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Investigaç
ão
Identificação de cenários
socioeconómicos, epidemiológicos e
operacionais para o controlo da
tuberculose no Brasil: um estudo
ecológico
Daniele Maria Pelissari,1 Marli Souza Rocha,1 Patricia Bartholomay,1
Mauro Niskier Sanchez,2,3 Elisabeth Carmen Duarte,4 Denise Arakaki-Sanchez,1
Cíntia Oliveira Dantas,1 Marina Gasino Jacobs,1 Kleydson Bonfim Andrade,1
Stefano Barbosa Codenotti,1 Elaine Silva Nascimento Andrade,1
Wildo Navegantes de Araújo,3,5 Fernanda Dockhorn Costa,1
Walter Massa Ramalho,5 Fredi Alexander Diaz-Quijano6
BMJ Open: publicado pela primeira vez como 10.1136/bmjopen-2017-018545 a 6 de Junho de 2018. Descarregado de http://bmjopen.bmj.com/ a 3 de Março de 2023 na UFV -
os doentes com ► Este estudo foi baseado em dados
tuberculose. Alguns populacionais nacionais num país de
dos subsenarios dimensão continental (5565 municípios).
identificados ► A disponibilidade de variáveis associadas à
caracterizavam-se pela tuberculose tornou possível considerar tanto
fragilidade dos seus abordagens socioeconómicas como
sistemas de informação, epidemiológicas/operacionais na definição de
enquanto outros se clusters de municípios para o controlo da
caracterizavam pela tuberculose.
concentração de casos de ► Esta metodologia pode ser explorada por outros
tuberculose em populações países - tenta orientar os seus planos para
chave. acabar com a tuberculose.
Conclusão O agrupamento ► A qualidade dos relatórios e da informação pode
dos municípios em cenários variar entre fontes e períodos, o que pode
permitiu-nos classificá-los afectar a exactidão das estimativas.
de acordo com o sócio- ► As inferências obtidas são aplicáveis a grupos
económico, populacionais, não a indivíduos. No entanto, a
repesquisa ecológica pode fornecer provas
para apoiar decisões de saúde pública.
variáveis epidemiológicas e operacionais associadas ao
risco de tuberculose. Esta classificação pode apoiar
decisões orientadas baseadas em provas, tais como a
monitorização da qualidade dos dados para melhorar o
sistema de informação ou o estabelecimento de
políticas integrativas de protecção social para
populações-chave.
Em 2014, num movimento em direcção à eliminação, ► Proporção da população que vive em agregados
a OMS lançou a Estratégia End TB, estabelecendo familiares com mais de duas pessoas por divisão,
metas a serem cumpridas até 2035, incluindo uma representando a aglomeração da casa.
redução de 90% na inci- dência da TB em comparação ► Taxa de mortalidade infantil por 1000 nados-vivos.
com 2015.1 A estratégia é fundamental para energizar ► Expectativa de vida à nascença.
a luta contra a doença e mobilizar recursos, mas
precisa de ser adaptada ao contexto local, tal como
qualquer outra política de saúde.7
Alguns países já fizeram progressos no
desenvolvimento dos seus planos nacionais. Entre as
estratégias apresentadas, destacamos o reforço dos
serviços de tuberculose existentes, a aceleração da
detecção de casos em populações-chave e a
implementação de acções para reduzir as barreiras aos
cuidados de tuberculose.8–10
O Brasil é um país com dimensões continentais;
portanto, ambos os indicadores sócio-económicos11 e
aqueles que reflectem o desempenho dos programas
locais de tuberculose2 apresentam um elevado grau de
heterogeneidade. Considerando este contexto, e para
apoiar o 'Plano Nacional para Acabar com a TB',12
identificámos cenários baseados em factores
socioeconómicos, epidemiológicos e operacionais
associados à taxa de incidência da tuberculose.
