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NFPSS | RETA FINAL – TJ/RJ

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NFPSS PARTE 01 TJRJ

SUMÁRIO

DIREITO PENAL......................................................................................................................................................02

DIREITO AMBIENTAL.............................................................................................................................................78

DIREITO PROCESSUAL PENAL..............................................................................................................................128

HUMANÍSTICA.................................................................................................................................................... 204

NFPSS – RETA FINAL TJ/RJ

DIREITO PENAL1

I – Conceito de Direito Penal. Princípios Constitucionais Penais. História do Direito Penal. História do Direito
Penal Brasileiro, Doutrinas e Escolas Penais. Fontes do Direito Penal. Sistemas Penitenciários.

CONCEITO, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES DO DIREITO PENAL

CONCEITO DE DIREITO PENAL:

• Formal ou estático: conjunto de normas e de princípios destinados a combater o crime e a contravenção


penal, através da aplicação de sanções.

Art. 1º da Lei de Introdução ao CP: Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a
infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou
cumulativamente.

• Material: refere-se a comportamentos considerados altamente reprováveis ou danosos ao organismo


social, afetando bens jurídicos indispensáveis à própria conservação e progresso da sociedade.
• Sociológico ou dinâmico: instrumento de controle social, visando assegurar a necessária disciplina para a
harmônica convivência dos membros da sociedade.

CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL (Magalhães Noronha):

• Ciência: é uma ciência porque suas regras estão contidas em normas e princípios que formam a chamada
Dogmática jurídico penal.
• Cultural: estudam o que “deve ser”, ao contrário das ciências naturais (“ser”).

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Por Thais S. Cavallieri

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• Normativa: o objeto principal é a norma penal


• Valorativa: tem sua própria escala de valores na apreciação dos fatos que lhe são submetidos
• Finalista: tem uma finalidade prática e não meramente acadêmica. Para Roxin, essa finalidade é a proteção
de bens jurídicos. Para Jakobs (Teoria Penal do Inimigo) é a proteção das normas penais.
FUNÇÕES DO DIREITO PENAL:

É a função por excelência. Roxin diz que é a função exclusiva do DP. Para ele
PROTEÇÃO DE BENS o DP não veio para trazer valores éticos, morais. E não é todo e qualquer
JURÍDICOS bem jurídico que é tutelado pelo DP, somente os mais relevantes, tanto para
o indivíduo como também para a sociedade
Objetiva a preservação da paz pública. É um papel até intimidador. Como
INSTRUMENTO DE CONTROLE
instrumento de controle social se dirige a toda coletividade, embora apenas
SOCIAL
uma parcela mínima da sociedade se dedique à prática de infrações penais
Antes de ser uma ameaça é uma garantia a todas as pessoas. “CP é a Magna
GARANTIA Carta do delinquente” (Franz Von Liszt). Princípio da reserva legal, por
exemplo, é um escudo de todo ser humano contra o arbítrio do Estado.
É também conhecida como função criadora ou configuradora dos costumes.
Tem origem na relação entre o Direito Penal e os valores éticos de uma
FUNÇÃO ÉTICO-SOCIAL
sociedade. Essa função almeja garantir o mínimo ético que deve existir em
toda coletividade. Jellinek
FUNÇÃO EDUCATIVA Como por exemplo, nos crimes ambientais (posição muito criticada)
Inerente a todas as leis e não somente ao DP. Não produz efeitos externos.
Produz efeitos na cabeça dos governantes – ideia de que ele fez algo - e na
mente dos governados – falsa sensação de segurança.
Exemplo: Direito penal do terror - tem como primeira característica a (1)
FUNÇÃO SIMBÓLICA
inflação legislativa, que é o DP de emergência. A segunda é a (2) hipertrofia
do Direito Penal.
Em curto prazo essa função simbólica dá ao DP um papel educativo e a
médio e longo prazo essa função simbólica retira a credibilidade do DP.
FUNÇÃO MOTIVADORA A ameaça de sanção penal motiva os indivíduos a não violarem suas normas
Jesus Maria Silva Sanches criou a Teoria das Velocidades do DP. A imposição
FUNÇÃO DE REDUÇÃO DA de uma pena pelo Estado, embora legítima, é uma agressão aos cidadãos. A
VIOLÊNCIA ESTATAL pena é um mal necessário, mas é um mal. Já que é um mal, deve se restringir
a situações essencialmente necessárias.

PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS:

Nullum crimen nulla pena sine lege (não há crime nem pena sem lei). A
ideia desse princípio é de que a lei é a fonte formal imediata do Direito
DA RESERVA LEGAL OU
Penal, isto é, somente a lei pode criar crimes e cominar as respectivas
ESTRISTA LEGALIDADE
penas. Em outras palavras, a lei penal tem o monopólio, a exclusividade na
(art. 5º, XXXIX, CF)
criação de crimes e cominação de penas.
DESDOBRAMENTOS DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE:

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a) não há crime ou pena sem lei: uma Medida Provisória não pode criar
crime, nem cominar pena
b) não há crime ou pena sem lei anterior: princípio da anterioridade
c) não há crime ou pena sem lei escrita: proíbe costume incriminador
d) não há crime ou pena sem lei estrita: proíbe-se a utilização da analogia
para criar tipo incriminador - analogia in malam partem.
e) não há crime ou pena sem lei certa: Princípio da Taxatividade ou da
determinação; Proibição de criação de tipos penais vagos e
indeterminados
f) não há crime ou pena sem lei necessária: desdobramento lógico do
princípio da intervenção mínima
A regra é a irretroatividade da lei penal e a exceção é a retroatividade da
lei penal benéfica.
Se a conduta anteriormente era atípica, mas com a vigência da nova lei
passa a ser uma conduta criminosa, tem-se novatio legis incriminadora. A
lei penal, neste caso, não retroagirá.
Se a conduta já era criminalizada, mas uma lei recrudesce o tratamento
IRRETROATIVIDADE DA LEI estatal em relação àquela conduta, receberá o nome de novatio legis in
PENAL OU RETROATIVIDADE pejus. A lei nova que, de qualquer modo, prejudique o réu, também será
DA LEI BENÉFICA irretroativa.
(art. 5º, XL, CF) Se a conduta criminosa já era criminalizada, mas uma lei abranda o
tratamento, receberá o nome de novatio legis in mellius. Assim, sendo
uma lei benéfica, irá retroagir para beneficiar o réu.
Se a conduta criminosa for suprimida do ordenamento jurídico por meio
de uma lei pena (abolitio criminis), consequentemente, será uma lei penal
benéfica que irá retroagir, alcançado, inclusive, situações definitivamente
julgadas.
A lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as
seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA
b) perda de bens;
(art. 5 º, XLVI, CF)
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória.
PRESUNÇÃO DE Convenção Americana de Direitos Humanos - Artigo 8º .2: “Toda pessoa
INOCÊNCIA acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência,
(art. 5º, LVII, CF) enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo,
toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias
mínimas:”

DEMAIS PRINCÍPIOS:

O Direito Penal só deve ser aplicado quando estritamente necessário, de modo


PRINCÍPIO DA que sua intervenção fica condicionada ao fracasso das demais esferas de
INTERVENÇÃO MÍNIMA controle (caráter subsidiário), observando somente os casos de relevante lesão
ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado (caráter fragmentário).

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a) PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE (ou caráter fragmentário do Direito


Penal): estabelece que nem todos os ilícitos configuram infrações penais, mas
apenas os que atentam contra valores fundamentais para a manutenção e o
progresso do ser humano e da sociedade. Em razão de seu caráter
fragmentário, o Direito Penal é a última etapa de proteção do bem jurídico.
Deve ser utilizado no plano abstrato, para o fim de permitir a criação de tipos
penais somente quando os demais ramos do Direito tiverem falhado na tarefa
de proteção de um bem jurídico. Refere-se, assim, à atividade legislativa.
b) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE: a atuação do Direito Penal é cabível
unicamente quando os outros ramos do Direito e os demais meios estatais de
controle social tiverem se revelado impotentes para o controle da ordem
pública. Assim, o Direito Penal funciona como um executor de reserva (ultima
ratio), entrando em cena somente quando outros meios estatais de proteção
mais brandos, e, portanto, menos invasivos da liberdade individual não forem
suficientes para a proteção do bem jurídico tutelado. Projeta-se no plano
concreto, isto é, em sua atuação prática o Direito Penal somente se legitima
quando os demais meios disponíveis já tiverem sido empregados, sem sucesso,
para proteção do bem jurídico. Guarda relação, portanto, com a tarefa de
aplicação da lei penal.
Exige que do fato praticado ocorra lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico
tutelado. Somente condutas que causem lesão (efetiva/potencial) a bem
PRINCÍPIO DA jurídico, relevante e de terceiro, podem estar sujeitas ao Direito Penal.
OFENSIVIDADE OU a) Perigo abstrato: o risco de lesão é absolutamente presumido por lei.
LESIVIDADE b) Perigo concreto: De vítima determinada: o risco deve ser demonstrado
indicando pessoa certa em perigo. De vítima difusa: o risco deve ser
demonstrado dispensando vítima determinada.
PRINCÍPIO DA Não pode ser considerado criminoso o comportamento que, embora tipificado
ADEQUAÇÃO SOCIAL em lei, não afronte o sentimento social de justiça.
Não há crime na conduta que prejudica somente quem a praticou. Esse é o
PRINCÍPIO DA ALTERIDADE fundamento para que o ordenamento jurídico não puna autolesão. O crime
exige intersubjetividade, isto é, que a conduta ultrapasse a pessoa do agente.
PRINCÍPIO DA Não basta que o fato seja materialmente causado pelo agente, ficando a sua
RESPONSABILIDADE responsabilidade condicionada à existência da voluntariedade (dolo/culpa).
SUBJETIVA Está proibida a responsabilidade penal objetiva, isto é, sem dolo ou culpa.
O direito penal do fato se ocupa do fato praticado pelo agente, pouco
PRINCÍPIO DA importando suas condições sociais, o que interessa é o que ele fez ou deixou
RESPONSABILIDADE de fazer. Diferentemente, o Direito penal do autor é aquele que vai rotular,
PENAL PELO FATO estereotipar determinados grupos de pessoas. Leva em conta a figura do
agente.
Só pode o Estado impor sanção penal ao agente imputável, isto é, penalmente
PRINCÍPIO DA
capaz, com potencial consciência da ilicitude (possibilidade de conhecer o
CULPABILIDADE
caráter ilícito do comportamento), quando dele exigível conduta diversa.
PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO Veda a dupla punição pelo mesmo fato. Ninguém pode ser punido duas vezes
DO BIS IN IDEM pelo mesmo fato.

SISTEMAS PENAIS

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SISTEMA CLÁSSICO

Nomes: Von Liszt, Beling e Radbruch.

Teorias adotadas:
• Conduta: no sistema clássico, a conduta seguia uma teoria causalista (mecanicista, naturalística, causal).
• Culpabilidade: adotava-se a teoria psicológica.

Estrutura do crime:

Conduta, para a teoria causalista, é o movimento humano voluntário que produz um resultado no mundo
exterior (dizia-se que a conduta era uma “fotografia do crime”).

A culpabilidade, nessa teoria, é o vínculo psicológico, representado pelo dolo e pela culpa entre um agente
imputável e o fato típico e ilícito por ele praticado.

Dolo normativo é o dolo do sistema clássico, é aquele que contém em seu interior a consciência da ilicitude, ou
seja, o agente pratica um comportamento sabendo que aquilo é contrário ao Direito Penal.

SISTEMA NEOCLÁSSICO OU NEOKANTISTA

Principal nome: Reinhart Frank

De acordo com essa teoria, só é culpável quem pratica o fato típico e ilícito em uma situação de normalidade,
ou seja, quando lhe era exigível uma conduta diversa.

Teorias adotadas:
• Conduta: teoria causalista
• Culpabilidade: teoria psicológico-normativa

Estrutura do crime:

Acrescenta-se à culpabilidade um terceiro elemento: exigibilidade de conduta diversa.

O Direito Penal passa a prever a coação moral irresistível e obediência hierárquica como causas legais de
exclusão da culpabilidade. Além disso, o Direito Penal passa a admitir a exclusão da culpabilidade com base em
causas supralegais, que caracterizam inexigibilidade de conduta diversa.

SISTEMA FINALISTA

Principal nome: Hans Welzel

Teorias adotadas:
• Conduta: adota a teoria finalista
• Culpabilidade: adota a teoria normativa pura (subdividida em extremada e limitada)

VERTENTE LIMITADA VERTENTE EXTREMADA


As descriminantes putativas podem evidenciar erro As descriminantes putativas são equiparadas ao erro
sobre os elementos do tipo (erro sobre o fato) ou erro de proibição, tanto no erro sobre as circunstâncias de
de proibição (erro sobre a existência ou limites). fato, quanto sobre a existência ou limites.
Adotada pelo Código Penal (art. 20, §1º).
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Estrutura do crime:

A conduta, para a teoria finalista, é a ação ou a omissão humana, consciente e voluntária, dirigida a um fim.

Mudanças estruturais do finalismo: saída do dolo e da culpa da culpabilidade para a conduta; a consciência da
ilicitude fica na culpabilidade e deixa de ser atual e passa a ser potencial.

Na culpabilidade, adota-se uma teoria normativa pura: os elementos psicológicos foram deslocados para a
conduta, a culpabilidade, portanto, é normativa pura.

Dolo natural é o dolo do finalismo penal: é o dolo que independe da consciência da ilicitude.

A culpabilidade finalista é chamada de culpabilidade vazia, pois ela foi esvaziada no tocante aos seus elementos
psicológicos.

É o sistema atualmente adotado pelo Código Penal brasileiro!!!

#OLHAOGANCHO
A teoria finalista não explica, de forma satisfatória, os crimes culposos, pois ao conceituar a conduta como sendo
dirigida a um fim, ignora que, no crime culposo, o fim não é o desejado pelo agente.
Teoria cibernética: Welzel, para suprir as falhas da teoria finalista, afirma que a conduta é a ação
biociberneticamente antecipada; essa teoria visava colocar em destaque o controle da vontade, que existe tanto
nos crimes dolosos quanto nos crimes culposos.
Teoria social da ação: para essa teoria, desenvolvida por Johannes Wessels, a conduta é o comportamento
humano com transcendência social, ou seja, só existe conduta quando é produzido um resultado socialmente
relevante (elemento implícito do tipo penal); a vantagem dessa teoria é a de permitir, ao Poder Judiciário, suprir
a lacuna criada entre a letra da lei e a realidade atual, uma vez que as mudanças sociais são muito mais dinâmicas
do que as mudanças na lei; a crítica dirigida a essa teoria é que ela gera uma insegurança jurídica muito grande,
pois a relevância da conduta é facilmente variável de um local para outro.

II – CÓDIGO PENAL (Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940). 1 – Parte Geral a) Da aplicação da lei penal
(artigos. 1º a 12). b) Do crime (arts. 13 a 25). c) Da imputabilidade penal (arts. 26 a 28). d) Do concurso de pessoas
(arts. 29 a 31). e) Das penas (arts. 32 a 95). f) Das medidas de segurança (arts. 96 a 99). g) Da ação penal (arts.
100 a 106). h) Da extinção da punibilidade (arts. 107 a 120).

LEI PENAL NO TEMPO

Depois da sua criação e publicação, a lei produz efeitos até ser revogada por outra lei, ou seja, lei só se revoga
por outra lei – trata-se do princípio da continuidade das leis.

REGRA: aplica-se a lei penal que estava em vigor na data em que o fato foi praticado.

Exceção: a lei penal benéfica, conforme art. 5º, XL, CF/1988, retroage para beneficiar o réu.

A retroatividade é a aplicação da lei penal para os fatos passados. A ultratividade é a aplicação da lei penal
benéfica para o futuro, ou seja, a lei penal benéfica continua aplicável, mesmo depois de revogada, se o fato foi
praticado enquanto estava em vigor.

Abolitio criminis:

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Artigo 2º, caput, CP: “Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando
em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”.

A abolitio criminis cessa a execução e os efeitos penais da sentença condenatória, entretanto, subsistem os
efeitos extrapenais (exemplo: obrigação de reparar o dano causado pelo crime).

A abolitio criminis depende de dois requisitos: revogação formal do tipo penal; supressão material do fato
criminoso, isto é, o fato deixa de ter relevância penal, tanto para aquele tipo penal, como para o ordenamento
jurídico como um todo.

Novatio legis in mellius ou Lex Mitior:

É a nova lei que, de qualquer modo, favorece o réu.

Artigo 2º, p. único, CP: “A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores,
ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.”

#SELIGA – Durante seu período de vacatio, a lei não pode ser aplicada nem para prejudicar nem para beneficiar
o réu.

Novatio legis incriminadora e novatio legis in pejus:

Novatio legis incriminadora: é também chamada de neocriminalização; trata-se de nova lei que cria um crime
até então inexistente.

A novatio legis in pejus (ou lex gravior) é a nova lei que, de qualquer modo, prejudica o réu.

Tanto a novatio legis incriminadora como a novatio in pejus só se aplicam a fatos futuros, ou seja, elas nunca
retroagem (é desdobramento lógico do princípio da anterioridade no Direito Penal).

Lei Penal intermediária:

Tem retroatividade e também ultratividade, pois volta no tempo para atingir um fato passado e, também,
continua aplicável, mesmo após revogada.

Vedação à combinação de leis penais (lei híbrida ou lex tertia): o Plenário do STF (RE nº 600.817 – Informativo
nº 727) não admite a combinação de leis penais – o argumento central é o princípio da separação dos Poderes.

Súmula 501, STJ: “É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência
das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976,
sendo vedada a combinação de leis.”.

Lei temporária e lei excepcional:

Artigo 3º, CP: “A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência”.

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Lei temporária é aquela que tem seu prazo de vigência previamente definido no tempo.

→ Um exemplo é a Lei da Copa (Lei nº 12.663/2012): Art. 36: “Os tipos penais previstos neste Capítulo terão
vigência até o dia 31 de dezembro de 2014.”

Lei excepcional é aquela que vigora somente em situações de anormalidade.

→ São autorrevogáveis: elas não precisam de lei revogadora, pois findo o prazo de validade ou o período de
anormalidade (na lei excepcional), elas estarão automaticamente revogadas.

Ultratividade: a lei temporária e a lei excepcional gozam de ultratividade, ou seja, continuam aplicáveis, mesmo
depois de revogadas, se o fato foi praticado quando estava em vigor – o objetivo é evitar que manobras
protelatórias ou a morosidade processual ou investigatória levem à impunidade do fato.

TEMPO DO CRIME

Quanto ao tempo do crime, o Código Penal adota a teoria da ATIVIDADE:

CP, Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento
do resultado.

A teoria da atividade só tem pertinência para os crimes materiais ou causais, que são aqueles em que o tipo
penal possui a conduta e o resultado naturalístico, que podem ocorrer em momentos distintos. Nos crimes
formais e nos de mera conduta, a teoria da atividade é irrelevante, pois estes crimes se consumam com a prática
da conduta e não precisam do resultado naturalístico.

Súmula 711, STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.”

Crime permanente é aquele cuja consumação se prolonga no tempo pela vontade do agente, ou seja, o agente,
deliberadamente, mantém uma situação contrária ao Direito Penal.

→ Exemplo: extorsão mediante sequestro (art. 159, CP) – É crime formal e se consuma com a privação da
liberdade da vítima, entretanto, ele continua se consumando até a liberdade da vítima. De acordo com a Súmula
nº 711/STF, aplica-se, para todo crime permanente, a lei vigente na data de sua cessação, mesmo que seja mais
grave, pois o delito também foi praticado depois da entrada em vigor da lei mais grave.
Crime continuado ocorre quando o agente, mediante mais de uma conduta, pratica dois ou mais crimes da
mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os
subsequentes ser havidos como continuação do primeiro (art. 71, CP).

→ Exemplo: 6 furtos continuados, mas os 5 primeiros foram praticados durante a vigência da lei A e o último
praticado durante a vigência da lei B mais grave. A Súmula 711, STF, manda aplicar a lei mais grave para o caso
de crime continuado, isso ocorre porque o art. 71, CP, adota a teoria da ficção jurídica (a lei penal considera
apenas um crime para fins de aplicação da pena).

LUGAR DO CRIME

O Código Penal adota a teoria da ubiquidade (mista) para identificar o lugar do crime:

Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem
como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
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A teoria da ubiquidade só interessa nos chamados crimes a distância, que são aqueles em que conduta e
resultado ocorrem em países diversos.

#CUIDADO – Não confundir com o art. 70 do CPP, que aplicável no caso de crimes plurilocais, ou seja, crimes
que envolvem duas ou mais comarcas dentro do Brasil, ou seja, conflitos internos de competência local. Neste
caso, aplica-se a teoria do resultado: será competente o lugar em que se consumar o crime (ou, no caso de
tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução).

NÃO SE APLICA a teoria da ubiquidade:

• Crimes Conexos: não se aplica a teoria da ubiquidade, eis que os diversos crimes não constituem unidade
jurídica. Deve cada um deles, portanto, ser processado e julgado no país em que foi cometido.
• Infrações penais de menor potencial ofensivo: a competência do Juizado será determinada pelo lugar em
que foi praticada a infração penal (art. 63, Lei 9.099/95)
• Crimes falimentares: foro do local em que foi decretada a falência, concedida a recuperação judicial ou
homologado o plano de recuperação extrajudicial (art. 183 da Lei 11.101/2005)
• Atos infracionais: competente a autoridade do lugar da ação ou da omissão (ECA, art. 147, § 1º).

#MNEMÔNICO – LU / TA

LU = LUGAR - Ubiquidade (art. 6º)


TA = TEMPO - Atividade (art. 4º)

LEI PENAL NO ESPAÇO

O Código Penal brasileiro limita o campo de validade da lei penal a dois vetores fundamentais:

Regra geral: TERRITORIALIDADE, ou seja, aplica-se a lei brasileira ao crime praticado no território nacional.

Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao
crime cometido no território nacional.

Exceção: extraterritorialidade, que é a aplicação da lei penal brasileira a crimes praticados no exterior.

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
1984)
I - os crimes: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de
empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; (Incluído
pela Lei nº 7.209, de 1984)
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
II - os crimes: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
b) praticados por brasileiro; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984)
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em
território estrangeiro e aí não sejam julgados.

Princípios orientadores da extraterritorialidade:

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Aplica-se a lei do país em que o agente for domiciliado, pouco


PRINCÍPIO DO DOMICÍLIO
importando a sua nacionalidade. (artigo 7º, I, “d”, CP)
Aplica-se a lei do país pertencente ao agente do crime (sujeito ativo),
PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE
sem importar a nacionalidade da vítima, local do crime ou bem jurídico
ATIVA
violado (artigo 7º, I, “d” e art. 7 º, II, “b”, CP)
Aplica-se a lei do país pertencente à vítima do crime, sem importar a
PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE
nacionalidade do agente (sujeito ativo), local do crime ou bem jurídico
PASSIVA
violado. (art. 7º, §3º, CP).
É a aplicação da lei penal da nacionalidade da coisa, do bem jurídico
PRINCÍPIO DA DEFESA REAL
lesado. (artigo 7º, I, “a”, “b” e “c”, CP).
PRINCÍPIO DA JUSTIÇA PENAL É o princípio que exige que se faça justiça, sem se importar onde. O
UNIVERSAL / COSMOPOLITA agente fica sujeito ao país em que for encontrado. (artigo 7º, II, “a”, CP).

PRINCÍPIO DO PAVILHÃO, Aplica-se a lei nacional aos crimes cometidos em aeronaves ou


REPRESENTAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO embarcações privadas, quando praticados no estrangeiro, mas aí não
OU BANDEIRA sejam julgados. (artigo 7º, II, “c”, CP)

Extraterritorialidade incondicionada: não se submete a nenhuma condição, bastando que o agente esteja em
território brasileiro (se aplica a todos os casos do art. 7º, I, CP)

Extraterritorialidade condicionada: é aquela que se submete a algumas condições, válida para os casos
previstos no art. 7º, II, CP.

Art. 7º, CP
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo
a lei mais favorável.
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se,
reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.

RELAÇÃO DE CAUSALIDADE

Relação de causalidade é o vínculo que se estabelece entre a conduta e o resultado naturalístico, por meio do
qual se conclui se a conduta foi responsável pela produção do resultado naturalístico.

O estudo da relação de causalidade se relaciona apenas aos crimes materiais, nos quais o tipo penal é formado
por conduta e resultado naturalístico. Nos crimes formais e de mera conduta, a consumação se dá com a prática
da conduta, sem precisar avaliar a ocorrência ou não do resultado naturalístico.

CP, Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

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Analisando o dispositivo acima, é possível compreender que, para fins de causa, o CP adotou a teoria da
equivalência dos antecedentes causais (teoria da equivalência das condições, da condição simples ou
generalizadora ou teoria da conditio sine qua non).

Para saber se certa conduta foi ou não causa do crime, é necessário adotar a teoria da eliminação hipotética
dos antecedentes causais (Método de Thyrén).

A junção da teoria da equivalência dos antecedentes causais e a teoria da eliminação hipotética dos
antecedentes causais denomina-se causalidade objetiva do resultado ou teoria das condições qualificadas
(causalidade efetiva do resultado).

Esta causalidade objetiva é apenas uma mera relação de causa e efeito, razão pela qual a crítica alega que a
causalidade objetiva do resultado leva ao regresso ao infinito. Para evitar o regresso ao infinito, é preciso que o
aplicador se utilize da causalidade subjetiva (psíquica), de forma que devemos analisar se o agente,
anteriormente, agiu de forma dolosa ou culposa.

#ATENÇÃO: Teoria da causalidade adequada, a qual ocorre quando se analisa a concausa relativamente
independente superveniente. Quando a concausa relativamente independente superveniente, por si só,
produzir o resultado, excluir-se-á a imputação, eis que aquela conduta inaugural não é adequada ao resultado
como se deu.

Concausas ABSOLUTAMENTE independentes


Nessa espécie, a causa efetiva do resultado não se origina, direta ou indiretamente, do comportamento
concorrente. Constituem a chamada “causalidade antecipadora”
Preexistente É aquela que existe anteriormente à prática da Efeitos:
conduta. O resultado naturalístico teria ocorrido da Em todas as modalidades
mesma forma, mesmo sem o comportamento ilícito (preexistentes, concomitantes e
do agente. supervenientes), o resultado
Exemplo: “A" atira em "B", que antes já havia sido naturalístico ocorre
envenenado por "C", morrendo em razão do independentemente da conduta
envenenamento. do agente, produzem por si sós o
Concomitante É a que incide simultaneamente à prática da resultado material.
conduta. Exemplo: “A” efetua disparos de arma de ▪ Rompe-se o nexo causal: devem
fogo contra “B” no momento em que o teto da casa ser imputados ao agente somente
deste último desaba sobre sua cabeça. os atos praticados, e não o
Superveniente É a que se concretiza posteriormente à conduta resultado naturalístico, em face da
praticada pelo agente. Exemplo: “A” subministra quebra da relação de causalidade.
dose letal de veneno a “B”, mas, antes que se ▪ Teoria da equivalência dos
produzisse o efeito almejado, surge “C”, antigo antecedentes ou conditio sine qua
desafeto de “B”, que nele efetua inúmeros disparos non (art. 13, caput).
de arma de fogo por todo o corpo, matando-o.
Causas RELATIVAMENTE independentes
Originam-se da própria conduta efetuada pelo agente. Daí serem relativas, pois não existiriam sem a
atuação criminosa. Isoladamente consideradas, não seriam capazes de ocasionar o resultado.
Preexistente Existe previamente à prática da conduta do agente. Efeitos:
Antes de seu agir ela já estava presente. Exemplo: Nas causas preexistentes e
“A”, com ânimo homicida, efetua disparos de arma concomitantes relativamente
de fogo contra "B” atingindo-a de raspão. Os independentes, suprimindo-se
ferimentos, contudo, são agravados pela diabete da mentalmente a sua conduta, o

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vítima, que vem a falecer. (exemplos: hemofilia e resultado material, morte da


diabete) vítima (vide exemplos), não teria
Concomitante É a que ocorre simultaneamente à prática da ocorrido quando e como ocorreu.
conduta. Exemplo: “A” aponta uma arma de fogo ▪ Não rompe o nexo causal: o
contra "B”, o qual, assustado, corre em direção a agente responde pelo resultado
movimentada via pública. No momento em que é naturalístico.
alvejado pelos disparos, é atropelado por um ▪ Teoria da equivalência dos
caminhão, morrendo. antecedentes ou conditio sine qua
non (art. 13, caput).
Causas relativamente independentes SUPERVENIENTE
“não produziu, por si só, o resultado” “por si só produziu o resultado”
A causa efetiva superveniente está na linha de A causa efetiva superveniente não está na linha de
desdobramento causal normal na conduta desdobramento causal normal da conduta
concorrente. concorrente. A causa adequada é aferida de acordo
A causa efetiva é um evento previsível, ainda que não com o juízo do homem médio e com a experiência
previsto (está na linha da normalidade). Pouco comum. Não basta contribuir de qualquer modo para
importa o grau de contribuição. Basta que tenha resultado: a contribuição deve ser eficaz.
contribuído para o resultado material, na forma e Exemplos:
quando ocorreu. (1) pessoa atingida por disparos de arma de fogo que,
Ex.: “A” atira para matar “B”, que é socorrido, mas internada em um hospital, falece não em razão dos
morre em razão de erro médico. “A” responde por ferimentos, e sim queimada por um incêndio que
crime consumado. destrói toda a área dos enfermos;
Efeito: Como não houve o rompimento do nexo (2) ferido que morre durante o trajeto para o hospital,
causal, responde o agente pelo resultado. em face de acidente de tráfego que atinge a
Teoria da equivalência dos antecedentes ou conditio ambulância que o transportava.
sine qua non (art. 13, caput) Efeito: O agente não responde pelo resultado
(somente por tentativa), pois há o rompimento do
nexo causal.
Teoria da causalidade adequada (art. 13, §1º)

TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA: É também chamada de teoria da condição qualificada e de teoria


individualizadora. Criada por Von Kries, essa teoria assevera que causa não é o que concorre de qualquer modo
para o resultado, é o que contribui para o resultado de forma eficaz. Essa eficácia é obtida mediante um juízo
estatístico (“Id quod plerumque accidit”), ou seja, aquilo que normalmente acontece. Assim, de acordo com as
máximas da experiência, é possível apurar se o acontecimento foi capaz de produzir o resultado de forma eficaz.
Foi adotada pelo Código Penal, no artigo 13, § 1º, como EXCEÇÃO.

CP, Art. 13, § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só,
produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.

TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA: Essa teoria foi trazida para o Direito Penal por Claus Roxin na década de
1970. A teoria da imputação objetiva está diretamente ligada ao funcionalismo penal. Essa teoria trabalha com
a ideia de risco proibido. Isto é, para existir relação de causalidade, é necessário que o agente tenha criado o
risco proibido ao bem jurídico ou aumentado um risco proibido. A teoria da imputação objetiva, no Brasil, não
tem previsão legal e é criação doutrinária. Entretanto, essa teoria já foi adotada em alguns julgados do STJ.

RELEVÂNCIA DA OMISSÃO

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Art. 13, § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado.
O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

No caso do art. 13, §2º, CP, em que temos a previsão dos crimes omissivos, o nexo causal presente não é o nexo
naturalístico, mas sim o nexo normativo (estabelecido pela lei). Assim, nos crimes omissivos, o nexo decorre da
lei que pune a inação (o agente será punido simplesmente por não ter atuado quando deveria).

No caso dos crimes omissivos impróprios estaremos diante de crimes comissivos por omissão. Mesmo assim, a
causalidade será normativa. Isso porque, apesar de haver nexo entre conduta e resultado, este nexo não é
naturalístico (pois a omissão não provocou o resultado). O agente não causa diretamente o resultado, mas
permite que ele ocorra quando deveria e poderia evitá-lo. A doutrina chama de NEXO DE EVITAÇÃO.

#DEOLHONAJURIS
A irmã de vítima do crime de estupro de vulnerável responde por conduta omissiva imprópria se assume o
papel de garantidora. Caso concreto: “J” (30 anos) era casado com “M” (20 anos). “J” praticou, durante anos,
estupro de vulnerável contra a sua cunhada “L” (criança de 6 anos de idade). “L” era irmã de “M”. Os abusos
ocorriam nas vezes em que “L” ia visitar sua irmã. Certo dia, “M” descobriu que os estupros estavam ocorrendo,
mas, apesar disso, não tomou qualquer atitude para impedir que as condutas criminosas continuassem. Ao
contrário, continuou permitindo que a irmã fosse até a sua casa e que ficasse sozinha na residência com o
marido. “M”, a irmã da vítima, deve responder pelo delito de estupro de vulnerável por omissão imprópria. (...)
Muito embora uma irmã mais velha não possa ser enquadrada na alínea “a” do art. 13, §2º, do CP, pois o mero
parentesco não torna penalmente responsável um irmão para com o outro, ela pode, de acordo com o caso
concreto, se amoldar à figura do “garantidor”, nos termos previstos nas duas alíneas seguintes “b” e “c”. No
caso concreto, a acusada omitiu-se, durante anos, quanto aos abusos sexuais praticados pelo seu marido, na
residência do casal, contra sua irmã menor. Vale ressaltar que ela assumiu a responsabilidade ao levar a criança
para a sua casa sem a companhia da genitora e criou risco da ocorrência do resultado ao não denunciar o
agressor, mesmo ciente de suas condutas, bem como ao continuar deixando a menina sozinha em casa. STJ. 5ª
Turma. HC 603195-PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 06/10/2020 (Info 681).

ITER CRIMINIS

São as etapas de realização do crime.

Fase interna: limitada aos pensamentos do agente (fase da cogitação) = nunca é punível.

Fase externa: ultrapassa o pensamento do agente. Subdivide-se em três momentos:


→ Preparação (atos preparatórios = em regra, não é punível)
→ Execução (início da punibilidade)
→ Consumação
ATENÇÃO: o exaurimento não integra o “iter criminis”.

CONSUMAÇÃO: O crime se consuma quando o agente realiza todos os elementos do tipo penal.

CP, Art. 14: Diz-se o crime: I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal.

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Exaurimento: É o conjunto de efeitos posteriores à consumação do delito, ou seja, o crime já se consumou, mas,
ainda assim, continua produzindo efeitos jurídicos. O exaurimento não integra o “iter criminis”.

É instituto ligado a crimes formais, que são aqueles em que o tipo penal possui conduta e resultado naturalístico,
mas a produção desse último é dispensável para a consumação do crime. Assim, o crime se consuma com a
conduta e o resultado naturalístico pode até ocorrer, mas não é necessário para a consumação. Se o resultado
naturalístico ocorrer, será exaurimento.

TENTATIVA (conatus, imperfeito, incompleto, tipo manco): encontra definição no art. 14, II, do CP,
compreendendo-se como tentado o crime quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias
alheias à vontade do agente. É considerada como tipo incongruente, tendo em vista que o desejo do agente não
coincide com o fato descrito na lei penal, necessitando, para correta adequação, da norma de extensão
temporal, antecipando-se a tutela penal no caso.

→ Transição dos atos preparatórios para os atos executórios: existem teorias que buscam explicar quando o
ato deixa de ser preparatório e passa a ser executório.
Para essa teoria, não há distinção entre atos preparatórios e atos executórios, o
TEORIA SUBJETIVA
que vale é a vontade do agente.
Para esta teoria, não basta o mero querer interno do agente, ato executório é
aquele em que o agente dá início à realização do tipo penal. Subdivide-se em:
a) Teoria da hostilidade ao bem jurídico (Max Ernst Mayer): atos de execução
são aqueles que atacam o bem jurídico e atos preparatórios são aqueles em que
o bem jurídico não é agredido, mantendo-se inalterado o “estado de paz”.
b) Teoria objetivo-formal ou lógico-formal (Franz Von Liszt): ato de execução é
aquele em que o agente inicia a realização do “núcleo do tipo”, todos os demais
TEORIA OBJETIVA
atos são preparatórios; ADOTADA PELO CP.
c) Teoria objetivo-material (Reinhart Frank): ato de execução é aquele em que o
agente realiza o “núcleo do tipo” e, também, aqueles atos que lhe são
imediatamente anteriores (na visão de um terceiro observador).
d) Teoria objetivo-individual (Welzel / Zaffaroni): ato de execução é aquele em
que o agente realiza o núcleo do tipo e, também, os atos imediatamente
anteriores.

#DICA – INFRAÇÕES QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA:


Culposo (salvo culpa imprópria)
Contravenções penais (faticamente possível, mas não punível)
Habituais
Unissubsistentes
Preterdolosos
Atentado/Empreendimento
Omissivos PRÓPRIOS

O Brasil adota, em regra, a teoria objetiva, predominando na concepção desta o elemento objetivo para
caracterização da tentativa, de maneira que a punibilidade tem como fundamento o perigo ao qual é exposto o
bem jurídico, e não a vontade revelada pelo agente (ressalve-se que é adotada a teoria subjetiva com relação
aos chamados crimes de atentado ou de empreendimento).

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Sua repressão tem cabimento quando iniciada a execução do crime, possuindo a mesma pena do consumado,
com diminuição de um a dois terços, conforme proximidade da consumação. Ou seja, o critério definidor da
diminuição da pena é o iter criminis.

Pode ser classificada como: a) tentativa imperfeita ou propriamente dita, que se dá pelo fato de o agente ser
interrompido em sua atuação, de maneira que não exaure os meios de que dispõe para execução; e b) tentativa
perfeita ou crime falho, no caso em que o agente pratica todos os atos de execução, mas o resultado não se
concretiza.

Por fim, cabe indicar que a doutrina chama de tentativa inidônea o crime impossível, tendo o CP cuidado da
respectiva situação em seu art. 17, não sendo punida a tentativa em caso de ineficácia absoluta do meio ou por
absoluta impropriedade do objeto.

#NÃOCONFUNDA: TENTATIVA E CRIME IMPOSSÍVEL

CP, Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade
do objeto, é impossível consumar-se o crime.

Teoria do crime impossível adotada pelo CP = TEORIA OBJETIVA TEMPERADA OU INTERMEDIÁRIA: a ineficácia
do meio e a impropriedade do objeto devem ser absolutas para que não haja punição. Sendo relativas, pune-se
a tentativa.

Súmula 145, STF: “Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua
consumação.”

DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA X ARREPENDIMENTO EFICAZ X ARREPENDIMENTO POSTERIOR

Segundo posição MAJORITÁRIA, desistência voluntária e arrependimento eficaz são causas de exclusão da
tipicidade. Essa posição é extraída do art. 15 do CP. Além disso, a doutrina denomina tais institutos de tentativa
qualificada.

CP, Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se
produza, só responde pelos atos já praticados.

DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA ARREPENDIMENTO EFICAZ


O agente interrompe a execução do crime, não A execução do crime já se encerrou, só que ele adota
esgotando o processo executório do crime. providências para impedir a consumação. Só é
possível nos crimes materiais, não cabendo nos
OBS: É incabível nos crimes unissubsistentes, porque crimes formais e de mera conduta. Isso porque no
nestes a conduta é composta de um único ato que crime formal o resultado naturalístico pode ocorrer,
consuma o crime. Também é incompatível com a mas é desnecessário. No crime de mera conduta
tentativa acabada. inexiste resultado naturalístico. Nos crimes formais e
de mera conduta o crime se consuma com a conduta,
não havendo como se falar em resultado e, por
conseguinte, não há como impedir a ocorrência do
resultado.

#DICA – Reinhard Frank criou duas fórmulas para diferenciá-las:


Na tentativa, o agente diz: “quero, mas não posso.”

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Na desistência voluntária e no arrependimento eficaz, o agente diz: “posso, mas não quero.”

#SELIGA – A desistência voluntária e o arrependimento eficaz são incompatíveis com os crimes culposos (salvo
no caso da culpa imprópria), uma vez que em tais casos o agente não quer o resultado naturalístico, que vem a
ocorrer pela inobservância de algum dever objetivo de cuidado.

“PONTE DE OURO” do direito penal é uma expressão criada por Franz Von Liszt para se referir à desistência
voluntária e ao arrependimento eficaz.

ARREPENDIMENTO POSTERIOR: Trata-se de um benefício ou prêmio para estimular o agente a restituir a coisa
ou reparar os danos causados com sua conduta – é causa de diminuição de pena.

CP, Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a
coisa, até o RECEBIMENTO da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um
a dois terços.

#DEOLHONAJURIS
É possível o reconhecimento da causa de diminuição de pena prevista no art. 16 do Código Penal
(arrependimento posterior) para o caso em que o agente fez o ressarcimento da dívida principal (efetuou a
reparação da parte principal do dano) antes do recebimento da denúncia, mas somente pagou os valores
referentes aos juros e correção monetária durante a tramitação da ação penal. Nas exatas palavras do STF: “É
suficiente que ocorra arrependimento, uma vez reparada parte principal do dano, até o recebimento da inicial
acusatória, sendo inviável potencializar a amplitude da restituição.” STF. 1ª Turma. HC 165312/SP, Rel. Min.
Marco Aurélio, julgado em 14/4/2020 (Info 973).
Não se aplica a minorante do arrependimento posterior (art. 16 do CP) no caso do crime do art. 20 da Lei nº
7.492/86, considerando que se trata de delito de natureza formal, que dispensa a ocorrência de resultado
naturalístico. Além disso, se a reparação do dano foi feita por terceira pessoa – sem que se comprove que agiu
em nome do agente – não se aplica o benefício do arrependimento posterior, que exige pessoalidade e
voluntariedade na reparação. STF. Plenário. RvC 5475/AM, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/11/2019 (Info
958).
O furto de energia elétrica não pode receber o mesmo tratamento dado ao inadimplemento tributário, de modo
que o pagamento do débito antes do recebimento da denúncia não configura causa extintiva de punibilidade,
mas causa de redução de pena relativa ao arrependimento posterior (art. 16 do CP). Isso porque nos crimes
contra a ordem tributária, o legislador (Leis nº 9.249/1995 e nº 10.684/2003), ao consagrar a possibilidade da
extinção da punibilidade pelo pagamento do débito, adota política que visa a garantir a higidez do patrimônio
público, somente. A sanção penal é invocada pela norma tributária como forma de fortalecer a ideia de
cumprimento da obrigação fiscal. Já nos crimes patrimoniais, como o furto de energia elétrica, existe previsão
legal específica de causa de diminuição da pena para os casos de pagamento da “dívida” antes do recebimento
da denúncia. Em tais hipóteses, o Código Penal, em seu art. 16, prevê o instituto do arrependimento posterior,
que em nada afeta a pretensão punitiva, apenas constitui causa de diminuição da pena. Outrossim, a
jurisprudência se consolidou no sentido de que a natureza jurídica da remuneração pela prestação de serviço
público, no caso de fornecimento de energia elétrica, prestado por concessionária, é de tarifa ou preço público,
não possuindo caráter tributário. Não há como se atribuir o efeito pretendido aos diversos institutos legais,
considerando que o disposto no art. 34 da Lei nº 9.249/1995 e no art. 9º da Lei nº 10.684/2003 fazem referência
expressa e, por isso, taxativa, aos tributos e contribuições sociais, não dizendo respeito às tarifas ou preços
públicos. STJ. 3ª Seção. RHC 101299-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. Acd. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em
13/03/2019 (Info 645).
Não se aplica o instituto do arrependimento posterior (art. 16 do CP) para o homicídio culposo na direção de
veículo automotor (art. 302 do CTB) mesmo que tenha sido realizada composição civil entre o autor do crime a
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família da vítima. Para que seja possível aplicar a causa de diminuição de pena prevista no art. 16 do CP é
indispensável que o crime praticado seja patrimonial ou possua efeitos patrimoniais. O arrependimento
posterior exige a reparação do dano e isso é impossível no caso do homicídio. STJ. 6ª Turma. REsp 1561276-BA,
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/6/2016 (Info 590). STJ. 6ª Turma. AgRg-HC 510.052-RJ, Rel. Min.
Nefi Cordeiro, julgado em 17/12/2019, DJE 04/02/2020.
Não se aplica o instituto do arrependimento posterior ao crime de moeda falsa. No crime de moeda falsa — cuja
consumação se dá com a falsificação da moeda, sendo irrelevante eventual dano patrimonial imposto a terceiros
—, a vítima é a coletividade como um todo, e o bem jurídico tutelado é a fé pública, que não é passível de
reparação. Desse modo, os crimes contra a fé pública, semelhantes aos demais crimes não patrimoniais em
geral, são incompatíveis com o instituto do arrependimento posterior, dada a impossibilidade material de haver
reparação do dano causado ou a restituição da coisa subtraída. STJ. 6ª Turma. REsp 1242294-PR, Rel. originário
Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/11/2014 (Info 554).
O benefício do arrependimento posterior comunica-se aos coautores e partícipes que não tenham participado
da restituição da coisa ou da reparação do dano. Assim, uma vez reparado o dano integralmente por um dos
autores do delito, a causa de diminuição de pena do arrependimento posterior, prevista no art. 16 do CP,
estende-se aos demais coautores. STJ. 6ª Turma. REsp 1187976-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
7/11/2013 (Info 531).

ERRO NO DIREITO PENAL

Erro sobre elementos do tipo


CP, Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por
crime culposo, se previsto em lei.
Descriminantes putativas
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que,
se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível
como crime culposo.
Erro determinado por terceiro
§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.
Erro sobre a pessoa
§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste
caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.
Erro sobre a ilicitude do fato
CP, Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de
pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do
fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.

Erro na execução
Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que
pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela,
atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o
agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.
Resultado diverso do pretendido
Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém
resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se
ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.

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Erro de proibição indireto: o agente supõe estar coberto por uma excludente de ilicitude = erro na existência
ou nos limites da excludente

Erro de tipo permissivo: o agente supõe situação fática em que estaria coberto por uma excludente de ilicitude

TEORIA LIMITADA DA CULPABILIDADE (prevalece no Brasil): O erro sobre os pressupostos fáticos deve
equiparar-se a ERRO DE TIPO. Se inevitável, exclui dolo e culpa; se evitável, pune a culpa. Prevista na exposição
de motivos do CP. Apesar de previsto no art. 20, §1° que o agente fica isento de pena, a consequência será a
exclusão da tipicidade (ausência de dolo e culpa).

EXCLUDENTES DE ILICITUDE

Excludentes de ilicitude GENÉRICAS: são aquelas previstas na parte geral do CP e aplicáveis aos crimes em geral,
elas estão no art. 23 do Código Penal – estado de necessidade, legítima defesa, exercício regular do direito e
estrito cumprimento de dever legal.

#SELIGA – Para o agente ser beneficiado por uma excludente da ilicitude, ele precisa SABER que está amparado
por ela (elemento subjetivo).
Exemplo: “A” mata “B” sem saber que, naquele momento, “B” estava prestes a matar “C”. Neste caso, “A”
responde por homicídio ou está acobertado pela legítima defesa de terceiro? No exemplo citado, “A”
responderá por homicídio.

Legítima
defesa

Estado de
necessidade
Excludentes de
ilicitude Estrito
cumprimento
de dever legal
Excercício
regular de
direito

Excludentes de ilicitude ESPECÍFICAS: são aquelas previstas na parte especial do CP ou na legislação


extravagante. São aplicáveis somente a determinados crimes.
• Exemplo 1: art. 128, CP – excludentes de ilicitudes no aborto.
• Exemplo 2: art. 142, CP – excludentes de ilicitude na injúria e difamação
Causas SUPRALEGAIS de exclusão da ilicitude: O consentimento do ofendido é o grande exemplo de causa
supralegal de exclusão da ilicitude. O consentimento deve ser:
• Expresso (entretanto, a doutrina e a jurisprudência têm admitido o consentimento presumido).
• Livre (de coação, violência ou fraude).
• Moral e de acordo com os bons costumes.
• Anterior à consumação do delito (a doutrina diz que o consentimento posterior não exclui a ilicitude).
• Emanado de pessoa capaz
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LEGÍTIMA DEFESA

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima
defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante
a prática de crimes. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

REQUISITOS:

• Agressão injusta: agressão pressupõe conduta humana que lesa ou expõe a perigo de lesão um bem
jurídico, assim, só será possível a legítima defesa contra o ataque de um ser humano; a agressão injusta não
precisa ser criminosa. Agressão injusta é aquela que a pessoa não está obrigada a suportar
#ATENÇÃO – Entretanto, nada impede que, para esse ataque, haja a utilização de animais como instrumento do
crime, ou seja, o animal ataca a partir de um comando dado por um ser humano. Não é possível confundir a
legítima defesa decorrente de ataque de um animal comandado por um ser humano com o ataque do animal
feito por conta própria. Neste caso, há estado de necessidade (e não legítima defesa). A agressão pode partir,
inclusive, de inimputáveis.

• Agressão atual ou iminente: agressão atual é aquela que está ocorrendo, que já se concretizou, enquanto
agressão iminente é a que está prestes a ocorrer; a agressão futura (remota) não autoriza a legítima defesa; a
agressão passada (pretérita) também não autoriza a legítima defesa, isso porque a reação contra agressão
passada é mera vingança.
• Agressão a direito próprio ou alheio: agressão a direito própria constitui a legítima defesa própria, já a
agressão a direito alheio constitui a legítima defesa de terceiro.
#SELIGA
É possível agir em legítima defesa de pessoa jurídica. Exemplo: “A” está depredando o patrimônio da pessoa
jurídica e “B” impede a agressão ao patrimônio da pessoa jurídica.
É possível a legítima defesa do feto. Exemplo: “A” percebe que a gestante está prestes a cometer aborto e a
impede. Ao agir, estará em legítima defesa do feto.
É possível legítima defesa de cadáver. Lembrando que o cadáver não é mais titular de direitos, entretanto, há
o direito dos familiares do morto e da sociedade.

• Reação com os meios necessários: meios necessários são aqueles que o agente tem à sua disposição para
repelir a agressão injusta quando ela é praticada; não se exige a exatidão entre o meio utilizado para agredir e
o meio utilizado para se defender, pois os meios necessários, referentes ao instante da agressão, não podem
ser calculados com exatidão.
• Uso moderado dos meios necessários: como dito anteriormente, é possível que o meio necessário seja
desproporcional à agressão; contudo, esse meio desproporcional deve ser usado de forma proporcional; o uso
moderado dos meios necessários é avaliado com base no perfil de um “homem médio”; nessa
proporcionalidade, sempre deve-se colocar na balança o valor dos bens em conflito.
Legítima defesa AGRESSIVA OU ATIVA: é aquela em que a reação de quem se defende caracteriza um fato
previsto em lei como crime ou contravenção penal; exemplo: “A”, para se defender de “B”, causa lesão corporal
no agente, nesse caso, lesão corporal é um fato previsto em lei como crime.

Legítima defesa DEFENSIVA OU PASSIVA: a reação se limita a conter a agressão, sem caracterizar um fato
previsto em lei como crime
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Legítima defesa SUCESSIVA: é a reação contra o excesso; é possível.

Legítima defesa PUTATIVA RECÍPROCA: é possível que duas pessoas estejam em legítima defesa putativa; ambos
praticam agressões injustas.

#SELIGA
Legítima defesa real recíproca: não se admite, isso porque a legítima defesa pressupõe agressão injusta, assim,
se ambos estão em legítima defesa real, não é possível falar em agressão injusta.
Legítima defesa real contra outra excludente da ilicitude real: não é cabível essa situação, pois se há outra
excludente da ilicitude real, não há que se falar em agressão injusta.

#DEOLHONAJURIS
A tese da legítima defesa da honra é inconstitucional, por contrariar os princípios da dignidade da pessoa
humana, da proteção à vida e da igualdade de gênero. Ao apreciar medida cautelar em ADPF, o STF decidiu
que: a) a tese da legítima defesa da honra é inconstitucional, por contrariar os princípios constitucionais da
dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88), da proteção à vida e da igualdade de gênero (art. 5º, da
CF/88); b) deve ser conferida interpretação conforme à Constituição ao art. 23, II e art. 25, do CP e ao art. 65 do
CPP, de modo a excluir a legítima defesa da honra do âmbito do instituto da legítima defesa; e c) a defesa, a
acusação, a autoridade policial e o juízo são proibidos de utilizar, direta ou indiretamente, a tese de legítima
defesa da honra (ou qualquer argumento que induza à tese) nas fases pré-processual ou processual penais, bem
como durante julgamento perante o tribunal do júri, sob pena de nulidade do ato e do julgamento. STF. Plenário.
ADPF 779 MC-Ref/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/3/2021 (Info 1009).2

ESTADO DE NECESSIDADE

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se.
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois
terços.

REQUISITOS:

• Perigo ATUAL: é a exposição do bem jurídico à probabilidade de dano; pode advir da natureza, de seres
irracionais ou da atividade humana; o perigo deve ser provado no caso concreto (perigo efetivo ou real); o perigo
está ocorrendo no momento em que o fato típico é praticado.
• Perigo não provocado voluntariamente pelo agente: quem provoca uma situação de perigo não pode
invocar estado de necessidade.
• Ameaça a direito próprio ou alheio: admite-se o estado de necessidade próprio e o estado de necessidade
de terceiro; no Brasil, qualquer bem jurídico pode ser protegido por esse instituto; deve haver legitimidade do
bem jurídico.

2
#GOLDENTIPS Por unanimidade dos votos, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou inconstitucional o uso da tese da
legítima defesa da honra em crimes de feminicídio ou de agressão contra mulheres. O julgamento do mérito da
matéria, objeto da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 779, foi retomado na sessão
plenária desta terça-feira (1º), em que a Corte deu início às atividades do segundo semestre de 2023. Aceso em
https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=511556&ori=1

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• Ausência do dever legal de enfrentar o perigo: não pode invocar o estado de necessidade quem tinha o
dever legal de enfrentar o perigo; alcance da expressão “dever legal” – é necessário interpretar o art. 24, CP, em
sintonia com o art. 13, §2º, CP
• Inevitabilidade do perigo por outro modo: a lei deixa claro o caráter residual do estado de necessidade;
o sujeito só pode agir em estado de necessidade quando não há uma forma menos lesiva para proteger o bem
jurídico.
• Proporcionalidade: é a moderação/bom senso ao optar pelo fato necessitado; a proporcionalidade deve
ser avaliada no caso concreto.

Estado de necessidade AGRESSIVO: é aquele em que o agente sacrifica um bem pertencente a um terceiro
inocente (terceiro que não criou a situação de perigo). Exemplo: “A”, para fugir do ataque de um cachorro,
danifica o portão da casa de “B”, que é terceiro inocente – nesse caso, há reflexos no Código Civil (artigos 929 e
930, CC), há obrigação de reparar o dano.

Estado de necessidade DEFENSIVO: o agente sacrifica bem pertencente ao causador do perigo. Exemplo: “A”,
para fugir de ataque de cachorro, quebra o vidro do carro do dono do cão para se esconder – nesse caso, não
há obrigação de reparar o dano.

#SELIGA – É possível a configuração de estado de necessidade recíproco.

ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL X EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO

ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO

Facultativa: o ordenamento jurídico


Compulsória: o agente está obrigado a
NATUREZA autoriza a atuar, mas a ele pertence a opção
cumprir o mandamento legal
entre exercer ou não o direito assegurado

Na lei, em regulamentos e, para parte da


ORIGEM Na lei, direta ou indiretamente
doutrina, inclusive nos costumes

#OLHAOGANCHO
Ofendículos: são meios visíveis de proteção da propriedade e de outros bens jurídicos: segurança familiar,
inviolabilidade de domicílio etc. (exemplo: cerca elétrica)
Natureza jurídica dos ofendículos (duas posições):
1ª) Exercício regular do direito;
2ª) Forma de legítima defesa preordenada.
OBS: A doutrina se divide nessa questão e não há posição majoritária.

EXCLUDENTES DE CULPABILIDADE

CULPABILIDADE é juízo de censura, um juízo de reprovabilidade; é pela culpabilidade que se conclui se a pessoa
envolvida na prática de um fato típico e ilícito deve ou não suportar uma pena. Para os adeptos da teoria
tripartida, a culpabilidade é elemento do crime, já a teoria bipartida, a culpabilidade não é elemento do crime
(que seria somente tipicidade e ilicitude), é pressuposto para aplicação da pena.

A teoria da culpabilidade adotada pelo nosso Código Penal é a normativa pura, do sistema finalista, que divide
a culpabilidade em 3 elementos:

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• Imputabilidade.
• Potencial consciência da ilicitude.
• Exigibilidade de conduta diversa.
Considerando estes 3 elementos, as excludentes de culpabilidade advêm do afastamento de algum deles. A
imputabilidade é afastada pela inimputabilidade, a potencial consciência da ilicitude pelo erro de proibição
inevitável e a exigibilidade de conduta diversa pela coação moral irresistível e pela obediência hierárquica.

#ESQUEMINHA

Menoridade, doença mental,


Inimputabilidade desenvol. mental imcompleto e
embriaguez completa acidental

Erro de proibição
inevitável
Excludentes de
culpabilidade
Coação moral
irresistível

Obediência
hierárquica

INIMPUTABILIDADE:

CP, Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou
de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de
saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. [SEMI-IMPUTABILIDADE]

CP, Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas
estabelecidas na legislação especial.

Critérios da inimputabilidade:

• Biológico: se importa apenas com a causa, não se importando se ela gerou ou não uma perturbação mental,
é adotada no caso da menoridade, pois só analisa a idade (art. 27, CP).
• Biopsicológico: analisa a causa e as consequências, ou seja, a causa deve ser prevista em lei, existir no
momento da prática do crime e fazer com que o sujeito não entenda a ilicitude ou não consiga se determinar
com base nesse entendimento; é adotada no caso da doença mental ou desenvolvimento mental incompleto
ou retardado (art. 26 do CP).
• Psicológico: não importa se a pessoa tem ou não alguma alteração mental, o importante é verificar se a
pessoa possui alguma alteração no comportamento ao tempo da conduta; é adotada no caso da embriaguez
acidental (art. 28, §1º, CP).

EMBRIAGUEZ COMPLETA ACIDENTAL:


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CP, Art. 28, § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou
força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

#ATENÇÃO – Quando se fala em embriaguez, trabalha-se com a TEORIA DA AÇÃO LIVRE NA CAUSA (“ACTIO
LIBERA IN CAUSA”), segundo a qual na embriaguez, o livre-arbítrio não é aferido no momento da prática da
conduta, mas sim se ação foi livre no momento da ingestão da substância. Por esta razão, a embriaguez
voluntária, culposa ou preordenada NÃO exclui a imputabilidade.

ERRO DE PROIBIÇÃO INEVITÁVEL

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena;
se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

Afasta a potencial consciência da ilicitude.

Valoração paralela da esfera do profano = critério intermediário adotado pelo CP; a identificação da potencial
consciência da ilicitude deve ser feita com base no juízo de uma pessoa leiga/comum (juízo profano); esse é o
critério adotado pela doutrina.

COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL E OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA

CP, Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente
ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.

Requisitos da coação moral irresistível:

• Ameaça do coator: é a promessa de um mal grave e iminente que o coagido não está obrigado a suportar;
esse mal pode ser dirigido ao próprio coagido ou à terceira pessoa ligada a ele.
• Inevitabilidade do mal por outro modo: o coagido não tem como evitar esse mal de outra forma.
• Caráter irresistível da ameaça: o coagido não tem como enfrentar a ameaça.
• Presença de, pelo menos, 3 pessoas envolvidas: coator, coagido e vítima do crime.
#SELIGA – Na coação moral irresistível, o coator sempre vai responder pelos crimes praticados pelo coagido e
pela tortura.

#ATENÇÃO – Na coação FÍSICA irresistível, o coator controla fisicamente o coagido – nesse caso, não há vontade,
portanto, a conduta é excluída e, consequentemente, o fato é atípico.

Requisitos da obediência hierárquica (cumulativos):

• Ordem não manifestamente ilegal;


• Ordem emanada de autoridade competente;
• Relação de Direito Público: a obediência hierárquica é desdobramento do Poder Hierárquico, o qual é um
dos poderes da Administração Pública, assim, o poder hierárquico só existe nas relações de direito público;
• Envolvimento mínimo de 3 pessoas: o superior hierárquico, o funcionário público subalterno e a vítima do
crime;
• Cumprimento estrito da ordem: a ordem deve ser cumprida nos estritos limites em que ela foi emitida pelo
superior hierárquico.
CONCURSO DE PESSOAS

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CP, Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de
sua culpabilidade.

De acordo com a previsão legal o concurso de pessoas consiste na participação de dois ou mais agentes para a
prática do crime, respondendo todos pelo delito praticado na medida de sua culpabilidade.
Para que reste configurado o concurso de pessoas impõe-se a presença dos seguintes requisitos:

Crimes unissubjetivos, unilaterais ou de concurso eventual: são aqueles


normalmente praticados por uma única pessoa, mas admitem o
concurso (exemplo: homicídio); o concurso de pessoas previsto na Parte
Geral do CP só se aplica aos crimes unissubjetivos e, nesses crimes, todos
os agentes devem ser culpáveis, pois, se faltar a culpabilidade de um dos
PLURALIDADE DE AGENTES
agentes, não há necessariamente o concurso de pessoas, mas a “autoria
CULPÁVEIS
mediata”
OBS: Nos crimes acidentalmente coletivos e nos crimes plurissubjetivos,
não se usa o art. 29, caput, CP. Isso porque, nesses casos, o concurso de
pessoas é disciplinado pelo próprio tipo penal. A regra especial exclui a
regra geral.
Cada agente pratica a sua conduta e todas as condutas colaboram para
RELEVÂNCIA CAUSAL DAS a produção do resultado final.
CONDUTAS PARA A PRODUÇÃO OBS: Não há concurso de pessoas na chamada “participação inócua”, em
DO RESULTADO que o agente, subjetivamente, quer concorrer para o resultado,
entretanto, objetivamente, ele não concorre.
Também chamado de “liame psicológico” ou “concurso de vontades”. É
o desejo de colaborar para o crime de terceiro, ainda que este terceiro
VÍNCULO SUBJETIVO
desconheça a colaboração do agente.
OBS: O vínculo subjetivo não se confunde com o prévio ajuste
Consagra a regra geral da teoria unitária ou monista no concurso de
pessoas: todos os que concorrem para o crime respondem pelo mesmo
UNIDADE DE INFRAÇÃO PENAL
crime.
PARA TODOS OS AGENTES
OBS: Há exceções pluralistas no código penal (ex.: corrupção ativa e
corrupção passiva)
É necessário que exista a prática de fato típico e ilícito, o qual deve ser
EXISTÊNCIA DE FATO PUNÍVEL
praticado, pelo menos, na forma tentada (art. 31, CP).

#SELIGA – Para se falar em concurso de pessoas, é necessário que todos os agentes apresentem vontades
homogêneas, ou seja, se o crime é doloso, todos os agentes devem concorrer dolosamente para o resultado.
Se, entretanto, é culposo, todos devem concorrer culposamente.

COAUTORIA: é a modalidade de concurso de pessoas em que existem dois ou mais autores.


• Coautoria parcial também é chamada de funcional. Nessa coautoria, os agentes praticam atos diversos que,
somados, concorrem para a produção do resultado. Exemplo: “A” segura “B” para “C” poder esfaqueá-lo. Nesse
caso, há coautoria parcial.
• Coautoria direta também é chamada de coautoria material. Nesse caso, os agentes praticam atos idênticos
que se unem para a produção do resultado. Exemplo: “A” e “B” esfaqueiam “C”.

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PARTICIPAÇÃO: tem natureza acessória, pois ela só existe se existe também uma autoria. Se não há crime para
o autor, não há crime para o partícipe. O conceito de partícipe varia de acordo com a teoria do autor adotada:
• Se a teoria adotada é a objetivo-formal, partícipe é quem concorre de qualquer forma para o crime sem
executá-lo.
• Se a teoria adotada é a do domínio do fato, partícipe é quem concorre de qualquer forma para o crime sem
executá-lo e sem ter o controle final do fato.
• Para se punir o partícipe, o autor deve praticar fato típico, ilícito e ser culpável = teoria da acessoriedade
máxima ou extremada (adotada pelo CP)

Participação moral: é aquela que se limita a ideias, sugestões e conselhos; essa participação influencia no
pensamento do agente; se verifica mediante induzimento ou instigação.

Participação material: é aquela que se dá em atos concretos: instrumentos, objetos etc; ocorre por meio do
auxílio.

Participação de menor importância: é causa de diminuição da pena e, portanto, incide na terceira fase da
aplicação da pena.

Art. 29, §1º, CP: “Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um
terço.”

Participação impunível: é causa de atipicidade da conduta do partícipe

Art. 31, CP: “O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são
puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.”

COOPERAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA: também é chamada de “desvios subjetivos entre os agentes”

Art. 29, §2º, CP: “Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena
deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.”

CIRCUNSTÂNCIAS INCOMUNICÁVEIS:

Art. 30, CP: “Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares
do crime.”

Circunstâncias: são dados acessórios ao crime, dispensáveis para a configuração da figura penal básica, embora
causem influência sobre a duração da pena. Podem ser objetivas e subjetivas:
• Circunstâncias objetivas: no crime de furto mediante rompimento de obstáculo, por exemplo, essa
circunstância qualifica o crime e vai se comunicar.
• Circunstâncias subjetivas: não se comunicam como regra, salvo quando forem elementares, pois se
referem ao agente (exemplo: reincidência).
Elementar: são dados que constituem o tipo penal, ou seja, são os elementos constitutivos do crime. As
elementares sempre se comunicam, sejam de caráter objetivo ou subjetivo.

#DEOLHONAJURIS
A qualificadora da “paga ou promessa de recompensa” prevista no inciso I do § 2º do art. 121 do CP é aplicada,
sem dúvidas, ao executor do crime. No entanto, indaga-se: essa qualificadora também se comunica ao
MANDANTE do crime?

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1ª corrente: NÃO. A qualificadora da paga (art. 121, 2º, I, do CP) não é aplicável aos mandantes do homicídio,
porque o pagamento é, para eles, a conduta que os integra no concurso de pessoas, mas não o motivo do crime.
STJ. 5ª Turma. REsp 1973397-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 06/09/2022 (Info 748).
2ª corrente: SIM. No homicídio mercenário, a qualificadora da paga ou promessa de recompensa é elementar
do tipo qualificado, comunicando-se ao mandante do delito. STJ. 6ª Turma. AgInt no REsp 1681816/GO, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, julgado em 03/05/2018.
A teoria do domínio do fato não permite que a mera posição de um agente na escala hierárquica sirva para
demonstrar ou reforçar o dolo da conduta. Do mesmo modo, também não permite a condenação de um agente
com base em conjecturas. Assim, não é porque houve irregularidade em uma licitação estadual que o
Governador tenha que ser condenado criminalmente por isso. STF. 2ª Turma. AP 975/AL, Rel. Min. Edson Fachin,
julgado em 3/10/2017 (Info 880).

CONCURSO DE CRIMES

CONCURSO MATERIAL CONCURSO FORMAL


É a espécie de concurso de crimes que se verifica É a espécie de concurso de crimes que se verifica
quando o agente, mediante mais de uma ação ou quando o agente, mediante UMA SÓ ação ou
omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou
não não
CP, art. 69, “caput”, 1ª parte: “Quando o agente, CP, art. 70: “Quando o agente, mediante uma só ação
mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou
ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou,
cumulativamente as penas privativas de liberdade em se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em
que haja incorrido.” qualquer caso, de um sexto até metade. As penas
aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação
ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes
resultam de desígnios autônomos, consoante o
disposto no artigo anterior.”
Homogêneo: o concurso material é homogêneo Homogêneo: o concurso formal homogêneo ocorre
quando os crimes são idênticos. quando os crimes são idênticos.
Heterogêneo: o concurso formal heterogêneo ocorre
Heterogêneo: o concurso material é heterogêneo quando os crimes são diversos.
quando os crimes são diversos. Perfeito ou próprio: concurso formal próprio ou
perfeito é aquele em que não há desígnios
autônomos do agente no tocante à pluralidade de
crimes, ou seja, o agente não tem o dolo de praticar
todos os crimes
Imperfeito ou impróprio: concurso formal impróprio
ou imperfeito é aquele em que a pluralidade de
resultados emana de desígnios autônomos, isto é, há
dolo no tocante a todos os crimes, assim sendo,
concurso formal impróprio ou imperfeito é aquele
que se verifica entre crimes dolosos
Sistema do cúmulo material: acarreta a soma das Sistema da exasperação: nesse caso, o juiz aplica
penas, ou seja, todas as penas de todos os crimes somente uma das penas, aumentada de determinado
praticados pelo agente são somadas pelo juiz. percentual (concurso formal próprio ou perfeito)
Sistema do cúmulo material: no concurso formal
impróprio ou imperfeito.
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O CONCURSO MATERIAL BENÉFICO ou favorável só pode ser aplicado para o concurso formal próprio ou
perfeito, no qual se adota o sistema da exasperação. Para entender o que é concurso material benéfico, é
necessário lembrar que o concurso formal próprio ou perfeito foi criado para beneficiar o réu. Desse modo, se,
na prática, o concurso formal próprio ou perfeito prejudicar o réu, o juiz deve desprezá-lo e deve utilizar o
concurso material.

CONCURSO DE CRIMES E MULTA: Com relação à pena de multa, o artigo 72 do Código Penal dispõe:

Art. 72 - No concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente.

Assim, qualquer que seja a modalidade de concurso de crimes, as penas de multa devem ser aplicadas de modo
autônomo e integral, o que significa que, ao final, as penas de multa sempre devem ser somadas.

EXCEÇÃO: O STJ afasta, nos crimes continuados, a aplicação da norma prevista no artigo 72 do CP, por considerar
que deve haver a imposição de uma única pena de multa, já que as infrações são tratadas como crime único:
“(...) 1. A jurisprudência desta Corte assentou compreensão no sentido de que o art. 72 do Código Penal é restrito
às hipóteses de concursos formal ou material, não sendo aplicável aos casos em que há reconhecimento da
continuidade delitiva. Desse modo, a pena pecuniária deve ser aplicada conforme o regramento estabelecido
para o crime continuado, e não cumulativamente, como procedeu a Corte de origem. (...)” (STJ, AgRg no AREsp
484057/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 09/03/2018).

CRIME CONTINUADO

Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma
espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os
subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas,
ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.

O crime continuado segue a teoria da ficção jurídica (Francesco Carrara), ou seja, ele é composto por vários
crimes independentes, mas que o legislador, por ficção jurídica, considera como um crime só. A teoria da ficção
jurídica vale exclusivamente para fins de aplicação da pena. Para todas as demais finalidades, são considerados
crimes independentes.

REQUISITOS:

I) Pluralidade de condutas e crimes da mesma espécie;


II) Elo de continuidade: ao se falar em crime praticado com elo de continuidade, significa que os crimes devem
ter sido praticados nas mesmas condições de tempo; nas mesmas condições de lugar, na mesma maneira de
execução ou em circunstâncias semelhantes;
III) Mesma condição de tempo: entre os vários crimes não pode decorrer prazo superior a 30 dias (marco
objetivo temporal).
IV) Mesma condição de lugar: os crimes parcelares devem ser cometidos na mesma comarca ou em comarcas
vizinhas;
V) Mesmo modus operandi;
VI) Unidade de desígnios (requisito trazido pela Jurisprudência - STJ)

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Aplica-se o SISTEMA DA EXASPERAÇÃO: a pena do crime mais grave, se forem diferentes, ou de um dos crimes,
se as penas forem iguais, com a causa de aumento de pena de um sexto a dois terços. A jurisprudência entende
que quanto maior o número de crimes parcelares, mais se aproximará da maior causa de aumento.

#DEOLHONAJURIS
No caso de crime continuado, o art. 71 do CP prevê que o juiz deverá aplicar a pena de um só dos crimes, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de 1/6 a 2/3. O STJ entende que, em
regra, a escolha da quantidade de aumento de pena deve levar em consideração o número de infrações
praticadas pelo agente com base na seguinte tabela:
2 crimes — aumenta 1/6
3 crimes — aumenta 1/5
4 crimes — aumenta 1/4
5 crimes — aumenta 1/3
6 crimes — aumenta 1/2
7 ou mais — aumenta 2/3
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1945790-MS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/09/2022 (Info 749).

CRIME CONTINUADO ESPECÍFICO:

Art. 71, Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave
ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art.
75 deste Código.

Além dos requisitos relativos ao art. 71, caput, CP, o crime continuado específico também exige outros
requisitos: culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade do agente, motivos e circunstâncias do
crime.

Nesse caso, a pena do agente pode ser aumentada até o triplo. A expressão “até o triplo” deve ser entendida
como 1/6 até o triplo.

#DEOLHONAJURIS
O reconhecimento da continuidade delitiva não importa na obrigatoriedade de redução da pena definitiva fixada
em cúmulo material, porquanto há possibilidade de aumento do delito mais gravoso em até o triplo, nos termos
do art. 71, parágrafo único, in fine, do CP. Caso concreto: em 1ª instância, o réu foi condenado a 30 anos de
reclusão, em cúmulo material de dois delitos de homicídio qualificado com decapitação e esquartejamento das
vítimas. Em recurso de apelação, foi reconhecido crime continuado, mas sem alteração na pena final, tendo em
vista que foi aplicado o aumento por continuidade delitiva para dobrar a pena de 15 anos, nos termos do art.
71, parágrafo único, parte final, do Código Penal. O STJ manteve o acórdão da apelação. Não há de se falar em
reformatio in pejus porque, no recurso do réu, foi mantida a pena definitiva no mesmo montante, mesmo com
a modificação dos institutos penais. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 301882-RJ, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro,
julgado em 19/04/2022 (Info 734).
Os delitos de apropriação indébita previdenciária e de sonegação de contribuição previdenciária, previstos,
respectivamente, nos arts. 168-A e 337-A do CP, embora sejam do mesmo gênero, são de espécies diversas;
obstando a benesse da continuidade delitiva. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1868826/CE, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 09/02/2021.
Não há continuidade delitiva entre os crimes de roubo e extorsão, ainda que praticados em conjunto. Isso
porque, os referidos crimes, apesar de serem da mesma natureza, são de espécies diversas. STJ. 5ª Turma. HC
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435.792/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/05/2018. STF. 1ª Turma. HC 114667/SP, rel. org. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 24/4/2018 (Info 899).
Não há como reconhecer a continuidade delitiva entre os crimes de roubo e o de latrocínio porquanto são delitos
de espécies diversas, já que tutelam bens jurídicos diferentes. STJ. 5ª Turma. AgInt no AREsp 908.786/PB, Rel.
Min. Felix Fischer, julgado em 06/12/2016.
A prática sucessiva de roubo e, no mesmo contexto fático, de extorsão, com subtração violenta de bens e
posterior constrangimento da vítima a entregar o cartão bancário e a respectiva senha, revela duas condutas
distintas, praticadas com desígnios autônomos, devendo-se reconhecer, portanto, o concurso material. STF. 1ª
Turma. HC 190909, rel. org. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/10/2020.

DOSIMETRIA DA PENA

A aplicação da pena é um ato discricionário juridicamente vinculado (Teoria das margens ou Discricionariedade
vinculada). Assim, o legislador apresenta um limite mínimo e um máximo e juiz pode navegar dentro desses
limites de forma discricionária.

O sistema ou critério adotado pelo nosso Código Penal para a aplicação da pena é o TRIFÁSICO, elaborado por
Nélson Hungria, no qual a pena privativa de liberdade é calculada em três fases:

Circunstâncias
1ª fase
judiciais do art.
(pena-base)
59, CP

Critério Agravantes e
2ª fase
Trifásico atenuantes

Causas de
3ª fase aumento e de
diminuição

CP, Art. 68 - A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão
consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento.

ATENÇÃO: Para a pena de MULTA, adotou-se o sistema bifásico, no qual fixa-se inicialmente o número de dias
multa e, após, calcula-se o valor de cada dia-multa.

Na pena-base (1ª fase), o juiz deve navegar dentro dos limites legais cominados à infração penal, ou seja, não
pode ultrapassar o patamar mínimo e nem o patamar máximo correspondente.

CP, Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente,
aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.

As qualificadoras possuem penas próprias, dissociadas do tipo fundamental, pois são alterados os próprios
limites abstratamente cominados. Assim, em caso de crime qualificado, o juiz já utiliza na 1ª fase da dosimetria
da pena a sanção a ele correspondente.
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Se estiverem presentes agravantes ou atenuantes genéricas (2ª fase), a pena não pode ser elevada além do
máximo abstratamente cominado e nem reduzida aquém do mínimo legal.

Circunstâncias agravantes
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:(Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - a reincidência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - ter o agente cometido o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) por motivo fútil ou torpe;
b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime;
c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a
defesa do ofendido;
d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar
perigo comum;
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou
com violência contra a mulher na forma da lei específica; (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão;
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida; (Redação dada pela Lei nº 10.741,
de 2003)
i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade;
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do
ofendido;
l) em estado de embriaguez preordenada.

Circunstâncias atenuantes
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença;
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - o desconhecimento da lei; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - ter o agente:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as
consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou
sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;
e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou.

As causas de aumento e diminuição (na 3ª fase) são aplicáveis em relação à reprimenda resultante da 2ª fase, e
não sobre a pena base. Havendo causas de aumento ou de diminuição, a pena pode ser definitivamente fixada
ACIMA ou ABAIXO dos limites máximo e mínimo abstratamente definidos pelo legislador.

Art. 68, Parágrafo único - No concurso de causas de aumento ou de diminuição previstas na parte especial, pode
o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou
diminua.

Tipo de majorante ou minorante Aplicação


Uma na parte geral + uma na parte geral O juiz aplica as duas
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Uma na parte geral + uma na parte especial O juiz aplica as duas


O juiz PODE aplicar somente uma delas, mas se o
Uma na parte especial + uma na parte especial fizer tem que ser a causa que mais
aumente/diminua.

Súmula 443-STJ: O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige
fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de
majorantes.

Obtida a pena definitiva na 3ª fase, deve o magistrado fixar o regime inicial de cumprimento cabível à espécie
(regime fechado, semiaberto ou aberto). Em seguida, deve analisar a possibilidade de substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos. Se esta não for cabível, mas a pena não for superior a 2 anos,
deve o juiz analisar a viabilidade da suspensão condicional da pena (sursis). Finalmente, se não for possível a
substituição ou a suspensão condicional da pena, o magistrado decidirá sobre a manutenção ou imposição de
prisão preventiva ou outra medida cautelar, se presentes os requisitos.

Art. 33, § 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito
do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais
rigoroso:
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde
o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto;
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-
la em regime aberto.

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou
grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso;
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos
e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.

Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2
(dois) a 4 (quatro) anos, desde que:
I - o condenado não seja reincidente em crime doloso;
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias autorizem a concessão do benefício;
III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código.

#SELIGANASSÚMULAS
Súmula 440-STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais
gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.
Súmula 444-STJ: E vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base
Súmula 269-STJ: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena
igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.
Súmula 241-STJ: A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e,
simultaneamente, como circunstância judicial.

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Súmula 231-STJ: A incidência da circunstância atenuante NÃO PODE conduzir a redução da pena abaixo do
mínimo legal.
Súmula vinculante 56: A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado
em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE
641.320/RS. STF.
Súmula 545-STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus
à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal.
Súmula 630-STJ: A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de entorpecentes
exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse ou propriedade
para uso próprio.
Súmula 718-STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea
para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.
Súmula 719-STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige
motivação idônea

#SAINDODOFORNO
A aplicação da agravante prevista no art. 61, II, “f”, do CP, em condenação pelo delito do art. 129, § 9º, do CP,
por si só, não configura bis in idem. O tipo penal em sua forma qualificada tutela a violência doméstica, enquanto
a redação da agravante, em sua parte final, tutela isoladamente a violência contra a mulher. STJ. 5ª Turma. AgRg
no REsp 1.998.980-GO, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 8/5/2023 (Info 775).
O intenso envolvimento com o tráfico de drogas constitui fundamento idôneo para valorar negativamente a
conduta social do agente na primeira fase da dosimetria da pena no crime de homicídio qualificado. No caso
concreto, na 1ª fase da dosimetria, o magistrado considerou negativa a conduta social do condenado,
consignando que ele é uma pessoa envolvida com o tráfico. O juiz afirmou que o acusado atuava sob ordens
diretas do tráfico de drogas da região, encontrando-se em alto nível de inserção criminosa e que se trata de
pessoa temida na comunidade, possuindo laços estreitos com uma rede de pessoas dedicadas à prática
criminosa. O STJ considerou que essa majoração foi plenamente justificada, considerando que essa circunstância
reflete o temor causado pelo agente. A conduta social é uma avaliação de natureza comportamental, pertinente
ao relacionamento do agente no trabalho, na vizinhança, perante familiares ou amigos, não havendo uma
delimitação mínima do campo de análise, podendo ser pequena como no núcleo familiar ou mais ampla como
a comunidade em que o indivíduo mora. O fato de o condenado estar envolvido com o tráfico de drogas denota
sua periculosidade, destemor às instituições constituídas, e também demonstra sua propensão para violar as
regras sociais. STJ. 5ª Turma. HC 807.513-ES, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 11/4/2023 (Info
770).

