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Direito das obrigações II

20/2/2023

Dr. Filipe …

Bibliografia:

 Manual do Dr. Varela (continuação)


 Depois entraremos no segundo volume do Dr. Varela até à página cento e tal mas não
todas estas (sobre a responsabilidade civil do produtor se bem que a matéria do Dr.
Varela não está atualizada) mas vamos dar um resumo da tese do Dr. Calvão.

Vamos dar antes de passar para matéria de DO II:

 Contrato a favor de terceiros


 Contrato para pessoa a nomear
 Negócios unilaterais
 Gestão e enriquecimento (de vez em quando são dados nas DO I mas houve um
atraso)

Contrato a favor de terceiros

Este contrato está no artigo 443 e ss. (está na lei não só o seu regime como também a sua
admissibilidade porque neste contrato o que se vai passar é que nos encontramos perante um
contrato que produz não apenas efeitos entre as partes, mas também em relação a terceiros
(não tem meramente eficácia relativa)
Então há aqui uma erosão da regra da eficácia relativa dos contratos e portanto temos uma
relação contratual com uma estrutura algo complexa porque é um contrato em que intervêm
duas partes mas tem uma estrutura trilateral pelos seus efeitos relativamente a terceiros.

As partes deste contrato são o promitente e o promissário.


E depois temos um terceiro na qual esfera jurídica se vai produzir os efeitos do contrato do
terceiro. Mas terceiro é terceiro e é estranho à relação e mesmo que venha a aceitar o
benefício que foi criado a seu favor ou aceitar a extinção da obrigação a que estava vinculado
(figura da aceitação) ele nunca é parte do contrato e fica investido na titularidade do direito,
mas nunca é parte do contrato e partes são apenas o promitente e o promissário.

O contrato a favor de terceiro (noção): é aquele em que uma das partes (o promitente) se
obriga a realizar uma prestação a favor de terceiro à custa ou por conta do promissário.

Deste contrato resulta uma obrigação a favor de terceiro e é necessário um direito que o
benefício pode ser a constituição ou extinção tenha um nexo indissociável entre o contrato e o
direito ou beneficio criado a favor de terceiro.

Nesse contrato temos uma parte que é o promitente (o que se obriga a realizar prestação a
favor de terceiro mas realiza-o à custa ou a favor do promissário).
O que é à custa ou por conta do promissário? É este que vai propiciar os meios ou condições
materiais para que o promitente realize o beneficio.
Razão pela qual há uma relação entre o promitente e o comissário que se chama de relação de
cobertura ou de provisão.
Pois o promitente encontra as tais condições e meios a favor de terceiro no promissário.

A relação de cobertura ou provisão é entre promitente e promissário.

Mas podemos encontrar uma outra relação que é a relação de valuta que é a relação entre o
promissário e o terceiro.
Quem cria o benefício a favor de terceiro? O promissário, mas não o faz diretamente e de uma
forma indireta através do promitente e da prestação deste.
Reparando, nesta relação de valuta nós muitas vezes encontramos as razões justificativas para
a atribuição de benefícios do promissário a favor de terceiros e é nessa relação de valuta que
encontramos as causas e razões justificativas para essas atribuições de benefícios a favor de
terceiros pelo promissário.

Ex. típico: o seguro de vida, um contrato destes é um exemplo típico de contrato a favor de
terceiro e nós temos (dando um exemplo de seguro de vida) – A (tomador do seguro) celebra
com B (seguradora) um contrato de seguro nos termos do qual fica definido que se A (mas
pode também apenas não ser A) ou se o seu primo C vierem a falecer nessa circunstância
serão beneficiários deste seguro (será realizados uma prestação pecuniária previamente
convencionada) X os meus descendentes E, F, H, etc. ou até mesmo não descendentes (ex.: Tio
que seja solteiro e não tenha filhos)).
Então, se morrer o A ou o C; o E, o F, o H são os beneficiários que são terceiros (estranhos ao
contrato) a quem esses terceiros podem exigir diretamente a prestação convencionada a B
(seguradora)

Direitos de crédito que podem exigir diretamente do promitente à conta do promissário (este
que paga o prémio do seguro).
O terceiro não sendo parte do contrato tem um direito de crédito.
Só em termos de técnica de seguro que são das preocupações obrigacionistas temos o
promitente (segurador), o promissário (o tomador do seguro) e os terceiros (benificiários) e
em termos de técnica de seguro o promissário é o tomador e se ele morrer é o tomador do
seguro mas também segurado e se for ele mas não o C como foi estabelecido então o primo é
parte do contrato?
Não, mas é segurado (vê o seu risco segurado mas não é um terceiro coberto).

Mas isto é para efeitos de contrato de seguro, em contratos a favor de terceiro já está tudo
dito.

Para haver contrato a favor de terceiro, o terceiro passa a ter direito a um direito de crédito
perante o promitente e tem de haver um nexo indissociável entre o contrato e o direito criado
a favor de terceiro e por isso pode exigir diretamente a prestação ao promitente.

Agora pensemos em outro exemplo: dois filhos de uma senhora idosa acordam com uma
cabeleireira que uma vez por semana a mãe irá beneficiar dos serviços de cabeleireira da
senhora mas quem indica o dia da semana ou quem eventualmente desmarcar a ida ao
cabeleireira durante a semana são os filhos e portanto é um contrato com efeitos
relativamente a terceiros mas ela não tem direito a exigir a prestação à cabeleireira e é
beneficiário do acordo e da prestação de uma das partes mas não pode exigir e não tem esse
direito de crédito sendo estes os filhos (a contraparte da relação negocial).
Chama-se a este contrato um contrato autorizativo de prestação a terceiro

Temos um contrato a favor de terceiros, mas em que o beneficiário não tem direito de crédito.

Figuras próximas:

-Há outro tipo de contratos típicos que é o contrato de arrendamento que sendo celebrado
entre o senhorio e o arrendatário acaba por produzir efeitos relativamente a terceiros (ex.: Um
casal que tem um filho ou dois e neste caso temos as partes num contrato (senhorio e
arrendatário) e se o contrato é celebrado com o marido o titular do contrato é o marido e claro
que numa hipótese de morte transmite-se ao cônjuge para o titular de direito é um deles.
Reparemos que nesse imóvel passam a habitar os filhos ou quem eles entenderem e portanto
há efeitos reflexos a terceiros com a celebração deste contrato celebrados entre duas partes.
São beneficiários meramente reflexos e que não têm direito de crédito.

-Outra figura próxima é o contrato com eficácia para proteção de terceiros – é uma figura da
doutrina germânica na nossa doutrina estudada pelo Dr. Sines Monteiro muito e vamos ainda
falar deste noutras aulas e é uma construção dogmática e não está na lei assim como o
anterior apesar de este estar na lei (o arrendamento).
Neste estende-se efeitos em relação a terceiros e há quem chame este de filho menor do
contrato a favor de terceiros. No contrato a favor de terceiros temos a criação de um direito
de crédito que é conferido a um terceiro e estendem-se os efeitos das prestações principais a
terceiros.
Aqui a diferença é que estende-se relativamente a terceiros ao contrato os efeitos de deveres
secundários ou deveres de conduta (deveres inspirados no tal princípio da boa fé) e que uma
vez violados por uma das partes podem conferir uma indemnização aos terceiros (portanto
estranho aos contratos) que vejam a sua posição jurídica prejudicada por essa mesma
violação.
ex.: Um vendedor de obras de arte de um antiquário celebra um contrato com um técnico de
arte para que este ateste a autenticidade das peças e a sua qualidade e temos um vendedor de
arte que celebra um contrato com um técnico de arte.
E há uma peça que o técnico identifica como data do séc. XIX mas realmente veio a constatar
que aquela salva de prata é de meados do Séc.XX e não do séc.XIX e o que acontece é que
houve um contrato de pré-venda entre o antiquário e um cliente e veio comprar como sendo
uma salva do séc.XIX sendo que é do XX. Há aqui uma contrato de compra e venda entre o
antiquário e o comprador e sendo do Séc.XX e há problemas seja por um erro, coisa com
defeito sobre certa perspetiva e há meios que permitem ao comprador reagir contra o
vendedor (problema de responsabilidade contratual) mas a questão não é essa (meios da
relação contratual) e esta doutrina germânica entende que em tipos de situações destas o
terceiros estranho ao contrato de compra e venda poderá dirigir a sua pretensão
indemnizatória diretamente ao perito de arte, ou seja, porque o perito de arte quando deu o
seu parecer (dever de informação) que não deixa de ser de conduta ele tinha conhecimento e
senão tinha devia ter ou era facilmente cognoscível que aquele informação teria impacto no
circulo maior ou menor de clientes do antiquário e quando assim seja acaba por se estender os
efeitos da relação contratual relativamente aos terceiros e os terceiros não têm direito a
indemnização primeiramente mas se foram guiados por um parecer errôneo então podem ter.

Este contrato com eficácia de proteção a terceiros levanta alguns problemas:


-Se atribuímos o direito de indemnização ao terceiro aplicamos as regras da responsabilidade
contratual (mas ele é terceiro ao contrato) ou as regras de responsabilidade extracontratual
(como é terceiro) isto levanta duvidas e não podemos chegar a uma conclusão logo e
chegamos à conclusão que é uma regra de ninguém e vai depender de muitos fatores.

O terceiro é estranho ao contrato mas quando ele aceitar isso (o promissário através do
promitente criou direitos a favor de terceiro mas ninguém tem que aceitar direitos que lhe são
criados contra a sua vontade (a tal regra do contrato se queremos ou não) e além disso o
poder da renuncia dos direitos e o terceiro pode recusar mas pode aceitá-lo.
Mas se o aceitar não tem a qualidade de parte mas fica titular do direito desde o momento
que o direito é constituído e não desde a aceitação mas então se a aceitação constitui direito
desde que criado então tem interesse.
Sim porque até a aceitação o promissário pode livremente revogar o direito que criou. (447º e
448º)
O promitente quando lhe é exigido o cumprimento por terceiro pode invocar perante o
terceiro pode invocar certos meios de defesa para se exonerar da prestação (449º) mas esses
meios de defesa que ele invoca só podem ser meios de defesa inscritos na relação contratual
que existia entre ele e o promissário. E só pode invocar vícios daquela relação contratual e não
de outras realizadas com o promissário.
No ex.: da seguradora imaginemos que o tomador com a seguradora fez um seguro de riscos
de domicílio e um seguro obrigatório de seguro automóvel e outros vários e imaginemos que
há um vício no seguro de responsabilidade civil automóvel a seguradora pode exonerar-se com
base nesse vício para outro seguro? Não e só nos vícios dessa relação (449º) “derivados do
contrato, mas não daqueles que advenham de outra relação entre o promitente e o
promissário”.

Contrato para pessoa a nomear

Este contrato que realmente não é um contrato a favor de terceiro (apesar de haver um
terceiro metido a caminho) e vem logo a seguir do favor a terceiro no seu regime. (452º e ss).

Contrato nos termos da qual uma das partes celebra um contrato reservando a qualidade de
parte para outra pessoa (terceiro) mas na eventualidade dessa pessoa que é nomeada (o
eleito, electus) não aceitar a nomeação ela aceitará definitivamente a qualidade de parte.

“Vamos celebrar um contrato em que em princípio a parte não serei eu mas uma outra pessoa
Y mas se essa pessoa não aceitar a nomeação que eu faço e tu aceitas eu assumirei para mim a
qualidade de parte”.

Isto aqui é diferente do regime anterior pois no anterior o terceiro nunca é parte e aqui o
terceiro pode vir a ser parte se este o aceitar.

Também não há aqui uma procuração em que o terceiro tenha atribuído poderes para a
pessoa nomear o tal terceiro em seu nome e apenas são aceites a posição de parte pelo
terceiro se ele ratificar a nomeação e se este o fizer ele passa a ser o titular dos direitos e
obrigações desde o momento da celebração do contrato (efeitos retroativos) e não é um
fenómeno de representação, procuração e a favor de terceiros.
Isto é muito próximo da procuração mas isto pode justificar um contrato de pessoa a nomear
(imaginemos que somos próximos de alguém que sabemos que tem muito interesse na
compra de uma casa e é posta à venda e ele não está perto e o seu amigo não tem procuração
dele mas sabe que teria interesse e diz que “vai celebrar o contrato com reserva à pessoa A
que qunado o meu amigo vier e se quiser fica com a casa e senão quiser não tem problema
porque tenho interesse e fico eu com a casa e muitas vezes estes contratos celebram-se por
questões de ordem fiscal para evitar dupla transmissão porque nestes contratos só há uma
transmissão e não é como na procuração em que vai de A para b e depois de B para C e
civilmente só há uma transmissão aqui mas fiscalmente não será só uma em princípio.

No 453º estão os requisitos da nomeação:

“1. A nomeação deve ser feita mediante declaração por escrito ao outro contraente, dentro
do prazo convencionado ou, na falta de convenção, dentro dos cinco dias posteriores à
celebração do contrato.

2. A declaração de nomeação deve ser acompanhada, sob pena de ineficácia, do


instrumento de ratificação do contrato ou de procuração anterior à celebração deste. ”

Negócios unilaterais

Nós anunciámos no início do curso que íamos estudar as fontes voluntárias das obrigações
(contratos bilaterais, promessa, etc.) e antes de entrarmos nas fontes legais das obrigações (as
que nascem da lei) vamos falar dos negócios unilaterais e se são fontes voluntárias ou legais.

Já falamos deste negócios e distinguimos do contrato (são aqueles em que surgem obrigações
por declaração unilateral (alguém fica vinculado em fruto das declarações negociais que
proferiu esse sujeito (não se pode dizer pessoa porque não são unipessoais).
A pessoa fica vinculada a obrigação e não há a regra do contrato (estudamos o princípio do
contrato, o contrato social de Rosseau e os direitos e obrigações emergentes do contrato e
que vinculam as partes foram criados pelas partes (são autoras e destinatárias do que foi
criado (autovinculação).
E na lei há uma heterovinculação (quando se cria direitos ou obrigações numa lei somos
ouvidos ou achados para a criação da lei?) não.
Enquanto nos contratos é pela nossa vontade e criamos e somos destinatários de direitos e
obrigações.
Essa é a regra das fontes voluntárias obrigações.

Mas se dizemos que podem ser criadas obrigações através da declaração unilateral de alguém
admitimos a criação de direitos e obrigações através de negócios unilaterais e nesta apenas
intervém uma parte e não aquele em que apenas intervém uma pessoa mas sim uma parte.
Uma parte significa suporte de um interesse e essa parte suporte de interesse pode ser
partilhado por uma multiplidade de pessoas.
Podemos ter um negócio pluripessoal mas que é unilateral porque um negócio unilateral é
suporte de um interesse, interesse esse que pode ser partilhado por várias pessoas (não
confundir negócio unilateral com contrato unilateral).
A questão dos negócios unilaterais e a sua admissibilidade constitui um problema porque é
contra a regra do contrato e quais são os obstáculos à admissibilidade em termos gerais dos
negócios unilaterais?

-A ideia de que se podem livremente criar os direitos independentemente da vontade ou


contra a vontade dos seus destinatários e podem criar-se direitos por força da declaração do
alguém. Este argumento não é muito decisivo porque se se cria uma obrigação em conta de
alguém e, portanto, cria-se um direito para um destinatário e se os quiser recusar terá direito a
recusá-lo de modo a que há um outro obstáculo que se levanta à admissibilidade dos negócios
unilaterais em termos gerais.

-O declarante (autor da declaração) e que se vincula por força dessa mesma declaração ficar
irremediavelmente vinculado na sequencia dessa declaração negocial por si referida quando
mais tarde acabe por se querer desvincular-se dessa mesma vinculação que assumiu (alguém
ficar irremediavelmente vinculado por força dessa declaração não podendo vir a revoga-la
quando efetivamente mais tarde se venha a retratar (arrepender).

Com essas todas considerações (que têm a haver com a segurança do tráfego jurídico) diz-se
no artigo 457º que os negócios unilaterais só são fonte de obrigações nos casos especialmente
previstos na lei (temos aqui no 457º).
Podemos dizer que segundo a lei os negócios unilaterais são força geral de obrigações? Não.

Só nos casos específicos.


Ex. típico: testamento (mas reparemos que o testamento é um negócio unilateral mas que um
dos obstáculos era alguém (aquele que fez a declaração unilateral) ficar vinculado sem depois
poder revogar e é um dos problemas mas para reparar isso o testamento é livremente
revogável e portanto para evitar porque efetivamente é unilateral mas para que nos seja dada
a possibilidade de nos retratarmos a lei permite que este seja revogável.

Atenção: nunca dizer que a doação é um negócio unilateral sendo que é um contrato
unilateral (o donatário tem que aceitar).

Vamos dar nas obrigações um exemplo típico no 459º que é a promessa pública que é um
exemplo de negócio unilateral que damos aqui.

“1. Aquele que, mediante anúncio público (mass media, jornais, hoje redes sociais, etc.),
prometer uma prestação a quem se encontre em determinada situação ou pratique certo
facto, positivo ou negativo, fica vinculado desde logo à promessa. ”

Aqui a pessoa fica vinculada independentemente da aceitação e aqui é independentemente


porque é unilateral e não é preciso aceitação.

Ex.: há aquela coisa de prometer-se alviceras (recompensas) a quem cuide do seu animal e nos
postes da cidade muitas vezes procura-se o animal e muitas vezes promete-se um prémio e
isso basta para uma promessa pública e o achador do animal independentemente do
promitente conhecer ou não conhecer tem direito a exigir a prestação.

Outro ex.: promete-se prestação a quem se encontro em determinadas situação (ex.: promete-
se um enxoval de bebé à primeira criança que nascer na maternidade e tem direito a tal) e terá
direito de exigir a quem fez a promessa pública e pode haver promessas a favor de um grupo
de pessoas ou a uma instituição com fim determinado, etc.

Há duas coisa no 458º que levantam dúvidas sobre ser um negócio unilateral que é a
referência à promessa de cumprimento e ao reconhecimento de dívida.

Ex.: alguém que assina um papel nos termos do qual A promete entregar a mim a quantia de
5000 euros ou nesse papel reconhece que é devedor 5000 euros a B (temos aqui uma
promessa de cumprimento ou um reconhecimento de dívida, figuras próximas).
O 457º estabelece o princípio da tipicidade e o 459º é um negócio unilateral então o 458º seria
mas efetivamente não são negócios unilaterais.
Há uma declaração unilateral onde alguém diz x mas esta declaração não cria um direito a
favor de B (que devia receber a dívida ou o cumprimento) portanto não é fonte de obrigações
e então o que é que esta declaração faz? Cria uma situação de aparência (uma expectativa da
esfera jurídica de B que é titular de algum direito relativamente ao montante) mas essas
declarações criam apenas uma presunção ilidível da existência de uma relação fundamental da
qual emerge o direito.

Quando A promete 5000 euros a B ou que é devedor de B o que cria como aparência é que
houve alguma relação jurídica subjacente/fundamental entre eles que há de ter esse
sentido/dever de pagar-lhe 5000 euros e cria apenas uma presunção da existência de uma
relação prévia (fundamental ou subjacente) que há de ter criado, esta sim, uma relação.
Mas esta é uma presunção ilidível ou afastável mediante prova em contrário e no fundo
aquele que fez a declaração tem contra si esta presunção mas pode afastar ou ilidir esta
presunção dizendo que afinal aquela dívida não existe porque o contrato que a gerou é
inválido ou eficaz ou porque a situação de responsabilidade extracontratual que fez o direito já
prescreveu e a obrigação que teria surgido de uma relação fundamental padecia de algum
vício e já não existe e sendo de responsabilidade civil extracontratual já não tem e prescreveu
e assim consegue afastar a presunção.
Agora a declaração por si mesma não cria um direito e isto tem importância prática porque o
credor em termos gerais do ónus da prova (342º) tem que provar os elementos constitutivos
do seu direito e aqui já não tem que provar a existência da relação fundamental pois ela se
presume e há aqui um aligeiramento das exigências do ónus da prova que recaem sobre o
credor.

Respondendo à questão os negócios unilaterais são fontes de vontade ou legais?

Com a declaração temos então uma fonte de vontade mas só tem efeitos quando previsto na
lei (fonte legal) e portanto tem fonte de vontade (declaração) mas só produz efeitos quando
previsto na lei (fonte legal) e portanto é outra terra de ninguém.

Vamos então à gestão de negócios.

Ex.:Há poucos referimos o exemplo de alguém que sabe que o amigo queria muito comprar a
casa ali numa avenida e não tem procuração e é um negócio de urgência e celebra um
contrato com cláusula de pessoa a nomear mas ele pode intervir de outra forma, pode intervir
como gestor de negócios e se o vendedor aceitar ele pode vir a adquirir a casa para o amigo
como gestor de negócios que é uma solução pouco plausível e já vamos ver por aqui.
O vendedor à partida não vai celebrar alguém como gestor de negócios a não ser que o
conheça bem de outro.
Aqui entramos na fonte legal de obrigações e aqui a ótica é outra porque antes focavamos a
nossa atenção nos contratos (saber o que aquele contrato criou para as partes (tarefa
interpretativa) e agora temos que olhar para a lei (para surgir obrigações é preciso estarem
verificados os pressupostos legais e estarem todos preenchidos) e portanto temos agora que
saber os pressupostos legais para o surgimento da obrigação e se se verificam e verificados
surge a obrigação e que obrigação? A que a lei estabelecer . Na responsabilidade civil é
indemnizar; no enriquecimento sem causa é reestabelecer o enriquecimento e na gestão de
negócios outra.

Então a gestão de negócio tem os pressupostos para existir:

-Intervenção em negócio alheio

-A intervenção tem que ser realizada por conta do dono do negócio (de harmonia com o
interesse e a vontade do dono do negócio)

-Falta de autorização

Quando alguém intervém sem autorização na esfera jurídica de outrem atuando em


conformidade e o interesse desse outro.

O Dr. Varela fala ainda sobre isso a parábola do bom samaritano (porque subjacente à atuação
do gestor não deixam de estar intenções de solidariedade mas ao mesmo tempo esta não é
autorizada e senão ocorrer a gestão pode haver a perda e impossibilidade de exercícios de
direitos. (ex.: alguém foi para a guerra, alguém foi preso; alguém está doente e a sua esfera
jurídica e património ou até pessoas que ele cuidava ficam desacautelados senão houver
intervenção porque não está presente para exercer os seus direitos ou para cumprir as suas
obrigações e portanto no caso da vizinha que vai ser operado e no meio rural a outra vizinha
vai alimentar as galinhas da vizinha e isto é uma gestão de negócios) Ou a … do vizinho caiu e
ele próprio vai contratar um empreiteiro para consertar a sepe ou ele próprio conserta e isto
são ambos atos materiais mas se me acontecesse a mim eu mesmo contratava alguém e
celebrava um negócio jurídico com terceiro.
Intervir na esfera jurídica de outrem implica praticar uma multiplidade de atos (negócios
jurídicos, atos materiais, etc.).

A expressão de negócio alheio não diz muito efetivamente mas podemos dizer que o negócio
alheio devemos nós entender assunto ou interesse alheio (Dr. Varela) e pode envolver a
pratica de atos materiais, praticar negócios jurídicos ou simples atos jurídicos (ex.: se o vizinho
sabe que a conta da agua, telefone, etc. está a chegar paga por ele é um simples ato voluntário
que extingue a obrigação e faz por ele).

Estes pressupostos são importantes porque a ideia de bom samaritano e que é uma ajuda tem
uma importância porque na verdade é que é um ato ilícita por causa da falta de autorização e
portanto é por isso que a lei estabelece pressupostos de quem tem o assunto ou interesse
alheio para cuidar.
À atuação do gestor tem que ser por conta do dono do negócio (o nome do outro sujeito
(donus de negotiae)) e um dia que entremos numa prática jurídica (judicial ou outra) também
nos aparecemos muito a expressão “gestor gestido” mas é raro.
Ou seja, o gestor quando intervém deve intervir animado por uma vontade, a de transferir os
resultados da sua atuação para a esfera jurídica do dono do negócio.

Não há gestão de negócios quando alguém interfere na esfera jurídica de outrem em benefício
próprio e pode levantar problemas de responsabilidade civil da pessoa ou enriquecimento sem
causa dependendo das questões mas também não há gestão de negócios em duas situações:

-Gestão de negócios alheios julgados próprio

-Gestão de negócios próprios julgados alheio

Gestão de negócios próprios julgados alheio – alguém intervém na esfera jurídica de quem
julga alheio (quem julga pertence a outrem) mas afinal o negócio é seu. (ex.: nas propriedades
rústicas já ninguém sabe onde acaba o terreno ou não e ele julga estar a atuar na esfera
jurídica de outrem, mas atua em benefício próprio).

Aqui não há problemas práticas e as despesas e prejuízos que tenha feito cai em casa.

Gestão de negócio alheio julgados próprios – aqui há um erro porque julga que o negócio é
próprio mas afinal é alheio (houve um ano em que saiu um caso prática que era alguém que
via uma mota sinistrada a meio da estrada e julgava que era do filho e mandou consertar mas
não era e sim de um terceiro e portanto temos um gestão de negócio alheio julgados próprio
(mas a mota era do filho mas entendendo que ele era menor mas maior e cuidava dele) mas
era negócio alheio considerado próprio e não é gestão negócios porque atuou sem intenção de
transferir os resultados para esfera jurídica alheia.)

Em termos práticas, ao contrário da outra, faz-se despesas naquela mota que se julgava
própria, mas afinal era alheia e, portanto, se o dono da mota não restituir as despesas que o
gestor fez ou se o gestor tiver prejuízos com as reparações que ele se levanta problemas
porque não se aplicam as regras de gestão de negócios, mas levantam-se problemas e não nos
devemos esquecer que para resolver estas situações devemos ir ao artigo 472º do CC.

“1. Se alguém gerir negócio alheio, convencido de que ele lhe pertence, só é aplicável o
disposto nesta secção se houver aprovação da gestão; em quaisquer outras
circunstâncias, são aplicáveis à gestão as regras do enriquecimento sem causa, sem
prejuízo de outras que ao caso couberem.

2. Se houver culpa do gestor na violação do direito alheio, são aplicáveis ao caso as


regras da responsabilidade civil”. Ou há aprovação da gestão pelo dono do negócio e
aplicam-se as regras da gestão (468 e 469º) ou não há aprovação e apenas o gestor poderá
reaver através do instituto do enriquecimento sem causa e se se verificarem os requisitos
deste.

Nota: havendo aprovação não converte a atuação em gestão, mas simplesmente aplicam-se as
regras de gestão do 468 e 469º e quanto à aprovação o dono do negócio tem a obrigação de x
(reembolsar despesas fundadas que o gestor teve e no 469º diz que havendo aprovação o
dono do negócio renuncia à indemnização que os danos que o gestor possa ter causado (ex.:
arranjou a mota, mas estragou alguma coisa lá e isso é renunciado).
Não havendo aprovação então o dono fica com a mota (à partida) arranjada então enriquece
sem causa e, portanto, poderemos usar esse instituto.

Atenção ao 470º/1 – a atividade do gestor não é renumerada porque é animada porque


corresponde a um espírito de solidariedade e não ser que seja a profissão (ex.: era dono de
uma oficina de motos/mecânico de motas).

Aprovação vs. Ratificação (diferença)

Aprovação é um juízo genérico de concordância (genérico porque se reporta a atos materiais,


quer a atos jurídicos, quer a negócios jurídicos) emitido pelo dono do negócio relativamente à
atuação do gestor que tem a consequência dos 468º e do 469º.

Ratificação é um juízo específico de concordância (específico porque é só de negócios


jurídicos) emitido pelo dono do negócio relativamente aos negócios jurídicos celebrados pelo
gestor em nome do dono do negócio portanto é a chamada gestão representativa.

(mais notas + diferença entre gestão representativa e não representativa)

O que acontece é que a ratificação está ligada à gestão representativa que é aquela gestão em
cujo o gestor intervém quando o faz intervém em nome do negócio e identifica perante
terceiro o nome da pessoa em cujo interesse da esfera jurídica está a atuar. (contratar
empreiteiro e identificar que é para a pessoa x ou y) e não se aplica a ratificação à gestão não
representativa e nesta o gestor atuar em nome próprio e não identifica a pessoa do dominus
negotiae.
Em virtude dessa ratificação os efeitos dos negócios produzem-se na esfera jurídica do dono
do negócio e com esta representação o dono chama a isso os efeitos do negócio jurídico.

