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Autos nº XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Aliá s, a situaçã o caó tica aventada em contestaçã o (fl. 245), com base em
equivocado quadro descritivo da cena, desconsidera, além da mais ampla e
consistente pesquisa de â mbito nacional já realizada (doc. 2), a abordagem do
pró prio Projeto Redençã o (fls. 38/43 do Documento 1 que instrui a contestaçã o);
desconsidera, absolutamente, o histó rico que norteia a concentraçã o de pessoas na
á rea, o insucesso das intervençõ es policiais ali promovidas desde o ano 1986 e o
diagnó stico de vulnerabilidade dos grupos de pessoas envolvidos.
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Vide fls. 46 do Documento 1 que instrui a contestação, onde consta ilustraçã o de Etapas 1 a 4: Etapa 1
(Contato inicial, cadastro, avaliaçã o e encaminhamento); Etapa 2 (Proporcionar acesso aos serviços e
encaminhamentos oferecidos pelas políticas pú blicas de referência); Etapa 3 (Acompanhamento do
restabelecimento individual dos beneficiá rios); Etapa 4 (Requalificaçã o da regiã o com açõ es de urbanismo e
zeladoria).
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Referido Relató rio foi produzido entre Julho e Agosto de 2017, a partir
do ciclo de inspeçõ es na Casa Sã o Joã o de Deus, Hospital Cantareira, Hospital Nossa
Senhora do Caminho e Casa de Saú de Nossa Senhora de Fá tima, realizadas
diretamente pelo COMUDA (Conselho Municipal de Políticas de Drogas e Á lcool de
Sã o Paulo), MINISTÉ RIO PÚ BLICO, DEFENSORIA PÚ BLICA, CREMESP (Conselho
Regional de Medicina de Sã o Paulo), CRP (Conselho Regional de Psicologia); CRESS
(Conselho Regional de Serviço Social) e COREN (Conselho Regional de
Enfermagem)
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Art. 5o Sã o princípios da Política Nacional para a Populaçã o em Situação de Rua, além da igualdade e
equidade: I - Respeito à dignidade da pessoa humana; (...) IV - Atendimento humanizado e
universalizado; Art. 6o Sã o diretrizes da Política Nacional para a Populaçã o em Situação de Rua:
I - Promoção dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais;
II - Responsabilidade do poder público pela sua elaboração e financiamento; Art. 7o Sã o objetivos da
Política Nacional para a Populaçã o em Situação de Rua: I - Assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro
aos serviços e programas que integram as políticas pú blicas de saú de, educaçã o, previdência, assistência
social, moradia, segurança, cultura, esporte, lazer, trabalho e renda; (...) XI - adotar padrão básico de
qualidade, segurança e conforto na estruturação e reestruturação dos serviços de acolhimento
temporários, de acordo com o disposto no art. 8o; XII - implementar centros de referência especializados
para atendimento da populaçã o em situaçã o de rua, no âmbito da proteçã o social especial do Sistema Ú nico de
Assistência Social; Art. 8o O padrão básico de qualidade, segurança e conforto da rede de acolhimento
temporário deverá observar limite de capacidade, regras de funcionamento e convivência, acessibilidade,
salubridade e distribuiçã o geográ fica das unidades de acolhimento nas á reas urbanas, respeitado o direito de
permanência da populaçã o em situaçã o de rua, preferencialmente nas cidades ou nos centros urbanos. (...)
§ 4o A rede de acolhimento temporário existente deve ser reestruturada e ampliada para incentivar
sua utilização pelas pessoas em situação de rua, inclusive pela sua articulação com programas de
moradia popular promovidos pelos Governos Federal, estaduais, municipais e do Distrito Federal.
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“Unidade Avançada CAPS III AD -Complexo Prates”. Atualmente denominado “Dispositivo Helvétia”.
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semana e nã o há médico permanentemente no local para autorizar a alta. Além
disso, após solicitar todos os prontuários administrativos a partir de 21 de
maio de 2017 na Casa São João de Deus, da aná lise dos documentos se verificou
que os termos de consentimento nã o se apresentam em conformidade com a
legislaçã o civil, pois alguns nã o estã o datados e/ou nã o estã o adequadamente
preenchidos, ou seja, estã o formalmente irregulares.
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O material escrito do ciclo de inspeçõ es está sendo produzido por todas as entidades participantes.
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próprio Projeto Redenção – vide EIXO Saúde a fls. 51 do documento 1 que
instrui a contestação.
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U.N. Econ. & Soc. Council [ECOSOC], Comm. on Econ., Soc., & Cultural Rights, General Comment No. 14:
Substantive Issues Arising in the Implementation of the International Covenant on Economic, Social and
Cultural Rights, §8, U.N. Doc. E/C.12/2000/4 (Aug. 11, 2000) [hereinafter General Comment No. 14].
11
UNITED NATIONS. COMMITTEE ON ECONOMIC, SOCIAL AND CULTURAL RIGHTS. General Comment No. 20
(2009). Non-discrimination in economic, social and cultural rights (art. 2, para. 2, of the International Covenant
on Economic, Social and Cultural Rights). E/C.12/GC/20. 2 July 2009. disponível em
http://docstore.ohchr.org/SelfServices/FilesHandler.ashx?
enc=4slQ6QSmlBEDzFEovLCuW1a0Szab0oXTdImnsJZZVQdqeXgncKnylFC
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O art. 25 trata do princípio do consentimento livre e informado para
cuidados de saú de. Segundo a norma, os Estados devem garantir profissionais
médicos (incluindo psiquiatras) para obter o consentimento livre e informado, nã o
sendo admitida tomada de decisõ es substituídas, sendo que as pessoas com
deficiência devem participar diretamente da consulta para tomada de decisã o,
sendo que eventuais assistentes ou pessoas de suporte nã o substituam ou tenham
influência indevida nas decisõ es tomadas por pessoas com deficiência. 12
%2BlzJjLZGhsosnD23NsgR1Q1NNNgs2QindRvh9u9KQV6R%2Bo3nU%2FjZ%2BjGCkJ8Qmosooxr8fbCC0 .
