Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Casos paradigmáticos:
✓ Contrato-promessa: A promete vender um imóvel a B. C, não obstante ter conhecimento da promessa
de venda celebrado por A, incita-o a vender-lhe o imóvel, levando A a incumprir o contrato celebrado
com B. Pode C ser responsabilizado por B pelo incumprimento da promessa por parte de A?
✓ Pacto de preferência: E, mesmo sabendo que D tinha a obrigação de dar preferência a C na venda de
um imóvel, instiga D a vender-lhe o bem, sem notificar C para preferir, violando aquele o pacto de
preferência. Pode C exigir uma indemnização da E pelos danos decorrentes da violação do seu direito
de preferência, por ter colaborado no incumprimento de D?
✓ Contrato de trabalho: G, que acabara de celebrar um contrato de trabalho com F, é instigado por D
para ir trabalhar com ele, violando assim o acordo celebrado com F. Pode este exigir a
responsabilidade de D por ter colaborado na violação do contrato de trabalho por parte de G?
EFICÁCIA EXTERNA DOS CONTRATOS
A doutrina clássica e mais conservadora afasta de todo a teoria de eficácia externa dos
contratos, sublinhando que a obrigação tem uma eficácia relativa – só ao devedor pode o
credor exigir o cumprimento e, por conseguinte, também a responsabilidade pelo
incumprimento. Entretanto, nos casos mais gravosos mesmo a doutrina conservadora acaba
por aceitar a responsabilização de terceiros com fundamento no abuso de direito (art. 334º do
CC) – caso de Almeida Costa, Antunes Varela, Vaz Serra, entre outros;
Os autores que defendem a eficácia externa dos contratos em termos mais amplos sustentam a
sua tese no art. 490º do CC, referente à responsabilidade dos instigadores e auxiliares.
Defendem que todos têm o dever de respeitar e não lesar o direito de crédito alheio e que a
comparticipação de terceiro no incumprimento do contrato tem tutela delitual, determinando a
obrigação de indemnizar por parte do devedor, solidariamente com o terceiro – Galvão Telles,
Menezes Cordeiro, Pessoa Jorge, entre outros.
CONTRATO A FAVOR DE TERCEIRO
Noção:
Contrato pelo qual um dos contraentes (Promitente) atribui, por conta do outro (Promissário), um
benefício patrimonial a terceiro estranho à relação contratual (Beneficiário). Uma das partes se obriga,
perante e por conta da outra, a realizar uma prestação a favor de terceiro estranho ao negócio – art.
443º, n.º 1, do CC.
Terá de resultar claramente do contrato a intenção de as partes atribuirem um benefício a terceiro;
A prestação ou o benefício a favor de terceiro pode ser (art. 443º, n.º 2, do CC):
✓ Direito de crédito
✓ Cessão de crédito
✓ Constituição ou transmissão de um direito real
✓ Liberação de uma dívida
CONTRATO A FAVOR DE TERCEIRO
Exemplos:
António celebra um contrato de seguro de vida com a Garantia a favor do filho, nos termos do
qual quando aquele morrer, a Garantia fica obrigada a pagar um determinado montante
(indemnização) ao filho de António.
Berta e Carlos celebram um contrato de compra e venda de um carro a favor de Ester, filha de
Carlos.
Ana celebra um contrato com Bento, nos termos do qual aquela se obriga a dar preferência ao
irmão de Bento na venda de uma vivenda.
Maria promete a Joana que venderá o seu automóvel ao Filipe, pai de Joana, no prazo de dois
meses.
CONTRATO A FAVOR DE TERCEIRO
Partes do contrato a favor de terceiro:
✓ Promitente – aquele que assume a obrigação de realizar a prestação
✓ Promissário – aquele a quem a promessa é feita e por conta do qual a prestação é
realizada
Terceiro/Beneficiário
Relação de valuta
Relação de execução Atribuição patrimonial indirecta
Promitente Promissário
Relação de cobertura ou de provisão
Contrato a favor de terceiro
CONTRATO A FAVOR DE TERCEIRO
É com base na relação de cobertura que se determinam os direitos de Terceiro, os direitos e obrigações
das partes, bem como os meios de defesa oponíveis a Terceiro por parte do Promitente. A invalidade do
contrato, a verificação de uma condição resolutiva ou a não verificação de uma condição suspensiva,
excepção de não cumprimento são alguns exemplos de meios de defesa relativamente à relação de
cobertura que o promitente pode invocar para não cumprir perante terceiro – art. 449º do CC;
Ex.: A e B celebram um contrato de compra e venda de uma automóvel a favor de C. A, vendedor, pode
invocar a excepção de não cumprimento, isto é, a falta de pagamento do preço por parte de B para
legitimar a não entrega da viatura a C.
O Promitente não pode invocar meios relativos à relação de valuta entre o Promissário e o Terceiro,
nem meios relativos a outra relação contratual que tenha com o Promissário.
Ex.: O A não pode invocar o facto de B ou C lhe dever dinheiro que lhes tinha emprestado para não
entregar o automóvel a C.
CONTRATO A FAVOR DE TERCEIRO