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I.
Em 14 de Fevereiro de 2013, B…, residente em …, instaurou acção executiva para
pagamento de quantia certa contra C… e D…, residentes no Porto, com vista à
obtenção do pagamento da quantia de €3.715,20.
Apresentou como título executivo um contrato de arrendamento, no qual os executados
intervêm como fiadores da arrendatária E… e diverso expediente relativo à
comunicação da falta de pagamento de rendas e resolução do contrato.
No requerimento executivo expôs os factos relativos à celebração do contrato de
arrendamento e a intervenção dos executados no mesmo como fiadores da
arrendatária, descreveu as interpelações que promoveu ou realizou dos devedores e
informou que requereu no Balcão Nacional de Arrendamento procedimento especial de
despejo contra a arrendatária no qual cumulou o pedido de despejo com o pedido de
pagamento de rendas, razão porque a presente execução é instaurada apenas contra
os fiadores.
Em 15.10.2013, no primeiro despacho proferido nos autos, foi decidido rejeitar
liminarmente a execução com fundamento na manifesta falta ou insuficiência de título
executivo, tendo-se entendido para o efeito que para haver título executivo era
necessário documento comprovativo da comunicação à arrendatária e aos fiadores do
montante das rendas em dívida, sendo que os documentos juntos não demonstram
que qualquer delas haja sido feita regularmente em conformidade com o disposto no
NRAU.
Do assim decidido, a exequente interpôs recurso de apelação, terminando as
respectivas alegações do seguinte modo:
“Conclusões:
1. A decisão da qual se recorre concluiu pela manifesta insuficiência do título dado à
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de crédito, ficando pessoalmente obrigado perante o credor – cfr. art.º 627º, n.º 1 do
C.Civil” – Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 21-03-2013, Proc. n.º
8876/09.7TBMAI-A.P1, no qual foi relator a Mma. Juiz Desembargadora Anabela Dias
da Silva.
27. Na verdade, os fiadores demandados na execução (e conforme se alcança do teor
do contrato de arrendamento oferecido ao processo executivo) renunciaram ao
benefício da excussão prévia dos bens da arrendatária e “tendo a fiança o conteúdo da
obrigação principal e cobrindo as consequências legais e contratuais da mora ou culpa
do devedor, cfr. art.º 634.º do C.Civil, é desnecessária a interpelação dos fiadores,
salvo se houver diversa estipulação”- cfr. o supra citado Acórdão da Relação do Porto.
28. A Recorrente não pode aceitar que o MM.º Juiz do tribunal a quo refira que é
“entendimento generalizado que não pode integrar o título executivo qualquer forma de
comunicação que ofereça menos garantias que as resultantes do disposto no art. 9.º,
n.º 1 do NRAU e do art. 10.º, n.s 2 e 3 do mesmo diploma …”.
29. Desde logo, pela circunstância de o entendimento generalizado a que se refere o
MMº Juiz a quo não ser tão generalizado assim, pois que é abundante a Jurisprudência
(e Doutrina) que contraria essa tendência.
30. Vejam-se a título de exemplo os seguintes arestos jurisprudenciais o citado
Acórdão da Relação do Porto, de 21-03-2013, Proc. n.º 8876/09.7TBMAI-A.P1, no qual
foi relator a MM.ª Juiz Desembargadora Anabela Dias da Silva; Acórdão da Relação do
Porto, de 23-06-2009, Proc. n.º 2378/07.6YYPRT-A.P1, no qual foi relator o MM.º Juiz
Desembargador Cândido Lemos; Acórdão da Relação de Lisboa, de 12-03-2009, Proc.
n.º 6957/2008-8, no qual foi relator a MMª Juiz Desembargadora Catarina Arêlo Manso;
Acórdão da Relação do Porto, de 16-05-2011, Proc. n.º 515/10.2TBMAI-A.P1, no qual
foi relator o MM.º Juiz Desembargador Rui Mora; Acórdão da Relação do Porto, de
12-05-2009; Acórdão da Relação do Porto de 06-10-2009; Acórdão da Relação do
Porto de 04-05-2010; Acórdão da Relação do Porto de 18-10-2011, todos disponíveis
em www.dgsi.pt.
31. Mas também não pode a aqui Recorrente aceitar o entendimento de que a doutrina
na qual se baseia a decisão recorrida seja a posição dominante, porquanto a mesma,
no limite, se reputa a um momento histórico onde ainda não existia sequer a disposição
prevista no art. 10º.5, alínea b) do NRAU.