Ex.: se houver ratificação naquele negócio que celebrei com o empreiteiro para reparar a sebe
do vizinho não há problema porque se houver ratificação do meu vizinho então quem assume
os direitos e obrigações em face do empreiteiro é o dono do negócio e fica tudo liquidado e
ratificação tem a haver com eficácia nas esfera do dono.
Se ele não ratificar cria um problema porque eu não assumo direitos e obrigações e foi em
nome do dono do negócio e este não querendo celebramos através do enriquecimento sem
causa porque pode haver um enriquecimento do dono do negócio à custa do empreiteiro.

Toda esta questão está no artigo 471º e este remete para o artigo 268º que é o da
representação sem poderes.
Quando faço uma gestão representativa chego ao pé do terceiro e quero celebrar um negócio
não para mim mas para o x e faço-o para o x e não para mim e represento-o mas sem poderes.
Portanto o 268º diz que ou ratifica-se ou não.

Mas na gestão não representativa é diferente e temos que ver o que diz na última parte do
471º onde se aplica as regras relativas ao mandato sem representação (1180º) e nesta
hipótese assumo os direitos e obrigações e depois transfiro para a esfera jurídica do dono do
negócio.
Falta só referir a questão respeitante à falta de autorização e a atuação na esfera jurídica do
dono do negócio tem que ser não autorizada e não pode haver atuação na esfera jurídica
negocial ou legal (ex.: um pai que atua na esfera jurídica do filho há deveres parentais e
representação ou havendo procuração).
(ex.: agora imaginemos que há procuração e o representante excede os poderes de
procuração e neste excesso pode haver procuração)

A atuação também tem que ser no interesse e vontade do dono do negócio, se eu atuo de
acordo com o interesse e vontade do dono do negócio (465º/a)) “ Conformar-se com o
interesse e a vontade, real ou presumível, do dono do negócio, sempre que esta não seja
contrária à lei ou à ordem pública, ou ofensiva dos bons costumes; ” faço aqui uma atuação
regular.

Agora não o fazendo é uma atuação culposa.

Agora será que o interesse e a vontade é a mesma coisa? Normalmente andam a abraçados
mas podem não o fazer.
O interesse é uma realidade interpretada objetivamente
A vontade tem um radical muito subjetivo (ligado ao dono do negócio)

Por regra a nossa vontade é conforme o nosso interesse normalmente por sermos seres com
necessidades (mas por excentricidade, tradições, etc.) e pode acontecer que o nosso interesse
não vem a par com a vontade (ex.: um terreno propicio para o cultivo da batata e o
proprietário cultiva lá sempre milho e não quer batata, só milho e imaginemos que vem lá o
vizinho porque ele está doente e segundo o interesse de cultivar batatas mas de acordo com a
vontade milho porque nunca cultivava batatas se lá estivesse.
Portanto num conflito de interesse e vontade deve atuar segundo qual? De acordo com a
vontade quando seja lícita, conhecível ou cognoscível (porque imaginemos: alguém tratava de
um doente e administrava medicamentes fortes para fazer o que lhe apetece e essa pessoa
deixa de o tratar e vem alguém (assumindo que é gestão de negócios) e essa outra pessoa
deve continuar a atuar segundo o interesse (não administrar drogas ilícitas) ou a vontade
(administrar) neste caso o interesse prevalece porque é ilícito.

Fontes legais das obrigações

27/02/2023

Aula de substituição da Maria Veloso

Enriquecimento sem causa (1ª fonte legal de obrigação)

Alguns aspetos introdutórios sobre principal figura das fontes das obrigações legais
(responsabilidade civil)
Enriquecimento sem causa – fonte legal de obrigações (obrigação para o enriquecido para o
qual gera a obrigação de restituir).
Além de ser uma fonte legal de obrigações também corresponde a um princípio do direito (que
impede enriquecimento injustificados) e mesmo que não se convoque diretamente o instituto
o princípio é geral.

Esta figura está no 473º e ss. e neste está o princípio geral e depois situações particulares no
475º, e do 476º a 478º.

Ex.: Alguém sem culpa realiza bem feitorias num terreno alheio pensando que está a melhorar
o seu terreno (melhorando ou cultivando um pomar) e alguém vai ver-se enriquecido ( o dono)
e quem vai ficar empobrecido (o que melhorou) e tanto pode haver um enriquecimento ou um
empobrecimento.
Outro ex.: Sem culpa alguém faz uma adaptação teatral de uma obra pensando que tem
autorização, etc.

Situação que alguém interfere em bens alheios e cria uma situação de empobrecimento para a
própria parte e aqui não há um caso de culpa.

Pressupostos do enriquecimento sem causa (473º e 474º (fala-se muita vez requisitos
negativos e outros negativos) (locupletou (enriqueceu)):

-Haja enriquecimento (enriquecimento é patrimonial e não há cultural nem nada mas pode
surgir de várias formas:

 Aumento do ativo (ex.: um milhão de euros depositados na nossa conta)


 Diminuição do passivo
 Poupança de despesas (ex.: pagamento de propinas e alguém paga por nós e ficamos
enriquecidos porque não temos de a pagar)
 O enriquecimento surge porque se utiliza bens de outras pessoas (ex.: alguém que
durante estes meses de inverno resolve ocupar uma casa de férias que só é utilizada
no verão e o proprietário neste caso à partido não ter dado autorização para a
instalação deste sujeito e aqui falamos de um aproveitamento de bens alheios e o
sujeito enriquece porquê? Porque não teve que pagar renda e é esse o seu
enriquecimento)

Sabendo isto sabemos que representa uma vantagem patrimonial para o sujeito enriquecido.

-O enriquecimento seja à custa de outrem (tem que haver uma relação entre um
enriquecimento e um empobrecimento (um enriquece porque o outro empobrece) e é fácil
perceber normalmente mas noutro caso é mais difícil (ex.: no caso da casa de férias e até
podemos dizer que uma casa fechada é mais problemática que uma arejada e até beneficiou e
porque consideramos que houve enriquecimento sendo que o seu património ficou igual e o
empobrecimento aqui não é monetário mas normativo e para isso contribuiu uma teoria
alemão (da destinação ou afetação dos bens) e esta diz-nos que nos direitos absolutos fica
reservado ao titular o direito de explorar economicamente as utilidades do bem (isto é se
estivermos perante um direito real ou de propriedade intelectual ou de direitos autores ou
pessoal (mas aqui é mais complicado) a vontade de explorar fica à vontade do autor e ele tem
de decidir se explora ou não o direito)
Talvez possamos pensar a figura do enriquecimento para o direito à imagem e posso não
querer comercializar esse direito e portanto fica reservado para o titular de direito se quer ou
não usar os seus direitos.
A doutrina alemã diz que aqui o titular do direito fica privado de dizer como quer explorar o
seu direito e empobrece juridicamente e não economicamente.

Por outro lado podemos convocar uma distinção importante no que diz respeito ao
enriquecimento. No enriquecimento à custa de outrem há uma subjetiva e a esta contrapõe-se
um enriquecimento objetivo que se divide os dois.
-Enriquecimento patrimonial (impacto do valor desses bens no património do enriquecimento
tendo em conta a situação em que está com o bem e a situação em que estaria sem essa -
transferência patrimonial (ex.: garrafas de Whisky entregues num apartamento sem serem
para esse sujeito e o valor que vamos identificar era o valor das garrafas de whisky (no real) e
patrimonial é o impacto no sujeito (o indivíduo bebe garrafas de whisky? Não então não bebe
então o impacto é zero ou mesmo bebendo ele nunca pagaria esse preço pelo whisky ou
compraria 2 e não 5.

-Enriquecimento real

A pergunta é se tem relevância prática e não diretamente mas a doutrina atende ao


patrimonial porque é injusto ver apenas o valor de mercado.

Também temos de atender ao empobrecimento do sujeito e o valor do empobrecimento que


ele pode pedir (é o valor de mercado daquela renda ou o que teria pedido se quisesse arrendar
e a tendência é de privilegiar o patrimonial e há situações em que o sujeito não estaria
disposto ou ao dobro do valor do mercado e temos que ter isso em conta).

-Não haja causa justificativa (requisito negativo) – aqui a causa do direito (á partida as
transferências patrimoniais têm causa) (a obrigação de indemnização surge por causa de
responsabilidade civil, um negócio lateral, etc.) então quando podemos dizer me termos gerais
que não há causa, quando o direito face à relação substancial com o valor dos bens indicaria
que o bem estaria noutro património).
O direito ordena mais (ex.: olhando para o microfone da sala saberíamos de quem é o
microfone mas para o direito é saber se é património da faculdade ou da universidade mas de
qualquer forma justificar-se-ia por um contrato de fornecimento de equipamento audiovisual.)

Noutros casos temos de obedecer ao direito e quem pode ser considerado proprietário dos
bens (terreno do domínio público e é o direito que nos diz quem são os titulares dos direitos; o
mesmo para os nascituros e é o direito que nos diz como se regula em efeitos pessoais e
patrimoniais (na fecundação artificial pos mortem por exemplo)).

Em termos gerais podemos dizer que a causa coincide com o contrato ou outras fontes de
obrigações mas pode ser definida pela relação dominial do direito com os bens)

No artigo seguinte:

-Atender a natureza subsidiária da obrigação (não pode haver outro meio para obter a
restituição ou pode a lei negar a restituição ou atribui outros efeitos) esta natureza pode fazer
com que muitas vezes nem se possa utilizar este regime:

Duas visões:

 Menezes Leitão e outro da Nova de Lisboa (que analisaram esta natureza subsidiária
mas é algo problemática)
Mas a ideia é sempre essa da natureza subsidiária

Ex.:

-Se o contrato for declarado nulo

-Se o contrato for resolvido

Esses contratos têm efeitos retroativos, mas a restituição é feita pelas regras da nulidade e da
anulabilidade(289º).

Isto sobre a redução também (433º) sobre a resolução do contrato.

Outro meio é o da responsabilidade civil (se a mesma situação gerar um dano não pode haver
recurso a esta ação de enriquecimento sem causa mas sim recurso à responsabilidade civil).
Pode haver casos em que o dano em que o enriquecimento não cobre todo o valor do dano
(houve um dano mas é possível ainda invocar o enriquecimento que é diferente do valor do
dano mas sendo um pedido subsidiário e dependente do primeiro).

Por outro lado, o meio tem que ser eficaz/possível e eficaz senão pode recorrer-se ao
enriquecimento sem causa passando os prazos, por ex.)

No caso de prescrição do crédito e usucapião o enriquecimento é negado no 474º e o direito à


restituição.

O legislador diz que há outro meio de ser restituído (ex.: alguém faz benfeitorias uteis e se
pode levantar essas bem feitorias então há enriquecimento e poderemos convocar o artigo
1273º e fala dessas e a possibilidade do levantamento destas)

“1. Tanto o possuidor de boa fé como o de má fé têm direito a ser indemnizados das
benfeitorias necessárias que hajam feito, e bem assim a levantar as benfeitorias úteis
realizadas na coisa, desde que o possam fazer sem detrimento dela. ”

Ex.: levantar o ar condicionado que colocámos.

Apesar de ser subsidiário não é residual e há algumas normas do código que remetem
diretamente para o enriquecimento sem causa (vimos isso quanto à obrigação de risttituir
sobre a gestão de negócios quando é irregular (468º/2) e temos uma expressa remissão para o
regime sem causa e o mesmo 472º (gestão de negócio alheio convencido de que lhe pertence).

No regime das benfeitorias temos essa referência ao regime de enriquecimento quando não é
possível esse levantamento 1273º/2.

Sem caráter exaustivo podemos referir outra normas do 725º ou 475º no caso de um
prestação e havendo uma não possibilidade de realizar uma prestação e já tiver sido realizada
contraprestação então teremos que ter restituição por enriquecimento sem causa.

Remissão da forma como é vista por Antunes Varela pode ser encarada:

-In totum (para todo o regime do enriquecimento sem causa)

-Ou específica (para a obrigação de restituir prevista especificamente no artigo 479º)


Isto para percebermos que o legislador faz uma remissão para todo o regime ou só para uma
parte específica do regime.

-Pressupostos que não é previsto na lei mas previsto pela doutrina de Antunes Varela e
entendia um 5º pressuposto – o enriquecimento tem que ter caráter imediato e que não fosse
um ato jurídioc (ex.: o arrendatário contrata um empreiteiro para realizar obras no prédio
arrendado e o que acontece se o arrendatário ficar insolvente? Podemos presumir que quem
vai enriquecer é o senhorio mas na realidade há uma relação contratual (entre empreiteiro e
arrendatário) e não pode haver pedido de enriquecimento em relação ao senhorio e não há
caráter direto.
Apesar de não ser indicação legal a doutrina de Antunes Varela e dogmática Alemã diz que só
vale enriquecimento se for direto e só esse pode ser chamado e não um terceiro.

Falta agora atender aos casos específicos do enriquecimento:

-Repetição do indevido (476º) – alguém que realiza prestação que não era devida e neste caso
a prestação pode ser repetida (pedida de volta)

“1. Sem prejuízo do disposto acerca das obrigações naturais, o que for prestado com a
intenção de cumprir uma obrigação pode ser repetido, se esta não existia no momento da
prestação.”

Ex.: alguém pensa erroneamente que era devedor quando nem existia o crédito e pode pedir
de volta e só não pode ser houver obrigação natural (ex.: no caso de obrigação natural
tínhamos uma obrigação fundada num dever social e uma das garantias da sua juridicidade é
não poder pedir de volta assim como não é exigível desde o início) (403º sobre obrigação
natural – remissão).

Ex.: alguém transfere para a nossa conta 1M quando não estava vinculado e pode pedir de
volta.

Depois temos normas especiais como o nº2 – imaginemos que alguém paga a renda ao
senhoria e em vez disso paga ao primo dele e não é pagamento correto a não ser que se
reúnem as condiç~eos de 770º (lhe tinha cedido crédito, etc.) mas em princípio pode ser
pedido de volta.

Outro caso é o nº3 – a obrigação existe mas não venceu ainda e houve enriquecimento por
parte do credor (só o podia exigir a partir de maio de 2023) e portanto recebeu montante hoje
que só receberia em maio e é essa vantagem clássica que pode ser suscitada na repetição do
indevido.

Depois temos outra situação em que surge uma prestação tendo em conta um resultado
previsto que não se verifica (ex.: uma viagem no final do 3º ano para visitar um país) e aqui
invocamos o 475º
“Também não há lugar à restituição se, ao efectuar a prestação, o autor sabia que o efeito
com ela previsto era impossível, ou se, agindo contra a boa fé, impediu a sua verificação. ”
E portanto qunado não há um resultado que era previsto temos que ter restituição a não ser
que a pessoa já sabia que o contrato era impossível (475 e 476º tem proteção dos
enriquecidos de boa-fé overall).

Depois temos outras situações nos artigos 477º e 478º e estabelecem os pressupostos

477º:

“1. Aquele que, por erro desculpável, cumprir uma obrigação alheia, julgando-a própria,
goza do direito de repetição, exceto se o credor, desconhecendo o erro do autor da
prestação, se tiver privado do título ou das garantias do crédito, tiver deixado prescrever
ou caducar o seu direito, ou não o tiver exercido contra o devedor ou contra o fiador
enquanto solventes.”

(ex.: padrasto pensa que esta obrigado a ajudar o enteado a determinadas coisas, como a
pagar a carta de condução e neste caso havendo cumprimento de obrigação alheia de boa fé e
seria possível pedir o valor de volta)

No 478º (cumpre-se uma obrigação alheia pensando que está obrigado):

“Aquele que cumprir obrigação alheia, na convicção errónea de estar obrigado para com o
devedor a cumpri-la, não tem o direito de repetição contra o credor, mas apenas o direito
de exigir do devedor exonerado aquilo com que este injustamente se locupletou, exceto se
o credor conhecia o erro ao receber a prestação. ”

Não pode exigir o valor ao credor mas sim ao devedor (o real) que ficou exonerado.
Em regra geral não perguntamos nada sobre isto no exame mas ficam os pressupostos sobre
isso e muitas vezes perguntas que podiam ser feitas cruzam com matéria do cumprimento e
não damos sobre isso em DO II.

Sobre o enriquecimento sem causa falta dizer que há uma maneira especial quanto à maneira
de restituir (479º)

“Artigo 479.º
(Objecto da obrigação de restituir)
TEXTO
1. A obrigação de restituir fundada no enriquecimento sem causa compreende tudo quanto
se tenha obtido à custa do empobrecido ou, se a restituição em espécie não for possível, o
valor correspondente.
2. A obrigação de restituir não pode exceder a medida do locupletamento à data da
verificação de algum dos factos referidos nas duas alíneas do artigo seguinte.

 O nº1 diz que não se vai restituir nem o valor do enriquecimento nem do
empobrecimento mas sim aquilo com que o sujeito se viu enriquecido (patrimonial) à
custa de outrem e temos que ver o enriquecimento que provém do bem.

 Se o valor do enriquecimento corresponder com o empobrecimento é esse o entregue.


 Mas pode haver casos em que o enriquecimento é superior ao empobrecimento (ex.:
ganha-se um prémio de 15k com um carro de corrida e não houve autorização do dono
e temos de saber se o prémio deve ser restituído ao dono e dizemos que não porque
para ganhar uma corrida não basta o tipo de meio mas também perícia por parte do
sujeito que o conduz e portanto há muitos fatores que geraram o enriquecimento que
não têm nada a haver com o bem assim e quando o valor do enriquecimento é
superior ao empobrecimento só damos o valor do enriquecimento em relação à custa
(empobrecimento).
Já seria realtivo se o bem subisse 15k em valor de venda e poderíamos anular mas o
legislador não diz isso e é relativo.
 Pode haver casos em que o empobrecimento é superior ao enriquecimento (ex.: nas
benfeitorias e gastou 2000 euros nas janelas mas o valor da casa aumentou 1000 e
temos que pensar que tem de haver um limite e aplciamos o nº2 do 479º.
Nunca se pode ultrapassar o valor do enriquecimento mas pode ser pedido a outro.
(Ex.: há uma adaptação de uma obra para uma peça e nem tudo o que o produtor
criou foi á custa do romancista e fica num patamar superior e só vamos ver aquilo em
que o sujeito se viu empobrecido e o enriquecimento é o limite mesmo quando o
empobrecimento é superior).

Pode haver aqui um tratamento não privilegiado senão houver má fé e pode acontecer que o
enriquecido não ser tratado como protegido nos termos do 480º:

“O enriquecido passa a responder também pelo perecimento ou deterioração culposa da


coisa, pelos frutos que por sua culpa deixem de ser percebidos e pelos juros legais das
quantias a que o empobrecido tiver direito, depois de se verificar algumas das seguintes
circunstâncias:
a) Ter sido o enriquecido citado judicialmente para a restituição;
b) Ter ele conhecimento da falta de causa do seu enriquecimento ou da falta do efeito que
se pretendia obter com a prestação.”

Obrigação de restituir em causa de alienação gratuita (ex.: o sujeito que recebe as garrafas de
whisky e resolve doá-las (481º)

“1. Tendo o enriquecido alienado gratuitamente coisa que devesse restituir, fica o
adquirente obrigado em lugar dele, mas só na medida do seu próprio enriquecimento. ”

Este é um regime bastante particular e se alguém cede as garrafas a outra pessoa temos que
atender à situação económica da outra pessoa e imaginemos que a pessoa daria 30 euros pela
garrafa e temos de atender à situação do segundo sujeito e não da primeira.

O direito à restituição por enriquecimento prescreve passado de 3 anos:

“Artigo 482.º
(Prescrição)
TEXTO
O direito à restituição por enriquecimento prescreve no prazo de três anos, a contar da
data em que o credor teve conhecimento do direito que lhe compete e da pessoa do
responsável, sem prejuízo da prescrição ordinária se tiver decorrido o respectivo prazo a
contar do enriquecimento.

Isto é um prazo curto tendo em conta o prazo de 20 anos das obrigações porque é mais difícil
de provar as situações de enriquecimento com a passagem tempo mas fala-se de aplicação do
período ordinário desde o momento em que o sujeito enriqueceu.
Sabendo o 482º sabemos que conta a data em que o credor teve conhecimento do direito que
lhe compete e da pessoa do responsável (que tem obrigação de o restituir).

Terminamos a matéria do enriquecimento.

O que é importante é os requisitos (diferença entre enriquecimento real e patrimonial;


natureza subsidiário, e outra diferença) e é normal uma alínea sobre este regime mas é para
ter a ideia que apesar da importância nas aulas não é frequente termos um caso prático
específico sobre isto.

Outra figura que de certo aparecerá nos casos práticos.

Responsabilidade civil

Temos que falar antes do regime algum panorama histórico sobre a figura e outras coisas.

Quando falamos da responsabilidade civil que de certa forma conhecemos falamos desta
figura a propósito que sempre que haja alguém que esteja condenado a indemnizar um dano
que causou a outrem (verificados outros pressupostos) e a indemnização é a base da
responsabilidade civil que se distingue de outros tipos de responsabilidade:

-Responsabilidade penal aqui não representa tanto peso aqui e têm funções diferentes; na
responsabilidade civil tem que haver um dano e na penal não; por outro lado a R. Penal está
associada ao direito pública e sanção que não decorre de uma ação e na R. Civil é uma sanção
indemnizatória.
Estas são as diferentes e apesar destas ainda há círculos de sobreposição (alguém que comete
um crime mas causa danos pode ser responsável das duas formas) e processualmente vamos
ver que pode haver pedido indemnizatório sobre uma ação crime.

-Há diferença entre civil e disciplinar (a segunda quer reestabelecer a ordem hierárquica.
No meio social não distinguimos as duas responsabilidades mas depois com a leitura do caso
distinguimos qual o tipo que é (ex.: um médico condenado num hospital pode ser disciplinar
(ex.: uma carta interna que injuria o superior e é disciplinar) e pode haver empresas com
organização hierárquica mas também no âmbito das ordens profissionais que têm
competências disciplinares).
Para haver disciplinar não é necessário que cubra a civil.

Há outras como a administrativa, etc.

Mas vamos cingirmos a esta.


A R. Civil surge primeiro que o sujeito que lesava o bem de outra sujeitava-se à vingança de
outrem que por vezes era planística e só progresso civilizacionais (primeira a lei do olho por
olho) e depois com o direito romano.
Inicialmente existiam não tanto um princípio geral sobre responsabilidade civil mas casos de
dano e específicos.

Só mais tarde foi gerado o princípio da responsabilidade civil e associado a um comportamento


culposo mas depois vamos desmitificar isto.
De todo o modo essa vinculação à culpa e ilicitude foi-se atenuando e surgiram casos de
responsabilidade objetiva (sem culpa) e o sujeito era responsabilidade por causar danos
(surgiram as objetivas na Alemanha, depois UK e em Portugal alguns acidentes que surgiram
neste sistema (ex.: sobre viação terrestre) e em Portugal temos várias situações de R. Civil
objetiva.
O regime geral é subjetivo e pode haver objetiva como diz o 483º/2 mas com uma tipificação.
E foi um momento histórico de criar casos de R. sem culpa e surgiu de eventualmente um risco
eventualmente não controlado pelo causado.

O último passo foi a socialização dos riscos, à parte da responsabilidade civil temos o seguro da
responsabilidade e podemos ter a socialização do dano (o prémio) mas também uma
atenuação moral da responsabilidade do lesante porque o dano que causou é transmitido para
a seguradora e esta é a ideia da socialização dos riscos e os seguros e fundos de garantia
procuram aliviar a pressão individual (ex.: os incêndios de 2017 ou o acidente de viação do
ministro e isto são casos de responsabilidade civil independentemente do penal e não deixam
de existir mesmo com seguro e apenas servem para atenuar a responsabilização ou cobrir o
total).
Não se deixa de ser responsável porque há seguro e há segurança e depois a seguradora
intervém num segundo momento (claro que à seguradora interessa dizer que não é
responsável).
E além de haver R. Objetiva (sem culpa) depois ainda temos a seguradora a atenuar isto.

Isto não é pergunta numa oral mas sim para entender o que significa a figura e as alterações
ao longo do tempo.

Hoje percebemos cada vez mais que a R. Civil funciona como um meio de prevenção de
condutas ilícitas.

Quando é que há responsabilidade civil?

Dentro vemos a:

-Responsabilidade contratual (pode ser delitual ou aquiliana; ou obrigacional) – aquela que


resulta de violação de direitos relativos e vai estar presente quando falarmos do regime do
incumprimento dos contratos (798º e ss.)

-Responsabilidade extracontratual (ou extraobrigacional) – aqui encontramos, verificados os


pressupostos, a violação de direitos absolutos.
É essa que vamos começar a estudar agora e os pressupostos são os mesmos dos outros com
algumas nuances (artigo 483º).
Esta matéria nos trabalhos preparatórios foi brilhantemente desenvolvida por Carlos Serra
sendo que as nossas principais influencias foram do direito alemão, francês, italiano e suiça e
não há uma colagem própria das outras leis (até se aplicou dogmática noutros casos).
Claro que não surgiu neste código e no de Seabra já havia responsabilidade civil mas no 483º
temos os termos gerais:

“1. Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer
disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o
lesado pelos danos resultantes da violação.
2. Só existe obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos casos
especificados na lei.”

Daqui se retirar os pressupostos da responsabilidade extracontratual:

-Facto

-Seja ilícito

-Haja imputação do facto ao agente (aja com culpa)

-Necessário que haja imputação do facto ao dano (nexo causal)

-Haja danos

Apesar de não desenvolvermos esta matéria de forma autónoma temos que ter algumas
considerações (isto não é DP)

O instituto da R. Civil tem uma visão compensatória e por outro lado pode existir algumas
trações de uma função sancionatória (ex.: exigência de um ato ilícito e culposo) e existe sobre
a maneira que a obrigação de indemnização estar ligada ao grau de culpa mas em Portugal
acontece mais nas não lineares porque nessas é mais sancionatório).

Funções principais

 Função compensatória
 Função sancionatória

Funções acessórias à R. Civil:

 Função preventiva (conhecida por força de DP) – o agente que sabe que há
determinados comportamentos que geram responsabilidade e evitam-nos.
 Hoje fala-se por influência do D. Alemão do reconhecimento de direitos (ex.: morte,
aqui não há função compensatória com indemnização porque a pessoa não vai ser
compensada, mas a importância é do reconhecimento de direitos porque toda
gente considera direitos valiosos e a R. Civil é uma espécie de alerta e corretar
dizendo que estes direitos são importantes).

É certa que também se fala de uma função de justiça retributiva (na R. Civil não significa
sancionar) mas também de numa justiça distributiva de risco.

A professora pergunta-se se se justifica a existência da R. Civil e senão tem ideologias


políticas (de esquerda) e visão conservadora de atingir o status quo e podemos conforme
o país de apresentar imagens completamente diferentes e há certas opções no regime
claramente ideológicas.
Quando há uma proteção do lesado podemos ter ideias de esquerda associadas e pode
haver regras especiais na R. Civil sobre isto.

Isto para mostrar que não há uma neutralidade ideológica.

Esta finalidade resulta logo do 483º - alguém que causa danos e fica logo obrigado a
indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação.

Interessa saber se falamos de responsabilidade contratual ou extracontratual que são tipos


de R. Civil.

Temos a subjetiva e objetiva (com ou sem culpa).

E dentro de contratual e extra temos subjetiva e objetiva.

No que toca ao regime de responsabilidade contratual e extracontratual vamos referir


algumas coisas.

Encontremos direitos reais, de personalidade e direitos de autor na extracontratual por


exemplo (Antunes Varelas pergunta se podemos encontrar os direitos familiares mas
entende-se como relativa)

Há diferenças entre contratual e extra?

Consequência: a mesma, obrigação de indemnização e apesar de haver cláusulas de


exclusão de responsabilidade o regime português conhece um sistema unitário 562º e ss.

Os pressupostos também são os mesmos.

O que é diferente?

A pessoa do responsável: quem pode ser responsabilidade?

-Extracontratual – vamos encontrar uma regra diferente da imputabilidade penal e essa


regra resulta do artigo 488º

“Artigo 488.º

(Imputabilidade)
TEXTO
1. Não responde pelas consequências do facto danoso quem, no momento em que o
facto ocorreu, estava, por qualquer causa, incapacitado de entender ou querer,
salvo se o agente se colocou culposamente nesse estado, sendo este transitório.
2. - Presume-se falta de imputabilidade nos menores de sete anos.

