J· 07.12.2010, rei. Mm. Dora Maria da Costa, DEJT 10.12.2010). não impede sua aplicabilidade, em face das prescrições do are. 769 da CLT" (Menezes, Cláudio
4 16 1 CURSO DE ARlilTRAGt::M ARBITRAGEM TEMÁTICA 1 417
l
Nesse caminho, ao qual nos filiamos, não haveria motivo para a não inserção da Convém esclarecer, todavia, que em nosso sentir a arbi cragem trabalhista só pode
arbitragem nos litígios individuais. 13 A um, pois a arbitragem poderia ser conside. ser buscada após a resçisão do contrato de trabalho. Vale dizer, então, que sua origem
rada regra processual, possibilitando a derrogação da jurisdição estatal; a dois, pois será sempre o compromisso arbitral, não a cláusula compromissória.
empregado e empregador são capazes e os direitos são disponíveis (após a rescisão do Realmente, a disponibilidade dos direi tos em discussao após o encerramento do
contrato de trabalho como adiante se verá), 14 salvo algumas verbas trabalhistas; 15 e, vínculo é evidente: trata-se de mera repercussão patrimonial decorrente da relação de
a crês, poderia ser benéfico ao trabalhador, haja vista a celeridade para a solução do emprego. A seu cu.mo, diante da fragilidade em fw1ção da posição de um dos perso-
conflito. H'
nagens da relação, diante de hipossuficiência em tese, e até da indisponibilidade de
direi tos dw:ance o cone.rato, deve ser negada a eficácia da cláusula arbitrai estabelecida
Armando Couce de. Arbitragem, solução viável para o descongestionamento da Justiça do no contrato de trabalho.
Trabalho? Dependeria o seu funcionamento de alccração cm nosso ordenamento jurídico?. Assim, algumas câmaras de arbitragem somente possibilitavam o uso da arbi-
Revim: Síntese Trabalhista. ano IX. n. 106. Porto Alegre: Síntese. abr. 1998, p. 143). tragem para dissídios individuas, após assinatura de compromisso arbitral, onde o
13. Reforçam o argumento as secções de conciliação prévia, que incentivam os acordos (transação).
Requerente tenha ciência do quanto discutido e das características desce método de
14. É sabido que a primeira pergunta feita pelo juii trabalhisca na audiência é relativa à possibi-
solução adequada de conflitos. Ainda, costumava-se indicar, se necessário inclusive,
lidade de acordo entre a~ partes. Ora, se há possibilidade de acordo, é porque o empregado
pode transacionar sobre o objeto discutido e, principalmente, os valores, o que nos permite "advogados dativos", para que o trabalhador não alegasse a falta de patrono durante o
afirmar sobre a disponibilidade do discutido. Vale lembrar, ainda, que, não obstante a maio- procedimento arbitral, que como vimos no cap.írulo descinado ao procedimen co, não
ria dos conAitos versarem com uma das partes economicamente mais fraca exístem litígios é obrigatório. E mais, as instituições também esrabeleciam, nesces casos, a gratuidade
envolvendo altos funcionários com suas antigas empregadoras, quando é interessante para as do procedimento ao trabalhador.
duas partes a utilização da arbicragcm, não só com o intuito de se ter uma solução célere, mas
ramhém pela possibilidade de confidencialidade do procedimento. Este escalão de funcionários Porém, como referido, a posição dominante do TST foi no sentido de proibir a
pos.rni informações confidenciais da empresa e remuneração estratégica, inclusive perante os arbitragem trabalhista nos conflitos individuais, mesmo após a rescisão do contrato
concorrentes. Não é interessante canro para a empresa, quanto para o funcionário, que estes de trabalho devidamente homologada.
dados sejam divulgados pela publicidade inerente ao processo estatal.
E assim, espontaneamente, ou por imposição do Ministério Público Federal,
15. Ex.: Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.
através da assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta, as principais institui-
16. Márcio Yoshida explica os conflicos crabalhistas que podem ser discutidos por meio de arbi-
tragem: "Diante da definição acima enunciada e das considerações neste estudo expendidas, é ções arbitrais que se dedicavam a esta matéria deixaram, no momento, de promover
possível elencar o rol de direitos trabalhistas suscetíveis de renúncia ou transação, e, por con- arbitragem trabalhista.
seguinte, de arbitragem. Os primcíros e menos polêmicos da lista certamenre são os relativos Não nos curvamos, porém, à orientação predominante no TST, mantendo a
a saláríos e a jornada de trabalho, por força do art. 7. 0 , VI e XIII, da CF. A fixação dos salários
e de horário de trabalho, aliás, demanda mais conhecimentos econômicos e sociológicos do
posição no sentido de admitir a arbitragem trabalhista decorrente de compromisso
que propríamenre jurídicos. Segundo, os decorrentes de contrato de trabalho já extinto. É arbitral após encerrado o contrato de trabalho. 17
curíal que a disponibilidade desses dircicos é plena porquanto o contrário inviabilizaria o E vale aqui a observação de Ana Lúcia Pereira: "Os operadores do direito na área
entendimento expressado pelo Enunciado n. 310, linhas atrás comentado, e tornaria inad-
trabalhista (advogados, magistrados, Ministério Público, sindicatos, empregados e
missível o instituto da conciliação, um dos fundamencos do moderno direito processual do
trabalho e o alvo principal da ação trabalhista. Em terceiro, os direitos que complementam as
empresas) muitas vezes resistem aos novos paradigmas, no caso específico, a utilização
disposições convencionais e legais mínimas, que hoje resulram do poder normativo, arribuí<lo
à Justiça do Trabalho pelo are. 114 da CF, e são discutidos em dissídios coletivos <le natureza
econômica. Trata-se de direitos eminentemence suscetíveis de renúncia ou transação porque constituíram anteriormente à arbitragem. Circunstância, aliás, figurada cm concreto no acórdão
sempre envolverão alterações in melim, em face da determinação contida no referido preceíto proferido pelo TST retromencionado, onde as partes rransacionaram o grau de in.~alubridade
constitucional no sentido de serem preservadas as disposições convencionais e legais mínimas. para fins do pagamento de adicional. Trata-se de acordo que, conquanto projete seus efeitos
Em quarto, os direitos coletivos decorrentes da aplicação, em tese, de leis ou convenções e para o futuro, esteia-se em condições preexistentes e cm direito.~ anteriormente constituídos.
acordos coletivos, objeto de usua! pronunciamento dos Tribunais, através de deásões de natu- Não se cogita, aqui, da disponibilização de dircicos futuros, antes de que estejam constítuí<los"
reza declaratória, proferidas em dissídios coletivos de naturcia jurídica. Este item e o anterior (Yoshida, Mareio. Op. cit., p. 79-97).
encontram respaldo no art. 114, §§ 1.0 e 2. 0 , da CF. Em quinto, os direitos decorrentes da 17. Neste sentido, dentre ourros, no TST: RR 144300-80.2005.5.02.0040, j. 15.12.2010, reL
aplicação do art. 7. 0 da Leí de Greve, concernentes à regulamentação das relações obrigacionais Mín. Barros Levenhagen; e AIRR l 47500-16.2000.5.05.0193. j. 15.10.2008, rei. Min. Pedro
durante a paralisação. Em sexto, os direitos relativos a contrato de trabalho em vigor, que se Paulo Manus.
41 8 1 CURSO OE ARBITRAGEM ARBITRAGEM TEMÁTICA 1 419

da arbitragem. Demonstramos que não existe proibição legal para a sua aplicação; ll1 as pretensões do trabalhador i-esurnem-se em iodenJz~ções por afirmada lesão
existe, sim, a resistência pelo novo, pelo diferente, pelo desconhecido, e a arbitragern :t ~ireítos duraore a relaça.o, e, com_o rais, de:'em ser _consideradas na amplitude de
ainda é desconhecida de grande parcela da sociedade brasileira". 111 direico par:.rimon ial disponível prev1sro na Lei de Arbmagem.
Quanto a este tema, no ambiente de reforma da Lei de Arbitragem, houve a · Portanto, resraainda mantera nossa posição quanto à viabilidade de arbitragem
aprovação pelo Legislador de tentativa de inclusão do§ 4. 0 ao are. 4.0 , assim redigido: balhista através de compromisso arbitral, já encerrada a relação de emprego. Nestas
"Desde que o empregado ocupe ou venha a ocupar cargo ou função de administrador rra
· ço-es no sistema vigente somos convictos · 1 ad e e e ficac1a
d a va)'d ' · da opçao
- das
sttua , ' . . . . · f
ou de diretor estatutário, nos contratos individuais de trabalho poderá ser pactuada arces (evidenremencepreenchidos os reqwmos legrus do comprom tsso ar~mal- C .
cláusula compromissória, que só terá eficácia se o empregado tomar a iniciativa de iapfruJo 6, item 6.4,) . A.restrição projer~da, ~c~11a t'.·atada, refere-se exdus1v~1men:_e,
instituir a arbitragem ou se concordar expressamente com a sua instituição". em ·nosso entender, à cláusula con1prom1ssónamsendaem concrato de nabalho, nao
Limitada a previsão pretendida, tanto em relação ao cargo (administrador ou 0
compromisso arbitral após rompido o vínculo.
diretor estatutário), como à confirmação do empregado em momento futuro (ini-
ciativa da arbitragem ou concordância expressa com sua instituição, quando prevista 14.3. ARBITRAGEM NO DIREITO FAUMENTAR
em cláusula compromissória em contrato de trabalho), se de um lado mostrava-se Adúvidaquamo à possibilidade de arbitragem no direito falimenrar é decorrente
benéfica a possível regra ao autorizar nestes casos a opção pela arbitragem, de outro do art.103 da Lei de Falência20 por estabelecer esta regra que após a decretação da
a inovação comprometeria a sustentação da tese dos acuais defensores da arbitragem quebra os bens da massa são indisponíveis.
trabalhista de forma ampla. Isto porque as restrições expressas afastariam outras
Assim, criam-se duas si mações: início do procedimento arbitral após a decret~ção
situações que nela não se contenham.
da quebra, e procedimentos arbitrais com início anterior à decretação de falência.
Com a influência do Ministério do Trabalho e do Emprego, houve o veto 19 da
Revendo parcialmente o quanto foi escrito até a 5.ª edição deste "Curso", 2'. cada
Presidência da República a este§ 4. 0 proposto, e assim, não se deixa dúvida: há resis-
vez mais consolidada a arbitragem como meio adequado de resolução de conflitos, a
tência para normatizar a previsão de cláusulacompromissória em contrato individual
tendência no momento, com posição que entendemos agora correra diante do acuai
de trabalho; e o fundamento foi que a hipótese apresentada pelo Projeto criaria um
contexto é no sentido de admitir-se o início ou prosseguimento do procedimento inde-
novo cenário, com tratamento distinto e indesejado dentro de uma única classe, a pendem;mente da decretação da falência, quando existente prévia convenção arbitral.
dos trabalhadores.
E neste sentido, o Enunciado 75 da II Jornada de Direito Comercial; assim:
Com o veto, a lei mantém-se omissa, e não contrária, a respeito do assumo e, "Havendo convenção de arbitragem, caso uma das partes tenha a falência de~retada:
emboraamaioriados precedentes do TST seja no sentido de proibir o uso do instituto (i) eventual procedimento arbitral já em curso não se suspende e novo procedimento
no campo trabalhista, como anteriormente dito, a discussão não se encerra.
arbitral pode ser iniciado, aplicando-se, em ambos os casos, a regra do art. 6.0 , ~ 1.0 ,
Com efeito, uma vez constitucionalmente permitida a arbitragem em dissídio da Lei n. 11.1 O1/2005; e (ii) o administrador judicial não pode recusar a eficácia da
coletivo (art. 114, § 2. 0 , da CF) o silêncio da lei não deve ser interpretado como cláusula compromiss6na, . dada a autonomia . desta em re 1açao
- ao contrato,, .22
proibição, especialmente ao se considerar que, após a rescisão do contrato de traba- Já instaurado o procedimento, a jurisprudência23 e a dourrinaestão fir~~s quanto
à sua continuidade até se alcançar sentença arbitral líquida, passível de hab1htação de
18. Pereira, Ana .l.(1cia. Considcrayt'Scs so brn a utilização d.., arbitragem nos concraros individuais crédito no juízo universal da falência.
do trabalho. Revisttl de Mcdi11çiio e Arbitrngcm. vol. 23. out. 2009, p. 89; e ainda, da mesma
Autora, cf. As modificações propostas parJ a uriüzação da arbitragem nos contratos individu-
ais de rrnbalho. Tn: Cahali, Francisco José; Rodovalho, Thiago e Freire, Alexandre (cwords). 20. "Art. 103. Desde a decrecação da falência ou do sequestro, o devedor perde o direito de admi·
Arbitiwgem- &tudos sobre II Lei 13.129, de 26-5-2015. São fl:1.ltlo: Saraiva, 2016. nisrrar os seus bens ou deles dispor."
l9. "O dispositivo autorizaria a previsão de:: cl:íusula de compromisso em contrato individual de 21. Pois até então era trazida posição resistence ao inicio da arbitragem após a decretação da falência,
trabalho. Para c.il, realizaria, aind.i, restrições de sua eficácia nas relações envolvendo determina- de acordo com a oriencação que então prevalecia quando da 1.0 Edição desce ''Curso".
dos empregados, a de::pcndcr de sua ocupação. D..:ssa forma, acnbaria por realiznr I.JJlL'l disrinç:io 22. Realizada em fevereiro de 2015, pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça
indesejada enrrc empregados, além dt: recorrer a te rmo não definido cecnicam.cnte:: na legislaç:io Federal.
crabalhist:1. Com isso, colocaria cm risco a gencralid:~dc de trabalhado res que poderiam se ver 23. Neste sentido, o acórdão do TJSP, no Ag[n 531.020.4/3-00, rei. Des.Pereira Calças: "Agravo
suhmccidos ao processo :ubimtl.'' - Mensagem dt.: veto 11. 162 de 26 de Maio de 20 15. de instrumento. Falência. Impugnação judicial objetivando habilicação de crédito fundamen-
420 l CURSO DF. ARBITRAGEM AIUmllAC:EMTF.M,hlCA 1 421

Isco porque, o prosseguimento do procedimento arbitral é similar ao prossegui- administrador judicial decida se cumpre ou não os contratos bilaterais do falido que
mento da reclamação trabalhista, quanto ao fato de ambos derrogarem a jurisdição ainda estiverem em curso, observado o princípio da maximização do ativo do devedor
escacai (no âmbito trabalhista, é uma questão de distribuição entre as várias compe- e ouvido o comitê de credores. Ocorre que a cláusulacompromissóría é autônoma em
tências das Justiças, e na arbitragem, trata-se de deslocamento da jurisdição). relação aoconrrato no qual está prevista, sendo um ato jurídico perfeito e acabado, de
Ademais, o art. 6.0 , § 1.0 , da Lei de Falência24 é crisralioo no sentido de que modo que a regra em questão não se aplica 1Oa ela. Assim, o administrador judicial
terão continuidade, no juízo que tiverem sido ajuizadas, as ações que versem sobre não pode recusar cumprimento a ela nem precisa de autorização do comitê (ou do
quantia ilíquida. Assim, terminada a arbitragem, com sentença arbitral líquida, nada juiz) para dar início a procedimento arbitral dela decorrenre".
obsta a habilicação de crédito no processo falimentar, como já havíamos comentado. Para completar, observa-se a necessidade de participação somente do administra-
E os argumentos para o infcio da arbitragem após a decretação de falência, quan- dor judicial no procedimento arbitral, pois é dispensada a intervenção do Ministério
Público durante o processo de falência, após o veto no art. 4. 0 da Lei de Falência/'
do há convenção anterior são realmente convincentes, valendo aqui a transcrição da
ou seja, o Ministério Público não é parte necessária nos processos decorrcnres da Fa-
J usrificativa apresen rada para a aprovação do Enunciado 7 5 acima referido (para ambas
lência e, no caso de procedimento arbitral, terá legitimidade para anular a sentença
as situações): "Nos termos do art. 6.0 , § 1. 0 , da Lei n. 11.101/20058, as ações que
caso ela possua vícios.
demandam quantia ilíquida não se suspendem em razão da decretação da falência nem
são atraídas para o jufzo universal falímentar, continuando a tramitar normalmente Analisando acórdão que autorizou o prosseguimento de arbitragem que se iniciou
no juízo competente até a eventual definição de crédito líquido, o qual será incluído antes da decretação da quebra, Daniel Busharsky26 bem sustenta a possibilidade de
no quadro geral de credores, na classe correspondente. Da mesma forma, ações que arbirrag<::m no direito falimentar: "Conclui-seser plenamente possível a arbicrabilidade
demandam quantia ilíquida podem ser ajuizadas normalmente após a decretação da do direito falimcntar, caso a convenção de arbitragem renha sido celebrada antes da
quebra,aplicando-sca mesma regra. Oart. J 17 da Lei o. 11.101/2005 permite que o sentença que decreta a falência, prosseguindo o procedimento arbitral por meio do
administrador judicial".

cad.o em sentença arbi rral. C lfasula com promissória pacrmtda cm contrato de construção de
Acrescente-se, como exposto pela doutrina, que por força do arr. 76, parágrafo
edifício fi rmado enrrc as panes. Inadimplemcnco comraru:tl gerador de resoluç.'io do conrrnco único, da Lei de Falência, o administrador deverá representar a massa falida.
e formulação de demanda perance a Câmara de Arbitragem. Posrer(or dccreraç:í.o da falência da Cabe arbitragem, portanto, se a convenção arbitral e o início do procedimento
demandada. lmervenç:io do Adminisnador Jucl.icial da Massa Falida no procedi meato arbi cral, acontecerem antes da quebra, ~7 versando ela sobre quamia ilíquida, sendo não só
com alegação de incompetência do Juízo Arbitral, em face d:;i falrn de etpacidadc proccs,5uaJ
da falida e indisponibilidade dos bens da devedora, com base no art. 25 da Lei 9.307/1996,
susccnmndo dever a demanda ~er acraída para o Juízo Universal da Falência. Prossr.:guim<mto 25. "Are. 4.o O repre~entante do Ministério Público Íntervir.i nos processos de recuperac,:ão judicial
da devedora na in<lcni1.aç:io fixada pcb Câmara de Arbitragem. Aplicabilidade do arr. 6. 0 , e de falência. Padgrafo único. Além das disposições previ.~tas nesm Lei, o representante do
§ 1.0 , da Lei 11.1 O1/2005, eis que, versando a demanda sobre quantia ilíquida, o processo não Ministério Públiw inrervid em roda :1ção proposta pda massa falida ou conrra esta". Razões
é suspenso em vircude da falência du devedora, inexistindo a 11is attmtti11a do arr. 76, atp11t, do veto: "O dispositivo reproduz a acuai Lei de Pal1:ncias - Dec.-lei 7.661, de 21.06.1945,
devendo o procedimenco arbitral pros~egwr com o :idminlmador judici:iJ que rcprescmará a que ohriga a íncervenção <lo p,trquct n:í.o apenas no processo falímentar, mas c;11nbém em rodas
massa falida, sob pena de nulidade. lnaplica.bilidade do are. 1L7 à convenção de arbicragcm. as ações que envolvam a massa falida, ainda que irrelevantes, e.g., execuções fiscais, ações de
ínexistê:.ncia de previsão legal de inrervcnçã<> do Ministério Público nas dema11das arbimüs em cobrança, mesmo as <le pequeno valor, reclamatórias trabalhistas etc., sohrccarrcgando a ins-
que a mas,~a fulid,a seja paite, especial mente sob a óptica do vem ao are. 4. 0 do Lei 11. 1. O1/2005, tituição e reduzindo sua imponJ.ncia institucional. Importante ressalcar que no aurógrafo da
que 115<> 111:incevc aorma similarao arr. 2 l0 do Dec.-lci 7.661/ 1945. Legitimidade da inclusão nova Lei de Falfocias enviado ao Presidente da Repí1blica são previstas hipóteses, absolutamente
d<> crédito reconhecido no Tribunal Arbitrai no Quadm Gcr.tl de Credores da fulida, pelo valor raw:íveis, de intervenção obrigatória do Minisc<:rio Público, além daquelas de nacureia penal".
detenni aado 110 juí1..o arbicral, limimda a arualização moner:íria c os juros acé a data do decreco 26. Busharsky, Daniel. Relação entre falência e arbicragcm: jurisprudência estadual comentada.
da quebra, :i reo r dos ares. 9. 0 , ll. e 124, ambos da Lei I l.101/2005. Agravo parcialmente Revista Jus Nr111igmuli. n. 2843. ano XVI. Teresina. 14.04.2011. Disponível em: 1hcrp://jus.
provido pa..m ser deferida a írnpugnação e a habili mç:í.o do crédito da agrav;rnre, obse.rvados,os uol.com.hr/revisrn/rexto/18900). Acesso em: 14.06.2011.
limites acima estabelecidos''. 27. Colacionando o posicionamento de um dos mais conhecidos e respeitados especialistas em
24. "Art. 6. 0 A decretação da fo lência.ou o dcforimemo do proccssamcnco da i:ccuperação judicial matéria arbitral, corno é o Pro[ Philippe Fouchard, vc:rifica-se lfUe este defende continuar a
suspende o curso da. prescrição e de rodas as ações e Cl<'ecuções cm face do devedor, inclusive eonvcnç:í.o de arbitragem anterior ao início do processo de falência, ligando o devedor, restando
aquelas dos credores parriculares do ·sócio solidário. § I." Terá prosseguimento no julzo 110 qrml ~escarre oponível aos credores e aos demais sujeitos integrantes de tal processo. Nes.~e sentido,
estiver se processando tt açtfo que d,muJ.IUÍJtr qum1tia iliquidtl.'' (grifos nossos) invoca esse autor a scncença CCI 6.075 de 1991 na qual se decidiu que, pouco importando
l,.
422 1 CURSO DEARBffRA<.;EM ARBITRAGEM TEMÁTICA 1 423

importante a consolidação deste entendimento pelo prestígio do instituto, bem como pttrticip1zçáo de operadoras de planos de assistência à saiéde em liquiilaçíf.o extmjudici11.l
para celeridade e tecnicidade da decisão para a massa falida e a parte contrária, com no procedirnento arbitml a rigor, não exige aprtitica de nenhum ato inclinado 11, concluir
a pronta habilitação de crédito, se houver. negócios jurídicos pendentes, tampouco não significa que haverá, necessariamente, no
Por sua vez, a recuperação judicial também não retira a eficácia da convenção, curso do procedimento arhital atos do liquidante que impliquem na disponibilização
podendo inclusive, ser firmada após o início do processo. Em respeito à convenção, de tais direitos.. .. -A suspensão dm ações e execuções envolvendo direitos e interesses
o procedimento arbitral pode ser instaurado e terá seu curso. Ao contrário do que do acervo da entidade em regime de liquidação extrajudicial, prevista no art. 18,
ocorre em um processo de falência, no qual os atos de administração são conduzidos 'a', da Lei nº 6:024/74, é de serttplic,id,t com temperamento, mormente quando se
pelo juiz com auxílio do administrador judicial, na recuperação judicial o devedor tratar de ação de conhecimento, na qual se busca tão somente o reconhecimento do
e seus administradores são mantidos à freme da atividade empresarial, nos termos lltttor. Precedentes." (MC 14.295/SP (2008/0122928-4), decisão monocrátíca,
do are. 64 da Lei de Falência. 28 Tendo em vista que a cdebração de uma convenção j.09.06.2008).
arbitrai decorre de uma deliberação cm presarial, torna-se desnecessária a parcici pação
do administrador judicial, que terá tão-somente atividade fiscalizadora. 2') 14.4. ARBITRAGEM NO DIREITO SOCIETÁRIO
Em sentido próximo ao quanto acima direcionado, foi a conclusão contida no Há várias possibilidades de estudo da arbitragem no direito societário, seja com a
Enunciado 6 da I Jornada Prevenção e Solução Extrajudicial de Litígios; assim: "O cláusula arbitral inserida noContraco/Estatuco Social, seja ela inserida em um acordo
processamento da recuperação judicial ou a decretação da falência não autoriza o de quorista/acionisra.31
administrador judicial a recusar a eficácia da convenção de arbitragem, não impede Parece-nos claro qut: existindo conflito e na falta de cláusula com promissória,
a instauração do procedimento arbitral, nem o suspende". 30 independentemente do instrumento societário, evidente a possibilidade de arbitragem
E nesta mesma trilha, a liquidação extrajudicial (como ocorre com as operadoras pela vinculação através de compromisso arbitral.
de planos e seguros de saúde, por exemplo), não impede o prosseguimento ou a Assim, o problema fica no momento de inserção da cláusula arbitral no do-
instauração de procedimento arbitral, conforme, ainda que de maneira indireta, já cumento societário. Explico: (a) se na constituição da sociedade ou (b) durante a
se decidiu no STJ, como se observa nas seguintes passagens de ementa de decisão sua vigência; seja através de altt:ração do Contrato/Estatuto Social, seja por meio
monocrática proferida pela Ministra Nancy Andrighi, em Medida Cautelar para da entrada de novo sócio. Em cada um dos momentos poderá existir uma inter-
se conceder efeito suspensivo a Recurso Especial:" Operadora de Plano de Saúde em pretaçáo diference.
líquidação extmjudícial. Procedimento arbitral. Participação. Possibilídade.... -A

o escado acuai de liquidação da empresa, o trihunal arbitral será sempre competenre para 31. Pode-se estudar arbitragem no direito socict;írio para solucionar conAitos entre a holt!i11g e
prolarnr a sencença arbitral. Nessa oportunidade, o cribunaJ arbitral fundamentou sua <.h:cisão suas subsidi,írias. Acerca do cerna, Donaldo Armelin afirma: ''Em vista das características <la
na ''jurisprudência francesa favorável :1 oponihilidade a massa, da liquidaçfo de bens <le uma arbitragem acima cxpo&tas [confi<lenciali<lade, neutralidade ou imparcialidade, decisão por
clausula arbitral inserida em um conrraro ancerior ao julgamento declaratório'' (Armelin, especialista, maior Aexibilidade da adminiscraçfo do processo e no exame das provas, obrençáo
Donaldo. Op. cic., p. 16-29). de uma decisão final irrecorrível, e procedimento menos conlHtuoso] e da relação existenre
28. ''Art. 64. Durante o procedimento de recuperação judicial, o <lcvedor ou seus administradores entre a hvldiuge as controladas, concluímos que a opção pda arbicragcm, atravJs da celebração
ser:ío mantidos na condução da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê, se houver, de um compromisso arbitral, para a resolução do conflito encre elas, resulta ser a melhor so-
e do administrador judicia(...).'' lução nfo só p:ua o resguardo das atuais posições de cada parre, mas rnmbém para a ohtenç;ío
29. A respeito, veja-se Bezerra Filho, Manoel Justino, Not)(l Lei de Rempemçrio i- F1tlê11cif/s Co- de uma decisão dpida, ncucr,, e sigilosa, emanada de especialistas, sem que se coloque em
mentad,t, São Paulo, Ed. RT, 2005, p, 86.: "'Os atos dt· ndministrttçrio da jàlêncía síio dirigidos ri.~co a imagem ou os negócios das partes envolvidas". E completa, a respeito da competência
pelo juiz, que tem diversos colabomdo,·es, o principal deles o atl111i11ístrado1; que ,wume fimt;íío para firmar o compromisso arbitral, que, "com hasc nos csc:uuros sociais, concrato social e
específic,t, pois lhe cabe li ndministmçiio ejeti11a propriammte ditn, a prtrtír do mome11to 011 que acordos de acionistas celebrados, a competência para a assinatura de compromisso arbitral
é deaet,ula a firlê11ci,t (art. 103). Seu tmbalho 1111 recttpemçíio judicial é difi:reme. pois, em pri11- pelas Conrrola<las na hipótese supra (adoção de arbicragcm no insrrumenco de conscicuição]
cípio, o dellt:do,· e os seus ,ulminiJtrmlort'S serão mnntidos 11a f01ul11çiío tia ,uiviclade emprmll'i,,l ~ da Diretoria, independenccmcnce de autorização da Assembleia Ceral de Acionistas ou do
(,m. 64)." Conselho de Administração" (Armdin, Dona.Ido. A arbitragem como melhor forma dc soluç:10
30. Promovida entre 22 e 23 ti.e agosto de 2016, pelo Centro de Estudos Judiei.frio do Conselho <la controvérsia entre a holdí11g e as empresas subsidiárias. Revis111 de Arhitrtriem e Medít1Çtío. n.
da Justiça federal. Ct em "Anexo 7" o texto integral dos enunciados aprovados. l 6. ano V. jan.-mar. 2008, p. 208-210).
424 1 CURSO DF.ARI\ITRAGF.M ARBITRAGEMTEMÁTICA 1 425

Neste" Cttrso", nos ateremos às q uestóes pertinentes ao Contrato/ Escacu to Social Desta forma, os sócios renunciaram à jurisdição estacai, conjuntamente e por
da sociedade, mas lembramos o leitor de que existe farta discussão sobre a extensão "unanimidade", no momento de elaboração de Concraco/ Estatuto Social estratégico. w
da cláusula compromissária aos administradores 31 e membros do conselho fiscal, 33 Algm11as razões poderiam rê-los levado a esta escolha: celeridade do proccd~menco,
bem como da relação dela no acordo de quorista/acionisca. cecnicidade do possível árbitro e confidencialidade para a solução de confücos, 35 o
A primeira hipótese é de inserção da cláusula compromissária no momento de que defenderá o lmow-how da sociedade, por exemplo.
constituição da sociedade. Parece-nos claro que no momento "zero'' rodos os sócios · A segunda hipótese é a da inserção da cláusula compromissória após a consti-
discutiram as cláusulas contracuais/esrarurárías, mesmo que alguma delas (não ne- tuição da sociedade. Caso a alteração do Concrato/Escacuco com este conteúdo seja
cessariamente a de arbitragem) não fosse de total agrado. aprovada por unanimidade, tal como na re~ra da constí tu!ção, rodos os só~io~ esta rã~
submetidos à eventual arbitragem. Ou scJa, eles renunciaram, por unammtdade, a
jllfisdição estatal.
32. Ementa: "Arbitragem. Cláusula compromissória prevista no contrato <le constituiçfo de O problema surge, porém, diante da ausência ou resistência de alguns sócios à
sociedade comercial. Ação visando apurar responsabilidade dos adminiscradorcs. Alegação inclusão da cláusula arbitral.
de obrigaroriedade da arhitragem. Decisão afastando a alegação. Litígio que não envolve
o conm1ro onde foi inserida a cláusula, mas os atos de administração <la sociedade, não Considerando o princípio basilar do direito societário, a ajfectio societatís, e
alcançados pela cláusula compromissóría. Recurso de.~provido {... ), Quando da consri!uição prestigiado o princípio majoritário, a tendência é no senrido de que a inse~ção da
<la sociedade, O1.08.199 l. ficou ~·stabe!..:cido, na d.ínsula sétima, o seguinte: 'Em caso de arbitragem deve obedecer aos voros da maioria, que guiarão a vontade da sociedade.
divergência na soc:ie<la<le, ou entre seus s,ícios, a solução sed confiada a um juízo arbitral
composta por 3 (rn:s) membros de ilibado conceito moral, sendo 2 (dois) ddcs de escolha da
parte divergente e 1 (um) terceiro, na função de desempatador, por nomeação dos 2 (dois)
:í.rhitros, j:í ínvcscidos na funç:io, Na ocasião :iinda não vigorava a l ,eí 9.30711996, que dispõe 34, Neste sencido, Modcsro Carvalhosa, j:í antec:ipando a disc:ussão sobre a emrada de novos
sobre a arbitragem, Mas, cm sucessivas alterac,:ões <lo contrato social, de forma expressa as acionistas na sociedade após a constirnição: ''São partes: para os dcitos de celebraçfo da
cláusulas mantiveram-se inalceradas, inclusive na alteração efetuada em 26. l L 1996, dois cláusula compromissória escatuária, :1 própria socied ade e os acionistas que expressamente
dias ap<Ís a vig6lCia do eirado diploma ( .. ,) Não se tratava de um compromisso arbitral, concordaram com essa substituição do foro judlcial pelo arbinaL As.~im, no momenco da
ou seja, convenção através da qu;1I as partes submetem um litígio à arbitragem de uma consLicuição da sociedade (art. 80 e ss. da Lei 6.404/1976} esrarão vincu l;1dos 1t ~:íusu la
ou mais pessoas {arr, 9. 0 da Lei 9.307/1996), mas de chíusula compromissória mediante com promissúri,l rodos os fu ndadores que subsc rcve;:ram o capir.al sociaJ. Siio eles que hrndam
a qual as panes contratantes se comprometeram a submeter à arbitragem os litígios que a socicdadi; e aptovam o seu cstaturo. Pode-se di:1,er, portamo, qu e os fundaclores-subscricores
possam surgir rdativamence a um contrato (are. 4. 0 da Lei 9.307/1996), estabelecendo a da sociedade n:io ndcrcm ao cscaruco, mas efetivamente o aprovam. Fique bem cJ:.un aq ui a
forma para sua ins!imição, Todavia, a controvérsia envolvendo os sócios não di:t respeito distinção. No caso, os atos constitutivos e, dentre eles, a aprovação do estanllo são t1·<1ct,m1s
ao contrato em si, mas sim aos atos que, na qualidade de administradores da sociedade, encre os fundadores e nfo rlicuuw, O c;adtcr de díct<1tm do estatuto social somc::nte se dá
foram pr:uicados e a evencual responsabilidade por prejuízos que leriam ocorrido, Carlos no caso de aquisiç1o de ações posteriormente aos aros consriturivos, Ressalte-se esse ponto,
Alberto Carmona destaca que a rcferc:ncia feira pela norma a um contrato revela que a No momento <la constirnição da sociedade a relação contr;itual <.: direta entre a sociedade
cLiusula compromissória 'não pode ser ampla a ponto de submeter os signatários para constituída e seus fundadores-suhscricores de capital. Por outro lado, nas aquisic,:ões suce.ssivas
rodo e qualquer conAico cm que se envolveram, A limitação natural da contratação est;í de ações, a clâusnla compromissória e;;sr,;m1ária tenta nattmrl.:l de díctatus e não de m1cmtus.
ancorada a uma relação jurídica"' (TJSP. AgJn 244.960.4/5, j. 11.09.2002, rei. Des, Boris Em consequência, impõe-se a adesão express,l de~ses acionisLas derivados :i clausu la compro-
Kauffmann}. missória cst:m1:lria, por for.ça do que dispõe o referido§ 2. 0 do art. 4." da Lei 9 .307/l9%"
33. Oanicl de Andrade Lévy defende a extens:ío da cláusula compromissóría aos administradores e (Carvalhusa, Modesto, Cnmcnttlrios II l t!i de Socicrlnrles An611hn.1u. 4-. cd. rev. e nrnal. São
pattes do conselho fiscal: "Sob essa ótica, acreditamos que a cláusula compromiss<Íria estatutária Paulo: Saraiva, 2008, vol. 2. ares, 75-137, p. 314).
deve vincular todos os acioni.~cas, assim como administradores e fiscais, independcntemence de.: 35. Daniel Bushacsky dt1fcrtdc o uso de arbim1gem em conAicos socicrtlrios, dando o exemplo da
anuência expressa, sob pena de se criarem procedimentos judiciais e arbicrais paralelos, situação questão da apuração de haveres em um;1 djssoluç..'io de sociedade limimda, ~sevcrru1do que:
que anula qualquer benelic:io de arbitragem, A solução adocada pela CAM nos parece um meio "Observa-se, porca.oco, que a apuração de haveres, bem como outros .:onfl1t0s que podem
termo necess;írio nessa linha evolutiva, que também deve passar um processo de divulgação surgir cm uma sociedade, reríam s.ua. resoluçâo não sü mais r:ípida, m;u; t,tmbém mais p recisa
de informações das companhias cada vez mais sério e consistente, inclusive quanto à opção e segura. caso fosse submetida à arbitr:igcm, com sua respectiva cláusula inserida. no Co?craro
pelo juízo arhitral" (Lévy, Daniel de Andrade, Estudo comp:irado da arbitragem no mercado Social, evícnndo, ,L~sim, que a função social daemprc~a fosse,abalado cm pcnos:is e compltcadns
de capitais. Rl!vista de Din:ito Memmrif. industrial. Econômico e finmm:fro. n, 155-156, ano batalhas judiciais" (Apuração de haveres e arbicrngcm,jus \figi/1111tib1a. Disponível cm: l.http://
XUX. ago.-de:l, 2010, p, 275-298), jusvi,comfortigos/26295], Acesso em; 14.06.2011).
426 1 CURSO DEARR!TRAGEM ARB!TRAGEMTEMÁTICA 1 427

Não se nega a consistência dos argumentos favoráveis a supremacia da vontade Há que se pensar, ainda, se as conclusões acima seriam as mesmas para socieda-
da maioria para as deliberações sociais. Aliás, a maioria expressiva3c, já sustentava a de limitada, e sociedades anônimas (com as suas respectivas variáveis), e ainda, se o
prevalência do princípio majoritário.17 tratamento àquele ausente se equipara àquele expressa manifestação discordante com
1
Porém cm edições anteriores deste "Curso", manifestamos nossa inclinação (à a inclusão da cláusula de arbitragem.1'
época p_reviamente à modificação legislativa) no sentido de que a questão deveria Nesse sentido, embora a Lei 13.129/2015 não tenha aproveitado o momento
ser analtsada não sob o prisma do Direito Societário, mas na perspectiva do direito oporcuno para também regulamentar a sociedade limitada, apresentou evolução
de ação (arr. 5.0 , XXXV, da CF) e tendo os prindpios da arbitragem (Lei 9.307 /96) legislativa no que diz respeito à Lei 6.404/1976 (Lei da S/A) com a inclusão do se-
como filtros para a adequada exegese do sistema. 38 guinte artigo nesta:
"Art. 136-A. A aprovação da inserção de convenção de arhicragem no e.statuto
36. Nesn:: sentido: Armclin, Don:ildo. Revistrt de Arhitmgem e Medittçíío, v.20 - 2009. Mmid,ulo
social, observado o quorum do are. 136, obriga a todos os acionistas da companhia,
de Segrmmça comm ruo do Presidente ela /11nt11 Comercinl do l.:,stndo de Síío Pnulo - Jump. São assegurado ao acionista dissidente o direito de retirar-se da companhia mediante o
Paul.o: Edirora Revista do Tribunais, 2009, p. 339, Guem:ro, Luis Fernando. Co11vençíio de reembolso do valor de suas ações, nos termos do art. 45.
Arbztmgem e Processo Arbirrr,!. S5o Paulo: Editora Adas, 2009, p. 63 e 64, Vilela, Marcelo Dias § 1. 0 A convenção somente terá eficácia após o decurso do prazo de 30 (trinca)
Gonçalve.~, Arbítr;1gem no Direito Societário. Belo Horizonte: Editora Mamlamentos, 2004.
dias, contado da publicação da ata da assembleia geral que a aprovou.
p. 205, 191, 193, 199, LOBO, Carlos Augusto da Silveira ln A cl.íusula compromissória
estatutária. Edirora Revista dos Tribunais online vai. 22, p. 11, Jul/2009 - DTR\2009\841. § 2.o O direito de retirada previsto no caput não será aplicável:
p. 02, Câmara, Alexandre de Freitas /11 Os Efeitos Processuais da Inclusão de Clfosub Com- I - caso a inclusão da convenção de arhicragem no estatuto social represente
promiss<Íria nos Estan,rns Sociais das Companhias. Editora Revista dos 1i-ibunais: Revista
condição para que os valores mobiliários de emissão da companhia sejam admitidos
Brasileira e Arbitragem nº 28 - Out-Dez/20 l O, p. 35, e Verçosa, Haroldo Malheiros. Curso
de Direito Comercía.1, vol. 2, Editora Melhoramentos, p. 303; na jurisprudência: 7." Vara à negociação cm segmento de listagem de bolsa de valores ou de mercado de balcão
de fazenda Pública d? Foro Central <la Comarca da Capítal/SP. Mandado de Segurança n. organizado que exija dispersão acionária mfnima de 25% (vinte e cinco por cento)
054.08.607775-1, elJRJ. Apelação n. 2009.001.04638. 8° C:i.mara Cível. Des. Rei. Môníca das ações de cada espécie ou classe;
Maria Costa. DJ: 30.06.2009.
II - caso a inclusão da convenção de arbitragem seja efetuada no estatuto social
37. Claudío Finkelstein observa que: "alterm.tiv:i ao sócio recalcitrante, oeste caso, seria uma retirada
de companhia aberra cujas ações sejam dotadas de liquidez e dispersão no mercado,
~ia ~omp~nhía,. mu_ito emhora a Lc! das Sociedades Anônim:is não apresente essa hipótese. A
JUSrt~ca'.1va sena a alteração essencial na mecânica operacional e sllpressão de dircico adquiri- nos termos das alíneas "a" e "b" do inciso II do arr. 137 desta Lei".
do, dir:1to este e!enc:id~ encre aqueles do :ire. 5. 0 da Cf, ao qual :i parte não deseja renunciar, Com a introdução do art. 136-A, afasta-se qualquer questionamento sobre o
mas cup :ilteraçao e validade resra autorizada pela ki e peb vonrade soberana da maioria do quórum para a inclusão da arbitragem no estatuto social.
capital social"' (Finkdscein, Cbudio. Arbitragem no direito societfoo. [n: finkelstcin, Maria
Eugenia; Proença, José Marcelo Mar rins (coord.). Direito societdrio: socied,ules 1111ô11i1r1t1i. 2. ed. A Legislação estrangeira já apresentava soluções similares, merecendo nosso
São Pwlo: Saraiva, 2011. p. 326). legislador a influência do sistema italiano.~º Aliás, em recente modificação da Lei
38. Como escrevemos; "Par:i. se levar o conflito à arbitragem, indispensável a manifestação de espanhola, através da Lei l l, de 20.05.2011, também se fez constar a seguinte
v~ntadc da parte. A ausência de livre escolha quanto a esta opção, contamina a arbitragem, previsão expressa sobre a matéria; assim: "Artículo 11 bis. Arbitraje estatutario. 1.
e impede J exclusão <lo acesso ao ju<licí,írio. Enfim, a concordância inequívoca represento. Las sociedades de capital podrán somecer a arhicraje los conHiccos que cn ellas se
demento ohri~arô.rí~, .C()1!di~io sÍm' qua 11011 para o conv~nio :i.rhicral. A opi,:ão pela arbitragem planteen. 2. La introducción en los estatutos sociales de una cláusula de sumisión a
representa renuncia a Junsd1çiio estatal; e por ser exceção, esta renúncia h,í <le ser prcc1:ndida,
arbitraje requerírá el voto favorable de, al menos, dos cercios de los votos correspon-
ou ter consencimcnro inequívoco pelo interess:i.do. Alids, a previsfo de d.ínsula compromissória
csd em parágrafo do artigo 109 da Lei 6.404/76, sendo este contido na Seção destinada aos dientes a las acciones o a las participaciones en que se divida el capital social. 3. Los
di~ciros cssenci~is d~ acioním., sobre os quais '1~em o estatuto nem a assembleia geral poderão
privar os :i.c1ornsc:1s. Sob estes argumentos, a inclusfo de convênio arbitral em alteraçfo de
contraco/est:i.tuto social reclama unanimi<lade dos membros da sociedade". Neste sentido 39. Nelson Ei:úrík, que em recence escrito reconhece a submissão il m:i.ioria por aqueles que se
aponr;ívamos: Carvalho~a, Modesto / Lobo, Jorge. Reform11 de lei das Sociedades Anl111ú1111s, abstiveram ou resr:irnm ausemcs na assembleia, impedida a submiss:ío à maioria, porém, para
2. ~d., Rio de Janeiro: Forense 2002, p. 325, C:irvalhosa, Modesco / Lobo, Jorge. Refimn,1 dt- aqueles que manifesc:i.ram expressa discordância com a ínclusfio da cláusula de arhirr:igem
Let dm Soded11des Anônimas, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 325, e Carmona. Carlos (Eizirik. Nelson. A Lei das SIA Cmncntndn. São Paulo: Quarticr lacin, 2011. p. 617).
Alberto. Arbimtf{em e Processo 11m Comentdrio ir Lei 9.307196. 3. ed., Siio Paulo: Editora Adas, 40. A Lei italiana estabelece um quorum qualificado de 2/3 para a inserçio de cl.íusula compro-
2009, p. ] !O :i 1 12. missória, garantindo também o direito de recesso ao acíonisca dissidente.
428 1 CURSO DE ARBITRAGEM ARBITRAGEMTEMJ\TICA 1 429

escacuros sociales podrán establecer que la impugnación de los acuerdos sociales por acionistas, no entanto não se desdobrou a especificar a hipótese de ingresso de novo
los socios o administradores quede sometida a la decisión de uno o varios árbitros, sócio/acionista.
encomendándose la administración del arbirraje y la designación de los árbitros a Temos para nós que o novo acionista adere por total aos termos do Contrato/
una institución arbitral". Estatuto Social, não sendo necessária a assinatura <::m uma ou ourra cláusula expres-
Com a reforma, positivada a matéria, prevalece a vontade da maioria prevista samente, inclusive a relativa ao modo de solução de confüto. 43 Haverá, neste caso,
no arr. 136 (metade das ações com direito a vorn). 11 anuência tácita do adquirente com a previsáo de arbitragem.
Pode parecer prejudicial aos minoritários, principalmente àqueles com par- E neste sentido, na I Jornada de Direito Comercial promovida pelo Centro
ticipação expressiva na sociedade; porém, a própria norma traz solução para certo de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, apresentamos proposta de
equilíbrio: o direito de retirada pelo acionista dissidente. Enunciado, aceita pela Comissão de Direito Societário, da qual fizemos parte, para
E, assim, a lei demonstra atenção com a necessária aceitação voluntária à exclusão assim se concluir a respeito da questão: "Enunciado 16: O adquirente de cocas ou
do Judiciário para apreciação do conflito, pois ao dissidente não se irá impor a cláu- ações adere ao contrato social ou estatuto no que se refere à cláusula compromissória
sula, contra a sua vontade, mas respeitada, como deve ser, a deliberação da maioria (cláusula de arbitragem) nele existente; assim, estará vinculado à previsão da opção
(força motriz na gestão das sociedades anônimas), a ele~ facultada a retirada. Desta da jurisdição arbitral, independentemente de assinatura e/ou manifestação específica
' "44
forma, fica resguardado indiretamente ao acionista o direito de discordar da inclusão a esse respeito.
da cláusula com promissória no estatuto social, retirando-se da sociedade. Por fim, vale ressaltar que: (a) a arbitragem é incentivada pela BMF/Bovespa,
O acionista dissidente terá o prazo de trinta (30) dias para pedir seu desliga- inclusive sendo necessária a disposição de arbitragem no Estatuto Social para a socie-
mento, contados da publicação da ata da assembleia geral que aprovou a inserção de
convenção arbitral. Transcorrido o prazo, se o acionista permanecer silence, o mesmo 43. Porém, polêmica é a ma(éria, como se disse, indicando-se decisões nos dois sentidos proferi-
se vinculará, por definitivo, à cláusula compromissária. das pelo TJMG: no Agin 1694527-18.2009.8. 13.0035, 10.ª Câm. Civ., j. 13.04.2010; e na
Ainda, a norma traz situações específicas cm razão das quais, por circustâncías Ap. 0710759-92.2008.8. l.'3.0024. 13.a Câm. Civ.. j. 09.07.2009.
próprias, não se confere ao dissidente o direito de retirada (situações específicas de 44. Neste s<:ntido, e j,í ances do Enuncíado, como boa. domrina, wnfira-sc MARTINS, Pedro
ações negociadas em Bolsa de Valores ou no mercado de balcão, balcão). 42 A. Bacisca. A Arbitmgem 110 Direito Societririo. São Paulo: Quarrier Lacin, 2012. Também
respeíro, inclusive com citação de dívcrsos Autores sohre o cerna, cf., ainda. Cahali, Francisco
Também o prazo de trinta (30) dias é o estabelecido para início da eficácia da José. A vinculação dos adquirentes de cotas ou ações à cláusula compromissária estabelecida
convenção, de tal forma que para as ações propostas antes deste período, permanece cm Contrato Social ou Estatuto - Enunciado 16 da Jomat!a de Direito Cmnercial. Revist11
a jurisdição estatal. de Malillçifo e Arbítmgem. n. 36. ano X. jan.mar. 2013, p. 159, com as seguintes pas~agens:
"Quem adquire parcícipação societária, recebe o quanto se continha nos direitos do ce<lenrc
Outro aspecto a ser analisado, é em relação à vinculação de novo sócio/acionista
em relação 11 sociedade. Transmite-se ao adquirente a posição jurídica pertencente ao cedente
à convenção de arbitragem contida no Concrato/Estatuco social. O debate gira em em toda sua dimensão, s;i.lvo previsão expressa em contrário. E assim, restrições, vantagens,
torno da necessidade ou dispensa de anuência expressa à eleição da jurisdição privada termos, condições e cl:íusulas, como o convênio arbitral, são transferidas ao novo sócio. ( ...) O
quando da entrada na sociedade. A Lei 13.129/2015 errou por manter-se omissa, momento cm que o adquirente ingressa na sociedade é o exato instante em que se:: considera
também, nessa questão. O caput do novo are. 136-A da Lei da S/A (Lei 6.404/1976) aceíto o conv~nio arbitral. Aínda que nada fole a respeito no ato de transmissão da posição
estabelece que a convenção de arbitragem inserida no estatuto social obriga rodos os acionária, sub-roga-se o cessionário na titularidade da participação tal qual antes exercida pelo
cedente. Pressupõe-se que a decisão a respeito de ingressar na sociedade, revela o consencim.:nco
com a sua estrutura juríd ica, inclusive no que se refere ao convênio arbitral. Assim, a manifes-
41. A~sim: ''.Art. 136. É necess,íria a aprovação de ;i.cioníscas que representem merndc. no mínimo, tação de vontade pela solução arbitral é indireta, mas existe. Ao se adquirir a relação jurídica
das ações com direito a voto, se maior qunmm não for exigido pelo c::statuco da companhia cujas oforcci<la, no caso titularidade de quocas ou ações, estar-sc-,í aceitando também a previsão de
açõc::s não estc::jam admitidas à ncgociaç:i.o cm bolsa ou no mercado <le balcão, para deliberação arbitragem que no contrato ou estatuto se contém. O requisito volitivo indispehsávcl para se
sobre:(... )". submeter ao convênio arbitral decorre, assim, da prévia aceiraçlo e consequente subm issão i1s
42. Como, p. c::x., a inclusão da convenção de arbitragem no csraruto social represente condição regras contidas no estatuto ou contrato social, confi::rindo efid.cia à cl:íusula compromissória
para que os valores mobiliários de emissão da companhia ~ejam admitidos à negociação em nele contida. Neste contexto, o adquirente estará vinculado à cláusula cm toda a sua extensão.
scgmc::nto de listagem de bolsa de valores ["Novo Mercado"] ou quando a inclusão da convenção Adere ao pactuado na convc::nção. Necessário, porém, que se tenha a previsão no contrato/
de arbitragem seja efetuada no estaruco social de companhia aberta cujas ações sejam doca.das estatuto, ou, se em inscrnmenco separado, que desce se faça ter conhecimento o adquirente,
de liquidez e dispersão no mercado. para garaniir o inequívoco consentimento com a cláusula compromissória.''
430 l CURSO DE ARBITRAGEM ARBITRAGEM TEMATJCA 1 431

dade entrar no novo mercado; (b) o lnsticuco Brasileiro de Governança Corporativa e arenas esportivas para a Copa do Mundo de 2014, 4 (quatro) deles possuem cláusula
também defende a arbitragem como uma boa prática de governança corporativa; e compromissória (Natal, Salvador, Belo Horizonte e Recifc).47
(c) a própria Lei das Sociedades Anônimas, o arc.109, § 3. 0 , da Lei 6.404/ l 976, 45 Advirta-se que os aros de império da administração não são arbi rní.veis, pois refletem
observou como direito essencial ao acionista a possibilidade de solucionar contro- 0 interesse público primário, da colecividade.4ª Poro urro lado, discussões sobre o reequi-
vérsias por arbitragem. líbrio econômico do contrato administrativo, desregulado por um ato de império, por
exemplo, poderão ser levados à arbitragem, pois refletem o interesse público secundário. 49
14.5. ARBITRAGEM E A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Nesse passo, vale citar um dos primeiros casos de reconhecimento de arbitragem
O debate a respeito da utilização de arbitragem pela Administração Pública é no direito público, envolvendo Companhia Estadual de Energia Elétrica, no qual
amigo, e intensificados os esforços para a sua consolidação, a recente reforma da Lei 0 STJ decidiu que "são válidos e eficazes os contratos firmados pelas sociedades de
de 201 5 veio para superar resistências ou prevenções que ainda pudessem exiscír. economia mista exploradoras de atividade econômica de produção ou comercialização
Já se considerava presente a autorização legal para a Administração Pública de bens ou de prestação de serviços (arr. 173, § 1. 0 , CF/ 1988)". 50
celebrar contratos com cláusulas com promissórias no próprio art. 1.0 da Lei de Ar- Devido a inicial lacuna apresentada pela lei sobre arbitragem no direito público,
bitragem, em sua versão original, lembrando que tanto os entes federativos diretos e os tribunais 51 passaram a aceita-la paulatinamente, como deveria ser. Isto porque,
indiretos poderiam celebrar convenção arbitral, pois capazes, desde que o objeto do
conflito fosse de direito patrimonial disponível.
47. Observe-se que esses diplomas legais não criavam a possibilidade do Poder Públiw solucionar
Selma Lemes, 4 <> uma das autoras da Lei de Arbitragem, explicava: "No denomi- seus conAi1os por arbitragem, apenas vieram reiterar essa opção, uma vez quc a Lei de Arbi-
nado microssistema arbitral, no direito da arbitragem, dois importantes conct:itos tragem já autorizava a ~ua utifü.ação h:-í mais de quinze anos.
decorrem do d is posto no art. 1. 0 da Lei 9 .307/ 1996: As pessoas capazes dt: contratar 48. Ou como escreve Cândido Rangel Dinamarco, 1ambém simpático :1 arhitragcm envolvendo o
(arhitrabilidade subjt:tiva) poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios rela- Poder Público: ''prevalece s1::mpre, porém a ressalva d1:: cenos direitos ou relações nas quais
o Estado aparece no exercício do imperi11m que lhe é próprio, figurando os indivíduos cm
tivos a direitos patrimoniais disponíveis (arbitrabilidade objetiva). A arbitrabilidade
uma situaç:io de sujeiçiio aos acos da aucoridade. Nestes c:isos, sendo indisponível o direito do
subjetiva que está prevista na primeira parte do art. 1.0 , da Lei de Arbitragem acima Escado, exclui-se a arbitragem, não cm direra contempbção da presença do enre estatal. mas
reproduzida, 'pessoas capazes de contratar', refere-se a rodas as pessoas capazes da em razão do ohjeto do litígio (inarbirrnbilidade objetiva - CC, are. 104, inc. II)" A tfrbítmge111
acepção civil, pessoas no gozo de seus direitos e obrigações, sejam físicas ou jurídicas, 11/1. teoria gemi do pmcmo. São P:J.ulo: Malheiros, 2013. p. 88-89.