32. A existência da norma do art. 10º.5, alínea b) do NRAU redunda na
desnecessidade de qualquer aplicação analógica como vem referido na sentença
recorrida e da desnecessidade de observação de outro prazo que não o que aqui está
expressamente estipulado para o efeito pretendido.
33. Como vem referido no citado e douto Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de
21-03-2013, Proc. n.º 8876/09.7TBMAI-A.P1, “a nossa jurisprudência tem vindo a
entender maioritariamente que o contrato de arrendamento, acompanhado da
comunicação ao arrendatário do montante das rendas em dívida, constitui (…) título
executivo não apenas contra o arrendatário, mas também relativamente aos fiadores.”
–sublinhado pelo mandatário subscritor.
34. E, em rigor, ao contrário do que vem sentenciado na decisão recorrida [onde se
refere que “a falta de um destes elementos – no caso, o comprovativo da comunicação
do montante em dívida que se pretende executar – determina a insuficiência do título
dado à execução (…)]”, “o comprovativo de comunicação ao arrendatário (e nunca ao
fiador) não serve para “demonstrar a constituição da dívida exequenda, já que ela
emerge do próprio contrato. Não poderá ser também para operar a interpelação, visto
que, tratando-se de obrigação pecuniária de montantes determinados e de prazo certo,
tal interpelação está dispensada nos termos da alínea a) do nº 2 do artigo 805º do CC.
Daí que a razão que se descortina é a de obrigar o exequente a proceder a uma
espécie de liquidação aritmética extrajudicial prévia dos montantes em dívida, de forma
a conferir maior grau de certeza quanto ao montante peticionado” – cfr. Acórdão da
Relação do Porto, de 16-05-2011, Proc. n.º 515/10.2TBMAI-A.P1, no qual foi relator o
MM.º Juiz Desembargador Rui Mora.
35. E não tendo que o fazer, em espírito aberto, de boa-fé e procurando lançar mão de
todos os meios (extrajudiciais inclusive) para receber o seu crédito, a aqui Recorrente
interpelou não apenas a arrendatária nos termos da alínea b) do nº.5 do art. 10º do
NRAU, mas interpelou ainda, por carta registada com aviso de recepção, os fiadores
daquela – os quais, à imagem da primeira, se furtaram ao seu recebimento.
36. Pelo exposto, entende a Recorrente que a decisão recorrida é violadora das
normas jurídicas adjectivas que não deveriam ter obstado ao recebimento do
requerimento executivo e prosseguimento da acção executiva [arts. 812º-Eº.1, a) e
820º do CPC, na redacção vigente à data da entrada do requerimento executivo], mas
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incorre ainda em erro na determinação da lei/norma aplicável ao caso sub judice [art.
10º.5, b) do NRAU e não o art. 10º.3 e 4 do mesmo diploma legal].
Termos em que deve a douta sentença recorrida ser revogada e, em consequência, ser
substituída por outra que conclua pela suficiência do título oferecido aos autos, ordene
o recebimento do requerimento inicial executivo e determine o prosseguimento dos
autos de execução para pagamento de quantia certa.
Não foi apresentada resposta.
Cumpre decidir.
II.
As conclusões das alegações de recurso demandam deste Tribunal que resolva as
seguintes questões:
i) Se o contrato de arrendamento, em conjunto com o documento comprovativo da
comunicação ao arrendatário do montante das rendas em dívida, forma título executivo
também contra os fiadores do arrendatário para obter o pagamento desse montante.
ii) Na afirmativa, se o título executivo se basta com o comprovativo da comunicação ao
arrendatário ou exige o comprovativo da comunicação ao próprio fiador em termos
similares ao da comunicação ao arrendatário.
iii) Se no caso essa comunicação foi feita.
III.
1. Os factos que relevam para a decisão a proferir são os seguintes:
2. Por contrato datado de 14 de Abril de 2009, a exequente declarou ceder a E…, para
habitação, o gozo do seu imóvel sito na Rua …, nos. …/…, no Porto, pelo prazo de 5
anos, mediante a renda mensal de €450,00.
3. Os aqui executados C… e D…, ele residente na Rua … e ela na Rua …, no Porto,
intervieram no contrato declarando que, solidariamente com a arrendatária, assumiam
o cumprimento de todas as cláusulas do contrato, seus aditamentos e renovações,
renunciando ao benefício de excussão prévia.
