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Contratos Comerciais
1. Objetivos e Subjetivos
Desde logo, serão comerciais todos aqueles contratos que preencham o critério
objetivo da comercialidade previsto na primeira parte do art. 2.º do CCom., ou seja,
utilizando a terminologia da própria lei, todos aqueles "que se acharem especialmente
regulados neste Código."
Por outro lado, seriam ainda comerciais todos aqueles contratos que satisfaçam o
critério subjetivo da comercialidade da segunda parte do citado art. 2° do CCom, ou
seja, de novo recorrendo aos dizeres da lei, "todos os contratos e obrigações dos
comerciantes."
Estão aqui agora abrangidos todos os contratos em que uma ou ambas as partes
possuam o estatuto de comerciante, com exceção daqueles contratos que sejam
essencialmente civis (isto é, constituam contratos que, por definição e em abstrato, são
insuscetíveis de ter qualquer conexão com o exercício do comércio (v.g., casamento do
comerciante) e ainda desde que o contrario não resulte desses mesmos contratos (isto é,
não constituam negócios donde resulte, no caso concreto, serem alheios ao exercício do
comércio do respetivo autor.) 1
Naturalmente empresariais
1
Exemplo dono do stand de automóveis celebra compra e venda de determinado veículo para
fins puramente pessoais ou familiares). Se ali o que decide da natureza ou relevância jurídico-comercial
de um determinado contrato é a natureza do contrato em si mesmo, independentemente da qualidade do
respetivo autor (comercialidade “in re”), aqui o que decide dessa natureza ou relevância é
fundamentalmente o estatuto do comerciante de quem o pratica (comercialidade “in persona”).
e de associação em participação (Decreto-Lei n.º 231/81, de 28 de Julho), os contratos
de subordinação (art. 493.° do CSC), ou os contratos de empresa comum. Um outro
grupo é constituído pelos contratos de negociação de empresa, que têm por objeto
precípuo a transmissão empresarial, definitiva ou temporária, direta ou indireta: é o caso
do trespasse e locação de estabelecimento comercial (arts. 1109.° e 1112. ° CCivil), dos
contratos de fusão e de cisão societária (arts. 94.° e 118. ° do CSC), dos contratos de
compra e venda de participação sociais, ou dos contratos de "management buy-out”.
Outras Qualificações
Como é próprio das tipologias doutrinais, várias outras classificações têm sido
elaboradas e ensaiadas na literatura especializada, com base nos mais diversos critérios
de natureza jurídica ou económica.
Desde logo, serão comerciais todos aqueles contratos que preencham o critério
objetivo da comercialidade previsto na primeira parte do art. 2 CCom., ou seja,
utilizando a terminologia da própria lei, todos aqueles "que se acharem especialmente
regulados neste Código"
É o contrato pelo qual uma parte entrega a outra um conjunto de bens fungíveis,
obrigando-se este a restituir esses bens decorrido um determinado período. Ele não tem
necessariamente dinheiro por objeto (podendo tratar-se de outras coisas fungíveis), mas
aqui, o mútuo será quase sempre um mútuo pecuniário.
Mútuo comercial
O contrato de mútuo comercial está previsto nos arts. 394.º a 396.º do CCom,
estando ainda sujeito subsidiariamente às normas juscivilisticas gerais em sede de
mútuo (art. 1142.º e ss. Do CC). Estaremos face a ele quando a quantia mutuada se
destinar à prática de um ato comercial (ex. se for emprestada uma quantia a uma
sociedade comercial, será sempre um mútuo comercial pois esta vai destinar a quantia à
sua atividade, não revela assim, em princípio, a qualidade civil, ainda que celebrado
entre dois comerciantes, não terá natureza comercial, assim como um empréstimo
destinado a uma atividade comercial não perderá essa natureza pelo facto de uma ou
ambas as partes serem meros particulares – tal não significa que seja irrelevante a
qualidade de comerciante: por força ad presunção geral da comercialidade dos atos dos
comerciantes, nos termos do art. 2.º, 2ª parte CCom, todos os empréstimos contraídos
ou concedidos por comerciantes serão comerciais, exceto quando se prove que aqueles
são alheios ou impertinentes ao comércio desenvolvido pelo seu autor.).