MÉTODOS
Tipo de estudo e fonte de dados
Este é um estudo ecológico, sendo as unidades de análise
os municípios brasileiros que eram 5570 em 2015.
Excluímos cinco municípios devido à ausência de
informação socioeco-nómica. Os dados sobre variáveis
sócio-económicas e demográficas por município só
estavam disponíveis a partir do último censo populacional
(2010). 1113 Para novos doentes com tuberculose (2015) e
v a r í o l a s epidemiológicas/operacionais da doença
(2014 e 2015), utilizámos dados do Sistema Nacional de
Informação sobre Doenças Notificáveis e do Sistema de
Informação sobre Mortalidade.11
Variáveis
A variável dependente era a taxa de incidência da TB
(novos casos que surgiram num ano por 100 000
habitantes) em 2015, e as variáveis independentes eram
variáveis sócio-económicas, epidemiológicas e
operacionais de saúde TB. Muitas destas variáveis já
foram identificadas em estudos anteriores como
determinantes da tuberculose (suplemento em linha -
material de tary 1). 314–16
As variáveis socio-económicas analisadas foram as
seguintes:
► Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (M-
HDI).
► Rendimento médio familiar per capita.
► Produto Interno Bruto (PIB) per capita.
► Proporção da população que é extremamente pobre,
pobre e vulnerável à pobreza.
► Coeficiente de Gini.
► Taxa de desemprego.
► Taxa de analfabetismo.
► Dimensão populacional dos municípios classificados tratamento (cura, perda para acompanhamento e
como pequenos (menos de 20 000 habitantes), nenhum registo dos resultados da TB).
médios (20 000-99 999 habitantes) e grandes (100 ► Proporção de exame de cultura de expectoração entre
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000 habitantes ou mais).17 os pacientes com retratamento.
O rendimento médio familiar per capita e o PIB per Devido à disponibilidade de dados actualizados no
capita foram convertidos em USD usando o preço médio momento da análise, os dados para calcular os exames de
anual em 2010 (USD1≈R$1,8 [Reais-R$]). Nós cultura, os resultados do tratamento e a taxa de
adoptou as definições brasileiras para as proporções de mortalidade por TB referem-se a 2014, enquanto que
a população extremamente pobre, pobre e vulnerável à as outras variações epidemiológicas e operacionais se
pobreza: proporção de indivíduos no município - palidez referem a 2015.
com um rendimento familiar médio per capita igual ou
inferior a 40 dólares, 80 dólares e 145 dólares, Análise estatística
respectivamente.13 A análise estatística foi realizada em duas fases; cada uma
As variáveis epidemiológicas da tuberculose foram as delas incluiu um modelo para identificar os factores
seguintes: associados à taxa de incidência da tuberculose. Esta
► Taxa de detecção de casos de SIDA por 100 000
avaliação foi seguida de uma análise de agrupamento
baseada nos factores identificados. A primeira fase foi
habitantes.
centrada nas variáveis socioeconómicas e a segunda nas
► Proporção de novos pacientes com tuberculose que
variáveis epidemiológicas e operacionais associadas à
foram: HIV positivos, prisioneiros, profissionais de
taxa de incidência da TB.
saúde, indígenas, sem abrigo e, como indicador
composto, a proporção de doentes com tuberculose A regressão binomial negativa foi utilizada para
de pelo menos um destes grupos vulneráveis. Essas identificar factores associados à taxa de incidência da
vulnerabilidades eram anteriores a... tuberculose em 2015. Para estas análises de regressão,
ously associado a um risco acrescido de incluímos apenas municípios que apresentaram uma
tuberculose noutros estudos. 3–518 variação média anual da média móvel trienal da taxa de
► Proporção de pacientes com retratamentos de
incidência para os anos 2001- 2015 entre -8% e 8%. Ao
fazê-lo, pretendemos reduzir possíveis enviesamentos
Aspectos éticos
Todos os dados analisados estão disponíveis
comissão de revisão. Este estudo foi conduzido de múltiplo devido à inversão do seu coeficiente de regress-
acordo com as directrizes e normas de investigação que sion e a um aumento do SE quando ajustado. As outras
envolvem sujeitos humanos.21 variáveis socioeconómicas não foram significativamente
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associadas à taxa de incidência da tuberculose no modelo
múltiplo (quadro 1).