E dizemos que no D. Civil se o sujeito tem capacidade de conhecer os seus atos e se


conformar com o seu entendimento e tem de perceber se o ato é incorreto ou não
(capacidade intelectual) e é preciso uma capacidade volitiva (de moldar o seu
comportamento a esse objetivo).

A falta de imputabilidade é presumida com menos de 7 anos e até 2018 atingia pessoas
com a anomalia psíquica pois agora temos o sistema dos maiores acompanhados e não
podemos dizer que que todas as pessoas maiores acompanhadas têm problemas
psíquicos pois este apenas pode ter um problema físico (amputado numa perna, etc.)
Já não é assim na modelação dos contratos pois só se pode ser responsável
contratualmente se se puder celebrar um contrato válido e para isso é preciso capacidade
de exercício (16 anos emancipado ou mais de 18 anos) e portanto é uma grande
diferença.

Por último, ainda que não sejam diferenças, chamar à atenção o regime excecional em
que há responsabilidade dos inimputáveis e apesar de à partida não responderem podem
ao abrigo do 489º

“(Indemnização por pessoa não imputável)


TEXTO
1. Se o ato causador dos danos tiver sido praticado por pessoa não imputável, pode esta,
por motivo de equidade, ser condenada a repará-los, total ou parcialmente, desde que não
seja possível obter a devida reparação das pessoas a quem incumbe a sua vigilância.
2. A indemnização será, todavia, calculada por forma a não privar a pessoa não imputável
dos alimentos necessários, conforme o seu estado e condição, nem dos meios
indispensáveis para cumprir os seus deveres legais de alimentos.

Ex.: uma criança de 6 anos à partida não é imputável mas pode ser considerada por
motivo de equidade ser condenado e é uma responsabilidade objetiva mas só há
responsabilidade do inimputável.
Mas é uma responsabilidade subsidiária porque só o vai fazer senão podem os vigilantes
(neste caso os pais ou educadores).
Senão for possível porque o afasta ou não tem meios então aplica-se isto excecional.
Também é excecional porque se configura um regime excecional sobre o cálculo da
indemnização (nº2).

Isto é os inimputáveis podiam ser credores de alimentos ou devedores de alimentos e a


sua indemnização e atuação não pode interferir nos alimentos necessários e á partida a
indemnização vai ser calculada em função de equidade.
(senhor de 80 anos inimputável mata os dois vizinhos de 80 anos e foi tão gravoso que o
juiz considerou aplicar este artigo e passou a obrigação para os descendentes e eles não
puderam pagar então foi ele).

6/3/2023

Distinção entre regime da responsabilidade extra e contratual.

Começando entre capacidade negocial e capacidade delitual.

Nós vamos estudar agora (pelo menos 1 mês) a responsabilidade civil extracontratual.

Depois no final do curso, tendo tempo, podemos dar um bocado a contratual (em termos
de economia do curso a avaliação vai ser de extra).

É aquela que impõe uma obrigação de indemnizar (que suscita esta responsabilidade)
verificados todos os pressupostos.
Na fonte legal temos que ver sempre os pressupostos e depois também para a contratual
teremos isso (se bem que tem na base maior parte das bases um contrato).

Em termos prévios a extra é aquela em que o agente vai ressarcir os danos causados a
terceiros porque está aí em causa a violação dos direitos de outrem que entendemos nós
que são os direitos absolutos (reais e de personalidade).
No âmbito da extra esta ideia é importante e subjacente a esta está uma nota de
anonimato (há entre um titular do direito violado e o agente não existia nenhuma relação
específica prévia de natureza jurídica e a relação que existia era uma relação na base do
anonimato e era uma de exclusão (se dissemos há pouco que na extra está a violação de
direitos absolutos estes (sejam reais ou da personalidade) têm eficácia erga omnes) então
o titular do direito impõe aos outros uma obrigação de abstenção então são terceiros (ex.:
se for pela rua e espancar uma pessoa é uma violação do direito à integridade física mas
se o professor agredir um de nós são ambos um terceiro (ou mesmo familiar) porque nesta
violação o que está em causa é a violação do direito absoluto e para efeitos do
ordenamento jurídico e tutela do direito à integridade física de qualquer um deles não
havia para efeitos de tutela uma relação específica e o que nós impomos ao outros é uma
não ingerência e quando há relação é de natureza genérica/do anonimato.

Na contratual parece que é só de contratos e é o que fica no nosso consciente e se nós


não relembrarmos as coisas fica mal porque a contratual é a que resulta da violação de
direitos relativos (a maior parte dos direitos relativos e de crédito resultam do contrato, mas
não necessariamente).
Mas também de negócios unilaterais (ex.: promessa pública, testamento, etc.) ou de
direitos créditos que têm o seu fundamento na lei.

Temos direitos de crédito que resultam:

-De contratos

-De negócios unilaterais (que são poucos porque obedecem ao 457 (tipicidade)

-Da lei

(ex.: a violação do dever de indemnização decorrente da extra gera responsabilidade civil


contratual (a violação de um direito de crédito decorrente da responsabilidade civil extra
gera responsabilidade civil contratual).
Parece estranho mas para surgir a responsabilidade civil extracontratual tem de haver
violação de um direito absoluto e verificados os outros pressupostos surge a obrigação de
indemnizar (que impõe o dever de prestar que recai sobre o lesante e um direito de crédito
a favor da vítima ou lesado) e verificados os pressupostos surge uma obrigação (o tribunal
condena o agente a pagar uma indemnização).
Isso é um dever de prestar (397º que fala sobre o dever de prestar e o poder de exigir) e
na base da relação estava uma relação de anonimato mas surgindo a obrigação de
indemnização já há uma relação de natureza específica e há um direito relativa de crédito
e uma vez violado surge responsabilidade contratual.) Nota.: direitos de crédito= direitos
relativos.

(ex.: batia em 3º e este intentava uma ação de condenação e tinha obrigação de


indemnizar por violação de direito absoluto (obrigação de indemnizar que recaiu foi por
violar exigências legais e surge o dever e um direito de crédito do outro lado que surge da
lei e nasce uma relação de natureza específica (creditória) e senão pago a indemnização
violo já uma relação de natureza específica (concreta e obrigacional) invocando
responsabilidade civil contratual.)
Anonimato/relação de exclusão (contrário) (Colaboração/cooperação) -um programa prévio
de natureza específica que vincula o credor e o devedor))

Temos várias distinções que resultam do regime jurídico e isto tem interesse prático mas é
fundamental ter em conta esta ideai de nota de exclusão vs. colaboração e isto vai refletir-
se nas diferentes.

Vamos entrar no problema da culpa.

Uma distinção fundamental deste regime de responsabilidades ao nível da culpa.

 A propósito da culpa o que diz a lei é que quando está em causa uma
responsabilidade civil extracontratual o ónus da prova da culpa (487º/1 C.C.)
incumbe ao lesado que é credor da indemnização.
“1. É ao lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão, salvo havendo
presunção legal de culpa.”

Havendo presunção legal de culpa há inversão do ónus da prova (mas é uma exceção na
responsabilidade civil extracontratual.

 Já na Contratual é o contrário e o ónus da prova da culpa recai sobre o devedor


(799º/1 C.C.)
“1. Incumbe ao devedor provar que a falta de cumprimento ou o cumprimento
defeituoso da obrigação não procede de culpa sua.”

342º/1 do C.C.

“1. Àquele que invocar um direito cabe fazer a prova dos factos constitutivos do direito
alegado.”

Esta é a regra geral em matéria de constituição do ónus da prova mas os elementos


constitutivos para a constituição é a culpa e o lesado para ter direito à indemnização tem
de provar a culpa do lesante.

 Ora, por isso, o 487º/1 mais não é a concretização da regra geral porque o credor
da obrigação de indemnizar é o lesado e um dos elementos constitutivos do seu
direito é a culpa e por isso tem este de a provar e fazer sentido porque na base de
tudo há uma relação de anonimato e essa relação é quebrada com a realização do
tal facto ilícito e como não havia nada antes disso para justificar isto quem tem de
provar a culpa é o lesado e tem de provar as relações porque até aí não havia
nada.

 Na contratual há uma presunção de culpa sobre o devedor no 799º/1 e presume-se


quando há violação de um direito relativo que o incumprimento ou cumprimento
defeituoso derivou da culpa do devedor nada se dizendo presume-se culpado o
devedor. E é uma presunção ilidível porque ele pode dizer que não tem culpa, mas
não afastando presume-se e porque há uma relação de natureza específica seja
resultante de contrato, negócio unilateral ou lei.
Havendo esta presunção não se aplica a regra geral e havendo presunção de
culpa inverte-se as regras do ónus da prova.

491, 492,493 e 503 são as presunções de culpa que vamos estudar.

O requisito da culpa é difícil de provar efetivamente porque a culpa é juízo de censura


dirigido a alguém que podia e devia ter agido de outra maneira e portanto nessa
perspetiva/ótica torna-se difícil muitas vezes a prova de culpa e em tribunal muitas vezes
perdem-se as ações porque não se consegue provar a culpa da lesão e portanto na R.P.
contratual há essa ajuda dessa presunção legal.
E por vezes na extra também.

Outra distinção fundamental é o prazo de prescrição:

-No extra aplica-se um prazo de prescrição (498º/1) – 3 anos (conta a partir de que o
lesado tem conhecimento ao seu direito de prescrição/do seu dano)

-Na contratual (309º) tem um prazo que é o prazo de prescrição ordinário (que é não
havendo outra) que é de 20 anos.

O prazo da extra é muito mais curto que o da contratual também esta diferença se explica
pela relação de anonimato vs. colaboração.
Se no âmbito de extra está um relação de anonimato que é posta em causa com o ilícito
que faz surgir a relação entre lesante e lesado é bom que com maior celeridade se
esclareçam as questões (para incitar o lesado a tal); diferente é a responsabilidade civil
contratual onde o juiz quando vier a decidir tem sempre a base da relação prévia.

A vida da prova também não é uma das causas? (dúvida)

Outra distinção – cláusulas de limitação ou exclusão da responsabilidade civil.

-É admissível na contratual (809º e 800º do C.C e foi estudado genericamente de TGDC) é


possível o devedor limitar ou excluir a sua responsabilidade através de acordo prévio com
o credor. As partes conhecem-se e há o tal programa prévio e podem dispor em certas
medidas o cumprimento assim como é possível as partes fixarem previamente o montante
indemnizatório para as situações de incumprimento (cláusulas penais) e, portanto, as
partes podem dispor disto.

-Não na extra (ou pelo menos terá um relevo muito diminuto) – nesta não é possível
porque o credor e o devedor não se conhecem e têm uma relação de exclusão e
unilateralmente até podia dizer que não sou responsável por x mas não é relevante.

A regra na extracontratual é na base da responsabilidade está numa ação e na contratual


a regra é precisamente oposta, é a existência de uma omissão e é uma característica de
distinção a juntar às outras.
Já não elementos distintivos, mas de outra forma interpretados (ao contrário do que diz Dr.
Varela que não tem grande relevância).
O problema do ressarcimento dos danos não patrimoniais.

Tradicionalmente a doutrina (nomeadamente Dr. Varela) dizia-se que na extra admitia-se o


ressarcimento de danos não patrimoniais e na contratual não. (esta era a distinção).

Danos não patrimoniais são precisamente a ofensa a bens insuscetíveis de avaliação não
pecuniária que não têm repercussão no património do credor. (não é correto dizer isto só e
vamos ver mais).

É desgosto, sofrimento, etc.

Esta matéria está no 496º do CC e se virmos em termos de sistematização da


interpretação isso é a responsabilidade civil extracontratual com base na posição no
código e isto bastou para esta opinião dos autores e a matéria do 496º está no universo da
extracontratual.

Isto é um argumento muito ténue porque dentro do texto da lei e interpretação e dentro dos
elementos sistemáticos e teleológicas (IAD) mas Dr. Varela avançava outro argumento
além deste (até porque os outros autores mudaram a posição mas Varela mantém
posição) diz que no direito, história e cultura devemos ter (apesar de recentemente temos
dogmáticas muito dominantes) há sempre controvérsias e mesmo havendo uma
dominante posição não quer dizer que não é importante saber dos problemas das
posições e apesar de ser entendido que há ressarcimento da contratual.

Varela dizia que a lógica do contratual (que tem a relação especifica) não é uma lógica a
qual esteja inerente o nascimento desse tipo de prejuízo e é adjacente ao surgimento de
danos patrimoniais porque o credor e o devedor têm um plano obrigacional e balizas e as
partes têm que cumprir o programa e assumir os riscos deste programa.
Diferente é a extra porque aí sim não é vulgar que possa contar que vá passear pela rua e
seja agredido violentamente, ou veja o meu carro destruído e é natural que o inesperado
que surge da relação de anonimato me faça surgir angústia, depressão, etc.

Esta visão desta separação não é vista e a doutrina alerta para o facto de haver certos
tipos de contratos (nomeadamente que fazem surgir de direitos relativos, mas também
relações contratuais duradouras que implicam determinada confiança entre as partes (ex.:
contrato de trabalho, arrendamento, seguro, etc.) ou seja, em todos estes domínios
contratuais esta relação pessoal duradoura de confiança faz surgir danos não patrimoniais
(ex.: questão do assédio laboral que é estudada jurídica há uma dúzia de anos mas é
provado que é um campo propício para os danos não patrimoniais).
Nesse tipo de contratos entende a doutrina e jurisprudência deve ser ressarcido os danos
não patrimoniais todavia conforme Dr. Varela pode os juízes em certas relações
contratuais não atribuir valores tão altos quantos as extracontratuais (isso em
determinados contratos).

Agora a contratos puramente expectativas (ex.: de instrumentos financeiros, etc.) e aqui as


partes assumem um risco e faz parte da essência do contrato, diferente é o de seguro que
tem um risco, mas é provocado por um elemento exterior que quis acautelar no contrato e
existe grande colaboração.
Pressupostos:

-Facto voluntário

-Ilicitude

-Culpa

-Dano

-Nexo de causalidade entre facto e dano

1º pressupostos da extracontratual – facto voluntário – comportamento do agente (ação ou


omissão) dominável ou controlável pela vontade humana (noção)

A regra na extracontratual é na base da responsabilidade está numa ação e na contratual


a regra é precisamente oposta, é a existência de uma omissão e é uma característica de
distinção a juntar às outras. Mas tem exceções e por isso não é propriamente juntada às
outras.
Na base da extra está a violação dos absolutos e isso impõe um dever de abstenção
(eficácia erga omnes) e só se viola este agindo
Na contratual tem na base uma omissão porque a generalidade dos deveres que resultam
das relações obrigacionais geram deveres de prestar (de facere) e portanto é um dever de
agir e a violação é cometida mediante omissão.

Todavia há exceções:

-Na contratual pode haver obrigações negativas/prestações non facere emergentes de


relações obrigacionais (ex.: obrigações de não concorrência num contrato obrigacional –
prestações negativas) e violam-se através de ação.

-Na extracontratual já vimos que a regra é responsabilidade por ação, mas se a lei exigir
excecionalmente um dever de ação se eu não respeitar esse dever pode surgir uma
responsabilidade por omissão. (486º do C.C sobre omissões)

“dominável ou controlável pela vontade” – parte do voluntário e não tem de ser um facto
desejado/querido ou intencionalmente tido o que tem de ser é dominável ou controlável
pela vontade.
Porque se colocássemos como pressupostos do facto voluntário a intenção de causar o
dano ou o comportamento ser desejado corríamos o risco de estar a afastar da
responsabilidade civil e o seu instituto e a generalidade de boa parte dos comportamentos
existentes (nomeadamente a negligência inconsciente).
(ex.: o dolo é uma culpa intencional (com intenção) e a negligência é sem essa (há uma
consciente que tem um bocado de intenção e é prima do dolo (vai dar dor de cabeça a
distinção entre dolo eventual e negligência consciente)) Mas grande parte da negligência
(que é a violação dos deveres de cuidado) e não deixa de haver culpa.
Se nós disséssemos que o facto tinha que ser intencional estávamos a afastar quem agiu
com negligência principalmente a inconsciente.

O que fica afastado dessa vontade é muito pouco (os chamados factos naturais (não são
domináveis ou controláveis pela vontade).
Quando o agente atua por pressão de uma força natural ou uma força física irresistível e
inelutável (ex.: um forte vendaval nos impele e arrasta contra um carro e partimos o vidro
de um carro e violamos um direito absoluto mas o facto não foi voluntário e atuamos como
uma espécie de autómato e não controlável e dominável pela vontade)
(outro ex.: um sonâmbulo cujo sonambulismo não é controlado e pratica um facto ilícito
nesses momentos mas leva-nos para os limiares da inimputabilidade mas de facto não
consegue controlar).

Há quem considere que este é um pressupostos da extra mas há certos autores


(nomeadamente de Lisboa) que entendem que o facto voluntário não deve ser visto como
um pressuposto autónomo porque é uma espécie de esquizopressuponente que está
subjacente e previamente a toda a problemática e não merece autonomia face aos outros
requisitos.
Autores mais recentes que tendem a não incluir mas nós entendemos que sim.

Nos casos de coação moral há sempre a possibilidade de adotar resultado diversos mas
com todos os contornos dela não quer dizer que o agente vá ser responsável e podem cair
na legítima defesa e estado necessidade (quando o bem defendido é superior aquele que
se danou).
Nos casos de coação física é preciso ser um hercules por trás de nós, se for um fraquinho
não.

Sendo irresistível na física não será facto voluntário sequer.


nas outras pode excluir a culpa.

Ilicitude – há varias formas de designar a extra (responsabilidade extracontratual por factos


ilícitos, delitual).

Esta ilicitude extracontratual surge qunado há violação de direitos de outrem (483º - noção
adotada pela lei)

“1. Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilìcitamente o direito de outrem ou qualquer
disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o
lesado pelos danos resultantes da violação.”

Temos duas variantes da ilicitude extracontratual e nós consideramos que há 3 mas aqui
estão duas:

-Violar os direitos de outrem

-Violar disposição legal que estão destinadas a proteger interesses alheios (designada
comumente por norma legal de proteção)

Duas variantes no 483º/1 havendo outra que é o abuso do direito (334º):

“É ilegítimo o exercício de um direito, quando o titular exceda manifestamente os limites


impostos pela boa fé, pelos bons costumes ou pelo fim social ou económico desse direito.”

Este abuso do direito é uma espécie de cláusula de último ratio e em última análise e está
para a ilicitude como está o direito penal para o direito geral.

Relativamente às duas primeiras variantes (que vamos estudar melhor) já dissemos o que
é para nós (escola de direito de Coimbra) o que é a violação de direitos de outrem
(violação de direitos absolutos)
Mas pode-se fazer a seguinte pergunta (quase rasteira) será que se pode incluir nos
direitos de outrem os direitos potestativos?
Não porque não são passíveis de violação e o direito potestativo é subjetivo mas é
insuscetível de violação e é o poder de produzir inelutavelmente na esfera de outrem (quer
o outro queira ou não) e é uma sujeição e não é passível de violação.
Portanto nessa perspetiva e ótica dizemos claramente que não inclusão na violação de
direitos de outrem a categoria de direitos potestativos.

Todavia, o legislador, utilizou a formula “direitos de outrem” que é formula aberta e por isso
há certos autores como Menezes Cordeiro, Santos Junior de Lisboa defende aquilo que
repudiamos no 1º semestre que é a tutela delitual do direito de crédito (e quando há
problemas com direitos de crédito gera responsabilidade contratual e não extracontratual).
Se terceiro viola direito de crédito não é responsável perante credor mas só pelo abuso de
crédito e isso porque não é oponível a terceiros.
Certos autores por estarem perto da teoria da eficácia externa dizem que “direitos de
outrem” são absolutos ou relativos.

Para nós só a violação de direitos absolutos e entre outros elementos do porquê de negar
a eficácia externa temos que desde logo o anteprojeto de vaz serra (responsável pela
maior dos anteprojetos do CC de 66) e ele dizia que a tutela delitual do crédito perante o
credor era só em casos excecionais (como no caso de abuso de direito).

Agora sobre a segunda variante – normas legais destinadas a proteger interesses alheios
(normas legais de proteção)

Aqui realmente é um espaço que temos de conhecer.


desde logo há aqui dois aspetos a considerar:

-Relativos à norma legal

-Interesses que merecem proteção da norma legal

Relativo à norma legal

O que é norma legal? Tem que ser perspetivado em questões de lei em sentido
estrito/técnico jurídico do termo (ato normativo emanado pelo órgão com competência
expressa para tanto – pelo Governo, Ar e das Regionais).
Este é o sentido técnico que nós não vamos usar neste sentido mas sim no sentido de ato
normativo (critério normativo, de norma – seja geral e abstrato e portanto seja uma
disposição aplicável a um numero indeterminado de pessoas (geral) e abstrato (a um
número indefinido de situações).
Seja ele uma lei, decreto lei, decreto legislativo regional mas do modo geral até são outros
diplomas normativos do DA (portaria, regulamentos, posturas e outro tipo de atos
normativas deste origem).
Até podem ser normas constitucionais (não é muito vulgar mas pode ser).

Agora sobre os interesses que merecem essa proteção da norma legal

Sã normas destinadas a proteger interesses particular de modo direto e imediato e essas


normas podem pertencer quer ao direito privado quer ao publico e até sabemos que maior
parte é de DA (não obstante o escape para o privado deste).

O legislador quando elaborou aquela norma (o seu autor) de caso pensado


(intencionalmente) ele tem que pretender uma certa categoria dos interesses dos
particulares e isso tem muito interesse para as normas que provém do direito publico e
aqui dizemos que nas portarias, etc. são de direito público e uma dessas tem como fundo
principal proteger interesses da coletividade no seu conjunto.
Mas, se proteger interesses da coletividade e reflexamente (indiretamente) proteger
interesses dos particulares ela não é uma norma legal de proteção (ex.: as normas sobre a
separação de poderes (há algumas sobre esta na constituição e outras) e nós particulares
temos interesse que estes interesses estejam arrumados e que há formas de controlá-los
e reflexamente beneficiamos desta boa articulação entre poderes públicos e quando houve
a questão da visita de Lula da Silva foi motivo de conversa durante uns meses agora
quando o legislador quando fez as normas pensou direta ou indiretamente no interesses
dos particulares? Não e foi na coletiva e reflexamente nos particulares).
É apenas norma legal de proteção quando protege diretamente os interesses dos
particulares (ex.: impõe a vacinação obrigatória de x e é norma de direito pública mas que
de caso pensado (de modo deliberado) visa evitar as pandemias, etc. mas também o
interesse dos particulares, etc. e proteger a saúde pública mas também a saúde dos
particulares e esta norma foi pensada de modo direto e imediato a pensar em particulares).

(outro ex.: as normas de limitação de velocidade rodoviário e é a pensar na segurança


rodoviária (fim principal) mas também na segurança dos particulares (não se tutela o
direito à integridade física senão estaríamos na primeira variante da ilicitude) mas protege-
se a segurança e saúde dos particulares e não se protege a saúde do senhor António e
Joaquim, mas sim dos particulares no geral).

(Outro ex.: norma penal de punição da falsificação de assinaturas e protege o interesse


público de documentos verdadeiros, etc., mas também nas relações entre particulares).

Portanto quanto às normas não tem que ser em sentido estrito e pode ser público ou
privado

Quanto aos interesses a norma tem que proteger os interesses de forma direta e imediato
e não estão em causa direitos absolutos nem relativos (isso é da contratual até) mas sim
sobre interesses de particulares mas não confere aos particulares que protege interesse
subjetivo de exigir ou pretender.
Porque se fosse um direito subjetivo absolutos era uma redundância porque se fossem os
interesses aqui esses direitos era uma repetição nas duas variantes.

Tem que se estar perante uma norma legal de proteção, mas para haver ilicitude na
segunda variante tem que estar preenchidos certos requisitos:

-Primeiro estar perante uma norma legal de proteção violada (este não conta)

-Delimitação ou determinação por via interpretativa do círculo de interesses protegidos


pela norma (1ª tarefa)

-É necessário que à violação da norma corresponda a violação dos interesses particulares


protegidos (não basta que haja uma violação da norma e é preciso identificar interesses
dos particulares que tenham sido atingidos) – uma atividade ainda do intérprete no plano
de abstração analisando ainda o caso em concreto. (2º pressupostos)

-O dano recai no círculo de interesses protegidos pela norma (é o mais complexo) e já


temos uma análise concretizadora e é um requisito causal basicamente.
O dano há de ser uma precipitação/concretização da violação dos interesses dos
particulares protegidos pela norma.

Quando formos dar o nexo (o agente não é responsável por todos os danos resultantes
após a prática do facto e apenas os danos causados pelos factos e vai mais ao encontro
desta ligação causal entre a violação das disposições legais e os danos causados).
(ex. na nota de rodapé do dr. Varela de autor trimarki (?) e um deles caiu: no tempo do
professor constituía infração rodoviária andar a par de bicicleta (andar uns ao lado dos
outros os ciclistas) e hoje não é infração sobretudo numa zona plana e é comum ver os
ciclistas aos trios uns aos lados dos outros mas era antigamente uma infração.
Nas aldeias antes era muito frequente ao domingo as meninas iam para o baile mas iam
de bicicleta e os rapazes iam de mota e iam a par confidências e tal.
Principalmente à tarde e caia a note e não se circulava com as luzes ligadas e a proibição
era de circular a partir de certa altura com as luzes ligados (intenção da norma – ver e ser
visto).
Circular à tarde pode retirar visibilidade.
Imaginemos que alguém violando esta disposição e na sequencia desta há um
atropelamento do par que ia ao lado.
Aquele que violou a disposição tal pode ser responsável por homicídio (até em termos
penais).
Pode haver violação.

Outro ex.: numa zona industrial era exigido que certos postos de tensão elétrica que os
fios de eletricidade ficassem a certa distância do solo e era uma norma para as zonas
industrias ondem circulam os camiões que são muitos altos efetivamente para evitar o
contacto direto que podia provocar alguns problemas elétricos com os camiões com os
fios.
Imaginemos que numa determinada zona industrial que a empresa que instala os fios não
respeitou a distância legal do chão ao poste e nessa situação pura e simplesmente há uma
violação da norma legal e sabemos os interesses protegidos (evitar o contacto direto para
evitar circuitos elétricos disfuncionais) e acontece que numa zona em que o fio está abaixo
há uma criança que decide fazer alpinismo ao poste e não corre bem.
A criança sofre danos.
O dano cai no circulo de interesses protegidos pela norma? Não porque o dano não é a
concretização típica dos interesses da norma e o que devia evitar-se era o contacto direto
e isso era o protegido.
Não basta a violação da norma e violação dos interesses mas também ligação causal.
Também a zona não era própria para alpinismo e há o âmbito da culpa do lesado que
exclui a culpa da pessoa que causou o dano.

Mas não se pode imputar á empresa o dano sofrido pela criança pela violação dessa
norma.

Sobre o abuso direito é a boa fé, os bons costumes e o limite económico social do direito
(reporta-se mais ao exercício dos direitos reais)

Temos as 3 variantes da ilicitude

Vamos expor uma matéria que tem uma aproximação ao Direito penal, mas temos que
saber uma ideia geral e não precisamos de captar tudo mesmo.

Nós dizemos que há ilicitude quando há:

-1ª variante – quando há uma violação de direito absoluto, se há violação de direito real ou
personalidade nós, pelo resultado da violação dizemos que há aqui ilícito.
Por esta violação admitimos de imediato a existência de ilícito e depois é certo que pode
haver causas de exclusão de ilicitude (para a próxima aula vamos dar uma passagem
curta sobre as várias).
Isto para dizer que perante esta violação identificamos a existência do ilícito e depois o
agente pode excluir a ilicitude invocando causas de exclusão da ilicitude.

Agora esta é a nossa perspetiva.

Todavia, há quem defenda que para admitir a existência da ilicitude não basta identificar a
existência do resultado/do tal dano que consubstanciou a violação do direito absoluto e é
preciso, sobretudo naquelas ações em que o dano não decorre direta e imediatamente do
agente e é preciso identificar ou saber se o agente violou deveres de conduta, deveres de
prevenção, deveres de diligência.

Dizer isto é dizer uma coisa diferente do que dissemos e não basta para afirmar a
existência de ilícito não basta identificar o dano e é preciso saber se ele violou deveres de
conduta, diligência de prevenção e entrar nesse juízo é já saber ou tentar saber se o
agente podia e deveria atuar de outro maneira e entramos numa conceção que não é
ilicitude do resultado mas da conduta e essa mistura elementos do ilícito com elementos
da culpa.
Mas para saber se houver ilícito ou não, não basta resultado e é preciso saber se violou
deveres de conduta, etc. e aí é já proferir um juízo de valor (culpa)

O ilícito do resultado distingue os pressupostos dos dois já a ilicitude da conduta não os


faz porque invoca elementos da culpa para estes.

