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EXCELENTÍSSIMO/A SENHOR/A DOUTOR/A JUIZ/A DE DIREITO DA 3ª VARA

DE FAZENDA PÚBLICA DO FORO CENTRAL DA COMARCA DE SÃO PAULO.

Autos nº XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, por meio dos


NÚCLEOS ESPECIALIZADOS infra-assinados, vem, no prazo que lhe confere o
artigo 186 do Có digo de Processo Civil, à presença de Vossa Excelência, apresentar
RÉPLICA à contestação e documentos de fls. 236/697 E ESPECIFICAR AS
PROVAS QUE PRETENDE PRODUZIR, nos seguintes termos:

1. A tutela cautelar foi proposta em 23.05.2017 com base no art. 305 e


seguintes do NCPC/2015 1, objetivando assegurar os direitos fundamentais,
1
Art. 305.  A petiçã o inicial da açã o que visa à prestaçã o de tutela cautelar em cará ter antecedente indicará a lide e seu
fundamento, a exposiçã o sumá ria do direito que se objetiva assegurar e o perigo de dano ou o risco ao resultado ú til do
processo.
Pará grafo ú nico.  Caso entenda que o pedido a que se refere o caput tem natureza antecipada, o juiz observará o disposto
no art. 303.
Art. 306.  O ré u será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, contestar o pedido e indicar as provas que pretende produzir.
Art. 307.  Nã o sendo contestado o pedido, os fatos alegados pelo autor presumir-se-ã o aceitos pelo ré u como ocorridos, caso
em que o juiz decidirá dentro de 5 (cinco) dias.
Pará grafo ú nico.  Contestado o pedido no prazo legal, observar-se-á o procedimento comum.
Art. 308.  Efetivada a tutela cautelar, o pedido principal terá de ser formulado pelo autor no prazo de 30 (trinta) dias, caso
em que será apresentado nos mesmos autos em que deduzido o pedido de tutela cautelar, nã o dependendo do adiantamento
de novas custas processuais.
§ 1o O pedido principal pode ser formulado conjuntamente com o pedido de tutela cautelar.
§ 2o A causa de pedir poderá ser aditada no momento de formulaçã o do pedido principal.
§ 3o Apresentado o pedido principal, as partes serã o intimadas para a audiê ncia de conciliaçã o ou de mediaçã o, na forma
do art. 334, por seus advogados ou pessoalmente, sem necessidade de nova citaçã o do ré u.
§ 4o Nã o havendo autocomposiçã o, o prazo para contestaçã o será contado na forma do art. 335.
Art. 309.  Cessa a eficá cia da tutela concedida em cará ter antecedente, se:
I - o autor nã o deduzir o pedido principal no prazo legal;
II - nã o for efetivada dentro de 30 (trinta) dias;
III - o juiz julgar improcedente o pedido principal formulado pelo autor ou extinguir o processo sem resoluçã o de mé rito.
Pará grafo ú nico.  Se por qualquer motivo cessar a eficá cia da tutela cautelar, é vedado à parte renovar o pedido, salvo sob
novo fundamento.
Art. 310. O indeferimento da tutela cautelar nã o obsta a que a parte formule o pedido principal, nem influi no julgamento
desse, salvo se o motivo do indeferimento for o reconhecimento de decadê ncia ou de prescriçã o.
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inclusive sociais, das pessoas atingidas pela operaçã o realizada na Cracolâ ndia em
21.5.2017.
Requereu-se, assim, (i) a imediata suspensã o de todo e qualquer ato de
remoçã o compulsó ria de pessoas, bem como bloqueio e demoliçã o de edificaçõ es,
na á rea delimitada pelas Alamedas Nothmann e Cleveland, assim como Avenidas
Rio Branco e Duque de Caxias, até o completo atendimento das medidas arroladas
nos itens seguintes, a saber: (a) cadastramento de todas as pessoas que serã o ou
foram removidas das á reas mencionadas, para fins de atendimento em saú de,
assistencial e habitacional; (b) disponibilizaçã o imediata de alternativa
habitacional a todas as pessoas removidas da citada á rea e/ou que se encontram
em abrigamento emergencial, notadamente vagas fixas em centros de acolhida, ou
pagamento de aluguel social, ou, subsidiariamente, o pagamento de hotel ou
pensã o para a estadia digna das pessoas; (c) imediato atendimento de natureza
social e em saú de a todas as pessoas removidas da citada á rea e/ou que se
encontram em abrigamento emergencial; (d) autorizaçã o para as pessoas
removidas da referida á rea retornarem aos seus locais de moradia, a fim de
recuperar seus objetos pessoais, documentos e animais de estimaçã o.

2. Em decisã o de fls. 229/231, de 24.05.2017, o d. Juízo concedeu a


liminar nos seguintes termos: “defiro a liminar para impedir que a Municipalidade
promova a remoção compulsória de pessoas e a interdição ou demolição de
edificações com habitantes, na área descrita na letra "a" da petição inicial, sem que
previamente promova o cadastramento de tais indivíduos para atendimento nas
áreas de saúde e habitação, disponibilizando-lhes alternativas de moradia e
atendimento médico, além de permitir que retirem os seus pertences e animais de
estimação dos referidos imóveis, sob pena de multa diária de R$10.000,00 (dez mil
reais).”

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3. Em contestaçã o, o Município de Sã o Paulo menciona os resultados da
operaçã o do Governo do Estado na Cracolâ ndia em 21 de maio de 2017 e
apresenta o Projeto Redençã o. Sustenta o cumprimento da liminar, tendo em vista
as providências adotadas apó s a intervençã o policial, que consistem na ampliaçã o
das abordagens para internaçã o psiquiá trica; ampliaçã o das vagas em hospitais
psiquiá tricos, em leitos psiquiá tricos de hospitais gerais e em comunidades
terapêuticas; ampliaçã o de equipe médica para promover encaminhamentos para
internaçã o psiquiá trica; ampliaçã o da atuaçã o policial em relaçã o à s pessoas que
circulam na á rea; cadastramento de pessoas presentes em edifícios emparedados
ou selados da regiã o; foco no tratamento da dependência química para alcançar
abstinência e estabilizaçã o do quadro clínico.

4. O perímetro urbano inicialmente delimitado na petiçã o inicial e


contemplado pelos efeitos da liminar abrange tanto as pessoas que residiam em
imó veis demolidos, emparedados ou selados da regiã o, como as que estavam (e
ainda estã o) em situaçã o de rua, até entã o concentradas na Rua Helvétia com
Alameda Cleveland, porém, forçadamente deslocadas para a Praça Princesa Isabel
(Avenida Rio Branco) apó s a operaçã o policial de 21.5.2017, e, agora, concentradas
novamente na Rua Helvétia com Alameda Cleveland. A á rea em questã o
(retangular) pode ser visualizada abaixo (Google Maps):

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5. Em relação à introdução exposta na contestação quanto (a) aos
resultados da operação policial de 21 de maio de 2017 e (b) ao Projeto
Redenção, cumpre-nos nesta réplica enfatizar que:

(a). Conforme os DOCUMENTOS 1 e 2 – balanço do CAO Crim do


Ministério Público do Estado de São Paulo e Pesquisa Nacional sobre o Uso de
Crack, evidencia-se a falácia do discurso oficial de combate ao tráfico de
drogas na região da Cracolândia.

A tese do combate ao trá fico de drogas e ao crime organizado já restou


desmistificada pelo relató rio do Ministério Pú blico do Estado de Sã o Paulo, titular
da açã o penal e ó rgã o do sistema de justiça competente para a persecuçã o penal
até o seu regular desfecho. O documento revelado em audiência pú blica na
Assembleia Legislativa do Estado de Sã o Paulo em 21 de junho de 2017 indica a
baixíssima quantidade de drogas, armas e dinheiro apreendidos; ainda indica o
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perfil dos réus apreendidos e encaminhados para as audiências de custó dia apó s a
operaçã o policial de 21 de maio de 2017. Ao final, atesta a desproporcionalidade e
a ineficiência entre os meios utilizados na operaçã o policial (fadada ao fracasso
desde o início) e os fins atingidos pela açã o do Estado

Aliá s, a situaçã o caó tica aventada em contestaçã o (fl. 245), com base em
equivocado quadro descritivo da cena, desconsidera, além da mais ampla e
consistente pesquisa de â mbito nacional já realizada (doc. 2), a abordagem do
pró prio Projeto Redençã o (fls. 38/43 do Documento 1 que instrui a contestaçã o);
desconsidera, absolutamente, o histó rico que norteia a concentraçã o de pessoas na
á rea, o insucesso das intervençõ es policiais ali promovidas desde o ano 1986 e o
diagnó stico de vulnerabilidade dos grupos de pessoas envolvidos.

Os Capítulos 42 e 103 da “Pesquisa Nacional sobre o Uso de Crack”,


financiada pela Secretaria Nacional de Políticas dobre Drogas (SENAD), e
coordenada pela Fundaçã o Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Organizadores
XXXXXXXXXXXXXXXXXX, contém estudo específico sobre o perfil das pessoas que
fazem uso abusivo/problemá tico de crack.

