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Dinis Abrantes Figueiredo

Direito das Obrigações II

Ano letivo de 2022/2023


1. Contrato a favor de terceiro
1.1 Regime jurídico-positivo do contrato a favor de terceiro
1.1.1 Noção de contrato a favor de terceiro
O contrato a favor de terceiro, cujo regime se encontra consagrado nos artigos 443º e ss.
CC, consiste no contrato, nos termos do qual um dos contraentes (promitente) se obriga
a atribuir à custa ou por conta do outro contraente (promissário) um determinado
benefício (titularidade de um direito de crédito ou outro benefício (443º, n. 2 CC)) a um
terceiro (beneficiário) estranho à relação contratual.
-» Exemplo: A, tomador do seguro e segurado, celebra com B, seguradora, um
contrato de seguro, nos termos do qual fica definido que se A ou se o seu primo C
(segurado) vierem a falecer, serão beneficiários deste seguro E, F e G. Neste caso, B
(promitente) obriga-se a atribuir à custa ou por conta de A (promissário) um benefício,
nomeadamente a titularidade de um direito de crédito, a E, F e G (terceiros-
beneficiários), estranhos à relação contratual constituída entre A e B.
1.1.2 Relações de cobertura e de valuta
No âmbito dos contratos a favor de terceiro, poder-se-ão distinguir duas relações:
- Relação de cobertura: A relação de cobertura estabelece-se entre o promitente
(contraente que se obriga a atribuir um determinado benefício) e o promissário
(contraente à custa ou por conta de quem o benefício é constituído) e tem uma
importância fundamental na determinação dos meios de defesa oponíveis pelo
promitente. De acordo com o artigo 449º CC, são oponíveis ao terceiro-beneficiário,
por parte do promitente, todos os meios de defesa derivados do contrato.
-» Exemplo: C (terceiro-beneficiário) exige a atribuição do benefício a B
(promitente). Neste caso, para se exonerar da realização dessa prestação, B só poderá
invocar os meios de defesa que derivam do contrato a favor de terceiro celebrado entre
ele e A (promissário) (ex. nulidade, anulabilidade, vício de forma, vício da vontade,
divergência entre a vontade e a declaração, etc.).
No entanto, já não são oponíveis ao terceiro-beneficiário, por parte do promitente, os
meios de defesa que advenham de outra relação entre promitente e promissário.
-» Exemplo: A (promissário) e B (promitente) celebram um contrato de seguro de
vida e um contrato de seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel. Acontece
que C (terceiro-beneficiário) vem exigir a atribuição do benefício constituído através da
celebração do contrato de seguro de vida. Neste caso, para se exonerar da realização
dessa prestação, B não poderá invocar os meios de defesa que derivam do contrato de
seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel.
- Relação de valuta: A relação de valuta estabelece-se entre o promissário (contraente
à custa ou por conta de quem o benefício é constituído) e o terceiro-beneficiário
(pessoa que adquire o benefício) e tem uma importância fundamental na fixação dos
direitos e obrigações do promissário e do terceiro-beneficiário. De acordo com o artigo
447º, n. 1 CC, o terceiro-beneficiário pode aceitar ou rejeitar a atribuição do benefício:
→ Aceitação: De acordo com o artigo 444º, n. 1 CC, o terceiro-beneficiário adquire o
benefício independentemente da sua aceitação (ou seja, a partir do momento em que o
benefício é constituído e não a partir do momento em que ele aceita a sua atribuição).
Isto significa que a aceitação não releva quanto à atribuição do benefício, mas releva
sim quanto à sua revogabilidade por parte do promissário (448º, n. 1 CC):
1) Enquanto o terceiro-beneficiário não declarar a sua aceitação ao promitente e ao
promissário (447º, n. 3 CC), a atribuição do benefício é revogável.
2) A partir do momento em que o terceiro-beneficiário declara a sua aceitação ao
promitente e ao promissário, a atribuição do benefício torna-se irrevogável.

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→ Rejeição: Embora a atribuição do benefício se traduza, passe a redundância, num
benefício para o terceiro-beneficiário, entende-se que ele não deve ser imposto contra a
sua vontade. Por isso, o terceiro-beneficiário pode rejeitá-lo, devendo declarar a sua
rejeição ao promitente e este comunicá-la ao promissário (447º, n. 2 CC).
1.2 Figuras próximas do contrato a favor de terceiro
Os contratos a favor de terceiro não se confundem com as seguintes figuras próximas:
- Contrato autorizativo da prestação a terceiro: Nos contratos autorizativos da
prestação a terceiro, um dos contraentes obriga-se perante o outro contraente a realizar
uma prestação a favor de terceiro.
-» Exemplo: A compra um ramo de flores a B e este obriga-se a entrega-lo a C.
Neste caso, apesar de C ser beneficiário (uma vez que irá receber o ramo de flores), não
se torna titular de um direito de crédito, não podendo exigir a B que lhe entregue esse
mesmo ramo de flores, nem B fica adstrito para com C, mas antes para com A, a realizar
essa prestação.
- Contrato com efeitos reflexos sobre terceiros: Nos contratos com efeitos reflexos
sobre terceiros, dois contraentes celebram um contrato que produz efeitos reflexos sobre
terceiros.
-» Exemplo: A e B são casados e têm dois filhos (C e D). A, arrendatário, celebra
com E, senhorio, um contrato de arrendamento. Neste caso, apesar de o contrato ter sido
celebrado entre A e E, ele produzirá efeitos, não só em relação a A e a E, mas também
em relação a B, C e D.
- Contrato com eficácia de proteção para terceiros: Nos contratos com eficácia de
proteção para terceiros, dois contraentes celebram um contrato do qual resultam deveres
secundários ou deveres de conduta cuja violação faz com que os terceiros abrangidos no
círculo de proteção desse contrato se tornem titulares de um direito à indemnização.
-» Exemplo: A, antiquário, celebra um contrato com B, técnico de arte, nos termos
do qual este se obriga a apurar a autenticidade e qualidade das peças de arte que aquele
vende. Uma dessas peças, identificada por B como datada do século XVII, foi comprada
por C. No entanto, vem-se a constatar que essa dita peça, na realidade, é datada do
século XX. De acordo com uma certa doutrina germânica, C, estranho à relação
contratual existente entre A e B, mas abrangido no círculo de proteção desse contrato,
teria o poder de exigir uma indemnização a B pela violação de um dever secundário
(direito de informação) resultante do contrato celebrado entre A e B.
Nota fundamental:
Os contratos com eficácia de proteção para terceiros levantam a questão de saber se
devem aplicar-se as regras da responsabilidade civil contratual ou as regras da
responsabilidade civil extracontratual, existindo, a este propósito, uma divergência
na doutrina.

2. Contrato para pessoa a nomear


2.1 Regime jurídico-positivo do contrato para pessoa a nomear
2.1.1 Noção de contrato para pessoa a nomear
O contrato para pessoa a nomear, cujo regime se encontra consagrado nos artigos 452º e
ss. CC, consiste no contrato, nos termos do qual um dos contraentes reserva a qualidade
de parte para uma pessoa por ele a nomear (nomeado), mas, na eventualidade de essa
pessoa não aceitar a nomeação, aquele contraente assumirá definitivamente a sua
posição (aquela que ficou reservada para pessoa por ele a nomear) na relação contratual.
-» Exemplo: A, sendo um grande amigo de B, sabe que este está interessado na
aquisição de uma casa na avenida X. A certa altura, o proprietário dessa casa, C, coloca-

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a à venda. Querendo comprar a casa para B, mas não se importando de ficar com a casa
para si na eventualidade de B não a querer comprar, A celebra um contrato para pessoa
a nomear com C.
2.1.2 Nomeação
À reserva de nomeação (452º, n. 2 CC) segue-se a declaração de nomeação. Esta, para
ser eficaz, necessita de ser feita por documento escrito e emitida dentro do prazo
convencionado ou, na falta de convenção, dentro dos cinco dias posteriores à celebração
do contrato (453º, n. 1 CC). Para além disso, a declaração de nomeação deve ser
acompanhada do instrumento de ratificação do contrato, que deve obedecer às
formalidades previstas no artigo 454º CC, ou de procuração anterior à celebração do
contrato (453º, n. 2 CC). Feita a declaração de nomeação, importa estabelecer a
seguinte distinção:
1. Se o nomeado não aceitar a nomeação, o contrato para pessoa a nomear produzirá
apenas efeitos entre o contraente originário e a sua contraparte, salvo estipulação em
contrário (455º, n. 2 CC).
2. Se o nomeado aceitar a nomeação, o contrato para pessoa a nomear produzirá
apenas efeitos entre o nomeado e a contraparte (455º, n. 1 CC).
2.2 Figuras próximas do contrato para pessoa a nomear
Os contratos para pessoa a nomear não se confundem com as seguintes figuras
próximas:
- Negócio celebrado por meio de representação: Enquanto que os negócios
celebrados por meio de representação produzem imediatamente efeitos na esfera
jurídica do representado, os contratos para pessoa a nomear só produzem efeitos na
esfera jurídica do nomeado se este aceitar a nomeação (critério da eficácia).
- Contrato a favor de terceiro: Enquanto que nos contratos a favor de terceiro tanto o
promitente como o promissário não perdem a qualidade de partes após a aceitação da
atribuição do benefício por parte do terceiro-beneficiário, nos contratos para pessoa a
nomear um dos contratantes perde a qualidade de parte após a aceitação da nomeação
por parte do nomeado (critério da qualidade de parte).
Nota fundamental:
O contrato, o contrato-promessa, o pacto de preferência, o contrato a favor de
terceiro e o contrato para pessoa a nomear são fontes voluntárias de obrigações!

3. Negócios unilaterais
3.1 Problema da eficácia obrigacional dos negócios unilaterais
Os negócios unilaterais não se confundem com os contratos:
- O contrato traduz-se no negócio jurídico assente sobre pelo menos duas declarações
de vontade (proposta e aceitação que se unem num consenso), de sentido oposto mas
convergente. Sendo assim, para que o contrato produza efeitos obrigacionais (ou seja,
para que determinada pessoa se torne titular de um direito de crédito e sobre outra recaia
uma obrigação em sentido técnico), é necessário que haja uma proposta e uma aceitação
que se unem num consenso, valendo o princípio do contrato.
Nota fundamental:
O contrato pode ser unilateral, produzindo efeitos obrigacionais apenas para uma
das partes. No entanto, para que esses efeitos se produzam, é necessário que haja
uma proposta e uma aceitação que se unem num consenso (ex. contrato de doação).