Este não é um contrato real quanto à sua constituição, mas sim um mútuo
consensual, socialmente típico no comércio bancário. Releve-se que não se pode falar
da entrega de notas ou moedas sendo que a entrega consiste quando o banco credita essa
soma na conta do mutuário. O mútuo transmite a propriedade das coisas mutuadas – art.
1144º CC (esta norma estava pensada peara aqueles casos em que eram entregues notas
e moedas, no mútuo bancário tal não sucede pois esse processa-se por crédito em
conta).2
Forma
Bem vistas as coisas, este fenómeno não nos deve surpreender demasiado se se
tiver na devida conta que o Direito Comercial constitui um ramo que, além do interesse
da celeridade das transações comerciais, persegue ainda o interesse, de igual dignidade e
por vezes antagónico, da segurança e certeza jurídica das mesmas. Este antagonismo
axiológico tem sido assim responsável, ao longo da história deste ramo jurídico, por
uma oscilação cíclica entre regulações consensualistas e formalistas: se, por um lado, o
ordenamento jusmercantil exibe tradicionalmente uma tendência para a simplificação do
formalismo dos atos e relações jusmercantis (vejam-se os exemplos paradigmáticos da
relevância jurídica da correspondência telegráfica, da força probatória especial da
escrita comercial, ou do regime de determinados contratos mercantis especiais: cf. arts.
44.°, 97. °, 396. °, e 400.° do CCom), não menos verdade é que, por outro lado, se vem
acentuando recentemente um fenómeno inverso de recrudescimento desse formalismo.
Ora, como veremos melhor já a seguir, este fenómeno é particularmente notório no
domínio da contratação mercantil: semelhante formalismo pode ser fonte jurídico-
convencional, resultante da vontade dos próprios comerciantes (de que a prática dos
contratos de adesão constitui uma eloquente ilustração) ou de fonte jurídico-legal,
resultante de determinação do próprio legislador.
Onerosidade
Juros comerciais
Uma das normas da lei comercial onde mais claramente aflora tal princípio é a
do art. 102. ° do CCom , que determina as regras em matéria do decurso e da contagem
dos juros relativos às obrigações comerciais.
Em via geral, os juros podem definir-se como os frutos civis, constituídos por
coisas fungíveis (em regra, mas não necessariamente, dinheiro), que representam o
rendimento de uma obrigação de capital (isto é, uma obrigação que tem por objeto
valores pecuniários oi outros bens fungíveis), vencível pelo simples decurso do tempo.
Na aceção mais corrente, o juro é visto como a soma pecuniária cujo cômputo se obstem
mediante a aplicação da fórmula J=C (t) (p), em que J representa o montante de juros, C
representa o montante da obrigação de capital (expressa em moeda com curso legal) (t)
representa a taxa percentual aplicável e (p) representa o prazo ou período temporal
relevante.
Dado que a lei comercial lhes faz corresponder regimes diversos, convém
começar por distinguir aqui entre vários tipos ou espécies de juros. Por um lado,
atendendo à sua fonte imediata, os juros podem ser classificados como juros legais e
juros convencionais: os primeiros são aqueles que resultam diretamente da lei, ao passo
que os últimos são aqueles que são fixados por vontade das partes. Por outro lado,
atendendo agora à respetiva função, os juros (tanto legais como convencionais) podem,
por sua vez, dividir-se em juros remuneratórios e juros moratórios: os primeiros são
aqueles que constituíam para o credor uma contrapartida pela cedência de capital ou
valor pecuniariamente avaliável ao devedor, ao passo que os últimos representam para o
credor uma indemnização pelos prejuízos causados pela mora do devedor no
cumprimento da respetiva obrigação. Finalmente, quanto ao seu pagamento, podem
distinguir-se entre juros postecipados e juros antecipados: ao passo que os primeiros são
pagos no termo do período legal ou contratual da respetiva contagem, os últimos
designam o caso excecional dos juros que são pagos no início desse prazo ou dobrados
“à cabeça”.
