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Capítulo 3.

Avaliação do risco
OBJETIVO

- Saber como atuar em matéria preventiva baseando-se na avaliação de riscos.

3.1 Introdução

O objetivo da avaliação de risco em matéria de segurança e saúde é identificar


os perigos que possam provocar um acidente que cause dano à saúde, avaliar
seus riscos, medir a efetividade das medidas preventivas implantadas de modo
a se evitar sua ocorrência ou minimizar suas consequências, propondo
melhorias para a redução dos riscos avaliados (figura 3.1).

A avaliação de riscos é um processo pelo qual se obtém a


informação necessária de modo a ficar em condições de tomar
decisões sobre a necessidade ou não de adotar ações preventivas,
e em caso afirmativo, o tipo de ações a serem adotadas.

Figura 3.1: Sequência de etapas na avaliação do risco.

Trata-se de um processo contínuo, que para maior facilidade de sua gestão,


pode ser classificado de várias maneiras1:

- Com relação ao tempo:

- Avaliação inicial: é aquela que se efetua pela primeira vez em


uma empresa ou centro de trabalho, seja com motivo da
declaração de abertura, seja pela iniciação de um programa de
ação em matéria de segurança e saúde, e que constituirá a base
para avaliações posteriores e para a elaboração do plano de
atuação preventiva;

- Avaliação (propriamente dita): é aquela que se realiza quando


da escolha de equipamentos de trabalho, de substâncias ou de
preparados químicos e do acondicionamento dos locais de
trabalho;
- Avaliação atualizada: realiza-se em razão de modificações nas
condições de trabalho;

- Avaliação incidental: realiza-se quando ocorrendo acidentes ou


danos à saúde.

Quando o resultado da avaliação assim o aconselhar, o empresário


realizará controles periódicos das condições de trabalho buscando
detectar situações potencialmente perigosas.

- Com relação ao campo de aplicação:

- Avaliação geral: é aquela que abrange os aspectos mais gerais


dos locais e postos de trabalho, sem entrar em riscos que
requeiram procedimentos de avaliação mais complexos; por
exemplo, faz parte da avaliação geral a avaliação de riscos
derivados das superfícies de trabalho;

- Avaliação específica: é aquela que abrange aspectos mais


complexos que aqueles abrangidos pela avaliação geral, e que
habitualmente requerem sistemas de avaliação próprios. Por
exemplo, a avaliação de riscos derivados da exposição a agentes
químicos ou a avaliação de riscos acarretados pelas máquinas.

Para efetuar uma avaliação de riscos é preciso conhecer os requisitos legais


relacionados ao tema e ao desenvolvimento do processo de avaliação 2. Nesse
contexto, é fundamental conhecer os textos legais que a determinam,
buscando poder aplicar corretamente os métodos de avaliação existentes e
compreender como se há de executar tal processo.

Na avaliação do risco se aplicam diferentes métodos de análise segundo se


tenham riscos causas de incidente laboral, enfermidade profissional, fadiga,
etc., pois nem todos são avaliáveis do mesmo modo. No entanto, ainda que as
metodologias apresentadas a seguir possam se aplicar a qualquer situação de
análise ou avaliação de riscos (seções, áreas, postos de trabalho, etc.), em
realidade voltam-se à avaliação inicial do risco.
1
Na Espanha, de acordo com o artigo 16 da Lei 31/1995, de 8 de novembro, de Prevenção de Riscos Laborais.
2
Na Espanha, os preceitos legais que guardam relação mais evidente nesse item são os artigos 3 e 4.2 da Lei de
Prevenção de Riscos Laborais (31/1995, de 8 de novembro, e suas modificações posteriores, principalmente pela Lei
54/2003) e pelo capítulo l i. Avaliação dos riscos e planificação da atividade preventiva (arts. 3 a 9) do Regulamento
dos Serviços de Prevenção (RD 39/1997, de 17 de janeiro).

3.2 Análise e avaliação do risco

A avaliação de riscos comporta a existência de duas partes diferenciadas:

- a análise de riscos; e
- a avaliação de riscos.

3.2.1 Análise de riscos


A análise de riscos implica as seguintes fases:

a) identificar o perigo, entendendo como tal toda fonte ou situação com


capacidade de dano em termos de lesões, danos à propriedade, danos
ao meio ambiente, ou ainda uma combinação de ambos1; e

b) estimar o risco, entendendo como tal a combinação da frequência ou


probabilidade e das consequências que se podem derivar da positivação
de um perigo. A estimativa do risco implica o ter que avaliar a
probabilidade e as consequências de positivação do risco.
1
OSHAS 18001 :2007 suprime a extensão a "danos à propriedade" e a "danos no ambiente de trabalho".

