Você está na página 1de 16

DOI: 10.

55905/cuadv15n4-034

Recebimento dos originais: 23/05/2023


Aceitação para publicação: 26/06/2023

A utilização das TDIC´S no ensino de ciências durante a


pandemia

The use of TDIC'S in science teaching during the pandemic

Agsneide Simone da Silva


Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino (POSENSINO)
Instituição: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande
do Norte (IFRN)
Endereço: Rua Doutor Nilo Bezerra Ramalho, 1692, Tirol, Natal – RN,
CEP: 59015-000
E-mail: agssimone@gmail.com

Lilianne de Sousa Silva


Doutoranda pelo Programa Rede Nordeste de Ensino (RENOEN)
Instituição: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande
do Norte (IFRN)
Endereço: Rua Doutor Nilo Bezerra Ramalho, 1692, Tirol, Natal – RN,
CEP: 59015-000
E-mail: liliannepalhano@gmail.com

Luciana Medeiros Bertini


Doutora em Química
Instituição: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande
do Norte (IFRN)
Endereço: Rua Doutor Nilo Bezerra Ramalho, 1692, Tirol, Natal – RN,
CEP: 59015-000
E-mail: luciana.bertini@ifrn.edu.br

RESUMO
No ano de 2020, mais precisamente no mês de março, a Organização Mundial
de Saúde (OMS) decretou o estado de pandemia no mundo devido o surgimento
de uma infecção respiratória aguda grave, conhecida como covid-19, altamente
contagiosa, causada pelo coronavírus, SARS-Cov-2. Devido ao alto índice de
transmissibilidade do vírus e a ausência de um tratamento eficaz foi imposto o
isolamento social. Na área da educação, as escolas fecharam e foi estabelecido
o Ensino Remoto Emergencial (ERE). Durante o período pandêmico, as
instituições de ensino buscaram alternativas para que o processo de ensino e
aprendizagem continuassem a ocorrer, e entre as diversas ações pensadas
foram adotadas as aulas online, que tiveram como suporte para sua efetivação
as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC’s). A utilização
desses artefatos tecnológicos gerou inquietações nos professores e alunos,
principalmente àqueles que não tinham conhecimentos de como utilizá-los.
Sendo assim, este estudo teve como objetivo identificar a opinião e quais as
práticas pedagógicas que os professores de ciências do ensino fundamental II
de uma escola municipal de Mossoró/RN adotaram e a forma como as TDIC´s

CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, v.15, n.4, p. 3625-3640, 2023 3625


influenciaram essas práticas. Para o desenvolvimento deste estudo, os docentes
de ciências da referida escola, responderam um questionário disponibilizado no
Google forms no ano de 2021. Participaram quatro (04) docentes da área de
ciências, e foi possível perceber as dificuldades que eles tiveram nesse período,
porém eles acreditam no potencial da TDIC´s para o processo de ensino
aprendizagem. Desta forma, a pesquisa possibilitou compreender que é cabível
ao professor reconhecer a importância e necessidade do aperfeiçoamento do
uso das TDIC’s ao ensino de ciências, junto ao cotidiano de sua prática
pedagógica e em interação com as aulas remotas que foram utilizadas neste
período de pandemia.

Palavras-chave: ensino de ciências, TDIC’s, pandemia.

ABSTRACT
In the year 2020, more precisely in March, the World Health Organization (WHO)
decreed a state of pandemic in the world due to the emergence of a severe acute
respiratory infection, known as covid-19, highly contagious, caused by the
coronavirus, SARS-Cov-2. Due to the high rate of transmissibility of the virus and
the absence of an effective treatment, social isolation was imposed. In the area
of education, schools closed and Emergency Remote Education (ERE) was
established. During the pandemic period, the educational institutions sought
alternatives so that the teaching and learning process could continue to take
place, and among the various actions considered were the online classes, which
were supported by the Digital Information and Communication Technologies
(DICTs). The use of these technological artifacts generated uneasiness in
teachers and students, especially those who did not know how to use them. Thus,
this study aimed to identify the opinion and the pedagogical practices that science
teachers of elementary school II of a municipal school in Mossoró/RN adopted
and how the DICTs influenced these practices. For the development of this study,
the science teachers of that school answered a questionnaire made available on
Google forms in the year 2021. Four (04) science teachers participated, and it
was possible to notice the difficulties they had in this period, but they believe in
the potential of DICTs for the teaching-learning process. Thus, the research made
it possible to understand that it is up to the teacher to recognize the importance
and the need for the improvement of the use of the DITCs in science teaching,
together with the daily routine of his pedagogical practice and in interaction with
the remote classes that were used in this period of pandemic.