Longe de ter como causa a questã o criminal, a pesquisa demonstra


cientificamente a situaçã o de vulnerabilidade social, da falta de acesso a políticas
pú blicas que atendam direitos sociais. Apenas 6,42% dos usuá rios relatam
atividades ilícitas como o trá fico de drogas e furtos/roubos; e ainda no â mbito
desta minoria passível de criminalizaçã o, a principal renda nã o advém do crime (p.
54 da pesquisa – Capítulo 4).
2
Quem são os usuários de crack e/ou similares do Brasil? Perfil sociodemográfico e comportamental destes
usuários: resultados de uma pesquisa de abrangência nacional. Neilane Bertoni e Francisco Iná cio Bastos em
nome do grupo de Pesquisa “Inquérito Epidemioló gico”.
3
Uma perspectiva social para o problema do crack no Brasil: implicações para as políticas públicas. Leon Garcia
(Diretor de Artciulaçã o e Coordenaçã o da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da
Justiça), Roberto Tykanori Kinoshita (Coordenador de Saú de Mental, Á lcool e outras Drogas do
DART/SAS/Ministério da Saú de, e Vitore Maximiano (Secretá rio Nacional de Políticas sobre Drogas do
Ministério da Justiça).
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Foram identificados na pesquisa nacional quatro perfis de usuá rios (p.
149-150, Cap. 10): a grande maioria é homens marginalizados, majoritariamente
pardos e pretos, com baixa escolaridade, expostos em â mbito familiar e social a
diversas formas de marginalizaçã o e estigmatizaçã o; mulheres marginalizadas, com
trajetó ria semelhante ao do grupo anterior, mais expostas à violência sexual e à
ausência de apoio na gestaçã o; adolescentes vulneráveis, minoria nas cenas de uso,
equivalente a 14% dos usuá rios regulares, mas elevada vulnerabilidade social
(situaçã o de rua ou conflito com a lei); e adultos socialmente integrados, aí
incluídas as pessoas que têm mais controle em relaçã o ao uso, trabalhando
parcialmente e contando com mais apoio social ou da família (podem ou nã o ter
pertencido ao perfil dos homens ou mulheres marginalizados).

A pesquisa nacional afirma que “duas características dos usuários


regulares de crack encontradas por esse estudo consistem historicamente, na
sociedade brasileira, em marcadores de uma desvantagem social determinada já no
nascimento ou, em grande medida, nos anos que precedem ao abuso de drogas: o
fato de serem não brancos (80% dos entrevistados) e a baixa escolaridade. ” (P. 151,
Capítulo 10)

Ao final, o Capítulo 10 da Pesquisa Nacional reconhece o acerto da


política de reduçã o de danos instituída no município de Sã o Paulo pelo Decreto
55.067/2014 – Programa De Braços Abertos – ainda vigente. Considera que (p.
154-155):

O rompimento do ciclo vicioso exclusã o-dependência-exclusã o exige a


implementaçã o de políticas abrangentes, intersetoriais e com
integraçã o entre diferentes unidades da federaçã o, instâ ncias de
governo e sociedade civil. Esse tem sido o desafio colocado aos gestores
e trabalhadores dos serviços pú blicos de municípios, estados e do
governo federal. Experiências como a do município de São Paulo
mostram que, para além dessa integração de políticas, é
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necessário e possível aprofundar uma perspectiva que reconheça e
supra direitos universais sem impor condicionalidades. Privilegiar
a formação de coletivos de organização dos dependentes que
fomentem a capacidade de estabelecer contratos de convivência.
Olhar e avaliar na perspectiva dessas pessoas as ofertas de
políticas sustentáveis de geração de renda e moradia.

Ainda que a ideologia também seja definida como a falsa percepçã o da


realidade, o discurso ideoló gico, que marca o debate sobre a melhor política de
governo para o uso abusivo de drogas, pode ou nã o ter respaldo técnico e
científico. E na presente disputa nã o existe dú vida de que a produçã o científica e o
sistema normativo conferem legitimidade e legalidade à política de reduçã o danos.

No mais, é grave o equívoco da Municipalidade ao pretender tratamento


jurídico homogêneo à populaçã o heterogênea da Cracolâ ndia, afirmando que nã o
se podem conduzir pela pró pria vontade. Ao afirmar isso, a Municipalidade
decreta, simplesmente, que tais pessoas sã o incapazes a priori. Ora, a premissa
viola, claramente, o disposto pelo art. 2º da Lei Brasileira de Inclusã o da Pessoa
com Deficiência e o art. 12 da Convençã o da ONU sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência; nã o por acaso o Tribunal de Justiça de Sã o Paulo extinguiu o
pedido (teratoló gico) da Municipalidade deduzido noutro processo para busca a
apreensã o de qualquer pessoa em “estado de dependência química” 4.

No mais, é preciso ressaltar que os trabalhadores da região –


profissionais bem qualificados que há bastante tempo exercem suas
atividades na região da Luz – afirmam que, hoje, sofrem mais violência do
que antes da operação de 21 de maio de 2017. E a violência decorre da ação
das forças de segurança pública, cuja truculência, inclusive física, é
4
ACP do MPE contra a FESP na 07ª Vara da Fazenda Pú blica de nº 0023977-42.2012.8.26.0053. No apenso
dele, de nº 0008549-44.2017.8.26.0053, há petiçã o da Defensoria e do MP contrá ria ao pedido da Procuradoria
Geral do Município de apreensã o e internaçã o compulsó ria de qualquer pessoa em estado de dependência
química. Deste incidente foi tirado agravo de instrumento da DPE e MPE contra a decisã o que deferiu o pedido
da PGM, o qual foi provido em segundo grau para indeferir a petiçã o da PGM (AI 0027728-26.2017.8.26.0000).

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direcionada tanto a usuários quanto a trabalhadores; e colocam em risco os
vínculos constituídos com usuários na medida em que policiais utilizam a
identificação de trabalhadores do serviço para se camuflarem em
investigações na área. Quanto a isso, a Defensoria Pública recebeu
pessoalmente relatos de trabalhadores, vítimas ou testemunhas do abuso na
atividade policial.

Assim, com o devido respeito, o discurso da contestante é meramente


retó rico, juridicamente insustentá vel, desprovido de conhecimento científico sobre
a situaçã o da Cracolâ ndia; mostra-se, assim, teratoló gica a linha geral do raciocínio
no sentido de que “nesse local concentravam-se traficantes e seres humanos em
total dependência química, concentraçã o que impedia o Poder Pú blico de oferecer
a mínima atençã o bá sica e curativa daqueles que, ABDUZIDOS pelo ‘FLUXO’, nã o
conseguiam mais se conduzir pela pró pria vontade” (fls. 241). Nem mesmo o
Projeto Redençã o respalda a linha de argumentaçã o da contestante.

(b) O Projeto Redençã o nã o tem implementado decretos municipais


ainda vigentes, a saber: Decreto nº 55.067 de 28/04/2014, que regulamenta o
Programa “De Braços Abertos” e altera o Decreto nº 44.848 de 10/03/2004;
Decreto nº 57.176 de 01/08/2016, que cria a Inspetoria de Reduçã o de Danos –
IRD, visando atuaçã o integrada da Guarda Civil Metropolitana e da Secretaria
Municipal de Segurança Urbana voltada ao Programa “De Braços Abertos”; e
Portaria SMSU nº 64 de 14/12/2016 que aprova readequaçã o da estrutura
organizacional da GCM para qualificar a atuaçã o da Inspetoria de Reduçã o de
Danos (DOC. 03 – LEGISLAÇÃO MUNICIPAL).

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Além disso, as “Macroetapas” previstas no Projeto Redençã o 5 nã o estã o
sendo respeitadas, nem atendendo aos critérios legais das políticas pú blicas de
referência; e nã o contêm conteú do claro sobre sua execuçã o e sobre participaçã o ,
tecnicamente respaldado e previamente determinado em processo participativo e
democrá tico – ilegalidade presente em todo o processo e que salta aos olhos
principalmente na Etapa 3 “Acompanhamento do restabelecimento individual dos
beneficiá rios” e na atuaçã o da Guarda Civil Metropolitana em desconformidade
com a Portaria nº 64, de 14.12.2016, da Secretaria Municipal de Segurança Urbana,
contrariando notadamente o art. 4º, inc. VIII da portaria.

Conforme se vê do documento juntado à s fls. 265-292, a coordenaçã o


do planejamento estratégico do projeto cabe à Secretaria do Governo Municipal e,
portanto, compete-lhe (ao Governo Municipal) observar a regra constitucional da
legalidade estrita, aplicá vel aos atos da Administraçã o Pú blica, sob pena de prá tica
de ato de improbidade administrativo previsto no art. 11, inc. I, da Lei Federal
8.429/92 (LIA).
6. Ao contrá rio do que argumenta a contestaçã o, apó s diversas
diligências da Defensoria Pú blica e apó s o desfecho do ciclo de inspeçõ es conjuntas
realizadas por diversas entidades, entre elas a Defensoria Pú blica, constatou-se
que nã o houve cumprimento da liminar e que o procedimento adotado pelo Poder
Pú blico para o atendimento das pessoas da Regiã o da Luz descumpre os critérios
legais estabelecidos pelas políticas pú blicas de referência, aplicá veis ao uso
problemá tico de drogas (DOC. 04 – RELATÓRIO CONJUNTO DE INSPEÇÕES -
“Estamos de Olho: Avaliação Conjunta dos Hospitais Psiquiátricos do Projeto
Redenção”).

