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Série Paradidática

Ecologia Aplicada

Ecossistemas do litoral brasileiro

Edir E. Arioli

2020

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Arioli, Edir Edemir

Ecossistemas do litoral brasileiro. Edir E. Arioli.


Balneário Piçarras, SC. 2020.

57 p., ilustr., cores.

1. Ecologia. 2. Educação ambiental. 3. Fragilidade


ambiental. 4. Medidas de proteção.

Foto da capa: Costão rochoso


Fonte: bioflagrantes.com

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Sumário

Importância e fragilidade do ambiente costeiro 3


O que é um ecossistema? 4
Relações do homem com o meio ambiente 5
Compartimentos geomorfológicos do litoral brasileiro 6
Fragilidades e proteção ambiental em cada ecossistema 12
Oceano Atlântico 12
Ilhas costeiras 17
Praias arenosas 19
Campos de dunas 24
Costões rochosos 27
Morrarias 28
Serras 30
Planície costeira 34
Várzeas 38
Rios 41
Lagoas 45
Manguezais 48
Referências 52

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Importância e fragilidade do ambiente costeiro

O litoral contém as melhores condições físico-químicas para a


vida humana: temperatura, umidade e pressão ideais para o
funcionamento sadio do nosso organismo. Ao mesmo tempo, o
contato entre oceano e continente movimenta muita energia e
provoca variações constantes nas feições naturais. Isso as mantém
em evolução contínua, exigindo monitoramento e cuidados
excepcionais para a adequação da infraestrutura de circulação,
saneamento e ocupação urbana.

O litoral contém recursos naturais importantes para a economia da


região costeira e do país: produtos agrícolas, sal, argila, areia,
cascalho. Por efeito destas condições favoráveis, quase um terço da
população brasileira vive no litoral, isto é, cerca de 70 milhões de
brasileiros habitam até 50 km longe da linha de costa.

Entretanto, as leis da ocupação são bastante desrespeitadas no


litoral, principalmente por causa da pressão demográfica, da
especulação imobiliária e, nos balneários, por causa dos imóveis de
veraneio desocupados e da alta rotatividade de moradores.
Atualmente as maiores causas de extinção são a degradação de
ambientes naturais, a conversão e a fragmentação dos habitats,
decorrentes da expansão urbana, agricultura, pecuária, poluição e
incêndios. Isto pode provocar o declínio das populações e o isolamento
das mesmas, a redução do fluxo gênico; a escassez de abrigos, de sítios
reprodutivos e de alimentação, promovendo o aumento da
vulnerabilidade das espécies (FATMA, 2010).

Poucas pessoas reconhecem o nosso grau de dependência dos


ecossistemas terrestres e aquáticos para a nossa qualidade de vida,
porque não vemos facilmente as interrelações entre eles, isto é, as
suas trocas de matéria e energia. Entretanto, assim como os seres
vivos formam cadeias alimentares, os ecossistemas formam redes
maiores ainda que nos envolvem para além dos seus limites mais
evidentes.

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Ecossistemas que parecem não ter ligação nenhuma conosco, na
verdade determinam a nossa qualidade de vida. Vejamos dois
exemplos, o primeiro na escala planetária e o segundo na escala
regional.

Os oceanos produzem metade do oxigênio que respiramos e


absorvem 60% do gás carbônico, responsável principal pelo efeito
estufa. Por isso, quando degradamos os ecossistemas oceânicos,
comprometemos a qualidade de vida em todo o planeta. Um mangue
é uma fonte de biodiversidade e um filtro para a água dos rios
litorâneos, onde se depositam todos os poluentes que são
transformados em alimentos por muitos seres vivos. Ao eliminar um
mangue, destruímos a base da cadeia alimentar na região e
deixamos os poluentes escoarem para o mar, provocando
degradação de baías, enseadas, lagoas e oceanos.

Apesar das consequências desastrosas desta degradação, ela


continua sendo provocada ao longo do litoral brasileiro, com
intervenções corretivas apenas ocasionalmente. Não se eximem
desses crimes ambientais nem a população nem os administradores
públicos dos municípios costeiros. Não se trata de acusação ou
julgamento crítico, mas de constatação de uma realidade registrada
em documento do Governo Federal Brasileiro (GI-GERCO, 2018).

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O que é um ecossistema?

P ara entender o conceito de ecossistema, é preciso rever dois


outros conceitos mais gerais: paisagem natural e meio
ambiente.

Paisagem natural é um cenário formado pelos elementos visíveis


de relevo, tais como águas superficiais, flora e fauna, excluídas as
estruturas construídas pelo homem. Ela não tem limites definidos,
exceto os determinados pelo horizonte e pelo alcance da visão do
observador. Esse é um conceito meramente descritivo, portanto.

Meio ambiente é o conjunto de elementos físicos, químicos,


biológicos e sociais que ocupam uma porção da paisagem natural e
influenciam de alguma forma a sobrevivência dos seres vivos e das
atividades humanas. Esta definição indica que fazem parte do meio
ambiente os recursos naturais, como a água e o ar, e os fenômenos
físicos do clima, como energia, radiação, descarga elétrica e
magnetismo. Observe que o conceito de meio ambiente abrange os
elementos sociais, que são criados pelo Homem e incluem estruturas
construídas e áreas ocupadas por atividades urbanas e rurais.

Ecossistema é o conjunto de organismos que habitam uma área


definida da paisagem natural e interagem entre si e com o meio
ambiente de forma estável. Este conceito engloba, portanto, apenas
os seres vivos da natureza e exclui os elementos do meio físico. Os
ecossistemas podem ser aquáticos ou terrestres. Ecossistemas
aquáticos são os mares, oceanos, rios, lagos, lagoas, lagunas.
Ecossistemas terrestres são os desertos, as florestas, montanhas,
planícies, banhados, manguezais.

5
Relações do homem com o meio ambiente

O homem não é apenas um observador ou agressor da natureza,


mas é um indivíduo social que pertence e depende do meio
ambiente, explora seus recursos para a sobrevivência e a qualidade
de vida, ao mesmo tempo em que sofre as consequências das suas
intervenções sobre o equilíbrio dinâmico desse meio.

A visão escolástica do homem como criatura divina, acima de todos


os seres vivos, foi consolidada na Idade Média da Europa, com duas
consequências principais. Primeira: nós passamos a nos considerar
superiores e separados da natureza. Segunda: nós nos atribuímos o
direito de intervir nos ambientes naturais, modificando-os de acordo
com os nossos interesses e para suprir as nossas necessidades de
sobrevivência, sem preocupação com os efeitos negativos dessas
intervenções.

Em contraponto a esta concepção, as sociedades orientais de um


modo geral, principalmente as consolidadas bom base na cultura
budista e hinduísta, sempre trataram o homem como integrante da
ordem natural. Por isto, os orientais consideram os seres vivos
nossos semelhantes, com os mesmos direitos de serem respeitados e
preservados. Além disso, faz parte da visão de mundo do Oriente a
noção de que o nosso bem estar (que podemos traduzir como
qualidade de vida) depende diretamente do bem estar de todos os
outros seres vivos.

O grande objetivo da gestão ambiental é assegurar a qualidade de


vida do homem, como ser que intervém racionalmente na natureza,
e dos ecossistemas, como ambientes onde convivem seres vivos, os
recursos naturais e a segurança do substrato físico. A qualidade de
vida, por sua vez, incorpora o conceito de sustentabilidade, porque o
equilíbrio dos ecossistemas é dinâmico e pode ser facilmente
rompido, agravando a fragilidade ambiental e o risco de danos a
todos os seus componentes.

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Compartimentos do litoral brasileiro

P ara compreender mais amplamente a distribuição dos


ecossistemas do litoral brasileiro, é importante conhecer a sua
compartimentação geomorfológica, isto é, a distribuição das feições
de relevo dominantes em cada trecho da costa. Considerando a
enorme extensão do nosso litoral, esta compartimentação precisa ser
feita de modo bem genérico, como a proposta por MUEHE (2010).

Fonte: adaptado de MUEHE (2010).

Compartimentação geomorfológica do litoral brasileiro.

O litoral Norte, do Amapá até a costa do Maranhão, é


essencialmente plano, com morros isolados, dominado por
manguezais e rico em água doce devido à presença da foz do rio
Amazonas e inúmeros estuários fluviais. Trata-se de uma costa
recoberta por vastas camadas de sedimentos lamosos, isto é, ricos
em argila e matéria orgânica, típicos dos manguezais. Inúmeros rios
formam a maior e mais densa rede fluvial da América do Sul, cujo
padrão meandrante empresta beleza ímpar à planície litorânea.