3.2.2 Avaliação do risco

Após efetuar a análise de riscos, e com a ordem de magnitude obtida para o


risco, há que avaliá-lo, ou seja, emitir um parecer sobre sua tolerabilidade ou
não, falando de risco controlado em caso afirmativo e finalizando com isso o
processo de avaliação.

Não termina com isso a atuação, mas devendo manter-se em dia, o que implica
que qualquer mudança significativa em um processo ou atividade de trabalho
deva conduzir a uma revisão da avaliação1.

Se na avaliação do risco chegar-se à conclusão de não ser ele aceitável, há


que controlá-lo, requerendo-se para isso:

- reduzir o risco por modificações no processo, produto ou máquina, e/ou


a implantação de medidas adequadas; e

- a verificação periódica das medidas de controle tomadas.

Ao processo conjunto de avaliação do risco e controle do risco se denomina


gestão do risco, sendo contemplada esquematicamente na figura 3.2.

Figura 3.2 Gestão do risco.


1
Assim fica estabelecido na Lei espanhola 31 /95, de Prevenção de Riscos Laborais, ao estabelecer como obrigação
do empresário a atualização das avaliações quando mudando as condições de trabalho.

3.3 Alternativas para a avaliação do risco


Na hora de efetuar a avaliação de riscos, podemos nos deparar com alguma
das seguintes alternativas:

a) riscos para os quais há uma legislação específica;

b) riscos para os quais não há uma legislação específica, mas normas


internacionais, europeias, nacionais ou de organismos oficiais ou de
outras entidades de reconhecido prestígio;

c) riscos que exigem métodos de avaliação especiais.

d) riscos de caráter geral.

3.3.1 Avaliação do risco para a qual há legislação específica

Muitos dos perigos que se podem apresentar em um posto de trabalho estão


ligados às próprias instalações e aos equipamentos; por exemplo, o perigo de
explosão de aparelhos sob pressão, o derivado das instalações elétricas, entre
outros.

Para muitos deles se desenvolveu uma legislação específica, nacional,


estadual ou municipal, a regular as características a serem cumpridas, sendo
esse o caso do Regulamento de Aparelhos sob Pressão ou do Regulamento
Eletrotécnico (Espanha), por exemplos.

Os citados regulamentos estipulam uma série de características de obrigatório


cumprimento, tais como a autorização para o funcionamento, as revisões
periódicas, as inspeções, assim como as características a serem reunidas
pelos instaladores autorizados.

O cumprimento dessas legislações implica que os riscos derivados de tais


instalações ou equipamentos estejam controlados, razão pela qual não se
considera necessário realizar uma avaliação, mas se devendo garantir se
cumprem estritamente todos os requisitos contemplados pela legislação.

3.3.2 Avaliação do risco para os quais há normas e guias, entre outros

Em muitas ocasiões, certificamo-nos de que para a avaliação de riscos há


normas ou guias técnicos estabelecendo o procedimento de avaliação e
inclusive, em alguns casos, os níveis máximos de exposição recomendados.

Como exemplo pode-se citar a Norma ENV 50166, sobre exposição a campos
eletromagnéticos entre 0 e 10 kHz, e entre 10 kHz e 300 Ghz, que facilita:

- o procedimento de medição de campos eletromagnéticos;


- os níveis de exposição recomendados;
- os métodos de controle de exposição.
A partir da publicação da Diretriz 89/391/CE 1, na qual se definiam as diretrizes
a seguir para efetuar a avaliação de riscos, apareceram diferentes
metodologias para a avaliação inicial de riscos, ainda que todas elas baseadas
no documento "Diretrizes para a avaliação de riscos no local de trabalho",
publicado pela Comissão Europeia.

Essas metodologias buscam cumprir um duplo objetivo:

- avaliar o risco; e
- priorizar as necessidades de atuação na melhoria das condições de
trabalho.

E podendo ser classificadas em função das entidades criadoras,


exemplificando-se, na Espanha:

- Oficiais:

- Instituto Nacional de Seguridad y Higiene en el Trabajo


(INSIHT);
- Método de la Generalitat de Catalunya;
- Manual de auditoria interna de la Generalitat de Catalunya.