#CHUVADEJURIS
A utilização de uma das qualificadoras do homicídio para exasperação da pena intermediária é plenamente
cabível. Havendo duas ou mais qualificadoras, uma delas deverá ser utilizada para qualificar a conduta, alterando
o quantum da pena em abstrato, e as demais poderão ser valoradas na segunda fase da dosimetria, caso
correspondam a uma das agravantes previstas na legislação penal, ou, ainda, como circunstância judicial,
afastando a pena-base do mínimo legal (STJ. 5ª Turma. HC 402.851/SC, Rel. Min. Felix Fischer, DJe 21/9/2017).
Ameaçar a vítima na presença de seu filho menor de idade justifica a valoração negativa da culpabilidade do
agente. A culpabilidade, para fins do art. 59 do Código Penal, deve ser compreendida como juízo de
reprovabilidade da conduta, apontando maior ou menor censura do comportamento do réu. Não se trata de
verificação da ocorrência dos elementos da culpabilidade, para que se possa concluir pela prática ou não de
delito, mas, sim, do grau de reprovação penal da conduta do agente, mediante demonstração de elementos
concretos do delito. O magistrado apresentou argumento válido no sentido de que as ameaças foram lançadas
quando a vítima se encontrava com seu filho menor de idade, o que revela maior desvalor e censura na conduta

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do acusado, tratando-se de fundamento idôneo para análise negativa da culpabilidade. STJ. 5ª Turma. AREsp
1964508-MS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 29/03/2022 (Info 731).
É manifestamente ilegal a negativação dos antecedentes e a aplicação da agravante da reincidência, quando
fundamentadas em condenações, ainda que transitadas em julgado, por fatos posteriores àquele sob
julgamento. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1903802/ES, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 21/09/2021.
O fato de o agente ter se aproveitado, para a prática do crime, da situação de vulnerabilidade emocional e
psicológica da vítima decorrente da morte de seu filho em razão de erro médico pode constituir motivo idôneo
para a valoração negativa de sua culpabilidade. STJ. 5ª Turma. HC 264459-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 10/3/2016 (Info 579).
O excesso de velocidade não constitui fundamento apto a justificar o aumento da pena-base pela culpabilidade,
por ser inerente aos delitos de homicídio culposo e de lesões corporais culposas praticados na direção de veículo
automotor, caracterizando a imprudência, modalidade de violação do dever de cuidado objetivo, necessária à
configuração dos delitos culposos. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 153549-DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
2/6/2015 (Info 563).
Não é possível a utilização de condenações anteriores com trânsito em julgado como fundamento para
negativar a conduta social. STF. 2ª Turma. RHC 130132, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/5/2016 (Info
825). STJ. 5ª Turma. HC 475436/PE, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 13/12/2018. STJ. 6ª Turma. REsp
1760972-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 08/11/2018 (Info 639
Condenações anteriores transitadas em julgado não podem ser utilizadas como conduta social desfavorável.
STF. 2ª Turma. RHC 130132, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/5/2016 (Info 825).
Se o erro do juiz na dosimetria da pena foi apenas na denominação da circunstância judicial (chamou de
“conduta social”, porém era “maus antecedentes”), é possível que a pena seja mantida. Demonstrada mera
falta de técnica na sentença, o habeas corpus pode ser deferido para nominar de forma correta os registros
pretéritos da paciente, doravante chamados de maus antecedentes, e não de conduta social, sem afastar,
todavia, o dado desabonador que, concretamente, existe nos autos e justifica diferenciada individualização da
pena. O juiz mencionou cinco condenações definitivas do réu como justificativa para o aumento da pena na
primeira fase da dosimetria. O magistrado deveria ter denominado os registros como “maus antecedentes”,
mas, em vez disso, os enquadrou como “conduta social” negativa. O erro do pronunciamento está relacionado
somente à atecnia na nomeação da circunstância legal. Assim, em habeas corpus, deve ser corrigida a palavra
imprópria, para que o dado concreto levado em conta pelo juiz seja chamado de maus antecedentes. STJ. 6ª
Turma. HC 501.144/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 10/03/2020 (Info 669).
A existência de condenações definitivas anteriores não se presta a fundamentar a exasperação da pena base
como personalidade voltada para o crime. Condenações transitadas em julgado não constituem fundamento
idôneo para análise desfavorável da personalidade do agente. STJ. 5ª Turma. HC 466.746/PE, Rel. Min. Felix
Fischer, julgado em 11/12/2018. STJ. 6ª Turma. HC 472.654-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 21/02/2019
(Info 643).
O juiz, na análise dos motivos do crime (art. 59 do CP), pode fixar a pena-base acima do mínimo legal em razão
de o autor ter praticado delito de homicídio e de lesões corporais culposos na direção de veículo automotor,
conduzindo-o com imprudência a fim de levar droga a uma festa. Isso porque o fim de levar droga a uma festa
representa finalidade que desborda das razoavelmente utilizadas para esses crimes, configurando justificativa
válida para o desvalor. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 153549-DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 2/6/2015 (Info
563).
A tenra idade da vítima é fundamento idôneo para a majoração da pena-base do crime de homicídio pela
valoração negativa das consequências do crime. O homicídio perpetrado conta a vítima jovem ceifa uma vida
repleta de possibilidades e perspectivas, que não guardam identidade ou semelhança com aquelas verificadas
na vida adulta. Há que se sopesar, ainda, as consequências do homicídio contra vítima de tenra idade no núcleo
familiar respectivo: pais e demais familiares enlutados por um crime que subverte a ordem natural da vida. Não
se pode olvidar, ademais, o aumento crescente do número de homicídios perpetrados contra adolescentes no
Brasil, o que reclama uma resposta estatal. Assim, deve prevalecer a orientação no sentido de que a tenra idade
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da vítima (menor de 18 anos de idade) é elemento concreto e transborda aqueles inerentes ao crime de
homicídio, sendo apto, pois, a justificar o agravamento da pena-base, mediante valoração negativa das
consequências do crime, ressalvada, para evitar bis in idem, a hipótese em que aplicada a causa de aumento
prevista no art. 121, § 4º (parte final), do Código Penal. STJ. 3ª Seção. AgRg no REsp 1.851.435-PA, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 12/08/2020 (Info 679).
Os elevados custos da atuação estatal para apuração da conduta criminosa e o enriquecimento ilícito obtido
pelo agente não constituem motivação idônea para a valoração negativa do vetor "consequências do crime" na
1ª fase da dosimetria da pena. Em outras palavras, o fato de o Estado ter gasto muitos recursos para investigar
os crimes (no caso, era uma grande operação policial) e de o réu ter obtido enriquecimento ilícito com as práticas
delituosas não servem como motivo para aumentar a pena-base. STF. 2ª Turma. HC 134193/GO, Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 26/10/2016 (Info 845)
Não se aplica a agravante do art. 61, II, “h”, do CP ao furto praticado aleatoriamente em residência sem a
presença do morador idoso. Não se aplica a agravante prevista no art. 61, II, “h”, do Código Penal na hipótese
em que o crime de furto qualificado pelo arrombamento à residência ocorreu quando os proprietários não se
encontravam no imóvel, não havendo que se falar, portanto, em ameaça à vítima ou em benefício do agente
para a prática delitiva em razão de sua condição de fragilidade. Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam
a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: II - ter o agente cometido o crime: h) contra criança,
maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida; STJ. 5ª Turma. HC 593.219-SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 25/08/2020 (Info 679).
No caso de crime de tortura perpetrado contra criança em que há prevalência de relações domésticas e de
coabitação, não configura bis in idem a aplicação conjunta da causa de aumento de pena prevista no art. 1º, §
4º, II, da Lei nº 9.455/1997 (Lei de Tortura) e da agravante genérica estatuída no art. 61, II, "f", do Código Penal.
STJ. 6ª Turma. HC 362.634-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 16/8/2016 (Info 589). A
atenuante da confissão, mesmo qualificada, pode ser compensada integralmente com a qualificadora do
motivo fútil, que fora deslocada para a segunda fase da dosimetria em razão da pluralidade de qualificadoras
no caso concreto. Isso, porque são circunstâncias igualmente preponderantes, já que versam sobre os motivos
determinantes do crime e a personalidade do réu (art. 67 do CP). STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 2010303-MG, Rel.
Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 14/11/2022 (Info 761).
O réu fará jus à atenuante do art. 65, III, 'd', do CP quando houver admitido a autoria do crime perante a
autoridade, independentemente de a confissão ser utilizada pelo juiz como um dos fundamentos da sentença
condenatória, e mesmo que seja ela parcial, qualificada, extrajudicial ou retratada. REsp 1.972.098-SC, Rel.
Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 14/06/2022, DJe 20/06/2022 (Info. 741).
É possível, na segunda fase da dosimetria da pena, a compensação integral da atenuante da confissão
espontânea com a agravante da reincidência, seja ela específica ou não. Todavia, nos casos de
multirreincidência, deve ser reconhecida a preponderância da agravante prevista no art. 61, I, do Código Penal,
sendo admissível a sua compensação proporcional com a atenuante da confissão espontânea, em estrito
atendimento aos princípios da individualização da pena e da proporcionalidade. STJ, REsp 1.931.145-SP, Rel.
Min. Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 22/06/2022, DJe 24/06/2022. (Tema
585)
No concurso entre agravantes e atenuantes, a atenuante da confissão espontânea deve preponderar sobre a
agravante da dissimulação, nos termos do art. 67 do Código Penal. Esta Corte Superior entende que a confissão
espontânea é circunstância preponderante, e a agravante da dissimulação não está prevista como circunstância
preponderante por não se encaixar nos quesitos previstos no art. 67 do Código Penal. Assim, a reprimenda deve
ser reduzida na segunda fase da dosimetria. No caso, a Corte de origem, a despeito de considerar que não
caberia a preponderância da agravante da dissimulação sobre a atenuante da confissão, ainda que qualificada,
concluiu que deveriam ser compensadas a agravante da dissimulação com a atenuante da confissão espontânea.
Contudo, tal entendimento destoa do art. 67 do Código Penal (HC 557.224-PR, Rel. Min. Antonio Saldanha
Palheiro, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 16/08/2022, DJe 19/08/2022, Info. 645).

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É idônea a valoração negativa dos motivos do crime na hipótese em que o agressor se utiliza de ameaças para
constranger a vítima a desistir de requerer o divórcio e pensão alimentícia em benefício dos filhos. Caso
hipotético: mulher decidiu se separar do então marido e ajuizou contra ele ação de divórcio cumulada com
pensão alimentícia em benefício dos filhos. O marido ligou para a esposa e a ameaçou de morte para que ela
desistisse das medidas judiciais propostas. O homem foi condenado pela prática do crime de ameaça (art. 147
do CP). Na primeira fase da dosimetria da pena, o juiz pode aumentar a pena-base considerando que os motivos
do crime já que o agressor se utilizou de ameaças para constranger a vítima a desistir de requerer o divórcio e
pensão alimentícia em benefício dos filhos. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 746729-GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 19/12/2022 (Info 767).

EFEITOS DA CONDENAÇÃO

O efeito principal (primário) da condenação é impor ao condenado uma sanção


PRIMÁRIOS penal.
A sanção penal divide-se em: pena e medida de segurança.
PENAIS: reincidência (art. 63), causa de revogação do sursis (art. 77, I e § 1º), causa
de revogação do livramento condicional (art. 86), causa de conversão da pena
restritiva de direitos em privativa de liberdade (art. 44, § 5º), impossibilita a
transação penal e concessão de suspensão condicional do processo (arts. 76 e 89 da
Lei nº 9.099/95).
SECUNDÁRIOS
EXTRAPENAIS:
a) Genéricos: art. 91 do CP;
b) Específicos: art. 92 do CP;
c) Previstos em “leis” especiais (exs: art. 15, III, CF; art. 83 da Lei de Licitações; art.
181, da Lei de Falências).

Art. 91 - São efeitos da condenação:


I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção
constitua fato ilícito;
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática
do fato criminoso.
§ 1o Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando
estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
§ 2o Na hipótese do § 1o, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão abranger bens
ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de perda. (Incluído pela Lei nº
12.694, de 2012)

Art. 92 - São também efeitos da condenação:


I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados
com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.
II – a incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos à pena
de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar, contra filho, filha ou outro
descendente ou contra tutelado ou curatelado; (Redação dada pela Lei nº 13.715, de 2018)
III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso.
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Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente
declarados na sentença.

Súmula 631-STJ: O indulto extingue os efeitos primários da condenação (pretensão executória), mas não atinge
os efeitos secundários, penais ou extrapenais.

#ATENÇÃO para as regras da legislação especial – efeitos automáticos da condenação:


LEI DE TORTURA (Lei 9.455/97) Art. 1º, §5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego
público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.
LEI DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA (Lei 12.850/13) Art. 2º, § 6o A condenação com trânsito em julgado
acarretará ao funcionário público a perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo e a interdição para o
exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes ao cumprimento da pena.

#DEOLHONAJURIS
Art. 92 do CP não se aplica a membro do Ministério Público condenado. O art. 92 do Código Penal não se aplica
aos membros do Ministério Público condenados criminalmente porque o art. 38 da Lei nº 8.625/93 disciplina o
tema, sendo norma especial (específica), razão pela qual deve esta última prevalecer em relação à norma geral
(Código Penal). Segundo o art. 38, § 1º, I, e § 2º da Lei n.º 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público),
a perda do cargo de membro do Ministério Público somente pode ocorrer após o trânsito em julgado de ação
civil proposta para esse fim. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1409692/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 23/05/2017.
A pena de perdimento deve ser restrita ao cargo ocupado no momento do delito, salvo se o novo cargo tiver
relação com as atribuições anteriores. Imagine que, quando o réu praticou o crime, ele estava ocupando o cargo
público “X”. No entanto, anos mais tarde, no momento em que foi prolatada a sentença condenatória, ele já
estava em outro cargo público (“Z”). O juiz poderá condenar o réu à perda do atual cargo público (“Z”) mesmo
sendo ele posterior à prática do delito? REGRA: não. Em regra, a pena de perdimento deve ser restrita ao cargo
público ocupado ou função pública exercida no momento da prática do delito. EXCEÇÃO: se o juiz,
motivadamente, considerar que o novo cargo guarda correlação com as atribuições do anterior, ou seja, daquele
que o réu ocupava no momento do crime, neste caso mostra-se devida a perda da nova função como uma forma
de anular (evitar) a possibilidade de que o agente pratique novamente delitos da mesma natureza. Assim, a pena
de perdimento deve ser restrita ao cargo ocupado ou função pública exercida no momento do delito, à exceção
da hipótese em que o magistrado, motivadamente, entender que o novo cargo ou função guarda correlação
com as atribuições anteriores. STJ. 5ª Turma. REsp 1452935/PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado
em 14/03/2017 (Info 599).
Os efeitos de condenação criminal previstos no art. 92, I, do CP, embora possam repercutir na esfera das
relações extrapenais, são efeitos penais, na medida em que decorrem de lei penal. Sendo assim, pela natureza
constrangedora desses efeitos (que acarretam restrição ou perda de direitos), eles somente podem ser
declarados nas hipóteses restritas do dispositivo mencionado, o que implica afirmar que o rol do art. 92 do CP
é taxativo, sendo vedada a interpretação extensiva ou analógica para estendê-los em desfavor do réu, sob pena
de afronta ao princípio da legalidade. Dessa maneira, como essa previsão legal é dirigida para a “perda de cargo,
função pública ou mandato eletivo”, não se pode estendê-la ao servidor que se aposentou, ainda que no
decorrer da ação penal. STJ. 5ª Turma. REsp 1416477-SP, Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme
(Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em 18/11/2014 (Info 552).

CONFISCO ALARGADO DE BENS:

Pressupostos necessários que delimitam seu cabimento:


• Condenação por crime com pena máxima superior a SEIS ANOS;
• Incompatibilidade do patrimônio com a renda líquida do agente
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Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior a 6 (seis) anos
de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à
diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do condenado todos os
bens: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou indireto, na data da
infração penal ou recebidos posteriormente; e (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir do início da atividade
criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedência lícita do patrimônio.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público, por ocasião do
oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e especificar os bens cuja perda
for decretada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias deverão ser
declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde tramita a ação penal, ainda
que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco de
ser utilizados para o cometimento de novos crimes. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

MEDIDAS DE SEGURANÇA

SISTEMA DO DUPLO BINÁRIO SISTEMA VICARIANTE OU UNITÁRIO


O semi-imputável cumpriria inicialmente a pena Ao semi-imputável será aplicada a pena reduzida de
privativa de liberdade e, ao seu final, se mantida a 1/3 a 2/3 OU a medida de segurança, conforme seja
presença da periculosidade, seria submetido a uma mais adequado ao caso. Adotado pelo CP.
medida de segurança.

Art. 97. Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como
crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. Assim, se fosse adotada
a redação literal do art. 97 teríamos o seguinte cenário:
• Se o agente praticou fato punido com RECLUSÃO, ele receberá, obrigatoriamente, a medida de internação.
• Por outro lado, se o agente praticou fato punido com DETENÇÃO, o juiz, com base na periculosidade do agente,
poderá submetê-lo à medida de internação ou tratamento ambulatorial.

O STJ, contudo, abrandou a regra legal e construiu a tese de que o art. 97 do CP não deve ser aplicado de
forma isolada, devendo analisar também qual é a medida de segurança que melhor se ajusta à natureza do
tratamento de que necessita o inimputável. Em outras palavras, o STJ afirmou o seguinte: mesmo que o
inimputável tenha praticado um fato previsto como crime punível com reclusão, ainda assim será possível
submetê-lo a tratamento ambulatorial (não precisando ser internação), desde que fique demonstrado que essa
é a medida de segurança que melhor se ajusta ao caso concreto. À luz dos princípios da adequação, da
razoabilidade e da proporcionalidade, na fixação da espécie de medida de segurança a ser aplicada não deve ser
considerada a natureza da pena privativa de liberdade aplicável, mas sim a periculosidade do agente, cabendo
ao julgador a faculdade de optar pelo tratamento que melhor se adapte ao inimputável. Desse modo, mesmo
em se tratando de delito punível com reclusão, é facultado ao magistrado a escolha do tratamento mais

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adequado ao inimputável. STJ. 3ª Seção. EREsp 998128-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 27/11/2019
(Info 662).

De acordo com o art. 97, § 1º, do CP, a medida de segurança tem prazo mínimo, que varia de 1 a 3 anos, e será
por tempo indeterminado, ou seja, não tem prazo máximo. Nesse prazo mínimo, é possível a detração. Nos
Tribunais Superiores, prevalece a inconstitucionalidade da indeterminação do prazo máximo, violando a
proibição da prisão perpétua:

Apesar de o art. 42 do Código Penal prever a possibilidade de detração penal na medida de segurança, não há
como aplicar esse instituto em caso de tratamento ambulatorial, com a compensação do período já cumprido
provisoriamente, mormente por se tratar de medida que não possui função punitiva, nem se sujeita a prazo
determinado. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 519.917/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/11/2021.

Súmula 527-STJ: O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena
abstratamente cominada ao delito praticado.

Obrigatoriedade de instauração de incidente de insanidade mental:

O reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu depende da prévia instauração de


incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto. O art. 149 do CPP, ao exigir
que o acusado seja submetido a exame médico-legal, não contempla hipótese de prova legal ou tarifada. A
despeito disso, a partir de uma interpretação sistemática das normais processuais penais que regem a matéria,
deve-se concluir que o reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu (art. 26, caput e
parágrafo único do CP) depende da prévia instauração de incidente de insanidade mental e do respectivo exame
médico-legal nele previsto. Vale ressaltar, por fim, que o magistrado poderá discordar das conclusões do laudo,
desde que o faça por meio de decisão devidamente fundamentada. STJ. 6ª Turma. REsp 1802845-RS, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

CP, Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:


I - pela morte do agente;
II - pela anistia, graça ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;
VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

ANISTIA GRAÇA INDULTO


É um benefício concedido pelo É um benefício individual (com É um benefício coletivo (sem
Congresso Nacional, com a sanção do destinatário certo). destinatário certo).
Presidente da República (art. 48, VIII,
Depende de pedido do É concedido de ofício (não
sentenciado. depende de provocação).

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CF/88), por meio do qual se “perdoa” a Concedidos por DECRETO do Presidente da República. Apagam o
prática de um FATO criminoso. efeito executório da condenação.
Normalmente, incide sobre crimes
políticos, mas também pode abranger A atribuição para conceder pode ser delegada ao(s): Procurador Geral
outras espécies de delito. da República; Advogado Geral da União; Ministros de Estado.
É concedida por meio de uma LEI
Tradicionalmente, a doutrina afirma que tais benefícios só podem ser
FEDERAL ORDINÁRIA.
concedidos após o trânsito em julgado da condenação. Esse
Pode ser concedida: antes do trânsito
entendimento, no entanto, está cada dia mais superado,
em julgado (anistia própria); ou depois
considerando que o indulto natalino, por exemplo, permite que seja
do trânsito em julgado (anistia
concedido o benefício desde que tenha havido o trânsito em julgado
imprópria).
para a acusação ou quando o MP recorreu, mas não para agravar a
Classificação:
pena imposta (art. 5º, I e II, do Decreto 7.873/2012).
• Propriamente dita: quando
concedida antes da condenação. Classificação:
• Impropriamente dita: quando • Pleno: quando extingue totalmente a pena.
concedida após a condenação. • Parcial: quando somente diminui ou substitui a pena (comutação).
• Irrestrita: quando atinge • Incondicionado: quando não impõe qualquer condição.
indistintamente todos os autores do fato • Condicionado: quando impõe condição para sua concessão.
punível. • Restrito: exige condições pessoais do agente. Ex.: exige
• Restrita: quando exige condição primariedade.
pessoal do autor do fato punível. Ex.: • Irrestrito: quando não exige condições pessoais do agente.
exige primariedade.
• Incondicionada: não se exige Só extinguem o efeito PRINCIPAL do crime (a pena). Os efeitos penais
condição para a sua concessão. secundários e os efeitos de natureza civil permanecem íntegros.
• Condicionada: exige- se condição O réu condenado que foi beneficiado por graça ou indulto, se cometer
para a sua concessão. Ex.: reparação do novo crime, será reincidente.
dano.
• Comum: atinge crimes comuns.
• Especial: atinge crimes políticos.
Extingue os efeitos penais (PRINCIPAIS
E SECUNDÁRIOS) do crime. Os efeitos de
natureza civil permanecem íntegros.
O réu condenado que foi anistiado, se
cometer novo crime, não será
reincidente.
É um benefício coletivo que, por referir-
se somente a fatos, atinge apenas os
que o cometeram.

#DEOLHONAJURIS
É inconstitucional decreto presidencial que, ao conceder indulto individual (graça em sentido estrito), visa
atingir objetivos distintos daqueles autorizados pela Constituição Federal de 1988, eis que observa interesse
pessoal ao invés do público. Há, no caso, violação aos princípios da impessoalidade e da moralidade
administrativa (art. 37, “caput”, CF/88), além de desvio de finalidade. STF. Plenário. ADPF 964/DF, ADPF 965/DF,
ADPF 966/DF e ADPF 967/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 10/5/2023 (Info 1094).
É formalmente inconstitucional norma federal que concede anistia a policiais e bombeiros militares estaduais
por infrações disciplinares decorrentes da participação em movimentos reivindicatórios por melhorias de
vencimentos e de condições de trabalho. Caso concreto: a Lei federal nº 12.505/2011 concedeu anistia aos

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policiais e bombeiros militares de diversos Estados punidos por participar de movimentos reivindicatórios. A
União possui competência para legislar concedendo anistia para crimes. A anistia de infrações disciplinares
cometidas por servidores estaduais deve ser concedida pelos próprios entes estaduais tendo em vista a
autonomia que caracteriza a Federação brasileira. Quanto aos bombeiros e policiais militares, a competência
estadual é realçada nos arts. 42 e 144, § 6º, da CF/88. STF. Plenário. ADI 4869/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 27/5/2022 (Info 1056).
O indulto é instituto da execução penal, não se estendendo os benefícios da norma instituidora aos presos
cautelarmente com direito à detração penal. O período ao qual o Decreto Presidencial 9.246/2017 se refere
para fins de indulto é aquele corresponde à prisão pena, não se alinhando para o preenchimento do requisito
objetivo aquele alusivo ao da detração penal, no qual se está diante de constrição por medida cautelar. STJ. 6ª
Turma.AgRg no AREsp 1887116-GO, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região),
julgado em 03/05/2022 (Info 736).
Embora a vedação à concessão do indulto ao crime de associação para o tráfico de drogas (art. 35 da Lei n.
11.343/2006) não conste, de fato, no Decreto Presidencial n. 9.246/2017, está expressamente delineada no art.
44, caput, da Lei n. 11.343/2006. Assim, não é possível a concessão de indulto ou comutação da pena ao
condenado pelo delito de associação para o tráfico de drogas, pois há vedação legal contida no art. 44, caput,
da Lei n. 11.343/2006. STJ. 5ª Turma. AgRg-HC 670.378, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
15/06/2021.
O indulto humanitário requer, para sua concessão, a necessária comprovação, por meio de laudo médico oficial
ou por médico designado pelo juízo da execução, de que a enfermidade que acomete o sentenciado é grave,
permanente e exige cuidados que não podem ser prestados no estabelecimento prisional. STJ. 6ª Turma. AgRg
no HC 292.952/RS, Rel. Min. Antônio Saldanha, julgado em 27/10/2020.

PRESCRIÇÃO PENAL
Prescrição da Pretensão Punitiva Prescrição da Pretensão Punitiva
Propriamente Dita Intercorrente ou Superveniente
Entre o trânsito em julgado da sentença
Momento Antes do trânsito em julgado da sentença
condenatória p/ acusação e o trânsito p/
processual condenatória
defesa
Pena Em abstrato Em concreto
Data da consumação do crime (regra) – Publicação da sentença condenatória (para
Termo inicial
exceções art. 111, II a V, CP frente)
O réu não é intimado da sentença; ou o réu
O processo não tem prolação de sentença
é intimado da sentença e recorre, mas o
Ocorre quando condenatória durante o tempo de
tribunal não aprecia o seu recurso durante
prescrição
o tempo
Recebimento da denúncia; pronúncia;
Causas
decisão confirmatória da pronúncia; e ---
interruptivas
publicação da sentença condenatória
Enquanto não resolvida, em outro
processo, questão prejudicial; enquanto o Na pendência de embargos de declaração
Causas impeditivas
agente cumpre pena no exterior; enquanto ou de recursos aos Tribunais Superiores,
ou suspensivas
não cumprido ou rescindido o acordo de quando inadmissíveis
não persecução penal

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Prescrição da Pretensão Punitiva


Prescrição da Pretensão Executória
Retroativa

Depois do trânsito em julgado da sentença


Momento Depois do trânsito em julgado da sentença
condenatória p/ acusação, de forma
processual condenatória
retroativa

Pena Em concreto Em concreto

Publicação da sentença condenatória (para


Termo inicial Data do trânsito em julgado da sentença
trás)
O tempo entre o recebimento da denúncia Há sentença condenatória, mas não se
Ocorre quando e a sentença condenatória é maior que inicia ou não se finaliza o cumprimento da
tempo de prescrição pena durante o tempo de prescrição
Causas Início ou continuação do cumprimento da
---
interruptivas pena e reincidência
Causas impeditivas Durante o tempo em que o condenado
---
ou suspensivas está preso por outro motivo

#ATENÇÃO #NOVIDADELEGISLATIVA #LEIHENRYBOREL


Termo inicial da prescrição antes de transitar em julgado a sentença final

Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr:
I - do dia em que o crime se consumou;
II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa;
III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;
IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em que o fato
se tornou conhecido.
V - nos crimes contra a dignidade sexual ou que envolvam violência contra a criança e o adolescente, previstos
neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse
tempo já houver sido proposta a ação penal. (Redação dada pela Lei nº 14.344, de 2022)

Novas Causas impeditivas da prescrição incluídas no art. 116 pelo Pacote Anticrime:

Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre:
I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do
crime;
II - enquanto o agente cumpre pena no exterior; (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; e
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal. (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre durante o
tempo em que o condenado está preso por outro motivo.

#DEOLHONAJURIS
É cabível a redução do prazo prescricional pela metade (art. 115 do CP) se, entre a sentença condenatória e o
julgamento dos embargos de declaração, o réu atinge a idade superior a 70 anos, tendo em vista que a decisão
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que julga os embargos integra a própria sentença condenatória. STJ. 6ª Turma. EDcl no AgRg no REsp 1.877.388-
CE, Rel. Min.. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 2/5/2023 (Info 773).
IMPORTANTE!! O termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão executória é o trânsito em
julgado para ambas as partes. Se o Ministério Público não recorreu contra a sentença condenatória, tendo
havido apenas recurso da defesa, qual deverá ser o termo inicial da prescrição da pretensão executiva? O início
do prazo da prescrição executória deve ser o momento em que ocorre o trânsito em julgado para o MP? Ou o
início do prazo deverá ser o instante em que se dá o trânsito em julgado para ambas as partes, ou seja, tanto
para a acusação como para a defesa? O início da contagem do prazo de prescrição somente se dá quando a
pretensão executória pode ser exercida. Se o Estado não pode executar a pena, não se pode dizer que o prazo
prescricional já está correndo. Assim, mesmo que tenha havido trânsito em julgado para a acusação, se o Estado
ainda não pode executar a pena (ex: está pendente uma apelação da defesa), não teve ainda início a contagem
do prazo para a prescrição executória. É preciso fazer uma interpretação sistemática do art. 112, I, do CP. STF.
Plenário. AI 794971 AgR, Relator(a) p/ Acórdão: Marco Aurélio, julgado em 19/04/2021. STJ. 3ª Seção. AgRg no
REsp 1.983.259-PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado 26/10/2022 (Info 755).
O acórdão condenatório de que trata o inciso IV do art. 117 do Código Penal interrompe a prescrição, inclusive
quando confirmatório de sentença condenatória, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena
anteriormente imposta. STJ. 3ª Seção. REsp 1930130-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
10/08/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1100) (Info 744).
A comunicabilidade da interrupção do prazo prescricional alcança tão somente os corréus do mesmo processo.
Dessa forma, havendo desmembramento, os feitos passam a tramitar de forma autônoma, possuindo seus
próprios prazos, inclusive em relação à prescrição. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 121.697/SP, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 19/10/2021.
O cumprimento de pena imposta em outro processo, ainda que em regime aberto ou em prisão domiciliar,
impede o curso da prescrição executória. De acordo com o parágrafo único do art. 116 do Código Penal, “depois
de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado
está preso por outro motivo”. Ao interpretar o referido dispositivo legal, o STJ pacificou o entendimento de que
o cumprimento de pena imposta em outro processo, ainda que em regime aberto ou em prisão domiciliar,
impede o curso da prescrição executória. Assim, não há que se falar em fluência do prazo prescricional, o que
impede o reconhecimento da extinção de sua punibilidade. O fato de o prazo prescricional não correr durante
o tempo em que o condenado está preso por outro motivo não depende da unificação das penas. STJ. 5ª Turma.
AgRg no RHC 123523-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 13/04/2020 (Info 670).
No caso de crimes conexos que sejam objeto do mesmo processo, havendo sentença condenatória para um dos
crimes e acórdão condenatório para o outro delito, tem-se que a prescrição da pretensão punitiva de ambos é
interrompida a cada provimento jurisdicional (art. 117, § 1º, do CP). STJ. 5ª Turma. RHC 40177-PR, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/8/2015 (Info 568).
Não se admite a denominada prescrição em perspectiva (prescrição virtual). A prescrição virtual ocorre quando
o juiz, verificando que já se passaram muitos anos desde o dia em que o prazo prescricional começou ou voltou
a correr, entende que mesmo que o inquérito ou processo continue, ele não terá utilidade porque muito
provavelmente haverá a prescrição pela pena em concreto. Para isso, o juiz analisa a possível pena que aplicaria
para o réu se ele fosse condenado e, a partir daí, examina se, entre os marcos interruptivos presentes no
processo, já se passaram mais anos do que o permitido pela lei. A prescrição virtual é também chamada de
prescrição “em perspectiva”, “por prognose”, “projetada” ou “antecipada”. O STF e o STJ afirmam que é
inadmissível a prescrição virtual por dois motivos principais: a) em virtude da ausência de previsão legal; b)
porque representaria uma afronta ao princípio da presunção de não-culpabilidade. O STJ tem, inclusive, um
enunciado proibindo expressamente a prática (Súmula 438-STJ). STF. 1ª Turma. Inq 3574 AgR/MT, Rel. Min.
Marco Aurélio, julgado em 2/6/2015 (Info 788).
A prescrição da medida de segurança imposta em sentença absolutória imprópria é regulada pela pena máxima
abstratamente prevista para o delito. STJ. 5ª Turma. RHC 39920-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 6/2/2014
(Info 535).
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#DEOLHONASSÚMULAS:
Súmula 146-STF: A prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada na sentença, quando não há
recurso da acusação.
Súmula 497-STF: Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença,
não se computando o acréscimo decorrente da continuação.
Súmula 592-STF: Nos crimes falimentares, aplicam-se as causas interruptivas da prescrição, previstas no Código
Penal.
Súmula 191-STJ: A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri venha a
desclassificar o crime.
Súmula 220-STJ: A reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão punitiva (Influi na PPE)
Súmula 438-STJ: É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com
fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal.

2 – Parte Especial a) Dos crimes contra a pessoa (artigos. 121 a 154). b) Dos crimes contra o patrimônio (artigos.
155 a 183). c) Dos crimes contra a propriedade imaterial (artigos. 184 a 196). d) Dos crimes contra a dignidade
sexual (artigos. 213 a 234). e) Dos crimes contra a família (artigos. 235 a 249). f) Dos crimes contra a
incolumidade pública (artigos. 250 a 285). g) Dos crimes contra a paz pública (artigos. 286 a 288). h) Dos crimes
contra a fé pública (artigos. 289 a 311). i) Dos crimes contra a administração pública (artigos. 312 a 359).

HOMICÍDIO

HOMICÍDIO SIMPLES: Em regra, não é crime hediondo, salvo quando praticado em atividade de grupo de
extermínio, ainda que por só um agente (art. 1º, I, 1ª parte, Lei nº 8.072/90).

CP, Art. 121. Matar alguém:


Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Lei 8.072/90, Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por
um só agente (...)

HOMICÍDIO PRIVILEGIADO: É causa de diminuição de pena. Quando o agente comete o crime impelido por
motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima. Nesse caso, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. As hipóteses legais do
privilégio apresentam caráter subjetivo.

CP, Art. 121, § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um
sexto a um terço.

#SELIGA
• O homicídio privilegiado é uma forma de homicídio doloso. Logo, é crime de competência do Tribunal do
Júri. Quem vai dizer se o crime é privilegiado ou não são os jurados e não o juiz. Os jurados respondem quesitos,
os quais vinculam o juiz.
• O homicídio privilegiado não é crime hediondo, por falta de previsão legal.

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• Em caso de concurso de agentes as causas privilegiadas não se comunicam, uma vez que são circunstâncias
subjetivas do crime (e não elementares).
• É possível o homicídio privilegiado-qualificado, apenas se a qualificadora for de natureza objetiva, uma vez
que o privilégio é de natureza subjetiva

HOMICÍDIO QUALIFICADO: Eleva a pena de reclusão para doze a trinta anos. A qualificadora pode ser de
natureza objetiva ou subjetiva. É crime hediondo em todas as suas modalidades.

CP, Art. 121, § 2° Se o homicídio é cometido:


I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; [motivo vil, repugnante]
II - por motivo futil; [insignificante, desproporcional]
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa
resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a
defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Lei 8.072/90, Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
I - (...) e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII e IX);

#DEOLHONAJURIS
É possível haver homicídio qualificado praticado com dolo eventual?
No caso das qualificadoras do motivo FÚTIL e/ou TORPE (art. 121, § 2º, I e II, do CP): SIM. Não há dúvidas
quanto a isso. Trata-se da posição do STJ e do STF. O fato de o réu ter assumido o risco de produzir o resultado
morte (dolo eventual), não exclui a possibilidade de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o
dolo do agente, direto ou indireto, não se confunde com o motivo que ensejou a conduta. STJ. 6ª Turma. REsp
1601276/RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/06/2017.
No caso de qualificadoras de MEIO (art. 121, § 2º, III e IV, do CP):
1ª corrente: SIM. O dolo eventual no crime de homicídio é compatível com as qualificadoras objetivas previstas
no art. 121, § 2º, III e IV, do Código Penal. As referidas qualificadoras serão devidas quando constatado que o
autor delas se utilizou dolosamente como meio ou como modo específico mais reprovável para agir e alcançar
outro resultado, mesmo sendo previsível e tendo admitido o resultado morte. STJ. 5ª Turma. REsp 1836556-PR,
Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/06/2021 (Info 701).
2ª corrente: NÃO. O dolo eventual não se compatibiliza com a qualificadora do art. 121, § 2º, IV (traição,
emboscada dissimulação). Para que incida a qualificadora da surpresa é indispensável que fique provado que o
agente teve a vontade de surpreender a vítima, impedindo ou dificultando que ela se defendesse. Ora, no caso
do dolo eventual, o agente não tem essa intenção, considerando que não quer matar a vítima, mas apenas
assume o risco de produzir esse resultado. Como o agente não deseja a produção do resultado, ele não
direcionou sua vontade para causar surpresa à vítima. Logo, não pode responder por essa circunstância
(surpresa). STF. 2ª Turma. HC 111442/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/8/2012 (Info 677).
A qualificadora de natureza objetiva prevista no inciso III do § 2º do art. 121 do Código Penal não se
compatibiliza com a figura do dolo eventual, pois enquanto a qualificadora sugere a ideia de premeditação, em
que se exige do agente um empenho pessoal, por meio da utilização de meio hábil, como forma de garantia do
sucesso da execução, tem-se que o agente que age movido pelo dolo eventual não atua de forma direcionada à
obtenção de ofensa ao bem jurídico tutelado, embora, com a sua conduta, assuma o risco de produzi-la. STJ. 6ª

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Turma. EDcl no REsp 1848841/MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 2/2/2021. STJ. 6ª Turma. REsp
1.987.786/SP, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 9/8/2022.
A qualificadora da “paga ou promessa de recompensa” prevista no inciso I do § 2º do art. 121 do CP é aplicada,
sem dúvidas, ao executor do crime. No entanto, indaga-se: essa qualificadora também se comunica ao
MANDANTE do crime?
1ª corrente: NÃO. A qualificadora da paga (art. 121, 2º, I, do CP) não é aplicável aos mandantes do homicídio,
porque o pagamento é, para eles, a conduta que os integra no concurso de pessoas, mas não o motivo do crime.
STJ. 5ª Turma. REsp 1973397-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 06/09/2022 (Info 748).
2ª corrente: SIM. No homicídio mercenário, a qualificadora da paga ou promessa de recompensa é elementar
do tipo qualificado, comunicando-se ao mandante do delito. STJ. 6ª Turma. AgInt no REsp 1681816/GO, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, julgado em 03/05/2018.

FEMINICÍDIO: É homicídio qualificado, que eleva a pena de reclusão para doze a trinta anos. É considerado crime
hediondo.

CP, Art. 121, § 2° Se o homicídio é cometido:


VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei nº
13.104, de 2015)
I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

#DEOLHONAJURIS
Não caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de motivo torpe e de feminicídio no crime
de homicídio praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar. Isso se dá porque o
feminicídio é uma qualificadora de ordem OBJETIVA - vai incidir sempre que o crime estiver atrelado à violência
doméstica e familiar propriamente dita, enquanto que a torpeza é de cunho subjetivo, ou seja, continuará
adstrita aos motivos (razões) que levaram um indivíduo a praticar o delito. STJ. 6ª Turma. HC 433898-RS, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, julgado em 24/04/2018 (Info 625).

HOMICÍDIO FUNCIONAL: É homicídio qualificado, que eleva a pena de reclusão para doze a trinta anos. É
considerado crime hediondo.

CP, Art. 121, § 2° Se o homicídio é cometido:


VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra
seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela
Lei nº 13.142, de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

HOMICÍDIO COM EMPREGO DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO OU PROIBIDO: É homicídio qualificado, que
eleva a pena de reclusão para doze a trinta anos. É considerado crime hediondo.

CP, Art. 121, § 2° Se o homicídio é cometido:


VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

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HOMICÍDIO CONTRA MENOR DE 14 (QUATORZE) ANOS: Nova modalidade de homicídio qualificado, que eleva
a pena de reclusão para doze a trinta anos. É considerado crime hediondo. #ATENÇÃO #NOVIDADELEGISLATIVA
#LEIHENRYBOREL

CP, Art. 121, § 2° Se o homicídio é cometido:


IX - contra menor de 14 (quatorze) anos: (Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

#SELIGA – Além da pena de reclusão de 12 a 30 anos, referente ao homicídio qualificado, terá como CAUSA DE
AUMENTO DE PENA se o delito for praticado pelos ascendentes, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,
companheiro, tutor, curador, preceptor (que orienta na educação da criança), empregador da vítima ou
qualquer outra pessoa que exerça autoridade ou cuide dela; ou se a vítima é pessoa com deficiência.

CP, Art. 121, § 2º-B. A pena do homicídio contra menor de 14 (quatorze) anos é aumentada de: (Incluído pela
Lei nº 14.344, de 2022)
I - 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa com deficiência ou com doença que implique o aumento
de sua vulnerabilidade; (Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022)
II - 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor,
curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela. (Incluído
pela Lei nº 14.344, de 2022)

#SELIGA – Há um entendimento do STJ que a tenra idade da vítima é fundamento idôneo para a majoração da
pena-base do crime de homicídio pela valoração negativa das consequências do crime (STJ. 3ª Seção. AgRg no
REsp 1851435-PA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 12/08/2020 - Info 679). Porém, com o advento da
Lei nº 14.344/2022, o homicídio praticado contra menor de 14 anos passou a ser qualificado. Com isso, este
entendimento jurisprudencial está parcialmente superado. Isso porque se a idade da vítima for utilizada como
qualificadora, ela não poderá ser também empregada como circunstância judicial negativa na 1ª fase da
dosimetria da pena.

HOMICÍDIO CULPOSO: A pena é de detenção e a competência para julgar é do Juiz Singular. É possível a
aplicação do perdão judicial.

CP, Art. 121, § 3º Se o homicídio é culposo:


Pena - detenção, de um a três anos.

CP, Art. 121, § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências
da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído
pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA NO HOMICÍDIO:

CP, Art. 121, § 4o No HOMICÍDIO CULPOSO, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à
vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo
DOLOSO o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)

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OBS: Parte da doutrina afirma que a causa de aumento de pena do homicídio praticado contra menor de 14
anos foi tacitamente revogado pela Lei 14.344/2022 (Lei Henry Borel), que agora prevê essa circunstância como
homicídio qualificado. Aplicar esta causa de aumento ao homicídio qualificado seria bis in idem.

CP, Art. 121, § 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por MILÍCIA
PRIVADA, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei
nº 12.720, de 2012)

CP, Art. 121, § 7o A pena do FEMINICÍDIO é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:
(Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou com doenças degenerativas que acarretem
condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; (Redação dada pela Lei nº 14.344, de 2022)
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; (Redação dada pela Lei nº 13.771,
de 2018)
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da
Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei nº 13.771, de 2018)

#DEOLHONAJURIS
No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não
procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante (§ 4º do art. 121 do CP).
Se a vítima tiver morte instantânea, tal circunstância, por si só, é suficiente para afastar a causa de aumento de
pena prevista no § 4º do art. 121? NÃO. No homicídio culposo, a morte instantânea da vítima não afasta a causa
de aumento de pena prevista no art. 121, § 4º, do CP, a não ser que o óbito seja evidente, isto é, perceptível por
qualquer pessoa. STJ. 5ª Turma. HC 269038-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 2/12/2014 (Info 554).

LESÃO CORPORAL

NATUREZA GRAVE NATUREZA GRAVÍSSIMA


I - Incapacidade para as ocupações habituais, por I - Incapacidade permanente para o trabalho;
mais de trinta dias; II - enfermidade incurável;
II - perigo de vida; III perda ou inutilização do membro, sentido ou
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
função; IV - deformidade permanente;
IV - aceleração de parto: V - aborto:

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E LESÃO CORPORAL:

CP, Art. 129 (...)


§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem
conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo,
aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra
pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006)
(...)

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§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino, nos termos do § 2º-
A do art. 121 deste Código: (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)

#DEOLHONAJURIS
Verificado que a lesão é o resultado das agressões sofridas, a existência de concausa anterior relativamente
independente não impede a condenação pelo crime de lesão corporal grave. Caso adaptado: João agrediu sua
esposa Regina, com chutes, socos e pauladas. A vítima perdeu dois dentes em razão da violência sofrida. O
Ministério Público ofereceu denúncia contra João imputando-lhe a prática do crime de lesão corporal de
natureza grave (debilidade permanente) praticado no âmbito doméstico (art. 129, § 1º, III, do Código Penal, na
forma da Lei nº 11.340/2006). Durante a instrução, o réu requereu que a imputação fosse desclassificada para
lesão corporal de natureza leve. Para fundamentar seu pedido, o acusado invocou laudo pericial juntado aos
autos, no qual ficou consignado que a vítima é “portadora de problemas dentários que levam à perda precoce
dos dentes. Provável doença periodontal em evolução”. De acordo com o laudo, antes mesmo da agressão,
havia programação de exodontia (remoção cirúrgica dos dentes) para colocação de prótese (dentadura). O juiz
não concordou com os argumentos da defesa e condenou o réu por lesão corporal de natureza grave. De acordo
com a sentença, “o fato de a vítima ter informado que sofre de problemas que levam à sua perda precoce dos
dentes não é apto a afastar a natureza grave das lesões. Isso porque se está diante de uma concausa
relativamente independente preexistente, que não produziu por si só o resultado.” O STJ concordou com o
magistrado. Não obstante a existência da doença preexistente que causa perda precoce dos dentes, a vítima
somente perdeu os dentes em tal oportunidade em razão da conduta do agravante, de modo que, suprimida
mentalmente a conduta do réu, a ofendida não teria perdido os dentes naquele momento. A existência de
concausa anterior relativamente independente não impede a condenação pelo crime de lesão corporal grave.
Isso porque, na situação em análise, caso a conduta do agente fosse mentalmente suprimida, a vítima não teria
perdido os dois dentes naquele momento. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.882.609-MS, Rel. Min. Antonio
Saldanha Palheiro, julgado em 13/3/2023 (Info 770).
Se a lesão corporal praticada resultou em “deformidade permanente” na vítima, incide a qualificadora prevista
no art. 129, § 2º, IV, do CP. A “alteração permanente da personalidade” pode ser considerada como uma
“deformidade permanente”? Não. Quando o art. 129, § 2º, IV, do CP fala em “deformidade permanente” ele
está se referindo a lesões estéticas de grande monta, capazes de causar desconforto a quem a vê ou ao seu
portador. Logo, o art. 129, § 2º, IV, do CP abrange apenas lesões corporais que resultam em danos físicos. STJ.
6ª Turma. HC 689921-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 08/03/2022 (Info 728).
Lesão corporal contra irmão configura o § 9º do art. 129 do CP não importando onde a agressão tenha ocorrido.
Não é inepta a denúncia que se fundamenta no art. 129, § 9º, do CP – lesão corporal leve –, qualificada pela
violência doméstica, tão somente em razão de o crime não ter ocorrido no ambiente familiar. Ex: João agrediu
fisicamente seu irmão na sede da empresa onde trabalham, causando-lhe lesão corporal leve. O agente deverá
responder pelo art. 129, § 9º do CP. Sendo a lesão corporal praticada contra ascendente, descendente, irmão,
cônjuge ou companheiro, deverá incidir a qualificadora do § 9º não importando onde a agressão tenha ocorrido.
STJ. 5ª Turma. RHC 50026-PA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 3/8/2017 (Info 609).
A lesão corporal que provoca na vítima a perda de dois dentes tem natureza grave (art. 129, § 1º, III, do CP), e
não gravíssima (art. 129, § 2º, IV, do CP). A perda de dois dentes pode até gerar uma debilidade permanente (§
1º, III), ou seja, uma dificuldade maior da mastigação, mas não configura deformidade permanente (§ 2º, IV).
STJ. 6ª Turma. REsp 1620158-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/9/2016 (Info 590).

CRIMES CONTRA A HONRA

INJÚRIA QUALIFICADA: #ATENÇÃO #NOVIDADELEGISLATIVA

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CP, Art. 140, § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a religião ou à condição de pessoa
idosa ou com deficiência: (Redação dada pela Lei nº 14.532, de 2023)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 14.532, de 2023)

→ Agora, a injuria qualificada consiste apenas quando o agente se utiliza de elementos referentes à
RELIGIÃO, condição de pessoa IDOSA ou com DEFICIÊNCIA.
→ A injúria racial saiu do rol da injúria qualificada no Código Penal e foi tipificada como RACISMO na Lei
7.716/89.
Foi sancionada janeiro de 2023 a lei que tipifica como crime de racismo a injúria racial, com a pena aumentada
de um a três anos para de dois a cinco anos de reclusão (Lei nº 14.532, de 2023). Ainda, a mudança trazida na
Lei 7.716/89 prevê pena de suspensão de direito em caso de racismo praticado no contexto de atividade
esportiva ou artística, e reclusão para o racismo praticado por funcionário público, bem como para o racismo
religioso e recreativo.

Lei 7.716/1989
Art. 2º-A Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em razão de raça, cor, etnia ou procedência
nacional.
Pena: reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade se o crime for cometido mediante concurso de 2 (duas) ou
mais pessoas.

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional.
Pena: reclusão de um a três anos e multa.
(...)
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos neste artigo for cometido por intermédio dos meios de comunicação
social, de publicação em redes sociais, da rede mundial de computadores ou de publicação de qualquer
natureza: (Redação dada pela Lei nº 14.532, de 2023)
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
§ 2º-A Se qualquer dos crimes previstos neste artigo for cometido no contexto de atividades esportivas,
religiosas, artísticas ou culturais destinadas ao público: (Incluído pela Lei nº 14.532, de 2023)
Pena: reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e proibição de frequência, por 3 (três) anos, a locais destinados a
práticas esportivas, artísticas ou culturais destinadas ao público, conforme o caso. (Incluído pela Lei nº 14.532,
de 2023)
§ 2º-B Sem prejuízo da pena correspondente à violência, incorre nas mesmas penas previstas no caput deste
artigo quem obstar, impedir ou empregar violência contra quaisquer manifestações ou práticas religiosas.
(Incluído pela Lei nº 14.532, de 2023)
Art. 20-A. Os crimes previstos nesta Lei terão as penas aumentadas de 1/3 (um terço) até a metade, quando
ocorrerem em contexto ou com intuito de descontração, diversão ou recreação. (Incluído pela Lei nº 14.532,
de 2023)
Art. 20-B. Os crimes previstos nos arts. 2º-A e 20 desta Lei terão as penas aumentadas de 1/3 (um terço) até a
metade, quando praticados por funcionário público, conforme definição prevista no Decreto-Lei nº 2.848, de 7
de dezembro de 1940 (Código Penal), no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las. (Incluído pela
Lei nº 14.532, de 2023)
Art. 20-C. Na interpretação desta Lei, o juiz deve considerar como discriminatória qualquer atitude ou
tratamento dado à pessoa ou a grupos minoritários que cause constrangimento, humilhação, vergonha, medo
ou exposição indevida, e que usualmente não se dispensaria a outros grupos em razão da cor, etnia, religião ou
procedência. (Incluído pela Lei nº 14.532, de 2023)

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MAJORANTES NOS CRIMES CONTRA A HONRA #ATENÇÃO #NOVIDADELEGISLATIVA #LEIHENRYBOREL

Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de UM TERÇO, se qualquer dos crimes é cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções, ou contra os Presidentes do Senado Federal, da
Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal; (Redação dada pela Lei nº 14.197, de 2021)
(Vigência)
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria.
IV - contra criança, adolescente, pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou pessoa com deficiência, exceto na
hipótese prevista no § 3º do art. 140 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 14.344, de 2022)
§ 1º - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro.
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das redes sociais da rede mundial de
computadores, aplica-se em triplo a pena. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

AÇÃO PENAL:

Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede MEDIANTE QUEIXA, salvo quando, no caso
do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA, no caso do inciso I do caput do
art. 141 deste Código, e mediante REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem
como no caso do § 3o do art. 140 deste Código.

CONSUMAÇÃO DO CRIME DE INJÚRIA PRATICADO PELA INTERNET:

O crime de injúria praticado pela internet por mensagens privadas, as quais somente o autor e o destinatário
têm acesso ao seu conteúdo, consuma-se no local em que a vítima tomou conhecimento do conteúdo
ofensivo. Caso concreto: um indivíduo, residente em Município do interior da Paraíba, enviou mensagem de
áudio com palavras injuriosas contra uma Senadora da República. Esta mensagem de áudio foi enviada por meio
do Instagram direct. A parlamentar tomou conhecimento da ofensa em Brasília (DF). A competência para julgar
a injúria será da Justiça Federal do DF ou da Paraíba? Do Distrito Federal. No caso de delitos contra a honra
praticados por meio da internet, o local da consumação do delito é aquele onde incluído o conteúdo ofensivo
na rede mundial de computadores. Contudo, tal entendimento diz respeito aos casos em que a publicação é
possível de ser visualizada por terceiros, indistintamente, a partir do momento em que veiculada por seu autor.
Na situação em análise, embora tenha sido utilizada a internet para a suposta prática do crime de injúria, o envio
da mensagem de áudio com o conteúdo ofensivo à vítima ocorreu por meio de aplicativo de troca de mensagens
entre usuários em caráter privado, denominado Instagram direct, no qual somente o autor e o destinatário têm
acesso ao seu conteúdo, não sendo acessível para visualização por terceiros, após a sua inserção na rede de
computadores. Portanto, no caso, aplica-se o entendimento geral de que o crime de injúria se consuma no local
onde a vítima tomou conhecimento do conteúdo ofensivo. STJ. 3ª Seção. CC 184269-PB, Rel. Min. Laurita Vaz,
julgado em 09/02/2022 (Info 724).

CRIME DE PERSEGUIÇÃO E VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA CONTRA A MULHER

Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou
psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua
esfera de liberdade ou privacidade. (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)

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§ 1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido: (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)
I – contra criança, adolescente ou idoso; (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)
II – contra MULHER por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste
Código; (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)
III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de arma. (Incluído pela Lei nº
14.132, de 2021)
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. (Incluído pela Lei nº
14.132, de 2021)
§ 3º Somente se procede MEDIANTE REPRESENTAÇÃO. (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)

Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que
vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir
e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação: (Incluído pela Lei
nº 14.188, de 2021)
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave. (Incluído
pela Lei nº 14.188, de 2021)

#ATENÇÃO – No crime de perseguição (art. 147-A) o sujeito passivo pode ser qualquer pessoa. Se for mulher a
vítima, é causa de aumento de pena. Já no crime do art. 147-B, o sujeito passivo é necessariamente a mulher.

CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

FURTO

O elemento subjetivo no furto é o dolo (animus furandi), acompanhado do especial fim de agir, consistente na
vontade de assenhoramento definitivo da coisa alheia móvel (animus rem sibi habendi).

Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da res furtiva, ainda que por breve espaço de tempo e seguida
de perseguição ao agente, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada (teoria da amotio).

FURTO SIMPLES:

CP, Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

CAUSA DE AUMENTO DE PENA:

CP, Art. 155, § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o REPOUSO NOTURNO.

#DEOLHONAJURIS
Para que incida o § 1º do art. 155 do CP as únicas exigências são que o furto ocorra à noite e em situação de
repouso. 1. Nos termos do § 1º do art. 155 do Código Penal, se o crime de furto é praticado durante o repouso
noturno, a pena será aumentada de um terço. 2. O repouso noturno compreende o período em que a população
se recolhe para descansar, devendo o julgador atentar-se às características do caso concreto. 3. A situação de
repouso está configurada quando presente a condição de sossego/tranquilidade do período da noite, caso em
que, em razão da diminuição ou precariedade de vigilância dos bens, ou, ainda, da menor capacidade de
resistência da vítima, facilita-se a concretização do crime. 4. São irrelevantes os fatos das vítimas estarem, ou
não, dormindo no momento do crime, ou o local de sua ocorrência, em estabelecimento comercial, via pública,
residência desabitada ou em veículos, bastando que o furto ocorra, obrigatoriamente, à noite e em situação de

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Ciclos Método

repouso. STJ. 3ª Seção. REsp 1979989-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 22/06/2022 (Recurso
Repetitivo – Tema 1144)(Info 742).
A causa de aumento de pena do § 1º do art. 155 do CP, além de se aplicar para os casos de furto simples
(caput), pode também incidir nas hipóteses de furto qualificado (§ 4º)?
Para o STJ: NÃO. A causa de aumento prevista no § 1º do art. 155 do Código Penal (prática do crime de furto no
período noturno) não incide no crime de furto na sua forma qualificada (§ 4º). STJ. 3ª Seção. REsp 1.890.981-SP,
Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 25/05/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1087) (Info 738).
Para o STF: SIM. A causa de aumento do repouso noturno se coaduna com o furto qualificado quando compatível
com a situação fática. STF. 1ª Turma. HC 180966 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 04/05/2020.

FURTO PRIVILEGIADO:

CP, Art. 155, § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena
de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

FURTO QUALIFICADO:

CP, Art. 155, § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver EMPREGO DE EXPLOSIVO ou de
artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) [CRIME HEDIONDO]

§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido POR
MEIO DE DISPOSITIVO ELETRÔNICO OU INFORMÁTICO, conectado ou não à rede de computadores, com ou
sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio
fraudulento análogo. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso: (Incluído pela Lei
nº 14.155, de 2021)
I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor
mantido fora do território nacional; (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável. (Incluído pela
Lei nº 14.155, de 2021)

§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de VEÍCULO AUTOMOTOR que venha a ser
transportado para outro Estado ou para o exterior. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)

§ 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável de


produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)

§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas
ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído
pela Lei nº 13.654, de 2018)

O Pacote Anticrime inseriu no rol dos crimes hediondos o furto qualificado pelo EMPREGO de explosivo:

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Lei .072/90, Art.1º, IX - furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum (art. 155, § 4º-A). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

#DEOLHONAJURIS
Em regra, é necessária perícia para comprovar a escalada no caso de furto qualificado (art. 155, § 4º, II, do
CP). Excepcionalmente, a prova pericial será prescindível (dispensável) se houver nos autos elementos aptos
a comprovar a escalada de forma inconteste. O STJ firmou orientação de ser imprescindível, nos termos dos
arts. 158 e 167 do CPP, a realização de exame pericial para o reconhecimento das qualificadoras de escalada e
arrombamento no caso do delito de furto (art. 155, § 4º, II, do CP), quando os vestígios não tiverem desaparecido
e puderem ser constatados pelos peritos. Contudo, excepcionalmente, pode-se dispensar a prova pericial
quando estiverem presentes nos autos elementos aptos a comprovar a escalada de forma inconteste. No caso
concreto, a circunstância qualificadora foi comprovada pela prova oral, inclusive pela confissão do próprio réu,
além da existência de laudo papiloscópico que identificou impressões digitais no local apontado pela vítima
como sendo o local onde o réu pulou o muro. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1895487-DF, Rel. Min. Antonio
Saldanha Palheiro, julgado em 26/04/2022 (Info 735).
A existência de sistema de vigilância em estabelecimento comercial não constitui óbice para a tipificação do
crime de furto. STF. 1ª Turma.HC 111278/MG, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Roberto
Barroso, julgado em 10/4/2018 (Info 897). STF. 1ª Turma. HC HC 183.570, Rel.. Min. Marco Aurélio, julgado em
10/11/2020.
O pagamento do débito oriundo de furto de energia elétrica antes do recebimento da denúncia não é causa de
extinção da punibilidade. STJ. 3ª Seção. RHC 101299-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. Acd. Min. Joel Ilan Paciornik,
julgado em 13/03/2019 (Info 645).

#SELIGANASÚMULA
Súmula 567-STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança
no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto.
Súmula 511-STJ: É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime
de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a
qualificadora for de ordem objetiva.
Súmula 442-STJ: É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo.

#NÃOCONFUNDA

ESTELIONATO PARA O CONSUMO


FURTO DE ENERGIA ELÉTRICA (“GATO”)
(FRAUDE NO MEDIDOR)
O agente está autorizado a consumir a coisa, mas se
O agente não está autorizado a consumir a coisa.
vale do artifício para provocar consumo fictício.
Ligação clandestina.
A ligação é legítima – a adulteração é do medidor.

FURTO INSIGNIFICANTE FURTO PRIVILEGIADO (“PEQUENO VALOR”)


Causa de diminuição de penal (furto “privilegiado”).
Causa supralegal de exclusão de tipicidade.
O juiz pode substituir a pena de reclusão pela de
O juiz irá absolver o réu por falta de tipicidade detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3, ou aplicar somente
material. a pena de multa.

#DEOLHONAJURIS
É possível a aplicação do princípio da insignificância para o agente que praticou o furto de um carrinho de mão

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Ciclos Método

avaliado em R$ 20,00 (3% do salário-mínimo), mesmo ele possuindo antecedentes criminais por crimes
patrimoniais. STF. 1ª Turma. RHC 174784/MS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 11/2/2020 (Info 966).
É possível aplicar o princípio da insignificância para o furto de mercadorias avaliadas em R$ 29,15, mesmo que
a subtração tenha ocorrido durante o período de repouso noturno e mesmo que o agente seja reincidente. Vale
ressaltar que os produtos haviam sido furtados de um estabelecimento comercial e que logo após o agente foi
preso, ainda na porta do estabelecimento. Objetos furtados: R$ 4,15 em moedas, uma garrafa de Coca-Cola,
duas garrafas de cerveja e uma garrafa de pinga marca 51, tudo avaliado em R$ 29,15. STF. 2ª Turma. HC 181389
AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info 973).
Não se aplica o princípio da insignificância ao furto de bem de inexpressivo valor pecuniário de associação sem
fins lucrativos com o induzimento de filho menor a participar do ato. STJ. 6ª Turma. RHC 93.472-MS, Rel. Min.
Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 15/03/2018 (Info 622).
Nos termos da pacífica jurisprudência desta Corte, consolidada na Súmula 511/STJ, é viável a incidência do
privilégio na hipótese de furto qualificado, desde que a qualificadora seja de caráter objetivo. Decerto, a única
qualificadora que inviabiliza o benefício penal é a de abuso de confiança (CP, art. 155, § 4º, II, primeira parte).
STJ, AgInt nos EDcl no AREsp 1386937/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, DJe 14/02/2019
O talão de cheque e a folha avulsa de cheque (ainda que em branco) podem funcionar como objeto material de
furto, pois possuem valor econômico, aferível pela provável utilização das cártulas como meio fraudulento para
a obtenção de vantagem ilícita por parte de seus detentores. STJ. 3ª Seção. CC 112.108/SP, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, Rel. p/ Acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 12/02/2014. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC
410.154/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 03/10/2017.

ROUBO

O roubo é crime complexo, resultante da fusão de outros delitos, a saber, furto e lesão ou furto e ameaça. É
também pluriofensivo, na medida em que tutela mais de um bem jurídico: patrimônio, integridade física ou
liberdade individual. Classifica-se como crime bicomum, não se exigindo qualidade especial do sujeito ativo,
nem do sujeito passivo. Pode ser praticado de forma livre, é instantâneo, de dano, e unissubjetivo, como regra.
O elemento subjetivo é o dolo, somado ao especial fim de agir, o animus rem sibi habendi, isto é, o fim de
assenhoramento definitivo da coisa.

Consuma-se o crime de roubo com a posse de fato da res furtiva, ainda que por breve espaço de tempo e seguida
de perseguição ao agente, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada (teoria da amotio).

ROUBO SIMPLES:

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou
depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

ROUBO IMPRÓPRIO:

CP, Art. 157, § 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra
pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para
terceiro.

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (MAJORANTES):

CP, Art. 157, § 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)
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I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)


II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o
exterior; (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
[CRIME HEDIONDO]
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem
sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca; (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)

§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
[CRIME HEDIONDO]
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o EMPREGO de explosivo ou de artefato análogo
que cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)

§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso RESTRITO OU
PROIBIDO, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
[CRIME HEDIONDO]

ROUBO QUALIFICADO (“LATROCÍNIO”)

CP, Art. 157, § 3º Se da violência resulta:


I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; [CRIME HEDIONDO]
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. [CRIME HEDIONDO]

O Pacote Anticrime inseriu no rol dos crimes hediondos algumas modalidades do roubo circunstanciado e o
roubo qualificado:

Lei .072/90, Art.1º, II - roubo: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso V); (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de arma de fogo
de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

#SELIGANASÚMULA
Súmula 610-STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não se realize o agente a
subtração de bens da vítima
Súmula 443-STJ: O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige
fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de
majorantes.

#DEOLHONAJURIS
Nos casos em que se aplica a Lei nº 13.654/2018, é possível a valoração do emprego de arma branca, no crime
de roubo, como circunstância judicial desabonadora. 1. Em razão da novatio legis in mellius engendrada pela
Lei nº 13.654/2018, o emprego de arma branca, embora não configure mais causa de aumento do crime de
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roubo, poderá ser utilizado como fundamento para a majoração da pena-base, quando as circunstâncias do caso
concreto assim justificarem. 2. O julgador deve fundamentar o novo apenamento ou justificar a não realização
do incremento na basilar, nos termos do que dispõe o art. 387, II e III, do CPP. 3. Não cabe a esta Corte Superior
a transposição valorativa da circunstância para a primeira fase da dosimetria ou mesmo compelir que o Tribunal
de origem assim o faça, em razão da discricionariedade do julgador ao aplicar a novatio legis in mellius. STJ. 3ª
Seção. REsp 1921190-MG, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 25/05/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1110)
(Info 738).
Agente pretendia praticar roubo e foi surpreendido após romper o cadeado e destruir a fechadura da porta
da casa da vítima; não se pode falar em tentativa de roubo. Adotando-se a teoria objetivo-formal, o
rompimento de cadeado e destruição de fechadura da porta da casa da vítima, com o intuito de, mediante uso
de arma de fogo, efetuar subtração patrimonial da residência, configuram meros atos preparatórios que
impedem a condenação por tentativa de roubo circunstanciado. Caso adaptado: João e Pedro caminhavam nas
ruas de um bairro e decidiram praticar assalto em uma das casas. Eles arrombaram o cadeado e destruíram a
fechadura da porta da casa, no entanto, quando iam adentrar na residência, passou uma viatura da Polícia
Militar. Os indivíduos correram quando perceberam a presença das autoridades de segurança. Os policiais
perseguiram a dupla, conseguindo prendê-los. Com eles, foi encontrada uma arma de fogo de uso permitido.
Vale ressaltar, contudo, que não possuíam porte de arma. Não se pode falar que houve roubo circunstanciado
tentado. STJ. 5ª Turma. AREsp 974254-TO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 21/09/2021 (Info 711).
Configura o crime de roubo (e não estelionato) a conduta do funcionário de uma empresa que combina com
outro indivíduo para que este simule que assalta o empregado com uma arma de fogo e, dessa forma, leve o
dinheiro da empresa. João trabalhava em uma empresa, sendo responsável por receber pagamentos em
dinheiro e levá-los para depósito no banco. João combinou com Pedro um plano criminoso. No dia do
pagamento, Pedro entraria na empresa e, supostamente ameaçaria João (seu comparsa oculto), que a ele
entregaria o dinheiro. Depois, os dois dividiriam a quantia subtraída. Assim, no dia dos fatos, Pedro, já sabendo
que havia entrado uma grande soma em dinheiro, chegou na empresa e, simulando portar arma de fogo, exigiu
que João e Ricardo (outro funcionário da empresa que não sabia do plano) entregassem o dinheiro, o que foi
feito. Posteriormente, a polícia conseguiu prender Pedro, que confessou todo o plano criminoso. João e Pedro
praticaram roubo majorado, e não estelionato. STF. 1ª Turma. HC 147584/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado
em 2/6/2020 (Info 980).
É necessário que a arma utilizada no roubo seja apreendida e periciada para que incida a majorante do art.
157, § 2º-A, I, do Código Penal? NÃO. O reconhecimento da referida causa de aumento prescinde (dispensa) da
apreensão e da realização de perícia na arma, desde que o seu uso no roubo seja provado por outros meios de
prova, tais como a palavra da vítima ou mesmo de testemunhas. STF. 1ª Turma. HC 108034/MG, rel. Min. Rosa
Weber, julgado em 05/06/2012 (Info 674). STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1076476/RO, Rel. Min. Jorge Mussi,
julgado em 04/10/2018.
No delito de roubo, se a intenção do agente é direcionada à subtração de um único patrimônio, estará
configurado apenas um crime, ainda que, no modus operandi (modo de execução), seja utilizada violência ou
grave ameaça contra mais de uma pessoa para a obtenção do resultado pretendido. Ex: Maria estava saindo
do banco, acompanhada de seu segurança. João, de arma em punho, deu uma coronhada no segurança,
causando lesão leve, e subtraiu a mala que pertencia a Maria. O agente praticou um único roubo majorado pelo
emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º, I do CP), considerando que somente um patrimônio foi atingido. STJ.
6ª Turma. AgRg no REsp 1490894-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 10/2/2015 (Info 556).
O sujeito entra no ônibus e, com arma em punho, subtrai apenas os bens que estavam na posse do cobrador
de ônibus: R$ 30,00 e um aparelho celular, pertencentes ao funcionário, e R$ 70,00 que eram da empresa de
transporte coletivo. Quantos crimes ele terá praticado? Um único crime (art. 157, § 2º, I, do CP).Em caso de
roubo praticado no interior de ônibus, o fato de a conduta ter ocasionado violação de patrimônios distintos (o
da empresa de transporte coletivo e o do cobrador) não descaracteriza a ocorrência de crime único se todos os
bens subtraídos estavam na posse do cobrador. No voto, o Ministro relembrou que a jurisprudência do STJ e do
STF entende que o roubo perpetrado com violação de patrimônios de diferentes vítimas, ainda que em um único
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evento, configura concurso formal de crimes, e não crime único (vimos isso acima). Todavia, para ele, esse
mesmo entendimento não pode ser aplicado ao caso em que os bens subtraídos, embora pertençam a pessoas
distintas, estavam sob os cuidados de uma única pessoa, que sofreu a grave ameaça ou violência. STJ. 5ª Turma.
AgRg no REsp 1396144-DF, Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme (Desembargador Convocado do TJ/SP),
julgado em 23/10/2014 (Info 551).

ESTELIONATO

O estelionato configura-se com a obtenção, para si ou para outrem, de vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento.

O crime de estelionato exige quatro requisitos, obrigatórios para sua caracterização: 1) obtenção de vantagem
ilícita; 2) causar prejuízo a outra pessoa; 3) uso de meio de ardil, ou artimanha, 4) enganar alguém ou a leva-lo
a erro. A ausência de um dos quatro elementos, seja qual for, impede a caracterização do estelionato.

A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no AgRg no HC 693.045/CE, decidiu que o estelionato se
consuma no momento em que bens ou valores entram na esfera de disponibilidade do autor do delito.

#ALTERAÇÕESLEGISLATIVAS

Fraude eletrônica
§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida com a utilização de
informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos
telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento
análogo. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso, aumenta-se de
1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do
território nacional. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)

Estelionato contra idoso ou vulnerável (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021)
§ 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é cometido contra idoso ou vulnerável,
considerada a relevância do resultado gravoso. (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021)
§ 5º Somente se procede MEDIANTE REPRESENTAÇÃO, salvo se a vítima for: (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
I - a Administração Pública, direta ou indireta; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
III - pessoa com deficiência mental; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Fraude com a utilização de ativos virtuais, valores mobiliários ou ativos financeiros (Lei 14.478/2022): É forma
especial de estelionato.

Art. 171-A. Organizar, gerir, ofertar ou distribuir carteiras ou intermediar operações que envolvam ativos
virtuais, valores mobiliários ou quaisquer ativos financeiros com o fim de obter vantagem ilícita, em prejuízo
alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio
fraudulento. (Incluído pela Lei nº 14.478, de 2022)

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 14.478, de 2022)

#OLHAOGANCHO – O que são ativos virtuais?


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Lei 14.478/2022, Art. 3º Para os efeitos desta Lei, considera-se ativo virtual a representação digital de valor que
pode ser negociada ou transferida por meios eletrônicos e utilizada para realização de pagamentos ou com
propósito de investimento, não incluídos:
I - moeda nacional e moedas estrangeiras;
II - moeda eletrônica, nos termos da Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013;
III - instrumentos que provejam ao seu titular acesso a produtos ou serviços especificados ou a benefício
proveniente desses produtos ou serviços, a exemplo de pontos e recompensas de programas de fidelidade; e
IV - representações de ativos cuja emissão, escrituração, negociação ou liquidação esteja prevista em lei ou
regulamento, a exemplo de valores mobiliários e de ativos financeiros.
Parágrafo único. Competirá a órgão ou entidade da Administração Pública federal definido em ato do Poder
Executivo estabelecer quais serão os ativos financeiros regulados, para fins desta Lei.

#DEOLHONAJURIS
No crime de estelionato, não identificadas as hipóteses descritas no § 4º do art. 70 do CPP, a competência
deve ser fixada no local onde o agente delituoso obteve, mediante fraude, em benefício próprio e de terceiros,
os serviços custeados pela vítima. Agentes delituosos, simularam contratos de parcerias com empresas
terceiras, com a intenção de obter para si vantagens ilícitas, a saber: passagens aéreas e reserva de veículos e
hotéis. De acordo com inquérito policial, o estelionatário fazia uso próprio de tais passagens, bem como as
repassava para terceiros, obtendo o proveito do crime. A empresa vítima possui sede em Brasília/DF, contudo
o ex-funcionário apontado como estelionatário trabalhava como representante comercial na filial localizada em
São Paulo (SP), onde os golpes teriam sido praticados em conluio com outros dois agentes, também residentes
em municípios localizados no Estado de São Paulo. O núcleo da controvérsia consistia em definir se o julgamento
do delito de estelionato competiria ao Juízo Criminal de Brasília/DF, considerando-se o local da sede da empresa
vítima e de sua agência bancária; ou ao Juízo Criminal do Foro Central Barra Funda/SP, em razão do local onde
o agente delituoso auferiu o proveito do crime. No caso concreto, como não foi identificada nenhuma das
hipóteses descritas no § 4º do art. 70 do CPP deve incidir o teor do caput do mesmo dispositivo legal, segundo
o qual “a competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de
tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução”. Logo, foi fixada a competência do Juízo
Criminal do Foro Central Barra Funda/SP. STJ. 3ª Seção. CC 185983-DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em
11/05/2022 (Info 736).
O crime de estelionato praticado por meio de saque de cheque fraudado compete ao Juízo do local da agência
bancária da vítima. STJ. 3ª Seção. CC 182977-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 09/03/2022 (Info 728).
O novo § 4º do art. 70 do CPP, que trata sobre a competência para julgar o crime de estelionato, aplica-se
imediatamente aos inquéritos policiais que estavam em curso quando entrou em vigor a Lei nº 14.155/2021.
Nos crimes de estelionato, quando praticados mediante depósito, por emissão de cheques sem suficiente
provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou por meio da transferência de valores,
a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, em razão da superveniência de Lei nº
14.155/2021, ainda que os fatos tenham sido anteriores à nova lei. Veja o § 4º do art. 70 que foi inserido no CPP
pela Lei nº 14.155/2021: Art. 70. (...) § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem
suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência
de valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas,
a competência firmar-se-á pela prevenção. STJ. 3ª Seção. CC 180832-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
25/08/2021 (Info 706).
Não se admite a incidência do princípio da insignificância na prática de estelionato qualificado por médico
que, no desempenho de cargo público, registra o ponto e se retira do hospital. Caso concreto: o réu foi
denunciado pelo MPF pela prática de estelionato qualificado, porque, na qualidade médico de hospital
universitário federal, teria registrado seu ponto e se retirado do local, sem cumprir sua carga horária durante
quase dois anos. A jurisprudência do STJ não tem admitido, nos casos de prática de estelionato “qualificado”, a
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incidência do princípio da insignificância (princípio inspirado na fragmentariedade do Direito Penal). Isso porque
se identifica, neste caso, uma maior reprovabilidade da conduta delitiva. No caso concreto, o STJ afirmou que
não era possível o trancamento da ação penal, sob o fundamento de inexistência de prejuízo expressivo para a
vítima, considerando que, em se tratando de hospital universitário, os pagamentos aos médicos são
provenientes de verbas federais. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 548869-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em
12/05/2020 (Info 672).

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

Causas de aumento de pena nos crimes contra a dignidade sexual:

Art. 226. A pena é aumentada: (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005)
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; (Redação dada
pela Lei nº 11.106, de 2005)
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor,
curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela; (Redação
dada pela Lei nº 13.718, de 2018)
III - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado: (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
Estupro coletivo (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes; (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
Estupro corretivo (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)

#DEOLHONAJURIS
O delito de registro não autorizado da intimidade sexual (art. 216-B do CP) possui a natureza de ação penal
pública incondicionada. O art. 225 do CP estabelece que os “crimes definidos nos Capítulos I e II”do Título VI
são delitos de ação penal pública incondicionada.O delito de registro não autorizado da intimidade sexual (art.
216-B do CP) está previsto no Capítulo I-A do Título VI. A Lei nº 13.718/2018 converteu a ação penal de todos os
crimes contra a dignidade sexual em delitos de ação pública incondicionada (art. 225 do Código Penal).
Posteriormente, a Lei nº 13.772/2018 criou um novo capítulo no Código Penal, o Capítulo I-A, e dentro dele o
delito do art. 216-B (Registro não autorizado da intimidade sexual). Ao criar esse novo capítulo, no entanto,
deixou-se de acrescentar sua menção no art. 225 do Código Penal, o qual se referia aos capítulos existentes à
época da sua redação (Capítulos I e II). Para o STJ, contudo, mesmo com essa omissão legislativa, conclui-se que
o crime do art. 216-B do CP se trata de ação penal pública incondicionada. Isso porque, inexistindo menção
expressa de que se trata de ação privada ou pública condicionada, aplica-se a regra geral do art. 100 do Código
Penal: no silêncio da lei, deve-se considerar a ação penal como pública incondicionada. STJ. 6ª Turma. RHC
175.947/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 25/4/2023 (Info 772).
O delito de favorecimento à exploração sexual de adolescente não exige habitualidade, tratando-se de crime
instantâneo. O delito de favorecimento à exploração sexual de adolescente (art. 218-B do CP) não exige
habitualidade. Trata-se de crime instantâneo, que se consuma no momento em que o agente obtém a anuência
para práticas sexuais com a vítima menor de idade, mediante artifícios como a oferta de dinheiro ou outra
vantagem, ainda que o ato libidinoso não seja efetivamente praticado. Esta interpretação da norma do art. 218-
B, do Código Penal é a única capaz de cumprir com a exigência de proteção integral da pessoa em
desenvolvimento contra todas as formas de exploração sexual. STJ. 6ª Turma. REsp 1963590/SP, Rel. Min. Laurita
Vaz, julgado em 20/09/2022 (Info 754).
Presente o dolo específico de satisfazer à lascívia, própria ou de terceiro, a prática de ato libidinoso com menor
de 14 anos configura o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), independentemente da ligeireza ou

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da superficialidade da conduta, não sendo possível a desclassificação para o delito de importunação sexual (art.
215-A do CP). STJ. 3ª Seção. REsp 1959697-SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 08/06/2022 (Recurso
Repetitivo – Tema 1121) (Info 740).
A simulação de arma de fogo pode sim configurar a “grave ameaça”, para os fins do tipo do art. 213 do Código
Penal. A simulação de arma de fogo pode sim configurar a “grave ameaça”. Isso porque a “grave ameaça” deve
ser analisada com base no sentimento unilateral que é provocado no espírito da vítima subjugada. A existência
de grave ameaça não depende do risco objetivo e concreto a que a vítima foi efetivamente submetida. STJ. 6ª
Turma. REsp 1916611-RJ, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região), julgado em
21/09/2021 (Info 711).
O “cliente” da exploração sexual (art. 218-B do CP) pode ser punido sozinho, ou seja, mesmo que não haja um
proxeneta. O delito previsto no art. 218-B, § 2°, inciso I, do Código Penal, na situação de exploração sexual, não
exige a figura do terceiro intermediador. A configuração do crime do art. 218-B do CP não pressupõe a existência
de terceira pessoa, bastando que o agente, por meio de pagamento, convença a vítima, maior de 14 e menor
de 18 anos, a praticar com ele conjunção carnal ou outro ato libidinoso, de modo a satisfazer a sua própria
lascívia. STJ. 3ª Seção. EREsp 1530637/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/03/2021 (Info 690).
O estupro de vulnerável se consuma com a prática de qualquer ato de libidinagem ofensivo à dignidade sexual
da vítima. Para que se configure ato libidinoso, não se exige contato físico entre ofensor e vítima. Assim, doutrina
e jurisprudência sustentam a prescindibilidade do contato físico direto do réu com a vítima, a fim de priorizar o
nexo causal entre o ato praticado pelo acusado, destinado à satisfação da sua lascívia, e o efetivo dano à
dignidade sexual sofrido pela ofendida. STJ. 6ª Turma. HC 478310, Rel. Min. Rogério Schietti, julgado em
09/02/2021 (Info 685).
Homem que beijou criança de 5 anos de idade, colocando a língua no interior da boca (beijo lascivo) praticou
estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), não sendo possível a desclassificação para a contravenção penal de
molestamento (art. 65 do DL 3.668/41). STF. 1ª Turma. HC 134591/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o
ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 1/10/2019 (Info 954).

CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA

#NOVIDADELEGISLATIVA #2023

ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO

Art. 311. Adulterar, remarcar ou suprimir número de chassi, monobloco, motor, placa de identificação, ou
qualquer sinal identificador de veículo automotor, elétrico, híbrido, de reboque, de semirreboque ou de suas
combinações, bem como de seus componentes ou equipamentos, sem autorização do órgão
competente: (Redação dada pela Lei nº 14.562, de 2023)
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
§ 1º - Se o agente comete o crime no exercício da função pública ou em razão dela, a pena é aumentada de um
terço. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
§ 2º Incorrem nas mesmas penas do caput deste artigo: (Redação dada pela Lei nº 14.562, de 2023)
I – o funcionário público que contribui para o licenciamento ou registro do veículo remarcado ou adulterado,
fornecendo indevidamente material ou informação oficial; (Incluído pela Lei nº 14.562, de 2023)
II – aquele que adquire, recebe, transporta, oculta, mantém em depósito, fabrica, fornece, a título oneroso ou
gratuito, possui ou guarda maquinismo, aparelho, instrumento ou objeto especialmente destinado à
falsificação e/ou adulteração de que trata o caput deste artigo; ou (Incluído pela Lei nº 14.562, de 2023)
III – aquele que adquire, recebe, transporta, conduz, oculta, mantém em depósito, desmonta, monta, remonta,
vende, expõe à venda, ou de qualquer forma utiliza, em proveito próprio ou alheio, veículo automotor, elétrico,
híbrido, de reboque, semirreboque ou suas combinações ou partes, com número de chassi ou monobloco, placa

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de identificação ou qualquer sinal identificador veicular que devesse saber estar adulterado ou
remarcado. (Incluído pela Lei nº 14.562, de 2023)
§ 3º Praticar as condutas de que tratam os incisos II ou III do § 2º deste artigo no exercício de atividade comercial
ou industrial: (Incluído pela Lei nº 14.562, de 2023)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 14.562, de 2023)
§ 4º Equipara-se a atividade comercial, para efeito do disposto no § 3º deste artigo, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino, inclusive aquele exercido em residência. (Incluído pela Lei nº 14.562, de 2023)

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

CRIME FUNCIONAL PRÓPRIO CRIME FUNCIONAL IMPRÓPRIO


A ausência da condição de servidor público faz com
A ausência da condição de servidor público torna o que o crime deixe de ser funcional e passe a ser
fato atípico (atipicidade absoluta) incriminado por outro tipo penal incriminador
(atipicidade relativa)

PECULATO:

CP, Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou
particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem,
o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe
proporciona a qualidade de funcionário.
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a
punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.

PECULATO-APROPRIAÇÃO: tem a posse do bem em virtude do cargo e passa a agir


como dono.
PRÓPRIO
PECULATO-DESVIO: tem a posse do bem em virtude do cargo e o desvia em proveito
próprio ou de terceiros.
PECULATO-FURTO: não tem a posse do bem, mas se vale das facilidades do cargo
IMPRÓPRIO
para subtrair ou concorrer para subtração.
O agente não observa seu dever de cuidado, concorrendo para que outrem subtraia,
desvie ou se aproprie do bem. É infração de menor potencial ofensivo, admitindo
CULPOSO transação penal e suspensão condicional do processo.
Se o agente reparar o dano até a sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se
após isso, reduz a pena pela metade.
Apropria-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu
ESTELIONATO
por erro de outrem.
O funcionário insere ou facilita a inserção de dados falsos, altera ou exclui
indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou banco de dados da
ELETRÔNICO
Administração Pública, com o fim de obter vantagem indevida para si ou para
outrem ou para causar dano.

REPARAÇÃO DO DANO

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ANTES DA SENTENÇA IRRECORRÍVEL: causa de extinção da punibilidade


PECULATO CULPOSO DEPOIS DA SENTENÇA IRRECORRÍVEL: causa de diminuição da pena
ATÉ O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA: arrependimento posterior
PECULATO DOLOSO
APÓS O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA E ANTES DO JULGAMENTO: atenuante

#DEOLHONAJURIS
Servidor público que se apropria dos salários que lhe foram pagos e não presta os serviços, não comete
peculato. Caso hipotético: João, vereador, contratou seu primo Paulo para exercer o cargo público de assessor
na Câmara Municipal.Ocorre que ele não trabalhava efetivamente. Apenas comparecia ao trabalho para assinar
o ponto, sem que exercesse suas atribuições do cargo.Apesar disso, Paulo recebia remuneração todos os meses.
João e Paulo não praticaram nenhum crime. Não é típico o ato do servidor que se apropria de valores que já lhe
pertenceriam, em razão do cargo por ele ocupado. Assim, a conduta do servidor poderia ter repercussões
disciplinares ou mesmo no âmbito da improbidade administrativa, mas não se ajusta ao delito de peculato,
porque seus vencimentos efetivamente lhe pertenciam. Se o servidor merecia perceber a remuneração, à luz da
ausência da contraprestação respectiva, é questão a ser discutida na esfera administrativo-sancionadora, mas
não na instância penal, por falta de tipicidade. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2073825-RS, Rel. Min. Ribeiro
Dantas, julgado em 16/08/2022 (Info 746).
O mero proveito econômico não é suficiente para tipificar o crime de peculato-desvio, é necessário que o agente
pratique alguma conduta voltada ao desvio de verbas públicas. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 144.053-RJ, Rel. Min.
Jesuíno Rissato (Desembargador Convocado Do TJDFT), Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 19/10/2021.
Configura o crime de peculato-desvio o fomento econômico de candidatura à reeleição por Governador de
Estado com o patrimônio de empresas estatais. STJ. 5ª Turma. REsp 1776680-MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado
em 11/02/2020 (Info 666).
Pratica o crime de peculato-desvio o Governador que determina que os valores descontados dos contracheques
dos servidores para pagamento de empréstimo consignado não sejam repassados ao banco, mas sim utilizados
para quitação de dívidas do Estado. STJ. Corte Especial. APn 814-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel.
Acd. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 06/11/2019 (Info 664).

