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Série Paradidática

Ecologia Aplicada

Ciclos astronômicos e
geotectônicos da Terra

Edir E. Arioli

2022

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Sumário
Ciclos astronômicos 2
Ciclos de Milankovitch 2
Ciclos da atividade solar 4
Ciclos geotectônicos 8
Ciclo de Wilson 8
Ciclos de inversão da polaridade magnética 13

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Ciclos astronômicos

O s ciclos naturais não atuam isoladamente, mas se interconectam em


diferentes escalas, com os maiores preparando as condições para os
ciclos menores e esses interferindo na evolução dos maiores. Alguns destes
ciclos têm extrema importância na evolução da paisagem, da vida e dos
processos climáticos de escala planetária. Embora de origem cósmica ou
intraplanetária, eles condicionam a distribuição das massas continentais e
oceânicas, os movimentos da atmosfera e o clima, o desenvolvimento da
vegetação, a evolução das espécies animais e a riqueza da biodiversidade.
Esses são os denominados ciclos de Milankovitch, da atividade solar, de
inversão do campo magnético terrestre e o ciclo de Wilson ou das placas
tectônicas. Neste fascículo, revisamos os dois primeiros ciclos, que têm
natureza astronômica, deixando os ciclos tectônicos para o próximo.

Ciclos de Milankovitch
Os ciclos de Milankovitch refletem as variações na incidência dos
raios solares sobre a superfície da Terra, responsáveis pela sucessão das
estações do ano, dos períodos glaciais e das fases interglaciais. Em 1920,
o astrônomo russo Milutin Milankovitch identificou essas regularidades e
atribuiu a sua origem às variações da órbita terrestre:
 excentricidade da órbita, que passa de quase circular (1%)
a moderadamente elíptica (5%) a cada 100 mil anos;
 inclinação do eixo terrestre, que varia entre 22,5° e 24,5° a cada 41
mil anos;
 precessão dos equinócios, uma oscilação cônica do Norte e
Sul geográficos a cada 26 mil anos por influência da atração
gravitacional exercida pelo Sol e pela Lua sobre a Terra.
Os valores acima variam nas diferentes fontes de consulta, o que é normal
devido à falta de precisão nos dados utilizados pelos muitos estudos já
realizados. A figura abaixo ilustra o que foi mencionado e deixa tudo um
pouco mais claro.

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Fonte: medium.com
Causas dos ciclos de Milankovitch.

Evidências empíricas que confirmam a hipótese de Milankovitch são


fornecidas principalmente por registros estratigráficos (sucessão de
camadas de rochas sedimentares), rochas (composição mineral e química
das rochas sedimentares) e gases contidos em bolhas de ar de amostras de
gelo.
Esses ciclos são conhecidos por causar variações na insolação, ou seja, por
afetar o nível de radiação recebido do Sol. A diferença da energia que o
planeta recebe pode causar eras com climas mais intensos ou mais amenos.
Se, por exemplo, pensarmos em uma condição astronômica onde os ciclos
combinam em seus extremos – a Terra na órbita mais distante do sol e o
eixo inclinado de 24,5° – teremos invernos extremamente frios e verões
muito quentes.
A figura abaixo compara os três parâmetros que compõem os ciclos de
Milankovitch, as variações de insolação (no verão da latitude de 65o) e de
temperatura média da Terra.

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Fonte: tiempo.com

Periodicidade dos ciclos de Milankovitch.