- Particulares:

- Associação para a prevenção de acidentes.


- Entidades de assistência privada.

- Outras.

Não obstante, todas elas seguem algumas diretrizes comuns, resumidas nos
seguintes itens:

1. Finalidade: garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores.

2. Etapas:

- identificação do perigo;
- identificação dos trabalhadores (ou de outras pessoas) expostas
aos riscos representados por elementos perigosos;
- estimativa do risco;
- avaliação, qualitativa ou quantitativa, do risco existente;
- análise do risco, verificando-se a possibilidade de ser eliminado,
e em não havendo, do decidir-se quanto a necessidade ou não de
adoção de novas medidas visando-se prevenir ou reduzi-lo.

3. Local: todos os postos de trabalho.

4. Metodologia:
- a avaliação deve estar estruturada de maneira a se estudarem
todos os elementos perigosos e riscos importantes;
- quando havendo risco, a avaliação deverá examinar, antes de
tudo, se o risco deve ser eliminado.

5. Bases:

- requisitos legais;
- normas e orientações publicadas;
- princípios hierárquicos em matéria de segurança e saúde2:
- evitar riscos;
- substituir elementos perigosos por outros representando menos
perigos;
- combater riscos em sua origem;
- antepor medidas coletivas às proteções individuais;
- considerar o progresso técnico;
- buscar a melhoria no nível de produção.

A avaliação de riscos é um dos pilares fundamentais em matéria de


segurança e saúde, tal como se depreende da legislação
relativa a essa matéria.
1
Na Espanha, deu lugar à Lei de Prevenção de Riscos Laborais (31/1995, de 8 de novembro).
2
Extraídos do artigo 15 da lei espanhola 31/1995, de 8 de novembro, de Prevenção de Riscos Laborais.

3.3.3 Avaliação de riscos a exigirem métodos de avaliação especiais

Há atividades que podem ser causas de grandes e graves acidentes,


decorrentes de explosões, incêndios, escapes, entre outros (ainda trazemos na
memória os acidentes de Sevezo e de Chernobyl). Isso tem motivado o
desenvolvimento de métodos específicos de análise, fundamentalmente na
indústria química, tendo a consideração de exigência por determinadas
legislações.

Esses métodos se baseiam em análises probabilísticas de riscos, sendo


utilizados também para a análise dos sistemas de segurança em máquinas e
distintos processos industriais. Alguns exemplos específicos são o método
HAZOP e a árvore de falhas e erros, entre outros.

3.3.4 Avaliação de riscos de caráter geral

Em tópicos anteriores, observamos uma série de alternativas à realização da


avaliação de riscos, que têm como característica o dispor de legislação, de
uma norma, de método ou guia para efetuá-la.

Agora bem, há perigos, geralmente muito correntes e díspares na vida


ordinária, aos quais essas metodologias não são aplicáveis, e que por outra
parte exigem se disponha de um método geral que possa ser de aplicação
nesse tipo de situação.
Há vários métodos de aplicação geral para a avaliação de riscos, por exemplo,
o W.T. Fine, o Sistema Simplificado de Avaliação, entre outros; mas o método
que expomos a seguir, Avaliação Geral de Riscos, cremos, cumpre a
versatilidade requerida, ao mesmo tempo sendo de uma grande simplicidade
de aplicação.

3.4 Método de avaliação geral de riscos

O método de avaliação geral de riscos parte de uma classificação das


atividades do trabalho, exigindo posteriormente toda a informação que se faça
necessária em cada atividade.

Estabelecidas essas premissas, efetua-se a análise de riscos, identificando


perigos, estimando riscos e, finalmente, procedendo para avaliá-los visando
determinar serem ou não aceitáveis.

3.4.1 Classificação das atividades de trabalho

É o passo preliminar para a avaliação de riscos e consiste em preparar uma


lista de atividades de trabalho agrupadas de modo racional e manejável. A
título de exemplo, as atividades podem ser assim classificadas:

- em áreas externas às instalações da empresa;


- etapas no processo de produção ou na prestação de um serviço;
- trabalhos planejados e de manutenção;
- tarefas definidas.