de direito privado ou público. A arbirrabilidade subjetiva refere-se aos aspectos da 49. Boa doutrina tem demonsrrado que os princípios de direito público devem ser revistos, inseridos
capacidade para poder submeter-se à arhitragcm, que no âmbito do direito público no wnrcxto de um Estado atuante na economia. Veja-se, por t:xemplo, a moderna definição rrXT.ida
por Lauro Gama J r. do princípio d;1 legalidade, sob esse novo enfoque da doutrina administrariva:
administrativo, seja como pessoa jurídica de direito público (União, Estados, Muni-
"Il.2 A redefinição do princípio da legalidade administrativa como vinculação à juridicidade do
cípios, Territórios e Autarquias) ou de direito privado (sociedade de economia mista agir administrativo: Se antes a lcgali{fadc ad ministrativa traduzia-se como vinculação positiva à
e empresa pública), qualificada como entidade da Administração Pública direta ou lei, atualmente o princípio da legalidade admi nístraciva (art. ]7, ct1p11t, CF) manifesta a ideia de
indireta, todas possuem capacidade para firmar convenções de arbitragem". vinculação da candura do administrador público à juridicidade conscicucional, expressão que
reitera :l ccnrralidadc da Consriruição no moderno direito brasileiro. Essa nova visão reconhece
E daí a crescente referência à arbitragem na legislação infraconstitucionaJ, dos
que o administrador se acha jungido à prática de atos consticucionalmenre justificados, à luz d.1s
quais são exemplos: o are. 43, X, da Lei 9.478/1997 (Lei do Petróleo); o are. 4. 0 , regras e princípios postos na Lei Maior, e não apenas :J.0S atos dererminados ou autoriwdos por
§ 6. 0 , da Lei 10.848/2004 (Lei do Mercado Atacadista de Energia Elérrica-MAE); norm:1s legislada.s. A ideia de legalidade, ademais, desdobra-se e relaciona-se com outros princípios
e o arr. 11, III, da Lei 11.079/2004 (Lei das Parcerias Público-Privadas); aliás, dos 9 conscicucionais, como os da impessoalidade, mor:i.Jidadc, publicidade e, mais rccenrememe, da
(nove) contratos com participação do Poder Público relativos à instalação de estádios rawabilidade-proporcionalidadc" (Souza Junior, Lauro da Gama. Sinal verde para a arbitragem
nas parcerias público-privadas. A construção de um novo paradigma para os contratos entre o
Estado e o investidor privado. Revist(t. Bmsileim de Arbitmgml. n. 8. out.-dcz. 2005. p. 7).
45. Are. 109. Nem o e.s racu ro social nem a assemb leia geral poderão privar o acionista Jos di reitos 50. STJ, EOcl no REsp 612.439/RS, j. 17.05.2007, rei. Min. Joio Oc:ívio de Noronha.
de.: ( ...). § 3." O estaru ro d,t sociedad e pode esrabdcccr q ue as d ivergências cnrrc os ncionist:1s e 5 1. Sobre o cerna: STJ, Resp 904.813, 3.' T, j. 20.10.2011, v.u., rei. Min. Nancy Andrighi, no
a companhia, ou cn cre os acio n isras comroh1doi·es e os acionisras min ori t:l.rios, poderão ser sol u- qual se consignou, inclusive que ''o faro de noção haver previsão da arbitragem no edital de
cíonada.ç 1111::d.iamc arbjtragem , no~ ccrmos cm q ue especificar (h,c/11/do pelt1 l ei J0.303/200.1). liciração ou no contrato cdehrado entre as partes n5.o invalida o compromisso arhirral firmado
46. Lemes, Selma. Arbitmgem... cit., p. l 17. posteriormenre"; e ainda, embora mais amigo em precedentes de Tribunal Esradual para se
432 1 CURSO DE ARBITRAGEM
ARBITRAGEM TEMÁTICA 1 433

realmente, o instituto não desrespeita os princípios constitucionais e traz segurança De o urra parte, houve proposta de emenda acolhida na Câmara dos Depurados
jurídica para investidores estrangeiros, bem como celeridade e tecnicidade para as para se acrescentar o seguinte ao texto deste parágrafo: "desde que previsto no edital
decisões arbitrais de que o Estado participa. ou nos contratos da administração, nos termos do regulamento". No entanto, acer-
Neste sentido, oportuna a referência feita por Cássio Telles Ferreira Nctto, após tadamente a proposta da Câmara não foi aprovada, pois representaria um encrave
aprofundado estudo sobre o tema: "Como sevê, a utilização da arbitragem para dirimir ou restrição exagerada para o uso da arbitragem, pois, dentre outros aspectos, há de
conflitos de Direito Patrimonial disponível, oriundos das relações entre o particular se admitir, como referido, e até estimular também o compromisso arbitral. Anote-se
e o Estado, constitui hoje a etapa mais avançada da tendência de modernização da rambém que em recente julgado do STJ entendeu-se que a previsão de arbitragem
Administração Pública, pelo que deve ser creditada e incentivada, por se constituir não integra o conjunto de regras essenciais ao edital de Iícitação. 55
52
cm um eficiente instrumento de desenvolvimento para o País". Desse modo, não resta dúvida quanto ao cabimento de arbitragem em casos
Com o objetivo de afasrar por inteiro qualquer questionamento a respeito, e que envolvam a Administração Pública, com a possibilidade de previsão anterior em
mais, pretendendo estimular a utilização desta forma proveitosa forma de solução contrato (cláusula compromissória) ou através de compromisso arbitral, com iden-
de confütos, a Lei 13.129/2015 acrescentou dois importantes parágrafos ao atual tificação ainda de autoridade competente para a celebração da convenção.
art. J. 0 da LArb. e demonstrou que a posição doutrinária e jurisprudencial não estava A seu turno, igualmente merecedora de elogios a inclusão proposta no Projeto,
equivocada ao aceitar a arbitragem na Administração Pública. Vejamos: e sancionada em lei, do parágrafo ao Art. 2° da Lei assim: "§ 3° As arbitragens que
"Are. 1. 0 As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para envolva a Administração Pública será sempre de direito e respeitará o princípio da
dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis. publicidade."
§ 1. 0 A administração pública direta e indireta poderá utilizar-se da arbitragem Realmente, diante da supremacia do interesse público, pelos princípios ecaraccerís-
para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis. cicas da participação da Administração Pública em litígios, háde se rejeitar o julgamento
§ 2. 0 Aauto.ri.dadeouórgão competente daadminiscração pública direta para a cele- por equidade e a confidencialidade. Aliás, em relação ao sigilo, inclusive antes ressaltamos
bração de convenção de arbitragem éa mesma para realização de acordos ou transações".
51 sua inadequação já no sistema atual (Cf. Capítulo 9, item 9 .4.3 supra), e as Instituições
de Arbitragem que geralmente atuam nestas questões, contém em seu regulamento
O texto original do anteprojeto referia-se a conflitos relativos a direitos patri-
previsão expressa de publicidade nos procedimentos envolvendo o Poder Público.
moniais disponíveis "decorrentes de contratos por ela celebrados". Por emenda apre-
sentada no Senado, esta parte final foi suprimida, em nosso entender corretamente, Temos para nós, como referido, que a publicidade deve ser ampla, cal qual se
para contemplar, também, a possibilidade de arbitragem envolvendo a Administração tem no Judiciário, com total transparência, e acesso de qualquer pessoa ao conteúdo
Pública cm "quaisquer conAitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis, não ape- do procedimento. E assim, caberá também à l nsrituição, disponibilizar estas infor-
nas os decorrentes dos contratos por ela celebrados" (como constou na justificativa); mações aos interessados. É evidente que, como em qualquer processo público, pode
e assim, não apenas por cláusula compromissória, mas também por compromisso haver controle do acesso, e informações (ou documentos) sigilosas pela sua natureza,
arbitral a Administração Pública pode optar pela arbitragem. mas a reserva seria exceção, justificada, não a regra. Até mesmo as audiências em
E com a abrangência permissiva a qualquer convenção arbitral, o Enunciado 2 da I
Jornada Prevenção e Solução Extrajudicial de Litfgios; assim: "Ainda que não haja cláu- 55. "Todavia, o faro de não haver previsão da arbitragem no edital de licitação ou no contrato
54
sula compromissória, aAdministração Pública poderá celebrar compromisso arbitrà' . celebrado enrre as partes, não invalida o compromisso arbitral firmado posteriormenre. O
principio da vinculação das partes ao ediral de liciração (are-~. 3.0 e 41 d.a. Lei 8.666/1993) tem
por finalidade precípua estabelecer as regras do ccrcame, assegurando a rodos os participantes
mostrar que a matéria já há muiro vem sendo debatida: TAPR, Ac 247.646-0, 7." Càm. Civ., o prévio conhecimento acerca do objeto cm disputa com precisão e clareza, possibiliran<lo-lhes
j. 11.02.2004, rei. Des. Lauro Laertes de Oliveira: "recurso improvido". íguaís condições no oforecímcnto e an;ilisc de suas propostas. (...) A previsão do juízo arbitral,
52. Ferreira Netto, Cássio Tdles. Contratos ,,dministrativns e a,-bitmgem. Rio de Janeiro: Elsevier, em ve'f, do foro da sede da administração (jurisdição estatal), para a solução de dererminada
2008. p. 78. concrovérsía, não vulncra o conteúdo ou as regras do cerrame. Com efeito, não se pode dizer
53. Lei 9.307/ 1996 consolidada pela Lei 13. 129/2015; cf. adiante, em "Anexos", especificamente que a licitação reria ourro resultado ou dela participariam mais ou menos concorrentes uni-
1.:m "Anexo 2'', o cexro inregral da lei e observações quanto as alteraçõc$ apn,vadas pela Câmara camente pelo fato de estar ou não previsto determinado foro para solução de conrrovérsias.
dos Depurados. Emhora seja cláusula obrigatória do conrrato adminísrracívo, nos termos do art. 55, XII[,
54. Pl'omovida entre 22 e 23 de agosro de 2016, pelo Centro de Estudos Judiciário do Conselho § 2. 0 , da Lei 8.666/ 1993, a cláusula de foro não pode ser considerada essencial aos contratos
thJustiça Fcdcrnl. Cf. em "Anexo 7" o rexto integral dos enunciados aprovados. administrativos." (REsp 904.813/PR, rei. Min. Nancy Andrighi, 3.ª T., Dj 18-10-2012).
434 1 CURSO DE ARBITRAGEM ARBITRA(iE.M TEMÁTICA 1 435

nosso sentir, devem ser públicas, e neste sentido, com empresa especializada na área, de um e outro instituto (direito de família e direito arbitral) cuja interseção aqui se
temos sugestões de como viabilizar esta publicidade sem qualquer interferência no pretende, para, então, se alcançar o resultado desses filtros.
andamento do procedimento.
Como nas demais arbitragens temáticas acima referidas, a questão primeira a
Pon:m, por boa parte da comunidade arbitral, vem sendo distorcida, a nosso ver ser enfrentada ao se pensar em arbitragem para a solução dos conflitos de Direito de
equivocadamence, a necessária publicidade dos procedimentos arbitrais envolvendo Família refere-se à arbitrabilidade da matéria.
a Administração Pública, a ponto de se verificar até mesmo impróprio (a nosso ver)
Vedada a arbitragem para solução de questão de estado (filiação, poder familiar,
enunciado na l Jornada acima referida, as.sim: "4. Na arbitragem, cabe à Administra-
estado civil etc.), e para direitos não patrimoniais e indisponíveis, para se colocar os
ção Pública promover a publicidade prevista no are. 2. 0 , § 3. 0 , da Lei n. 9.307/1996,
protagonistas de um conflito envolvendo o direito de família no palco arbitral, então,
observado o disposto na Lei n. 12.52712011, podendo ser mitigada nos casos de sigilo
indispensável que a matéria pontual respectiva, dentro da amplirudedo instituto, seja
previstos em lei, a juízo do árbitro".
exclusivamente de natureza patrimonial disponível.
Enfim, esta e outras palpitantes questões para debate devem surgir, pois com a
Por sua vez, restrito o litígio a efeitos meramente patrimoniais, ainda que decor-
reforma de 2015, a arbitragem envolvendo a Administração Pública rompe as barreiras
do preconceito até t:ntão em parte cxísrence, e certamente ganhará maior espaço e mais rente de relações familiares, inexiste óbice legal, tanto no direito de família, como na
destaque como importante instrumento de resolução de conf:licos, com expectativa legislação sobre arbitragem para a utilização deste expediente na solução dos confücos
de impactar positivamente nos contratos celebrados com os Entes Públicos, canto em (arbícrabilidadc objetiva), sempre no pressuposto de se verificar a capacidade das
relação ao preço como em relação ao seu mais estáveJ cumprimento, tendo em vista partes (arbitrabilidade subjetiva).
inclusive, a celeridade nos julgamentos. Sicuação clara a se sustentar a viabilidade do juízo arbitral é aquela relativa à
Ea visibilidade atual do temattamanhaque, na ljornadade Prevenção e Solução partilha de bens decorrentes da dissolução do casamenro/8 da união estável ou mesmo
Extrajudicial de Litfgios, já diversas vezes referida, de treze Enunciados aprovados na da relação homossexual (homoafetiva). Podem, então, os cônjuges, companheiros
Comissão de Arbitragem, quatro deles referem-se à Administração Pública, sendo os
outros dois, além dos citados acima, os seguintes:« 11 - Nas arbitragens envolvendo arbitragem, mediante compromisso arbitral firmado pelas partes, salvo quamlo houver filhos
a Administração Pública, é permitida a adoção das regras internacionais de comércio menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais quanro aos praws, devendo a
e/ou usos e costumes aplicáveis às respectivas áreas técnicas"; e, falando sobre a abran- sentença arbitral dispor sobre a descrição e a partilha dos hens comuns, a pensão alimenrícia
gência dos temas possíveis de serem tratados, "13 - Podem ser objeto de arbitragem e, ainda, quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro 01.1 J. manutenção do nome
adorado quando se deu o casamenro". Parricularmcnrc, somos comrários à proposta de mo-
relacionada à Administração Pública, dentre outros, litígios relativos: I - ao inadim-
dificação kgis!aciva, por diversos aspectos, preferindo manter n tratamento dado :i matéria
plemento de obrigações contratuais por qualquer das partes; H - à recomposição do pela atual legislaçio, como com mais vagar <.:sclarcccmos no artigo acima referido. Proferido e
equilíbrio econômico-financeiro dos contratos, cláusulas financeiras e econômicas". acolhido parecer na Comissão <le Seguridade Social e Família (CSSF), pela rejeição da proposta,
no momento da finalização desra revisão o Projcco escava aguardando designação de relator na
14.6. ARBITRAGEM NO DIREITO DE FAMÍLIN1' Comiss:io de Constimição e Justiça e de Cidadania.
58. Perspicaz, a propósito, a referéncia feita por Christiano Ca.ssectarí 9u:mto il possibilidade de,
Ausente previsão legal expressa a respeito da arbitragem relativa às questões de na separação pelo procedimenro extrajudicial, prever-se que "a partilha de bens sed efetuada
57
família, mister se faz veri ficar se existem óbices à sua utilização na legislação especial pnsteriormence, ou por escritura pública, ou por ação judícial, ou at..: mesmo por arhitragem"
(Cassem.ri, Chrisciano. S,:pnmçíio, divârcin ,. i11vmtdrio por esaitum príblim: teori,t e p1'1íticll.
3. ed. São Paulo: Método, 2008. p..'B). Interessante, também, precedcncc do Tribunal Pau-
56. Sohrc este assunto, aprovek1.mos neste curso parte <le nosso arcigo específico a respeito. Cf., lista: ''.Arbitragem. Determinação pelo :irhicro de realização de perícia conc.íhil na empresa do
Cahali, Fr:incísco Jos<:. Arbítragem para conflitos decorrentes da dis~olução da União Estável. recorrente. Possibilidade. Partes que elegeram o Tríbunal Arbitral de São Paulo para solução
ln: Leite, Eduardo de Oliveira Leite (coord.). Grt111dt·s temm drt m11rdid,1dl' - União cstd11el. do litígío que versa sobre a revisão de partilha de bens cm separação judicial. A insticuição
aspectos po!J111icos ,. comm11ertidos. Rio de Janeiro: Forense, 2009, vol. 8. p. 77 e ss. da arbitragem <leve ser respeitada pela jurisdíção estatal como qualquer convenção privada.
57. Enconcra-se em tramitação o Projcco de Lei 4.019/2008, específico a respeito, de autoria da Evidente que não se afasta do controle do Poder Judiciário a apreciação da regularidade <lo
Depu cada Elcion e 13n rbn.lho (PMDB/PA), que pretende "alccrnr a Lei 9.30711996, pa m pcrm ici r processo de arbitragem, que como todo ato jurídico est,Í sujeito a ser invalidado. Providência
a sep,1raçiio e o djvórcio litigiosos por meio de convenção de arbitragem, salvo quando houver requerida que devcr;i ser postul:tda no <Írgfo perante o qual se processa a arbitragem. Oecisão
in teresse de incap:11.es, sugerindo n inclusão ele par:igrafo único ao att. 1,\', com a se~uintc mantida. Agravo não provido" (TJSP, Agln 501.512-4/4-00, j. 30.05.2007, rei. Des. Élcio
redação: "' Parágrafo único. A sepnmção .Licigiooa e o divó rcio licigioso podemo scr objero de 'J'rujillo).
436 1 CURSO DE ARBITRAGEM ARBITRAGEMfEMÁTICA 1 437

ou parceiros, no exercício da autonomia da vontade, de comum acordo, reservar à Indispensável, porém, para um adequado resultado, valerem-se as partes de
arbitragem a solução de conflito relativo à partilha de bens. advogados conhecedores de ambas as matérias (direito de família e direito arbitral),
Eleita a arbitragem, por qualquer de suas formas (compromisso arbitral ou para então bem traçar os rumos da arbitragem.
cláusula de arbitragem), ela se impõe às partes, afastando a possibilidade de se levar ao Sem dificuldade, em nosso sentir, sustentar-se a partilha de bens decorrente da
Judiciário a questão, salvo, evidentemente, nova composição das partes renunciando dissolução do casamento e da união estável pelo procedimento arbitral. 60
ao juízo arbitral. Porém, na rotina forense, a partilha de bens vem à discussão geralmente como
A matéria de conhecimento, porém, é restrita às q uestóes relacionadas à partilha, adjacente a outras questões: alimentos, guarda de filhos, discussão a respeito da
como a identificação do patrimônio "comum", afastados os particulares, inclusive concordância ou não com o rompimento do casamento, preservação ou renúncia
sub-rogados (na respectiva proporção), e a divisão na forma legal ou naquela prevista ao patronímico conjugal, e, especificamente na união estável, geralmente discute-se
em pacto, ou contrato. com vigor o próprio reconhecimento da relação e de seu período.
A vantagem em relação ao processo judicial é expressiva, ou melhor, extraor- Na partilha de bens decorrente do casamento, indispensável a prévia dissolução
dinária! do vínculo pela separação ou pelo divórcio (judicial ou extrajudicialmente). Sem o
A praxis de aproximadamente 25 anos no contencioso nos mostra que uma termo final do casamento, não há como cogitar-se em divisão de bens (judicial ou
partilha litigiosa tem previsão, na cidade de São Paulo, para se prolongar por I Oanos, arbitral). Nem mesmo a separação de fato autoriza a partilha (inclusive amigável), 61
entre perícias, levantamentos, julgamentos e recursos. pois enquanto não rompido o casamento, em tese e pela lei, a comunhão dos aquestos
Aliás, diria que a demora é tamanha a ponto de os envolvidos, na maioria das (se o regime de bens assim permitir) subsiste.
vezes, desistirem de buscar seus direitos, conformando-se com soluções negociadas, Na união estável, de maneira diversa, rompido de fato a convivência, já se en-
ainda que extremamente desvantajosas. 5" cerram os efeitos patrimoniais da relação, e assim de imediato se autoriza a partilha.
Porém, o problema geralmente é outro, e consiste na discussão da própria caracteri-
59. Neste sentido, tivemos a oportunidade de escrever: "Emhora possa soar escranho, sendo,
zação da união, e respectiva duração. Em nosso sentir, o reconhecimento da união,
por cerco, extremamcnrc incomum, encontramos na arbitragem proveícosa sístcm,ícica para e seu período são vedados à jurisdição arbitral. 62 E assim, pode-se levar à arbitragem
a solução de conflicos cambém relacionados à dissolução da união estável". Com efeito, apenas as questões relacionadas à partilha no espaço de tempo de união que as partes,
através dela, permite-se aos incere.~sados obter, com maior presteza, e por vezes com CllSrOs de comum acordo, estabelecerem.
rcdu1.idos, a definição de litígios sem percorrer os sinuosos caminhos do Poder Judiciário.
Principalmcncc nas questões familiares, a morosidade da prestação jurisdicional representa Outra dúvida que surge, diz respeito à indicação de arbitragem no contrato
fator de extremo desgaste. comprometendo, como se sabe, por longo período, a escabilidade de convivência (na união estável ou união homoafetiva) ou no pacto antenupcial. 63
emocional dos envolvidos, sua produtividade profissional e, o que é pior, transferindo aos Tanto em um como em outro, em nosso sentir, pode ser feita a inclusão de cláusula
filhos pesada carga de frustrações e sofrimentos com efeitos no<:ivos para a formação psíquica compromissória. Porém, sem dúvida, o que certamente será mais comum é a opção
do menor ou adolescente. Exclusivamente no aspecto econômico, também é grande a lesão.
Veja-se, por exemplo, que;1 indisponibilidade de ativos financeiros, 1>cículos e mesm o imóveis,
no prolongado curso da açã:o, cm dccoff~ncia de prnposirnra de medida cautelar ou rnreb patrimônio para esta finalidade, podendo privilegiar a equidade e o equilíbrio das partes, em
:uuccip:ida visando a resguardar futura partílha, prejudic:i, e muico, a ambos os incercssndc,s, detrimenco da exatidão aritmética das parcelas destinadas a cada um" (Cahali, Francisco José.
pe.la corrnsiío dll vitlor no tempo. Po r outro lado, cm Jccorrência do expressivo número de Contrato ... , cit., p. 250-251).
processos, sabe-se da reduzida disponib il idade de ccmpo dos magistrados a ser desrinada às 60. Neste sentido, também Marcos Alberto Rocha Gonçalves, "Arbitragem no Direito de Família:
c..xigcn rc.~ questões de fu mília, impedidos nossos julgado res, l'a mbém ness:is circu nscàncins, de
Uma apreciação dos limites e possibilidades", i11 Cadernos da Escola de Direito e Relaçõe.~
dedicar a m:iior atenção reclamada pelos fcicos dessa nanm:za, pela casuJsci.ca e diversidade
Internacionais da UNIBRASIL, Curitiba: 2011, n. 14, p. 251, disponível em http://app.~.
de valores, inreresses e direitos em discussão. Assim, considerando o perfil da arbitragem, em
unibrasil.com.br/ revista/índex. php/direito/artide/viewfile/454/375, acessado em 26.06.2013.
que o :irbi[rO mais se envolve com o confüto em exame, podendo :;e aproximar lntensamcnce
das parte.~ objecivru1do :tlcanc;.tr ;\ soluçá() amigávcl, encontramos nesse p roccdimcnt~ u~ia 61. Por exemplo, não adianta confirmar de comum acordo a separação de fato. O estado cívil
títima opção, cm d iversas situações, pllr:l superar lirígios deco rrentes da união escrivel. ~1g,ur~· continua sendo o de casado, e, como tal, inviabiliza a partilha.
-se a suhmissão expressa dos com panheiros presunção de condomlnio sobre rodo p:rnmio1110 62. Cf. mai.~ a respeito cm nosso artigo acima referido, fundamenrando com mais vagar a posição
adquirido a rítulo o neroso duran'ce a união, pefa cwnplicidade e pa rti cipação conjunra. 11~ 5 adotada.
projeros familfares. N a adversidade da reh1ção, porém, deixam a critério d.o ,frbicro 11 ~efi~içaô 63. Especificamente sobre a cláusula arbicral cm contrato de conviv~ncia, cf. Cahali, Francisco
da pnrcilha, com aptidão para prnmovcr, inclusive, di rcm ou indircrnmente, a avn.buçao do José. Contrato ... , cic., p. 257-262.
- 438 l CURSO DE AKBITMGEM
ARBJTRAGEMTEMÁT!CA 1 439

pela arbitragem através de compromisso arbiu'al, firmado pelas panes quando do Assim, acabamos por nos curvar à admissibilidade, em princípio, da fixação da
p~~são alimentícia no juízo arbitral, sempre no pressuposto de severíficara capacidade
rompimento do vínculo.
Especificamente quanto à relação ho mossexual (homoafetiva), bá de se consi.de- c1v1l,das panes e.a convergente ~isposição no se~tido de existira respectiva obrigação.
Porem, _t~mos d1fic~ldade ~m vislumbrar proveito expressivo às partes nesta situação.
rar, previamente, se as partes reconhecem não ~6 o período ~e un.ião como os ef~t~s
E na pratica, prefenmos deixar esta matéria ainda aos cuidados do Poder Judiciário.67
patrimoniais. Ausente norma expressa a respeito, mesmo diante d~ rece~te decLSao
do STF, a extensão dos efeitos patrimoniais é matéria ainda submetida a intenso de-
14.7. ARBITRAGEM NO DIREITO DAS SUCESSÕES
bate. Desta forma, só no pressupos.co de terem os parceiros reconhecido o período da
união, com delimitação de seus efeitos patrimoniais, será ~ossf~e.~, na mo_ldw-a Pº:eles No sistema brasileiro, a transmissão individualizada dos bens (materiais e imate-
apresentada, promover a identificação dos bens e respectiva divisão no JUÍZO arb1mü. riais, porcant~), aos _quais s; ~cferem os direi~os constitutivos da herança do de cujus,
Questão mais delicada é a relativa aos alimentos. faz-se por meto de mvencano, pelo procedimento judicial ou extrajudicial, sendo
Certo é que a obrigação alimentar decor~ence do poder fa.11:i ü~r (em, favor de este último reservado, em princípio, às .situações em que os herdeiros são maiores e
filhos menores) indiscutivelmente é irrenunciável e, como tal, rnd1sponivel, apta capazes, não há testamento, e todos concordam com a partilha na forma a ser apre-
sentada (Lei 11.441/2007). ·
portanto a excluir a matéria do cenário arbitral.
Já a obrigação alimentar decorrente do casamento e da união esrável. rem cerco Neste contexto, ou se terá um processo necessdrio, perante o Poder Judiciário, ou
coque de disponibilidade, u ma vez nascido o respectivo direito pelo romp1rnenco da uma escrit.ura p~blica e,s~edfica ~ara este fi~, quando preenchidos os requisitos para
~ 11w1caantes eirus canto. A~s11n, o mvenrano propnamente dito não encontra espaço no juízo arbitral
re açao,
l a so l uçao.
~ M
para sua mscauração de acordo com a previsão legal específica a respeito.
Tanto assim é que o casal pode dispor dos alimentos livremente na separação
ou divórcio pelo procedimento judicial e também por escritura pública (prevista na P?rém, em determin~das situações, a partilha e prestação de contas pelo in-
ven_ranante podei~ ser realizadas através da arbitragem; vejamos em que contexto,
Lei 11.441/2007).65
Possível a livre disposição quanto aos alimentos (e até mesmo a sua renúncia - v<.'.nficando rambem quando não é possível afastar-se a jurisdição estatal, mas com
grau máximo de disponibilidade de umdireico), mais fácilsustentaraarbitrabilídade rápidos esclarecimentos prévios.
desta matéria entre os cônjuges ou companheiros. A sucessão pode ser com ou sem testamento. Quando ab intestato, st:guírá a ordem
Advirta-se ainda que, mesmo reconhecido o direito a alimentos como sendo de~ocação h~re~itária, estabelecendo o Direito Positivo os herdeiros e seus respectivos
indisponível, seu valor cem nícido caráter pacrimoo ial. E, assim, tem-se que º.s efeitos qum~ões. Ex1srmdo tesc~menro, a sucessão seguirá o quanto nele estabelecido, porém
parrimon ia.isderivados da obrigação alimentar, ou seja, o valor da ~cm~o propn~em~ respeitada a parcela legíttma dos herdeiros necessários.
clico e não o reconhecimento do direito de percebê-la o u a obngaçao de honra-la e
' que pode ser objeto de arbitragem. Neste sentldo, o c~al Ne.ry escr:ve: "O
matéria as panes transigir a respeiro do q111mttt111 dos alimentos prestados, arrav~s ele acordo formulado
direito de alimentos é indisponível, mas o qwmtmn pode serobJeto de tra.nsaçao. Sem entre as partes, h;í de se enrcnder que o ljlf(ln/um dos alimentos prestados nfo esc:í na esfera
essa ressalva, diz ser inadmissível a arbitragem quanto a alimentos: Sérgio La C hina, de direito patrimonial indisponível, e, portanto, é arbicdvel" (Vilela, San<lra Regim. Op. cit.,
P· 4);_ e,_ ainda, ~cxand:e Freitas Câmara: "Certo que o direito a alimentos é in<lisponível.
I.:arbitrato: il sistema e l'esperienza, 1995, p. 27" .o(,
'fal dtreuo, porem, adn11te transação no que se refere ao q11,mt1tm dos alimentos. Assim, se a
c~ntrov~rsia gira apenas cm corno de valores (não quanto ;1 própria cxisté:ncia da obrigação de
1 ~ltn:'cnrar, eis qt'.e ~í a causa.vc,~sar:~ matéria indisponível), nada impede que as parrcs elejam um
64. Sohrc a renúncia prematura ele alimentos, 11itle: Cahali, Francisco José. Cm1trt1to d~~·om i11f11cin...._ arlmro para dec1d1r o wnflno (C1mara, Alexandre Freira.~. Arhimtgi:111, Lei .9.3071J996. 3. ed.
cit., p. 257-262; e Renúncia aos alimencos <lccorrences do casamemo e d~ urnao,_esc:wcl. ÍII.
Pcreíra, Rodrigo da Cunha; Cahali, Francisco José (coor<l.). Alimemos no Cod1gu Cwd: ,isp,•cM São Paulo: Lumen Juris, 2005. p. 17), citado por Ilza Andrade Campos Silva, com a correta
â11il, ,·omtit11cio111tl, p1·ofess111t! e pe11f/l. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 263-276. a<lvert~nci:: "C? que se <lefcnde aqui é a aplícabilidade da arbirragem à fixação do qunm,1111
da olmgaçao alimentar, <lo modo de pagamento, e ao estabelecimento do direito a alimentos
65. Ora, uma vez retirado por lei do Po<l<.:r Judiciário o monopólio para a quesrão (renúncia e excepcionalmente, a cre<lores maiores e capazes, sem e.~cendê-b.s indiscriminadamencc, ar~
quanrificação da pensão), mais Hcil ainda justificar a opção das parre_s cm, se de comu_m .acordo,
deixar o q111111t11m dos alimentos para definição por um árbitro, ju11. de foco e de direito, que por vedação legal exprc.:ssa, ao rema do díreico fundamental a alimenws" (Silva, Ilza Andrade
Campos. Arbitragem e alimentos: uma conexão possível. Rt•11ist(t Rmsileim de Dirúto de F11111ílirt.
~ por escolha dos litigantes (an. 18 da Lei 9.307/1996).
n. 35. abr.-maío 2006, p. 170).
Nery Junior, Nelson; Nery, Rosa Maria de Andrade. Código de Pro,·mo Civil l'Ornc111ndo. 8. ed.
66. 67. E mais a respeito escrevemos no artigo referido.
S5o Paulo: Ed. RT, 2007. p. 1393. Ainda neste sentido, San<lra Regina Vilela: ''Como podem
ARBITRAGEM TEMÁTICA 1 44 1
440 1 CURSO DE ARBITRAGEM

Na sucessão legítima, ou seja, sem testamento, se os herdeiros são menores, ou porfl'itamente à paisagum'. As duas sentenças, então, se integram, uma com a outra,
incapazes, há indisponibilidade de direitos, e assim, o processo necessariamente será formando a composição de u m codo".66
judicial. A_ pro_posca acima, por nós apresentada quando em período de investigação
Sendo os herdeiros maiores e capa7.es, permite-se a partilha amigável, em processo na Umvers1dade de Salamanca em 2008, refere-se à necessidade de se verificar, nos
judicial ou por escritura pública, como ames referido. Neste contexto, tratando-se cescamenros mais complexos, o cumprimento efetivo da vontade do testador, como
po.r exemplo, quando estabelece ônus sobre a herança, v.g., legado com encargo em
de direito patrimonial disponível, os herdei.ros, se em conflito a respeito da partilha,
favor de terceiros, dáusulas restritivas, e até a destinação do acervo, ou parte dele, a
podem encomendar a divisão litigiosa ao juízo arbicral. A origem da arbitragem será
Fundação~ se_r criada. Nestes casos, efetivamente, aos sucessores a herança não repre-
necessariamente por compromisso arbitral, a ser firmado por todos os herdeiros.
senta um direito roralmenre disponível, pois limitada ao cumprimento da vontade do
Admire-se a partilha arbitral, pois o próprio Código aceita a partilha amigável testador, a ser verificada pelo juízo e pelo Ministério Público.
por escrito particulat homologado pelo juiz (art. 2.015 do CC/2002). Ora, por esta
Ocorre, porém, que em algumas situações (e é casuístico), o testamento apre-
regra, evidencia-se a possibilidade dos herdeiros de dispor entre eles, como bem lhes
senta-s~ com disposições simples, como a instituição pura e simples de um legado,
aprouver a respeito dos seus direitos sucessórios. Se assim é, há de se aceitar também
ou destmação de herança a novos herdeiros (não legítimos), ou ainda, distribuição
a escolha pelos herdeiros, para solucionar eventual impasse, do juízo arbitral.
diferenciada de bens ou quinhões aos herdeiros legais, para facilitação de partilha, sem
A seu turno, também a prestação de contas do inventariante aos herdeiros pode restrições, ônus ou cláusulas de limitação de disposição pelos beneficiários. Assim,
ser levada ao juízo arbitral; e, aliás, conforme as circunstâncias, este ambiente estará para os sucessores convocados de acordo com a vontade do falecido, o direito deles,
mais bem aparelhado para solucionar esta controvérsia, ressaltando a vantagem de passa, a partir de então, a ser disponível, na medida em que o desejo do falecido a ser
julgamento em instância única. Lembre-se, com atenção, a necessidade de concor- honrado já o foi com a convocação.
dância de todos os herdeiros maiores e interessados (viúvo/viúva se o caso).
Nestes casos, há uma tendência em se promover também a desjudicialização do
Sob outra perspectiva, na sucessão testamentária, necessário se faz o inventário inventário {pela forma extrajudicial), para além do indispensável e prévio processo
judicial, ao menos pela literalidade do art. are. 61 Odo CPC/2015. lsto porque, se de judicial de registro de testamento. E neste sentido, passou a ser debatida e aceita a
um lado indispensável a verificação da vontade do testador (direito indisponível aos possibilidade de partilha extrajudicial, sendo os herdeiros maiores, capazes, e de
herdeiros), pelo Juiz e pelo Ministério público cuja intervenção é obrigatória nestes comum acordo, desde que autorizada a lavratura da escritura pelo juízo competente
casos, também imprescindível a verificação da licitude e regularidade das disposições para o registro do testamento.
testamentárias, inclusive diante de eventual legítima dos herdeiros necessários. Acolhendo a provocação dos advogados, notários e estudiosos sobre o cerna, o
Mesmo assim, em nosso sentir, é possível ser feita a partilha no juízo arbitral, Provimento 37/2016da CGJ do TJSP estabeleceu que "Diantedaexpressaaurorização
desde que a sentença retorne ao Poder Judiciário, para verificação do cumprimento
das disposições testamentárias. 68. ~ah_ali, Francisco José. Ensaio sobre arbitragem testamentária no Brasil com paradigma no
Ou, como já escrevemos: "A existência de testamento, e, pois, a obrigatoriedade d1re1to espanhol. Revista de Mediação e Arbitragem. n. 17. ano V. abr.-jun. 2008, p. 54, com
nestes casos de inventário judicial, não impede nem retira a eficácia e rendimento daar- as seguintes passagens: "A matéria submetida a exame ao judiciário é (mica e exclusivamente
relacionada à análise do cumprimento das disposições testamentária. Assim, não h,í sobrepo-
bi tragem tescamen tá ria. A convenção arbitrai cerá provei roem q uesrões percinen ces ao
sição de jurisdição. Ao juízo arhicraJ atribui-se a função de decidir conflitos relativos à divisão
juízo arbinal; solucio nados estes con.fli cos, segue-se no curso do processo para as demais dos bens, podendo até mesmo decidir a partilha exclusivamente em relação aos herdeiros; ao
q uescões e providências. Até mesmo se decidida a partilha peloirbi o·o, com a finalidade ambiente judicial, atribui-se, com exclusividade, avaliar o exaro arendimenco às disposições
desolucionarconflico na divisão do _pattimônio herdado entre os coerdeiros, devolve- testamentárias. Daí a convivência entre os dois juízos, arbitral e judicial, sem que um invada
-se a sentença arbitral para homologação.íntegrativa do Judiciário. E diz-se inregraciva a esfera do outro. Os doís pronunciamentos jurisdicionais se complcram harmoniosamente.
Para mais detalhar: ao judícíário caberá verificar se as condições esrabclecidas pelo testador
a homologação, pois inclui-se na etapa judicial a avaliação pelo Jufa do acendimente foram cumpridas, e se na partilha foram atendidas as resrrições impostas no testamento, como
à voncadedo testador-matéria.de sua compecênciaexdusiva, por represencardireic0 encargos, cláusulas de íncomunicabilidade, impenhorabilidade, inalienabilidade, porém, é de-
indisponível. lntegrac, segundo o dkionário Houaiss, significa ' incluir(-se) um cle,- feso ao j~iz _avaliar ou questionar a partilha propriamente dita, como, por exemplo, até mesmo
mearo n um conjw1to, fo rmand o um codo coerente; incorpora.c(-se), incegralizar.(-5c) evcn~ua'.s diferenças no valor de quinhões, pois é matéria patrimonial disponível, sobre a qual
um,i empresa que integra diferentes ramos de atividades; a arquitetura integrava-Je a atnbu1ção para decidir é do árbitro".
AIU\ITlt'\(;F.M '1 E,\-i...;TICA \ 44:~
442 1 CURSO DE J\Rl\lTRAC~EM

. . . ·tament,íria no direito brasileiro.'' Ainda, co_m:> a~ima


<lo juíw sucessório competente, nos autos do procedimento <lc abertura e cumpri- ·slu.mbrar a a1 bmagem ces • . d' _. l. ntegrativa em razão da ex1sc1;;nua de
"' ·d . dispensável será a sentença JU ,eia i
mc:nco de testamento, sendo todos os interessados capazes e concordes, poderão ser
,r~
fen °, ,n ·
·ça;o de última voncadc.
feitos o invent,írio e a partilha por escritura pública, que consciruiní título hélbil par~ d1spos1
o registro imobiliário".("1
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA .
Se assim passa a ser para o inventário extrajudicial, mesmo com testamento, 14.8. oposr:i com.reta fü ·p1st,1 1/1:
1. ·hçõcs de consumo: um:1 pr ·
pelos mesmos motivos e com iguais razões é <lese admir.ir que os herdeiros, maiores e
capazes, caso não tenham chegado ao consenso quanto à parrilha, possam de comum
ANPRiGI-11. l~átirn:, N~n~y. An•t:t!P~
Arllitmgi:m e A.frd111ç110. •lllo . n. .
i~;:~l;:ulo: E<l. RT. abr.-jun. 2006.
d. . . ,i ·o· impor1t111cia da socicthdc,
, . . . de lei e a arbitragem no trc1lo soc1ec. ri • . •.
acordo firmar compromisso arbitral para a divisão do acervo no juízo arbitral, desde BU·SHATSKY,. Dan1 cl. O proicco d . . .,,rnter'ioao·1cio11i~1a mi11ontano. ln:CAHALI,
d d r , , -unenro 0111su1uto( , T' • • . _ , · · I ··
que requerido e autori7..ado pelo juízo sucessório competente. oponu111da e c rcwrçoerc,;g1, . . E AI . Ir .icoords}.1frln1r,,g,·111-F.strmo, .,n ''"
. ' OOOVALHO TluagocFRElR • cxanl e\
E ne:;ce.~ casos, autorizada previamente a arbitragem, a sentença conscin1irá
título hábil para os regi:mos pertinentes, independentemente de qualquer retorno
Franosco Josc; R
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'i. S:io Paulo: Sa1 at\';I, -º ,.
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·1·Ro Lcon:irdo Fre1las de Mo. l:tCSC, M . . . d 'b' .. . r~n:irbimle.m m:lté[l:1 mbuta l ta
para verificaçao pelo juíz.o estatal. CA5 , T. d s.~161\idnd.cc: oso ices .1n )li .,_,.
driocArbitr:tgem: um aan:1 isc :1 po. . - ' V1 23 $'io Paulo: Ed. Rl', ouc.-dcz.. 2009.
Assim, aquela proposta inicial d.e homologação i11tcgmtivas6se fará necessária para . l ·I ·/. · . ,,,. w e /l.kd111ç,10. ano · n. · ·
no Brasil. Ri:1•1stt1 r e / 1 11 11' ,,' _ \ . , . 111lV:t rcguhç:io de.; resseguras
testamentos complexos, quando imprescindível a análise pelo Judiciário e Ministério . .
CONDE, Luiz Felipe; SI íVA, R:1q1K ' e . . -
·l R'b •iro A rcsoluçao te con 8 ,w., n.t •
Vl , ,, São Paulo: Ed. RT, jul.-sct. 2009.
Público do fiel cumprimento do tc:stamcnro (v.g. encargos, criação de fundação etc.). . . R . de li 1·hitmon,1 f A-h·,b,rç,/11. :mo . , . --· .
bras1lc1Ta. etmt,i b · . • ., d., dcsfo. Rl'rÍSl'<Ulc1fr/111111g,:m
A • •, e O de :1rb1trn°cm nu conu.itú e ·1 •
Para situações mais simples, em que uma vez convocados herdeiros maiores e capa1;es ~osTA Nilco11 C~:1r Annmcs. "con~c11ç.i º .
(, . , . 1 11 8 S'io P;1ulo: F.d. RT, jan.-mar. 2006. . .
na forma desejada pelo falecido, o dircim deles se mostrar disponível, se todos os inr.e- i: ;\f.·rl1t1ç,1o. :1110 li · • · • • . C _ ·d· Franm,ia. R.ei,irm l,r,mlcm1
... H· t:tti A1bnr.1gemnos ontr.uos e .., .
ressados estiverem de comum acordo, deveseradmitida,quando aucorizada pelo juízo
D1,AS. . Luc:is dc.:Souz.a;Tl.\i\
. \!
M. Luc1,1110 cn . .. (' .· : 1 . Co 11i1.'.: 13rnsilciw dl! Arbm;1gcm,
, l Po rco Akgre: .S111rc::sc; ,u11t1 ):1. . i
com petcnte nos autos de ahertu ra, registro e cu m primemo de testamento, a partilha por de ,trl111rt1gcm. :1110 . n. - . ~

arbitragem, cujasencençadcverá ter a mesma eficácia que a proreridajudiciaJmenre.O j:1n.-m:11·. '.W09. . . . ,, . ·r, · ·st1:t!di:Di,âtol'1íb/irn.n32.
• • . i :idm1ntscr:1t"'º· l\r.t•Ht,r r1111, ,
encaminhamento da partilha (ou prestação de couras) à arhicragcm nas siruaçõe., até GRI\ U, F,ros Rohert<>· Arb11 ragl:•11 econu::irc .
agora referidas, serão por compromisso arbitral, firmado por rodos os herdeiros e S:ioP:tUlo:F.cl.Rl:2000.
1. · •
. r· , . . 1a solur:ío dos conA.itos(1:nrn:
, proc:cd1mç11co e ,caz p ,11, • · " •
vit'.lva(o), se houver. Ausente ou discordante um deles, invi,ívd a solução arbitral. KAlZWINl,F.I., Ldgard. /\ :m"tr:1gen1 c.;O ITI( .... : • 1 . l FITE Eduardo de Olivcir'.I (conrd.). M,~
.. -·o.,. ·1 sociedade) ms .~nc1c(\:1dcs cmp1c.;~:111:1s. n. ,. . '
Por fim , anote-se a perspectiva de eventual aróitmgi:m tcst/7.7/ll'lttdri,r,, ou seja, de soei ~ ~ · · . .I .- Rio d..: J,11e1ro: · Forensc, ...,0(18- .
tli,u;íio, ,ll'lnm1gm1 ,:comi u1~,1t>. • . . 113n~il· brc.;vc cns.oio sobrc a
chiusula arbitral inserida cm testamento. Com previsão expressa na Lei espanhola,'º ' Arbitraoç,n cm disput:IS confümcnsc:is IH • • • . • . . d .
em nosso Ordenamento encontra restrições não só pelas questões acima referidas, LF.VY. remanda Rocha Luurl:nço. :" . . . OOOV\l HO Thial!:oüREHU'., Ab:111 íl:
. _ . d· 1 · CAIJ ALl,hanc1$coJos.:;R ' , ' ·· . . .., 01 (
lcgtslaçao prOJCta ,1. 11. . .., I · -ir,_ 5_ () 15. S:ío Paulo: Sar:11v:1, - ,.
como também em razão dese vedar a imposição da clfomla arbitral na parcela legíti- . Esturlo<<obn·,1!.<·1 / 3. l- 9,(,. -! . 2 ·
tcoords). /,. 1 buragmi- ·· . , . ... . .' :, R ·iiist,t d,: Arl1itit1g,w <' Mi,-
ma dos herdeiros necessários. Assim, salvo a concordância desces com a arbitragem, :f, s·1 ·e· ra ,\ cHusula i;omprom1ssori,1 cs1.1rnc.11 ,.1. , .
LOBO, C:1rl os A11gusco ( .1 t ' ' • . •. . . . . , ,009
ou se estabelecida com relação à parcela disponível do patrimônio, é que se poded . _ . ' l n. 2:.!.SiioPaulo:l·.d.Rl,J Ul.-scc.- ·· . . . . ... _
rflllf<IO. ,l! H) \; • · • 1 · • Í\''leSUbJCCl\';\ :lfO/ll'/Ojtll /J1 '1,I
.
1'·1AlUINS,PcdroA.Ba11sta.1\,:11t ,1 e ,1
. , r I· c\ J, vinculação e.: sub1111S~IO <PJCt '
. -
__ .
rn n \O S'ioPalllo: Ed. Rl,1111.-scc. 2006.
.