Não vamos entrar em discussão dogmática, mas vamos dizer que esta conceção da
ilicitude da conduta não é uma que beneficie/tutela particularmente a posição jurídica dos
lesados.

Porque realmente para provar o requisito da ilicitude não basta ao lesado provar a
ocorrência de danos/do resultado porque para haver a ilicitude (segundo essa teoria) o
agente violou os deveres de conduta o que pode ser mais difícil e é um terreno pantanoso.

13/03/2023

Nós na última aula estivemos a analisar a ilicitude extracontratual tendo dito que a r.p.extra
previamente se distinguia da contratual ao nível de alguns elemento (ónus da prova,
causas de exclusão de r.p).
Depois entrámos nos vários pressupostos começando pela ilicitude (ação contrária ao
ordenamento jurídico)

Nas normas de proteção (demos o exemplo do ciclista de circular com as luzes ligadas e
haver uma situação dos ciclistas a par sendo que um deles não tinha a luz ligadas de noite
(ex. de Dr. Varelas) e a pergunta é que há essa violação e vem carro que atropela o outro
ciclista e mata este e a questão e saber se o ciclista que sobreviveu e vinha com as luzes
desligadas podia ser responsável e podia configurar um crime de homicídio negligente
pela morte do outro?)
Não explicamos isto no outro dia mas vamos passar a fazer isso, está aqui a violação da
norma legal de proteção e destinada a proteger alheios e particulares (segurança
rodoviária e a do mesmo) e a questão é se o dano cai no circulo de interesses protegidos
da norma e quais os interesses que a norma visava tutelar).
Quando se obriga alguém a circular com as luzes acesas o objetivo é permitir que a
pessoa veja e seja visto por terceiros ou poderá ser (outra alternativa) não só ver e ser
visto como facilitar e permitir que os terceiros, os outros utentes da via vejam quem está
ao seu lado.
Se nós consideramos que o fim da norma é o primeiro (ver e ser visto) então com a morte
de quem é atropelado ao seu lado não recai sobre os interesses tutelados pela norma, se
for o segundo fim então já aí cai nesses interesses (porque é adicionado o interesse de
permitir que a aqueles que circulam na via ver quem circula ao lado de quem circula em
violação dessa norma legal).

Isto é importante porque o sujeito só vai ressarcir os danos que correspondem aos
interesses protegidos pela norma.

Mudando de assunto.

Vamos ver as formas típicas de ilícito (no 483º/1 – o legislador indica duas variantes de
ilicitude (violação de norma x e direito de outrem)
E depois temos o outro no outro artigo antes mencionado.

No 484, 485 e 486 temos os tipos especiais de ilícito porque antes eram os gerais
(clausula geral).
Não é uma preocupação extensiva (484º objeto do doutoramento do professor, 485º objeto
de tese do prof. Sino Monteiro, etc.) mas basta ter noções das matérias e não é preciso
um grau muito grande de conhecimento.

484º

“Artigo 484.º

(Ofensa do crédito ou do bom nome)


Quem afirmar ou difundir um facto capaz de prejudicar o crédito ou o bom nome de
qualquer pessoa, singular ou coletiva, responde pelos danos causados.

Ilícito por divulgação de factos ofendidos ao bom nome e ao bom crédito

Este responsabilidade o agente que divulga factos que sejam ofensivos do bom nome e do
credor.
Este artigo assim como o 485º levanta um problema que é: “Será que tenha feito sentido
legislador consagrar este ilícitos especiais depois da clausula geral do 483º (são ilícitos
especiais mas se há sentido para haver essa consagração e essa é uma questão prévia
que se levanta vamos ver se há assim tantas razões.

É uma ofensa ao crédito e ao bom e só se responsabiliza o agente que divulga factos (e


não juízos de valor) e depois é preciso para a responsabilidade do agente que haja
divulgação ou transmissão de factos perante terceiros (perante um auditório de
destinatários maior ou menor).
Essa divulgação supõe um meio público que pressupõe uma maior ou menor intensidade
de transmissão.
No âmbito deste artigo não se inclui aquelas transmissões de factos diretamente dirigidas
a um destinatário. (nestes casos não se aplica).
Apesar de haver doutrina dizer que “nem às paredes me confesso” mas as paredes não
são terceiros e se estou a realizar a ofensa mas sem presença de terceiros não é esse o
âmbito da tutela da norma.

Ex.:
No direito penal a distinção desta ofensa conhecida entre terceiros e aquela que não é são
tipos diferentes (aquela imediatamente e diretamente dirigida ao lesado) (difamação e
injúria)
Se tivermos essas diferenças em conta dizemos que o 484º abrange a difamação de
factos perante terceiros mas não as da injúria.

Este artigo com estes pressupostos muda o âmbito de proteção do artigo, mas há um
problema:. Se só se aplica às divulgações de factos levante o problema de distinção entre
onde acaba a afirmação de facto e onde começa o juízo de valor e é uma questão que se
no chama no direito uma questão complexa (termo em latim que não apanhei)

Os factos são fáceis de provar na e pela realidade

Já os juízos de valor podem basear-se numa realidade mas supõe alguma margem de
elaboração crítica (seja no domínio da história, ciência ou qualquer conceção do domínio
da vida) e não são comprovados pela realidade.

Os factos podem expirar a uma presunção de verdade (ou são verdadeiros ou falsos –
tradicionalmente falando).
Mas como há uma certa tendência de depararmo-nos factos não verdadeiros e achamos
que há verdades intermédias, mas aí já são verdades com construção ideológica ou
política, mas essas verdades não são factuais.

Os juízos de valor expiram/podem aspirar a uma presunção de justeza e é perspetivada


para uns como mais justa e para outros menos.
Uns são factos de direito plurais e conflituais e deixamos de ter verdades absolutos
(relativismo axiológica).
A proposta axiológica nossa é contrariada pela de outros e gera um debate e por isso hoje
há a ideia do mundo sem dogmas.

Apesar de estar num estado de relativismo axiológico não quer dizer que não haja dogmas
(aquele conjunto de princípios e regras que não sendo colocados em questão acabam por
ser do domínio fundamental da vida económica e social (mas claro que são reversíveis).

Enquanto seres humanos somos seres livre e indeterminados e para isso precisamos de
padrões socialmente estabilizados e estabilizadores da nossa vida económica e social (isto
são dogmas).
Porque senão tivéssemos a cada dia eramos miúdos que reconstruiam a nossa vida a
cada dia senão era uma dispersão total.
Mas o que hoje é estável não quer dizer que seja estável amanhã.

Os factos têm aspiração de verdade

Os juízos de valor têm aspiração de justiça/justeza.

A pergunta: se os factos têm presunção de verdade e os outros são só de justiça o que é


mais ofensivo do nosso crédito e bom nome?
São os factos efetivamente que causam mais dano/mossa. Porque os juízos de valor têm
natureza de debate político.
O legislador selecionou dentro daquilo que pode ser objeto da liberdade de expressão
(nesta norma há dois bens jurídicos em dialogo protegidos – a liberdade de expressão (na
divulgação de factos) e do outro lado o bom nome e o crédito (temos que considerar a
liberdade de expressão na sua liberdade de liberdade de formação e por outro lado a
tutela do bom nome e crédito) e estão nesta luta efetivamente.
No âmbito daquilo que é objeto da liberdade de expressão podem ser factos e juízos de
valor mas só escolheu factos por terem maior potencialidade ofensiva.

Mas no 483º tanto se tutela/responsabiliza o agente pela divulgação de factos como pela
divulgação de juízos de valor e o abrigo do 483º é mais amplo e abrange os ambos.
E mais, ao abrigo do 483º tanto são incluídos aqueles factos que são publicamente
divulgados (incluídos no 484º) como aquele que são direta e imediatamente transmitidos
ao visado/lesado.

Se virmos bem o 483º tem um âmbito normativo mas amplo que o 484º quanto aos
aspetos da liberdade de expressão.
Em rigor dizemos que o valor tutelado é a liberdade de expressão no 484º mas na verdade
é a liberdade de informação como subliberdade da liberdade de expressão (porque é
sobre factos e a outra sobre os dois).

Por isso entendemos que o 483º é mais amplo.

Agora quanto aos bens que se tutela?

Fala-se de bom nome e crédito e realmente o que entendemos é que o bom nome e o
crédito são objetivações ou só manifestações do direito à honra (este é uma espécie de
direito quadro ou direito mãe (mais abrangente).

Neste filiam-se um conjunto de expressões e sendo alguns destes bom nome e crédito
(sinónimo= reputação social, prestígio e consideração social que desfrutamos no meio
social em que vivemos).
É uma conceção da honra objetiva

Por contraposição à honra objetiva/exterior está a honra interior/subjetiva, mas aqui há


tantas conceções de honra que nem vale a pena entrar por aí.

Mas o nosso prestígio de que gozamos e dos quais são vistos dos demais é diferente da
honra subjetivo/interior que corresponde ao respeito que temos por nós próprios que hoje
se designa por autoestima.
Não são os interiores que estão em causa, mas sim as exteriores.

Se houver um ato que diminua a pessoa que a pessoa se considere negativo, mas que
não belisca o seu lugar na sociedade esse facto não é responsabilizante.
Mas ao abrigo do 483º o que se protege? Todas as manifestações da honra, a subjetiva e
objetiva e perguntamos para que serve o 484º porque também a propósito dos bens o 483º
é mais abrangente e abrange toda a conceção de honra.

Nós já vimos que apesar de tudo que entre factos e juízos de valor os factos têm mais
capacidade ofensiva e o legislador pode querer destaca-los mas há muitas razões para
que este artigo possa ter surgido.
Todos nós entendemos que os direitos de personalidade são subjetivos mas quando
surgiu o CC de 1966 não era uma questão tão pacífica e considerar direitos da
personalidade como subjetivas (até o Dr. Varela) e o 483º como está agora não tem a
haver como quando surgiu em 1966.
No BGB há uma distinção de certos direitos para esta proteção e basicamente há uma lista
taxativa.
Até se chegar aqui houve posições provisórios em que se indicavam só concretos direitos
de personalidade e era preciso identifica-los porque não se achavam direitos subjetivos.
Mas hoje achamos todos os direitos de personalidade/de outrem como subjetivos.

Na altura não era assim e havia razões para isso e hoje é assim e ainda há posições
opostas, etc. ´

Pode ter havido uma razão para existir o 484º que hoje não existe.

Outra é para dar destaque aos de facto por ser mais ofensivo.

Outra razão é por se falar em bom nome e crédito (e dissemos que tudo era creditação
social) mas o legislador autonomizou e o crédito é uma conotação social com contornos
especiais e dependem a lex exatis do setor deste e onde o titular se move (ex.: reputação
social – pessoa muito honesta, brilhante, série (atributos de honorabilidade social) ; agora
uma pessoa séria no comércio pode ser mais ou menos séria e o comercianete de peixe
tem padrões diferentes dos da madeira).
(ex.: O comerciante no exercício da sua atividade foi condenado ao pagamento de uma
indemnização por não ter cumprido contrato e isto pode causar uma mancha grande na
sua atividade profissional e pode ter perdido uma série negócios e ter tido menos crédito;
mas isso não o torna menos sério no ponto de vista social/do bom nome, etc. e aliás até
pode acontecer que no mundo social em que se move ninguém saber dessa condenação).
Uma pessoa até pode ser muito refutada no ponto de vista genérico e depois no ponto de
vista profissional ter grande reputação.

Pode haver, porque o bom nome, o crédito e reputação são bens da personalidade e,
portanto, imateriais. Sem por em causa a natureza do direito de personalidade é que a
verdade é que este bem imaterial tem certa repercussão patrimonial e o crédito é um
daqueles bens da personalidade que em certos domínios específicos podem ter uma
dimensão patrimonial autónoma sem por em causa a sua dimensão de personalidade que
se tutela e quando assim é pode haver uma certa autonomização.

(ex.: com o mundo da internet hoje tudo é muito relativizável e tudo é global mas apesar
disto temos ainda bichos de ruralidade e há um setor de atividade que continua com certas
normas (atividade de farmacêutica comunitária) e continuam a ter regras de capitação (de
território e população).
Numa mesma localidade onde há duas farmácias apenas e, há partida, têm as mesmas
condições de mercado (mesmo meios, etc. e têm os mesmos programas, computadores,
etc. normalmente e a apresentação exterior destas ser muito parecido) e se nós
relativamente a estas duas farmácias detetarmos diferenças de apresentação diferentes e
pode haver alguma diferença e perante estas duas farmácias o que varia é o crédito e faz
a diferença e se um jornal vem difamar uma farmácia que realmente que uma maior
faturação os danos emergentes e os lucros cessantes destes têm uma expressão
autónoma significativamente superior da outra e pode ser sinonimo de crédito.

Temos a ideia antigamente de bom balcão (alguém que bem preparado, mas que se
aprecie mais e isso faz muita diferença).

O 484º também tem uma regra complexa que é a exceptio veritatis (a exceção da verdade)
se o agente só é responsável quando divulga factos contrários à vontade? E quando
conformes já não é responsabilizado?
Aquele que divulgou os factos “eu não sou responsável porque disse a verdade”
E se aceitarmos isto dizemos que a exceptio veritatis dizemos que é uma cláusula de
exceção da ilicitude do 484º (é a posição defendida pelo prof. Jorge mas o dr. Varela e o
professor também diz que mesmo com factos verdadeiros se pode ser responsável pela
ofensa ao bom nome e ao crédito).
(ex.: de um jornalista que vem divulgar facto verdadeiro num periódico local que atinge
gravemente a bom honra e crédito de uma lex exactis de um médico mas o alarme social
mesmo sendo uma coisa pequena pode ser tão grande pode causar danos.
Pode haver uma relação desproporcional entre a gravidade da atuação e os danos
causados.
Não temos mais nada atual nos dias de hoje relativamente à televisão, etc. (além das
redes sociais claro) que correspondem a denuncias de situações e estas podem provocar
efeitos de pelourinho/inquisição e hoje pratica-se em pleno estado de direito porque ainda
que sejam factos verdadeiros afeta em demasia danos em alguém.

Agora a pergunta é qual a posição que mais tutela a liberdade de expressão?

É a de não responsabilidade.

“Artigo 485.º

(Conselhos, recomendações ou informações)


1. Os simples conselhos, recomendações ou informações não responsabilizam quem os
dá, ainda que haja negligência da sua parte. 2. A obrigação de indemnizar existe, porém,
quando se tenha assumido a responsabilidade pelos danos, quando havia o dever jurídico
de dar o conselho, recomendação ou informação e se tenha procedido com negligência ou
intenção de prejudicar, ou quando o procedimento do agente constitua facto punível.

Responsabilidade por conselhos, recomendações ou informações

Aqui é o mesmo problema, se faz algum sentido depois de haver a cláusula geral do 483º
porque já absorve boas das situações destes.

Dar conselho, dar informação de acordo com a velha regra de irresponsabilidade. É a


regra velha do mandato romano “aquele que dá conselhos não responsabiliza aquele que
os dá nem vincula aquele que os recebe”.
A ideia é que em nome da tutela da liberdade de informação (subjacente ao 485º está este
valor também) é que quem dá conselho por regra não é responsável nem obriga aquele
que o segue a segui-los.
Os conselhos não são vinculativos e por regra os conselhos não correspondem a verdades
ou dogma (quando pedimos conselho a amigo não pagamos por ele e muitas vezes são
atividades de mera obsequidade nem se deve vincular quem os recebe).

Atenção que as coisas não são assim e há pessoas renumeradas com base em
conselhos, recomendações e informações e que se pagam caros e nessa perspetiva
realmente hoje não é tanto assim.

Isto leva-nos a distinguir uma coisa que não é fácil (o que é informação, recomendação e
conselho?))

A informação por regra é neutra e, portanto, corresponde a algo que é confirmado na


realidade histórico social.

O conselho e a recomendação já têm um aspeto critico valorativo por trás e não transmite
só uma informação e indica um critério ou faz uma valoração sobre a realidade de que se
está a pronunciar sob a forma de orientar a conduta do seu destinatário.
Entre a recomendação e o conselho há traços de menor vinculatividade ou maior para o
destinatário o seguir.
Isto no ponto de vista tendencial e tal como no 484º, o 485º também tem a questão de
onde acaba a informação, onde começa o conselho, etc.

Se nós estabelecermos uma regra de responsabilidade por conselho, recomendações ou


informações a tendência será de mais ou menos prática sobre isto?
Seria restringir e isto seria mau para o trafico jurídico e comercial.

Por isso no 485º numa regra subjacente encontramos aqui um conjunto de pressupostos
ou um conjunto de requisitos.

“1. Os simples conselhos, recomendações ou informações não responsabilizam quem os


dá, ainda que haja negligência da sua parte.”

Portanto a regra é a da irresponsabilidade e “mesmo que haja negligência”, negligência é


culpa.

2. A obrigação de indemnizar existe, porém, quando se tenha assumido a


responsabilidade pelos danos, quando havia o dever jurídico de dar o conselho,
recomendação ou informação e se tenha procedido com negligência ou intenção
de prejudicar, ou quando o procedimento do agente constitua facto punível.

Só há responsabilidade quando (ou):

-Tenha assumido responsabilidade pelos danos

-Haja dever legal ou comercial de prestar a tal informação, conselho ou recomendação


(hoje em dia estamos longe dos dias em que isto de mera obsequidade e há cada mais
dever de informação)

-Tem de haver culpa (negligência ou intenção de prejudicar (dolo))

-Que se tenha praticado facto punível (de índice criminal)

Nessa circunstância a regra da irresponsabilidade cede e dá lugar à responsabilidade.

Este 485º levanta um problema que é o chamado problema do dano ao património ou


danos puramente patrimónios ou danos no património em geral.

Este artigo não é um que tem muito relevo no âmbito dos direitos que são tutelados no
âmbito da primeira variante da ilicitude (direitos subjetivos (reais ou de personalidade) e
por regra das más informações, conselhos e recomendações não resultam ofensas a
direitos a absolutos, mas sim causam prejuízos patrimoniais (na banca, bolsa, seguros,
etc.)

O dr. Sino Monteiro (ex. de escola: diz que alguém esta numa montanha e estão duas
pessoas a fazer ski e perguntam a informação do melhor caminho na montanha e alguém
diz para virar à esquerda e lá encontram uma ravina e pronto.
Aí há um dano ao direito absoluto mas a regra é de danos patrimoniais (perdas
económicas às quais não estão ligadas a violação do direito absoluto).
Há pouco falávamos do jornal do qual transmitiu uma informação verdadeira sobre o
médico mas criou um dano grave na reputação e a esse médico pode ter baixado
abissalmente a clientela e aqui teve danos patrimoniais mas isto não são puras perdas
patrimoniais pois estas decorrem da violação do direito absoluto e houve violação do
direito absoluto que gerou perdas patrimoniais.

A informação por regra gera danos patrimoniais, mas não danos ao direito absoluto.

E, portanto, efetivamente ninguém tem direito absoluto sobre o seu património e ninguém
tutela contra as perdas patrimoniais e se queremos tutelar essa perda celebramos
contratos de seguro, mas aí já é tutela de r.c. contratual.

Ex. de escola: amigo nosso que vem de lisboa todos os meses a Coimbra passar 1 dia e
vai religiosamente almoçar ao mesmo restaurante da baixa e tem aquela quantia como
certa e imaginemos que o amigo nos encontra na baixa e diz que hoje vai almoçar a nossa
casa e não pode exigir o dono indemnização não porque não tem direito subjetivo que o
proteja contra essa perda patrimonial.

Nessa perspetiva há uma distinção quanto a responsabilidade por danos puramente


patrimoniais e esse dano pode ser evitado com normas legais de proteção.

O contrato com eficácia de proteção para terceiro realmente é outra via de tutela de
interesses patrimoniais e interesses puramente patrimoniais, mas não vamos desenvolver
muito aqui porque já falamos nos contratos a favor de terceiro, etc.

Hoje em dia as exceções à regra da responsabilidade são muitas? Quando há crise


financeira há um monte de conselhos a favor de x de y, etc.
E muitas vezes a linguagem técnica é tão cifrada que muitos pareceres financeiros são
para tutelar quem o faz.

“Artigo 486.º

(Omissões)
As simples omissões dão lugar à obrigação de reparar os danos, quando,
independentemente dos outros requisitos legais, havia, por força da lei ou de negócio
jurídico, o dever de praticar o ato omitido.

Responsabilidade por omissão

Aqui é quando se impõe excecionalmente um dever de ação (porque se viola uma ação
omitindo)

É a responsabilidade por ação porque estão em causa deveres de abstenção quando é


sobre direitos absolutos, mas quando surge o dever de agir seja legal ou negocial o agente
tem dever de agir e só releva o dever de agir quando omite e o 486º na sua disposição diz
os vários requesitos e esta norma é excecional.
Esta só o é porque se quer proteger a liberdade geral de ação.
Para o tráfico jurídico funcionar há liberdade de ação e se estivéssemos a admitir por regra
a r. por omissão estávamos a admitir por regra os deveres de ação.
E dava lugar a uma omissão por regra e limitava a nossa liberdade de ação.

Porque a liberdade do homem de ação tem a faculdade negativa de não o fazer se quiser
e se assumíssemos a omissão como regra era a limitação da liberdade de ação e cada
vez mais há condutas de dever de ação e do tráfico jurídico e os vários deveres de
proteção e uma relação negocial complexa leva a vários desses deveres.

Causas de exclusão da ilicitude/justificação da ilicitude

Se houver uma causa de exclusão da ilicitude há responsabilidade do agente?


Não porque não há ilicitude que é um pressuposto.

Isto é a importância desta causa de exclusão e o mesmo para a culpa ou uma com a outra
(o mesmo raciocínio vale para a culpa)

Vamos ver suscintamente:

-Ação direta (336º)

-Legítima defesa (337º)

-Estado de necessidade (339º)

-Consentimento do lesado (340º)

Em qualquer situação são meios de autotutela dos direitos e que são restícios de justiça
privada em que tem para efetivar o direito os particulares incorrem à sua própria força.

Hoje o monopólio do uso da força cabe aos tribunais e ao estado e aqui é permitido o uso
da força privada como restício e portanto são situações excecionais e é uma mancha da
tutela privada mas é a título manifestamente excecional.
Excecional porque depende da observância de certos pressupostos e estes meios de
autotutela do direito e este uso da força privada cria realmente problemas graves no
excesso do uso da força e permitiriam estes que a justiça auxilia-se os mais fortes e
auxilia-se os mais fracos e a lei de …leão “olho por olho, dente por dente” está nesta ideia
de proporção e da necessidade.
Se nos atinge a integridade física não temos que matar mas podemos afetar a integridade
física de volta, se nos atacam com uma colher de pau não vamos corresponder com um
tiro (caso de legitima defesa)

Ação direta

Implica o uso da força para efetivar o direito por forma de subverter obstáculos ao
exercício do direito (normalmente obstáculo de cariz material e o titular usar a própria força
para evitar a perda de direito porque alternativa era recorrer a tribunal e esse recurso
poderia determinar a perda irrecuperável do direito).

Uso à força de modo afastar o obstáculo ao uso do direito porque o uso de meios
coercivos inviabilizaria a tutela dos direitos.

Ex.: um arrendatário que precisa das chaves para entrar em casa (a partir do momento em
que o contrato de arrendamento entra em vigor) e o senhorio não entregou a chave
(imaginemos que chegamos a Coimbra para entrar no nosso quarto e o senhorio não
entregou a chave e não vamos recorrer a tribunal para ter a chave e para não passar a
noite ao relento podemos arrombar a porta desde que não provoquemos danos
incomportáveis.
“Artigo 336.º

(ação direta)
1. É lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito, quando a
ação direta for indispensável, pela impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios
coercivos normais, para evitar a inutilização prática desse direito, contanto que o agente
não exceda o que for necessário para evitar o prejuízo.
2. A ação direta pode consistir na apropriação, destruição ou deterioração de uma coisa,
na eliminação da resistência irregularmente oposta ao exercício do direito, ou noutro ato
análogo.
3. A ação direta não é lícita, quando sacrifique interesses superiores aos que o agente visa
realizar ou assegurar.

Podemos chamar alguém para arrombar a porta, mas não a vamos destruir porque
ficamos também com problemas de segurança e frio também.

Legítima defesa (337º)

Há pressupostos associados quanto à agressão e defesa.

Relativamente à agressão esta deve ser atual e ilícita.

 Requisito da atual é fundamental e só pode agir em LD quando é contra um ataque


em curso e durante o ataque nós só aí podemos agir em LD.
Quando não é atual podemos pedir um procedimento cautelar ou acautelarmo-nos
ao perigo, mas não há um ataque, mas sim um receio.
Se a atuação já foi consumada não pode haver LD porque pressupõe a ação em
curso.
Se a ação foi consumada a pessoa pode recorrer aos meios normais e recorrer
aos meios de atuação (ação de responsabilidade civil)

 A agressão tem que ser ilícita (não tem de ser culposa mas basta ser ilícita) se
formos atacados por um menor de 7 anos (inimputável) e é ilícito mas não é
culposa porque é inimputável mas podemos defender os nossos bens de LD.

Relativamente à defesa tem que ser atual, tem que ser necessária (não haja outro meio
para evitar a consumação desse mal), temos que escolher meio adequado (adequação) e
a proporcionalidade (tem que ser adequado ao fim que se destina) e tem que de haver um
balanço entre os bens sacrificados e os salvos.

Ex.: O dono de uma ourivesaria que está a ver o ladrão a entrar na sua loja e a
começarem a ir às gavetas, dispara para matar ou para o pé para o imobilizar? Tem que
imobiliza-lo e não matá-lo.
Há muitas situações destas e depois há o problema de a ação ser atual (se disparar
enquanto tira o material corre o risco da lesão já ser passada e pode nem ser LD).

Estado de necessidade (339º)


Na legítima defesa o diálogo é sempre quem ataca e quem se defende e o agente que
atua em LD atua contra quem está a deferir o ataque, no estado de necessidade o agente
que afastar um perigo que recai sobre a sua pessoa, sobre o seu património ou pessoa ou
património de terceiro e nessa hipótese o que acontece é que pode atingir, destruir,
danificar bem pertencente a terceiro para afastar esse mal que era superior.

Tanto o estado de necessidade como a legítima defesa pode ser de terceiro (ex.: se um
pai vê alguém a espancar um filho temos LD de terceiro até em nome do dever geral de
auxílio)

No estado de necessidade para afastar o perigo vai atingir-se bem de terceiro e não
agressor (ex. de escola: alguém sai da biblioteca com uma edição rara de lusíadas por
baixo do braço e não tem o guarda chuva e chove e há um risco que pode decorrer sobre
o património (ignorando a negligencia) e para evitar o perigo vê alguém com um guarda
chuva (e a senhora tinha um casaco de pele) para proteger o lusíadas.
A senhora fica com o casaco de pele de marca destruído.
Temos alguém que para afastar perigo sacrifica bem de terceiro (utilizou o bem de outro e
como consequência provocou este dano significativo).
Ficou o excluído o ilícito ou não? Reparemos que na legítima defesa tem que haver o
perigo que atinga a pessoa ou terceiro, mas há um conflito de interesses e uma
consideração dos bens a defender e o bem atacado porque efetivamente o que é
superior?
O casaco de pele de marca ou a edição rara dos lusíadas.

Temos que ter um balanço porque depende de qual vale mais (em princípio da edição rara
por isso há exclusão).

Se forem cumpridos esses requisitos não há direito a indemnização, mas se houver outra
questão é olhar para o nº2 do 339º.

Neste caso, se num dia destes irmos buscar um livro raro sem guarda chuva quem
provocou isto foi ele e teria de indemnizar a senhora que era dono do casaco de pele de
marca, mas porque havia culpa exclusiva do indivíduo por força deste nº2, caso contrário
havia exclusão.

Consentimento do lesado (340º)

Aqui o que exclui a ilicitude é o ato do agente em virtude do lesado aceitar ou co autorizar
o ato ilícito/danoso.

O Consentimento como sabemos tem diversas formas:

-Expresso

-Tácito (através de um comportamento concludente) – (ex.: no domínio de certas


atividades tipo rugby ou box, quem vai para uma competição de box sabe que não são
festinhas e há um consentimento tácito, assim como no rugby, futebol, etc., mas claro que
tudo o que excede, excede e pronto.