4. A exequente requereu a notificação judicial avulsa da arrendatária, a realizar no
endereço do arrendado, de que as rendas relativas ao contratos estavam por pagar
desde Fevereiro de 2012, inclusive, num total vencido até à data do requerimento de
€3.200,00, e que por esse motivo resolvia o contrato devendo ser-lhe entregue o
imóvel do final do terceiro mês posterior.
5. Em 28.11.2012 foi lavrada certidão negativa na qual consta que não foi possível
concretizar a notificação por não ter sido possível encontrar a notificanda e não haver a
certeza de que a mesma resida ainda no local arrendado.
6. Em 28.01.2013 a exequente expediu carta registada com aviso de recepção dirigida
à arrendatária, para o endereço do arrendado, comunicando-lhe o valor das rendas em
dívida e pedindo o seu pagamento.
7. Esta carta foi devolvida com a indicação “objecto não reclamado”.
8. Em 28.01.2013 a exequente expediu cartas registadas com aviso de recepção
dirigidas aos executados D… e C…, para os respectivos endereços constantes do
contrato, informando-os do montante das rendas em dívida, que o contrato de
arrendamento foi resolvido e que iria encetar diligências para desocupação do imóvel e
cobrança das rendas em dívida.
9. A carta destinada à executada D… foi devolvida com a indicação “objecto não
reclamado”.
10. A carta destinada ao executado C… foi devolvida com a indicação “mudou-se”.
IV.
A situação que se nos apresenta nestes autos remete para as seguintes questões
jurídicas:
-O título executivo previsto, em relação ao arrendatário, no artigo 14.º-A do Novo
Regime do Arrendamento Urbano (NRAU) aprovado pela Lei n.º 6/2006, de 27 de
Fevereiro, com as alterações da Lei n.º 31/2012, de 14 de Agosto, também se estende
ao fiador do arrendatário?
-Na afirmativa, para o fiador ser executado com base nesse título basta que o contrato
de arrendamento seja acompanhado de comprovativo da comunicação ao arrendatário
do montante em dívida ou é necessário também o comprovativo da comunicação ao
próprio fiador?
A norma jurídica que prevê este título executivo é o referido artigo 14.º-A do NRAU que
sob a epígrafe “título para pagamento de rendas, encargos ou despesas” dispõe o
seguinte:
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desse prazo”, com o que se concorda plenamente. Mas depois sustenta que a
finalidade normativa do preceito se prende “com a necessidade de proceder a uma
liquidação aritmética, prévia e extraprocessual, do valor das rendas em dívida de modo
a tornar claro os valores que o exequente considera compreendidos na prestação
devida, tendo em conta a tendencial perdurabilidade do contrato de arrendamento e o
carácter periódico da obrigação de pagamento da renda”.
Com todo o devido respeito, não vemos como é que isto pode constituir a finalidade
normativa de um preceito legal destinado a atribuir a um documento força de título
executivo. De facto, independentemente da reacção do arrendatário a essa
comunicação, mesmo que o arrendatário responda ao senhorio impugnando que o seu
débito ascenda ao valor comunicado, o senhorio poderá sempre instaurar a execução
pelos valores que entende serem-lhe devidos, designadamente pela singela razão de
que entre o momento do envio da comunicação e a instauração da execução se
continuaram a vencer rendas e nenhum motivo há que impeça que as mesmas sejam
logo pedidas na execução. Sendo assim, para que serviu a comunicação? Nessa
lógica, aparentemente, apenas para o arrendatário ter mais tempo para preparar a
oposição à execução. Não parece que este possa ser a finalidade normativa de um
preceito legal e, em rigor, tal só é normalmente afirmado pela dificuldade em ver
mesmo qual possa ser essa finalidade.