Ciclos da atividade solar


Embora aconteçam dentro do Sol, 150 milhões de quilômetros longe de
nós, estes ciclos são abordados aqui porque nos afetam diretamente. Eles
influenciam o clima, a temperatura e a composição da atmosfera e das
águas, os processos biológicos em geral, a qualidade das telecomunicações,
entre muitos outros fenômenos naturais.
O Sol apresenta ciclos com duração aproximada de 11 anos, durante os
quais as atividades na superfície da estrela aumentam e declinam
gradualmente. Essas atividades se manifestam na forma de manchas,
tempestades magnéticas, ejeções de massa coronal e radiação cósmica de
grande intensidade. As suas variações são acompanhadas desde o século
XVII, o que permitiu documentar até hoje 25 ciclos solares.
Manchas solares são fenômenos temporários na fotosfera do Sol, que
aparecem como zonas mais escuras do que as áreas circundantes. Elas
apresentam temperatura superficial mais baixa, porque concentrações de
fluxo de campo magnético inibem a chegada das correntes internas de
convecção.

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Fonte: astronomycafe.org

Manchas solares com a Terra como referência de escala.

Durante os ciclos solares, as populações de manchas crescem rapidamente


e depois diminuem mais lentamente. O ponto de maior atividade de
manchas solares durante um ciclo é conhecido como máximo solar e o
ponto de menor atividade como mínimo solar. Esta periodicidade também
é observada na maioria das outras atividades solares e está ligada a uma
variação no campo magnético solar, que muda a polaridade com esta
frequência.
As manchas solares se expandem e contraem à medida que se movem pela
superfície do Sol, com diâmetros variando de 16 km a 160 000 km e
duração de dias a vários meses. As variedades maiores são visíveis da Terra
sem o auxílio de telescópios. Quando surgem, elas podem viajar a
velocidades de algumas centenas de metros por segundo.
No início do ciclo, as manchas aparecem em latitudes maiores e depois se
movem em direção ao equador, à medida que o ciclo se aproxima do
máximo. As manchas de dois ciclos adjacentes podem coexistir por algum

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tempo e podem ser reconhecidas pela polaridade magnética diferente. Ao
longo de vários anos, enormes fluxos de plasma carregam esses campos
magnéticos locais do equador para os polos solares. Nos polos, o plasma
desce para o interior solar, de onde faz seu caminho de volta ao equador,
em um processo muito similar às correntes oceânicas na Terra.
Embora os detalhes da geração de manchas solares ainda sejam objeto de
pesquisa, parece que elas são as contrapartidas visíveis de tubos de fluxo
magnético na zona de convecção do Sol, que ficam retorcidos pela rotação
diferencial. Quando a tensão nos tubos atinge certo limite, eles se torcem e
perfuram a superfície do Sol. A convecção é inibida nesses pontos, o fluxo
de energia proveniente do interior do Sol diminui e, portanto, também a
temperatura superficial.
Como as causas dessas oscilações ainda são mal compreendidas, é muito
difícil prevê-las. Por isso, em 2019, conforme a atividade solar diminuía, a
NASA (National Aeronautics and Space Administration) e a NOAA
(National Oceanic and Atmospheric Administration) reuniram um painel
de especialistas para que eles tentassem prever a inflexão da curva de
eventos solares que marcaria o fim do ciclo 24 e o início do ciclo 25. O
painel previu que o mínimo de atividade solar ocorreria entre novembro de
2019 e outubro de 2020. Como tudo é muito incerto nas ciências naturais,
foi preciso esperar meses para confirmar que a previsão estava correta. Os
dados mostraram que dezembro de 2019 marcou o mínimo da atividade
solar do ciclo 24 e confirmaram que entramos no ciclo solar 25. Como os
ciclos solares duram aproximadamente 11 anos, o atual deverá persistir até
o ano de 2030.
Determinar o comportamento da nossa estrela com antecedência não é
mera questão de interesse científico. O aumento da atividade solar pode
causar danos a satélites, redes de comunicação e de transmissão de energia,
ou mesmo colocar em perigo os astronautas na Estação Espacial
Internacional. Mas o novo ciclo solar deve dar poucos motivos para
preocupações a esse respeito. O painel de astrofísicos prevê que o ciclo 25
seja semelhante ao seu predecessor, que foi bastante fraco. A intensidade
dos ciclos solares tem mostrado uma tendência clara de queda desde a
década de 1980. O final do ciclo 23 foi o menor nível de atividade do Sol em
um século, que é de fato uma estrela excepcionalmente tranquila quando
comparada a outras da mesma grandeza.

