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Atos de comércio
Atualizado em 2023/12/29
1) Definição:
ii) todos os factos jurídicos voluntários (atos) praticados pelos comerciantes exceto os que
forem de natureza exclusivamente civil e os atos de cujo conteúdo e circunstâncias resulte
que não estão conexionados com o comércio do respetivo sujeito.
Índice
1) Definição:
2 a 5) Tipos de atos de comércio; classificação de atos de comércio:
2) Atos de comércio objetivos e subjetivos:
2.1) Atos de comércio objetivos:
2.2) Atos de comércio subjetivos:
2.3) Relevância da distinção entre atos de comércio objetivos e atos de comércio subjetivos –
atos de comércio objetivos esporádicos ou ocasionais:
3) Atos de comércio autónomos (ou absolutos ou por natureza) vs atos de comércio
acessórios (ou por conexão):
4) Atos de comércio unilaterais vs atos de comércio bilaterais:
5) Espécies de atos de comércio:
Notas:
– doravante, todas as disposições legais indicadas sem menção expressa da respetiva fonte
pertencem ao Código Comercial, aprovado pela Carta de Lei de 28 de Junho de 1888, com as
alterações subsequentes;
– ver bibliografia sobre esta matéria na presente nota de rodapé [2].
Os atos em cima referidos – atos de comércio objetivos – são qualificados como atos
comerciais, independentemente, em qualquer dos casos, de serem comerciantes ou não
comerciantes as pessoas que neles intervêm (cfr. arts. 1.º e 2.º 1ª parte do Código
Comercial).
São, desde logo, atos de comércio objetivos, os atos especialmente previstos no Código
Comercial.
Logo, salvo se forem, por outra via, comerciais (ver em baixo), todos os atos que forem
praticados em série ou em repetição orgânica no quadro de empresas que tenham por
objeto qualquer uma destas atividades serão atos civis.
Por sua vez, são nomeadamente atos de comércio objetivos previstos em legislação de
natureza comercial avulsa ou extravagante ao Código Comercial:
Pode haver ainda atos de comércio objetivos que não estão previstos na Lei, mas que são
análogos aos atos de comércio objetivos previstos na Lei [14].
Contratos socialmente típicos – são aqueles que não estão regulados na Lei, mas que
são reiterada e sistematicamente celebrados na praxis comercial com essencialmente o
mesmo clausulado (conteúdo).
Estes contratos são análogos ao contrato de agência; logo, por via da analogia, também
estes
FLÁVIO contratos
MOUTA devem ser qualificados como atos de comércio objetivos [15].
MENDES
Sociedades Comerciais
Por sua vez, os atos de comércio subjetivos são todos os factos jurídicos voluntários (atos)
praticados pelos comerciantes exceto:
a) os atos que forem de natureza exclusivamente civil como, por exemplo: o casamento, o
testamento ou a perfilhação; e
b) os atos que:
i) não tendo uma natureza exclusivamente civil
ii) resulte do respetivo conteúdo e circunstâncias que não estão conexionados com o
comércio do respetivo sujeito (cfr. 2ª parte do art. 2.º) [16].
Exemplo 1:
Por exemplo, um trabalhador de uma sociedade comercial (por exemplo, sociedade por
quotas, sociedade unipessoal por quotas ou sociedade anónima [SA]), ao conduzir um
veículo da propriedade desta, provoca com culpa um acidente de viação do qual resultam
danos patrimoniais e não patrimoniais (cfr. arts. 503.º e 500.º do Código Civil).
Ora, para a sociedade comercial (que, nos termos do art. 13.º, n.º 2, é um comerciante) esse
facto gerador de responsabilidade civil extracontratual objetiva (independente de culpa) é
um ato:
– que não tem natureza exclusivamente civil e
– de cujo conteúdo e circunstâncias resulta claramente a sua conexão com o comércio
desta.
