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Brazilian Journal of Development 114987

ISSN: 2525-8761

Mortalidade por causas externas em Campinas, São Paulo, Brasil,


entre 2006 a 2015

Mortality due to external causes in Campinas, São Paulo, Brazil,


between 2006 to 2015

DOI:10.34117/bjdv7n12-321

Recebimento dos originais: 12/11/2021


Aceitação para publicação: 09/12/2021

Juliana Ribeiro Ferreira


Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO)
Avenida t-23 esquina com t-53. Edifício Varandas da Praça
CEP: 74215-130
E-mail: julianamedmandic@gmail.com

Ana Lara Navarrete Fernandez


Médica pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Paulo Afonso Mei


Médico Neurologista pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Ana Luiza Camilo Lopes


Interna de medicina pela Faculdade UNAERP

Júlia Ribeiro Ferreira


Estudante de medicina pela Faculdade São Leopoldo Mandic

Gabriel Navarrete Fernandez


Médico Residente em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da UFG / EBSERH

RESUMO
Objetivo: Descrever a tendência histórica relacionada a mortalidade por causas externas
na população de Campinas, São Paulo, Brasil, estabelecendo comparações entre
diferentes faixas etárias, raça, estado civil, sexo e escolaridade no intervalo dos anos de
2006 a 2015. Métodos: Trata-se de um estudo ecológico, descritivo e analítico, com
abordagem quantitativa, com a população de Campinas, São Paulo, com base em dados
quantitativos de 2006 a 2015. Os dados foram coletados utilizando o Sistema de
Informações de Mortalidade (SIM), disponível no DATASUS. Os dados foram analisados
no software Statistical Package for Social Science (SPSS), considerando nível de
significância de 95%. Resultados: Foi possível observar que os anos com a maior
proporção de mortalidade por causas externas foram os anos de 2008 e 2015, enquanto o
ano que houve a menor proporção foi o de 2014. Nos outros anos a proporção se manteve
oscilando entre 10,22 e 9,72. O sexo masculino possui uma maior taxa de mortalidade
por causas externas em todos os anos observados, quando comparados com o sexo
feminino. Os indivíduos que apresentam de 4 a 7 anos de escolaridade, foram os que

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apresentaram mais mortes por causas externas (5,88%). Conclusão: As causas externas
de mortalidade tornaram-se um problema significativo de saúde pública, seja pelo
aumento na incidência, pelos custos à sociedade, ou pelo impacto social e psicológico.
Os resultados desta pesquisa de modo geral, não diferem de estudos anteriores, pois a
cidade de Campinas, São Paulo, apresentou uma tendência crescente para a mortalidade
por causas externas.

Palavras-Chave: Saúde pública, Causas externas, Mortalidade, Epidemiologia.

ABSTRACT
Objective: To describe the historical trend related to mortality from external causes in
the population of Campinas, São Paulo, Brazil, establishing comparisons between
different age groups, race, marital status, sex and education in the years 2006 to 2015.
Methods: Treatment an ecological, descriptive and analytical study, with a quantitative
approach, with the population of Campinas, São Paulo, based on quantitative data from
2006 to 2015. Data were collected using the Mortality Information System (SIM),
available at DATASUS. The data were analyzed using the Statistical Package for Social
Science (SPSS) software, considering a significance level of 95%. Results: It was
possible to observe that the years with the highest proportion of mortality from external
causes were the years 2008 and 2015, while the year with the lowest proportion was that
of 2014. In other years, the proportion remained oscillating between 10.22 and 9.72.
Males have a higher mortality rate due to external causes in all the years observed, when
compared to females. Individuals with 4 to 7 years of schooling were the ones who had
the most deaths from external causes (5.88%). Conclusion: The external causes of
mortality have become a significant public health problem, whether due to the increase
in incidence, the costs to society, or the social and psychological impact. The results of
this research in general, do not differ from previous studies, since the city of Campinas,
São Paulo, presented an increasing trend towards mortality from external causes.