(i9. Acresccnrando o Provimento, no quanro pcrt.incntc, ao dar nova redo.çúo ao icem 129 do Ca- · l · I A ·bitr l~<'til 1· AJrdwç • :mo · · · '
110
L'Í(l}I for sports, J ,·1•1, r,t t t' ' ,- . . • d . . . Jl ·1•iJI 'rli: Adlim1r,t111,·Ma/i,1ç,io.
pítLJo XI V das Normas <le Serviço da CGJ: "129.1 Poderão ser fcícos o inventário t' a partilha . . . :\ 1 . l . . ·, :unssoc1e,hi es;urn111n1.1s. ,, , ,
MA KANT, lhrbara. Aarhm:1b1l1c a<e~~l l )CtL • • ••
por escrirura pública, t:unb<Em, nos caso.ç de rcscamcnco revogado ou caduco, ou qua ndo houver , s- p 1 . E.d RT po.-mar. ?.00').
ano ll. n. 4 .. ao :lll o. . • . .
/. .
. .. ., :. . ' bico-nrivadas. Ri:1•ist,trlol r n-
decisão judicial, collt tr:\.nsito cm julgado, declarando a mvalidadc do le:itamcmo, observadas a ~ . J . . . d :\ arbtct·:ig..:m e as p.11 cci 1.1~ pu r:-
capacidade e ;1 concord;incia dos herdeiros. 129.2. Nas hipdrcscs do subi te m 129. 1, o Tabdí:io OLIVl:,l RA, (,ustavn Hcnnquç ust1110 e.' - .. . . ...,00"'
. - 1
TV 11 1..., S'io Panlo: Ed. R1, p n.-111,11. - , .
de Noras solicitar.i, previamente. :i certidão do ccsiamc11to e, constar:ida a cxisré11cio de <li.ç- tMgon t AJ,:dh1ç,w. an<. · • -· '
posiçfo rcconhc::n:ndo nll10 ou qu:ilqucr ouna dcclamção ir revogável, :1 lavranir:1 de c.~critu r:1
ptiblica ele inwnc.írio e partilha ficará vedada,(' o inventário far-sc.:-,i judici,1lmenrc.". . • de noS$O ar1ioo cspccí(1co sob re o rema
. · mnichmos a 1c1cur.1 "' ,. ·
71. E p:1r:1 s:iher m:11s a respc1tll reco . . .. : : . o Rr,1sil com paradig1n:1 no l1trc1to
70. Lei 60/2003: "Artú:ulo l O. Arbirrajc.: tt'.munentarío. Tarnbíén ser:! válido el orhit1-..1jc insriruido acima referido: Ensaio sobre.: ;1rbm:1gc:m tc,c:1111cnt.ll t.1 n
po1dispo~ici<Ín tcst:rn1<.:nraria para solucio11ar difel'cnci:is i.:ntrc hercdcros no forw~os o lcgararios
por cuesrionc~ n:l:icivas a la distrihución l> a.clminisrración de la hcrencia". espanhol. cit.
444 1 C: URSO D E ARBlTRAGl'..lvt

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Arbitragem
internacional
ROTEIRO DE ESTUDOS

1. Arbitragem internacional v. ,ubitragem dornéstíca (ou interna):


• Contratos intcrnaciont1ic. e contr<1tos doméc.1icos;
• Critérios: Código ele Processo Cívil francêc., Código de Processo Civil italiano
Lei Modelo Uncitr<1I; '
• Critério brasileiro: sentença estrangeír,1 ou nacional.
2. EscolhJ do direito aplidvel ao mérito rlo conflito na ,1rhilragem:
• Arl. 9." da Lei de lntrodu<,:âo às NomlêlS cio Direito Brasileiro;
1s.1. OBJETO DESTE CAPÍTULO
• Arl. 2.º, §§ l .ºe 2.º, da Lei de!\rhilragcm.
O tema da arbitragem internacional envolve diversas questões, todas repletas
3. Aç5o de homologt1çi'io de sentença arbitral estrangeir;i:
de controvérsias doutrinárias. Atendendo aos objetivos deste trabalho, optou-se
• Critério (art. .14, rarágr,1fo único, da l.ci 9.307/19%);
por tratar de assuntos com maior repercussão na prática, cujas primeiras lin~as
• Normativa aplicável e teoriJ do monismo radical n.1 arbitr<1gem (,1rt. 34 da devem ser conhecidas por todos aqudes que promovem os seus estudos a respeito
l.cí Y.307/19%): Convençfo de Nova Iorque de ·1Y53 iDec. 4.~ 11/2002);
Lei de Arbitrélgcm brasileira; Código de Processo Civi I brasileiro; Regimento
desta matéria.
Interno do STJ; Primeiramente, cumpre estabelecera diferença entre arbitragem internacional e
• Competência parJ c1ção de homolog<1çào: STJ (art. 10.5, 1, i, Cf-/1988, após arbitragem doméstica, bem como desvendar se a Lei de Arbitragem brasileira possuí
EC 4S/2004); elementos que auxiliem nessa diferenciação. Em seguida, revela-se fundamental no
• Documentos essenciais à ;ic,:ão de homologac)io de senlença arbitral estran- âmbito da arbitragem o estudo a respeito do direito aplicável ao mérito da concro-
geira (art. IV, CN I e art. 3 7 dil Lei 9 ..107li 9%); vérsia, principalmente se a Lei 9307/ 1996 outorgou às partes plena liberdade para
• Causas de denegação da sentença arbitr<1I estrangeira (art. V, r e 2, CNI e escolher o direito aplicável ou se existem alguns condicionantes ao exercício regular
arts. 38 e 39 da Lei 9.307/19%); dessa faceta da autonomía <la vontade.
• Ônus da provc1 na aç5o de homolog,1ç.'ío de sentença arbitral estr<1ngeira (arts. Por fim, estudaremos neste capítulo a disciplina da homologação de sentença
IV e V, CN I e arts . .17 e 3 8 da Lei <) •.107119%). arbitral estrangeira, desde a competência para analisar o pedido até a influência da
4. Execl1ção da sentença arbitral estrangeira homologada: Conven<;ão de Nova Iorque de 1958 nas causas de denegação da homologação. Essa
• Competência da Justiça Federal (arl. 109, X, da CF/1 Yll8, RISTJ, art. 216-N, disciplina, adiantamos, é baseante semelhante àquda consagrada na Lei de Arbi-
e Jrt. %5 do CPC/2015). tragem brasileira, conforme teremos oportunidade de averiguar pontualmente nos
próximos itens.

15.2. ARBITRAGEM DOMÉSTICA E ARBITRAGEM INTERNACIONAL

A Lei de Arbitragem brasileira não estabelece distinção entre arbitragem do-


SUMÁRIO méstica e arbitragem internacional. Como se verá, a única distinção prevista na Lei
l 5.1. • OBJETO DESTE CAPÍTULO ............................................ ...-............,..............................·-··················· 44 7 9.307/ l 996é entre sentença nacional e.sencençaesrrangcira, o que, destaque-se desde
15.2. • ARBITRAGEM DOMÉSTICA EARBITRAGEM INTERNACIONAL ....................................,....... 447 logo, não possui rdação com a definição de arbicragern internacional e de arbitragem
15.3. • ESCOLHA DE LEI APLICÁVEL AO MÉRITO DA CONTROVÉRSIA........................................... 45 l doméstica. Trata-se de uma opção legislativa que deve ser respeitada, não ohscante seja
15.4. • HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA.................................................. 454 possível encontrar em outras legislações a expressa definição do que seja arbitragem
15.5. • BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA..................................................................................................... 464 internacional.
448 1 CURSO DF. AR131TRAGEM ARBITRAGEM INTERNACIONAL 1 449

A Lei Modelo Uncitral, seguida por muitos países ao elaborar sua legislação em doméstica para o critério residual. Ou seja, o que não for arbitragem internacional
interna, estabelece em seu art. J, item 3, que "un arbitraje es internacional si: a) las
partes en un acuerdo de arbitraje tienen, ai momento de la celebracíón de ese acuer-
âc acordo com os parâmetros legais será arbitragem doméstica.
Existem diversas opções para a classificação de uma arbitragem como interna-
do, sus escablecimientos en Estados diferentes, o b) uno de los lugares siguiences está cional, por exemplo: a utilização do critério econômico, do misto, ou considerando
situado fuera deJ Estado en el que las partes tienen sus cstablccimiencos: i) eJ lugar dei a sede da arbitragem, mas este tema envolve complexidade incompatível com os
arbitraje, si ésre se ha determinado en eJ acuerdo de arbitrajc o con arreglo ai acuerdo objetivos deste trabalho."
de arhicraje; ii) eJ lugar dei cumplimienco de una parte sustancial de las obligaciones A Lei de Arbitragem brasileira não estabelece critérios para idencific_ação da
de la relacíón comercial o el lugar con e1 cual e! objeto dei litígio tenga una rclación arbitragem como internacional ou doméstica, podendo buscá-los na doumna e no
más estrecha; o c) las partes han convenido expresamence en que la cuestíón objeto direito, comparando os elementos necessários para esta diforen~iação. Ocupo~-s: nossa
dcl acuerdo de arbitraje está rdacionada con más de un Estado". legislação com a identificação da sentença nacional e estrangen~. E esta d1stmça~ tem
A Lei de Arbitragem espanhola, por sua vez, estipula no arr. 3, icem 1, que "el extrema relevância, pois, em se tratando de sentença estrange1ra, para produç~o de
arbitraje rendrá carácter internacional cuarrdo en.él concu rra alguna d.e las sigw emes efeitos no Brasil, será necessária a sua homologação perante o STJ, na forma adiante
circunstancias: a) que, en el momento de celebraci6n dei convenio arbitral, las p.1rres escudada. Já a sentença doméstica tem imediata eficácia cm nosso ordenamento jurí~i-
tengansus domicílios en Estados diferentes; b) que el lugar dei asbirraje, decer1n.inado co, e automaticamente é considerada título executivo judicial, quando condenatória.
en eJ convenio arbitral o con arreglo a éste, el Jugar de cumplimiemo de una parte O art. 1.0 da Convenção de Nova Iorque de 1958, promulgada no Brasil pelo
sustancial de las obligaciones de la relacíón jurídica de la que dimane la controversia 0 Dec. 4.311 /2002, deixa a identificação da nacionalidade da sentença arbitral ao alve-
el lugar con d que ésta tenga una relación más estrecha, esté situado fuera del Estado drio da legislação nacional, assim: "Artigo I: 1-A presente Convenç~o aplicar-s~-~ ~o
en que las panes tengan sus domicilíos; e) que la relación jurídica de la que dimane reconhecimento e à execução de sentenças arbitrais estrangeiras proferidas no tcrntono
la concroversia afecce a intereses dei comercio internacional". de um Estado que não o Estado cm que se tencione o reconhecimento e a execução de
tais sentenças, oriundas de divergências entre pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas. A
E o Código de Processo Civil francês dispõe, em seu arr. 1.504, que "est inter- Convenção aplicar-se-á igualmente a sentenças arbitrais não consideradas como sen-
nacional l'arbitrage qui met en cause des inrérêts du commerce international". tenças domésticas no Estado onde se tencione o seu recoo hecimenco e a sua execução".
Sob a perspectiva nacional, José Maria Rossani Garcezensina que "para diferen- E assim diz a Lei de Arbitragem no parágrafo único do art. 34: "Considera-se
çar a arbitragem nacional da internacional pode-se, basicamente, urili:r.ar o mesmo sentença arbitral estrangeira a que tenha sido proferida fora do território .naci~nal".
critério diferenciador entre os contratos nacionais e internacionais: nos primeiros Ou seja, adota-se como elemento de conexão para a identificação~~ nac1onal'.dade
acham-se presentes, em geral, elementos conectados a um mesmo sistema legal, as da sentença o "lugar onde foi proferida", sendo a sua menção rcqu1s1to essencial do
partes têm residência no mesmo Estado e este, em geral, não difere daquele em que 0 pronunciamento (art. 26, IV, da Lei 9.307/1996).
contrato será executado", enquanto "nos contratos e nas arbitragens internacionais, Em recente decisão da Ministra Nancy Andrighi, datada de 24.05.2011, a
em geral intervêm legislações em conexão com mais de um sistema legal nacional, matéria foi muito bem elucidada, constando do voto:
as partes têm domidlio em países cLiferentes, o local da consticuição da obrigação "Em virtude de a fixação da nacionalidade das sentenças arbitrais ser uma ques-
con tramai o u da convenção arbitral em geral ocorre em país estranho ao domicílio tão de Estado, vislumbra-se no cenário internacional diferentes regulame~tações
de wna das partes, o local de execução do contrato, ou da realização da arbitragem, jurídicas acerca do conceito de sentença arbitral e.srrangeira ou, como ensma-nos
pode ser um dos países de domicílio de uma das panes ou, ainda, um terceiro Renata Alvares Gaspar lob. cit., p. 76], 'divergência nos critérios de localização do
/ )) l
pais . laudo, já gue cada sistema acaba escolhendo os pontos de conexão mais acordes com
Como se pode observar, as legislações mencionadas utilizam critérios diversos
para classificar uma arbitragem como internacional, deixando a definição da arhitra- 2. A respeito dos diversos crirérios, recomenda-se a leitura do ccxto d: ~E~ÇOSA, F:ihi::me. ~rbi-
nagcm inrcrna v. arbirragem internacional: breves contornos da d1stmçao e sua rcpercussa.'.:' no
ordcnamc:nco jurídico brasikiro face ao princípio da autonomia da vontade. bt: TIBURC]O,
1· GARCEZ, José Maria Rossani. Arbitragem inrernacional. ln: GARCEZ, José Maria Rossani Carmcn; BARROSO, Luís Roberto (org.). O direito i,11em11cio1111Í ,·ontemporíi11en: t'Jtudos r:m
(coord.). A 11rbitmgem nll mt d,i gfob11liz,rção. Rio de Janeiro: Forense, J999. p. 164.
h<J111e1111gem ,w p1·<Jfmor}acob Doli11ger. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 428.
450 1 CU RSO DE ARBITRAG EM
J\RBITRI\CI::M INTERNAc.JO~AI. 1 451

se~ D ireito (e com suas pol íticas legislat!vas) interno', constatando ainda que 'cada
6. Sendo a sentença arbitral em comento de nacionalidade brasileira, constitui,
Estado, q uando elege um ponto de conexao para outorgar ao laudo sua nacionalidad
105 termos dosares. 475-N, IV, do CPC l1973 - correspondenre ao art. 51 5, YH, do
está afirmando que outros, que não recebam o mesmo tratamenro 'nacional', tê~
~pC/20 15 j e 3 1 daLei da Arbitragem, tículo executivo idôneo para embasar a ação de
~lu: ~assar_por um p rocesso de recepção interna, para que possam produzir efeitos
Jttnd1cos vmculanres' ( ... ). execução da qual o presencerecurso especial se origi na, razão pela qual é desnecessária
3 homologação por esta Corte.
No direito com_parado a 'fórmula' mais consagrada foi a que identifica a nacionali-
7. Recurso especial provido para restabelecer a decisão proferida. à e-STJ fL 60"
dade da sentença. .arbmal segundo o país eleito como sede da arbitragem (LOBO , e,a1·los
Augusto da Silveira. (STJ, REsp 1.231.55 4/RJ, 3.ªT., v.u.):1
A definição de sentença arbi tral estrangeira. Revistn deArbit7'tl'u.
Mi.d.' - J
?:
e e _lllçno, vo - 3, ~- p. 62-71'. abr.-jun. 2006). Dentre os sistemas jurídicos que
0 em

15.3, ESCOLHA DE LEI APLICÁVEL AO MÉRITO DA CONTROVÉRSIA


se a~aram a esse cn_ceno de locahzação, destaca-se a IcáJia, Alemanha e Suíça. Nesse
se~rndo: salL~t~o cnsmamento deEdoardo Flávio Ricci, ao consignar q ue, 'embora não No âmbito do direito internacional privado, a análise do direito apl icável às
exista d1sp_os1t1vo expr~o a respeito, o en tendimen co pacíiico nos rrês países é 110 senrido relações comerciais passa pelo exame do art. 9.0 da Lei de Introdução às Normas
d: se qualificar d~ nacional a sentença cuja sede seja neles fixada e estrangeira, quando do Direito Brasileiro. Segundo consta do caput do mencio nado dispositivo, "para
nao se elege sede, esclarecendo que a sede da arbitragem (ou do tribunaJ arbitral 0 qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se consrituírem".
do pr~_cedi menta arbitral) 'não tem relação com o local em que é proferida a sen cen ~ Como se vê, a anteriormente designada Lei de Introdução ao Código Civil estipula
e que 1~ual~ente não te_m interferência o local do procedimento da arbitragem',,! a incidência às obrigações - e aos contratos - do direito vigente no local em que elas
se t~ata ,de s1_m ples l~caltzação leg~l d a arbitragem, de livre escolha das partes ou dos forem constituídas.
árbitros (Lei de Arbitragem bmszleira. São Paulo: Ed. RT, 2004. p. 219-221)".
A princípio, a Lei não abre qualquer exceção a permitir que as partes escolham
E após estes esclarecimen tos, consta da conclusão contida na ementa do v ou rro direiroa plicável. A do ucrina in ternacionalista debateu muito esse aspecto e, hojc,
acórdão: ·
predominantemente, considera que nosso ordenamento não consagrou o critério da
. "_Proce~sual civi! . Recurso ~:;pccial. Ação de execução de sentença arbitral. Na- autonomia da vontade das partes para escolha da norma de incidência às obrigações
c10nahd_a~e. Determu~ação. Cncério territorial. .Embargos de declaraçáo. Omissão, assumidas, razão pela qual o direito aplicável aos conrraros atende exclusivamente ao
contrad1çao ou obscundade. Não indicação. Sümula 284/STF. critério do local da sua celebração.
l. (... )
Nesse senrido, João Grandino Rodas explica que, "perante o caput raxativo do
2. A execução, para ser regular, deve estar amparada em título executivo idôneo art. 9. 0 da Lei de Introduçãovigenre, não se pode afi rmar a existência da autonomia da
de~tre os quais, prevê o art. 475-N a sentença arbitral (inciso IV) e a sentença estran~ vontade para a indicação da norma aplicável, no Direito Internacional Privado brasi-
gc1ra homologada pelo STJ (inciso VI). leiro", razão pela qual "fica às partes unicamenceo exercício da liberdade contratual na
3. A de_tenninação da internacionalidade ou não de sentença arbitral, para fins esfera das disposições supletivas da lei aplicável, por determinação da lex loci contmctus" .4
de reconhecunento, fico u ao alvedrio das legislações nacionais, conforme O d isposto
no art. l .º da Convenção de Nova Iorque (1958), promulgada pelo Brasil, por meio 3. No c:tso, o procedimento arbitral foi instau rado mediante requerimento à Corre lncernacional
do Dec. 4. 311 /2002, razão pela qual se vislumbra no cenário internacional diferentes de Arb itragem da Ci'1mara de Comércio Internacional, com sede cm Paris, mas proferida a
regulamentações jurfdicas acerca do conceito de sentença arbitral estrangeira. sentença na cidade <lo Rio de Janeiro, por:lrbicro brasileiro, cm porruguê.~ e com aplicação, no
mi.:rito, do direito hrasilciro, e o acórdão do Tribunal do Rio de Janeiro entendeu ser nc;ccssária
4. _N o ~rdenam~nto j~rídico pátrio, elegeu-se o critério geográfico (ius solis) para a homologação da scnten~, com decisão assim ementada: "Agravo de insuumenro. Execução
d erermmaçao da nac1onal1dade das sentenças arbirrais, baseando-se exclusivamente de sentença arhicral, proferida por membro do Tribunal lmcrnacio nal. Conqunnto tenha a
no local onde a decisão for p roferida (art. 34, parágrafo único, da Lei 9.307/1 996). sentença arbitral sido apresentada no Brasil, a mesma deve ser considerada cstr angcirn, pois
em:inada de encid:idc que aqui não é sediada. Obscrváncia da vontade das parrcs que elt·gcram
. 5. Na e~pécic, o fato de o requerimento para instauração do procedimento órgão arbit ral estrangei ro. Necessidade, por consequt:ncia, de sua homolOb.-:içiio pelo STJ.
arb1tr~l ~er sido ap~esenrado à Cone Internacional de Arbitragem da Câmara de Recurso provido para ex:ringuir a exe<:uçâo".
Comerc10 Internacional não tem o condão de alterar a nacionalidade dessa sentença 4. RODAS, Jo:ío Gni.ndino. Ekmencos de conexão no direito internacional privado hrasileiro
que permanece brasileira. ' relativamente ils obrigações conuaruais. ln: RODAS, João Grandino (coord.). Co11mu:cs i11-
tcn1111:iollf1is. 3. ed. São Paulo: Ed. RT, 2002. p. 59.
-
452 1 CURSO OF. ARRITRAGEM ARBITRAGEM INTERNACIONAL 1 453

E no mesmo sentido escreve Nadia de Araujo: "Não se pode hoje afirmar a de designação da lei aplicáveJ ao contrato pelas partes supõe que a arbitragem esteja
existência da autonomia da vontade para escolher a lei aplicável aos contratos inter- revestida pelo caráter internacional, como exigência prévia" .8
nacionais no direito brasileiro, ante o caput taxativo do are. 9.0 da LICC fLINDBJ,
Em sentido assemelhado, Fabianc Vcrçosa: "Parc<.:e mais consentâneo com a
expresso ao determinar como elemento de conexão a !ex locí contmctus". 5
realidade de nosso direito que a autonomia da voncadeconferidapela Lei 9.307/1996
A doutrina majoritária, portanto, considera que o direito internacional pri-
limite-se apenas às arbitragens de cunho internacional" .Q E, nesta linha, a escolha do
vado brasileiro não permite a escolha do direito aplicável aos concracos, sejam eles
direito aplicável na arbitragem doméstica não seria lícita.
internacionais ou nacionais; prevalecendo sempre a ordem jurídica do local em que
as obrigações forem constituídas. Manifestando opinião diversa, Luiz Olavo Baptista e Sílvia Julio Bueno de
No âmbito da arbitragem, porém, a Lei de Arbitragem trouxe uma regra sobre Miranda entendem que "a autonomia da vontade das partes concedida pela lei de
direito aplicável a princípio bastante diversa daquela constante do art. 9. 0 em exame. arbitragem não sofre nenhuma limitação nos concratos domésticos", razão pela qual
Isso porque o§ 1.O do are. 2. 0 da Lei 9.307/ 1996 dispõe que "poderão as partes esco- "autoriza as partes em um contrato doméstico a escolherem uma lei estrangeira para
lher, livremente, as regras de direi to que serão aplicadas na arbitragem, desde que não governá-lo, o que cem sido considerado uma real revolução no direito brasileiro" . 10
haja violação aos bons costumes e à ordem pública". Como se vê, a princípio, desde
Em outra passagem, os autores reafirmam sua ideia: "Se as partes assim escolhe-
que não haja vioJação à ordem pública e aos bons costumes, as partes estão livres para
rem, uma arbitragem envolvendo partes brasileiras e um contrato executado no Brasil
escolher o direito aplicável na arbitragem. Como se não bastasse tamanha liberdade,
o§ 2. 0 do mesmo dispositivo ainda estabelece: "Poderão, também, as partes conven- poderá ser submetida a uma lei estrangeira" . 11 Os autores também adm icem a escolha
cionar que a arbitragem se realize com base nos princípios gerais de direito, nos usos do direito aplicável ao mérito do conflito, mas consideram, ao contrário daqueles
e costumes e nas regras internacionais de comércio".6 citados nos parágrafos anteriores, que essa possibilidade existe canto em arbitragens
A previsão do§ l .0 doart. 2. 0 daLei 9.307/ I 996dáensejoaenormedivcrgência internacionais quanto em arbitragens internas.
na doutrina brasileira. Isso porque o mencionado disposi civo de lei afirma que as partes E em sua mais recente publicação, Luiz Olavo Baptista escreve: "A Lei deArhitra-
poderão "escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na arbitragem". gem garante expressamente às partes um ai ro grau de autonomia. Como é mais recente
Essa previsão permite a escolha do direito aplicável apenas à arbitragem ou também e específica do que a LICC [LINDBJ, suas previsões relacionadas à autonomia das
ao mérito do conflito? Essa previsão de escolha do direito aplicável incide apenas
partes substituem e afastam a aplicação da LICC (LINDB] sempre que um contrato
t"m arbitragens internacionais ou também em arhitragens domésticas? Seria correto
contém uma cláusula compromissória ou cláusula arbitral" . 12
entender-se que é possível a escolha do direito aplicável ao mérito da controvérsia
quando se estiver diante de arbitragem, mas essa escolha não seria possível quando se Trata-se de divergência bastante interessante e longe de encontrar harmonia
estivesse diante de processo judicial, em guc incidiria o limitador do are. 9. 0 da Lei ou posição dominante na doutrina, sendo escassos os precedentes a esse respeito.
de Introdução? Desta forma, sem dúvida, para evitar insegurança quanto à eficácia das disposi-
João Bosco Lce escreve a respeito: "O reconhecimento da autonomia da vontade ções contratuais, deve-se evitar a adoção de legislação estrangeira nas arbitragens
~ certamente uma revolução no direito internacional privado brasileiro e era mesmo domésticas.
imperativo para que a lei de arbitragem fosse eficaz, mas a sua extensão à arbitragem
interna é 'excessiva e descabida'". 7 Em seguida, o autor defende que "a possibilidade
8. Idem, ibidem.
9. VERÇOSA, fabíane. Arbirragcm interna v. arbitragem internacional, cit., p. 438.
5. ARAUJO, Nadia de. Contratos internacionais e a jurisprudência brasileira: lei aplídvcl, 10. BAPTISTA. Luí·t Olavo; MJRANDA, Sílvia Julio Bueno de. Op. cic., p. 11.
ordem pública e chíusula de eleição de foro. ln: RODAS, Jo:i.o Grandino (coor<l.). Crmtmws 11. Idem, ibidem.
i11tm11zà1n11tis. 3. ed. São Paulo: F.d. RT, 2002. p. 212. 12. BAPTISTA, I .uiz Olavo. A,·bitmgem comercíal e inrern,zcíowzl. São Paulo: Lex Magister, 2011.
6. Possível, por exemplo, a escolha de julgamento do conAíto de acordo com a kx men.·11torÍlt, ou p. 249. E a propósito tamhém desta m:i.réria - escnlh11 da lei aplicdvel -, além <lesta Quinta
com base nos princípios do U11idroit ou as regras do Gttji(I. Parte - O direito 11plic,ível ,10 lii!gín, da qual a transcríção acima foi retirada-, indica-se a leitura
7. LEE, João Bosco. A Lei 9.:107 /96 e o direito aplicável ao mérito do litígio na arbitragem comercial do Capítulo m da obra citada, no qual apresenta o Amor As fomes jurídicas da arbitmgnn
internacional. Re11istll tÍe Dfreim B,muírio e tio Mercado de Cttpitais. j:1.11. 2001. vol. 11, p..'347. i-omcrcí"I e i1lfem"ciontll (p. (,7 e s.~.).
454 1 Ct..;RSODEARRITRACLM ARI\ITRACEM JN'l"ERN/\CIONJ\L 1 4SS

15.4. HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA determina a aplicação da legislação mais favorável, consoanre previsão do art. VI 1
(cLiusula <lo <li rei to mais favodvd). i:;
15.4. 1. Normativa, objeto e competência
Além da Convenção de Nova Iorque e da Lei de Arhitragem brasileira, incidem
A Lei de Arbitragem brasileira traz regra tradicional, de um lado, e inovadora, no processo homologat<Írio os arts. ares. 960 a 965 do CPC/2015 e as disposições do
de outro, no art. 34, segundo a qual "a sentença arhi trai estrangeira sed. reconhecida Regimento l.ntcrno do Superior Tribunal de Justiça, com os acré.scímos i nrroduzi<lo.s
ou executada no Brasil de conformidade com os tratados internacionais com eficácia pela.Emenda Regimental 18, de 17 <le<lezembrode20l4(arts.216-A a216-X, e67,
no ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente de acordo com os termos íncs. XX.X! e XXX.11). 11'
desta Lei". Tradicional, porque condiciona a efidcia <la sentença estrangeira no Brasil
Advirta-se estar sujei ta ~l homologação não apenas a sentença condenatória. Na
ao processo homologat<Írio; u e inovadora, porque estabelece uma prevalência dos
verdade, qualquer decisão estrangeira, seja ela decisão ínterlocutória ou sentença,
tratados internacionais sobre a legislação interna na matéria.
bem como de qualquer nature,.a, isto<::, <ltdaratória, constitutiva ou condenatória,
Após vacilação inicial do projeto original e emendas apresentadas no novo Código
<leve passar pelo processo de reconhecimento para poder produzir efeitos no Brasil.
de Processo Cívil, a estrutura final sancionada confirma esta orien cação de incidência
É importante, ainda, a observação feita por Rena ta Alvares Gaspar: "O certo é que,
preferencial dos tratados e lei especial no que se refere à homologação de sentença
no Brasil, ademais das sentenças arbitrais definitivas, as medidas cautelares proferidas
arbitral estrangeira, sendo a codificação de aplicação apenas subsidiária (arts. 960 e
por tribunais judiciai.~ e arbitrais estrangciros deverão sofrer l'Xl'qt11tturízttçii.o do STJ,
ss., do CPC/2015). 1~
para que possam produzir rodos os seus efeitos no territ<Írio nacional". 'í
No plano do direito convencional, indiscutivelmente o inscrumcnto mais rele-
vante é a Convenção de Nova Iorque de 1958, ratificada pelo Brasil por meio do Dec. Lembre-se apenas o critério geográhco adotado cm nossa Lei de Arbitragem,
4.311 /2002. A Convenção de Nova Iorque, assim, prevalece sobre as disposiçôes da como acima visto, de sorte que a sentença proferida em território nacional dispensa
legislação ínterna no que tange~, homologaçao da sen cença arbitral estrangeira, salvo homologação (art. 34 da Lei 9.307/1996), mesmo se administrada a arbitragem por
na hipótese de a d isci pli na legal interna ser mais favorável, pois aí a própria Convenção instituição estrangeira, e apreciando arbitragem internacional.

13. 1\nore-sc a peculiar analogi:1 feira. por Lui'l Olavo fhprisra, com a pcrspidcia q11e lhe é peculiar: 15. Confira-se o G11ill tio ICC4 Onrernacion:11 Council for Co111mercial Arbirratíon) sobre a
''O processo de reccpç:io do dircirn estrangeiro por 11111 sistema jurí<liw pode ser comparado fnr1·1-pr<'t11ç,ío d11 Co11vmçííri ti.: No,,11 lorqul' de I 958 - Um texto de r~fúJ11átt ptt1it j11í:!'.t'S.
ao da reaç:io de um organismo :to impbnte t:il"lí rgico de um órgão provcnicnre de outro corpo. Disponível cm: [www.arbirr:1tio11-icc1.org/medi;1/ 1/ 131'.W 134139400/pom1gue~e_gui-
Problemas de compatibili&1de, de qu:ilidadc e imunol,',gicos operam com b:ise numa mednit:a dc:_composire_for_wehsite_final.pdfJ. Acc:sso cm: jul. 2015; ou em [www.c:ihali.adv.br].
similar à d:i admiss:io de 11111:1 decísfo proforida fora da esfera de soberania do Estado, ou scja, espaço at:ad~mico.
s~o elementos estranhos que precisam ser compatíveis com o siste1na que os acolhe, equiva- 16. /\ r.:omperi:ncia para a homologação de sentença esrrnngeirn (arhitrnl ou judicial), historicamente,
lentes it ideia <la urilizaçfo da sentenç:i estrangeira, caís sencem;as sendo fruto da açfo soberana cm nossa Constituiç:ío 1:-'cderal, pertencia ao ~uprcmo Tribunal Fcder;1l. Com a EC 45/2004,
de oucrn Estado, on produzida sob :t ~gi<lc de su:is leis" (BAPTISTJ\, Luiz Obvo. Arbitmgc111 es\a compct~ncia foí translerida p:ira o Superior Tribun'.ll de Justiça (CL c1:/ l 988, 105, [,
cn111ad11l ,: i11.tcm,tci1m,tl cir., p. 281). i). Assim, :1 t>poca, foi editada :1 Resolução 9 da Prcsidc:nci;i do STJ para regular a matéria
14. Cf, em Am:xo 5, o ccxro do Código dc Processo Cívil no quanco pertinente. E neste aspccco, provisoriarnent<.'. L, pela recente Emenda Regimental 18, de 17 de dc,.cmbro <li.: 2014 (cf.
ficamos honrados ao ohserv:ir o :tt:olhimenco de noss:i sugest:i.o apresentada em conjunto com Ane1<0 4). foi, como deveria, incluído no Regímenco Intcrno do Supc.:rior 'fribun:d de Justiça
fobi:me Verçosa e André luís Monteiro na versfio sancionada. Espccialmenre, de nrre OLlt~ o Tírulo próprio destinado ao crar:imenro "Dos Proce~sos Oriundos de Estado~ Estrangeiros",
pmposcns conridns no rexro, não necessariamente na Iircmlidade, mas cocalmenre n.o conteúdo, r.:ontendo dois Capítulos; o prímciro desrinado :1 bomologaçfo de sentença cstra11góra (ju<lit:ial
:more-se o§ 3.0 do are. 960; assim: "A homologação de decisão arbirral l:lStra,ngeira obedecel)Í ou arbitral - "provimentos nfo judiciais que, pela lei brasileira, rivercm natu re·,,a de sc.:ntenç:i");
ao disposto cm tramdo e em lei, aplica.ndo-sc, subsidiarfomence,as disposiçõc.~desce Capírnlo,.. e o segundo, ocupado com :l t:oncess:ío de <'.,,·q1ulhil' 11 c,1r/,1; rogtttrírúa. Por fim, a reforma
An.oce-se ramb~m. pel,1 perrinência, o § 2. 0 : "A homologação obedeced ao que dispuserem da Lei ele Arbitragem sancionada c.:m 2015 (Lei 13.129/2015), fe1. a necess:íria adequaç:io ao
os tratados em vigor no Brasil e o Ri:gimmto Interno do Superior 1i·ihunal de Justiça". Parn art. 35 para constar com.::tarncnte a compcntência; assim: "Para ser rL·conhecid:i ou execut:ida
quem civer interesse no deseuvolvime.nco dos rexrns, com as propostas de então e juscificariv_:1,5 no Brasil. a sc11re11\'..t arbitral estrangeira esd .~ujcíra, unicamente, :'1 homolog:iç:io do Superior
oferecidas, confi.-a a 4." ediçlo <leste" Gmo'' na qual, indusivc, apre.m1t:1-se quadro comp:iratívo 'li·ibunal de Justiça"; inas cvi<lc:ntcmc.:nte assim jJ se entendia em razão d:t F.C li 5/200/i rcfori<la.
entre os artigos originais e propostos, considerada a primeira rcdaç:ío rnnduída no Senado !7. GASPAR, Rcnal":i ;\\vares. R1,.·onhcâ111i:11torlc si:11t.:11r11s drbímliscs/ll111g,·ims no Bmsil. Sfo Paulo:
federal. Altas, 2009. p. %.
456 1 CURSO üEARBJ'J'RJ\GEM ARBITRAGF,M INTERNACIONAi. 1 457

Em resumo, então, pode-se dizer que a normativa aplicável ao processo de ho- Dessa forma, cumpre ao autor da ação, além de atender aos requisicosda petição
mologação de sentença arbitral estrangeira ta Convenção de Nova Iorque de 1958, inicial dispostos no art. 319 do CPC/2015, instruir o requerimento com a sentença
a Lei de Arbitragem brasileira, os ares. 960 a 965 do CPC/2015 e o Rc::gimenco In- arbitral estrangeira autenticada pelo consulado brasileiro e acompanhada de tradução
terno do STJ (arts. 216-A a 216-X). O objeto da ação de homologação são sentenças oficial, bem como com a convenção de arbitragem traduzida oficialmente. O original
ou decisões incerlocutórias proferidas pelo árbitro ou pelo tribunal arbitral fora do da sentença poderá ser substimído por uma cópia certificada e, da mesma forma que
território nacional, renham das natureza declaratória, constitutiva ou condenatória. a original, deve ser autenticada pelo consulado e traduzida ao português por órgão
oficial. O original da convenção de arbitragem poderá ser substituído por uma cópia
Por fim, como demonstra interessante levanramento feito por Nadia de Araújo,
certificada e, da mesma forma que o documento original, precisa ser oficialmente
reproduzido em "Quadro Geral das Decisões em Homologação de Laudos Arbitrais
Estrangeiros" proferidas nos últimos anos, pela nova sistemática adoacada no Superior traduzida.
Tribunal de Justiça, houve uma significativa redução do tempo de duração do pro- A apresentação destes dois documentos -sentença e convenção -é de responsa-
ceso, considerada a data da autuação e do trânsito em julgado, chegando-se a obter bilidade - ou melhor, é ônus - do autor da ação, de maneira que a falta de qualquer
homologações, recentemente, em aproximadamente dois anos, quando, há alguns deles levará, num primeiro momento, à concessão de prazo para o saneamento
anos, a mtdia era superir a 5 anos. da irregularidade, que, se descumprido, autoriza o indeferimento do pedido de
homologação, com a extinção do processo sem resolução do mérito (are. 485, I, do
15.4.2. fundamentos para denegação CPC/2015).
A avaliação desses requisitos cabe, segundo o Regimento Interno do STJ
A homologação da sentença arbitral estrangeira, de acordo com a disciplina
(arts. 216 e ss., de acordo com a ER l 8/2014 em "Anexo 4"), ao Presidente do STJ.
constante da Convenção de Nova Iorque e da Lei de Arbitragem brasileira, exige do Presentes todos os requisitos, o Presidente determinará a citação do réu para oferecer
auror a apresentação de alguns documentos essenciais à propositura da demanda, contestação. Caso não haja con cestação, o próprio Presidente decidirá o pedido. Ao
impõe ao réu a alegação e prova da quase totalidade dos fundamentos para eventual contrário, se houver apresentação de defesa, o processo será encaminhado à livre
denegação da homologação e permite ao STJ rejeitar o pedido, de ofício, cm razão distribuição dentre um dos Ministros componentes da Corce Especial do STJ.
de duas circunstâncias.
Na contestação, o réu da ação de homologação poderá alegar a ausência ou irregu-
Com efeito, o are. 1V. J da Convenção de Nova Iorque estabelece que, "a fim laridade dos documentos mencionadas no are. IV da Convenção de Nova Iorque e no
<le obter o reconhecimento e a execução mencionados no artigo precedente, a parte art. 37 da Lei de Arbitragem brasileira. Altm disso, poderá o demandado alegar todas
que solicitar o reconhecimento e a execução fornecerá, quando da solicitação: a) a ascausasdcdenegaçãodahomologação, presentes noart. V daConvençãoem exame,
sentença original devidamente autenticada ou uma cópia da mesma devidamente bem como nos arts. 38 e 39 da Lei referida. Enquanto os fundamentos presentes no
certificada; b) o acordo original a que se refere o Artigo 11 ou uma cópia do mesmo are. V.1 da Convenção de Nova Iorque e no are. 38 da Lei de Arbitragem são ônus do
devidamente autenticada". Em seguida, art. IV.2 do texto convencional dispõe: demandado, de maneira que a ele cabem a alegação e a prova (exceção processual), os
"Caso tal sentença ou tal acordo não for feito em um idioma oficial do país no qual a fundamentos previstos no are. V.2 da norma convencional e no are. 39 da Lei Especial
sentença é invocada, a parte que solicitar o reconhecimento e a execução da sentença podem ser conhecidos de ofício pelo órgão julgador (objeção processual).
produzirá uma tradução desses documentos para cal idioma", e ainda estabelece: "A E, como diz Nadia de Araújo "No julgamento do pedido de homologação de
tradução será certificada por um tradutor oficial ou juramentado ou por um agente sentenças e laudos arbitrais estrangeiros, não se avalia o mérito do que foi decidido,
diplomático ou consular". pois se cuida de verificar tão somente o cumprimento dos requisitos formais de ho-
Em disciplina bastante.semelhante, o art. 37 da Lei de Arbitragem brasileira: "A mologabilidade exigidos pela legislaçâo brasileira e, apenas tangencíalmente, o mérito
homologação de sentença arbitral estrangeira será requerida pela parte interessada, da questão ao avaliar se esta não ofende a o rdem pública e a soberania nacional. É
devendo a petição inicial conter as indicações da lei processual, conforme o artigo o chamado sistema de contenciosidadc limitada imposto pelas regras atinentes ao
282 do Código de Processo Cívil, e ser instruída, necessariamente, com: I - o ori- reconhecimento, determinadas na legilação local" . 18
ginal da sentença arbitral ou uma cópia devidamente certificada, autenticada pelo
consulado brasileiro e acompanhada de tradução oficial; II-o original da convenção 18. ARAÚJO, Nadia de. O STJ e a homologação de sentenças ;1rbítraís estrangeiras: de'.l anos de
de arbitragem ou cópia devidamente certificada, acompanhada de tradução oficial". atuação. ln: TIBÚRCIO, Carmen; MENEZES, Wagner; VASCONCELOS, Raquel (orgs.).
458 1 CURSO DE ARBITRAGEM ARBITRAGEM INTERNAC!ONAl. l 459
O are. V. l, a, da Convenção de Nova Iorque dispõe que "o - h . e objetiva. Na primeira situação, apura-se exatamente a capacidade da parte para se
execução de Ltma sentença poderão ser indeferidos a ped·d d i.econ ec1mento e a submeter à arbitragem; e, assim, o vício da incapacidade retira do litígio a possibi-
j é· d · , 1 o a parte contra a qu l
e a . mvoca a, unicamente se esra parte fo rnecer à autoridade com d a lidade de ser resolvido por arbitragem e, desta forma, impede o reconhecimento da
cenetona o reconhecimento e a exec r • petente on e se
se refere o Artigo II c ·t u,~ao, ~!Ova de que: a) as partes do acordo a que sentença estrangeira.
. . s avam, em conronrudade com a lei a elas aplicável de al Por sua vez, também mediante provocação da parte, no mesmo dispositivo,
mo dbO incapacitadas, ou que cal acordo não é váJ' 1'd o nos termos daJ e1. a, qual
' as pare
gum
refere-se a Convenção ao óbice da homologação, diante da invalidade da convenção.
;as!~ 0:~:e: as:~:~ç:~:t; ~:~!:i~;,int:ca~: sobre a matéria, nos termos da lei d~ E para este traz.dois elementos de conexão: a lei a que se submeteram ou, na falta de
Arbitragem : ''So mente poderá. ser~ ~e ~1tem ence, ~º arr. 38, 1 e II, da Lei de incLicaç.~o, a lei de onde a sencença arbiu-al foi proferida. Em perfeita sintonia com a
ou execução d.e sentença arbitral ·~ ª ~ a omodlogaçao para o reconhecimento Convenção, a Lei de Arbitragem confirma esta regra em inciso separado do anterior
est1ange1ra, quan o o réu dem I
partes na convenção de arbitra em . onsn-ar que: - as (relativo à capacidade).
não era válida segundo a lei à ~ai aseram incapazes; II- a convenção de arbirragem
em virtude da l . d , dq partes a s ubmeteram, ou, na fultade indicaçao O arr. V. l, b, da Convenção de Nova Iorque, por sua vez, dispõe que a homo-
• , ~1 o pais on e a sentença arbitral foi proferida". , logação será denegada caso o réu demonstre que "a parte contra a qual a sentença
Mru,s tecn1ca, em nosso sentir, a Lei brasileira ao tratar em do" . . é invocada não recebeu notificação apropriada acerca da designação do árbitro ou
Co nvenção fez referên cia em apenas um e acab I d ·~ mc1sos ao que a do processo de arbitragem, ou lhe foi impossível, por outras razões, apresentar seus
que a respeito estudaram. ' ou evan o a certo impasse entre os
argumentos". Da mesma forma, o are. 38, Ili, da Lei de Arbitragem permite arejei-
. , pois é deb at1·da na d outrma
Isto se diz · evenrual .mcompatibilidad ção do pedido quando o demandante provar q ue "não foi noúficado da designação
regras a enseJar u ma exegese a .
, d
. d Id l e entre estas
respeito e qua e as prevaleceria sobre a matéria l<J do árbiu-o ou do p(ocedimcnto de arbia·agem, ou renha sido violado o princípio do
Po rem,enten
. emosqueas
. duasnonnasconv1.vem emharmonia d . contraditório, impossibilitando a ampla defesa".
refendo, com melhor técnica a nossa Lei de Arbitragem. 'sen o apenas, como Em relação a essa hipótese, Ana Cristina Azevedo Pontes de Carvalho escreve:
. Assim. ·. exige-se a capact"dade das partes quando celebrada a conven ão "Trata-se de verificar, portanto, se os aros processuais fo ram regularmente infor-
ieconJ~ecrme~to. da.sentença estrangeira. Esta capacidade é aferida de a ç d para o mados às partes (de conformidade com as regras adotadas pelos litigantes) e se lhes
as regi as de ~e'. to internacional privadow ~. assim, j ncide a Lei ~or orco~ foi permitido exercer o direito de fazer valer as suas próprias razões". A autora, com
NormasdoDue1coBrasileiro(Dec.-Jei4.65 7/1942) N . de introdi~çaoas razão, atenta para o faro de que "não se autoriza à autoridade judiciária homologante,
aferida de acordo com a lei do lo l . ·.. este conrexto, a capacidade é 21
4 657/1942).,.. · I d ca emquefordom1ciliadaapessoa(arc. 7.º Dec -lei com isso, tentar impor as regras do fórum ao processo al'hicral". Desde que obser-
' • Ha tan( O-Se e p eSSO ' 'd" ]' ' .
referida Lei d e fncrod . ~ (1 · I d a JUrt rca,_ ªP_ ica-se a regra contida no are. II da vado o procedimento estabelecido pelas partes ou determinado pelo árbitro com a
_ uçao oc,1 e s ua constmução). autorização das partes, não se pode entender que houve violação ao contraditório
Advtrta-se, ainda que a que e- d 'd d d ou à ampla defesa. Aliás, o parágrafo único do art. 39 da Lei de Arbitragem, adiante
verificação, uma diret; e outra in~i::ta ~cap~:mci .ª e as partes c~mporca dupla
- d '· eira, por esta previsão med· . analisado, confirma inexistir ofensa à ordem pública a realização de citação na forma
pfJ~rº:'ocaçao. as pa~tes, e outra constatação se faz. de forma indireta e t ,' tandce convencionada pelas partes.
o cio, ao se tmpedir a homolo - d . , a e mesmo e
arbit bTd d . gaçao, .esentençaarb1c-ral esrrangeirndianredafalcade A respeito desta questão, oportuno precedente do STJ com a seguinte ementa:
ra 11 a e,comoad1ance se vera.Ora,aru·bit rabilidade,comosesabe,ésubjetiva
"Sentença estrangeira. Juízo arbitral. Contrato internacional firmado com
cláusula arbitral. Contrato inadimplido. Lei 9.307 /96 (Lei de Arbitragem), ares. 38,
P,tr1o1t1mll do direito imenuzdrmrtl p /. l
te: Arraes Edirorcs 20 l 5 P 155-1 8,o0111tc.1> ,tt11a e ~11tros ~c:mas comtc:mporíi11eoJ. Belo Hori:wn- III, e 39, parágrafo único. Sentença homologada.
. ' ' · · , com provcnosa c1r·1ção dout · · · - · <l
respeito de questões envolvendo h 1 - d • rlllana e Junspru encinl a
19. Cf. a respeito CASt>'AR n aAJomo ogaçac> e sentença estrangeira.
."'. • ' , , n.cna:ta vares. Op. cir., p. 149 e ss. 21. CARVALHO, Ana Cristina Azevedo Pontes de. A~ inovações da Corwcn.ção <le Nova Iort1uc
20. Alias, a convenção diz amforme rc lei Ili! lts , , é C de arbitragem cm face da Lei de Arbicragem brasileira. ]11: JOBIM, Eduatdo; MACHADO,
capacidade t: <lc acordo com a Orden; d Ip,z~&~ ap ,ctívef,. e, desta forma, a idenrilicação da
Inrroduç:ío. 0 oca O reconhcrnnenco, que, encre nós, é a Lei de Rafael Bicca (coord.). Arbitnrgem no Brttsil· 11spectos jurídfros rde11m1tes. São Paulo: Quarticr
Latin, 2008. p. 54.
460 1 CURSO DE ARl::\ffRAGEM ARBITRA<..;EM INTERNACIONAL 1 461

