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- Princípio da necessidade da intervenção penal (18º, n. 2 CRP): A aplicação de penas e
de medidas de segurança deve limitar-se ao necessário para a proteção de bens jurídicos que
sejam dignos de tutela penal (Strafwürdigkeit) e carecidos de tutela penal (Strafbedürftigkeit)
– prevenção geral positiva ou de integração (manutenção da paz jurídica e da confiança da
generalidade dos membros da comunidade na força do ordenamento jurídico-penal, sempre
que é abalado pela prática de crimes) – e a reintegração do agente na sociedade – prevenção
especial positiva ou de socialização (correção do agente do crime de forma a que seja
possível integrá-lo na comunidade à qual pertence) (40º, n. 1 CP).
- Princípio da proporcionalidade: Em matéria de penas, não pode haver pena sem culpa
(culpa enquanto pressuposto da pena) e a pena não pode ser superior à culpa do agente
(culpa enquanto limite inultrapassável da pena) (40º, n. 2 CP). Em matéria de medidas de
segurança, a medida de segurança só pode ser aplicada se for proporcionada à gravidade do
facto e à perigosidade do agente (40º, n. 3 CP).
- Princípio da socialidade (2º CRP, 9º, al. d) CRP, 26º, n. 1 CRP, 30º, n. 1 CRP): Incumbe
ao Estado proporcionar ao condenado as condições necessárias para a sua integração na
comunidade à qual pertence.
- Princípio de preferência pelas consequências jurídicas do crime não-privativas da
liberdade: O tribunal deve dar preferência às consequências jurídicas do crime não-
privativas da liberdade (70º CP, 98º, n. 1 CP), em respeito pelos princípios da necessidade da
intervenção penal (18º, n. 2 CRP) e da proporcionalidade (40º, n. 2 e 3 CP).
- Princípio da aplicação da lei penal mais favorável (29º, n. 4, 2ª parte CRP): Em virtude
do princípio da legalidade criminal, é proibida a aplicação da lei penal nova sempre que dela
resulte a fundamentação ou agravação da responsabilidade criminal do agente. Em virtude do
princípio da necessidade da intervenção penal, é permitida a aplicação da lei penal nova
sempre que dela resulte a atenuação ou exclusão da responsabilidade criminal do agente.1
- Princípio da insusceptibilidade de transmissão da responsabilidade penal (30º, n. 3
CRP): A responsabilidade criminal é insuscetível de transmissão. Deste princípio resultam
duas consequências:
-» A responsabilidade criminal extingue-se pela morte do agente (127º, n. 1 CP).
-» A morte do agente extingue tanto o procedimento criminal, como a pena ou a medida
de segurança (128º, n. 1 CP).
- Princípio da não-automaticidade dos efeitos da pena (30º, n. 4 CRP, 65º, n. 1 CP):
Nenhuma pena envolve como efeito necessário a perda de quaisquer direitos civis,
profissionais ou políticos.
- Princípio consagrado no artigo 30º, n. 5 CRP: Os condenados a quem sejam aplicadas
pena ou medida de segurança privativas da liberdade mantêm a titularidade dos direitos
fundamentais, salvas as limitações inerentes ao sentido da condenação e às exigências
próprias da respetiva execução.
1O princípio da aplicação da lei penal mais favorável não é uma exceção ao princípio da legalidade criminal,
uma vez que não está em causa a fundamentação ou agravação da responsabilidade criminal do agente, mas
antes a sua atenuação ou exclusão.
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2.2 Características gerais do sistema sancionatório português
1) O sistema sancionatório português recusa a pena de morte (24º, n. 2 CRP) e consequências
jurídicas do crime com caráter perpétuo ou de duração ilimitada ou indefinida (30º, n. 1
CRP), o que vai ao encontro de um princípio da humanidade e da regra segundo a qual
ninguém pode ser submetido a tortura, nem a tratos ou penas cruéis, degradantes ou
desumanos (25º, n. 2 CRP).
2) O sistema sancionatório português dá preferência às consequências jurídicas do crime não-
privativas da liberdade (70º CP, relativamente às penas 2 - 98º, n. 1 CP, relativamente às
medidas de segurança3), em respeito pelos princípios da necessidade da intervenção penal
(18º, n. 2 CRP) e da proporcionalidade (40º, n. 2 e 3 CP).
3) O sistema sancionatório português é um sistema tendencialmente monista, uma vez que,
tendencialmente4, não permite a aplicação cumulativa, ao mesmo agente, pelo mesmo facto,
de uma pena e de uma medida de segurança privativas da liberdade.
4) O sistema sancionatório português prevê que a aplicação de penas e, em geral5, de medidas
de segurança visa, a título primário, exigências de prevenção geral positiva e, a título
secundário, exigências de prevenção especial positiva (40º, n. 1 CP). Já a execução das penas
e das medidas de segurança visa, a título primário, exigências de prevenção especial positiva
e, a título secundário, exigências de prevenção geral positiva (42º, n. 1 CP).
5) O sistema sancionatório português prevê consequências jurídicas do crime específicas para
as pessoas coletivas e entidades equiparadas (90º-A a 90º-M CP).
2.3 Tipos de penas
No ordenamento jurídico-penal português, existem três tipos de penas:
- Pena principal: As penas principais são aquelas que se encontram expressamente previstas
como consequência jurídica do tipo legal de crime e que podem ser fixadas pelo julgador na
sentença condenatória independentemente de quaisquer outras (penas de prisão e de multa).
- Pena de substituição: As penas de substituição são aquelas que são aplicadas em vez de
uma pena principal (multa (45º CP), proibição do exercício de profissão, função ou atividade
(46º CP), suspensão da execução da pena de prisão (50º a 57º CP), prestação de trabalho a
favor da comunidade (58 CP), admoestação (60º CP), etc.).
- Pena acessória: As penas acessórias são aquelas cuja aplicação pressupõe a fixação na
sentença condenatória de uma pena principal ou de uma pena de substituição (proibição do
exercício de função (66º CP), proibição de conduzir veículos com motor (69º CP), proibição
de confiança de menores e inibição de responsabilidades parentais (69º-C CP), proibição de
contacto com a vítima, proibição de uso e porte de armas e obrigação de frequência de
programas específicos de prevenção da violência doméstica (152º, n. 4 e 5 CP), etc.).
2 Se ao crime forem aplicáveis, em alternativa, pena privativa e pena não privativa da liberdade, o tribunal dá
preferência à segunda sempre que esta realizar de forma adequada e suficiente as finalidades da punição.
3 O tribunal que ordenar o internamento determina, em vez dele, a suspensão da sua execução se for
razoavelmente de esperar que com a suspensão se realize de forma adequada e suficiente a finalidade da medida.
4 É a pena relativamente indeterminada que faz com que o sistema sancionatório português seja um sistema
tendencialmente monista, uma vez que, na fase da sua execução, tem natureza mista ( → ver ponto 8).
5 A medida de segurança de internamento apenas prossegue, de forma autónoma, finalidades de prevenção
6 Faz sentido distinguir vários graus da pena de prisão em função da sua duração:
- As penas de substituição só podem ser aplicadas em vez de penas de prisão de curta e de média duração.
- A dispensa de pena vale, em regra (143º, n. 1 CP), quando em causa estejam penas de prisão de curta duração.
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4. Tem eficácia político-criminal7 de grau menor em relação à pena de prisão. Este
inconveniente é diminuído, uma vez que o tribunal determina a pena de multa em função da
situação económico-financeira do condenado e dos seus encargos pessoais (47º, n. 2 CP).
Notas fundamentais:
1) O Código Penal Português prevê a pena de multa principal enquanto pena autónoma
(encontra-se expressamente prevista como consequência jurídica do tipo legal de crime
autónoma da pena de prisão (ex. 250º, n. 1 CP, 268º, n. 3 e 4 CP e 366º, n. 2 CP)) e
enquanto pena alternativa (encontra-se expressamente prevista como consequência
jurídica do tipo legal de crime alternativa à pena de prisão (ex. 143º CP, etc.)), mas já não
enquanto pena complementar (encontrava-se expressamente prevista como consequência
jurídica do tipo legal de crime complementar à pena de prisão).
2) A pena de multa tem a duração mínima de 10 dias e, em regra, a duração máxima de
360 dias (47º, n. 1 CP). É, porém, permitido um limite máximo superior nos casos
previstos na lei (600 dias – 204º, n. 1 CP; 900 dias – 77º, n. 2 CP).
7 A pena de multa tem eficácia político-criminal quando o agente deixa de poder fazer o que quer para poder
pagar a pena de multa.
8 A suspensão da execução da pena de prisão pode ser simples, com imposição de deveres ( 51º CP), com
imposição de regras de conduta (52º CP) ou com regime de prova (53º CP).
9 Se, por exemplo, o arguido interpusesse recurso da sentença condenatória em pena de admoestação e…:
- …se o tribunal de 2ª instância alterasse a pena de admoestação, haveria violação do artigo 29º, n. 5 CRP.
- …se o tribunal de 2ª instância absolvesse o arguido, este teria sido punido sem haver condenação pela prática
de um crime.
