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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL

DISICPLINA PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL 2

PROTOCOLO DE PESQUISA PARA REVISÃO DE LITERATURA

DOCENTE: Solange Maria Gayoso da Costa


DISCENTE: Rafaela Lima do Carmo

Resumo
1. INTRODUÇÃO
De acordo com a 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10),
a definição de morte materna é o óbito de uma mulher, durante a gestação ou até 42 dias
após o término da gestação, independente da duração ou da localização da gravidez.
Sendo assim, o Ministério da Saúde apontou que a razão de mortalidade materna (RMM) é
o indicador utilizado para mensurar a taxa ou coeficiente de mortalidade: trata-se da
relação entre o número de óbitos maternos por cada 100 mil nascidos vivos (NV). O
indicador de RMM tem um papel relevante na área da saúde, é pode indicar condições da
população, a capacidade de resposta do sistema de saúde e ministrar informações sobre a
qualidade de acesso e de estrutura hospitalar.
Em uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) feita pela
Nações Unidas (ONU) para mortes maternas, é de uma taxa global de mortalidade
materna (MMR) de menos de 70 mortes maternas por 100.000 nascidos vivos até 2030.
Porém, dados obtidos entre os anos de 2019 (55.31), 2020 (71.97) e 2021 (107.53),
mostram que o Brasil não estar nem perto de atingir está meta. Sendo assim, a
mortalidade materna é um reflexo da qualidade de vida de uma determinada região,
principalmente na assistência da saúde feminina. Por isso, 92% dos casos, trata-se de
uma situação evitável e, por esse motivo, é considerada uma das mais graves violações
dos direitos humanos das mulheres (Brasil, 2009).
As desigualdades regionais são evidenciadas, principalmente nos indicadores de
RMM. Segundo dados do Ministério da Saúde, a região Norte registrou três entre os cinco
estados brasileiros com as maiores RMMs em 2019. Pará, Roraima e Amazonas
apresentaram RMM de 96,1, 91,9 e 84,8 óbitos maternos por 100 mil NVs,
respectivamente, de 2019 a 2021, o crescimento foi de 221%, ou seja, mais acentuado que
o Brasil. Sendo assim, como observado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) o alto
número de mortes maternas em algumas áreas do mundo reflete as desigualdades no
acesso a serviços de saúde de qualidade e destaca o fosso entre ricos e pobres.
Considerando tanto as diferenças epidemiológicas, socioeconômicas e
demográficas entre os estados da Região Norte na mortalidade materna, o objetivo deste
estudo foi observar o comportamento das altas taxas de mortalidade materna no período
de 2019 a 2021, na Região Norte brasileira. Os dados desta pesquisa são de domínio
público, de acesso irrestrito.
2. JUSTIFICATIVA
Refletir sobre a relevância social da mortalidade materna na região Norte, possibilita
reconhecer que suas circunstâncias estão relacionadas com às condições de vida e
trabalho, sobretudo sobre o reconhecimento da mulher na sociedade, suas dificuldades
com as desigualdades e injustiças sociais que impedem o acesso a serviços de saúde de
qualidade. Sendo assim, segundo o Ministério da saúde, ter noção sobre as causas da
mortalidade materna, é relevante para a criação de políticas públicas e a prevenção da sua
ocorrência.
As complicações que surgem durante a gravidez, parto e puerpério são um reflexo
das desigualdades sociais e econômicas. Por isso, uma gravidez segura não é realidade
para muitas mulheres, como consequência, a taxa de mortalidade materna continua
aumentando e se torna um empecilho grave na saúde pública, violando o direito à vida e
acesso aos serviços públicos de saúde com qualidade. Como mencionado em um estudo
desenvolvido por Lopes et al. (2021), as maiores taxas de mortalidade foram encontradas
entre as mulheres hospitalizadas no Norte, região com os menores indicadores
socioeconômicos e de infraestrutura.
Para o meio acadêmico, é de suma importância os indicadores de mortalidade
materna, que contribuem para o conhecimento de desigualdades quando comparados
índices de populações de países e regiões geográficas em diferentes graus de
desenvolvimento, inclusive numa mesma área urbana que seja heterogênea (Laurenti,
1994). Além disso, é possível analisar variações geográficas e temporais da mortalidade
materna, identificando tendências e situações de desigualdade que possam demandar
estudos especiais.