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- O negócio unilateral traduz-se no negócio jurídico assente sobre apenas uma
declaração de vontade ou sobre várias declarações de vontade de único sentido. Sendo
assim, para que o negócio unilateral produza efeitos obrigacionais, não é necessário que
haja uma proposta e uma aceitação que se unem num consenso, bastando apenas que
determinada pessoa (declarante) se obrigue à realização de determinada prestação no
interesse de outra que se torna, consequentemente, titular de um direito de crédito (ex.
testamento). Pelo facto de os negócios unilaterais produzirem efeitos obrigacionais pela
vontade do declarante sem que a contraparte os tenha de aceitar (1) e de forma a
proteger o declarante de alguma precipitação quando se obriga à realização de
determinada prestação no interesse de determinada pessoa (2), os negócios unilaterais
estão sujeitos a um princípio da tipicidade (457º CC), apenas produzindo efeitos
obrigacionais nos casos previstos na lei.
3.2 Promessa pública
A promessa pública, que se encontra regulada nos artigos 459º e ss. CC, é um
verdadeiro negócio unilateral (logo, é fonte de obrigações) que consiste na declaração
de vontade, feita mediante anúncio público, na qual o declarante se obriga a dar uma
recompensa ou gratificação a quem se encontre em determinada situação ou pratique
certo facto positivo ou negativo.
-» Exemplo 1: A obriga-se a dar uma recordação à primeira criança que nasça na
maternidade Daniel de Matos.
-» Exemplo 2: A obriga-se a dar 1’000€ a quem encontrar o seu animal de estimação.
3.3 Promessa de cumprimento e reconhecimento de dívida
A promessa de cumprimento e o reconhecimento de dívida, que se encontram regulados
no artigo 458º CC, não são verdadeiros negócios unilaterais (logo, não são fontes de
obrigações), uma vez que apenas criam uma presunção ilidível [ou seja, afastável
mediante prova em contrário] da existência de uma relação negocial produtora de
efeitos obrigacionais (esta, sim, fonte de obrigações).
-» Exemplo 1: A promete pagar 1’000€ a B, sem indicar a causa de onde decorre
essa obrigação. Trata-se de uma promessa de cumprimento que cria a presunção da
existência de uma relação negocial, podendo ser afastada mediante prova em contrário.
-» Exemplo 2: A reconhece dever 1’000€ a B, sem indicar a causa de onde decorre
essa obrigação. Trata-se de um reconhecimento de dívida que cria a presunção da
existência de uma relação negocial, podendo ser afastada mediante prova em contrário.
Nota fundamental:
O negócio unilateral assenta na vontade de determinada pessoa (fonte voluntária de
obrigações), mas só produz efeitos obrigacionais nos casos previstos na lei (fonte
legal de obrigações)!

4. Gestão de negócios
4.1 Noção de gestão de negócios
A gestão de negócios, cujo regime se encontra consagrado nos artigos 464º e ss. CC,
traduz-se na intervenção não-autorizada de determinada pessoa (gestor) na direção de
negócio alheio, feita no interesse e por conta do respetivo dono (dono do negócio).
-» Exemplo 1: A, reparando que o telhado do seu vizinho B, que se encontra no
hospital a recuperar de uma operação à qual foi submetido, necessita de reparações,
celebra um contrato com C, empreiteiro, obrigando-se este a reparar o dito telhado.
-» Exemplo 2: D foi mobilizado para a guerra. E, seu vizinho, decide pagar-lhe as
faturas da água e da luz, enquanto não regressar.

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-» Exemplo 3: F, sabendo que a sua vizinha G se encontra acamada, decide alimentar
as suas galinhas.
Nota fundamental:
A gestão de negócios deve ser analisada sob duas vertentes distintas:
- Sob uma vertente positiva, a intervenção do gestor na direção de negócio alheio
reflete uma atitude de altruísmo ou de solidariedade humana, sendo feita no
interesse do dono do negócio.
- Sob uma vertente negativa, a intervenção do gestor na direção de negócio alheio é
uma intervenção não-autorizada e feita por conta do dono do negócio, podendo-lhe
causar prejuízos.
4.2 Pressupostos da gestão de negócios
Para que a gestão de negócios produza efeitos obrigacionais, exige-se a verificação
cumulativa dos seguintes pressupostos:
1) Direção de negócio alheio: É necessário que o gestor intervenha na direção (1) de
negócio (2) alheio (3).
1. A intervenção na direção de negócio alheio pode traduzir-se na celebração de
negócios jurídicos (exemplo 1), na prática de atos jurídicos (exemplo 2) ou de atos
materiais (exemplo 3).
2. A expressão “negócio” deve ser entendida como assunto ou interesse.
3. O negócio tem de ser alheio, tanto em sentido objetivo (o gestor tem de intervir na
direção de assunto ou interesse de outrem), como em sentido subjetivo (o gestor tem de
intervir com a convicção de que o assunto ou interesse é de outrem).
Nota fundamental:
Tendo em conta que o gestor tem de intervir na direção de negócio de outrem e com
a convicção de que o negócio é de outrem, importa estabelecer a seguinte distinção:
- Gestão de negócio próprio julgado alheio: Quando o gestor intervém na direção
de negócio próprio julgando estar a intervir na direção de negócio alheio, não há
gestão de negócios, uma vez que o gestor não intervém em negócio de outrem.
-» Exemplo: Imagine-se que A vai para o trabalho de mota, estacionando-a ao
lado de muitas outras. Quando chega a hora de ir para casa, A verifica que “a mota
de B” está riscada e dirige-se à sua oficina para a reparar. Depois de reparada, A
chega à conclusão de que a mota é dele, e não de B.
→ Neste caso, A terá de suportar as despesas que teve.
- Gestão de negócio alheio julgado próprio: Quando o gestor intervém na direção
de negócio alheio julgando estar a intervir na direção de negócio próprio, não há
gestão de negócios, uma vez que o gestor não intervém com a convicção de que o
negócio é de outrem.
-» Exemplo: Imagine-se que A vai para o trabalho de mota, estacionando-a ao
lado de muitas outras. Quando chega a hora de ir para casa, A verifica que “a sua
mota” está riscada e dirige-se à sua oficina para a reparar. Depois de reparada, A
chega à conclusão de que a mota não é dele, mas de B.
→ Neste caso, importa estabelecer a seguinte distinção:
1. Aprovação: Havendo aprovação da intervenção por parte de B, de acordo com
o artigo 472º, n. 1, primeira parte CC, aplicam-se as regras da gestão de negócios,
embora não haja gestão de negócios! Neste caso, o “dono do negócio”, por um lado,
renuncia ao direito de indemnização pelos danos causados por culpa do “gestor” e,
por outro lado, terá de reembolsá-lo pelas despesas que ele tenha feito e indemnizá-
lo pelos prejuízos que tenha sofrido com a “gestão de negócios” (468º e 469º CC).

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2. Falta de aprovação: Faltando a aprovação da intervenção por parte de B, de
acordo com o artigo 472º, n. 1, segunda parte CC, aplicam-se as regras do
enriquecimento sem causa (473º e ss. CC), se verificados os respetivos pressupostos.
2) Direção feita no interesse e por conta do dono do negócio: É necessário que o
gestor intervenha na direção de assunto ou interesse alheio no exclusivo interesse (1) e
por conta (2) do dono do negócio.
1. No exclusivo interesse do dono do negócio: Por um lado, o gestor tem de intervir
na direção de negócio alheio com o propósito de satisfazer um interesse do dono do
negócio.
2. Por conta do dono do negócio: Por outro lado, o gestor tem de intervir na direção
de negócio alheio com o propósito de transferir os resultados da sua intervenção na
esfera jurídica do dono do negócio.
Nota fundamental:
Tendo em conta que o gestor tem de intervir na direção de negócio alheio com o
propósito de satisfazer um interesse e de transferir os resultados da sua intervenção
na esfera jurídica do dono do negócio, importa referir a falsa gestão de negócios:
- Falsa gestão de negócios: Quando o gestor intervém na direção de negócio alheio
com o propósito de satisfazer um interesse seu e/ou de transferir os resultados da sua
intervenção na sua esfera jurídica, há uma falsa gestão de negócios. Nestes casos, de
acordo com o artigo 472º, n. 1, segunda parte CC, aplicam-se as regras da
responsabilidade civil (473º e ss. CC), se verificados os respetivos pressupostos.

3) Falta de autorização por parte do dono do negócio: É necessário que o gestor


intervenha na direção de assunto ou interesse alheio no exclusivo interesse e por conta
do dono do negócio sem que tenha uma autorização deste para o efeito.

Verificados estes três pressupostos, ter-se-ão de analisar, por um lado, as relações


internas que se estabelecem entre o gestor e o dono do negócio (4.3) e, por outro lado,
as relações externas que se estabelecem entre o dono do negócio e terceiros com quem o
gestor tenha celebrado negócios jurídicos no exercício da gestão de negócios (4.4):
4.3 Relações entre o gestor e o dono do negócio
4.3.1 Deveres do gestor para com o dono do negócio
Quanto aos deveres do gestor para com o dono do negócio, importa referir o seguinte:
1. Dever de não-interrupção da gestão de negócios: Uma vez iniciada a intervenção na
direção de negócio alheio por parte do gestor, entende-se que este não é inteiramente
livre de a interromper, quer pelas legítimas expetativas que tenha criado, quer pelos
obstáculos que tenha criado para outras pessoas que estariam dispostas a levar a gestão
de negócios a bom termo. Apesar de a lei não impor diretamente ao gestor o dever de
não-interrupção da gestão de negócios, tal dever decorre indiretamente do artigo 466º,
n. 1, segunda parte CC, segundo o qual o gestor responde perante o dono do negócio
pelos danos que causar com a injustificada interrupção da gestão de negócios.
2. Dever de obediência ao interesse e à vontade, real ou presumível, do dono do
negócio: O artigo 465º, al. a) CC impõe diretamente ao gestor o dever de obediência ao
interesse e à vontade, real ou presumível, do dono do negócio, encontrando-se este
mesmo dever consagrado indiretamente no artigo 466º CC, segundo o qual o gestor
responde perante o dono do negócio pelos danos que causar através de uma atuação
desconforme com o interesse e a vontade, real ou presumível, do dono do negócio.

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Sendo assim, a atuação do gestor no exercício da gestão de negócios deve ser orientada
por aquilo que o dono do negócio faria, e não por aquilo que um homem medianamente
prudente, razoável e diligente faria nas mesmas circunstâncias. Quanto à apreciação da
culpa na atuação do gestor, existe uma divergência na doutrina:
- Para alguns autores, a culpa na atuação do gestor deveria ser apreciada em abstrato,
confrontando-se a conduta que o gestor adotou no exercício da gestão de negócios com
a conduta que um homem medianamente prudente, razoável e diligente adotaria nas
mesmas circunstâncias.
- Para outros autores, a culpa na atuação do gestor deveria ser apreciada em concreto,
confrontando-se a conduta que o gestor adotou no exercício da gestão de negócios com
a conduta que ele habitualmente adota.
→ Segundo Antunes Varela, a culpa na atuação do gestor deve ser apreciada em
concreto, uma vez que se afigura injusto exigir que o gestor seja mais diligente na
direção de negócios alheios do que na direção dos seus próprios negócios.
3. Dever de entrega dos valores obtidos e de prestação de contas: De acordo com o
artigo 465º, al. e) CC, o gestor deve entregar ao dono do negócio tudo o que tenha
recebido de terceiros no exercício da gestão de negócios ou o saldo das respetivas
contas, com os juros legais, relativamente às quantias em dinheiro, a partir do momento
em que a entrega haja de ser efetuada. Com o dever de entrega dos valores obtidos anda
associado o dever de prestação de contas, devendo estas ser prestadas logo que a gestão
de negócios finda ou é interrompida ou quando o dono as exigir (465º, al. c) CC).
4. Dever de aviso e de informação: De acordo com o artigo 465º, al. b) e d) CC, o
gestor deve avisar o dono do negócio, logo que seja possível, de que assumiu a gestão
de negócios e prestar-lhe todas as informações relativas à gestão.
4.3.2 Deveres do dono do negócio para com o gestor
Quanto aos deveres do dono do negócio para com o gestor, importa estabelecer a
seguinte distinção:
- Aprovação: Havendo aprovação da gestão de negócios por parte do dono do negócio,
este por um lado, renuncia ao direito de indemnização pelos danos causados por culpa
do gestor e, por outro lado, terá de reembolsá-lo pelas despesas que ele tenha feito e
indemnizá-lo pelos prejuízos que tenha sofrido com a gestão de negócios (468º CC e
469º CC). Além disso, a gestão de negócios não dá direito a qualquer remuneração,
salvo se corresponder ao exercício da atividade profissional do gestor (470º CC).
- Falta de aprovação: Faltando a aprovação da gestão de negócios por parte do dono do
negócio, importa distinguir duas situações:
-» Gestão regular: Se o gestor tiver atuado em conformidade com o interesse e a
vontade, real ou presumível, do dono do negócio, este terá de reembolsá-lo pelas
despesas que ele tenha feito e indemnizá-lo pelos prejuízos que tenha sofrido com a
gestão de negócios (468º, n. 1 CC).
-» Gestão irregular: Se o gestor não tiver atuado em conformidade com o interesse e
a vontade, real ou presumível, do dono do negócio, este terá que responder segundo as
regras do enriquecimento sem causa (473º e ss. CC), se verificados os respetivos
pressupostos (468º, n. 2 CC).