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Referências
Milankovitch, M. Teoria matemática e climatológica das mudanças
climáticas. Tradução livre de: Mathematische Klimalehre und
Astronomische Theorie der Klimaschwankungen. Handbuch der
Klimatologie. 1 Teil A. von Gebrüder Borntraeger. 1930.
NASA-NOAA. Solar Cycle 25 Prediction Panel. Technical Report, 2019.

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Ciclos geotectônicos

D ois tipos de ciclos geotectônicos interessam mais diretamente ao


tema deste fascículo, pelas influências mais fortes que exercem sobre
o desenvolvimento e a sobrevivência dos seres vivos no planeta. São os
ciclos de Wilson e de inversão do campo magnético terrestre.
O primeiro corresponde à já popular teoria da tectônica de placas, que
determina a distribuição das massas continentais e oceânicas na Terra.
Consequentemente, ela controla a conformação do relevo, o
desenvolvimento das camadas de solo, a evolução das correntes
atmosféricas e oceânicas, o clima global e a distribuição dos biomas. Isto é
suficiente para justificar que tenhamos uma noção dos mecanismos
geológicos que estão na base dos processos e ciclos ecológicos.

Ciclo de Wilson
Tectônica é o ramo da Geologia que estuda as estruturas e deformações da
crosta terrestre, tais como camadas, dobras e falhas, a sua origem e as
tensões responsáveis pela sua evolução. O ciclo de Wilson é uma teoria
deste ramo da ciência que engloba as mudanças responsáveis pela
formação, expansão e fechamento das bacias oceânicas, em resposta aos
deslocamentos das placas tectônicas.
Em 1965, ao realizar estudos na Islândia, o geólogo canadense John T.
Wilson chegou à conclusão de que o fundo do oceano Atlântico estava em
expansão. Com base em evidências geológicas, ele formulou a hipótese de
que o oceano havia passado por aberturas e fechamentos anteriores, por
efeito dos movimentos de segmentos da crosta terrestre. Ele os denominou
placas tectônicas e criou o modelo atualmente utilizado na Geologia para
explicar a distribuição oscilante das massas continentais sobre a crosta
terrestre e as suas influências sobre a origem das cadeias de montanhas,
das grandes depressões continentais, dos oceanos e do seu relevo
característico.

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Fases do ciclo de Wilson

As principais etapas desse ciclo de aproximadamente 300 milhões de anos,


com referências aos seus impactos sobre o clima e a evolução da vida no
planeta, são resumidas de forma simplificada neste texto, porque a sua
versão original é de difícil entendimento para leitores sem formação em
Geologia.

Fase de cráton
No idioma grego, cráton significa escudo, cuja forma abaulada caracteriza
as áreas continentais estáveis. Sem sofrerem a ação de deformações
tectônicas por centenas de milhões a bilhões de anos, elas assumem esta
conformação por efeito da erosão, que se acentua em direção às margens
continentais. A descrição do modelo tem início em um supercontinente,
cuja longa permanência sobre uma mesma região do manto terrestre
concentra logo abaixo uma enorme anomalia térmica. Em profundidade, a
fusão parcial da crosta produz grandes volumes de magma, cuja injeção
aumenta a espessura da placa, contribuindo para manter a estrutura
grosseiramente lenticular mostrada na figura. Nesta fase, predomina a
estabilidade tectônica e há ocorrência de vulcanismo pouco abundante,
portanto não há liberação de gás carbônico na atmosfera.

Fonte: aedmoodle.edu.pa

Fase de cráton.

