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CARREIRA JURÍDICA - MÓDULOS I E II

Direito Penal - Aula 02


Rogério Sanches

RELEMBRANDO AS ESPÉCIES DE INTERPRE- IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimu-


TAÇÃO lação ou outro recurso que dificulte ou torne impos-
sível a defesa do ofendido;
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.”

ATENÇÃO! A INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA não


se confunde com ANALOGIA

ANALOGIA
Não é forma de interpretação, mas de integração.
Obs:
3- Interpretação quanto ao RESULTADO ANALOGIA: parte-se do pressuposto de que não
existe uma lei a ser aplicada ao caso concreto, mo-
a) Declarativa / Declaratória tivo pelo qual é preciso socorrer-se de previsão
b) Restritiva legal empregada à outra situação similar.
c) Extensiva (+ cai no concurso)
PRESSUPOSTOS DA ANALOGIA NO DIREITO
INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA: PENAL
Aprofundando a)
# Admite-se interpretação extensiva contra o réu? b)
1ª Corrente (Nucci e Luiz Regis Prado): É indiferen- Exemplo 1: Art. 181, I C.P. – (o legislador não lem-
te se a interpretação extensiva beneficia ou prejudi- brou da união estável – possível analogia “in bonam
ca o réu (a tarefa do intérprete é evitar injustiças). partem”).
2ª Corrente (Luiz Flávio Gomes / Defensoria Públi- ART. 181, I C.P.
ca): Socorrendo-se do Princípio do “in dubio pro
reo”, não admite interpretação extensiva contra o “Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer
réu (na dúvida, o juiz de interpretar em seu benefí- dos crimes previstos neste título, em prejuízo: (Vide
cio) Lei nº 10.741, de 2003)
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
3ª Corrente (Zaffaroni): Em regra, não cabe interpre-
tação extensiva contra o réu, salvo quando interpre- Exemplo2: Art. 155 § 2º C.P. – Furto Privilegiado
tação diversa resultar num escândalo por sua notó- (não é aplicável ao roubo, uma vez que a intenção
ria irracionalidade. do legislador é não privilegiar esse tipo de crime).
CUIDADO! Não podemos confundir INTERPRETA- ART. 155 § 2º C.P.
ÇÃO EXTENSIVA com INTERPRETAÇÃO ANA- Furto
LÓGICA Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa
alheia móvel:
INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA (INTRALEGEM) Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno
O Código, atento ao Princípio da Legalidade, deta- valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena
lha todas as situações que quer regular e, posteri- de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a
ormente, permite que aquilo que a elas seja seme- dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
lhante, passe também a ser abrangido no dispositi-
vo.

Exemplo 1: Art. 121, § 2º, I, III e IV C.P.

I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou


por outro motivo torpe;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfi-
xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de
que possa resultar perigo comum;

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PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL mente os casos de relevante lesão ou perigo de


lesão ao bem jurídico tutelado (caráter fragmentá-
Podemos estudar os Princípios do Direito Penal rio).
formando 4 grupos:
IMPORTANTE! O princípio da insignificância é des-
1º Princípios relacionados com a MISSÃO FUNDA- dobramento lógico de qual característica da inter-
MENTAL DO DIREITO PENAL venção mínima?
2º Princípios relacionados com o FATO DO AGEN-
TE PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
3º Princípios relacionados com o AGENTE DO FA-
TO EM RESUMO: o princípio da insignificância pode
4º Princípios relacionados com a PENA ser entendido como um instrumento de interpreta-
ção restritiva do tipo penal. Sendo formalmente típi-
ca a conduta e relevante a lesão, aplica-se a norma
penal, ao passo que, havendo somente a subsun-
ção legal, desacompanhada da tipicidade material,
deve ela ser afastada, pois que estará o fato atingi-
do pela atipicidade.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA DE ACORDO


COM OS TRIBUNAIS SUPERIORES (STF / STJ):

- Requisitos:
1º Princípios relacionados com a MISSÃO FUNDA- 1- Ausência de periculosidade social da ação
MENTAL DO DIREITO PENAL 2- Reduzido grau de reprovabilidade do comporta-
1.1- Princípio da EXCLUSIVA PROTEÇÃO DOS mento.
BENS JURÍDICOS 3- Mínima ofensividade da conduta do agente
4- Inexpressividade da lesão jurídica causada.
CONCEITO DE BEM JURÍDICO:
É um ente material ou imaterial, haurido do contexto OBSERVAÇÕES SOBRE O PRINCÍPIO DA IN-
social, de titularidade individual ou metaindividual, SIGNIFICÂNCIA
reputado como essencial para a coexistência e o
desenvolvimento do homem em sociedade. 1- STF e STJ: para aplicação do princípio da insigni-
ficância, considera-se a capacidade econômica da
CONCLUSÃO: a criação de tipos penais deve ser vítima (STF - RHC 96813; STJ-Resp. 1.224.795).
pautada pela proibição de comportamentos que de
alguma forma exponham a perigo ou lesionem valo- “A verificação da lesividade mínima da conduta
res concretos essenciais para o ser humano, esta- apta a torná-la atípica, deve levar em consideração
belecidos na figura do bem jurídico. a importância do objeto material subtraído, a condi-
ção econômica do sujeito passivo, assim como as
circunstâncias e o resultado do crime, a fim de se
determinar, subjetivamente, se houve ou não rele-
vante lesão ao bem jurídico tutelado.” (REsp
1224795, Quinta Turma).