CORRUPÇÃO PASSIVA:

Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou
antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003)
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda
ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional,
cedendo a pedido ou influência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

CORRUPÇÃO PRÓPRIA CORRUPÇÃO IMPRÓPRIA


O ato oriundo do funcionário público, que pode ser Se para cometer o crime de corrupção passiva, na
comissivo ou omissivo, diz respeito a um ato ilícito. modalidade comissiva ou omissiva, o agente se valer
da prática de um ato lícito, ou seja, um ato esperado
dentro das funções do funcionário público, tem-se
caracterizada a corrupção passiva imprópria.

#DEOLHONAJURIS

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Para tipificação do art. 317 do Código Penal - corrupção passiva -, deve ser demonstrada a solicitação ou
recebimento de vantagem indevida pelo agente público, não configurada quando há mero ressarcimento ou
reembolso de despesa. STJ. 5ª Turma. HC 541447-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 14/09/2021
(Info 709).
O crime de corrupção passiva consuma-se ainda que a solicitação ou recebimento de vantagem indevida, ou a
aceitação da promessa de tal vantagem, esteja relacionada com atos que formalmente não se inserem nas
atribuições do funcionário público, mas que, em razão da função pública, materialmente implicam alguma forma
de facilitação da prática da conduta almejada. Ao contrário do que ocorre no crime de corrupção ativa, o tipo
penal de corrupção passiva não exige a comprovação de que a vantagem indevida solicitada, recebida ou aceita
pelo funcionário público esteja causalmente vinculada à prática, omissão ou retardamento de “ato de ofício”. A
expressão “ato de ofício” aparece apenas no caput do art. 333 do CP, como um elemento normativo do tipo de
corrupção ativa, e não no caput do art. 317 do CP, como um elemento normativo do tipo de corrupção passiva.
Ao contrário, no que se refere a este último delito, a expressão “ato de ofício” figura apenas na majorante do
art. 317, § 1.º, do CP e na modalidade privilegiada do § 2.º do mesmo dispositivo. STJ. 6ª Turma. REsp 1745410-
SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Laurita Vaz, julgado em 02/10/2018 (Info 635).

#NÃOCONFUNDA

CONCUSSÃO Funcionário público exige vantagem indevida.


CORRUPÇÃO PASSIVA Funcionário público solicita, recebe ou aceita vantagem indevida.
CORRUPÇÃO ATIVA Particular oferece ou promete vantagem indevida a funcionário público.
O agente viola o dever funcional para satisfazer interesse ou sentimento
PREVARICAÇÃO
pessoal, de modo que não envolve um terceiro corruptor
PATROCINAR, direta ou indiretamente, interesse privado perante a
ADVOCACIA
administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário. Crime
ADMINISTRATIVA
praticado por funcionário público contra a administração em geral
SOLICITAR, EXIGIR, COBRAR ou OBTER, para si ou para outrem, vantagem ou
promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por
TRÁFICO DE INFLUÊNCIA
funcionário público no exercício da função. Crime praticado por particular
contra a administração em geral
SOLICITAR ou RECEBER dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de
influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça,
EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO
perito, tradutor, intérprete ou testemunha. Crime contra a administração
da justiça

#DEOLHONAJURIS
Configura o crime de corrupção ativa o oferecimento de vantagem indevida a funcionário público para
determiná-lo a omitir ou retardar ato de ofício relacionado com o cometimento do crime de posse de drogas
para uso próprio. Caso concreto: João foi surpreendido por policiais com drogas para consumo próprio. Ele
ofereceu um aparelho celular para os policiais com a finalidade de não ser preso em flagrante e conduzido à
delegacia de polícia. O MP alegou que João praticou corrupção ativa: Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem
indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena – reclusão,
de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. A defesa argumentou que não havia ato de ofício a ser praticado por
policiais porque não caberia prisão em flagrante. Logo, o oferecimento do celular seria fato atípico. O STJ não
concordou com a defesa. O art. 28 da Lei de Drogas, ainda que não preveja pena privativa de liberdade,
permanece como crime. Não houve descriminalização da conduta, mas tão somente sua despenalização, vez
que a norma especial conferiu tratamento penal mais brando aos usuários de drogas. Em casos dessa natureza,
muito embora não se imponha a prisão em flagrante, é obrigação do policial conduzir o autor do fato
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diretamente ao juízo competente ou, na falta deste, à delegacia, lavrando-se, neste caso, o respectivo termo
circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e perícias necessários, nos termos do art. 48, §§
2º e 3º da Lei nº 11.343/2006. STJ. 5ª Turma. AREsp 2007599-RJ, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador
convocado do TJDFT), julgado em 03/05/2022 (Info 735).
A mera interpretação equivocada da norma tributária não configura o crime de excesso de exação. Caso
concreto: registrador de imóveis cobrou emolumentos (taxa) a mais do que seriam devidos ao aplicar
procedimento diverso do que era estabelecido na lei. Ocorre que o texto da lei era confuso e gerava dificuldade
exegética, dando margem a interpretações diversas. Diante disso, o STJ acolheu a tese defensiva de que a lei era
obscura e não permitia precisar a exata forma de cobrança dos emolumentos cartorários no caso especificado
pela denúncia. Embora o réu possa ter cobrado de forma errônea os emolumentos, o fez por mero erro de
interpretação da legislação tributária no tocante ao método de cálculo do tributo, e não como resultado de
conduta criminosa. Assim, o réu foi absolvido, com fundamento no art. 386, III, do CPP, por atipicidade da
conduta. STJ. 6ª Turma. REsp 1943262-SC, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro, julgado em 05/10/2021 (Info
712).
Atipicidade do “comprador de fumaça” quanto ao delito de tráfico de influência do art. 332 do CP. Aquele que
compra o prestígio de alguém que alegava ter influência junto a órgão público para impedir um ato de
fiscalização, apesar de praticar ato antiético e imoral, não comete nenhum ilícito se, ao fim e ao cabo, é
enganado e não obtém o resultado esperado. A conduta de entregar dinheiro para outrem, que solicitou o
recebimento de vantagem pecuniária, com a promessa de influenciar servidor da Receita Federal a não praticar
ato de ofício referente a uma autuação fiscal, por ter sido extrapolado o limite de importação na modalidade
simplificada, não se enquadra no delito de tráfico de influência previsto no art. 332 do Código Penal. Aquele que
“compra” o prestígio de alguém que alegava ter influência junto a um órgão público e que poderia impedir a
realização de um ato de ofício da Administração Pública, a despeito de praticar uma ato antiético e imoral não
praticou nenhum ato ilícito, pois, no caso, o ato administrativo foi realizado e o “comprador de fumaça” recebeu
uma autuação fiscal. STJ. 5ª Turma. RHC 122.913, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/12/2020.

III – LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS (Decreto-lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941).


IV – LEIS PENAIS ESPECIAIS a) Crimes definidos na Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. b) Crimes definidos
na Lei 10.826, de 22 de dezembro de 2003. c) Crimes eleitorais (Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965, e Lei nº
9.504, de 30 de setembro de 1997). d) Crimes de abuso de autoridade (Lei nº 13.869, de 5 de setembro de 2019).
e) Crimes contra as relações de consumo (Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990), a ordem tributária (Lei nº
8.137, de 27 de dezembro de 1990) e a ordem econômica (Lei nº 8.176, de 8 de fevereiro de 1991). f) Crimes
contra a economia popular (Lei nº 1.521, de 26 de dezembro de 1951). g) Crimes de trânsito (Lei nº 9.503, de 23
de setembro de 1997). h) Crimes de tortura (Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997). i) Crimes contra o meio
ambiente (Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998). j) Crimes contra a criança e o adolescente (Lei nº 8.069, de
13 de julho de 1990). k) Crimes falimentares (Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005). l) Crimes contra a
violência doméstica e familiar (Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006). m) Crimes contra os idosos (Lei nº 10.741,
de 1º de outubro de 2003). n) Crimes de preconceito de raça ou cor (Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989). o)
Crimes hediondos (Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990). p) Crimes de Licitações e Contratos da Administração
Pública (Lei 8.666/93). q) Crimes de Menor Potencial Ofensivo (Lei 9.099/95). r) Crime Organizado (Lei
12.850/13). s) Crimes de Lavagem ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores (Lei 9.613/98). t) Execução Penal (Lei
7.210/84).
V - Crimes militares. Código Penal Militar. Policiais militares e bombeiros militares. Crimes dos prefeitos
municipais e vereadores. Crimes eleitorais. Crimes contra a propriedade imaterial.
VI - Súmulas do Superior Tribunal de Justiça, do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro.

LEI DE DROGAS (LEI Nº 11.343/06)


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Ciclos Método

PORTE DE DROGAS PARA CONSUMO PESSOAL

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal,
drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguin-
tes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

Tipo misto alternativo: A norma prevê mais de uma conduta. Caso o agente pratique mais de uma, terá
praticado um único crime.

Crime vago: O sujeito passivo é a coletividade.

Crime de perigo abstrato.

Elemento subjetivo especial: é imprescindível o fim especial de possuir droga para consumo pessoal, sob pena
de incorrer no crime de tráfico.

Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá:


• À natureza e à quantidade da substância apreendida (OBS: Em que pese os critérios natureza e quantidade
da droga serem quase de observância obrigatória, eles individualmente considerados não têm o condão de
suprimir a análise dos demais)
• Ao local e às condições em que se desenvolveu a ação,
• Às circunstâncias sociais e pessoais, bem como
• À conduta e aos antecedentes do agente.

Prescrição: Prescreve em 2 ANOS (prazo especial da lei de drogas), mas aplicam-se as causas de interrupção do
CP.

PENAS DO USUÁRIO (ARTS. 27 E 28)


As sanções podem ser APLICADAS ISOLADA OU CUMULATIVAMENTE, BEM COMO SUBSTITUÍDAS A
QUALQUER TEMPO, ouvidos o MP e o defensor
MEDIDA EDUCATIVA DE
ADVERTÊNCIA SOBRE OS EFEITOS PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À
COMPARECIMENTO A PROGRAMA
DAS DROGAS COMUNIDADE
OU CURSO EDUCATIVO
Prazo máximo: 5 meses Prazo máximo: 5 meses
Exaure-se em si mesma.
Se reincidente: 10 meses Se reincidente: 10 meses
O programa não precisa ter como
É um esclarecimento que deve ser Em entidades que se ocupem,
tema exclusivo os malefícios
feito pelo juiz quanto às preferencialmente, da prevenção
causados pelo uso de drogas, sob
consequências maléficas causadas do consumo ou da recuperação de
pena de se confundir com a pena
pelo uso de drogas. usuários e dependentes de drogas.
de advertência.

#DEOLHONAJURIS
As condutas de plantar maconha para fins medicinais e importar sementes para o plantio não preenchem a
tipicidade material, motivo pelo qual se faz possível a expedição de salvo-conduto, desde que comprovada a
necessidade médica do tratamento. Desde 2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária vem autorizando o

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uso medicinal de produtos à base de cannabis sativa, havendo, atualmente, autorização sanitária para o uso de
18 fármacos. De fato, a ANVISA classificou a maconha como planta medicinal (RDC n. 130/2016) e incluiu
medicamentos à base de canabidiol e THC que contenham até 30mg/ml de cada uma dessas substâncias na lista
A3 da Portaria n. 344/1998, de modo que a prescrição passou a ser autorizada por meio de Notificação de
Receita A e de Termo de Consentimento Informado do Paciente. Trazendo o exame da matéria mais
especificamente para o direito penal, tem-se que o bem jurídico tutelado pela Lei de Drogas é a saúde pública,
a qual não é prejudicada pelo uso medicinal da cannabis sativa. Dessa forma, ainda que eventualmente presente
a tipicidade formal, não se revelaria presente a tipicidade material ou mesmo a tipicidade conglobante, haja
vista ser do interesse do Estado, conforme anteriormente destacado, o cuidado com a saúde da população.
Dessa forma, apesar da ausência de regulamentação pela via administrativa, o que tornaria a conduta atípica
formalmente - por ausência de elemento normativo do tipo -, tem-se que a conduta de plantar para fins
medicinais não preenche a tipicidade material, motivo pelo qual se faz mister a expedição de salvo-conduto,
desde que comprovada a necessidade médica do tratamento, evitando-se, assim, criminalizar pessoas que estão
em busca do seu direito fundamental à saúde. Quanto à importação das sementes para o plantio, tem-se que
tanto o Supremo Tribunal Federal quanto o Superior Tribunal de Justiça sedimentaram o entendimento de que
a conduta não tipifica os crimes da Lei de Drogas, porque tais sementes não contêm o princípio ativo inerente à
cannabis sativa. Ficou assentado, outrossim, que a conduta não se ajustaria igualmente ao tipo penal de
contrabando, em razão do princípio da insignificância. Entretanto, considerado o potencial para tipificar o crime
de contrabando, importante deixar consignado que, cuidando-se de importação de sementes para plantio com
objetivo de uso medicinal, o salvo-conduto deve abarcar referida conduta, para que não haja restrição, por via
transversa do direito à saúde. STJ, Processo sob segredo judicial, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta
Turma, por unanimidade, julgado em 22/11/2022 (Info. 758).
O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de
crime. O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não
descriminalizado. Obs.: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicionalmente
conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta
como crime. Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006
(porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência. Argumento principal: se a contravenção penal,
que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra-se desproporcional utilizar o art.
28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertência”, “prestação
de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer
possibilidade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento. Há de se considerar, ainda,
que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada. STJ. 5ª Turma. HC
453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018. STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP,
Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).
O art. 28 da Lei nº 11.343/2006 prevê o crime de porte de drogas para consumo pessoal. Art. 28. Quem adquirir,
guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou
em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência
sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento
a programa ou curso educativo. Em regra, as penas dos incisos II e III só podem ser aplicadas pelo prazo máximo
de 5 meses. O § 4º prevê que: “em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste
artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.” A reincidência de que trata o § 4º é a reincidência
específica. Assim, se um indivíduo já condenado definitivamente por roubo, pratica o crime do art. 28, ele não
se enquadra no § 4º. Isso porque se trata de reincidente genérico. O § 4º ao falar de reincidente, está se
referindo ao crime do caput do art. 28. STJ. 6ª Turma. REsp 1.771.304-ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
10/12/2019 (Info 662).
#GOLDENTIPS O STF, interpretando os §§ 2º e 3º do art. 48 da Lei nº 11.343/2006, afirmou que o autor do crime
previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006 deve ser encaminhado imediatamente ao juiz e o próprio magistrado
irá lavrar o termo circunstanciado e requisitar os exames e perícias necessários. Se não houver disponibilidade
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do juízo competente, deve o autor ser encaminhado à autoridade policial, que então adotará essas providências
(termo circunstanciado e requisição). Não há qualquer inconstitucionalidade nessa previsão. Isso porque a
lavratura de termo circunstanciado e a requisição de exames e perícias não são atividades de investigação.
Considerando-se que o termo circunstanciado não é procedimento investigativo, mas sim uma mera peça
informativa com descrição detalhada do fato e as declarações do condutor do flagrante e do autor do fato, deve-
se reconhecer que a possibilidade de sua lavratura pela autoridade judicial (magistrado) não ofende os §§ 1º e
4º do art. 144 da Constituição, nem interfere na imparcialidade do julgador. As normas dos §§ 2º e 3º do art. 48
da Lei nº 11.343/2006 foram editadas em benefício do usuário de drogas, visando afastá-lo do ambiente policial,
quando possível, e evitar que seja indevidamente detido pela autoridade policial. STF. Plenário. ADI 3807, Rel.
Cármen Lúcia, julgado em 29/06/2020 (Info 986 – clipping).
Viola o princípio da proporcionalidade a consideração de condenação anterior pelo delito do art. 28 da Lei nº
11.343/2006, “porte de droga para consumo pessoal”, para fins de reincidência. STF. 2ª Turma. RHC 178512
AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/3/2022 (Info 1048).

TRÁFICO DE DROGAS

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter
em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer
drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-
multa.

Sujeitos do crime: Pode ser cometido por qualquer pessoa (Obs: na conduta de prescrever, a maioria da doutrina
entende que se trata de crime próprio dos profissionais da área de saúde) e é crime vago, pois tem como sujeito
passivo a coletividade.

Tipo misto alternativo: Se praticar um núcleo ou mais de um núcleo, haverá crime único e não concurso de
crimes.

Condutas são permanentes: Algumas condutas são permanentes, permitindo o flagrante a qualquer tempo,
inclusive a possibilidade de invasão domiciliar.

Elemento subjetivo: é o dolo. No caso das condutas “prescrever e ministrar”, se forem praticadas culposamente,
o agente incidirá no crime do art. 38 da lei. Prevalece que não exige elemento subjetivo especial (dolo de
traficância). Se a finalidade é ter a posse da droga para consumo pessoal: art. 28.

Não exige onerosidade: Atenção ao “ainda que gratuitamente”.

Competência: da Justiça Estadual, salvo se o tráfico for internacional (Justiça Federal).

Figuras equiparadas: Também são consideradas tráfico e também são equiparadas a hediondo

#DEOLHONAJURIS
A mera solicitação do preso, sem a efetiva entrega do entorpecente ao destinatário no estabelecimento
prisional, configura ato preparatório, o que impede a sua condenação por tráfico de drogas. Caso hipotético:
Tiago cumpre pena em um presídio. Ele pediu que Natália, sua namorada, levasse maconha para ele na próxima
visita. Natália adquiriu a droga e levou até o presídio. Ocorre que, durante o procedimento de revista de
visitantes, os agentes encontraram o entorpecente. Natália praticou tráfico de drogas e Tiago fato atípico. A
interceptação da droga pelos agentes penitenciários antes de ser entregue ao destinatário, recolhido em
estabelecimento prisional, impede a ocorrência da conduta típica do art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006 na

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modalidade “adquirir”, que viria, em tese, a ser por esse praticada. A conduta de apenas solicitar que a droga
seja levada para o interior do estabelecimento prisional pode configurar, no máximo, ato preparatório e,
portanto, impunível. Não se trata de ato executório do delito, seja na conduta de “adquirir”, seja nas demais
modalidades previstas no tipo. Evidencia-se, portanto, a atipicidade da conduta. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp
1.999.604-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/3/2023 (Info 770).

TRÁFICO PRIVILEGIADO

§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois
terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons
antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

É uma CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DA PENA (3ª fase da dosimetria)


São 4 requisitos CUMULATIVOS:

PRIMÁRIO
BONS ANTECEDENTES
NÃO SE DEDICAR A ATIVIDADES CRIMINOSAS
NÃO INTEGRAR ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

#DEOLHONAJURIS
É vedada a utilização de inquéritos e/ou ações penais em curso para impedir a aplicação do art. 33, § 4º, da
Lei n. 11.343/2006. A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006
(Lei de Drogas) constitui direito subjetivo do acusado, caso presentes os requisitos legais, não sendo possível
obstar sua aplicação com base em considerações subjetivas do juiz. É vedado ao magistrado instituir outros
requisitos além daqueles expressamente previstos em lei para a sua incidência, bem como deixar de aplicá-la se
presentes os requisitos legais. A interpretação ora conferida ao art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não confunde
os conceitos de antecedentes, reincidência e dedicação a atividades criminosas. Ao contrário das duas primeiras,
que exigem a existência de condenação penal definitiva, a última pode ser comprovada pelo Estado-acusador
por qualquer elemento de prova idôneo, tais como escutas telefônicas, relatórios de monitoramento de
atividades criminosas, documentos que comprovem contatos delitivos duradouros ou qualquer outra prova
demonstrativa da dedicação habitual ao crime. O que não se pode é inferir a dedicação ao crime a partir de
simples registros de inquéritos e ações penais cujo deslinde é incerto. Não há falar em ofensa aos princípios da
individualização da pena ou da igualdade material, pois o texto constitucional, ao ordenar que ninguém pode
ser considerado culpado antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, vedou que a existência
de acusação pendente de análise definitiva fosse utilizada como critério de diferenciação para fins pedagógicos
(STJ, REsp 1.977.027-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 10/08/2022, Info.
745 (Tema 1139).
Configura constrangimento ilegal o afastamento do tráfico privilegiado e da redução da fração de diminuição
de pena por presunção de que o agente se dedica a atividades criminosas, derivada unicamente da análise da
natureza ou da quantidade de drogas apreendidas. STJ. 5ª Turma. REsp 1.985.297-SP, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 29/03/2022 (Info 731).
A elevada quantidade de drogas apreendidas, a multiplicidade de agentes envolvidos na trama criminosa -
que perpassa pela contratação e pela proposta de pagamento -, a forma de transporte da substância
entorpecente, a distância entre os estados da federação e a nítida divisão de tarefas entre os membros do
grupo descaracterizam a condição de pequeno traficante - ou traficante ocasional - impedindo o
reconhecimento do benefício do tráfico privilegiado. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal caminha

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no sentido de reconhecer que a expressiva quantidade de droga apreendida, por si só, não tem o condão de
descaracterizar a condição de "mula" do tráfico, e, via de consequência, afastar a aplicação da minorante
prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006. O STJ, por sua vez, possui entendimento no sentido de que a
atribuição, ao agente transportador de entorpecentes, da condição vulgarmente denominada "mula", não pode
ser causa determinante ao redutor de pena previsto no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006, quando a dedicação
deste à consecução de atividades delitivas, ou seu envolvimento com organização criminosa, devem ser aferidas
pelo julgador, de forma fundamentada, com base nas peculiaridades do caso concreto. No caso, o Tribunal a
quo deixou de aplicar a causa especial de diminuição de pena do art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006, por
entender, à luz do delineamento fático e probatório coligido aos autos, a ausência dos requisitos necessários ao
acatamento da minorante. De fato, a grande quantidade de droga apreendida (quase 1 tonelada de maconha),
associada a circunstâncias do caso concreto, entre as quais, a interestadualidade do tráfico, a preparação do
veículo para acondicionamento da droga em compartimentos ocultos, a existência de batedor visando garantir
a eficácia da atividade criminosa e a comissão apurada de R$ 20.000,00, denotam o manifesto envolvimento
dos réus com organização criminosa voltada à prática do narcotráfico - o que afasta a incidência da redução de
pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006. Por fim, ressalta-se o entendimento deste Superior
Tribunal de Justiça no sentido de que "a elevada quantidade de drogas apreendidas, a multiplicidade de agentes
envolvidos na trama criminosa - que perpassa pela contratação e pela proposta de pagamento -, a forma de
transporte da substância entorpecente, a distância entre os estados da federação e a nítida divisão de tarefas
entre os membros do grupo evidenciam a impossibilidade de reconhecimento do redutor em questão em favor
do acusado, porquanto evidente que não se trata de um pequeno traficante ou de um traficante ocasional"
(AgRg no AREsp 1.769.697/MS, Rel. Ministro Rogério Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 22/3/2021).STJ, AgRg no
AREsp 2.115.857-MS, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Rel. Acd. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, por
maioria, julgado em 25/10/2022, DJe 5/12/2022 (Edição Especial n° 10).
A apreensão de petrechos para a traficância, a depender das circunstâncias do caso concreto, pode afastar a
causa de diminuição de pena do art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006. A dosimetria da pena insere-se dentro de
um juízo de discricionariedade do julgador, atrelado às particularidades fáticas do caso concreto e subjetivas do
agente, somente passível de revisão por esta Corte no caso de inobservância dos parâmetros legais ou de
flagrante desproporcionalidade. Quanto à terceira fase da dosimetria, para a aplicação da causa de diminuição
de pena do art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006, o condenado deve preencher, cumulativamente, todos os
requisitos legais, quais sejam, ser primário, de bons antecedentes, não se dedicar a atividades criminosas nem
integrar organização criminosa, podendo a reprimenda ser reduzida de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços), a
depender das circunstâncias do caso concreto. No caso, as instâncias de origem, ao analisarem as provas
constantes dos autos, entenderam não se tratar de traficante eventual, mas de agente que efetivamente se
dedicava à atividade criminosa, especialmente tendo em vista terem sido apreendidos petrechos para a
traficância (balança de precisão, colher, peneira, todos com resquícios de cocaína, 66 frasconetes), elementos
que, nos termos da jurisprudência desta Corte, denotam a dedicação às atividades criminosas (STJ, AgRg no HC
773.113-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 04/10/2022,
DJe 10/10/2022 (Info. 752).
A Lei n. 13.964/2019, ao promover alterações na Lei de Execução Penal, apenas afastou o caráter hediondo
ou equiparado do tráfico privilegiado, nada dispondo sobre os demais dispositivos da Lei de Drogas. AgRg no
HC 754.913-MG, Rel. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 6/12/2022. (Info 760 -
STJ)
A habitualidade no crime e o pertencimento a organizações criminosas deverão ser comprovados pela
acusação, não sendo possível que o benefício seja afastado por simples presunção. Assim, se não houver prova
nesse sentido, o condenado fará jus à redução da pena. A quantidade e a natureza são circunstâncias que, apesar
de configurarem elementos determinantes na definição do quanto haverá de diminuição, não são elementos
que, por si sós, possam indicar o envolvimento com o crime organizado ou a dedicação a atividades criminosas.
Vale ressaltar, por fim, que é possível a aplicação deste benefício mesmo para condenados por tráfico

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transnacional de drogas. STF. 2ª Turma. HC 152001 AgR/MT, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 29/10/2019 (Info 958).
Para fins do art. 33, § 4º, da Lei de Drogas, milita em favor do réu a presunção de que ele é primário, possui
bons antecedentes e não se dedica a atividades criminosas nem integra organização criminosa; o ônus de
provar o contrário é do Ministério Público A previsão da redução de pena contida no § 4º do art. 33 da Lei nº
11.343/2006 tem como fundamento distinguir o traficante contumaz e profissional daquele iniciante na vida
criminosa, bem como do que se aventura na vida da traficância por motivos que, por vezes, confundem-se com
a sua própria sobrevivência e/ou de sua família. Assim, para legitimar a não aplicação do redutor é essencial a
fundamentação corroborada em elementos capazes de afastar um dos requisitos legais, sob pena de desrespeito
ao princípio da individualização da pena e de fundamentação das decisões judiciais. Desse modo, a habitualidade
e o pertencimento a organizações criminosas deverão ser comprovados, não valendo a simples presunção. Não
havendo prova nesse sentido, o condenado fará jus à redução de pena. Em outras palavras, militará em favor
do réu a presunção de que é primário e de bons antecedentes e de que não se dedica a atividades criminosas
nem integra organização criminosa. O ônus de provar o contrário é do Ministério Público. Assim, o STF
considerou preenchidas as condições da aplicação da redução de pena, por se estar diante de ré primária, com
bons antecedentes e sem indicação de pertencimento a organização criminosa. STF. 2ª Turma. HC 154694
AgR/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2020 (Info 965).
O chamado "tráfico privilegiado", previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), não deve ser
considerado crime equiparado a hediondo. STF. Plenário. HC 118533/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
23/6/2016 (Info 831).

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:
I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem
a transnacionalidade do delito;
II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação,
poder familiar, guarda ou vigilância;
III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino
ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes,
de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza,
de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais
ou em transportes públicos;
IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo
de intimidação difusa ou coletiva;
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal;
VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo,
diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação;
VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.

Súmula 607-STJ: A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei 11.343/06) se configura com
a prova da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a transposição de fronteiras.

#DEOLHONAJURIS
No delito de tráfico de drogas praticado nas proximidades ou nas imediações de estabelecimento de ensino,
pode-se, excepcionalmente, em razão das peculiaridades do caso concreto, afastar a incidência da majorante
prevista no art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 728.750-DF, Rel. Min. Rogerio Schietti
Cruz, julgado em 17/05/2022 (Info 738).

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Não incide a causa de aumento de pena prevista no inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006 em caso de tráfico
de drogas cometido nas dependências ou nas imediações de igreja O tráfico de drogas cometido em local
próximo a igrejas não foi contemplado pelo legislador no rol das majorantes previstas no inciso III do art. 40 da
Lei nº 11.343/2006, não podendo, portanto, ser utilizado com esse fim tendo em vista que no Direito Penal
incriminador não se admite a analogia in malam partem. STJ. 6ª Turma. HC 528.851-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti
Cruz, julgado em 05/05/2020 (Info 671).
Não é necessário que a droga passe por dentro do presídio para que incida a majorante prevista no art. 40, III,
da Lei nº 11.343/2006. Esse dispositivo não faz a exigência de que as drogas efetivamente passem por dentro
dos locais que se busca dar maior proteção, mas apenas que o cometimento dos crimes tenha ocorrido em seu
interior. STJ. 5ª Turma. HC 440.888-MS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/10/2019 (Info 659).
O art. 40, V, da Lei de Drogas prevê que a pena do tráfico e de outros delitos deverá ser aumentada se ficar
"caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal". Para que incida essa
causa de aumento não se exige a efetiva transposição da fronteira interestadual pelo agente, sendo suficiente
a comprovação de que a substância tinha como destino localidade em outro Estado da Federação. STF. (Info
808).
Na hipótese de o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos não estar previsto nos arts. 33 a 37 da
Lei de Drogas, o réu poderá ser condenado pelo crime de corrupção de menores, porém, se a conduta estiver
tipificada em um desses artigos (33 a 37), não será possível a condenação por aquele delito, mas apenas a
majoração da sua pena com base no art. 40, VI, da Lei nº 11.343/2006. STJ. (Info 595).

ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI Nº 10.826/2003)

Os tipos penais, ao fazerem menção a arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido ou restrito, devem
ser complementados pelos Decretos 3.665/2000 e 5.123/2004.

Prevalece no STF e no STJ que os crimes do ED são crimes de perigo abstrato. Ou seja, a lesão ao bem jurídico
já está presumida na lei. Não é necessário comprovar que a conduta gerou algum perigo real, concreto, porque
o perigo já está presumido na lei.

Todos os crimes são dolosos, exceto pelo crime de omissão de cautela do art. 13, caput, que prevê uma
conduta culposa.

CRIMES EM ESPÉCIE:
Posse irregular de arma de fogo de uso permitido
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo
com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu
local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Omissão de cautela
Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa
portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua
propriedade:
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e
transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto,
roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas
primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.
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Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido


Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente,
emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso
permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em
nome do agente. (Vide Adin 3.112-1)

Disparo de arma de fogo


Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou
em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável. (Vide Adin 3.112-1)

Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito


Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que
gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou
munição de uso restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato;
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido
ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar;
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro
sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a
criança ou adolescente; e
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou
explosivo.
§ 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo envolverem arma de fogo de uso proibido, a pena
é de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) [HEDIONDO]

Comércio ilegal de arma de fogo


Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar,
adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar: [HEDIONDO]
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestação de
serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência. (Redação dada
pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou
em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes
elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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Tráfico internacional de arma de fogo


Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a qualquer título, de arma de
fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente: [HEDIONDO]
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo, acessório ou munição, em
operação de importação, sem autorização da autoridade competente, a agente policial disfarçado, quando
presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)

#DEOLHONAJURIS
É atípica a conduta de colecionador, com registro para a prática desportiva e guia de tráfego, que se dirigia ao
clube de tiros sem portar consigo a guia de trânsito da arma de fogo. STJ. 5ª Turma. AgRg no AgRg no RHC
148516-SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 09/08/2022 (Info 753).
A apreensão de ínfima quantidade de munição desacompanhada da arma de fogo não implica, por si só, a
atipicidade da conduta. O simples fato de os cartuchos apreendidos estarem desacompanhados da respectiva
arma de fogo não implica, por si só, a atipicidade da conduta, de maneira que as peculiaridades do caso concreto
devem ser analisadas a fim de se aferir: a) a mínima ofensividade da conduta do agente; b) a ausência de
periculosidade social da ação; c) o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e d) a inexpressividade
da lesão jurídica provocada. No caso concreto, embora o réu tenha sido preso com apenas uma munição de uso
restrito, desacompanhada de arma de fogo, ele foi também condenado pela prática dos crimes descritos nos
arts. 33 e 35, da Lei nº 11.343/2006 (tráfico de drogas e associação para o tráfico), o que afasta o
reconhecimento da atipicidade da conduta, por não estarem demonstradas a mínima ofensividade da ação e a
ausência de periculosidade social exigidas para tal finalidade. STJ. 3ª Seção. EREsp 1856980-SC, Rel. Min. Joel
Ilan Paciornik, julgado em 22/09/2021 (Info 710).
Não se reconhece a incidência excepcional do princípio da insignificância ao crime de posse ou porte ilegal de
munição, quando acompanhado de outros delitos, tais como o tráfico de drogas. STF. 1ª Turma. HC 206977 AgR,
Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/12/2021.
O crime de porte de arma de fogo, seja de uso permitido ou restrito, na modalidade transportar, admite
participação. STJ. 6ª Turma. REsp 1887992-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 07/12/2021 (Info 721).
A Corte Especial do STJ decidiu que, uma vez realizado o registro da arma, o vencimento da autorização não
caracteriza ilícito penal, mas mera irregularidade administrativa que autoriza a apreensão do artefato e
aplicação de multa (APn n. 686/AP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, DJe de 29/10/2015). Tal
entendimento, todavia, é restrito ao delito de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido (art. 12 da Lei nº
10.826/2003), não se aplicando ao crime de porte ilegal de arma de fogo (art. 14), muito menos ao delito de
porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16), cujas elementares são diversas e a reprovabilidade mais
intensa. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 885281-ES, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 28/04/2020
(Info 671).
A conduta de portar granada de gás lacrimogêneo ou granada de gás de pimenta não se subsome (amolda) ao
delito previsto no art. 16, parágrafo único, III, da Lei nº 10.826/2003. Isso porque elas não se enquadram no
conceito de artefatos explosivos. STJ. 6ª Turma. REsp 1627028/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 21/02/2017 (Info 599).
É típica e antijurídica a conduta de policial civil que, mesmo autorizado a portar ou possuir arma de fogo, não
observa as imposições legais previstas no Estatuto do Desarmamento, que impõem registro das armas no órgão
competente. STJ. 6ª Turma. RHC 70141-RJ, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 7/2/2017 (Info 597).
O fato de o empregador obrigar seu empregado a portar arma de fogo durante o exercício das atribuições de
vigia não caracteriza coação moral irresistível (art. 22 do CP) capaz de excluir a culpabilidade do crime de "porte
ilegal de arma de fogo de uso permitido" (art. 14 da Lei nº 10.826/2003) atribuído ao empregado que tenha sido
flagrado portando, em via pública, arma de fogo, após o término do expediente laboral, no percurso entre o

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trabalho e a sua residência. STJ. 5ª Turma. REsp 1456633-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
5/4/2016 (Info 581).
Se a arma de fogo é encontrada no interior do caminhão dirigido por motorista profissional, trata-se de crime
de porte de arma de fogo (art. 14 do Estatuto do Desarmamento). O veículo utilizado profissionalmente NÃO
pode ser considerado “local de trabalho” para tipificar a conduta como posse de arma de fogo de uso permitido
(art. 12). STJ. 6ª Turma. REsp 1219901-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/4/2012 (Info 496).

CRIMES DE LAVAGEM OU OCULTAÇÃO DE BENS, DIREITOS E VALORES

FASES DA LAVAGEM:

FASE DESCRIÇÃO EXEMPLOS


Aplicação no mercado formal,
mediante depósito em banco, troca
Separação física do dinheiro dos autores por moeda estrangeira, remessa ao
1ª Colocação do crime. exterior através de mulas,
(placement) É antecedida pela captação e transferência eletrônica ou física para
concentração do dinheiro. paraísos fiscais, importação
subfaturada; aquisição de imóveis;
obras de arte; joias; etc.
Nessa fase, multiplicam-se as
transações anteriores, através de
muitas empresas e contas, de modo que
2ª Ocultação ou
se perca a trilha do dinheiro (paper Várias transferências por cabo (wire
Dissimulação
trail), constituindo-se na lavagem transfer) ou sucessivos empréstimos.
(layering)
propriamente dita, que tem por objetivo
fazer com que não se possa identificar a
origem ilícita dos valores ou bens.
O dinheiro é empregado em negócios Compra de uma empresa já existente
lícitos, ilícitos ou compra de bens, e em funcionamento, aquisição de um
3ª Integração dificultando ainda mais a investigação, empreendimento imobiliário,
(integration ou recycling) já que o criminoso assume ares de simulação de obtenção em pagamento
respeitável investidor, atuando por serviços de difícil mensuração,
conforme as regras do sistema. como consultoria, por exemplo.

Jurisprudência em Teses do STJ: EDIÇÃO N. 166: DO CRIME DE LAVAGEM – I

1) É desnecessário que o autor do crime de lavagem de dinheiro tenha sido autor ou partícipe da infração penal
antecedente, basta que tenha ciência da origem ilícita dos bens, direitos e valores e concorra para sua ocultação
ou dissimulação.
2) Nos crimes de lavagem de dinheiro, a denúncia é apta quando apresentar justa causa duplicada, indicando
lastro probatório mínimo em relação ao crime de lavagem de dinheiro e à infração penal antecedente.
3) A aptidão da denúncia relativa ao crime de lavagem de dinheiro não exige uma descrição exaustiva e
pormenorizada do suposto crime prévio, bastando, com relação às condutas praticadas antes da Lei n.
12.683/2012, a presença de indícios suficientes de que o objeto material da lavagem seja proveniente, direta ou
indiretamente, de um daqueles crimes mencionados nos incisos do art. 1º da Lei n. 9.613/1998.
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4) O crime de lavagem de dinheiro, antes das alterações promovidas pela Lei n. 12.683/2012, estava adstrito
aos crimes descritos no rol taxativo do art. 1º da Lei n. 9.613/1998.
5) O tipo penal do art. 1º da Lei n. 9.613/1998 é de ação múltipla ou plurinuclear, consumando-se com a prática
de qualquer dos verbos mencionados na descrição típica e relacionando-se com qualquer das fases do
branqueamento de capitais (ocultação, dissimulação, reintrodução), não exigindo a demonstração da ocorrência
de todos os três passos do processo de branqueamento.
6) O crime de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, tipificado no art. 1º da Lei n. 9.613/1998,
constitui crime autônomo em relação às infrações penais antecedentes.
7) Embora a tipificação da lavagem de dinheiro dependa da existência de uma infração penal antecedente, é
possível a autolavagem - isto é, a imputação simultânea, ao mesmo réu, da infração antecedente e do crime de
lavagem -, desde que sejam demonstrados atos diversos e autônomos daquele que compõe a realização da
primeira infração penal, circunstância na qual não ocorrerá o fenômeno da consunção.
8) O crime de lavagem de bens, direitos ou valores, quando praticado na modalidade típica de ocultar, é
permanente, protraindo-se sua execução até que os objetos materiais do branqueamento se tornem
conhecidos.
9) A aquisição de bens em nome de pessoa interposta caracteriza-se como conduta, em tese, de ocultação ou
dissimulação, prevista no tipo penal do art. 1º da Lei n. 9.613/1998, sendo suficiente, portanto, para o
oferecimento da denúncia.
10) A realização, por período prolongado, de sucessivos contratos de empréstimo pessoal para justificar
ingressos patrimoniais como se renda fossem - sem que se esclareça a forma e a fonte de pagamento das
parcelas, acrescidas de juros, e sem que isso represente, em nenhum momento, uma correspondente redução
do padrão de vida do devedor - é apta a configurar, em tese, ato de dissimulação da origem ilícita de valores,
elemento constituinte do delito de lavagem de dinheiro, que extrapole o mero recebimento de vantagens
indevidas.

Jurisprudência em Teses do STJ: EDIÇÃO N. 167: DO CRIME DE LAVAGEM – II

1) No crime de lavagem de dinheiro que envolve grande quantidade de agentes residentes em diversas unidades
da federação, a regra de competência do local onde se realizaram as operações irregulares será afastada para,
em homenagem aos princípios da razoável duração do processo e da celeridade de sua tramitação, dar lugar ao
foro do domicílio do investigado.
2) A autoridade judiciária brasileira é competente para julgar os crimes de lavagem ou ocultação de dinheiro
cometidos, mesmo que parcialmente, no território nacional, bem como na hipótese em que os crimes
antecedentes tenham sido praticados em prejuízo da administração pública, ainda que os atos tenham ocorrido
exclusivamente no exterior.
3) Compete ao juízo processante do crime de lavagem de dinheiro, apreciar e decidir a respeito da união dos
processos (art. 2º, II, da Lei nº 9.613/98), examinando caso a caso, com objetivo de otimizar a entrega da
prestação jurisdicional.
4) O reconhecimento da extinção da punibilidade pela prescrição da infração penal antecedente não implica
atipicidade do delito de lavagem (art. 1º da Lei nº 9.613/98).
5) O delito de evasão de divisas é autônomo e antecedente ao crime de lavagem de capitais, não constituindo
este mero exaurimento impunível daquele, nem consunção entre os abordados crimes.
6) A prática de organização criminosa (art. 1º, VII, da Lei nº 9.613/98) como crime antecedente da lavagem de
dinheiro é atípica antes do advento da Lei nº 12.850/2013, por ausência de descrição normativa.
7) Por ser atípico, não se pode invocar a substituição do crime de organização criminosa por associação
criminosa (art. 288 do Código Penal - CP), pois este não estava incluído no rol taxativo da redação original da Lei
nº 9.613/1998.

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8) Nos crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, é legítima a exasperação da pena-base pela
valoração negativa das consequências do crime em decorrência da movimentação de expressiva quantia de
recursos envolvidos que extrapole o elemento natural do tipo.
9) A incidência simultânea do reconhecimento da continuidade delitiva (art. 70 do CP) e da majorante prevista
no § 4º do art. 1º da Lei nº 9.613/98, nos crimes de lavagem de dinheiro, acarreta bis in idem.
10) Os familiares e parentes próximos de pessoas que ocupem cargos ou funções públicas relevantes -
consideradas pessoas politicamente expostas - PPE, nos termos do art. 2º, da Resolução nº 29, de 19/12/2017,
do COAF - sujeitam-se ao controle estabelecido nos arts. 10 e 11 da Lei nº 9.613/98 a fim de ser apurada a
possível prática de lavagem de dinheiro.
11) O art. 1º, § 5º, da Lei nº 9.613/98 trata da delação premiada, ato unilateral, praticado pelo agente que,
espontaneamente, opta por prestar auxílio tanto à atividade de investigação, quanto à instrução procedimental,
independente de prévio acordo entre as partes interessadas, cujos benefícios não podem ultrapassar a fronteira
objetiva e subjetiva da demanda, dada sua natureza endoprocessual.
12) A atuação de promotores auxiliares ou de grupos especializados, como o Grupo de Atuação Especial de
Combate ao Crime Organizado (GAECO), na investigação de infrações penais, a exemplo do crime de lavagem
de dinheiro, não ofende o princípio do promotor natural, não havendo que se falar em designação casuística.
13) Nos crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, a autoridade policial e o Ministério Público
têm acesso, independentemente de autorização judicial, aos dados meramente cadastrais de investigados que
não são protegidos pelo sigilo constitucional (art. 17-B da Lei nº 9.613/98).
14) É possível o deferimento de medida assecuratória em desfavor de pessoa jurídica que se beneficia de
produtos decorrentes do crime de lavagem, ainda que não integre o polo passivo de investigação ou ação penal.
15) Não há óbice à aplicação imediata das medidas assecuratórias previstas no art. 4º da Lei nº 9.613/98 e
implementadas pela Lei nº 12.683/2012, por se tratarem de institutos de direito processual a luz do princípio
tempus regit actum.

LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS (LEI Nº 12.850/13)

ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

Art. 1º, § 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (QUATRO) OU MAIS PESSOAS


estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de
obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas
penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.
§ 2º Esta Lei se aplica também:
I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a execução no País, o
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
II - às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a prática dos atos de terrorismo
legalmente definidos. (Redação dada pela lei nº 13.260, de 2016)

É crime FORMAL. Se consuma com a reunião dos agentes com o intuito de praticar infrações penais, sendo
desnecessária a prática de crimes por parte dos agentes. A partir disso pode-se inferir importante diferença
entre o simples concurso de pessoas e a organização criminosa. No concurso é necessário que as infrações as
quais se queiram praticar sejam ao menos tentadas (art. 31, CP), já na Organização Criminosa, não.

#DEOLHONAJURIS
O crime do art. 2º, § 1º é formal ou material? MATERIAL. O tipo penal possui dois núcleos (verbos): impedir e
embaraçar. No que tange ao núcleo “impedir”, nunca houve dúvida de que se trata de crime material. A dúvida
estava no verbo “embaraçar”. Alguns doutrinadores afirmavam que, neste ponto, o delito seria formal. Não foi
esta, contudo, a conclusão do STJ. Tanto no núcleo impedir como embaraçar, o crime do art. 2º, § 1º da Lei nº
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12.850/2013 é material. A adoção da corrente que classifica o delito como crime material se explica porque o
verbo embaraçar atrai um resultado, ou seja, uma alteração do seu objeto. Na hipótese normativa, o objeto é a
investigação, que pode se dar na fase de inquérito ou na instrução da ação penal. Em outras palavras, haverá
embaraço à investigação se o agente conseguir produzir algum resultado, ainda que seja momentâneo e
reversível. STJ. 5ª Turma. REsp 1817416-SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 03/08/2021 (Info 703).

Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização
criminosa:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações
penais praticadas.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal
que envolva organização criminosa.
§ 2º As penas aumentam-se até a metade se na atuação da organização criminosa houver emprego de arma de
fogo.
§ 3º A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda
que não pratique pessoalmente atos de execução.
§ 4º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços):
I - se há participação de criança ou adolescente;
II - se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização criminosa dessa condição para a prática de
infração penal;
III - se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em parte, ao exterior;
IV - se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações criminosas independentes;
V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização.

SÚMULAS DO TJRJ EM DIREITO PENAL

Súmula 272, TJRJ: O inciso I, primeira parte, do Art. 65, do Código Penal, não foi derrogado pelo Código Civil de
2002 (Art. 2.043).

Súmula 273, TJRJ: Verificada a presença dos requisitos legais é possível a aplicação da causa de diminuição de
pena do Artigo 33, § 4º, da Lei 11.343/06 aos casos em que haja incidência das causas de aumento de pena
previstas nos incisos do Artigo 40 da mencionada lei.

Súmula 380, TJRJ: Não se mostra necessária a apreensão e exame da arma de fogo para comprovar a
circunstância majorante no delito de roubo, desde que demonstrado seu emprego por outros meios de prova.

Súmula 381, TJRJ: O emprego da arma de fogo na prática de roubo, vinculada à maneira de agir do acusado no
caso concreto, constitui fundamento idôneo para a imposição de regime inicial fechado, mesmo nas hipóteses
de a pena-base haver sido fixada no mínimo legal.

NFPSS – DIREITO AMBIENTAL3

Fala pessoal, tudo bem por ai??

3
Por Ana Paula Prado

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Bora relembrar alguns pontos importantíssimos pra prova de vocês?? #VEMCOMIGO

1. Fundamentos éticos e filosóficos do direito ambiental. 2. A Constituição e o Meio Ambiente. O artigo 225:
objetivo, alcance e reflexos. Ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental. Natureza
pública da proteção ambiental. Tratados Internacionais sobre tema ambiental.

FUNDAMENTOS ÉTICOS E FILOSÓFICOS DO DIREITO AMBIENTAL

No que diz respeito aos pressupostos filosóficos do Direito Ambiental, o antropocentrismo e o


biocentrismo se sobressaem como concepções predominantes. Na primeira, oriunda das tradições aristotélicas
e judaico-cristãs, o ser humano é apontado como titular e destinatário de todos os recursos naturais existentes,
devendo a proteção ao meio ambiente ocorrer apenas na medida necessária para que os interesses humanos
sejam resguardados. Já na segunda concepção, que se fundamenta na Ecologia Profunda, cada recurso natural
possui um valor intrínseco e deve ser protegido em razão de sua função ecológica, pois os seres vivos e os
elementos que propiciam a vida fazem parte de um sistema integrado e interdependente, sendo o ser humano
apenas uma parte dessa complexa teia. Apesar de a Constituição Federal adotar a visão antropocêntrica, deve-
se ressaltar que se trata de antropocentrismo alargado, pois se defende uma posição suficientemente
abrangente, a ponto de reconhecer a interdependência entre os seres humanos e a natureza.

#SELIGA: Não é permitido o abate de animais apreendidos em situação de maus-tratos. É inconstitucional a


interpretação da legislação federal que possibilita o abate imediato de animais apreendidos em situação de
maus-tratos.

O art. 225, § 1º, VII, da CF/88 impõe a proteção à fauna e proíbe qualquer espécie de maus-tratos aos animais.

O art. 25, § 1º da Lei nº 9.605/98 afirma que os animais apreendidos serão prioritariamente libertados em seu
habitat ou, sendo tal medida inviável ou não recomendável por questões sanitárias, entregues a jardins
zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas, para guarda e cuidados sob a responsabilidade de técnicos
habilitados.

Até que os animais sejam entregues às instituições, o órgão autuante zelará para que eles sejam mantidos em
condições adequadas de acondicionamento e transporte que garantam o seu bem-estar físico.

Assim, não é constitucionalmente adequada a interpretação segundo a qual os animais devam ser resgatados
de situações de maus-tratos para, logo em seguida, serem abatidos. STF. Plenário. ADPF 640 MC-Ref/DF, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/9/2021 (Info 1030).

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A CONSTITUIÇÃO E O MEIO AMBIENTE

#TEMQUELERACF:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas; (Regulamento)

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à


pesquisa e manipulação de material genético; (Regulamento) (Regulamento) (Regulamento)
(Regulamento)

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; (Regulamento)

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
(Regulamento)

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem


risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; (Regulamento)

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação
do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. (Regulamento)

VIII - manter regime fiscal favorecido para os biocombustíveis destinados ao consumo final, na forma de lei
complementar, a fim de assegurar-lhes tributação inferior à incidente sobre os combustíveis fósseis, capaz de
garantir diferencial competitivo em relação a estes, especialmente em relação às contribuições de que tratam
a alínea "b" do inciso I e o inciso IV do caput do art. 195 e o art. 239 e ao imposto a que se refere o inciso II do
caput do art. 155 desta Constituição. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 123, de 2022)

§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo
com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

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§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona
Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem
a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. (Regulamento)
(Regulamento)

§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias
à proteção dos ecossistemas naturais.

§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não
poderão ser instaladas.

§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as práticas
desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta
Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro,
devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 96, de 2017)

O direito ambiental, segundo Frederico Amado 4 , é um ramo do direito público, composto por
princípios e regras que regulam as condutas humanas que afetem o meio ambiente em todas as suas
modalidades, direta ou indiretamente.

Atualmente, o direito ao meio ambiente é considerado um direito fundamental de terceira geração,


sendo um bem de uso comum do povo, de titularidade difusa. Todavia, nem sempre foi assim, podendo-se citar
as seguintes fases de evolução do tratamento dado ao meio ambiente no Brasil:

#TABELALOVERS

Ausência de preocupação com o meio ambiente. Assim,


Fase individualista havia omissão legislativa acerca do tema, com exceção
Descobrimento do
ou do tratamento de alguns poucos diplomas de proteção de certos
Brasil até 1950
desregrado recursos naturais que eram de interesse econômico (ex:
pau-brasil).

Controle de algumas atividades exploratórias de


Fase Fragmentária 1950 até 1980 recursos naturais em função de seu valor econômico. Ex:
Código de Pesca e de Mineração em 1967, Lei de

4 Direito Ambiental. Sinopses para Concursos. Frederico Amado.

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Responsabilidade por Danos Nucleares também de 1967,


Lei do Zoneamento Industrial de 1980, etc.

Compreensão do meio ambiente como um todo


De 1981 até o integrado e interdependente. O grande marco foi a Lei
Fase Holística
presente 6.938/81 que dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente.

3. Princípios constitucionais ambientais. Princípio da solidariedade intergeracional. Princípio do


desenvolvimento sustentável. Princípio do poluidor-pagador. Princípio do usuário pagador. Princípio da
função socioambiental da propriedade. Princípio da prevenção. Princípio da precaução. Princípio da
participação. Princípio da informação ambiental. Princípio da ubiquidade. Princípio da moralidade e o meio
ambiente. Outros princípios ambientais implícitos ou extraíveis do sistema constitucional.

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL #APOSTACICLOS

#DEOLHONATABELA

Segundo Frederico Amado, é um princípio implícito no art. 225 da CF//88.


Quando há certeza científica prevendo a ocorrência de impactos ambientais
negativos decorrentes de certa atividade lesiva ao meio ambiente, deve-se
PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO impor ao empreendedor condicionamentos no licenciamento ou negar o
direito ao licenciamento. Trata-se de risco conhecido/concreto. Em direito
ambiental deve-se buscar, sempre que possível, a prevenção dos danos, pois
nem sempre será possível repará-los depois que ocorrem.

Também é considerado implícito na CF/88. Foi consagrado no âmbito da


Declaração do Rio (ECO/1992) no princípio n. 15. No âmbito da precaução
ainda não existe certeza quanto ao dano ambiental. Então, na dúvida, por
PRINCÍPIO DA cautela, deve-se tutelar o meio ambiente. Aplica-se o princípio “in dubio pro
PRECAUÇÃO natura” ou “in dubio pro salute”. São riscos incertos e potenciais. É com base
nesse princípio da precaução que parte da doutrina sustenta a possibilidade
de inversão do ônus da prova, prevendo-se sua aplicação nas ações de
degradação ambiental na súmula 618 do STJ.

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Também se considera implícito na CF/88. A Declaração do Rio, em seu


princípio 4, prevê que “para se alcançar um desenvolvimento sustentável, a
proteção ambiental deve constituir parte integrante do processo de
desenvolvimento e não pode ser considerada separadamente”. Segundo
PRINCÍPIO DO
Frederico Amado, esse princípio decorre de uma ponderação que deverá ser
DESENVOLVIMENTO
feita casuisticamente entre o direito fundamental ao desenvolvimento
SUSTENTÁVEL
econômico e o direito à preservação ambiental. O referido autor sustenta
também que o princípio do desenvolvimento também possui uma acepção
social, pois pressupõe o desenvolvimento social dos povos por intermédio
da erradicação da pobreza, consistente na justa repartição das riquezas.

Em razão de tal princípio, deve o poluidor responder pelos custos sociais da


degradação causada por sua atividade impactante, agregando esse valor no
custo da atividade. Não significa uma autorização para poluição mediante
PRINCÍPIO DO POLUIDOR- pagamento. É o contrário. Significa que o poluidor deve arcar com as
PAGADOR OU consequências e pagar os custos decorrentes da degradação, mesmo se isso
RESPONSABILIDADE ocorrer dentro dos limites de licença ou tolerância ambiental. O art. 14, §1º,
da Lei 6.938 prevê que o poluidor é obrigado a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros, independentemente da existência
de culpa. Consta também na Declaração do Rio no princípio n. 16.

É um princípio mais amplo, englobando até mesmo o princípio do poluidor-


pagador, pois a poluição pressupõe o uso, mas nem sempre o uso pressupõe
PRINCÍPIO DO USUÁRIO- a poluição. Assim, todos aqueles que se utilizam de bens naturais, devem
PAGADOR pagar por eles, visto que tais bens são finitos e possuem economicidade.
Está previsto no art. 4º, VII, da lei 6.938. Ex: uso racional da água gera a
necessidade de pagamento pelo usuário.

Representa a necessária criação de benefícios para aqueles que protegem o


meio ambiente com a finalidade de fomentar e premiar essas iniciativas.
Para Frederico Amado, é a outra faceta da mesma moeda do princípio do
PRINCÍPIO DO PROTETOR-
poluidor-pagador. Há previsão expressa do princípio do protetor-recebedor
RECEBEDOR
no art. 6º da Lei 12.305/2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos). O art.
41 do Código Florestal também prevê um programa de apoio e incentivo à
preservação e à recuperação do meio ambiente.

O art. 225, caput, parte final, da CF/88 fixa que as presentes gerações devem
preservar o meio ambiente e adotar políticas ambientais para as presentes
PRINCÍPIO DA
e futuras gerações. Assim, não podem utilizar os recursos ambientais de
SOLIARIEDADE
maneira irracional de modo que os descendentes sejam privados do seu
INTERGERACIONAL OU
desfrute. Ao realizar-se tal princípio, realiza-se também o princípio do
EQUIDADE
desenvolvimento sustentável. Trata-se de um pacto entre as gerações. Está
previsto também na Declaração do Rio no princípio n. 03.

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O meio ambiente é um bem difuso, indispensável à sadia qualidade de vida


de todos, de modo que é obrigatória a preservação ambiental pelo Poder
PRINCÍPIO DA NATUREZA Púbico. Trata-se de dever irrenunciável do Poder Público a proteção
PÚBLICA OU ambiental. Deverá o Estado também atuar como agente normativo e
OBRIGATORIEDADE DA regulador da ordem econômica ambiental. O exercício do poder de polícia
PROTEÇÃO AMBIENTAL ambiental, geralmente, é vinculado, inexistindo oportunidade e
conveniência na escolha do seu exercício. Além disso, em regra, também não
pode ser objeto de transação judicial a proteção do meio ambiente,

Também conhecido como princípio democrático. Uma vez que o meio


ambiente ecologicamente equilibrado é um direito difuso, as pessoas têm o
PRINCÍPIO DA
direito de participar ativamente das decisões políticas ambientais. A fim de
PARTICIPAÇÃO OU DA
possibilitar o exercício desse direito, entende-se também que há o exercício
GESTÃO COMUNITÁRIA
do direito à informação. O princípio n. 10 da Declaração do Rio de 1992 trata
expressamente desse princípio.

O art. 186, II, da CF/88 prevê que a propriedade rural para atender à função
social deve respeitar a legislação ambiental. Nesse mesmo sentido, destaca-
PRINCÍPIO DA FUNÇÃO
se o art. 1.228, §1º do CC que afirma que o direito de propriedade deve ser
SOCIOAMBIENTAL DA
exercido de modo que sejam preservados a flora, a fauna, as belezas
PROPRIEDADE
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem
como evitada a poluição do ar e das águas.

Possui íntima relação com o princípio da participação comunitária ou gestão


PRINCÍPIO DA e da publicidade. O acesso às informações ambientais é imprescindível à
INFORMAÇÃO formação do bom convencimento da população, que precisa inicialmente
conhecer para participar da decisão política ambiental.

Ele está tanto previsto no Protocolo de Kyoto, quanto na Lei Brasileira de


PRINCÍPIO DA
Mudanças Climáticas (Lei 12.187/09). Considera que todas as nações são
RESPONSABILIDADE
responsáveis pelo controle da poluição, mas os países que mais poluem
COMUM, MAS
deverão adotar as medidas mais drásticas, pois são os principais
DIFERENCIADA
responsáveis pela degradação ambiental.

#DEOLHONAJURIS

A revogação de normas operacionais fixadoras de parâmetros mensuráveis necessários ao cumprimento da


legislação ambiental, sem sua substituição ou atualização, compromete a observância da Constituição Federal,
da legislação vigente e de compromissos internacionais. STF. Plenário. ADPF 747/DF e STF. Plenário. ADPF
749/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 13/12/2021 (Info 1041).

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4. Deveres genéricos do Poder Público em relação ao meio ambiente. Deveres específicos do Poder Público
em relação ao meio ambiente. Competências administrativa, legislativa e jurisdicional em matéria ambiental.

COMPETÊNCIAS AMBIENTAIS LEGISLATIVA E MATERIAL

A disciplina acerca do meio ambiente é tratada em capítulo próprio na CF/88, representado pelo art.
225. Além disso, a CF/88 também prevê o exercício das competências, tanto legislativas como administrativas,
relacionadas ao meio ambiente, visto que todas as entidades federadas possuem interesse sobre o assunto.
Tanto é assim que o critério utilizado para repartição de competências em matéria ambiental é o princípio da
predominância de interesse.

Normas de interesse
União
nacional/geral
Princípio da
predominância do Normas de interesse
Estados
interesse em matéria predominantemente regional
ambiental
Normas de interesse
Municípios
predominantemente municipal

A competência de proteger o meio ambiente é de todas as entidades políticas, ou seja, trata-se de


competência administrativa comum. É o que prevê o art. 23 da CF/88 nos seguintes incisos:

#DEOLHONACF

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as
paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;

IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico,
artístico ou cultural;

VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e


minerais em seus territórios;
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Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito
nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

Apesar disso, existem competências administrativas que foram atribuídas pela CF/88 à União de forma
exclusiva, são elas:

#DEOLHONACF

Art. 21. Compete à União:

IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento


econômico e social;

XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as
inundações;

XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos
de seu uso;

XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes
urbanos;

XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a
pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e
seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:

a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante
aprovação do Congresso Nacional;

b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para pesquisa
e uso agrícolas e industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de 2022)

c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, a comercialização e a utilização de radioisótopos


para pesquisa e uso médicos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de 2022)

d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 49, de 2006)

Existem também competências materiais atribuídas ao Município, a saber: (i) promover, no que
couber, o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da
ocupação do solo urbano; (ii) promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local.

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Já no que tange as competências legislativas, a regra é a competência concorrente entre a União, os


Estados e o Distrito Federal, podendo também o Município suplementar a legislação estadual e federal no que
couber e legislar a respeito do interesse local. É o que se depreende dos arts. 23 e 30 da CF/88:

#DEOLHONACF

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do
meio ambiente e controle da poluição;

VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;

VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico;

§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas


gerais. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)

§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos
Estados. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)

§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para
atender a suas peculiaridades. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)

§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for
contrário. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)

Todavia, existem algumas matérias em que a competência para legislar é privativa da União. Vejamos:

#FOCONACF #COLANARETINA

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

(...)

IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;

(...)

XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;

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(...)

XIV - populações indígenas;

(...)

XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;

Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das
matérias relacionadas neste artigo.

Quanto ao desempenho das competências materiais comuns em matéria ambiental, a CF/88 previu
que lei complementar fixaria normas de cooperação entre os entes federados. De fato, a Lei Complementar n.
140/2011 tratou da competência material comum no âmbito do direito ambiental. Suas disposições aplicam-se
apenas para os licenciamentos iniciados a partir da sua vigência, não havendo eficácia retroativa.

De acordo com a LC 140, os objetivos fundamentais dos entes federados no exercício da competência
comum ambiental são:

↳Proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, promovendo gestão


descentralizada, democrática e eficiente: por ser descentralizada, a gestão envolve todos os entes. A
ideia de democracia remete à participação popular e a à ideia de eficiência à ecoeficiência, isto é,
procura por tecnologias cada vez mais limpas e que causem menor impacto ambiental.
↳ Garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a proteção do meio ambiente,
observando a dignidade da pessoa humana, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades
sociais e regionais: esse objetivo decorre do princípio do desenvolvimento sustentável.
↳ Harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição de atuação entre os entes
federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma atuação administrativa eficiente:
é o grande objetivo da LC 140.
↳ Garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País, respeitadas as peculiaridades
regionais e locais.
A LC 140 prevê vários instrumentos no seu art. 4º para a concretização dos seus objetivos
fundamentais. São exemplos: os consórcios públicos, os convênios, as Comissões (Tripartite Nacional, Tripartite
Estadual e Bipartite do Distrito Federal), os fundos públicos e privados.

#SELIGA:5 – “O exercício das competências constitucionais (legislativas e executivas) em matéria ambiental,


respeitados os espaços político-jurídicos de cada ente federativo, deve rumar para a realização do objetivo
constitucional expresso no art. 225 da CF/88, inclusive sob a caracterização de um dever de cooperação entre
os entes federativos no cumprimento dos seus deveres de proteção ambiental. Isso implica a adequação das

5
Princípios do Direito Ambiental, 2ª ed. 2017 - Ingo Wolfgang Sarlet, Tiago Fensterseifer. P. 36.

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competências constitucionais ambientais ao princípio da subsidiariedade, conforme trataremos de forma


detalhada à frente, enquanto princípio constitucional implícito no nosso sistema constitucional, o qual conduz
à descentralização do sistema de competências e ao fortalecimento da autonomia dos entes federativos
inferiores (ou periféricos) naquilo em que representar o fortalecimento dos instrumentos de proteção ambiental
e dos mecanismos de participação política, ensejando a caracterização do princípio do federalismo cooperativo
ecológico”.

#TABELALOVERS:

COMPETÊNCIAS NO ÂMBITO AMBIENTAL

a) Exclusiva União
I – MATERIAL
b) Comum, cumulativa ou paralela (art. 23) União, Estados e DF

a) Privativa (art. 22) União

b) Concorrente (art. 24) União, Estados e DF


II – LEGISLATIVA
c) Suplementar (art. 24, §2º) Estados

d) Exclusiva (art. 25, §§1º e 2º) Estados

#OLHAAJURIS:

A LC 140/2011 foi declarada constitucional.

A repartição de competências comuns, instituída pela LC 140/2011, mediante atribuição prévia e estática das
competências administrativas de fiscalização ambiental aos entes federados, atende às exigências do princípio
da subsidiariedade e do perfil cooperativo do modelo de Federação, cuja finalidade é conferir efetividade nos
encargos constitucionais de proteção dos valores e direitos fundamentais.

Vale ressaltar, no entanto, que dois dispositivos da Lei merecem interpretação conforme:

§ 4º do art. 14 da LC 140/2011:

É inconstitucional regra que autoriza estado indeterminado de prorrogação automática de licença ambiental.

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Assim, a omissão ou mora administrativa imotivada e desproporcional na manifestação definitiva sobre os


pedidos de renovação de licenças ambientais instaura a competência supletiva do art. 15.

§ 3º do art. 17 da LC 140/2011:

A prevalência do auto de infração lavrado pelo órgão originalmente competente para o licenciamento ou
autorização ambiental não exclui a atuação supletiva de outro ente federado, desde que comprovada omissão
ou insuficiência na tutela fiscalizatória.

No exercício da cooperação administrativa cabe atuação suplementar — ainda que não conflitiva — da União
com a dos órgãos estadual e municipal.

STF. Plenário. ADI 4757/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/12/2022 (Info 1079).

É inconstitucional — por invadir a competência legislativa geral da União (art. 24, VI, §§ 1º e 2º, da CF/88) e
violar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, § 1º, IV, da CF/88) — norma estadual
que cria dispensa do licenciamento ambiental para atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente. STF. Plenário. ADI 4529/MT, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 21/11/2022 (Info
1076).

São formalmente inconstitucionais as leis estaduais que interferem em matérias relacionadas à atividade
nuclear e à energia, uma vez que, ao disporem sobre os assuntos, incorrem em indevida invasão da competência
privativa da União para explorar tais serviços e legislar a seu respeito (art. 21, XII, “b”, XIX e XXIII e art. 22, IV e
XXVI, da CF/88).

Com base nesse entendimento, o STF declarou a inconstitucionalidade do art. 209 da Constituição do Estado do
Paraná, que dizia:

Art. 209. Observada a legislação federal pertinente, a construção de centrais termoelétricas e hidrelétricas
dependerá de projeto técnico de impacto ambiental e aprovação da Assembleia Legislativa; a de centrais
termonucleares, desse projeto, dessa aprovação e de consulta plebiscitária.

STF. Plenário. ADI 7076/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 24/6/2022 (Info 1060).

O STF entende que, em matéria ambiental, deve-se fortalecer o equilíbrio federativo para atender às
peculiaridades regionais e locais, desde que isso gere uma maior proteção ao meio ambiente.

Em linha de princípio, admite-se que os Estados editem normas mais protetivas ao meio ambiente, com
fundamento em suas peculiaridades regionais e na preponderância de seu interesse, conforme o caso. STF.
Plenário. ADI 5996, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020.

Não afronta a competência legislativa da União o dispositivo de constituição estadual que proíbe a caça em
seu respectivo território.

STF. Plenário. ADI 350/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 18/6/2021 (Info 1022).

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Ciclos Método

É possível a edição de medidas provisórias tratando sobre matéria ambiental, mas sempre veiculando normas
favoráveis ao meio ambiente. Normas que importem diminuição da proteção ao meio ambiente equilibrado
só podem ser editadas por meio de lei formal, com amplo debate parlamentar e participação da sociedade civil
e dos órgãos e instituições de proteção ambiental, como forma de assegurar o direito de todos ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado. Dessa forma, é inconstitucional a edição de MP que importe em diminuição da
proteção ao meio ambiente equilibrado, especialmente em se tratando de diminuição ou supressão de unidades
de conservação, com consequências potencialmente danosas e graves ao ecossistema protegido A proteção ao
meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida provisória, ainda que não conste
expressamente do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da CF/88. STF. Plenário.ADI 4717/DF, Rel.
Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/4/2018 (Info 896).

5. A comunidade e a tutela constitucional do ambiente. Política Nacional de Educação Ambiental. Participação


popular na política pública ambiental. Participação popular na administração, no Parlamento e no Judiciário.
Responsabilidade Administrativa Ambiental. Responsabilidade Civil Ambiental.

POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

A Lei 6.938/81 instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e representou um marco para o
Direito Ambiental no Brasil, pois foi a primeira lei que tratou do meio ambiente como um todo no país, como já
ressaltado acima.

Por meio da Política Nacional do Meio Ambiente busca-se fixar diretrizes gerais a fim de harmonizar e
integrar as políticas públicas ambientais em todos os níveis federativos, de modo a tornar a preservação do meio
ambiente mais efetiva. Nesse sentido, é importante conhecer os PRINCÍPIOS da PNMA e os seus OBJETIVOS:

#SELIGANATABELA

LEI 6.938/81

PRINCÍPIOS OBJETIVOS

Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:
por objetivo a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental propícia à I - à compatibilização do desenvolvimento
vida, visando assegurar, no País, condições ao econômico-social com a preservação da qualidade
desenvolvimento socioeconômico, aos interesses do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;

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Ciclos Método

da segurança nacional e à proteção da dignidade da II - à definição de áreas prioritárias de ação


vida humana, atendidos os seguintes princípios: governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio
ecológico, atendendo aos interesses da União, dos
I - ação governamental na manutenção do Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos
equilíbrio ecológico, considerando o meio Municípios;
ambiente como um patrimônio público a ser
necessariamente assegurado e protegido, tendo em III - ao estabelecimento de critérios e padrões de
vista o uso coletivo; qualidade ambiental e de normas relativas ao uso
e manejo de recursos ambientais;
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da
água e do ar; IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de
tecnologias nacionais orientadas para o uso
Ill - planejamento e fiscalização do uso dos racional de recursos ambientais;
recursos ambientais;
V - à difusão de tecnologias de manejo do meio
IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação ambiente, à divulgação de dados e informações
de áreas representativas; ambientais e à formação de uma consciência
V - controle e zoneamento das atividades potencial pública sobre a necessidade de preservação da
ou efetivamente poluidoras; qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;

VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de VI - à preservação e restauração dos recursos


tecnologias orientadas para o uso racional e a ambientais com vistas à sua utilização racional e
proteção dos recursos ambientais; disponibilidade permanente, concorrendo para a
manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;
VII - acompanhamento do estado da qualidade
ambiental; VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da
obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos
VIII - recuperação de áreas degradadas; causados e, ao usuário, da contribuição pela
utilização de recursos ambientais com fins
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
econômicos.
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino,
inclusive a educação da comunidade, objetivando
capacitá-la para participação ativa na defesa do
meio ambiente.

A Lei 6.938 previu os instrumentos que podem ser utilizados para a execução na prática da PNMA pelos
órgãos responsáveis. Esses instrumentos são bem importantes e frequentemente cobrados em provas. Alguns
já estudamos nos tópicos anteriores (zoneamento, licenciamento e avaliação de impactos ambientais). A lista
de instrumentos da Lei 6.938 é a seguinte:

INSTRUMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

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Ciclos Método

I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

II - o zoneamento ambiental;

III - a avaliação de impactos ambientais;

IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;

V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia,


voltados para a melhoria da qualidade ambiental;

VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e
municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas
extrativistas; (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)

VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;

VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental;

IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à


preservação ou correção da degradação ambiental.

X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA; (Incluído pela Lei nº 7.804, de
1989)

XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a


produzi-las, quando inexistentes; (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989)

XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos
ambientais. (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989)

XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental e
outros. (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)

RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

O art. 225, § 3º, CF/88 prevê o seguinte:

Art. 225 (...) § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados.

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Ciclos Método

A Responsabilidade civil ambiental é objetiva, ou seja, independentemente da verificação de culpa,


previsto genericamente no parágrafo único do art. 927 do Código Civil e, de forma específica, na Lei nº 6.938/81.

- Teoria do risco integral: A responsabilidade por danos ambientais, além de ser objetiva, é regida pela
teoria do risco integral, nos termos do art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81, recepcionado pelo art. 225, §§ 2º, e 3º,
da CF/88:

Art. 14, §1º, Lei 6.938/81: Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a
terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor
ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

→ Excludentes do direito tradicional não serão aplicadas: caso fortuito e força maior; fato de terceiro ou licitude
da conduta.

A responsabilização em decorrência de um único dano ambiental, pode ser penal, civil e administrativa
(art. 225, §3º, da CF).

RESPONSABILIDADE PENAL = SUBJETIVA, COM BASE NA TEORIA DA CULPABILIDADE.

RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA = SUBJETIVA.

RESPONSABILIDADE CIVIL = OBJETIVA.

#SÓAFUCSALVA:

CLASSIFICAÇÃO DO DANO AMBIENTAL

É aquele em que um ou alguns dos componentes naturais do


Dano Ecológico Puro
Quanto à ecossistema é atingido de forma intensa;
amplitude do bem
Abrange todos os componentes do meio ambiente, inclusive
protegido Dano Ecológico Lato
o patrimônio cultural, protegendo-se, pois, o meio ambiente
Sensu
e todos os seus componentes, numa concepção unitária;

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Ciclos Método

Atinge pessoas individualmente consideradas e incide sobre


interesses próprios do lesado, pois o dano patrimonial ou
Dano individual
extrapatrimonial sofrido por uma pessoa, ou a doença
ambiental ou reflexo
contraída, inclusive a morte, podem decorrer de degradação
ambiental.

Diz respeito a interesses próprios, tanto os individuais


Dano ambiental de
quanto os individuais homogêneos. O interesse que sofreu
reparabilidade direta
lesão será indenizado diretamente;

Quanto à
Relaciona-se aos interesses difusos, coletivos e,
Reparabilidade
eventualmente, individuais de dimensão coletiva. A
Dano ambiental de reparação é dirigida preferencialmente ao bem ambiental
reparabilidade de interesse coletivo, considerando-se a capacidade
indireta funcional ecológica e a de aproveitamento humano do meio
ambiente. Não objetiva, pois, ressarcir interesses próprios e
pessoais.

Dano patrimonial
Incide sobre os bens materiais. Trata-se do dano material.
ambiental

Considerando à É o dano moral ocasionado à sociedade e/ou decorrente de


extensão do dano Dano lesão ao meio ambiente. Abrange o dano ambiental
extrapatrimonial extrapatrimonial coletivo (quando atingido o macrobem
ambiental ambiental) e o dano ambiental extrapatrimonial reflexo, a
título individual (quando se referir ao microbem ambiental).

Dano ambiental de
À coletividade interessa preservar o macrobem ambiental
interesse da
para as presentes e futuras gerações;
Interesses coletividade
objetivados Aquele que se reflete no interesse particular da pessoa,
Dano ambiental de
inclusive o de defender o macrobem, tutelado via ação
interesse individual
popular.

#AJUDAMARCINHO

ESPÉCIES DE DANO AMBIENTAL

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Ciclos Método

1) Dano em si 2) Dano remanescente 3) Dano interino


(residual)
(intercorrente)

Reparável preferencialmente É um dano residual, perene, É um dano intercorrente,


pela restauração do ambiente ao definitivo, permanente, que se intermediário, temporário,
estado anterior. protrai no tempo mesmo após provisório, que ocorre entre a
os esforços de recuperação in ocorrência da lesão em si e a
natura. reparação integral, haja ou não
dano remanescente.

Tem por objetivo promover o O dano residual compensa a O dano intercorrente compensa
retorno do status quo. natureza pela impossibilidade de a natureza pelos prejuízos
retorná-la ao estado anterior à causados entre o ato degradante
lesão. e sua reparação.

Os danos ambientais interinos (também chamados de intercorrentes, transitórios, temporários, provisórios


ou intermediários) não se confundem com os danos ambientais definitivos (residuais, perenes ou
permanentes). Os danos definitivos somente se verificam, e são indenizáveis em pecúnia, se a reparação integral
da área degradada não for possível em tempo razoável, após o cumprimento das obrigações de fazer. Seu marco
inicial, portanto, é o término das ações de restauração do meio ambiente. O marco inicial do dano intercorrente,
por sua vez, é a própria lesão ambiental. Seu marco final é o da reparação da área, seja por restauração in natura,
seja por compensação indenizatória do dano residual, se a restauração não for viável.
O dano residual compensa a natureza pela impossibilidade de retorná-la ao estado anterior à lesão. O dano
intercorrente compensa a natureza pelos prejuízos causados entre o ato degradante e sua reparação.
O poluidor deve não só devolver a natureza a seu estado anterior, mas reparar os prejuízos experimentados no
interregno, pela indisponibilidade dos serviços e recursos ambientais nesse período. STJ. 2ª Turma. REsp
1845200-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16/8/2022 (Info Especial 8).

#SELIGA: O Estado também pode ser responsabilizado por dano ambiental, sempre que for causado pelo próprio
Poder Público ou por concessionária de serviço público. Neste caso, é a responsabilidade objetiva, como dito
anteriormente. Esta a regra que está expressamente prevista no art. 37, § 6°, da Constituição. Vale ressaltar que
mesmo em condutas omissivas, a responsabilidade do Estado por dano ambiental continuará a ser objetiva.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR DANO AMBIENTAL

Objetiva: teoria do risco administrativo (art. 37, §6º, CF) – admite


Por Atos Comissivos (AÇÃO)
excludentes de nexo causal.

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Ciclos Método

Objetiva: teoria do risco integral (art. 14, §1º, Lei 6.938/81) – não
admite excludentes de nexo causal.

Objetiva: teoria do risco integral (art. 14, §1º, Lei 6.938/81) –


Por Atos Omissivos (OMISSÃO)
microssistema ambiental (Precedentes STJ).

A responsabilidade civil por dano ambiental é objetiva e solidária; nos casos em que o Poder Público
concorre para o prejuízo por omissão, a sua responsabilidade solidária é de execução subsidiária (ou com
ordem de preferência)

Caso adaptado: particulares desmataram vegetação nativa em área de preservação permanente para a
construção de casas. Mesmo após 6 anos, o Município não adotou providências para impedir a continuidade da
degradação ambiental e recuperação da área. Diante disso, o STJ reconheceu a responsabilidade do Município
diante de sua omissão. Essa responsabilidade é objetiva e solidária, mas de execução subsidiária (ou com ordem
de preferência). STJ. 2ª Turma. AREsp 1756656-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 18/10/2022 (Info 758).

O prazo prescricional da ação indenizatória, por danos causados em razão da construção de usina hidrelétrica,
inicia-se a partir da data em que o titular do direito toma conhecimento inequívoco do fato e da extensão de
suas consequências, nos termos do princípio da actio nata, podendo esse momento coincidir ou não com o do
alagamento do reservatório da usina hidrelétrica (dano ambiental).

As demandas indenizatórias ajuizadas com vistas à reparação de interesses de cunho individual e patrimonial,
devem sujeitar-se ao prazo prescricional trienal, estabelecido no art. 206, § 3º, V, do CC, o que afasta a tese de
dano ambiental contínuo. STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp n. 1.734.250/MA, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado
em 10/05/2021.

A omissão na fiscalização e mitigação dos danos ambientais enseja a imposição judicial de obrigações positivas
para o Município a fim de solucionar o problema cuja extensão temporal e quantitativa revela afronta à
dimensão ecológica da dignidade humana.

Caso concreto: ação civil pública foi ajuizada, em 2018, contra particular e o Município em razão de maus-tratos
identificados desde 2012 em abrigo clandestino de animais. A particular instalou o abrigo em área pública
abandonada. Na vistoria, que ocorreu 6 anos após a ocupação, havia 107 cães com diversos problemas. Firmado
termo de ajustamento de conduta, a área foi desocupada. Porém, verificou-se a mudança do canil clandestino
para outro imóvel, igualmente com problemas e sem licença. Nessa feita, identificou-se contaminação ambiental
do solo e instalação desautorizada de poço. Na ACP, buscou-se a determinação para o município acolher os
animais em local adequado, com acompanhamento veterinário e encaminhamento para doação ou destinação
a entidades de proteção.Não há que se falar em ilegitimidade passiva da municipalidade que, ciente dos fatos
por anos, deixou de tomar medidas efetivas para sua solução, penalizando os animais submetidos ao “abrigo”,
o que não pode mesmo ser tolerado, inclusive diante da dimensão ecológica da dignidade humana. STJ. 2ª
Turma. AREsp 2024982-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 14/06/2022 (Info 742).

A indenização de dano ambiental deve abranger a totalidade dos danos causados, não sendo possível ser
decotadas em seu cálculo despesas referentes à atividade empresarial (impostos e outras).
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Ciclos Método

Na origem trata-se de ação civil pública ajuizada pela União objetivando condenação dos réus na obrigação de
restauração de área degradada e ao pagamento de valor total do lucro obtido com a extração ilegal de areia e
argila. O Tribunal a quo fixou a indenização no montante de 50% (cinquenta por cento) do faturamento total da
empresa proveniente da extração irregular do minério, porquanto consideradas as despesas referentes à
atividade empresarial (impostos e outras). No entanto, a indenização deve abranger a totalidade dos danos
causados ao ente federal, sob pena de frustrar o caráter pedagógico-punitivo da sanção e incentivar a
impunidade de empresa infratora, que praticou conduta grave com a extração mineral irregular, fato
incontroverso nos autos. Na hipótese analisada, o valor indicado em sede administrativa é incontroverso,
encontrado após detida análise, inclusive mediante imagens de satélite, sendo o estimado como o de mercado
ao tempo da extração, a representar 100% do valor obtido com a extração ilegal, no que entende-se pela
desnecessidade de apuração em sede de liquidação de sentença. STJ. REsp 1.923.855-SC, Rel. Min. Francisco
Falcão, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 26/04/2022, DJe 28/04/2022. Info 734.

#NÃOSABOTEASSÚMULAS

Súmula 652-STJ: A responsabilidade civil da Administração Pública por danos ao meio ambiente, decorrente de
sua omissão no dever de fiscalização, é de caráter solidário, mas de execução subsidiária. STJ. 1ª Seção.

Súmula 613, STJ: “Não se admite a aplicação da teoria do fato consumado em tema de Direito Ambiental.”

Súmula 629-STJ: Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não
fazer cumulada com a de indenizar.

Súmula 623-STJ: As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do
proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.

Súmula 618-STJ: A inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental.