Em seguida, deve-se obter, para cada uma das atividades, o máximo de


informação possível, por exemplo1:

- tarefas a realizar, sua duração e frequência;


- local de realização do trabalho;
- quem realiza o trabalho, tanto permanente como ocasional;
- outras pessoas que possam ser afetadas pelas atividades do trabalho,
por exemplo, visitas, prestadores de serviços, etc.;
- formação dos trabalhadores para a execução das tarefas;
- procedimentos escritos de trabalho, e/ou permissões de trabalho;
- instalações, maquinário e equipamentos utilizados;
- ferramentas manuais movidas a motor;
- instruções de fabricantes e fornecedores com relação ao
funcionamento e à manutenção, tanto da instalação quanto do
maquinário e de equipamentos;
- tamanho, forma, caráter, peso, etc., de materiais a utilizar;
- distância e altura de mobilização manual de materiais, produtos, etc.
- energias utilizadas;
- substâncias e produtos utilizados e gerados;
- estado físico das substâncias utilizadas, como gases, vapores, líquido,
pó, etc.;
- conteúdo e recomendações dos rótulos;
- exigências da legislação vigente quanto ao modo de realização do
trabalho, quanto a instalações, maquinário e substâncias empregadas;
- medidas de controle existentes;
- dados compilados sobre acidentes, incidentes, enfermidades
profissionais derivadas da atividade desenvolvida, dos equipamentos e
das substâncias utilizadas.
- compilação de dados tanto externos quanto internos da organização;
- dados sobre avaliações de riscos efetuadas anteriormente; e
- organização do trabalho.
1
Esta lista não pretende ser exaustiva e, em cada caso, exigirá ser ampliada ou modificada.

3.4.2 Identificação de perigos

A fase mais difícil da avaliação de riscos é a identificação de perigos. Com


efeito, não há nenhum método que garanta a identificação de 100% dos
perigos existentes em uma atividade; portanto, os técnicos recorrem a
instrumentos de identificação, como as listas de checagem, e a instrumentos
de gestão, como visitas periódicas, inspeções planejadas, análise de acidentes,
observação do trabalho, comunicação de riscos, etc.

Os perigos de uma organização estão relacionados tanto a atividades,


processos e substâncias nela utilizadas quanto às características do ambiente
no qual se desenvolvam essas atividades.

Para a identificação de perigos, há que se perguntar:

- há uma fonte de dano?


- quem pode sofrer dano?
- como o dano pode ocorrer?

Dessa maneira, devendo-se analisar:

- as possíveis fontes de perigo (diagnóstico de fontes);


- os elementos do ambiente humano suscetíveis de serem afetados.

Em primeiro lugar, com o objetivo de ajudar-se no processo de identificação de


perigos, é útil categorizá-los sob diversos modos, por exemplo, por temas:

- local de trabalho: desníveis, rampas, portas, escadarias, iluminação,


entre outros;
- eletricidade;
- obras de construção;
- agentes tóxicos e muito tóxicos e, em particular, agentes cancerígenos,
mutagênicos ou tóxicos à reprodução;
- produtos químicos de alto risco;
- agentes biológicos;
- explosivos;
- âmbito das condições de trabalho (carga física, carga mental, estresse,
mobbing, etc.);
- patologias de origem laboral; e
- outros aspectos tais como ruído, vibrações, radiações ionizantes,
radiofrequências e micro-ondas.

E, em segundo lugar, levar em conta a identificação dos trabalhadores (ou de


outros) expostos aos riscos ligados a esses perigos.

Complementarmente, pode-se efetuar uma lista de perguntas como: durante as


atividades de trabalho há os seguintes perigos?

- golpes e cortes;
- quedas de pessoas num mesmo nível;
- quedas de pessoas em níveis diferentes;
- quedas de ferramentas, materiais, etc.;
- espaço inadequado;
- perigos associados ao manejo manual de cargas;
- perigos associados à montagem, operação, manutenção, conserto,
etc., de instalações e maquinário;
- perigos ligados a veículos;
- incêndios e explosões;
- substâncias inaláveis;
- substâncias ou agentes que podem danificar os olhos;
- substâncias que podem causar dano por contato com a pele;
- substâncias que podem causar danos ao serem ingeridas;
- energias perigosas;
- transtornos musculares derivados de movimentos repetitivos;
- ambiente térmico inadequado;
- iluminação inadequada;
- ausência de grades de proteção.
- etc.

A anterior lista deve ser ampliada ou modificada em função das características


específicas da atividade de trabalho que se considere.

3.4.3 Estimativa do risco

Buscando estabelecer prioridades para a eliminação e o controle de riscos, é


necessário dispor de metodologias para sua avaliação.

