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Flávio Aguiar
Organhzação:
—Prefácio:Antonio Candido ; k
r—ustrações: Enio Squeff
COM PALMOS MEDIDA
terra, trabalho e conflito na literatura brasileira
Flávio Aguiar
Organização
PrefácioAntonio Candido
IlustraçõesEnio Squeff
ISBN 85-85934-31-X
aq/06/OR
PREFÁCIO
Antonio Candido
e
que o liberam do momento, isto é, da vida, para trazê-lo de volta a ela mais lúcido
mais consciente, como ensina um conceito famoso.
No caso, podemos dizer que encontrará a representação das facetas mais diversas
que aos poucos, revelam a história do esforço ingrato sobre a terra mal repartida do
Brasil, gerando conflitos e pondo o homem contra o homem: conquistador contra
índio, senhor contra escravo,patrão contra empregado, rico contra pobre, concor-
rentes entre si. Em torno desse núcleo crescem, como subprodutos Inevitáveis, a guerra
e a miséria, a espoliação,o fanatismo e a exclusão social —num vasto processo
desumanizador que levaria a dizer, invertendo a proposição otimista que embalou a
formação de tantas gerações,que não há porque nos ufanarmos do nosso país. Em
compensação (sugereeste livro), podemos nos sentir confortados pelos que são ca-
pazes de vê-lo sem ilusões.
INTRODUÇÃO
Flávio Aguiar
adotou-se, sempre que existente,o original, como no caso do poema, conto ou ca-
pítulo integral do romance que o tivesse. Para aqueles que não possuíam título, es-
colheu-se um cujos termos viessem sempre de palavras do próprio texto.
Uma pequena nota introdutória acompanha cada texto, situando-o em seu con-
texto literário e histórico específico,além de se referir ao que for indispensávelpara
seu completo entendimento, no caso de ser parte de peça maior. Diz-se aí também
algo de seu autor e de sua obra.
Para finalizar, uma palavra sobre as lacunas. Em primeiro lugar, assinale-se que
esta é uma antologia, dentre as muitas que seriam e são possíveis.O leitor exigente
reclamará da ausência deste ou daquele texto, e provavelmente terá alguma razão. Mas
o espaço, assim como a extensão da terra, é limitado.
Outra lacuna está na ausência quase total de peças de teatro. Mas há aí um pro-
blema difícil de sanar: a ausência de narrador impõe uma tessitura cerrada no enre-
do, que faz impossível o destaque de uma parte para leitura autónoma. A exceção está
nas peças que têm estrutura de auto, como as de Anchieta ou João Cabral de Melo,
ou de oratório, como Cia. CafeeiraS. A., de Mário de Andrade, em que as partes têm
grande autonomia. Fica a sugestão, para o leitor interessado, de consultar as boas his-
tórias da dramaturgia brasileira existentes, e as próprias peças, em busca de informação
necessária.
Outras lacunas, estas fronteiriças, estão na ausência de literatura de cordel e do
vasto mundo da canção popular, ambos os reinos merecendo tratamento especializado
e antologias próprias, acompanhadas de registro sonoro.
Quero registrar aqui o acompanhamento amigo do professorAntonio Candido,
no que se refere à realização da antologia. Facilitou o alcance de fontes difíceis, acon-
selhou, dirimiu dúvidas. Deixou a marca de seu radical empenho com as causas so-
ciais de nosso povo.
Uma derradeira observação:vista de modo amplo, em suas lacunas e realizações,
nossa literatura é de testemunho —em favor dos aspectos positivos da civilização e
de crítica contra a barbárie que o processocivilizatório ainda leva consigo. Dela emana
um empenho ético, de raiz humanista, que pode ser objeto de discussãoou de revi-
são, mas nunca de renúncia.