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2.3.3 Penas acessórias
As penas acessórias aplicam-se por referência ao ilícito-típico praticado, ligam-se à culpa do
agente, justificam-se do ponto de vista preventivo e não podem ser um efeito automático da
aplicação da pena principal ou da pena de substituição cuja fixação pressupõem.
2.4 Tipos de medidas de segurança
No ordenamento jurídico-penal português, existem dois tipos de medidas de segurança:
- Medida de segurança privativa da liberdade: As medidas de segurança privativas da
liberdade são aplicáveis a inimputáveis (ex. internamento (91º CP), suspensão da execução
do internamento (98º CP)).
- Medida de segurança não-privativa da liberdade: As medidas de segurança não-
privativas da liberdade são aplicáveis tanto a inimputáveis, como a imputáveis (ex. interdição
de atividades (100º CP), cassação do título ou da licença e interdição da concessão do título
de condução de veículo com motor ou do título ou licença de pilotagem de aeronaves com ou
sem motor (101º CP), aplicação de regras de conduta (102º CP).
10 A escolha da pena é uma operação eventual, podendo ocorrer logo ao nível da determinação da moldura da
pena quando a pena de prisão e a pena de multa se encontram expressamente previstas no tipo legal de crime
enquanto penas alternativas ou depois de determinada a medida concreta da pena principal.
11 O tipo legal de crime pode ser um tipo fundamental (ex. 131º CP), um tipo qualificado (ex. 132º CP) ou um
Nota fundamental:
- Em caso de concorrência de circunstâncias modificativas atenuantes e de concorrência
de circunstâncias modificativas agravantes, o julgador deve fazê-las funcionar
sucessivamente (ex. A, jovem adulto, comete um crime, para o qual o Código Penal
Português prevê uma pena de prisão cuja moldura tem um limite máximo de 9 anos. Atua
como cúmplice, sendo que o crime não chegou a consumar-se. Existindo 3 circunstâncias
modificativas atenuantes (idade do agente, cumplicidade e tentativa), o julgador deve
reduzir 1/3 do limite máximo da pena (9 x 1/3 = 3; 9-3 = 6 anos), reduzir 1/3 dos 6 anos
(6 x 1/3 = 2; 6-2 = 4 anos) e reduzir 1/3 dos 4 anos (4 x 1/3 = 1.33; 4-1.33 = 2.67 anos).
- Em caso de concorrência de circunstâncias modificativas atenuantes e agravantes, o
julgador deve, em primeiro lugar, fazer funcionar as circunstâncias modificativas
agravantes e, em segundo lugar, as circunstâncias modificativas atenuantes, exceto em
caso de reincidência, devendo, neste caso, o julgador fazer funcionar primeiro as
circunstâncias modificativas atenuantes e depois a circunstância modificativa agravante .
3) Escolha da pena: Nos casos em que a pena de prisão e a pena de multa se encontrarem
expressamente previstas no tipo legal de crime enquanto penas alternativas e esta última
realizar de forma adequada e suficiente as finalidades da punição (70º CP, conjugado com o
artigo 40º, n. 1 CP), o julgador deverá dar-lhe preferência e fundamentar a não-aplicação da
pena privativa da liberdade e a aplicação da pena não-privativa da liberdade (→ ver ponto 5).
3.2.1 Determinação concreta da pena de prisão (pena aplicada)
Num segundo momento, nos casos em que o julgador optou pela aplicação da pena de prisão,
cabe-lhe determinar a pena que será concretamente aplicada ao agente da prática do crime.
1) Critérios de determinação concreta da pena: De acordo com o artigo 71º, n. 1 CP,
conjugado com o artigo 40º, n. 1 e 2 CP, a determinação concreta da pena de prisão, dentro
dos limites da moldura penal aplicável, é feita em função da culpa do agente (a culpa é
pressuposto e limite inultrapassável da pena) e das exigências de prevenção geral e especial
positivas (manutenção da paz social e da confiança da generalidade dos membros da
comunidade na força do ordenamento jurídico-penal, sempre que é abalado pela prática de
crimes e correção do agente por forma a que seja possível integrá-lo na comunidade à qual
pertence). A este propósito, o Curso adere à teoria da moldura da prevenção, segundo a qual
a medida concreta da pena é dada pela medida da necessidade de proteção de bens jurídicos
que fornece ao julgador uma moldura da prevenção, cujo limite mínimo é composto pelo
ponto abaixo do qual se põe em causa a proteção de bens jurídicos e cujo limite máximo é
composto pelo ponto ótimo de proteção de bens jurídicos. A moldura da prevenção a que se
chega é limitada pela culpa do agente que, por ser o limite inultrapassável da pena, fornece o
limite máximo da medida concreta da pena. Por fim, o julgador determina a pena que
concretamente será aplicada ao agente da prática do crime, atendendo à necessidade de
reintegração do agente na sociedade (ex. Determinada a moldura penal aplicável ao agente da
13A confissão do arguido releva a favor dele para as exigências de prevenção. O silêncio do arguido não é um
fator de medida da pena e, portanto, não releva – é, antes, um direito do arguido, pois “ninguém é obrigado a
cavar a sua própria sepultura”. A falta de arrependimento do arguido por se ter remetido ao silêncio não é um
fator de medida da pena e, portanto, não releva – do silêncio do arguido não se pode concluir que há ou não falta
de arrependimento.
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processo no crime de ofensa à integridade física grave pelo facto de o agente ter privado a
vítima de importante membro. Determinada a moldura penal aplicável, o julgador não pode
utilizar para determinar a medida concreta da pena a circunstância de o agente ter privado a
vítima de importante membro, pois tal já foi tido em consideração ao nível da determinação
da moldura da pena. Pode o julgador, todavia, utilizar para determinar a medida concreta da
pena a circunstância de o agente ter privado a vítima da mão direita, sendo ela destra).
3) Fundamentação da medida da pena: De acordo com o artigo 71º, n. 3 CP, na sentença
condenatória são expressamente referidos os fundamentos da medida da pena.
3.2.2 Determinação concreta da pena de multa (pena aplicada)
Num segundo momento, nos casos em que o julgador optou pela aplicação da pena de multa,
cabe-lhe determinar a pena que concretamente será aplicada ao agente da prática do crime. A
este propósito, o Direito Penal Português consagra o sistema dos dias de multa que abrange
três operações:
1) Determinação do número de dias de multa: De acordo com o artigo 47º, n. 1 CP, a
determinação concreta da pena de multa, dentro dos limites da moldura penal aplicável, é
feita em função dos critérios gerais de determinação concreta da pena (culpa do agente e
exigências de prevenção geral e especial positivas) previstos no artigo 71º, n. 1 CP e
atendendo aos fatores de medida da pena enunciados no artigo 71º, n. 2 CP.
2) Determinação do quantitativo diário: De acordo com o artigo 47º, n. 2 CP, cada dia de
multa corresponde a uma quantia entre 5€ e 500€ que o julgador determina em função da
situação económico-financeira do condenado e dos seus encargos pessoais. 14
3) Determinação da forma de pagamento da multa: De acordo com o artigo 47º, n. 3 CP,
para além de o condenado poder pagar a multa logo após o trânsito em julgado da sentença
condenatória, o tribunal pode, sempre que a situação económico-financeira do condenado o
justificar, autorizar o pagamento da multa dentro de um prazo que não exceda 1 ano
(pagamento diferido) ou permitir o pagamento em prestações, não podendo a última delas ir
além dos 2 anos subsequentes à data do trânsito em julgado da condenação. De acordo com o
artigo 48º, n. 1 CP, para além de o condenado poder pagar a multa em dinheiro, o tribunal
pode, a requerimento do condenado, ordenar que a pena de multa fixada seja total ou
parcialmente substituída por dias de trabalho em estabelecimentos, oficinas ou obras do
Estado ou de outras pessoas coletivas de Direito Público, ou ainda de instituições particulares
de solidariedade social, quando concluir que esta forma de cumprimento realiza de forma
adequada e suficiente as finalidades da punição.
14Quando se aplica uma pena de multa a pessoas carentes de rendimentos próprios (ex. estudantes,
desempregados não-beneficiários de subsídio de desemprego), há que considerar aquilo de que possam dispor
para proveito pessoal (ex. mesada, etc.). Quando se aplica uma pena de multa a pessoas que vivam no mínimo
existencial ou abaixo dele (ex. desempregados beneficiários de subsídio social de desemprego ou de rendimento
social de inserção), resta ao julgador fixar o quantitativo diário no mínimo legal (5€), converter a pena de multa
em prisão subsidiária, suspender a sua execução e impor ao condenado o cumprimento de deveres ou regras de
conduta de conteúdo não-económico ou financeiro (49º, n. 1 e 3 CP). Entende-se que assim o seja, uma vez que
não é admissível deixar de aplicar uma pena de multa a condenado que, por razões que lhe não são imputáveis,
não pode pagar o quantitativo mínimo diário, em respeito pelo princípio da igualdade (13º, n. 2 CRP).
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4. Casos especiais de determinação da pena
Estudado o processo “normal” de determinação da pena, importa agora analisar os casos em
que o processo de determinação da pena se rege por critérios especiais.