Keywords: Public health, External causes, Mortality, Epidemiology.

1 INTRODUÇÃO
Na área médica, uma informação relevante quando se trata de um óbito, é a sua
causa. Dentre as causas destacam-se os óbitos por causas externas, haja vista que essa
causa se enquadra no que hoje chamamos de “tripla carga da doença”. A tripla carga da
doença indica as maiores causas de óbitos que existem atualmente é consistida em:
doenças infecciosas, doenças crônicas e seus fatores de risco e óbitos por causas externas.¹
Óbitos por causa externa são definidos por óbitos de causa não natural e que
envolvem violência. Dentre eles enquadram-se: acidentes de transporte, quedas,
exposição às forças mecânicas inanimadas, afogamento e submersão acidental, lesão
autoprovocadas intencionalmente, agressões, exposição acidental a outros fatores e aos
não específicos, envenenamento acidental e exposição a substâncias nocivas, exposição

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a fumaça, fogo e chamas, outros riscos acidentais a respiração, sequelas de causas


externas de morbidade e mortalidade.2,3
A era industrial contribuiu para que houvesse um significante avanço tecnológico
que impulsionou o desenvolvimento das cidades e o aparecimento de mais veículos, mais
pessoas e um ambiente mais propenso a diferentes tipos de traumas. Com isso houve um
aumento nos índices de acidentes de trânsito, trabalho, suicídio, dentre outros.2,3
Atualmente os óbitos por causas externas são considerados uma questão de saúde
pública, diante disso, notou-se a necessidade de monitorar os dados para se ter um registro
e analisar a tendência de sua distribuição em relação a tempo, pessoa e lugar. Em 2001, o
Ministério da Saúde criou uma Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por
Acidentes e Violência (PNRMVA) que visa a promoção e, principalmente, prevenção
desses eventos.4
Existe a necessidade de relacionar os óbitos por causas externas com a faixa etária
da população, raça/cor, escolaridade e condição social para que se saiba o alvo especifico
que será abordado no planejamento e desenvolvimento de ações em saúde. Uma outra
questão que pode ser avaliada envolvendo óbitos por causas externas é o impacto
econômico que acarreta nas cidades, já que há um aumento de gastos com internações
hospitalares além da perda significativa de uma parte economicamente ativa da
população, os jovens, que estão mais suscetíveis a óbitos por essa causa.3,5
Com base em todos esses aspectos impactantes dos óbitos por causas externas,
observa-se a importância da análise da tendência de ocorrência desses óbitos, focando em
tempo, pessoa e lugar. Isso se dá diante do seu impacto nas ações de saúde pública como
prevenção de danos e promoção de saúde e na economia. Em vista disso, o objetivo deste
trabalho é descrever a tendência histórica relacionada a mortalidade por causas externas
na população de Campinas, São Paulo, Brasil, entre 2006 a 2015.

2 MÉTODOS
Trata-se de um estudo ecológico, descritivo e analítico, com abordagem
quantitativa, desenvolvido no âmbito do estado de Goiás e de suas macrorregiões e
regiões de saúde, com a população de Campinas, São Paulo, com base em dados
quantitativos de 2006 a 2015. Os dados foram coletados utilizando o Sistema de
Informações de Mortalidade (SIM), disponível no DATASUS, composto por informações
presentes na Declaração de Óbito, estabelecendo comparações entre diferentes faixas
etárias, raça, estado civil, sexo e escolaridade entre 2006 a 2015. Os dados foram

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analisados no software Statistical Package for Social Science (SPSS), sendo considerado
o nível de significância de 95% (p < 0,05). O projeto foi desenvolvido a partir da análise
de dados secundários de domínio público, portanto, não foi necessário a apresentação e
análise por Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente, foi observado a proporção geral de óbitos por causas externas dos
anos estudados, conforme Figura 1. Foi possível observar que os anos com a maior
proporção de mortalidade por causas externas foram os anos de 2008 e no ano de 2015,
enquanto o ano que houve a menor proporção foi no ano de 2014. Nos outros anos a
proporção se manteve oscilando entre 10,22 e 9,72 se enquadrando dentro da média da
região sudeste.

