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Acórdão do Tribunal da Relação do Porto http://www.dgsi.pt/jtrp.nsf/d1d5ce625d24df5380257583004ee7d7/29e...
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geral de qualquer execução (“nulla executio sine titulo”), podendo ser definido,
de acordo com o ensinamento de Manuel de Andrade, como o documento de
acto constitutivo ou certificativo de obrigações a que a lei reconhece a eficácia
de servir de base ao processo executivo.[1]
Depois, o art. 46 do mesmo diploma diz-nos que apenas podem servir de base à
execução os títulos indicados nas respectivas alíneas, donde resulta a natureza
taxativa da enumeração que aí é efectuada. Tal significa que só serão exequíveis
os documentos que se enquadrarem em alguma das espécies de títulos que
nessa norma são referidos.
O carácter executório do contrato de arrendamento urbano está previsto no art.
15 do NRAU para duas situações concretas:
a) em primeiro lugar, para obter a entrega do locado, em caso de cessação do
contrato de arrendamento por alguma das causa que vêm enunciadas nas
alíneas a) a f) do seu nº 1, desde que acompanhado pelo documento
comprovativo das respectivas causas de cessação;
b) em segundo lugar, para a acção de pagamento de renda, quando
acompanhado do comprovativo de comunicação ao arrendatário do montante em
dívida.
Em qualquer destes casos, o contrato de arrendamento, acompanhado pelos
referidos documentos, constituirá título executivo por força da alínea d) do art. 46
do Cód. do Proc. Civil, onde se preceitua que servem de base à execução «os
documentos a que, por disposição especial, seja atribuída força executiva.»[2]
Interessa-nos somente a segunda situação acima mencionada, à qual se reporta
o nº 2 do art. 15 do NRAU, cuja redacção é a seguinte: «O contrato de
arrendamento é título executivo para a acção de pagamento de renda, quando
acompanhado do comprovativo de comunicação ao arrendatário do montante em
dívida.»
Estamos assim perante um título executivo múltiplo ou complexo, uma vez que é
constituído, não apenas por um documento, como é regra, mas sim por vários
documentos, que no seu conjunto certificam a existência de um dever de prestar,
sendo neste caso concreto integrado por dois elementos corpóreos – o contrato
de arrendamento escrito e o documento comprovativo da comunicação ao
arrendatário do montante das rendas em dívida.
Acontece que a Mmª Juíza “a quo”, no despacho recorrido, circunscreveu a
eficácia executiva deste título ao arrendatário, excluindo dela os fiadores, pelo
que quanto a estes rejeitou a execução.
Assentou esta sua posição no entendimento de que o NRAU não criou qualquer
título executivo relativamente aos fiadores, tendo considerado que o texto do
citado art. 15, nº 2 respeita apenas aos arrendatários.
Trata-se de posição que não poderemos acolher.
Antes de mais, a lei não diz que o contrato de arrendamento tem eficácia
executiva apenas em relação ao arrendatário. Com efeito, o que nela se estatui é
algo de bem diferente – que esse contrato só é título executivo se for
acompanhado do documento que demonstre a comunicação ao arrendatário das
rendas que o senhorio considera não satisfeitas.
Ora, a exigência prévia do comprovativo desta comunicação não tem em vista
demonstrar a constituição da dívida exequenda, uma vez que esta decorre do
próprio contrato, nem se destina a interpelar o devedor, já que se está perante
uma obrigação pecuniária de montante já determinado e prazo certo. O que
realmente se pretende com esta exigência é obrigar o exequente a proceder à
liquidação prévia das rendas em dívida, de forma a conferir maior grau de certeza
quanto ao montante da dívida exequenda, face à vocação tendencialmente
duradoura do contrato e ao carácter periódico das rendas.
Sucede que esta mesma exigência já não se justifica quanto ao fiador. Em
primeiro lugar, porque a fiança é um elemento acidental ou eventual do contrato
de arrendamento. Em segundo lugar, porque garante a satisfação da obrigação
principal, independentemente de interpelação, a qual, a menos que se tenha
estipulado de modo diverso, só é exigida em relação à pessoa do devedor (cfr.
arts. 627 e 634 do Cód. Civil).
Assim, o art. 15, nº 2 do NRAU, ao aludir ao comprovativo da comunicação ao
arrendatário do montante em dívida, não tem como objectivo circunscrever ao
arrendatário o carácter executório do contrato de arrendamento, dele excluindo,
caso exista, o fiador, mas tão só tornar obrigatória a comunicação prévia do
valor das rendas que se encontram em dívida.