Keywords: science teaching, DITCs, pandemic.

CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.4, p. 3625-3640, 2023 3626


1 INTRODUÇÃO
No início do ano 2020 a população brasileira foi surpreendida pela
pandemia causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, a conhecida e temida Covid-
19. A Organização Mundial da Saúde (OMS), tornou público sua decisão de
declarar o Estado de Emergência de Importância Internacional, considerando um
“[...] cenário com mais de 110 mil casos distribuídos em 114 países, a OMS
decretou a pandemia no dia 11 de março de 2020” (CAVALCANTE et al, 2020,
p.2). Esse vírus modificou bruscamente as atividades cotidianas de todos, isso
porque a OMS reconheceu a Covid-19 como uma pandemia, a qual ainda não
havia tratamento.
Umas das consequências mais impactante da pandemia foi a
necessidade de praticar o isolamento social. Esse distanciamento fez com que
as atividades desenvolvidas em ambientes coletivos deixassem de ser
realizadas ou precisaram ser efetivadas de modo diferente. Nas escolas, as
atividades ficaram impossibilitadas de serem realizadas de forma presencial.
Professores e alunos tiveram que encarar essa realidade e buscar alternativas
para realizarem o processo de ensino e aprendizagem. Naquele momento, uma
das alternativas foi utilizar as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação
(TDIC’s) para promover o ensino.
Mesmo com todos os esforços realizados pelos docentes, gestão escolar
e alunos para que as aulas continuassem através do suporte das TDIC’s, muitos
desafios tinham que ser enfrentados e superados. Desafios que foram desde a
falta de estrutura tecnológica das escolas e alunos, até a falta de conhecimento
e prática por parte do corpo do docente quanto ao uso dessas tecnologias. As
comunidades escolares buscaram o melhor meio de enfrentar esse
distanciamento, entretanto, o fechamento das escolas causou muitos danos aos
estudantes, especialmente, os mais vulneráveis (BERG; VESTENA; COSTA-
LOBO, 2020).
Nesse contexto, quando surgem situações inesperadas como a Covid-19,
percebe-se a necessidade de inserção de novas metodologias ao ensino e ao
mesmo tempo o docente se depara com situações que ele não estava preparado.

CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.4, p. 3625-3640, 2023 3627


Além disso, vale ressaltar que esses desafios trazem consigo a obrigatoriedade
de adequar: rotina, metodologias, ensino, em resumo repassar todo o processo
de ensino e aprendizagem ora praticado. Entretanto, Oliveira e Oliveira (p.146,
2021) ressalta que:

Somando-se a esses fatores, no âmbito educacional, nas diferentes


etapas do processo de ensino, o “ensino remoto” tornou-se do dia para
a noite uma possibilidade ou exigência. Concordamos que os
instrumentos tecnológicos são importantes e alinham as necessidades
de uma sociedade que cada vez mais dependem destes. Contudo,
também entendemos que forçar ou acelerar essas inserções podem
provocar sequelas no processo de ensino e aprendizagem e até
ampliar as desigualdades socioeconômicas.

Por outro lado, muitas escolas não desfrutavam de suporte necessário


para o ensino com aulas remotas (online). Até mesmo as universidades, que são
instituições que já contam com plataformas digitais, apresentaram dificuldades
na utilização dessas ferramentas. Embora as ferramentas digitais estejam
presentes na vida cotidiana, há um certo tempo, infelizmente, não era tão
presente no cotidiano dos estudantes e professores para fins educacionais.
No âmbito da disciplina de Ciências, assim como os demais componentes
curriculares, para obtermos resultados positivos, os processos de ensino e
aprendizagem precisam atender adequadamente as necessidades das turmas.
Diante do exposto surgiu uma inquietação: Ao passar para o ensino remoto, a
disciplina de Ciências ganhou mais um desafio: como adequar as metodologias
de ensino praticadas a essa nova realidade?
Por isso, nesse artigo traçamos como objetivo identificar quais os
impactos que as TDIC´s provocaram no ensino do componente curricular de
ciências de uma escola fundamental no município de Mossoró no Rio Grande do
Norte. Além disso, analisar as práticas pedagógicas desses professores de
ciências frente ao uso das TDIC´s e a forma como elas influenciaram essas
práticas.

CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.4, p. 3625-3640, 2023 3628


2 AULAS REMOTAS E O PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM: UM
DESAFIO PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS
A disciplina de Ciências vem nas últimas décadas ganhando espaço
dentro do currículo escolar. Sendo importante ressaltar que ao longo dos anos o
cenário educacional foi se adequando e percebendo que a pessoa alfabetizada
cientificamente é capaz de interpretar assuntos científicos e analisar situações
do cotidiano, posicionando-se de forma crítica e assertiva na sociedade
(GARVÃO; SLONGO, 2019). Apesar dos esforços que professores vem
realizando para a melhoria da aprendizagem em Ciências, essa área do
conhecimento ainda apresenta resultados abaixo do desejado. E, com a
pandemia essa preocupação aumentou, tendo em vista que estudos apontam
que o impacto negativo foi maior em matemática do que em leitura (KUHFELD
et al, 2020).
Além disso, as questões emocionais e os desafios tecnológicos que o
momento exigia nos conduziu à uma situação nunca antes vivenciada: decretos,
portarias, medo, isolamento social, incertezas e um cenário de milhares de
mortes. Entretanto, as aulas precisavam acontecer, porém, precisaríamos
“reaprender a ensinar e reaprender a aprender em meio aos desafios e ao
isolamento social na educação do país”.
Desta forma, o ensino remoto emergencial (ERE) foi uma forma
encontrada pelo governo para dá seguimento as aulas durante a pandemia. Tal
estratégia com aulas online objetivava evitar um atraso na aprendizagem. Como
aponta a portaria Nº 343, de 17 de março de 2020, que:

“Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios


digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus
- COVID-19.
O MINISTRO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, no uso da atribuição que
lhe confere o art. 87, parágrafo único, incisos I e II, da Constituição, e
considerando o art. 9º, incisos II e VII, da Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, e o art. 2º do Decreto nº 9.235, de 15 de dezembro
de 2017, resolve:
Art. 1º Autorizar, em caráter excepcional, a substituição das disciplinas
presenciais, em andamento, por aulas que utilizem meios e tecnologias
de informação e comunicação, nos limites estabelecidos pela
legislação em vigor, por instituição de educação superior integrante do

CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.4, p. 3625-3640, 2023 3629


sistema federal de ensino, de que trata o art. 2º do Decreto nº 9.235,
de 15 de dezembro de 2017. [...] (BRASIL, 2020)”.

Vale destacar que a preocupação com a aprendizagem não é algo


específico dos docentes da disciplina de Ciências, mas esta área do
conhecimento ganha maiores preocupações devido aos dados de desempenho
dos alunos antes mesmo da pandemia. Segundo o boletim dos resultados de
2018 do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), 55% dos
estudantes brasileiros, com 15 anos de idade, não possuem nível básico em
Ciências, ficando em último lugar com 404 pontos. O relato mostra a
preocupação com os impactos que a pandemia poderia causar no ensino de
Ciências.

Não são muito auspiciosos os cenários futuros quando olhamos, por


exemplo, para os resultados obtidos no “Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes” (“Programme for International Student
Assessment” - PISA), um detalhado estudo trienal promovido pela
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), e que a cada rodada inclui dezenas de países. O PISA busca
avaliar o conhecimento de estudantes com 15 anos de idade (no caso
do Brasil, supostamente cursando o Ensino Médio) nas áreas de
Matemática, Leitura e Ciências. No que se refere aos conhecimentos
dos estudantes sobre Ciências, o recente PISA de 2018 classificou o
Brasil no 67º lugar dentre um total de 79 países avaliados. Além do
mais, identificou que 55,3% dos brasileiros participantes ficaram
posicionados no nível mais baixo de compreensão das questões
apresentadas no teste (isto é, “abaixo do nível 2”), significando que “só
conseguem apresentar explicações científicas que sejam óbvias”
(definição de “Nível 1”) (PAZ, p.28-29, 2022).