Figura 1 – Proporção mortalidade por causas externas em Campinas, São Paulo, Brasil, entre 2006 a 2015.
11,00 10,68
10,51 10,63
10,50 10,22
10,09 10,13
9,87 9,92
10,00 9,72

9,50 9,27

9,00
2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016

Foi avaliado também a taxa de mortalidade por causas externas no período


estudado, como mostra a Figura 2. Foi observado que a maior taxa foi de 0,60 nos anos
de 2007 e 2011. Além disso, a menor taxa de mortalidade foi observada em 2014 (0,54).
Durante os outros anos, as taxas se mantiveram oscilando entre 0,55 e 0,59.

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Figura 2 – Taxa de mortalidade por causas externas em 1000 habitantes em Campinas, São Paulo, Brasil,
entre 2006 a 2015.
0,61 0,60 0,60
0,60 0,59 0,59
0,59 0,58
0,58 0,58
0,58
0,57
0,56 0,55
0,55
0,55
0,54
0,54
0,53
2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016

Em relação ao sexo, como visualizado na Figura 3, percebemos que o sexo


masculino possui uma maior taxa de mortalidade por causas externas em todos os anos
observados (2006-2015) comparados com o sexo feminino.

Figura 3 – Taxa mortalidade por causas externas segundo sexo por 1000 habitantes em Campinas, São
Paulo, Brasil, entre 2006 a 2015.
1,00 0,91 0,92 0,90 0,92 0,90
0,88 0,87 0,89 0,85
0,90
0,78
0,80
0,70
0,60
0,50
0,40
0,26 0,28 0,26 0,25 0,27
0,30 0,21 0,24 0,23 0,24
0,19
0,20
0,10
0,00
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
HOMENS MULHERES

Em relação a variante raça/cor, observamos que a cor branca apresentou um maior


número (68,91%), seguido da parda (22,59%), preta (6,74%), amarela (0,78%), indígena
(0,02%) e ignorado (0,97%). Quanto a faixa etária, conforme Figura 4, foi avaliado a taxa
de mortalidade por causas externas dividindo a população entre: menores de 1 ano; de 1
a 14 anos; 15 a 20 anos; 20 a 59 anos; e acima de 60 anos.

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Figura 4 – Taxa de mortalidade por causas externas de acordo com a faixa etária por 1000 habitantes em
Campinas, São Paulo, Brasil, entre 2006 a 2015.
1,8 1,67
1,6
1,6 1,44
1,32 1,34
1,4 1,26
1,17 1,2 1,18
1,2 1,13

1
0,8 0,68 0,68 0,69 0,72
0,63 0,62 0,64 0,66 0,66
0,6
0,56 0,6
0,54 0,53 0,52 0,54 0,5
0,6 0,44 0,48 0,45
0,41 0,43 0,39 0,38 0,38 0,4
0,4 0,29
0,23
0,2 0,13
0,08 0,09 0,1 0,09 0,08
0,06 0,06 0,07 0,05 0,07 0,03
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Menor de 1 ano 1 a 14 anos 15 a 20 anos
20 a 59 anos Acima de 60 anos