Súmula 467-STJ: Prescreve em cinco anos, contados do término do processo administrativo, a pretensão da
Administração Pública de promover a execução da multa por infração ambiental.

#SELIGANORESUMO:

RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AO MEIO AMBIENTE6

Art. 225, §1º, CF


Previsão Legal
Art. 14, §1º, Lei 6938/81

6
Rodrigues, Marcelo Abelha Direito ambiental / Marcelo Abelha Rodrigues / coord. Pedro Lenza - 8. ed. - São Paulo: Saraiva Educação,
2021. Ebook.

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Ciclos Método

Competência legislativa Concorrente entre União, Estados e DF (art. 24, inciso VIII, da CF/88.

Objetiva

Características Solidária

Reparação in natura

Dano Ambiental

Pressupostos Poluidor

Nexo de Causalidade

•Lesão ao equilíbrio ecológico = Poluição (art. 3°, III, da Lei n. 6.938/81).

• Atividade lícita ou ilícita.

•Dano difuso.

• Material (patrimonial) ou moral (social).


Dano Ambiental
• Imprescritível.

• Autônomo em relação aos danos pessoais (individuais ou coletivos) que


são consequência da lesão ao equilíbrio

ecológico.

• Art. 3o, IV, da Lei n. 6.938/81.

• Pessoas físicas ou jurídicas.


Poluidor
• Pessoas de direito público ou privado.

•Pessoas responsáveis direta ou indiretamente pela degradação ambiental.

•Ligação entre atividade poluente e a degradação ambiental.

• Teoria da causalidade adequada.

•Verificação in concreto:
Nexo de Causalidade
- presunção de que a atividade impactante é causadora do dano ao meio
ambiente (princípio da precaução);

- inversão do ônus da prova (art. 6°, VIII, do CDC, e art. 21 da LACP).

#SELIGANAJURIS:
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Ciclos Método

A empresa que efetua irregularmente a lavra de minério, enriquecendo-se ilicitamente, não pode pretender o
ressarcimento dos custos operacionais dessa atividade contra legem, sob o argumento de que a não
remuneração ensejaria o locupletamento sem causa da União. STJ. 1ª Turma.REsp 1860239-SC, Rel. Min. Sérgio
Kukina, julgado em 09/08/2022 (Info 746).

A omissão na fiscalização e mitigação dos danos ambientais enseja a imposição judicial de obrigações positivas
para o Município a fim de solucionar o problema cuja extensão temporal e quantitativa revela afronta à
dimensão ecológica da dignidade humana.

Caso concreto: ação civil pública foi ajuizada, em 2018, contra particular e o Município em razão de maus-tratos
identificados desde 2012 em abrigo clandestino de animais. A particular instalou o abrigo em área pública
abandonada. Na vistoria, que ocorreu 6 anos após a ocupação, havia 107 cães com diversos problemas. Firmado
termo de ajustamento de conduta, a área foi desocupada. Porém, verificou-se a mudança do canil clandestino
para outro imóvel, igualmente com problemas e sem licença. Nessa feita, identificou-se contaminação ambiental
do solo e instalação desautorizada de poço. Na ACP, buscou-se a determinação para o município acolher os
animais em local adequado, com acompanhamento veterinário e encaminhamento para doação ou destinação
a entidades de proteção.

Não há que se falar em ilegitimidade passiva da municipalidade que, ciente dos fatos por anos, deixou de tomar
medidas efetivas para sua solução, penalizando os animais submetidos ao “abrigo”, o que não pode mesmo ser
tolerado, inclusive diante da dimensão ecológica da dignidade humana.

STJ. 2ª Turma. AREsp 2024982-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 14/06/2022 (Info 742).

O novo proprietário assume o ônus de manter a integridade do ecossistema protegido, tornando-se responsável
pela recuperação, mesmo que não tenha contribuído para o desmatamento ou destruição, isto porque, inexiste
direito à degradação.

Como se sabe, a obrigação civil de reparar o dano ambiental é do tipo propter rem, porque, na verdade, a própria
lei já define como poluidor todo aquele que seja responsável pela degradação ambiental - e aquele que,
adquirindo a propriedade, não reverte o dano ambiental, ainda que não causado por ele, já é um responsável
indireto por degradação ambiental.

Consoante o art. 405 do CPC/2015, laudo, vistoria, relatório técnico, auto de infração, certidão, fotografia, vídeo,
mapa, imagem de satélite, declaração e outros atos elaborados por agentes de qualquer órgão do Estado
possuem presunção (relativa) de legalidade, legitimidade e veracidade, por se enquadrarem no conceito geral
de documento público, invertendo o ônus da prova.

Em época de grandes avanços tecnológicos, configuraria despropósito ou formalismo supérfluo negar validade
plena a imagens de satélite e mapas elaborados a partir delas. Ou, em casos de desmatamento apontados por
essas ferramentas altamente confiáveis, exigir a realização de prova testemunhal ou pericial para corroborar a
degradação ambiental. STJ. 2ª Turma. REsp 1778729/PA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 10/09/2019.

O dano social é uma nova espécie de dano reparável, que não se confunde com os danos materiais, morais e
estéticos, e que decorre de comportamentos socialmente reprováveis, que diminuem o nível social de
tranquilidade.
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Ciclos Método

Em uma ação individual, o juiz condenou o réu ao pagamento de danos morais e, de ofício, determinou que
pagasse também danos sociais em favor de uma instituição de caridade.

O STJ entendeu que essa decisão é nula, por ser “extra petita”.

Para que haja condenação por dano social, é indispensável que haja pedido expresso.

Vale ressaltar, no entanto, que, no caso concreto, mesmo que houvesse pedido de condenação em danos sociais
na demanda em exame, o pleito não poderia ter sido julgado procedente, pois esbarraria na ausência de
legitimidade para postulá-lo. Isso porque, na visão do STJ, a condenação por danos sociais somente pode ocorrer
em demandas coletivas e, portanto, apenas os legitimados para a propositura de ações coletivas poderiam
pleitear danos sociais.

Em suma, não é possível discutir danos sociais em ação individual.

STJ. 2ª Seção. Rcl 12062-GO, Rel. Ministro Raul Araújo, julgado em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 552).

6. Urbanismo. Meio ambiente urbano. Instrumentos urbanísticos de tutela do meio ambiente. A ética
ambiental e o Estatuto da Cidade 7. Bem jurídico ambiental. Direito do Ambiente: conceito, princípios, objeto,
instrumentos legais. Espaços ambientalmente protegidos. Sistema Nacional do Meio Ambiente. Tutela
administrativa do ambiente: poder de polícia, competência. Legislação ambiental de parcelamento do solo e
da cidade.

Em termos gerais, após o advento do Código Florestal, temos os seguintes espaços ambientais com
especial proteção:

Áreas de preservação permanente;

Apicuns e salgados;

Reserva legal;

Unidades de conservação;

Áreas verdes urbanas;

Áreas de uso restrito.

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ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – APP

Características

Segundo o art. 3º, II, do Código Florestal: APP - área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a
função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade,
facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

Incide na zona urbana ou rural.

Possui natureza jurídica de limitação administrativa:

Em função da localização (art. 4º)

→ Pelo efeito da lei;


→ Estão definidas em razão de sua localização e são automaticamente APPs.
Em função da destinação (art. 6º)

→ Depende de declaração de interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo.


Art. 6º, Código Florestal: Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas de interesse
social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação
destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades:

I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra e de rocha;

II - proteger as restingas ou veredas;

III - proteger várzeas;

IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção;

V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou histórico;

VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;

VII - assegurar condições de bem-estar público;

VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares.

IX - proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional. (Incluído pela Lei nº 12.727, de
2012).

Código Florestal define faixa não edificável a partir de curso d’água em áreas urbanas, não se aplicando os limites
menores previstos na Lei do Parcelamento do Solo Urbano.

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Na vigência do novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), a extensão não edificável nas Áreas de Preservação
Permanente de qualquer curso d'água, perene ou intermitente, em trechos caracterizados como área urbana
consolidada, deve respeitar o que disciplinado pelo seu art. 4º, caput, inciso I, alíneas a, b, c, d e e, a fim de
assegurar a mais ampla garantia ambiental a esses espaços territoriais especialmente protegidos e, por
conseguinte, à coletividade. STJ. 1ª Seção. REsp 1.770.760/SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
28/04/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1010) (Info 694).

RESERVA LEGAL

Art. 3º, III, Código Florestal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos
termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do
imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da
biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa;

Área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural delimitada nos termos do art. 12, com as
seguintes funções:

→ Assegurar o uso econômico sustentável dos recursos naturais;


→ Auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos;
→ Promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção da fauna silvestre e da
flora nativa.
Não mais exclui as áreas de preservação permanente (APP), como acontecia no Código Florestal revogado.
Mas pode ser admitido no cômputo da APP em determinadas hipóteses:

Art. 15, Código Florestal: Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do
percentual da Reserva Legal do imóvel, desde que:

I - o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo;

II - a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme comprovação do

proprietário ao órgão estadual integrante do Sisnama; e

III - o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental Rural - CAR, nos
termos desta Lei

A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei municipal não desobriga o proprietário
ou posseiro da manutenção da área de Reserva Legal.

Florestas = 80%
Amazônia Legal
Cerrado = 35%

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Campos gerais = 20%

Demais regiões do país 20%

#DEOLHONAJURIS

Responsabilidade do novo proprietário pela recuperação do ecossistema protegido, documento público de


comprovação e inversão do ônus da prova.

O novo proprietário assume o ônus de manter a integridade do ecossistema protegido, tornando-se responsável
pela recuperação, mesmo que não tenha contribuído para o desmatamento ou destruição, isto porque, inexiste
direito à degradação. Como se sabe, a obrigação civil de reparar o dano ambiental é do tipo propter rem, porque,
na verdade, a própria lei já define como poluidor todo aquele que seja responsável pela degradação ambiental
- e aquele que, adquirindo a propriedade, não reverte o dano ambiental, ainda que não causado por ele, já é um
responsável indireto por degradação ambiental. Consoante o art. 405 do CPC/2015, laudo, vistoria, relatório
técnico, auto de infração, certidão, fotografia, vídeo, mapa, imagem de satélite, declaração e outros atos
elaborados por agentes de qualquer órgão do Estado possuem presunção (relativa) de legalidade, legitimidade
e veracidade, por se enquadrarem no conceito geral de documento público, invertendo o ônus da prova. Em
época de grandes avanços tecnológicos, configuraria despropósito ou formalismo supérfluo negar validade
plena a imagens de satélite e mapas elaborados a partir delas. Ou, em casos de desmatamento apontados por
essas ferramentas altamente confiáveis, exigir a realização de prova testemunhal ou pericial para corroborar a
degradação ambiental. STJ. 2ª Turma. REsp 1778729/PA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 10/09/2019.

O conceito de unidade de conservação está no art. 2º, inciso I, da Lei 9985/2000, veja:

Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - unidade de conservação: espaço territorial e seus
recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente
instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de
administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.

#DEOLHONAJURIS:

É inconstitucional a redução ou a supressão de espaços territoriais especialmente protegidos, como é o caso das
unidades de conservação, por meio de medida provisória. Isso viola o art. 225, § 1º, III, da CF/88. Assim, a
redução ou supressão de unidade de conservação somente é permitida mediante lei em sentido formal. A
medida provisória possui força de lei, mas o art. 225, § 1º, III, da CF/88 exige lei em sentido estrito. A proteção
ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida provisória, ainda que não conste
expressamente do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da CF/88. STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel.
Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/4/2018 (Info 896).
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As unidades de conservação são divididas em dois grupos: unidades de proteção integral e unidades de
uso sustentável.

UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL

Aqui deve ser observada a manutenção de ecossistemas livres de alterações causadas por interferências
humanas, admitindo-se, em regra, o uso INDIRETO dos seus atributos naturais.

Lei 9985/00:

Art. 7 § 1o O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo admitido apenas
o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei.

Art. 8. O grupo das Unidades de Proteção Integral é composto pelas seguintes categorias de unidade de
conservação:

I - Estação Ecológica;

II - Reserva Biológica;

III - Parque Nacional;

IV - Monumento Natural;

V - Refúgio de Vida Silvestre.

UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL

Aqui a exploração do ambiente ocorre de maneira a garantir a perenidade dos recursos renováveis e dos
processos ecológicos, mantendo-se a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente
justa e economicamente viável. Art. 7º § 2o O objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é compatibilizar
a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.

Lei 9985/00:

Art. 14. Constituem o Grupo das Unidades de Uso Sustentável as seguintes categorias de unidade de
conservação:

I - Área de Proteção Ambiental;

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II - Área de Relevante Interesse Ecológico;

III - Floresta Nacional;

IV - Reserva Extrativista;

V - Reserva de Fauna;

VI – Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e

VII - Reserva Particular do Patrimônio Natural.

Unidades de Proteção Integral

Os ecossistemas deverão ser mantidos livres de alterações, admitindo-se, em regra, apenas o uso indireto
dos seus atributos naturais.

Visa a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas, sendo de


Estação Ecológica
propriedade pública, proibida visitação, exceto para fins educacionais.

Visa a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus


limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuando-se as
medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo
Reserva Biológica
necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os
processos ecológicos naturais. É de propriedade pública, proibida visitação pública,
exceto para fins educacionais.

Propriedade pública visa a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância


ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o
Parque Nacional desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação
em contato com a natureza e de turismo ecológico. Será chamado de parque estadual,
distrital ou municipal, se instituídos por esses entes.

Monumento Visa preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica. Admitida a
Natural visitação pública, podendo ser propriedade pública ou privada, se compatível.

Tem como objetivo proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a
Refúgio da Vida existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente
Silvestre ou migratória. Pode ser pública ou particular, se compatível, admitidas a visitação
pública e as pesquisas científicas, se autorizadas

Unidades de Uso Sustentável

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Será permitida a exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais
renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma
socialmente justa e economicamente viável.

Área pública ou privada, em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana,
dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes
Área de Proteção
para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e visa proteger a
Ambiental
diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade
do uso dos recursos naturais.

Área pública ou privada, em geral de pequena extensão, com pouca ou nenhuma


Área de
ocupação humana, com características naturais extraordinárias ou que abriga
Relevante
exemplares raros da biota regional, e tem como objetivo manter os ecossistemas
Interesse
naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de
Ecológico
modo a compatibilizá-lo com a conservação da natureza

Área pública com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem


Floresta Nacional como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa
científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas.

Área pública, utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-
se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação
Reserva de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida
Extrativista e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da
unidade. Essa área é concedida pelo Poder Público, via contrato. É permitida a visitação
pública e a pesquisa, sendo proibidas a exploração de recursos minerais e a caça.

Uma área natural pública com populações animais de espécies nativas, terrestres ou
aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-científicos sobre
Reserva de Fauna
o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos. É permitida a visitação pública,
sendo proibida a caça.

Área natural pública que abriga populações tradicionais, cuja existência baseia-se em
sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de
Reserva de
gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel
Desenvolvimento
fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica.
Sustentável
Permitidas a visitação e pesquisa. Essas populações tradicionais terão o direito ao uso
concedido pelo Poder Público através de contrato.

Reserva
Particular do Área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade
Patrimônio biológica, sendo apenas permitidas a pesquisa e a visitação.
Natural

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Com exceção da Área de Proteção Ambiental e da Reserva Particular de Patrimônio Nacional, essas
unidades deverão ter uma zona de amortecimento, a fim de minimizar os impactos negativos sobre a unidade.
Uma vez definida formalmente essa zona, não pode ser transformada em zona urbana.

São também previstos os corredores ecológicos: porções de ecossistemas naturais ou seminaturais,


ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota,
facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de
populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades
individuais. Também não são exigidas na Área de Proteção Ambiental e na Reserva Particular do Patrimônio
Natural. Nas demais unidades de conservação, haverá corredores ecológicos quando se mostrar conveniente.

Mosaico: conjunto de unidades de conservação de categorias diferentes ou não, próximas, justapostas


ou sobrepostas, e outras áreas protegidas públicas ou privadas, as quais deverão ser geridas de forma integrada
e participativa, considerando-se os seus distintos objetivos de conservação, de forma a compatibilizar a presença
da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o desenvolvimento sustentável no contexto regional.

Cada unidade contará com um plano de manejo, a ser elaborado no prazo máximo de 5 anos, que é um
documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, se
estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais,
inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade.

8. Patrimônio ambiental natural. Ar, Água, Solo, Flora, Fauna. Patrimônio ambiental cultural. Patrimônio
ambiental artificial. Patrimônio genético, biotecnologia e biossegurança. Política Nacional da Biodiversidade.
9. Licenciamento ambiental. Estudo prévio de impacto ambiental. EIA/RIMA. Tutela e

responsabilidade civil. Responsabilidade administrativa.

LICENCIAMENTO AMBIENTAL #APOSTACICLOS

O licenciamento ambiental é instrumento para execução da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei
6.938, art. 9º, IV). Consiste em manifestação do poder de polícia ambiental.

O licenciamento compreende todo o processo administrativo que tramita perante a autoridade


competente para licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental. Ou seja, não é

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necessário o licenciamento para toda e qualquer atividade ou empreendimento, mas apenas para aqueles
efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes de causar degradação ambiental.

#ATENÇÃO: Cuidado para não confundir o licenciamento ambiental com a licença ambiental. O licenciamento
é o processo. A licença é o ato administrativo que resulta desse processo e estabelece as condições, as restrições
e as medidas de controle ambiental a serem observadas pelo empreendedor

Em regra, não existe apenas uma licença ambiental, mas três, de acordo com o art. 8º da Resolução
CONAMA 237/97. A cada fase do procedimento de licenciamento ambiental corresponderá uma licença.
Constituindo assim um sistema trifásico. As espécies de licença são:

#APOSTACICLOS

Concedida na fase preliminar do planejamento do


empreendimento ou atividade aprovando sua
localização e concepção, atestando a viabilidade Validade: até 05
Prévia (LP)
ambiental e estabelecendo os requisitos básicos anos
e condicionantes a serem atendidos nas próximas
fases de sua implementação.
Licença ambiental

Autoriza a instalação do empreendimento ou


atividade de acordo com as especificações
constantes dos planos, programas e projetos Validade: até 06
De Instalação (LI)
aprovados, incluindo as medidas de controle anos
ambiental e demais condicionantes, da qual
constituem motivo determinante.

Autoriza a operação da atividade ou


empreendimento, após a verificação do efetivo
cumprimento do que consta das licenças Validade entre 04 a
De Operação (LO)
anteriores, com as medidas de controle 10 anos.
ambiental e condicionantes determinados para a
operação.

Vale dizer que se admite, ainda, a concessão de licença ambiental simplificada (art. 12, §2º da
Resolução 237 do CONAMA), em procedimento único. É cabível para autorização de funcionamento de
atividades e empreendimentos de pequeno potencial de impacto ambiental.

#ATENÇÃO!! Todavia, isso não significa que os demais entes federados possam editar normas
disciplinando de maneira mais simplificada sobre o licenciamento e, por consequência, em detrimento do meio
ambiente.

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#DEOLHONAJURIS

É inconstitucional a legislação estadual que, flexibilizando exigência legal para o desenvolvimento de


atividade potencialmente poluidora, cria modalidade mais simplificada de licenciamento ambiental. É
inconstitucional lei estadual que regulamenta aspectos da atividade garimpeira, nomeadamente, ao estabelecer
conceitos a ela relacionados, delimitar áreas para seu exercício e autorizar o uso de azougue (mercúrio) em
determinadas condições. STF. Plenário. ADI 6672/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 14/9/2021
(Info 1029).

É inconstitucional norma estadual que estabelece hipóteses de dispensa e simplificação


do licenciamento ambiental para atividades de lavra a céu aberto por invadir a competência legislativa da
União para editar normas gerais sobre proteção do meio ambiente, nos termos previstos no art. 24, §§ 1º e 2º,
da Constituição Federal. Vale ressaltar também que o estabelecimento de procedimento de licenciamento
ambiental estadual que torne menos eficiente a proteção do meio ambiente equilibrado quanto às atividades
de mineração afronta o caput do art. 225 da Constituição por inobservar o princípio da prevenção. STF.
Plenário. ADI 6650/SC, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/4/2021 (Info 1014).

Importante ressaltar o fato de que as licenças ambientais se sujeitam a prazos e, ao contrário das
licenças administrativas, não se incorporam ao patrimônio do outorgado. Isso porque a licença ambiental pode
ser suspensa, alterada ou até mesmo, em casos mais graves, cancelada.

Vale ressaltar também que a competência para exercer o poder de polícia e fiscalizar NÃO se confunde com o
poder de licenciar. Regra geral, todos os entes possuem competência para exercer o poder de polícia em matéria
ambiental. Porém, o licenciamento é realizado por um único ente federado – é vedado no Brasil o
licenciamento ambiental múltiplo (#COLANARETINA).

Se houver divergência entre autos de infração lavrados por órgãos diferentes, a LC 140 dá prioridade ao
órgão ambiental licenciador. Isso não impede que os demais entes federados continuem fiscalizando, apenas dá
preferência ao ente licenciador em caso de atuação concorrente.

E quem deve ser o órgão ambiental licenciador? Frederico Amado aponta dois principais critérios e um
critério residual:

a) Critério da dimensão do impacto ou dano ambiental: se o impacto for local (não ultrapassar as
fronteiras de um Município), o órgão ambiental competente para licenciar será do respectivo Município. Se o
impacto for estadual, a competência será do respectivo Estado. Por fim, se o impacto ultrapassar o território de
um Estado, a competência será da União (executada por intermédio do IBAMA).
b) Critério da dominialidade do bem público afetável: se o bem público afetado pelo empreendimento
for municipal, a competência será municipal. Se for estadual, a competência será do Estado. Se for federal, da
União (por intermédio do IBAMA).

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c) Critério da atuação supletiva: é um critério residual. Significa que quando o ente federado de menor
extensão não puder licenciar, o ente de maior abrangência o fará. #ATENÇÃO: não confundir ação supletiva com
ação subsidiária.
A ação do ente federativo substitui a do
ente originariamente competente. Não
Supletiva
precisa ser solicitada e independe da
aquiescência do ente substituído.
Atuação
A ação do ente da Federação visa a auxiliar
Subsidiária no desempenho das atribuições comuns.
Deve ser provocada.

Então, a leitura dos arts. 7º a 9º da LC 140, que tratam das competências para licenciar, deve ser
feita tendo por base esses critérios. Além disso, destaca-se que a competência dos Estados para licenciar é,
em regra, residual/remanescente. Já o Distrito Federal acumula as competências municipais e estaduais para
licenciar.

Por fim, como as licenças ambientais possuem prazos de validade, os empreendedores, caso
desejem, devem solicitar a renovação. O art. 14 da LC 140 prevê que a renovação deve ser solicitada ATÉ 120
DIAS ANTES do vencimento da licença, pois, sendo assim, se o órgão ambiental não se manifestar, considerar-
se-á renovada tacitamente a licença até manifestação definitiva do órgão competente. Na renovação também
é possível que órgão ambiental altere os prazos da licença de operação (LO), observados os limites mínimo e
máximo (04-10 anos).

ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL

Os estudos ambientais, também chamados de avaliação de impactos ambientais, estão previstos na


Lei 6.938/81, art. 9º, III, como instrumentos para execução da Política Nacional do Meio Ambiente. A doutrina
considera que os estudos ambientais são o gênero, dividindo-se nas seguintes espécies:

Estudo de Impacto
Ambiental (EIA)
Estudos
Ambientais
Relatório de Impacto
Ambiental (RIMA)

O EIA é a modalidade mais complexa e tem fundamento na própria CF/88 (art. 225, §1º, IV):

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#FOCONACF

Art. 225, § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

[...]

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

#COLANARETINA!

Quanto ao EIA, destacam-se as seguintes características:

a) PRÉVIO: deve ser elaborado antes da concessão da licença prévia. Isso se justifica em razão dos
princípios da precaução e da prevenção. Com isso, permite-se o acesso da comunidade ao seu
conteúdo.
b) Forma definida em lei: deve ser exigido pelo Poder Público de acordo com a forma prevista em lei.
c) Publicidade: não pode haver sigilo do EIA, salvo na hipótese de sigilo industrial.
d) Atividades que causem SIGNIFICATIVA degradação do meio ambiente: não é qualquer atividade que
necessitará da elaboração de um EIA, mas apenas aquela que causar significativa degradação
ambiental, de forma efetiva ou potencial. O art. 2º da Resolução n. 1 do CONAMA traz um rol dessas
atividades.
e) Ato vinculado: não há discricionariedade administrativa na interpretação acerca do impacto ambiental
significativo para fins de exigência do EIA ou não.
f) Responsabilidade pela elaboração: a responsabilidade de elaboração do EIA é do empreendedor, que
deve contratar uma equipe multidisciplinar e arcar com os custos.
g) Conteúdo MÍNIMO: diagnóstico ambiental da área de influência do projeto; análise dos impactos
ambientais e suas alternativas; definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos; elaboração
do programa de acompanhamento; monitoramento dos impactos positivos e negativos, indicando os
fatores e os parâmetros a serem considerados.
h) Conclusão: ao final do estudo, deve-se chegar à conclusão sobre a viabilidade ou não da implantação
do empreendimento. O órgão ambiental competente para licenciar não é vinculado à conclusão do
EIA.

Já o RIMA é o Relatório de Impacto ambiental, sendo um documento que contém as conclusões do


EIA. É comum ouvir ou ler a expressão “EIA-RIMA”, mas se trata de documentos distintos, em que pese
relacionados. O RIMA não está previsto diretamente na CF, mas apenas na Resolução n. 01 do CONAMA.

As principais características do RIMA são:

a) O RIMA é uma decorrência do EIA, pois contém as conclusões deste estudo.


b) A linguagem deve ser objetiva e adequada à sua compreensão pela população.
c) Conteúdo obrigatório mínimo: listado no art. 9º da Resolução n. 01 do CONAMA.
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d) NÃO pode ser submetido ao crivo de Assembleia Legislativa. O STF, na ADI 1.505, julgou
inconstitucional norma de Constituição estadual que submetia o RIMA ao crivo de comissão
permanente e específica da Assembleia Legislativa.
Além disso, é possível que o órgão ambiental licenciador submeta o EIA-RIMA à audiência pública,
concretizando o princípio da participação popular. Além dessa faculdade conferida ao órgão ambiental, também
será realizada a audiência pública quando solicitado pelo Ministério Público, por entidade civil ou por, no
mínimo, 50 cidadãos (#COLANARETINA). As observações feitas em sede de audiência pública NÃO serão
vinculantes.

10. Poluição da água. Poluição Atmosférica. Poluição visual. Poluição por resíduos sólidos. Poluição por
atividades nucleares. Agrotóxicos.

RESÍDUOS SÓLIDOS

Considera-se resíduo sólido o material cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede
pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em
face da melhor tecnologia disponível.

Área órfã contaminada: área contaminada cujos responsáveis pela disposição não sejam identificáveis ou
individualizáveis.

Destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a
compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos
competentes, entre elas a disposição final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar
danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos.

Rejeitos: resíduos sólidos são os que não apresentem outra possibilidade que não a disposição final
ambientalmente adequada.

Responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de atribuições individualizadas e
encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares
dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de
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resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à
qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos da Lei.

Logística Reversa: Instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de


ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor
empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final
ambientalmente adequada.

A logística reversa é caminho inverso na cadeia de produção. A LPNRS impôs que determinados
fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, se estruturem e implementem sistemas de logística
reversa, mediante retorno de alguns produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço
público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos.

Os produtos de retorno obrigatório são os seguintes:

• Agrotóxicos, seus resíduos e embalagens

• Pneus.

• Óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens.

• Lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista.

• Produtos eletroeletrônicos e seus componentes

Responsabilidade dos geradores e do poder Público

Lei 12305/10

Art. 25. O poder público, o setor empresarial e a coletividade são responsáveis pela efetividade das ações
voltadas para assegurar a observância da Política Nacional de Resíduos Sólidos e das diretrizes e demais
determinações estabelecidas nesta Lei e em seu regulamento.

Art. 28. O gerador de resíduos sólidos domiciliares tem cessada sua responsabilidade pelos resíduos com a
disponibilização adequada para a coleta ou, nos casos abrangidos pelo art. 33, com a devolução.

Art. 29. Cabe ao poder público atuar, subsidiariamente, com vistas a minimizar ou cessar o dano, logo que
tome conhecimento de evento lesivo ao meio ambiente ou à saúde pública relacionado ao gerenciamento de
resíduos sólidos.

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Parágrafo único. Os responsáveis pelo dano ressarcirão integralmente o poder público pelos gastos
decorrentes das ações empreendidas na forma do caput.

Seção II

Da Responsabilidade Compartilhada

Art. 30. É instituída a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a ser implementada
de forma individualizada e encadeada, abrangendo os fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes, os consumidores e os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos
sólidos, consoante as atribuições e procedimentos previstos nesta Seção.

(...)

Art. 31. Sem prejuízo das obrigações estabelecidas no plano de gerenciamento de resíduos sólidos e com vistas
a fortalecer a responsabilidade compartilhada e seus objetivos, os fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes têm responsabilidade que abrange:

I - investimento no desenvolvimento, na fabricação e na colocação no mercado de produtos:

a) que sejam aptos, após o uso pelo consumidor, à reutilização, à reciclagem ou a outra forma de destinação
ambientalmente adequada;

b) cuja fabricação e uso gerem a menor quantidade de resíduos sólidos possível;

II - divulgação de informações relativas às formas de evitar, reciclar e eliminar os resíduos sólidos associados a
seus respectivos produtos;

III - recolhimento dos produtos e dos resíduos remanescentes após o uso, assim como sua subsequente
destinação final ambientalmente adequada, no caso de produtos objeto de sistema de logística reversa na forma
do art. 33;

IV - compromisso de, quando firmados acordos ou termos de compromisso com o Município, participar das ações
previstas no plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, no caso de produtos ainda não inclusos no
sistema de logística reversa.

Art. 32. As embalagens devem ser fabricadas com materiais que propiciem a reutilização ou a reciclagem.

§ 1o Cabe aos respectivos responsáveis assegurar que as embalagens sejam:

I - restritas em volume e peso às dimensões requeridas à proteção do conteúdo e à comercialização do produto;

II - projetadas de forma a serem reutilizadas de maneira tecnicamente viável e compatível com as exigências
aplicáveis ao produto que contêm;

III - recicladas, se a reutilização não for possível.

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§ 2o O regulamento disporá sobre os casos em que, por razões de ordem técnica ou econômica, não seja viável
a aplicação do disposto no caput.

§ 3o É responsável pelo atendimento do disposto neste artigo todo aquele que:

I - manufatura embalagens ou fornece materiais para a fabricação de embalagens;

II - coloca em circulação embalagens, materiais para a fabricação de embalagens ou produtos embalados, em


qualquer fase da cadeia de comércio.

Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos
produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de
manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes
de: (Regulamento) (Vide Decreto nº 11.413, de 2023)

I - agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso,
constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou
regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do Suasa, ou em normas técnicas;

II - pilhas e baterias;

III - pneus;

IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;

V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;

VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes. (Regulamento)

(...)

Art. 36. No âmbito da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, cabe ao titular dos
serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, observado, se houver, o plano municipal
de gestão integrada de resíduos sólidos:

I - adotar procedimentos para reaproveitar os resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis oriundos dos serviços
públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos;

II - estabelecer sistema de coleta seletiva;

III - articular com os agentes econômicos e sociais medidas para viabilizar o retorno ao ciclo produtivo dos
resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis oriundos dos serviços de limpeza urbana e de manejo de resíduos
sólidos;

IV - realizar as atividades definidas por acordo setorial ou termo de compromisso na forma do § 7o do art. 33,
mediante a devida remuneração pelo setor empresarial;

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V - implantar sistema de compostagem para resíduos sólidos orgânicos e articular com os agentes econômicos
e sociais formas de utilização do composto produzido;

VI - dar disposição final ambientalmente adequada aos resíduos e rejeitos oriundos dos serviços públicos de
limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos.

§ 1o Para o cumprimento do disposto nos incisos I a IV do caput, o titular dos serviços públicos de limpeza
urbana e de manejo de resíduos sólidos priorizará a organização e o funcionamento de cooperativas ou de
outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas
de baixa renda, bem como sua contratação.

§ 2o A contratação prevista no § 1o é dispensável de licitação, nos termos do inciso XXVII do art. 24 da Lei
no 8.666, de 21 de junho de 1993.

11. Jurisprudência das Câmaras Reservadas ao Meio Ambiente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro. Jurisprudência dos Tribunais Superiores em matéria ambiental. Tutela jurisdicional do meio
ambiente.

JURISPRUDÊNCIA DAS CÂMARAS RESERVADAS AO MEIO AMBIENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

APELAÇÃO Nº 0042750-74.2021.8.19.0002 DESEMBARGADOR LUIZ FELIPE MIRANDA DE MEDEIROS FRANCISCO


RELATOR Dano ambiental. Entes públicos. Violação do dever de agir por omissão. Responsabilidade civil objetiva.
Teoria do risco integral. Aplicabilidade. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. PARQUE ESTADUAL DA SERRA
DA TIRIRICA. ALEGAÇÃO DE OMISSÃO, POR PARTE DO MUNICÍPIO DE NITERÓI E DO INEA, QUANTO À PRÁTICA
DE SUPRESSÃO E QUEIMA DE VEGETAÇÃO NATIVA DO BIOMA MATA ATLÂNTICA, NA ZONA DE
AMORTECIMENTO DO PARQUE ESTADUAL. COMPETÊNCIA COMUM DOS ENTES FEDERATIVOS NA PROTEÇÃO
DO MEIO AMBIENTE. ART. 23, VI, DA CRFB/1988. MEDIDAS ADMINISTRATIVAS INICIALMENTE ADOTADAS QUE
FORAM INSUFICIENTES PARA COIBIR O DANO AMBIENTAL. ENTES PÚBLICOS QUE VIOLARAM SEU DEVER DE AGIR
PARA IMPEDIR O DANO AO PERMANECEREM INERTES, CONTRIBUINDO, AINDA QUE INDIRETAMENTE, PARA O
SEU AGRAVAMENTO, A SUA CONSOLIDAÇÃO OU PERPETUAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA, COM
BASE NA TEORIA DO RISCO INTEGRAL, QUE SE APLICA INCLUSIVE AOS CASOS DE OMISSÃO. PRECEDENTES.
DESPROVIMENTO DE AMBOS OS RECURSOS.

APELAÇÃO Nº 0079583-77.2010.8.19.0002 DESEMBARGADORA CRISTINA TEREZA GAULIA RELATORA Ação civil


pública. Empreendimento imobiliário. Dano urbanístico ambiental. Ressarcimento ao erário.
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Imprescritibilidade das ações de natureza ambiental. Apelação cível. Remessa necessária. Agravo retido para
arguição de prescrição. Ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público em face de construtora responsável
pelo empreendimento imobiliário objeto da demanda e do Município de Niterói. Direito ambiental e urbanístico.
Imprescritibilidade da pretensão, tendo em vista a natureza dos bens tutelados na ação, o erário e o meio
ambiente, que não se reduz ao meio ambiente natural. Ordem urbanística que se insere no conceito legal de
meio ambiente. Impossibilidade de recomposição ao estado anterior que não desnatura o caráter ambiental da
tutela, visto que os recursos obtidos podem ser investidos na localidade para minimizar os danos ou em lugar
diverso a título de compensação e, ainda assim, se estará diante da tutela ambiental, em vista de sua natureza
permanente. Verba pecuniária que se destina à reorganização do espaço urbano, conforme expressa
determinação do art. 13 da Lei 7.347/1985, posto que deverá ser revertida ao fundo específico de reparação
ambiental. Aplicação do Tema 999 do STF, cuja tese vinculante determinou ser imprescritível a pretensão de
reparação civil de dano ambiental. Ainda que se tratasse de simples ressarcimento ao erário, o que não é o caso,
não se aplicaria à hipótese o Tema 666 do STF, que assentou ser prescritível a ação de reparação de danos à
Fazenda Pública decorrente de ilícito civil, vez que naquele julgado a prescrição tem como limite as hipóteses
em que o ilícito é civil, o que não acontece na presente demanda, que tem cunho ambiental-urbanístico, cuja
violação incidiu sobre direito público. Aplicação ampla do art. 37, § 5º, da CF/1988, que expressamente ressalva
da prescrição as ações de ressarcimento ao erário decorrentes de ilícitos, sem qualquer distinção acerca da
natureza destes, na esteira do entendimento assentado pelo STF e pelo STJ. Operações interligadas que têm
origem no Plano Diretor de Niterói (Lei Municipal nº 1.157/1992), permitindo a alteração de determinados
parâmetros de uso do solo, mediante contrapartidas calculadas proporcionalmente à valorização acrescida ao
empreendimento projetado. Lei Municipal nº 1732/1999 que, ao regulamentar as operações interligadas,
permitiu o aumento do gabarito de edificações mediante contrapartida de até 50% sobre a valorização do
terreno, em desconformidade com o art. 17 do Plano Diretor. Valor da contrapartida que passou a ser calculado
com base no valor do m² do solo, sofrendo considerável redução, e flexibilizando a eficácia do controle
ambiental. Arguição de inconstitucionalidade da Lei nº 1732/1999 junto ao Órgão Especial/ TJRJ, que declarou
a sua invalidade, com efeito ex tunc. Repristinação da Lei nº 1.157/1992 (Plano Diretor), para o cálculo da
contrapartida, com base na valorização do empreendimento projetado. Metodologia de cálculo incompleta.
Proporcionalidade da valorização acrescida ao empreendimento fixada em 50%. Razoabilidade adotada pelo
Judiciário. Dano moral coletivo não comprovado. Condenação da ré em honorários que se afasta, nos termos do
art. 18 da Lei nº 7.347/1985, pelo princípio da simetria. Sentença de parcial procedência que se reforma em
parte, em remessa necessária, apenas para afastar a condenação da ré em honorários. Desprovimento do agravo
retido e da apelação.

APELAÇÃO Nº 0003546-58.2021.8.19.0055 DESEMBARGADORA MARIA LUIZA DE FREITAS CARVALHO RELATORA


Construção de quiosque em faixa de proteção ambiental. Ausência de licenciamento. Tutela legal ao meio
ambiente. Demolição. Legítimo exercício da competência administrativa municipal. Apelação cível.
Administrativo e ambiental. Ação de obrigação de fazer objetivando a observância do contraditório e da ampla
defesa, pelo município, em sede de determinação/procedimento de retirada de quiosque instalado na Praia do
Sol, na Lagoa de Araruama, Município de São Pedro de Aldeia. Sentença de improcedência que considerou
legítimo e hígido o exercício do poder de polícia pelo município, consistente na adoção de medidas protetivas
ao meio ambiente. Quiosque construído na faixa de proteção ambiental da Lagoa de Araruama, e que não possui
licenciamento ambiental nem qualquer permissão/autorização de uso de bem público ou alvará para
funcionamento. Viabilização do exercício da ampla defesa/contraditório, que se constata quando da notificação
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do apelante para apresentar o “Termo de permissão (ou contrato de concessão) de uso de bem público”, o que
não foi cumprido pelo administrado. Ainda que assim não fosse, o ato administrativo de permissão ou concessão
de uso de bem público é ato unilateral, discricionário e precário por natureza, de modo que, ainda que existente
qualquer autorização de uso em favor do recorrente, a Administração Pública poderia revogá-la de acordo com
sua conveniência e oportunidade, e determinar a desocupação do local, ainda mais porque tal atuação constitui
legítimo cumprimento de condenação judicial em sede de ação civil pública, no sentido de efetivamente exercer
o poder de polícia em face das atividades potencialmente poluidoras em funcionamento em seu território, como
é o caso de quiosque edificado na faixa marginal de proteção da Lagoa de Araruama. Precedentes desta egr.
Corte Estadual. Quanto ao cabimento de medidas alternativas anteriores à demolição, não cabe ao Judiciário
imiscuir-se na seara da discricionariedade administrativa. Legítimo exercício da competência administrativa
municipal referente ao microssistema de tutela legal do meio ambiente. Sentença que corretamente concluiu
pela improcedência do pedido, por não vislumbrar qualquer mácula na atuação da Administração Pública.
RECURSO DESPROVIDO.

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0000300-46.2022.8.19.0014 DESEMBARGADORA HELDA LIMA MEIRELES


RELATORA Fornecimento de sacolas plásticas por estabelecimentos comerciais. Lei Estadual nº 8.473/2019.
Possibilidade de cobrança. Lei municipal que determinou oferta gratuita, invadindo a competência da União e
do Estado para legislar sobre produção e consumo. Impossibilidade. APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PROCESSUAL
CIVIL E CONSTITUCIONAL. SACOLAS PLÁSTICAS FORNECIDAS EM MERCADOS. LEGISLAÇÃO MUNICIPAL QUE
PREVÊ A PROIBIÇÃO DA COBRANÇA PELO FORNECIMENTO. PRETENSÃO NO SENTIDO DE QUE A
MUNICIPALIDADE SE ABSTENHA DE EXIGIR O CUMPRIMENTO DE TAL NORMA, E DE QUE SE SUSPENDAM OS
EFEITOS DE ATOS FISCALIZATÓRIOS. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. Tema nº 145 do STF. Legislação estadual nº
8.473/2019, que, ao dispor que “as sacolas e/ou sacos plásticos reutilizáveis/recicláveis (...) poderão ser
distribuídos mediante cobrança máxima de seu preço de custo”, pretendeu dar ao estabelecimento comercial a
opção da cobrança, considerando a imposição de novo custo à sua atividade comercial pela exigência de
utilização de material específico para as sacolas/sacos plásticos. Dessa forma, tendo em vista a existência de
normatização específica estadual dispondo sobre o fornecimento de sacolas/sacos por estabelecimentos
comerciais, a restrição do exercício de uma faculdade nela estabelecida (“poderão”), implica sua violação.
Consequentemente, a lei municipal não se harmoniza com a proteção ao meio ambiente a que se propõe a
legislação estadual, contrariando princípios nela assegurados. Dissonância da lei questionada com os princípios
constitucionais aplicáveis. Precedente do Órgão Especial deste TJRJ, que declarou inconstitucional legislação
similar. RECURSO DESPROVIDO.

GRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0047192-55.2022.8.19.0000 DESEMBARGADORA MÔNICA FELDMAN DE MATTOS


RELATORA Construções irregulares. Parque estadual. Direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado. Responsabilidade solidária do Estado e do Município. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. MUNICÍPIO DE CABO FRIO. ESTADO DO RIO DE JANEIRO. DIREITO FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE
ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO. CONSTRUÇÕES IRREGULARES NO PARQUE ESTADUAL DA COSTA DO SOL.
RELATÓRIOS QUE APONTAM AS CONDIÇÕES PRECÁRIAS EM QUE VIVEM OS OCUPANTES, SEM ACESSO A
QUALQUER SERVIÇO PÚBLICO. DECISÃO AGRAVADA QUE DETERMINOU AO AGRAVANTE E AO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO A REALIZAÇÃO DE ESTUDO SOCIAL DOS NÚCLEOS FAMILIARES OCUPANTES, BEM COMO FOSSEM
PRESTADAS INFORMAÇÕES QUANTO À POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO DESSAS FAMÍLIAS NOS PROGRAMAS
ESTADUAIS E MUNICIPAIS DE HABITAÇÃO. INSURGÊNCIA MUNICIPAL. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE

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RESPONSABILIDADE, POR TRATAR-SE DE PARQUE ESTADUAL. DESCABIMENTO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA.


ART. 225 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. COMPETÊNCIA COMUM - ART. 23, VI E VII, CRFB/1988. PARQUES
NATURAIS QUE SÃO ESPÉCIES DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO. MUNICÍPIO QUE INTEGRA O SNUC (LEI
9.985/2000), TENDO AINDA O DEVER DE FISCALIZAÇÃO (LC 140/2011). PRESENTE, AINDA, O INTERESSE LOCAL
POR ABRANGER O PARQUE TERRITÓRIO MUNICIPAL. ADEMAIS, A ACP NÃO BUSCA TUTELAR APENAS O MEIO
AMBIENTE, MAS TAMBÉM AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL QUE OCUPAM
IRREGULARMENTE A ÁREA. ENTRETANTO, NO CASO ESPECÍFICO DOS AUTOS (REFERENTE À CASA 14, RUA
GURIRI), A DILIGÊNCIA CITATÓRIA CONSTATOU QUE O IMÓVEL SE ENCONTRA FECHADO, TORNANDO
IMPOSSÍVEL, NO PRESENTE MOMENTO, O CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO. POR OUTRO LADO, ASSISTE RAZÃO
AO ENTE AGRAVANTE QUANTO À EXISTÊNCIA DE CONEXÃO. MPERJ QUE OPTOU POR AJUIZAR DIVERSAS AÇÕES,
AS QUAIS FORAM DISTRIBUÍDAS AOS JUÍZOS CÍVEIS DA COMARCA DE CABO FRIO. RISCO DE DECISÕES
CONFLITANTES. PREVENÇÃO DO JUÍZO DA 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE CABO FRIO, PERANTE O QUAL
DEVERÃO SER AS AÇÕES REUNIDAS PARA INSTRUÇÃO E JULGAMEN TO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. AÇÃO DE PROCEDIMENTO COMUM. PEDIDO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER EM
CÚMULO SUCESSIVO COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PUBLICAÇÃO DE MATÉRIA JORNALÍSTICA
SUPOSTAMENTE OFENSIVA À HONRA DO AUTOR. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. IRRESIGNAÇÃO.
INOCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO À HONRA E À IMAGEM DO AUTOR. TEXTO JORNALÍSTICO COM NÍTIDO CARÁTER
INFORMATIVO, SEM QUALQUER CONTEÚDO INJURIOSO OU OFENSIVO. SIMPLES VEICULAÇÃO DE
INFORMAÇÕES VERDADEIRAS E FIDEDIGNAS, CONSTANTES DE DOCUMENTOS E CADASTROS OFICIAIS QUE,
EMBORA DIGAM RESPEITO AO HOMÔNIMO DO AUTOR, NÃO CONDUZ À AUTOMÁTICA ILICITUDE DA MATÉRIA
JORNALÍSTICA. AUSÊNCIA DE EXCESSO OU ABUSIVIDADE NA DIVULGAÇÃO. LIBERDADE DE INFORMAÇÃO E DE
IMPRENSA CONSTITUCIONALMENTE ASSEGURADAS. RETRATAÇÃO INDEVIDA. SENTENÇA QUE SE MANTÉM.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

APELAÇÃO Nº 0010319-70.2017.8.19.0052 DESEMBARGADOR CHERUBIN HELCIAS SCHWARTZ JUNIOR RELATOR


Loteador. Degradação do meio ambiente. Dano ambiental. Responsabilidade objetiva. Obrigação propter rem.
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA EM FACE DE LOTEADOR. LICENÇA
AMBIENTAL. DISCRICIONARIEDADE. 1. A licença ambiental é autorização, consoante estabelece o artigo 170,
parágrafo único, da Constituição. 2. Fatos incontroversos quanto à obtenção da Licença de Instalação pelo
demandado junto à FEEMA, bem como de autorização do Município de Araruama para a retirada da vegetação
rasteira, bem como informação junto à FEEMA, de conclusão do empreendimento. 3. Concessão de licença que
não autoriza o proprietário a degradar o meio ambiente. Inexistência de direito adquirido à degradação
ambiental. Alegação de conclusão da obra que não afasta o dever de preservação. 4. Entendimento
jurisprudencial acerca do tema é de que o legislador, no que se refere à posição intangível e ao caráter non
aedificandi da Área de Preservação Permanente - APP, nela interditando ocupação ou construção, com
pouquíssima sequer a área é atendida pelos serviços essenciais - água e energia elétrica. 5. Responsabilidade do
proprietário pelos danos causados. Entendimento consolidado do E. STJ. Alegação de que o imóvel não é de sua
exclusiva propriedade que não pode ser acolhida, já que sequer indica quem são os coproprietários ou mesmo
afirma ou prova que a degradação ocorreu em imóvel de terceiro. 6. Responsabilidade por dano ambiental é
objetiva. Obrigação propter rem. Inexistência de excludentes que autorizam afastar a responsabilidade civil.
Recurso conhecido e provido, nos termos do voto do Desembargador Relator. Leia o inteiro teor s exceções
(casos de utilidade pública e interesse social), o que não se configura no caso dos autos, eis que sequer a área é
atendida pelos serviços essenciais - água e energia elétrica. 5. Responsabilidade do proprietário pelos danos
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causados. Entendimento consolidado do E. STJ. Alegação de que o imóvel não é de sua exclusiva propriedade
que não pode ser acolhida, já que sequer indica quem são os coproprietários ou mesmo afirma ou prova que a
degradação ocorreu em imóvel de terceiro. 6. Responsabilidade por dano ambiental é objetiva. Obrigação
propter rem. Inexistência de excludentes que autorizam afastar a responsabilidade civil. Recurso conhecido e
provido, nos termos do voto do Desembargador Relator.

Risco de deslizamento de terra. Área habitada. Responsabilidade municipal. Comprovação. Reparação e


prevenção de danos ambientais. Solidariedade com o Estado do Rio de Janeiro. APELAÇÃO CÍVEL. REEXAME
NECESSÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITO AMBIENTAL. RISCOS DE DESMORONAMENTO DE ENCOSTA COM
OCUPAÇÕES IRREGULARES. POLUIÇÃO HÍDRICA, ESGOTO IN NATURA. LAUDO PERICIAL. MANUTENÇÃO DAS
CONSTRUÇÕES. CONTENÇÃO DAS ENCOSTAS. RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DO MUNICÍPIO. - Inicialmente,
cumpre rejeitar a preliminar arguida pelo município, de modificação do pedido, violando o princípio da
estabilização da demanda, do contraditório e da ampla defesa. Sentença que aborda alteração do pedido inicial,
alegando que “não haveria óbice intransponível à luz da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça”.
Precedente do Superior Tribunal de Justiça. §2º do artigo 322, e artigo 497 do Código de Processo Civil. -
Instrução probatória realizada que identificou que a melhor medida a ser adotada é a manutenção dos
moradores na localidade, sendo imprescindível a realização de obras com o escopo de garantir a vida das
pessoas que ali vivem. - Ademais, foi conferida ao Município do Rio de Janeiro a possibilidade de contestar os
fatos apresentados ao longo da lide, inclusive o laudo elaborado pela Fundação Geo-Rio, não se cogitando,
portanto, em ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa. Ante a ausência de prejuízo, deve ser
prestigiado o princípio pas de nullité sans grief. - Entendimento do Superior Tribunal de Justiça, que, “nas ações
civil públicas, em relação aos danos ambientais, não existe a obrigatoriedade de litisconsórcio passivo necessário
entre os eventuais corresponsáveis, sendo em regra hipótese de litisconsórcio facultativo” (AgInt REsp nº
1.860.338/AM, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, segunda turma, DJe 11/2/2021), não prosperando tese do
apelante de existência de litisconsórcio passivo necessário do INEA e do proprietário do bem. - Responsabilidade
prevista na Lei Complementar 140/2011, que prevê a cooperação entre os entes em matéria de competência
comum ambiental. - Municipalidade que defende que os custos das obras de contenção devem ser arcados pelo
Estado do Rio de Janeiro. - Inserida em zona de amortecimento de parque estadual, há atribuição municipal de
ordenamento do solo urbano e da contenção de encostas. Artigo 30, VIII, e 182, caput, da CRF; artigos 30, XIX,
“d”, e 422, §1º, da LOMRJ; artigos 220, III, 223; 318; 319 da LC MRJ 111/2011; artigo 229 da CERJ; artigo 3º-B da
Lei nº 12.340/2010; artigo 2º, VI, “h”, da Lei nº 10.257/2001. - Acrescente-se que, quando da aprovação do plano
de manejo do Parque Estadual da Pedra Branca, inclusive, com a denominada zona de amortecimento, as
ocupações irregulares já se encontravam no local, demonstrando a omissão da municipalidade. - Caracterização
da responsabilidade municipal comprovada nos autos, em solidariedade, com o Estado do Rio de Janeiro, haja
vista que a demanda em tela tem por escopo a reparação e a prevenção de danos ambientais, causados por
possíveis deslizamentos de terra em área habitada. DESPROVIMENTO DO RECURSO. CONFIRMAÇÃO DA
SENTENÇA EM REEXAME NECESSÁRIO.

APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA Nº 0001648-07.2017.8.19.0069 DESEMBARGADOR JEAN ALBERT DE SOUZA


SAADI RELATOR Ação civil pública. Licenciamento ambiental. Omissão dos órgãos fiscalizadores municipais.
Comprovação. APELAÇÃO CÍVEL / REMESSA NECESSÁRIA. Direito Ambiental e Administrativo. Ação Civil Pública
para Tutela do Meio Ambiente. Alegação autoral de que diversas atividades sujeitas ao licenciamento ambiental
são exercidas no território do município réu sem a expedição das necessárias licenças, restando evidenciada a

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Ciclos Método

completa omissão dos órgãos fiscalizadores municipais. Sentença de procedência. Inconformismo do município.
Preliminar de irregularidade passiva da demanda que se afasta, tendo em vista que o pleito autoral para a
condenação do réu em obrigação de fazer abrange, tão somente, as competências municipais, sendo, por essa
razão, desnecessária a inclusão do Estado do Rio de Janeiro no polo passivo da presente demanda. Carta Magna
brasileira que consagra, em seu art. 225, § 3º, o direito fundamental à proteção ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, atribuindo a todos, Poder Público e coletividade, a responsabilidade de
preservação da sadia qualidade de vida para a presente e para as futuras gerações. Documentação que instrui a
exordial, enumerando infrações ambientais que persistiram, por falta do exercício do poder de polícia
ambiental, por parte do município apelante. Sentença bem fundamentada. Inércia municipal constatada.
Incabível, em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público, a condenação do réu sucumbente ao
pagamento de honorários advocatícios em favor do Parquet, conforme entendimento firmado pelo STJ. No
tocante à taxa judiciária, incabível a isenção no presente caso, conforme o enunciado sumular nº 145 deste
TJERJ, bem como o enunciado nº 42 do FETJ. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. REFORMA PARCIAL DA
SENTENÇA EM REEXAME NECESSÁRIO.

JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA

É constitucional norma estadual que veda a pulverização aérea de agrotóxicos na agricultura local e sujeita o
infrator ao pagamento de multa. Essa norma representa maior proteção à saúde e ao meio ambiente se
comparada com as diretrizes gerais fixadas na legislação federal. Além disso, essa norma estabelece restrição
razoável e proporcional às técnicas de aplicação de pesticidas. Os Estados-membros podem editar normas mais
protetivas à saúde e ao meio ambiente quanto à utilização de agrotóxicos. STF. Plenário. ADI 6137/CE, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 29/05/2023 (Info 1096).

É inconstitucional — por violar a competência da União privativa para legislar sobre telecomunicações (CF/1988,
art. 22, IV) e exclusiva para explorar esses serviços (CF/1988, art. 21, XI) — norma estadual que institui a
obrigatoriedade de licenciamento ambiental para a instalação de Rede de Transmissão de Sistemas de Telefonia
e de Estações Rádio Base (ERBs) e Equipamentos de Telefonia sem Fio em seu território local.ADI 7.321/AL,
relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 2.6.2023 (sexta-feira), às 23:59 (Info 1097 -
STF)

É inconstitucional — por configurar retrocesso institucional e socioambiental, dada sua incompatibilidade com
o modelo da democracia constitucional e violação a preceitos fundamentais — o Decreto 9.806/2019 que, sob
a justificativa da liberdade de conformação decisória administrativa, foi editado para dispor sobre regras de
composição e funcionamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e promoveu alterações
quanto à representação de seus membros e ao seu processo decisório.ADPF 623/DF, relatora Ministra Rosa
Weber, julgamento virtual finalizado em 19.5.2023 (sexta-feira), às 23:59 (Info 1096 - STF)

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Ciclos Método

É constitucional — por representar norma mais protetiva à saúde e ao meio ambiente do que as diretrizes gerais
da legislação federal, bem como estabelecer restrição razoável e proporcional às técnicas de aplicação de
pesticidas — norma estadual que veda a pulverização aérea de agrotóxicos na agricultura local e sujeita o
infrator ao pagamento de multa.ADI 6.137/CE, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em
26.5.2023 (sexta-feira), às 23:59 (Info 1096 - STF)

No Brasil, as únicas instituições legalmente autorizadas a comprar e vender ouro são as Distribuidoras de Títulos
e Valores Mobiliários (DTVMs). O art. 39, § 4º, da Lei nº 12.844/2013, reduziu a responsabilidade das DTVMs na
aquisição do ouro porque afirma que a distribuidora, quando compra esse metal precioso, precisa apenas confiar
nas informações prestadas pelo vendedor:

Art. 39 (...) § 4º Presumem-se a legalidade do ouro adquirido e a boa-fé da pessoa jurídica adquirente quando
as informações mencionadas neste artigo, prestadas pelo vendedor, estiverem devidamente arquivadas na
instituição legalmente autorizada a realizar a compra de ouro.

O STF, ao analisar medida cautelar, entendeu que essa previsão é inconstitucional.

O dispositivo impugnado, ao modificar o processo de compra de ouro e passar a presumir a legalidade de sua
aquisição e a boa-fé do adquirente, viola o dever de proteção do meio ambiente (art. 225, CF/88), por fragilizar
a efetividade do controle do garimpo.

As normas quefacilitam o processo de aquisição de ouro geram aumento das atividades degarimpo ilegal, com
repercussão para degradação ambiental em áreas deproteção, em prejuízo à saúde da população indígena, além
de ocasionar o aumento da violência nas regiões garimpeiras. STF. Plenário. ADI 7.273 MC-Ref/DF e ADI 7.345
MC-Ref/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 3/5/2023 (Info 1092).

Como regra, a criação de Parque Nacional (arts. 8º e 11 da Lei 9.985/2000), importa desapropriação indireta,
considerando a transferência da propriedade do imóvel para o expropriante, sendo reconhecido o direito à justa
indenização.

O § 1º do art. 1º da Lei nº 9.985/2000 assevera que “O Parque Nacional é de posse e domínio públicos, sendo
que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei”.

Vale ressaltar, contudo, que o pagamento da indenização permitirá a afetação do bem (pousada) ao domínio
público, com todos os consectários decorrentes de tal ato, como a translação do domínio no competente
registro imobiliário. STJ. 1ª Turma.REsp 1.340.335-CE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 18/4/2023 (Info
772).

A multa aplicada pela Capitania dos Portos, em decorrência de derramamento de óleo, não exclui a possibilidade
de aplicação de multa pelo Ibama. Caso adaptado: houve um acidente com um navio atracado, ocasionando o
vazamento de óleo no mar. O IBAMA autuou a proprietária do navio, em razão de ela ter deixado de adotar
medidas para conter/minorar o dano ambiental, após o acidente (Lei nº 9.605/98).

A Capitania dos Portos (órgão da União) também multou a empresa, tendo como fundamento o fato de a
autuada ter lançado ao mar substâncias proibidas pela legislação que rege a matéria (Lei nº 9.966/2000).

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Não há bis in idem porque a competência da Capitania dos Portos não exclui, mas complementa, a legitimidade
fiscalizatória e sancionadora dos órgãos de proteção ao meio ambiente. Ademais, o fundamento fático-jurídico
das multas aplicadas é diverso. STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 2032619-PR, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado
em 13/3/2023 (Info 768).

12. Instrumentos processuais da tutela ambiental. Inquérito civil. TAC. Ação civil pública. Ação popular
constitucional. Mandado de segurança coletivo. Mandado de injunção. Ação penal pública ambiental.

TUTELA POPULAR DO MEIO AMBIENTE

A ação popular está prevista no art. 5, inciso LXXIII, da CF, constituindo uma garantia constitucional com
natureza de cláusula pétrea.

Art. 5o (...) LXXIII — qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato

lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas
judiciais e do ônus da sucumbência.

Somente poderá ser autor da ação popular o cidadão, assim considerado o brasileiro nato ou
naturalizado, desde que esteja no pleno gozo de seus direitos políticos, provada tal situação (e como requisito

essencial da inicial) pelo título de eleitor, ou documento que a ele corresponda. Aquele entre 16 e 18 anos de
idade, que tem título de eleitor, pode ajuizar a ação popular sem a necessidade de assistência, porém, sempre
por advogado (capacidade postulatória). No polo passivo, figurarão o agente que praticou o ato, a entidade
lesada e os beneficiários do ato ou contrato lesivo ao patrimônio público.

O art. 6.º, § 3.º, da lei permite que a pessoa jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato
seja objeto de impugnação, abstenha-se de contestar o pedido ou atue ao lado do autor, desde que isso se
afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal ou dirigente.

O Ministério Público funciona como fiscal da ordem jurídica, mas se o autor popular desistir da ação

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Ciclos Método

poderá promover o seu prosseguimento (art. 9.º da lei). Cabe alertar que a competência para julgar ação popular
contra ato de qualquer autoridade, até mesmo do Presidente da República, é, em regra, do juízo competente
de primeiro grau.

A coisa julgada se opera secundum eventum litis, ou seja, se a ação for julgada procedente ou
improcedente por ser infundada, produzirá efeito de coisa julgada oponível erga omnes. No entanto, se a
improcedência se der por deficiência de provas, haverá apenas a coisa julgada formal, podendo qualquer
cidadão intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova (art. 18 da lei), já que não terá
sido analisado o mérito.

Julgada improcedente a ação (arts. 485 e 487 do CPC/2015), só produzirá efeitos depois de passar pelo
duplo grau obrigatório de jurisdição. Julgada procedente, a apelação será recebida no seu duplo efeito:

devolutivo e suspensivo (art. 19 da lei). O autor da ação popular é isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência, salvo comprovada má-fé.

#SELIGA: Caso o autor (cidadão) desista da ação ou dê motivo à absolvição da instância, serão publicados editais
para que qualquer cidadão assuma a ação. Se em 90 dias ninguém aparecer, o Ministério Público promoverá o
prosseguimento da ação.

#ATENÇÃO: O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento consolidado segundo o qual é possível a
cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar nos casos de lesão ao meio ambiente, contudo,
a necessidade do cumprimento de obrigação de pagar quantia deve ser aferida em cada situação analisada. STJ.
1ª Turma. AgInt no REsp 1538727/SC, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 07/08/2018.

AÇÃO POPULAR7

•Ato inválido (nulo, anulável ou inexistente).

•Ato lesivo.

REQUISITOS •Características do ato:


FUNDAMENTAIS - vinculado ou discricionário;

- omissivo ou comissivo;

- controle de políticas públicas.

LEGITIMIDADE •Ativa: cidadão (art. 1°, § 3°, da Lei n. 4.717/65).

7
Rodrigues, Marcelo Abelha Direito ambiental / Marcelo Abelha Rodrigues / coord. Pedro Lenza - 8. ed. - São Paulo:
Saraiva Educação, 2021. Ebook.

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Ciclos Método

•Passiva: litisconsórcio necessário e simples (art. 6° da Lei n. 4.717/65):

- pessoa jurídica de direito público ou com função pública;

- autoridades, funcionários ou administradores;

- beneficiários diretos do ato.

- Intervenção móvel da pessoa jurídica.

•Atua como fiscal da lei (art. 6°, § 4°);

• não pode assumir a defesa do ato impugnado.

MINISTÉRIO PÚBLICO •Pode prosseguir como autor em caso de abandono ou desistência da ação
(art. 9° da Lei n. 4.717/65).

•Deve proceder à execução caso o autor popular ou a pessoa jurídica de


direito público não o façam em 60 dias (art. 16 da Lei n 4.717/65).

• Cumulação sucessiva de pedidos (art. 11 da Lei n. 4.717/65):

PEDIDO - decretação da invalidade (sentença constitutiva);

- ressarcimento da lesão (sentença condenatória).

• Requisitos:

LIMINAR - fumus boni iuris;

- periculum in mora.

• Local do ato:

- Justiça Federal (União) ou Estadual;

- Vara da Fazenda Pública Estadual ou Municipal;


COMPETÊNCIA
• competência territorial;

• 1o grau.

• Prevenção: propositura da demanda.

Procedimento comum ordinário, com modificações.

PROCEDIMENTO • Documentos necessários à propositura da demanda:

- cidadão: requerimento à pessoa jurídica:

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Ciclos Método

• prazo: 15 dias.

• negativa: sigilo:

• juiz requisita;

- prazo: 15 a 30 dias;

- segredo de justiça;

- pena de desobediência.

•Citação por edital: requisitos do art. 231 do CPC.

• Resposta do réu:

- prazo: 20 dias, prorrogáveis por mais 20;

• litisconsortes com diferentes advogados: prazo em dobro;

• exceções: cabíveis;

• reconvenção: não cabe.

• Julgamento antecipado da lide.

Cidadão: isento:
CUSTAS E ÔNUS DE
• salvo má-fé, quando paga o décuplo das custas e honorários.
SUCUMBÊNCIA
• Réus e pessoa jurídica: pagam ao final.

•Sentença de improcedência ou de carência: remessa necessária;

RECURSOS E REMESSA - legitimidade para recorrer: qualquer cidadão ou Ministério Público.


NECESSÁRIA •Sentença de procedência: apelação com efeito suspensivo.

•Decisão interlocutória: agravo de instrumento.

• Prazo: 5 anos.

• Não afeta outras demandas coletivas.

PRESCRIÇÃO • Início:

- publicidade do ato.

- execução da lei de efeitos concretos.

COISA JULGADA Secundum eventum probations:

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NFPSS | RETA FINAL – TJ/RJ
Ciclos Método

• em caso de improcedência por insuficiência de provas, qualquer cidadão


pode intentar novamente a mesma demanda, desde que se valha de nova
prova.

Concursos 360.

Buscador Dizer o Direito.

Direito Ambiental. Sinopses para Concursos. Frederico Amado.

FUCs Ciclos.

NFPSS – RETA FINAL TJ/RJ

DIREITO PROCESSUAL PENAL8

I – Do processo penal em geral. Princípios Constitucionais e fontes do processo penal.

PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL

1. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

Trata-se de um desdobramento do princípio do devido processo legal, consagrando-se como um dos mais
importantes alicerces do Estado de Direito.

Art. 5º, LVII, CF - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

Regra probatória (in dubio pro reo): A parte acusadora tem o ônus de demonstrar a culpabilidade do acusado
além de qualquer dúvida razoável. Recai exclusivamente sobre a acusação o ônus da prova.

Regra de tratamento: A privação cautelar da liberdade, sempre qualificada pela excepcionalidade, somente se
justifica em hipóteses estritas, ou seja, a regra é responder ao processo penal em liberdade; a exceção é estar
preso ou sofrer medidas cautelares diversas da prisão.

#DEOLHONAJURIS
O cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos. O art. 283 do CPP,
que exige o trânsito em julgado da condenação para que se inicie o cumprimento da pena, é constitucional,
sendo compatível com o princípio da presunção de inocência, previsto no art. 5º, LVII, da CF/88. Assim, é
proibida a chamada “execução provisória da pena”. Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do
trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos os recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja
proferida uma decisão judicial individualmente fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão
presentes os requisitos para a prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP. Dessa forma, o réu até pode ficar

8
Por Thais S. Cavallieri

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Ciclos Método

preso antes do trânsito em julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não como execução provisória da
pena. STF. Plenário. ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 7/11/2019 (Info
958).
Não é possível a execução da pena restritiva de direitos antes do trânsito em julgado da condenação. STJ. 3ª
Seção. EREsp 1.619.087-SC, Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi, julgado em 14/6/2017 (Info 609).
Apesar da alteração promovida pela Lei 13.964/2019 no art. 492 do CPP, é ilegal a execução provisória da
pena como decorrência automática da condenação proferida pelo Tribunal do Júri. Pendente de julgamento
no STF o Tema n. 1.068, em que se discute a constitucionalidade do art. 492, I, do CPP, deve ser reafirmado o
entendimento do STJ de impossibilidade de execução provisória da pena mesmo em caso de condenação pelo
tribunal do júri com reprimenda igual ou superior a 15 anos de reclusão. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 714884-SP,
Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, julgado
em 15/03/2022 (Info 730). #GOLDENTIPS 9 : No dia 04/08/2023 foi formada maioria para reconhecer a
constitucionalidade da imediata execução da condenação pelo corpo de jurados. STF, RE 1235340.
Não se pode negar a aplicação da causa de diminuição pelo tráfico privilegiado, prevista no art. 33, § 4º, da
Lei nº 11.343/2006, com fundamento no fato de o réu responder a inquéritos policiais ou processos criminais
em andamento, mesmo que estejam em fase recursal, sob pena de violação ao art. 5º, LIV (princípio da
presunção de não culpabilidade). Não cabe afastar a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/2006 (Lei de Drogas) com base em condenações não alcançadas pela preclusão maior (coisa julgada).
STF. 1ª Turma. HC 166385/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/4/2020 (Info 973). STF. 2ª Turma. RE
1.283.996 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 11/11/2020. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 676.516/SC,
Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/10/2021. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1936058/SP, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 14/09/2021.

#SELIGANASÚMULA:
Súmula 716, STF: Admite-se a progressão do regime de cumprimento da pena ou a aplicação imediata de regime
menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.
Súmula 717, STF: Não impede a progressão do regime de execução da pena, fixada em sentença não transitada
em julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão especial.
Súmula 444, STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.
Súmula 643, STJ: A execução da pena restritiva de direitos depende do trânsito em julgado da condenação.

2. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA

O contraditório é o direito assegurado às partes de serem cientificadas de todos os atos e fatos havidos no curso
do processo, podendo manifestar-se e produzir as provas necessárias antes de ser proferida a decisão
jurisdicional. Já a ampla defesa significa reconhecer que a ele serão disponibilizados todos os meios e recursos
cabíveis para que, de fato, se defenda das acusações que lhe estão sendo imputadas.

Art. 5o, LV, CF – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

DESDOBRAMENTOS DO CONTRADITÓRIO:
a) Direito à informação: a parte adversa deve estar ciente da existência da demanda ou dos argumentos da
parte contrária – meios de comunicação processuais (citação, intimação e notificação).

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As #GOLDENTIPS foram incluídas pelo setor de revisão.

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b) Direito de participação: possibilidade de a parte oferecer reação, manifestação ou contrariedade à pretensão


da parte contrária.
c) Direito e obrigatoriedade de assistência técnica de um defensor: nenhum acusado, ainda que ausente ou
foragido, será processado e julgado sem defensor (art. 261, CPP).

DESDOBRAMENTOS DA AMPLA DEFESA:


a) Direito à informação: a garantia constitucional da ampla defesa envolve a necessidade de conhecimento,
pelo réu, dos atos do processo, a fim de que possa exercer sua defesa.
b) Bilateralidade da audiência (contraditoriedade) / direito de audiência: significa que as partes devem ser
ouvidas pelo juiz, no sentido de participar da formação do seu convencimento, fornecendo-lhe suas razões, por
meio da defesa de seus interesses.
c) Direito à prova legalmente obtida ou produzida (comprovação da inculpabilidade) / direito de presença:
trata-se da faculdade conferida às partes no sentido de produzir e trazer ao processo as provas que reputem
necessárias à demonstração da verdade dos fatos que alegam.

#SELIGANASÚMULA:
Súmula 707, STF: Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso
interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo.
Súmula 708, STF: É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia do único
defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro.
Súmula 522, STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em
situação de alegada autodefesa.
Súmula 351, STF: É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da federação em que o juiz exerce
a sua jurisdição.

3. PRINCÍPIO DO NEMO TENETUR SE DETEGERE

Princípio que veda a autoincriminação, partindo da ideia de que ninguém é obrigado a produzir provas contra si
mesmo.

Art. 5º, LXIII, CF - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado;

Desdobramentos do princípio:
• O direito ao silêncio ou direito de ficar calado;
• Direito de não ser constrangido a confessar a prática de ilícito penal;
• Inexigibilidade de dizer a verdade;
• Direito de não querer praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo: (1) não está obrigado
a fornecer padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial de verificação de interlocutor; (2) não está
obrigado a fornecer material para exame grafotécnico; (3) configura constrangimento ilegal a decretação de
prisão preventiva de indiciados diante da recusa destes em participarem de reconstituição do crime; (4) direito
de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva.

#OLHAOGANCHO: Avisos de Miranda: Os Miranda rights ou Miranda warnings têm origem no famoso
julgamento Miranda V. Arizona, verificado em 1966, em que a Suprema Corte americana, por cinco votos contra
quatro, firmou o entendimento de que nenhuma validade pode ser conferida às declarações feitas pela pessoa
à polícia, a não ser que antes ela tenha sido claramente informada de: 1) que tem o direito de não responder;

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2) que tudo o que disser pode vir a ser utilizado contra ele; 3) que tem o direito à assistência de defensor
escolhido ou nomeado.

#DEOLHONAJURIS
É nula, para fins de identificação criminal, a coleta compulsória de material orgânico não descartado de
pessoas definitivamente não condenadas. STJ. 6ª Turma. RHC 162703-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 13/09/2022 (Info 750).
Não viola a Constituição a previsão legal de imposição das sanções administrativas ao condutor de veículo
automotor que se recuse à realização dos testes, exames clínicos ou perícias voltados a aferir a influência de
álcool ou outra substância psicoativa (art. 165-A e art. 277, §§ 2º e 3º, todos do Código de Trânsito Brasileiro,
na redação dada pela Lei 13.281/2016). STF. Plenário. RE 1224374/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18 e
19/5/2022 (Repercussão Geral – Tema 1079) (Info 1055).
É nula a “entrevista” realizada pela autoridade policial com o investigado, durante a busca e apreensão em
sua residência, sem que tenha sido assegurado ao investigado o direito à prévia consulta a seu advogado e
sem que ele tenha sido comunicado sobre seu direito ao silêncio e de não produzir provas contra si mesmo.
Trata-se de um “interrogatório travestido de entrevista”, havendo violação do direito ao silêncio e à
não autoincriminação. STF. 2ª Turma. Rcl 33711/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/6/2019 (Info 944).
A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é constitucional, posto não infirmar
o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da
tipicidade e da antijuridicidade. STF. Plenário. RE 971959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018
(Repercussão Geral – Tema 907) (Info 923).
Sem consentimento do réu ou prévia autorização judicial, é ilícita a prova, colhida de forma coercitiva pela
polícia, de conversa travada pelo investigado com terceira pessoa em telefone celular, por meio do recurso
"viva-voz", que conduziu ao flagrante do crime de tráfico ilícito de entorpecentes. STJ. 5ª Turma. REsp 1630097-
RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 18/4/2017 (Info 603).

4. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL OU JUIZ LEGAL

Tal princípio objetiva assegurar ao acusado o direito de ser submetido a processo e julgamento não apenas no
juízo competente, como também por órgão do Poder Judiciário regularmente investido, imparcial e, sobretudo,
previamente conhecido segundo regras objetivas de competência estabelecidas anteriormente à prática da
infração penal. Em consequência, veda-se a criação de tribunais ou juízos de exceção.

Art. 5º, LIII, CF - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

JUIZ DAS GARANTIAS JUIZ DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO


Atuará na investigação preliminar e decidirá sobre Atuará no processo penal, durante a instrução e
atos a ela relacionados, como medidas cautelares, julgamento, para produzir provas e julgar o mérito da
meios de investigação, etc. acusação.
Não terá contato com os autos do inquérito policial,
Terá competência até o recebimento da denúncia
salvo atos irrepetíveis ou antecipados e meios de
(início do processo) e ficará impedido de nele atuar.
obtenção de prova.

DESCONTAMINAÇÃO DO JULGADO:

O Pacote Anticrime acrescentou o seguinte dispositivo ao CPP:

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Art. 157, §5º: “O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a sentença
ou acórdão (Incluído pela Lei n. 13.964/19).”

O contato que o juiz possui com a prova ilícita acaba exercendo uma contaminação subjetiva do julgador. Assim
sendo, o dispositivo visa a realizar essa “descontaminação”. Renato Brasileiro destaca que esse dispositivo pode
gerar condutas tendentes a retirar determinados juízes da atuação de determinados processos. Uma pessoa de
má-fé poderia “plantar uma prova ilícita” para excluir um juiz do caso e isso poderia ser uma violação do princípio
do juiz natural.
Por esse motivo, o §5º do art. 157 do CPP está suspenso: “Na condição de Relator das ADI’s 6.298, 6.299, 6.300
e 6.305 (j. 22/01/2020), todas ajuizadas em face da Lei n. 13.964/19, o Min. Luiz Fux suspendeu sine die a
eficácia, ad referendum do Plenário, da alteração do juiz sentenciante que conheceu de prova declarada
inadmissível (art. 157, §5º, do CPP);”

5. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

Garantia do acesso de todo e qualquer cidadão aos atos praticados no curso do processo. Busca assegurar a
transparência da atividade jurisdicional, oportunizando sua fiscalização não só pelas partes, como por toda
comunidade.

Funciona como um pressuposto de validade não apenas dos atos processuais, mas também das próprias
decisões tomadas pelo Poder Judiciário.

É restrita ou interna, quando houver limitação à publicidade dos atos do processo. Nesse caso, alguns atos ou
todos serão realizados somente perante as pessoas diretamente interessadas no feito e seus respectivos
procuradores, ou somente perante estes – é o Segredo de Justiça.

Art. 5º, LX, CF - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou
o interesse social o exigirem;

#DEOLHONAJURIS
No caso de processo penal que tramita sob segredo de justiça em razão da qualidade da vítima (criança ou
adolescente), o nome completo do acusado e a tipificação legal do delito podem constar entre os dados básicos
do processo disponibilizados para consulta livre no sítio eletrônico do Tribunal, ainda que os crimes apurados se
relacionem com pornografia infantil. Muito embora o delito de divulgação de pornografia infantil possa causar
repulsa à sociedade, não constitui violação ao direito de intimidade do réu a indicação, no site da Justiça, do
nome de acusado maior de idade e da tipificação do delito pelo qual responde em ação penal, ainda que o
processo tramite sob segredo de justiça. STJ. 5ª Turma. RMS 49.920-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 2/8/2016 (Info 587).

II – Código de Processo Penal (Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1.941). a) Disposições preliminares (arts.
1º a 3º). b) Do inquérito policial (arts. 4º a 23). c) Da ação penal (arts. 24 a 62). d) Da ação civil (arts. 63 a 68). e)
Da competência (arts. 69 a 91). e) Das questões e processos incidentes (arts. 92 a 154). f) Da prova (arts. 155 a
250). g) Do Juiz, do Ministério Público, do Acusado e Defensor, dos Assistentes e Auxiliares da Justiça (arts. 251
a 281). h) Da prisão, das Medidas cautelares e da liberdade provisória (arts. 282 a 350). i) Das citações e
intimações (arts. 351 a 372). j) Da sentença (381 a 393). k) Dos processos em espécie (arts. 394 a 497 e 513 a
555). l) Das nulidades e dos recursos em geral (arts. 563 a 667). m) Disposições gerais (arts. 791 a 811).

LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO


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O CPP adota o princípio da territorialidade ou da lex fori, porque a atividade jurisdicional é um dos aspectos da
soberania nacional, logo, não pode ser exercida além das fronteiras do respectivo Estado. As exceções da
territorialidade são previstas nos incisos do artigo 1º do CPP (extraterritorialidade).

Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos
com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de
responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e 100);
III - os processos da competência da Justiça Militar;
IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, no 17);
V - os processos por crimes de imprensa. (Vide ADPF nº 130)
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos. IV e V, quando as leis
especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso.

ATENÇÃO: Não confundir com a competência determinada pelo local do crime, prevista no art. 70 do CPP.

LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO

O art. 2º do CPP dispõe que a lei processual penal será aplicada desde logo, sem prejuízo da validade dos atos
realizados sob a vigência da lei anterior. Incide, assim, o princípio tempus regit actum, também chamado de
princípio do efeito imediato ou da aplicação imediata da lei processual.

Art. 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência
da lei anterior.

a) Normas genuinamente processuais: cuidam de procedimentos, atos processuais, técnicas do processo – a


elas se aplica o art. 2o, CPP.

b) Normas processuais materiais ou mistas: abrigam naturezas diversas, de caráter penal (que cuidam do crime,
da pena, da medida de segurança, dos efeitos da condenação e do direito de punir do Estado) e processual penal
(versam sobre o processo desde o seu início até o final da execução ou extinção da punibilidade). A essas normas,
aplica-se o critério do Direito Penal:
• Tratando-se de norma benéfica ao agente, mesmo depois da sua revogação, a referida lei continuará a
regular os fatos ocorridos durante a sua vigência (ultratividade da lei processual penal mista mais benéfica);
• Na hipótese de novatio legis in mellius, a referida norma será dotada de caráter retroativo, a ela se
conferindo o poder de retroagir no tempo, a fim de regular os fatos ocorridos anteriormente à sua vigência.

c) Normas processuais heterotópicas: Há determinadas regras que, não obstante previstas em diplomas
processuais penais, possuem conteúdo material, devendo, pois, retroagir para beneficiar o acusado. Outras, no
entanto, inseridas em leis materiais, são dotadas de conteúdo processual, a elas sendo aplicável o critério da
aplicação imediata (tempus regit actum). É aí que surge o fenômeno denominado de heterotopia, ou seja,
situação em que, apesar de o conteúdo da norma conferir-lhe uma determinada natureza, encontra-se ela
prevista em diploma de natureza distinta.

#DEOLHONAJURIS:

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O novo § 4º do art. 70 do CPP, que trata sobre a competência para julgar o crime de estelionato, aplica-se
imediatamente aos inquéritos policiais que estavam em curso quando entrou em vigor a Lei nº 14.155/2021.
Nos crimes de estelionato, quando praticados mediante depósito, por emissão de cheques sem suficiente
provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou por meio da transferência de valores,
a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, em razão da superveniência de Lei nº
14.155/2021, ainda que os fatos tenham sido anteriores à nova lei. STJ. 3ª Seção. CC 180832-RJ, Rel. Min. Laurita
Vaz, julgado em 25/08/2021 (Info 706).
O acordo de não persecução penal (ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei nº 13.964/2019, desde que
não recebida a denúncia. A Lei nº 13.964/2019 (“Pacote Anticrime”) inseriu o art. 28-A ao CPP, criando, no
ordenamento jurídico pátrio, o instituto do acordo de não persecução penal (ANPP). A Lei nº 13.964/2019, no
ponto em que institui o ANPP, é considerada lei penal de natureza híbrida, admitindo conformação entre a
retroatividade penal benéfica e o tempus regit actum. O ANPP se esgota na etapa pré-processual, sobretudo
porque a consequência da sua recusa, sua não homologação ou seu descumprimento é inaugurar a fase de
oferecimento e de recebimento da denúncia. O recebimento da denúncia encerra a etapa pré-processual,
devendo ser considerados válidos os atos praticados em conformidade com a lei então vigente. Dessa forma, a
retroatividade penal benéfica incide para permitir que o ANPP seja viabilizado a fatos anteriores à Lei nº
13.964/2019, desde que não recebida a denúncia. Assim, mostra-se impossível realizar o ANPP quando já
recebida a denúncia em data anterior à entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019. STJ. 5ª Turma. HC 607003-SC,
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/11/2020 (Info 683). STF. 1ª Turma. HC 191464 AgR, Rel.
Roberto Barroso, julgado em 11/11/2020.
#GOLDENTIPS:
O Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), inserido pela Lei nº 13.924/2019, aplica-se retroativamente desde
que não tenha havido o recebimento da denúncia.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 2006523-CE, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT),
julgado em 23/8/2022 (Info 761).

O que entende o STF?


1ª Turma do STF:
O acordo de não persecução penal (ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei nº 13.964/2019, desde que
não recebida a denúncia.
STF. 1ª Turma. HC 191464 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 11/11/2020.

2ª Turma do STF:
É possível a aplicação retroativa do art. 28-A do CPP mesmo que já tenha sido proferida sentença condenatória.
STF. 2ª Turma. HC 220.249-SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 16/12/2022.

INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL

Ao contrário do que ocorre no Direito Penal, no Processo Penal admite-se a interpretação extensiva, a aplicação
analógica e o suplemento dos princípios gerais do direito.

Art. 3o A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento
dos princípios gerais de direito.

Inexiste norma reguladora do caso concreto, devendo ser aplicada a norma


ANALOGIA que trata de hipótese semelhante. Há, para o caso não regulado, a criação
de uma nova norma jurídica.

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Existe norma reguladora do caso concreto, mas esta não menciona


expressamente sua eficácia. É, portanto, a própria norma do fato que a ele
INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA
se aplica. Há apenas o alargamento do alcance da regra dada; faz-se a
redefinição de um conceito, ampliando-o.
A norma, após uma enumeração casuística, traz uma formulação genérica
que deve ser interpretada de acordo com os casos anteriormente
INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA
elencados. A norma regula o caso de modo expresso, embora
genericamente.

ATENÇÃO: NÃO CONFUNDA interpretação analógica (forma de interpretação) com aplicação analógica (forma
de autointegração, e exprime o emprego da analogia).

INQUÉRITO POLICIAL

CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL:

a) Procedimento escrito: em regra, o inquérito policial deve ser reduzido a termo.

Art. 9o, CPP. Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas
e, neste caso, rubricadas pela autoridade.

b) Procedimento dispensável: o inquérito poderá ser dispensado se a justa causa necessária para o início do
processo penal for ministrada por outra peça de informação

c) Procedimento sigiloso: em regra, a fase investigatória é sigilosa (já na fase processual, a regra é a publicidade)

Art. 20, CPP. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo
interesse da sociedade

Súmula Vinculante 14 do STF: “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”

d) Procedimento inquisitorial: não está sujeito ao contraditório nem à ampla defesa.

Exceção:
Art. 14-A, CPP. Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144 da Constituição
Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais
procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal
praticados no exercício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas no art.
23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

e) Procedimento discricionário: O delegado tem discricionariedade para realizar as diligências, entretanto,


discricionariedade não significa arbitrariedade, ou seja, o delegado não pode agir contra a lei. A
discricionariedade do delegado é mitigada pelo poder de requisição do Ministério Público (art. 129, VIII, CF –
requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de
suas manifestações processuais).

f) Procedimento indisponível: o delegado de polícia não pode arquivar o Inquérito Policial

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Art. 17, CPP. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.

g) Procedimento temporário: O prazo do inquérito depende do fato de o réu estar preso ou solto

Art. 10, CPP. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou
estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de
prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.

PRAZOS DO INQUÉRITO POLICIAL


PREVISÃO LEGAL PRESO SOLTO
10 dias, prorrogáveis por até 15*
REGRA GERAL (CPP) *PACOTE ANTICRIME – art. 3º-B 30 dias (prorrogáveis)
suspenso pelo STF
POLÍCIA FEDERAL 15 dias + 15 dias 30 dias
CRIMES CONTRA A
10 dias 10 dias
ECONOMIA POPULAR
LEI DE DROGAS 30 dias + 30 dias 90 dias + 90 dias
INQUÉRITO MILITAR 20 dias 40 dias + 20 dias

#DEOLHONAJURIS
Há excesso de prazo para conclusão de inquérito policial, quando, a despeito do investigado se encontrar solto
e de não sofrer efeitos de qualquer medida restritiva, a investigação perdura por longo período e não resta
demonstrada a complexidade apta a afastar o constrangimento ilegal. (...) O fato de o paciente não ter sido
indiciado ou não sofrer os efeitos de qualquer medida restritiva, por si só, não indica ausência de
constrangimento, considerando que a simples existência da investigação, que no caso está relacionada ao
exercício profissional do paciente, já é, como disse o Ministro Antonio Saldanha Palheiro, por ocasião do
julgamento do RHC 135.299/CE, uma estigmatização decorrente da condição de suspeito de prática delitiva. O
constrangimento é patente. (STJ, HC 653.299-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. Acd. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta
Turma, por maioria, julgado em 16/08/2022, DJe 25/08/2022, Info. 747).
Não é necessária a intimação prévia da defesa técnica do investigado para a tomada de depoimentos orais na
fase de inquérito policial. Não haverá nulidade dos atos processuais caso essa intimação não ocorra. O inquérito
policial é um procedimento informativo, de natureza inquisitorial, destinado precipuamente à formação da
opinio delicti do órgão acusatório. Logo, no inquérito há uma regular mitigação das garantias do contraditório e
da ampla defesa. Esse entendimento justifica-se porque os elementos de informação colhidos no inquérito não
se prestam, por si sós, a fundamentar uma condenação criminal. A Lei nº 13.245/2016 implicou um reforço das
prerrogativas da defesa técnica, sem, contudo, conferir ao advogado o direito subjetivo de intimação prévia e
tempestiva do calendário de inquirições a ser definido pela autoridade policial. STF. 2ª Turma. Pet 7612/DF, Rel.
Min. Edson Fachin, julgado em 12/03/2019 (Info 933).
Não há violação da súmula vinculante 14 no caso em que, ao contrário do que alega a defesa, os áudios
interceptados foram juntados ao inquérito policial e sempre estiveram disponíveis para as partes, inclusive
na forma digitalizada depois de deflagrada a investigação. Caso concreto: defesa ingressou com reclamação no
STF alegando que o magistrado não permitiu que ela tivesse acesso ao procedimento de interceptação telefônica
que serviu de base ao oferecimento da denúncia. Ficou provado, no entanto, que o procedimento estava
disponível para a defesa, de forma que não houve violação à SV 14. STF. 1ª Turma. Rcl 27919 AgR/GO, Rel. Min.
Rosa Weber, julgado em 27/8/2019 (Info 949)

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#NÃOCONFUNDIR

ELEMENTOS INFORMATIVOS PROVAS


São aqueles colhidos na fase investigatória, sem a A palavra prova só pode ser usada para se referir aos
necessária participação dialética das partes. Em elementos de convicção produzidos, em regra, no
relação a eles, não se impõe a obrigatória curso do processo judicial, e, por conseguinte, com a
observância do contraditório e da ampla defesa (...). necessária participação dialética das partes, sob o
Apesar de não serem produzidos sob o manto do manto do contraditório (ainda que diferido) e da
contraditório e da ampla defesa, tais elementos são ampla defesa. O contraditório funciona, pois, como
de vital importância para a persecução penal, pois, verdadeira condição de existência e validade das
além de auxiliar na formação da opinio delicti do provas.
órgão da acusação, podem subsidiar a decretação de
medidas cautelares pelo magistrado ou fundamentar
uma decisão de absolvição sumária (CPP, art. 397).

INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL:

Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:


I - de ofício;
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou
de quem tiver qualidade para representá-lo.
(...)
§ 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado.
§ 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de
quem tenha qualidade para intentá-la.

#DEOLHONAJURIS
É possível a deflagração de investigação criminal com base em matéria jornalística. STJ. 6ª Turma. RHC 98.056-
CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 04/06/2019 (Info 652).

INDICIAMENTO: O indiciamento é resultado das investigações policiais por meio do qual alguém é apontado
como provável autor de um fato delituoso. Assim, trata-se de ato privativo do Delegado de Polícia que, para
tanto, deverá fundamentar-se em elementos de informação que ministrem certeza quanto à materialidade e
indícios razoáveis de autoria. Portanto, não se afigura possível que o juiz, o Ministério Público ou uma Comissão
Parlamentar de Inquérito requisitem ao delegado de polícia o indiciamento de determinada pessoa.

#SELIGA: O indiciamento é atribuição exclusiva da autoridade policial, não podendo ser determinado por
magistrado. STJ. 5ª Turma, RHC 47.984-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/11/2014 (Info 552).

Como se percebe, o indiciamento é típico das investigações, não tendo qualquer utilidade após o início da ação
penal. Por isso, o STJ tem entendido que, se ocorrer durante a ação penal, configura constrangimento ilegal (HC
182.455/SP). Assim, após o início da ação penal, o indiciamento é vedado.

ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL:

O Pacote Anticrime retirou o juiz do controle do arquivamento, deixando essa decisão apenas no âmbito do
Ministério Público. O promotor não faz mera “promoção” de arquivamento ao juiz, que homologa ou não. Após
a lei, o MP “ordena” o arquivamento e remete os autos à instância de revisão ministerial para fins de
homologação, o arquivamento ocorre unicamente no âmbito do próprio Ministério Público – decisão interna
corporis, não havendo mais o controle judicial.
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O juiz, antes da lei 13.964/19, já não tinha poderes para arquivar de ofício, agora, com a lei muito menos, nem
mesmo nos casos de foro por prerrogativa de função, pois o Ministério Público continua sendo titular da ação
penal, a não ser que a própria tramitação do inquérito gera um constrangimento ilegal.

ANTES DA LEI Nº 13.964/2019 DEPOIS DA LEI Nº 13.964/2019


Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de * Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito
apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do policial ou de quaisquer elementos informativos da
inquérito policial ou de quaisquer peças de mesma natureza, o órgão do Ministério Público
informação, o juiz, no caso de considerar comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade
improcedentes as razões invocadas, fará remessa do policial e encaminhará os autos para a instância de
inquérito ou peças de informação ao procurador- revisão ministerial para fins de homologação, na
geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro forma da lei.
órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não
insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só concordar com o arquivamento do inquérito policial,
então estará o juiz obrigado a atender. poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento
da comunicação, submeter a matéria à revisão da
instância competente do órgão ministerial, conforme
dispuser a respectiva lei orgânica.
§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em
detrimento da União, Estados e Municípios, a revisão
do arquivamento do inquérito policial poderá ser
provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua
representação judicial.
MP faz promoção de arquivamento, e o Juiz MP dá ORDEM de arquivamento, e remete os autos à
homologa ou não, se não homologar invoca o art. 28 instancia de revisão ministerial.
CPP.
Prejudica o sistema acusatório, uma vez que só cabe Privilegia o sistema acusatório, e a titularidade da ação
ao juiz julgar, sendo o Ministério Público o titular da penal pública.
ação penal pública, devendo ter o controle do
oferecimento ou não da denúncia, sob pena de
prejuízo à imparcialidade do juiz, que ao discordar do
arquivamento, e remeter ao Procurador Geral, tende
a condenar (Teoria da dissonância cognitiva –
contaminação subjetiva)
* ATENÇÃO: Nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade 6298, 6299, 6300 e 6305 o ministro Luiz Fux concedeu
Medida Cautelar para suspender a eficácia do art. 28, caput, do Código de Processo Penal.

Fundamentos para o arquivamento: não há previsão expressa em lei relativa aos fundamentos para o
arquivamento, mas a doutrina afirma que há previsão implícita nos artigos 395 e 397, CPP.

Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:


I - for manifestamente inepta;
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal;
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.

Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver
sumariamente o acusado quando verificar:
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade;
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou
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IV - extinta a punibilidade do agente.

#NÃOCONFUNDIR

MP deixa de oferecer a denúncia por entender que o juízo perante o qual


ARQUIVAMENTO INDIRETO
oficia é incompetente. Com o Pacote Anticrime deixa de ser aplicável.
Se o arquivamento partir diretamente do PGR ou do PGJ, O TRIBUNAL NÃO
PODERÁ INVOCAR O ART. 28 do CPP. Caberá, porém, no âmbito federal,
recurso administrativo à Câmara de Coordenação e Revisão. No âmbito
ARQUIVAMENTO
estadual, há um mecanismo “interna corporis”, que permite a revisão do
ORIGINÁRIO
pedido de arquivamento pelo Colégio de Procuradores, nos casos de
atribuição originária do PGJ. Ele se encontra previsto no artigo 12, inciso XI
da lei 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional dos Ministérios Públicos Estaduais).
MP oferece a denúncia em face de apenas um ou alguns dos crimes nele
ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO narrados ou dos acusados, deixando de oferecer, sem motivo justificado,
OU TÁCITO pelos outros. STF: O sistema processual penal brasileiro não prevê a figura
do arquivamento implícito de inquérito policial.

AÇÃO PENAL

Princípios comuns
Ação Penal pública Ação Penal privada
Princípio da inércia da jurisdição
“Ne bis in idem” processual
Princípio da intranscendência

Princípios específicos
Ação Penal pública Ação Penal privada
Obrigatoriedade Oportunidade / Conveniência
Indisponibilidade Disponibilidade
Divisibilidade Indivisibilidade

#OLHAOGANCHO – EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE NA AP PÚBLICA:


• Transação penal (art. 76, Lei nº. 9.099/99)
• Termo de ajustamento de conduta
• Parcelamento do débito tributário (art. 83, §2º, Lei 9.430/96)
• Acordo de não persecução penal (art. 28-A, CPP)
• Colaboração premiada (art. 4º, §4º, Lei 12.850/13)

#DEOLHONAJURIS
A eficácia objetiva da representação, interligada ao princípio da indivisibilidade que vige na ação penal pública,
confere ao MP a possibilidade de atuar prontamente contra todos os envolvidos, ainda que a representação
não tenha abrangido todos os autores da infração. Logo, admissível o aditamento à denúncia pelo Parquet
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para fins de inclusão de corréu não constante da representação do ofendido” (AgRg no REsp 1.558.569/PR,
DJe 01/12/2016). Cf. também RHC 46.646/SP, DJe 15/04/2017
A companheira, em união estável homoafetiva reconhecida, goza do mesmo status de cônjuge para o
processo penal, possuindo legitimidade para ajuizar a ação penal privada. STJ. Corte Especial. APn 912-RJ, Rel.
Min. Laurita Vaz, julgado em 07/08/2019 (Info 654).
Não oferecida a queixa-crime contra todos os supostos autores ou partícipes da prática delituosa, há afronta ao
princípio da indivisibilidade da ação penal, a implicar renúncia tácita ao direito de querela, cuja eficácia extintiva
da punibilidade estende-se a todos quantos alegadamente hajam intervindo no cometimento da infração penal.
STF. 1ª Turma. Inq 3526/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 2/2/2016 (Info 813).
O princípio da indivisibilidade significa que a ação penal deve ser proposta contra todos os autores e partícipes
do delito. Segundo a posição da jurisprudência, o princípio da indivisibilidade só se aplica para a ação pena
privada (art. 48 do CPP). O que acontece se a ação penal privada não for proposta contra todos? O que ocorre
se um dos autores ou partícipes, podendo ser processado pelo querelante, ficar de fora? Qual é a
consequência do desrespeito ao princípio da indivisibilidade?
• Se a omissão foi VOLUNTÁRIA (DELIBERADA): se o querelante deixou, deliberadamente, de oferecer queixa
contra um dos autores ou partícipes, o juiz deverá rejeitar a queixa e declarar a extinção da punibilidade para
todos (arts. 104 e 107, V, do CP). Todos ficarão livres do processo.
• Se a omissão foi INVOLUNTÁRIA: o MP deverá requerer a intimação do querelante para que ele faça o
aditamento da queixa-crime e inclua os demais coautores ou partícipes que ficaram de fora.
Assim, conclui-se que a não inclusão de eventuais suspeitos na queixa-crime não configura, por si só, renúncia
tácita ao direito de queixa. Para o reconhecimento da renúncia tácita ao direito de queixa, exige-se a
demonstração de que a não inclusão de determinados autores ou partícipes na queixa-crime se deu de forma
deliberada pelo querelante. STJ. 5ª Turma. RHC 55142-MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 12/5/2015 (Info
562).
Na ação penal pública não vigora o princípio da indivisibilidade. Assim, o MP não está obrigado a denunciar
todos os envolvidos no fato tido por delituoso, não se podendo falar em arquivamento implícito em relação a
quem não foi denunciado. Isso porque o Parquet é livre para formar sua convicção, incluindo na denúncia as
pessoas que ele entenda terem praticado o crime, mediante a constatação de indícios de autoria e
materialidade. STJ. 6ª Turma. RHC 34233-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 6/5/2014 (Info
540).

CONDIÇÕES GERAIS DA AÇÃO:

a) Possibilidade jurídica do pedido: Corresponde à viabilidade de procedência da ação penal. Assim, é


necessário que a conduta imputada na inicial acusatória constitua crime ou contravenção penal. Logo, esta
primeira condição da ação penal exterioriza-se por meio da imputação de um fato típico.
b) Legitimidade ad causam: é a pertinência subjetiva da ação.
• Legitimidade ativa:
- Ação penal pública: Ministério Público (art. 129, I, da Constituição Federal);
- Ação penal privada: o ofendido, ou seu representante legal, ou as pessoas do art. 31, CPP
(cônjuge/companheiro; ascendente; descendente; irmão).
• Legitimidade passiva: autor do fato delituoso, com 18 (dezoito) anos completos ou mais, já que a CF
estabelece que os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis (art. 228).
c) Interesse de agir: deve-se demonstrar a necessidade de se recorrer ao Poder Judiciário para a obtenção do
resultado pretendido, independentemente da legitimidade da pretensão; segundo a doutrina, o interesse de
agir deve ser analisado sob 3 dimensões:
• Necessidade: segundo Pacelli, a necessidade é presumida, já que a sanção penal pressupõe o devido
processo legal e a imposição jurisdicional.
• Adequação: é o ajustamento da providência judicial requerida à solução do conflito.
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• Utilidade: é a eficácia da atividade jurisdicional para satisfazer o interesse do autor – só haverá utilidade se
houver possibilidade de realização do jus puniendi estatal, com a aplicação da sanção penal adequada.
d) Justa causa: é o lastro probatório mínimo que deve lastrear toda e qualquer acusação penal – aqui, lastro
probatório mínimo é o fumus boni iuris, que significa a existência de indícios de autoria e prova da materialidade.

#DEOLHONAJURIS
A ocorrência dos fatos narrados na denúncia está indicada, nos autos, por inúmeros elementos indiciários -
oriundos de buscas e apreensões, quebras de sigilo e outras medidas investigativas -, a justificar a presença de
justa causa para a deflagração da ação penal. Além disso, tradicionalmente, a justa causa é analisada apenas sob
a ótica retrospectiva, voltada para o passado, com vista a quais elementos de informação foram obtidos na
investigação preliminar já realizada. Todavia, a justa causa também deve ser apreciada sob uma ótica
prospectiva, com o olhar para o futuro, para a instrução que será realizada, de modo que se afigura possível
incremento probatório que possa levar ao fortalecimento do estado de simples probabilidade em que o juiz se
encontra quando do recebimento da denúncia. STJ. Corte Especial. APn 989/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 16/02/2022 (Info 726).
A justa causa é exigência legal para o recebimento da denúncia, instauração e processamento da ação penal,
nos termos do artigo 395, III, do Código de Processo Penal, e consubstancia-se pela somatória de três
componentes essenciais:
(a) TIPICIDADE (adequação de uma conduta fática a um tipo penal);
(b) PUNIBILIDADE (além de típica, a conduta precisa ser punível, ou seja, não existir quaisquer das causas
extintivas da punibilidade); e
(c) VIABILIDADE (existência de fundados indícios de autoria).
STF. 1ª Turma. HC 129.678/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em
13/06/2017 (Info 869). STF. 1ª Turma. HC 213.745/PR AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
09/05/2022.

CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DA AÇÃO PENAL (CONDIÇÕES DE PROCEDIBILIDADE):


Há determinadas situações em que a lei condiciona o exercício do direito de ação ao preenchimento de certas
condições específicas. Sua presença também deve ser aferida pelo magistrado por ocasião do juízo de
admissibilidade da peça acusatória, impondo-se a sua rejeição, caso verificada a ausência de uma delas (CPP,
art. 395, II). São exemplos:
a) Representação do ofendido, nos crimes de ação penal pública condicionada à representação.
b) Requisição do Ministro da Justiça, nos crimes de ação penal pública condicionada à requisição.
c) Provas novas, quando o inquérito policial tiver sido arquivado com base na ausência de elementos
probatórios.
d) Provas novas, após a preclusão da decisão de impronúncia, em se tratando de crimes dolosos contra a vida
e) Laudo pericial nos crimes contra a propriedade imaterial.
f) autorização da Câmara dos Deputados, por dois terços de seus membros, para a instauração de processo
contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado.

#ATENÇÃO As condições da ação não se confundem com condições de PROSSEGUIBILIDADE. Condição da ação
(ou de procedibilidade) é uma condição que deve estar presente para que o processo penal possa ter início.
Condição de prosseguibilidade (ou condição superveniente da ação) é uma condição necessária para o
prosseguimento do processo.

ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL

Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a
prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o
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Ministério Público poderá propor ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL, desde que necessário e suficiente
para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e
alternativamente: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
(...)
§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput deste artigo, serão
CONSIDERADAS as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto.

REQUISITOS:
• Não ser caso de arquivamento;
• Confissão formal e circunstanciada;
• Crime SEM violência/grave ameaça;
• Crime com pena MÍNIMA inferior a 4 anos – ATENÇÃO: Pena mínima igual a 4 anos NÃO cabe.
• Necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime;
• Atendimento das condições impostas.

CONDIÇÕES:

Art. 28-A, CPP. (...)


I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto
ou proveito do crime;
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena MÍNIMA
cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma
do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal);
IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da
execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos
aparentemente lesados pelo delito; ou
V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional
e compatível com a infração penal imputada.

HIPÓTESES DE NÃO CABIMENTO:

Art. 28-A, CPP. (...)


§ 2º O disposto no caput deste artigo NÃO se aplica nas seguintes hipóteses:
I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei;
II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual,
reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas;
III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não
persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e
IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por
razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.

FORMALIZAÇÃO E HOMOLOGAÇÃO DO ACORDO:

Art. 28-A, CPP. (...)


§ 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por ESCRITO e será firmado pelo membro do Ministério
Público, pelo investigado e por seu defensor.
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§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada AUDIÊNCIA na qual o juiz deverá
verificar a sua voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu defensor, e sua legalidade.
[JUÍZO DE DELIBAÇÃO = sem análise de mérito]
§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas no acordo de não
persecução penal, devolverá os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a proposta de acordo,
com concordância do investigado e seu defensor.
§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério
Público para que inicie sua execução perante o juízo de execução penal.
§ 7º O juiz poderá RECUSAR homologação à proposta que não atender aos requisitos legais ou quando não for
realizada a adequação a que se refere o § 5º deste artigo.
§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a análise da necessidade de
complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia.
§ 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu descumprimento.

CUMPRIMENTO/DESCUMPRIMENTO DO ACORDO:

Art. 28-A, CPP. (...)


§ 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não persecução penal, o Ministério
Público deverá comunicar ao juízo, para fins de sua RESCISÃO e posterior oferecimento de denúncia.
§ 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado também poderá ser utilizado pelo
Ministério Público como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão condicional do processo.
§ 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não constarão de certidão de
antecedentes criminais, exceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste artigo.
§ 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo competente decretará a EXTINÇÃO
DE PUNIBILIDADE.
§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução penal, o
investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28 deste Código.

#DEOLHONAJURIS
É cabível o ANPP na hipótese de procedência parcial da pretensão punitiva (MP denunciou por concurso
material, de forma que a pena imputada superava 4 anos; houve condenação por continuidade delitiva, sendo
possível, então, o oferecimento do acordo). Nos casos em que houver a modificação do quadro fático-jurídico,
e, ainda, em situações em que houver a desclassificação do delito - seja por emendatio ou mutatiolibelli -, uma
vez preenchidos os requisitos legais exigidos para o Acordo de Não Persecução Penal, torna-se cabível o instituto
negocial. Na situação em tela, houve uma relevante alteração do quadro fático-jurídico, tornando-se
potencialmente cabível o instituto negocial do ANPP. Isso porque o TJ, ao julgar apelação interposta pela defesa,
deu-lhe provimento, a fim de reconhecer a continuidade delitiva entre os crimes de falsidade ideológica (art.
299), tornando, assim, objetivamente viável a realização do referido acordo, em razão do novo patamar de
apenamento - pena mínima cominada inferior a 4 anos. Aplica-se aqui, mutatis mutandis, raciocínio similar
àquele constante da Súmula 337 do STJ (É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do
crime e na procedência parcial da pretensão punitiva). STJ. 5ª Turma.AgRg no REsp 2.016.905-SP, Rel. Min.
Messod Azulay Neto, julgado em 7/3/2023 (Info 772).
Por constituir um poder-dever do Ministério Público, o não oferecimento tempestivo do acordo de não
persecução penal desacompanhado de motivação idônea constitui nulidade absoluta. Não há previsão legal
de que a oferta do ANPP seja formalizada após a instauração da fase processual. Para a correta aplicação da
regra, há de se considerar o momento processual adequado para sua incidência, sob pena de se desvirtuar o
instituto despenalizador. Configuradas as demais condições objetivas, a propositura do acordo não pode ser
condicionada à confissão extrajudicial, na fase inquisitorial. Por constituir um poder-dever do Parquet, o não

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oferecimento tempestivo do ANPP desacompanhado de motivação idônea constitui nulidade absoluta. No caso
concreto, houve prejuízo em se oferecer o ANPP depois do recebimento da denúncia. Isso porque essa decisão
interrompeu o prazo prescricional e faltavam apenas 35 dias para ocorrer a prescrição da pretensão punitiva.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 762049-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 7/3/2023 (Info 769).
O Ministério Público não é obrigado a notificar o investigado acerca da proposta do ANPP. O Ministério Público
não é obrigado a notificar o investigado para que ele compareça à instituição para iniciar as tratativas de ANPP.
Se o investigado tiver interesse, deverá procurar o Parquet. O Ministério Público não é obrigado a notificar o
investigado para que ele compareça à instituição para iniciar as tratativas de ANPP. Se o investigado tiver
interesse, deverá procurar o Parquet. Se o membro do Parquet constatar que, em sua visão, não cabe ANPP, ele
não é obrigado a notificar extrajudicialmente o investigado informando que não irá propor o acordo. Neste caso,
basta que o membro do MP faça uma cota na denúncia informando os motivos pelos quais não ofereceu
proposta de acordo. Assim, o Ministério Público pode, no próprio ato do oferecimento da denúncia, expor os
motivos pelos quais optou pela não propositura do acordo. O juiz, recebendo a denúncia, irá determinar a
citação do denunciado e, neste momento, o réu terá ciência da recusa quanto à propositura do ANPP e poderá,
se assim desejar, requerer a remessa ao órgão superior do MP, nos termos do § 14 do art. 28-A do CPP. Em
resumo, por ausência deprevisão legal, o Ministério Público não é obrigado a notificar o investigadoacerca da
proposta do acordo de não persecução penal, sendo que, ao seinterpretar conjuntamente os arts. 28-A, § 14, e
28, caput, do CPP, aciência da recusa ministerial deve ocorrer por ocasião da citação, podendo oacusado, na
primeira oportunidade dada para manifestação nos autos, requerera remessa dos autos ao órgão de revisão
ministerial. STJ. 6ª Turma. REsp 2024381-TO, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT),
julgado em 7/3/2023 (Info 766).
O ANPP não constitui direito subjetivo do investigado: Cuidando-se de faculdade do Parquet, a partir da
ponderação da discricionariedade da propositura do acordo, mitigada pela devida observância do cumprimento
dos requisitos legais, não cabe ao Poder Judiciário determinar ao Ministério Público que oferte o
acordo de não persecução penal. (STJ, RHC n. 161.251/PR, relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma,
julgado em 10/5/2022, DJe de 16/5/2022.)
O acordo de não persecução penal (ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei nº 13.964/2019, desde que
não recebida a denúncia. A Lei nº 13.964/2019 (“Pacote Anticrime”) inseriu o art. 28-A ao CPP, criando, no
ordenamento jurídico pátrio, o instituto do acordo de não persecução penal (ANPP). A Lei nº 13.964/2019, no
ponto em que institui o ANPP, é considerada lei penal de natureza híbrida, admitindo conformação entre a
retroatividade penal benéfica e o tempus regit actum. O ANPP se esgota na etapa préprocessual, sobretudo
porque a consequência da sua recusa, sua não homologação ou seu descumprimento é inaugurar a fase de
oferecimento e de recebimento da denúncia. O recebimento da denúncia encerra a etapa pré-processual,
devendo ser considerados válidos os atos praticados em conformidade com a lei então vigente. Dessa forma, a
retroatividade penal benéfica incide para permitir que o ANPP seja viabilizado a fatos anteriores à Lei nº
13.964/2019, desde que não recebida a denúncia. Assim, mostra-se impossível realizar o ANPP quando já
recebida a denúncia em data anterior à entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019. STJ. 5ª Turma. HC 607.003-SC,
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/11/2020 (Info 683). STF. 1ª Turma. HC 191464 AgR, Rel.
Roberto Barroso, julgado em 11/11/2020.
#GOLDENTIPS:
O Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), inserido pela Lei nº 13.924/2019, aplica-se retroativamente desde
que não tenha havido o recebimento da denúncia.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 2006523-CE, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT),
julgado em 23/8/2022 (Info 761).

O que entende o STF?


1ª Turma do STF:
O acordo de não persecução penal (ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei nº 13.964/2019, desde que
não recebida a denúncia.
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STF. 1ª Turma. HC 191464 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 11/11/2020.

2ª Turma do STF:
É possível a aplicação retroativa do art. 28-A do CPP mesmo que já tenha sido proferida sentença condenatória.
STF. 2ª Turma. HC 220.249-SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 16/12/2022.

O Poder Judiciário não pode impor ao Ministério Público a obrigação de ofertar acordo de não persecução
penal (ANPP). Não cabe ao Poder Judiciário, que não detém atribuição para participar de negociações na seara
investigatória, impor ao MP a celebração de acordos.” (STF. 2ª Turma. HC 194677/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 11/5/2021. Info 1017)

AÇÃO CIVIL EX DELICTO

A Ação Civil Ex Delicto é a ação ajuizada pelo ofendido, na esfera cível, para obter indenização por eventual dano
causado pelo crime. Ela divide-se em duas espécies:

a) Ação de Execução Ex Delicto (art. 63 do CPP): Depois que transitar em julgado, poderá ser proposta, no juízo
cível, a execução da sentença penal condenatória, na qual o pedido será para que o condenado seja obrigado a
reparar os danos causados à vítima. Aqui pressupõe-se a existência de título executivo judicial, que é a sentença
penal condenatória.

Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para
o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo valor
fixado nos termos do inciso iv do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da liquidação para a apuração do
dano efetivamente sofrido.

b) Ação Civil Ex Delicto (art. 64 do CPP): Mesmo que a sentença penal ainda não tenha transitado em julgado,
a vítima, seu representante legal ou herdeiros já poderão buscar a reparação dos danos no juízo cível,
independentemente do desfecho da ação na esfera criminal.

Art. 64. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no
juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil. (Vide Lei nº 5.970, de 1973)
Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta, até o julgamento
definitivo daquela.

EFEITOS CIVIS DA ABSOLVIÇÃO PENAL: Ao contrário do que ocorre com a sentença condenatória, em relação à
absolutória não existe a previsão geral de vinculação com a esfera cível, concluindo-se que a regra será a
independência entre a responsabilidade criminal e a responsabilidade civil – tal regra comporta exceções:

PROVADA a inexistência do fato Faz coisa julgada no cível


Não haver prova da existência do fato Não faz coisa julgada no cível
Não constituir o fato infração penal Não faz coisa julgada no cível
PROVADO que o réu não concorreu para a Faz coisa julgada no cível
infração penal
Não existir prova de ter o réu concorrido Não faz coisa julgada no cível
para a infração penal

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PROVADA a existência de causa excludente Faz coisa julgada no cível, desde que o ofendido tenha dado
da ilicitude real causa à excludente
Provada a existência de causa excludente da Não faz coisa julgada no cível
ilicitude putativa e erro na execução
Provada a existência de causa excludente da Não faz coisa julgada no cível
culpabilidade
Fundada dúvida acerca de causa excludente Não faz coisa julgada no cível
da ilicitude ou da culpabilidade

#DEOLHONAJURIS
A decretação da prescrição da pretensão punitiva do Estado na ação penal não fulmina o interesse processual
no exercício da pretensão indenizatória a ser deduzida no juízo cível pelo mesmo fato. STJ. 3ª Turma. REsp
1802170-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/02/2020 (Info 666).
Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito doméstico e familiar, é possível a fixação de valor
mínimo indenizatório a título de dano moral, desde que haja pedido expresso da acusação ou da parte ofendida,
ainda que não especificada a quantia, e independentemente de instrução probatória. STJ. 3ª Seção. REsp
1643051-MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 28/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 621).

CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA

Refere-se à condição funcional ou à qualidade das pessoas acusadas,


COMPETÊNCIA RATIONE PERSONAE sendo utilizada nos casos de prerrogativa de função. Ex: Deputados
Federais e Senadores, que são julgados pelo STF (CF, 102, I, “b”).
É aquela estabelecida em razão da natureza da infração penal
COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE praticada. Ex: competência da Justiça Militar para julgar crimes
militares.
Refere-se ao lugar onde ocorreu a infração penal, comarca ou
COMPETÊNCIA RATIONE LOCI subseção. Daí a fixação da competência territorial, seja pelo lugar da
infração, seja pelo domicílio ou residência do réu.
Ocorrerá a prevenção quando, havendo dois ou mais juízes
igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles se
PREVENÇÃO
anteceder ao(s) outro(s) na prática de atos de jurisdição (atos com
carga decisória).
Busca-se definir o Juiz competente dentro da Comarca a que incumbir
o processo e julgamento da ação criminal, o que é feito depois de
NORMAS DE ORGANIZAÇÃO firmada a competência ratione materiae (Justiça Federal, Justiça
JUDICIÁRIA Estadual, Militar etc.) e após definido o foro competente para a
apuração segundo os critérios lugar do crime, domicílio e residência
do réu e prevenção.
Quando, no mesmo foro, houver mais de uma vara igualmente
DISTRIBUIÇÃO
competente.
São hipóteses de modificação da competência que apenas ocorrem
CONEXÃO OU CONTINÊNCIA nas condições expressamente previstas – a primeira, no art. 76 do
CPP, e a segunda, no art. 77 do mesmo diploma legal.

COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA

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Interesse público Interesse preponderante das partes


(norma constitucional) (norma infraconstitucional)
Improrrogável / imodificável Prorrogável / derrogável
Nulidade relativa – deve ser arguida no momento
Nulidade absoluta – pode ser arguida a qualquer
oportuno, sob pena de preclusão; prejuízo deve ser
momento; prejuízo presumido
comprovado
Pode ser reconhecida de ofício – pelo menos Pode ser reconhecida de ofício – pelo menos até o
enquanto não houver o esgotamento da instância início da instrução probatória
Territorial
Ratione materiae
Prevenção
Ratione personae
Distribuição
Funcional
Conexão e continência

COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

#DEOLHONAJURIS
Compete ao Superior Tribunal de Justiça, para os fins preconizados pela regra do foro por prerrogativa de
função, processar e julgar governador em exercício que deixou o cargo de vice-governador durante o mesmo
mandato, quando os fatos imputados digam respeito ao exercício das funções no âmbito do Poder Executivo
estadual. STJ. Corte Especial. QO no AgRg na APn 973-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Rel. para acórdão Min.
Luis Felipe Salomão, julgado em 3/5/2023 (Info 775).
O foro por prerrogativa de função exige contemporaneidade e pertinência temática entre os fatos em
apuração e o exercício da função pública. No caso concreto, além de o crime ser anterior à posse como chefe
do Poder Executivo Municipal, o ato praticado não guarda relação com o seu cargo eletivo, não havendo que se
falar em deslocamento do feito para julgamento pelo Pleno do Tribunal de Justiça. STJ. 6ª Turma. REsp 1982779-
AC, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região), julgado em 14/09/2022 (Info 755).
É inconstitucional norma de constituição estadual que estende o foro por prerrogativa de função a
autoridades não contempladas pela Constituição Federal de forma expressa ou por simetria.
STF. Plenário. ADI 6501/PA, ADI 6508/RO, ADI 6515/AM e ADI 6516/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em
20/8/2021 (Info 1026).
A prorrogação do foro por prerrogativa de função só ocorre se houve reeleição, não se aplicando em caso de
eleição para um novo mandato após o agente ter ficado sem ocupar função pública. STF. 1ª Turma. RE
1185838/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 14/5/2019 (Info 940).
Se os fatos criminosos que teriam sido supostamente cometidos pelo Deputado Federal não se relacionam ao
exercício do mandato, a competência para julgá-los não é do STF, mas sim do juízo de 1ª instância.
Isso porque o foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do
cargo e relacionados às funções desempenhadas (STF AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
03/05/2018). A apropriação indébita se consuma no ato da inversão da propriedade do bem. Se a inversão da
propriedade ocorreu com a transferência dos recursos da conta bancária da empresa vítima, com sede em
Brasília/DF, efetuada pelo Diretor da entidade, tem-se que a competência para apurar este delito é do juiz de
direito de 1ª instância do TJDFT. STF. 1ª Turma. Inq 4619 AgR-segundo/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
19/2/2019 (Info 931).
As hipóteses de foro por prerrogativa de função perante o STJ restringem-se àquelas em que o crime for
praticado em razão e durante o exercício do cargo ou função. STJ. Corte Especial. AgRg na APn 866-DF, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/06/2018 (Info 630).
Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de
alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente

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público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo. STF. Plenário. AP
937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018 (Info 900).
Em regra, o STF entende que deverá haver o desmembramento dos processos quando houver corréus sem
prerrogativa. Em outras palavras, permanece no STF apenas a apuração do investigado
com foro por prerrogativa de função e os demais são julgados em 1ª instância. No entanto, no caso envolvendo
o Senador Aécio Neves, sua irmã, seu primo e mais um investigado, o STF decidiu que, no atual estágio, não
deveria haver o desmembramento e a apuração dos fatos deveria permanecer no Supremo para todos os
envolvidos. Isso porque entendeu-se que o desmembramento representaria inequívoco prejuízo às
investigações. STF. 1ª Turma.Inq 4506 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 14/11/2017 (Info 885).

COMPETÊNCIA TERRITORIAL

TEORIA DO RESULTADO: O CPP, no art. 70, adotou a teoria do resultado, considerando competente, em regra,
o juízo do lugar onde a infração se consumou, ou, sendo hipótese de tentativa, o local onde o último ato de
execução foi praticado.

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de
tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

TEORIA DA ATIVIDADE: por essa teoria, considera-se competente o juízo do local onde fora praticada a conduta.
Excepcionalmente, adota-se essa teoria nos seguintes casos:

- Homicídio, quando o resultado morte tenha ocorrido em local diverso daquele onde se deu a conduta;
- Infrações de menor potencial ofensivo (art. 63, Lei 9.099/95);

TEORIA DA UBIQUIDADE: considera-se como local do crime tanto o lugar em que se processou a ação ou
omissão, como aquele em que ocorreu ou deveria ter ocorrido o resultado. Excepcionalmente, adota-se essa
teoria nos seguintes casos:

- Crimes à distância: aqueles que têm sua execução iniciada em um determinado país, e a consumação em outro;

Art. 70, CPP


§1º - Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será
determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução.
§2º - Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar
em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado.

- Incerteza de limite territorial entre duas ou mais jurisdições ou incerteza de jurisdição.

Art. 70, CPP


§3º - Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter
sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela
prevenção.

- Crime continuado;
- Crime permanente.

Art. 71. Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições,
a competência firmar-se-á pela prevenção.
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Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente
competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do
processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa.

COMPETÊNCIA NO CRIME DE ESTELIONATO:

Art. 70, § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),
quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em
poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será
definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela
prevenção.

#DEOLHONAJURIS
Na hipótese de importação da droga via correio cumulada com o conhecimento do destinatário por meio do
endereço aposto na correspondência, a Súmula 528/STJ deva ser flexibilizada para se fixar a competência no
Juízo do local de destino da droga, em favor da facilitação da fase investigativa, da busca da verdade e da
duração razoável do processo. STJ. 3ª Seção. CC 177.882-PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 26/05/2021
(Info 698).
Nos crimes de estelionato, quando praticados mediante depósito, por emissão de cheques sem suficiente
provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou por meio da transferência de valores,
a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, em razão da superveniência de Lei nº
14.155/2021, ainda que os fatos tenham sido anteriores à nova lei. STJ. 3ª Seção. CC 180.832-RJ, Rel. Min. Laurita
Vaz, julgado em 25/08/2021 (Info 706).
A Justiça Eleitoral é competente para processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem
conexos. STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019 (Info 933).
STJ. 5ª Turma. HC 612636-RS, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), Rel. Acd. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 05/10/2021 (Info 713).
Ausentes os elementos que revelem ter havido evasão de divisas ou lavagem de dinheiro em detrimento de
interesses da União, compete à Justiça Estadual processar e julgar crimes relacionados a pirâmide financeira
em investimento de grupo em criptomoeda. A captação de recursos decorrente de “pirâmide financeira” não
se enquadra no conceito de atividade financeira, razão pela qual o deslocamento do feito para a Justiça Federal
se justifica apenas se demonstrada a prática de evasão de divisas ou de lavagem de dinheiro em detrimento de
bens e serviços ou interesse da União. STJ. 3ª Seção. CC 170392-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em
10/06/2020 (Info 673).
Compete à Justiça comum (Tribunal do Júri) o julgamento de homicídio praticado por militar contra outro
quando ambos estejam fora do serviço ou da função no momento do crime. STJ. 3ª Seção. CC 170201-PI, Rel.
Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/03/2020 (Info 667).
Se o crime do art. 241-A do ECA for praticado por meio do computador da residência do agente localizada em
São Paulo (SP), mesmo assim ele poderá ser julgado pelo juízo de Curitiba (PR) se ficar demonstrado que a
conduta do agente ocorreu com investigações que tiveram início em Curitiba, onde um grupo de pedófilos
ligados ao agente foi preso e, a partir daí, foram obtidas todas as provas. Neste caso, a competência do juízo de
Curitiba ocorrerá por conexão, não havendo ofensa ao princípio do juiz natural. STF. 1ª Turma. HC 135883/PR,
rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/6/2017 (Info 868).

QUESTÕES PREJUDICIAIS X PRELIMINARES

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Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz repute séria
e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a
controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição das
testemunhas e de outras provas de natureza urgente.
Parágrafo único. Se for o crime de ação pública, o Ministério Público, quando necessário, promoverá a ação civil
ou prosseguirá na que tiver sido iniciada, com a citação dos interessados.

Art. 93. Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão sobre questão diversa da
prevista no artigo anterior, da competência do juízo cível, e se neste houver sido proposta ação para resolvê-la,
o juiz criminal poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova a lei
civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição das testemunhas e realização das outras provas de
natureza urgente.
§ 1o O juiz marcará o prazo da suspensão, que poderá ser razoavelmente prorrogado, se a demora não for
imputável à parte. Expirado o prazo, sem que o juiz cível tenha proferido decisão, o juiz criminal fará prosseguir
o processo, retomando sua competência para resolver, de fato e de direito, toda a matéria da acusação ou da
defesa.
§ 2o Do despacho que denegar a suspensão não caberá recurso.
§ 3o Suspenso o processo, e tratando-se de crime de ação pública, incumbirá ao Ministério Público intervir
imediatamente na causa cível, para o fim de promover-lhe o rápido andamento.

Art. 94. A suspensão do curso da ação penal, nos casos dos artigos anteriores, será decretada pelo juiz, de ofício
ou a requerimento das partes.

INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL

É o procedimento incidente instaurado para apurar a inimputabilidade ou semi-imputabilidade do acusado,


levando-se em conta a sua capacidade de compreensão do ilícito ou de determinação de acordo com esse
entendimento à época da infração penal. A instauração pode ser realizada tanto no curso do inquérito policial
quanto na fase do processo judicial.
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#OBS: Insanidade superveniente: se a insanidade surgir no curso do processo (após a prática do delito), o
incidente também deverá ser instaurado. Reconhecida a insanidade, o processo ficará suspenso até o dia em
que o acusado recuperar sua sanidade, pois só assim poderá defender-se (art. 152, CPP). A prescrição continuará
correndo normalmente. Cuida-se de típica crise de instância (processo fica paralisado sem ser extinto).

Doença mental ANTES da infração penal = Processo continuará com a presença de curador

Doença mental DEPOIS da infração penal = Processo é suspenso até que o acusado se restabeleça

#DEOLHONAJURIS:
O reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu depende da prévia instauração de
incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto. O art. 149 do CPP, ao exigir
que o acusado seja submetido a exame médico-legal, não contempla hipótese de prova legal ou tarifada. A
despeito disso, a partir de uma interpretação sistemática das normais processuais penais que regem a matéria,
deve-se concluir que o reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu (art. 26, caput e
parágrafo único do CP) depende da prévia instauração de incidente de insanidade mental e do respectivo exame
médico-legal nele previsto. Vale ressaltar, por fim, que o magistrado poderá discordar das conclusões do laudo,
desde que o faça por meio de decisão devidamente fundamentada. STJ. 6ª Turma. REsp 1802845-RS, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/06/2020 (Info 675).
O incidente de insanidade mental é prova pericial constituída em favor da defesa. Logo, não é possível
determiná-lo compulsoriamente na hipótese em que a defesa se oponha à sua realização. STF. 2ª Turma. HC
133.078/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 6/9/2016 (Info 838).

JUIZ CRIMINAL

O juiz tem o poder-dever de aplicar o direito objetivo ao caso concreto, de maneira imparcial, substituindo-se
à vontade das partes, pondo fim ao conflito entre a pretensão punitiva do Estado e o interesse do acusado na
preservação de sua liberdade individual.

PODERES DO JUIZ:

a) Poder jurisdicional: são aqueles relativos à condução do processo, tais como a colheita de provas, a tomada
de decisões no processo criminal e a execução do comando sentencial. Ex: poder de negar a perícia requerida
pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade (CPP, art. 184); poder de determinar a
condução do ofendido, das testemunhas e do próprio acusado (CPP, arts. 201, § 1º, 218 e 260); poder de recusar
as perguntas da parte, que puderem induzir a resposta, que não tiverem relação com o processo ou importarem
repetição de outra já respondida (CPP, art. 212).

b) Poder de polícia/poderes administrativos: tem o objetivo de assegurar a ordem no decorrer do processo.


Frise-se que a expressão poder de polícia possui o sentido de atuação do magistrado, visando a restringir a
liberdade do particular, seja este parte ou terceiro.

#SELIGA Além dos poderes citados, também confere a lei ao magistrado funções anômalas, que não se incluem
em nenhuma das classificações mencionadas, mas que são facultadas ao juiz. Ex: requisitar a instauração de
inquérito policial em relação a crime de ação pública de que tenha tomado conhecimento, receber a
representação do ofendido (art. 39 do CPP), presidir auto de prisão em flagrante (art. 307 do CPP) etc.

IMPEDIMENTOS NO PROCESSO PENAL:

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Art. 252, CPP. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:
I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau,
inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou
perito;
II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha;
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão;
IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau,
inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.

SUSPEIÇÃO NO PROCESSO PENAL:

Art. 254, CPP. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes:
I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre
cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou
responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes;
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;
V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.

CAUSAS DE IMPEDIMENTO CAUSAS DE SUSPEIÇÃO


As causas de impedimento referem-se a vínculos
As causas de suspeição referem-se ao ânimo subjetivo
objetivos do juiz com o processo,
do juiz quanto às partes, em regra são encontradas
independentemente de seu ânimo subjetivo. Há
externamente ao processo.
presunção absoluta de parcialidade.
São causas de nulidade absoluta, alegáveis a Há divergência se gera nulidade relativa ou absoluta,
qualquer tempo pelas partes. Renato Brasileiro diz mas a doutrina majoritária entende que gera nulidade
que os atos praticados são inexistentes. relativa.
Rol é exemplificativo, porque permite a expansão por
Rol é taxativo.
razões de foro íntimo.

#DEOLHONAJURIS
Não há empecilho para que os magistrados concedam entrevistas sobre os casos em que são responsáveis
pelo julgamento dos processos. No caso concreto, a magistrada não tratou na entrevista diretamente sobre o
conteúdo dos autos, motivo pelo qual não se pode presumir, de sua simples manifestação sobre os fatos, um
juízo de valor que motive eventual suspeição para o julgamento da causa. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 2004098-
SC, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), julgado em 02/08/2022 (Info 743).
A simples habilitação do advogado nos autos de processo conduzido por juiz que é seu inimigo não se
enquadra, por si só, na situação do art. 256 do CPP. A hipótese excepcional do art. 256 do CPP somente pode
ser reconhecida se o magistrado ou o Tribunal, atendendo a elevado ônus argumentativo, demonstrar de
maneira inequívoca que o excipiente provocou dolosamente a suspeição. Não cabem, aqui, intuições,
conjecturas ou palpites, sendo imprescindível a comprovação do artifício ilícito, devidamente fundamentada na
decisão ou acórdão. STJ. 5ª Turma. AREsp 2026528-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/06/2022 (Info
740).
Expressões ofensivas, desrespeitosas e pejorativas proferidas pelo magistrado na sessão de julgamento
contra a honra do réu podem configurar quebra de imparcialidade e causa de nulidade absoluta. Expressões
ofensivas, desrespeitosas e pejorativas proferidas pelo magistrado na sessão de julgamento contra a honra do

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jurisdicionado que está sendo julgado, podem configurar causa de nulidade absoluta, haja vista que ofendem a
garantia constitucional da imparcialidade, que deve, como componente do devido processo legal, ser observada
em todo e qualquer julgamento em um sistema acusatório. O STJ reconheceu a parcialidade do magistrado e,
como consequência, a nulidade do julgamento do recurso de apelação. Diante disso, determinou novo
julgamento sem a participação do Desembargador. STJ. 6ª Turma. HC 718525-PR, Rel. Min. Olindo Menezes
(Desembargador convocado do TRF 1ª Região), julgado em 26/04/2022 (Info 734).
Não há impedimento ou suspeição de integrantes de Colegiado do STJ que apreciaram recurso especial e,
posteriormente, venham participar do julgamento de outro apelo raro oriundo de revisão criminal ajuizada
na origem.STJ. 3ª Seção. AgRg na ExSusp 209-DF, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 12/08/2020
(Info 678).
A participação de magistrado em julgamento de caso em que seu pai já havia atuado é causa de nulidade
absoluta, prevista no art. 252, I, do CPP. STF. 2ª Turma. HC 136015/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 14/5/2019 (Info 940).
A declaração pelo magistrado ("autodeclaração") de suspeição por motivo superveniente não tem efeitos
retroativos, não importando em nulidade dos atos processuais praticados em momento anterior ao fato
ensejador da suspeição. STJ. 1ª Seção. PET no REsp 1339313-RJ, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. para acórdão Min.
Assusete Magalhães, julgado em 13/4/2016 (Info 587).

SISTEMAS DE APRECIAÇÃO DA PROVA

O juiz tem ampla liberdade para decidir e está dispensado da motivação.


SISTEMA DA ÍNTIMA
A única hipótese existente em nosso ordenamento jurídico desse
CONVICÇÃO OU DA CERTEZA
sistema é o Tribunal do Júri, que decide de forma intelectiva (art. 5º,
MORAL DO JUIZ
XXXVIII, CF).
A lei estabelece o valor de cada prova, sendo que o juiz não possui
discricionariedade para decidir, havendo uma hierarquização do valor
SISTEMA DA PROVA TARIFADA das provas. No CPP existem algumas situações nas quais, como exceção,
OU DA CERTEZA MORAL DO o legislador adotou o sistema da prova tarifada. Ex: no art. 62, dispondo
LEGISLADOR que a extinção da punibilidade pela morte do réu apenas poderá ser
determinada à vista de certidão de óbito, e, mesmo isso, após prévia
oitiva do Ministério Público.
Está previsto no art. 155, caput, do CPP, ao dispor que o juiz formará sua
convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
SISTEMA DO LIVRE
cautelares, não repetíveis e antecipadas.
CONVENCIMENTO MOTIVADO
Assim, esse sistema não limita o juiz aos meios de prova regulamentados
OU PERSUASÃO RACIONAL
em lei, caracteriza-se pela ausência de hierarquia entre os meios de
prova e exige, para fins de condenação, que as provas nas quais se fundar
o juiz tenham sido produzidas em observância às garantias
constitucionais do contraditório e da ampla defesa

#DEOLHONAJURIS
O depoimento testemunhal indireto não possui a capacidade necessária para sustentar uma acusação e
justificar a instauração do processo penal, sendo imprescindível a presença de outros elementos probatórios
substanciais. A falta de justa causa para o exercício da ação penal decorre da ausência de elementos probatórios
mínimos que respaldem a acusação, como é o caso do testemunho indireto (por ouvir dizer). A análise dos
elementos circunstanciais e acidentais presentes nos autos revela a inexistência de indícios mínimos de autoria
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dos delitos imputados ao acusado. O depoimento testemunhal indireto, por si só, não possui a capacidade
necessária para sustentar uma acusação consistente, sendo imprescindível a presença de outros elementos
probatórios substanciais. A rejeição da denúncia é medida adequada diante da insuficiência de elementos
probatórios que vinculem o acusado aos fatos alegados, em conformidade com o princípio constitucional da
presunção de inocência. STJ. 5ª Turma.AREsp 2.290.314-SE, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/5/2023 (Info
776).
Não há direito absoluto à produção de prova. Em casos complexos, há que se confiar no prudente arbítrio do
juiz da causa, mais próximo dos fatos, quanto à avaliação da pertinência e relevância das provas requeridas pelas
partes. Assim, não há nulidade se o juiz indefere, de modo fundamentado, a oitiva das vítimas do crime. Em
regra, o ofendido deverá ser ouvido na audiência de instrução. No entanto, a obrigatoriedade de oitiva da vítima
deve ser compreendida à luz da razoabilidade e da utilidade prática da colheita da referida prova. STF. 1ª Turma.
HC 131158/RS, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 26/4/2016 (Info 823).
O direito à prova é expressão de uma inderrogável prerrogativa jurídica, que não pode ser, arbitrariamente,
negada ao réu. O princípio do livre convencimento motivado (art. 400, § 1º, do CPP) faculta ao juiz o
indeferimento das provas consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. No entanto, no caso
concreto houve o indeferimento de todas as testemunhas de defesa. Dessa forma, houve ofensa ao devido
processo legal, visto que frustrou a possibilidade de o acusado produzir as provas que reputava necessárias à
demonstração de suas alegações. STF. 2ª Turma. HC 155363/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 8/5/2018 (Info
891).

CADEIA DE CUSTÓDIA

Trata-se de um ciclo de atos/eventos que devem manter a idoneidade e integridade dos elementos que serão
eventualmente utilizados como provas. Visa assegurar a idoneidade dos objetos e bens apreendidos, de modo
a evitar qualquer tipo de dúvida quanto à sua origem e caminho percorrido durante a investigação criminal e o
subsequente processo criminal.

Foi inserida previsão expressa no Código de Processo Penal pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19):

Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e
documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua
posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com procedimentos policiais
ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da prova
pericial fica responsável por sua preservação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à
infração penal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

ETAPAS DA CADEIA DE CUSTÓDIA (ART. 158-B, CPP):

ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a produção


RECONHECIMENTO
da prova pericial;
ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o
ISOLAMENTO
ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime
descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou
FIXAÇÃO
no corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada

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por fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no


laudo pericial produzido pelo perito responsável pelo atendimento
ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando
COLETA
suas características e natureza
procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de forma
individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e
ACONDICIONAMENTO
biológicas, para posterior análise, com anotação da data, hora e nome de
quem realizou a coleta e o acondicionamento
ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições
adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a
TRANSPORTE
garantir a manutenção de suas características originais, bem como o controle
de sua posse
ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser documentado
com, no mínimo, informações referentes ao número de procedimento e
RECEBIMENTO unidade de polícia judiciária relacionada, local de origem, nome de quem
transportou o vestígio, código de rastreamento, natureza do exame, tipo do
vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu
exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a metodologia
adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se
PROCESSAMENTO
obter o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido
por perito
procedimento referente à guarda, em condições adequadas, do material a ser
ARMAZENAMENTO processado, guardado para realização de contraperícia, descartado ou
transportado, com vinculação ao número do laudo correspondente
procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a legislação
DESCARTE
vigente e, quando pertinente, mediante autorização judicial

ATENÇÃO: A violação da cadeia de custódia NÃO implica, de maneira obrigatória, a inadmissibilidade ou a


nulidade da prova colhida. Nessas hipóteses, eventuais irregularidades devem ser observadas pelo juízo ao lado
dos demais elementos produzidos na instrução criminal, a fim de decidir se a prova questionada ainda pode ser
considerada confiável. Só após essa confrontação é que o magistrado, caso não encontre sustentação na prova
cuja cadeia de custódia foi violada, pode retirá-la dos autos ou declará-la nula. (STJ, 6ª Turma, HC 653.515/RJ, j.
23/11/2021)

#DEOLHONAJURIS
As irregularidades constantes da cadeia de custódia devem ser sopesadas pelo magistrado com todos os
elementos produzidos na instrução, a fim de aferir se a prova é confiável. A cadeia de custódia da prova
consiste no caminho que deve ser percorrido pela prova até a sua análise pelo magistrado, sendo certo que
qualquer interferência indevida durante esse trâmite processual pode resultar na sua imprestabilidade (RHC
77.836/PA, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 05/02/2019). A defesa deve ter acesso à integralidade das
conversas advindas nos autos de forma emprestada, sendo inadmissível que as autoridades de persecução
façam a seleção dos trechos que ficarão no processo e daqueles que serão extraídos. A apresentação de somente
parcela dos áudios, cuja filtragem foi feita sem a presença do defensor, acarreta ofensa ao princípio da paridade
de armas e ao direito à prova, porquanto a pertinência do acervo probatório não pode ser realizada apenas pela
acusação, na medida em que gera vantagem desarrazoada em detrimento da defesa. STJ. 6ª Turma. REsp
1.795.341-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 07/05/2019 (Info 648).
Com relação à ilegalidade referente à cadeia de custódia do material genético enviado para exame de DNA, tem-
se que, apesar de o ofício ter sido elaborado de maneira concisa, sem indicação de número do pacote, não

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restou comprovada a quebra da cadeia de custódia, uma vez que a simples concisão do ofício e a ausência de
indicação do número do pacote não são suficientes para reconhecer a ilegalidade. STJ. 6ª Turma. HC
574.103/MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 04/08/2020.
Segundo a jurisprudência desta Corte, o instituto da quebra da cadeia de custódia diz respeito à idoneidade do
caminho que deve ser percorrido pela prova até sua análise pelo magistrado, sendo certo que qualquer
interferência durante o trâmite processual pode resultar na sua imprestabilidade. Tem como objetivo garantir
a todos os acusados o devido processo legal e os recursos a ele inerentes, como a ampla defesa, o contraditório
e principalmente o direito à prova lícita (AgRg no HC 615.321/PR, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA
TURMA, julgado em 03/11/2020, DJe 12/11/2020).
In casu, não se pode falar na quebra da cadeia de custódia, uma vez que há provas suficientes nos autos para a
condenação, tendo em vista que, mesmo que comprovado, o fato de não terem sido encartados aos autos alguns
depoimentos prestados em sede inquisitorial não desnatura o amplo acervo probatório constituído, nem serve
de balizamento para se pleitear a quebra da cadeia de custódia. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1764654/RJ, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/08/2021.
São inadmissíveis as provas digitais sem registro documental acerca dos procedimentos adotados pela polícia
para a preservação da integridade, autenticidade e confiabilidade dos elementos informáticos. Caso
adaptado: a Polícia Civil realizou operação para investigar e prender uma suposta organização criminosa de
hackers que teria furtado dinheiro de correntistas de bancos. João foi um dos indivíduos preso e denunciado
pelo Ministério Público por furto, organização criminosa e lavagem de dinheiro. A defesa de João impetrou
habeas corpus argumentando que a imputação dos crimes está fundamentada em supostas provas digitais em
relação às quais houve quebra da cadeia de custódia. As provas existentes contra João foram extraídas dos
computadores apreendidos na sua residência, no entanto, não houve registro documental dos procedimentos
adotados pela polícia para a preservação da integridade, autenticidade e confiabilidade dos elementos
informáticos. Logo, houve quebra da cadeia de custódia (art. 158-A e seguintes do CPP). O STJ concordou. Não
há como assegurar que os elementos informáticos periciados pela polícia são íntegros e idênticos aos que
existiam nos computadores do réu, o que acarreta ofensa ao art. 158 do CPP com a quebra da cadeia de
custódia dos computadores apreendidos pela polícia, inadmitindo-se as provas obtidas por falharem num teste
de confiabilidade mínima. STJ. 5ª Turma. RHC 143169/RJ, Rel. Min. Messod Azulay Neto, Rel. Acd. Min. Ribeiro
Dantas, julgado em 7/2/2023 (Info 763).

TEORIAS DAS PROVAS ILÍCITAS

Antes de tudo, vamos ter em mente as diferenças entre prova ilícita, prova ilegal e prova ilegítima:

É a obtida por meio de violação de normas legais ou de princípios gerais do direito, de


PROVA ILEGAL natureza material ou processual. É gênero, sendo suas espécies as provas ilícitas e
ilegítimas.
É a obtida por meio de violação de regra de direito material. Pressupõe a violação no
momento da colheita da prova, em regra, em momento anterior ou concomitante ao
PROVA ILÍCITA
processo, mas sempre externamente a este. Esta violação leva à ilicitude e impõe o
desentranhamento.
É a obtida por meio de violação à norma de direito processual. Em regra, ocorre no
PROVA ILEGÍTIMA curso do processo e internamente a este. Esta violação leva à nulidade do ato de
formação da prova e impõe sua renovação, nos termos do art. 573, CPP.

Art. 157, CPP. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas
as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

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1. TEORIA DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA: a ilicitude da prova originária transmite-se, por
repercussão, a todos os dados probatórios que nela se apoiem, ou dela derivem, ou nela encontrem seu
fundamento causal (também chamada de ilicitude por derivação).

2. TEORIA DA FONTE INDEPENDENTE – exceção da teoria dos frutos: se a prova foi obtida, legitimamente, a
partir de novos elementos de uma fonte independente, que não guarde relação de dependência, nem decorra
da prova originariamente ilícita, com esta não mantendo vínculo causal, tais provas são admissíveis, porque não
contaminados pela mácula da ilicitude originária; impõe-se a demonstração fática inequívoca para ser aplicada.

3. TEORIA DA MANCHA PURGADA, VÍCIOS SANADOS OU TINTA DILUÍDA – exceção da teoria dos frutos: não
se aplica a teoria da prova ilícita por derivação se o nexo causal entre a prova primária e a secundária for
atenuado em virtude do decurso do tempo, de circunstâncias supervenientes na cadeia probatória, da menor
relevância da ilegalidade ou da vontade de um dos envolvidos em colaborar com a persecução criminal; em
outras palavras, um vício de ilicitude originário pode ser expurgado por meio de um ato independente
interveniente.

Art. 157, § 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas [teoria dos frutos da árvore
envenenada], salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras [teoria da mancha
purgada], ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras [teoria da
fonte independente].

4. TEORIA DA DESCOBERTA INEVITÁVEL – exceção da teoria dos frutos: caso se demonstre que a prova
derivada da ilícita seria produzida de qualquer modo, independentemente de prova ilícita originária, tal prova
deve ser considerada válida; impõe-se a existência de dados concretos para ser aplicada, ou seja, um juízo do
provável.

Art. 157, § 2o Considera-se fonte independente [DESCOBERTA INEVITÁVEL] aquela que por si só, seguindo os
trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato
objeto da prova.

OBS: O Professor Renato Brasileiro afirma que houve um equívoco do legislador, pois ao aplicar o verbo no
condicional (“seria capaz de”), o conceito fornecido refere-se ao da limitação da descoberta inevitável.
MAS CUIDADO! Em provas objetivas, se vier a literalidade da lei, podemos assinalar como correta!!!

5. TEORIA DO ENCONTRO FORTUITO DE PROVAS (SERENDIPIDADE) E CRIME ACHADO: ocorre quando, no


cumprimento de uma diligência relativa a um delito, a autoridade policial casualmente encontra provas
pertinentes à outra infração penal (crime achado), que não estavam na linha de desdobramento normal da
investigação ou quando a prova de determinada infração penal é obtida a partir de diligência regularmente
autorizada para a investigação de outro crime; a validade da prova inesperadamente obtida está condicionada
à licitude da diligência (se houver desvio de finalidade ou abuso de autoridade, a prova não deve ser considerada
válida).

O QUE É DESCONTAMINAÇÃO DO JULGADO? A descontaminação do julgado visa evitar que o Juiz que teve
contato com a prova ilícita venha a julgar o caso, uma vez que não teria isenção suficiente para apreciar o caso
concreto, ante a influência, ainda que reflexa, que a prova ilícita poderá ter ocasionado. Referida possibilidade
foi vetada no ordenamento brasileiro, vez que o art.157, parágrafo 4º, do CPP iria prever tal possibilidade, mas
foi objeto de veto pelo Presidente da República.

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#DEOLHONAJURIS
A mera sinalização do cão de faro, seguida de abordagem a suposto usuário saindo do local, desacompanhada
de qualquer outra diligência investigativa ou outro elemento concreto indicando a necessidade de imediata
ação policial, não justifica a dispensa do mandado judicial para o ingresso em domicílio. STJ. 6ª Turma. AgRg
no HC 729.836-MS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/4/2023 (Info 774).
A decisão que determina exclusão de elementos probatórios obtidos mediante o acesso ao e-mail funcional
de servidor investigado não contamina a legalidade da utilização de provas produzidas de forma
independente por comissão disciplinar de PAD, em observância à teoria da fonte independente e da
descoberta inevitável da prova. Inicialmente, anota-se que, nos termos em que fora julgado o RHC 120.939/SP,
não se delimitou o alcance da declaração de ilicitude dos e-mails pertencentes a servidor, se apenas o pessoal
ou também o funcional. "O reconhecimento de nulidades no curso do processo penal reclama uma efetiva
demonstração do prejuízo à parte, sem a qual prevalecerá o princípio da instrumentalidade das formas
positivado pelo art. 563 do CPP (pas de nullité sans grief)" (AgRg no HC n. 727.803/PR, relator Ministro Ribeiro
Dantas, Quinta Turma, julgado em 17/05/2022, DJe de 20/05/2022).
São lícitas as provas obtidas com a apreensão de bens não discriminados expressamente em mandado ou na
decisão judicial correspondente, mas vinculados ao objeto da investigação. Caso adaptado: João estava sendo
investigado em inquérito policial. O juiz decretou a medida de busca e apreensão em sua residência. Na decisão
e no mandado havia expressa autorização para que fossem apreendidos aparelhos celulares, equipamentos
eletrônicos, como tablets, notebooks e pen drives. Os policiais apreenderam também papéis e agendas, que não
estavam mencionados expressamente no mandado. Essa apreensão foi lícita. Na decisão, havia a indicação das
alíneas "e", "f" e "h" do § 1° do art. 240 do CPP, o que revela a efetiva autorização para recolhimento de papéis
e agendas. Além disso, não se exige que a decisão que defere a busca e apreensão esmiúce quais documentos
ou objetos devam ser coletados. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 727709/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 16/08/2022 (Info 750).
Admitir a entrada na residência especificamente para efetuar uma prisão não significa conceder um salvo-
conduto para que todo o seu interior seja vasculhado indistintamente, em verdadeira pescaria probatória
(fishing expedition), sob pena de nulidade das provas colhidas por desvio de finalidade. STJ. 6ª Turma. HC
663.055-MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/03/2022 (Info 731).
O MP pode requerer diretamente que a Apple, Google etc guardem os registros de acesso a aplicações de
internet ou registros de conexão de pessoas investigadas enquanto se aguarda pedido de quebra de sigilo de
dados. O requerimento de simples guarda dos registros de acesso a aplicações de internet ou registros de
conexão por prazo superior ao legal, feito por autoridade policial, administrativa ou Ministério Público,
prescinde de prévia autorização judicial. Caso concreto: o MP instaurou procedimento de investigação criminal.
O Promotor enviou ofícios à Apple e a Google requerendo que tais empresas preservassem os dados telemáticos
dos investigados enquanto o Poder Judiciário não aprecia os pedidos de quebra do sigilo. Não há ilegalidade
nesse pedido, não sendo necessária prévia autorização judicial. STJ. 6ª Turma. HC 626.983-PR, Rel. Min. Olindo
Menezes (Desembargador Convocado do TRF da 1ª Região), julgado em 08/02/2022 (Info 724)
Não há ilicitude das provas por violação ao sigilo de dados bancários, em razão do compartilhamento de dados
de movimentações financeiras da própria instituição bancária ao Ministério Público. STJ. 6ª Turma. RHC
147.307-PE, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região), julgado em 29/03/2022
(Info 731)
É lícito o compartilhamento de dados bancários feito por órgão de investigação do país estrangeiro para a
polícia brasileira, mesmo que, no Estado de origem, essas informações não tenham sido obtidas com
autorização judicial, já que isso não é exigido naquele país. A ilicitude da prova ou do meio de sua obtenção
somente poderia ser pronunciada se o réu demonstrasse alguma violação de suas garantias ou das específicas
regras de produção probatória. STJ. 5ª Turma. AREsp 701.833/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
04/05/2021 (Info 695).
É ilegal a quebra do sigilo telefônico mediante a habilitação de chip da autoridade policial em substituição ao
do investigado titular da linha. A Lei nº 9.296/96 não autoriza a suspensão do serviço telefônico ou do fluxo da
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comunicação telemática mantida pelo usuário, tampouco a substituição do investigado e titular da linha por
agente indicado pela autoridade policial.STJ. 6ª Turma. REsp 1.806.792-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
11/05/2021 (Info 696).
É lícita a entrada de policiais, sem autorização judicial e sem o consentimento do hóspede, em quarto de hotel
não utilizado como morada permanente, desde que presentes as fundadas razões que sinalizem a ocorrência
de crime e hipótese de flagrante delito. STJ. 6a Turma. HC 659.527-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado
em 19/10/2021 (Info 715).
Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas pela polícia por meio da extração de dados e de
conversas registradas no whatsapp presentes no celular do suposto autor de fato delituoso, ainda que o
aparelho tenha sido apreendido no momento da prisão em flagrante. STJ. 6ª Turma. RHC 51.531-RO, Rel. Min.
Nefi Cordeiro, julgado em 19/4/2016 (Info 583).
Se o telefone celular foi apreendido em busca e apreensão determinada por decisão judicial, não há óbice para
que a autoridade policial acesse o conteúdo armazenado no aparelho, inclusive as conversas do Whatsapp. Para
a análise e a utilização desses dados armazenados no celular não é necessária nova autorização judicial. A
ordem de busca e apreensão determinada já é suficiente para permitir o acesso aos dados dos aparelhos
celulares apreendidos. STJ. 5ª Turma. RHC 77.232/SC, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 03/10/2017.
É nula decisão judicial que autoriza o espelhamento do WhatsApp via Código QR para acesso no WhatsApp Web.
Também são nulas todas as provas e atos que dela diretamente dependam ou sejam consequência, ressalvadas
eventuais fontes independentes. Não é possível aplicar a analogia entre o instituto da interceptação telefônica
e o espelhamento, por meio do WhatsApp Web, das conversas realizadas pelo aplicativo WhatsApp. STJ. 6ª
Turma. RHC 99.735-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/11/2018 (Info 640).

PROVA EMPRESTADA

É aquela produzida em um processo e transportada documentalmente para outro processo, caracterizando a


mútua colaboração entre órgãos jurisdicionais. Vale mencionar que não se pode falar de prova emprestada de
elementos informativos, salvo nos casos de provas não repetíveis – perícia – já que o contraditório é diferido.

REQUISITOS:
a) Mesmas partes em ambos os processos: sobre esse requisito, há divergência. Isso porque o STJ entende que
a prova emprestada não pode se restringir a processos em que figurem partes idênticas (Info 543)
b) O contraditório deve ser respeitado quando da prospecção da prova (STF HC 95.186).
c) A disciplina normativa na produção da prova deve ter sido atendida: em regra, só é possível emprestar prova
lícita; a prova ilícita pode ser emprestada para favorecer o réu.
d) O fato provado pelo elemento que se pretende emprestar deve ser importante e útil aos dois processos
para caracterizar eventual responsabilidade criminal ou não.

#DEOLHONAJURIS
Em processo que apure a suposta prática de crime sexual contra adolescente absolutamente incapaz, é
admissível a utilização de prova extraída de gravação telefônica efetivada a pedido da genitora da vítima, em
seu terminal telefônico, mesmo que solicitado auxílio técnico de detetive particular para a captação das
conversas. STJ. 6ª Turma. REsp 1.026.605-ES, Rel. Min. Rogério Schietti, julgado em 13/05/2014 (Info 543).
O fato de a interceptação telefônica ter visado elucidar outra prática delituosa não impede a sua utilização
em persecução criminal diversa por meio do compartilhamento da prova. STF. 1ª Turma. HC 128102/SP, Rel.
Min. Marco Aurélio, julgado em 9/12/2015 (Info 811).
É possível o compartilhamento, para outros órgãos e autoridades públicas, das provas obtidas no acordo de
colaboração premiada, desde que sejam respeitados os limites estabelecidos no acordo em relação ao
colaborador. Assim, por exemplo, se um indivíduo celebra acordo de colaboração premiada com o MP aceitando

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fornecer provas contra si, estas provas somente poderão ser utilizadas para as sanções que foram ajustadas no
acordo. STF. 2ª Turma. PET 7065/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 30/10/2018 (Info 922).
É possível compartilhar as provas colhidas em sede de investigação criminal para serem utilizadas,
como prova emprestada, em inquérito civil público e em outras ações decorrentes do fato investigado. Esse
empréstimo é permitido mesmo que as provas tenham sido obtidas por meio do afastamento ("quebra") judicial
dos sigilos financeiro, fiscal e telefônico. STF. 1ª Turma. Inq 3305 AgR/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o
acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 23/2/2016 (Info 815).
É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar, de prova emprestada validamente produzida
em processo criminal? SIM. A jurisprudência do STJ e do STF são firmes no sentido de que é admitida a utilização
no processo administrativo de “prova emprestada” do inquérito policial ou do processo penal, desde que
autorizada pelo juízo criminal e respeitados o contraditório e a ampla defesa (STJ. 1ª Seção. MS 17.472/DF, Rel.
Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 13/6/2012).
É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar, de prova emprestada validamente produzida
em processo criminal, independentemente do trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Isso porque,
em regra, o resultado da sentença proferida no processo criminal não repercute na instância administrativa,
tendo em vista a independência existente entre as instâncias (STJ. 2ª Turma. RMS 33.628-PE, Rel. Min. Humberto
Martins, julgado em 2/4/2013. Info 521).

Súmula 591-STJ: É permitida a “prova emprestada” no processo administrativo disciplinar, desde que
devidamente autorizada pelo juízo competente e respeitados o contraditório e a ampla defesa.

ANTECIPAÇÃO DA PROVA

#DEOLHONAJURIS
É justificável a antecipação de prova no caso de depoimento especial de adolescente vítima de crime sexual,
pela relevância da palavra da vítima em crimes dessa natureza e na sua urgência pela falibilidade da memória
de crianças e adolescentes. Caso hipotético: João é suspeito de ter praticado crime sexual contra seu enteado
Pedro, de apenas 14 anos, fato que teria sido presenciado por Lucas, de 11 anos. Ao tomar conhecimento desses
fatos, a autoridade policial formulou representação de medida cautelar inominada criminal pedindo a produção
antecipada de provas, com o objetivo de tomar o depoimento especial de Pedro, na condição de vítima, e de
Lucas, na qualidade de testemunha da violência, ambos realizados na forma da Lei nº 13.431/2017 acima
explicada. A medida foi deferida fundamentadamente pelo magistrado. Inconformado, João impetrou habeas
corpus, mas o TJ manteve a decisão do juiz que autorizou a realização antecipada do depoimento especial. Os
depoimentos foram realizados. Mesmo assim, João interpôs recurso ordinário constitucional ao STJ afirmando
que não houve perda do objeto, ou seja, que ele permanece com interesse recursal. Isso porque, em sua visão,
os depoimentos foram colhidos em desacordo com o devido processo legal. Logo, essas provas deverão ser
declaradas nulas. O STJ não concordou com o pedido de João. É justificável a antecipação de prova no caso de
depoimento especial de adolescente vítima de possível crime sexual - na forma da Lei nº 13.431/2017 - pela
relevância da palavra da vítima em crimes dessa natureza e na sua urgência pela falibilidade da memória de
crianças e adolescentes. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 160012/SC, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em
6/3/2023 (Info 767).
É possível a antecipação de provas para a oitiva de testemunhas policiais, dado que, pela natureza dessa
atividade profissional, diariamente em contato com fatos delituosos semelhantes, o decurso do tempo traz
efetivo risco de perecimento da prova testemunhal por esquecimento. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1995527-
SE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 19/12/2022 (Info 764).
A antecipação da prova testemunhal prevista no art. 366 do CPP pode ser justificada como medida necessária
pela gravidade do crime praticado e possibilidade concreta de perecimento, haja vista que as testemunhas
poderiam se esquecer de detalhes importantes dos fatos em decorrência do decurso do tempo. Além disso, a
antecipação da oitiva das testemunhas não traz nenhum prejuízo às garantias inerentes à defesa. Isso porque
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quando o processo retomar seu curso, caso haja algum ponto novo a ser esclarecido em favor do réu, basta que
seja feita nova inquirição. STF. 2ª Turma. HC 135386/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 13/12/2016 (Info 851).

PRISÃO EM FLAGRANTE

O flagrante é forma de prisão autorizada expressamente pela Constituição Federal (art. 5º, XI), no decorrer da
prática da infração ou momentos depois.

Trata-se de uma prisão precautelar (doutrina majoritária), com duração limitada no tempo a um acontecimento
previsto em lei que, no caso, é o recebimento do respectivo auto de prisão pelo juiz e subsequente adoção das
medidas consagradas no art. 310, entre as quais se encontra a prisão preventiva – esta sim, com natureza de
prisão cautelar

Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que
seja encontrado em flagrante delito.

- Flagrante facultativo = qualquer do povo PODERÁ


- Flagrante obrigatório = as autoridades policiais e seus agentes DEVERÃO

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:


I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça
presumir ser autor da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor
da infração.
Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a
permanência.

- Flagrante Próprio, Perfeito, Real ou Verdadeiro: quando o agente “está cometendo” ou “acaba de cometer”
a infração penal (incisos I e II)
- Flagrante Impróprio, Imperfeito, Irreal ou “Quase-Flagrante”: quando o agente é perseguido, logo após +
situação que faça presumir ser autor (inciso III)
- Flagrante Presumido, Ficto ou Assimilado: quando o agente é encontrado logo depois + instrumentos, armas,
objetos ou papeis que façam presumir ser ele o autor (inciso IV)

FLAGRANTE PREPARADO (provocado, delito de ensaio, delito putativo, imaginado por obra do agente
provocador): Ocorre quando alguém, de forma ardilosa, instiga o agente à prática do delito com o objetivo de
prendê-lo em flagrante, ao mesmo tempo em que adota todas as providências para que o delito não se consume.
É hipótese de crime impossível.

Súmula 145, STF: Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua
consumação.

FLAGRANTE ESPERADO: Não há agente provocado. Nesse caso, chega à polícia a notícia de que um crime será,
em breve, cometido. Trata-se de uma hipótese viável de autorizar a prisão em flagrante e a constituição válida
do crime.
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Súmula 567, STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança
no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto.

Previsão na Lei de drogas:


Art. 33, §1º Nas mesmas penas incorre quem:
IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas,
sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado,
quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

FLAGRANTE PRORROGADO, Retardado ou Diferido (Ação Controlada): postergação da atuação policial que,
naquele momento, em tese, deveria atuar, sob a perspectiva da utilidade probatória. Retardaria a atuação
policial.

Três leis podem ser citadas, à título de exemplo que tem previsto a ação controlada:
• Lei 9.613/98: Lavagem de Capitais – depende de prévia autorização judicial.
• Lei 11.343/2006: Lei de Drogas – exige-se prévia autorização judicial.
• Lei 12.850/2013: Lei de Organização Criminosa – não há necessidade de autorização judicial prévia, devendo
observar tão somente o dever de COMUNICAR.

FLAGRANTE FORJADO, Fabricado, Maquiado ou Urdido: Não é um flagrante de fato, é uma situação ilícita. Ex:
plantar droga no domicílio.

#NÃOCONFUNDA

FLAGRANTE ESPERADO FLAGRANTE FORJADO FLAGRANTE PREPARADO


O agente quer delinquir O agente não deseja delinquir O agente quer delinquir
Ausência de estímulo policial A polícia fabrica o crime Polícia estimula o delito
Prisão legal Prisão ilegal Prisão ilegal

PRISÃO EM FLAGRANTE NOS CRIMES FORMAIS:


Crimes formais, também denominados de crimes de consumação antecipada são aqueles em que há um
resultado naturalístico, todavia, não é necessário esse resultado para que o crime se consuma (ex. concussão,
art. 316 CP). No crime de concussão, no momento que o sujeito exige a vantagem, o crime já se consumou,
sendo desnecessário a entrega/recebimento da vantagem, constituindo-se esse ato em mero exaurimento.
Assim, a prisão em flagrante em crime formal deve ocorrer por ocasião da consumação do delito, e não quando
do seu exaurimento. O verbo do delito em análise é exigir, logo, a prisão em flagrante é cabível por ocasião da
exigência da vantagem. O receber a vantagem é mero exaurimento.

PRISÃO EM FLAGRANTE NO CRIME CONTINUADO:


Crime continuado é chamado pela doutrina de Flagrante Fracionado. O crime continuado tem previsão no art.
71 do Código Penal, e trata-se de uma ficção, é tratada pelo ordenamento como se fosse um crime único.
Flagrante fracionado é aquele que incide sobre uma fração das condutas que constituem o crime continuado. O
flagrante irá incidir somente sobre aquele ato isolado. Para cada ação criminosa seria cabível o flagrante.

PRISÃO EM FLAGRANTE NOS CRIMES HABITUAIS:

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Crimes habituais são aqueles que não se consumam em apenas um ato, exigindo uma sequência de ações para
que se configure o tipo penal. Em relação à possibilidade de flagrante, há 2 posições:
a) Não é possível a prisão em flagrante (Tourinho Filho) – Posição majoritária: isso porque, quando a polícia
prende o acusado em flagrante, está surpreendendo-o em um único ato e que o crime considerado habitual não
se consuma com uma só ação, razão pela qual é impossível o flagrante nesse caso.
b) É possível a prisão em flagrante (Mirabete): quando o agente for surpreendido na prática de um dos atos
que compõem a conduta delituosa, exigindo-se, porém, prova inequívoca de atos anteriores.

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA

A convenção americana de Direitos Humanos prevê o direito de toda pessoa presa a ser levada, SEM DEMORA,
à presença de uma autoridade, por meio da audiência de custódia. Assim, foi elaborada a Resolução 213, CNJ
para regulamentar a sua realização, diante de previsão na legislação interna, prevendo que “toda pessoa presa
em flagrante delito, independente da motivação ou natureza do ato, seja obrigatoriamente apresentada, em até
24 horas da comunicação do flagrante, à autoridade judicial competente, e ouvida sobre as circunstâncias em
que se realizou a prisão.”

Entretanto, com a entrada em vigor da Lei 13.964/19, passou a ser regulamentada nos seguintes termos:

Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do mandado não obstará a prisão, e o preso, em tal
caso, será imediatamente apresentado ao juiz que tiver expedido o mandado, para a realização de audiência de
custódia. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a
realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado
constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz
deverá, fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - relaxar a prisão ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste
Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou (Incluído pela
Lei nº 12.403, de 2011).
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

O preso é ouvido durante a audiência de custódia. Renato Brasileiro destaca que “o preso não deve ser ouvido
quanto à imputação”. A audiência de custódia não pode se transformar em uma espécie de interrogatório
judicial antecipado. O magistrado deverá abster-se de formular perguntas com finalidade de produzir prova para
a investigação ou ação penal relativas aos fatos objeto do auto de prisão em flagrante.