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Fase de soerguimento
As correntes de convecção térmica formam abaixo do supercontinente
pontos quentes, denominados hot spots na literatura internacional. A
ascensão de enormes volumes de material superaquecido provoca o
arqueamento da crosta continental, perturbando a estabilidade da fase
cratônica. O soerguimento cria estruturas em forma de domos, que podem
elevar-se por 3 a 4 quilômetros sobre o nível médio do supercontinente e
alcançar cerca de mil quilômetros de diâmetro. O arqueamento produz o
adelgaçamento da crosta continental e o desenvolvimento de extensas
fossas (rifts no vocabulário geológico) paralelas a algumas direções
preferenciais, formando arranjos em treliça.
Onde o soerguimento da crosta tem limites regionais circulares ou elípticos,
as fraturas orientam-se segundo três direções separadas por ângulo de mais
ou menos 120o, como em um Y simétrico. Este arranjo recebe o nome de
junção tríplice. Normalmente, um dos braços da junção permanece inativo
e os outros dois controlam a ruptura da crosta continental e o início de uma
bacia oceânica. Dentro das fossas epicontinentais desenvolvem-se lagos e
desertos, os primeiros por efeito da subsidência da crosta e os últimos por
causa do bloqueio das correntes aéreas costeiras, carregadas de umidade.

Fonte: www.univap.br

Domo com rifts e vulcanismo gerado por fusão parcial da crosta.

Antes da ruptura completa da crosta continental, o aprofundamento das


fossas epicrustais desenvolve grandes lagos, que evoluem a mares interiores
e oceanos. Exemplos destas feições são os lagos Turkana e Vitória, na África

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Oriental. O mar Vermelho e o golfo de Áden são os braços ativos e os lagos
situam-se sobre o terceiro braço da junção tríplice. Este braço não é
propriamente abortado, como se diz em Geotectônica, porque se encontra
em expansão e deverá separar, em futuro remoto, o continente africano da
sua porção oriental. Ele é apenas retardatário na dinâmica da junção
tríplice.
No Brasil, uma junção tríplice bastante estudada tem o centro localizado
sobre o litoral paranaense, junto à baía de Paranaguá. O seu braço
abortado, chamado Arco de Ponta Grossa, volta-se para N45oW e os outros
dois controlam a configuração geográfica da costa brasileira. Esta estrutura
formou-se a partir do período Cretáceo Inferior, há 134 Ma, por efeito da
ruptura do supercontinente Gondwana e abertura do oceano Atlântico, que
se estendeu até o Cretáceo Superior, há 90 Ma (Coutinho, 2008).

Fonte: Coutinho, 2008

Junção tríplice do Paraná.

Fase de bacia oceânica


Após dezenas de milhões de anos, o processo de abertura do oceano chega
ao seu ponto máximo. O Atlântico, por exemplo, levou 44 Ma para atingir a
largura atual de 6.500 km na linha do Equador. Durante a sua expansão a
partir da cordilheira mesoceânica, a crosta basáltica mais densa começa a
ser transportada pela convecção do manto contra a crosta continental. Por
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ser mais densa, ela mergulha sob o continente em um processo chamado
subducção, levando à fusão na base da crosta, ao dobramento das camadas
superiores e à formação de mais vulcanismo. A emissão de CO2 continua,
mas com a menor intensidade dos processos de vulcanismo, há menos gás
carbônico na atmosfera. Por isso, a tendência média da temperatura global
é de se tornar mais branda que anteriormente.

Fonte: Mundo Geográfico

Abertura de bacia oceânica por divergência de placas continentais.

A subducção produz compressão suficiente para deformar a crosta


continental e desenvolver cordilheiras ao longo da margem ativa. Assim
formou-se a cordilheira dos Andes, a estrutura dobrada mais extensa do
planeta, criada pela subducção da placa de Nazca sob a placa Sul-
Americana. A extremidade mergulhante da placa subduzida entra em fusão,
produzindo grande quantidade de erupções vulcânicas que acompanham a
elevação das cordilheiras. A intensidade do vulcanismo aumenta
significativamente a concentração de CO2 na atmosfera, com o efeito estufa
aquecendo o planeta como um todo.