Com isso, para que nas aulas de ciências tenham uma aprendizagem
significativa é importante a utilização de ferramentas que ofereçam suporte e
materiais necessários para que o ensino seja de qualidade, independente da
forma, seja ela presencial ou remota. Os planos de aula precisam se adequar a
tal realidade, com didáticas voltadas a atividades extracurriculares, metodologias
que possam sofrer alterações e adaptações à realidade doméstica da qual cada
aluno está inserido. É importante também ir de acordo com o perfil de cada
turma, mas sem fugir do cronograma com o que é imposto pela matriz curricular
de cada etapa da educação que está sendo acompanhada.

CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.4, p. 3625-3640, 2023 3630


No contexto da pandemia, as plataformas virtuais possibilitaram que as
aulas acontecessem de forma online. Segundo Kenski (2003) o professor deve
decidir como ensinar, além de orientar os alunos e mediar as antigas tecnologias,
tais como: “o livro didático e o quadro de giz”, que não contam com a utilização
das TDIC’s. É cabível refletir e analisar sobre como, tecnologicamente, tem sido
a aquisição e consumo das novas tecnologias.
É válido ressaltar os esforços dos docentes em relação às capacitações
para executarem suas aulas no modelo adotado. O ensino aconteceu
ministrando seus conteúdos, avaliando seus alunos com provas, exercícios e
apresentações de trabalhos. Tudo isso, mediados pelos softwares na educação
remota, com a finalidade de uma aprendizagem significativa e com o mínimo de
danos.
Seguindo essa linha, percebe-se a importância desse estudo, observando
uma nova perspectiva acerca do ensino remoto no contexto pandêmico,
destacando os desafios, mas também, o que é possível ser desenvolvido nas
aulas remotas na perspectiva de tornar o ensino significativo e eficaz,
contribuindo para a aprendizagem.
Nesse sentido, Cordeiro (2020) destaca que:

É preciso levar em consideração que o ensino remoto, atualmente, é


considerado a melhor saída para continuar as atividades escolares e
minimizar o atraso e as dificuldades dos alunos no retorno às aulas
presenciais. Entretanto, para que as atividades escolares possam ser
significativas e as dificuldades sejam minimizadas, como é esperado,
se faz necessário uma grande parceria e colaboração de todos os
envolvidos no processo educacional.

3 METODOLOGIA
A metodologia escolhida para esta pesquisa foi do tipo qualitativa, pois
objetivamos captar a percepção dos professores participantes acerca dos
impactos que as TDIC’s provocaram no ensino de ciências no período de
pandemia. Segundo Minayo (2009, p.21):

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se


ocupa, nas ciências sociais, com nível da realidade que não pode ou
não deve ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos

CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.4, p. 3625-3640, 2023 3631


significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e
das atitudes.

Nessa análise, utilizamos questionários online como propostas de


contribuições e os impactos que as TDIC’s provocaram no ensino de ciências
diante o contexto de pandemia, a fim de investigar a viabilização no processo de
ensino e aprendizagem no ambiente escolar através das aulas remotas.
Segundo Pimenta (2012, p. 23):

[...] educar na escola significa ao mesmo tempo preparar crianças e os


jovens para se elevarem ao nível da civilização atual – da sua riqueza
e de problemas – para aí atuarem. Isso requer preparação cientifica,
técnica e social. Por isso, a finalidade da educação escolar na
sociedade tecnológica, multimídia e globalizada, é possibilitar que os
alunos trabalhem os conhecimentos científicos e tecnológicos
desenvolvendo habilidades para operá-los, revê-los e reconstruí-los
com sabedoria.

Baseados nessa ideia de Pimenta, foi aplicado um questionário aos


professores de ciências do ensino fundamental II de uma escola municipal na
cidade de Mossoró, no estado do Rio Grande no Norte no Brasil. No total
participaram quatro (04) professores que atuavam no ensino de ciências (do 6º
ao 9º ano). Vale destacar que a escola conta com 411 alunos nesse nível de
ensino.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste momento, daremos vozes aos dados coletados através dos
questionários digitais, aplicados aos professores de ciências que lecionavam no
ensino fundamental II. A primeira afirmação utilizamos para questionar se as
Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação causaram impactos ao
ensino de ciências quando realizadas através das aulas remotas. Percebeu-se
pelos resultados apontados que todos os participantes afirmaram que sim, as
TDICs causam impacto ao ensino de Ciências. A concordância com essa
afirmativa pode estar relacionada ao fato de que no ensino remoto os
professores e alunos precisaram se comunicar através da utilização de

CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.4, p. 3625-3640, 2023 3632


plataformas virtuais, sendo assim indiscutível a ação dessas ferramentas para
viabilizar as aulas online.
Os docentes entrevistados trabalharam com aulas remotas desde
meados de 2020 até o final do ano letivo de 2021. Observamos que, mesmo de
forma inesperada, a inserção das TDIC´s no processo de ensino e
aprendizagem possibilitou a continuidade do ensino da disciplina de Ciências.
Quando se trata do uso das TDIC´s sabe-se que as mesmas estão presentes
na Base Nacional Curricular Comum (BNCC) como umas das competências a
serem desenvolvidas pelos estudantes.
Na segunda pergunta buscou identificar se as TDIC´s têm um papel
importante na democratização do ensino de Ciências. A proposta de educação
ofertada por meios tecnológicos sempre trouxe alguns obstáculos,
principalmente pela falta de preparo/capacitação dos professores no manuseio
de suportes tecnológicos (ROSA, 2020). As respostas que os professores nos
forneceram foram a confirmação deste fato, pois os alunos precisaram utilizar-
se dos conhecimentos das ciências junto às TDIC’s, como um caminho para se
apropriar de autonomia, ser um cidadão crítico e reflexivo.
Naquele momento de pandemia, os docentes, num contexto de extrema
urgência, tiveram que passar a organizar suas aulas de forma remotas,
atividades de ensino mediadas pela tecnologia, mas que se orientavam pelos
princípios da educação presencial (ROSA, 2020). Dessa forma, os docentes que
participaram dessa análise, com a pergunta apresentada acima, consideraram
importante a democratização do ensino de ciências junto às TDIC’s. É importante
democratizar, pois é preciso fomentar e investir no desenvolvimento científico e
tecnológico, que é direcionar a ciência e a tecnologia para o atendimento das
demandas locais, favorecendo o enfrentamento das desigualdades sociais do
país.
No contexto pandêmico que estávamos vivenciando fez-se com que os
docentes buscassem se reinventar e tentar alternativas metodológicas que
propiciassem o processo de ensino aprendizagem. Assim, quando questionados
sobre como os professores buscaram diversificar suas metodologias para as

CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.4, p. 3625-3640, 2023 3633


suas aulas remotas de Ciências, eles apontaram que utilizaram de diversas
metodologias alternativas como: vídeos aulas, tour virtual a museus de Ciências
e História Natural, consulta ao Google Maps, questionários online, observação
em fotomicrográficas em microscópio virtual, análise de atas do corpo humano,
jogos, utilização da tecnologia e gravação de vídeos. Assim, podemos concordar
com Cordeiro (2020, p. 06):

A criatividade dos professores brasileiros em se adaptar à nova


realidade é indescritível no que se trata da criação de recursos
midiáticos: criação de vídeo aulas para que os alunos possam acessar
de forma assíncrona além das aulas através de videoconferência para
a execução de atividades síncronas como em sala de aula. Uma
revolução educacional sobre o quanto a tecnologia tem se mostrado
eficiente e o quanto as pessoas precisam estar aptas a esse avanço
tecnológico.

Dando prosseguimento à pesquisa, foram coletados dos quatro docentes


questionados, se a ciência será mais valorizada após a pandemia. Responderam
50% que sim, e os outros, talvez. Mesmo com tanta mudança, a vida cotidiana e
escolar, quando se detêm à educação, ainda é questionado o papel da ciência.

“Um Ensino Ciência que assume essa responsabilidade não abre mão
da centralidade do conhecimento científico, pois está comprometido
em possibilitar aos alunos a compreensão da realidade objetiva. Para
isso, é preciso ensinar o movimento lógico e histórico dos
conteúdos das Ciências Naturais, levando em consideração a relação
histórica e atual desse conhecimento com a prática social, ou seja, um
ensino de Ciências concreto que mostre ao estudante o real tal qual
ele é no seu movimento histórico e na sua relação com a prática
transformadora humana” (MESSEDER NETO, MORADILLO, 2020, p.
1344).