Nota fundamental:
A aprovação consiste no juízo genérico de concordância emitido pelo dono do
negócio relativamente aos negócios jurídicos celebrados, aos atos jurídicos ou aos
atos materiais praticados pelo gestor no interesse e por conta daquele.

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4.4 Relações entre o dono do negócio e terceiros
Tendo sido celebrados negócios jurídicos entre o gestor e terceiros no exercício da
gestão de negócios, importa estabelecer a seguinte distinção:
- Gestão representativa: Se o gestor tiver celebrado um negócio jurídico em nome do
dono do negócio, aplicam-se as regras da representação sem poderes (471º CC,
conjugado com o artigo 268º CC). Sendo assim, o negócio jurídico só será eficaz se for
ratificado pelo dono do negócio. Não sendo ratificado, o negócio jurídico é ineficaz em
relação a ele.
- Gestão não-representativa: Se o gestor tiver celebrado um negócio jurídico em seu
próprio nome, aplicam-se as regras do mandato sem representação (471º CC,
conjugado com o artigo 1181º CC). Sendo assim, o gestor será obrigado a transferir na
esfera jurídica do dono do negócio os direitos adquiridos e as obrigações assumidas.
Nota fundamental:
A ratificação consiste no juízo específico de concordância emitido pelo dono do
negócio relativamente aos negócios jurídicos celebrados pelo gestor em nome
daquele.

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Esquema de resolução de casos práticos:


1 Noção de gestão de negócios
2 Pressupostos em abstrato e a sua verificação em concreto
3 Deveres do gestor para com o dono do negócio
4 Deveres do dono do negócio para com o gestor:
- Aprovação? 468º e 469º CC
- Falta de aprovação? Gestão regular (468º, n. 1 CC) ou irregular (468º, n. 2 CC)?
5 Negócio jurídico em nome do dono do negócio ou em nome do gestor?

5. Enriquecimento sem causa


5.1 Noção de enriquecimento sem causa
O enriquecimento sem causa, cujo regime se encontra consagrado nos artigos 473º e ss.
CC, traduz-se numa deslocação patrimonial que, sem causa justificativa, integra a esfera
jurídica de determinada pessoa (enriquecido) à custa de outra (empobrecido) e que gera
uma obrigação de restituição.
-» Exemplo 1: A, pensando que certos móveis antigos lhe pertencem, manda-os
restaurar, gastando uma quantia vultuosa no restauro. Neste caso, uma vez que a
reconstituição da situação anterior é economicamente desaconselhável, A poderá
intentar uma ação de restituição fundada em enriquecimento sem causa contra o
verdadeiro proprietário dos móveis.
-» Exemplo 2: B, tendo-lhe sido entregue uma garrafa de whisky por engano,
consome-a. Neste caso, uma vez que a reconstituição da situação anterior é
materialmente impossível, o destinatário da garrafa de whisky poderá intentar uma ação
de restituição fundada em enriquecimento sem causa contra B.
-» Exemplo 3: C, fiador de D, paga a dívida de C a E mas esquece-se de avisar D
relativamente ao pagamento, acabando este por efetuar um segundo pagamento a E.
Neste caso, embora a reconstituição da situação anterior fosse possível, dever-se-á
considerar que, tendo em consideração a boa-fé de D e a culpa de C, o pagamento de D
foi bem feito, podendo C intentar uma ação de restituição fundada em enriquecimento
sem causa contra E.

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5.2 Pressupostos do enriquecimento sem causa
A obrigação de restituição fundada no enriquecimento sem causa pressupõe a
verificação cumulativa dos seguintes requisitos:
1) Enriquecimento do enriquecido: É necessário que na esfera jurídica do enriquecido
integre uma vantagem de caráter patrimonial através da celebração de negócios
jurídicos, da prática de atos jurídicos ou de atos materiais, quer do próprio enriquecido,
quer de terceiro, e que se pode traduzir:
1. num aumento do ativo
2. numa diminuição do passivo
3. no consumo de coisa alheia ou no exercício de direito alheio
4. na poupança de despesas
2) Falta de causa justificativa: É necessário que na esfera jurídica do enriquecido
integre uma vantagem de caráter patrimonial que, segundo a correta ordenação dos bens
à luz do Direito vigente, deve pertencer a outrem.
3) Enriquecimento imediato à custa do empobrecido: É necessário que na esfera
jurídica do enriquecido integre uma vantagem de caráter patrimonial que, em regra,
resulta imediatamente do sacrifício económico correspondente suportado pelo
empobrecido, existindo uma ideia de correlação entre a situação dos dois sujeitos. No
entanto, quando tal não for o caso, ter-se-á de lançar mão da doutrina da afetação ou da
destinação, segundo a qual todas as utilidades que um bem objeto de um direito é
suscetível de propiciar pertencem ao respetivo titular.
4) Caráter subsidiário da obrigação de restituição: De acordo com o artigo 474º CC,
não há lugar à restituição fundada no enriquecimento sem causa quando a lei facultar ao
empobrecido outro meio de ser indemnizado ou restituído (1), negar o direito à
restituição (2) ou atribuir outros efeitos ao enriquecimento (3).
1. A lei faculta ao empobrecido outro meio de ser indemnizado ou restituído nos
casos de declaração da nulidade, anulabilidade, resolução ou revogação de negócio
jurídico e nos casos de responsabilidade civil.
Caráter subsidiário da obrigação de restituição face à obrigação de indemnização
Enriquecimento sem causa Enriquecimento sem causa Prescrição do direito à
+ Responsabilidade civil: + Responsabilidade civil indemnização
Direito à restituição Dano = Enriquecimento Direito à restituição
→ Direito à indemnização
Dano > Enriquecimento
→ Direito à indemnização
Dano < Enriquecimento
→ Direito à restituição
2. A lei nega o direito à restituição nos casos de prescrição, usucapião, etc.
3. A lei atribui outros efeitos ao enriquecimento nos casos de benfeitorias úteis que
possam ser levantadas sem detrimento da coisa, alteração superveniente das
circunstâncias, etc.

Verificados estes quatro pressupostos, emerge uma obrigação de restituição fundada no


enriquecimento sem causa:

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5.3 Objeto da obrigação de restituição
De acordo com o artigo 479º, n. 1 CC, a obrigação de restituição fundada no
enriquecimento sem causa compreende tudo quanto se tenha obtido à custa do
empobrecido ou, se a restituição em espécie não for possível, o valor correspondente.
Na determinação do objeto da obrigação de restituição, dever-se-á seguir a teoria do
duplo-limite:
1. Em primeiro lugar, a obrigação de restituição deve ser limitada pelo valor efetivo e
atual que a vantagem patrimonial proporcionou ao enriquecido (enriquecimento
patrimonial), que se distingue do valor objetivo da vantagem patrimonial que o
enriquecido obteve (enriquecimento real).
2. Em segundo lugar, a obrigação de restituição deve ser limitada pelo valor que o
enriquecido obteve à custa do empobrecido. Sendo assim:
- Se o enriquecimento patrimonial for igual ao empobrecimento, o enriquecido terá
de restituir o valor do empobrecimento.
-» Exemplo: A realizou benfeitorias que lhe custaram 20€ e que valorizaram o
prédio de B em 20€. Neste caso, B terá de restituir 20€.
- Se o enriquecimento patrimonial for superior ao empobrecimento, o enriquecido
terá de restituir o valor do empobrecimento.
-» Exemplo: A realizou benfeitorias que lhe custaram 10€ e que valorizaram o
prédio de B em 20€. Neste caso, B terá de restituir 10€.
- Se o enriquecimento patrimonial for inferior ao empobrecimento, o enriquecido
terá de restituir o valor do enriquecimento patrimonial (479º, n. 2 CC).
-» Exemplo: A realizou benfeitorias que lhe custaram 20€ e que valorizaram o
prédio de B em 10€. Neste caso, B terá de restituir 10€.
5.4 Prescrição do direito à restituição
De acordo com o artigo 482º CC, o direito à restituição por enriquecimento sem causa
prescreve no prazo de três anos, a contar da data em que o empobrecido teve
conhecimento do direito que lhe compete e da pessoa do responsável, sem prejuízo da
prescrição ordinária se tiver decorrido o respetivo prazo (20 anos (309º CC)) a contar
do enriquecimento.
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Esquema de resolução de casos práticos:


1 Noção de enriquecimento sem causa
2 Pressupostos em abstrato e a sua verificação em concreto
3 Objeto da obrigação de restituição
4 Prescrição do direito à restituição

6. Responsabilidade civil
6.1 Modalidades da responsabilidade civil
A responsabilidade civil pode revestir as seguintes modalidades:
- Responsabilidade extracontratual: A responsabilidade extracontratual resulta da
violação de direitos absolutos (direitos que vinculam todos os membros de uma
comunidade jurídica, tendo eficácia erga omnes) (483º e ss. CC).
- Responsabilidade contratual: A responsabilidade contratual resulta da violação de
direitos relativos (direitos que vinculam apenas certas e determinadas pessoas, tendo
eficácia inter partes) (798º e ss. CC).

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Dentro de cada uma destas modalidades, importa ainda estabelecer a seguinte distinção:
- Responsabilidade subjetiva: A responsabilidade subjetiva exige a culpa do lesante
para que este seja responsável (483º, n. 1 CC).
- Responsabilidade objetiva: A responsabilidade objetiva não exige a culpa do lesante
para que este seja responsável (483º, n. 2 CC).
6.2 Diferenças entre a responsabilidade civil extracontratual e contratual
Responsabilidade extracontratual Responsabilidade contratual
Relação jurídica Relação de anonimato Relação de colaboração
Capacidade para Imputáveis + Inimputáveis (489º Capazes de exercício de
responder CC, conjugado com 491º CC) direitos (salvo as exceções)
Facto Responsabilidade por ação (regra) Responsabilidade por
omissão (regra)
Ónus da prova da Recai sobre o lesado (487º, n. 1 Recai sobre o lesante (799º,
culpa CC), salvo presunção legal de n. 1 CC)
culpa (inversão do ónus da prova)
Pluralidade de Responsabilidade solidária (497º Responsabilidade conjunta
lesantes CC e 507º CC) ou solidária (513º CC)
Prescrição 3 anos (498º, n. 1 CC) 20 anos (309º CC)
6.3 Responsabilidade subjetiva
6.3.1 Pressupostos da responsabilidade subjetiva
De acordo com o artigo 483º, n. 1 CC, aquele que, com dolo ou mera culpa (3), violar
(1) ilicitamente (2) o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger
interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos (4) resultantes da
violação (5). Conclui-se que a obrigação de indemnização fundada na responsabilidade
extracontratual subjetiva pressupõe a verificação cumulativa dos seguintes requisitos:
1) Facto voluntário do lesante: É necessário que o lesante pratique um facto voluntário
que consiste no comportamento humano objetivamente dominável ou controlável pela
vontade humana e que tanto pode ser positivo (ação), como negativo (abstenção ou
omissão). De acordo com o artigo 486º CC, quem se abstenha de adotar determinado
comportamento só responde pelos danos causados quando havia, por força da lei ou de
negócio jurídico, o dever de praticar o ato omitido e este ato pudesse ter evitado os
danos causados.
2) Ilicitude: É necessário que o facto voluntário praticado pelo lesante seja contrário ao
Direito, existindo três variantes da ilicitude:
- Primeira variante: A primeira variante da ilicitude, que se encontra prevista no artigo
483º, n. 1 CC, é a violação de um direito subjetivo em sentido estrito absoluto.
- Segunda variante: A segunda variante da ilicitude, que se encontra prevista no artigo
483º, n. 1 CC, é a violação de uma disposição legal (1) que resulta na lesão (2) de um
interesse particular por ela direta e imediatamente protegido (3).
1. É necessário que exista uma norma legal de proteção.
2. É necessário que se saiba que titulares de interesses (âmbito pessoal) e que
interesses particulares (âmbito material) a norma legal de proteção direta e
imediatamente protege.
3. É necessário que se saiba se o interesse particular que a norma legal de proteção
direta e imediatamente protege corresponde ao interesse concretamente lesado.
- Terceira variante: A terceira variante da ilicitude, que se encontra prevista no artigo
334º CC, é o abuso do direito. De acordo com este artigo, há abuso do direito quando
determinada pessoa exerce um seu direito excedendo manifestamente os limites