Fase de colisão
Uma vez consumida a crosta oceânica pela subducção, o choque entre os
continentes convergentes provoca a formação de cadeias montanhosas.
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Esta é a origem dos Himalaias, formados pelo deslizamento da placa
continental da Índia-Austrália sob o continente asiático ou, como propõe
uma nova teoria, pelo cavalgamento da placa indo-australiana sobre a placa
da Eurásia. Cessando os esforços continentais de compressão, a cadeia
montanhosa se estabiliza e um novo continente está configurado. Ao
contrário do que acontece nas margens oceânicas ativas, o vulcanismo nas
colisões continentais é mínimo, a emissão de CO2 é reduzida e o planeta
atinge temperaturas mais baixas.

Efeitos ambientais do ciclo de Wilson


O ciclo de abertura e fechamento de bacias oceânicas produz flutuações do
nível global do mar. Supondo-se constante o volume de água na Terra
desde sua formação, o nível do mar tende a se elevar durante as derivas
continentais e se rebaixar quando os continentes estão agrupados. Uma das
causas da oscilação do nível do mar é a diferença de flutuação das crostas
oceânicas e continentais sobre o manto terrestre, no fenômeno da isostasia.
A crosta oceânica, de composição basáltica, é mais densa do que a crosta
continental, de composição média granítica. Como a densidade da crosta
oceânica aumenta à medida que esfria, ela afunda no manto sob seu
próprio peso, aumentando consequentemente a profundidade do oceano.
Além disso, estima-se que grandes quantidades de CO₂ derivadas do manto
sejam armazenadas na crosta inferior no estágio final de colisão dos
continentes. Com a ruptura da crosta continental, o CO₂ é liberado na
hidrosfera e, posteriormente, devido ao calor dos fundos oceânicos jovens,
segue para a atmosfera. Assim, o clima se torna mais quente e as calotas
polares tendem a derreter, contribuindo também para a elevação do nível
global do mar.

Ciclos de inversão da polaridade magnética


Em 1920, Motonori Matuyama observou que os campos magnéticos de
algumas rochas do Pleistoceno estavam invertidos. Naquela época, a
polaridade magnética da Terra era mal compreendida e a possibilidade de
ocorrência de inversões suscitou pouco interesse. Entretanto, já na década
de 1950, estudos de paleomagnetismo começaram a oferecer pistas para

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uma explicação deste fenômeno, que se relaciona com a deriva continental
e a inversão dos polos magnéticos. Esta magnetização ocorre nos minerais
metálicos das rochas, principalmente magnetita e ilmenita.
Durante as décadas de 1950 e 1960, a informação sobre as variações do
campo magnético terrestre foi coletada por meio de navios de pesquisa.
Mas as rotas complexas das viagens oceânicas tornavam difícil a associação
dos dados de navegação com as leituras de magnetômetro. Apenas quando
os dados foram plotados em mapas é que se tornaram evidentes no fundo
oceânico faixas magnéticas surpreendentemente regulares e contínuas. Em
1963, F. Vine, D. Matthews e L. W. Morley publicaram independentemente
a hipótese que recebeu os seus nomes: se o novo fundo oceânico adquire o
campo magnético de cada período geológico, a expansão a partir de uma
crista central produz faixas magnéticas paralelas à crista.

Fonte: wikiciencias.org

Faixas magnéticas com polaridade invertida.