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Fonte: Google Earth

Costa do Maranhão dominada por manguezais e estuários.

Fonte: estadão.com.br

Cenário típico de manguezal do litoral Norte do Brasil.


Dentro do mesmo compartimento geomorfológico, os Lençóis
Maranhenses estendem-se continente adentro, como extensão
natural dos manguezais, já fora da influência das marés. A paisagem
desértica é pontilhada de lagoas temporárias, formadas por água da
chuva, desenhando um cenário que constitui um dos mais
importantes destinos turísticos brasileiros.

8
Fonte: imirante.com

Lençóis Maranhenses

Do Piauí até Sergipe, o litoral Nordeste é configurado em terraços


sedimentares, de origem fluvial com camadas de caráter marinho,
que confrontam o mar em falésias, esculpidas pelas ondas e marés,
com alturas de até 20 metros acima da linha de costa. Nos estudos
geomorfológicos, esses terraços recebem o nome de tabuleiros
litorâneos, tanto pela configuração tabular quanto pela presença das
falésias que caracterizam a costa nordestina do Brasil.

9
Fonte: aviesp.com

Falésias do Rio Grande do Norte

No compartimento Oriental, da Bahia até o Rio de Janeiro, as


falésias são descontínuas, fragmentadas pela erosão e entrecortadas
por serras e morrarias de rochas cristalinas. Este trecho da costa
brasileira representa, de fato, uma transição geomorfológica para o
litoral montanhoso e recortado do Sudeste.

De São Paulo ao sul de Santa Catarina, a faixa litorânea é dominada


pelas montanhas da Serra do Mar, sustentadas pelas resistentes
rochas ígneas e metamórficas do embasamento cristalino do Brasil.
Grandes contrastes de altitudes, da ordem de até 2.000 metros,
condicionam variações notáveis de ecossistemas. Profundas baías e
enseadas são flanqueadas por manguezais junto à costa e sucedidas
por planícies onduladas em direção ao continente. As encostas das
montanhas ocultam-se sob a densa Mata Atlântica, entremeadas a
escarpas rochosas e campos de altitude com vegetação típica do
cerrado.

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Fonte: Gabriel Toledo

Baía de Antonina e encostas da Serra do Mar, no litoral paranaense.

O trecho meridional da costa brasileira é representado pelo litoral do


Rio Grande do Sul, de perfil retilíneo a ondulado, largura no sentido
E-W que se estende por dezenas de quilômetros e uma sucessão de
lagunas, lagoas, estuários, cordões arenosos e raros manguezais.
Algum relevo de planalto, representado pela escarpa da Serra Geral,
interrompe a planície costeira apenas nas proximidades de Torres.

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Fonte: Inpe

Litoral do Rio Grande do Sul

12
Fragilidade e proteção ambiental dos ecossistemas

Oceano Atlântico
Características geográficas

A té 250 MA (milhões de anos) atrás, os continentes formavam


um único bloco, que foi chamado pelo geólogo alemão Alfred
Wegener supercontinente Pangea, cujas porções norte e sul ele
chamou de Laurásia e Gondwana, respectivamente.

O Gondwana começou a se romper há aproximadamente 250 MA e


depois de uns 100 MA após o início da abertura, isto é, há mais ou
menos 150 MA, deu início à formação do oceano Atlântico.
Transcorridos mais 100 MA, o Atlântico atingiu a forma atual,
portanto há 50 MA, e continua crescendo em média 5 cm por ano.

Hoje a largura do Atlântico varia de 5.000 a 6.000 km, dependendo


da latitude em que se faz a medição, e a profundidade média é de
4.000 m.

Laurásia

Gondwana

Fonte: infoescola.com

Ruptura da Pangea e formação dos oceanos.


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Ao final da última glaciação e no início do período Holoceno, 10.000
anos atrás, o nível do mar estava 120 m abaixo e a costa brasileira
ficava 120 km a leste da posição atual. Esta coincidência de números
(120 m e 120 km) deve-se ao fato de que a plataforma continental
inclina-se cerca de 1 metro a cada quilômetro em direção ao eixo
central do oceano. Já 5.000 atrás, o mar subiu aproximadamente
130 m, chegando até 10 m acima do nível atual, a partir de quando
começou a baixar e chegou ao nível que conhecemos hoje.

As flutuações do nível dos oceanos são provocadas principalmente


pela sucessão de períodos de congelamento e descongelamento do
planeta, chamados respectivamente de períodos glaciais e
interglaciais. O congelamento extrai água da superfície da Terra e
concentra nas geleiras e calotas polares. O aquecimento do planeta
devolve aos oceanos todo ou parte de todo o volume das águas
capturadas nas massas congeladas. Além deste processo, variações
podem ser observadas por efeito de movimentos tectônicos nos
continentes, que acentuam ou compensam as flutuações oceânicas,
chamadas de eustáticas.

Durante os períodos glaciais, a erosão aumenta sobre os continentes,


por efeito do aumento da diferença de altitude entre os terrenos
emersos e o nível do mar. Assim, criam-se grandes desfiladeiros,
vales profundos ao longo dos rios e escarpas majestosas ao longo das
cadeias de montanhas. É o que vemos, por exemplo, ao longo das
serras litorâneas, como a Serra do Mar de Santa Catarina até a
Bahia. Com erosão mais acelerada, são gerados volumes de
sedimentos muito maiores do que nos períodos interglaciais, os
quais se depositam ao longo da costa e formam extensos desertos de
clima glacial. Estes desertos são as primeiras fontes de suprimento
das areias para as nossas extensas praias arenosas.

Ao contrário, durante os períodos interglaciais, a elevação do nível


do mar literalmente afoga os vales do litoral e transforma grande
parte das montanhas em ilhas costeiras. O clima úmido atenua as
formas do relevo, arredondando as montanhas e amenizando as
escarpas, ao mesmo tempo que produz espessos mantos de solo
argiloso.

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“Ao longo da costa brasileira há diversas evidências de eventos de transgressão (subida
do nível do mar) e regressão (abaixamento do nível do mar), com amplitudes que
alcançaram mais de 100 m, sendo que o registro mais completo é encontrado na
planície costeira do Rio Grande do Sul, onde há evidências de quatro níveis de mar alto
relacionados a períodos interglaciais nos últimos 420 mil anos. Esses registros de
variação do nível do mar tendem a diminuir em direção ao norte, estando ausentes na
Costa Norte do Brasil.” (CAMPOS, 2020)

Fragilidade ambiental

Os oceanos são os maiores reguladores do clima no planeta:


produzem 90% do oxigênio e absorvem mais ou menos 50% do gás
carbônico da atmosfera.

As correntes marítimas são provocadas por diferenças de


temperatura, salinidade, densidade e direção das ondas. Elas são
decisivas para a regulação do clima em todo o planeta, não apenas
sobre os oceanos, porque distribuem calor e frio entre os polos e as
zonas equatoriais. As correntes frias migram dos polos ao equador,
onde se aquecem, e retornam aquecidas e carregadas de nutrientes e
animais marinhos. Infelizmente, a sua carga de retorno inclui
também lixo e poluentes químicos, tanto de origem oceânica
(principalmente lançados por navios) quanto continental (o maior
volume transportado pelos rios até a costa).

As espécies marinhas sofrem há pelo menos um século um processo


acelerado de extinção, devido a várias causas: aquecimento global,
poluição, acidificação e pesca predatória.

Em 2010, a NASA – National Aeronautics and Space


Administration definiu o aquecimento global como o aumento
incomumente rápido da temperatura média da superfície da Terra,
em relação ao século passado, devido principalmente aos gases de
efeito estufa liberados pela queima de combustíveis fósseis pelo
homem. Segundo a NOAA – National Oceanic and Atmospheric
Administration, esta duplicação na taxa de aquecimento aconteceu
nos últimos 40 anos, com os 10 anos mais quentes da história
registrados a partir de 1998 e os 4 mais quentes a partir de 2014.
Nos últimos 20 anos, contados até 2016, 18 deles foram os mais

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quentes registrados na história. Ainda em 2016, foram registrados os
16 meses consecutivos mais quentes da história.

A poluição dos oceanos é um fato tristemente confirmado nos


noticiários do mundo inteiro, juntamente com as inovações que
surgem na tentativa de combatê-la ou corrigi-la. Cinco enormes
“ilhas” de plástico, formadas pelas correntes oceânicas, maiores do
que vários estados brasileiros juntos, concentram enormes volumes
de plástico particulado. Como as espécies marinhas são
essencialmente filtradoras, porque engolem a água e retêm os
alimentos em suspensão, hoje em dia elas estão sugando mais
plásticos e outros poluentes do que nutrientes.