4.1 Reincidência
A reincidência é uma circunstância modificativa agravante que se justifica por uma maior
culpa do agente (por este ter desrespeitado a solene advertência contra o crime contida na
condenação anterior) e por exigências acrescidas de prevenção (por haver indícios de uma
maior perigosidade do agente).
4.1.1 Pressupostos da reincidência
Para que se esteja perante uma situação de reincidência, exige-se a verificação cumulativa de
quatro pressupostos formais e de um pressuposto material (75º CP):
1) Crimes dolosos: É necessário que estejam em causa, pelo menos, dois crimes dolosos (o
anterior pelo qual o agente foi julgado, condenado e punido e o novo pelo qual está a ser
julgado). Tal deve-se ao facto de só relativamente a crimes dolosos se justificar o juízo ético-
jurídico de censura que recai sobre o agente da prática do crime por ter desrespeitado a solene
advertência contra o crime contida na condenação anterior.
2) Crime anterior e novo crime punidos com pena de prisão efetiva superior a 6 meses:
É necessário que o crime anterior tenha sido punido com pena de prisão efetiva superior a 6
meses e que o novo crime deva ser punido com pena de prisão efetiva superior a 6 meses.
Algumas notas:
- Este pressuposto formal não está preenchido quando o agente tenha cumprido pena de
prisão na sequência da revogação da pena de substituição.
- Este pressuposto formal está preenchido quando o agente tenha sido ou deva ser punido
com pena de prisão superior a 6 meses e não-superior a 2 anos que tenha sido ou deva ser
executada em regime de permanência na habitação, com fiscalização de meios técnicos de
controlo à distância (43º, n. 1, als. a) e b) CP).
- Este pressuposto formal está preenchido mesmo quando o agente tenha sido julgado,
condenado e punido por sentença transitada em julgado em pena de prisão efetiva superior a
6 meses, que cumpriu de forma parcial, e esteja a ser julgado pela prática de um novo crime
que deva ser punido com pena de prisão efetiva superior a 6 meses (75º, n. 4 CP) (ex. A foi
punido por sentença transitada em julgado em pena de prisão efetiva superior a 6 meses, mas
houve uma prescrição da pena/uma amnistia/um perdão genérico/um indulto).
3) Trânsito em julgado da condenação pelo crime anterior: É necessário que a
condenação pela prática do crime anterior tenha transitado em julgado 15.
4) Decurso de menos de 5 anos entre a prática do crime anterior e a prática do novo
crime: É necessário que entre a prática do crime anterior e a prática do novo crime não
tenham decorrido mais de 5 anos (75º, n. 2, 1ª parte CP). Na posição do Curso, faria sentido
que se passasse a exigir que entre o trânsito em julgado da sentença condenatória pela prática
do crime anterior e a prática do novo crime não tenham decorrido mais de 5 anos, por ser
15A sentença transitada em julgado é insuscetível de recurso ou, sendo suscetível de recurso, já tenha expirado o
prazo para a interposição de recurso.
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naquele momento que o agente é advertido contra o crime. Neste prazo de 5 anos não é
computado o tempo durante o qual o agente tenha cumprido medida processual, pena ou
medida de segurança privativas da liberdade (75º, n. 2, 2ª parte CP), uma vez que não se
pode afirmar que o agente, durante o período em que esteve privado da liberdade – seja em
meio prisional, seja em regime de permanência na habitação, seja em liberdade condicional,
seja em liberdade para prova –, respeitou a solene advertência contra o crime, pois o respeito
pela solene advertência contra o crime só pode ser apurado em liberdade.
5) Conexão íntima entre o crime anterior e o novo crime: É necessário que, de acordo com
as circunstâncias do caso, o agente for de censurar por a condenação ou as condenações
anteriores não lhe terem servido de suficiente advertência contra o crime. Este juízo só é
possível se entre o crime anterior e o novo crime existir uma conexão íntima (ex. A foi
condenado por sentença transitada em julgado em pena de prisão efetiva superior a 6 meses
pela prática de um crime doloso de burla e, não tendo decorrido ainda 5 anos sobre a prática
deste crime, praticou um novo crime de homicídio. Neste caso, não se pode afirmar que o
agente desrespeitou a solene advertência contra o crime (de burla!) contida na condenação
anterior, pois não existe entre o crime de burla e o crime de homicídio uma conexão íntima).
4.1.2 Operações de determinação da pena em caso de reincidência
A determinação da pena em caso de reincidência abrange quatro operações:
1) Determinação concreta da pena se o agente não fosse reincidente: Primeiro, cabe ao
julgador determinar a pena que concretamente caberia ao agente se ele não fosse reincidente,
seguindo o procedimento “normal” de determinação da pena (ex. 3 anos). Trata-se de uma
operação duplamente instrumental 16: Por um lado, serve para verificar se o novo crime é
punido com pena de prisão efetiva superior a 6 meses. Por outro lado, serve para tornar
possível a quarta operação de determinação da pena em caso de reincidência.
2) Determinação da moldura penal da reincidência: Segundo, cabe ao julgador construir a
moldura penal da reincidência que tem como limite mínimo o limite mínimo da moldura
penal aplicável elevado de um terço (ex. 3 a 10 anos → 3 x 1/3 = 1; 3+1 = 4 anos) e como
limite máximo o limite máximo da moldura penal aplicável (ex. 10 anos) (76º, n. 2 CP).
Nota fundamental:
Em caso de concorrência de circunstância modificativa atenuante e da reincidência, o
julgador deve, em primeiro lugar, fazer funcionar a circunstância modificativa atenuante
e, em segundo lugar, a reincidência.
16O caráter duplamente instrumental da primeira operação de determinação da pena em caso de reincidência
garante a observância do princípio da proibição da dupla -valoração.
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proporcionalidade, a agravação da pena não pode exceder a medida da pena mais grave
aplicada nas condenações anteriores (ex. A agravação é de 2 anos. Imagine-se que a medida
concreta da pena mais grave aplicada nas condenações anteriores foi de 10 meses. Neste caso,
a agravação não pode exceder os 10 meses).17
4.2 Concurso (verdadeiro ou efetivo) de crimes
4.2.1 Pressuposto do concurso (verdadeiro ou efetivo) de crimes
Para que se esteja perante uma situação de concurso (verdadeiro ou efetivo) de crimes, exige-
se que o agente pratique vários crimes – mais do que um crime (ex. A furta a carteira de B e
mata C) ou várias vezes o mesmo crime (ex. A mata duas pessoas) (30º, n. 1 CP) – antes de
transitar em julgado a condenação por qualquer deles (77º, n. 1 CP).
4.2.2 Sistemas de acumulação
Existem vários sistemas de acumulação possíveis:
- Sistema de acumulação material: Segundo o sistema de acumulação material, o julgador
determina a pena concreta cabida a cada crime em concurso (penas parcelares) e executa-as.
- Sistema de pena única: Segundo o sistema de pena única, o julgador determina uma única
pena cabida a todos os crimes em concurso. Este sistema divide-se em dois subsistemas:
-» Sistema de pena única unitária: Segundo o sistema de pena única unitária, o julgador
determina uma única pena, ficcionando que existe apenas um crime.
-» Sistema de pena única conjunta: Segundo o sistema de pena única conjunta, o julgador
determina a pena concreta cabida a cada crime em concurso e transforma-as numa pena
única, de acordo com um dos seguintes princípios:
1. Princípio da absorção: De acordo com o princípio da absorção, o julgador determina
a pena concreta cabida a cada crime em concurso e condena o agente na pena concreta mais
grave. Problema: impunidade dos crimes aos quais correspondem penas menos graves.
2. Princípio da exasperação: De acordo com o princípio da exasperação, o julgador
condena o agente na pena concreta determinada dentro da moldura penal correspondente ao
crime mais grave. Problema: o sistema deixa de funcionar quanto maior for o número de
crimes em concurso.
3. Princípio do cúmulo jurídico, adotado pelo Direito Penal Português (77º, n. 1, 1ª
parte CP).
4.2.3 Operações de determinação da pena em caso de concurso de crimes
A determinação da pena única conjunta abrange três operações:
1) Determinação concreta das penas parcelares: Primeiro, cabe ao julgador determinar a
medida concreta da pena cabida a cada um dos crimes em concurso (penas parcelares),
seguindo o procedimento “normal” de determinação da pena (ex. 16 e 18 anos).
2) Determinação da moldura penal do concurso de crimes: Segundo, cabe ao julgador
construir a moldura penal do concurso de crimes:
- Quando em causa estejam penas parcelares da mesma natureza (todas de prisão ou todas
de multa), a moldura penal do concurso de crimes tem como limite mínimo a pena mais
17Esta operação permite que ao agente seja aplicada uma pena inferior ao limite mínimo da moldura da
reincidência, não podendo nunca ser inferior ao limite mínimo da moldura da pena aplicável.
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elevada das penas concretamente aplicadas aos vários crimes e como limite máximo a soma
das penas concretamente aplicadas aos vários crimes, não podendo ultrapassar 25 anos
(tratando-se de pena de prisão) ou 900 dias (tratando-se de pena de multa) (77º, n. 2 CP) (ex.
