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Ecologia Aplicada
Edir E. Arioli
2022
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Sumário
A complexidade da natureza 12
Referências 30
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Conceitos básicos de Ecologia
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Nicho ecológico é o conjunto de condições de um habitat que favorecem
a existência de uma determinada espécie animal ou vegetal.
Bioma é uma comunidade estável e adaptada às condições de um
ecossistema, identificada por uma espécie dominante dentro da
biodiversidade gerada pela evolução dentro de uma região.
Comunidade é o conjunto de populações que ocupa um habitat durante
um determinado período de tempo.
População é o conjunto de indivíduos de uma espécie que ocupa um
determinado habitat durante um determinado período de tempo.
Espécie é a unidade básica da taxonomia biológica, representada por
indivíduos geneticamente compatíveis, capazes de se acasalar e gerar
descendentes.
Organismo é o indivíduo de uma determinada espécie animal ou vegetal.
Nível trófico é o conjunto de organismos de um ecossistema que
apresentam o mesmo tipo de nutrição. Os níveis tróficos classificam-se em
produtores, consumidores, detritívoros e decompositores.
Produtores são organismos autotróficos, capazes de sintetizar os próprios
alimentos a partir de componentes inorgânicos do meio ambiente. São os
vegetais de um modo geral, que produzem substâncias orgânicas a partir
dos constituintes inorgânicos do ar e do solo.
Consumidores são organismos heterotróficos, incapazes de sintetizar os
próprios alimentos e por isso alimentam-se ingerindo outros organismos.
Os consumidores primários alimentam-se de vegetais, sendo então
herbívoros, os secundários ingerem consumidores primários e os terciários
ingerem consumidores secundários. Os consumidores secundários e
terciários são, portanto, carnívoros.
Detritívoros são organismos que se alimentam com os restos de outros
organismos, sem participar diretamente do seu processo de decomposição.
Decompositores são organismos que se alimentam com matéria orgânica
morta, cuja decomposição eles promovem para produzir as substâncias
nutrientes de que necessitam.
Cadeia alimentar é o fluxo de matéria e energia que se transfere através
dos níveis tróficos de um ecossistema.
Rede ou teia alimentar é o conjunto de cadeias alimentares
interconectadas de um ecossistema.
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Importância do equilíbrio ecológico
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quisermos medir. O processo que mantém este equilíbrio dinâmico chama-
se homeostase.
Em termos práticos, o equilíbrio pode ser reconhecido dentro de um
ecossistema quando as populações das diferentes espécies animais e
vegetais mantêm-se em proporções estáveis. Isto significa que elas variam
dentro dos limites de variabilidade estatística, definidos acima, e indica que
as populações permanecem em equilíbrio dentro da rede alimentar e em
relação às condições ambientais externas.
A ruptura do equilíbrio ecológico pode ocorrer pela extinção ou degradação
de uma única espécie, muitas vezes aparentemente sem importância. A
implicação mais óbvia desta definição é a necessidade de se contar com
dados inventariais, próprias da metodologia ecológica, para a determinação
de tais limites.
Nós raramente precisamos conhecer os limites do estado de equilíbrio de
fenômenos naturais, exceto para os fins de aplicações técnicas ou
científicas. Para o conservacionista praticante, basta saber que, sem
intervenções desastrosas que levem a alterações profundas nas populações
dos ecossistemas, eles permanecem suficientemente estáveis e em
condições sadias de desenvolvimento. Os próximos capítulos apresentam
indicadores que podem servir como referências para a avaliação do estado
de equilíbrio dos ecossistemas mais importantes do território brasileiro.
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Ciclo do oxigênio e do carbono
Esse é o ciclo ecológico mais importante do nosso planeta. Sem ele, não
existiria vida na Terra como conhecemos. De forma simplificada, podemos
dizer que o ciclo começa com a geração de oxigênio mediante a extração da
energia do Sol e do gás carbônico (CO2) da atmosfera, no processo da
fotossíntese realizado pelos vegetais, e completa-se com o aproveitamento
do oxigênio e liberação do gás carbônico pelos animais no processo da
respiração aeróbica.
Fonte: pt.wikipedia.org
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Fotossíntese é o processo que converte a energia solar em energia
química por meio da síntese de compostos orgânicos. Ela é a principal
responsável pela incorporação de energia pela biosfera e é realizada pelos
organismos denominados produtores, basicamente plantas, algas e
bactérias.
