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I
"A" intentou, no dia 8 de Maio de 1996, contra B Distribuição de Produtos Têxteis Ldª, acção
declarativa de condenação, com processo ordinário, pedindo a condenação da ré a pagar-lhe, a
título de indemnização, 10 226 638$ por inobservância do pré-aviso de denúncia de um contrato
de agência e 7 000 000$ a título de indemnização de clientela, e juros à taxa legal.
A ré afirmou ter respeitado o prazo de pré-aviso, não ter a autora sofrido prejuízos, e pediu a
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- o disposto no artigo 14º do Decreto-Lei n.º 178/86, de 3 de Julho, deve ser tido em conta na
decisão da causa;
- a parte da resposta ao quesito 23º que corresponde a mercadorias deve ter-se por não escrita
por corresponder a uma questão de direito - uma mera conclusão que deveria ter sido extraída da
invocação de outros factos;
- deve, como tal, condenar-se a recorrida por incumprimento contratual e respectivos juros
moratórios pedidos;
- foi erroneamente interpretado e aplicado o artigo 805º do Código Civil, devendo considerar-se
a recorrida em mora, quanto à obrigação de indemnizar por falta de pré-aviso, desde a citação.
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foram tendo uma cada vez maior e melhor aceitação no mercado, e para tanto contribuiu um
grande esforço na área da publicidade, trazendo um acréscimo de vendas.
20. Outros comerciantes passaram a estar interessados em vender o vestuário produzido pela ré,
respondendo assim ao crescente interesse dos seus clientes por produtos da marca Petit Patapon.
21. A ré tinha a expectativa de que os seus agentes produzissem um crescimento sólido e
sustentado da sua actividade, ou seja, aumentando o número de bons clientes e, durante o ano de
1995, as vendas da responsabilidade da autora não acompanharam a evolução das vendas em
termos globais.
22. A autora colaborou na actividade comercial da ré sem interrupções de tempo.
23. A ré enviou à autora a carta inserta a folhas 21, datada de 29 de Maio de 1995, do seguinte
teor: "assunto : contrato de agência datado de 1/10/92"; "vimos informar que decidimos rescindir
o contrato supra nos precisos termos da respectiva cláusula n.º 9 (nove)", e contrato terminou no
dia 30 de Junho de 1995.
III
Tendo em conta o conteúdo do acórdão recorrido e as conclusões de alegação formuladas pela
recorrente e pela recorrida, são as seguintes questões essenciais decidendas:
- natureza do contrato celebrado entre a recorrente e a recorrida;
- há ou não fundamento legal para a alteração da matéria de facto fixada pela Relação?
- quantum indemnizatório por redução do prazo de pré aviso de denúncia do contrato;
- tem ou não a recorrente direito a exigir da recorrida indemnização de clientela?
- tem ou não a recorrente direito a exigir da recorrida indemnização por incumprimento
contratual?
- qual o momento em que a recorrente se constituiu em mora de pagamento da indemnização por
redução do prazo de pré aviso?
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impondo-se que a Relação tivesse aplicado o artigo 712º do Código de Processo Civil.
A recorrida expressou, por seu turno, que o relatório pericial não tem força probatória
insusceptível de ser destruída pelo depoimento das testemunhas ouvidas na audiência, e a
resposta ao quesito 17º não poder ser alterada pela Relação por não constarem do processo todos
elementos em que a 1ª instância fundou a sua convicção.
Perguntou-se no quesito 17º se a recorrente, a quem tinha sido atribuída a melhor zona do país -
Lisboa - não acompanhou esse crescimento, sendo certo que em 1995 não atingiu o volume de
encomendas previsto para a primeira época do ano, única que comercializou nesse ano
A resposta ao referido quesito foi restritiva, no sentido de provado que durante o ano de 1995 as
vendas da responsabilidade da recorrente não acompanharam a evolução das vendas em termos
globais
A recorrida enviou à recorrente uma carta, datada de 29 de Maio de 1995, do seguinte teor:
"assunto: contrato de agência datado de 1/10/92"; "vimos informar que decidimos rescindir o
contrato supra nos precisos termos da respectiva cláusula n.º 9 (nove)"
Aquela cláusula expressa que o presente contrato é celebrado a pedido da 2ª outorgante por lhe
interessar exercer a actividade com a liberdade dela decorrente.
Por seu turno, na cláusula 8ª expressa-se poder o contrato ser rescindido por qualquer das partes,
mediante comunicação com a antecedência mínima de 30 dias e por escrito.
Entende a recorrente que um declaratário normal interpretaria a declaração da recorrida no
sentido de fazer cessar imediatamente o contrato de agência.
Salvo casos excepcionais legalmente previstos, o Supremo Tribunal de Justiça apenas conhece
de matéria de direito (artigo 26º do Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais
Judiciais, aprovada pela Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro -LOFTJ).