RESULTADOS Com base nestas duas variáveis sócio-económicas,
Em 2015, 67 777 novos pacientes com TB foram identificámos um cenário sócio-económico mais elevado
notificados no Brasil, com uma taxa de incidência de (HSS), com 3482 municípios que apresentavam melhores
33,1/100 000 popula- tion. A variação média anual da variáveis sócio-económicas do que os 2083 municípios do
média móvel trienal da taxa de incidência da TB nos segundo cluster, o cenário sócio-económico mais baixo
municípios variou entre -22,6% e 41,8%. Este intervalo (LSS) (quadro 2). O cluster do SSH apresentava taxas de
foi mais amplo nos municípios pequenos e médios (- desemprego até 26,9% e valores de aglomeração de
22,7% a 41,9%) do que nos maiores (-7,3% a 14,6%). agregados familiares entre 0,6% e 28,6%. Por outro lado,
Um total de 3311 (59,5%) municípios apresentou uma o agregado LSS apresentava taxas de desemprego até
variação entre 39,1%; e, o aglomerado de agregados familiares
-8% e 8% e eram elegíveis para a análise do modelo apresentava valores de aglomeração entre 26,6% e 88,6%
primário, incluindo 791 que não apresentavam novos (figura 1).
pacientes com TB em 2015. A taxa média de incidência da TB no LSS foi de 22,1/100
Relativamente às variáveis sócio-económicas, o 000 habitantes (tabela 2), que foi significativamente
aglomerado familiar e a taxa de desemprego exibiram as mais elevada do que a observada no HSS, que foi de
associações mais elevadas com a taxa de incidência da 16,3/100 000 habitantes (TIR 1,3; 95% CI 1,3 a 1,4).
tuberculose, tanto em análises univariadas como Entre os 3482 municípios HSS, 1125 apresentaram
múltiplas. As percentagens da população pobre e pelo menos uma notificação de pacientes com TB em
vulnerável à pobreza não foram incluídas no modelo 2014 e 2015 e eram elegíveis (variação anual da taxa
múltiplo, porque estes factores estavam fortemente de incidência de TB entre -8% e 8%) para uma
correlacionados com o apinhamento das famílias. Por modelização secundária. Nesta análise, a taxa de
detecção de casos de SIDA e a proporção de novos
Quadro 1 Variáveis socioeconómicas e associação com a taxa de incidência da tuberculose no Brasil (n=3311 municipalities†)
(Ajustado) RIIR
Variable‡ Média (SD) Mediana (IQ25%-IQ75%) RIIR (95% CI)§ (95% CI)§
Em relação ao LSS, 1095 municípios de 2083 eram 1.3 cobriu 27,8% dos novos pacientes com TB notificados
elegíveis. A taxa de detecção de casos de SIDA e a em 2015 e apresentou as taxas médias mais elevadas de
proporção de doentes de pelo menos um grupo vulnerável incidência de TB, de detecção de casos de SIDA e de
foram posi- tivamente associados à taxa de incidência proporção de pacientes de
da tuberculose. Em contraste, a proporção de
pacientes sem registo do resultado da TB foi
inversamente associada à incidência da TB (quadro 3).
Utilizando as variáveis associadas ao resultado dos
modelos anteriores e considerando a taxa de mortalidade
por TB, definimos três clusters para cada cenário
socioeconómico, perfazendo um total de seis subsenarios
com casos de TB em 2014 e 2015. Para cada cenário
socioeconómico, foi também definido um sub-cenário
(1.0 e 2.0), incluindo municípios sem relatório de TB em
2014 ou 2015 (material suplementar em linha 3).