3. PROBLEMA DE PESQUISA
Segundo dados obtidos pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM)
observados na tabela 1, é possível observar as diferenças regionais. Apesar da RMM ter
elevadas taxas em todo Brasil nos últimos três anos, houve um aumento gradativo da
RMM na Região Norte, no ano de 2019 de 74,2, em 2020 de 94,4 e em 2021 de 137,1. Por
isso, na Região Norte, as altas taxas de RMM estão associadas ao acesso precário da
população aos sistemas de saúde em comparação com a Região Sudeste, devido aos
menores níveis de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e maiores níveis de
desigualdade social. (DANTAS et al. 2020)
Tabela 1 - Razão de Morte Materna (RMM) entre Regiões, 2019 a 2021.

Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

A pandemia da COVID-19 nos anos de 2020 e 2021 agravaram ainda mais a RMM
no Norte do Brasil. Um estudo realizado por Takemoto et al (2020), revela que 124 das 978
gestantes e puérperas hospitalizadas no Brasil morreram por complicações da COVID-19,
resultando em uma taxa de 12,7%. Dados apresentados tanto na tabela 1 quanto na tabela
2, mostram que as taxas de mortalidade materna por COVID-19, modificam-se de acordo
com a região. Em estados de alta renda, com serviços obstétricos de qualidade e boa
estrutura, além de suprimentos suficientes, acabam por ter menores taxas de mortalidade
materna. Ademais, como reiterado por Nascimento et al (2021) a região Norte
experimentou uma sobrecarga rápida e maior de casos, especialmente durante a segunda
onda da pandemia exacerbando as diferenças pré-existentes da estrutura socioeconômica
e de saúde nas regiões.

Tabela 2 - Razão de mortalidade materna dos estados da Região Norte de 2019 a 2021.
Fonte: Painel de Monitoramento de Mortalidade Materna

3.1 Pré-natal
O pré-natal tem um papel essencial na prevenção e identificação de doenças
materno-infantil, proporcionando um desenvolvimento saudável do bebê e reduzindo o
óbito materno. Sendo assim, segundo o Observatório Obstétrico Brasileiro (OOBr) a
assistência pré-natal é o acompanhamento que toda mulher deve receber ao longo da
gestação e seu início precoce, até o terceiro mês de gestação, é fundamental para a
qualidade de assistência e para: a identificação de situações de risco, a adoção de
medidas preventivas, como vacinas e suplementos alimentares e o fornecimento de
orientações e preparação para o parto e o aleitamento materno, bem como para
redução/cessação do fumo, do uso de álcool e de outras drogas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), número ideal de consultas pré-
natais é de no mínimo 8. Porém, segundo dados do OOBr na região Norte apenas 64,7%
das mulheres têm início precoce do pré-natal, 31,9% abaixo do valor de referência, de no
mínimo 95% (recomendações OMS) e apenas 38,4% das mulheres com mais de sete
consultas de pré-natal, 59,6% abaixo do valor de referência, de no mínimo 95%
(recomendações OMS). Portando, apesar do Brasil apresentar 97,5% de cobertura de
assistência pré-natal, a qualidade da assistência tem se revelado baixa.

3.2 Desigualdades étnicas e socioeconômicas.


As desigualdades étnicas e socioeconômicas são uns dos fatores contribuintes na
alta taxa de mortalidade materna na região Norte do Brasil. Sendo assim, segundo o
Instituto de Estudos para políticas de saúde (IEPS), a população mais vulnerável e com
maior risco de complicações que levem ao óbito materno é definida de acordo com fatores
sociais como raça, estado civil e escolaridade.
Gráfico 1 – Óbitos maternos por raça/cor de 2019 a 2021.
Fonte: Observatório Obstétrico Brasileiro

No gráfico 1, é possível ver as disparidades do óbito materno entre as raças. Em


2019 o RMM de mulheres pardas foi de 73%, de mulheres pretas foi de 7,5%, de mulheres
indígenas 6,6% e de mulheres brancas 13%. Já em 2021, mulheres pardas foi de 71%, de
mulheres pretas foi de 5,9%, de mulheres indígenas 6,6% e de mulheres brancas 17%.
Para exemplificar, um estudo realizado pelo IEPS detectou que o 76,1% das mulheres
brancas realizaram um número adequado de consultas de pré-natal, apenas 59,8% das
mulheres negras e pardas acessaram esses cuidados. Ademais, a covid-19 afetou
diretamente os grupos raciais, mulheres negras, pardas e indígenas receberam menor
qualidade e intensidade de cuidados de saúde para serviços preventivos, diagnósticos e
terapêuticos. (ALVES et al. 2021)

Gráfico 2 – Óbitos maternos por escolaridade de 2019 a 2021.