O risco é definido como o conjunto de danos esperados por unidade de tempo,


ou seja, é o produto:

- da probabilidade de determinados fatores de risco incidirem em danos;


e
- da magnitude ou severidade dos danos (consequências).

Ambas as magnitudes devem ser quantificadas visando-se avaliar


objetivamente o risco.

A probabilidade é a medida da facilidade ou da dificuldade de materialização


do risco, em função das circunstâncias e das medidas de prevenção existentes.
Pode ser graduada de baixa a alta, segundo o seguinte critério:

a) alta probabilidade: o dano ocorrerá sempre ou quase sempre;


b) média probabilidade: o dano ocorrerá em algumas ocasiões;
c) baixa probabilidade: o dano ocorrerá raras vezes.

Na hora de verificar a probabilidade do dano, há que se certificar de que as


medidas de controle já implantadas são adequadas, revisar os requisitos
legais, etc. Ademais, devendo-se levar em consideração os seguintes
aspectos:

- trabalhadores especialmente sensíveis a determinados riscos;


- frequência de exposição ao perigo;
- falhas de componentes de instalações e máquinas, assim como dos
dispositivos de proteção;
- exposição a elementos;
- equipamento de proteção individual (EPI) e tempo de utilização;
- atos inseguros das pessoas, tanto erros involuntários como violações
intencionais.

A magnitude ou severidade do dano é entendida como as consequências que


possam sobrevir ao trabalhador no caso de o acidente vir a acorrer.

Como é lógico, as possíveis consequências de um acidente não são únicas,


como também o mesmo acidente, em função das circunstâncias que o
envolvam, pode comportar lesões muito graves ou nenhuma perda.

Assim, por exemplo, ante uma queda num mesmo nível ao se circular por um
corredor escorregadio, as consequências normalmente esperáveis são leves
(hematomas, contusões, etc.), mas, com menor probabilidade, também podem
ser graves e até mortais.

Para determinar a magnitude do dano, devem ser consideradas:

- as partes do corpo afetadas;


- a natureza do dano, graduando-se ele de ligeiramente prejudicial a
extremamente prejudicial.

Como exemplos de magnitudes do dano, têm-se:

a) ligeiramente prejudicial: danos superficiais, cortes e pequenos


hematomas, irritação nos olhos causada por pó, desconforto, dor de
cabeça, entre outros;

b) prejudicial: lacerações, queimaduras, comoções, luxações


importantes, fraturas leves, surdez, dermatite, asma, transtornos
musculoesqueléticos e enfermidades que conduzam à menor
incapacidade.
c) Extremamente prejudicial: amputações, fraturas graves,
intoxicações, lesões múltiplas, lesões fatais, câncer e outras
enfermidades.

Em consequência, o risco (médio) de acidente é determinado pela expressão:

Portanto, podendo ser representado graficamente, segundo a figura 3.3.

Figura 3.3 Representação gráfica do risco.

Ante um possível acidente, é imprescindível indagar-se a respeito das


consequências previsíveis, das normalmente esperáveis e das que podem
acontecer sob remota probabilidade.

Na avaliação dos riscos convencionais são consideradas as consequências


normalmente esperáveis, porém, em contrapartida, em instalações muito
perigosas pela gravidade das consequências (nucleares, químicas, etc.), é fator
essencial considerar as consequências mais críticas ainda que baixa a
probabilidade, e por isso, precisando-se ser, em tais circunstancias, mais
rigoroso na análise probabilística de segurança.

Quanto maior a gravidade das consequências previsíveis, maior deverá


ser o rigor na determinação da probabilidade.

As metodologias empregadas permitem a quantificação da magnitude dos


riscos existentes e, em consequência, a hierarquização racional de sua
prioridade de correção1.

A tabela 3.1 permite estimar os níveis de risco de acordo com sua


probabilidade estimada e suas consequências esperadas.

CONSEQUÊNCIAS
Ligeiramente Prejudicial Extremamente
prejudicial prejudicial
Probabilidade Baixa Risco trivial Risco tolerável Risco moderado
Média Risco tolerável Risco moderado Risco
importante
Alta Risco Risco importante Risco intolerável
moderado
Tabela 3.1. Níveis de risco.
1
No Campus Virtual encontra-se o documento "Método do INHST", no qual se detalha a metodologia seguida pelo
Instituto Nacional de Segurança e Higiene no Trabalho (INSHT) (Espanha), para a quantificação da magnitude dos
riscos existentes.