A figura 2 mostra a distribuição geográfica dos
municípios de acordo com os subscritores. Em relação aos
subscrenarios com pacientes com TB em HSS,
subscrenario
1.1 mostrou as taxas médias mais baixas de incidência de
TB, detecção de casos de SIDA e mortalidade por TB. O
subsenário 1.2, apesar de ter taxas médias relativamente
baixas de incidência de TB, de detecção de casos de SIDA
e de mortalidade por TB, tinha uma elevada proporção de
pacientes sem registo de resultados de TB. O subsenário
pelo menos um grupo vulnerável (22,0%) (suplemento de casos de SIDA no grupo de LSS e a segunda maior
em linha - material de tary 3). taxa de mortalidade por TB entre todos os subscritores
(material suplementar em linha 3).
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Relativamente aos municípios de LSS, o subsenário
2.1 tinha a média mais baixa de investigação de
contacto (36,5%) e de despistagem do VIH (52,3%), e a
DISCUSSÃO
maior proporção média de doentes sem registo de
Este estudo classificou 5565 municípios brasileiros em
resultados de tuberculose (81,8%). O subsecretário 2.2
dois cenários (LSS e HSS) definidos por variáveis
apresentou uma elevada taxa de incidência de TB, a mais
socioeconómicas associadas à taxa de incidência da TB
elevada mortalidade por TB e testes de VIH baixos
no Brasil. Subsequentemente, realizámos uma
(53,5%) e uma elevada proporção média de doentes
subclassificação baseada em variáveis operacionais e
sem registo de resultados de TB (37,0%). Como
epidemiológicas associadas à taxa de incidência da
consequência da inclusão de 14 capitais no
tuberculose.
subsecenário 2.3, inclui 56,3% de todos os novos
Em relação às variáveis socioeconómicas, a taxa de
pacientes notificados em 2015. Além disso, o
desemprego foi associada ao risco de tuberculose, tal
subsenário 2.3 tem a maior taxa média de detecção
como se encontra em
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Quadro 2 Descrição dos cenários socioeconómicos associados à taxa de incidência da tuberculose no Brasil (n=5565
municípios)*
Cenário socioeconómico superior, n=3482 Cenário socioeconómico mais baixo,
municípios n=2083 municípios
Variables†
Média (SD) Mediana (IQ25%-IQ75%) Média (SD) Mediana (IQ25%-IQ75%)
Taxa de incidência de TB por 16.3 (31.7) 10.2 (0–23.2) 22.1 (36.6) 16.9 (6.3–29.6)
100 000 population‡
M-HDI 0.7 (0.1) 0.7 (0.6–0.7) 0.6 (0.1) 0.6 (0.6–0.6)
Rendimento médio do 330.5 (126.5) 324.1 (242.3–403.5) 181.3 (92.4) 150.8 (125.3–203.5)
agregado familiar
per capita (US$)
PIB per capita (US$) 8661.1 (7 707.6) 7259.7 (4758.8–10 053.9) 4930.5 (8 033.6) 2937.6 (2371.3–5 004.5)
Extremamente pobre (%) 5.8 (7.3) 2.6 (1.1–7.4) 20.7 (11.9) 20.3 (12.0–28.7)
Pobres (%) 14.2 (12.3) 9.7 (5.1–20.2) 38.3 (15.5) 40.3 (29.7–49.1)
Vulnerável à pobreza (%) 33.0 (17.8) 29.3 (19.0–44.9) 62.4 (16.5) 67.0 (57.0–73.5)
Coeficiente de Gini (%) 58.0 (6.0) 48.0 (43.9–52.0) 54.1 (5.8) 53.8 (50.2–57.5)
Taxa de desemprego (%)§ 5.1 (2.9) 4.9 (3.1–6.8) 8.3 (4.0) 7.6 (5.6–10.3)
Analfabetismo na população 12.9 (8.0) 10.7 (7.2–16.0) 25.0 (10.3) 26.5 (17.1–32.9)
com ≥18 anos (%)
Analfabetismo na população 11.7 (7.3) 9.8 (6.5–14.6) 22.7 (9.5) 23.9 (15.6–29.8)
com ≥15 anos (%)
estudos anteriores dos EUA,22 Espanha23 e o Brasil.16 A poderia, pelo menos parcialmente, explicar a associação
nível individual, o desemprego tem sido associado a um observada no nosso estudo.