18 e 25 anos).
- Quando em causa estejam penas parcelares de natureza diferente (umas de prisão e
outras de multa), “a diferente natureza destas mantém-se na pena única resultante da
aplicação dos critérios estabelecidos nos números anteriores” (77º, n. 3 CP). Isto significa
que cabe ao julgador determinar a medida concreta das penas parcelares, converter a pena
parcelar de multa em prisão subsidiária (49º, n. 1 CP) e construir a moldura penal do
concurso de crimes (77º, n. 2 CP) dentro da qual será determinada a medida concreta da pena
única conjunta. O condenado poderá, contudo, optar por pagar a pena parcelar de multa,
evitando que esta se repercuta na determinação concreta da pena única conjunta.
3) Determinação concreta da pena única conjunta: Terceiro, cabe ao julgador determinar a
medida concreta da pena única conjunta, sendo essa determinação feita em função dos
critérios gerais da culpa do agente e das exigências de prevenção geral e especial positivas
(71º, n. 1 CP) e do critério especial da consideração, em conjunto18, dos factos e da
personalidade do agente (77º, n. 1, 2ª parte CP). Algumas notas:
- O julgador poderá ainda substituir a pena única conjunta de curta ou de média duração
por uma pena de substituição.
- O julgador poderá ainda decidir executar a pena única conjunta de duração não-superior
a 2 anos em regime de permanência na habitação, com fiscalização por meios técnicos de
controlo à distância.
- O julgador poderá ainda juntar à pena única conjunta uma pena acessória ou uma medida
de segurança não-privativa da liberdade (77º, n. 4 CP).
4.2.4 Determinação superveniente da pena única conjunta
As situações da vida mostram que os vários crimes que o agente pratica nem sempre são
conhecidos ao mesmo tempo, seja por um funcionamento deficiente do sistema de
administração da justiça, seja pelos limites à conexão de processos. Para colmatar tais
inconvenientes, o artigo 78º CP permite que a pena única conjunta seja supervenientemente
determinada. Para tal, exige-se a verificação cumulativa dos seguintes pressupostos:
1) Prática de outro crime anteriormente à condenação: É necessário que o crime de que
haja só agora conhecimento tenha sido praticado antes da condenação anteriormente
proferida. Não é este, porém, o entendimento do STJ que, através do acórdão n. 9/2016, de
28 de Abril, decidiu que é necessário que o crime de que haja só agora conhecimento tenha
sido praticado antes do trânsito em julgado da condenação.19
- Por um lado, não tem em consideração a razão de ser do artigo 78º CP que serve para colmatar o
funcionamento deficiente do sistema de administração da justiça e os limites à conexão de processos.
- Por outro lado, leva à impunidade dos crimes que o agente pratique entre a condenação e o trânsito em julgado
da mesma por força do limite máximo da pena única conjunta (ex. A é julgado e condenado pela prática do
crime X e a sentença condenatória transita em julgado. No entanto, o julgador conhece, já depois do trânsito em
14
2) Trânsito em julgado da condenação: É necessário que as condenações pelo crime
anterior e pelo crime de que só agora haja conhecimento tenham transitado em julgado (78º,
n. 2 CP).
3) Desconto da pena parcialmente cumprida: É necessário que a pena aplicada ao agente
por sentença condenatória transitada em julgado ainda não esteja totalmente cumprida,
prescrita ou extinta, sendo o tempo da pena que já tiver sido cumprida descontado no tempo
de cumprimento da pena única conjunta supervenientemente determinada (ex. A é condenado
em pena de prisão de 10 anos. Cumpriu 5. Vem-se a descobrir que anteriormente àquela
condenação tinha cometido outro crime. Neste caso, admite-se a determinação superveniente
da pena do concurso, sendo os 5 anos descontados no cumprimento da pena única conjunta).
A determinação superveniente da pena única conjunta é feita nos seguintes moldes:
- Se a condenação anteriormente proferida tiver sido uma condenação por um crime singular,
o julgador determina supervenientemente a pena única conjunta, de acordo com as regras da
punição do concurso de crimes (77º CP).
- Se a condenação anteriormente proferida tiver sido uma condenação por concurso de
crimes, o julgador anula a pena única conjunta e determina supervenientemente uma nova
pena única conjunta, de acordo com as regras da punição do concurso de crimes (77º CP).
- Se a condenação anteriormente proferida tiver sido uma condenação por um crime singular
ou por concurso de crimes e a pena de prisão ou a pena única conjunta aplicada tiver sido
substituída, o julgador revoga a pena de substituição e determina supervenientemente a pena
única conjunta, de acordo com as regras da punição do concurso de crimes (77º CP).
4.2.5 Crime continuado
O crime continuado encontra-se previsto no artigo 30º, n. 2 CP, segundo o qual constitui um
só crime continuado a realização plúrima do mesmo tipo de crime ou de vários tipos de crime
que fundamentalmente protejam o mesmo bem jurídico, executada por forma essencialmente
homogénea e no quadro de um circunstancialismo externo que arrasta o agente para a prática
de vários crimes e, por essa razão, diminui consideravelmente a sua culpa (ex. A, caixa do
banco, recebe uma conta para pagar. Estando rodeado de dinheiro, tem a tentação de retirar
dinheiro para poder pagar tal conta. “É só hoje e, mal recebo o meu salário, reponho o que
tirei”, pensa ele. Ao fim de 4 dias, surge outra conta para pagar. A volta a ter a tentação de
retirar mais dinheiro para pagar essa conta. Neste caso, está-se perante uma situação de
concurso de crimes no quadro de um circunstancialismo externo – a circunstância de o
dinheiro estar à disposição de A – que arrasta o agente para a prática de vários crimes e, por
essa razão, diminui consideravelmente a sua culpa).
De acordo com o artigo 79º, n. 1 CP, o crime continuado é punível com a pena aplicável à
conduta mais grave que integra a continuação. Isto significa que o julgador determina a
medida concreta da pena do crime continuado, de acordo com o princípio da exasperação,
sendo o agente condenado na pena concreta determinada dentro da moldura penal
julgado daquela sentença, que A tinha praticado outro crime antes daquela condenação. Se esta “condenação”
fosse “condenação transitada em julgado”, e tendo em conta que o julgador não pode determinar
supervenientemente uma pena única conjunta cujo limite máximo vá além dos 25 anos de prisão, permitir -se-ia
que o agente ficasse com “carta branca” para praticar crimes sem ser punidos pelos mesmos).
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correspondente ao crime mais grave. Algumas notas:
- Ainda que o julgador não conheça todos os crimes que integram a continuação, o efeito
do caso julgado estende-se a todos eles (ex. A cometeu 6000 crimes e já depois de julgado e
condenado por crime continuado descobre-se que, afinal, não eram 6000, mas antes 32000. O
efeito do caso julgado estende-se também aos 28000 crimes). No entanto, o artigo 79º, n. 2
CP veio diminuir esta vantagem processual, dizendo que se, depois de uma condenação
transitada em julgado, for conhecida uma conduta mais grave que integre a continuação, a
pena que lhe for aplicável substitui a anterior.
- A doutrina e a jurisprudência portuguesas entenderam sempre, sem divergências, que o
instituto do crime continuado não vale quando em causa estejam crimes praticados contra
bens jurídicos eminentemente pessoais, exceto se a vítima fosse a mesma (ex. violência
doméstica). A certo momento, contudo, colocou-se a questão de saber se o instituto do crime
continuado poderia ou não valer quando em causa estivessem crimes praticados contra a
liberdade e a autodeterminação sexuais de uma mesma criança. A este propósito, entendeu-se
que, nestes casos, o instituto do crime continuado não poderia valer, uma vez que os vários
crimes não foram praticados no quadro de um circunstancialismo externo que diminui
consideravelmente a culpa do agente, mas antes no quadro de um circunstancialismo externo
que aumenta consideravelmente a culpa do agente! Hoje, o artigo 30º, n. 3 CP diz apenas que
o instituto do crime continuado não vale quando em causa estejam crimes praticados contra
bens jurídicos eminentemente pessoais, independentemente de a vítima ser ou não a mesma.
4.3 Desconto
4.3.1 Medidas processuais privativas da liberdade
- De acordo com o artigo 80º, n. 1 CP, a detenção, a prisão preventiva e a obrigação de
permanência na habitação sofridas pelo arguido são descontadas por inteiro no cumprimento
da pena de prisão em que o agente venha a ser condenado.
- De acordo com o artigo 80º, n. 2 CP, a detenção, a prisão preventiva e a obrigação de
permanência na habitação sofridas pelo arguido são descontadas à razão de 1 dia de privação
da liberdade por, pelo menos, 1 dia de multa no cumprimento da pena de multa em que o
agente venha a ser condenado.
4.3.2 Pena anterior
- De acordo com o artigo 81º, n. 1 CP, a pena aplicada por sentença transitada em julgado é
descontada por inteiro no cumprimento da pena que posteriormente a substitua (tratando-se
de penas da mesma natureza).