3.4.4 Avaliação do risco

A tabela de níveis de risco constitui a base para decidir se é preciso melhorar


os controles existentes ou implantar alguns novos, assim como determinar no
tempo as atuações.

Para efetuar uma avaliação do risco e tomar uma decisão, deve-se contar com
um critério (tabela 3.2).

RISCO AÇÃO E TEMPORIZAÇÃO


Trivial Não exige ação nem a guarda de documentação.
Não exige aperfeiçoamento da ação preventiva, contudo,
Tolerável considerando-se soluções mais rentáveis ou melhores que não
representem sobrecarga econômica. São necessárias
comprovações visando-se garantir a manutenção das medidas
de controle.
Moderado Devem ser feitos esforços buscando-se reduzir o risco, porém
determinando-se e limitando cuidadosamente os investimentos
necessários. As medidas para redução do risco devem ser
implantadas num determinado período de tempo.

Estando o risco moderado associado a consequências


extremamente prejudiciais, será necessária uma ação posterior
buscando-se estabelecer, com precisão, a probabilidade do
dano, como base para a determinação da necessidade ou não
de aperfeiçoamento das medidas de controle.
Importante Não se deve começar o trabalho até que se reduza o risco,
podem ser necessários recursos consideráveis visando-se
reduzir o risco. Quando o risco implique trabalho em processo,
deve-se remediar o problema num tempo inferior àquele
destinado aos riscos moderados.
Intolerável Não se deve começar nem continuar o trabalho até que reduzido
o risco; não sendo possível, proíbe-se o trabalho.
Tabela 3.2. Critérios para a tomada de decisões.

3.4.5 Plano de controle de riscos

Se, como resultado de uma avaliação, faz-se necessário aplicar ou melhorar os


controles de riscos, há que contar com um bom procedimento para o
planejamento da implantação das medidas de controle que se façam
imprescindíveis.
O método de controle que se adote há de considerar os seguintes princípios:

- combater os riscos na origem;


- adaptar o trabalho à pessoa, em particular no que tange à concepção
dos postos de trabalho e à escolha de equipamentos e métodos de
trabalho e produção, com vista, em particular, a atenuar o trabalho
monótono e repetitivo e a reduzir os efeitos na saúde;
- considerar a evolução da técnica;
- substituir o perigoso pelo que envolva pouco ou nenhum perigo;
- adotar as medidas que anteponham a proteção coletiva à individual;
- dar instruções aos trabalhadores.

3.4.6 Revisão do plano

O plano de atuação deverá ser revisado, considerando-se:

- se os novos sistemas de controle de riscos conduzirão a aceitáveis


níveis de risco;
- se os novos sistemas de controle de riscos geraram novos perigos;
- a opinião dos trabalhadores a respeito da necessidade e da
operacionalidade das novas medidas de controle.

Finalmente, cabe lembrar que a avaliação de riscos deve ser um processo


contínuo, razão pela qual a adequação dos meios de controle deva estar
sujeita à revisão contínua e à modificação quando necessário. Analogamente,
mudando as condições de trabalho e com isso variando os perigos, deve-se
revisar a avaliação de riscos.

Nas tabelas 3.3 a 3.5 são mostrados diferentes formatos para a coleta da
informação.
AVALIAÇÃO DE RISCOS
Atividade: Avaliação nº:
Posto de Trabalho: Data:

PROBABILIDADE CONSEQUENCIAS ESTIMATIVA DE RISCO


Nº PERIGO IDENTIFICADO
B M A LD D ED T TO M I IN

Tabela 3.3. Planilha para identificação de perigos

MEDIDAS A TOMAR
Risco controlado?
Nº Medida de controle Procedimento de trabalho Informação Formação
Sim Não

Tabela 3.4. Planilha para as medidas de controle

PLANO DE AÇÃO
Nº Ação requerida Responsável Data Finalização Comprovação eficácia
Tabela 3.5. Planilha para o plano de ação

3.5 Caso prático de avaliação de riscos

Com o objetivo de levar o aluno a se familiarizar com a metodologia de


avaliação de riscos, indica-se, a seguir, a avaliação parcial de um posto de
trabalho, considerando-se as limitações que a realização desse trabalho
implica.

- atividade: fabricação de móveis de madeira;


- local de trabalho: carpintaria;
- Posto avaliado: operador de serra.