O corpo do art. 102. do CCom estabelece que, no silêncio das partes, haverá
lugar à contagem dos juros em dois casos fundamentais: sempre que "for (...) de direito
vencerem-se" e "nos mais casos especiais fixados no presente Código". O primeiro caso
parece reportar-se àquelas hipóteses em que a própria lei geral ou comum comina uma
obrigação de juros: haverá assim lugar à contagem de juros sempre que uma relação
jurídico-mercantil se insira ou subsuma numa daquelas situações previstas na lei civil
relativamente às quais haja lugar à contagem de juros, tais como, por exemplo, nas
obrigações pecuniárias (art. 806. ° do CC), com contratos de mútuo art. 1145.º do CC)
nos contratos de mandato ou nos contratos de deposito. Já segundo dos casos referidos
parece apontar para aquelas outras hipóteses em que a própria lei comercial a cominar
idêntica obrigação: para nos ficarmos apenas pelo código comercial, haverá assim lugar
a contagem de juros nas hipóteses contemplarás nos contratos de mandato mercantil, de
conta-corrente, de empréstimo mercantil ou de deposito de géneros e mercadorias.) ou
ed deposito ed géneros e mercadorias (art. 4153.
Não obstante existam autores e arrestos que consideram como aqui relevantes
apenas as entidades que desenvolvam uma das atividades empresariais referidas no art.
230. Do CCom. Propendemos a interpretar a expressão legal no sentido de considerar
abrangidas quaisquer pessoas físicas ou coletivas, titulares de uma empresa, no
exercício da sua atividade empresarial. Ou seja, em nosso entender, o regime em apreço
é aplicável aos créditos e (débitos, como veremos) emergentes de contratos celebrados
por quaisquer empresários singulares (V.g., empresários em nome individual, empresas
"conjugais" ou "hereditárias") ou coletivos (“máxime” sociedades, agrupamentos
complementares de empresas, cooperativas, empresas publicas): ponto é que tais
contratos possuam uma concreta conexão com o exercício da respetiva atividade
empresarial (conexão essa que, de resto, é mesmo presumida já em via geral, nos termos
dos arts. 2.° e 15.° do CCom), deixando assim de fora apenas aqueles outros que a esta
atividade sejam alheios ou impertinentes (por exemplo, negócios pessoais ou familiares
de um empresário em nome individual).
Depois ainda, quanto ao seu âmbito objetivo, o regime do art. 102, $3 do CCom
deve considerar-se como indistintamente aplicável aos créditos e débitos emergentes de
contratos comerciais para os referidos empresários.
Muito embora a letra da lei possa inculcar ideia diversa (ao falar dos créditos
que sejam titulares” estes sujeitos), justifica-se adotar aqui uma interpretação extensiva
dos dizeres legais, considerando como igualmente relevantes as obrigações contratuais
jusmercantis nas quais aqueles sujeitos assumem a posição de devedor, tanto mais que,
por força do DL n.º 32/2003, de 17 de fevereiro, o regime especial de juros moratórios
passou a ser aplicável a todas as obrigações pecuniárias emergentes de transações
interempresarial (abrangendo assim, necessária e simultaneamente, os créditos e os
débitos pecuniários de empresas). Vistas as coisas de um outro prisma, pode afirmar-se
que o regime legal em causa se aplica aos juros relativos a obrigações de pagamento
relativas a contratos bilaterais ou unilateralmente comerciais, celebrados entre
empresários ou celebrados entre um empresário e outras entidades publicas (estado,
autarquias locais) ou privado (consumidores).
A concluir, a par do citado regime geral dos juros legais comerciais, haverá ainda
que ter em atenção a existência de determinados regimes específicos aplicáveis a certas
obrigações mercantis particulares. Especialmente relevantes são as normas sobre os
chamados juros bancários, previstas genericamente no Decreto. Lei n.º 344/78, de 17 de
Novembro: entre outras especialidades, tais disposições permitem - em sede de juros
remuneratórios - a sua cobrança antecipada em operações de desconto de letras, extratos
de fatura e "warrants" (art. 5.°, n.º 1) bem assim como a capitalização de juros vencidos
há mais de três meses (art. 5.°, n° 6), além de prever - em sede de juros moratórios – a
possibilidade de se convencionar a cobrança de uma sobretaxa supletiva de %2 (art. 7.°,
n.º 1), não podendo nunca, porém, o montante total superar em 4% o valor das taxas
compensatórias (art. 7.°, n.º 3).