Fonte: Ranker

Ilhas de plástico nos cinco giros oceânicos.

A fragilidade dos oceanos em relação à poluição está principalmente


relacionada com a sua natureza líquida. A sua fluidez permite a
dispersão dos poluentes sem formar limites visíveis, exceto quando
estão excepcionalmente concentrados ou são líquidos imiscíveis com
a água. As ilhas de plástico e os derrames de óleo que de vez em
quando atingem a costa brasileira são dois exemplos desses
processos responsáveis pela gravidade da poluição dos oceanos.

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Quanto à acidificação das águas oceânicas, ela é constatada na
destruição das conchas dos moluscos, mariscos, corais, plânctons e
algas, que morrem por falta de proteção. Ela é produzida pela
absorção do gás carbônico da atmosfera. O CO2 combina-se com a
água, formando ácido carbônico e íons de H+, responsáveis pela
acidez do líquido. Assim como a concentração deste gás de efeito
estufa aumentou 30% desde o início do século vinte, a acidez dos
oceanos aumentou na mesma proporção, no mesmo período.

A pesca predatória está destruindo muitas espécies marinhas, que


estão sendo exploradas no limite: bacalhau, atum, baleia jubarte,
tartaruga. Segundo o IBAMA, a lista de espécies em extinção inclui:
garoupa, cação, batata, bagre, raia. Vários estudos mostram que
mais da metade das espécies serão extintas em 45 anos, o resto até o
fim do século.

Quantidades incalculáveis de peixes são pescadas diariamente


somente para a produção de ração de frango, no mundo inteiro. Por
isto, de vez em quando sentimos o sabor de peixe nos frangos de
supermercado.

Fonte: razoesparaacreditar.com

Ilha de plástico no Atlântico Sul.

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Proteção ambiental

Como o oceano Atlântico é uma massa contínua de água salgada,


apenas interrompida por cabos, pontões e ilhas, não existem formas
de proteção que possamos adotar facilmente para proteger porções
isoladas. Tendo, também, extensão de escala planetária, as causas de
degradação ambiental tendem a refletir fenômenos
excepcionalmente vastos, como a poluição da atmosfera e o
lançamento de poluentes pelos inúmeros navios, barcos e
plataformas de exploração e produção petrolífera. Mesmo assim, é
possível agir na escala local no sentido de reduzir os impactos
reconhecidos ao longo da costa.

A medida de proteção ambiental mais importante que podemos


adotar para os oceanos é evitar a poluição. Não devemos jogar lixo
de qualquer tipo – doméstico, industrial, plástico, orgânico – no
continente e na praia, porque estes poluentes espalham-se
facilmente devido ao constante movimento das ondas, correntes e
marés.

Não devemos pescar em locais proibidos e em épocas de defeso,


obedecendo às determinações do IBAMA e dos órgãos de controle
ambiental estaduais e municipais. Isto é indispensável para evitar a
extinção das espécies marinhas.

Ilhas costeiras
Características geográficas

A o contrário das ilhas oceânicas, que ficam longe da costa,


formadas por rochas vulcânicas recentes ou de corais, as ilhas
costeiras estão próximas da costa e são extensões do continente,
compostas por rochas antigas que formam a crosta continental.

Em sua maior parte, as ilhas que circundam a costa brasileira


formavam morros, montanhas ou cadeias de elevações, durante a
última era glacial. Com a elevação do nível do Atlântico durante o
período interglacial, que ainda vivemos, os picos emersos dessas
elevações formam as inúmeras ilhas que embelezam o nosso litoral.
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As maiores são as ilhas de Vitória, São Sebastião, São Vicente, São
Luís e Santa Catarina (onde se localiza Florianópolis).

Fonte: Jovem Pan

Ilha do Campeche no litoral de Santa Catarina.

Fragilidade ambiental

As ilhas costeiras são ambientes isolados e, por isto, tipicamente


pobres em diversidade biológica. Elas são cobertas por poucas
espécies vegetais, muitas vezes apenas líquens, bromélias e outras
plantas rupestres (que crescem sobre rochas). Das espécies animais,
normalmente abrigam apenas aves, insetos, répteis e raros
mamíferos, como ratos e cabras. Isto as torna altamente vulneráveis
à invasão de espécies exóticas.
Em consequência à pouca biodiversidade, as ilhas contêm alimentos
e espécies nativas limitados em quantidade e variedade. Isto
significa que qualquer destruição de plantas ou matança de animais
pode afetar profundamente a sua cadeia alimentar. A eliminação de
uma espécie animal, por exemplo, pode deflagrar a superpopulação

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de suas presas, como a matança de cobras pode provocar a expansão
descontrolada da população de roedores.
Assim como acontece com o bioma, também o solo e a água doce são
muito limitados nas ilhas costeiras. A cobertura de solo é delgada,
salinizada pela maresia constante e descontínua. Esta pobreza de
proteção permeável sobre as rochas prejudica a infiltração lenta e o
armazenamento da água da chuva, impedindo a formação de
reservas subterrâneas de água doce.
Entretanto, as ilhas costeiras são locais muito importantes para a
nidificação de aves marinhas, tais como fragatas, gaivotas e atobás.
A proximidade da costa favorece o intercâmbio com os ecossistemas
de terra firme, atraindo aves e insetos de habitat continental.
O isolamento geográfico facilita a construção de obras irregulares e
sem fiscalização. Não são poucas as ilhas onde encontramos
residências e outras edificações clandestinas, atracadouros e
marinas que atestam a ocupação ilegal desses refúgios da vida
selvagem.

Proteção ambiental

Como as ilhas costeiras atraem o turismo ecológico, é importante


não levar espécies exóticas em passeios, na forma de frutas, flores,
folhagens ou sementes. As espécies exóticas são geralmente
agressivas, porque estão fora dos seus ambientes naturais, e
disputam água e nutrientes com as espécies nativas, podendo
impedir o seu desenvolvimento. Mesmo pequenas flores de aspecto
inocente, como o beijinho, conseguem infestar trechos de floresta
nativa e eliminar espécies de grande porte.
Por outro lado, não se deve retirar espécies nativas das ilhas, outro
hábito comum e nocivo dos turistas que levam lembranças de seus
passeios. A coleta de algumas flores ou folhagens de um ecossistema
naturalmente limitado tem consequências muito mais graves do as
que podemos imaginar. Trata-se, de fato, do crime ambiental tão
prejudicial quanto a introdução de espécies exóticas. Mais grave do
que isto, somente a eliminação de alguma espécie indesejada por

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habitantes inescrupulosos, com a consequente superpopulação de
suas presas naturais.
Ao final de passeios e pescarias, deve-se ter o cuidado de não deixar
lixo de qualquer espécie numa ilha costeira. Evidentemente, esta
recomendação aplica-se a qualquer ecossistema, mas vale reforçar a
sua importância para a proteção ambiental das ilhas. Lixo orgânico
contém sementes e frutos que podem gerar espécies exóticas ou,
inversamente, contaminar e destruir espécies nativas. A poluição das
eventuais fontes de água doce é fatal para o ambiente local.
Por isto, quando localizadas, as fontes de água doce devem ser
preservadas. Elas atraem a atenção dos visitantes e tornam-se com
frequência locais para deposição de lixo. Uma medida de proteção
ambiental desejável para uma ilha costeira é cobrir o olho d’água
com pedras ou estruturas de alvenaria, deixando livre o fluxo do
excesso de água para consumo dos animais.

Praias arenosas
Características geográficas

A s praias arenosas do litoral brasileiro foram formadas por


subidas e descidas do oceano nos últimos 10.000 anos, quando
se esgotou o último período glacial. Neste sobe e desce do nível do
mar, grandes desertos se formaram com as areias transportadas do
continente, as quais se estendem hoje desde as praias até a borda da
plataforma continental.

Depois que o mar desceu dos 8 m até o nível de hoje, ficou para trás
uma grande planície arenosa, que foi sendo erodida para dar lugar
aos rios, várzeas e lagoas, e para criar o relevo mais ondulado que
temos ao longo do litoral brasileiro.

Nas áreas onde as rochas são mais resistentes, formaram-se morros


e costões rochosos, e nas áreas de rochas menos duras a erosão
formou baixadas, onde se acumularam as praias arenosas.

Um perfil de praia arenosa contém cinco faixas, vistas a partir da


linha d’água: zona de arrebentação, zona de surfe, face da praia,

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bermas e dunas frontais. As duas primeiras situam-se dentro do
oceano e as outras distribuem-se no terreno emerso. Enquanto o
perfil é controlado pelas ondas normais e de tempestades, a linha de
costa é modelada pelas marés e correntes marinhas.