-Hipotético/presumido (é presumido)

Isto é importante para responsabilidade civil (ex.: todos nós temos ideia que cada vez mais
enquanto pacientes em nome da tutela do direito de autodeterminação temos que prestar
o nosso consentimento (consentimento informado) e os médicos não podem praticar os
atos sem consentimento dos seus pacientes.
Longe não estivemos que os médicos em nome de uma diferença de opinião ao paciente
como ser superior (como pai quase do paciente) tinha um poder-dever de tratar o paciente
e essa ideia paternal do médico foi substituído pelo modelo do consentimento informado
(porque nós para consentir temos que ser informados (para fazer uma operação ao
abdómen temos que ser informados os pros, contras, o tipo de intervenção, etc. e depois
damos o consentimento).

Agora imaginemos que durante uma operação o médico descobre que para além do que
tinha operar tinha que operar outra coisa que fica no meio da intervenção e não tem
consentimento nem o pode pedir a ninguém e poderá usar o consentimento presumido.
E atua naquilo que, caso tivesse perguntado ao paciente presumia que o paciente não
faria outra coisa senão dar o seu consentimento.

E este consentimento presumido está a par de uma condição terapêutico do médico (e o


médico às vezes acha que cabe ao paciente operar ou não, mas efetivamente também
sabe quando não resta nada além de operar).
Se faz operação mas provoca danos não previsíveis resta saber que tipo de danos e
sendo irremediáveis depende da atuação feita porque se foi uma atuação exemplar não há
responsabilidade (o professor acha) mas sendo por negligência é o caso.

Atenção que estes meios não são exigíveis para o desenvolvimento.

Passamos então para a culpa

20/03/2023

Tínhamos ficado na culpa e vimos os artigos especiais 484º e ss.

A responsabilidade que nós estudamos é a responsabilidade civil extracontratual (factos


que provocam danos a terceiros)

Quando a veloso começou a matéria havia várias designações (responsabilidade civil


delitual, subjetiva, por culpa, etc.)
Mas lá está, rp civil subjetiva, civil por culpa (exigimos o requisito de dano sempre).

Por enquanto a regra é a responsabilidade civil extracontratual ter na base a culpa e


vejamos o artigo 483º/2

Subjetiva é com culpa e a objetiva é independentemente da culpa.

Por causa disso a objetiva é excecional e tem de ser tipificada.

483/2.

2. Só existe obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos casos especificados na lei.


O que é que à partida temos a tendência para dizer?


Os casos estão especificados no código civil… mas não estão e são as previstas na lei
seja no código civil como na legislação avulsa (ex.: responsabilidade civil do produtor e
essa matéria é realmente importante mas está prevista no decreto-lei 383/89 – é lei mas
não tipificada no C.C.).
Quando se fala em lei é qualquer lei (ex.: responsabilidade civil do detentores de
recreios(?) está na avulsa).

O código civil é de 66 e a responsabilidade civil objetiva surge em 89 e o legislador podia


ter alterado o código civil mas entendeu que essa matéria ficaria num diploma avulso.
Não consideramos apenas os casos tipificados e vamos estudar no C.C o 500º, o 501º, o
502º, 503º e 509º.

Todas essas hipóteses iremos estudar, mas para além dessas vamos também estudar a
responsabilidade civil do produtor.

O que é a culpa?

A culpa é um juízo de censura dirigido a outrem que podia e devia ter atuado de outra
maneira.

“podia e devia ter atuado de outra maneira” – o agente é passível de um juízo de censura
e por isso Este é um requisito subjetiva porque é uma censura dirigida ao agente porque
devia e podia ter atuado de outra maneira.

Distingue-se, portanto, da ilicitude porque a ilicitude como nós a defendemos é a ilicitude


do resultado a ilicitude é um requisito de dimensão objetiva e não tem dimensão subjetiva
e é uma contrariedade da atuação do agente com os preceitos da ordem jurídica e
portanto atua contra a ordem jurídica e é desconforme às exigências da ordem jurídica.

Enquanto a culpa tem uma dimensão subjetiva e a ilicitude objetiva.

Há quem diriga a ilicitude para uma dimensão de culpa.

Para nós na ilicitude viola-se o direito absoluto e houve ilicitude e não se entra se há culpa
ou não e vê-se isso já só na culpa e se é passível de juízo de censura.

São perspetivas diferentes e o Dr. Calvão da Silva defende esta perspetiva e Dr. Varela
também.

É um juízo de censura que podia e devia ter atuado de outra maneira – pegando nesta
última parte diz que só é suscetível de juízo de censura quem podia e devia atuar de outra
maneira e este poder e dever remete-nos para o conceito de imputabilidade.

Quem é o imputável? Aquele passível do juízo de censura, mas como se caracteriza um


imputável? Nada de imputabilidade penal, mas civil.

-Aquele que tem capacidade de discernimento (elemento intelectivo/cognitivo da


imputabilidade) – o agente que tem capacidade ou aptidão para compreender o sentido
dos comandos da ordem jurídica – para distinguir do que é lícito e do que é ilícito que os
comandos da ordem jurídica lhe impõem, mas não basta -»)

-Aquele que tem liberdade de determinação (elemento volitivo da imputabilidade) – é


preciso que o agente tenha uma liberdade de determinação – capacidade/aptidão para
conformar ou orientar a sua conduta de acordo com a avaliação que fez com os comandos
da ordem jurídico e a capacidade que tem de moldar a sua conduta às exigências dos
comandos da ordem jurídico e há pessoas que não têm regressão cognitiva, mas não tem
capacidade para se autogovernar)

Estes dois juntos caracterizam quem pode atuar de outra maneira.


488º/2 do C.C “2 - Presume-se falta de imputabilidade nos menores de sete anos.

Porque efetivamente hoje em dia das crianças até têm a capacidade cognitiva, mas depois
não têm a capacidade de determinação.

Na oral devemos referir as características e não só ler o artigo 488º porque não é
desenvolvido o suficiente.

Este artigo 488º foi alterado em 2018 por causa da lei do maior acompanhado porque até
2018 havia presunção de inimputabilidade aos menores de 7 anos e aos interditos por
anomalia psíquica, mas hoje não há interditos nem inabilitados por força do regime dos
maiores acompanhados que existe.

Esta presunção do nº2 é ilidível porque uma criança menor de 7 anos por regra não tem
capacidade de discernimento mas há exceções para tudo mas esta presunção beneficia o
menor de 7 anos porque se ele cometer algum ato ilícito suscetível de culpa não pode ser
considerado responsável.
Mas só o beneficia a ele porque se o lesado quiser imputar a responsabilidade é o lesado
que tem de ilidir a presunção de culpa e o menor de sete anos tem capacidade de
discernimentos e de determinação (isso tem de ser provado pelo lesado).
Quem tem ónus da prova é o lesado aqui.

Os menores de 7 anos têm a presunção, mas não os únicos inimputáveis e qualquer


pessoa que no momento do ato não tem uma das características é inimputável.

Ex.: agente coloca-se numa situação de alcoolémia para praticar um ato ilícito (ajuste de
contas com inimigo) então para afastar a imputabilidade coloca-se numa situação de
alcoolizado e colocou-se deliberadamente numa situação de incapacidade e no momento
da prática do facto não tinha capacidade de discernimento nem liberdade de determinação
mas ele intencionalmente (na causa do alcoolismo) esteve um ato ilícito e portanto não o
torna inimputável.
Accio libera in causa (é o nome desta categoria) – na causa ele colocou-se culposamente
na situação e portanto deve continuar a ser considerado imputável e suscetível de
responsabilização de outra forma estaremos a beneficiar o infrator.

Portanto, inimputável não pode ser responsabilizado e a regra é essa – exceções (489º):

-A inimputável provoca dano a terceiro e é uma pessoa detentora de elevada fortuna e o


lesado é uma pessoa que sofre de dificuldades económicas e há diferença manifesta entre
as duas esferas jurídicas patrimoniais. Nesta situação, em termos de justiça do caso
concreto, aplicamos a equidade e tecnicamente o inimputável não deve ser
responsabilidade mas no ponto de vista dos valores criar-se-ia uma grande injustiça e em
virtude dessa situação, com fundamento na equidade é possível responsabilizar o
inimputável.
Mas com base na equidade e não direito estrito.
Mas não pode condenar o inimputável a um montante elevado se dessa indemnização
resultar dificuldades económicas para o inimputável pois precisa de base patrimonial para
alguém o bastar (porque não consegue se auto abastar).
O montante de indemnização é determinado pela 494º que vamos dar a seguir e o juiz
pode fixar o montante de indemnização em função da culpa (se é dolo ou negligência,
etc.).
Mas aqui não é possível porque não há culpa então:
“2. A indemnização será, todavia, calculada por forma a não privar a pessoa não imputável
dos alimentos necessários, conforme o seu estado e condição, nem dos meios
indispensáveis para cumprir os seus deveres legais de alimentos.”

Portanto, não pode ser o inimputável privado dos bens legais para se bastar nem para não
conseguir cumprir os deveres legais de alimentos e paga a indemnização, mas nunca uma
que o prive de viver nem de alimentar.

Temos o quadro da imputabilidade (de quem podia e devia atuar de outra maneira).
Podia porque é imputável.

O devia leva-nos aos critérios de apreciação de culpa.

Como é que nós enquanto juristas (juízes, interpretes do direito, etc.) podemos concluir
que o agente deveria atuar de outra maneira?
Através dos critérios de apreciação da culpa e no artigo 487º/2 estabelece um critério de
apreciação de culpa e como o estabelece é esse a aplicar.
O critério da culpa em abstrato que recorre à figura do bom pai de família (bonus pater
família).

“2. A culpa é apreciada, na falta de outro critério legal, pela diligência de um bom pai de
família, em face das circunstâncias de cada caso.”

É uma figura que obedece a uma certa categoria em função de um conjunto de normas
dominantes e características.

O que é esse critério da culpa em abstrato?


Para saber temos que enfrentar com o critério da culpa concreto (que nós na legislação
não consagramos).

Na culpa em abstrato o decidente para saber se devia ou não devia considerar a culpa
compara a conduta do agente no momento da prática do facto (que é submetida a
apreciação) com a conduta que teria sido adotada naquelas circunstâncias pelo tal bom
pai de família (o bom pai de família é o chamado homem médio e o homem médio é
aquele que não é alto nem baixo, não é feio nem bonito, nem burro nem inteligente) – é o
homem medianamente ou normalmente prudente, diligente e sagaz.

No critério da culpa em concreto quando houver divergência entre esta e a atuação do


agente o que é que se confronta?

-A conduta do agente no momento da prática do facto vs. Conduta que o médio agente
normalmente adota.

O Dr. Eduardo Correia traz a figura do homem médio porque o direito não quer prever nem
santos nem sábios, mas sim os homens médios.

Porque é nós não adotamos o critério da culpa em concreto?

Porque a adoção deste critério era suscetível de implicar grandes injustiças e este tipo de
formula era de modo a criar injustiças porque se tivesse sido apreciado a conduta de um
homem que é normalmente muito diligente e sagaz à mais pequena falha do caso concreto
era considerado culpado.
(ex.: Um agente muito meticuloso e se na prática do facto teve um pequeno desvio era
logo culpado).

Ao invés o que aconteceria com o homem desleixado normalmente e que se seria no


momento da prática do facto descuidado como sempre não era culpado.

O critério da justiça ia mudar muito a culpa e por isso adotamos o subjetivo.

A culpa em concreto ficou a ser proposta relativamente à responsabilidade contratual e


que a esta deveria aplicar-se a este e não é desprovida de todo porque na contratual há
uma relação especifica entre as partes e um conhecimento específico das partes e este,
as suas vontades, etc. e mais facilmente a culpa concreta se poderia aplicar, mas não foi
aplicada.
O 799º/2 – diz que à contratual aplica-se os termos gerais da responsabilidade civil,
portanto continua o abstrato.

O 799º é sobre o ónus da prova da culpa, mas deixamos o nº2 para esta parte
precisamente para fazer esta distinção.

Vamos para um patamar um bocado mais difícil.

Estamos na culpa em abstrato como diz na lei. O decidente tem que ver se houve
divergência da conduta do agente e um homem médio agora para averiguar se o agente
se colocou nessa bitola de exigência do homem médio nós temos dois critérios alternativos
(dentro do critério da culpa em abstrato temos dois critérios em bifurcação para vermos se
o agente atingiu o nível de diligência do homem médio):

 A culpa com deficiência da vontade – é um critério que atende sobretudo ao


esforço que o agente teve para se colocar nesse tal padrão médio de diligência
(atende ao esforço que o agente teve para corrigir as suas infrações, inaptidões,
inercie e se o agente fez um esforço significativo (pela decisão do decidente) para
corrigir isso e colocar-se na tal bitola então de acordo com este critério o agente
não é considerado culpado porque o agente não atingiu o padrão da bitola média
mas esforçou-se para cumprir tentando corrigir as suas deficiências). Este critério é
mais condescendente que o outro da conduta. E basta a tentativa para não ser
culpado.
 A culpa com deficiência da conduta – de acordo com este que é mais exigente que
o outro não basta para desresponsabilizado o agente não basta o esforço deste
para corrigir as ineptidões, imperícias ou imperfeições e não basta o esforço para
atingir a bitola de diligência média pois se o agente apesar do esforço não
conseguir atingir a tal bitola do homem médio o que se deve fazer é abster-se de
agir porque se o agente com os esforços de correção não conseguir atingir a bitola
da diligência média o que deve fazer é abster-se de agir.
E se não abstiver de agir é culpado. Efetivamente este critério é mais
exigente/rigoroso.

Nós não adotamos o primeiro critério.


Preferimos na senda de Dr. Varela o segundo critério mas atende ao princípio da
confiança na atuação dos outros e esperamos que os outros não adotem condutas que
sejam lesivas dos nossos diretos e é exigível aos outros um esforço de abstenção.
Alterem non laedere (fazer tudo e mais alguma coisa para não danificar o direito dos
outros)

Há quem diga que a adoção deste critério é muito exigente e é realmente mais exigente e
há quem diga que não se deve adotar porque este critério é de tal forma exigente que cria
uma espécie de cripto culpa que aproxima a responsabilidade subjetiva (cripto culpa por
ser muito exigente) ao pé da responsabilidade objetiva que essa sim é exigente e nem é
preciso verificar culpa.

(Ex. de escola para distinguir os dois critérios: Médico aposentado que não trabalha para o
hospital e era cirurgião e há um amigo seu que precisa de ser operado (listas de espera) e
ele não está no hospital mas tem um consultório privado com instrumentos e adquire
novos instrumentos e está a estudar a legis exatis para acompanhar os melhores métodos
da cirurgia e fez todos os esforços para se colocar na bitola de médio cirurgião medico e
fez todos os esforços mas a operação corre mal.
Há aqui danos e um problema de saber se tem culpa.
No primeiro critério ele não seria culpa porque fez todos os esforços para atingir a bitola
média.
Segundo o segundo devia abster-se de operar e é culpado porque operou.)

Nesta perspetiva nós podemos dizer que este critério da culpa com deficiência da conduta
é muito restrito, mas é o que nós adotamos. Qualquer dos critérios é compatível com o
critério da culpa em abstrato e apesar de adotarmos estes há pessoas mais favoráveis ao
outro.
Há certos setores que têm uma tendência contabilizar o rigor da deficiência da conduta
com alguns critérios do da vontade e há certas margens de desculpabilidade.

Modalidades da culpa:

-Dolo

 Direto (o agente prefigura o resultado danoso e quer efetivamente com a sua


conduta alcançar aquele resultado) (ex.: alguém que quer vingar-se do seu inimigo
e sabe que ele passa na rua x e eu vou ataca-lo (ofensa à integridade física)) –a
forma mais grave
 Necessário (o agente prefigura o resultado danoso não como consequência direta,
mas ele quer adotar uma conduta e sabe antemão (por isso intencional) que se
atuar assim ele vai necessariamente provocar o dano (o dano não é a
consequência direta mas sim uma necessidade lateral para a ação (comummente
falado como “danos colaterais” mas não devemos dizer isto no exame). (ex.: A
quer aceder ao terreno e para aceder ao terreno com a brevidade que necessita
terá que passar um terreno antes dele e podia ir por outro lado mas fazendo o
percurso por onde tem a servidão de passagem dava mais custos e não tinha
tempo e para atalhar caminho ele tem que passar lá mas sabe que ao passar vai
destruir as estruturas do campo do vizinho mas como quer passar mais rápido
destrói as culturas e o resultado de destruir as culturas não era a consequência
principal mas o dano era a consequência necessária para o objetivo principal.
 Eventual (a forma mais ténue do dolo e é uma categoria que anda a paredes meias
e espécie de primo da negligência consciente e é difícil muitas vezes saber onde
acaba e começa um – no dolo eventual e a negligência consciente é a mesma
coisa o agente prefigura o resultado danoso como uma consequência meramente
eventual (não necessária como anteriormente) e aceita o resultado como
meramente eventual “é possível”, “se eu agir assim isto pode acontecer” mas o
agente atua (usando a formula da dupla negativa de Eduardo Correia” porque não
confia na não produção do resulta.
Dois nãos forma a dupla negativa e esta resulta numa afirmação.
Portanto há uma adesão ao resultado e o agente aqui não confia no não resultado
e uma dupla negativa quer dizer afirmação e diz que pode acontecer mas se
acontecer é igual).
Ex. que dá para os dois mas não devemos usar nas orais e saber a definição:
alguém vai a conduzir um veiculo e ao fundo da rua onde está a conduzir há uma
rotunda onde estão a passar pessoas no meio da rotunda e, a transitar, no entanto
no ponto de vista do agente se eu não reduzir a velocidade possivelmente vou
atropelar as pessoas (de uma forma eventual) e vale aqui tanto para o dolo
eventual como para a negligência consciente.
A diferença é que “eu posso atropelar” e temos duas hipóteses:
o Eu não reduzo e se acontecer paciência (dolo eventual) havendo aderência
ao resultado.
o Eu não reduzo, mas quase de certeza não vai acontecer e acredita nisso
mesmo e não há aqui adesão resultado, mas sim um
descuido/imprudência.

-Mera culpa = negligência (a expressão mera culpa dá a entender que é menos grave que
a culpa e dá a entender negligencia e dá a entender deveres de diligência)

 Consciente (distinguindo o dolo eventual à negligência consciente (continuação)


que é a forma mais grave de negligência e a parte intelectual é igual ao dolo
eventual (o agente prevê o resultado danoso como meramente possível ou
eventual do ponto de vista emocional a diferente é que prevê o resultado como
eventual, mas atua porque confia na não produção do resultado.
O que distingue é a parte emocional.
 Inconsciente (é a forma menos grave de culpa e aqui o agente não prevê o
resultado danoso nem como possível ou eventual então se não prevê porque é
censurado? Porque deveria ter previsto se tivesse usado da negligência devida e
se tivesse cumprido os seus deveres de diligência deveria ter previsto.
No dolo havia intenção e na negligência há violação de deveres objetivos de
prevenção.
Ex. de escola: era um fumador compulsivo de um charuto (que era passageiro num
carro) e atira o cigarro junto à beira da estrada está um terreno cheio de erva seca
e provoca um incêndio e ele não previu o facto danoso de atira o charuto mas com
a devida negligência ele teria previsto).

No 483º refere “dolo ou mera culpa” = dolo e negligência.

A própria expressão mera culpa em contraposição ao dolo fala que a negligência é menos
grave e a distinção vai ser em alguns casos complexa se meramente dogmático, mas com
interesse prático e normativo (que se recorde no 494º)

No âmbito da extracontratual não encontra como na contratual entre vários contratos a


distinção entre culpa leve, ligeira, etc. e noutros contratos de seguro o dolo com intenção
de obter uma vantagem e essas considerações no âmbito da extracontratual não aparece.
A distinção entre dolo e negligência tem importância pratica a propósito do 494º que é
muito importante que nos remete para a solução preventiva ou sancionatória da
responsabilidade civil.

Aqui diz-se que o juiz pode graduar o montante da indemnização tendo em conta o nível
ou grau de culpa do agente e, portanto, fixar o montante de indemnização inferior ao dano
apenas nas hipóteses de negligência seja ela inconsciente ou consciente.

Neste sentido até a negligência consciente pode determinar a diminuição relativo à


indemnização do dano.
Dizer isto é assumir que a responsabilidade civil também tem uma função preventiva ou
sancionatória.
Apesar de não ser a função principal (que é a ressarcitória ou reparatória que resulta do
artigo 562º do CC que é reparar o dano subjacente a este artigo está um princípio da
reparação de grau no sentido em que com a indemnização o objetivo é colocar o lesado na
situação em que ele se encontraria caso não tivesse ocorrido o facto danoso e é
ressarcido integralmente os danos e à partida o montante de indemnização há de
responder ao montante do dano/prejuízo isto para dizermos qual a função principal, dizer
“encontraria” é importante porque o juiz compara a situação real com a situação hipotética-
conjetural/virtual em que estaria senão o facto praticado e não é comparar a situação atual
com a anterior mas sim virtualmente (ex.: alguém mata a galinha do vizinho e a ressarcirão
integral é dar a galinha ao vizinho mas podia haver ovos, etc. e ele perdeu isso) mas a
ideia é a restituição integral pois o grande objetivo é reparar agora isto é 562º e se nas
hipóteses de negligências o juiz pode fixar uma indemnização inferior ao dano então afinal
para além da função ressarcisória pode haver sancionatória porque o grau de culpa era
menor porque quando tiver dolo e indemnização não pode ser inferior ao dano.

A culpa tem relevância na responsabilidade criminal e aí o DP tem função sancionatória


além da reintegração, etc. e nós aqui falamos de uma função sancionatória porque em
função do grau de culpa vai fixar a indemnização mas sempre como função secundária ou
acessória porque se fixa o montante indemnizatório inferior ao dano e nunca superior ao
dano.
Se o juiz chega à conclusão que ele atuou com menos gravidade (foste mau mas o menos
mau possível) e portanto aí pode haver aqui certos danos permitidos (matérias que vamos
dar mais á frente) e a possibilidade de haver uma função sancionatória autónoma e pura à
responsabilidade civil (montante indemnizatória superior ao dano – aí já com a função de
punir o agente e isto acontece muito nos EUA com a imprensa sensacionalista e de obter
grandes lucros).
É uma função sancionatória mas também premiar (que é para premiar o agente que age
menos mal).
Ónus da prova da culpa – 487º/1 (objetivação do 342º)

Já falamos disto na distinção entre extracontratual vs contratual onde há distinção entre


ónus da prova da culpa.
Na extracontratual é o lesado que tem de provar a culpa do lesado e o na contratual é o
799º/1 e é o devedor que tem de provar que não teve culpa.
É normal que seja o lesado porque a culpa sendo elemento constitutivo da
responsabilidade tem ele que provar.
Isto a não ser que haja presunção legal de culpa e isto altera o ónus de prova entre os dois
e havendo presunção legal de culpa (tem que estar na lei) o resultado prático é que se
inverte o ónus da prova da culpa.

Presunções legais de culpa na extra:

-491º, 492º e 493º

-Ainda temos o 503º/3 mas essa é uma presunção legal sobre os especiais que vamos dar
mais à frente e é a responsabilidade extracontratual mas a objetiva sobre os acidentes de
viação mas é uma coisa estranha onde ainda vamos gastar muito tempo e é um ponto
estranho.

Passando para o 491º e ss.

“Artigo 491.º

(Responsabilidade das pessoas obrigadas à vigilância de outrem)


As pessoas que, por lei ou negócio jurídico, forem obrigadas a vigiar outras, por virtude da
incapacidade natural destas, são responsáveis pelos danos que elas causem a terceiro,
salvo se mostrarem que cumpriram o seu dever de vigilância ou que os danos se teriam
produzido ainda que o tivessem cumprido.

Presunções legais de culpa que recaem sobre os vigilantes no âmbito de uma relação de
incapacidade natural, relação de vigilância sobre os inimputáveis

“Artigo 492.º

(Danos causados por edifícios ou outras obras)


1. O proprietário ou possuidor de edifício ou outra obra que ruir, no todo ou em parte, por
vício de construção ou defeito de conservação, responde pelos danos causados, salvo se
provar que não houve culpa da sua parte ou que, mesmo com a diligência devida, se não
teriam evitado os danos. 2. A pessoa obrigada, por lei ou negócio jurídico, a conservar o
edifício ou obra responde, em lugar do proprietário ou possuidor, quando os danos forem
devidos exclusivamente a defeito de conservação.

Que recaiam sobre prédios que ameacem ruir.

“Artigo 493.º
(Danos causados por coisas, animais ou actividades)
1. Quem tiver em seu poder coisa móvel ou imóvel, com o dever de a vigiar, e bem assim
quem tiver assumido o encargo da vigilância de quaisquer animais, responde pelos danos
que a coisa ou os animais causarem, salvo se provar que nenhuma culpa houve da sua
parte ou que os danos se teriam igualmente produzido ainda que não houvesse culpa sua.
2. Quem causar danos a outrem no exercício de uma actividade, perigosa por sua própria
natureza ou pela natureza dos meios utilizados, é obrigado a repará-los, excepto se
mostrar que empregou todas as providências exigidas pelas circunstâncias com o fim de
os prevenir.

Temos que distinguir os nºs:

-1- presunção de culpa sobre quem tenha de dever de vigilância sobre coisas móveis ou
imóveis ou sobre animais.

-2- presunção de culpa sobre quem exerce atividades perigosas

491:

Tem dois pressupostos:

-Tem de haver uma relação de vigilância determinada por incapacidade natural (aquele
que naturalmente não tem capacidade de discernimento nem liberdade de determinação
(isto aplica-se desde logo aos infantários, mas isto aplica-se aos doentes psiquiátricos se
não preencherem imputabilidade)
Mas, houve a questão da indisciplina da marinha, e esta questão da indisciplina é a
questão da hierarquia que há nas forças armadas e uma patente superior tem poder de
dar ordens sobre inferior e há relação de pendência mas pode haver relação de vigilância
mas não é determinada por incapacidade natural e o serviço militar supõe pessoas aptas e
para certas posições militarizadas até muito aptas e não há preenchimento do 491º)

-O vigiado tem que causar danos a terceiros (porque estamos na responsabilidade civil
extracontratual e se o vigiado causa danos a si proprio não se aplica a presunção do 491º)

GAP de aula (?)

Acabamos o dano na aula anterior e faltou dizer 2 questões.

Quanto ao dano da morte (Esta parte é para ligar ao dano da morte mas é paralelo ao
dano da morte e este dano está no 496/2/3 e 4 e este novo dano está noutro sitio).

Nos tribunais tem-se discutido é não a questão da morte mas a questão da compensação
dos danos não patrimoniais dos conviventes (os do 496º/2 e a partir de 2010 os unidos de
facto (procurar artigo)).
As situações não de morte mas aquelas cujo facto gera uma incapacidade absoluta
permanente do lesado.
Não há morte mas o facto lesivo consubstancia-se numa incapacidade absoluta
permanente do lesado.

Também há o dano na impotência (integridade da vida sexual) que leva questões em


termos conjugais.
São outras 2 questões não apenas da morte mas outro facto que gerem este tipo de dano.

A lei fala em morto e não em incapacidade absoluta e permanente e substancialmente há


situações desta incapacidade em que se assiste à degradação progressiva da pessoa e
substancialmente as situações não são equiparadas?

Podemos dizer que substancialmente, tudo depende das hipóteses, mas em termos gerais
podemos equiparar ou por vezes até mais penosas.

O regime do 496º do nº2, 3 e 4 é excecional (a regra geral no nº1) e os familiares do nº2


estão aí mas não são todos.

Pela lei 23/2010 foi preciso a alteração legislativa de prever ainda o unido de facto (foi
suscitada a inconstitucionalidade da morte por violação do princípio da igualdade e o TC
não constitui inconstitucionalidade pelo 496º/2 e foi preciso alteração legislativa porque se
entendeu que o regime era excecional.

Artigo 11º do C.C (recordar este).

Tendo em conta a excecionalidade do regime o professor acha que não devia estender
aos danos não patrimoniais, mas a Mafalda Miranda Barbosa diferente.

Há um acórdão de uniformização de 2014 que vem admitir esta compensação de danos no


caso não de morte, não patrimoniais, mas sim de incapacidade absoluta e permanente.