l. Contrato internacional de fornecimento de algodão firmado entre agricultor executada". De forma semdhant<::, a Lei 9.307/1996 estabelece que será denegada
brasileiro e empresa francesa, com cláusula arbitral expressa. Procedimento arbitral a homologação caso o réu demonstre que "a sentença arbitral foi proferida fora dos
instaurado ante o inadimplemento do contrato pela parte brasileira. limites da convenção de arbitragem, e não foi possível separar a parte excedente da-
2. Nos termos do art. 39, parágrafo t'tnico, da Lei de Arbitragem, é descabida a quela submetida à arbitragem".
alegação, in casu, de necessidade de citação por meio de carta rogatória ou de ausência Cuida-se aqui dos vícios de sentença ultm e extra petita. A esse respeito, Renaca
de citação, ante a comprovação de que o requerido foi comunicado acerca do início Alvares Gaspar considera que "os referidos dispositivos legais não determinam a
do procedimento de arbitragem, bem como dos atos ali realizados, tanto por meio completa ineficácia do laudo arbitral estrangeiro, cujo pronunciamento se revele
das empresas de serviços de couríer, como também via correio eletrônico e fax. dissonante com o pacto arbitral, já que se admite um dépeçagedo mesmo, viabilizan-
do a homologação parcial, sempre e quando seja possível separar da decisão arbitral
3. O requerido não se desincumbiu do ônus constante no arr. 38, III, da mesma
a parte que foi decidida em conformidade com a vontade das partes, da ouera parte
lei, qual seja a comprovação de que não fora notificado do procedimento de arbitra-
que ultrapassou ou extrapolou o acordo mencionado". 21 No caso de sentença extrll
gem ou que renha sido violado o princípio do contraditório, impossibilitando sua
petita, a única solução é a denegação da homologação. Já no caso da sentença u!tm
ampla defesa.
petittt, parece possível a homologação parcial, extirpando-se a pane excedente. Aliás,
4. Doutrina e precedentes da Corte Especial. canto o Código de Processo Civil de 2015 (are. 961, § 2.o), como o Regimento in-
5. Sentença arbitral homologada" (SlJ, SEC 3.660, v.u., rd. Min. Arnaldo terno do Superior Tribunal dejustiça (art. 216-A, § 2.o) fazem referência expressa à
Esteves Lima, j. 28.05.2009).22 homologação parcial.
No are. V. l, e, a Convenção de Nova Iorque estabelece como fundam<::nto para Em relação à sentença infr1i petíta, não há referência no cenário normativo (Lei
a denegação da homologação o fato de que "a sentença se refere a uma divergência de Arbitragem, Convenção etc.) de sua qualificação como óbice à homologação. A
que não está prevista ou que não se enquadra nos termos da cláusula de submissão seu turno, há a tendência de se aproveitar o quanto nela comido, e, sem comprometer
à arbitragem, ou contém decisões acerca de matérias que transcendem o alcance da a parte adequada, apenas reclamar-se a complementação, como, inclusive, passou a
cláusula de submissão, contanto que, se as decisões sobre as matérias suscetíveis de ser o regime jurídico brasileiro com a reforma de 2015 que, expressamente, revogou
arbitragem puderem ser separadas daquelas não suscetíveis, a parte da sentença que como causa de invalidação da sentença o inc. V do are. 32. J-1 Neste contexto, é de se
contém decisões sobre matérias suscetíveis de arbitragem possa ser reconhecida e admitir a homologação de sentença estrangeira infra petita. 25
A Convenção de Nova Iorque, no art. V. 1, d, também prevê como causa para de-
22. E, a respeico, tivemos a oporrunidadc de escrever:''( ...) naquela perspectiva de limitar as causas negação da homologação, desde que demonstrada pelo réu, o faro de que "a compo.sição
de indeferimento da homologação de senccnç:i. arbitral cstr:mgeira, a Lei de Arhitragem, ex- da autoridade arbitral ou o procedimento arbitral não se deu em conformidade com
prcssamcncL· pelo p;1dgrafo único do are. 39, permite outras formas de citação i1 parte residente o acordado pelas partes, ou, na ausência de cal acordo, não se deu cm conformidade
no lki.~il, observada a convenção (no caso o regulamento da ICA) ou a lei processual do país
com a lei do país em que a arbitragem ocorreu". De maneira semelhante, o art. 38,
sede da arbitragem. O rclcvance, por cerco, previsto neste dispositivo, em outros da pnípri:t Lei
de Arbicragem, e como rcgrn geral, cm todo nosso sistema, é g:uantir o direito de defesa. E o V, da Lei de Arhitragem brasileira dispõe que o réu, para o fim de obter a denegação
direito de defesa, segundo consta no caso em ex:m1e, foi devidamente garantido. Daí porque
correto considerar incomisccntc a contestaç:i.o oferecida à homologação sob argumento de que
23. GASPAR, Renara Alvares. Op. cic., p. 16'5- l (i6.
teria havido ofensa à ordem púhlica. Além desca questão pontual da cítaç:i.o, sobre a qual h:í
regra específica na Lei de Arhitragem, na expectaciva de preservar a circulação internacional 24. Cf. a respeito, CapÍl\llo 13, ic.:m 13.2. A soluç:ío proposta t.: de manter-se íntegra a sentença
das decisf>es arbitrais, há a constante busca de um equilíbrio e harmonia na conex:ío de orde- pelo que:: nr.:ssa se contón, e, para sanar o vício, provoca-se novo pronunciamento arbitral
namentos jurídicos diversos. Para esta acomodaç:ío, hem andou nossa legislaçfo em respeitar complementar (an. 3.3, § 4. 0 ).
formalidades e regras de procedimento indicadas na convenção e previsrns no ordenamento da 25. Neste sentido. Josc: Antonio Fichmer e André Luís Monteiro, com percincnce observação
sede da arbitragem, como se observa até mesmo pela visão sistemfoca da Lei 9.307/ I 996 cm final; vejamos: "(...), o fato de a sentença arbitral c::strangeira não rcr decidido todo o litígio
cotejo com os tratados internacionais do qual o Brasil é signac:irio. Sem dúvída, é uma ótima submetido il arbitragem n:io impede a sua homologação, não obsrnnrc possa a pane prejudicada
opç:i.o para este equilíbrio, respeitada a ordem pública nacional, soherania, e outros princípios pleitear a sua anulação perante o Poder Judiciário do Estado da sede da arhitragem, <:aso a lei
e valores maiores. Harmonia, estabilidade, segurança, respeito e efidcia é o que se pretende de rcg~ncia daquele local assim permita". HCHTNER, Jost.: Anlonio; MONTEIRO, André
nesta 'globalização da jurisdição"' (CAHALI, Francisco José. Processos comentados. Re1•iJttl Luís. As causas de denegação da homologação tle sentença arbitr:il estrangeira no Brasil. '.le111,1,
Resultatio. jan.-fev.-mar. 2010. p..'31-34). tle ,trbítmgem: primeim slrÜ'. Rio de Janeiro: Renovar, 201 O. p. 3 I 5.
462 1 CURSO DEARBITRJ\GEM ARBITRAGEM INTERNACIONAL 1 463

da homologação, poderá provar que "a instituição da arbitragem não está de acordo Tribunal de Justiça constatar que: 17 I - segundo a lei brasileira, o objeto do litígio
com o compromisso arbitral ou cláusula com promissória". não é suscerívcl de ser resolvido por arbitragem; li- a decisão ofende a ordem pública
É de se observar que a Convenção de Nova Iorque exige tanto a observância nacional". No que tange à primeira hipótese, não existem maiores dúvidas: a sentença
do procedimento para composição do tribunal arbitral, como também o próprio arbitral estrangeira não será homologada quando, de acordo com a lei do país receptor,
procedimento cm si da arbitragem. A Lei de Arbitragem brasileira, porém, só faz 110 caso o Brasil, o caso não pudesse ser submetido à arbitragem, o que engloba os
menção à instituição da arhítragem, sem prevera observância do procedimento. Com conceitos de inarbitrabilidade subjetiva e objetiva.
base nessa diferença, João Bosco Lee explica q ue, "de um lado, o legislador brasileiro O último inciso representa a única hipótese em que o STJ poderá efetivamente
limita este motivo de recusa à instituição de arbitragem segundo a vontade das partes, analisar o mérito da sentença arbitral estrangeira para fins de decidir pela procedência
não mencionando o procedimento arbitral; e, de outro lado, a lei brasileira descarta ou improcedência do pedido homologatório. Trara-se de verificar se a decisão estran-
a aplicação subsidiária da lei do local da arbitragem, caso as partes não tenham se geira viola "a ordem pública nacional".
manifestado sobre a instituição da arbicragcm". 2'; A Lei 9.307/1996 foi, portanto, Jacob Dolinger, notável estudioso do assunto, a respeito escreve: "A ordem pública
mais favorável à homologação da sentença arbitral do que à disposição convencional. é O princípio que rejeita a aplicação de lei atentatória à sensibilidade jurídica, à ordem
Como úlcima causa de exceção processual à homologação da sentença arbi- moral e aos interesses econômicos de um país". is Arnoldo Wald, a seu turno, explica
tral estrangeira, o art. V.l, e, da Convenção nova-iorquina prevê que o pedido será que "a ordem pública é o conjunto de normas essenciais à convivência nacional". 29
denegado quando "a sentença ainda não se tornou obrigatória para as partes ou foi Como se vê, a definição de ordem pública é baseante complexa e não permite um
anulada ou suspensa por autoridade competente do país em que, ou conforme a lei do conceito abstrato, devendo o órgão competente para homologação analisar em con-
qual, a sentença renha sido proferida". Scmelhamemente, o are. 38, VI, de nossa Lei creto essa circunstância.
escarni como causa da improcedência o fato de que "a sentença arbitral não se renha, Anote-se que o Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, após are-
ainda, tornado obrigatória para as partes, renha sido anulada, ou, ainda, renha sido cente modificação introduzida pela Emenda Regimental 18, de 17 de dezembro de
suspensa por órgão judicial do país onde a sentença arbitral for prolacada". Trata-se de 2014,30 em seu art. 216-F estabelece a restrição à homologação se a sentença esrrangeí ra
previsão bastante polêmica no âmbito int<::rnacional, mas condizente com a noção de "ofender a soberania nacional, a dignidade da pessoa humana e/ou a ordem pública";
que a homologação significa a extensão da eficácia da decisão estrangeira ao território Chama-se a atenção à inclusão da ofensa à dignidade da pessoa humana como óbice à
nacional. Se essa eficácia está comprometida, adequado obstar-se a homologação. homologação, ausente da Resolução 9 até então em vigor; porém, em nosso sentir, a
A Convenção de Nova Iorque ainda prevê outras duas hipóteses em que o pedi- dignidade da pessoa humana representa cláusula pérrea de nossa Constituição Fede-
do de homologação da sentença arbitraJ estrangeira será negado, desta vez não mais ral, (CF, art. 1.0 , III), 31 e como valor base da Nação, integra a ordem pública. Desta
como exceção pl'ocessual, mas sim como objeção processual. Assim, o are. V.2 prevê: "O
reconhecimento e a execução de uma sentença arbitral também poderão ser recusa- 27. Como j,( antes referido, à luz da EC 45/2004 (Reforma do Poder JudicíJrio}, houve a cr~ns-
dos caso a autoridade competente do país em que se tenciona o reconhecimento e a ferência <la competência para concessão de exequatur e homologação de decisões estrangeiras
execução constatar que: a) segundo a lei daquele país, o objeto da divergência não é do S'ff, para o STJ, na forma do are. 105, 1, i, da CF/ 1988, e assim automaticamente j;í se
intcrprerava a Lei com a nova competé:ncia, em qualquer referência que _foç:i. ~o Supremo
passível de solução mediante arbitragem; ou b) o reconhecimento ou a execução da
Tribunal Federal a respeito do tema. E com a reforma de 2015, como deveria, fo1 adequada a
sentença seria contrário à ordem pública daquele país".
referência.
Da mesma forma, a Lei de Arbitragem brasileira, com o ajuste introduzido 28. DOUNGER, Jacob. A autonomia da vontade para escolha da lei aplicável no <líreiro imcrnacÍo·
pela Lei 13.129/20 l 5 escatui, no are. 39: "A homologação para o reconhecimento na! privado brasileiro. ln: LEMES, Sclma Ferreira; CARMONA, Carlos Albcl'to; MARTlNS.,
Pedro Racista (coor<l.). Arbitmgm1: cJtudos ,:,n hm111:n1tge111 no prof Guido Fcmm,do d,l Sifm
ou a execução da sentença arbitral estrangeira também será denegada se o Superior
So11m. São Paulo: Altas, 2007. p. 102.
29. WALD, /\moldo. Jurispru<lência comentada: STJ, Corte fapecial, SEC 802, Min. José Delgado.
26. LLE, João Bosco. A homologação de sentença arbitral estrangeira: a Convenção de Nol':i Iorque Re11ísttl dl' A1·bitmgem e Mediação. n. 7, ano II, ouc.-dc::1.. 2005, p. 201.
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464 CURSO OE ARBITHAC.P.M ARBITR/\GP.M INTERNACIONAi. 1 465

forma, indepcndcncemence do debate a respeito da aplicação ou não desta regra ein ' .. "IN CI' f Arbicr:1gcmintcrnac1ona . ·t - r .· d . brFINKELSTE11'!,CLíudio;
I e Ieg1saçaoap1c;1v . . . ·; ..
cani.ter subsidiário à lei de regência da arbitragem ou a convenções, o fato é que o
flNl,E.LS.l E , auc
Vl1A, Jonatha n B., CAS
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'ADO FILHO Napoleão (coord.). Arhitmgrnt 11i/t·m,1c1011t1I: U11u ,ozt,
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quanto nela previsto se contém na abrangência de "ordem pública", de tal forma que Cisg,: Direito Brrtsíkim. Sfo Paulo: Quamer I .atm, _o I O. . R b.
. . . . ! 11 -1-I.BURCIO Carmen; BARROSO, Ltus
b D o1· c:rco
a violação representa óbice à homologação. L · H 1 - 0 Je seri1ençaestra11geir,1. · ' .
FVX, (org.).
u1z. O om~ º?ílÇ~ . / ,,,o,·•n ,o· estudos e111 hm11e1111gtm tto pmfessor),iw o l/lge1:
t!,nuo 1111cn11u·1011,1 crmUlllr " • · 0

Para evitar dúvidas e contornar jurisprudência do STF até então formada para Rio de Janeiro: Renovar, 2006. . . .( · I) A
homologação de sentenças judiciais estrangeiras, o parágrafo único do mesmo dis- -ARCf.Z,José Maria Rossar1i. Arbitragem mcemac~on:1. . . 1 l li.. GARCEZ., Jose Mana Ross:int coott ..
positivo (an. 39 da Lei 9.307/ I 996) deixa claro que "não será considerada ofensa à C, ,rrbimw,,•m nd mi dtiglvb,,/iz,tfíiO. Rio de J:ineJJ"o: Forense, 1999. ._ . . . .. . . ...
ordem pública nacional a efetivação da citação da parte residente ou domiciüada no · I' º AI · · · C·1usas de cne":IÇJ0 d - I
te; · liomoloo-·iç1o de dectsoes :ubnra1s escr.1nge11 .,s./,
GASPAR 1 "parte:· ,1e·,,,r1,, te
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' v.ucs. 0
. . · ·d'• ia bnsileira e com a d oucrm:i · cspec1.t ·-1·,w.ada-• . • .
Brasil, nos moldes da convenção de arbitragem ou da lei processual do país ond e se um dialogocom:qunspru !.'.nc ' .: p Ed RT ·. -mar 20 10· 2."partc:Rc11is11u/c
re;:alizou a arbitragem, admitindo-se, inclusive, a citação postal com prova inequívoca Arbitmgem e J\,/etiiflçrío. ano VlI. n. 24. Sao, au Io: ,d .R.T '. Jb,rn .. ;OI O '
Arbirmgrm e Medutç110. . - :lllO. VII · n. '>5 · P:1ulo·
- · ·S'ío ' · E . ',L r.-J un. - . b' 1
de recebimento, desde que assegure à parte brasileira tempo hábil para o exercício ' . . 1d J . a - STJ e o rcconhccimcnro de sentença ar irra
do direito de defesa". LEMES, Sdma l·úreira. O SupertorTnbun:1 e usuçd, 1~'58 1 · ·ALMEIDA Lui2. Fernando do Vale
estrangeira . a• 1uz d a conveaç-ao de Nov:i. Iorque e ;, · 11 • .- . 2006 '

Uma vez homologada a sentença estrangeira, sua execução, quando nece.~sário, de (coord.). Aspecto.rprdticos tl,t111·birmgi:111. S5.o Paulo: Quan1er Laun, J. . •

far-se-á perante a Justiça Federal (art. 109, X, da CF/1988; 32 RIS'l], art. 216-N, e . . .. " de Nova loru1e de 1O de junho de 1958: alguns ponws P_º.
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5 s:- P:rnlo abr.-jun. 2005.
'
oe sua cxccuça ' · • '' · FUX J · ·
Caderno especial dedic;ado :i Convenção de Nova Iorque, c.:om artigos de diversos aucores, como Amoldo . d (1hlica n·i homo lo,,.:1ção ele sentenças cs1range1r:1s. /11: ' .u11.,
TIBURClO, Carmen. A or em P · ' d t:>Al . (. · I) Proc,')TO t t:onslit11ír,io: estudos em
W:1ld, Josc.< Cnrlos de Magalhães, Naclia de Araujo, ]os~ Emfüo N11m:s Pinto e Rod rigo Ga rcia da NERY JR., Nelson; WAMBIF.R, Teresa Arru a . vm~ t oo1t ·.. . ?
F<insec.1, além de D<>ucri11a Internacional e Hisrórico da Convenção de Nova lc1rque csu:1 Ratifi- "º
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fundamentos: I - a soherani:i.; Ir - a cidadania; li[ - :i. dignidade da pessoa humana; [V - os


valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o piumlisrno políríw. Panígrafo único. lodo
o poder cm:inn do povo, que o exerce por meio de reprcsenr:111rcs eleitos ou díretamcncc, nos
rnrmos dc.mt Constituição:·
32. ''.Arr. l 09. Aos juízes federai~ compete proccss~ e julgar: ( ...) X - os crime::$ de ingresso ou
pcrmantncia irregular de estrangeiro, a t:xecuçiio de carra rog:tc6ria, após o (Xt't/1111tur, e de
sentença esrr:'Ulgeira, apó.~ a homologação, as c..iLLsas referentes à nacionalidnde, inclusive a
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Anexos -
Lei 9.307/1996,
Lei 13.140/ 2015,
normas e Enunciados
pertinentes à arbitragem,
conciliação e mediação
A NEXO 1 - LEI DE A RBITRAGEM -
LEI 9.307 , DE 23 DE SETEMBRO DE 1996

Dispõe sobre a arbitragem.

O Presidente da República:

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Capítulo 1
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1.0 As pessoas capazes de contratar poderão valer-se d a arbitragem para


dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.
§ l .0 A administração pública dire ta e indireta poderá utilizar-se da arbitragem
para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis.
§ 2. 0 A autoridade ou o órgão competente da administração pública direta para
SUMÁRIO a celebração de convenção de arbitragem é a mesma para a realização de acordos ou
ANEXO 1 • LEI DE ARBITRAGEM - LEI 9.307, DE 23 DE SETEMBRO DE 1996 transações.
479
ANEXO2. LEI DEARBl~RAGEM CONSOLIDADA COM A LEI 13.129/2015 DESTACADAS AS Art. 2.0 A arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério das partes.
MODIFICAÇOES COM BREVES COMENTÂRIOS '
491 § 1.0 Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplica-
ANEXO 3 • LEI 13.140, DE 26 DE JUNHO DE 2015 - MARCO LEGAL DA MEDIAÇÃ.O..............
519 das na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.
ANEXO 4 • EMENDA REGIMENTAL 18, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2014 DO SU PERIOR
TRIBUNAL ~EJUSTIÇA - ALTERAÇÃO DO REGIMENTO INTERNO ... § 2.0 Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com
533
ANEXO 5 • CONCILIAÇAO E MEDIAÇÃO NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 ............ · base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais
537
ANEXO 6 • ARTIGOS DO CPC/2015 RElACIONADOS À ARBITRAGEM de comércio.
553
ANEXO 7 • ~1~~7cftDOS DA I JORNADA PREVENÇÃO E SOLUÇÃO EXTRAJUDJCIAL DE § 3. 0 A arbitragem que envolva a administração pública será sempre de direito
· ······· · · ••• •••••• U•• ••••• • •••••••H- -0000····· · ················· • ••ooOOO..O+O OOO OOOOO
563 e respeicará o princípio da publicidade.
480 1 CURSO JJE ARBITRACEM ANEXO 1 - LEI 9.307/1996 1 481

Capítulo li § 1.o O autor indicará, com precisão, o objeto daarbicragem, instruindo o pedido
DA CONVENÇÃO DE ARBJTRAGEM ESEUS EFEITOS com o documento que contiver a cláusula compromissória.
§ 2.º Comparecendo as partes à audiência, o juiz tentará, previamente, a con-
. A rt. 3.º. As partes interessadas podem suhrneter a soluçáo de seus litígios ao juízo
ciliação acerca do litígio. Não obtendo sucesso, tentará o juiz conduzir as partes à
a~b.'tral medtante c.onvenção de arbitragem, assim encendida a cláusula compromis-
sona e o comprom1sso arbitral. celebração, de comum acordo, do compromisso arbitral.
0 § 3.0 Não concordando as partes sobre os termos do compromisso, decidirá o
Arr. 4. A cláusula com promissória é a convenção através da qual as panes em juiz, após ouvir o réu, sobre seu conteúdo, na própri~ a~~ência ou no prazo.de dez
um ~onerar? comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a dias, respeí radas as disposições d a cláusula compromisso na e atendendo ao disposto
surgir, relanvarncnre a tal contrato. 1
nosarts.10e21,§2. 0 ,destaLei.
0
. § 1. A ~lá~sula com promissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar § 4. 0 Se a cláusula com promissória nada dispuser sobre a nomeação de árbitros,
111serta no propno contrato ou em documento apartado que a ele se refira. caberá ao juiz, ouvidas as partes, estatuir a respeito, podendo nomear árbitro único
0
§ 2. Nos conrratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se 0 para a solução do litígio.
aderente t~m~- a .iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressarncnce, § 5.0 A ausência do autor, sem justo motivo, àaudiênciadesignada para a lavracura
com a su~ rnsutu1ção.' desde que po r escrito em documento anexo ou em negrito, do compromisso arbitral, importará a extinção do processo sem julgamento de mérito.
com a assmarura ou visto especialmen repara essa chíusLJa. §6. o Não com parecendo o réu à audiência, caberá ao juiz, ouvido oautor,estacuir
, ~ Arr. ~-º ~epo_na~do-seaspartcs, na cláusula compromissória, àsregrasdealgum a respeito do conteúdo do compromisso, nomeando árbitro único.
orgao arbitral 111scituc1onal ou entidade especializa.da, a arbicragem será instituída e § 7. 0 A sentença que julgar procedente o pedido valerá como compromisso
pr~c~sad~ de acordo com tais regras, podendo, igualmente, as partes estabelecer na arbirral.
propna dausula, ou em outro documento, a forma convencionada para a instituição Art. 8. 0 A cláusula com promissória é autônoma em relação ao contrato em
da arbitragem.
que estiver inserta, de tal sorte que a nulidade desce não implica, necessariamente, a
0
':rr. 6. Não hav~~1do acordo prévio sobre a forma de instituir a :ubirragem, a nulidade da cláusula compromi.ssória.
parte_ interessada marnfesrará ~ outra parre sua incet1ção de dar início à arbitragem, Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes,
por via p_oscal ou por outro mew qualquer de comuniqi_ção, mediante comprovação as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do
de receb1menro, convocando-a para, em dia, hora e local certos, firmar O compro- contrato que contenha a cláusula com promissória.
misso arbitral.
Art. 9.0 O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem
Parágrafo único. Não comparecendo a parte convocada ou, comparecendo, um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial.
recusar-se a firmar o compromisso arbitral, poderá a outra parte propor a demanda § l .º O compromisso arbitral judicial celebrar-se-á por termo nosauros, perante
~e que trata o a~t. 7_-º desca Lei, perante o órgão do Poder Judiciário a que, origina- o juízo ou tribunal, onde tem curso a demanda.
riamente, tocaria o Jttlgamento da causa.
§ 2.o O compromisso arbitral extrajudicial será celebrado por escrito particular,
. . A~r~ ?.º Exis:indo cláusula compromissória e havendo resistência quanto à assinado por duas testemunhas, ou por instrumento público.
tnsmu1çao da arbttragem, poderá a parte interessada requerer a citação da outra Arr. 1O. Constará, obrigatoriamente, do compromisso arbitral:
par~: pa~a com~arecer em juízo a fim de lavrar-se o compromisso, designando O juiz J - o nome, profissão, estado civil e domicílio das partes;
aud1encia especial para tal fim.
II- o nome, profissão e domicílio do árbitro, ou dos árbirros, ou, se for o caso,
a identificação da entidade à qual as partes delegaram a indicação de árbitros;
1. O Pr?jeto de L~í previa a imcrção de m:s novos padgr.tfos ao presente artigo, um deles em
III - a matéria que será objeto da arbitragem; e
subsnru,ção ao§ 2.~. C~ntudo: houve o veio d-a Presidência a esces dispo-sicivos aprovados no
Scna~o Feder:il; assim, e manndo o texto original_ Confira os rextos ve c:idos e obsc.rvaçõe.ç a IV - o lugar em que será proferida a sentença arbitral.
rcspeHo, no Anexo 2 abaixo.
Art. 11. Poderá, ainda, o compromisso arbitral conter:
482 1 CURSO DE ARBITRAGEM
ANEXO 1-LE! 9.307/1996 1 483

I - local, ou locais, onde se desenvolverá a arbitragem; a escolha do árbitro único, coárbitro ou presidente do tribunal à respectiva lista de
II - a autorização para que o árbitro ou os árbitros julguem por equidade, se árbitros, autorizado o controle da escolha pelos órgãos competentes da instituição,
assim for convencionado pelas partes; sendo que, nos casos de impasse e arbitragem multiparte, deverá ser observado o que
III- o prazo para apresentação da sentença arbitral; dispuser o regulamento aplicável.
IV - a indicação da lei nacional ou das regras corporativas aplicáveis à arbitragem, § 5.0 O árbitro ou o presidente do tribunal designará, se julgar conveniente, um
quando assim convencionarem as partes; secretário, que poderá ser um dos árbitros.
V - a declaração da responsabilidade pelo pagamento dos honorários e das § 6.0 No desempenho de sua função, o árbitro deverá proceder com imparcia-
despesas com a arbitragem; e lidade, independência, competência, diligência e discrição.
VI - a fixação dos honorários do árbitro, ou dos árbitros. § 7.0 Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral determinar às partes o adiantamento
Parágrafo único. Fixando as partes os honorários do árbitro, ou dos árbitros, no de verbas para despesas e diligências que julgar necessárias.
compromisso arbitral, este constituirá título executivo extrajudicial; não havendo tal Arr. 14. Estão impedidos de funcionar como árbitros as pessoas que tenham,
estipulação, o árbitro requererá ao órgão do Poder Judiciário que seria competente com as partes ou com o litígio que lhes for submetido, algumas das relações que
para julgar, originariamente, a causa que os fixe por sentença. caracterizam os casos de impedimento ou suspeição de juízes, aplicando-se-lhes, no
Are. 12. Extingue-se o compromisso arbitral: que couber, os mesmos deveres e responsabilidades, conforme previsto no Código
de Processo Civil.
I- escusando-se qualquer dos árbitros, ames de aceitar a nomeação, desde que
as partes tenham declarado, expressamente, não aceitar substituto; § 1. 0 As pessoas indicadas para funcionar como árbitro têm o dever de revelar,
antes da aceitação da função, qualquer fato que denote dúvida justificada quanto à
II - falecendo ou ficando impossibilitado de dar seu voto algum dos árbitros, sua imparcialidade e independência.
desde que as partes declarem, expressamente, não aceitar substituto; e
§ 2.0 O árbitro somente poderá ser recusado por motivo ocorrido após sua nome-
III - tendo expirado o prazo a que se refere o arr. 11, inciso III, desde que a ação. Poderá, entretanto, ser recusado por motivo anterior à sua nomeação, quando:
parte interessada tenha notificado o árbitro, ou o presidente do tribunal arbitral,
concedendo-lhe o prazo de dez dias para a prolaçãoeapresentaçãodasenrençaarbítraJ. a) não for nomeado, diretamente, pela parte; ou
b) o motivo para a recusa do árbitro for conhecido posteriormente à sua no-
Capítulo Ili meação.
DOS ÁRBITROS Art. 15. A parte interessada em argüira recusado árbitro apresentará, nos termos
do art. 20, a respectiva exceção, diretamente ao árbitro ou ao presidente do tribunal
Art. 13. Pode ser árbitro qualquer pessoa capaz e que tenha a confiança das partes. arbitral, deduzindo suas razões e apresentando as provas pertinentes.
§ 1.0 As partes nomearão um ou mais árbitros, sempre em número ímpar, po- Parágrafo t'mico. Acolhida a exceção, será afastado o árbitro suspeito ou ím pedido,
dendo nomear, também, os respectivos suplentes. que será substituído, na forma do are. 16 desta Lei.
§ 2. 0 Quando as partes nomearem árbitros em número par, estes estão autori- Arr. 16. Se o árbitro escusar-se antes da aceitação da nomeação, ou, após a
zados, desde logo, a nomear mais um árbitro. Não havendo acordo, requererão as aceitação, vier a falecer, tornar-se impossibilitado para o exercício da função, ou for
partes ao órgão do Poder Judiciário a que tocaria, originariamente, o julgamento da recusado, assumirá seu lugar o substituto indicado no compromisso, se houver.
causa a nomeação do árbitro, aplicável, no que couber, o procedimento previsto no
§ 1. 0 Não havendo substituto indicado para o árbitro, aplicar-se-ão as regras do
art. 7.0 desta Lei.
órgão arbitral insti cucional ou entidade especializada, se as partes as tiverem invocado
§ 3.0 As partes poderão, de comum acordo, estabelecer o processo de escolha na convenção de arbitragem.
dos árbitros, ou adotar as regras de um órgão arbitral institucional ou entidade es·
§ 2. 0 Nada dispondo a convenção de arbitragem e não chegando as partes a um
pecializada.
a.cardo sobre a nomeação do árbitro a ser substituído, procederá a parte interessada
§ 4. 0 As partes, de comum acordo, poderão afastar a aplicação de dispositivo da forma prevista no art. 7. 0 desta Lei, a menos que as panes tenham declarado, ex-
do regulamento do órgão arbitral institucional ou entidade especializada que limite pressamente, na convenção de arbitragem, não aceitar substituto.
484 1 CURSO DE ARBITRAGEM ANEXO l - l.El 9.307/1996 1 485

Are. 17. Os árbitros, quando no exercício de suas funções ou em razão delas, § 4.° Competirá ao árbitro ou ao tribunal arbitral, no início do procedimento,
ficam equiparados aos funcionários públicos, para os efeitos da legislação penal. tentar a conciliação das panes, aplicando-se, no que couber, o are. 28 desta Lei.
Art. 18. O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica Are. 22. Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral tomar o depoimento das partes,
sujeita a recurso ou a homologação pdo Poder Judiciário. ouvir testemunhas e determinar a realização de perícias ou outras provas que julgar
necessárias, mediante requerimento das partes ou de ofício.
Capítulo IV
§ 1. 0 O depoimento das partes e das testemunhas será tomado em local, dia e hora
DO PROCEDIMENTO ARBITRAL
previamente comunicados, por escrito, e reduzido a termo, assinado pelo depoente,
Art. 19. Considera-se instituída a arbitragem quando aceita a nomeação pelo ou a seu rogo, e pelos árbitros.
árbitro, se for único, ou por todos, se forem vários. § 2. 0 Em caso de desatendimento, sem justa causa, da convocação para prestar
§ 1. 0 Instituída a arbitragem e entendendo o árbitro ou o tribunal arbitral depoimento pessoal, o árbitro ou o tribunal arbitral levará em consideração o com-
que há necessidade de explicitar questão disposta na convenção de arbitragem, será portamento da parte faltosa, ao proferir sua sentença; se a ausência for de testemunha,
elaborado, juntamente com as partes, adendo firmado por rodos, que passará a fazer nas mesmas circunstâncias, poderá o árbitro ou o presidente do tribunal arbitral
parte incegrante da convenção de arbitragem. requerer à autoridade judiciária que conduza a testemunha renitente, comprovando
§ 2. 0 A instituição da arbitragem interrompe a prescrição, retroagindo à dara a existência da convenção de arbitragem.
do requerimento de sua instauração, ainda que extinta a arbitragem por ausência de § 3.0 A revelia da parte não impedirá que seja proferida a sentença arbitral.
jurisdição.
§ 4. 0 (REVOGADO).
Are. 20. A parte que pretender argüir questões relativas à competência, suspei-
§ 5. 0 Se, durante o procedimento arbitral, um árbitro vier a ser substituído fica
ção ou impedimento do árbitro ou dos árbitros, bem como nulidade, invalidade ou
a critério do substituto repetir as provas já produzidas.
ineficácia da convenção de arbitragem, deverá fazê-lo na primeira oportunidade que
tiver de se manifestar, após a instituição da arbitragem.
Capítulo IV-A
§ 1.0 Acolhida a argüição de suspeição ou impedimento, seráo árbitro substi ruído
DAS TUTELAS CAUTELARES E DE URGÊNCIA
nos termos do arr. 16 desta Lei, reconhecida a incompetência do árbitro ou do tribunal
arbitral, bem como a nulidade, invalidade ou ineficácia da convenção de arbitragem, Art. 22-A. Ames de instituída a arbitragem, as panes poderão recorrer ao Poder
serão as partes remetidas ao órgão do Poder Judiciário competente para julgar a causa. Judiciário para a concessão de medida cautelar ou de urgência.
§ 2. 0 Não sendo acolhida a argüição, terá normal prosseguimento a arbitragem, Parágrafo único. Cessa a eficácia da medida cautelar ou de urgência se a parte
sem prejuízo de vir a ser examinada a decisão pelo órgão do Poder Judiciário compe- interessada não requerer a instituição da arbitragem no prazo de 30 (trinca) dias,
tente, quando da eventual propositura da demanda de que trata o are. 33 desta Lei. contado da data de efetivação da respectiva decisão.
Arr. 21. A arbitragem obedecerá ao procedimento estabelecido pelas partes na Are. 22-B. Instituída a arbitragem, caberá aos árbitros manter, modificar ou
convenção de arbitragem, que poderá reportar-se às regras de um órgão arbitral insti-
revogar a medida cautelar ou de urgência concedida pelo Poder Judiciário.
tucional ou entidade especializada, facultando-se, ainda, às partes delegar ao próprio
árbitro, ou ao tribunal arbitral, regular o procedimento. Parágrafo único. Estando já instituída a arbitragem, a medida cautelar ou de
urgência será requerida diretamente aos árbitros.
§ 1. 0 Não havendo estipulação acerca do procedimento, caberá ao árbitro ou
ao tribunal arbitral discipliná-lo.
Capítulo JV-B
§ 2. 0 Serão, sempre, respeitados no procedimento arbitral os princípios do
CARTA ARBITRAL
contraditório, da igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro e de seu livre
convencimento. Are. 22-C. O árbitro ou o tribunal arbitral poderá expedir carta arbitral para que
§ 3. As partes poderão postular por intermédio de advogado, respeitada, sem-
0 o órgão jurisdicional nacional pratique ou determine o cumprimento, na área de sua
pre, a faculdade de designar quem as represente ou assista no procedimento arbitral. competência territorial, de aro solicitado pdo árbitro.
486 1 CURSO DF. AR8ffRAGEM ANEXO 1- LEI 9.307/1996 1 487

Parágrafo único. N o cumprimento da carra arbitral será observado o segredo de via postal ou por outro meio qualquer de comunicação, mediante comprovação de
justiça, desde que comprovada a confidencialidade estipulada na arbitragem. recebimento, ou, ainda, entregando-a diretamente às partes, mediante recibo.
Are. 30. No prazo de 5 (cinco) dias, a contar do recebimento da notificação
Capítulo V ou da ciência pessoal da sentença arbitral, salvo se outro prazo for acordado entre as
DA SENTENÇA ARBITRAL partes, a parte interessada, mediante comunicação à outra parte, poderá solicitar ao
árbitro ou ao tribunal arbitral que:
~r. 23. Asenr~nçaarbicral será proferida no prazo estipulado pelas partes. Nada
rendo sJdo convencionado, o prazo para a apresentação da sentença é de seis meses, I - corrija qualquer erro material da sentença arbitral;
comado da instituição da arbitragem ou da substituição do ,irbicro. II - esclareça alguma obscuridade, dúvida ou contradição da sentença arbitral,
§ 1. 0 Os árbitros poderão proferir sentenças parciais. ou se pronuncie sobre ponto omitido a respeito do qual devia manifestar-se a decisão.
0
§_ 2. As parrese os árbitros, de comum acordo, poderão prorrogar o prazo para Parágrafo único. O árbitro ou o tribunal arbitral decidirá no prazo de 10 (dez)
proferir a sentença final. dias ou em prazo acordado com as partes, aditará a sentença arbitral e notificará as
partes na forma do are. 29.
Art. 24. A decisão do árbí troou dos árbitros será expressa em documento escri co.
Are. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos
§ I .º Quando forem vários os árbitros, a decisão será tomada por maioria. Se
efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória,
não houver acordo majoritário, prevalecerá o voto do presidente do tribunal arbitral.
0
constituí título executivo.
§ 2. O árbitro que divergir da maioria poderá, querendo, declarar seu voto em
separado. Art. 32. É nula a sentença arbitral se:
Art. 25. (REVOGADO). I - for nula a convenção de arbitragem;
Parágrafo único. (REVOGADO). II - emanou de quem não podia ser árbitro;
Art. 26. São requisiros obrigatórios da sentença arbitral: III - não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei;
I - o relatório, que conterá os nomes das partes e um resumo do litígio; IV - for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem;
II - os fundamentos da decisão, onde serão analisadas as questões de fato e de V - (REVOGADO)
direito, mencionando-se, expressamente, se os árbitros julgaram por eqüidade; VI - comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção
II~ - o cüspositivo, em que os árbitros resolverão as quescões que lhes forem passiva;
submeudas e estabelecerão o prazo para o cumprimen co da decisão, se for o caso; e VII- proferida fora do prazo, respeitado o disposto no arr. 12, inciso III, desta
IV - a data e o lugar em que foi proferida. Lei; e
, . Parágrafo ?nico. A_ sentença a~bicral será_ assinada pelo árhirro ou por rodos os VIII- forem desrespeitados os princípios de que trata o are. 21, § 2.0 , desta Lei.
arh1tros. Cabera ao presidente do cnbunal arbmal, na hipótese de um ou alguns dos Art. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário com-
árbitros não poder ou não querer assinar a sentença, certificar cal fato. petente a declaração de nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos nesta Lei.
Art. 27. Asemençaarbicraldecidirásobrea responsabilidade das partes acercadas § 1.º A demanda para a declaração de nulidade da sentença arbitral, parcial ou
custas e despesas com a arbitragem, bem como sobre verba decorrente de litigância de final, seguirá as regras do procedimento comum, previstas na Lei n. 5.869, de 11 de
má-fé, se for o caso, respeitadas as disposições da convenção de arbi cragem, se houver. .Janciro de 1973 (Códi<ro de Processo Civil), e deverá ser proposta no prazo de até 90
t) • l
An. 28 . Se, no decurso da arbitragem, as partes chegarem a acordo quanto ao (noventa) dias após o recebimento da notificação da respectiva sentença, pareia ou
liógio, o árbitro ou o tribunal arbitral poderá, a pedido das partes, declarar cal faro final, ou da decisão do pedido de esclarecimentos.
mediante sen tença arbitral, que conterá os requisiros do art. 26 desta Lei. § 2.º A sentença que julgar procedente o pedido declarará a nulidade da sentença
Art. 29. Proferida a semença arbitral, dá-se por finda a arbicra<rem, devendo o arbitral, nos casos do art. 32, e determinará, se for o caso, que o árbitro ou o tribunal
árbitro, ou o presidente do tribunal arbitral, enviar cópia da decisã~ às partes, por profira nova sentença arbitral.
488 1 CURSO DE ARBITRAGEM ANEXO 1 - LEI 9.307/1996 1 489

§ 3. 0 A declaração de nulidade da sentença arbitral também poderá ser arguida Are. 38. Somente poderá ser negada a homologação para o reconhecimento ou
mediante impugnação, conforme o art. 475-L e seguintes da Lei n. 5.869, de 11 de execução de sentença arbitral estrangeira, quando o réu demonstrar que:
janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), se houver execução judicial.2 I - as partes na convenção de arbitragem eram incapazes;
§ 4. 0 A parte interessada poderá ingressar em juízo para requerer a prolação de II - a convenção de arbitragem não era válida segundo a lei à qual as partes a
sentença arbitral complementar, se o árbitro não decidir todos os pedidos submetidos submeteram, ou, na falta de indicação, em virtude da lei do país onde a sentença
à arbitragem. arbitral foi proferida;
III - não foi notificado da designação do árbitro ou do procedimento de ar-
Capítulo VI
bitragem, ou tenha sido violado o princípio do contraditório, impossibilitando a
DO RECONHEC(MENTO E EXECUÇÃO ampla defesa;
DE SENTENÇAS ARBITRAIS ESTRANGE( RAS
IV- a sentença arbitral foi proferida fora dos limites da convenção de arbitragem,
Art. 34. A sentença arbitral estrangeira será reconhecida ou executada no Brasil e não foi possível separar a parte excedente daquela submetida à arbitragem;
de conformidade com os trarados internacionais com eficácia no ordenamento interno V- a instituição da arbitragem não está de acordo com o compromisso arbitral
e, na sua ausência, estritamente de acordo com os termos desta Lei. ou cláusula compromissória;
Parágrafo único. Considera-se sentença arbitral estrangeira a que tenha sido VI - a sentença arbitral não se tenha, ainda, tornado obrigatória para as partes,
proferida fora do território nacional. cenha sido anulada, ou, ainda, tenha sido suspensa por órgão judicial do país onde a
Art. 35. Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estran- sentença arbitral for prolatada.
geira está sujeita, unicamente, à homologação do Superior Tribunal de Justiça. Art. 39. A homologação para o reconhecimento ou a execução da sentença arbitral
Are. 36. Aplica-se à homologação para reconhecimento ou execução de senten- estrangeira também será denegada se o Superior Tribunal de Justiça constatar que:
ça arbitral estrangeira, no que couber, o disposto nos ares. 483 e 484 do Código de I - segundo a lei brasileira, o objeto do litígio não é suscetível de ser resolvido
Processo Civil. 3 por arbitragem;
Art. 37. A homologação de sentença arbitrai estrangeira será requerida pela parte II - a decisão ofende a ordem pública nacional.
interessada, devendo a petição inicial conter as indicações da lei processual, conforme Parágrafo único. Não será considerada ofensa à ordem pública nacional a efetiva-
o art. 282 do Código de Processo Cívil, e ser instruída, necessariamente, com: ção da citação da parte residente ou domiciliada no Brasil, nos moldes da convenção
I-o original da sentença arbitral ou uma cópia devidamente certificada, auten- de arbitragem ou da lei processual do país onde se realizou a arbitragem, admitindo-se,
ticada pelo consulado brasileiro e acompanhada de tradução oficial; inclusive, a citação postal com prova inequívoca de recebimento, desde que assegure
II - o original da convenção de arbitragem ou cópia devidamente certificada, à parte brasileira tempo hábil para o exercício do direito de defesa.
acompanhada de tradução oficial. Are. 40. A denegação da homologação para reconhecimento ou execução de
sentença arbitral estrangeira por vícios formais, não obsta que a parte interessada
renove o pedido, uma vez sanados os vícios apresentados.
2. O an. 1,06 1 do Códjgo de Processo Civil confere ourra redaç.'io a este padgrnfo; assim: "§ 3.0
A dccrct:iç:io da nulidade d~ sentença arbicr:iJ c:1mbém poder:i ser rcc1ueri.d.1 na im pugnação
ao cumprimento da sentença., nos termos dos arts. 525 e segu intes do Cód igo de Processo
Capítulo Vll
Civil, se h{)uvcr execução judicial"; Como a reforma da Lei de Arbimtgcm (Lei J 3 .1 29/2015) DISPOSIÇÕES FINAIS
6 poscerior à publicaç:'io do Código, embor:i cncrc cm vigM antes, ~ncendcmos q ue esta Lei
revogott o dispositivo do Cód igo. O con reúdo é<> mesmo, e a exegese tanto de uma como Are. 41. Os ares. 267, inciso VII; 301, inciso IX; e 584, inciso Ili, do Código de
de o ucra regr:i, como fuhmos (Cf., Capírnlo 12, icem 12.4.4, acima), é idC'ntico, n o sentido 4
Processo Civil passam a ter a seguinte redação:
de que: "a declaração <la nulidade da sentença arbitral também poderá ser arguida mediaJ1Ce
impugnação ao cumprimenro da sentença, se houver execução judicial''.
3. Leia-se, diante do novo Código, ares. 960 a 966 que tratam da matéria, adiante rranscritos (icem 4. O are. 584, Ili já havia sido subscicuído pelo art. 475-N, IV do CPC/1973; agora, os dispo-
17.5) e o Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, também aplicável à homologação sitivos referidos neste are. 41 correspondem no CPC/201 5 aos seguintes artigos: 485, inciso
de sentença estrangeira {item I 7.4, adiante). VU; 337, X; e 515, Vil, respectivamente.
490 1 CURSO DEARllffRAGEM

''Arr. 267 (...)