O perfil praial é construído pela interação entre o estoque de


sedimentos disponíveis e os movimentos do oceano, que se
organizam na forma de ondas, correntes e marés. As ondas exercem
a influência mais visível sobre a conformação do perfil praial,
principalmente durante tempestades, quando o transporte dos
sedimentos chega a destruir algumas feições do relevo e destruir
outras.

A zona de arrebentação forma-se sobre os bancos de areia, que


elevam o fundo do mar e quebram a energia das ondas,
interrompendo o deslocamento livre das cristas, que se desfazem. O
espaço de movimentação das ondas a partir da arrebentação até a
praia chama-se zona de surfe. A face da praia é a faixa de areia que
se estende desde a linha d’água, definida pela posição média entre as
marés alta e baixa, até a primeira escarpa do terraço onde se
desenvolve a restinga.

A restinga é um tipo de vegetação, rasteira a arbustiva sobre a praia,


arbustiva a arbórea além das dunas frontais. Esta vegetação retém os
sedimentos transportados pelo vento, criando um terraço horizontal
que serve de transição entre a praia e as dunas frontais. As dunas
móveis e fixas formam o pós-praia, mas não ocorrem em todos os
trechos de litoral.

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Fonte: E.E.Arioli

Perfil de uma praia arenosa.

Fonte: E.E.Arioli

Limite inferior da restinga.

Fragilidade ambiental

O perfil da praia não é fixo, varia ao longo do ano. Esta variação do


perfil é normal, porque ela corresponde às mudanças sazonais e
diárias na energia e direção das ondas e correntes marinhas. Para
que se mantenha o equilíbrio entre a energia dinâmica do oceano e a
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distribuição de sedimentos ao longo da praia, o seu perfil não pode
ser perturbado. A consequência mais evidente e grave desta
perturbação é a erosão acelerada, problema generalizado no litoral
brasileiro.

Fonte: Adeylan Santos

Erosão costeira.

As perturbações mais graves, e infelizmente mais comuns, são a


extração de grandes volumes de sedimentos, principalmente areia e
cascalho, e a construção de estruturas, tais como edificações, molhes
e muros de contenção. Elas impedem a movimentação dos
sedimentos em resposta às mudanças de energia do oceano,
provocando erosão em alguns pontos e assoreamento em outros, de
forma imprevisível e perigosa para a ocupação humana.

As zonas baixas e úmidas das praias podem conter nascentes de


água, que são fáceis de contaminar por misturas com esgoto. Elas
representam locais frágeis das praias arenosas, porque atraem os
fluxos de poluentes líquidos do entorno, concentra-os e favorece o
seu escoamento para dentro do oceano.

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As restingas são frágeis, com pouca biodiversidade e demoram
muito a crescer. As espécies vegetais típicas da restinga são: erva-
capitão, salsa de praia, erva baleeira, cacto palma, pinheirinho de
praia, cambará de bicho, feijão de praia, capim de praia, pitangueira,
vassourinha. As espécies animais mais encontradas nas praias
arenosas são: tatuíra, caranguejo, siri, corrupto, bolacha-de-praia.

Assim como acontece nas ilhas costeiras, a baixa biodiversidade das


restingas representa uma fragilidade muito sensível tanto à
eliminação de espécies nativas quanto à introdução de espécies
exóticas. Isto é muito comum no litoral ocupado por residências.
Lixo doméstico é jogado para dentro da restinga, onde é oculto pela
vegetação densa. Passarelas para a praia são abertas com a
destruição das espécies nativas e o plantio de gramíneas importadas,
de um modo geral muito ornamentais, mas invasoras agressivas
neste ecossistema frágil.

Fonte: E.E.Arioli

Passarela com gramínea exótica interrompendo a restinga.

Proteção ambiental

Embora seja um cuidado que devemos adotar em qualquer


ecossistema, nas praias os acúmulos de lixo produzem danos
especialmente graves. Um dos motivos principais para esta

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gravidade é a mobilidade natural dos sedimentos litorâneos, sob a
influência das águas e dos ventos, que favorece a dispersão de
poluentes. Consequentemente, depois de formados os depósitos de
lixo, fica muito difícil de recolher e eliminar a contaminação.

Em decorrência à facilidade de dispersão do lixo nas praias


arenosas, a proximidade do oceano favorece a captura pelas ondas e
a incorporação dos poluentes às correntes marinhas, com os efeitos
comentados na seção anterior. Por isto, evitar o lançamento e o
acúmulo de lixo nas praias arenosas é uma medida de proteção
ambiental especialmente importante.

Para preservar as restingas, deve-se evitar atividades que agridam a


vegetação, tais como acampar, atear fogo, fazer churrasco, jogar lixo,
eliminar espécies nativas e plantar espécies exóticas. Não se deve
lançar esgoto na praia, principalmente nas restingas e em corpos
d’água, como córregos, lagunas e nascentes.

Obras civis, sejam elas edificações residenciais, muros de contenção,


marinas, diques e molhes podem provocar erosão e assoreamento de
mangues. Elas só devem ser executadas onde necessário, com
autorização legal e orientação técnica adequada.

Da mesma forma, a extração de areia dos rios e das dunas só deve


ser executada de acordo com o que determinam o Código de
Mineração e a legislação ambiental, também com supervisão e
responsabilidade técnica.

Campos de dunas
Características geográficas

O litoral brasileiro contém diversos campos de dunas de diversos


tipos e extensões, desde o Rio Grande do Sul até o Amazonas.
Contudo, os mais notáveis ocorrem ao longo da zona costeira do
nordeste brasileiro, com as maiores exposições ocorrendo entre o
Rio Grande do Norte e o Maranhão, passando pelo Ceará.

26
Os campos de dunas apresentam características variáveis, definidas
pela direção do vento dominante, pelo relevo da superfície
percorrida pelos sedimentos desde sua origem e pelo volume de
sedimentos disponíveis na fonte, que é geralmente a praia adjacente.

De acordo com a mobilidade, as dunas são classificadas em móveis,


semifixas, fixas e eolianitos (litificadas por cimentação química dos
grãos). Nas interdunas, as formas de deflação são as superfícies nuas
do terreno e as feições antigas do relevo, expostas pela remoção dos
sedimentos. As dunas móveis não têm cobertura vegetal, as
semifixas têm vegetação em algumas partes, as fixas têm cobertura
vegetal completa e os eolianitos comportam-se como rochas
sedimentares.

Fonte: wix.com

Dunas semifixas com cobertura parcial de vegetação.

As dunas são ambientes propícios ao acúmulo de águas pluviais,


alimentando muitos aquíferos das regiões costeiras. Os campos de
dunas exercem também um papel fundamental no equilíbrio
geomorfológico das zonas costeiras. Eles fornecem sedimentos para
rios e praias, alimentando direta ou indiretamente a deriva litorânea
que mantém as praias arenosas do nosso litoral.

27
Fragilidade ambiental

Os campos de dunas são grandes depósitos de areia, necessária para


a manutenção das praias, para onde são transportadas pelos ventos
ou através dos rios.

Quanto mais móveis as dunas, menos cobertura vegetal elas contêm


e, assim, não desenvolvem uma camada de solo, essencial para a sua
fixação. As dunas semifixas já apresentam alguma vegetação típica
de restinga, de porte herbáceo, que evolui a arbustos e pequenas
árvores à medida que aumenta a imobilização da areia. Trata-se de
um processo de retroalimentação: a cobertura vegetal estabiliza os
sedimentos no relevo e a estabilidade do terreno permite o
adensamento e a sucessão ecológica para espécies mais robustas.

A fauna dos campos de dunas é extremamente reduzida, devido à


escassez de alimentos, limitando-se a alguns crustáceos (siri),
anelídeos poliquetas (nereis) e répteis (lagartos). A reduzida
biodiversidade desses ecossistemas caracteriza a sua extrema
fragilidade ecológica, com uma cadeia alimentar restrita a tão
poucas espécies animais.

Por outro lado, os campos de dunas constituem áreas de recarga de


aquíferos. O grande volume de sedimentos dominantemente
arenosos garante permeabilidade suficiente para a infiltração rápida
da água da chuva e a percolação até as camadas aquíferas. Essas são
as fontes mais importantes, senão as únicas, em muitas áreas
litorâneas do Brasil.

O estoque de areia retido nos campos de dunas garante a


manutenção das praias. Os sedimentos carreados pelos ventos são
depositados no relevo ondulado das dunas e devolvidos pelas
correntes opostas, dentro de um ciclo que mantém o perfil praial em
equilíbrio.