- De acordo com o artigo 81º, n. 2 CP, a pena aplicada por sentença transitada em julgado é
descontada equitativamente no cumprimento da pena que posteriormente a substitua
(tratando-se de penas de natureza diferente).
Nota fundamental:
O desconto é feito depois da operação da escolha da pena, aplicando-se igualmente às
penas de substituição (ex. A esteve 2 anos em prisão preventiva e o julgador substituiu a
pena de prisão pela suspensão da sua execução. No cumprimento desta pena é descontada
a prisão preventiva sofrida por A).
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4.4 Atenuação especial da pena
De acordo com o artigo 72º, n. 1 CP, o tribunal atenua especialmente a pena, para além dos
casos expressamente previstos na lei, quando existirem circunstâncias anteriores ou
posteriores ao crime, ou contemporâneas dele, que diminuam por forma acentuada a ilicitude
do facto, a culpa do agente ou a necessidade da pena. Para efeito deste disposto, são
consideradas, entre outras, as circunstâncias enunciadas no artigo 72º, n. 2 CP.
De acordo com o artigo 73º, n. 1 CP, sempre que houver lugar à atenuação especial da pena:
- Tratando-se de pena de prisão, o limite máximo é reduzido de um terço e o limite mínimo
é reduzido a um quinto se for igual ou superior a 3 anos e ao mínimo legal (ou seja, a 1 mês
(41º, n. 1 CP)) se for inferior a 3 anos (als. a) e b)).
- Tratando-se de pena de multa, o limite máximo é reduzido de um terço e o limite mínimo é
reduzido ao mínimo legal (ou seja, a 10 dias (47º, n. 1 CP)) (al. c)).
De acordo com o artigo 73º, n. 2 CP, a pena que for concretamente determinada dentro da
moldura penal especialmente atenuada pode ainda vir a ser substituída.
4.5 Dispensa de pena
Apesar de o agente praticar um facto ilícito-típico e ser declarado culpado, o tribunal pode
dispensá-lo de pena, em respeito pelo princípio da necessidade da intervenção penal (18º, n. 2
CRP, conjugado com o artigo 40º, n. 1 CP). Para que se esteja perante uma situação de
dispensa de pena, exige-se a verificação cumulativa dos seguintes pressupostos:
1) Limite máximo do crime: É necessário que o crime seja punível com pena de prisão de
duração não-superior a 6 meses ou com pena de multa de duração não-superior a 120 dias
(74º, n. 1 CP).
2) Ilicitude do facto e culpa do agente diminutas: É necessário que a ilicitude do facto e a
culpa do agente sejam diminutas (74º, n. 1, al. a) CP).
3) Reparação do dano: É necessário que o dano tenha sido reparado ou esteja em vias de
reparação, caso em que o julgador pode adiar a sentença para reapreciação do caso dentro de
1 ano (74º, n. 1, al. b) e n. 2 CP).
4) Inexistência de exigências de prevenção: É necessário que à dispensa de pena não se
oponham razões de prevenção (74º, n. 1, al. c) CP).
Notas fundamentais:
- A sentença que dispensa o agente de pena é uma sentença condenatória.
- A sentença condenatória que dispensa o agente de pena é inscrita no registo criminal.
- Apesar de se dispensar o agente de pena, podem ser-lhe aplicadas outras consequências
jurídicas do crime (ex. perda de instrumentos, produtos e vantagens (109º a 112º-A CP)).
- Apesar de se dispensar o agente de pena, pode ser-lhe aplicada uma pena acessória –
nomeadamente a proibição do exercício de função quando se trata de crime de
recebimento ou oferta indevidos de vantagem ou de corrupção (66º, n. 1 CP).
17
escolha é entre a pena de prisão e a pena de multa principal), como depois da
determinação concreta da pena (neste caso, a escolha é entre a pena de prisão e a pena de
multa de substituição, a pena de proibição do exercício de profissão, função ou atividade, a
pena de suspensão da execução da pena de prisão ou a pena de prestação de trabalho a favor
da comunidade ou entre a pena de multa principal e a pena de admoestação).
5.1 Escolha da pena alternativa e da pena de substituição
1) Escolha da pena alternativa: Nos casos em que a pena de prisão e a pena de multa se
encontrarem expressamente previstas no tipo legal de crime enquanto penas alternativas e
esta última realizar de forma adequada e suficiente as finalidades da punição (70º CP,
conjugado com o artigo 40º, n. 1 CP), o julgador deverá dar-lhe preferência20 e fundamentar
a não-aplicação da pena privativa da liberdade e a aplicação da pena não-privativa da
liberdade.
2) Escolha da pena de substituição: Nos casos em que, depois de determinada a pena que
concretamente será aplicada ao agente da prática do crime, o julgador chega a uma pena de
prisão em medida não-superior a 5 anos ou a uma pena de multa principal em medida não-
superior a 240 dias e as respetivas penas de substituição realizarem de forma adequada e
suficiente as finalidades da punição (70º CP, conjugado com o artigo 40º, n. 1 CP), deverá
dar-lhes preferência20 e fundamentar a não-aplicação daquelas penas principais e a aplicação
destas penas de substituição.
Nota fundamental:
Tendo em consideração o critério de escolha da pena alternativa e da pena de substituição
é composto pelas exigências de prevenção geral e especial positivas (40º, n. 1 CP),
importa sublinhar duas notas:
- Por um lado, ainda que a pena alternativa ou a pena de substituição realize de forma
adequada e suficiente as exigências de prevenção especial positiva, o julgador não deve
dar-lhes preferência se elas não realizarem de forma adequada e suficiente as exigências
de prevenção geral positiva.
- Por outro lado, quando são várias as penas de substituição que realizam de forma
adequada e suficiente as exigências de prevenção geral positiva, o julgador deve dar
preferência àquela que realize de forma mais adequada e suficiente as exigências de
prevenção especial positiva.
20O critério de escolha da pena de multa principal em detrimento da pena de prisão é o da conveniência da
pena, enquanto que o critério de escolha da pena de multa de substituição em detrimento da pena de prisão é o
da necessidade da pena. Tal explica o facto de o julgador poder, ao nível da determinação da moldura da pena,
escolher a pena de prisão em detrimento da pena de multa principal – a pena de prisão pode revelar-se mais
conveniente, pois o julgador poderá ter um leque mais alargado de penas de substituição – e, depois de
determinada a medida concreta da pena de prisão, acabar por escolher a pena de multa de substituição – a pena
de prisão pode revelar-se desnecessária, pois a pena de multa de substituição realiza de forma adequada e
suficiente as finalidades da punição.
18
ano por pena de multa de substituição se realizam de forma adequada e suficiente as
finalidades da punição (70º CP, conjugado com o artigo 40º, n. 1 CP), aquela é substituída
por esta. A medida concreta da pena de multa de substituição é determinada dentro de uma
moldura de 10 dias a 360 dias, de acordo com os critérios de determinação concreta da pena
previstos no artigo 71º, n. 1 CP e atendendo aos fatores de medida da pena enunciados no
artigo 71º, n. 2 CP. Cada dia de multa corresponde a uma quantia de 5€ a 500€ que o julgador
fixa em função da situação económico-financeira do condenado e dos seus encargos pessoais.
É este o sentido da remissão do artigo 45º, n. 1, 2ª parte CP para o artigo 47º CP.
- Pena de proibição do exercício de profissão, função ou atividade: De acordo com o
artigo 46º, n. 1 CP, sempre que o julgador concluir que por meio da substituição da pena de
prisão em medida não-superior a 3 anos por pena de proibição do exercício de profissão,
função ou atividade se realizam de forma adequada e suficiente as finalidades da punição (70º
CP, conjugado com o artigo 40º, n. 1 CP), aquela é substituída por esta. A medida concreta da
pena de proibição do exercício de profissão, função ou atividade é determinada dentro de
uma moldura de 2 a 8 anos, de acordo com os critérios de determinação concreta da pena
previstos no artigo 71º, n. 1 CP e atendendo aos fatores de medida da pena enunciados no
artigo 71º, n. 2 CP.
- Pena de suspensão da execução da pena de prisão: De acordo com o artigo 50º CP,
sempre que o julgador concluir que por meio da substituição da pena de prisão em medida
não-superior a 5 anos por pena de suspensão da execução da pena de prisão se realizam de
forma adequada e suficiente as finalidades da punição (70º CP, conjugado com o artigo 40º,
n. 1 CP), aquela é substituída por esta. A medida concreta da pena de suspensão da execução
da pena de prisão é determinada dentro de uma moldura de 1 a 5 anos, de acordo com os
critérios de determinação concreta da pena previstos no artigo 71º, n. 1 CP e atendendo aos
fatores de medida da pena enunciados no artigo 71º, n. 2 CP.
- Pena de prestação de trabalho a favor da comunidade: De acordo com o artigo 58º CP,
sempre que o julgador concluir que por meio da substituição da pena de prisão em medida
não-superior a 2 anos por pena de prestação de trabalho a favor da comunidade se realizam de
forma adequada e suficiente as finalidades da punição (70º CP, conjugado com o artigo 40º,
n. 1 CP), aquela é substituída por esta. Cada dia de prisão é substituído por uma hora de
trabalho, no máximo de 480h.