Exemplo 2:
a) compra eletrodomésticos para a sua casa de morada de Família, para usar em contexto
estritamente pessoal. Ora, para esse empresário, esse contrato de compra e venda não é
um ato de comércio subjetivo uma vez que:
i) apesar de o ato não ter natureza exclusivamente civil,
ii) resulta das circunstâncias do próprio ato que este não está relacionadocom o
comércio do empresário (exploração de um snack-bar).
esporádicos ou ocasionais:
A maioria dos atos de comércio objetivos (os atos de comércio previstos na Lei: Código
Comercial, legislação avulsa de natureza comercial e disposições legais de natureza
comercial integradas em diplomas legais de natureza não comercial) são praticados por
comerciantes. Pelo que esses atos serão qualificados como comerciais não só porque são
objetivamente comerciais como também porque são subjetivamente comerciais.
Existe, portanto, uma área de sobreposição muito grande entre os atos de comércio
objetivos e os atos de comércio subjetivos.
Sendo assim, quando é que deixa de haver sobreposição entre ambos? Isto é, quando é
que estamos perante atos que se qualificam como comerciais (de comércio) apesar de não
serem praticados por comerciantes?
Ora, deixa de haver sobreposição entre ambos nos atos de comércio objetivos praticados
por não comerciantes a título meramente esporádico ou ocasional, ou seja, nos atos de
comércio (objetivos) esporádicos, ocasionais ou isolados.
Isto porque, como resulta do que referimos em cima, também os não comerciantes
(pessoas singulares consumidoras, sociedades civis, incluindo sociedades de profissionais,
quer sejam sociedades civis sob forma civil quer sejam sociedades civis sob forma
comercial, associações, fundações, etc… cfr. art. 13.º, nºs 1 e 2 a contrario) podem praticar
atos de comércio (cfr. art. 1.º).
Ora, a consequência prática é a de que também a estes atos se aplicará o regime jurídico
especial aplicável à generalidade dos atos de comércio. Logo, as dívidas dos não
comerciantes que resultem dos atos de comércio esporádicos ou ocasionais que estes
pratiquem serão qualificadas como dívidas comerciais.
https://w w w .sociedadescomerciais.pt/atos-de-comercio/ 7/14
02/04/24, 23:04 Atos de comércio - Flávio Mouta Mendes
Por exemplo, a venda de um automóvel por parte de uma sociedade comercial que explora
um stand de automóveis é um ato de comércio autónomo, absoluto ou por natureza (art.
463.º, n.º 3).
Os atos de comércio acessórios ou atos de comércio por conexão são todos aqueles que
são comerciais apenas porque estão ligados ou em conexão com atos comerciais.
Os atos de comércio bilaterais são aqueles que são comerciais em relação a ambas as
partes.
Por exemplo, um contrato de compra e venda de um bem de consumo celebrado entre uma
sociedade comercial que explora um supermercado e um cliente pessoa singular que não
seja comerciante é um ato de comércio unilateral:
– para a sociedade comercial, a venda é um ato de comércio;
– para o cliente pessoa singular não comerciante, a compra não é um ato de comércio (é
um ato civil).
Assim:
– a dívida da sociedade comercial que explora o supermercado emergente do contrato
celebrado com o consumidor relativa à entrega do bem de consumo é uma dívida comercial;
mas,
– a dívida do consumidor emergente do contrato celebrado com a sociedade comercial que
explora o supermercado relativa à entrega do preço já é uma dívida civil.
Aos atos de comércio unilaterais aplicam-se as disposições da lei comercial quanto a todos
os contratantes, salvas as que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito o ato
é comercial (cfr. art. 99.º).
É precisamente o que ocorre no art. 100.º § único. Pelo que, o regime supletivo (aquele que
pode ser afastado por estipulação das partes em sentido contrário ou diverso, mas que se
aplica na ausência de qualquer estipulação) é o de que as dívidas emergentes de atos de
comércio não são solidárias em relação aos não comerciantes quanto aos contratos que,
em relação a estes, não constituírem atos comerciais.
No exemplo referido no ponto anterior (4.2), se, por hipótese, houvesse mais do que um
devedor, a dívida da sociedade comercial que explora o supermercado emergente do
contrato celebrado com o consumidor relativa à entrega do bem de consumo seria uma
dívida solidária.
Por sua vez, se, nesse exemplo, houvesse, por hipótese, mais do que um devedor, a dívida
dos consumidores emergente do contrato celebrado com a sociedade comercial que
explora o supermercado relativa à entrega do preço não seria uma dívida solidária.