VII-pela convenção de arbitragem;"
''Are.301 ( ...)
IX- convenção de arbitragem;"
''Are. 584 ( ... )
III - a sentença arbitral e a sentença homologatória de transação ou de conci-
liação;" A NEXO 2- LEI DE A RBITRAGEM
Art. 42. O are. 520 do Código de Processo Civil passa a ter mais um inciso, com
a seguinte redação: 5 CONSOLIDADA COM A LEI 13.129/20 15,
"Are. 520 (...)
DESTACADAS AS MODIFICAÇÕES
VI- julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem." ,
Arr. 43. Esta Lei entrará em vigor sessenta dias após a data de sua publicação. COM BREVES COMENTARIOS
Art.44. Ficam revogadososarts.1.037 a l.048daLein. 3.071,de l. de janeiro
0

de 1916, Código Civil Brasileiro; os ares. 101 e 1.072 a 1.102 da Lei n. 5.869, de 11
de janeiro de 1973, Código de Processo Civil; e demais disposições em contrário.
Brasília, 23 de setembro de 1996; 175. 0 da Independência e 108.0 da República. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Fernando Henrique Cardoso
Nomeada pelo Senado Federal a Comissão de Juristas para elaboração de ante-
(DOU24.09. l 996)
projeto de Lei de Arbitragem e Mediação em agosto de 2012, após audiências públi-
cas• e recebimento de sugestões, esta encerrou seus trabalhos em 2013, entregando
a proposta para apreciação do Senado Federal que no final do mesmo ano aprovou o
Projeto de Lei 406/2013, com proposta de reforma da Lei em vigor.
Encaminhado à Câmara dos Deputados, o Projeto recebeu o número 7 .108/2014,
e em 15 de julho de 2014, a comissão especial da Câmara aprovou o parecer do rela cor
que acolheu um acréscimo ao§ l. 0 do art. 1.0 (abaixo indicado). Como o Projeto tra-
mitou em caráter conclusivo, 2 mas teve modificação (ainda que pequena), a proposta
retornou ao Senado para acolhimento ou rejeição das alterações aprovadas. Rejeitada
a emenda da Câmara, foi mantida, assim, a proposta inicial aprovada no Senado e o
projeto seguiu para sanção.

1. Nas quais inclusive tivemos participação apresentando sugestões à Comi.~são, algumas delas
acolhidas pelo anteprojeto; cf. a respcico: [wwwl 2.senado.gov.br/noticias/macerias/2013/08/26/
lei-de-arbitragem-especialistas-qucrem-clareza-sobre-cemas) e [www.cahali.adv.br), em "Notí-
cias", de 03.09.2013.
2. Rico de tramitação pelo qual o projeto é votado apenas pelas comissões designadas para analisá-
-lo, dispensada a deliberação do Plenário. O projeto per:de o caráter conclusivo se houver decisão
divergente entre as comissões ou se. independentemente de ser aprovado ou rejeitado, houver
5. Equivalente ao are. 1.012, IV, do CPC/2015. recurso assinado por 51 depucados para a apreciação da matéria no Plenário.
492 l CURSO DE ARBITRAGEM
ANEXO 2-LEI DE ARBITRAGEM CONSOI.IOADA COM A LEI 13.129/201S 1 493

Em 26 de maio de 2015, a Presidência da República sancionou o Projeto de Lei, um lado a excessiva demanda no Poder Judiciário, e de outro as inúmeras vantagens
agora numerada como Lei 13.129/2015. 3 Foram, porém, vetados rrês importantes da arbitragem (como celeridade, expertise etc.) a favorecer, também o Poder Público,
parágrafos do art. 4.0 a serem comentados mais adiante. com benefício indireto a toda a sociedade.
De forma acercada, embora repetitivo, pois o caput do artigo já assim estabelece,
A seguir, então, apresenta-se o texto da Lei 9.307/1996, consolidado com as
reiterou-se que apenas conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis serão
alterações introduzidas pela Lei 13.129/2015, indicando-se as modificações e breves
objeto de arbitragem envolvendo a Administração.
considerações a respeito. Também é feita a indicação dos parágrafos vetados, igual-
mente acompanhada de comentários. O texto original do anteprojeto referia-se a conflitos relativos a direitos patri-
moniais disponíveis "decorrentes de contratos por ela celebrados". Por emenda apre-
A ideia é se ter um comparativo do quanto dispunha a Lei, em sua versão original,
sentada no Senado, esta parte final foi suprimida, em nosso entender corretamente,
e o que veio a ser alterado. para contemplar, também, a possibilidade de arbitragem envolvendo a Administração
Pública em "quaisquer conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis, não ape-
nas os decorrentes dos contratos por ela celebrados" (como constou na j usrificativa).
LEI 9.307, DE 23 DE SETEMBRO DE 1996 Ademais, o§ 2.0 resolveu o que, nos últimos tempos, discutia-se quando em
(ConsoJidada) debate a matéria: a pessoa ou órgão competente para a celebração (assinatura) da con-
venção. E a solução é lógica; quem tem autoridade para realizar acordo ou transação,
Dispõe sobre a arbitragem. será aquele em condições de firmar a convenção de arbitragem.
O Presidente da República: Are. 2.0 A arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério das partes.
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e cu sanciono a seguinte Lei: § 1.0 Poderão as partes escolher, livremente, as regrasdedireicoqueserãoaplica-
das na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.
Capítulo 1 § 2.0 Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com
DISPOSIÇÕES GERAIS base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais
de comércio.
Are. 1.0 As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para
§ 3. 0 A arbitragem que envolva a Administração Pública será sempre de direito
dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.
e respeitará o princípio da publicidade. (novo)
§ 1. 0 A Administração Pública direta e indireta poderá utilizar-se da arbitragem
para dirimir conflitos rela rivos a direitos patrimon íais disponíveis. (novo) Comentários:
§ 2.0 A autoridade ou o órgão competente da Administração Pública direta para A fim de atender ao princípio da legalidade (CF are. 37, caput) em sentido escriro,
a celebração de convenção de arbitragem é a mesma para a realização de acordos ou o parágrafo 3.0 acima afasta a possibilidade de utilização de equidade como fonte para
transações. (novo) julgamento, ao determinar que as arbitragens deverão ser sempre de direito quando
envolverem a Administração Pública.
Comentários:
Em relação ao sigilo, como ressaltado anteriormente (Cf. Capítulo 9, item 9.4.3
Não resta dúvida quanto à possibilidade da arbitragem nos casos daAdminisrra- supra), é incompatível a sua adoção para procedimentos que envolvam o Poder Público.
ção Pública, sejaenres federativos da administração direita ou indireta. Ressalta-se que Nos termos do are. 37, caput da Constituição Federal "A administração pública direta
o objetivo da lei é de estimular o uso do instituto e não obrigá-lo, tendo em vista de e indireta de qualquer dos Poderes(... ) obedecerá aos princípios de(...) publicidade
(... )". Desse modo, não há como se pensar em julgamento confidencial envolvendo
3. Altera a Lei no 9.307, de 23 de scccmbro de 1996, e a Lei no 6.404, de 15 de dezembro de o Poder Público.
1976, para am pliar o âmbito de: apliaição da arbitragem e dis por sobre a escolha d.os árbirros Nesta linha, anote-se que foi conquistada a previsão de segredo de justiça nos
quando as partes reCQrrem a 6rgão arbitral. n inrerrn pção da prescriçio pela instituição da
processos judiciais envolvendo arbitragem. Porém, como destacamos no Capítulo 9,
arbirragem, a concessão de cu celas cautelares e de urgência nos casos de arb itragem, a c;vrn
:trbicral e a scnrcnço arbicral, e revoga disposicivos da Lei no 9.307, cle 23 de setembro de 1996. item 9.4.3, quando na arbitragem não houver a confidencialidade (por exemplo, em
494 1 CURSO DE ARBITRAGEM ANEXO 2- LEI DE ARBITRAGEM CONSOLIDADA COM ALEI 13.129/2015 1 495

qualquer questão que envolva o Poder Público), não haverá, também, o segredo de do contrato. Totalmente despropositada a justificativa, pois bastaria ler o texto para
justiça no processo (art. 189, IV, do CPC/2015 e LArb. arr. 22-C, parágrafo único). ver que a sugestão era extremamente favorável ao consumidor na medida em que
deixaria em suas mãos a liberdade de acolher ou não a arbitragem exatamente após
Capítulo li precipirada a controvérsia. Aliás, qualquer pessoa com conhecimento primário sobre
DA CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM a matéria nota, pela só leitura do texto atual em confronto com o proposto, que a lei
ESEUS EFEITOS pretendia superar a falha na redação hoje existente, representando a iniciaciva signi-
ficativo avanço, sem perspectiva alguma de colocar em risco os direitos conquistados
Art. 3.0 As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo pelo consumidor, ao contrário, estes teriam seus direitos reafirmados e reforçados.
arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromis- Cercamente por questões políticas, e não técnicas ou jurídicas (decorrente da gestão
sória e o compromisso arbitral. dos Procons e outras instituições) é que houve o veto.
Arr. 4. 0 A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em Ora, na forma proposta pelo§ 3.0 , mesmo que o consumidor tivesse firmado a
um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a cláusula de arbitragem em contrato de adesão, para a eficácia da exclusão do judiciário,
surgir, relativamente a cal contrato. haveria necessidade de sua confirmação (pela iniciativa da arbitragem, ou concor-
§ 1.0 A cláusula com promissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar dância expressa com a sua instituição); ou seja, a cláusula, por si só, não vincularia
inserta no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se refüa. o consumidor, criando em seu favor uma situação extremamente confortável. Em
§ 2. 0 Nos contratos de adesão, a cJáusula compromissária só terá eficácia se o outros termos, para afastar a cláusula, basearia o consumidor ingressar no judiciário
aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com sua pretensão, daí porque se evidencia a impropriedade do veto.
com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, Aliás, com certeza, o veto só atrapalha, pois se manteve a redação original da Lei
com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula. de Arbitragem com base na qual, em tese, e seguindo parte da doutrina e julgados,
Parágrafo aprovado no Congresso, porém vetado pela Presidência:§ 2.0 Nos não se afasta a possibilidade de arbitragem em contratos de adesão, se obedecido o
contratos de adesão, a cláusula com promissória só terá eficácia se for redigida em previsto no§ 2.0 ; mas dificulta em parte a vinculação à arbitragem de contratos de
negrito ou em documento apartado. adesão que não sejam de consumo.
Parágrafo aprovado no Congresso, porém vetado pela Presidência:§ 3. 0 Na Parágrafo aprovado no Congresso, porém vetado pela Presidência: § 4. 0 Desde
relação de consumo estabelecida por meio de contrato de adesão, a cláusula com pro- que o empregado ocupe ou venha a ocupar cargo ou função de administrador ou de
missória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou diretor estatutário, nos contratos individuais de trabalho poderá ser pactuada cláusula
concordar expressamente com a sua instituição. compromissória, que só terá eficácia se o empregado tomar a iniciativa de instituir a
arbitragem ou se concordar expressamente com a sua instituição.
Comentários:
A justificativa para os vetos presidenciais, dos parágrafos acima foi a seguinte: Comentários:
"Da forma prevista, os dispositivos alterariam as regras para arbitragem em con- Assim foi a razão apresentada pelo veto presidencial:
trato de adesão. Com isso, autorizariam, de forma ampla, a arbitragem nas relações "O dispositivo autorizaria a previsão de cláusula de compromisso em contrato
de consumo, sem deixar claro que a manifestação de vontade do consumidor deva individual de trabalho. Para tal, realizaria, ainda, restrições de sua eficácia nas relações
se dar também no momento posterior ao surgimento de eventual controvérsia e não envolvendo determinados empregados, a depender de sua ocupação. Dessa forma,
apenas no momento inicial da assinatura do contrato. Em decorrência das garantias acabaria por realizar uma distinção indesejada entre empregados, além de recorrer a
próprias do direito do consumidor, tal ampliação do espaço da arbitragem, sem os termo não definido tecnicamente na legislação trabalhista. Com isso, colocada em
devidos recortes, poderia significar um retrocesso e ofensa ao princípio norteador de risco a generalidade de trabalhadores que poderiam se ver submetidos ao processo
proteção do consumidor" (mensagem de veto n. 162 de 26 de maio de 2015). arbitral'' (Mensagem de veto n. 162 de 26 de maio de 2015).
As razões do veto foram nosentidodequenos§§ 2. 0 e3.0 doart. 4. 0 não constava O projeto de lei previa a utilização da arbitragem em contratos individuais de
expressamente a necessária manifestação de vontade do consumidor, para o uso da trabalho, mas com restrição de acordo com a posição exercida: quando o empregado
arbitragem, quando do surgimento do conflito, mas apenas no momento da assina cura ocupe ou venha a ocupar cargo ou função de administrador ou de diretor estatuário. Sob a
1
496 1 CURSO DE ARBITRAGEM ANEXO 2- LEI OEAR!31TRAGF.M CONSOLIDADA COM A LEI 13.129/2015 1 497
1
ótica do Ministério Público do Trabalho, tal previsão, pela suposta incerteza na identi- arbitral - Cf. Capítulo 6, icem 6.4). A rescrição projetada, acima tratada, refere-se
ficação técnica do cargo ou função eleita como possível de arbitragem, levaria ao risco
de envolver diversas categorias em arbitragens; em outros termos, sem critérios legais
exclusivamente, em nosso entender, à cláusula compromissória inserida em contrato 1
de trabalho, não a compromisso arbitral, realizado em momento posterior ao rom-
objetivos para identificação da qualidade de administrador ou de diretor estatutário, pimento do vínculo.
diversos empregados, de forma aleatória ou abusiva, poderiam ser qualificados como
Are. 5. 0 Reportando-se as partes, na cláusula compromissória, às regras de algum
tais, apenas para ter sua relação submetida à arbitragem.
órgão arbitral institucional ou entidade especializada, a arbitragem será instituída e
Com efeito, totalmente despropositado, também, o veto. Ainda que não se te- processada de acordo com caís regras, podendo, igualmente, as partes estabelecer na
nha definido tecnicamente na legislação trabalhista os cargos ou funções escolhidos própria cláusula, ou em outro documento, a forma convencionada para a instituição
no projeto aprovado, a proteção do trabalhador, na forma proposta, é integral, na da arbitragem.
medida em que expresso na lei a eficácia da cláusula apenas e tão somente se existente
Are. 6. 0 Não havendo acordo prévio sobre a forma de instituir a arbitragem, a
concordância do trabalhador com a instituição da arbitragem.
parte interessada manifestará à outra parte sua intenção de dar início à arbitragem,
Tal qual como acima referido, ao se analisar a posição do consumidor, mesmo por via postal ou por o urro meio qualquer de comunicação, mediante comprovação
que o trabalhador tivesse firmado a cláusula de arbitragem no contrato de trabalho,
de recebimento, convocando-a para, em dia, hora e local cercos, firmar o compro-
para adicácia da exclusão do judiciário, haveria necessidade de sua confirmação (pela misso arbitral.
iniciativa da arbitragem, ou concordância expressa com a sua instituição) quando
surgido o conflito; ou seja, a cláusula, por si só, não vincularia o trabalhador, criando Parágrafo único. Não comparecendo a parte convocada ou, comparecendo,
em seu favor uma situação extremamente confortável. Neste contexto, totalmente recusar-se a firmar o compromisso arbitral, poderá a outra parte propor a demanda
irrelevante a incerteza da legisJação trabalhista a respeito da identificação do cargo de que trata o are. 7.0 desta Lei, perante o órgão do Poder Judiciário a que, origina-
ou função, pois bastaria o trabalhador, se descontente com a opção, repudiar a ar- riamente, tocaria o julgamento da causa.
bitragem no momento do litígio, para se ter como afastada a cláusula. E a ineficácia Art. 7. 0 Existindo cláusula compromissória e havendo resistência quanto à
da cláusula seria automática, com o simples ingresso de reclamatória trabalhista no instituição da arbitragem, poderá a parte interessada requerer a citação da outra
juízo competente, sem qualquer necessidade de discutir se o seu cargo ou função parte para comparecer em juízo a fim de lavrar-se o compromisso, designando o juiz
(qualificado no contrato ao se inserir a convenção) permitiriam ou não a arbitragem, audiência especial para tal fim.
pois pelo seu livre arbítrio, teria a opção de tornar sem efeito a cláusula, ao escolher § 1.0 O autor indicará, com precisão, o objeto da arbitragem, instruindo o pedido
a jurisdição estatal para solucionar a questão. com o documento que contiver a cláusula compromissória.
Daí porque sem sentido o veto apresentado. § 2.o Comparecendo as panes à audiência, o juiz remará, previamente, a con-
De oucro lado, a partir do veto, concluímos que assim como a reforma da lei não ciliação acerca do litígio. Não obtendo sucesso, tentará o juiz conduzir as partes à
apresentou inovação na arbitragem trabalhista também omitiu resposta ao problema celebração, de comum acordo, do compromisso arbitral.
hoje pendente. Ou seja, analisamos anceriormence, em capítulo próprio (Cf. Capítulo
§ 3.0 Não concordando as partes sobre os termos do compromisso, decidirá o
14, icem 14.2 supra), que não há óbice para o uso da arbitragem em dissídio coletivo,
juiz, após ouvir o réu, sobre seu conteúdo, na própria audiência ou no prazo de dez
uma vez que a própria Constituição Federal estimula seu uso em negociações coletivas
dias, respeitadas as disposições da cláusula com promissória e atendendo ao disposto
(are. 114, § 2. 0 da CF).
nosarrs.10e21,§2. 0 ,desraLei.
No entanto, a discussão advém nos casos de dissídio individual (CF. Capítulo
§ 4. 0 Se a cláusula com prom issória nada disp user sobre a nomeação de árbitros,
14, icem 14.2.2 supra) devido ao entendimento do TST no sentido de proibira uso
caberá ao juiz, ouvidas as partes, estatuir a respeito, podendo nomear árbitro único
do insticuro. Ponamo, ainda q Lte o§ 4.0 renha recebido o veto a questão está lo nge
para a solução do litígio.
de ser resolvida, m.esmo sabendo-se que o posicionamento do TST certam,ence será
man tido. Cabe a nós, mais uma vez, insistirmos em nossa posição quanto à viabilidade ' § 5.0 A ausência do aucor, sem justo motivo, à audiência designada para a lavracura
de arbitragem trabalhista através de compromisso arbirral, já encerrada a relaçã~ ~~ do compromisso arbitrai, importará a extinção do processo sem julgamento de mérito.
emprego. Nestas s.icuações, no sistema vigente, somos convictos da validade e efic.~c,a § 6. 0 Não com parecendo o réu à audiência, caberá ao juiz, ouvido o autor, esta ruir
da opção das partes (evidentemente preenchidos os requisitos legais do compromisso a respeito do conteúdo do compromisso, nomeando árbitro único.
498 1 CURSO DE ARBITRAGEM
ANEXO 2-LEI OE ARBITRAGEM CONSOLIDADA COM A LEI 13.129/2015 1 499

. §a17.º A sentença que julgar procedente o pedido valerá como c .


arb 1tr . omprom1sso I - escusando-se qualquer dos árbitros, antes de aceitar a nomeação, desde que
as partes tenham declarado, expressamente, não aceitar substituco;
Art. 8. º A cláusula compromissória é autô ~
que estiver inserta, de ral sorte que a nulidade d no°:a ~m r~laçao ao contrato etn II - Falecendo ou ficando impossibilitado de dar seu voto algum dos árbitros,
nulidade da cláusula compron1 ·s ó . este nao rmphca, necessariamente, a desde que as partes declarem, expressamente, não aceitar substituto; e
1 s na.
III - tendo expirado o prazo a que se refere o art. 11, inciso III, desde que a
Parágrafo único. Caheráaoárbicrodeciclirdeofíci . ~ parte interessada tenha notificado o ,í.rbitro, ou o presidente do tribunal arbitral,
as questões acerca da existência val1ºdad e.cá . d o, ou por p1ovocaçaodas partes,
• ' eee11 eia aconv - d b' concedendo-lhe o prazo de dez dias paraa prolação e apresen cação da sentença arbitral.
contrato que contenha a cláusul . . ençao e ar Jttagem e do
a comprom1ssóna.
Art. 9. o O compromisso arbitral é a conven ã d Capítulo Ili
umlirígioàarbitragem de . ç oarravés aqualasparres submetem
§ 1 oO . uma_ ou ~ais pessoas, podendo serjudicial ou extrajudicial. Dos Árbitros
. , . compronusso arbmal Judicial celebrar-se-á
o JUtzo ou tribunal onde tem cu d d por termo nos autos, perante Art. 13. Pode ser árbitro qualquer pessoa capaz e que renha a confiança das partes.
' rso a errian a.
§ 1. 0 As partes nomearão um ou mais árbitros, sempre em número ímpar, po-
§ 2,º0 compromissoarbitrale t · d. · l ,
assinado por duas testcmunh x ra!u ic1a sera ce1ebrado por escrito particular dendo nomear, também, os respectivos suplentes.
as, ou por J.ustrumento público. , § 2. 0 Quando as partes nomearem árbitros em número par, estes escão autori-
Art. l O. Constará, obrigatoriamente, do compromisso arbitral: zados, desde logo, a nomear mais um árbitro. Não havendo acordo, requererão as
I - o nome, profissão, estado civil e domicílio das partes; partes ao órgão do Poder Judiciário a que tocaria, originariamente, o julgamenro da
II - o nome, profissão e domicílio do árbiu- d . causa a nomeação do árbitro, aplicável, no que couber, o procedimento previsto no
a identificação da entidade à
III ,.
I d
I o, ou os árbitros, ou, se for o caso,
qua as partes e egaram a indicação de árbitros;
art. 7. 0 desta Lei.
§ 3. 0 As partes poderão, de comum acordo, estabelecer o processo de escolha
- a matena que será objeto da arbitragem; e
dos árbitros, ou adotar as regras de um órgão arbitral institucional ou entidade es-
IV - o lugar em que será proferida a sentença arbitral. pecializada.
Arr. 11. Poderá, ainda, o compromisso arbitral conter: § 4. 0 As partes, de comum acordo, poderão afastar a aplicação de dispositivo
I -local, ou_locais, onde se desenvolverá a arbitragem; do regulamento do órgão arbitral institucional ou entidade especializada que limite
II - a auronzação para que o árbitro ou , b. . a escolha do árbitro único, coárbitro ou presidente do tribunal à respectiva lista de
assim for convencionado pel os ar mos Julguem por eqüidade, se árbitros, autorizado o controle da escolha pelos órgãos compecenres da instituição,
as partes;
sendo que, nos casos de impasse e arbitragem multipa1·te, deverá ser observado o que
III - o prazo para apresentação da sentença arbitral· dispuser o rcgulamemo apücável. (redação nova)
IV-a indicação da lei nacjonal ou das re ras cor '. . , . , . (texto original)§ 4.0 Sendo nomeados vários árbitros, estes, por maioria, elegerão
quando assim convencion g porar1vasaplicavetsaarb1cragem
arem as partes; ' o presidente do tribunal arbirral. N ão havendo consenso, será designado presidente
V - a declaração da responsabilidade elO o mais idoso.
despesas com a arbitragem; e P pagamento dos honorários e das
Comentários:
pVI -, a fixação dos honorários do árbitro, ou dos a'rb·rcros. A primeira paree do§ 4. 0 enfrenta a chamada "füra fechada de árbitros" existente
aragrafo único. Fixando as partes os honorári d , b. em diversas Instituições Arbitrais com o objetivo, como se sabe, de controlarem cerra
compromisso arbitral esteconst1'tu· á , 1 _os o ar Jtro, ou dos árbitros, no
' ir t1tu o execur · d. · l medida a qualidade das decisões edo procedimento arbitral aos seus cuidados. Este foi
estipulação, o árbitro requererá ao ór ão do Pod I]vo ~:1:~uic1a; n~o havendo tal um dos temas mais polêmicos debatidos na Comissão, sendo inicial.mente idealizada
para julgar, originariamente a ca g fi er ud1c1ano que sena competente até a d esconsideração de regulamentos que impedissem a indicação de profissionais
. , usa que os xe por sentença.
Art. 12. Exttngue-se o compromisso arbitral: fora de sua lista. Prevaleceu a regra em exame que, busca encontrar um equilfbrio
entre as posições: fica autorizada a exclusão pelas partes, de comum acordo, de regra
500 1 C.URSü DE ARl3ITRI\GLM ANF.X02-LLI DE ARBITRAGEM CONSOLIDADA COM A LEI 13.129/2015 1 501

da câ':11ara que limite a escolha do árbitro, porém, permite-se à instituição o controle regulamento, é evidente que este será aplicado (como já assim é independente-
00
(admissão ou não) daquele externo indicado pelas partes. mente da regra introduzida). O problema ocorre exatamente quando as partes não
Parece pouca a alteração, mas não é, na medida em que a vontade das partes dispuseram a respeito na convenção (o que é o ideal), ou quando não existir previsão
afasta a regra restrita (objetiva) do regulamento, e a lei abre caminho para se provocar no regulamento (como também ocorre em arbitragem ad hoc). O problema real não
um órgão da instituição (conselho, por exemplo) pontuando a escolha das partes. encontrou solução na reforma, perdendo-se uma ótima oportunidade para tanto.
Esc~órgão, ass.im, terá a obrigação de se manifestar sobre a indicação, para apresentar Assim, continua vivo o debate a respeito, sendo com mais detalhes apresentada nossa
ace1ração, ou restrição justificada, mediante avaliação do caso espedfico. 4 posição a respeito no Capítulo 7, item 7.3.5
Para evitar embaraços sobre esta questão, inclusive a respeito da prevalência ou Art. 14. Estão impedidos de funcionar como árbitros as pessoas que tenham,
não da ~ecusa da Câmara ao nome escolhido, inaugurando-se um conflito a respeito com as partes ou com o litígio que lhes for submetido, algumas das relações que
dos efeaos da recusa, podemos afirmar que para as partes, cer.tamencc será melhor caracterizam os casos de impedimento ou suspeição de juízes, aplicando-se-lhes, no
prever a arbitragem cm instituição que em seu regulamento já permita a escolha in- que couber, os mesmos deveres e responsabilidades, conforme previsto no Código
dependentemente do nome constar de sua eventual lista (e tantas boas existem com de Processo Civil.
esracaracteríscica), ou até mesmo prevera a rbitragem "adhoc" (diretamente ou diante § l .º As pessoas indicadas para funcionar como árbitro têm o dever de revelar,
da recusa do" órgão comperen te"), pois tan to em uma como em outra si ruação não se antes da aceitação da função, qualquer fato que denote dúvida justificada quanto à
e?f:en ~rá os contratempos a respe.ito de eventual impasse surgido, nocivo à esperada sua imparcialidade e independência.
dmamica de Lrn1 procedimento arbitral.
§ 2. 0 O árbitro somente poderá ser recusado por motivo ocorrido após sua nome-
. :e.nha-se presente, incltt.~ive, que se inicia no Brasil o que já há em o urros países: ação. Poderá, entretanto, ser recusado por motivo anterior à sua nomeação, quando:
escmonos e em São Paulo até mesmo um Tabelionato de Notas, aparelhados exata-
a) não for nomeado, diretamente, pela pane; ou
mente para prestar serviços de apoio a arbitragens 1id hoc (secretaria, salas, estrutura
e administração de procedimento). b) 0 motivo para a recusa do árbitro for conhecido posteriormente à sua no-
meação.
, _A segunda parte do§ 4. 0 traz nova redação ao dispositivo para pn::vcr a obscr-
vanc1ado regulamento específico quando a nomeação do árbitro se torna um impasse Art. 15.A parte interessada cm argüira recusado árbitro apresentará, nos termos
para ~s partes, devendo o mesmo também ser observado nos casos de arbitragem do art. 20, a respectiva exceção, diretamente ao árbitro ou ao presidente do tribunal
multtparre. A solução é acanhada, ou até, pode se dizer, inócua, pois ao se ter p revisão arbitral, deduzindo suas razões e apresentando as provas pertinentes.
Parágrafo único. Acolhida a exceção, será afastado o árbitro suspeito ou impedido,
que será substituído, na forma do are. 16 desta Lei.
4. Anali~ada com mais vagar :i questão no Capfrulo 7, irem 7 .3, merece registro a scguin ce passa-
gem: Sob esre aspecto, entcndt:rne>s que nfo se podcr:i impor 11 lnsrituiç:ío, contra suas regras Art. 16. Se o árbitro escusar-se antes da aceitação da nomeação, ou, após a
e em op~siç.ío :i ?ccisão do 'ór~ã? C(1mpctcnce', por mais impró pria que evenru:ilmcme seja aceitação, vier a falecer, tornar-se impossibilitado para o exercício da função, ou for
~ c~n~us:10, a obn~ção de admm1strar o proccd.im1:nto; não reria propósico a incervc.nç:io na recusado, assumirá seu lugar o substituto indicado no compromisso, se houver.
lntlllll~d.e da cnr'.dade C del iberações com fundamenração liga_didt estratégia C valo res iorerna
i:.:orpons. Desta feua, no embate final cmre a vontade das partes e a decisão contrária da Ins- § ] .º Não havendo substituto indicado para o árbitro, aplicar-se-ão as regras do
tiruí~fo, <leve-se ~er por afastada a administração do procedimento pela entidade escolhida, órgão arbitral institucional ou entidade especializada, seas partes as tiverem invocado
scgumd? -se a arbmagern ad hoc, ou administrada por outra instituição a ser escolhida pelas
na convenção de arbitragem.
p~m:s. E e.~tc rcs0t:ido _se ccr:i tã~ s~ pela comunic:1ç:ío da recusa à ad mi niscmção do proc:e-
d1m~11co, por dcl,bcraçao _d~ í11srm11çáo; vale dizer que, em nosso S(:Jltir, não cabe ação (no § 2. 0 Nada dispondo a convenção de arbitragem e não chegando as partes a um
scrrndo de que d~va .ser réJert.,da a recusa :t indicação, evid.enrerncnrc) ou qualquer irJiciariva acordo sobre a nomeação do árbitro a ser substituído, procederá a parte interessada
que.envolva a h~aru1ção em p_rocedimenw judicial busc:mdo rever sua decisão ou pretendendo da forma prevista no are. 7. 0 desra Lei, a menos que as partes tenham declarado, ex-
lhe 1mp~r ~ gescao elo proccd1men,ro. C,1.~o permaneça o conflito, agora unicamente encrc as
pressamente, na convenção de arbitragem, não aceitar substituto.
pa.rccs, l1m1cando a opção en rrc segui r-se a arhicragem ad hoc ou sob a forma institucional,
uma vez que os ;írbitrns, pelo contexto, j;í foram cleíto.ç, cm nosso sentir cabcd ao judici:írio
~t:solver a questão, exclusivamente neste limite, como se cláusula vazía houvesse, ou seja, na 5. Também se remete à leitura do Capfrulo 8, icem 8.4 lnstauraç:í.o da Arhicragcm, a respeito da
forma do are. 7. 0 da Lei. Assim, se terá o pior: a questão será judicializada.". indicação <le árbitro na arbitragem multiparte.
ANF.XO 2 _ LEl DF. ARB!l'RAGF-M CONSOl .!OADA COM A LEl l3.l2'J/2015 1 503
502 1 CURSO OE ARfllTRAGEM

Art. 17. Os árbitros, quando no exercício d e suas funções ou em razão delas, Porém, quando a arbitragem tem origem em cláusula vazi~, .º requerimento de
. ~ da arbitragem só irá ocorrer após as etapas necessan as para se lavrar o
ficam equiparados aos funcionários públicos, para os efeitos da legislação penal. ,nscauraça0 . . . . - « • al
promisso inclusive promovida 1111c1almence aconvocaçao por vta pose ou por
Art. 18. O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença q ue proferir n ão fica
~:o meio d e,comunicação, mediancccomprovação de recebimento (LA~b., are. ~-º) .
sujeita a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário.
Da m esma forma, se a arbitragem tem sua fonte em co~pr,0~1sso a.r~1tral
Capítulo IV diretam ente firmado pelas partes , este ato é antecedeu~ neces~ano a mstauraçao ~a
DO PROCEDIMENTO ARBITRAL arb1.uage m , m as sem d úvida 1·á representa a provocaçao dos interessados em ter o
conflito apreciad o pelo juízo arbitral. . .
Já ~o~
e?~º 1:1ª~
Art. 19. Considera-se instituída a arbitragem quando aceita a nomeação pelo 1
Em ambos os casos (cláusula vazia e compromisso arbitral), -
arbitro, se for único, ou po r todos, se forem vários. fescamos, entendem os que a interrupção da prescrição deve retroag'.r a ~at: 1~1~1anva
§ l . 0 Instituída a arbitragem e entendendo o árbitro ou o tribunal arbitral que há das partes em se provocar a soluç.lio arbitral (desde a_quela comumcaç:o 1111_c1al po.r
necessidade de explicitar questão disposta na convenção de arbitragem, será elaborado , · postal, se O caso , até a só assi natura do co mpromtsso, quando
via . esce . e a o _rigem d a
juntamente com as partes, adendo firmado p or todos, que passará a fazer parte inte- arbitragem). E neste aspecto, restou aquém de nossas expectativas a tnovaçao. .
grante da convenção de arb itragem. (apenas alteração de parágrafo único para§ 1. 0 ) · · sem du'vida a n orma introduzida, porém dela se deverá extrair, n a
POSlt tVa, > • 11 d
§ 2.0 A instituição da arbitragem interrompe a prescrição, retroagindo à data melhor exegese, que por "requerimento de instauração d~ arbtt~agem , se ent~n e
do requerimen to de s ua instauração, ainda q ue extinta a arbitragem por ausência de toda e qualquer iniciativa de se levar o confü t~ ao ju ízo arb~cral, a1~da qu: atraves d~
jurisdição. (novo) notificação para se fir mar comprom isso, prevista no ar\ 6. da ~et, ou ate, em dadas
. cun sta' ncias , pela só assinatura do comprom isso arbmal, pois,
Clí , .
confo rme

o caso, ~

Co mentários: estes atos serão considerados como O ponto de partida necessano para a mscau raçao
O § 1.0 acima ames constava como parágrafo único. Desse modo, não houve da arbitragem .
6
• •
alteração em seu texto, mas apenas a adequação numérica para comportar mais um Art. 20. A parte que pretender argüir questóes relativas à c?m pet~nc1~, suspe1-
parágrafo. .
ção ou 1mpe d'1mento d o ar
' b1'tro ou dos árbitros, bem como. nulidade,
. invalidade
. ou
O§ 2 .0 representa, sim, uma proveitosa inovação: deixa expressa a interrupção ineficácia da co nvenção de arbitragem, deverá fazê-lo na pn meua oportunidade que
da prescrição em razão da instauração da arbitragem. tiver de se m anifestar, após a instituição da arbitragem.
E adequada a referência à interrupção "ainda que extinta a arbicragem por au- § 1.º Acolhida a argüição de suspeição ou impediment~, será o ~rbitro subsc_iruído
sência de jurisdiçãó'. Como já analisado, pelo p rincípio competência-competência nos termos do art. 16 desta Lei, reconhecida a incom petênc1a do árbitro ou do _mbunal
(Capítulo 5, icem 5.2, acima), poderá no Juízo Arbitral vir a ser reconhecido vício na arbitral bem como a nulidade, invalidade ou ineficácia da convenção ~e arbitragem,
convenção (inexistência, ineficácia, ou invalidade, como dentre vários outros exem- serão as'partes remetidas ao órgão do Poder Judiciário com peten_te para Julga~a causa.
plos, não se tratar de matéria possível de se submeter à arbitragem, pelo objeto ou § 2 .o N ão sendo acolhida a argüição, terá normal prossegu1ment~ ~ ~r_bmagcm,
pelas partes - LArb., parágrafo único d o art. 8.0 ), a impedir o julgamento do confli to; sem prcjuíw de vir a ser examinada a decisão pelo órgão do Poder Jud1c1ano comp~-
e assim, caberá ao interessado buscar a t utela jurisdicional no Jud iciário. Nesta situ- tente, quando da eventual propositura da dem anda de que trata º. art. 33 desta Le1.
ação, co nfere-se eficácia àquela interrupção da prescrição operada no juízo arb itral. An. 21. A arbitragem ob edecerá ao p rocedi~ento estabelcc!d<: pelasy arr_es n_a
Mas a redação proposta deixa a desejar em relação à variedade de situações em convenção de arbitragem, que poderá reportar-se as regras de um o rgao arbitral 1,ns~1-
q ue se pode ter o início p ropriamente dito da busca pelo procedim ento arbitral. tucional ou entidade especializada, facultando-se, ainda, às partes delegar ao propno
Co mo t ratado com m ais vagar .no Capftulo 9, item 9.4.4, acima, se a arbitragem árbitro, ou ao cribunal arbitral, regular o procedimento.
decorre de cláusula cheia, é fácil vincular a interrupção da p rescrição ao pedido de
insrauraçãodo procedimento, especialmente tratando-se de arbittagem institucional.
Será considerado, sem d úvida, o requerimento junco à in stituição d as provid ências
6. Cf. Capítulo 6, ite m 6.2.2. Procedimento p~radinstarbu~aç:ío da arC
· 8 4 Fase I - Da insrauraçao a a 1cragem, e ap m o ;,, 1 e
J~·~
bitraígelm : ~:ts~ 69.º;
· ·
eap ltulo , item . .
8 . . . . .
para se iniciar a arbitragem, na forma do respectivo regulamento. interrupção da prescrição pela in1c1atMI da arb magcrn.
504 1 CURSO DE ARBITRAGEM ANF.X02-LEIDEARf\lTRAGEMCONSOL1DAOACOM/\LEI 13.129/2015 1 505

§ l. 0 Não havendo cstipulaçáo acerca do procedimento, caberá ao árbitro ou Assim, como se verá logo mais, para cutela,; provisórias de urgência (cautelares
ao tribunal arbitral discipliná-lo. ou antecipadas) e para soliciração de cumprimento de medidas coercitivas, a reforma
da Lei trouxe inovaçõ~s que, pela lógica, impunham a revogação deste dispositivo.
§ 2. 0 Serão, sempre, respeitados no procedimento arbitral os princípios do
contraditório, da igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro e de seu livre Capítulo IV-A
convencimento.
DAS TUTELAS CAUTELARES
§ 3. 0 As partes poderão postular por intermédio de advogado, respeitada, sem- EDE URGÊNCIA
pre, a faculdade de designar quem as represente ou assista no procedimento arbitral.
§ 4.° Competirá ao árbitro ou ao tribunal arbitral, no início do procedimento, A rt. 22-A. Antes de instituída a arhi tragem, as partes poderão recorrer ao Poder
tentar a conciliação das partes, aplicando-se, no que couber, o are. 28 desta Lei. Judiciário para a concessão de medida cautelar ou de urgência. (novo)
Arr. 22. Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral tomar o depoimento das partes, Parágrafo único. Cessa a eficácia da medida cautelar ou de urgência se a parte
ouvir testemunhas e determinar a realização de perícias ou outras provas que julgar interessada não requerer a instituição da arbitragem no prazo de 30 (trinta) dias,
necessárias, mediante requerimento das partes ou de ofício. contado da data de efetivação da respectiva decisão. (novo)
§ 1 .0 O<lepoimentodas partes e das cestemunhasscrá tomadoemlocal,diaehora Are. 22-B. Instituída a arbitragem, caberá aos árbitros manter, modificar ou
previamente comunicados, por escrito, e reduzido a termo, assinado pelo depoente, revogar a medida caurelar ou de urgência concedida pelo Poder Judiciário. (novo)
ou a seu rogo, e pelos árbitros. Parágrafo único. Estando já instituída a arhicragem, a medida cautelar ou de
§ 2. 0 Em caso de desatendimenro, sem justa causa, da convocação para prestar urgência será requerida diretamente aos árbitros. (novo)
depoimento pessoal, o árbitro ou o tribunal arbitral levará em consideração o com-
Comentários:
portamento da parte faltosa, ao prnferirsua.scntença; sea ausência for de testemunha,
Positivando a orientação e prática já existente, os artigos referidos tratam das
nas mesmas circunstâncias, poderá o árbitro ou o presidente do tribunal arbitral
medidas cautelares antecedentes e durante a arbitragem.
requerer à autoridade judiciária que conduza a testemunha renitente, comprovando
a existência da convenção de arbitragem. Sobre o tema, e exatamente na linha proposta pelo Capítulo introduzido, me-
rece registro relevante precedente do Superior Tribunal de Justiça relatado pela Min.
§ 3. 0 A revelia da parte não impedirá que seja proferida a sentença arbitral.
Fátima Nancy Andrighi (REsp 1.297.974/RJ, j. 12.06.2012, 3.ª T).
§ 4. 0 Ressalvado o disposto no§ 2.0 , havendo necessidade de medidas coercitivas
O problema, porém, é outro:
ou cautelares, os árbitros poderão solicitá-las ao órgão do Poder Judiciário que seria,
originariamente, competente para julgar a causa. (REVOGADO). Como visto em capítulo próprio neste" Curso"(Cf. Capítulo l Osupra), a reforma
da LArb. entrou em vigor "velha", uma vez que o projeto é anterior ao novo Código
§ 5.0 Se, durante o procedimento arbitral, um árbitro vier a ser substituído fica
de Processo Cívil, fazendo referência a "medida cautelar ou de urgência" enquanto
a critério do substituto repetir as provas já produzidas.
este, traz nova estrutura normativa para as "turelas provisórias", que podem ser de
Comentários: urgência ou de evidência. Perdeu o legislador, desta forma, uma excelence oportunidade
de ser contemporâneo às profícuas inovações trazidas pelo novo Diploma Processual.
Há muito já se ressaltava a pouca técnica na redação e conccúdo do§ 4. 0 revoga-
do. E a revogação vem no contexto de introdução, como se verá adiante, de capírnlo No encanto, para o necessário rendimcnco a este capítulo introduzido pda Lei
próprio destinado às medidas de urgência ou antecipadas, possíveis de serem deferidas 13.129/2015, há que se compatibilizar seu conteúdo com as inovações processuais.
em arbitragem, ou fora dela quando não instaurado o procedimento. Desse modo, antes de analisarmos os novos artigos acima, corna-se importante
Como se sabe, o juízo arbitral cem apenas o ius cognítio e falta-lhe o ius ímperiurn, a breve menção ao Código de Processo Civil de 2015. Enquanto as medidas caute-
de cal sorte que as medidas de intervenção no mundo empírico devem ser promovidas lares desdobravam-se em antecipadas e incidentes, com fundamento no fumus boni
pelo Poder Judiciário, através de cooperação jurisdicional, também acolhida na lei iuris e perículttm in rnora, e a cutela antecipada era incidente, com o fundamento no
pela reprodução da carta arbitral introduzida no Código de Processo Civil de 2015 perigo da demora acrescido a verossimilhança do direito, o novo ordenamento trouxe
(Cf. Capítulo 10 acima). outra perspectiva: as ttttelm pmvisóritts. Estas podem se fundamentar na urgência ou
506 1 CURSO DE ARBITRAGEM ANEXO 2- LEI DE ARBITRAGEM CONSOLIDADA COM ALEI 13.129/2015 1 507

evidência. A primeira apresenta possibilidade de ser antecedente ou incidente, sendo Anote-se, por fim, que em se tratando de arbitragem inscicucional, necessário se
que em ambas admite-se medida cautelar ou antecipada, conforme a casuística e re- faz observar o regulamento da entidade escolhida, uma vez que algumas delas apre-
quisitos próprios, desde que provado o fumus boni iuris e periculum in mora. A tutela sentam regra própria para o chamado "procedimento cautelar pré-arbitral".
de evidência, por sua vez, sempre será incidente, apresentando como pedido (medida)
antecipado à tutela definitiva a ser requerida no prazo legal. Capítulo lV-8