Fonte: Observatório Obstétrico Brasileiro

O nível educacional (gráfico 2) também é um fator na avaliação da prevalência da


MMR, mulheres com baixa escolaridade podem ter menos acesso à informação sobre
saúde reprodutiva, levando a práticas inadequadas durante a gravidez e o parto. A falta de
conscientização sobre os cuidados maternos pode levar a atrasos na procura de cuidados
médicos.
Gráfico 3 – Óbitos maternos por estado civil de 2019 a 2021.

Fonte: Observatório Obstétrico Brasileiro


O número de mortes entre mulheres solteiras é elevado como observado no gráfico
3. Vários fatores podem contribuir para a maior incidência de mortes maternas entre
mulheres solteiras, como relacionamentos instáveis, falta de apoio emocional, social,
financeiro e emocional, possibilidade de abandono por parte dos cônjuges e familiares
durante o período de gestação. Durante e após a gravidez, isto pode levar a
desigualdades no acesso aos serviços de saúde.

4. OBJETIVOS
4.1 Objetivo geral
Entender as desigualdades socioeconômicas que ocorrem na região Norte na alta
taxa de mortalidade materna. Sendo assim, suas causas e consequências sociais que
podem afetar a população.
4.2 Objetivos específicos
Analisar as desigualdades regionais, sociais e econômicas na taxa de RMM na
região Norte e compreender como essas desigualdades afetam a mulher do Norte do país.

5. METODOLOGIA
Este estudo trata-se de uma abordagem de pesquisa qualitativa, de natureza
básica, de objetivo descritivo e de procedimentos retrospectivo e bibliográfico. Tem caráter
teórico, com coleta de dados em base bibliográfica publicada e informatizada. Sendo
assim, tem como enfoque a mortalidade materna na região Norte do Brasil e as
desigualdades socioespaciais.
Para a obtenção da finalidade proposta neste estudo, foi utilizado como método a
Revisão Sistemática da Literatura, efetuadas a partir de uma questão de pesquisa definida,
a fim de identificar, avaliar, selecionar e sintetizar evidências de estudos empíricos que
sejam de acordo com os critérios pré-definidos. Além disso, ao realizar uma revisão de
artigos consistente e de qualidade, o primeiro passo foi localizar uma terminologia
abrangente. Assim, foi realizada uma consulta aos descritores em Ciências da Saúde por
‘‘descritor exato’’ para conhecimento dos descritores universais e posterior utilização nas
bases de dados utilizadas. Foram consultadas diversas combinações de descritores a fim
de abranger vários artigos que contemplassem a temática investigada. Deste modo, foram
utilizados, em português e inglês, os descritores: (1) Mortalidade Materna; (2) Mortalidade
Materna Região Norte; (3) Mortalidade Materna + Estado.
O estudo baseou-se na análise de dados secundários de três anos, do período de
2019 a 2021, com base em informações disponíveis no Painel de Monitoramento de
Mortalidade Materna e no Observatório Obstétrico Brasileiro. As informações sobre o
material bibliográfico concentraram-se nas publicações indexadas pelas bases de dados:
Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Google Academy, Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS).
Foram utilizados como critérios de inclusão artigos completos, publicados nos anos
de 2019 a 2021, disponíveis português e inglês, indexados em bases de dados citadas
anteriormente, na temática ‘‘Mortalidade Materna na Região Norte’’. Excluíram se artigos
que não correspondiam ao período estabelecido; textos incompletos; estudos que não
contemplavam a temática.
Para a seleção das publicações, a coleta foi realizada em duas etapas. Na primeira
etapa, foi realizada uma busca geral nas bases de dados, leitura dos títulos e resumos
para assegurar que eles contemplassem a questão norteadora proposta e atendessem aos
critérios de inclusão e exclusão pré-estabelecidos no estudo. Na segunda etapa, procedeu-
se a leitura dos artigos na íntegra, aplicando-se os critérios de inclusão, para a composição
final da amostra do estudo.
6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ORÇAMENTO
Este projeto de pesquisa não houve custo, e não há despesas financeiras
significativas associadas à sua implementação. A condução da pesquisa dependeu de
recursos já disponíveis de bases de dados online e ferramentas de pesquisa gratuitas.
Portanto, houve apenas gasto de tempo dedicado, de internet e de energia.

CRONOGRAMA
Planejamento de pesquisa

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