A taxa de mortalidade por causas externas na população menor de um ano,


observou-se que em 2006 a taxa foi de 0,13. Essa taxa aumentou de 2007 a 2009,
chegando a 0,54. Em 2010 caiu para 0,23; em 2011 mostrou-se com 0,53 e em 2012 com
0,60. Depois, o ano de 2013 apresentou uma taxa de 0,52, seguida de uma queda no ano
de 2014 com uma taxa de 0,29. E, por fim, em 2015 a taxa de mortalidades por causas
externas foi de 0,50. Na faixa etária de 1 a 14 anos observou-se que a menor taxa foi
observada no ano de 2016 enquanto que a maior foi no ano de 2011.
A taxa de mortalidade por causas externas na população de 15 a 20 anos, tem-se
que: em 2006 a taxa foi de 0,44; em 2007 foi de 0,41; em 2008 foi de 0,48; em 2009 foi
de 0,39; em 2010 foi de 0,45; em 2011 foi de 0,38; em 2012 foi de 0,66; em 2013 foi de
0,38; em 2014 foi de 0,54 e, por fim, o ano de 2015 representou uma taxa de mortalidade
por causas externas 0,40. Nesse quadro nota-se um nítido aumento na taxa de mortalidade
por causas externas na população representada no ano de 2012.
Em relação a população de 20 a 59 anos, essa faixa etária, baseada em estudos
disponíveis pela literatura, é responsável pela maior causa de mortalidade por causas
externas, todavia, no presente estudo, essa informação foi de encontro a esse dato. Nos
anos de 2012 houve o menor pico da taxa de mortalidade em indivíduos entre 20 e 59

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anos enquanto o ano de 2014 foi responsável pelo maior. A taxa de mortalidade por causas
externas na população acima de 60 anos, foi possível observar que os anos de 2007 e 2009
apresentaram um pico importante e significativo de óbitos por causas externas em
indivíduos acima de 60 anos.
Por fim, a avaliação da escolaridade, de acordo com a Figura 5, revelou que,
excluindo-se a “população ignorada”, os indivíduos que apresentam 4 – 7 anos de
escolaridade, foram os que apresentaram mais mortes por causas externas (5,88%).

Figura 5 – Proporção de mortalidade por causas externas segundo escolaridade em Campinas, São Paulo,
Brasil, entre 2006 a 2015.
0,48 2,20
5,88
4,46
4,07

82,89

Nenhuma 1 - 3 anos 4 - 7 anos 8 - 11 anos 12 anos e mais Ignorado

4 CONCLUSÃO
Os resultados desta pesquisa de modo geral, não diferem de estudos anteriores
realizados para esse tema, e, demonstram que, durante o período analisado, a cidade de
Campinas, São Paulo, apresentou uma tendência crescente para a mortalidade por causas
externas. Em relação às variáveis estudadas, as principais vítimas por estas causas foram
os homens pardos, com nenhum ou poucos anos de estudo, sendo a média de 4 a 7 anos
de estudo. A variável faixa etária foi de encontro ao esperado pelos autores do artigo,
visto que a faixa etária prevalente foi em indivíduos acima de 60 anos, enquanto que a
média nacional sofre variações entre 20 a 59 anos.
Em relação as limitações desse estudo destaco às bases de dados nacionais sobre
mortalidade, que apresentam cobertura insatisfatória, havendo expressiva sub-
remuneração de óbitos, esse provável sub-registro dos casos reduz a possibilidade de
conhecimento real da situação.

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Nos últimos anos, as causas externas de mortalidade tornaram-se um problema


significativo de saúde pública no Brasil, seja pelo aumento na incidência, pelos custos
que apresentam à sociedade como um todo, ou pelo impacto social e psicológico na vida
dos indivíduos e das famílias. Neste contexto, estudos futuros que contenham uma base
de dados satisfatória com correção de sub-registros, podem fornecer informações mais
precisas dos principais grupos de risco, faixas etárias, e possibilitar ao poder público
elaborar políticas e campanhas de prevenção específicas com o propósito de conter esse
problema.

CONTRIBUIÇÕES
Juliana Ribeiro e Ana Lara Navarrete contribuíram com a elaboração e
delineamento do estudo; a aquisição, análise e interpretação de dados, e a redação e
revisão do manuscrito.

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REFERÊNCIAS
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