Isto levanta alguns problemas e no fundo seriam ressarcidos nos termos do 496º/4 e por
danos próprios sofridos pelos familiares.
São danos próprios (não vamos perder tempo em saber a posição certo) que é a dor,
sofrimento, angustia mas não deixam de ser danos próprios que têm a sua origem no facto
lesivo que provoca a incapacidade absoluta e permanente do lesado e então pela
incapacidade absoluta permanente o lesado que fica tetraplégico tem direito a
compensação por danos não patrimoniais ao terceiros lesante e a questão é saber se os
familiares terão ou não direito à compensação de danos não patrimoniais e há casos em
que é considerado por danos próprios mas podemos questionar se não são danos reflexos
(porque são desgostos e sofrimentos mas têm ponto de origem num outro dano que é o
sofrido pelo tetraplégico)
Isto pode levar ao problema da duplicação da indemnização pelo mesmo facto sofrido se
considerarmos danos reflexos.

Para afastar o problema dizem que pelo mesmo facto dizem que são danos próprios e não
reflexos.

Este raciocínio faz-se relativamente ao dano de habilitação também o faz quanto ao dano
sexual.

O professor acha que segundo o acordao de uniformização que deve haver lugar à
compensação mas quando professor escreveu não tinha saído ainda a lei que aprovou o
novo estatuto dos animais e tendo isto em conta o professor não colocou na aula passado.

Primeiro sobre a incapacidade.


Segundo a lei 8/2017 introduziu o artigo que é sobre os direitos animais e confere o direito
à compensação por danos não patrimoniais ao proprietário do animal em caso de morte ou
privação (493-A º/3)

“3 - No caso de lesão de animal de companhia de que tenha provindo a morte, a privação


de importante órgão ou membro ou a afetação grave e permanente da sua capacidade de
locomoção, o seu proprietário tem direito, nos termos do n.º 1 do artigo 496.º, a
indemnização adequada pelo desgosto ou sofrimento moral em que tenha incorrido, em
montante a ser fixado equitativamente pelo tribunal.”

O dr. Varela discutia se o dono de uma égua de estimação tinha direito a indemnização
pelo desgosto da morte da égua mas a pergunta é se é uma verdade objetiva merecedor
da tutela de dirieto.

Isto está muito ligado a saber se os animais são coisas ou não e a perspetiva tradicional
diz que são coisas mas o artigo 301-Dº diz que os animais são seres vivos dotados de
sensibilidade.

Os animais são seres vivos sensíveis, mas não deixa de haver consideração do animal
como coisa porque a certa altura o 301-Dº diz que na ausência de legislação especial aos
animais aplicasse a legislação relativa às coisas.

Será que automaticamente no caso de morte, etc. se atribui o direito a indemnização?


Não, tem que passar sempre pelo crivo do 496º/1 e as suas exigências.

A lei mudou, o professor não defendia a indemnização pela morte da animal de estimação,
mas o conceito de animal de estimação está ligado ao conceito de retenção e pode ser um
cão ou uma cobra que é mais perigosa.
Mas o professor continua a achar que essas questões dos danos não patrimoniais devem
ser suscitadas pelo lesado ou por um contrato de seguro, mas essa questão só diminui
com o tempo porque a lei confere um direito a indemnização de danos não patrimoniais
por morte do animal, etc. pelo nº3.

A posição do professor é contrário mas o facto de termos uma lei não impede o facto de
discutir as coisas.
Só por a lei dizer algo não quer dizer que não possamos discutir sobre isto na doutrina.

Na altura em que saiu a lei em 2018 organizaram em Portugal um congresso sobre os


estatutos dos animais e convidaram todos os autores e toda gente pode falar livremente e
discutiram ideias sobre isto.
Aconteceu depois do congresso de uma decisão de todos e havia pessoas ligadas à causa
animal e havia jornalista, o professor disse aí o seguinte “ a circunstância de levar aos
danos patrimoniais para os animais e se alguém vir um animal à beira da estrada senão
assistir pode incorrer ao não dever assistência e isso pode levar a um monte de
problemas”.

O professor acha que deve haver compensação de danos não patrimoniais no caso de
incapacidade absoluta e permanente da pessoa se até os animais têm essa tutela.

Chamar a atenção ao 493-Aº/1 que é muito parecido com o 495º/2.


O 493º-Aº é direito à compensação a todos os que deram socorro ao animal e dono pelas
despesas no veterinário, etc.

No dano da morte é só as pessoas do 496º/2 e 3 e o legislador não considerou o critério


dos afetos que podia ter considerado que o professor Vaz Serra considera.

Mesmo que a pessoa fique perturbada pela morte não estando considerado então não
recebe com a morte e mesmo dentro dos familiares aqueles mais afetados (ex.: O amigo
que o tratou durante anos não está previsto lá e, portanto, não tem direito a esta
compensação).

A perspetiva de jurista: independentemente de considerar o critério de afetos levava a um


enorme subjetivismo e há uma presunção que os familiares mais próximos sejam os mais
afetados, mas pode nem ser o caso.
O nosso sistema é muito generoso e o problema dos danos não patrimoniais é o perigoso
de comercialização em torno de bens de ordem espiritual e corremos o risco de introduzir
este critério de afeto e a jurisprudência ser invasiva de ações para ver onde há ações
abusivas e depois a tendência seria de recusar.

Devemos ter em conta as ideias base.

Dano não patrimonial por:

-Perda de órgão ou incapacidade permanente do animal é procedente (493-A)

Vamos agora ao nexo de causalidade

O agente não é responsável por todos os danos que sobrevenham cronologicamente à


prática do facto (483º) e, portanto, apenas os danos que venham da ligação da prática do
facto.

O nexo de causalidade é precisamente isto, o nexo de ligação entre o facto e o dano e


este requisito da causalidade faz com que o agente não corresponda a todos os danos que
venha cronologicamente, mas apenas os resultantes do facto.

Por isso, o objetivo/finalidade do requisito de nexo de causalidade é o objetivo de


delimitação ou de circunscrição dos danos ressarcidos pelo agente.

Já vamos ver porque é que a matéria de nexo de causalidade tem tido muito evolução
porque na doutrina não foi fácil encontrar ao longo dos anos aquele critério mais
delimitador em termos adequados.

Nós vamos estudar vários critérios (sobretudo a doutrina da Conditio sine qua non ou das
equiparações e da causalidade adequada).
Pelo meio das duas primeiras temos muitas doutrinas ecléticos e vamos só referir e ter
uma ideia e não é para saber em profundidade.

Também não vamos falar da doutrina de nexo de imputação e só vamos falar


genericamente (a substituição do nexo por isto).

A primeira teoria (importante) foi a teoria da Conditio sine qua non ou da equivalência das
condições
Esta doutrina dizia (no Séc.XIX) inspirada pelas teorias Hengilista (influencia empíricas) e
é a causa do dano todo o facto (toda a condição daí o nome) sem o qual o dano não se
produzia.

Quando houver mais do que um facto se os quais o dano não existia (se em vez de uma
condição houvesse mais do que uma) as condições consideram-se equivalentes entre si.

Nós não aderimos a esta doutrina (não defendemos esta para saber porque danos o
agente é responsável): não a repudiamos totalmente porque a doutrina da causalidade
adequada vai partir desta mas não aceitamos esta doutrina porque ela é excessivamente
responsabilizante para o agente.
Ela assim o é porque ela parte de uma análise/avaliação em concreto da questão da
causalidade ou seja, em concreto, todo o facto sem o qual o dano não teria de produzido é
causa de dano.
Ex.: Levar até às ultimas consequências esta teoria significa que seria responsável por
todas as consequências danosas pelos factos praticados pelos filhos porque efetivamente
deixou-os nascer porque senão fosse o nascimento e a conceção o filho não teira nascido
e não praticava o facto nem as consequências danosas (regressio ad infinitum).

Esta crítica evidencia os excessos, mas não da melhor forma.

Esta doutrina que parte da avaliação em concreto e, portanto, o que pode ser aqui dano
pode não ser na da adequação que analisa em abstrato.
Nesta doutrina se houver vários factos são equivalentes entre si e se têm a mesma força
então a conclusão é que podemos correr o risco de não conseguir identificar a causa e
efetivamente quando chegamos ao caso concreto havendo vários factos
desresponsabilizamos o agente porque não sabemos qual a causa do facto.

Ela que era tão responsabilizante tinha este paradoxo que havendo vários factos chegava
ao ponto de não responsabilizar ninguém.

O conceito de causa para a Conditio sine qua non é demasiado abrangente e


responsabilizante e houve um esforço doutrinário para delimitar (o objetivo da causalidade
é limitar os danos abrangidos pelo facto)

O facto de se responsabilizar o agente por danos que tinham uma ligação ténue ao facto e
houve uma tentação de tentar afunilar o círculo de danos ressarcidos pelo agente (grande
objetivo da causalidade).

Chegou-se à causalidade adequada (vamos falar depois das teorias intermédias).

A causalidade e o seu problema não está resolvido na lei e há o artigo 563º que refere o
nexo causal, mas segundo a doutrina este artigo não nos remete a qualquer posição
doutrinal.
Nós que defendemos a causalidade entendemos que se orienta mais nesse sentido mas a
doutora Mafalda que defende o nexo de imputação entende que esta forma é inoqua e não
remete à causalidade adequada.

Houve um percurso que realmente se segui e chegamos à causalidade adequada, esta


não rejeita completamente os contributos da Conditio mas parte desta e não termina nesta.

“não basta que em concreto o facto seja causa do dano é necessário que em abstrato (de
acordo com as regras normais da experiência da vida) o facto seja idóneo ou adequado
(daí o nome da doutrina) para produzir o dano.
Ao passar de uma avaliação em concreto para uma em abstrato do processo causal (a
causalidade deve ser avaliada num processo que vamos ver) conseguiu-se o efeito
pretendido que é o de limitação de danos ressarcidos pelo agente (de maior afunilamento).

Já iremos ver que porque não basta que aquele concreto facto tenha causado um concreto
dano e é preciso que o tipo de facto que no caso concreto provocou o dano seja adequado
para produzir o tipo de dano causada (Numa avaliação abstrata).

Quando tentamos categorizar o facto a uma categoria fazemos juízos indutivos e


conduzimos/integrar aquele concreto facto num tipo/categoria abstrata à qual ele pertence
e o mesmo que fizemos quanto ao facto fazemos quanto ao dano e a questão é se aquele
tipo de facto que causou o dano podemos considerar que este facto foi idóneo a produzir
aquele tipo de dano.
Com isto chegamos a este efeito de delimitação.

Isto quer dizer que há muitos danos em concreto causados mas não consequência
adequada de forma genérica daquele tipo de facto.

Este juízo de adequação é feito pelo juiz de acordo com uma prognose póstuma (isto quer
dizer que o juiz aprecia a questão depois dos danos se terem produzido só que para evitar
a tal avaliação concreta coloca-se numa posição ex ante (deve colocar-se em que estaria
o agente e prever como é que no momento da prática do facto seria ou não previsível a
ocorrência daquele tipo de danos)

Prognose – andar para trás, mas feita para o futuro – coloca-se na posição do agente
médio e saber através das regras gerais da experiência e da vida se o agente saberia que
praticaria aquele facto e se levaria aquele dano.

Póstuma – porque é feita depois dos danos

Deixamos de falar daquele Concreto dano ou facto mas sim aquele tipo de dano ou facto.

Por ser um juízo de probabilidade é por isso que dizemos que o 563º é mais amiga à ideia
de causalidade adequada e não de nexo de imputação porque “provavelmente não teria
sofrido se não fosse a lesão.”

Este provavelmente é o que leva a admitir que o 563º consagra a causalidade adequada,
mas são nos nossos olhos.

Nos olhos de quem defende o nexo de imputação (Dr. Mafalda Miranda Barbosa) diz que o
artigo não diz nada (“é mudo”).

Por isso é que a teoria da causalidade adequada é mais delimitada comparada á Conditio.

Teorias intermédias:

-Da condição mais próxima

-Da condição mais eficiente

-Teoria que exigia o requisito da preformação culposa dos danos (que o agente previsse
os danos causados)

-Muitas outras
Começando pela ultima:

Esta doutrina dizia que em matéria de causalidade se introduzia o requisito da culpa, o


agente teria que prever os danos culposamente.

Um dos pressupostos da responsabilidade é a culpa mas a culpa é reportada ao facto e o


facto ilícito tem de ser culposo e o agente tem de prever de alguma maneira que esse
provocará danos no geral.
Mas a doutrina diz que é preciso haver previsão a todo o tipo de danos causados e isso
não defendemos e que apenas o facto tenha de ser culposo e depois o agente pode
responder por danos que ele não pensado no momento de prática do facto.

O facto é culposo e parto o vidro, mas depois disso via haver mais danos depois disso e
segundo essa doutrina não havia nexo causal, mas segundo nós sim e o tipo de facto em
abstrato for idóneo a produzir o dano.
A culpa reporta-se ao facto ilícito e não à extensão dos danos (isto é muito importante
relativamente a critério complementares da causalidade que vamos falar daqui a pouco)

Além disso esta doutrina não serve em termos gerais para os casos de responsabilidade
objetiva e nestes casos a doutrina padecia logo nestes casos.

-A teoria da condição mais próxima

“condição mais próxima” assume logo que há mais do que uma condição porque assumo
que há algumas mais distantes.
A Conditio punha as condições (havendo mais do que uma) ao mesmo patamar mas esta
doutrina diz que havendo várias é necessário que o juiz analise qual a mais próxima e o
mesmo para a mais eficiente não passam porque faz depender o critério ao juízo
discricionário do juiz.
A grande discricionariedade pode levar ao arbítrio e não é muito seguro nem rigoroso
efetivamente.

São conceitos muito indeterminados e fazer a causalidade com base em conceitos tão
indeterminado é deixar nas mãos do decidente estas matérias.

Mas na causalidade adequada há juízos discricionais, mas há critérios delimitadores


efetivamente.
(EM penal o problema da culpa é difícil em questões de prova mas depois há a questão do
homem médio mas na causalidade há o problema da prova e da imputabilidade que é
difícil).

A teoria do nexo de imputação (dissemos que a Conditio era muito empírica) da Dr.
Mafalda prescinde da Conditio (algo que nós não prescindimos porque consideramos o
concreto mas não deixamos de considerar o abstrato) e é um pecado capital partir de uma
visão empírica.

A doutrina da causalidade adequada tem o grande de mérito de passar para o concreto e


abstrato e vice versa mas padece de algumas insuficiências e portanto na doutrina para
salvar a causalidade e por considerar que teve este passo de leão de delimitação face à
Conditio e salvar o seu efeito útil há critérios complementares dos defensores da
causalidade.
Admitem que o seu raciocínio de base acompanhado de 3 critérios complementares
tornam a teoria capaz de enfrentar os problemas da causalidades:

-Não basta ter em conta o facto e o dano isoladamente e é preciso ter em conta todo o
processo causal (ver a questão da causalidade como um processo).

-O decidente dever tem em conta as circunstâncias efetivamente conhecidas ou


cognoscíveis pelo agente no momento da prática do facto.

-A culpa reporta-se ao facto e não ao dano e, portanto, a culpa enquanto pressuposto da


R.P reporta-se ao facto ilícito e não ao dano que era uma crítica às doutrinas que exigiam
a relação da culpa aos danos.

1º - é preciso ter em conta o processo causal e ver a questão da causalidade como um


processo ter em todo um conjunto concatenado de circunstâncias ou factos que decorrem
entre o facto desencadeado do processo causal e o dano.
Não devemos ter em conta o facto e o dano isoladamente.

(ex.: (este exemplo dá também para perceber sobre a culpa deficiência da vontade e com
deficiência da conduta) alguém na queima das fitas por diversas razões e dois estudantes
e há preterições de um para outro na integridade física e o lesado esvai-se em sangue e
vai ao hospital e nesse encontra um médico que já não está sóbrio porque foi a um jantar
de curso mas está no banco de urgências e estava mais para cá do que para lá e quando
atende o paciente em vez de aplicar técnica x aplica técnica y (o mesmo para
medicamentes) e se a pessoa estava mal pior ficou a passou a sofrer danos significativos
na integridade física (ex.: lesão permanente).
A estudante que agrediu B será responsabilizado por dano de integridade permanente que
B sofreu?
O tipo de facto que A praticou não é idóneo ao dano e entretanto apareceu médico
alcoolizado que não é suposto estar (culpa com deficiência da conduta e pode ter feito
tudo para evitar de praticar o facto mas o que devia ter feito era não praticar naquela noite)
e entre A e B temos um comportamento culposo de um terceiro médico que quebra o nexo
causal.

Imaginemos a mesma situação e chega a ambulância ao queimodromo e a ambulância


encontra aquela hora um congestionamento de transito na casa do sal.
A ambulância teve de parar 15 min e durante estes 15 minutos teve hemorragia e foi
impossível de estancar e ficou com um grau de incapacidade imprevisível.
Com isto não podemos analisar isoladamente o facto e o dano e vamos excluir a
responsabilidade do estudante A nesta hipótese e temos de ver se em abstrato era ou não
previsível ver se era possível haver congestionamento de facto e neste caso era.
Não houve interrupção do nexo causal neste caso porque o estudante quando agrediu na
sua esfera jurídica devemos imputar esta circunstância que surgiu no caminho que não é
uma circunstância anómala (mas seria o caso do médico nas urgências).

2º - deve ter-se em conta as circunstâncias conhecidas ou cognoscíveis do agente – antes


esta situação é impossível mas há 40 anos era muito vulgar (ex.: um professor da primária
que tinha uma caninha e imaginemos que este batia com a cana no crânio da criança e
tinha o crânio entrepanado (com um placa de ferro) e batendo pode provocar a morte da
pessoa ou outras questões médicas e batendo o professor causou a morte ou lesão
corporal grave.
Resumindo, aquele tipo de agressão abstrato era idóneo a produzir aquele tipo de dano?
Não e a responsabilidade dele depende de ele ter conhecimento (dos pais lhe terem dito
ou os pais não terem dito mas colocado a menção na ficha de inscrição (situação de
cognoscibilidade mediante diligência devida).

Nessa mesma ótica nós dizemos que se ele conhecia ou era cognoscível é responsável
caso contrário não é responsabilizado.

A mesma situação: alguém empurra hemofílico e este bate com a cabeça na ponta de um
armário e tem uma hemorragia incontrolável e morre (se fosse qualquer um de nós mesmo
sangrando era impossível morrer) e a responsabilidade depende da pessoa saber ou não
das circunstâncias.

Isto é chamar um bocadinho à coação a culpa como critério e o professor não diz que não
mas pode ser um critério complementar importante (os críticos dizem que quando a
causalidade adequada chama a bengala a culpa quer dizer que já esta falhou) mas dizem
que a causalidade é de modo genérico que deve ser densificada.

3º - temos de ter em conta que a culpa se reporta ao facto e não a todo o circulo de danos
causado pelo agente.
O que interessa é que o facto tenha sido culpa e não é preciso que o agente tenha
prefigurado culposamente todo o circulo de danos. (ex.: alguém vai na baixa de Coimbra e
vê a montra de uma loja de um comerciante que é seu inimigo e é uma tarde de
inverno/chuvosa e em que se prevê que vem vendaval e entretanto a pessoa vai na baixa
e vê um paralelo da calçada solto e manda com uma pedra na montra (com o objetivo com
culpa era partir a monta e os objetos expostos (causar um prejuízo mas controlável)) só
que era um dia de chuva e tempestade e a pedra abre um buraco na montra e a agua é
puxada pelo vento e enche de agua na loja e levanta o soalho e há uma extensão de
danos que não quis causar culposamente mas vai ser responsabilizado por ele apenas se
em abstrato tendo em conta o processo causal lhe seja idóneo.
Pergunta-se. É ou não normal que lançando a pedra naquele tempo não faça entrar um
monte de água.

A teoria da causalidade adequada deve ser completada por estes 3 critérios, mas a causalidade
adequada tem 2 variantes (extremamente importante):

-Formulação negativa (aplica-se na responsabilidade por factos ilícitos/por culpa) – para o


agente ser responsável basta que o facto não seja de todo em todo indiferente para produzir
os danos. O agente só não será responsabilizado quando a produção dos danos, se tiverem
ficado a dever à interferência de circunstância manifestamente anómalas ou extraordinárias.

-Formulação positiva (aplica-se na responsabilidade objetiva) – o agente só é responsável se o


dano for uma consequência típica, indefetível ou normal da prática do facto.

O mais responsabilizante é a formulação negativa porque o “Basta” uma única condição.

É se mais exigente na positiva até porque o agente aqui está numa posição mais sensível
(responde independentemente de culpa).
503º e 502º (quando o legislador fala em risco próprio do veiculo e perigo especial de
utilização do animal) dizemos nós que é a consagração especial do legislador da formulação
positiva.

Gap (faltou 2 horas da aula de 24/4/2023)

Última hora dessa aula

O artigo 501 do C.C. refere-se à responsabilidade do estado e de outras pessoas coletivas


públicas praticadas por atos dos seus órgãos, agentes ou representantes.
Desde que sejam atos de gestão privada.
O pressuposto está plasmado no nº2 do artigo 500º

No artigo 501º aplicamos os pressupostos do 500º, mas por atos de gestão de privada e só há
responsabilidade civil do estado por atos praticados por órgãos representantes, etc….

Atos de gestão privada vs. publico.

Privada – o estado através dos seus órgãos representantes atua despido de ius imperium
(porque os órgãos representantes normalmente são dotados deste na atuação do estado)

(ex.:. Quando uma câmara municipal compra a um particular um terreno ela compra à partida
na posição de qualquer outro particular)

502º é um caso de responsabilidade objetivo e tem fundamento no risco que envolve a


utilização do animal. (danos causados por animais)

“Quem no seu próprio interesse utilizar quaisquer animais responde pelos danos que eles causarem, desde que os
danos resultem do perigo especial que envolve a sua utilização.”

Quem é responsável neste caso é o detentor (não precisa de ser necessariamente o


proprietário).

Este artigo 502º tem ligações com o 493º/1 – o 493º/1 estabelece uma presunção legal de
culpa e há quem diga que estamos perante responsabilidade objetiva agravada porque há uma
presunção que recai sobre estas pessoas mas é responsabilidade subjetiva.
Agora o 502º não e estabelece uma responsabilidade objetiva efetivamente.

493º tem uma relação de vigilância (subjetiva)

502º estabelece uma hipótese de responsabilidade objetiva e não de vigilância mas sim a
utilização do animal para o seu próprio interesse. Quem utiliza o animal no seu próprio
interesse não deixa de ter o dever de vigilância (ou seja, pode haver situações que caiam no
âmbito normativo das duas normas).
O lesado aqui pode socorrer de uma destas normas. Qual é que vai escolher entre as duas? A
que não tem de provar culpa nenhuma (na outra não tem que provar por presunção de culpa)
mas imaginemos que é possível ilidir a culpa? Então aqui talvez releve.
Neste caso ir para responsabilidade objetiva é o melhor caminho porque não tem de provar
culpa.
(Ex.: se o dono da quinta vai de férias e confia durante o período a guarda dos animais a x
pessoas ou empresa nessa hipótese só releva o dever de vigilância porque não estava
propriamente a exercer uma atividade profissional).

O perigo especial envolve (ex.: coice do cavalo, marrada de um boi, coice de um burro) e isso
tudo são perigos especiais que envolva o animal.
Ex.: alguém que vê o inimigo e atira um cão de caça contra ele então utiliza o animal como
arma (mas também o poderia fazer de qualquer forma) e aí não há esse perigo especial.

Questão interessante: os animais são seres sensíveis e se alguém decide atiçar o animal (a
espetar-lhe um pau por exemplo) e o animal não tem nada a haver com isso e é causado por
terceiro mas o terceiro com o seu comportamento põe-se a jeito e há a ideia da culpa e a
concorrência da culpa do lesado.
Em certas situações ou há situação de exclusão da responsabilidade ou de concurso de
responsabilidade.
O comportamento do lesado pode ter causado o dano ou podemos entender que aquele
comportamento e os danos do lesado se inscrevem no espaço dos perigos especiais do animal
porque o cavalo em si também é um animal nas suas características que são compatíveis com
algum nível de atiçamento e portanto o cavalo pode ser atiçado.
O acusamento ao lesado pode ser passível de integração e se há alguém que está a provocar o
animal extensivamente então pode haver exclusão de responsabilidade.

O mesmo com os acidentes de viação – (ex.: imaginemos que há tráfego e começo a deitar
fumo pelo motor e, entretanto, o carro entra em labaredas e aqueles curiosos metem a cara
em cima das labaredas e ficam com lesões e vão todos para o hospital; agora esse dano é
imputável ao dono?)

Danos causados por veículos (503º e ss.) – este artigo é muito importante (vamos perder 2
aulas nele) – fala do caso de responsabilidade objetiva do risco)

Artigo 503.º
(Acidentes causados por veículos)
1. Aquele que tiver a direção efetiva de qualquer veículo de circulação terrestre e o utilizar no seu próprio interesse,
ainda que por intermédio de comissário, responde pelos danos provenientes dos riscos próprios do veículo, mesmo
que este não se encontre em circulação.
2. As pessoas não imputáveis respondem nos termos do artigo 489.º
3. Aquele que conduzir o veículo por conta de outrem responde pelos danos que causar, salvo se provar que não
houve culpa da sua parte; se, porém, o conduzir fora do exercício das suas funções de comissário, responde nos
termos do n.º 1.

Responde pelos riscos próprios do veículo. É de novo uma responsabilidade objetiva fundada
no risco.

Este artigo 503º, no seu nº1 está definido quem é o responsável objetivamente e este é o
detentor do veículo.
Quem é o detentor? No artigo não se encontra este termo mas o termo detentor é uma
categoria doutrinal que veste o fato a esse artigo quando se refere “quem tenha direção
efetiva e interesse próprio na circulação terrestre do veículo” e quem tem direção efetiva mais
interesse nós chamamos-lhe detentor do veículo.
Mas efetivamente é doutrinal (não é posse nem propriedade).

Quando se fala do animal não é certo falar de detentor, mas a propósito do 503º faz sentido.

Características do sujeito:

-Quando se fala direção efetiva é um poder de facto sobre o veículo (fonte do risco) em função
do qual surge a obrigação dessa pessoa que tem a direção efetiva de manter o veículo em boas
condições de segurança e conservação. (ex.: levar a inspeções, mudar óleo, ver pressão dos
pneus, etc.)
Quem normalmente tem essa direção efetiva é o proprietário e por regra quem a tem é o
proprietário e ter a qualidade de proprietário dá uma presunção de direção efetiva e tendo
isso temos uma presunção de direção efetiva.
Todavia, não é assim e a direção efetiva é um poder de facto e não exige a existência de um
poder jurídico, a propriedade e é quem tem uma ligação de facto ao veiculo que por regra é o
proprietário mas pode ser o usufrutuário, o adquirente com reserva de propriedade (isto não é
muito frequente mas como sabemos na compra e venda a propriedade transmite-se
imediatamente (408º) mas excecionalmente pode haver clausula de reserva de propriedade
em que eu reservo a propriedade até o senhor pagar e a propriedade é como que garantia).
Nesta hipótese o adquirente com reserva de propriedade não adquire titularidade da
propriedade do veiculo mas anda com este.); comodatário (empresto um veículo).
Todos eles têm poder de facto e é mais amplo e não é um conceito jurídico (poder de facto).

-Interesse proprio na utilização do veículo – este é um conceito amplo e a doutrina tem


entendido ao longo de 50 anos do C.C. este interesse tanto abrange:

 Interesse egoístico
 Interesse altruístico

Por regra só pensamos no interesse egoístico (económico) e numa sociedade capitalista ter
interesse é egoístico, quem tira vantagens e é a ideia do risque profi (quem tira vantagens do
risco).

O interesse altruístico pode existir, mas basta pensar na situação do comodato (empréstimo
não renumerado de coisa infungível). O comodatário (que recebe) e vai utilizar o veículo tem
um interesse económico (egoístico) mas quem empresta o carro sem receber nada tem
interesse altruístico e, portanto, em certas situações este que empresta pode ser responsável
porque o interesse ao contrário do que nós pensamos não é apenas económico, mas também
altruísta.
Quem tem interesse altruísta é o comodante e económico o comodatário.