Prova
Está neste caso o contrato de empréstimo mercantil. Ao passo que o art. 1143.CC
prescreve para o mútuo civil a obrigatoriedade de forma solene ou de documento escrito
assinado pelo mutuário (quando o seu valor for superior, respetivamente a 25.000 e
2.500 euros), o art. 396° do CCom estabelece que o empréstimo mercantil celebrado
entre comerciantes admite qualquer género de prova. (Como é evidente, aqui o princípio
geral da liberdade de prova tem também o significado de um princípio de liberdade de
forma, já que não faria muito sentido admitir a prova de um empréstimo nulo por falta
de forma.)
Cumpre, todavia, chamar aqui a atenção para algumas especialidades.
Por um lado, o regime jusmercantil apenas é aplicável aos empréstimos mercantis
celebrados entre comerciantes: significa isto que, em princípio, ficarão já sujeitos às
regras gerais do civil os empréstimos mercantis nos quais uma das partes não seja
comerciante. Por outro lado, há também que não perder de vista a existência de certos
tipos específicos do empréstimo mercantis, ora disciplinados por regras especiais –
como é o caso por exemplo das regras relativas aos contratos de mútuo celebrados por
instituições bancarias – ora, carecidos de tratamento autónomo – como é o caso dos
contratos de credito ao consumo e porventura dos contratos de suprimento nas
sociedades comerciais.
Juros bancários
NOÇÃO:
SUJEITOS:
Tal contrato - além de revestir uma natureza formal 5 (art. 3°. n.°1) - representa
assim necessariamente um negócio bilateral ou plurilateral (extinguindo-se logo que,
por qualquer razão desapareça a pluralidade das partes)6, que é tipicamente celebrado
3
O consórcio é, enquanto tal, destituído de qualquer autonomia patrimonial ou personalidade
jurídica própria (ac. RE, 25-11-98, Fonseca Ramos), faltando-lhe mesmo personalidade jurídica ou fiscal.
Como veremos, tal não significa dizer que o mesmo não possa dar origem – e tal será mesmo a regra geral
no caso dos chamados “consórcios externos” – a uma organização interempresarial ou mesmo a uma
empresa consorcial autónoma não personificada por normas legais próprias (arts. 7.º, 12.º a 17.º e 19, DL
n.º 231/81, de 28 de julho.
4
Esta flexibilidade ou plasticidade da figura contratual – corroborada pelo caráter supletivo de
uma boa parte da disciplina legal (arts. 1.º e segs do DL n.º 231/81), bem como pelo princípio
fundamental da liberdade de conformação contratual (art. 4.º, nº1 do mesmo diploma) – explica
porventura a razão do seu sucesso prático, nas mais variadas áreas da atividade económica.
5
Os contratos de consórcio estão sujeitos à forma escrita ou, quando estejam envolvidos
imóveis, a forma mais solene (art. 3º, nº 1), formas essas também aplicáveis, em princípio, no caso da sua
alteração e resolução (art. 6º, n.º 2) – ac. STJ-23-10-1997, Miranda Gusmão.
6
Tal como a celebração de um negócio unilateral de consórcio seria nulo (art. 220º CC), também
a redução à unipessoalidade de um consórcio originalmente plural conduzirá à sua automática cessação
ou termo (art. 11.º, n.º 1, d)). Outras formas de cessação são a exoneração dos consortes (art. 9.º), a
resolução do contrato (art. 10º) e a extinção do contrato (por revogação, caducidade, etc. art. 11.º):
sublinhe-se que a duração supletiva do contrato de consórcio é 10 anos, sendo controvertida a
entre empresários singulares ou coletivos personificados (sociedades comerciais,
cooperativas, fundações, etc.) qualquer que seja o tipo de atividade económica por estes
desenvolvida (que poderá ser comercial ou civil, conexa ou irrelacionada, etc.)7.
OBJETO:
MODALIDADES:
8
Ilustrações desta natureza são a regra da unanimidade nas alterações do contrato (art. 6.º) e nas
deliberações do conselho de fiscalização (art. 7.º, n.º 2, a)), a exigência de justa causa em sede da
exoneração de membros do consórcio (art. 9.º), e os vários deveres dos consortes (v.g., deveres
qualificados de colaboração, informação e lealdade: cf. art. 8.º).