Nessa conformidade, como tribunal de revista, a regra é a de que o Supremo Tribunal de Justiça
aplica definitivamente aos factos materiais fixados pelo tribunal recorrido o regime jurídico que
julgue adequado (artigo 729º, n.º 1, do Código de Processo Civil).
Excepcionalmente, no recurso de revista, o Supremo Tribunal de Justiça pode apreciar o erro na
apreciação das provas e na fixação dos factos materiais da causa cometido pela Relação se
houver ofensa de disposição expressa da lei que exija certa espécie de prova para a existência do
facto ou fixe a força probatória de determinado meio de prova (artigos 722º, n.º 2 e 729º, n.º 2,
do Código Civil).
Decorrentemente, o Supremo Tribunal de Justiça só pode conhecer da matéria de facto quando o
tribunal recorrido deu como provado um facto sem produção da prova por força da lei
indispensável para demonstrar a sua existência, ou quando ocorrer desrespeito das normas
reguladoras da força probatória dos meios de prova admitidos no ordenamento jurídico.
Nesse quadro de excepção figura o inadequado uso pela Relação da faculdade prevista no artigo
712º, n.º 4, do Código de Processo Civil, mas não a vertente do seu não uso.
Em consequência, inexiste fundamento legal para alterar a decisão da matéria de facto no que
concerne às respostas aos quesitos 16º e 17º nem quanto ao número de novos clientes angariados
pela recorrente.
Este Tribunal, não obstante os referidos limites no conhecimento da matéria de facto, pode
sindicar a interpretação pela Relação das aludidas declarações negociais, para fixar o seu sentido
juridicamente relevante, no âmbito do n.º 1 do artigo 236º do Código Civil (artigo 722º, n.º 1, do
Código de Processo Civil).
A regra nos negócios jurídicos em geral é a de que a declaração negocial vale com o sentido que
um declaratário normal, colocado na posição do real declaratário, possa deduzir do
comportamento do declarante (artigo 236º, n.º 1, do Código Civil).
O sentido decisivo da declaração negocial é o que seria apreendido por um declaratário padrão,
ou seja, por alguém medianamente instruído e diligente, capaz de se esclarecer acerca das
circunstâncias em que as declarações foram produzidas.
No que concerne aos negócios jurídicos formais, como ocorre no caso vertente, há, porém, o
limite de que não pode a declaração valer com um sentido que não tenha um mínimo de
correspondência no texto do respectivo documento, ainda que imperfeitamente expresso (artigo
238º, nº 1, do Código Civil).
Assim, o sentido hipotético da declaração que prevalece no quadro objectivo da respectiva
interpretação, como corolário da solenidade do negócio, tem que ter um mínimo de literalidade
no texto do documento que o envolve.
A mencionada carta dirigida à recorrente pela recorrida refere-se a rescisão, expressão a que é
normalmente atribuído o sentido de destruição dos efeitos do negócio em causa por virtude de
uma causa justificativa.
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Todavia, importa ter em conta a natureza do contrato em causa e o conteúdo da sua cláusula
oitava, por um lado, que a mencionada expressão não está utilizada no seu sentido técnico
rigoroso.
E, por outro, que o está no sentido de denúncia ou poder exercido por livre declaração unilateral
receptícia produtora de efeitos logo que chegou ao poder da recorrente, sua destinatária (artigo
224º, n.º 1, do Código Civil).
Tendo em conta o conteúdo das cláusulas oitava e nona do contrato de agência resulta claro que
a comunicação de rescisão em causa só faz sentido em relação à primeira, certo que a segunda
nada tem a ver com essa matéria.
Naturalmente, onde o representante da recorrida pretendeu expressar cláusula oitava, expressou
a cláusula nona, o que se traduz em lapso de escrita, simplesmente corrigível (artigo 249º do
Código Civil).
De qualquer forma, um declaratário normal experiente e sagaz, capaz de se esclarecer sobre o
sentido da declaração, concluiria que a recorrida comunicou à recorrente que denunciava o
contrato de agência com efeitos no termo do prazo de 30 dias, ou seja, no dia 30 de Junho de
1995.
Perante este quadro, inexiste fundamento legal para alterar o sentido interpretativo operado nas
instâncias relativamente ao conteúdo da carta que a recorrida dirigiu à recorrente com vista a pôr
termo do contrato de agência entre ambas celebrado.
Referiu a recorrente que a afirmação constante da resposta ao quesito 23º, no sentido de que a ré
sempre teve o direito de recusar a entrega de mercadorias àqueles clientes que não preenchessem
os requisitos exigidos e que eram do conhecimento da autora, nomeadamente o que se prende
com a respectiva credibilidade, não constitui matéria de facto e que, por isso, irrelevam.
Na realidade, a mencionada expressão, por não consubstanciar uma questão de facto, mas uma
conclusão jurídica, deve considerar-se não escrita (artigo 646º, n 4, do Código de Processo
Civil).
Em consequência, não revela na resolução deste ponto o que consta elencado sob II 16.
3.