No caso da tutela provisória de urgência, diante do risco do perecimento do direito, CARTA ARBITRAL
a medida será cabível no Judiciário antes mesmo da instauração do juízo arbitral, desde Are. 22-C. O arbitro ou o tribunal arbitral poderá expedir carta arbitral para que
que o juízo estatal Jimice-se a apreciação da medida sem análise do mérito. 0 órgão jurisdicional nacional pratique ou determine o cumprimento, na área de sua
Especificamente em relação ao prazo de trinca dias (a serem contados em dias competência territorial, de ato solicitado pelo arbitro. (novo)
úteis, não corridos - are. 219 do CPC/2015), como com mais vagar falamos no Capi- Parágrafo único. No cumprimento da carta arbitral será observado o segredo de
tulo l O, deve-se considerar a iniciativa da parte em buscar o início da arbitragem que, justiça, desde que comprovada a confidencialidade estipulada na arbitragem. (novo)
conforme o caso, poderá ser através da instauração propriamente do procedimento,
ou da provocação da outra parte na forma prevista no art. 6.0 da Lei. Comentários:
Excepcionada a regra do modelo sugerido pelo novo Código, em que os processos Por iniciativa do Grupo de Pesquisa em Arbitragem do Programa de Pós-Gra-
então qualificados como "principal e cautelar" são unificados, a tutela provisória de duação da PUC-SP, sob nossa coordenação, com apoio, dentre outros, da OAB-RJ,
urgência antecedente (cautelar ou antecipada), terá vida própria por algum tempo, foi proposta ao Senado Federal quando dos trabalhos de revisão do então projeto do
com seus autos exclusivos. Momentaneamente, não será um apêndice dos autos em novo Diploma Processual, a criação da "carta arbitral" como instrumento de comu-
que se discute a tutela definitiva. nicação entre o juízo arbitral e estatal.
E assim, será mantida a tutela provisória de urgência antecedente em processo A acolhida foi integral nas duas casas, e integra a versão sancionada do Código
independente, não apenas até o implemento do prazo para a iniciativa da arbitragem, de Processo Civil que trata do instrumento desde o capítulo destinado à Cooperação
mas enquanto estiver pendente de formação o juízo arbitral, para, só quando instituída Jurisdicional Nacional (ares. 69; 237, IV e 260, §3.0 , do CPC/2015).
a arbitragem (LArb., art. 19) aos seus cuidados ser entregue a matéria de urgência para Conquista-se, através da carca arbitral, uma adequada forma de comunicação
conhecimento e deliberação, inclusive facultado aos árbitros modificar ou revogar a entre os juízos em favor do jurisdicionado, na medida em que na arbitragem não há
medida concedida pelo Poder Judiciário (LArb., art. 22-B). coercío, pela ausência de íus imperium, embora pleno o ius cognítío.
Após a instauração do juízo arbitral, na adequada exegese do parágrafo único Assim, todas as medidas coercitivas (tanto deferidas como decorrência da ju-
do art. 22-B em harmonia com a inovação processual, a tutela provisória de urgência risdição arbitral sobre tutelas provisórias de urgência (cautelares ou antecipadas), e de
(cautelar ou antecipada), será requerida diretamente ao árbitro ou painel arbitral, evidência, como também providências como a condução de testemunha renitente
que deverá avaliar a providência mais adequada e extensão da medida. Tendo em (LARb. are. 22, § 2.0 ), cem agora este instrumento de veiculação. É facilicado, neste
vista que o ius ímperium inexiste na arbitragem, havendo resistência das partes em contexto, o entrosamento entre ambas as jurisdições, na medida em que uma saberá
cumprir o provimento determinado, cabível expedição de Carta Arbitral, adiante como solicitar e outra como receber as solicitações, evitando desencontro de posições
suscintamence analisada. a respeito, nocivas, cercamente, à efetividade pretendida na tutela dos interesses da
pane (Cf. a respeito o Capítulo l O, item 10.5).
Desta forma, no curso da arbitragem é vedado ao juiz estatal apreciar cutelas
provisórias de urgência a respeito do litígio, devendo ser extinta a ação caso iniciada Desnecessária, mas bem-vinda, a previsão. Supérflua, pois incorporada no Có-
sem resolução do mirito. A única exceção será no caso do árbitro estar indisponível digo de Processo Civil de 2015, mas alvissareira, pois já agora a regra entra em vigor,
no instante em que se mostra necessária a cutela de urgência (Cf. Capítulo 10 ares- dispensada a espera do prazo de entrada em vigor do novo Código.
peito). Mas cão logo acessível o árbitro, a ele deve ser encaminhada a questão, com E o mesmo se diz em relação ao parágrafo único, na medida em que o segredo de
autoridade para reavaliar o quanto decidido, cal qual ocorre para qualquer tutela de justiça, de forma até mais abrangente, vem previsto na esperada legislação processual
urgência antecedente. (art. 189 do CPC/2015-Cf. Capítulo 9, item 9.4.3).
508 1 CURSO DE ARBITRAGEM ANF.XO 2- LEI DE ARB!TRAGFM C:ONSOLIDADA COM A LF.J l.>.129/2015 1 509

Importante ressaltar que nos procedimentos arbitrais envolvendo a Administra- Are. 24. A decisão do árbitro ou dos árbitros será expressa em documento escrito.
ção Pública, não haverá confidencialidade, e assim, rambém não se terá o segredo de § 1.0 Quando forem vários os árbitros, a decisão será tomada por maioria. Se
justiça se e quando judicializada alguma providência vinculada à arbitragem, como nã.o houver acordo majoritário, prevalecerá o voto do presidente do tribunal arbitral.
já referido ací ma na análise do § 3.0 do art. 2. 0 da Lei reformada.
§ 2. 0 O arbitro que divergir da maioria poderá, querendo, declarar seu voto em
separado.
Capítulo V
Are. 25. Sobrevindo no curso da arbitragem controvérsia acerca de direitos in-
DA SENTENÇA ARBITRAL
disponíveis e verificando-se que de sua existência, ou não, dependerá o julgamento,
Art. 23. Asen tença arbitral será proferida no prazo estipulado pelas partes. Nada o árbitro ou o tribunal arbitral remeterá as partes à autoridade competente do Poder
tendo sido convencionado, o prazo para a apresentação da sentença é de seis meses, Judiciário, suspendendo o procedimento arbitral. (REVOGADO).
contado da instituição da arbitragem ou da substituição do árbitro. Parágrafo único. Resolvida a questão prejudicial e juncada aos autos a sentença
§ 1. 0 Os árbitros poderão proferir sentenças parciais. (novo) ou acórdão transitados em julgado, terá normal seguimento a arbitragem. (REVO-
§ 2. 0 As partes e os árbitros, de comum acordo, poderão prorrogar o prazo GADO).
para proferir a sentença final. (nova redação e alteração para§ 2. 0 o que antes estava
Comentários:
previsto no parágrafo único)
O are. 25 revogado, sempre mereceu o repúdio de muitos estudiosos da matéria,
(cexco original) Parágrafo único: As partes e os árbitros, de comum acordo,
por criar situação esdrúxula totalmente à estrutura do procedimento arbitral.
poderão prorrogar o prazo estipulado.
Aliás, não se tem notícia (embora talvez exista) de procedimento arbitral suspenso
Comentários: em razão da regra então em vigor.
A inovação trazida pelos parágrafos concentra-se no§ l.° tendo em vista que o Com a exclusão da previsão, e visirado o Código de Processo Civil a respeito
conteúdo do parágrafo único da Lei original foi na essência (com ajustes meramente da extensão da coisa julgada à resolução de questão prejudicial em cercas situações
cosméticos) transferido para o§ 2. 0 cm virtude da inclusão do primeiro. (arr. 503, §§ 1.0 e 2. 0 , do CPC/2015), certamente, diante do fato incomum, estará
O§ 1. 0 autoriza a prolação de sentença parcial. Já rotina nas arbitragens, e aceita em análise circunstancial se será percinenre extinguir a arbitragem, permitido o seu
tranquilamente entre os estudiosos, a previsão se continha cm muitos regulamentos de rc:srabelecimento oportuno (seo caso), quando decidida a questão, ou se será possível
instituições arbitrais. Igualmente, a autorização se mostra comum no próprio termo superar a matéria no próprio proc<::dimento, quando possível a solução arbitral sem
de arbitragem e até na convenção (vale consignar que o CPC/2015 também passou a vuln<::rar a reserva de jurisdição escacai para dirimir acerca de direito indisponível.
admi rir o julgamento antecipado parcial de mér iro para o juiz, conforme seu are. 3 56). Are. 26. São requisitos obrigatórios da sentença arbitral:
Ainda que os árbitros possam proferir sentença parcial de ofício, é importante I - o relatório, que conterá os nomes das partes e um resumo do litígio;
evitar surpresas na arbitragem (como também o é no processo judicial, tanto que II - os fundamentos da decisão, onde serão analisadas as questões de fato e de
inova o código nesresentido-art. 10 do CPC/2015), bem como sedeveestararcnto direito, mencionando-se, expressamente, se os árbitros julgaram por eqüidade;
aos princípios do contraditório e da ampla defesa, de cal forma que para a resolução
III - o dispositivo, em que os árbitros resolverão as questões que lhes forem
em parte do conflito as parte.~ devem ser instadas a se manifestar. Aliás, inclusive, é
submetidas e estabelecerão o prazo para o cumprimento da decisão, se for o caso; e
possível a delimitação pelas partes de matérias a serem objeto de j ulgamenco em e rapas,
de acordo com as perspectivas e características circunstanciais, a constar na própria IV - a data e o lugar em que foi proferida.
convenção ou no termo de arbitragem. Parágrafo único. A sentença arbitral será assinada pelo árbitro ou por todos os
A previsão expressa de sentença parcial, sem dúvida, aprimora a qualidade árbitros. Caberá ao presidente do tribunal arbitral, na hipótese de um ou alguns dos
do procedimento arbitral, trazendo técnica que agiliza o julgamento ao mesmo árbitros não poder ou não querer assinar a sentença, certificar tal fato.
tempo em que pode facilitar a composição e reduzir custos; e as decisões assim Art. 27. Asencençaarbitral decidirá sobre a responsabilidade das partes acercadas
proferidas podem permitir, ainda, conforme o caso, o melhor tracejo das questões custas e despesas com a arbitragem, bem como sobre verba decorrente de Iitigância de
a serem analisadas. má-fé, se for o caso, r<::speitadas as disposições da convenção de arbitragem, se houver.
--
51 Ü I CURSO DE ARBITRAGEM ANEX02-LE!DF.ARRITRAGEMCONSOJ.Jf)ADACOMALE! 13.129/20!5 1 511

Are. 28. Se, no decurso da arbitragem, as partes chegarem a acordo quanto ao Art. 32. É nuJa a sentença arbitral se:
litígio, o árbitro ou o tribunal arbitral poderá, a pedido das partes, declarar tal fato I - for nula a convenção de arbitragem (redação nova);
mediance sentença arbitral, que conterá os requisitos do art. 26 desta Lei. (texto original) 1-for nulo o compromisso;
Arr. 29. Proferida a sentença arbitral, dá-se por finda a arbitrao-em, devendo o 11- emanou de quem não podia ser árbitro;
árbitro, ou o presidente do tribunal arbitral, enviar cópia da decisã: às partes, por
III - não contiver os requisitos do are. 26 desta Lei;
via postal ou por outro meio qualquer de comunicação, mediante comprovação de
recebimento, ou, ainda, entregando-a diretamente às partes, mediante recibo. IV - for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem;

Art. 30. No prazo de 5 (cinco) dias, acontardo recebimento da notificação ou da V - não decidir todo o litígio submetido à arbitragem; (REVOGADO)
ciência pessoal da sentença arbitral, salvo se outro prazo for acordado entre as partes, VI - comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção
a parte interessada, mediante comunicação à outra pane, poderá solicitar ao árbitro passiva;
ou ao tribunal arbitral que: (redação nova) VII - proferida fora do prazo, respeitado o disposto no are. 12, inciso III,
(texto original) No prazo de cinco dias, a contar do recebimento da notificação desta Lei; e
ou da ciência pessoal da sentença arbitral, a parte interessada, mediante comunicação VIII- forem desrespeitados os princípios de que trata o arr. 21, § 2. 0 • desta Lei.
à outra parte, poderá solicitar ao árbitro ou ao tribunal arbitral que:
Comentários:
[ - corrija qualquer erro material da sentença arbitral;
Aalteração realizada no inc. I é bem-vinda, pois corrige a falha contida na redação
II - esclareça alguma obscuridade, dúvida ou contradição da sentença arbitral,
original que se referia à nulidade do "compromisso" não da "convenção de arbitragem".
ou se pronuncie sobre pomo omitido a respeito do qual devia manifestar-se a decisão.
Como sabido, esta é gênero enquanto aquele é espécie. A interpretação adequada
Parágrafo único. O árbitro ou o tribunal arbitral decidirá no prazo de 10 (dez) da regra já autorizava que se entendesse inválida a sentença por vício na convenção
dias ou em prazo acordado com as partes, aditará a sentença arbitral e notificará as (C( Capítulo 13, item 13.2). Desse modo, a nova redação teve por intenção corrigir
partes na forma do art. 29. (redação nova) equívoco redacíonal do legislador.
(t~toori~inal) Parágrafo único. O árbitro ou o tribunal arbitral decidirá, no prazo Em relaça.o à rc::vogação do inc. V, confirma-se a orientação de que declarar nula
de dez dias, aditando a sentença arbitral e notificando as partes na forma do art. 29. asenrença ínfrtt petita (ou cítrapetit1l) seria punição exagerada, pois não há dificuldade
Comen táríos: em preservar a parte boa do julgamento e tratar da parcela defeituosa.
Mas a revogação vem em um contexto mais abrangente, na medida em que a
Novamente o legislador demonstra a importância da liberdade de escolha das
partes no procedimento arbitral, fazendo constar expressamente a flexibilidade de reforma também trouxe criativa solução para sanear a patologia no§ 4. 0 do arr. 33,
pois, evidentemente, deve ser resguardado às partes o direito à cutela exaurienre.
prazo para pedido de esclarecimento caso as mesmas emendam que cinco dias não
Criou-se, então, nova sistemática para resolver a falta de julgamento de alguns pedidos
serão adequados a esta providência. O mesmo raciocínio foi apresentado no parágrafo
único referente ao prazo dos árbitros para apresentarem decisão a respeito do pedido formulados na arbitragem (cf. abaixo e Capítulo 13, item 13.4. l).
de esclarecimento. Art. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário com-
petente a declaração de nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos nesta Lei.
Considera-se válida a proposta, mas apenas convalida a prática atual, pois já se
admite esta flexibilidade por adequada exegese da Lei vigente, encontrando-se a am- (redação nova)
plia~ão do prazo em alguns regulamentos, ou em termos de arbitragem (Cf. Capítulo (texto original) Arr. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder
11, item 11.6). Mas sem dúvida, como referido, pertinente a adequação da regra, Judiciário competente a decretação da nulidade da sentença arbitral, nos casos pre-
afastando eventual questionamento a respeito da questão. vistos nesta Lei.
Are. 31. A sentença arbirraJ produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos § l .0 A demanda para a declaração de nulidade da sentença arbitral, parcial ou
efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, final, seguirá as regras do procedimento comum, previstas na Lei n. 5.869, de 11 de
constituí título executivo. janeiro de 1973 (Código de Processo Cívil), e deverá ser proposta no prazo de até 90
• 51 2 1 CURSO OE ARBI'rRAGF.M
ANEXO 2- LEI DEAH.BITH.A.Gbvt CONSOLIOAOA COM A LEI 13.129/2015 1 513

(noventa) dias após o recebimento da notificação da respectiva sentença, parcial ou Porém vem a reforma e, por esta falha, acabou por se reportar a lei revogada. E o erro
final, ou da decisão do pedido de esclarecimentos. (redação nova) se repete ao se referir o§ 3. 0 ao an. 475-L, que cem seus dias contados, quando com
( texto original) § I. 0 A demanda para a decretação de n ui idade da sentença idêntico conteúdo, para adequada redação, bastaria referir-se à arguição da nulidade
arbitral seguirá o procedimento comum, previsto no Código de Processo Civil, e em impugnação ao cumprimento da sentença, na forma estabelecida pela legislação
deverá ser proposta no prazo de até noventa dias após o recebimento da notificação processual. 7
da sentença arbitral ou de seu aditamento.
Além da substituição de "decretação" por "declaraçáo", e da injustificada falha
§ 2. 0 Asentença que julgar procedente o pedido declarará anui idade da sentença referida, manteve-se o prazo para a ação, e deixou-se claro o legislador que, proferida
arbitral, nos casos do art. 32, e determinará, se for o caso, que o árbitro ou o tribunal
sentença parcial, a contagem inicia-se desde então para os vícios que nela se contém;
profira nova sentença arbitral. (redação nova)
ou seja, poderá acontecer de, com o julgamento fracionado, venha existir ação de
(texto original)§ 2. 0 A sentença que julgar procedente o pedido:
invalidação no curso da arbitragem. Destaca-se que a sentença parcial foi incluída
( texto original) !-decretará a nulidade da sentença arbitral, nos casos do art. 32, rendo em vista sua previsão agora expressa no are. 23, § 2. 0 acima analisado.
incisos J, II, VI, VII e VIII;
Por oucro lado, positiva a nova formatação do conteúdo do§ 2.0 , indicando agora,
(texto origi nal) 11-decerrninaráque oárbicro ouo tribunal arbitral profira novo de maneira bem perrinenre, o respeito à casuística no resultado da ação: em algumas
laudo, nas dema is hipóteses.
situações se determina a renovação do julgamento arbitral e cm outras simplesmente
0
§ 3. A declaração de nulidade da .scncença arbitral também poderá .ser arguida se retira do mundo jurídico a sentença impugnada, dependendo de cada caso a ser
mediante impugnação, conforme o art. 475-L e seguintes da Lei n. 5.869, de 11 de avaliado e decidido no processo.
janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), se houver execução judicial. (redação nova)
Também merecedora de elogios a inovação (e aqui verdadeira novidade) contida
(texto original) § 3.0 A decretação da nulidade da sentença arbitral também
no§ 4. 0 deste artigo que por si só é esclarecedor. Aliado à revogação do inc. V do art. 32
poderá ser arguida mediante ação de embargos do devedor, conforme o an. 74 l e
acima referido, a patologia da sentença que não decíd<:: todo o litígio é sanada, agora,
seguintes do Código de Processo Civil, se houver execução judicial.
pda provocação pelo interessado d<:: ação no judiciário para que no juízo arbitral se
§ 4. 0 A parte interessada poderá ingressar em juízo para requerer a prolação de
profira sentença complementar, mas sem macular o julgamento anterior (cf. a respeito
sentença ar;birraJ compl.emen.rar, se o árbitro não decidir todos os pedidos submetidos
à arbitragem. (novo) Capítulo 13, itens 13.4. I).

Comentários: Capítulo VI
Por primeiro, aponta-se ter perdido o legislador uma ótima oportunidade para DO RECONHECIMENTO E EXECUÇÃO
dar o correto tratamento à ação de invalidação da sentença arbitral. Como sustenta- DE SENTENÇASARBlTRAIS ESTRANGEIRAS
mos, esta ação, pelas suas características e efeitos cem natureza desconstirutiva (cf. a
respeito Capítulo 13, irens 12.1 - Invalidação da sentença arbitral - um novo olhar Are. 34. A sentença arbitral estrangeira será reconhecida ou executada no Brasil
ao instituto). d<:: conformidade com os tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno
e, na sua ausência, escritamente de acordo com os termos desta Lei.
Aliás, pretendeu-se aprimorar a redação ao se substituir "decretação" por "de-
claração", sob a equivocada ideia de que nulidade .se "declara", quando de forma Parágrafo t'lnico. Considera-se sentença arbitral estrangeira a que tenha sido
equivocada passou despercebido que o ato onde se contem o vício (a sentença), deve proferida fora do território nacional.
ser desconstiruído, e não apenas ser declarado o dt:feico de algo superado pda sentença
quando proferida com perspectiva d<:: imutabilidade. 7. Ali,,s, aponta-se o erro inclusive no sistema do Có<ligo <le 1973, com vigê:ncia residual, na
Outra falha do legislador, e a nosso ver grave, foi referir-se expressamente à Lei medida cm que ainda nele se contém embargos do devedor, quan<lo se tratar <le execução colltra
de 1973 no§ 1.0 • Ora, era mais do que previsível, pois esperado, o novo Código de a Fazenda Pí1blíca (art. 730 - alterada a forma de impugnac,;ão pelo CPC/201 S, conforme
ares. 534, 535 e 91 O); e assim, pela literalidade do texto, ao se referir apenas ao are. 475-L,
Processo Civil, e assim, obviamente, melhor seria apenas referir-se ao artigo o procedi- poder-se-ia sustentar a impossibilidade de arguição de invalidade nestes Embargos, o que não
mento comum "previsto na legislação processual". Seria simples, prático e adequado. nos parece ter sido a intenção do legislador.
- 514 1 CURSO DE ARRITRAGEM ANEXO 2- LEI DE ARBITRAGEM CONSOLIDADA COM A LEI 13.129/2015 1 515

Are. 35. Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral es- VI - a sentença arbitral não se tenha, ainda, tornado obrigatória para as partes,
trangeira está sujeita, unicamente, à homologação do Superior Tribunal de Justiça. tenha sido anulada, ou, ainda, tenha sido suspensa por órgão judicial do país onde a
(redação nova). sentença arbitral for prolatada.
(texto original) Art. 35. Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença Art. 39. A homologação para o reconhecimento ou a execução da sentença ar-
arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à homologação do Supremo Tribunal bitral estrangeira também será denegada se o Superior Tribunal de Justiça constatar
Federal.
que (redação nova):
Comentários: (texto original) Are. 39. Também será denegada a homologação para o reconhe-
A alteração aqui promovida limita-se a adequar referência expressa à competên- cimento ou execução da sentença arbitral estrangeira, se o Supremo Tribunal Federal
cia do Superior Tribunal de Justiça para a apreciação do pedido de homologação de constatar que:
sentença estrangeira, a este Tribunal transferida pela Emenda Constitucional 45/2005
(CF/1988, art. 105, I, z). Trata-se apenas de atualização de redação, substituindo a Comentários:
superada indicação do Supremo Tribunal Federal, antes competente para tanto. Tal como referido nos comentários ao are. 35, a alteração aqui se refere exclusi-
Art. 36. Aplica-se à homologação para reconhecimento ou execução de senten- vamente à atualização do Tribunal competente para apreciação do pedido de homo-
ça arbitral estrangeira, no que couber, o disposto nos arts. 483 e 484 do Código de logação de sentença estrangeira.
Processo Civil. I - segundo a lei brasileira, o objeto do litígio não é suscetível de ser resolvido
Art. 3 7. A homologação de sentença arbitral estrangeira será requerida pela parte por arbitragem;
interessada, devendo a petição inicial comer as indicações da lei processual, conforme li - a decisão ofende a ordem pública nacional.
o an. 282 do Código de Processo Civil, e ser instruída, necessariamente, com:
Parágrafo único. Não será considerada ofensa à ordem pública nacional a efetiva-
1- o original da sentença arbitral ou uma cópia devidamente certificada, auten- ção da citação da parte residente ou domiciliada no Brasil, nos moldes da convenção
ticada pelo consulado brasileiro e acompanhada de tradução oficial;
de arbitragem ou da lei processual do pais onde se realizou a arbitragem, admi tíndo-se,
II - o original da convenção de arbitragem ou cópia devidamente certificada, inclusive, a citação postal com prova inequívoca de recebimento, desde que assegure
acompanhada de tradução oficial.
à parte brasileira tempo hábil para o exercício do direito de defesa.
Are. 38. Somente poderá ser negada a homologação para o reconhecimento ou
execução de sentença arbitral estrangeira, quando o réu demonstrar que: Comentários:
1- as panes na convenção de arbitragem eram incapazes; Os arts. 35 e 39 apresentavam inconstitucionalidade tendo em vista a Emenda
II - a convenção de arbitragem não era válida segundo a lei à qual as partes a Constitucional 45/2005 que alterou o art. 105, 1, ida CF/1988 e transferiu a com-
submeteram, ou, na falta de indicação, cm virtude da lei do pais onde a sentença petência para concessão de exequatur e homologação de decisões estrangeiras do STF
arbitral foi proferida; para o STJ.
III - não foi notificado da designação do árbitro ou do procedimento de ar- Embora o texto não estivesse em conformidade com a Constituição Federal
bitragem, ou renha sido violado o princípio do contraditório, impossibilitando a fazíamos sua releimra interpretando que a sentença arbitral estrangeira deveria ser
ampla defesa; homologada noSuperiorTríbunal de Justiça, como visto no Capítulo 15, item 15.4.1
IV- a sentença arbitral foi proferida fora dos limites da convenção de arbitragem, supra.
e não foi possível separar a parte excedente daquela submetida à arbitragem; Are. 40. A denegação da homologação para reconhecimento ou execução de
V -a instituição da arbitragem não está de acordo com o compromisso arbitral sentença arbitral estrangeira por vícios formais, não obsta que a parte interessada
ou cláusula compromissária; renove o pedido, uma vez sanados os vícios apresentados.
51 6 1 CURSO DE AR!ll'I 'RAGEM AL"IEXO 2- LEI DEAR131'l'RAGEM CONSOLIL)ADA COM A l.F,l 13.129/2015 1 517

Capítulo VII § 2. 0 O direito de retirada previsto no caput não será aplicável (novo):
DISPOSIÇÕES FINAIS I - caso a inclusão da convenção de arbitragem no estatuto social represente
condição para que os valores mobiliários de emissão da companhia sejam admitidos
Art. 4_1._ Os arts. 267, inciso VTl; 301, inciso lX; e 584, inciso III, do Código de
Processo Civtl passam a ter a seguinte redação:!!
à negociação em segmento de listagem de bolsa de valores ou de mercado de balcão
organizado que exija dispersão acionária mínima de 25% (vinte e cinco por cento)
"Art. 267 (...)
das ações de cada espécie ou classe (novo);
VII- pela convenção de arbitragem;"
II - caso a inclusão da convenção de arbitragem seja efetuada no estatuto social
"Are. 301 (...) de companhia aberta cujas ações sejam dotadas de liquidez e dispersão no mercado,
IX-convenção de arbitragem;" nos termos das alíneas a e b do inciso II do an. 137 desta Lei. (novo)
"Art. 584 ( ... )
Comentários:
III - a sentença arbitral e a sentença homologacória de transação O d ·
Como visto an reriormente, neste« Curso", a jurisprudência já acei cava e cada vez
liação;" u e conc1-
mais se cem presente a arbitragem como solução de conflito no direito societário. O
~rt. 42. O art. 520 do Código de Processo Civil passa a ter mais um inciso com are. 109, § 3. 0 da Lei das Sociedades Anônimas autoriza a utilização da arbitragem,
a seguinte redação:') '
além do próprio are. l. 0 da LArbestabelece que o uso da arbitragem será viável desde
"Art. 520 ( ... ) que o direito patrimonial seja disponível, o que se enquadra perfeitamente aos direitos
VI- julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem." e obrigações societários.
Arr. 43. Esta Lei entrará em vigor sessenta dias após a dara de sua publicação. Quando estabelecida a convenção no momento da constituição da companhia,
Art.44.Ficamrevogadososans.1.037al.048daLein 3 071 d 1 ºd · · pela presença de todos os seus acionistas com posição convergente, o acolhimento da
de 1916 C'd' C '1B 1 . . ' e . eJane1ro arbitragem é cranq uilo. A divergência existia, no entanto, na identi fi.cação do quorum
. . , o 1go 1v1, .rasi eíro; os ans. 1OI e 1.072 a 1.102 da Lei n. 5.869, de I 1
de Janeuo de 1973, Cod1go de Processo Civil; e demais disposições em contrário. para aprovação de inserção da cláusula no estatuto social em momento posterior
à constituição; alguns sustentando, como nós, ser necessária a unanimidade (pela
Modificação omissão legal a respeito), outros favoráveis à prevalência do princípio majoritário.

da Lei das Sociedades Anônimas introduzida Com a reforma, positivada a matéria, prevalece o quanto agora estabelecido: a
pela Lei 13.129,de26demaiode2015 inserção de convenção reclama o quorum previsto no art. 136 da Lei das Sociedades
Anônimas (metade das ações com direito a voto). 10 Adota-se neste particularo modelo
_Art. 3.º A Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976, passa a vigorar acrescida do italiano, também próximo ao que existe em outros países, como Espanha.
segumteart. 136-AnaSubseção "Direito de Retirada" da Seção III de seu Capítulo XI: Pode parecer prejudicial aos minoritários, principalmente àqueles com par-
. An. 136-A. A aprovação da inserção de convenção de arbirrao-em no estatuto ticipação expressiva na sociedade; porém, a própria norma traz solução para cerco
so~ial~ obs~rv~do o quo~u": do art. 136, obriga a todos os acionista;, assegurado ao equilíbrio: o direito de retirada pelo acionista dissidente.
acionista d1ss1d:nte o d1re1to de retirar-se da companhia mediante o reembolso do E assim, a lei demonstra atenção com a necessária aceitação voluntária à exclusão
valor de suas açoes, nos termos do art. 45. (novo)
do Judiciário para apreciação do conflito, pois ao dissidente não se irá impor a cláu-
0
. § 1. A convenção somente terá eficácia após o decurso do prazo de 30 (trinta) sula, contra a sua vontade, mas respeitada, como deve ser, a deliberação da maioria
dias, conrado da publicação da ata da Assembleia Geral que a aprovou. (novo) (força motriz na gestão das sociedades anônimas), a ele é facultada a retirada. Desta

O arr.
8. s·c· "
584, rrI j:i havia sido, m lmicu(do pelo arr. 475-N' [V, do CPC/J 973·, agora, os d'1spo-
r 'd 10. Assi m: ''Are. 136. É ncccss.'íria a aprovação de acio nistas que representem mcmde, no m (nfo10,
r tv,.,, recen os nesce art. ' I I correspondem no CPC/2015 , · · 4 · · das açóes com direito a voco, se maior quorum não forex.igrdo pdo estaruro da companhia cujas
VII· 337 X· 5 15 Vll . . . aos scgumrcs artigos: 85, 1nctso
, . , ,e , , rcspecav:imente. ações náo estejam ,tdmitidas à negociação em bolsa ou no mercado de b,tlcão, para ddiberaç,'io
9. Equivalente ao are. 1.012, IV, do CPC/2015. sobre: (...)".
518 1 CURSO DE AR!31TRAGF,M

forma, fica resguardado indiretamence ao acion isca o direito de discordar da inclusão


da cláusula com promissória no estatuto social, recirando-se da sociedade.
O acionista dissidente terá o prazo de trinta dias, contados da publicação da ara
da assembleia geral, que aprovou a inserção de convenção arbitral, para pleitear seu
desligamento. Transcorrido o prazo se o acionisra permanecer silente, o mesmo se
vinculará, por definitivo, à cláusula compromissária. E ainda, a norma traz situações
específicas, que pelas circunstâncias próprias, não se confere ao dissidente o direito
de retirada (situações específicas de algumas ações negociadas em Bolsa de Valores ou
3 - LEI 13. 140,
A NEXO
no mercado de balcão como, por exemplo, a inclusão da convenção de arbitragem
no estatura social represente condição par.a que os valores mobiliários de emissão da
DE 26 DE JUNHO DE 2015 -
companhia sejam admitidos à negociação cm segmento de listagem de bolsa de valores
l"Novo Mercado] ou quando a inclusão da convenção de arbitragem seja efetuada no
M ARCO LEGAL DA M EDIAÇÃO
estaturosocial de companhia aberta cujas ações sejam dotadas de liquidez e dispersão
no mercado).
Também o prazo de 30 dias é o estabelecido para início da eficácia da convenção,
de ral forma que para as ações propostas ames deste período, permanece a jurisdição CONSIDERAÇÕES INICIAIS
estatal.
Existentes várias iniciativas, algumas já amigas, para elaboração de lei a respeito
Por fim, anote-se a vinculação automática à cláusula pelos acionistas adquiren- de mediação, com a formação deComi.ssão nomeada pelo Senado acima refcri~a (e~
tes de ações da companhia que contenha a previsão de arbitragem em seu estatuto. Considerações lnicí1tis ao Anexo 2) o tema tomou força. E assim, além de proJeto Jª
Com alguma posição isolada em sentido contrário, como visco no Capítulo 14 deste em curso, foram apresentados ao Senado dois anteprojetos a respeito, embora com
"Curso", recencemencc foi aprovado o Enunciado 16 da I Jornada de Direito Comer- especificidades (um deles voltado à mediação privada, oucro abrangendo também a
cial promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, mediação púhlica). Com os trâmites pertinentes, encerraram-se os :rabalhos res~l_c;1_1-
por nós proposto para assim se concluir a respeito da questão: "Enunciado 16: O do em um único projeto, contemplando a mediação privada, a mediação no Jud1c1ano
1
adquirente de cotas ou ações adere ao contrato social ou estatuto no que se refere à e a mediação envolvendo o Poder Público. Sendo sua origem o PLS 517/2011, ~ à
cláusula com promissória (cláusula de arbitragem) nele existente; assim, estará vin- sua tramitação, em conjunto, foram reunidos o PLS 405/2013 e o PLS 434/2013.
culado à previsão da opção da jurisdição arbitral, independentemente de assinatura Vem estruturado em 3 Capímlos:
e/ou manifestação específica a esse respeito." 11
Capítulo I - Da Mediação, no qual após as disposições gerais, são apresentadas

Prazo para vigência da reforma


regras relativas aos mediadores e procedimento de medi~ção_, :m
cada qual tra~ad_:is
disposições comuns e específicas para a mediação extraJud1cial e para a med1açao
estabelecido pela Lei 13.129,
judicial.
de 26 de maio de 2015
Capítulo II- Da composição de Conflitos em que for Pare~ PessoaJu~ídica d.e
Nos termos do are. 5 .° da Lei 13.129, a reforma entrou em vigorapós decorridos Direito Público, no qual se sugere a criação de câmaras de prevençao e resoluçao adm1-
60 (sessenta) dias de sua publicação oficial, ou seja, teve sua vigência a partir de 26 nistrativa de conflicos, e se apresentam as questões que podem scrobjetode cran:,;ação,
de julho de 2015. inclusive com as providên~ías prév!as e procedimen~os,,c~volven~o.órgã~.se.enudades
<la Administração entre s1 ou pamculares e pessoa JUnd1ca de d1re1to publico.
11. A respeito, inclusive com citação de diversos Autores sobre o rema, cf. CAHALI, Francisco
José. A vinculação dos adquirenres de cotas ou ações à cláusula compromissória escabclecida 12. PLS 517/2011 _ "Dispõe sobre :1 mcdi:ição entre particulares como meio ~c~rnati~o dpc,so (uç~~
cm Contraro Social ou Estatuto - Enunciado 16 da Jornada de Díreico Comercial. Revista de de controv<:rsias e sobre a composição de conflitos no ;lmbíto da Admm1scraçao u6 1tca. ·
Mediação e Arbitragem. n. 36. ano X. jan.-mar. 2013, p. 159. 'frara-sc do preâmbulo do rexto final do referido projeto de leí.
jJ

520 1 CURSO DF. ARIIITRAGEM ANEX03-LEI l3.140,DF.26OEJUNHODE2015 1 521

Capítulo III - Das disposições finais, com considerações gerais sobre a solução Vlll- boa-fé.
consensual de conflitos, estendendo, por exemplo, a aplicação da Lei, no que couber, às § 1.0 Na hipótese de existir previsão contratual de cláusula de mediação, as partes
mediações comunitárias, escolares, penais, trabalhistas e em serventias extrajudiciais,
deverão comparecer à primeira reunião de mediação.
e a faculdade de utilização de internet.
§ 2.0 Ninguém será obrigado a permanecer em procedimento de mediação.
Encaminhado à Câmara dos Depurados recebeu o número PL 7.169/2014, foi
oferecido substitutivo e, em 26 de junho de 2015, a Presidência da República o aprovou Art. 3.0 Pode ser objeto de mediação o conflito que verse sobre direitos dispo-
como Lei 13. l 40/2015, que é utilizada como base neste "Curso", e transcrita a seguir. níveis ou sobre direitos indisponíveis que admitam transação.
§ 1.0 A mediação pode versar sobre rodo o conflito ou parte dele.
§ 2. 0 O consenso das partes envolvendo direitos indisponívcís, mas transigíveis,
LEI 13.140 DE 26 DE JUNHO DE 2015
deve ser homologado em juízo, exigida a oi tiva do Ministério Público.
Dispõe sobre a mediação entre particulares como meio de solução
de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito Seção li
da administração pública; altera a Lei n. 9.469, de 1Ode julho de
1997, e o Decreto n. 70.235, de 6 de março de 1972; e revoga o
Dos Mediadores
§ 2. º do art. 6. 0 da Lei n. 9.469, de 10 de julho de 1997. Subseção 1
A Presidente da República: Disposições Comuns
Faço saher que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Are. 4. 0 O mediador será designado pelo tribunal ou escolhido pelas partes.
Art. 1.0 Esta Lc::í dispõe sobre a mediação como meio de solução de controvérsias
entre particulares e sobre a aurocomposição de conflitos no âmbito da Administração § 1. 0 O mediador conduzirá o procedimento de comunicação entre as partes,
Pública. buscando o entendimento e o consenso e facilitando a resolução do conflito.
Parágrafo único. Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro § 2. 0 Aos necessitados será assegurada a gratuidade da mediação.
imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e esti- Art. 5.0 Aplicam-se ao mediador as mesmas hipóteses legais de impedimento e
mula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia.
suspeição do juiz.
Capítulo 1 Parágrafo único. A pessoa designada para acuar como mediador tem o dever de
Da Mediação revelar às partes, ames da aceitação da função, qualquer faro ou circunscânciaque possa
suscitar dúvida justificada em relação à sua imparcialidade para mediar o conflito,
Seção I oportunidade em que poderá ser recusado por qualquer delas.
Disposições Gerais
Are. 6. 0 O mediador fica impedido, pelo prazo de um ano, contado do término
Art. 2. A mediação será orientada pelos seguintes princípios:
0
da última audiência em que acuou, de assessorar, representar ou patrocinar qualquer
I - imparcialidade do mediador; das partes.
II - isonomia entre as partes; Art. 7.0 O mediador não poderá atuar como árbitro nem funcionar como
III - oralidade; testemunha em processos judiciais ou arbitrais pertinentes a conflito em que tenha
IV - informalidade; atuado como mediador.
V - autonomia da von radc das partes; Are. 8. 0 O mediador e rodos aqueles que o assessoram no procedimento de
VI - busca do consc::nso; mediação, quando no exercício de suas funções ou em razão delas, são equiparados a
VII - confidencialidade; servidor público, para os efeitos da legislação penal.
522 / CURSO DE AR BITRAGEM
AN EXO 3 - LEI l3. 140, DE 26 DE JUNHO DE 2015 1 52 3

Subseção li
Art. 15. A requerimento das partes ou do mediador, e com anuência daquelas,
Dos Mediadores Extrajudiciais poderão ser admitidos ou rros m ediadores para funcionai-em no mesmo procedimen ro,
Arr. 9. o Poderá funcionar como mediad r . . . quando isso for recomendável em ra'.lâo da natureza e da complexidade do confüco.
que tenha a confiança das parres e s . . od extra1ud1c1al qualquer pessoa capaz
eJa capacita a para faz di - . Arr. 16. Ainda que haja processo arbitral o u judicial em cu rso, as parres p oderão
temente de integrar qualquer ripo d U : ' er me açao, rndependen- submeter-se a mediação, hipótese em que requererão ao juiz ou árbitro a suspensão
nele inscrever-se. e conse 10, enridadc de classe o u associação, ou
do processo por prazo suficien te para a solução consensual do litígio.
Are. 1O. As partes p oderão ser assistidas por advogados ou d ti . bl' § 1.0 É irrecorrível a decisão que suspende o processo nos termos req ucridos de
Parágrafo , . C e ensores pu ICOS. comum acordo pelas panes.
uoico. omparecendo uma d·
ou defensor público o medt'ad . d , as partes acompanhada d e advogado § 2.0 A suspensão do processo não obsta a concessão de medidas de urgência
. • oc suspen era O procedir , ,
d ev,damenre assistidas. ncnco, ate que todas estejam pelo juiz ou pelo árbitro.
A.rt. 17. C onsidera-se instituída a m ediação na data para a qual for marcada a
Subseção Ili primeira reunião de mediação.
Dos Mediadores Judiciais Parágrafo único. Enquanto transcorrer o procedimento de mediação, ficará
Art. 11. Poderá atuar como mediado·. d' ·a1 suspenso o prazo prescricional.
menosdoisanosem curso deensJ·n . i Jdu '. c' . a ~essoacapaz, graduada há pelo Are. 18. Iniciada a mediação, as reuniões posteriores com a presença das partes
. d osupenor e msurwça-0 L 'd
no aEducaçãoequerenhaobtid . - reconnec, apc1oMinistt!- somente poderão ser marcadas com a sua anuência.
d d_j o capac1caçao em escola O · • • - d fi
eme ·ad ores, reconhecidapelaEscol N . aJd ' umsc1cwçao e ormação Are. 19. No desempenho de sua função, o mediador poderá reunir-se com as
Magiscrados-ENFAM ou pelos r ' b a -~c1bo n cFormaçãoeAperfeiçoamenrodc partes, em conjunroouseparadamence, bem como solidtardas partes as informações
1ec1'dos pelo Conselho Nacio I d nJ li nais,
. o servados
na e usnça cm coniun ro
. os icqu1s1tos
· ··
M' .
{ ·
rn n1mosescabe-
. que entender necessárias para facilitar o entendimento entre aq uelas.
Are 12 O 'b . . com o m1s réno da Justiça
. . s tn una1s criarão e manterão cad . . Are. 2 0 . O procedimento de mediação será encerrado com a lavratura do seu
habilitados e autorizados a at d' - . ".'5~ros atualizados dos m ediadores termo final, quando for celebrado acordo ou quando não se justificarem novos esforços
. uar em me iaçao JUd1c1aI.
§ 1. º A mscrição no cadastro de m edi d . . . . para a obtenção de consenso, seja por declaração do mediador nesse sentido ou por
ressado ao tribunal com juri.~di - á a ores Jttd1c1a1s será requerida pelo inte- manifestação de qualquer das partes.
§2 oO 'b . çao na rea em que pretenda exercer a mediação Parágrafo único. O termo final de mediação, na hipótese de celebração de acordo,
. s tn unais regulamentarão o pro d . . - .
seus m ediadores. cesso e mscnçao e desligamento de constitui título executivo extrajudicial e, quando homo logado judicialmente, tículo
executivo judicial.
Are. 13. A rem uncração devida aos mediadores .udi . . ,
e custeada p elas p anes, observ d d. J c1a1s sera fixada pelos tribunais
a o o isposto no § 2. º do are. 4.º desta Lei. Subseção li
Da Mediação Extrajudicial
Seção Ili
Do Procedimento de Mediação Art. 21. O convite para iniciar o p rocedimento de mediação extraj udicial poderá
ser fei to por qualquer meio de co municação e deverá estipular o escopo proposro para
Subseção f a negociação, a data e o local da primeira reunião.
Disposições Comuns Parágrafo único. O convite formulado por urna parte à o utra considerar-se-á

1:rt. 14. N o início da primeira reunião de


cessáno, o mediador deverá ai .
d' - .
me iaçao, e sempre que Julgar ne-
rejeitado se não for respondido em até crinra dias da data de seu recebimenro.
Art. 22 . A previsão contratual de mediação deverá conter, no mínimo:
• , errar as partes acerca das d _ cd
ap Jicaveis ao procedimento. regras e COun enciaJidade I - prazo mínimo e máximo para a realização da primeira re união de mediação,
contado a partir da d ata de recebimento do convite;
524 1 CURSO DE ARBITRAGEM ANEXO 3- LEI l.l.140, DE 26 DE JUNHO DE 2015 1 525

II - local da primeira reunião de mediação; pré-processuais e processuais, e pelo desenvolvimento de programas destinados a
IH - critérios de escolha do mediador ou equipe de mediação; auxiliar, orientar e estimular a autocomposição.

IV - penalidade em caso de não comparecimento da parte convidada à primeira Parágrafo único. A composição e a organização do centro serão definidas pelo
reunião de mediação. respectivo tribunal, observadas as normas do Conselho Nacional de Justiça.