Nota fundamental:
A medida concreta de todas as penas de substituição da pena de prisão é determinada de
forma autónoma, exceto aquela da pena de prestação de trabalho a favor da comunidade.
Notas fundamentais:
- O tribunal pode autorizar as ausências necessárias para a frequência de programas de
ressocialização ou para atividade profissional, formação profissional ou estudos do
condenado (43º, n. 3 CP).
- O tribunal pode subordinar o regime de permanência na habitação ao cumprimento de
regras de conduta destinadas a promover a reintegração do condenado na sociedade (43º,
n. 4 CP).
- A revogação do regime de permanência na habitação com fundamento nalguma das
alíneas do artigo 44º, n. 2 CP importa a execução da pena de prisão ainda não cumprida
em estabelecimento prisional (44º, n. 3 CP).
20
6.1.2 Liberdade condicional
A liberdade condicional (61º a 64º CP) é outra forma de execução da pena de prisão,
podendo ser concedida a metade, a dois terços e a cinco sextos do cumprimento desta pena.
Notas fundamentais:
- De acordo com o artigo 43º, n. 5 CP, não se aplica a liberdade condicional quando a
pena de prisão seja executada em regime de permanência na habitação, uma vez que a
execução da pena de prisão em regime de permanência na habitação não se traduz num
mero confinamento do condenado na sua habitação.
- De acordo com o artigo 44º, n. 4 CP, relativamente ao tempo de pena que venha a ser
cumprido em estabelecimento prisional na sequência da revogação do regime de
permanência na habitação pode ter lugar a concessão de liberdade condicional.
21
de prisão, que o condenado, uma vez em liberdade, conduzirá a sua vida de modo
socialmente responsável, sem cometer crimes (61º, n. 2, al. a) CP).
5) Compatibilidade da concessão da liberdade condicional e a defesa da ordem pública e
da paz social: É necessário que a libertação se revele compatível com a defesa da ordem
pública e da paz social (61º, n. 2, al. b) CP). A este propósito, deve o tribunal de execução
das penas ter por referência o limite mínimo da moldura da prevenção a que o tribunal da
condenação chegou ao nível da determinação concreta da pena (ex. A é condenado pela
prática de homicídio qualificado em 12 anos de pena de prisão. Se o tribunal concedesse
liberdade condicional a metade da pena (aos 6 anos), A estaria 6 anos privado da liberdade e
5 anos em liberdade condicional (6+5 = 11 < 12 (limite mínimo da moldura da pena))).
Verificados os pressupostos, o tribunal de execução das penas tem o poder-dever de colocar o
condenado em liberdade condicional. Se não for concedida a metade do cumprimento da pena
de prisão, a concessão da liberdade condicional deve ser reapreciada anualmente à luz dos
pressupostos da concessão da liberdade condicional a metade da pena (61º, n. 2 CP) – é a
chamada renovação anual da instância – até o condenado ter cumprido dois terços da pena.
Concessão da liberdade condicional aos dois terços da pena:
Para que a liberdade condicional a dois terços do cumprimento da pena de prisão seja
concedida, exige-se a verificação cumulativa de três pressupostos formais e de um
pressuposto material:
1) Consentimento do condenado: É necessário que o condenado consinta na concessão da
liberdade condicional aos dois terços do cumprimento da pena de prisão em que foi
condenado (61º, n. 1 CP).
2) Cumprimento de dois terços da pena de prisão: É necessário que o condenado tenha
cumprido dois terços da pena de prisão em que foi condenado (61º, n. 3 CP).
3) Cumprimento mínimo de 6 meses de prisão: É necessário que condenado tenha
cumprido no mínimo 6 meses de prisão (61º, n. 3 CP).
4) Juízo de prognose favorável sobre o comportamento futuro do condenado em
liberdade: É necessário que seja fundadamente de esperar, atentas as circunstâncias do caso,
a vida anterior do agente, a sua personalidade e a evolução desta durante a execução da pena
de prisão, que o condenado, uma vez em liberdade, conduzirá a sua vida de modo
socialmente responsável, sem cometer crimes (61º, n. 2, al. a) CP).21
Verificados estes pressupostos, o tribunal de execução das penas tem o poder-dever de
colocar o condenado em liberdade condicional. Se não for concedida aos dois terços do
cumprimento da pena de prisão, a concessão da liberdade condicional deve ser reapreciada
anualmente à luz dos pressupostos da concessão da liberdade condicional aos dois terços da
pena (61º, n. 3 CP) – é a chamada renovação anual da instância – até o condenado ter
cumprido cinco sextos da pena.
21Tendo em conta o tempo de pena de prisão já cumprido, é de presumir que a libertação é compatível com a
defesa da ordem pública e da paz social.
22
Concessão da liberdade condicional cinco sextos da pena:
Para que a liberdade condicional aos cinco sextos do cumprimento da pena de prisão seja
concedida, exige-se a verificação cumulativa de dois pressupostos formais:
1) Consentimento do condenado: É necessário que o condenado consinta na concessão da
liberdade condicional aos cinco sextos do cumprimento da pena de prisão em que foi
condenado (61º, n. 1 CP).
2) Cumprimento de cinco sextos de pena de prisão com duração de 6 anos: É necessário
que o condenado tenha cumprido cinco sextos da pena de prisão de duração de 6 anos em que
foi condenado (61º, n. 4 CP).22
Nota fundamental:
Tudo aquilo que se disse até aqui vale em caso de pena de prisão, quer em caso de pena
única conjunta.
22 A liberdade condicional aos cinco sextos da pena é designada “liberdade condicional obrigatória”, uma vez
que a sua concessão não depende de um qualquer pressuposto material.
23 Cinco anos correspondem ao tempo considerado suficiente para se poder afirmar que o condenado conduzirá
24 É de criticar este entendimento por parte do STJ, essencialmente por duas razões :
- Por um lado, tendo em conta que a liberdade condicional é uma forma de execução da pena de prisão, o tempo
em que o condenado esteve em liberdade condicional deve ser descontado na duração da pena de prisão que o
condenado ainda tenha que cumprir na sequência da revogação da liberdade condicional.
- Por outro lado, se o tempo em que o condenado esteve em liberdade condicional não fosse descontado no
tempo de cumprimento da pena de prisão que o condenado ainda tenha que cumprir na sequência da revogação
da liberdade condicional, o condenado estaria privado da liberdade sem uma lei que permitisse essa privação,
em violação do princípio da necessidade da intervenção penal (18º, n. 2 CRP).
25 A interrupção da execução da pena que deva ser cumprida em primeiro lugar, por um lado, impede que o
condenado esteja, ao mesmo tempo, em liberdade condicional e em cumprimento da outra pena de prisão e, por
outro lado, garante que a liberdade condicional seja cumprida em liberdade.
24
da concessão da liberdade condicional, é colocado em liberdade condicional aos cinco sextos
da soma das duas penas (30 x 5/6 = 25 anos), se nisso consentir).
De acordo com o artigo 63º, n. 4 CP, a concessão da liberdade condicional em caso de
execução sucessiva de várias penas não é aplicável ao caso em que a execução da pena de
prisão resultar de revogação da liberdade condicional (ex. A é condenado numa pena única
conjunta de 20 anos e tem que cumprir uma pena de prisão na sequência da revogação da
liberdade condicional. Neste caso, não é aplicável o disposto no artigo 63º, n. 1 a 3 CP).
6.1.3 Execução da pena de prisão em estabelecimentos destinados a inimputáveis
Nas hipóteses em que o agente sofra de anomalia psíquica ao tempo da prática do crime e
tenha sido condenado em pena de prisão (104º CP) e em que tenha sobrevindo ao agente uma
anomalia psíquica depois de ter sido condenado em pena de prisão (105º CP) – em ambos os
casos, o agente é declarado imputável –, pode o tribunal ordenar o seu internamento em
estabelecimentos destinados a inimputáveis pelo tempo correspondente à duração da pena.
6.2 Execução da pena de multa principal
6.2.1 Execução da pena de multa principal
Determinada a pena de multa principal em que o agente da prática do crime deverá ser
condenado, segue-se a fase da sua execução. A execução da pena de multa principal pode
ocorrer de duas formas:
- Por pagamento voluntário (47º, n. 3 CP): Para além de o condenado poder pagar a multa
logo após o trânsito em julgado da sentença condenatória, o tribunal pode, sempre que a
situação económico-financeira do condenado o justificar, autorizar o pagamento da multa
dentro de um prazo que não exceda 1 ano (pagamento diferido) ou permitir o pagamento em
prestações, não podendo a última delas ir além dos 2 anos subsequentes à data do trânsito em
julgado da condenação.
- Por prestação de dias de trabalho (48º CP): O condenado pode requerer ao tribunal que
ordene que a pena de multa principal seja total ou parcialmente substituída por dias de
trabalho em estabelecimentos, oficinas ou obras do Estado ou de outras pessoas coletivas de
Direito Público, ou ainda de instituições particulares de solidariedade social se concluir que
esta forma de cumprimento realiza de forma adequada e suficiente as finalidades da punição.