5
Vide fls. 46 do Documento 1 que instrui a contestação, onde consta ilustraçã o de Etapas 1 a 4: Etapa 1
(Contato inicial, cadastro, avaliaçã o e encaminhamento); Etapa 2 (Proporcionar acesso aos serviços e
encaminhamentos oferecidos pelas políticas pú blicas de referência); Etapa 3 (Acompanhamento do
restabelecimento individual dos beneficiá rios); Etapa 4 (Requalificaçã o da regiã o com açõ es de urbanismo e
zeladoria).
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Referido Relató rio foi produzido entre Julho e Agosto de 2017, a partir
do ciclo de inspeçõ es na Casa Sã o Joã o de Deus, Hospital Cantareira, Hospital Nossa
Senhora do Caminho e Casa de Saú de Nossa Senhora de Fá tima, realizadas
diretamente pelo COMUDA (Conselho Municipal de Políticas de Drogas e Á lcool de
Sã o Paulo), MINISTÉ RIO PÚ BLICO, DEFENSORIA PÚ BLICA, CREMESP (Conselho
Regional de Medicina de Sã o Paulo), CRP (Conselho Regional de Psicologia); CRESS
(Conselho Regional de Serviço Social) e COREN (Conselho Regional de
Enfermagem)

Verificou-se através do ciclo de inspeçõ es a violaçã o das normas que


dispõ em sobre o serviço de saú de mental, a saber: Constituiçã o Federal, Lei
Federal 8.080/1990, Lei Federal 10.216/2001; Lei Federal 11.343/2006; Decreto
Federal 7.508/2011, Portarias 251/2002, 336/2005, 1.820/2008, 2.488/2011,
3.088/2011 e 148/2012 do Ministério da Saú de.

Em síntese, não houve cumprimento da liminar. Senão vejamos:

A. As pessoas despejadas na operação de 21.05.2017 não tiveram


acesso aos imóveis bloqueados e, portanto, não tiveram acesso aos seus bens,
o que viola claramente os termos da liminar (DOC. 05 – DECLARAÇÕES
COLHIDAS IN LOCO PELA DEFENSORIA PÚBLICA; FOTOS DOS EDIFÍCIOS
EMPAREDADOS).

A legislaçã o citada pela contestante – Decreto 10.878/1974, o Decreto


32.329/1992 e a Lei Estadual 16.402/2016 – deve ser interpretada de forma a nã o
esvaziar o direito à moradia e autoriza a aplicaçã o das penalidades ali previstas
somente se observado o processo previsto na legislaçã o.

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Nã o autoriza, assim, o despejo de pessoas sem disponibilizaçã o de
alternativa habitacional, nem o emparedamento de imó veis sem a garantia de
retirada de documentos, pertences pessoais e produtos perecíveis pelos
residentes/locatá rios.

Quanto ao acesso de possuidores a seus bens, o art. 142, §3º, da Lei


Estadual 16.402/2016 dispõ e expressamente que: “Para a interdição da
atividade, deverão ser adotados meios compatíveis, cuidando-se para que
não seja impedida a retirada de documentos, pertences pessoais e produtos
perecíveis.”

Em clara violaçã o da lei e dos termos da liminar concedida nestes autos,


a Prefeitura de Sã o Paulo criou barreiras físicas nos imó veis (emparedamento)
sem disponibilizar tempo e meio para a retirada dos bens pelos possuidores.

A contestaçã o, aliá s, em nenhum momento informa o cumprimento


dessa específica obrigaçã o de fazer; nem sequer menciona o fato (vide fls.
248/254).

Em razã o do descumprimento, requer-se imediata disponibilizaçã o de


acesso aos bens, com aplicaçã o de multa diá ria no valor de dez mil reais, conforme
determinado por esse D. Juízo, a incidir até que o Poder Pú blico Municipal
comprove o atendimento da liminar quanto a isso.

B. Quanto ao atendimento habitacional, a Prefeitura restringiu-se,


apenas, ao cadastramento de pessoas até então hospedadas nos imóveis
interditados e não disponibilizou alternativa habitacional conforme
determinava a liminar. Além disso, o cadastramento apresenta grave
equívoco metodológico, inclusive pelo fato de ter sido realizado depois da

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intervenção policial de 21 de maio de 2017, ou seja, após a dispersão de
muitas pessoas para outros locais, inclusive para hospitais psiquiátricos
(DOC. 06 – DECLARAÇÃO; E RELATÓRIO DO NÚCLEO ESPECIALIZADO DE
HABITAÇÃO E URBANISMO DA DEFENSORIA PÚBLICA).

Primeiramente, conforme destaca o anexo Relató rio Técnico do Centro


de Atendimento Multidisciplinar do Nú cleo Especializado de Habitaçã o e
Urbanismo da Defensoria Pú blica, a organizaçã o do diagnó stico e o cadastramento
da populaçã o sã o açõ es fundamentais no processo de inserçã o em programas de
moradia, tanto que regulamentados pelo Ministério das Cidades por meio da
Portaria nº 21, de 22 de janeiro de 2014, que dispõ e sobre o Manual de Instruçõ es
do Trabalho Social nos Programas e Açõ es do Ministério das Cidades (documento 6
– Relató rio do Nú cleo de Habitaçã o e Urbanismo).

O Relató rio explica que o levantamento cadastral ocorreu entre as


Alamedas Cleveland, Rua Helvetia, Alameda Dinho Bueno, Alameda Barã o de
Piracicaba, Alameda Glete e Largo Coraçã o de Jesus, logradouros que englobam as
duas quadras identificadas pela Prefeitura como pertencentes à á rea da
Cracolâ ndia.

Segundo o informado, a equipe da SEHAB realizou o cadastramento em


dois dias: em 24 de maio (quarta-feira) e em 27 de maio (sá bado). Informa, ainda,
que no primeiro dia de trabalho, restou frutífera apenas a selagem dos imó veis
(676 selos no total), sendo necessá rio retornar no dia 27, sá bado, “devido ao
elevado nú mero de moradores ausentes” (Prefeitura de Sã o Paulo, pá g. 25).

O Relató rio registra as seguintes situaçõ es que violam as normas de


cadastramento para fins habitacionais: i. o cadastro foi realizado em apenas dois
dias de trabalho de campo, com abordagem direta à s/aos moradoras/es e sem

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indícios de realizaçã o de plantã o na á rea; ii. nã o foram apresentados as propostas
e/ou projetos de intervençã o ou readequaçã o urbana mencionados; iii. o
levantamento ocorreu somente apó s intervençã o policial e demoliçã o imó veis de
uso residencial, impossibilitando o reconhecimento da populaçã o removida da
á rea.

Destaca a I. Agente de Defensoria que assina o Relató rio: “Caso se


considere o total de imó veis considerados ocupados, veremos que o cadastro foi
efetivado em 242 residências, de um total de 388. Ou seja, 35% das moradias
tiveram seus residentes ausentes, revelando uma vez mais que os dois dias de
cadastramento foram insuficientes para abordar todas as famílias.” (P. 9)

A profissional ainda observa que os dados apresentados se referem tã o


somente ao quantitativos de imó veis e moradoras/es respondentes ao cadastro.
Nã o há mençã o a qualquer outro dado relevante, do ponto de vista da
caracterizaçã o socioeconô mica das famílias. Neste sentido, as informaçõ es, ainda
que preliminares, nã o atendem aos requisitos mínimos do levantamento cadastral,
qual seja, o reconhecimento da comunidade objeto de intervençã o, suas
especificidades e vulnerabilidades que devem fazer parte do foco de atençã o do
poder pú blico. Assim, dados essenciais, como nú mero de pessoas por família,
renda familiar e per capita, nú mero de crianças/adolescentes e idosos, presença de
pessoas com deficiências e outros grupos vulnerá veis, nã o foram apresentados.

Dentre as demais inconsistências encontradas pelo Relató rio a partir do


Registro Preliminar apresentado, destacam-se:

 Ausência de diretrizes metodoló gicas condizentes com as


normativas técnicas vigentes, para o desenvolvimento das açõ es de

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cadastramento e intervençã o social em á reas de assentamentos
precá rios;
 Ausência de dados sobre educaçã o (escolaridade da populaçã o e
matrícula escolar de crianças e adolescentes) e saú de (condiçõ es de
saú de, matrícula e frequência em Unidade de Saú de pró xima à
Cracolâ ndia);
 Ausência de validaçã o dos cadastros realizados a partir de
congelamento da á rea;
 Ausência de levantamento de equipamentos sociais, além de
educaçã o e saú de, utilizados pelos moradores da Cracolâ ndia;
 Ausência de apresentaçã o de croqui e mapa identificando cada
edificaçã o individualmente e a composiçã o espacial geral da á rea
ocupada;
 Ausência de diagnó stico ambiental e levantamento de possíveis
impactos ambientais na á rea.

Dessa forma, consideradas todas as carências, falhas metodoló gicas e o


nã o cumprimento das diretrizes normativas, o Relató rio conclui que nã o se pode
afirmar que houve açõ es efetivas de cadastramento na Cracolâ ndia, mas apenas
episó dios isolados de atividades de identificaçã o de parcela dos moradores.

Será necessá rio, portanto, o fornecimento de relató rio cadastral


completo (caso este tenha sido elaborado) ou o recadastramento da populaçã o,
para adequaçã o técnica e conhecimento das condiçõ es atuais de emprego e renda
da populaçã o, entre outros.