Tanto quanto julgamos, a lógica da norma tem de se encontrar nas circunstâncias da
elaboração do NRAU e nas finalidades a que se propôs o legislador. Tratou-se de uma
reforma que procurou, mais uma vez, tornar mais flexível o mercado do arrendamento,
agilizando as situações de actualização da renda, as formas de extinção do contrato,
os procedimentos para a recuperação do gozo arrendado pelo senhorio. A criação de
diversos títulos executivos para obtenção da entrega do arrendado e de um título
executivo para a obtenção do pagamento das rendas é parte da realização dessas
preocupações. Contudo, como o arrendamento é um contrato com particular incidência
e acuidade social e particularmente importante para a satisfação do direito à habitação,
o seu regime jurídico é sempre o resultado de um compromisso decidido pelo
legislador entre o objectivo último da liberalização quase total do contrato e a
impossibilidade de gerir as consequências sociais e económicas que isso traria para
milhares de arrendatários. Daí que muitas das suas normas sejam exactamente isso: a
definição de um compromisso entre o que se pretendia e o que se considera
socialmente aceitável.
A comunicação ao arrendatário do montante em dívida insere-se nessa lógica. A
comunicação não serve nenhum objectivo específico, não serve rigorosamente para
nada: o arrendatário sabe seguramente o que pagou e, consequentemente, o que está
em dívida, como sabe o dia em que devia ter efectudo o pagamento em falta e que
desde essa data se encontra em mora, não necessita pois que lhe façam qualquer
liquidação da dívida. A comunicação não tem qualquer vantagem ao nível nem da
certificação, nem da segurança, nem da certeza de que a dívida que vai ser exigida se
constituiu, é certa, é liquida, é exigível, que seriam afinal os objectivos que poderiam
condicionar a atribuição ao documento de força executiva. O objectivo da norma é, a
nosso ver, um só: na medida em que se consente a passagem imediata à acção
executiva sem as delongas do processo declarativo, quer-se com isso criar mais um
compasso de espera, mais um interregno no exercício coercivo do crédito das rendas,
dar ao arrendatário mais uma oportunidade para pagar e evitar a execução,
regularizando a situação contratual.
Ora não vislumbramos razão para excluir o fiador, que não obstante haja renunciado
ao benefício da excussão prévia continua a ser um mero garante da obrigação, dessa
vantagem, desta oportunidade que a norma dá ao arrendatário. Pelas razões antes
mencionadas quanto à boa fé com que o credor deve exercer o seu direito à satisfação
do crédito, afigura-se-nos mesmo que em relação ao arrendatário a comunicação ao
fiador não é exigível por igualdade de razões, ela é exigível por maioria de razões.
Se analisarmos o regime jurídico da fiança encontramos, aliás, todo um conjunto de
norma cuja ideia força é a de que o fiador não pode ser colocado em condições mais
gravosas do que o devedor principal (artigos 631.º, 635.º, 636.º, 637.º, 642.º do Código
Civil), pelo que dificilmente se pode conceber que o NRAU pudesse introduzir um
tratamento mais desfavorável do fiador (ser executado sem a diligência prévia que o
devedor principal pode exigir) sem introduzir alterações naquele regime jurídico, que
seria naturalmente a localização sistemática indicada, para mais quando nada justifica
que só por ser garante de um arrendatário, o fiador do arrendatário tenha um regime
diverso dos demais fiadores[8].
A nosso ver, sendo esta uma situação de título executivo definido especialmente pela
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V.
Pelo exposto, acordam os juízes do Tribunal da Relação em julgar o recurso
improcedente e, em consequência, negando provimento à apelação, confirmam a
decisão recorrida.
Custas pela recorrente.
*
Porto, 24 de Abril de 2014.
Aristides Rodrigues de Almeida (Relator por vencimento; Rto136)
Teresa Santos (vencida, conforme declaração de voto que junto).
José Amaral
______________
[1] A norma abandonou ainda o último número do artigo 15.º onde se encontrava,
autonomizando-se e passando a constituir, sozinha, um artigo da Lei.
[2] Que vem mesmo elencada nas alegações de recurso, pelo que nos dispensamos
de a indicar aqui de novo, remetendo para as conclusões supra.
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[3] Sem prejuízo de o mesmo não se aplicar ao presente processo executivo, conforme
resulta do n.º 3 do artigo 6.º da Lei n.º 41/2013, de 26 de Junho.
[4] Nesse particular, o contrato de arrendamento não se distingue do contrato de
empreitada ou do contrato de compra e venda do vinho a produzir nos anos seguintes
ao contrato, relativamente aos quais não nos consta que alguma vez hajam sido
aceites como títulos executivos para obter o pagamento do preço da obra (a realizar)
ou do preço do vinho (que ainda não se produziu). Mas distingue-se, por exemplo, do
contrato de compra e venda em que o efeito translativo do direito real opera por mero
efeito do contrato e se constitui de imediato a obrigação de pagamento do preço, ou do
contrato de mútuo em que haja de imediato a entrega da quantia mutuada e no qual a
obrigação de restituição dessa quantia se constitui de imediato.