#DEOLHONAJURIS
A falta de audiência de custódia constitui irregularidade, não afastando a prisão preventiva, no caso de
estarem atendidos os requisitos do art. 312 do CPP e observados direitos e garantias versados na Constituição
Federal. STF. 1ª Turma. HC 202260 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 30/08/2021.
A superveniência da realização da audiência de instrução e julgamento não torna superada a alegação de
ausência de audiência de custódia. STF. 2ª Turma. HC 202579 AgR/ESe HC 202700 AgR/SP, Rel. Min. Nunes
Marques, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgados em 26/10/2021 (Info 1036).
Em regra, a audiência de custódia deve ser realizada na localidade em que ocorreu a prisão. No caso, porém,
o Investigado já foi conduzido à Comarca do Juízo que determinou a busca e apreensão, há aparente conexão
probatória com outros casos e prevenção daquele Juízo, de forma que não se mostra razoável determinar o
retorno do Investigado para análise do auto de prisão em flagrante, notadamente em razão da celeridade que
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deve ser empregada em casos de análise da legalidade da custódia. STJ. 3ª Seção. CC 182728-PR, Rel. Min. Laurita
Vaz, julgado em 13/10/2021 (Info 714).

PRISÃO PREVENTIVA

A prisão preventiva, conforme o atual art. 311, CPP, pode ser decretada em dois momentos distintos no curso
da persecução penal: durante as investigações e durante a ação penal.

Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada
pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da
autoridade policial. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

A Lei 13.964/2019 trouxe relevante mudança no art. 311 do CPP, para privilegiar o sistema acusatório puro. Não
será mais possível ao juiz decretar a prisão preventiva de ofício, seja no curso do inquérito, seja na fase de
instrução. Imprescindível, portanto, o requerimento de um dos legitimados: Ministério Público, querelante
ou assistente e autoridade policial – VEDADA A PRISÃO DE OFÍCIO PELO JUIZ.

Tratando-se de medida constritiva da locomoção, apenas o Poder Judiciário, diante da reserva jurisdicional
existente, possui legitimidade para a sua decretação (seja juiz, desembargador ou ministro).

PRESSUPOSTOS DA PRISÃO PREVENTIVA:


GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA OU DA ORDEM ECONÔMICA
CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL
ASSEGURAR A APLICAÇÃO DA LEI PENAL
FUMUS COMISSI DELICTI + PERICULUM LIBERTATIS

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da
existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações
impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4o). (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e fundamentada em receio de perigo e
existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

- FUMUS COMISSI DELICTI: depende da verificação de indícios suficientes de autoria e da prova da existência de
um crime, dados objetivos do delito

- PERICULUM LIBERTATIS: risco concreto que a liberdade do agente representa à eficácia do processo criminal,
ou seja, quando a demora na prestação jurisdicional pode colocar em risco o bom andamento do processo penal
(STJ, HC nº 384.220/SP, rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 09.03.17).

- CLÁUSULA REBUS SIC STANTIBUS: deve estar fundamentada em fatos concretos novos ou contemporâneos (a
alteração dos fatos altera a medida).

- VEDAÇÃO DA PRISÃO CAUTELAR EX LEGE: não pode ser decretada apenas por força de lei.

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- POSTULADO DA PROPORCIONALIDADE: consistente na análise da adequação, necessidade e


proporcionalidade em sentido estrito; prisão preventiva como última ratio.

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a:
I - NECESSIDADE para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos
expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais;
II - ADEQUAÇÃO da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou
acusado.
§ 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente. (Incluído pela Lei nº 12.403, de
2011).
§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes ou, quando no curso da
investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério
Público. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de
medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias,
acompanhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos
de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados em decisão que contenha elementos do
caso concreto que justifiquem essa medida excepcional. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, mediante requerimento do
Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação,
ou, em último caso, decretar a prisão preventiva, nos termos do parágrafo único do art. 312 deste Código.
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar
a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 6º A prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra
medida cautelar, observado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por outra medida
cautelar deverá ser justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, de forma
individualizada. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

REQUISITOS DA PRISÃO PREVENTIVA:


Crimes dolosos com pena privativa de liberdade MÁXIMA SUPERIOR a 4 anos
REINCIDÊNCIA em crime doloso (independente do quantum da pena)
Crime envolver VIOLÊNCIA DOMÉSTICA e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou
pessoa com deficiência, para garantir medida protetiva de urgência

Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto
no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal;
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo
ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
§ 1º Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou
quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente
em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

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Ciclos Método

§ 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade de antecipação de cumprimento de
pena ou como decorrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou recebimento de denúncia.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

#SELIGA
Eugênio Pacelli explica que existem três situações distintas em que poderá ser imposta a prisão preventiva:
A) POR CONVERSÃO DA PRISÃO EM FLAGRANTE, quando insuficientes ou inadequadas outras medidas
cautelares (art. 310, II, CPP);
B) DE MODO AUTÔNOMO, independentemente de prévia medida cautelar, a qualquer momento da fase de
investigação ou do processo (art. 311, CPP), e
C) POR SUBSTITUIÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES ANTERIORES, eventualmente descumpridas (art. 282, § 4º,
CPP).
Nas duas primeiras situações, a prisão preventiva dependerá da presença dos tradicionais fundamentos
cautelares do art. 312, bem como dos requisitos legais do art. 313.
Já na terceira situação, denominada por PACCELI de "subsidiária", bastará o descumprimento de medida
cautelar anteriormente imposta, independentemente dos requisitos do art. 313 CPP, afirmando "ser essa a
única conclusão possível, sob pena de não se mostrarem efetivas as medidas cautelares diversas da prisão, nos
casos em que a pena cominada ao crime doloso seja igual ou inferior a quatro anos (o teto estabelecido no art.
313, I). A prisão preventiva para garantir a execução das medidas cautelares, portanto, não se submete aos
limites do art. 313, CPP."

REVISÃO DA PRISÃO PREVENTIVA: O Pacote Anticrime, com o objetivo de evitar que indivíduos fiquem presos
por um longo período, sem que exista condenação, trouxe a necessidade de reavaliação periódica pelo juízo dos
requisitos que ensejaram a determinação da prisão preventiva.

Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva se, no correr da investigação
ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se
sobrevierem razões que a justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão REVISAR a necessidade de
sua manutenção a cada 90 (NOVENTA) DIAS, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a
prisão ilegal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

De acordo com o STF, o art. 316, parágrafo único, do CPP aplica-se:


a) até o final dos processos de conhecimento, onde há o encerramento da cognição plena pelo Tribunal de
segundo grau;
b) nos processos onde houver previsão de prerrogativa de foro.
Por outro lado, o art. 316, parágrafo único, do CPP não se aplica para as prisões cautelares decorrentes de
sentença condenatória de segunda instância ainda não transitada em julgado.
STF. Plenário. ADI 6581/DF e ADI 6582/DF, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Alexandre de
Moraes, julgados em 8/3/2022 (Info 1046).

#DEOLHONAJURIS
A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão
preventiva do réu. O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se
o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou
pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”. Assim, a redação do
inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previsão legal que
autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva, nesta

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hipótese, representa ofensa ao princípio da legalidade estrita. STJ. 6ª T. HC 437535-SP, Rel. Min. Maria Thereza
de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 26/6/18 (Info 632).
STJ: O mero descumprimento de medida protetiva de urgência, por si só, não autoriza a prisão preventiva
ATENÇÃO: Lembrar que na prisão em flagrante por descumprimento de medida protetiva (art. 24-A, LMP),
apenas a autoridade JUDICIAL poderá conceder fiança, o delegado de polícia NÃO.
Art. 24-A, § 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder fiança. (Incluído
pela Lei nº 13.641, de 2018)
A prática de atos infracionais anteriores serve para justificar a decretação ou manutenção da prisão
preventiva como garantia da ordem pública, considerando que indicam que a personalidade do agente é voltada
à criminalidade, havendo fundado receio de reiteração. Não é qualquer ato infracional, em qualquer
circunstância, que pode ser utilizado para caracterizar a periculosidade e justificar a prisão antes da sentença. É
necessário que o magistrado analise: a) a gravidade específica do ato infracional cometido; b) o tempo
decorrido entre o ato infracional e o crime; e c) a comprovação efetiva da ocorrência do ato infracional.
Portanto, os atos infracionais pretéritos podem ser utilizados como fundamento para decretação ou
manutenção da prisão preventiva. STJ. 3ª S. RHC 63.855-MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. p/ Ac. Min. Rogerio
Schietti Cruz, j. 11/5/16(Info 585).
Conforme pacífica jurisprudência desta Corte Superior, a preservação da ordem pública justifica a imposição da
custódia cautelar quando o agente tem maus antecedentes, reincidência, atos infracionais pretéritos,
inquéritos ou mesmo ações penais em curso, porquanto tais circunstâncias denotam sua contumácia delitiva
e, por via de consequência, sua periculosidade. STJ, 6ª T., HC 547.495/PB, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro,
j. 12/05/20.
Conquanto os tribunais superiores admitam a prisão preventiva para interrupção da atuação de integrantes de
organização criminosa, a mera circunstância de o agente ter sido denunciado pelos delitos descritos na Lei n.
12.850/2013 não justifica a imposição automática da custódia prisional. Com efeito, deve-se avaliar a presença
de elementos concretos, previstos no art. 312 do CPP, como o risco de reiteração delituosa ou indícios de que o
grupo criminoso continua em atividade, colocando em risco à ordem pública. STJ. 5ª Turma. HC 708148-SP, Rel.
Min. Joel Ilan Paciornik, Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 05/04/2022 (Info 732).
Não se justifica a prisão preventiva se, considerando o modus operandi dos delitos, a imposição da cautelar de
proibição do exercício da medicina e de suspensão da inscrição médica, e outras que o Juízo de origem entender
necessárias, forem suficientes para prevenção da reiteração criminosa e preservação da ordem pública. STJ.
5ª Turma. HC 699362-PA, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), Rel. Acd. Min. João
Otávio de Noronha, julgado em 08/03/2022 (Info 728).
A inobservância do prazo nonagesimal do art. 316 do Código de Processo Penal NÃO IMPLICA AUTOMÁTICA
REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, devendo o juízo competente ser instado a reavaliar a legalidade e a
atualidade de seus fundamentos. STF. Plenário. SL 1395 MC Ref/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14 e
15/10/2020 (Info 995).

PRISÃO TEMPORÁRIA

A prisão temporária é uma espécie de prisão cautelar (prisão antes da sentença condenatória definitiva),
prevista não no CPP, mas sim na Lei nº 7.960/89, decretada durante a fase de investigação criminal (antes da
ação penal), somente cabível em casos envolvendo determinados crimes mais graves previstos na Lei.

Art. 1° Caberá prisão temporária:


I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua
identidade;
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou
participação do indiciado nos seguintes crimes: (...) [ROL TAXATIVO DE CRIMES]
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#AJUDAMARCINHO #DIZERODIREITO
#SELIGA no recente julgado do STF sobre a prisão temporária:
A decretação de prisão temporária somente é cabível quando:
(i) for imprescindível para as investigações do inquérito policial;
(ii) houver fundadas razões de autoria ou participação do indiciado;
(iii) for justificada em fatos novos ou contemporâneos;
(iv) for adequada à gravidade concreta do crime, às circunstâncias do fato e às condições pessoais do indiciado;
e
(v) não for suficiente a imposição de medidas cautelares diversas.
STF. Plenário. ADI 3360/DF e ADI 4109/DF, Rel. Min. Carmen Lúcia, redator para o acórdão Min. Edson Fachin,
julgados em 11/2/2022 (Info 1043).

O STF explicou que o inciso II do art. 1º da Lei nº 7.960/89, mostra-se dispensável ou, quando interpretado
isoladamente, é inconstitucional.
Isso porque ou a circunstância de o representado não possuir residência física evidencia de modo concreto que
a prisão temporária é imprescindível para as investigações (inciso I) ou não se pode decretar a prisão pelo
simples fato de que alguém não possui endereço fixo.
Nesse sentido, não é constitucional a decretação da prisão temporária quando se verificar, por exemplo, apenas
uma situação de vulnerabilidade econômico-social – pessoas em situação de rua, desabrigados – por violação
ao princípio constitucional da igualdade em sua dimensão material.

O STF também decidiu que o rol do inciso III do art. 1º da Lei nº 7.960/89 é taxativo. Esse rol não admite
analogia ou interpretação extensiva. Isso porque quando se está em jogo a imposição de medidas cautelares
penais restritivas da liberdade individual, vigora o princípio da legalidade estrita.

Novo requisito instituído pelo STF e não previsto na Lei nº 7.960/89: existência de fatos novos e
contemporâneos (aplicação do § 2º do art. 312 do CPP à prisão temporária). Ainda que esse dispositivo tenha
sido pensado para a prisão preventiva, o STF afirmou que ele deve ser obrigatoriamente aplicado também para
a prisão temporária. Trata-se não apenas de uma decorrência lógica da própria cautelaridade das prisões
provisórias, como também consequência do princípio constitucional da não culpabilidade.
Novo requisito instituído pelo STF e não previsto na Lei nº 7.960/89: aplicação do art. 282, II, do CPP à prisão
temporária. A prisão temporária deve, ainda, ser adequada à gravidade concreta do crime, às circunstâncias do
fato e às condições pessoais do indiciado
STF afirmou que não se deve aplicar o art. 313 do CPP à prisão temporária. Isso porque se trata de dispositivo
específico para a prisão preventiva, uma vez que, no caso da prisão temporária, o legislador ordinário, no seu
legítimo campo de conformação, já escolheu os delitos que julgou de maior gravidade para sua imposição (inciso
III do art. 1º da Lei nº 7.960/89).

Por fim, o STF afirmou que não se pode admitir qualquer interpretação que transforme a prisão temporária
em um meio de prisão para averiguação. De igual forma, a prisão temporária não pode violar o direito à não
autoincriminação. A pessoa, ainda que suspeita de um crime, tem o direito de não se autoincriminar. Isso inclui
o direito de não ser obrigada a ser interrogada. Logo, a prisão temporária não pode servir como um instrumento
para se impor, por vias transversas, que a pessoa preste depoimento na fase inquisitorial.

MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO

As medidas cautelares diversas da prisão, atualmente, estão previstas nos arts. 319 e 320 do CPP e podem ser
adotadas como:
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a) Instrumento de contracautela, substituindo anterior prisão em flagrante, preventiva ou temporária: ao


receber o auto de prisão em flagrante, se o juiz verificar a ausência dos requisitos que autorizam a decretação
da prisão preventiva, deve conceder ao preso liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas
cautelares previstas no art. 319;
b) Instrumento cautelar ao acusado que estava em liberdade: desde que presentes seus pressupostos, as
medidas cautelares diversas da prisão elencadas nos arts. 319 e 320 do CPP também podem ser aplicadas de
maneira autônoma.

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar
atividades;
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato,
deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva
o indiciado ou acusado dela permanecer distante;
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a
investigação ou instrução;
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha
residência e trabalho fixos;
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando
houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça,
quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de
reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a
obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica.
(...)
§ 4º A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com
outras medidas cautelares.
Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar
as saídas do território nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar o passaporte, no prazo de
24 (vinte e quatro) horas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

#DEOLHONAJURIS
A escolha pelo Magistrado de medidas cautelares pessoais, em sentido diverso das requeridas pelo Ministério
Público, pela autoridade policial ou pelo ofendido, não pode ser considerada como atuação ex officio. Caso
adaptado: João foi preso em flagrante. Logo em seguida, ele foi levado para a audiência de custódia. O MP se
manifestou pela concessão de liberdade provisória mediante o pagamento de fiança. A juíza que presidia a
audiência acolheu o parecer do Promotor, mas também fixou medida de recolhimento domiciliar no período
noturno e nos dias de folga, nos termos do art. 319, V, do CPP. Impor ou não cautelas pessoais, de fato, depende
de prévia e indispensável provocação; contudo, a escolha de qual delas melhor se ajusta ao caso concreto há de
ser feita pelo juiz da causa. Entender de forma diversa seria vincular a decisão do Poder Judiciário ao pedido
formulado pelo Ministério Público, de modo a transformar o julgador em mero chancelador de manifestações
do Parquet ou de transferir a este a escolha do teor de uma decisão judicial. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 626.529-
MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/04/2022 (Info 735).
Não há disposição legal que restrinja o prazo das medidas cautelares diversas da prisão, as quais podem
perdurar enquanto presentes os requisitos do art. 282 do Código de Processo Penal, devidamente observadas
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as peculiaridades do caso e do agente. Trata-se da manutenção de medidas menos gravosas que a prisão
decretadas com a presença de fundamentos concretos e contemporâneos aos fatos imputados. Isso porque as
circunstâncias do caso concreto, em que a paciente é acusada de reiteradamente internalizar mercadorias
importadas, de alto valor, sem o correspondente pagamento de tributos, no contexto de transnacionalidade,
justificam a manutenção da medida cautelar de retenção do passaporte. Conquanto a paciente esteja
cumprindo as referidas medidas cautelares há tempo considerável, não é possível se reconhecer a existência de
retardo abusivo e injustificado, de forma a caracterizar desproporcional excesso de prazo no cumprimento da
medida. Vale destacar que não há disposição legal que restrinja o prazo das medidas cautelares diversas da
prisão, as quais podem perdurar enquanto presentes os requisitos do art. 282 do Código de Processo Penal,
devidamente observadas as peculiaridades do caso e do agente. AgRg no HC 737.657-PE, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 14/06/2022 (Info. 741).

PRISÃO DOMICILIAR

PRISÃO DOMICILIAR DO CPP PRISÃO DOMICILIAR DA LEP


Arts. 317 e 318 do CPP. Art. 117 da LEP.
O CPP, ao tratar da prisão domiciliar, está se referindo A LEP, ao tratar da prisão domiciliar, está se referindo
à possibilidade de o réu, em vez de ficar em prisão à possibilidade de a pessoa já condenada cumprir a
preventiva, permanecer recolhido em sua residência. sua pena privativa de liberdade na própria residência.
Trata-se de uma medida cautelar por meio da qual o Trata-se, portanto, da execução penal (cumprimento
réu, em vez de ficar preso na unidade prisional, da pena) na própria residência.
permanece recolhido em sua própria residência.
Continua tendo natureza de prisão, mas uma prisão
“em casa”.
Hipóteses (importante): Hipóteses (importante):
O juiz poderá substituir a prisão preventiva pela O preso que estiver cumprindo pena no regime
domiciliar quando o agente for: aberto poderá ficar em prisão domiciliar quando se
I — maior de 80 anos; tratar de condenado(a):
II — extremamente debilitado por motivo de doença I — maior de 70 anos;
grave; II — acometido de doença grave;
III — imprescindível aos cuidados especiais de pessoa III — com filho menor ou deficiente físico ou mental;
menor de 6 anos de idade ou com deficiência; IV — gestante.
IV — gestante;
V — mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade
incompletos;
VI — homem, caso seja o único responsável pelos
cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade
incompletos.
Obs.: os magistrados, membros do MP, da Defensoria
e da advocacia têm direito à prisão cautelar em sala
de Estado-Maior. Caso não exista, devem ficar em
prisão domiciliar.
O juiz pode determinar que a pessoa fique usando O juiz pode determinar que a pessoa fique usando
uma monitoração eletrônica. uma monitoração eletrônica.

#SELIGANAJURIS
A prisão domiciliar do art. 318 do CPP só se aplica para os casos de prisão preventiva, não podendo ser
utilizado quando se tratar de execução definitiva de título condenatório (sentença condenatória transitada em
julgado). Não é possível a concessão de prisão domiciliar para condenada gestante ou que seja mãe ou
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responsável por crianças ou pessoas com deficiência se já houver sentença condenatória transitada em julgado
e ela não preencher os requisitos do art. 117 da LEP. STF. 1ª Turma. HC 177164/PA, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 18/2/2020 (Info 967).
Conforme art. 318, V, do CPP, a concessão de prisão domiciliar às genitoras de menores deaté 12 anos
incompletos não está condicionada à comprovação da imprescindibilidade dos cuidados maternos, que é
legalmente presumida. Assim, a defesa não precisa demonstrar que a genitora presa é imprescindível ao cuidado
dos filhos menores de 12 anos. Essa indispensabilidade é presumida, tanto que propositalmente o legislador
retirou da redação do art. 318, V do CPP, a comprovação de que seria ela imprescindível aos cuidados do menor.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 731648-SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha,
julgado em 07/06/2022 (Info 742).
O fato de se ter apreendido grande quantidade e variedade de entorpecentes não impede a concessão da prisão
domiciliar se não demonstrados outros motivos que evidenciam que a conduta praticada representa risco à
ordem pública, como indícios de comércio ilícito no local em que a agente cria os menores. STJ. 6ª Turma.AgRg
no HC 712258-SP, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região), julgado em
29/03/2022 (Info 733).
A utilização do próprio filho para a prática de crimes, por se tratar de situação de risco ao menor, OBSTA a
concessão de prisão domiciliar. É possível o indeferimento da prisão domiciliar da mãe de primeira infância,
desde que fundamentada em reais peculiaridades que indiquem maior necessidade de acautelamento da ordem
pública ou melhor cumprimento da teleologia da norma, na espécie, a integral proteção do menor. O fato de a
mulher utilizar o próprio filho para a prática de tráfico de drogas justifica o indeferimento da prisão domiciliar,
diante da situação de risco aos menores. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 798551-PR, Rel. Min. Jesuíno Rissato
(Desembargador convocado do TJDFT), julgado em 28/2/2023 (Info 765).

CITAÇÃO NO PROCESSO PENAL

A citação consiste na comunicação ao réu da existência de uma acusação contra ele. A partir dessa informação,
cria-se a necessária condição de possibilidade para eficácia do direito de defesa pessoal e técnica. A citação por
mandado é a forma usual e formal de citação, valendo-se o juiz do oficial de justiça, que busca o acusado, dando-
lhe ciência, pessoalmente, do conteúdo da acusação, bem como colhendo o seu ciente.

Art. 363. O processo terá completada a sua formação quando realizada a citação do acusado.
§ 1o Não sendo encontrado o acusado, será procedida a citação por edital.
(...)
Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar
liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de
10 (dez) dias.
Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a partir do
comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído.

#SELIGA: A falta de citação acarreta nulidade processual (art. 564, III, e, CPP)

Quando o réu residir em local diverso daquele onde tramita o processo, a citação será feita através de carta
precatória ou rogatória, se cumprida em outro país (nesse caso, o juiz deve encaminhar ao Ministério da Justiça
a rogatória, buscando a sua remessa, pelo Ministério das Relações Exteriores, à sede diplomática ou ao Estado
estrangeiro).

#OLHAOGANCHO
PRECATÓRIA ITINERANTE: É o nome que se dá à precatória enviada pelo juízo deprecado diretamente a outro
juízo, onde provavelmente encontra-se o réu. Assim, quando o juiz deprecante, crendo estar o acusado na
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Comarca X, envia-lhe a precatória, para a citação e interrogatório, pode ocorrer do juiz desta última Comarca
verificar que o acusado está, de fato, na Comarca Y, para onde enviará, diretamente, os autos da precatória,
sem haver necessidade desta voltar à origem para nova emissão. Trata-se de medida que privilegia o princípio
da economia processual.
CARTA ROGATÓRIA: O CPP afirma que, se for expedida uma carta rogatória para citar um acusado no exterior,
o prazo prescricional ficará suspenso até que ela seja cumprida:
Art. 368. Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta rogatória,
suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento.
Até quando o prazo prescricional fica suspenso? Até o cumprimento da carta ou até a sua juntada aos autos?
O termo final da suspensão do prazo prescricional pela expedição de carta rogatória para citação do acusado no
exterior é a data da efetivação da comunicação processual no estrangeiro, ainda que haja demora para a
juntada da carta rogatória cumprida aos autos. STJ. 5ª Turma. REsp 1882330/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 06/04/2021 (Info 691). #JÁCAIUEMPROVA

CITAÇÃO POR EDITAL:

A citação por edital é a modalidade de citação denominada ficta, porque não é realizada pessoalmente,
presumindo-se que o réu dela tomou conhecimento. Publica-se em jornal de grande circulação, na imprensa
oficial ou afixa-se o edital no átrio do fórum, admitindo-se a possibilidade de que o acusado, ou pessoa a ele
ligada, leia, permitindo a ciência da existência da ação penal.

Art. 361. Se o réu não for encontrado, será citado por edital, com o prazo de 15 (quinze) dias.

Citado por edital, a qualquer tempo, pode o réu integrar a relação processual, inclusive substituindo o defensor
público ou dativo por advogado de sua confiança, mas ingressará no estado em que se encontrar o feito.

#ATENÇÃO – HIPÓTESE DE SUSPENSÃO DO PROCESSO

Art. 366. Se o acusado, citado por EDITAL, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão SUSPENSOS o
processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas
consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.

CUIDADO!!! PEGADINHA DE PROVA!!! O art. 366 do CPP não se aplica caso o réu tenha sido citado
pessoalmente. Se o réu não comparecer ao interrogatório, nem constituir advogado, deverá o juiz nomear
defensor dativo (ou remeter os autos à Defensoria) e dar seguimento normal ao curso do processo, de acordo
com o art. 367, CPP.

Art. 367. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado pessoalmente para qualquer
ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de mudança de residência, não comunicar o novo
endereço ao juízo.

#DEOLHONAJURIS
No caso do art. 366 do CPP, o prazo prescricional ficará suspenso pelo tempo de prescrição da pena máxima
em abstrato cominada ao crime. Em caso de inatividade processual decorrente de citação por edital,
ressalvados os crimes previstos na Constituição Federal como imprescritíveis, é constitucional limitar o período
de suspensão do prazo prescricional ao tempo de prescrição da pena máxima em abstrato cominada ao crime,
a despeito de o processo permanecer suspenso. Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem
constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar
a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos

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Ciclos Método

do disposto no art. 312. STF. Plenário. STF. Plenário. RE 600851, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 04/12/2020
(Repercussão Geral – Tema 438) (Info 1001).
Citado o réu por edital, nos termos do art. 366 do CPP, o processo deve permanecer suspenso enquanto
perdurar a não localização do réu ou até que sobrevenha o transcurso do prazo prescricional. STJ. 6ª Turma.
RHC 135.970/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Junior, julgado em 20/04/2021 (Info 693).

CITAÇÃO POR HORA CERTA:

É cabível a citação por hora certa, modalidade de citação ficta, nos casos em que se verifique que um réu se
oculta para não ser citado. Segundo entendimento do STF, essa modalidade de citação não compromete o
direito de ampla defesa, constitucionalmente assegurado a todos os acusados em processo criminal. Aqui, deve
ser observado o procedimento do art. 252 do Código de Processo CIVIL!

Art. 252, CPC. Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver procurado o citando em seu domicílio ou
residência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar qualquer pessoa da família ou, em
sua falta, qualquer vizinho de que, no dia útil imediato, voltará a fim de efetuar a citação, na hora que designar.
Parágrafo único. Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com controle de acesso, será válida a intimação
a que se refere o caput feita a funcionário da portaria responsável pelo recebimento de correspondência.

Citado por hora certa e não comparecendo, o juiz providenciará a nomeação de defensor dativo ou fará remessa
dos autos à Defensoria Pública.

SITUAÇÕES ESPECÍFICAS
Art. 358. A citação do militar far-se-á por intermédio do chefe do respectivo serviço.
CITAÇÃO DO
Trata-se de providência que tem em vista resguardar a intangibilidade do quartel, bem
MILITAR
como a hierarquia e a disciplina, características inerentes à conduta militar.
Quando se faz a citação do funcionário público, expede-se, concomitantemente, um ofício
CITAÇÃO DO
de requisição ao seu superior, para que tenha ciência da ausência e providencie substituto.
FUNCIONÁRIO
Art. 359. O dia designado para funcionário público comparecer em juízo, como acusado,
PÚBLICO
será notificado assim a ele como ao chefe de sua repartição.
Deve ser feita pessoalmente, por mandado, recebendo cópia da denúncia e podendo
CITAÇÃO DO
preparar-se, a tempo, para o interrogatório.
RÉU PRESO
Art. 360. Se o réu estiver preso, será pessoalmente citado.

CITAÇÃO POR WHATSAPP:


É possível a utilização de whatsapp para a citação de acusado, desde que sejam adotadas medidas suficientes
para atestar a autenticidade do número telefônico, bem como a identidade do indivíduo destinatário do ato
processual. STJ. 5ª Turma. HC 641877/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/03/2021 (Info 688).

#SELIGANASÚMULAS
Súmula 155-STF: É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de precatória
para inquirição de testemunha.
Súmula 351-STF: É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da federação em que o juiz exerce
a sua jurisdição.
Súmula 366 STF: Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal, embora não transcreva a
denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que se baseia.
Súmula 415-STJ: O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada.

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Ciclos Método

Súmula 455-STJ: A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 do CPP deve
ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo

TRIBUNAL DO JÚRI

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO TRIBUNAL DO JÚRI:

Defesa técnica: é a defesa realizada pelo profissional habilitado (advogado


ou defensor público). Inclui a apresentação de argumentos jurídicos e
extrajurídicos, além do direito de inquirir as testemunhas arroladas.
PLENITUDE DE DEFESA Autodefesa: é aquela realizada pelo próprio réu e consiste no direito de
relatar aos jurados a versão dos fatos. É importante lembrar que a tese
pessoal do réu pode, inclusive, contrariar os argumentos da defesa técnica,
em razão do princípio da plenitude da defesa.
a) Sala especial: é o local onde os jurados responderão às quesitações por
meio de cédulas em papel, que contêm as palavras “sim” e “não”. Aplica-se
aqui o princípio da publicidade restrita, assegurando-se a participação
apenas do juiz, dos jurados, do membro do Ministério Público e do defensor
público ou advogado. Busca evitar possíveis constrangimentos aos jurados
e garantir a sua imparcialidade.
b) Incomunicabilidade dos jurados: sobre o assunto, é importante lembrar
que os jurados podem revelar o seu voto após o julgamento. Além disso,
caso o julgamento seja suspenso, os jurados devem permanecer no fórum,
SIGILO DAS VOTAÇÕES
em respeito ao princípio da incomunicabilidade. O desrespeito ao princípio
acarreta nulidade absoluta, além da exclusão do respectivo jurado do
Conselho de Sentença com aplicação de multa.
c) Encerramento da votação em plenário: enquanto a sessão não terminar,
os jurados não poderão se comunicar entre si e com o mundo exterior. Em
respeito ao princípio do sigilo das votações, o magistrado deverá encerrar a
votação sobre o quesito da materialidade e autoria do crime, quando tiver
mais de 4 votos no mesmo sentido. Dessa forma, poderá evitar a divulgação
dos votos dos jurados, nos casos de votação unânime.
Antes de mais nada, precisamos lembrar que o Tribunal de segundo grau
não poderá modificar a decisão de mérito proferida pela Conselho de
SOBERANIA DOS VEREDICTOS
Sentença formado pelos 7 jurados, sendo-lhe permitido apenas cassar a
decisão, sem absolver ou condenar o réu.

O Tribunal poderá modificar a decisão do juiz presidente, mas não o veredicto dos jurados. Assim, é possível que
o tribunal venha a modificar a pena do réu nos casos autorizados pela lei, isso porque é o juiz presidente quem
fixa a pena a ser imposta ao réu. Vejamos:

Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:


(...)
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando:
(...)
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança

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Ciclos Método

§ 1º Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas dos jurados aos
quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação.
§ 2º Interposta a apelação com fundamento no inciso III, c, deste artigo, o tribunal ad quem, se Ihe der
provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança.

Assim, o princípio da soberania dos veredictos afirma que a decisão tomada pelo júri é soberana. No entanto,
afirmar que a decisão do júri é soberana não significa afirmar que ela é irrecorrível. Trazendo essa ideia para o
Tribunal do Júri chegamos a seguinte conclusão: a decisão do júri é recorrível, não com efeito de reforma (efeito
substitutivo), mas com efeito de anulação (cassação). É perfeitamente possível recorrer da decisão do júri, desde
que seja para anulá-la, mantendo assim a soberania dos vereditos.

COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI = Julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

A CRFB/88 estabeleceu uma competência mínima para o Tribunal do Júri. Isso não impede a criação de novas
hipóteses, a exemplo da competência para julgar os delitos conexos aos crimes dolosos contra a vida,
estabelecida pelo legislador ordinário.

Súmula vinculante 45: A competência constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o foro por prerrogativa
de função exclusivamente pela Constituição Estadual.

PROCEDIMENTO BIFÁSICO DO TRIBUNAL DO JÚRI: O procedimento do Tribunal do Júri é chamado de bifásico


(ou escalonado) porque se divide em duas etapas:

1) FASE DO SUMÁRIO DA CULPA (iudicium accusationis): é a fase de acusação e instrução preliminar (formação
da culpa). Inicia-se com o oferecimento da denúncia (ou queixa) e termina com a preclusão da sentença de
pronúncia.

Sentença que encerra o sumário da culpa: Ao final da 1ª fase do procedimento do júri (sumário da culpa), o juiz
irá proferir uma sentença, que poderá ser de quatro modos:

PRONÚNCIA IMPRONÚNICA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA DESCLASSIFICAÇÃO


O réu será pronunciado O réu será O réu será absolvido, Ocorre quando o juiz se
quando o juiz se impronunciado quando o desde logo, quando convencer de que o fato
convencer de que juiz não se convencer: estiver provado (a): narrado não é um crime
existem prova da • da materialidade do • a inexistência do fato; doloso contra a vida,
materialidade do fato e fato; • que o réu não é autor mas sim um outro delito,
indícios suficientes de • da existência de ou partícipe do fato; devendo, então, remeter
autoria ou de indícios suficientes de • que o fato não o processo para o juízo
participação. autoria ou de constitui crime; competente.
participação. • que existe uma causa Ex.: juiz entende que não
Recurso cabível: RESE Ex.: a única testemunha de isenção de pena ou houve homicídio doloso,
(art. 581, IV) que havia reconhecido o de exclusão do crime. mas sim latrocínio.
réu no IP não foi ouvida Ex.: todas as
em juízo. testemunhas ouvidas Recurso cabível: RESE
afirmaram que o réu não (art. 581, II)
Recurso cabível: foi o autor dos disparos.
Apelação (art. 416)
Recurso cabível:
Apelação (art. 416)

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#DEOLHONAJURIS: Cabe apelação contra a sentença de absolvição sumária no procedimento no júri; se o MP


interpôs equivocadamente RESE, é possível a aplicação do princípio da fungibilidade. É possível a aplicação da
fungibilidade no uso do recurso de apelação em detrimento do recurso em sentido estrito, desde que
demonstradas a ausência de má-fé e a tempestividade do instrumento processual. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp
2011577-GO, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 27/9/2022 (Info Especial 10).

2) FASE DE JULGAMENTO (iudicium causae): Conforme dispõe o art. 421 do CPP, preclusa a decisão de
pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz-presidente do Tribunal do Júri para a preparação do processo
para o julgamento perante o Conselho de Sentença.

Desaforamento: Trata-se do deslocamento da competência territorial de uma comarca para outra, a fim de que
nesta seja realizado o julgamento pelo Tribunal do Júri (aplicável somente na 2ª fase – sessão de julgamento).

HIPÓTESES LEGITIMIDADE COMPETÊNCIA


• Interesse de ordem pública • Ministério Público; A competência para julgamento é
• Dúvida sobre a imparcialidade • Assistente de acusação; do Tribunal, preferencialmente na
do júri: • Querelante; Câmara ou Turma competente.
• Falta de segurança pessoal do • Acusado;
acusado • Juízo competente #ATENÇÃO!
• Quando o julgamento não for
realizado no prazo de 6 meses,
contado da preclusão da decisão
de pronúncia, desde que
comprovado excesso de serviço e
evidenciado que a demora não foi
provocada pela defesa.

#DEOLHONAJURIS: O desaforamento é medida excepcional, cabível apenas quando comprovada por fatos
objetivos e concretos a parcialidade do Conselho de Sentença. A simples presunção de que os jurados poderiam
ter sido influenciados por ampla divulgação do caso pela mídia e a mera suspeita acerca da parcialidade dos
jurados não justificam a adoção dessa medida excepcional. STJ. 5ª Turma. HC 492.964-MS, Rel. Min. Ribeiro
Dantas, julgado em 03/03/2020 (Info 668).

DESCLASSIFICAÇÃO NA 2ª FASE DO JÚRI:

a) Desclassificação própria: ocorre quando o Conselho de Sentença desclassifica o crime para outro delito que
não é da sua competência, porém não especifica qual seria o delito. Nesse caso, o juiz presidente assume total
capacidade decisória para apreciar o fato delituoso, pois não está vinculado ao pronunciamento do Júri,
podendo inclusive absolver o acusado.

b) Desclassificação imprópria: ocorre quando o Conselho de Sentença reconhece sua incompetência para julgar
o crime, mas aponta o delito cometido pelo acusado.

c) Desclassificação do crime doloso contra a vida para modalidade delituosa que permita aplicação dos
benefícios da Lei 9.099/1995: se houver desclassificação da infração dolosa contra a vida para outra, de
competência do juiz singular, ao presidente do Tribunal do Júri caberá proferir sentença, aplicando, quando o
delito resultante da nova tipificação for considerado pela lei como infração penal de menor potencial ofensivo,
o disposto no art. 69 e seguintes da Lei 9.099. Assim, tendo o caso, os institutos despenalizadores da Lei 9.099
deverão ser aplicados perante a vara do júri, não sendo necessário a remessa dos autos ao Juizado Especial.

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d) Desclassificação do crime doloso contra a vida e consequência desta decisão perante os delitos conexos
sem essa natureza: em caso de desclassificação do crime doloso contra a vida, o crime conexo que não possua
essa natureza será julgado pelo juiz-presidente do Tribunal do Júri.

SENTENÇA

ESTRUTURA E REQUISITOS DA SENTENÇA:

Trata-se do resumo do processo. Deve o juiz indicar os nomes das partes ou,
quando não for possível, as indicações necessárias para sua identificação. Ainda,
RELATÓRIO
deve haver uma exposição resumida da acusação formulada e das teses de
defesa, bem como os principais atos praticados no processo.
Nos termos do art. 93, inciso IX, da Carta Magna, todos os julgamentos dos
órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões,
sob pena de nulidade. Trata-se de instrumento para viabilizar o controle das
FUNDAMENTAÇÃO decisões judiciais e assegurar o exercício do direito de defesa. Vale frisar,
contudo, que a exigência de fundamentação não significa que deve haver
motivação extensa, sendo possível ao juiz justificar suas decisões objetivamente,
de forma a permitir que a defesa possa exercer o contraditório.
Onde consta o núcleo da decisão, ou seja, o comando que condena ou absolve o
réu, indicando os respectivos dispositivos legais. Na hipótese de sentença
condenatória, deve o juiz indicar o dispositivo legal no qual se dá o juízo de
DISPOSITIVO
tipicidade da conduta delituosa imputada ao acusado, sob pena de nulidade. Em
se tratando de sentença absolutória, deve o juiz declinar um dos fundamentos a
que faz menção o art. 386 do CPP.
AUTENTICAÇÃO É a aposição da assinatura do juiz. A sua falta torna a sentença inexistente.

#SELIGA: O relatório é dispensado nos Juizados Especiais Criminais!

Fundamentação ad relationem (ou per relationem). Trata-se da hipótese em que a autoridade judiciária adota
como fundamento de sua decisão as alegações contidas na manifestação das partes.

A jurisprudência admite a chamada fundamentação per relationem, mas desde que o julgado faça referência
concreta às peças que pretende encampar, transcrevendo delas partes que julgar interessantes para legitimar
o raciocínio lógico que embasa a conclusão a que se quer chegar. STJ. 6ª Turma. HC 214.049-SP, Rel. originário
Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/2/2015 (Info 557).

SENTENÇA CONDENATÓRIA:

Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:


I - mencionará as circunstâncias agravantes ou atenuantes definidas no Código Penal, e cuja existência
reconhecer;
II - mencionará as outras circunstâncias apuradas e tudo o mais que deva ser levado em conta na aplicação da
pena, de acordo com o disposto nos arts. 59 e 60 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
Penal; (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
III - aplicará as penas de acordo com essas conclusões; (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos
pelo ofendido; (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

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V - atenderá, quanto à aplicação provisória de interdições de direitos e medidas de segurança, ao disposto no


Título Xl deste Livro;
VI - determinará se a sentença deverá ser publicada na íntegra ou em resumo e designará o jornal em que será
feita a publicação (art. 73, § 1o, do Código Penal).
§ 1º O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, a imposição de prisão
preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento de apelação que vier a ser interposta.
(Incluído pela Lei nº 12.736, de 2012)
§ 2º O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será
computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade. (Incluído pela Lei
nº 12.736, de 2012)

#DEOLHONAJURIS:
É possível que o julgador condene criminalmente o réu mesmo quando o Ministério Público pede
expressamente a sua absolvição em alegações finais. O art. 385 do Código de Processo Penal é compatível com
o sistema acusatório e não foi tacitamente derrogado pelo advento da Lei nº 13.964/2019, responsável por
introduzir o art. 3º-A no Código de Processo Penal. Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir
sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer
agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada. STJ. 6ª Turma. REsp 2022413-PA, Rel. Min. Sebastião Reis
Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 14/2/2023 (Info 765).
O réu que praticou corrupção passiva pode ser condenado, no âmbito do próprio processo penal, a pagar
danos morais coletivos. O ordenamento jurídico tutela, no âmbito da responsabilidade, o dano moral não
apenas na esfera individual como também na coletiva, conforme previsto no inciso X do art. 5º da Constituição
Federal e no art. 186 do Código Civil. Destaque-se ainda a previsão do inciso VIII do art. 1º da Lei nº 7.347/85
(Lei de Ação Civil Pública). STF. 2ª Turma. AP 1002/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 9/6/2020 (Info 981).
Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito doméstico e familiar, é possível a fixação de
valor mínimo indenizatório a título de dano moral, desde que haja PEDIDO EXPRESSO da acusação ou da parte
ofendida, ainda que não especificada a quantia, e independentemente de instrução probatória. CPP/Art. 387. O
juiz, ao proferir sentença condenatória: IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela
infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido. STJ. 3ª Seção. REsp 1.643.051-MS, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 28/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 621).
É válida a sentença proferida de forma oral na audiência e registrada em meio audiovisual, ainda que não haja
a sua transcrição. O § 2º do art. 405 do CPP, que autoriza o registro audiovisual dos depoimentos, sem
necessidade de transcrição, deve ser aplicado também para os demais atos da audiência, dentre eles os debates
orais e a sentença. O registro audiovisual da sentença prolatada oralmente em audiência é uma medida que
garante mais segurança e celeridade. Não há sentido lógico em se exigir a degravação da sentença registrada
em meio audiovisual, sendo um desserviço à celeridade. A ausência de degravação completa da sentença não
prejudica o contraditório nem a segurança do registro nos autos, do mesmo modo que igualmente ocorre com
a prova oral. STJ. 3ª Seção. HC 462253/SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 28/11/2018 (Info 641).
Diante do duplo julgamento do mesmo fato, deve prevalecer a sentença que transitou em julgado em primeiro
lugar. Diante do trânsito em julgado de duas sentenças condenatórias contra o mesmo condenado, por fatos
idênticos, deve prevalecer a condenação que transitou em primeiro lugar. STJ. 6ª Turma. RHC 69586-PA, Rel.
Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/11/2018 (Info 642).
Havendo conflito entre sentenças transitadas em julgado deve valer a coisa julgada formada por último,
enquanto não invalidada por ação rescisória. STJ. Corte Especial. EAREsp 600811/SP, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 04/12/2019.
A regra do art. 387, inciso IV, do CPP, que dispõe sobre a fixação, na sentença condenatória, de valor mínimo
para reparação civil dos danos causados ao ofendido, é norma híbrida, de direito processual e material, razão
pela que não se aplica a delitos praticados antes da entrada em vigor da Lei n.º 11.719/2008, que deu nova

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redação ao dispositivo. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.206.643/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
12/02/2015. STF. Plenário. RvC 5437/RO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/12/2014 (Info 772).

EMENDATIO LIBELLI X MUTATIO LIBELLI

EMENDATIO LIBELLI MUTATIO LIBELLI


Ocorre quando o juiz, ao condenar ou pronunciar o Ocorre quando, no curso da instrução processual,
réu, altera a definição jurídica (a capitulação do tipo surge prova de alguma elementar ou circunstância que
penal) do fato narrado na peça acusatória, sem, no não havia sido narrada expressamente na denúncia ou
entanto, acrescentar qualquer circunstância ou queixa. (art. 384, CPP)
elementar que já não esteja descrita na denúncia ou
queixa (art. 383, CPP)
Não é acrescentada nenhuma circunstância ou É acrescentada alguma circunstância ou elementar que
elementar ao fato que já estava descrito na peça não estava descrita originalmente na peça acusatória e
acusatória. cuja prova surgiu durante a instrução.
É cabível na Ação Penal Pública e Privada É cabível apenas na Ação Penal Pública
Se o juiz, na sentença, entender que é o caso de 1) Se o MP entender ser o caso de mutatio libelli, ele
realizar a emendatio libelli, ele poderá decidir deverá aditar a denúncia ou queixa no prazo máximo
diretamente, não sendo necessário que ele abra de 5 dias após o encerramento da instrução; 2) esse
vista às partes para se manifestar previamente aditamento pode ser apresentado oralmente na
sobre isso. Tal se justifica porque no processo penal
audiência ou por escrito; 3) no aditamento, o MP
o acusado se defende dos fatos e como os fatos não poderá arrolar até 3 testemunhas; 4) será ouvido o
mudaram, não há qualquer prejuízo ao réu nem defensor do acusado no prazo de 5 dias – nessa
violação ao princípio da correlação entre acusação resposta, além de refutar o aditamento, a defesa
e sentença. poderá arrolar até 3 testemunhas; 5) o juiz decidirá se
recebe ou rejeita o aditamento; 6) se o aditamento for
aceito pelo juiz, será designado dia e hora para
continuação da audiência, com inquirição de
testemunhas, novo interrogatório do acusado e
realização de debates e julgamento.
É possível que o tribunal, no julgamento de um Não é possível, porque se o Tribunal, em grau de
recurso contra a sentença, faça emendatio libelli, recurso, apreciasse um fato não valorado pelo juiz,
desde que não ocorra reformatio in pejus (STJ HC haveria supressão de instância (Nesse sentido é a
87984 / SC). Súmula 453-STF).

#DEOLHONAJURIS
O órgão jurisdicional (juiz ou Tribunal) não tem competência para substituir-se ao Ministério Público, titular da
ação penal pública, e retificar (consertar) a classificação jurídica proposta na denúncia. Por esse motivo, o
entendimento dominante é o de que, em regra, o momento adequado para a emendatio libelli é na prolação da
sentença e não no recebimento da denúncia. Isso se justifica, ainda, pela posição topográfica do art. 383 no CPP
(que está no título que trata sobre sentença) e pelo fato de que o acusado se defende dos fatos imputados, e
não da classificação que lhes atribuem.
De forma excepcional, jurisprudência e doutrina afirmam que é possível antecipar o momento da emendatio
libelli nas hipóteses em que a inadequada subsunção típica (tipificação):
• macular a competência absoluta;
• o adequado procedimento; ou
• restringir benefícios penais por excesso de acusação.
STJ. 6ª Turma. HC 241206-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/11/2014 (Info 553).
STJ. 5ª Turma. HC 258581/RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 18/02/2016.
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NULIDADES

PRINCÍPIOS DAS NULIDADES:

a) Princípio do prejuízo (pas de nullité sans grief): De acordo com esse princípio, não se decreta a nulidade
relativa e não se declara a nulidade absoluta sem que haja prejuízo para qualquer das partes (pas de nullité sans
grief), devendo isso ser demonstrado pela parte interessada.

b) Princípio da instrumentalidade das formas: as irregularidades devem ser distinguidas conforme sua
gravidade, não se declarando a nulidade do ato se sua finalidade foi atingida e não houve prejuízo às partes.

c) Princípio da causalidade ou consequencialidade: Segundo esse princípio, a nulidade de um ato provoca a


invalidação dos atos que lhe forem consequência ou decorrência. Por outro lado, caso não haja qualquer relação
de causalidade entre o ato anulado e os demais atos processuais, a eficácia destes deve ser preservada (princípio
da conservação dos atos processuais). Nesse sentido, fala-se, então, em nulidade originária (aquela do próprio
ato) e nulidade derivada (aquela que recai sobre os atos dependentes daquele ato nulo).

d) Princípio da conservação dos atos processuais (confinamento da nulidade): Em razão desse princípio, deve
ser preservada a validade dos atos processuais que não dependam de ato anterior declarado inválido.

e) Princípio do interesse: Nenhuma nulidade pode ser arguida por inobservância de formalidade que só
interesse a parte contrária. Esse princípio só se aplica em relação às nulidades relativas, pois somente nestas o
reconhecimento da invalidade depende de arguição do interessado.

f) Princípio da boa-fé: Nenhuma das partes pode arguir nulidade a que haja dado causa, ou para a qual tenha
concorrido (CPP, art. 565, 1ª parte).

g) Princípio da convalidação: Aplicável somente às nulidades relativas, em virtude do princípio da convalidação,


também conhecido como princípio do aproveitamento ou da proteção, não se declara a nulidade quando for
possível suprir o defeito ou se não for arguida em tempo oportuno.

#DEOLHONAJURIS
Não há nulidade da condenação pelo simples fato de o juiz presidente ter tido uma postura firme e dura
durante a inquirição da testemunha no plenário do Júri. Não se pode compreender que uma postura mais firme
(ou até mesmo dura) do Juiz Presidente ao inquirir testemunha, durante a sessão plenária, influencie os jurados,
a quem a Constituição da República pressupôs a plena capacidade de discernimento, ao conceber o direito
fundamental do Tribunal do Júri. A alegada suspeição do Juiz Togado, no caso, parece até ser desinfluente para
a solução da controvérsia, porque o magistrado Presidente não tem competência constitucional para julgar os
crimes dolosos contra a vida. Dessa forma, incide na espécie a regra prevista no art. 563 do CPP de que o
reconhecimento de vício que enseja a anulação de ato processual exige a efetiva demonstração de prejuízo. STJ.
6ª Turma. HC 682.181-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/5/2023 (Info 777).
O venire contra factum proprium também se aplica para o réu no processo penal. A regra que veda o
comportamento contraditório (venire contra factum proprium) aplica-se a todos os sujeitos processuais,
inclusive para o réu. Assim, não é aceitável que o réu, após manifestar desinteresse em acompanhar o processo,
já que mudou de endereço sem informar o Juízo, depois que é decretada a sua revelia, venha aos autos alegar
a nulidade da condenação. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2.265.981-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 28/2/2023 (Info 773).
É inadmissível a chamada "nulidade de algibeira" - aquela que, podendo ser sanada pela insurgência imediata
da defesa após ciência do vício, não é alegada, como estratégia, numa perspectiva de melhor conveniência
futura. Trata-se de discussão em que a defesa técnica compareceu ao ato de oitiva de testemunha e não alegou
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nulidade. Tampouco suscitou a suposta nulidade em fase anterior ao ajuizamento da revisão criminal. Nesse
contexto, convém expressar que "esta Corte Federal firmou já entendimento no sentido de que, tratando-se de
nulidade relativa, a ausência do réu na audiência de inquirição de testemunhas, além de requisitar a
demonstração do efetivo prejuízo, deve ser argüida na primeira oportunidade, sob pena de preclusão.
Precedentes" (HC n. 28.127/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJ de 06/02/2006, p. 325). Além
disso, a jurisprudência dos Tribunais Superiores não tolera a chamada "nulidade de algibeira" - aquela que,
podendo ser sanada pela insurgência imediata da defesa após ciência do vício, não é alegada, como estratégia,
numa perspectiva de melhor conveniência futura. Observe-se que tal atitude não encontra ressonância no
sistema jurídico vigente, pautado no princípio da boa-fé processual, que exige lealdade de todos os agentes
processuais. AgRg no HC 732.642-SP, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), Quinta
Turma, por unanimidade, julgado em 24/05/2022, DJe 30/05/2022 (Info. 741).
A nulidade processual pela não abertura da fase de diligências configura nulidade relativa, devendo ser
arguida no momento oportuno e com a demonstração de efetivo prejuízo. A falta de abertura de prazo, após
o encerramento da instrução, para manifestação das partes acerca do interesse na feitura de diligências
complementares constitui nulidade relativa, cujo reconhecimento pressupõe que o inconformismo seja
veiculado em momento oportuno, ou seja, quando da apresentação de alegações finais. STF. 1ª Turma. HC
147584/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/6/2020 (Info 980).
A ausência de defensor, devidamente intimado, à sessão de julgamento não implica, por si só, nulidade
processual. Caso concreto: em ação penal originária que tramitava no TJ, o defensor foi intimado da sessão de
julgamento, mas deixou de comparecer e de fazer a sustentação oral; não há nulidade.
Intimada a defesa para a sessão de julgamento da ação penal originária, a ausência da sustentação oral prevista
no art. 12 da Lei nº 8.038/90 não invalida a condenação. STF. 1ª Turma. HC 165534/RJ, rel. orig. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/9/2019 (Info 950).

RECURSOS

PRINCÍPIOS RECURSAIS:

a) Duplo grau de jurisdição: consiste na possibilidade de um reexame integral (matéria de fato e de direito) da
decisão do juízo a quo, a ser confiado a órgão jurisdicional diverso do que a proferiu e, em regra, de hierarquia
superior na ordem jurídica.
b) Taxatividade: O recurso deve estar previsto em lei. Logo, o rol de recursos e suas hipóteses de cabimento são
taxativas. Essa lei deve ser federal, pois, de acordo com o art. 22, I, compete privativamente à União legislar
sobre direito processual.
c) Unirrecorribilidade (unicidade ou singularidade) das decisões: Pelo menos em regra, a cada decisão
recorrível corresponde um único recurso.
d) Voluntariedade: A existência de um recurso está condicionada à manifestação da vontade da parte, que
demonstra seu interesse de recorrer com a interposição do recurso.
e) Non reformatio in pejus (efeito PRODRÔMICO da sentença): Por ele, quando o Tribunal julga recurso
defensivo, a situação do réu não poderá ser piorada. Para a exasperação da situação do imputado é necessário
que o Tribunal dê provimento a recurso da acusação. Nem mesmo em se tratando de erro material (STF: HC
83.545/SP; STJ: HC 163.851/RS).

Súmula 525, STF: A medida de segurança não será aplicada em segunda instância, quando só o réu tenha
recorrido.
Súmula 160, STF: É nula a decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da
acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício

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#SELIGA: Vedação à reformatio in pejus indireta – ocorre quando o tribunal ad quem, em sede de recurso
promovido exclusivamente pela defesa, anula a decisão anterior, remetendo os autos ao órgão a quo para
proferir novo julgado, que não pode piorar a situação do acusado.

#DEOLHONAJURIS: Caracteriza manifesta ilegalidade, por violação ao princípio da “non reformatio in pejus”, a
majoração da pena de multa por tribunal, na hipótese de recurso exclusivo da defesa. Isso porque, na apreciação
de recurso exclusivo da defesa, o tribunal não pode inovar na fundamentação da dosimetria da pena, contra o
condenado, ainda que a inovação não resulte em aumento da pena final. STF. 2ª Turma. RHC 194952 AgR/SP,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 13/4/2021 (Info 1013).

f) Reformatio in mellius: quanto ao recurso da acusação, a despeito de divergências doutrinárias, prevalece o


entendimento de que se aplica o sistema do benefício comum, isto é, do recurso interposto pelo MP, querelante
ou assistente da acusação, pode resultar benefício ao acusado.

Súmula 713, STF: O efeito devolutivo da apelação contra decisões do Júri é adstrito aos fundamentos da sua
interposição.

g) Dialeticidade: Por conta desse princípio, a petição de um recurso deve conter os fundamentos de fato e de
direito que embasam o inconformismo do recorrente. O recurso, portanto, deve ser dialético, discursivo, pois
incumbe ao recorrente declinar os fundamentos de seu pedido. Há dois fundamentos: (a) Permitir que a parte
contrária possa elaborar suas contrarrazões; (b) Fixar os limites de atuação do Tribunal na apreciação do recurso.

Súmula 707, STF: Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso
interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo.

APELAÇÃO

É o recurso ordinário por excelência, pois permite ao órgão ad quem a ampla possibilidade de reanalisar todas
as questões, fáticas e jurídicas, já apreciadas no curso do feito. Lembrando que, por força do art. 593, §4º, não
cabe RESE se já cabível apelação.

Art. 593. § 4º Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que somente
de parte da decisão se recorra.

Prazo: a apelação deve ser interposta, em regra, no prazo de 5 dias.


Exceções:
• Apelação do assistente de acusação, quando não previamente habilitado, em relação à sentença
condenatória ou absolutória: prazo de 15 dias, contados a partir do final do prazo do Ministério Público, nos
termos do art. 598, parágrafo único, do CPP.
• Apelação cabível no âmbito da Lei 9.099/1995: deve ser interposta já com as razões no prazo de 10 dias
(art. 82).

Prazo comum: quando forem 2 ou mais os apelantes ou apelados, os prazos serão comuns (art. 600, §3º, CPP).

Hipóteses de cabimento:

Art. 593, CPP. Caberá apelação no prazo de 5 dias:


I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular;

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II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no
Capítulo anterior;
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando:
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados;
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.

#DEOLHONAJURIS
Caracteriza manifesta ilegalidade, por violação ao princípio da “non reformatio in pejus”, a majoração da pena
de multa por tribunal, na hipótese de recurso exclusivo da defesa. Isso porque, na apreciação de recurso
exclusivo da defesa, o tribunal não pode inovar na fundamentação da dosimetria da pena, contra o condenado,
ainda que a inovação não resulte em aumento da pena final. STF. 2ª Turma. RHC 194952 AgR/SP, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgado em 13/4/2021 (Info 1013).
Há nulidade no acórdão que julga apelação sem a observância da formalidade de colher os votos em separado
sobre questão preliminar e de mérito, em razão da diminuição do espectro da matéria possível de impugnação
na via dos infringentes. Aplica-se o art. 939 do CPC para o julgamento de apelação criminal. STJ. 5ª Turma. REsp
1843523/CE, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/03/2021 (Info 688).
Não cabe mandado de segurança contra decisão do juiz de 1ª instância que defere ou indefere o desbloqueio
de bens e valores; cabe apelação. Não é admissível a impetração de mandado de segurança contra ato
jurisdicional que defere o desbloqueio de bens e valores. Isso porque se trata de decisão definitiva que, apesar
de não julgar o mérito da ação, coloca fim ao procedimento incidente. STJ. 6ª Turma. REsp 1.787.449-SP, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, julgado em 10/03/2020
A apelação criminal é o recurso adequado para impugnar a decisão que recusa a homologação do acordo de
colaboração premiada, mas ante a existência de dúvida objetiva é cabível a aplicação do princípio da
fungibilidade. Assim, mesmo sendo caso de apelação, se a parte ingressou com correição parcial no prazo de 5
dias, é possível conhecer da irresignação como apelação, aplicando-se o princípio da fungibilidade recursal (art.
579 do CPP). STJ. 6ª Turma. REsp 1.834.215-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/10/2020 (Info
683).
Não caracteriza reformatio in pejus a decisão de tribunal de justiça que, ao julgar recurso de apelação exclusivo
da defesa, mantém a reprimenda aplicada pelo magistrado de primeiro grau, porém com fundamentos diversos
daqueles adotados na sentença. Não viola o princípio da proibição da reformatio in pejus a reavaliação das
circunstâncias judiciais em recurso de apelação penal, no âmbito do efeito devolutivo, desde que essa não
incorra em aumento de pena. Não há falar em reformatio in pejus se os motivos expendidos pelo julgador em
sede de apelação exclusiva da defesa não representaram advento de situação mais gravosa para o réu. STF. 1ª
Turma. RHC 119149/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/2/2015 (Info 774). STF. 1ª Turma. HC 126457/PA,
Rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/11/2018 (Info 922).

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

As hipóteses de cabimento de recurso em sentido estrito trazidas pelo art. 581 do CPP são:
• Exaustivas (taxativas);
• Admitem interpretação extensiva
• Não admitem interpretação analógica.

Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:


I - que não receber a denúncia ou a queixa;
II - que concluir pela incompetência do juízo;
III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;
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IV – que pronunciar o réu; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)


V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão preventiva
ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante; (Redação dada pela Lei nº
7.780, de 22.6.1989)
VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;
VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade;
IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da punibilidade;
X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;
XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena;
XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;
XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;
XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta;
XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;
XVIII - que decidir o incidente de falsidade;
XXV - que recusar homologação à proposta de acordo de não persecução penal, previsto no art. 28-A desta
Lei. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

OBS: Suprimidos os incisos expressamente revogados por Lei e tacitamente revogados pela LEP

A decisão do juiz que revoga a medida cautelar diversa da prisão de comparecimento periódico em juízo (art.
319, I, do CPP) pode ser impugnada por meio de RESE?
SIM, com base na intepretação extensiva do art. 581, V. O inciso V expressamente permite RESE contra a decisão
do juiz que revogar prisão preventiva. Esta decisão é similar ao ato de revogar medida cautelar diversa da prisão.
Logo, permite-se a interpretação extensiva neste caso. Em suma: é cabível recurso em sentido estrito contra
decisão que revoga medida cautelar diversa da prisão. STJ. 6ª Turma. REsp 1628262/RS, Rel. Min. Sebastião Reis
Júnior, julgado em 13/12/2016 (Info 596).

#DEOLHONAJURIS: Ausência de indicação das peças para traslado do RESE. Indicadas as peças de que o
recorrente pretenda o traslado, o recurso deve ser apreciado. Não indicadas, no entanto, as peças necessárias,
correta a decisão que não o conheceu por deficiência de instrução. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.973.141/RS,
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 5/04/2022.

HABEAS CORPUS

A jurisprudência dominante entende ser inadequado o uso do Habeas Corpus quando inexistir risco, mesmo que
remoto, à liberdade de locomoção.

#SELIGANASÚMULA:
Súmula 606, STF: Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal Pleno de decisão de turma, ou do plenário,
proferida em habeas corpus ou no respectivo recurso.
Súmula 648, STJ: A superveniência da sentença condenatória prejudica o pedido de trancamento da ação penal
por falta de justa causa feito em habeas corpus.
Súmula 693, STF: não cabe "habeas corpus" contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo
em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada.
Súmula 694, STF: não cabe "habeas corpus" contra a imposição da pena de exclusão de militar ou de perda de
patente ou de função pública.
Súmula 695, STF: não cabe "habeas corpus" quando já extinta a pena privativa de liberdade.

#DEOLHONAJURIS
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O Habeas corpus não constitui via própria para impugnar Decreto de governador de Estado sobre adoção de
medidas acerca da apresentação do comprovante de vacinação contra a COVID-19 para que as pessoas possam
circular e permanecer em locais públicos e privados. STJ. 2ª Turma. RDC no HC 700487-RS, Rel. Min. Francisco
Falcão, julgado em 22/02/2022 (Info 726).
Não é cabível habeas corpus para impugnar ato normativo que fixa medidas restritivas para prevenir a
disseminação da covid-19. Não é cabível habeas corpus para impugnar ato normativo que fixa medidas
restritivas para prevenir a disseminação da covid-19, por não constituir via própria para o controle abstrato da
validade de leis e atos normativos em geral. STJ. 5ª Turma. PET no HC 655.460, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
11/05/2021. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 657.184, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 18/05/2021.
É inadmissível a intervenção do assistente de acusação na ação de habeas corpus. Isto porque, inexiste
imposição legal de intimação do assistente do Ministério Público no habeas corpus impetrado em favor do
acusado. Ademais, como ele não integra a relação processual instaurada nessa ação autônoma de natureza
constitucional, também não possui legitimidade para recorrer de decisões proferidas em habeas corpus, por não
constar essa atividade processual no rol exaustivo do art. 271 do Código de Processo Penal. STF. 1ª Turma. AgRg
no HC 203.737, Rel. Min. Carmem Lúcia, decisão monocrática em 31/08/2021.
Quando a liberdade de alguém estiver direta ou indiretamente ameaçada, cabe habeas corpus ainda que para
solucionar questões de natureza processual. STF. 2ª Turma. HC 163943 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red.
p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/8/2020 (Info 985).
O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de natureza criminal diversas da
prisão. Isso porque, se descumprida a “medida alternativa”, é possível o estabelecimento da custódia,
alcançando-se o direito de ir e vir. STF. 1ª Turma. HC 170735/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 30/6/2020 (Info 984).
O habeas corpus não é sede processual adequada para discussão sobre a correta fixação da competência, bem
como sobre a existência de transnacionalidade do delito imputado. STF. 1ª Turma. HC 151881 AgR/SP, Rel. Min.
Rosa Weber, julgado em 12/11/2019 (Info 959).

III – Mandado de segurança em matéria criminal (Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009).


IV – Disposições processuais penais especiais. a) Execução penal (Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984). b)
Entorpecentes (Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006). c) Violência doméstica (Lei nº 11.340, de 7 de agosto
de 2006). d) Prisão temporária (Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1.989). e) Juizados Especiais Criminais (Lei
nº 9.099, de 26 de setembro de 1995). f) Interceptação telefônica (Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996). g)
Código Eleitoral (Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965). h) Falências (Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005). i)
Organizações criminosas (Lei nº 12.850/2013, de 02 de agosto de 2013). j) Proteção a testemunhas (Lei nº 9.807,
de 13 de julho de 1999). k) Lavagem ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores (Lei nº 9.613, de 03 de março de
1998).
V - Súmulas do Superior Tribunal de Justiça, do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro.

EXECUÇÃO PENAL

PROGRESSÃO DE REGIME (ART. 112, LEP):

16% Primário Condenado por crime sem violência ou grave ameaça


20% Reincidente Reincidência em crime sem violência ou grave ameaça

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Condenado por crime com violência ou grave ameaça


25% Primário Reincidência em crime sem violência ou grave ameaça (genérica)
Exemplo: condenado por roubo e reincidente em furto.
Reincidência em crime com violência ou grave ameaça (se for sem, é 25%)
30% Reincidente
Exemplo: condenado por roubo e reincidente em extorsão
Crime hediondo ou equiparado
40% Primário Reincidência em crime não hediondo (STJ, REsp 1918338, 31/05/2021)
Exemplo: condenado por crime de tráfico e reincidente em furto.
Condenado por crime hediondo com resultado morte (se primário), vedado o
livramento condicional
50% Primário Condenado por exercer o comando de organização criminosa estruturada para a
prática de crime hediondo ou equiparado
Condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada
Reincidência em crime hediondo ou equiparado (específica)
60% Reincidente OBS: se a reincidência for genérica (crime comum), será 40%
Exemplo: condenado por tráfico e reincidente em tráfico
Reincidência em crime hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o
livramento condicional
70% Reincidente
Exemplo: condenado por homicídio qualificado e reincidente em estupro com
resultado morte.

#DEOLHONAJURIS
Aplica-se se o percentual previsto no art. 112, inciso VI, alínea "a", [50% ao condenado pela prática de crime
hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o livramento condicional] da Lei n.
7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de regime ao condenado por crime hediondo com
resultado morte e reincidente genérico, quando a condenação tenha ocorrido antes da entrada em vigor da Lei
n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime). AgRg no REsp 2.015.414-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta
Turma, por unanimidade, julgado em 25/10/2022. (Info 755 - STJ)
Ao reincidente não específico em crime hediondo, aplica-se, inclusive retroativamente, o inciso V do art. 112
da LEP para fins de progressão de regime. Tendo em vista a legalidade e a taxatividade da norma penal (art. 5º,
XXXIX, CF), a alteração promovida pela Lei 13.964/2019 no art. 112 da LEP não autoriza a incidência do
percentual de 60% (inc. VII) aos condenados reincidentes não específicos para o fim de progressão de regime.
Diante da omissão legislativa, impõe-se a analogia in bonam partem, para aplicação, inclusive retroativa, do
inciso V do artigo 112 da LEP (lapso temporal de 40%) ao condenado por crime hediondo ou equiparado sem
resultado morte reincidente não específico. STF. Plenário. ARE 1327963/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 17/09/2021 (Repercussão Geral – Tema 1169) (Info 1032).
Se o condenado estava preso preventivamente, a data da prisão preventiva deve ser considerada como termo
inicial para fins de obtenção de progressão de regime e demais benefícios da execução penal, desde que não
ocorra condenação posterior por outro crime apta a configurar falta grave. STF. 1ª Turma. RHC 142463/MG, Rel.
Min. Luiz Fux, julgado em 12/9/2017 (Info 877)

#SELIGANASÚMULA
Súmula 716 do STF: Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a aplicação imediata de
regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.
Súmula 491 do STJ: É inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional.

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Ciclos Método

Súmula vinculante 56: A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado
em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE
641.320/RS.

Nos crimes contra a administração pública em que decorra prejuízo ou enriquecimento ilícito, impõe-se, como
condição para a progressão de regime, a REPARAÇÃO INTEGRAL DO DANO causado ou a devolução do produto
do ilícito praticado, com os acréscimos legais, nos termos do artigo 33, §4º, do Código Penal.

Artigo 33, §4º, CP. “O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do
cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito
praticado, com os acréscimos legais.”

Não havendo na sentença condenatória transitada em julgado determinação expressa de reparação do dano
ou de devolução do produto do ilícito, não pode o juízo das execuções inserir referida condição para fins de
progressão de regime. Para que a reparação do dano ou a devolução do produto do ilícito faça parte da própria
execução penal, condicionando a progressão de regime, é necessário que essa determinação de reparação ou
ressarcimento conste expressamente da sentença condenatória, de forma individualizada e em observância aos
princípios da ampla defesa e do contraditório,observando-se, assim, o devido processo legal. STJ. 5ª Turma. HC
686.334-PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 14/09/2021 (Info 709).

Regressão de regime:

Art. 118, LEP. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a transferência
para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:
I - Praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;
II - Sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em execução, torne incabível
o regime.
§ 1° O condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses referidas nos incisos anteriores,
frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a multa cumulativamente imposta.
§ 2o Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, deverá ser ouvido previamente o condenado.

IDENTIFICAÇÃO DO PERFIL GENÉTICO (ART. 9º-A, LEP):

Obrigatório para o condenado:


- Por crime doloso praticado com violência grave contra a pessoa; ou
- Por crime contra a vida, contra a liberdade sexual ou por crime sexual contra vulnerável.

Art. 9º-A, LEP. O condenado por crime doloso praticado com violência grave contra a pessoa, bem como por
crime contra a vida, contra a liberdade sexual ou por crime sexual contra vulnerável, será submetido,
obrigatoriamente, à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA (ácido desoxirribonucleico), por
técnica adequada e indolor, por ocasião do ingresso no estabelecimento prisional. (Redação dada pela
Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
§ 1o A identificação do perfil genético será armazenada em banco de dados sigiloso, conforme regulamento a
ser expedido pelo Poder Executivo. (Incluído pela Lei nº 12.654, de 2012)
§ 1º-A. A regulamentação deverá fazer constar garantias mínimas de proteção de dados genéticos, observando
as melhores práticas da genética forense. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

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Ciclos Método

§ 2º A autoridade policial, federal ou estadual, poderá requerer ao juiz competente, no caso de inquérito
instaurado, o acesso ao banco de dados de identificação de perfil genético. (Incluído pela Lei nº 12.654, de
2012)
§ 3º Deve ser viabilizado ao titular de dados genéticos o acesso aos seus dados constantes nos bancos de perfis
genéticos, bem como a todos os documentos da cadeia de custódia que gerou esse dado, de maneira que possa
ser contraditado pela defesa. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
§ 4º O condenado pelos crimes previstos no caput deste artigo que não tiver sido submetido à identificação do
perfil genético por ocasião do ingresso no estabelecimento prisional deverá ser submetido ao procedimento
durante o cumprimento da pena. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 5º A amostra biológica coletada só poderá ser utilizada para o único e exclusivo fim de permitir a identificação
pelo perfil genético, não estando autorizadas as práticas de fenotipagem genética ou de busca familiar.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
§ 6º Uma vez identificado o perfil genético, a amostra biológica recolhida nos termos do caput deste artigo
deverá ser correta e imediatamente descartada, de maneira a impedir a sua utilização para qualquer outro fim.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
§ 7º A coleta da amostra biológica e a elaboração do respectivo laudo serão realizadas por perito oficial.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
§ 8º Constitui FALTA GRAVE A RECUSA do condenado em submeter-se ao procedimento de identificação do
perfil genético.

REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO:

Hipóteses:
• Prática de fato previsto como crime doloso quando ocasionar subversão da ordem ou disciplina internas
• Presos de alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade
• Presos sob os quais recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em
organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada, independentemente da prática de falta grave.
• Aplicável ao preso provisório ou condenado, nacional ou estrangeiro.

Características:

Art. 52, LEP. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasionar subversão
da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional ou estrangeiro, sem
prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características: (Redação dada
pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - duração máxima de até 2 (dois) anos, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma
espécie; (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - recolhimento em cela individual; (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
III - visitas quinzenais, de 2 (duas) pessoas por vez, a serem realizadas em instalações equipadas para impedir
o contato físico e a passagem de objetos, por pessoa da família ou, no caso de terceiro, autorizado judicialmente,
com duração de 2 (duas) horas; (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - direito do preso à saída da cela por 2 (duas) horas diárias para banho de sol, em grupos de até 4 (quatro)
presos, desde que não haja contato com presos do mesmo grupo criminoso; (Redação dada pela Lei nº 13.964,
de 2019)
V - entrevistas sempre monitoradas, exceto aquelas com seu defensor, em instalações equipadas para impedir
o contato físico e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em contrário; (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)
VI - fiscalização do conteúdo da correspondência; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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VII - participação em audiências judiciais preferencialmente por videoconferência, garantindo-se a participação


do defensor no mesmo ambiente do preso.
(...)
§ 3º Existindo indícios de que o preso exerce liderança em organização criminosa, associação criminosa ou milícia
privada, ou que tenha atuação criminosa em 2 (dois) ou mais Estados da Federação, o regime disciplinar
diferenciado será obrigatoriamente cumprido em estabelecimento prisional federal.
§4º Na hipótese dos parágrafos anteriores, o regime disciplinar diferenciado poderá ser prorrogado
sucessivamente, por períodos de 1 (um) ano, existindo indícios de que o preso: (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
I - continua apresentando alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal de origem ou da
sociedade; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - mantém os vínculos com organização criminosa, associação criminosa ou milícia privada, considerados
também o perfil criminal e a função desempenhada por ele no grupo criminoso, a operação duradoura do grupo,
a superveniência de novos processos criminais e os resultados do tratamento penitenciário.
(...)
§ 7º Após os primeiros 6 (seis) meses de regime disciplinar diferenciado, o preso que não receber a visita de que
trata o inciso III do caput deste artigo poderá, após prévio agendamento, ter contato telefônico, que será
gravado, com uma pessoa da família, 2 (duas) vezes por mês e por 10 (dez) minutos.

AUTORIZAÇÃO DE SAÍDA: subdivide-se em permissão de saída e saída temporária

PERMISSÃO DE SAÍDA SAÍDA TEMPORÁRIA


Concedida pelo Diretor do estabelecimento Concedida pelo Juiz da Execução
Regime fechado e semiaberto Regime semiaberto
Sem vigilância direta
OBS: A ausência de vigilância direta não impede a
Mediante escolta utilização de equipamento de monitoração eletrônica
pelo condenado, quando assim determinar o juiz da
execução.
Hipóteses: Hipóteses:
I - falecimento ou doença grave do cônjuge, I - Visita à família;
companheira, ascendente, descendente ou irmão; II - Frequência a curso supletivo profissionalizante,
II - necessidade de tratamento médico bem como de instrução do 2º grau ou superior, na
Comarca do Juízo da Execução;
III - participação em atividades que concorram para
o retorno ao convívio social.
Será concedida por prazo não superior a 7 (sete) dias,
Terá a duração necessária à finalidade da saída podendo ser renovada por mais 4 (quatro) vezes
durante o ano
Requisitos:
I - Comportamento adequado;
II - Cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena,
- se o condenado for primário, e 1/4 (um quarto), se
reincidente;
III - compatibilidade do benefício com os objetivos da
pena.

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OBS: Não terá direito à saída temporária o condenado


que cumpre pena por praticar crime hediondo com
resultado morte
Condições:
I - fornecimento do endereço onde reside a família a
ser visitada ou onde poderá ser encontrado durante
o gozo do benefício;
-
II - recolhimento à residência visitada, no período
noturno;
III - proibição de frequentar bares, casas noturnas e
estabelecimentos congêneres.

REMIÇÃO DA PENA:

Art. 126, LEP. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho
ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.
§ 1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de:
I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de ensino fundamental, médio,
inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 3
(três) dias;
II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho.
(...)
Art. 127. Em caso de FALTA GRAVE, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido, observado o
disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar.
Art. 128. O tempo remido será computado como pena cumprida, para todos os efeitos.

REMIÇÃO PELO TRABALHO REMIÇÃO PELO ESTUDO


FECHADO
FECHADO SEMIABERTO
SEMIABERTO ABERTO
LIVRAMENTO CONDICIONAL

#SAINDODOFORNO
É cabível a remição da pena pela aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, ainda que o apenado
já tenha concluído o ensino médio antes do encarceramento, excluído o acréscimo de 1/3 (um terço) com
fundamento no art. 126, § 5º, da Lei de Execução Penal. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 768530-SP, Rel. Min. Antonio
Saldanha Palheiro, julgado em 6/3/2023 (Info 767).
ATENÇÃO: O tema acima não está pacificado. Isso porque ainda falta aguardar o entendimento da 5ª Turma do
STJ. Além disso, mesmo após o julgado acima, a própria 6ª Turma já decidiu em sentido contrário:
Não é possível a remição da pena pela certificação no Exame Nacional de Ensino Médio quando o reeducando
concluiu essa etapa educacional antes da execução penal (AgRg no RHC n. 169075/SC, relator Ministro Jesuíno
Rissato (Desembargador Convocado do TJDFT), Sexta Turma, julgado em 13/3/2023, DJe de 16/3/2023.)

É constitucional a previsão legislativa de perda dos dias remidos pelo condenado que comete falta grave no
curso da execução penal.
Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido, observado o disposto
no art. 57, recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar.

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Súmula vinculante 9-STF: O disposto no artigo 127 da Lei 7.210/84 foi recebido pela ordem constitucional
vigente e não se lhe aplica o limite temporal previsto no caput do artigo 58.
STF. Plenário. RE 1116485/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 01/03/2023 (Repercussão Geral – Tema 477) (Info
1084).

ALTERAÇÃO DA DATA-BASE:

#DEOLHONAJURIS
A alteração da data-base para concessão de novos benefícios executórios, em razão da unificação das penas,
não encontra respaldo legal. Assim, não se pode desconsiderar o período de cumprimento de pena desde a
última prisão ou desde a última infração disciplinar, seja por delito ocorrido antes do início da execução da pena,
seja por crime praticado depois e já apontado como falta disciplinar grave. Se isso for desconsiderado, haverá
excesso de execução. STJ. 3ª Seção. REsp 1.557.461-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/02/2018
(Info 621).
Sobrevindo condenação por pena privativa de liberdade no curso da execução de pena restritiva de direitos, as
penas serão objeto de unificação, com a reconversão da pena alternativa em privativa de liberdade, ressalvada
a possibilidade de cumprimento simultâneo aos apenados em regime aberto e vedada a unificação automática
nos casos em que a condenação substituída por pena alternativa é superveniente. STJ. 3ª Seção.REsp 1.918.287-
MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/04/2022 (Recurso Repetitivo –
Tema 1106) (Info 736).
A data-base para subsequente progressão de regime é aquela em que o reeducando preencheu os requisitos
do art. 112 da LEP e não aquela em que o Juízo das Execuções deferiu o benefício. A decisão do Juízo das
Execuções que defere a progressão de regime é declaratória (e não constitutiva). Algumas vezes, o reeducando
preenche os requisitos em uma data, mas a decisão acaba demorando meses para ser proferida. Não se pode
desconsiderar, em prejuízo do reeducando, o período em que permaneceu cumprindo pena enquanto o
Judiciário analisava seu requerimento de progressão. STF. 2ª Turma. HC 115254, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 15/12/2015. STJ. 6ª Turma. HC 369774/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/11/2016
(Info 595).
Consequências decorrentes da prática de falta grave:
• Progressão: a prática de falta grave interrompe o prazo para a progressão de regime, acarretando a
modificação da data-base e o início de nova contagem do lapso necessário para o preenchimento do requisito
objetivo.
• Livramento condicional: a falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional
(Súmula 441-STJ).
• Indulto e comutação de pena: o cometimento de falta grave não interrompe automaticamente o prazo para o
deferimento do indulto ou da comutação de pena. A concessão desses benefícios deverá obedecer aos
requisitos previstos no decreto presidencial pelo qual foram instituídos.
STJ. 3ª Seção. REsp 1364192-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 12/2/2014 (recurso repetitivo) (Info
546).

SÚMULAS IMPORTANTES SOBRE EXECUÇÃO PENAL:

Súmula 639-STJ: Não fere o contraditório e o devido processo decisão que, sem ouvida prévia da defesa,
determine transferência ou permanência de custodiado em estabelecimento penitenciário federal.
Súmula 617-STJ: A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do término do período
de prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena.
Súmula 534-STJ: A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a progressão de regime de
cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do cometimento dessa infração.

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Súmula 526-STJ: O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato definido como crime
doloso no cumprimento da pena prescinde do trânsito em julgado de sentença penal condenatória no processo
penal instaurado para apuração do fato.
Súmula 441-STJ: A falta grave não interrompe o prazo para obtenção do livramento condicional.
Súmula 535-STJ: A prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de comutação de pena ou indulto.
Súmula 562-STJ: É possível a remição de parte do tempo de execução da pena quando o condenado, em regime
fechado ou semiaberto, desempenha atividade laborativa, ainda que extramuros.
Súmula 520-STJ: O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato jurisdicional insuscetível
de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional.

LEI MARIA DA PENHA (LEI Nº 11.340/06)

O legislador discriminou o que configura a violência doméstica e familiar contra a mulher. Nesse sentido,
abrangeu QUALQUER AÇÃO OU OMISSÃO que possa configurar a morte, a lesão, o sofrimento físico, sexual ou
psicológico e o dano moral ou patrimonial na mulher em situação de violência doméstica e familiar;

Elemento subjetivo na violência doméstica: deve ficar evidenciada a consciência e a vontade do agente de
atingir uma mulher em situação de vulnerabilidade, o que somente seria possível na hipótese de crimes
dolosos.

Estabeleceram-se nos incisos os 3 âmbitos onde estará configurada a violência doméstica e familiar contra a
mulher (BASTA QUE SEJA EM UM DOS 3), previstos no artigo 5º da Lei 11.340/06:

ÂMBITO DA UNIDADE QUALQUER RELAÇÃO ÍNTIMA DE


ÂMBITO DA FAMÍLIA.
DOMÉSTICA AFETO
Espaço de convívio permanente de Comunidade formada por Em qualquer relação íntima de
pessoas, COM OU SEM VÍNCULO indivíduos que são ou se afeto, na qual o agressor conviva
FAMILIAR, INCLUSIVE AS consideram aparentados, unidos ou tenha convivido com a
ESPORADICAMENTE AGREGADAS. por laços naturais, por afinidade ofendida, INDEPENDENTEMENTE
Leva em conta apenas o aspecto ou por vontade expressa; DE COABITAÇÃO.
espacial. Nessa hipótese, o Indivíduos que são ou se Ao referir-se a qualquer relação
importante é que a mulher deve consideram aparentados, unidos íntima de afeto, o legislador
fazer parte desse espaço de por laços naturais, por afinidade abarcou a necessidade de o
convívio permanente. ou por vontade expressa. Aqui agressor conviver ou ter convivido
Não se exige o vínculo familiar, o importam os laços, pouco com a ofendida,
que significa dizer que a violência importando o lugar, pouco independentemente de
doméstica contra a mulher pode importando se há coabitação. coabitação. Na relação íntima de
ocorrer fora dos casos de marido e afeto, o importante é que haja um
mulher, podendo ser vítima a relacionamento entre duas
empregada doméstica, por pessoas, seja ele baseado na
exemplo. amizade, seja ele baseado em
qualquer sentimento que um tiver
pelo outro. É possível namorado e
namorada, desde que não seja
uma relação passageira, mas
íntima.