Cadeias alimentares
A importância das plantas para a nossa sobrevivência nunca poderá ser
enfatizada suficientemente. Elas nos fornecem os nutrientes básicos para a
alimentação e o oxigênio para a respiração. Sem elas não conseguiríamos
extrair dos minerais os nutrientes que nos mantêm vivos. Sem elas a
atmosfera não conteria oxigênio em concentrações elevadas o bastante para
sustentar as nossas necessidades de energia através da respiração.
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- consumidores, que se sustentam consumindo os nutrientes e a energia
armazenados nos organismos produtores e em outros consumidores;
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musgos e plantas rupestres conseguem transformar rochas em matéria
orgânica. Assim, qualquer cadeia alimentar depende da transformação de
substâncias inorgânicas em compostos orgânicos para construir as
estruturas funcionais dos seres vivos.
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Organismos decompositores devolvem nutrientes ao solo
A complexidade da natureza
Introdução
Normalmente, quando observamos um sistema, nós nos concentramos em
uma ou outra das suas propriedades. Os sistemas complexos, entretanto,
manifestam tantas propriedades simultâneas, chamadas de variáveis pelos
cientistas, que nós só podemos obter uma imagem realista se as
considerarmos conjuntamente. Além disto, estas variáveis evoluem no
tempo e no espaço de forma não-linear, isto é, as mudanças que acontecem
nas variáveis dependentes (efeitos) são desproporcionais às mudanças que
aconteceram nas variáveis independentes (causas). Mais ainda, as
interações entre elas geram outras propriedades de nível mais elevado,
chamadas de emergentes, que caracterizam uma hierarquia dentro dos
sistemas. Assim, por exemplo, as moléculas formam células, que formam
tecidos, que formam órgãos, que formam organismos, que formam
comunidades, que formam ecossistemas. Cada um desses níveis apresenta
propriedades específicas que não se repetem nos demais, exceto com
manifestações diferentes.
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Propriedades dos sistemas complexos
Considera-se que a complexidade começa a se manifestar dentro de um
sistema quando ele atinge um grande número de elementos e interações.
Esta definição é vaga, porém suficiente, quando se considera que o
comportamento é determinado pela estrutura de um sistema. Assim,
quando o número de elementos atinge um certo valor, mesmo que
indeterminado e dependente da natureza do próprio sistema, as interações
atuantes criam propriedades emergentes, novos objetivos, novas regras e
novos problemas de funcionamento, novas necessidades de insumos e
novos tipos de produtos. E este processo evolui segundo a lei exponencial
até que as restrições internas ou externas imponham limites ao ritmo de
crescimento da complexidade.
Auto-organização
Não-linearidade
As mudanças ocorrem dentro dos sistemas complexos de forma não-linear.
Isto tem pelo menos dois significados. O primeiro é que não existem
cadeias lineares de causas e efeitos, interligados de forma direta e
facilmente reconhecível. Ao contrário, os efeitos surgem longe das causas e
muito tempo depois de elas terem agido. Mais do que isto, o que
encontramos na complexidade são conjuntos de causas (redes) provocando
conjuntos de comportamentos (padrões). Estas redes e padrões também
podem ser chamadas de complexos de causas e de efeitos.
No diagrama abaixo, os complexos de causas e de efeitos são indicados
pelas diferentes cores aplicadas às células de texto. Uma representação
mais realista, indicando todos os ciclos de retroalimentação, como as setas
e os quadros em vermelho, tornaria a rede ilegível.
O segundo significado é que o incremento de uma unidade no valor de uma
causa não provoca o aumento de outra unidade no valor do seu efeito. Nos
sistemas complexos, as relações entre causas e efeitos são determinadas
pela lei exponencial. Ela mostra que o incremento de uma unidade de valor
numa variável independente (causa) provoca variações positivas ou
negativas crescentes, em proporções exponenciais, nas variáveis
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dependentes (efeitos). O comportamento imprevisível dos sistemas sociais
e dos ecossistemas é o melhor exemplo desta propriedade.
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Dinâmica da ordem e do caos
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previsibilidade. Como antigamente o ruído experimental era chamado de
caos, adotou-se este nome para a teoria que estuda a imprevisibilidade
dentro dos sistemas complexos.
Propriedades emergentes
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um organismo ou de um ecossistema. Existem soluções mais simples, como
considerar as relações entre os níveis de organização descritos abaixo.