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impostos pela boa-fé, pelos bons costumes ou pelo fim económico ou social desse
direito. Esta terceira variante, todavia, só é convocada em ultima ratio, ou seja, só se
recorre ao abuso do direito quando não se consegue justificar a ilicitude do facto
voluntário com base nas duas primeiras variantes da ilicitude.
Tipos especiais de ilicitude: Para além das três variantes da ilicitude, o Código Civil
consagra ainda alguns tipos especiais de ilicitude :
- Ofensa do crédito ou do bom nome: De acordo com o artigo 484º CC, quem afirme ou
difunda um facto capaz de prejudicar a confiança na capacidade ou na vontade de
pessoa, singular ou coletiva, para cumprir as suas obrigações (ofensa do crédito) ou de
abalar o prestígio de que pessoa, singular ou coletiva, goze no meio social em que vive
ou em que exerce a sua atividade profissional (ofensa do bom nome), pode responder
pelos danos causados.
- Conselhos, recomendações ou informações: De acordo com o artigo 485º CC, quem
dê conselhos, recomendações ou informações pode, excecionalmente, responder pelos
danos causados quando tenha assumido a responsabilidade pelos danos (1), quando
havia o dever jurídico de os dar e se tenha agido com culpa (dolo ou negligência) (2) ou
quando o procedimento do lesante seja criminalmente punível (3).
Causas de exclusão da ilicitude: O facto voluntário praticado pelo lesante que viole
um direito absoluto, uma norma legal de proteção, consubstancie um abuso do direito
ou um tipo especial de ilicitude pode ser coberto por uma das seguintes causas de
exclusão da ilicitude:
1. Exercício regular de um direito: Se o lesante praticar um facto voluntário
aparentemente ilícito no exercício regular de um direito, a sua ilicitude é afastada.
2. Cumprimento de um dever: Se o lesante praticar um facto voluntário aparentemente
ilícito no cumprimento de um dever, a sua ilicitude é afastada.
3. Ação direta (336º CC)
4. Legítima defesa (337º CC)
5. Estado de necessidade (339º CC)
6. Consentimento do lesado (340º CC)
3) Nexo de imputação do facto ao lesante (culpa): É necessário que o facto voluntário
e ilícito seja praticado com culpa por parte do lesante. A culpa consiste num juízo ético-
jurídico de censura ou reprovação dirigido ao facto voluntário e ilícito praticado pelo
lesante. Para que se chegue à conclusão de que o facto voluntário e ilícito praticado pelo
lesante é ético-juridicamente censurável ou reprovável, será necessário efetuar a
seguinte análise tripartida:
1. Imputabilidade: Primeiro, importa saber se o lesante é ou não suscetível de um juízo
ético-jurídico de censura ou reprovação, ou seja, se é ou não imputável. Diz-se
imputável a pessoa que tenha capacidade de entender/de prever os efeitos dos atos que
pratica (capacidade intelectual) e capacidade de querer/de se determinar de acordo com
o juízo que faça acerca daqueles efeitos (capacidade volitiva) no momento da prática do
facto. Portanto, é imputável quem tenha capacidade de entender e de querer; é
inimputável quem não tenha capacidade de entender e/ou capacidade de querer.
→ Há pessoas em quem a lei presume a falta de imputabilidade no momento da prática
do facto, sendo esta presunção ilidível: os menores de 7 anos (488º, n. 2 CC).
→ Há pessoas que, não tendo capacidade de entender e querer no momento da prática
do facto, são tratadas como se a tivessem: os lesantes que culposamente se colocaram
num estado, ainda que transitório, de incapacidade de entender e querer (ex. os que se
embriagaram e os que tomaram estupefacientes antes da prática do facto) (488º, n. 1,
parte final CC).

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Nota fundamental:
Nos casos em que o lesante for inimputável (incapaz de entender e querer ou
incapaz natural) mas tiver praticado um facto voluntário e ilícito que tenha causado
danos a outrem, ter-se-á de estabelecer a seguinte distinção:
1) Se, por força da lei ou de negócio jurídico, estiver pessoa obrigada à vigilância do
inimputável, recai sobre ela uma presunção legal de culpa (491º CC).
1. Se a pessoa obrigada à vigilância não conseguir mostrar que não teve culpa ou
não invocar a relevância negativa da causa virtual, ela será responsável pelos danos
causados pela omissão do dever de vigilância.
2. Se a pessoa obrigada à vigilância conseguir mostrar que não teve culpa ou
invocar a relevância negativa da causa virtual, ela não será responsável, devendo,
neste caso, distinguir-se duas situações:
- Se o inimputável tiver praticado um facto pelo qual, por motivos de equidade
(“se o facto praticado pelo inimputável tivesse sido praticado por imputável
mereceria a censura ou a reprovação do Direito”), deve ser responsável, este
responderá pelos danos que causou e o lesado será indemnizado (489º, n. 1 CC).
→ No entanto, a obrigação de indemnização deve ser fixada por forma a não privar
o lesante inimputável dos alimentos necessários, nem dos meios indispensáveis para
cumprir os seus deveres legais de alimentos (489º, n. 2 CC).
- Se o inimputável não tiver praticado um facto pelo qual, por motivos de
equidade (“se o facto praticado pelo inimputável tivesse sido praticado por
imputável mereceria a censura ou a reprovação do Direito”), deve ser responsável,
este não responderá e o lesado não será indemnizado.
2) Se não estiver ninguém obrigado à vigilância do inimputável, deve distinguir-se
duas situações:
1. Se o inimputável tiver praticado um facto pelo qual, por motivos de equidade
(“se o facto praticado pelo inimputável tivesse sido praticado por imputável
mereceria a censura ou a reprovação do Direito”), deve ser responsável, este
responderá pelos danos que causou e o lesado será indemnizado (489º, n. 1 CC).
→ No entanto, a obrigação de indemnização deve ser fixada por forma a não privar
o lesante inimputável dos alimentos necessários, nem dos meios indispensáveis para
cumprir os seus deveres legais de alimentos (489º, n. 2 CC).
2. Se o inimputável não tiver praticado um facto pelo qual, por motivos de
equidade (“se o facto praticado pelo inimputável tivesse sido praticado por
imputável mereceria a censura ou a reprovação do Direito”), deve ser responsável,
este não responderá e o lesado não será indemnizado.
2. Culpa: Segundo, importa saber se a conduta do lesante é suscetível de um juízo ético-
jurídico de censura ou reprovação, ou seja, se podia e devia ter agido de modo diferente
(1) e em que grau o podia e devia ter feito (2).
1) Apreciação da culpa: Para saber se o lesante podia e devia ter agido de modo
diferente, existe uma divergência na doutrina:
- Para alguns autores, a culpa do lesante deveria ser apreciada em abstrato,
confrontando-se a conduta que o lesante adotou com a conduta que um homem
medianamente prudente, razoável e diligente teria nas mesmas circunstâncias.
- Para outros autores, a culpa do lesante deveria ser apreciada em concreto,
confrontando-se a conduta que o lesante adotou com a conduta que ele habitualmente
adota.
→ De acordo com o artigo 487º, n. 2 CC, a culpa é apreciada pela diligência que um
homem medianamente prudente, razoável e diligente teria nas mesmas circunstâncias.

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2) Modalidades da culpa: Para saber em que grau o lesante podia e devia ter agido de
modo diferente, importa ter em consideração a seguinte distinção:
- Dolo: O dolo (comportamento intencional) pode revestir três modalidades:
-» Dolo direto: Age com dolo direto o lesante que prevê que do facto por ele
praticado resultarão determinados efeitos danosos para o lesado e age com a intenção de
os produzir (ex. A sabe que, se disparar contra B, o matará, e é a morte deste que A quer
causar).
-» Dolo necessário: Age com dolo necessário o lesante que prevê que do facto por
ele praticado resultarão determinados efeitos danosos para o lesado e os aceita como
necessários para produzir um determinado efeito efetivamente querido (ex. A assalta um
banco e, a fugir da polícia, atropela uma pessoa que ia atravessar a estrada).
-» Dolo eventual: Age com dolo eventual o lesante que prevê que do facto por ele
praticado resultarão determinados efeitos danosos para o lesado e confia na sua eventual
produção (ex. A circula a 240 km/h e prevê que, a circular a essa velocidade, poderá
provocar um acidente e matar alguém. Só que ele quer tanto conduzir em alta
velocidade que aceita a possível morte de outrem).
- Negligência ou mera culpa: A negligência ou mera culpa (comportamento
descuidado) pode revestir duas modalidades:
-» Negligência consciente: Age com negligência consciente o lesante que prevê que
do facto por ele praticado resultarão determinados efeitos danosos para o lesado, mas
confia na sua não-produção (ex. A circula a 240 km/h e prevê que, a circular a essa
velocidade, poderá provocar um acidente e matar alguém. Só que, estando a circular às
4h, não confia que tal ocorrerá).
-» Negligência inconsciente: Age com negligência inconsciente o lesante que não
prevê que do facto por ele praticado resultarão determinados efeitos danosos para o
lesado, mas um homem medianamente prudente, razoável e diligente nas mesmas
circunstâncias teria previsto (ex. A circula na autoestrada, distraído ao telemóvel e não
prevê que se não abrandar poderá provocar um acidente e matar alguém).
Nota fundamental:
De acordo com o artigo 494º CC, quando a responsabilidade se fundar na
negligência ou mera culpa (consciente ou inconsciente), poderá a indemnização ser
fixada, equitativamente, em montante inferior ao que corresponderia aos danos
causados, desde que assim o grau de culpabilidade do lesante, a situação económica
deste e do lesado e as demais circunstâncias do caso o justifiquem.