Os docentes participantes da pesquisa acreditam que a sociedade tende


a dar mais relevância ao ensino desse componente curricular em questão, pois
a sociedade passa a acreditar que em meio a mais recente crise de saúde, um
dos setores mais promissores para ajudar a sociedade a enfrentar essa crise é
a própria ciência.
Conde et al. (2021) fala que “os professores não conseguem adequar
plenamente seu ensino para a realidade pandêmica”. Isso vai de acordo com os
questionários que fizemos aos professores nesta pesquisa e com seus planos

CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.4, p. 3625-3640, 2023 3634


de aula. Soares Neto et al. (2021) aponta na sua pesquisa que existe uma
necessidade de os professores aprimorarem seus conhecimentos a respeito do
manuseio do uso de tecnologias, ou seja, uma adaptação das práticas
pedagógicas desses docentes. As contribuições desse autor são compatíveis
com a realidade apresentada nesta pesquisa.
Os docentes que foram entrevistados estavam se validando de forma
mais complexa diante do contexto de pandemia, com o ensino remoto,
agregando os conhecimentos ao ensino de ciências, nesse contexto de uso de
Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação. Isso acaba evidenciando
que a ciência será vista com um novo olhar, visto que essa pandemia foi notável
e significativa.
Diante do questionamento acerca do possível alinhamento das TDIC’s
junto ao ensino de ciências durante as aulas remotas, os professores relataram
utilizar recursos tecnológicos, como slides e vídeos, bem como empregar
metodologias que ajudassem o aluno a apropriar-se desses recursos. E
apontando a importância da internet como ferramenta potencializadora para
incentivar e aguçar a curiosidade dos alunos ao mergulho nesse universo rico
em conhecimento.

O tempo de isolamento social no ano letivo de 2020 trouxe a nova


perspectiva do ensinar através das tecnologias. Neto Antunes (2020)
considera que talvez seja esse um dos aspectos positivos a ser
herdado pós-pandemia: a reconexão e reafirmação do pensar em sala
de aula sob a ótica da ciência e da informação, juntas e indissociáveis.
Esse modelo emergente de autonomia à aprendizagem. Ele acredita
que “modelar” pode conduzir o aluno a gerar, de forma espontânea, o
que já chamamos de mapas mentais e conceituais. Organizar a
informação é um grande desafio em sala de aula, pois é preciso seguir
a ‘movimentação’ rápida das ideias a fim de transforma-as em
informação, conduzindo-as a unidades de significados em distintos
níveis de assimilação (NETO ANTUNES, 2020).

Hoje, o importante na formação do educador é saber trabalhar


coletivamente, ter iniciativa, gostar do risco, ter intuição, saber comunicar-se,
saber resolver conflitos, ter estabilidade emocional. Pode-se dizer que não é a
tecnologia em si que causa a aprendizagem, mas a maneira como o professor e
os alunos interagem com ela. Vale destacar que as aulas remotas foram

CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.4, p. 3625-3640, 2023 3635


fundamentais ao ensino, e o professor precisou ser interativo e saber lidar com
esse novo artefato tecnológico.
Quando os docentes foram questionais quais as plataformas digitais que
mais foram utilizadas pelos professores, eles responderam: em primeiro lugar, o
Google Meet e Youtube. Em segundo lugar, Google Classroom, Google Drive e
Quizizz. Já em terceiro lugar, Google Arts e Culture. Outras plataformas, tais
como: Microsoft teams, Zoom, Quiziet e Kahoot não foram citadas.
Durante a pandemia da COVID-19, o uso das plataformas digitais, em
especial o Google Meet, se fez essencial para que o processo de interação entre
os professores e alunos ocorresse. No entanto, a utilização dessa ferramenta
mostrou que o sistema educacional brasileiro não estava preparado para uma
transição, surpreendendo governo, secretarias, escolas e docentes, que em
curto prazo tiveram que se adaptar a uma nova modalidade que causou grande
impacto no processo de ensino-aprendizagem, pois a grande maioria dos
docentes e alunos nunca haviam tido contato com essas ferramentas
educacionais (SENHORAS, 2021; DIAS; PINTO, 2020)
Por exemplo, o Google Classroom oferece uma interface com a aparência
de uma rede social, cuja interface amigável e comum permite que alunos e
professores se conectem facilmente, dentro e fora das instituições educativas.
Essa plataforma facilita o processo educativo através de um feed ou mural da
turma, disponibilizando atividades e trabalhos, questionários e perguntas, para
além de disponibilizar materiais (ficheiros, links e vídeos) (GONÇALVES, 2020).
No questionário, também foi indagado sobre a opinião dos docentes se o
processo de aulas remotas eles acreditavam que havia uma aprendizagem
significativa no ensino de ciências. Apesar de todas as dificuldades, os
professores afirmaram que sim. Então, eles concordam que mesmo diante do
cenário diferenciado no ensino, a aprendizagem está ocorrendo de forma
satisfatória e significativa.