Em segundo lugar, conforme se lê da contestação, não houve


disponibilização de alternativa de moradia para quem foi forçadamente
removido dos imóveis emparedados e selados ou para quem estava em

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situação de rua na região. O mesmo se lê das declaraçõ es anexas (Docs. 5 e 6 –
Declaraçõ es).

A contestação narra que o atendimento das pessoas está


ocorrendo principalmente na modalidade de internação psiquiátrica.

Ao todo, em conjunto com Programa Recomeço do Governo do Estado,


sã o 3 mil 276 vagas (informadas) de leitos para internaçã o psiquiá trica, inclusive
em comunidades terapêuticas; havendo instalaçã o de um CAPS Contêiner (de lata –
“Dispositivo Helvetia”), com um médico psiquiatra plantonista, um enfermeiro e
um auxiliar de enfermagem. Vide fls. 247 da contestação.

Anote-se que o Decreto 55.067, de 28.4.2014, que regulamenta o


Programa “De Braços Abertos”, determina a implementaçã o de política municipal
de moradia (art. 1º, § 2º) e tem como regra a garantia de hospedagem e o
encaminhamento para programas habitacionais a que tenham direito (art. 2º, III,
art. 6º, III e VI). Tanto é que, nos termos do art. 4º, VII, esse mesmo Decreto inclui a
Secretaria Municipal de Habitaçã o.

O atendimento habitacional se insere no â mbito dos programas


vinculados à Secretaria de Habitaçã o. O atendimento socioassistencial em centros
de acolhida à populaçã o em situaçã o de rua (abrigos), vinculados à Secretaria de
Assistência e Desenvolvimento Social, nã o se confunde com atendimento
habitacional. Sã o modalidades distintas de atendimento, sendo que o primeiro diz
com direito à moradia segura e está vel, e o segundo com à proteçã o social especial
de cará ter provisó rio.

Em razã o do descumprimento da liminar, assim, requer-se o


fornecimento de relató rio cadastral completo (caso este tenha sido elaborado) ou o

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recadastramento da populaçã o; e a imediata disponibilizaçã o de alternativa de
moradia à s pessoas que estã o na regiã o abrangida pela liminar (item 4 desta
réplica), com aplicaçã o de multa diá ria no valor de dez mil reais, conforme
determinado por esse D. Juízo, a incidir até que o Poder Pú blico Municipal
comprove o atendimento da liminar quanto a isso.

C. Não se constatou atuação consistente e planejada da Prefeitura


de São Paulo quanto ao direito fundamental à proteção social básica e à
proteção social especial; ou seja, no âmbito do Projeto Redenção, a Política
de Assistência Social não está sendo implementada na Região da Luz, para
fins de atendimento socioassistencial das pessoas que estão em situação de
vulnerabilidade e que têm referência no território em questão (DOC. 7 -
DECLARAÇÕES).

A contestaçã o informa que ocorreu o acolhimento de pessoas no Centro


de Convivência Complexo Prates e outros equipamentos que já existiam na á rea.
Ocorre que esse suposto acolhimento aconteceu em cará ter extremamente
precá rio, pessoas dormiram no asfalto sob o céu da cidade e nã o sob um teto, como
amplamente divulgado na mídia, e as pessoas nã o sabem onde irã o dormir,
conforme comprovam as declaraçõ es em anexo (DOC. 7).

Nem mesmo é possível falar-se em acolhimento está vel dessas pessoas,


já que o atendimento socioassistencial nã o se deu pela disponibilizaçã o de vagas
fixas em albergues (centros de acolhida destinados a pessoas em situaçã o de rua,
vinculados à SMADS – Secretaria da Assistência e Desenvolvimento Social).

O acolhimento pode ocorrer para pernoite (somente uma noite) ou em


vaga fixa (também de cará ter temporá rio, mas menos precá rio). A ausência de vaga
fixa implica processo diá rio de comparecimento a uma Tenda (local de

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encaminhamento de vagas), em horá rio previsto pelo serviço, para solicitar vaga
que nã o será necessariamente disponibilizada no centro de acolhida no qual
pernoitou na noite anterior.

Muitos usuá rios preferem permanecer na rua a serem atendidos nesses


serviços, sejam em razã o da rigidez e padronizaçã o das regras aplicadas em
ambiente extremamente heterogêneo, seja em razã o da condiçã o precá ria do
acolhimento em razã o do déficit de vagas e falta de estrutura. Além de proibir o
uso de á lcool e outras drogas, o serviço nã o atende aos parâ metros normativos
previstos na Resoluçã o 109 de 11/11/2009 do Conselho Nacional de Assistência
Social. 6
6
“NOME DO SERVIÇO: SERVIÇO ESPECIALIZADO PARA PESSOAS EM SITUAÇÃ O DE RUA
DESCRIÇÃ O: Serviço ofertado para pessoas que utilizam as ruas como espaço de moradia e/ou sobrevivência.
Tem a finalidade de assegurar atendimento e atividades direcionadas para o desenvolvimento de
sociabilidades, na perspectiva de fortalecimento de vínculos interpessoais e/ou familiares que oportunizem a
construçã o de novos projetos de vida.
Oferece trabalho técnico para a análise das demandas dos usuários, orientação individual e grupal e
encaminhamentos a outros serviços socioassistenciais e das demais políticas públicas que possam
contribuir na construção da autonomia, da inserção social e da proteção às situações de violência.
Deve promover o acesso a espaços de guarda de pertences, de higiene pessoal, de alimentação e
provisão de documentação civil. Proporciona endereço institucional para utilizaçã o, como referência, do
usuá rio.
Nesse serviço deve-se realizar a alimentaçã o de sistema de registro dos dados de pessoas em situaçã o de rua,
permitindo a localizaçã o pela família, parentes e pessoas de referência, assim como um melhor
acompanhamento do trabalho social.
(...)
TRABALHO SOCIAL ESSENCIAL AO SERVIÇO: Acolhida; escuta; estudo social; diagnó stico socioeconô mico;
Informaçã o, comunicaçã o e defesa de direitos; referência e contra-referência; orientaçã o e suporte para acesso
à documentaçã o pessoal; orientação e encaminhamentos para a rede de serviços locais; articulaçã o da rede de
serviços socioassistenciais; articulaçã o com outros serviços de políticas pú blicas setoriais; articulaçã o
interinstitucional com os demais ó rgã os do Sistema de Garantia de Direitos; mobilizaçã o de família extensa ou
ampliada; mobilizaçã o e fortalecimento do convívio e de redes sociais de apoio; mobilizaçã o para o exercício
da cidadania; articulaçã o com ó rgã os de capacitação e preparaçã o para o trabalho; estímulo ao convívio
familiar, grupal e social; elaboraçã o de relató rios e/ou prontuá rios.
(...)
AQUISIÇÕ ES DOS USUÁ RIOS
Segurança de Acolhida
- Ser acolhido nos serviços em condiçõ es de dignidade.
- Ter reparados ou minimizados os danos por vivências de violências e abusos.
- Ter sua identidade, integridade e histó ria de vida preservadas.
- Ter acesso à alimentaçã o em padrõ es nutricionais adequados.
(...)
Segurança de desenvolvimento de autonomia individual, familiar e social
- Ter vivência pautada pelo respeito a si pró prio e aos outros, fundamentadas em princípios éticos de justiça e
cidadania;
- Construir projetos pessoais e sociais e desenvolver a auto-estima;
- Ter acesso à documentaçã o civil;
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Além disso, confronta os princípios, diretrizes e objetivos estabelecidos
pelo Decreto Federal n° 7.053/2009, que institui a “Política Nacional para a
Populaçã o em Situaçã o de Rua”. 7

Todos os serviços mencionados à s fls. 255/256 da contestaçã o, no


tó pico “Da Política Pú blica de Acolhimento Institucional em Situaçã o de Rua e dos
Usuá rios e Drogas da Regiã o. (...)”, já fazem parte da rede de atençã o há bastante
tempo e/ou sã o açõ es implementadas no â mbito do Programa “De Braços
Abertos”. Nã o sã o obra do Projeto Redençã o, o qual, aliá s, interrompeu alguns
serviços sem adequada substituiçã o por outros equivalentes; e, ainda, deixou os
trabalhadores dos serviços preexistentes no territó rio sem diretrizes claras de
atuaçã o.

- Alcançar autonomia e condiçõ es de bem-estar;


- Ser ouvido para expressar necessidades, interesses e possibilidades;
- Ter acesso a serviços do sistema de proteção social e indicação de acesso a benefícios sociais e programas de
transferência de renda;
- Ser informado sobre direitos e como acessá -los;
- Ter acesso a políticas pú blicas setoriais;
- Fortalecer o convívio social e comunitá rio.