3. Ónus da prova da culpa: De acordo com o artigo 487º, n, 1 CC, é ao lesado que
incumbe provar a culpa do lesante, salvo havendo presunção legal de culpa. Havendo
presunção legal de culpa, inverte-se o ónus da prova da culpa que recai sobre o lesante.
- Responsabilidade das pessoas obrigadas à vigilância de outrem (491º CC): Sendo
causados danos por pessoas naturalmente incapazes (menores de 7 anos) (vigiado) no
âmbito de uma relação de vigilância, presume-se que houve culpa das pessoas obrigadas
a vigiá-las (ex. pais, professores, guardas, enfermeiros, etc.) (vigilante). Esta presunção
legal de culpa é ilidível [afastável mediante prova em contrário], podendo ser afastada
pelo vigilante mostrando que não houve culpa da sua parte (cumpriu do seu dever de
vigilância) ou invocando a relevância negativa da causa virtual (os danos ter-se-iam
produzido de igual forma ainda que tivesse cumprido o seu dever de vigilância).
- Danos causados por edifícios ou outras obras (492º CC): Sendo causados danos por
edifício ou outra obra (ex. muro, ponte, coluna, pilar, aqueduto, viaduto, poço, poste,
antena, andaime, etc.) que venha a ruir, no todo ou em parte, por vício de construção ou
defeito de conservação, presume-se que houve culpa do respetivo proprietário ou

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possuidor. Esta presunção legal de culpa é ilidível [afastável mediante prova em
contrário], podendo ser afastada pelo proprietário ou possuidor mostrando que não
houve culpa da sua parte ou invocando a relevância negativa da causa virtual (os danos
ter-se-iam produzido de igual forma ainda que tivesse tido a diligência devida).
- Danos causados por coisas ou animais (493º, n. 1 CC): Sendo causados danos por
coisas ou animais, presume-se que houve culpa de quem tiver em seu poder coisa móvel
(ex. arma, substância radioativa, etc.) ou imóvel com o dever de a vigiar e de quem tiver
assumido o encargo da vigilância de quaisquer animais. Esta presunção legal de culpa é
ilidível [afastável mediante prova em contrário], podendo ser afastada pelas pessoas
sobre as quais recai mostrando que não houve culpa da sua parte ou invocando a
relevância negativa da causa virtual (os danos ter-se-iam produzido de igual forma ainda
que não houvesse culpa sua).
Nota fundamental:
A causa virtual consiste no facto real ou hipotético que teria causado o dano, se
este não tivesse sido causado pela causa real.
- Danos causados por atividades perigosas (493º, n. 2 CC): Sendo causados danos
por alguém no exercício de atividades consideradas perigosas por sua natureza (ex.
fabrico de explosivos, etc.) ou pela natureza dos meios utilizados (ex. transporte de
combustíveis, etc.), presume-se que houve culpa do lesante. Esta presunção legal de
culpa é ilidível [afastável mediante prova em contrário], podendo ser afastada pelo
lesante mostrando que empregou todas as providências exigidas pelas circunstâncias
com o fim de os prevenir.
4) Dano: É necessário que o facto voluntário, ilícito e culposo praticado pelo lesante
cause danos a outrem. O dano pode revestir diversas modalidades:
- Dano real: O dano real consiste no prejuízo efetivo causado ao lesado (ex. morte,
fratura, lesão, etc.).
- Dano de cálculo: O dano de cálculo consiste na tradução pecuniária do prejuízo
efetivo causado ao lesado (ex. despesa com o funeral, os médicos, o internamento, etc.).
- Dano patrimonial: O dano patrimonial consiste no prejuízo que tem uma repercussão
negativa na esfera jurídico-patrimonial do lesado, devendo este ser indemnizado. Dentro
dos danos patrimoniais, importa estabelecer a seguinte distinção:
-» Dano emergente: O dano emergente consiste no prejuízo que atinge bens
integrantes da esfera jurídico-patrimonial do lesado (ex. destruição de jarra de família).
-» Lucro cessante: O lucro cessante consiste no benefício patrimonial que o lesado
deixa de auferir em consequência da prática do facto voluntário, ilícito e culposo e com
o qual, com toda a probabilidade, poderia vir a contar (ex. perda de clientela).
- Dano não-patrimonial: O dano não-patrimonial consiste no prejuízo que não tem
uma repercussão negativa na esfera jurídico-patrimonial do lesado, devendo este ser
compensado (ex. dor, desgosto, sofrimento, falta, etc.).
1) Questão da noção: Há quem defina o dano não-patrimonial como um prejuízo
num bem insuscetível de avaliação pecuniária. Porém, nem sempre assim o é.
-» Exemplo 1: A destrói a jarra de família de B. Neste caso, a destruição da jarra de
família (bem suscetível de avaliação pecuniária) causou um dano patrimonial
(destruição da jarra) e um dano não-patrimonial (dor, desgosto, etc.).
-» Exemplo 2: A decide divulgar uma notícia difamatória de B, profissional liberal.
Neste caso, a ofensa do crédito e do bom nome (bens insuscetíveis de avaliação
pecuniária) causou um dano patrimonial (perda de clientela) e um dano não-patrimonial
(ofensa do crédito e do bom nome).

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2) Questão da ressarcibilidade dos danos não-patrimoniais: Relativamente à
ressarcibilidade dos danos não-patrimoniais, existe uma divergência na doutrina:
- Para alguns autores, os danos não-patrimoniais não são ressarcíveis, argumentando:
1. Os danos não-patrimoniais não são suscetíveis de ser indemnizados.
2. É imoral traduzir os danos não-patrimoniais em dinheiro.
3. Mesmo que se quisesse compensar os danos não-patrimoniais, a fixação dessa
compensação seria difícil sem uma larga margem de arbítrio.
- Para outros autores, os danos não-patrimoniais são compensáveis, argumentando:
1. Embora os danos não-patrimoniais sejam insuscetíveis de ser indemnizados, a sua
compensação pode servir, por um lado, como uma sanção adequada para o lesante e, por
outro lado, como uma forma de atenuar os danos causados ao lesado.
2. É imoral permitir que o lesante cause danos não-patrimoniais e não tenha, pelo
menos, de compensar o lesado.
3. A fixação da indemnização de certos danos patrimoniais afigura-se igualmente
difícil e ninguém afirma que tais danos não sejam ressarcíveis.
→ De acordo com o artigo 496º, n. 1 CC, os danos não-patrimoniais são compensáveis,
desde que, pela sua gravidade objetiva (1), mereçam a tutela do Direito (2).
3) O dano da morte: A propósito dos danos não-patrimoniais resultantes da morte do
lesado (ou dano da morte), importa estabelecer a seguinte distinção:
- Dano da morte em si mesma considerada: O dano da morte do lesado em si mesma
considerada é compensável. No entanto, ainda se tem colocado uma questão atinente à
titularidade do direito à compensação, uma vez que não faz sentido que o de cuiús se
torne titular de um direito depois de a sua personalidade jurídica ter cessado. Tendo tal
em consideração, existe uma divergência na doutrina:
1. Há autores que dizem que o direito à compensação integraria a esfera jurídica do
de cuiús e seria transmitido por via sucessória.
2. Há autores que dizem que o direito à compensação integraria a esfera jurídica dos
familiares conviventes do de cuiús (496º, n. 2 e 3 CC).
- Danos sofridos pelo de cuiús entre o momento da prática do facto e o momento da
morte: Os danos não-patrimoniais sofridos pelo de cuiús entre o momento da prática do
facto e o momento da sua morte são compensáveis. No entanto, também aqui se tem
ainda colocado aquela questão atinente à titularidade do direito à compensação.
- Danos sofridos pelos familiares conviventes do de cuiús: Os danos não-patrimoniais
sofridos pelos familiares conviventes do de cuiús (496º, n. 2 e 3 CC) são compensáveis,
não existindo dúvidas quanto ao facto de serem titulares de um direito à compensação
próprio.
4) A perda de chance: A perda de chance consiste na perda da oportunidade de
alcançar um determinado resultado, ainda que eventual.
-» Exemplo 1: A concorreu a um concurso público mas, por falha do funcionário,
a candidatura não é admitida e A perdeu a oportunidade de ser selecionado.
-» Exemplo 2: B jogou no Euromilhões e, pelo facto de o bilhete não ter sido
registado pela loja que o vendeu, perdeu a oportunidade de ganhar.
-» Exemplo 3: O médico de C não lhe diagnostica uma determinada patologia a
tempo e este perde a oportunidade de começar os tratamentos mais cedo.
Relativamente à ressarcibilidade da perda de chance, existe alguma controvérsia na
doutrina, sendo que a doutrina maioritária se tem posicionado negativamente.
- Dano direto: O dano direto consiste no prejuízo que decorre imediatamente da prática
do facto voluntário, ilícito e culposo (ex. destruição do vidro da montra).
- Dano indireto: O dano indireto consiste no prejuízo que decorre mediatamente da
prática do facto voluntário, ilícito e culposo (ex. furto dos artigos da montra).

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5) Nexo de causalidade entre o facto praticado pelo lesante e os danos causados ao
lesado: De acordo com o artigo 483º, n. 1 CC, o lesante não é responsável por todos os
danos que ocorram depois da prática do facto voluntário, ilícito e culposo por ele
praticado, mas apenas e só “pelos danos resultantes da violação”. Sendo assim, importa
saber que danos sofridos pelo lesado poder-se-ão considerar como causados pelo facto
praticado pelo lesante, colocando-se o problema atinente ao nexo da causalidade entre
este e aqueles. A este respeito, existem duas doutrinas fundamentais:
1. Doutrina da equivalência das condições (conditio sine qua non): De acordo com a
doutrina da equivalência das condições, todos os factos sem os quais o dano não se teria
produzido são a sua causa.
→ Crítica: A doutrina da equivalência das condições, apesar de constituir o ponto de
partida da doutrina da causalidade adequada, à qual se adere, é excessivamente
responsabilizante para o lesante.
2. Doutrina da causalidade adequada: De acordo com a doutrina da causalidade
adequada, todos os factos que, segundo um juízo de prognose póstuma fundamentado
nas regras normais da experiência e da vida, sejam idóneos para produzir o dano são a
sua causa. Para apurar essa idoneidade, importa estabelecer a seguinte distinção:
- Formulação positiva: Para alguns autores, o facto será idóneo para produzir o dano
se este for uma consequência normal ou típica do facto praticado.
-» Exemplo: A deixa, por breves momentos, uma criança sozinha em casa. Contra
os seus hábitos, a criança vai para a cozinha, onde sofre um acidente grave. De acordo
com esta formulação, o abandono da criança por parte de A não será considerado causa
adequada do dano.
- Formulação negativa: Para outros autores, o facto não será idóneo para produzir o
dano se o facto se mostrar de todo em todo indiferente para produzir o dano, tendo-o
apenas produzido em virtude de circunstâncias anómalas, anormais, extraordinárias.
-» Exemplo: A deixa, por breves momentos, uma criança sozinha em casa. Contra
os seus hábitos, a criança vai para a cozinha, onde sofre um acidente grave. De acordo
com esta formulação, o abandono da criança por parte de A será considerado causa
adequada do dano.
Nota fundamental:
A formulação positiva aplica-se na responsabilidade objetiva. A formulação
negativa aplica-se na responsabilidade subjetiva.
6.3.2 Titularidade do direito à indemnização
Tem direito à indemnização o titular do direito violado ou do interesse lesado pela
violação da disposição legal que o direta e imediatamente protege. Excecionalmente,
porém, podem ter direito à indemnização também ou apenas terceiros (493º-A CC, 495º
CC e 496º CC).
6.3.3 Prescrição do direito à indemnização
De acordo com o artigo 498º, n. 1 CC, o direito à indemnização prescreve no prazo de 3
anos, a contar da data em que o lesado teve conhecimento do direito que lhe compete,
embora com desconhecimento da pessoa do responsável e da extensão integral dos
danos, sem prejuízo da prescrição ordinária se tiver decorrido o respetivo prazo (20
anos (309º CC)), a contar do facto danoso.
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Esquema de resolução de casos práticos:


1 Modalidade de responsabilidade civil
2 Pressupostos em abstrato e a sua verificação em concreto
3 Titularidade do direito à indemnização
4 Prescrição do direito à indemnização 18
6.3 Responsabilidade objetiva
6.3.1 Responsabilidade do comitente
Para que haja responsabilidade objetiva do comitente, cujo fundamento radica na ideia
de que o comitente intervém como um garante da indemnização perante o lesado
(devido à suficiência económica do seu património e ao facto de o comissário realizar a
comissão sob a sua direção), exige-se a verificação cumulativa dos seguintes requisitos:
1) Existência de uma relação de comissão: É necessário que haja uma relação de
dependência ou de subordinação, com caráter duradouro ou meramente ocasional, entre
o comitente e o comissário em que aquele tem um poder de escolha, um poder de
direção e um poder de vigilância sobre este sobre o qual recai um dever de obediência.
2) Prática de facto pelo comissário no exercício das suas funções: É necessário que o
comissário pratique um facto ilícito danoso no exercício das suas funções, não
importando se intencionalmente ou contra as instruções do comitente (500º, n. 2 CC). A
este propósito, importa estabelecer a seguinte distinção:
- Factos praticados pelo comissário no exercício das suas funções: Por estes factos,
responde o comitente objetivamente e o comissário subjetivamente.
-» Exemplo: A, trabalhador, fura o olho a B.
- Factos praticados pelo comissário fora do exercício das suas funções: Por estes factos,
o comitente não responde e o comissário responde subjetivamente ou objetivamente.
-» Exemplo: A, carteiro, conduz o carro dos correios num fim-de-semana para levar
a sua namorada à praia e tem um acidente.
- Factos praticados no quadro geral de competências do comissário: Por estes factos,
responde o comitente objetivamente e o comissário subjetivamente.
-» Exemplo: A dirige-se à caixa de um banco e solicita informações sobre câmbios.
B, funcionário do banco, presta-lhe uma informação errada, causando-lhe prejuízos.
- Factos praticados por ocasião do exercício das suas funções: Por estes factos, o
comitente não responde e o comissário responde subjetivamente ou objetivamente.
-» Exemplo: A dirige-se à caixa de um banco para depositar dinheiro. B, funcionário
do banco, aproveita que está de serviço e furta-a.
3) Culpa do comissário: É necessário que haja culpa do comissário. Sendo assim, o
comitente só responde objetivamente, ou seja independentemente de culpa, quando o
lesado prove a culpa do comissário ou quando o comissário não consiga ilidir a
presunção legal de culpa que sobre ele recai quando estejam em causa danos causados
por acidente de viação terrestre ocorrido no exercício das suas funções (503º, n. 3,
primeira parte CC).
Havendo culpa do comitente Não havendo culpa do comitente
Havendo culpa do Responsabilidade solidária do Responsabilidade subjetiva do
comissário comitente (culpa in eligendo, comitente e responsabilidade
culpa in instruendo, culpa in objetiva do comissário. Se o
vigilando) e do comissário, comitente satisfizer a
sendo o montante da indemnização integral tem um
indemnização repartido na direito de regresso contra o
proporção das respetivas comissário, podendo dele exigir
culpas (500º, n. 3 CC, o reembolso de tudo quanto haja
conjugado com 497º, n. 2 CC). pago (500º, n. 3 CC).
Não havendo culpa do Responsabilidade subjetiva do -
comissário comitente (culpa in eligendo,
culpa in instruendo, culpa in
vigilando).

19
6.3.2 Responsabilidade do Estado e demais pessoas coletivas públicas por atos de
gestão privada dos órgãos, agentes e representantes
De acordo com o artigo 501º CC, o Estado e demais pessoas coletivas públicas, quando
haja danos causados a terceiro pelos seus órgãos, agentes ou representantes no exercício
de atividades de gestão privada (ou seja, quando surgem despidos do seu ius imperium
(poder de emanar comandos vinculativos, executáveis pela força, contra aqueles a quem
se dirigem)), respondem civilmente por esses danos nos termos em que os comitentes
respondem pelos danos causados pelos seus comissários.
6.3.3 Responsabilidade por danos causados por animais
De acordo com o artigo 502º CC, quem no seu próprio interesse (1) utilizar (2)
quaisquer animais responde pelos danos que eles causarem, desde que os danos
resultem do perigo especial que envolve a sua utilização (3). Sendo assim, para que haja
responsabilidade objetiva do detentor do animal, cujo fundamento radica no risco
(“perigo especial”) que a sua utilização envolve e que deve ser suportado por aquele que
dela obtenha benefícios, exige-se a verificação cumulativa dos seguintes requisitos:
1) Detentor do animal: Quem utiliza quaisquer animais no seu próprio interesse é
designado por detentor. No que diz respeito à qualificação de detentor do animal,
importa distinguir as seguintes situações:
- Se A, dono do animal, se ausenta por tempo indeterminado e pede a B que guarde o
animal, e este cause danos, A responderá nos termos do artigo 502º CC e B poderá
responder nos termos do artigo 483º, n. 1 CC, se não conseguir ilidir a presunção legal
de culpa que sobre ele recai e que consta do artigo 493º, n. 1 CC.
- Se A, dono do animal, o aluga ou empresta a B, e ele cause danos, tanto A como B
responderão nos termos do artigo 502º CC, pois ambos o utilizam no próprio interesse.
2) Utilização do animal no seu próprio interesse: O artigo 502º CC não se confunde
com o artigo 493º, n. 1 CC. Enquanto que o artigo 502º CC estabelece a
responsabilidade pelo risco do detentor que utiliza quaisquer animais no seu próprio
interesse, o artigo 493º, n. 1 CC estabelece uma presunção legal de culpa que recai
sobre o vigilante do animal no âmbito da responsabilidade subjetiva.
-» Exemplo: A trata de cavalos e utiliza-os para o exercício de uma atividade
profissional. Se os cavalos causarem danos, esta situação cairá no âmbito do artigo 502º
CC. Porém, A não deixa de ter também um dever de vigilância sobre os cavalos. Por
conseguinte, conclui-se que podem existir situações que caem no âmbito normativo dos
dois artigos, podendo o lesado socorrer-se de um ou de outro. Por norma, deverá
socorrer-se do artigo 502º CC, uma vez que, assim, o lesante não poderá ilidir a
presunção de culpa que sobre ele recairia se se socorresse do artigo 493º, n. 1 CC.
3) Danos provenientes do perigo especial do animal: O detentor do animal não
responde por todos os danos que a sua utilização envolva, mas apenas por aqueles que
resultem do perigo especial que essa utilização envolve (ex. um coice de um cavalo,
uma marrada de um boi, uma mordidela de um cão, etc.).
6.3.4 Responsabilidade por acidentes de viação terrestre
1. Pressupostos da responsabilidade por acidentes de viação terrestre
De acordo com o artigo 503º, n. 1 CC, aquele que tiver a direção efetiva de qualquer
veículo de circulação terrestre e o utilizar no seu próprio interesse (1), responde pelos
danos provenientes dos riscos próprios do veículo (2), mesmo que este não se encontre
em circulação. Sendo assim, para que haja responsabilidade objetiva do detentor do
veículo, cujo fundamento radica no risco (“riscos próprios do veículo”) que a sua
utilização envolve e que deve ser suportado por aquele que dela obtenha benefícios,
exige-se a verificação cumulativa dos seguintes requisitos:

20
1) Detentor do veículo de circulação terrestre: Pelos danos que o veículo de
circulação terrestre causar, responde o detentor do veículo, ou seja, aquele que tiver
direção efetiva e interesse próprio na sua utilização.
- Direção efetiva do veículo de circulação terrestre: Tem direção efetiva do veículo
de circulação terrestre a pessoa que, de facto, goza das vantagens que ele propicia e, por
essa razão, lhe cabe mantê-lo em boas condições de segurança e de conservação.
- Interesse próprio na utilização do veículo de circulação terrestre: Tem interesse
próprio na utilização do veículo de circulação terrestre a pessoa que retira dessa
utilização uma determinada vantagem (interesse egoístico) ou que deixa outrem retirar
da sua utilização uma determinada vantagem (interesse altruístico).
No que diz respeito à qualificação de detentor do veículo de circulação terrestre,
importa distinguir as seguintes situações:

Relação de comissão:
No âmbito das relações de comissão, o comissário pode causar danos por acidente
de viação terrestre. Neste caso, importa estabelecer a seguinte distinção:
1) Se o comissário praticar um facto ilícito danoso no exercício das suas funções ou
que se enquadre no quadro geral das suas competências, ele não será considerado
como detentor do veículo (pois não tem interesse próprio na utilização do veículo),
caindo tal situação no âmbito normativo do artigo 500º CC.
- Havendo culpa do comissário (não sendo a presunção legal de culpa do artigo
503º, n. 3 CC ilidida mediante prova em contrário pelo comissário) e não havendo
culpa do comitente, o comitente responderá objetivamente e o comissário
responderá subjetivamente. Havendo culpa do comissário e havendo culpa do
comitente, o comitente e o comissário responderão solidariamente.
- Não havendo culpa do comissário (sendo a presunção legal de culpa do artigo
503º, n. 3 CC ilidida mediante prova em contrário pelo comissário) e não havendo
culpa do comitente, nem o comitente, nem o comissário responderão nos termos do
artigo 500º CC; mas o comitente poderá responder nos termos do artigo 503º CC,
pois é considerado como detentor (tem direção efetiva e interesse próprio na
utilização do veículo). Não havendo culpa do comissário e havendo culpa do
comitente, o comitente responderá subjetivamente.
2) Se o comissário praticar um facto ilícito danoso fora do exercício das suas
funções ou por ocasião do exercício das suas funções, ele será considerado como
detentor do veículo (pois tem direção efetiva e interesse próprio na utilização do
veículo), caindo tal situação no âmbito normativo do artigo 503º CC.
- Havendo culpa do comissário e não havendo culpa do comitente, o comitente
não será responsável e o comissário responderá subjetivamente. Havendo culpa do
comissário e havendo culpa do comitente, o comitente e o comissário responderão
solidariamente.
- Não havendo culpa do comissário e não havendo culpa do comitente, o
comitente não será responsável e o comissário responderá nos termos do artigo 503º
CC. Não havendo culpa do comissário e havendo culpa do comitente, o comitente
responderá subjetivamente e o comissário responderá objetivamente.
Nota fundamental: Justifica-se que sobre o comissário que cause danos por
acidente de viação terrestre no exercício das suas funções recaia a presunção legal
de culpa que consta do artigo 503º, n. 3, primeira parte CC, uma vez que:
1. Há um afrouxamento da vigilância no que toca à conservação do veículo por parte
do comitente (não está em contacto diário com o veículo) e do comissário (não zela
pela conservação do veículo com a diligência requerida, pois o veículo não é seu).
2. Frequentemente, há fadiga do comissário, quer porque o comitente não pretende
admitir mais pessoal, quer porque o comissário quer melhorar a sua remuneração. 21
3. Na maior parte dos casos, os comissários são condutores profissionais, sendo-lhes
mais fácil ilidir a presunção legal de culpa que sobre eles recai.
Contrato de aluguer ou de comodato:
Se o proprietário de um veículo de circulação terrestre decidir celebrar um contrato
de aluguer ou de comodato com terceiro, importa estabelecer a seguinte distinção:
1) No caso de aluguer, tanto o locador, como o locatário poderão ser qualificados
como detentores do veículo, uma vez que ambos têm a sua direção efetiva e
interesse próprio na sua utilização. Sendo assim, ambos respondem solidariamente.
2) No caso de comodato, importa distinguir duas situações:
- Se o comodato for de curta duração, tanto o comodante, como o comodatário
poderão ser qualificados como detentores do veículo, uma vez que ambos têm a sua
direção efetiva e interesse próprio na sua utilização. Sendo assim, ambos respondem
solidariamente.
- Se o comodato for de longa duração, apenas o comodatário poderá ser
qualificado como detentor do veículo, uma vez que só ele tem a sua direção efetiva.
Sendo assim, apenas o comodatário responderá objetivamente.