2- Prevalece no STF e STJ ser incabível o princípio


da insignificância para o reincidente, portador de
maus antecedentes, ou o criminoso habitual (STF-
1º Princípios relacionados com a MISSÃO FUNDA- HC 115707, Segunda Turma; STJ-AgRg no AREsp
MENTAL DO DIREITO PENAL 334272, Quinta Turma).

1.2- Princípio da INTERVENÇÃO MÍNIMA 3- Tem-se admitido o princípio nos crimes contra o
patrimônio, praticados sem violência ou grave ame-
Princípio da INTERVENÇÃO MÍNIMA aça à pessoa. O delito de furto é o exemplo clássi-
O Direito Penal só deve ser aplicado quando estri- co.
tamente necessário, de modo que sua intervenção
fica condicionada ao fracasso das demais esferas CUIDADO: Quando qualificado, porém, tem julgado
de controle (caráter subsidiário), observando so-

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não aplicando a insignificância, considerando au- conduta pressuposta. É nesta circunstância que a
sente o reduzido grau de reprovabilidade do com- intervenção mínima ganha destaque, pois há apon-
portamento do agente. tamentos no sentido de que deve ser observada a
carga de gravidade da infração penal anterior para
4 - Percebemos a tendência de parcela da doutrina que eventualmente se legitime a punição do bran-
em não admitir a aplicação do princípio da insignifi- queamento de recursos dela advindos.
cância quando o bem tutelado é difuso ou coletivo.
Os tribunais superiores, ora adotam essa tese, ora IMPORTANTE DIFERENCIAR!
a ignoram.
ex1: O STF e STJ negam o princípio nos crimes de
estelionato previdenciário, moeda falsa, posse de
drogas para uso próprio, tráfico de drogas e tráfico
de armas.
ex2: o STF, no entanto, admite o princípio da insig-
nificância nos crimes contra a Administração Pública
praticados por funcionário público. STJ não admite.
ex3: o STF e o STJ admitem o princípio da insigni-
ficância nos crimes contra a Administração Pública
praticados por particulares (ex: descaminho)
ex4: o STF e o STJ têm decisões admitindo o prin-
cípio da insignificância nos crimes ambientais (há
importante divergência sobre o assunto).
ex5: apesar de existir acórdão em sentido diverso, o
STF tem decisões aplicando o princípio da insignifi-
cância em se tratando do crime de apropriação in-
débita previdenciária nos casos em que o valor su-
primido não ultrapasse R$ 20.000,00 (vinte mil re-
ais), valor insignificante para o fim de ajuizamento
da execução fiscal (Portaria 75MF/2012). 2º Princípios relacionados com o FATO DO AGEN-
Cuidado: o STJ tem decisões aplicando o mesmo TE
princípio, mas considerando, para tanto, o valor 2.1- Princípio da EXTERIORIZAÇÃO ou MATERIA-
limite de R$ 10.000,00 (conforme Lei). LIZAÇÃO DO FATO
5 - No caso de atos infracionais, o Estado está obri-
gado a aplicar as medidas previstas no ECA ao
menor infrator, considerando seu caráter educativo,
preventivo e protetivo.
Excepcionalmente, porém, diante de peculiarida-
des do caso concreto, é possível incidir o princípio
da insignificância, desde que verificados os requisi-
tos necessários para a configuração do delito de 2º Princípios relacionados com o FATO DO AGEN-
bagatela. TE
ATENÇÃO: o STJ firmou posição nesse sentido,
reconhecendo possível o princípio da insignificância 2.1- Princípio da EXTERIORIZAÇÃO ou MATERIA-
nas condutas regidas pelo Estatuto da Criança e do LIZAÇÃO DO FATO
Adolescente (HC 225607/RS)
ATENÇÃO! Veda-se o Direito Penal do autor, isto
O princípio da intervenção mínima tem sido invo- é, punição do indivíduo baseada em seus pensa-
cado no debate sobre o alcance das disposições mentos, desejos e estilo de vida.
relativas à lavagem de dinheiro, especialmente após Conclusão:
a alteração da Lei nº 9.613/98. Sabe-se que, em
sua redação original, o art. 1º da referida Lei trazia Ex: “Art. 2º CP - Ninguém pode ser punido por fato
um rol de crimes, em geral graves, que poderiam que lei posterior deixa de considerar crime, cessan-
ser considerados antecedentes à lavagem. Uma vez do em virtude dela a execução e os efeitos penais
em vigor a Lei nº 12.683/12, aboliu-se o rol antece- da sentença condenatória. ”
dente, razão por que qualquer infração penal da
qual resultem bens, direitos ou valores passíveis de O nosso ordenamento penal, de forma legítima,
ocultação ou de dissimulação pode caracterizar a