Na perspectiva de contribuir com a aprendizagem significativa ao


ensino de ciências, em tempos de pandemia através do ensino remoto,
Paulo Freire destaca que o professor precisa ter “[...] disponibilidade

CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.4, p. 3625-3640, 2023 3636


ao risco, a aceitação do novo e a utilização de um critério para a recusa
do velho” (FREIRE, 2003, p. 35).

Por fim, foi questionamento acerca das devolutivas das atividades, os


professores se dividiram em dois blocos de 50%, onde dois deles concordavam
que o volume recebido de atividades é satisfatório, já os outros, não
concordavam.

Durante o ensino remoto emergencial precisa-se a priori considerar se


os conhecimentos, habilidades e/ou atitudes pretendidas foram
construídas. Do mesmo jeito com as questões relativas ao incentivo,
disposição e comprometimento do aluno. Também é importante
ressaltar que o momento é atípico e nunca vivido por nenhum dos
atores envolvidos no processo de aprendizagem, assim o processo
avaliativo deve ser dinâmico e flexível (HODGES et al., 2020).

Para este questionamento acerca das devolutivas das atividades, os


professores se dividiram em dois blocos de 50%, onde dois deles concordam
que o volume recebido de atividades é satisfatório, já os outros, não concordam.
Dentre as muitas razões da inserção das tecnologias no processo ensino
e aprendizagem, é tornar as aulas de ciências mais atrativas, com interação e
trabalho colaborativo. Estes recursos tecnológicos estimulam novas
experiências e favorecem a construção da aprendizagem colaborativa, científica
e tecnológica.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização das TDIC’s na educação tem causado muitas discussões
entre profissionais que estão em atuação, com constatações de que essas
ferramentas tecnológicas não garantem um trabalho válido para educação. No
entanto, são questionamentos que são revistos a cada conquista que esses
recursos favorecem, pois, as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação
não só garantem o aprendizado, de forma remota, como também vêm trazer uma
nova realidade para a educação, que acarreta inovações para o ensino. Tudo
isso causa interação e mediação entre os sujeitos envolvidos nesse processo de
ensino e aprendizagem, professor/aluno.

CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.4, p. 3625-3640, 2023 3637


As TDIC’s têm nos proporcionado reflexão sobre o contexto vivido,
principalmente no período da pandemia, sobre o fato de não podemos mais
deixar de se apropriar delas, que se faz tão presente em nosso cotidiano. E o
ensino de ciências precisa agregar essas tecnologias e inseri-las cada vez mais
a novos ensinamentos e aprendizados.
Vale destacar que as TDIC’s também proporcionam aprendizagens:
lúdicas, interativas e colaborativas entre professores e alunos. A educação e o
ensino precisaram sempre dessa inteiração com a arte de se reinventar e mediar
o ensino com as tecnologias digitais, que, reforçando, são ferramentas
essenciais para a educação e confirmado no período de pandemia.

CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.4, p. 3625-3640, 2023 3638


REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Gabinete do Ministro. Portaria nº 343, de 17


de março de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por
aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo
Coronavírus - COVID-19. Diário Oficial da União, Brasília, DF, ed. 53, 18 mar.
2020. Seção 01, p. 39. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-
n-343-de-17-de-marco-de-2020-248564376 Acesso em: 14 Nov. 2020.

BERG, J.; VESTENA, C. L. B; COSTA-LOBO, C. Criatividade e Autonomia em


Tempo de Pandemia: Ensaio Teórico a partir da Pedagogia Social. Revista
Internacional de Educación para la Justicia Social. V.9, n.3e, p. 1-13, 2020.

CONDE, I. B.., JACINTO JUNIOR., S. G., SILVA, M. A. M., VERAS, K. M.