7
Art. 5o Sã o princípios da Política Nacional para a Populaçã o em Situação de Rua, além da igualdade e
equidade: I - Respeito à dignidade da pessoa humana; (...) IV - Atendimento humanizado e
universalizado; Art.  6o  Sã o diretrizes da Política Nacional para a Populaçã o em Situação de Rua:
I - Promoção dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais;
II - Responsabilidade do poder público pela sua elaboração e financiamento; Art. 7o  Sã o objetivos da
Política Nacional para a Populaçã o em Situação de Rua: I - Assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro
aos serviços e programas que integram as políticas pú blicas de saú de, educaçã o, previdência, assistência
social, moradia, segurança, cultura, esporte, lazer, trabalho e renda; (...) XI - adotar padrão básico de
qualidade, segurança e conforto na estruturação e reestruturação dos serviços de acolhimento
temporários, de acordo com o disposto no art. 8o; XII - implementar centros de referência especializados
para atendimento da populaçã o em situaçã o de rua, no âmbito da proteçã o social especial do Sistema Ú nico de
Assistência Social; Art. 8o  O padrão básico de qualidade, segurança e conforto da rede de acolhimento
temporário deverá observar  limite de capacidade,  regras de funcionamento e convivência,  acessibilidade, 
salubridade e  distribuiçã o geográ fica das unidades de acolhimento nas á reas urbanas, respeitado o direito de 
permanência da populaçã o em situaçã o de rua, preferencialmente nas cidades ou nos centros urbanos. (...)
§ 4o  A rede de acolhimento temporário existente deve ser reestruturada e ampliada para incentivar
sua utilização pelas pessoas em situação de rua, inclusive pela sua articulação com programas de
moradia popular promovidos pelos Governos Federal, estaduais, municipais e do Distrito Federal.

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Como hospedagem está vel, trabalho e alimentaçã o. Quanto a isso, em
reuniã o com Secretaria do Governo Municipal durante atividade do Conselho
Nacional de Direitos Humanos, do qual também participou a Defensoria Pú blica,
integrantes do Conselho Nacional de Direitos Humanos apontaram a suspensã o de
tais serviços e ausência de alternativas equivalentes. Ressaltaram, ainda, que a
rotina propiciada até entã o (rotina de hospedagem, trabalho e alimentaçã o) eram
fatores essenciais no controle do uso de drogas por parte dos usuá rios que
aderiram à política de reduçã o de danos.

Conforme se lê do Decreto Municipal 55.067, de 28.04.2014, que


regulamenta o Programa “De Braços Abertos” (legislação que instrui a réplica):

Art. 1º Fica regulamentado, nos termos deste decreto, o Programa De


Braços Abertos, instituído em 15 de janeiro de 2014, com o objetivo
de promover a reabilitação psicossocial de pessoas em situação de
vulnerabilidade social e uso abusivo de substâncias psicoativas,
por meio da promoção de direitos e de ações assistenciais, de
saúde e de prevenção ao uso abusivo de drogas.
§ 1º O Programa De Braços Abertos buscará conjugar esforços entre
todos os entes da Federaçã o, em consonâ ncia com a adesã o do
Município de Sã o Paulo ao Programa “Crack, é possível vencer”. § 2º A
implementação das ações do Programa De Braços Abertos será
realizada de forma progressiva, intersetorial e articulada entre as
políticas municipais de saúde, direitos humanos, assistência social,
trabalho, segurança urbana, educação, moradia, desporto, cultura,
meio ambiente, entre outras.

Art. 2º São diretrizes do Programa De Braços Abertos:


I – atenção à saúde e à reabilitação psicossocial, com políticas de
redução de riscos e de danos, de prevenção do uso, de tratamento
e de assistência social destinadas às pessoas em situação de uso
abusivo de substâncias psicoativas, por meio da articulação das
ações do Sistema Único de Saúde - SUS com as ações do Sistema
Único de Assistência Social - SUAS;

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II – acesso a atividades ocupacionais e à renda, por meio da oferta de
oportunidades de ocupaçã o e de qualificaçã o profissional, nos termos
da Lei nº 13.178, de 17 de setembro de 2001, alterada pela Lei nº
13.689, de 19 de dezembro de 2003, que instituiu o Programa Operaçã o
Trabalho;
III – promoção de alimentação, hospedagem e capacitação;
IV – estímulo permanente e oferta de condiçõ es para emancipaçã o e
autonomia dos beneficiá rios, por meio de qualificaçã o profissional,
intermediaçã o de mã o de obra, estímulo à economia solidá ria e
direcionamento para outros programas;
V – revitalizaçã o do espaço urbano e requalificaçã o do espaço pú blico
para exercício da cidadania; VI – participaçã o da sociedade civil;
VII – capacitaçã o dos atores envolvidos na implementaçã o do
Programa;
VIII – disseminaçã o de informaçõ es qualificadas relativas aos danos
causados pelo uso do crack e de outras drogas;
IX – fortalecimento, em articulaçã o com os ó rgã os estaduais de
segurança pú blica, das açõ es de inteligência para enfrentamento ao
trá fico de drogas.

Art. 6º Na consecução do Programa De Braços Abertos serão


contempladas as seguintes ações, entre outras que vierem a ser
definidas pelo Comitê Gestor:
I – inclusã o dos beneficiá rios em atividades ocupacionais remuneradas
e capacitaçã o pelos ó rgã os municipais ou por entidades conveniadas,
sem geraçã o de qualquer vínculo empregatício, nos termos do
Programa Operaçã o Trabalho, regulamentado pelo Decreto nº 44.484,
de 10 de março de 2004;
II – adoçã o de medidas que objetivem promover a autonomia
econô mica dos beneficiá rios, como intermediaçã o de mã o de obra e
fomento ao cooperativismo e ao associativismo;
III – encaminhamento para hospedagem, como quartos em
pensionatos, no limite das vagas disponíveis, e oferta de refeições
diárias;
IV – articulaçã o do cuidado integral à saú de com as equipes das
unidades de saú de do territó rio, incluindo Consultó rio na Rua, Agentes
Redutores de Danos do Serviço Ambulatorial Especializado - SAE
DST/AIDS, Centros de Atençã o Psicossocial - CAPS, Unidades de
Acolhimento Transitó rio - UAT e Agentes de Saú de vinculados à s
Unidades Bá sicas de Saú de;
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V – articulação da rede socioassistencial da proteção social básica
e da proteção social especial com a finalidade de promover a
garantia de direitos, a reconstrução de vínculos familiares e
comunitários e o fortalecimento das potencialidades dos
beneficiários, abrangendo a inclusão em programas de
transferência de renda e de qualificação profissional;
VI – encaminhamento dos beneficiários para obtenção de
documentação básica pessoal e para programas habitacionais, de
transferência de renda e outros a que tenham direito; VII –
requalificaçã o do ambiente urbano, com açõ es de limpeza, iluminaçã o,
segurança e cuidado; VIII – açõ es de promoçã o e formaçã o para a
cidadania;
IX – realizaçã o de estudos e diagnó stico para o acú mulo de informaçõ es
destinadas ao aperfeiçoamento das políticas pú blicas de prevençã o do
uso, tratamento e reabilitaçã o psicossocial de pessoas em situaçã o de
uso abusivo de substâ ncias psicoativas.
Pará grafo ú nico. O Programa De Braços Abertos promoverá , ainda, a
articulaçã o das açõ es definidas neste artigo com outras políticas
desenvolvidas em â mbito federal, estadual e municipal.

A contestante nã o informa as diretrizes e protocolos a serem


observados pelos trabalhadores do serviço de proteçã o social especial para o
acolhimento das pessoas segundo a sua singularidade e necessidade; tampouco
informa se há exigências para o acolhimento e quais seriam os deveres dos
possíveis usuá rios em relaçã o a essas exigências.

Enfim, a contestante nã o explicita a forma do atendimento


socioassistencial; e na contramã o do argumento de que “a rede de serviços e
atendimento oferecidos pelo Município satisfaz plenamente as necessidades da
populaçã o do local denominado Cracolâ ndia, de modo que nã o resta configurada
omissã o da Municipalidade” (fls. 261), nã o está sendo verificado o adequado
acolhimento socioasstencial.

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Em razã o do descumprimento da liminar, requer-se o fornecimento de
todos os contratos vigentes e firmados com associaçõ es civis para prestaçã o de
serviço social no â mbito da proteçã o social bá sica e especial; e a aplicaçã o de multa
diá ria no valor de dez mil reais, conforme determinado por esse D. Juízo, a incidir
até que o Poder Pú blico Municipal comprove o atendimento da liminar quanto a
isso.

D. O atendimento à saúde prestado pela contestante não prioriza


os recursos comunitários e extra hospitalares, predominando, ao contrário
do art. 4º, caput, da Lei Federal 10.216/01, o atendimento na modalidade de
internação psiquiátrica (DOC. 04 –RELATÓRIO CONJUNTO DE INSPEÇÕES).

Conforme narra a contestaçã o, sã o mais de três mil vagas para


internaçõ es psiquiá tricas (fls. 247). O ú nico CAPS AD III instalado é o conhecido
“CAPS contêiner” ou “CAPS lata” 8, contêiner dividido em três partes que funciona
sem atendimento psicoló gico e de serviço social, sem projeto terapêutico singular
(característica essencial do CAPS e do atendimento de saú de mental em geral).

O processo de fiscalizaçã o promovido por diversos ó rgã os e entidades


do sistema de garantia de direitos, entre eles a Defensoria Pú blica, constatou o
cará ter asilar dos leitos em hospitais psiquiá tricos contratados no â mbito do
Projeto Redençã o, ante a ausência de serviços médico adequado, de assistência
social, psicoló gico, ocupacional, de lazer, entre outros, o que é proibido pelo art. 4º,
§ 3º, da Lei Federal 10.216/2001.