cooperação interempresarial de base consorcial.9 Assim, robustecendo o papel da
estrutura organizativa no seio dos consórcios, a lei previu a possibilidade de instituição
de um “conselho de orientação e fiscalização” – composto por todos os consortes, cujo
o funcionamento e competências podem ser supletivamente convencionadas por estes
(art. 7º) - e a obrigatoriedade de designação de um “chefe do consórcio” – o qual, sendo
necessariamente um consorte, é titular de poderes de natureza interna (“maxime”,
organização e implementação da cooperação consorcial cf: art. 14.º) e externa
(“maxime”, poderes de representação no plano das relações com terceiros), sem
prejuízo de outras atribuições, contratualmente previstas – alem de diversas outras
regras próprias, de natureza imperativa (exemplo – em matéria da adoção de uma
denominação própria art. 15.º) ou facultativa (exemplo o caso das chamadas “comissões
técnicas” ou equipas comuns – são um tipo de órgão facultativo que a pratica tem
acolhido amiúde nos consórcios com objeto complexo)
ESTRUTURA PATRIMONIAL:
Esta proibição legal é criticada por alguns autores, que alertam para as
dificuldades operacionais de financiamento por ela gerados e sugerem vias
alternativas para superação (exemplo celebração de contratos acessórios, entrega
de importância ao chefe de consorcio)
9
Ex. externo ac. STJ, 24-2-1999, Silva Paixão; ex. interno ac. RL 16-4-96, Joaquim Dias.
10
contratual da repartição dos lucros e perdas gerados pela atividade consorcial
(redistribuição proporcional interna dos valores recebidos e prejuízos suportados no
âmbito das relações com terceiros: cf. art. 4/1, 16 e 17), bem como da respetiva
responsabilidade (a qual, sendo em regra puramente individual, admite o
encabeçamento representativo na figura do chefe do consórcio, além de diversa
disciplina contratual no plano das relações internas entre aqueles: cf. art. 15/2 e 19)
FORMALISMO:
CESSAÇÃO CONTRATUAL:
Esta subordinação ao regime geral não significa, todavia, que a disciplina legal
da contratação mercantil, impregnada dos seus valores próprios, não exiba algumas
especialidades que importa conhecer.
CONTRATAÇÃO CONJUNTA:
E assim sucede também com vários outros contratos comerciais que, não obstante não
subordinados por lei a qualquer forma especial, carecem frequentemente da unificação dos enunciados
negociais em virtude da sua complexidade técnica ou relevo económico: é o caso de contratos mercantis
atípicos de grande vulto, especialmente internacionais, tais como, por exemplo, os contratos de compra e
venda de empresa ("sale of control", "Beteiligungs- "cessions de contrôle", "pachetti azionari di
controllo") ou os contratos de empreendimento comum ("joint venture").
CONTRATO DE COLOCAÇÃO:
11
Esta vicissitude, aliás, não é um exclusivo lusitano, afetando também os elencos legais
previstos em outros Códigos europeus congéneres: assim, para o direito espanhol, a doutrina enfatiza
igualmente “a inadequação à realidade do tráfico atual de grande parte dos contratos contemplados no
Código Comercial vigente”.
de simplificação (libertando-o de tarefas e custos acessórios relacionados com a gestão e
cobrança dos créditos).12
Conquanto assente sobre a figura geral da cessão de créditos – cujas regras lhe
são, em princípio, supletivamente aplicáveis (arts. 577.º e segs. CC) 14 -, este contrato
exibe características distintivas próprias: no essencial, encontramo-nos
predominantemente diante de um contrato-quadro¸ celebrado entre um banco ou
instituição creditícia especializada (sociedade de “factoring”: cf. arts. 3.º, h) e 4.º, n.º 1,
b) de RGIC) e uma empresa, que regula e baliza a celebração futura de uma
multiplicidade de contratos individuais de cessão de créditos entre cedente de
cessionário financeiros.15 A cessão financeira ou “factoring” pode revestir diferentes
modalidades: fala-se assim em cessão financeira doméstica ou internacional (consoante
o aderente se obriga a ceder ao “factor” créditos decorrentes de contratos celebrados
com um sujeito do mesmo ou de outro Estado) 16, incompleta ou completa (também
designada “maturity” e “conventional factoring”, consoante o “factor” apenas se dispõe
a prestar ao aderente os seus serviços de cobrança e gestão de créditos, ou também um
serviço de financiamento, concedendo-lhe antecipações sobre o valor nominal dos
créditos cedidos), própria ou imprópria (também designada sem ou com recurso,
consoante o “factor” assume o risco de incumprimento dos devedores cedidos ou não), e
12
Diferentemente, embora vizinho, é o chamado “confirming”, negócio atípico mediante o qual
uma instituição bancária ou financeira especializada providencia um serviço consistente na gestão do
pagamento das dívidas de um empresário perante os respetivos fornecedores.