A tarefa realizada pelo operário consiste em tomar chapas de madeira, de 1 m


x 1 m e pesando 5 kg, de uma pilha próxima, pô-las na serra, cortálas, e dispô-
las em outra pilha, no outro lado da máquina (figura 3.4).

Figura 3.4 l lustração da atividade realizada pelo operário

Para efetuar essa operação, o operário utiliza uma serra circular, de


acionamento elétrico, com selo de conformidade CE. Essa serra tem sistema
de extração de pó.

A jornada do operário é de 8 horas por dia, 5 dias por semana.

A visita efetuada a seu posto de trabalho permitiu ver que:

- a condução de captação de pó está parcialmente rompida, deixando


escapá-lo nas proximidades do posto de trabalho;
- a tomada na qual a serra é conectada está parcialmente danificada,
tendo sido golpeada por uma carretilha, há algum tempo, sem que se a
tenha substituído; as condições apresentadas pela tomada não
garantem um correto isolamento para a máquina;
- o extintor existente nas proximidades da máquina não passou pela
revisão correspondente;
- o piso apresenta desgaste.

Nas tabelas 3.6 a 3.8 são mostrados alguns dos perigos identificados, o modo
de avaliar seu risco, o resultado disso, a atuação a efetuar com relação aos
riscos não-aceitáveis e a lei espanhola aplicável.
PERIGO Nº PERIGO LEGISLAÇÃO APLICÁVEL AVALIAÇÃO SEGUNDO:
IDENTIFICADO
1 Manejo de cargas RD. 487/97 manejo manual de R.D. 4879/, guia 1.N.S.H.T
cargas
2 Ruído da serra RD. 1381/89, ruído R.D. 1381/89, verificação nível
sonoro
3 Pó de madeira TLVs ACGIH
4 Projeção de partículas Método geral
5 Cantos vivos nas chapas Método geral
6 Iluminação posto RD. 486/97, locais de trabalho R.D. 486/97, guia 1.N.S.H.T
7 Condições térmicas RD. 486/97, locais de trabalho R.D. 486/97, guia 1.N.S.H.T
8 Piso desgastado RD. 486/97, locais de trabalho Método geral
9 Extintor sem revisão RD. 1942/93, sistemas de extinção Cumprimento R.D. 1942/93
10 Fio-terra da serra RD. 2413/73, regulamento Cumprimento R.D. 24 13/73
eletrotécnico
Tabela 3.6. Planilha para a identificação de perigos preenchida

Atividade:
Posto de Trabalho: Operador de serra circular
Avaliação nº: Inicial
Data:
AVALIAÇÃO DE RISCOS PELO MÉTODO GERAL DE AVALIAÇÃO
PROBABILIDADE CONSEQUENCIAS ESTIMATIVA DE RISCO
Nº PERIGO IDENTIFICADO
B M A LD D ED T TO M I IN
4 Projeção partículas de X X X
madeira
5 Cantos vivos em chapas X X X
6 Piso desgastado X X X
CUMPRIMENTO DE RISCOS PELO MÉTODO GERAL DE AVALIAÇÃO
Nº Perigo identificado Resultado
2 Ruído da serra Dentro de limites (toleráveis)*
9 Extintor Não cumpre (intolerável)*
10 Fio-terra da serra Não cumpre (intolerável)*
AVALIAÇÃO POR NORMAS OU GUIAS
Nº Perigo identificado Resultado
1 Manejo de cargas Tolerável*
3 Pó de madeira Intolerável*
6 Iluminação posto Tolerável*
7 Condições térmicas Tolerável*
Tabela 3.7. Resultado da avaliação. (*) A qualificação tolerável ou intolerável é
determinada pelo cumprimento ou descumprimento da legislação específica, ou
ainda, conforme aplicação de norma ou guia de avaliação.

MEDIDAS A TOMAR
Risco controlado?
Nº Medida de controle Procedimento de trabalho Informação Formação
Sim Não
1
2
Concerto da
3 condução/plano de Trabalhador X
manutenção
4
5 Uso de proteções Trabalhador X
6
7
Conserto piso, plano
8 X
manutenção
Estabelecer plano de
9 X
revisão
Substituição/plano
10 X
manutenção
Tabela 3.8. Planilha para a adoção das medidas de controle preenchida.
Com vista a esses resultados, estabelece-se um plano de ação, compilado no
formato indicado na tabela 3.5.

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