Conforme o anexo Relató rio (DOC. 04), a equipe da Defensoria Pú blica


nã o verificou casos de internaçã o contra a vontade da pessoa, sendo concedida alta
a pedido sempre que solicitada. Contudo, a liberaçã o nã o ocorre aos finais de

8
“Unidade Avançada CAPS III AD -Complexo Prates”. Atualmente denominado “Dispositivo Helvétia”.
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semana e nã o há médico permanentemente no local para autorizar a alta. Além
disso, após solicitar todos os prontuários administrativos a partir de 21 de
maio de 2017 na Casa São João de Deus, da aná lise dos documentos se verificou
que os termos de consentimento nã o se apresentam em conformidade com a
legislaçã o civil, pois alguns nã o estã o datados e/ou nã o estã o adequadamente
preenchidos, ou seja, estã o formalmente irregulares.

Além da irregularidade do termo de consentimento, é preciso registrar


que nã o se trata de consentimento informado, pois o termo nã o contém
informaçõ es de interesse do paciente sobre o atendimento que será realizado e,
portanto, nã o se sabe se existe, de fato, consentimento da pessoa que o assina
sobre as condiçõ es do tratamento. Além disso, em atendimento dos pacientes,
relataram desconhecer os termos da internaçã o psiquiá trica.

É preciso destacar, ainda, que a voluntariedade das internaçõ es pode


ser discutida na medida em que os relatos demonstram que os pacientes buscam
um lugar está vel e seguro para permanecer e almejam acessar meios de
capacitaçã o e de trabalho, tudo pela via da internaçã o psiquiá trica; porém, ao
ingressarem na instituiçã o nã o recebem informaçõ es nem participam de um
projeto terapêutico singular que articule açõ es de atendimento à s necessidades
específicas de cada um, inclusive das necessidades de moradia está vel e de
trabalho.

Há uma carência de pessoal nas equipes de saú de e de assistência


social. A falta de médicos é evidente e compromete a saú de dos pacientes e os
objetivos da internaçã o. Também se notou nú mero insuficiente de equipes de
enfermagem, de serviço social e de psicologia, comprometendo o desenvolvimento
de um projeto terapêutico individualizado capaz de criar condiçõ es para que a
pessoa internada, ao voltar para a sociedade, tenha elementos internos e externos

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que a ajudem a reconstruir a sua vida de modo digno, conforme seus desejos
pessoais. Outro ponto problemá tico é a ociosidade dos pacientes, que passam a
maior parte do dia dormindo, comendo e vendo televisã o.

O ciclo de inspeçõ es do qual participaram diversas instituiçõ es


(COMUDA, CREMESP, COREN, CONDEPE, CRP, CRESS, MPE e DPE) demonstra que a
internaçã o sem consentimento informado é um padrã o; é um padrã o o
encaminhamento para internaçã o psiquiá trica sem risco à vida da pessoa ou de
terceiros; é também um padrã o a ausência de singularidade no tratamento; a
ausência de projeto terapêutico singular; a busca por moradia está vel e acesso a
renda; o retorno para internaçã o psiquiá trica; a ausência de fluxo/protocolo de
saída dos pacientes do hospital psiquiá trico, inclusive ausência de transporte; e a
utilizaçã o do SAMU para deslocamento sem urgência ou emergência que justifique
a utilizaçã o do efetivo.9

Por fim, é preciso esclarecer que as condiçõ es de tratamento da


dependência química – foco ú nico do internamento – conduzem para a
desconsideraçã o da singularidade das pessoas internadas, aspecto fundamental no
atendimento à saú de mental. A disponibilizaçã o de soluçã o ú nica (o internamento
para a desintoxicaçã o) a um grupo heterogêneo nega a pró pria essência do projeto
terapêutico singular. Portanto, é impossível sustentar a existência de um projeto
terapêutico singular no â mbito da internaçã o psiquiá trica focada na desintoxicaçã o
de todos/as os/as pacientes.

Em suma, as ações adotadas pelo Poder Público priorizam a


internação psiquiátrica, e tais internações estão ocorrendo em instituições
de caráter asilar, o que descumpre, além da legislação acima citada, o

9
O material escrito do ciclo de inspeçõ es está sendo produzido por todas as entidades participantes.
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próprio Projeto Redenção – vide EIXO Saúde a fls. 51 do documento 1 que
instrui a contestação.

Nessa linha, é preciso ressaltar que a Convençã o de Nova York


(Convençã o sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência – art. 12) reconhece a
capacidade jurídica e o consentimento livre e informado das pessoas com
deficiência, além da igualdade de direitos em relaçã o à integridade mental e física,
o direito de ser livre de tortura e qualquer tratamento desumano, degradante ou
cruel (arts. 12, 25 ,17 e 15).

Muito antes da Convençã o de Nova York ser aprovada, o Comentá rio


Geral nº 14 do Comitê de Direitos Econô micos e Culturais da ONU, editado no ano
de 2000, sobre o direito à saú de, o direito de nã o ser submetido a tratamento
médico nã o consensual foi reconhecido como uma das liberdades incorporadas ao
direito da obtençã o do mais alto padrã o de saú de10.

O Comentá rio Geral nº 20 do Comitê DESC sobre a nã o discriminaçã o


em relaçã o a direitos econô micos, sociais e culturais, já sob a ó tica da Convençã o
de Nova York, traz a ideia que a saú de da pessoa nã o pode ser um ó bice para a
realizaçã o de direitos sociais, vez que muitas vezes a saú de pú blica é citada como
fundamento para limitaçã o de tais direitos. Assim, os Estados devem adotar
medidas que enfrentam a estigmatizaçã o de pessoas com problemas de saú de, o
que está incluído as que fazem uso problemá tico de drogas11.

10
U.N. Econ. & Soc. Council [ECOSOC], Comm. on Econ., Soc., & Cultural Rights, General Comment No. 14:
Substantive Issues Arising in the Implementation of the International Covenant on Economic, Social and
Cultural Rights, §8, U.N. Doc. E/C.12/2000/4 (Aug. 11, 2000) [hereinafter General Comment No. 14].
11
UNITED NATIONS. COMMITTEE ON ECONOMIC, SOCIAL AND CULTURAL RIGHTS. General Comment No. 20
(2009). Non-discrimination in economic, social and cultural rights (art. 2, para. 2, of the International Covenant
on Economic, Social and Cultural Rights). E/C.12/GC/20. 2 July 2009. disponível em
http://docstore.ohchr.org/SelfServices/FilesHandler.ashx?
enc=4slQ6QSmlBEDzFEovLCuW1a0Szab0oXTdImnsJZZVQdqeXgncKnylFC
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25
O art. 25 trata do princípio do consentimento livre e informado para
cuidados de saú de. Segundo a norma, os Estados devem garantir profissionais
médicos (incluindo psiquiatras) para obter o consentimento livre e informado, nã o
sendo admitida tomada de decisõ es substituídas, sendo que as pessoas com
deficiência devem participar diretamente da consulta para tomada de decisã o,
sendo que eventuais assistentes ou pessoas de suporte nã o substituam ou tenham
influência indevida nas decisõ es tomadas por pessoas com deficiência. 12

O art. 25 da Convençã o buscou assegurar o direito à saú de tomando por


base o consentimento livre e informado da pessoa com deficiência, em igualdade
com os demais membros da sociedade. Assim, qualquer limitaçã o ao direito ao
consentimento livre e informado aplicá vel apenas à s pessoas com deficiência ou
que apenas as afetasse constituiria discriminaçã o, de modo que prá ticas em tal
sentido teriam que ser abolidas.

Por sua vez, a Lei Federal nº 10.216/2001prevê como direitos das


pessoas com transtornos mentais o acesso ao melhor tratamento do sistema de
saú de, consentâ neos, de ser tratada com humanidade e respeito e no interesse
exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na
família, no trabalho e na comunidade à s suas necessidades; o de ser tratada em
ambiente terapêutico pelos  meios menos invasivos possíveis e o de ser
tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental (artigo 2º,
pará grafo ú nico, incisos I, II, VIII, IX).

%2BlzJjLZGhsosnD23NsgR1Q1NNNgs2QindRvh9u9KQV6R%2Bo3nU%2FjZ%2BjGCkJ8Qmosooxr8fbCC0 .
Acessado em 15/04/2017. Pgs. 8 e 9.
12
Disponível em http://www.ohchr.org/Documents/HRBodies/CRPD/14thsession/GuidelinesOnArticle
14.doc
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Ao prever como direito da pessoa com transtorno mental que o
tratamento vise exclusivamente beneficiar sua saú de, bem como que isso ocorra
pelos meios menos invasivos possíveis, preferencialmente em serviços
comunitá rios de saú de mental, a Lei Federal nº 10.216/2001 traçou que a regra é o
tratamento ambulatorial, com o sujeito em liberdade, sendo que a internaçã o
psiquiá trica somente será indicada quando as tentativas de tratamento extra-
hospitalares se mostrarem insuficientes (artigo 4º, caput).

Ademais, para a realizaçã o de TODAS as modalidades de internaçã o


psiquiá trica previstas na Lei Federal nº 10.216/2001 (artigo 6º, pará grafo ú nico) é
necessá rio um laudo médico circunstanciado e prévio que justifique a necessidade
da internaçã o psiquiá trica da pessoa (artigo 6º, caput) no contexto do projeto
terapêutico individualizado (artigo 22, III, da Lei nº 11.343/2006).