A frequência das inversões campo magnético da Terra tem variado muito


ao longo do tempo. Diversas datações mostram as seguintes frequências: 5
inversões no intervalo de um milhão de anos, 10 inversões em outro
intervalo de 4 milhões de anos, 17 inversões num intervalo de 3 milhões de
anos, 13 inversões num período de 3 milhões de anos, 51 inversões num
intervalo de 15 milhões de anos. Estes números indicam que as inversões
ocorrem a intervalos de 150.000 a 400.000 anos, com a ressalva de que

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esses poucos registros são insuficientes para serem adotados como
referências confiáveis. Eles são mencionados aqui a título de ilustração.
No que diz respeito às causas das inversões do campo magnético terrestre,
existem duas linhas de hipóteses, uma baseada em eventos internos e outra
baseada em eventos externos ao núcleo do planeta.
Muitos cientistas creem que as inversões são uma característica inerente à
teoria do dínamo, que explica a origem do campo geomagnético. Em
simulações por computador, observa-se que as linhas do campo magnético
podem por vezes ficar entrelaçadas e desorganizadas devido aos
movimentos turbilhonares do metal líquido que envolve o núcleo sólido.
Em algumas simulações, a desorganização conduz a uma instabilidade na
qual o campo magnético assume espontaneamente a orientação oposta. As
observações do campo magnético do Sol confirmam este fenômeno, que
ocorre a cada 9-12 anos. Entretanto, enquanto a intensidade magnética
solar aumenta muito durante a inversão, todas as inversões na Terra
parecem ocorrer durante períodos de baixa intensidade do campo.
As explicações de origem externa recorrem a eventos que interrompem
diretamente o fluxo no núcleo da Terra. Tais processos podem incluir a
subducção de placas continentais para dentro do manto terrestre e a
iniciação de novas plumas mantélicas a partir da fronteira núcleo-manto,
entre outros eventos de escala geotectônica.
Na atualidade, o campo geomagnético como um todo está perdendo
intensidade a uma taxa de 10-15% nos últimos 150 anos e que tem
acelerado nos últimos anos. Há aproximadamente 2.000 anos, esta
intensidade era 35% maior do que atualmente. Esses valores encontram-se
dentro do intervalo de variação normal, de acordo com os registros de
campo magnético em rochas. Dado que a inversão do campo magnético
nunca foi observada com instrumentação por seres humanos, e como o
mecanismo da geração do campo não é bem compreendido, é difícil dizer
quais serão as caraterísticas do campo magnético que indicam a
proximidade de uma inversão.
Alguns cientistas especulam que um campo magnético muito diminuído
durante um período de inversão exporá a superfície da Terra a um aumento
substancial e potencialmente danoso da radiação cósmica. Contudo, o
Homo sapiens e os seus antepassados certamente sobreviveram a muitas
inversões prévias. O que temos hoje de mais vulnerável a esses efeitos é a
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enorme rede de equipamentos de informática, comunicações e
geolocalização (GPS, bússola) em uso pela sociedade e que podem entrar
em colapso durante uma futura inversão.
Ao contrário do que propagam alguns alarmistas das redes sociais, não
existem provas consistentes de que uma inversão de campo magnético
tenha causado alguma vez uma extinção em massa na Terra. Algumas
espécies podem sofrer porque dependem das linhas magnéticas para se
orientar, tais como aves migratórias, baleias e golfinhos. O que se espera é
que os danos se limitem à desorientação espacial dessas espécies e
perturbações nos sistemas eletrônicos de comunicação e orientação já
mencionados. O resto é especulação e alarmismo sensacionalista, sem
qualquer base científica.

Referências
Coutinho, J.M.V. Dyke Swarms of the Paraná Triple Junction, Southern
Brasil. Geol. USP Série Científica, São Paulo 8 (2):29-52, 2008.
Matuyama, M. On the Direction of Magnetization of Basalt in Japan,
Tyosen and Manchuria. Proceedings of the Imperial Academy of
Japan. 1929, 5: 203–205.
Vine, F.J.; Matthews, D. H. Magnetic anomalies over oceanic ridges.
Nature. 199 (4897): 947–949, September 1963.
Wilson, J.T. A new Class of Faults and their Bearing on Continental
Drift. Nature. 207 (4995): 343–347, 1965.

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