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matemáticas mais eficientes e formulou princípios de estudo da realidade
que se mostraram cada vez mais compatíveis com as exigências da
complexidade. As teorias da complexidade não passam de produtos da
evolução contínua da TGS, formulada por Ludwig von Bertallanffy.
Introdução
O estado relativamente estável do Sistema Terrestre (ST) que perdura há
pelo menos 11.700 anos é a única condição que, até onde sabemos,
consegue sustentar a sociedade contemporânea. Entretanto, existem
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muitas evidências de que as nossas atividades estão afetando os
ecossistemas a ponto de colocar em risco a resiliência do planeta como um
todo.
A equipe de 28 pesquisadores liderada pelo Dr. Rockström identificou os
processos críticos que regulam o funcionamento do ST e cujos valores de
ponto de inflexão são considerados Limiares de Resiliência (LR). Abaixo
desses limites as atividades humanas operam dentro de uma zona de
segurança para o desenvolvimento global da sociedade. Acima desses
limiares, a zona de perigo é separada da anterior por uma zona de
incerteza, como mostra a figura abaixo.
Os limiares
As pressões de origem humana sobre o ST atingiram uma dimensão que
justificam esperar mudanças ambientais abruptas na escala global. A
transgressão de um ou mais desses limiares pode ser perigosa ou mesmo
catastrófica, sempre que deflagrar perturbações irreversíveis e perigosas
para os ecossistemas. Rockström et al. (2009) identificaram nove limiares
globais e propõem valores para sete deles, resumidos a seguir.
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Mudanças climáticas
São provocadas por concentrações de CO2 acima de 350 ppm e/ou
aumentos de pelo menos 1 W (watt) por metro quadrado no fluxo da
irradiação solar na superfície terrestre. Já é consenso no meio científico que
o limiar global corresponde à temperatura de 2oC acima da média anterior
ao início da era industrial. Este limiar foi estimado em função de volumosos
dados disponíveis sobre os ciclos rápidos de retroalimentação dos
processos climáticos, tais como mudanças no volume de nuvens na
atmosfera e na extensão de massas de gelo. Ciclos de resposta mais lenta,
como mudanças na distribuição da vegetação e inundações das regiões
costeiras, levam a outros valores para os limiares das mudanças climáticas
globais: 4 oC a 8oC.
Os dados climáticos acumulados a partir de milhares de amostras indicam
que a temperatura média do planeta está pelo menos 2oC acima da média
pré-industrial. Os seus efeitos ambientais nocivos incluem a perda de
fontes de água potável de origem glacial e de sequestro de carbono
atmosférico, além de perturbações destrutivas nos padrões regionais de
clima. Em relação a este indicador, portanto, o ST já superou o limiar de
resiliência e encontra-se na zona de incerteza.
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acidificação, o que permite entender por que os recifes de corais estão
sendo danificados e destruídos no planeta.
Ozônio estratosférico
O ozônio (O3) estratosférico apresenta atualmente redução de até 5% nas
unidades Dobson1 em relação aos níveis pré-industriais, que variavam em
torno de 290 unidades. O efeito direto desta redução é o aumento do fluxo
de raios ultravioleta sobre o planeta, com aumento de doenças
degenerativas nos seres vivos, inclusive câncer. Existem evidências
científicas suficientes para garantir a confiabilidade deste limiar, que está
definido com suficiente grau de certeza. Por isso, não há controvérsias a seu
respeito nos meios especializados de pesquisa.
O limiar global de 5% para a redução na espessura da camada de ozônio em
qualquer latitude, em relação aos valores medidos no período de 1964-
1980, é estabelecido pelos autores como uma referência inicial a ser
confirmada por pesquisas futuras. Portanto, este limiar encontra-se
atualmente dentro da zona de incerteza.
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quimicamente a vegetação natural e cultivada, poluem as águas
superficiais, alteram os padrões regionais do clima e perturbam o equilíbrio
energético da superfície terrestre.
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de água são incompletas e fragmentadas. Embora seja uma variável de
reação lenta, os seus limiares são razoavelmente bem definidos, pelo menos
na escala regional.