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adotou o Direito Penal do fato, mas que considera 3.4- Princípio da ISONOMIA
circunstâncias relacionadas ao autor, especifica- “Art. 5º, ‘caput’ CF: Todos são iguais perante a lei,
mente quando da análise da pena. sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
2º Princípios relacionados com o FATO DO AGEN- País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
TE igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
2.2- Princípio da LEGALIDADE seguintes:”
Analisaremos na próxima aula. Isonomia Substancial (e não formal)

2º Princípios relacionados com o FATO DO AGEN- 3º Princípios relacionados com o AGENTE DO FA-
TE TO
2.3- Princípio da OFENSIVIDADE / LESIVIDADE
3.5- Princípio da PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
-CRIME DE DANO: Convenção Americana de Direitos Humanos - Arti-
-CRIME DE PERIGO: go 8º .2: “Toda pessoa acusada de um delito tem
a) Perigo abstrato: direito a que se presuma sua inocência, enquanto
b) Perigo concreto: não for legalmente comprovada sua culpa. Durante
o processo, toda pessoa tem direito, em plena
- Temos doutrina entendendo que o crime de perigo igualdade, às seguintes garantias mínimas:”
abstrato é inconstitucional. Presumir prévia e abstra-
tamente o perigo significa, em última análise, que o Art. 5º, LVII C.F. – “ninguém será considerado cul-
perigo não existe. pado até o trânsito em julgado de sentença penal
- Essa tese, no entanto, hoje não prevalece no condenatória;”
STF. No HC 104.410, o Supremo decidiu que a - Adota o princípio da presunção de inocência ou de
criação de crimes de perigo abstrato não represen- não culpa?
ta, por si só, comportamento inconstitucional, mas
proteção eficiente do Estado. Concurso da Defensoria Pública: não trabalha com
o princípio da presunção de não culpa (só com o
3º Princípios relacionados com o AGENTE DO FA- princípio da presunção de inocência).
TO Demais concursos: trabalham com os princípios
3.1- Princípio da RESPONSABILIDADE PESSOAL como sinônimos (presunção de inocência ou não
culpa).
DESDOBRAMENTOS:
DESDOBRAMENTOS DO PRINCÍPIO DA PRE-
a) Obrigatoriedade da individualização da acusação SUNÇÃO DE INOCÊNCIA
b) Obrigatoriedade da individualização da pena a)

3º Princípios relacionados com o AGENTE DO FA- “Art. 312 CPP: A prisão preventiva poderá ser de-
TO cretada como garantia da ordem pública, da ordem
3.2- Princípio da RESPONSABILIDADE SUBJETI- econômica, por conveniência (quando imprescindí-
VA vel para) da instrução criminal, ou para assegurar a
Não basta que o fato seja materialmente causado aplicação da lei penal, quando houver prova da
pelo agente, ficando a sua responsabilidade condi- existência do crime e indício suficiente de auto-
cionada à existência da voluntariedade (dolo/culpa). ria. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).”

ATENÇÃO: Concurso de delegado da polícia civil / b)


DF – 2ª fase - Temos doutrina anunciando dois ca- c)
sos de responsabilidade penal objetiva (autorizadas
por lei) : Ex: Súmula vinculante 11- “Só é lícito o uso de al-
1- Embriaguez voluntária gemas em caso de resistência e de fundado receio
Crítica: de fuga ou de perigo à integridade física própria ou
alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada
2- Rixa Qualificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de res-
Crítica: ponsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou
da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato
3º Princípios relacionados com o AGENTE DO FA- processual a que se refere, sem prejuízo da respon-
TO sabilidade civil do Estado.”
3.3- Princípio da CULPABILIDADE

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4º Princípios relacionados com a PENA


4.1- Princípio da DIGNIDADE DA PESSOA HUMA-
NA
4.2- Princípio da INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA
4.3- Princípio da PROPORCIONALIDADE
4.4- Princípio da PESSOALIDADE
4.5- Princípio da VEDAÇÃO DO “BIS IN IDEM”

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