13
Qualificando-o como um contrato atípico misto, vide o Ac. RL de 27-5-2001, Salvador da
Costa.
14
Atribuindo a este contrato a natureza de uma cessão de créditos, vide os Acórdãos do STJ de 1-
6-2000 (Simões Freire) e STJ, 27-4-2004 (Azevedo Ramos).
15
Em abstrato, a operação de cessão financeira pode ser estruturada segundo um modelo monista
(cessão global de créditos presentes e futuros) ou dualista (celebração de um negócio inicial pelo qual o
aderente se obriga a ceder ao “factor” os créditos de que venha a ser titular sobre certos clientes seus).
16
A crescente importância do “factoring” no seio das transações internacionais levou mesmo à
elaboração da “Convenção sobre o Factoring Internacional” de 1988, a qual, no essencial, contém um
conjunto de regras materiais uniformes diretamente aplicáveis ao contrato em apreço.
aberta ou fechada (consoante postula ou não a notificação do devedor cedido pelo
aderente). Finalmente, no que concerne ao seu regime jurídico, são múltiplos os aspetos
a considerar, que aqui não podem ser analisados exaustivamente: quanto à sua
formação, os contratos de cessão financeira devem revestir forma escrita (art. 7.º, n.º 1,
“ab initio”), consistindo caracteristicamente em contratos de adesão sujeitos ao controlo
da LCCG; quanto ao seu conteúdo, eles devem integrar a disciplina do conjunto das
relações entre o “factor” e o aderente “art. 7.º, n.º 1 in fine), de entre as quais merecem
destaque, por parte do aderente, as obrigações de exclusividade (apenas pode ter único
“factor”), de notificação (dos devedores cedidos) e de remuneração (“máxime”,
comissões de cobrança), e, por parte do “factor”, as obrigações de prestação de serviços
de cobrança, gestão de créditos e outros, de creditação em conta-corrente do aderente
dos montantes dos créditos vencidos, de antecipação de pagamentos de créditos não
vencidos (art.º 8, n.ºs 2 e 3, todos do Decreto-Lei nº. 179/95, de 18 de julho) e de
assunção do risco de incumprimento do devedor cedido (salvo cláusula de cessão com
recurso ou “pro solvendo”).17
Contrato de factoring
17
Jurisprudência relevante: oponibilidade da compensação – ac. STJ, 6-10-1998, Fernandes de
Magalhães; cessões sucessivas do mesmo crédito, ac. STJ, 25-5-1999, Torres Paulo; natureza jurídica –
STJ, 1-5-2000, Simões Freire.
O factoring é um contrato no âmbito do qual um sujeito (chamado factorizado)
transmite ao outro (o factor) créditos comerciais de curto prazo que tem sobre os
seus clientes para que o factor lhe adiante o valor desses créditos e ele lhe
garanta o cumprimento dos devedores cedidos bem como a cobrança de créditos
sendo que, em contrapartida, o factorizado pagará as seguintes remunerações ao
factor – juros pelo adiantamento, uma comissão de garantia pela garantia de
cumprimento e uma comissão de cobrança.
Quando uma empresa vende um bem ou presta um serviço, em regra entrega
logo o bem ou presta logo o serviço, mas concede à outra parte um prazo de
30/60/90 dias para ela pagar o preço.
A empresa, nesse período, precisa de meios financeiros/liquidez para ela própria
ir cumprindo as suas obrigações (ex. pagar internet, renda, água, luz, salários) e
por isso recorre ao factor para que este lhe adiante, de imediato, parte do valor
desse crédito (em regra, cerca de 80%).
Se esse crédito, com pagamento por ex. a 60 dias, for de 1000 euros, a empresa
irá transmitir esse crédito ao factor e solicitar um adiantamento de 80% desse
valor.
O elemento essencial é sempre a cessão do crédito – o factorizado
transmite/cede ao factor o crédito ao preço que tem face ao seu cliente.