Perceptions of chemistry teachers during the COVID-19 pandemic on the use of
virtual games in remote learning. Research, Society and Development. V.10,
n.10, 2021.

CORDEIRO, Karolina Maria de Araújo. O Impacto da Pandemia na Educação:


A Utilização da Tecnologia como Ferramenta de Ensino. 2020. Disponível em:

http://repositorio.idaam.edu.br/jspui/handle/prefix/1157. Acesso em 22 Mai.


2022.

CAVALCANTE, J. R., CARDOSO-DOS-SANTOS, A. C., BREMM, J. M.,


LOBO, A. P., MACÁRIO, E. M., OLIVEIRA, W. K., FRANÇA, G. V. A. COVID-
19 no Brasil: evolução da epidemia até a semana epidemiológica.
Epidemiologia e Serviços de Saúde. V. 29, n.4, p.1-13, 2020.

DIAS, E.; PINTO, F. C. F. A Educação e a Covid-19. Ensaio: Avaliação e


Políticas Públicas em Educação. v. 28, n. 108, 2020.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática


educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2003.

GARVÃO, M.; SLONGO, I. I. P. O ensino de ciências no currículo oficial dos anos


iniciais: uma leitura de sua história. ACTIO: Docência em Ciências. v. 4, n. 3,
p. 675-700, 2019.

GONÇALVES, Vitor. COVIDados a inovar e a reinventar o processo de ensino-


aprendizagem com TIC. Revista Pedagogia em Ação, v. 13, n. 1, p. 43-53,
2020.

HODGES, C., MOORE, S., LOCKEE, B., TRUST, T., BOND, A. As diferenças
entre o aprendizado online e o ensino remoto de emergência. Revista da
Escola, Professor, Educação e Tecnologia. v. 2, p. 1-12, 2020.

CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.4, p. 3625-3640, 2023 3639


KUHFELD, M., TARASAWA, B., JOHNSON, A., RUZEK, E., & LEWIS, K.
Learning during COVID-19: Initial findings on students’ reading and math
achievement and growth. NWEA. 2020. Disponível em:
https://www.nwea.org/uploads/2020/11/Collaborative-brief-Learning-during-
COVID-19.NOV2020.pdf

KENSKI, V. M. Novas tecnologias na educação presencial e a distância I. In:


BARBOSA, R. L. L. (Org.). Formação de educadores: desafios e perspectivas.
São Paulo: Editora UNESP, 2003. p. 91-107.

MESSEDER NETO, H. S., MORADILLO, E. F. Uma análise do materialismo


histórico-dialético para o cenário da pós-verdade: contribuições histórico-críticas
para o ensino de Ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 37, n.
03, p. 1320-1354, 2020.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). O desafio da Pesquisa Social: Teoria,


método e criatividade. 28. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.

NETO ANTUNES, J. M. F. Sobre ensino, aprendizagem e a sociedade da


tecnologia: por que se refletir em tempo de pandemia? Prospectus. v. 2, n. 1, p.
28-38, 2020.

OLIVEIRA, C. M., OLIVEIRA, A. L. Ensino de ciências em tempos de pandemia:


reflexões de professores em formação. Humanidade & Inovação. v. 8, n. 61. p.
145-158, 2021.

PAZ, R. C. Epidemias, pandemias, a evolução da Ciência e a ciência da


Evolução. Informativo Notas do CCBS. Rio de Janeiro, Ano 02, Número 01.,
p.19-33, 2022.

PIMENTA, S.G. (Org). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo:


Cortez,2012.

ROSA, R. T. N. Das aulas presenciais às aulas remotas: as abruptas mudanças

impulsionadas na docência pela ação do Coronavírus-o COVID-19!. Rev. Cient.


Schola, vI, n 1, 2020.

SENHORAS, E. M.(org.). Ensino remoto e a pandemia de COVID-19. Boa


Vista: Editora IOLE, 2021.

SOARES NETO, J., PINHO, F. V. A. DE., MATOS, H. L., LOPES, A. R. DE O.,


CERQUEIRA, G. S., & SOUZA, E. P. Teaching technologies used in Education
in the COVID-19 pandemic: an integrative review. Research, Society and
Development, [S. l.], v. 10, n.1, 2021.

CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.15, n.4, p. 3625-3640, 2023 3640

Você também pode gostar