Em termos de responsabilidade temos que distinguir dois tipos de situações na hipótese do


comodato (tendo como critério o bom senso e não há uma métrica rigorosa (de saber se é
curta ou longa)):
-Comodato por curta duração – aqui o comodatário ou o comodante são responsáveis ambos
objetivamente e a responsabilidade é solidária porque têm ambos interesse e direção efetiva.
(em ambos os comodatos têm interesse e a diferença está na direção efetiva).
Se for de curta duração o espaço de tempo pelo qual se dá o comodato e não basta para dizer
que o comodante perdeu o poder de facto (ex.: falham os travões e é um risco e se for em 10
dias provavelmente os travões já não estavam bons e o lapso de tempo era tão curto que não
dá para se considerar que o comodante perdeu o poder de facto e no entretanto o
comodatário teve o poder de facto tendo os dois direção efetiva (poder de facto) e interesse) –
507º que é uma norma excecional quando há dois responsáveis pelo risco a responsabilidade é
solidária.
Isto para a objetiva porque para a subjetiva é o 497º

Outro ex.: 3 pessoas que espancam alguém (um lesado) e há um facto ilícito praticado por 3
pessoas e aqui a responsabilidade é solidária, mas desta vez com fundamento no 497º.

-Comodato por longa duração – ambos têm interesse, mas só o comodatário tem direção
efetiva porque passa este a ter poder de facto (ex.: ao fim de 1 ano se os travões falham isso é
devido ao poder de facto do comodatário e ao fim de um ano é difícil dizer que o comodante
tem poder de facto.

Numa relação de comissão quem é que tem a detenção do veículo é o comitente e o


comissário não a tem porque lhe falta o interesse (pode ter a direção efetiva e tem-na (ex.:
motorista de camiões que andam vários meses com estes) mas a verdade é que até têm poder
de facto mas falta interesse (podíamos dizer que sim porque ele interesse em receber salário
mas isso é sociológico e da teoria da economia porque em termos de responsabilidade é o
interesse imediato e quem o tem é o comitente e só quando o comitente está fora de exercer
funções é que ele passa a ter responsabilidade.
Na comissão quem tem detenção é o comitente porque o comissário não tem interesse aqui.

O Dr. Varela diz que é muito vulgar dizer que quem tem poder de facto é quem tem o veículo
nas mãos e apesar de grosseira mas sugestiva e o Dr. Varela diz que não é uma imagem
totalmente correta e quem tem poder de facto não é só quem tem poder de facto
(normalmente é) mas tem de ter interesse.

Quem tem normalmente o veículo nas mãos tem indícios que tem o poder efetivo mas o
interesse tem dois sentidos amplos (altruístico e egoístico) e há situações para dois casos (o
primeiro ex.: comodato)e.
No comodato podemos ter situações de responsabilidade solidária (507º).

Quando o comodato é de longa duração aí o comodante perde o poder de facto sobre essa
fonte de risco apesar de ter o interesse altruístico já não tem o poder de facto.

Numa relação de comissão quem tem direção de interesse é sempre e só o comitente porque
o comissária pode ter a direção efetiva do veículo e por vezes tem mais essa direção do que o
comitente (condução de longo curso) mas o interesse próprio no veículo apenas pertence ao
comitente. (503º/1).
Numa relação de comissário quem tem interesse é o comitente então ele responde.
O problema do 503º/3 (quando falamos de presunções de culpa e responsabilidade civil
extracontratual (esta também o é mais objetiva)).

O 503º/3 tem outra presunção sobre acidentes de viação e nesta também não há relevância
negativa da causa virtual para afastar a presunção e porque não está expressa e não aplicada
por analogia porque é uma solução excecional (é uma presunção de culpa que recai sobre o
comissário e este pode afastá-la porque ilidível, mas não pode invocar a relevância negativa da
causa virtual)).

O 503º estabelece caso de responsabilidade objetiva pelo risco mas agora dizendo que o nº3
estabelece uma presunção de culpa é estranho porque é objetiva.
O legislador fê-lo porquê? (é o que se diz quanto às pessoas “quem nasce torto continuará
assim” e o artigo foi assim e não se sabe se se vai endireitar e anda a tombar, mas é um corpo
estranho). E o é porque é uma presunção de culpa enxertada num caso de responsabilidade
objetiva e esta presunção recai sobre o comissário.

Quando falamos do artigo 500º (responsabilidade objetiva do comitente este responde


objetivamente, mas com culpa do comissário mas se for um caso normal do artigo 500º (que
não seja acidente de aviação (que só surge quando há condução do carro da empresa) mas
num caso normal do artigo 500º tem que haver culpa do comissário e quem tem de provar é o
lesado (para fazer responder o comitente não tem que provar a culpa do comitente (porque
responde objetivamente) mas sim a culpa do comissário).

No 503º/3 o lesado não tem que provar a culpa porque há uma presunção neste caso.

Se o acidente se dá no exercício das funções do comissário (saber a distinção entre quadro


geral de competência, no exercício da função e outro (tenho que ver isto)).
Se o funcionário sai com a namorada no fim de semana com o carro isto é fora do exercício das
funções; ou sai da rota para visitar no primo e se tiver o acidente aqui então é por ocasião.
Agora se está no exercício das funções aplica-se a presunção de culpa e senão estiver esta não
se aplica e o 503º/3 é só no exercício das funções ou no quadro geral da sua competência.

Se está fora do exercício ou por ocasião então nesta hipótese a presunção de culpa não se
aplica e ele funcionário passa a ser detentor (não o é normalmente porque lhe falta o interesse
mas quando sai desse exercício já é por seu próprio interesse) (parte final do 503/3 –
acrescentar ao fora do exercício “ou por ocasião”.

Aqui responderá objetivamente com uma responsabilidade civil limitada aos limites
indemnizatórios do artigo 508º - este aqui estabelece limites indemnizatórios e o limite
indemnizatório atualmente está lá dito corresponde ao capital mínimo obrigatoriamente
seguro.
O limite máximo indemnizatório corresponde ao capital mínimo obrigatoriamente seguro (não
precisamos de saber mas normalmente são muitos milhões e está no artigo 13º do decreto lei
(291/2007 – não precisamos de saber porque vai ser revogado por transposição da 6ª diretiva
automóvel).

Mas para saber é este limite máximo indemnizatório.

Isto porque maior parte dos acidentes são causados por veículos automóveis motorizados
apesar deste 503º aplicar-se a todos os veículos automóveis (motociclo, bicicleta, carroças,
etc.) e só com regime especial à ferrovia e não a barcos e aviões.
No caso da trotinetes levantam muitas questões principalmente pela quantidade de possíveis
sinistros e estas ainda não contam como motorizados e portanto não sujeitam a seguro (que
só é obrigatório para motorizados podendo apenas celebrar seguros facultativos se as
seguradoras o permitirem).

Se fizermos dano com bicicleta temos que pagar e não o seguro (só havendo seguro facultativo
celebrado, mas é difícil de acontecer/pessoas fazerem isso até porque os prémios do seguro
devem ser mais caros).

Se estando em causa uma carroça e o boi ou cavalo se alterar então aplica-se a


responsabilidade por danos causados por animais.

Responsabilidade objetiva tem limites e responsabilidade subjetiva (por culpa já não o tem)
porque a culpa é um ato censurável e o legislador diz que quem responder objetivamente é
independentemente de culpa e portanto já numa posição agravada e portanto aqui tem que
haver limites que são vistos como compensação/atenuação pelo rigor da responsabilidade
objetiva.
A subjetiva é ilimitada e a objetiva é limitada.

Se algum de nós sofrer danos superiores ao limites máximo do 508º este excesso não é
ressarcido porque o responsável só responde por isso.
Em 2004 este artigo teve alterações e antes era o dobro da alçada da relação (na altura eram
10.000 e hoje 30.000) e eram valores baixos então o que acontece eram acidentes provocados
pelos veículos e o lesado estava limitado pelos 20.000 ou 40.000 quando o responsável estava
protegido pelo seguro que dava muito mais.
Foi com influência de Calvão da Silva que fez pressão no sentido de se proceder a esta
alteração do 508º porque havia aqui já oposições também e defendia a existência de limites
mas limites atualizados.
Mas não vamos perder tempo com isso.

Além disso ter em conta último requisito do 503º - riscos próprios do veículo (os danos
causados a terceiro são danos causados pelo risco próprio do veículo) – Este é o trinómio do
Dr. Alagão (o Varela era só dois)

-Riscos ligados ao veículo enquanto máquina (rebentamento de um pneu, estilhaçar de um


vidro, etc.) – não temos culpa se isso acontece, mas respondemos por isso.

-Riscos ligados ao condutor (desmaio, quebra súbita de tensão, ataque cardíaco (daí haver
interrogações dos velhinhos conduzirem)) – já se a pessoa tiver com uma depressão e andar a
tomar calmante ou soníferos já há culpa se adormece e é diferente do que se tiver um ataque
cardíaco.

-Riscos ligados ao meio de circulação.

(ex.: comissário no exercício das suas funções e rebenta um pneu e tem acidente (aplica-se
503º/1) mas se for alguém com imensos calmantes que adormece há culpa (o mesmo se
conduz com álcool, excesso de velocidade, passa vermelho, etc.) e a responsabilidade é
ilimitada aqui então até para não beneficiar o responsável…

Se está no exercício das funções aplica-se a presunção de culpa (ilidível) mas como comissário
tem que mostrar efetivamente que não teve culpa (não pode invocar a relevância negativa da
cláusula fictícia) e se afasta a presunção de culpa não é responsável e responde o comitente
como detentor (503º/1)

Se o comissário não ilidir então é tido como culpado e responder com base na culpa e o
comitente responde solidariamente (quer dizer que o lesado pode pedir indemnização a um ou
outro (normalmente ao comitente) e intervém aqui como garante nos termos do artigo 500º e
não como detentor que é a tal responsabilidade objetiva que não tem fundamento no risco e
aqui a responsabilidade é ilimitada porque o comitente responde objetivamente por força da
culpa do comissário).

Esta presunção de culpa existe porque faz diferença entre condutores por conta próprio e
condutores por conta de outrem e isto também altera a posição dos lesados (se formos
lesados por um condutor por conta de outrem somos menos prejudicados).

Há quem diga que o problema se aplicarmos o 493º aqui seria resolvido mas já houve um
assento a dizer que a condução de automóveis não é condução perigosa e hoje os assentos
foram revogados e a discussão continua mas maior parte da doutrina vai no sentido dos
assentos.
Dr. Varela e TC acham esta norma constitucional porque depende do caso e o condutor pode
ser mais relaxado quando conduz carro de outrem do que com o próprio

-e para além disso invoca a circunstância do cansaço que acomete o condutor quando no
exercício das funções (fazem muitas horas) coisas que os condutores por conta própria não
acontece.

-3º argumentos (o condutor por conta de outrem é-lo por profissão e muitas vezes têm carta
especial e mais facilmente conseguem ilidir presunção própria.

Por isto o Dr. Varela defende especificar esta parte.

Há um artigo importante que é o 505º e temos que fazer uma leitura articulada entre o 503º e
505º

“Artigo 505.º
(Exclusão da responsabilidade)
Sem prejuízo do disposto no artigo 570.º, a responsabilidade fixada pelo n.º 1 do artigo
503.º só é excluída quando o acidente for imputável ao próprio lesado ou a terceiro, ou
quando resulte de causa de força maior estranha ao funcionamento do veículo.

A responsabilidade por risco do 503º pode ser afasta pelas 3 causas de exclusão do 505º e este
é lido em articulação com o 503º:

-Acidente imputável ao lesado

-Acidente imputável a terceiro


-Causa de força maior estranha ao funcionamento do veículo

Sobre os primeiros 2 (aquilo que falarmos do imputável ao lesado vale para o imputável a
terceiro).

O que é um acidente imputável? Acidente imputável a lesado ou a terceiro é acidente que foi
provocado ou causado pelo lesado ou pelo terceiro (provocado ou causado é em termos de
causalidade).
Isto quer dizer que esta expressão não tem o sentido de imputável em termos técnico jurídicos
(como nós conhecemos (488º) capacidade de discernimento e liberdade de determinação) e
não é aqui o que se aplica.
Ex.: 488º (inimputabilidade aos menores de 7 anos) e quantos pais atropelam crianças à saída
de casa porque as crianças a certa altura encontram-se onde não se espera e o acidente em
que um criança é esmagada pela roda do carro porque está escondida é gerado pela criança e
quem lhe deu causa foi a criança mas se interpretarmos imputável ou provocado como culpa a
criança não tem culpa e o acidente não lhe é imputável e tem direito à indemnização (se nós
interpretarmos em termos técnicos jurídicos como faz o Dr. Sino Monteiro) mas se for no
sentido de causalidade a criança pode não ter culpa mas provocou o acidente e exclui a
responsabilidade do condutor.

Ex.: Acidente imputável ao lesado – um carro que está à beira da estrada e o dono do carro
abre o capô porque o motor de combustão está a arder e chega alguém para ajudar e vai ver
como está o motor curioso e sofre queimaduras valentes e o incidente foi causado pelo lesado
e foi-o em termos exclusivos (porque se tivesse afastado não sofria danos) aqui está a
diferença.

Imputável é no sentido causal e não nos termos técnico-jurídicos aqui, mas quer seja por um
imputável ou inimputável temos que ver se o lesado ou terceiro provocaram o acidente.
Aqui há uma discussão e invoca-se duas doutrinas:

-Doutrina tradicional – Dr. Varela (o único que sobra porque morreu em 2005) e os outros
mudaram (entende-se o requisito como causado ou provocado a expressão imputável mas
agora imaginemos que é uma pessoal imputável (que tem culpa, a não ser que seja demente
mas isso é outra história) e tem culpa esta doutrina diz que basta um qualquer grau de culpa
para haver exclusão de responsabilidade (culpa exclui o risco (espécie de agua e azeite que não
se mistura)) e portanto significa que o detentor do veículo tinha a sua responsabilidade
excluída com qualquer grau de culpa (sempre na ideia que o detentor do veículo é agravada
por responsabilidade objetiva).
Por isso havendo um grau de culpa do lesado ao terceiro a responsabilidade objetiva do
detentor fica automaticamente excluída.

-Doutrina atualista – Calvão da Silva, Sino Monteiro, (e antes de todos Vaz Serra que nos
projetos já tinha esta visão prevista mas não passou para versão final do código) que defende a
concorrência do risco (do detentor) com a culpa (de lesado ou terceiro) e em vez de haver
automática exclusão temos concorrência do risco do detentor e a culpa do lesado.
E aqui o lesado continua a ter direito a indemnização mas esta pode ser é reduzida/diminuída
tendo em conta a culpa que teve para a ocorrência do dano.
A não ser que o acidente se deve exclusivamente a culpa do lesado ou terceiro (ex.: da cabeça
à frente do motor e queima-se)
Esta doutrina é sensível porque os acidentes do lesados são muitas vezes causadas por um
lesado diferente (ex.: se uma mota é muito ruidosa o idoso pode assustar-se meter o pé na
estrada e ser atropela e diziam os autores que um simples grau de culpa e que muitas vez tem
a haver com atos involuntários ou reativos provoquem esta exclusão da responsabilidade e
apenas excetuam quando há exclusiva responsabilidade do lesado).
A propósito desta questão surgiu o caso do seguro obrigatório (quando o código civil não era
ainda).

Na responsabilidade civil do condutor é um diploma de 99 que transpõe diretiva de 84


(estudamos isto agora, mas daqui a 2 anos já está revogado e vai atualizar-se conforme a
inteligência artificial).

O 570º/1 (sobre a responsabilidade do lesado)

O 570º são uma peça chave no diálogo entre 503º e 505º

A doutrina tradicional defendia a exclusão automática porque (no 570º/1 estabelece a regra
do concurso mas quando há concurso de culpas (Culpa do lesante e do lesado) e quando há
culpa dos dois lados é que há concurso.
O nº2 diz que quando há culpa presumida do lesante (quando a responsabilidade do lesante se
baseia numa presunção) e há culpa efetiva do lesado então a culpa efetiva do lesado afasta a
culpa presumida do lesante.

Então se a culpa efetiva exclui a culpa presumida então (por esta ser maior) exclui também o
risco por uma razão de lógica (se a culpa presumida é um regime mais grave que a
responsabilidade objetiva) então afasta também o risco aqui.

Estes eram os argumentos da doutrina tradicional.

Mas hoje o 570º/1 vale para o concurso efetiva de culpa, mas também entre risco e culpa (a
não ser que haja culpa efetiva do lesado).

Para esta mudança de posição contribui o pensamento dos autores inspirados pelos
pensamentos Vaz Serra mas a nível jurisprudencial é o acórdão do STJ de 4/10/2007.
A partir daí a jurisprudência segue essa posição em bora com interpretação um pouco diversa
e o grande marco da viragem em termos jurisprudenciais é este acórdão.

Curiosamente esta decisão surge numa situação de colisão de veículos que vamos dar agora
(que está regulada no 506º do C.C. e é curioso que o acórdão numa colisão de veículos (um
Renault megane e um motociclo ou velocípede) e curiosamente um acórdão que fala sobre um
caso de colisão de veículos nunca invoca o 506º e resolveu o problema do concurso sem ter
em conta a especificidade do caso concreto.
Dizemos isto porque o 506º levanta alguns problemas quanto ao concurso.

Este artigo é muito pensado para o concurso de riscos:

“1. Se da colisão entre dois veículos resultarem danos em relação aos dois ou em relação
a um deles, e nenhum dos condutores tiver culpa no acidente, a responsabilidade é
repartida na proporção em que o risco de cada um dos veículos houver contribuído para os
danos; se os danos forem causados somente por um dos veículos, sem culpa de nenhum
dos condutores, só a pessoa por eles responsável é obrigada a indemnizar.
2. Em caso de dúvida, considera-se igual a medida da contribuição de cada um dos
veículos para os danos, bem como a contribuição da culpa de cada um dos
condutores.”

Quando diz “nenhum dos condutores tiver culpa” mostra este partido para um concurso de
riscos e a regra é a da proporcionalidade dos riscos.
O critério: imaginemos que há uma colisão de veículos e então soma-se os danos que os
veículos tiveram (ou de um se houver só num) e depois vê-se da contribuição em termos de
riscos que teve cada um dos veículos.
(ex.: Um camião e um carro e o camião devido à sua dimensão, etc. tem um grau de risco
muito maior e imaginemos que foi definido 75% de risco para os danos do camião e 25% para
o automóvel.
Soma-se os danos todos (imaginemos 200) então depois 75% desses é responsabilidade do
camião e 25% é do outro veículo. (do seu detentor (não precisa de ser dono)).

Imaginemos que o detentor do veículo automóvel no caso concreto já sofre danos na ordem
dos 50% da totalidade então vai ter que receber do detentor do veículo pesado um montante
que faça suportar ao detentor do veículo pesado os 75% e ele fique só a suportar os residuais
25%. Para que ele não suporte mais do que é responsável.
Se ele já suportou 50% o automóvel então vai ter que indemnizar o dos pesados os 25% a mais
que o do automóvel pagou.

Havia várias formas/critérios para resolver a situação e nós partimos sempre da consideração
isolada de cada um dos veículos sofreu.
Mas temos que ter em conta que aquele que sofre danos também pode ser responsável pelos
danos no outro (ainda que seja o outro o principal responsável).
Apesar de o automóvel ter 25% de responsabilidade ainda tem esses 25% de responsabilidade
anyways mesmo que tenha sofrido danos de 75%.
Ou seja, o dono do veículo pesado vai ter que lhe dar um montante dos 200 percentuados que
permite que ele fique só com uma quota de responsabilidade de 25% que ele tem de suportar.
O condutor de automóvel tem que garantir que o automobilista apenas suporte os 25%
sempre (mesmo que tenha já suportado 50% tem que estabilizar isso).

Há várias soluções:

-A nossa é somar os termos de responsabilidade de cada um e depois divide-se

-Há outra em que cada um suporta os danos que efetivamente sofreu (mas isso não tem em
conta a medida da contribuição dos riscos e não tinha a conta que aquele que sofre danos é
simultaneamente autor dos danos que sofreu e a ideia aqui é que ninguém tem de indemnizar
danos porque cada um é autor dos danos que sofreu mas invés disso defendemos a ideia da
proporcionalidade dos riscos).

“a responsabilidade é repartida na proporção em que o risco de cada um dos veículos


houver contribuído para os danos” Isto demonstra risco vs. Risco.

“se os danos forem causados somente por um dos veículos, sem culpa de nenhum dos
condutores, só a pessoa por eles responsável é obrigada a indemnizar. ” (porque é
integralmente responsável por aplicação do critério proporcional (ex. do risco só de um lado
(ex.: só o pneu do camião é que rebenta e o outro só fica quieto)).
Apesar da letra da lei não ser favorável á ideia de concorrência esta deve aplicar-se (no caso do
506º) e devemos fazer uma interpretação teleológica e a interpretação do 570º aplica-se aqui
também.

Danos causados a terceiros

A responsabilidade nos acidentes de viação são danos causados a terceiros (responsabilidade


civil extracontratual) e há situações e é fácil identificar um terceiro quando o condutor
atropela um peão ou causa danos a alguém que está noutro veículo agora há um problema
sobre os danos dos transportados (504º).
O problema das pessoas que nós transportamos do veículo (o transporte gratuito) e então se
formos transportados num táxi (aqui já não gratuito)?.

Então é diferente o regime para o transporte gratuito e o renumerado (504º).

Os transportados apesar de estarem no interior do carro podem ser tidos como terceiro (e
podem ter direito a indemnização).

O 504º/2 (pessoas sobre contratos) (ex.: de rodoviária (autocarro)) e 504º/3 (transporte


gratuito).

Quando temos que distinguir o transporte mediante contrato e gratuito (vários critérios):

-Dr. Varela diz que o transporte é renumerado quando há prestação do transportador por
conta de contraprestação do transportado (sinalagma).
O transporte é gratuito quando há prestação do transportador não corresponde nenhuma
contraprestação do transportado.
Se estivermos perante transporte mediante contrato (são restituíveis danos causados na
pessoa do lesado e nas coisas que transporta (ex.: restituição de uma mala)).

Se estivermos perante transporte gratuito pode haver indemnização pelos danos na pessoa
mas não sobre o que transporta.

A ratio é que quem é transportado gratuitamente beneficia de um favor e não deve prevalecer
nestas situações e se sofre danos deve suportá-los (a ideia do pobre e mal agradecido ou do
venire contra factum proprio, do abuso).

O 504º é responsabilidade objetiva.

O transporte gratuito antes de 96 o transportado só tinha direito à indemnização se provasse a


culpa do transportador e não era responsabilidade objetiva porque beneficiava de um favor e
não fazia sentido que numa situação de infortúnio prevalece perante o transportador sobre
essa ideia do favor.
Ao contrário de hoje se o transportado provar a culpa pode ter ressarcimento pelos danos
pessoais e as coisas que transporta.

No caso de dano da morte – havendo dano da morte, é um dano pessoal, mas se entendermos
que é um dano pessoal então os seus herdeiros (ou melhor, os familiares conviventes do
496º/2 e 3 então à partida não são danos pessoais.
Há a discussão de que tipo de dano isto é (é um dano que se transmite iuri sucessório ou é
adquirido iuri proprio pelos familiares).
Se é o 496/2 e 3 então é afastada aqui indemnização mas se for um direito do de cuius que é
transmitido sucessoriamente aos destes artigo então podem pedir indemnização.

Responsabilidade civil do produtor (o Dr. Varela não é ajuda nisto, mas sim o Dr. Calvão da
Silva mas são 300 páginas então o melhor é aulas práticas mesmo).

383/89 que transpôs a diretiva 85/374 sobre produtos defeituosos.

É um caso de responsabilidade objetiva, mas não pelo risco como no 500º

Um produtor de foguetes mas também por um chupeta mas produzida ou seja, pode ou não
ser produtos perigosos mas sim os produtos defeituosos.
Tanto é responsável o produtor de armas, facas, etc. como os de uma chupeta porque não é a
ideia de perigo mas sobretudo uma tutela de defesa do consumidor e não é um diploma
exclusivamente pensado no consumidor mas protege-o mais (o mesmo com as clausulas
contratuais gerais, o contrato de seguro, etc.) e mais na vertente do consumo.
Há quem diga que a responsabilidade do produtor não é um autêntica responsabilidade
objetiva e dizem-no por causa de uma causa de exclusão (5º/e)) que fala sobre danos do
desenvolvimento e dizem que fala aqui da culpa.
Dizem que há um regime ligado à culpa e o legislador deixou entrar pela janela aquilo que
fechou na porta (a culpa).

Exclui a figura da culpa e a janela é o 5/e) mas nós entendemos que não.

Pressupostos da responsabilidade objetiva do produtor:

-Produtor (2º):

 Real (2º/1ª parte e é o que efetivamente intervém “  é o fabricante do produto acabado, de


uma parte componente ou de matéria-prima” (ex.: o produto acabado (avião) tal como surge
maior parte das vezes o produtor final é um espécie de um assembler de um puzzle e
reúne articuladamente as várias partes componentes (as janelas do avião, as portas, as
asas, vêm de diferentes produtos e as matérias primas também) e podemos ter
diversos produtores de matérias primas e depois o produtor final que lhes dá a forma
de avião.) Aquele que fez o assemble não o fez de forma harmónea e há defeito e
imaginemos que as portas caem do avião porque são defeituosas então temos outro
produtor e imaginemos que caem porque a matéria prima usada era defeituosa e vai
produzir danos a alguém e pode exigir danos aos 3 solidariamente (6ª no DL; 497º/1,
507º(responsabilidade objetiva) do C.C.).
São todos produtores reais.
 Aparente – 2º/1/ parte final “e ainda quem se apresente como tal pela aposição no produto do seu
nome, marca ou outro sinal distintivo.” As chamadas brancas (ex.: a por si do intermarché) e é
aquele que aparece aos olhos do produtos nessa qualidade porque apõe no produto o
seu nome e marca o seu sinal distintivos (se comprarmos uma mola no continente
para nós o produtor é o continente)
A única forma do produtor de marca branca tem responsabilidade é recorrendo a
técnicas de marca de aparência na qualidade de distribuidor e não de produtor (ex.: na
embalagem dizer: produzido por x; distribuído por y) porque se aos olhos apenas o
produtor é aquele então não há possibilidade de exoneração invocando que é
produtor aparente.
 Presumido
o Absolutamente presumido (2/2/a)) – importador comunitário “ a) Aquele que, na
Comunidade Económica Europeia e no exercício da sua atividade comercial, importe do exterior
da mesma produtos para venda, aluguer, locação financeira ou outra qualquer forma de
distribuição;”
Aquele que no âmbito de uma atividade económico importa de
países terceiros à união europeia (antes CEE) e coloca esses produtos
importados numa cadeia económica de distribuição na europa (ex.:
Importador de veículos automóveis na china; Italiano que invoca veículos da
china e têm defeito e importa da china para distribuir pela Europa toda e
depois há um francês que compra ao italiano e há um espanhol que compra ao
francês e o dano vem ocorrer na Espanha.
Quem adquiriu num país terceiro foi o Italiano e por isso é ele responsável por
ser adquirente de país terceiro.
Ele não produziu o carro mas é presumido (absolutamente) como produtor
para evitar que num mercado económico europeu sejam colocados produtos
de menor qualidade de modo a que o que vale para os importantes valem para
os reimportadores comunitários.
Reimportadores comunitários são alguém que fornece matérias primas (ex.:
portador italiano de têxteis e fornecem esses para a china e enviam as sedas
italianas para a china e depois estes (onde a mão de obra é mais barata)
produzem esses mesmo produtos e reimportam o produto e para garantir o
nível de qualidade do produto no âmbito da qualidade do mercado económico
europeu consideram-se produtores mesmo sem eles produzirem.

