Você está na página 1de 4

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUIZA DE DIREITO DA 1a VARA CRIMINAL DA

COMARCA DE SOCORRO - ESTADO DE SÃ O PAULO


Processo nº
, já devidamente qualificado, nos autos da AÇÃ O PENAL que lhe promove a Justiça Pú blica ,
por intermédio de seu Advogado, que esta subscreve, devidamente nomeada pelo Convênio
da Assistência Judiciá ria (OAB/SP e DPE) à s fls., vem, muito respeitosamente, perante
VOSSA EXCELÊ NCIA , apresentar, em tempo há bil, sua DEFESA PRELIMINAR , esclarecendo
nã o serem verdadeiras as imputaçõ es que lhe sã o dirigidas e que durante a instruçã o
processual, provará sua inocência, para ao final vê-lo absolvido.
"Data maxima venia", a denú ncia de fls. 44/46, nã o deve prosperar, merecendo ser julgada
improcedente, pois o fato por si só e as provas carreadas ao bojo dos autos nã o autorizam a
decretaçã o de uma condenaçã o.
O Réu acima referido está sendo processado por esse R. Juízo como incurso no art. 215-A,
c.c. os artigos 61, II, h, do Có digo Penal, porque conforme consta da denú ncia, por
supostamente ter se aproximado da vítima, pego em sua mã o e ao mesmo tempo afastado a
bermuda e lhe mostrado pênis.
Vejamos:
O Ministério Pú blico pugna pela condenaçã o do Réu, por ter supostamente ter
importunado sexualmente a vítima.
Açã o tipificada no crime é praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o
objetivo de satisfazer a pró pria lascívia ou a de terceiro.
Porém aqui a persecuçã o criminal ( persecutio criminis ) nã o se desenvolveu, tal como
preconizado no direito positivo brasileiro.
Eis que nã o houve a prá tica de ato libidinoso algum.
A doutrina, de modo geral, define o ato libidinoso como aquele de cunho eró tico praticado
para a satisfaçã o da lascívia. Ensina Mirabete, citando Fragoso e Hungria: "Define Fragoso o
ato libidinoso como ‘toda açã o atentató ria ao pudor, praticada com proposito lascivo ou
luxurioso’. Trata-se, portanto, de ato lascivo, voluptuoso, dissoluto, destinado ao desafogo
da concupiscência. Alguns sã o equivalentes ou sucedâ neos da conjunçã o carnal (coito anal,
coito oral, coito inter-femora , cunnilingue , anilingue , hetero-masturbaçã o). Outros, nã o o
sendo, contrastam violentamente com a moralidade sexual, tendo por fim a lascívia, a
satisfaçã o da libido. Estã o incluídos os atos homossexuais como os de uranismo, pederastia,
lesbianismo, tribadismo ou safismo. É considerado ato libidinoso o beijo aplicado de modo
lascivo ou com fim eró tico ( RT 534/404). Afirma Hungria que ‘o ato libidinoso tem de ser
praticado pela , com ou sobre a vítima coagida’. Isso nã o quer dizer, porém, que seja
indispensá vel o contato físico, corporal, entre o agente e a ofendida".
O ministério pú blico, a vítima e as testemunhas disseram que o acusado afastou a bermuda
e mostrou seu ó rgã o genital.
Porem a conduta praticada (se é que o foi, vez a negativa do acusado) tã o somente
demonstra a contravençã o penal prevista no artigo 65 do Decreto-Lei 3.688/41 ( Lei das
Contravencoes Penais), para a conduta de molestar alguém ou perturbar lhe a
tranquilidade, in verbis:
Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável:
Pena - prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis..
Art. 61. Importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público, de modo ofensivo ao pudor:

Pois a importunaçã o sexual do art. 215 A, consiste em incomodar, molestar alguém, de