A beleza paisagística dos campos de dunas torna-os particularmente


atraentes para o turismo, com as possíveis consequências danosas
do lixo, da coleta de plantas como lembranças de viagem e matança
de animais indevidamente tidos como perigosos. Os roteiros de
passeios com veículos próprios para terrenos arenosos conduzem e

28
concentram a circulação de turistas nas margens das lagoas,
potencializando o risco de danos ambientais.

Fonte: curiozzo.com

Dunas do Rosado, atração turística do Rio Grande do Norte.

Proteção ambiental

A mobilidade das dunas e a baixa biodiversidade requerem medidas


de proteção física e biológica, respectivamente. Sistemas de fixação
dos sedimentos são amplamente utilizados no Brasil, baseados
principalmente na instalação de treliças rústicas e cultivo de espécies
vegetais arbustivas.

Pelos mesmos motivos, embora os campos de dunas não estejam


protegidos pela legislação ambiental como Áreas de Proteção
Permanente, eles devem ser evitados como locais para ocupação
residencial.

O ecoturismo é uma alternativa de exploração econômica viável e


adequada para esses ecossistemas costeiros. Medidas de proteção
possíveis são o controle sobre a densidade de roteiros concorrentes,

29
a prevenção de ações predatórias contra o meio ambiente e a
proibição de coleta de amostras da flora e da fauna.

Costões rochosos
Características geográficas

O s costões rochosos formam-se onde o mar aberto, de águas


profundas e ondas fortes bate contra rochas resistentes. Nestas
condições, o solo e a vegetação são removidos pelas ondas, deixando
as lajes e os blocos de rocha expostos, sem proteção. Eles são os
ecossistemas predominantes das ilhas oceânicas e costeiras, e muito
abundantes no litoral brasileiro do Espírito Santo a Santa Catarina.

Fonte: bioflagrantes.com

Costão rochoso.

Fragilidade ambiental

O ambiente natural nos costões rochosos apresenta as condições


mais inóspitas do litoral, para a sobrevivência dos seres vivos. A alta
energia das ondas e as rápidas variações de temperatura exigem alta
30
resistência das espécies de hábito fixo, tanto vegetais quanto animais
com carapaças. Isto leva a uma baixa biodiversidade neste
ecossistema, com poucas espécies e recuperação muito lenta quando
danificadas.

Trata-se, portanto, de um bioma extremamente especializado, cuja


flora inclui algas, musgos, cactos, bromélias (folhas espinhentas e
duras) e a fauna não contém mais do que tartarugas, mariscos,
caranguejos, estrelas do mar e ouriços.

A sua constituição rochosa atrai a construção irregular de


edificações, crime ambiental muito comum ao longo da costa
brasileira, mesmo considerando que a legislação proíbe construir em
costões rochosos até 50 m acima da maré alta.

A grande quantidade de fendas nas rochas nuas facilita o enclave de


lixo sólido, cuja remoção é extremamente difícil tanto pela rigidez da
fixação devido ao movimento das ondas quanto pelo acesso
perigoso, quando não impossível.

Fonte: institutoecofaxina.org.br

Lixo plástico encravado em fenda de costão rochoso.

31
Proteção ambiental

Considerando as condições inóspitas desse ecossistema e a


biodiversidade extremamente reduzida, é prioritário preservar a
cobertura de solo e a vegetação acima dos costões rochosos. O solo
permite o crescimento de espécies herbáceas e arbustivas mais
robustas e ricas em nutrientes, atraindo a fixação de
microrganismos, vermes e animais propagadores de sementes.
Embora a rocha nua dos costões admita o desenvolvimento de um
bioma exclusivamente rupestre, com líquens, algas, cracas e insetos,
o ambiente mais rico logo acima funciona como uma zona de
proteção, comparável à restinga das praias arenosas.

Ainda em consideração à fragilidade extrema desse ecossistema, não


se deve lançar lixo doméstico ou industrial sobre os costões. A beleza
do cenário que se descortina sobre eles atrai o turismo e a
construção de residências, geradores de acúmulos de detritos tão
comuns nas nossas praias.

Até por respeito à legislação brasileira, não se deve ocupar com


edificações e estruturas que não sejam absolutamente necessárias,
autorizadas pelas autoridades ambientais e orientadas por projetos
adequados de engenharia. Por isto, não é raro encontrar acima dos
costões residências com avisos de interdição judicial, por terem sido
construídas em local proibido.

Morrarias
Características geográficas

A ntes de qualquer coisa, vamos definir alguns termos


relacionados com esse ecossistema. Morro é qualquer
elevação com altura de 50 a 300 metros, medida da base ao topo e
independente da altitude acima do nível do mar. Formas de relevo
com altura de até 50 metros são colinas e, acima de 300 metros,
são as montanhas propriamente ditas. Morraria é o coletivo de
morros, podendo ter a configuração de serra ou de morros isolados.
Mar de morros é um termo popularizado pelo geógrafo Aziz Nacib

32
Ab’Saber ao caracterizar o domínio morfoclimático dominado por
uma grande quantidade de morros isolados. Domínio
morfoclimático é definido pela combinação de um relevo e um
clima específicos, como um mar de morros em clima subtropical
úmido.

Os morros do litoral brasileiro são colinas formadas por rochas


ígneas e metamórficas pertencentes ao que se denomina
Embasamento Cristalino. No clima úmido, as rochas mais ricas em
minerais de ferro, magnésio e cromo, reconhecidas pelas cores
escuras, são decompostas mais rapidamente do que as rochas
graníticas e de cores claras, ricas em quartzo. A isto se chama erosão
diferencial, processo responsável pelas formas de relevo
contrastantes, umas elevadas, outras deprimidas.

Fonte: Researchgate

Mar de morros.

Uma característica geomorfológica importante dos morros


litorâneos é o profundo manto de alteração que transforma as
rochas, embora quimicamente resistentes ao clima, em espessos
pacotes de solo e saibro areno-argilosos. Além disso, também por
efeito da decomposição química, os morros têm formas mais
arredondadas do que as montanhas.

33
Conforme descrevemos na introdução, alguns desses morros eram
ilhas quando o mar estava cerca de 8 metros acima do nível atual e
cobria extensas regiões do litoral brasileiro. Por isto, grande parte
das morrarias costeiras eleva-se sobre planícies arenosas,
remanescentes dos depósitos marinhos holocênicos.

Fragilidade ambiental

No Brasil, o solo fértil e a vegetação exuberante, rica em madeira de


lei, dos morros litorâneos atraiu a ocupação desde o início da
colonização portuguesa. A consequência óbvia deste interesse
exploratório, tanto para a extração das espécies nobres da Mata
Atlântica quanto para o cultivo de banana, mandioca, feijão, milho e
outros produtos agrícolas de grande consumo.

A Mata Atlântica é a floresta com maior biodiversidade no território


brasileiro e uma das maiores biodiversidades do mundo, abrigando
mais de 20 mil espécies de plantas. No início da colonização, ela
cobria o território de 17 estados brasileiros, mas restam hoje apenas
7% da sua extensão original.

Ela contém espécies nobres, fornecedoras de madeira de lei e


produtos comestíveis: pau-brasil, pau-óleo, canela preta, peroba,
canharana, palmito e muitas outras. Da fauna original, ainda restam
gambá, paca, cutia, tatu, sabiá, canário, gralha, saíra, gaturamo,
gavião, curió, coleira, pica-pau, tico-tico, tucano. Outros tantos já
foram extintos: anta, quati, veado, capivara, bugio, macaco prego,
tamanduá.

Esta ocupação extensiva levou ao desmatamento generalizado nas


morrarias brasileiras, tanto é que hoje em dia é raro encontrar um
trecho de mata nativa preservada. O que predomina é mata
secundária ou terciária, entremeada de espécies exóticas e ocupação
residencial, encostas desmatadas e erosão acelerada, na forma de
ravinas e voçorocas. Em épocas de chuvas mais intensas, os
deslizamentos de terra e fluxos de lama destroem tudo pelo
caminho, produzindo danos ambientais, econômicos e sociais.

34
Fonte: Freepik
Erosão em encosta desmatada.

Fonte: IPT
Deslizamento de terra na base do morro do Baú (Ilhota, SC).

Neste tipo de relevo, canhadas e grotões úmidos expõem fontes de


água de qualidade excepcional, boas para o abastecimento de
famílias e comunidades da zona rural. Esta é uma riqueza natural
que corre o risco de ser contaminada por dejetos animais ou lixo e

35
esgoto doméstico, quando a ocupação residencial e a atividade
agropecuária não respeitam a legislação ambiental.