risco acrescido de abuso de álcool e de drogas ilícitas.24 e O apinhamento das famílias foi também positivamente
com perdas a acompanhar durante o tratamento do associado à taxa de incidência da tuberculose. Em vários
VIH.25 Estes factores já foram associados ao risco de estudos, incluindo alguns desenvolvidos na Nova
tuberculose3–5 e Zelândia,26 Lima,27 os EUA e o Ocidente
Figura 1 Distribuição dos municípios brasileiros de acordo com as variáveis socioeconómicas associadas à taxa de incidência
da tuberculose. a Proporção da população que vive em colónias com mais de duas pessoas por divisão.
Quadro 3 Variáveis epidemiológicas e operacionais da tuberculose associadas à taxa de incidência da tuberculose estratificada
por
cenários socio-económicos no Brasil (n=2220 municípios)
Sócio-econo mic cenário n=1125 Cenário socioeconómico mais baixo
superior n=1095 municipalities‡
municipalities‡
Variables† (Ajustado) (Ajustado)
RIIR (95% CI)§ RIIR (95% CI)§ RIIR (95% CI)§ RIIR (95% CI)§
Epidemiológico
Taxa de detecção de casos de 1,5 (1,2 a 1,7)* 1.4 (1.1 a 1.6)* 2.1 (1.7 a 2.5)* 2,0 (1,6 a 2,4)*
SIDA (casos
por 100 000 habitantes)
Novos pacientes com 0,5 (0,3 a 0,7)* 0,2 (0,1 a 0,4)* 0,7 (0,5 a 0,9)* 0,5 (0,3 a 0,7)*
tuberculose de
pelo menos um grupo vulnerável
(%)¶
TB-HIV coinfecção entre as 0,3 (0,0 a 0,6)* -0,2 (-0,5 a 0,2)
novas
pacientes (%)
Novos pacientes com 0,7 (0,4 a 0,9)* 1,2 (0,9 a 1,5)*
tuberculose que eram
prisioneiros (%)
Novos pacientes com -0,5 (-1,3 a 0,2) -0,2 (-1,0 a 0,6)
tuberculose que eram
profissionais de saúde (%)
Novos pacientes com 1,1 (0,3 a 1,9)* 0,9 (0,5 a 1,2)*
tuberculose que eram de uma
população indígena
(%)
Novos pacientes com 0,1 (-0,6 a 0,7) 0,1 (-0,7 a 1,0)
tuberculose que eram
sem-abrigo (%)
Retratamento de doentes com 0,5 (0,2 a 0,8)* 0 (-0,3 a 0,3)
tuberculose
entre o total de pacientes (%)
Cuidados de saúde operacionais (novos pacientes com tuberculose)
Exame de contacto (%) -0,3 (-0,4 a -0,1)* -0,2 (-0,3 a -0,1)* -0,0 (-0,2 a 0,1)
Pacientes com tuberculose 0,0 (-0,1 a 0,2) -0,1 (-0,3 a 0,0)
pulmonar com confirmação
laboratorial (%)
Testado para o VIH (%) 0,1 (-0,0 a 0,2) 0,0 (-0,1 a 0,2)
Cura (%) -0,2 (-0,3 a -0,0)* 0,2 (0,0 a 0,3)*
Perdido para acompanhamento 0,6 (0,3 a 0,9)* 0,3 (0,0 a 0,7)*
(%)
Sem registo dos resultados da 0,3 (0,1 a 0,5)* -0,3 (-0,5 a -0,1)* -0,3 (-0,5 a -0,1)*
TB (%)
Exame de cultura (novo 0,1 (-0,1 a 0,2) 0,0 (-0,1 a 0,2)
tratamento) (%)
*P<0.05.
