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SILVA, Rodrigo da Guia.

Prazo prescricional da pretensão de repetição de indébito: um


diálogo necessário entre pagamento indevido e enriquecimento sem causa. Civilistica.com.
Rio de Janeiro, a. 8, n. 2, 2019.

Sarah Silva Affonso


Universidade Federal Fluminense

Rodrigo da Guia Silva é advogado, Bacharel em Direito pela Universidade do Estado


do Rio de Janeiro, Mestre e Doutorando em Direito Civil pela mesma instituição. Possui uma
extensa carreira, atuando como professor de cursos de pós graduação na Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-
Rio), Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ) e na Procuradoria-Geral
do Estado do Rio de Janeiro (PGE-RJ). Trabalha, também, como professor substituto de
Direito Civil da Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor visitante da Università
degli Studi di Sassari, na Itália. É pesquisador visitante do Instituto Max Planck de Direito
Privado Comparado e Internacional, em Hamburgo, na Alemanha, e da Clínica de
Responsabilidade Civil da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
O autor é, ainda, membro do Instituto Brasileiro de Direito Civil (IBDCivil), Instituto
Brasileiro de Direito Contratual (IBDCont), Instituto Brasileiro de Estudos de
Responsabilidade Civil (IBERC) e Comitê Brasileiro da Association Henri Capitant des Amis
de la Culture Juridique Française (AHC-Brasil), além de membro e Secretário-Adjunto da
Comissão de Direito Civil da OAB/RJ. É autor do livro “Enriquecimento sem causa: as
obrigações restitutórias no Direito Civil”, e contribuiu, ademais, nas obras “O Direito Civil na
era da inteligência artificial” e “Direito Civil na legalidade constitucional: algumas
aplicações”. Se dedica, também, à escrita de artigos relacionados às obrigações,
responsabilidade civil e contratos, dispostos em diversas revistas.
Nesse sentido, no artigo intitulado “Prazo prescricional de repetição de indébito: um
diálogo necessário entre pagamento indevido e enriquecimento sem causa”, publicado em
2019, o autor trabalha com um caso concreto a fim de tecer críticas à divergência admitida
pelo sistema judicial entre a definição do prazo prescricional da repetição de indébito no que
tange às obrigações restitutórias.
O litígio analisado corresponde a um caso em que os autores afirmam terem sido
surpreendidos pela contratação e inclusão de serviços telefônicos em face da operadora Oi
S/A. Segundo eles, houveram alterações em substituição ao plano anteriormente contratado
sem sequer alguma notificação. Fracassada a tentativa de resolução extrajudicial, os autores
recorreram à Justiça, declarando inexistência de débito à referida operadora e ainda a
repetição em dobro do indébito.
Entretanto, a parte ré muniu-se de duas argumentações: que a essa altura a parte
autora já teria perdido o lapso temporal para reclamação de vícios, que é de 90 dias,
pautando-se no artigo 26 do Código do Consumidor, e que já havia perdido também o prazo
de três anos referente ao prazo prescricional de restituição do enriquecimento sem causa. Dito
isso, o autor relata que na Primeira Instância decidiu-se que a parte ré deveria pagar a
repetição em dobro do indébito, mas obedecendo a prescrição de dez anos.
Ao recorrer à 12ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do
Sul, em diferente fonte de análise, manteve-se o mesmo prazo. Diante disso, destaca-se que a
admissão ou não da pretensão da devolução em dobro não recebe a devida importância
durante as conclusões. Ao ser submetida ao Supremo Tribunal de Justiça foi concluído que o
prazo de prescrição geral não cabia ao caso examinado, entendendo-se que deveria seguir-se
o prazo trienal. À vista de frequentes conclusões opostas nesse âmbito e entendendo a
necessidade de uma decisão, a Corte Especial do STJ concluiu que, de acordo com a
impossibilidade de definição de justa causa e devido à existência de relação contratual, cabia
a aplicação do prazo prescricional decenal.
Nas discussões sobre a configuração de enriquecimento sem causa durante a
conclusão do litígio, o autor bem levanta que a interpretação purista entre as obrigações e
pretensões restitutórias é um imbróglio acerca da sistematização das restituições abordadas
no Direito Civil, o que ocasiona, até o presente artigo, a oposição de conclusões no âmbito de
decisão do prazo prescricional da pretensão de repetição de indébito no que concerne às
empresas telefônicas.
Destacando o Código Civil de 2002, o autor observa que houve uma ascensão no que
tange ao enriquecimento sem causa, visto que diante das normas avulsas havia mais
facilidade em enriquecer às custas de outrem. A partir disso, há a distinção entre os âmbitos
negociais, a que é destinado os negócios jurídicos, o reparatórios, presente no dano injusto e o
restitutório, a que faz parte o enriquecimento sem causa, ficando dependentes de vinculação
atrelada ao caso concreto, não se resumem, portanto, à cláusula geral, o que possibilita uma
confusão entre a fonte da obrigação e sua cláusula, gerando imprecisão na tomada de
decisões atinentes ao caso, como o título do artigo supracitado. Portanto, para além do prazo
prescricional, há uma pertinência em considerar a tripartição das obrigações para uma
interpretação adequada a cada caso.
Depreende-se, diante disso, que o referido processo analisado pelo autor trata-se de
um caso em que há controvérsias entre enriquecimento sem causa e a decidibilidade do prazo
prescricional da pretensão de repetição de indébito diante do pagamento indevido apropriado
pela operadora de telefonia e, diante de convergências e divergências, faz-se necessário uma
análise recorrente à tripartição, para assim, compreender se a resolução se dará no
enriquecimento sem causa, para então, restituí-lo.

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