2) Danos provenientes dos riscos próprios do veículo: O detentor do veículo de


circulação terrestre só responde objetivamente pelos danos provenientes dos riscos
próprios do veículo, mesmo que este não se encontre em circulação. A este propósito,
importa estabelecer a seguinte distinção:
- Riscos ligados ao veículo enquanto máquina (falha repentina do sistema de travagem,
rebentamento de um pneu, estilhaçar de um vidro, etc.)
- Riscos ligados ao condutor (desmaio, quebra súbdita de tensão, ataque cardíaco, etc.)
- Riscos ligados ao meio de circulação (nevoeiro, óleo na estrada, etc.)
2. Titulares do direito à indemnização
De acordo com o artigo 504º, n. 1 CC, a responsabilidade pelos danos causados por
acidentes de viação aproveita a terceiros (pessoas que estão fora do veículo) bem como
às pessoas transportadas (pessoas que estão dentro do veículo). Relativamente a estas
pessoas, importa estabelecer a seguinte distinção:
- 504º, n. 2 CC: No caso de transporte remunerado, a responsabilidade abrange os
danos que atinjam a própria pessoa e as coisas por ela transportadas.
O transporte é remunerado quando à prestação do detentor do veículo corresponde
uma contraprestação por parte da pessoa transportada.
- 504º, n. 3 CC: No caso de transporte gratuito, a responsabilidade abrange os danos
que atinjam a própria pessoa, mas já não as coisas por ela transportadas. Para que seja
igualmente ressarcida pelos danos causados a estas coisas, a pessoa transportada deverá
provar que há responsabilidade subjetiva por parte do detentor do veículo.
O transporte é gratuito quando à prestação do detentor do veículo não corresponde
nenhuma contraprestação por parte da pessoa transportada.

3. Exclusão da responsabilidade
De acordo com o artigo 505º CC, sem prejuízo do disposto no artigo 570º CC, a
responsabilidade fixada pelo artigo 503º, n. 1 CC só é excluída quando o acidente for
imputável ao próprio lesado ou a terceiro, ou quando resulte de causa de força maior
estranha ao funcionamento do veículo (ou seja, de acontecimento imprevisível que
causa danos inevitáveis). Este artigo levantou uma controvérsia na doutrina:
- Posição tradicional: De acordo com a posição tradicionalista, adotada por Antunes
Varela, a responsabilidade objetiva do detentor do veículo de circulação terrestre só
seria excluída quando o acidente fosse devido a um facto culposo do lesado ou de
terceiro. Já não seria excluída se o acidente fosse devido a um facto culposo do detentor
do veículo de circulação terrestre e a um facto culposo do lesado ou de terceiro.

22
- Posição atualista: De acordo com a posição atualista, adotada por Calvão da Silva,
a responsabilidade objetiva do detentor do veículo de circulação terrestre só seria
excluída quando o acidente fosse única e exclusivamente devido a um facto culposo
(dolo ou negligência) do lesado ou de terceiro. Já não seria excluída se o acidente fosse
devido ao risco próprio do veículo e a um facto culposo do lesado ou de terceiro.
→ Posição adotada: O Curso adota a posição atualista, devendo entender-se que a
responsabilidade objetiva do detentor do veículo de circulação terrestre será excluída
quando o acidente for devido única e exclusivamente a um facto culposo do lesado ou
de terceiro, ou quando resulte de uma causa de força maior estranha ao funcionamento
do veículo (505º CC). A responsabilidade objetiva do detentor do veículo de circulação
terrestre já não será excluída se o acidente for devido ao risco próprio do veículo e a um
facto culposo do lesado ou de terceiro, cabendo ao tribunal determinar, com base na
gravidade das culpas de ambas as partes e das consequências que delas resultaram, se a
indemnização deve ser totalmente concedida, reduzida ou mesmo excluída (570º CC).
4. Colisão de veículos
Em matéria de acidentes de viação, é muito frequente que dois veículos colidam em
circulação ou que um veículo em circulação abalroe outro que esteja parado. A este
respeito, importa distinguir as seguintes situações:
- Havendo culpa de ambos os condutores, cada um deles responde subjetivamente pelos
danos causados pelo facto que praticaram, admitindo a lei o concurso de culpas.
- Havendo apenas culpa de um dos condutores, o condutor culposo responde
subjetivamente e o condutor não-culposo responde objetivamente, admitindo a lei o
concurso da culpa com o risco próprio do veículo.
→ Em caso de dúvida, considera-se igual a medida da contribuição da culpa de cada um
dos condutores.
- Não havendo culpa de nenhum dos condutores, mas tendo apenas um dos veículos
contribuído para a produção dos danos, responde o respetivo condutor.
- Não havendo culpa de nenhum dos condutores, mas tendo os dois veículos contribuído
para a produção dos danos, somam-se todos os danos provenientes da colisão e reparte-
se a responsabilidade na proporção em que o risco de cada um dos veículos tiver
contribuído para a produção dos danos.
→ Em caso de dúvida, considera-se igual a medida da contribuição de cada um dos
veículos para a produção dos danos.
5. Limites da responsabilidade
De acordo com o artigo 508º, n. 1 CC, a indemnização fundada em acidente de viação
terrestre, quando não haja culpa do responsável, tem como limite máximo o capital
mínimo do seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel.
6. Responsabilidade solidária
- No plano das relações externas (responsáveis e lesado), os responsáveis respondem
solidariamente perante o lesado (507º, n. 1 CC).
- No plano das relações internas (responsáveis entre si), importa estabelecer a seguinte
distinção:
1. Havendo apenas culpa de um dos condutores, importa distinguir duas situações:
- Se o condutor culposo satisfizer a indemnização integral, não terá direito de
regresso contra o condutor não-culposo.
- Se o condutor não-culposo satisfizer a integração integral, terá direito de regresso
contra o condutor culposo.
2. Não havendo culpa de nenhum dos condutores, a obrigação de indemnização
reparte-se de harmonia com o interesse de cada um na utilização do veículo.

23
6.3.5 Responsabilidade civil do produtor
1. Pressupostos da responsabilidade civil do produtor
De acordo com o artigo 1º do Decreto-Lei n. 383/89, de 6 de Novembro, o produtor
(1) é responsável, independentemente de culpa, pelos danos causados por defeitos (3)
dos produtos (2) que põe em circulação (4). Sendo assim, para que haja
responsabilidade objetiva do produtor, cujo fundamento radica na ideia de que o
produtor intervém como um garante da indemnização perante o lesado, exige-se a
verificação cumulativa dos seguintes pressupostos:
1) Produtor: Existem várias categorias de produtor:
- Produtor real: O produtor real é aquele que intervém no processo produtivo do produto
final, de uma parte componente ou de matéria-prima (2º, n. 1, primeira parte DL).
-» Exemplo: A constrói um avião com janelas produzidas por B, com as portas
produzidas por C com as matérias-primas exploradas por D. Neste caso, A é produtor
real do avião, B das janelas, C das portas e D das matérias-primas que compõem as
portas. Se A constrói o avião com um defeito que cause danos, A será responsável
objetivamente. Se A constrói o avião com as portas de B que têm um defeito que cause
danos, tanto A como B serão responsáveis objetivamente.
- Produtor aparente: O produtor aparente é aquele que, apesar de não intervir no
processo produtivo do produto final, de parte componente ou de matéria-prima, apõe-
lhe a sua marca ou outro sinal distintivo (2º, n. 1, segunda parte DL).
-» Exemplo: Os produtos do Continente são produzidos por um produtor real, mas é
o Continente que lhe apõe a sua marca. Sendo assim, se o produto tiver um defeito que
cause danos, o Continente será responsável objetivamente.
Nota fundamental:
O produtor aparente pode exonerar-se, recorrendo a técnicas de marketing e se
apresentar aos olhos do público como distribuidor.
- Produtor presumido: Dentro do produtor presumido, importa estabelecer a seguinte
distinção:
-» Produtor absolutamente presumido ((re)importador comunitário): O produtor
absolutamente presumido é aquele que, no âmbito de uma atividade económica, importa
produtos de países terceiros à União Europeia e os coloca numa cadeia económica de
distribuição (2º, n. 2, al. a) DL).
-» Exemplo 1: A importa automóveis da China e coloca-os à venda no mercado
económico europeu. Se os produtos tiverem um defeito que cause danos, A será
responsável objetivamente.
-» Exemplo 2: A exporta têxtil para a China e importa vestidos da China e coloca-
os à venda no mercado económico europeu. Se os produtos tiverem um defeito que
cause danos, A será responsável objetivamente.
Nota fundamental:
Esta presunção é absoluta, ou seja, inilidível.
-» Produtor relativamente presumido (fornecedor de produto anónimo): O produtor
relativamente presumido é aquele que, aos olhos do público, pode ser tido como
produtor (2º, n. 2, al. b) DL).
-» Exemplo: A vende laranjas no bairro em que vive, sem identificar o seu
produtor real. Se as laranjas tiverem um defeito que cause danos, A será responsável
objetivamente, salvo se ilidir a presunção legal de culpa que sobre ele recai.
Nota fundamental:
Esta presunção é relativa, ou seja, ilidível comunicando por escrito ao lesado, no
prazo de três meses, a contar da data em que é notificado, a identidade do produtor
real ou fornecedor precedente. 24
2) Produto: De acordo com o artigo 3º, n. 1 DL, entende-se por produto qualquer coisa
móvel, ainda que incorporada noutra coisa móvel ou imóvel.
-» Exemplo 1: A constrói uma casa defeituosamente, mas com bons materiais. Neste
caso, não há responsabilidade civil do produtor, uma vez que se está perante uma coisa
imóvel; pode haver, no entanto, responsabilidade subjetiva de A.
-» Exemplo 2: A construi uma casa com janelas defeituosas. Neste caso, há
responsabilidade civil do produtor, uma vez que se está perante coisas móveis
incorporadas numa coisa imóvel.
3) Defeito: De acordo com o artigo 4º DL, um produto é defeituoso quando não oferece
a segurança com que legitimamente um adquirente medianamente prudente, razoável e
diligente pode contar, tendo em atenção todas as circunstâncias, designadamente a sua
apresentação, a utilização que dele razoavelmente possa ser feita e o momento da sua
entrada em circulação.
De acordo com o artigo 4º, n. 2 DL, não se considera defeituoso um produto pelo
simples facto de posteriormente ser posto em circulação outro mais aperfeiçoado.
-» Exemplo: Os carochas velhos não se tornaram defeituosos (não passaram a ser
inseguros) só porque foram postos em circulação carochas novos.
São quatro os tipos de defeito que foram construídos doutrinalmente e são seguidos na
jurisprudência:
1. Defeito de conceção: O defeito de conceção é aquele que ocorre no momento da
conceção (na criação ou no projeto) do produto.
-» Exemplo: A, engenheiro, projeta mal um automóvel, sendo produzido com um
defeito que causa danos. Está-se perante um dano de conceção que atinge todos os
automóveis da série (é originário).
2. Defeito de fabrico: O defeito de fabrico é aquele que ocorre na fase de execução do
projeto do produto e que normalmente ocorre em certas linhas de produção, mas não
tem de ocorrer em todas as linhas de produção.
-» Exemplo: A tem uma fábrica com duas linhas de produção, ocorre um defeito
numa delas e o defeito só é detetado ao comparar os produtos da linha de produção não-
afetada com os produtos da linha de produção afetada (pode ser originário).
3. Defeito de informação: O defeito de informação é aquele que decorre da falta de
informação no momento em que entra em circulação ou da eventual incorreção posterior
de informação sobre a utilização do produto.
4. Defeito de desenvolvimento: O defeito de desenvolvimento é aquele que já existe no
momento em que o produto entra em circulação, mas que não é detetável pelo estado
dos conhecimentos científicos e técnicos que existem à data da entrada em circulação do
produto.
Nota fundamental:
A noção de produto defeituoso consagrada no artigo 4º DL não se confunde com a
noção de coisa defeituosa consagrada nos artigos 913º e ss. CC.
- Para efeitos do DL, um produto defeituoso é aquele que não oferece a segurança
com que legitimamente um adquirente mediano pode contar.
- Para efeitos dos artigos 913º e ss. CC, uma coisa defeituosa é aquela que é inapta
ou inidónea para o fim a que se destina.
-» Exemplo: A adquire uma chupeta que, apesar de ser apta ou idónea para o fim
a que se destina, foi produzida com uma substância que causa alergia ao bebé. Neste
caso, não se aplica o regime dos artigos 913º e ss. CC, mas sim o regime da
responsabilidade civil do produtor constante do DL.