6.2.2 Incumprimento da pena de multa principal
1) Se a multa principal, que não tenha sido substituída por trabalho, não for paga
voluntariamente, tem lugar o pagamento coercivo (49º, n. 1 CP).
2) Se a multa principal, que não tenha sido substituída por trabalho, não for paga
coercivamente, o condenado cumpre prisão subsidiária pelo tempo correspondente aos dias
de multa reduzido a dois terços, ainda que o crime não fosse punível com prisão (49º, n. 1
CP). Esta prisão subsidiária tem natureza de sanção de constrangimento, visando constranger
o condenado a pagar a multa. É por isso que:
- O condenado que estiver a cumprir pena subsidiária não pode ser colocado em liberdade
condicional.
- A pena subsidiária não pode ser executada em regime de permanência na habitação.
- O montante da multa já paga repercute-se no tempo de prisão subsidiária (49º, n. 2 CP).
25
Nota fundamental:
De acordo com o artigo 49º, n. 3 CP, se o condenado provar que a razão do não-
pagamento da multa lhe não é imputável, pode a execução da prisão subsidiária ser
suspensa, por um período de 1 a 3 anos, desde que a suspensão seja subordinada ao
cumprimento de deveres ou regras de conduta de conteúdo não-económico ou financeiro.
- Se os deveres ou as regras de conduta não forem cumpridos, executa-se a prisão
subsidiária.
- Se os deveres ou as regras de conduta forem cumpridos, a pena de multa principal é
declarada extinta.
6.3 Execução da pena de multa de substituição
6.3.1 Execução da pena de multa de substituição
Determinada a pena de multa de substituição, segue-se a fase da sua execução. A execução da
pena de multa de substituição pode ocorrer de duas formas:
- Por pagamento voluntário (47º, n. 3 CP): Para além de o condenado poder pagar a multa
logo após o trânsito em julgado da sentença condenatória, o tribunal pode, sempre que a
situação económico-financeira do condenado o justificar, autorizar o pagamento da multa
dentro de um prazo que não exceda 1 ano (pagamento diferido) ou permitir o pagamento em
prestações, não podendo a última delas ir além dos 2 anos subsequentes à data do trânsito em
julgado da condenação.
- Por prestação de dias de trabalho (48º CP)26: O condenado pode requerer ao tribunal que
ordene que a pena de multa de substituição seja total ou parcialmente substituída por dias de
trabalho em estabelecimentos, oficinas ou obras do Estado ou de outras pessoas coletivas de
Direito Público, ou ainda de instituições particulares de solidariedade social se concluir que
esta forma de cumprimento realiza de forma adequada e suficiente as finalidades da punição.
6.3.2 Incumprimento da pena de multa de substituição
1) Se a multa de substituição, que não tenha sido substituída por trabalho, não for paga
voluntariamente, tem lugar o pagamento coercivo (49º, n. 1 CP).
2) Se a multa de substituição, que não tenha sido substituída por trabalho, não for paga
coercivamente, o condenado cumpre integralmente a pena de prisão que se quis substituir
(45º, n. 2, 1ª parte CP). É por isso que:
- O condenado que estiver a cumprir pena de prisão pode ser colocado em liberdade
condicional.
- A pena de prisão pode ser executada em regime de permanência na habitação (43º, n. 1,
al. c) CP).
- O montante da multa já paga não se repercute na pena de prisão, tendo de a cumprir
integralmente.
26 Há autores que não admitem a substituição do pagamento da multa de substituição pela prestação de dias de
trabalho, uma vez que entendem que se estaria a substituir uma pena de substituição por outra pena de
substituição. No entanto, uma coisa é a pena de prestação de trabalho a favor da comunidade (que é uma pena de
substituição da pena de prisão) (58º CP); outra coisa é a prestação de dias de trabalho (que é uma forma de
execução da pena de multa principal ou de substituição) (48º CP).
26
Nota fundamental:
De acordo com o artigo 45º, n. 2, 1ª parte CP, que remete para o artigo 49º, n. 3 CP, se o
condenado provar que a razão do não-pagamento da multa de substituição lhe não é
imputável, pode a execução da pena de prisão ser suspensa, por um período de 1 a 3 anos,
desde que a suspensão seja subordinada ao cumprimento de deveres ou regras de conduta
de conteúdo não-económico ou financeiro.
- Se os deveres ou as regras de conduta não forem cumpridos, executa-se a prisão
subsidiária.
- Se os deveres ou as regras de conduta forem cumpridos, a pena de prisão é declarada
extinta.
7. Medidas de segurança
A medida de segurança é, ao lado da pena, uma outra consequência jurídica do crime. Surgiu
como resposta à especial perigosidade de delinquentes imputáveis especialmente perigosos e
de delinquentes de imputabilidade diminuída, em relação aos quais a pena é tida como
insuficiente do ponto de vista preventivo-especial (a pena é complementada por uma medida
de segurança não-privativa da liberdade) e à especial perigosidade de delinquentes
inimputáveis em razão de anomalia psíquica, em relação aos quais a pena é tida como
inadequada (a pena tem como pressuposto a culpa e os delinquentes inimputáveis não são
passíveis de culpa).
As medidas de segurança não têm o mesmo pressuposto, fundamento e limite das penas:
- Pressuposto: Enquanto que o pressuposto da pena é a culpa do agente, o pressuposto da
medida de segurança é a perigosidade criminal do agente (fundado receio da prática de factos
ilícitos-típicos da mesma espécie, no futuro, por parte daquele mesmo agente 27).
- Fundamento: Enquanto que o fundamento da pena é composto, a título primário, pelas
finalidades de prevenção geral positiva e, a título secundário, pelas finalidades de prevenção
especial positiva, o fundamento da medida de segurança suscita alguma discussão. A este
propósito, existe uma divergência na doutrina:
-» Figueiredo Dias defende que todas as medidas de segurança, inclusive a medida de
segurança de internamento, prosseguem finalidades de prevenção geral e especial positivas:
1. Por um lado, o artigo 40º, n. 1 CP prevê que a aplicação de penas e de medidas de
segurança visa a proteção de bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade.
2. Por outro lado, o artigo 91º, n. 2 CP prevê a libertação de inimputável, condenado pela
prática de crime contra as pessoas ou de crime de perigo comum puníveis com pena de prisão
superior a 5 anos, se tal se revelar compatível com a defesa da ordem jurídica e da paz social.
-» Maria João Antunes defende que todas as medidas de segurança prosseguem, de forma
autónoma, finalidades de prevenção geral e especial positivas, exceto a medida de segurança
de internamento que prossegue, de forma autónoma, apenas finalidades de prevenção especial
positiva:
1. Por um lado, quando é um inimputável a praticar um facto ilícito-típico, a generalidade
dos membros da comunidade mantém a confiança na força do ordenamento jurídico-penal,
não sentindo a necessidade de reafirmar essa mesma força. Nessa medida, a aplicação de uma
28A liberdade para prova está para a medida de segurança de internamento como a liberdade condicional está
para a pena de prisão.
29
efetuado este desconto, se encontrar cumprido o tempo correspondente a metade da pena e a
libertação se revelar compatível com a defesa da ordem jurídica e da paz social, pode o
tribunal colocar o agente em liberdade condicional (n. 2). Se, efetuado o desconto, não se
encontrar cumprido o tempo correspondente a metade da pena, pode o tribunal, a
requerimento do condenado, substituir o tempo de prisão que faltar para metade da pena, até
ao máximo de 1 ano, por prestação de trabalho a favor da comunidade, se tal se revelar
compatível com a defesa da ordem jurídica e da paz social (n. 3).
7.2 Suspensão da execução do internamento
De acordo com o artigo 98º CP, o tribunal que ordenar o internamento determina, em vez
dele, a suspensão da sua execução 29, condicionada pela imposição do cumprimento de regras
de conduta, bem como do dever de se submeter a tratamentos e regimes de cura ambulatórios
apropriados e do dever de se prestar a exames e observações nos lugares que lhe forem
indicados, se for razoavelmente de esperar que com a suspensão se alcance a finalidade da
medida.
- A suspensão da execução do internamento tem a duração máxima correspondente à da
medida de segurança de internamento, devendo findar quando o tribunal verificar que cessou
o estado de perigosidade criminal que lhe deu origem (98º, n. 6, al. a) CP).
- A suspensão da execução do internamento é revogada se o comportamento do agente
revelar que o internamento é indispensável ou se o agente for condenado em pena privativa
da liberdade e não se verifiquem os pressupostos da suspensão da execução da pena de prisão
(98º, n. 6, al. b) CP).
29A suspensão da execução do internamento está para a medida de segurança de internamento como a
suspensão da execução da pena de prisão está para a pena de prisão.
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8.1.1 Delinquência por tendência grave
Para que seja aplicada uma pena relativamente indeterminada em caso de delinquência por
tendência grave, exige-se a verificação cumulativa de três pressupostos formais e de um
pressuposto material:
1) Crimes dolosos (culpa do agente): É necessário que o novo crime e os crimes anteriores
(dois ou mais) sejam dolosos.