†With a excepção de: cura, perdido para acompanhamento, sem registo do resultado da TB e exame de cultura (2014), as outras variáveis foram
medidas em 2015.
‡Municipalities com uma variação anual da taxa de incidência da tuberculose entre -8% e 8% e pelo menos um novo caso de tuberculose em
2014 e 2015.
§A medida de associação representa a RIIR ((IRR-1)x100), ajustada à dimensão da população do município.
¶HIV, profissional de saúde, prisioneiros, indígenas e sem-abrigo.
TIR, taxa de incidência; RIIR, incremento relativo na taxa de incidência; TB, tuberculose.
Em África, as pessoas que vivem em condições de aglomeração tinham um risco mais elevado de
tuberculose. 2829 No Brasil, esta variável já estava
associada à incidência da TB e era considerada como um Os municípios por variáveis socioeconómicas poderiam ser
mediador potencial entre os determinantes altamente funcionais para enfrentar o risco de
socioeconómicos e a taxa de incidência da TB, porque
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tuberculose.
pode favorecer directamente a transmissão da TB Relativamente às variáveis operacionais e
aumentando a taxa de contacto entre pessoas infectadas epidemiológicas, a taxa de detecção de casos de SIDA foi
e susceptíveis.16 positivamente associada à taxa de incidência da TB em
No nosso estudo, o LSS, com municípios ambos os cenários socioeconómicos, o que foi
predominantemente nas regiões Norte, Nordeste e consistente com estudos anteriores em que a SIDA tem
Centro-Oeste, apresentou uma maior incidência de TB sido um factor associado ao risco de TB a nível
do que o HSS, com municípios localizados contextual.1516 30
predominantemente nas regiões Sul e Sudeste. Isto A proporção de novos pacientes de pelo menos um
sugeriu que a classificação de grupo vulnerável foi também outro factor associado à
incidência da tuberculose em ambos os cenários. Uma
das populações vulneráveis incluídas é a dos prisioneiros.
Especificamente, no Brasil,
Figura 2 Cenário da taxa de incidência da tuberculose nos municípios brasileiros (Brasil, 2015). a Sem notificação dos doentes com
tuberculose em 2014 ou 2015.
em 2014, havia cerca de 607 mil presos em 956 Relativamente à ausência de pacientes com TB em
municípios distribuídos em todas as regiões do país, 2014 ou 2015 nos subsenarios 1.0 e 2.0, é possível que haja
com uma taxa de ocupação prisional de 161%.31 Esta subnotificação nestes cenários, principalmente no subsce-
sobrelotação pode explicar o maior risco de nário 2.0, onde existem piores condições
tuberculose demonstrado por este grupo em estudos socioeconómicas, que estão associadas a um maior
anteriores.32 e torna-o um grupo vulnerável prioritário risco de TB. Esta constatação sugere que as actividades
para o controlo da tuberculose. relacionadas com a detecção da TB deveriam ser
No HSS, a vulnerabilidade foi também correlacionada reforçadas, especialmente naqueles grupos de
com a taxa de detecção de casos de SIDA, que é mais municípios.