#ATENÇÃO #NOVIDADELEGISLATIVA

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Art. 40-A. Esta Lei será aplicada a todas as situações previstas no seu art. 5º, independentemente da causa ou
da motivação dos atos de violência e da condição do ofensor ou da ofendida. (Incluído pela Lei nº 14.550, de
2023)

Para o reconhecimento da violência contra a mulher, basta a presença alternativa de um dos incisos do art. 7°,
em combinação alternativa com um dos âmbitos do art. 5° (âmbito da unidade doméstica, âmbito da família
ou em qualquer relação íntima de afeto):

Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I - a VIOLÊNCIA FÍSICA, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;
II - a VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição
da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar
suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação,
manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua
intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause
prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; (Redação dada pela Lei nº 13.772, de 2018)
III - a VIOLÊNCIA SEXUAL, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a
participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza
a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação,
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a VIOLÊNCIA PATRIMONIAL, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração,
destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e
direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a VIOLÊNCIA MORAL, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

SUJEITO ATIVO - Para a caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher, não é necessário que
a violência seja perpetrada por pessoas de sexos distintos. O agressor tanto pode ser um homem (união
heterossexual) como outra mulher (união homoafetiva). Basta atentar para o disposto no art. 5°, parágrafo
único, que prevê que as relações pessoais que autorizam o reconhecimento da violência doméstica e familiar
contra a mulher independem de orientação sexual.

SUJEITO PASSIVO - Especificamente em relação ao sujeito passivo da violência doméstica e familiar, há uma
exigência de uma qualidade especial: ser mulher. Portanto, revela-se inviável a aplicação da Lei Maria da Penha
nas hipóteses de violência contra homens, mesmo quando originadas no ambiente doméstico ou familiar.

#ATENÇÃO – O STJ já admitiu ser possível a aplicação da Lei às mulheres trans (Info 732)!!!

Na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial
que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de imediato, as providências legais cabíveis.

Além de outras medidas a serem tomadas pela autoridade policial, previstas pelo artigo 12, uma nova hipótese
foi adicionada em 2019:

Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência,
deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos
no Código de Processo Penal:
(...)

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VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de existência,
juntar aos autos essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição responsável pela concessão do
registro ou da emissão do porte, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do
Desarmamento); (Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019)

Em regra, a MEDIDA PROTETIVA DE AFASTAMENTO DO LAR é concedida pela autoridade judicial. Porém, a Lei
nº 13.827/2019 trouxe uma exceção, permitindo que referida medida seja concedida pelo Delegado de Polícia
se o Município não for sede de comarca ou até mesmo pelo policial caso também não haja Delegado de Polícia
no momento. A constitucionalidade dessa previsão já foi atestada pelo STF.

Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física ou psicológica da mulher
em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente
afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida: (Redação dada pela Lei nº 14.188, de 2021)
I - pela autoridade judicial; (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou (Incluído pela Lei nº 13.827,
de 2019)
III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento
da denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de 24 (vinte
e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo
dar ciência ao Ministério Público concomitantemente. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência, não
será concedida liberdade provisória ao preso. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)

#DEOLHONAJURIS
É válida a atuação supletiva e excepcional de delegados de polícia e de policiais a fim de afastar o agressor do
lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida, quando constatado risco atual ou iminente à vida ou à
integridade da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, conforme o art.
12-C inserido na Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). STF. Plenário. ADI 6138/DF, Rel. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 23/3/2022 (Info 1048).

MEDIDAS PROTETIVAS: #ATENÇÃO #NOVIDADELEGISLATIVA

Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério
Público ou a pedido da ofendida.
§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente de audiência
das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado.
§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas
a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados
ou violados.
§ 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas
protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus
familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.
§ 4º As medidas protetivas de urgência serão concedidas em juízo de cognição sumária a partir do depoimento
da ofendida perante a autoridade policial ou da apresentação de suas alegações escritas e poderão ser
indeferidas no caso de avaliação pela autoridade de inexistência de risco à integridade física, psicológica, sexual,
patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes. (Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023)

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Ciclos Método

§ 5º As medidas protetivas de urgência serão concedidas independentemente da tipificação penal da violência,


do ajuizamento de ação penal ou cível, da existência de inquérito policial ou do registro de boletim de
ocorrência. (Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023)
§ 6º As medidas protetivas de urgência vigorarão enquanto persistir risco à integridade física, psicológica,
sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes. (Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023)

DESCUMPRIMENTO DE MEDIDA PROTETIVA = CRIME

Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei:
(Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.
§ 1º A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz que deferiu as medidas.
§ 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder fiança.
§ 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis.

#DEOLHONAJURIS
O exame de corpo de delito poderá, em determinadas situações, ser dispensado para a configuração de lesão
corporal ocorrida em âmbito doméstico, na hipótese de subsistirem outras provas idôneas da materialidade
do crime. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2.078.054-DF, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em 23/5/2023
(Info 777).
As medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do art. 22 da Lei Maria da Penha têm natureza
de cautelares penais, não cabendo falar em citação do requerido para apresentar contestação, tampouco a
possibilidade de decretação da revelia, nos moldes da lei processual civil. STJ. 5ª Turma. REsp 2009402-GO, Rel.
Min. Ribeiro Dantas, Rel. Acd. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 08/11/2022 (Info 756).
No caso, foram deferidas medidas protetivas pelo prazo de seis meses. Ao término desse prazo, as medidas
foram prorrogadas por mais seis meses. Todavia, apesar de as medidas protetivas terem sido devidamente
fundamentadas, ocorreu a conclusão do inquérito policial sem indiciamento do investigado. Diante disso, não
faz mais sentido a manutenção dessas medidas. As medidas de urgência, protetivas da mulher, do patrimônio e
da relação familiar, somente podem ser entendidas por seu caráter de cautelaridade - vigentes de imediato,
mas apenas enquanto necessárias ao processo e a seus fins. STJ. 6ª Turma. RHC 159303/RS, Rel. Min. Antonio
Saldanha Palheiro, julgado em 20/09/2022 (Info 750).
A realização da audiência prevista no art. 16 da Lei nº 11.340/2006 somente se faz necessária se a vítima houver
manifestado, de alguma forma, em momento anterior ao recebimento da denúncia, ânimo de desistir da
representação. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1946824-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/06/2022
(Info 743).
A Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) é aplicável às mulheres trans em situação de violência doméstica. STJ.
6ª Turma. REsp 1977124/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 5/4/2022 (Info 732).
A Lei Maria da Penha objetiva proteger a mulher da violência doméstica e familiar que, cometida no âmbito da
unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto, cause-lhe morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico, e dano moral ou patrimonial. Estão no âmbito de abrangência do delito de violência
doméstica e podem integrar o polo passivo da ação delituosa as esposas, as companheiras ou amantes, bem
como a mãe, as filhas, as netas do agressor e também a sogra, a avó ou qualquer outra parente que mantém
vínculo familiar ou afetivo com ele. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1626825-GO, Rel. Min. Felix Fischer, julgado
em 05/05/2020 (Info 671).
A posterior reconciliação entre a vítima e o agressor não é fundamento suficiente para afastar a necessidade de
fixação do valor mínimo previsto no art. 387, inciso IV, do CPP, seja porque não há previsão legal nesse sentido,
seja porque compete à própria vítima decidir se irá promover a execução ou não do título executivo, sendo
vedado ao Poder Judiciário omitir-se na aplicação da legislação processual penal que determina a fixação do

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valor mínimo em favor da ofendida. CPP/Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:(...) IV - fixará valor
mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido;
STJ. 6ª Turma. REsp 1819504-MS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 10/09/2019 (Info 657).
Se a vítima comparece ao cartório e manifesta interesse em se retratar, ainda assim o juiz deverá designar a
audiência para ouvir a ofendida e o MP, não podendo rejeitar a denúncia sem cumprir esse procedimento. STJ.
5ª Turma. HC 138143-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 03/09/2019 (Info 656).
A natureza jurídica do afastamento por até seis meses em razão de violência doméstica e familiar é de
interrupção do contrato de trabalho, incidindo, analogicamente, o auxílio-doença, devendo a empresa se
responsabilizar pelo pagamento dos quinze primeiros dias, ficando o restante do período a cargo do INSS. STJ.
6ª Turma. REsp 1757775-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/08/2019 (Info 655).
A decisão proferida em processo penal que fixa alimentos provisórios ou provisionais em favor da companheira
e da filha, em razão da prática de violência doméstica, constitui título hábil para imediata cobrança e, em caso
de inadimplemento, passível de decretação de prisão civil. STJ. 3ª Turma. RHC 100446-MG, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 27/11/2018 (Info 640).
Não é possível a substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direitos ao condenado pela prática
do crime de lesão corporal praticado em ambiente doméstico (art. 129, § 9º do CP). STF. 2ª Turma. HC
129446/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/10/2015 (Info 804).

#GOLDENTIPS: #AJUDA360
A vedação constante do art. 17 da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) obsta a imposição, nos casos de
violência doméstica e familiar contra a mulher, de pena de multa isoladamente, ainda que prevista de forma
autônoma no preceito secundário do tipo penal imputado - REsp 2.049.327-RJ, Rel. Ministro Sebastião Reis
Júnior, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 14/6/2023. Tema 1189 (Info 779 - STJ).

#SELIGANASÚMULA
Súmula 536-STJ: A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos
sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.
Súmula 542-STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a
mulher é pública incondicionada.
Súmula 588-STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no
ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
Súmula 589-STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados
contra a mulher no âmbito das relações domésticas.
Súmula 600-STJ: Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da Lei nº
11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a coabitação entre autor e vítima.

LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS (LEI Nº 12.850/13)

MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA:

Art. 3º Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os
seguintes meios de obtenção da prova:
I - colaboração premiada;
II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos;
III - ação controlada;
IV - acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados
públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais;
V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação específica;
VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação específica;
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VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11;


VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de provas e
informações de interesse da investigação ou da instrução criminal.

COLABORAÇÃO PREMIADA: é um instituto previsto na legislação por meio do qual um investigado ou acusado
da prática de infração penal decide confessar a prática do delito e, além disso, aceita colaborar com a
investigação ou com o processo fornecendo informações que irão ajudar, de forma efetiva, na obtenção de
provas contra os demais autores dos delitos e contra a organização criminosa, na prevenção de novos crimes,
na recuperação do produto ou proveito dos crimes ou na localização da vítima com integridade física preservada,
recebendo o colaborador, em contrapartida, determinados benefícios penais.

Benefícios da colaboração:

Se a colaboração prestada for muito relevante, o Ministério


PERDÃO JUDICIAL Público ou o Delegado de Polícia poderão se manifestar
(art. 4º caput) pedindo que o juiz conceda perdão judicial ao colaborador, o
que acarreta a extinção da punibilidade.
Outro benefício previsto ao colaborador é a redução da pena
que lhe for imposta.
• Se a colaboração ocorrer antes da sentença, ou seja, se a
pessoa decidir colaborar antes de ser julgada: sua pena poderá
REDUÇÃO DA PENA
ser reduzida em até 2/3.
(art. 4º caput)
• Se a colaboração ocorrer após a sentença, ou seja, se a pessoa
decidir colaborar apenas depois de ser condenada: sua pena
poderá ser reduzida em
até metade (1/2).
SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE O juiz poderá substituir a pena privativa de liberdade do
LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS colaborador por pena restritiva de direitos mesmo que não
(art. 4º caput) estejam presentes os requisitos do art. 44 do CP
Para que o MP deixe de oferecer a denúncia contra o
colaborador é necessário o preenchimento dos seguintes
requisitos:
a) Infração de cuja existência o Ministério Público não tenha
NÃO OFERECIMENTO
prévio conhecimento, ou seja, ainda não tenha sido instaurado
DA DENÚNCIA
IP ou PIC;
(art. 4º, §4º)
b) A colaboração deve ser efetiva e voluntária;
c) O colaborador não pode ser o líder da organização criminosa
d) O colaborador deve ter sido o primeiro a prestar efetiva
colaboração.
Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser
PROGRESSÃO DE REGIME
reduzida até a metade ou será admitida a progressão de regime
(art. 4º §5º)
ainda que ausentes os requisitos objetivos.

Resultados advindos da colaboração:

Art. 4º (...)
I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles
praticadas;
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II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;


III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização
criminosa;
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

Papel do Juiz:

Art. 4º (...)
§ 6º O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização do acordo de
colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do
Ministério Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor.
§ 7º Realizado o acordo na forma do § 6º deste artigo, serão remetidos ao juiz, para análise, o respectivo termo,
as declarações do colaborador e cópia da investigação, devendo o juiz ouvir sigilosamente o colaborador,
acompanhado de seu defensor, oportunidade em que analisará os seguintes aspectos na homologação:
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - regularidade e legalidade; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - adequação dos benefícios pactuados àqueles previstos no caput e nos §§ 4º e 5º deste artigo, sendo nulas as
cláusulas que violem o critério de definição do regime inicial de cumprimento de pena do art. 33 do Decreto-Lei
nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), as regras de cada um dos regimes previstos no Código Penal
e na Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal) e os requisitos de progressão de regime não
abrangidos pelo § 5º deste artigo; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
III - adequação dos resultados da colaboração aos resultados mínimos exigidos nos incisos I, II, III, IV e V do caput
deste artigo; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - voluntariedade da manifestação de vontade, especialmente nos casos em que o colaborador está ou esteve
sob efeito de medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 7º-A O juiz ou o tribunal deve proceder à análise fundamentada do mérito da denúncia, do perdão judicial e
das primeiras etapas de aplicação da pena, nos termos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal) e do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), antes de
conceder os benefícios pactuados, exceto quando o acordo prever o não oferecimento da denúncia na forma
dos §§ 4º e 4º-A deste artigo ou já tiver sido proferida sentença. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 7º-B. São nulas de pleno direito as previsões de renúncia ao direito de impugnar a decisão homologatória.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 8º O juiz poderá recusar a homologação da proposta que não atender aos requisitos legais, devolvendo-a às
partes para as adequações necessárias. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 9º Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre acompanhado pelo seu defensor, ser
ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado de polícia responsável pelas investigações.

LEI DE DROGAS (LEI Nº 11.343/06)

A Lei de drogas traz no seu art. 54 e seguintes o procedimento a ser observado para o processamento dos crimes
nela previstos. Assim, é necessário saber os principais pontos do procedimento que se diferenciam do previsto
no CPP:

a) O Ministério Público tem 10 dias, após finalizado o inquérito, para oferecer a denúncia;
b) Em seguida, o acusado será NOTIFICADO para oferecer DEFESA PRÉVIA no prazo de 10 dias;
c) Após, serão produzidas eventuais provas requeridas pelas partes e o juiz irá receber a denúncia e somente
nesse momento será determinada a CITAÇÃO do réu.

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Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará, imediatamente, comunicação ao
juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público,
em 24 (vinte e quatro) horas.
§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do delito, é
suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta
deste, por pessoa idônea.
§ 2º O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1º deste artigo não ficará impedido de participar da
elaboração do laudo definitivo.
§ 3º Recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o juiz, no prazo de 10 (dez) dias, certificará a regularidade
formal do laudo de constatação e determinará a destruição das drogas apreendidas, guardando-se amostra
necessária à realização do laudo definitivo. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014)
§ 4º A destruição das drogas será executada pelo delegado de polícia competente no prazo de 15 (quinze) dias
na presença do Ministério Público e da autoridade sanitária. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014)
§ 5º O local será vistoriado antes e depois de efetivada a destruição das drogas referida no § 3º , sendo lavrado
auto circunstanciado pelo delegado de polícia, certificando-se neste a destruição total delas. (Incluído
pela Lei nº 12.961, de 2014)
Art. 50-A. A destruição das drogas apreendidas sem a ocorrência de prisão em flagrante será feita por
incineração, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contados da data da apreensão, guardando-se amostra
necessária à realização do laudo definitivo. (Redação dada pela Lei nº 13.840, de 2019)
Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90
(noventa) dias, quando solto.
Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério
Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária.

#DEOLHONAJURIS: A inobservância do rito procedimental previsto no art. 55 da Lei n. 11.343/2006, que prevê
a apresentação de defesa preliminar antes do recebimento da denúncia, gera nulidade relativa, desde que
demonstrados, concretamente, eventuais prejuízos suportados pela defesa. STJ. 5ª Turma. RHC 113.880/SP, Rel.
Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 26/05/2020.

#NOVIDADELEGISLATIVA
Art. 60. O juiz, a requerimento do Ministério Público ou do assistente de acusação, ou mediante representação
da autoridade de polícia judiciária, poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a apreensão e
outras medidas assecuratórias nos casos em que haja suspeita de que os bens, direitos ou valores sejam produto
do crime ou constituam proveito dos crimes previstos nesta Lei, procedendo-se na forma dos arts. 125 e
seguintes do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal . (Redação dada pela Lei
nº 13.840, de 2019)
(...)
§ 3º Na hipótese do art. 366 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal , o
juiz poderá determinar a prática de atos necessários à conservação dos bens, direitos ou valores. (Redação dada
pela Lei nº 13.840, de 2019)
§ 4º A ordem de apreensão ou sequestro de bens, direitos ou valores poderá ser suspensa pelo juiz, ouvido o
Ministério Público, quando a sua execução imediata puder comprometer as investigações. (Redação dada pela
Lei nº 13.840, de 2019)
§ 5º Decretadas quaisquer das medidas previstas no caput deste artigo, o juiz facultará ao acusado que, no prazo
de 5 (cinco) dias, apresente provas, ou requeira a produção delas, acerca da origem lícita do bem ou do valor
objeto da decisão, exceto no caso de veículo apreendido em transporte de droga ilícita. (Incluído pela Lei nº
14.322, de 2022)

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§ 6º Provada a origem lícita do bem ou do valor, o juiz decidirá por sua liberação, exceto no caso de veículo
apreendido em transporte de droga ilícita, cuja destinação observará o disposto nos arts. 61 e 62 desta Lei,
ressalvado o direito de terceiro de boa-fé. (Incluído pela Lei nº 14.322, de 2022)
(...)
Art. 61. A apreensão de veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de transporte e dos
maquinários, utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza utilizados para a prática, habitual ou não,
dos crimes definidos nesta Lei será imediatamente comunicada pela autoridade de polícia judiciária responsável
pela investigação ao juízo competente. (Redação dada pela Lei nº 14.322, de 2022)

LEI DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA (LEI Nº 9.296/96)

Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação


criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz
competente da ação principal, sob segredo de justiça.
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de
informática e telemática.
Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes
hipóteses:
I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal;
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;
III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive
com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.

Art. 8º-A. Para investigação ou instrução criminal, poderá ser autorizada pelo juiz, a requerimento da autoridade
policial ou do Ministério Público, a captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos,
quando: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e igualmente eficazes; e (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
II - houver elementos probatórios razoáveis de autoria e participação em infrações criminais cujas penas
máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos ou em infrações penais conexas. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
§ 1º O requerimento deverá descrever circunstanciadamente o local e a forma de instalação do dispositivo de
captação ambiental. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º A instalação do dispositivo de captação ambiental poderá ser realizada, quando necessária, por meio de
operação policial disfarçada ou no período noturno, exceto na casa, nos termos do inciso XI do caput do art. 5º
da Constituição Federal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
§ 3º A captação ambiental não poderá exceder o prazo de 15 (quinze) dias, renovável por decisão judicial por
iguais períodos, se comprovada a indispensabilidade do meio de prova e quando presente atividade criminal
permanente, habitual ou continuada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º A captação ambiental feita por um dos interlocutores sem o prévio conhecimento da autoridade policial ou
do Ministério Público poderá ser utilizada, em matéria de defesa, quando demonstrada a integridade da
gravação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA ESCUTA TELEFÔNICA GRAVAÇÃO TELEFÔNICA


Ocorre quando um terceiro capta Ocorre quando o diálogo
Ocorre quando um terceiro capta
o diálogo telefônico travado entre telefônico travado entre duas
o diálogo telefônico travado entre
duas pessoas, sendo que um dos pessoas é gravado por um dos

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duas pessoas, sem que nenhum interlocutores sabe que está próprios interlocutores, sem o
dos interlocutores saiba. sendo realizada a escuta. consentimento ou a ciência do
outro.
Ex: polícia, com autorização EX: polícia grava a conversa Também é chamada de gravação
judicial, grampeia os telefones dos telefônica que o pai mantém com “clandestina” (obs: a palavra
membros de uma quadrilha e o seqüestrador de seu filho. “clandestina” está empregada não
grava os diálogos mantidos entre na acepção de “ilícito”, mas sim
eles. Para que seja realizada é no sentido de “feito às ocultas”).
indispensável a autorização
Para que a interceptação seja judicial (posição majoritária). Ex: mulher grave a conversa
válida é indispensável a telefônica no qual o ex-marido
autorização judicial ameaça matá-la.
(entendimento pacífico). A gravação telefônica é válida
mesmo que tenha sido realizada
SEM autorização judicial.

A gravação telefônica é válida


mesmo que tenha sido realizada
SEM autorização judicial.

A única exceção em que haveria


ilicitude se dá no caso em que a
conversa era amparada por sigilo
(ex: advogados e clientes, padres
e fiéis).

#DEOLHONAJURIS
A Lei nº 9.296/96 prevê que a interceptação telefônica "não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável
por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova." (art. 5º). A interceptação
telefônica não pode exceder 15 dias. Contudo, pode ser renovada por igual período, não havendo restrição legal
ao número de vezes para tal renovação, se comprovada a sua necessidade. STF. 2ª Turma. HC 133148/ES, Rel.
Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 21/2/2017 (Info 855).
Segundo o art. 8º da Lei 9.296/96, o procedimento de interceptação telefônica (requerimento, decisão,
transcrição dos diálogos etc.) deverá ser instrumentalizado em autos apartados. Haverá nulidade caso a
interceptação não seja formalizada em autos apartados? NÃO. Preenchidas as exigências previstas na Lei nº
9.296/96 (ex: autorização judicial, prazo etc.), não deve ser considerada ilícita a interceptação telefônica pela
simples ausência de autuação. A ausência de autos apartados configura mera irregularidade que não viola os
elementos essenciais à validade da interceptação. STF. 1ª Turma. HC 128102/SP, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 9/12/2015 (Info 811).
O fato de a interceptação telefônica ter visado elucidar outra prática delituosa não impede a sua utilização em
persecução criminal diversa por meio do compartilhamento da prova. STF. 1ª Turma. HC 128102/SP, Rel. Min.
Marco Aurélio, julgado em 9/12/2015 (Info 811).
As comunicações telefônicas do investigado legalmente interceptadas podem ser utilizadas para formação de
prova em desfavor do outro interlocutor, ainda que este seja advogado do investigado. STJ. 5ª Turma. RMS
33677-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/5/2014 (Info 541).
Em processo que apure a suposta prática de crime sexual contra adolescente absolutamente incapaz, é
admissível a utilização de prova extraída de gravação telefônica efetivada a pedido da genitora da vítima, em
seu terminal telefônico, mesmo que solicitado auxílio técnico de detetive particular para a captação das
conversas. STJ. 6ª Turma. REsp 1026605-ES, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/5/2014 (Info 543).
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Não é necessária a transcrição integral das conversas interceptadas, desde que possibilitado ao investigado o
pleno acesso a todas as conversas captadas, assim como disponibilizada a totalidade do material que, direta e
indiretamente, àquele se refira, sem prejuízo do poder do magistrado em determinar a transcrição da
integralidade ou de partes do áudio. STF. Plenário. Inq 3693/PA, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/4/2014
(Info 742).
Não é ilícita a interceptação telefônica autorizada por magistrado aparentemente competente ao tempo da
decisão e que, posteriormente, venha a ser declarado incompetente. Trata-se da aplicação da chamada “teoria
do juízo aparente”. STF. 2ª Turma. HC 110496/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 9/4/2013 (Info 701).
A interceptação telefônica é subsidiária e excepcional, só podendo ser determinada quando não houver outro
meio para se apurar os fatos tidos por criminosos, nos termos do art. 2º, inc. II, da Lei nº 9.296/1996.
Desse modo, é ilegal que a interceptação telefônica seja determinada apenas com base em “denúncia anônima”.
STF. Segunda Turma. HC 108147/PR, rel. Min. Cármen Lúcia, 11/12/2012 (Info 692).

JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA: Infrações penais de menor potencial ofensivo, as quais englobam as
contravenções penais e os crimes com pena máxima cominada de até 2 anos (art. 60).
#ATENÇÃO: Justiça Federal NÃO TEM competência para julgamento de contravenções penais.

COMPETÊNCIA TERRITORIAL: adota-se a teoria da atividade, ou seja, é competente o juízo do local em que for
praticada (ação ou omissão) a infração penal (DIFERENTE da regra prevista no CPP).

TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA (TCO): Substitui o inquérito policial nos crimes de menor potencial
ofensivo. É uma investigação simplificada. Cabe ao delegado tomar o compromisso do autuado de comparecer
ao juizado especial em dia e horário designados previamente e remeter o TCO ao Juizado.

INSTITUTOS DESPENALIZADORES DO JECRIM:

Ajuste firmado entre autor da infração penal e o ofendido para que


COMPOSIÇÃO CIVIL DOS DANOS haja reparação dos danos sofridos. Tal acordo depende de
(ART. 74) homologação judicial para gerar efeitos, que se dará em sentença
irrecorrível (título executivo judicial).
Se dá quando o Ministério Público apresenta proposta de aplicação
imediata de pena restritiva de direitos ou multa, e esta é aceita pelo
autor do delito. Exige-se indícios suficientes de autoria e prova da
TRANSAÇÃO PENAL
materialidade. Além disso, depende de homologação judicial.
(ART. 76)
#SELIGA: é um poder-dever do MP apresentar a proposta de
transação penal, se preenchidos os requisitos para tanto. Se não o faz,
o juiz pode invocar o art. 28 do CPP.
Aplicada aos casos de pena mínima cominada igual ou inferior a 1
ano. O MP deve apresentar a proposta de suspensão condicional do
processo quando do oferecimento da denúncia. Aceita a proposta, o
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO feito ficará suspenso pelo prazo de 2 a 4 anos, dentro do qual o
PROCESSO agente ficará submetido a certas condições legais.
(ART. 89) #OBS1: o prazo prescricional fica suspenso durante o período de
suspensão do processo.
#OBS2: o juiz pode fixar outras condições (condições judiciais), além
das previstas na lei.

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HIPÓTESES DE REVOGAÇÃO DA SUSPENSÃO DO PROCESSO:


a) Obrigatória – se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar,
sem justo motivo, a reparação do dano.
b) Facultativa – se vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir as condições
judiciais impostas.

#SELIGANASÚMULA
Súmula vinculante 35: A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa
julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério
Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito
policial.
Súmula 723 do STF: Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da
pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano.
Súmula 243 do STJ: O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais
cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada,
seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano
Súmula 337 do STJ: É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência
parcial da pretensão punitiva.

#DEOLHONAJURIS
O Ministério Público propôs a suspensão condicional do processo, não tendo sido o benefício homologado pelo
juízo em razão do desacordo entre as partes (autor e vítima) acerca do valor a ser pago a título de reparação do
dano, um das condições para a concessão desse benefício, previsto no art. 89, §1º, I, da Lei nº 9.099/95. Logo,
neste caso, não há que se falar em constrangimento ilegal suportado pelo autor. STJ. 6ª Turma. RHC 163897-RS,
Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF da 1ª Região), julgado em 18/10/2022 (Info 754).
O processamento do réu pela prática da conduta descrita no art. 28 da Lei de Drogas no curso do período de
prova deve ser considerado como causa de revogação FACULTATIVA da suspensão condicional do processo. A
contravenção penal tem efeitos primários mais deletérios que o crime do art. 28 da Lei de Drogas. Assim, mostra-
se desproporcional que o mero processamento do réu pela prática do crime previsto no art. 28 da Lei nº
11.343/2006 torne obrigatória a revogação da suspensão condicional do processo, enquanto o processamento
por contravenção penal ocasione a revogação facultativa. STJ. 5ª Turma. REsp 1795962-SP, Rel. Min. Ribeiro
Dantas, julgado em 10/03/2020 (Info 668).
Os Juizados Especiais Criminais são dotados de competência relativa para julgamento das infrações penais de
menor potencial ofensivo, razão pela qual se permite que essas infrações sejam julgadas por outro juízo com
vis atractiva para o crime de maior gravidade, pela conexão ou continência, observados, quanto àqueles, os
institutos despenalizadores, quando cabíveis. STF. Plenário. ADI 5264/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
4/12/2020 (Info 1001).
É possível a revogação do benefício de suspensão condicional do processo após o término do período de prova,
desde que os fatos ensejadores da revogação tenham ocorrido durante esse período. A eventual aceitação de
proposta de suspensão condicional do processo não prejudica a análise de habeas corpus no qual se pleiteia o
trancamento da ação penal. INFO 557, STJ.
É constitucional a norma do art. 89 da Lei nº 9.099/95, que estabelece os requisitos para a concessão do
benefício da suspensão condicional do processo, entre eles o de não responder o acusado por outros delitos.
Assim, a existência de ações penais em curso contra o denunciado impede a concessão do sursis processual por
força do art. 89 da Lei nº 9.099/95. STF. 1ª Turma. AP 968/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 22/5/2018 (Info
903). STF. 2ª Turma. RHC 133945 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/06/2016.
As consequências jurídicas extrapenais previstas no art. 91 do Código Penal são decorrentes de sentença
condenatória. Tal não ocorre, portanto, quando há transação penal, cuja sentença tem natureza meramente
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homologatória, sem qualquer juízo sobre a responsabilidade criminal do aceitante. As consequências geradas
pela transação penal são essencialmente aquelas estipuladas por modo consensual no respectivo instrumento
de acordo. STF. Plenário. RE 795567/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/5/2015 (Info 787).

SÚMULAS DO TJRJ EM MATÉRIA PROCESSUAL PENAL

Súmula 69, TJRJ: Aplica-se ao processo penal, por analogia, o artigo 557 do Código de Processo Civil.

Súmula 70, TJRJ: O fato de restringir-se a prova oral a depoimentos de autoridades policiais e seus agentes não
desautoriza a condenação.

Súmula 72, TJRJ: O artigo 1º, par. 7º da Lei de Tortura não revogou o artigo 2º, par. 1º da Lei de Crimes
Hediondos.

Súmula 73, TJRJ: O desaforamento pode ser deferido para outra comarca, ainda que não seja a mais próxima,
atendidas as exigências do artigo 424 do CPP

Súmula 253, TJRJ: Firma-se a competência do Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher,
quando a conduta típica é perpetrada em razão do gênero nos termos dos artigos 5º e 7º, da Lei nº 11.340/06,
não bastando que seja cometida contra pessoa do sexo feminino.

Súmula 259, TJRJ: O processo da ação de revisão criminal não comporta instrução probatória, devendo vir
instruída a petição inicial com provas pré-constituídas do fato constitutivo do direito invocado, por meio de
justificação judicial deduzida perante o juízo de primeiro grau.

Súmula 261, TJRJ: A carta de execução de sentença provisória deve ser expedida mesmo na pendência de
recurso interposto pelo Ministério Público.

Súmula 262, TJRJ: O direito de vista e de cópia de autos de processos judiciais ou administrativos, que não
estejam sob sigilo, deve ser assegurado a todos os advogados, independentemente da apresentação de
procuração.

Súmula 263, TJRJ: É cabível a suspensão condicional do processo nas hipóteses em que, alternativamente, for
cominada pena de multa e sanção privativa de liberdade mínima superior a um ano.

Súmula 271, TJRJ: Em atenção ao princípio da correlação entre a imputação e a sentença, vedada a mutatio
libelli em segundo grau de jurisdição, sempre que se reconhecer a ocorrência de elementar não contida na
denúncia ou na queixa, impõe-se a absolvição.

NOÇÕES GERAIS DE DIREITO E FORMAÇÃO HUMANÍSTICA10

SOCIOLOGIA DO DIREITO

10
Ana Paula Prado

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Inicialmente, importante assinalar que há uma tradição entre os sociólogos em atribuir ou a Augusto
Comte ou a Émile Durkheim o título de pai fundador da sociologia. Para o mundo universitário, a sociologia
surgiu no final do século XIX com Émile Durkheim que, pela primeira vez, utilizou a disciplina tal qual a
conhecemos hoje, atribuindo-lhe metodologia científica. No entanto, certamente os primeiros alicerces da
sociologia surgiram décadas antes com o pensamento de Auguste Comte, por ser o primeiro que se utilizou, de
modo sistemático, da palavra “sociologia”. Na realidade, tanto Comte quanto Durkheim representam, na França,
um momento de superação da filosofia iluminista que se revelava como a última referência metafísica da
explicação social.

Diz-se que havia uma referência metafísica porque o iluminismo não buscava explicar a sociedade a
partir de fatos reais e concretos existentes em sua época. Bastava que o pensamento, encerrado em si próprio,
fosse coerente e racional. Não havia, portanto, o interesse em considerar válido o estudo da sociedade então
existente, pois ela ainda tinha bases absolutistas e a burguesia, em plena ascensão, desejava a transformação
dessa sociedade. Para tanto, era preciso pensar numa sociedade ideal, racional e sem cotejo com a realidade
social vigente, o que foi negado pela sociologia contemporânea.

#SELIGANNORESUMO:

AUGUSTO COMTE ÉMILE DURKHEIM


Montpellier, 19 de janeiro de 1798 - Paris, 5 de Épinal, 15 de abril de 1858 – França, 15 de
setembro de 1857 novembro de 1917
Considerado o embrião de toda a sociologia, foi o Foi o primeiro sociólogo a criar métodos na
primeiro a sistematizar o seu conceito. Incorporou e sociologia. Foi ele quem, com maior vigor dentre seus
defendeu em suas ideais a sociologia positivista, a contemporâneos, reivindicou o caráter científico e
qual aponta os enganos das crenças teológicas e das específico ao conhecimento sociológico. Como
metafísicas particulares e busca promover um consequência, a sociologia ganhou autonomia por
entendimento geral entre os indivíduos, as possuir um objeto específico de análise, e não mais
sociedades e os povos. Para Comte, portanto, o ser concebida como auxiliar de outras ciências. Para
direito não pode ser pensado como produto de uma Durkheim, a moralidade é uma moralidade objetiva.
razão afastada da realidade. Pelo contrário, as O grupo, formado pela pluralidade dos indivíduos,
normas são produtos de estruturas, vícios e virtudes permite que se forme uma personalidade individual,
sociais do homem. mas que sempre será dependente do todo. Do
contrário, se a ela não se adequar, essa moralidade
individual subjetiva será considerada imoral.
Durkheim é amplamente reconhecido como um dos
melhores teóricos do conceito da coesão e
solidariedade social. Foi, entretanto, criticado pela
falta de crítica em relação à própria sociedade.

SOCIOLOGIA DO DIREITO BRASILEIRO: CAIO PRADO JÚNIOR E RAIMUNDO FAORO ##APOSTACICLOS

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CAIO PRADO JÚNIOR11

Caio Prado Júnior (1907-1990) se destaca por ser pioneiro na utilização das bases teóricas e
metodológicas marxistas para a compreensão da realidade brasileira. Já nas décadas de 1930 e 1940 despontam
algumas de suas obras fundamentais, como Evolução política do Brasil e Formação do Brasil Contemporâneo:
Colônia, seu texto de maior impacto. Posteriormente, escreve História econômica do Brasil e A revolução
brasileira, este já após o golpe de 1964.

(...) A reflexão de Caio Prado Júnior busca afastar, da explicação sobre a formação brasileira, a pretensão
de que o país teria vivido sob situação feudal antes de alcançar o capitalismo. Tal leitura, tradicional entre velhos
comunistas, acreditava que o Brasil tivesse seguido a mesma sequência histórica dos modos de produção
europeus. Como as sociedades europeias alcançaram o capitalismo saídas do feudalismo, o mesmo se pensava
de sociedades como a brasileira. Prado Júnior, ao contrário, postula uma interpretação bastante original: o Brasil
nunca teve uma formação econômica feudal. A empreitada portuguesa de colonização do país já atendia, desde
o início, a interesses capitalistas: explorar o território para vender à Europa e lucrar. Em Formação do Brasil
contemporâneo: colônia, Prado Júnior aponta para o tema do sentido da colonização. O Brasil não se constitui
apenas pelo encontro casual ou pelo amontoado de pessoas e povos. Havia um propósito na vida sobre o
território brasileiro colonial: a extração ou a produção de mercadorias com valor elevado para venda à Europa.
O sentido da colonização, assim, se deu mediante um empreendimento mercantil voltado à venda no exterior
que aglutinou pessoas sob um sistema forjado por grandes proprietários.

(...) Caio Prado Júnior aponta para especificidades da formação brasileira que a tornam distintas de
outras colonizações pelo mundo. Sua leitura estabelece um contraste entre o modelo de colonização inglesa,
implantado em regiões do território hoje dos Estados Unidos da América, que se caracterizava pelo povoamento,
e o modelo das Américas espanhola e portuguesa, no qual as características da colonização foram
acentuadamente de exploração. No primeiro, os povos se transplantavam, levando suas condições de vida para
novas terras, em vista da continuidade de seu padrão de sociabilidade. No segundo, a empreitada era pela
exploração, pelos negócios e pelos lucros, não necessariamente para instaurar boas sociabilidades em novas
terras. Geograficamente, inclusive, colônias de povoamento tiveram um maior parcelamento da terra, dando-
lhe acesso a um número maior de colonos. Já as colônias de exploração tomaram forma de latifúndio (plantation
em inglês). Tal esquema clássico de distinção entre a colonização inglesa e a ibérica marca muito das explicações
sobre o Brasil presentes ainda hoje.

Sendo o sentido da colonização no Brasil constituído para a exploração mercantil, daí é que Caio Prado
Júnior consegue superar velhas e tradicionais leituras que acusavam a realidade brasileira de ser atrasada por
ter ainda resquícios feudais. Tal visão era comum, até então, tanto em intelectuais à esquerda quanto à direita.
No entanto, Prado Júnior aponta para a inexistência de vínculos de servidão feudal na história brasileira. A
empreitada comercial já desponta, desde o início, como sendo o vetor decisivo da colonização. Em Evolução
política do Brasil, sua primeira obra de vulto, publicada em 1933, Prado Júnior contestava que o Brasil tivesse
um domínio político-econômico de perfil feudal, ancorado e advindo da posse da terra (...) Em Formação do

11
Mascaro, Alysson Leandro, 1976- Sociologia do direito / Alysson Leandro Mascaro. – 1. ed. – São Paulo: Atlas, 2022.

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Brasil contemporâneo: colônia, Caio Prado Júnior dá destaque, na última parte da obra, à análise daquilo que
chamará de vida social: a organização social, a administração e a vida social e política colonial brasileira. Sua
base de jurista – formado que fora na Faculdade de Direito do Largo São Francisco – põe em destaque uma
análise das instituições estatais, políticas e jurídicas da história social brasileira. Insiste na dificuldade de se ler
as instituições do passado pelas lentes do presente, dada a diferença estrutural de acepções entre o direito
positivo contemporâneo e a lógica jurídica daquele tempo. A própria separação entre funções e poderes do
Estado – executivo, legislativo e judiciário – era então ausente e desconhecida; o Estado se apresentava como
uma integralidade. Para Prado Júnior, as manifestações políticas e jurídicas se apoiavam, materialmente, numa
sanha econômica de sustento da metrópole. Assim, questões fiscais e de arrecadação sempre tiveram
proeminência em face de outras de interesse social, comunitário ou moral.

(...) Por conta de tais características, de fundo exploratório mercantil, procedendo à sociabilidade
conforme uma empreitada capitalista, Caio Prado Júnior não enxerga no sentido da colonização um valor
positivo a ser acalentado por si só. Toma posição denunciante da condição dos indígenas e dos negros
escravizados, afastando-se do louvor de Gilberto Freyre em relação à bonomia senhorial. Ao tratar das
contradições estruturais do sistema colonial português no Brasil, aponta para sua impossibilidade de se sanar a
partir de melhoras que mantivessem o perfil geral de sua reprodução social e econômica. Assim, Prado Júnior
escapa das leituras reformistas – liberais, juspositivistas – e também daquelas que louvam a originalidade da
formação social brasileira – organicistas, não juspositivistas. Sua visão da história da sociedade brasileira
inscreve-se sob uma perspectiva marxista crítica e revolucionária, não acreditando ser possível fundar uma
sociabilidade desejada no mesmo já dado nem tampouco na sua reforma.

(...)A leitura pradiana sobre o Brasil, fundando-se em uma pioneira perspectiva marxista a respeito da
história nacional, revela uma análise de refinado posicionamento teórico sobre a sociabilidade brasileira.
Enquanto as leituras liberais ou mesmo orgânicas sublinhavam fenômenos políticos ou padrões de costumes,
para Caio Prado Júnior esses mesmos fenômenos se apresentam articulados às grandes estruturas
econômicas que dão sentido ao país. Ocupando-se mais diretamente da natureza econômica, Prado Júnior
toca questões fulcrais da exploração capitalista brasileira.

RAIMUNDO FAORO12

As ideias de Raymundo Faoro (1925-2003) também podem ser tomadas como uma leitura sociológica
sobre o Brasil de fundo juspositivista, na medida em que este pensador situa sua análise das características e
dos problemas do país no campo do Estado e suas instituições. Faoro, jurista de formação, foi presidente do
Conselho Federal da OAB ao tempo da ditadura militar, agindo decisivamente pela abertura política ao final
desse período. Sua obra mais importante é “Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro”, livro
de 1958 que em 1975 teve uma nova edição, reconfigurada (...)

(...) Faoro, em Os donos do poder, assenta seu pensamento em bases metodológicas weberianas. O uso
das ferramentas sociológicas de Weber, no entanto, é peculiar. Faoro dá ênfase à noção de patrimonialismo.

12
Mascaro, Alysson Leandro, 1976- Sociologia do direito / Alysson Leandro Mascaro. – 1. ed. – São Paulo: Atlas, 2022.

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Com tal chave teórica buscará compreender a formação histórica do estamento dirigente – o patronato – de
Portugal e, depois também, do Brasil. Para isso, Faoro estabelece uma distinção entre um capitalismo que
surgiu contra as estruturas feudais e de outro que se formou a partir de uma moldura estatal. O capitalismo
industrial do norte europeu, para existir, destruiu os liames do modo de produção anterior, feudal. Mas o
capitalismo patrimonialista, como foi o caso de Portugal, se construiu em sociedades que não tinham passado
feudal pronunciado. Sociedades como a portuguesa, ou mesmo algumas cidades-Estado italianas ao final da
Idade Média, se assentavam sobre um velho modelo social patriarcal. Sem ter havido aí coerções e
subordinações de tipo feudal, tais sociedades permitiram que elementos burgueses tivessem maiores
possibilidades de atuação mercantil. Por essa razão, sem ter que lutar frontalmente contra estruturais
impeditivas, os burgueses portugueses, espanhóis e italianos conseguiram uma histórica primazia comercial,
iniciando o período do mercantilismo. Mas tal facilidade, ao mesmo tempo, tem sua contrapartida. Por conta
da maior permeabilidade social, a distinção entre nobreza e burguesia era menos fluida. A burguesia não se
firmou contra o rei, a nobreza e o Estado, mas sim em simbiose com tais extratos, enredada persistentemente
na trama patrimonial do poder tanto político quanto econômico reinol. Em face do reinado português, surgido
pioneiramente na Europa, forjando os primeiros contornos do moderno Estado, a classe econômica burguesa
de Portugal não foi sua antagonista estrutural, mas sim classe complementar e subordinada. Por tal
permeabilidade entre Estado e burguesia, resulta daí tanto a proeminência histórica estatal e burguesa dos
portugueses quanto também, depois, o fracasso desse tipo de capitalismo. Congelado apenas nas atividades
mercantis, sem capacidade de estabelecer uma dinâmica de industrialização, Portugal teve as glórias de
primeiro Estado estabelecido no ocidente e de ter empreendido grandes navegações e conquistas pelo mundo
para, logo depois, ser credor de países capitalistas mais dinâmicos e estabelecer sua economia como
dependente.

Faoro ressalta que o modelo social que se forjou em Portugal passa a determinar sua história. Não se
tratou apenas de uma associação entre a burguesia mercantil e o rei. Em especial, vai-se forjando, no entorno
do rei, um corpo de funcionários que organizam a dinâmica da reprodução do próprio Estado. Tal agrupamento,
constituído em função de sua tecnicidade, tem por eixo o direito, aqui tomado especialmente no âmbito das
técnicas normativas do poder. As Ordenações do Reino – Afonsinas, Manuelinas e Filipinas – dão provas de
uma primazia de uma organização estatal a partir de ordenamentos e vastos conjuntos de normas. Para
Raimundo Faoro, tal corpo de técnicos do rei ganha uma força própria, constituindo-se, então, no patronato
político que dirige Portugal e, depois, também o Brasil. Ele intermedeia a relação da burguesia com a cúpula do
poder. Tais donos do poder são, efetivamente, os apropriadores das possibilidades de ação nesse tipo de
sociedade de capitalismo patrimonialista.” (...) Tal patrimonialismo relativamente permeável à dinâmica
mercantilista burguesa ensejou que em Portugal se erigisse o primeiro Estado com alguns contornos modernos.
Mas também o aprisionou nesse modelo, buscando os ganhos patrimoniais reais e fazendo com que a burguesia,
ao invés de investir contra o domínio absolutista, se acomodasse na convivência e nos parciais interesses
comuns com este. Este ciclo de um capitalismo que não veio do feudalismo e não precisou com ele romper é o
de um estamento patrimonialista que se ocupa de sua própria manutenção acima de tudo. (...) Pode-se dizer
que, com tal perspectiva, Raimundo Faoro enxergue nos estamentos estatais, aquele dos donos do poder, o
plexo central dos problemas que atrasariam o desenvolvimento do país. Trata-se de uma leitura liberal, dentro
dos limites do capitalismo. Sua comparação entre sociedades se faz com as distinções internas de capitalismos,
em face dos países nos quais as burguesias têm proeminência. Sua proposta de combate aos donos do poder é

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liberal, dissolvendo poderes autorreferenciais – o dos donos do poder jurídico, o dos donos do poder militar –
para permitir um melhor fluxo da dinâmica capitalista. O combate ao direito positivo português/brasileiro,
pioneiro e estamental-burocrático--estatal, é em favor de outro direito positivo, de perfil liberal. Dever-se-ia
buscar mudar o espírito das leis, mas manter um espírito de leis liberal, juspositivista, que permitisse o
crescimento da sociedade contra o Estado. Em alguns momentos históricos, a leitura da obra de Faoro se
destacou por uma apropriação mais proeminentemente progressista, à esquerda – ao tempo da ditadura militar
de 1964, por exemplo, enxergando nos militares um exemplo do patronato dominante – mas em outros
momentos se prestou a uma curiosa sintonia com o neoliberalismo, ainda que o próprio Faoro estivesse à
esquerda no espectro interno dos liberais. Sua leitura dos donos do poder enxerga no Estado e no direito o
problema da formação brasileira, e em outra modulação do Estado e do direito sua solução. Trata-se,
filosoficamente, de um horizonte de juspositivismo “ético”, que foi recorrente na esquerda liberal brasileira pós-
redemocratização. Segundo a leitura de Raimundo Faoro, repousa na natureza peculiar do capitalismo brasileiro
e das suas instituições políticas o problema social a ser resolvido. Em chaves weberianas, trata-se de romper
com o sufoco histórico do estamento burocrático patrimonialista, a fim de que floresçam as classes econômicas
e suas lutas. Também em chaves weberianas, mas com ênfase oposta, Sérgio Buarque de Holanda acusa o
inchaço do privado, do particular, em face do público. Nesta leitura, é preciso instituir a lei, o direito, as
instituições públicas, contra o arbítrio cordial e particular. Para Faoro, seria necessário quebrar a velha lei e o
velho direito para erigir um novo modelo do mesmo, mas agora ajustado à dinâmica da burguesia e do povo. O
liberalismo frágil brasileiro é o ponto de partida e de chegada de Holanda e Faoro.26 Para eles, o juspositivismo
– fragilizado ou hipertrofiado, conforme a visão de cada qual – é o que se deve ajustar, por se tratar do que se
almeja. Tal caminho de leitura sociológica sobre o direito brasileiro, reformista, é a busca do juspositivismo e da
cidadania liberal capitalista em melhor ou mais eficiente medida.

GARANTIAS FUNCIONAIS E VEDAÇÕES DA MAGISTRATURA

Conforme o ort. 95, da CF, os juízes gozam das seguintes garantias:

I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do
cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença
judicial transitada em julgado: é uma garantia para o magistrado que consiste, indiretamente, numa garantia
para o cidadão, ao assegurar a independência do julgador.

II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII: o magistrado, diversamente
do servidor público em sentido estrito, não pode ser removido por decisão discricionária da administração
pública, ainda que na mesma sede, cargo ou Tribunal.

III - irredutibilidade de subsídio: trata-se de uma irredutibilidade jurídica ou nominal, não havendo direito à
irredutibilidade real (indexação da inflação nos subsídios).

Art. 95, Parágrafo único da CF, aos juízes é vedado:

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Ciclos Método

I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério: o tema é regulado
pela Resolução 34/2007 do Conselho Nacional de Justiça. Destaca-se que é vedado o desempenho de cargo ou
função administrativa ou técnica em estabelecimento de ensino. Logo, o juiz não poderá, por exemplo, ser
Coordenador de curso ou Diretor da Faculdade.

II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;

III - dedicar-se à atividade político-partidária: não poderá ser filiado à partido político. Para que possa se
candidatar a cargo eletivo, o magistrado precisa pedir exoneração com antecedência de 6 meses das eleições.

IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou
privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;

V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento
do cargo por aposentadoria ou exoneração.

OBS: De acordo com o Provimento 71/2018 do CNJ, a vedação abrange a participação em situações que
evidenciem apoio público a candidato ou a partido político. Todavia, não há impedimento para que o magistrado
expresse convicções pessoais, desde que não se trate de manifestação pública que, ainda que de modo informal,
caracterize-se com atividade com viés político-partidário. A crítica pública do magistrado quanto a ideias,
ideologias, projetos legislativos e programas de governo são admitidas, desde que não constituam ataques
pessoais a candidatos, pessoas políticas ou partidos, com a finalidade de descredenciá-los perante a opinião
pública.

CÓDIGO DE ÉTICA DA MAGISTRATURA

Art. 1º O exercício da magistratura exige conduta compatível com os preceitos deste Código e do Estatuto da
Magistratura, norteando-se pelos princípios da independência, da imparcialidade, do conhecimento e
capacitação, da cortesia, da transparência, do segredo profissional, da prudência, da diligência, da integridade
profissional e pessoal, da dignidade, da honra e do decoro.
Art. 2º Ao magistrado impõe-se primar pelo respeito à Constituição da República e às leis do País, buscando o
fortalecimento das instituições e a plena realização dos valores democráticos.
Art. 3º A atividade judicial deve desenvolver-se de modo a garantir e fomentar a dignidade da pessoa humana,
objetivando assegurar e promover a solidariedade e a justiça na relação entre as pessoas.
Art. 4º Exige-se do magistrado que seja eticamente independente e que não interfira, de qualquer modo, na
atuação jurisdicional de outro colega, exceto em respeito às normas legais.
Art. 5º Impõe-se ao magistrado pautar-se no desempenho de suas atividades sem receber indevidas influências
externas e estranhas à justa convicção que deve formar para a solução dos casos que lhe sejam submetidos.
Art. 6º É dever do magistrado denunciar qualquer interferência que vise a limitar sua independência.
Art. 7º A independência judicial implica que ao magistrado é vedado participar de atividade político-partidária.

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Ciclos Método

Art. 8º O magistrado imparcial é aquele que busca nas provas a verdade dos fatos, com objetividade e
fundamento, mantendo ao longo de todo o processo uma distância equivalente das partes, e evita todo o tipo
de comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou preconceito.
Art. 9º Ao magistrado, no desempenho de sua atividade, cumpre dispensar às partes igualdade de tratamento,
vedada qualquer espécie de injustificada discriminação.
Parágrafo único. Não se considera tratamento discriminatório injustificado:
I – a audiência concedida a apenas uma das partes ou seu advogado, contanto que se assegure igual direito à
parte contrária, caso seja solicitado;
II – o tratamento diferenciado resultante de lei.
Art. 10. A atuação do magistrado deve ser transparente, documentando-se seus atos, sempre que possível,
mesmo quando não legalmente previsto, de modo a favorecer sua publicidade, exceto nos casos de sigilo
contemplado em lei.
Art. 11. O magistrado, obedecido o segredo de justiça, tem o dever de informar ou mandar informar aos
interessados acerca dos processos sob sua responsabilidade, de forma útil, compreensível e clara.
Art. 12. Cumpre ao magistrado, na sua relação com os meios de comunicação social, comportar-se de forma
prudente e equitativa, e cuidar especialmente:
I – para que não sejam prejudicados direitos e interesses legítimos de partes e seus procuradores;
II – de abster-se de emitir opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo
depreciativo sobre despachos, votos, sentenças ou acórdãos, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos,
doutrinária ou no exercício do magistério.
Art. 13. O magistrado deve evitar comportamentos que impliquem a busca injustificada e desmesurada por
reconhecimento social, mormente a autopromoção em publicação de qualquer natureza.
Art. 14. Cumpre ao magistrado ostentar conduta positiva e de colaboração para com os órgãos de controle e de
aferição de seu desempenho profissional.
Art. 15. A integridade de conduta do magistrado fora do âmbito estrito da atividade jurisdicional contribui para
uma fundada confiança dos cidadãos na judicatura.
Art. 16. O magistrado deve comportar-se na vida privada de modo a dignificar a função, cônscio de que o
exercício da atividade jurisdicional impõe restrições e exigências pessoais distintas das acometidas aos cidadãos
em geral.
Art. 17.É dever do magistrado recusar benefícios ou vantagens de ente público, de empresa privada ou de pessoa
física que possam comprometer sua independência funcional.
Art. 18. Ao magistrado é vedado usar para fins privados, sem autorização, os bens públicos ou os meios
disponibilizados para o exercício de suas funções.
Art. 20. Cumpre ao magistrado velar para que os atos processuais se celebrem com a máxima pontualidade e
para que os processos a seu cargo sejam solucionados em um prazo razoável, reprimindo toda e qualquer
iniciativa dilatória ou atentatória à boa-fé processual.
Art. 21. O magistrado não deve assumir encargos ou contrair obrigações que perturbem ou impeçam o
cumprimento apropriado de suas funções específicas, ressalvadas as acumulações permitidas
constitucionalmente.
§ 1º O magistrado que acumular, de conformidade com a Constituição Federal, o exercício da judicatura com o
magistério deve sempre priorizar a atividade judicial, dispensando-lhe efetiva disponibilidade e dedicação.

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§ 2º O magistrado, no exercício do magistério, deve observar conduta adequada à sua condição de juiz, tendo
em vista que, aos olhos de alunos e da sociedade, o magistério e a magistratura são indissociáveis, e faltas éticas
na área do ensino refletirão necessariamente no respeito à função judicial.
Art. 22. O magistrado tem o dever de cortesia para com os colegas, os membros do Ministério Público, os
advogados, os servidores, as partes, as testemunhas e todos quantos se relacionem com a administração da
Justiça.
Parágrafo único. Impõe-se ao magistrado a utilização de linguagem escorreita, polida, respeitosa e
compreensível.
Art. 24. O magistrado prudente é o que busca adotar comportamentos e decisões que sejam o resultado de juízo
justificado racionalmente, após haver meditado e valorado os argumentos e contra-argumentos disponíveis, à
luz do Direito aplicável.
Art. 25. Especialmente ao proferir decisões, incumbe ao magistrado atuar de forma cautelosa, atento às
consequências que pode provocar.
Art. 26. O magistrado deve manter atitude aberta e paciente para receber argumentos ou críticas lançados de
forma cortês e respeitosa, podendo confirmar ou retificar posições anteriormente assumidas nos processos em
que atua.
Art. 27.O magistrado tem o dever de guardar absoluta reserva, na vida pública e privada, sobre dados ou fatos
pessoais de que haja tomado conhecimento no exercício de sua atividade.
Art. 28. Aos juízes integrantes de órgãos colegiados impõe-se preservar o sigilo de votos que ainda não hajam
sido proferidos e daqueles de cujo teor tomem conhecimento, eventualmente, antes do julgamento.
Art. 29. A exigência de conhecimento e de capacitação permanente dos magistrados tem como fundamento o
direito dos jurisdicionados e da sociedade em geral à obtenção de um serviço de qualidade na administração de
Justiça.
Art. 30. O magistrado bem formado é o que conhece o Direito vigente e desenvolveu as capacidades técnicas e
as atitudes éticas adequadas para aplicá-lo corretamente.
Art. 31. A obrigação de formação contínua dos magistrados estende-se tanto às matérias especificamente
jurídicas quanto no que se refere aos conhecimentos e técnicas que possam favorecer o melhor cumprimento
das funções judiciais.
Art. 32. O conhecimento e a capacitação dos magistrados adquirem uma intensidade especial no que se relaciona
com as matérias, as técnicas e as atitudes que levem à máxima proteção dos direitos humanos e ao
desenvolvimento dos valores constitucionais.
Art. 35. O magistrado deve esforçar-se para contribuir com os seus conhecimentos teóricos e práticos ao melhor
desenvolvimento do Direito e à administração da Justiça.
Art. 37. Ao magistrado é vedado procedimento incompatível com a dignidade, a honra e o decoro de suas
funções.
Art. 38. O magistrado não deve exercer atividade empresarial, exceto na condição de acionista ou cotista e desde
que não exerça o controle ou gerência.
Art. 39. É atentatório à dignidade do cargo qualquer ato ou comportamento do magistrado, no exercício
profissional, que implique discriminação injusta ou arbitrária de qualquer pessoa ou instituição.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

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Ciclos Método

Criada pela EC 45/2004, com o objetivo de fiscalizar a atuação administrativa, financeira e disciplinar do Poder
Judiciário, não sendo órgão jurisdicional, mas administrativo.

Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois) anos,
admitida 1 (uma) recondução, sendo: (...)
§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do
cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem
conferidas pelo Estatuto da Magistratura: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir
atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos
administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou
fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da
competência do Tribunal de Contas da União
III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus
serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação
do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais, podendo
avocar processos disciplinares em curso, determinar a remoção ou a disponibilidade e aplicar outras sanções
administrativas, assegurada ampla defesa; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
IV - representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública ou de abuso de
autoridade;
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados
há menos de um ano;
VI - elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas, por unidade da
Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;
VII - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias, sobre a situação do Poder
Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo Tribunal
Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da abertura da sessão legislativa.

#DEOLHONASÚMULA

Súmula 649-STF: É inconstitucional a criação, por Constituição estadual, de órgão de controle administrativo do
Poder Judiciário do qual participem representantes de outros Poderes ou entidades.

Corregedorias

São órgãos aos quais compete a expedição de atos normativos gerais para o aperfeiçoamento do Poder
Judiciário e de seus serviços auxiliares, nas matérias relacionadas com suas competências.

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Também têm a função fiscalizadora e de controle externo da atividade. Não aplicam sanções
diretamente, competindo-lhes em regra a instauração de sindicância ou a proposta ao plenário de instauração
de processo administrativo disciplinar, cabendo as sanções ao colegiado.

Ouvidorias

As ouvidorias são órgãos de interlocução com o público externo, possibilitando o encaminhamento de


dúvidas, solicitações, reclamações e sugestões. Funcionam como instrumentos importantes para viabilizar a
participação social e administração democrática, permitindo que cidadãos atuem no controle da qualidade dos
serviços públicos.

Responsabilidade civil do magistrado:

Art. 49 da LOMAN: Responderá por perdas e danos o magistrado, quando:

I - no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude;


Il - recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar o ofício, ou a requerimento das
partes.

Parágrafo único - Reputar-se-ão verificadas as hipóteses previstas no inciso II somente depois que a parte, por
intermédio do Escrivão, requerer ao magistrado que determine a providência, e este não lhe atender o pedido
dentro de dez dias.

#Atenção: o art. 5º, LXXV, da Constituição Federal prevê que o Estado indenizará o condenado por erro
judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença. NÃO SE TRATA de responsabilidade
civil pessoal do magistrado, mas de uma responsabilidade civil do Estado, em razão de um ato do magistrado.

Responsabilidade penal do magistrado:

Foro por prerrogativa de função: art. 33 da LOMAN - São prerrogativas do magistrado:

II - não ser preso senão por ordem escrita do Tribunal ou do Órgão Especial competente para o julgamento, salvo
em flagrante de crime inafiançável, caso em que a autoridade fará imediata comunicação e apresentação do
magistrado ao Presidente do Tribunal a que esteja vinculado;
III - ser recolhido a prisão especial, ou a sala especial de Estado-Maior, por ordem e à disposição do Tribunal ou
do órgão especial competente, quando sujeito a prisão antes do julgamento final;
Parágrafo único - Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de crime por parte do magistrado,
a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente
para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação.

Perda do cargo: art. 26 da LOMAN – O magistrado vitalício somente perderá o cargo: I - em ação penal
por crime comum ou de responsabilidade. Não obstante, o art. 92 do Código Penal é aplicável aos magistrados.

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#APROFUNDANDO:

A expressão “crime de hermenêutica” ganhou destaque no caso do juiz gaúcho defendido por Rui Barbosa,
resumido por Lênio Streck nos seguintes termos:

“Começo no século 19. Em 1897, houve um interessante caso jurídico que chegou ao Supremo Tribunal Federal.
O Juiz gaúcho Alcides de Mendonça Lima foi condenado por fazer controle difuso de constitucionalidade de uma
lei sobre o júri. Ele decidiu “contra a letra da lei” que foi editada no governo de Júlio de Castilhos (RS). Mendonça
Lima foi suspenso por 9 meses pelo Superior Tribunal de Justiça do RS (assim se chamava o Tribunal do Estado à
época). O juiz recorreu ao STF e Rui Barbosa foi seu advogado, sustentando a tese da impossibilidade de, na
interpretação da lei, existir “o crime de hermenêutica”. Foi absolvido no STF”.

Relacionamento do juiz com a mídia:

O comando mais conhecido acerca do relacionamento do juiz com a mídia é o da LOMAN, em seu art.
36, que prevê ser é vedado ao magistrado manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre
processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou
sentenças, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras técnicas ou no exercício do magistério.

O dever de transparência inclui ainda as obrigações do art. 37 que ordena os Tribunais a publicar,
mensalmente, no órgão oficial, dados estatísticos sobre seus trabalhos no mês anterior, entre os quais: o
número de votos que cada um de seus membros, nominalmente indicado, proferiu como relator e revisor; o
número de feitos que Ihe foram distribuídos no mesmo período; o número de processos que recebeu em
consequência de pedido de vista ou como revisor; a relação dos feitos que lhe foram conclusos para voto,
despacho, lavratura de acórdão, ainda não devolvidos, embora decorridos os prazos legais, com as datas das
respectivas conclusões.

Sugere-se sempre que o magistrado, quando houver necessidade de comunicação com meios de
comunicação em massa, busque suporte dos órgãos internos de relações públicas e de imprensa do Tribunal,
que estão mais habituados e conhecem a melhor técnica para fazer com que as declarações do Juiz sejam bem
compreendidas e representem, de fato, a opinião exarada.

Magistrado e as redes sociais:

Resolução 305/2019, CNJ

Art. 3º A atuação dos magistrados nas redes sociais deve observar as seguintes recomendações:
I – Relativas à presença nas redes sociais:
a) adotar postura seletiva e criteriosa para o ingresso em redes sociais, bem como para a identificação em cada
uma delas;

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b) observar que a moderação, o decoro e a conduta respeitosa devem orientar todas as formas de atuação nas
redes sociais;
c) atentar que a utilização de pseudônimos não isenta a observância dos limites éticos de conduta e não exclui a
incidência das normas vigentes; e
d) abster-se de utilizar a marca ou a logomarca da instituição como forma de identificação pessoal nas redes
sociais.

Art. 4º Constituem condutas vedadas aos magistrados nas redes sociais:


I – manifestar opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre
despachos, votos ou sentenças, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras técnicas ou no
exercício do magistério (art. 36, inciso III, da Loman; arts. 4º e 12, inciso II, do Código de Ética da Magistratura
Nacional);
II – emitir opinião que demonstre atuação em atividade político-partidária ou manifestar-se em apoio ou
crítica públicos a candidato, lideranças políticas ou partidos políticos (art. 95, parágrafo único, inciso III, da
Constituição Federal; art. 7º do Código de Ética da Magistratura Nacional);
III – emitir ou compartilhar opinião que caracterize discurso discriminatório ou de ódio, especialmente os que
revelem racismo, LGBT-fobia, misoginia, antissemitismo, intolerância religiosa ou ideológica, entre outras
manifestações de preconceitos concernentes a orientação sexual, condição física, de idade, de gênero, de origem,
social ou cultural (art. 3º, inciso IV, da Constituição Federal; art. 20 da Lei nº 7.716/89);
IV – patrocinar postagens com a finalidade de autopromoção ou com intuito comercial (art. 95, parágrafo único,
inciso I, da Constituição Federal; art. 36, inciso I, primeira parte, da Loman; art. 13 do Código de Ética da
Magistratura Nacional);
V – receber patrocínio para manifestar opinião, divulgar ou promover serviços ou produtos comerciais (art. 95,
parágrafo único, inciso IV, da Constituição Federal; art. 17 do Código de Ética da Magistratura Nacional); e
VI – associar a sua imagem pessoal ou profissional à de marca de empresas ou de produtos comerciais (art. 95,
parágrafo único, inciso I, da Constituição Federal; art. 36, inciso I, primeira parte, da Loman; art. 13 do Código
de Ética da Magistratura Nacional).

FILOSOFIA DE DIREITO GREGA

Os gregos foram os responsáveis pela primeira grande sistematização do pensamento filosófico, com
destaque para as questões do direito e do justo. E tal pensamento foi a base do pensamento jurídico ocidental
por muitos séculos.

O apogeu da filosofia grega se dá com Sócrates, Platão e Aristóteles, tendo sido os dois últimos mais
importantes para o direito.

O início da trajetória filosófica grega se dá a partir da cosmologia, que é o estudo das origens das coisas
do mundo e do próprio mundo. Era um pensamento direcionado ao entendimento da physis (natureza), da
relação do homem com os deuses, do funcionamento do mundo etc. que extrapola a filosofia e fazia algo
parecido com ciência.

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Isso não quer dizer que os gregos não se ocupavam das questões sociais. Eles consideravam o homem
como parte indissociável do próprio mundo. A cosmologia era também uma reflexão sobre os arranjos políticos
e sociais dos homens. O homem está imerso no todo social e político, que está inserido na natureza.

O direito exerceu papel fundamental na incipiente filosofia grega através da análise da nomos (lei que
rege a polis). Os gregos definiam a autoridade do direito como themis e o cumprimento da justiça como dike.

O estudo da filosofia grega tem início com os pré-socráticos, termo que engloba vários filósofos que
viveram antes e no tempo de Sócrates. Apesar de agrupados, cada um possuía a sua especificidade.

Tales de Mileto é o primeiro filósofo desta sequência. Ele fez parte da Escola Jônica, da Ásia Menor, que
contou também com Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto e Heráclito de Éfeso. Na Magna Grécia (sul
da Itália), houve a Escola Pitagórica, cujo maior representante foi Pitágoras de Samos. Ainda na Magna Grécia,
teve a Escola Eleata, tendo Parmênides de Eléia como seu principal pensador, além de ter contado com
Xenófanes de Colofão e Zenão de Eléia. Houve ainda uma quarta corrente que reuniu pensadores variados, como
os atomistas Leucipo de Abdera, Demócrito de Abdera, Empédocles de Agrigento e Anaxágoras de Clazómena.

Os pré-socráticos de destaque para a filosofia do direito são Anaximandro, Heráclito e Parmênides.

Anaximandro de Mileto deu início à filosofia. De todas suas obras sobrou apenas uma frase, que é uma
consideração sobre a justiça do mundo:

“De onde as coisas têm seu nascimento, para lá também devem afundar-se na perdição, segundo a
necessidade; pois elas devem expiar e ser julgadas pela sua injustiça, segundo a ordem do seu tempo.”

Heráclito de Éfeso é considerado o mais importante pré-socrático. O tema mudança é o mais


importante trazido por ele à filosofia. O fragmento “no mesmo rio entramos e não entramos, somos e não somos
(...), não se pode entrar duas vezes no mesmo rio” exprime a ideia de devir (fluxo infinito do mundo) e da luta
dos contrários.

Heráclito coloca a filosofia como um confronto de opostos e algo mutável, afastando-a de noção de
estável e eterna. As visões antigas da filosofia compreendiam a justiça como estável e inabalável. Já ele via a
justiça como o conflito, a discórdia.

Na tradição de Homero e de Anaximandro, a discórdia e a guerra eram injustas, enquanto a concórdia


e a paz eram justas. Para Heráclito, a guerra trás unidade e só a luta dos contrários é harmonia e justiça.

O último importante pré-socrático é Parmênides de Eleia, que é colocado por Platão em seus diálogos
como contemporâneo de Sócrates. Para ele, a verdade é a razão, aquilo que é, enquanto a opinião é aquilo que
se sente, logo muda. Para Heráclito, a mudança era intrínseca a todas as coisas. Para Parmênides, o que é só é
de uma única forma, não muda.

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Sócrates

Alguns o consideram a maior figura da filosofia, pois pelas ideias e pela verdade morreu. Sócrates, seu
discípulo, Platão, e o discípulo deste, Aristóteles, marcaram a filosofia. Os sofistas foram contemporâneos de
Sócrates e contra eles Sócrates se levanta filosoficamente.

Sócrates e os sofistas.

A democracia grega era exercida diretamente pelos poucos considerados cidadãos. Isto era feito em
praça pública e, por isso, a retórica era uma arma muito importante na busca da defesa dos interesses pessoais
de cada um.

Os sofistas eram mestres da retórica que ensinavam como bem executar a arte da persuasão. Vendiam
argumentos para qualquer parte, pois não tinham apego especial a qualquer ideia.

Sócrates os combatia, pois acreditava que a verdadeira filosofia era feita por amor ao saber e
considerava os sofistas vendilhões da verdade.

Os sofistas acreditavam que a justiça e os outros conceitos sociais e políticos vinham de um consenso
entre os homens. A filosofia não era estática, advinda da natureza.

O eixo central do argumento dos sofistas, em relação ao direito, fala sobre dicotomia entre a norma,
tida como construção histórica, fruto da convenção humana, e a natureza, tida como a medida de todas as
coisas.
Sócrates acreditava que a verdade e o justo não se reduziam a convenções. Ele buscava a verdade,
enquanto os sofistas viam várias verdades. Além disso, para Sócrates, mais importante que a conclusão sobre a
verdade, era o método utilizado.

Ele utilizava um método de indagação que se baseava na dialética. Era a busca do conceito de justo por
meio da razão.

O direito em Sócrates

O direito em Sócrates é exibido por meio dos diálogos de Platão e por sua própria história de vida.

Sócrates foi condenado à morte e por diversas vezes teve a oportunidade de fugir da prisão. Mas ele
estava determinado a fazer cumprir sua própria sentença, como um dever moral de respeito à polis.

O fato de ter permitido que a sentença se cumprisse à risca pode fazer parecer que Sócrates tivesse sido
o primeiro juspositivista, mas isto é incorreto. Ele não se submeteu às leis por considerá-las corretas, nem por
ter achado sua sentença justa. Ele teve uma visão mais moral e filosófica: acima do direito há um justo, que

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pode ser compreendido pela razão, e aceitar o justo é um dever. Sendo a sua condenação injusta, sua execução
mostraria aos atenienses, por contraste, o justo.

Disto extrai-se que Sócrates separava a apreciação moral do justo da sua afirmação jurídica.

Platão

O pensamento de Platão é expresso por meio de diálogos, no quais, em geral, Sócrates, seu mestre, era
um dos interlocutores.

Os diálogos têm o nome do interlocutor de Sócrates (ex: Críton é o diálogo entre Sócrates e Críton),
exceto por A República que é uma série de diálogos entre Sócrates com vários interlocutores.

Por toda a sua obra fica a dúvida se as ideias saídas de Sócrates nos diálogos eram mesmo do mestre ou
de Platão.

JUSNATURALISMO X POSITIVISMO JURÍDICO

Direito natural Direito Positivo


O jusnaturalismo é aplicável desde os O positivismo científico nasce no momento
mais remotos tempos, inclusive na de efervescência do Iluminismo com as
Grécia Antiga, em Roma e na Idade teorias de Augusto Comte, que busca
Média, não podendo dizer que está explicar os fenômenos da vida de forma
hoje superado. racional e empírica.

Quanto ao Posteriormente, as teorias positivistas


momento de foram encontrando campo em outras
origem ciências, inclusive a jurídica, sendo o maior
expoente desta Hans Kelsen e sua “teoria
pura do direito”.

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O jusnaturalismo tem caráter universal, O positivismo jurídico tem caráter formal,


porque é uma ordem de valores sendo concebido para uma determinada
imanentes ao ser humano, de caráter sociedade, num determinado território e
transcendente (metafísico). numa determinada época.

Como o ser humano é uma espécie O que legitima a existência do direito não é
apenas, não importa a época ou a uma situação pessoal (de humanidade),
sociedade em que está inserido, mas a convergência de forças políticas que
Quanto à aplicação sempre se reconhecerá para ele aquela resultam numa decisão vinculante para o
ordem de direitos que lhe são próprias. grupo.

Da mesma forma, como o fundamento Por este motivo, seu caráter é


está no ser (aqui como verbo) humano, extremamente maleável, variando de
essa ordem é imutável, porque seja nos sociedade para sociedade, época para
mais remotos tempos, até a atualidade, época.
humanos é o que somos.
Os fundamentos do direito natural são
metafísicos, ou seja, valores O fundamento do direito positivo é o
transcendentais inerentes à condição direito enquanto objeto de uma ciência,
de ser humano. que tem a capacidade de definir com
Quanto aos racionalidade o seu conteúdo.
fundamentos Em muitos momentos da história esses
valores se confundem com valores
religiosos, representando a ordem da
divindade para seu povo.

TEORIA GERAL DO DIREITO E POLÍTICA

Direitos objetivo e subjetivo

O direito objetivo é o direito positivado, ou seja, a ordem jurídica de onde se extraem todas as normas
objetivamente consideradas. Logo, neste caso, direito objetivo se confunde com a própria norma. Costuma-se
dizer também que se trata de uma norma agendi, ou seja, a norma sobre como agir.

Já o direito subjetivo decorre do direito objetivo, sendo aplicado em uma situação concreta, para um
determinado indivíduo. Traduz-se em um poder de agir (facultas agendi), uma faculdade, outorgada pelo
Estado, pela lei, em favor do indivíduo.

Três teorias buscaram conceituar o direito subjetivo. São elas:

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1) Teoria da Vontade (Windscheid): a vontade do sujeito é o elemento característico do direito


subjetivo, definido, portanto, como o poder originário da vontade humana que seja reconhecida pelo
ordenamento jurídico;

2) Teoria do Interesse (Rudolph von Ihering): substitui a vontade pelo interesse juridicamente
protegido. O direito positivo é, portanto, composto de um elemento subjetivo (o interesse) e outro formal
(proteção jurídica do interesse a ser exercido pela ação);

3) Teoria Mista (de Jellinek, Saleilles e Michoud): conjuga as duas teorias interiores, propugnando que
o direito subjetivo é o interesse juridicamente protegido por meio do poder reconhecido a uma vontade para
representá-lo ou defendê-lo.

Fontes do direito objetivo

As fontes materiais são elementos da realidade social que interferem na produção e aplicação da
normatividade jurídica. Elas traduzem a existência de bens jurídicos a serem protegidos nos ramos político,
social, ideológico, econômico e outros.

Lado outro, as fontes formais correspondem aos modos de surgimento e manifestação da


normatividade jurídica. A mais tradicional das fontes formais é a lei, que regula a forma de criação do
ordenamento jurídico (vide, por exemplo, a Lei Complementar 95/1998) e também serve à proteção dos bens
jurídicos materiais.

Princípios

Na doutrina de Robert Alexy, os princípios são entendidos como mandados de otimização. Portanto,
são eles normas que ordenam algo que deve ser realizado na maior medida possível, dentro das possibilidades
jurídicas e fáticas existentes.

Isso quer dizer que são normas que podem ser cumpridas em diferentes graus, de acordo com a análise do caso
em concreto, levando-se em conta não apenas as possibilidades jurídicas, mas também as possibilidades fáticas.

Teoria geral dos precedentes

Em sentido amplo o precedente é a decisão judicial tomada em um caso concreto hábil a servir como
diretriz para o julgamento posterior de um caso semelhante. Neste sentido, seria composto das circunstâncias
de fato presentes na controvérsia e da tese assentada na motivação (razão de decidir).

Em sentido estrito o precedente consiste na razão de decidir (holding, no direito norte americano).
Logo, são as razões generalizáveis que podem ser identificadas a partir das decisões judiciais, ou, a norma geral
do caso concreto.

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No Brasil, a questão tem sido vista pela doutrina processual da seguinte forma: os precedentes (stare
decisis) são decisões paradigmas nas quais se firma determinado entendimento que terão eficácia vinculante
para as demais decisões, o que é conhecido como efeito vinculante (binding effect), tanto em relação ao próprio
órgão prolator da sentença (efeito horizontal) quanto aos demais órgãos do Poder Judiciário e Administração
Pública (efeito vertical).

Conceito de política

Nos tempos modernos, a política tem múltiplos significados, podendo ser destacados:

a) a política como termo genérico relativo às decisões tomadas pelos governantes na gestão da coisa
pública;

b) política como estrutura organizada para um determinado fim social de natureza pública. Confunde-
se, então, com o conceito de política pública, que trata os meios definidos para que se alcance determinado fim
social em benefício da coletividade;

c) política como arte de conquistar, exercer e manter o poder, conforme ensinado por Nicolás Maquiavel;

d) política como meio adequado para a obtenção de qualquer vantagem, segundo demonstrado por
Hobbes, tratando as relações entre as pessoas que visam a satisfação de interesses mútuos ou unilaterais de
uma das partes;

e) política como ciência, que tem por objeto o estudo dos sistemas de governo públicos e privados.

Direito e política

O direito e a política apresentam infindáveis pontos de conexão, podendo-se destacar dois momentos
mais importantes:

a) a elaboração do direito pelos atores políticos (processo legislativo): esse é o momento em que a
relação entre direito e política se apresenta de forma mais nítida. Isso porque a lei é fruto de uma correlação de
forças políticas no Parlamento.

b) a aplicação do direito: ocorre por meio de decisões judiciais ou não.

O papel contramajoritário do Direito

Conforme Kelsen, a proteção às minorias defronte às maiorias se dará pela função essencial dos direitos e
liberdades fundamentais garantidos pelas constituições modernas, que deixam de ser garantidores de proteção
dos indivíduos contra o Estado para serem mecanismos de proteção de minoria qualificada contra a maioria
absoluta.

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Destarte, o papel contramajoritário do Supremo Tribunal Federal é a atuação do Judiciário, no âmbito do


controle de constitucionalidade, como mecanismo de proteção de direitos fundamentais e salvaguarda das
minorias contra a vontade da maioria política. Neste sentido, o Ministro Luis Roberto Barroso defende que o
Judiciário “pode e deve exercer um papel contramajoritário para defender as regras do jogo democrático e os
direitos fundamentais”.

Acima da vontade da maioria está o texto da Constituição e os direitos fundamentais. Assim sendo, o controle
de constitucionalidade é instituto protetor das minorias políticas, impede arbitrariedades, e se apresenta como
uma maneira de limitação dos demais poderes.

Isto posto, tem-se que o termo contramajoritário, vem justamente da ideia de que o Judiciário, cujos membros,
diversamente do que ocorre nos Poderes Legislativo e Executivo, não são eleitos pelo povo, pode sobrepor a
sua razão à dos tradicionais representantes da política majoritária.

Ao passo que, em casos de ausência de equilibro entre “o exercício do poder político por meio da regra da
democracia e a manutenção de direitos fundamentais que devem proteger pluralmente não só a maioria dos
cidadãos, mas todos os cidadãos” a jurisdição constitucional, em busca da efetivação dos direitos fundamentais
inerentes aos grupos sociais minoritários.

Controle judicial das omissões do poder público

A análise das omissões do Poder Público na concretização de direitos sociais pode ser vista sob duas
diferentes concepções:

Concepção Objetivista ou Substancialista: parte do pressuposto da existência de direitos absolutos,


interpretando literalmente a proposição de que as noras constitucionais definidoras de direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata. Para esta correte, os custos de tais direitos consistem em externalidades
que não integram seu conteúdo, de forma esses direitos sempre deverão ser contemplados pela decisão judicial.

Concepção Subjetivista ou Relativista: faz um diálogo com as ciências econômicas e afirma a existência
de recursos limitados para necessidades ilimitadas. Consequentemente, a efetividade dos direitos sociais
consiste num mandado de otimização, que depende de possibilidades fáticas e jurídicas.
Atualmente, cresce a crítica sobre a forma de realização dos direitos sociais em nosso país, muito calcada na
tutela individual. Afirmam os doutrinadores que a efetivação de direitos sociais deve obedecer a uma lógica
coletiva, para evitar lesões à isonomia e o esgotamento dos recursos existentes. Para eles, a solução está em se
adotar uma concepção macrojudicial, que conduz à universalização do bem da vida objeto do pedido.

Ideologias

As ideologias podem ser compreendidas como representações do mundo social ideal para um
determinado grupo de pessoas que se alinham numa corrente propositiva. Dito de outra forma, são as diferentes
visões de mundo existentes.

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Toda forma de compreender o mundo deriva de compreensões prévias dos indivíduos, derivadas de
representações ideias que se aproximam de crenças culturais, históricas, religiosas, familiares, ou de outros
fatores de influência.

Declaração universal dos direitos do homem

Declaração Universal dos Direitos Humanos: também chamada informalmente de ‘Carta Internacional
dos Direitos Humanos’, foi proclamada em 1948, por meio de resolução da Assembleia Geral da ONU. Na
atualidade, é majoritário o entendimento de que os dispositivos consagrados na Declaração são juridicamente
vinculantes, visto que os preceitos contidos em seu texto já foram positivados tratados posteriormente e no
Direito interno de muitos Estados.

O prestígio adquirido pela Declaração tem feito com que suas normas sejam consideradas
materialmente regras costumeiras, preceitos de soft Law, princípios gerais do Direito ou princípios gerais do
Direito Internacional.

Agenda 2030 #APOSTACICLOS

A Agenda global 2030 é um compromisso assumido por líderes de 193 Países, inclusive o Brasil, e
coordenada pelas Nações Unidas, por meio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
nos termos da Resolução A/RES/72/279.OP32, de 2018, da Assembleia Geral da ONU.