Os atos de comércio são fontes de obrigações (dívidas ou débitos), ou seja, são factos
jurídicos geradores de dívidas; factos jurídicos dos quais resulta a constituição de dívidas.
Ora, de acordo com a sua natureza, os atos de comércio podem ser nomeadamente:
– contratos (a maioria dos atos de comércio são contratos);
– negócios jurídicos unilaterais (por exemplo: prestação de aval numa livrança ou numa letra
de câmbio [18]);
– factos geradores de responsabilidade civil extracontratual, delitual ou aquiliana:
1) por factos ilícitos culposos (dolo ou negligência),
2) pelo risco (responsabilidade civil objetiva, isto é, independentemente de culpa), ou
ainda,
3) responsabilidade civil por factos lícitos danosos [19],
– entre outros.
Dos atos de comércio resultam dívidas, obrigações ou débitos. Essas dívidas são
comerciais, aplicando-se-lhes o respetivo regime jurídico específico (ver: dívidas
comerciais).
A qualificação dos atos (que na sua maioria são contratos) como atos de comércio é
relevante para vários efeitos; com efeito, permite:
ii) qualificar como comerciais os atos que sejam acessórios dos atos comerciais
autónomos, absolutos ou por natureza; e ainda,
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comercial
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estabelecimento Dívidas comerciais
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Notas de Rodapé
[1] Esta definição de atos de comércio segue de perto, nesta parte, a sistematização de
J. M. Coutinho de Abreu, Curso de Direito Comercial, Volume I, 13ª edição, Almedina,
Coimbra, 2022, págs. 71 a 93.
[2] Sobre esta matéria, vide J. M. Coutinho de Abreu, Curso de Direito Comercial,
Volume I, 13ª edição, Almedina, Coimbra, 2022, págs. 65 a 104; A. Menezes Cordeiro,
colab. de A. Barreto Menezes Cordeiro, Direito Comercial, 5ª edição, Almedina,
Coimbra, 2022, págs. 207 a 239; F. Cassiano dos Santos, Direito Comercial
Português, Volume I, Coimbra Editora, Coimbra, 2007, págs. 60 a 103; P. Pais de
Vasconcelos e P. Leitão Pais de Vasconcelos, Direito Comercial, 2ª edição,
Almedina, Coimbra, 2020, págs. 61 a 76; P. Olavo Cunha, Direito Comercial e do
Mercado, 3ª edição, Almedina, Coimbra, 2021, págs. 71 a 81; e restante bibliografia
nessas obras indicada.
[3] J. M. Coutinho de Abreu, op. cit., págs. 77 a 81; cfr. também A. Menezes Cordeiro,
colab. de A. Barreto Menezes Cordeiro, op. cit., págs. 217 a 221.
[4] J. M. Coutinho de Abreu, op. cit., pág. 33; P. Pais de Vasconcelos e P. Leitão Pais de
Vasconcelos, op. cit., pág. 43.
[9] Consultar a versão atualizada do Dec-Lei n.º 111/2005, de 8 de julho no link: https://ww
w.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=548&tabela=leis&so_miolo=
[10] Consultar a versão atualizada do Dec-Lei n.º 125/2006, de 29 de junho no link: https://
www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=865&tabela=leis&so_miolo=
[11] Consultar a versão atualizada do Dec-Lei n.º 149/95, de 24 de junho no link: https://ww
w.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=832&tabela=leis&so_miolo=
[12] Consultar a versão atualizada do Decreto-Lei n.º 178/86 de 3 de julho no link: https://w
ww.fd.unl.pt/Anexos/Investigacao/4520.pdf
p?nid=775&tabela=leis
[14] Neste sentido, J. M. Coutinho de Abreu, op. cit., págs. 81 a 93 e A. Menezes Cordeiro,
colab. de A. Barreto Menezes Cordeiro, op. cit., págs. 211 a 216.
[18] P. Pais de Vasconcelos e P. Leitão Pais de Vasconcelos, op. cit., págs. 339 a 341.
[19] Mário Júlio de Almeida Costa, Direito das Obrigações, 12ª edição, Almedina,
Coimbra, 2009, pág. 556.
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