elevada nas regiões Sul e Sudeste (respectivamente, Relativamente aos subsenarios que relataram pelo menos
20,1% e 53,0% dos casos de SIDA identificados de 1980 a um paciente com TB nos 2 anos de análise do cluster
Junho de 2016).33 Em relação ao SSL, a vulnerabilidade foi HSS, o grupo 1.1 tem a menor taxa de incidência de TB,
correlacionada com as populações indigentes, que estão melhores indicadores socioeconómicos e bons
predominantemente localizadas nas regiões Norte indicadores epidemiológicos/operacionais de TB,
(37,4%), Nordeste (25,5%) e Centro-Oeste (16,0%).11 Estes sugerindo uma fase avançada no controlo da TB. O
grupos têm apresentado um risco de tuberculose mais subsenário 1.3 apresenta a maior taxa de inci- dência
elevado do que outras populações.4 de TB, taxa de detecção de casos de SIDA e proporção
Observámos uma associação inversa entre a taxa de de doentes de pelo menos um grupo vulnerável (22,0%),
incidência da TB e a percentagem de investigação de espe- cialmente entre os prisioneiros (12,1%). Além
contacto no SSH, que pode representar o efeito global no disso, este cenário é composto principalmente por
controlo da transmissão, possivelmente através da capitais, o que poderia significar um sistema de vigilância
identificação e tratamento atempado.34 Finalmente, no SSL, mais sensível. Apesar do subsenário
a associação com a proporção de pacientes sem registo 1,3 correspondente àquele com maior risco de
do resultado da TB pode representar falhas na tuberculose, a distribuição das vulnerabilidades sugere
vigilância da recolha destes dados para a qualificação uma epidemia concentrada em alguns grupos
do sistema de informação. populacionais, incluindo doentes com VIH (8,8% dos
BMJ Open: publicado pela primeira vez como 10.1136/bmjopen-2017-018545 a 6 de Junho de 2018. Descarregado de http://bmjopen.bmj.com/ a 3 de Março de 2023 na UFV -
Universidade Federal de Vicosa.
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Pelissari DM, et al. BMJ Open 2018;8:e018545. doi:10.1136/bmjopen-2017-018545
doentes com tuberculose foram coinfectados) e
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prisioneiros (12,1% dos novos pacientes), o que requer municípios no seu conjunto constituíam 87,2% da
estratégias distintas e focalizadas, tais como o rastreio e o população brasileira. Além disso, apenas cinco
tratamento imediato. municípios (0,1% do total) foram excluídos, devido à
Os subscritores 1.2 (HSS-cluster), 2.1 e 2.2 (LSS-cluster) ausência de
necessitam de melhorias no sistema de informação
devido à elevada proporção de pacientes sem registo de
resultados de TB. Isto torna difícil a análise do perfor-
mance das acções de controlo da tuberculose. Outro
desafio nestes grupos é a investigação de contactos, que
foi particu- larmente baixa no subsenario 2.1. Embora o
subsenário 2.1 tenha a maior percentagem de coinfecção
do VIH em novos pacientes com TB (9,8%), também tem
uma das menores percentagens de testes de VIH (52,3%),
sugerindo a subdetecção do VIH entre as pessoas com TB.
No LSS, o grupo 2.2 exibiu a maior incidência de
tuberculose, mas a menor proporção de doentes de pelo
menos um grupo vulnerável (10,6%), revelando uma
situação endémica - uma situação menos concentrada em
populações vulneráveis. O subsenário 2.3 tem um sistema
de informação fiável e um bom desempenho em
actividades operacionais (por exemplo, investigação de
contactos e testes de VIH), revelando que, mesmo com
recursos limitados, é possível realizar acções eficazes de
controlo da doença.
Finalmente, com excepção do subsenário 2.0, todos os
habitantes do LSS tinham uma taxa de mortalidade por TB
mais elevada do que os do HSS. O subsenário 2.0, apesar
de não terem sido notificados novos pacientes com TB
em 2014 ou 2015, apresentava uma taxa de mortalidade
mais elevada do que a do grupo 1.0. Espera-se que a
mortalidade seja menos subdeclarada do que a
incidência, tal como observado noutras doenças. 3536
Assim, a utilização desta variável para definir clusters
contribui para caracterizar os grupos de acordo com a
carga de TB, além das outras variáveis utilizadas para a
classificação.