§ 1.0 A previsão contratual pode substituir a especificação dos itens acima enu- Arr. 25. Na mediação judicial, os mediadores não estarão sujeitos à prévia acei-
merados pela i.ndicaçáo de regulamento, publicado por instituição idônea prestadora tação das partes, observado o disposto no art. 5. 0 desta Lei.
de serviços de mediação, no qual constem critérios claros para a escolha do mediador Arr. 26. As partes deverão ser assistidas por advogados ou defensores públicos,
e realização da primeira reunião de mediação. ressalvadas as hipóteses previstas nas Leis n. 9.099, de 26 de setembro de 1995, e
§ 2.0 Não havendo previsão contratual completa, deverão ser observados os 10.259, de l2 de julho de 2001.
seguintes critérios para a realização da primeira reunião de mediação: Parágrafo único. Aos que com provarem insuficiência de recursos será assegurada
I - prazo mínimo de dez dias úteis e prazo máximo de três meses, contados a assistência pela Defensoria Pública.
partir do recebimento do convite; Are. 27. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de
li- local adequado a uma reunião que possa envolver informações confidenciais; improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de mediação.
Are. 28. O procedimento de mediação judicial deverá ser concluído em até ses-
III- lista de cinco nomes, informações de contato e referências profissionais de
mediado~es capaci~ados; a parte convidada poderá escolher, expressamente, qualquer senta dias, contados da primeira sessão, salvo quando as partes, de comum acordo,
um dos cmco mediadores e, caso a parte convidada não se manifeste, considerar-se-á requererem sua prorrogação.
aceito o primeiro nome da lista; Parágrafo único. Se houver acordo, os autos serão encaminhados ao juiz,
IV-o não comparecimento da parte convidada à primeira reunião de mediação que determinará o arquivamento do processo e, desde que requerido pelas partes,
acarretará a assunção por parte desta de cinquenta por cento das custas e honorários homologará o acordo, por sentença, e o termo final da mediação e determinará o
sucu~benciais caso venha a ser vencedora em procedimento arbitral ou judicial arquivamento do processo.
postenor, que envolva o escopo da mediação para a qual foi convidada. Are. 29. SolucíonadooconAíto pelamediaçãoanresdacitaçãodo réu, não serão
0
§ 3. Nos litígios decorrentes de contratos comerciais ou societários que não devidas custas judiciais finais.
con~enham cláusula de me~iação, o mediador extrajudicial somente cohrará por seus
Seção IV
serviços caso as partes decidam assinar o termo inicial de mediação e permanecer,
voluntariamente, no procedimento de mediação. Da Confidencialidade e suas Exceções
Art. 23. Se, em previsão concrarual de cláusula de mediação, as partes se com- Arr. 30. Toda e qualquer informação relativa ao procedimento de mediação será
prometerem a não iniciar procedimento arbitral ou processo judicial durante cerco confidencial em relação a terceiros, não podendo ser revelada sequer em processo
prazo ou até o !mplemento de determinada condição, o árbitro ou o juiz suspenderá arbitral ou judicial salvo se as partes expressamente decidirem de forma diversa ou
o curso da arbmagern ou da ação pelo prazo previamente acordado ou até O imple- quando sua divulgação for exigida por lei ou necessária para cumprimento de acordo
mento dessa condição.
obtido pela mediação.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica às medidas de urgência em § 1.0 O dever de confidencialidade aplica-se ao mediador, às partes, a seus pre-
que o acesso ao Poder Judiciário seja necessário para evitar o perecimento de direito. postos, advogados, assessores técnicos e a o urras pessoas de sua confiança que tenham,
direta ou indiretamente, participado do procedimento de mediação, alcançando:
Subseção Ili
I - declaração, opinião, sugestão, promessa ou proposta formulada por uma
Da Mediação Judicial parte à outra na busca de enrendimenco para o conflito;
Arr. 24. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de con- II- reconhecimento de fato por qualquer das partes no curso do procedimento
flitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação, de mediação;
526 1 CURSO DE ARBITRAGEM ANEXO 3-Lm n.140, OE26 OE JUNHO OF.2015 1 527

III - manifestação de acei cação de proposta de acordo apresentada pelo mediador; § 5.º Compreendem-se na competência das câmaras de que trata o caput apre-
IV - documento preparado unicamente para os fins do procedimento de me- venção e a resolução de conflitos que envolvam equilíbrio econômico-financeiro de
diação. contratos celebrados pela administração com particulares.
. ~ 2. 0 A prova apresentada em desacordo com o disposto neste artigo não será Are. 33. Enquanto não forem criadas as câmaras de mediação, os conflitos po-
admmda em processo arbitral ou judicial. derão ser dirimidos nos termos do procedimento de mediação previsto na Subseção
§ 3. 0 Não está abrigada pela regra de confidencialidade a informação relativa à 1da Seção III do Capítulo I desta Ld.
ocorrência de crime de ação pública. Parágrafo único. A Advocacia Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal
0
§ 4. A regra da confidencialidade não afasta o dever de as pessoas discrimina- e dos Municípios, onde houver, poderá instaurar, de ofício ou mediante provocação,
das no caput prestarem informações à administração tributária após o termo final procedimento de mediação coletiva de conflitos relacionados à prestação de serviços
~a media~ão, aplican~o-se aos seus servidores a obrigação de manterem sigilo das públicos.
t nformaçoes compamlhadas nos rermos do art. 198 da Lei n. 5.172, de 25 de ou cubro Art. 34. A instauração de procedimento administrativo para a resolução consen-
de 1966- Código Tributário Nacional. sual de conflito no âmbito da Administração Pública suspende a prescrição.
Arr. 31. Será confidencial a informação prestada por uma parte em sessão privada, § 1,° Considera-se instaurado o procedimento quando o órgão ou entidade
não podendo o mediador revelá-la às demais, exceto se expressamente autorizado. pública emitir juízo de admissibilidade, retroagindo a suspe~são da prescrição à data
de formalização do pedido de resolução consensual do conflito.
Capítulo li
§ 2. 0 Em se tratando de matéria tributária, a suspensão da prescrição deverá
Da Autocomposição de Conflitos
observar o disposto na Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966-Código Tributário
em que for parte Pessoa Jurídica de Direito Público
Nacional.
Seção I
Seção li
Das Disposições Comuns
Dos Conflitos Envolvendo
Art. 32. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão criar a Administração Pública Federal Direta,
c~ma~as ~e prevenção e ~esol,uç~o administrativa de conflitos, no âmbito dos respec- suas Autarquias e Fundações
tivos orgaos da Advocacia Publica, onde houver, com competência para:
I -dirimir conflitos enrre órgãos e entidades da administração pública; A.rt.35.AsconcrovérsiasjurídicasqueenvolvamaAdministraçãoPúblicaFederal
direta, suas autarquias e fundações poderão ser objeto de transação por adesão, com
li - avaliar a admissib il idade dos pedidos de resolução de conflitos, por meio
de composição, no caso de controvérsia entre particular e pessoa jurídica de direito fundamento em:
público; I -autorização do Advogado-Geral da União, com base na jurisprudência pacífica
lll-promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento de conduca. do Supremo Tribunal Federal ou de tribunais superiores; ou
§ 1.0 O modo de composição e funciona men co das câmaras de que trata o caput II - parecer do Advogado-Geral da União, aprovado pelo Presidente da Repú-
será estabelecido em regulamento de cada ente federado. blica.
0
§ 2. A submissão do confüco às câmaras de que trata o caput é facultativa e será § 1.0 Os requisitos e as condições da transação por adesão serão definidos em
cabível apenas nos casos previstos no regulamento do respectivo ence federado. resolução administrativa própria.
0
§ 3. Se houver consenso entre as partes, o acordo será reduzido a termo e cons- § 2.º Ao fazer o pedido de adesão, o interessado deverá juntar prova de atendi-
tituirá título executivo extrajudicial. mento aos requisitos e às condições estabelecidos na resolução administrativa.
0
. § 4. Não se, i~duem na competência dos órgãos mencionados no caput deste § 3.o A resolução administrativa terá efeitos gerais e será aplicada aos casos idên-
arngo as controvers1as que somente possam ser resolvidas por atos ou concessão de ticos, tempestivamente habilitados mediante pedido de adesão, ainda que solucione
direitos sujeitos a autorização do Poder Legislativo. apenas parte da controvérsia.
528 1 CURSO DEARRITRAGF.M ANEXO3-LEI U.140,DE26DEJUNHODE2015 1 529

§ 4. 0 A adesão implicará rent'lncia do interessado ao direito sobre o qual se prestação de serviços em regime de concorrência não poderão exercer a faculdade
fundamenta a ação ou o recurso, eventualmente pendentes, de natureza administra- prevista no arr. 37;
tiva ou judicial, no que tange aos pontos compreendidos pelo objeto da resolução
administrativa. III -quando forem partes as pessoas a que alude o caput do art. 36:
a) a submissão do conflito à composição extrajudicial pela Advocacia-Geral
§ 5.0 Se o interessado for parte em processo judicial inaugurado por ação coletiva, da União implica renúncia do direito de recorrer ao Conselbo Administrativo de
a rent'lncía ao direito sobre o qual se fundamenta a ação deverá ser expressa, mediante Recursos Fiscais;
petição dirigida ao juiz da causa.
0
b) a redução ou o cancelamento do crédito dependerá de manifestação conjunta
§ 6. A formal ização de resolução administrativa destinada à transação por do Advogado-Geral da União e do Ministro de Estado da Fazenda.
adesão não implica a renúncia tácita à prescrição nem sua interrupção ou suspensão.
Art. 39. A propositura de ação judicial em que figurem concomitantemente nos
Arr. 36. No caso de conflitos que envolvam controvérsia jurídica entre órgãos polos ativo e passivo órgãos ou entidades de direito público que integrem aAdminis~ra-
ou entidades de direito público que integram a Administração Pública Federal, a ção Pública Federal deverá ser previamente autorizada pelo Advogado-Geral da Umão.
Advocacia-Geral da União deverá realizar composição extrajud icial do confli to, ob-
Are. 40. Os servidores e empregados públicos que participarem do processo de
servados os procedimentos previstos em ato do Advogado-Geral da União.
composição extrajudicial do conflito, somente poderão ser responsabilizados civil,
§ 1. 0 Na hipótese do caput, se não houver acordo quanto à controvérsia jurídica, administrativa ou criminalmente quando, mediante dolo ou fraude, receberem
caberá ao Advogado-Geral da União dirimi-la, com fundamento na legislação afeta. qualquer vantagem patrimonial indevida, permitirem ou facilitarem sua recepção
§ 2.o Nos casos em que a resolução da controvérsia implicar o reconhecimento por terceiro, ou para tal concorrerem.
da existência de créditos da União, de suas autarquias e fundações em face de pessoas
jurídicas de direito público federais, a Advocacia-Geral da União poderá solicitar ao Capítulo III
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão a adequação orçamentária para Disposições Finais
quitação das dívidas reconhecidas como legítimas.
Art. 41. A Escola Nacional de Mediação e Conciliação, no âmbito do Ministério
§ 3. 0 A composição eimajudicial do confüco não afasta a apuração de respon- da Justiça, poderá criar banco de dados sobre hoas práticas em mediação, bem como
sabilidade do agente público que deu causa à dívida, sempre que se verificar que sua manter relação de mediadores e de instituições de mediação.
ação ou omissão consriruí, em tese, infração disciphnar.
Art. 42. Aplica-se esta Lei, no que couber, às outras formas consensuais de reso-
§ 4. 0 Nas hipóteses em que a matéria objeto do litígio esteja sendo discutida em lução de conflitos, tais como mediações comunitárias e escolares, e àquelas levadas a
ação de improbidade administrativa ou sobre ela haja decisão do Tribunal de Contas efeito nas serventias extrajudiciais, desde que no ãmbíw de suas competências.
da União, a conciliação de que trata o caput dependerá da anuência expressa do juiz
Parágrafo único. A mediação nas rdaçóes de trabalho será regulada por lei própria.
da causa ou do Ministro relator.
Arr. 43. Os órgãos e entidades da administração pública poderão criar câmaras
Art. 37. É facultado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, suas
para a resolução de conflitos entre particulares, que versem sobre atividades por eles
autarquias e fundações públicas, bem como às empresas públicas e sociedades de
reguladas ou supervisionadas.
economia mista federais, submeter seus litígios com órgãos ou entidades da Ad-
ministração Pública Federal à Advocacia-Geral da União, para fins de composição Art. 44. Os arts. l.O e 2.o da Lei n. 9.469, de 10 de julho de 1997, passam a
extrajudicial do conflito. vigorar com a seguinte redação:
"Are. 1.0 O Advogado-Geral da União, diretamente ou mediante delegação, e
Are. 38. Nos casos em que a controvérsia jurídica seja relativa a tributos admi-
os dirigentes máximos das empresas públicas federais, em conjunto com o dirigente
nistrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil ou a créditos inscritos em dívida
ativa da União: estatutário da área afeta ao assumo, poderão autorizar a realização de acordos ou
transações para prevenir ou terminar litígios, inclusive os judiciais.
I- não se aplicam as disposições dos incisos II e III do caput do are. 32;
§ 1. 0 Poderão ser criadas câmaras especializadas, com postas por servidores
li - as empresas públicas, sociedades de economia mista e suas subsidiárias públicos ou empregados públicos efetivos, com o objetivo de analisar e formular
que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de propostas de acordos ou transações.
1

530 1 CURSO DE ARBITRAGEM ANEXO 3-LEI 13.140, DE260EJUNHO DE 2015 1 531

§ 3.0 Regulamento disporá sobre a forma de composição das câmaras de que União é considerada reclamação, para fins do disposto no inciso III do are. 151 da Lei
trata o§ 1. , que deverão ter como integrante pelo menos um membro efetivo da
0
n. 5.172, de 25 de outubro de J966-Código Tributário Nacional.
Advocacia-Geral da União ou, no caso das empresas públicas, um assistente jurídico Art. 46. A mediação poderá ser feita pela internet ou por outro meio de comu-
ou ocupante de função equivalente. nicação que permita a transação à distância, desde que as partes estejam de acordo.
§ 4. 0 Quando o litígio envolver valores superiores aos fixados em regulamento, Parágrafo único. É facultado à parte domiciliada no exterior submeter-se à
o acordo ou a transação, sob pena de nulidade, dependerá de prévia e expressa auto- mediação segundo as regras estabelecidas nesta Lei.
ri7-ação do Advogado-Geral da União e do Ministro de Estado a cuja área de compe- Are. 47. Esta Lei entra em vigor após decorridos cento e oitenta dias de sua
tência estiver afeco o assunto, ou ainda do Presidente da Câmara dos Deputados, do publicação oficial.
Senado Federal, do Tribunal de Comas da União, de Tribunal ou Conselho, ou do
Art. 48. Revoga-se o§ 2. 0 do arr. 6. 0 da Lei n. 9.469, de 10 de julho de 1997.
Procurador-Geral da República, no caso de interesse dos órgãos dos Poderes Legisla-
tivo e Judiciário ou do Ministério Público da União, excluídas as empresas públicas Brasília, 26 de junho de 2015; 194.0 da Independência e 127. 0 da República.
federais não dependentes, que necessitarão apenas de prévia e expressa autorização DILMA ROUSSEFF
dos dirigentes de que trata o caput. Este texto não substitui o publicado no DOU de 29.06.2015
§ 5.0 Na transação ou acordo celebrado diretamente pela parte ou por inter-
médio de procurador para extinguir ou encerrar processo judicial, inclusive os casos
de extensão administrativa de pagamentos postulados em juízo, as partes poderão
definir a responsabilidade de cada uma pelo pagamento dos honorários dos respec-
tivos advogados."
Art. 2. 0 O Procurador-Geral da União, o Procurador-Geral Federal, o Procura-
dor-Geral do Banco Central do Brasil e os dirigentes das empresas públicas federais
mencionadas no captttdo art. l .0 poderão autorizar, diretamente ou mediante delega-
ção, a realização de acordos para prevenírou terminar, judicial ou extrajudicialmente,
litígio que envolver valores inferiores aos fixados em regulamento.
§ 1. 0 No caso das empresas públicas federais, a delegação é restrita a órgão cole-
giado formalmente constituído, composto por pelo menos um dirigente estatutário.
§ 2. 0 O acordo de que trata o caput poderá consistir no pagamento do débito
em parcelas mensais e sucessivas, até o limite máximo de sessenta.
§ 3. 0 O valor de cada prestação mensal, por ocasião do pagamento, será acres-
cido de juros equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de
Custódia-SELIC para títulos federais, acumulada mensalmente, calculados a partir
do mês subsequente ao da consolidação até o mês anterior ao do pagamento e de um
por cento relativamente ao mês em que o pagamento estiver sendo efetuado.
§ 4. 0 lnadimplida qualquer parcela, após trinca dias, instaurar-se-á o processo
de execução ou nele prosseguir-se-á, pelo saldo."
Are. 45. O Decreto n. 70.235, de 6 de março de J972, passa a vigorar acrescido
do seguinte are. 14-A:
"Arr. 14-A. No caso de determinação e exigência de créditos tributários da União
cujo sujeito passivo seja órgão ou entidade de direito público da Administração Pública
Federal, a submissão do litígio à composição extrajudicial pela Advocacia-Geral da
A NEXO 4 - EMENDA REGIMENTAL 18,
DE 1 7 DE D EZEMBRO DE 2014,
DO SUPERIOR T RIBUNAL DE JUSTIÇA -
A LTERAÇÃO DO REGIMENTO INTERNO

Arr. 1.0 O Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça passa a vigorar


acrescido dos seguintes dispositivos:

"TÍTULO VII-A
DOS PROCESSOS ORIUNDOS DE ESTADOS ESTRANGEIROS

CAPÍTULO J

Da homologação de sentença estrangeira


Art. 216-A. Ê atribuição do Presidente do Tribunal homologar sentença estran-
geira, ressalvado o disposto no art. 216-K.
§ 1.O Serão homologados os provimentos não judiciais que, pela lei brasileira,
tiverem natureza de sentença.
§ 2.0 As sentenças estrangeiras poderão ser homologadas parcialmente.
Art. 216-B. A sentença estrangeira não terá eficácia no Brasil sem a prévia ho-
mologação do Superior Tribunal de Justiça.
Art. 216-C. A homologação da sentença estrangeira será proposta pela parre
requerente, devendo a petição inicial comeras requisitos indicados na lei processual,
bem como os previstos no art. 216-D, e ser instruída com o original oucópiaautenri-
cada da decisão homologanda e de outros documentos indispensáveis, devidamente
534 1 C:UJ.{Sü Dê ARBITRAGEM
ANF.XO 4- EMENDA REGI MENTAL 18, DE 17 DE DF.7.EM8RO DE 2014 1 535

traduzidos por trad u ror oficial ou juramentado no Brasil e chancelados pela au raridade CAPÍTULO li
consular brasileira competente, quando fo r o caso. Da concessão de exequatur a cartas rogatórias
Arr. 216-D. A senccn ça estrangeira deverá:
Are. 216-0. t'. atribuição do Presidente conceder exequatur a cartas rogatórias,
I - ter sido proferida por autoridade competente; ressalvado o disposto no art. 2 16-T.
II - conter elementos que comprovem terem sido as partes regularmente citadas § 1. o Será concedido exequatur à carta rogacória que tiver por objeto atos deci-
ou ter sido legalmente verificada a revelia; sórios ou não decisórios.
III - ter transitado em julgado. § 2.º Os pedidos de cooperação jurídica internacional que tiverem por objeto
Art. 216-E. Se a petição inicial não preencher os requisitos exigidos nos artigos atos que não ensejem juízo deJiberatório do Superior Tribunal ~e Justiça'. ~in~ que
anteriores ou apresentar defeitos ou irregularidades que dificultem o julgamento denominados de carta rogatória, serão encaminhados ou devolvidos ao M1msteno da
do mérito, o Presidente assinará prazo razoável para que o requerente a emende ou Justiça para as providências necessárias ao cumprimento por auxílio direto.
complete. Art. 2 16-P Não será concedido exequatur à carta rogatória que ofender a sobe-
Parágrafo único. Após a intimação, se o requerente ou o seu procurador não rania nacional, a dignidade da pessoa humana e/ou a ordem püblica.
promover, no prazo assinalado, ato ou diligência que lhe for determinada no curso Art. 21 6-Q. A parte requerida será in timada para, no prazo de quinze dias,
do processo, será este arquivado pelo Presidente. impugnar o pedido de concessão do exequatur.
Art. 216-F. Não será homologada a sentença emangeira que ofender a soberania § 1. o A medida solicitada por carta rogatória poderá ser realizada sem ouvir a
nacional, a dignidade da pessoa humana e/ou a ordem públ ica. parte requerida, quando sua intimação prévia puder resultar na ineficiência da coo-
Art. 216-G. Admitir-se-á a tutela de urgência nos procedimentos de homolo- peração internacional.
gação de sentença estrangeira. § 2. o No processo de concessão do exequatur, a defesa somente poderá versar
Art. 21 6-H. A parte interessada será citada para, no prazo de quinze dias, con- sobre a autenticidade dos documentos, a inteligência da decisão e a observância dos
testar o pedido. requisitos previstos neste Regimento.
Parágrafo único. A defesa somente poderá versar sob re a inteligência d a de- Art. 2 16-R. Revel ou incapaz a parte requerida, dar-se-lhe-á curador especial.
cisão alienígena e a observância dos requisitos indicados nos arrs. 216-C, 216-D Art. 216-5. O Ministério Público Federal terá vista dos autos nas cartas rogató-
e216-F. rias pelo prazo de dez dias, podendo impugnar o pedido de concessão do exequatur.
Are. 216-I. Revel ou incapaz o requerido, dar-se-lhe-á curador especial, que será Art. 21 6-T. Havendo impugnação ao pedido de concessão de exequatitra carta
pessoalmente notificado. rogatória de ato decisório, o Presidente poderá determinar a distribuição dos autos
Arr. 216-J. Apresentada contestação, serão admitidas réplica e tréplica em cinco do processo para julgamento pela Corte Especial.
dias. Are. 216-U. Das decisões do Presidente ou do relator na concessão de exequatur
Art. 2 16-K. Comcstado o pedido, o processo será distribuído para julgamento a carta rogatória caberá agravo.
pela Corte Especial, cabendo ao relator os demais atos relativos ao andamento e à Art. 216-V. Após a concessão do exequatur, a carta rogatória será remetida ao
instrução d o processo. Juízo Federal competente para cumprimento.
Parágrafo único. O relator poderá decidir monocraticamente nas hipóteses em § 1.º Das decisões proferidas pelo Juiz Federal competente no cumprimento
que já houver jurisprudência consolidada da Corte Especial a respeito do tema. da carta rogatória caberão embargos, que poderão ser opostos pela parte in ter~ssada
Art. 216-L. O Ministério Público Federal terá vista dos autos pelo prazo d e dez ou pelo Ministério Público Federal no prazo de dez dias, julgando-os o Presidente
dias, podendo impugnar o pedido. deste Tribunal.
Are. 216-M. Das decisões do Presidente ou do relator caberá agravo. § 2. o Os embargos de que trata o parágrafo anterior poderão versar sobre qualquer
Art. 216-N. A sentença estrangeira homologada será executada por carta de ato referente ao cumprimento da carta rogatória, exceto sobre a p rópria concessão da
sentença no Juízo Federal competente. medida ou o seu mtrito.
536 1 CURSO DE ARBITRAGEM

Are. 216-\V/. Da decisão que julgar os embargos cabe agravo.


Parágrafo único. O Presidente ou o relator do agravo, quando possível, poderá
ordenar diretamente o atendimento à medida solicitada.
Are. 216-X. Cumprida a carta rogatória ou verificada a impossibilidade de seu
cumprimento, será devolvida ao Presidente deste Tribunal no prazo de dez dias, e ele
a remeterá, em igual prazo, por meio do Ministério da Justiça ou do Ministério das
Relações Exteriores, à autoridade estrangeira de origem."
Are. 2. 0 O art. 67 do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça passa
A NEXO 5- CONCILIAÇÃO E
a vigorar acrescido dos seguintes incisos:
M EDIAÇÃO NO CóDIGO DE
"Art67. (...)
XXXI-Sentença Estrangeira (SE); PROCESSO CIVIL DE 2015
XXX.11-Carta Rogatória (CR)."
Are. 3.° Fica revogada a Resolução STJ n. 9 de 4 de maio de 2005.
Are. 4. 0 Esta emenda regimental entra cm vigor na data de sua publicação no
Diário da Justiça eletrônico.

LEI 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015


Novo Código de Processo Civil
Artigos do CPC/2015 relacionados a
CONCILIAÇÃO e MEDIAÇÃO

PARTE GERAL

LIVROI
DAS NORMAS PROCESSUAIS CIVIS

TÍTULO ÚNICO
DAS NORMAS FUNDAMENTAIS E DAAPUCAÇÃO DAS NORMAS
PROCESSUAIS

CAPÍTULO 1
DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL

Art. 3.º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.


§ 1. 0 É permitida a arbitragem, na forma da lei.
§ 2.º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos
conflitos.
538 1 CURSO DEARBITKAGEM
t ANEXO 5- CONCILlAÇAO F. MEDIAÇÃO NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 1 539

§ 3. 0 A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de con- LIVROIII


flitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros DOS SUJEITOS DO PROCESSO
do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.
Art. 6.0 Todos os sujeitos do processo devem cooperar encre si para que se obte- TÍTULO 1
nha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. DAS PARTES E DOS PROCURADORES

LIVRO li CAPÍTULO li
DA FUNÇÃO JURISDICIONAL DOS DEVERES DAS PARTES
E DE SEUS PROCURADORES
TÍTULO IIJ
SEÇÃO UI
DA COMPET~NCIA INTERNA
DAS DESPESAS, DOS HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS E DAS MULTAS
CAPÍTULO 11
DA COOPERAÇÃO NAOONAL Art. 90. Proferida sentença com fundamento em desistência, em renúncia ou
em reconhecimento do pedido, as despesas eos honorários serão pagos pela parte que
Art. 69. O pedido de cooperação jurisdicional deve ser prontamente atendido,
desistiu, renunciou ou reconheceu.
prescinde de forma específica e pode ser executado como:
§ 1.0 Sendo parcial a desistência, a renúncia ou o reconhecimento, a responsa-
I - auxílio direto; bilidade pelas despesas e pelos honorários será proporcional à parcela reconhecida, à
II - reunião ou apensamento de processos; qual se renunciou ou da qual se desistiu.
lII - prestação de informações; § 2. 0 Havendo transação e nada tendo as partes disposto quanto às despesas,
IV - atos concertados entre os juízes cooperantes. estas serão divididas igualmente.
§ 1. 0 As cartas de ordem, precatória e arbitral seguirão o regime previsto neste § 3.o Se a transação ocorrer antes da sentença, as partes ficam dispensadas do
Código. pagamento das custas processuais remanescentes, se houver.
§ 2.º Os aros concertados entre os juízes cooperantes poderão consistir, além de § 4. 0 Se o réu reconhecer a procedência do pedido e, simultaneamente, cumprir
otmos, no estabelecimento de procedimento para: integralmente a prestação reconhecida, os honorários serão reduzidos pela metade.

I - a prática de citação, intimação ou notificação de aro; TÍTULO IV


II - a obtenção e apresentação de provas e a coleta de depoimentos; DO JUIZ E DOS AUXILIARES DA JUSTIÇA
III - a efetivação de tutela provisória;
IV - a efetivação de medidas e providências para recuperação e preservação de CAPÍTULO l
empresas; DOS PODERES, DOS DEVERES
E DA RESPONSABILIDADE DO JUIZ
V -a facilitação de habilitação de créditos na falência e na recuperação judicial;
VI - a centralização de processos repetitivos; Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
VII- a execução de decisão jurisdicional. incumbindo-lhe:
. ~ 3. 0 ~ pedido de cooperação judiciária pode ser realizado entre órgãos jurisdi- I - assegurar às partes igualdade de tratamento;
c1ona1s de diferences ramos do Poder Judiciário. 11- velar pela duração razoável do processo;
540 1 CURSO DE ARBITRAGEM ANEXO 5 - C:ONCILlAÇÁO E MEDIAÇÃO NO CÓDIGO DE PROCESSO CIV(L 1 541

III-prevenirou reprimir qualquer ato contrário àdignidadeda justiça e indeferir § 3. 0 Nos tribunais, a arguição a que se refere o§ 1. 0 será disciplinada pelo
postulações meramente protelatórias; regimento interno.§ 4.0 O disposto nos§§ 1. 0 e 2.0 não se aplica à arguição de im-
lV -determinar codas as medidas indutivas, coercitivas, mandamencais ou sub- pedimento ou de suspeição de testemunha.
-rogatórias necessárias para asseguraro cumprimento de ordem judicial, inclusive nas
ações que renham por objeto prestação pecuniária; CAPÍTULO Ili
DOS AUXILIARES DA JUSTIÇA
V - promover, a qualquer tempo, a aurocomposição, preferencialmente com
auxílio de conciliadores e mediadores judiciais;
Art. 149. São auxiliares da Justiça, além de outros cujas atribuições sejam determi-
VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de nadas pelas normas de oro-anização judiciária, o escrivão, o chefe de secretaria, o oficial
prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade de justiça, o perito, o depisitário, o administrador, o intérprete, o tradutor, o mediador,
à cutela do direito; 0 conciliador judicial, o partidor, o distribuidor, o contabilista e o regulador de avarias.

VII - exercer o poder de polícia, requisitando, quando necessário, força policial,


além da segurança interna dos fóruns e tribunais; SEÇÃO!
DO ESCRIVÃO, DO CHEFE
Vlll-decerminar, aqualquercempo, o comparecimento pessoal das panes, para
DE SECRETARIA E DO OFICIAL D
inquiri-las sobre os fatos da causa, hipótese em que não incidirá a pena de confesso;
E JUSTIÇA
IX-determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de
outros vícios processuais; Art. 154. Incumbe ao oficial de justiça:
X- quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o 1- fazer pessoalmente citações, prisões, penhoras, arrestas e demais diligências
Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados próprias do seu ofício, sempre que possível na presença de 2 (duas) testemunhas,
a que se referem o art. 5.o da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985, e o art. 82 da Lei certificando no mandado o ocorrido, com menção ao lugar, ao dia e à hora;
nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, para, se for o caso, promover a propositura da II-executar as ordens do juiz a que estiver subordinado;
ação coletiva respectiva. III - entregar o mandado em cartório após seu cumprimento;
Parágrafo único. A dilação de prazos prevista no inciso VI somente pode ser IV - auxiliar o juiz na manutenção da ordem;
determinada antes de encerrado o prazo regular.
V - efetuar avaliações, quando for o caso;
CAPÍTULO 11 VI - certificar, em mandado, proposta de autocomposição apresentada por
qualquer das partes, na ocasião de realização de aro de comunicação que lhe couber.
DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO
Parágrafo único. Certificada a proposta de aucocomposição prevista no inciso
Are. 148. Aplicam-se os motivos de impedimento e de suspeição: VI, o juiz ordenará a incimação da parte contrária para manifestar-se, no prazo de
I - ao membro do Ministério Público; 5 (cinco) dias, sem prejuízo do andamento regular do processo, entendendo-se o
silêncio como recusa.
II - aos auxiliares da justiça;
IH - aos demais sujeitos imparciais do processo. SEÇÃO V
0
§ 1. A parte interessada deverá arguir o impedimento ou a suspeição, cm peti- DOS CONCILIADORES
ção fundamentada e devidamente instruída, na primeira oportunidade em que Jhe EMEDIADORES JUDICIAIS
couber falar nos autos.
Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de con-
§ 2. 0 O juiz mandará processar o incidente em separado e sem suspensão do Aicos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação
processo, ouvindo o arguido no prazo de 15 (quinze) dias e facultando a produção e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a
de prova, quando necessária. au tocom posição.
542 1 CURSO DE ARBITRAGEM ANEXO 5 - CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO NO c(mIGO LJE PROCESSO CJVIL 1 543

. § 1. 0 A composição e a organização dos centros serão definidas pelo respectivo § 3. 0 Do credenciamento das câmaras e do cadastro de conciliadores e media-
tnbunal, observadas as normas do Conselho Nacional de Justiça. dores constarão todos os dados relevantes para a sua atuação, cais corno o número de
§ 2. 0 O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver processos de que participou, o sucesso ou insucesso da atividade, a matéria sobre a
vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o licío-io, sendo vedada qual versou a controvérsia, bem corno outros dados que o tribunal julgar relevantes.
a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação ;ara que as partes § 4. 0 Os dados colhidos na forma do§ 3.0 serão classificados sistematicamente
conciliem. pelo tribunal, que os publicará, ao menos anualmente, para conhecimento da popu-
§ 3.0 O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em quehouvervínculo lação e para fins estatísticos e de avaliação da conciliação, da mediação, das câmaras
anterior entre as partes, auxiliará aos inreressadosa compreender as questões eos inte- privadas de conciliação e de mediação, dos conciliadores e dos mediadores.
resses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, § 5.0 Os conciliadores e mediadores judiciais cadastrados na forma do caput, se
identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos. advogados, estarão impedidos de exercer a advocacia nos juíws em que desempenhem
Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da inde- suas funções.
pendência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da § 6.0 O tribunal poderá optar pela criação de quadro próprio de conciliadores
oralidade, da informalidade e da decisão informada. e mediadores, a ser preenchido por concurso público de provas e címlos, observadas
§ 1.0 A confidencialidade estende-se a rodas as informações produzidas no curso as disposições desce Capítulo.
do procedimento, cujo teor não poderá ser utilizado para fim diverso daquele previsto Are. 168. As partes podem escolher, de comum acordo, o conciliador, o mediador
por expressa deliberação das partes. ou a câmara privada de conciliação e de mediação.
§ 2.0 Em razão do dever de sigilo, inerente às suas funções, o conciliador e o § 1. 0 O conciliador ou mediador escolhido pelas partes poderá ou não estar
mediador, assim como os membros de suas equipes, não poderão divulgar ou depor cadastrado no tribunal.
acerca de faros ou elementos oriundos da conciliação ou da mediação.
§ 2. 0 Inexistindo acordo quanto à escolha do mediador ou conciliador, haverá
§ 3.o Admire-se a aplicação de técnicas negociais, com o objetivo de proporcionar distribuição entre aqueles cadastrados no registro do tribunal, observada a respectiva
ambiente favorável à autocomposição.
formação.
§ 4. 0 A mediação e a conciliação serão regidas conforme a livre autonomia dos
§ 3.0 Sempre que recomendável, haverá a designação de mais de um mediador
in recessados, inclusive no que diz respeito à definição das regras procedimentais.
ou conciliador.
Art. 167. Os conciliadores, os mediadores e as câmaras privadas de conciliação
Art. 169. Ressalvada a hipótese do art. 167, § 6.0 , o conciliador e o mediador
e mediação serão inscritos cm cadastro nacional e em cadastro de tribunal de justiça
receberão pelo seu trabalho remuneração prevista em rabeia fixada pelo tribunal,
ou de tribunal regional federal, que manterá registro de profissionais habilitados, com
conforme parâmetros estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça.
indicação de sua área profissional.
§ 1.0 A mediação e a conciliação podem ser realizadas como crabalhovoluntário,
§ 1.0 Preenchendo o requisi co da capacitação mínima, por meio de curso realizado
observada a legislação pertinente e a regulamentação do tribunal.
por entidade credenciada, conforme parâmetro curricular definido pelo Conselho
Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça, o conciliador ou 0 § 2.0 Os tribunais determinarão o percentual de audiências não remuneradas que
mediador, com o respectivo certificado, poderá requerer sua inscrição no cadastro deverão ser suportadas pelas câmaras privadas de conciliação e mediação, com o fim
nacional e no cadastro de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal. de atender aos processos em que deferida gratuidade da justiça, como contrapartida

§ 2.0 Efetivado o registro, que poderá ser precedido de concurso público, o tribu-
de seu credenciamento.
nal remeterá ao diretor do foro da comarca, seção ou subseção judiciária onde acuará Arr. 170. No caso de impedimento, o conciliador ou mediador o comunicará
o conciliador ou o mediador os dados necessários para que seu nome passe a constar imediatamente, de preferência por meio eletrônico, e devolverá os autos ao juiz do
da respectiva lista, a ser observada na distribuição alternada e aleatória, respeitado 0 processo ou ao coordenador do centro judiciário de solução de conflitos, devendo
princípio da igualdade dentro da mesma área de atuação profissional. este realizar nova distribuição.
544 1 CURSO OE AlU31TRAGEM
+ ANEXO 5 - CONCll.lAÇÃO E MEDIAÇÃO NO CÓDIGO OE PROCESSO CIVIL 1 545

Parágrafo único. Se a causa de impedimento for apurada quando já iniciado o LIVRO IV


procedimento, a atividade será interrompida, lavrando-se ata com relatório do ocorrido DOS ATOS PROCESSUAIS
e soliciração de distribuição para novo conciliador ou mediador.
An. 171. No caso de impossibilidade temporária do exercício da função, o TÍTULO 1
conciliador ou mediador informará o faco ao centro, preferencialmente por meio DA FORMA, DO TEMPO
eletrônico, para que, durante o pcrfodo em que perdurar a impossibilidade, não haja E DO LUGAR DOS ATOS PROCESSUAIS
novas distribuições.
CAPÍTULO lll
Art. 172. O conciliador e o mediador ficam impedidos, pelo prazo de 1 (um) ano,
DOS PRAZOS
contado do término da t'tlcima audiência em que acuaram, de assessorar, representar
ou patrocinar qualquer das partes.
SEÇÃO!
Are. 173. Será excluído do cadastro de conciliadores e mediadores aquele que:
DISPOSIÇÕES GERAIS
I - agir com dolo ou culpa na condução da conciliação ou da mediação sob sua
Are. 221. Suspende-se o curso do prazo por obstáculo criado em detrimento da
responsabilidade ou violar qualquer dos deveres decorrentes do are. 166, §§ 1.0 e 2.0 ;
parte ou ocorrendo qualquer das hipóteses do are. 313, devendo o prazo ser restituído
II - atuar em procedimento de mediação ou conciliação, apesar de impedido por tempo igual ao que faltava para sua complementação.
ou suspeito. Parágrafo único. Suspendem-se os prazos durante a execução de programa
§ 1. 0 Os casos previstos neste artigo serão apurados cm processo administrativo. instituído pelo Poder Judiciário para promover a autocomposíção, incumbindo aos
§ 2. 0 O juiz do processo ou o juiz coordenador do centro de conciliação e tribunais especificar, com antecedência, a duração dos trabalhos.
mediação, se houver, verificando atuação inadequada do mediador ou conciliador, TÍTULO li
poderá afastá-lo de suas atividades por até 180 (cento e oitenta) dias, por decisão DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS
fundamentada, informando o fato imediatamente ao tribunal para instauração do CAPÍTULO li
respectivo processo administrativo. DA CITAÇÃO
Are. 174. A União, os Estados, o Distrito Federal eos Municípios criarão câma- Arr. 250. O mandado que o oficial de justiça tiver de cumprir conterá:
ras de mediação e conciliação, com atribuições relacionadas à solução consensual de I - os nomes do autor e do citando e seus respectivos domicílios ou residências;
conflitos no âmbito administrativo, cais como: II - a finalidade da citação, com rodas as especificações constantes da petição
I - dirimir conflitos envolvendo órgãos e entidades da administração pública; inicial, bem como a menção do prazo para contestar, sob pena de revelia, ou para
embargar a execução;
II- avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, por meio de
conciliação, no âmbito da administração pública; III -a aplicação de sanção para o caso de descumprimento da ordem, se houver;
IV - se for o caso, a intimação do citando para comparecer, acompanhado de
III-promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento de conduta.
advogado ou de defensor pt'tblico, à audiência de conciliação ou de mediação, com a
Are. 175. As disposições desta Seção não excluem outras formas de conciliação e menção do dia, da hora e do lugar do comparecimento;
mediação cxtrajud iciaís vinculadas a órgãos institucionais ou realizadas por intermédio V - a cópia da petição inicial, do despacho ou da decisão que deferir tutela
de profissionais independentes, que poderão ser regulamentadas por lei específica. provisória;
Parágrafo único. Os dispositivos desta Seção aplicam-se, no que couber, às VI - a assinatura do escrivão ou do chefe de secretaria e a declaração de que o
câmaras privadas de conciliação e mediação. subscreve por ordem do juiz.
546 1 CURSO DE ARBITRAGEM ANEXO 5 - CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO NO C(>DIGO OE PROCESSO CIVlL 1 54 7

PARTE ESPECIAL CAPÍTULO V


DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO
LIVROI OU DE MEDIAÇÃO
DO PROCESSO DE CONHECIMENTO
Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso
E DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou
de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu
TÍTULO 1 com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.
DO PROCEDIMENTO COMUM § 1. 0 O conciliador ou mediador, onde houver, amará necessariamente na
audiência de conciliação ou de mediação, observando o disposto neste Código, bem
CAPÍTULO [I como as disposições da lei de organização judiciária.
§ 2.0 Poderá haver mais de uma sessão destinada à conciliação e à mediação, não
DA PETIÇÃO INICIAL
podendo exceder a 2 (dois) meses da data de realização da primeira sessão, desde que
necessárias à composição das partes.
SEÇÃOI
§ 3.0 A intimação do autor para a audiência será feita na pessoa de seu advogado.
DOS REQUISffOS DA PETIÇÃO INICIAL § 4. 0 A audiência não será realizada:
1-se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição
Art. 319. A petição inicial indicará:
consensual;
l - o juízo a que é dirigida; II-quando não se admitir a autocomposição.
II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profis- § 5. 0 O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na aurocomposí-
são, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional ção, e o réu deverá fazê-lo, por petição, apresentada com l O(dez) dias de antecedência,
da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; contados da dara da audiência.
§ 6.o Havendo lirísconsórcio, o desinteresse na realização da audiência deve ser
III - o faro e os fundamentos jurídicos do pedido;
manifestado por rodos os lítisconsortes.
IV - o pedido com as suas especificações; § 7.0 A audiência de conciliação ou de mediação pode realizar-se por meio
V - o valor da causa; eletrônico, nos termos da lei.
VI-as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; § 8.0 O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de
conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado
VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou
com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da
de mediação. causa, revertida em favor da União ou do Estado.
§ 1.° Caso não disponha das informações previstas no inciso I], poderá o autor, § 9. 0 As partes devem estar acompanhadas por seus advogados ou defensores
na petição inicial, requerer ao juiz diligências necessárias a sua obtenção. públicos.
§ 2.0 A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações § l O. A parte poderá constituir representante, por meio de procuração específica,
com poderes para negociar e transigir.
a que se refere o inciso II, for possível a cfração do réu.
§ 11. A aurocom posição obtida será reduzida a termo e homologada por sentença.
§ 3. 0 A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto no
§ 12. A pauta das audiências de conciliação ou de mediação será organizada de
inciso II desce artigo se a obtenção de rais informações tomar impossível ou excessi- modo a respeitar o intervalo mínimo de 20 (vime) minutos entre o início de uma e
vamente oneroso o acesso à justiça. o início da seguinte.
548 1 CURSO o.EARBl1'RAGEM ANEXO 5 - CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO NO CÚDJGO DE PROCESSO CJVIL 1 549

CAPÍTULOVr Are. 359. Instalada a audiência, o juiz tentará conciliar as partes, independen-
DA CONTESTAÇÃO temente do emprego anterior de outros métodos de solução consensual de conRitos,
como a mediação e a arbitragem.
Art. 335. O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15 (quinze)
dias, cujo termo inicial será a data: CAPÍTULO XII
I - da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de con- DAS PROVAS
ciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não houver
aurocomposição;
SEÇÃO IJ
II-do protocolo do pcdidodecancdamentodaaudiênciadeconciliaçãoou de DA PRODUÇÃO ANTECIPADA
mediação apresentado pelo réu, quando ocorrera hipótese do art. 334, § 4. 0 , inciso I; DA PROVA
III - prevista no art. 23 I, de acordo com o modo como foi feita a citação, nos
demais casos. Are. 38 l. A produção antecipada da prova será admitida nos casos em que:
0
§ 1. No caso de licisconsórcio passivo, ocorrendo a hipótese do art. 334, § 6. 0 , 0 I - haja fundado receio de que venha a tornar-se impossível ou muito difícil a
termo inicial previsto no inciso II será, para cada u m dos réus, a data de apresentação verificação de cercos fatos na pendência da ação;
de seu respeccivo pedjdo de cancelamento da aud iência. II - a prova a ser produzida seja suscetível de viabilizar a autocomposição ou
§ 2.º Quando ocorrer a hipótese do are. 334, § 4. inciso II, havendo litiscon-
0 , oucro meio adequado de solução de conflito;
sórcio passivo e o autor desistir da ação em relação a réu ainda não citado, o prazo III - o prévio conhecimento dos furos possa justificar ou evitar o ajuizamento
para resposta correrá da data de intimação da decisão que homologar a desistência. de ação.
Are. 340. Havendo alegação de incompetência relativa ou absoluta, a contesta- § 1.0 O arrolamento de bens observará odisposco nesta Seção quando tiver por
ção poderá ser protocolada no foro de domicílio do réu, fato que será imediatamente finalidade apenas a realização de documentação e não a prática de aros de apreensão.
comunicado ao juiz da causa, preferencialmente por meio eletrônico. § 2. 0 A produção antecipada da prova é da competência do juízo do foro onde
0
§ 1. A contestação será .submetida a livre distribuição ou, se o réu houver sido esta deva ser produzida ou do foro de domicílio do réu.
eirado por meio de carta precarória, juntada aos aucos dessa cana, seguindo-se a sua § 3. 0 A produção antecipada da prova não previne a competência do juízo para
imediata remessa para o juízo da causa. a ação que venha a ser proposta.
0
.§ 2_. Reconhecida a competência do foro indicado pelo réu, o juízo para o qual § 4. 0 O juízo estadual cem competência para produção antecipada de prova
for d1stnbufda a contestação ou a carta precacória será considerado prevemo. requerida em face da União, de entidade autárquica ou de empresa pública federal
0
§ 3. Alegada a incompetência nos termos do caput, será suspensa a realização se, na localidade, não houver vara federal.
da audiência de conciliação ou de mediação, se tiver sido designada. § 5.0 Aplica-se o disposto nesta Seção àquele que pretender justificar a existência
0
§ 4. Definida a competência, o juízo competente designará nova data para a de algum faro ou relação jurídica para simples documento e sem caráter contencioso,
audiência de conciliação ou de mediação. que exporá, em petição circunstanciada, a sua intenção.

CAPÍTULO XI TÍTULO li
DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA
EJULGAMENTO CAPÍTULO 1
Are. 358. No dia e na hora designados, o juiz declarará aberra a audiência de DISPOSIÇÕES GERAIS
instrução e julgamento e mandará apregoar as partes e os respeccivos advogados, bem Are. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo
como ou eras pessoas que dela devam participar. com os artigos previstos neste Título:
550 1 CURSO DEARRITRAGEM ANEXO 5- CONCILIAÇÃO F, MEDIAÇÃO NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 1 551

1- as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de § 2. 0 O Ministério Púhlico será intimado para comparecer à audiência, e a De-
obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa; fensoria Pública será intimada sempre que houver parte beneficiária de gratuidade
da justiça.
II - a decisão homologarória de autocomposição judicial;
III - a decisão homologatória de aurocomposição extrajudicial de qualquer § 3. 0 O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se
fizer necessária à efetivação da tutela jurisdicional.
natureza;
§ 4. 0 Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União,
IV - o formal e a certidão de partilha, cxcl usi vamence cm relação ao inventariante,
de Estado ou do Discrico Federal e de Município onde se situe a área objeto do litígio
aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal;
poderão ser intimados para a audiência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse
V -o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários no processo e sobre a existência de possibilidade de solução para o conflito possessório.
tiverem sido aprovados por decisão judicial; § 5. 0 Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio sobre propriedade de imóvel.
VI- a sentença penal condenatória transitada em julgado;
VII - a sentença arbitral; CAPÍTULO X
VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; DAS AÇÕES DE FAMÍLIA
IX- a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta
Art. 694. Nas ações de família, rodos os esforços serão empreendidos para a
rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça;
solução consensual da controvérsia, devendo o juiz dispor do auxílio de profissionais
X-VETADO de ou eras áreas de conhecimento para a mediação e conciliação.
§ 1.0 Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será citado no jufw cível para o Parágrafo único. A requerimento das partes, o juiz pode determinar a suspen-
cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de 15 (quinze) dias. são do processo enquanto os litigantes se submetem a mediação extrajudicial ou a
§ 2.0 A aucocomposição judicial pode envolver sujeito estranho ao processo e atendimento multidisciplinar.
versar sobre relação jurídica que não renha sido deduzida cm juízo. Are. 695. Recebida a petição inicial e, se for o caso, tomadas as providências
referentes à tutela provisória, o juiz ordenará a citação do réu para comparecer à au-
TÍTULO Ili diência de mediação e conciliação, observado o disposto no are. 694.
DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS § 1.0 O mandado de citação conterá apenas os dados necessários à audiência e
deverá estar desacompanhado de cópia da petição inicial, assegurado ao réu o direito
CAPÍTULO Ili de examinar seu conteúdo a qualquer tempo.

DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS § 2.0 A citação ocorrerá com antecedência mínima de 15 (quinze) dias da data
designada para a audiência.
SEÇÃO li § 3. 0 A citação será feita na pessoa do réu.