25
4) Momento da entrada em circulação: O momento da entrada em circulação é o
momento em que o produtor lança livre e conscientemente um produto numa cadeia
económica de distribuição.
-» Exemplo: Nos laboratórios de uma empresa está a ser preparado, ainda em fase de
testes, um determinado químico. A certa altura, um terceiro, estranho ao laboratório,
entra, ocorre uma explosão e o químico lança-se à cara desse terceiro, provocando-lhe
queimaduras graves. Neste caso, não há responsabilidade civil do produtor, uma vez que
o produto ainda não foi lançado numa cadeia económica de distribuição; pode, todavia,
haver responsabilidade subjetiva da empresa.
2. Exclusão da responsabilidade
De acordo com o artigo 5º DL, o produtor não é responsável, se provar:
al. a) Que não pôs o produto em circulação.
al. b) Que, tendo em conta as circunstâncias, se pode razoavelmente admitir a
inexistência do defeito no momento da entrada do produto em circulação.
al. c) Que não fabricou o produto para venda ou qualquer outra forma de distribuição
com um objetivo económico, nem o produziu ou distribuiu no âmbito da sua atividade
profissional.
al. d) Que o defeito é devido à conformidade do produto com normas imperativas
estabelecidas pelas autoridades públicas.
al. e) Que o estado dos conhecimentos científicos e técnicos, no momento em que pôs o
produto em circulação, não permita detetar a existência do defeito.
al. f) Que, no caso de parte componente, o defeito é imputável à conceção do produto
em que foi incorporada ou às instruções dadas pelo fabricante do mesmo.
3. Concurso do lesado e de terceiro
Quando um facto culposo do lesado tiver concorrido para o dano, pode o tribunal, tendo
em conta todas as circunstâncias, reduzir ou excluir a indemnização (7º, n. 1 DL).
Quando a intervenção de terceiro tiver concorrido para o dano, a responsabilidade do
produtor não é reduzida (7º, n. 2 DL).
4. Responsabilidade solidária
- No plano das relações externas (responsáveis e lesado), os responsáveis respondem
solidariamente perante o lesado (6º, n. 1 DL, conjugado com o artigo 507º, n. 1 CC).
- No plano das relações internas (responsáveis entre si), deve atender-se às
circunstâncias, em especial ao risco criado por cada responsável, à gravidade da culpa
com que eventualmente tenha agido e à sua contribuição para o dano (6º, n. 2 DL).
→ Em caso de dúvida, a repartição da responsabilidade faz-se em partes iguais.

Nota fundamental:
A gestão de negócios, o enriquecimento sem causa e a responsabilidade civil
extracontratual e contratual são fontes legais de obrigações!

7. Modalidades de obrigações
7.1 Obrigações conjuntas e obrigações solidárias
Quanto aos sujeitos, importa estabelecer a seguinte distinção:
- Obrigação singular: A obrigação é singular quando de cada lado da relação
obrigacional surge apenas uma pessoa (um só credor e um só devedor).
-» Exemplo: A é credor de B e B é devedor de A.
- Obrigação plural: A obrigação é plural quando de cada lado da relação obrigacional
surgem mais do que uma pessoa.
-» Exemplo: A e B são credores de C. E e F são devedores de D.

26
Dentro das obrigações plurais, importa estabelecer a seguinte distinção:
- Obrigação conjunta: Em regra, as obrigações plurais são conjuntas. A obrigação é
conjunta quando os credores só podem exigir de cada um dos devedores a respetiva
quota-parte da prestação integral. Sendo assim, cada um dos devedores responde
individualmente pela sua quota-parte da prestação integral.
-» Exemplo: A tem um crédito no valor de 100€ sobre B e C. Apura-se que B é
responsável na medida de 20 e C é responsável na medida de 80. A só pode exigir 20€ a
B e 80€ a C.
- Obrigação solidária: Excecionalmente (513º CC), as obrigações plurais são
solidárias. A obrigação é solidária quando os credores podem exigir de cada um dos
devedores a prestação integral (519º, n. 1 CC). Sendo assim, o devedor que responder
pelo montante da prestação integral, extingue a obrigação e libera todos os outros
devedores perante o credor comum (efeito extintivo recíproco comum). No entanto, o
devedor que satisfazer o direito do credor além da parte que lhe competir tem direito de
regresso contra cada um dos condevedores, na parte que a estes compete (524º CC).
-» Exemplo: A tem um crédito no valor de 100€ sobre B e C. Apura-se que B é
responsável na medida de 20 e C é responsável na medida de 80. No plano das relações
externas (entre A (credor) e B e C (devedores solidários)), A pode exigir 100€ de B ou
100€ a C. O devedor que entregar 100€ a A, extingue a obrigação e libera o outro
devedor perante o credor comum. No plano das relações internas (entre B e C), sendo
que B é responsável na medida de 20, ele terá direito de regresso contra C, podendo-lhe
exigir o reembolso daquilo que excedeu (80).
→ De acordo com o artigo 516º CC, não existindo uma efetiva repartição de quotas de
responsabilidade, presume-se que a comparticipação nas dívidas é igual.
Os devedores solidários, quando demandados pelo credor, podem opor a este os
seguintes meios de defesa (514º, n. 1 CC):
- Meios de defesa comuns: Os meios de defesa comuns reportam-se à relação
obrigacional ou à pessoa do credor e podem ser invocados por qualquer dos devedores
solidários quando demandados pelo credor (ex. nulidade/anulabilidade de negócio
jurídico, mora do credor).
- Meios de defesa pessoais: Os meios de defesa pessoais reportam-se à pessoa do
devedor e só podem ser invocados pelo devedor solidário a que dizem respeito. Dentro
dos meios de defesa pessoais, importa estabelecer a seguinte distinção:
- Meios de defesa pessoais que aproveitam ao devedor solidário que os invoca e
prejudicam os outros devedores solidários (ex. incapacidade).
-» Exemplo: Se, uma vez demandado pelo credor, o devedor A invoca que é
incapaz, tal meio de defesa pessoal aproveita a esse devedor no plano das relações
externas (fica exonerado de responder), mas prejudica o outro devedor B no plano das
relações internas (este tem que responder pela quota-parte de A).
- Meios de defesa pessoais que aproveitam ao devedor solidário que os invoca e
aproveitam aos outros devedores solidários (ex. compensação de créditos).
-» Exemplo: Se, uma vez demandado pelo credor, o devedor A invoca a
compensação de créditos, tal meio de defesa pessoal aproveita a esse devedor no plano
das relações externas (fica exonerado de responder) e aproveita ao outro devedor B no
plano das relações internas (extinguiu-se a obrigação).
-» Meios de defesa pessoais que aproveitam ao devedor solidário que os invoca, não
aproveitam aos outros devedores solidários, mas não os prejudicam (ex. prescrição).
-» Exemplo: Se, uma vez demandado pelo credor, o devedor A invoca a
prescrição do direito de crédito em relação a ele, tal meio de defesa pessoal aproveita a
esse devedor no plano das relações externas (dívida prescreveu), mas pode não ter

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prescrito em relação ao outro devedor, ao qual não aproveita (tem que responder pela
quota-parte de A) mas não prejudica (tem direito de regresso contra A (521º CC)) no
plano das relações internas.
7.2 Obrigações genéricas e obrigações específicas
Quanto ao objeto, importa estabelecer a seguinte distinção:
- Obrigações genéricas: A obrigação é genérica quando o objeto da prestação está
apenas determinado quanto ao género e quanto à quantidade.
-» Exemplo: A vende a B 100 litros de vinho e 50 quilos de batatas.
- Obrigações específicas: A obrigação é específica quando o objeto da prestação está
concretamente determinado.
-» Exemplo: A vende a B o cavalo X.
As obrigações genéricas tornam-se específicas no momento da sua concentração, ou
seja, quando o objeto da prestação se torna concretamente determinado. De acordo com
o artigo 540º CC, enquanto a prestação for possível em coisas do género estipulado, não
fica o devedor exonerado pelo facto de perecerem aquelas com que se dispunha a
cumprir. Isto significa que, em regra, a concentração das obrigações genéricas ocorre
com o cumprimento da mesma. No entanto, o artigo 541º CC consagra quatro causas de
concentração das obrigações genéricas que ocorrem antes do cumprimento:
- Acordo das partes
- Extinção do género a ponto de restar apenas uma das coisas nele compreendidas
- Mora do credor
- Envio para local diferente do lugar de cumprimento (797º CC)
O momento da concentração da obrigação genérica determina a transferência da
propriedade sobre a coisa objeto da obrigação e do risco. Isto significa que:
-» Exemplo 1: A tem 10 pipas de vinho na sua adega e B decide-lhe comprar a mais
velha. Por acordo das partes, a obrigação genérica tornou-se específica, tendo-se
transferido para a esfera jurídica de B a propriedade sobre a pipa e o risco. Sendo assim,
caso a pipa de vinho perecer em virtude de um incêndio, A fica exonerado de a entregar
(por impossibilidade objetiva de cumprimento) e B terá de suportar o prejuízo resultante
do seu perecimento, entregando o preço, caso ainda não o tenha feito, não podendo
exigir a restituição do preço, caso o já tivesse entregado.
-» Exemplo 2: A tem 10 pipas de vinho na sua adega e B decide-lhe comprar uma
delas. No entanto, ocorre um incêndio que destrói todas as pipas. Uma vez que não
ocorreu a concentração da obrigação genérica, mas pelo simples facto de, sem culpa
sua, se ter extinguido todo o género dentro do qual a prestação está compreendida, A
fica exonerado de a entregar, mas terá de suportar o prejuízo resultante do seu
perecimento, restituindo o respetivo preço a B, caso este o tenha entregado.
-» Exemplo 3: A tem 10 pipas de vinho na sua adega e B decide-lhe comprar uma
delas. No entanto, por culpa sua, ocorre um incêndio que destrói todas as pipas. Uma
vez que não ocorreu a concentração da obrigação genérica, mas pelo simples facto de,
por culpa de A, se ter extinguido todo o género dentro do qual a prestação está
compreendida, A não fica exonerado de a entregar e terá de suportar o prejuízo
resultante do seu perecimento, restituindo o respetivo preço a B, caso este o tenha
entregado.
-» Exemplo 4: A tem 10 pipas de vinho na sua adega e B decide-lhe comprar uma
delas. No entanto, ocorre um incêndio que destrói 8 pipas. Uma vez que não ocorreu a
concentração da obrigação genérica, A não fica exonerado de a entregar e terá de
suportar o prejuízo resultante do seu perecimento, restituindo o respetivo preço a B,
caso este o tenha entregado.

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8. Tipos de incumprimento
Modalidades de incumprimento quanto à causa:
- Incumprimento imputável ao devedor: Quando o devedor é imputável (tem culpa), é
responsável.
- Incumprimento não-imputável ao devedor: Quando o devedor não é imputável (não
tem culpa), fica exonerado. O devedor não é imputável quando há uma impossibilidade
absoluta de cumprimento que se desdobra:
- Impossibilidade objetiva: Nem o devedor, nem qualquer outro devedor no mundo
consegue realizar a prestação (790º CC).
- Impossibilidade subjetiva: O devedor não consegue realizar a prestação, mas
qualquer outro devedor conseguiria realizá-la (791º CC). Nestes casos, a
impossibilidade subjetiva só exonera o devedor quando esteja em causa uma prestação
infungível.
Modalidades de incumprimento quanto aos efeitos:
- Mora: Neste caso, o devedor atrasa-se a realizar a prestação, mas ainda pode vir a
realizá-la se o credor mantiver um interesse no cumprimento.
- Incumprimento definitivo: Neste caso, o devedor não realiza a prestação e já não a
pode realizar, uma vez que o credor perdeu o interesse no cumprimento.
- Cumprimento defeituoso: Neste caso, o devedor realiza a prestação, mas realiza-a
mal, uma vez que não a realiza de acordo com os ditames da boa-fé.

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