É a agenda de Direitos Humanos das Nações Unidas, que integra 193 Países membros e que foi
recepcionada pelo Poder Judiciário Brasileiro, por meio do Conselho Nacional de Justiça, tendo como marco
inicial a criação do Comitê Interinstitucional da Agenda 2030.

O Poder Judiciário Brasileiro é pioneiro, no mundo, na institucionalização da Agenda 2030 e indexação


de sua base de dados com 80 milhões de processos a cada um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Integrar a Agenda 2030 no Poder Judiciário é a Meta Nacional 9 do Poder Judiciário Brasileiro.

OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

ODS 1 – Erradicação da pobreza: Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares.
ODS 2 – Fome zero e agricultura sustentável: Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da
nutrição e promover a agricultura sustentável.
ODS 3 – Saúde e bem-estar: Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as
idades.
ODS 4 – Educação de qualidade: Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover
oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.
ODS 5 – Igualdade de gênero: Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
ODS 6 – Água potável e saneamento: Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento
para todos.

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ODS 7 – Energia limpa e acessível: Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à
energia para todos.
ODS 8 – Trabalho decente e crescimento econômico: Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo
e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos.
ODS 9 – Indústria, inovação e infraestrutura: Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização
inclusiva e sustentável e fomentar a inovação.
ODS 10 – Redução das desigualdades: Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles.
ODS 11 – Cidades e comunidades sustentáveis: Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos,
seguros, resilientes e sustentáveis.
ODS 12 – Consumo e produção sustentáveis: Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.
ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima :Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima
e seus impactos.
ODS 14 – Vida na água: Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o
desenvolvimento sustentável.
ODS 15 – Vida terrestre: Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de
forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda
de biodiversidade.
ODS 16 – Paz, justiça e instituições eficazes: Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento
sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas
em todos os níveis.
ODS 17 – Parcerias e meios de implementação: Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria
global para o desenvolvimento sustentável.

DIREITO DIGITAL13 #APOSTACICLOS

4ª REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Originalmente destacada por Klaus Schwab como referência às novas ondas tecnológicas. A primeira
revolução teria ocorrido a partir da introdução das máquinas em processos produtivos, especialmente as
máquinas a vapor. A segunda, a partir do desenvolvimento da produção de massa nas indústrias química,
elétrica, petrolífera e siderúrgica. A terceira, a partir da computação básica, computação pessoal e internet. Há
quem entenda que o que se denomina “quarta revolução industrial” ainda seria um desdobramento da terceira,
pois não teriam sido necessárias tecnologias tão revolucionárias quanto, por exemplo, a invenção e
popularização do computador. Contudo, o presente termo já é uma realidade na literatura especializada.

Transformação digital no poder judiciário

Apesar da ideia da transformação digital ser um caminho sem volta para o Direito, sendo objeto de
grande entusiasmo, inclusive com afirmações no sentido de que seria possível substituir juízes por aplicações

13
Comentários retirados da obra “Noções Gerais de Direito e Formação Humanística”, de João Paulo Lordelo, edição de
2022.

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computacionais no processo decisório, nestes últimos anos percebeu-se que a estrada para a digitalização do
Poder Judiciário é mais lenta do que inicialmente se imaginava, especialmente em razão de dificuldades culturais
que poderiam bloquear o acesso à Justiça, caso essa fosse digital em sua maior parte. Esse tipo de problema foi
identificado em países como Holanda e Canadá (imagina, então, aqui no Brasil, em que mais de 33 milhões de
nacionais não tinham acesso à internet em 202114).

Contudo, algumas medidas aqui têm se destacado no sentido de ampliar a interlocução entre o
Judiciário e novas tecnologias, como: a Lei nº 11.419/20, cujo artigo 18 autoriza os órgãos do Poder Judiciário a
regulamentar a informatização do processo judicial; a Resolução nº 345/20 do CNJ, sobre o “Juízo 100% Digital”;
a Resolução nº 372/21 do CNJ, que trata sobre o “Balcão Digital”, e a Resolução nº 385/21 do CNJ, que dispõe
sobre a criação dos Núcleos de Justiça 4.0”.

Justiça 4.0

O Programa Justiça 4.0 é um projeto do CNJ em parceria com o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), lançado em 2021, que tem como objetivo promover o acesso à justiça, por meio de
ações e projetos desenvolvidos para o uso colaborativo de produtos que empregam novas tecnologias e
inteligência artificial.

As ações que fazem parte dele são a implantação do Juízo 100% Digital, a implantação do Balcão Virtual,
o Projeto da Plataforma Digital do Poder Judiciário, auxílio aos Tribunais no processo para consolidação da Base
de Dados Processuais do Poder Judiciário – DataJud, a colaboração na implantação do sistema Codex, e o
aprimoramento e disseminação da Plataforma Sinapses, que compartilha modelos de inteligência artificial.

Criptomoedas e lavagem de dinheiro

As bitcoins possuem algumas características especiais, como sua natureza descentralizada, o anonimato,
o uso de algoritmos matemáticos como base do seu valor e a resiliência à manipulação de dados por agentes
externos. Essas características têm ensejado na utilização das criptomoedas para a prática de crimes
cibernéticos e lavagem de capitais.

Os crimes cibernéticos são divididos em cyber enabled crimes, aqueles que são praticados em razão do
uso de computadores e da internet, a exemplo do hacking, e em cyber assisted crimes, aqueles em que os
comportamentos criminosos são potencializados ou assistidos por meio dos computadores e a internet.

RESOLUÇÃO Nº 332/2020 CNJ

Dispõe sobre a ética, a transparência e a governança na produção e no uso de Inteligência Artificial no


Poder Judiciário. Possui oito capítulos além das disposições gerais e das finais e transitórias, quais sejam: “do

14
https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2022/03/21/mais-de-33-milhoes-de-brasileiros-nao-tem-acesso-a-internet-
diz-pesquisa.ghtml

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respeito aos direitos fundamentais”, “da não discriminação”, “da publicidade e transparência”, “da governança
e da qualidade”, “da segurança”, “do controle do usuário”, “da pesquisa, do desenvolvimento e da implantação
de serviços de inteligência artificial”, e “da prestação de contas e da responsabilização”.

Importante destacar que esta resolução não trata de um projeto específico, mas procura regular, de
modo geral, a utilização da Inteligência Artificial pelo Poder Judiciário brasileiro. Atenção para os termos
“perfilamento racial” e “racismo algorítmico”, conceitos que, apesar de não expressamente escritos na
resolução, são por ela trabalhados no capítulo “da não discriminação”.

Conceitos fundamentais em provas digitais

Endereço de protocolo de internet (endereço IP) e domain names: o endereço IP identifica uma rede ou
dispositivo na internet 15 . O domain name, ou nome de domínio, é uma forma de conferir aparência mais
compreensiva ao endereço IP e representa o endereço eletrônico que foi alienado a uma pessoa e se encontra
associado a um IP respectivo.

Provedores de conexão à internet: segundo o artigo 5º, V, do Marco Civil da Internet, a conexão à
internet é a habilitação de um terminal para envio e recebimento de pacotes de dados pela internet, mediante
a atribuição ou autenticação de um endereço IP. O provedor de conexão está responsável por esta atividade,
conforme artigo 13 do Marco Civil.

Provedores de aplicações de internet: conceito igualmente presente no Marco Civil da Internet, sendo
a definição de aplicações de internet oferecida no artigo 5º, VII, da Lei, segundo o qual elas são um conjunto de
funcionalidades que podem ser acessadas por meio de um terminal conectado à internet, sendo esta sua
responsabilidade, conforme art. 15.

Busca e apreensão virtual

No caso da busca e apreensão virtual, os dados já existem e estão armazenados em algum local, que
pode ser um terminal do usuário (smartphone, por exemplo) ou um servidor (caixa de e-mail, por exemplo). Os
dados são estáticos e podem ser objeto de pedido de busca e apreensão “física” ou busca de apreensão “virtual”,
representada pela quebra do sigilo telemático/informativo.

Cadeia de custódia da prova

No caso das provas virtuais, há um importante instrumento para a cadeia de custódia do documento, o
hashing, que é operação realizada por meio de aplicativo que cria um código único (hash) para quaisquer danos
que sejam nele inseridos. Qualquer alteração no conteúdo poderá ser identificada pela comparação entre o
número hash.

15
https://www.avast.com/pt-br/c-what-is-an-ip-address

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CONTRATOS INTELIGENTES “SMART CONTRACTS”

Para os estudiosos do tema, smart contracts são contratos cuja completa execução é feita por sistema
computacional sem a oportunidade de intervenção humana. Esses contratos são, portanto, autoexecutáveis e
não haveria espaço, a priori, para de questioná-los na justiça, o que os diferencia das outras formas de contrato
eletrônico. Um exemplo seria, hipoteticamente, um contrato de seguro que pagasse o prêmio acaso a
temperatura excedesse um determinado nível por cinco dias consecutivos. Nesse caso, um site referenciado
seria imediatamente acessado e o contrato executado pela transferência imediata de bitcoins. Demolino et. al
(2016), do departamento de Ciências da Computação de Maryland, EUA, os descrevem como “programas
definidos pelo usuário que especificam as regras que governam as transações, e que são aplicadas por uma rede
de pares (assumindo que a criptomoeda subjacente é segura)”.

Sob esta ótica, o smart contract é uma ideia mais sofisticada do que o mero protocolo de transação
automático ou computadorizado, popularizado desde a década de 50 com as chamadas vending machines,
máquinas automatizadas que fornecem itens como lanches, bebidas e cigarro para os consumidores após a
inserção de dinheiro ou pagamento com cartão de crédito realizado diretamente no aparelho. Ainda assim, Max
Raskin, da New York University School of Law, os identifica como uma espécie de smart contract, já que define
estes como “acordos em que a execução é automatizada, geralmente por computadores” (RASKIN, 2017).

A tecnologia que permite aos smart contracts comportar-se de tal forma é, tradicionalmente, a
blockchain, uma estrutura de dados que representa uma entrada de contabilidade financeira ou um registro de
uma transação.

Em uma definição muito rudimentar e simplificada, o blockchain é como se fosse um arquivo virtual (um
banco de dados ou livro-registro virtual) onde são registradas todas as transações envolvendo os bitcoins.
Existem cópias deste banco de dados em milhares de computadores espalhados pelo mundo, sendo isso
distribuído por meio de uma rede virtual ponto-a-ponto (peer-to-peer). Assim, todos possuem uma cópia igual
de todo o histórico de transações. Com isso, garante-se que as informações ali contidas não sejam perdidas nem
adulteradas. #AJUDAMARCINHO

Sinteticamente, Blockchain é uma “cadeia de blocos” contendo informações criptografadas e imutáveis.


O pesquisador canadense Don Tapscott define essa tecnologia como um “livro-razão digital incorruptível de
transações econômicas que podem ser programadas para registrar tudo de valor, além de transações
financeiras”.

Em menores proporções, podemos lembrar do filme “O Jogo da Imitação”, que retrata a história do
matemático Alan Turing. Durante a Segunda Guerra Mundial, o jovem estudante foi recrutado pela agência de
inteligência britânica, a MI6.

O objetivo era entender os códigos utilizados pelos alemães para a comunicação, incluindo o “Enigma”,
que criptógrafos acreditavam ser inquebrável.

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Mas a tecnologia blockchain vai muito mais além. Ela é, na verdade, um conjunto de tecnologias que
envolvem a arquitetura distribuída de sistemas computacionais, estruturas de armazenamento de dados,
protocolos de comunicação e criptografia altamente complexa.

Isto é, sua utilização é eclética e serve como um banco de dados que contém todas as transações
executadas em determinada rede.16

#DEOLHONAJURIS: Contrato de conta-corrente mantida entre corretora de Bitcoin e instituição financeira: não
se aplica o CDC A empresa corretora de Bitcoin que celebra contrato de conta-corrente com o banco para o
exercício de suas atividades não pode ser considerada consumidora. Não se trata de uma relação de consumo.
A empresa desenvolve a atividade econômica de intermediação de compra e venda de Bitcoins. Para realizar
essa atividade econômica, utiliza o serviço de conta-bancária oferecido pela instituição financeira. Desse modo,
a utilização desse serviço bancário (abertura de conta-corrente) tem o propósito de incrementar sua atividade
produtiva de intermediação, não se caracterizando, portanto, como relação jurídica de consumo, mas sim de
insumo. Em outras palavras, o serviço bancário de conta-corrente é utilizado como implemento de sua atividade
empresarial, não se destinando, pois, ao seu consumo final. Logo, não se aplicam as normas protetivas do Código
de Defesa do Consumidor. Banco que, após notificar a corretora de Bitcoin, decide encerrar contrato de conta-
corrente com a empresa não pratica ato que configure abuso de direito O encerramento de conta-corrente
usada na comercialização de criptomoedas, observada a prévia e regular notificação, não configura prática
comercial abusiva ou exercício abusivo do direito. STJ. 3ª Turma. REsp 1696214-SP, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 09/10/2018 (Info 636).
#DEOLHONAJURIS: Se a denúncia imputa a oferta pública de contrato de investimento coletivo (sem prévio
registro), não há dúvida de que incide as disposições contidas na Lei nº 7.492/86 (Lei de Crimes contra o Sistema
Financeiro), especialmente porque essa espécie de contrato caracteriza valor mobiliário, nos termos do art. 2º,
IX, da Lei nº 6.385/76. Logo, compete à Justiça Federal apurar os crimes relacionados com essa conduta.
Compete à Justiça Federal julgar crimes relacionados à oferta pública de contrato de investimento coletivo em
criptomoedas. STJ. 6ª Turma. HC 530563-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 05/03/2020 (Info 667).

#OLHAOGANCHO: #AJUDAMARCINHO:

De acordo com a doutrina especializada, as transações de bitcoins funcionam da seguinte maneira:

“Especificamente, um pagamento no sistema se inicia com a criação de uma carteira e um usuário no sistema
Bitcoin, o que demanda um computador instalado com o software necessário (Bitcoin Client) e conexão com a
Internet. Não é, tal como CPF ou endereço, necessário inserir qualquer dado de identificação no sistema para
que uma pessoa possa operá-lo. Para realizar transações em Bitcoins, após a criação da carteira e a presença de
Bitcoins nela, o usuário poderá criar “endereços Bitcoin” (instruções de pagamento intra sistema que ditam o
fluxo de pagamento) indicando quantas Bitcoins devem ser entregues a qual carteira e quando tal transferência
deve ocorrer. Cada transação específica somente pode ser realizada mediante a utilização de senha específica
que cada pagador e cada recebedor tem de digitar, chamada de “private key”, um sistema que se vale de

16
https://www.aurum.com.br/blog/blockchain-no-direito.

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criptografia para proteção das informações. (...) Tal private key é criada com base em um procedimento
chamado de criptografia assimétrica. Este consiste no uso de duas chaves criptográficas, uma pública e uma
privada, para que as informações sejam validadas. Tais chaves são criadas pelo Sistema Bitcoin e utilizadas
apenas pelas partes que realizaram a transação e por aquelas que confirmam a operação.” (DA SILVA, Luiz
Gustavo Doles Silva Blockchain como sistema de custódia de valores mobiliários no âmbito do mercado de
capitais brasileiro. Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais. Vol. 80/2018, abr.-jun./2018, p. 96)

#AJUDAMARCINHO:

ESPÉCIES DE PROVEDORES DE SERVIÇOS DE INTERNET


Detêm estrutura de rede capaz de processar grandes volumes de
Provedores de backbone informação. São os responsáveis pela conectividade da Internet,
(espinha dorsal) oferecendo sua infraestrutura a terceiros, que repassam aos usuários
finais acesso à rede. Ex: Embratel.
Adquirem a infraestrutura dos provedores backbone e revendem aos
Provedores de acesso usuários finais, possibilitando a estes conexão com a Internet. Exs: GVT,
Claro, Vivo, TIM
Armazenam dados de terceiros, conferindo-lhes acesso remoto. Exs:
Provedores de hospedagem
HostGator, Locaweb, KingHost, UolHost
Produzem as informações divulgadas na Internet. São os autores das
Provedores de informação
informações;
Disponibilizam na rede os dados criados ou desenvolvidos pelos
Provedores de conteúdo
provedores de informação ou pelos próprios usuários da web.

ALGORITMOS

Como explica João Paulo Lordello 17 , algoritmos são conjuntos finitos de instruções que, seguidas,
realizam uma tarefa específica. A aplicação do conceito de algoritmo remonta à antiguidade, a exemplo do
algoritmo de Euclides utilizado com o objetivo de identificar o máximo divisor comum entre dois números
inteiros diferentes de zero.

Qualquer que seja o ambiente de aplicação, os algoritmos funcionam a partir de dados (inputs) que lhes
são fornecidos, para, a através de uma sequência finita de regras, produzir um resultado (output), a exemplo de
uma decisão administrativa ou judicial. No atual estágio da inovação tecnológica do direito, essas regras são
especialmente voltadas à classificação de casos, documentos, eventos ou pessoas, havendo contínuo avanço
para tarefas bastante sofisticadas.

Ainda, é certo que problemas podem decorrer da aplicação do algoritmo, sobretudo na definição das
suas regras e no emprego de dados indevidos. Por isto, são crescentes os trabalhos sobre três problemas que

17
Lordelo, João Paulo. Noções Gerais de direito e formação humanística, - 6ª Ed. Ver. Ampl. E atual – Sâo Paulo: Editora
Juspodivm, 2022.

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podem decorrer do uso do algoritmo: a) emprego de data sets (inputs) viciados; b) a opacidade dos algoritmos
não programados; c) a discriminação que pode ser gerada por algoritmos de machine learning.

#OLHAOGANCHO: Machine learning e deep learning

Em razão da possibilidade de aprender pela experiência, os algoritmos de inteligência artificial são


capazes de adaptação e evolução. Desta feita, os sistemas podem criar as próprias regras ou perguntas, sem a
necessidade de que um programador preveja soluções específicas para a situações possíveis. Isso se deve,
notadamente, às técnicas de machine learning (aprendizado automático ou de máquina), assim entendido
como o “campo de estudo que dá aos computadores a habilidade de aprender sem serem explicitamente
programados”. Essa definição foi cunhada em 1959 por Arthur Samuel, cientista da computação vinculado à
IBM.

A capacidade de aprendizado derivada dos processos de machine learning depende da análise de um


conjunto mínimo de dados. Justamente por isso, o chamado Big Data, - conjunto de mega dados não
estruturados produzidos na era na internet – tende a ser o alimento ideal para o desenvolvimento de múltiplas
funcionalidades. Um exemplo simples de machine learning consiste no “Naive Bayes”, capaz de separar
mensagens de e-mail legítimas de spam.

As técnicas de machine learning são divididas em algumas categorias, destacando-se a deep learning,
aprendizado por reforço, aprendizado de máquina supervisionado e aprendizado de máquina não
supervisionado.

#RESUMEAIPRÔF:

TÉCNICAS DE MACHINE LEARNING


Método Específico e complexo que utiliza redes neurais de camadas sucessivas no
processo de aprendizagem. Redes neurais artificiais são projetadas para emular o
funcionando do cérebro humano, permitindo que as máquinas lidem com
abstrações e problemas mal definidos. É feito para simular um cérebro humano a
Deep Learning partir de algoritmos. Seu objetivo é o de aprender e otimizar conceitos e previsões
a partir de uma grande quantidade de informações e exemplos. Tudo é ligado por
redes neurais de mais de uma camada com o claro foco em ser o mais próximo
possível de um aprendizado orgânico. O seu uso pode ser direcionado a muitas
formas de inteligência artificial, desde aplicativos a serviços.
Têm o objetivo de classificar dados em categorias previamente definidas. Destina-
Algoritmos de
se, assim a encontrar padrões em dados que possam ser aplicados a um processo
aprendizagem
analítico. Ex. um aplicativo de machine learning desse tipo pode analisar diversas
supervisionada
imagens de animais classificando-as em espécies previamente rotuladas.
Algoritmos de Diz respeito às ferramentas de machine learning que demandam uma grande
aprendizagem não quantia de dados não rotulados para a solução dos problemas. Elas buscam, a partir
supervisionada de uma massa de dataset identificar propriedades uteis, sem a intervenção humana.

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Ex. Nas redes sociais, em que circulam grandes quantias de dados não rotulados,
cuja classificação pode ser útil, por exemplo, para fins de monetização.
De uso menos comum, consiste num modelo comportamental, em que o algoritmo
Algoritmo de interage com datasets que não são fixos e recebe o feedback da sua análise de
aprendizagem por dados, orientando o usuário para o melhor resultado. Aqui o sistema não treinado
reforço com um conjunto de dados específicos, aprendendo por meio de tentativa e erro.
Os acertos, ao resolverem o problema, são reforçados pelo usuário.

#DEOLHONAJURIS Muito embora o dispositivo exija que os fatos apurados ocorram na “sede ou dependência”
do próprio STF, o caráter difuso dos crimes cometidos por meio da internet permite estender (ampliar) o
conceito de “sede”, uma vez que o STF exerce jurisdição em todo o território nacional. Logo, os crimes objeto
do inquérito, contra a honra e, portanto, formais, cometidos em ambiente virtual, podem ser considerados
como cometidos na sede ou dependência do STF. STF. Plenário. ADPF 572 MC/DF, Rel. Min. Edson Fachin,
julgado em 17 e 18/6/2020 (Info 982).
#SELIGANAJURIS: Configura concorrência desleal a contratação de serviços de links patrocinados (keyword
advertising) prestados por provedores de busca na internet para obter posição privilegiada em resultado de
busca em que o consumidor de produto ou serviço utiliza como palavra-chave a marca de um concorrente. STJ.
4ª Turma. REsp 1.937.989-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/08/2022 (Info 747).

#TABELALOVERS:

CONCEITOS IMPORTANTES DO DIREITO DIGITAL


Para os autores, smart contracts são contratos cuja completa execução é
feita por sistema computacional sem a oportunidade de intervenção
SMART CONTRACTS humana. Esses contratos são, portanto, autoexecutáveis e não haveria
espaço, a priori, para de questioná-los na justiça, o que os diferencia das
outras formas de contrato eletrônico
Algoritmos são conjuntos finitos de instruções que, seguidas, realizam
ALGORITMO
uma tarefa específica.
Técnica que permite aos computadores desenvolver a habilidade de
MACHINE LEARNING
aprender sem serem explicitamente programados.
Feito para simular um cérebro humano a partir de algoritmos. Seu objetivo
é o de aprender e otimizar conceitos e previsões a partir de uma grande
quantidade de informações e exemplos.

DEEP LEARNING
Tudo é ligado por redes neurais de mais de uma camada com o claro foco
em ser o mais próximo possível de um aprendizado orgânico. O seu uso
pode ser direcionado a muitas formas de inteligência artificial, desde
aplicativos a serviços.
A internet das coisas não possui uma única explicação. De forma simples,
INTERNET DAS COISAS
uma das formas de concebê-las consiste no reconhecimento do crescente
(INTERNET OF THINGS)
fenômeno da interconectividade de dispositivos, por meio de uma

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associação computacional global, que transcende as fronteiras. A internet


das coisas permite a integração de um vasto número de tecnologias –
monitoração de dados biométricos, comunicação instantânea por texto,
áudio e vídeo, armazenamento de dados em nuvem, redes sociais, mapas
etc – e objeto – smartphones, computadores pessoais, em forma de rede,
com conexão à internet.
É uma tecnologia baseada na confiança na rede e viabiliza, de forma
inovadora, a realização de transações online sem a necessidade de um
intermediário. Essa estrutura “compreende o uso de um ledger (livro-
razão) distribuído e descentralizado, que verifica e armazena transações.
Uma blockchain basicamente garante que a base de dados e as transações
que ocorram sejam registradas dentro do livro-razão, de forma segura e
possam ser compartilhadas publicamente” (FAZANO FILHO, José
Humberto. Perspectivas para a tecnologia blockchain. Revista de Direito
Bancário e do Mercado de Capitais, vol. 81/2018, jul.-set./ 2018, p. 141-
BLOCKCHAIN
142).

O blockchain fornece, assim, segurança à rede, estando assentado em


quatro pilares: (i) segurança das operações, (ii) descentralização de
armazenamento, (iii) integridade de dados e (iv) imutabilidade de
transações (ALVAREZ, Felipe Oliveira de Castro Rodrigues. Novas
tecnologias: o direito e o diálogo com o blockchain – perspectivas jurídicas
sob o prisma do direito civil. Revista de Direito e as Novas Tecnologias. Vol.
2/2019, jan.-mar./2019, p. 03).
Em palavras muito simples (sem tanto rigor técnico, para facilitar o
entendimento), criptomoedas (cryptocurrencies) são moedas “digitais”
(também chamadas de “moedas virtuais” ou “moedas criptografárias”). É
como se fosse um “dinheiro” que não existe fisicamente (só existe
virtualmente), mas que, apesar disso, pode ser utilizado para comprar
mercadorias ou remunerar serviços.
CRIPTOMOEDA

Em uma frase: é um dinheiro virtual (ainda que não oficial no Brasil).

Existem atualmente várias espécies de criptomoedas no mundo. Alguns


exemplos: Bitcoin, Ethereum, Cardano, Litecoin, Matic etc.

“O bitcoin é uma criptomoeda que utiliza uma tecnologia ponto a ponto


(peer-to-peer) para criar um sistema de pagamentos on-line que não
depende de intermediários e não se submete a nenhuma autoridade
BITCOIN
regulatória centralizadora. O código do bitcoin é aberto, seu design é
público, não há proprietários ou controladores centrais e qualquer pessoa
pode participar do seu sistema de gerenciamento coletivo. Enfim, o bitcoin

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é uma inovação revolucionária porque é o primeiro sistema de


pagamentos totalmente descentralizado.” (Ramos, André Luiz Santa Cruz.
Direito Empresarial. 8ª ed., São Paulo: Método, 2018, p. 529).

Vale ressaltar que o Bitcoin e as demais criptomoedas não são autorizados


como moeda nem regulamentados pelo Banco Central. Não fazem parte
do sistema bancário oficial.

Como explica a Min. Nancy Andrighi:

“Fato é que, por não ter curso forçado, a criptomoeda não se qualifica
como moeda fiduciária, tampouco pode ser considerada uma moeda
eletrônica ou digital, já que estas dizem respeito à moeda nacional, a qual
é regulamentada na lei acima referida.”

Embora não sejam consideradas moedas propriamente ditas, elas devem


ser declaradas perante a Receita Federal, que as considera como um
“criptoativo” (Instrução Normativa nº 1888/2019).

LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS

Em 10 de fevereiro de 2022, entrou em vigor a Emenda Constitucional n. 115/2022, a qual incluiu a


proteção de dados pessoais como um direito fundamental no art. 5º, LXXIX e fixou a competência privativa da
União para legislar sobre proteção e tratamento de dados pessoais.

O que nos interessa aqui é compreender que a proteção de dados assumiu um relevante papel na
sociedade de massa em que vivemos e que a necessidade de proteção e de tratamento dos dados pessoais já
vem sendo sentida pela sociedade há algum tempo, tendo originado a edição da Lei Geral de Proteção de Dados
(LGPD), a Lei 13.709/2018.

A Lei 13.709 sofreu algumas alterações em 2019, pela Lei 13.853. Uma dessas alterações prevê que as
normas gerais da Lei 13.709 são de interesse nacional e devem ser observadas por todos os entes federados.

Quais os fundamentos e as hipóteses de aplicação (ou não) da Lei 13.709?

#DEOLHONATABELA

Respeito à privacidade.
Autodeterminação informativa.
Fundamentos Liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião.
Inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem.
Desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação.

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Livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor.


Direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a dignidade e o
exercício da cidadania pelas pessoas naturais.
A operação de tratamento seja realizada no território nacional;
A atividade de tratamento tenha por objetivo a oferta ou o fornecimento de bens
Aplica-se a Lei ou serviços ou o tratamento de dados de indivíduos localizados no território
13.709 desde que ... nacional; ou
Os dados pessoais objeto do tratamento tenham sido coletados no território
nacional.
Realizado por pessoa natural para fins exclusivamente particulares e não
econômicos.
Realizado para fins exclusivamente: jornalístico e artísticos, ou acadêmicos,
aplicando-se a esta hipótese os arts. 7º e 11 da ei 13.709.
NÃO se aplica a Lei
Realizado para fins exclusivos de: segurança pública, defesa nacional, segurança
13.709 ao
do Estado ou atividades de investigação e repressão de infrações penais.
tratamento de
Provenientes de fora do território nacional e que não sejam objeto de
dados pessoais ...
comunicação, uso compartilhado de dados com agentes de tratamento
brasileiros ou objeto de transferência internacional de dados com outro país que
não o de proveniência, desde que o país de proveniência proporcione grau de
proteção de dados pessoais adequado ao previsto nesta Lei.

E o que vem a ser dado pessoal para fins de tratamento e para fins de aplicação da Lei Geral de
Proteção de Dados?

Informação relacionada a pessoa natural identificada ou


Pessoal identificável. Ou seja, não há dado pessoal de pessoa
jurídica que seja objeto de proteção da LGPD.

Dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convicção


religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a
Dado Pessoal sensível organização de caráter religioso, filosófico ou político,
dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético
ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural.
Dado relativo a titular que não possa ser identificado,
considerando a utilização de meios técnicos razoáveis e
Anonimizado disponíveis na ocasião de seu tratamento. Não é
considerado dado pessoal, salvo se o processo de
anonimização for revertido.

O tratamento de dados pessoais é a operação que promove, por exemplo, a coleta, produção,
recepção, classificação, utilização, acesso, reprodução, transmissão, distribuição, processamento,
arquivamento, armazenamento, eliminação, avaliação ou controle da informação, modificação, comunicação,
transferência, difusão ou extração. Os princípios específicos a que se submetem o tratamento de dados pessoais
são:
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#TABELALOVERS

PRINCÍPIOS DA LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS


Art. 6º As atividades de tratamento de dados pessoais deverão observar a boa-fé e os seguintes princípios:
I - finalidade: realização do tratamento para propósitos legítimos, específicos, explícitos e informados ao
titular, sem possibilidade de tratamento posterior de forma incompatível com essas finalidades;
II - adequação: compatibilidade do tratamento com as finalidades informadas ao titular, de acordo com
o contexto do tratamento;
III - necessidade: limitação do tratamento ao mínimo necessário para a realização de suas finalidades,
com abrangência dos dados pertinentes, proporcionais e não excessivos em relação às finalidades do
tratamento de dados;
IV - livre acesso: garantia, aos titulares, de consulta facilitada e gratuita sobre a forma e a duração do
tratamento, bem como sobre a integralidade de seus dados pessoais;
V - qualidade dos dados: garantia, aos titulares, de exatidão, clareza, relevância e atualização dos dados,
de acordo com a necessidade e para o cumprimento da finalidade de seu tratamento;
VI - transparência: garantia, aos titulares, de informações claras, precisas e facilmente acessíveis sobre a
realização do tratamento e os respectivos agentes de tratamento, observados os segredos comercial e
industrial;
VII - segurança: utilização de medidas técnicas e administrativas aptas a proteger os dados pessoais de
acessos não autorizados e de situações acidentais ou ilícitas de destruição, perda, alteração, comunicação
ou difusão;
VIII - prevenção: adoção de medidas para prevenir a ocorrência de danos em virtude do tratamento de
dados pessoais;
IX - não discriminação: impossibilidade de realização do tratamento para fins discriminatórios ilícitos ou
abusivos;
X - responsabilização e prestação de contas: demonstração, pelo agente, da adoção de medidas eficazes
e capazes de comprovar a observância e o cumprimento das normas de proteção de dados pessoais e,
inclusive, da eficácia dessas medidas.

O tratamento de dados possui requisitos diferenciados conforme se trata de dado pessoal e de dado
pessoal sensível. As hipóteses de tratamento de dado pessoal sensível são mais restritivas. Vamos ver a
comparação de tratamento entre esses dois tipos de dados?

#SELIGANATABELA

TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS


SENSÍVEIS
Art. 7º O tratamento de dados pessoais somente Art. 11. O tratamento de dados pessoais
poderá ser realizado nas seguintes hipóteses: sensíveis somente poderá ocorrer nas
I - mediante o fornecimento de consentimento seguintes hipóteses:
pelo titular;

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II - para o cumprimento de obrigação legal ou I - quando o titular ou seu responsável legal


regulatória pelo controlador; consentir, de forma específica e destacada,
III - pela administração pública, para o tratamento para finalidades específicas;
e uso compartilhado de dados necessários à II - sem fornecimento de consentimento do
execução de políticas públicas previstas em leis e titular, nas hipóteses em que for
regulamentos ou respaldadas em contratos, indispensável para:
convênios ou instrumentos congêneres, a) cumprimento de obrigação legal ou
observadas as disposições do Capítulo IV desta Lei; regulatória pelo controlador;
IV - para a realização de estudos por órgão de b) tratamento compartilhado de dados
pesquisa, garantida, sempre que possível, a necessários à execução, pela administração
anonimização dos dados pessoais; pública, de políticas públicas previstas em leis
V - quando necessário para a execução de ou regulamentos;
contrato ou de procedimentos preliminares c) realização de estudos por órgão de
relacionados a contrato do qual seja parte o pesquisa, garantida, sempre que possível, a
titular, a pedido do titular dos dados; anonimização dos dados pessoais sensíveis;
VI - para o exercício regular de direitos em d) exercício regular de direitos, inclusive em
processo judicial, administrativo ou arbitral, esse contrato e em processo judicial,
último nos termos da Lei nº 9.307, de 23 de administrativo e arbitral, este último nos
setembro de 1996 (Lei de Arbitragem) ; termos da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de
VII - para a proteção da vida ou da incolumidade 1996 (Lei de Arbitragem) ;
física do titular ou de terceiro; e) proteção da vida ou da incolumidade física
VIII - para a tutela da saúde, exclusivamente, em do titular ou de terceiro;
procedimento realizado por profissionais de f) tutela da saúde, exclusivamente, em
saúde, serviços de saúde ou autoridade procedimento realizado por profissionais de
sanitária; (Redação dada pela Lei nº 13.853, de saúde, serviços de saúde ou autoridade
2019) sanitária; ou (Redação dada pela Lei nº
IX - quando necessário para atender aos interesses 13.853, de 2019)
legítimos do controlador ou de terceiro, exceto no g) garantia da prevenção à fraude e à
caso de prevalecerem direitos e liberdades segurança do titular, nos processos de
fundamentais do titular que exijam a proteção dos identificação e autenticação de cadastro em
dados pessoais; ou sistemas eletrônicos, resguardados os direitos
X - para a proteção do crédito, inclusive quanto ao mencionados no art. 9º desta Lei e exceto no
disposto na legislação pertinente. caso de prevalecerem direitos e liberdades
fundamentais do titular que exijam a proteção
dos dados pessoais.

Art. 7º, § 3º O tratamento de dados pessoais cujo Art. 11, § 2º Nos casos de aplicação do disposto
acesso é público deve considerar a finalidade, a nas alíneas “a” e “b” do inciso II do caput deste
boa-fé e o interesse público que justificaram sua artigo pelos órgãos e pelas entidades públicas,
disponibilização. será dada publicidade à referida dispensa de
consentimento, nos termos do inciso I
do caput do art. 23 desta Lei.

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Art. 7º, § 4º É dispensada a exigência do Art. 11, § 4º É vedada a comunicação ou o uso


consentimento previsto no caput deste artigo para compartilhado entre controladores de dados
os dados tornados manifestamente públicos pelo pessoais sensíveis referentes à saúde com
titular, resguardados os direitos do titular e os objetivo de obter vantagem econômica,
princípios previstos nesta Lei. exceto nas hipóteses relativas a prestação de
serviços de saúde, de assistência farmacêutica
e de assistência à saúde, desde que observado
o § 5º deste artigo, incluídos os serviços
auxiliares de diagnose e terapia, em benefício
dos interesses dos titulares de dados, e para
permitir: (Redação dada pela Lei nº 13.853, de
2019)
I - a portabilidade de dados quando solicitada
pelo titular; ou (Incluído pela Lei nº 13.853, de
2019)
II - as transações financeiras e administrativas
resultantes do uso e da prestação dos serviços
de que trata este parágrafo. (Incluído pela Lei
nº 13.853, de 2019)
Art. 7º, § 6º A eventual dispensa da exigência do Art. 11, § 5º É vedado às operadoras de planos
consentimento não desobriga os agentes de privados de assistência à saúde o tratamento
tratamento das demais obrigações previstas nesta de dados de saúde para a prática de seleção
Lei, especialmente da observância dos princípios de riscos na contratação de qualquer
gerais e da garantia dos direitos do titular. modalidade, assim como na contratação e
exclusão de beneficiários. (Incluído pela Lei nº
13.853, de 2019)

Da leitura desses dispositivos na tabela acima, percebe-se que a LGPD também se aplica às pessoas
jurídicas de direito público quando envolver tratamento de dados. O tratamento, nesse caso, deve ser realizado
para o atendimento da finalidade pública, na persecução do interesse público, com o objetivo de executar as
competências legais ou cumprir as atribuições legais do serviço público, desde que:

I. Sejam informadas as hipóteses em que, no exercício de suas competências, realizam o tratamento de


dados pessoais, fornecendo informações claras e atualizadas sobre a previsão legal, a finalidade, os
procedimentos e as práticas utilizadas para a execução dessas atividades, em veículos de fácil acesso,
preferencialmente em seus sítios eletrônicos;

II. Seja indicado um encarregado quando realizarem operações de tratamento de dados pessoais, nos
termos do art. 39 desta Lei. No âmbito do DF, de acordo com o Decreto Distrital 42.036, o encarregado
governamental é a pessoa física, lotada na Casa Civil do Distrito Federal, que atua como canal de
comunicação entre os Encarregados Setoriais, os Controladores e a Autoridade Nacional de Proteção
de Dados - ANPD.

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Com relação às pessoas jurídicas de direito privado que integram a Administração Pública, há a
seguinte diferenciação: se atuam em regime de concorrência, aplica-se o mesmo regime das pessoas jurídicas
de direito privado particulares; se operacionalizam políticas públicas, recebem o mesmo tratamento das
pessoas jurídicas de direito público.

Para encerrar esse tópico, vamos destacar a possibilidade do uso compartilhado de dados pessoais
pelo Poder Público, previsto no art. 26 da Lei 13.709.

#FOCONALEISECA

Art. 26. O uso compartilhado de dados pessoais pelo Poder Público deve atender a finalidades específicas de
execução de políticas públicas e atribuição legal pelos órgãos e pelas entidades públicas, respeitados os
princípios de proteção de dados pessoais elencados no art. 6º desta Lei.
§ 1º É vedado ao Poder Público transferir a entidades privadas dados pessoais constantes de bases de dados
a que tenha acesso, exceto:
I - em casos de execução descentralizada de atividade pública que exija a transferência, exclusivamente para
esse fim específico e determinado, observado o disposto na Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de
Acesso à Informação) ;
II - (VETADO);

III - nos casos em que os dados forem acessíveis publicamente, observadas as disposições desta Lei.
IV - quando houver previsão legal ou a transferência for respaldada em contratos, convênios ou instrumentos
congêneres; ou (Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019) Vigência
V - na hipótese de a transferência dos dados objetivar exclusivamente a prevenção de fraudes e
irregularidades, ou proteger e resguardar a segurança e a integridade do titular dos dados, desde que vedado
o tratamento para outras finalidades. (Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019)

§ 2º Os contratos e convênios de que trata o § 1º deste artigo deverão ser comunicados à autoridade nacional.

ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO (#APOSTACICLOS)

A Economia é a ciência que se preocupa com o fenômeno da escassez, ou seja, que busca estudar a
forma pela qual os recursos limitados serão mais bem distribuídos entre as demandas ilimitadas. Perceba que
aqui não há sujeitos, mas competências, pois não se trata então de distributividade em termos de justiça, mas
de forma estatística.
A Análise Econômica do Direito consiste em um ramo do conhecimento que aplica as ferramentas da
teoria microeconômica ao exame de normas e instituições jurídicas, preocupando-se com a eficiência da norma
jurídica. Seus dois pilares são a escolha racional e a constatação de que os direitos possuem custos, de modo
que, em situações de escassez, toda decisão alocativa será também desalocativa.

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CARACTERÍSTICAS DA ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO:18

❖ A AED atribui peso igual ao bem-estar de todas as pessoas e foca no valor esperado e agregado de
bem-estar;
❖ Uma regra jurídica é desejável se é eficiente, ou seja, se a soma de bem-estar gerado é maior que a
soma dos custos;
❖ O critério padrão da AED para bem-estar é a satisfação de preferencias individuais e o dinheiro é,
na maioria dos casos, o denominador comum da AED;
❖ O conteúdo das preferencias individuais é irrelevante, pois a AED busca o pluralismo;
❖ A análise custo/benefício é utilizada para resolver o problema de agregar preferencias individuais
de várias pessoas. A análise custo/benefício mede as preferencias das pessoas com base na disposição que
as pessoas têm de pagar por algum bem;
❖ A AED assume que seres humanos são maximizadores racionais de seus conjuntos estáveis de
preferencias individuais formadas pelo processamento de informações diversas.

Considerando os conceitos trazidos acima, podemos dizer que a Análise Econômica do Direito parte do
UTILITARISMO. Mas o que é utilitarismo? É uma doutrina ética que prescreve a ação (ou a inação) de forma a
otimizar o bem-estar do conjunto dos seres capazes de experienciar o sofrimento. O utilitarismo é, portanto,
uma forma de consequencialismo por avaliar uma ação (ou regra) unicamente em função de suas
consequências. 19

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO UTILITARISMO

O “bem” é definido como sendo o bem-estar. Diz-se que o objetivo pesquisado


PRINCÍPIO DO BEM-ESTAR
em toda ação moral se constitui pelo bem-estar que ela tem potencialidade
MÁXIMO
para promover;

As consequências de uma ação são a única base permanente para julgar sua
moralidade. O utilitarismo não se interessa desta forma pelos impulsos morais,
mas pelas ações efetivamente praticadas. Há uma dissociação entre a causa (o
CONSEQUENCIALISMO
agente) e as consequências do ato. Em outras palavras, é indiferente se o
agente é generoso, interessado ou sádico, pois são as consequências do ato
que são morais.

18
Samuel Ebel Braga Ramos. ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO PENAL. 1ª Edição. Editora Brasil. 2021. p. 36-37
19
Formação humanística para concursos / coordenação Alvaro de Azevedo Gonzaga, Nathaly Campitelli Roque. – 5. ed. –
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020. p. 399

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Ciclos Método

O que se leva em conta é o saldo líquido (quantidade global) de bem-estar de


todos os indivíduos afetados pela ação, independentemente da distribuição
deste saldo (ou seja, qualquer que seja a repartição desta quantidade). Sendo
PRINCÍPIO DA
assim, é considerado válido atingir o bem-estar de uma minoria, a fim de
AGREGAÇÃO
aumentar o bem-estar geral. Esta possibilidade de sacrifício se baseia na ideia
de compensação: a desgraça de uns é compensada pelo bem-estar da maioria.
Se o saldo de compensação for positivo, a ação é julgada moralmente boa.

PRINCÍPIO DE O utilitarismo exige a maximização do bem-estar geral, o que não se apresenta


OTIMIZAÇÃO como algo facultativo, mas sim como um dever.

Os prazeres e sofrimentos são considerados da mesma importância, quaisquer


IMPARCIALIDADE E que sejam os indivíduos afetados. O bem-estar de cada um tem o mesmo peso
UNIVERSALISMO dentro do cálculo do bem-estar geral. Este princípio é compatível com a
possibilidade de sacrifício.

O que chamamos hoje de pragmatismo jurídico consiste na revivescência de um movimento


preponderante na esfera jurídica norte-americana do início do século XX, o Realismo Jurídico (também
conhecido como Jurisprudência Sociológica).

Esta escola teórica teve entre seus principais idealizadores Roscoe Pound, Benjamin Cardozo e Oliver
Wendell Holmes – sendo os dois últimos juízes da Suprema Corte em atividade naquele momento. Essa corrente
introduz um conceito de direito puramente instrumental, baseado em três as características fundamentais:

Toda e qualquer proposição jurídica deve ser julgada a partir de sua


CONTEXTUALISMO conformidade com as necessidades e os aspectos fáticos da sociedade
para a qual ela terá aplicação
Toda e qualquer proposição deve ser testada hipoteticamente, com a
CONSEQUENCIALISMO
antecipação de suas consequências e resultados possíveis
Consiste na rejeição de quaisquer espécies de entidades metafísicas,
conceitos abstratos, categorias apriorísticas, princípios perpétuos,
ANTI-FUNDACIONALISMO
instâncias últimas, entes transcendentais e dogmas, entre outros tipos
de fundações possíveis ao pensamento.

Pode-se então afirmar que os juízes operam com um método comparativo-consequencialista. Vale
dizer, eles avaliam comparativamente diversas hipóteses de resolução de um caso concreto tendo em vista as
suas consequências. De todas as possibilidades de decisão, projetará de forma hipotética as consequências, e,
do confronto destas, escolherá a que lhe parecer melhor.

A melhor decisão, para o pragmatista, é aquela que melhor corresponder às necessidades humanas e
sociais, tendo em vista as possibilidades fáticas (realidade social). Contudo, essa realidade social não lhe limita
de todo, pois é ele compelido a nela intervir, criando, com suas decisões, verdadeiras políticas públicas.
241

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Ciclos Método

Por isso, ele não se encontra fechado dentro do sistema jurídico. Além das tradicionais fontes do direito
os juízes devem se valer também, por exemplo, de considerações de ordem econômico e política.

Em razão disso, o pragmatismo jurídico muitas vezes apresenta-se como uma teoria do ativismo
judicial, uma vez que em seu âmbito o que confere validade para as normas passa a ser a aplicação que o juiz
delas faz.

EFICIÊNCIA PROCESSUAL – VALOR ESPERADO E DEMANDAS FRÍVOLAS

Os arranjos possíveis na dinâmica do andamento processual são reflexos de muitas variáveis, especialmente
que afetam as preferências das partes litigantes: iniciar ou não uma disputa judicial; realizar ou não um acordo
antes do julgamento; revelar ou não determinada informação; recorrer ou não da decisão proferida etc.20

No trilhar do posicionamento da Análise Econômica do Direito, a utilização do processo judicial deve primar
pela satisfação de metas de ordem econômica: diminuir os custos envolvidos na deflagração de um processo
e minimizar a quantidade de erros nas decisões judiciais.

Posner denomina os custos principais envolvidos no ajuizamento de uma ação como custos sociais do processo
judicial, os quais são subdivididos em custos diretos e custos de erros.

Os custos diretos, também denominados custos administrativos ou imediatos, referem-se ao montante


pecuniário a ser dispendido com o ajuizamento do processo judicial, o qual envolve, exemplificadamente, a
quantia referente à contratação do advogado, às custas judiciárias e despesas para a produção de provas. Em
suma, é dispêndio para a utilização do instrumental processual disponível.

Diante desse contexto, temos que as demandas frívolas são aquelas cuja motivação está vinculada a
fundamentos jurídicos de baixa probabilidade de aceitação como fator autorizador do resultado que se
pretende alcançar com o processo judicial.

Para evitar que se apresentem demandas de baixa probabilidade de êxito, o pagamento dos custos do processo
tende a ser um robusto óbice ao ajuizamento, assim como a interposição de recursos e outros instrumentos
intermediários protelatórios. Ainda, como desestímulo a práticas protelatórias, têm-se as sanções processuais,
como a multa por litigância de má-fé (art. 14, CPC).

As partes conflituosas, assim, devem analisar o seu contexto e, diante das variadas probabilidades de escolha
de solução da celeuma, devem decidir pela que atingirá o objetivo de minimizar os custos diretos e o custo das
decisões judiciais equivocadas. É o que se denomina de racionalidade individual, que indica que o indivíduo
somente escolherá determinada alternativa se verificar que será beneficiado do modo esperado ou, ainda, a
mais do que suas expectativas, se comparada à utilidade que perceberá se optar por outra escolha.

20
Grazielly Alessandra Baggenstos. BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ANÁLISE ECONÔMICA DO PROCESSO JUDICIAL.
Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=363b688b0469919e

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Aqui, então, surgem outros fatores vinculados aos custos sociais do processo e que são relevantes à Análise
Econômica do Processo: a perspectiva de benefício (que é a probabilidade de se alcançar o valor envolvido em
uma lide) e a chance de sucesso. Tais fatores oferecem o que se denomina valor esperado da demanda (VED),
calculado a partir do produto entre o valor envolvido (B) e a chance de êxito (V), reduzidos os custos sociais do
processo (CS).

ECONOMIA COMPORTAMENTAL, HEURÍSTICA E VIESES COGNITIVOS #APOSTACICLOS

Heurística 21

Há muito, o dogma da ação racional, elemento central da economia clássica, tem sido confrontado por
experimentos no campo da psicologia cognitiva e da economia comportamental (“behavioral economics”),
especialmente a partir da pesquisa seminal realizada na década de 1970 por Amos Tversky e Daniel Kahneman.

O escopo do trabalho dos aludidos autores consistiu no processo decisório humano em ambientes de
incertezas. Isso porque “muitas decisões são baseadas em crenças relativas à probabilidade de eventos
incertos, a exemplo do resultado de uma eleição, a culpabilidade de um réu”. A pesquisa revelou que, durante
os processos decisórios, muitas pessoas se valem de um limitado número de princípios heurísticos
automatizados.

O autor Daniel Kahneman aponta que o cérebro humano possui duas formas de raciocinar: sistema S1
e sistema S2. Enquanto o sistema 1 pensa de forma rápida, sem praticamente nenhum esforço, sendo utilizado
para a tomada de decisões automáticas e urgentes, o sistema 2 é responsável por tomar as decisões mais
complexas e que demandam tempo e raciocínio, sendo uma forma mais lenta de pensar.

Heurísticas são em “atalhos mentais” (estratégias inconscientes do sistema S1) – heranças do processo
evolutivo humano – meios utilizados na redução da complexidade das tarefas de conhecimento de situações e
tomadas de decisões. Eles funcionam como algoritmos cognitivos que permitem que as decisões humanas
sejam mais eficientes. Para tanto, são realizados processos inconscientes de categorização de objetos pessoas
e suas ocorrências em grupos ou títulos.

Conquanto úteis, as heurísticas podem resultar em erros graves e sistemáticos, conduzindo a falácias,
vieses e ilusões. Some-se a isto o fato de que cada vez mais no direito as decisões humanas são delegadas a
ferramentas de inteligência artificial, desenvolvidas a partir do uso de algoritmos.

Daí decorrem duas preocupações fundamentais de ordem democrática:

a) a necessidade de assegurar o direito fundamental de acesso à informação a todos os cidadãos sujeitos a tais
mecanismos;

21
Noções Gerais de Direito e Formação Humanística, de João Paulo Lordelo, 6 ed.,

243

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b) dever do Estado de prevenir e corrigir distorções decorrentes do desenvolvimento, alimentação ou uso


inadequado das ferramentas, evitando que as decisões produzidas sejam enviesadas e discriminatórias.

A utilização de regras heurísticas pode gerar vieses nas decisões. Um viés de decisão é uma tendência
sistemática de violar os axiomas da racionalidade ampla. Ou seja, são “erros sistemáticos na tomada de
decisões” que ocorrem durante o processamento e a interpretação das informações no cérebro humano.
Podemos dizer que se tratam de “pedras” no caminho das sinapses dos neurônios e que levam a um raciocínio
equivocado.

Eles podem estar ligados a algumas heurísticas, bem assim a inúmeros fatores, a exemplo pressões
sociais, motivações individuais, emoções.

#VEMDETABELA:
CLASSIFICAÇÃO DAS HEURÍSTICAS
VIESES DERIVADOS DA Explica as tomadas de decisões movidas exclusivamente pela emoção.
HEURÍSTICA DE AFETO Relevar comportamentos inadequados de pessoas de quem se gosta.
VIESES DERIVADOS DA Essa heurística está relacionada à memória e ela leva a pessoa a crer que
HEURÍSTICA DE aquilo que as pessoas se recordam com mais frequência tem uma
DISPONIBILIDADE probabilidade maior de acontecer.
VIESES DERIVADOS DA Trata-se de atalhos mentais que criam previsões com base em
HEURÍSTICA DE concepções prévias, verdadeiras ou não, que foram armazenadas
REPRESENTATIVIDADE (preconceito).
Diante de uma incerteza, o ser humano tende a realizar,
VIESES DERIVADOS DA
inconscientemente ou conscientemente, estimativas que não tem
HEURÍSTICA DE ANCORAGEM
sentido.

VIESES COGNITIVOS PARTICULARMENTE PRESENTES NA ATIVIDADE PROCESSUAL


Para ele, se as pessoas têm uma compreensão prévia ou uma hipótese a respeito
de determinado assunto, elas tendem a selecionar as informações disponíveis em
determinado caso, que correspondem às compreensões prévias, ignorando as
VIÉS DE
evidências em sentido contrário.
CONFIRMAÇÃO
Ex. No campo processual o viés de confirmação é capaz de afetar juízes no
processo de avaliação das provas produzidas, descartando aquelas contrárias à
compreensão ou hipótese previamente assentada.
Por ele, quando as pessoas avaliam eventos ou resultados após o seu
acontecimento, existe uma probabilidade maior de julgadores considerarem o fato
VIÉS DE
mais previsível do que na época em que ocorrido. Ex. Possui relação direta com
RETROSPECTIVA
casos de responsabilidade civil, especialmente em se tratando de condutas
negligentes.
IMPOSSIBILIDADE DE Em alguns casos judiciais, a ilicitude de uma determinada prova conduz à sua
SE IGNORAR A PROVA retirada do autos, não sendo possível utilizados para justificar a tomada de
EXCLUÍDA

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Ciclos Método

decisão. Estudos revelam que a probabilidade da prova excluída ser levada em


consideração, ainda que os jurados sejam instruídos a não o fazer, é considerável.
Por ele, em sessões ou audiências com decisões sequenciais, os julgadores tendem
VIÉS DE DECISÕES a decidir em favor da manutenção do status quo. Esse viés cria preferências em
SEQUENCIAIS “STATUS manter as coisas na situação em que estão, seja por não fazer nada ou por insistir
QUO” em uma decisão já tomada, ainda que mudar represente a escolha mais
proveitosa.

#IMPORTANTE: Segundo João Paulo Lordelo, uma das principais medidas indicadas para minimizar os efeitos
deletérios dos vieses cognitivos, consiste no incremento da educação sobre o assunto.

#SELIGA: O que são nudges e sludges??

Os estímulos comportamentais conhecidos como nudges se destacam por serem alternativas de baixo custo
aplicáveis às mais diversas áreas, como na formulação de políticas públicas, questões ambientais e finanças
públicas. Em síntese, os nudges são estímulos capazes de mudar o comportamento das pessoas para fins
diversos, de forma que, se bem trabalhados, podem auxiliar os tomadores de decisões em escolhas mais
direcionadas e acertadas.

Conforme explica o prof. Fillipe Augusto22, os principais atributo dos nudges são:

❖ servirem de estímulos para a tomada de decisões positivas para si mesmos;


❖ servirem de ferramenta da arquitetura de decisões, de forma a trazerem para o campo da lógica e do
raciocínio crítico (sistema 2), elementos que passariam despercebidos sem o “empurrãozinho”/nudge dentro
do sistema 1 de raciocínio;
❖ possuírem capacidade transformadora de comportamentos humanos;
❖ não são impositivos, pois não restringem a autonomia do tomador de decisões, apenas auxiliando esse
processo;
❖ devem ser simples e baratos e não podem gerar alterações financeiras para o tomador de decisões, sob
pena restringirem a liberdade de escolha daquele.

Por fim, não se deve confundir nudge com sludge. Este pode ser entendido como o estímulo direcionado
a uma pessoa para que ela não tome determinada decisão. Um exemplo da prática de sludge no Brasil é a
atitude de diversas empresas de telefonia fornecerem um serviço de telemarketing de péssima qualidade, com
o fito de desestimular os cancelamentos de contratos.

DIREITO DA ANTIDISCRIMINAÇÃO

22
NASCIMENTO, Filippe Augusto dos Santos. Manual de Humanística – Introdução às Ciências Humanas e à Teoria do
Direito para Carreiras Jurídicas. São Paulo: Editora Juspodivm, 2022.

245

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Ciclos Método

CONCEITO FUNDAMENTAIS DO DIREITO


ANTIDISCRIMINATÓRIO
Pré-compreensão pejorativa, estereotipada e redutora da dignidade humana de
Preconceito outrem. É algo que está no plano interno do sujeito (natureza psicológica),
podendo até mesmo nem ser manifestado publicamente.
Atos materiais concretos para tratar de modo diverso um indivíduo ou um grupo
Discriminação de indivíduos a partir de demarcadores existenciais. É algo que transcende o plano
interno do sujeito.
Racismo Discriminação sistemática e geral em razão do aspecto étnico e que se manifesta
por meio de práticas conscientes ou inconscientes.
Discriminação sistemática e geral, especificamente, em razão do gênero, gerando
Sexismo um tratamento subalternizado do padrão social feminino em relação ao
masculino.
Intolerância Discriminação sistemática e geral, especificamente, em razão da fé professada
religiosa por determinada coletividade, gerando a perseguição de certos grupos
religiosos.
LGBTQIA+ Discriminação sistemática e geral, especificamente, em razão das afetividades
humanas, gerando perseguição e intolerância à população LGBTQIA+.

#ATENÇÃO!!! O conceito de etnia compreende os grupos humanos que apresentam aspectos comuns, tais
como língua, religião e maneira de agir. Trata-se do conceito mais adotado e recomendado pela sociologia
hodiernamente para designar o que antes era entendido por “raça”. Ex: índios, árabes, judeus, quilombolas.

MODALIDADES DE DISCRIMINAÇÃO, TEORIA DO IMPACTO DESPROPORCIONAL E TIPOS DE RACISMO

A partir da delimitação dos conceitos supra, podemos passar a analisar as modalidades de


discriminação.

Discriminação Direta Ato materiais com o explícito intuito de discriminar.


Discriminação Indireta Discriminação de fato: ocorre quando a realidade é desigual e os atores
ou envolvidos têm o poder de agir para por fim à desigualdade, mas, por omissão,
Teoria do Impacto mantém a desigualdade de fato
Desproporcional Discriminação por ações neutras: acontece quando há uma norma
aparentemente neutra, que, na sua aplicação, efetivamente irá discriminar uma
pessoa ou grupo, ou seja, a mera aplicação da norma leva à discriminação.

#RESUMEPROF: A Teoria do impacto desproporcional (ou adverso) é uma teoria de origem norte-americana que
tem correlação com o princípio da igualdade material e tem por objeto a análise dos impactos discriminatórios
de atitudes estatais ou particulares que, mesmo inicialmente revestidas de neutralidades, causam efeitos
desproporcionais ou adversos aos originariamente previstos. Sua finalidade, portanto, é combater a
discriminação indireta.

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Ciclos Método

A igualdade, sob a ótica da doutrina constitucional mais moderna, é dividida em igualdade formal,
material e como reconhecimento. A igualdade formal é aquela preconizada pelo liberalismo que garante
condições igualitárias sem ingerência estatal com edição de políticas públicas voltadas para a promoção de
direitos sociais. A igualdade material é aquela que se preocupa em promover igualdade com políticas de
equalização social a depender do discrimen em análise. Já a igualdade como reconhecimento, vertente na qual
se insere o nosso objeto de estudo, refere-se ao respeito às diferenças e o acautelamento dasminorias no seu
modo de viver e de, também, de ver o mundo. A igualdade como reconhecimento manifesta-se nos planos
simbólico, autoidentificador e de autoestima e encontra-fundamento constitucional no art. 3º, IV, da CF/88,
que determina que um dos objetivos fundamentais da República é o de “promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

Fala-se, ainda, em discriminação positiva e discriminação negativa:

É sinônimo de ações afirmativas ou medidas especiais, que, por sua vez, são
Discriminação Positiva imperativos de justiça social, a aliviar a carga de um passado discriminatório
e a fomentar, no presente e no futuro, transformações sociais necessárias.
É a que reputa determinadas pessoas a uma situação de inferioridade em
Discriminação Negativa relação a outras por questões existenciais humanas, tais como etnia,
nacionalidade, religião, orientação sexual, origem, etc.

#SELIGANATABELA

TIPOS DE RACISMO
Fenômeno ético ou psicológico de caráter individual ou coletivo, atribuído agrupos
Racismo individual isolados. A concepção individualista pode não admitir a existência de “racismo”,
mas somente de “preconceitos” (revisa os conceitos), a fim de ressaltar a natureza
psicológica do fenômeno em detrimento de sua natureza política.
Para esta concepção, o racismo não se resume a comportamentos individuais, mas
é tratado como o resultado do funcionamento das instituições. Ex: marcadores
Racismo institucional sociais de espaços públicos e privados – “elevador de serviço” como resquício de
Casa Grande e Senzala ou, letalidade policial que possui como público alvo a
população negra.
Aquele que faz com que uma sociedade, de modo amplo, trate como normais as
Racismo estrutural práticas sistemáticas de discriminação racial, colaborando com a manutenção de
modos de produção econômicos, políticos e jurídicos.

DIREITOS DE ORIENTAÇÃO SEXUAL

Os direitos de orientação sexual ainda contam com uma proteção bastante incipiente, tanto no plano
internacional, quanto no planto interno. Ainda não há um tratado internacional específico para a proteção de
tais direitos. O que se pode extrair da CF/88 sobre a temática é o seguinte:

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Ciclos Método

Objetivos da República Federativa do Brasil


Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.
Proibição de diferença nas relações trabalhistas por motivo de sexo
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social:
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador
de deficiência;

ALGUMAS TERMINOLOGIAS RELATIVAS AO TEMA


LGBTQIA+: lésbicas, gays, bissexuais, trans e travestis, queers, intersexuais, assexuais e todas as demais
existências de gêneros e sexualidades;
Identidade de gênero: forma que a pessoa se entende como um indivíduo social em termos de gênero, ou seja,
como homem, mulher ou mesmo pessoa não-binária (não se vê como homem e nem como mulher);
Expressão de gênero: é como o indivíduo manifesta sua identidade em público, a forma como se veste, sua
aparência e comportamento, independentemente do sexo biológico;
Sexualidade: está relacionada à genética binária em que o indivíduo nasceu: masculino, feminino e intersexual
(pessoa que possui biologicamente caracteres físicos femininos e masculinos);
Heterocisnormatividade: é a imposição compulsória dos padrões pré-estabelecidos de gênero em consonância
com o sexo biológico;
Agênero: é a pessoa que não se identifica com gênero algum;
Andrôgeno: é a pessoa cuja expressão de gênero transita entre os polos “homem” e “mulher”;
Gay: é a pessoa que sente atração sexual/afetiva pelo mesmo sexo;
Intersexual: o termo substitui a palavra “hermafrodita” e define a pessoa que tem características sexuais
femininas e masculinas;
Pansexual: é a pessoa que sente atração sexual ou romântica por qualquer identidade de gênero;
Queer: a tradução seria “estranho” e sempre foi usada de maneira ofensiva, todavia, a comunidade LGTBQIA+
se apropriou do termo e hoje é uma forma de designar todos que não se encaixam em hetecisnormatividade;
Transexual/transgênero: é a pessoa que assuma uma identidade oposta ao gênero com que nasceu, que se
sente pertencente ao gênero oposto do nascimento. Sua identidade está ligada ao psicológico e não ao físico,
podendo ou não haver uma mudança fisiológica para adequação;
Travesti: é a pessoa que nasce no gênero masculino, mas se sente pertencente ao gênero feminino, porém não
reivindica a identidade “mulher”;
Cisgênero: é quando a identidade de gênero está de acordo com a identidade de gênero socialmente atribuída
ao seu sexo.

NORMATIVA INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS LGBTQIA+


Os Princípios de Yogyakarta tratam de um amplo espectro de normas de direitos
humanos e de sua aplicação a questões de orientação sexual e identidade de gênero.

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Ciclos Método

Princípios de Os Princípios afirmam a obrigação primária dos Estados de implementarem os direitos


Yogyakarta humanos. Cada princípio é acompanhado de detalhadas recomendações aos Estados,
destacando-se os seguintes: a) direito à igualdade e a não-discriminação; b) direito à
vida, à segurança pessoal, privacidade, julgamento justo, educação,; direito de
constituir família; e princípio da responsabilização (accountability).
Proteção no
Continente Não possem dispositivos específicos para a proteção das pessoas LGBTQIA+, todavia,
Americano e Corte várias de suas normas consagradoras de direitos políticos e civis podem ser utilizadas
Interamericana de para a proteção desse grupo vulnerável.;
Direitos Humanos

#SELIGANAJURIS

O direito dos transexuais à retificação do prenome e do sexo/gênero no registro civil não é condicionado à
exigência de realização da cirurgia de transgenitalização. Trata-se de novidade porque, anteriormente, a
jurisprudência exigia a realização da cirurgia de transgenitalização. STJ. 4ª Turma. REsp 1626739-RS, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, julgado em 9/5/2017 (Info 608).

O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e de sua classificação de gênero
no registro civil, não se exigindo, para tanto, nada além da manifestação de vontade do indivíduo, o qual poderá
exercer tal faculdade tanto pela via judicial como diretamente pela via administrativa. Essa alteração deve ser
averbada à margem do assento de nascimento, vedada a inclusão do termo “transgênero”. Nas certidões do
registro não constará nenhuma observação sobre a origem do ato, vedada a expedição de certidão de inteiro
teor, salvo a requerimento do próprio interessado ou por determinação judicial. Efetuando-se o procedimento
pela via judicial, caberá ao magistrado determinar de ofício ou a requerimento do interessado a expedição de
mandados específicos para a alteração dos demais registros nos órgãos públicos ou privados pertinentes, os quais
deverão preservar o sigilo sobre a origem dos atos. STF. Plenário. RE 670422/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
15/8/2018 (repercussão geral) (Info 911).

#IMPORTANTE!!!!! Em julgamento histórico em 2019, o STF decidiu pela aplicação da lei que define
crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor para os crimes homofóbicos e transfóbicos.
#SELIGANAJURIS #AJUDAMARCINHO

“1. Até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a implementar os mandados de
criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição da República, as condutas homofóbicas
e transfóbicas, reais ou supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero
de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este em sua dimensão social, ajustam-se, por
identidade de razão e mediante adequação típica, aos preceitos primários de incriminação definidos na Lei nº
7.716, de 08.01.1989, constituindo, também, na hipótese de homicídio doloso, circunstância que o qualifica, por
configurar motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”); 2. A repressão penal à prática da
homotransfobia não alcança nem restringe ou limita o exercício da liberdade religiosa, qualquer que seja a
denominação confessional professada, a cujos fiéis e ministros (sacerdotes, pastores, rabinos, mulás ou clérigos

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muçulmanos e líderes ou celebrantes das religiões afro-brasileiras, entre outros) é assegurado o direito de
pregar e de divulgar, livremente, pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, o seu pensamento e
de externar suas convicções de acordo com o que se contiver em seus livros e códigos sagrados, bem assim o de
ensinar segundo sua orientação doutrinária e/ou teológica, podendo buscar e conquistar prosélitos e praticar
os atos de culto e respectiva liturgia, independentemente do espaço, público ou privado, de sua atuação
individual ou coletiva, desde que tais manifestações não configurem discurso de ódio, assim entendidas aquelas
exteriorizações que incitem a discriminação, a hostilidade ou a violência contra pessoas em razão de sua
orientação sexual ou de sua identidade de gênero; 3. O conceito de racismo, compreendido em sua dimensão
social, projeta-se para além de aspectos estritamente biológicos ou fenotípicos, pois resulta, enquanto
manifestação de poder, de uma construção de índole histórico-cultural motivada pelo objetivo de justificar a
desigualdade e destinada ao controle ideológico, à dominação política, à subjugação social e à negação da
alteridade, da dignidade e da humanidade daqueles que, por integrarem grupo vulnerável (LGBTI+) e por não
pertencerem ao estamento que detém posição de hegemonia em uma dada estrutura social, são considerados
estranhos e diferentes, degradados à condição de marginais do ordenamento jurídico, expostos, em
consequência de odiosa inferiorização e de perversa estigmatização, a uma injusta e lesiva situação de exclusão
do sistema geral de proteção do direito.” STF. Plenário. ADO 26/DF, Rel. Min. Celso de Mello; MI 4733/DF, Rel.
Min. Edson Fachin, julgados em 13/6/2019 (Info 944).

#NÃOESQUEÇA: O conceito de racismo possui uma dimensão social, para que se proteja, além de aspectos
estritamente biológicos ou fenotípicos, outras vulnerabilidades humanas.

AÇÕES AFIRMATIVAS

O direito à discriminação positiva ou direito às ações afirmativas tenta fomentar a igualdade


material, cuja batalha é travada em duas frentes: a) combate às práticas discriminatórias e; b) realização de
medidas compensatórias, que venham a atenuar a desigualdade sofrida por certos grupos sociais.

02 características das ações afirmativas:

• Destinadas a grupos efetivamente discriminados e socialmente vulneráveis e;


• Caráter temporário23.

Com efeito, compreende-se por ações afirmativas o conjunto de medidas especiais e concretas
para assegurar o desenvolvimento ou a proteção de certos grupos, com o fito de garantir-lhes, em condições
de igualdade, o pleno exercício dos direitos do homem e das liberdades fundamentais (art. 2°, II, da Convenção
para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, da Organização das Nações Unidas, ratificada
pelo Brasil em 1968).
A ação afirmativa visa, portanto, remover barreiras, formais e informais, que impeçam o acesso de
certos grupos ao mercado de trabalho, a universidades e a posições de liderança. Esclarecido o conceito de

23
O sistema de cotas em universidades públicas, com base em critério étnico-racial, é CONSTITUCIONAL. No entanto, as políticas de ação afirmativa
baseadas no critério racial possuem natureza transitória. STF. Plenário. ADPF 186/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 25 e 26/4/2012 (Info
663).

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ações afirmativas, segue exemplos dessas ações no ordenamento jurídico brasileiro. Uma das linhas de
fundamentação filosófica das ações afirmativas, dentre outras, é o Liberalismo Igualitário. #OLHAOGANCHO
#FILOSOFIAJURÍDICA

Para efetivar a igualdade material, o Estado pode lançar mão de dois instrumentos:

Políticas de cunho universalista Políticas de ações afirmativas


Destinadas a atingir grupos sociais
Destinadas a número indeterminado de determinados, por meio da atribuição de
indivíduos. certas vantagens, por tempo limitado, para
permitir a suplantação de desigualdades
Ex: melhoria do ensino universal gratuito. ocasionadas por situações históricas
particulares.

Ex: cotas raciais em universidades.

A doutrina também elenca exemplos de ações afirmativas empregadas em vários países, quais sejam:

a) Levar em consideração critérios como a raça, o gênero ou outros aspectos que caracterizem grupos
minoritários para promover sua integração social;
b) Afastar requisitos de antiguidade para a permanência ou promoção de membros de categorias
socialmente dominantes em determinados ambientes profissionais;
c) Definir distritos eleitorais para o fortalecimento das minorias representadas por estes distritos
eleitorais; e
d) Estabelecer cotas ou reserva de vagas para integrantes de setores marginalizados.

Por fim, segue quadro com rol legislativo de políticas públicas com ações afirmativas existentes no
ordenamento jurídico brasileiro:

AÇÕES AFIRMATIVAS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO


Art. 10. Cada partido poderá registrar candidatos para a Câmara dos
Deputados, a Câmara Legislativa, as Assembleias Legislativas e as
Câmaras Municipais no total de até 100% (cem por cento) do número
Participação Lei 9.504/97 de lugares a preencher mais 1 (um).
política das Lei das Eleições § 3o Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo,
mulheres cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por
cento) e o máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de
cada sexo. #ATENÇÃO!!! A reserva de cotas é por sexo.
CF/88 Art. 37, VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos
públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os
critérios de sua admissão;

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Cotas para Art. 5º, § 2o Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o


pessoas com Lei 8.112/9024 direito de se inscrever em concurso público para provimento de cargo
deficiência cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são
portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por
cento) das vagas oferecidas no concurso.
Art. 1º As instituições federais de educação superior vinculadas ao
Ministério da Educação reservarão, em cada concurso seletivo para
ingresso nos cursos de graduação, por curso e turno, no mínimo 50%
(cinquenta por cento) de suas vagas para estudantes que tenham
cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.
Parágrafo único. No preenchimento das vagas de que trata
o caput deste artigo, 50% (cinquenta por cento) deverão ser
reservados aos estudantes oriundos de famílias com renda igual ou
inferior a 1,5 salário-mínimo (um salário-mínimo e meio) per capita.
Art. 3º Em cada instituição federal de ensino superior, as vagas de que
Cotas raciais e trata o art. 1º desta Lei serão preenchidas, por curso e turno, por
Programa autodeclarados pretos, pardos e indígenas e por pessoas com
Universidade Lei 12.711/12 deficiência, nos termos da legislação, em proporção ao total de vagas
para Todos no mínimo igual à proporção respectiva de pretos, pardos, indígenas
(PROUNI) e pessoas com deficiência na população da unidade da Federação
onde está instalada a instituição, segundo o último censo da
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
IBGE. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2016/Lei/L13409.htm - art1
Parágrafo único. No caso de não preenchimento das vagas segundo
os critérios estabelecidos no caput deste artigo, aquelas
remanescentes deverão ser completadas por estudantes que tenham
cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.
Art. 1º Ficam reservadas aos negros 20% (vinte por cento) das vagas
oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos
Lei 12.990/2014 efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública
federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas
públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União,
na forma desta Lei.
§ 1º A reserva de vagas será aplicada sempre que o número de vagas
oferecidas no concurso público for igual ou superior a 3 (três).

24A Lei. 8.112/90, por sua vez, foi regulamentada pelo Decreto 9.508/2018, que dispõe: “Art. 1º Fica assegurado à pessoa com deficiência o direito de
se inscrever, no âmbito da administração pública federal direta e indireta e em igualdade de oportunidade com os demais candi datos, nas seguintes
seleções: I - em concurso público para o provimento de cargos efetivos e de empregos públicos; II - em processos seletivos para a contratação por
tempo determinado para atender necessidade temporária de excepcional interesse público, de que trata a Lei nº 8.745, de 9 de dezembro de 1993.
§ 1º Ficam reservadas às pessoas com deficiência, no mínimo, cinco por cento das vagas oferecidas para o provimento de cargos efet ivos e para a
contratação por tempo determinado para atender necessidade temporária de excepcional interesse público, no âmbito da administração públic a
federal direta e indireta. ”
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#DEOLHONAJURIS

Constitucionalidade do sistema de cotas raciais em concursos públicos. A Lei nº 12.990/2014 estabeleceu uma
cota aos negros de 20% das vagas em concursos públicos realizados no âmbito da administração pública federal,
das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas
pela União. O STF declarou que essa Lei é constitucional e fixou a seguinte tese de julgamento: "É constitucional
a reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos
públicos no âmbito da administração pública direta e indireta.” STF. Plenário. ADC 41/DF, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 8/6/2017 (Info 868).

DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS E DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS

Os povos indígenas estão entre as minorias mais vulneráveis, sujeitos à tensões e violências muito
antes da colonização do continente americano. Sua existência é marcada por conflitos fundiários, perseguições,
violências, racismo ambiental, integracionismo, descaso governamental e diversos outros problemas,
vulnerabilidades a justificar a proteção legal às populações indígenas.

PLANOS NORMATIVOS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS INDÍGENAS E DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS


Global Declaração das Nações Unidas sobre Direitos dos Povos Indígenas e Convenção nº 169
da OIT;
Interamericano Não há um tratamento específico. Todavia, existe extensa jurisprudência da Corte
Interamericana de Direitos Humanos quanto à proteção dos direitos dos povos e
comunidades indígenas;
Constitucional Dispositivos da CF/88 a seguir elencados;
Legal Não há documento normativo no plano legal, haja vista que o Estatuto do Índio (lei
nº 6.001/1973) é baseado na superada lógica da integração, o que é justamente o
oposto do buscado pelo direito antidiscriminatório.

A Declaração das Nações Unidas sobre Direitos dos Povos Indígenas foi aprovada pela Assembleia Geral
da ONU em 07 de setembro de 2007, e possui natureza jurídica de recomendação (e não de tratado).o referido
documento possui importância no plano global, pois aborda vetores para a tutela dos direitos dos indígenas,
tais como direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais, destacando-se os seguintes:

Artigo 3
Os povos indígenas têm direito à autodeterminação. Em virtude desse direito determinam livremente sua
condição política e buscam livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural.
Artigo 4
Os povos indígenas, no exercício do seu direito à autodeterminação, têm direito à autonomia ou ao
autogoverno nas questões relacionadas a seus assuntos internos e locais, assim como a disporem dos meios
para financiar suas funções autônomas.

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Artigo 5
Os povos indígenas têm o direito de conservar e reforçar suas próprias instituições políticas, jurídicas,
econômicas, sociais e culturais, mantendo ao mesmo tempo seu direito de participar plenamente, caso o
desejem, da vida política, econômica, social e cultural do Estado.
Artigo 8
1. Os povos e pessoas indígenas têm direito a não sofrer assimilação forçada ou a destruição de sua cultura.
2. Os Estados estabelecerão mecanismos eficazes para a prevenção e a reparação de:
a) Todo ato que tenha por objetivo ou conseqüência privar os povos e as pessoas indígenas de sua integridade
como povos distintos, ou de seus valores culturais ou de sua identidade étnica;
b) Todo ato que tenha por objetivo ou conseqüência subtrair-lhes suas terras, territórios ou recursos.
c) Toda forma de transferência forçada de população que tenha por objetivo ou conseqüência a violação ou a
diminuição de qualquer dos seus direitos.
d) Toda forma de assimilação ou integração forçadas.
e) Toda forma de propaganda que tenha por finalidade promover ou incitar a discriminação racial ou étnica
dirigida contra eles.
Artigo 10
Os povos indígenas não serão removidos à força de suas terras ou territórios. Nenhum traslado se realizará
sem o consentimento livre, prévio e informado dos povos indígenas interessados e sem um acordo prévio sobre
uma indenização justa e eqüitativa e, sempre que possível, com a opção do regresso.

Outrossim, a Convenção nº 169 da OIT possui natureza jurídico de tratado internacional, tendo sido
incorporada pelo Brasil através do Decreto nº 5.051/04. Em que pese oriunda da OIT, não se restringe ao Direito
do Trabalho, tendo regulamentado também a questão indígena.

A Convenção 169 da OIT possui a definição de quem são os povos indígenas e tribais mencionados no
documento, além de afirmar a obrigação dos governos em reconhecer e proteger os valores e práticas sociais,
culturais religiosos e espirituais próprias desses povos. Trata ainda da consulta aos povos interessados, mediante
procedimentos apropriados toda vez que sejam previstas medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de
afetá-los diretamente. Essas medidas podem ser tanto aditadas pela esfera pública quanto pela esfera privada.

A OIT 169 trata, também, da importância de realizar uma consulta livre, prévia e informada sempre
que alguma obra, ação, política ou programa for ser desenvolvido e afete aos povos tradicionais. Independente
da iniciativa pública ou privada, a consulta é prevista pela OIT 169.

Artigo 1º
1. A presente convenção aplica-se:
a) aos povos tribais em países independentes, cujas condições sociais, culturais e econômicas os distingam de
outros setores da coletividade nacional, e que estejam regidos, total ou parcialmente, por seus próprios
costumes ou tradições ou por legislação especial;
b) aos povos em países independentes, considerados indígenas pelo fato de descenderem de populações que
habitavam o país ou uma região geográfica pertencente ao país na época da conquista ou da colonização ou do

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estabelecimento das atuais fronteiras estatais e que, seja qual for sua situação jurídica, conservam todas as suas
próprias instituições sociais, econômicas, culturais e políticas, ou parte delas.
Artigo 9º
1. Na medida em que isso for compatível com o sistema jurídico nacional e com os direitos humanos
internacionalmente reconhecidos, deverão ser respeitados os métodos aos quais os povos interessados
recorrem tradicionalmente para a repressão dos delitos cometidos pelos seus membros.
2. As autoridades e os tribunais solicitados para se pronunciarem sobre questões penais deverão levar em conta
os costumes dos povos mencionados a respeito do assunto.
Artigo 13
1. Ao aplicarem as disposições desta parte da Convenção, os governos deverão respeitar a importância especial
que para as culturas e valores espirituais dos povos interessados possui a sua relação com as terras ou territórios,
ou com ambos, segundo os casos, que eles ocupam ou utilizam de alguma maneira e, particularmente, os
aspectos coletivos dessa relação.
2. A utilização do termo "terras" nos Artigos 15 e 16 deverá incluir o conceito de territórios, o que abrange a
totalidade do habitat das regiões que os povos interessados ocupam ou utilizam de alguma outra forma.

O plano constitucional é o último plano de proteção dos direitos indígenas a ser abordado, tendo em
vista que, como já dito, o Estatuto do Índio adota paradigma ultrapassado para a proteção dos direitos dos povos
e comunidades indígenas.

Art. 22.
Compete privativamente à União legislar sobre:
XIV - populações indígenas;
Art. 109.
Aos juízes federais compete processar e julgar:
XI - a disputa sobre direitos indígenas.25
Art. 231.
São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens.
§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as
utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários
a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o
usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.

25
#NÃOCONFUNDA: Somente será de competência da Justiça Federal, quando tais causas envolvendo indígenas forem
diretamente relacionadas a elementos da cultura indígena e a direitos sobre suas terras, não abarcando delitos isolados
praticados por um ou outro integrante da comunidade indígena. EX: índio acusado de homicídio em caso de ausência de
disputa sobre direitos indígenas é julgado pela Justiça Estadual.

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§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das
riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas
as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
§ 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.
§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, "ad referendum" do Congresso Nacional,
em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País,
após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o
risco.
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio
e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos
lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei
complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na
forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.
§ 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e § 4º.
Art. 232.
Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus
direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.

#VEMDETABELA

DIREITOS DOS QUILOMBOLAS E INDÍGENAS


QUILOMBOLA INDÍGENA
Propriedade (art. 68, ADCT) Posse/usufruto (art. 231, § 2º, CF)

Propriedade coletiva-privada (mas inalienável, Propriedade da União (art. 20, XI)


impenhorável e imprescritível)

Isenção do ITR (Lei n. 13.043/14) Imunidade tributária recíproca (art. 150, IV, a)

Advento da CF/88 (ou abolição da escravatura) não Advento da CF/88 constitui marco para
constitui marco para seu reconhecimento reconhecimento de suas áreas (ocupação) *Obs.:
Tema pendente de reapreciação pelo STF.

#DEOLHONAJURIS

Nos termos do art. 231 da Constituição Federal, a União tem o dever (e não a escolha) de demarcar as terras
indígenas. Tais demarcações deveriam estar concluídas no prazo de 5 anos, contados da promulgação da
Constituição, conforme art. 67 do ADCT. A não homologação das demarcações dessas terras deriva de inércia
deliberada do Poder Público, em afronta ao direito originário dos índios. Ao afastar a proteção territorial em
terras não homologadas, a FUNAI sinaliza a invasores que a União se absterá de combater atuações irregulares
em tais áreas, o que pode constituir um convite à invasão de terras que são sabidamente cobiçadas por grileiros

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e madeireiros, bem como à prática de ilícitos de toda ordem. Além disso, a suspensão da proteção territorial
abre caminho para que terceiros passem a ali transitar, o que põe em risco a saúde dessas comunidades,
expondo-as a eventual contágio por COVID-19 e outras enfermidades. STF. Plenário. ADPF 709-MC-segunda-
Ref/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 25/2/2022 (Info 1045).
A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus seguidores não está protegida
pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão. Assim, é possível, a depender do caso
concreto, que um líder religioso seja condenado pelo crime de racismo (art. 20, §2º, da Lei nº 7.716/89) por ter
proferido discursos de ódio público contra outras denominações religiosas e seus seguidores. STF. 2ª Turma.
RHC 146303/RJ, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/3/2018 (Info 893).

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