maneira consistente ou persistente, por meio de pedidos inoportunos, desagradá veis,
causando-lhe aborrecimento e/ou desconforto. O delito de importunaçã o sexual tem como
açã o nuclear "praticar", isto é, levar a efeito, realizar, pô r em prá tica, exercitar alguma
coisa, sendo tais açõ es, portanto, distintas entre si. O que aqui nã o houve.
Pois bem. Depois de percuciente aná lise da - rarefeita, incipiente, diminuta, quase nenhuma
- prova produzida, concluímos, que nã o há nos autos dados bastante a autorizar a
condenaçã o do acusado.
A prova, no sentido da existência do crime e de sua autoria, está circunscrita à palavra da
ofendida; a prova, no sentido da inexistência do crime, lado outro, está circunscrita à
palavra do acusado.
Tem-se, pois, nos autos, tã o-somente, o confronto entre a palavra do acusado e da ofendida.
De se convir, pois, que, só com esteio na palavra da ofendida, sem qualquer outro elemento
de prova a lhe emprestar conforto, nã o se pode, de rigor, expedir um decreto de preceito
sancionató rio, pois as testemunhas nada virã o, tã o somente repetem o que lhes contou a
vítima.
O Ministério Pú blico, em sede de denú ncia, pediu a condenaçã o do acusado, pondo em
relevo a palavra da ofendida nos crimes contra os costumes.
Todavia, o Ministério Pú blico olvidou-se de questõ es elementares quando da aná lise das
provas.
Nã o há nos autos a prova da conduta delituosa, do que podemos concluir, no mínimo, que a
prova, acerca desta, é duvidosa. E, na dú vida, todos sabem, nã o se pode condenar.
A palavra da ofendida, tã o realçada pelo Ministério Pú blico, é, sim, relevante, para
demonstraçã o da existência do crime e para definiçã o da autoria.
Essa premissa está corretíssima. O que nã o está correto é, a partir dessa premissa, chegar a
uma conclusã o iló gica, irreal, fictícia.
Nã o se pode dar credibilidade absoluta a palavra da ofendida, como o fez o Ministério
Pú blico.
Ela só se sustenta se houver provas outras a lhes emprestar conforto; caso contrá rio,
fenece, se torna imprestá vel, destituída de credibilidade.
Assim, todos sabemos que "o processo, na visã o ideal, objetiva fazer a reconstruçã o
histó rica dos fatos ocorridos para que se possa extrair as respectivas conseqü ências em
face daquilo que ficar demonstrado".
A partir do que foi reconstruído, a ú nica conseqü ência que se pode extrair é a absolviçã o do
acusado, uma vez que as provas nã o autorizam outra providência.
Nã o se condena com base em conjecturas. Nã o se condena com base exclusivamente em
prova administrativa. Nã o se condena apenas para dar uma satisfaçã o à vítima ou à
sociedade. Condenaçã o exige prova escorreita, indene de dú vidas, inconfutá veis.
Em face das provas trazidas aos autos pelo ó rgã o acusador, a ú nica certeza que se tem é de
que nã o há nenhuma convicçã o de que o acusado possa ter importunado sexualmente a
vítima.
No caso sub examine nã o era o acusado que tinha que provar a sua inocência. Era o
Ministério Pú blico que tinha que provar, quantum satis , a sua culpa.
Assim, para absoluta certeza de uma condenaçã o, deve-se estar convicto da materialidade
delitiva e da autoria do delito , o que no caso em testilha nã o é certo, em assim sendo, nã o
havendo prova destas pelos fatos narrados e tipicidade para a condenaçã o, e considerando
que "a dú vida em tema de liberdade, deve ser resolvida sempre e invariavelmente em favor
do réu..." (TJDF - REC. 57.959 - Rel. Des. Lécio Resende - DJU - 10/06/93, p. 16.624).
Ainda, "no processo criminal, má xime para condenar, tudo deve ser claro como a luz, certo
como a evidência, positivo como a expressã o algébrica. Condenaçã o exige certeza absoluta,
fundada em dados objetivos indiscutíveis, de cará ter legal, que evidenciam o delito e sua
autoria, nã o bastando a alta probabilidade desta ou daquele. E nã o pode, portanto, ser a
certeza subjetiva, formada em consciência do julgador, sob pena de se transformar o
princípio do livre convencimento em arbítrio" (AP. 47.335-3 - Rel. Des. Silva Leme - RT
619/267)
Desta forma, resta imperioso, como medida da mais lídima Justiça que assevera todas as
decisõ es de VOSSA EXCELÊ NCIA , e diante da fragilidade da situaçã o vivenciada, qual nã o
caracterizou sequer o delito, nã o conduzindo com segurança e veemência à prolaçã o de um
decreto de condenaçã o e diante do princípio da verdade real consagrado no Processo
Penal, é a razã o pela qual aguarda este Defensor a total IMPROCEDÊ NCIA da presente
pretensã o punitiva estatal, tudo para o fim de ABSOLVER o Acusado da imputaçã o que lhe é
irrogada na exordial acusató ria, com fundamento no art. 386, inciso II, do Có digo de
Processo Penal.
Se assim nã o entender, que o delito seja desclassificado para a contravençã o penal prevista
no artigo 65 do Decreto-Lei 3.688/41 ( Lei das Contravencoes Penais).
Socorro/SP, 03 de julho de 2019.
(assinado digitalmente)

Você também pode gostar