2) Condenação ou mera prática de crimes que tenham sido ou sejam punidos com pena
de prisão efetiva superior a 2 anos: É necessário que o novo crime deva ser punido e os
crimes anteriores tenham sido ou sejam punidos com pena de prisão efetiva superior a 2 anos.
3) Decurso de menos de 5 anos entre a prática do crime anterior e a prática do novo
crime: É necessário que entre a prática do crime anterior e a prática do crime seguinte não
tenham decorrido mais de 5 anos (83º, n. 3 CP).
4) Acentuada inclinação para o crime (perigosidade criminal do agente): É necessário
que a avaliação conjunta dos factos praticados e da personalidade do agente revele uma
acentuada inclinação para o crime, que no momento da condenação ainda persista.
Verificados estes pressupostos, o julgador começa por determinar a pena de prisão que
concretamente caberia ao crime praticado, seguindo o procedimento “normal” de
determinação da pena (ex. A pratica um crime de homicídio, para o qual se prevê uma pena
de prisão de 8 a 16 anos. O julgador chega a uma pena de prisão de 12 anos). Depois,
determina os limites mínimo e máximo da pena relativamente indeterminada (83º, n. 2 CP):
- O limite mínimo corresponde a dois terços da pena de prisão que concretamente caber ia ao
crime (ex. 12 x 2/3 = 8 anos).
- O limite máximo corresponde à pena de prisão que concretamente caberia ao crime,
acrescida de 6 anos, sem exceder 25 anos no total (ex. 12+6 = 18 anos).
8.1.2 Delinquência por tendência menos grave
Para que seja aplicada uma pena relativamente indeterminada em caso de delinquência por
tendência menos grave, exige-se a verificação cumulativa de três pressupostos formais e de
um pressuposto material:
1) Crimes dolosos (culpa do agente): É necessário que o novo crime e os crimes anteriores
(quatro ou mais) sejam dolosos.
2) Condenação ou mera prática de crimes que tenham sido ou sejam punidos com pena
de prisão efetiva: É necessário que o novo crime deva ser punido e os crimes anteriores
tenham sido ou sejam punidos com pena de prisão efetiva.
3) Decurso de menos de 5 anos entre a prática do crime anterior e a prática do novo
crime: É necessário que entre a prática do crime anterior e a prática do novo crime não
tenham decorrido mais de 5 anos (84º, n. 3 CP).
4) Acentuada inclinação para o crime (perigosidade criminal do agente): É necessário
que a avaliação conjunta dos factos praticados e da personalidade do agente revele uma
acentuada inclinação para o crime, que no momento da condenação ainda persista.
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Verificados estes pressupostos, o julgador começa por determinar a pena de prisão que
concretamente caberia ao crime praticado, seguindo o procedimento “normal” de
determinação da pena (ex. A pratica um crime de homicídio, para o qual se prevê uma pena
de prisão de 8 a 16 anos. O julgador chega a uma pena de prisão de 12 anos). Depois,
determina os limites mínimo e máximo da pena relativamente indeterminada (84º, n. 2 CP):
- O limite mínimo corresponde a dois terços da pena de prisão que concretamente caber ia ao
crime (ex. 12 x 2/3 = 8 anos).
- O limite máximo corresponde à pena de prisão que concretamente caberia ao crime,
acrescida de 4 anos, sem exceder 25 anos no total (ex. 12+4 = 16 anos).
8.2 Delinquência ligada ao abuso do álcool e de estupefacientes
Para que seja aplicada uma pena relativamente indeterminada em caso de delinquência ligada
ao abuso do álcool e de estupefacientes, exige-se a verificação cumulativa de um
pressuposto formal e de um pressuposto material:
1) Condenação de crimes que sejam punidos com pena de prisão efetiva: É necessário
que o agente tenha praticado crime que tenha sido punido com pena de prisão efetiva e que
pratique crime que seja punido com pena de prisão efetiva.
2) Abuso do álcool e de estupefacientes: É necessário que os crimes tenham sido praticados
em estado de embriaguez ou estiverem relacionados com o alcoolismo ou com a tendência do
agente (86º, n. 1 CP) ou com o consumo abusivo de estupefacientes (88º CP).
Verificados estes pressupostos, o julgador começa por determinar a pena de prisão que
concretamente caberia ao crime praticado, seguindo o procedimento “normal” de
determinação da pena (ex. A pratica um crime de homicídio, para o qual se prevê uma pena
de prisão de 8 a 16 anos. O julgador chega a uma pena de prisão de 12 anos). Depois,
determina os limites mínimo e máximo da pena relativamente indeterminada (86º, n. 2 CP):
- O limite mínimo corresponde a dois terços da pena de prisão que concretamente caber ia ao
crime (ex. 12 x 2/3 = 8 anos).
- O limite máximo corresponde à pena de prisão que concretamente caberia ao crime,
acrescida de 2 anos, sem exceder 25 anos no total (ex. 12+2 = 14 anos).
8.3 Execução da pena relativamente indeterminada
Tendo em consideração que a pena relativamente indeterminada é uma pena cuja duração não
é pré-determinada na sentença condenatória – o condenado apenas conhece os limites mínimo
e máximo desta pena –, sendo na fase da sua execução que ele ficará a conhecer quanto
tempo irá ficar efetivamente privado da liberdade, importa agora analisar como ela se
executa.
8.3.1 Regras até se mostrar cumprida a pena que concretamente caberia ao crime
Até ao momento em que se mostrar cumprida a pena que concretamente caberia ao crime, a
pena relativamente indeterminada é executada segundo as regras de execução da pena de
prisão (90º, n. 1 e 2 CP):
- Atingido o limite mínimo da pena relativamente indeterminada, o agente pode ser colocado
em liberdade condicional se nisso consentir (1), se tiver cumprido no mínimo 6 meses de
prisão (2) e se for fundadamente de esperar, atentas as circunstâncias do caso, a vida anterior
do agente, a sua personalidade e a evolução desta durante a execução da pena de prisão, que o
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condenado, uma vez em liberdade, conduzirá a sua vida de modo socialmente responsável,
sem cometer crimes (3) (61º, n. 1 e 3 CP):
- Se não for concedida liberdade condicional, a concessão da liberdade condicional é
reapreciada anualmente. É a chamada renovação anual da instância.
- A liberdade condicional tem uma duração igual ao tempo que faltar para atingir o limite
máximo da pena, mas não será nunca superior a 5 anos.
- A liberdade condicional pode ficar condicionada pela imposição do cumprimento de regras
de conduta (52º CP).
- A liberdade condicional pode ficar condicionada pelo acompanhamento de regime de prova,
assente num plano de reinserção social (53º, n. 1 e 2 CP, 54º CP).
- Se, durante o período da liberdade condicional, o agente, culposamente, deixar de cumprir
qualquer das regras de conduta impostas ou não corresponder ao plano de reinserção social,
pode o tribunal fazer uma solene advertência, exigir garantias de cumprimento das obrigações
que condicionam a suspensão, impor novos deveres ou regras de conduta, ou introduzir
exigências acrescidas no plano de reinserção (55º, als. a) a c) CP).
- A liberdade condicional é revogada sempre que o condenado infringir grosseira ou
repetidamente os deveres ou regras de conduta impostos ou o plano de reinserção social ou
cometer crime pelo qual venha a ser condenado, e revelar que as finalidades que estavam na
base da suspensão não puderam, por meio dela, ser alcançadas (56º CP).
8.3.2 Regras depois de se mostrar cumprida a pena que concretamente caberia ao crime
Se o agente não tiver sido colocado em liberdade condicional ou, tendo sido, houve a sua
revogação, a partir do momento em que se mostrar cumprida a pena que concretamente
caberia ao crime, a pena relativamente indeterminada é executada segundo as regras de
execução da medida de segurança de internamento (90º, n. 3 CP).
- A pena relativamente indeterminada finda quando o tribunal verificar que cessou o estado
de perigosidade criminal que lhe deu origem (92º, n. 1 CP).
- Se for invocada a existência de causa justificativa da libertação do agente, o tribunal aprecia
a questão a todo o tempo, sendo a apreciação obrigatória, independentemente de
requerimento, decorrido um ano sobre o momento em que se mostrar cumprida a pena que
concretamente caberia ao crime ou sobre a decisão que tiver mantido a execução da pena
relativamente indeterminada (93º, n. 1 e 2 CP).
- Se da revisão da situação do agente resultar que há razões para esperar que a finalidade da
pena relativamente indeterminada possa ser alcançada em meio aberto, o tribunal coloca o
agente em liberdade para prova. O período de liberdade para prova é fixado entre um mínimo
de 2 anos e um máximo de 5, não podendo ultrapassar, todavia, o tempo que faltar para o
limite máximo de duração do internamento. A liberdade para prova pode ficar condicionada
pela imposição do cumprimento de regras de conduta. Se não houver motivos que conduzam
à revogação da liberdade para a prova, findo o tempo de duração desta a medida de
internamento é declarada extinta (94º CP).
- A liberdade para prova é revogada quando o comportamento do agente revelar que o
internamento é indispensável ou quando o agente for condenado em pena privativa da
liberdade e não se verificarem os pressupostos da suspensão da execução. A revogação
determina o reinternamento (95º CP).
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