O consumo de água potável é a principal causa de redução das vazões dos
rios na escala global, atingindo estimados 25% das bacias hidrográficas
mundiais. Isto reduz em muito a evaporação e consequente recuperação da
umidade da atmosfera para manter os volumes regionais de precipitação,
com efeitos negativos sobre a manutenção dos ecossistemas e das reservas
de água potável. Com um consumo atual estimado de 4.000 km3 por ano,
os autores propõem o limiar global de 12.500 km3 em benefício do
suprimento futuro das necessidades mundiais de consumo.
Poluição química
Resultante das emissões industriais e automotivas, afeta generalizadamente
a natureza, com o agravante de ser pervasiva, persistente e de efeitos
nocivos sobre várias gerações de organismos. Os poluentes mais agressivos
para os biomas têm composição orgânica (fertilizantes, pesticidas,
herbicidas), são cancerígenos (componentes químicos dos plásticos, como o
tereftalato), metais pesados (chumbo, cádmio, níquel, cromo, arsênio,
selênio) e radiativos (urânio, tório, polônio). Existem evidências científicas
consistentes sobre a ação deletéria e os níveis aceitáveis para poluentes
individuais, mas os efeitos agregados e em escala global são pouco
conhecidos. Por isso, os autores não propõem limiares globais para os
mesmos.
A poluição química foi incluída entre os limiares globais de resiliência
ambiental porque ela afeta a fisiologia dos organismos de um modo geral,
prejudicando o funcionamento e a estrutura dos ecossistemas. Os seus
efeitos deletérios ocorrem tanto por contato ou consumo direto quanto por
bioacumulação através das cadeias alimentares.
Discussão
Alguns limiares globais podem apresentar mudanças abruptas, como o
degelo de uma calota polar, e outros evoluem de forma quase
imperceptível, como a concentração de gás carbônico na atmosfera. Alguns,
ainda, podem associar-se a processos de dimensões planetárias e
influenciar fenômenos locais, enquanto outros de extensão local podem
afetar os processos globais. Todos, entretanto, têm o poder de afetar em
graus variáveis a resiliência do ST, isto é, a sua capacidade de recuperar as
próprias condições de equilíbrio.
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Rockström et al. (2009) avaliam que a Humanidade já transgrediu três
limiares globais: mudanças climáticas, perdas de biodiversidade e
alterações no ciclo global de nitrogênio. O gráfico abaixo, adaptado para
este texto, apresenta o panorama geral de progressão de cada um deles em
direção aos intervalos de incerteza e alto risco.
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ambientais, na iminência da deflagração dessas mudanças, são os limiares
globais definidos por Rockström et al. (2009).
É importante considerar que esta iminência representa a distância definida
como segura pela sociedade em benefício da sua própria sobrevivência.
Existe, portanto, uma grande margem de incerteza na definição desses
limiares, devido principalmente aos seguintes fatores:
a própria natureza das variáveis biofísicas;
a incerteza intrínseca ao comportamento dos sistemas complexos;
a interdependência entre as variações das diferentes variáveis;
a incerteza relacionada com a projeção do tempo necessário para um
colapso ambiental após ser atingido um determinado limiar.
Esta incerteza não deve impressionar o leigo em ciências naturais, porque
ela é onipresente na pesquisa científica com o nome de margem de erro
estatístico.
Como foi dito no início desta seção, alguns limiares globais podem
apresentar mudanças abruptas e outros evoluem de forma quase
imperceptível. Alguns, ainda, podem associar-se a processos de dimensões
planetárias e influenciar processos locais, enquanto outros de extensão
local podem afetar os processos globais. Todos, entretanto, têm o poder de
afetar em graus variáveis a resiliência do ST, isto é, a sua capacidade de
recuperar as próprias condições de equilíbrio.
Referências
Begon, M.; Townsend, C.R.; Harper, J.L. Ecology: From Individuals to
Ecosystems. Oxford, Blackwell Publishing, 2006, 759 p.
Caruso, F. Propriedades dos sistemas adaptativos complexos. S.d.e., 2010.
Descartes, R. Discurso do método: meditações, objeções e respostas. São
Paulo, Abril Cultural, 1979.
Equilíbrio ecológico. Portal Educação, disponível em
https://portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/biologia/equilibrio-
ecologico/. Acesso em 21/08/2021.
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Lorenz, E. The nature and theory of the general circulation of the
atmosphere. World Meteorological Organization, 1967.
Odum, E. P. Fundamentos de Ecologia. Fundação Calouste Gulbenkian, 6ª
ed., 820 p., 1988.
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