DA MANUTENÇÃO E DA REINTEGRAÇÃO DE POSSE § 4. 0 Na audiência, as partes deverão estar acompanhadas de seus advogados ou
de defensores pt'tblicos.
Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a tur- Are. 696. A audiência de mediação e conciliação poderá dividir-se em cantas
bação afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, ances sessões quanras sejam necessárias para viabili?.ar a solução consensual, sem prejuízo
de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de de providências jurisdicionais para evitar o perecimento do direito.
mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, queobservaráodisposco nos§§ 2.0 e4.°. Arr. 697. Não realizado o acordo, passarão a incidir, a partir de então, as normas
§ 1_o Concedida a liminar, se essa não for executada no prazo de 1 (um) ano, a do procedimento comum, observado o are. 335.
contar da data de distribuição, caberá ao juiz designar audiência de mediação, nos Are. 698. Nas ações de família, o Ministério Público somente intervirá quando
termos dos§§ 2. 0 a 4.o deste artigo. houver interesse de incapaz e <lc.,-verá ser ouvido previamente à homologação de acordo.
552 1 CURSO LJEAIU~ITRAGEM

CAPÍTULO IV
DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS
PARA REALIZAR QUALQUER EXECUÇÃO

Seção 1
Do Título Executivo

Arr. 784. São títulos executivos extrajudiciais: A NEXO 6- A RTIGOS DO


I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debêmure e o cheque;
II- a escritura pt'tblica ou outro documento público assinado pelo devedor;
CPC/2015 RELACIONADOS
III -o documento particular assinado pdo devedor e por 2 (duas) testemunhas;
IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela
À A RBITRAGEM
Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transa tores ou por
conciliador ou mediador credenciado por tribunal;
V - o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real
de garantia e aquele garantido por caução;
VI- o contrato de seguro de vida em caso de morte; PARTE GERAL
VII- o crédito decorrente de foro e laudêmio;
UVROI
VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de
imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomfnio; DAS NORMAS PROCESSUAIS CIVIS
IX-a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Dis-
trito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; TÍTULO ÚNICO
X-o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condo- DAS NORMAS FUNDAMENTAIS
mínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, E DA APUCAÇÃO DAS
desde que documentalmente comprovadas; NORMAS PROCESSUAIS
XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores
de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas CAPÍTULO 1
tabelas estabelecidas em lei;
DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL
XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir
força executiva. Are. 3. 0 Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.
§ 1. 0 A propositura de qualquer ação relativa a débito constante de título exe-
§ 1.0 É permitida a arbitragem, na forma da lei.
cutivo não inibe o credor de promover-lhe a execução.
§ 2. 0 O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos
§ 2. 0 Os títulos executivos extrajudiciais oriundos de país estrangeiro não de-
conflitos.
pendem de homologação para serem executados.
§ 3. 0 O título estrangeiro só terá eficácia executiva quando satisfeitos os requi- § 3.0 A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de con-
sitos de formação exigidos pela lei do lugar de sua celebração e quando o Brasil for flitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros
indicado como o lugar de cumprimento da obrigação. do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.
5 54 1 CURSO DE ARl31TRAGEM ANEXO 6-ARTIGOS DO Cl'C/201 S RELACIONADOS À ARBITRAGEM 1 555

LIVRO li LIVROIV
DA FUNÇÃO JURISDICIONAL DOS ATOS PROCESSUAIS

TÍTULO Ili TÍTULO 1


DA COMPETÊNCIA INTERNA DA FORMA, DO TEMPO E DO LUGAR
DOS ATOS PROCESSUAIS
CAPÍTULO J
CAPÍTULO 1
DA COMPETÊNCIA
DA FORMA DOS ATOS PROCESSUAlS
SEÇÃOI
SEÇÃOI
DISPOSIÇÕES GERAIS
DOS ATOS EM GERAL
Are. 42.As causas cíveis serão processadas e decididas pelo juíznoslimitesdesua
competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei. Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de
justiça os processos:
CAPÍTULO li I - em que o exija o interesse público ou social;
DA COOPERAÇÃO NACIONAL II-que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união
Art. 69. O pedido de cooperação jurisdicional deve ser prontamente atendido, estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes;
prescinde de forma específica e pode ser executado como: III -em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade;
1- auxílio direto; )V-que versem sobre arbitragem, indusivesobrecumprimento de carta arbitral,
II - reunião ou apensamemo de processos; desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o
juízo.
III - prestação de informações;
§ 1 .º O direito de consultar os amos de processo que tramite em segredo de
IV - atos concertados entre os juízes cooperantes.
justiça e de pedir certidões de seus atos é rescrito às partes e aos seus procuradores.
§ 1. 0 As cartas de ordem, precatóría e arbitral seguirão o regime previsto neste
§ 2.o O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz certi-
Código.
dão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e de partilha resultantes de
§ 2. 0 Os atos concertados entre os juízes cooperantes poderão consistir, além de divórcio ou separação.
outros, no estabelecimento de procedimento para:
I - a prática de citação, intimação ou notificação de ato; TÍTULO ll
II - a obtenção e apresentação de provas e a coleta de depoimentos; DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS
lll- a efetivação de cutela provisória;
CAPÍTULO 1
IV - a efetivação de medidas e providências para recuperação e preservação de
empresas; DISPOSIÇÕES GERAIS
V - a facilitação de habilitação de créditos na falência e na recuperação judicial; Are. 237. Será expedida carta:
VI- a centralização de processos repetitivos; I -de ordem, pelo tribunal, na hipótese do§ 2° do art. 236;
Vil- a execução de decisão jurisdicional. II - rogatória, para que órgão jurisdicional estrangeiro pratique ato de coope-
§ 3. 0 O pedido de cooperação judiciária pode ser realizado entre órgãos jurisdi- ração jurídica internacional, relativo a processo em curso perante órgão jurisdicional
cionais de diferentes ramos do Poder Judiciário. brasileiro;
556 1 CURSO DP. ARRITRAGEM ANEXO 6-AIUIGOS DO CPC/2015 REI.ACIONAOOS À ARBITRAGEM 1 557

lJ( - precacória, para que órgão jurisdicional brasileiro pratique ou determine PARTE ESPECIAL
o cumprimento, na área de .sua competência territorial, de ato relativo a pedido de
cooperação judiciária formulado por órgão jurisdicional de competência territorial LIVRO 1
diversa; DO PROCESSO DE CONHECIMENTO
IV -arbitral, para que órgão do Poder Judiciário pratique ou determine o cum- E DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
primento, na área de sua competência territorial, de ato objeto de pedido de coope-
ração judiciária formulado por jufao arbícral, inclusive os que importem efetivação TÍTULO 1
de tutela provisória.
DO PROCEDIMENTO COMUM
Parágrafo único. Se o ato relativo a processo em curso na justiça federal ou cm
tribunal superior houver de ser praticado em local onde não haja vara federal, a carta CAPÍTULO VI
poderá ser dirigida ao juízo estadual da respectiva comarca.
DA CONTESTAÇÃO

CAPÍTULO Ili Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:
DAS CARTAS I - inexistência ou nulidade da citação;
II -incompetência absoluta e rdativa;
Are. 260. São requisitos das cartas de ordem, prccatória e rogatória:
III - incorreção do valor da causa;
1- a indicação dos juízes de origem e de cumprimento do ato;
IV - inépcia da petição inicial;
Il-o inteiro teor da petição, do despacho judicial e do instrumento do mandato
conferido ao advogado; V -perempção;
III - a menção do ato processual que lhe constitui o objeto; Vl - litispendência;
IV - o encerramento com a assinatura do juiz. VII - coisa julgada;
§ 1. 0 O juiz mandará trasladar para a carta quaisquer outras peças, bem como VIII - conexão;
instruí-la com mapa, desenho ou gráfico, sempre que esses documentos devam ser IX- incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;
examinados, na diligência, pelas partes, pelos peritos ou pelas testemunhas.
X- convenção de arbitragem;
§ 2. 0 Quando o objeto da carta for exame pericial sobre documento, este será
XI- ausência de legitimidade ou de interesse processual;
remetido cm original, ficando nos autos reprodução fotográfica.
XII - falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar;
§ 3. 0 A carta arbitral atenderá, no que couber, aos requisitos a que se refere o
caput e será instruída com a convenção de arbitragem e com as provas da nomeação XJII- indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.
do árbitro e de sua accitaçao da função. § 1.0 Verifica-se a lirispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação
Are. 267. O juiz recusará cumprimento acarta precacóriaouarbitral, devolvendo- anteriormente ajuizada.
-a com decisão motivada quando: § 2.o Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma
I - a carta não estiver revestida dos requisitos legais; causa de pedir e o mesmo pedido.
II - faltar ao juiz competência em razão da matéria ou da hierarquia; § 3.o Há litispendência quando se repete ação que está em curso.
III - o juiz tiver dúvida acerca de sua autenticidade. § 4. 0 Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão
Parágrafo único. No caso de incompetência em razão da matéria ou da hierar- transitada em julgado.
quia, o juiz deprecado, conforme o ato a ser praticado, poderá remeter a carta ao juiz § 5.0 Excetuadas a convenção de arbitragem e a incompetência relativa, o juí1,
ou ao tribunal competente. conhecerá de ofício das matérias enumeradas neste artigo.
558 1 CURSO OP.ARBITRAGEM ANEXO 6-Altl'IGOS DO CPC/2015 RF.I.AClONi\DOS À ARBl'l'RAGEM 1 559

§ 6. 0 A ausência de alegação da existência de convenção de arbitragem, na forma § 1.0 Nas hipóteses descritas nos incisos II e lll, a parte será intimada pessoal-
prevista neste Capítulo, implica aceitação da jurisdição estatal e renúncia ao juízo mente para suprir a falta no prazo de 5 (cinco) dias.
arbitral. § 2.0 No caso do§ 1. 0 , quanto ao inciso II, as partes pagarão proporcionalmente
as custas, e, quanto ao inciso III, o autor será condenado ao pagamento das despesas
CAPÍTULO XI e dos honorários de advogado.
DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO § 3. 0 O juiz conhecerá de ofício da matéria constante dos incisos IV, V, Vl e IX,
EJULGAMENTO cm qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não ocorrer o trânsito em julgado.
§ 4. 0 Oferecida a contestação, o amor não poderá, sem o consentimento do
Are. 358. No dia e na hora designados, o juiz declarará aberra a audiência de réu, desistir da ação.
instrução e julgamento e mandará apregoar as partes e os respectivos advogados, bem § 5.0 A desistência da ação pode ser apresentada até a sentença.
como outras pessoas que dela devam participar.
§ 6. 0 Oferecida a contestação, a extinção do processo por abandono da causa
Are. 359. Instalada a audiência, o juiz tentará conciliar as partes, independen- pelo autor depende de requerimento do réu.
temente do emprego anterior de outros métodos de solução consensual de conflitos, § 7.0 Interposta a apelação em qualquer dos casos de que tratam os incisos deste
como a mediaçáo e a arbitragem. arcigo, o juiz terá 5 (cinco) dias para retratar-se.

CAPÍTULO XIII TÍTULO li


DA SENTENÇA E DA COISA JULGADA DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA

Seção 1 CAPÍTULO l
Disposições Gerais DISPOSIÇÕES GERAIS

Are. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: Art. 515. São círulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo
1- indeferir a petição inicial; com os artigos previstos neste Título:
II -o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de
obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa;
III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor aban-
donar a causa por mais de 30 ( trinta) dias; II- a decisão homologacória de autocomposição judicial;
III - a decisão homologatória de aucocomposição extrajudicial de qualquer
IV -verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento
narureza;
válido e regular do processo;
IV -o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inven cariante,
V - reconhecer a existência de perernpção, de licispendência ou de coisa julgada;
aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal;
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;
V-o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários
VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando tiverem sido aprovados por decisão judicial;
o juízo arbitral reconhecer sua compen~ncia;
VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado;
VIII - homologar a desistência da ação; VII- a sentença arbitral;
IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;
disposição legal; e
IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta
X- nos demais casos prescritos neste Código. rogaró ria pelo Superior Tribunal de J usriça;
560 1 CURSO DE ARBITRAGEM ANEXO 6 -ARTIGOS DO Cl'C/201 S RELAClONAIJOS À ARR!TMGF.M 1 561

X- o acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo quando do julgamento de TÍTULO li


acidentes e fatos da navegação. DOS RECURSOS
§ I .0 Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será eirado no juízo cível para o
cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de 15 (quinze) dias. CAPÍTULO li
0
§ 2. A aucocomposição judicial pode envolver sujeito estranho ao processo e DA APELAÇÃO
versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo.
Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante: Are. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo.
I - os tribunais, nas causas de sua competência originária; § J •0 Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos ime-
II- o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição; diatamente após a sua publicação a sentença que:
III -o juízo cível corn peren te, quando se tratar de sentença penal condenatória, I - homologa divisão ou demarcação de cerras;
de sentença arbitral, de sentença estrangeira ou de acórdão proferido pelo Tribunal II - condena a pagar alimentos;
Marítimo.
Ili - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos
Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o exequence poder.i. optar do executado;
pelo juízo do acuai domicílio do executado, pelo juízo do local onde se ~ncontrem os IV -julga procedente o pedido de instituição de arbitragem;
bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local onde deva ser executada a obrigação
de fazer ou de não fazer, casos cm que a remessa dos autos do processo será solicitada V - confirma, concede ou revoga tutela provisória;
ao juízo de origem. VI - decreta a interdição.
LIVRO Ili § 2. o Nos casos do§ 1. 0 , o apelado poderá promover o pedido de cumprimento
DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E DOS provisório depois de publicada a sentença.
MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS § 3.º O pedido de concessão de efeicosuspcnsivo nas hipóteses do§ 1. 0 poderá
ser formulado por requerimento dirigido ao:
TÍTULO f I _ rribuna1, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua
DA ORDEM DOS PROCESSOS E DOS PROCESSOS distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la;
DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DOS TRIBUNAIS li - relator, se já distribuída a apelação.
§ 4. o Nas hipóteses do § 1. 0 , a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo
CAPÍTULOVl
DA HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO ESTRANGEIRA
relator se O apelante demonstrar a probabilidade de provimento d~ ~e~urso ou :e,
sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de d1fic1l reparaçao.
E DA CONCESSÃO DO EXEQUATUR À CARTA ROGATÓRIA
CAPÍTULO Ili
Art. 960. A homologação de decisão estrangeira será requerida por ação de
homologação de decisão estrangeira, salvo disposição e8pecial em sentido contrário DO AGRAVO DE INSTRUMENTO
prevista em tratado.
Are. LO 15. Cabe agravo de instrumento contra as decisões incerlocutórias que
§ 1. 0 A decisão interlocucória estrangeira poderá ser executada no Brasil por
meio de carta rogatória. versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
§ 2. 0 A homologação obedecerá ao que dispuserem os tratados em vigor no Brasil
e o Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. II - mérito do processo;
0
§ 3. A homologação de decisão arbitral e8trangeira obedecerá ao disposto em III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
tratado e em lei, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições deste Capítulo. IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
5 62 1 CURSO DE ARBITRAGEM

V - re~eição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de


sua revogaçao;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX- admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X~- concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à A NEXO 7- ENUNCIADOS DA
execuçao;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do are. 373, § 1. º; 1 JORNADA PREVENÇÃO E SOLUÇÃO
XII - Vetado;
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
EXTRAJUDICIAL DE LITÍGIOS
Parágrafo único. Também caberá agravo de insrrumentocomra decisões interlo-
cutórias proferidas na fase de liquidaçãodesentençaou de cumprimento desenrença,
no processo de execução e no processo de inventário.

LIVRO COMPLEMENTAR
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
DISPOSIÇÕES FINAIS ETRANSITÓRIAS
Reconhecida a importância dos métodos extrajudiciais de prevenção e solu-
A~t. 1.061. O§ 3. 0 do art. 33 da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996 (Lei ção de litígios, em claro sinal de sua valorização, o Centro de Estudos Judiciários
de Arb1 tragem), passa a vigorar com a seguinte redação: do Conselho da Justiça Federal, a exemplo das profícuas e relevantes Jornadas de
Art. 33. Direito Civil, bem como das mais recentes e igualmente produtivas Jornadas de
. § 3. 0 A ~ecretação d~ nulidade da sentença arbitral também poderá ser requerida Direito Comercial, promoveu o encontro de Professores, Profissionais, Especia-
na 1mpugnaça~ ~o cumprimento da sentença, nos termos dos arts. 525 e ss. do Código listas e Estudiosos sobre as alternativas adequadas de resolução de conflitos, na
de Processo C1v1l, se houver execução judicial." (revogado 13) qual foram previamente apresentadas propostas de enunciados que, após imensos
debates realizados entre os dias 22 e 23 de agosto de 2016, resultou na aprovação
de alguns deles.
A Coordenação Geral da Comissão Científica ficou a cargo do Ministro Luis
Felipe Salomão, divididos os trabalhos em crês comissões: Arbitragem; Mediação e Ou-
tras Formas de Solução de Conflitos, aos cuidados, respectivamente, de Min. Antônio
Carlos Ferreira, do Prof. Kazuo Watanabe e do Prof. Joaquim Falcão. Apresentamos
propostas, e fomos honrados com a participação na Comissão de Arbitragem, tendo
algumas propostas acolhidas.
Pela excelência dos debates, e relevância dos resultados alcançados, apre-
sentamos a seguir os Enunciados aprovados por cada uma das Comissões, sendo
que, quando pertinente (e especialmente naqueles relativos à Arbitragem), é feita
13. C~mo referído inicialmente no texto da Lei de Arbitragem (nota de rodapé n. l, do item 17.1,
na sequência ao Enunciado aprovado, a indicação do Capítulo deste" Curso", no
acima), emend~mos que este arr. 1.061 do CPC/2015 está revogado pela Lei 13.129/2015
(reforma da Lei de Arbitragem). qual o tema é tratado.
r
564 1 CURSO DE ARBITRAGEM ANEXO 7 - ENUNCIADOS LJA I JORNADA PREVENÇÃO E SOLUÇÃO 1 565

ARBITRAGEM 11. Nas arbitragens envolvendo a Administração Pública, é permitida a adoção


1. A sentença arbitral não está sujeita à ação rescisória. (Capítulo 13- icem 13.1 das regras internacionais de comércio e/ou usos e costumes aplicáveis às respectivas
Invalidação da sentença arbitral- um novo olhar ao instituto) áreas técnicas. (Capítulo 14- item 14.5 Arbitragem e a Administração Pública)
2. Ainda que não haja cláusula com promissória, a Administração Pública pode 12. A existência de cláusula com promissória não obsta a execução de título exe-
celebrar compromisso arbitral. (Capítulo 14- item 14.5 Arbitragem e a Adminis- cutivo extrajudicial, reservando-se à arbitragem o julgamento das matérias previstas
tração Pública) no art. 917, incs. I e VI, do CPC/2015.
3. A carta arbitral poderá ser processada diretamente pelo órgão do Poder Judi- 13. Podem ser objeto de arbitragem relacionada à Administração Pública, den-
ciário do foro onde se dará a efetivação da medida ou decisão. (Capítulo l O- icem tre outros, litígios relativos: I - ao inadimplemento de obrigações contratuais por
10.5 Da carta arbitral - o Código de Processo Civil de 2015 e a reforma da Lei de qualquer das partes; II - à recomposição do equilíbrio econômico-financeiro dos
Arbitragem) contratos, cláusulas financeiras e econômicas. (Capítulo 14 - item 14.5 Arbitragem
e a Administração Pública)
4. Na arbitragem, cabe à Administração Pública promover a publicidade prevista
no art. 2°, §3°, da Lei n. 9.307/1996, observado o disposto na Lei n. 12.527/2011,
podendo ser mitigada nos casos de sigilo previstos em lei, a juízo do árbitro (CapftuJo
MEDIAÇÃO
14 - irem 14.5 Arbitragem e a Administração Pública) 14. A mediação é método de tratamcn to adequado de controvérsias que deve ser
incentivado pelo Estado, com ativa participação da sociedade, como forma de acesso
5. A arguição de convenção de arbitragem pode ser promovida por petição sim-
à Justiça e à ordem jurídica justa.
ples, a qualquer momento antes do término do prawda contestação, sem caracterizar
predusão das matérias de defesa, permitido ao magistrado suspender o processo até 15. Recomenda-se aos órgãos do sistema dt: Justiça firmar acordos de coope-
a resolução da questão. (Capítulo 6 - item 6.5 Dos efeitos da convenção arbitral) ração técnica entre si e com Universidades, para incentivo às práticas dos métodos
consensuais de solução de conflitos, bem assim com empresas geradoras de grande
6. O processamento da recuperação judicial ou a decretação da falência não
volume de demandas, para incentivo à prevenção e à solução extrajudicial de litígios.
autoriza o administrador judicial a recusar a eficácia da convenção de arbitragem, não
impede a instauração do procedimento arbitral, nem o suspende. (Capítulo 14-item 16. O magistrado pode, a qualquer momento do processo judicial, convidar
14.3 Arbitragem no Direito Falimentar) as partes para tentativa de composição da lide pela mediação extrajudicial, quando
entender que o conflito será adequadamente solucionado por essa forma.
7. Os árbitros ou instituições arbitrais não possuem legitimidade para figurar
17. Nos processos administrativo e judicial, é dever do Estado e dos operadores
no polo passivo da ação prevista no art. 33, caput, e§ 4°, da Lei 9.307/1996, no
do Direito propagar e estimular a mediação como solução pacífica dos conflitos.
cumpri menta de sentença arbitral e em tutelas de urgência. (Capítulo 13- item 13. 4
Procedimento e efeitos da desconsticuição da sentença arbitral) 18. Osconflicos entre a administração pública federal direta e indirerae/ouences
da federação poderão ser solucionados pela Câmara de Conciliação e Arbitragem da
8. São vedadas às instituições de arbitragem e mediação a utilização de expres-
Administração Pública Federal - CCAF - órgão integrante da Advocacia-Geral da
sões, símbolos ou afins típicos ou privativos dos Poderes da República, bem como a
União, via provocação do interessado ou comunicação do Poder Judiciário.
emissão de carreiras de identificação para árbitros e mediadores.
19. O acordo realizado perante a Câmara de Conciliação e Arbitragem da
9.Asentençaarbicral é hábil para inscrição, arquivamento, anotação, averbação
Administração Pública Federal - CCAF - órgão integrante da Advocacia-Geral da
ou registro em órgãos de registros públicos, independentemente de manifestação do
União - constitui título executivo extrajudicial e, caso homologado judicialmente,
Poder Judiciário. (Capítulo 12 - item 12.3 Da eficácia da sentença arbitral declara- título executivo judicial.
tória, constitutiva ou executiva lato sensu)
20. Enquanto não for instalado o Centro Judiciário de Solução de Conflitos e
10. O pedido de declaração de nulidade da sentença arbitral formulado em Cidadania (Cejusc), as sessões de mediação e conciliação processuais e pré-processuais
impugnação ao cumprimento da sentença deve ser apresentado no prazo do art. 33 poderão ser realizadas por meio audiovisual, em módulo itinerante do PoderJudiciário
da Lei 9.307/1996. (Capítulo 2-icem 12.4.4 Defesa [12.4 Da execução da sentença ou em entidades credenciadas pelo Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de
arbitral condenatória de quantia cerra em dinheiro]) Solução de Conflitos (Nupemec), no foro em que tramitar o processo ou no foro
-
566 1 CURSODEARBITRAGEM ANEXO 7 - ENUNCIADOS DAI JORNADA PREVENÇÃO E SOLUÇÃO 1 567

competente para o conhecimento da causa, no caso de mediação e conciliação pré- 29. Caso qualquer das partes comprove a realização de mediação ou conciliação
-processuais. antecedente à propositura da demanda, o magistrado poderá dispensar a audiência
21. É facultado ao magistrado, em colaboração com as partes, suspender o pro- inicial de mediação ou conciliação, desde que renha tratado da questão objeto da ação
cesso judicial enquanto é realizada a mediação, conforme o are. 313, II, do Código e tenha sido conduzida por mediador ou conciliador capacitado. (Capítulo 2- item
de Processo Civil, salvo se houver previsão contratual de cláusula de mediação com 2.6.3 Encaminhamento à mediação ou conciliação como etapa inicial do processo)
termo ou condição, situação em que o processo deverá permanecer suspenso pelo 30. Nas mediações realizadas gracuiramen te em programas, câmaras e núcleos de
prazo previamente acordado ou até o implemento da condição, nos termos do art. 23 prática jurídica de faculdades de direito, os professores, orientadores e coordenadores
da Lei n.13.140/2015. (Capítulo 3- item 3.5.3 O início da mediação privada) que não estejam atuando ou participando no caso concreto, não estão impedidos de
22. A expressão "sucesso ou insucesso" do arr.167, § 3°, do Código de Processo assessorar ou representar as partes, em suas especialidades.
Civil não deve ser interpretada como quantidade de acordos realizados, mas a partir 31. É recomendável a existência de uma advocacia pública colaborativa entre os
de uma avaliação qualitativa da satisfação das partes com o resultado e com o proce- entes da federação e seus respectivos órgãos públicos, nos casos em que haja interesses
dimento, fomentando a escolha da câmara, do conciliador ou do mediador com base públicos conflitantes/divergentes. Nessas hipóteses, União, Estados, Distrito Federal
nas suas qualificações e não nos resultados meramente quantitativos. e Municípios poderão celebrar pacto de não propositura de demanda judicial e de
23. Recomenda-se que as faculdades de direito mantenham estágios supervi- solicitação de suspensão das que estiverem propostas com estes, integrando o polo
sionados nos escritórios de prática jurídica para formação em mediação e conciliação passivo da demanda, para que sejam submetidos à oportunidade de diálogo produtivo
e promovam parcerias com entidades formadoras de conciliadores e mediadores, e consenso sem interferência jurisdicional.
inclusive tribunais, Ministério Público, OAB, defensoria e advocacia pública. 32. A ausência da regulamentação prevista no art. l 0 da Lei n. 9.469/1997 não
24. Sugere-se que as faculdades de direito instituam disciplinas autônomas e obsta a autocomposição por parte de integrante da Advocacia-Geral da União e diri-
obrigatórias e projetos de extensão destinados à mediação, à conciliação e à arbitra- gentes máximos das empresas públicas federais nem, por si só, torna-a inadmissível
gem, nos termos dos arts. 2°, § 1°, VIII, e 8°, ambos da Resolução CNE/CES n. 9, para efeito do inc. II do§ 4° do are. 334 do CPC/2015.
de 29 de setembro de 2004. 33. É recomendável a criação de câmara de mediação a fim de possibilitar a
25. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios têm o dever de abertura do diálogo, incentivando e promovendo, nos termos da lei, a regularização
criar Câmaras de Prevenção e ResoluçãoAdminisrrariva de Conflitos com atribuição das atividades sujeitas ao licenciamento ambiental que estão funcionando de forma
específica para autocomposição do litígio. irregular, ou seja, incentivar e promover o chamado "licenciamento de regulariza-
ção" ou "licenciamento corretivo". (Capítulo 3 - icem 3.4 A latitude (dimensão) da
26. É admissível, no procedimento de mediação, em casos de fundamentada
mediação)
necessidade, a participação de crianças, adolescentes e jovens- respeitado seu estágio
de desenvolvimento e grau de compreensão-quando o confli co (ou parte dele) estiver 34. Se constatar a configuração de uma notória situação de desequilíbrio entre
relacionado aos seus interesses ou direitos. as partes, o mediador deve alertar sobre a importância de que ambas obtenham,
organizem e analisem dados, estimulando-as a planejarem uma eficiente atuação na
27. Recomenda-se o desenvolvimento de programas de fomento de habilidades
negociação.
para o diálogo e para a gestão de conflitos nas escolas, como elemento formativo-
-educativo, objetivando estimular a formação de pessoas com maior competência para 35. Os pedidos de homologação de acordos extrajudiciais deverão ser feitos no
o diálogo, a negociação de diferenças e a gestão de controvérsias. (Capítulo 2- irem Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania, onde houver.
2.3 Outras formas de solução de conflitos) 36. Para estimular soluções administrativas em ações previdenciárias, quando
28. Propõe-se a implementação da cultura de resolução de conflitos por meio existir matéria de faro a ser comprovada, as partes poderão firmar acordo para a rea-
da mediação, como política pública, nos diversos segmentos do sistema educacional, bertura do processo administrativo com o objetivo de realizar, por servidor do INSS
visando auxiliar na resolução extrajudicial de conflitos de qualquer natureza, utilizando em conjunto com a Procuradoria, procedimento de justificação administrativa, pes-
mediadores externos ou capacitando alunos e professores para atuarem como facili- quisa externa e/ou vistoria técnica, com possibilidade de revisão da decisão original.
tadores de diálogo na resolução e prevenção dos conflitos surgidos nesses ambientes. 3 7. Recomenda-se a criação de câmaras previdenciárias de mediação ou im plan-
(Capítulo 2- item 2.3 Outras formas de solução de conflitos) tação de procedimentos de mediação para solucionar conflitos advindos de indefe-
__,-

568 CURSO DE ARBITRAGEM


ANEXO 7 - ENUNCIADOS DA 1 JORNADA PREVENÇÃO E SOLUÇÃO 1 5 69

rimentos, suspensões e cancelamentos de benefícios previdenciários, ampl iando 0 respectivos feitos o conteúdo das sessões, com exceção dos termos de acordo, adesão,
acesso à justiça e permitindo à administração meUior gerenciamento de seu p rocesso desistência e solicitação de encaminhamentos, para fins de ofícios. (Capítulo 3- item
de rrabalho.
3.2 Princípios norteadores da mediação)
. 38. O Estado promoverá a cultura da mediação no sistema prisional, entre 47. A menção à capacitação do mediador extrajudicial, prevista no are. 9° da
internos, como forma de possibilitar a ressocialização, a paz social e a dignidade da Lei n. 13.140/2015, indica que ele deve ter experiência, vocação, confiança dos
pessoa humana.
envolvidos e aptidão para mediar, bem como conhecimento dos fundamentos da
39. A previsão de suspensão do processo para que as partes se submetam à me- mediação, não bastando formação em outras áreas do saber que guardem relação
d iação extraj udicial deverá atender ao disposto no§ 2° do are. 334 da Lei Processual, com o mérito do conflito.
podendo o p razo set prnrrogado no caso de consenso das panes.
. . 40. Nas mediações de conflitos colerivos envolvendo políticas públicas, judi- OUTRAS FORMAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS
~1al1zados ou não, deverá s~r permicida_a participação de rodos os potencialmente 48. É recomendável que, na judicialização da saúde, previamente à propositura
interessados, dentre eles: (1) entes públicos (Pod er Executivo ou Legislativo) com de ação versando sobre a concretização do direito à saúde - fornecimento de m~~i-
co"?~ec~ncias relativas à matéria envolvida no conflito; (ii) entes privados e grupos camentos e/ou internações hospitalares-, promova-se uma etapa de compos1çao
soc1a1s diretamente afetados; (iii) Ministério Público; (lv) Defensoria Públic..-a, quando extrajudicial mediante interlocução com os órgãos estatais de saúde.
houver interesse de vulneráveis; e (v) encidades do terceiro setor representarivas que 49. Os Comitês de Resolução de Dispuras (Dispute Boards) são método de solução
acuem na matéria afeta ao conflito.
consensual de conflito, na forma prevista no§ 3° do are. 3° do Código de Processo
41. Além dos ptincfpios jáelencados noan. 2°daLei 13. 140/2015, a mediação Civil Brasileiro. (Capítulo 2 - item 2.3. Outras formas de solução de conflitos)
também deverá ser orientada pelo Princípio da Decisão Informada. (Capítulo 3-item 50. O Poder Público, os fornecedores e a sociedade deverão estimular a utilização
3.2 Prin cípios no.rreadores da mediação)
de mecanismos como a plataforma CONSUMIDOR.GOV.BR, política pública
42. O memb.ro do Ministério Público designado para exercer as funções junco criada pela Secretaria Nacional do Consumidor - Senacon e pelos Procons, com
aos centros, câmaras públicas de mediação e qualquer outro espaço em que se faça vistas a possibilitar o acesso, bem como a solução dos conAitos de consumo de forma
uso das técnicas deautocomposição, para o tratamento adequado de conflitos, deverá extrajudicial, de maneira rápida e eficiente.
ser capacüado em técnicas de mediação e negociação, bem como de construção de 51. O Estado e a sociedade deverão <::stimular as soluções consensuais nos casos
consenso.
de superendividamen coou insolvência do consumidor pessoa física, a fim de assegurar
43. O membro do Ministério Público com atribuição para o procedimento con- a sua inclusão social, o mini mo existencial e a dignidade da pessoa humana.
sensual, devidamente capacitado nos métodos negociais e au cocam positivos, quando 52. O Poder Público e a sociedade civil incentivarão a facilitação de diálogo
atuar c~mo mediador, .ficará impedido de exercer arribuições ápicas de seu órgão de dentro do âmbito escolar, por meio de políticas públicas ou parcerias público-privadas
execuçao, cabendo ral intervenção, naquele feito, a seu substituto legal.
que fomentem o diálogo sobre questões rec~rrc~tes, c~is co~o: bullying, ag~essivi-
44. Havendo ptocesso judicial em curso, a <::scolha de mediador ou câmara dade, mensalidade escolar e até aros infrac1ona1s. Tal mcent1vo pode ser feito por
P:rivada ou pú_blica de conciliação e mediação deve observar o petie::ionarnento indi- oferecimento da prática de círculos restauracivos ou ouera prática restauraciva similar,
vidual ou ~ºº!unto das partes, e:m qualquer tempo ou grau de jusisdição, respeitado como prevenção e solução dos conflitos escolares. (Capítulo 3 - icem 3.4 A laticude
o comrad1cóno. (Capítulo 2 - item 2.6.4 Particularidades da Lei 13. 140 de 26 de (dimensão) da mediação)
junho de 2015 quanto à mediação judicial)
53. Estimula-se a transação como alternativa válida do ponto de vista jurídico
~5._ ~ mediaç~o ~ conciliação são compatíveis com a recuperação j udicial. a para tornar efetiva a justiça tributária, no âmbito adminiscrativ? e ju~icia~, ~primo-
extra1ud1c1al e a falenc1a do empresário e da sociedade empresária, bem como em rando a sistemática de prevenção e solução consensual dos conflitos cnbutanos e~tre
caso~ de superencüvidam ento, observadas as restrições legais. (Capítulo 3- item 3.4 Administração Pública e administrados, ampliando, assim, a recuperação de receitas
A lattrude (dimensão) da mediação)
com maior brevidade e eficiência.
46. Os mediadores e conciliadores devem respeitar os padrões éticos de con- 54. A Administração Pública deverá oportunizar a transação por adesão nas
fidencialidade na mediação e conciliação, não levando aos magistrados dos seus hipóteses em que houver precedente judicial de observância obrigatória.
1

570 1 CURSO DE ARBITRAGEM ANEXO 7 _ ENUNCIADOS DAI JORNADA PREVENÇÃO E SOLUÇÃO 1 5 71

5 5. O Poder Judiciário e a sociedade civil deverão fomentar a adoção da advoca- providências que reparem O dano causado aos clientes, de acordo com a legislação e
cia colllborativa como prática públic-a de resolução de conflitos na área do direito de jurisprudência pertinentes. . .
familia, de modo ague os advogados das partes busquem sempre a atuação conjunta 65. O emprego dos meios consensuais de solução de c?~fltto deve ser csumu-
volcada paraenconcrar um ajuste viável, criativo e que beneficie a todos os envolvidos. 1ad o nacionalmente como política pública, podendofi ser utthzados nos Centros de
. . d .
56. As ouvidorias servem como um importante instrumento de solução extra- Referência da Assistência Social (CRAS), cujos pro ss10na'.s: pre om.mante~nente
judicial de conflitos, devendo ser estimulada a sua implantação, tanto no âmbito das psicól,ogos e assistentes sociais, locados em áreas de vulnerabilidade social, escao vol-
empresas, como da Admi niscração Pública. tados à atenção básica e preventiva.
57. As comunidades rêm autonomia para escolher o modelo próprio de mediação 66. É fundamental a atualização das matrizes curriculares dos cursos de dire!to,
co~uni~ria, não ~evend~ se submeter a padronizações o u modelos únicos. (Capfrulo bem como a criação de programas de foJrnação continuada aos ~ocences_ d.o_e'.1smo
3- item :,.4A1amude (dimensão) da mediação) superior jurídico, com ênfase na cemárica da p ~evenção e soluçao extraJud1c1al ~e
licígios e na busca pelo consenso.(Capítulo 2- item 2.3 Outras formas de soluçao
. 58. A conciliação/ mediação, em meio eletrônico, poderá ser utilizada no proce-
de conflitos)
dimento comum e em outros ritos, em qualquer tempo e grau de jurisdição.
67. Nos colégios recursais, o relator poderá, m~nocrati~amen~e, encaminhar os
59. A obrigação de estimular a adoção da conciliação, da mediação e de outros
litígios aos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Ctdadanta. .
métodos consensuais de soluça.o de conflitos prevista no § 3° do arr. 30 do Código
68. o atendimento interdisciplinar realizado por psicólogos e assistentes s~-
de Processo Civil aplica-se às entidades que promovem a aurorregulação, inclusive
ciais, no âmbito da Defensoria Pública e do Ministério Púb~i<:_o, prom~v~ a so~uçao
no âmbito dos processos administrativos que renham curso nas referidas entidades.
extrajudicial dos litígios, constituindo-se !~r~a de co?1pos1çao e admmisuaçao de
60.As vias adequadas de solução de confü cos previstas em lei, como a conciliação, conflitos complementar à mediação, conc1l1açao e arbma~em._ . . ., .
a arbitragem e a mediação, são plenamente aplicáveis à Adminiscração Pública e não
69. A Administração Pública, sobretudo na área cnbutar.1a e prev1.den.c1an_a,
se incompaàbilizam com a indisponibilidade do interesse público, diance do Novo
deve adotar, ex officio, a interpretação pacificada de normas legais e ~onsntuc1onais,
Código de Processo Civil e das autorizações legislativas pertinentes aos entes públicos.
respectivamente, no Superior Tribunal de Justiça e no Supre1~? Tribunal Feder:J,
61. Os gestores, defensores e advogados públicos que, nesta qualidade, ve- independentemente de julgamento em caso de recursos repemwos ou repercussao
nham a celebrar transações judiciais ou extrajudiciais, no âmbito de procedimento geral ou de edição de súmula vinculante. .
de conciliação, mediação o u arbitragem, não responderão civil, administrativa ou 70. Quando questionada a juridicidade das decisões tomadas ~or:11 10 de novas
criminalmente, exceto se agirem mecüanre dolo ou fraude. 7
tecnologias de resolução de controvérsias, deve-se ~tnar com parc'.mo~t~ e _postura
_ _62. Os rerresentance~ judiciais da União, autarquias, fundações e empresas receptiva, buscando valorizar e aceitar os acordos onundos dos '.11~1os ~1git~is.
publicas federais têm aurortzação legal, decorrente da Lei n. 10.259, de 12 dt'. julho 71. Tendo havido prévio e com provado req uerimenro admm1strat1vo, 1~cum_be
de 2001 para, d iretamente, conciliar, tran$igir ou desistir de recursos em quaisquer à Administração Pública o dever de comprovar em juízo que adorou as provtdênaas
processos, judiciais ou extrajudiciais, cujo valor da causa esteja dentro da alçada legais e re<1ulamentares para a aferição do direito da parte.
equivalente à dos juizados especiais federais.
63. A perspectiva da conciliação judicial, indusive por adesão, em razão ou no
;s
72. j nscicuições privadas que lidarem com mediação, c~ncili:ção e ar~itragem,
bem como com demais métodos adequados de solução de confü tos, nao deverao conter,
bojo de lncide?:e de ~esolução de Demandas Repeciri vas, écompatível com o Código tanto no título de estabelecimento, marca ou nome, dentre outros, nomenclaturas e
de Processo C1vtl (Lei n. 13. l 05, de 16 de março de 2015) e com a Lei d a Mediação figuras que se assimilem à ideia de Poder Judiciário. _
(Lei n. 13.140, de 26 de junho de 2015). 73. A educação para a cidadania constitui forma ade~uada ~e soluçao e prev~n-
64. Os dirigentes máximos de entes estatais que exploram atividade econômica ção de conflitos, na via extrajudicial, e deve ser adorad~ e 10cen~vada con:o ~olíaca
pode~1 ~e!e?ar à sua área juríd'.ca a capacidade de intervir na resolução de litígios pública privilegiada de tratamento adequado do confüto pelo sistema de JUSt1ça. ~
extra} ud1aa1s provocados por chences, em virtude de falhas ocorridas na realização de 7 4. Havendo autorização legal para a util izaçáo de métodos adequados ~e !oluç: 0
negócios, emitindo manifestação de caráter mandatário às demais áreas da instituição de controvérsias envolvendo órgãos, entidades ou pessoas jurídicas da Admmis~raçao
com a finalidade de indenizar (patrimonial e/ou exrraparrimonialmenre) ou solicitar Pública, 0 agente público deverá: (i) analisar aadmissibilidade de eventual pedido de
572 1 CURSO DEARBl'fRAGEM ANEXO 7 - ENUNCIADOS LJA I JORNALJA PREVENÇÃO E SOLlJÇÃO 1 5 73

resolução consensual do conflito; e (ii) justificar por escrito, com base em critérios 82. O Poder Público, o Poder Judiciário, as agências reguladoras e a sociedade
objetivos, a decisão de rejeitar a proposta de acordo. civil deverão estimular, mediante a adoção de medidas concretas, o uso de plataformas
75. As empresas e organizações devem ser incentivadas a implementar, em tecnológicas para a solução de conflitos de massa.
suas estruturas organizacionais, um plano estratégico consolidado para prevenção, 83. O terceiro imparcial, escolhido pelas partes para funcionar na resolução
gerenciamento e resolução de disputas, com o uso de métodos adequados de solução extrajudicial de conflitos, não precisa estar inscrito na Ordem dos Advogados do
de controvérsias. Tal plano deverá prever métricas de sucesso e diagnóstico periódico, Brasil e nem integrar qualquer tipo de conselho, entidade de classe ou associação, ou
nele inscrever-se. (Capítulo 3- icem 3.5.1 Dos mediadores)
com vistas ao constante aprimoramento. O Poder Judiciário, as faculdades de direito
e as instituições observadoras ou reguladoras das atividades empresariais devem pro- 84. O Poder Público - inclusive o Poder Judiciário- e a sociedade civil deverão
mover, medir e premiar anualmente tais iniciativas. estimular a criação, no âmbito das procuradorias municipais e estaduais, de centros
de solução de conflitos, voltados à solução de litígios entre a Administração Pública
76. As decisões proferidas por um Comitê de Resolução de Disputas (Dispute e os cidadãos, como, por exemplo, a Central de Negociação da Procuradoria-Geral
Board), quando os contratantes tiverem acordado pela sua adoção obrigatória, vin- da União. (Capítulo 3- item 3.4A latitude (dimensão) da mediação)
culam as partes ao seu cumprimento até que o Poder Judiciário ou o juízo arbitral
85. O Poder Público-inclusive o Poder Judiciário-e a sociedade civil deverão
com pecen te emitam nova decisão ou a confirmem, caso venham a ser provocados pela estimular a criação, no âmbito das entidades de classe, de conselhos de aurorregula-
parte inconformada. (Capítulo 2 - item 2.3 Outras formas de solução de conflitos) mentação, voltados para a solução de conflitos setoriais.
77. Havendo registro ou expressa autorização do juízo sucessório competente, 86. O Poder Pt'tblico promoverá a capacitação massiva em técnicas de gestão
nos autos do procedimento de abertura e cumprimento de testamento, sendo codos de conflitos comunitários para policiais militares e guardas municipais. (Capítulo
os interessados capazes e concordes, o inventário e partilha poderão ser feitos por 3- item 3.4 A latitude (dimensão) da mediação)
escritura pública, mediante acordo dos interessados, como forma de pôr fim ao 87. O Poder Público e a sociedade civil estimularão a expansão e fortalecimento
procedimento judicial. de ouvidorias dos órgãos do sistema de justiça, optando por um modelo inovador e
78. Recomenda-se aos juízes das varas de família dos tribunais onde já renham ativo, com a figura essencial de ouvídodouvídora independente das corporações a
sido im plan cadas as oficinas de parentalidade q uc as partes sejam convidadas a partici- que estão vinculados(as).
par das referidas oficinas, antes da citação nos processos de guarda, visitação e alienação
parental, como forma de fomentar o diálogo e prevenir litígios. (Capítulo 2 - item
2.6.1 Valorização dos métodos consensuais de solução de conflitos no CPC/2015)
79. O Judiciário estimulará o planejamento sucessório, com ações na área de
comunicação que esclareçam os benefícios da autonomia privada, com o fim de pre-
venir litígios e desestimular a via judiciária.
80.A utilização dos Comitês de Resolução de Disputas (Dispute Boards), com a
inserção da respectiva cláusula contratual, é recomendável para os cone raros de cons-
trução ou de obras de infraestrutura, como mecanismo voltado para a prevenção de
litígios e redução dos custos correlatos, permitindo a imediata resolução de conflitos
surgidos no curso da execução dos contratos. (Capítulo 2 - item 2.3 Outras formas
de solução de conflitos)
81. A conciliação, a arbitragem ea mediação, previstas em lei, não excluem outras
formas de resolução de conflitos que decorram da autonomia privada, desde que o
objeto seja lícito e as partes sejam capazes. (Capítulo 2 - item 2.3 Outras formas de
solução de conflitos)
Ü UTRAS OBRAS DO AUTOR

Arbitmgem - Estudos sobre a Lei 13. 129/2015, de 26-5-2015 - Organizador, em conjunto com Thiago
Rodovalho e Alexandre Freire. São Paulo: Saraiva, 2016.
Direito dm Sucessões. 5. ed. Em coaucoria com Gíselda Maria Fernandes Novaes Hironaka. São Paulo:
Ed. RT, 2013.
Do11tri11as Esm1ciais. Famílias e Sucessões. Organi:tador, em conjunto com YussefSaid CahaJi. São Paulo:
E<l. RT, 2011. vol. Ia VI.
Arrigos e capículos de livros sobre arbícragcm
Árbitro de emergência e arbitragem multiparce.~- Considerações gerais e resultado da pesquisa do grupo
de pesquisa em arbitragem da PUC-SP- Projeto II -2° Semestre de 2015. Revistllde Mediação e
Arbitragem, ano XJII, n. 51, São Paulo, our.-dez. 2016.
Lei n. 9307/96consolidadacom a lei n. 13.129/2015 -desracadasas modificações com breves comen-
rários. ln: CAHAU, Francisco José; RODOVALHO, Thiago; FREIRE, Alexandre (coords.).
Arbitragem - Estudos sob1·e a Lei 13.129, de 26-5-2015. p. 605 - 632. São Paulo: Saraiva, 2016
(ISBN 978-85-02-62529-7).
Noras sobre os rejeirados arrs. 40-A e 40-B do anteprojeto de modernização da Lei de Arbicragem. Em
coautoria com Thiago Rodovalho. ln: Cahali, Francisco José; RODOVALHO, Thiago; FREIRE,
Alexandre (coords.). Arbitragem - Estudos sobre a Lei 13.129, de 26-5-2015. p. 249 - 257. São
Paulo: Saraiva, 2016 (JSBN 978-85-02-62529-7).
O uso das ADRs nas disputas de franquia. Em coautoria <.:om Ana Cláudia Pastore e Thiago Rodovalho.
ln: Rntista Brasileira de Ai-hirragem do CBAr- Comitê Brasileiro de Arhirragem - Edição Especial
-Arbitragem e Mediação em marériade Propriedade Incclcccual, p. 156 a 170. São Paulo: Editora
Síntese, 2014 (ISSN l 806-809X).
AArbicrngem no Novo CPC-Primeiras Impressões. Em coauroria com Thiago Rodovalho. ln: FREIRE,
Alexandre; DANTAS, Bruno; NUNES, Dierle; DIDIERJR., Fredie; MEDINA, José Miguel
Garcia; FUX, Luiz; CAMARGO, Luiz Henrique Yolpe; OLIVEIRA, Pedro Miranda de (coords.).
Novas tendências do p,-ucesso civil- Estudos sobre oprojeto do novo Cúdígo de Processo Civil. Salvador:
JusPodivm, 2014. vol. 2, p. 583-604.
A vinculação dos adquirentes de cotas ou ações à cláusula compromis.~6ria estabelecida em ConcracoSociaJ
ou Estatuto- Enunciado 16 da jornada de Diráto Comercial. Revista de Mediaçiio e Arbitr(lgem,
ano X, n. 36, São Paulo, j:rn.-mar.2013.
Medidas de urgência na arbi cragem e o novo Regulamento do CAM/CCBC. Revisfll de Arbitragem e
Medi11çíío, ano IX, n. 33, São Paulo, 2012.
Arbitragem para conflitos decorrentes da dissolução da união estável. ln: Leite, Eduardo de Oliveira
(coord.). Grm1dn temlls da atualidade - Ulliáo estdvef. aspectos polêmicos e controvertidos. Rio de
Janeiro: Forense, 2009. vol. 8.
Ensaio sobre arbitragem cestamenráría no Brasil com paradigma nodireíco espanhol. Revista de Mediaçiio
e Arbim1gem, ano V, n. 17, São Paulo, abr.-jun. 2008.
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rka e,.:,~. al:ern~,riv.~,s r··f."~ ê1: ,e:,-.1 ê:::lé1s _:,2,, ;; S·J .•o:; âo .::,,~ c,:,·d' ·tos, ê, é~, c'z ;;:::nença judicial, como
rc,-,7·é,S : I•: ' 9;; "c11·,1Jr t, s<Xi'é:;;:z,::e :, ~,:e~s,:, ~' ;; ,riem ;,,;r:ô;,:c j ,,;S'.Q, No ;:,.: ,:,::, clês soluções autocom·
:·,::s·t;;.,.:;-,~ •n:~'.; ·,: ,Jzs ç;o . ·. 1ji:: it 1':,, ::r·,:o··~·ê1·S::: ,:e-= r··uv.;,rn-2:ri:e ··,:::,::rp.:,-2,::,:> o modelo charnacJo
lrríbu11,a1 MuOtiport.is, cc ,f : .-,-·,,de, .:·e o Código ele l?roc~~sso Civõ! d 0 2015. 1\J,, ~3fa'ê· ;) ·ívada,
crescentes são as diversas Iniciativas para o fortalec,rn ento da culrura da padftcaçào, lncluslve com
oferta de outras formas de solução de conflitos, como dispute board, Saci, avaliação de terceiro neu-
tro etc. E, para completar a onda de avanços a respeito, Inclusive Impulsionados pela recente Lei
13.140/2015, qualificada como o Marco Legal da Mediação, promoveu-se, em 2016, a I Jornada
Prevenção e Solução EKtraJudíclal de Litígios, pelo Centro de Estudos Judiciarias do Conselho da
Justiça Federal. com 83 Enunclçidos aprovados. A seu turno. a Arbitragem manteve o seu vigoroso
crescimento e rnereceu reforço com a reforma para modernização trazida pela Lei 13.129/2015.
Todas as h:,ovar,oes teglslatlvas e Enunciados da I Jornada no quanto pertinente escão lncorpo·
raclos nesta 6, edlÇitO e lrazidos em "Anexo· próprl oi no "Anexo 3• Lambém foram feitas rápldas
considerações a 1Pspeho da reforrna da Lei de Arbitragem. Por outro lado, diante da recepcividade
das edições anteriores, fomos fiéis à estrutura da obra, rnantlda a dídátlca e sistematização c e sern-
pre, com o objetivo ele permitir desde o primeiro contato com a matéria até o seu mais dedicado
aprofundamento. Assim, rnant1vcmos o p(Opóslro de oferecer com este Curso de Arbirragem um
método diferente de abordagem, pro~urando, Inclusive, sua adequação, com certa flexlbllfdade.
~ disclplína semestral 9era:ment{? oferecida nas faculdades, com a expectativa de contribuir com
o Professo1·na elaboraç~o de seu programa de aulas Aos alunos, pretendemos sistematizar a obra
de forma a teI uma ideia do e1onjunto e uma evolução natural do conhecimento, visualizando tam·
bém o conteúdo específico de cada cap1tl1lo Já no lníclo deste. Além disso, um roteiro de escudos é
apresentado para facllitar a compreensão, reflexão e memorizaç~o dos temas, ou seja, para serv11
como uma espécíe de escudo dirigido. Também se preter,de, com o toreiro de eswdos, oferecer
aos Professores um resumo ou mesmo urn esquema de apresentação de suas aulas Para aquel~
que pretendem mergulhar com mais profundidade nas intrincadas questões sobre Medla~ão é
Arbitragem, por Interesse prático ou acadêmico, atém do conteúdo direto dos capítulos. r,rocu
ramos indicar ~m notas e em bíhllogralia recomendada uma fonte a mal., de pesqL1fs.i, lhCluslve
com atualidades, Alnda se espera, com a forma apresentada, oferecer ao~ profl~ional!\ ül'nc1 .;lbra
e·m que rapidamente se encontre a solução de questões, material de pesquisa ou a tnrormação
desejada. Enfim, emre tantas obras de qualIdade, apresentamos nossas refléxoes neste <.:urso, com
sistematização e didática próprias, querendo ser útil tanto aos lnltlantes corno aos professores e
aos pr0fissionals da área, destacadas nesta 6.ª edição, com·o reíerido, a~ lnovaçõe lec1Jsiat1va., e
atualidades a respeito do~ temas mitados.

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