Limitações
Como limitação comum dos estudos ecológicos, as
medidas agregadas podem diferir das medidas
individuais. No entanto, estes estudos fornecem uma
visão geral que contribui para a tomada de decisões
directas nas políticas públicas.
A subnotificação de doentes com tuberculose no Brasil
está a diminuir todos os anos,1 mas pode continuar a ser
um limite potencial para este estudo. Uma vez que não
existe informação sobre a detecção de casos de TB e
infecção por TB latente nos municípios brasileiros, o fardo
global não pode ser estimado. Mesmo assim, colocámos a
hipótese de que a subnotificação seja homogénea ou
superior nos municípios com piores indicadores
socioeconómicos. Por conseguinte, a magnitude da
associação entre os indicadores socioeconómicos e a
incidência da TB pode ser mais elevada do que a estimada
neste estudo. A exclusão dos municípios que
apresentavam uma elevada variabilidade na taxa de
incidência pode ter reduzido o risco de enviesamento de
informação e informação.
Por outro lado, embora um número importante de
municípios tenha sido excluído da regressão anal- ysis,
essas localidades eram geralmente pequenas, e os
dados socioeconómicos. Por conseguinte, concluímos Existe uma relação inversa entre o montante gasto
que a associação identificada nos múltiplos modelos com a protecção social e os indicadores de tuberculose
pode ser amplamente extrapolada. (preva- lência, incidência e mortalidade). 3738 Os
BMJ Open: publicado pela primeira vez como 10.1136/bmjopen-2017-018545 a 6 de Junho de 2018. Descarregado de http://bmjopen.bmj.com/ a 3 de Março de 2023 na UFV -
Relativamente à disponibilidade de dados, as variáveis desafios do controlo da tuberculose em populações-
socioeconómicas por município só estavam disponíveis a chave (prisioneiros e indigentes) estão provavelmente
partir do último censo realizado no país (2010). Por relacionados com a sua marginalidade social e
conseguinte, as tendências socioeconómicas recentes e requerem uma colaboração integrativa com programas
o seu impacto na actual taxa de incidência da nacionais de protecção social geridos por outras
tuberculose não puderam ser avaliados. Contudo, divisões do governo.
acreditamos que as diferenças socioeconómicas entre Os municípios no LSS, para além de recursos adicionais,
municípios permaneceram proporcionais nos últimos exigem acções para reduzir a exacerbação das
anos, o que permite a sua avaliação como factor vulnerabilidades sociais, que se reflectiram num aumento
determinante da incidência da TB. do risco de tuberculose. Neste cenário, a tuberculose
deve ser considerada uma prioridade na agenda da saúde
Implicações para a saúde pública e conclusão pública. Além disso, os municípios dos cenários do LSS
A End TB Strategy propõe objectivos ousados, e uma que não tinham um registo de doentes com TB em
resposta rápida de cada país pode ser crítica para a sua 2015/2014 devem concentrar-se em actividades
realização. Consideramos este trabalho um instrumento relacionadas com a detecção da TB, especialmente a
inovador para as decisões de saúde pública porque investigação de contactos familiares como estratégia para
utilizámos dados secundários disponíveis para a maioria a descoberta activa de casos, uma vez que este método
dos municípios do país com uma análise de dados demonstrou ser mais eficaz do que a descoberta passiva
robusta que reconhece a diversidade sócio-económica e padrão de casos. 3940
operacional de um país continental. O agrupamento de A heterogeneidade da situação sócio-económica e
municípios apresentado neste estudo já foi incorporado epido-miológica no Brasil, observada neste estudo,
no Plano Nacional para Acabar com a tuberculose12 para representa um grande desafio para o controlo da
apoiar a implementação de estratégias eficientes. tuberculose num país de proporções continentais, que
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