[5] Que esse argumento prova demais resulta aliás da própria existência da norma do
NRAU, a qual, em relação ao arrendatário, que não pode deixar de estar presente em
qualquer contrato de arrendamento mas é, apesar disso, o único contraente indicado
na norma, não seria necessária se a força executiva do contrato resultasse das normas
do Código de Processo Civil (sendo certo que mesmo quem entenda que o contrato de
arrendamento “importa a constituição da obrigação” de pagamento das rendas futuras
não ousará sustentar que para reunir essa qualidade o contrato necessite do
comprovativo da notificação ao arrendatário do montante de rendas em dívida).
[6] Em condições normais, uma vez que não está excluído – e parece ser o caso – que
o fiador seja alguém que reside em economia comum com o arrendatário e, por isso,
usufrua do imóvel arrendado para habitação. Mas mesmo nesse caso, esse benefício
resulta da situação de vivência em economia comum com o arrendatário e dela
depende, e não de qualquer posição jurídica emergente directamente do contrato e
exercível em relação ao senhorio.
[7] Neste sentido cf. Januário Gomes, in Assunção Fidejussória de Dívida, Almedina,
2000, pág. 941 e segs.
[8] Não existe aliás norma do NRAU que consinta essa extrapolação.
[9] Dizemos excepcional porque no nosso sistema jurídico a regra é a necessidade de
obter previamente uma sentença condenatória que afirme e reconheça o direito antes
de se poder reclamar a sua execução coerciva. Essa regra foi mesmo acentuada com
o novo Código de Processo Civil.
[10] A invocação das normas do Código Civil que definem o jurídico da fiança para
permitir a instauração da execução contra o arrendatário e também contra o fiador,
deveria levar a aceitar, afinal, em qualquer situação em que haja um garante da
obrigação, que a execução pudesse ser instaurada contra o devedor principal e o
garante ainda que o documento que constitui o título executivo (v.g. título de crédito)
apenas tenha a intervenção do devedor principal (o contrato de arrendamento não é,
como vimos, o título executivo, este é composto pela reunião de dois documentos,
sendo que a ambos deve ser reconhecido relevo para a determinação da legitimidade
passiva para a execução).
______________
Voto vencido:
Quanto ao título executivo, no caso da existência de fiadores, ser exigível, para além
do contrato de arrendamento, do comprovativo da comunicação à arrendatária do
montante em dívida, ainda do comprovativo de que àqueles foi feita a comunicação do
montante em dívida, adiro antes à posição assumida maioritariamente nesta Relação,
cujos argumentos, no essencial são coincidentes, conforme se constata, entre outros,
nos seguintes Arestos: Acórdãos desta Relação de 12.5.2009 (Relator, Guerra Banha),
proc. n.° 1358/07.6YYPRT-B.P1, de 23.6.2009 (Relator, Cândido Lemos), proc. n.°
2378/07.6YYPRT-A.Pl, de 6.10.2009 (Relator, Henrique Antunes), proc. n.°
2789/09.2YYPRT.P1, de 04.05.2010, (Relator, Rodrigues Pires), proc. n.°
3913/08.8TBGDM-B.P1, decisão individual, de 16.05.2011, (Relator, Rui Moura), proc.
n.° 515/l0.2TBMAI-A.Pl, Acórdãos, de 18.10.2011, (Relatora, Maria Cecília Agante),
proc. n.° 8436/09.5TBVNG-A.P1 e de 21.03.2013, (Relatora, Anabela Dias da Silva),
proc. n.° 8876/097TBMAI-A.P1, decisão individual da Relação de Lisboa (Relator Tomé
Gomes), proc. n.° 10790/2008.7, Acórdão da RC de 21.04.2009, proc. n° 7864/07,
todos acessíveis in www.dgsi.pt.
Assim, e seguindo esta posição, consideraria que os documentos que foram
apresentados pela exequente com o requerimento executivo - contrato de
arrendamento e comprovativo da comunicação à arrendatária do montante das rendas
em dívida, - constituem título executivo tanto contra a arrendatária como contra os
fiadores.
E, daí, revogaria a decisão recorrida, que deveria ser substituída por outra que desse
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Teresa Santos
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