Desse modo, a internaçã o psiquiá trica constitui medida de atençã o à


saú de extrema e excepcional, pois implica na restriçã o à liberdade e excepciona o
princípio de respeito à autonomia do sujeito contido na legislaçã o citada.

Este entendimento é amparado, ainda, pelo preceito do livre


consentimento informado contido no Có digo Civil/2002: “Art. 15. Ninguém pode
ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a
intervençã o cirú rgica.”

Desse modo, há necessidade do consentimento informado do


paciente para toda e qualquer intervenção médica sobre o seu corpo, já que
tem o direito de recusá-la mesmo que esteja vivenciando situação de risco de
vida.

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O mestre Á lvaro Villaça Azevedo é categó rico ao afirmar que mesmo
quando haja “iminente perigo de vida”, a autonomia do paciente, ainda assim, deve
ser preservada e respeitada: “... a enfermidade do paciente, por mais grave que
seja, nã o lhe retira o status de ser humano e, consequentemente, sua autonomia
para agir com dignidade (...). Diante disso, a autonomia do paciente deve ser
preservada ainda que sua enfermidade crie uma situaçã o emergencial.13

Ainda, é preciso destacar que o Estado brasileiro já foi condenado pela


Corte Interamericana de Direitos Humanos a prestar assistência adequada à saú de
para pessoas em sofrimento mental. Ximenes Lopes versus Brasil é o caso
contencioso paradigmá tico sobre saú de mental no â mbito do sistema
interamericano de direitos humanos; o primeiro do gênero a ser submetido pela
Comissã o Interamericana de Direitos Humanos à apreciaçã o e julgamento pela
Corte Interamericana de Direitos Humanos. 14

Lê-se da sentença de 04 de julho de 2006 que “(...) a Corte considera


pertinente analisar certos aspectos relativos à violaçã o dos direitos consagrados
nos artigos 4 e 5 da Convençã o neste caso, já que esta é a primeira vez que o
Tribunal tem a oportunidade de se pronunciar sobre a violaçã o dos direitos de
uma pessoa portadora de deficiência mental. A Corte analisará o tema sob duas

13
AZEVEDO, Á lvaro Villaça. Autonomia do paciente e direito de escolha de tratamento médico sem tranfusão de
sangue. In Direitos do Paciente, Coord. Á lvaro Villaça Azevedo e Wilson Ricardo Ligeira. Saraiva: São Paulo,
2012, pag. 281
14
Sobre o acesso ao sistema interamericano de direitos humanos, merece destaque trabalho da “Casoteca
Latino-americana de Direito e Política Pú blica”, projeto entre Banco Interamericano de Desenvolvimento e
Escola de Direito da Fundação Getú lio Vargas. Caso Ximenes Lopes versus Brasil – Corte Interamericana de
Direitos Humanos: Relato e Reconstrução Jurisprudencial. O caso foi produzido no ano de 2007, por Cristiano
Paixã o. Ele destaca que: “A funçã o contenciosa da Corte refere-se à sua capacidade de resolver casos em
virtude do estabelecido nos artigos 61 e seguintes da Convençã o. Para que a Corte examine um caso é
necessá rio que primeiro tenha sido esgotado o procedimento perante a Comissã o. Uma vez esgotado o mesmo,
e respeitando os prazos estabelecidos pela Convençã o, a Comissão (sistema de petição individual) ou algum
Estado (sistema de petiçã o inter-estatal) pode submeter um caso perante a Corte sempre e quando o Estado
denunciado tenha aceitado a sua jurisdiçã o obrigató ria, ou aceite a sua jurisdição em caso concreto (artigo 62
da convençã o). O Brasil, Estado demandado no caso sob aná lise, ratificou a Convençã o Americana sobre
Direitos Humanos em 25 de setembro de 1992 e aceitou a jurisdição da Corte em 10 de dezembro de 1998”
(p.8/40).
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perspectivas: A) os direitos das pessoas portadoras de deficiência mental; e B) os
deveres do Estado com a relaçã o a essas pessoas.” 15 (par. 123, p. 50).

Hoje, Ximenes Lopes versus Brasil ainda se apresenta como o paradigma


jurídico da política pú blica de atençã o psicossocial e da interpretaçã o das normas
de atençã o psicossocial. Ainda em 2007, Flá via Piovesan pontuou que a decisã o da
Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre o caso “constitui uma decisã o
paradigmá tica para a defesa dos direitos das pessoas com deficiência mental e para
avanços na política pú blica de saú de mental” 16.

Sobre os “direitos da pessoa portadora de deficiência mental”, a Corte


salientou o “direito à vida e à integridade pessoal” e o “direito ao respeito à
dignidade e à autonomia das pessoas portadoras de deficiência mental a um
17
atendimento médico eficaz”. A obrigaçã o do Estado brasileiro de adotar
“medidas positivas” para proteçã o do direito à vida digna das pessoas com
sofrimento mental tem fundamento no dever de garantir o exercício do direito à
vida, previsto no artigo 1.1 da Convençã o Americana.18

19
Trata-se de prestaçã o positiva exigível do Estado. Para além da
obrigaçã o negativa de respeitar, isto é, de abster-se de violar o direito à vida e de
impedir que terceiros o façam, segundo a Corte Interamericana o Estado brasileiro

15
Acessível em http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_149_por.pdf. Ú ltimo acesso em
13/10/2015.
16
Flá via, P. Brasil e o Sistema Interamericano de Proteçã o dos Direitos Humanos: impacto, desafios e
perspectivas. Anuário Brasileiro de Direito Internacional. 2007, p. 5/21.
17
Idem, par. 124 a 136, p. 50-54.
18
“Os Estados Partes nesta Convençã o comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos
e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdiçã o, sem discriminaçã o
alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religiã o, opiniõ es políticas ou de qualquer outra natureza, origem
nacional ou social, posiçã o econô mica, nascimento ou qualquer outra condiçã o social.” (g.n.)
19
In Manual Prático de Direitos Humanos Internacionais. Coord. Sven Peterke, Brasília: Escola Superior do
Ministério Pú blico da Uniã o, 2009 p. 232. Acessível em file:///D:/manual_pratico_dh_internacionais.pdf.
Ú ltimo acesso em 13/10/2015.
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deve criar condiçõ es para o gozo de uma vida digna pelas pessoas com sofrimento
mental, adotando condutas que impliquem um fazer ou uma prestaçã o positiva.

No tocante ao direito à integridade pessoal a Corte afirmou,


expressamente, que a proteçã o desse direito “encerra a finalidade principal da
proibiçã o imperativa da tortura e penas ou tratamento cruéis, desumanos ou
degradantes”; citou jurisprudência da pró pria Corte Interamericana no sentido de
que “essa proibiçã o pertence hoje ao domínio do ius cogens”, ou seja, “o direito à
integridade pessoal nã o pode ser suspenso em circunstâ ncia alguma” (par. 126, p.
51). Anote-se, neste passo, que a integridade pessoal, segundo a Corte
Interamericana de Direitos Humanos, abrange tanto a integridade física como a
moral e psíquica (par. 127, p. 51).

Destaque-se que, sob a perspectiva do caso analisado, a


responsabilidade do Estado nã o foi reconhecida apenas pela violência sofrida por
Damiã o Ximenes Lopes por conduta da equipe de saú de da “Casa de Repouso
Guararapes”. A condenaçã o do Estado brasileiro também decorreu do serviço
inadequado de saú de mental, prestado pelo centro de saú de conveniado com o
Sistema Ú nico de Saú de, uma vez que violou os direitos da pessoa com sofrimento
mental “à dignidade e à autonomia (...) e a um atendimento médico eficaz” (item 2,
p. 52).

No caso, a Corte Interamericana considerou os aspectos do serviço de


atendimento médico prestados à vítima, reputando-os igualmente
caracterizadores da condiçã o degradante e indigna da hospitalizaçã o. Segue
síntese do contexto da hospitalizaçã o, nas palavras:
“A violência, no entanto, nã o era o ú nico obstá culo para a recuperaçã o
dos pacientes da Casa de Repouso Guararapes, mas também as
precá rias condiçõ es de manutençã o, conservaçã o e higiene, bem como
da assistência médica, igualmente constituíam uma afronta à dignidade
das pessoas ali internadas. Na Casa de Repouso Guararapes o
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armazenamento dos alimentos era inadequado; as condiçõ es higiênicas
e sanitá rias eram precá rias, os banheiros se achavam danificados, sem
chuveiro, lavató rio ou cesta de lixo, e o serviço sanitá rio se encontrava
sem cobertura nem higiene; nã o havia médico de plantã o, o
atendimento médico aos pacientes era frequentemente prestado na
recepçã o do hospital e algumas vezes nã o havia medicaçã o; faltavam
aparelhos essenciais na sala de emergência, tais como tubos de
oxigênio, “aspirador de secreçã o” e vaporizador; os prontuá rios
médicos nã o registravam a evoluçã o dos pacientes nem os relató rios
circunstanciados de acompanhamento que deviam apresentar os
profissionais de assistência social, psicologia, terapia ocupacional e
enfermagem; o proprietá rio do hospital nã o se encontrava presente de
maneira assídua, motivo por que era evidente a falta de administraçã o.
Em resumo, e conforme salientou a Comissã o de Sindicâ ncia instaurada
posteriormente à morte do senhor Damiã o Ximenes Lopes, a Casa de
Repouso Guararapes “nã o oferec[ia] as condiçõ es exigíveis e [era]
incompatível com o exercício ético-profissional da medicina” (par.
112.56, 112.57, 112.61, 112.63, 112.64 e 112.65 supra).” (par. 120, p.
50)

O contexto fá tico do caso, acima destacado, esboça os contornos de um


tratamento de saú de mental inadequado ou atendimento médico ineficaz. Trata-se
de um serviço de saú de desprovido da necessá ria infraestrutura física e de equipe
multidisciplinar efetivamente capacitada e em nú mero suficiente para prestar
serviço adequado.