Em qualquer circunstância, no factoring há sempre uma cessão de créditos que
está prevista nos Art. 577º-588º Código Civil.
Quem irá cobrar este crédito vai ser o factor – este adquire o crédito, passa a ser
o cessionário do crédito e depois irá realizar a cobrança do crédito face ao
cliente do factorizado que se denomina o devedor cedido.
O factoring é um contrato nominado (denomina-se cessão) sendo que para haver
cessão a lei exige:
1. Créditos comerciais de curto prazo (até 90 dias).
2. Transmissão/cessão de créditos.
Estrutura do factoring:
1. Contrato quadro/de factoring sendo seguido de um conjunto de outros
negócios (negócios de segundo grau) de forma sucessiva sendo que
destes decorre a cessão dos créditos:
a) O contrato de quadro contém plafons de crédito (ex. o factor
obriga-se a conceder crédito/adiantamentos ao factorizado até um
determinado valor sendo que tal está definido no contrato de
factoring).
b) Ex. o factor concede também o serviço de garantia, também neste
contrato estão fixados os valores até aos quais o facto garante o
valor.
2. Estrutura unitária: assenta num contrato inicial/de factoring, mas este é
um contrato de cessão de créditos futuros, ou seja, deste contrato são
antecipadamente transmitidos os créditos como futuros (são transmitidos
mesmo antes de serem constituídos)
a) Nos termos do Art. 280º Código Comercial é possível a cedência
de créditos futuros desde que preenchido os requisitos de
determinabilidade: (ex. são cedidos créditos sobre os clientes B,
C, D do factorizado; logo que o factorizado celebre contratos com
qualquer um deles, esses créditos são cedidos ao factor).
b) Ex. depois de celebrar um contrato de factoring, A celebra um
contrato de compra e venda com B, o crédito que A tem sobre B
transmite-se imediatamente ao factor logo que o negócio seja
celebrado.
c) Este negócio não necessita de um negócio posterior de
transmissão de créditos.
d) É necessário haver critérios de determinabilidade (ex. clientes do
factorizado, valores dos créditos).
O núcleo do factoring é a cessão de créditos (ex. A tem um crédito sobre B. A
vendeu-lhe uma mercadoria sendo que A tem um crédito ao preço).
A cessão de créditos significa que esse crédito é cedido a outro sujeito factor,
passando o factor a ser titular do crédito sendo que é este que vai ter de fazer a
cobrança do crédito.
1. O crédito é transmitido ao factor sendo este o cessionário, mas B não
sabe e não precisa de saber ou dar consentimento.
2. É necessário proceder à notificação de B que consiste em informar este
de que o seu credor é o F sendo que B só pode pagar ao F.
3. Se B não for notificado este não sabe que o crédito foi transmitido e, se
não sabe está protegido, sendo que se pagar ao A (cedente) extingue-se a
obrigação.
4. Se A celebrar com B um contrato nos termos dos quais altera o conteúdo
do contrato (prazo, preço) esse negócio é oponível ao factor se a cessão
não tiver sido notificada – Art. 581º/582º Código Civil.
5. Não havendo notificação, se A ceder novamente a H, o credor é aquele
que em primeiro notificar B sendo que este será quem adquire o crédito
(adquire o crédito a non domino) – Art. 583º Código Civil.
A notificação do crédito é relevante pois enquanto o crédito não for notificado o
devedor cedido (B) pode pagar liberatoriamente ao cedente, pode celebrar com
os cedentes negócios que serão oponíveis ao cessionário e também, perante uma
dupla cessão de crédito, aquela que prevalece é aquela que foi primeiramente
notificada.
A notificação é feita da seguinte forma:
1. Ex. A vende a B uma mercadoria.
2. No contrato de compra e venda, o vendedor tem sempre de emitir uma
fatura sendo que o facto o obriga a colocar uma indicação de que aquele
crédito foi cedido ao factor e que só o pagamento ao facto será
liberatório.
3. Assim, quando o vendedor envia a mercadoria com a fatura, está a
notificar o comprador da cessão, enviando também a cópia da fatura ao
factor.
4. No entanto, o factor não se basta com a cópia da fatura, notificando
também B sobre a cessão (há uma dupla notificação).
Meios de defesa oponíveis pelo devedor cedido ao factor:
1. Ex. A vende a B. A cede o crédito ao factor e este, como é titular do
crédito, vai cobrá-lo a B.