Imaginemos no 1º exemplo que este invoca 10 carros para a frota da sua


família e são para uso privado e aqui não é tido como produtor porque não foi
colocado numa cadeia económica de distribuição.
Não foi para venda, franchising, etc.

o Relativamente presumido (2/2/b)) – fornecedor de produto – “ b) Qualquer


fornecedor de produto cujo produtor comunitário ou importador não esteja identificado, salvo
se, notificado por escrito, comunicar ao lesado no prazo de três meses, igualmente por escrito, a
identidade de um ou outro, ou a de algum fornecedor precedente. ”
Aquele que é o mero
fornecedor do produto e aos olhos do povo também pode ser entendido como
produtor.
A presunção aqui é relativa ao contrário do importador comunitário que é
sempre tido (não há maneira de afastar a presunção) (ex.: ainda há mercearias
de bairro e se compramos lá um produto e o produtor desse produto não
estiver identificar para nós o produtor é quem nos vende o produto e assim é
tido como produtor.
Isto é um bocado violento sobre comerciante de bairro e tem sobre si essa
presunção mas pode afastar esta (o adquirente do produto tem que pedir por
escrito a identificação do fornecedor do produto e para se eximir de
responsabilidade não tem que indicar o produtor do produto mas sim indicar o
elo anterior (o fornecedor precedente)).
O Dr. Calvão diz que a responsabilidade do nosso fornecedor de produto
anônimo (não identificado) é subsidiária (porque a responsabilidade dele só
existe senão identificar o fornecedor precedente e é só portanto em ultima
via) e coercitiva (porque senão quiser ser responsabilizado tem que indicar o
elo anterior e a responsabilização dele é uma arma de pressão para que ele
indica/esclareça ao consumidor quem é o verdadeiro produtor)

Nova aula (continuação) esta responsabilidade é objetiva, e é fruto da


transposição de diretiva sobre os produtos e está prevista uma revisão porque
há um projeto de diretiva novo sobretudo tendo em conta o problema da
inteligência artificial e não é uma responsabilidade objetiva não objetiva (tanto
faz produtos perigosos ou não aqui).

-Produto (artigo 3º) – é aquela coisa móvel ainda que incorporada numa coisa imóvel e o
produto defeituoso tem que ser uma coisa móvel ainda que incorporada na coisa imóvel perca
essa coisa móvel a sua autonomia ou não no conjunto em que vai ser integrado.
(ex.: Uma vivenda defeituosamente construída mas com bons materiais (boas coisas móveis
(portas. Janelas e telhas) não nasce com autonomia no rigor porque a coisa é imóvel.
Há responsabilidade, mas aqui não é objetiva do produtor, mas sim do engenheiro, ou
arquiteto, mas é responsabilidade geral e delitual (a subjetiva) mas se há uma casa com janelas
defeituosas e alguém passa e a janela defeituosa cai então o produtor da janela pode ser
responsabilizado porque é uma coisa móvel ainda que parte de uma coisa imóvel).

Afastando o exemplo e imaginemos que há uma solução em que há lugar à aplicação do


regime da responsabilidade civil do produtor (483 e 489º) e o artigo 13 do DL e diz que a
aplicação da responsabilidade civil do produtor não afasta a aplicação da responsabilidade civil
em termos gerais e portanto dizendo que há um caso em que se aplique o regime de
responsabilidade civil do produtor não impede a aplicação do regime geral da responsabilidade
civil (o lesado é que opta) porque, por exemplo, abrange as presunções de culpa.

-Defeito – Classificação quadripartidas de defeitos (4 tipos) mas é distinção doutrinal seguida


pela jurisprudência (não está na lei e só temos o artigo 4º que dá noção de defeito e os tipos
de defeito não estão na lei):

 Defeito de conceção – é o que atinge o produto no momento da conceção (na própria


criação, o projeto do produto) (ex.: na indústria automóvel quem está no âmbito da
conceção do produto (engenheiro ou arquiteto) projeta mal o automóvel e temos aqui
os chamados defeitos de conceção e atingem todos os automóveis da série/projeto e
atingem o próprio design (um defeito originário)
 Defeito de fabrico – Aqueles vícios/defeitos que ocorrem como o próprio nome indica
no fabrico (no processo produtivo desse produto) e que normalmente podem ocorrer
em certas linhas de montagem mas não têm de ocorrer em todas as linhas de
montagem porque têm a haver com a fase de produção do produto (da concretização
do projeto) e nesse sentido se o produtor tiver uma fabrica com várias linhas de
montagem e só atingem os produtos produzidos em x linhas e não em outras então o
defeito só é descoberto na comparação entre os produtos da linha afetada e os outros.
(ex.: há uma linha que sai com defeito e outro não e deteta-se o defeito confrontando
a linha com e sem anomalia (o defeito aqui não é originário) e não afeta
necessariamente toda a série (a não ser que afete todas as linhas)).
 Defeito de informação – há produtos cujo consumo exige certo conhecimento (ex.: os
medicamentos) e por isso existem os farmacêuticos e existem as bulas (que nos dizem
os efeitos secundários) que não devemos ler senão ficamos logo com medo (então as
bulas mas aterrorizantes são as internets, ainda mais para os hipocondríacos) e
portanto implicam a informação e se esta é incorreta, falsa, defeituosa temos um
produto defeituoso por defeito de informação e este aqui já pode ser originário (atinge
todos os produtos).
Quanto a este é aferido desde o momento de entrada em circulação e é fundamental
para saber que informações são exigíveis mas quanto a esta informação devemos dizer
que este efeito acompanha toda a vida do produto enquanto está em circulação e esta
informação deve ser atualizada (ex.: os produtos do medicamente descobrem novos
efeitos então as bulas devem ser atualizadas).
 Defeito de desenvolvimento – este é o produto defeituoso no momento em que entra
em circulação só que no momento em que entra em circulação e os tais standards de
segurança técnica define não é possível detetar defeito (leges artis) e só mais tarde
vem se a verificar que o produto é defeituoso (Calvão da Silva fala do exemplo da
década 60 da talact… que era um produto que tinha uma defeito que a ciência não
conseguir detetar e fez nascer bebés com muitos defeitos ou vieram a sofrer alguns
tipos de defeitos no feto por as mães o tomarem) e estes defeitos não responsabilizam
o produtor porque já extinguiram os defeitos de desenvolvimento dos produtos
ultrapassados. Mas não deixa de obrigar os estados membros a responsabilidade ou a
exonerar na diretiva e foi uma escolha do legislador português e, portanto, não é
considerado causa de exclusão em Portugal. Em Portugal a nossa industria é pequena
e crescente então em termos estratégicos se optarmos por responsabilização por
defeito de desenvolvimento isto tinha efeitos económicos. E no caso da industria
farmacêutica responsabilizar os produtores nestes casos pode impedir que venha para
o mercado fármacos muito importantes para tratar as nossa doenças (isso era fechar
as portas no sentido de responsabilizar os defeitos de desenvolvimento e por causa
destes defeitos não detetáveis e isto é uma faca de dois gumes) e então por isso não
responsabilizamos neste caso. Em 2001 houve alteração a este decreto-lei e nós sobre
a definição de produto mudamos e antes não era considerado como produto aquelas
matérias primas móveis que não fossem sujeitas a qualquer transformação (ex.: ovos
das galinhas, carne de porco (não as alheiras)) mas na altura (até nas zonas rurais há
um complemento doméstico nos ovos que se vendem e podiam amealhar pé de meia
até para fugir ao controlo marital das finanças e acontecia muito anteriormente). Em
89 era um país diferente e nós conseguimos que relativamente a esse setor
agropecuário que se protege-se um pouco e relativamente a essa produção e qualquer
matéria prima com transformação ou não que seja móvel cai na alçada da
responsabilidade do produtor. (isto não terá a haver com os estudos relativamente à
diferença na qualidade dos produtos tendo em conta a alimentação dos animais).
5º/a) é causa de exclusão da responsabilidade civil do produtor e uma delas é a de não
conseguir detetar a existência de defeito (alínea e)).

Noção de defeito (artigo 4º) – aqui a ideia de defeito (presunção de defeito) centra-se numa
ideia de segurança (segurança do produto e a segurança com que legitimamente podem
contar os adquirentes daquele tipo de produto e é um critério normalizado, aquele com que o
cliente médio pode contar daquele referido produto).
A pedra de pó do defeito e isto é importante aqui mas temos o regime dos vícios da coisa
(antes desta responsabilidade) (913 e ss. do CC) que são regimes diferentes.
O do produtor é responsabilidade civil extracontratual (danos causados a terceiros) enquanto
o do 913º e ss. é contratual (perante o adquirente).

A ideia de defeito aqui é a de segurança, já no 913º e ss. a ideia de defeito ou de vício (aqui é
responsabilidade por vícios da coisa) aí a pedra forte é a ideia de aptidão ou idoneidade da
coisa para os fins a que se destinem.
(ex.: adquire-se uma chupeta para bebé e esta não é defeituosa e não cai no regime da
responsabilidade dos vícios da coisa porque é idónea aos fins a que se destinem só que foi
produzido com uma substância qualquer que provoca alergias e é defeituosa nesse sentido do
decreto lei e aqui é apta mas não é segura (ainda não falámos mas há partida seria um defeito
de fabrico)).

Há um artigo importante que é o 4/2º que é na distinção entre coisas velhas e novas “não se
considera defeituoso um produto pelo simples facto de posteriormente ser posto em
circulação outro mais aperfeiçoado” (ex.: os carochas velhos não são defeituosos porque os
novos são muito melhores).
Os carochas novos não tornaram os outros defeituosos e podem ser menos prestáveis agora,
mas continuam a ser seguros.

A segurança com que se legitimamente se pode contar há que constar com a bitola do
momento da entrada em circulação do produto (4º pressuposto)

Isto são tudo ideias da definição de defeito

-Elemento de entrada em circulação – este é aquele momento em que o produtor lança, livre e
conscientemente o produto numa cadeia económica de distribuição. (para venda, locação, etc.
para qualquer escopo económico (se for para o âmbito de caridade não entra no âmbito da
responsabilidade do produtor)).
2 exs.:

 Imaginemos que na indústria farmacêutica que está a ser preparado nos laboratórios
preparado um determinado químico e faz-se experiências com ácidos perigosos e
envolvia ácidos inflamáveis e, entretanto, entra um terceiro lá e essa pipeta explode e
os ácidos lançam-se à cara da pessoa e provocam queimaduras nestes.
Há responsabilidade do produtor mesmo que esse produto tenha defeito, não porque
estão na fase de testes porque o produto não tinha sido lançado na cadeia económica.
Mas o terceiro foi queimado e pode haver aplicação da responsabilidade civil nos
termos gerais (493º/2) mas só se aplica aqui que tem presunção de culpa se for uma
atividade perigosa mas também pelo (493º/1) (coisas sujeitas a vigilância) Não se
invoca a responsabilidade civil do produtor mas imaginemos que o terceiro está lá
indevidamente mas é um turista e aqui o lesado pode ter culpa e pode pôr-se o
problema concreto aplicar o 570º/2 e há culpa do lesado com presunção de culpa do
lesante e aqui poderia excluir a responsabilidade do lesante mas segundo a tese que
defendemos do concurso pode haver concurso da responsabilidade. Imaginemos que
havia responsabilidade civil do produtor vamos para o 7º/1 e podia haver concurso e
aqui é a responsabilidade civil do produtor com a culpa do lesado.
 Falamos de “livre e consciente” e imaginemos que há um roubo desta substancia
falada por uma empresa concorrente e este produtor não pode ser tido como
produtor porque não foi ele que lançou no mercado o produto porque não o fez livre e
conscientemente (houve coação).
Depois é também o momento de entrada em circulação é importante para definir se
há segurança ou não do produto porque as bitolas para definir esta segurança são os
do momento da entrada em circulação (caso contrário estamos a aplicar
retroativamente os standards de segurança).

Este 4/2 tem a haver com o 5/e) porque é onde encontramos os tais defeitos de
desenvolvimento.

Já sabemos que a responsabilidade civil do produtor tem a regra de concurso entre a


responsabilidade do produtor e o lesado.
E então e com o terceiro (7º/2) – “sem prejuízo do disposto dos nºs 2 e 3 do artigo anterior, a
responsabilidade do produtor não é reduzida quando a intervenção de um terceiro tiver
concorrido para o dano.
Quando falamos do 505º dissemos que a intervenção do terceiro contribuiu (ex.: o mecânico
que reparou mal os travões e não resolveu nada) e portanto aqui há a ocorrência de risco a
culpa de terceiro e podemos ver a nossa responsabilidade diminuída ou até excluída se houver
intervenção de terceiro.
De acordo com a doutrina antiga mas a atual a culpa de terceiro concorre com o risco.

No caso do produtor aqui a culpa do produtor dizemos que não é reduzida com a atuação
culposa de terceiro (não estamos perante a hipótese em que terceiro que participa na
produção e aí é responsabilidade solidário nos termos do artigo 6º
(ex.: na industria farmacêutica um produtor lança no mercado fármaco com diferentes e há
um doente que vai ao médico que receita esse fármaco e o farmacêutico quando a receita vai
ser apresentada o farmacêutico diz nas informações que em vez de 2 por dia (o que o médico
diz) que este tome 5 por dia e há intervenção culposa de terceiro e além de haver
responsabilidade civil do produtor nem sequer a diminuiu (a belisca) e não há responsabilidade
objetiva do farmacêutico nem médico porque não são produtores e temos aqui o lesado a
pedir montante de indemnização de acordo com a regra geral da conjunção (da
responsabilidade de cada um deles) sendo que um responde objetivamente e outros pela
culpa (porque as regras deste DL não afasta a regra geral e para aplicar o artigo 6º temos que
ver se estamos perante vários produtores) e então o doente pode pedir indemnização ao
produtor mas tendo em conta a quota de responsabilidade do médico e do farmacêutico
(indemnizações conjuntas em que pode pedir aos vários devedores na medida da sua
responsabilidade (não é aquelas em que o credor pode pedir tudo a um deles)).

Devemos ver, para acabar:

 497º se houver vários responsáveis a responsabilidade é solidário


507 o mesmo
E nos termos do artigo 6º havendo vários produtores é solidária.
Então vamos estudar este tema
 As obrigações genéricas
 E uma brevíssima abordagem nos tipos de incumprimento.

Obrigações (modalidades) esta matéria estudasse tendo em conta vários critérios:


-Critério do vínculo (e nós não vamos estudar aqui as obrigações naturais) e nas obrigações
quanto vínculo distinguem-se as civis e as naturais.

-Critério do sujeito (singulares, solidários e conjuntas)

-Critério do objeto (as alternativas, genéricas e pecuniárias)

É ver as obrigações tendo em conta os regimes e com vários critérios

Quanto ao sujeito:

-Singulares (há apenas um devedor)

-Plurais (com vários credores ou devedores ou simultaneamente e quando temos vários


credores é pluralidade ativa e vários devedores passivas e quando é os dois é simultaneamente
ativa e passiva) e só vamos falar da passiva (com vários devedores) e quando temos vários
devedores a regra é as obrigações serem conjuntas:

 Conjuntas – havendo vários devedores cada um dos devedores responde pela sua
quota de responsabilidade (aquilo que falamos do exemplo do farmacêutico e
produtor e havendo vários devedores o credor pede a indemnização a vários
devedores tendo em conta a sua quota de responsabilidade (montante 100 e A é
responsável de 20 e B de 80 então C pede 20 a A e 80 a B)
 Solidárias – é um regime excecional e só existe quando a convenção das partes
(solidariedade convencional) ou a lei (solidariedade legal (ex.: 497º; 507; 6º do DL) o
prevê (513º). Traços característicos da solidariedade (o credor pode pedir o montante
integral da prestação a cada um dos devedores e há pouco C era credor de A e B (20 e
80) o credor no plano de relações de externas (entre credor e devedor solidários) o
credor pode pedir o montante integral da prestação a A ou a B e o devedor que
realizar a prestação integral (imaginemos que A realiza a prestação por ter pedido C e
paga os 100) extingue a obrigação (efeito extintivo recíproco comum (o devedor libera
todos os outros devedores perante o credor comum)).
Não é apenas a possibilidade do credor exigir o montante integral da prestação a cada
um deles mas também o efeito extintivo recíproco comum (porque assim C não podia
exigir depois a B).
Tendo em conta a quota de responsabilidade de cada um (A pagou os 100 mas ele em
termos de efetiva responsabilidade apurou-se em juízo que ele era responsável apenas
na medida de 20 e portanto o que tem de exigir? E a quem? Para que ele apenas
satisfaça perante o credor aquilo a que estava vinculado ele tem que pedir o
reembolso daquilo que é excedido (80) a B no plano das relações internas (este plano
é a relação entre os devedores) e chama-se a este reembolso o direito de regresso.
Lendo o 524º é direito de regresso.
Depois teremos de ler o 516º.
Portanto ou há definição por convenção das partes ou por decisão judicial da quota de
responsabilidade de cada um mas não havendo nada a lei presume de igualdade de
responsabilidade nas dívidas (50-50).
Chamar a atenção ao 519º também - o traço das solidários é poder exigir o montante
integral de um só (pode pedir a quota de cada um mas fazendo-o prescindo do
benefício desta responsabilidade) Mas pode exigir a totalidade ou parte da prestação e
por isso distingue-se das conjuntas.
Mas agora se pura e simplesmente exige de cada um a quota da sua responsabilidade
não está a usar o beneficio da solidariedade e pode exigir extrajudicialmente ou
judicialmente mas quando o fizer judicial e não conseguir obter a totalidade ou parte
da prestação diz o 519º que não pode demandar os outros pelo que tiver exigido do
primeiro salvo, se houver razão latente como insolvência ou risco de insolvência do
demandado ou dificuldade, por outra causa, em obter dele (o demandado) a
prestação e nessa hipótese já pode demandar os outros relativamente aquilo que
pediu ao primeiro.

Meios de defesa – os devedores solidários quando demandados pelo credor podem opor ao
credor meios de defesa e há dois tipos de meio de defesa (estes meios de defesa invocam-se
nas relações externas (credores- devedores) e podem causar problemas/repercussões nas
relações internas (credor-credor nomeadamente direito de regresso):

 Os comuns (514/1 faz a distinção) – são veementes à pessoa do devedor e podem ser
meios de defesa inscritos ou relacionados com as relações do credor e cada um dos
devedores solidários) e, ou se reportam à fonte da obrigação (ex.: negócio jurídico, ex.:
nulidade ou anulabilidade (algum vício que atinga a fonte de obrigação)) ou à pessoa
do credor (porque é um só, ex.: a mora do credor)
 Os pessoais (514/1) –Estes dividem-se em 3 tipos:
o Aqueles que aproveitam ao devedor que o invoca (quem tem legitimidade
para invocar é aquela a quem o bem pessoal respeita) e pode prejudicar os
outros devedores solidários. (ex.: o caso da incapacidade do devedor solidário
(um devedor solidário incapaz) e sendo incapaz, uma vez demandado pelo
credor ele aproveita das relações externas da sua incapacidade e fica
exonerado e depois o que acontece aos demais devedores solidários ficam
prejudicados porque têm de responder pela quota paga por ele porque no
plano das relações externas não podem pedir-lhe para pagar e neste caso os
outros não aproveitam no meio (Não beneficiam nas relações externas (que é
onde ele acontece) mas são prejudicados (que acontece nas relações internas
sempre) sempre na ideia dos 3 mosqueteiros “um por todos e todos por um”.
o Aproveitam ao devedor solidário que o invoca e aproveita aos outros
devedores solidários. Só pode invocar aquele a quem o bem pessoal interessa
e neste caso aproveita aos demais devedores solidários (ex.: compensação e
remissão da quota:
 Compensação – quando o devedor é titular de um crédito contra o
credor (artigo 847º e ss.) pode invocar a compensação (ex.: o A era
credor do C em 100 e C credor de A e B em 100 e há créditos
recíprocos entre C e A e quando C credor vem pedir (integralmente) os
100 a A este A pode invocar a compensação não paga e aproveita. Mas
aproveitam os outros na medida da compensação e o C já não pode
pedir nada a B (isto assim é e imaginemos que o credito de A perante
C era só 50 então a compensação era só de 50 então os outros 50
podiam ainda ser pedidos a B não pode é pedir os 100 a B porque 50 já
foram compensados a A e esta compensação de 50 aproveitou a B).a
Ou seja, no plano das relações externas o B aproveita do direito de
compensação de A mas o B continua com quota de 50 então pode
pedir esses 50 a B em virtude de direito de regresso.
 Remissão – aqui temos 2 tipos:
 Remissão da quota – aqui há um perdão integral da quota e o
devedor remete a quota devida. Há um perdão da dívida
relativamente a A e imaginemos que este seja de 100 e remitiu
a dívida de A perante C que aproveita nessa medida a B (ou
seja, o C só pode exigir de B 50 e nunca 100 porque aqui
aproveita no plano das relações externas).
 Remissão da dívida – não aproveita aos demais devedores
solidários, mas também não os prejudica e aqui há uma
espécie há um pacto de não pedir e isto é, entre credor e o
devedor respetivo estabelece um acordo nos termos do qual o
credor convenciona que não vai pedir a dívida nas relações
externas aquele devedor, mas convenciona só isso. Não pedir
nas relações externas pode dar mais tempo para pagar neste
caso então há interesse nisto, mas o não pagar nas relações
externas pode ser uma vantagem.
Não é um perdão da dívida, mas o credor não lhe pode é
dirigir um acordo.
o Outros meios pessoais de defesa que aproveita ao devedor solidário que os
invoca, não aproveita aos outros devedores solidários, mas não os prejudica.
(ex.: prescrição e o da remissão da dívida):
 Prescrição – demos prazo de 3 anos a partir da ocorrência do facto nos
termos gerais da responsabilidade mas esse prazo pode ter prescrito
relativamente a uns devedores e não quanto a outros porque o prazo
de prescrição correm separadamente porque relativamente a um dos
devedores pode ter havido uma interrupção ou uma suspensão do
prazo de prescrição e então isso significa que relativamente a esse
devedor o credor ainda pode exigir a dívida mas se exigir prescrição
quanto a outros a dívida está prescrita então (o credor vem pedir
montante integral que tem a dívida prescrita diz que não paga porque
invoca a prescrição e isto aproveita a ela nas relações externas.
Mas não aproveita aos outros que têm de pagar a prestação integral
mas também não os prejudica porque os outros relativamente a
quem a dívida não prescreveu têm que pagar o montante integral mas
depois nas relações internas podem exercer o direito de regresso e
podem exigir o direito de regresso ao devedor cuja dívida está
prescrita.

Temos que ver este assunto do aproveito e do prejuízo no plano:

o Das relações externas

o Das relações internas


521º Prescrição – atenção, se houver uma questão de insolvência de um ou dois devedores
esse risco de insolvência não é um meio de defesa, mas sim um risco suportado pelos demais
devedores solidários e não pelo credor.
Isto é, se um devedor entra em insolvência quem paga é B (se A entrar) e não é suportado pelo
credor.
Se a obrigação for conjunta então o risco da insolvência quem suporta isto é o credor.

Caso Julgado (522º) “O caso julgado entre o credor e um dos devedores não é oponível aos
restantes devedores, mas pode ser oposto por estes, desde que não se baseie em fundamento
que respeite pessoalmente àquele devedor”

Isto é, se houver caso julgado favorável ao credor relativamente a A não o pode opor a B
poruqe a ação foi intentada contra A e o B não foi ouvido nem achado e quem terá beneficiado
disso foi o credor e então se ele entrar em causa e o B não for ouvido então pura e
simplesmente o credor não pode impor o caso julgado a B. (princípio do contraditório)
Mas se o caso julgado for desfavorável ao credor e perder a ação contra A (C perde) então o B
pode beneficiar do caso julgado e opô-lo ao credor (não pagando) a não ser que aquele caso
julgado tenha sido fundado em motivos estritamente pessoais de A então se o caso julgado for
desfavorável a C então os restantes devedores podem aproveitar a não ser que tenham sido
utilizados motivos pessoais.

Obrigações genéricas (obrigações definidas pelo género e pela quantidade)

A vende a B 100 kilos de batatas, 100L de vinho e é uma obrigação genérica (género (batata ou
vinho) e quantidade (100 kilos ou litros).

Mas imaginemos que produtor de vinho vende a comerciante 100 litros de vinho do porto da
colheita de 85 a um comerciante da baixa e a obrigação continua a ser genérica (género: vinho
do porto (mas com nota caracterizadora adicional: da colheita de 85) com a quantidade de
100l) e a caracterização fica mais adstrita mas não deixa de ser genérica.

A obrigação genérica se é definida pelo género e quantidade não versa sobre o objeto
concretamente determinado (contrapõe-se à obrigação específica (sobre aquele específico
objeto) então qual é o momento (que o devedor cumpre a obrigação já tem que saber aquilo
que vai cumprir e esse momento de especificação chama-se concentração é um momento
importante no 541º:

“A obrigação concentra-se, antes do cumprimento, quando:

 Quando isso resultar de acordo das partes,


 Quando o género se extinguir a ponto de resta apenas uma das coisas nele
compreendidas
 Quando o credor incorrer em mora
 Ou ainda nos termos do artigo 797º (erro no local do cumprimento)”

Na concentração a obrigação passa de genérica a específica e é neste momento que se


transmite a propriedade da coisa porque nas genéricas temos uma derrogação ao sistema tipo
do artigo 408º em matéria de transferência de propriedade (que é princípio geral).
Nestas obrigações a propriedade não se transmite por mero efeito do contrato mas sim com a
concentração e isto vai afetar as regras gerais do perecimento da coisa (796º do C.C) sobre o
risco do perecimento da coisa que diz que corre por conta do adquirente.
Ex.: tenho uma cadeira e vendo e a propriedade transfere-se por mero acordo (mesmo sem
pagamento ou formalidade) e imaginemos que há uma incêndio na noite em que vendo as
cadeiras no meu armazém e nesta hipótese o senhor tem que pagar as cadeiras e eu fico
exonerado de as entregar (há uma impossibilidade objetiva de cumprimento – 790º) porque
não foi na minha culpa.
Isto tudo é risco mesmo que não seja justo.

Não é assim no âmbito das obrigações genéricas pois até à concentração quem suporta o risco
é o alienante (vendedor) a partir da concentração quem suporta o risco é o adquirente.:

Ex.: 541º uma das causas da concentração é o acordo das partes e imaginemos que (539º)
compete ao devedor mas imaginemos que o devedor vai lá ao armazém vai escolher as pipas
que quer levar e nessa noite há incendio ou inundação no armazém o devedor fica exonerado
e o risco (porque já houve concentração a responsabilidade era do comerciante de coimbra, o
comprador) que tem de pagar as garrafas e fica sem elas.
Se fosse antes da concentração então era o vendedor que suportava o risco, perdia as garrafas
e não podia pedir dinheiro por ela.

Incumprimento:

-Do devedor (só vamos falar destes) – o incumprimento tem vários critérios:

Quanto à causa do incumprimento:

 Imputável ao devedor (aqui o devedor teve culpa) – nestes casos é responsável


 Não imputável ao devedor (não há culpa do devedor) – nestes casos o devedor fica
exonerado.
o Causas para não ser imputável:
 Impossibilidade de cumprimento (tem que ser absoluta para ser
exonerado) e não pode ser mera dificuldade em cumprir e, portanto,
não é uma mera dificuldade relativa, mas sim absoluta. Se for relativa
tem que tentar a não ser que seja muito oneroso.
Dois tipos de impossibilidade:

 Objetiva (790º) – aqui nem o devedor nem qualquer devedor


do mundo consegue realizar a prestação (ex.: um empreiteiro
ia construir muro sobre terreno de A e há proibição legal de
construir naquele local e aqui não poderia construir seja ele ou
outro ou qualquer outro; eu vendo a lua ao vizinho e isto não
é possível de novo). E esta é a necessária para exonerar as
prestação fungíveis (que exonera todos)
 Subjetiva (791º) – é relativa ao devedor, o devedor x não pode
cumprir e o y já poderia, portanto a impossibilidade subjetiva
só exonera as prestação infungíveis.

Quanto aos efeitos:


 Mora (atraso no cumprimento, o devedor não cumpre no prazo devido, mas pode
cumprir mais tarde porque o credor mantém interesse no cumprimento)
 Incumprimento definitivo (o devedor já não pode realizar a prestação porque o credor
perdeu o interesse no cumprimento e o que mede a diferença entre a mora e o
incumprimento definitivo é a perda do interesse do credor que deve ser medida de
modo objetivo (pelo artigo 808º do C.C.).
A conversão da mora em incumprimento definitivo por regra é necessário eu fazer
uma interpelação ademonitório em que dou um derradeiro prazo para cumprir e se o
devedor não aproveitar a oportunidade entra em incumprimento definitivo a não ser
que seja um prazo essencial (ex.: um bolo de casamento que chega no dia e não se
pode entregar no próximo dia porque o dia de casamento é o dia do casamento, o
mesmo para o vestido, etc.).
 Cumprimento defeituoso (aqui o devedor cumpre, mas cumpre mal porque não realiza
a prestação de acordo com os ditames da boa fé, nomeadamente não cumpre os
deveres de conduta que lhe são exigíveis. Os deveres acessórios ou os deveres de
conduta.)

Quando houver responsabilidade contratual ou violação de direitos de créditos aplica-se a


presunção de culpa do 799º do C.C. e devemos ter sempre em conta isto.
É a regra proposta pelo 487º da responsabilidade civil extracontratual.

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