Proteção ambiental

A proteção ambiental das morrarias é regida basicamente pela Lei


Federal 6.938 de 31 de agosto de 1981 e pela Resolução do CONAMA
303 de 20 de março de 2002. De acordo com a legislação, por
exemplo, não é permitido desmatar ou construir nas encostas acima
da cota correspondente a dois terços da altura dos morros, inclusive
a linha de cumeada, que são consideradas Áreas de Preservação
Permanente.

Ainda de acordo com a legislação, é proibido caçar e fazer


desmatamento sem autorização legal, mesmo em propriedade
particular. Da mesma forma, não se deve abrir clareiras ou caminhos
cortando arbustos e árvores, de modo a preservar o tamanho das
manchas de vegetação. As manchas de vegetação são os
remanescentes mais abundantes das antigas florestas brasileiras. No
litoral, elas são formadas por fragmentos residuais da Mata Atlântica
e das restingas.

Uma forma de proteger os ecossistemas dos morros litorâneos é


promovendo o ecoturismo controlado. A proximidade das praias e
dos balneários, a natureza exuberante e a beleza da paisagem
favorecem a exploração de roteiros educativos e a prática da
educação ambiental. Roteiros para caminhadas guiadas em encostas
com vistas panorâmicas podem ser planejados para o ensino da
geografia local, dos ecossistemas e dos cuidados mais adequados à
sua preservação.

Planície costeira
Características geográficas

A planície costeira do Brasil é o resultado do acúmulo de


sedimentos continentais ao longo dos últimos 5 mil anos.

36
Como todas as camadas sedimentares, a sua conformação original
era de superfícies horizontais, sem maiores ondulações. Após a
regressão marinha (recuo do oceano até a posição atual), a erosão
esculpiu o relevo ondulado, entremeado por novos planos de
deposição ao longo das planícies aluviais.

Em algumas regiões é possível observar também os efeitos de


movimentos verticais da crosta terrestre ao longo de planos de
falhamentos recentes, no que se denomina neotectônica. Essa
deformação é mais notável em escarpas de pequena amplitude, de
difícil identificação mesmo por geólogos não-especialistas em
Geologia Estrutural.

A planície costeira é formada principalmente por dunas fixas,


cercadas por sedimentos fluviais e lacustres. As restingas arbustivas
e as florestas de terras baixas são extensões da restinga herbácea da
praia. Este tipo de vegetação é substituída nas partes mais elevadas
do relevo pela Mata Atlântica.

Fragilidade ambiental

O relevo suave e a proximidade dos rios atraem a ocupação humana,


tanto residencial quanto produtiva, mas é muito frequentemente
ilegal, porque se instala dentro dos limites determinados para
preservação permanente. Isto é o que se observa ao longo das
barrancas ribeirinhas e das faixas de domínio da Marinha Brasileira,
na orla marítima.

As consequências mais notáveis desta ocupação irregular são o


desmatamento, a erosão e a contaminação dos aquíferos e dos
corpos d’água em superfície. As manchas de floresta (este termo é
usado tecnicamente) se fragmentam e diminuem cada vez mais,
ameaçando a sustentabilidade ecológica. A contaminação dos
aquíferos é facilitada pela posição rasa do nível freático em relação
ao terreno. Os poluentes, tais como agrotóxicos, combustíveis e
chorume de depósitos de lixo, atingem os mananciais rapidamente,
antes mesmo de sofrerem alguma degradação ou depuração. Desta

37
forma, os efeitos danosos da poluição sobre a qualidade das águas
subterrâneas são potencializados.

Fonte: ND

Colapso de margem de rio sem mata ciliar.

As zonas baixas e úmidas da planície costeira podem conter


nascentes. Esta benesse da natureza, proporcionada pela pouca
profundidade do lençol freático, é prejudicada pela facilidade de
contaminação. Trata-se aqui da contaminação direta dos olhos
d’água por deposição de lixo, detritos da atividade agropecuária,
lançamento de esgotos e construção de abrigos para animais
domésticos. Esta contaminação atinge diretamente o fluxo d’água,
completando o quadro de degradação das reservas de água potável
do ambiente litorâneo, tão comum em nosso País.

Junto à orla marítima existe o fenômeno conhecido como intrusão


salina, que é a migração de água do oceano para dentro do
continente. Ela pode inviabilizar a exploração de aquíferos para
abastecimento da população, porque não existem meios de se
corrigir a salinização da água potável depois de ocorrida. Por outro

38
lado, a intrusão salina pode ser promovida por perfurações de poços
tubulares profundos sem controle hidrogeológico.

Fonte: Cultura Mix

Intrusão salina.

Proteção ambiental

A primeira medida de proteção ambiental na planície litorânea


consiste em economizar água potável. porque ela é escassa e
vulnerável aos danos mencionados acima.

O desmatamento deve ser evitado, seja nas matas ciliares (nas


margens dos rios), seja nas manchas isoladas de restinga arbórea ou
de Mata Atlântica. Desta forma, estaremos protegendo a flora e a
fauna contra a extinção, o solo contra a erosão e as águas da
contaminação. Mais do que isto, estaremos protegendo a população
litorânea contra os riscos de enchentes, colapsos de barrancas
ribeirinhas, deslizamentos de encostas e destruição do patrimônio.

A planície costeira é favorável ao cultivo de pastagens, arroz, banana


e cana-de-açúcar. Quando praticada com critérios agronômicos de

39
manejo sustentável, esta agricultura gera riqueza e contribui para a
qualidade de vida.

Várzeas
Características geográficas

V árzeas são planícies formadas pela deposição de sedimentos


durante migração lateral dos meandros dos rios. Elas são,
portanto, planícies mais recentes formadas pela erosão das terras
altas, cujos sedimentos são transportados pelas águas até a planície
litorânea, onde são depositados por redução da energia.

É claro que nem todo rio deposita a sua carga sedimentar no litoral,
basta atingir uma região plana, como um topo de planalto ou uma
planície intermontana, para criar a sua várzea. A verdade é que nas
regiões litorâneas, as planícies aluviais (termo próprio da
Geomorfologia) atingem extensões maiores, por vários motivos.

No litoral, o ambiente geral tende a ser mais amplo e suavizado,


porque é onde se está perto do que se chama nível base de erosão.
Neste caso, o nível base de erosão é o próprio oceano. Por este
mesmo motivo, os cursos dos rios tendem a ser meandrantes, numa
sucessão de curvas que se deslocam lateralmente conforme as
margens são erodidas nas partes externas dos meandros e os
sedimentos são depositados nas partes internas. Este processo
evolui a ponto de provocar a conexão de trechos do mesmo rio, que
abandona meandros e busca novos caminhos para manter o
equilíbrio entre energia da corrente, carga de sedimentos e
inclinação do terreno (mais tecnicamente, gradiente topográfico).

40
Fonte: DocPlayer.com.br

Meandros abandonados em rio de planície.

Fragilidade ambiental

Mais do que na planície litorânea como um todo, as várzeas têm


lençol freático subaflorante, reconhecido nos brejos e zonas
alagadiças. Isto facilita a contaminação permanente devido à falta de
escoamento, tanto pela baixa permeabilidade do solo rico em argilas
quanto pelo terreno plano.

A cobertura vegetal normalmente rasa, formada por gramíneas,


arbustos e matas ralas, pouco protege contra erosão. Nas margens
dos rios, principalmente onde foi removida a mata ciliar, a erosão e
os colapsos de solo são frequentes.

As várzeas são sujeitas a inundações sazonais, com mudanças na


paisagem natural e danos às atividades socioeconômicas
(interrupção do tráfego, destruição de culturas e instalações). Por
isto mesmo são chamadas planícies de inundação e, como diz a
cultura popular de outros países, elas pertencem ao rio e não ao
homem. Parece que aqui no Brasil este ditado não é muito
acreditado...

Os processos de sedimentação em planície concentram argila, areia e


cascalho em grandes volumes atraem o interesse da indústria de
41
construção civil e cerâmica. As escavações e os depósitos de rejeitos
podem ser prejudiciais ao meio ambiente, quando executados sem
orientação técnica. Além disso, cavas abandonadas podem
representar locais de inundação e perigo para animais domésticos e
moradores, mas também contribuem para regular as enchentes.

Devido à alta fertilidade, as várzeas são propícias à agricultura de


subsistência e de colheita rápida: arroz, cana-de-açúcar, forrageiras,
hortaliças, banana, maracujá, mandioca, mamão, milho. Assim
como na mineração, as atividades agrícolas sem controle técnico
podem gerar danos ambientais de difícil correção.

Proteção ambiental

Devido à vulnerabilidade das várzeas às inundações periódicas,


deve-se evitar a ocupação residencial ou industrial permanente. Elas
podem ser exploradas economicamente por meio de atividades
temporárias, como a agricultura e a mineração, desde que bem
planejadas e conduzidas.