2. O devedor cedido por opor ao factor todos os meios de defesa
decorrentes desta relação (compra e venda) – ex. A vendeu a B mas A
não lhe entregou a mercadoria sendo que B pode opor a exceção de não
cumprimento ao facto.
3. Pode recorrer a todos os meios de defesa que decorram do contrato
sinalagmáticos decorrentes da relação entre o factorizado e o devedor
cedido.
4. Pode recorrer também aos meios de defesa do Art. 585º Código Civil:
a) O mais importante destes meios de defesa é a compensação.
b) Ex. há um contrato de compra e venda e deste decorre um crédito
de 1000 euros que é cedido ao factor sendo que o factor procede à
cobrança.
c) No entanto, foi celebrado um outro contrato entre as mesmas
partes sendo que este se traduzia num contra crédito em 1100
euros (B é agora credor de A).
d) O devedor cedido (B) pode recorrer à compensação nos termos
do Art. 585º Código Civil (B pode recorrer a todos os meios de
defesa que se constituíram antes da cessão do crédito – até ao
conhecimento da cessão, ou seja, da notificação).
e) Não é necessário que o contra crédito se tenha vencido (seja
exigível) antes desse período, basta que ele se tenha constituído.
A cessão de créditos não existe só no âmbito do factoring:
1. Os bancos cedem créditos, uma empresa para se financiar muitas vezes
cede créditos.
Modalidades de cessão de créditos no factoring:
1. Critério do adiantamento e critério da garantia:
a) Cessão de crédito com recurso e com adiantamento:
I. Com recurso: o factor não presta o serviço de garantia.
II. Com adiantamento: o factor adianta o crédito necessário.
III. Esta cessão funciona da seguinte forma - ex. A celebra
com B um contrato e cede o crédito ao factor.
IV. O devedor cedido paga (1000 euros), o factor retira o
adiantamento (800 euros), os juros e a comissão de
cobrança e entrega o remanescente a A.
V. Se o devedor cedido não pagar, o factor não prestou o
serviço de garantia, mas apenas o de adiantamento sendo
que o factor retransmitirá o crédito a A, cobrando-lhe o
crédito adiantado, os juros e a comissão de cobrança.
VI. Esta modalidade de cessão é um contrato misto de mútuo
(o factor empresta o dinheiro) e de mandato (o factor
possui poderes para cobrança do crédito).
b) Cessão sem recurso e com adiantamento:
I. Ex. Se B não pagar, uma vez que o factor prestou o
serviço de garantia, ele não vai retransmitir o crédito e vai
entregar a diferença entre o crédito e o que foi adiantado,
menos os juros, menos a comissão de cobrança, menos a
comissão de garantia.
II. Esta modalidade de cessão é um contrato misto, mas mais
complexo, possui na mesma o elemento de mútuo (há um
adiantamento), também existe o elemento de mandato (o
factor vai cobrar o crédito) mas possui um elemento de
fiança (o factor presta um serviço de garantia, este torna-
se fiador do devedor cedido)
c) Cessão com recurso e sem adiantamento:
I. O factor apenas vai cobrar o crédito, este não presta o
serviço de garantia nem de adiantamento sendo que
apenas cobrará uma comissão de cobrança.
II. Se o devedor pagar, o factor vai entregar o crédito a A
menos a comissão de cobrança.
III. Se B não pagar, o factor vai retransmitir o crédito e não
cobrará nada, exigindo que A lhe pague a comissão de
cobrança.
IV. Nesta modalidade de cessão este contrato é simplesmente
um mandato para cobrança, mas é um mandato fiduciário
(o factorizado/cedente não se limitou a conceder ao factor
poderes para ele cobrar o crédito, pois podia tê-lo feito
através de uma procuração, mas sim transmitiu-lhe o
crédito para esse efeito).
FORMA ELETRÓNICA:
A contratação mercantil por via eletrónica, a qual implica, por definição, uma
desmaterialização do suporte das declarações de vontade dos contraentes: não
surpreende assim que os legisladores, um pouco por todo o mundo, venham
consagrando uma equivalência dos documentos eletrónicos aos documentos em papel,
apontando consequentemente para uma progressiva neutralidade das formas (físicas ou
eletrónicas) dos negócios jurídicos.