Entende a recorrente os factos provados à luz da lei aplicável implica que a indemnização que
lhe é devida pela inobservância do prazo de pré aviso deve ser fixada no montante € 13 635,46.
A denúncia consubstancia-se essencialmente na forma autónoma de extinção dos contratos,
através da declaração de uma das partes à outra, a comunicar-lhe não pretender a continuação da
relação contratual em causa, independentemente de justa causa, e cuja eficácia opera ex nunc.
Conforme resulta do que acima se expôs sobre a interpretação do conteúdo da carta de denúncia
em causa, a denúncia do contrato de agência operou efeitos no dia 30 de Junho de 1995.
De harmonia com o disposto no artigo 28º, n.º 1, alínea c), do Decreto-Lei n.º 178/86, de 3 de
Julho, na redacção operada pelo artigo 1º do Decreto-Lei n.º 118/93, de 13 de Abril, aplicável ao
caso vertente, a denúncia do contrato de agência celebrado por tempo indeterminado e que tenha
durado mais de dois anos depende de comunicação escrita ao outro contraente com a
antecedência mínima de três meses.
Tendo em conta que, ao tempo da denúncia, o contrato de agência celebrado entre a recorrente e
a recorrida já vigorava há mais de três anos, o prazo de pré aviso respectivo era de três meses
(artigo 28º, n.º 1, alínea c), do Decreto-Lei n.º 178/86, de 3 de Julho).
Em consequência, a cláusula oitava do contrato de agência em causa, enquanto estabelece o
prazo mínimo trinta dias de pré aviso com vista à respectiva denúncia, está afectada de nulidade
e, consequentemente, não pode produzir os efeitos pretendidos pela recorrente e pela recorrida
(artigo 294º do Código Civil).
Decorrentemente a denúncia do contrato para o dia 30 de Junho de 1995 é ilegal, porque a
recorrida desrespeitou o prazo mínimo legalmente previsto de pré aviso de dois meses.
O desrespeito do prazo de pré aviso é susceptível de causar a alguma das partes danos por via da
extinção inesperada da relação contratual e que, por isso, lhe tenha afectado as perspectivas da
sua actividade.
Nessa perspectiva, expressa a lei que o denunciante do contrato de agência que não respeite os
prazos previstos no artigo 28º do Decreto-Lei n.º 178/86, de 3 de Julho, fica vinculado a
indemnizar o outro contraente pelos danos causados pela falta do pré aviso, em termos de
responsabilidade civil por facto ilícito e culposo lato sensu (artigo 29º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º
178/86, de 3 de Julho).
O agente tem, porém, a faculdade de exigir do principal, em vez da mencionada indemnização,
uma quantia calculada com base na remuneração média auferida no decurso do ano precedente,
multiplicada pelo tempo em falta (artigo 29º, n.º 2, do Decreto-Lei n.º 178/86, de 3 de Julho).
Foi isso o que ocorreu no caso vertente em relação à recorrente face à recorrida, com vantagem
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da obrigação.
O devedor considera-se constituído em mora quando, por causa que lhe seja imputável, a
prestação ainda possível não foi efectuada no tempo devido, ficando a partir daí vinculado a
reparar os danos causados ao credor que, no caso das obrigações pecuniárias, como ocorre no
caso vertente, a respectiva indemnização corresponde aos juros a contar do dia da constituição
em mora (artigo 804º e 806º, n.º 1, do Código Civil).
Os referidos juros são os fixados em portaria conjunta dos Ministros das Finanças e da Justiça
(artigo 559º, n.º 1, do Código Civil).
Mas a regra é no sentido de que o devedor só fica constituído em mora depois de ter sido judicial
ou extrajudicialmente interpelado para cumprir (artigo 805º, n.º 1, do Código Civil).
Mas se o crédito for ilíquido, não há mora do devedor enquanto se não tornar líquido, salvo se a
falta de liquidez for imputável ao devedor (artigo 805º, n.º 3, do Código Civil).
Sabe-se que o direito de crédito é ilíquido quando é indeterminado no seu quantum.
No caso vertente, embora a recorrente tenha formulado um pedido certo, a obrigação em se
fundou era ilíquida, porque a sua quantificação dependia, não só do valor das comissões por ela
auferidas, como também do período de tempo de pré-aviso de denúncia, e este foi controvertido
até à decisão final.
Em consequência, ao invés do que é entendido pela recorrente, não é possível concluir que a
recorrida se constituiu em mora quanto ao pagamento da indemnização por desrespeito do prazo
de pré aviso da denúncia do contrato de agência a partir da data da sua citação para a acção a que
se reporta o n.º 1 do artigo 805º do Código Civil.
Vencida, é a recorrente responsável pelo pagamento das custas respectivas (artigo 446º, n.ºs 1 e
2, do Código de Processo Civil).
IV
Pelo exposto, nega-se provimento a recurso, mantém-se o acórdão recorrido, e condena-se a
recorrente no pagamento das custas respectivas.
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