É imperioso respeitar a distribuição, a qualidade e a largura da mata


ciliar, definida legalmente como Área de Proteção Permanente,
respeitando-se as dimensões definidas na Lei 6.938/81:

Largura do rio Largura da mata ciliar


< 10 m 30 m
10 - 50 50
50 - 200 100
200 – 600 200
> 600 500

A exploração dos depósitos de materiais para construção civil e


argilas cerâmicas deve ser praticada somente com licença ambiental
e com uso de critérios técnicos. Esses critérios envolvem a
legalização da lavra junto à Prefeitura Municipal ou ao Ministério de
42
Minas e Energia, dependendo do material que será extraído. Para a
obtenção do alvará, é preciso apresentar a licença ambiental e o
plano de lavra.

Estudos geotécnicos devem ser executados em áreas selecionadas


para a construção de aterros sanitários, cemitérios e lagoas de
decantação para efluentes industriais. Entre outros parâmetros, a
permeabilidade dos sedimentos precisa ser determinada para
estabelecer o potencial de filtragem e, inversamente, de
contaminação do lençol freático.

Rios
Características geográficas

C om as cabeceiras geralmente situadas nas montanhas ou nos


planaltos, os rios litorâneos transportam e depositam
sedimentos continentais, tanto das terras altas quanto da planície
costeira. As nascentes são invariavelmente humildes e dão vazão a
pequenos córregos de montanha, que se unem progressivamente até
a planície, onde se avolumam e ocupam leitos com dezenas a
centenas de metros de largura. O rio Amazonas supera essas
dimensões, com mais de mil afluentes, alguns deles classificados
entre os maiores do planeta, até 100 metros de profundidade e 50
quilômetros de largura, na estação das chuvas. A sua bacia
hidrográfica é a maior do mundo, com mais de 7 milhões de
quilômetros quadrados.

O rio São Francisco, um dos mais importantes da América do Sul,


também serve de exemplo. As suas nascentes humildes na serra da
Canastra (MG) disfarçam a sua vastidão, que percorre 2.863
quilômetros até a foz na costa de Pernambuco, na divisa com a
Bahia. Nesse percurso, ele banha 5 estados, 521 municípios e uma
bacia hidrográfica de 641.000 quilômetros quadrados.

43
Fonte: pt.wikipedia.com

Nascente do rio São Francisco.

Fonte: pt.wikipedia.com

Cidade histórica de Piranhas à margem do rio São Francisco.

À medida que se aproximam da foz, assumem cursos meandrantes,


devido à baixa energia de transporte que domina o relevo aplainado.
Mais junto à foz, a desproporção entre carga de sedimentos e a
44
capacidade de carga dos rios de planície forma outro tipo de leito,
chamado anastomosado. Este tipo se desdobra em percursos
ondulados, entrecortados por ilhas lenticulares de areia e
culminando em deltas e ilhas junto à orla oceânica. Este é o caso do
rio Amazonas e da ilha de Marajó.

Fonte: pt.wikipedia.com

Delta do rio Amazonas.

Fragilidade ambiental

Os rios encachoeirados contêm um potencial turístico muito


importante, mas as cachoeiras são usadas frequentemente para
depósitos de lixo.

Rios de planície dependem demais das matas ciliares para a


proteção das margens contra erosão e das águas contra
contaminação.

Dois indicadores de fragilidade ambiental destacam-se quando se


trata de rios de planície: quantidade e qualidade da água corrente.

Esses rios são muito vulneráveis à redução do volume de vazão,


especialmente no litoral brasileiro urbanizado, por dois motivos
principais. Primeiro, no percurso final da drenagem, a vazão

45
depende muito das intervenções feitas a montante, isto é, rio acima:
barragens hidrelétricas e para irrigação, corte da mata ciliar,
urbanização sobre as margens, agricultura intensiva na várzea e
assim por diante. Segundo, a tendência natural das calhas dos rios
de planície de assorearem pela deposição dos sedimentos
transportados desde as cabeceiras.

A vulnerabilidade à degradação da qualidade das águas decorre


diretamente dos mesmos fatores que prejudicam a vazão. A eles
somam-se os lançamentos de esgotos domésticos e urbanos, de
efluentes industriais e agropecuários, a formação de lixões junto às
margens e a deposição de lixo de todo tipo dentro dos rios. Esta
fragilidade agrava-se pela movimentação contínua das correntes,
que arrastam e levam em suspensão os detritos que deveriam ser
retirados das águas.

Proteção ambiental

A qualidade da água dos rios pode ser monitorada pela quantidade e


sanidade das espécies animais e vegetais, principalmente as de
hábito bentônico, isto é, as que vivem nos sedimentos e nas lajes do
leito. Este tipo de atividade de preservação ambiental requer
orientação técnica, que pode ser fornecida por professores de
Ciências da Natureza.

Preservar as cabeceiras e nascentes dos rios é imprescindível para


garantir qualidade e quantidade da água em todo curso do rio.
Segundo avaliação da EPA – Environment Protection Agency do
governo norte-americano, a sanidade das águas de um rio é
determinada em pelo menos 80% pela preservação ambiental das
cabeceiras.

Considerando a importância das matas ciliares para a proteção das


margens contra a erosão e das águas contra a poluição, é
indispensável respeitar os limites mínimos legais apresentados na
seção anterior.

Deve-se evitar o lançamento de esgoto e lixo doméstico ou industrial


diretamente nas correntes dos rios.

46
Em rios de pequeno curso e baixa vazão, com desvios e captações
feitas para irrigação agrícola ou abastecimento público, é necessário
respeitar os seus limites de produtividade. Nas regiões costeiras de
vários estados brasileiros, devido à alta taxa de ocupação urbana, os
rios sofrem as consequências da exploração predatória.

Outra forma de exploração predatória é a extração de areia e


cascalho dos leitos acima da taxa de deposição natural. Esta
atividade só pode ser praticada mediante autorização legal, expedida
pela Prefeitura Municipal, e concessão da Licença Ambiental pelo
órgão responsável da região.

Lagoas
Características geográficas

N as baixadas onde se acumula água sem condições de escorrer


para o mar, formam-se as lagoas. Elas contêm água doce, ao
passo que as lagunas contêm água salobra, isto é, água doce
misturada com salgada.

Os primeiros seres da cadeia alimentar nascem nos corpos de água


parada: algas, musgo, líquens e animais invertebrados, tais como
moluscos, vermes e insetos. Ao mesmo tempo, resíduos da cadeia
alimentar vêm terminar aqui, carregados pelos rios e pela chuva.

As lagoas são importantes reguladores do microclima no seu


entorno, porque a água ajusta a temperatura e a umidade do ar.
Podemos considerar os brejos de altitude como lagoas em formação,
nos terraços das encostas onde os córregos são represados. Eles
também são importantes para a manutenção da pureza da água
corrente, porque funcionam como sumidouros que retêm os
materiais em suspensão.

Fragilidade ambiental

Como são corpos de água parada, sem escoamento para fora das
suas margens, as lagoas são muito vulneráveis à contaminação. Os
47
dejetos de origem urbana, industrial e doméstica concentram-se
progressivamente, sem condições para serem eliminados ou diluídos
de forma natural.

Fonte: globo.com

Algas indicam poluição na lagoa de Jacarepaguá (RJ).

Embora seja mais raro do que nos rios, as margens das lagoas
litorâneas também são passíveis de sofrer erosão e colapso. Como a
tendência natural é que as margens tenham inclinação suave, estes
acidentes acabam ocorrendo onde há intervenção humana, com
aterros construídos ou escavações abertas sobre elas.

As lagoas são ecossistemas fechados, com poucas trocas com o


ambiente circundante. Isto as torna suscetíveis aos impactos
produzidos na cadeia alimentar pela eliminação de espécies ou, ao
contrário, pela introdução de espécies exóticas. Algumas espécies de
peixes, como a tilápia e o bagre africano, comuns nos criadouros
comerciais do litoral, exterminam as espécies nativas quando
introduzidas por acidente ou intencionalmente. A proliferação
descontrolada de algas, em consequência da poluição, e de aguapés,
por manejo indevido de espécies, também geram desequilíbrios na
cadeia alimentar.

48
Fonte: Nicolas Paulino

Lagoa de Fortaleza com margens tomadas por aguapés.

Proteção ambiental

Para preservar a qualidade destes ecossistemas tão frágeis, o ideal é


evitar a ocupação permanente nas margens de lagoas. A urbanização
das margens induz a contaminação por esgoto, lixo e poluentes de
todo tipo. Quando a ocupação inclui estabelecimentos industriais,
oficinas mecânicas, estações de tratamento de esgoto, lixões e
cemitérios, os impactos levam em poucas décadas à sua degradação.