Pois bem. No caso Ximenes Lopes versus Brasil, a Corte Interamericana


de Direitos Humanos reconheceu expressamente o direito da pessoa com
sofrimento mental a um “atendimento médico eficaz” e, portanto, o dever do
Estado de prestá -lo (par. 128, p. 52). Nas palavras da Corte:“Os Estados têm o
dever de assegurar atendimento médico eficaz à s pessoas portadoras de
deficiência mental. Essa obrigaçã o se traduz no dever estatal de assegurar seu
acesso a serviços de saú de bá sicos; à promoçã o da saú de mental; à prestaçã o de
serviços dessa natureza que sejam o menos restritivo possível; e à prevençã o das
deficiências mentais.”

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Assim decidindo, a Corte Interamericana de Direitos Humanos
reconheceu que o fornecimento de serviço de saú de mental desprovido de
infraestrutura profissional e material, por si só , viola dever do Estado com relaçã o
aos direitos da pessoa com sofrimento mental previstos na Convençã o Americana
de Direitos Humanos, a saber: artigo 1.1 da Convençã o Americana, que prevê o
dever de respeitar e garantir os direitos enunciados nos artigos 4.1. e 5.2. do
mesmo tratado (direitos à vida e à integridade pessoal), bem do artigo 2 da
Convençã o, que impõ e “a supressã o das normas e prá ticas de qualquer natureza
que impliquem violaçã o das garantias previstas na Convençã o e (...) a expediçã o de
normas e o desenvolvimento de prá ticas que levem à efetiva observâ ncia dessas
garantias” (par. 83, p. 25).

A fundamentaçã o da sentença se esmera na principiologia vista em


documentos de soft law do sistema ONU de proteçã o dos direitos humanos, como,
por exemplo, os “Princípios para a Proteçã o dos Doentes Mentais e para a Melhoria
do Atendimento de Saú de Mental”, “Dez Princípios Bá sicos das Normas para o
Atendimento da Saú de Menta” e “Normas Uniformes sobre Igualdade de
Oportunidades para as Pessoas Portadoras de Deficiência”. 20 Isto é, para aferir a
adequaçã o do tratamento médico dispensado à pessoa com sofrimento mental, a
Corte Interamericana se pautou nos princípios de direitos humanos que compõ em
a soft law do sistema ONU.

Além disso, a fundamentaçã o do dever de garantir tratamento médico


adequado igualmente se pautou na “Convençã o Interamericana para a Eliminaçã o
de Todas as Formas de Discriminaçã o contra as Pessoas Portadoras de
Deficiência”. A Corte Interamericana destacou que

20
Cf. par. 111, p. 50.

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“Ao analisar as violaçõ es à vida e à integridade pessoal em detrimento
do senhor Damiã o Ximenes Lopes, a Corte invocará a Convençã o
Interamericana para a Eliminaçã o de Todas as Formas de Discriminaçã o
contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, instrumento que faz parte
do marco normativo de proteçã o dos direitos humanos no sistema
interamericano, e que foi ratificado pelo Estado em 15 de agosto de
2001, como fonte de interpretaçã o para determinar as obrigaçõ es do
Estado relacionadas com a Convençã o Americana neste caso.”

De outro lado, o atendimento médico eficaz, enquanto direito da pessoa


com sofrimento mental, igualmente se relaciona com o direito à autonomia que
decorre dos direitos à vida e à integridade pessoal enunciados na Convençã o
Americana. Isto porque, segundo a Corte Interamericana de Direitos Humanos, a
regra é a presunçã o de autonomia da pessoa com sofrimento mental, e qualquer
tratamento de saú de que negue a capacidade de autodeterminaçã o implica
violaçã o do direito à autonomia. 21

A Corte entende legalmente admitida a internaçã o apenas como “ú ltimo


recurso”, para “proteger o paciente, ou o pessoal médico e terceiros”, quando o
comportamento do paciente representar uma “ameaça à segurança daqueles”,
devendo ser realizada “por pessoal qualificado” (par. 134, p. 53); e, ainda, “pelo
método de sujeiçã o que seja menos restritivo, depois de uma avaliaçã o de sua
necessidade, pelo período que seja absolutamente necessá rio, e em condiçõ es que
respeitem a dignidade do paciente e que minimizem os riscos de deterioraçã o de
sua saú de” (par. 135, p. 53).

Assim, a relativizaçã o temporá ria da autonomia da pessoa com


sofrimento mental deve ocorrer, exclusivamente, para afastar risco à segurança
pessoal dele, paciente, ou de terceiros.

21
“A deficiência mental, entretanto, não deve ser entendida como uma incapacidade para que a pessoa de
determine e deve ser aplicada a presunçã o de que as pessoas portadoras desse tipo de deficiências sã o capazes
de expressar sua vontade, a qual deve ser respeitada pelo pessoal médico e pelas autoridades.” (par. 130, p.
52).
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A decisã o da Corte Interamericana de Direitos Humanos, assim, reforça
o entendimento de que a internaçã o psiquiá trica, inclusive a voluntá ria, somente é
admitida se e quando houver risco à vida da pessoa ou de terceiros, devidamente
constatado por médico psiquiatra em relató rio circunstanciado que indique os
seus motivos (art. 6º da Lei 10.216/01), apó s o esgotamento dos recursos extra
hospitalares – conforme art. 4º, caput, da Lei Federal 10.216/01, que exige o
esgotamento dos recursos extra hospitalares para qualquer modalidade de
internação22.

Em razã o do descumprimento, requer-se imediata disponibilizaçã o


fluxo de atendimento na rede comunitá ria de saú de mental, e a comprovaçã o de
que está havendo internaçã o psiquiá trica com consentimento livre e esclarecido,
sob pena de aplicaçã o de multa diá ria no valor de dez mil reais, conforme
determinado por esse D. Juízo, a incidir até que o Poder Pú blico Municipal
comprove o atendimento da liminar quanto a isso.

7. A partir da exposiçã o supra acerca dos pontos que demonstram o


descumprimento da liminar deferida por esse D. Juízo, é preciso alargar a
discussã o para abranger aspectos conceituais essenciais dos serviços em questã o e
das respectivas normas que norteiam as políticas pú blicas de referência.

III – ESPECIFICAÇÃO DE PROVAS:

Diante da determinaçã o para especificaçã o de provas, requer-se a


produçã o de prova testemunhal e documental – principalmente a juntada de
documentos novos que nã o tenham sido oficialmente concluídos ao tempo desta
manifestaçã o.

22
“Art. 4o A internaçã o, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-
hospitalares se mostrarem insuficientes.”
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IV – REQUERIMENTOS:

Ante o exposto, reiterando-se os fundamentos da inicial requer-se,


além da a procedência dos pedidos, o reconhecimento de que houve
descumprimento da liminar, determinando-se à Municipalidade de Sã o Paulo
que:

A. Disponibilize imediatamente o acesso das pessoas aos bens existentes no


interior dos prédios bloqueados, com aplicaçã o de multa diá ria no valor
de dez mil reais, conforme determinado por esse D. Juízo, a incidir até
que o Poder Pú blico Municipal comprove o atendimento da liminar
quanto a isso.

B. Forneça relató rio cadastral completo do atendimento habitacional (caso


este tenha sido elaborado) ou realize outro cadastramento da populaçã o; e
a imediata disponibilizaçã o de alternativa de moradia à s pessoas que estã o
na regiã o abrangida pela liminar (item 4 desta réplica), com aplicaçã o de
multa diá ria no valor de dez mil reais, conforme determinado por esse D.
Juízo, a incidir até que o Poder Pú blico Municipal comprove o atendimento
da liminar quanto a isso.

C. Forneça todos os contratos vigentes e firmados com associaçõ es civis para


prestaçã o de serviço social no â mbito da proteçã o social bá sica e especial
no â mbito do Projeto Redençã o; e a aplicaçã o de multa diá ria no valor de
dez mil reais, conforme determinado por esse D. Juízo, a incidir até que o
Poder Pú blico Municipal comprove o atendimento da liminar quanto a isso.

D. Forneça todos os contratos vigentes e firmados com associaçõ es civis para


prestaçã o de serviço de saú de no â mbito do Projeto Redençã o; a
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disponibilizaçã o fluxo de atendimento na rede comunitá ria de saú de
mental, e a comprovaçã o de que está havendo internaçã o psiquiá trica com
consentimento livre e esclarecido, sob pena de aplicaçã o de multa diá ria no
valor de dez mil reais, conforme determinado por esse D. Juízo, a incidir até
que o Poder Pú blico Municipal comprove o atendimento da liminar quanto
a isso.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Sã o Paulo, 27 de setembro de 2017.

Defensor(a) Pú blico(a)
Unidade de XXXXXXXXX

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