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Por isso, os dois documento a que se refere o art. 15, nº 2 do NRAU – o contrato
de arrendamento e o comprovativo da comunicação ao arrendatário – constituem
título executivo não apenas no que toca ao arrendatário, mas também quanto aos
fiadores.
Com efeito, a lei não estabelece que este título executivo seja eficaz apenas
contra o arrendatário. O que realmente estabelece é a obrigatoriedade deste
título ser composto pelo contrato de arrendamento e pelo documento
comprovativo da comunicação ao arrendatário do montante das rendas em
dívida, nada referindo quanto à eventual obrigatoriedade desta comunicação ser
efectuada igualmente ao fiador.
Por outro lado, não será ocioso assinalar que a posição adoptada pela 1ª
Instância, ancorando-se numa leitura excessivamente literal do art. 15, nº 2 do
NRAU, perverte o instituto da fiança, destinado a proteger os interesses do
credor e as próprias alterações introduzidas à legislação do arrendamento no
sentido de uma maior agilização, pois obrigaria o senhorio a propor duas acções
para cobrar as rendas em atraso – uma executiva contra o arrendatário e outra
declarativa contra os fiadores, sendo certo que estes são devedores solidários,
atendendo a que houve renúncia ao benefício da excussão prévia.
Aliás, conforme diz a recorrente nas suas alegações, a aceitar-se o entendimento
sustentado na decisão recorrida, seria de questionar a utilidade da prestação de
fianças no âmbito de contratos de arrendamento, porquanto não se vislumbraria
que interesse teria o senhorio em, depois de instaurar acção executiva contra o
arrendatário, intentar então uma acção declarativa contra os fiadores, cuja
decisão só poderia executar bem mais tarde.
Regressando ao caso concreto e na linha do que se vem expondo, o que se
constata é que os documentos que foram apresentados pela exequente com o
requerimento executivo – contrato de arrendamento e comprovativo da
comunicação ao arrendatário do montante das rendas em dívida[3] – constituem
título executivo tanto contra a arrendatária como contra os fiadores.
Impõe-se, por conseguinte, a procedência do recurso interposto, com a
consequente revogação do despacho na parte recorrida, prosseguindo a
execução também contra os fiadores do contrato de arrendamento aqui em
apreciação.
*
Sumário (art. 713, nº 7 do Cód. do Proc. Civil):
- O contrato de arrendamento, acompanhado do comprovativo da comunicação
ao arrendatário do montante das rendas em dívida, constitui, nos termos do art.
15, nº 2 do NRAU, título executivo não apenas contra o arrendatário, mas também
relativamente aos fiadores.[4]
*
DECISÃO
Nos termos expostos, acordam os juízes que constituem este Tribunal em julgar
procedente o recurso de apelação interposto pela exequente “B……….., SA”,
revogando-se a decisão na parte recorrida, prosseguindo agora a execução
também contra os fiadores C…………. e D…………….
Sem custas, face à não oposição dos recorridos.
Porto, 4.5.2010
Eduardo Manuel B. Martins Rodrigues Pires
Mário João Canelas Brás
Manuel Pinto dos Santos
______________
[1] Cfr. Amâncio Ferreira, “Curso de Processo de Execução”, 10ª ed., pág. 23;
Manuel de Andrade, “Noções Elementares de Processo Civil”, 1979, pág. 58.
[2] Cfr.Lebre de Freitas, “Código de Processo Civil Anotado”, vol. 1.º, 2.ª ed., pág.
96.
[3] Anote-se ainda que a exequente, embora tal não lhe fosse legalmente exigível,
até juntou ao requerimento executivo cópia de cartas que dirigiu aos fiadores
comunicando-lhes o montante em dívida.
[4] Neste sentido, cfr. Acórdãos da Relação do Porto de 12.5.2009 (relator Guerra
Banha), p. 1358/07.6 YYPRT-B.P1, de 23.6.2009 (relator Cândido Lemos), p.
2378/07.6 YYPRT-A.P1 e de 6.10.2009 (relator Henrique Antunes), p. 2789/09.2
YYPRT.P1 e decisão da Relação de Lisboa (relator Tomé Gomes), p. 10790/2008.7,
todos disponíveis in www.dgsi.pt., cuja linha argumentativa, no essencial
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