Nas margens já ocupadas, é necessário controlar o lançamento de


efluentes e de lixo, e principalmente monitorar a qualidade química
e biológica das águas. Projetos de recuperação são possíveis de
serem executados, com a facilidade relativa de que as lagoas contêm
limites bem definidos e águas paradas. Estas condições favorecem a
identificação das fontes de poluição, a remoção de detritos e espécies
invasoras, bem como o controle dos resultados das ações de
recuperação ambiental.

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Manguezais
Características geográficas

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, manguezais são


áreas úmidas, mais propriamente alagáveis e salinas, porque estão
sob a influência das marés, e que funcionam como ambientes de
transição entre o continente e o oceano. Eles se desenvolvem nas
costas protegidas e de baixa energia, junto a estuários, lagunas e nas
zonas internas de baías e enseadas.

Estas condições levam ao desenvolvimento de solo lodoso e


orgânico, sobre o qual se desenvolve uma vegetação resistente ao sal,
de porte mais arbustivo do que arbóreo.

O nosso litoral contém cerca de 15% dos manguezais do mundo, com


uma extensão somada de 26.000 km2. Desses, 36% pertencem ao
estado do Maranhão, 28% ao Pará e 16% ao Amapá, totalizando 80%
da área total dos mangues brasileiros.

Outra região rica em manguezais é a baía de Guanabara, no Rio de


Janeiro, onde a degradação ambiental é notória, fartamente
denunciada e raramente combatida. Na costa de São Paulo e Paraná,
importantes ecossistemas deste tipo são áreas de preservação
permanente e reservas ambientais nos complexos estuarinos de
Iguape-Cananéia e Paranaguá. Em Santa Catarina, além de alguns
mangues isolados em pequenos estuários fluviais, os mais extensos
são encontrados na região de Laguna.

Considerados áreas de preservação permanente, os manguezais do


nosso território são protegidos segundo o inciso VII do artigo 4º da
Lei Federal Brasileira nº 12.651, de 25 de maio de 2012.

Fragilidade ambiental

O solo dos manguezais é úmido, salgado, lodoso, pobre em oxigênio


e muito rico em nutrientes produzidos pela matéria orgânica em
decomposição, responsável seu cheiro característico. O odor fétido
dos mangues resulta principalmente da alta concentração de metano

50
e gás sulfídrico. Essa matéria orgânica serve de alimento à base de
uma extensa cadeia alimentar, como por exemplo, crustáceos e
algumas espécies de peixes. O solo do manguezal serve como habitat
para diversas espécies, como caranguejos.

Em virtude do solo salino e da deficiência de oxigênio, predominam


nos manguezais os vegetais halófilos (amigos do sal), em formações
de vegetação litorânea ou lodosas. Mangue é a designação dada a
algumas espécies da flora desse ecossistema, mas a cultura popular
atribui o mesmo nome ao habitat. As suas longas raízes aéreas
permitem a sustentação das árvores no solo lodoso. A vegetação dos
manguezais é diversificada, devido a fatores tais como salinidade,
pH e teor de matéria orgânica. Embora as populações variem nas
diversas regiões, as espécies mais comuns são o mangue vermelho,
branco e preto, mangue-de-botão, canoé e abaneiro.

Fonte: Me Salva!

Solo lodoso e orgânico em manguezal da Mata Atlântica.

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Proteção ambiental

Os manguezais estão entre os ecossistemas mais férteis e


diversificados do planeta. A sua biodiversidade faz com que eles se
constituam em grandes berçários naturais, tanto para as espécies
típicas desses ambientes, como crustáceos e moluscos, quanto para
os mamíferos, as aves e os peixes que utilizam esses locais para
reprodução, eclosão, criadouro e abrigo. Os manguezais produzem
mais de 70% do alimento que o homem captura no mar. Por essa
razão, a sua manutenção é vital para a subsistência das comunidades
pesqueiras que vivem em seu entorno.

A vegetação dos manguezais serve para fixar os solos, impedindo a


erosão e, ao mesmo tempo, estabilizando a linha de costa. As raízes
do mangue funcionam como filtros na retenção dos sedimentos.
Constituem ainda importante banco genético para a recuperação de
áreas degradadas, por exemplo, como aquelas contaminadas por
metais pesados.

Um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e norte-


americanos constatou que, na Amazônia, cada hectare de manguezal
contém uma quantidade de carbono duas vezes maior que a mesma
área de floresta (Biology Letters, 5). No Nordeste, 1 hectare de
mangue armazena ao menos oito vezes mais carbono do que 1
hectare de vegetação da caatinga.

Em um estudo anterior, a mesma equipe havia quantificado o gás


carbônico que esses ecossistemas liberam para o ar quando
devastados – em geral, para dar lugar a pastagens ou fazendas de
camarão. No Nordeste, a conversão de 1 hectare de manguezal em
fazenda de camarão emite cerca de 10 vezes mais gás carbônico do
que a queima de 1 hectare de floresta continental. Esse volume de
carbono é equivalente ao acumulado no solo do mangue durante
mais de 180 anos

A destruição dos manguezais gera grandes prejuízos, inclusive para


economia, uma vez que são perdidas importantes funções ecológicas
desempenhadas por esses ecossistemas. Entre os problemas mais
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observados destacam-se o desmatamento e o aterro de manguezais
para dar lugar a portos, estradas, agricultura, carcinicultura
estuarina, invasões urbanas e industriais, derramamento de
petróleo, lançamento de esgotos, lixo, poluentes industriais,
agrotóxicos, assim como a pesca predatória, onde é muito comum a
captura do caranguejo-ucá durante a época de reprodução, ou seja,
nas "andadas", quando se torna presa fácil.

A ocupação desordenada ao longo da costa brasileira vem causando


perda e fragmentação deste habitat, pela conversão destas áreas em
carcinicultura, ocupações humanas e áreas destinadas ao turismo.
Na última década, essa ocupação desordenada vem sendo alvo de
sucessivas denúncias encaminhadas ao poder público, incluindo ao
MMA. Em regiões de manguezais, essa atividade ocasiona não só
degradação ambiental, mas também grandes perdas sociais e
econômicas.

Muitas atividades podem ser desenvolvidas no manguezal sem lhe


causar prejuízos ou danos, entre elas: pesca esportiva, artesanal e de
subsistência, desde que se evite a sobrepesca, a pesca de pós-larvas,
juvenis e de fêmeas ovadas; extração de madeira, desde que se
assegure o reflorestamento; cultivo de ostras e outros organismos
aquáticos; cultivo de plantas ornamentais (orquídeas e bromélias);
criação de abelhas para a produção de mel; desenvolvimento de
atividades turísticas, recreativas, educacionais e de pesquisa
científica.

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Referências
Ambientebrasil. Praias arenosas. Disponível em
https://www.ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/ecossistem
a_costeiro/praias_arenosas.html. Acesso em 10/07/2020.
Campos, R. História do nível do mar. Disponível em
https://www.zonacosteira.bio.ufba.br/nivelmar.html. Acesso em
12/07/2020.
Carichio, C. Costões rochosos. Disponível em
https://www.zonacosteira.bio.ufba.br/costaorochoso.html.
Acesso em 12/07/2020.
FATMA – Fundação de Meio Ambiente. Lista das espécies da fauna
ameaçada de extinção em Santa Catarina. Relatório Final.
Florianópolis, 58 p. 2010.
GI-GERCO. Guia de Diretrizes de Prevenção e Proteção Contra a
Erosão Costeira. Brasil, Grupo de Integração do Gerenciamento
Costeiro, Brasília-DF, 111 p., 2018.
Mohr, L. V.; Castro, J. W. A.; Costa, P. M. S.; Alves, R. J. V. Ilhas
oceânicas brasileiras. Disponível em https://www.icmbio.gov.br.
Acesso em 20/05/2020.
Mangue: o que é, características e importância. Disponível em
https://www.ecycle.com.br/mangue. Acesso em 22/05/2020.
Muehe, D. O Litoral Brasileiro e sua Compartimentação. In:
GUERRA, A. T.; CUNHA, S. B. (org.) Geomorfologia do Brasil.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. Cap. 7, p.273-350, 2010.
Olinto, A. O Ecossistema Manguezal. São Paulo, IB, Dep. Ecologia,
Portal de Ecologia Aquática, 2020.
Suguio, Kenitiro. Geologia do Quaternário e mudanças ambientais.
São Paulo: Oficina de Textos, 2010.

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