Acessado em 15/04/2017. Pgs. 8 e 9.
12
Disponível em http://www.ohchr.org/Documents/HRBodies/CRPD/14thsession/GuidelinesOnArticle
14.doc
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Ao prever como direito da pessoa com transtorno mental que o
tratamento vise exclusivamente beneficiar sua saú de, bem como que isso ocorra
pelos meios menos invasivos possíveis, preferencialmente em serviços
comunitá rios de saú de mental, a Lei Federal nº 10.216/2001 traçou que a regra é o
tratamento ambulatorial, com o sujeito em liberdade, sendo que a internaçã o
psiquiá trica somente será indicada quando as tentativas de tratamento extra-
hospitalares se mostrarem insuficientes (artigo 4º, caput).
13
AZEVEDO, Á lvaro Villaça. Autonomia do paciente e direito de escolha de tratamento médico sem tranfusão de
sangue. In Direitos do Paciente, Coord. Á lvaro Villaça Azevedo e Wilson Ricardo Ligeira. Saraiva: São Paulo,
2012, pag. 281
14
Sobre o acesso ao sistema interamericano de direitos humanos, merece destaque trabalho da “Casoteca
Latino-americana de Direito e Política Pú blica”, projeto entre Banco Interamericano de Desenvolvimento e
Escola de Direito da Fundação Getú lio Vargas. Caso Ximenes Lopes versus Brasil – Corte Interamericana de
Direitos Humanos: Relato e Reconstrução Jurisprudencial. O caso foi produzido no ano de 2007, por Cristiano
Paixã o. Ele destaca que: “A funçã o contenciosa da Corte refere-se à sua capacidade de resolver casos em
virtude do estabelecido nos artigos 61 e seguintes da Convençã o. Para que a Corte examine um caso é
necessá rio que primeiro tenha sido esgotado o procedimento perante a Comissã o. Uma vez esgotado o mesmo,
e respeitando os prazos estabelecidos pela Convençã o, a Comissão (sistema de petição individual) ou algum
Estado (sistema de petiçã o inter-estatal) pode submeter um caso perante a Corte sempre e quando o Estado
denunciado tenha aceitado a sua jurisdiçã o obrigató ria, ou aceite a sua jurisdição em caso concreto (artigo 62
da convençã o). O Brasil, Estado demandado no caso sob aná lise, ratificou a Convençã o Americana sobre
Direitos Humanos em 25 de setembro de 1992 e aceitou a jurisdição da Corte em 10 de dezembro de 1998”
(p.8/40).
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perspectivas: A) os direitos das pessoas portadoras de deficiência mental; e B) os
deveres do Estado com a relaçã o a essas pessoas.” 15 (par. 123, p. 50).
19
Trata-se de prestaçã o positiva exigível do Estado. Para além da
obrigaçã o negativa de respeitar, isto é, de abster-se de violar o direito à vida e de
impedir que terceiros o façam, segundo a Corte Interamericana o Estado brasileiro
15
Acessível em http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_149_por.pdf. Ú ltimo acesso em
13/10/2015.
16
Flá via, P. Brasil e o Sistema Interamericano de Proteçã o dos Direitos Humanos: impacto, desafios e
perspectivas. Anuário Brasileiro de Direito Internacional. 2007, p. 5/21.
17
Idem, par. 124 a 136, p. 50-54.
18
“Os Estados Partes nesta Convençã o comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos
e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdiçã o, sem discriminaçã o
alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religiã o, opiniõ es políticas ou de qualquer outra natureza, origem
nacional ou social, posiçã o econô mica, nascimento ou qualquer outra condiçã o social.” (g.n.)
19
In Manual Prático de Direitos Humanos Internacionais. Coord. Sven Peterke, Brasília: Escola Superior do
Ministério Pú blico da Uniã o, 2009 p. 232. Acessível em file:///D:/manual_pratico_dh_internacionais.pdf.
Ú ltimo acesso em 13/10/2015.
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deve criar condiçõ es para o gozo de uma vida digna pelas pessoas com sofrimento
mental, adotando condutas que impliquem um fazer ou uma prestaçã o positiva.
20
Cf. par. 111, p. 50.
21
“A deficiência mental, entretanto, não deve ser entendida como uma incapacidade para que a pessoa de
determine e deve ser aplicada a presunçã o de que as pessoas portadoras desse tipo de deficiências sã o capazes
de expressar sua vontade, a qual deve ser respeitada pelo pessoal médico e pelas autoridades.” (par. 130, p.
52).
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A decisã o da Corte Interamericana de Direitos Humanos, assim, reforça
o entendimento de que a internaçã o psiquiá trica, inclusive a voluntá ria, somente é
admitida se e quando houver risco à vida da pessoa ou de terceiros, devidamente
constatado por médico psiquiatra em relató rio circunstanciado que indique os
seus motivos (art. 6º da Lei 10.216/01), apó s o esgotamento dos recursos extra
hospitalares – conforme art. 4º, caput, da Lei Federal 10.216/01, que exige o
esgotamento dos recursos extra hospitalares para qualquer modalidade de
internação22.
22
“Art. 4o A internaçã o, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-
hospitalares se mostrarem insuficientes.”
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IV – REQUERIMENTOS:
Nestes termos,
Pede deferimento.
Defensor(a) Pú blico(a)
Unidade de XXXXXXXXX